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Investimentos e reequilíbrio econômico-financeiro
de contratos de infraestrutura
por Joelson Sampaio
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Opinião do Especialista: A Mulher de sucesso e seus
desafios no mundo corporativo
por Juliana Brito
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Impacto dos avanços tecnológicos na participação social
e no bem-estar dos jovens: um alerta a partir da ciência
por Vilma Slomski, João Victor Oliveira e Daís Silva
Instituto de Finanças FECAP Revista Finanças FECAP
Reitor
Editor-chefe
Edison Simoni da Silva
Ahmed Sameer El Khatib (IFF)
Vice-Reitor
Editor-executivo:
Taiguara de Freitas Langrafe
Allan Silva de Carvalho (IFF)
Pró-Reitor de Extensão e Desenvolvimento
Conselho editorial:
Wanderley Carneiro
Edison Simoni Da Silva, Alexandre Sanches Garcia e
Coordenador do Instituto de Finanças FECAP (IFF)
Wanderley Carneiro
Ahmed Sameer El Khatib
Apoio técnico:
Coordenadora do Núcleo de Estudos de Conjuntura
Dayane Ramos de Souza
Econômica da FECAP (NECON)
Capa e projeto gráfico:
Nadja Nara Lima Heiderich
Bruna Leal Ramos, Rafael de Cerqueira Lima e Rogério
Coordenador do Índice FECAP de Expectativa nos
Rocha Azevedo
Negócios (IFECAP) e do Departamento de Pesquisas da
Economia do Crime (DEPEC) Revisão:
Tiago Nascimento Borges Slavov Daís Rodrigues da Silva, Edna Yayoi Hirakawa Goto,
Edson Ricardo Barbero, Ivam Ricardo Peleias, João Victor
Outros membros permanentes do IFF
Alves de Oliveira, Joelson Oliveira Úbida Sampaio, Juliana
Allan Silva de Carvalho - Coordenador administrativo do Brito e Vilma Geni Slomski
Núcleo de Estudos de Conjuntura Econômica da FECAP
Contato:
(NECON) e editor-executivo da Revista Finanças FECAP.
Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio
Eduardo Bruno do Nascimento – Líder de atendimento do
Álvares Penteado, Centro Universitário FECAP, São Paulo -
NAF FECAP/SEBRAE
SP, Brasil
Victor Rocha Saraiva – Líder de atendimento do NAF
Avenida da Liberdade, 532 – Liberdade, São Paulo – SP,
FECAP
01502-001
Telefone: +55 11 3272-4232
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A Finanças FECAP é uma revista semestral idealizada e
produzida pela equipe do Instituto de Finanças, desde
maio de 2018. As opiniões emitidas nos artigos assinados
pelos especialistas convidados, não refletem a opinião do
departamento do Instituto de Finanças FECAP, pertencente
da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado.
Boa Leitura,
Dois atratores importantes para Estamos em um período de Cold Nesse contexto, podemos estar em
investimentos privados em infraestru- Market para investimentos em um ambiente menos favorável (cold
tura são o ambiente regulatório e as infraestrutura? market) para os projetos de infraes-
condições macroeconômicas do país. trutura. O cenário de alta inflação fez
Nesse contexto, o ano de 2022 apre- No mercado de capitais, os termos com que o Banco Central passasse a
sentou um cenário mais desafiador cold e hot market são bastante utili- aumentar a taxa de juros como instru-
para os investidores no Brasil. Além zados no segmento de IPOs (initial mento de política monetária. Como
dos juros mais altos, há um ambiente public offering). resultado, uma taxa Selic maior implica
de incerteza maior quanto ao cenário um custo de oportunidade do capital
econômico de 2023. Esse cenário traz O termo hot IPO refere-se a maior para os projetos de infraestru-
significativos desafios para os investi- uma oferta pública inicial com alta tura. Além da alta do custo de capital,
mentos em infraestrutura, dado que os demanda. Esses IPOs são populares, há também uma migração de parte dos
recursos são escassos. atraindo um enorme interesse de inves- recursos das instituições financeiras que
tidores e da mídia especializada antes seriam alocados para investimentos em
Do financiamento existente, uma mesmo de chegarem ao mercado. Essa infraestrutura e agora vão para outros
pequena parte vem do orçamento atenção geralmente impacta positiva- ativos de renda fixa que oferecem uma
público que tem sido cada vez mais mente os preços das ações depois que relação mais atrativa de risco e retorno.
limitado; a segunda maior fonte é o a empresa abre o capital. Já cold IPO é
setor privado que depende das condi- um período marcado por poucas aber- Algo que traz confusão nessa
ções macroeconômicas e institucionais turas de capital e também por IPOs análise é que um projeto com viabili-
do país e os recursos restantes vêm de com retornos mais baixos. Fazendo dade econômico-financeira não neces-
outros fundos multilaterais. Dadas as um paralelo com os projetos de infra- sariamente garante um processo licita-
demandas cada vez maiores do orça- estrutura, em hot market, os projetos tório de sucesso. Isso porque, para que
mento público para outras finalidades, têm maior demanda e, consequen- o certame seja bem-sucedido, além da
os investimentos em infraestrutura temente, maiores ágios ou deságios, viabilidade econômico-financeira do
dependerão cada vez mais de parce- o que pode beneficiar a população projeto, o ambiente econômico precisa
rias e investimentos do setor privado. que utilizará aquela infraestrutura com ser favorável e atrativo para os inves-
menores tarifas, por exemplo. Por outro tidores. Sendo assim, um projeto com
Considerando o atual cenário de lado, em um período de cold market, boa atratividade econômico-financeira
juros do Brasil e as incertezas polí- a menor procura por parte dos inves- pode não ser viabilizado por falta
ticas, podemos dizer que estamos tidores pode inviabilizar o desenvolvi- de investidores.
em um período de cold market mento de alguns projetos ou diminuir os
benefícios esperados por conta de uma O sucesso no certame de um
para infraestrutura?
menor concorrência no processo licitatório. projeto de infraestrutura depende
joelsonssp@gmail.com
O Capitalismo de Stakeholders Como será debatido neste breve transparente; (ii) recompensar colabo-
(CS) é uma concepção de gestão ensaio, essa abordagem deixa pouco radores de modo justo, possibilitando
empresarial pela qual as empresas espaço para análise ética e humana- a eles - e elas - trabalho com signifi-
mente mais completa das decisões cado, qualidade de vida e ambiente
são direcionadas a servir coordena- empresariais. Além disso, é também de trabalho inclusivo; (iii) relacio-
damente a todos os seus públicos, não simplista no que tange à natureza multi- nar-se eticamente com fornecedores,
apenas a seus acionistas. Stakeholders facetada dos seres humanos e, com tratando-os preferencialmente como
são as partes interessadas que simul- frequência, enfoca-se demasiada- parceiros; (iv) apoiar as comunidades
taneamente afetam e são afetadas mente mais na captura do valor criado locais, preservando o meio natural,
por uma empresa – o retorno aos atuando legalmente e impactando
por uma firma1 , investindo recursos e acionistas – do que em sua criação, positivamente a sociedade; e (v) gerar
incorrendo em riscos2 . isto é, nos mecanismos inovadores valor de longo prazo a acionistas,
e colaborativos que podem gerar preservando transparência e criando
As narrativas tradicionais do capi- maior conforto material e vida plena riquezas que atraiam novos investi-
às pessoas envolvidas na empresa e à mentos. Neste sentido, a satisfação de
talismo centralizam-se na noção de sociedade como um todo.
que as empresas são de propriedade stakeholders – incluindo shareholders
- representam a finalidade de uma
exclusiva de seus acionistas, que as Segundo a perspectiva do
Capitalismo de Stakeholders, o empresa, não somente o meio para
pessoas em geral são intrinsicamente o aumento da riqueza de (frequente-
racionais e individualistas e que os anseio último de uma empresa deve
ser, concomitantemente, atingir mente poucos) acionistas.
retornos ao capital investido são o objetivos tais como: (i) exceder as
mais relevante – por vezes o único – expectativas dos clientes com comu- O tema Capitalismo de Stakeholders
anseio final de uma empresa. nicação e processo comercial ético e ganhou tração nos últimos anos, mais
1
Freeman, R. E.. (1984). Strategic management: A stakeholder approach. Marshfield, MA: Pitman.
2
Blair, Margaret M.; Stout, Lynn A.. (2001). Corporate accountability: director accountability and the mediating role of the corporate
board. Washington Law Review, v.79, n 2, p.403- 447
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Business Roundtable (2019). Statement on the purpose of the corporation. Extraído de https://opportunity.businessroundtable.org/
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4
Fink, L.. (2018). Purpose and profit. Retirado de https://www.blackrock.com/corporate/investor-relations/larryfink-ceo-letter
5
Schwab, K& Vanham, P.. (2022). Stakeholder Capitalism: A global Economy that works for progress, people and planet – Wiley
6
Jensen, M., & Meckling, W.. (1976). Theory of the firm: Managerial behavior, agency costs and capital structure. Journal of Financial
Economics, 3: 305-360
7
Wiseman, Robert M.; Cuevas‐Rodríguez, Gloria; Gomez‐Mejia, Luis R.. (2012) Towards a social theory of agency. Journal of
Management Studies, v. 49, n. 1, p. 202-222
8
Blair, M. M.. (1998). For Whom Should Corporations be run? An economic rationale for Stakeholder Management Longe Range
Planning, v. 31
9
Friedman, M.. (1970). The social responsibility of business is to increase its profits. New York Times Magazine, v 13
Harrison, Jeffrey & Phillips, Robert & Freeman, R.. (2019). On the 2019 Business Roundtable “Statement on the Purpose of a
10
15
Freeman, R. E.. (1994). ‘The Politics of Stakeholder Theory’, Business Ethics Quarterly 4(4), 409–422
Schwartz, S. H.. (1992). Universals in the content and structure of values: Theoretical advances and empirical tests in 20 countries.
16
Concepção de ser humano Colaboradores são vistos como Humanos são complexos e
meio de produção e são racionais buscam uma ampla variedade de
e utilitaristas objetivos
Clientes são ... Essencialmente entendidos Parceiros para Cocriação e
fonte de receita busca-se satisfação perene
“Eu realmente acredito fortemente que o capitalismo como o conhecemos está morto... que vamos ver um novo tipo de
capitalismo e esse novo tipo de capitalismo que vai emergir não é o capitalismo de Milton Friedman ...”
20
Heracleous, Loizos; Lan, Luh Luh.. (2012). Agency Theory, Institutional Sensitivity, and Inductive Reasoning: Towards a Legal Perspective.
Journal of Management Studies, v.49, n.1, p. 223-239
21
Handy, C.. (1992). Balancing Corporate Power: a new federalist paper Harvard Business Review, p. 59-67
22
Freeman, R.E., & Philips, R.. (2002). Stakeholder Theory: A Libertarian Defense. Business Ethics Quarterly, 3(12), 331–350
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Henisz, W. J., Dorobantu, S., & Nartey, L. J.. (2014). Spinning gold: The financial returns to stakeholder engagement. Strategic
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Hillman, A. J., & Keim, G. D.. (2001). Shareholder value, stakeholder management, and social issues: What’s the bottom line? Strategic
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Sisodia, R., Wolfe, D. B., & Sheth, J.. (2007). Firms of endearment: How world-class companies profit from passion and purpose.
Upper Saddle River, NJ: Wharton School.
v.5 n.10 2022 17
O Capitalismo de Stakeholders é ideológicos, desigualdade desco- Sobre o autor
um modelo de gestão em que a cria- munal, adoecimento mental, etc. Tais
ção de valor é voltada para todos os circunstâncias nos convoca a estu-
públicos. Muito além das transações, dar cuidadosamente e compreender
visa-se ao relacionamento de longo o capitalismo, em seus benefícios e
prazo e, em especial, entendem os malefícios.
stakeholders não apenas como meios
de produção e instrumentos para a Vale, contudo, importante alerta. A
riqueza de acionistas, mas a finali- declaração dos executivos do Business
dade da organização. Os stakehol- Roundtable e inúmeras outras mani-
ders têm valor intrínseco. Observando festações servem como um admirável
o contexto da discussão através de um sinal de que a maré do capitalismo
arco histórico mais delongado, é pos- mudou, substituindo a primazia exclu-
Edson Ricardo Barbero
sível afirmar que vivemos, atualmente, siva dos acionistas por um propósito
em uma era com forte preponderância Professor do Programa de Mestrado
multifacetado, mais humanizado e
dos mercados e do consumo. Profissional da Fundação Escola de
condizente com a realidade humana.
Comércio Álvares Penteado, na qual
também ocupa posição no Conselho
Contudo, muito embora tais merca- Apesar disso, a ascensão do tema de Curadores. É Doutor e Mestre em
dos existam há centenas de anos, ape- CS tem carregado consigo, desafor- Administração pela Universidade de
nas mais recentemente testemunhamos tunadamente, muitas ilusões. Muitas São Paulo.
seu papel em organizar a sociedade empresas estão ainda considerando
em nível global. Nos últimos 200 anos, os temas ESG e Capitalismo de
os mercados desencadearam expres- ebarbero@fecap.br
Stakeholders como mais uma onda a
siva quantidade de inovação e de ser surfada. Aqui, vale o aviso socrá-
progresso, notadamente no ocidente tico “mais que parecer, é preciso ser”.
e nos países mais desenvolvidos. A Temos um longo – e necessário –
Revolução Industrial, a centralidade caminho pela frente.
do consumo, as diversas tecnologias,
entre outros fatores, melhoraram a vida
de milhões de pessoas; muitos de nós
experimentam, hoje, níveis de conforto
material que nossos antepassados tal-
vez nem sonhassem.
A MULHER DE
SUCESSO E SEUS
DESAFIOS NO
MUNDO
CORPORATIVO
por Juliana Brito
O mundo está em constante trans- contas à sociedade. As empresas se Social and Governance), confirmando
formação, com mudanças sobre- tornam mais atrativas quando demons- uma necessidade urgente de relató-
tudo nos últimos anos em função da tram essas preocupações e isso tem rios globais de sustentabilidade. Após
evolução tecnológica e, mais recen- mudado as práticas do mercado. análise do Draft de Exposição, em
temente, pelos efeitos significativos da Segundo recente estudo, uma em novembro de 2021, os curadores da
pandemia, atingindo as organizações cada cinco pessoas se afastam das Fundação IFRS anunciaram a criação
e exigindo reações rápidas nos negó- empresas quando envolvidas em de um novo conselho para a defi-
cios e nas operações de forma geral. desastres ambientais, trabalho escravo nição de padrões - o International
e a falta de diálogo com a sociedade, Sustainability Standards Board (ISSB),
Nesse ambiente dinâmico e sinalizando a importância dessas objetivando definir uma linha de base
complexo, as companhias cada vez questões. global abrangente de sustentabili-
mais têm demonstrado preocupações dade com padrões de divulgação que
quanto à transparência e ética de Ressalta-se que as iniciativas com forneçam aos investidores e stakehol-
suas práticas empresariais, a fim de se relação à transparência em termos ders do mercado informações sobre
manterem competitivas para atender financeiros e sustentabilidade não as empresas quanto aos riscos e opor-
todas as partes interessadas e não começou agora. Já por volta de 1840, tunidades relacionados à sustentabi-
somente os acionistas e investidores. com a contabilidade do mundo cien- lidade e requisitos relacionados ao
tífico e a constante evolução atrelada clima, para ajudá-los na tomada de
É nitidamente perceptível a à imprescindível atuação da Fundação decisões.
mudança de hábitos na era digital, IFRS (International Financial Standards
com a facilidade do acesso às infor- Reports), criada em 2000, teve como O termo ESG foi lançado em 2004
mações, a forma no relacionamento fundamental propósito o processo de pelo Pacto Global, que faz parte da
das pessoas e no consumo dos uniformização e harmonização dos Organização das Nações Unidas
produtos, entre outros fatores, poten- procedimentos contábeis entre os (ONU), em parceria com o Banco
cializaram o nível de exigência e criti- mais de 100 países, que já utilizam o Mundial, com o objetivo de engajar as
cidade dos consumidores em termos padrão IFRS. empresas e organizações na adoção
de transparência, sustentabilidade, de princípios nas áreas de direitos
aspectos sociais, ética e governança E, em continuidade a esse humanos, trabalho, meio ambiente e
corporativa das empresas que atuam processo, a IFRS anuncia um novo anticorrupção.
no mercado através da prestação de padrão de relato ESG (Environmetal,
B3 9.248.244 4.717.089
No ano de 2021 ainda houve empresas. Nota-se que das empresas saneamento básico, geração e trans-
reflexos do segundo ano da pandemia ganhadoras somente duas apresen- missão de energia, que apresentaram
da Covid-19, entretanto para a taram resultados negativos, ressal- lucros significativos.
maioria foi um ano de recuperação das tando a performance das empresas de
Introdução Porém, nem sempre é o que ocorre Há material legal, técnico e aca-
nas micro, pequenas e médias empre- dêmico produzido no Brasil sobre
Artigo do Prof. Stephen Carles sas, cuja importância e representativi- Contabilidade para micro, pequenas
Kanitz, publicado nos anos 1990 em dade em termos econômicos, de gera- e médias empresas. Uma análise lon-
revista nacional de grande circulação ção de empregos, de renda e outros gitudinal não exaustiva sobre o tema,
e disponível em seu blog, analisou a fatores relevantes pode ser aquilatada a partir do marco temporal definido, o
corrupção em nosso País e foi encer- nas pesquisas divulgadas por IPEA, início dos anos 2000, pode contribuir
rado com a frase “Portanto, o Brasil SEBRAE e IBGE. Essas, por conta de para reduzir essa lacuna ainda sentida
não é um país corrupto. É apenas algumas razões aqui analisadas, nem em nosso País, mitigando os riscos,
um país pouco auditado”. Esse artigo sempre têm e/ou mantêm processos a fragilidade na manutenção e/ou
analisou a corrupção, seu tema cen- de registro e controle contábil em boa ausência de bons processos de regis-
tral, tratou da importância e comparou ordem. Essa condição, que pode ser tro e controle contábil nessas empre-
a quantidade de auditores per capita mais bem estudada para identificar sas, que são impostos à sociedade.
em países como Dinamarca, Holanda e entender melhor as razões de sua
e Brasil. ocorrência, traz malefícios e prejuí- O que se tem a partir dos
zos às empresas nessas condições, anos 2000
aos seus stakeholders e à sociedade
Não analisarei esse artigo. Mas é
em geral. A exigência de as empresas terem
fato notório24 que a existência e manu-
e manterem processos de registro e
tenção (nem sempre) em boa ordem
Em função do exposto, este artigo controle contábil no Brasil está defi-
dos processos de registro e controle
pretende identificar e analisar o que nida em lei. O capítulo IV do Código
contábil é requisito para o auditor
se produziu e o que há disponível no Civil (Lei Nº 10.406, de 10 de janeiro
independente aplicar procedimen-
Brasil, a partir dos anos 2000, para de 2002) define as condições para
tos de auditoria e emitir uma opinião
que as micro, pequenas e médias que empresários e sociedades empre-
sobre as demonstrações contábeis. A
empresas tenham e mantenham seus sárias implementem e mantenham
atividade de auditoria independente,
processos de registro e controle contá- processos de registro e controle con-
privativa de contadores, é obrigatória
bil, alguns malefícios e prejuízos dessa tábil. Seu artigo 1179 define a obri-
nas empresas de capital aberto com
ausência parcial ou total e os benefí- gatoriedade de adoção de sistemas
ações em Bolsa de Valores, nas de
cios de sua adoção. contábeis por empresários e socie-
atividades reguladas e em empresas
dades empresárias, com base na
e grupos econômicos de certo porte
escrituração uniforme de seus livros
econômico e representatividade.
24
Art. 374 do CPC. Não dependem de prova os fatos: I – notórios.
25
O art. 1179 do Código Civil fala de “sistemas de contabilidade” e de “balanço patrimonial e de resultado econômico”.
26
Outra revolução foi a promulgação da Lei nº 6404/1976, a “Lei das Sociedades Anônimas” e suas alterações posteriores, com
significativas mudanças de caráter regulatório, societário, prático, profissional e educacional na Contabilidade Brasileira.
27
Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=79>. Acesso em 02
mai. 2022.
30 Revista do Instituto de Finanças FECAP
as quais os livros comerciais provam reconhecimento de sua conexão com Impactos da Pandemia;
a favor ou contra seus autores e as a Educação Contábil.
condições de indivisibilidade que 8. Educação Financeira e Finanças
esses artefatos contábeis possuem A desejada e necessária cone- Comportamentais;
como prova em juízo. Esses artigos do xão entre a Educação Contábil e a
Código de Processo Civil mantiveram Financeira pode trazer contribuições 9. Educação Financeira, Educação
os comandos da versão anterior, a Lei substanciais, com iniciativas como a do Fiscal e Cooperativismo;
nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e Conselho Federal de Contabilidade,
suas alterações. ao realizar a chamada de trabalhos
10. Políticas Públicas em Educação
para uma edição especial da Revista
Financeira.
A Resolução CGSN Nº 140, de Brasileira de Contabilidade31. Essa cha-
22 de maio de 2018, manteve, em seu mada destaca que o uso (presume-se
artigo Art. 71, as determinações conti- que conjunto) da Educação Contábil, A iniciativa é louvável; porém, fica
das na Resolução CGSN nº 28/2008, das Finanças Comportamentais, a indagação: por que essa chamada
ao disciplinar que as microempresas Pessoais e da Educação Fiscal da ocorreu só agora e não antes? Uma
ou empresas de pequeno porte optan- população, compartilhando experi- explicação pode residir na asser-
tes pelo Simples Nacional poderão, ências e boas práticas, ajuda a redu- tiva do Prof. Sérgio de Iudícibus32 de
opcionalmente, adotar contabilidade zir o endividamento, a inadimplência que a Contabilidade, como ciência
simplificada para os registro e controle e a aplicação de políticas públicas social, responde às demandas que a
de suas operações realizadas, res- para auxiliar os brasileiros e servir de Sociedade lhe impõe:
peitando as disposições previstas no modelo para outros países.
Código Civil e nas Normas Brasileiras Em termos de entendimento
de Contabilidade editadas pelo Essa chamada convoca (sem se da evolução histórica da dis-
Conselho Federal de Contabilidade. limitar) à submissão de trabalhos, pre- ciplina, é importante reconhe-
ferencialmente por análise empírica, cer que raramente o “estado
Não se pode deixar de fora a de dez temas: da arte” se adianta muito em
Educação Financeira, que a cada relação ao grau de desenvol-
dia ganha corpo e importância no vimento econômico, institucio-
1.Educação Financeira e Alfabe -
processo de formação e educação nal e social das sociedades
tização Financeira;
continuada do cidadão brasileira. analisadas, em cada época. O
Há ações estratégicas governamen- grau de desenvolvimento das
2. Educação Financeira e Finanças teorias contábeis e suas práti-
tais para tornar e manter a Educação
Pessoais; cas está diretamente associado,
Financeira como uma política de
Estado, de caráter permanente, na maioria das vezes, ao grau
envolvendo instituições públicas e 3. Educação Financeira e Consumo de desenvolvimento comercial,
privadas, de âmbito federal, estadual Consciente; social e institucional das socie-
e municipa29. Essas ações abrangem dades, cidades ou nações
o ensino do nível básico ao superior 4. Educação Financeira e Mercado
da educação formal e, em espe- Financeiro; Do ponto de vista da pesquisa con-
cial, algumas escolas de negócios30. tábil, houve uma evolução desde o
Noções de receitas, despesas, resul- 5. Educação Financeira e as fim dos anos 1990 e início dos anos
tado e patrimônio podem e devem Organizações; 2000, marco temporal da passagem
ser transmitidas aos estudantes em do modelo da pesquisa contábil brasi-
geral, desde o nível inicial e ao longo leira de caráter normativo para a pes-
6. Educação Financeira e a Lei do
da educação formal e continuada da quisa predominantemente positiva. A
Superendividado;
população. Reconhecer e debater partir daí, foram implementados mais
a Educação Financeira passa pelo Programas de Pós-graduação Stricto
7. Educação Financeira e os
28
Martins, E. Novos padrões contábeis para microentidades e pequenas empresas: Desafios iniciais do mundo real. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=WxkoiaUSnPY\>. Acesso em: 02 mai. 2022.
29
Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/pre/pef/PORT/enef.asp?frame=1>. Acesso em: 09 mai. 2022.
30
Aqui há uma ótima oportunidade de pesquisa, para identificar e analisar se e em que medida escolas de todos os níveis têm
implementado ações, conteúdos e práticas de ensino sobre Educação Financeira em seus projetos pedagógicos e Curricula
31
A chamada para submissão dos papers está no link <https://cfc.org.br/noticias/revista-brasileira-de-contabilidade-divulga-
chamada-de-trabalhos-sobre-educacao-financeira-e-a-contabilidade/>.
32
Iudícibus, S. Teoria de Contabilidade; colaborador Ricardo Pereira Rios – 12ª ed. Atualizada. São Paulo: Atlas, 2021pg. 14.
33
Frezatti, F. Discurso de abertura do I Congresso Anpcont, realizado em Gramado-RS, 2007.
34
Disponível em: <https://www.anpcont.org.br/programas-associados/>. Acesso em: 09 mai. 2022.
35
A lei nº 13.129, de 26 de maio de 2015, alterou a Lei nº 9307, de 23 de novembro de 1996, que instituiu a Arbitragem no Brasil.
36
Ribas Secco, A. Percepção dos árbitros sobre os atores periciais contábeis em arbitragem à luz da teoria dos papéis. 2019. 297 f.
Dissertação (Programa de Mestrado em Ciências Contábeis) - Centro Universitário Álvares Penteado, Fundação Escola de Comércio
Álvares Penteado, São Paulo, 2019. Disponível em: http://pergamum.fecap.br/biblioteca/pesquisa_avancada.php#ponto_
referencia. Acesso em 28 abr. 2022.
CONSELHO FEDERAL DE
CONTABILIDADE.Resoluçãonº1330/2011.
Aprova a ITG 2000 – Escrituração contá-
bil. Disponivel em: <https://www2.cfc.org.
br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codi-
go=2011/001330&arquivo=Res_1330.
doc>. Acesso em 28 abr. 2022. Ivam Ricardo Peleias
Os países avançam na digitaliza- são ainda mais escassas as pesquisas e demandam produtos dos setores
ção e a economia mundial se torna com foco na mensuração do nível de de desenvolvimento tecnológico, for-
cada vez mais informatizada e com- dependência tecnológica dos jovens mando elos entre as cadeias produ-
petitiva. Juntamente com o sucesso e como isso impacta a vida deles. tivas. (New York Times, 2022). Isso
contínuo da “inteligência coletiva” de demonstra o quanto a interação inter-
fornecer plataforma digital colabora- Até que ponto as tecnologias pessoal pode ficar ainda mais redu-
tiva, alguns efeitos adversos do uso podem afetar a saúde física e zida, caso não se tenha a real dimen-
da tecnologia vêm sendo conscien- mental dos jovens? A tecno- são dos impactos do universo virtual.
temente negligenciado. São raros os logia está prejudicando os
dados estatísticos que informem sobre adolescentes?
O emprego de dispositivos digitais
os efeitos do uso da internet por mais para funções bancárias também tem
tempo, especialmente o fato de que o Estar “plugado” na internet inter-
aumentado entre diferentes faixas etá-
uso excessivo pode viciar ainda mais fere na participação social e no
rias de usuários. A maioria dos jovens
as pessoas nos dispositivos digitais. bem-estar das pessoas. Quanto mais
usa as funções digitais para transa-
O site do Jornal Português Poligráfo tempo os jovens fazem uso das mídias
ções bancárias e cada vez mais evita
(2019) destaca que Albert Einstein já digitais, menos se comunicam com
visitar as agências e interagir regu-
previa os malefícios da tecnologia, os familiares e isso diminui o conví-
larmente com funcionários e gerentes
caso a sociedade não soubesse usá-la vio social. Além disso, adolescentes
de banco (Bansal, 2019). Pesquisas
a seu favor. socialmente isolados são mais pro-
(Lemola, Perkinson-Gloor, Brand,
pensos a usar a Internet. Essa reali-
Dewald-Kaufmann & Grob, 2015;
dade tende a se intensificar mediante
Infelizmente ainda sentimos falta Ducharme, 2017; Asam, Samara &
novas ambições tecnológicas, como
de mais pesquisas acadêmicas que Terry, 2019; Fernandez, & Kuss, 2019)
a nova plataforma virtual “meta-
se debrucem sobre o assunto, sendo ressaltam que o acesso rápido e fácil
verso”, que, dentre as possibilidades
raros os trabalhos que procuram des- às informações, se não gerenciado,
de negócios, movimentará em grande
cobrir o nível de vício digital das pes- pode interferir na saúde mental e no
escala os mercados de criptomoedas
soas, especialmente, de dependên- desempenho dos estudantes dos dife-
e NFT’s.
cia tecnológica da juventude e seus rentes níveis de ensino.
impactos na saúde mental, interação e
Esses espaços virtuais, além de
bem-estar social. Em países em desen- Com a acessibilidade e facilidade
entretenimento, oferecem empregos
volvimento, como é o caso do Brasil, de uso da internet, outros fenômenos
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Sobre os autores Inovações Tecnológicas.
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