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Ano XIII • Edição 83 • Janeiro a Março de 2023

ENTREVISTA ESPECIAL: SANEAMENTO RURAL: VIVÊNCIAS:


André Salcedo, presidente conheça o Projeto Piloto paixão pelo meio
da Sabesp, fala sobre os em quilombos no Vale do ambiente, de pai
objetivos da nova gestão Ribeira para filho
EXPEDIENTE EDITORIAL

Associação dos Engenheiros da Sabesp


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dos Engenheiros da Sabesp Espero encontrar todas e todos com saúde!
Fundada em 15/09/1986
Diretoria Executiva
Presidente: Luciomar Santos Werneck Com muita satisfação, trazemos a primeira edição da Saneas de 2023, com um
Diretor Administrativo: João Augusto Poeta
Diretor Financeiro: Hiroshi Ietsugu
Diretora Socioambiental e Cultural: Ester Feche Guimarães dos temas mais importantes do setor de saneamento no Brasil: Águas Residuais.
Diretor de Comunicação e Marketing: Tarcísio Luís Nagatani
Diretoria Adjunta
Diretoria Técnica: Agostinho de Jesus Gonçalves Geraldes
Diretoria de Esportes e Lazer: Paulo Victor Vieira Sampaio Nossa reportagem de capa traz especialistas que atuam no país e no exterior
Diretoria de Polos Regionais: Eduardo Bronzatti Morelli
Diretoria Social: Maria Aparecida Silva de Paula
Diretoria Inovações: Helieder Rosa Zanelli abordando os mais diversos aspectos desta temática, como a inovação, a econo-
Conselho Deliberativo
Presidente: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges
Membros: Alexandre Domingues Marques, Antonio Ramos Batagliotti, mia circular, casos de sucesso de empresas e o monitoramento do vírus da covid,
Aurelindo Rosa dos Santos, Benemar Movikawa Tarifa, Carlos Alberto
de Toledo, Cid Barbosa Lima Júnior, Evandro Nunes de Oliveira,
Fernando Colombo, Hilton Alexandre de Oliveira, Iara Regina Soares entre outros.
Chao, Kleber dos Santos, Nelson Cesar Menetti, Nilzo Rene Fumes,
Patricia Barbosa Taliberti, Paulo Levy de Souza Rodrigues,
Sulamita França Santos
E esta edição continua com mais matérias especiais em nosso site Saneas Online:
Conselho Fiscal
Marcia de Araújo Barbosa Nunes, Nercy Donini Bonato e
Zenivaldo Ascenção dos Santos ETE Sustentável: recuperação de recursos e economia circular; Aproveitamento
Coordenadores
Polos da RMSP: Antonio Ramos Batagliotti
Polo dos Aposentados: Nizar Qbar do biogás, do lodo e água de reúso e Sistemas de pequeno porte, em especial
Assuntos Institucionais: Patrícia de Fátima Goularth
Cursos: Olavo Prates Sachs
Inovação: Pierre Ribeiro de Siqueira wetlands. Está imperdível!
Contratos Tercerizados: Benemar Movikawa Tarifa
Conselho Editorial e Fundo Editorial
Coordenadores: Nélson César Menetti O presidente da Sabesp, André Salcedo, é o destaque da entrevista especial desta
Membros: Débora Soares, Eliana Cristina Rodrigues da Costa,
Sandreli Droppa Leta, Suely Matsuguma e Ana Paula Vieira Rogers
Comissão Organizadora 33º Encontro Técnico AESabesp / edição: ele detalha os objetivos da nova gestão, a atuação alinhada ao ESG e aos
Fenasan 2022
Presidente da Comissão: Olavo Alberto Prates Sachs
Diretor do Encontro Técnico AESabesp: Agostinho de Jesus ODS e avalia o cenário do saneamento.
Gonçalves Geraldes
Diretor da Fenasan: Helieder Rosa Zanelli
Membros da Comissão
Alisson Gomes de Moraes, Alzira A. Garcia, Antonio Carlos Roda E temos ainda um rico material sobre Saneamento Rural, que apresenta o Pro-
Menezes, Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Alves Martins, Luciomar
Santos Werneck, Maria Aparecida Silva de Paula, Mariza Guimarães
Prota, Nélson César Menetti, Nilton Gomes de Moraes, Nizar Qbar, jeto Piloto que leva saneamento a quilombos no Vale do Ribeira, em São Paulo.
Rodolfo Baroncelli, Sonia Maria Nogueira e Silva, Tarcisio Luis Nagatani,
Viviana M. N. de A. Borges, Walter Antonio Orsatti
Equipe de apoio
Coordenada pelo G9, grupo de mulheres especialistas do setor, a iniciativa pro-
Ana Paula Rogers, Maria Flávia da Silva Baroni, Milena Mendes Tojo
e Silva, Monique Funke, Paulo Oliveira, Suely Melo, Vanessa Hasson,
Wanderley Pavão Junior
porciona a comunidades quilombolas estrutura de saneamento básico (água, es-
Polos AESabesp da Região Metropolitana - RMSP
Polo AESabesp Centro: Patrícia Barbosa Taliberti goto e resíduos sólidos) e é objeto de estudo piloto para implantação do modelo
Polo AESabesp Coronel Diogo: Rodrigo Pereira de Mendonça
Polo AESabesp Costa Carvalho: Patricia de Fatima Goularth
Polo AESabesp Leste: Eduardo Alves Pereira de gestão compartilhada com referência no Sistema Integrado de Saneamento
Polo AESabesp MT: Edmilson Barbosa Prado
Polo AESabesp Norte: Eduardo Bronzatti Morelli
Polo AESabesp Oeste: Benedito da Silva Rural – SISAR.
Polo AESabesp Ponte Pequena: João Augusto Poeta
Polo AESabesp Sul: Kleber dos Santos
Polos AESabesp Regionais
Polo AESabesp Baixada Santista: Zenivaldo Ascenção dos Santos Além disso tudo, é claro, trazemos os artigos técnicos, em nosso espaço dedicado
Polo AESabesp Botucatu: Leandro Cesar Bizelli
Polo AESabesp Caraguatatuba: Pedro Rogério de Almeida Veiga
Polo AESabesp Franca: José Chozem Kochi ao compartilhamento de conhecimento de alto nível.
Polo AESabesp Itatiba: Vanessa Egídio Pereira
Polo AESabesp Itapetininga: Jorge Luis Rabelo
Polo AESabesp Lins: Carlos Toledo da Silva Estes e muitos outros temas estarão presentes no 34º Encontro Técnico e Fena-
Polo AESabesp Presidente Prudente: Anselmo Kenji Tardio Matuzaki
Polo AESabesp Vale do Paraíba: Paulo Victor Vieira Sampaio
Polo AESabesp Vale do Ribeira: Anderson Takeo Pereira Nakazawa
san 2023. E aproveito para lembrar que nosso evento recebe inscrições de traba-
Produção Editorial
Foco21 Comunicação
Jornalista Responsável - Editora-chefe lhos técnicos até o dia 29 de maio. Aguardem, pois
Ana Paula Vieira Rogers - MTB 27666
anarogers@foco21comunicacao.com
Editora
muitas novidades virão por ai!
Suely Melo
Colaboradores
Clara Zaim, Jéssica Marques, Luciane Murae e Sofia Jucon Boa leitura a todos e todas!
Fotos
Equipe Estevão Buzato e acervo AESabesp
Projeto visual gráfico e diagramação
Neopix DMI
contato@neopixdmi.com.br

Luciomar Santos Werneck


Presidente da AESabesp – Gestão 2022-2024
A AESabesp não se responsabiliza pela veracidade
de conteúdo de anúncios e de artigos assinados.
ÍNDICE

Matéria
de capa

Águas residuais no
Brasil: avanços e
desafios 09

Entrevista Vivências
Especial

André Salcedo,
presidente da Paixão pelo meio
Sabesp, detalha ambiente, de pai
objetivos da nova para filho (e vice-
gestão 06 versa) 48

Saneamento, Artigos
direito de Técnicos
todos

51 - lições aprendidas - Trepanação da linha de


Projeto Piloto leva adução do sistema produtor São Lourenço - PN
saneamento a
quilombos no
40 31
Vale do Ribeira, Operação otimizada de sistema de coleta de
em São Paulo 28 esgotos 43

4 Saneas
ENTREVISTA
ESPECIAL

André Salcedo, presidente


da Sabesp, detalha objetivos
da nova gestão

E
m 12 de janeiro, o engenheiro André Gus- Revista Saneas - Como o senhor avalia o cenário
Por
Ana Paula Rogers tavo Salcedo passou a ser o diretor-pre- do saneamento no Estado de SP e quais são os
sidente da Companhia de Saneamento maiores desafios, em sua opinião?
Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), André Salcedo - O Estado de São Paulo está numa
assumindo “o compromisso de tornar a empresa mais posição privilegiada no geral. Os índices de abasteci-
eficiente, competitiva e moderna e o compromisso mento de água e de cobertura e tratamento de esgoto
principal com as pessoas e clientes”, como ressaltou são melhores do que em diversas áreas do país. Isso é
na ocasião da posse. Graduado em engenharia elé- um aspecto positivo.
trica e de produção, mestre em engenharia elétrica, No caso da Sabesp, dos 375 municípios atendidos,
com MBA em parcerias público-privadas e concessões, 269 são universalizados (com 99% ou mais de água,
Salcedo desempenhou várias funções no Banco Nacio- 90% ou mais de coleta e 100% de tratamento de es-
nal de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). goto). Se considerarmos apenas a água, são 318 mu-
Na iniciativa privada, também ocupou os cargos de nicípios universalizados. Já estamos bem avançados.
diretor-financeiro e consultor independente. Nesta Vamos entregar a universalização dentro do prazo do
entrevista à Revista Saneas, ele analisa o cenário do Marco Legal, até 2033. E estamos estudando ante-
saneamento no Estado de São Paulo e detalha ações cipar nossas metas. Se for possível, vamos antecipar.
implantadas e em implantação para alcançar os obje- Um dos principais desafios é levar o saneamento
tivos de sua gestão. Confira a seguir: básico às áreas não urbanizadas, onde é preciso o es-

6 Saneas
forço dos municípios para que consigamos atender plenamente turas, que concederam à Sabesp o direito de operar os serviços de
a população. Temos exemplos disso no litoral, nas regiões metro- saneamento nos municípios, e nossos clientes finais que usufruem
politanas. do serviço prestado.
Outro desafio é a despoluição dos rios, com destaque para o Com objetivo de estreitar o relacionamento e melhorar o aten-
rio Tietê, que é um projeto que já estamos trabalhando desde a dimento aos nossos 28 milhões de clientes finais, estamos criando
década de 1990. Queremos, utilizando os aprendizados do projeto uma nova diretoria.
Novo Rio Pinheiros, avançar mais para garantirmos a evolução da Com relação às prefeituras, vamos estreitar as relações alinhan-
despoluição do rio Tietê. do visões e projetos de investimento garantindo que o foco será
sempre o melhor atendimento da população. A gestão deste rela-
Revista Saneas – Em quase três meses como presidente da cionamento ficará a cargo da nova Diretoria de Regulação e Novos
Sabesp, como o senhor vê os desafios da empresa em rela- Negócios da empresa, para que possamos garantir alinhamento
ção ao novo cenário do setor? entre nossos planos de investimento, as demandas do poder con-
André Salcedo - O novo cenário trouxe cedente e visão da agência reguladora.
um contexto de competitividade. O am- Em novos negócios, vamos monitorar
biente em que a Sabesp cresceu e se es- novas concessões e negócios não re-
tabeleceu mudou. O Novo Marco do Sa- gulados, como geração de energia,
neamento trouxe uma necessidade de tratamento de lodo e resíduos, para
A principal missão
adaptação e ao mesmo tempo surgem que possamos potencializar a geração
dessa gestão é
diversas oportunidades para captura de de valor dentro da empresa.
valor e expansão das nossas atividades.
tornar a Sabesp Também estamos criando uma di-
A Sabesp podia estabelecer contra- mais moderna, mais retoria que cuidará do planejamento
tos bilaterais com os municípios e isso competitiva, mais e priorização dos investimentos (CA-
não é mais possível. Então o grande PEX), do ciclo de gestão da inovação e
próxima das pessoas,
desafio da empresa, e nós estamos em- gestão ambiental.
tanto o público
penhados em caminhar nesta direção, Na frente financeira e de otimização
é torná-la mais eficiente e competitiva.
interno quanto o de processos e atividades, a Diretoria
E como faremos isso? A Sabesp é externo.” Financeira vai focar na criação do CSC
uma empresa muito bem-posicionada, [Centro de Serviços Compartilhados],
tem um corpo técnico muito admirado na centralização das atividades para
e tido como referência para todo o se- que o time operacional possa focar nas
tor. Vamos buscar dentro da empresa, na base de excelência téc- funções de operação e manutenção dos sistemas.
nica que já existe, as alavancas que nos permitam alcançar todo o A nova Diretoria Operacional vai cuidar da operação e de manu-
potencial da empresa. tenção, garantindo que o nosso sistema de captação, produção e
Com isso aumentamos a nossa competitividade e teremos uma distribuição de água e de coleta e tratamento de esgoto opere da
estrutura mais eficiente e escalável. forma mais eficiente possível. Toda a empresa dará suporte para
essa área para que ela opere bem, do ponto de vista de pessoas,
Revista Saneas - Quais são as prioridades de sua gestão e regulatório, compras, financeiro. O foco da empresa é atender
como começaram a ser implementadas neste início? bem o cliente final. E para atendê-lo bem, a estrutura de operação
André Salcedo - Nossas prioridades estão totalmente alinhadas precisa ser o nosso foco como cliente interno.
com a pergunta anterior. A principal missão dessa gestão é tor- Para que tudo isso aconteça de forma harmônica e organizada,
nar a Sabesp mais moderna, mais competitiva, mais próxima das a Diretoria de Gestão cuidará para que toda a mudança seja feita
pessoas, tanto o público interno quanto o externo. São várias as com planejamento, diálogo e foco nas pessoas. Temos um corpo
iniciativas sendo implementadas. funcional muito rico e algumas atividades a serem desempenha-
Teremos como foco o nosso cliente. Aqui vale um comentário das serão novidade e teremos que treinar este time para este novo
sobre nossa visão de clientes. Temos 2 níveis de clientes: as prefei- contexto.

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ENTREVISTA
ESPECIAL

Por fim, alguns temas estratégicos ficaram vinculados à pre-


sidência, são eles: um núcleo ESG para garantir uma visão cor-
porativa única do tema, com métricas que serão divulgadas e
acompanhadas por toda a organização; time dedicado ao tema
transformação digital e uso de dados para tomada de decisão;
comunicação; e o planejamento integrado.
Existe uma oportunidade muito grande de ganho de eficiên-
cia dentro da empresa, que a gente está trabalhando fortemente
para que seja implementado o quanto antes.

Revista Saneas - Como a Sabesp tem se alinhado aos con-


ceitos de ESG e aos ODS e quais são os resultados positivos
para a empresa e para a sociedade?
André Salcedo - As empresas de saneamento são as que têm mais
alinhamento com as alavancas ESG. A atuação de uma empresa
que distribui água tratada para todos os lugares, desde o mais rico
até o mais pobre, e que coleta o resíduo das casas e o devolve tra-
tado para o meio ambiente, tem grande impacto social e ambiental.
Isso ocorre na gestão do manancial, na garantia de que a água
é distribuída de forma eficiente e para todos. Raio X
Temos uma visão interna de ser uma empresa que recepciona
e entende a diversidade e multiplicidade de seus funcionários e André Salcedo é graduado em Engenharia Elétrica e de Pro-
do ambiente em que ela está inserida. Muitas vezes o serviço que dução, pela PUC-Rio, tem mestrado em Engenharia Elétrica
pela PUC-Rio, MBA em PPP e Concessões pela Fundação Es-
levamos é a primeira forma de inclusão social que essas pessoas
cola de Sociologia e Política de São Paulo e possui certifica-
têm. É uma alavanca de dignidade.
ções CGA, da ANBIMA, e CP³P-F, pela APMG International.
A alavanca de governança envolve gerir toda a empresa e o Foi Diretor Financeiro da Akad Seguros (2022), Diretor Exe-
relacionamento dela com a sociedade, com o regulador e com os cutivo de Novos Negócios da Iguá Saneamento (2019-2021),
poderes concedentes. atuou como consultor independente da Climate Bonds Initia-
ESG é o nosso dia a dia. A Sabesp pratica ESG nas suas mais di- tive (2020-2021) e atuou no BNDES (2003-2019), onde ocu-
pou diversas posições. O Possui larga experiência na área de
versas atividades. O nosso objetivo nessa gestão é entender essas
mercado de capitais, com destaque para o financiamento de
práticas e analisar as de maior impacto que possam ser replicadas infraestrutura, parcerias público-privadas, fusões e aquisições
em outras áreas. Por isso, estamos criando uma área centralizada e estruturação de novos negócios.
que vai definir uma visão corporativa da agenda ESG e garantir
que estas atividades estejam mapeadas e alinhadas com o nosso
objetivo estratégico. besp e que nestes a maioria possui baixos índices de aten-
dimento, como a Sabesp pode contribuir na universalização
Revista Saneas - Que conclusões dos estudos sobre a Sabesp do estado?
poderiam afastar a possibilidade de privatização? André Salcedo - Já operamos 375 municípios, uma população
André Salcedo - Os estudos estão sendo conduzidos pelo Gover- que equivale a dois terços do Estado. Conhecemos melhor do que
no do Estado de São Paulo. Não temos informações nem interfe- ninguém os sistemas de saneamento do Estado e temos todo o
rência sobre eles. interesse em expandir nossa atuação. Uma vez que os municípios
decidam seguir com o processo de concessão dos serviços, a Sa-
Revista Saneas - Considerando que quase metade dos mu- besp vai olhar, analisar oportunidades que surgirem e participar
nicípios do Estado de São Paulo não são operados pela Sa- da licitação para ser o futuro operador. Podem contar conosco.

8 Saneas
MATÉRIA DE
CAPA

Águas residuais no Brasil:


avanços e desafios
Por Na gestão do saneamento básico, o Brasil registra a importante contribuição do
Sofia Jucon, Prosab para fomentar as pesquisas aplicadas no setor, que abriu caminho para o
Luciane Murae e
Marcos Martins trabalho do INCT ETEs Sustentáveis e aumentou as perspectivas para cumprir com as
metas para a universalização. Mais do que isso: ao contar atualmente com disponibi-
lidade de literatura e tecnologias apropriadas à realidade brasileira, modelos coparti-
cipativos entre academia e setores produtivos, parcerias público-privadas em prol da
inovação no tratamento de água e esgoto e novos modelos de negócios que estão
surgindo com grande potencial de crescimento a partir da economia circular, o Brasil
cumpre também com agenda global de desenvolvimento sustentável.

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MATÉRIA DE
CAPA

O
saneamento é composto por quatro vertentes: tos que irão integrar o seu plano de investimentos, batizado de “Novo
tratamento e distribuição de água potável; co- PAC”. Um dos principais objetivos está junto ao setor de saneamento,
leta e tratamento de esgoto; drenagem urbana visando alcançar a meta de universalização e buscar atender a quase
das águas pluviais; e coleta e destinação corre- metade da população que ainda não tem acesso à rede de esgoto.
ta dos resíduos sólidos. Cada vertente exige uma abordagem
específica e tem suas diretrizes estipuladas no Novo Marco Trabalho integrado
Legal do Saneamento Básico, sancionado em julho de 2020, O Brasil tem feito alguns avanços na área de tratamento de águas
o qual estabelece novas regras para a gestão do setor de sa- residuais, mas ainda há muito trabalho a ser feito para garantir
neamento no País, visando à universalização do acesso aos que a população tenha acesso a água limpa e tratada. Investimen-
serviços de água e esgoto até 2033 e ampliando o mercado tos em infraestrutura de saneamento básico, conscientização da
para a iniciativa privada, que poderá atuar na prestação dos população e coordenação entre os órgãos responsáveis são essen-
serviços de saneamento básico em concorrência com as em- ciais para enfrentar os desafios e promover a qualidade de vida e
presas públicas. Para avançar nos serviços ligados à verten- o bem-estar da população brasileira.
te da coleta e tratamento de esgoto, temos que considerar Apesar desse cenário desafiador, o Brasil tem desenvolvido al-
a gestão das águas residuais. No Brasil, segundo dados do gumas iniciativas importantes, alicerçadas principalmente para
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) cumprir as metas universalização do saneamento básico, cuja lei
2022, tendo como referência o ano de 2021, apenas 50,3% define que até 2033, o País deve alcançar as seguintes metas:
dos esgotos gerados no País são tratados, o que demonstra o • Ampliar a cobertura do abastecimento de água para 99% da
grande potencial que o País pode explorar com a gestão das população brasileira;
águas residuais nos próximos anos. • Ampliar a cobertura do esgotamento sanitário para 90% da po-
De acordo com relatório SNIS 2022, a coleta de dados referen- pulação brasileira;
tes ao esgotamento sanitário envolveu 4.774 municípios (85,7% • Garantir a destinação adequada de resíduos sólidos para 100%
do total de municípios brasileiros), com população urbana de da população do País.
174,9 milhões de habitantes (96,7% da população total do País). Para atingir essas metas, a Lei do Saneamento Básico estabele-
O SNIS-AE identificou 365 mil quilômetros de redes coletoras ceu algumas diretrizes, como a necessidade de priorizar os inves-
de esgotos (acréscimo de 0,7% em relação aos 362,4 mil qui- timentos em regiões mais carentes, promover a gestão integrada
lômetros de 2020) e 36,4 milhões de ligações de esgotamentos dos recursos hídricos, incentivar a participação da iniciativa pri-
sanitários (1,2% a mais em relação às 36 milhões de ligações vada e estimular a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias
registradas no ano anterior). Com relação ao atendimento por sustentáveis, com atenção especial para áreas rurais e periféricas,
redes de esgotos, o contingente de população urbana atendida além da conscientização e educação da população sobre a impor-
alcançou 114,8 milhões de habitantes, um incremento de 2,4 mi- tância do uso responsável da água.
lhões de novos habitantes atendidos (crescimento de 2,1% em Neste sentido, o tratamento de águas residuais pode fomentar
comparação com 2020). iniciativas que atendam a grande parte das metas. Temos como
Já o índice de atendimento é de 64,1% nas áreas urbanas das início o pioneiro Programa de Pesquisas em Saneamento Básico
cidades brasileiras, destacando-se a macrorregião Sudeste, com (Prosab), que foi a mola propulsora para o desenvolvimento do
atendimento de 85,9%. A cobertura dos serviços alcançou, em sua INCT ETEs Sustentáveis. Neste histórico, o setor acadêmico tem
totalidade, 117,3 milhões de habitantes (55,8% da população total feito uma importante contribuição com pesquisas voltadas para
do País), registrando um incremento de 2,7 milhões de novos habi- o processo de inovação no tratamento de água e esgotos no Bra-
tantes atendidos (crescimento de 2,4% em comparação com 2020). sil; bem como através do modelo coparticipativo entre academia-
Um marco importante que pode ajudar a superar os desafios no -empresa. Temos também excelentes referências oriundas das
setor é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em parcerias público-privadas com expertises internacionais, as novas
2007 pelo Governo Federal, que tem investido em infraestrutura de sa- oportunidades de negócios que estão surgindo com a adoção da
neamento básico em todo o País. Em 2023, o novo governo pretende economia circular, entre outras ações que estão somando para
priorizar os chamados “projetos verdes” na análise de empreendimen- os avanços do tratamento das águas residuais em nível nacional.

10 Saneas
Prosab: um capítulo à parte no saneamento disponibilizados pela Finep, pelo CNPq e pela Caixa foram cruciais
Um importante capítulo na história do saneamento ambiental no para fomentar o desenvolvimento de pesquisas totalmente aplica-
Brasil conta com a realização do Programa de Pesquisas em Sane- das à realidade brasileira, o que contribuiu decisivamente para se
amento Básico (Prosab). Segundo Carlos Chernicharo, professor alcançar uma independência tecnológica em relação ao que se via
aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e anteriormente ao período Prosab. “O pano de fundo que estava
CEO da spin-off na área de saneamento, o CR-ETES (Centro de em todos os editais era o desenvolvimento e aprimoramento de
Referência em ETEs Sustentáveis), o Prosab foi uma grande e im- técnicas de tratamento de esgoto apropriadas à realidade brasi-
portante experiência, talvez a principal que já tivemos no Brasil leira. Através disso, cortamos o cordão umbilical da dependência
voltada para a área de pesquisa aplicada no setor de saneamento. estrangeira que tínhamos neste setor, pois até esse momento, por
Iniciado em 1997, a partir de uma iniciativa da FINEP (Financia- exemplo, contávamos com poucos livros técnicos brasileiros que
dora de Estudos e Projetos), juntamente com o CNPq (Conselho abordassem as tecnologias que eram do nosso interesse direto,
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Caixa então, trabalhávamos muito com literatura de fora do País e, ob-
Econômica Federal, o programa inovou na forma de fazer pesqui- viamente, replicávamos esses modelos nos nossos projetos, pois
sas no formato de redes cooperativas, que possibilitaram a agre- ainda não tínhamos base suficiente para elaborar projetos consis-
gação das principais competências existentes nas instituições de tentes das soluções desenvolvidas no Brasil”, relembra.
ensino e pesquisa brasileiras, tanto as consolidadas, mas também Foi nesse viés que o Brasil alcançou grandes avanços no tocante
as emergentes. Os temas de pesquisa eram previamente definidos às tecnologias para tratamento de esgoto que são menos utiliza-
por um grupo coordenador, composto por grandes referências na das nos Países de clima frio. “Ao longo do Prosab, conseguimos
área de saneamento, de acordo com o que se entendia serem as desenvolver pesquisas que possibilitaram estabelecer diretrizes,
áreas prioritárias e estratégicas para o desenvolvimento do setor. critérios e parâmetros nacionais para a elaboração de projetos de
Conforme Chernicharo, durante o período de duração do Pro- diversas tecnologias, por exemplo, reatores UASB, tanques sépti-
sab, entre 1997 e 2007, foram lançados cinco editais de pesquisa cos combinados com filtros anaeróbios, sistemas de aplicação no
que abrangeram todas as áreas do saneamento básico, com ações solo, além de variantes de lagoas de estabilização e de wetlands
para abastecimento de água, esgotamento sanitário, resíduos só- construídos. Podemos dizer que conseguimos conquistar uma in-
lidos urbanos, manejo de águas pluviais urbanas, e participação dependência científica e tecnológica dos modelos internacionais”,
de instituições de pesquisa de quase todas as regiões do Brasil. completa.
No histórico do Prosab, Carlos Chernicharo detalha que a linha Por isso, para Chernicharo, o Prosab foi um divisor de águas
2 foi específica para o esgotamento sanitário e que os recursos em termos de pesquisa na área de saneamento básico no Brasil.

Janeiro a Março de 2023 11


MATÉRIA DE
CAPA

“Houve um grande boom de conhecimento gerado pelas institui- www.finep.gov.br/apoio-e-financiamento-externa/historico-de-


ções que trabalharam em rede, uma vez que havia o compromisso -programa/prosab/produtos), que é referência para utilização
de, ao final de cada edital, escrever um livro consolidando as expe- em todo o Brasil. Foram produzidos cinco livros, um para cada
riências em uma linguagem menos acadêmica e mais apropriada edital na área de esgoto, além de várias coletâneas, manuais
aos usuários do setor de saneamento”, observa. e guias de análises laboratoriais. Esse trabalho foi um marco
O legado da academia e do Prosab como um todo tem mui- na pesquisa no Brasil, especialmente, pelos resultados que o
to valor pelo modelo de pesquisa que foi adotado, por meio de Prosab proporcionou em tão pouco tempo e com poucos re-
redes cooperativas. “O programa propiciou o fortalecimento das cursos. Além disso, transformou-se, inclusive, em benchmark
instituições e das próprias pesquisas, já que o estudo de um com- para aplicação em outros Países da América Latina”, informa
plementava a do outro, o que possibilitou otimizar os recursos o professor.

INCT ETEs Sustentáveis: um novo capítulo


para o saneamento no Brasil
Ao longo do Prosab, conseguimos O encerramento do Prosab, em 2007, criou um vácuo nas pesqui-
sas em redes cooperativas na área de saneamento no Brasil. Em
desenvolver pesquisas que
2014, de acordo com o professor Chernicharo, houve a busca de
possibilitaram estabelecer retomar esse modelo por meio da submissão do projeto de criação

diretrizes, critérios e parâmetros do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Estações


Sustentáveis de Tratamento de Esgoto, valendo-se de um Edital
nacionais para a elaboração de aberto pelo MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e
projetos de diversas tecnologias Comunicação), de criação de novos INCTs no Brasil. A aprovação
do projeto possibilitou que fosse criado o primeiro INCT brasileiro
Carlos Chernicharo, professor aposentado da
dedicado a pesquisas na área de saneamento, mais especifica-
UFMG e CEO da CR-ETES (Centro de Referência
mente na área de esgotamento sanitário, iniciando, dessa forma,
em ETEs Sustentáveis)
um novo capítulo na história da pesquisa em rede no setor do
saneamento brasileiro.
Além de ter como uma das motivações o uso do biogás, por
públicos colocados pelas agências de fomento. Foi feita muita coi- conta do histórico recente de envolvimento no projeto Probiogás,
sa, melhor, e gastando menos recursos que na forma até então financiado pela GIZ, da Alemanha, ele destaca que a proposta
vigente no País”, pontua. deste novo trabalho abrangia diversos aspectos que pudessem
Além das articulações com instituições consolidadas e emergen- trazer mais sustentabilidade para a área de tratamento de esgo-
tes, Chernicharo destaca que o Prosab incentivou as parcerias com to, através da incorporação dos conceitos da economia circular e
as concessionárias de saneamento. “Em cada estado da federação de fechamento de ciclos. “E assim conseguimos reproduzir uma
buscava-se estreitar as relações e firmar parcerias com as empre- pequena réplica da lógica do Prosab dentro do INCT, uma vez que
sas prestadoras dos serviços de saneamento, até mesmo para que o projeto também foi desenvolvido na forma de rede cooperativa
as pesquisas pudessem ser realizadas com esgoto real e em sinto- de pesquisa, nesse caso envolvendo 7 instituições de ensino e pes-
nia com as necessidades das empresas. Em Minas Gerais trabalha- quisa representativas de diferentes regiões do Brasil (UFMG, UFC,
mos tanto com o SAAE de Itabira como com a COPASA”, explica. UFPE, UFMS, UFRJ, USP e ISAE), além de parcerias robustas com
Deste trabalho, Chernicharo afirma que ficou um grande prestadores de serviços de saneamento. Todavia, diferentemente
acervo de literatura nacional, com livros e manuais escritos por do Prosab, tínhamos que atender a alguns requisitos mais afins
especialista numa linguagem apropriada ao usuário. “Ainda aos INCTs, como o desenvolvimento de pesquisas que tivessem
hoje, temos um enorme acervo de literatura técnica nacional mais na fronteira do conhecimento. Portanto, tivemos que criar
disponível para download gratuito no site da Finep (http:// um projeto que não abrisse mão de pesquisas mais avançadas,

12 Saneas
mas que também não desconsiderasse as pesquisas aplicadas”, Legado do INCT ETEs Sustentáveis:
explica Carlos Chernicharo. transmissão do conhecimento e
Apesar da autonomia maior aos pesquisadores, Chernicharo mudança de paradigmas
lembra que o modelo replicado no INCT não contou com o acom- Segundo Chernicharo, o principal legado deixado pelo INCT em
panhamento sistemático das pesquisas por consultores, o que re- seu primeiro ciclo (2017 a 2022) foi o acervo de notas técnicas
presentou uma perda em relação ao modelo Prosab. “Em linhas publicadas em parceria com a revista DAE (http://revistadae.com.
gerais, o instituto foi concebido para atuar em cinco pilares estra- br/site/artigos/214) e com a ABES (https://abes-dn.org.br/?page_
tégicos: (i) nucleação de competências na área de tratamento de id=43257), todas disponíveis para download gratuito. Essas notas
esgoto; (ii) formação de recursos humanos de alto nível para atuar técnicas foram elaboradas com ilustrações didáticas e linguagem
na área; (iii) desenvolvimento de pesquisas básicas e aplicadas; (iv) menos acadêmica, de modo a possibilitar a efetiva transmissão e
gestão, capacitação e transmissão de conhecimento para a socie- apropriação do conhecimento pelos profissionais que atuam no
dade; e (v) gestão, capacitação e transmissão de conhecimento setor. Trata-se de um grande esforço empreendido pelos colabora-
para o setor empresarial e governo”, detalha. dores do instituto, na expectativa de que o conhecimento disponi-
Chernicharo tem a expectativa de que as atividades desenvol- bilizado possa induzir as transformações necessárias na área, com
vidas pelo INCT ETEs Sustentáveis possam contribuir para o es- reflexos na melhoria da gestão, dos projetos, da construção e da
tabelecimento de uma nova lógica no tratamento de esgoto no operação e manutenção dos sistemas de esgotamento sanitário.
Brasil, de modo a proporcionar o aproveitamento dos subprodu- Ele reforça que a lógica do INCT foi proporcionar que todo esse
tos gerados pelo processo, como os subprodutos sólidos (lodo e conhecimento fosse acessível. “Já tínhamos muita coisa desen-
escuma) e gasosos (biogás), que atualmente apresentam rotas de volvida, mas não estávamos sabendo disponibilizar esse conheci-
destinação final que usualmente não são as mais adequadas, face mento; as pessoas não estavam usando porque o conhecimento
aos impactos ambientais que podem ser causados na atmosfera, estava disponível apenas em teses de doutorado, em dissertações
no solo e nas águas subterrâneas. de mestrado, em artigos científicos, muitas vezes, fora do alcance

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MATÉRIA DE
CAPA

delas. Além disso, sabemos que essa lin- as ETEs podem oferecer. “Por isso, mui-
guagem acadêmica não atrai o leitor co- tas empresas estão mostrando interesse
mum, ela é restritiva, e o grande esforço em transformar o lodo em biossólido, por
que fizemos no INCT foi consolidar esse exemplo. Temos vários modelos de negó-
conhecimento técnico e traduzi-lo para cios que podem ser explorados de forma
uma linguagem mais apropriada aos usu- lucrativa em nível nacional”, avalia.
ários em geral. Tivemos a grande preocu- Ele espera que esses investimentos não
pação de que esse conteúdo não ficasse percam de vista a inovação considerando
só nas prateleiras e tivesse a sua dispo- a realidade brasileira. “Não basta inovar
nibilização ao público para uso de quem por inovar. Temos que inovar desenvol-
precisa e tem o objetivo de fazer a dife- vendo soluções que sejam aplicadas à
rença em prol do saneamento”, aponta. nossa realidade. Essa é uma preocupação
O Prof. Chernicharo acrescenta que, Não basta inovar grande que temos para não voltarmos
além da inovação na forma de produção por inovar. ao modelo de sermos importadores de
de literatura técnica, o INCT também de- Temos que inovar tecnologia, pois temos uma competência
senvolveu produtos para o setor de sane- fantástica instalada no Brasil e que pode
desenvolvendo
amento. “Um case de grande sucesso foi voltar a ter um protagonismo como houve
o amostrador automático de líquido, que
soluções que na época do Prosab”, salienta e acrescen-
tirou a dependência que o Brasil tinha de sejam aplicadas à ta: “com o término do Prosab e o INCT
amostradores importados e caríssimos. nossa realidade.” atuando apenas na área de esgotamento
Criamos um dispositivo simples, que Carlos Chernicharo sanitário, acredito que foi feito o que era
pode ser utilizado para diferentes finali- possível, mas esses modelos não podem
dades, por exemplo para a amostragem ser perdidos. Eles são o caminho para ga-
do esgoto bruto e do efluente tratado, rantir que os recursos investidos nas pes-
para fins de aferição da eficiência das ETEs. Durante a pandemia quisas sejam em prol do desenvolvimento de soluções apropriadas
de covid-19, o amostrador foi utilizado para a amostragem e mo- à realidade do Brasil”.
nitoramento das concentrações de SARS-COV-2 nos esgotos em Sobre os desafios para a área de esgotamento sanitário avan-
diferentes cidades no País”, contou. çar no Brasil, Chernicharo considera que o problema maior não
A busca pela inovação levou também à criação de separador é de tecnologia, de recurso financeiro nem de conhecimento.
trifásico modular para reatores UASB, em parceria com a Sabesp, “Temos todos à disposição, só que eventualmente não chegam
a Copasa, a Sanepar e uma indústria do setor. O produto está em ainda onde é necessário. Nesse âmbito, precisamos dar mais visi-
processo de licenciamento para exploração comercial pelo parcei- bilidade para esses conteúdos e produtos que já foram gerados.
ro do setor industrial. “O grande ganho desta solução tecnoló- Essa preocupação está na origem do INCT, ou seja, não adianta
gica é que ela resolve vários problemas usualmente encontrados desenvolver e não transferir. O conhecimento tem que se tornar
nos reatores anaeróbios tipo UASB, como a remoção de escuma, público e disponível. Tudo o que foi desenvolvido está à disposição
o controle de odor, e a captura mais efetiva do biogás. É uma gratuitamente, só que precisa chegar onde é necessário. Estamos
solução tecnológica muito importante para os novos projetos de trabalhando para superar essa barreira”, revela.
reatores e será comercializada em breve”, destaca o especialista. Outro ponto fundamental para Chernicharo está no fato de que
não adianta um novo PAC (Programa de Aceleração do Cresci-
Perspectivas futuras mento) para o saneamento que privilegie apenas a alocação de
Carlos Chernicharo atenta que o potencial para se implantar ETEs recursos para construir novas estações, se não for reservada uma
sustentáveis no Brasil é enorme. De acordo com o especialista, parte desses investimentos para a capacitação profissional. “Na
é um país onde temos grandes áreas agricultáveis, que podem minha opinião, foi isso que faltou no primeiro PAC do setor. Foram
apresentar muito mais demanda pelos biossólidos do que todas implantadas muitas ETEs, aumentou-se a capacidade instalada de

14 Saneas
tratamento, mas arrisco a dizer que a maioria delas apresenta tratamento de água e esgoto (“endusers”, ou “usuários finais”)
algum tipo de problema, seja de projeto, de construção ou de externalizam e/ou estruturam suas ambições de médio e longo
operação, prejudicando seu desempenho e o alcance dos obje- prazo. “Para entender isso, é importante falar que a inovação no
tivos precípuos de preservação ambiental e de proteção à saúde mercado de saneamento é basicamente impulsionada pela neces-
pública. Portanto, precisamos trabalhar essa conscientização, de sidade do usuário (“demand driven innovation”). Ao contrário do
que não basta recurso para melhorar o setor se não tiver a capaci- que acontece no mercado da moda e de eletrônicos, onde essa
tação, seja público ou privado, em todos os níveis, como formação inovação é primariamente impulsionada por uma técnica conhe-
de gestores, projetistas, construtores e operadores”, salienta. cida como “obsolecência forçada” (percieved obslescence), por
Ele destaca que o esgoto tem que deixar de ser encarado ape- meio da qual o usuário acredita que seu produto não é mais útil
nas como passivo e custo, ele tem um valor agregado que não é ou não tem mais valor, porque está fora da moda, ou porque não
explorado em termos de energia, de biossólido, de nutriente, de é a versão mais nova (Quem nunca quis trocar seu iphone 13,
recurso hídrico. “É mais barato implantar uma ETE convencional por um 14, simplesmente porque o 14 é a nova versão? Mesmo
do que uma sustentável, mas ao longo do tempo você recupera sabendo que o seu iphone 13 está em perfeito estado?). Este tipo
parte desses investimentos porque é na operação da ETE susten- de estratégia faz com que estes mercados estejam continuamente
tável que o gestor consegue ganhos econômicos e socioambien- investindo em “inovação”, mesmo sabendo que essa inovação,
tais”, conclui. às vezes, representa somente copiar um modelo de sapato que
esteve na moda há 10 anos, pois essa atividade é a maior fonte de
A importância da inovação para tratar os troca e venda, portanto, de renda”, analisa o Luewton.
poluentes emergentes De acordo com ele, o pesquisador e empresário no ramo de
Para acelerar o processo de inovação no tratamento de água e inovação em tecnologia da água, Paul O’Callaghan, que recen-
esgotos no Brasil, Luewton Lemos Felício Agostinho, membro do temente defendeu seu doutorado abordando esse tópico na Uni-
“Water Campus”, na Holanda, que trabalha como professor pes- versidade de Wageningen, na Holanda, escreveu que a dinâmica
quisador e coordenador do grupo de “Tecnologia da Água”, na de inovação no saneamento público é bem diferente. “O autor
Universidade NHL Stenden, e como pesquisador sênior na Wetsus menciona que essa inovação é impulsionada basicamente por dois
(European Centre of Excellence for Sustainable Water Technology), fatores. O primeiro é uma modificação na legislação, que o autor
destaca que existem ainda alguns desafios a serem suplantados. define como “crisis based innovation”, ou seja, a “inovação im-
Um deles, diz o professor, é a maneira como as empresas de pulsionada por crises”. Ele menciona que essa inovação acontece

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MATÉRIA DE
CAPA

quando, por exemplo, novos limites para tamento de água do país têm de eliminar
emissão de um determinado poluente o uso de químicos no tratamento nas pró-
são implementados pelo estado/país. Ou, ximas duas décadas. Estes e muitos outros
mais recentemente, quando crises hídri- exemplos ilustram uma estratégia clara do
cas se tornam mais longas e mais severas. mercado para focar e atrair inovação”, re-
Portanto, impulsionadas por uma crise”, trata. É importante destacar que isto não
detalha. é somente praticado pelas empresas de
A outra possibilidade é via rota aca- saneamento. Segundo o especialista, os
dêmica, destaca o Professor Luewton. É estados comunicam publicamente os seus
normalmente ocasionada por uma tese planos de visão, os municípios e a própria
de doutorado ou mestrado promissora, União Europeia o faz. “No Brasil, mesmo
que gera uma pequena empresa (star- sabendo que algumas empresas se ocu-
tup). “Nesse caso, fala o autor: `se o Entrando em um pam em definir estas metas, os documen-
ecossistema de inovação não estiver bem aspecto mais tos são de difícil acesso, muitas vezes de-
montado, existe um risco considerável de estrutural, é satualizados e, na maioria das vezes, não
que esta inovação seja concebida sem a preciso também existem”, pontua.
participação direta do usuário final (em- desburocratizar A pergunta então é simples: como atrair
presa de saneamento) e que, portanto, o processo de inovação, se não se sabe como, porque e
falhará ou tardará a entrar no mercado´.
inovação. Existem quando se quer inovar? Luewton ainda
A questão é que as crises são imprevisí-
muitos bloqueios continua: “entrando em um aspecto mais
veis. E, portanto, não se pode contar com
burocráticos que estrutural, e agora mais relacionado à
as mesmas para impulsionar a inovação
tornam o processo questão do risco da inovação acadêmica, é
nesse setor. Concomitantemente, há que
lento e complexo preciso também desburocratizar o proces-
se fomentar a inovação acadêmica, toda-
e não deixam a so de inovação. Existem muitos bloqueios
via com menores riscos”, acrescenta.
inovação decolar” burocráticos que tornam o processo lento
Para ele, uma maneira eficiente e mui- Luewton Lemos Felício e complexo e não deixam a inovação de-
Agostinho, membro do
to utilizada na Europa é através da ex- colar. Entre os fatores podemos considerar
“Water Campus”
ternalização das necessidades, ou ainda que ainda não existem muitos ecossiste-
“plano de visão” ou “plano de metas”, mas estruturados para fomentar essa ino-
por parte dos usuários finais. “Tenho vação”, salienta. Conforme o especialista,
trabalhado com muitas empresas de saneamento brasileiras por no Brasil, a distância entre o usuário final (empresas de sanea-
muitos anos e ainda acho uma tarefa desafiadora ter acesso a mento), os provedores (empresas de tecnologia) e a universidade
estes planos. Entre as questões é que estes planos são ferramentas ainda é muito grande. “E a burocracia, principalmente dentro das
importantes para atrair e impulsionar a inovação, mas não são ex- empresas de saneamento e da academia, dificulta bastante o an-
plorados desta forma”. Para ilustrar melhor, ele cita alguns exem- damento deste processo”, explica.
plos da Holanda. Para simplificar esse estágio, o professor conta que o Water
Para começar, as empresas de saneamento na Holanda lançam Campus, na cidade de Leeuwarden, criou os “demosites”, que são
seus planos de visão a cada 10 anos. “E nesse plano estabele- sites experimentais dentro das estações de tratamento de água e
cem metas específicas. Por exemplo, atualmente as empresas de esgoto, onde uma empresa que tem uma tecnologia inovadora
tratamento de esgoto colocaram no seu plano de metas para o pode alugar o local para fazer o seu teste. O mesmo acontece com
período de 2020-2030 que, até este último ano, as estações de- os laboratórios das universidades, que alugam seu espaço para
vem se tornar autossuficientes no consumo de energia elétrica. empresas que querem utilizá-los para testes em escala menor.
Portanto, toda a energia usada pela planta deve ser produzida na “Com isso se contorna um pouco o problema do favorecimento
própria planta. Outro exemplo é a ambição que as estações de tra- direto, já que a empresa precisa pagar pelo uso do espaço, gera-se

16 Saneas
Modelo coparticipativo uma receita extra para a empresa de saneamento e abre-se
Entre os exemplos bem-sucedidos deste trabalho academia-em- um espaço para que as empresas de tecnologia se alojem
presa no seu grupo, Luewton cita o desenvolvimento de sensores dentro da estação e da academia e tenham, assim, acesso
ultrassônicos para determinação de sólidos suspensos. “A ideia a infraestruturas e expertise local. Diminuir esta distância
da empresa era lançar um sensor ultrassônico de baixo custo e é importantíssimo para que a linha temporal de desenvol-
que viesse a oferecer um sistema de monitoramento em tempo vimento tecnológico seja mais curta, e o risco da inovação
real dos sólidos suspensos em reatores anaeróbios. Hoje em dia via academia seja reduzido”, explica o professor Luewton.
existem alguns desses sensores no mercado, mas são ópticos e Outro obstáculo, segundo ele, é a falta de programas
com preços bastante elevados. A empresa enxergou esse nicho, de incentivo financeiro, principalmente para as pequenas
e se propôs a uma opção mais barata no mercado. Trabalhamos e médias empresas, na área de saneamento. Eles são ne-
com essa empresa, que é do setor de desenvolvimento eletrônico, cessários para que essas organizações tenham uma chance
desde a concepção da ideia e, juntamente com a Universidade de entrar e se estabelecer no mercado. “No Brasil, existem
Federal de Minas Gerais (UFMG) contribuímos com a nossa expe- poucos programas nesse sentido. Um dos que servem de
riência acadêmica no tratamento de água e esgoto”, relata. referência é o programa de startups da Sanepar, no Paraná.
Entre os detalhes deste projeto, o especialista informa que fo- Estes clusters têm uma enorme vantagem quando compa-
ram feitos testes em escala laboratorial, piloto e em escala real. rados com os clusters universitários, pois são focados em
“Esse passo a passo gerou um protótipo que já está quase pronto um tema, nesse caso, tecnologia da água, diminuindo a
para ser lançado no mercado e será uma opção de baixo custo distância entre o provedor, a academia e o usuário final.
para o tratamento de esgoto no Brasil”, expõe. De acordo com São grandes atrativos de conhecimento, impulsionadores
ele, o processo inteiro, da ideia até a fase de testes em escala real, de network e, portanto, aceleradores de inovação. A ideia
demorou por volta de sete anos. “A média de duração dessa li- funciona, e pode ser comprovada pela existência de vários
nha temporal de desenvolvimento tecnológico da Europa hoje, na clusters deste tipo no mundo (EUA, Singapura, Alemanha
área de saneamento, é de 15 anos. Fomos muito mais rápidos.”, e Holanda)”, exemplifica.
observa o professor Luewton.
O interessante desse projeto, destaca o professor, é que ele já Os desafios dos poluentes emergentes
foi concebido com a participação do usuário final, uma vez que Em relação aos poluentes emergentes no setor de sanea-
foi feito em cooperação com duas estações de esgoto da Holanda mento, Luewton conta que seu grupo, na Holanda, traba-
e de Minas Gerais (Copasa), este último estruturado via apoio lha basicamente com dois tipos: os micro e nanoplásticos,
do INCT e da CR ETES - Centro de Referência em Estações Sus- os quais ainda não possuem uma discussão ampla no Bra-
tentáveis de Tratamento de Esgoto, também no estado mineiro. sil, pois carecem de legislação sobre os limites necessários
“Portanto, em todas as fases do projeto tínhamos as academias, para seu lançamento; e o segundo são os haletos orgâ-
representadas pela UFMG e pela NHL Stenden (Universidade da nicos. “Já existe uma discussão bastante ampla no Brasil
Holanda), os provedores de tecnologia (duas empresas holande- sobre esses haletos orgânicos porque o processo de desin-
sas e uma brasileira) e os usuários finais (ETEs)”, manifesta. fecção no País é muito baseado na cloração. Essa cloração,
Este modelo segue a linha do desenvolvimento coparticipativo. dependendo da quantidade e tipo de matéria orgânico
O professor conta que tem boas experiências com este modelo, que exista na água, pode gerar um poluente organo-ha-
mas tem um ponto que precisa ser considerado: “um quarto par- logenado que é o trihalometano (THM). Todavia, o haleto
ceiro é fundamental nesse processo, uma agência de fomento que temos trabalhado muito na Holanda é o PFAS que é
científico. Isso é necessário porque o risco da inovação é alto, e, um organo-halogenado a base de flúor, não de cloro. Ele
portanto, deve ser compartilhado. No caso do Brasil, essa rota é oriundo de processos industriais como fabricação de pa-
também facilita a cooperação entre empresas de saneamento e nelas de teflon, espumas anti-incêndio, materiais para iso-
empresas de tecnologia, já que, quando feita via edital científico lamentos residenciais e algumas embalagens e até mesmo
e quando estruturada de maneira coparticipativa, não caracteriza em fio dental”, esclarece.
favorecimento direto.”, salienta. De acordo com o professor, ultimamente a União Eu-

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MATÉRIA DE
CAPA

ropeia tem lançado vários relatórios sobre a quantidade desses


haletos orgânicos nos corpos hídricos e, recentemente, foi lan-
çada a primeira legislação que determina limites máximos desses
compostos nos corpos hídricos. “Isso fez com que várias com-
panhias de tratamento de água e esgoto começassem a dedicar
mais tempo não somente à determinação deste composto, mas
também aos testes de sistemas de remoção. Lembremos agora
do conceito de `crisis based innovation´ abordado no início desta
entrevista”, informa.
Segundo ele, tanto o PFAS quanto os nanoplásticos ainda não
têm discussões mais amplas no Brasil, mas, certamente, estarão
nas pautas acadêmicas e corporativas do País muito em breve.
Ele aproveita para ressaltar que ainda existe muita discordância
na literatura científica com relação aos micros e nanoplásticos.
“Até a simples definição de tamanho ainda está confusa. Encon-
tram-se artigos que falam de microplásticos a partir de alguns mi-
límetros e outros que os consideram micrômetros, que são mil
vezes menores, e outros ainda que já falam de nanoplásticos que
são mil vezes menores do que o micrômetro. Mas todos são deno- lhando em métodos analíticos que possam facilitar a identificação
minados `micro plásticos´”, explica o professor. desses micros e nanoplásticos”, conta.
Outro problema desse material é a persistência. O professor
Luewton lembra que os plásticos podem ficar disponíveis no am- Janelas abertas para a inovação
biente por centenas de anos e nesses tamanhos normalmente Em termos de perspectivas ligadas à inovação para trabalhar com
migram para animais aquáticos e, eventualmente, para o corpo os poluentes emergentes no setor de saneamento, o professor
humano. “Existem estudos que mostram que ingerimos micro- Luewton considera que existe muito a ser feito com relação à par-
plásticos diariamente pelas nossas refeições, através de peixes, te analítica e de tecnologias para remoção. Ele comenta que as
carnes, vegetais, em quantidades que seriam equivalentes a um tecnologias para remoção de micro e nanoplásticos são mais sim-
cartão de crédito por mês. Para se ter ideia da dimensão do pro- ples porque já temos sistemas de membranas que podem remover
blema, já encontramos os microplásticos em alvéolos, em células quantidades nanométricas. Contudo, há um ponto a ser obser-
neuronais, nos pulmões, e eles estão relacionados a diversas pato- vado no que tange ao direcionamento desse material para o que
logias e vários efeitos tóxicos, apesar de que ainda existe muito a chamamos de concentrado. “O sistema de membrana sempre
ser estudado sobre a toxicologia nesses materiais, principalmente tem uma fração da água que vira permeado, vira água tratada, e
daqueles nanométricos”, destaca. outra fração que vira concentrado. Esse segundo é normalmente
E ainda há o desafio em relação ao nanoplástico, que é a ques- um rejeito que vai ter que ser disposto. Sabemos que grande parte
tão analítica. “A partir de tamanhos menores do que 0.5 micro- do micro e nanoplástico nos sistemas de membrana vão acabar
metros, por exemplo, a detecção é muito complexa. Nesse caso no rejeito. Como tratar esse material e garantir que estes plásticos
não existe ainda um consenso da comunidade científica para não retornarão ao meio ambiente é ainda uma janela aberta para
quantificação e qualificação destas partículas, o que dificulta que a inovação”, pontua.
vejamos se estão na estação de tratamento, se estão entrando, No caso do PFAS, o especialista avalia que a questão é seme-
saindo, se o filtro está removendo, se está nos rios ou não, então, lhante, pois também temos poucas tecnologias e pouca literatu-
a própria questão analítica ainda é um desafio. Esse é um gatilho ra sobre a remoção deste poluente disponível. “Na Holanda, em
para várias outras ações porque, deste modo, não conseguimos nosso laboratório, temos testado reatores de plasma e sistemas
definir parâmetros de remoção, concentração em corpos hídricos avançados de oxidação. Mas, o PFAS é um composto muito está-
e toxicidade. Portanto, atualmente, existem vários grupos traba- vel, de baixa concentração e relativamente difícil de ser removido.

18 Saneas
INVESTINDO EM INOVAÇÃO

Case Sabesp
Entre as práticas inovadoras em coleta e afastamento de esgoto, considerando as
redes de grandes diâmetros, superior a 500mm, está o diagnóstico com utilização
de filmagem.
É uma das mais importantes para diagnóstico e monitoramento das tubulações,
que pode utilizar câmeras quick-view, robô e sonar, com visualização interna da
tubulação, sendo o primeiro equipamento para tubulação seca e o segundo para
tubulação em carga. Tendo em vista o valor dos ativos envolvidos, a necessidade
de um diagnóstico preciso para ações assertivas é mandatória. Temos um histórico
importante de diagnósticos realizados, com sinistros e custos evitados a partir de
uma boa tomada de decisão. Outra importante inovação tem sido a reabilitação
de coletores e interceptores com manta interna. Isso possibilita a retomada da
condição estrutural e hidráulica do coletor, com um menor tempo de intervenção,
menor impacto na mobilidade urbana, menor tempo e extensão de by pass e
consequentemente maior valor agregado para a intervenção. Em 2023, a Sabesp
pretende iniciar o monitoramento do esgoto no interior da rede coletora, que
permitirá medir a qualidade e quantidade do esgoto em pontos estratégicos das
sub-bacias e não apenas na ETE. Com a utilização de alarmes de ocorrências de
descargas irregulares, aumentará a agilidade para identificar as fontes de con-
taminação. Já a medição de vazão por sub-bacias permitirá identificar as áreas
Outro problema conhecido é o fato
com maior influência de águas pluviais “parasitárias” no sistema de esgotamento
destes poluentes terem (normal-
sanitário e, por consequência, direcionar as ações de varredura para identifica-
mente) cadeias longas e podem ser
ção e substituição de trechos de rede críticos. Esta ação complementa o conceito
convertidos, após a oxidação, em
de múltiplas barreiras utilizado para implantação do reúso potável indireto. Por
compostos de cadeias mais curtas,
ser totalmente nova no Brasil, foi necessário fazer workshops internacionais para
que são ainda mais solúveis e de
prospecção tecnológica. Para o tratamento de esgoto, a grande inovação adotada
difícil quantificação. Desenvolver
pela Sabesp é a Auditoria de Processos, que consiste na avaliação criteriosa da
sistemas de pós-tratamento, (poli-
capacidade de cada fase do processo de tratamento. O objetivo é identificar os
mento, desinfecção, oxidação) que
restritores de tratabilidade e planejar de forma otimizada os processos de amplia-
são capazes de remover haletos ção das estações, visando a utilização máxima da infraestrutura instalada para
orgânicos, especialmente os PFAS tratamento de esgoto, estando totalmente aderente aos conceitos de Economia
e toda classe que está ali dentro, Circular, além do aproveitamento pleno dos investimentos realizados. A capacida-
é uma demanda que será possivel- de de tratamento da infraestrutura existente nem sempre é equivalente à capa-
mente apresentada às empresas cidade original de projeto, ou capacidade nominal. Portanto, a avalia&ccedi l;ão
de saneamento em curto prazo e sistemática e estruturada de cada etapa do processo pode indicar uma capacidade
também é uma janela aberta para de tratamento superior à de projeto, evitando investimentos desnecessários em
a inovação. Temos que, a curto ampliações, bem como propicia a implementação de melhorias em atividades e
prazo, identificar tecnologias que controles que reduzam o consumo de energia elétrica, produtos químicos e outros
possam remover esses compos- insumos. Esta ação foi implantada na RMSP e já obteve resultados significativos
tos”, conclui Luewton Lemos. tanto na melhoria da qualidade do efluente final como na redução prevista para
o Capex das ampliações.
Importância das Já entre os desafios para o ano, encontram-se em andamento vários estudos
parcerias público- voltados à Economia Circular, com foco na ampliação da presença de água de
privadas reuso na matriz hídrica, beneficiamento de lodo para redução de volume e reutili-
Ainda em se tratando de colabo- zação em outras finalidades e aproveitamento de biogás para geração de energia,
ração internacional para fomentar utilização veicular ou outros usos.

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MATÉRIA DE
CAPA

os avanços do tratamento das águas residuais, a experiência da dos serviços e foi possível alcançar a universalização em um nú-
universalização em Portugal mostra a importância das parcerias mero reduzido de anos”, completa.
público-privadas. Isto porque o setor de saneamento em geral é Sobre o cenário do Brasil nos dias de hoje, ele considera
uma área em que a colaboração por meio da troca de experiências que o país está em uma fase bastante importante do ponto
entre os Países acontece constantemente. Rui Domingos Ribeiro de vista do saneamento, com muitos projetos em desenvolvi-
da Cunha Marques, professor catedrático do Instituto Superior mento, apesar de alguns atrasos em termos de esgotamento
Técnico da Universidade de Lisboa (IST), Portugal, que ministra sanitário, já que um percentual da população ainda não tem
cursos na AESabesp, conta sobre as suas experiências ligadas às acesso tanto a coleta quanto ao tratamento dos efluentes,
parcerias estratégicas para o setor de saneamento, comentando entre outros fatores, mas algumas regiões apresentam indi-
sobre algumas iniciativas que já participou, especialmente, entre cadores que já começam a se aproximar dos índices europeus
Brasil e Portugal, tanto em termos de parcerias setoriais quanto e americanos. Em vista disso, ele aponta as parcerias privadas
público e privadas. como uma das alternativas para angariar maiores resultados.
Segundo ele, Portugal, assim como outros países europeus, “Como os fundos públicos são escassos no Brasil, o setor pri-
conseguiu universalizar os serviços de saneamento já há alguns vado pode ser uma alternativa para efetuar os investimentos
anos. “Diante do cenário atual, é importante lembrar que no necessários para universalizar esses serviços no Brasil”, disse,
passado, num período de cerca de 30 anos atrás, Portugal tinha destacando que os princípios do novo marco, publicado no
indicadores similares aos do Brasil, que foram solucionados com governo anterior e que envolve um conjunto de políticas pú-
estratégias que envolveram boas políticas públicas, cujas imple- blicas, podem criar um ambiente favorável para a participação
mentações conseguiram fazer com que o país alcançasse resulta- do setor privado. “Isso pode acontecer naturalmente em al-
dos positivos. Hoje, a prestação de serviços, após a universalização guns municípios onde o setor público ainda não foi capaz de
do saneamento ambiental, alimenta-se com qualidade, sustenta- conseguir alcançar os objetivos propostos para a melhoria do
bilidade, inclusão e provisão desses serviços à população e à socie- saneamento”, exemplifica.
dade portuguesa”, destaca. Com esses apontamentos, o especialista ressalta porque as parce-
No caso português, como foi em outros países, O Prof. Marques rias estratégicas público-privadas são importantes. “Elas podem ser
observa que muitas vezes o setor público, que é responsável pela realizadas com o setor privado, mas também com o setor público.
prestação desses serviços, atua em parcerias com o setor privado, No caso de Portugal temos vários casos de parcerias público-priva-
através de contratos com a própria iniciativa privada ou de con- das que atendem diversos municípios para a gestão dos sistemas e
cessão, no sentido de alavancar e regionalizar as atividades e com que permitem investimentos importantes para a melhoria da pres-
isso conseguir alcançar mais rapidamente a sua universalização. tação dos serviços de saneamento no País”, informa. Ele destaca
“Portugal tem iniciativas com o setor privado na ordem de mais que essas práticas também são encontradas em diversos Países da
de 20% dos projetos, o que ainda é considerada uma participação Europa, América Latina e África, por exemplo. “Além disso, elas de-
pequena, mas por meio da qual teve uma melhoria substancial monstram que os investimentos, sob o ponto de vista financeiro e

Portugal tem iniciativas com o setor privado na ordem de


mais de 20% dos projetos, por meio da qual teve uma
melhoria substancial dos serviços e foi possível alcançar a
universalização em um número reduzido de anos.”
Rui Domingos Ribeiro da Cunha Marques, professor catedrático do
Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa (IST), Portugal

20 Saneas
de capacitação das administrações públicas locais para a prestação INVESTINDO EM INOVAÇÃO
dos serviços, são importantes para contar com os parceiros certos Case Águas do Brasil
que vão alavancar e desenvolver os serviços”, frisa.
Rui Cunha Marques considera que o Brasil tem um cami- Quando falamos de esgoto, podemos abrir o tema em duas
nho longo a percorrer, principalmente nas regiões Norte e vertentes: a área de coleta e a área de tratamento. Na área
Nordeste, mas, mesmo assim, tem tudo a ganhar, aprender e de coleta, hoje, os indicadores do Trata Brasil mostram que
partilhar com suas experiências em busca da universalização, somente metade dos esgotos no Brasil são coletados e so-
com parceiros públicos de outros países e também com o mente metade é tratada corretamente. O Grupo Águas do
setor privado, que normalmente tem um know-how espe- Brasil, como uma empresa privada do setor de saneamen-
cializado nessas atividades e profissionais capacitados para to, tem investido significativamente em coleta, trazendo,

atender às demandas necessárias. “O potencial para formar para os municípios onde o atua, resultados acima da média
nacional. Diversas concessões do Grupo passam de mais de
parcerias no Brasil é imenso e, certamente, estas irão per-
90% de coleta de esgoto. Em relação ao tratamento, os
mitir explorar e antecipar o alcance das metas para o setor.
números do Grupo são muito superiores aos indicadores
Como estamos tratando de serviços de primeira necessidade
de tratamento em âmbito nacional. Quando olhamos sob
e essenciais para as populações e a sociedade, fundamentais
a ótica de tecnologia de tratamento, o Grupo vem optan-
para a sua coesão econômica e social, naturalmente que a
do por usar tecnologias que sejam aderentes aos Objetivos
brevidade com a qual essas metas serão alcançadas é impor-
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das
tante para o desenvolvimento das cidades e a melhoria da
Nações Unidas (ONU), utilizando energias renováveis e re-
qualidade de vida da população”, avalia. aproveitando resíduos provenientes do tratamento, evitan-
O especialista afirma que o tratamento das águas residuais é do o descarte na natureza. Esses são alguns dos grandes
um item fundamental para o Brasil atingir as metas do sanea- avanços atuais da empresa.
mento. E as parcerias são ferramentas apropriadas para avan- Um dos grandes desafios em relação ao tema é a gera-
çarmos com maior celeridade nesta área. “Trata-se de uma ção de resíduos no tratamento de esgoto, especificamente
área muito importante do ponto de vista social, com grandes os lodos, que, no Brasil, em sua maioria, são descartados
reflexos no setor econômico, assim como é muito especiali- em aterros sanitários, o que também gera um custo ope-
zado. Portanto, temos a oportunidade de aprender com as racional. O Grupo investe em soluções para esse desafio,
boas experiências já realizadas e aprimorar novas ações para mas há espaço para avançar. É necessário encontrar tec-
o futuro. Em suma, o setor de saneamento é um nos quais o nologias para reduzir esse custo operacional e estar ainda
relacionamento entre parceiros, a exemplo do modelo portu- mais alinhado aos ODS da ONU, trazendo economia circu-
guês, deve ser com base no sistema ganha-ganha, em que a lar para toda a cadeia produtiva do tratamento, gerando

somatória das partes é maior que da parte individual e viabiliza energia renovável e reduzindo a quantidade de resíduos.

grandes resultados para todos”, menciona.

Janeiro a Março de 2023 21


MATÉRIA DE
CAPA

A contribuição da Rede Monitoramento Curitiba, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e no Distrito Federal.
Covid Esgotos para a saúde pública “Este projeto deu origem à Rede Monitoramento Covid Esgotos,
brasileira que monitorou as principais ETEs de cada uma das capitais men-
O monitoramento do coronavírus (SARS-CoV-2) no esgoto foi cionadas, além de outros pontos, localizados em áreas com maio-
uma iniciativa conjunta do INCT ETEs Sustentáveis e da Agência res índices de vulnerabilidade social de cada cidade e locais com
Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Tão logo a Orga- grande circulação de pessoas”, conta.
nização Mundial da Saúde (OMS) declarou o início da pandemia Em 2023, o Projeto Rede Covid completou dois anos de moni-
de covid-19, em março de 2020, teve início um projeto piloto para toramento e suas informações estão servindo para complementar
o monitoramento do vírus SARS-CoV-2 no esgoto de Belo Hori- as informações geradas pelo setor de saúde nas diferentes capi-
zonte e em parte do município de Contagem. Nesse projeto foi tais, contribuindo para auxiliar nas tomadas de decisão acerca das
monitorado o esgoto afluente às duas principais Estações de Tra- medidas de prevenção e controle da pandemia de covid-19. “As
tamento de Esgoto de Belo Horizonte (ETE Arrudas e ETE Onça), lições aprendidas durante a execução destes projetos contribuiu
além do esgoto em diversos pontos da rede de esgotamento sani- para a construção das bases de um Programa Nacional de Vigilân-
tário, representativo de áreas com distintos índices de vulnerabili- cia Epidemiológica Baseada no Esgoto, que deverá liderado pelo
dade social da cidade. Para César Rossas Mota Filho, professor da Ministério da Saúde e deverá contemplar o monitoramento de ou-
UFMG, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia tros agentes patogênicos de importância para a saúde pública”,
em ETEs Sustentáveis (INCT-ETEs Sustentáveis) e coordenador da ressalta César Mota.
Rede Covid Esgotos , este projeto demonstrou o potencial dos Em meio aos muitos desafios que este trabalho enfrenta, Cé-
dados gerados a partir dos esgotos para mapear a circulação do sar Mota diz que eles começam desde a definição dos pontos de
vírus e informar sobre a situação nas diferentes regiões da cidade, amostragem. Isso porque Países como o Brasil, possuem um défi-
servindo como um alerta sobre a situação que estava por vir. cit muito grande em esgotamento sanitário, o que é um fator que
De acordo com ele, devido ao êxito do projeto piloto, em janei- traz desafios à vigilância baseada no esgoto. “Em Países onde os
ro de 2021, houve uma ampliação para contemplar o monitora- serviços de esgotamento sanitário já foram universalizados é pos-
mento do coronavírus no esgoto de seis capitais brasileiras: BH, sível conseguir um bom retrato da situação monitorando o esgoto

22 Saneas
afluente às ETEs, assim é possível centralizar o monitoramento INVESTINDO EM INOVAÇÃO
nas ETEs”, explica. O coordenador complementa: “como a co- Case Sanasa
bertura de coleta e tratamento de esgoto em muitas cidades
brasileiras é baixa, o monitoramento, idealmente, deve ser des- A Sanasa tem intensificado os esforços para se adequar
centralizado, contemplando outros pontos além das ETEs. Para às metas de universalização do esgoto previstas no Novo
se ter um retrato mais representativo da cidade como um todo Marco Legal do Saneamento. Mais do que isso, adotou
pode ser necessário monitorar, além das ETEs, outros pontos na nos últimos anos o caminho de construir novas ou conver-
rede de esgotamento sanitário, em estações elevatórias de esgo- ter estações de tratamento de esgoto (ETEs) em estações
to (EEE), canais pluviais, corpos d’água que recebam contribui- produtoras de água de reuso (EPARs) que utilizam mem-
ção de esgoto, dentre outros pontos”, salienta. Ele destaca que branas ultrafiltrantes para tratar o esgoto. Com essa me-
o monitoramento desses pontos tende a ser mais desafiador, dida, atingiremos nos próximos anos o equivalente a 50%
tendo em vista a menor estrutura disponível para a coleta e, da água distribuída em esgotos tratados em nível terciário.
consequentemente, as maiores barreiras que podem ser encon- Somando-se a isso, a empresa realiza investimentos em
tradas para a realização da amostragem do esgoto. monitoramento remoto e eficiência energética de suas es-
Além disso, para a definição dos pontos de amostragem e no tações de tratamento de água e esgoto, além de melhoria
suporte para a realização da coleta das amostras, César Mota contínua nas ETEs para manter o tratamento de esgoto
aponta que é imprescindível o apoio dos Prestadores de Serviços com índice de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio)
de Saneamento (PSS) locais, o que também pode se configurar igual ou menor que as existentes nos rios de descarga.
em um desafio. “Geralmente, os PSS têm informações que são Merece destaque também a questão da destinação dos
importantes para a elaboração dos planos de amostragem, como resíduos produzidos nas ETEs. Em parceria com a Prefeitu-
as informações sobre o cadastro do sistema de esgotamento na ra de Campinas, foi construída a Usina Verde, onde o lodo
malha urbana da cidade. Por isso, a parceria com os PSS locais é gerado pelas estações de tratamento de esgoto é mistu-
importante para o sucesso do monitoramento”, salienta. rado com galhos de árvore provenientes das podas reali-
Outro desafio citado por ele está associado à disponibilidade zadas no município e restos de frutas e hortaliças da CE-
de infraestrutura laboratorial para a realização das análises la- ASA, transformando-se em composto orgânico classe B,
boratoriais. “A metodologia para a detecção e quantificação do certificado pelo Instituto Agronômico de Campinas, órgão
SARS-CoV-2 requer a utilização de equipamentos e reagentes estadual de pesquisa e desenvolvimento na agricultura de
específicos, além de profissionais capacitados para sua opera- renome internacional, para uso em pastagens, plantio de
ção”, pontua. grãos, campos de futebol, praças e jardins públicos, etc.
Ainda sobre os desafios, ele menciona os relacionados à co- Além disso, hoje, entre os maiores desafios em relação
municação dos resultados gerados a partir dos esgotos. “Por se a esse tema, há duas frentes claras. A primeira é a de en-
tratar de uma abordagem de vigilância relativamente recente, as frentar a questão do acesso dos moradores dos núcleos
autoridades de saúde podem não estar familiarizadas com os da- urbanos (comunidades em processo de regularização fun-
dos. Dessa forma, é importante que os dados sejam traduzidos diária) à nossas redes de água e esgoto. Através de uma
e transformados em informações úteis a serem utilizadas pelas abordagem multidisciplinar e de forte caráter social, nos

autoridades de saúde. Além disso, deve haver agilidade entre as últimos anos, com a ênfase dada a esse programa, mais de

etapas de geração e a comunicação dos dados, de modo que a 10 mil moradores/ano já foram atendidos. O segundo de-

informação chegue o mais breve possível nos gestores responsá- safio diz respeito ao desenvolvimento do mercado de água

veis pelas tomadas de decisão para garantir ações de prevenção de reuso. Nesse sentido, além da participação em fóruns

e controle das doenças monitoradas, em tempo hábil”, orienta. para formulação de políticas públicas ligadas ao tema, re-

Investir em iniciativas como a Rede Monitoramento Covid centemente um Termo de Compromisso foi firmado com
a Aegea para estudo de implantação de um Aquapolo em
Esgotos é um ponto-chave para cenários de pandemias cau-
Campinas, que terá como objetivo atender a demanda fu-
sadas por vírus. Entre as razões, César Mota destaca porque
tura da RMC - Região Metropolitana de Campinas.
reconhecidamente, a vigilância ambiental de patógenos como

Janeiro a Março de 2023 23


MATÉRIA DE
CAPA

o vírus SARS-CoV-2, e de outros patógenos de importância para de 10 capitais brasileiras. Este projeto será executado em parceria
a saúde pública, fornece informações úteis que complementam com o Ministério da Saúde, a ANA, a Fiocruz, a Cetesb, e outras
os dados gerados pela vigilância epidemiológica. “Uma única importantes redes de monitoramento do esgoto (como a Rede
amostra de esgoto pode conter informações sobre uma grande Remonar) e com importantes instituições de ensino e pesquisa em
população, que inclui indivíduos sintomáticos ou assintomáti- todo o País. O monitoramento da resistência antimicrobiana no
cos. As informações contidas no esgoto independem do indi- esgoto será realizado nas cinco regiões brasileiras”, informa.
víduo procurar ou não a unidade de saúde para atendimento, Além disso, segundo ele, o INCT ETEs Sustentáveis também
quando apresenta algum sintoma da doença. Esta abordagem tem contribuído, a partir da experiência adquirida com a Rede
é interessante, especialmente em Países que possuem capacida- Monitoramento Covid Esgotos para a construção de um Pro-
de de testagem limitada para a COVID-19, como o Brasil, por grama Nacional de Vigilância Baseada no Esgoto, que deverá
exemplo”, destaca o coordenador. ser liderado pelo Ministério da Saúde. “Há perspectivas para
Dessa forma, César Mota ressalta que o monitoramento do es- que este Programa Nacional dê continuidade à vigilância do
goto pode informar sobre a circulação do patógeno em determi- SARS-CoV-2 no esgoto, bem como inclua em seu escopo a
nada região, e pode prever se a situação irá se agravar ou mesmo vigilância ambiental de outros patógenos. Acreditamos que
ficar mais branda se configurando em um sistema de alerta pre- a Rede que estamos formando agora para a vigilância da re-
coce. “Isso é importante para que os gestores da saúde possam sistência aos antimicrobianos possa também contribuir para a
planejar ações voltadas para a prevenção e o controle de doenças, construção deste Programa Nacional”, avalia.
como a covid-19. Além disso, o custo do César Mota informa que há décadas,
monitoramento de patógenos no esgoto a epidemiologia baseada no esgoto (EBE)
equivale a uma pequena fração do custo vem sendo utilizada para informar sobre
do monitoramento dos mesmos patóge- a circulação de patógenos como o polio-
nos em amostras clínicas, coletadas em vírus (o trabalho realizado pela Cetesb é
pacientes. Finalmente, vale destacar que um importante exemplo), gerando aler-
a vigilância epidemiológica baseada no tas sobre sua circulação ou auxiliando
esgoto pode ser usada como sentinela, na confirmação sobre a erradicação da
em pontos de entrada ou em locais de poliomielite em diversos Países. “Com a
grande circulação e muitas vezes tem pandemia de covid-19, a EBE entrou no-
sido capaz de servir como alerta preco- vamente em foco, com a constatação de
ce. Os períodos de recrudescimento da que esta é uma ferramenta poderosa e de
pandemia foram indicados pelos dados baixo custo (comparado ao monitoramen-
do monitoramento do esgoto alguns dias Com a pandemia to massivo de amostras clínicas) para com-
antes dos dados clínicos”, esclarece. de covid-19, a EBE plementação dos dados de saúde. Como
Atualmente, estamos em transição entrou novamente consequência, houve o surgimento de
pós-pandemia de covid-19, mas o INCT em foco, com diversos Programas de monitoramento do
ETEs Sustentáveis pretende prosseguir a constatação SARS-CoV-2 no esgoto em diversos Países
com o monitoramento do SARS-CoV-2 de que esta é do mundo”, aponta.
no esgoto por mais alguns meses, dando uma ferramenta As perspectivas do coordenador em
seguimento ao monitoramento nas cida- poderosa e de relação a este trabalho são promissoras.
des que fazem parte da Rede Covid. “Re- baixo custo para “Além de se configurar em uma fonte de
centemente tivemos um projeto aprova- complementação recursos, o esgoto é também uma fonte
do pelo CNPq para a construção de uma dos dados de saúde” de informações importantes sobre a saú-
Rede Nacional de Vigilância de Bactérias César Rossas Mota Filho, de da população. E este papel do esgoto
Resistentes a Antibióticos e de genes de professor da UFMG só reforça a importância de cada vez mais
resistência aos antimicrobianos no esgoto investir em recursos e esforços para a uni-

24 Saneas
versalização dos serviços de esgotamento sanitário no Brasil. Um mia circular, abordagem na qual o esgoto é reclassificado como
dos grandes desafios para a vigilância de patógenos a partir do um insumo a ser transformado em subprodutos, recursos,aptos a
esgoto no Brasil tem relação com os grandes déficits em servi- gerar valor para a sociedade a partir de suas recuperações e usos
ços de esgotamento sanitário ainda existentes em algumas cida- em novas cadeias produtivas, sustentáveis e inovadoras.”, informa
des brasileiras. Dessa maneira, acredito que este trabalho, bem Gustavo Rafael Collere Possetti, gerente de pesquisa e inovação
como as outras iniciativas semelhantes no Brasil e no mundo da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar).
possam proporcionar este novo olhar para esgoto, enaltecendo Em Portugal, por exemplo, ele informa que já existe um tra-
ainda mais a importância de se promover ações para o desenvol- balho emblemático que utiliza a água de reuso, devidamente
vimento de saneamento adequado para toda a população, que é tratada,para produzir cerveja. “Trata-se da cerveja artesanal VIRA
um direito de todos e contribui para garantia da saúde pública”, de Lisboa, produzida com água de reúso, que, inclusive, ven-
atenta César Mota. ceu o prêmio Water Reuse Europe 2021 Innovation Prize. Criado
pela empresa Águas do Tejo Atlântico, o projeto VIRA demonstra
Novas oportunidades de negócios com como se podem mudar as mentalidades e atitudes no que diz
a Economia Circular a partir do respeito à água. Essa iniciativa ilustra o potencial que a econo-
tratamento de esgoto mia circular pode representar para aproveitamento das águas
Mais um capítulo importante na jornada conceitual em torno do residuais na indústria, impulsionando a valorização de marcas,
tratamento de esgoto no Brasil trata da economia circular. Seja o empreendedorismo e o desenvolvimento de novos nichos de
pelo aproveitamento energético do biogás para gerar energia elé- mercado”, destaca.
trica, calor ou biometano, seja no uso do lodo como combustível Dessa forma, dentro da filosofia da economia circular um insu-
ou como fertilizante, ou da água de reúso para fins industriais e mo quando devidamente transformado gera valor, culminando
uso urbano, as iniciativas que estão sendo desenvolvidas no País em redução de custos operacionais para os prestadores de servi-
mostram oportunidades e potenciais dos novos modelos de ne- ços de saneamento ou representar receitas acessórias, e, o mais
gócios a partir do processamento do esgoto. “É a transição da importante, a mitigação de impactos socioambientais. “Nesse mo-
economia linear, a partir da qual o esgoto e os subprodutos de seu delo, o que era outra hora passivo vira receita”, pontua Possetti.
tratamento são considerados meramente resíduos, para a econo- A antiga Estação de Tratamento de Esgoto, ou simplesmente

Janeiro a Março de 2023 25


MATÉRIA DE
CAPA

ETE, mudou, inclusive, de nome. “Em Portugal passou a se cha- ximos passos rumo à economia circular no tratamento de esgoto,
mar Fábrica de Água; nos Estados Unidos estão chamando de buscando modelos de negócios apropriados às condições do País.
Unidade de Recuperação de Recursos; e no Brasil estamos cha- A perspectiva é positiva. É uma tendência aderente a tudo que
mando de ETE Sustentável, uma planta industrial que entende o nós temos hoje como estratégia de mitigação e adaptação de mu-
esgoto como um insumo. De acordo com Possetti, a tradicional danças climáticas e promoção dos Objetivos do Desenvolvimento
estação de tratamento de esgoto, nesse caso, é otimizada e re- Sustentável”, observa o executivo.
paginada de forma que seus subprodutos possam ser utilizados Para a economia circular continuar avançando no Brasil, Possetti
para uma finalidade um pouco diferente, gerando modelos cria- considera que primeiro as pessoas precisam compreender o con-
tivos, inovadores e inspiradores. “Podemos considerar que esta ceito. “É importante a compreensão, a educação, o treinamento,
é a principal rota da jornada conceitual em torno da economia o aculturamento das pessoas em torno dessa nova perspectiva,
circular no tratamento de esgoto”, completa. pois considero que a primeira barreira que encontramos no País
Possetti enfatiza que a economia circular é um conceito contem- é a cultural. Então, temos que promover essa reflexão em prol da
porâneo na América Latina, ainda incipiente, mas extremamente economia circular no tratamento das águas residuais. A barreira
necessário, sobretudo em razão das metas de universalização esti- cultural é considerável, mas possível de superar, notadamente em
puladas no Novo Marco Regulatório brasileiro, bem como para as função dos conhecimentos técnicos e científicos já consolidados,
restrições ambientais cada vez mais firmes. “Estamos observando inclusive, em nosso País”, atenta.
o estabelecimento de parâmetros cada vez mais restritivos para Outro aspecto importante para Possetti é a natureza regu-
lançamentos de efluentes em corpos hídricos receptores, os ater- latória. “Precisamos ter uma base regulatória que sustente o
ros sanitários já não querem mais receber lodo, temos políticas desenvolvimento dessas técnicas que moldam a economia cir-
específicas para não emitir gases de efeito estufa. Logo, estamos cular no tratamento de águas residuais. Um exemplo é que
a falar de uma abordagem contemporânea, mas que se apresen- ainda não temos consolidado no País uma regulamentação
ta como uma tendência, no Brasil e no mundo. Alguns Países já clara sobre reúso em nível nacional. Já estamos discutindo isso
estão muito mais avançados, como Estados Unidos, Japão, Coréia e existem algumas legislações estaduais vigentes e extrema-
do Sul, Reino Unido e Alemanha. O Brasil está construindo os pró- mente necessárias. Esse passo traz a segurança jurídica, aspec-
to fundamental para que o investidor saiba qual é a regra do
jogo, quais são os critérios mínimos para vir a fazer o investi-
mento neste setor.”, explica.
As boas notícias, de acordo com ele, é que há conhecimento
para fazer a economia circular avançar no Brasil. “Temos tecno-
logia, exemplos de sucesso, vontade e modelos de negócios cria-
tivos que vão impulsionar o desenvolvimento dessas iniciativas.
Identifico que temos, hoje, muito mais fortalezas do que barreiras
para a consolidação das ETEs Sustentáveis. Estamos preparados.
É uma quebra de paradigmas, uma nova perspectiva, que traz
benefícios para toda a sociedade. Promover a economia circular é
uma abordagem justa e necessária”, ressalta.
Nesse âmbito, as ETEs Sustentáveis se apresentam como grandes
oportunidades para os novos negócios, para o empreendedorismo,
e, para de fato, gerar valor para a sociedade. “O potencial que te-
mos para a implementação das ETEs sustentáveis é todo o esgoto
que precisamos tratar nesse País, uma vez que, atualmente, são
tratados apenas aproximadamente 50% do volume que geramos.
E os avanços acontecerão à medida que tivermos mais casos de
sucesso, linhas de financiamento, profissionais com massa crítica

26 Saneas
com a sua escala e modalidade. Em regiões onde falta água, por
exemplo, pode-se utilizar o esgoto como uma fonte importante de
recursos para ajudar nos déficits hídricos, enquanto em áreas com
falta de energia pode-se utilizá-lo como um indutor importante de
produção de energia renovável, com baixa emissão de carbono. O
Brasil possui um enorme potencial de esgoto gerado por toda a
população, que pode gerar resultados muito interessantes se cole-
tados e tratados de forma adequada, claro, sempre respeitando os
critérios de viabilidade econômica e financeira”, acentua Possetti.
Para Possetti, as principais perspectivas relacionadas à aplicação
do conceito da economia circular no tratamento de esgoto são o
cumprimento da agenda global de desenvolvimento sustentável,
a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, o aumento da
resiliência hídrica, bem como a busca pela eficiência energética
e produção de energia renovável. “Essas perspectivas estão inti-
O Brasil está construindo os próximos mamente relacionadas com a geração de valor para empresas e
passos rumo à economia circular sociedade, em escalas apropriadas. Espero que essa abordagem
no tratamento de esgoto, buscando resulte em modelos de negócios cada vez mais competitivos e dis-
ruptivos, capazes de promover a inovação para a sustentabilidade,
modelos de negócios apropriados às
feita de pessoas para pessoas, preservando os recursos naturais
condições do País. A perspectiva é tão importantes para a nossa sobrevivência”, frisa.
positiva. É uma tendência aderente Para concluir ele destaca que a ideia é usar esse conceito como
uma mola propulsora para novas economias de baixo impacto que
a tudo que nós temos hoje como
proporcionem não apenas o acesso aos serviços de saneamento,
estratégia de mitigação e adaptação mas também a forma de que esse serviço seja prestado com o me-
de mudanças climáticas e promoção nor impacto socioambiental possível, gerando valor efetivo. “Essa
dos Objetivos do Desenvolvimento tendência está se aproximando cada vez mais no Brasil e é uma
realidade que veio para ficar”, observa Possetti.
Sustentável.”
Gustavo Rafael Collere Possetti, gerente
de pesquisa e inovação da Companhia de
Saneamento do Paraná (Sanepar).

Confira mais reportagens desta edição especial


para avaliar novas perspectivas, empreendedores que efetivamente
Águas Residuais no site Saneas Online:
olhem para o esgoto como uma proposta de valor. Esse arcabouço
fará com que a economia circular avance e, consequentemente, se
• ETE Sustentável: recuperação de recursos e economia circular
promova a universalização dos serviços de esgotamento sanitário
• Aproveitamento do biogás, do lodo e água de reúso
em bases verdadeiramente sustentáveis”, destaca.
• Sistemas de pequeno porte, em especial wetlands
“É fundamental oferecer serviços de coleta e tratamento de es-
goto que minimizem os impactos ambientais e promovam a saúde
Acesse: www.saneasonline.com.br
pública, gerando valor e utilizando modelos inovadores que conec-
tam diferentes atores. Cada modelo será desenvolvido de acordo

Janeiro a Março de 2023 27


SANEAMENTO,
DIREITO DE
TODOS

Projeto Piloto leva saneamento a


quilombos no Vale do Ribeira,
em São Paulo
Coordenada pelo G9, grupo de mulheres especialistas do setor, iniciativa
proporciona a comunidades quilombolas estrutura de saneamento
básico (água, esgoto e resíduos sólidos) e é objeto de estudo piloto para
implantação do modelo de gestão compartilhada com referência no
Sistema Integrado de Saneamento Rural – SISAR.

28 Saneas
H
á anos as políticas públicas de saneamento têm se maior município paulista, com área de 1.654,256 km², sendo mais
mostrado distantes de apresentar a solução esperada 70% da sua área coberta por Mata Atlântica intacta. Situa-se às
para o saneamento em comunidades isoladas (qui- margens do rio Ribeira de Iguape. A população total do Município de
lombos, indígena, rural e ribeirinha). A maioria destas Eldorado totaliza 15.592, vivendo em 4.247 moradias, sendo 2.203
áreas não está cadastrada nas bases de dados e são consideradas urbanas e 2.044 rurais (dados de 2010). Segundo Pesquisa Nacional
insustentáveis econômico e financeiramente para o planejamen- por Amostra de Domicílios - PNUD 2010, o Índice de Desenvolvimento
to, elaboração de projetos e execução de obras de sistemas de Humano -IDH do município de Eldorado é 0,691, considerado um dos
produção e abastecimento de água, esgotamento sanitário e tra- menores do Estado de São Paulo.
tamento de esgoto. Não existem dados relativos ao saneamento No Município de Eldorado são 13 comunidades quilombolas e uma
rural disponíveis para ações de planejamento. aldeia indígena. Dentre os atrativos turísticos monitorados por morado-
Em 2020, a Lei 14.026, que atualizou o marco legal do saneamento res dos quilombos destacamos o Circuito Quilombola, Mirante do Cru-
dado pela Lei 11.445 de 2007, trouxe, entre outras inovações, uma zeiro, Trilha do Lamarca, Parque Salto da Usina e Cachoeira do Sapatu.
nova maneira de se avaliar os indicadores de saneamento, incluindo as Em que pese ser o saneamento um dos pilares que sustentam a
comunidades isoladas no computo dos índices de atendimento. Já o infraestrutura das melhores cidades turísticas do mundo, as comuni-
Decreto 7217 /2010, que regulamenta a Lei 11.445/07, considera den- dades quilombolas de Eldorado não têm água tratada nem coleta de
tro do conceito de loteamentos de pequeno porte as vilas, aglomera- esgotos estruturadas.
dos rurais, povoados, núcleos, lugarejos e aldeias, assim definidos pelo Algumas comunidades quilombolas estão recebendo estrutura de
IBGE. Destaca-se ainda que, em seu artigo 49, inciso III, a Lei 11.445 saneamento básico (água, esgoto e resíduos sólidos) e são objeto de
prevê, dentre os objetivos da Política Federal de Saneamento Básico, estudo piloto para implantação do modelo de gestão compartilhada
proporcionar condições adequadas de salubridade ambiental aos po- com referência no Sistema Integrado de Saneamento Rural – SISAR
vos indígenas e outras populações tradicionais, com soluções compatí- criado pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará- Cagece em 1996.
veis com suas características socioculturais. Desta forma, os entes pú- Este trabalho está em desenvolvimento pelo Grupo G9, em parceria
blicos devem olhar com mais atenção o atendimento das comunidades com a Estancia Turística do município de Eldorado, acompanhada por
isoladas com os serviços de saneamento básico, aqui entendidos nos lideranças dos quilombos beneficiados, apoio na medida do possível da
quatro pilares que o compõem: abastecimento de água potável, esgo- Sabesp, ITESP, UFABC, CSAN, EMBRAPA, Fundação Florestal, CBH-RB,
tamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e drenagem. CATI, EEACONE, entre outras entidades. Trata-se de um projeto pilo-
O Vale do Ribeira é reconhecido pela UNESCO como “Patrimônio to em desenvolvimento nas comunidades quilombos de André Lopes,
Natural da Humanidade”, conferindo-lhe vocação para preservação Galvão, Pedro Cubas, Poça e São Pedro. A localização dos quilombos
e conservação. A Estância Turística do Município de Eldorado é o 4º pode ser vista na figura 1.

Figura 1: localização dos


quilombos – autoria própria
com dados do Google

Janeiro a Março de 2023 29


SANEAMENTO,
DIREITO DE
TODOS

Sobre o projeto piloto em de acompanhar a instalação de sistema produtor de água (em fase
desenvolvimento de implantação pela Prefeitura de Eldorado), e a montagem da solu-
O Projeto Piloto em desenvolvimento é uma parceria estabelecida pelo ção de esgotamento sanitário com Unidades Sanitárias Individuais (80
G9, com a Prefeitura da Estância Turística de Eldorado, com o apoio USIs com licitação concluída) e ainda estudar outra solução que mais
da APU e demais parceiros: Universidade Federal do ABC Voluntariado se adequar às condições locais para áreas que têm conformação de
SABESP, ITESP, FF, EAACONE e líderes comunitários, bem como o in- aglomerado urbano, e finalmente definir um sistema para a gestão
centivo de técnicos da EMBRAPA, CATI, CBH-RH, FUNASA, COMPESA, compartilhada do saneamento.
CAGECE e SANEPAR.
O objetivo deste grupo é buscar caminhos para o atendimento das Onde buscar maiores informações
metas estabelecidas pelo marco do saneamento, melhorar a saúde am- O G9, com o apoio da APU, promoveu 5 webinares, que estão disponíveis
biental e qualidade de vida da população beneficiada pelo projeto, e na página da APU no YouTube – APU Saneamento, e podem ser acessa-
por estarem as comunidades quilombolas do Vale do Ribeira já organi- dos como uma forma de aprofundamento do conteúdo teórico envolvido:
zadas em associações, o trabalho de implantação do modelo da gestão • Aspectos jurídicos da gestão comunitária do saneamento –
compartilhada está sendo realizado considerando as peculiaridades 02/06/2021
sociais, culturais, tradicionais, locais e não somente na análise técnica. • Gestão compartilhada do saneamento em comunidades isoladas
Ilustração de moradia na figura 2. – 09/02/2022
• Programas institucionais e o saneamento em comunidades isola-
das – 09/03/2022
• Parcerias e Solução para o Saneamento de Quilombos no Vale do
Ribeira – SP – 30/11/2022
• Tratamento de Esgotos em comunidades isoladas - Unidades Sa-
nitárias Individuais – 07/12/2022

Sobre o G9
Figura 2: residência local – autoria própria
Engenheiras Ana Lúcia Brasil, Eliana Irie Kazue Kitahara, Fá-

O G9 em parceria com a Prefeitura Municipal de Eldorado está con- tima Valéria de Carvalho, Roseane Maria Garcia Lopes, Sonia

siderando adotar como referência o modelo de gestão compartilhada Maria Nogueira e Silva e Vania Lucia Rodrigues; Alzira Amân-
de saneamento. cio Garcia, química; Francisca Adalgisa da Silva, socióloga;
O Sistema Integrado de Saneamento Rural – SISAR é um modelo Telma de Cassia dos Santos Nery, médica.
de gestão compartilhada dos serviços de saneamento, exitoso nos es-
tados do Ceará, Pernambuco, Piauí, sendo assim referência para o
É um Grupo de nove mulheres especialistas em saneamento, a
projeto piloto do G9, em 05 comunidades quilombolas do município
maioria aposentada da Sabesp, com o principal propósito em
de Eldorado. O SISAR é formado por uma federação de associações
comunitárias com o objetivo de garantir os sistemas através da gestão, atuar tecnicamente observando a legislação vigente, contribuin-

operação, manutenção, tratamento, por meio de cobrança de tarifas do para a ampliação da universalização do saneamento. Com
definidas pela própria comunidade. Cumprirá sempre as determina- base em pesquisas, o grupo identificou a potencialidade de
ções do estatuto social definida por representantes eleitos de todas as implantação de um projeto piloto de gestão compartilhada do
associações participantes do SISAR.
saneamento em Quilombos do Vale do Ribeira.
O projeto piloto em desenvolvimento, passível de contar com o
apoio da Subsecretaria de Recursos Hídricos e Saneamento, preten-

30 Saneas
ARTIGO
TÉCNICO

Celso Gonçalves Arado

Engenheiro Eletricista pela


Universidade de Mogi das
51 - lições aprendidas -
Cruzes – UMC, Pós Graduado
em Gerenciamento Ambiental
pela Universidade Brás Cubas
– UBC, MBA em Gestão
Trepanação da linha de
adução do sistema produtor
Empresarial pela Fundação
Instituto de Administração
–FIA/USP, cursando MBA em
Concessões e PPPs pela FESPSP,
atualmente é Coordenador
do Empreendimento Sistema
Produtor São Lourenço.
São Lourenço - PN 40
Resumo de engenharia por vezes inéditos, devido a magnitude da
Inaugurado 03 em abril de 2018, o Sistema Produtor São obra, pressões nas tubulações (principalmente no trecho
Lourenço, com seus 82 Km de linhas de adução, deman- de agua bruta), diâmetros envolvidos e topografia adver-
dou diversas atividades e processos para que seu sistema sa.
de veiculação de água fosse devidamente carregado e A operacionalização do Sistema de Adução de Água
operacionalizado. Particularmente o Sistema de Adução Bruta, que consta de uma Estação Elevatória de Baixa
de Água Bruta composto por duas estações elevatórias, Carga, Uma Estação Elevatória de Alta Carga, Sistema de
sistema de amortecimento de transientes hidráulicos, Amortecimento de Transientes Hidráulicos tipo R.H.O. e
adutora com diâmetro de 2.100mm com 50 Km de ex- uma linha de adutora com diâmetro de 2.100mm assen-
tensão, desnível geométrico de 330m, pressão de recal- tado em trechos de difícil acesso, elevações acima do con-
que de 370 mca (Classe de Pressão PN 40) e vazão de vencional - 330 metros geométricos e classe de pressão
até 6,4 m³/s, adicionado ao ineditismo destes níveis de PN40 fizeram desta empreita um verdadeiro desafio à En-
pressão e vazão, se configurou num grande desafio de genharia de Operação e manutenção como a substituição
engenharia para os técnicos do sistema. das válvulas esferas de bloqueio do sistema, que foram
Nesse contexto, após 01(um) ano de sua inauguração realizadas sem a parada ou descarregamento da adutora,
e plena operacionalidade, alguns novos desafios de ope- por meio da furação e bloqueio em carga na pressão de
ração e manutenção deste inédito sistema de pressuriza- 40 kgf/cm² - classe de pressão PN 40, que se configura
ção, bombeamento e armazenamento de água surgiram. na maior pressão de bloqueio em saneamento no Brasil
Um dos mais notórios foi a necessidade de substituição e sem registro de bloqueios análogos em saneamento no
das válvulas esferas de bloqueio do sistema, que foram mundo.
realizadas sem a parada ou descarregamento da adutora,
por meio da furação e bloqueio em carga na pressão de Objetivo
40 kgf/cm² - classe de pressão PN 40 - que se configura O objetivo deste Trabalho Técnico é descrever as lições
na maior pressão de bloqueio em saneamento no Brasil aprendidas na operação deste inédito sistema na subs-
e sem registro de bloqueios análogos em saneamento no tituição das válvulas esferas de bloqueio do sistema, que
mundo. foram realizadas sem a parada ou descarregamento da
PALAVRAS-CHAVE: Sistema Produtor São Lourenço, Siste- adutora, por meio da furação e bloqueio em carga na
ma de Adução, Carregamento de Adutoras pressão de 40 kgf/cm² - classe de pressão PN 40 – recorde
na metodologia.
Introdução
As obras do Sistema Produtor São Lourenço representa- Metodologia
ram um desafio enorme, mesmo para os experimentados Este Trabalho Técnico foi desenvolvido a partir de registros
profissionais da Sabesp, que se depararam com desafios e observações de todas as atividades executadas durante

Janeiro a Março de 2023 31


ARTIGO
TÉCNICO

a substituição das válvulas esferas de bloqueio do sistema, que foram e 02 de reserva (1 com velocidade fixa e 1 com velocidade variável).
realizadas sem a parada ou descarregamento da adutora, por meio Serão instalados 3 inversores de frequência. Por segurança 4 motores
da furação e bloqueio em carga na pressão de 40 kgf/cm² - classe de foram especificados para terem condições de partida com inversor de
pressão PN 40, bem como na elaboração e aplicação de procedimen- frequência, considerando o aproveitamento com troca de cabos do
tos técnicos, sempre considerando as normas técnicas e as boas práti- inversor da bomba ou motor que venha a apresentar algum problema.
cas operacionais do empreendimento Sistema Produtor São Lourenço. A bomba instalada apresenta as seguintes características:
• Vazão: 1,05 m³/s
DESCRIÇÃO GERAL DO SISTEMA DE ADUÇÃO DE ÁGUA BRUTA • Altura manométrica total: 30,0 m
• Instalação: Linha de recalque independente s/ válvulas
• Modelo: KSB SEZ 6-50, 60 Hz
• Diâmetro da conexão de descarga: 24”
• Diâmetro da Linha: 40”
• Rotação nominal: 892rpm
• Potência nominal do motor: 600cv

Estação Elevatória de Água Bruta de Alta Carga


Figura 1 – Esquemático de Adução e Distribuição do SPSL (EEAB-AC)
A Estação Elevatória de Água Bruta de Alta Carga é composta por 5
Sistema de Bombeamento e Recalque (cinco) conjuntos moto-bombas de alta carga BAC (4 em operação e 1
de reserva), com instalação em poço seco, de eixo horizontal com car-
caça bipartida, de velocidade fixa, de multi-estágio e com dois bocais
de sucção, posicionados em linha, com capacidade nominal individual
de 1,50 m³/s e capacidade total de 6,00 m³/s para altura manométrica
de 365,00
m. A Casa de Bombas de Alta Carga tem dimensões internas, em
planta, de 78,20 m de comprimento, por 18,20 de largura e 3,90m
de profundidade (abaixo da soleira de entrada) e abrigará as bombas
para enchimento inicial da adutora, bombas para resfriamento dos
Figura 2 – Identificação das Estruturas de Bombeamento
motores e bombas de incêndio.
Para manutenção neste sistema foram instaladas 05 válvulas de blo-
Estação Elevatória de Água Bruta de Baixa Carga queio DN= 750mm PN 40 de acionamento hidráulico, que permite o
(EEAB-BC) fechamento do tramo da bomba bloqueando este tramo do barrilhete
A Estação Elevatória de Água Bruta de Baixa Carga (EEAB-BC) está principal de adução DN=2.100mm – PN 40 que se conecta com a
localizada próximo à margem do reservatório Cachoeira do França, adutora propriamente dita. Esta válvula quando fechada possibilita a
no final da estrutura de concreto armado da tomada d’água e abri- manutenção do tramo da bomba de alta carga e seus equipamentos
gará oito bombas tipo turbina de eixo vertical instaladas em poço acessórios (válvula de controle shut-off, válvula de retenção, junta de
úmido. Tem a função de bombear as águas captadas na represa montagem, etc.). Este arranjo permite a manutenção isolada de cada
com eventuais sedimentos até o desarenador localizado numa pla- bomba sem a parada do sistema de adução.
taforma aproximadamente 15 m acima, onde é removida a areia e
a água isenta de sedimentos e encaminhada para o poço de sucção
da EEAB- AC.
A EEAB-BC do Sistema Produtor São Lourenço é equipada com 8
conjuntos motor-bombas de eixo vertical prolongado, sendo 06 em
funcionamento (4 com velocidade fixa e 2 com velocidade variável)

32 Saneas
e pressão de projeto de 45 bar.
O volume inicial de ar em cada RHO é mantido próximo a 40 m³
e é controlado automaticamente com a ação de medidor indicador /
transmissor de nível do tipo pressão diferencial, conforme esquema e
descrição abaixo, espaçados a cada 25 cm.
A conexão de cada vaso com o barrilete de recalque foi efetuada
por meio de ramal curto de 750 mm de diâmetro, com válvula de
retenção de fechamento rápido que possibilita o escoamento de água
do vaso para o barrilete e impede o fluxo contrário. O fluxo contrá-
Figura 3 – Foto da Vista Interna da EEAB- AC rio é efetuado pelo by-pass da válvula de retenção com diâmetro de
600 mm com placa de orifício multifuros, conforme dimensionamento
apresentado a seguir. As interligações dos RHOs com o barrilete de
recalque serão equipadas com válvulas de esfera com Ф750 mm de
diâmetro, para o isolamento do vaso do sistema, possibilitando opera-
ções de manutenção. Na tubulação de interligação foi instalada uma
válvula de descarga de Ф200 mm, para o esvaziamento da tubulação
e do RHO.

Figura 4 - Vista em Planta da EEAB- AC

Figura 6 – Sistema de Proteção contra transientes hidráulicos - RHOs

Subestação Elétrica 138/13,8KV/ 35 MVA


O Complexo de Captação de Água Bruta é dotado de uma Subesta-
ção Elétrica com linhas de transmissão alimentadoras de 42 Km de
extensão. É composta de 2 transformadores rebaixadores de tensão
de 34,5 MVA 138 KV para 13,8KV para alimentação dos CMBs de
Baixa Carga e Alta Carga. Constitui-se de seccionadores, para raios,
disjuntores em sistema duplo de redundância (Linha 1 e Linha 2) po-
dendo intercalar os transformadores ou trabalhar com o barramento
dividido (Trafo 1 + Trafo 2). Todo o Sistema é controlado por meio de
Figura 5 - Detalhe da Configuração de Montagem supervisório de automação – Sistema SCADA. É subdividida na parte
dos CMBs da EEAB- AC de Baixa Tensão (13,8KV) em dois ramais principais de alimentação:
Sala de painéis e Controle de Alta carga: Alimenta o sistema de
Sistema de Proteção contra Transientes Hidráulicos potência das Bombas de Alta Carga – 4 Cj. com potência de 9.100
A proteção do sistema de adução de água bruta contra os efeitos de- CV e Sala painéis e Controle de Baixa Carga: Alimenta o sistema de
letérios decorrentes de escoamentos transitórios (Transientes Hidráu- potência das Bombas de Baixa Carga – 5 Cj. com potência de 600 CV.
licos) é efetuada por meio de 5 vasos de pressão com volume total
unitário de 120 m³, dimensionados para pressões nominais de 40 bar

Janeiro a Março de 2023 33


ARTIGO
TÉCNICO

A adutora enterrada é assentada com envoltória de areia compac-


tada a 90% Proctor Normal, com recobrimento máximo da ordem de
3,5m sobre a geratriz superior do tubo, para atender às solicitações
de cargas, de vácuo interior, e deformação transversal do diâmetro
limitada conforme norma NTS. Para isolamento da adutora para fins
de manutenção, foi implantada apenas uma estrutura de bloqueio,
constituída de válvulas 100% estanques (nas duas direções), no início
do trecho ascendente da serra de Paranapiacaba.

Tabela 02 – Características da Tubulação de Adução de Água Bruta


Figura 7 – Vista da Subestação 138/13,8KV – 35MVA
DIÂMETRO Tipo
COMPRIMENTO ESPESSURA
TRECHO (mm / do Aço
(m) (mm/polegadas)
polegadas) Carbono

Tipo do Aço 2.100 mm 15,87mm


19.000 API 5L X65
Carbono 84” 5/8”

Estaca 900 –
Trecho III até 2.100 mm 12,7mm
2.920 API 5L X60
Chaminé de 84” 1/2”
Equilíbrio 01

Chaminé de
ASTM
Equilíbrio 01 2.100 mm 11,11mm
27.351 A-1018
até Chaminé 84” 7/16”
Gr36
de
Figura 8 – Vista Geral do Sistema de Captação de
Água Bruta e suas sub-unidades
As válvulas de admissão e expulsão de ar estão instaladas nos pon-
Adutora de Água Bruta por Recalque – Trecho I tos altos da adutora, para admissão de ar durante as operações de
A adutora de água bruta no trecho por recalque, situado entre a Es- descarga, e expulsão do ar do interior da tubulação durante a fase de
tação Elevatória de Água Bruta (EEAB) e a Chaminé de Equilíbrio de enchimento inicial, ou do ar acumulado durante a operação normal
Água Bruta nº 1 (CEQ-AB1), tem extensão total de 21,9 km. do sistema de adução.
As válvulas de admissão e expulsão de ar são de diâmetro nominal
mínimo de 200 mm (8”), de abertura rápida e fechamento lento.
As descargas ao longo da adutora são realizadas por intermédio
de ramais de no máximo 600mm (24”) de diâmetro e válvula para
bloqueio do tipo esfera, com “flange de espera”. A válvula de blo-
queio é dotada de by- pass com válvula de duas vias – uma via para a
atmosfera – de 25 mm (1”) de diâmetro.
O controle de vazão das descargas é realizado por intermédio da
instalação no “flange de espera” de válvulas de fluxo anular com acio-
namento manual. As válvulas de bloqueio serão operadas somente
após a instalação das válvulas de controle e da retirada do ar pelo
“bypass”; para evitar a ocorrência de erosões, as descargas deverão
possuir placa de impacto para dissipar a energia do jato d’água oriun-
do da manobra.
Devido às altas pressões do trecho por recalque, as válvulas de blo-
queio e os componentes dos dispositivos de admissão e/ou expulsão
de ar e de descarga foram especificados para a Classe de Pressão su-
perior a PN40 (40bar).
Figura 9 – Trecho percorrido pela Adutora de Água Bruta

34 Saneas
O traçado selecionado para implantação da adutora de água bruta impõe pressões que não superam os 80,0 mca em condições normais
a partir da EEAB, segue 7,0 km no sentido norte por estradas internas de operação, permitindo o uso de tubulação de aço com classes de
das fazendas Editora 3 e SAMA, no município de Ibiúna. Na sequên- pressão convencionais. Nesse caminhamento foram implantadas duas
cia, segue por vias vicinais públicas dos municípios de Ibiúna e de Ju- novas chaminés de equilíbrio para melhorar o desempenho hidráulico
quitiba, e atravessa duas vezes o Ribeirão Laranjeiras; após a primeira da adutora de água bruta: a CEQ-AB2, localizada em ponto alto inter-
travessia, entra por 5,8 km no município de Juquitiba e, depois da mediário do trecho, e a CEQ-AB3, localizada imediatamente a mon-
segunda, o traçado retorna para Ibiúna até a estrada Verava. tante do RCAB. A adutora enterrada foi assentada com envoltória de
O traçado adotado tem cerca de 4,0 km a mais que outro estuda- areia compactada a 90% Proctor Normal, com recobrimento máximo
do por estradas particulares e faixas de servidão, dentro das fazendas da ordem de 3,5m sobre a geratriz superior do tubo, para atender as
SAMA e Meandros, no município de Ibiúna. Entretanto, mesmo com solicitações de cargas, de vácuo interior, e deformação transversal do
um custo maior, a Sabesp optou pela implantação da adutora em vias diâmetro limitada conforme norma NTS.
vicinais públicas do município de Juquitiba para evitar desapropriações As válvulas de admissão e expulsão de ar foram instaladas nos pon-
e interferências com a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) tos altos da adutora, para admissão de ar durante as operações de
existente na fazenda Meandros. Continuando pela estrada Verava, com descarga, e expulsão do ar do interior da tubulação durante a fase de
perfil íngreme, predominantemente sinuoso e com precário estado de enchimento inicial, ou do ar acumulado durante a operação normal
conservação, a adutora alcança o alto da serra de Paranapiacaba, totali- do sistema de adução. As válvulas de admissão e expulsão de ar têm
zando 21,9 km de extensão e interligando a chaminé CEQ-AB1. diâmetro nominal mínimo de 200 mm (8”), ser de abertura rápida e
As características principais da adutora de água bruta por recalque são: fechamento lento.
• Material do tubo: aço do tipo ASTM A1018 Gr60/65; As descargas foram instaladas nos pontos baixos do perfil da aduto-
• Diâmetro do tubo: 2.100 mm (84”); ra, para descarga de água na limpeza e lavagem da tubulação, duran-
• Extensão total da adutora: 49,3 km; e te a fase de pré-operação, ou no esvaziamento de trechos para fins de
• Espessuras da chapa: limpeza e/ou manutenção. Para o trecho por gravidade da adutora de
• 19.000 m em espessura de 15,8 mm (5/8”), água bruta, as válvulas de bloqueio e os componentes dos dispositivos
• 2.920 m em espessura de 12,7 mm (1/2”), de admissão e/ou expulsão de ar e de descarga deverão ser especifica-
• 27.351m em espessura de 11,11 mm (7/16”) dos para Classe de Pressão superior a PN16 (16 bar).
Para transmissão de dados e imagens foram instalados cabos de O controle operacional das vazões aduzidas é realizado apenas pelo
fibra óptica com linha “Dual” no interior de dutos de 100 mm (4”), sistema liga/desliga dos conjuntos motobomba da Estação Elevatória
diretamente enterrados ao longo do trecho por recalque da adutora de Água Bruta (EEAB), com monitoramento a partir do controle de
de água bruta, com profundidade segura em relação ao nível do solo níveis no poço de sucção das bombas, nas Chaminés de Equilíbrio de
e com uma fita de advertência instalada a 1,0 m de profundidade Água Bruta (CEQ-AB1 e CEQ-AB2), nos Reservatórios de Compensa-
para prevenir danos aos cabos em caso de manutenção da adutora e/ ção de Água Bruta (RCAB) e na vazão afluente à Estação de Tratamen-
ou outros serviços. to de Água (ETA) Vargem Grande. O traçado selecionado para implan-
tação da adutora de água bruta, a partir da CEQ- AB1, continua rumo
Adutora de Água Bruta por Gravidade – Trecho II norte pela estrada Verava e por estradas secundárias do município de
A adutora de água bruta no trecho por gravidade, entre a Chaminé Ibiúna; passa pelo município de Cotia por estradas vicinais; e segue
de Equilíbrio de Água Bruta nº 1 (CEQ- AB1) e os Reservatórios de por faixa de servidão no município de Vargem Grande Paulista, até
Compensação de Água Bruta (RCAB) da ETA Vargem Grande, tem adentrar na gleba da ETA Vargem Grande.
extensão total de 28,3 km. Percorre os municípios de Ibiúna, Cotia e A adutora passa inicialmente por dois pequenos núcleos rurais: bairro
adentra em Vargem Grande Paulista até a área da ETA. A tubulação foi dos Paulos e bairro Verava, e, em seguida, atravessa áreas com atividade
constituída por tubos de aço carbono do tipo ASTM A283 GrD, com de reflorestamento. Adiante, passa pelo núcleo rural Carmo Messias e
2.100 mm (84”) de diâmetro, sendo 8,1 km com espessura de 15,8 depois pelo bairro da Campininha, ainda em Ibiúna, em região com
mm (5/8”) e 20,2 km com 12,7 mm (1/2”). ocupação predominantemente rural, com chácaras e cultivos de hor-
O trecho por gravidade percorre o planalto de Ibiúna, em cotas que taliças. Em Cotia, passa pelo bairro Água Espraiada e ocupações peri-
variam de 870,0 a 945,0 m. Esse perfil topográfico suave do traçado -urbanas de Caucaia do Alto ao longo da estrada dos Pereiras.

Janeiro a Março de 2023 35


ARTIGO
TÉCNICO

O trecho da adutora por gravidade atravessa os fundos de vale do tamente enterrados ao longo do trecho por gravidade da adutora de
rio Sorocabuçu, do córrego dos Grilos, do rio Sorocamirim e do Ribei- água bruta, com profundidade segura em relação ao nível do solo e
rão dos Pereiras, com traçados suaves e sem grandes desníveis topo- com uma fita de advertência instalada a 1,0 m de profundidade para
gráficos. Todas as travessias foram realizadas sob os cursos d’água, prevenir danos aos cabos em caso de manutenção da adutora e/ou
respeitando as distâncias mínimas estabelecidas pelo DAEE entre a outros serviços.
geratriz superior do tubo e o fundo do curso d’água.
A travessia da adutora projetada sobre a via férrea da ALL nas proxi- Válvulas de Bloqueio
midades da ETA Vargem Grande, com 70,0 m de extensão e diâmetro Do perfil piezométrico da Adutora de Água Bruta, depreende-se que,
de 2.100 mm (84”), foi realizada com a utilização de tubos de aço após as válvulas esféricas de bloqueio da EEAB AC a próxima estrutura
ASME AS- 516 Gr.70 com espessura de 19,0 mm (3/4”). de bloqueio encontra-se na estaca 977,67 na distância de 19,5 Km
As características principais da adutora de água bruta por gravidade são: da captação, necessitando o descarregamento de pelo menos 8.750
• Material do tubo: aço do tipo ASTM A283 GrD; m³ de água.
• Diâmetro do tubo: 2.100 mm (84”); Portanto, para uma operação de retirada de uma das válvulas de
• Extensão total da adutora: 28,3 km; bloqueio, seria necessário, além do fechamento da estrutura da estaca
• Espessuras da chapa: 8,1 km com 15,8 mm (5/8”), e 20,2 km 977,67 – impedindo o bombeamento operacional do sistema, o esva-
com 12,7 mm (1/2”). ziamento parcial da adutora, com um tempo mínimo de parada – en-
Cabos de fibra óptica com linha “Dual” para transmissão de dados tre esvaziamento, realização da troca e o enchimento lento e gradual
e imagens serão instalados no interior de dutos de 100 mm (4”), dire- do tramo, de pelo menos 04 (quatro) dias de trabalhos ininterruptos.

Figura 10 – Perfil Piezométrico da Adutora de Água Bruta - SPSL

36 Saneas
Figura 11 - Detalhe do Sistema de Bloqueio da Tubulação de Adução de Água Bruta

Necessidade de trepanação do tramo de


750mm – Bombas EEAB AC
Nota: Neste trabalho não nos cabe apontar fornecedor/fabricante
A ou B, mas cabe-nos destacar o grande profissionalismo e dedicação
desses profissionais envolvidos na verificação e análises e a pronta res-
posta das empresas envolvidas.
Durante a fase de pré-comissionamento e operação assistida da
EEAB AC, verificou-se algumas anomalias de funcionamento nas vál-
vulas esferas de controle e shut-off da referida elevatória.
Dada a complexidade do sistema e das unidades que compõe todo
o funcionamento e automatismo, lançou-se mão de uma detalhada
análise utilizando-se da ferramenta FMEA - Failure Mode And Effect
Figura 12 – Detalhe construtivo das válvulas esferas
Analysis ou Análise de Modo e Efeito de Falha, onde se verificou que
de bloqueio da estação
o problema se encontrava realmente na válvula esfera. Mais acurada-
mente se apurou um problema congênito na bucha de deslizamento
e sustentação da esfera da válvula que sofrera desgaste prematuro, Solução para as válvulas: Retirar as válvulas de controle e encami-
impedindo o pleno funcionamento da mesma. nha-las à fábrica para substituição da bucha de deslizamento e susten-
tação da esfera da válvula que sofrera desgaste prematuro, por uma
bucha de material adequado.
Ocorre que as válvulas de controle e as válvulas de bloqueio da
EEAB AC são exatamente as mesmas, então seria necessário substituir
os anéis também das válvulas de bloqueio com a parada total do sis-
tema por pelo menos 4 (quatro) dias.
Após muita discussão técnica e pesquisa de mercado optou-se por
furação e bloqueio em carga, com o desafio de bloqueio de uma pres-
são da ordem de 400 MCA ou 40 kgf/cm²- que se configura na maior

Janeiro a Março de 2023 37


ARTIGO
TÉCNICO

pressão de bloqueio em saneamento no Brasil e sem registro de blo-


queios análogos em saneamento no mundo.

Da furação e bloqueio em carga


Da verificação do ponto de bloqueio, constatou-se que o melhor
local para suporte de logística e movimentação de materiais seria no
lado de fora da EEAB AC no ponto de conexão do tramo de 30” no
Barrilhete da adutora propriamente dito.
Também foi necessário realizar um extenso estudo dos procedimen-
tos e qualificação do processo de soldagem para garantir que os es-
forços axiais e radiais que são necessários ao bloqueio mecânico sejam
suportados pelo tee bi-partido.

Figura 15 – Corpo de prova de certificação dos procedimentos e


qualificação dos processos de soldagem

Figura 13 – Detalhe em planta da configuração dos tramos de saída das


bombas - EEAB AC

Figura 16 – Preparação e verificação do ponto de


instalação do Tee bi-partido

Figura 14 - Detalhe aproximado do ponto de trepanação e


bloqueio das bombas - EEAB AC

Figura 17 – Detalhe da verificação prévia para instalação do tee-bipartido

38 Saneas
Sobre a válvula gaveta é instalada a ferramenta de corte (serra-co-
po) e iniciado o processo da furação em carga propriamente dito. Essa
ferramenta é uma serra copo e vídia cujo avanço é controlado milimé-
tricamente de forma a garantir o perfeito procedimento de furação.
Este processo leva até 08 (oito) horas.

Figura 18 – Processo de soldagem do tee-bipartido

Início dos trabalhos de Trepanação


Uma vez montados e ensaiados os tees, é iniciada a furação e o blo-
queio em carga. Sobre o Tee bipartido é instalada uma válvula gaveta
de acionamento hidráulico que será utilizada para as trocas necessá-
rias das ferramentas de corte e bloqueio.

Figura 21 – Instalação da ferramenta de corte sobra


a válvula gaveta hidráulica

Figura 19 - Válvula gaveta de acionamento hidráulico

Figura 22 – Teste hidrostático do conjunto montado

Importante passo após a montagem do conjunto e antes de se ini-


ciar a furação é o teste hidrostático do conjunto com uma pressão 1,5
vezes superior à pressão de trabalho. Após é iniciado o processo de
furação efetivamente.
Após o avanço da ferramenta de corte conforme régua de medi-
Figura 20 – Instalação da válvula gaveta de acionamento
ção agregada à máquina, certifica-se que a furação foi concluída. O
hidráulico para as manobras de troca das ferramentas
processo de retirada da ferramenta de corte consiste em recuar a fer-

Janeiro a Março de 2023 39


ARTIGO
TÉCNICO

ramenta para o nicho da máquina e o fechamento da válvula gaveta


de bloqueio. A broca guia traz consigo a peça cortada (chamada no
jargão de campo de bolacha).

Figura 25 – Preparação do braço articulável que tem a


função de inserir a ferramenta e realizar um giro de 90° fazendo com
que a borracha solidária à uma placa metálica de ancoragem se fixe
Figura 23 – Detalhe da desmontagem da ferramenta de corte e uniformemente nas paredes do tubo perfazendo a vedação,
da broca-guia que traz consigo a peça cortada - análogo à uma lentilha de válvula borboleta
chamada no jargão de campo de “bolacha”.

No processo de bloqueio é realizada a substituição da ferramenta


Após o término de corte e a retirada da bolacha, iniciar-se-á o pro- de corte pelo braço articulado e remontado sobre a válvula gaveta.
cesso de bloqueio que é realizado por uma ferramenta com braço ar- Neste método o braço hidráulico é inserido e alocado no interior da
ticulável que por meio de uma vedação em borracha nitrílica (Buna N tubulação realizando-se o bloqueio.
ou NBR) que é uma borracha sintética obtida da polimerização de Bu-
tadieno com o Nitril Acrílico, específica para esta função de vedação.
Nota: O termo Buna vem das iniciais de Butadieno e Nitrium, maté-
ria prima e catalisador no processo de fabricação original.
Esse braço articulável tem a função de inserir a ferramenta e realizar
um giro de 90° fazendo com que a borracha solidária à um prato de
metal se fixe uniformemente nas paredes do tubo perfazendo a veda-
ção, análogo à lentilha de uma válvula borboleta.

Figura 26 - Braço articulável de bloqueio pronto


para ser instalado e inserido

Figura 24 - Vedação em borracha nitrílica (Buna N)


específica para a vedação.

40 Saneas
Figura 27 – Desmontagem da válvula de bloqueio Figura 29 – Reinstalação da nova válvula de bloqueio retrabalhada

O procedimento de bloqueio foi certificado por meio da queda de Retirada do Bloqueio Hidráulico, da Válvula Gaveta e
pressão. Isto atesta que o mesmo atuou corretamente e assim iniciou- Tamponamento Definitivo
-se o processo de substituição da válvula, que é o objetivo precípuo Após o procedimento de troca da válvula esfera de bloqueio, que
de toda a atividade. é o objetivo precípuo de toda a operação, inicia-se a retirada da fer-
ramenta de bloqueio hidráulico, a desmontagem da Válvula Gaveta
Hidráulica e realiza-se o tamponamento provisório e o tamponamento
definitivo com flange cego.
A retirada da ferramenta de bloqueio hidráulico se dá com o re-
cuo do equipamento para o nicho e após é realizado do fechamento
da válvula gaveta. Este nicho é novamente desmontado e uma nova
importante etapa inicia-se que é o tamponamento provisório para a
retirada da válvula gaveta. Esse tamponamento provisório é um know-
-how da empresa que operacionaliza a trepanação e consiste em uma
placa (tipo flange cego) e gaxetas de borracha que são inseridas por
pressão no tee bipartido e parafusadas, travando com chavetas em
rasgos pré-moldados na placa de tamponamento.

Figura 28 – Nesta foto verifica-se a desmontagem da válvula


de bloqueio e o flange do tramo interligado na adutora
completamente aberto e estanque.

Janeiro a Março de 2023 41


ARTIGO
TÉCNICO

Conclusão
Verificamos neste trabalho, a questão da operacionalização de novas
estruturas que vem sempre acompanhado de novos desafios, conhe-
cimento agregado e lições aprendidas. Nesse contexto, após 01(um)
ano de sua inauguração e plena operacionalidade do SPSL, alguns
novos desafios de operação e manutenção deste inédito sistema de
pressurização, bombeamento e armazenamento de água surgiram e
são vencidos com a sinergia das equipes envolvidas.
Figura 30 – Tampa de bloqueio provisório (1) desmontada e Como vimos a substituição das válvulas esferas de bloqueio do
(2) montada na ferramenta de inserção sistema, que foram realizadas sem a parada ou descarregamento da
adutora, por meio da furação e bloqueio em carga na pressão de 40
kgf/cm² - classe de pressão PN 40 - que se configura na maior pressão
de bloqueio em saneamento no Brasil e sem registro de bloqueios aná-
logos em saneamento no mundo, configurou-se num grande sucesso
e que possibilitou a correção das anomalias encontradas sem qualquer
impacto ao pleno funcionamento do Sistema Produtor São Lourenço,
que hoje já atende perto de dois milhões de habitantes.

Figura 31 – Tampa de bloqueio provisório já inserida no tee bi-partido

Este processo provisório permite a desmonagem da válvula gaveta


e o tamponamento definitivo finalizando assim o processo de furação
e bloqueio em carga. Figura 33 – Parte das Equipes envolvidas nos trabalhos de
trepanação da EEAB AC - SPSL

Referências bibliográficas
1. Arquivo Fotográfico das Obras do SPSL – TE-CCV
2. Arquivo Fotográfico Engº Celso Gonçalves Arado - SABESP

Figura 32 – Finalização do processo de trepanação com a instalação do


flange cego definitivo.

42 Saneas
ARTIGO
TÉCNICO

Arnaldo Boa Sorte de Oliveira

Consultor Sênior na Empresa


Norte Sul Hidrotecnologia.
Operação otimizada de sistema
Ricardo Pera Moreira Simões de coleta de esgotos
Diretor Executivo da empresa
Norte Sul Hidrotecnologia.

Abstract Com as informações relativas as ocorrências, idade das


The operation of sewage collection systems is complex redes e materiais, é possível uma classificação quanto ao
where several factors contribute to risks and problems in risco estrutural.
the maintenance operation. This article proposes a risk Para o risco de extravasamento e refluxo, utiliza-se as
classification methodology for the various factors influen- informações das ocorrências de extravasamentos e reflu-
cing the performance of the collection system, as well as xos de esgotos em época de chuvas cruzando com dados
mitigating actions. de intensidade de chuvas.
PALAVRAS-CHAVE: Risco, assoreamento, erosão, extrava-
samento. 3.1 Risco de assoreamento:
O risco de assoreamento é avaliado em função da velo-
1. Introdução: cidade de escoamento, onde em algum período do dia
A operação de sistema de coleta de esgoto visa manter o deveria possibilitar o arraste do material acumulado em
desempenho do sistema através de rotinas de limpeza e horário de menor vazão.
inspeções; já a manutenção está relacionada ao reparo, a Desta forma, para a construção da matriz de risco, será
reabilitação ou substituição da infraestrutura. Assim cons- considera quatro categorias de risco:
tituem procedimentos de operação de um sistema de co- • Grau máximo: para trechos de rede com declividade
leta de esgotos, as ações de inspeção e limpeza de coleto- invertida;
res, que por sua vez geram demandas para manutenção • Grau elevado: para trechos de redes que não aten-
que se somam à rotina de desobstruções dos coletores. dem ao critério de autolimpeza (velocidade de esco-
Trechos a serem inspecionados na rotina da operação amento menor que 0,6 m/s);
devem ser selecionados em função do risco associados as • Grau moderado: para trechos de redes cuja declivida-
características da infraestrutura de coleta. de possibilita uma velocidade entre 0,6 m/s e 1,2 m/s;
• Grau baixo: para trechos de rede cuja declividade
2. Objetivo possibilita velocidades acima de 1,2 m/s.
Pouco se tem dito, uma vez instalado o sistema de coleta A equação base para definição do risco de assorea-
de esgotos, de como lidar com os principais problemas mento será representada pela equação de Gauckler-Man-
que o operador enfrenta no dia a dia da operação. Este ning-Strickler (fonte M. SAATÇI):
trabalho tem como objetivo cobrir esta lacuna.

3. Metodologia para abordagem: Onde: Q = vazão em m³/s; K = coeficiente de Strickler


Inicialmente obtém-se informações técnicas sobre o siste- em m¹/²/s; A = seção de escoamento em m²; Rh = raio
ma, sendo elas o Cadastro Técnico, o Cadastro Comercial hidráulico em m e i = declividade em m/m.
e dados relativos às ocorrências nos coletores nos últimos Adaptando a equação, definimos as declividades mínimas
12 meses. que garantissem as velocidades limites de cada faixa de risco:
Com as informações cadastrais de cada trecho, simulan-
do uma operação a meia seção, é possível a classificação
de risco para os fenômenos do assoreamento, septicidade,
erosão e escoamento aerado em cada trecho de rede.

Janeiro a Março de 2023 43


ARTIGO
TÉCNICO

Onde: V = Velocidade de escoamento em m/s; K = Coeficiente de


Strickler para os diversos materiais das tubulações (Tubo cerâmico: 80
/s; Tubo PVC: 125 /s; Tubo de concreto: 75 /s; Aço: 100 /s; Ferro Fun-
dido: 70 /s; Fibrocimento: 95 /s); Rh = Raio hidráulico para meia seção
(Ꝋ = 180°).
Através da aplicação das fórmulas, pelos materiais e diâmetro utiliza-
dos no Brasil, obtém-se os seguintes resultados, nos quadros 1, 2 e 3.

Quadro 4 – Risco de erosão

3.3 Risco de escoamento aerado


Em velocidade extremamente alta pode ocorre a mistura do ar com
a massa líquida aumentando a área molhada na tubulação causando
o escoamento bifásico ar e líquido, que possuem propriedades físicas
diferentes sendo imiscíveis. Com o escoamento aerado, ocorrem per-
Quadro 1 – Risco de assoreamento de material cerâmico
turbações, podendo ocasionar fissuras nas tubulações e deslocamento
de juntas, que com o tempo vão crescendo até provocar colapso da
tubulação.
Assim, todo trecho de rede com declividade igual ou maior que
0,03 m/m deve ser analisado o risco para escoamento aerado.

Quadro 2 – Risco de assoreamento de material PVC

Figura 1: Escoamento aerado.

A análise será feita comparando-se a velocidade crítica, que seria a

Quadro 3 – Risco de assoreamento de material cimento velocidade a partir de onde iniciaria a mistura ar e água e a velocidade
real de escoamento do trecho analisado.
3.2 Risco de erosão mecânica A velocidade crítica é determinada pela equação:
O risco de erosão mecânica está associado a elevadas velocidades de
escoamento.
A erosão mecânica pode afetar a capacidade estrutural de tubula-
ções e poços de visita com a possibilidade de descolamento de mate- Onde: Rh = raio hidráulico em m e g = aceleração da gravidade
riais provocando obstruções a jusante e infiltrações de esgoto no solo. em m/s²
Consideramos risco elevado para os trechos onde a velocidade seja
superior a 5 m/s; moderada para velocidade entre 3 e 5 m/s e baixo
para velocidades inferiores a 3 m/s conforme quadro 4.

44 Saneas
A velocidade do sistema será determinada por: Onde o perímetro molhado será fornecido pela fórmula:

Onde: n = coeficiente de manning; Rh = raio hidráulico em m e i = A largura da superfície molhada calculada por:
declividade em m/m.
O escoamento aerado, mesmo para velocidades acima da crítica,
ocorre quando a lâmina de água é superior a 50% do diâmetro.
Assim, grau de risco será definido em função da altura da lâmina Assim, a classificação do risco de corrosão por septicidade terá
de água. como base a concentração “Z” de gás sulfídrico conforme quadro 5:

“Z” (Indicador de
Risco de corrosão
concentração de H2S)

>15.000 Muito elevado

10.000 a 15.000 Elevado

Quadro 5 – Risco de escoamento aerado 5.000 a 10.000 Moderado

< 5.000 Baixo


3.4 Risco de corrosão por septicidade
A septicidade em sistemas de coleta de esgotos está associada à for-
mação de gás sulfídrico. 3.5 Risco estrutural
Nos trechos iniciais dos coletores, o esgoto ainda fresco, possui Falhas estruturais são responsáveis pelas ocorrências os colapsos e
concentrações de oxigênio. À medida que escoa no interior da tu- da maioria dos problemas de obstruções. Sendo pouco viável, a ins-
bulação, vai acentuando o consumo de oxigênio para dissolver a peção periódica completa do sistema, se faz necessário definir uma
matéria orgânica até ficar sem oxigênio dissolvido, situação favorável metodologia para identificação dos trechos a inspecionar. Obstruções
à formação de gás sulfídrico. Este gás associado a umidade forma o pontuais de coletores são indicadores de problemas estruturais; porém
ácido sulfúrico (H2SO4), responsável pela corrosão de concreto, do coletores de grandes seções, mesmo com problemas estruturais, não
cimento amianto e dos metais. apresentam obstruções até o colapso, assim, a classificação de risco
A septicidade é bastante recorrente em tubulações a montante estrutural deve ter metodologias distintas em função dos diâmetros.
de recalque de estações elevatórias pela ausência de arejamento Para tubulações de até 300 mm, o risco estrutural terá como base
no recalque. as ocorrências de obstruções registradas ao longo de 12 meses, espa-
A quantidade de sulfetos presentes nos coletores é determinada cializadas sobre a base cadastral, classificando o risco por trecho entre
pelo indicador proposto por Pomeroy (apud MENDONÇA, 1985), atra- poços de visita, conforme o quadro 6 a seguir.
vés da fórmula:
Diâmetros Risco estrutural

150 a 300 mm -
Acima de 8 obstruções/ano Máximo
Onde: DBO = demanda biológica de oxigênio em mg/l; p = períme-
De 5 a 8 obstruções/ano Elevado
tro molhado em m; b = largura da superfície molhada em m; i = de-
clividade do trecho em m/m e Q = vazão máxima de esgoto em m³/s. De 2 a 4 obstruções/ano Moderado

O perímetro molhado e a largura da superfície molhada dependem Até 1 obstrução/ano Baixo


do ângulo ϴ em radianos, que é o ângulo formado pela seção molha- Quadro 7 – Risco estrutural para redes até 300 mm
da em relação ao centro do tubo, onde para seu cálculo usaremos a
equação: Tubulações com diâmetro acima de 400 mm, deve se considerar
o material de construção e a idade, com destaque para as principais
características:

Janeiro a Março de 2023 45


ARTIGO
TÉCNICO

• Coletores em alvenaria: idade elevada, a argamassa utilizada na de areia com remoção dos detritos através de equipamento de vácuo.
construção sensível a corrosão; Para trechos de rede até 300 mm classificados com risco máximo e
• Coletores em cimento, cimento amianto e ferro fundido: sensí- elevado, a produtividade a considerar é
veis a corrosão por ácido sulfúrico, além dos cloretos; 15 m/hora por equipe de equipamento combinado hidrojateamen-
• Coletores em cerâmica: resistentes a corrosão, ponto fraco as- to e vácuo, com periodicidade anual. Para coletores acima de 300
sociado ao assentamento negligente, principalmente quanto às mm, com risco máximo e elevado, deverá ser feito inspeção anual
juntas deslocadas; verificando o nível de assoreamento através de batimetria com haste
• PVC/PAD: resistentes a corrosão, ponto fraco associado ao assen- de sondagem.
tamento negligente.
3.7.2. Tratamento para risco de erosão e escoamento
aerado
A abordagem para risco de erosão e escoamento aerado será através
de inspeções visuais em poços de visita e por circuito interno de TV
nas tubulações nos trechos classificados com risco máximo e elevado,
avaliando o estado de tais estruturas, com periodicidade anual.
A produtividade para inspeção de poços de visita é 20 minutos
Quadro 8 – Risco estrutural para coletores maiores que 400 mm. por poço de visita por equipe considerando os deslocamentos entre
trechos.
3.6 Risco de extravasamento e refluxo: A produtividade para inspeção através de circuito interno de TV é
Definimos como risco de extravasamento e refluxo, o risco associado de 50 m por hora, em redes previamente limpas.
a contribuição parasitária de águas pluviais nas redes coletoras de
esgotos. 3.7.3. Tratamento para risco de corrosão
Em fortes chuvas, nos trechos de topografia mais plana, ocorrem o por septicidade
extravasamento pelos poços de visita e refluxos em imóveis. A corrosão afeta principalmente as estruturas de concreto e metálicas,
De forma a priorizar os trechos de rede a serem investigados, classi- assim o risco deve ser mitigado através de inspeções periódicas em
ficamos o risco de extravasamento e refluxo por águas parasitárias em tais estruturas.
função da intensidade de chuvas, conforme quadro 8. Nos trechos classificados com risco máximo e elevado, as inspeções
em poços de visita e estações elevatórias, bem como inspeções através
de circuito interno de TV nos trechos de tubulação serão anuais.
Para linhas em materiais metálicos, as inspeções devem ser fei-
tas anualmente, preferencialmente pelo método de memória mag-
nética de metal, identificando vazamentos, corrosão e trincas de
forma qualitativa.
Para trechos a jusante das linhas de recalque, o poço de lançamento
deverá ser objeto de inspeções visuais numa periodicidade anual, jun-
tamente com inspeção por circuito interno de televisão para trechos
em concreto eminentemente a jusante do poço de lançamento, que
servirá de amostra para os trechos subsequentes.
Quadro 9 – Risco de extravasamento e refluxo
em função da intensidade das chuvas
3.7.4. Tratamento para risco estrutural
A estratégia baseia-se em inspeções visuais dos poços de visita e filma-
3.7 Tratamento dos riscos gens dos trechos classificados com risco máximo e elevado visando a
3.7.1. Tratamento para risco de assoreamento determinação das patologias existentes.
Para a remoção dos detritos depositados ao longo das tubulações é Para risco máximo, as inspeções devem ser anuais, para risco ele-
utilizado equipamento de hidrojateamento para desmonte dos bancos vado a cada 2.

46 Saneas
É extremamente conveniente que, uma vez identificado um proble-
ma estrutural, seja tomada as providências para elimina-lo, sob pena
de perpetuar seu efeito.

3.7.5. Tratamento para risco extravasamento e


refluxo:
Delimitamos a microbacia drenante para tais trechos críticos e apli-
camos a cada 3 anos injeção de fumaça na rede coletora a partir do
poço de visita a jusante do trecho susceptível ao extravasamento até a
cabeceira da microbacia, identificando conexões da rede coletora com
galerias de águas pluviais e outras contribuições parasitárias.

4. Conclusão
Os diagnósticos estruturais, hidráulicos e ambientais aqui preconiza-
dos tem o objetivo de possibilitar ações de engenharia para gerar valor
pela via da boa operação e manutenção.

Referências Bibliográficas
MENEZES F. C. M. F e COSTA A. R. Sistemática de Cálculo para o
Dimensionamento de Galerias de Águas Pluviais: Uma Abordagem
Alternativa, 2012.
M. SAATÇI, Sanitary and Storm Sewer Design – A direct Algebraic
Solution, Marmara University, Istanbul – Türkiye
VEIGAS, T. A. P. Contribuição para a optimização da operação de sis-
temas de drenagem de águas residuais. 2007. Dissertação – Universi-
dade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2007.
Mendonça S R: Critério de Projeto para Evitar Formação de Odores
nos Coletores de Esgotos de Grande Diâmetros. Revista DAE, n° 142
– 1985.

Janeiro a Março de 2023 47


PONTO DE
VIVÊNCIAS
VISTA

Paixão pelo meio ambiente,


de pai para filho (e vice-versa)

O
que um pai pode ter em comum com um fi- que chamavam “vagão da locomotiva do Brasil” em alta
lho? No caso de Paulo Massato Yoshimoto, velocidade de desenvolvimento econômico, intensa ativi-
engenheiro e administrador especialista em dade industrial, muitas ofertas de empregos e altas taxas
saneamento básico e ambiental, um destes pontos é a de crescimento populacional.
paixão pelo meio ambiente. “São Paulo estava com 5,9 milhões de habitantes. O
Massato atua há mais de 45 anos no setor de sanea- destino foi generoso, entre tantas ofertas de emprego,
mento e foi uma das principais referências profissionais me conduziu para as portas da Emplasa, a Empresa Me-
para o filho Shinji Carvalho, que é analista de progra- tropolitana onde iniciei o aprendizado do Planejamento
mas, líder de Advocacy do Parlamento Jovem Mundial da da Grande São Paulo, especificamente na superintendên-
Água, Fellow da Bertha Foundation e mestre em Estudos cia de Saneamento e Recursos Hídricos, sob a regência
de Desenvolvimento pelo Graduate Institute de Genebra. do maestro engenheiro, professor Nelson Luiz Rodrigues
Essa paixão começou há mais de 50 anos. Em meados Nucci. Orquestra de formidáveis humanistas, profissionais
da década de 70, em pleno regime militar. Com 23 anos, que conceberam a Solução Integrada de Esgotos total-
recém-saído da Escola de Engenharia de Lins, Massato mente articulada com a visão global de ordenamento do
aportou, assim como outros milhares de brasileiros, no espaço metropolitano”, conta Massato.

48 Saneas
O contexto era de desenvolvimento no setor: crescimento do tecido na operação do sistema adutor metropolitano, na manutenção das
urbano ocupando as áreas planas, eixo leste-oeste. Ao norte e ao sul, as redes de água e coleta de esgoto, no controle da portabilidade, no
“caixas d’água” para abastecer a metrópole. A noroeste, separado pela faturamento, na gestão comercial, nas técnicas do atendimento aos
serra da Cantareira, o local de tratamento dos esgotos que seriam condu- clientes presencial e telefônico, no planejamento metropolitano, entre
zidos através de um túnel emissário, iniciando na confluência dos rios Tie- outras áreas.
tê e Pinheiros, passando sob o pico do Jaraguá até o Vale do rio Juqueri. Em sua vivência na Sabesp, Massato esteve à frente dos principais
“A Sabesp apresentou outra alternativa, o Sanegran. Foram me- projetos de inovação desenvolvidos pela empresa, superou graves in-
moráveis os embates técnicos em nobres fóruns como Assembleia terferências climáticas, como a crise hídrica de 2014, sendo referência
Legislativa, Instituto de Engenharia e muitas outras arenas. Corin- para as demais companhias de saneamento.
thians versus Palmeiras, apaixonantes as retóricas do paraense João “Os mananciais secaram dia a dia, por meses sem chuva alguma.
Luiz Barreiros de Araújo, do piauiense Rodolfo José da Costa e Silva, Com a presidenta Dilma Pena e uma equipe comprometida com a
ponderações didáticas do paulistano Nelson Nucci. Derrota amarga. segurança de 22 milhões de moradores da Grande São Paulo, com
Vitória dos defensores da tese das grandes obras”, relembra Massato. conhecimento acumulado de anos de militância na operação, con-
Na arena Emplasa, o engenheiro pontua que um golaço, tal qual cebemos, projetamos e construímos, emergencialmente, em tempos
a do Pelé na decisão da Copa de 1958, foi a promulgação da Lei recordes, centenas de obras complexas e de grande porte”, relembra.
de Proteção aos Mananciais: Leis números 898/1975, e 1172/1976. Neste período, foram adotadas estratégias como utilizar “volume
“Pensamento inovador de preservar a qualidade das águas através do morto” das represas do Cantareira, adutoras/ elevatórias para rever-
disciplinamento do uso e da ocupação do solo das bacias hidrográfi- sões de água entre represas, adutoras de água tratada para trans-
cas, densidade populacional compatível com a capacidade de autode- ferências entre sistemas produtores, ações para gestão da demanda
puração dos mananciais, eureka”, ressalta o engenheiro. com técnicas do uso racional de água, programa de bônus e ônus,
comunicação transparente. Em 2016 , já com o presidente Jerson Kel-
Uma trajetória de sucesso man, as chuvas retornaram, junto a um sentimento gratificante de
Embora o interesse pelo setor tenha surgido há mais tempo, Massa- que a equipe conseguiu manter o abastecimento de água potável.
to iniciou a carreira na Sabesp em março de 1983, como assistente
executivo do diretor de operação João Luiz Barreiros de Araujo. “Foi Mais do que aprendizado “de pai para filho”,
o mestre que orientou para valorizar o conhecimento operacional, for- uma troca de aprendizados
mado pela convivência, interação, dos profissionais de engenharias, Em 11 de setembro de 2020, Massato encerrou a participação na Sa-
todas especializações, de biologia, química, tecnologia da informação, besp. Contudo, o trabalho prosseguiu na família por meio de seu filho
economia, administração, assistentes sociais, comunicação, marke- Shinji Carvalho.
ting, que, simbioticamente, fazem a evolução da inteligência de uma “Acho que a gente aprende em conjunto. Mais do que um aprendi-
prestadora de serviços de saneamento ambiental. Foi o meu mantra zado de pai para filho, foi uma troca de aprendizados. Um dos princi-
na Sabesp”, conta. pais que tive foi essa vontade de aprender, que com certeza compar-
Ao longo dos anos, o profissional interagiu intensamente com to- tilho com meu pai. Não é um processo sempre pacífico, inclui muitas
das as pessoas das superintendências por onde passou, acumulando discussões e debates, mas também é sempre bom lembrar que no
conhecimento dos especialistas em manutenções estratégicas, na ges- final estamos no mesmo campo por um mesmo motivo, e tudo isso
tão quantitativa e qualitativa dos mananciais, no tratamento de água, faz parte do aprendizado”, conta Shinji.

Janeiro a Março de 2023 49


PONTO DE
VIVÊNCIAS
VISTA

“Hoje em dia, falar de política virou uma coisa proibida em mui-


tas casas, graças ao crescimento do radicalismo e da violência política
dos últimos anos. Mas na minha infância, me marcaram as conversas
na mesa entre meu pai e minha mãe. Eu nasci em 1990, e o Brasil
estava vivendo sua redemocratização. E eu lembro como eles viam
claramente que fortalecer o saneamento, o controle de doenças e o
meio ambiente para uma qualidade de vida melhor eram chave na
proteção da democracia. Foi assim que comecei a me interessar pela
área”, completa.

Visitas a campo
Ainda em meados dos anos 90, pai e filho visitaram algumas estações
de tratamento, comunidades sem saneamento e fomos para a nascen-
te do Tietê, em Salesópolis. Nessas visitas técnicas, a situação do Tietê
na época e a força das comunidades em buscar mudança eram coisas
que sempre marcavam.
Foi como começaram as visitas a campo que fizeram juntos. “Vimos
como a participação comunitária nas decisões do bairro são essenciais
para a universalização do saneamento. Nesse sentido, o fortalecimen-
to do acesso a direitos e políticas públicas, a um meio ambiente sau-
dável, e a qualidade de vida são parte essencial do direito à água e ao
saneamento”, relembra Shinji.
“Por isso trabalhei com comunidades de base buscando seu fortale-
cimento, sobretudo aquelas que defendem a água e o acesso à água
e ao saneamento. Essas comunidades enfrentam violência, racismo
sistêmico, e exclusão, muitas delas não sendo sequer elegíveis para
programas sociais relacionados ao acesso à água e saneamento, como
é o caso de muitas comunidades favelizadas em diversas cidades bra-
sileiras”, completa.
Segundo Shinji, a valorização a serviços ambientais foi fortalecida
nessa relação de pai e filho. “Foi com isso em mente que passei 2022
em viagem pelo Brasil trabalhando com comunidades que defendem
a água, mas não são reconhecidas por essa proteção, como grupos
indígenas, quilombolas e assentamentos rurais, além de associações
de periferias urbanas”, conta.
Neste contexto, Shinji busca levar esse conhecimento para o “mun-
do da água”, sendo parte do Parlamento Mundial Jovem Pela Água, e
participando no Fórum Mundial da Água, e na preparação da Conven-
ção da ONU para Água, que acontecerá em março de 2023.” Afinal,
como aprendi nas discussões da mesa de casa, o acesso a água e sa-
neamento é profundamente político, e essencial para a consolidação
da nossa democracia.”

50 Saneas
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