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25/08/2023
Número: 0802780-95.2018.8.15.0181
Classe: APELAÇÃO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: 4ª Câmara Cível
Órgão julgador: Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira
Última distribuição : 28/07/2022
Valor da causa: R$ 752.800,00
Processo referência: 0802780-95.2018.8.15.0181
Assuntos: Prestação de Serviços
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
ANA MARIA GUEDES ARAUJO (APELANTE) JAYRON DENYS GUEDES ARAUJO (ADVOGADO)
ENERGISA PARAIBA - DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A DANIEL SEBADELHE ARANHA (ADVOGADO)
(APELANTE) MIGUEL DE FARIAS CASCUDO (ADVOGADO)
ENERGISA PARAIBA - DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S.A MIGUEL DE FARIAS CASCUDO (ADVOGADO)
(APELADO) DANIEL SEBADELHE ARANHA (ADVOGADO)
ANA MARIA GUEDES ARAUJO (APELADO) JAYRON DENYS GUEDES ARAUJO (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
22947 08/08/2023 16:26 Acórdão Acórdão
338
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça da Paraíba
APELADAS: As Apelantes.
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VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos.
VOTO.
Ana Maria Guedes Araújo interpôs Apelação contra a Sentença prolatada pelo Juízo
da 4ª Vara Mista da Comarca de Guarabira, nos autos da Ação de Obrigação de Fazer c/c
Indenização por Danos Materiais e Morais por ela ajuizada em desfavor de Energisa
Borborema – Distribuidora de Energia S/A. (Id. 17048686), que julgou parcialmente
procedente o pedido para condená-la a realizar, às suas expensas, a obra especificada na
Petição Inicial e na documentação que a acompanha, consistente na ligação de ponto de
energia elétrica e no serviço de deslocamento de linha ou rede de distribuição, com a remoção
de postes situados próximos à propriedade da Autora, colocando-o em via pública adequada à
prestação do serviço, condenando, também, cada uma das Partes, ante a reciprocidade de
sucumbência, ao adimplemento de metade das custas processuais e de honorários advocatícios
aos patronos da parte adversa, fixados no percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor
atribuído à causa, com exigibilidade suspensa em relação à Autora, beneficiária da gratuidade
judiciária.
Em suas razões, Id. n. 17048695, alegou que o Juízo não apreciou a integralidade dos
pedidos formulados na Petição Inicial, omitindo-se sobre as frações da pretensão relativas (I)
ao reembolso dos aluguéis adimplidos por ela desde janeiro de 2015, data em que a energia de
seu imóvel deveria ter sido religada pela Promovida; (II) aos lucros cessantes, pela
impossibilidade de abrir o mercadinho que pretendia; e (III) aos danos morais, decorrentes de
todo o constrangimento causado pela conduta ilícita praticada pela Concessionária.
Pugnou, por essas razões, pelo provimento do Apelo, para que, supridas as omissões
apontadas, o pedido seja apreciado e acolhido em sua integralidade.
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5434, em data anterior ao início das construções no terreno localizado na Rua Prefeito Manoel
Lordão, n. 663, Centro, Município de Guarabira, razão pela qual eventuais adequações nas
instalações, para atendimento da comodidade da Autora, devem por ela ser custeadas,
pugnando pelo desprovimento do Apelo.
Aduziu que as obras promovidas pela Autora estão em desconformidade com o Alvará
de Construção expedido pela Prefeitura de Guarabira, Id. n. 18042182, em que não havia
previsão de serem construídos um piso superior e uma varanda, bem como que houve uma
clara invasão da área destinada ao passeio público, com a diminuição ilegal do espaço da
calçada.
Pugnou, por essas razões, pelo provimento de seu Recurso, para que, reformada a
Sentença, o pedido seja julgado improcedente.
É o Relatório.
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A Resolução n. 414/2010, da Agência Nacional de Energia Elétrica, vigente à época
dos fatos, em cuja interpretação e aplicação está toda a controvérsia em apreciação nesta
demanda, preceituava, no art. 44, VII, que o interessado, individualmente ou em conjunto, e a
Administração Pública Direta ou Indireta eram responsáveis pelo custeio das obras realizadas
a seu pedido nos casos de deslocamento ou remoção de poste e rede, qualificado, no 102,
XIII, como serviço cobrável, se realizado mediante solicitação do consumidor.
Muito embora a Resolução ANEEL n. 414/2010 haja sido revogada pela Resolução
ANEEL n. 1.000/2021, as regras supramencionadas foram reproduzidas no art. 110, IV e § 3º,
desse novo normativo, que preceituam que o consumidor, demais usuários e outros
interessados, incluindo a Administração Pública Direta ou Indireta, são responsáveis pelo
custeio de deslocamento ou remoção de poste e rede, se realizados a seu pedido, devendo a
distribuidora executar e custear o serviço apenas nas situações de instalação irregular por ela
realizada e de rede desativada.
Ao longo da instrução, não foi requerida a inversão do referido ônus probatório, não
havendo, também, qualquer decisão de ofício do Juízo nesse sentido, razão pela qual, mantida
a distribuição ordinária dos encargos comprobatórios, caberia à Autora comprovar a
existência de desconformidade nas instalações elétricas, o que não se verificou.
Não se afigura suficiente, para tanto, o Laudo Técnico constante no Id. n. 17048661,
uma vez que produzido unilateralmente, sem submissão ao crivo do contraditório, bem como
as Fotografias Id. n. 17048628 e 17048629, que apenas se prestam a comprovar que a fiação
atualmente instalada atravessa a área da varanda do imóvel na Rua Prefeito Manoel Lordão, n.
663, Centro, Município de Guarabira, não sendo possível aferir-se de quem é a
responsabilidade por tal fato: se da Concessionária, por haver colocado as instalações elétricas
em desconformidade com as normas técnicas, ou da Autora, por haver estendido a área
construída sobre o espaço destinado ao passeio público.
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Frise-se que a tese que a inversão do ônus probatório em causas consumeristas – regra
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de instrução processual prevista no art. 6º, VIII, do CDC e qualificada como direito básico do
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consumidor – não se dá de forma automática , só se admitindo quando o juiz, a par das
peculiaridades do caso concreto, reconhecer a verossimilhança das alegações ou a
hipossuficiência do consumidor, o que, naturalmente, exige a prolação de decisão
fundamentada, seja para acolher, seja para rejeitar o pedido.
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SERVIÇO ONEROSO - SENTENÇA MANTIDA. 1. Uma vez que a rede de
energia e postes ao longo da rua foram instalados em consonância e regularidade
com os órgãos competentes e a legislação vigente, não há que se questionar tal
regularidade em face de edificação concretizada a posteriori. 2. A Resolução da
Aneel 414/2010 é clara no sentido de que "o deslocamento ou remoção de poste,
bem como deslocamento ou remoção de rede são serviços cobráveis, realizados
mediante solicitação do consumidor". 3. Sentença mantida (TJMG – Apelação
Cível 1.0106.14.003595-2/001, Relator(a): Des.(a) Mariza Porto, 11ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 27/04/2016, publicação da súmula em 06/05/2016)
Pelo conjunto probatório constante dos autos, verifica-se que o referido poste é
preexistente à construção no imóvel (Id. n.º 17048679), razão pela qual, consoante o
entendimento jurisprudencial acima invocado, cabe ao Consumidor o custo por seu
deslocamento e remoção, conforme solicitação, nos termos do normativo acima invocado,
ainda que se trate de reparo indispensável ao uso do bem pela Proprietária.
Ante o entendimento, adotado neste julgamento, de que não houve conduta ilícita
passível de ser imputada à Concessionária, resta prejudicada a análise das razões recursais
formuladas no Apelo interposto pela Autora, posto que se pretendia a ampliação da
condenação fundada na responsabilidade civil que ora foi afastada.
É o voto.
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Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira
Relator
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DISCUSSÃO SOBRE A IMPUTAÇÃO DOS CUSTOS PELA REMOÇÃO. AUSÊNCIA DE PROVA
DA IRREGULARIDADE DAS INSTALAÇÕES. EXIGÊNCIA DE REMUNERAÇÃO DA
CONCESSIONÁRIA LEGÍTIMA. EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO. SERVIÇO
FACULTATIVO COM ÔNUS FINANCEIRO IMPUTADO AO REQUERENTE/CONSUMIDOR.
EXEGESE DO ART.102, XIII, DA RESOLUÇÃO Nº 414/2010 DA ANEEL. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. MANUTENÇÃO POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. DESPROVIMENTO
DA IRRESIGNAÇÃO. - Não demonstrada a irregularidade na localização do poste de energia
elétrica, é de se considerar o serviço de retirada como facultativo e com ônus financeiro para o
consumidor requerente, nos termos da Res. 414/2010 da ANEEL. […] (TJPB,
0822228-80.2016.8.15.0001, Rel. Des. José Ricardo Porto, APELAÇÃO CÍVEL, 1ª Câmara Cível,
juntado em 11/03/2020).
2 Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...) VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive
com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil
a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
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