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Ano IX - Nº 30 - Julho/Agosto/Setembro 2008

Impressa em papel reciclado

Poluição por
Carga Difusa
Uma ameaça constante nos rios
dos centros urbanos

Entrevista
A professora Rosa Helena de Oliveira Martins,
pioneira em estudos das conseqüências da
poluição em rios, discorre sobre gerenciamento
e técnicas para a sua minimização.

Despoluição
O programa Córrego Limpo, uma parceria entre
o Governo do Estado, por meio da Sabesp, e
a Prefeitura de São Paulo, se propõe a mudar
a situação de degradação dos córregos da Turismo de choque:
Saneas | 3
capital Julho / Agosto / Setembro | 2008
paulista.
passeio de barco pelo Rio Tietê
editorial

PARTICIPE DA
PRÓXIMA EDIÇÃO!
EXPO CENTER NORTE - PAvIlhÃO AMARElO
12, 13 E 14 DE AgOSTO DE 2009

Fenasan e Encontro Técnico Aesabesp


há 20 anos contribuindo para o desenvolvimento
do saneamento ambiental no Brasil e no mundo.

FENASAN 2009
XX FEIRA NACIONAL
dE sANEAmENtO E
mEIO AmbIENtE

XX ENCONTRO
TÉCNICO AESABESP

Promoção Patrocínio

AESABESP
4 | Saneas
Associação dos Engenheiros da Sabesp Julho / Agosto / Setembro | 2008
Julho / Agosto / Setembro | 2008 Saneas | 5
expediente
Índice Saneas é uma publicação técnica bimestral da Associação
dos Engenheiros da Sabesp

DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente - Luiz Yukishigue Narimatsu
Vice-Presidente - Pérsio Faulim de Menezes
1º Secretário - Nizar Qbar
2º Secretário - Ivo Nicolielo Antunes Junior
1º Tesoureiro - Luciomar Santos Werneck
2º Tesoureiro - Nélson Luiz Stábile

DIRETORIA ADJUNTA
Diretor de Marketing - Carlos Alberto de Carvalho
Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs
Diretor de Esportes - Gilberto Margarido Bonifácio
Diretor de Pólos - José Carlos Vilela
Diretora Social - Cecília Takahashi Votta
Diretor Técnico - Choji Ohara

CONSELHO DELIBERATIVO
Aram Kemechian, Carlos Alberto de Carvalho, Choji Ohara,
Gert Wolgang Kaminski, Gilberto Margarido Bonifácio,
Helieder Rosa Zanelli, José Carlos Vilela, Ivan Norberto
Borghi, Luis Américo Magri, Marcos Clébio de Paula, Nélson

14 Poluição por
César Menetti, Olavo Alberto Prates Sachs, Ovanir Marchenta
matéria tema Filho, Sérgio Eduardo Nadur e Valter Katsume Hiraichi

CONSELHO FISCAL
José Marcio Carioca, Gilberto Alves Martins e Paulo
Eugênio de Carvalho Corrêa

Carga Difusa Pólos da Região Metropolitana de São Paulo - RMSP


Coordenador - Aram Kemechian
Costa Carvalho e Centro - Maria Aparecida S.P. dos Santos
Leste - Luis Eduardo Pires Regadas
Norte - Oswaldo de Oliveira Vieira
Oeste - Evandro Nunes de Oliveira
Fenasan 2009 Ponte Pequena - Mercedino Carneiro Filho
Sul - Paulo Ivan Morelli Fransceschi
6 Fenasan 2009 promete o mesmo sucesso de 2008
Pólos AESABESP Regionais
Coordenador - Helieder Rosa Zanelli
Entrevista Baixada Santista - Ovanir Marchenta Filho
Botucatu - Osvaldo Ribeiro Júnior
8 Rosa Helena de Oliveira Martins Franca - Marcos Marcelino de Andrade Cason
Itapetininga - Rubens Calazans Filho
Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur
Opinião Presidente Prudente - Robinson José de Oliveira Patricio
Vale do Paraíba - José Galvão F. Rangel de Carvalho
12 Devemos investir em ações de educação ambiental
CONSELHO EDITORIAL - Jornal AESabesp
Sonia Regina Rodrigues (Coordenadora)
Visão de mercado
24 O tratamento de efluentes líquidos e sua viabilidade FUNDO EDITORIAL
Silvana de Almeida Nogueira (Coordenadora)
econômica Antonio Soares Pereto, Dione Mari Morita, Eliana Kitahara,
José Antonio de Oliveira Jesus, Luiz Narimatsu, Maria Lúcia
da Silva Andrade, Milton Tsutiya, Miriam Moreira Bocchiglieri
Artigos técnicos
Coordenador do site: Luis Américo Magri
27 A utilização do modelo winhspf no estudo das cargas
difusas de poluição da Bacia do Ribeirão da Estiva, SP JORNALISTA RESPONSÁVEL
Maria Lúcia da Silva Andrade - MTb.16081
36 Educação ambiental / cultural / social do saneamento
básico de Jales - SP Assistente de Redação: Walter Prandi

39 Chuvas ácidas PROJETO VISUAL GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


Neopix Design
42 Gestão dos recursos hídricos neopix@neopixdesign.com.br
www.neopixdesign.com.br
“Causos” Do Saneamento
44 O reservatório do tempo de Dom Pedro II Associação dos Engenheiros da Sabesp
Rua 13 de maio, 1642, casa 1
45 O taxista poliglota de Lisboa Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SP
Fone: (11) 3284 6420 - 3263 0484
Fax: (11) 3141 9041
Palavra de amigo aesabesp@aesabesp.com.br
www.aesabesp.com.br
46 Uma homenagem ao profissional e amigo estimado

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editorial

Poluição difusa: o lado


“B” das grandes cidades

Esta edição da Revista Saneas aborda um dos temas Como hoje a questão ambiental é uma preocupa-
mais recorrentes nos cenários dos grandes centros ur- ção latente, há um trabalho bem mais consciente, que
banos: a poluição por carga difusa. Ela é formada por envolve atuações de políticas públicas e engajamento
resíduos de origens diversas, mas principalmente pelo de ONGs e cooperativas, além da conscientização do
lixo acumulado nas ruas e calçadas, na maior parte de cidadão para a preservação da vida, do ecossistema,
material que poderia ser aproveitado em reciclagem. das águas e da própria cidade. Contudo, um melhor
Os habitantes, os empreendimentos, as empresas; planejamento, urbano da ocupação de áreas para mo-
enfim todos os agentes de produção e consumo das radias, junto com um programa educacional para a
grandes metrópoles deveriam ter aulas diárias de população, seria muito bem vindo.
civilidade antes de despejarem tantos dejetos em nos- Dentro desse contexto, a entrevista com a Prof. Dra.
sos rios, transformando-os em depósitos. Rosa Helena Martins, da USP, aborda as questões téc-
O exemplo dessa constatação está na foto de capa nicas de monitoramento da poluição difusa e destaca
dessa Revista, que retrata uma das cenas deploráveis que implementar boas práticas de gerenciamento é o
durante o Passeio pelo Rio Tietê, que foi oferecido que dá sustentabilidade aos recursos ambientais. Em
pela AESabesp aos participantes da Fenasan 2008. O outra abordagem, o diretor da ONG Navega São Paulo,
colorido de embalagens, sacos plásticos, garrafas PETs, Douglas Siqueira, ressalta, na seção “Opinião”, a im-
pneus, metais, restos de materiais de construção e de portância de iniciativas que causam impacto na popu-
mais uma infinidade de lixo contrasta com a cor preta lação, para que brote um envolvimento comprometido
da água do maior rio do Estado de São Paulo. da mesma.
O índice zero de oxigênio, o mau cheiro, as moscas e Complementando a esfera técnica e social da ma-
espumas que habitam pedaços do Tietê, especialmente téria tema, esta Revista também dá continuidade a
na capital paulista e nos municípios de seu entorno, duas sessões que têm feito muito sucesso entre os
incomodam a muitos, a começar pela própria Sabesp profissionais do setor: a “Causos do Saneamento” com
que desenvolve o Projeto Tietê, cujo meta é recuperar abordagens pitorescas de fatos ocorridos e a “Palavra
o rio ao longo da cidade de São Paulo, evitando que o de Amigo”, que é um espaço onde alguém pode fazer
esgoto de indústrias e residências chegue até seu leito uma justa homenagem a outro colega que se destaca
sem tratamento. por sua capacidade técnica, profissional e humana.
Outra ação de competência da Sabesp, que inclu-
sive ganha destaque nesso Governo do Esrado e a Pre- Um forte abraço e uma boa leitura a todos,
feitura de São Paulo, que tem por finalidade mudar a
atual situação de degradação dos córregos da Capital. Eng. Luiz Narimatsu
Presidente da AESabesp

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fenasan 2009

Fenasan 2009 promete o mesmo


sucesso de 2008
turbulência do quadro econômico mundial que há dias
apresenta a combinação de dólar em alta com bolsas
em baixa e crédito minguado, alguns setores da eco-
nomia nacional devem continuar com investimentos
em alta, como o de saneamento.
De acordo com Luiz Narimatsu, presidente da AESa-
besp, os investimentos previstos para o setor, até 2010,
não devem mudar de rumo, porque eles surtem efeitos
nas economias de outras esferas públicas que impli-
cam em desenvolvimento, como meio ambiente, edu-
cação, habitação, redução da pobreza e principalmente
saúde, com o registro do seguinte argumento:
“ a própria OMS (Organização Mundial da Saúde)
aponta que cada dólar gasto em melhoria sanitária
O presidente da AESabesp, Luiz Narimatsu, e o diretor gera um benefício econômico de US$ 4”.
secretário , Nizar Qbar, com a sua equipe de trabalho, Face ao quadro, ele também atribui uma forte con-
formada por Alessandra Buke, Denis Santos, Flávia Baroni fiança das empresas que já operam tradicionalmente
e Paulo Oliveira. nesse mercado, como a vinda de novos grupos que
vêem no saneamento um setor de captação de recur-
No aniversário dos 22 anos da AESabesp, também foi sos e expansão tecnológica. “Isso ficou claro na nossa
realizado o lançamento da Fenasan 2009, pela equipe Feira e Congresso de 2008, cujo espaço foi lotado com
de trabalho da entidade, que comemorou, juntos aos habituais e novas participações.
convidados, o grande sucesso que esse evento, realiza- Outro aspecto favorável para a Fenasan 2009, desta-
do em caráter simultâneo, com o XIX Encontro Técnico cado por Luiz Narimatsu, é a participação da AESabesp
da AESabesp, alcançou em 2008, superando todas as nas reuniões do Conselho de Saneamento Ambiental
expectativas de crescimento. da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Eq-
A Fenasan (Feira Nacional de Saneamento e Meio uipamentos), que estabelece uma proximidade com o
Ambiente), nesse “Ano Internacional do Saneamento”, setor industrial, representado por entidades que con-
reuniu 146 expositores (em 2007 foram 103), inclusive centram um “poll” de empresas com interesses volta-
com a adesão de três grupos internacionais: ADS Inter- dos ao setor de saneamento, como o Sindesam (Sindi-
national e Fernco Inc., dos Estados Unidos, alémShakti cato Nacional das Indústrias de Equipamentos para
Pumps, da Índia, e RAS International, do Uruguai, con- Saneamento Básico), Abemi (Associação Brasileira de
stituindo-se no maior evento nacional do setor. Engenharia Industrial), Asfamas (Associação Brasileira
E para 2009 a tendência é de continuação dessa de Fabricantes de Materiais e Equipamentos para Sa-
liderança, pois a praticamente um ano da sua real- neamento), entre outras.
ização, prevista para 12,13 e 14 de agosto, no Expo- A diretoria de marketing, liderada por Carlos Al-
Center Norte, em São Paulo, a AESabesp já conta com berto de Carvalho, providenciou para que as marcas
40% do espaço reservado, mais da metade do que nas “Fenasan” e “Encontro Técnico” fossem registradas
edições anteriores nessa mesma época. definitivamente em nome da AESabesp, além de esta-
Mesmo com a instabilidade da economia, a Fena- belecer as mídias “Revista Saneas” e “Jornal AESabesp”
san prevê crescimento em 2009. Embora seja difícil como veículos oficias da FENASAN 2009.
prever crescimentos de qualquer mercado, diante da

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120 m² 106
1 18m 24m
120 ²
110 Ru ² 110
fenasan 2009 16m 3 18m 8 a1 7
² 120 ²
111 100
18m²
16m
²
5 3m
0 18
Telefones H 18m
16m 120

HIDRANTE
H ²
² 7 111
m. WC. Masc. Expositores confirmados
WC
. Fe
m.
Tele
fone
16m
²
1
120 8m²
9 3m
2
111
4
para a Fenasan 2009emSeraída de Rua 1200 WC
.M
as
s 16m
² 121 18m²
1 1
121 8m²
g 3
c.
As empresas que já confirmaram sua participação como ência 120
16m
²
expositoras na Fenasan 2009, até o fechamento desta 12m 2
² 1
ilhão (colunas,etc.).
edição, são: 12m 204
12

3m
²
12m 06
• Sabesp – Companhia de Saneamento • Fluid Feeder Indústria e Comércio ² 2m A
Básico do Estado de São Paulo • GE Fanuc Intelligent Platforms do Brasil
• Abimaq - Associação Brasileira da
Organização • Glass Indústria e Comércio de Bombas
Indústria de Máquinas e Equipamentos, Centrífugas
com a Ilha Sindesam (Sindicato Nacional • Getesi Indústria de Equipamentos
das Indústrias de Equipamentos para Eletrônicos e Sistemas 74m
Saneamento Básico), formada por um • Hidrosul Máquinas Hidráulicas ²
“pool” de empresas que atendemo setor de • Helmut Mauell do Brasil
saneamento. • Higra Industrial
• ABS Indústria de Bombas Centrífugas • Interlab Distribuidora de Produtos
• AG Solve Monitoramento Ambiental Científicos
• Allonda Comercial de Geossintéticos • Invel Comércio Indústria e Participações
Ambientais • Kanaflex Indústria de Plásticos
• Amanco Brasil • Kemira Kemwater Brasil

4/11/08
• AVK Válvulas do Brasil • KSB Bombas Hidráulicas
• Brasbom Comercial Importação e • Lamon Produtos
Exportação • Masterserv Controle de Erosão e Comércio
• CEB Conexões Especiais do Brasil • Marte Balanças e Aparelhos de Precisão
• Danfoss do Brasil Indústria e Comércio • Nivetec Instrumentação e Controle
• Digitrol Indústria e Comércio • Nunes Oliveira Máquinas e Ferramentas
• Dositec Bombas Equipamentos e • Plastimax Indústria e Comércio
Acessórios • Prominas Brasil Equipamentos
• Ebara Indústria e Comércio • Saint-Gobain Canalização
• Ebro Stafsjö do Brasil Importação e • Sampla do Brasil Indústria e Comércio de
Exportação de Válvulas Correias
• Emec Brasil Sistemas de Tratamento de • Sondeq Indústria de Sondas e
Água Equipamentos
• Emicol Eletro Eletrônica • SVS Selos Mecânicos
• Enmac Engenharia de Materiais Compostos • Tigre Tubos e Conexões
• ESA Eletrotécnica Santo Amaro • Vika Controls Comércio de Instrumentos e
• FGS Brasil Indústria e Comércio Sistemas

Acesse o site www.fenasan.com.br e saiba como se tornar um expositor.

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entrevista
Rosa Helena de Oliveira Martins

Engenheira civil
de formação,
com mestrado
“ Implementar boas práticas de
gerenciamento é o que dá sustentabilidade
aos recursos ambientais”
Uma das pioneiras na atuação em trabalhos refe- não é localizada, é dispersa. Se não é facilmente
e doutorado
rentes ao impacto que a poluição difusa causa nos localizável, também não é facilmente monitorável
pela Escola
centros urbanos, na década de 70, a engenheira e controlável com as ações clássicas de caracte-
Politécnica
consultora, Rosa Helena de Oliveira Martins, tem rização das entradas e saídas de um sistema, por-
da USP
um olhar muito bem focado para essa questão. tanto passíveis de ações de interesse, tais como
(Universidade
controle, eliminação, etc. Assim sendo é conse-
de São Paulo)
Saneas: A senhora é citada como uma das quentemente difícil não só monitorar a sua ori-
em Sistemas de
profissionais pioneiras nos trabalhos vol- gem como controlá-la. Na verdade as redes clás-
Planejamento e
tados para a questão da poluição por carga sicas (básicas) de monitoramento de qualidade
Aproveitamento
difusa. Qual a função que a senhora ocupava de água não foram concebidas com este intuito,
Econômico
na época do início desse trabalho? embora se possa buscar “padrões” de estiagem e
de Recursos
Rosa Helena: À época, era gerente do Setor de de época de chuva nos dados coletados por es-
Hídricos,
Hidrologia da Cetesb (e posteriormente Divisão tas redes, associando-se estes padrões às situa-
além da
de Estudos Hidrológicos). ções encontradas nas bacias hidrográficas, tais
especialização
como foi mencionado na pergunta: lixo, material
em Hidrologia
Saneas: O que mais motivou a sua atuação de origem veicular (efluentes sólidos e líquidos)
pelo United
dentro dessa problemática? domésticos e industriais. Ou seja, acabamos de
States
Rosa Helena: Trabalhava na área de Engenharia identificar suas origens e seus efeitos, então fo-
Geological
da Empresa Ambiental (aonde na época se pro- mos em busca de relações de causa e efeitos, das
Survey, Rosa
duziam pareceres técnicos e se desenvolviam quais tanto os engenheiros gostam e que na ver-
Helena é uma
estudos, diagnósticos e projetos de interesse) e dade nos indica o caminho para um programa de
personalidade
construía minha formação acadêmica na área de abatimento e/ou de controle das cargas difusas,
indicada dentro
Recursos Hídricos. Vale observar que de origem que como todos podem ver são também medidas
do universo
sou engenheira civil e que na época não havia aparentemente dispersas, não localizadas, mas à
técnico-
graduação em Engenharia Ambiental. Para o montante do local de interesse.
científico para
abordar, com mestrado e o doutorado, então as áreas de con-
propriedade, o centração eram Obras Hidráulicas, Saneamento e Saneas: O controle não estaria voltado para
tema principal Recursos Hídricos. Nesse contexto, o tema fazia um tratamento do efluente?
desta edição da o link entre as duas áreas. E sendo assunto para Rosa Helena: Como vimos não se trata do lança-
Saneas. doutorado deveria ser inédito. Na qualidade de mento do efluente e nem de sua limpeza. Trata-
inédito, algo que fosse um desafio. se de evitar que o escoamento superficial direto
(quando chove, por exemplo) não tenha o que
Saneas: A origem da poluição difusa é carrear (lixo, sedimento) ou conduzir / diluir, como
bastante diversificada, vai desde o desgaste os efluentes urbanos (estes sim lançados de forma
causado pelos veículos, passa pelo lixo acu- localizada). Trata-se de implementar boas práti-
mulado nas ruas e calçadas, absorve resíduos cas de gerenciamento do ambiente (urbano, por
orgânicos, concentra materiais de indús- exemplo), tais como varredura de ruas, coleta de
trias, enfim, é provocada por vários fatores lixo, coleta, tratamento e afastamento dos eflu-
poluentes. É possível ter um monitoramento entes em geral. Ou seja, são formas de abatimento
de controle da sua origem? na fonte, junto à origem, ou seja, da não geração.
Rosa Helena: O nome difusa vem do fato de
que é difícil determinar sua origem, ou seja,

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Saneas: Considerando que a carga poluidora pode
variar com a intensidade dos eventos meteo-
rológicos, pode-se considerar também a adoção
de padrões sazonais de qualidade para o lança-
mento dos efluentes?
Rosa Helena: A sua pergunta nos remete à questão
anterior, em países onde o sistema de esgotamento
é unitário (esgotos e drenagem pluvial) há ‘rios’ que
passam inteiramente dentro de estações de esgotos
(tal como é o caso do rio Emscher na Alemanha) e há
parques que acumulam os volumes escoados durante
a chuva, tal como é o caso da cidade de Denver nos
EUA, para depois de finalizado o evento chuvoso, o
“excesso” de água servida vai sendo paulatinamente
liberado para jusante. Bem, mas estamos falando das
entradas do sistema e não dos efluentes. Quanto ao
lançamento de efluentes propriamente ditos, eles
estão sujeitos à uma legislação que toma por base
“vazões de referência”, típicas da estação seca e mais
restritiva do ponto de vista da sua disponibilidade
para assimilação pelo corpo receptor . A maior quan-
tidade de água presente no corpo receptor na época
de chuvas, pode não significar maior volume de dilui-
ção, pois, como falamos, esta chuva poderá ter ‘car-
reado’ material da superfície dos terrenos que já foi

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entrevista
incorporado à massa de poluentes transportada pelo Saneas: A senhora apontaria alguma alternativa
corpo d’água e precisando sofrer autodepuração, por que já deu certo em outros centros urbanos para
exemplo. a minimização da poluição difusa?
Rosa Helena: Como já falamos, podemos mencio-
Saneas: Existe a visão de que a preservação da nar as técnicas de contenção “na fonte” seja dos de-
várzea natural representa uma forma de controle flúvios (i.e, controle de enchentes) com pavimentos
de enchentes e também da qualidade da água por permeáveis, por exemplo, como da geração da carga
ser mantida a capacidade assimilativa natural do difusa propriamente dita,mediante o não lançamento
ecossistema. Como isso pode ser aplicado numa de efluentes nos corpos receptores, da não produção
grande metrópole como São Paulo? de lixo e resíduos em geral, por exemplo.
Rosa Helena: É difícil. Na Europa hoje se pratica a
revitalização, mas a situação é outra. A dimensão de Saneas: O que essa diminuição poderia signifi-
São Paulo e de seus problemas merece reflexões muito car para as esferas da economia, saúde e meio
específicas. ambiente?
Rosa Helena: Melhor qualidade de vida, menores cus-
Saneas: O instrumento técnico-jurídico da gestão tos incrementais futuros
de espaço urbano é o Plano Diretor das Prefeitu-
ras. Na sua concepção, existe uma inadequação do Saneas: O setor privado, em determinadas situ-
uso e ocupação do solo da Região Metropolitana ações, foi um predador do meio ambiente. A
de São Paulo, que gera um aumento da poluição senhora acha que ele poderia se redimir numa
por carga difusa? parceria com as esferas públicas para a recupe-
Rosa Helena: Espaços urbanos, com densidades ração de nossa esfera ambiental? Como a senhora
populacionais metropolitanas geram a intensificação analisa esse tipo de parceria?
do uso do solo urbano que por sua vez decorre da in- Rosa Helena: De certa forma o próprio Poder Público
tensificação das atividades antrópicas. Entretanto, o também pode ser identificado como um predador dos
estabelecimento de cidades às margens dos veículos recursos ambientais, na medida em que não consegue
de escoamento da produção, dos canais de comuni- garantir a sua sustentabilidade. Parcerias? Por que
cação com as demais populações e o conseqüente não? É a forma atual de se trabalhar e cumprir nossa
recebimento dos efluentes decorrentes das atividades responsabilidade social. Já existem iniciativas de mini-
antrópicas pelos corpos receptores urbanos existem mização de resíduos em parcerias muito bem sucedi-
desde que o primeiro grupamento populacional se es- das, entre outras.
tabeleceu às margens de um rio. Isto tanto remonta
à antiga Mesopotamia, tal como foi o caso dos rios Saneas: A Sabesp desenvolve obras para a despo-
Tigre e Eufrates, como pode ser encontrado no recen- luição do Rio Tietê e acelera um Programa de-
te caderno de grandes megalópolis publicado como nominado “Córrego Limpo”. Gostaríamos que a
suplemento pelo jornal o Estado de São Paulo, onde senhora emitisse as suas considerações a respeito
encontramos depoimentos notáveis sobre megalópolis dessas investidas.
como Mombaça e Lagos. As soluções são necessárias, Rosa Helena: Não conheço os detalhes técnicos destes
mas variam caso a caso, dependem não somente de Programas e seria portanto leviano emitir qualquer
recursos econômicos, de Planos Diretores Municipais, julgamento. As responsabilidades e os custos assu-
da cultura do país e, sobretudo, de uma cultura de midos no projeto de despoluição são enormes, são um
Planejamento, em geral. grande desafio.

12 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


TRADIÇÃO EM QUALIDADE
E TECNOLOGIA

Tubo Coletor de Esgoto em PEAD

Aplicado em redes coletoras


de esgoto, substituindo com
maior eficiência e segurança
as linhas de cerâmica e PVC,
reduzindo o tempo de vala
aberta e o índice de quebra na
instalação.

Resistente à produtos
químicos, compressão
diametral e impacto.

ACT Sabesp.
Atende a NTS 198, ABNT NBR 15.551 e 15.552,
ABPE / E009 e E010.
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www.kanaflex.com.br - vendapead@kanaflex.com.br - Empresa Certificada ISO 9001
OPINIÃO
Douglas M. Siqueira

Douglas M.
Siqueira é
economista,
administrador,
programador e
“ Devemos investir
em ações de educação
ambiental”
empresário. Ele
conta que após
mais de 30 anos Acredito que a primeira coisa a fazer é es- Navegando no rio Tietê na região metropo-
de experiências clarecer por que estou dando minha opinião litana podemos constatar que em suas águas
adquiridas em em relação a um tema relativo ao saneamento, a origem da poluição difusa da quarta maior
empresas de meio ambiente e consequentemente qualidade cidade do planeta é bastante diversificada.
pequeno, médio de vida. Para aqueles que acompanham e fazem Quando levamos a população e principal-
e grande porte, parte da minha carreira profissional e princi- mente os alunos do nível fundamental dois e
tanto nacionais palmente das minhas atividades e desafios na médio para realizarem esta experiência, con-
quanto diretoria do Instituto Navega São Paulo (INSP seguimos chocá-los e certamente gerar uma
multinacionais, – ONG e OSCIP), ao qual me dedico durante os reflexão a respeito. Como também, despertar
com atuação últimos dois anos, sabem o quanto este assunto a perplexidade e indignação ao informarmos
nas áreas
é importante para mim e para nós do INSP. Na que alguns municípios coletam o esgoto, mas
comercial e
realidade a poluição por carga difu- não o tratam e jogam no Tietê.
de marketing,
concebeu uma sa do rio Tietê, fez, em 2005, surgir a Durante o percurso da navega-
até 35% da
nova atuação idéia do projeto Navega São Paulo e ção, observando os córregos de-
degradação do
profissional. despertar todo o meu interesse pelo saguarem, podemos mostrar a
nosso Tietê é
Em 2006, assunto. proveniente da carga poluidora proveniente de
conheceu o Tendo como referência o rio Tie- poluição gerada ligações clandestinas de esgotos,
projeto Navega tê na região metropolitana de São nas regiões restos de óleo lubrificante, tintas,
São Paulo e Paulo, sabemos que até 35% da urbanas e outros produtos aparentemente
identificou a degradação do nosso Tietê é prove- tóxicos que despejados em sarje-
oportunidade niente da poluição gerada nas regiões urbanas, tas e bueiros contribuem para o aumento das
de somar a sua que parte tem origem no escoamento superfi- cargas poluidoras transportadas pelas redes de
experiência cial sobre áreas impermeáveis, áreas em fase de drenagem urbana que chegam até o rio.
a um desejo
construção, depósitos de lixo ou de resíduos Principalmente nas grandes cidades, vive-
de infância:
industriais e outros. O escoamento superficial mos hoje vários efeitos típicos e negativos da
proteger e
preservar o da água nesses locais carrega o material, solto urbanização, um destes é quando são realiza-
meio ambiente. ou solúvel que encontra, até os corpos d’água das alterações das condições físicas dos rios e
Hoje atua levando, portanto, cargas poluidoras bastante afluentes para adequação da rede de macro-
como diretor significativas. Além disso, a impermeabilização drenagem, isso gera sérias alterações da biota
no Instituto gera maior capacidade de arraste e, portanto, devido à mudança dos habitats. E também,
Navega São maiores cargas poluidoras. As redes de drena- agrava-se esta situação com as alterações da
Paulo. gem urbana são responsáveis pela veiculação qualidade da água que usualmente o lança-
dessas cargas e que se constituem em impor- mento da drenagem urbana costuma trazer,
tantes fontes de degradação de rios, lagos e alterando-se profundamente toda a estrutura
estuários. do ecossistema aquático.

14 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


OPINIÃO

“devemos evitar ao máximo interferir no curso natural da água principalmente nas


várzeas e regiões de mananciais, protegendo e preservando o ecossistema.
Precisamos inovar e estabelecer normas para regularizar o reúso da água nos
grandes centros urbanos.”

JAY DIRECTO/AFP/Getty Images


As concentrações de poluentes no escoamento
gerado variam ao longo do evento hidrológico, as-
sim como variam as vazões. Podemos afirmar que
o lixo ou resíduos gerados, o modo como são ar-
mazenados e processados são fundamentais para
a saúde dos recursos hídricos e consequentemente
para a qualidade de vida das populações nas regiões
urbanas.
É necessário enfatizar a necessidade da coleta local
de dados para que seja possível o diagnóstico correto de absorver e tratar naturalmente a água, permitin-
dos problemas de poluição causados por cargas difu- do que ela complete o seu ciclo como vem fazendo
sas e também para que as decisões sobre medidas de a bilhões de anos.
controle tenham suporte em levantamentos e análises Devemos investir em ações de educação ambi-
coerentes com a realidade local. ental, adequar o passivo ambiental, o consumo à
Minha opinião é que devemos evitar ao máximo disponibilidade de recursos naturais e inovar com
interferir no curso natural da água principalmente atividades que causem o mínimo impacto ao meio
nas várzeas e regiões de mananciais, protegendo e ambiente. Estas são as condições impostas para ga-
preservando o ecossistema. rantia da subsistência das próximas gerações.
Precisamos inovar e estabelecer normas para E finalizando, estou certo de que a batalha em
regularizar o reúso da água nos grandes centros ur- relação à redução da poluição por carga difusa deve
banos e assegurar que todas as construções, obras ser tratada na consciência do indivíduo, destacando
públicas ou privadas preservem uma parte do solo a sua importância e a de todos os setores da socie-
para que ele possa realizar a sua importante função dade unidos nesta missão.

Julho / Agosto / Setembro | 2008 Saneas | 15


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matéria tema

Poluição por
Carga Difusa
O impacto da poluição difusa nos centros urbanos
16 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008
matéria tema
A poluição gerada nas águas dos afluentes de cen- E existe ainda a visão de que a preservação da
tros urbanos é dita de origem difusa, uma vez que várzea natural, sem grandes alterações da morfologia
provém de atividades que depositam poluentes de dos cursos d’água e da vegetação ribeirinha, represen-
forma esparsa sobre a área de contribuição da bacia ta uma forma de controle de enchentes e também da
hidrográfica. Ela é formada por resíduos de origem qualidade da água por ser mantida a capacidade as-
bastante diversificada, como os provocados pelo des- similativa natural do ecossistema. Preservam-se assim
gaste do asfalto pelos veículos, o lixo acumulado nas o habitat natural das espécies e, ao mesmo tempo, a
ruas e calçadas, as decomposições orgânicas, as sobras capacidade de amortecimento dos picos de cheia.
de materiais das atividades de construção, os restos
de combustível, óleos e graxas deixados por veículos,
poluentes do ar, etc.
De um modo geral, a poluição gerada em áreas ur-
banas tem origem no escoamento superficial sobre
áreas impermeáveis. Tal processo carrega o material,
solto ou solúvel que se transforma em cargas poluido-
ras bastante significativas. Além disso, a impermeabi-
lização leva ao aumento do número de vezes em que
a bacia produz escoamento superficial e ao aumento
também das velocidades de escoamento, gerando
maior capacidade de arraste e, portanto, maiores fontes difusas
cargas poluidoras. As redes de drenagem urbana são
responsáveis pela veiculação dessas cargas e sabe-se de poluição
hoje que se constituem em importantes fontes de
De acordo com a divulgação do relatório
degradação de rios, lagos e estuários.
Novotny, 1991, cinco condições caracterizam
Ligações clandestinas de esgotos, efluentes de
as fontes difusas de poluição.
fossas sépticas, vazamentos de tanques enterrados São elas:
de combustível, restos de óleo lubrificante, tintas,
solventes e outros produtos tóxicos despejados em
• lançamento da carga poluidora é intermi-
sarjetas e bueiros também contribuem para o au- tente e está relacionado à precipitação;
mento das cargas poluidoras transportadas pelas • os poluentes são transportados a partir de
redes de drenagem urbana. extensas áreas;
Efeitos típicos da urbanização incluem a modifica- • as cargas poluidoras não podem ser moni-
ção dos canais da macro-drenagem, a alteração das toradas a partir de seu ponto de origem,
margens e da vegetação ribeirinha, o aumento nas mesmo porque sua origem exata é impos-
taxas de erosão com conseqüente aumento no as- sível de ser identificada;
soreamento e a variação nos hidrogramas, com au- • o controle da poluição de origem difusa
mento dos volumes e picos de vazão. O escoamento obrigatoriamente deve incluir ações sobre
superficial traz poluentes como matérias orgânicas, a área geradora da poluição, ao invés de in-
tóxicos, bactérias e outros. Assim, o lançamento da cluir apenas o controle do efluente quando
drenagem urbana em corpos d’água introduz modi- do lançamento;
ficações que produzem impactos negativos diversos, • é difícil o estabelecimento de padrões de
com conseqüências a curto e a longo prazo sobre o qualidade para o lançamento do efluente,
ecossistema aquático. uma vez que a carga poluidora lançada
De acordo com a publicação dos relatórios de varia com a intensidade e a duração do
Osborne e Harris, em 1989, “mesmo quando há evento meteorológico, a extensão da área
apenas alterações das condições físicas do canal para de produção naquele específico evento,
adequação da rede de macrodrenagem, já ocorrem e outros fatores que tornam a correlação
sérias alterações devido à mudança dos habitats. Agra- vazão x carga poluidora praticamente im-
va-se esta situação com as alterações da qualidade da possível de ser estabelecida.
água que usualmente o lançamento da drenagem ur-
bana costuma trazer”.

Julho / Agosto / Setembro | 2008 Saneas | 17


JAY DIRECTO/AFP/Getty Images
Mesmo quando há
apenas alterações das
condições físicas do canal
para adequação da rede
de macrodrenagem, já
ocorrem sérias alterações
devido à mudança dos
habitats.
A variação do impacto causado pelo lançamento As concentrações de poluentes no escoamento
da drenagem urbana, logicamente, depende de fatores gerado variam ao longo do evento hidrológico, assim
como o estado do corpo d’água antes do lançamento, como variam as vazões. É de se esperar que tais va-
sua capacidade assimilativa, e ainda da quantidade e lores formem um “polutograma”, com a mesma forma
distribuição das chuvas, uso do solo na bacia, tipo e genérica do hidrograma correspondente.
quantidade de poluente arrastado. Os problemas en- É difícil calcular ou prever a distribuição temporal
tão gerados podem ser subdivididos em seis grandes das concentrações de poluentes, isto é, o “polutograma”.
categorias: Na maior parte dos estudos de poluição por cargas di-
fusas, no entanto, o objetivo principal é a avaliação do
• alterações estéticas, impacto do lançamento da drenagem urbana sobre o
• depósitos de sedimentos, corpo receptor, e a resposta do ecossistema ao problema
• depleção da concentração de oxigênio dissolvido, geralmente se dá de forma razoavelmente lenta.
• contaminação por organismos patogênicos, Um dos fenômenos discutidos quando se trata de
• eutrofização, prever “polutogramas” é a ocorrência da chamada carga
• danos devido à presença de tóxicos. de lavagem (em inglês, “first flush”). A explicação mais
comum é a de que se trata da remoção inicial do ma-
A poluição por cargas difusas inicia-se com o arraste terial acumulado no período entre chuvas, quer sobre
dos poluentes atmosféricos pela chuva e o escoamento o solo, quer no interior das canalizações, significando
superficial direto será responsável pelo transporte dos que o pico do “polutograma” ocorreria antes do pico das
poluentes dispostos sobre a superfície da área urbana vazões. O fato desta carga de lavagem às vezes ocorrer
até o lançamento final no corpo receptor. e outras não, pode estar relacionado com as perdas ini-
ciais no escoamento superficial.

18 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


matéria tema

Programa Córrego Tenente Rocha

Córrego Limpo
Nascido de uma parceria entre o Go-
verno do Estado, Sabesp e a Prefeitura
de São Paulo, o Programa Córrego Limpo,
que envolve ações da Secretaria de Esta-
do de Saneamento e Energia, da Sabesp e
das Secretarias Municipais de Coordena-
ção das Subprefeituras, de Infra-Estrutu-
ra Urbana e Obras e do Verde e Meio Am-
biente, atua na recuperação de córregos
degradados da capital paulista.
antes depois
Em sua fase inicial, se estima um in-
vestimento de R$ 200 milhões destina-
dos à recuperação de 42 córregos, por
serem elementos de estruturação ur- Córrego Carandiru
bana. Ainda que não sejam diretamente
aproveitados para o abastecimento de
água, interferem muito nas condições
de saúde e saneamento da população.
Nas enchentes, as águas da chuva se
misturam com esgotos não tratados,
agravando muito os riscos e danos aos
moradores das áreas atingidas. A polui-
ção da água pode ser também a causa
de doenças de veiculação hídrica, proli-
feração de insetos, além de trazer outros
incômodos, como o mau cheiro.
A Revista Saneas buscou informações
sobre o Programa com a Sabesp e a antes depois
Prefeitura de São Paulo.

Em dois anos serão: Lago Toronto


R$ 200 milhões
em investimentos
42 córregos
2,4 milhões de
pessoas beneficiadas
204 km2
de área beneficiada

Em dez anos serão:


300 córregos despoluídos antes depois

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matéria tema

“o córrego só vai estar efetivamente limpo se não houver


esgotos nem lixo nas suas águas ou nas suas margens”
Entrevista concedida pelo Gerente de Departamento da
Superintendência de Planejamento e Desenvolvimento
da Metropolitana-MP, da Sabesp, Jairo Tardelli Filho

Saneas: O acúmulo de dejetos nos afluentes Rio


Tietê e Pinheiros da Região Metropolitana é uma
preocupação prioritária para a Sabesp?
Sabesp: Os córregos são o receptáculo final da maior
parte dos resíduos, sólidos e líquidos, das atividades
humanas em uma bacia hidrográfica. Se os esgotos
não são coletados ou tratados (responsabilidade da
Sabesp no Município de São Paulo), grande parte deles
é lançada nos córregos e rios que passam pelas áreas
urbanizadas. Igualmente, o lixo pode ser lançado dire-
tamente nos córregos ou, se lançados nas ruas, vão ter
acesso aos córregos por ocasião das chuvas. Mesmo a
poluição atmosférica, neste caso, é lavada pela água
das chuvas e vai para o córrego...

Saneas: Quando e com qual propósito foi iniciada


a Operação Córrego Limpo?
Sabesp: O Programa Córrego Limpo foi lançado no iní-
cio de 2007, com a visão correta de que o córrego só
vai estar efetivamente limpo se não houver esgotos
nem lixo nas suas águas ou nas suas margens. Aí entra
a parceria entre a Sabesp e a Prefeitura do Município
de São Paulo, cada uma atuando no âmbito de suas
atribuições. Tem um terceiro agente, muito importante:
a população. De nada valerão os esforços da Sabesp e
da Prefeitura, se a população não tiver consciência do
seu papel nesse processo.

Saneas: Qual é a participação da Sabesp e da Pre-


feitura de São Paulo na efetivação deste Projeto?
Sabesp: Realmente a “novidade” nesse programa é a
parceria entre a Sabesp e a Prefeitura do Município
de São Paulo. Veja o caso dos lançamentos provisóri-
os de esgotos nos córregos: muitas vezes eles acon-
tecem porque as obras de implantação do coletor-
tronco teve de ser paralisada devido à existência de um
assentamento populacional na várzea. Aí ocorre o
desvio dos esgotos para o córrego, contribuindo para
a poluição das suas águas. A parceria é fundamental
para a solução desse problema, pois a Prefeitura tem
a responsabilidade de efetuar o reassentamento dessa
população e a reurbanização da área, permitindo a
continuidade estrutural do coletor.

20 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


matéria tema
Em geral, as responsabilidades das entidades estão as-
sim distribuídas: a Sabesp executa as obras de coleta
de esgotos, elimina os lançamentos clandestinos de
esgotos nas galerias de águas pluviais e executa in-
terligações e complementações de coletores. A PMSP
faz a limpeza do leito e das margens do córrego, faz o
reassentamento da população ribeirinha, se for o caso,
e obriga os imóveis a se conectarem às redes públicas
de coleta de esgotos.

Saneas: O que já foi feito desde o início da Opera-


ção e o que ainda estar por fazer em curto, médio
e longo prazos?
Sabesp: O Programa já conta com duas etapas: a
primeira contempla 42 córregos urbanos, envolvendo
cerca de 2,5 milhões de pessoas. A segunda tem 58
córregos, com 1,3 milhão de pessoas nas suas bacias.
Até o momento já foram equacionados 12 córregos
sendo previstos 11 até o final deste ano de 2008. O
horizonte final para essas duas etapas é 2010. Com
certeza esse é um Programa que terá continuidade,
estendendo-se inclusive aos demais municípios da
Região Metropolitana de São Paulo.

Saneas: Além do impacto ambiental, essa Opera-


ção contempla outros segmentos, como saúde,
habitação, economia, entre outros?
Sabesp: Um programa deste tipo tem um caráter es-
sencialmente ambiental e sanitário, com repercussões
positivas em termos de saúde pública e qualidade
de vida da população. Um córrego limpo significa
que ele não exalará maus odores, não terá ratos e
outros vetores que causam problemas de saúde públi-
ca, e o fundo de vale será, efetivamente, um elemento
importante da paisagem urbana. Um aspecto interes-
sante também é que em muitos casos a despoluição
e limpeza do córrego ocorrem conjuntamente com a
instalação de parques lineares. Esses fatores também
têm repercussões econômicas, especialmente a valori-
zação dos imóveis próximos ao fundo de vale.
Mais uma vez, para manter isso tudo é importante a
conscientização da população, pois um lançamento
indevido de algum produto químico na sarjeta, por
exemplo, poderá comprometer todo o trabalho de re-
cuperação do córrego por um bom tempo. Houve um
caso de um córrego, já com os trabalhos concluídos,
aparecer todo branco devido à lavagem de vasilhames
de tinta em uma obra de um edifício.

Julho / Agosto / Setembro | 2008 Saneas | 21


matéria tema

“O Programa Córrego Limpo, além do impacto


ambiental, contempla a eliminação de doenças”
Entrevista concedida pela Secretária Executiva de
Comunicação da Prefeitura da Cidade de São Paulo,
Rosana Telles

Saneas: O acúmulo de dejetos nos afluentes da


região Metropolitana é uma preocupação priori-
tária para a Prefeitura de São Paulo?
Prefeitura de São Paulo: Desde o início desta admi-
nistração, a Prefeitura da Cidade de São Paulo, entre
outras prioridades, vem trabalhando em regime contí-
nuo na limpeza das galerias de águas pluviais, caixas de
drenagem - “bocas de lobo” e nos leitos dos córregos e
ribeirões, removendo todo tipo de dejetos que tem seu
destino final nos cursos d’água da nossa cidade. Estes
trabalhos são permanentes.

Saneas: Quando e com qual propósito foi iniciada a


Operação Córrego Limpo?
Prefeitura de São Paulo: O Programa Córrego Limpo,
começou em março de 2007, com o propósito de
despoluição dos cursos d’água, para eliminação de to-
dos os lançamentos de esgotos domiciliares clandes-
tinos, com a complementação das redes coletoras por
parte da Sabesp em parceria com a Prefeitura, recu-
perando assim a qualidade das águas e melhorando o
meio ambiente.

Saneas: Qual é a participação da Prefeitura de São


Paulo na efetivação deste Projeto? E qual é a im-
portância de se contar com a parceria da Sabesp
nesta Operação?
Prefeitura de São Paulo: A Prefeitura faz a limpeza e
a remoção de entulho; a realocação das famílias que
habitam irregularmente sobre as margens e o leito do
córrego; obras complementares de contenção das mar-
gens quando necessárias; construção de habitações
populares para moradia das famílias que deixam as
ocupações em beira dos mananciais; a notificação aos
proprietários dos imóveis que ainda não regularizaram
a sua ligação à rede coletora da Sabesp - “Ligações
Factíveis” e outros serviços complementares. A parce-
ria com a Sabesp é fundamental. Sem ela o Programa

22 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


Córrego Limpo não alcançaria os resultados que esta-
mos obtendo, que é a recuperação dos nossos cursos
d’água. Importante registrar que esta integração não
existia e os planos estratégicos não dialogavam.

Saneas: O que já foi feito desde o início da Opera-


ção e o que ainda estar por fazer em curto, médio e
longo prazos?
Prefeitura de São Paulo: Pelo curto espaço de tempo
decorrido desde o início dos trabalhos, sentimos que
os resultados já alcançados são altamente significati-
vos para a melhoria da qualidade de vida dos mora-
dores, nos 6 córregos já despoluídos, dos 42 previstos
até 2009, com a eliminação do mau cheiro, insetos e
ratos e com a volta de peixes e aves. Este Programa
prosseguirá até conseguirmos despoluir todos os cur-
sos d’água da nossa cidade, a médio e longo prazo.

Saneas: Além do impacto ambiental, essa Operação


contempla outros segmentos, como saúde, habita-
ção, economia, entre outros?
Prefeitura de São Paulo: O Programa Córrego Limpo,
além do impacto ambiental, contempla a eliminação
de doenças provenientes do esgoto a céu aberto e dos
gases liberados, da melhoria das habitações destina-
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das às famílias removidas, gerando uma economia de


assistência médica ambulatorial às pessoas moradoras
próximas do córrego. A comunidade inteira passa a ter
uma melhor qualidade de vida. Este Programa benefi-
cia toda a população de nossa cidade.

Julho / Agosto / Setembro | 2008 Saneas | 23


matéria tema

Sabesp destaca importância de parques


urbanos e envolvimento da comunidade
Colaboração do DEPARTAMENTO DE IMPRENSA DA Sabesp

reza são coisas distintas, quando não são. A cidade é a


natureza transformada, mas é natureza”, afirmou.
Logo depois foi apresentado o Programa 100 Parques,
da Prefeitura de São Paulo. A palestra foi ministrada por
Alejandra Maria Devecchi, coordenadora de Planejamen-
to Ambiental da Secretaria Municipal do Verde e Meio
Ambiente. O projeto foi lançado em janeiro deste ano e
tem como objetivo possibilitar que o município tenha, ao
menos, cem parques públicos. Segundo Alejandra, foram
identificadas áreas prioritárias para a construção dos
parques. Em muitas delas a Prefeitura teve de negociar
a desapropriação. “No momento, 17 parques estão sendo
Não há como pensar em um planeta sustentável sem construídos. Temos projetos para outros 34 serem criados
iniciativas que estimulem o desenvolvimento de área nos próximos anos”. A palestrante destacou quatro locais
verde. Esse foi o objetivo da 12ª Audiência de Sustentabili- em especial: a borda da Cantareira, a nascente do Rio
dade, realizada em 21 de outubro, no auditório Tauzer Gar- Aricanduva, e as represas Billings e Guarapiranga.
cia Quinderè, na Sabesp. O evento destacou a importância A audiência ainda contou com a participação de Mau-
dos parques públicos e o papel da comunidade na gestão ricio Broizini, presidente do Conselho Deliberativo do
desses locais. Movimento Nossa São Paulo. Ele destacou a importância
Hélio Castro (foto) , superintendente de Produção de do envolvimento da comunidade em favor dos parques
Água da Sabesp, apresentou o projeto Parque da Inte- e, de maneira geral, nos assuntos do cotidiano: “O mo-
gração, desenvolvido pela empresa em parceria com o vimento nasceu para criar uma sinergia entre os vários
Governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo. O parque setores da sociedade civil, com o objetivo de contribuir
terá 7,5 km de extensão e será construído em torno da com o poder público para a construção de uma cidade
adutora Rio Claro, entre o bairro de Sapopemba e o Largo justa e sustentável”.
São Matheus. O local contará com ciclovia, pista de pe- Após as apresentações, surgiram idéias para o desen-
destre, bicicletário, parquinho, anfiteatro, áreas para a volvimento de novos projetos. A consultora Maria Ângela
prática de esportes (malha, bocha e campo de futebol), Barea, por exemplo, propôs que hortas fossem plantadas
entre outras atrações. nas lajes das moradias nas favelas. Para ela, trata-se de
O Parque da Integração foi dividido em cinco setores. uma alternativa para locais em que há dificuldade para o
Os dois primeiros deverão ser entregues em novembro. plantio por conta de sua precária arquitetura.
O projeto tem previsão para ser concluído em 2010. “A O Movimento de Urbanização e Legalização do Pantanal
gente conta com a comunidade na gestão desse espaço, (MULP) tem projeto parecido em parceria com o Instituto
de forma a utilizá-lo de maneira adequada para a sua Alana. Seu representante, Ronaldo Delfino de Souza, afir-
preservação”, destacou. mou que o a organização possui um trabalho socioeduca-
Em seguida, o Prof. Dr. Paulo Renato Mesquita Pellegri- tivo no Jardim Pantanal, Zona Leste de São Paulo. O bairro
no, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da conta com aproximadamente 5.400 famílias. É apenas um
Universidade de São Paulo, falou sobre “Novos Conceitos dos dezessete que ocupam a várzea do rio Tietê.
de Paisagismo em Parques Urbanos”. Em sua apresenta- As audiências de sustentabilidade têm como objetivo
ção, o professor apontou conceitos de como conseguir principal ampliar o espaço de diálogo com a sociedade,
uma harmonia entre as construções e o meio ambiente. sendo um fórum de discussão de propostas que possam
“Estamos numa cidade que praticamente perdeu as pos- contribuir com os temas abordados. A avaliação da orga-
sibilidades que tinha de se desenvolver sustentavelmente. nização foi a de que o evento atingiu seu objetivo, dado
Carregamos uma visão deturpada de que cidade e natu- o envolvimento dos participantes.

24 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


matéria tema

Poluição secular impera


no Rio Tietê, em SP
O Rio Tietê, segundo pesquisas, tem entre 10 e
15 milhões de anos. Com 1136 km, ele corta todo o
Estado de São Paulo, até chegar no rio Paraná, na
divisa com Mato Grosso do Sul. Os índios o chama-
vam de Anhembi, mas ele ficou famoso como Tietê,
o rio das conquistas, o caminho dos Bandeirantes

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nos séculos XVI - XVII.
O Tietê nasce em Salesópolis a 22 km do Oceano
Atlântico, mas corre para dentro do nosso Estado, por
isso foi muito utilizado como estrada de acesso por
índios, bandeirantes e religiosos, que necessitavam
chegar as vilas que cresciam a beira do rio. Segundo
conta a história, os Jesuítas navegavam entre os rios
Tietê, Tamanduateí e o Pinheiros para que pudessem
chegar nos pontos mais distantes da jovem cidade.
Os Bandeirantes atravessavam todo o Estado pelo
Rio Tietê até chegarem no rio Paraná alcançando
desta forma a região sul do nosso País desbravando
terras e dando ao nosso País o formato que hoje
conhecemos.
Em 1700 já há relatos de exploração de ouro
e ferro em São Paulo, causando variações na cor
das águas do Tietê, já na metade do século XVIII a
exploração da cultura do açúcar provocava o des-
matamento das margens do rio.
Em 1900 já existiam mais de 150 empresas jo-
gando lixo no Tietê, como resultado, em 1970 o
índice de oxigênio na água chegou a zero, ficando
apenas mau cheiro, moscas e espumas no Tietê.
A preservação do Rio Tietê na capital paulista
começou em uma ação iniciada em 1992, o Projeto
Tietê. O programa, de responsabilidade da Sabesp,
tem como meta recuperar o rio ao longo da cidade
de São Paulo, evitando que o esgoto de indústrias e
residências chegue até seu leito sem tratamento.

Julho / Agosto / Setembro | 2008 Saneas | 25


visão de mercado
Prof. Ms. Adalberto Mohai Szabó Júnior

O TRATAMENTO DE EFLUENTES
Técnico em
eletrônica, LÍQUIDOS E SUA VIABILIDADE
licenciado em
ciências com
habilitação plena
em química e
ECONÔMICA
bacharel em
química com
atribuições No Brasil as indústrias não podem colocar os efluentes Contudo, para grande parte dos empresários não
tecnológicas. líquidos por elas gerados em contato com o ambiente basta este argumento para convencê-los da viabili-
Pós-graduado em extra fabril sem que sejam devidamente tratados, dade econômica desse tipo de projeto.
gestão e manejo exceto em casos em que as características desses Para tanto, demonstrarei através de um exemplo
ambiental e
efluentes estejam em conformidade com as exigên- hipotético de que maneira devemos proceder para
mestre em
educação. É cias legais, o que dificilmente acontece. calcular dois importantes indicadores que servem de
também, autor Subentende-se desta forma que na maior parte parâmetro para conhecer detalhes da viabilidade.
de livros técnicos das vezes as indústrias precisam tratar os efluentes O primeiro deles, é conhecido como prazo de
utilizados em que geram. E assim sendo, podemos concluir que retorno (pay back). Trata-se de um indicador que
instituições as mesmas possuem duas diferentes alternativas. nos mostra quanto tempo será necessário para o
de ensino de
diversos Estados A primeira que consiste em tratá-los para posterior dispendimento de capital para que os efluentes se-
do país, de despejo, e a segunda, que consiste em tratá-los para jam tratados e re-aproveitados retorne aos cofres da
inúmeros artigos que sejam reaproveitados na própria indústria. instituição.
publicados em A segunda opção é muito mais recomendada que Para determinarmos este importante indicar, uti-
significativos a primeira, pois em circunstâncias em que a indústria lizarei os valores abaixo como referência, supondo
meios de
trata seus efluentes para que sejam reaproveitados, que estivéssemos diante de uma empresa que tivesse
comunicação e de
inúmeros projetos ela acaba diminuindo o consumo de água potável e interesse em tratar os efluentes por ela gerados para
de educação os custos com tal consumo. reaproveitamento interno.
ambiental e
responsabilidade
social.
Consultor
e instrutor
de empresas
de pequeno,
médio e grande
porte. Professor
universitário
com expressiva
atuação em
cursos superiores
de tecnologia,
em cursos de
bacharelado e
em cursos de
pós-graduação.
Atualmente
leciona em várias
instituições de
ensino superior
da região do ABC.

26 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


visão de mercado

Investimento: R$ 100.000,00
Custo mens. consumo de água antes implantação do projeto: R$ 40.000,00
Custo mens. consumo de água após implantação do projeto: R$ 20.000,00

De pose desses dados, basta que façamos uso da fórmula abaixo:

Pay Back = Investimento / Economia Mensal


Pay Back = R$ 100.000,00 / (R$ 40.000,00 – R$ 20.000,00)
Pay Back = R$ 100.000,00 / R$ 20.000,00
Pay Back = 5 meses

Isso significa que durante os cinco primeiros meses subsequentes a implantação do projeto a empresa não
lucraria absolutamente nada, pois a mesma só estaria recuperando mês a mês, o dispendimento de capital feito
para que o projeto fosse colocado em prática. A empresa só lucraria a partir do 6º mês e essa lucratividade cor-
responderia a R$ 20.000,00 por mês, ou seja, R$ 240.000,00 por ano ou R$ 2.400.000,00 por década.
Para determinar o outro indicador igualmente importante, denominado rentabilidade, basta fazermos os cálcu-
los abaixo:

Rentabilidade = Economia mensal / Investimento


Rentabilidade = R$ 20.000,00 / R$ 100.000,00
Rentabilidade = 0,2 x 100 Ü 20% ao mês

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Julho / Agosto / Setembro | 2008 Saneas | 27
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visão de mercado
Este indicador deve ser comparado com as rentabili-
dades conseguidas por intermédio de investimentos com
baixo grau de risco, oferecidos pelo mercado financeiro.
No Brasil, a caderneta de poupança tem conferido
aos seus investidores uma rentabilidade mensal de
aproximadamente 0,6%. Isso significa que a rentabili-
dade desse empreendimento no país é extremamente
significativa, ou seja, mais de 30 vezes maior.
Se o empresário desta empresa deixasse o dinheiro
necessário para colocar o projeto em prática na cader-
neta de poupança, veja como essa quantia se compor-
taria durante dezessete meses, supondo uma rentabili-
dade mensal de 0,6% ao mês:

MES VALOR MES VALOR


1 100.000,00 10 105.530,60
2 100.600,00 11 106.163,80
3 101.203,60 12 106.800,80
4 101.810,80 13 107.441,60
5 102.420,90 14 108.086,30
6 103.035,40 15 108.734,80
7 103.653,60 16 109.387,20
8 104.275,50 17 110.043,50
9 104.901,20

Percebe-se que passados dezessete meses na ca-


derneta de poupança o empresário teria acumulado
a quantia de R$ 110.043,50 e se o dinheiro tivesse
sido investido no tratamento dos efluentes para
reaproveitamento intra-fabril, o ganho teria sido de
R$ 240.000,00, uma quantia muito maior que a acu-
mulada no banco.
Através deste artigo, acredito que tenha ficado sufi-
cientemente claro que investimentos que contribuam
para o desenvolvimento sustentável são em muitas
vezes economicamente viáveis, pois todo e qualquer
empreendimento que possui um pay back relativa-
mente pequeno e uma rentabilidade sensivelmente
superior a rentabilidade oferecida pelo mercado finan-
ceiro aos seus investidores através de produtos com
baixo grau de risco deve ser considerado economica-
mente viável.
Esse exemplo hipotético que usei como referência
permite aos leitores que aprendam a maneira com que
o pay back e a rentabilidade de um empreendimento
devem ser determinados.
Contatos: adalbertomohai@yahoo.com.br

28 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


artigo técnico

A UTILIZAÇÃO DO MODELO WINHSPF NO


ESTUDO DAS CARGAS DIFUSAS DE POLUIÇÃO
DA BACIA DO RIBEIRÃO DA ESTIVA, SP.
Ana Lúcia Silva - Engenheira química, mestranda pela Escola Politécnica da USP – Área de Concentração: Engenharia
Hidráulica. End.: R. Dr. Zuquim, 757, apto 68, Santana – São Paulo – sp. Tel.: + 55 11 6971-4168;
Email: alsilva2@sabesp.com.br
Monica Ferreira do Amaral Porto - Professora Associada da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
Email: mporto@usp.br

Assim como muitos conceitos evasivos, a poluição di- específico evento e com outros fatores, que tornam a
fusa é de modo geral especificada como aquilo que correlação vazão x carga poluidora praticamente im-
ela não é. Literalmente, é definida como sendo aquela possível de ser estabelecida.
causada por poluentes que não são descarregados pe-
las fontes pontuais. Definem-se então as cargas polui- BACIA HIDROGRÁFICA DE ESTUDO
doras (Prime, 1998): Cargas pontuais: a fonte é pos- A Bacia hidrográfica de Ribeirão da Estiva encontra-
sível de ser determinada e localizada, como é o caso de se totalmente inserida no município de Rio Grande da
esgotos domésticos, descargas industriais, efluentes de Serra e na Bacia da Billings, com 100% da área de Pro-
aterros sanitários, etc. Cargas difusas ou não pontuais: teção Ambiental. O Ribeirão da Estiva é um afluente do
geradas de forma distribuída ao longo da superfície Rio Grande, que por sua vez é um dos formadores da
do solo por inúmeros agentes poluidores, que afluem Bacia Hidrográfica da Represa Billings. Possui uma área
aos corpos d’água preferencialmente por ocasião dos aproximada de 17 km2 e representa 45,94% da área to-
eventos de chuvas. As fontes difusas de poluentes são tal do município. A cidade faz limite com os seguintes
mais freqüentemente associadas às atividades de uso municípios: Ribeirão Pires (norte), Suzano (leste), Santo
do solo. Entre estas, as que mais contribuem são: de- André (oeste e sul) (SABESP, 2000). O manancial abas-
senvolvimento urbano, agricultura, construção urbana tece toda a cidade de Rio Grande da Serra e uma parte
e rural, corte de madeira e mineração. As fontes de da cidade de Ribeirão Pires. O processo de tratamento
cargas difusas podem se, em áreas rurais: atividades da água é do tipo convencional. De acordo com a sra.
agrícolas; atividades pecuárias; silvicultura; chácaras Francisca Adalgisa, da SABESP, a bacia de Ribeirão da
de lazer e recreação; etc. E em áreas urbanas: áreas Estiva possui cerca de 1500 pessoas (censo de 2000,
residenciais, comerciais, industriais, complexos es- IBGE). Dados de saúde indicam necessidade de revisão
portivos, parques, etc.; meios de transporte; deposição do sistema de atendimento à população quanto ao
atmosférica , etc. Pode-se citar ainda outras condições saneamento básico, a fim de melhorar a qualidade de
que caracterizam as fontes difusas (Porto, 1995): (1) vida. A rede coletora de esgotos concentra-se na área
o lançamento da carga poluidora é intermitente e central, apresentando 19 km de extensão e 600 liga-
está relacionado à precipitação; (2) os poluentes são ções. A carga poluidora potencial é de 1.963 kg de DBO/
transportados a partir de extensas áreas; (3) as cargas dia e a remanescente é de 1.616 kg de DBO/dia (CETESB,
poluidoras não podem ser monitoradas a partir de seu 2002). O restante do esgoto não alcança a lagoa por
ponto de origem, mesmo porque não é possível identi- falta de implantação de recalque. Grande parte da área
ficar sua origem; (4) o controle da poluição de origem urbanizada não dispõe de rede coletora, lançando os
difusa, obrigatoriamente, deve incluir ações sobre a despejos a céu aberto ou em galeria de águas pluviais.
área geradora da poluição, ao invés de incluir, apenas, A característica predominante na bacia hidrográfica
o controle do efluente quando do lançamento; (5) é do Ribeirão da Estiva é rural, com a exceção de alguns
difícil o estabelecimento de padrões de qualidade para pontos onde já se observa alguma ocupação desor-
o lançamento do efluente, uma vez que a carga polui- denada, a maioria delas em áreas impróprias para este
dora lançada, a extensão da área de produção naquele fim (áreas de risco e com restrições legais).

Julho / Agosto / Setembro | 2008 Saneas | 29


artigo técnico
O MODELO HSPF
O WinHSPF é uma interface em Windows para o
modelo HSPF 11.0 no BASINS 3.0. Hydrological Simu-
lation Program – FORTRAN (HSPF), é um modelo de
simulação de fenômenos hidrológicos e qualidade da
água para poluentes tóxicos orgânicos. Permite integrar
simulações de contaminação por cargas difusas, tem-
peratura da água, transporte de sedimentos, nutrientes
e interações entre sedimentos e elementos químicos.
Inclui simulações simples (constante de concentração)
e detalhadas de processos (transformações químicas de
nutrientes). O modelo HSPF passou por várias revisões
com inserção de novos algoritmos. Em 1984 foi desen-
volvida a metodologia CMRA (Chemical Migration and
Risk Assessment), o qual trazia procedimentos mais
detalhados de simulação de sedimentos e transporte e
interação de parâmetros químicos. Além disso, combi-
nava o uso os dados de freqüência-duração com da-
dos de toxicidade para obter a freqüência de condições
agudas e crônicas em organismos aquáticos. Com este
novo algoritmo é lançado a versão 8.0 do HSPF. Em
1993 surge o HSPF 10.0. Era notório que o modelo 5.0
possuía deficiências para modelar nutrientes nos cor-
pos d’água, por ser inábil na simulação das interações
entre nutrientes e sedimentos, como adsorção/desor-
ção, advecção e deposição/remoção de sedimentos. Na
nova versão o modelo passa a considerar efeitos do
pH no equilíbrio do alumínio e do carbonato e da alca-
linidade; e os possíveis efeitos da complexação do ferro
e competição com o alumínio, além de ver resolvidos
as deficiências anteriores. A nova versão melhorou a
definição de como estão ligados os vários segmentos
da bacia, a partir do desenvolvimento das ferramentas
SCHEMATIC e MASS-LINK. A versão 11.0 é apresentada
em 1997. Com um melhor entendimento da dinâmica
das fontes de nitrogênio na bacia de Chesepeak, USA,
a EPA promove uma melhoria na capacidade de mo-
delagem a partir da inclusão de três fontes de poluição
diferentes: deposição atmosférica, fertilizantes agríco-
las e áreas com florestas. Além disso o modelo tem os
algoritmos que simulam o ganho e perda de nutrientes
por plantas expandido, minimizando uma hiper-sen-
sibilidade para simulações com aplicações de fertili-
zantes. Também o nitrogênio passa a ser simulado em
diferentes formas, frações de nitrogênio orgânico lábil
e refratário particulado e dissolvido, entre outras me-
lhorias. A última versão, o HSPF 12.0, ocorreu em 2001,

30 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


artigo técnico
com o refinamento da representação da hidrologia
de wetlands. Outras me-lhorias foram: capacidade
de representar a irrigação em segmentos permeáveis,
definidas pelo usuário; simulação mais simplicada de
eventos de neve; simulação de BMPs; a inserção da
ferramenta REPORT para que o usuário possa perso-
nalizar a maneira como pretende que os dados sejam
extraídos. Encontra-se em estudo melhorias para a
simulação de vazão/sedimentos (Donigian, 2002).
O HSPF possui uma longa história na aplicação de
manejos de bacias, incluindo a análise de carga de
nutrientes e avaliação de BMP’s para a agricultura na
bacia hidrográfica de Chesapeake (Meyers, Albertin e
Cocca, 2001). Desde a sua inclusão no modelo BASINS
2.0, vem sendo aplicado para o desenvolvimento do to-
tal máximo de cargas diárias (TMDLs), desenvolvimento
de programas de monitoramento , planejamento do
uso e ocupação do solo e outros projetos de manejo de
bacias. TMDLs para coliforme fecal e outros poluentes
não pontuais, e vem provando ser efetivo para a mo-
delagem de cargas de bactérias em rios. Possui a vanta-
gem de ser capaz de prover uma contínua simulação de
ambas as descargas diretas recebidas por rios: cargas
pontuais e difusas. O usuário é capaz de antecipar o
impacto de diferentes tipos de uso e ocupação da bacia
através da simulação destes e antecipar mudanças na
qualidade da água. A seguir são descritas algumas das
ferramentas de cálculo do modelo:

PWATER: simula o fluxo e/ou armazenamento da água


no segmento em estudo e a partir da entrada de dados
sobre os fluxos de água, faz simulações, fornecendo
diversos tipos de informações.
SEDMNT: simula a produção e remoção de sedimento
de um segmento permeável.
PQUAL: simula parâmetros de qualidade e poluição
da água em escoamentos em segmentos de solo
permeáveis usando correlações simples com a água/
sedimento gerado. Qualquer parâmetro pode ser
simulado, tanto na superfície como em três camadas
inferiores de fluxos de água.
PEST: simula com detalhes processos de nutrientes
e pesticidas, biológicos ou químicos. Os algoritmos
básicos utilizados são originalmente desenvolvidos
para uso em terras rurais, mas podem ser usadas em
outras áreas permeáveis.

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artigo técnico
NITR: simula o comportamento o transporte e as subrotinas usadas para transporte e reação do fósforo
reações das espécies químicas nitrato, amônia e ni- são as mesmas para os pesticidas.
trogênio orgânico. As reações são simuladas separada- TRACER: simula o movimento de um traçador conser-
mente para cada camada do solo. vativo em um segmento permeável.
PHOS: A simulação do fósforo envolve o seu trans- IWATER: simula a retenção, armazenamento e evapo-
porte, uso por plantas, adsorção/desorção, imobiliza- ração da água em um segmento de solo impermeável.
ção e mineralização nas várias formas de fósforo. O Sua operação é similar ao PWATER.
método usado para transporte e reação do fósforo é SOLIDS: simula o acúmulo e remoção de sólidos pela
o mesmo usado para o nitrogênio, na seção NITR e as carga difusa e outros meios, no segmento impermeável.

Figura 2 – Apresentação dos resultados de calibração e simulação das BMP´s

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artigo técnico
IWTGAS: estima a temperatura e concentração do SEDTRN: simula o transporte, deposição e desgaste
oxi-gênio dissolvido e do dióxido de carbono na água de sedimento inorgânico no módulo RCHRES. O
que escoa pelo segmento impermeável. HSPF divide a carga de sedimento inorgânico em três
IQUAL: simula o carreamento, através de um segmen- componentes (areia, lodo e argila), cada qual com
to não permeável, de substâncias químicas ou polu- suas propriedades. O modelo assume que a remoção
entes pela água, usando uma relação simples com o de sedimento inorgânico não afeta as propriedades
balanço hídrico ou os sólidos. hidráulicas do canal, e que o depósito dos sedimentos
RCHRES: simula os processos que podem ocorrer em simulados ocorre em diferentes áreas do leito. O movi-
um trecho de rio, um canal aberto ou em um reser- mento longitudinal de fundo não é simulado. Pode-se
vatório de mistura completa. Assumindo mistura com- utilizar três métodos de simulação: métodos de Toffa-
pleta, RCHRES consiste de uma única zona situada en- leti e Colby, e uma equação em função da velocidade.
tre dois nós, os quais são as extremidades de RCHRES. GQUAL: possui diversas subrotinas para simulação de
O fluxo de vazão que atravessa é unidirecional. Podem até 3 substâncias químicas que estejam dissolvidas ou
existir até cinco tipos de saídas e uma única entrada. associadas a sedimentos, no RCHRES. Também calcula
SINK: calcula a quantidade de material que sedimenta o aumento da concentração do qual resultante de um
no módulo RCHRES e determina as mudanças resul- decaimento de uma substância química qualquer, capaz
tantes na concentração. de formá-lo.
HYDR: simula os processos hidráulicos que ocorrem RQUAL: simula constituintes envolvidos em trans-
em RCHRES. Os processos elucidados são o comporta- formações bioquímicas: OD, DBO, Amônia, Nitrito,
mento hidráulico do reservatório e dos fluxos de vazão, Nitrato, Ortofosfato, Fitoplâncton, Alga, Zooplânc-
e a análise dos constituintes dissolvidos na água. A ton, Nitrogênio orgânico, Fósforo orgânico e Carbono
equação básica usada é a de continuidade. O HSPF não orgânico refratários e totais, Carbono orgânico total,
assume um formato para RCHRES, mas assume que pH, dióxido de carbono e a DBO potencial.
não há uma relação fixa entre a profundidade, a área
superficial e o volume e para alguma demanda com APLICAÇÃO DO MODELO MATEMÁTICO À BACIA DE
uma componente f (VOL ), a relação funcional é con- RIBEIRÃO DA ESTIVA
stante no tempo. Isto significa que não há reversão da Dados de carga pontual: Na bacia de Ribeirão da Es-
direção do fluxo. A técnica de modelagem é conhecida tiva, não existem pontos de cargas pontuais.
como “rotina de retenção” ou “onda cinemática”. Dados hidrográficos: Obtidos a partir da análise de
ADCALC: Simula a advecção para substâncias dis- plantas da bacia da EMPLASA. Para cálculo da geome-
solvidas ou em solução. tria do reservatório foram feitas aproximações a partir
FTABLE: trata-se de uma tabela para funções hidráu- da tabela FTABLE, os quais foram calibrados posterior-
licas gerado pelo modelo. Contém dados rudimenta- mente. Os dados hidrológicos foram obtidos de um
res das características de um canal, e o modelo utili- estudo feito pelo DAEE de regionalização do Ribeirão
za-se da equação de Manning, através da extração de da Estiva e disponibilidade hídrica. Devido a falta de
quatro valores: profundidade, largura média do ca- dados, limitou-se o estudo a apenas um ponto da ba-
nal, n de Manning e inclinação longitudinal do canal. cia, junto à captação de água da ETA da SABESP.
O HSPF também assume determinadas características Dados geográficos: obtidos junto ao Instituto Sócio
para cálculo de seção, altura do canal, declividade, Ambiental (ISA). O local é predominantemente per-
etc. A rotina de cálculo acaba sendo uma “rotina de meável. Considerou-se três tipos de uso e ocupação,
armazenamento” ou “onda cinemática”. Nestes méto- por serem os principais: floresta nativa como 80% da
dos, o momento não é considerado. área total da bacia de Ribeirão da Estiva, 10% como de
CONS: simula substâncias conservativas. uso urbano não consolidado e os outros 10% como de
HTRCH: simula os processos que determinam a tem- uso agrícola, todos com drenagem para o ribeirão.
peratura da água em RCHRES a partir de dados me- Dados meteorológicos: Foram inseridos dados de
teorológicos. precipitação atmosférica, radiação solar, evaporação,
temperatura e potencial de evapotranspiração, os

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artigo técnico
quais eram necessários para o tipo de simulação que • Calibração do modelo para coliformes termo-
foi feita, todos em intervalos horários. tolerantes ou fecais: A ferramenta utilizada para
Dados de qualidade: foram utilizados os dados ob- calibração dos coliformes termotolerantes foram
tidos pela SABESP ao longo dos anos de 2000 a 2002, PQUAL e GQUAL já que o modelo não possui um al-
sendo identificados os parâmetros com maior número goritmo específico para este parâmetro. O primeiro
de dados, maior variabilidade sazonal e selecionados passo foi a estimação dos dados de carga de en-
a partir da capacidade de simulação do modelo: coli- trada. Estes valores são distribuídos com freqüência
formes termotolerantes, fósforo total, sólidos em sus- mensal para cada tipo de uso e ocupação do solo.
pensão e OD. Para validação apenas os parâmetros coli- Deve-se entrar com a capacidade máxima de reten-
formes termotolerantes e fósforo total foram utilizados, ção e taxa de acumulação em cada segmento, a qual
pois não haviam os outros dados para o ano de 2000. deve ser de 1,5 a 1,8 vezes maior que a taxa de acu-
mulação. Foi considerado que a carga de coliforme
CALIBRAÇÃO E VALIDAÇÃO DO MODELO fecal gerado que chegava ao reservatório estava as-
• Calibração hidrológica do modelo: A calibração foi sociado ao escoamento superficial.
feita a partir da entrada de dados de 1995 a 2002, e a • Calibração do modelo para fósforo total: O
calibração de vazão a partir de 1999 a 2002, porque o parâmetro fósforo possui um módulo próprio para ser
modelo inicia com o reservatório vazio, apesar de exis- simulado tanto no módulo PERLND quanto no RCHRES.
tir um parâmetro de entrada onde o usuário informa No entanto, este módulo exige o conhecimento de di-
com que volume o reservatório encontra-se no mo- versas variáveis, entre elas a capacidade de absorção/
mento de início da simulação. Foi refinada seguindo desorção de fósforo por plantas, difusão do mesmo do
os seguintes passos: (1) observou-se os resultados de sedimento para o meio, etc. Devido a não existência
balanço de massa gerados pelo próprio HSPF, até que a destes dados para o ambiente simulado, optou-se por
% de erro fosse menor que 10%. (2) para calibração da simplificar o método de simulação. O fósforo total
vazão considerou-se a vazão média de longo período, foi modelado a partir do módulos genéricos PQUAL
de forma que a vazão média dos 4 anos diferi-se da real e GQUAL. Os usos de solo que estariam originando o
em menos que 10%. (3) ajuste de distribuição da alta e fósforo seriam o agrícola e o urbano não consolidado.
baixa vazão de escoamento através do ajuste das taxas Concluiu-se que a concentração de fósforo total na
de percolação e infiltração através do solo e recargas do bacia de Ribeirão da Estiva não se correlaciona com a
rio; (4) distribuição da precipitação ao longo do dia; (5) precipitação. Como o modelo permite a variabilidade
utilização de diferentes valores mensais de variáveis de sazonal, o modelo foi calibrado variando a carga de
acordo com a variação sazonal esperada. Os resultados fósforo de 0,1 a 5 Kg de P/m2.dia, com valor médio
estão apresentados na Figura 2. de carga afluente ao reservatório foi de 1,2 kg de P/
• Calibração hidráulica: Seguindo instruções da litera- m2.dia. Na bacia, o total produzido encontrado foi de
tura consultada na EPA, foram acrescentadas duas linhas 27 kg de P/ano. A calibração obtida pode ser consi-
na FTABLE, com mais duas alturas de 10 e 20 pés, cerca de derada razoável, sendo respeitados limites máximos
4 a 5 vezes a altura máxima medida. Nesta bacia foi con- e mínimos de concentração encontrados para os da-
siderado que a vazão de saída do reservatório depende dos reais. Os resultados simulados com dados acima
do volume e do tempo, partindo do princípio que não do normal em eventos sem chuva explica-se pelo
há controle da vazão do reservatório e devido a haver acúmulo de fósforo no segmento, carreado em grande
bombeamento para a ETA. quantidade na primeira chuva. A concentração final é
• Calibração do modelo para o módulo de geração remanescente destes dias.
de sedimentos: Uma vez calibrado o sedimento gera- • Calibração do modelo para oxigênio dissolvido:
do por erosão, segue-se à calibração do sedimento que A modelagem para Ribeirão da Estiva considerou as três
adentra a massa de água. Para a variável K, o fator de formas possíveis de reaeração, e o melhor resultado
erodibilidade para solos paulistas varia entre 0,18 e 0,13. foi obtido a partir do método de Covar modificado.
O método utilizado foi o de Toffalety, atendendo às ca- Constatou-se que a variação dos expoentes de veloci-
racterísticas da bacia simulada. dade e altura no método de Covar pouco interferem

34 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


artigo técnico
no resultado final. Após fixar estes em valores default goritmo simulado correlaciona a formação do qual a
partiu-se para a variação de REAK para a qual o modelo eventos de chuva. O fósforo total é um elemento com-
apresenta maior sensibilidade. Finalmente chegou-se a plexo na natureza, com diversas fontes, o que justifica
um valor ótimo de coeficiente de reaeração de 0,37/ft. a necessidade de algoritmos de cálculo bem trabalha-
Foi considerada a DBO média. dos e um conhecimento apurado do sistema de tra-
balho. Donigian (2002), em seu trabalho de calibração e
Verificação dos resultados validação de um bacia hidrográfica dos Estados Unidos
A verificação dos resultados foi feita a partir da simula- utilizando o modelo HSPF também encontrou proble-
ção das variáveis coliformes termotolerantes e fósforo mas na calibração do parâmetro fósforo, obtendo um
para o ano de 2000. Não foi possível validar outras resultado ruim. Analisando o ribeirão da Estiva quanto
variáveis já que não existiam dados para as mesmas. aos seus dados de qualidade percebe-se que a variação
Correlação r2: As correlações obtidas na validação dos da concentração de alguns parâmetros é sazonal, prin-
dados, para o ano de 2000 foram: cipalmente o fósforo. As fontes de fósforo nesta bacia
-Coliforme termotolerante: r2 = 0,96 são principalmente de cargas difusas e da carga interna
-Fósforo total: r2= 0,04 do sistema. O pH do corpo d’água tende a ácido, o que
Teste T: O teste T é usado para determinar se duas influencia na ressolubilização de metais, entre eles o
médias amostrais são iguais, assumindo igual variân- ferro ao qual o fósforo encontra-se normalmente asso-
cia para as duas amostras: dados reais e dados simu- ciado. A variação de OD é grande, tendendo a anoxia. O
lados. Para um nível de significância de 5%, o teste potencial de redução do meio aquático tende a aumen-
considerou as duas séries de dados iguais, para ambos tar à medida em que a concentração de oxigênio tende
os parâmetros de qualidade. Diante destes resultados a zero. Com isto há a redução do íon férrico (Fe+3) a íon
foram considerados bons os valores obtidos a partir ferroso (Fe+2). Uma vez que o fósforo se complexa com
da simulação do WinHSPF, principalmente para o os compostos férricos, este fenômeno de oxi-redução
parâmetro coliforme termotolerante. libera o fósforo que se solubiliza na água intersticial do
sedimento, ficando disponível para difusão na massa
Análise crítica dos resultados d’água. Por sua vez esta difusão é dependente do gradi-
O modelo, apesar de ser do tipo agregado, apresenta ente entre a concentração do fósforo em suspensão na
uma dificuldade considerável de calibração hidrológica água intersticial e na coluna d’água. Este fenômeno é
em função do grande número de variáveis a serem tra- observado no reservatório de Ribeirão da Estiva. A cor-
balhadas, e principalmente pela falta de dados neste relação entre o fósforo total e o ferro total é de r = 0,72.
trabalho. O modelo apresentou ótimos resultados para Tudo isto pode explicar a origem do fósforo no corpo
o parâmetro coliforme termotolerante e não tão bons d’água. Estes fatores não foram considerados na simu-
para o parâmetro fósforo total. O primeiro apresenta lação, mesmo porque desconhece-se exatamente quais
uma ótima correlação de concentração com a inten- variáveis atuam neste meio e principalmente por falta
sidade de chuva, e este foi provavelmente o principal de dados. O parâmetro OD apresentou bons resultados.
motivo da obtenção de bons resultados, já que o al-

Tabela 1 Valores médios dos dados

Coliforme termotolerante (NMP/100 mL) Fósforo total


Período de 12
meses Valor Valor médio Valor Valor médio
% diferença % diferença
médio real simulado médio real simulado

2000(9)* 103 105 1 0,023 0,026 13

2001 (5) 75 86,6 15 0,025 0,022 14


2002 (4) 256 106 59 0,028 0,027 5

* número de eventos observados durante o monitoramento

Julho / Agosto / Setembro | 2008 Saneas | 35


artigo técnico
A minimização das cargas difusas a partir necessária. Contando que 1/3 desta população seja
de uma BMP a responsável pela origem das cargas difusas e que
A projeção do IBGE é que a cidade de Rio Grande da o aumento de 47% para esta região se concentre na
Serra aumente em cerca de 47% até 2015. A tendência área de mananciais próximo ao ribeirão haveria um
que se observa em grandes centros urbanos é o cresci- incremento de quase 80% da carga difusa afluente
mento mais acentuado em áreas de mananciais. Como ao reservatório. Para o parâmetro fósforo, significaria
a localização da bacia de Ribeirão da Estiva pode ser que o ribeirão estaria com a qualidade da água total-
considerada privilegiada, é de se esperar um grande mente comprometida, ou seja, com valores bem acima
afluxo de pessoas para a região, sem a infra-estrutura da legislação. Em termos de tratamento de água, os

Tabela 2 - BMPs sugeridas a serem aplicadas na Bacia de Ribeirão da Estiva.

outras fontes domésticas


esgoto estravasado

animais domésticos

animais confinados
Esgoto doméstico

Animais selvagens
esgoto sanitário

esgotos ilegais
fossa septicé

carga difusa
água parada

nutrientes
BMP

Educação ambiental 1 1 1 5 1 5 3 4 5 5 1 2
Incentivo de diminuição
0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 3 0
de uso de fertilizantes
Incentivo de plantio de
1 1 1 1 1 2 0 0 0 5 0 0
vegetação nativa
Conservação de áreas
0 0 0 1 1 1 0 1 0 1 1 3
naturais
Revegetação de espaços
0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1
abertos e varzea
Áreas de proteção ambi-
0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 3
ental
Trabalho de conservação
conjunto com a comuni- 1 1 0 1 0 3 4 3 3 2 1 3
dade
Monitoramento, idênti-
ficação e eliminação de 3 3 0 4 0 0 4 0 0 0 3 3
fontes
Bacias de retenção de
1 1 1 3 3 3 1 3 3 5 5 5
chuvas
Wetlands construídas 2 3 3 3 3 2 2 3 1 3 1 5
Várzeas naturais 1 1 1 3 1 1 0 3 0 3 1 0

36 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


artigo técnico
parâmetros simulados não são bons indicadores dire- práticas ótimas de manejo que poderiam ser aplicadas
tos para análise do impacto no processo. O que se a bacia de Ribeirão da Estiva para minimizar a carga de
pode é inferir sobre prováveis problemas e impactos coliformes termotolerantes e de fósforo. É importante
futuros a partir da experiência com outros mananciais. notar que as BMPs mais importantes são aquelas onde
Com relação ao coliforme termotolerante, problemas há o trabalho de manutenção, fiscalização e educação
advindos da poluição difusa de patógenos envolve a ambiental com trabalho conjunto com a comunidade.
possível existência de organismos mais agressivos à
saúde humana e de difícil tratamento em estações CONCLUSÃO
convencionais. Segundo Faust (1999), o grupo de bac- Como principais conclusões deste estudo destacam-se:
térias do tipo coliforme não é de difícil inativação e 1. O modelo WinHSPF mostrou-se adequado para
remoção por tratamentos simples e convencionais, a simulação de geração de cargas difusas, em especial
como o cloro livre. No entanto, é importante ressaltar para parâmetros correlacionados com a precipitação,
que para outros organismos patógenos existe a ne- e também para a obtenção de dados médios anuais.
cessidade de se preocupar com o aumento do tempo A análise para a simulação de resultados pontuais foi
de contato e da concentração do desinfetante no pro- prejudicada principalmente pela escassez de dados
cesso de tratamento. para um melhor e mais efetivo teste comparativo;
Quanto ao parâmetro fósforo total, a sua concen- 2. Não é possível criticar o modelo quanto a sua
tração não é controlada para a água após tratamento, eficiência na simulação de fósforo total, neste tra-
mas sua existência em reservatórios pode ser bastante balho, devido a falta de dados para que fossem utiliza-
prejudicial para a qualidade da água para tratamento. das outras ferramentas disponíveis no modelo. Para
Em geral mananciais com altas concentrações de fós- uma melhor avaliação torna-se necessário que estes
foro apresentam eutrofização, com presença de al- dados sejam obtidos;
gas em abundância, sendo as mais problemáticas as 3. O modelo demonstrou ser bastante útil para a
cianofíceas. Além do seu potencial tóxico, as mesmas simulação de cenários futuros, como aumento das car-
liberam na água substâncias orgânicas que atribuem gas difusas afluentes ao reservatório, permitindo avaliar
gosto e odor à água. O tratamento para a remoção possíveis medidas mitigadoras a serem tomadas;
destas substâncias tóxicas e de gosto e odor são ex- 4. A ferramenta geradora de BMP foi extrema-
tremamente caros e complexos, como por ex. carvão mente importante para demonstrar que ações de
ativado em pó e carvão ativado granulado. contenção mínimas para geração de cargas difusas
A aplicação de uma BMP capaz de diminuir em 3% podem levar a resultados ótimos na diminuição da
a carga total afluente ao reservatório, de origem di- carga afluente ao reservatório;
fusa, seria o suficiente para que as concentrações de 5. Os algoritmos para as rotinas sedimentos devem
coliformes termotolerantes no reservatório ficassem ser aprimoradas. No entanto, não foi possível fazer
abaixo de 200 coliformes termotolerantes /100 mL, uma análise mais refinada devido a falta de dados;
com redução média de 83%. Uma BMP capaz de re- 6. O modelo WinHSPF, por ser do tipo agregado, não
mover 5% da carga difusa afluente de fósforo total necessita de maiores detalhamentos como em outros
seria o suficiente para garantir que as concentrações modelos para cargas difusas. No entanto, notou-se du-
de fósforo no reservatório fossem inferiores ao limite rante o trabalho a dificuldade para a obtenção de dados
da legislação, com uma redução média de 77% das simples como precipitação, radiação solar, velocidade
concentrações de fósforo total. Kittle et al (2002) fez do vento, temperatura, em base horária; vazão, mor-
uma revisão sobre BMPs, onde avalia a efetividade de fometria e demais variáveis utilizadas nos módulos de
algumas ações que vão desde preventivas, não estru- qualidade, principalmente para o parâmetro sedimen-
turais, leis e fiscalizações, manutenção até finalmente to. Este tipo de dado não é rotineiramente levantado
BMPs estruturais, para determinadas fontes de polui- no Brasil e possui grande influência em um estudo de
ção. A avaliação vai de 0 a 5, sendo que em 0 a BMP não modelagem de qualidade da água. Esta falta de dados
se aplica para aquela fonte de poluição, e para as clas- acaba por limitar maiores avanços na área.
sificações 1, 3 e 5 a mesma possui baixa, média e alta
eficiência. Para a classe 4, a BMP possui eficiência inter-
mediária entre 3 e 5. Na Tabela 2 são sugeridas algumas

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artigo técnico

EDUCAÇÃO AMBIENTAL / CULTURAL / SOCIAL


DO SANEAMENTO BÁSICO DE JALES - SP
Eng. Antonio Rodrigues Grela Filho - Gerente da Divisão de Jales – RTDJ , antoniorgf@sabesp.com.br

É obrigação do gestor de saneamento buscar alternativas A forma que vem sendo conduzido o trabalho com
que contribuam para uma melhor qualidade de vida. o saneamento básico de Jales – SP tem sido muito
Mesmo o quadro divulgado, é preciso minimizar os im- diferente, permitindo a Sabesp – Companhia de Sa-
pactos negativos. De acordo com os dados do Minis- neamento Básico do Estado de São Paulo, que além da
tério da Saúde, Ministério das Cidades, IBGE (2000), o responsabilidade, conquista a integração educacional.
saneamento básico encontra-se muito distante do que
todos nós desejamos. Metodologia:
Segundo o IBGE (2000) cerca de 40 % da popula- A estação de tratamento de esgotos de Jales foi inau-
ção urbana tem acesso a redes coletoras de esgotos gurada em abril de 2001 e constitui-se num sistema
sanitários, e que somente 25 % recebem algum tipo lagoas de estabilização aeróbia e anaeróbia. A eficiên-
de tratamento. cia é de 91 % de remoção de carga orgânica. A Figura
Além dos aspectos gerenciais necessários, a população 1 mostra a vista aérea do local.
precisa ser integrada as discussões, pois o consumo de
água e a geração de esgotos se devem as suas ações.
A necessidade do envolvimento da população se
torna cada vez mais necessário para que as ações sejam
entendidas com mais profundidade pelos gestores.

Objetivos:
O objetivo deste trabalho é demonstrar que o sanea-
mento básico (água / esgotos) podem ser um meio de
fazer educação ambiental. Demonstrar aspectos rela-
tivos ao trabalho de parceria realizada com amplo en- Figura 1 – Foto aérea da estação de tratamen-
volvimento da comunidade tem trazido um resultado to de esgotos de Jales – SP
excepcional, além do esperado.
Na parte de baixo da foto, encontramos os Córregos
Saneamento Básico: Tamboril e Marimbondinho, que formam o Ribeirão Ma-
Segundo Organização Mundial da Saúde – OMS, o sa- rimbondo que deságua no Rio São José dos Dourados.
neamento básico é o fator que interfere no meio. Res- Com o objetivo de compartilhar com a população a
ponde pela prevenção de doenças.Garantir água em questão do tratamento de esgotos e do meio ambiente,
quantidade e com qualidade, coletar, afastar e tratar os foram desenvolvidas parcerias com varias entidades
esgotos é função primordial para a qualidade de vida. da comunidade, tais como: Unijales (curso de Biolo-
É importante que a população conheça as dificul- gia), ONG Ecoação, Grupo Escoteiros Dragões D´Oeste,
dades e desafios que os sistemas apresentam. Assim, Rotaract Club, Interact Club, Associação Novo Pontal,
os gestores devem manter o sistema de forma que o Secretaria Municipal da Educação, Diretoria Regional
local possa se tornar um campo de estudos e de apren- de Ensino Estadual, AVCC – Associação Voluntários de
dizado em questões ambientais, culturais e sociais. Combate ao Câncer, Produtores Rurais e Empresas.

38 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


artigo técnico
Em seguida, incluímos o Poção
(Aqüífero Guarani) no roteiro da
visitação, conforme Figuras 2 e 3.

Fig. 2 – Poção I
Fig. 3 - Torre de resfriamento
do Poção I

Criamos os jardins temáticos de água: poço cacimba, monjolo, roda d’água,


pilão, fogão a lenha, moinho (Figura 4), e o de esgotos: privada, bacia, chu-
veiro, fossa, fogão a lenha.
Criamos o Jardim dos Sentidos: (carro-de-boi – visão, pé de cravo – olf-
ato, monjolo – audição). Criamos o Jardim dos Aromas com: cravo, alecrim,
arruda, jasmim, hortelã e outros.
Tivemos visitas de alunos nos jardins temáticos de água e de esgotos no
de 2006 de 5.000 alunos, no ano de 2007 de 4.507 alunos e no ano de 2008
até o mesmo de junho tivemos 2.700 alunos.
Fig. 4 – Jardim Temático Água

Resultados:
• Desde o ano de 2001, vem sendo realizado o trabalho de educação ambiental
com paisagismo e reflorestamento – Figura 5.
• O reflorestamento vem sendo desenvolvido com o viveiro de mudas.
• Já plantamos 90.000 mudas aproximadamente, numa área de 60
hectares.
• Temos um tanque de peixes com água de uma nascente, que serve aos
membros da AVCC – Associação dos Voluntários no Combate ao Câncer.
No ano de 2008, fornecemos 150 quilos de peixes (tilápia) ao Albergue
Noturno. Fig. 5 – Reflorestamento e flores
• É desenvolvida uma horta orgânica que serve aos trabalhadores, com a da ETE de Jales
compostagem no local.
• A estação de esgotos serve de visitação a toda a população, mais precisa-
mente ao trabalho de educação ambiental – Figura 6.
• Até um casamento foi fotografado na área de paisagismo.
• Vale lembrar que a Estação de Tratamento de Esgotos foi indicada para
representar a cidade de Jales no Concurso 7 Maravilhas da Região, promovido
pelo Jornal Diário da Região da cidade de São José do Rio Preto – SP, sendo

uma das finalistas. Considerações / Recomendações:


Transformar um local que pode ser considerado insalubre em uma área de
aulas e cidadania, proporcionando a oportunidade de conhecer e entender as
questões ambientais, que são importantes para o futuro. Fig. 6 – Sala Ambiental.
Os locais são ambientes preservados, social e educacional de forma correta.
O trabalho continua de forma direta, tanto que nesta 1ª semana de agosto, uma futura mãe de Porto Alegre – RS quer
o plantio de 30 árvores na área da estação de tratamento de esgotos, para comemorar o nascimento de sua filha.

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artigo técnico

Implantação de esgotos em pequenas comunidades carentes –


caso do Distrito de Prudêncio de Moraes.

Objetivos:
O objetivo deste trabalho é demonstrar a implantação de esgotos no Distrito de
Prudêncio e Moraes com 600 habitantes – Município de General Salgado – SP,
com 100 % de aceitação dos moradores, por parte da Companhia de Sanea-
mento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp.
Devemos destacar além da aplicação dos investimentos, também muita von-
tade de melhorar as condições sanitárias. Isto já trouxe reflexos positivos à co-
munidade como higienização, limpeza e mais qualidade de vida.

Metodologia Utilizada:
No ano de 2006 iniciamos a obra: 01 Estação Elevatória de Esgotos com 210,00 Estação Elevatória pronta
metros de rede de recalque para atender 234 imóveis, 3.789,12 metros de rede
coletora, 1.910,23 metros de emissários e 01 Estação de Tratamento com 637,52
metros de emissário final.Dos 234 imóveis, 80 foram atendidos por gravidade,
enquanto 154 atendidos pela estação elevatória.
Havia uma reivindicação da população que trabalha na zona rural, nas ativi-
dades de cana, pecuária e agricultura. Isto devido a quantidade de pernilongos,
moscas e mosquitos, além de mau cheiro exalado nas guias de sarjetas.
As crianças brincavam nos esgotos e com os esgotos..

Resultados Obtidos:
• Com as 234 ligações domiciliares alteramos as condições precárias de Estação de Tratamento pronta
higiene, porque passamos a coletar, afastar e tratar os esgotos que corriam
pelas ruas da comunidade.
• Foram investidos na ordem de R$ 800.000,00, atingindo R$ 1.353,00 por
habitantes, muito acima da média nacional.
• A população aceitou prontamente a melhoria, comprovada pelas ligações dos
imóveis, alcançando 100 % de atendimento.
• Com a finalização da obra em 2008, a situação foi alterada.

Considerações / Recomendações:
Segundo o IBGE (2005) cerca de 50 % da população brasileira não tem acesso a
Esgotos a céu aberto (antes)
rede coletora de esgotos e que somente 15 % dos esgotos são tratados.
Apesar da universalização do saneamento básico ser um aspecto de difícil
solução, uma vez que envolve políticas sociais, econômicas e de gestão, a Comu-
nidade de Prudêncio e Moraes encontra-se diferenciada do quadro brasileiro.
Para a aceitação da comunidade realizamos audiências públicas, visitas e pes-
quisas com os moradores. Este trabalho alcançou a meta de ligar 100% dos
imóveis, com 90 dia após o encerramento da obra.

Referência Bibliográfica:
Manual de Saneamento 3ª edição – Ministério da Saúde, 1999.
Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos – Marcos Von Situação atual
Sperling – 3ª edição. UFMG, 2005.

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artigo técnico

Chuvas Ácidas
Eng. Robson Fontes da Costa
Engenheiro da Divisão de Controle de Perdas Norte,
Coordenador do Pólo Norte da Aesabesp
rfcosta@sabesp.com.br

As chuvas ácidas são um sério problema de agressão Tanto o gás carbônico como outros óxidos ácidos, por
ao meio ambiente, são gotas de água que podem ser exemplo, SO2 e NOx, são encontrados na atmosfera e as
chuva ou neblina carregada de ácido nítrico e sulfúri- suas quantidades crescentes são um fator de preocupa-
co. Esses ácidos são resultados de reações químicas ção, pois causam, entre outras coisas, as chuvas ácidas.
que ocorrem na atmosfera a partir da presença do O termo chuva ácida foi usado pela primeira vez por
enxofre, que, por sua vez, é emitido para a atmosfera Robert Angus Smith, químico e climatologista inglês.
pelas indústrias, pela queima de carvão, pelos veículos, Ele usou a expressão para descrever a preciptação áci-
etc. Ela pode manifestar-se tanto no local de origem, da que ocorreu sobre a cidade de Manchester no iní-
como a centenas de quilômetros de distância. A ação cio da Revolução Industrial. Com o desenvolvimento
corrosiva do ácido é impiedosa, provoca acidificação e avanço industrial, os problemas inerentes às chuvas
do solo, prejudicando as plantas e animais, a vida dos ácidas têm se tornado cada vez mais sério.
rios e florestas. Da mesma forma as edificações pre- Um dos problemas das chuvas ácidas é o fato destas
sentes na área são afetadas, o excesso de nitrogênio poderem ser transportadas através de grandes distân-
lançado pela chuva ácida em determinados lagos cias, podendo vir a cair em locais onde não há queima
também pode causar crescimento excessivo de algas, de combustíveis.
e conseqüentemente perda de oxigênio, provocando Embora se aceite como padrão de acidez da chuva
um significativo empobrecimento da vida aquática e o valor de pH 5,6, estes podem mudar em função de
prejudicando o tratamento da água. condições locais. Por exemplo, na floresta amazônica a
Hoje em dia, a concentração de CO2 no ar at- chuva é ligeiramente mais ácida devido à grande ativi-
mosférico tem se tornado cada vez maior, devido ao dade da floresta.
grande aumento da queima de combustíveis contendo Convencionalmente, no entanto, se definiu uma chu-
carbono na sua constituição. A queima do carbono va ácida como sendo aquela onde os valores de pH são
pode ser representada pela equação: inferiores a 5,6. Os ácidos sulfúrico e nítrico, conforme
já visto, são ácidos fortes e portanto tem alto grau de
C + O2 ---> CO2 ionização (respectivamente 61% e 92%). Sua presença
na atmosfera influencia fortemente o pH da chuva .

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artigo técnico
Problemas decorrentes das chuvas ácidas O vapor d’água condensado na atmosfera, (nuvem),
A chuva ácida causa grandes problemas, como a cor- ao receber gases como o gás carbônico, (mais o ácido
rosão do mármore, ferro e outros materiais usados em sulfídrico formado), etc., irá dissolve-los até o nível de
construções; prejudica a agricultura, pois a terra se torna saturação, sendo a concentração proporcional a solu-
ácida, necessitando que se coloque calcáreo para reduzir bilidade e a pressão parcial de cada um deles, numa
a acidez; a água dos rios se torna ácida prejudicando a dada temperatura, adquirindo características de pH
sobrevivência dos peixes e de toda a vida aquática. mais reduzido, retornado como chuva, esperando-se
Para diminuir a poluição da natureza com a libera- em torno de 5,0 – 6,0 pH, acidez de 10 a 20 mgCaCO3/l
ção de gases tóxicos como o monóxido de carbono e e numa alcalinidade entre 20 e 25mgCaCO3/l.
o monóxido de nitrogênio, estão sendo utilizados em Isso pode ocorrer, mesmo sem ou com ação de po-
automóveis os catalisadores. Os catalisadores trans- luentes, chamada genericamente de “precipitação áci-
formam os gases tóxicos em não tóxicos, como por da”, onde o pH da água das nuvens pode estar abaixo
exemplo, o monóxido de carbono (CO) é transformado de 5,6, isto por conter na atmosfera ou receber parcelas
em gás carbônico (CO2), o monóxido de nitrogênio de sulfatos, cloretos, amônia, nitratos, etc., através da
(NO) em gás nitrogênio (N2). passagem das gotas nessas camadas, quando de sua
queda, chuva com pH em torno de 3,5 a 5,0.
Efeito tampão O resfriamento do vapor condensado em forma de
Água: a interação da forma tóxica do enxofre (SO2) nuvem leva à posterior precipitação pluvial, (chuva),
com a água resulta em ácido sulfúrico e isso não sobre a superfície dos solos, rios, lagos, etc., sendo
ocorre necessariamente nos corpos líquidos, mas prin- que a parcela d’ água precipitada sobre a superfície
cipalmente na atmosfera, sendo que depois ocorre sólida, pode seguir três vias distintas: a) infiltração;
a precipitação sob a forma de chuva ácida. A chuva b) evapotranspiração; c) escoamento superficial.
ácida é prejudicial principalmente em ecossistemas de Define-se como pH a variável que caracteriza
águas alcalinas como riachos e lagos, e solos natural- o grau ácido ou básico da amostra, indicando as
mente ácidos que não dispõem de algum tampão para relações entre os íons hidrogênio-H+ carregados
compensar essa acidez adicional. positivamente, com os íons oxidrila-OH- carregados
Sabemos que o “Ciclo da Água”, em ambiente natu- negativamente. Quando ocorre equivalência entre
ral, como da região objeto, de clima quente-úmido e esses íons, a amostra é neutra; com predominância
subquente-umido, atinge o meio aéreo-atmosfera por dos íons hidrogênio-H+ ela é ácida e, com predo-
evaporação e evapotranspiração, perdendo e deixando minância dos íons oxidrila-OH- a amostra é básica
os dissolvidos. Acumula-se no ar em forma de vapor, ou chamada de alcalina.
de início com característica neutra. • O pH é medido em unidades de valores de 0 a
O ar atmosférico, (matéria gasosa), é formado por 14, numa escala logarítmica, (cologarítmica), assim:
uma mistura de vários elementos e compostos dis- um pH 4,0 (10-4) é dez (10) vezes mais ácido que um
tintos, mas que pode sofrer modificação na sua com- pH 5,0 (10-5), 100 vezes mais ácido do que o pH 6,0
posição e quantidades dependendo da região. Basi- (10-6). Um pH 10 será 1000 vezes mais básico que um
camente, tem-se presença do nitrogênio em cerca pH 7,0, 100 vezes mais que o pH 8,0 e 10 vez mais
de 78% ; do oxigênio com 20% ; do hidrogênio-H2 que um pH 9,0 e assim por diante .
igual com 0,00005%; do metano 0,0002%; do vapor • O pH comanda a especificação química das
d’água,(micro partículas) de 0,1 a 2,8% e, do gás car- águas, p. ex.: a capacidade de neutralizar ácidos é
bônico numa média de 0,033%, (com variações desde chamada de alcalinidade e a de neutralizar base é
0,01 até 0,1%), completando-se com outros inúmeros chamada de acidez, estando os dois estados em fun-
elementos, vários compostos gasosos em solução e ção do menor ou maior teor de CO2 numa água e da
grande variedade de partículas sólidas em suspensão, presença de soluções tampões, que no caso impedem
levantados do solo pelo vento, todos podendo agir a mudança brusca de pH em substâncias líquidas,
também como núcleos de condensação para o vapor gasosas ou em fluidos que se expandem ou ocorrem
d’água ou serem dissolvidos pela movimentação do à maneira de um líquido ou gás.
ar e pela precipitação.

42 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


artigo técnico
Medidas de Controle das chuvas ácidas Já, pelo lado dos resíduos, nós, menos evoluídos,
O progresso da humanidade traduzido em termos de ainda estamos às voltas com os lixões anti-higiênicos
conforto vem, aos poucos, revelando um sem número e outros tipos de lixo que maltratam a qualidade das
de agressões ambientais, muito delas inesperadas e preciosas águas doces dos mananciais subterrâneos
até desconhecidas. e de superfície, levando toda sorte de doenças aos
Da mesma forma que o avançar da tecnologia que usuários dessas águas. Aterro controlado ou outras
se dá nos países desenvolvidos e muito lentamente vai formas de destinação de resíduos já são assuntos re-
chegando aos menos evoluídos, às agressões ambien- solvidos nos países adiantados; por lá, a preocupação
tais, traduzidas pela poluição, nos países adiantados, é com o lixo nuclear.
sendo cuidadas todas ao mesmo tempo, desde as for- A própria evolução tecnológica, por sua vez, vai
mas mais evidentes até às mais complexas e nem tão mostrando, com o tempo, os malefícios de produtos que
visíveis como a poluição por óxidos de nitrogênio que eram ou são de uso corriqueiro e que eram tidos como
têm uma atenção especial e são cuidadas, todas, com inofensivos ao ecossistema e, em particular, à saúde
igual rigor. Já, nos países menos evoluídos, uma das humana. Vejam o caso do DDT. Quem não se lembra?
formas de poluição que mais salta aos olhos é a poeira Usado para eliminar aqueles incômodos piolhos; tam-
na atmosfera, expelida das chaminés das fábricas e de bém o caso do BHC para matar baratas e do ascarel,
outras atividades, como sejam, o oxi-corte e as queimas dielétrico para transformadores, muitas vezes inocente-
diversas ao ar livre e que ainda nem são cuidadas. mente utilizado, há alguns anos, como desengraxantes
Seja como for, o controle da poluição do ar começa das mãos e do corpo. Não se esquecendo do próprio CFC
pelo combate à poluição por particulados (poeiras), que, muito tempo mais tarde de sua ampla utilização é
todavia, enquanto as nações em desenvolvimento que veio a se constatar o estrago que ele estava fazendo
ainda batalham para eliminar esse tipo “primitivo” com a camada de ozônio da estratosfera.
de poluição, as nações mais evoluídas já a tem como Infelizmente, por aqui, embora saibamos disso tudo
página virada e partem para resolver outras etapas, que é prejudicial, as providências a respeito chegam
como a poluição pelo CO2 (dióxido de carbono ou gás bem mais tarde e não temos como amenizar, em curto
carbônico), causador principal do efeito estufa; pelos prazo, a situação, principalmente por falta de recursos
óxidos de enxofre e nitrogênio, causadores da chuva financeiros. Com isso, a lógica indica que temos mes-
ácida; e pelos CFC’s (clorofluorcarbonos), causadores mo é que combater inicialmente aquilo que for mais
da destruição da camada de ozônio e fortes con- gritante, direcionando, para isso, com inteligência os
tribuintes para o efeito estufa. E já aposentaram há poucos recursos. Em outras palavras, de que adianta
muito tempo, por exemplo, o amianto como isolante realizar esforços para combater emissões de gases que
térmico e controlam com eficiência toda a forma de destroem a camada de ozônio, que provocam o efeito
emissão de hidrocarbonetos cancerígenos. estufa ou que geram as chuvas ácidas se ainda nem
Se, agora, a situação for analisada pelo lado hídrico, chegamos perto do combate às agressões do meio am-
vê-se que a história se repete. Enquanto os países em biente por particulados na atmosfera?
desenvolvimento ainda se encontram no primitismo
do tratamento dos esgotos sanitários e ainda têm
muito a caminhar no que diz respeito aos esgotos in-
dustriais, nos países adiantados já se cuida da águas
para o consumo humano sem trihalometanos e sem
benzo-a-pireno e ainda com teores rigorosamente
controlados de outras impurezas, como, por exemplo,
metais pesados. Coliformes fecais, vibriões coléricos
e outros menos votados, já caíram no esquecimento
pelas bandas de lá, onde também já aposentaram há
muito tempo o ascarel como óleo de transformador, o
aldrim como defensivo agrícola etc.

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artigo técnico

Gestão dos Recursos Hídricos


Eng. Marco Antônio Silva de Oliveira - Departamento de Gestão e Desenvolvimento Operacional da
Baixada Santista - RSO

Preliminarmente a abordagem da Poluição Difusa, A implantação do controle de quantidade/quali-


uma das principais fontes da degradação dos recursos dade de água também ser torna complexo de ser
hídricos, teceremos alguns comentários gerais sobre implementado dependendo de como o solo da bacia
o problema da gestão da água no meio ambiente ur- é utilizado, uma vez que algumas variáveis devem ser
bano, uma vez que tal tema, principalmente nos dias consideradas como por exemplo, a impermeabilização
de hoje, como ensina o Dr. Benedito Braga, começa do solo nas áreas urbanas (construções, telhados, esta-
a despertar interesse nos habitantes das metrópoles cionamentos, ruas asfaltadas, etc.), aliado as questões
brasileiras em função de problemas na área do abas- de utilização do solo, tanto urbano quanto rural, prici-
tecimento de água, esgotamento sanitário, enchentes palmente por conta das ações antrópicas..
e da situação de extrema degradação da qualidade da Gerir nossos recursos hídricos é buscar o equilíbrio
água de nossos rios. entre demandas e disponibilidades hídricas no âmbito
No nosso país, cerca de 75% da população vive em da bacia hidrográfica. Enquanto a disponibilidade está
áreas urbanas e uma parcela considerável em regiões ligada a fatores eminentemente físicos, a demanda in-
metropolitanas. A região metropolitana de São Paulo, clui, além de fatores físicos (necessidades metabólicas
por exemplo, envolve 39 municípios e concentra mais humanas), outros fatores de natureza social, econômi-
que metade da população de todo o estado. Em al- ca e ambiental.
guns estados brasileiros, como o Rio de Janeiro, 97% As demandas estão atreladas às atividades huma-
da população vive em áreas urbanas. Esta aglomera- nas e necessidades ecológicas na bacia hidrográfica
ção maciça ocorreu principalmente ao longo dos últi-
e podem ser agregadas por unidades geográficas e
mos 30 ou 40 anos sem que a infra-estrutura urbana
políticas cujos contornos em geral diferem daqueles
(transportes, saneamento e habitação) acompanhasse
da bacia hidrográfica.
o ritmo de crescimento observado.
Esta é a situação existente hoje na organização do
A gestão de recursos hídricos em geral é um tema
Estado brasileiro onde as demandas por abastecimen-
de natureza interdisciplinar complexo. Trata-se da uti-
to, controle de cheias e recreação, por exemplo, estão
lização racional da água para diferentes finalidades e
ligadas aos municípios. Cabe ao município a respon-
de sua destinação final após o respectivo uso. Entre os
sabilidade pelo controle do uso de seu solo urbano e
diferentes usos da água destacam-se: abastecimento
rural. Municípios à montante impactam municípios
doméstico e industrial, irrigação, geração de energia,
à jusante em um curso d´água. Assim, parece racio-
navegação, lazer e turismo. Além do uso da água, o
nal que haja alguma forma de articulação entre estas
gerenciamento de recursos hídricos envolve o seu con-
trole tanto do ponto de vista quantitativo (enchentes unidades políticas para benefício do uso integrado dos
e secas) como do qualitativo (poluição). recursos hídricos na bacia hidrográfica.
Ao contrário do ar que, dependendo do vento, pode
fluir em diferentes direções; a água sempre escoa de Conceitos de Poluição das Águas
montante (da nascente, região mais alta da bacia hidro- A Poluição das águas é causada pela introdução de
gráfica) para jusante (foz, a parte mais baixa). Assim, os matéria ou energia em algum corpo hídrico pela ativi-
usuários da água em uma bacia hidrográfica estão fisi- dade antrópica, que venha alterar suas características
camente relacionados sendo que, aqueles localizados à físico-químicas e biológicas.
montante irão necessariamente impactar os de jusante A fonte de poluição pode ser pontual ou difusa. A
em termos de quantidade e/ou qualidade de água. poluição pontual é quando o ponto de lançamento da

44 | Saneas Julho / Agosto / Setembro | 2008


artigo técnico

carga poluidora é bem definido (descarte de esgoto in água para atender ao padrão de potabilidade que é de
natura em corpos de água), já na poluição difusa não 10 mg/L, é onerosa e, por vezes, tecnicamente inviável,
é possível definir esse ponto, sendo esta poluição ori- prejudicando o abastecimento público e privado.
unda, normalmente, de uma extensa área como por Os gráficos abaixo mostram a evolução das concen-
exemplo: a lavagem das superfícies pelas chuvas. trações de nitrato verificadas pelo monitoramento da
CETESB no Aqüífero Bauru, ao longo do tempo.
A poluição Difusa
Por definição poluição difusa é toda carga de polui
TENDÊNCIA DAS CONCENTRAÇÕES DE N-NITRATO
ção depositada sobre as superfícies e presente na at- 35

mosfera que é carregada para os corpos d´ água du- 30

rante, principalmentte, os eventos chuvosos. Sendo


25
isso decorrente da intensa urbanização ocorrida nas
20
últimas décadas, por conta da crescente impermeabi-

mg/L
15
lização do solo nas cidades levando a um significativo
aumento do escoamento superficial bem como a uma 10

grande liberação de poluentes para o meio ambiente 5

urbano. E estes fatores potencializam os efeitos de 0


1992-1994 1995-1997 1998-2000 2001-2003 2003-2006

degradação da qualidade da água pelas cargas difusas Concentrações máximas de N-Nitrato ao londo do tempo no Aqüífero Bauru

em corpos hídricos de áreas urbanas.


As cargas difusas são transportadas de longas dis- TENDÊNCIA DAS CONCENTRAÇÕES DE N-NITRATO

tâncias, não sendo possível dizer exatamente qual foi


1,80
sua origem. Seu lançamento é intermitente, depen- 1,60

dente da duração e da intensidade da chuva e também 1,40


1,20
da área produtora. 1,00
mg/L

0,80
Devido às suas características, a poluição difusa 0,60
trata-se de um fenômeno aleatório da mesma ma- 0,40
0,20
neira que o evento de precipitação responsável por 0,00
1992-1994 1995-1997 1998-2000 2001-2003 2004-2006
sua ocorrência. Assim torna-se extremamente difícil
determinar a distribuição temporal das concentrações Medianas das concentrações de N-Nitrato ao londo do tempo no Aqüífero Bauru

dos poluentes.
E em razão disso, há uma preocupação e ao mesmo
tempo um desafio na busca de metodologias científi- Considerações Finais
cas de forma que se possa mensurar a sua abrangên- Face a importância, mas no entanto, não podemos nos
cia, os seus efeitos e formas de controle. esquecer da complexidade que norteia o tema aborda-
Dentre as metodologias existentes citamos as princi- dos, é um desafio para o Poder Público e para a sociedade
pais: Método da Concentração Média no Evento (a mais implementar medidas que possam ser efetivas e eficazes
conhecida e utilizada), Método da Taxa de Exportação, no minimização e redução dessa carga de poluição.
Método da Acumulação e Lavagem de Material, Método Acreditamos que uma das medidas, apesar de ser de
Simplificado de SCHUELER (1987), Método de Heaney e longo prazo, mas não podemos deixar de comentar, é
Método de Amy; além delas há inúmeros estudos de ca- a persistência na informação e formação em todos os
sos, inclusive o desenvolvimento de modelos matemáti- níveis da nossa sociedade quanto os novos conceitos
cos mas específicos para o caso estudado. de Educação Ambiental, pois para sobrevivermos de-
Por exemplo, a CETESB utiliza como indicador de pendemos desse líquido precioso, que é ÁGUA e para
poluição difusa em água subterrânea o nitrato. Sua preservar as suas diversas fontes precisamos Educar,
origem está relacionada a atividades agrícolas e esgo- Educar e Educar.
tos sanitários. Sendo o nitrato uma forma estável de
nitrogênio em condições anaeróbias, esta substância
pode ser considerada persistente e sua remoção da

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editorial Do Saneamento
“Causos”
Relatamos, nesta edição, dois “Causos” sobre o Prof. Eduardo Riomey Yassuda. Trata-se de uma homena-
gem da AESabesp a este ilustre profissional, ícone do saneamento, ex-diretor da Sabesp e integrante da
colônia nipo-brasileira, dentro da comemoração do “Centenário da Imigração Japonesa”, no Brasil.

CAUSO I
O RESERVATÓRIO DO TEMPO
DE DOM PEDRO II
Por Carlos Massuyama ( Argos Engenharia Ltda.)

Durante alguns anos trabalhei com os Prof. Eduardo R.


Yassuda, José Martiniano de Azevedo Netto e Mauro
Garcia, numa empresa de consultoria.
Era por volta do ano 1980, e o Prof. Yassuda chamou
todos os técnicos da empresa numa sala para assistirem
a apresentação de um projeto importante.
Lá também estavam, o Prof. Azevedo Netto, já consa-
grado ícone da Hidráulica e Saneamento, com seu jeito
extrovertido e brincalhão, como sempre, e o Dr. Mauro
Garcia não menos experiente e respeitado, ambos com
grande “quilometragem” na área de projetos e obras
de água e esgotos. Eu estava sentado ao lado do Prof.
Azevedo e o Dr. Mauro na fileira de trás.
Lá pelas tantas o Prof. Yassuda começou a falar do Reser-
vatório da Consolação, aqui de São Paulo, que consta
dos anais do Saneamento como um reservatório muito,
mas muito, muito antigo.
Foi aí que o Dr. Mauro Garcia não se conteve, levantou
o braço e falou:
-”OPA!!! Fui eu que construí esse reservatório !”
De bate pronto, o “bom astral” Prof. Azevedo Netto, já foi
logo dizendo:
-”Qual Reservatório ?
“ Aquele de pedra da época de Dom Pedro II ?”
A gargalhada foi geral!
Logo a seguir o Dr. Mauro tentou corrigir:
-”Não, não, pessoal. Espera aí!. Sou velho, mas nem tan-
to assim !”. Eu construí um reservatório de concreto, ao
lado daquele de pedra, da época de Dom Pedro II.
Novas gargalhadas ressoaram no recinto.
Foram momentos, no meio de tanto trabalho, que dei-
xaram saudades e boas recordações.

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“Causos”
editorialDo Saneamento

CAUSO II
O TAXISTA POLIGLOTA
DE LISBOA
Por Estanislau Marcka (Engevix Engenharia S/A)

Quando Secretário dos Serviços e Obras Públicas do


Governo do Estado de São Paulo na gestão do então
governador Roberto Costa de Abreu Sodré (lá pelos
idos do final da década de 60 e início da de 70), o Eng.
Eduardo Riomey Yassuda tinha como seu assessor téc-
nico de gabinete o Eng. Paulo Soichi Nogami.
Certa ocasião, atendendo a determinação do gover-
nador, partiram os dois “japoneses” para uma missão
oficial em Portugal. Chegando ao Aeroporto de Lisboa,
desembaraçaram as bagagens e tomaram um taxi.
Ordenaram ao motorista: - “Hotel Nossa Senhora de
Fátima, por favor.”
O motorista atendeu e seguiu rumo ao hotel enquanto
os dois, no banco de trás, conversavam sobre os temas
da reunião oficial que teriam no dia seguinte e in-
tercalavam com algum comentário sobre a paisagem,
sobre como Lisboa estava bonita etc. Tudo isso sob o
olhar atônito do motorista que os observava pelo es-
pelho retrovisor interno do automóvel.
Mais adiante, ao parar em um semáforo, o motorista
não resistiu. Baixou o vidro e comentou com um com-
panheiro seu de profissão que havia parado ao lado:
- “Oh gajo, raios! Tu não sabes o que está a me acon-
teceire. Há dois japoneses conversando aqui atrás e eu
estou a entendeire tudo!!!”

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PALAVRA DE AMIGO

Uma homenagem
ao profissional
e amigo exemplar
Por Masato Terada

Carlos Alberto dos Santos nasceu em Valparaíso – Estado de obtenção de financiamentos junto ao BNH e Caixa Econômica
São Paulo em 22/02/1947. Filho do “seu” Chiquinho da farmá- Estadual e execução de obras. O Carlos foi designado para fis-
cia e de dona Odete, é conhecido pelos seus amigos mais calizar obras, entre elas as do sistema de abastecimento de
próximos como “Farmacinha”. água de Mogi das Cruzes.
Cursou o “grupo escolar” e o “ginásio” em sua terra natal e Nos dois primeiros anos de FESB optamos por melhorar a
o “científico” em Araçatuba. Diplomou-se em Engenharia pela nossa formação acadêmica e resolvemos fazer Pós-Graduação
Escola Politécnica da USP, fato do qual se orgulhava, e foi mo- em Saneamento Básico, na Poli, já que o curso de Engenheiro
rador da Casa do Politécnico onde o conheci. Após o Biênio, Sanitarista da Saúde Pública era muito concorrido e a fila de
primeiro e segundo ano básico da faculdade, comum a todas espera para conseguir vaga levava vários anos. Um detalhe: a
as modalidades, iniciou os estudos em Metalurgia e posterior- direção do FESB nos liberou com a condição de repor o horário
mente optou pelo curso de Engenharia Civil Hidráulica, tendo das aulas. Durante dois anos, tempo de duração do curso, tra-
concluído o curso em 1970. balhamos das 14 às 24 horas, de segunda a sexta.
O Carlos, na Poli, foi um ótimo aluno. Fomos colegas de tur- A partir de 1973 o Carlos foi transferido para a regional de
ma. Era aprovado praticamente em todas as matérias somente obras de Bauru, sob o comando de um outro grande amigo
com as notas das provas mensais, tendo sido dispensado da nosso, o Engenheiro Luiz Guilherme de Oliveira.
maioria dos exames finais. E não era um rachador, um CDF. Era Casou-se com Vera Inês Valente, com quem teve dois filhos:
isto sim, um aluno organizado, como o foi em toda a trajetória o Marco Aurélio e a Ana Claudia, hoje médica.
profissional, e procurava assistir a todas as aulas. A partir daí, com a incorporação do FESB pela SABESP, todos
Era também um dorminhoco. Certa vez perdeu a prova das conhecem sua trajetória e a sua inestimável contribuição ao
duas horas da tarde, apesar de eu ter passado no apartamento setor, sempre dentro de rígidos princípios de ética.
dele e do Aurélio para acordá-los, uma hora antes. Resmunga- • Engenheiro da SAR sob o comando do saudoso Professor
ram (provavelmente pensaram: que japonezinho chato, ainda Doutor Armando Fonzari Pêra;
falta uma hora) e disseram que tudo estava sob controle. • Gerente Divisional de Lins;
Abro aqui um parêntesis para homenagear um colega, tam- • Chefe de Departamento da Regional de Presidente Pru-
bém Civil e Hidráulico, amigo comum da Poli e morador da dente sob ao comando de outro grande amigo, o Engenheiro
“Casa”, que era simplesmente um gênio, bom caráter, bom filho, Dagoberto Antunes da Rocha;
de origem humilde e que trabalhava para se sustentar desde • Superintendente Regional do Vale do Ribeira;
os 14 anos de idade. Conseguiu estudar ao mesmo tempo En- • Superintendente Regional de Presidente Prudente.
genharia e Física, trabalhar e se formar sem depender de nin- Após a sua fase de SABESP o Carlos trabalhou como Con-
guém, nem de sua família que não tinha condições. Com toda a sultor Independente e posteriormente como sócio da Con-
certeza teria tido um futuro brilhante pelo seu espírito prático, duto Engenheiros Consultores e da Santore Zwiter, onde
sua bondade, sua transparência, sua capacidade de estudo e desenvolveu vários negócios ligados à prestação de serviços
trabalho, sociabilidade e pela sua inteligência absolutamente de água e esgoto e continuou agregando experiência e co-
fora da curva. Ele faleceu em um acidente trágico cinco me- nhecimento em prol da sociedade.
ses após a nossa formatura. Até hoje, passados quase quarenta Atualmente mora em Sabino, próximo à Lins, numa bela
anos, ainda nos emocionamos ao lembrar desse amigo. Seu chácara que é um verdadeiro paraíso, situada à beira da
nome: Aurélio Zacarias Afonso. represa de Promissão.
Iniciamos nossa atividade profissional em janeiro de 1971 Carlos Alberto, um grande abraço a você, à Vera, aos seus
no antigo FESB – Fomento Estadual de Saneamento Básico, filhos Marco Aurélio e Ana Claudia, aos seus pais “seu” Chiqui-
Autarquia que dava apoio às Prefeituras do interior na elabo- nho e dona Odete, e aos seus irmãos Sonia e Paulo César, uma
ração de estudos e projetos de sistemas de água e esgotos, família que tive a satisfação de conhecer.

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editorial

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