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Ano XII • Edição 80 • Abril a Junho de 2022

EXPOENTES DO VIVÊNCIAS INOVAÇÃO NO


SANEAMENTO SANEAMENTO
Verônica Sánchez, diretora- Américo Sampaio: um Fenasan: ponto focal da
presidente da ANA, sobre os exemplo de dedicação e inovação no setor
desafios da atual gestão engajamento ao saneamento
EXPEDIENTE EDITORIAL

Associação dos Engenheiros da Sabesp


Rua Treze de Maio, 1642
Caros associados, amigos...
Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/ SP
Fone: (11) 3263 0484
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Órgão Informativo da Associação
dos Engenheiros da Sabesp de negócios, soluções, serviços e processos fizeram-se necessários para melhorar
Fundada em 15/09/1986
Diretoria Executiva
Presidente: Luciomar Santos Werneck a vida das pessoas e as condições do planeta. E a inovação tornou-se uma ferra-
Diretor Administrativo: João Augusto Poeta
Diretor Financeiro: Hiroshi Ietsugu
Diretora Socioambiental e Cultural: Ester Feche Guimarães menta essencial a estas transformações.
Diretor de Comunicação e Marketing: Tarcísio Luís Nagatani
Diretoria Adjunta
Diretoria Técnica: Agostinho de Jesus Gonçalves Geraldes
Diretoria de Esportes e Lazer: Paulo Victor Vieira Sampaio Por isso, esta edição da Saneas dedica a reportagem de capa ao tema, trazendo
Diretoria de Polos Regionais: Eduardo Bronzatti Morelli
Diretoria Social: Maria Aparecida Silva de Paula
Diretoria Inovações: Helieder Rosa Zanelli
diversos especialistas e cases de empresas que abordam os vários aspectos do
Conselho Deliberativo
Presidente: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges
Membros: Alexandre Domingues Marques, Antonio Ramos Batagliotti,
Aurelindo Rosa dos Santos, Benemar Movikawa Tarifa, Carlos Alberto conceito e mostram um panorama deste ecossistema no Brasil.
de Toledo, Cid Barbosa Lima Júnior, Evandro Nunes de Oliveira,
Fernando Colombo, Hilton Alexandre de Oliveira, Iara Regina Soares
Chao, Kleber dos Santos, Nelson Cesar Menetti, Nilzo Rene Fumes,
Patricia Barbosa Taliberti, Paulo Levy de Souza Rodrigues, E não poderíamos falar em inovação sem destacar a Fenasan 2022, que será re-
Sulamita França Santos
Conselho Fiscal
Marcia de Araújo Barbosa Nunes, Nercy Donini Bonato e alizada junto com o Encontro Técnico AESabesp de 13 a 15 de setembro, no Expo
Sonia Regina Rodrigues
Coordenadores
Polos da RMSP: Antonio Ramos Bataglioti Center Norte, retornando ao seu formato presencial. Juntos, os eventos compõem
Polo dos Aposentados: Nizar Qbar
Assuntos Institucionais: Patrícia de Fátima Goularth
Cursos: Olavo Prates Sachs a maior realização do Saneamento Ambiental e Meio Ambiente da América Lati-
Inovação: Pierre Ribeiro de Siqueira
Contratos Tercerizados: Benemar Movikawa Tarifa
Conselho Editorial e Fundo Editorial
Coordenadores: Nélson César Menetti na. Reconhecida como o polo de inovação do setor, nossa feira promove ano a ano
Membros: Débora Soares, Eliana Cristina Rodrigues da Costa,
Sandreli Droppa Leta, Suely Matsuguma e Ana Paula Vieira Rogers
Comissão Organizadora 33º Encontro Técnico AESabesp / novas tecnologias e soluções em prol do saneamento.
Fenasan 2022
Presidente da Comissão: Olavo Alberto Prates Sachs
Diretor do Encontro Técnico AESabesp: Agostinho de Jesus
Gonçalves Geraldes Na coluna “Expoentes do Saneamento”, trazemos uma entrevista exclusiva com
Diretor da Fenasan: Helieder Rosa Zanelli
Membros da Comissão
Alisson Gomes de Moraes, Alzira A. Garcia, Antonio Carlos Roda Verônica Sánchez, diretora-presidente da ANA, que assumiu o cargo em abril.
Menezes, Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Alves Martins, Luciomar
Santos Werneck, Maria Aparecida Silva de Paula, Mariza Guimarães
Prota, Nélson César Menetti, Nilton Gomes de Moraes, Nizar Qbar, Nesta conversa, ela fala sobre os desafios e as estratégias da atual gestão da
Rodolfo Baroncelli, Sonia Maria Nogueira e Silva, Tarcisio Luis Nagatani,
Viviana M. N. de A. Borges, Walter Antonio Orsatti
Equipe de apoio Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico.
Ana Paula Rogers, Maria Flávia da Silva Baroni, Milena Mendes Tojo
e Silva, Monique Funke, Paulo Oliveira, Suely Melo, Vanessa Hasson,
Wanderley Pavão Junior
Polos AESabesp da Região Metropolitana - RMSP E na coluna “Vivências”, nosso homenageado não poderia ser outro: o engenheiro
Polo AESabesp Centro: Patrícia Barbosa Taliberti
Polo AESabesp Coronel Diogo: Rodrigo Pereira de Mendonça
Polo AESabesp Costa Carvalho: Patricia de Fatima Goularth
Polo AESabesp Leste: Eduardo Alves Pereira Américo Sampaio, que nos deixou em maio, um exemplo de dedicação e engaja-
Polo AESabesp MT: Edmilson Barbosa Prado
Polo AESabesp Norte: Eduardo Bronzatti Morelli
Polo AESabesp Oeste: Benedito da Silva
Polo AESabesp Ponte Pequena: João Augusto Poeta
mento. Um grande profissional e amigo, cujo legado permeia não só a trajetória
Polo AESabesp Sul: Kleber dos Santos
Polos AESabesp Regionais
Polo AESabesp Baixada Santista: Zenivaldo Ascenção dos Santos
da AESabesp, como a do setor de saneamento. Nesta edição, nossa homenagem!
Polo AESabesp Botucatu: Leandro Cesar Bizelli
Polo AESabesp Caraguatatuba: Pedro Rogério de Almeida Veiga
Polo AESabesp Franca: José Chozem Kochi
Polo AESabesp Itatiba: Vanessa Egídio Pereira Espero que estejam todos bem e com saúde e nos veremos em breve no 33º En-
Polo AESabesp Itapetininga: Jorge Luis Rabelo
Polo AESabesp Lins: Carlos Toledo da Silva
Polo AESabesp Presidente Prudente: Gilmar José Peixoto contro Técnico e Fenasan 2022!
Polo AESabesp Vale do Paraíba: Paulo Victor Vieira Sampaio
Polo AESabesp Vale do Ribeira: Anderson Takeo Pereira Nakazawa
Produção Editorial
Foco21 Comunicação Boa leitura!
Jornalista Responsável - Editora-chefe
Ana Paula Vieira Rogers - MTB 27666
anarogers@foco21comunicacao.com
Editora
Suely Melo
Colaboradores
Amanda De Sordi, Clara Zaim, Jéssica Marques e Sofia Jucon
Fotos
Equipe Estevão Buzato e acervo AESabesp
Projeto visual gráfico e diagramação
Neopix DMI
contato@neopixdmi.com.br

Luciomar Santos Werneck


Presidente da AESabesp – Gestão 2022-2024
A AESabesp não se responsabiliza pela veracidade
de conteúdo de anúncios e de artigos assinados.
ÍNDICE

Matéria de
capa

Inovação e Tecnologia
no Saneamento 09

Expoentes do
saneamento

Verônica Sánchez,
diretora-presidente
da ANA, fala
sobre os desafios e
estratégias da atual
gestão 06

Matéria de capa Vivências

Américo Sampaio:
um exemplo
de dedicação e
Fenasan: ponto focal da
inovação no setor 13 engajamento ao
saneamento 47
Água e saneamento no Brasil:
amplo cenário para a inovação 14
Artigos Técnicos
Universidades são primordiais para alimentar
os sistemas locais de inovação 18
Contribuição internacional para a maturidade
tecnológica no saneamento 21
Empresas públicas e privadas de saneamento:
por que é tão importante inovar? 23
Aproveitamento de águas pluviais para fins não
No saneamento, quem inova potáveis no Núcleo de Ensino Superior da
faz a diferença! 33 Universidade do Estado do Amazonas 40

4 Saneas
Abril a Junho de 2022 5
EXPOENTES DO
SANEAMENTO

Os caminhos para o
uso múltiplo das águas e a
segurança hídrica do país
Verônica Sánchez, diretora-presidente da ANA, fala sobre
os desafios e estratégias da atual gestão.

V
erônica Sánchez to- do Ministério do Desenvolvimen- Entre os principais focos de Ve-
mou posse como to Regional – MDR. rônica, estão as diretrizes para a
diretora-presidente Desde então, Verônica tem lidado regulação do setor de saneamento,
da Agência Nacional com desafios diários. Entre eles, o a melhoria da fiscalização, dos pro-
de Águas e Saneamento Básico de incentivar a regulação no setor. cessos de concessão de outorgas e
– ANA em abril deste ano, com Afinal, a missão da ANA é garantir apoio aos estados e municípios.
mandato até janeiro de 2026. A o uso múltiplo das águas e a segu- “Nossa estratégia tem sido a de
cerimônia foi realizada na sede rança hídrica para o país. aumentar a resiliência ou capacida-

6 Saneas
de de adaptação dos sistemas hídricos antecipando medidas e desenvolvimento para o país. No setor de saneamento o desafio
reduzindo os riscos e os efeitos de secas e inundações”, afirma também é grande. O novo marco do setor atribuiu à ANA a com-
Verônica. petência de editar Normas de referência para o setor, o que em
Confira a entrevista com a diretora-presidente da ANA: suma, quer dizer uma harmonização das normas regulatórias que
atualmente são muito heterogêneas o que dificulta a atração de
Revista Saneas: Pode nos contar um pouco como foi sua investimentos e a estabilidade das regras no longo prazo. Então,
trajetória profissional até chegar à presidência da ANA? o desafio da ANA é promover e incentivar uma regulação, de
Verônica Sánchez: Eu integro a carreira de Especialista em responsabilidade das entidades reguladoras infranacionais, que
Políticas Públicas e Gestão Governamental do Ministério da Eco- contribua para a universalização dos serviços de abastecimento
nomia, com ingresso no ano de 2009, e desde então tenho exer- de água, coleta e tratamento de esgotos, de manejo e disposição
cido várias funções no Governo Federal. Mais recentemente, no final adequada dos resíduos sólidos e de drenagem e manejo de
Ministério do Desenvolvimento Regional, atuei como Secretária águas pluviais urbanas.
de Fomento e Parcerias com o Setor Privado sendo responsá-
vel pela coordenação dos instrumentos de fomento e políticas Revista Saneas – E quais estratégias que a ANA vai adotar
públicas voltadas à implementação de projetos de concessões e para superá-los?
parcerias público- privadas federais e de entes federativos nas Verônica Sánchez – Temos uma agenda regulatória que aponta
áreas de competência do Ministério, notadamente nos setores os temas prioritários que são objeto de estudo e confere previ-
de Saneamento Básico, Iluminação Pública, Mobilidade Urbana, sibilidade à nossa atuação no que se refere à edição de normas.
Irrigação e Habitação de interesse social. Antes de ir para o MDR Além disso, mantemos permanente canal de diálogo com entes
trabalhei na Casa Civil da Presidência da República com temas federados e segmentos usuários de recursos hídricos. Note-se
ligados ao setor de infraestrutura, parcerias com o setor privado que o aspecto federativo está presente tanto na gestão de re-
e no monitoramento de projetos prioritários pelo Governo. cursos hídricos, dada a dupla dominialidade dos corpos hídricos,
quanto no setor de saneamento cuja titularidade pertence aos
Revista Saneas – A senhora é especialista em políticas pú- municípios. Isso nos impõe a tarefa de encontrar incentivos para
blicas e gestão governamental do Ministério da Economia. atuação articulada e cooperativa. Um outro aspecto que gostaria
De que forma esta experiência pode contribuir para o seu de ressaltar é o cenário que temos de aumento das demandas
mandato na Agência? hídricas no Brasil, ao mesmo tempo em que já vivenciamos os
Verônica Sánchez – Minha experiência no setor de infraestru- efeitos das mudanças do clima, com alterações no ciclo da água,
tura me proporcionou uma visão abrangente de vários temas. no padrão da distribuição das chuvas e na ocorrência de eventos
Trabalhei no novo marco do Saneamento básico desde sua con- extremos. Nesse contexto, nossa estratégia tem sido a de aumen-
cepção inicial e no setor de recursos hídricos tive oportunidade de tar a resiliência ou capacidade de adaptação dos sistemas hídri-
participar da discussão do novo marco hídrico, projeto de lei em cos, antecipando medidas e reduzindo os riscos e os efeitos de
tramitação no Congresso Nacional, também participei do Progra- secas e inundações.
ma Águas Brasileiras, além de outras iniciativas e temas voltados
à expansão dos investimentos em infraestrutura que possuem Revista Saneas – A ANA abriu uma seleção para uma orga-
interfaces com a atuação da Agência. nização da sociedade civil realizar um projeto de aperfei-
çoamento de ferramentas estaduais de gestão de recursos
Revista Saneas – Quais são os principais desafios da Agên- hídricos. Hoje, quais são as principais metas da ANA para
cia para os próximos anos? melhorar esta gestão?
Verônica Sánchez – Temos na Agência temas de grande rele- Verônica Sánchez – Essa seleção tem como objetivo auxiliar a
vância para o país. A missão da ANA é garantir o uso múltiplo ANA no aperfeiçoamento do projeto ferramentas de gestão, re-
das águas e a segurança hídrica para o país. A água é cada vez alizado no período de 2017 a 2021, com o objetivo de apoiar
mais um insumo estratégico para desenvolvimento econômico os órgãos gestores de recursos hídricos no desenvolvimento e
e social em todo o mundo. Dela dependem diversas atividades aperfeiçoamento de ferramentas inovadoras de gestão para au-
produtivas como a geração de energia, a navegação, a produ- xiliar na tomada de decisão e promover a melhoria das atividades
ção agrícola irrigada, o lazer e o turismo, que geram emprego e voltadas à gestão estadual das águas nos estados. Então é seguir

Abril a Junho de 2022 7


EXPOENTES DO
SANEAMENTO

adiante, fortalecer os órgãos blicas e privadas: superar


gestores de recursos hídri- Raio X a falha de mercado. Algu-
cos e trazer melhorias para mas já definiram seu alvo
a governança das águas - Verônica Sánchez é servidora pública federal desde 2009, munícipios acima de 100
no país. Esse é um proces- da carreira de especialista em Políticas Públicas e Gestão Go- mil habitantes. Quais são
so continuado para que vernamental do Ministério da Economia. os próximos passos para
tenhamos oferta de água enfrentamento da baixa
- De 2011 a 2016, trabalhou como coordenadora geral de
em quantidade e qualida- de capacidade de paga-
Petróleo e Gás da Secretaria do Programa de Aceleração do
de, para as atuais e futuras mento de tarifas dos usu-
Crescimento do Ministério do Planejamento, Orçamento e
gerações, para atendimento ários de Saneamento no
Gestão.
das necessidades humanas e Brasil?
- Entre 2016 e 2018, foi assessora especial da Casa Civil
para o desenvolvimento sus- Verônica Sánchez – O Bra-
da Presidência da República, trabalhando na coordenação da
tentável do país. sil é muito diverso o que nos
agenda de reformas estratégicas para o Governo Federal.
impõe uma diversidade e
- Em 2019, atuou como secretária especial de Assuntos
Revista Saneas – Sobre multiplicidade de soluções,
Federativos da Secretaria de Governo da Presidência da Re-
o papel da ANA no con- a depender das peculiarida-
texto do Novo Marco do pública e como secretária especial adjunta do Programa de des locais. Por mais variado
saneamento: quais os Parcerias de Investimentos (PPI). que sejamos localmente, a
principais projetos para - Em janeiro de 2020, assumiu a Subchefia de Articulação característica de monopólio
garantir, juntamente com e Monitoramento da Casa Civil da Presidência da República natural é a mesma. Por força
o setor, a universalização e, no mês de abril, passou a exercer o cargo de chefe da As- dessa característica, o novo
do Saneamento do país sessoria Especial do Ministério do Desenvolvimento Regional. marco tem como um de seus
até 2033, conforme meta - Entre agosto de 2021 e abril de 2022, esteve à frente princípios a seleção competi-
prevista no Novo Marco? da Secretaria de Fomento e Parcerias com o Setor Privado tiva do prestador dos serviços.
Verônica Sánchez – O do MDR. O certame de leilão garante
novo marco de sanea- competição pelo mercado de
mento nos traz metas de- forma a selecionarmos na en-
safiadoras de atendimen- trada a melhor proposta, em
to, até 2033, de 99% da termos de economicidade,
população com abastecimento de água e 90% com coleta e tal processo de seleção reduz as assimetrias e falhas de merca-
tratamento de esgoto. Além dessa meta quantitativa, temos do. No que concerne a questão da modicidade tarifária, o novo
que melhorar a qualidade dos serviços e reduzir o déficit de marco define alguns princípios e balizas para tratamento dessa
eficiência na prestação dos serviços, reduzindo as perdas de questão. Em primeiro cito a prestação regionalizada dos serviços
água, por exemplo. Sabemos que a maior parte do déficit do como forma de contribuir para a viabilidade técnica e econômi-
atendimento em água e esgoto concentra-se nas periferias das co-financeira, a criação de ganhos de escala e de eficiência e a
grandes cidades, nas áreas rurais e possui diferenças signifi- universalização dos serviços. Outro princípio é o estímulo à utili-
cativas entre as regiões e estratos de renda da população. Tal zação de tecnologias apropriadas, consideradas a capacidade de
situação, conforme já ressaltei, requer vultosos investimentos pagamento dos usuários, a adoção de soluções graduais e pro-
e uma governança regulatória que permita atuações diferen- gressivas e a melhoria da qualidade com ganhos de eficiência e
ciadas de acordo com as realidades regionais ou locais. Nosso redução dos custos para os usuários. Então temos aí um conjunto
papel é auxiliar na construção de um ambiente de negócios de possibilidades, já apontadas pelo novo marco, restando a nós
que promova esses investimentos e que assegure estabilidade, todos empreender os esforços, reunir os talentos, os recursos e
previsibilidade, segurança jurídica, e regras claras, estabeleci- nosso entusiasmo para que a sociedade brasileira possa usufruir
das com robustez técnica e transparência. de rios limpos, de mais saúde e maior qualidade de vida.
Revista Saneas – Por fim, uma questão para empresas pú-

8 Saneas
MATÉRIA DE
CAPA

Inovação e Tecnologia
no Saneamento
Movimento para superar os desafios do setor de saneamento ambiental e ações para
atingir as metas do Novo Marco Legal impulsionam o ecossistema da inovação no
Brasil. Nesta direção, setor valoriza o trabalho das startups e amplia, cada vez mais, o
Por relacionamento com os diversos atores que somam e ajudam nos avanços tecnológi-
Sofia Jucon cos para a sustentabilidade dos negócios e o melhor atendimento à sociedade.

E
m um mundo cada vez mais global e com- de 70 a.C. na Roma Antiga, ficasse conhecida e, hoje,
petitivo, inovar é algo fundamental para trazendo esse conceito para os dias atuais, é fácil reco-
a perenidade dos negócios. Um simples nhecer que a questão mais apropriada nesses tempos
exercício de voltar no tempo faz parecer de integração entre o mundo real e virtual é a de que
que foi outro dia desses que Fernando Pessoa fez, em “Inovar É Preciso!”.
um de seus poemas, com que a célebre frase “nave- E mais do que isso, devemos lembrar que inovar vai
gar é preciso” do general Pompeu, proferida por volta além da tecnologia, pois é possível promover a inovação

Abril a Junho de 2022 9


MATÉRIA DE
CAPA

em todas as áreas, segmentos e negócios, uma vez que seu conceito Conforme os dados desta edição do GII, o Brasil tem um
é amplo e evidencia que nem somente os altos investimentos ou melhor desempenho em entradas de inovação do que em
as grandes empresas são capazes de promover a inovação externa saídas de inovação em 2021; este ano o Brasil ocupa a 56ª
e interna. Para isso, o ecossistema da inovação envolve também o posição no ranking de insumos de inovação, acima tanto de
processo utilizado para criá-la, a forma como é aplicada e o quanto 2020 como de 2019; e quanto aos resultados em inovação, o
gera de ganhos para quem usa. Portanto, a inovação pode e deve Brasil ocupa o 59º lugar. Esta posição é superior tanto a 2020
ser usada por todo e qualquer empreendedor e empresário. como a 2019.
Entre os tipos de inovação mais adotados nos negócios, desta- O relatório destaca que o Brasil ocupa a 11ª posição entre os 34
cam-se os de processos, organizacional, marketing, e de produtos grupos econômicos de renda média superior; e ocupa a 4ª posição
e serviços. entre as 18 economias da América Latina e Caribe.
O relatório completo pode ser acessado aqui.
Ranking Global da Inovação
Segundo o Global Innovation Index (GII), que classifica as econo- Ecossistema da inovação: conexão com o
mias mundiais de acordo com suas inovações e capacidades, o saneamento ambiental
Brasil ocupa a 57ª posição entre as 132 economias apresentadas No universo do saneamento ambiental o ecossistema da inovação
no relatório 2021. também se faz presente. As utilities de água e esgoto, que são
Composto por cerca de 80 indicadores, agrupados em entradas os prestadores de serviços, ficam no centro desse ecossistema e
de inovação e resultados, o GII tem como objetivo captar as face- se conectam com os vários atores que existem, como a agência
tas multidimensionais da inovação. reguladora, as universidades, os fornecedores de tecnologia, as
A tabela a seguir mostra os rankings do Brasil nos últimos três anos. agências de financiamento e de fomento, os órgãos de coope-
ração internacional, as startups, entre outros. Segundo Gustavo
GII Inovação / Entradas Inovação / Resultados
Posseti, gerente de pesquisa e inovação da Companhia de Sanea-
2021 57 56 59
mento do Paraná (Sanepar), a empresa prestadora de serviços de
2020 62 59 64
saneamento está no centro do ecossistema da inovação porque
2019 66 60 67
ela chega todo dia na casa das pessoas, através do fornecimento

Tipos de inovação
Inovação de Inovação Inovação de Inovação de
processos organizacional Marketing produtos e serviços

A adoção de métodos de É a transformação nos méto- Pode ser definida como a O conceito está ligado à
produção novos ou signi- dos de negócio da empresa. utilização de métodos ou fer- implementação de um novo
ficativamente melhorados Pode ser uma mudança na ramentas novas para comer- bem ou serviço – ou significa-
inclui os métodos de entrega organização do local do cializar os produtos e serviços tivamente melhorados – para
dos produtos. Tais métodos trabalho ou mesmo na relação da empresa, incluindo desde a empresa ou para o merca-
podem envolver mudanças no com o mercado, clientes e uma mudança significativa na do. A inovação em produto
equipamento ou na organi- fornecedores; embalagem até um completo é o resultado do trabalho
zação da produção, ou uma reposicionamento de marca; de empresas industriais e do
combinação dessas mudanças agronegócio na forma de um
e podem derivar do uso de bem material, por exemplo.
novo conhecimento.

10 Saneas
de água potável e do tratamento de esgoto. “Ela sabe quais são Inovação Aberta: novas oportunidades
as dores do cliente e tem que compartilhá-las com os demais ato- no setor de saneamento
res, uma vez que cada um tem o seu papel nesse cenário, e pode A Inovação Aberta ou Open Innovation é um modelo de gestão
fazer esse ecossistema interagir para encontrar as soluções mais empresarial voltado para a inovação que promove a colabora-
adequadas”, explica. ção com pessoas e organizações externas à empresa. O conceito
Para ilustrar melhor o desenvolvimento da inovação no sa- propõe uma verdadeira ruptura cultural corporativa, buscando
neamento ambiental, vamos imaginar que existe um “sistema livrar-se da “mentalidade de silo” das empresas.
solar da inovação” com vários planetas em órbita à sua volta, Inovação aberta é um conceito proposto pelo pesquisador Hen-
que trabalham de forma harmônica para a inovação efetiva- ry Chesbrough, em seu livro Open Innovation: The New Imperati-
mente acontecer. Portanto, a inovação como um todo já faz ve for Creating And Profiting from Technology (Harvard Business
parte do dia a dia do setor de saneamento ambiental e é fácil School Press – 2003). O líder estrategista salienta que a inovação
constatar que ele é um celeiro para novas ideias, pesquisas, aberta leva em conta o fato de que nenhuma inovação aconte-
aplicação e geração de re- ce de forma independente. “Conceitualmente,
sultados a partir dessas ini- é uma abordagem mais distribuída, participati-
ciativas, em termos de valo- va e descentralizada da inovação, baseada no
ração financeira, ambiental fato de que o conhecimento útil hoje está am-
e social. “Quando isso ocor- Não envolve plamente distribuído e nenhuma empresa, por
re, chamamos de inovação. necessariamente mais capaz ou grande que seja, poderia inovar
É uma nova ideia que devi- o pensamento de forma eficaz por conta própria”, orienta.
damente tratada e aplicada Chesbrough acredita que esse conceito tem
no produto
gerou resultado em prol da o poder de revolucionar as relações corpora-
revolucionário ou
melhoria no saneamento”, tivas: “para as empresas, a inovação aberta é
específica Posseti. disruptivo, mas uma forma mais lucrativa de inovar, porque
Segundo Pierre Siquei- seguir o Manual de pode reduzir custos, acelerar o tempo de en-
ra, coordenador de Ino- Oslo, aprofundar-se trada no mercado, aumentar a diferenciação
vação da Associação dos no mercado e criar novos fluxos de receita para
nos sete grupos de
Engenheiros da Sabesp a empresa”.
atividades inovativas
- AESabesp, o conceito De forma direta, inovação aberta significa
da inovação tem a capa-
corporativas.” que os limites das empresas são expandidos,
cidade de melhorar signi- Pierre Siqueira, coordenador tornando acessível a troca de informações e re-
ficativamente o patamar de Inovação da Associação cursos entre colaboradores internos e agentes
dos Engenheiros da Sabesp
de atendimento e nível de externos. A ideia é pensar em conjunto proces-
serviço no setor de sane- sos, pesquisas e protótipos, entre outros, a fim
amento ambiental. “Não de melhorar o desenvolvimento de produtos e
envolve necessariamente serviços e consolidar o objetivo de promover
o pensamento no produto revolucionário ou disruptivo, mas melhores soluções para seus clientes, aumentar a eficiência e
seguir o Manual de Oslo, se aprofundar nos sete grupos de agregar valor. Em resumo, a inovação aberta é o uso de fluxos
atividades inovativas corporativas de P&D, como design, pro- de entrada e saída de conhecimento para acelerar a inovação
dução, engenharia, operações, renovação de infraestrutura, interna e expandir os mercados.
modernização de equipamentos, ou mesmo na incorporação E por que a inovação aberta é importante para o setor de sane-
de patentes ao nosso setorial”, salienta. E, dessa forma, se- amento? Pierre Siqueira atenta que é a oportunidade de termos
gundo ele, as startups são esse motor contínuo capazes de melhores cabeças trabalhando online e full time para desenvolver
incorporar mudanças tecnológicas significativas através de a água como OD6, o Meio Ambiente como política pública e o
ações inovativas. ecossistema de Saneamento para o bem-estar comum.

Abril a Junho de 2022 11


MATÉRIA DE
CAPA

O especialista lembra que a área de saneamento ainda tem


muitos desafios a serem superados e fazer com que a inovação
ajude a transformá-los exige que seus atores estejam abertos para
esse tipo de iniciativa. Portanto, Siqueira reflete que para o Sanea-
mento Ambiental, no momento atual, a inovação aberta deve ser
incorporada nos planejamentos estratégicos das firmas. “E existir,
para valer, o comprometimento nos C-levels das empresas de sa-
neamento, corporações que são a espinha dorsal de toda a cadeia
de suprimentos”, completa.
Entre os tipos de inovação aberta, destacam-se a inbound, a
outbound e a coupled:
O termo inglês inbound open innovation refere-se a um tipo
de inovação que acontece quando uma empresa se apropria de
uma ideia inovadora criada por outras entidades, para que seja
transformada por meio do seu próprio processo de inovação, de de custos, geração de valor agregado e menos ainda em inova-
forma a gerar valor para si. ções radicais”, observa.
Geralmente isso acontece com a incorporação de tecnologias De acordo com Pierre, as três condições de Schumpeter es-
desenvolvidas por outras companhias. Por exemplo, um aplicativo tão expostas para o empresário empreendedor desequilibrar a
criado por uma startup pode transformar o atendimento ao clien- atual harmonia inercial no saneamento por meio de inovações.
te de um banco. “Estamos em um setor altamente regulado e com as necessida-
O termo outbound open innovation diz respeito a um tipo de des de R$465 bilhões de investimentos requeridas pelo Plano
inovação que acontece quando uma empresa desenvolve um ati- Nacional de Saneamento Básico (Plansab) até 2033. Existem
vo derivado do seu processo de inovação e o disponibiliza para diversos outros ramos da indústria, outros setores, com novas
parceiros externos, com o objetivo de desenvolvê-lo e/ou comer- possibilidades tecnológicas e mais vantagens competitivas do
cializá-lo. que o saneamento. Além disso, há acesso limitado a estas techs
Um exemplo disso é quando uma empresa cria um produto ou disponíveis nas companhias, seja por falta de estratégia dos atu-
serviço e o cede para que um parceiro comercial insira melhorias ou ais dirigentes do setor, seja por falta de qualificações pessoais”,
mesmo quando é firmado um acordo comercial, com incremento da revela. Com essas circunstâncias, Siqueira avalia que a decisão
companhia parceira ou simplesmente como canal de distribuição. por inovação aberta colaborativa com startups é central no mer-
Já coupled open innovation é um termo que descreve um tipo cado de saneamento básico.
de inovação que é resultado da união de duas ou mais empresas. Nesta seara da inovação, Pierre destaca que o Novo Marco
Esse “casamento” se dá com o objetivo de gerar ideias inovadoras Legal das Startups é um excelente diploma legal desenvolvido
em conjunto, de forma que o grupo possa explorar individualmen- pelo legislativo brasileiro, e que possibilita a atuação efetiva das
te os ativos resultantes. diversas atividades públicas. “Teremos grandes avanços com esta
lei de fronteira que impulsionará a modernização do Estado”,
Inovação aberta colaborativa cita. Da mesma forma, para ele o Novo Marco Legal do Sane-
O ambiente de inovação aberta no saneamento é novo, ainda há amento também impulsiona a inovação porque houve grande
pouco recurso empenhado na estruturação de hubs e ecossiste- interesse das empresas privadas em aumentar a participação no
ma de sustentabilidade concentrado em água e meio ambiente. mercado, com isto há mais agilidade nas aquisições das con-
Conforme Pierre Siqueira, o que há mais efetivo no setor são a cessões estruturadas. “Esta condição fará com que as metas de
promoção de pitchs, ou seja, as premiações em eventos que são universalização, modicidade, ampliação de base de clientes pre-
interessantes para o aquecimento, o recrutamento e a mobiliza- cisem de métodos e iniciativas de inovações, incluindo as abertas
ção. “Só que não resultam em ganhos de produtividade, redução colaborativas”, comenta.

12 Saneas
Fenasan: ponto focal da
inovação no setor


O setor de Saneamento Ambiental está sempre incor- tenha bom dimensionamento da demanda, promoção e potencial
porando novas demandas tecnológicas e ambientais de crescimento e que também esteja profundamente ligada a uma
e todas estas demandas requerem inovações tanto de necessidade do cliente, tenha falta de recurso. O mercado financei-
produto, como de processos, desde as inovações incre- ro é ávido por ganhos exponenciais. O que os empreendedores pre-
mentais até as mais radicais ou mesmo as que rompem com o cisam é de ideias ótimas e originais. E, principalmente, que nunca
curso normal de um processo, e são estas inovações que tra- se esqueçam de uma dúvida neste ideal inconsistente da inovação:
rão melhorias ao setor de saneamento ambiental e econômico. inovação é arriscar, não é uma narrativa idealizada de heróis em que
Por isso estamos focados no futuro, para trazer e incorporar o tudo sempre dá certo na experiência do trajeto”, provoca.
que o setor tem de melhor a oferecer”, ressalta Helieder Rosa Em termos de inovação e tecnologias já em funcionamento no se-
Zanelli, diretor de Inovações da AESabesp e da Fenasan - Feira tor de saneamento, Siqueira comenta que as inovações denominadas
Nacional de Saneamento e Meio Ambiente, que junto ao En- outside in na formatação colaborativa ou co-criações, ainda não são
contro Técnico AESabesp forma o maior evento de saneamento conhecidas. Segundo ele, podem existir, mas possivelmente serão mar-
ambiental da América Latina. ginais. “Considero isto, porque trabalho em uma grande empresa de
“Muitas são as dificuldades das empresas de inovarem sozinhas. saneamento e participo ativamente nas principais entidades de classe do
Afinal, nenhuma companhia, por maior que seja, detém todo co- setor. Possuímos boas inovações inside out como hidrometria 4.0, auto-
nhecimento. A inovação aberta é uma resposta a estas dificuldades, mação de equipamentos eletromecânicos, válvulas remotas de controle
sendo um modelo de fluxo, APPs comerciais, entre tantas outras demandas que nascem
que se torna viável no momento em que a empresa reconhece centralizadas e com apoio de níveis gerenciais médios”, detalha.
que existem profissionais e mesmo equipes com maior conhecimen- Para ele, os avanços virão a partir da prioridade em acelerar a inova-
to fora de sua própria estrutura”, completa. ção com enfoque estratégico top down, que seja mais abrangente em
Helieder frisa a importância da Fenasan por ser o event onde relação às atividades com iniciativa do empreendedorismo corporativo.
profissionais do setor apresentam ideias e novas tecnologias para Em vista desse caminho, Siqueira destaca que a Feira Nacional de Sa-
aprimorar os processos e melhorar produtos para o Saneamento neamento e Meio Ambiente (Fenasan), que junto ao encontro Técnico
Ambiental. “A feira promove a integração e troca de experiências AESabesp, forma o maior evento de saneamento ambiental da Amé-
entre profissionais, empresas, e governos que buscam inovações rica Latina, é o principal ponto focal da inovação no setor. Trata-se de
que tragam soluções para a universalização, redução de custos e uma conjunção voluntária da AESabesp, como entidade de classe, e os
aumento de produtividade. É a principal feira a acontecer no se- prestadores de serviço que trabalham principalmente uma das maiores
tor e responsável por lançar no mercado novas tecnologias, além e mais importantes companhias de saneamento do mundo. De acor-
de mecanismos de controle de qualidade nesta área, a FENASAN do com ele, a feira traz a importante inovação de P,D&I e aplicações
conta com as principais empresas do país apresentando produtos e centralizadas a partir das demandas da Sabesp como contratante. “Es-
serviços para o setor de saneamento, e os últimos lançamentos do tou participando a partir deste ano na Associação para contribuir na
mercado interno e internacional.” incorporação de novas formas colaborativas de inovações, buscando a
Sobre os investimentos, Siqueira atenta que precisamos de me- mentalidade ágil da co-criação, incorporando o frescor da juventude,
lhores empreendedores e projetos e ideias. “Não escutamos que a adaptabilidade dos empreendedores corporativos, enfim, um projeto
um projeto bem estruturado por um empreendedor privado, que que estamos iniciando e dará certo com certeza!”, preconiza.

Abril a Junho de 2022 13


MATÉRIA DE
CAPA

Água e saneamento
no Brasil: amplo cenário
para a inovação

A
Agência Nacional de Águas e Saneamento Bási- incentivar a questão da inovação, porque temos o estabelecimento de
co (ANA), desde a sua atribuição original como metas e de métricas que muitas vezes só são possíveis de serem atin-
Agência Nacional de Águas, tem realizado ativi- gidas no formato e nos prazos estipulados para os empreendimentos,
dades relacionadas à gestão de recursos hídri- caso se lance mão, não somente de procedimentos e ações que são
cos, por meio de do incentivo e investimento na inovação em mais convencionais e mais do dia a dia do setor, como também prá-
diversas frentes. Entre os exemplos, conforme destaca Sérgio ticas de inovação que ajudem e acelerem, por exemplo, o setor a
Ayrimoraes, especialista da ANA, está a própria produção de atingir de determinadas metas. Por isso, uma das formas que o novo
conteúdo e divulgação dessa informação à sociedade. Para marco regulatório traz para incentivar e ter a inovação como uma
exemplificar, ele cita o lançamento da edição 2021 do Rela- ferramenta importante é no estabelecimento de normas de referência
tório de Conjuntura dos Recursos Hídricos, coordenado pela em que a inovação faça parte e seja incorporado no novo modelo de
agência e que traz um panorama da gestão de recursos hídri- negócio”, explica.
cos no país em inédito formato digital e interativo. Entre os desafios do setor de saneamento nos quais a aplicação
Outra iniciativa recente, conforme conta Ayrimoraes, foi a criação da inovação pode ajudar a resolvê-los, Sérgio Ayrimoraes cita o ciclo
de um laboratório de inovação dentro da estrutura da agência re- urbano de uso da água, que vai desde o manancial até o lançamento
guladora, voltado para identificar e incentivar a inovação tanto rela- dos efluentes no corpo receptor. Neste caso, ele observa que temos
cionada à gestão de recursos hídricos como, agora, com a sua nova que falar necessariamente de Economia Circular, uma vez que em
atribuição institucional, ligada também à gestão dos serviços de sane- todo esse processo a inovação pode ajudar a resolver, desde os as-
amento. “Um dos principais projetos, que está entre os primeiros pi- pectos de oferta da água no manancial e controle de perdas até essa
lotos dessa nova ação da ANA é um trabalho relacionado às melhores água ser consumida pela população. “Tem todo um processo em que
práticas na gestão de resíduos sólidos”, comenta. a aplicação da inovação pode ajudar a otimizar a torná-lo cada vez
O executivo considera que o Novo Marco Regulatório do Sanea- mais eficiente para termos um uso mais racional da água, como tam-
mento está sendo considerado um propulsor para a inovação. Com bém no que se refere à questão dos resíduos e das melhores práticas
isso, Ayrimoraes destaca que uma atribuição da ANA, neste novo es- do tratamento dos efluentes ao seu reúso. Portanto, entendendo o
copo de atuação, é o estabelecimento de normas de referência para a ciclo de uso da água, no que tange aos componentes de abasteci-
regulação do setor. “E, assim, surge um espaço que dá margem para mento de água e esgotamento sanitário do saneamento, temos um

14 Saneas
amplo cenário para a questão da inovação, a qual é essencial para Inovação em prol da água,
que se otimize esse ciclo”, avalia. saneamento e saúde
Nos aspectos que contemplam a inovação junto aos prestadores Sérgio Ayrimoraes cita uma parceria entre a ANA e o Instituto Nacio-
de serviço de saneamento, Ayrimoraes aponta que é preciso reco- nal de Ciência e Tecnologia - INCT ETEs Sustentáveis, coordenado pela
nhecer a grande diversidade que compõem essa rede no Brasil, com Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), moldada no contexto
situações institucionais distintas, o que faz com que tenhamos pres- da pandemia, que ainda estamos enfrentando do novo coronavírus.
tadores, sejam eles públicos ou privados, um pouco mais avançados “Iniciamos, em abril de 2020, um projeto de monitoramento do novo
do ponto de vista da sua gestão operacional e das suas metas para coronavírus nos esgotos de Belo Horizonte e Contagem, de forma a
alcançar a universalização dos serviços. “São nesses tipos de pres- termos um acompanhamento da circulação do vírus nas cidades e
tadores que costumamos observar práticas de inovação e o apoio, apoiar as decisões das autoridades de saúde no enfrentamento da
por exemplo, ao mercado de startups e, por outro lado, temos ain- pandemia na cidade”. Para Ayrimoraes, esse é um projeto em que a
da prestadores de serviço com uma situação institucional precária, pesquisa e o apoio do prestador de serviços, no caso de Minas Gerais,
necessitando de desenvolvimento da Copasa e da ANA, atuaram de
em diversas etapas, tanto adminis- forma conjunta com a Secretaria de
trativas quanto gerenciais, opera- Saúde do Estado de Minas Gerais.
cionais e até na própria execução e O projeto se expandiu e virou
prestação dos serviços à população, Entendendo o ciclo de uso uma rede chamada ‘Rede Monito-
em que a inovação, nesses casos, da água, no que tange ramento Covid-Esgotos’, que além
muitas vezes ausente, pode vir a ser aos componentes de de Belo Horizonte atua também
um atalho para que se tenha um nas cidades de Curitiba, Recife, For-
abastecimento de água
desenvolvimento e uma qualifica- taleza, Rio de Janeiro e em Brasília.
e esgotamento sanitário
ção desses prestadores de serviços “Esse caso mostra que pesquisa, a
em prol da inovação”, destaca. do saneamento, temos regulação e a prestação de serviços
Para Sérgio Ayrimoraes, as parce- um amplo cenário para de saneamento têm que andar de
rias público-privadas são bem-vindas a questão da inovação, a forma conjunta e também ressalta
para incentivar a inovação no setor. a importância de se resgatar uma
qual é essencial para que
Ele frisa que esse tipo de modelo de relação histórica que existe entre
se otimize esse ciclo.”
negócios faz parte cada vez mais a água, o saneamento e a saúde”,
contempla o cenário que surge com Sérgio Ayrimoraes, explica.
especialista da ANA
o novo marco legal. “Elas são ob- Segundo Ayrimoraes, as perspec-
jetos de novos contratos, de novas tivas da ANA para que os desafios
modelagens institucionais e, quando do setor de saneamento sejam su-
estamos falando nesses termos, con- perados através da Inovação, numa
sideramos que existem espaços para que coloquemos, de forma mais visão otimista, são as melhores possíveis, tanto do ponto de vista na
contundente e assertiva, a questão da inovação como elemento cru- gestão dos recursos hídricos em que o setor de saneamento tem um
cial para atingirmos as metas regulatórias e, consequentemente, pro- usuário preferencial, lembrando da Política Nacional de Recursos Hí-
porcionar uma melhor qualidade na prestação dos serviços”, pontua. dricos, que é o abastecimento da população.
Em termos de ação conjunta dos atores da Ciência & Tecnologia Ele salienta que a ANA está atenta a essa discussão, seja do ponto
e os prestadores de serviços de saneamento em prol da inovação, de vista da oferta de água, e do controle desse uso para que ele seja
ele considera que é fundamental o estabelecimento de parcerias para mais racional, assim como, ele lembra sob o ponto de vista da deman-
que todos os atores do ecossistema da inovação, tanto os pesquisa- da, citando novamente maior atenção para a questão do controle
dores quanto os prestadores de serviços, como o governo e, no caso de perdas e do reúso. “Aposto na inovação como uma das questões
da ANA, no seu papel de gestora das águas e coordenadora da re- chaves para superar os desafios do setor de saneamento e garantir o
gulação do saneamento, possam cumprir com eficiência o seu papel. desenvolvimento sustentável do país”, declara.

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MATÉRIA DE
CAPA

Incentivar a inovação no saneamento:


setor ambiental evolui como um todo
A Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, por meio
da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ)
GmbH, tem como foco temático as energias renováveis e a eficiên-
cia energética, bem como a proteção e o uso sustentável da floresta
tropical. Mas, de acordo com Hélinah Cardoso Moreira, diretora de
Projeto, da Cooperação para Proteção do Clima na Gestão de Resídu-
os Sólidos Urbanos (ProteGEEs) da GIZ, temas como desenvolvimento
urbano sustentável ou oportunidades de financiamento para investi-
mentos em prol do clima também desempenham um papel cada vez
mais importante no trabalho da entidade para o combate às mudan-
ças climáticas.
No caso específico do saneamento, Hélinah considera que o Brasil
ainda está na corrida para a universalização do acesso à água, tra-
tamento de esgotos e um gerenciamento sustentável de resíduos.
“Nesse sentido, a base sustentável e a inovação são essenciais para
que o setor evolua com base em baixas emissões e de forma eficiente,
energeticamente e na utilização de recursos naturais”, expõe.
Focada especificamente na agenda de saneamento, Hélinah to seria como pensar que a prestação de serviço de saneamento é
conta que, em 2013, a GIZ iniciou a cooperação com o antigo um processo industrial que pode ser constantemente melhorado
Ministério das Cidades (atual Ministério do Desenvolvimento Re- e gerar melhores resultados”, diz.
gional), com um programa inovador de tecnologias em biogás
chamado Probiogás. Esse projeto desenvolveu as bases do mer- Inovação baseada em uma visão circular
cado de biogás no Brasil em parceria com ministérios federais, Sobre de que forma a expertise internacional em torno da economia
associações, prestadores de serviços de saneamento, academia e circular pode ser aplicada no saneamento no Brasil, a executiva infor-
setor privado. “No tratamento de esgotos, por exemplo, realiza- ma que entre 30 de maio e 3 de junho aconteceu, em Munique, na
mos uma pesquisa com nove prestadoras de serviço de sanea- Alemanha, a maior feira tecnológica de saneamento e recursos natu-
mento para entender melhor o comportamento do Reator UASB rais do mundo, a IFAT, que teve presença de diretores da AESabesp.
(Upflow Anaerobic Sludge Blanket) na produção de biogás, e que “Caminhar por essa feira é enxergar, de forma concreta, como a visão
melhorias poderiam ser desenhadas para a otimização da produ- da economia circular está sendo aplicada nos produtos e tecnologias
ção desse gás”, destaca. presentes no mercado”, ilustra e acrescenta: “é visualizar como o
Nessa linha, outros projetos que merecem ser comentados, segun- mercado está respondendo às demandas do setor de saneamento
do ela, são o de Eficiência Energética no Abastecimento de Água e e aos desafios globais, sendo um deles o combate às mudanças cli-
um projeto ainda em andamento, intitulado ProteGEEr, de coopera- máticas. A remoção e recuperação de poluentes e nutrientes no tra-
ção para a gestão sustentável de resíduos que contribua para mini- tamento de esgotos, por exemplo, são condições importantes para
mizar emissões de gases do efeito estufa e promover a reciclagem. viabilizar ou não a aplicação do lodo na agricultura, ou a necessidade
O trabalho da GIZ prova que a inovação conversa com várias de sua incineração ou descarte adequado. Isso tudo só é possível com
áreas ambientais, como é o caso da economia circular. Na apli- tecnologia, pesquisa e inovação, baseadas em uma visão circular”.
cação deste conceito no setor de saneamento, Hélinah informa Para Hélinah, diante da sua experiência no setor, a agenda das
que a economia circular é a base técnica e estratégica para um mudanças climáticas, redução da pegada de carbono, os ODS, ou
avanço sustentável e inovativo do setor de saneamento. “Ela é a seja, as questões socioambientais refletem diretamente na busca
busca por ciclos mais sustentáveis, com aplicação mais eficiente da inovação no setor de saneamento brasileiro. “É um caminho
de recursos naturais e de energia. No caso do setor de saneamen- sem volta: os desafios globais são fios condutores de novas po-

16 Saneas
líticas, no planejamento e nas ações no cionais, significa tornar o serviço atrativo e
setor de saneamento. E para resolver mui- viabilizar marcos regulatórios e modelos de
ta das questões técnicas que viabilizem, negócios nas diversas regiões e contextos
por exemplo, a metanização de resídu- do país”, pontua.
os orgânicos e a consequente produção Hélinah também fala sobre as perspec-
de biogás, é importante olhar de forma tivas da GIZ para que os desafios do setor
inovativa, circular e integrada para toda de saneamento sejam superados através
a rota tecnológica do resíduo sólido urba- da inovação. Ela destaca que a coope-
no, e tomar as decisões de forma estraté- ração entre o Brasil e a Alemanha tem
gica e técnica”, avalia. buscado alavancar mudanças e transfor-
Quanto aos principais gargalos que o mações no setor por meio da inovação.
setor de saneamento ainda enfrenta para “Quando discutimos gestão de resíduos
alavancar a inovação, ela descreve que falar É um caminho sem sólidos urbanos com baixas emissões de
de saneamento no Brasil é falar de quatro volta: os desafios GEE, estamos inserindo um olhar ino-
componentes: água, esgoto, resíduos e vador para as soluções, por exemplo. A
globais são fios
drenagem, que têm realidades e deman- diversidade de experiências e de visões
das bem diferentes. “Mas, de forma geral,
condutores de também contribui nesse processo: os pro-
o saneamento precisa ser o protagonista novas políticas, no jetos técnicos da GIZ acordados no âm-
dessa conversa. E protagonismo, em nosso planejamento e bito da parceria Brasil-Alemanha sempre
modelo econômico, significa investimentos nas ações no setor trabalham em conjunto com seus parcei-
concretos, com visão de longo prazo, com ros e parceiras para desenvolver soluções
de saneamento.”
indicadores de eficiência, melhoria contínua efetivas e locais que ofereçam melhores
e distribuição de custos para sua manuten- Hélinah Cardoso Moreira, perspectivas às pessoas, e melhorem,
ção. Significa também articulação de ato- diretora de Projeto da GIZ de forma sustentável, suas condições de
res, público e privados, nacionais e interna- vida”, ressalta.

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MATÉRIA DE
CAPA

Universidades são
primordiais para alimentar
os sistemas locais de inovação

A
s universidades, com seus programas de pesquisa, quanto o professor com viés mais profissional, que detém as duas
não atendem somente às demandas da sociedade, formações, pois é o cenário ideal para conduzir as propostas de
mas direcionam o desenvolvimento, oferecendo al- inovação no desenvolvimento dos projetos de pesquisas e na sua
ternativas de novas técnicas ou novos métodos para aplicação prática no dia a dia do saneamento”, salienta.
os agentes que integram o processo produtivo, causando melho- Para ele, o cenário ideal para o fomento da inovação no Brasil
ria no nível de vida da sociedade e ratificando a sua importância seria uma aproximação cada vez maior da iniciativa privada, que
como instituição promotora de desenvolvimento. No bojo de con- é quem detém a maior parte dos problemas, com a universidade
tribuições das universidades estão a criação e o desenvolvimento pública, que é responsável por gerar grande parte do conheci-
de sistemas locais de inovação. mento do país. “Existem algumas fundações que inclusive têm
Esses sistemas locais de inovação são referências para os proje- editais específicos para a participação universidade-empresa vi-
tos de pesquisa e desenvolvimento no setor de saneamento. No sando esse intercâmbio”, comenta.
Brasil, instituições acadêmicas como a Universidade Federal do O grande problema, segundo Santos, é que muitas das empre-
Ceará (UFC) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR) são gran- sas brasileiras não estão dispostas a dar as contrapartidas necessá-
des aliadas na implementação do conceito da inovação no setor rias para o desenvolvimento das pesquisas. “Muitas delas não têm
produtivo e desempenham papel importante na formação dos um setor específico de pesquisa para compor uma inter-relação
profissionais que vão atuar, em especial, na área do saneamento. mais efetiva entre setor produtivo e a academia. Há também uma
André Bezerra dos Santos, professor Associado IV do Departa- ansiedade, que é compreensível, da empresa em querer a todo
mento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da UFC, ressalta o custo produzir rapidamente o conhecimento e, muitas vezes, há
papel da academia na formação desses profissionais e no preparo um descompasso entre a necessidade e o tempo necessário”, ex-
para que entendam a aplicação do conceito da inovação em suas plica. Porém, o professor informa que o Brasil está conseguindo
atividades. Nisso, ele avalia que o contato das universidades com melhorar nesse sentido, pegando várias experiências de fora onde
as iniciativas públicas e privadas são fundamentais para alimentar a participação de empresas nas pesquisas é maior. “Acredito que,
a engrenagem do ecossistema de inovação. “É muito importan- com o apoio de políticas públicas e de editais específicos, há uma
te que as universidades tenham os dois tipos de perfis no seu tendência de avançarmos nesse aspecto da inovação com o traba-
quadro de colaboradores, tanto o professor com viés acadêmico lho conjunto das universidades e empresas”, salienta.

18 Saneas
Dentro da inovação no setor de saneamento, o professor André de tratamento de esgoto e a parte de bioenergia. Muitas dessas
julga importante a produção de projetos que priorizam o uso racio- ideias já estão aplicadas dentro de sistemas de otimização e im-
nal da água e seu reúso, que trabalhem com a parte da aplicação plantação em estações de tratamento. Até o momento contamos
da economia circular e do conceito de biorrefinaria, maximizando o com a geração de duas patentes e com a publicação de mais de
reaproveitamento de recursos, por exemplo, gerados no tratamento 115 artigos em periódicos, especialmente internacionais de eleva-
de esgotos, como o biogás, a água de reúso, desenvolvimento de do fator de impacto”, informa.
sistemas de tratamento cada vez mais eficientes, eficazes, de menor Para ele, a aproximação empresa-universidade é extremamente
demanda de energia. “Considero importante projetos de combate às importante e orienta que as companhias do setor de saneamento
perdas em redes de abastecimento de água, projetos dentro da área têm que deixar claro dentro de editais específicos de inovação, nas
de resíduos que maximizem também a questão de produção de ener- diferentes temáticas abordadas, o que é que elas pretendem em
gia dentro de toda a cadeia produtiva. Hoje em dia está em evidência termos de pesquisas, quais são as reais demandas em termos de
a questão do hidrogênio verde e esse tipo de projeto é uma oportuni- geração de conhecimento. Além disso, ele avalia que as empresas
dade para aproximar o setor de energia renovável da indústria junto têm que ter pessoas qualificadas em nível acadêmico-científico para
com a parte de reaproveitamento de biomassa para, cada vez mais liderar esses setores de pesquisa e desenvolvimento para, de fato,
diminuir a demanda energética a partir de combustíveis fósseis ou do tornar essa aproximação com a academia a mais benéfica possí-
setor hidrelétrico brasileiro, que vem sendo impactado gravemente vel. “Isso torna mais fácil a questão do aceite de projetos e, assim,
pelo problema das mudanças climáticas”, manifesta. proporciona elevado ganho de conhecimento científico, que muitas
vezes não é compreendido na sua essência quando falta um setor
específico de pesquisa dentro da empresa”, comenta.
O professor destaca que é importante também que haja uma apro-
ximação dos setores públicos e órgãos governamentais, formando
um tripé entre empresa, a área pública e a universidade, pois, con-
forme ele, os organismos públicos muitas vezes estão ligados a parte
de legislação e, devido a isso, determinadas soluções tecnológicas de
maior sustentabilidade econômica e ambiental acabam não sendo
possíveis exatamente por restrições a partir de legislações ambientais
dentro da área de água, de resíduos, entre outros. “Portanto, consi-
dero que é esse o segredo, de cada vez mais aproximar os atores, de
valorizar o trabalho dentro da universidade e que haja cobrança para
que as metas sejam cumpridas, que os cronogramas sejam respeita-
dos e que haja penalidade com o não cumprimento. Desta forma, são
criados todos os mecanismos necessários para o desenvolvimento do
trabalho acadêmico em prol da inovação”, demonstra.

Parcerias entre universidade e empresas


Na área de saneamento, Santos conta que o grupo, do qual faz podem construir soluções para o mundo real
parte na UFC, vem trabalhando há quase 16 anos em tecnologias do saneamento
ambientais, na parte de tratamento de esgoto doméstico e indus- O professor Cristóvão Vicente S. Fernandes, da UFPR, diz que na ati-
trial. “Dentro deste tema, trabalhamos com o desenvolvimento vidade de formação de engenheiros ou qualquer outro tipo de profis-
de sistemas de tratamento de esgoto aplicado a efluentes têxteis, sional, sejam biólogos, químicos e toda essa cadeira multidisciplinar, é
de curtume, petroquímicos, sistemas para efluentes de laticínios, fundamental prepará-los para atuar na gestão do saneamento, com
entre outros. Na parte de esgoto sanitário estamos trabalhando conteúdos sobre sistemas de abastecimento de água, de esgota-
com o desenvolvimento e aprimoramento da tecnologia de lodo mento sanitário, de resíduos sólidos e drenagem urbana, que é uma
granular aeróbio, além da tecnologia de sistemas microaeróbios concepção mais moderna de tal maneira que esses profissionais em

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MATÉRIA DE
CAPA

formação enxergue isso como uma estratégia de organização e vai mento para que todo o processo de decisão seja fundamentado em
requerer conceitos básicos, que vão desde aspectos importantes de estratégias amadurecidas”, afirma.
hidrologia, hidráulica aplicada e das tecnologias relacionadas a todos O desenvolvimento de projetos de pesquisas para transformar o
esses conteúdos. conhecimento acadêmico em produtos técnicos aplicáveis no setor
Para ele, o papel mais importante é o entendimento de que sa- de serviços de saneamento, na visão do professor Fernandes é funda-
neamento não é uma questão trivial e que requer estudo, dedi- mental para estimular jovens pesquisadores a construírem um pensa-
cação, esforço e o mais importante, contato com os problemas mento em direção a esses produtos. “O setor de saneamento é muito
do mundo real, que devem ser trazidos rico nisso, uma vez que é composto
para dentro da academia. “Lembrando por profissionais que vêm dedicando
que, fundamentalmente, nós temos que suas vidas ao longo de muitos anos
defender a formação nos conceitos bá- para construir a experiência que
sicos que são necessários para essas dis- moldou as principais empresas de
ciplinas e com esses conteúdos que são saneamento no nosso país. E essas
fundamentais. Este é um grande desafio, experiências precisam ser compiladas
porque conciliar este tipo de abordagem e trazidas para reflexão dentro dos
olhando para o perfil dos jovens profis- projetos de pesquisa”, aponta.
sionais, em especial, requer uma visão de Para ele, a parceria universidade-
integração, de organização, de planeja- -empresa é fundamental. “Não exis-
mento com inserção, inclusive, das ferra- te nada no mundo que possa ser
mentas computacionais que são necessá- Não é fácil fazer construído sem uma visão integrada
rias para essas dimensões. inovação, ela requer e a experiência adquirida ao longo
O Professor Fernandes entende que de todos os problemas que viven-
investimento, tempo e
a academia é responsável por construir ciamos, em especial, os problemas
soluções para o mundo real, desde que
muito questionamento de serviço de saneamento, mostram
estimuladas por quem está na linha de das pessoas que isso. Vejo isso como muito importan-
frente dos problemas. Ele explica que os interagem num te e precisa estar refletido nos editais
processos de formação e de pensamen- determinado tema.” de pesquisa. Ele precisa ser deman-
to não vão na mesma rapidez, por isso dado de todos os atores que atuam
é preciso continuidade nos projetos de Cristóvão Vicente S. Fernandes, nessa linha de frente, seja na área de
pesquisas. “E dentro dessa linha, a con- professor da UFPR recursos hídricos, na de saneamento,
tinuidade do pensamento científico e a de tal maneira que se possam cons-
continuidade da formação é um processo truir produtos que sejam importan-
de sustentabilidade”, observa. “O desafio de integração do setor tes, transformadores, inovadores e que conciliem os objetivos e as
de saneamento com o uso sustentável e a gestão de recursos hí- estratégias do desenvolvimento sustentável”, destaca.
dricos é o nosso papel de pensamento, de como fazer isso sem No contexto do saneamento, professor Fernandes entende que o
que a área de recursos hídricos e todos os instrumentos previstos grande desafio é a necessidade de construir novas soluções funda-
em lei, através da Lei 9433, não sejam banalizados, porque são mentadas em novos conceitos de aplicabilidade e que resgatem a
duas atividades praticamente distintas e que precisam ser inseri- ciência básica que é necessária para que essas soluções sejam, de
das dentro desse contexto”, explica. fato, eficazes, robustas e produzam impacto no sentido de proteção
Para Fernandes, a academia pode, sim, ajudar nessa linha de ques- do meio ambiente e o que mais for necessário nessas integrações.
tionamento científico e de integração dos desafios impostos pelo “Não é fácil fazer inovação, ela requer investimento, tempo e muito
Marco Legal do Saneamento e a atual lei dos recursos hídricos. “De questionamento das pessoas que interagem num determinado tema,
tal maneira que esse processo possa produzir estratégias de inovação, então entendo que isso é importante para aplicação no setor de sa-
soluções inteligentes e, o mais importante: estratégias de planeja- neamento também”, exemplifica.

20 Saneas
Contribuição internacional
para a maturidade tecnológica
no saneamento

L
uewton Lemos Felício Agostinho, professor, brasileiro destaca que o Water Technology pode ser comparado a hubs tec-
naturalizado holandês, iniciou sua atuação na área nológicos mundiais que reúnem parceiros diversificados interes-
de Física, na Universidade Federal do Ceará, migran- sados no desenvolvimento de um tema central e multidisciplinar
do para a Engenharia Civil, na qual deu continuidade com destaque para a inovação.
com o mestrado na área de Saneamento, e depois fez o dou- Fora da Holanda, Luewton conta que o Water Campus tem uni-
torado na Holanda, na Universidade Tecnológica de Delft (TU versidades em Portugal, na Áustria, na Espanha, na Itália e em
Delft), em Física Aplicada com foco no tratamento de água, em muitos outros países. O pesquisador explica que, além dos parcei-
processos de dessalinização térmica e com uma tecnologia cha- ros acadêmicos em nível internacional, tem integrantes que são
mada atomização eletro-hidrodinâmica. Sua expertise na área divididos em dois grandes grupos: um deles reúne todos aqueles
de saneamento foi desenvolvida na Holanda, estruturada para interessados em adquirir tecnologias, que são os usuários finais,
o desenvolvimento de novas tecnologias nas áreas de tratamen- formados pelas estações de tratamento de água e esgoto, além
to de água e esgoto, que, no país holandês, são combinadas de diferentes indústrias que estão interessadas em adquirir as tec-
num cluster único conhecido como “Water Technology”. Desde nologias e não em vendê-las. No outro grupo ele explica que es-
2013 ele é membro do “Water Campus”, na Holanda. Traba- tão os chamados provedores de tecnologias, como organizações
lhando como professor pesquisador e coordenador do grupo que atuam no setor de filtros, de membranas, de reatores, entre
de “Tecnologia da Água” na Universidade NHL Stenden e como outros produtos, formado por empresas e entidades privadas que
pesquisador sênior naWetsus (European Centre of Excellence têm interesse em vender a tecnologia; bem como contam tam-
for Sustainable Water Technology), entre outras atribuições que bém com parceiros formados por entidades públicas. “O interesse
possibilitam a troca de experiência com organizações públicas e do Water Campus é colocar todos esses parceiros juntos onde
privadas no Brasil e na Europa. está a universidade, na cidade de Leeuwarden, na Holanda, para
Em uma visão geral sobre a abordagem internacional do seu acelerar o desenvolvimento tecnológico, ou seja, encurtar o tem-
trabalho em prol da inovação tecnológica, o professor Luewton po entre a ideia e o produto a ser ofertado no mercado”, explica.

Abril a Junho de 2022 21


MATÉRIA DE
CAPA

Conforme o professor, essa característica internacional atende Em relação às principais tecnologias disruptivas para avan-
o aspecto multidisciplinar que a tecnologia da água traz e tam- çarmos com a inovação no setor saneamento, professor
bém atende a necessidade mercadológica em nível mundial. “É Luewton comenta que estão muito ligadas também à geo-
um trabalho de ciência tecnológica que vê o produto para uma grafia, em razão das naturezas diferenciadas de demandas
aplicação em escala real como objetivo final”, esclarece. em cada país. “As tecnologias disruptivas brasileiras, por
Sobre o funcionamento do hub de inovação na Holanda e exemplo, apresentam demandas completamente diferentes
sua interface com os prestadores de serviços do setor de sanea- das europeias. Hoje, o mercado brasileiro tem um grande
mento, Luewton responde que todo hub de inovação passa por déficit de cobertura na sua rede de tratamento de água e
diferentes estágios. Na Water Campus, com base nos modelos esgoto, especialmente para os pequenos municípios, isso cria
de inovação tecnológica adotados na Europa, o professor conta uma demanda por soluções descentralizadas”, diz. Ele acres-
que decidiram utilizar um sistema que é conhecido como TRL, centa que a linha para recuperação de materiais do esgoto
que demonstra o nível de maturidade tecnológico, atendendo e da água ainda é uma realidade distante para o país, mas,
todos os estágios pelos quais uma tecnologia tem que passar certamente, deve ser vista como uma tecnologia disruptiva e
desde a sua ideia até o ponto de virar um produto. “Elas são bem promissora.

Em termos de desenvolvi-
mento tecnológico, para ele o
Na visão de Luewton, só vamos conseguir Brasil tem grupos muito fortes e
bons não só academicamente,
acelerar a inovação tecnológica em
mas também no próprio setor
tecnologia da água no Brasil quando a das utilities. Grupos como os da
interação entre o setor público, a academia Sanepar, no Paraná, da Sabesp,

e a iniciativa privada for mais fomentada. em São Paulo, e da Cagece, no


Ceará, são alguns exemplos
que ele aponta, por trabalha-
rem com startups e fomentar
classificadas conforme o TRL, em níveis de 0 até 9, no qual TRL 0 hubs próprios para testes de tecnologias no saneamento (co-
ainda está em estágio embrionário e no nível TRL 9 a tecnologia nhecidos na Holanda como “demosites”). “São iniciativas mui-
já está pronta, já passou por teste em escala real, já está sen- to interessantes que abrem espaços para a interação público-
do utilizada pelo usuário final e conseguiu atingir os resultados -privada, uma vez que ainda temos muito no que avançar em
necessários para sua utilização e comercialização em mercados termos de atuação mais próxima entre a academia e o setor
internacionais”, comenta, entre outros detalhes que abrangem privado, não por falta de vontade entre os dois atores, mas
o trabalho do laboratório, como o sistema WAC (Water Applica- pelo conjunto de medidas burocráticas que dificultam essa
tion Center), que atua com parceiros que possuem tecnologias parceria em níveis de investimentos para a inovação tecnoló-
mais maduras. gica”, destaca.
A abordagem do Water Campus é estratificada, na qual de- Na visão de Luewton, só vamos conseguir acelerar a inovação
pendendo do grau de maturidade tecnológica do processo ou da tecnológica em tecnologia da água no Brasil quando a interação
tecnologia o parceiro vai obter suporte em diferentes organiza- entre o setor público, a academia e a iniciativa privada for mais
ções, mas que são interligadas. “Com essa estrutura estratificada fomentada. “Esse avanço só vai acontecer quando essas parce-
queremos acelerar a entrada dessa tecnologia no mercado porque rias forem mais simples de serem estruturadas, menos burocrá-
temos todos os parceiros e todos os contatos em uma região que ticas e quando quebrarmos um pouco do tabu que ainda existe
facilita bastante a comunicação entre a iniciativa privada, o pes- no Brasil, de que a parceria entre a empresa e a universidade é
quisador e o usuário final”, informa o especialista. intangível”, finaliza.

22 Saneas
Empresas públicas e privadas
de saneamento: por que é
tão importante inovar?

I
novar não significa criar algo totalmente do zero. Ideali- do. “Mas, nem por isso deve encarar a competência de inovação com
zar um produto novo e revolucionário está no campo das menor relevância. Nosso desafio é ainda maior na medida em que
invenções, que são protegidas por patentes, mas não são a inovação aberta é uma tendência cada vez mais forte e presente.
produzidas em larga escala a princípio. Já a inovação é Logo, um setor tipicamente fechado como é a origem do saneamen-
a aplicação comercial de novas ideias, ou seja, não basta ter to, tem um desafio maior para criar essa competência e um caminho
criatividade e inventar coisas. Para as invenções se transfor- maior para percorrer”, comenta.
marem em inovações, as ideias precisam sair do papel, causar Ele destaca que em meio aos desafios que se apresentam no sane-
impacto positivo na vida das pessoas e gerar lucros a uma amento, hoje, o setor está muito mais aberto para a inovação e está
empresa. De acordo com esse conceito, o uso da inovação muito melhor quando comparado ao cenário no qual a Iguá surgiu,
na prática é a mola propulsora para o desenvolvimento dos em julho de 2017. “Naquele momento já percebemos o quanto o
negócios. E é o que tem acontecido com mais efetividade setor era fechado e estava atrasado em relação a outras indústrias no
também no setor de saneamento, uma vez que as empresas tema de inovação aberta. A inovação do setor era ainda o tradicional
públicas e privadas são grandes consumidoras da inovação. P&D, mas diferente de áreas como energia (que tem alto incentivo
No setor privado, Eder Campos, da Iguá Saneamento, informa que financeiro). Tínhamos recursos limitados pelos principais atores para
inovação é competência essencial para todas as organizações verda- essa agenda e muito centrada em formas tradicionais de desenvolvi-
deiramente comprometidas com a sustentabilidade. “É por meio dela mento”, lembra.
que podemos garantir o futuro de nosso negócio, melhorar nossas Ele menciona ainda que não havia um movimento do setor com
iniciativas e criar novas alavancas de valor, para além de atrair e reter o ecossistema de startups. “Esses novos empreendedores, que estão
capital humano de qualidade”, aborda. Conforme ele, na Iguá a ino- cada vez mais mudando o mundo, desconheciam a realidade do sa-
vação é uma competência, uma vez que é uma atitude aplicada na neamento. Não olhavam para essa agenda assim como a população:
prática diária. “Seu verdadeiro valor está em sua inserção cotidiana no uma agenda de política pública invisível”, ressalta.
DNA de nossos colaboradores”, salienta.
Em sua visão, Eder Campos compartilha que a inovação é impor- Programa IguaLab: pioneirismo em
tante para o setor privado na prestação de serviço de saneamento inovação aberta no saneamento
porque está inserida em um ambiente menos competitivo do que ou- Em relação à cultura da inovação dentro da Iguá, Campos conta que a
tros prestadores de serviço, devido à natureza regulada desse merca- empresa foi pioneira ao lançar, em 2018, o IguaLab, primeiro progra-

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MATÉRIA DE
CAPA

ma de inovação aberta do saneamento. “Levantamos a bandeira do de crédito online desde 2019, sendo pioneiros no setor. “Podemos
desafio da Água como serviço em parceria com a 100openStartups, ainda citar desenvolvimento e aplicações de robôs autônomos nas
convidando e convocando um grande movimento para aproximação fiscalizações de barragem, para além de uso de medidores inteligen-
do setor com o ecossistema de startups, afinal o sucesso e maturidade tes com visões diárias de consumo via IoT (Internet das Coisas), que
da inovação aberta com o saneamento depende de termos demanda iniciamos em escala por meio de uma spin-off do grupo, derivado
e oferta, de várias empresas com várias startups”, expõe. Ele ressalta da cultura de teste e prototipagem com vários parceiros”, descreve.
que a Iguá foi pioneira e vê uma evolução positiva nas demais empre- Campos também concorda que o Novo Marco Legal do Sa-
sas do setor. “Ainda estamos longe de ter um ecossistema pujante, neamento Básico impulsiona a inovação. “Na medida em que o
mas já vemos avanços significativos”, aponta. novo marco fomenta maior visibilidade e competitividade para
O executivo salienta que a Iguá tem inovação como compe- o setor, temos naturalmente maior potencial de demanda e am-
tência central do seu DNA. A empresa trabalha a inovação em pliação das oportunidades de mercado para inovações no sane-
duas vertentes: inovação aberta e inovação interna. Na frente de amento”, observa.
inovação aberta fomenta o contato constante com o ecossistema. Sobre as perspectivas da Iguá Saneamento com a inovação,
“Já fizemos contato com mais de 800 startups, em média, conhe- Campos afirma que estão posicionados na vanguarda da inova-
cemos uma startup a cada dois dias e testamos uma nova solução ção do saneamento para o Brasil. “Estamos entre as TOP100 cor-
a cada 30 dias”, conta Campos. Ele informa que a empresa abraça porações brasileiras que mais se engajam com o ecossistema de
a cultura de teste e apoia continuamente o ecossistema para olhar inovação desde 2020. Esse posicionamento é uma grande aposta
as dores e oportunidades do setor. que iremos aproveitar da maior maturidade do ecossistema com
Já na vertente interna, Campos destaca que desde o primeiro o setor, bem como manter a Iguá na fronteira de outras indústrias
ano de origem da Iguá fomentaram os trabalhos internos, reco- nas boas práticas e inovações de prestação de serviços”, informa.
nhecendo e promovendo boas práticas, criando mentoria e uma
rede de embaixadores para fomentar cada vez mais essas práticas. Adaptação à inovação em várias vertentes
Nesta trajetória, Eder Campos conta que a Iguá tem soluções fora Mais do que nunca, qualquer empresa enfrenta atualmente o de-
do core business que só foram possíveis pela mentalidade de inova- safio de se manter tecnologicamente inteligente, ao mesmo tempo
ção e relacionamento com startups, a exemplo de oferecerem um ca- em que precisa transformar sua cultura em busca de inovação, fato-
nal digital 24hx7 via whatsapp, bem como receber faturas por cartão res essenciais para o sucesso dos negócios atualmente. Para Luciana

24 Saneas
Parente, superintendente de Inovação do Grupo Águas do Brasil, Luciana informa que o Grupo estruturou seu sistema inovativo com
com as tecnologias evoluindo cada dia mais rápido e com a explo- base em três pilares: adaptação da cultura e capacitação de todos os
são de startups e unicórnios desafiando o mercado, até mesmo in- funcionários; desenvolvimento de um programa de inovação aberta,
dústrias sólidas e antes consideradas inabaláveis, como a bancária, com lançamento de desafios para startups; e incentivo ao intraempre-
já entenderam a necessidade de se adaptar à cultura da inovação. endedorismo, por meio do qual os próprios funcionários trazem ideias
“Essa adaptação vai muito além do acesso a novas tecnologias, para melhoria e avanço dos processos.
o ponto fundamental é se manter em busca de um mindset de “A inovação já faz parte do dia a dia do Grupo Águas do Brasil,
transformação: se tornando mais ágil e flexível; identificando seu colocada em prática em diversas operações. Inclusive, no ano pas-
propósito; reduzindo a burocracia; empoderando seus funcionários sado, o grupo recebeu o prêmio TOP 5 Saneamento, do Ranking
e incentivando a experimentação e a transparência”, pontua. 100 Open Startups 2021”, destaca. A empresa foi premiada pelas
A executiva entende que inovar é transformar novas ideias em seguintes soluções em parceria com startups: melhoria na eficiência
projetos executados que tragam vantagens competitivas sustentá- da distribuição de água por meio de combate a perdas; tecnologia
veis para o negócio, respeito ao meio ambiente e impacto positivo de tratamento do lodo de estações de tratamento de esgoto através
para os clientes e a sociedade, por isso é tão importante incenti- da carbonização térmica; e avaliação de processo biológico de trata-
var a inovação no setor de saneamento. “Infelizmente temos hoje mento de esgoto doméstico através do biotratamento digerido por
uma parcela significativa da população brasileira sem acesso ao minhocas e bactérias.
saneamento. O novo marco legal trouxe incentivos para investi- A executiva também considera que o Novo Marco Legal do Sanea-
mentos tanto públicos como privados, mas ainda temos um longo mento Básico impulsiona a inovação. “É um importante instrumento
caminho”, destaca ela, abordando sobre os desafios que o setor de incentivo em investimento no setor, o que não será viável sem
enfrenta. “Com a recente ampliação de investimentos, novos de- inovação”, diz e, acrescenta: “esperamos uma evolução ainda maior
safios surgiram como possíveis gargalos na cadeia de suprimen- e mais rápida de todo o setor de saneamento no Brasil, impactando
tos, opções sustentáveis para destinação de resíduos, disponibili- positivamente a vida de milhares de pessoas, com a expansão dos sis-
dade de mão de obra qualificada, entre outros”, diz. temas de tratamento de esgoto e de água para todos os brasileiros”.
Luciana, dessa forma, compreende que a inovação será fun-
damental para o setor superar seus desafios, identificando novas Soluções customizadas em prol da inovação
formas de resolver os problemas, fortalecendo as parcerias e em- No ecossistema da inovação no setor de saneamento brasileiro, a
poderando as equipes de trabalho. “Acredito que o setor está Saint-Gobain Canalização mescla sua experiência em tubulações e
aberto e buscando a inovação, mas é claro que existem resistên- serviços com outras tecnologias atendendo empresas privadas e pú-
cias naturais às mudanças”, ressalta. blicas. “A união destas empresas parceiras que também trazem novas
tecnologias permite soluções customizadas para necessidades espe-
Inovar para colaborar com cíficas de nossos clientes”, informa Fernando Puell, diretor técnico
a jornada do cliente e de Qualidade. O executivo conta que a Saint-Gobain Canalização
Segundo ela, nas últimas décadas, a cultura da inovação passou a ser conta com dois centros de pesquisa, um na França na cidade de Pont-
vista como elemento crucial da adaptação de empresas a ambien- -a-Mousson, e outro em Capivari, interior de São Paulo. “Contamos
tes competitivos. “Um dos pilares do sistema de inovação do Grupo também com empresas parceiras que desenvolvem e aprimoram tec-
Águas do Brasil é justamente a adaptação dessa cultura, buscando nologias para atendimento de nossos clientes”, adiciona.
novas maneiras de fazer as coisas com mais eficiência. Dentro desse Puell informa que o portfólio de serviços da Saint-Gobain conta
processo, procuramos entender cada vez mais a jornada do nosso com tecnologias disponíveis no Brasil, assim a prestação de serviço
cliente e formas de colaborar com o ecossistema de saneamento no é imediata. Do ponto de vista de tecnologia, ele cita como exemplo
Brasil. Para isso, reconhecemos que o sucesso requer experimentação, os diagnósticos que fazem nas redes e adutoras para auxiliar na ges-
interação rápida, falhas frequentes e, principalmente, a capacitação tão desses ativos. “Outro exemplo é monitoramento dos mesmos,
da equipe para assumir riscos considerados, expressar opiniões di- desde tubulações até motores e bombas, todos os tipos de ativos
vergentes e buscar os recursos necessários para atingir os resultados que podem ser melhor explorados trabalhando com a manutenção
esperados”, sublinha. preditiva”, diz.

Abril a Junho de 2022 25


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CAPA

De acordo com a expertise da Saint-Gobain, o grau de maturidade e operação visando melhoria dos produtos e serviços prestados.
tecnológica das soluções disponíveis para água e esgoto hoje, falan- A Sabesp, segundo Fabiana Rorato, gerente do Departamento de
do em materiais, Puell conta que existem muitas soluções adequadas Prospecção Tecnológica e Propriedade Intelectual da Sabesp TXP,
para todos os tipos de demanda e projetos, cabendo aos engenheiros tem avançado muito na cultura de inovação. “Vemos atualmente
de aplicação a escolha da melhor solução técnico e econômica. Para a inovação de uma forma diferente de alguns anos atrás. Hoje,
ele, os prestadores estão avançados e cada vez mais estão ávidos por contamos com uma Área Corporativa de Inovação que tem como
novas tecnologias que possam colaborar nas implementações de no- principal objetivo integrar os atores internos e externos à Sabesp
vos projetos com novas tecnologias e na gestão de seus ativos. com apoio, metodologia e programas específicos. Temos diversas
O executivo avalia que, na atualidade, a Engenharia clássica e a En- ações de capacitação e programas internos que incentivam a ino-
genharia de equipamentos se complementam contribuindo de forma vação. As áreas operacionais e de apoio tem ações para criação
contundente para a gestão de sistemas e ativos. “No bojo das tecno- de células/hubs de inovação visando estruturar a efetivação do
logias que se destacam como disruptivas para a inovação avançar no modelo de inovação local”, conta.
setor de saneamento, os sistemas de abastecimento inteligentes, o Em complemento, Cristina Zuffo comenta que o setor de sanea-
saneamento 4.0, precisa de novos sensores, algoritmos, plataformas, mento sempre foi conservador, muito devido a suas características
existem inúmeras oportunidades”, indica. de ser fortemente atrelado ao setor público e motivações sociais,
Além disso, Puell conta que a empresa participa dos certames licita- submetido à forte regulação, caracterizado por economia de es-
tórios que abrangem iniciativas de inovação, quando alinhado a suas cala, dependente de investimentos elevados e em geral com uma
linhas de desenvolvimento. E desenvolvem trabalhos com startups trajetória tecnológica de longo prazo.
para atender o setor de saneamento. “Além de startups temos tam- Segundo ela, o setor também apresenta uma baixa colabo-
bém convênios com fundações com capacidade para desenvolvimen- ração dos atores da cadeia e é totalmente dependente de seus
to de tecnologia de ponta”, complementa. Diante dessa expertise, fornecedores, ou seja, no geral não tem uma atuação proati-
as perspectivas da Saint-Gobain com a inovação no saneamento no va do setor na busca por inovações, as quais acabam por se-
Brasil são significativas. “Com o marco regulatório do saneamento, rem oferecidas somente pelos fornecedores. “Os operadores
pela sua importância, vemos inúmeras possibilidades para produtos precisam trabalhar arduamente para induzir uma oferta maior
e serviços que podem contribuir para serviços de qualidade no sane- de inovações pelo mercado e não esperar que elas aconteçam
amento”, aponta. espontaneamente”, observa. Atualmente, Cristina cita que as
características do setor fazem com que tenham o predomínio
Sabesp: avanços na cultura da de inovações incrementais. “Assim, conforme a mudança de cul-
inovação no setor público tura é determinante para alavancarmos a inovação no setor de
Num mundo globalizado como o nosso, qualquer empresa atu- saneamento”, enfatiza a superintendente.
almente sabe que inovação é determinante para a sobrevivência Entre as soluções inovadoras que já estão em funcionamento
no mercado. No caso de um setor tão carente no Brasil, como é o na Sabesp, Fabiana destaca que a companhia tem um modelo
saneamento, precisamos sempre buscar a excelência nos serviços estruturado de inovação com foco em toda a régua de maturi-
prestados e a inovação é a chave para esta melhoria contínua. dade tecnológica, desde a pesquisa básica, pesquisa aplicada,
“A atuação em inovações deve sempre considerar os processos desenvolvimento experimental, e teste de tecnologias inovadoras
e serviços internos à companhia, mas também induzir inovações de mercado. “Além disso, temos recurso dedicado à inovação,
que são oferecidas pelo mercado e promover o desenvolvimento incluindo o programa de Pesquisa e Desenvolvimento para Inova-
de fornecedores”, avalia Cristina Znörich Zuffo, superintendente ção da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São
da Superintendência de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Paulo (Arsesp)”, informa.
Inovação – TX, da Companhia de Saneamento Básico do Estado Entre os exemplos ela cita os biofiltros para remoção de odo-
de São Paulo (Sabesp). res de Estações Elevatórias de Esgoto, cuja tecnologia foi desen-
Com essa visão, a inovação é importante para o setor do sane- volvida na Sabesp e o desenvolvimento começou na pesquisa
amento tanto quanto para outros diferentes setores, pois permite aplicada, passou pelo desenvolvimento experimental e está em
incorporar novas tecnologias, métodos e processos na produção fase de implantação para teste em escala. Outra solução, desta-

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Hoje, contamos com uma Área Corporativa
de Inovação que tem como principal objetivo
integrar os atores internos e externos à
Sabesp com apoio, metodologia e programas
específicos. Temos diversas ações de
capacitação e programas internos que
incentivam a inovação.”
Cristina Znörich Zuffo, superintendente da Superintendência de Pesquisa,
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – TX, da Sabesp

cada por Fabiana, são os fertilizantes para uso agrícola desen- processos mais eficientes e criativos e serviços de maior qualidade
volvido a partir o lodo de ETEs, oriundo de uma parceria entre a farão toda diferença. E chama a atenção de que a Sabesp é uma
Sabesp e uma universidade. Ela menciona ainda a implantação grande indutora de inovação não somente para a companhia, mas
do sistema de beneficiamento de biogás em biometano para uso também para o setor de saneamento no Brasil. “Não somente por
veicular na ETE Franca. implantar tecnologias pioneiras, mas também por primar pela ex-
Cristina Zuffo também destaca que a Sabesp organiza os proje- celência em seus processos e serviços, compartilhando com atores
tos de inovação de acordo com a maturidade tecnológica. “Isso é parceiros os avanços obtidos”, declara.
importante porque dependendo do grau de maturidade teremos Assim, as perspectivas com o uso da inovação no setor de sa-
um percurso de curto, médio ou longo prazo para desenvolvimen- neamento é positiva. “Acreditamos que o conceito de inovação
to e implantação da inovação”, específica. Para ela, tecnologias aberta adotado pela companhia é um caminho promissor para
digitais em geral são desenvolvidas e implantadas muito rapida- impulsionar o setor. Exemplos disso são as mais de 200 normas
mente, enquanto tecnologias voltadas a processos de água e es- desenvolvidas pela Sabesp para aprimorar processos e materiais,
goto são mais complexas em seu desenvolvimento. “Além disso, das quais muitas delas serviram de base para as normas nacio-
estabelecemos parcerias com empresas, startups, universidades nais da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Estas
dentre outros atores de acordo com a classificação da tecnologia normas induzem ao aprimoramento de processos, materiais e
e procuramos linhas de fomento”, explica. serviços continuamente, além do desenvolvimento de inovações
Nesta linha, entre os exemplos de inovação que a Sabesp im- e mercado pelos nossos fornecedores e são muito utilizadas por
plantou nos últimos tempos, Cristina destaca o Sistema de hipe- outras empresas públicas de saneamento. Os projetos inovadores
roxigenação implantado no Rio Pinheiros este ano, para promover da Sabesp também são frequentemente visitados para disseminar
a melhoria da qualidade da água do rio com a elevação do oxigê- as novas tecnologias”, aborda Cristina.
nio dissolvido. “Trata-se de uma tecnologia que foi incubada por
uma startup da universidade do Arkansas e utilizada nos Estados Políticas públicas para incentivar a
Unidos para remediação de rios e lagos degradados. Esta tecno- inovação no setor de saneamento
logia, denominada ‘Injeção de solução supersaturada de oxigênio O setor público enxerga a inovação como uma oportunidade para
dissolvido’, nunca havia sido utilizada na América do Sul”, expõe. implantar melhorias em seus processos, resultando em mudan-
Cristina considera que o Novo Marco Legal pode impulsionar ças incrementais ou radicais que tragam ganhos consideráveis na
as inovações na medida em que todas as empresas terão que se prestação de serviços à população. Entretanto, a inovação é um
adaptar a uma nova realidade muito mais competitiva. Com isso, processo complexo e sistêmico, que exige um ambiente propício

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de condições de produção e de mercado, e é fundamental para as como tratamento de água, com a implantação recente de tecnologias
empresas (públicas e privadas) obterem vantagens competitivas. avançadas em suas ETAs, e tratamento de esgoto, com o pioneirismo
No setor público, segundo Fuad Moura Guimarães Braga, assessor na implantação de tratamentos terciários em suas ETEs e 100% de
de Projetos Especiais e Novos Negócios da Companhia de Saneamen- esgotos coletados tratados. “Na gestão de recursos hídricos, nosso
to Ambiental do DF (Caesb), um dos principais pontos que dificulta maior caso de sucesso foi a despoluição do lago Paranoá”, relata.
a inovação são os altos custos necessários e o compartilhamento dos Braga comenta que a Caesb tem em sua estrutura organizacional
ganhos de produtividade com a modicidade da tarifa. “Por isso, são uma Assessoria de Projetos Especiais e Novos Negócios que tem como
necessários mecanismos específicos de indução do Estado, por meio uma de suas atribuições fomentar a cultura de inovação na empresa.
de políticas públicas que fomentem a inovação, com a manutenção Uma das ações em curso é resultante da publicação da Agência Regu-
do foco em PDI, inovação aberta, dentre outros”, exemplifica. ladora de águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), de
Ele destaca que os serviços de saneamento têm relação dire- dezembro de 2021, que instituiu o Manual de Elaboração e Avaliação
ta com a saúde da população, portanto trata-se de um serviço dos Projetos do Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
essencial no qual os investimentos realizados geram resultados - Programa PDI para os Serviços de Abastecimento de Água e de Es-
positivos na qualidade de vida de uma determinada região. As- gotamento Sanitário do Distrito Federal. “De acordo com o Manual
sim, Braga considera que mudanças incrementais resultantes de de Regulamentação do PDI, a Caesb deverá apresentar propostas de
processos inovadores, que melhorem o desempenho do abaste- projeto anualmente, conforme os critérios estabelecidos, para fins de
cimento de água e do esgotamento sanitário, podem alavancar autorização quanto ao desembolso e início da pesquisa”, informa.
a cobertura e a qualidade dos serviços de saneamento prestados. Neste momento, segundo ele, o Programa de Pesquisa, Desenvolvi-
O executivo avalia que as ações de inovação permitiram que a mento e Inovação Adasa/Caesb – PDI, está na fase final da abertura do
Caesb ocupasse uma posição de destaque entre os prestadores de Chamamento Público para seleção de propostas de projeto, que deve-
serviço de saneamento no país, em especial nas suas atividades fins, rá ocorrer em 2022, com execução dos projetos previstos para 2023.

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Projetos pilotos em prol da inovação vação no saneamento no Brasil envolvem proporcionar mu-
Recentemente Braga informa que a Caesb também teve a danças incrementais nos processos da empresa e no setor de
oportunidade de fomentar ações inovadoras como a Pesquisa saneamento de uma forma geral, em especial com uso de no-
de Detecção de Vazamentos por Imagens de Satélites, com vas tecnologias (Machine Learning, Inteligência Artificial, Big
o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Data...); estruturar programas de fomento à Pesquisa, Desen-
que conta com o envolvimento de técnicos de diversas áre- volvimento e Inovação, regulamentado pela Agência Regula-
as da empresa. “Essas ações, em fase piloto, permitirão uma dora; desenvolvimento do intraempreendedorismo (emprega-
maior agilidade na detecção e reparo de vazamentos, con- dos e clientes), visando o estabelecimento de parcerias para
tribuindo diretamente para a redução de perdas de água”, o desenvolvimento de ideias, pesquisas e desenvolvimento
acrescenta. experimental; parceria com instituições de ensino e pesquisa;
Além disso, a Caesb está integrando a Rede Nacional de e em parceria com startups e empresas de base tecnológica.
Monitoramento de Covid-19 por meio dos esgotos brutos re-
cebidos nas ETEs, contribuindo significativamente na gestão Pesquisa, desenvolvimento e
da pandemia e, com os resultados, auxiliando as autoridades inovação na Sanepar
de saúde pública nas tomadas de decisões. A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) possui experi-
Quanto à supervisão ambiental, Braga informa que a Caesb ência em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D+i) e busca
passará a usar imagens de satélite e tecnologia artificial para constantemente a melhoria de seus processos. Tendo a inovação
preservar seus mananciais. “Essa ação resultará em uma re- como propulsora do negócio, a Companhia mantém a atenção
dução de custos em comparação com a forma convencional voltada a alternativas economicamente viáveis e ambientalmente
de supervisão. Essa mesma tecnologia já é utilizada em outras e socialmente adequadas.
finalidades como combate às ligações clandestinas e à super- Alinhada às diretrizes institucionais e aos seus valores, a ino-
visão ambiental de obras”, explica o executivo. vação está inserida no planejamento estratégico da Sanepar,
Já na área de Gestão Operacional, o uso de Big Data, Ma- orientando as iniciativas para gerar resultados que atendam aos
chine Learning e Inteligência Artificial também têm agregado desafios atuais e futuros do negócio, proporcionem o melhor de-
valores aos procedimentos inovadores na Caesb. “A maior sempenho e satisfaçam os clientes e demais partes interessadas.
acessibilidade a essas ferramentas têm facilitado o processo Segundo Gustavo Posseti, gerente de pesquisa e inovação da
de tomada de decisão”, revela Braga e, acrescenta: “os ca- Sanepar, a Política de Desenvolvimento e Inovação da compa-
nais de comunicação da empresa também estão passando por nhia orienta a busca contínua pela excelência de seus processos,
constantes modernizações e recebendo ferramentas inovado- produtos e serviços, estabelecendo os seguintes compromissos:
ras, como: plataforma URA, chatbot, chathumano e amplia- incentivar a pesquisa e o desenvolvimento aplicados; promover
ção das funções do aplicativo (IOS e Android), entre outros”. parcerias e intercâmbios; proporcionar o desenvolvimento de em-
Braga lembra que o Novo Marco Legal do Saneamento es- pregados e colaboradores; e, atuar de maneira sustentável. “As-
tabelece metas de atendimento até 2033 (garantir 99% da segurar serviços de saneamento ambiental de forma sustentável
população servida com água potável e 90% com tratamento e inovadora, contribuindo para o desenvolvimento econômico e
de esgoto), por isso as empresas que ainda estão distantes social é a missão da Sanepar, é sua declaração estratégica. Assim,
das metas estabelecidas devem buscar iniciativas inovadoras a Sanepar atua na perspectiva da ‘Inovação para a Sustentabili-
para alcançar tal objetivo, uma vez que dificilmente terão mu- dade’, reconhecendo que a inovação é uma ferramenta que gera
dança de cenário atuando da mesma forma com que sempre valor ao seu negócio e, consequentemente, promove a saúde pú-
atuaram. “Por outro lado, empresas que já atingiram a meta blica e o bem-estar social”, ressalta.
estabelecida para 2033 (caso da Caesb), têm a preocupação O executivo informa que a Gerência de Pesquisa e Inovação
de melhorar os índices, acompanhando o crescimento popu- (GPIN) é a área responsável pela coordenação das atividades rela-
lacional e a dinâmica das cidades e, nesse sentido, o uso de cionadas ao desenvolvimento técnico-científico e inovação na Sa-
iniciativas inovadoras também se faz necessário”, pontua. nepar. “Atualmente, a estrutura de recursos humanos contempla
O executivo destaca que a perspectivas da Caesb com a ino- empregados próprios, incluindo aqueles com formação em nível

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de mestrado e doutorado, integralmente dedicados às atividades ganizacional, Posseti conta que, em 2021, a Sanepar conso-
de P&D+i”, complementa. lidou sua estratégia de inovação tendo como referência me-
A GPIN administra o Centro de Tecnologias Sustentáveis Sa- todológica um framework de inovação customizado para as
nepar (CETS), um centro de excelência que é referência interna- empresas de água e esgoto, o qual foi desenvolvido pela Water
cional na área de saneamento ambiental. O CETS possui espaços Resourse Foundation (WRF), dos Estados Unidos, a partir da
administrativos para o desenvolvimento de projetos, biblioteca, experiência de mais de 80 empresas do setor. Adicionalmen-
salas de reuniões e laboratórios especializados (“Laboratório de te, a Sanepar intensificou o conceito de “Saneamento 5.0”,
Protótipos”, “Laboratórios de Análises de Água e Esgoto”, “La- aderindo às diretrizes do “Governo 5.0” adotadas no Estado
boratório de Tecnologia de Tratamento de Água”), além da “Sala do Paraná e reconhecendo que as tecnologias e a inovação
dos Continentes”, local criado especialmente para acolher os estão a serviço da sociedade. “Em 2021, a Companhia deu
pesquisadores-parceiros e do “Laboratório de Criatividade”, um continuidade ao seu recente Plano Estratégico de Inovação,
espaço de co-working para fomento do intraempreendedorismo e aderente ao seu mapa estratégico e cadeia de valor, concre-
da inovação aberta. “Unidades de demonstração e plantas piloto tizando, dentre outros, a visão de futuro inerente ao seu ne-
de diferentes tecnologias ligadas ao setor de saneamento ambien- gócio e as etapas prioritárias a serem cumpridas para tornar a
tal ainda complementam a infraestrutura própria da Companhia Sanepar mais competitiva e sustentável nos próximos anos, em
destinada à inovação”, destaca Posseti. um contexto de adaptação ao novo marco regulatório do setor
Além disso, a Sanepar está atenta à inovação colaborativa, de saneamento”, salienta Posseti.
cooperando com centros de pesquisa, universidades e empresas Nesse sentido, ele aponta que a definição de inovação para
do Brasil e do exterior (Alemanha, Portugal, Holanda, Suécia, Sanepar é: “permitir o alcance dos objetivos estratégicos corpo-
Inglaterra, Estados Unidos, México, Paraguai, Japão e Coreia rativos por meio de soluções inovadoras que gerem sustentabili-
do Sul). Embora a Sanepar empregue recursos próprios para a dade, alto padrão de desempenho e maior competitividade”. Ele
condução de seus projetos de P&D+i (somente a GPIN dedicou destaca que três pilares estratégicos representam os focos nos
mais de 10 milhões de reais em 2021), Posseti observa que a quais foram direcionados os esforços corporativos em inovação
Companhia tem procurado ampliar o impacto de sua atuação no ano de 2021: Inovação em processos produtivos, Parcerias
por meio da prospecção de recursos externos e de mecanismos para Inovação e Cultura de Inovação. No âmbito da gestão da
de incentivo à inovação. “Como exemplo temos a utilização inovação, Posseti cita ainda que a empresa participou como re-
dos benefícios fiscais provenientes da Lei nº 11.196/2005 (Lei presentante da América Latina no Projeto “Leading Water Utility
do Bem), bem como os acessos a recursos oriundos da Empresa Innovation” promovido pela WRF em parceria com a Arcadis. “O
Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), da Agên- projeto reuniu mais de 80 empresas e instituições de água e es-
cia de Desenvolvimento e Comércio dos Estados Unidos (US- goto internacionais para discutir melhores práticas de inovação
TDA), da agência de cooperação alemã GIZ GmbH, da Agência para o setor”, diz. Neste ano, a Sanepar revisitou seu portfólio
de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e da Corporação de riscos corporativos e diagnosticou que “a perda crescente de
Financeira Internacional (IFC), membro do Grupo Banco Mun- competitividade e o não reconhecimento como uma empresa
dial”, descreve. inovadora pelas partes interessadas” deveriam ser tratados por
Nesta linha, a Sanepar ainda possui parceria com a Fundação planos de ação específicos.
Araucária, órgão de fomento à pesquisa e extensão do Estado do Atualmente, de acordo com Posseti, estão em andamento mais
Paraná, somando esforços no âmbito do Programa Paranaense de de 100 iniciativas de P&D+i na Sanepar, as quais estão associa-
Pesquisa em Saneamento Ambiental (PPPSA). Os projetos de pes- das com suas atividades fim (água, esgoto e resíduos sólidos) e
quisa conduzidos no PPPSA são orientados para atender deman- vinculadas com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
das da Companhia, sendo co-financiados em iguais proporções (ODS) chancelados pela Organização das Nações Unidas. “Essas
pela Sanepar e pela Fundação Araucária. Em 2021, abriu-se um iniciativas vislumbram a prospecção tecnológica, a produção de
novo edital do PPPSA totalizando a aplicação de recursos no valor novos conhecimentos, a realização de pesquisas aplicadas, o apri-
de R$ 2.000.000,00. moramento de tecnologias, a antecipação de tendências e a ca-
Visando impulsionar a cultura da inovação no ambiente or- pacitação técnica especializada, contemplando, dentre outros, os

30 Saneas
Visando impulsionar a cultura da inovação no ambiente organizacional, a Sanepar
consolidou sua estratégia de inovação tendo como referência metodológica um
framework de inovação customizado para as empresas de água e esgoto, o qual foi
desenvolvido pela Water Resourse Foundation (WRF), dos Estados Unidos.

seguintes temas: água bruta e mananciais, tratamento de água, dores Implementados por Gerência (IA/NEG/0427). As metas de
tratamento de esgoto, valorização de resíduos (lodo, escuma, bio- Inovação da Sanepar para 2021 foram: (i) número de ideias ge-
gás e materiais orgânicos), energia, automação, gestão sustentá- radas e registradas igual a 10% do número de empregados da
vel e compartilhamento de ativos”, informa. Companhia; e, (ii) 89 novos produtos ou processos implementa-
Entre as iniciativas em prol da inovação, o executivo destaca dos pelas Gerências.
a implementação do sistema pioneiro de microgeração distribu- De acordo com Posseti, os avanços dos planos de ação específi-
ída de energia elétrica da ETE Ouro Verde - Foz do Iguaçu (25 cos voltados para inovação foram registrados no SISWeb por meio
kW); a usina de biodigestão de alta tecnologia instalada na ETE de análises críticas mensais. “A GPIN acompanhou a evolução dos
Belém (CS Bioenergia), que produz energia renovável a partir do indicadores corporativos de inovação, repassando os resultados
tratamento simultâneo de lodo de esgoto e de matéria orgânica para a alta direção. Treinamentos corporativos sobre o processo
proveniente de grandes geradores; na área de energias renováveis de inovação foram ofertados ao longo do ano de 2021, visando
e cidades inteligentes, a Sanepar ainda desenvolveu projetos asso- facilitar a revisão, o desenvolvimento e a implementação de ações
ciados com geração hidroenergética em infraestruturas sanitárias, corporativas inovadoras”, ressalta.
energia solar fotovoltaica, mobilidade urbana sustentável e Inter- Além disso, incentivou-se o ambiente criativo, o registro de
net das Coisas (IoT). ideias e a implementação de novos processos/produtos por meio
Com o intuito de estimular o ecossistema de inovação dedicado de recompensas, tendo o SIEGS como um dos alavancadores dos
ao setor de saneamento, a Companhia criou o Prêmio Sanepar de times multifuncionais. “O PCCR da Companhia passou a contem-
Tecnologias Sustentáveis, aberto a pesquisadores de todo o Brasil, plar a geração de ideias como um dos itens de avaliação. O tema
bem como do Prêmio Inova Sanepar, exclusivo aos seus emprega- inovação foi o motivador do Concurso de Fotografias da Sanepar
dos. “Em 2021, os editais dos referidos Prêmios foram elaborados em 2021. Os empregados ainda foram estimulados a submeter
para publicação em 2022”, informa Posseti. trabalhos para fóruns técnico-científicos especializados. Realiza-
Adicionalmente, a partir dos requisitos do Modelo de Excelência ram-se seminários regionais de boas práticas e inovação no pro-
em Gestão, a Companhia detém o Banco de Ideias e Práticas (BIP), cesso esgoto”, detalha o executivo.
uma plataforma corporativa para registro e compartilhamento de Segundo ele, o ano de 2021 foi especial no que diz respeito
boas práticas inovadoras idealizadas pelos saneparianos. à cultura da inovação. Registraram-se 877 novas ideias no BIP,
Em 2021, Posseti conta que a inovação passou a ser de res- ou seja, valor equivalente a 14% do número de empregados da
ponsabilidade de todas as Diretorias e Gerências, ou seja, deixou Companhia. “Esse número é muito maior que a média anual his-
de estar vinculada a apenas um departamento para se tornar um tórica dos últimos oito anos, cujo valor é de 103 ideias/ano, e su-
processo transversal na Companhia. “Assim, todas as gerências perior ao montante de 827 ideias registradas entre 2013 e 2020.
foram orientadas a estabelecer planos de ação específicos, asso- Em 2021, contabilizaram-se 289 novos processos/produtos imple-
ciados com os seus respectivos Acordos de Gestão, que abordas- mentados, registrados por 70 unidades da Companhia”, destaca.
sem o tema inovação e contribuindo diretamente para o processo
corporativo e, consequentemente, atendimento das metas esta- Hub de inovação aberta
belecidas”, destaca. favorece o saneamento
O acompanhamento do processo de Inovação Corporativa foi O Parque Tecnológico de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), é um ecossis-
mensurado por meio de dois indicadores: (i) Índice de Criatividade tema de inovação que integra entidades como instituições de ensino,
de Pessoal (IA/NEG/0426); e, (ii) Nº de Produtos/Processos Inova- empresas e órgãos governamentais e promove a sinergia e a troca de

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MATÉRIA DE
CAPA

conhecimentos em prol do desenvolvimento de soluções para a so- prática, trazendo resultados palpáveis e mensuráveis”, avalia.
ciedade. O PTI-BR, criado em 2003, é gerido pela Fundação Parque A conexão com diferentes empresas, prestadores de serviços, star-
Tecnológico Itaipu-Brasil (Fundação PTI-BR), responsável por garantir tups, entidades e instituições de ciência e tecnologia (ICTs) também
a operacionalização do ambiente e propiciar as condições necessárias é um diferencial do PTI-BR. Galvão comenta que no Ecossistema da
para o cumprimento da missão e alcance da visão, considerando seu Inovação quanto mais stakeholders são envolvidos maior a chance de
propósito, diretrizes, objetivos estratégicos e metas, bem como suas sucesso para todos que participam. “A ideia de fazer sozinho e querer
políticas institucionais. ser uma estrela, estatisticamente é fadada ao fracasso, salvo algumas
Além de todo o know-how e laboratórios desenvolvidos pelo parque exceções. O sucesso dos empreendimentos puxados pelo PTI está na
ao longo de 15 anos, atendendo as demandas tecnológicas e de inova- rede de parceiros que reconhece o valor e o potencial de crescimento
ção da Itaipu Binacional, os investimentos do Parque em diversas frentes no que fazemos. Temos vários canais de comunicação e, não apenas
de empreendedorismo, inovação aberta e conexão com ecossistema mantemos constantes nossos relacionamentos, como estamos sempre
nacional, resultam em iniciativas práticas extremamente atrativas para o buscando ampliar nossas redes. Temos parcerias com instituições e em-
desenvolvimento de novos negócios e desenvolvimento do país, como: presas de todo Brasil e também no exterior”, ressalta.
1. Vila A Inteligente: ambiente de testes, validação e demonstração de Diante dessa experiência, Rodrigo Galvão comenta sobre a interface
tecnologias de Cidades Inteligentes. Primeiro Sandbox em bairro públi- do setor de tecnologia com o de energia e de saneamento, lembrando
co do Brasil; e que todos estão passando por profundas alterações a partir da trans-
2. Espaço Impulso: o Agro Living Lab, um sandbox rural, uma fazenda formação digital, acelerada nos últimos anos, trazendo grandes opor-
real para testes de inovações tecnológicas para o segmento do agro- tunidades e exigindo atualização tecnológica das empresas dessa área.
negócio. “A tecnologia vem para um melhor atendimento ao cliente, para pre-
Rodrigo Régis de Almeida Galvão, diretor de Negócios e Inovação ver quebras de máquinas e antecipar manutenções. Por isso, o avanço
do PTI-BR, informa que a proposta do hub de tecnologia é atuar para da tecnologia é fundamental nesses setores”, assinala.
se conectar com vários ecossistemas, desde os ligados às cidades inteli- O especialista acredita que a produção de energia se mostra com
gentes, como os de Porto Alegre e Recife, quanto os ligados à energia, grande potencial no saneamento, em especial no tratamento da rede de
como os projetos de hidrogênio verde nos estados do Ceará e Bahia. esgoto, vários estudos já vem sendo feitos nessa área há algum tempo.
“No setor elétrico temos projetos com várias instituições ao redor do “Certamente teremos novidades nessa frente, mas há muitas oportuni-
Brasil e do mundo. Nosso foco é trabalhar essas conexões para que os dades no setor de saneamento. No edital lançado esse ano do programa
negócios aconteçam”, diz. Sanepar Startups, por exemplo, recebemos mais de 80 propostas inova-
No setor de saneamento, Galvão dá um exemplo de atuação com a doras que contemplam 4 temáticas, como otimização de processo pro-
Sanepar em um grande programa de inovação aberta, com a atração dutivo, infraestrutura resiliente e sustentável, recursos híbridos e clima
e busca de diversas empresas no processo de validação das suas tecno- e melhoria na relação com o cliente, como várias outras oportunidades
logias. Para ele, esse trabalho tem um diferencial porque não é possível no setor. Selecionamos as cinco que apresentaram melhor avaliação da
imaginar uma cidade inteligente, cujo principal foco é melhorar a vida banca, mas ainda há espaço para muito avanço”, conta Galvão.
do cidadão se não tem saneamento adequado. “Saneamento é condi- Sobre as perspectivas do Parque Tecnológico de Itaipu para que os
ção básica, saneamento é energia, é saúde de qualidade, é segurança, desafios do setor de saneamento sejam superados a partir da inova-
é educação. E no âmbito das cidades inteligentes um dos temas básicos ção, Galvão destaca que estão atuando fortemente com a Sanepar, o
é a questão do saneamento”, frisa. Sebrae, a Finep e o BID na modalidade de Inovação Aberta, buscando
Neste cenário, o PTI-BR tem uma forte atuação em ajudar as empre- startups promissoras, com soluções inovadoras que possam resultarem
sas a procurarem a sua própria solução. Segundo Galvão, eles contam ganhos e melhorias para toda sociedade.
com processos desenhados para estruturar o levantamento e a seleção
das principais necessidades. “O modelo de inovação aberta nunca é Leia na Saneas Online:
algo engessado, mas o processo de mentoria e desenvolvimento pre- A hora e a vez das startups no saneamento
cisa ser eficaz e técnico, para extrair a essência do que realmente vai Como elas podem ajudar a superar os
fazer diferença para a empresa. A experiência do PTI, no que funciona e desafios do setor?
o que não funciona, é o grande diferencial na hora de colocar tudo em Clique aqui.

32 Saneas
No saneamento, quem
inova faz a diferença!
No ecossistema da inovação no setor de saneamento ambiental, as startups ocupam um lugar especial.
São elas que estão em seu início de trabalho, sem plano de negócios ou produto completamente defi-
nido, mas que tem algo novo a mostrar ao mercado. Conheça algumas que estão fazendo a diferença
e trazendo bons resultados para o setor.

Stattus4: Inteligência Artificial no combate Assim iniciou o desenvolvimento da Inteligência Artificial para
as perdas hídricas análise dos áudios.
A Stattus4, fundada em 2015, conta com as expertises nas áre- Marília conta que São Paulo estava em plena crise hídrica e os
as de administração e engenharia eletrônica de Marília Lara e especialistas foram a campo para descobrir se as perdas de água
Antônio Oliveira, CEO e CTO respectivamente da startup. Eles eramum problema importante na época. “Constatamos que sim e
tiveram a ideia ao desenvolver um geofone eletrônico – uma a partir do uso da nossa tecnologia foi possível ajudar no combate
melhoria da ferramenta tradicional de detecção de vazamentos a esse problema, que era uma das principais dores do setor de
de água. É com ele que o geofonista visita as residências e, com saneamento do Estado naquele ano”, conta Marília.
seu ouvido treinado, indica se no local há possíveis vazamen- Hoje, a executiva informa que a Stattus4 trabalha principalmen-
tos, uma vez que a vazão possui um som específico. Durante te no setor de saneamento, com foco na identificação de vaza-
a criação, Marília e Antônio perceberam que a usabilidade do mentos na rede de distribuição de água, tendo como principais
equipamento tinha alguns problemas em campo: cachorro la- clientes empresas como a Sabesp, a Sanepar, a Aegea e o Grupo
tindo, sons de ônibus e carros eram alguns dos empecilhos que Águas do Brasil.
o geofonista encontrava durante o trabalho. Por isso, eles pen- A partir desse trabalho, a startup oferta ao mercado duas so-
saram em criar uma solução que funcionasse como um ouvido luções: o 4Fluid Móvel e o Turing Perdas. A tecnologia Móvel
biônico para detectar possíveis vazamentos com mais eficiência. é composta por um coletor com haste, aplicativo e dashboard,

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MATÉRIA DE
CAPA

que coleta os dados no campo através de sensores IoT. Em se- Para Marília, a oportunidade de trabalhar com saneamento,
guida o sistema de Inteligência Artificial aponta se o dado é um com a gestão de perdas e reduzir os impactos ambientais e sociais
possível vazamento e envia a informação para o painel de ges- que causam na sociedade, é um grande motivador para a startup
tão – auxiliando a tomada de decisão do gestor. “Com o 4Fluid atuar com base na missão de aplicar a tecnologia para preservar
Móvel é possível acompanhar a equipe de campo, focar o serviço o essencial.
especializado nos locais em que realmente há vazamentos e vi-
sualizar relatórios gerenciais”, explica Marília. Já o Turing Perdas,
de acordo com ela, analisa as perdas reais (vazamentos) e perdas
aparentes (fraudes, ligações clandestinas, hidrômetros danifica-
dos, entre outros). “Através da coleta de dados de leitura de
pressão, ruído e vazão, alimenta-se o Sistema Turing que passa a
indicar pontos suspeitos de vazamento, fraude e demais proble-
mas de campo”, informa.
Entre as vantagens dessas soluções para as distribuidoras,
ao invés de precisar de um geofonista para fazer a investiga-
ção prévia, Marília conta que este especialista vai apenas aos
pontos que foram identificados pela 4Fluid como suspeitos.
“Essa análise prévia feita com nossos equipamentos possibi-
lita que, ao invés do geofonista ir para 100% das residências
para identificar se tem vazamento ou não, ele visita apenas Como exemplo de resultado que a tecnologia vem proporcio-
4% desses locais, ou seja, ganha bastante tempo e produti- nando, Marília relata que, ano passado, a Stattus4 fez um traba-
vidade”, comenta. lho no município paulista de Porto Feliz, que possui cerca de 50

34 Saneas
mil habitantes, mais de 15 mil ligações de água, das quais 3.500 potável na Ucrânia, com envio de +50 purificadores para aju-
são responsáveis por 40% do consumo na cidade. “Fizemos um da humanitária, impactando mais de 10 mil pessoas.
trabalho nessa região de maior consumo com o nosso sistema de
identificação de vazamentos e, em quatro meses, conseguimos
identificar os pontos com problemas, nos quais foram feitas as
manutenções e reduziram em 65% o nível de perdas daquela
região. Então, são resultados desse tipo que faz com que consi-
gamos atender nossos clientes e melhorar os serviços de sanea-
mento básico para a população”, frisa.

PWTech: contribuição para


a universalização do abastecimento
de água
No Brasil, há mais de 35 milhões de pessoas que não têm acesso
a água potável. Grande parte delas está localizada em regiões
com disponibilidade hídrica e IDH baixo. Visando colaborar com
a melhoria do acesso hídrico sustentável no país, Fernando Sil-
va (CEO) e Maria Helena Cursino (COO), da PWTech, tiveram a
ideia de entrar no setor de saneamento. “Criamos uma solução
inovadora e única no mercado nacional, que é uma solução por-
tátil e adaptável a diferentes tipos de energia, fácil operação e
manutenção e versátil, produzindo água boa”, contam.
As principais áreas de atuação da PWTech são: ajuda humani-
tária, social, indústrias, construção civil e pecuária. Alguns dos
projetos desenvolvidos são:
• Projeto Nascente – foram instalados cinco purificadores
PW5660 na Ilha do Bororé, onde não há saneamento básico Ilha do Bororé
e a população consome água contaminada ou de caminhão-
-pipa/galão. “A instalação dos sistemas garantiu água potável Com esses exemplos, Silva e Maria Helena destacam que a
para cerca de 200 pessoas de Santa Tereza, uma parte do PWTech tem objetivo de ajudar a cobrir áreas que ainda não têm
bairro da Ilha do Bororé. O processo foi intermediado pela acesso a água potável, como em áreas remotas, comunidades iso-
AMIB – Associação de Moradores da Ilha do Bororé e apoiado ladas, onde instalar uma rede de distribuição convencional ficaria
pelo parceiro de mobilização comunitária e acompanhamento inviável. “Nesse sentido, trabalhamos em sinergia com as conces-
da Sapiência Ambiental”, contam os executivos; sionárias, contribuindo com a universalização do abastecimento
• Haiti – o projeto é realizado em parceria com a Agência Brasi- de água no país”, comentam.
leira de Cooperação (ABC) no fornecimento de água potável A startup desenvolve projetos para empresas ligadas ao governo
no Haiti, com envio de +50 purificadores; e empresas privadas. “Nossos diferenciais, estão no equipamento
• IBAMA+ICMBIO - realizado em parceria com UNOPS/ONU no leve, portátil, com baixo custo de operação e manutenção e, com
fornecimento de água para brigadistas de combate a incên- aproximadamente, a produção de 6.000 litros de água por dia”,
dio. “Os purificadores foram instalados nas caminhonetes, salientam. E ressaltam que esse tipo de projeto é importante para o
atuando como unidades portáteis de geração de energia e Brasil porque carece de investimentos no setor de saneamento: “a
água”, informam Silva e Maria Helena; nossa solução alternativa leva água potável para locais em que ain-
• Ucrânia – a iniciativa, em parceria com a Agência Brasileira de da não chegam a rede de distribuição de água das concessionárias.
Cooperação (ABC) e com a ONU, visa o fornecimento de água Entre os exemplos bem-sucedidos que a PWTech participa eles

Abril a Junho de 2022 35


MATÉRIA DE
CAPA

Criamos uma solução


inovadora e única no
mercado nacional, que
é uma solução portátil e
adaptável a diferentes
tipos de energia, fácil
operação e manutenção
e versátil, produzindo
água boa.”

Fernando Silva, CEO da PWTech

comentam sobre a parceria com a Ambev através da Fundação


Avina, no ano de 2021. “Instalamos três dos nossos equipamen-
tos em Beberibe-CE, em parceria com o Sisar (Sistema Integrado
de Saneamento Rural) que é referência em saneamento rural no
país impactando mais de 300 pessoas que não tinham acesso a
água de qualidade”, informam.
Para Silva e Maria Helena, a promoção da inovação no setor
de saneamento básico ajuda o desenvolvimento do país e o au-
mento da qualidade de vida das pessoas. “Sua universalização
promove melhorias na saúde, principalmente de crianças, com
a diminuição da mortalidade infantil e a contenção de doenças,
especialmente as de veiculação hídrica. Ainda há várias lacunas
de inovação a serem mais estruturadas no setor, como apoio em
soluções alternativas que ajudem a universalizar o saneamento
no Brasil”, declaram.

XMachina: tecnologia disruptiva para


tratar as complexidades do saneamento
Nos anos de 2008-2009, Eduardo Sande elaborou, com base em
um modelo lógico-matemática reducionista para o funcionamen-
to dos cérebros, uma rede neural inédita, baseada em partículas
elementares que chamou de Neurologs. “Considero a primeira
plataforma Não-Turing (arquitetura aberta) operacional existente.
Essa rede tem uma diferença importante com relação às anterio-

36 Saneas
res: substitui o aprendizado pela adaptabilidade”, cita o CEO da No setor de sanea-
XMachina, que já participou do Espaço Startups da Fenasan. mento, ele destaca que
Sande explica que aprendizado implica assimilação de conhe- a XMachina está atu-
cimentos prévios e a adaptabilidade implica na capacidade de se ando no monitoramen-
ajustar a quaisquer conhecimentos novos. “O que possibilita usar to da água de entrada
um aparato disponível nesses moldes para diferentes objetivos. O e saída em ETA de uma
olfato do cão farejador, por exemplo, para identificar diferentes grande papeleira e a
drogas ou nosso olfato e paladar para diferenciar bebidas dis- saída para ETE de flui-
tintas. Diante de um conjunto de sinais quaisquer essa rede se dos oriundos da planta
adapta e é capaz de emitir alertas do afastamento do que está industrial.
vendo ao que se adaptou. Em outras palavras: ela atende alguns O trabalho da star-
dos requisitos acima para um modelo sintético de automação. É o tup, segundo Sande,
nosso cão farejador”, ressalta. ganha relevância nes- Eduardo Sande,
CEO da XMachina
Para alcançar essa característica universal, eles criaram uma se momento em que
camada de normalização que transforma qualquer sinal em uma está acontecendo a
abstração que chamam de estímulo, ou seja, independente de es- abertura do setor de
tarem recebendo o sinal de um termostato, de um medidor de água para o setor privado e a garantia da qualidade da água
vazão ou analisador de linha, ao passar por essa camada, eles entregue para a população que precisa de mecanismos efica-
perdem seus quantitativos e mantém apenas suas diferenças qua- zes e inteligentes. “Tanto as empresas como as prefeituras vão
litativas. A partir de então, é impossível determinar quem é o que. precisar dessa tecnologia para fazer o monitoramento dos seus
Sande elucida que fizeram a solução desta forma porque nos contratos. Além disso, a entrada de players privados vai colocar
cérebros é assim que as coisas acontecem. “É impossível distinguir pressão sobre a qualidade das águas dos rios. Nossa tecnologia
se um determinado estímulo vem dos olhos, ouvidos ou paladar. propicia o controle da qualidade dos rios em regime”, observa.
Uma rede dessa natureza pode ser aplicada a qualquer sistema, Ele cita como exemplos bem-sucedidos a atuação em indústrias,
seja análise de crédito, carteira de ações, saúde, preditiva de equi- nas ETAs e ETEs. “Na ETA, o objetivo foi controlar a qualidade da
pamentos”, relata. água de entrada e entrega à planta, inclusive para uso humano.
Essa tecnologia deu base para a fundação da startup XMachi- Já na ETE identificamos o perfil de orgânico que era enviado na
na. “Juntamos um punhado de redes neurais de neurologs, suas estação”, menciona.
camadas de normalização, um dashboard com diversas funciona- Eduardo Sande destaca que investimentos que promovam a
lidades e uma API de dados e construímos um motor de aprendi- inovação no setor de saneamento, são fundamentais primeiro
zado que chamamos ARIN (acrônimo para Artificial Intelligence)”, para o meio ambiente, porque o controle de qualidade tanto da
conta o especialista. captação, quanto da devolutiva implica cuidar do meio ambiente
Nesse histórico de atuação da XMachina, ele informa que a como um todo. Depois para as empresas, que precisam de água
primeira indústria que escolheram para atender foi a de fluidos, de qualidade tanto para seus processos produtivos quanto para
que se encontrava desassistida em função da complexidade des- seus funcionários. “Por fim, para todos nós, porque significa me-
te tipo de material. “Temos uma tecnologia disruptiva, excelente nos adoecimento e mais qualidade de vida”, salienta.
para tratar complexidades. É muito difícil para um startup entrar
na parte operacional de indústrias, mas tínhamos uma solução da Biti9: automação de processos para mais
IA que ninguém possuía e uma indústria carente de automação. eficiência no saneamento
Introduzir novas tecnologias na indústria de fluidos impacta de A Biti9 é uma startup que surgiu em 2015 com o propósito de le-
diversas formas o meio ambiente: monitorando as qualidades das var tecnologia de produtividade para grandes corporações e, para
águas de rios; diminuindo os resíduos das indústrias no processo isso, utiliza a tecnologia de automação de processos RPA e Inteli-
produtivo; monitorando as águas devolvidas pelas indústrias na gência Artificial. “Temos grandes corporações como clientes e um
natureza”, comenta. dos nossos principais diferenciais é auxiliá-los não só no proces-

Abril a Junho de 2022 37


MATÉRIA DE
CAPA

so de transformação das atividades manuais, mas em atividades nessas cidades onde essas operações estão sendo ativadas. Com isso,
automatizadas, mas também no processo de descoberta dessas ganhamos velocidade sob o ponto de vista de preparação da infra-
oportunidades de automação dentro da cadeia produtiva opera- estrutura tecnológica. Por isso, acredito que a junção desse modelo
cional e administrativa dessas empresas. de integração via automações e, também a preparação das empresas
Segundo Martin Luther Candido e Silva, CEO da Biti9, que já para ampliarem a sua operação no país todo, façam com que, cada
integrou o Espaço Startups da Fenasan, a startup procura atuar vez mais, possamos ser ágil, eficiente e gerar resultados”, esclarece.
com empresas de meio ambiente, agronegócio ou ligados ao setor O CEO da Biti9 considera fundamental o investimento do setor de
ambiental e saúde para que possam alavancar essas empresas em saneamento em novas tecnologias e em inovação. Apesar disso não
atividades tecnológicas, que muitas vezes não estão ligadas ao core estar conectado diretamente às ações fins de prestação de serviço
business de suas funções. “Temos como cliente a BRK Ambiental há de saneamento ou a parte de infraestrutura e engenharia, tudo que
quase cinco anos e somos responsáveis pela administração, gestão, se consegue gerar de benefício com tecnologia, através das star-
operação e criação de robôs dentro dos seus processos administrati- tups, por meio do fomento de pesquisa e desenvolvimento junto às
vos, de relacionamento com clientes, entre outros”, informa. entidades acadêmicas, pode ser acelerado com o nosso potencial
Para Martin, o setor de saneamento, assim como outros setores de expansão e do alcance do saneamento básico em todo o país,
no mercado brasileiro tem grandes oportunidades de aumento de levando, cada vez mais, serviços a territórios ou à localidades onde
produtividade de seus processos. Ele observa que atualmente as em- muitas vezes não foi de interesse desse setor em função do custo
presas contam com número grande de colaboradores para execução para viabilizar a operação naquele local. “Considero que ao barate-
de atividades repetitivas ou até mesmo uma quantidade razoável de ar, tirar as burocracias e inovar nesse setor possibilita que o acesso
tarefas manuais sem uso ou aplicação de algum tipo de tecnologia, ao saneamento seja mais democrático, levando esse benefício até
ou porque os sistemas utilizados são tecnologias já obsoletas ou por- o contribuinte, o cliente dessas empresas públicas ou privadas, que
que não existe nenhum tipo de sistema para execução daquela deter- são as pessoas que consomem o saneamento público”, expressa.
minada atividade. “Por isso, identificamos uma grande oportunidade
de automações para serem aplicadas neste setor e ganhar mais efici- Sebrae: apoio para a o
ência na execução de seus processos”, comenta. empreendedorismo na inovação
Ele acredita que esse tipo de projeto, executado pela Biti9, nas No Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Em-
empresas de saneamento é de grande importância porque reduz presas, o apoio à inovação se dá por meio do fomento aos ecos-
basicamente toda a burocracia de implementações técnicas, facilita sistemas de inovação e àquelas baseadas em hard Science (funda-
a incorporação de sistemas, muitas vezes antigos. “O robô tem a mentas em pesquisa científica), as deeptechs, e aquelas baseadas
capacidade de operacionalizar integrações e digitar essas integrações em tecnologia da informação, que são as soft techs. São negócios
entre os sistemas das empresas atuais com sistemas já em utilização que surgem de demandas reais do mercado e que dificilmente são

Buscamos conectar essa área com as demandas


tradicionais do mercado, para que as startups
possam, de fato, impulsionar o ecossistema de
inovação, gerando emprego, renda e qualidade de
vida por meio do desenvolvimento da tecnologia e
atendimento ao mercado.”
Suelen Luiz Gibellato Suzuki, consultora na área de
Startups & Inovação do Sebrae Paraná

38 Saneas
solucionados por meio das empresas tradicionais. Devido a isso, o E é por meio desse apoio, segundo Suelen, que o Sebrae-PR
Sebrae considera que o papel das startups é importante porque tem conseguido desenvolver os empreendedores da inovação no
alia o desenvolvimento tecnológico e o atendimento de forma ágil saneamento. A executiva comenta ainda sobre as perspectivas da
às demandas reais do mercado. entidade para que os desafios do setor de saneamento sejam su-
Segundo Suelen Luiz Gibellato Suzuki, consultora na área de perados por meio da inovação: “acreditamos na inovação como
Startups & Inovação do Sebrae Paraná, essa visão de que a filoso- um mecanismo de dinamização do nosso território, da nossa eco-
fia das startups, em atuar para trazer agilidade para os negócios nomia, não só para o mercado de saneamento, mas para todos
tradicionais, aliada à questão do desenvolvimento científico e tec- os setores de forma geral. O incentivo à inovação gera diferenciais
nológico acaba impulsionando a inovação, que é algo importante competitivos, promove riqueza, gera emprego e renda”, reitera.
para a entidade. “Buscamos conectar essa área com as demandas Desse modo, as perspectivas do Sebrae-PR são no sentido de
tradicionais do mercado, para que as startups possam, de fato, que, enquanto trabalham esse ecossistema de inovação e apoiam
impulsionar o ecossistema de inovação, gerando emprego, renda iniciativas, como as da Sanepar, no Paraná, e outras iniciativas de
e qualidade de vida por meio do desenvolvimento da tecnologia e inovação aberta, seja junto às empresas de perfil público ou em-
atendimento ao mercado”, informa. presas privadas, entendem que assim estão conseguindo resolver
Em apoio a esse ecossistema, ela destaca que o Sebrae, em nível as dores do território atendido. “Essa é uma premissa forte do
nacional, observa que muitas startups tem a solução tecnológica, Sebrae, pois acreditamos muito no poder da inovação para a me-
desenvolvida em projetos na universidade, mas não sabem como lhoria da competitividade dos negócios e para que tenhamos re-
tornar isso em um negócio e nesse momento entra a expertise da sultados sustentáveis no Brasil como um todo”, conclui Suelen.
entidade para ajudá-las a construir modelos de negócios sustentá-
veis e que sejam aplicáveis em prol da sociedade. “No Sebrae-PR,
por exemplo, atuamos desde o processo de incentivar a formação
Para saber mais sobre os incentivos para
de novas startups por meio da educação empreendedora até o
a inovação no setor de saneamento
suporte para dar consistência ao modelo de negócio, em sua ope-
ambiental, pesquise em:
ração no mercado e a conexão com investidores. Realizamos uma
série de ações para apoiar as startups em todos os estágios de seu
FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos
desenvolvimento”, informa Suelen.
www.finep.gov.br
No setor de saneamento, o processo de apoio do Sebrae segue
a mesma linha. Ele se aproxima das startups que têm tecnologia ANPEI – Associação Nacional de Pesquisa e
em desenvolvimento ou desenvolvida para aplicar junto a um par- Desenvolvimento das Empresas Inovadoras
ceiro do setor, por exemplo, e o auxilia no desenvolvimento do https://anpei.org.br
negócio, na sua modelagem para atender a necessidade específi-
ca desse mercado.“Muitas vezes, os empresários têm a ideia, tem BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento
a tecnologia, mas tem dificuldade de visualizar como que essa https://www.iadb.org/pt
tecnologia pode ser aplicada no setor e como tornar isso um pro-
duto ou serviço viável para o mercado de forma geral. Não é nos-
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas
sa expertise apoiar -o desenvolvimento técnico dos projetos, mas
https://sebrae.com.br
apoiamos todos os aspectos relacionados à gestão do negócio e
sua sustentabilidade”, discorre Suelen. Para ela, esse apoio acaba
ABSTARTUPS - Associação Brasileira de Startups
sendo um diferencial para que as startups consigam superar o
https://abstartups.com.br
seu “vale da morte”, por isso quanto mais estruturada a startup
estiver, quanto mais consistente for o planejamento estratégico e EMBRAPII - Empresa Brasileira de Pesquisa e
mercadológico e quanto mais consistente estiver esse modelo de Inovação Industrial
negócio, maiores são as chances de a startup conseguir sobreviver https://embrapii.org.br
no mercado, escalar e crescer.

Abril a Junho de 2022 39


ARTIGO
TÉCNICO

Jonathan Lyncoln
Alves Barbosa

Engenheiro Civil, aluno de


Aproveitamento de águas pluviais
Mestrado em Tecnologias
Ambientais pela Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. para fins não potáveis no
Fábio Veríssimo
Gonçalves

Engenheiro Civil, Mestre e Doutor


Núcleo de Ensino Superior
da Universidade do Estado
em Engenharia Civil, Professor
do Mestrado em Tecnologias
Ambientais pela Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul.

Weslley Henrique Alves


Barbosa

Engenheiro Civil, Mestre


do Amazonas
em Eficiência Energética e
Sustentabilidade, aluno de
Doutorado em Tecnologias
Ambientais pela Universidade
Resumo 1. Introdução
Federal de Mato Grosso do Sul. Na atualidade, vários países vêm enfrentando proble- A limitação de reservas de água doce no planeta, o
mas de escassez de água decorrentes de problemas aumento da demanda de água para atender, princi-
tais como falta de organização das cidades ou cresci- palmente, o consumo humano, agrícola e industrial,
mento populacional, que causam o esgotamento de a prioridade de utilização dos recursos hídricos dis-
suas reservas. Este trabalho buscou dimensionar um poníveis para abastecimento público, torna necessá-
sistema para a utilização da água de chuva no Núcleo ria a adoção de estratégias que visem racionalizar a
de Ensino Superior de Manacapuru, da Universidade utilização dos recursos hídricos, para que usos menos
do Estado do Amazonas, visando sua utilização para nobres possam ser supridos, sempre que possível,
finalidades não nobres. Foram utilizados três métodos por águas de qualidade inferior. Para tanto, são ne-
de dimensionamento para a determinação do volume cessárias ações para a eficiente gestão da demanda,
do reservatório, propostos na NBR 15.527/2007, o reduzindo os índices de perdas e desperdícios, muitas
método de Rippl, o método da simulação e o método vezes inconscientes, bem como são necessários inves-
prático do professor Azevedo Neto, bem como verifi- timentos em desenvolvimento tecnológico e na busca
cada a economia da taxa de água fornecida pela con- de soluções alternativas para a ampliação da oferta
cessionária local decorrente da utilização do referido de água como, por exemplo, a utilização da água de
sistema. Os dimensionamentos do reservatório para a chuva.
utilização da água de chuva foram satisfatórios. Com Aproveitamento de águas pluviais é, no seu sentido
os dados pluviométricos de sete anos, de 04/2008 a mais amplo, uma tecnologia usada para coletar e ar-
12/2017, no município de Manacapuru, o volume ide- mazenar água de chuva para uso humano a partir de
al do reservatório, para atendimento da demanda de telhados, coberturas, superfícies da terra ou em for-
água da chuva analisada, foi de 1435m³, cujo supri- mações rochosas, utilizando das técnicas mais acessí-
mento será de aproximadamente 80 % do consumo veis como jarros e potes, bem como técnicas de enge-
de água, não potável, na Universidade. Com a implan- nharia. Segundo Nascimento (2014), a utilização das
tação desse sistema a Universidade terá uma econo- águas pluviais tem sido praticada há mais de 4.000
mia anual de 29.819,30 (R$/m3) na taxa de água. anos, devido à variabilidade temporal e espacial das
Palavras-Chave – Águas pluviais, reuso, aproveita- chuvas. É uma significativa fonte de água em muitas
mento de água de chuva. áreas onde não possui qualquer tipo convencional de
sistema de abastecimento centralizado de água, sen-
do então, de extrema importância em áreas onde a
água de boa qualidade, superficiais ou subterrâneas

40 Saneas
possa rarear. Sistemas de aproveitamento de águas pluviais têm (UEA), localizado na Rua Waldemar Ventura, Bairro São José,
sido usados desde a antiguidade, existindo evidências de siste- Manacapuru - AM. A edificação, está localizada em um terreno
mas de captação das águas de chuva que remontam ao início dos de 70,00x80,00m², possui um pavimento, tendo uma área total
tempos romanos. Vilas romanas e mesmo cidades inteiras foram construída de 44,20 m², onde estão distribuídas salas de aula,
projetadas para utilização de águas pluviais como a principal fonte laboratórios, biblioteca, lanchonete e banheiros. Mediante infor-
de água para beber e fins domésticos. No deserto de Negev, em mações obtidas por funcionários da UEA, constatou-se que não
Israel, o aproveitamento das águas das chuvas com o propósito de existe atualmente – e nunca foi utilizado – nenhum tipo de siste-
ser usado para fins domésticos e agrícolas têm permitido habita- ma de aproveitamento de águas pluviais na edificação.
ção e cultivo em áreas com apenas 100 mm de chuva por ano. A Considerou-se a captação por simples coleta, através de meio
tecnologia também tem longa história na Ásia, onde as práticas de calhas, utilizada posteriormente para dimensionamento do re-
de coleta de águas pluviais remontam há quase 2000 anos, na Tai- servatório de água pluvial. A área de projeção horizontal do prédio
lândia. O maior reservatório de águas pluviais do mundo é prova- (telhado) é de 396,78 m2, obtidas através da área hachurada na
velmente o de Yerebatan Sarayi, em Istambul, Turquia, construído planta baixa (Figura 1).
durante o reinado de César Justiniano (527- 565 a.C.). Mede 140
m por 70 m e tem uma capacidade de 80.000 m³, Unep, (2013).
O uso da água de chuva contribui para a preservação das reser-
vas de água doce no planeta e agrega uma dimensão econômica
ao planejamento dos recursos hídricos, reduzindo a demanda so-
bre os mananciais devido à substituição da água potável por água
não potável de acordo com Rocha (2017). Além disso, se mostra
como a alternativa mais plausível para satisfazer a demandas me-
nos restritivas, liberando as águas de melhor qualidade para usos
mais nobres, como o abastecimento doméstico. O atendimento
deste objetivo implica em esforços conjuntos das entidades públi-
cas e privadas. Sendo as universidades, dada sua relevância social,
a porta de entrada para recuperar o equilíbrio entre oferta e de-
manda de água e certificar a sustentabilidade econômica, social
e ambiental, fornecendo para a sociedade modelos dos projetos Figura 1: Planta Baixa do Telhado da UEA
alternativos a serem aplicados.
3.2 DADOS PLUVIOMÉTRICOS
2. Objetivo geral Foram utilizados os valores mensais de precipitação média, em
O objetivo dessa pesquisa foi realizar um dimensionamento de um milímetros, através da série histórica que compreende os anos de
sistema para a utilização da água de chuva no Núcleo Superior de 2008 a 2017, obtida para a cidade Manacapuru – AM, fornecidos
Ensino de Manacapuru, da Universidade do Estado do Amazonas pelo Instituto Nacional de Meteorologia – INMET.
– UEA levanta questões da importância ambiental voltadas para o
reuso da água de chuva, visando a viabilidade econômico/ambien- 3.3 ESCOAMENTO SUPERFICIAL
tal local, com a possibilidade de reduzir custos com água tratada e O coeficiente de escoamento superficial, também chamado de
contribuir com o meio ambiente, já que o núcleo supracitado não Coeficiente de Runoff (C), varia de acordo com o material do te-
possui projetos voltados reuso da água. lhado. O valor do coeficiente sugerido por Tomaz, (2009) e utiliza-
do neste estudo foi C= 0,8.
3. Material e métodos
3.1 ÁREA DE ESTUDO 3.4 VOLUME DE ÁGUA DE CHUVA
O local de estudo do presente trabalho foi o Núcleo de Ensi- O volume de água de chuva foi calculado pela Equação 1, confor-
no de Manacapuru, da Universidade do Estado do Amazonas me Tomaz, (2009).

Abril a Junho de 2022 41


ARTIGO
TÉCNICO

do de Rippl, Método de simulação, Método Prático do Professor


V= P x A x C x ηfator de Captação (1) Azevedo Neto.

Sendo: 3.7.1 MÉTODO DE RIPPL


V= volume mensal da água de chuva aproveitado; O Método de Rippl foi utilizado para demanda mensal e séries
P= precipitação média mensal (mm); históricas de precipitações mensais, esse método propõe-se a ga-
C= coeficiente de runoff = 0,8; rantir o abastecimento constantemente de água tanto no período
η = eficiência do sistema de captação de água 0,8; e A=
fator captação
chuvoso quanto seco. Como base para este método utilizou-se a
área do telhado em projeção (m2). Tabela 2 e as Equações 4, 5 e 6, Tomaz (2009).

3.5 PREVISÃO DE CONSUMO DE ÁGUA NÃO POTÁVEL NO


NÚCLEO DE ENSINO SUPERIOR DE MANACAPURU-AM
Para estimar a demanda de água não potável foi considerada a
utilização do sistema por 190 alunos, 12 funcionários e por 3 pro-
fessores de acordo com Secretaria da Universidade – UEA (2018), Tabela 2: Método de Rippl Fonte: Adaptado TOMAZ, 2009.
com 1,5 utilizações per capita por dia da descarga na bacia (Tabela
1), para o consumo de 20 dias (úteis), segundo Equação 2, Tomaz, S (t) = D (t) – Q (t) (4)
(2009). Q (t) = C x precipitação da chuva (t) x área de captação (5)
V = Σ S (t), somente para valores S (t) > 0 (6)
Consumo = 0,03 x (área construída) + (0,07 n° de pessoas) + (0,8 Sendo que Σ D (t) < Σ Q (t)
n° de Bacias) + 50 (2)
Onde:
S (t) = volume de água no reservatório no tempo t; Q (t) = volume
de chuva aproveitável no tempo t; D (t) = demanda ou consumo
no tempo t;
V = volume do reservatório, em metros cúbicos; e
C = coeficiente de escoamento superficial.
Tabela 1: Parâmetros para estimativa de demanda de água para o local de
estudo. Fonte: Adaptado de Tomaz, (2009) Na coluna 8 utilizou-se letras para definir o comportamento do
reservatório mensalmente,
3.6 VOLUME MÉDIO MENSAL GASTO sendo:
NAS BACIAS SANITÁRIAS E = água escoando pelo extravasor;
A bacia sanitária mais econômica existente no Brasil é de 6,8 L/ D = nível de água baixando; e
descarga, mas como pode- se ter vazamento de ordem de 30%, S = nível de água subindo.
então foi usado a taxa de 9,0 L/descarga. O volume médio mensal
gasto nas bacias sanitárias foi estimado pela Equação3, Tomaz, 3.7.2 MÉTODO DE SIMULAÇÃO
(2009). Este método determina um volume para o reservatório acompa-
nhando o comportamento da água excedente (escoamento) e a
VMM = (Funcionários) x (9 L/descarga/5 dias) x 20 dias letivos) água que vai faltar (suprimento de água da concessionária local).
/1000 (3) Segundo Tomaz (2003), deve-se utilizar, inicialmente, para análise
neste método o valor máximo do reservatório retornado no Mé-
3.7 DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO todo de Rippl, conforme Tabela 3, utilizando-se as Equações 7 e
Para o dimensionamento do reservatório foram seguidas as di- 8, Tomaz, (2009).
retrizes apresentada no anexo A, da ABNT NBR 15527/2007.
Adotou-se três metodologias para efeito de comparação: Méto-

42 Saneas
Tabela 3: Método de Simulação.

S (t) = Q (t) + S (t-1) – D (t) (7) 3.8 ECONOMIA DO CONSUMO DE ÁGUA


Q (t) = C x precipitação da chuva (t) x área de captação (8) FORNECIDA PELO SAAE.
Sendo que 0 ≤S (t) ≤V A economia na taxa de água foi calculada multiplicando-se o valor
cobrado por m³ pelo SAAE, que é de 20,78 (R$/m3) pelo volume
Onde: captado, conforme Equação 10, Tomaz, (2009).
S (t) = volume de água no reservatório no tempo t;
S (t-1) = volume de água no reservatório no tempo t – 1; EC tx. água = Valor do m3 * Vcaptado (10)
Q (t) = volume de chuva no tempo t;
D (t) = consumo ou demanda no tempo t; 4. RESULTADOS E DISCURSÃO
V = volume do reservatório fixado; e 4.1 PRECIPITAÇÃO E VOLUME DE CHUVA
C = coeficiente de escoamento superficial. Na Tabela 4 é possível observar que o ano de 2013 foi o de maior
intensidade pluviométrica com 2.454,60 mm, sendo outubro a
3.7.3 MÉTODO PRÁTICO DO PROFESSOR AZEVEDO NETO maio os meses de maior precipitação.
Para o método do Prof. Azevedo Neto utilizou-se a Equação 9, Na curva clima teológica do período, na Figura 2, percebe-se
Tomaz, (2009). uma distribuição irregular da chuva para a cidade Manacapuru-
-AM, com os índices pluviométricos maiores que 200 mm nos me-
V = 0,042 x P x A x T (9) ses de novembro a abril. Os meses mais seco por sua vez, são os
de junho a outubro.
Onde: O cálculo de volume da água de chuva da área de captação da
P = precipitação média anual em milímetros; UEA que é 396,78 m2, com a precipitação mensal do mês de no-
T = número de meses de pouca chuva ou seca; vembro de 2013, de 424,80 mm, obteve-se, utilizando-se a Equa-
A = área de coleta, em metros quadrados; ção 1, o volume de água de chuva que pode ser aproveitado de
V = volume de água aproveitável e o volume de água do reserva- 121,35 litros. A vazão da calha então resulta em 2809,20 L/mim.
tório, em litros.

Tabela 4: Precipitação média mensal de 2008 a 2017 – Manacapuru-AM.


Fonte: INMET, 2018

Abril a Junho de 2022 43


ARTIGO
TÉCNICO

Figura 2: Precipitação média mensal de 2008 a 2017 – Manacapuru-AM

4.2 PREVISÃO DE CONSUMO DE ÁGUA NÃO POTÁVEL NO 4.5 DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO PELO MÉTODO
NÚCLEO DE ENSINO SUPERIOR DE MANACAPURU-AM DE SIMULAÇÃO
A previsão do consumo de água não potável do Núcleo da UEA Os resultados do dimensionamento do reservatório pelo Método
foi calculada pela Equação 2, com uma demanda per capita por de Simulação constam na Tabela 7. Nota-se que em nove meses
dia de 77 litros, totalizando uma demanda mensal de 1544,26 (outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, março, abril,
litros/mês. maio e julho) o sistema conseguirá suprir a demanda de água para
fins não potáveis com um reservatório de 2000 litros, sendo ne-
4.3 VOLUME MÉDIO MENSAL GASTO NAS cessário utilizar 99,5 m3 de água do SAAE para os demais meses.
BACIAS SANITÁRIAS A demanda total a ser atendida, para esse caso, será de 80% ao
Baseado nos dados fornecidos, o consumo diário per capita é de longo do ano.
45 litros/dia/pessoas. Com um total de 205 pessoas que puxam
a descarga nos banheiros da Universidade, logo o consumo de 4.6 DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO PELO MÉTODO
água, para 20 dias letivos do mês, é de 184,5 m3/mês. PRÁTICO DO PROFESSOR AZEVEDO NETO
Pelo Método de Azevedo Neto, o volume de água do reservatório
4.4 DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO é de 21.237 litros ou 21,23m3, destacando-se a importância da
PELO MÉTODO DE RIPPL variável (T) que mostra o número de meses com pouca chuva, no
Os resultados do dimensionamento do reservatório pelo mé- caso em estudo é de 3 meses, bem como que os valores adotados
todo de Rippl constam na Tabela 6. O volume máximo do re- aleatoriamente pode resultar em reservatórios maiores do que o
servatório foi definido analisando o comportamento da coluna tamanho ideal.
7, cujo valor de pico (maior valor) é de 1435m3. Quando os
valores da coluna 6 são positivos, o nível de água do reserva- 4.7 ECONOMIA DO CONSUMO ÁGUA FORNECIDA
tório está baixando e isto está acontecendo durante todo o PELO SAAE
ano de 2013. Adotou-se, portanto, o volume do reservatório A economia anual na taxa de água, pelo volume captado de
de 2000m3, correspondentes a um suprimento de 69 dias de 1435m3, corresponde a 29.819,30 (R$/m3).
seca (3 meses). Salienta-se que geralmente o método de Rip-
pl fornece valores muito elevados para os reservatórios sendo
que na pratica o método mais usado é o da simulação, apre-
sentado a seguir, que se faz por tentativas.

44 Saneas
Tabela 6: Dimensionamento do reservatório pelo método de Rippl

Tabela 7: Dimensionamento do reservatório pelo do método da simulação

5. Conclusão de chuva, no Núcleo Superior de Ensino de Manacapuru, da Uni-


O incentivo e implantação de sistemas de aproveitamento de água versidade do Estado do Amazonas – UEA, pelos métodos previstos
de chuva é hoje uma questão fundamental para a gestão dos re- nas diretrizes NBR 15527/2007 foram satisfatórios. Com os dados
cursos hídricos. A implantação desses sistemas em prédios públi- pluviométricos de sete anos, de 04/2004 a 12/2017, no município
cos, além de reduzir custos econômicos na taxa cobrada pelas de Manacapuru, o volume ideal do reservatório, para atendimen-
concessionárias locais, tem a importância na educação ambiental to da demanda de água da chuva analisada, foi de 1435m³, cujo
e a sustentabilidade. A finalidade desse trabalho foi contribuir suprimento será de aproximadamente 80% do consumo de água,
com essa discussão. Destaca-se que os sistemas de águas pluviais não potável, na Universidade. Com a implantação desse sistema
poderão gerar um impacto positivo não só na Universidade, como a Universidade terá uma economia anual de 29.819,30 (R$/m3)
também, para o município de Manacapuru - AM. na taxa de água. Além das vantagens econômicas, a implantação
Os dimensionamentos do reservatório para a utilização da água deste sistema sustentável pode trazer vantagens ao meio ambien-

Abril a Junho de 2022 45


ARTIGO
TÉCNICO

te, visto que toda a água captada ajudará a minimizar a ocorrência


de enchentes, sem falar no consumo indevido de água tratada, a
qual possui um custo relativamente elevado. REFERÊNCIAS

6. Referências
1. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10844: Ins-

talações

prediais de águas pluviais. Rio de Janeiro, 1989. Acesso em: 01 mai. 2021.

2. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15527: Apro-

veitamento de

água de chuva em áreas urbanas para fins não potáveis. Rio de Janeiro, 2007.

Acesso em: 01 mai. 2021.

3. NASCIMENTO, J. R. S. Sistema de aproveitamento de águas pluviais em gran-

des superfícies e o seu impacto ambiental. 2014. 129f. Dissertação (Mestrado

em Engenharia Mecânica), Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto,

Porto, 2014. Acesso em: 15 mai. 2021

4. ROCHA, A.C.T.; DUARTE, N. de F. Avaliação do aproveitamento de águas

pluviais através de uma análise sistemática da literatura. ForScience: revista cien-

tífica do IFMG, Formiga, v. 5, n. 2, e00307, out. 2017. Edição especial. Acesso

em: 14 mai. 2021.

5. TOMAZ, PLÍNIO. Água pague menos: 4 atitudes básicas para economizar

água. Ed: Plínio Tomaz. Dezembro, 2009. Acesso em: 13 mai. 2021.

6. UNEP. Rainwater Harvesting and Utilisation. An Environmentally Sound Ap-

proach for Sustainable Urban Water Management: An Introductory Guide for

Decision-Makers. Disponível em: <http://www.unep.or.jp/ietc/publications/ur-

ban/urbanenv-2/index.asp>. Acesso em: 13 mai. 2021.

46 Saneas
PONTO DE
VIVÊNCIAS
VISTA

Américo Sampaio: um exemplo


de dedicação e engajamento
ao saneamento
Méco será sempre lembrado por amigos e colegas de trabalho como
uma fonte de inspiração, sobretudo com relação ao meio ambiente e ao
tema ‘Água’. Esta é a homenagem da AESabesp, em nome de todos os
associados, e o agradecimento por sua imensa contribuição ao setor de
saneamento no Brasil e à associação.


As águas são a epifania da Natureza”. Esta foi Em 29 de maio, a partida de Méco impactou a to-
uma das últimas frases deixadas por Américo dos que tiveram a oportunidade de conhecer o mes-
de Oliveira Sampaio, que integrava o grupo tre em Hidráulica e Saneamento, engenheiro, pai,
de concepção do Museu Água de São Paulo, da AE- avô, marido, amigo e grande referência no sanea-
Sabesp. mento no Brasil.

Abril a Junho de 2022 47


PONTO DE
VIVÊNCIAS
VISTA

Sonhador, criativo e inovador. Pesquisador, curioso e divertido.


Companheirão, um parceiro para toda a vida. Estas palavras se repe-

Poesia
tem quando a pergunta é “quem foi Américo de Oliveira?” e tradu-
zem a essência de Méco.
Além disso, o engenheiro sempre será lembrado pelos familiares,
colegas e amigos por sua dedicação e engajamento no setor. Princi-
No domingo pela manhã, bem cedo, Américo enviou uma
palmente com relação ao tema “Água”.
poesia sobre o tema “Água” para Daniela Vicedomini Coe-
Américo de Oliveira trabalhou por mais de 30 anos na Sabesp,
lho, da Base7, parceira no projeto do Museu Água junto ao onde atuou como gerente de departamento e superintendente de
Instituto Pedra. Confira a poesia: Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação. Ele também foi
coordenador de Saneamento na Secretaria de Saneamento e Recur-
sos Hídricos do Estado de São Paulo.
Desde o começo dos tempos águas e chão se amam.
Méco era coordenador do grupo de trabalho da curadoria do Mu-
Eles se entram amorosamente E se fecundam. Nascem
seu Água de São Paulo, uma iniciativa da Associação. Foi um dos
formas rudimentares de seres e de plantas Filhos dessa palestrantes no webinar “Museu Água: travessias e ancoragens”, rea-
fecundação. Nascem peixes para habitar os rios E nascem lizado no dia 27 de maio e que está disponível no canal da AESabesp
no YouTube.
pássaros para habitar as árvores. Águas ainda ajudam na
Assim, será impossível falar sobre o tema Água sem lembrar de
formação das conchas e dos caranguejos. As águas são a
todo o trabalho realizado por Américo, que inclusive havia criado um
epifania da Natureza. Agora penso nas águas do Pantanal
blog para compartilhar discussões relacionadas ao assunto, o Roda
Nos nossos rios infantis que ainda procuram declives para D´Água.

correr. Porque as águas deste lugar ainda são espraiadas A paixão do engenheiro pelo tema era tão grande que, em seu últi-
mo domingo, pela manhã bem cedo, enviou uma poesia para Daniela
para o alvoroço dos pássaros. Prezo os espraiados destas
Vicedomini Coelho, da Base7, parceira no projeto do Museu Água
águas com as suas beijadas garças. Nossos rios precisam
junto ao Instituto Pedra (leia ao lado)
de idade ainda para formar os seus barrancos para pousar

em seus leitos. Penso com humildade que fui convidado Memórias mantêm vivo o legado de Méco
para o banquete destas águas. Porque sou de bugre. Por- Cada familiar, colega e amigo de Américo de Oliveira traz consigo
uma lembrança carinhosa de um homem apaixonado pela natureza e
que sou de brejo. Acho que as águas iniciam os pássaros
pelo meio ambiente. Assim, o legado deixado por ele vai muito além
acho que as águas iniciam as árvores e os peixes E acho
do profissional.
que as águas iniciam os homens. Nos iniciam. E nos ali- Confira as homenagens deixadas ao eterno Méco:
mentam e nos dessedentam. Louvo esta fonte de todos

os seres, de todas as plantas, de todas as pedras. Louvo as Marilia Sampaio – esposa


Américo era muito ligado à natureza. Escolheu “Água” como tema da
natências do homem do Pantanal. Todos somos devedores
vida. Gostava muito de mata, pássaros, animais em geral, tinha um sítio
destas águas. Somos todos começos de brejos e de rãs. E a
justamente para curtir isso e passar isso para os filhos e netos. A gente
fala dos nossos vaqueiros carrega murmúrios destas águas. conviveu bastante em um sítio aqui perto junto com a família e amigos.
Parece que a fala de nossos vaqueiros tem consoantes lí- Ele era bastante sociável. Tinha amigos de vários tipos e de vários

quidas E carrega de umidez as suas palavras. Penso que os lugares. Muitas destas amizades ficaram sólidas.
Ele gostava muito de esportes, especialmente de futebol e era tor-
homens deste lugar são a continuação destas águas.
cedor fervoroso do Santos Futebol Clube. Tinha um casal de filhos e
um casal de netos. Foi um companheirão e parceiro total para mim
a vida toda.

48 Saneas
Iara Chao central, pesquisava avidamente novas abordagens, consultava e
“A vida do poeta tem um ritmo diferente, ela o conduz errante pelos agregava outros especialistas ao esforço de elaborar o plano curato-
caminhos, pisando a terra e olhando o céu. Preso eternamente preso rial da futura instituição, sempre de forma tranquila, bem-humorada
pelos extremos intangíveis”. (Vinicius de Moraes) e com muita poesia. Graças a ele conseguimos completar esta fase
O Américo engenheiro era assim, um criativo sonhador. Um so- inicial.
nhador de sonhos que se concretizavam. Se por um lado era muito Quando o sonho estiver realizado, deveremos ter em mente que
técnico e prático, por outro um sonhador. E vivia assim, caminhando foi Américo quem nos deu a sua base, sua pedra inaugural.
pelos extremos intangíveis. Em nosso último encontro virtual no webinar “Museu Água: Tra-
Era um engenheiro vessias e Ancoragens” realizado pela AESABESP, na sexta feira dia
de operação, chão de 27/05, Américo, em sua fala final, nos falava, sorridente, de sua
fábrica, mão na massa. imensa alegria e entusiasmo em fazer parte do projeto. Esta é a ima-
Era o gerente de depar- gem que guardaremos do Méco.
tamento das estações Expressamos nossos sinceros sentimentos aos familiares e amigos
de tratamento de es- e muita gratidão pela partilha que tivemos!
gotos quando entrei na
Sabesp em 1998, muito Cristina Zuffo
técnico e muito prático. Conheci o Américo em
Acompanhei a partida 2010, ano em que ele
das novas estações em estava estruturando a
1998 sobre sua coor- área de Pesquisa, De-
denação. Foi meu pri- senvolvimento Tecno-
meiro chefe e aprendi lógico e Inovação da
muito de operação de estações de tratamento de esgotos com ele. Sabesp. Ele era uma
Era também um engenheiro pesquisador, curioso, inovador, trazia pessoa visionária e
conhecimentos que via fora do Brasil ou em outros locais e os im- apaixonado pelo sanea-
plantava; foi assim por exemplo com os biofiltros (para remoção de mento. Não à toa lutou
odores que estão em operação hoje), viu lá fora e implantou aqui! muito para a implan-
E na área de pesquisa ele queria mais, sonhou com uma área es- tação da área de PD&I
pecífica de pesquisa para a Sabesp, e a formatou, e criou a TX que justamente visando
até hoje tem a estrutura idealizada por ele. novas soluções de excelência para o setor. Particularmente admiro
Foi ele também que resgatou a Revista DAE, o periódico de en- o Américo pela imparcialidade, profissionalismo, conhecimento téc-
genharia mais antigo do Brasil, criada em 1936 e que tinha saído nico e principalmente por seu lado humano e divertido. Espero que
de circulação em 1994 por motivos políticos. Foi lá, a resgatou, a ele esteja em paz, porque com certeza deixou um enorme legado
colocou novamente no circuito das revistas mais importantes do Bra- para sua família, amigos e para o engrandecimento do saneamento
sil na área de saneamento. Era um engenheiro sonhador, criativo no Brasil.
e inovador, ia pisando a terra e olhando o céu, eternamente preso
pelos extremos intangíveis... Marcelo Miki
Falar do Américo é falar do contraditório, em que começamos com
Arnaldo Spindel, diretor da Base7 um sentimento de vazio e tristeza decorrente do luto e em seguida,
Enorme tristeza pelo falecimento do Américo, amigo e parceiro de não há como evitar as lembranças dos momentos intensos de bom
trabalho na constituição do Museu Água. humor pelos quais passamos. Seu modus operandi era de um provo-
O museu, um sonho antigo de muitos membros sonhadores da cador de pensamento, que alterava a distorção do tempo e do espa-
AESABESP, começou a se tornar realidade a partir do trabalho de- ço, levando-nos a reflexão dos mais variados assuntos, alimentados
senvolvido por ele. Mesmo sendo um conhecedor profundo do tema pela leitura de livros, o amor ao rock’n’roll e a paixão pelo Sanea-

Abril a Junho de 2022 49


PONTO DE
VIVÊNCIAS
VISTA

mento, com desta- ção de amizade que somou a mim e a Marilia, esposa do Américo.
que ao Tratamento Soube da paixão do Américo pela história do saneamento e trou-
de Esgoto, da qual xemos ele cada vez mais próximo do projeto Museu Água. Fomos
pude aprender com morar em Santos e acabamos convencendo o Américo e a Marília a
ele a abordagem experimentar a vida lá.
operacional. Outro Nos últimos tempos, curtimos juntos os finais de semana na bar-
ensinamento valio- raca da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos, a convi-
so era alto senso vência com uma turma de iniciantes em Beach Tennis.
ético-moral de ho- A turma que o salvou das primeiras paradas cardíacas e o deixou
nestidade profissional que não se dobrava aos apelos dos jogos de sem sequelas para nos contar que ouviu que a missão dele não estava
poder. Enfim, uma figura que vai fazer muita falta, mas que com terminada. Fizemos uma homenagem para o Américo e “as salvadoras
certeza deixou um imenso legado ao setor de saneamento que de- mais corajosas” entregaram uma medalha e uma camiseta da turma.
manda cada vez mais do Poder do Pensamento. No dia que ele teve as paradas cardíacas pela primeira vez, a equi-
pe da parte cultural do Museu Água me pediu para marcar uma
Edison Airoldi reunião e apresentá-lo para o início dos trabalhos.
O saneamento perdeu Eu pedi: vamos aguardar o Américo, porque hoje ele sofreu 9 pa-
o Américo Sampaio, radas cardíacas, mas é muito importante a coordenação dele neste
um grande profissional projeto. Esperamos e na semana seguinte, sem sequelas, ele me li-
com relevantes serviços gou e pediu para marcar a reunião. Quase sem acreditar eu marquei
prestados, especialmen- e eles começaram o trabalho.
te na área de Pesquisa, A intensa atividade e a paixão pelo Museu Água aproximaram-nos
Desenvolvimento e Ino- tanto que em pouco tempo as novas amizades foram intensas. Na
vação. E eu, que tive o semana passada o trabalho fechou uma etapa.
privilégio do seu convívio ao longo da nossa carreira na Sabesp, um Combinamos um webinar para contar para as pessoas como es-
grande companheiro e amigo. Uma pessoa espontânea, descontra- tavam os trabalhos do Museu Água. Ele me disse várias vezes que
ída e de bem com a vida. Meus sentimentos de pesar aos familiares estava feliz com o trabalho. Ele fez um importante depoimento e se
e aos colegas. despediu de muitos amigos. Acho que a missão dele foi cumprida.
No domingo, da mesma forma que o evento anterior, ele teve
Viviana Borges uma nova parada cardíaca curtindo o Beach Tennis, com a mesma
Tive uma aproximação com o Américo num Congresso de João Pes- turma, na praia e nos deixou. Houve um tempo para preparar os
soa, em 2001. Muitos anos depois voltamos a nos aproximar, porque familiares, despedir dos amigos e deixar eternizada suas contribui-
ele e o Rodolfo, meu esposo, trabalharam juntos por alguns anos na ções para o saneamento. Nos faz muita falta sua amizade, mas está
Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos e mantiveram a rela- em nossos corações.

Entrevista Saneas Online e blog


Recentemente, o engenheiro concedeu uma entrevista para a Saneas Online falando sobre o impacto social do museu, o papel
do projeto na conscientização ambiental e um blog que havia criado para compartilhar discussões relacionadas ao setor de Sane-
amento (leia aqui).
Américo compartilhou diversos conteúdos no blog Roda D´Água.
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