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Ano XII – Nº 44 – Fevereiro / Março / Abril de 2012

A importância dos
Projetos de Engenharia para
a infraestrutura brasileira
Temos demanda profissional para atender o Brasil numa condição de potência emergente?
Temos tempo hábil para adequar bons projetos às necessidades urgentes de obras?
A falta de investimentos de décadas anteriores compromete as exigências atuais?
Precisamos de uma engenharia importada?
Como o saneamento se insere no contexto dos setores de infraestrutura?

“O saneamento está na
pior condição de nossa FENASAN 2012 Mais Destaques desta edição:
infraestrutura”
Em entrevista, Luiz Pladevall ressalta a Promovida há 23 anos pela AESabesp, a ■■ Na sessão “Ponto de Vista”, o presidente do
necessidade de uma política séria para o setor, Fenasan (Feira Nacional de Saneamento e CREA SP, Francisco Kurimori (foto), analisa o
com metas, definição de recursos e conceitos Meio Ambiente), programada para 06, 07 e atual cenário da engenharia nacional.
técnicos de planejamento elaborados por 08 de agosto 2012, ocupará a área total do ■■ Na sessão “Visão de Mercado”, o presidente
profissionais competentes, além de uma Pavilhão Branco do Expo-Center Norte, em do Sinaenco, João Alberto Viol, aborda a
avaliação otimizada da engenharia nacional. São Paulo - SP. importância do projeto de engenharia.
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revista saneas
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Inclua a revista na sua programação de mídia para 2012.
EdIçõEs progrAmAdAs pArA 2012:

EdIção N° 45 – mAIo/JUNho/JUlho
Tema: Gestão na Hidrometria: Segurança e Confiabilidade
Trará uma prévia do que acontecerá na Fenasan 2012 (com distribuição durante a Feira).
Fechamento: julho 2012 / circulação: agosto (Fenasan)

EdIção N° 46 – Agosto/sEtEmbro/oUtUbro
Tema: Cidades Sustentáveis - Soluções para o Futuro
Com cobertura do XXIII Encontro Técnico AESabesp e Fenasan 2012.
Fechamento: outubro 2012 / circulação: novembro 2012

EdIção N° 47 – NovEmbro/dEzEmbro/JANEIro
Tema: Abastecimento da Macrometrópole
Fechamento: janeiro 2013 / circulação: fevereiro 2013

A revista Saneas é uma


publicação da:

CoNtAto dE pUblICIdAdE:
AESAbESp - pAulo olivEirA
TEl: 11 3263 0484 - 11 7515 4627
paulo.oliveira@aesabesp.org.br
Editorial

A engenharia brasileira requer


um bom planejamento em
todos os níveis
Muito se comenta na mídia escrita e falada das obras Hiroshi Ietsugu
mau executadas ou que excederam os valores inicial- Presidente da AESabesp
mente previstos em projeto, de forma simplista, realçan-
do a ignorância na matéria. Proliferam, hoje, muitos cursos de qualidade duvi-
Não é à toa que o grande abismo entre o que é di- dosa que, com a complacência dos governos, lançam
vulgado e o que de fato acontece ou aconteceu é que, ao mercado milhares de profissionais sem a necessária
simplesmente, é preciso, primeiro provar que o inocente formação acadêmica que garanta, no mínimo, bom de-
é inocente e não provar que o culpado é culpado. senvolvimento profissional. Devido à crise na Europa,
Na cultura do Brasil, particularmente nos ditos go- sem muito alarde, milhares de profissionais de outros
vernos democráticos, onde a vaidade impera sobre as países têm aportado no Brasil, sobrepondo-se nas opor-
prioridades sociais, o imediatismo inconsequente sobre- tunidades de brasileiros, devido à melhor formação dada
põe ao estudo meticuloso e cuidadoso de todo projeto, nas escolas da Europa.
articulado e definido por técnicos de reconhecido gaba- Hoje convivemos com a falta de profissionais na
rito que deveriam estar à frente. área de engenharia, principalmente porque esses novos
Estranhamente, o Brasil por querer ser diferente, profissionais foram assimilados pela área econômica
uma ala pseudo-moderna quer mostrar uma compe- e financeira por falta de perspectiva. Como podemos
tência virtual que não se concretiza na vida real. Em pensar em projetos de qualidade se os profissionais não
minha pequena experiência, me utilizo das parábolas estão ingressando nas atividades técnicas para serem
populares, para lembrar uma máxima: “ pau que nas- preparados para o futuro do qual o Brasil precisa?
ce torto não se endireita”. É preciso, sim, retomar pela base! É preciso melhorar
Portanto, temos que começar, sem sermos saudo- as nossas escolas, do básico ao universitário, de maneira
sistas, a ver uma demanda ou necessidade social no que tenhamos, num futuro próximo, profissionais de
seu amplo espectro, ou seja, estudando o passado, qualidade para desenvolver, em qualquer área, projetos
avaliando o presente e planejando um futuro, no qual que garantam um futuro melhor para o Brasil.
se espera em um cenário de no mínimo 30 anos. Para Qualquer povo que tenha em suas raízes bons fun-
que isso seja possível, temos que resgatar uma etapa damentos com relação à educação, respeito e ética se
importantíssima no desenvolvimento de qualquer pro- torna forte. E o Brasil tem tudo para ser um País forte!
jeto: o Planejamento. Comecemos pela busca de governantes que sejam
O planejamento exige conhecimento e, sobretu- estadistas de fato, com visão e responsabilidade do fu-
do, experiência dos profissionais que estarão par- turo que eles representam.
ticipando no desenvolvimento de um processo que Com certeza, quem enxergar o futuro será bastante
encaminhará projetos bem estruturados, garantido criticado em todas as suas iniciativas, mas o tempo
a eficiência da finalidade concebida e atendendo a se encarregará de dizer quem tinha razão afinal! Bons
demanda social pretendida. projetos dependem de bons fundamentos, que por sua
Hoje, diferentemente do que se fala, o que não te- vez dependem de bons profissionais que dependem de
mos são projetos de qualidade. Convivemos sim com a boas escolas.
falta de visão dos nossos governantes por longos trinta Vamos resgatar os bons cursos para termos no futuro
anos, que tiveram a falta de visão de estadista, que não bons profissionais. Que a boa técnica consiga, rapidamen-
acreditaram no crescimento do país e, simplesmente, te, não ficar refém da vaidade de políticos ignorantes!
deixaram de investir no bem mais precioso que um País Resgatemos, pois, a formação acadêmica de qualida-
precisa: a Educação. de, para termos esperança de ter um futuro consolidado.

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Índice Expediente
Saneas é uma publicação técnica da
Associação dos Engenheiros da Sabesp

Diretoria Executiva:
Presidente - Hiroshi Ietsugu
Vice-presidente - Helieder Rosa Zanelli
1º Diretor Secretário - Nizar Qbar
2º Diretor Secretário - Choji Ohara
1º Diretor Financeiro - Yazid Naked
2º Diretor Financeiro - Nelson Luiz Stabile

Diretoria Adjunta:
Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs
Diretor de Esportes - Evandro Nunes de Oliveira
Diretor de Marketing - João Augusto Poeta
Diretor de Pólos - Paulo Ivan Morelli Franceschi
Diretor de Projetos Socioambientais - Luís Eduardo Pires Regadas
Diretor Técnico - Reynaldo Eduardo Young Ribeiro
Diretora Social - Viviana Marli Nogueira A. Borges

Conselho Deliberativo:
Amauri Pollachi, Cid Barbosa Lima Junior, Choji Ohara, Eduardo Natel Patricio, Gert
Wolgang Kaminski, Gilberto Alves Martins, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder

05 A Importância dos Projetos


Rosa Zanelli, Hiroshi Ietsugu, João Augusto Poeta, Marcos Clébio de Paula, Nélson Luiz
Stábile, Nizar Qbar, Olavo Alberto Prates Sachs, Paulo Eugênio de Carvalho Corrêa,
matéria tema Pérsio Faulim de Menezes, Reynaldo EduardoYoung Ribeiro, Sonia Maria Nogueira e
Silva, Viviana Marli Nogueira A. Borges, Walter Antonio Orsatti, Yazid Naked

Relações Institucionais:
Coordenador: Luciomar Santos Werneck

de Engenharia para a Conselho Fiscal:


Carlos Alberto de Carvalho, José Carlos Vilela e Ovanir Marchenta Filho

Infraestrutura Brasileira
Conselho Editorial:
Luiz Henrique Peres (Coordenador)
João Augusto Poeta, Luiz Eduardo P. Regadas e Maria Ap. S. P. Santos

Fundo Editorial - revista saneas:


Coordenadora: Marcia de Araújo Barbosa Nunes
11 Entrevista Luis Eduardo Pires Regadas, Celso Roberto Alves da Silva, Paulo Rogério Guilhem, Alex
Orellana, José Marcio Carioca
“O saneamento está na pior condição da nossa infraestrutura”
Coordenador do Site:
Jônatas Isidoro da Silva

17 Ponto de vista Pólos AESabesp da Região Metropolitana - RMSP


Coordenador dos Pólos da RMSP - Robson Fontes da Costa
A Engenharia e a Infraestrutura Pólo AESabesp Costa Carvalho e Centro - Maria Aparecida Silva de Paula Santos
Pólo AESabesp Leste - Nélson César Menetti
Pólo AESabesp Norte - Rodrigo Pereira de Mendonça
Pólo AESabesp Oeste - Francisco Marcelo Menezes
19 Visão de Mercado Pólo AESabesp Ponte Pequena
A importância do projeto de engenharia para empreendimentos públicos e privados Pólo AESabesp Sul

Pólos AESabesp Regionais


Coordenador dos Pólos Regionais - José Galvão de F. R. e Carvalho
21 Artigo Técnico Pólo AESabesp Baixada Santista - Zenivaldo Ascenção dos Santos
Pólo AESabesp Botucatu - Rogélio Costa Chrispim
O senhor Feynman não estava brincando: A educação tecnológica brasileira Pólo AESabesp Franca - Antonio Carlos Gianotti
Pólo AESabesp Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur
Pólo AESabesp Presidente Prudente: Gilmar José Peixoto
Pólo AESabesp Vale do Paraíba - Sérgio Domingos Ferreira
28 Acontece no setor
Coordenação do XXIII Encontro Técnico AESABESP e Fenasan 2012:
Presidente da Comissão - Eng Químico Nizar Qbar
32 Matéria Sabesp Diretor do Encontro Técnico AESabesp - Eng Olavo Alberto Prates Sachs
Diretor da Fenasan - Reynaldo E. Young Ribeiro
A importância da estruturação para enfrentar novos desafios - A Sabesp se prepara Membros da Comissão: Choji Ohara, Gilberto Alves Martins, Hiroshi Ietsugu, João
Augusto Poeta, Luis Eduardo Pires Regadas, Maria Aparecida Silva de Paula Santos,
para Novos Negócios Nélson César Menetti, Nizar Qbar, Olavo Alberto Prates Sachs, Osvaldo Ioshio Niida,
Regina Mei Silveira Onofre, Reynaldo E. Young Ribeiro, Tarcísio Luis Nagatani, Walter
Antonio Orsatti
Equipe de apoio: Maria Flávia S. Baroni, Maria Lúcia da Silva Andrade, Monique Funke,
Fenasan 2012 Paulo Oliveira, Rodrigo Cordeiro, Vanessa Hasson
38 Fenasan terá área ampliada em 2012 Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da Sabesp
40 Ecoeventus AESabesp®: o nosso Projeto Neutralização de Carbono Jornalista Responsável:
42 Novos conceitos para a premiação do Troféu AESabesp Maria Lúcia S. Andrade – MTb. 16081

PROJETO VISUAL GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO


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matéria tema

A importância
dos Projetos de
Engenharia para
a infraestrutura
brasileira
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matéria tema

Implementar uma infraestrutura eficiente para o de- concentra conhecimento e tecnologia para se tornar
senvolvimento de um País é a condição essencial ao uma ponte para nos sedimentarmos como uma nação
bem estar de sua população. Entretanto, melhorar a reconhecidamente desenvolvida.
infraestrutura também significa aumentar a produti- Em que pese a falta de investimentos no setor, nos
vidade e qualidade de bens e dos serviços da estrutu- anos 80 e 90, a expertise da engenharia brasileira - prin-
ra produtiva, que, por consequência, gera o estímulo cipalmente a dos profissionais formados antes e du-
ao capital e a geração de emprego e renda. rante esse período - está preparada para alavancar, por
No cenário atual de globalização, o Brasil se des- meio de desenvolvimento tecnológico, projetos e obras,
taca como potência emergente e ainda conta com o diversos sistemas fundamentais para o nosso desenvol-
advento de possuir promissoras reservas naturais em vimento e cidadania.
seu território. Mas para que a sua infraestrutura seja A seguir, mostramos essas áreas da infraestrutura
moderna e competitiva, são necessários planejamentos que tomam forma a partir de estudos e projetos de
direcionados a várias diretrizes governamentais de de- engenharia, desenvolvidos por profissionais devida-
senvolvimento, como a educação, a saúde, a economia mente qualificados, com capacidade técnica.
de base e, principalmente, a engenharia nacional, que

Gestão de
Recursos Hídricos
Voltada para que o saneamento bá-
sico seja efetivamente estendido a
todo cidadão brasileiro, com base no
reconhecimento que se trata de um
requisito essencial para a qualidade de
vida da população e para a redução
dos custos dos programas de saúde
pública. Nesse contexto, destaca-se o
corpo técnico da Sabesp, que está po-
sicionada entre as 5 maiores empresas
do setor no ranking mundial, a frente
Ampliação da ETA Taiaçupeba,
de eficientes concessionárias públicas,
na Região Metropolitana de São Paulo
A despeito de seu poderio econômico fundamental para
como Sanepar, Copasa, entre outras,
que o Brasil seja qualificado de maneira positiva, a Região
além de empresas do setor privado.
Metropolitana de São Paulo (RMSP) é uma das áreas
mais populosas e com menor disponibilidade hídrica do
País, além de padecer de uma invasiva ocupação do solo,
crescimento desordenado e até mesmo um ciclo hidrológico
imprevisível. Tais complicadores fizeram com que o seu
Plano Diretor de Abastecimento de Água buscasse formas
de otimizar sua capacidade de produção para atender a
demanda, com a ampliação em larga escala do Sistema
Produtor Alto Tietê. Dessa forma, a Sabesp e o consórcio
formado pelas empresas Companhia Águas do Brasil – CAB
Ambiental e Galvão Engenharia S.A. assinaram o contrato

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matéria tema

da Parceria Público Privada, considerada a maior e mais importante PPP realizada em todo território nacional,
para o setor de saneamento, para o desenvolvimento das obras de ampliação da capacidade da ETA Taiaçupeba,
localizada no município de Suzano, prevendo a construção de 17,7 km de adutoras de grande porte e de quatro
reservatórios que terão capacidade para armazenar 70 milhões de litros. E ainda estará sob a responsabilidade
dessa parceria a prestação dos serviços de manutenção de barragens; inspeção e manutenção de túneis e canais;
manutenção civil e eletromecânica em unidades integrantes
do Sistema Alto Tietê; o tratamento e disposição final do lodo
gerado na produção de água tratada e serviços auxiliares. Este
empreendimento viabiliza a ampliação da oferta de água de 10
para 15 mil litros por segundo, assegurando assim a regularidade
do abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo.

Gestão de
Recursos Hídricos
Busca a viabilização da energia elétrica,
do petróleo, do gás e de demais recur-
sos energéticos, com qualidade e dis-
ponibilidade garantidas, a custos com-
patíveis com investimentos públicos
e atrativos aos investimentos privados
em empreendimentos, especialmente
no setor industrial.

Brasil a grande potência


disponível, somada ao etanol e ao biodiesel, em
energética do Século XXI
pouco tempo se tornará candidato preferencial ao
O setor energético, muito provavelmente, é que irá apresentar as
título de “potência energética do Século XXI”.
grandes soluções para a sustentabilidade do milênio e concentrar
A Usina Hidrelétrica de Itaipu Binacional é
as maiores cabeças pensantes do Planeta. O convite, feito por
considerada a maior hidrelétrica do mundo em
Barack Obama, ao ganhador do Prêmio Nobel de Física em 1997
potência instalada. Há informações que será
e pioneiro nas pesquisas de energias renováveis limpas, Steven
superada, quando entrar em funcionamento
Chu, para ser Secretário de Energia dos EUA, confirma o peso da
a plena capacidade da Hidrelétrica de Três
preocupação.
Gargantas, na China. Mas, em capacidade de
O potencial energético brasileiro também tem um lugar
geração continuará sendo a mais importante, visto
preponderante no cenário mundial, posto que o Brasil possui a
que o regime hidrológico do rio Paraná apresenta
maior reserva hídrica do Planeta e o maior potencial de geração
maior fluxo de água que o Rio Yangtzé, continente
de energia hidrelétrica. Os dados do estudo “Licenciamento
asiático). A potência instalada da Usina é de 14.000
Ambiental de Empreendimentos Hidrelétricos no Brasil: Uma
MW (megawatts), com 20 unidades geradoras de
Contribuição para o Debate”, divulgado pelo Banco Mundial
700 MW.
(Bird), dá uma dimensão da nossa capacidade de crescimento.
Ainda, segundo este levantamento, somente 30% do potencial
hidrelétrico brasileiro economicamente viável está em operação
ou construção. Mas se o País usar, integralmente, a capacidade

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matéria tema

Gestão de Mobilidade
Com a implantação de uma logística de trans-
portes compatível com as necessidades do país
– ferrovias, hidrovias, rodovias, metrovias, portos
e aeroportos – que possa proporcionar o des-
locamento seguro de pessoas e mercadorias,
além do escoamento da produção; com redução
de custos no mercado interno e aumento de
competitividade dos produtores brasileiros no Lei favorece transporte coletivo
mercado externo. Para a entrada em vigor da Lei 12.587/2012, que prevê
melhorias na mobilidade urbana no país, foram investidos
R$ 32 bilhões no setor , com o objetivo de transformar a
vida nos grandes centros urbanos.
A nova legislação institui as diretrizes da Política Nacional
de Mobilidade Urbana, sancionada em janeiro e que dá
Gestão de prioridade a meios de transporte não motorizados e ao
Telecomunicações serviço público coletivo, além da integração entre os modos
Capaz de cobrir todo o território brasileiro, com e serviços de transporte urbano. O texto prevê também a
sistemas eficientes de telefonia, telemática, te- adoção de medidas para melhorar a mobilidade urbana nas
leinformação e outros meios de todos os tipos, grandes cidades, como a restrição da circulação em horários
colaborando,dessa forma, para a integração predeterminados; permite a cobrança de tarifas para a
nacional e para a inserção definitiva do Brasil utilização de infraestrutura urbana, espaços exclusivos para
no exterior, como potência desenvolvida. o transporte público coletivo e para meios de transporte não
motorizados; e estabelece políticas para estacionamentos
públicos e privados.

responsáveis pelo atendimento aos, aproximadamente, 25


milhões de clientes que a empresa possui em todo o Estado, com
o propósito de oferecer conforto, rapidez e qualidade certificada.
A central que atende 329 municípios do Interior e do Litoral
paulistas, abrangendo cerca de seis milhões de habitantes é
sediada na cidade de Itapetininga. Inaugurada em dezembro
de 2009, dispõe de 100 postos de atendimento funcionando
ininterruptamente 24 horas por dia, com capacidade de
absorver até 20 mil ligações diárias, quantidade superior à
A telecomunicação é essencial na demanda, que é de sete mil ligações diárias. O principal objetivo
regulação dos setores de infraestutura da nova estrutura, que ocupa uma área de 800m2, é melhorar
Os setores que ao considerados na composição da o serviço para o usuário, que é atendido num prazo de um
infraestrutura requerem um regime de regulação, com minuto. Já a Central de Atendimento Telefônico da Sabesp
funções de fiscalizar, normatizar, ordenar e interagir com na Região Metropolitana de São Paulo e Bragança Paulista foi
os usuários. modernizada para criar condições de 80% dos atendimentos
Nesse sentido, para atender os serviços de saneamento sejam feitos em até 1 minuto.
de São Paulo, a Sabesp conta com duas Centrais,

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matéria tema

As necessidades para se ter engenheiros domiciliados no País. A questão então não


um Brasil desenvolvido seria a falta de profissionais diplomados e sim a migra-
Apesar de ter sofrido uma desaceleração 2011 e a mes- ção dos mesmos para outras áreas, como o mercado
ma estar se repetindo em 2012, o crescimento eco- financeiro ou o setor bancário, motivados pela maior
nômico do Brasil foi suficiente para ultrapassar o PIB remuneração. Com salários atraentes, é muito mais fácil
do Reino Unido e colocar o país no sexto lugar entre esses profissionais buscarem colocações fora de sua
as maiores economias do mundo. Contraditoriamen- área de atuação. E com o aumento dos salários, que é
te, mesmo com a pífia 84ª posição no IDH (Índice de tendência geral em todas as profissões, é bem possível
Desenvolvimento Humano), entre 187 países, com que os milhares de engenheiros que deixaram a profis-
classificação de 0,718 na escala que vai de 0 a 1, em são, pela desvalorização sofrida nas décadas de 80 e 90,
relatório do PNUD (Programa das Nações Unidas para voltem a oferecer a sua experiência e força de trabalho
o Desenvolvimento), esse status é animador, principal- para recompor a engenharia nacional.
mente se considerarmos a proximidade de dois eventos E para os mais de quarenta mil jovens engenheiros
de projeção mundial: a Copa e as Olimpíadas. que saem anualmente das universidades, é importan-
O povo brasileiro, de natureza entusiasta, quer te destacar que o mercado necessita de profissionais
sentir orgulho do seu País, ao vê-lo como sede da qualificados, realmente preparados para exercer a pro-
Copa do Mundo, em 2014 e os Jogos Olímpicos, em fissão. Reverter esse quadro e dotar o país de uma
2016. Problemas de enchentes nas metrópoles, após engenharia nacional saudável, competitiva e capaz de
poucas horas de chuva, a quebra constante dos meios contribuir para a independência tecnológica da nação,
de transportes, a ineficiente malha viária e falhas supõe recuperar a capacidade técnica e gerencial das
dos sistemas de segurança, fazem surgir uma crise empresas brasileiras.
comunitária de credibilidade. E essa condição ainda Na conjuntura atual do País, os investimentos na
é consideravelmente abalada por outra crise ética e manutenção e expansão da infraestrutura, constituem
moral envolvendo conhecidos líderes políticos, em uma das formas mais eficientes para a geração de em-
escândalos não raramente ligados a grandes empre- pregos em todos os níveis profissionais. E dentro dessa
sas de engenharia. lógica, é legítimo afirmar que somente por meio de
projetos desenvolvidos no Brasil, pela engenharia na-
A escassez de engenheiros atrapalha cional, com especificações, vivências e conhecimentos
os projetos de desenvolvimento? adquiridos no País, é que se constrói uma infraestrutu-
Esse cenário de desenvolvimento emergente ainda re- ra moderna, eficiente e personalizada estrategicamente
mete a uma preocupação com a falta de mão de obra para elevar o Brasil à condição de uma nação de primei-
do setor, pois muitas entidades alardeiam que o Brasil ra grandeza mundial.
sofre com a carência de profissionais de engenharia,
para corresponder a diversos gargalos, como as obras
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), dos
programas habitacionais, da extração de petróleo nas
camadas do pré-sal e inclusive em projetos de infraes-
trutura necessários para a realização da Copa do Mun-
do e às Olimpíadas. Será que para crescer o Brasil irá
precisar de uma engenharia importada de países mais
desenvolvidos?
Em contraponto a essa preocupação, os números
dos CREA’s estaduais registram crescente número de

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matéria tema

“Engenheiros sem Fronteiras” atua na


infraestrutura de regiões sem recursos
A ESF (Engenheiros sem fronteiras) segue a mesma es-
trutura de outras organizações “sem fronteiras”, pelo
mundo, tanto que é também conhecida por EWB (En-
gineers without borders) ou ISF (Ingénieurs sans fron-
tières), tendo já se estabelecido em mais de 40 paí-
ses. Frutos de iniciativas isoladas em seus respectivos
países, esses grupos estão diretamente envolvidos na
elaboração e implantação de projetos de desenvolvi-
mento humano de cunho regional ou internacional.
Como grande diferencial, baseiam-se na utilização das
ferramentas apresentadas pela engenharia na solução
de problemas endêmicos que afetam primordialmente
pessoas ou comunidades em situação de miséria.
Na Universidade Federal de Viçosa (UFV) está a sede da ESF no Brasil
Por se tratarem de grupos fundados independen-
temente, os “ESFs” não estão formalmente filiados uns
com os outros, apresentando, então, relações de co- nidades desprovidas de recursos. De acordo com os
laboração. Portanto, alguns desses grupos uniram-se componentes da instituição, através de compromisso
para criar uma rede internacional, embora informal, social pautado em ações práticas, o objetivo é mudar
denominada Engineers Without Borders Internatio- a concepção geral das pessoas de que o engenheiro
nal, tendo em vista unir suas ações. Essa descentra- é um profissional que usa seu conhecimento apenas
lização deve-se ao fato de que a maioria dos projetos em benefício próprio atuando em grandes corpora-
desenvolvidos pelas associações sob a bandeira do ESF ções: “Queremos mostrar que o engenheiro é capaz
baseiam-se em parcerias de pequena e média escala. de promover transformações em busca do desenvol-
Prosseguindo dessa maneira reduz-se custos inerentes vimento social, econômico e sustentável da nossa so-
a organizações verticalizadas. ciedade”, afirmam.
Por meio de análises, discussões e reflexões de pro- O ESF-Brasil tem como parceiros a Universidade
blemas que assolam os setores mais pobres de várias na- Federal de Viçosa (UFV), O CENTEV/UFV – Incubadora
ções, este grupo propõe a realização de projetos empre- de Empresas de Base Tecnológica da UFV, o Conselho
gando conhecimento técnico das áreas de engenharia. Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de
Minas Gerais – Crea-MG Júnior e o Sindicato dos En-
Os “Engenheiros sem Fronteiras” genheiros de Minas Gerais.”
no Brasil A perspectiva do ESF-Brasil é a difusão de Núcle-
A idéia de criar um Núcleo do ESF no Brasil surgiu na os locais pelo país, em diversas cidades do território
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em nacional. Para tal, as pessoas interessadas em formar
2007, mas foi fundamentada na Universidade Federal novo Núcleo deverão registrá-lo cumprindo o esta-
de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, em 2008 , onde atual- tuto do ESF-Brasil e seguindo regimento próprio. Os
mente funciona a sua sede e organização associativa Núcleos devem ter no mínimo 5 integrantes (estudan-
do terceiro setor, presidida por Artur Mendes. tes, professores ou profissionais da Engenharia) e dois
O Engenheiros Sem Fronteiras – Brasil acredita no projetos em atividade condizente com os objetivos da
desenvolvimento social, econômico e sustentável das organização. Mais informações podem ser vistas no
comunidades nas quais atua e no envolvimento dos portal www.esf-brasil.org.br.
engenheiros e estudantes de engenharia como atores
a serviço da melhoria da qualidade de vida em comu- Fontes: portal da ESF Brasil e wikipédia.

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entrevista

“O saneamento está na pior


condição da nossa infraestrutura”
Luiz Roberto Gravina
Pladevall é graduado
A Saneas ouviu o presidente da APECS (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Sa-
em Engenharia
Civil pela Fundação neamento e Meio Ambiente), Luiz Roberto Gravina Pladevall, que defende a implementação de uma Política
Armando Alvares Nacional de Saneamento, com fixação de metas e definição de recursos, fontes, regras e mecanismos de
Penteado – FAAP
(1985), com MBA em operação, voltada a empreendimentos que obedeçam aos conceitos técnicos de planejamento.
Direção de Empresas De acordo com a sua concepção, há como recuperar décadas de falta de investimentos no setor e fazer
de Engenharia em
2003 também na
com que o mesmo corresponda às necessidades futuras de desenvolvimento do País, que atualmente possui
FAAP. Iniciou a recursos disponíveis para isso. Porém, o aporte financeiro sozinho não resolve nenhum problema, se não
carreira em 1982 estiver acompanhado de conhecimento e de uma gestão técnica e administrativa competente.
como estagiário na
área de projetos de
saneamento básico Saneas: Como a APECS avalia a condição do Saneas: O Plano Nacional de Saneamento
do Departamento
de Saneamento
saneamento entre os setores de infraestrutura Básico (Plansab) estabelece diretrizes para a
da Sondotécnica no Brasil? universalização do setor até 2030. Como estas
S/A, passando
Pladevall: A condição do Saneamento Básico entre ações são relativamente novas, a engenharia
a engenheiro a
partir de janeiro os setores de infraestrutura no Brasil é pior frente brasileira está preparada para enfrentar este
de 1985. Trabalhou aos demais, embora todos estejam em situação desafio?
na Sondotécnica até
agosto de 1993 onde aquém do desejável. Pladevall: O Plano Nacional de Saneamento Bá-
participou de vários Dentre os fatores que justificam essa situa- sico (Plansab) é um instrumento de planejamento
projetos de grande
porte como engenheiro
ção podemos destacar o fato dessa infraestrutu- que deve ser adequadamente utilizado. A univer-
e posteriormente ra ser de responsabilidade do poder municipal. O salização do setor em 2030 só será atingida se
como coordenador Brasil tem mais que 5.000 municípios e a grande todos os caminhos necessários forem trilhados.
de contratos. A partir
desta data, tornou-se maioria deles não têm condições técnicas para Uma das primeiras exigências do Plansab é que
sócio-diretor da CPS enfrentar o problema, e por vezes, nem mesmo todos os municípios façam sua lição de casa atra-
Engenharia, empresa
especializada em
para entendê-lo. vés da elaboração de um plano de saneamento
consultoria e projetos Algumas companhias estaduais minoram abrangendo 4 especialidades: abastecimento de
de infraestrutura
esse problema, quando assumem a gestão por água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial e
urbana, posição que
ocupa até hoje. concessão dos municípios, pois elas têm uma resíduos sólidos. Este instrumento de planejamen-
Atualmente é 2º estrutura técnica e de gestão de melhor quali- to, o plano municipal de saneamento, é ferramen-
Tesoureiro da ABES
seção São Paulo e dade, porém não resolvem totalmente o proble- ta fundamental para que os gestores municipais
Presidente da APECS ma, pois elas também têm suas deficiências e definam as próximas ações e viabilizem os recur-
– Associação Paulista
de Empresas de
dificuldades para cumprirem as suas missões, e sos necessários para a obtenção da universaliza-
Consultoria e Serviços não dispõem atualmente de recursos suficien- ção local. A engenharia nacional está preparada
em Saneamento e tes para a universalização dos serviços presta- para atender a demanda relativa à elaboração dos
Meio Ambiente.
dos. Além disso, há que se registrar que nem planos municipais, porém os municípios não es-
todos os municípios aderem às companhias tão estruturados para contratar e acompanhar a
estaduais e elas, na sua grande maioria, só atu- elaboração de um planejamento de saneamento.
am na prestação dos serviços de água e esgoto A grande dificuldade dos pequenos municípios é
sanitário. definir o termo de referência, o edital do processo
Com relação às demais vertentes do sanea- licitatório e, posteriormente, julgar e selecionar
mento – resíduos sólidos e manejo de águas plu- a proposta mais vantajosa para contratação. A
viais – a situação é até mais caótica, em função da modalidade de licitação do tipo técnica e preço
falta de investimentos e de vontade política para é a forma mais adequada para a contratação de
transformar esta realidade. uma empresa de consultoria que possa elaborar

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 11


entrevista

um plano municipal de saneamento que se transforme necessários, pelas fases de pré-estudos, estudos,
efetivamente em um instrumento de planejamento. O projetos, gerenciamento, construção, pré-opera-
Plansab indica valores estimados para a universalização ção, operação e manutenção.
até 2030, porém somente após a elaboração dos planos ■■ Na elaboração deste planejamento deverá ser in-
municipais de saneamento, na sua totalidade, teremos tensamente valorizado, como se faz em todos os
os valores reais necessários para a universalização. O países desenvolvidos, o setor da consultoria, res-
grande desafio do Governo Federal para o sucesso do ponsável pelos segmentos mais nobres e sensíveis
Plansab, e do atingimento das metas previstas, é suprir de qualquer empreendimento e, consequentemen-
os municípios, que não dispõem dos recursos finan- te pela sua eficiência técnico-operacional e eco-
ceiros e da assessoria técnica necessários para que os nômica. Assim deverão ser disponibilizados prazos
mesmos produzam planos de saneamentos de qualidade mais longos para o aprofundamento dos estudos
e eficientes. técnicos de engenharia, economia, meio ambiente
e todos os demais aspectos que envolvem e que
Saneas: Há como recuperar décadas de pequenos impactam a implantação do empreendimento. Um
investimentos no setor e fazer com que o mesmo empreendimento bem planejado e bem projetado
corresponda às necessidades futuras de desenvol- reduz significativamente seu prazo de construção,
vimento do País? compensando com vantagem o
Pladevall: Sem dúvida, principal- Uma das primeiras tempo dispendido nas fases an-
mente a partir dos recursos finan- teriores, além de praticamente
exigências do Plansab é
ceiros hoje disponíveis. Entretanto, eliminar imprevistos de obra, evi-
que todos os municípios
somente a disponibilidade desses tando-se correções e/ou adapta-
façam sua lição de casa
recursos não é suficiente para que ções nem sempre desejadas e com
as metas previstas no Plansab
através da elaboração custos mais elevados.
sejam alcançadas, neutralizando de um plano de
assim a grande defasagem exis- saneamento abrangendo Outra condição para assegurar
tente. A condição necessária e 4 especialidades: o bom empreendimento é fugir
indispensável de disponibilidade abastecimento de água, de prazos políticos, os quais, na
desses recursos deverá ser acom- esgotamento sanitário, maioria das vezes, exigem soluções
panhada por diversas ações que drenagem pluvial e urgentes, sem os devidos e indis-
possam assegurar a correta apli- resíduos sólidos. pensáveis estudos acurados, con-
cação dos mesmos na busca das duzindo a empreendimentos muito
metas propostas. Dentre essas ações, podemos destacar mais caros e ineficientes, com consequentes prejuízos à
as seguintes: administração pública e à sociedade em geral.
■■ Criação e implementação de uma Política Nacional
de Saneamento, por meio de um arcabouço legal, Saneas: O Brasil hoje é qualificado como a 6ª eco-
com fixação de metas, definição de recursos e fon- nomia mundial, com um mercado potencial, mas
tes respectivas, regras e mecanismos de operação limitado por um ambiente engessado institucional-
para todos os agentes participantes, públicos ou mente. Esta conceituação também é válida para o
privados. saneamento? Quais são os gargalos do setor?
■■ Implantação dos empreendimentos do setor, obe- Pladevall: Os gargalos do setor talvez não estejam
decendo criteriosamente os conceitos técnicos de tanto no engessamento institucional que existe no país,
planejamento, há tempo perdidos neste país. No mas, preponderantemente, na falta de uma ação con-
planejamento deverão ser respeitados todos os sistente e eficaz do poder público, responsável principal
segmentos componentes da cadeia de um empre- pelo equacionamento do problema.
endimento, desde a identificação de sua real ne- Falta uma estratégia, que a nosso ver, deve ser li-
cessidade, passando pela estruturação dos recursos derada pelo poder federal, formulada em conjunto

12 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


entrevista

com os poderes estaduais e municipais, a partir de um nados às questões do saneamento não estão res-
diagnóstico da capacidade dos agentes municipais ou tritos aos limites da área territorial dos municípios.
estaduais de conceberem, implantarem, operarem e Na realidade, têm origem e impactam simultanea-
manterem o saneamento básico dos seus municípios, mente diversos municípios, e, portanto, devem ser
que permita levar a bom termo esse desafio. tratados de forma conjunta, e não isoladamente.
É muito difícil se obter resultados com algum nível Quando falamos de uma estratégia liderada pelo
de qualidade quando os responsáveis não têm recursos governo federal para melhorar o desempenho do setor,
– material e humano – para conduzir o problema, cuja estávamos nos referindo ao suporte político, técnico,
solução se inicia pela sua correta compreensão. financeiro e administrativo que as esferas federal e/ou
O início da resolução dos problemas passa pela ela- estadual poderiam prestar aos municípios, de forma a
boração dos planos de saneamento, que definam os agrupá-los, quando necessário, e prepará-los, a fim de
caminhos que deverão ser trilhados para se atingir as capacitá-los para gerir o saneamento básico nos seus
metas estabelecidas, e estes planos são de responsabi- municípios e na região. Não é tarefa, fácil nem rápida,
lidade do poder público municipal. mas é absolutamente imprescindível que seja feita para
Contudo, dois aspectos merecem destaque: se lograr sucesso. E esse sucesso passa pela consciência
■■ Inicialmente destacamos a incapacidade financeira do poder público da complexidade do problema. A par-
e tecnológica, da grande maioria dos municípios, tir daí é possível buscar a solução, que normalmente
para atuar diante do desafio de elaboração de um não é simples, e por isso exige uma engenharia de pro-
plano de saneamento e, posteriormente, de seguir jeto competente e adequadamente contratada.
as diretrizes nele estabelecidas; Como contratar essa engenharia se o poder contra-
■■ Em segundo lugar, lembramos que a quase totali- tante não está apropriadamente preparado. O resulta-
dade dos problemas, e possíveis soluções, relacio- do disso são investimentos inadequados, quando os há,

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 13


entrevista

e de baixíssima eficiência. O recurso financeiro sozinho custos ocupam lugar de destaque, assim como as solu-
não resolve nenhum problema, se não estiver acom- ções inovadoras para problemas específicos. Essa cultura
panhado de conhecimento do que se quer e de uma da melhoria contínua precisa permear as Companhias
gestão técnica e administrativa competente. de Saneamento para que elas consigam responder às
As iniciativas que temos da aplicação de recursos exigências cada vez maiores da sociedade, refletidas
do governo federal ignoram essa situação, o que con- através das ações das agências reguladoras.
tribui para que o saneamento básico não caminhe com A outra abordagem refere-se ao desenvolvimento
a velocidade que seria desejável. tecnológico na execução de projetos e sua aplicação
Nesse sentido, o Estado de São Paulo já tomou a ini- na área do Saneamento.
ciativa de contratar os Planos de Saneamento para todo O desenvolvimento de novos softwares tem im-
o Estado, e estão sendo elaborados com a participação pactado os processos de projetar de forma profunda e
direta dos municípios participantes, pois cabe a eles a positiva. A introdução do desenho digital na represen-
aprovação final do documento legal que será produzido. tação tradicional de plantas e cortes mudou comple-
A melhor estrutura técnica do Estado permite que tamente a forma antiga de trabalhar na prancheta e
se façam contratações melhores, uma gestão técnica e exigiu dos projetistas e desenhistas um esforço grande
contratual de bom nível, que proporcione o aprimora- de adaptação.
mento desse importantíssimo instrumento de gestão Nessa forma de representar, os desenhos são linhas
para os municípios, na medida em que a experiência de e a visão tridimensional do empreendimento é obtida
desenvolvê-los vai se acumulando. pela maquete eletrônica que veio substituir a maquete
Daí estarmos propugnando um esforço conjunto e física ou o desenho em três dimensões (3D). Esse é o
sinérgico na busca da melhoria da gestão e da com- estágio tecnológico atual mais difundido no meio téc-
petência técnica, sem o que não há saída para um nico de projeto.
crescimento rápido, a partir da liderança do governo Inicia-se agora um novo ciclo com softwares de-
federal, do alinhamento dos três poderes executivos e senvolvidos com a tecnologia de elementos sólidos.
da aglutinação das forças produtivas do país, onde nos Nessa tecnologia as linhas que representam hoje os
inserimos como uma força estratégica. elementos da construção, passam a ser substituídos
por sólidos e a montagem dos empreendimentos é fei-
Saneas: A APECS defende a necessidade de desen- ta através da composição desses sólidos.
volvimento tecnológico para aplicação em projetos A partir dessa montagem básica é que se fazem os
no setor. Como está sendo esta demanda? cortes e as plantas, em processo inverso, portanto, do
Pladevall: Responderemos esta questão sob duas abor- que é feito hoje.
dagens. A primeira sob a ótica do desenvolvimento Assim, se ocorrer qualquer modificação, ela é feita
tecnológico no saneamento, para a sua aplicação nas no desenho base em três dimensões e basta corrigi-
soluções de projeto. Nesse caso, entendemos que ele se lo que ao fazer os cortes e plantas esses desenhos já
faz necessário no sentido de obterem-se sempre solu- saem corrigidos. Na tecnologia atual se ocorrer algu-
ções que atendam, de forma mais eficaz com qualidade ma alteração no empreendimento, essa alteração deve
e menores custos, os objetivos dos nossos clientes, que ser feita em todos os cortes e plantas onde ela apareça
são as Companhias de Saneamento. Por outro lado en- e o trabalho de alteração é muito maior, assim como o
tendemos também que as Companhias de Saneamento, risco de erros. Outra grande vantagem dessa tecnolo-
sobretudo as de maior porte, deveriam reservar uma gia é que esses sólidos são objetos atributáveis.
verba específica em seus orçamentos para investir no Associados a essa maneira de representar e atra-
desenvolvimento tecnológico, podendo contar ainda vés de outros softwares, cria-se uma realidade virtual
com a colaboração do nosso setor nesse esforço. E aqui, em que é possível simular uma série de verificações no
quando falamos de desenvolvimento tecnológico não empreendimento virtual com fidelidade praticamente
é de forma restrita à pesquisa de ponta, mas dentro de total ao empreendimento futuro real. É possível simu-
uma abordagem mais ampla onde a melhoria e otimiza- lar movimentações de pessoas, nível de iluminação,
ção de processos com reflexos nos desempenhos e nos interferências, fases executivas, análise estrutural e

14 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


entrevista

assim por diante. Essa nova me-


todologia é denominada Building
Information Modeling (BIM). O impacto
que ela tem nos empreendimentos é muito
grande porque vem preencher uma necessidade de
se antecipar problemas nas obras durante a construção
e na sua fase de operação e manutenção. É possível si- Pladevall:
mular praticamente tudo na realidade virtual e reduzir As vantagens são
a imprevisibilidade ao mínimo, dando confiabilidade na muito grandes e essa é a melhor ma-
qualidade nos custos e nos prazos. neira de se obter o sucesso de um empreendimento.
Essa metodologia encontra no setor privado, que Para se compreender as vantagens que essa forma
busca na inovação a melhoria da competitividade, uma de planejar e atuar proporciona é importante destacar
receptividade maior para sua implantação. como os empreendimentos são planejados, construí-
Infelizmente o setor público se encontra no extre- dos, operados e mantidos atualmente.
mo oposto qual seja licita obras com projetos insufi- Resumidamente, o ciclo compreende as seguintes
cientes, inicia a construção e vai resolvendo os pro- fases: estudos de concepção, projeto; construção, fa-
blemas à medida que vão aparecendo. É a forma mais bricação e montagem; operação e manutenção.
irracional e cara de se conduzir o processo porque os O projeto, na sua última revisão, alimenta a cons-
prazos ficam indefinidos os custos imprevisíveis e por trução, a fabricação e a montagem, que ao terminarem
mais que o construtor seja ressarcido há perdas tanto suas atividades elaboram um documento denominado
para o construtor como para o empreendedor e, sobre- “Data Book”, onde teoricamente estão inseridas todas
tudo para a sociedade. as informações da obra na sua versão “como construí-
Diante dessas observações é muito importante da”. Esse documento é passado para a operação e para
que se promova um esforço conjunto e a APECS nisso a manutenção, para que essas áreas, de posse dessas
muito pode colaborar para que os governos e as com- informações, possam atuar no empreendimento garan-
panhias de saneamento busquem inserir e estimular tindo o seu desempenho conforme projetado.
nas suas contratações essa nova tecnologia. Quem O sequenciamento das várias fases e suas cone-
sabe consigamos reverter esse quadro atual para o xões, conforme acabamos de descrever, parece garan-
bem de todos. tir um fluxo completo de informações, porém não é
isso que acontece.
Saneas: Qual é vantagem de se planejar um empre- Na prática, durante o processo, as informações se per-
endimento, contemplando todo o seu ciclo de vida: dem, a elaboração do “Data Book” é penosa, acaba sendo
projeto, obra e operação? deficiente e a acessibilidade às informações é difícil.

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 15


entrevista

Uma das causas que contribuem para que isso contestações dos Tribunais de Contas, entre outros mo-
ocorra é a forma segmentada como cada fase é de- tivos. Um projeto inadequado, quando não inviabiliza
senvolvida. o empreendimento, pode gerar um produto deficiente,
O planejamento do empreendimento dentro da com desempenho aquém do esperado, e com baixa
metodologia do Ciclo de Vida do Empreendimento expectativa de durabilidade. Um pré-requisito para o
muda totalmente a abordagem de como é feito hoje. sucesso de um empreendimento é boa contratação do
Essa mudança se inicia pela estruturação de to- projeto de engenharia. A deficiência na contratação de
dos os componentes do empreendimento através de bons projetos não acontece por incompetência, mas
uma hierarquização que permita identificá-los perfei- por desconhecimento. Os gestores públicos não estão
tamente, e a partir daí todas as informações que são adequadamente preparados para contratar projetos
geradas desde a fase de projeto, construção operação e mais amplos.
manutenção são vinculadas aos componentes. Um projeto deficiente, pó si só, já é um ônus para
Desta forma é possível garantir uma perfeita ras- a sociedade, que comprou algo que não recebeu, mas
treabilidade e rápida acessibilidade às informações so- pode gerar prejuízos ainda maiores, decorrentes de
bre o componente em todas as fases de sua vida. atrasos na entrega do bem, da baixa qualidade do pro-
A disponibilidade e a acessibilidade da informação duto gerado, dos custos adicionais para a viabilização
são bens preciosos e imprescindíveis à gestão ao lon- do empreendimento, ou até mesmo da inviabilização
go de toda a existência do empreendimento, e têm de todo o processo de implantação.
forte impacto no desempenho e na eficiência, como
no controle dos serviços e dos custos de operação e Saneas: Como a APECS avalia a introdução de no-
manutenção. vos modelos societários (PPP, SPE entre outros) nos
A percepção desse fato vem impulsionando o de- empreendimentos do setor de saneamento.
senvolvimento dessa nova tecnologia, vez que os cus- Pladevall: A utilização destes novos modelos são fer-
tos de sua implantação são sobejamente cobertos pela ramentas importantes, desde que formatados com
economia que ela gera. base em documentos técnicos corretamente elabora-
Para se colocar em prática esse processo é neces- dos, que possibilitem uma definição do desempenho
sário fazê-lo já no início da concepção do empreendi- e da qualidade desejados e a avaliação confiável dos
mento, há a necessidade de adequações na estrutura custos previstos e dos resultados esperados, e ainda,
contratual dos fornecimentos e, portanto, na maneira sejam adotados em conformidade com os princípios
de gerenciar o empreendimento. básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade,
Apesar de ser uma tecnologia de ponta, já existe sistema da igualdade, da publicidade e da probidade adminis-
de gestão desenvolvido para atendê-la. trativa, todos os modelos que viabilizem a implantação
da infraestrutura que o país tanto necessita.
Saneas: Existem muitas obras interrompidas por É inadmissível, para a implantação de infraestru-
deficiência de projeto? Qual é o ônus que isto re- tura, modelos que não sejam embasados em projetos
presenta? de engenharia completos, elaborados por empresas
Pladevall: O PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) idôneas, independentes e tecnicamente capacitadas,
do Governo Federal é um exemplo claro da importância pois apenas com estes documentos técnicos será
do projeto de qualidade. Segundo um estudo elaborado possível a definição exata das características do bem
pelo Trata Brasil, o PAC finalizou, até dezembro de 2010, a ser produzido, das condições de desempenho de-
apenas 4% das obras iniciadas, há quatro anos, em 101 sejadas e dos recursos a serem gastos, quer seja para
municípios com população acima de 500 mil habitantes a implantação, manutenção ou operação do produto
(sendo 24 em São Paulo). Essas intervenções totalizam gerado.
cerca de R$ 2,8 bilhões de investimentos. Cerca de 60%
desses empreendimentos estão paralisados por proble-
mas decorrentes de deficiências dos projetos básicos,

16 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


ponto de vista

A Engenharia e
a Infraestrutura
O Eng.Civil e Adm.
de Empresas, Por Francisco Kurimori
Francisco Kurimori, é
presidente CREA-SP
Conselho Regional Por um longo período, mais de 30 anos, a En- A delicada questão da Engenharia e da In-
de Engenharia e
Agronomia do Estado genharia Brasileira ficou relegada a um plano fraestrutura esbarra nas arestas deixadas pelos
de São Paulo - Gestão secundário devido à crise econômica. Foi um bancos escolares, no ensino básico e funda-
2012-2014. Na
gestão anterior era
tempo difícil, em que não só os engenheiros mas mental que, em muitos casos, não formam os
chefe de gabinete os profissionais da área tecnológica terminaram alunos adequadamente.
da presidência dessa migrando para outros campos da atividade laboral Recentemente, ao participar de uma mesa
entidade. Também
é secretário da que remuneravam melhor o trabalho. redonda sobre o Pré-Sal, ouvi de um profissio-
FAEASP - Federação A primeira pergunta que se faz é: esse cenário nal a seguinte colocação: “Eu sou Engenheiro
das Associações
de Engenharia,
se modificou? Os engenheiros, os profissionais Naval mas nunca entrei num navio. A Escola
Arquitetura e da área tecnológica estão sendo remunerados em que me formei achava que isso não era
Agronomia do Estado
adequadamente a ponto de não precisarem mais necessário nem importante”. Fiquei pensando
de São Paulo e
conselheiro da Febrae ficar mudando de área? A resposta a essa ques- em quantos profissionais recebem o diploma
– Federação Brasileira tão não é muito fácil porque as informações que sem ter pisado num canteiro de obras e as con-
de Associações de
Engenheiros. Atuou temos mostram um cenário ainda nebuloso, prin- sequências dessa formação para a atividade
como engenheiro cipalmente para os jovens profissionais. Muitos profissional. O que se espera é que os nossos
do IPT – Instituto
de Pesquisas
já iniciam a carreira com bons empregos e bons engenheiros tenham a experiência necessária
Tecnológicas, da salários, mas a grande maioria recebe o mínimo para tocar as obras e projetos que estão impul-
Light – Serviços de que a legislação garante. Oras, se remuneramos sionando o nosso país e elevando-o à invejável
Eletricidades S.A., do
DER – Departamento mal o engenheiro, o profissional da área tecnoló- posição de 5ª Economia Mundial.
de Estradas de gica, não podemos esperar que ele se mantenha
Rodagem, foi
diretor do DAEE –
fiel a sua profissão. Permanecerá engenheiro até Valorização Profissional
Departamento de encontrar algo que o remunere melhor. Na Presidência do CREA-SP estou implantan-
Águas e Energia
Assim, não basta dizer que formamos mais 30 do uma política de austeridade para resgatar o
Elétrica, assessor
da presidência da mil profissionais por ano, número inferior ao da reconhecimento do Conselho e valorizar o pro-
CODASP – Companhia China e Índia, nem que seremos sede da Copa do fissional, cumprindo o meu Plano de Governo
de Desenvolvimento
Agrícola de São Mundo e dos Jogos Olímpicos e aprovado nas últimas eleições. Em
Paulo e sócio- que os dois eventos garantirão “Os engenheiros fevereiro, formalizei uma parceria
proprietário da
Kurimori Engenharia
abertura de vagas no mercado estão sendo com a Secretaria Estadual de De-
de trabalho. Há um problema senvolvimento Econômico, Ciência
e Construções Ltda.
Foi presidente da
remunerados
muito sério que desvia o foco e Tecnologia visando abrir caminho
Associação dos adequadamente?
das atenções para a formação para o profissional afastado, que
Ex-alunos da Escola
de Engenharia de
A resposta a essa
desses profissionais. Os educa- deseje regressar ao mercado de tra-
Lins, Presidente da questão não é
dores, responsáveis pelas uni- balho. O Secretário Estadual Paulo
SENAG - Sociedade
dos Engenheiros, versidades, com quem tenho
fácil porque as Alexandre Barbosa comprometeu-
Arquitetos e
conversado, se mostram pre- informações que se a nos auxiliar nesse projeto
Agrônomos da Região
Administrativa de Lins ocupados com a qualidade da temos mostram disponibilizando cursos de aper-
por dois mandatos formação do profissional, pois um cenário feiçoamento para os profissionais
de 2001 a 2003 e
de 2003 a 2005 e essa qualidade irá influenciar di- ainda nebuloso, registrados no Conselho que, em
Conselheiro do CREA- retamente no seu desempenho principalmente decorrência de uma série de fatores,
SP de 2001 a 2003 e
de 2004 a 2006.
profissional, na sua atuação no para os jovens afastaram-se do mercado e hoje
mercado de trabalho. profissionais.” manifestam a intenção de retornar.

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 17


ponto de vista

Formalização de parceria com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia

A linha de ação que tenho adotado frente ao tituído pelo CREA NET, trazendo acima de tudo vanta-
CREA-SP é a de não lamentar o tempo perdido, que gens e facilidades para o profissional que poderá aces-
passou, e sim termos uma atitude corajosa, enfren- sar os serviços oferecidos pelo CREA-SP de qualquer
tando os desafios e contribuindo efetivamente para lugar, bastando para isso estar conectado à Internet.
que os profissionais, não só os engenheiros, mas to- Não é minha intenção fazer aqui uma prestação
dos aqueles que integram a área tecnológica, sintam de contas. Mas apenas exemplificar que, se agirmos
orgulho da profissão que abraçaram e do Conselho com seriedade e profissionalismo, vamos levar adiante
que os representa. os nossos projetos, sejam eles de vida, de trabalho,
A política de austeridade que está em curso no da Copa ou das Olimpíadas. Não basta identificar o
CREA-SP já está apresentando resultados positivos. erro, apontar a falha. Tem que ter uma atitude positiva,
Nos primeiros quatro meses de gestão, o Conselho buscando o caminho para solucionar as questões, dei-
economizou mais de 20 milhões de reais. E estamos xando de lado o personalismo para privilegiar a equipe,
fazendo mais do que já foi feito em qualquer outro o contexto, o conjunto.
período porque estamos planejando todas as nossas Se todos fizermos isso, num curto espaço de tem-
ações e cumprindo o nosso planejamento. Valorização po, vamos passar de uma comunidade cognitiva e in-
do profissional e do funcionário que trabalha conosco. segura para uma sociedade dinâmica, que sabe o que
Convidamos o Sindicato que representa a categoria e a quer e o que faz, com os pés fincados no presente e os
Associação Paulista dos Creanos para que viessem ao olhos no futuro.
Conselho e apresentassem a sua pauta de reivindica- Para os engenheiros brasileiros e paulistas não fal-
ções. Eles foram surpreendidos num primeiro momento ta capacidade e disposição até para um programa de
porque estavam todos alijados, afastados das decisões. reengenharia, de reciclagem se for o caso, tendo como
Já alinhamos isso e terminamos de celebrar o Primeiro ponto focal o futuro da nossa nação. Tenho certeza
Acordo Coletivo com mais de 50 itens. O Sistema de que todas as dúvidas hoje existentes, relacionadas com
Informatização utilizado pelo Conselho há mais de 20 a questão da infraestrutura e da engenharia, irão se
anos e que está reconhecidamente obsoleto será subs- transformar em afirmações e conquistas.

18 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


visão de mercado

A importância do projeto de
engenharia para empreendimentos
João Alberto Viol
é Engenheiro Civil
públicos e privados
pela Escola de
Engenharia de São Por João Alberto Viol
Carlos - USP(1975).
Foi Diretor Técnico
da Companhia Um país sem projeto é uma nação sem rumo, ou consistente possibilita também a contratação de
de Construções
melhor, país rico é país com planejamento e pro- projetos executivos de acordo com a melhor pro-
Escolares do
Estado de São jeto. Essa paráfrase do slogan do governo federal posta técnico-econômica.
Paulo S/A (1983), (“País rico é país sem pobreza”) traduz com exati- Porém, o planejamento e a contratação de
Diretor Técnico da dão a importância do planejamento e do projeto projetos pela melhor solução técnico-econômica
Superintendência
de Desenvolvimento para o desenvolvimento sustentável do Brasil, em infelizmente ainda não são prática correntes no
do Litoral Paulista todas as acepções da palavra. Brasil. Mas eles são essenciais para o desenvol-
(1983/1987), Temos grande experiência prática dos proble- vimento sustentável da infraestrutura do país.
Diretor de Obras
mas advindos da falta de planejamento e de bons Isto porque, em primeiro lugar, se não há plane-
e Executivo da
Fundação para o projetos, especialmente no desenvolvimento da jamento, há forte risco de não serem seguidos
Desenvolvimento nossa defasada infraestrutura. Essa experiência os procedimentos recomendados pelos melho-
da Educação negativa traduz-se em aeroportos sobrecarrega- res organismos internacionais de análise, finan-
(1987/1991), Diretor
de Engenharia dos, ferrovias em quantidade insuficiente, parque ciamento e fomento de obras de infraestrutura:
da SABESP energético deficitário e com riscos de apagões, planejamento prévio e rigoroso do ponto de vista
(1991/1995), mobilidade urbana problemática, falta de cole- técnico-econômico, contratação de estudos pré-
Presidente Nacional
ta e tratamento de esgoto em níveis adequados, vios e projetos com a devida antecedência, desen-
da Associação
Brasileira de entre diversos outros exemplos. O planejamento volvimento do projeto executivo (completo) para
Engenharia realizado com a necessária antecedência e rigor embasar a licitação/concorrência, definindo todos
Sanitária e técnico permite, em primeiro lugar, prever os re- os detalhes técnicos do empreendimento, crono-
Ambiental - ABES
(1992/1994) e cursos orçamentários para o empreendimento, grama e orçamento. Esses procedimentos, quando
Presidente da evitando a, infelizmente, comum prática de pa- seguidos à risca, permitem aos contratantes, pú-
Associação Paulista ralisar obras, muitas vezes por anos, com custos blicos e privados, ter o controle total da execução
de Empresas
de Consultoria
elevadíssimos para a sociedade. O planejamento da obra, evitando surpresas e sobrepreços.
e Serviços em
Saneamento e
Meio Ambiente –
APECS (2005/2009).
Atualmente é
diretor da JHE
Consultores
Associados,
membro
permanente do
Conselho Diretor da
ABES e Presidente
Nacional do
Sindicato Nacional
das Empresas
de Arquitetura
e Engenharia
Consultiva –
SINAENCO.

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 19


visão de mercado
O investimento em infraestrutura se dá pela apli- ficações, as quantidades necessárias. Aplicando-se os
cação de recursos públicos nas obras, incluídos aí todo preços unitários a essas quantidades, tem-se como
sistema de saneamento – água, esgoto, drenagem de resultado o orçamento da obra. Além disso, o projeto
águas pluviais e coleta, afastamento e tratamento de permite, com seus desenhos e processos construtivos
resíduos sólidos, lixo – energia, em todas suas modalida- definidos, a elaboração do cronograma de obra, o pra-
des, transportes, em todas suas modalidades – terrestre, zo necessário para que aquela obra seja realizada.
rodoviário, ferroviário, hidrovias, navegação de cabota- De posse desse conjunto de elementos, os admi-
gem e portos, a interface de portos marítimos e fluviais. nistradores públicos e privados podem realizar, sem
Antes de se fazer algo, caminhar em qualquer di- riscos, a licitação/concorrência da construção. Tendo
reção, de maneira atabalhoada, perder recursos, efici- em mãos o projeto, com o orçamento e o cronogra-
ência e eficácia, não se atingindo resultados, deman- ma, saberão o que está contratando, quanto tempo vai
dando muito mais tempo e gastando-se muito mais demorar sua construção e a natureza da obra. Con-
dinheiro do que o necessário, o planejamento permite tratante e contratado poderão avaliar com clareza a
entender melhor o problema e buscar a melhor solução melhor proposta para fazer aquele trabalho. O gestor
para o caso. Planejar é exatamente isso, “pensar antes”. público ou o investidor privado poderão estabelecer os
O planejamento gera planos, programas e proje- cronogramas físico-financeiros, o avanço de obra e de
tos, dentre eles, os projetos específicos de engenharia desembolso, de forma a permitir que a obra saia no
e arquitetura, instrumentos para materializar as obras tempo certo e com a qualidade adequada, entregando
públicas. a melhor obra para sociedade.
Essas atividades desenham o futuro, são de longo O bom projeto, contratado com a antecedência
alcance, e por sua natureza intelectual, de visualizar necessária para que o processo criativo, de natureza
o futuro antecipando pensamentos, levando sonhos à intelectual, apoiado pela boa técnica, portanto, dá as
prática, são próprias do Estado; constituem uma plani- informações básicas para que a eficiência na gestão
ficação para que sucessivos governos persigam objeti- dos recursos públicos seja maior, estabelece o com-
vos pré-estabelecidos. Evidentemente, como o mundo promisso entre a segurança que aquele equipamento
é dinâmico, esse planejamento deverá ser adequado deverá oferecer e a economicidade na aplicação dos
em função da mudança das circunstâncias, mas exis- recursos públicos ou privados.
te uma linha geral, que é a perseguição dos objetivos Além disso, no projeto pode-se evitar a agressão
maiores de uma Nação, portanto, atividade própria de ao meio ambiente, com o estudo e simulação de al-
Estado. Os projetos de arquitetura e engenharia têm ternativas que preservem espécies animais e vegetais,
essa característica. além de comunidades indígenas ou quilombolas. Caso
Já a realização das obras, a materialização daqueles algum impacto ambiental seja inevitável, é na fase de
sonhos, acontece passo a passo, pela construção física projeto que se pode quantificar e procurar soluções
dos projetos. É, portanto, atividade típica de governos, para mitigá-los, reduzi-los ou, ainda, de alguma forma,
que se sucedem, cuja continuidade de esforços vai compensá-los.
construindo o futuro pensado lá atrás. O projeto executivo de engenharia e arquitetura é
É imprescindível ao administrador que pensa cons- o melhor instrumento, o mais eficaz, para melhorar a
truir algo a contratação dos projetos de arquitetura e de gestão da aplicação dos recursos públicos e privados
engenharia com a antecipação necessária, para que, ao nas obras. É importante lembrar que o projeto custa,
decidir realizar a obra, tenha o projeto executivo desses em média, cerca de 5% do montante global da obra.
equipamentos, informação básica e fundamental. Porém, por sua importância, pode representar eco-
O projeto executivo de engenharia e de arquitetura nomias que ultrapassam mais de 50% do total a ser
traz em si, como seus elementos finais, além dos dese- investido num empreendimento público ou privado.
nhos, das “plantas”, que permitem que seja materiali- Nossos administradores precisam ter esses números
zada a obra, toda a orientação e os elementos da cons- em mente na hora de contratar projetos de engenha-
trução, desde as fundações, até os equipamentos mais ria. O bom projeto é a garantia essencial para obter
sofisticados. O projeto traz a qualificação de materiais uma obra de qualidade, no cronograma definido e ao
e serviços, suas especificações técnicas, e as quanti- custo orçado.

20 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


artigo técnico

O SENHOR FEYNMAN NÃO ESTAVA BRINCANDO:


A EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA BRASILEIRA
WALTER ANTONIO
BAZZO Engenheiro
Mecânico, Doutor
em educação,
Pesquisador e Por Walter Antonio Bazzo, Giulia Baretta e
Professor do
Departamento
Luiz Teixeira do Vale Pereira
de Engenharia
Mecânica da
“O principal propósito da minha apresentação é provar aos senhores que não se está ensinando ciência
UFSC. Um dos alguma no Brasil!” Eu os vejo se agitar, pensando: “O quê? Nenhuma ciência? Isso é loucura! Nós temos
fundadores e atual todas essas aulas”. Este é o trecho de um depoimento do físico Richard Feynman quanto às suas impressões
coordenador do
sobre o sistema educacional brasileiro, depois de ter lecionado por dez meses para estudantes de Física e
NEPET.
Engenharia no Rio de Janeiro, entre 1951 e 1952. Tristemente, depois de sessenta anos seu depoimento
continua retratando com bastante precisão o cenário da educação no Brasil – primordialmente a tecno-
lógica – onde os alunos decoram conceitos sem compreender o que eles representam, pouco exercem seu
poder reflexivo e acabam sendo levados a um caminho de aprendizado apático. Este artigo busca detalhar
esse viés da educação brasileira, através da experiência dos autores na qualidade de professores e de es-
tudantes de engenharia.

GIULIA BARETTA 1- A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DA Desde o surgimento de pequenos grupos de


- Graduanda CURIOSIDADE hominídeos, observa-se que o conhecimento
de Engenharia
Mecânica, na A curiosidade levou os primeiros hominídeos a adquirido é transmitido para as gerações subse-
Univ Fed Santa transformarem rochas em ferramentas, levou quentes, mesmo que das formas mais rudimen-
Catarina (2011). ao aprendizado de como obter o fogo e tam- tares. A espécie de hominídeo que suplantou a
bém levou o homem à exploração de todas as sobrevivência dos demais Homo, a Homo Sa-
regiões do Planeta Terra. Ela deu à luz o en- piens, deve a sua supremacia, em grande par-
tendimento do mecanismo de movimentação te, à habilidade de ensinar e aprender. Afinal, o
dos corpos celestes, do que é a chuva, de como conhecimento, quando acumulado ao longo de
funcionam os organismos vivos e de fenôme- gerações, se multiplica e permite que se criem
nos sociais. Como disse Carl Sagan, “Nós somos cada vez mais novas idéias e soluções, aumen-
um meio de o universo conhecer a si mesmo” tando o ferramental tecnológico e filosófico de
LUIZ TEIXEIRA DO (SAGAN, 2005), e nós nos conhecemos porque um grupo, de modo que a sua dominância em
VALE PEREIRA temos ânsia por saber. um espaço seja garantida.
- Mestre em
Afora a parcela da necessidade, que motiva o Assim, é fundamental, para a continuidade de
Projeto Mecânico
e engenheiro aprendizado em situações emergenciais, a curio- uma civilização já desenvolvida, que o conheci-
de segurança sidade traz inquietude à mente mesmo quando se mento seja preservado, transmitido e desenvolvi-
do trabalho, está em total segurança e conforto. Ela é, ainda, do através do tempo.
professor do
Departamento
um mecanismo catalisador do aprendizado. Quan- Em uma civilização em estágio avançado,
de Engenharia do há o interesse por descobrir a resposta para um como se presume ser a nossa, na qual o número
Mecânica da mistério, todos os sentidos são aguçados para que de pessoas segue crescendo em grandes propor-
UFSC. Publicou
se encurte o caminho da descoberta. Mais do que ções, o conhecimento acumulado é complexo e
diversos artigos
e cinco livros na isso, quando há uma pergunta para ser respondi- vasto. E quando o tempo que se leva para que as
área de ensino de da e quando se faz algum esforço para tal, cada ciências se renovem fica cada vez menor, o pro-
engenharia. detalhe do processo de investigação, de raciocínio cesso de educação das gerações torna-se algo
e do conteúdo da resposta é memorizado. a ser planejado com muito cuidado para que

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 21


artigo técnico

de fato elas sejam estimuladas da melhor maneira estendido a qualquer região do mundo – que o leia,
possível. Não é mais necessário que a construção do já que o aluno pode identificar inúmeras semelhanças
conhecimento seja feita a qualquer custo, como nos entre as situações pelas quais passou na sua vida esco-
primórdios da civilização humana, e sim que seja feita lar e aquelas descritas por Feynman.
de maneira a visar à formação de cidadãos criativos, Desde o ano 1952, em que Feynman esteve no Bra-
reflexivos, que se perguntem sobre como utilizar o sil, o sistema educacional brasileiro passou por impor-
conhecimento de que dispõem, que questionem mé- tantes melhoramentos: os índices estatísticos mostram
todos e teorias já estabelecidos. que a proporção de crianças matriculadas nas escolas
Em um período em que o saber educar é uma ciên- cresce a cada ano e que o analfabetismo vem sendo
cia complexa e ainda mal explorada em muitos países reduzido. Ainda, a produção científica no país evoluiu,
e instituições, mesmo sendo a base da manutenção da bem como a produção artística e literária. O número de
nossa existência, nos perguntamos qual é a força mo- profissionais que se destacam internacionalmente em
triz do aprendizado, como fazê-lo de maneira rápida e suas áreas também sofreu grande aumento. No entan-
eficaz nas escolas e universidades. A resposta é ampla to, o fato de já poder se formar aqui profissionais bas-
e requer muita reflexão, mas o princípio é simples: a tante capazes não garante que o aproveitamento do
curiosidade é algo inerente à espécie humana e é po- nosso processo educativo seja ideal. Encontra-se mui-
tencialmente forte para que desperte o nosso interesse to aquém disso, na realidade. Ainda a grande maioria
pelas coisas e, por consequência, pelo aprendizado do dos jovens que concluem o ensino superior apresenta
mundo em que vivemos. conhecimentos superficiais, pouca criatividade, pouca
Hoje, em muitas instituições educacionais e gru- habilidade reflexiva. Assim, em termos qualitativos as
pos culturais, de alguma maneira, essa característica mudanças foram tímidas, o que é corroborado pelo
tão importante da nossa espécie é suprimida em algum fato de, mesmo passado tanto tempo, podermos nos
lugar entre a infância e a juventude. Ao não aprovei- identificar na análise de Feynman.
tarmos esse atributo valioso, desperdiçamos a chance Os problemas na qualidade de nosso ensino se devem
de construir um sistema educacional eficiente e ainda especialmente a uma tradição de recompensa pela me-
acabamos muitas vezes por reprimir o espírito curioso morização. Pelo que se coloca em prática nas instituições
que todo ser humano dispõe. brasileiras, educar está intimamente relacionado a decorar
conceitos. Essa confusão de valores traz atrasos enormes
2- O SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO ao processo educacional e o dificulta sobremaneira. Aqui,
Em 1950, Richard Feynman lecionou no Brasil du- o caminho escolhido para educar é o mais tortuoso e é o
rante dez meses, para alunos de Física e Engenharia que oferece mais chances de fracasso, considerando que
no Rio de Janeiro. Após a conclusão do ano letivo, o objetivo final deve ser a formação de gerações criativas,
ele deu uma palestra para estudantes, professores e capazes de identificar problemas, gerar soluções, modifi-
oficiais do governo sobre as suas impressões e opi- car a sociedade pela reflexão e pelo reconhecimento da
niões referentes ao ensino brasileiro. Essa palestra e sua posição como ser humano e cidadão.
as suas experiências como professor no Brasil estão Feynman atenta, nos seus textos, especialmente
relatadas no livro (O senhor está brincando, Sr. Feyn- para as deficiências na produção científica que são
man!) escrito pelo próprio físico. geradas pela tradição cultural do nosso ensino. No en-
A descrição feita por Feynman é preciosa, esclare- tanto, suas observações servem para que se perceba
cedora e, infelizmente, ainda retrata em parte a situ- que o efeito é muito maior, refletindo-se em todos os
ação da educação no país. As deficiências apontadas segmentos da sociedade.
por ele transpõem as fronteiras entre escola e universi- A seguir, através da análise da palestra de Richard
dade, valendo como base para uma reflexão referente Feynman, buscamos mostrar quais deficiências perce-
a ambas as instituições. Ainda, o texto chama a aten- bemos no sistema adotado para a educação dos jovens
ção de qualquer estudante brasileiro – mas por certo no Brasil, ao longo dos ensinos básico e superior, e as

22 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


artigo técnico

suas consequências. Tais percepções vêm embasadas Quando, desde a infância, somos estimulados a
sobremaneira em nossas experiências como estudan- decorar ensinamentos, sem refletir sobre eles e pouco
tes e professores. tendo que compreender para prosseguir com sucesso
dentro da instituição de ensino, entendemos que esta
3- APRENDIZADO PASSIVO, CONHECIMENTO é a maneira mais fácil de encarar o processo educativo,
EFÊMERO já que é bastante confortável guardar algumas frases
O sistema educacional brasileiro é construído sobre e fórmulas prontas por mera repetição. Levamos esse
algumas bases pouco sólidas e de valores questioná- vício da escola para a universidade e desperdiçamos
veis. Os métodos de ensino e de avaliação estimulam anos absorvendo conhecimentos temporariamente – e
os alunos – como alertamos anteriormente – a cons- não construindo representações duradouras da reali-
truir conhecimentos superficiais sem questioná-los. dade. Ao fim, pouco de útil a aprendizagem nos traz.
Com isso, eles passam a trabalhar conceitos neces- Ainda, ao decorar um conceito, sem questioná-lo,
sários apenas de maneira temporária e fracionada, o deixa-se não só de compreender fenômenos, como
que leva a um verdadeiro acúmulo de desconheci- também de exercitar o raciocínio, a criatividade e
mento ao longo dos anos de estudo. perde-se a oportunidade de ampliar as nossas visões
do mundo. É como seguir por um caminho através de
3.1- Decorar, decorar uma bela paisagem e só olhar para o chão, deixando de
“Depois de muita investigação, finalmente descobri perceber a riqueza do entorno.
que os estudantes tinham decorado tudo, mas não Ao final de em média vinte anos de estudo, percebe-
sabiam o que queria dizer. Quando eles ouviram ‘luz -se que todos gastaram esforços, alunos e professores,
que é refletida de um meio com um índice’, eles não para a retenção de um conhecimento frágil. O mesmo
sabiam que isso significava um material como a água. esforço poderia ser destinado a um aprendizado efeti-
Eles não sabiam que a ‘direção da luz’ é a direção na vo com poucas mudanças no direcionamento das aulas
qual você vê alguma coisa quando está olhando, e as- e avaliações, as quais serão discutidas adiante.
sim por diante.” (FEYNMAN, 2006)
Feynman, durante suas aulas, observou que os alu- 3.2- Avaliando a capacidade de memorização
nos mostravam grande agilidade e precisão ao definir “Depois da palestra, falei com um estudante: vocês fi-
os conceitos e os fenômenos das teorias que eram en- zeram uma porção de anotações, o que vão fazer com
sinadas em sala. No entanto, não sabiam como reagir elas?
se a pergunta sobre o mesmo assunto, aparentemente – ‘ah, nós as estudamos’, ele diz. ‘nós teremos uma
dominado, fosse levemente modificada. prova’.
Esse é o reflexo exato de um sistema baseado na – e como vai ser a prova?
memorização, como o que é corrente no Brasil – nosso – ‘muito fácil. Eu posso dizer agora uma das questões.’
mote de análise. Os alunos são doutrinados, desde os Ele olha em seu caderno e diz: – ‘quando dois corpos
primeiros anos em que frequentam a escola, a visuali- são equivalentes?’
zar o processo de aprendizado como a aquisição de um E a resposta é: ‘dois corpos são considerados equiva-
banco de dados. lentes se torques iguais produzirem aceleração igual’.”
As aulas são destinadas a fornecer os conceitos (FEYNMAN, 2006)
prontos, previamente formulados em um livro didá- É fundamental, em qualquer instituição de en-
tico de base. Os professores proferem as palavras, os sino, que haja uma avaliação periódica para que
alunos absorvem as palavras. Pouco ou nenhum en- se verifique a evolução dos estudantes, como sua
tendimento é requerido nesse processo. Muitas vezes, capacidade de raciocínio e sua criatividade foram
especialmente no ensino fundamental e médio, nem os estimuladas, quais os conhecimentos adquiridos
próprios professores compreendem muito bem o que e compreendidos. Ela serve para orientar alunos e
essas palavras representam. professores, para que eles possam adaptar o pro-

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 23


artigo técnico

cesso de aprendizado de acordo com a necessidade como ferramentas auxiliares, mudando a sua postura
corrente e compensar seus erros. sobre o que é aprender.
Assim, a avaliação deve ser uma ferramenta do
processo e não um obstáculo ou o objetivo maior 3.3- A falta de exemplos reais
do mesmo. “Mas, se em vez disso, estivesse escrito: ‘Quando você
Nas nossas escolas, vemos que a prática de ava- pega um torrão de açúcar e o fricciona com um par
liação tem sua função um tanto quanto desfigurada, de alicates no escuro, pode-se ver um clarão azulado.
passando de acessório auxiliar para ferramenta con- Alguns outros cristais também fazem isso. Ninguém
clusiva. Os alunos aprendem prioritariamente a “pas- sabe o motivo. O fenômeno é chamado tribolumines-
sar” nas provas. Cria-se um subsistema de aprendizado: cência’. Aí alguém vai para casa e tenta. Nesse caso, há
os estudantes criam seu próprio banco de provas, tra- uma experiência da natureza.” (FEYNMAN, 2006)
çam o perfil da avaliação de cada professor e as repas- Exemplos práticos são um bom artifício para atrair
sam às gerações seguintes; graduam-se extremamente a atenção das pessoas para qualquer tipo de argumen-
experientes em atingir boas notas nas provas de ma- tação. Quando identificamos uma situação comum
neira fácil e rápida. sobre a qual não sabemos nada e recebemos então al-
Esse esquema de aprender a fazer prova é faci- guma informação, essa informação é memorizada na
litado pelo estilo das avaliações aplicadas na quase hora. Mais do que isso, começamos a refletir, atentar
totalidade de instituições de ensino. Elas são susce- aos detalhes, visualizar onde mais se verifica aquilo.
tíveis às palavras, aos conceitos dos livros didáticos, Feynman descreve isso com um exemplo interessan-
são repetitivas ao longo dos anos, não requerem te. Por que decorar algumas palavras para descrever a
que o aluno desenvolva um raciocínio consistente, triboluminescência quando se pode compreendê-la e
que improvise uma solução, semelhante ao que foi visualizá-la em sua própria casa?
descrito pelo aluno de Feynman. As avaliações tra- A utilização de exemplos no ensino escolar e uni-
dicionais, pelas quais passamos tantas vezes, visam versitário é algo muito simples para qualquer professor
tomar nota. Elas cumprem da maneira mais óbvia capacitado, especialmente porque as teorias que es-
possível a burocracia que exige que o professor e o tudamos em sala explicam coisas simples do dia a dia.
aluno mostrem de forma documentada a aprovação Infelizmente essa prática não é comum. Vivencia-
ou não do aluno. mos experiências desconcertantes na escola, por vezes
Infelizmente, este sistema avaliativo é coerente ouvimos falar sobre alguma coisa por três, quatro, mais
com o método de ensino, e os dois fortalecem a exis- vezes durante o curso e acabamos nos dando conta
tência um do outro. Enquanto a avaliação verifica a depois da n-ésima vez de que não sabemos o que é
capacidade de repetição dos alunos, constituindo o aquilo, para que serve, como se parece. Por outro lado,
sistema de recompensa por memorização, o método quando nos é chamada a atenção para a correspon-
serve para levar os alunos até a prova, fornecendo con- dência entre teoria e prática, tendemos a ficar impres-
ceitos diretos, frases prontas. sionados e elaboramos aquele conhecimento de ma-
A medida mais correta a ser tomada – nos parece neira fácil e prazerosa.
– seria uma mudança no processo de avaliação, que A exemplificação de qualquer conhecimento é fun-
deve ser feito ao longo das aulas, sem que necessaria- damental para a compreensão da sua relação com o
mente seja aplicada uma prova física formal. Esse tipo mundo em que vivemos e a falta dela fortalece a me-
de mudança está atrelado a análises mais consistentes morização de definições em detrimento da reflexão, já
das diretrizes e fundamentos do sistema educacional, que a visualização dos fenômenos pode tornar-se algo
o que ocorre em longo prazo. Em curto prazo, pode-se distante dos alunos, fazendo parecer difícil entender a
melhorar o conteúdo das avaliações, que deve priorizar sua descrição teórica.
a capacidade de raciocinar, de criar. À medida que o
aluno sente-se avaliado por estas características, ele 3.4- Por que perguntar?
passa a ver o conhecimento técnico dos conceitos “Uma outra coisa que nunca consegui que eles fizessem

24 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


artigo técnico

foi perguntas. Por fim, um estudante explicou-me: se o hábito de questionar acaba sendo mitigado pelo
eu fizer uma pergunta para o senhor durante a pales- próprio método de ensino, o que leva a um vício de
tra, depois todo mundo vai ficar me dizendo ‘por que apatia cultural: sem questionamento não há reflexão,
você está fazendo a gente perder tempo na aula? Nós sem reflexão não há aprendizado e, por conseguinte,
estamos tentando aprender alguma coisa, e você o está formam-se cidadãos cada vez mais passivos.
interrompendo, fazendo perguntas’.” (FEYNMAN, 2006)
Quando os alunos não fazem perguntas em aula 3.5- O que é levado para a universidade
pode-se inferir que estão intimidados, que não enten- Nos ensinos fundamental e médio cria-se uma base
dem o suficiente do assunto para que tenha surgido que define como os alunos gerenciam o seu proces-
alguma dúvida ou que não têm o interesse necessá- so de aprendizado. O processo educacional no Brasil,
rio para que reflitam e questionem. Também há de se fortemente enraizado em métodos muitas vezes ul-
observar que uma postura inquisitiva, questionadora, trapassados, onde os alunos são doutrinados paulati-
está intrinsecamente ligada à formação das pessoas. namente a aceitar o conhecimento de forma passiva,
Se há liberdade e estímulo para que se pergunte, se não consegue manter vivos o senso curioso das crian-
você cresce em um meio onde todos são acostumados ças e jovens e a sua ânsia por aprender, que vão sendo
a questionar, você desenvolve o hábito dessa prática. reprimidos ao longo dos anos. No entanto, quando o
Feynman observou que os seus alunos não de- aluno está prestes a entrar na universidade se observa
monstravam apreço por perguntas, porque o grupo as que há uma renovação da motivação e curiosidade
considerava desnecessárias e inoportunas. Essa inibi- que foram quase mitigadas anteriormente. A iminên-
ção por parte de colegas ainda pode ser vista nos dias cia de encontrar um novo mundo e de adentrar nos
de hoje, mas seu efeito é reduzido. Os alunos deixam conhecimentos de uma área escolhida por cada um,
de perguntar mais por falta de interesse e atenção nas de acordo com seu interesse e suas aptidões, faz com
aulas do que por pressão do grupo. No entanto, essas que os alunos despertem uma avidez por saber que já
duas situações que levam à passividade dos alunos, havia sido esquecida.
desinteresse pelo assunto de aula e o desgosto por O que ocorre, então, é que novamente toma-se
perguntar são frutos da mesma deficiência de base do a grande maioria dos alunos e insere-se no mesmo
nosso sistema educacional. círculo vicioso – decorar conceito, decorar exercícios
É indiscutível a importância do perguntar em qual- batidos, avaliar a capacidade de memorização. Isso os
quer processo de aprendizado. Por definição, você leva mais uma vez ao caminho de aprendizado pas-
busca uma resposta, uma explicação, somente depois sivo e efêmero.
de ter formulado uma pergunta. É impressionante a Vê-se uma instituição bem estruturada, com bons
constatação de que nas escolas os professores, em sua profissionais, cheia de alunos que entram curiosos mas
grande maioria, entrem nas salas de aula e simples- que logo têm como objetivo principal sair dela, quando
mente despejem os conceitos sobre os alunos, sem na verdade ela é o lugar para querer estar, aproveitar,
antes despertar a sua curiosidade para o assunto, sem conhecer, pensar. Há aqui também uma confusão de
mostrar o porquê de alguém ter estudado aquilo num valores e métodos que deturpa o funcionamento dessa
primeiro momento e sem apontar para tudo que há entidade educacional.
por ser descoberto através de estudos do assunto. Des- Uma aula tradicional no curso de Engenharia
sa maneira, o interesse dos alunos pelas respostas vai Mecânica da UFSC, das matérias do ciclo básico, por
cessando de existir ao longo dos anos, pois elas não são exemplo, consiste na transcrição de um livro base.
tratadas como respostas, são conhecimentos atropela- Vê-se um livro tradicional referente àquela disciplina
dos que gravamos temporariamente para que passe- ser reproduzido no quadro e, então, ser copiado pelos
mos pelas provas. alunos. Além de repassar a teoria contida no livro, os
É lamentável que os alunos perguntem tão pou- professores costumam resolver em sala alguns exer-
co, mas, antes disso, é mais preocupante que eles não cícios nele contidos, sendo que, na maioria das vezes,
sejam ensinados e estimulados a perguntar. Assim, a resolução destes exercícios já está disponível na in-

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 25


artigo técnico

ternet. Vale ressaltar que a carga horária de todas as do curso são dedicadas à discussão entre professor e
matérias vem sendo reduzida paulatinamente, como aluno, tirando dúvidas resultantes do desenvolvimento
uma tentativa de diminuir o tempo de graduação, o e estudo dos projetos. A necessidade de se buscar pelo
que torna o tempo em sala cada vez mais precioso. conteúdo teórico por conta própria gera um interesse
Assim, utilizar esse tempo mínimo e a disponibilidade que é fundamental para o aprendizado. O fato de o
de professores muito capacitados e experientes para aluno precisar obter uma informação e compreendê-la
“transmissão de informações” que já estão documen- por conta própria leva-o a um nível de reflexão muito
tadas e disponíveis para todos é, no mínimo, um mau maior do que aquele destinado a ler o caderno com
aproveitamento de recursos. anotações no dia da prova.
A prova de que esse método de ensino pode ser Além da autonomia no estudo da teoria, a necessi-
falho é visível para qualquer pessoa que esteja dentro dade de solucionar um problema de projeto conduz à
da universidade: é muito comum ver alunos que vão busca de diversas ferramentas e possibilidades de solu-
às aulas para cumprir presença, passando o tempo da ção, de modo que um banco de dados técnicos acaba
aula fazendo outras coisas, antes das provas leem nos sendo desenvolvido e absorvido rapidamente pelo alu-
livros-base as mesmas questões abordadas em sala e no. Possibilita também a uma compreensão global dos
concluem as avaliações com sucesso. fenômenos envolvidos e das ferramentas disponíveis, de
Neste cenário o aluno pode ser tido como um vilão modo que o aluno exercita uma visualização ampla de
e, de fato, ele poderia estar acompanhando o raciocí- problemas de projeto. Ainda, leva ao exercício do racio-
nio do professor e aprendendo em sala, aproveitando cínio lógico e da criatividade na construção de soluções,
para criar e tirar dúvidas. No entanto, o fato de ele prática fundamental para qualquer engenheiro.
não precisar daquele momento para aprender a teoria De fato, segundo os alunos intercambistas, obser-
contida no livro mostra que se está gastando o tempo va-se que estudantes dessas universidades não têm
de um professor experiente para um trabalho que pode um conhecimento técnico tão acurado, mas apresen-
ser feito valorizando o autodidatismo dos alunos e as tam grande criatividade no desenvolvimento de solu-
informações largamente disponíveis e acessíveis em li- ções. E em um mundo onde a informação técnica está
vros e na internet, enquanto o encontro em sala pode disponível em todos os lugares e pode ser acessada a
ser destinado à discussão entre professores e alunos. qualquer momento, a reflexão e a criatividade apre-
Assim como no ensino básico, no ensino universi- sentam uma importância muito superior a qualquer
tário os métodos de ensino e avaliação abrem espa- memorização de dados e equações tabeladas.
ço à aprovação por pura memorização de conceitos e Algumas matérias do currículo de Engenharia
exercícios. E novamente os problemas do sistema de Mecânica da UFSC apresentam este perfil diferen-
educação básica se repetem: muitos alunos não enten- ciado, em que se estimula o autodidatismo e o de-
dem a contextualização de certas teorias aprendidas senvolvimento autônomo de uma solução para um
e não sabem como ela é utilizada na prática. Conse- problema do interesse. Elas apresentam resultados
quentemente não desenvolvem um interesse ideal pelo extremamente positivos em relação ao envolvimento
estudo, de modo que nunca aprenderão nada suficien- e à evolução dos alunos. No entanto, estas matérias
temente para desenvolver e aprimorar os conhecimen- são introduzidas no curso com o intuito de serem as
tos; só se aprende até a profundidade necessária para matérias práticas. Acreditamos que, pela comparação
ganhar o salvo conduto da universidade. entre o aproveitamento obtido em matérias de for-
Através de relatos de alunos de engenharia da mato tradicional – teoria, exercícios resolvidos, pro-
UFSC, que fizeram uma parte da graduação em uni- va – e o aproveitamento de matérias que têm por
versidades estrangeiras, observou-se que em muitas finalidade aplicar conhecimento, não deveria haver
dessas universidades as aulas de graduação e pós- essa divisão de maneira que haja no currículo uma
-graduação da engenharia são utilizadas primeira- cota para matérias de aplicação. Os dois conceitos de
mente para a explanação de conceitos fundamentais aulas devem ser utilizados juntos, de modo a otimizar
e então são propostos projetos aos alunos, problemas o processo educativo e trazer os alunos ao desafio, à
de engenharia, sendo que as demais aulas ao longo reflexão e ao aprendizado autônomo.

26 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


artigo técnico

4- FÁBRICA DE DESCONHECIMENTO – da educação no Brasil. Infelizmente, mesmo estando


A BRECHA DO SISTEMA disponível um depoimento tão sincero e chocante,
“Por fim, eu disse que não conseguia entender como pouco se fez nos últimos sessenta anos em termos de
alguém podia ser educado neste sistema de autopro- reformular as bases do sistema educacional de modo a
pagação, no qual as pessoas passam nas provas e en- aumentar a qualidade do ensino.
sinam os outros a passar nas provas, mas ninguém O que se perde pela desvalorização da fascinante
sabe nada.” (FEYNMAN, 2006) capacidade humana de reflexão, que se vê no Brasil,
As facetas do sistema educacional brasileiro apon- é incalculável. É incalculável em termos de forma-
tadas ao longo deste artigo contribuem para a cons- ção pessoal de cada jovem, mas é incalculável tam-
trução de um processo educativo frágil. Feynman ob- bém em termos financeiros, de modo que mesmo
servou já nos anos 1950 que os métodos de ensino e de aqueles que se importam unicamente com o desen-
avaliação levavam a um submundo em que os alunos volvimento econômico do país devem preocupar-se
deixam de ter apreço pela reflexão sobre os estudos com essa prática de inibir habilidades reflexivas em
e passam a estabelecer um esquema que permita que detrimento de uma habilidade que mesmo criatu-
passem pelos exames avaliativos facilmente. ras simples como os papagaios apresentam, a de
Hoje o sistema continua acobertando a possibilida- decorar palavras. As deficiências que essa tradição
de de aprovação dos alunos por meio de memorização cultural de ensino traz ao desenvolvimento social e
de conhecimentos frágeis e que são esquecidos assim tecnológico do país são imensas, já que a formação
que se passa pela avaliação. Não bastando a formação de jovens pouco capazes tecnicamente e deficientes
de jovens pouco questionadores e reflexivos, o sistema em estímulos criativos e reflexivos leva ao atraso do
nem consegue garantir que o conhecimento técnico desenvolvimento e criação de novas soluções para
tenha sido construído de maneira qualitativa, já que os problemas tecnológicos, políticos e sociais de
se aprova pela demonstração de conhecimentos que qualquer grupo.
podem ser efêmeros. É fundamental, portanto, que se ensine às crian-
Afora os problemas de falta de estímulos criativos ças e jovens brasileiros a perguntar, que se instigue a
e reflexivos, há uma brecha, portanto, no sistema, pela curiosidade, abrindo um espaço em sua mente para
qual os estudantes podem passar todos os seus anos que o conhecimento seja construído de maneira pra-
de estudo sem ao final ter construído qualquer conhe- zerosa, fácil, rápida e por meio de um processo de
cimento sólido que ele saiba aplicar em problemas re- raciocínio e reflexão, muito mais do que pela memo-
ais. Em suma, a situação para muitos alunos brasileiros rização pura. Há que se lembrar que, para o homem,
é a de passar muitos anos na escola e na universidade, descobrir coisas novas é prazeroso. Parece que já te-
obter aprovações com sucesso e boas notas e concluir mos a motivação primordial para o aprendizado in-
esse período sem ter construído uma base adequada serida em nosso código genético, mas ainda nos falta
de conhecimento e entendimento. a prática do estímulo da nossa tão preciosa curiosi-
dade ao longo dos anos de educação escolar. Assim,
5- CONCLUSÃO a escola brasileira – ousamos dizer que também a
“Bem, depois de eu dar minha palestra, o chefe do de- maioria das escolas do mundo – deve ser pensada
partamento de educação em ciências levantou e dis- para que seja o local em que se mantenha viva a ân-
se: ‘O Sr. Feynman nos falou algumas coisas que são sia por saber, o apreço pelas ciências, a reflexão sobre
difíceis de ouvir, mas parece que ele realmente ama todo e qualquer conhecimento, e nunca um local em
a ciência e foi sincero em suas críticas. Assim sen- que se cumpre um dever de provar que é capaz de
do, acho que devemos prestar atenção a ele. Eu vim memorizar dados.
aqui sabendo que temos algumas fraquezas em nosso
sistema de educação; o que aprendi é que temos um
câncer!’ – e sentou-se.” (FEYNMAN, 2006)
O físico Richard Feynman reconheceu em pouco
tempo e descreveu com maestria os maiores problemas

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 27


Acontece no setor
Sistema de secagem de lodo de ETE com aproveitamento de biogás

A empresa Albrecht instalou na cidade de Montes Claros/


MG o primeiro sistema de secagem de lodos de ETE com
aproveitamento de biogás como fonte de energia térmi-
ca. Segundo a empresa, este projeto é referência por ser a
primeira planta de tratamento de esgoto que irá utilizar
o próprio biogás gerado na estação como combustível
para fazer a secagem e higienização do lodo.
No Brasil, embora haja grande quantidade de siste-
mas anaeróbios que produzem o biogás, o aproveita-
mento deste raramente é adotado. Além de incentivar
a racionalização do uso dos recursos naturais, minimi- tufa, possibilitando, inclusive, a obtenção de créditos
zando o consumo de matéria-prima e desenvolvendo de carbono por meio deste projeto.
mecanismos de redução da geração de resíduos, o De acordo com a Albrecht, que é expositora da
aproveitamento do biogás visa otimizar a matriz ener- Fenasan 2012, com a secagem térmica garante-se a
gética, utilizando um combustível renovável e abun- redução do peso e do volume do lodo, facilitando o
dante, além de evitar a emissão destes gases para a manuseio, o transporte e a disposição, bem como a hi-
atmosfera, contribuindo desta forma com o efeito es- gienização do lodo (eliminação dos patógenos).

Sopradores que aliaM economia


e eficiência energética De acordo com o parecer dos seus técnicos, a eco-
nomia é obtida através do reaproveitamento da energia
A Atlas Copco, expositora da fenasan 2012, lançou no potencial existentes nos gases. Isso é possível por que os
final de 2011, a linha de sopradores ZS, que, segundo a novos sopradores permitem fazer o correto balancea-
empresa, chegou ao mercado trazendo mais do que tec- mento das unidades de vazão, desligando e religando-
nologia de ponta aos seus clientes: “essa nova linha con- o quando necessário, o que não ocorria anteriormente.
segue aliar alto desempenho com uma grande eficiência O uso de mancais de atrito é o que permite o processo,
energética, gerando uma economia maior em relação sendo acionados de acordo com um controle central
aos modelos anteriores”. microprocessado. Os novos sopradores com tecnologia
de parafuso, substituindo os antigos com tecnologia
de lóbulo, apresentam um ganho em eficiência ener-
gética, gerando economia de até 30% em relação aos
modelos antigos. E também ocupam menos espaço.
Diferentes indústrias e aplicações, tais como tra-
tamento de águas residuais, transporte pneumático,
produção de energia, produtos alimentares e bebidas,
farmacêuticos, químicos, papel e pasta de papel, têx-
teis, cimento e indústria em geral, poderão se beneficiar
em grande escala das economias de energia através da
substituição da tecnologia convencional de lóbulo pela
inovadora tecnologia de parafuso, recomenda a empresa.

28 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


ACONTECE NO SETOR

Produtos de integração para


sistemas de tratamento

A GEA Sistemas de Resfriamento - GEA Group apresen-


tará, na Fenasan 2012, sua linha de materiais plásticos
para integração em sistemas de tratamento de água
e de efluentes, entre eles módulos para decantação,
enchimentos para tratamento biológico, e mídia ran-
dômica para processos de MBBR e FBBR, em distintos
materiais de acordo com as especificações do projeto
ou com o tipo de aplicação, sempre em conformidade
com normas técnicas.
O produto TUBEdek é fornecido em módulos pron-
tos para instalar em peças soltas para montagem em
obra; por meio do deslizamento dos perfis (através de
linhas longitudinais) e aplicação de pontos de solda
para fixar as peças. Possuem um ângulo interno que
promove o escoamento dos sólidos e a compressão do
módulo, facilitando assim a instalação. Os perfis são
produzidos com o comprimento e a ângulo requeridos
para cada projeto.
O enchimento estruturado BIOdek é composto por
chapas de PP ou PVC com ondulações corrugadas,
um índice de vazios de 97% e baixo peso específico.
De acordo com a empresa, “os blocos são fabricados
com diversas áreas específicas, e devido ao desenho e
geometria próprios, não colmatam nem permitem a Jardins Filtrantes como
formação de canais preferenciais. É um produto de ex- agente despoluidor
celente relação custo/eficiência, obtida nas aplicações A Phytorestore Brasil é uma empresa brasileira com
em que é instalado (filtros biológicos percoladores, re- uma matriz francesa, especializada no tratamento de
atores biológicos submersos, aerados, etc.)”. ar, água e solo com as plantas como principal agente
A GEA SR disponibiliza produtos cujas caracterís- despoluidor. Para isso, esta expositora da Fenasan 2012
ticas, desenho e manufatura são provas da constante utiliza uma tecnologia patenteada denominada Jardins
preocupação em melhores resultados, sempre visando Filtrantes®, para despoluição sustentável do meio am-
à facilidade de operação e baixos custos de instalação biente, agregando paisagismo às suas soluções, com o
e manutenção. Tem vindo a contribuir em projetos na- objetivo de restauração ecológica sempre se apoiando
cionais e internacionais, atendendo totalmente às ex- na biodiversidade local.
petativas de seus clientes. Atualmente a empresa esta De acordo com Arnaud Fraissignes, gerente geral
em fase de implantação da ISO 9001:2008. da empresa, os Jardins Filtrantes® podem ser usados
em efluentes industriais agroalimentares, químicos,
de cosméticos, siderúrgicos, etc; em lodo proveniente
de estações de tratamento de efluentes, de tratamen-
to d’agua, bem como em esgoto bruto de municípios,
bairros e pequenas comunidades (hotéis, resorts, con-
domínios e similares).

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 29


ACONTECE NO SETOR

Estações Compactas em plástico reforçado


A empresa Hemfibra, expositora da Fenasan 2012, é
pioneira no país na produção de Estações Compactas
em plástico reforçado com fibra de vidro (PRFV). De
acordo com os seus dirigentes, são oferecidas soluções
personalizadas e economicamente vantajosas, para
qualquer tipo de água e de efluentes líquidos domésti-
cos e de uma ampla gama de esgotos industriais; com
diagnóstico e desenvolvimento de projetos, implanta-
ção de atualização, adequação tecnológica e amplia-
ção de ETAs e ETEs.
Entre a sua linha de produtos, o destaque são o
Ecofiber e Ecofiber Master, “direcionados ao tratamen- ainda acrescenta: “o Ecofiber Master, por apresentar
to de efluentes domésticos em empreendimentos de um tratamento anaeróbio e aeróbio, além de câmara
maior porte ou em residências individuais, propiciando anóxica, é capaz de remover nitratos, possibilitando
uma economia de água em até 30%.”, afirma o co- a utilização do efluente em sistemas de reúso e uma
ordenador de vendas da empresa, Marcel Diniz, que considerável economia de energia”.

30 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


ACONTECE NO SETOR

Válvulas de Controle C-Valves mentos, propiciando redução de perdas, e manutenção


De acordo com a empresa Invel, expositora da Fenasan simples e rápida, menos freqüente e de baixo custo”.
2012 e distribuidora das válvulas de controle para água A Invel informa ainda que “as válvulas podem
da empresa israelense C-Valves, “o produto incorpora operar comandadas por piloto de 3 vias, com variadas
alta tecnologia, tem reconhecimento internacional e é aplicações: redução de pressão, regulagem de vazão,
utilizado em várias aplicações no controle de pressão e controle de altitude/nível, sustentação de pressão,
de vazão, assegurando proteção muito superior para as alívio e várias combinações de controle em uma úni-
redes de distribuição de água e para instalações, com- ca válvula. As aplicações para grandes diâmetros têm
parativamente com tradicionais válvulas de controle”. concepção modular, de válvulas em paralelo, chama-
A concepção geométrica “Linear Flow Control” da Multivalve, que dispensa as habituais construção
assegura “excelente desempenho e vantagens ope- de by-pass para manutenção e ajustes; permite con-
racionais como: maior capacidade de vazão;maior tinuidade de operação em caso de eventual interrup-
durabilidade da rede de água, das instalações e de ção de uma das válvulas e reduz o inventário, pela
equipamentos;redução de danos e ocorrência de vaza- padronização dos módulos”.

rem operado em vazio. Mesmo com desgaste não param


de bombear, facilitando a programação das manutenções
preventivas. Ocupam metade do espaço comparado com
uma bomba de fuso.Não requerem desmontagem da tu-
bulação para manutenção e não precisa que a bomba seja
retirada do local e enviada para a oficina. Podem operar
nos dois sentidos (Ideal para sistemas com MBR, pois tra-
balham succionando e depois lavando as membranas).Po-
dem operar submersas, dentro de uma lagoa, succionan-
do o lodo.Têm grande capacidade de sucção, pode gerar
um vácuo de 9 mca. E são autoescorvantes”.
Vogelsang Já as atribuições aos seus maceradores são redu-
Na Fenasan 2012 a Vogelsang apresentará a sua linha ção do tamanho de fibras, cabelos e materiais gros-
de bombas de lóbulos HiFlo® para lodos e permeados seiros, protegendo os equipamentos a jusante; per-
de MBR além dos maceradores RotaCut® para resolver missão de manutenção na linha sem desmontagem
problemas com fibras e cabelos em ETE’s. da tubulação e retenção dos materiais mais pesados
De acordo com a empresa, “suas bombas podem ope- que não podem ser triturados (materiais metálicos
rar em vazio, não “queimam” as partes de borracha por te- como parafusos, por exemplo).

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 31


matéria sabesp

A importância da estruturação para


Sérgio Luiz
enfrentar novos desafios - A Sabesp
Gonçalves
Pereira é mestre
se prepara para Novos Negócios
em Engenharia
Industrial, Professor
por SÉRGIO LUIZ GONÇALVES PEREIRA
da Escola de
Administração de INTRODUÇÃO regulatório (Lei 11.445/07). Essa obrigação está
Empresas de São
Paulo da FGV.
Dos 645 municípios do Estado de São Paulo, multiplicando oportunidades para operação
Desde abril 365 são operados pela Sabesp. Os serviços de em municípios dentro e fora do Estado de São
de 2011 é o saneamento nos demais 280 municípios são Paulo, tendo em vista que muitas Prefeituras
Superintendente de
em grande maioria operados por serviços au- podem optar por privatizar os serviços públicos
Novos Negócios da
SABESP. Foi Diretor tônomos municipais. Muitos desses serviços de água e esgoto.
Administrativo e têm baixa capacidade de gestão e de realização A multiplicação de oportunidades em sa-
Financeiro da CPTM de investimentos. Além disso, há grandes di- neamento e as possibilidades de parcerias com
- jan 07 a jan 11;
Diretor Presidente
ficuldades de elaborar projetos e obter finan- empresas privadas nacionais e estrangeiras têm
da DERSA - jul 98 ciamentos. Apesar disso, determinados muni- gerado uma oferta bastante grande de bons pro-
a abr 03; Diretor cípios optam por não transferir os serviços de jetos para a Sabesp
Financeiro e de
saneamento à Sabesp. Os negócios que se abrem atualmente para
Relações com o
Mercado da Telebrás O foco principal da área de novos negócios o “core business” da Sabesp, qual seja água e es-
- fev 95 a jan 98; é, portanto, o desenvolvimento de negócios es- goto (A & E), são basicamente provenientes das
Diretor Financeiro truturados em modelos que permitam a partici- Prefeituras que tem a concessão e enxergam, em
do Pão de Açúcar -
de set 80 a jan 95. pação do Estado de São Paulo na melhoria do geral, os serviços que vêm prestando como:
saneamento ambiental, respeitando, porém, as d. Fonte de prejuízo
Foto: Gabriel características e a cultura de cada um dos Mu- e. Fonte de atrito com os munícipes, órgãos de
Bonamichi Goes nicípios. controle ambiental, tribunal de contas do Es-
Do ponto de vista empresarial pretende: tado, Ministério Público.
i. (gerar novas receitas para auxiliar no esfor- f. Impedimento ao desenvolvimento de turismo
ço de universalização dos serviços de sanea- g. Gastos exagerados com saúde
mento no Estado de São Paulo;
ii. ampliar a base operada da Sabesp no Estado Como motivos para que o serviço seja defici-
de São Paulo, atuando em parceria com o se- tário pode-se citar a escala, a não especialização,
tor privado em municípios que não desejam a intermitência dos investimentos, a má gestão
conceder os serviços à Sabesp; por falta de atualização, etc.
iii. atrair capital e tecnologia privados para via- Outro fator considerável é a inadimplência
bilizar investimentos de interesse público (em consentida ou forçada pela população que não
especial para indústria e comércio), sem one- entende que, se não pagar prejudicará a presta-
rar demasiadamente o orçamento da Sabesp. ção do serviço e a si próprio.
Por outro lado surge a possibilidade de priva-
O AMBIENTE tizar esse ativo através da concessão.
A evolução do mercado de saneamento já é ex- Com isso a prefeitura pode obter recursos
pressiva e para os próximos anos deverá ser ab- provenientes da Outorga, transferir a responsa-
solutamente notável. Em 2010 venceu o prazo bilidade da prestação dos serviços, melhorá-los
para que os municípios adaptassem seus con- exigindo investimentos regulares, ter uma opera-
tratos firmados sob a égide do PLANASA (Pla- ção mais competente.
no Nacional de Saneamento) ao novo marco Essa decisão, no entanto, não é tão simples

32 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


MATÉRIA SABESP

e clara. A privatização ainda não é bem vista pela pliou o campo de atuação da Sabesp, conferindo-lhe
população, há o receio que com o contrato a ser fir- maior flexibilidade através da Lei Complementar Esta-
mado. O controle do prestador de serviços pode não dual nº 1025/07. O art. 63 desta Lei autoriza a Sabesp a:
ser fácil e conduzir a dificuldades com a população. ■■ prestar serviços de drenagem e manejo de águas
Em geral, o privado está ligado a grandes empreitei- pluviais urbanas, bem como serviços de limpeza
ras que, notadamente, tem apoio em diversos seto- urbana e manejo de resíduos sólidos;
res da sociedade, inclusive no parlamentar munici- ■■ planejar, operar e manter sistemas de produção,
pal, estadual e federal, que, em alguns casos, não armazenamento, conservação e comercialização
tem compromisso com o bem estar público. de energia, para si ou para terceiros;
Para o privado a operação do sistema não encontra ■■ exercer as atividades integrantes do seu objeto so-
todos, ou pelo menos a maioria dos entraves que em- cial diretamente, por intermédio de subsidiárias e/
presas públicas enfrentam. ou associada a terceiros no Brasil e no exterior;
A Sabesp tem enormes dificuldades burocráticas ■■ participar do bloco de controle ou do capital de
pautadas na legislação e no atendimento aos diversos outras empresas, bem como constituir subsidiárias,
órgãos de controle, mas tem também inúmeras vanta- as quais poderão associar-se, majoritária ou mino-
gens que lhe dão condições de competir. ritariamente, a outras empresas;
É falso dizer que a Sabesp tem tarifas fora de ■■ formar consórcios com empresas nacionais ou estran-
competição. geiras, inclusive com outras companhias estaduais.
A Sabesp deve comparar suas tarifas com as pra-
ticadas/pleiteadas pela iniciativa privada, não com De uma forma mais específica propõe-se que os
as dos órgãos municipais que são deficitários porque novos negócios atendam preferencialmente à maioria
subsidiam as tarifas, especialmente para o pessoal de dos seguintes critérios de seleção para delimitar sua
mais baixa renda. atuação no amplo espectro de oportunidades atual-
Os editais de concessão de serviços de saneamento mente em crescimento:
municipais, que exigem desconto sobre a tarifa vigen- i. manutenção e expansão dos mercados, visando à
te, investimentos, pagamento de outorga, metas de universalização de serviços de saneamento básico
melhoria nos serviços, sendo a tarifa significativa- em linha com o planejamento estratégico da Com-
mente mais baixa que as da SABESP estão sujeitos a panhia;
gerarem uma situação de “vazio“ na licitação ou uma ii. rentabilização dos ativos da Companhia e valoriza-
solicitação, muito em breve, de reequilíbrio econômico ção da marca;
financeiro do contrato que, se não aceito, como seria iii. aproveitamento de sinergias operacionais e de ga-
a boa pratica, poderá levar a sérios transtornos e até nhos de escala e escopo com estruturas existentes;
a interrupção do contrato pelo não cumprimento das iv. realização de investimentos com baixo risco e que
metas de saneamento. gerem externalidades sociais positivas, sem preju-
A iniciativa privada lançou-se com grande força no ízo da sustentabilidade financeira da Companhia
mercado de saneamento porque pode escolher onde no longo prazo, tomando em conta o custo mé-
operar e há uma enorme diferença de rentabilidade dio ponderado de capital da Companhia (weighted
entre cidades, regiões, áreas, dependendo de inúme- average cost of capital);
ros fatores como disponibilidade hídrica, concentração v. equacionamento de dívidas por meio de associa-
populacional, conscientização dos habitantes, nível de ções e parcerias, com foco nos municípios permis-
educação, forças políticas locais, interesses políticos. sionários;
É preciso lembrar que se a taxa mínima de retorno vi. sustentabilidade ambiental;
aceitável pela Sabesp está em torno de 8% aa, para a vii. busca de autossuficiência energética.
iniciativa privada está em 20%. Ela tem muito mais fle-
xibilidade para estruturar a prestação de serviço para Na Região Metropolitana de São Paulo, a Área de
obter esse retorno desejado. Novos Negócios apoia as Unidades de Negócio na
Em 2007, o Governo do Estado de São Paulo am- busca de soluções que permitam equacionar os cré-

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 33


matéria sabesp
ditos da Sabesp com os municípios permissionários e, promover a venda de serviços e produtos, por exem-
sempre que possível, retomar parcial ou integralmente plo, a Sabesp fechou contrato específico de venda do
a operação dos serviços de água e esgoto, mediante Aqualog para a CESAN de Vitoria (ES), a prestação de
diferentes modelos societários e financeiros, sobretu- serviços de redução de perdas e o planejamento do sis-
do em áreas rentáveis e ambientalmente críticas. Além tema de água para a CASAL, em Maceió (AL) no âmbito
disso, deverá propor uma estratégia para comercializa- de um convênio mais amplo de cooperação.
ção de produtos e serviços. Em outros países, a Sabesp atua através da Superin-
Em todos os municípios operados pela Sabesp, a tendência de Novos Negócios no Panamá e Honduras,
Área de Novos Negócios deverá apoiar as Diretorias prestando consultoria em contrato financiado pelo BID.
operacionais e suas Unidades de Negócio no desenvol- Destaquem-se três aspectos importantes acerca
vimento de ações ligadas às novas atividades previstas da internacionalização da Sabesp: 1) é razoável supor
pelo Artigo 63 da Lei da ARSESP. que o crescimento de qualquer empresa do porte da
Nos municípios não operados pela Sabesp locali- Sabesp exija algum grau de internacionalização. Quan-
zados no Estado de São Paulo, além da tentativa de do se considera a experiência das grandes empresas
viabilizar o fornecimento de produtos e prestação de de saneamento em outros países, observa-se o gran-
serviços, a Área de Novos Negócios apoia as Diretorias de percentual da receita proveniente de atuação fora
operacionais e suas Unidades de Negócio na participa- de seus países de origem; 2) Embora haja atualmente
ção de licitações que viabilizem: uma considerável pressão para que a Sabesp partici-
i. a assunção da operação dos serviços de água e es- pe de empreendimentos no exterior, entende-se que o
goto direta ou indiretamente pela Companhia; desenvolvimento externo deve ser realizado no longo
ii. o desenvolvimento das novas atividades previstas prazo; 3) Considerando-se que boa parte dos seus fi-
no artigo 63 da Lei da ARSESP. nanciamentos tem origem no exterior, é conveniente
ter-se também receitas no exterior, como “hedge”.
Nos demais estados do país, nesse primeiro mo- Atualmente, a Sabesp administra os contratos de
mento, a Área de Novos Negócios além dos acordos de Novos Negócios, informados no quadro I, além de um
cooperação técnica e celebrados, sempre que possível, grande número de negócios em perspectiva.

Quadro I - Atividades da TN em 2011: Administração de Contratos


Valow do Contrato Parte da Sabesp
nome objeto modalidade estado
R$*1000 R$*1000

Concessões em operações

Mogi Mirim Esgoto SPE SP 285.300 102.708

Mairinque Água e esgoro SPE SP 382.400 114.720

Castilho Água e esgoro SPE SP 109.700 32.910

Andradina Água e esgoro SPE SP 313.800 94.140

Assessorias

Cuidad de Panamá (Panamá) Planejamento e perdas Contratação direta EXT 16.784 5.035

Honduras (C. Rica) Planejamento e perdas Contratação direta EXT 4.395 1.318

Casal I Planejamento e perdas Contratação direta AL 25.008 25.008

Barro Alto Plano de Saneamento Contratação direta GO 500 500

Cesan (Aqualog) Automatização Contratação direta ES 1.266 1.266

Aproveitamento energético

PCH (Guarau e Cascata) Energia Elétrica Contratação direta SP 21.202 21.202

Total 1.091.700 273.631

34 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


MATÉRIA SABESP
A EQUAÇÃO FINANCEIRA Hoje a Sabesp associa-se a 5 prefeituras do Alto
A necessidade de atender adequadamente às ex- Tiete para o tratamento de resíduo sólidos e vai buscar
pectativas dos usuários e da entidade reguladora tecnologia na Ásia e Europa em projeto pioneiro.
externa, aliada à crescente capacidade de pressão A Sabesp vem sendo altamente demandada para
por parte de ONGs e do Ministério Público, implica a auxiliar as prefeituras com esse tipo de problema que
realização de investimentos vultosos para universa- tornou-se critico, inclusive pelas restrições a aterros.
lização do acesso aos serviços de saneamento básico, A Sabesp praticamente duplicou o seu patamar de
bem como para a preservação e utilização eficiente investimentos no triênio 2007-2009, se comparado ao
de recursos hídricos. triênio anterior, e manterá esse ritmo até 2018 quan-
Há que se observar que, associado a essa demanda, do pretende ter universalizado os serviços de água e
a Sabesp enfrenta um cenário caracterizado por: esgoto em sua base operada no Estado de São Paulo,
■■ atuação em ambiente competitivo; conforme estabelecido no planejamento estratégico
■■ maior poder de barganha dos Poderes Concedentes; aprovado pelo Conselho de Administração: “ser reco-
■■ exigência de taxa de retorno para o capital inves- nhecida como Empresa que universalizou os serviços
tido superior aos retornos médios obtidos em in- de saneamento em sua área de atuação com foco no
vestimentos tradicionais (água e esgoto) realizados cliente, de forma sustentável e competitiva, com exce-
pela Companhia no Estado de São Paulo; lência em soluções ambientais.”
■■ não onerar o fluxo de caixa da Companhia, alocan- Como consequência, os recursos da Companhia
do para esses novos negócios parcela relevante dos estão sendo prioritariamente destinados para cumprir
recursos financeiros atualmente gerados pelas ati- o plano de investimentos e novos negócios deverão
vidades operacionais da Companhia; também contribuir para a meta de universalização.
■■ não afetar de forma relevante a capacidade de Para isso, os novos negócios necessitam representar
endividamento da Companhia, seja por meio de uma fonte adicional de receita e consumir o mínimo
obtenção direta de financiamento em nome da de recursos da Sabesp. Esse foi o sentido da decisão do
Companhia ou através da prestação de garantias Conselho de Administração da Sabesp que, ao aprovar
em obrigações de terceiros, a fim de viabilizar esses o orientador de novos negócios, recomendou que não
novos negócios; fossem comprometidos recursos substanciais em pro-
■■ não comprometer recursos humanos e técnicos em jetos fora do Estado de São Paulo.
patamar que prejudique o ritmo de universalização Portanto, é fundamental que a área de Novos Ne-
dos serviços de saneamento básico no Estado de gócios tenha condições de desenvolver novas fontes
São Paulo, em linha com o planejamento estratégi- de financiamento para suas atividades.
co da Companhia. Atualmente o mercado é doador e as instituições
■■ O que conduz à necessidade de : de fomento permitem alavancagens excepcionais a ta-
■■ obtenção de novas fontes de receitas e redução de xas de juros convidativas
custos; Um bom projeto com dinheiro de terceiros a baixo
■■ criação de soluções ambientais de forma a respon- custo configura-se como uma oportunidade inescapável
der a um mercado crescentemente sensível a ques- Há que se observar diferenças entre o perfil dos
tões de sustentabilidade; projetos desenvolvidos pela Sabesp e aqueles de No-
■■ aquisição de know-how e tecnologia para atuação vos Negócios, e a consequente necessidade de criar um
em áreas estratégicas (p.e., disposição do lodo de canal distinto de captação de recursos alinhado com o
ETEs); perfil dos investidores potencialmente interessados em
■■ preservação de recursos hídricos. novos negócios.
Como empresa pública e concessionária de serviços
Novos Negócios é a porta para tais requisitos, na públicos, os investimentos da Sabesp têm como carac-
medida em que abre contatos, acolhe novas ideias e terística o longo prazo de maturação e, por vezes, uma
tecnologias com potencial ganhos no curto e médio taxa de retorno menor, em especial no que diz respeito
prazos, associa-se a empresas inovadoras e com ativos aos investimentos em coleta e tratamento de esgoto.
de interesse para o atual sistema de agua e esgoto. Por outro lado, esses investimentos apresentam baixo

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 35


matéria sabesp

risco, pois são garantidos pelos recebíveis de contas de Como exemplo, vale citar os recursos do FI-FGTS (aci-
água e esgoto cobradas dos usuários. ma mencionado), destinados à capitalização (equity)
Os projetos de Novos Negócios, por sua vez, devem de empresas de saneamento, porem a SPE pode.
assegurar retorno superior ao custo médio ponderado As estruturas de captação de recursos de projetos
de capital da Companhia. Além disso, é comum que de novos negócios muitas vezes diferem das estrutu-
tenham um prazo de payback mais curto. ras de financiamento utilizadas pela Sabesp. Ao atuar
Por outro lado, envolvem estruturas com maior ris- em projetos tradicionalmente desenvolvidos pelo setor
co, como contratos de performance ou que imponham privado, a Sabesp tem grande dificuldade em se ade-
exigências técnicas mais elevadas, em especial se os quar a exigências e modelos de financiamento que não
serviços forem prestados a grandes clientes privados. seguem o rito tradicional que a Companhia está acos-
Além disso, investimentos em setores como resídu- tumada a seguir e comuns na iniciativa privada.
os sólidos, drenagem ou energia têm uma estrutura de
riscos e retorno distinta daqueles em água e esgoto. A INSERÇÃO DE NOVOS NEGÓCIOS NA SABESP
Há, portanto, uma distinção entre os perfis de pro- A criação da Área de Novos Negócios constitui pro-
jetos relacionados à atividade principal da Sabesp, i.e. vidência necessária para adaptar a Sabesp aos novos
operação de sistemas de água e esgoto em Municípios desafios do setor de saneamento. Juntamente com as
onde a Companhia opera como delegatária do Estado áreas de Assuntos Regulatórios e de Meio Ambiente, já
de São Paulo e os perfis de projetos de Novos Negócios. criadas, e com a estratégia em curso de fortalecimento
Como consequência, investidores que desejem in- da pesquisa e desenvolvimento, a Área de Novos Ne-
vestir em negócios com um maior risco e maior retor- gócios da Sabesp compõe um conjunto de mudanças
no ou em setores como resíduos sólidos, drenagem e organizacionais visando adaptar a Empresa ao novo
energia, mas não se interessarem por negócios de água marco regulatório.
e esgoto poderão optar por investir em projetos de No- O Plano Estratégico da Sabesp situa NN em seu
vos Negócios, investindo diretamente na SPE detento- mais alto nível concorrendo diretamente para seu ob-
ra do Novo Negocio. jetivo central:
Novos Negócios diversificará as fontes de financia- “Em 2018, ser reconhecida como empresa que uni-
mento. A Sabesp, historicamente, vem captando recur- versalizou os serviços de saneamento em sua área de
sos de determinados órgãos nacionais e internacionais atuação, com foco no cliente, de forma sustentável e
de financiamento para custear seu plano de investi- competitiva, com excelência em soluções ambientais”.
mentos, dentre os quais se destacam o Banco Mundial,
o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Caixa O PONTO DE VISTA COMERCIAL
Econômica Federal, o BNDES e a Japan International Os modelos institucionais de novos negócios tam-
Cooperation Agency. bém diferem de forma substancial da maneira tradi-
Porém, os recursos dessas fontes são canalizados cional de atuação da Sabesp. Em função disso, algu-
prioritariamente para os projetos relacionados à meta mas dificuldades são enfrentadas.
de universalização dos serviços de água e esgoto. Além Do ponto de vista comercial, ao realizar licitações para
disso, por vezes, o prazo para obtenção desses finan- compra de produtos e serviços, a Sabesp impõe aos seus
ciamentos é relativamente longo. fornecedores os termos e condições contratuais, bem
Nesse sentido, a Sabesp vem fomentando parcerias como limites de preços a serem praticados. Não existe
público-privadas e locações de ativo, atraindo, assim, ca- uma tradição de negociação dos termos comerciais.
pital privado para seus projetos e permitindo aos parcei- Além disso, ainda que haja grandes clientes atendidos
ros acessar recursos disponíveis apenas ao setor privado. pela Sabesp, por terem sido os serviços de água e esgoto
Novos Negócios oferecerá uma nova alternativa historicamente tratados como um monopólio natural, não
de captação de recursos para a Sabesp, pois permitirá há uma cultura disseminada de atendimento a grandes
acessar fontes de recursos que não podem ser aces- empresas e clientes. O foco principal são consumidores
sadas atualmente, em especial as estruturas de finan- individuais da companhia. Esse cenário vem se alterando
ciamento mediante venda de participação societária. somente recentemente com a autorização para que a Sa-

36 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


MATÉRIA SABESP

besp pratique uma política mais agressiva de preços para Os projetos envolvendo maiores investimentos por
clientes que consumam acima de 500m3 por mês. parte da Sabesp serão desenvolvidos, prioritariamente,
Juridicamente, os modelos de constituição de no Estado de São Paulo. A venda de produtos e serviços
sociedades de propósito específico e a assinatura de teria uma atuação mais abrangente, podendo ocorrer em
contratos de performance ou que exijam da Sabesp outros estados brasileiros e eventualmente no exterior.
o atendimento de elevadas exigências são pouco co- A internacionalização da companhia será uma es-
muns na Companhia. Tradicionalmente, a Sabesp figu- tratégia gradual e de longo prazo. No atual estágio, a
ra em contratos como cliente e não como fornecedora. Companhia está dando os primeiros passos neste sen-
A mudança dessa perspectiva exige uma adaptação tido para o que a assinatura de termos de cooperação
por parte da empresa como um todo. Longas negocia- técnica pode ser funcional. A Área de novos negócios
ções e produção de grande volume de contratos e do- tem como importante característica a operacionaliza-
cumentos, normalmente, são utilizados nos projetos de ção da atuação da Sabesp em parceria com empresas
novos negócios, tentando ordenar um relacionamento privadas. Nesse sentido, o processo de seleção de par-
futuro de 30 anos com Prefeituras e Sócios e de pelo ceiros e oportunidades por parte da Companhia estará
menos 20 anos com Bancos e ainda de 5 anos com sempre pautado em critérios técnicos objetivos.
construtores/montadores. A Área de novos negócios permitirá a diversificação
A seleção de parceiros é, também, um movimento das fontes de receita da Companhia e contribuirá para
novo para a Sabesp e de alta importância, envolvendo o cumprimento da visão de futuro da Sabesp de “em
estratégias de equilíbrio de poder em regiões, com- 2018, ser reconhecida como empresa que universalizou
plementações financeiras, técnicas, e politicas. É ab- os serviços de saneamento em sua área de atuação,
solutamente necessário ter-se claro o valor implícito com foco no cliente, de forma sustentável e competiti-
de um parceiro e é preciso considerar ainda o quanto va, com excelência em soluções ambientais.”
estamos transferindo de valor implícito para ele. A Sabesp é a quarta empresa do mundo em sane-
amento.
CONCLUSÃO Ë difícil verificar que uma grande corporação não
O novo marco regulatório apresenta desafios, mas tenha uma área ou uma empresa ou mesmo diversas
abre oportunidades para novas áreas e formas de empresas classificadas como Novos Negócios.
atuação da Companhia. A área de Novos Negócios As ideias de “core business”, foco no negocio e objeti-
constitui importante instrumento para enfrentar vo inflexível, ao se ter presente o mercado global, a velo-
tais desafios e aproveitar essas oportunidades de cidade dos negócios e o avanço vertiginoso da ciência e
forma eficiente e com sucesso. tecnologia começam a tomar novo significado, perdendo
O aproveitamento dessas oportunidades se dá por parte de seu valor, que até bem pouco tempo atrás, era
meio da atuação nas áreas de água e esgoto, bem altíssimo na condução de uma grande empresa.
como nos novos setores que a Sabesp está autorizada As oportunidades não podem ser perdidas. Admi-
a atuar, nos termos do artigo 63 da Lei da ARSESP. nistradores e empresas como um todo devem estar
A área de Novos Negócios permitiria assim: (i) constantemente atentos para oportunidade. Isto é
a manutenção e expansão dos mercados, visando à uma verdade antiga. Reconhecida de longa data e por
universalização de serviços de saneamento básico em isso verdade. Mas as oportunidades são fugidias e não
sua área de atuação; (ii) a rentabilização dos ativos estão disponíveis em geral com exclusividade para a
da Companhia e valorização da marca; (iii) a geração empresa. Há que se ter primeiro faro para prospectar
de caixa e redução de custos para a Companhia; (iv) a oportunidade, em seguida visão para conformá-la,
o aproveitamento de ganhos de escala e escopo com coragem e capacidade para desenvolvê-la, agilidade
estruturas existentes; (v) o equacionamento de dívidas para remover obstáculos e sorte para atrair o sucesso.
por meio de associações e parcerias, com foco nos mu- Parecem ingredientes demais para o sucesso, mas
nicípios permissionários; e a (vi) formação de alianças a pratica tem demonstrado que há sinergia entre eles
estratégicas para a preservação de recursos hídricos e e que o processo de aproveitamento de oportunidades
obtenção de tecnologia em soluções ambientais. torna-se uma prática fascinante.

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 37


Fenasan 2012 - feira nacional dE saneamento e meio ambiente
xxiii encontro técnico aesabesp - congresso nacional de saneamento e meio ambiente

Fenasan terá
área ampliada em 2012
Promovida há 23 anos pela AESabesp (Associação dos De acordo com o presidente da AESabesp, Hiroshi
Engenheiros da Sabesp), a Fenasan (Feira Nacional de Ietsugu, essa expectativa favorável é baseada em da-
Saneamento e Meio Ambiente) está consolidada como dos bem concretos, pois atualmente a Feira já conta
um dos maiores eventos mercadológicos do País e da praticamente com a totalidade de sua área de expo-
América Latina, no setor de saneamento ambiental. sição ocupada. A motivação desta receptividade tem
Em sua edição de 2012, programada para os dias 06, base no crescimento do setor e no grande aporte de
07 e 08 de agosto, a Feira terá sua área ampliada e ocu- investimentos em obras de distribuição de água, es-
pará a extensão total do Pavilhão Branco do Expo Center gotamento sanitário e manejo de resíduos, tanto por
Norte, em São Paulo – SP. Devido ao seu crescimento, em parte da esfera federal quanto por investimentos de
dois anos, sua área dobrou de tamanho (8.828 m², em grupos estrangeiros.
2010; 13.272 m² , em 2011 e 17.042 m², em 2012), para Já o diretor técnico da entidade, Reynaldo Young,
atender a demanda de público e de expositores. observa que embora o Brasil esteja em condição de
potência emergente e receba grandes incentivos para
incrementos no setor, a falta de saneamento básico
ainda se constitui como um dos maiores problemas do
País. Em sua avaliação “ainda é preciso muito inves-
timento em tecnologia para a aplicação do seu alto
potencial na sua real necessidade. E na Fenasan, essas
tecnologias são efetivamente mostradas pelas empre-
sas fabricantes de equipamentos, gestoras de sistemas
e prestadoras de serviços”.

Presidente da AESabesp, Hiroshi Ietsugu, e o diretor


técnico da AESabesp, Reynaldo Young cumprimentam
expositores na Fenasan 2011

38 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


6 a 8 de agosto de 2012
pavilhão branco do expo center norte - são Paulo - SP

Congresso Nacional de Saneamento e Fenasan - Feira Nacional de Saneamento


Meio Ambiente e Meio Ambiente
Nos mesmos dias da Fenasan, será realizado o Con-
Horário: 13h às 20h
gresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente,
(visitação gratuita para maiores de 16 anos)
nos auditórios do próprio Pavilhão, , também de-
Congresso Técnico AESabesp
nominado “XXIII Encontro Técnico da AESabesp”,
Horário: 9h às 18h (participação mediante inscrições)

Promotora: Associação dos Engenheiros da Sabesp


Data: 06 a 08 de agosto de 2012
Local: Pavilhão Branco do Expo Center Norte
Endereço: Rua José Bernardo Pinto, 333
São Paulo - SP

Mais informações:
www.fenasan.com.br
www.aesabesp.org.br

que é uma referência nacional em apresentação de sionais do setor técnico, estar nesse XXIII– Congresso
trabalhos técnicos e debates sobre as políticas do Nacional de Saneamento e Meio Ambiente é a opor-
setor, sob a coordenação do diretor cultural da en- tunidade ideal para que o grande público conheça
tidade, Olavo Sachs. suas idéias e, por consequência, para a sua projeção
Em 2012, o tema central é “Como prover o sanea- profissional, pois as palestras são prestigiadas por
mento para todos”, que abrangerá palestras voltadas formadores de opinião e por expoentes técnicos ex-
para inovações tecnológicas, eficiência energética; tremamente qualificados dentro do setor de sanea-
gestão empresarial e empreendimentos no setor; legis- mento ambiental.
lação e regulação; manutenção eletromecânica ; sus- Durante os três dias de Encontro Técnico, será
tentabilidade, acesso a políticas públicas e preservação possível estabelecer uma “net work”, com a grande
do meio ambiente; entre outros. oportunidade de trocar conhecimentos com colegas
A AESabesp ainda faz um convite especial aos de diversas empresas e órgãos de saneamento de todo
seus associados e parceiros, que sejam professores Brasil e também do exterior, além de conhecer novos
em escolas técnicas e de nível superior, para trazerem produtos e equipamentos para tratamento e abasteci-
seus alunos para esse evento. Para os futuros profis- mento de água e esgotamento sanitário.

Apoio institucional

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GEOLOGIA


DE ENGENHARIA E AMBIENTAL

Logo

ANA Conselho Regional de Engenharia e Agronomia

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS COOPERATIVA DE CRÉDITO do Estado de São Paulo

BEJE CINZA
C= 11 K = 90%
M= 16
Y= 18
K= 32

Apoio institucional Fenasan

Pantone 368 C Pantone 541 C

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 39


Fenasan 2012 - feira nacional dE saneamento e meio ambiente
xxiii encontro técnico aesabesp - congresso nacional de saneamento e meio ambiente

Ecoeventus AESabesp®:
o nosso Projeto
Neutralização de
Carbono
A AESabesp, desde evento da América Latina
2008, vem adotando no setor, que movimenta
medidas para alinhar a anualmente cerca de 12.000
Fenasan cada vez mais pessoas.
às políticas públicas As ações propos-
de sustentabilidade, tas no escopo do ecoeventus
incluindo o plantio de AESabesp® são mais de conscientização
árvores para mitigação do que de quantificação do consumo
dos gases do efeito es- de carbono. Por meio de uma linha
tufa, emitidos em decorrência da realização do evento. pedagógica é demonstrado, a to-
Em 2010, a AESabesp, através da Diretoria de dos – expositores, fornecedores
Projetos Socioambientais, ampliou suas ações para e visitantes – os benefícios
além do plantio de árvores, promovendo diversas alcançados pelas práticas de
atividades, que visam antes a redução da emissão, utilizar materiais susten-
com o desenvolvimento do projeto Neutralização táveis nas montagens de
de Carbono, que a partir de agosto de 2011 teve estandes, diminuir a distri-
sua marca concebida e registrada como ecoeventus buição de impressos, reduzir
AESabesp®, integrando a carteira de projetos socio- o uso de energia, consumir
ambientais da Associação. água com racionalidade, re-
Para tanto, o projeto ecoeventus AESabesp® prio- ciclar resíduos - com base
riza ações voltadas à sensibilização e conscientização, no Programa 3Rs - Reduzir,
visando contribuir para a percepção, compreensão e Reutilizar e Reciclar, além de
participação efetiva na melhoria da qualidade de vida estimular o não fornecimento de
local em sintonia com as urgências globais. materiais descartáveis, como copos,
O Projeto ecoeventus AESabesp®, coordenado pela talheres, pratos e demais recipientes,
química Maria Aparecida Silva de Paula e pela advo- sempre que possível.
gada ambientalista Vanessa Hasson, é o alicerce de um Os expositores aderentes à causa, têm a
programa de educação ambiental formal, adotado com oportunidade de concorrer ao Prêmio AESabesp. Os
intuito de mobilizar os participantes da Fenasan, maior quesitos relativos à redução do uso de energia e con-

o projeto Ecoeventus AESabesp prioriza ações


voltadas à sensibilização e conscientização,
visando contribuir para a percepção, compreensão
e participação efetiva na melhoria da qualidade de
vida local em sintonia com as urgências globais.

40 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


6 a 8 de agosto de 2012
pavilhão branco do expo center norte - são Paulo - SP

sumo de água de maneira racional, também são acom- Plantio pós Fenasan 2011, coordenado
panhados pela AESabesp no sentido de medir a eficácia pela equipe da Diretoria de Projetos
das ações promovidas durante o evento. Socioambientais da AESabesp.
No decorrer dos três dias da Fenasan, essas práticas
são continuamente estimuladas e, ao seu término, con-
tabilizada a emissão de carbono com base na produção
de resíduos, consumo de energia e meios de transporte
utilizados pelos participantes.
Considerando que o transporte veicular é o respon-
sável pela produção na cidade de São Paulo, por 78%
da emissão dos GEE – Gases do Efeito Estufa, um dos
grandes destaques dentro das ações transversais
deste projeto é o incentivo ao uso de trans-
portes alternativos e coletivos, tais como
a carona solidária e o metrô.
Assim, como cortesia da AESa-
besp, em favor da minimização da
emissão de carbono, são ofere-
cidas vans, sistema ida e volta,
com saída da Estação Tietê do
Metrô ao pavilhão do evento.
O projeto se encerra com
o plantio das árvores ne-
cessárias para mitigação da
emissão dos gases de efeito
estufa, originada durante as
três fases do evento – mon-
tagem, realização e desmon-
tagem – acrescentando-se um
percentual destinado a promover
a recuperação ambiental de área
desflorestada.
O ecoeventus AESabesp® pode e deve
ser replicado em qualquer tipo de evento, po-
dendo ser chamado também de ecoeventus®. Conta
com a consultoria de pessoal altamente capacitado,
para juntos promovermos cada vez mais ações desti-
nadas à mitigação e adaptação às alterações climáti-
cas, somando-se àquelas que vêm sendo praticadas por
todo o mundo.

Para maiores informações entre em contato através


do e-mail projetossocioambientais@aesabesp.org.br

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 41


Fenasan 2012 - feira nacional dE saneamento e meio ambiente
xxiii encontro técnico aesabesp - congresso nacional de saneamento e meio ambiente

NOVOS CONCEITOS
PARA A PREMIAÇÃO DO
TROFÉU AESABESP NA
FENASAN 2012
O Encontro Técnico da AESabesp, juntamente com a Fe-
nasan (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente),
realizará a entrega do TROFÉU AESabesp aos exposito-
res que alcançarem grandes destaques nos três dias do
evento. Há 23 anos os prêmios são entregues em diver-
sas categorias: Melhor Estande, Inovação Tecnológica,
Atendimento ao Cliente, Destaque AESabesp - Fenasan e
Destaque AESabesp - Encontro Técnico, constituindo-se
num dos momentos mais esperados.
Contudo, a Associação dos Engenheiros da Sabesp -
AESabesp desde 2008 vem se qualificando com questões
vinculadas à OSCIP - Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público, desenvolvendo suas atividades para
atendimento a Lei 9790/99. E para atender a esta con-
dição, os quesitos Melhor Estande e Destaque Fenasan
foram integradas no Prêmio Ações do Projeto Ecoeven- E dentro desse contexto, a AESabesp exercerá o seu
tus AESabesp® . papel no que tange a responsabilidade compartilhada na
Dessa forma, na edição da Fenasan 2012, a Comis- questão de sustentabilidade em um dos maiores evento
são de Avaliação do Prêmio utilizará critérios voltados da América Latina.
às práticas de Sustentabilidade para premiação das
empresas expositoras no critério Melhor Estande. Novidades do XXIII Encontro Técnico e
O tema do XXIII Encontro Técnico e Fenasan 2012, FENASAN em 2012
intitulado “Como prover o saneamento para todos?”, ■■ As empresas serão analisadas sem a consideração de
implica diretamente na “Minimização dos Resíduos” seu porte econômico, possibilitando que todas as
produzidos durante a sua realização, principalmente organizações participem do Prêmio AESabesp 2012.
por fomentar a discussão e desafios de implementação ■■ Será dado apoio na orientação técnica, durante toda
da Lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, a fase de elaboração do formulário, a partir da inscri-
onde foram estabelecidos, princípios, objetivos e instru- ção até a data final de entrega do Formulário preen-
mentos para aplicação da mesma. chido. A equipe de apoio é formada por profissionais
Além disso, os expositores/investidores terão a opor- com experiência de sucesso em implantação de Nor-
tunidade de apresentar suas práticas desenvolvidas em mas e Premiações.
suas empresas, que evidenciem as mudanças de com- ■■ Premiação das empresas finalistas para a categoria:
portamento no mundo corporativo. Destaque AESabesp – FENASAN, acrescentando pon-
Sendo assim, foi definido para o Prêmio AESabesp tuação para empresa que apresentar ações sustentá-
2012 justamente o tema “Minimização de Resíduos”, pelo veis no período de agosto/11 a julho/12.
qual a Associação terá a oportunidade de mostrar ao pú- ■■ Substituição do nome do critério Atendimento Téc-
blico as melhores práticas que retratam a questão de sus- nico para Atendimento ao Cliente.
tentabilidade por meio de seus expositores/investidores. ■■ Conceituação dos critérios de Inovação Tecnológica.

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pavilhão branco do expo center norte - são Paulo - SP

Empresas Premiadas nas


três últimas edições

Edição 2011
■■ Melhor estande: Amanco Brasil, Glass Bombas e Vál-
vulas e Hidrosul Máquinas Hidráulicas.
■■ Inovação tecnológica: Degrèmont Tratamento de
Águas, Kanaflex Indústria de Plásticos e Wastec Brasil.
■■ Melhor atendimento técnico: Enops Engenharia,
Novus Produtos Eletrônicos e Semco Equipamentos
Industriais
■■ Destaque AESabesp Fenasan 2011: B. & F. Dias
A empresa Higra Industrial foi a detentora do Prêmio “Destaque Indústria e Comércio.
Sustentabilidade”, em 2011, categoria que não será mais específica, porque o ■■ Destaque sustentabilidade: Higra Industrial.
conceito sustentável irá prevalecer também nas outras categorias de premiação.
■■ Destaque AESabesp Encontro Técnico: Unidade de
Negócio da Regional Metropolitana Leste, da Sabesp
A AESabesp convida todos os expositores a enfrentar mais
um desafio e, consequentemente, promover mais um salto no Edição 2010
saneamento. A contrapartida a ser alcançada, sem dúvida ne- ■■ Melhor estande: Amanco Brasil, Amitech Brasil, ITT
nhuma, será a possibilidade de apresentar as melhores práticas Water
para atendimento a cada requisito do prêmio e corroborar para
■■ Inovação Tecnológica: Higra Industrial, Saint-
o avanço e disseminação de todos os participantes do evento.
Gobain Canalização, Valloy Válvulas e Acessórios
Surpreender tem sido a palavra chave a cada ano com a adesão
■■ Atendimento Técnico: Guarujá Equipamentos para
dos expositores/investidores.
Saneamento, Grundfos do Brasil, Tree-Bio Soluções
Portanto, para a edição 2012 do Prêmio AESabesp teremos:
■■ Destaque AESabesp Fenasan: Ilha Sindesan
■■ Melhor Estande 3 empresas que adotarem o maior número
■■ Destaque AESabesp Sustentabilidade: B&F Dias
de ações sustentáveis durante a realização da FENASAN, as-
Indústria e Comércio
sociado à avaliação que permita evidenciar até que ponto as
■■ Destaque AESabesp Encontro Técnico: Unidade de
partes interessadas (sociedade, organizações ambientais, fun-
Negócio da Regional Metropolitana Norte, da Sabesp
cionários, organismos governamentais, acionistas e consumi-
dores) estão tendo seus interesses incorporados ao negócio
da empresa. Edição 2009
■■ Inovação Tecnológica 3 empresas que apresentarem novas ■■ Melhor Estande: Bugatti Brasil Válvulas, Glass Ind.
tecnologias. Com. Bombas Centrífugas e Equipamentos e Valloy
■■ Atendimento ao Cliente 3 empresas que melhor atenderem Indústria e Comércio de Válvulas e Assessórios.
os visitantes da feira. ■■ Inovação Tecnológica: Amanco Brasil, Centroprojekt
■■ Destaque AESabesp - Fenasan 1 empresa que apresentar do Brasil e Digimed.
os melhores resultados de ações sustentáveis no período de ■■ Atendimento Técnico: Edra Saneamento Básico Ind.
agosto/11 a julho/12. e Com., Emec Brasil Sist. Tratamento de Água e Hidro-
■■ Destaque AESabesp - Encontro Técnico a Unidade de Ne- sul - Máquinas Hidráulicas Hidrosul.
gócios da Sabesp que apresentar o maior número de tra- ■■ Destaques AESabesp: Higra Industrial, ITT Brasil e
balhos técnicos. Saint-Gobain Canalização.
■■ Destaque voltado ao tema “Sustentabilidade”:
O sucesso da próxima edição dependerá do grau de criati- Imperveg Poliuretano Vegetal.
vidade e desafio que cada empresa puder apresentar e com o ■■ Unidade de Negócio Sabesp: Unidade de Negócio
apoio de todos para fazer a diferença no saneamento. de Produção de Água Metropolitana – MA.

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 43


Projetos Socioambientais

CONHEÇA NOSSA
CARTEIRA DE PROJETOS
Apresentamos o projeto “Sonho de Presente” de autoria do nosso associado Elio Souza da Silva, que visa instruir
pais sobre como transformar seus sonhos em expressão de amor, em orientação para valores e em visão de futuro e
grandeza para os seus filhos, visando gerar um impacto positivo na formação da personalidade da criança.
Mais detalhes sobre o projeto poderão ser obtidos pelo e-mail projetossocioambientais@aesabesp.org.br.

PROJETO “SONHO DE PRESENTE”


Com uma linha educacional diferenciada no âmbito da
agregação familiar, seu objetivo é preparar os pais, para
passar valores construtivos aos seus filhos preparando-
os para um futuro de boas e grandes realizações.
Desenvolvido por meio de uma oficina, o projeto
busca estimular os pais a definir o que eles sonham que
os filhos alcancem no futuro por meio da orientação
para escreverem estes sonhos.
O projeto começou a tomar forma em 2008, quando
o gestor do projeto e educador em valores e liderança,
Elio Silva, construiu uma espécie de jogo de labirinto em
uma instituição de ensino religioso, com o propósito de
ensinar crianças a fazer “escolhas inteligentes”. A obedi-
ência ou não aos pais era uma das perguntas, cujas res-
postas indicavam os caminhos a seguirem. Constatou-se,
então, que os filhos interessados em conhecer os gran-
des sonhos que os pais tinham para eles. E esta foi uma
das razões apontadas para “a valorização da obediência,
quando estruturada com bons propósitos definidos”.
Assim, a estratégia prática utilizada visa:
■■ Levar os filhos a conhecer o que os pais sonham
para eles; ■■ Motivar pais a investir
■■ Orientar pais a registrar os sonhos que podem se na educação dos filhos.
tornar uma diretriz para a vida da criança;
■■ Ensinar as crianças a sonhar e fazer projeções para Além desta metodologia reflexiva e orientação sobre
o futuro; como escrever o “Sonho de presente”, a metodologia do
■■ Motivar pais e construir uma nova perspectiva so- projeto ressalta a importância da entrega e exposição
bre a tarefa de educar filhos; visível do texto, já que estimula os pais a criar os filhos
■■ Melhorar o relacionamento entre pais e filhos; com visão de futuro, além de ser um fator de motivação
■■ Transmitir mensagem aos filhos, mesmo que os para a árdua tarefa de educar filhos.
pais estejam ausentes;
■■ Conscientizar pais sobre a importância de sonhar EQUIPE TÉCNICA:
para inspirar os filhos; Execução: Elio Souza da Silva (responsável e coordena-
■■ Estimular e ajudar pais a expressar amor e benção dor do projeto)
aos filhos; Parceria: AESabesp

44 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


As diretorias de Projetos Socioambientais e
Cultural promoverão cursos na Fenasan 2012
Promovido pela Diretoria Cultural da AESabesp, o curso Promovido pela Diretoria de Projetos Socioambientais, o curso
de “Diagnóstico de Perdas de Sistemas de Abaste- intitulado “Estratégias para o Enfrentamento das Mu-
cimento de Água” será ministrado pelo Eng. Mário Au- danças Climáticas na Gestão dos Recursos Hídricos”
gusto Baggio da empresa Hoperações - Consultoria em ocorrerá nos dias 07 e 08 de agosto no XXIII Encontro Téc-
Gerenciamento Ltda, ocorrerá no dia 06 de agosto no nico – Fenasan 2012 - Pavilhão Branco do Expocenter Norte.
XXIII Encontro Técnico – Fenasan 2012 - Pavilhão Branco O evento conta com a parceria do CCIAM – Climate Change
do Expocenter Norte. Impacts Adaptation and Mitigation, Centro de Investigação
Seu conteúdo é direcionado aos dirigentes, gerentes/ da Universidade de Lisboa. A realização das aulas contará com
gestores e supervisores de empresas de saneamento e de a presença de instrutores estrangeiros atuantes junto ao IPCC
seus prestadores de serviços e fornecedores. e de especialistas do IAG/USP.
Ao final do curso os participantes serão capazes de Direcionado aos profissionais Técnicos, Consultores
diferenciar o método de controle de perdas (doutri- e Gestores da área de saneamento e recursos hídricos, o
na americana) do método de controle das causas das programa contendo 16 horas abrange conceitos básicos
perdas (doutrina japonesa); aprenderão que, enquanto relacionados às alterações climáticas; visa demonstrar as
o Controle de Perdas foca o efeito, o Método de Con- metodologias, casos de estudo e projetos internacionais
trole das Causas das Perdas, consubstanciado no MASPP diversos relacionados com adaptação às alterações climá-
I – MÉTODO DE ANÁLISE E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE ticas, gestão de recursos hídricos e cheias; como também
PERDAS D’ ÁGUA I, foca as causas. Aprenderão também capacitar o profissional para a participação/ envolvimento
a identificar as causas fundamentais que provocam o com comissões e equipes de trabalho em projetos relacio-
efeito perdas d’água e elaborar planos de ação com vis- nados com adaptação às alterações climáticas.
tas a trazê-las a níveis economicamente viáveis. Confira o programa e inscreva-se.
O valor da inscrição será para Associados - R$ 500,00 I – Introdução às Alterações Climáticas;
e não Associados – R$ 800,00. A mesma poderá ser feita II – Cenários Climáticos e Modelação Hidrológica;
através do e-mail: diretoriacultural@aesabesp.org.br. III – Impactos e Vulnerabilidades;
O curso atualmente, conta com o apoio institucional IV – Adaptação.
da ASSEMAE – Associação Nacional dos Serviços Muni- O valor da inscrição será de R$ 995,00, poderá ser fei-
cipais de Saneamento e da Secretaria de Saneamento e ta através do e-mail: projetossocioambientais@aesabesp.
Recursos Hídricos do Estado de Sapo Paulo. org.br.
O curso atualmente, conta com o apoio institucional da
AESBE – Associação das Empresas de Saneamento Básico
Estaduais, ASSEMAE – Associação Nacional dos Serviços
Municipais de Saneamento, PUC- SP - Pontifícia Universi-
dade Católica de São Paulo e a Secretaria de Saneamento e
Recursos Hídricos do Estado de São Paulo.
.
Os cursos não tem fins lucrativos e, portanto, seus valores são bastante diferenciados do mercado e o investimento
feito para ambos poderão ser pagos em até 2 (duas) parcelas, devendo ser quitadas até julho/2012. Em suas realizações
estão incluídos os fornecimentos de material didático, “coffee break” e bolsa personalizada do evento.
Para maiores informações acesse o site www.aesabesp.org.br ou ligue para 11-3262-0484 com Alessandra.

Ecoeventus no VIII Torneio Interpolos 2012


A diretoria de Projetos Socioambientais participará emissões de Gases de Efeito Estufa – GEEs, com o apoio
do VIII Torneio Interpolos 2012 com a implantação do da Diretoria de Polos e a Diretoria de Esportes, para
projeto ecoeventus® por meio da gestora Maria Apare- a sua realização. Baseado em um programa de edu-
cida Silva de Paula Santos, coordenadora do Polo Cos- cação ambiental, o projeto busca a sensibilização e
ta Carvalho e Centro, e Alessandra Buke (AESabesp), conscientização para a prática de ações sustentáveis
a implantação do projeto visa compensar o impacto na diminuição do consumo de energia e reciclagem de
causado pela realização do evento para a redução das material.

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 45


SUSTENTABILIDADE

Vania Lúcia Rodrigues


é engenheira
civil, doutora em
Engenharia e atua
do Departamento de
Gestão de Recursos

Dia Mundial da Água


Hídricos da Sabesp

Em 22 de março, o “Dia Mundial da Água” completou 20 anos. A data


foi escolhida pela ONU (Organização das Nações Unidas) durante a
conferência Eco-92, no Rio de Janeiro, para alertar para a escassez de
água potável. Muitas ações foram oferecidas ao público pela Sabesp,
como a exposição de um “Diamante de Gelo” no Metrô, visitas em
suas unidades e diversas palestras, dentre as quais destacamos a da
Eng. Vânia Lúcia Rodrigues, sobre “Água e Segurança Alimentar”, tema
internacionalmente escolhido para reflexão em 2012

ÁGUA E SEGURANÇA ALIMENTAR


Por Vania Lucia Rodrigues

INTRODUÇÃO ANO TEMA


O Dia Mundial da Água é celebrado anualmente em 2011 Água para cidades
22 de Março, como forma de focalizar a atenção 2010 Qualidade da água
sobre a importância da água doce e defender a ges-
2009 Águas compartilhadas (transfronteiriças)
tão sustentável dos recursos hídricos do Planeta. Foi
2008 Água e saneamento
recomendado em 1992 na Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento 2007 Escassez de água

(RIO-92), e já no ano seguinte, a Assembleia Geral 2006 Água e cultura


da ONU designou 22 de março de 1993 como o pri- 2005 Água para a vida 2005-2015
meiro Dia Mundial da Água. 2004 Água e desastres
A cada ano, o Dia Mundial da Água destaca um 2003 Água para o futuro
aspecto específico da água doce. Em 2011, o objeti-
2002 Água e desenvolvimento
vo foi para chamar a atenção internacional para os
2001 Água para a saúde
sistemas urbanos de água, principalmente o impacto
da industrialização e o crescimento da população ur- 2000 Água para o século XXI

bana, as incertezas provocadas pelas mudanças cli- 1999 Todos vivem a jusante (sobre inundações)
máticas e os conflitos e as catástrofes naturais. Em 1998 Água subterrânea – um recurso invisível
2010, a campanha foi dedicada ao tema qualidade da 1997 O Planeta Água – temos o suficiente?
água, focando aumentar a conscientização sobre a 1996 Água para cidades sedentas
manutenção de ecossistemas saudáveis e bem-estar
1995 Mulheres e água
humano e enfrentar os desafios da gestão da quali-
1994 Cuidar de nossos recursos hídricos é negócio para todos
dade da água. Veja os temas no quadro ao lado.
O tema escolhido para 2012 foi ÁGUA E SEGU-
RANÇA ALIMENTAR. Considerando que há 7 bilhões

46 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


SUSTENTABILIDADE

de pessoas no planeta para serem alimentadas e outros de infantil no mundo relaciona-se à nutrição inade-
2 bilhões são esperados até 2050, que a agricultura é, quada e que 925 milhões de pessoas são subnutridas
sem dúvida, a maior usuária de água potável, e que o - quase um bilhão de pessoas que vivem em estado
Brasil tem uma das maiores disponibilidades hídricas de fome crônica.
do planeta, tem-se a importância desta discussão nos
dias de hoje.
Segurança Alimentar consiste nos seguintes as-
pectos: garantir o acesso continuado para todas as
pessoas a quantidades suficientes de alimentos segu-
ros que lhes assegurem uma dieta adequada; atingir
e manter o bem-estar de saúde e nutricional de todas
as pessoas; promover um processo de desenvolvimen-
to socialmente e ambientalmente sustentável, que
contribua para uma melhoria na nutrição e na saúde,
eliminando as epidemias e as mortes pela fome. Esse
conceito foi elaborado pela Cúpula Mundial de Ali- Fonte: Relatório O Estado do Mundo, 2011, Instituto Akatu.
mentação, promovida pela Organização das Nações
Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e pela AGROPECUÁRIA NO BRASIL
Organização Mundial da Saúde (WHO) e realizada em Em termos mundiais, a área alocada à produção agrícola
Roma/Itália, em 1996. é cerca de 1,532 bilhão de hectares, dos quais 18% (278
Em que pesem as discussões sobre a quantidade de milhões de hectares) estão sob cultivo irrigado e respon-
água que consumimos para viver, a pressão da produ- dem por 44% de toda a produção agrícola, enquanto
ção de alimentos sobre os recursos hídricos é imensa. que a agricultura de sequeiro responde pelo restante
Estatísticas dizem que cada um de nós bebe de 2 a 4 (Christifidis).
litros de água todos os dias, porém a maioria da água No Brasil, a base da produção agropecuária se de-
que “consumimos” está embutida nos alimentos que senvolve em 220 milhões de hectares de pastagens
comemos e produtos que usamos. Produzir 1 quilo de e 62 milhões de hectares para as principais lavouras
carne bovina, por exemplo, consome mais de 15.000 cultivadas, segundo dados da Secretaria de Agricultura
litros de água. Os bens industriais utilizados pelo ho- de Minas Gerais (ver quadro abaixo). A grande maioria
mem resultam de produtos de diferentes naturezas, das culturas se desenvolve de forma tradicional, isto é,
que, se reduzidos à quantidade de água utilizada na de sequeiro. Atualmente, são utilizados 4,5 milhões de
produção, resulta num consumo individual de 430 li- hectares com agricultura irrigada (ANA), representan-
tros por dia. do menos de 10% da área plantada do país.
Compatibilizar a garantia de acesso a alimentos e a
pressão sobre os recursos hídricos exigirá esforços em Distribuição
ÁREA
%
(milhões ha)
todas as etapas da cadeia de abastecimento, desde os
Floresta Amazônica 350 41,1
produtores até o pós-consumo, no sentido de gerar
Pastagens 220 25,9
ações que resultem em economia de água e assegure
Áreas protegidas 55 6,5
comida para todos. Exigirá também esforços no geren-
Culturas anuais 47 5,5
ciamento dos recursos hídricos, aí envolvidos os comi-
Culturas permanentes 15 1,8
tês de bacias hidrográficas, os órgãos governamentais
Cidades, rios, lagos, estradas, etc 20 2,4
e os próprios usuários. O setor de agricultura é o mais
Florestas plantadas 6 0,7
diretamente envolvido nesse debate, mas o problema
Subtotal 713 83,8
vai bem além dele.
Outros usos 37 4,3
Áreas não exploradas (disponível para a agricultura) 101 11,9
DADOS MUNDIAIS SOBRE A FOME
Total 851 100,0
Em 2011, a FAO publicou seu último relatório sobre a
fome, revelando que mais de um terço da mortalida- Fonte: Minas Gerais, SMA, 2011

fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 47


SUSTENTABILIDADE

A relação entre área plantada e produção agrícola é Produção pecuária – Brasil 2009
um indicador da eficiência do processo produtivo. Ob- Leite 29,1 bilhões de litros de leite
servando dados brasileiros, tanto do setor de produção Produção de carne bovina 6,6 milhões de toneladas
de grãos quanto da pecuária, depreende-se que a pro- Produção de carne suína 3,2 milhões de toneladas
dutividade agrícola das últimas décadas é crescente, Produção de ovos 2,4 bilhões de dúzias
mas que o motivo principal desse crescimento não é Produção de frangos 4,8 bilhões de unidades
a expansão da área cultivada, significando, portanto, Rebanho bovino 205,3 milhões de cabeças
melhoria de outros fatores intervenientes no processo, Rebanho bovino para abate 28,1 milhões
irrigação entre eles. Rebanho suíno 38 milhões de cabeças
Em se tratando de cultivo de grãos, a área plantada Rebanho suíno para abate 30,9 milhões de cabeças
é da ordem de 50 milhões de hectares e essa área não Fonte: IBGE, censo 2009, citado por Minas Gerais.
cresceu significativamente nos últimos anos. Em 1990, o
Brasil produziu 57,8 milhões de toneladas de grãos numa carne bovina suprirá 44,5% do mercado mundial, a car-
área cultivada de 37,9 milhões de hectares. Em 2010, a ne de frango terá 48,1% das exportações mundiais e a
produção foi de 162,9 milhões de toneladas de grãos participação da carne suína será de 14,2% (http://www.
numa área de 49,9 milhões de hectares, ou seja, a produ- agricultura.gov.br/animal/exportacao).
tividade por hectare mais que dobrou em 10 anos como Para os próximos 40 anos, as projeções indicam que
pode ser visto na tabela abaixo, resultante de dados da o Brasil deve aumentar sua produção atual de grãos em
Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB. 88% e a de carnes em 98%. A colheita de grãos, estima-
da em 159 milhões de toneladas para a safra 2011/2012,
área Produção Produtividade
Safra deve chegar a 299,5 milhões de toneladas em 2050. A
x 1000ha x 1000 ton kg/ha
1976/77 37.318,9 46.943,1 1.258 produção de carnes, que em 2011 totalizou 26,5 milhões
1980/81 40.384,0 52.212,2 1,293 de toneladas, será de 52,6 milhões de toneladas, de acor-
1990/91 37.893,7 57.899,6 1,528 do com a previsão (Agência Brasil).
2000/01 37.847,3 100.266,9 2,649 Em se tratando dos resultados da balança comercial,
2010/11 49.919,0 162.957,9 3,264 os números são muito positivos e dignos de louvor. En-
Fonte: http://www.conab.gov.br. Acesso em 27/01/12. tretanto, não se pode esquecer a água virtual que esta
embutida em cada quilo de produto exportado. A soja
Segundo o Coordenador-geral de Planejamento e os cereais lideram a exportação de água virtual, mas a
Estratégico do Ministério da Agricultura, Pecuária e carne e o café também contribuem de forma significati-
Abastecimento, José Garcia Gasques, o aumento da va (rodrigues, 2005)
produtividade é gerado principalmente pela adoção de
tecnologias, pelo melhoramento do processo de gestão
e pela qualificação do agricultor (Agência Brasil).
A pecuária brasileira também exibe ganhos de pro-
dutividade no mesmo período. Em 1970, a produção bra-
sileira de carne bovina era de 20 quilos por hectare ao
ano e a boiada ficava no pasto até seis anos para atingir
o peso de abate; em 2000, a produtividade subiu para
34 quilos por hectare e o tempo no pasto passou para
24 meses ou menos. Alguns dados da produção pecuária Figura elaborada a partir de informações de “The green, blue
do país podem ser vistos na tabela abaixo, gerada com and grey water footprint of crops and derived crop products”
dados do IBGE relativos ao Censo Demográfico de 2009.
A cada ano, a participação brasileira no comércio in- ÁGUA E AGRICULTURA
ternacional cresce significativamente em relação à média Estudos da Agência Nacional de Águas – ANA,
mundial, com destaque para a produção de carne bovina, em 2011, sobre a situação dos recursos hídricos do
suína e de frango. Segundo o Ministério da Agricultu- país mostram que a irrigação é responsável por 47%
ra, até 2020, a expectativa é que a produção nacional de da retirada total de água dos corpos hídricos do país,

48 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


SUSTENTABILIDADE

caracterizando o uso mais consuntivo, seguida pelo tendendo ao consumo de alimentos mais complexos
abastecimento urbano de água, que faz 26% da retira- e industrializados, como ilustrado na figura abaixo.
da total. A área irrigada atual, por região hidrográfica, Quanto mais a dieta se distanciar dos produtos de
está apresentada na figura abaixo. Ao todo, somam 4,5 base, mais água será necessária para a sua produção.
milhões de hectares de terras irrigadas, com potencial
para expansão, mas o país tem possibilidades de ex-
pandir essa área em até seis vezes.

Fonte: Rabobank, 2005, citado por Roppa

Fonte: Conjuntura dos recursos hídricos - ANA Hoje, um terço dos solos agrícolas são usados na
produção de alimentos consumidos diretamente pe-
Buscando identificar o potencial de agricultura ir- los homens e dois terços são usados na produção de
rigável do Brasil, a ANA realizou estudo considerando ração animal, que posteriormente constituirão a dieta
as exigências legislação ambiental e do código flores- humana. Num cenário de expansão da pecuária decor-
tal. Segundo este estudo existe cerca de 110 milhões rente de aumento de renda e de crescimento da popu-
de hectares de solos aptos para a expansão agrícola, lação, é de se esperar que a relação entre consumo de
sendo 29,6 milhões de hectares aptos para agricultura água para alimentação, por habitante, seja alterada em
irrigada, dos quais 2/3 concentram-se nas regiões nor- maior proporção.
te e centro oeste (Cristofidis). Olivier De Schutter, Relator Especial das Nações
Os dados anteriores mostram que o Brasil pode Unidas para o Direito à Alimentação, afirmou que aca-
expandir sua fronteira agrícola e tornar-se o “celeiro bar com a fome não depende exclusivamente da ca-
do mundo”. O país tem ainda 80 milhões de hectares pacidade mundial de produzir comida suficiente. Para
para expansão da agricultura de sequeiro e 30 mi- muitas comunidades, as soluções se encontram em fa-
lhões de hectares para expansão da agricultura irri- zer melhor uso da comida produzida. Estudos sugerem
gada. Para manter sua posição de grande fornecedor que a melhor forma de assegurar que todos tenham
de grãos e carnes para o planeta, não pode prescindir comida suficiente é mudar o tipo de comida produzida
de água e solo em quantidade e qualidade adequa- e melhorar sua distribuição: menor produção de carne,
das. Portanto, a preservação e o bom manejo dos re- uso de métodos agrícolas mais sustentáveis e maior
cursos naturais é tarefa primordial para a segurança produção de alimentos locais e regionais.
alimentar da população. Deve ser lembrado ainda o desperdício na cadeia
produtiva dos alimentos, pois junto com eles, a água
ÁGUA E SEGURANÇA ALIMENTAR usada para produzí-los fica perdida.
A discussão das políticas públicas de segurança ali- Finalmente, cabe ressaltar o que diz respeito ao ge-
mentar e de recursos hídricos compreende alguns pon- renciamento da água. Conforme preconizado na Polí-
tos que extrapolam as relações diretas entre produção tica Nacional de Recursos Hídricos, o planejamento e a
de alimentos e consumo de água. gestão por bacias hidrográficas são considerados como
Um fator considerável para a segurança alimentar boas práticas no mundo inteiro, pois nelas o sistema
diz respeito ao efeito do poder aquisitivo sobre os há- socioeconômico se integra ao sistema natural. Desen-
bitos alimentares da população humana. É sabido que, volvimento urbano e rural, ocupação do solo, energia,
com o aumento da renda, a composição da dieta varia, agricultura, piscicultura, represas, etc, são temas que

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SUSTENTABILIDADE

tem de ser discutidos no recorte territorial da bacia REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


hidrográfica, permitindo a hierarquização de priorida-
Agência Brasil. Notícia: Brasil deve aumentar produção de grãos
des, com avaliação da relação entre disponibilidade e e de carnes em mais de 80% em 40 anos. Danilo Macedo. Publi-
demanda regionais para uso da água. Uma vez que a cado em 31/12/2011 - 10h33. Disponível em http://agenciabrasil.
irrigação é o uso mais expressivo em termos de retirada ebc.com.br/noticia/2011-12-31/brasil-deve-aumentar-producao-
-de-graos-e-de-carnes-em-mais-de-80-em-40-anos Acesso em
de água da bacia, a alocação da água para a produção
01/02/2012.
agrícola tem que ser discutida por todos os usuários
envolvidos na mesma bacia, cabendo ao comitê da ba- Agência Nacional de Águas. ANA. Conjuntura dos Recursos Hídricos
cia hidrográfica identificar os usos preponderantes e no Brasil: Informe 2011. Brasília, 2011.

definir aqueles considerados insignificantes em termos Banco Mundial. Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de
de retirada de água. 2008. Agricultura para o Desenvolvimento Visão Geral. Wa-
O planejamento em nível de microbacias é mais shington, DC, 2007. Disponível em wdronline.worldbank.org/
worldbank/a/langtrans/28. Acesso em 04/02/2012.
apropriado para avaliação e controle das interferên-
cias das atividades agropecuárias no meio ambiente, Brasil. Cúpula Mundial Da Alimentação: cinco anos depois. Rela-
sendo o primeiro passo para projetos de conservação tório Nacional Brasileiro, Resumo. Brasília, 2002. Disponível em
do solo e da água. Segundo Robert Watson, diretor www2.mre.gov.br/dts/cmafao11_resumo.doc. Acesso em 05/04/12.

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cia e Tecnologia Agrícolas para o Desenvolvimento, panhia Nacional de Abastecimento CONAB. Acompanhamento da
a agricultura “pode fazer mais do que apenas focar Safra Brasileira-Grãos. Safra 2010/2011, Quarto Levantamento,
Janeiro/2011. Disponível em http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/
na produção. Pode ajudar a fornecer água limpa e a
uploads/arquivos/11_01_06_08_41_56_boletim_graos_4o_lev_sa-
proteger a biodiversidade, e deve ser administrada fra_2010_2011..pdf; Acesso em 04/02/2012.
de forma a manejar nosso solo de maneira sustentá- Brasil. Ministério da Integração Nacional. Secretaria de Infraestru-
vel” (Instituto Akatu). tura Hídrica. Departamento de Desenvolvimento Hidro agrícola.
Demetrios Christofidis. Água: um desafio para a sustentabilidade
Tamanha importância já está retratada nos pro- do setor agropecuário. Série Irrigação e Água: I – 2007. Brasília, DF,
gramas de pagamento por serviços ambientais. Estes 21 de novembro de 2008. Disponível em http://www.irrigacao.org.
consistem, em linhas gerais, na retribuição, em di- br/artigos/demetrios_agrianual.pdf . Acesso em 04/02/2012.

nheiro, pela conservação de matas ciliares nas pro-


Christofidis, Demetrios. Gestão dos recursos hídricos e os novos
priedades rurais. É preciso amadurecer e expandir desafios da irrigação. In IV Simpósio Nacional sobre o Uso da Água
esses programas, garantindo a sua sustentabilidade na Agricultura e I Simpósio Estadual sobre Usos Múltiplos da Água.
Passo Fundo, RS, 11 a 14 de abril de 2011. Disponível em
financeira por longo prazo. Nesse ponto torna-se
http://downloads-de-eventos.livera.com.br/simposio_das_
relevante a instituição de câmaras técnicas rurais aguas_2011/downloads/Gestao_Recursos_Hidricos_Novos_Desa-
nos comitês de bacias hidrográficas, para que essas fios_Demetrios_Christofidis.pdf . Acesso em 07/02/2012.
questões possam ser abordadas com maior ênfa-
Mekonnen, M.M.; Hoekstra, A.Y. The green, blue and grey water
se, discutidas e ponderadas por representantes dos
footprint
diversos setores produtivos relacionados ao uso da of crops and derived crop products. Volume 1: Main report; De-
água, em ambiente de gerenciamento de recursos cember 2010; Value of Water Research Report Series Nº. 47. Dispo-
nível em http://www.waterfootprint.org/Reports/Report47-Water-
hídricos.
FootprintCrops-Vol1.pdf. Acesso em 04/02/2012.
Lidar com o crescimento da população, garantir o
acesso a alimentos para todos e acabar com essa ver- Minas Gerais. Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abasteci-
gonhosa estatística de um bilhão de pessoas passando mento. Perfil Do Agronegócio Brasileiro. Setembro de 2011. Dispo-
nível em http://www.agricultura.mg.gov.br/files/perfil/perfil_brasil.pdf
fome, requer mais que a gestão da alocação dos flu- . Acesso em 06/02/2012.
xos e da qualidade dos recursos hídricos. Preservação
e restauração de bacias hidrográficas, conservação da Rodrigues, V.L. Agua virtual, um novo valor para balizar trocas. Rev.
Engenharia Ano 61, n.560. Instituto de Engenharia, São Paulo, 2003.
biodiversidade e desenvolvimento do mercado agríco-
(www.brasilengenharia.com.br).
la sustentável são fundamentais para a construção de
politicas públicas de segurança alimentar e de recursos Roppa, L. Perspectivas da produção Mundial de carnes, 2007 a
hídricos complementares e tolerantes. 2015. Disponível em http://pt.engormix.com/MA-pecuaria-corte/
artigos/perspectivas-producao-mundial-carnes-t140/p0.htm. Acesso
em 01/02/12

50 Saneas fevereiro / março / abril | 2012


fevereiro / março / abril | 2012 Saneas 51
06 a 08 de
agosto de 2012
pavilhão Branco do expo
center norte . são paulo . sp

tema central:
como prover o saneamento para todos?

1 , mais d
Em 2011 puseram produ
e 1 9 0 e m presas lí iços
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