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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO __

JUIZADO ESPECIAL CIVEL REGIONAL DA BARRA DA TIJUCA DA


COMARCA DA CAPITAL/RJ

FERNANDO MIRAS JÚNIOR, brasileiro, casado, engenheiro


civil, inscrito no CPF sob nº 361.395.538-57, portador da carteira de
identidade RG sob nº 40.884.587-9, expedido pela Secretária de
Segurança Pública - SP, residente e domiciliado na Avenida Adolpho
de Vasconcelos, nº 401, apartamento 1702, Barra da Tijuca, Rio de
Janeiro/RJ, CEP: 22.793-380, por intermédio de seu advogado infra-
assinado, o qual receberá todas as intimações e/ou outras
comunicações processuais, no e-mail rfilippo.adv@outlook.com, com
escritório na Rua Alberto Cavalcanti, nº 15, Apto 206, Recreio dos
Bandeirantes, Rio de Janeiro/RJ, CEP: 22790-850, vem perante Vossa
Excelência propor a presente:

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALOR C/C PEDIDO DE DANOS


MORAIS

Em face de APPLE COMPUTER BRASIL LTDA ("Apple"),


pessoa jurídica de direito privado, com sede na R. Leopoldo Couto
Magalhães Júnior, 700, Itaim Bibi, São Paulo – SP, CEP: 04542-000,
inscrita no CNPJ sob o nº. 00.623.904/0001-73;

AMERICANAS S.A., pessoa jurídica de direito privado, com


endereço na Estrada de Miguel Pereira, 125, carretão lote 151/30 e
151/27, São Miguel, Seropédica/RJ, CEP: 23.893-890, inscrita no
CNPJ sob o nº. 00.776.574/0013-90, pelos fatos e fundamentos
expostos a seguir:

Ryan Filippo dos Santos Coelho


Advogado – OAB/RJ 210.052
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1. DOS FATOS

O Autor adquiriu da 2ª Ré, na data 05/07/2021, um iPhone SE


64GB, conforme nota fiscal em anexo (DOC. 1.1).

É fato público e notório que a 1ª Ré passou a vender seus


iPhones sem entregar junto a este o carregador e o fone de
ouvido.

O aparelho celular somente veio com o cabo USB-C sem


o “Carregador USB-C de 20W” - o que impossibilita o uso após a
primeira carga.

Ocorre que o Autor não tem qualquer outro carregador ou


dispositivo compatível com a entrada USB-C para recarregar o
celular, pelo que o iPhone adquirido se tornou impróprio ao uso.

Visando diminuir custos, tendo em vista que um carregador


USB-C custa R$ 191,00 (cento e noventa e um reais) e um fone de
ouvido custa R$ 210,00 (duzentos e dez reais), conforme consta no
site da 1ª Ré (DOC. 02), o Autor resolveu comprar um carregador
paralelo, no entanto o carregador acabou não durando muito tempo,
diante disso o Autor foi obrigado a comprar o “Carregador Original
Apple USB-C de 20W” no valor de R$ 171,90 (cento e setenta e um
reais e noventa centavos), conforme nota fiscal anexa (DOC. 1.2).

Tal fato caracteriza venda casada, que inclusive já vem sendo


discutido pelo PROCON de vários estados, em sede de processo
administrativo contra a Apple, no qual, o renomado jurista Fernando
Capez, diretor executivo da mencionada autarquia, diz ao GLOBO “a
venda separada do aparelho e do carregador é uma inovação que
pode configurar prática abusiva, pois um precisa do outro para ter
utilidade”.

Nessa mesma linha, Eneylândia Rabelo Lemos, diretora do


PROCON de Fortaleza/CE, opina que: "fica evidente que o consumidor
terá que adquirir o carregador futuramente, obrigando-o a uma nova
compra. Isto caracteriza venda casada".

Ora: ao comprar um iPhone é evidente que o consumidor não


conseguirá carregá-lo diretamente na tomada sem ser por intermédio
de um carregador, ou seja, a efetiva utilização do produto (iPhone) se
torna impossível sem que o consumidor precise adquirir qualquer que
seja um carregador.

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E pior: com essa prática a Apple passou a gastar MENOS e a
lucrar MAIS, pois sequer desonerou o consumidor do custo que
existia (fornecimento de carregador junto ao aparelho) e deixou de
existir, haja vista que os preços dos iPhones não param de subir cada
vez mais.

Alguns PROCONs já vinham processando a Apple por esse


motivo, mas agora este movimentou ganhou ainda mais força, pois o
próprio governo brasileiro está aconselhando o acionamento
desta empresa por conta dessa prática.

A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao


Ministério da Justiça e Segurança Pública, orientou as mais de 900
unidades do PROCON no Brasil a iniciarem processos administrativos
contra a Apple pela venda de celulares sem carregadores, conforme
fonte abaixo:

https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2022/05/12/governo-
orienta-procons-a-processarem-apple-e-samsung-por-venda-de-
celulares-sem-carregadores.ghtml

Assim, devido ao total descaso das Rés com o consumidor, o


Autor resolveu socorrer-se a este MM. Juízo para buscar justiça.

2. DO DIREITO

2.1 DA RESPONSABILILIDADE SOLIDÁRIA

A condenação das Rés é solidária por atuarem conjuntamente


perante aos negócios entabulados com os consumidores.

Em face da lesada, quer haja causas cumulativas, quer haja


subsequência de causas ou mera coincidência de causas, qualquer
dos responsáveis são obrigados a reparar todo o dano, cabendo a
este, se for o caso, agir contra os coobrigados para ressarcir-se do
que por eles pagou, segundo as regras das relações internas da
solidariedade.

No CDC estabeleceu-se a regra da solidariedade na


responsabilidade pela reparação dos danos sofridos pelo consumidor
– CDC, art. 7º, §ú, deixando firmada a obrigação de todos os
partícipes pelos danos causados, nos moldes também do Código Civil
(art. 942). Assim, são solidariamente responsáveis as empresas Rés

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na presente ação, pois todos intervieram de alguma forma, direta ou
indiretamente, na relação de consumo, contribuindo em qualquer
fase, seja na produção, oferta do serviço, distribuição, ou venda.

O CDC inclusive dispensa a análise do caso concreto para


atribuir a solidariedade na responsabilidade pelo simples fato de
haver relação de consumo. Desta forma, ao consumidor caberá eleger
contra quem buscará a reparação de seu dano: se contra um, alguns,
ou todos – CPC, art. 46. Também neste Código, o mesmo permite a
visualização da cadeia de fornecimento através da imposição da
solidariedade entre os fornecedores. O CDC impõe a solidariedade em
matéria de defeito do serviço (art. 14 do CDC). Também no artigo 18
do CDC a responsabilidade é imputada a toda a cadeia, não
importando quem contratou com o consumidor.

Portanto, são os Réus legítimos para figurarem no polo passivo


da presente demanda, pelo que requer sejam todos compelidos
solidariamente na responsabilidade de reparar os danos causados à
parte Autora.

2.2 DA APLICAÇÃO DO CDC

A relação jurídica estabelecida entre as partes encontra seu


fundamento nas normas previstas no Código de Defesa do
Consumidor (Lei Federal nº. 8.078, de 1990), já que ambos
encontram adequação típica de fornecedor e consumidor, previstas
nos artigos 2° e 3° do referido diploma legal.

Diante disso, não resta quaisquer dúvidas quanto à aplicação,


no caso em tela, da referida legislação consumerista, uma vez que
restou caracterizado fornecedor/consumidor.

2.3 DA VENDA CASADA E DO COSTUME

Não resta dúvida de que o Autor - destinatário final dos serviços


– esta diante do instituto de venda casada, conforme antigo 39 e
incisos do Código de Defesa do Consumidor, configurando uma
prática abusiva, que ocorre quando uma empresa condiciona a
compra ou efetiva utilização de um produto ou serviço a outro
produto ou serviço e de forma onerosa ao consumidor.

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De acordo com o doutrinador Geraldo Magela Alves, considera-
se venda casada o ato de impor ao consumidor a aquisição de outro
produto para que possa usufruir do que tem interesse:

“Quer-se evitar que o consumidor, para ter acesso ao produto


ou serviço que efetivamente deseja, tenha de arcar com o ônus de
adquirir outro, não de sua eleição, mas imposto pelo fornecedor como
condição à usufruição do desejado”.

Assim, no caso em tela, ao não fornecer carregador, produto


imprescindível para a utilização de um aparelho telefônico, as rés
acabaram contrariando a legislação consumerista.

De outro turno, tem-se como de praxe no Brasil a venda de


aparelhos celulares acompanhados de carregador e fone de
ouvido, podendo até mesmo ser considerado como um
costume.

Neste sentido, sobre os costumes, destacam-se as palavras do


saudoso jurista Miguel Reale: “(...) o costume surge de forma
indeterminada e, até certo ponto, imprevisível. Torna-se costume
jurídico, porém tão-somente quando confluem dois elementos
fundamentais: um é a repetição habitual de um comportamento
durante certo período de tempo; o outro é a consciência social da
obrigatoriedade desse comportamento”.

Ainda em sede das lições do Professor Miguel Reale, o


magistrado poderá reconhecer a existência de costumes em casos
concretos: “Quando o juiz reconhece a habitualidade duradoura de
um comportamento, com intencionalidade ou motivação jurídica,
confere-lhe validade formal e obrigatoriedade.”

Logo, tendo em vista que não existe uma norma jurídica que
trate especificamente sobre a venda de aparelhos telefônicos
acompanhado de carregadores, nos termos do art. 4º da Lei de
Introdução ao Direito Brasileiro, o costume poderá ser
utilizado como uma fonte do direito.

Visto que se trata de litigio recente e recorrente envolvendo


Tribunais Brasileiros, alguns já entendem da seguinte maneira:

RECURSO INOMINADO. APARELHO


VENDIDO SEM O ADAPTADOR DE
ENERGIA/CARREGADOR. NOVA
POLÍTICA DA APPLE. VIOLAÇÃO

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AOS DIREITOS DO CONSUMIDOR.
COMPONENTE ESSENCIAL AO
FUNCIONAMENTO DO APARELHO
CELULAR. PRÁTICA QUE
CONFIGURA VENDA CASADA, POR
VIA INDIRETA. (...) Ao fornecer o
aparelho sem o seu adaptador, a
fabricante Apple condiciona o
consumo ou aproveitamento
econômico do bem à aquisição de
outro produto: adaptador agora
somente disponível para venda em
separado, nas lojas da acionada. Nesse
ponto, entendo que tal prática se
identifica com a venda casada, pelo
fato de impor, ainda que
indiretamente, a compra de outro
bem com a finalidade de utilizar o
aparelho celular. (...) (TJ-BA - RI:
01746951720208050001, Relator:
ELIENE SIMONE SILVA OLIVEIRA,
QUINTA TURMA RECURSAL, Data de
Publicação: 10/08/2021)”.

Desta forma, requer a condenação das Rés em restituir o valor


do carregador (R$ 171,90) e arcar com o pagamento do fone de
ouvido (R$ 210,00) para o Autor, totalizando o valor de R$ 381,90.

2.4 DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Diante da hipossuficiência do autor, a inversão do ônus da


prova ante as verossímeis alegações apresentadas, juntamente com
as provas documentais acostada aos autos, é medida que se impõe,
conforme previsto no artigo 6º, VIII, do Código de Defesa do
Consumidor:

Art. 6º São direitos básicos do


consumidor: VIII – a facilitação da
defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor,
no processo civil, quando a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente,

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seguindo as regras ordinárias de
expectativas.

Posto isto, requer a aplicação da inversão do ônus da prova.

3. DO DANO MORAL

Excelência, o produto adquirido é essencial para qualquer ser


humano hoje em dia. A falta deste por apenas um dia acarreta já
enormes prejuízos.

O Autor sofreu um dano de ordem moral, que lhe gerou severos


transtornos, na medida em que adquiriu um produto para o seu
trabalho/lazer e o mesmo veio desacompanhado de peças
indispensáveis para o seu pleno funcionamento, em razão da venda
casada imposta pelas empresas Rés.

Deste modo, resta inquestionável o dano moral sofrido pelo


autor e a responsabilidade objetiva das requeridas, que encontram
previsão no art. 5º, X da CF, art. 6º, VI do CDC, art. 14 do CDC e art.
186 do CC/02 c/c com o art. 927 do CC/02.

No presente caso, deverá ser levado em conta o caráter


punitivo e pedagógico do dano moral, que se justifica como
sanção ao seu causador, inibindo-o da prática de atos
semelhantes ou de outros atos lesivos, mesmo porque a
função do judiciário não se limita a reparar danos, mas,
sobretudo, lutar para que a relação de consumo se realize de
forma mais harmônica possível.

Nesta vertente, os tribunais vêm entendendo pela condenação


das Rés, conforme decisões abaixo:

Processo: PROCEDIMENTO DO
JUIZADO ESPECIAL CÍVEL n.
8001105-17.2020.8.05.0176 Órgão
Julgador: V DOS FEITOS DE REL DE
CONS CIV E COM. DE NAZARÉ AUTOR:
--- Advogado(s): JOAN SANTOS DE
AGUIAR NUNES (OAB:0061310/BA)
REU: APPLE COMPUTER BRASIL
LTDA e outros Advogado(s): FABIO
RIVELLI (OAB:0034908/BA), MARCOS

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ANDRE PERES DE OLIVEIRA
(OAB:0003246/SE).

Inicialmente, verifico a hipossuficiência


da parte autora em relação à ré. Por
outro lado, as rés destacam-se como
grandes empresas do país, contando
com grande corpo técnico e de
advogados. Tal situação, de evidente
desigualdade material, deve ser
compensada mediante um tratamento
diferente no âmbito processual, a fim
de alcançar-se um equilíbrio, qualidade
da justiça material. Alia-se a esse
contexto a verossimilhança da
alegação. De início insta salientar que
no caso em análise estamos diante de
uma típica relação de consumo, pois as
partes enquadram-se nos conceitos de
consumidor e fornecedor constantes
nos artigos 2º e 3º do Código de
Defesa do Consumidor. Nestes termos,
o fornecedor de serviços responde,
independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e riscos (art. 14 do CDC). Alega
a autora que, em 26/11/2020, adquiriu
um aparelho celular Iphone 11 Apple
64GB Branco 6,1” 12MP iOS, fabricado
pela ré APPLE, no site oficial da
primeira ré Magazine Luíza, sendo que,
ao recebê-lo, verificou a inexistência de
item essencial ao seu funcionamento,
ou seja, o carregador USB produzido
pela mesma empresa. Aduz, outrossim,
que se trata de venda casada, eis que
se trata de item essencial para o uso
do produto. Assim, requer seja a ré
compelida a fornecer um carregador,
além de indenizá-la pelo dano moral
experimentado. Em sua

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desnecessariamente extensa, repetitiva
e prolixa resposta, a corré APPLE
sustenta que a supressão do adaptador
de energia elétrica e fone de ouvido
tem por finalidade a diminuição do
impacto climático. Assevera que com o
cabo, pode a autora conectar o iPhone
a qualquer computador através da
porta USB, e assim, carregá-lo.
Assevera que cumpriu o dever de
informar o consumidor de forma clara e
adequada quanto à remoção daqueles
acessórios. Com efeito, é de
conhecimento geral a medida adotada
pela corré APPLE em não mais fornecer
o carregador junto com o aparelho
telefônico adquirido pelos seus
consumidores, de modo que é
improvável que, após tamanha
repercussão, a autora desconhecesse
este fato. Entretanto, isto não torna
lícita a medida adotada pela fabricante.
Senão vejamos. Não é de hoje que, a
pretexto de colaborar com a
preservação do meio ambiente,
fornecedores vêm lançando mão de
campanhas cuja finalidade é, no
mínimo, questionável. Um bom
exemplo disso foi a repentina
supressão do fornecimento de sacolas
plásticas em supermercados, que os
fornecedores do ramo tentaram
emplacar, em alguns locais com êxito.
Deixaram de considerar, contudo, que
o valor dos produtos adquiridos no
supermercado já considerava a
despesa com as sacolas plásticas, não
havendo nenhuma comprovação de
que a redução do custo foi repassada
ao consumidor. Ademais, é de
conhecimento geral que tais sacolas,
em sua grande maioria, acabavam por
se transformar em sacos de lixo, e que
sem o referido item, os consumidores
viram-se obrigados a adquirir sacolas

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plásticas no mesmo supermercado,
gerando um lucro duplo para estes
fornecedores. O caso em tela não é
diferente. Ora, o carregador é um item
essencial e indispensável para o
adequado uso do produto, sendo que o
fato de permitir que o carregamento
seja feito por meio de um cabo ligado a
um computador é inadmissível, eis que
é uma distorção de sua finalidade,
além de obrigar o consumidor a
sempre ter um computador por perto
para que possa carregar o celular.
Ademais, a ré também não demonstrou
que, com a evidente diminuição no
custo final do produto, reduziu o valor
para o consumidor, no que tange ao
montante correspondente à aquisição
do carregador em separado. Se assim
o fizesse, com efeito, não haveria
nenhuma abusividade, eis que desta
forma tratar-se-ia de uma opção dada
ao consumidor em adquirir ou não o
item. Mas não é o caso dos autos. A
alegação exposta pela ré na época em
que deu publicidade à sua decisão, de
que os consumidores poderiam utilizar
o carregador que já possuíam, também
não convence, eis que a medida não
abrange os consumidores que
adquirem o seu primeiro produto da
empresa. Assim, não tenho nenhuma
dúvida em afirmar que se trata de uma
venda casada, eis que o consumidor,
impossibilitado de carregar de maneira
usual o seu aparelho celular ou seja, na
tomada se vê obrigado a, além de
adquirir o produto, também em
desembolsar mais uma quantia
relativamente ao carregador,
aumentando os lucros da requerida.
Ademais, cabe análise da negociação à
luz do Código de Defesa do
Consumidor, que veda, entre outras
práticas, que se condicione o

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fornecimento de um produto ou serviço
à aquisição de outro produto ou serviço
(art. 39, CDC). No caso, não se
verificou possibilidade de contratação
senão com a compra do carregador,
cujos termos não foram esclarecidos na
ocasião. Assim, deve a acionada
responder pelos danos causados,
havendo verossimilhança no que se
alegou, permitindo que ora se realize a
inversão do ônus da prova, que é regra
de julgamento, aplicável a critério do
Julgador (artigo 6º, VI, VIII, X, 14 e
22, da Lei nº 8.078/90). Com relação
ao pedido de danos morais, entendo
devidos, posto que o autor se viu na
situação de ter que adquirir,
separadamente, o carregador, sob
pena de não poder utilizar seu aparelho
telefônico, sendo vítima de venda
casada, causando-lhe transtornos que
fogem ao mero dissabor diário.
Entendo que o valor de R$ 3.000,00
(três mil reais) é suficiente para
indenizar o autor pelos danos
experimentados. ANTE O EXPOSTO,
JULGO PARCIALMENTE
PROCEDENTES os pedidos, para
CONDENAR as rés, solidariamente,
a: a) Indenizarem a parte autora
no valor de R$ 3.000,00 (três mil
reais) a título de indenização por
dano moral, a ser corrigido
monetariamente pelos índices oficiais a
partir do arbitramento e acrescido de
juros moratórios de 1% (um por cento)
ao mês, não capitalizados, a contar da
citação; b) Entregarem à
requerente, no prazo de 10 (dez)
dias corridos, um carregador
fabricado pela corré APPLE,
compatível com o iPhone adquirido
pelo requerente, a contar da
intimação da presente por meio de
publicação para o seu advogado

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com o permissivo do artigo 513, §
2º, I, do CPC , sob pena de, não o
fazendo, incorrer em multa
moratória diária de R$ 200,00, até
o limite de R$ 5.000,00. Por
conseguinte, extingo o processo, com
resolução do mérito, na forma do art.
487, I do CPC. Sem custas e sem
honorários advocatícios, porquanto
incabíveis em primeira instância –
artigo 55 da Lei 9.099/95. P.R.I.
Nazaré-BA, 13 de outubro de 2021.
RENATO DATTOLI NETO.
Processo nº: 5121938-
23.2022.8.09.0051 Parte Autora:
Josane Cordeiro Santana Linhares
Parte Ré: Apple Computer Brasil
Ltda Natureza da Ação: PROCESSO
CÍVEL E DO TRABALHO -> Processo de
Conhecimento -> Procedimento de
Conhecimento -> Procedimento do
Juizado Especial Cível.

(...) No que tange ao quantum da


indenização pelo dano moral, é
cediço que a lei não prevê
disposição expressa que possa
estabelecer parâmetros ou dados
específicos para o respectivo
arbitramento, uma vez que o dano
moral não é quantificável, devendo
cada caso ser analisado segundo
suas peculiaridades. Considera-se
também o padrão econômico das
partes envolvidas, pois a
condenação tem objetivos
pedagógico – educativo e de
punição exemplar para que o fato
não se repita. Para tanto essa
condenação não deve ser tão grande
que se converta em fonte de
enriquecimento nem tão pequena que
a torne inexpressiva, ao ponto de
incentivar o ofensor a repetir o ato
ilícito. Por fim, com relação aos ônus

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da sucumbência, pontuo que, na dicção
do art. 55, caput, da Lei nº 9099/95, a
sentença de primeiro grau não
condenará o vencido em custas e
honorários de advogado. Diante do
exposto, com fulcro no art. 487, inciso
I, do CPC, JULGO PROCEDENTE EM
PARTE o pedido inicial para
condenar a empresa promovida ao
pagamento de indenização por
danos morais à requerente,
arbitrados no montante de R$
5.000,00 (cinco mil reais), corrigido
de acordo com o índice oficial
INPC/IBGE a partir da data de seu
arbitramento, ou seja, a publicação
desta sentença (Súmula 362 do STJ), e
com incidência de juros de mora de 1%
(um por cento) ao mês, a contar da
citação (art. 405 do Código Civil).
Submeto este projeto de sentença ao
MM. Juiz titular deste 6º Juizado
Especial Cível para apreciação e
eventual homologação. Goiânia-GO, 12
de abril de 2022. JAIRO BORGES
BARCELLOS DOS SANTOS.

EMENTA: RECURSO INOMINADO. AÇÃO


DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DANOS
MORAIS. VENDA DE APARELHO DE
CELULAR SEM O CARREGADOR
COMPATÍVEL QUE VIABILIZA O USO
DO APARELHO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. ENTREGA DE
CARREGADOR DEVIDA. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. 1. O recurso é próprio,
tempestivo e foi devidamente
preparado, razão pela qual dele
conheço. 2. Trata-se de Recurso
pugnando pela reforma da
sentença prolatada pelo Juiz de
Direito Dr. Murilo Vieira de Faria
em evento n. 41, julgando
procedente para condenar a parte

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ré ao pagamento de indenização
por danos morais no valor de
R$5.000,00 devendo incidir juros
moratórios de 1% ao mês desde a
citação além de correção
monetária pelo INPC desde o
arbitramento, e ainda determinar a
entrega sem custo de um
carregador compatível com o
modelo adquirido pelo consumidor
em dez dias, sob pena de multa
diária de R$100,00 até o limite de
R$10.000,00. 2. Cumpre observar
que a matéria discutida constitui
relação de consumo. Sabe-se que a
inversão do ônus da prova é uma
faculdade do Juiz que deve formar a
sua convicção da necessidade da
medida baseado nas argumentações
trazidas no bojo da peça inicial, bem
como na verossimilhança das
alegações e na hipossuficiência
material da parte requerente frente a
circunstâncias da demanda que está
em juízo. Com isso, analisando com
acuidade os presentes autos, verifico a
presença de tais requisitos devido à
hipossuficiência do consumidor, diante
disso, faz-se necessário a inversão do
ônus da prova (art. 6º, inciso VIII, do
Código de Defesa do Consumidor). 3.
Destaco ainda o artigo 6º, inciso VI, do
referido Código que prevê como direito
básico do consumidor, a efetiva
prevenção e reparação de danos
patrimoniais e morais,
independentemente da existência de
culpa, causados por defeitos relativos à
prestação dos serviços. 4. Alega o
autor que em 20/03/2021 adquiriu um
telefone IPHONE 11, 128 GB, branco,
pelo valor de R$4.299,00, no entanto,
o celular adquirido não veio
acompanhado de carregador, embora
seja item obrigatório para

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funcionamento do aparelho. Por outro
lado, aponta a empresa recorrente
recente julgado proferido pelo Tribunal
de Justiça de São Paulo em sentido
diverso da sentença de primeiro grau,
ademais, destaca que o adaptador de
energia e fone de ouvido foram
removidos a fim de atingir a meta de
impacto climático zero em todos os
seus produtos e na cadeia de
suprimentos até 2030. Argumenta que
inexiste prática abusiva ou venda
casada na ausência do adaptador de
tomada, pois, não se trata de acessório
essencial, além disso o consumidor
poderia escolher de forma livre qual
adaptador preferisse já que a utilização
de acessórios fabricados por terceiros
não prejudicam a garantia do aparelho.
5. A teoria do risco do negócio ou
atividade é a base da responsabilidade
objetiva do Código de Defesa do
Consumidor, devendo proteger a parte
mais frágil da relação jurídica, o
consumidor. Isso porque, como se
sabe, a segurança dos serviços
prestados constitui típico risco do
empreendimento desenvolvido pela
parte Recorrente, não podendo ser
transferido a terceiros. 6. Apesar de a
parte recorrente apontar ausência de
ineditismo no ato de não fornecimento
do adaptador para carregar celular, ou
ainda apresentar diversos julgados em
seu favor pelo país, diante da
interpretação desta Turma favorável ao
consumidor, entendo que a sentença
deverá ser mantida. 7. O adaptador
para tomada trata-se de item
essencial para o funcionamento
eficaz do objeto adquirido,
conquanto a sua ausência obriga o
consumidor a conectar o cabo com
o celular a um computador ou
qualquer aparelho que lhe forneça

Ryan Filippo dos Santos Coelho


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a energia indireta, e não uma
tomada comum. Ora, obrigar o
consumidor a possuir algum objeto
que realize o carregamento da
bateria do seu aparelho celular é
no mínimo descabido, e,
evidentemente, trata-se de venda
casada, à luz do disposto no art.
39, inciso I, do CDC, prática
abusiva e vedada pela legislação
consumerista. 8. Ademais, destaco
que a empresa não demonstra em suas
razões recursais a evidente diminuição
no custo final do produto, tampouco
deve-se avaliar a fundamentação de
que alguns consumidores possuem
carregadores de outros aparelhos
celulares, pois, deixa de abranger
quem adquire um produto da empresa
pela primeira vez, ou quem nunca
adquiriu qualquer aparelho celular seja
da marca APPLE ou não. 9. Quanto a
suposta diminuição do custo final do
produto destaco a sentença proferida
no processo de n. 1005307-
46.2021.8.26.0562 pelo Juiz de Direito
Guilherme de Macedo Soares na 2 a
Vara do JEC de Santos/SP: "Assim, não
tenho nenhuma dúvida em afirmar que
se trata de uma venda casada, eis que
o consumidor, impossibilitado de
carregar de maneira usual o seu
aparelho celular ou seja, na tomada se
vê obrigado a, além de adquirir o
produto, também em desembolsar
mais uma quantia relativamente ao
carregador, aumentando os lucros da
requerida." Link:
https://www.migalhas.com.br/quentes/
346737/iphone-juizmanda-
applefornecer-carregador-a-
consumidora 10. A indenização por
danos morais é uma garantia de
direitos individuais, inscrita na
Constituição Federal, no art. 5º,

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incisos V e X, encontrando-se,
também, assegurada nos Códigos
Civil e de Defesa do Consumidor.
Nesse passo, observa-se que a
reparabilidade dos danos morais
situa-se no fato de que a pessoa
humana, além de ser titular de
direitos patrimoniais, detém
igualmente direitos atinentes a sua
personalidade. Nosso ordenamento
jurídico não poderia mesmo se
conformar que tais direitos fossem
impunemente violados. 11.
Consoante o entendimento
apresentado, denota-se que é
indiscutível a responsabilidade da parte
recorrente pelo vexame e humilhação
que passou o autor, pois, foi obrigado a
ajuizar demanda judicial para obter o
carregador de um celular de alto custo
a fim de não realizar a compra em
separado, o que claramente ultrapassa
o mero aborrecimento ou dissabor,
gerando, assim, o dever de indenizar.
12. Deve ser firmado o entendimento
de que não serão quaisquer
sentimentos de incômodo ou de
constrangimento que se
consubstanciarão em danos morais,
mas somente aqueles que se
entranham na esfera íntima da pessoa
como sensações contundentes e
duradouras de dor, sofrimento ou
humilhação. Nesse ponto, somente
haverá direito a indenização por danos
morais, independente da
responsabilidade ser objetiva ou
subjetiva, se houver um dano a se
reparar, e o dano moral que deve ser
indenizado é a dor pela angústia e pelo
sofrimento relevante que cause grave
humilhação e ofensa ao direito de
personalidade, diante disso, entendo
que os danos morais deverão ser
mantidos. 13. No tocante ao

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quantum fixado a título de danos
morais entendo não merecer
reparos à sentença, uma vez que é
cediço que, na indenização por
danos morais, o conceito de
ressarcimento abrange duas
forças: uma de caráter punitivo,
visando castigar o causador do
dano, pela ofensa que praticou;
outra, de caráter compensatório,
que proporcionará à vítima algum
bem em contrapartida ao mal
sofrido. 14. Impende ressaltar que, o
valor da indenização por dano moral
deve ser arbitrado levando-se em
conta, sempre, os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade.
Sua reavaliação, portanto, somente é
possível quando verificada a
exorbitância ou o caráter irrisório da
importância, em flagrante ofensa aos
princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade. 15. Posto isso,
NEGO PROVIMENTO ao recurso,
mantendo INTEGRALMENTE a
sentença, por seus próprios e
judiciosos fundamentos. 16. Condeno a
parte recorrente ao pagamento das
custas processuais e honorários
advocatícios, estes arbitrados em 20%
(vinte por cento) sobre o valor da
condenação, com fulcro no art. 55, in
fine, da Lei n. 9.099/1995, ficando
sobrestado o pagamento por ser
beneficiário da assistência judiciária
gratuita. 17. A súmula de julgamento
servirá de acórdão, na forma do art.
46, da Lei n. 9.099/1995. (1ª Turma
Recursal dos Juizados Especiais do
TJGO, Processo nº 5301609-
40.2021.8.09.0051, Relator Dr. Juiz
Hamilton Gomes Carneiro , DJ de
07/12/2021) – Grifei.

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Sendo assim, restam fartamente configurados os danos morais
sofridos pelo Autor, razão pela qual se requer a condenação das Rés
em valor indenizatório condizente ao poderio financeiro destas, qual
seja, a importância de R$ 10.000,00 (dez mil reais) ou outro valor
que entender Vossa Excelência.

4. DOS PEDIDOS

Em razão de todo o exposto, requer a Vossa Excelência:

a) A citação das empresas Rés nos endereços preambularmente


declinado para comparecer à audiência a ser designada e
apresente oportunamente defesa dentro do prazo legal, sob
pena de confissão e revelia nos termos do art. 344 do
CPC/2015;

b) Que seja concedida a inversão do ônus da prova, ante a


hipossuficiência da parte Autora perante as Rés, nos termos
do artigo 6°, VIII, do Código de Defesa do Consumidor;

c) A procedência do pedido:

I. para condenar as Rés, solidariamente, a restituição do


valor pago na compra do “Carregador Original Apple
USB-C de 20W” no importe de R$ 171,90 (cento e
setenta e um reais e noventa centavos), conforme
nota fiscal anexa (DOC. 1.2);

II. para condenar as Rés, solidariamente, a arcarem com


o pagamento do fone de ouvido no valor de R$ 210,00
(duzentos e dez reais), conforme consta no site da 1ª
Ré (DOC. 2.2) ou a entrega do mesmo, sob pena de
multa diária a ser arbitrada por Vossa Excelência;

III. para condenar as Rés, solidariamente, ao pagamento,


a título de reparação pelos danos morais causados, no
importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais), considerando
o padrão econômico das partes envolvidas, pois a
condenação tem objetivos pedagógico – educativo e de
punição exemplar para que o fato não se repita.

5. DAS PROVAS

Ryan Filippo dos Santos Coelho


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Deferir a produção de provas por todos os meios em direito
admitido, especialmente documentais supervenientes e depoimento
das Rés sob pena de confesso.

6. DO VALOR DA CAUSA

Dá-se a causa o valor de R$ 10.381,90 (dez mil, trezentos e oitenta


um reais e noventa centavos).

N. Termos,
Pede e espera deferimento.
Rio de Janeiro, 20 de maio de 2022.

Ryan Filippo dos Santos Coelho


OAB/RJ – 210.052
Tel. +55 21-96432-1969

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