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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO 1º

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL REGIONAL DA BARRA DA TIJUCA – RJ.

PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL


Processo n° 0810478-18.2022.8.19.0209

APPLE COMPUTER BRASIL LTDA. ("Apple"), pessoa jurídica de direito


privado, com sede na R. Leopoldo Couto Magalhães Júnior, 700, Itaim Bibi, São Paulo – SP, CEP:
04542-000, inscrita no CNPJ sob o nº. 00.623.904/0001-73, por seu advogado devidamente
constituído, vem, respeitosa e tempestivamente, à presença de Vossa Excelência, nos autos da
AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALOR C/C PEDIDO DE DANOS MORAIS proposta por
FERNANDO MIRAS JUNIOR, apresentar, sua

CONTESTAÇÃO

com fundamento no artigo 30 da Lei 9.099/95, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

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1. DAS ALEGAÇÕES DA PARTE AUTORA

Narra a parte Autora ter adquirido um aparelho Apple modelo iPhone SE, 64GB,
conforme nota fiscal que acompanha a inicial, no dia 05/07/2021, pelo valor de R$ 2.568,64, através
da revenda da corré “B2W COMPANHIA DIGITAL”.

Apesar de demonstrar em sua narrativa ter conhecimento, estar ciente e


bem informada acerca da política de vendas amplamente divulgada da Ré há mais de 1 ano,
aduz não concordar com o fato do aparelhos que optou por adquirir vir
desacompanhado de acessórios na embalagem, quais sejam, adaptador de energia e fones de
ouvido, equivocadamente alega que o item seria necessário para funcionamento do aparelho e que
para custear a aquisição separada do referidos acessório, teria sido necessário o desembolso da
quantia avulsas de R$ 171,90 apenas pelo adaptador.

Relata que o aparelho veio acompanhado somente do cabo USB-C, sobre o qual
alega, erroneamente, que seria incompatível com portas USB de computadores e outros modelos de
aparelhos da marca e, sustenta, inveridicamente, que os acessórios seriam essenciais e que houve
venda casada.

Em razão do quanto sustentado requer a concessão a gratuidade judiciaria, bem


como que a demanda seja julgada procedente condenando a Ré na obrigação de fazer, consistente no
pagamento de danos materiais na importância de R$ 381,90 que alega corresponder ao valor
necessário para custear a aquisição dos itens mencionados, além de indenização por danos morais
supostamente sofridos no valor de R$ 10.000,00 (três mil reais).

2. PRELIMINARMENTE
2.1. DA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO
DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA EM CASO DE RECURSO

Pelo que se depreende da documentação apresentada, a parte Autora apenas


declarou ser pobre nos termos da Lei para auferir os benefícios da Gratuidade de Justiça.

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Ocorre que a declaração de pobreza gera apenas presunção relativa acerca da
necessidade, cabendo ao Julgador verificar outros elementos para decidir acerca do cabimento do
benefício.

Neste sentido, não pode ser aceita a mera declaração de pobreza, devendo ser
exigida prova de impossibilidade no pagamento das custas, conforme precedentes dos tribunais:

"DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE DE JUSTIÇA.


INDEFERIMENTO EM PRIMEIRA INSTÂNCIA. HIPOSSUFICIÊNCIA NÃO DEMONSTRADA. DECISÃO
MANTIDA. 1 - A exigência comprobatória da situação de miserabilidade econômica decorre expressamente
do texto constitucional (art. 5º, LXXIV) ao dispor que "o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita
aos que comprovem insuficiência de recursos". 2 - Embora seja certo que o Novo CPC estabelece, em seu
art. 99, que o pedido de reconhecimento do direito personalíssimo à gratuidade de justiça pode ser formulado
na petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso -
estabelecendo uma presunção de veracidade e de boa-fé por parte do requerente -, acolhe, no parágrafo
2º, a jurisprudência consolidada do STJ, no sentido de que o juiz pode indeferir a benesse, de ofício, contanto
que, antes de indeferir o pedido, propicie à parte requerente a comprovação do preenchimento dos
pressupostos legais. Ademais, o CPC/2015 não revogou o art. 5º, caput, da Lei 1.060/1950, que prevê que
o juiz deve indeferir, de ofício, o pedido de gratuidade justiça, caso tenha fundadas razões" (STJ, REsp
1.584.130/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe de 17/08/2016). 3 - Extraindo-
se dos autos que a situação financeira do peticionário não se amolda à condição de efetiva necessidade,
confirma-se o indeferimento do pedido de concessão do benefício de gratuidade de Justiça. Agravo de
Instrumento desprovido." (TJDFT, Acórdão n.1090312, 07164891220178070000, Relator(a), 5ª Turma
Cível, Julgado em: 19/04/2018, Publicado em: 08/05/2018)

Deste modo, o pleito de justiça gratuita ao ser apreciado deverá de plano ser
afastado, bem como se o caso, pugna-se para que a parte Autora apresente documentos
comprobatórios suficientes para se aferir a legitimidade.

DO MÉRITO

2.1. DA REALIDADE DOS FATOS

Antes de adentrar de maneira mais profunda no mérito da ação, cabe tecer alguns
comentários pertinentes em relação à venda dos produtos Apple sem os acessórios, pois existe muito

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desentendimento sobre o assunto, com diversas notícias sensacionalistas que acabam repassando
informações equivocadas.

 Da política ambiental da Apple: É interessante pontuar que a Apple possui dezenas de


projetos ambientais, todos eles listados em seu site no endereço
https://www.apple.com/br/environment/, ou seja, a ausência de fone de ouvido e adaptador de
energia é apenas UMA das políticas ambientais da empresa, cuja preocupação com o meio
ambiente é indubitável. Ainda, a ausência dos acessórios não é uma política de natureza
econômica pois, se assim fosse, bastaria a empresa não gastar bilhões de reais anualmente
com seus projetos ambientais, do qual a ausência de acessórios (e a utilização de embalagens,
metais e peças para sua confecção) faz parte. Mais detalhes no tópico “ESCLARECIMENTOS
ACERCA DA COMERCIALIZAÇÃO DO IPHONE SEM O ADAPTADOR DE TOMADA – A
PRTOCEÇÃO AO MEIO AMBIENTE” da presente defesa.
 Da venda dos acessórios de maneira avulsa: Ao contrário do alegado pelos consumidores,
a venda dos acessórios de maneira avulsa não depõe contra a política ambiental da Apple,
tendo em vista que a venda em separado ocorre em volume muito menor do que se os produtos
fossem entregues em todos os aparelhos da fabricante. A venda avulsa ocorre para que
consumidores que tiveram seus acessórios perdidos, roubados, furtados, desgastados,
quebrados etc., ou aqueles que optem por utilizá-los, possam usufruir deles, ao mesmo tempo
em que dá a opção ao consumidor que não queira utilizá-los de não precisar pagar por eles.
 Do preço final do produto: A Apple informa que o valor do produto objeto da lide não computa
os acessórios e que, caso estes venham a ser disponibilizados, o valor do aparelho aumentaria
para refletir essa inclusão.
 Da mudança do cabo disponibilizado: A modificação do cabo do modelo USB-A para USB-
C se deu em razão de inovação tecnológica que não possui qualquer correlação com a política
ambiental da empresa. É cediço que a entrada USB-C traz benefícios aos usuários pois ela é
mais compacta. Versátil e possui maior rapidez para transferência de arquivos e carregamento.
Inclusive, a porta USB considerada, hoje em dia, “comum” (USB-A) será totalmente substituída
pela USB-C em um futuro próximo, razão pela qual é um contrassenso a opção do consumidor
por uma tecnologia inferior. Mais detalhes no tópico “DA INEXISTÊNCIA DE PRÁTICA
ABUSIVA OU VENDA CASADA – ADAPTADOR DE TOMADA NÃO É UM ACESSÓRIO
ESSENCIAL” da presente defesa.
 Da clara informação ao consumidor: A ausência dos acessórios, além de ter sido
mundialmente anunciada e informada em diversos sites de notícia e mídias sociais, também é

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amplamente divulgada no site da fabricante, seja em sua página de políticas ambientais
(conforme anteriormente mencionado), seja no momento da compra do produto pela loja online
da Apple, momento em que o conteúdo da caixa é mostrado aos consumidores. Ainda, a
embalagem do produto contém essa informação logo na primeira linha, não podendo os
consumidores alegarem desconhecimento. Mais detalhes no tópico “DO CUMPRIMENTO DO
DEVER DE INFORMAÇÃO CLARA E ADEQUADA AO CONSUMIDOR” da presente defesa.
 Da desnecessidade do adaptador de energia para uso do produto: Ao contrário do que faz
crer a parte Autora, o adaptador de energia é apenas UMA das diversas maneiras que o
aparelho pode ser recarregado. O consumidor pode utilizar-se de computadores, televisores,
geladeiras, automóveis (praticamente qualquer eletrodoméstico que possua porta USB),
baterias removíveis, baterias portáteis, carregadores por indução (nesse não é necessário nem
o cabo) etc. Logo, é evidente que o adaptador de energia não é essencial, sendo uma opção
do consumidor a sua utilização ou não. Mais detalhes no tópico “DO CUMPRIMETNO DE
DEVER DE INFORMAÇÃO CLARA E ADEQUADA AO CONSUMIDOR” da presente defesa.
 Da ausência de venda casada: Existem muitas notícias que passam a informação de que o
aparelho Apple somente pode ser utilizado com um acessório Apple. Tal informação é
inverídica. Ao consumidor que opte pela utilização de adaptador de energia, basta adquirir um
de qualquer marca, qualquer modelo, e pelo preço que preferir que não perderá a garantia
Apple. A única imposição é que o adaptador seja homologado pela ANATEL, pois somente
com essa homologação o acessório contará com toda a funcionalidade e segurança que o
consumidor necessita. Mais detalhes no tópico “DA INEXISTÊNCIA DE PRÁTICA ABUSIVA
OU VENDA CASADA – ADAPTADOR DE TOMADA NÃO É UM ACESSÓRIO ESSENCIAL”
da presente defesa.
 Da não violação ao Código de Defesa do Consumidor: A decisão comercial da Apple não
é um ato isolado da fabricante, sendo que diversos produtos já são comercializados sem
adaptadores de energia desde 2012, como o Nintendo DS, o Kindle (da Amazon), fones de
ouvido da JBL, sendo que a jurisprudência já reconheceu que tal prática não fere os direitos
do consumidor. Mais detalhes no tópico “DA AUSÊNCIADE INEDITISMO DA DECISÃO
COMERCIAL ADOTADA PELA APPLE” da presente defesa.
 Da livre iniciativa e livre concorrência: Como se não bastasse todo o aventado, conforme a
Constituição Federal, cabe aos agentes, desde que dentro da lei, organizarem suas atividades
da forma que melhor entenderem mais adequadas às necessidades de seus consumidores e
objetivos empresariais. Ademais, em uma sociedade capitalista, não cabe ao Estado obrigar
ou não uma empresa a vender (ou deixar de vender) determinado produto em mercados não

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regulados. Dessa forma, incabível o intervencionismo estatal na política empresarial da Apple.
Mais detalhes no tópico “A ATUAÇÃO DA APPLE ESTÁ EM CONFORMIDADE COM OS
PRINCÍPIOS DA LIVRE INICIATIVA E DA LIVRE CONCORRÊNCIA” da presente defesa.

2.2. DA NECESSÁRIA OBSERVÂNCIA AO PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA


– ARTIGO 489 DO CPC.

Existem diversos precedentes com entendimento de ausência de qualquer


irregularidade no procedimento adotado pela Ré, conforme podemos observar nos julgados a seguir.

Nesse sentido, em um julgado recente da Décima Quinta Câmara Cível, movida


pela Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – CODECON,
houve tutela antecipada no sentido de que a Apple deveria fornecer para todos os consumidores o
adaptador compatível com o cabo ou, alternativamente, atualizar todos os seus meios publicitários
informando a ausência dos acessórios. Em Agravo de Instrumento nº 0093122-33.2021.8.19.0000,
houve decisão favorável, entendendo corretamente o N. Julgador pela suspensão da tutela:

Analisando a documentação trazida no agravo de instrumento, verifica-se que:


a) O lançamento do produto ocorreu em 13/10/2020, portanto, há mais de um ano e foi precedido de
intensa campanha publicitária anunciando o engajamento da empresa na causa ambiental com a
redução da produção de plásticos;
b) Há informação clara e inequívoca nas embalagens, na propaganda veiculada e em sites a
respeito de aparelhos celulares, que o Iphone 12 não vem acompanhado de carregador nem airpods,
mas de cabo com porta USB-C para Lightning;
c) As portas USB-C não são exclusividade da Apple, mas se fazem presentes nos modelos mais
recentes de várias outras marcas;
d) O cabo fornecido com o aparelho Iphone 12 é compatível com carregadores e tomadas para
portas USB-C de diversos fabricantes;
Por outro lado, a decisão proferida assumiu contorno de irreversibilidade, eis que impõe ao
agravante a fabricação de milhões de carregadores ou a alteração de embalagens e propaganda
veiculada mundialmente.

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Presentes, portanto, os requisitos autorizadores previstos no artigo 1.019, inciso I
do CPC para a concessão de efeito suspensivo em relação à decisão agravada, até o julgamento do
presente recurso. Oficie-se comunicando. – grifos nossos

Necessário também trazer a discussão dos autos importante julgado proferido em


sede de Acórdão de Recurso Inominado, julgado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo (Colégio Recursal de São Bernardo do Campo), nos autos do processo n.º 1000849-
77.2021.8.26.0564, em que inicialmente a sentença de mérito havia condenado Ré ao fornecimento
dos acessórios não essenciais, sendo posteriormente reformada em votação unânime, cuja ementa
segue:

CONSUMIDOR - APARELHO CELULAR IPHONE 11 – INOVAÇÃO EM POLÍTICA DE VENDAS QUE


EXCLUIU ACESSÓRIOS CONSISTENTES EM ADAPTADOR DE TOMADAS E FONES DE OUVIDO
- LIBERDADE ECONÔMICA – NÃO ESSENCIALIDADE DOS PRODUTOS QUESTIONADOS PARA
FINS DE UTILIZAÇÃO DO APARELHO A PARTIR DA POSSIBILIDADE DE MANEJO DE DIVERSOS
DISPOSITIVOS DA MESMA OU OUTRAS MARCAS- LIVRE PRÁTICA COMERCIAL E LIBERDADE
ECONÔMICA - AFASTAMENTO DO ARGUMENTO RELATIVO À VENDA CASADA DIANTE DA
POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃODO APARELHO TELEFÔNICO POR MEIO DE CARREGAMENTO
RÁPIDO OU EFETIVADOPOR MEIO DE DISPOSITIVOS COMPATÍVEIS DA MARCA OU DE
OUTROS FABRICANTES, INCLUSIVE NA VIA SEM FIO COM CERTIFICAÇÃO Qi, ADAPTADORES
DE ENERGIA USB-A E USB-C COM CONECTOR LIGHTNING - INCLUSÃO, NA CAIXA DO
TELEFONE, DE CABO USB-C PARA LIGHTNING QUE VIABILIZA CARREGAMENTO RÁPIDO E A
EFETIVA FUNCIONALIDADE DESSES ADAPTADORES DE ENERGIA REFERIDOS,
CONSIDERANDO-SE, MAIS, A POSSIBILIDADE DE CARREGAMENTO POR MEIO DE PORTAS DE
COMPUTADORES, POWER BANKS E CASES COMPATÍVEIS- EARPHONES QUE NÃO
CONSTITUEM APARATO ESSENCIAL PARA A FUNCIONALIDADE DO TELEFONE -
INFORMAÇÕES EXPRESSAS A RESPEITO DA NOVA POSTURA E NOTORIEDADE DA
PUBLICIDADE QUE VEICULOU A PRATICA DOIS MESES ANTES DA AQUISIÇÃO FEITA PELO
CONSUMIDOR - EMPRESAS DIVERSAS QUE JÁ ADOTARAM A EXCLUSÃO DOS ITENS -
INEXISTÊNCIA DE DISCUSSÃO NO PROCESSO ACERCA DE POLÍTICA DE PREÇOS – OPÇÃO
DA CONCORRÊNCIA ABERTA AO CONSUMIDOR PARA O AFASTAMENTO DE PRÁTICA COM A
QUAL DISCORDA - DESCABIMENTO DE DIRIGISMO ESTATAL NA HIPÓTESE CONCRETA NA
QUAL NÃO SE VISLUMBROU ABUSIVIDADE EMPRESARIAL - INVERSÃO DO JULGADO -
RECURSO PROVIDO. (TJSP; Recurso Inominado 1000849-77.2021.8.26.0564; Relator (a): Luciana
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Ferrari Nardi Arruda; Órgão Julgador: 2ª Turma Cível; Foro de São Bernardo do Campo - Vara do
Juizado Especial Cível; Data do Julgamento: 14/06/2021; Data de Registro: 16/06/2021) – grifo nosso

No caso, o entendimento da relatora Luciana Ferrari Nardi Arruda foi seguido pelos
demais juízes, em votação unânime, aduziu que a prática da Ré está dentro de sua liberdade
econômica, em que os acessórios não detêm caráter de essencialidade.

Além disso, a relatora em seu voto afastou integralmente a tese de prática de


venda casada, entendendo, acertadamente, pela plena possibilidade de utilização do aparelho
adquirido pelo demandante com outros acessórios já em posse do próprio consumidor, de mesma
marca ou até de marcas concorrentes.

No tocante à alegação de ausência de cumprimento ao dever de informação,


entendeu que houve massiva publicidade quanto à retirada dos acessórios, bem como que outras
empresas já haviam adotado tal prática no mercado consumerista, não havendo qualquer alarde
perante os consumidores.

Por fim, aduziu a impossibilidade de controle estatal no caso em comento, visto que
inexistente qualquer ilegalidade na prática comercial da fabricante, ora Ré, dessa forma, deram integral
provimento ao recurso para o fim de julgar improcedente a sentença de mérito.

Diante disso, por tais razões, necessário sedimentar o entendimento exposto


em 2º Grau para unificar a jurisprudência, haja vista inexistir qualquer irregularidade no caso
em comento, e ainda, que a prática da Apple está totalmente em conformidade com os ditames
da lei consumerista, principalmente no tocante a inexistência de venda casada e pleno
cumprimento ao dever de informação.

Como se não bastasse, deve o provimento jurisdicional deve harmonizar-se aos


precedentes judiciais, para que seja reverenciada a equidade e a segurança jurídica, sob pena de, não
o fazendo, fomentar a proliferação de decisões antagônicas e causar caos à ordem jurídica.

Axiomaticamente, para que seja garantida a segurança jurídica aos jurisdicionados,


se mostra imprescindível a aplicação dos preceitos jurídicos de forma uniforme pelos Julgadores, de
modo a garantir o devido processo legal e dar efetiva igualdade aos julgados.

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Em simples palavras, sobre situações semelhantes devem recair decisões
semelhantes, para que seja dado o devido cumprimento ao princípio constitucional do devido processo
legal, bem como assegurado o princípio da segurança jurídica.

Em consonância com o quanto argumentado, evidencia-se que, conquanto a parte


Autora alegue que houve venda casada e que se trata de acessório essencial, o vasto e remansoso
posicionamento jurisprudencial, exarado pelos Colégios Recursais do Egrégio Tribunal de Justiça
do Estado do Rio de Janeiro, é no sentido de que os procedimentos adotados pela Ré NÃO SE
CONFIGURAM como VENDA CASADA e que o ACESSÓRIO NÃO É ESSENCIAL PARA O
FUNCIONAMENTO DO APARELHO.

Em conformidade com o quanto argumentado, destaca-se que a 1ª Turma


Recursal Cível do Conselho Recursal dos Juizados Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro – no julgamento do Recurso Inominado Cível nº 0800543-
29.2021.8.19.0066, reconheceu a legalidade e legitimidade dos procedimentos da Ré, dando
PROVIMENTO ao seu Recurso da Apple, sob a seguinte Súmula:

Acordam os Juízes que integram a Turma Recursal dos JEC´s, por unanimidade, em conhecer do
recurso e dar-lhe provimento nos termos do voto do Exmo. Relator.

No julgamento do mencionado Recurso, a Excelentíssima Juíza Relatora – Erica


de Paula Rodrigues da Cunha – reconheceu a legalidade e legitimidade dos procedimentos da
Ré, nos seguintes termos:

“(...)Outrossim, não cabe ao Judiciário intervir de forma tão drástica a ponto de obrigar uma empresa a
oferecer acessórios, ou a rever sua política de preços, sendo certo que a venda conjunta do acessório
implicaria no repasse de preço ao consumidor.
Deve ser ressaltada a enorme gama de concorrência no mercado de aparelhos móveis, com muita das
empresas fornecendo o carregador de imediato com o celular, cabendo ao consumidor optar pelo que
lhe for mais conveniente.
Isto posto, voto no sentido de conhecer do recurso e no mérito, dar-lhe provimento para julgar
improcedente os pedidos. Sem ônus da sucumbência face ao êxito.

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Outrossim, destaca-se que, o Recurso Inominado nº 0023344-
67.2021.8.19.0002, interposto pela parte contrária e relatado pelo Nobre Juiz Relator Claudio
Ferreira Rodrigues da 3ª Turma Recursal do Conselho Recursal dos Juizados Cíveis e Criminais
do Estado do Rio de Janeiro, foi DESPROVIDO, mantendo a r. Sentença que reconheceu a
legalidade e legitimidade dos procedimentos da Ré, sob a seguinte Súmula:

“Acordam os Juízes que integram a 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis, por
unanimidade, em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentença por seus
próprios fundamentos, tendo sido todas as questões aduzidas no recurso apreciadas, sendo
dispensada a transcrição das conclusões em homenagem aos princípios informativos previstos no
artigo 2º da Lei 9099/95, e na forma do artigo 46, segunda parte, da mesma Lei, frisando-se, outrossim,
que a motivação concisa atende à exigência do artigo 93 da Constituição Federal, e está em
conformidade com o disposto no artigo 26 do Regimento Interno das Turmas Recursais (Resolução do
Conselho da Magistratura do TJ/RJ nº 14/2012). Condenado o recorrente nas custas e honorários
advocatícios de 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, observado o art. 98, parágrafo 3º do
Código de Processo Civil, valendo esta súmula como acórdão, conforme o disposto no art. 46 da Lei
9099/95.”

No mesmo sentindo, quando do julgamento do Recurso Inominado nº 0803414-


25.2021.8.19.0036, a 5ª Turma Recursal do Conselho Recursal dos Juizados Cíveis e Criminais
do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro – DEU PROVIMENTO ao Recurso da Ré,
tendo a Nobre Juíza Claudia Renata Alberico Oazen, fundamentado que:

“(...) a mudança na venda do produto foi amplamente divulgada pela empresa ré Outrossim, não cabe
ao Judiciário intervir de forma tão drástica a ponto de obrigar uma empresa a oferecer acessórios, ou
a rever sua política de preços, sendo certo que a venda conjunta do acessório implicaria no repasse
de preço ao consumidor. Deve ser ressaltada a enorme gama de concorrência no mercado de
aparelhos móveis, com muita das empresas fornecendo o carregador e demais acessórios de imediato
com o celular, cabendo ao consumidor optar pelo que lhe for mais conveniente.

Nesta mesma toada, o Recurso Inominado nº 0078102-96.2021.8.19.0001,


interposto pela Ré e julgado pela 1ª Turma Recursal do Conselho Recursal dos Juizados
Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, sob a relatoria
da Nobre Juíza Relatora Viviane Alonso Alkimin, foi PROVIDO, sob a seguinte Súmula:
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“ACORDAM os Juízes que integram a Primeira Turma Recursal em não acolher o pedido de retirada
do feito da pauta desta sessão virtual por se mostrar, no caso concreto, dispensável a sustentação oral
do advogado requerente, nos termos do §1º do art. 16 do Regimento Interno das Turmas Recursais,
CONHECENDO DO RECURSO e, por unanimidade, DANDO -LHE PROVIMENTO, para REFORMAR
integralmente a sentença e JULGAR IMPROCEDENTES os pedidos, uma vez que inexiste na espécie
obrigação da empresa ré em fornecer os equipamentos acessórios pretendidos pela parte autora ou
mesmo obrigação de reparação de danos materiais. Inexistem, ademais, danos morais na espécie.
Fato público e notório da nova modalidade de venda dos aparelhos celulares pela empresa ré, que
optou por vender os itens separadamente. Consumidor cabalmente ciente do produto que estava
adquirindo, inexistindo obrigação da empresa ré em fornecer o carregador e fone de ouvido com o
aparelho de telefonia celular adquirido. Opção do consumidor em adquirir o produto mesmo sem os
itens acessórios. Todas as questões aduzidas no recurso restaram apreciadas, sendo dispensada a
transcrição das conclusões em homenagem aos princípios informativos previstos no artigo 2º da Lei nº
9099/95, e na forma do artigo 46, segunda parte, da mesma Lei, frisando-se, outrossim, que a
motivação concisa atende à exigência do artigo 93 da Constituição Federal (STF, Ag.Rg no AI 310.272-
RJ), e está em conformidade com o disposto no artigo 26 do Regimento Interno das Turmas Recursais
(Resolução do Conselho da Magistratura do TJ/RJ nº 6/2018). Sem condenação do recorrente nos
ônus da sucumbência, valendo esta súmula como acórdão, conforme o disposto no art. 46 da Lei nº
9099/95.

Da mesma forma, o Recurso Inominado nº 0809145-93.2021.8.19.0038,


interposto pela parte adversa e julgado pela 1ª Turma Recursal do Conselho Recursal dos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, sob
a relatoria do Nobre Juiz Relator Leandro Loyola de Abreu, foi DESPROVIDO, sob a seguinte
Súmula:

“Acordam os Juízes que integram a Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis, por unanimidade,
em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentença por seus próprios
fundamentos, tendo sido todas as questões aduzidas no recurso apreciadas, sendo dispensada a
transcrição das conclusões em homenagem aos princípios informativos previstos no artigo 2º da Lei
9099/95, e na forma do artigo 46, segunda parte, da mesma Lei, frisando-se, outrossim, que a
motivação concisa atende à exigência do artigo 93 da Constituição Federal, e está em conformidade
com o disposto no artigo 26 do Regimento Interno das Turmas Recursais (Resolução do Conselho da
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Magistratura do TJ/RJ nº 14/2012). Condenado o recorrente nas custas processuais e honorários
advocatícios de 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, observada a gratuidade da justiça na
forma do art. 98 §3º da Lei 13.105/2015 - CPC, valendo esta súmula como acórdão, conforme o
disposto no art. 46 da Lei 9099/95.”

Solidificando o posicionamento jurisprudencial, o Recurso Inominado nº 0801950-


53.2021.8.19.0007, interposto pela Ré e julgado pela 5ª Turma Recursal do Conselho Recursal
dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,
sob a relatoria do Nobre Juiz Relator Fernando Antonio de Souza e Silva, foi PROVIDO, sob a
seguinte Súmula:

“(...) Acordam os juízes da Turma Recursal Cível, por maioria, em conhecer do recurso e dar-lhe
provimento, para reformar a sentença e julgar improcedente o pedido, pois a ré cumpriu corretamente
o dever de informação e há possibilidade de carregamento do aparelho por diversas maneiras, não
tendo sido caracterizada a venda casada. Vencida a dra. Márcia Santos Capanema de Souza, que
mantinha a sentença, por seus próprios fundamentos. Sem ônus sucumbenciais.

Ainda, o Recurso Inominado nº 0800911-98.2021.8.19.0046, interposto pela


parte adversa e julgado pela 5ª Turma Recursal do Conselho Recursal dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, sob a relatoria da Nobre
Juíza Relatora Marcia Santos Capanema de Souza, foi DESPROVIDO, sob a seguinte Súmula:

“Acordam os juízes que integram a Quinta Turma Recursal dos JECs, por unanimidade, em conhecer
do(s) recurso(s) e negar-lhe(s) provimento para manter a sentença por seus próprios fundamentos.
Condeno o(s) recorrente(s) nas custas e honorários de 20% (vinte por cento) sobre o valor da
condenação (quando houver) - caso contrário, sobre o valor atribuído à causa - observada, em ambos
os casos, quando o recorrido seja assistido pela Defensoria Pública, os honorários advocatícios serão
devidos ao CEJUR, observada a gratuidade de justiça quando deferido o benefício, valendo esta
súmula como acórdão, conforme o disposto no artigo 46 da Lei nº 9.099/95, ressalvando, por fim, que
não haverá incidência de honorários advocatícios, quando o recorrido não tiver sido assistido por
advogado nos autos, ou se este não tiver apresentado contrarrazões ao recurso.

Além de tantos outros julgados, o Recurso Inominado nº 0022933-


24.2021.8.19.0002, interposto pela parte adversa e julgado pela 1ª Turma Recursal do Conselho
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Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, sob a relatoria da Nobre Erica de Paula Rodrigues da Cunha, foi DESPROVIDO, sob a
seguinte Súmula:

“Acordam os Juízes que integram a Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis, por unanimidade,
em conhecer do recurso e negar-lhe provimento para manter a sentença por seus próprios
fundamentos, tendo sido todas as questões aduzidas no recurso apreciadas, sendo dispensada a
transcrição das conclusões em homenagem aos princípios informativos previstos no artigo 2º da Lei
9099/95, e na forma do artigo 46, segunda parte, da mesma Lei, frisando-se, outrossim, que a
motivação concisa atende à exigência do artigo 93 da Constituição Federal, e está em conformidade
com o disposto no artigo 26 do Regimento Interno das Turmas Recursais (Resolução do Conselho da
Magistratura do TJ/RJ nº 14/2012). Condenado o recorrente nas custas processuais e honorários
advocatícios de 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, observada a gratuidade da justiça na
forma do art. 98 §3º da Lei 13.105/2015 - CPC, valendo esta súmula como acórdão, conforme o
disposto no art. 46 da Lei 9099/95.”

Ainda, sedimentando o posicionamento jurisprudencial dos Colégios


Recursais do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, acerca da ausência de venda
casada e não essencialidade dos acessórios, tem-se os Acórdãos proferidos nos processos:
006127-60.2021.8.19.0212, 0004518-72.2021.8.19.0202, 0000319-86.2021.8.19.0208, 0808908-
73.2021.8.19.0001, 0801001-46.2021.8.19.0066, 0007679-90.201.8.19.0202, 0027681-
02.2021.8.19.0002, 0800184-78.2021.8.19.0034, 0801556-40.2021.8.19.0203, 0800324-
15.2021.8.19.0034, 0835030-12.2021.8.19.0038

Enfim, conforme demonstrado, tem-se que, indiscutivelmente, as alegações e


pleitos autorais se encontram em dissonância com o entendimento firmado em casos análogos, pelos
Colégios Recursais do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, os quais
entendem pela ausência de venda casada e não essencialidade dos acessórios, bem como a
legalidade e legitimidade dos procedimentos da Ré.

Dessa forma, diante da imprescindível observância ao princípio da segurança


jurídica, uma vez que as alegações autorais se encontram em dissonância com o pacífico
posicionamento jurisprudencial, se faz necessária a observância aos termos do artigo 489, §1º, VI
do Código de Processo Civil, com o consequente reconhecimento da IMPROCEDÊNCIA da

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demanda.

2.3. ESCLARECIMENTOS ACERCA DA COMERCIALIZAÇÃO DO IPHONE SEM O


ADAPTADOR DE TOMADA – A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE

A Apple, como ampla e publicamente noticiado através da mídia e de canais


próprios, removeu os adaptadores de tomada das embalagens de diversos aparelhos, com o principal
objetivo a salvaguarda do meio ambiente. Isso porque, a Apple tem a finalidade de atingir a meta de
impacto climático zero em todos os seus produtos e na cadeia de suprimentos até 2030. Como há
bilhões de adaptadores de tomada no mundo, os novos adaptadores, que representam o maior uso de
zinco e plástico, geralmente não são utilizados.

Ainda, a medida adotada, além de permitir a redução do tamanho das embalagens,


que passam a demandar menos material e diminuir o uso de recursos naturais com o respectivo
transporte, faz com que os adaptadores adquiridos sejam apenas aqueles estritamente necessários,
evitando o desperdício de recursos valiosos e o descarte desnecessário de materiais.

Removendo alguns acessórios da caixa a Apple evitará mais de 861 mil


toneladas métricas de mineração de cobre, zinco e estanho. A Apple também está fazendo a
transição de parceiros de fabricação para a energia renovável e está trabalhando para eliminar
plásticos, aumentar os materiais recicláveis e usar menos embalagens no geral.

Além disso, todas as fibras de madeira utilizadas nas embalagens ou são


recicladas ou são provenientes de florestas responsavelmente manejadas. A Apple protege ou
cria florestas de manejo responsável suficientes para cobrir toda a fibra de madeira virgem utilizada em
suas embalagens. Isso garante que as florestas tenham tempo para crescer e continuar a limpar o ar
e purificar a água.

Cumpre ressaltar que foi realizada pesquisa na União Europeia, em 2019, para
avaliar o impacto do lixo eletrônico gerado, exclusivamente, por carregadores de celulares (“e-waste” -
Global E-waste Monitor 2020), através da qual se constatou que adaptadores de tomada de telefones
celulares são responsáveis por cerca de 11 a 13 mil toneladas de lixo eletrônico por ano1.

1Disponível em: https://op.europa.eu/en/publication-detail/-/publication/c6fadfea-4641-11ea-b81b-01aa75ed71a1.


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Em razão da proporção do impacto gerado por carregadores de celulares e outros
aparelhos eletrônicos, o Parlamento Europeu exigiu que providências fossem tomadas. De acordo com
a European Parliament resolution on common charge for mobile radio equipment 2, “cerca de 50
milhões de toneladas métricas de lixo eletrônico são geradas globalmente por ano, com uma
média de mais de 6 kg por pessoa”; enquanto a geração total de lixo eletrônico na Europa, em 2016,
foi de 12,3 milhões de toneladas métricas, o equivalente a 16,6 kg média por habitante; sendo que isso
representa um impacto ambiental desnecessário que pode ser reduzido; (...) “Salienta
veementemente que existe uma necessidade urgente de uma ação regulamentar da UE para
reduzir os resíduos eletrônicos, dar aos consumidores poderes para fazerem escolhas
sustentáveis e permitir-lhes participar plenamente num mercado interno eficiente e funcional”.

A expectativa da Apple, com a venda dos adaptadores de tomada separadamente,


portanto, é possibilitar ao consumidor a decisão de compra de acordo com sua necessidade e
interesse, permitindo uma redução da demanda – já que não há mais uma imposição de compra dos
adaptadores juntamente com os aparelhos -, adequando-se à necessidade de adotar políticas
ambientais sustentáveis e evitar, assim, o desperdício de recursos fundamentais para o meio ambiente.

Não se pode perder de vista que a Apple é uma empresa de alcance global, que
distribui milhões de iPhones anualmente. Logo, uma vez implementada a medida de remoção dos
adaptadores para todas as embalagens de seus produtos, não haverá mais a necessidade de
fabricação de milhões de novos adaptadores de tomada por ano, evitando com isso a extração
desnecessária de matéria prima para fabricação deles.

É importante ressaltar que, atualmente, há mais de 2 bilhões de adaptadores de


tomada distribuídos pelo mundo apenas pela Apple, sem contar outros bilhões de adaptadores
fabricados por outros fornecedores.

2 Disponível em: https://www.europarl.europa.eu/doceo/document/RC-9-2020-0070_EN.htm.


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A decisão da Apple de reduzir os acessórios incluídos no iPhone está de acordo
com o Código de Conduta da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE) 3, cujos
princípios básicos incluem a preservação do meio ambiente por seus associados: “Somos todos
responsáveis pela preservação do meio ambiente em bases sustentáveis. Devemos nos dedicar à
produção e consumo de bens e serviços de forma a atender as necessidades das atuais gerações e
permitir melhores condições de vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o atendimento das
necessidades das gerações futuras.”

E mais, a remoção do adaptador de tomada das embalagens do iPhone, de compra


até então compulsória, atende aos objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, regida pela
Lei nº 12.305/2010, merecendo destaque o seu artigo 4º:

“Art. 4º A Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos,
diretrizes, metas e ações adotados pelo Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com
Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento
ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.”

Cabe ainda ressaltar os objetivos de referida legislação, de modo que a conduta da


Apple atende do artigo 7º, incisos II, III e IV:

“Art. 7º São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos:


(...)

3 Disponível em: http://www.abinee.org.br/informac/arquivos/codigo.pdf.


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II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição
final ambientalmente adequada dos rejeitos;
III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços;
IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar
impactos ambientais” (sem ênfase no original)

A supressão do adaptador de tomada atende também as diretrizes do artigo 31 da


Política Nacional de Resíduos Sólidos em seu inciso I, alínea “b”, abaixo transcrita, o que evidencia a
licitude da prática:

“Art. 31. Sem prejuízo das obrigações estabelecidas no plano de gerenciamento de resíduos sólidos e com
vistas a fortalecer a responsabilidade compartilhada e seus objetivos, os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes têm responsabilidade que abrange:
I - investimento no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no mercado de produtos:
(...)
b) cuja fabricação e uso gerem a menor quantidade de resíduos sólidos possível” (sem ênfase no
original)

A Política Nacional de Resíduos Sólidos fornece metas e instrumentos essenciais


para o desenvolvimento sustentável do país e, ainda, para lidar com a crise ambiental e social
decorrente da fabricação de produtos, de forma a alinhar o progresso tecnológico da sociedade com a
redução de resíduos e lixo eletrônico gerados para o meio ambiente.

Empresas como a Apple, considerando sua representatividade em termos globais,


têm um papel fundamental a desempenhar na gestão responsável de resíduos.

Esse movimento da Apple, no sentindo de prezar por um meio ambiente mais


equilibrado, não é novidade, sendo verificável em outras ações que executa, como o Programa de
Reciclagem4, de abrangência nacional, por meio do qual o consumidor pode entrar em contato com a
empresa pelo e-mail (renewbrasil@apple.com) ou telefone (0800-772-3126) e informar que deseja
enviar o produto para reciclagem. Os produtos também podem ser encaminhados para reciclagem
diretamente nas lojas da Apple (ex: Apple Morumbi e Apple VillageMall).

A Apple também faz investimentos vultosos para preservação do meio ambiente,

4 Disponível em: https://www.apple.com/br/recycling/.


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tendo investido US$ 200 milhões no primeiro Fundo de Restauração para acelerar soluções naturais
para as mudanças climáticas, como inovações florestais e embalagens responsáveis para oferecer
novos retornos financeiros e climáticos5, além de ter se comprometido a investir US$ 4,7 bilhões em
títulos verdes para a geração de 1,2 GW de energia limpa6.

Além disso, políticas de sustentabilidade norteiam toda a cadeia de produção da


Apple, a exemplo das abaixo transcritas, retiradas diretamente do site da Apple7:

Dentro do mesmo objetivo, a Apple é membro da gestora de logística reversa Green


Eletron (https://www.greeneletron.org.br), com programa nacional implementado no Estado de São
Paulo e em outros 12 estados, e com plano aprovado de crescimento em todo o território nacional
para fins de operacionalizar a logística reversa de eletrônicos, pilhas e baterias.

5 Disponível em: https://www.apple.com/newsroom/2021/04/apple-and-partners-launch-first-ever-200-million-restore-fund/.


6 Disponível em: https://www.apple.com/newsroom/2021/03/apples-four-point-seven-billion-green-bond-spend-is-helping-to-create-one-
point-two-gigawatts-of-clean-power/.
7 Disponível em: https://www.apple.com/br/environment/.
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A Apple, desde 2018, já iniciou suas atividades com a Green Eletron, incluindo
piloto, já contando com pontos disponíveis em SP, bem como em outros Estados.

Por fim, a também a corroborar o seu comprometimento com o meio ambiente, a


Apple possui atualmente zero emissão de carbono em suas operações globais, com todas as suas
lojas, escritórios e data centers em 44 países funcionando com energia de fontes 100% renováveis.

O compromisso da Apple agora é zerar as emissões de carbono também na


fabricação de seus produtos, possibilitando a produção com energia limpa e sem emissão de carbono
até 2030. Isto quer dizer que cada aparelho Apple vendido, desde a obtenção da matéria prima,
fabricação de componentes, montagem, transporte, uso pelos clientes, recarga e reciclagem e
recuperação de materiais, será 100% neutro em emissão de carbono.

Assim, e como é salutar, a Apple busca promover as suas atividades visando


sempre o bem-estar dos seus consumidores em equilíbrio com um meio ambiente mais saudável e
sustentável. Isso porque entende ser de suma importância que ambos os bens jurídicos sejam
sopesados conjuntamente quando das decisões relativas à produção e consumo, de forma a se
atender ao melhor interesse de toda a coletividade – incluídos aí os consumidores.

Diante do exposto, restou demonstrado que o objetivo principal da Apple ao


limitar os acessórios incluídos nos produtos é reduzir a emissão de carbono e o lixo eletrônico.
Isso está em conformidade e é incentivado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos e, nos termos
que serão discutidos nos autos, está em conformidade com as leis e demais normas aplicáveis e essa
prática já vem sendo praticada pela Apple há bastante tempo.

Prova disso são os substanciais valores investidos pela Apple em ações de


sustentabilidade ambiental, que em muito superam qualquer possível economia que seria
supostamente gerada com a cessação do fornecimento do adaptador de tomada com os produtos
comercializados.

Assim, se o interesse da Apple fosse de natureza econômica, bastaria à Apple não


adotar qualquer das medidas, acima descritas, e manter o fornecimento de adaptadores de tomada
com todos os produtos vendidos, que os seus gastos seriam muito menores do que os valores
incorridos com todas as medidas de conservação ambiental acima descritas.

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Isso, por si só, já é prova suficiente de que a conduta da Apple não possui qualquer
finalidade de obtenção de lucro às custas dos consumidores, sendo ditada, exclusivamente, pelas suas
políticas ambientais, as quais, repita-se, estão perfeitamente em linha com a Política Nacional de
Resíduos Sólidos e com as normas internacionais aplicáveis.

2.4. DO CUMPRIMENTO DO DEVER DE INFORMAÇÃO CLARA E ADEQUADA AO


CONSUMIDOR

Os iPhones de últimas gerações, assim como a maioria dos aparelhos eletrônicos


modernos, podem ser carregados utilizando-se cabos de energia ou não (carregamento por indução).
No caso do carregamento com cabos de energia, o carregamento depende do uso de um cabo que
tem, em uma extremidade, um conector compatível com o aparelho iPhone (chamada de “entrada
Lightning”), e, na outra extremidade, uma entrada padrão USB (Universal Serial Bus).

O padrão USB é utilizado por diversos fabricantes de computadores e aparelhos


eletrônicos e permite a conexão dos mais diversos periféricos, sempre utilizando a mesma entrada e,
portanto, os mesmos cabos.

Em caso de opção pelo carregamento com cabo, o usuário deve conectar uma das
entradas do cabo (a entrada Lightning) no aparelho celular e a outra extremidade (entrada USB) em
uma fonte de alimentação de energia, que poderá ser um computador, um notebook, um adaptador de
tomada, um adaptador automotivo, bateria portátil etc.

Importante reforçar que o conector e entrada Lightning estão no mercado


brasileiro e mundial desde 2012. Portanto, os clientes podem escolher utilizar o cabo USB-C
disponibilizado na caixa ou qualquer outro cabo homologado no Brasil pela ANATEL com a
entrada Lightning, inclusive os anteriormente fornecidos pela Apple, não havendo qualquer
prejuízo à garantia legal ou contratual.

Com a evolução tecnológica, o modelo USB também passou por aperfeiçoamentos,


sendo que, hoje, existem variações de entradas USB, como USB-A, USB-B e USB-C. No caso da
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entrada USB-C, por exemplo, o conector é menor que as versões anteriores e a entrada é reversível,
o que significa que a conexão pode ser feita em qualquer sentido.

Além disso, o conector USB-C tem um desempenho melhor, permitindo a


transferência de um número muito maior de dados, o que permite a transmissão de vídeos de
alta qualidade por meio de cabos que usam esse conector, por exemplo; e uma transmissão de
carga elétrica superior, o que permite o carregamento muito mais rápido de baterias, conforme
imagens abaixo:

Em atenção ao disposto no artigo 6º, III, do Código de Defesa do Consumidor, a


Apple informa de maneira clara e adequada em seu site que o aparelho vem acompanhado do cabo
USB-C para Lightning, explicando que a exclusão do adaptador de tomada faz parte dos esforços da
Apple para atingir seus objetivos ambientais, em linha com o já exposto anteriormente. Confira-se8:

8 https://www.apple.com/br/shop/buy-iphone/iphone-se

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A Apple ainda recomenda aos usuários que reutilizem os cabos USB-A para
Lightning e os adaptadores de energia e fones de ouvido compatíveis, como medida de
sustentabilidade. Não obstante, caso seja necessário, os adaptadores de energia ou fones de ouvido
também estão disponíveis para compra, seja diretamente pelo site da Apple, seja de outros
fabricantes.

Da mesma forma, consta expressamente na embalagem do produto o conteúdo


(aparelho e cabo USB-C para Lightning), bem como a informação de que o adaptador de alimentação
e os fones de ouvido são vendidos separadamente:

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Ainda, a Apple disponibiliza em seu site informações detalhadas sobre os
adaptadores de alimentação USB, explicando a diferença entre eles e os aparelhos compatíveis9:

9 Disponível em: https://support.apple.com/pt-br/HT210133.


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Não obstante, o site da Revenda10 também possui as informações do produto
claras ao indicar que os acessórios não acompanham o produto, conforme podemos verificar
abaixo:

Frise-se que, mesmo se o produto foi adquirido em loja física, a parte Autora
teve ampla oportunidade de ler a caixa no momento da compra e verificar a ausência dos
acessórios e, inclusive, abrir o produto para verificar seu conteúdo.

Portanto, resta claro que todas as informações acerca da remoção do adaptador

10

https://www.shoptime.com.br/produto/2449596043?epar=bp_pl_px_go_pmax_telefonia_
1p&opn=GOOGLEXML&WT.srch=1&gclid=CjwKCAjwo8-
SBhAlEiwAopc9W8hV7kcudyHEMdDokhe-
rbQtcGWCniadI5qD2kRKhfg0oWV60sFwDhoCagoQAvD_BwE
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de tomada do produto são veiculadas de forma clara, precisa e ostensiva, conforme determinado pelo
artigo 6º, III, do CDC.

Além das informações constantes no site e na embalagem do produto, é público e


notório que os consumidores foram devidamente informados acerca da retirada do adaptador
de tomada e dos fones de ouvido também no evento mundialmente transmitido e realizado em
13/10/2020, o qual foi amplamente divulgado em canais de notícias, mídias e redes sociais por todo o
mundo e em todos os países nos quais a Apple comercializa aparelhos iPhone.

Assim, ao adquirir o produto o consumidor tem plena ciência de que ele não
acompanhará o adaptador de tomada.

Diante dessa informação clara, ostensiva e inequívoca, o consumidor pode


optar por carregar o seu aparelho de diversas formas, incluindo, mas não se esgotando, em
utilizar um adaptador de tomada que já possua em conjunto com o cabo USB-A ou USB-C ou
ainda adquirir um adaptador de tomada, seja este fabricado pela Apple ou por terceiros
homologados pela ANATEL no Brasil.

O que não é cabível é o consumidor adquirir o aparelho, ciente de que ele não
acompanha o adaptador de tomada, e depois ingressar em Juízo pleiteando que a Apple forneça,
gratuitamente, um acessório que ele sabia não ser fornecido juntamente com o aparelho, sob pena de
conduta contraditória. Mesmo porque, conforme será demonstrado, o adaptador de tomada não é um
item essencial para a utilização do aparelho.

Inclusive, nos casos que já foram levados ao Poder Judiciário para questionar
especificamente a ausência do adaptador de tomada nos aparelhos celulares iPhone, foi reconhecida
a inexistência de qualquer abusividade, destacando-se a suficiência das informações prestadas
pela Apple e o livre arbítrio do consumidor de adquirir ou não o produto comercializado sem o
adaptador de tomada. Confira-se:

“(...) Trata-se de ação de conhecimento em que alega os autores alegam, em síntese, que, em
04/11/2020, realizou a compra, junto às rés, de aparelho iPhone 11. Contudo, afirma que, ao chegar
em casa, notou que o bem não acompanhava carregador e o cabo, o que discorda. Assim pretende a
condenação das rés em obrigação de fazer e danos morais. (...) Em relação aos demais acessórios

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há informação clara quanto à não disponibilização, na própria na caixa do produto (fl. 21) que:
´ADAPTADOR DE ALIMENTAÇÃO E FONES DE OUVIDO SÃO VENDIDOS SEPARADAMENTE´.
Assim sendo, não verifico irregularidade no atuar das rés, portanto, não há dano a ser reparado.
Isto posto, JULGO IMPROCEDENTE os pedidos autorais, nos termos do art. 487, I, do NCPC. (...)”
(Processo nº 0009277-98.2020.8.19.0207, 20ª Vara do Juizado Especial Cível da Comarca do Rio de
Janeiro/RJ, julgado em 11/3/2021, sem ênfase no original)

“(...) Se, de um lado, pode ser questionável a postura da Apple Computer Brasil Ltda em vender seus
aparelhos sem os fones e o adaptador de alimentação, cabe aos consumidores sopesar tal fato
(que, como reconhecido pelo autor, foi devidamente anunciado tanto pela vendedora quanto
pela montadora) na hora da compra, optando, se o caso, pela concorrência.
O que não se pode admitir, data vênia, é a reserva mental, como se deu no presente caso, em
que o autor comprou o produto e, no dia seguinte, já ingressou com a demanda para fazer com
que o Poder Judiciário obrigue a ré a cumprir a prática comercial que, sabidamente, não mais
realiza. (...)” (Processo nº 1019678-91.2020.8.26.0451, Vara do Juizado Especial Cível da Comarca
Piracicaba/SP, julgado em 17/11/2020, sem ênfase no original)

“(...) Se insurge a parte autora quanto a venda do celular sem adaptador para carregar o celular e fones
de ouvido. Firme em tudo que consta nos autos, entendo que não assiste razão a parte autora. Isso
porque, o documento de fl. 05 é claro que o produto escolhido está sendo comercializado sem o
respectivo adaptador de energia e earpods, ou seja, fone de ouvido e informa, ainda que, caso os
tenha, pode usar tais itens ou adquira novos. Nesse diapasão, não há que se falar em falha no dever
de informação. Quanto a este ponto, destaca-se que antes de alterar a modalidade de venda a
fabricante informou amplamente tal circunstância. Ademais, a forma de comercialização dos
seus produtos se insere na sua liberdade econômica, âmbito a qual a intervenção do Poder
Judiciário é mínima e excepcional. Com efeito, embora a relação ora vertente seja de consumo e
tenha natureza jurídica de princípio constitucional, no caso em espeque, observa-se que há dois
princípios em rota de colisão. Nesse diapasão, à luz do caso concreto, deve ser analisado qual deve
preponderar, a partir da aplicação de método da ponderação com esteio na Teoria dos Princípios de
Alexy. Com efeito, conforme regras ordinárias de experiência, a venda está sendo efetuada com
e sem os acessórios, cabendo ao consumidor optar se os deseja ou não, sendo certo que há
substancial majoração do valor do celular comercializado com os itens. Assim, tendo em vista
que a venda do aparelho com esses itens repercute no preço final do produto, onerando mais
ainda o consumidor, o princípio da liberdade econômica prevalece. Portanto, não há que se falar

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em ato ilícito. Ante todo o exposto, RESOLVO O MÉRITO na forma do art. 487, inciso I, CPC: JULGO
IMPROCEDENTES os pedidos. (...)” (Processo nº 0026739-65.2020.8.19.0208, 12ª Vara do Juizado
Especial Cível da Comarca do Rio de Janeiro/RJ, julgado em 8/2/2021, sem ênfase no original)

Destarte, por todo o exposto, verifica-se que a Apple agiu em conformidade com o
disposto no artigo 6º, III, do CDC, informando os consumidores de forma expressa e inequívoca
acerca da remoção do adaptador de tomada dos aparelhos iPhone, razão pela qual não há que se
cogitar na condenação da Apple referente aos consumidores que optaram por adquirir o produto
sabendo que este não era acompanhado do adaptador de tomada.

2.5. DA INEXISTÊNCIA DE PRÁTICA ABUSIVA OU VENDA CASADA – ADAPTADOR


DE TOMADA NÃO É UM ACESSÓRIO ESSENCIAL

Com o máximo e devido respeito ao quanto alegado pela parte Autora, a venda do
iPhone sem o adaptador de tomada não configura venda casada, assim entendida como a prática
abusiva de “condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou
serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos”, conforme previsto no artigo 39, I, do CDC.

Isso porque a Apple faz justamente o contrário, ou seja, vende o aparelho


separado do adaptador de tomada, deixando o consumidor livre para escolher adquirir o acessório
apenas em caso de necessidade.

Tal opção não é abusiva pois decorre da necessidade global de se adotar políticas
ambientais sustentáveis e evitar o desperdício de recursos, sobretudo diante da realidade dos fatos,
na qual grande parte dos consumidores já possui adaptadores de tomada e/ou outras formas de
carregar seus dispositivos, inclusive de outros aparelhos eletrônicos, que podem ser utilizados
para carregar a bateria do iPhone.

Também não há que se cogitar em venda casada “às avessas”, “indireta” ou


“dissimulada”, a qual “consiste em se admitir uma conduta de consumo intimamente relacionada a um
produto ou serviço, mas cujo exercício é restringido à única opção oferecida pelo próprio fornecedor,
limitando, assim, a liberdade de escolha do consumidor.”, como conceituou a Ministra Nancy Andrighi
no julgamento do Recurso Especial n. 1.737.428, ao tratar da cobrança de taxa de conveniência na
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compra de ingressos pela internet.

Conforme se depreende de tal conceito, para que ocorra a venda casada indireta,
é necessário que a aquisição de um produto esteja vinculada a outro, que é a única opção oferecida
pelo próprio fornecedor, limitando a liberdade de escolha do consumidor. Isso não ocorre no caso
da Apple, eis que o consumidor tem a liberdade de adquirir o adaptador de tomada somente caso
tenha necessidade, e ainda optar por adquirir um adaptador de tomada fabricado pela Apple ou
por terceiros, inexistindo exclusividade.

Conforme demonstrado, os novos aparelhos iPhone são vendidos juntamente


com o cabo, que possui, de um lado, a saída Lightning, compatível com os aparelhos iPhone e, de
outro, a saída USB-C, compatível com adaptadores de tomada padrão USB- C11:

Ademais, a saída padrão USB-C não é exclusiva dos acessórios fabricados


pela Apple, sendo utilizada largamente na indústria de aparelhos eletrônicos, por proporcionar
diversas vantagens com relação à saída padrão USB-A, como carregamento rápido, alta durabilidade
e maior velocidade de transferência,

11 Disponível em: https://www.apple.com/br/iphone-12/specs/


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Ainda, após uma rápida pesquisa por meio da ferramenta de busca do Google, foi
possível elaborar uma lista demonstrativa de diferentes produtos, marcas e de diferentes datas
de lançamento, sendo possível verificar que a tecnologia USB-C está sendo amplamente
disponibilizada no mercado, a saber:

Categoria Notebooks:

1. Lenovo IdeaPad L340 Gamer – lançado em 2019 no Brasil


(https://www.lenovo.com/br/pt/laptops/ideapad/ideapad-gaming-
laptops/IdeaPad-L340-15IRH-Gaming/p/88IPL301161);
2. Samsung Chromebook 4 -lançado em 2019 no Brasil
(https://shop.samsung.com/br/samsung-chromebook-4/p);
3. Lenovo ThinkPad E14 – lançado em 2020 no Brasil
(https://www.lenovo.com/br/pt/laptops/thinkpad/serie-
e/E14/p/22TPE14E4N1);

Categoria Smartphones:

1. Samsung S10 – lançado em 2018 no Brasil


(https://shop.samsung.com/br/galaxy-s10/p);
2. LG G7 ThinQ – lançado em 2018 no Brasil
(https://www.lg.com/br/celulares/lg-LMG710EMW-smartphone-lg-g7-thinq-
lg);
3. Motorola One Hyper – lançado em 2019 no Brasil
(https://www.motorola.com.br/smartphone-motorola-one-hyper/p).

Não obstante, desde 2015, a Apple utiliza nos notebooks modelo MacBook a saída
padrão USB-C.

No mercado, inclusive, há adaptadores de tomada padrão USB-C de diversos


fabricantes como, por exemplo, da Motorola12 e Geonav13:

12 https://www.amazon.com.br/Carregador-Viagem-embalagem-Original-
Motorola/dp/B084PT52ND/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=c
13 https://www.amazon.com.br/Carregador-Universal-Delivery-CH20WPDWT-

Geonav/dp/B08ZB6PW9Z/ref=sr_1_4?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=c
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Como dito anteriormente, a utilização de acessórios fabricados por terceiros e
homologados no Brasil não prejudicam a garantia legal ou contratual do iPhone adquirido.

Esclarece-se ainda que, para a utilização dos cabos USB-C ou USB-A, não é
necessário utilizar qualquer tipo de adaptador para conversão dessas saídas, basta o cliente conectar

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a saída Lightning presente em ambos os cabos na entrada Lightning do iPhone e as saídas USB-A ou
USB-C em portas compatíveis, sejam quais forem.

Como dito anteriormente, os iPhones podem ser carregados:

I. Por carregadores de indução, de qualquer outro fabricante ou da Apple;


II. Com a utilização do cabo USB-A, entregue anteriormente, para conectar
em tomadas com conectores USB-A;
III. Com a utilização do cabo USB-C, incluso na caixa, para conectar em
tomadas com conectores USB-C;
IV. Com a utilização do cabo USB-A, entregues anteriormente, para
conectar em portas de computadores compatíveis e outros
equipamentos;
V. Com a utilização do cabo USB-A e adaptador de energia, entregues
anteriormente ou de marcas de terceiros homologados no Brasil;
VI. Com a utilização do cabo USB-C, incluso na caixa, para conectar em
portas de computadores compatíveis e outros equipamentos;
VII. Com a utilização do cabo USB-C, incluso na caixa e adaptador de
energia, de marcas de terceiros homologados no Brasil ou da Apple.

Ou seja, os consumidores possuem diversas opções para carregar e conectar os


seus dispositivos, incluindo uma variedade de adaptadores de tomada, entradas USB-C e opções de
carregamento sem fio fornecidos por terceiros.

O adaptador de tomada USB-C fabricado pela Apple não é a única opção para
carregamento do iPhone, tampouco é essencial para o funcionamento do dispositivo vendido,
em particular, porque os usuários do iPhone não são obrigados a comprar acessórios da Apple
para carregar o iPhone.

Com efeito, na remota hipótese de o consumidor que adquiriu um iPhone não


possuir o adaptador de outros aparelhos, se optar pelo carregamento utilizando o cabo e o adaptador
de tomada, ele terá a opção de escolher, entre inúmeros fornecedores e produtos disponíveis no
mercado, aquele em quem mais confia e que melhor se enquadra às suas necessidades, inclusive
financeiras.

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Como se vê, ao invés de se restringir o poder de escolha do consumidor – o
que ocorreria no caso de obrigatoriedade da compra do adaptador conjuntamente com o
aparelho – a Apple amplia a sua liberdade de decisão e a livre concorrência, resultando em
preços mais atrativos e produtos de maior qualidade ao consumidor.

Tal fato, portanto, não implica uma vantagem para a Apple em detrimento do
consumidor, o qual é livre para adquirir adaptadores de tomada de outras marcas, caso queira, ou
carregar o aparelho de outras formas.

Esse, inclusive, é o caso de grande parte dos consumidores de aparelhos celulares


da Apple. Como o produto iPhone é relançado anualmente para refletir os últimos avanços tecnológicos
há mais de 12 anos, a Apple percebeu que muitos consumidores que adquiriam iPhones não tinham a
necessidade de adquirir novamente adaptadores de tomada, que poderiam ser aproveitados de
aparelhos anteriores.

Portanto, sob uma perspectiva de consumo consciente, é muito mais razoável e


ecologicamente sustentável que o consumidor adquira separadamente um adaptador de
tomada, caso tenha necessidade, fabricado pela Apple ou por terceiros, do que a Apple fornecer
um adaptador de tomada para todos os consumidores indistintamente, mesmo para aqueles
que já possuem e não precisam do acessório.

Também do ponto de vista econômico, é muito melhor para os consumidores


que apenas aqueles que de fato precisem de um adaptador de tomada paguem por esse
adaptador, adquirindo o produto separadamente, do que obrigar que todos os consumidores
que desejem adquirir um dispositivo tenham que pagar por um adaptador de tomada, cujo preço
estava embutido no preço do aparelho, o que NÃO é mais o caso.

Na nova sistemática adotada pela Apple, o consumidor que não precisa adquirir o
adaptador de tomada, não paga por esse adaptador, já que adquire o novo aparelho sem o adaptador
de tomada.

Já o consumidor que precisa do adaptador, pode adquiri-lo de sua escolha,


seja o fabricado pela Apple ou por terceiro, podendo até mesmo adquirir um adaptador de preço

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inferior àquele oferecido pela Apple, o que também atende aos seus interesses econômicos,
contando que seja homologado pela ANATEL.

Portanto, a política implementada pela Apple é mais favorável não apenas do ponto
de vista ambiental, mas também do ponto de vista econômico, tanto para os consumidores que têm
interesse na aquisição do adaptador de tomada, quanto para aqueles que não têm interesse.

Ainda que a Apple continue comercializando separadamente os adaptadores de


tomada, o número de acessórios fabricados será consideravelmente menor do que se eles fossem
fornecidos indistintamente a todos os consumidores juntamente com o aparelho celular, o que está em
linha com as medidas adotadas globalmente pela Apple para reduzir a quantidade de resíduos sólidos
decorrentes de acessórios supérfluos para boa parte dos consumidores.

Também é importante reforçar que os carregadores compatíveis fabricados por


terceiros, que atendam às regulamentações e padrões de segurança aplicáveis, como, por exemplo,
certificados pela ANATEL, podem ser utilizados para carregar o iPhone sem afetar a sua garantia
contratual. In casu, podemos perceber que a parte Autora inclusive fez uso dessa possibilidade,
adquirindo um adaptador de terceiro.

2.6. DA AUSÊNCIA DE INEDITISMO DA DECISÃO COMERCIAL ADOTADA PELA


APPLE

Cumpre ainda observar que o iPhone não é o único aparelho que passou a ser
comercializado pela Apple sem o adaptador de tomada.

Além dele, a Apple também vende de forma similar o Apple Watch e os AirPods, e,
por muitos anos, também vendeu diversos modelos de iPod, que vinham acompanhados tão somente
do cabo USB, sem que houvesse qualquer questionamento pelos consumidores ou pelas autoridades.

Além da Apple, diversos outros fabricantes também comercializam, há anos


no mercado brasileiro, produtos eletrônicos acompanhados apenas do cabo para
carregamento.

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O produto Kindle14, vendido pela Amazon há mais de 03 (três) anos, acompanha
somente o cabo para carregamento, sem o respectivo adaptador:

Imperioso também observar que o produto Nintendo 3DS XL também é


vendido sem o adaptador de bateria desde 2012, conforme indicado no respectivo anúncio15:

Podemos citar também os fones de ouvido da JBL16 que também vêm

14 Amazon - Kindle
15 https://www.zoom.com.br/console-de-video-game/console-portatil-new-3ds-nintendo
16 https://www.jbl.com.br/headphones/TUNE510BT-.html?dwvar_TUNE510BT-_color=White-GLOBAL-

Current&cgid=headphones#start=1
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acompanhados somente do cabo USB-C, entre muitos outros, o que reflete uma prática de mercado
cada vez mais disseminada diante da conscientização ambiental das empresas, com as quais os
consumidores já estão plenamente familiarizados.

Fato é que o tema da de aparelhos eletrônicos sem os acessórios não é novo,


tendo a jurisprudência já reconhecido a legalidade de tal prática.

Como exemplo, o E. Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu inexistir qualquer


conduta abusiva na venda de um aparelho eletrônico sem os acessórios, tendo reconhecido que a
medida é conveniente ao consumidor, que pode escolher outras opções disponíveis no
mercado, não sendo obrigado a adquirir um produto que eventualmente não necessite:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Consumidor. Comercialização de impressoras sem o cabo USB.


Pretensão do Parquet de obrigar a Fabricante a disponibilizar o cabo USB aos consumidores,
bem como a retirar as impressoras desacompanhadas do cabo e a pagar os danos patrimoniais e
morais causados aos consumidores que adquiriram os produtos sem o conector USB, com ampla
divulgação da decisão condenatória nos meios de comunicação. SENTENÇA de improcedência.
APELAÇÃO do autor, reiterando o pedido inicial. REJEIÇÃO. Aplicação do CDC. Irregularidade da
venda não verificada. Dever de informação da ausência de cabo na aquisição suprido. Venda separada
do cabo que favorece aos consumidores. Sentença mantida. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
NÃO PROVIDO.

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(...) O consumidor que adquire impressora que não possua o cabo USB, em que pese o incômodo de
ter de adquirir o cabo USB, tem a opção de, entre as opções disponíveis no mercado, escolher
aquela que mais seja conveniente às suas necessidades, favorecendo a livre concorrência entre
os fabricantes de cabo USB e estimulando a disponibilização do produto pelo menor preço.
Por outro lado, o consumidor que adquire impressora já com o cabo USB seria obrigado a
adquirir produto que eventualmente não necessite, quer porque está substituindo impressora
antiga ou porque possui outros equipamentos eletrônicos com o mesmo tipo de conector.
Igualmente, o consumidor seria forçado a adquirir cabo da fabricante, em flagrante prática de
venda casada (v. artigo 39, inciso I, da Lei 8.078/90) (...)” (TJSP, Apelação nº 0128975-
17.2012.8.26.0100, 27ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Daise Fajardo Nogueira Jacot, j.
07.02.2017, r. 09.02.2017, sem ênfase no original)

"AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Pretensões condenatórias ao cumprimento de obrigações de fazer e


não fazer (obrigar a ré a abster-se de fabricar e revender impressoras sem o cabo USB, bem
assim retirar do mercado aquelas sem o acessório e divulgar amplamente a decisão) e de
indenização aos adquirentes de produtos nestas condições julgadas improcedentes – Irregularidade
na fabricação e comercialização do produto não reconhecida, em conta, sobretudo, a
informação sobre a ausência do cabo aos adquirentes do produto – Modelos que, além disso,
possuem conexão em rede sem fio, por isso que a ausência do cabo não impede o funcionamento da
impressora – Venda separada do cabo que favorece os consumidores – Sentença mantida –
Apelação conhecida e não provida." (TJSP, Apelação nº 0152361-76.2012.8.26.0100, Rel. Sá Duarte,
33ª Câmara de Direito Privado, j. 25.03.2019, sem ênfase no original).

Em outros casos envolvendo especificamente o fornecimento do carregador de


energia e os aparelhos iPhone, também foram proferidas decisões reconhecendo que o acessório não
é essencial, e que não há prática abusiva ou venda casada:

“(...) Primeiramente, cumpre asseverar que, o carregador e principalmente o fone de ouvido, não
são itens essenciais ao funcionamento do aparelho. A fabricante deixou de fornecer, apenas, o
plugue de tomada para carregar a bateria. Contudo, o conector USBC, que acompanha o
produto, pode ser utilizado em qualquer dispositivo que dê suporte a essa tecnologia. Ademais,
não se trata de venda casada, visto que, a ausência dos itens não retira do consumidor a
prerrogativa da livre escolha, como se um produto não pudesse ser adquirido sem o outro, ou
se um produto não tivesse finalidade sem o outro. Assim, seria uma falha legal da empresa, por
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exemplo, se ela deixasse de oferecer todos os insumos necessários para a recarga do celular. Se o
cabo também fosse condicionado a uma compra separada. Por fim, ao adquirir o produto o consumidor
tem acesso a todas as suas características e funcionalidades, pela simples análise da caixa ou detalhes
do produto, no caso de venda por sítios eletrônicos. Não houve ocultação de informações por parte da
demandada, mas sim livre arbítrio do adquirente em comprar o produto. (...) Em face do exposto,
julgo improcedente os pedidos autorais. (...)” (Processo nº 0002878-16.2020.8.05.0022, 1ª Vara do
Juizado Especial Cível da Comarca de Barreiras/BA, julgado em 23/3/2021, sem ênfase no original)

“(...) A parte autora prova a compra do produto à fl. 18 e reclama a ausência de entrega do adaptador
para o carregador e dos fones de ouvido. Em que pesem as alegações autorais, os pedidos não
merecem prosperar. Verifica-se que o adaptador para o carregador e os fones não são itens
essenciais ao funcionamento do smartphone e o não fornecimento desses itens não
necessariamente afetará o uso do aparelho. O consumidor tem outros meios de fazer a recarga
do celular além do plug de tomada. Além disso, no momento da compra, a parte autora teve acesso
a todas as informações do conteúdo da embalagem do produto que estava adquirindo. Sendo assim,
considero inexistente a falha na prestação do serviço. Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTES
os pedidos formulados na inicial (...)” (Processo nº 0054140-18.2020.8.19.0021, 2ª Vara do Juizado
Especial Cível da Comarca de Duque de Caxias/RJ, julgado em 17/3/2021, sem ênfase no original)

“(...) A parte autora, contudo, não comprovou a oferta do réu, não havendo a demonstração de que os
acessórios estariam incluídos na caixa. Ademais, nem o adaptador de tomada, nem os fones de
ouvido são essenciais para o funcionamento do aparelho, sendo certo que se pode utilizar
diversos outros métodos para que o aparelho tenha carga, já que o cabo, que é específico,
continua sendo disponibilizado. Além disso, o réu é uma empresa privada e tem como objetivo
primordial o lucro. Se a retirada de acessórios não impacta as vendas e aumenta o lucro do réu, não
há motivos para obrigar à entrega dos produtos não essenciais. (...)” (Processo nº 0289168-
268.19.00001, 21ª Vara do Juizado Especial Cível da Comarca do Rio de Janeiro/RJ, julgado em
23/2/2021, sem ênfase no original)

Portanto, a Apple demonstrou a ausência de abusividade na venda do iPhone sem


o adaptador de tomada e, por conseguinte, a não configuração da alegada venda casada, por inexistir
a venda de um produto condicionado à aquisição de outro, tampouco vantagem excessiva da Apple
em detrimento do consumidor, o qual pode adquirir o adaptador de tomada de outras marcas ou usar

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eventuais adaptadores que já possua, estando a conduta da Apple em consonância com o Direito do
Consumidor e com as normas de proteção ambiental.

2.7. A ATUAÇÃO DA APPLE ESTÁ EM CONFORMIDADE COM OS PRINCÍPIOS DA


LIVRE INICIATIVA E DA LIVRE CONCORRÊNCIA

Como é evidente, não há na legislação qualquer dispositivo que obrigue os


fabricantes de aparelhos eletrônicos a fornecerem os respectivos acessórios e, consoante
demonstrado, o adaptador de tomada não é um acessório essencial e pode ser adquirido pelo
consumidor que necessite dele junto à Apple ou a terceiros, conforme a sua liberdade de escolha,
inexistindo venda casada ou prática abusiva.

A decisão de comercializar ou não determinado acessório não essencial


juntamente com o produto principal decorre dos princípios constitucionais da livre iniciativa e da
livre concorrência, previstos no artigo 170, caput e inciso IV, da CF, que permitem aos agentes
organizarem as suas atividades da forma que entenderem mais adequadas às necessidades de seus
consumidores e aos objetivos empresariais. No caso da Apple, um desses objetivos é promover a
sustentabilidade e a proteção do meio-ambiente.

Como exposto anteriormente, a remoção dos adaptadores de tomada dos


aparelhos iPhone foi adotada em nível global há anos, tendo a imensa maioria dos consumidores
compreendido e apoiado a decisão, seja porque a Apple não foi a primeira empresa a optar por não
fornecer o adaptador de energia, seja porque o mundo tem evoluído no sentido de se conscientizar
acerca da importância da preservação ambiental.

De fato, a questão aqui muito se aproxima da discussão iniciada há anos quanto à


possibilidade de estabelecimentos comerciais deixarem de fornecer sacolas plásticas aos
consumidores.

Em um primeiro momento, diversos órgãos de defesa do consumidor entenderam


que a medida seria prejudicial aos consumidores, já acostumados com a conveniência de ter acesso a
um número ilimitado de sacolas plásticas para transporte dos bens adquiridos.

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Hoje, no entanto, o entendimento quase unânime é de que a conveniência dos
consumidores não justifica a séria degradação ambiental causada pelas sacolas plásticas, se
distribuídas de forma indiscriminada.

Assim como se concluiu que a cobrança destacada pelo uso das sacolas é a melhor
forma para desestimular a produção e consumo de sacolas, é evidente que o fornecimento separado
do adaptador de tomada é a opção que melhor atende às exigências ambientais.

Nessa alternativa, a maioria dos consumidores que já dispõem dos


adaptadores não receberão um produto desnecessário, e que gera impacto ambiental
considerável. Por outro lado, os poucos consumidores que não disponham do adaptador e quiserem
utilizá-lo podem perfeitamente adquirir o adaptador, inclusive no ato da compra do aparelho celular
caso optem pelos produtos Apple – reiterando que os adaptadores de tomada de outras marcas
fabricados por terceiros também podem ser utilizados desde que homologados -, não havendo
qualquer prejuízo ou inconveniente quanto a isso.

Caso se exija que a Apple forneça o adaptador de tomada com o aparelho celular,
evidentemente, o custo do acessório será repassado ao produto, o que acabará por onerar
indistintamente todos os consumidores, mesmo aqueles que não necessitem do adaptador de energia.
Ou seja, além de promover maior impacto ambiental, a pretensão inicial também prejudicará os
consumidores de forma geral, sendo muito mais razoável que o adaptador de tomada seja
adquirido separadamente apenas pelos consumidores que realmente necessitem do acessório.

Somado a isso, a Lei da Liberdade Econômica também prevê no artigo 3º, III, o
direito de a empresa definir livremente o preço de produtos em mercados não regulados conforme as
alterações da oferta e demanda. É nítido o propósito do legislador de proteger a liberdade econômica
e a livre iniciativa, que não abrangem tão somente a definição de preços, mas também a forma como
os produtos e serviços são fornecidos no mercado.

Nesse sentido, cumpre trazer o seguinte comentário da Doutrina a respeito da Lei


da Liberdade Econômica:

“(...) Não há negar-se que a interpretação dos negócios jurídicos, sobretudo quando levada a efeito pelo
Poder Judiciário, é motivo de grande insegurança para todos os que desenvolvem atividade econômica

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no País. Muitas vezes, o Poder Judiciário acaba por intervir no cerne do conteúdo dos negócios por entenderem
que há alguma violação legal e ao assim proceder, frustram os objetivos das partes negociantes e também a
divisão dos riscos econômicos por elas estipuladas”. (A Lei de Liberdade Econômica e a Desjudicialização,
Manoel de Queiroz Pereira Calças, Samantha Ribeiro Meyer-Pflug Marques e Ruth Maria Junqueira de Andade.
Lei de Liberdade Econômica – Anotada – Vol. 2. São Paulo: Quartier Latin, 2020, sem ênfase no original)

Como forma de promover segurança jurídica e atrair investimentos e empresas ao


Brasil, a intervenção do Poder Judiciário na esfera econômica deverá ser mínima e excepcional,
tão somente para coibir ilegalidades, que não ocorreram no caso, conforme já demonstrado. A
comercialização de iPhones sem o adaptador de tomada, por sua vez, é uma decisão comercial
adotada mundialmente pela Apple, dentro de sua liberdade de iniciativa, aplicada de forma equânime
em todos os países nos quais são comercializados os aparelhos.

Inclusive a jurisprudência em casos análogos já reconheceu que a decisão


comercial da Apple em retirar os acessórios baseia-se na Livre Iniciativa e na Liberdade de Escolha
dos consumidores, conforme vemos o exemplo da decisão proferida abaixo:

"(...) Os aparelhos objetos da demanda eram usualmente vendidos de forma conjunta ao aparelho telefônico.
Contudo, tais produtos não são essenciais para o funcionamento do celular, uma vez que o cabo USB
responsável por alimentar a bateria foi devidamente fornecido. Assim, poderiam ser comercializados
separadamente. Logo, verifica-se que a venda conjunta tratava-se de escolha do fornecedor, que por questões
de política comercial optou por desmembrar as peças, com vendas separadas. Dessa forma, não cabe ao Poder
Judiciário interferir nas políticas comerciais da Ré, sob pena de violação a livre iniciativa. Ademais,
observa-se que o fato foi noticiado mundialmente em outubro de 2020, e a compra objeto da demanda
foi realizada em 28.11.2020. Portanto, o autor já tinha pleno conhecimento da ausência das peças
reclamadas, respeitando-se os princípios da transparência e boa-fé. Portanto, diante do respeito à
liberdade privada, princípio basilar do direito contratual, bem como pela ausência de violação aos
direitos do consumidor, verifica-se que não cabe razão ao autor, sendo improcedente o pleito ora
apresentado. (...)" grifo nosso - Processo n.º: 0040450-37.2020.8.19.0209.

Dessa forma, não é razoável que se busque, por meio de um processo judicial,
impor à Apple qual acessório a empresa deve ou não fornecer juntamente com o aparelho
exclusivamente aos consumidores brasileiros, afinal, conforme demonstrado, os consumidores têm
pleno acesso à informação de que o carregador de tomada, caso seja necessário, deve ser adquirido
separadamente, seja através da Apple, seja através de terceiros, devendo ser resguardada a liberdade
de escolha do consumidor de adquirir ou não o acessório, e a liberdade empresarial da Apple de
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organizar a sua atividade conforme os seus objetivos e diretrizes, sempre pautada na legalidade.

2.8. DA INEXISTÊNCIA DE DANO MATERIAL

A parte Autora tece a sua inicial alegando não ter recebido o acessório
(adaptador/fone de ouvido) após a compra de um iPhone em 05/07/2021, que conforme
exaustivamente explicitado ao longo desta peça, ficou elucidado que em 13 de outubro de 2020 a Apple
anunciou mundialmente a retirada de tais acessórios da caixa, portanto, a compra ocorreu mais de 9
meses após tal anúncio.

No entanto, sem qualquer respaldo legal, a parte requer que a Ré seja compelida
a entregar os acessórios, sob a alegação de um suposto direito de ter os acessórios fornecidos pela
Apple, contudo, não assiste razão a tal alegação, visto que este sequer comprovou a essencialidade
dos acessórios para fundamentar seu pedido de obrigação de fazer.

Tanto é verdade que, conquanto a parte Autora tenha adquirido o aparelho,


em 05/07/2021, a presente demanda foi distribuída, em 20/05/2022, e estamos no mês junho/2022,
de modo que, entre a aquisição do aparelho e a presente data, se passaram 319 (TREZENTOS E
DEZENOVE) DIAS, sem nenhuma notícia no sentindo de que ela não esteja usando o aparelho,
ou seja, desde a aquisição do aparelho, ela faz seu uso normalmente, comprovando que NÃO
SE TRATA DE ACESSÓRIO ESSENCIAL para o funcionamento do aparelho.

Nada obstante, ressalta-se que para existir a responsabilidade civil como


fator gerador indenizável é indispensável a ocorrência de um dano.

Ora, proceder com indenização por dano material, mas sem receber pela
contraprestação, certamente, gerará o enriquecimento não justificado da parte Autora, eis que ela
receberá um acréscimo em seu patrimônio sem justa causa, o que é vedado em nosso ordenamento
jurídico, uma vez que o acessório não foi cobrado no valor da compra do aparelho.

Ademais, mesmo que a parte Autora não tivesse observado detalhadamente a


informação da embalagem, o que não é o caso dos autos, tendo em vista a ampla divulgação da
informação pela Ré, ela teve o direito de arrependimento garantido, no entanto, optou por permanecer

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com o produto, comprovando que não houve qualquer irregularidade no procedimento adotado pela
Apple.

A parte Autora alega genericamente em sua fundamentação um suposto direito de


ter o acessório fornecido pela Apple, contudo, não assiste razão a tal alegação, visto que esta sequer
comprovou a essencialidade do acessório para fundamentar seu pedido.

Ressalta-se que para existir a responsabilidade civil como fator gerador


indenizável é indispensável a ocorrência de um dano.

De acordo com o dicionário Online de Português, Dicio17, dano pode ser definido
como “ação ou efeito de danificar, causar prejuízo, estrago”.

Já com relação ao significado jurídico, segundo o citado dicionário, dano é o


“prejuízo efetivo, real, provado”.

Maria Helena Diniz leciona que são três os elementos da responsabilidade civil18:
a) existência de uma ação, comissiva ou omissiva; b) ocorrência de um dano moral ou patrimonial
causado à vítima; e c) nexo de causalidade entre o dano e a ação, o que constitui o fato gerador da
responsabilidade civil.

Ocorre que, conforme esclarecido ao longo da peça, o usuário do iPhone dispõe


de inúmeras possibilidades para carregar o seu aparelho, uma vez que está incluso na caixa o cabo
USB-C para Lightning, bem como o cliente pode utilizar os acessórios já existentes e acessórios de
terceiros, além das outras possibilidades já ventiladas anteriormente.

Frise-se que, conforme bem demonstrado, em momento algum a parte Autora


comprovou prejuízo efetivo com a retirada dos acessórios ou ainda que não sabia de tal prática,
portanto, resta claro que estava ciente, seja por meio das informações claras, ostensivas e
objetivas feitas pela Apple, seja pelas informações coletadas nas mídias, razão pela qual não
há o que se falar em dano.

17 https://www.dicio.com.br/dano/
18 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. Responsabilidade civil. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, v. 7, p. 53-54
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Diante disto, resta claro que o pedido de reembolso dos acessórios não merece
prosperar, tendo em vista que não existe nexo causal ou dano capaz de suportar tal requerimento.

2.9. DA INOCORRÊNCIA DE DANOS MORAIS INDENIZÁVEIS

Excelência, patente no caso em tela que não há configuração do dano moral


conjecturado pela parte Autora, que pleiteia indenização por danos morais, que, indubitavelmente,
resulta no locupletamento sem causa de sua parte.

Pois bem, para que haja dano moral, é necessário que a ação positiva da Ré atinja
a integridade física ou psicológica, a liberdade, a paz, o bem-estar, a honra, a reputação, a autoestima,
a dignidade de um indivíduo, causando-lhe perturbação psíquica, perda de tranquilidade, dor,
sofrimento, humilhação, tristeza, revolta, constrangimento, insegurança ou medo.

Porém, no caso em comento, não há o dever de indenização por danos morais,


posto que não houve lesão a nenhum dos direitos da personalidade da parte Autora, bem como
nenhuma conduta humilhante ou depreciativa em face à sua honra e dignidade.

Ora, para que se caracterize o dano moral, de acordo com o artigo 186 do Código
Civil, é necessário que haja ato ilícito e, para tanto, é imperativo que a parte comprove nos autos: (i)
a ocorrência do dano; (ii) que este dano decorreu da ausência de um dever legal e (iii) o nexo de
causalidade entre o dano e os efeitos suportados.

In casu, não há a comprovação de tais elementos, visto que não há nenhum laudo
ou exame médico que demonstram problemas de saúde ou psicológicos, nem sequer documentos que
comprovam minimamente as alegações da parte Autora.

Excelência, tal ônus incumbe apenas e tão somente a parte Autora e ela se furtou
de produzir os fatos constitutivos de seu direito, limitando-se a fazer afirmações genéricas, sem
qualquer fundamento probatório de dano moral.

O pedido da parte Autora está em total dissonância com a correta interpretação do


nosso ordenamento jurídico posto que, conquanto alegue ter sofrido danos de ordem moral, deixa

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de demonstrar o suposto abalo moral alegado, indo na contramão do disposto no artigo 373,
inciso I do CPC, desde já prequestionado.

Evidentemente, não houve nenhuma conduta danosa por parte da Ré, uma
vez que todas as informações necessárias foram prestadas tempestivamente de maneira clara,
precisa, objetiva e em língua nacional, em atenção ao Princípio da Informação e a todos os
ditames legais consumeristas.

Sabe-se, perfeitamente, que o ônus da prova pode vir a ser invertido no processo
civil em favor do consumidor, entretanto, essa inversão não o isenta de provar, nos casos em que
pleiteia reparação por danos, os fatos constitutivos de seu direito.

Ainda considerando-se que eventual responsabilidade da Ré seria objetiva, a


reparação só se faria necessária mediante a comprovação da existência do dano decorrente
diretamente do fornecimento de seu produto ou de sua negação em resolver o problema, o que
não aconteceu.

Evidente que não houve nenhum dano no caso em tela, no máximo, MERO
ABORRECIMENTO, como preceitua a Jurisprudência pacífica e que não é passível de indenização por
dano moral.

Infelizmente, a tendência que vêm se solidificando no Brasil é a chamada


indústria do dano moral, em que a parte, ainda que não tenha efetivamente havido o dano moral,
peticiona junto ao Poder Judiciário requerendo a condenação por dano que de fato não sofreu.

Com o máximo e devido respeito, não pode o Poder Judiciário pátrio permanecer
leniente com tal comportamento, premiando a esperteza dos consumidores que, sem provas sólidas e
com alegações inverossímeis, propõem demandas visando nada a não ser o lucro à custa de terceiros.

Destarte, conforme exaustivamente explicado, não pode o Poder Judiciário


permitir que as demandas propostas sob sua guarda revertam-se em fonte de renda para
terceiros que buscam não a compensação, mas sim o locupletamento sem causa.

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Não restando comprovada qualquer situação que tivesse o condão de macular a
honra, o nome ou sua incólume imagem da parte Autora perante toda a sociedade, o pedido de
indenização deve ser julgado TOTALMENTE IMPROCEDENTE.

Entretanto, caso Vossa Excelência entenda de modo contrário, o que se admite


apenas em respeito ao princípio da eventualidade, a eventual fixação do valor, a ser pago a título
de supostos danos morais sofridos, deve ser baseada pelos critérios da razoabilidade e da
proporcionalidade, a fim de se evitar o enriquecimento sem causa da parte Autora.

DA IMPOSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Cumpre salientar que a inversão do ônus da prova consiste em um instrumento


processual conferido ao consumidor a fim de facilitar sua defesa, sendo seus pressupostos a
verossimilhança das alegações ou a hipossuficiência da parte, consoante dispõe o art. 6º, VIII, do CDC.

Entretanto, cumpre destacar que a finalidade deste instrumento é viabilizar a


igualdade entre as partes dentro do processo, razão pela qual não se pode admitir que a inversão
se dê de forma genérica, pois, ao invés de garantir a isonomia, acabaria por favorecer
exageradamente o consumidor em detrimento do fornecedor ou do prestador do serviço.

No caso em comento, a parte Autora não especificou suficientemente os pontos


controvertidos, ou seja, o que deve ser comprovado, como e por quem, tampouco demonstrou a
necessidade da inversão, tendo apenas se limitado a formular genericamente o pedido de inversão do
ônus probatório.

Nem se valha de que sua ação deve prosperar por estar ela acobertada pela
inversão do ônus da prova pois, mesmo para casos de aplicação do Código de Defesa do Consumidor,
deverá haver o mínimo de prova do que é alegado, sob pena de infração ao disposto no artigo 373,
inciso I, do Código de Processo Civil.

Entretanto, essa inversão não isenta a parte de provar, nos casos em que
pleiteia reparação de danos, os fatos constitutivos de seu direito, ou seja, deve provar que o dano
realmente existiu e que há nexo de causalidade entre a atividade e o dano.

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Necessário ressaltar que o citado diploma legal que apregoa a facilitação da defesa
dos direitos do consumidor, prescreve que esta deve ser realizada “segundo as regras ordinárias de
experiências.” (Lei 8.08/90, artigo 6°, inciso VIII – parte final). Sobre a matéria nossos tribunais já
decidiram:

“Consumidor - Inversão do ônus da prova - Princípio não absoluto. A inversão do ônus da prova previsto
no Código de Defesa do Consumidor não constitui princípio absoluto, não dispensando o autor da produção
de, no mínimo, um princípio de prova do fato alegado. Apelo não provido, Unânime.” (RJTJRS 183/298) – grifo
nosso

“CONTRATO BANCÁRIO - APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - JUROS


REMUNERATÓRIOS - INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 598, 648, STF; SÚMULA VINCULANTE 7, STF –
COBRANÇADE ENCARGOS SUPOSTAMENTE NÃO CONTRATADOS – AUSÊNCIA DE PROVA DO FATO
CONSTITUTIVO DO DIREITO – PRESSUPOSTO NÃO PREENCHIDO PARA INVERSÃO DO ÔNUS DA
PROVA NA RELAÇÃO DE CONSUMO. AÇÃO IMPROCEDENTE – APELAÇÃO PROVIDA PARA ESSE FIM.
(TJSP; Apelação 991080651942); 22ª Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Matheus Fontes; j. 04/11/2009;
data de registro 24/11/2009) – grifo nosso

“Danos materiais e morais - Hipótese em que teriam sido efetuados saques indevidos da totalidade dos valores
depositados em cadernetas de poupança do autor - Saques impugnados que se prolongaram por
aproximadamente um ano (entre os anos de 1984/1985) - Ação proposta praticamente vinte anos após a
ocorrência dos fatos - Omissão na comunicação do fato ao banco e à autoridade policial - Queixa prestada ao
PROCON doze anos após a ocorrência dos alegados saques indevidos - Ausência de indícios da existência
de falha na prestação do serviço bancário - Falta de verossimilhança das alegações do autor que está a
obstar a inversão do ônus probatório - Ausência de prova dos fatos constitutivos do direito do autor -
Ação indenizatória.” – grifo nosso

Trazendo as considerações acima ao caso em tela, não há como emprestar


verossimilhança as alegações da parte Autora, que deveria provar os fatos constitutivos de seu direito.
Se não o fez, infringiu o disposto no artigo 373, inciso I do Código de Processo Civil, de modo que o
pedido de inversão do ônus da prova deve ser rechaçado por este D. Juízo.

CONCLUSÃO

Diante do exposto e analisado, considerando o que foi demonstrado nos autos,


requer a Ré:
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(i) Seja indeferido o pedido de Gratuidade de Justiça, pois não comprovado o
preenchimento dos requisitos para o seu deferimento;
(ii) Seja a presente demanda apreciada em conformidade com os termos do
Código de Processo Civil, especialmente, o seu artigo 489, §1º, VI,
aplicando a pacífica jurisprudência sobre a questão em debate nestes
autos, julgando totalmente IMPROCEDENTE a demanda
(iii) Seja julgado IMPROCEDENTE o pedido de restituição do valor pago nos
acessórios, em razão da ampla divulgação da ausência dos acessórios.
(iv) Seja julgado IMPROCEDENTE o pedido de danos morais, pois não houve
abalo psíquico algum;
(v) Subsidiariamente, caso adverso, remotíssimo, de se entender pela
procedência da demanda, que o quantum de eventual indenização por
danos morais atenda os princípios constitucionais da razoabilidade e da
proporcionalidade, diante das peculiaridades do caso acima expostas;
(vi) Seja indeferido o pedido de inversão do ônus da prova;
(vii) Conquanto provado todo o alegado, protesta o réu pela produção de todas
as provas que eventualmente se façam necessárias, por todos os meios
permitidos em direito, sem exceção de nenhum, notadamente a
documental, sem prejuízo de quaisquer outras que venham a ser
produzidas, por mais especificadas que sejam e outros que se fizerem
necessários no curso do processo, que desde já fica requerido,
protestando ainda nos termos do artigo 435, parágrafo único do CPC;
(viii) Outrossim, não se opõe ao julgamento conforme inteligência do artigo 355,
I, do Código de Processo Civil e ao final, requer a improcedência total da
presente demanda.

Ressaltamos que o e-mail publica@lbca.com.br é destinado para recebimentos de


eventuais necessidades de intimações e atos processuais que não sejam relacionados a audiência
virtual. E o endereço eletrônico audienciasvirtuais@lbca.com.br, trata-se de e-mail exclusivo para
convites e intimações pertinentes audiência virtuais

Desta forma, requer que todas as publicações e intimações no presente feito sejam
realizadas exclusivamente em nome do advogado FABIO RIVELLI, OAB/RJ nº 168.434, bem como,

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publicações/intimações veiculadas por correio eletrônico deverão ser encaminhadas ao endereço
publica@lbca.com.br, sob pena de nulidade e violação do art. 272, §2° do CPC, requerendo, desde
já, sejam o nome e endereço de e-mail ora informados anotados na contracapa dos autos e sistema
eletrônico de acompanhamento, ressaltando que em todas as intimações devem constar o nome
completo da parte.

Termos em que,
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 13 de junho de 2022.

Fabio Rivelli
OAB/RJ nº 168.434

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