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Núcleo de Primeiro Atendimento

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DA


CAPITAL – RJ

HELENA MARTINS DOS SANTOS, brasileira, solteira, autônoma, portadora da carteira de


identidade nº 07.325.455-9, expedido pelo DETRAN/RJ, inscrita no CPF sob o nº 888.745.167-
20, e RENATA MARTINS DOS SANTOS, brasileira, solteira, atendente, portadora da carteira
de identidade 20.952.873-6, expedida pelo DETRAN/RJ, inscrita no CPF sob o nº 118.324.557-
26, ambas residentes e domiciliadas na Rua do Livramento, nº 58, sobrado, Gamboa, Rio de
Janeiro, CEP: 20221-193, vem propor:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM TUTELA ANTECIPADA


COM COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS

pelo rito especial da lei 9099/95, em face de LIGHT – Serviços de Eletricidade S/A, inscrita no
CNPJ sob o nº 60444437/0001-46, com endereço na Avenida Marechal Floriano, nº 168,
Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 20080-002, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

DOS FATOS

A primeira autora é titular dos serviços prestados pela ré, sendo a segunda autora
responsável pelo pagamento das faturas em débito automático em sua conta 88147-5, agência
0496 do Banco Itaú, conforme extrato anexo.

A segunda autora no dia 02 de maio de 2012 teve um débito em sua conta de R$ 152,65
(cento e cinquenta e dois reais e sessenta e cinco centavos), motivo pelo qual procurou a ré
para maiores esclarecimentos, sendo informada que o referido débito ocorreu por conta da
correção da leitura do meses de dezembro de 2011 até março de 2012.

Ocorre que, em momento algum as autoras foram avisadas das cobranças mencionadas
e nem informadas sobre a correção da leitura estimada. Inconformadas com a posição tomada
pela parte ré, entraram em contato através de mensagem pelo celular, atráves do número
54448, informando o corte de energia, obtendo como resposta apenas um número de protocolo
2010547, não sendo informado qual o procedimento que seria adotado para a solução do
problema.

No dia seguinte, não solucionado o problema, procuraram um posto de atendimento


para esclarecimento, sob o número de protocolo 63151956 tendo sido atendidas pela atendente
Helenice S. Da Silva, matrícula 4001472, obtendo como resposta que parte ré enviaria um
técnico para solucionar o problema e alegando que não existe corte.
Vale ressaltar que, as autoras sempre honram seus compromissos com a ré, nada
sendo devido e teve o serviço cortado imotivadamente desde de o dia 04 de junho de 2012.

Assim sendo não restou às autoras outra providencia a não ser recorrer ao judiciário
para ter seus direitos preservados.

DO DIREITO

Da aplicação da Lei nº 8.078/90

Primeiramente, cabe evidenciar que esta relação está abrangida pelo CDC, haja
vista a relação de consumo, ficando caracterizado o consumidor, segundo o art. 2º, e o
fornecedor de serviços, segundo o art. 3º, § 2º, ambos do diploma mencionado.
Além disso, ressalta-se que os princípios norteadores da relação de consumo,
descritos no art.4º do CDC, quais sejam o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor e
o princípio da boa-fé nas relações e da harmonia no estabelecimento destas.
Outro ponto que se deve caracterizar são os direitos básicos do consumidor,
descritos no art. 6º, III, VI do CDC, quais sejam a prestação de informações claras e adequadas
e a reparação pelos danos sofridos quando da prestação dos serviços.

Da prestação de serviços essenciais

Os serviços essenciais estão para a coletividade e para o Ordenamento Jurídico


como serviços indispensáveis à manutenção da vida e dos direitos, conceito que vivifica a
impossibilidade de sua interrupção. Além do mais, por serem indispensáveis à normalidade das
relações sociais ocupam natureza pública, onde não se evidenciam proprietários destes
serviços, mas apenas gestores que devem atuar para a preservação de sua utilização pelo
homem.

Discorrendo por uma ótica publicista, Luis Antonio Rizzatto Nunes, versa que:
“Em medida amplíssima todo serviço público, exatamente pelo
fato de sê-lo (público), somente pode ser essencial. Não poderia
a sociedade funcionar sem um mínimo de segurança pública,
sem a existência dos serviços do Poder Judiciário, sem algum
serviço de saúde etc. Nesse sentido então é que se diz que todo
serviço público é essencial. Assim, também o são os serviços de
fornecimento de energia elétrica, de água e esgoto, de coleta de
lixo, de telefonia etc.”

Assim tais serviços de natureza essencial, indispensáveis à sobrevivência digna


humana, que muitas vezes são prestados pelo próprio Estado ou por seus concessionários e
permissionários, na hipótese de sua interrupção, adverte-se, é até mesmo inconstitucional,
pois destarte realizam valores que contrariam o bem comum, de todos na forma do artigo 3º,
IV da Constituição Federal/88. Não é lícito ao Estado ou aos prestadores de serviço, deixarem
de prestar serviços que estão incorporados às atividades básicas humanas, tais como saúde,
educação, energia elétrica e saneamento, sob pena de estarem dando ao homem tratamento
degradante ou desumano, que fragilize sua dignidade (artigo 5º, III da Constituição Federal).
A falta ou má prestação dessa espécie de serviços acaba por ir de encontro à
concretização da terceira geração de Direitos Fundamentais, qual seja a dos Direitos de
Solidariedade (Karel Vasak - 1979), também chamados de Direitos de Fraternidade, de onde
salta uma de suas principais conseqüências, o direito ao meio ambiente que ofereça ao
homem qualidade de vida e bem estar.

e interesse social, havendo menção expressa no próprio Texto Maior quanto à proteção dos
interesses dos consumidores (artigo 5º, XXXII e art. 170, V). Isso coloca a Lei nº 8.078/90 em
posição hierarquicamente superior a regulamentação das concessões públicas.
Os fundamentos da decisão acima são muito fortes, sem dúvidas. Como é
notório, o artigo 1º, III, da Constituição Federal reconhece a dignidade da pessoa humana
como cláusula pétrea, um dos fundamentos da República Brasileira. Apesar da falta de
menção no julgado, entendemos que um outro princípio constitucional poderia ser citado, o da
solidariedade social, pela busca de uma sociedade mais justa e solidária (artigo 3º, I, da
CF/88).

Sobra a amplitude de aplicação desses preceitos, lembra Gustavo Tepedino que


“o constituinte de 1988, não satisfeito em fixar normas gerais em cada capítulo, deu-se ao
trabalho de estabelecer regras precedentes (até mesmo no ponto de vista da localização
topográfica) a todas as outras, que definem a tábua de valores do ordenamento jurídico
brasileiro. Tais normas constitucionais, em particular aquelas dispostas nos arts. 1º a 4º, são os
preceitos fundamentais da ordem jurídica e, portanto, as mais importantes do ponto de vista
interpretativo, a menos que se quisesse atribuir ao constituinte o papel de dispor de palavras
inúteis, ou ociosas – o que seria tecnicamente um absurdo” (Temas de Direito Civil. Rio de
Janeiro: Editora Renovar, 2ª Edição, p. 207).

Daí, com a vigência da Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990 - Código de Defesa


do Consumidor, este veio a fulminar a essencialidade dos serviços públicos com efeitos
jurídicos e coerção, pois para determinados tipos de prestação pelo Poder Público, não lhes
adianta apenas a adequação, eficiência e segurança, mas sobremaneira a obrigação de
continuidade da prestação essencial na forma do artigo 22 do CDC.

Da responsabilidade objetiva
Reza o art.14 do CDC que o fornecedor de serviços responde independentemente
da existência de culpa, pela reparação dos danos causados ao consumidor por defeitos
relativos a prestação dos serviços.

Conceito de fato – manifestação danosa dos defeitos juridicamente relevantes que


atingem a integridade física, psíquica ou a incolumidade patrimonial do consumidor
(pessoa física ou jurídica), que enseja a responsabilidade extracontratual do fornecedor,
independentemente da apuração de culpa (responsabilidade objetiva). GERA EFEITOS
SOBRE A PERSONALIDADE HUMANA.

A conduta do réu, não atende a função social dos contratos, uma vez que ofende
a dignidade da pessoa humana, que é o valor humanístico que confere unidade teleológica aos
demais princípios e regras que compõe o ordenamento jurídico constitucional e
infraconstitucional.
A tutela da dignidade da pessoa humana traz no seu conteúdo o princípio da
proteção à integridade física e psíquica do consumidor, sendo assim, é nula qualquer cláusula
que ofenda a esse princípio.

Desta forma restou caracterizada a responsabilidade civil da empresa Ré quanto


ao não cumprimento do que fora pactuado com as Autoras.

Vale ressaltar que é direito básico do consumidor a efetiva prevenção e reparação


de danos patrimoniais e morais, seja individual ou não, conforme o art. 6º, VI, do Código de
Defesa do Consumidor.

Da antecipação dos efeitos parciais da tutela

Tendo em vista os danos que vem sendo causados, de acordo com o


supramencionado, requerem as autoras a concessão da antecipação dos efeitos parciais da
tutela, descrito no art. 84, § 3º do CPDC, pois a cobrança onerosa indevida, vem causando
dificuldades no seu dia-dia e da sua família, além disso, esperar até o deslinde da questão em
juízo, acarretará danos, irreversíveis no sentido de dar uma vida digna para sua família.
Na forma subsidiária, encontra-se a aplicação do art. 461 do CPC, para
complementar a fundamentação para a concessão da referida tutela.

Do dano moral
As autoras fazem jus ao seu lídimo direito de serem indenizadas, tendo em vista
os transtornos e constrangimentos que vêm sofrendo em virtude dos danos causados pela falta
prestação dos serviços e cobrança indevida da ré.
Neste sentido, resta caracterizado o dano moral sofrido pelas autoras, qual seja o
dano ao direito da personalidade, haja vista que por diversas vezes tentou entrar em contato
com a ré, sendo que em todas estas oportunidades restaram infrutíferas suas pretensões, além
disso, o dano se evidencia quando a ré se mantendo inerte, em relação a solução da questão,
causou dificuldades à autora no sentido de não ter suas pretensões solucionadas.
Outrossim, encontra-se o caráter punitivo-pedagógico da indenização por danos
morais, para que através da cominação de uma pena pecuniária, seja a ré obrigada a rever a
forma como estabelece suas relações de consumo, evitando assim a má prestação nos seus
serviços.
A Responsabilidade civil nas relações de consumo é OBJETIVA, bastando a
existência do dano e do nexo causal. Com clareza, a empresa Ré agiu de forma ilícita.

DO PEDIDO:

1- Seja concedida TUTELA ANTECIPADA, na forma do art. 461 do CPC e 84, parágrafo 3º
do CDC, para determinar que a empresa ré seja compelida a efetuar o restabelecimento
do fornecimento de energia elétrica no prazo de 24 horas, sob pena de multa diária de
R$ 200,00 no caso de descumprimento.
2- A citação da parte ré para responder a presente ação, e sua intimação para comparecer
à audiência de conciliação, que poderá ser imediatamente convolada em AIJ, caso não
cheguem às partes a acordo, sob pena de revelia, preclusão e confissão.
3- A inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, da lei 8.078/90
4- Seja julgado procedente o pedido, confirmando a tutela antecipada;
5- Seja julgado procedente o pedido para condenar a ré restituir em dobro, no valor de R$
152,65 (cento e cinquenta e dois reais e sessenta e cinco centavos) , referente às
cobranças indevidas, totalizando R$305,30
6- Seja julgado procedente o pedido para condenar a ré pagamento de compensação a
título de danos morais no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais);

Das Provas

Requer como provas todas em Direito admitidas, em especial as de caráter


documental, testemunhal, depoimento pessoal das partes, na amplitude do artigo 32 da Lei
9.099/95.

Valor da Causa

Dá-se a causa o valor de R$ 5.305,30 (cinco mil e trezentos e cinco reais e trinta
centavos)

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Rio de Janeiro, 05 de junho de 2012.

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HELENA MARTINS DOS SANTOS

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RENATA MARTINS DOS SANTOS

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