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Walter Franco Lopes da Silva

Planejamento Financeiro e Orçamentário


Planejamento
Walter Franco Lopes da Silva Financeiro e
Orçamentário
Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6491-5

58653 9 788538 764915

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6491-5

58653 9 788538 764915


Planejamento financeiro
e orçamentário

Walter Franco Lopes da Silva

IESDE
2019
© 2019 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos
direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Phongphan/iStockphoto

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S584p
Silva, Walter Franco Lopes da
Planejamento financeiro e orçamentário / Walter Franco Lopes da Silva. - 1. ed. -
Curitiba [PR] : IESDE, 2019.
94 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6491-5
1. Administração financeira. 2. Empresas - Finanças. 3. Controle financeiro. I.
Título.
CDD: 658.15
19-59057
CDU: 658.15

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Walter Franco Lopes da Silva
Mestre em Economia Latino-Americana pela University of London e em Filosofia Política
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Especialista em Economia de
Empresas e graduado em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas
de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP). Professor nos cursos de graduação e pós-
-graduação em Economia e Administração. Pesquisador da University of St Andrews e da St Mary’s
College. Possui destacada atuação como profissional do mercado financeiro e de capitais.
Sumário

Apresentação 7

1 A gestão corporativa moderna 9


1.1 Gestão financeira moderna: análise e perspectiva histórica 9
1.2 Evolução, tendências e importância da gestão financeira no século XXI 12

2 Objetivos e desafios do administrador no século XXI 19


2.1 Medindo objetivos e metas das empresas 19
2.2 Papel do gestor financeiro 22
2.3 Gestão financeira baseada em valor 25

3 A tomada de decisões de investimento e financiamento 29


3.1 Tomada de decisão: investimento e financiamento 29
3.2 Economia nacional e seu impacto nos negócios das empresas 32

4 O planejamento de caixa e seus fundamentos 37


4.1 Análise do fluxo de caixa da empresa 37
4.2 Planejamento, apresentação e elaboração dos tipos de fluxos de caixa 41

5 A administração do capital de giro e análise risco/retorno do negócio 49


5.1 Conceito e administração do capital de giro 49
5.2 Análise de risco, retorno do negócio e financiamento do capital de giro 55

6 A estrutura das demonstrações contábeis 59


6.1 Uma visão das demonstrações contábeis 59
6.2 Estrutura e análise dos resultados 65

7 Planejamento financeiro, orçamentos e investimento empresarial 75


7.1 O planejamento e o desenvolvimento de uma cultura de orçamentos na
organização 75
7.2 O orçamento da empresa e a questão do investimento inicial 78

Gabarito 87
Apresentação

Buscamos, neste livro, tratar do tema planejamento financeiro e orçamentário tendo


como ponto de partida a sua importância para uma eficiente e eficaz administração do dia a
dia das empresas. Nosso objetivo primordial é compreender as mais recentes tendências do
conceito de finanças corporativas e sua evolução como ferramenta de gestão voltada à geração
de valor aos acionistas.

Fazendo uma análise teórica combinada com exemplos práticos, refletiremos sobre
a importância de o gestor financeiro se manter alinhado à realidade econômica do país,
compreendendo a forma como as variáveis da economia e do mercado impactam o desempenho
organizacional.

Ao estudarmos o conceito de administração financeira com foco na geração de valor aos


acionistas, trazemos para o nosso debate as mais novas responsabilidades e funções hoje exigidas
dos gestores financeiros das companhias. Essas responsabilidades devem também se somar a
uma série de outras variáveis que, direta e indiretamente, produzem alterações nos resultados do
negócio. Assim, discutiremos a tomada de decisões de investimento e financiamento de curto,
médio e longo prazos, além das questões culturais, ambientais e sociais cuja relevância vem
ganhando espaço no trabalho diário dos administradores.

Por fim, aprofundaremos nossa análise estudando o capital de giro, os custos e a viabilidade
dos investimentos e financiamentos pensando sempre no trabalho de administração do caixa e no
equilíbrio financeiro do negócio no longo prazo. Como toda obra de planejamento financeiro e
orçamentário exige que os números reportados sejam precisos e confiáveis, concluiremos nossos
estudos com uma breve análise das demonstrações contábeis, parte essencial do acompanhamento
do desempenho econômico-financeiro e gerencial do negócio.

Bons estudos!
1
A gestão corporativa moderna

A contabilidade é fonte de diversas informações essenciais para o entendimento, a gestão e o


planejamento do negócio aos públicos interno e externo de uma empresa. Com base nas informações
de caráter quantitativo, é possível avaliar a situação estática do negócio em um momento específico,
além das tendências e do desenvolvimento das atividades realizadas ao longo do tempo. Assim, e
com base nas informações disponibilizadas pela contabilidade, torna-se possível observar e avaliar
o comportamento do negócio por meio da comparação (gerencial) dos resultados atuais com os
números previamente publicados.
Portanto, nesta obra estudaremos o resultado de alguns trabalhos desenvolvidos pelos
departamentos de contabilidade e de finanças das empresas, áreas que objetivam oferecer
detalhadamente a gestores, acionistas e público externo informações econômico-financeiras
voltadas à geração de valor do negócio. Tal processo gerencial de análise de desempenho do negócio
possibilita constante gestão do valor efetivamente gerado por sua atividade-fim, tornando-se
também base para um trabalho ainda mais complexo de planejamento financeiro e orçamentário.
Neste capítulo, são apresentadas as definições e os objetivos da gestão financeira moderna
voltada à administração do valor e à evolução das companhias na atualidade. Deve-se lembrar que
o trabalho de mensuração, comparação e entendimento dos números (diante do planejamento
orçamentário previamente executado) aproxima a contabilidade da gestão financeira e do
planejamento estratégico, além de possibilitar a expansão do número de usuários das informações
contábeis produzidas.
Tal processo de democratização e publicação das informações econômico-financeiras da
empresa não é apenas um importante aliado do mercado financeiro e do público em geral no
entendimento do desempenho da companhia, mas um valioso instrumento para o gestor (interno)
no momento de planejar e decidir investimentos em curto, médio e longo prazos, por exemplo.

1.1 Gestão financeira moderna: análise e perspectiva histórica


Vídeo
Iniciamos os estudos a respeito da moderna gestão financeira lembrando
que, no passado recente, informações sobre o desempenho econômico-financeiro
de qualquer empresa se resumiam, quase unicamente, à análise (relativamente
simples!) dos números fornecidos pelos demonstrativos financeiros.
Atualmente, ao nos referirmos à gestão organizacional, pensamos também
nas atribuições dadas aos administradores das empresas, sejam eles voltados aos controles
financeiro, administrativo, fiscal ou de pessoal, por exemplo. No que se refere à administração
financeira (foco deste estudo), percebe-se que modificações ocorridas nas últimas décadas vêm
alterando a própria forma de gestão e a importância desta no sucesso empresarial. É nesse sentido
10 Planejamento financeiro e orçamentário

que a controladoria vem se consolidando como um dos principais centros de informação


econômico-financeira e gerencial da empresa. Esse departamento não apenas fornece aos
acionistas, gestores e mercado os números efetivamente obtidos decorrentes da operação
Controller: do negócio, mas também permite que o controller administre tais resultados reportados nos
profissional da
controladoria.
demonstrativos e indicadores financeiros disponibilizados.
Conforme descrito por Gitman (2012), nos últimos anos o profissional de finanças sofreu
com mudanças nos ambientes econômico, competitivo e regulamentador, que aumentaram a
importância e a complexidade de suas tarefas. Segundo o autor, “o administrador financeiro de
hoje está mais ativamente envolvido com o desenvolvimento e a implementação de estratégias
empresariais que têm por objetivo ‘o crescimento da empresa’ e a melhoria de sua posição
competitiva. Por isso muitos altos executivos vêm da área financeira” (GITMAN, 2012, p. 4).
Outra característica central, que também tem sido tendência no mundo da gestão
corporativa, é a globalização das atividades empresariais. A cada dia, mais empresas percebem a
importância da internacionalização (ou globalização) de suas atividades, a qual se mostra essencial
aos mais significativos ganhos de eficiência, produtividade e de mercado. Tal processo, a princípio
irreversível no contexto das empresas atuais, colocou sob a incumbência do gestor um peso
significativo e uma enorme responsabilidade. Isso implica ao financista perceber novas formas
de ganhos na esfera econômico-financeira do negócio, os quais extrapolam, por exemplo, simples
reduções de custos e despesas típicas de políticas observadas em décadas passadas.
Portanto, atualmente o foco vem sendo dado também à redução de riscos de mercado e às
melhorias constantes na administração e no fluxo de caixa de longo prazo das companhias, ações
sempre voltadas à preservação do valor do negócio no tempo. Por isso, e a despeito do ainda existente
valor e da importância dada aos números contábeis (formalmente publicados pelas empresas em
seus balanços e demonstrativos de resultados e demais relatórios econômico-financeiros), a análise
do desempenho econômico-financeiro do negócio não se resume mais ao simples estudo desses
dados. Tal trabalho exige uma nova visão voltada à capacidade de a empresa gerar valores crescentes,
em longo prazo, a acionistas ou controladores – seja por meio da distribuição de dividendos ou da
percepção de mercado a respeito do potencial de valorização dos papéis (ações) em bolsa de valores.
Isso decorre do fato de, apesar de os demonstrativos financeiros serem, sem dúvida,
importantes instrumentos gerenciais que comunicam os principais fatos e eventos sobre entidades
e empresas, o entendimento dos números (aliado a um profundo conhecimento do negócio)
passou a ser essencial na análise de criação de valor do negócio e de geração de informações
imprescindíveis à tomada de decisões.
Dessa forma, todas as informações contábil-financeiras, ou a respeito de operações ou
fatos ocorridos na empresa serão ponto de partida para definir a alocação de investimentos ou
desinvestimentos e a aplicação de recursos em determinado mercado. Além disso, essas informações
servem como base ao trabalho interno de planejamento financeiro e orçamentário das empresas.
Segundo Ross, Westerfield e Jaffe (2002, p. 21), em todo processo de gestão financeira,
cabe ao administrador encontrar respostas a três importantes perguntas: “Quais investimentos
a longo prazo a empresa deve fazer?”; “Como devem ser levantados os recursos para financiar
A gestão corporativa moderna 11

tais investimentos?”; “Como a empresa deve gerir suas atividades monetárias e financeiras em
seu dia a dia?”.
Veremos, no decorrer deste estudo, que parte dessas respostas se encontra no entendimento
da importância do capital de giro na gestão do negócio, bem como na disponibilidade e no custo
dos recursos que os gestores precisarão para financiar suas atividades.
A gestão financeira moderna vem, portanto, modificando-se nas últimas décadas. Além
disso, conforme destacado anteriormente, está se afastando da simples análise e da administração de
números e resultados contábeis comuns das décadas de 1980 e 1990, por exemplo. Tal realidade
de administração tem se aproximado gradativamente de um trabalho mais complexo e robusto, o
qual exige um entendimento e um conhecimento mais amplo por parte dos gestores. Assim, o atual
foco sobre a missão das entidades empresariais, conforme defendido por Padoveze (2015, p. 3),
estaria centrado no conceito de criação de valor para os acionistas. O autor ainda afirma que esse
valor seria “representado pelo preço de mercado da ação ordinária da companhia, o qual, por outro
lado, é uma função das decisões de investimento, financiamento e dividendos da empresa”.
Dessa forma, quando nos referimos a planejamento financeiro e orçamentário de uma
empresa, estamos muito mais preocupados com a criação, agregação ou adição de valor ao longo
do tempo aos acionistas do que com os números relativos ao faturamento, às margens operacionais
ou aos lucros contábeis reportados.
Vejamos, a seguir, uma notícia recente a respeito de uma oferta pública de ações1 (OPA, ou
IPO em inglês) da empresa Uber, companhia de tecnologia voltada ao transporte de passageiros,
com atuação praticamente global. Esse caso exemplifica bem a discussão sobre a percepção de
valor aos acionistas segundo a gestão corporativa moderna:
O aplicativo de transporte Uber decidiu vender US$ 10 bilhões em ações em
sua oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), informou a agência
de notícias Reuters, que conversou com pessoas familiarizadas com o assunto.
A empresa fará o registro público da abertura de capital nesta quinta-feira, 11.
Esse valor em ações faria do IPO do Uber um dos maiores de empresas de
tecnologia de todos os tempos [...]. O Uber está buscando uma avaliação entre
US$ 90 bilhões e US$ 100 bilhões, influenciado pela performance ruim das
ações de sua rival Lyft, que fez IPO no mês passado. Bancos de investimentos
chegaram a dizer ao Uber que a empresa valeria até US$ 120 bilhões. O Uber
recentemente foi avaliado em US$ 76 bilhões no mercado privado. A maioria
das ações vendidas seria emitida pela própria empresa, enquanto uma parcela
menor seria de propriedade de investidores do Uber, disse uma das fontes à
Reuters. (COM US$..., 2019)

Perceba que o mercado ajuda a empresa a “precificar” o negócio por meio de avaliações e
análises baseadas nos dados fornecidos pela própria companhia, que os obtêm como parte de seu

1 Esse conceito é muito importante. A oferta pública de ações (cuja sigla em inglês é IPO, de Initial Public Offering)
é o ato empresarial de ofertar ou colocar à venda, em determinado mercado de ações, uma quantidade de seu capital
(referenciado em ações) por determinado preço inicial. Com a OPA, a empresa pretende obter recursos (caixa) para seus
planos de investimentos sem precisar se endividar com bancos. Com essa venda de ações, a empresa ganha novos
sócios e sua ação passa – logo após o preço inicial de venda na bolsa de valores – a ter preços determinados pelo
“apetite” dos investidores, podendo subir ou descer dependendo dos desempenhos da empresa ou de notícias, riscos e
outras variáveis da economia e política local.
12 Planejamento financeiro e orçamentário

trabalho interno de planejamento financeiro e orçamentário. Esse fato ocorre porque tal avaliação
do negócio terá sempre como ponto de partida os demonstrativos financeiros publicados pela
empresa e as informações relativas à expectativa de seu desempenho futuro.
Portanto, o valor dos papéis (ações) em bolsas de valores seria determinado pela combinação
do desempenho atual nos negócios – segundo os demonstrativos financeiros – e, não menos
importante, pela perspectiva de desempenho futuro do negócio nos mercados em que atua.
A seguir veremos uma análise que mostra a reação do mercado após o lançamento das ações
da Uber. Poderemos perceber como os mercados reagiram em relação ao comportamento de seus
preços a partir da oferta pública de ações (OPA). Ao longo do dia do lançamento das ações em
bolsa de valores, elas atingiram a casa dos US$ 44,85. No entanto, voltaram a cair e fecharam o dia
inclusive abaixo do preço inicial daquela data (US$ 42,00), ou seja, antes da OPA:
Apesar da grande expectativa do mercado, as ações da Uber (código UBER)
derraparam no primeiro dia de negociações na bolsa de Nova Iorque (NYSE).
Os papéis terminaram a sexta-feira cotados em US$ 41,60, uma queda de mais
de 7% em relação ao preço estipulado na abertura de capital (US$ 45) [...]. A
justificativa pode estar atrelada a vários fatores. John Tuttle, executivo-chefe
de operações da NYSE (bolsa de Nova Iorque), disse, em entrevista ao site
Yahoo Finance, que “há duas variáveis que costumam impactar no preço do
IPO: as condições do mercado e como duas companhias comparáveis estão
performando dentro desse mercado”. (FURLANI, 2019)

Nesse contexto, podemos refletir sobre como a empresa e seus gestores atualmente vêm
se preocupando em não apenas demonstrar que o negócio em si é valioso aos acionistas, mas
importante para a estratégia e sobrevivência dele em longo prazo.
Percebemos até aqui toda uma mudança de grau e complexidade do papel da gestão
financeira nas últimas décadas. Somada a essa realidade, uma enorme responsabilidade passou
a ser creditada à função do gestor financeiro: não apenas à sua capacidade de gerir contábil e
financeiramente o negócio, mas à sua habilidade para agregar um pensamento estratégico e global
voltado à geração de valor do business no tempo.

1.2 Evolução, tendências e importância da gestão financeira no


século XXI
Vídeo Com o desenvolvimento do capitalismo, novas formas de gestão dos negócios
foram gradualmente incorporadas pelos administradores, a fim de atenderem
às metas estabelecidas pelos conselhos de administração e sócios controladores
das empresas. Portanto, não raro percebemos que o uso de novas tecnologias, o
pensamento globalizado e a incorporação de modernas ferramentas de gestão e
de melhorias de resultados vêm sendo gradualmente agregados ao dia a dia das empresas, com o
objetivo de maximizar resultados e gerar valor ao negócio.
Exemplos de tal mudança ocorrida pela incorporação de novas tecnologias – e, por que
não, valores? – ao cotidiano das empresas são o uso e a democratização das redes sociais, que vêm
apresentando claro e importante impacto na gestão dos negócios corporativos.
A gestão corporativa moderna 13

Por exemplo, a notícia a seguir, publicada em um jornal de grande circulação no Brasil,


chama atenção para esse fator, que vem sendo determinante na mudança organizacional percebida
atualmente em todo o mundo. Nesse caso, podemos avaliar o grau de influência que a tecnologia da
informação vem tendo na gestão, no planejamento e na administração financeira e orçamentária
dos negócios.
Os Impactos Econômicos – As tecnologias de blockchain, a internet das
coisas (IoT), a impressão em três dimensões (3D) e a inteligência artificial
facilitam a formação de uma rede de mercados com base em plataformas
de pequenas empresas. Manufaturas podem ser estruturadas em menor
escala e com cadeias de fornecimento mais curtas. Novos modelos de
negócios fundamentados em alta tecnologia têm o potencial de contribuir
para a redução da desigualdade em regiões subdesenvolvidas. Por outro lado,
essas tecnologias também podem formar grandes monopólios globais, pois
reduzem drasticamente os custos marginais e permitem enormes economias
de escala. Estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) – O Futuro da Produtividade – mostra que as empresas
que investem mais em tecnologias digitais e se baseiam no conhecimento se
distanciam da concorrência. Empresas como Google, Amazon e Facebook
não só eliminam seus competidores, como também começam a dominar
outros setores. (VENDRAMINI; MAGALHÃES, 2018, p. 41)

Quando pensamos em um negócio, é comum que a primeira coisa a vir à mente seja o lucro.
É interessante notar que, apesar de sua importância e do fato de esse ser o objetivo de qualquer
empresário, conforme discutimos anteriormente, com o tempo o conceito de contábil deixou de
ser a única prioridade dos gestores das empresas. Assim, somadas à relevância do lucro obtido na
operação do negócio, outras variáveis, como a perpetuação da atividade empresarial ao longo do
tempo, tornaram-se também um dos principais objetivos dos administradores. Ou seja, além dos
resultados financeiros, é interesse dos gestores que a operação do negócio esteja “conectada” às
novas formas de tecnologia e comunicação modernas e que o empreendimento tenha vida longa,
gerando resultados também no futuro.
Assim, percebemos que a administração financeira do século XXI preocupa-se com muitas
outras variáveis, atribuindo aos responsáveis (gestores) um papel mais amplo e variado, cuja
complexidade trataremos a partir de agora. No entanto, antes de prosseguirmos, vamos analisar o
ponto de vista de um importante pesquisador do tema. Segundo Gitman (2012, p. 4),
Os administradores financeiros são responsáveis pela gestão dos negócios
financeiros das organizações de todos os tipos – financeiras ou não, abertas
ou fechadas, grandes ou pequenas, com ou sem fins lucrativos. Eles realizam
as mais diversas tarefas financeiras, tais como planejamento, concessão de
crédito a clientes, avaliação de propostas que envolvam grandes desembolsos
e captação de fundos para financiar as operações da empresa. Nos últimos
anos, as mudanças nos ambientes econômico, competitivo e regulamentador
aumentaram a importância e a complexidade das tarefas desse profissional.
O administrador financeiro de hoje está mais ativamente envolvido com o
desenvolvimento e a implementação de estratégias empresariais que têm por
objetivo o “crescimento da empresa” e a melhoria de sua posição competitiva.
14 Planejamento financeiro e orçamentário

Portanto, nesse estágio dos estudos, cabe uma reflexão a respeito da forma como a
globalização do mercado modificou a gestão dos negócios e de que modo tal mudança “cria” e
“padroniza” novas formas e expectativas dos gestores em relação aos resultados em um cenário
competitivo e dinâmico como o dos mercados internacionais.
Assim sendo, as empresas, a despeito do país onde atuam, precisam estar sempre em
conformidade com essa nova cultura e observa os modernos princípios de gestão. Atuando
no Brasil ou nos Estados Unidos, por exemplo, toda companhia necessita observar princípios
de gestão, ética, procedimentos e tarefas muitos semelhantes, independentemente do local de
operação do negócio.
Portanto, nos mercados altamente competitivos da atualidade, não é aceitável um negócio
ser gerenciado (e aqui podemos lembrar que não nos referimos unicamente à gestão financeira)
sem que seus administradores sigam padrões e procedimentos normalmente exigidos e esperados
por clientes, mercados, competidores, governos e demais autoridades.
Gitman (2012) vai além nessa importante análise e afirma ainda que devemos nos lembrar
das mais variadas formas jurídicas que encontramos organizadas nas empresas ao redor do mundo.
Esse autor define a princípio três tipos (ou modelos) de empresas: as individuais, as limitadas
(Ltda.) e as sociedades por ações (S.A.). Vejamos, a seguir, uma breve descrição dessas classificações
e alguns exemplos para o caso brasileiro.

1.2.1 Negócio individual


Trata-se de uma empresa que pertence a uma só pessoa, portanto objetiva operar e gerar
lucros (resultados) unicamente ao proprietário. Esse tipo de empresa vem crescendo no mundo,
muitas vezes em razão do atual foco no empreendedorismo e nas mudanças comportamentais
que, de certa forma, incentivam os indivíduos a desenvolver os próprios negócios fora das
tradicionais estruturas organizacionais. Ou seja, o objetivo profissional é desenvolver um negócio
com base em uma ideia, e não mais unicamente conseguir um emprego em uma sólida empresa.
Nesse sentido, veremos a seguir alguns dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) sobre como o empreendedorismo recentemente vem sendo um
fator modificador do quadro de geração de emprego no Brasil.
Para o IBGE, atualmente um dos maiores fenômenos nas organizações é o que
denominamos de empreendedorismo. Ele muitas vezes nasce da ação de um indivíduo (portanto,
da criação de um negócio individual) e vem se desenvolvendo e se tornando fator decisivo no
crescimento econômico.
Em 2015, existiam 25.796 empresas de alto crescimento, aquelas que
aumentaram – em média – pelo menos 20% ao ano o número de empregados,
por um período de três anos consecutivos, e tinham 10 ou mais pessoas
ocupadas assalariadas no ano inicial de observação. Embora as empresas de
alto crescimento representem apenas 1,0% do total de empresas ativas com
ao menos uma pessoa ocupada assalariada, respondem por mais da metade
A gestão corporativa moderna 15

dos empregos gerados por elas neste período (67,7%). Entre 2012 e 2015, as
empresas de alto crescimento apresentaram um crescimento de 172,1% no
pessoal ocupado, passando de 1,3 milhão de pessoas em 2012, para 3,5 milhões
em 2015, um incremento de 2,2 milhões de postos de trabalho. (IBGE, 2017)

Quando pensamos no chamado empreendedorismo, podemos perceber que, apesar de ser já


um termo comum e muito utilizado e discutido no Brasil, ainda carece de detalhamento e análise
a respeito de sua real importância econômica.
Por mais que as realidades sociais e econômicas estejam levando os brasileiros a abrir o
próprio negócio, muitas vezes, o sucesso de tal empreitada exige muito mais que a combinação de
ideia inovadora, iniciativa e disposição para trabalhar e correr riscos. A criação e a administração
de um negócio efetivamente produtivo e revolucionário (mercadologicamente falando) demandam
muitas variáveis, por exemplo: profundo conhecimento de mercado; intenso uso de tecnologia
e demais novidades; administração financeira efetivamente voltada ao resultado e à geração de
valor ao acionista.

1.2.2 Sociedade de pessoas


Também chamadas de empresa limitada (Ltda.), a sociedade de pessoas refere-se àquelas
organizações constituídas por dois ou mais sócios que atuam para obter lucros com os negócios,
sendo normalmente estabelecidas com recursos (capital) dos acionistas. Segundo Gitman (2012,
p. 4), “esse tipo de sociedade responde por cerca de 10% de todas as empresas dos Estados Unidos
e costuma ser maior do que as firmas individuais. Elas estão mais presentes nos ramos financeiro,
de seguros e imobiliário”.
As empresas limitadas são constituídas por um Contrato Social que define as
responsabilidades de cada membro segundo suas participações nele estabelecidas.

1.2.3 Sociedade por ações


Trata-se daquela cujos proprietários são os acionistas e cujo direito de propriedade (ou
equity) se faz pelo montante detido de ações ordinárias e/ou de ações preferenciais. De acordo
com Gitman (2012, p. 5), essas sociedades apresentam como característica uma organização
“democrática”, em que os acionistas proprietários votam periodicamente para eleger os membros
do conselho de administração e decidir sobre diversas questões de interesse da empresa.
Segundo a definição da Comissão de Valores Mobiliários2 (CVM), as ações no Brasil são
classificadas em: ação ordinária (ON), cuja principal característica é conferir ao seu titular o
direito a voto nas assembleias de acionistas; e ação preferencial (PN), sem direito de voto, mas
com prioridade na distribuição de dividendos e/ou no reembolso de capital.
Neste momento, devemos pensar a respeito do importante papel do conselho de
administração como efetivo “gestor” da empresa, responsável por deliberar e decidir sobre, por

2 Segundo a CVM, o estatuto social das companhias define as espécies de ações conforme os direitos que concedem
aos acionistas. O estatuto é o conjunto de regras dos administradores e acionistas que define as características de
cada espécie de ação. No que se refere às ações preferenciais, estas podem ser divididas entre as classes A e B
(ESPÉCIES..., 2019).
16 Planejamento financeiro e orçamentário

exemplo, planos e objetivos estratégicos, estabelecimento de metas operacionais e gerenciais,


definição de posicionamento comercial e financeiro do negócio, planos de investimento e políticas
de remuneração dos colaboradores.

1.2.4 Papel normatizador e de vigilância exercido pela CVM no Brasil


Deve-se conhecer o importante papel desempenhado no Brasil pela Comissão de Valores
Mobiliários. Criada em 7 de dezembro de 1976, pela n. Lei n. 6.385 (BRASIL, 1976), a CVM:
é uma entidade autárquica em regime especial, vinculada ao Ministério da
Economia, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de
autoridade administrativa independente, ausência de subordinação hierárquica,
mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes, e autonomia financeira e
orçamentária. (CVM, 2019)

O objetivo desse órgão é fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de


valores mobiliários no país. Em outras palavras, a CVM atua como entidade reguladora e vigilante
do mercado de capitais, buscando garantir segurança e definir regras de conduta às empresas de
capital aberto e a seus gestores voltadas ao bem comum da sociedade brasileira.
O estudo e a discussão inicial a respeito da gestão financeira das empresas feito até aqui
objetiva enfatizar os principais aspectos que caracterizam sua recente evolução, as suas tendências
e a sua importância diante de nossa realidade como economia inserida em um mundo globalizado
e tecnologicamente conectado. Buscamos salientar que não é possível pensar em gestão financeira
sem incorporarmos em nossa análise o papel desempenhado pelos gestores alinhado às realidades
dos mercados externos à empresa. Esse é o caso, por exemplo, do importante papel de controle,
regulação e vigilância das atividades das empresas de capital aberto (S.A.) exercido pelo governo
por meio da CVM, conforme tratamos anteriormente.
Assim, a administração financeira exige que o profissional conheça profundamente essas
variáveis e entenda que as decisões no âmbito financeiro de qualquer negócio definem o próprio
sucesso e, principalmente, geram impactos sociais significativos. As organizações são entidades
operantes nos mercados (sociedades), logo, são impactadas pelas realidades à sua volta e exercem,
concomitantemente, papel importante como influenciadoras dessas mesmas sociedades.

Considerações finais
O papel exercido atualmente pelo administrador financeiro extrapola os limites da empresa.
Dessa forma, a controladoria age no sentido de oferecer as linhas mestras da atuação desse
profissional, sempre voltada ao atingimento dos objetivos, a saber: a perpetuação do negócio, a
garantia de retornos positivos dos negócios ao longo do tempo e a maximização dos lucros (com a
consequente distribuição de dividendos aos acionistas).
Discutimos até aqui que a contabilidade é também a ciência que extrai da empresa as
principais e mais relevantes informações a respeito do desempenho do negócio. Tais informações
contábil-financeiras possibilitam aos gestores determinarem as principais linhas de atuação. O
trabalho do contador e do gestor financeiro, portanto, envolve uma enorme lista de atribuições e
A gestão corporativa moderna 17

sempre terá papel essencial e central na gestão do negócio, na geração de valor aos acionistas e na
coleta e organização (gerencial) das informações mais relevantes voltadas às decisões estratégicas.
Dessa forma, podemos enxergar o valor da empresa como intimamente ligado e
dependente do correto e preciso trabalho desenvolvido pelos profissionais de finanças. Portanto,
torna-se prioritário administrar tendo em mente a geração máxima de valor ao acionista e gerir
o negócio com competência, eficiência e conhecimento técnico, exigidos pelo mercado e pelos
acionistas controladores.
Discutimos também a realidade da nova tecnologia da informação, que modificou
significativamente a maneira como as empresas têm atuado neste início de século. Como
consequência, a gestão financeira do negócio vem incluindo tal realidade em seu trabalho diário de
coleta, organização e uso dos dados econômico-financeiros do negócio em questão. Atualmente, a
controladoria encontra-se, mais do que nunca, no centro das informações e das tomadas de decisão
das companhias. Além disso, ela é uma das grandes usuárias das diversas tecnologias disponíveis
para o atingimento dos principais objetivos das empresas.

Ampliando seus conhecimentos


• GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2012.
O livro Princípios de administração financeira, de Lawrence Gitman, é uma sugestão de leitura
voltada à ampliação de seus conhecimentos sobre o tema deste capítulo. Sugerimos a
leitura do Capítulo 1 (“O papel e o ambiente da administração financeira”), que explora
detalhadamente esse importante aspecto na gestão financeira.

• ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. F. Administração financeira. 2. ed. São


Paulo: Atlas, 2002.
O livro Administração financeira, de Stephen Ross, Randolph W. Westerfield e Jeffrey
F. Jaffe, em seu Capítulo 1 (“Introdução às finanças de empresas”), procura definir e
relacionar os conceitos apresentados neste capítulo, sempre enfatizando o crescimento do
valor do negócio aos acionistas.

Atividades
1. Reflita a respeito da importância do modelo de gestão das empresas no século XXI; da
relevância do planejamento; do levantamento de informações contábil-financeiras; do
processo decisório e da tecnologia da informação. Como você define um modelo ideal
de gestão em finanças para uma empresa operando no Brasil? O que você define como
essencial ao sucesso e ao atingimento das metas organizacionais em razão de todas as
características da economia e da sociedade brasileira e dos mercados internacionais?
18 Planejamento financeiro e orçamentário

2. Como você vê a importância da correta contabilização das operações das empresas, de modo
a publicar demonstrativos financeiros – como balanço e demonstrativos de resultados – que
reflitam sua verdadeira situação? Quais riscos você enxerga à sociedade e aos acionistas nos
casos de números errados serem publicados nos demonstrativos?

3. Sabemos que resultados de vendas e lucros são ainda os grandes determinantes de qualquer
negócio. No entanto, ultimamente o valor das ações (preço do papel no mercado) vem
ganhando espaço na gestão financeira devido à importância que a percepção dos investidores
têm no sucesso dos negócios. Com base nisso, reflita a respeito das razões pelas quais uma
empresa pode ser avaliada como excelente opção de investimento mesmo sem apresentar –
em determinado momento – vendas ou lucros extraordinários. Quais outras variáveis você
incluiria em sua análise?

4. Imagine uma empresa de capital aberto (ou seja, com muitos sócios detentores de ações em
bolsa de valores) que tem a intenção de fazer um grande e vultoso investimento em uma
nova fábrica. De que forma esse aporte de capital deve ser discutido interna e externamente?
Quais papéis você vê sob responsabilidade do tesoureiro e do controller nesse processo?

Referências
BRASIL. Lei n. 6.385, de 7 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 7
dez. 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6385.htm. Acesso em: 31 jul. 2019.

COM US$ 10 bi em ações, abertura de capital do Uber pode ser o maior de 2019. O Estado de S. Paulo, São
Paulo, 10 abr. 2019. Disponível em: https://link.estadao.com.br/noticias/empresas,com-us-10-bi-em-acoes-
abertura-de-capital-do-uber-pode-ser-a-maior-do-ano,70002786288. Acesso em: 31 jul. 2019.

CVM. Sobre a CVM. 2019. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/menu/acesso_informacao/institucional/


sobre/cvm.html. Acesso em: 31 jul. 2019.

ESPÉCIES de ações. Portal do Investidor. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: http://www.investidor.gov.br/
menu/Menu_Investidor/valores_mobiliarios/Acoes/especies_de_acoes.html. Acesso em: 31 jul. 2019.

FURLANI, B. De carona com a Uber? Ações derrapam no 1º pregão e tem queda de mais de 7%. Seu
Dinheiro. São Paulo, 10 maio 2019. Disponível em: https://www.seudinheiro.com/acoes-da-uber-comecam-
a-ser-negociadas/. Acesso em: 31 jul. 2019.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2012.

IBGE. Estatísticas de empreendedorismo: empresas de alto crescimento geraram 67,7% dos postos
de trabalho entre 2012 e 2015. Agência de notícias. Rio de Janeiro, 17 nov. 2017. Disponível em: https://
agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/18016-
estatisticas-de-empreendedorismo-empresas-de-alto-crescimento-geraram-67-7-dos-postos-de-trabalho-
entre-2012-e-2015. Acesso em: 31 jul. 2019.

PADOVEZE, C. L. Planejamento orçamentário. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2015.

ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. F. Administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

VENDRAMINI, A.; MAGALHÃES, R. Os impactos da quarta revolução industrial. GV-executivo, v. 17, n. 1,


jan./fev. 2018. Disponível em: https://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/gv_v17n1_ar3.pdf. Acesso em: 31 jul. 2019.
2
Objetivos e desafios do administrador no século XXI

Sempre que nos referimos aos objetivos e desafios do administrador na atualidade, podemos,
primeiramente, pensar na constante e difícil busca por eficiência e produtividade nas organizações.
A gestão moderna está bastante conectada e preocupada com esses aspectos em razão do foco que
as empresas vêm dando, em maior ou menor grau, ao alcance de ambiciosas metas de resultados.
Portanto, mesmo que as empresas ainda se encontrem preocupadas com a manutenção de
diversos outros valores culturais, morais e éticos – os quais devem fazer parte dos objetivos de qualquer
negócio –, a ausência de compromisso com a constante busca por eficiência e produtividade poderá
resultar no fracasso diante dos dinâmicos e competitivos mercados atuais. Desse modo, esta obra
busca oferecer ferramentas para que estudantes e profissionais de finanças possam compreender
e analisar, de modo crítico, a maneira pela qual a gestão do negócio vem sendo efetuada em uma
empresa e para que sejam capazes de propor soluções e aprimoramentos nos procedimentos e
controles financeiros existentes.
Assim, a despeito de seu objeto ou ramo de atividade – seja a fabricação ou a comercialização
de produtos, ou a prestação de serviços –, toda empresa deve se preocupar em concentrar ações
em alguns aspectos hoje considerados cruciais na gestão de sua rotina organizacional. É o caso, por
exemplo, da maximização dos lucros, dos corretos controles de procedimentos, do comportamento
ético e profissional de seus colaboradores e, não menos importante, do valor do negócio para os
acionistas em curto, médio e longo prazos.
Sabemos, obviamente, que o lucro da atividade é o principal objetivo empresarial. Entretanto,
não deve ser apenas por meio de uma gestão centrada em resultados contábil-financeiros e ganhos
de eficiência e de produtividade que o administrador financeiro contribuirá com o futuro do
negócio. Cabe ao gestor moderno preocupar-se também com princípios éticos de conduta e com
metas que atendam à companhia e à sociedade na qual está inserida.
Por isso, essa será também a razão pela qual estudaremos neste capítulo as modernas
definições de objetivos e metas organizacionais. Combinando (incorporar) o já “tradicional”
objetivo de maximização do lucro com o maior valor econômico do negócio, a maximização da
riqueza ao acionista e, por fim, a preocupação com a sustentabilidade do negócio no tempo em
sintonia com as expectativas do mercado como um todo.

2.1 Medindo objetivos e metas das empresas


Vídeo
A moderna gestão financeira e orçamentária possibilita à organização obter os
resultados desejados, extrapolando, ainda assim, o antigo conceito de administração
centrada na simples garantia de crescentes vendas e resultados ao longo do tempo.
Segundo Assaf Neto e Lima (2014, p. 19):
20 Planejamento financeiro e orçamentário

É necessário que se avalie, outrossim, que o processo de tomada de decisões


financeiras seja desenvolvido tendo sempre em conta o equilíbrio entre risco
e retorno. Evidentemente, não se exige que a empresa procure priorizar a
maximização do risco, mas que trabalhe basicamente dentro da expectativa de
promover uma remuneração (retorno) condizente com o risco assumido.

Tal afirmação dos autores implica que a realidade contemporânea e os mercados altamente
competitivos imponham, juntos, um desafio bem mais complexo ao gestor financeiro: acompanhar
o desempenho operacional, financeiro (retorno do investimento) e social do negócio sob a
perspectiva do risco envolvido na operação.
O gestor deve realizar essa tarefa de modo a ganhar maior protagonismo, oferecendo
análises orçamentárias, estratégicas, de risco-retorno e concorrenciais, por exemplo, em sintonia
com as “tradicionais” funções contábil-financeiras. Portanto, podemos afirmar que tal acúmulo de
responsabilidades posiciona o profissional de finanças no centro da tomada de decisões, agindo em
conjunto com a alta administração na manutenção e no desenvolvimento do negócio em longo prazo.
Esse tema bastante atual nos força a compreender de que maneira as organizações vêm
sendo geridas. Portanto, incorporamos a este estudo uma nova ótica: a do valor gerado ao
acionista. Tal conceito é bem recente no mundo acadêmico e defende – em poucas palavras –
que todo planejamento financeiro e orçamentário deve voltar-se à geração de valor ao acionista.
Ultimamente, tanto o planejamento financeiro e orçamentário quanto o papel do gestor ganham
destaque exatamente em razão da importância que os mercados têm dado à maximização do valor
do negócio ao acionista, conforme discutiremos em seguida.
De acordo com Gitman (2012), devemos ver a gestão do negócio e seus objetivos para muito
além da maximização dos lucros contábeis. Não que o resultado contábil seja desprezível ou pouco
importante (pelo contrário), todavia é preciso lembrar que a contabilidade se modernizou e que
atualmente o trabalho do contador ou do financista, além de essencial e prioritário, extrapola em
muito o simples fornecimento de dados e informações aos administradores ou ao público externo
da empresa. Segundo o autor,
as sociedades por ações costumam medir sua lucratividade em termos de lucros por
ação (LPA), que representa o montante ganho em cada período (ano ou período
fiscal) para cada ação ordinária em circulação. O LPA é calculado dividindo-se o
lucro total do período disponível para os acionistas ordinários da empresa pelo total
do número de ações ordinárias em circulação. (GITMAN, 2012, p. 12)

Tal contexto coloca o trabalho do gestor financeiro no centro do fornecimento de


informações econômico-financeiras essenciais ao planejamento financeiro e orçamentário e à
estratégia orçamentária da empresa.
No entanto, o que realmente se modificou com o tempo foi o objetivo da gestão financeira
nas organizações. Hoje, buscam-se também o desenvolvimento e a capacidade de interpretação
e utilização das informações fornecidas pelas demonstrações contábeis sob uma perspectiva
mais ampla e global. Ou seja, somado ao já conhecido trabalho de análise econômico-financeira
interno da companhia, existe o desenvolvimento de uma nova metodologia de uso das
informações fornecidas.
Objetivos e desafios do administrador no século XXI 21

Desse modo, tornou-se importante saber apresentar o conteúdo e discutir o significado,


as bases e as limitações de cada demonstração contábil publicada. Por esse motivo, todo relatório
emitido e publicado pela empresa (seja o Balanço Patrimonial, a Demonstração de Resultados
do Exercício, a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados, a Demonstração dos Fluxos
de Caixa ou a Demonstração do Valor Adicionado, obrigatória às companhias abertas1) ganhou
enorme importância como fonte de informação aos públicos interno (gestores) e externo (mercados,
governos e agentes)2.
Assim, pode-se dizer que compreender os números das demonstrações e saber analisá-los
corretamente é mais que a simples integração ao processo de tomada de decisões de uma empresa.
Do mesmo modo, caberá sempre ao gestor discutir a consistência, a relevância e a importância
de cada conta representativa das mais diversas operações realizadas pela empresa em suas
atividades industriais, comerciais, financeiras ou de prestação de serviços, a fim de apresentar,
consequentemente, uma análise coerente. Esse exercício é, por assim dizer, talvez um dos mais
importantes no trabalho de planejamento financeiro e orçamentário.
O fato é que todo esse conjunto de informações sobre o desempenho exige do financista
profundo conhecimento do que representa cada conta em particular e o impacto que o conjunto
dessas contas apuradas e reportadas nos balanços e demonstrativos tem ao desempenho do negócio.
No que tange ao trabalho de orçamento, faz-se necessário também projetar e definir matematicamente
como essas contas vão se comportar no tempo com o decorrer das operações da empresa.
Gitman (2012, p. 13-17) enfatiza que, além da questão da maximização dos lucros discutida
anteriormente, cabe ao gestor ater-se a outras variáveis, como desempenho do fluxo de caixa,
riscos envolvidos no processo, maximização da riqueza do acionista, governança corporativa, ética
empresarial e questão de agency ou o chamado conflito de agência3.
Em relação ao fluxo de caixa, o mesmo autor afirma que “os lucros não resultam
necessariamente em fluxos de caixa disponíveis para os acionistas. Os proprietários recebem fluxos
de caixa sob a forma de dividendos em dinheiro que lhes são pagos, ou dos proventos da venda de
suas ações a um preço maior do que o originalmente pago” (GITMAN, 2012, p. 13).
Primeiramente, é importante compreendermos que, por exemplo, um maior lucro por
ação (LPA) ao final de determinado período fiscal de uma empresa não significa que dividendos
serão obrigatoriamente distribuídos a todos os acionistas4. Em segundo lugar, devemos lembrar

1 Lei das Sociedades por Ações. Veja os detalhes e as regulamentações que regem as obrigações das firmas para com
a publicação de demonstrativos na Lei n. 6.404/1976 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM, 2019).
2 Instruções e regras emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Veja em mais detalhes o objetivo, o
alcance, as definições e a finalidade das demonstrações contábeis no Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1). Comitê de
Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1) – Apresentação das Demonstrações Contábeis, p.
1-7. Disponível em: www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=57. Acesso em:
23 jul. 2019.
3 Agency ou conflito de agência é o confronto de interesses existente entre os acionistas de uma empresa e os
seus gestores.
4 O conceito de dividendos (dividendos por ação) refere-se ao montante do lucro líquido do período que a administração
decide distribuir a todos os acionistas que fazem jus, dividido pelo total de ações existentes. Muitas vezes, a empresa
pode apresentar lucros contábeis em determinado ano fiscal, mas não desejar (ou não poder) distribuí-los aos acionistas.
Nem sempre o aumento do lucro de um ano para o outro significa, efetivamente, aumento do valor, distribuído sob a forma
de dividendo.
22 Planejamento financeiro e orçamentário

que a política de dividendos de uma empresa é, essencialmente, uma decisão administrativa


(orçamentária) e que a maximização dos lucros nunca deve ser o único e prioritário objetivo do
administrador, simplesmente porque existem outras prioridades.
É claro que dividendos são destinados quando há lucro reportado no Balanço Patrimonial.
Porém, antes, é necessário que a empresa tenha caixa (recursos disponíveis) para essa distribuição.
Do contrário, apesar de reportar lucros, pode não ser possível distribuí-los sob a forma de
dividendos aos acionistas.
Portanto, muitas vezes, o acionista obterá ganhos apenas pela venda de suas ações na bolsa
de valores e, ainda assim, conseguirá algum resultado positivo (lucro) caso o preço de mercado (em
bolsa de valores) seja superior ao preço (histórico) no momento da compra da ação pelo investidor.
Ainda no que se refere aos riscos envolvidos no processo, Gitman (2012, p. 13) lembra que
“uma premissa básica da administração financeira é a de que existe um trade-off entre retorno
(fluxo de caixa) e risco”. Ou seja, como o investidor sempre estará avesso à tomada de riscos muito
significativa (considerando que buscará sempre a maximização de sua riqueza), ele vai procurar,
sempre que possível, medi-lo (compará-lo) com base no que espera obter sob a forma de dividendos
ou valorização da ação em bolsa, conforme explicamos anteriormente.
De todo modo, as informações disponibilizadas pela empresa via demonstrativos e o
planejamento financeiro e orçamentário auxiliam precisamente nessa análise na tomada de decisão
de investimento. Portanto, decorre desse fato o interesse dos mercados, de investidores e demais
agentes financeiros pela periodicidade, exatidão e solidez das informações contábil-financeiras
fornecidas e publicadas.

2.2 Papel do gestor financeiro


Vídeo
Quando se discute o papel do gestor financeiro na atualidade, enfatiza-
se que é ele quem toma as decisões financeiras da empresa, estabelece objetivos
e controla (gerencialmente) o atingimento das metas segundo princípios e
normas organizacionais e critério racional. Tal conceito de racionalidade passa
necessariamente por considerações a respeito do que denominamos governança
corporativa e, não menos importante, pelo entendimento do impacto financeiro de cada medida
5

tomada pelos gestores no valor do negócio no tempo.


A importância, portanto, do controle exercido pelos gestores na condução da empresa em
direção ao atingimento dos seus objetivos e dos interesses dos acionistas é o ponto central da
administração contemporânea. Nesse caso, Padoveze (2016, p. 23) reitera que:
O controle é um processo contínuo e recorrente que avalia o grau de aderência
entre os planos e sua execução, compreendendo a análise dos desvios ocorridos,
procurando identificar suas causas e direcionando ações corretivas. Além
disso, deve observar a ocorrência de variáveis no cenário futuro, visando

5 Apesar de amplo, o conceito de governança corporativa refere-se a todo tipo de processo, hábito, política, lei ou
instituição normalmente utilizados no dia a dia empresarial, voltados à sua efetiva administração segundo os objetivos
dos seus acionistas.
Objetivos e desafios do administrador no século XXI 23

assegurar o alcance dos objetivos propostos. Dentro do enfoque sistêmico,


o controle faz também o papel de feedback ou retroalimentação do sistema.

Um bom exemplo é a forma como as grandes empresas – altamente profissionalizadas –


tratam e administram a questão de sua governança corporativa. Certamente, quanto maior e mais
internacionalizada é a empresa, maiores são as exigências dos mercados e demais interessados na
sua “transparência” e no trato das informações fornecidas. Vejamos, por exemplo, a forma como
a Petrobras, a maior empresa brasileira, trata a questão da governança corporativa, analisando um
comunicado publicado em seu site que enfatiza a importância de suas políticas e práticas corporativas.
Buscamos aprimorar constantemente as nossas práticas e instrumentos de
governança. Conheça as instâncias que integram essa estrutura. [...] Seguimos
procedimentos de governança compatíveis com as normas dos mercados
em que atuamos, de modo a garantir a adoção de padrões internacionais
de transparência. Dessa forma, buscamos reforçar nossa credibilidade no
mercado e aprimorar o relacionamento com nossos públicos de interesse:
acionistas, investidores, clientes, fornecedores, empregados e sociedade, entre
outros. Nosso modelo de governança e gestão tem como objetivos aumentar
a transparência de nossas atividades, adequar a filosofia de gestão à visão do
nosso plano estratégico, aperfeiçoar o mecanismo de responsabilização dos
nossos gestores, reforçar nosso compromisso com a conformidade e intensificar
a geração de valor para os nossos acionistas. (PETROBRAS, 2019a)

Podemos notar a preocupação da administração com ações voltadas a uma gestão seguindo
rígidos padrões e condutas éticas local e internacionalmente aceitas. Ações estas, aliás, alinhadas
com padrões de reporting para empresas de capital aberto e com ações transacionadas em bolsa de
valores em seu país e no exterior.
Ou seja, quando nos referimos à governança corporativa, tratamos, basicamente, de uma
metodologia de controle e de tomada de decisão de caráter puramente ético e profissional. Esse
conceito e essa preocupação com as melhores práticas de governança – normalmente obrigatórias
a grandes corporações – são relevantes principalmente em razão de o Brasil ser uma economia em
desenvolvimento e cujos mercados financeiro e de capitais ainda estarem amadurecendo.
Tal realidade nos impõe o desafio de atrairmos capital e investimento estrangeiro de longo
prazo. E, para o mercado financeiro e de capitais, a vitrine geralmente serão as grandes empresas
nacionais ou estrangeiras aqui sediadas que operem nesses mercados como tomadoras de recursos.
Assaf Neto e Lima (2014, p. 23-24) destacam que, para o caso brasileiro, “as decisões
financeiras em condições ideais de equilíbrio são bastante prejudicadas pela persistente insuficiência
de recursos de longo prazo para as empresas”. A ausência de capitais e de linhas de investimento
de longo prazo a juros internacionalmente baixos, bem como condições favoráveis ao empresário
em geral, não apenas reduz as perspectivas de desempenho futuro das companhias, mas também
impede planejamentos orçamentários mais precisos e realistas.
Portanto, pensar o planejamento financeiro e orçamentário no início do século XXI
certamente exige uma abordagem que extrapola os cumprimentos de princípios contábeis
e financeiros. Devemos incorporar uma política de governança alinhada às mais modernas
práticas internacionais. Na medida em que tais instrumentos de controle e de gestão (voltados
24 Planejamento financeiro e orçamentário

ao atendimento dos objetivos organizacionais) se aprimoram, podemos observar melhorias no


tratamento de questões importantes voltadas à saudável relação entre a organização, comunidade
em que se insere e a sociedade.
A reportagem “Alto custo de capital e inviabilidade de investimentos são impasses no Brasil”,
publicada no site do jornal DCI, trata do custo de capital, de seu impacto nas empresas e das
consequências ao crescimento da economia nacional. Segundo essa análise: “Especialistas afirmam
que a taxa de investimentos no País está 7 pontos percentuais inferior à necessária e criticam o
encarecimento dos juros nos financiamentos trazido pela TLP neste ano” (DCI, 2018).
Por fim, concluímos essa análise tratando da chamada questão de agency, já mencionada
anteriormente e que define os administradores como os únicos responsáveis diante dos acionistas
pelo atingimento das metas organizacionais. Tal realidade é muito importante exatamente por
delinear as responsabilidades e limitá-las segundo os poderes de cada agente (ou gestor) no corpo
administrativo da empresa – tudo isso observando o comportamento ético alinhado às políticas e
aos princípios estabelecidos originalmente na Lei Sarbanes-Oxley6, de 2002.
Considerando essa realidade e o fato de muito dos problemas presentes nas organizações
derivarem, de certo modo, de conflitos existentes entre proprietários e administradores, Gitman
(2012, p. 17) propõe que esses problemas de agency sejam enfrentados, primeiramente, pelas
chamadas forças de mercado (acionistas, investidores institucionais, seguradoras e fundos de
pensão), as quais forçam a gestão a agir conforme as práticas éticas e contábil-financeiras esperadas.
Outra estratégia citada pelo mesmo autor é o chamado custo de agency, que é representado
por uma estrutura de governança corporativa nas organizações e tem o papel de monitorar o
comportamento de seus gestores. Portanto, antes de poder desenvolver seu trabalho de gestão
financeira, cabe a todo profissional estar bem informado e conhecer profundamente princípios,
modelos, práticas e procedimentos de conduta pessoal e profissional alinhados aos princípios
éticos da empresa e à realidade à sua volta.
Vimos até aqui que não se administra um negócio no mundo globalizado pensando apenas
nos resultados contábeis e financeiros de uma empresa ou de um país. Toda organização está
atualmente conectada e, de certa forma, integrada a uma cadeia global de informações, expectativas
e regras de conduta e procedimentos éticos que demandam muito mais que um simples desafio
gerencial. É um arcabouço de responsabilidades que conduz o gestor financeiro e a função de
planejamento financeiro e orçamentário ao centro de um enorme debate a respeito do papel das
empresas na sociedade. Tal discussão só será vencida por meio de um profundo conhecimento de
contabilidade, finanças, controles e regras de conduta e de comportamentos éticos em sintonia
com as melhores práticas gerenciais do mundo.

6 Segundo Gitman (2012, p. 15), a partir do ano 2000, vários órgãos reguladores nos EUA descobriram e combateram
uma série de improbidades administrativas e más condutas de gestores e empresas que causaram problemas em razão
de fraudes na publicação de relatórios financeiros e nos comunicados aos mercados. Em muitos casos, a ausência
da devida comunicação a respeito de conflitos de interesse entre a empresa e analistas, auditores e seus acionistas
gerou muitos prejuízos e graves impactos nos mercados de capitais internos. Tal realidade forçou o estabelecimento
de uma nova legislação nos EUA, chamada Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, cujo objetivo é coibir ou eliminar problemas de
divulgação e conflitos de interesses nas organizações que possam causar impacto financeiro a acionistas e ao mercado
como um todo.
Objetivos e desafios do administrador no século XXI 25

2.3 Gestão financeira baseada em valor


Vídeo
Até muito recentemente, o valor de um negócio era representado quase
integralmente pelo valor contábil presente nos Demonstrativos de Resultados e
Balanço Patrimonial das empresas. Entretanto, com a dinâmica dos mercados e as
novas formas de avaliação, investidores passaram a analisar, em maior profundidade,
os números das empresas. Assim, desenvolveram-se novas metodologias de
avaliação (e o termo valuation), as quais incluem outros valores e conceitos nessa análise tradicional
e contábil do valor do negócio.
Atualmente, o conceito de valor da empresa7 passa, portanto, a contemplar de maneira
muito simplificada a somatória e o valor presente de toda capacidade de geração de caixa
futuro líquido do negócio. Esse conceito (abordado superficialmente nesta obra) possibilita, em
poucas palavras, avaliar o negócio de maneira mais precisa e em consonância às expectativas de
seu desempenho futuro. Segundo Padoveze (2016), o efetivo valor da empresa será determinado
por sua rentabilidade futura ou seu fluxo de benefício futuro, desse modo: “o valor da empresa deve
ser calculado segundo a melhor competência dos gestores empresariais, lembrando sempre que a
importância do valor da empresa está em se ter o melhor parâmetro para a gestão de Controladoria,
que é o processo de criação de valor” (PADOVEZE, 2016, p. 13-14).
Para melhor compreender a importância da gestão baseada em valor, leia a notícia a seguir,
publicada pela Petrobras sob a forma de fato relevante:
Petrobras conclui a venda da TAG – Rio de Janeiro, 13 de junho de 2019 –
A Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, em continuidade ao comunicado de
25/04/2019, informa que concluiu a venda de 90% de sua participação na
Transportadora Associada de Gás S.A. (“TAG”) para o grupo formado pela
ENGIE e pelo fundo canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec
(CDPQ). O fechamento da transação ocorreu hoje com o pagamento total
de R$ 33,5 bilhões para a Petrobras, sendo aproximadamente R$ 2 bilhões
destinados à liquidação da dívida da TAG com o BNDES. A Petrobras
continuará a utilizar os serviços de transporte de gás natural prestados pela
TAG, por meio dos contratos já vigentes entre as duas companhias, sem
qualquer impacto em suas operações e na entrega de gás natural para seus
clientes. Essa operação está alinhada à otimização do portfólio e à melhoria de
alocação do capital da companhia, visando à geração de valor para os nossos
acionistas. (PETROBRAS, 2019b)

Perceba como o texto enfatiza que “o fechamento da transação ocorreu hoje com o
pagamento total de R$ 33,5 bilhões para a Petrobras [...]” (PETROBRAS, 2019b). Devemos,
porém, pensar em algumas questões: Como a empresa determina o valor de tal transação? O
que precisamos contemplar nessa análise para precificar esse ativo da Petrobras e ofertá-lo ao
mercado? Como tal valor predeterminado no processo de avaliação pode obter interessados,
pelo menos no preço mínimo do leilão? Essas respostas e o cálculo do valor do negócio podem
ser efetuados de diversas maneiras.

7 Deriva do termo enterprise value (EV) – valor da empresa.


26 Planejamento financeiro e orçamentário

Então, quando se analisa no exemplo a questão dos R$ 33,5 bilhões pagos pelos
investidores por meio da subsidiária de operação de gasodutos da Petrobras (TAG), vê-se que
os compradores pagaram pelos ativos presentes e reportados nos demonstrativos financeiros e,
efetivamente, pelo potencial futuro de geração de caixa (valor) do negócio.
Para concluir, pode-se destacar que esse trabalho de valuation e seus modelos de avaliação
derivam diretamente de um planejamento financeiro e orçamentário bem-feito. Tal exercício
matemático oferece dados e informações econômico-financeiras mais realistas possíveis, os quais
possibilitam entender o desempenho passado da empresa e estimar como será o desempenho
projetado (orçado).

Considerações finais
Considerando o momento pelo qual passam as economias mundiais, todo trabalho de
planejamento financeiro e orçamentário bem-feito será sempre um esforço e um enorme desafio
aos gestores das organizações. A necessidade de informações financeiras precisas e constantes, o
rigor na elaboração de relatórios e demonstrativos contábeis e o significativo grau de exigência
dos mercados externos para com os números publicados são atualmente fundamentais a qualquer
negócio que deseje ser bem-sucedido em longo prazo.
Somado a isso, princípios morais, éticos e sociais permeiam as empresas da atualidade e
exigem, assim, muito mais do que precisão na esfera econômico-financeira. A todo instante, buscam-
-se ações e uma gestão voltadas aos princípios, às demandas sociais, às demandas dos mercados
financeiros e de capitais do Brasil, bem como dos mercados com os quais a empresa se relaciona.
Tal realidade deriva do processo de globalização em curso, o qual modificou a gestão
corporativa oferecendo simultaneamente novos mercados e novas perspectivas de ganhos e
crescimentos. No entanto, ao mesmo tempo, cresceu a responsabilidade do gestor nesse contexto,
pois, além do cuidado com a contabilização, montagem e publicação de demonstrações contábeis,
relatório da diretoria, notas explicativas e parecer dos auditores, espera-se do gestor maior exatidão
nas informações publicadas. Junto a essa capacidade de desenvolver tal trabalho, bem mais
complexo, somou-se a necessidade de maior controle contábil-financeiro e orçamentário.
Desse modo, compreender as análises das demonstrações como parte do planejamento
é a base para todo o processo de tomada de decisões. Portanto, atualmente exige-se desse
profissional profundo conhecimento do que representa cada conta em particular e seus
impactos no valor do negócio.
Nesse sentido, discutir a relevância e importância de cada conta representativa das mais
diversas operações realizadas pela empresa (seja em suas atividades industriais, comerciais,
financeiras ou de prestação de serviços) é a base de qualquer trabalho sério e voltado ao atendimento
das demandas de acionistas e controladores.
Objetivos e desafios do administrador no século XXI 27

Ampliando seus conhecimentos


• ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. F. Demonstrações financeiras e fluxo de
caixa. In: ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. F. Administração financeira. 2. ed.
São Paulo: Atlas, 2002. p. 39-45.
O segundo capítulo da obra Administração financeira dará a você uma visão bastante
ampliada a respeito das relações entre as mais importantes demonstrações financeiras de
publicação obrigatória pelas empresas e os demonstrativos de fluxos de caixa, sendo estes
essenciais para a administração da liquidez e definição do valor do negócio ao acionista.

• CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R1) – Estrutura Conceitual para


a Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Disponível em: http://static.
cpc.aatb.com.br/Documentos/147_CPC00_R1.pdf. Acesso em: 6 ago. 2019.
Indicamos a leitura do texto para conhecer em maiores detalhes o site do CPC. Toda
a riqueza de informações nele existente é essencial e muito valiosa ao profissional e
estudante de finanças da atualidade. Essa leitura em particular é vantajosa por oferecer
as regras e as estruturas das demonstrações contábeis em linha com as exigências legais
para o caso brasileiro.

• CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento técnico (CPC 26 – R1) –


Apresentação das Demonstrações Contábeis. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.
br/Documentos/312_CPC_26_R1_rev%2013.pdf. Acesso em: 6 ago. 2019.
Esse texto apresenta os requisitos gerais para a apresentação das demonstrações
contábeis, diretrizes para a sua estrutura e os requisitos mínimos para seu conteúdo, além
de aprofundar ainda mais o tema tratado neste capítulo ao trazer a definição e o uso de
cada um dos demonstrativos contábeis, caso a caso.

Atividades
1. Como pensar a resolução de conflitos existentes entre as exigências de elaboração e publicação
de uma série de demonstrativos contábeis e a administração de informações confidenciais e
estratégicas da empresa? Será que é possível ser “transparente” com o mercado e acionistas
nas informações financeiras e, ao mesmo tempo, cuidar do que é confidencial e estratégico
para a companhia?
2. Considerando os deveres e as responsabilidades do gestor financeiro quanto aos
recursos financeiros da empresa, quais as habilidades e condições exigidas para que esse
profissional possa trabalhar executando o seu trabalho de coleta, elaboração e publicação de
demonstrativos financeiros dentro dos mais rígidos princípios éticos e profissionais?
28 Planejamento financeiro e orçamentário

3. Com base nos deveres e nas responsabilidades do gestor financeiro quanto à correta
avaliação do negócio de uma empresa pelo conceito de valuation, qual a importância de uma
companhia de capital aberto, como a Petrobras, fornecer avisos aos acionistas e ao mercado
em geral? Analise de que forma esses comunicados podem impactar e modificar a percepção
dos acionistas a respeito do futuro e do valor da empresa.

Referências
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Editora Atlas, 2014.

CVM. Lei 6404/76. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/legislacao/leis-decretos/


lei6404.html. Acesso em: 31 jul. 2019.

DCI. Alto custo de capital e inviabilidade de investimentos são impasses no Brasil. São Paulo, 5 set. 2018.
Disponível em: https://www.dci.com.br/economia/alto-custo-de-capital-e-inviabilidade-de-investimentos-
s-o-impasses-no-brasil-1.737942. Acesso em: 31 jul. 2019.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Pearson, 2012.

PADOVEZE, C. L. Planejamento orçamentário. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016.

PETROBRAS. Modelo e diretrizes de governança. Relações com investidores. Rio de Janeiro, 2019a.
Disponível em: https://www.investidorpetrobras.com.br/pt/governanca-corporativa/modelo-e-diretrizes-
de-governanca. Acesso em: 31 jul. 2019.

PETROBRAS. Petrobras conclui a venda da TAG. Relações com investidores. Rio de Janeiro, 2019b. Disponível
em: https://www.investidorpetrobras.com.br/ptb/14989/9512_696003.pdf. Acesso em: 31 jul. 2019.
3
A tomada de decisões de investimento e financiamento

Neste capítulo, teremos dois grandes objetivos de aprendizagem. Primeiramente, vamos


discutir o importante papel das decisões de investimento e financiamento no dia a dia das empresas.
Em seguida, trataremos da relação entre a gestão financeira de uma companhia e a realidade
econômica do país e do mercado na qual está inserida.
Nos dois casos, o gestor financeiro precisa estar plenamente familiarizado com os números
apurados nos mais diversos demonstrativos financeiros disponibilizados pelas empresas, além de
conhecer princípios e compreender a dinâmica de como a situação econômica de um país impacta
significativamente nos resultados corporativos.
Nesse sentido, percebemos que tanto as decisões de investimento e financiamento quanto
o devido conhecimento dos impactos da realidade econômica do país na gestão dos negócios
são importantes e essenciais para um correto planejamento orçamentário da empresa. Portanto,
o planejamento e o controle financeiro – somados à administração de ativos e passivos – são
determinantes para efetivas e adequadas decisões de investimentos.
Considerando o conjunto dessas funções financeiras, faz-se necessário incluir o que
denominamos decisão de alocação de resultado líquido (ou decisão de dividendo). Ou seja, todo
planejamento financeiro e orçamentário precisa focar no desempenho e nos resultados das
atividades empresariais (indústrias, serviços ou comércios) e contemplar, ao final da apuração do
lucro líquido, a distribuição de parte desse resultado aos acionistas sob a forma de dividendos.

3.1 Tomada de decisão: investimento e financiamento


Vídeo
Devemos sempre lembrar que todo investimento de capital é a base que
possibilita à empresa atingir seus objetivos, ou seja, a maximização da riqueza
dos proprietários no longo prazo e a garantia do retorno esperado aos acionistas.
Tais investimentos de longo prazo são o que efetivamente sustentam a empresa
no atingimento de seus objetivos. Somado a isso, e conforme defendem Assaf
Neto e Lima (2014), a administração financeira de uma empresa deve concentrar sua atuação
em quatro essenciais funções, a saber: execução do planejamento financeiro, controle financeiro,
administração de ativos e administração de passivos.
Na execução do planejamento financeiro, o administrador deve contemplar as necessidades
de crescimento da empresa e antecipar eventuais dificuldades. Tal planejamento deve possibilitar-
-lhe selecionar com maior segurança “os ativos mais rentáveis e condizentes com os negócios
da empresa, de forma a estabelecer uma rentabilidade mais satisfatória sobre os investimentos”
(ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 12).
30 Planejamento financeiro e orçamentário

Um efetivo controle financeiro deve possibilitar aos gestores avaliarem o desempenho


organizacional por meio das informações disponibilizadas pelos diversos demonstrativos
contábeis. Nesse sentido, o controle financeiro dá acesso aos números de vendas, custos,
despesas, margens e lucros, além de possibilitar a análise “de desvios que venham a ocorrer entre
os resultados previstos e realizados, assim como propostas de medidas corretivas necessárias”
(ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 12).
A correta e efetiva administração de ativos possibilita ao gestor mensurar e avaliar
adequadamente o nível de investimentos, viabilizando assim um gerenciamento mais eficiente dos
riscos e retornos existentes no negócio. No que se refere à administração do capital de giro, deve-
se efetuar uma administração dos ativos que resulte no controle efetivo das necessidades de caixa
(recursos) do negócio no tempo, em razão das “defasagens que podem ocorrer entre entradas e
saídas de dinheiro de caixa” (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 12).
É necessário definir uma estrutura de capital próprio e de terceiros do negócio da forma
mais adequada possível “em termos de liquidez, redução de seus custos e risco financeiro” (ASSAF
NETO; LIMA, 2014, p. 12). Consequentemente, deve-se possibilitar uma administração de passivos
(recursos de terceiros) dentro de limites que atendam à necessidade da empresa, à manutenção e à
expansão de seus negócios, acionistas e credores.
Ainda segundo os autores, todas as decisões de investimento objetivam criar valor ao
negócio. Quando nos referimos a esse conceito, estamos pensando no valor da empresa ao acionista
(representado pelo efetivo preço das ações da companhia no mercado) e na sua capacidade de
gerar lucros e pagar dividendos. Assim:
Todo investimento mostra-se economicamente atraente quando o seu retorno
esperado exceder a taxa de retorno exigida pelos proprietários de capital (credores
e acionistas), ou seja, ao custo total do capital. É importante destacar que essas
decisões se inserem no âmbito do planejamento estratégico da empresa, e são
reflexo de planos futuros traçados para a condução dos negócios. Refletem,
em outras palavras, um compromisso com a continuidade e viabilidade do
empreendimento. (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 13)

É importante perceber que tal definição coloca sob a responsabilidade da gestão financeira
o trabalho de análise e a seleção do investimento de longo prazo da empresa. Isso porque, segundo
os autores, cabe ao gestor medir o montante de recursos empenhados no negócio, administrar o
fluxo de caixa do período e aplicar adequadamente as técnicas apropriadas de tomada de decisões
com base nos resultados obtidos.
Com o tempo, ativos imobilizados em máquinas e equipamentos e demais itens diretamente
ligados à atividade-fim do negócio se tornam obsoletos e desatualizados, o que exige manutenções e
substituições por itens de maior valor agregado ou tecnologicamente mais avançados. Desse modo,
Gitman (2012, p. 236) afirma que “toda decisão financeira na empresa normalmente precisará passar
pela análise do Orçamento de Capital que […] engloba a avaliação e seleção dos investimentos
voltados a atender o objetivo empresarial de maximização de riqueza dos acionistas”. Segundo o autor,
As empresas costumam fazer muitos tipos de investimento de longo prazo, mas
os mais comuns entre as indústrias são em ativos imobilizados, que abrangem
terrenos, instalações e equipamentos. Esses ativos, às vezes chamados de ativos
A tomada de decisões de investimento e financiamento 31

geradores de lucros, costumam dar base à rentabilidade e ao valor do negócio.


(GITMAN, 2012, p. 326)
No entanto, qual a razão do investimento de capital na companhia? Todo investimento de
capital objetiva possibilitar à empresa continuar a produzir bens ou prestar serviços em longo
prazo. Ou seja, trata-se de todo desembolso em aquisição de ativos imobilizados1, ou gastos com
substituição, reforma ou melhoria tecnológica de máquinas e equipamentos, que possibilitem a
expansão das operações e o consequente retorno positivo para a empresa no futuro.
Ainda assim, e com o objetivo de conhecer melhor a estratégia de tomada de decisão
de investimentos, precisamos analisar o orçamento de capital como parte da rotina do gestor
financeiro da atualidade. Gitman (2012) divide o processo de orçamento em cinco etapas, as quais
possibilitam analisar e tomar decisões de investimento e, não menos importante, ter maior precisão
de estimativas de fluxo de caixa por parte dos administradores.
O processo contempla na sua etapa inicial a geração de proposta, feita nos mais diversos
níveis organizacionais, e seus valores. Em seguida, o autor menciona a etapa de revisão e análise
de toda a viabilidade econômico-financeira do investimento proposto. Em terceiro, a etapa de
tomada de decisão determina os valores e limites de dispêndios por departamento, função ou área
dentro da empresa. Por fim, as etapas de implementação e acompanhamento possibilitam a efetiva
concretização e o monitoramento de todas as demais etapas, a fim de concluir o projeto dentro dos
limites financeiros predefinidos.
O Plano diretor de negócios e gestão (entre 2019 e 2023) da Eletrobras (ELETROBRAS,
2018), grande estatal do setor elétrico brasileiro, é uma excelente fonte de informação a respeito
de como um trabalho de investimento de capital é efetivamente desenvolvido e aplicado por uma
companhia de capital aberto. No referido PDNG da Petrobras, vemos de maneira bastante sucinta
etapas, objetivos, estratégias e custos de investimentos envolvidos em sintonia com o planejamento
financeiro e orçamentário da companhia para um período de cinco anos. Logo no início do PDNG
da empresa, o disclaimer2 afirma que:
Riscos e incertezas conhecidos incluem, mas não se limitam a: condições
econômicas, regulatórias, políticas e comerciais gerais no Brasil e no exterior,
variações nas taxas de juros, inflação e valor do Real, mudanças nos volumes
e padrão de uso de energia elétrica pelo consumidor, condições competitivas,
nosso nível de endividamento, a possibilidade de recebermos pagamentos
relacionados a nossos recebíveis, mudanças nos níveis de chuvas e de água
nos reservatórios usados para operar nossas hidrelétricas, nossos planos de
financiamento e investimento de capital, regulamentações governamentais
existentes e futuras, e outros riscos descritos em nosso relatório anual e outros
documentos registrados perante a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e
U.S. Securities and Exchange Commission (SEC). (ELETROBRAS, 2018, p. 4)

1 Segundo Assaf Neto e Lima (2014, p. 207), “os investimentos são considerados permanentes quando não destinados
à negociação, mas dirigidos para produzirem benefícios à investidora mediante sua participação nos resultados
de empresas investidas, ou para obtenção de bom relacionamento com os clientes ou fornecedores [...]”. Os autores
destacam ainda que o imobilizado “inclui todos os bens de longa duração (permanentes), que não se destinam a venda, e
utilizados nos negócios da empresa” (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 207).
2 O uso de um disclaimer (resumo explicativo) é prática comum nas empresas de Sociedade Anônima (S.A.) de capital
aberto quando da apresentação de informações econômico-financeiras e operacionais relacionadas à sua atividade, a
orçamentos, a fatos relevantes e a planejamentos para o público externo que possam, direta ou indiretamente, impactar
no valor do negócio e na decisão de investimentos por parte dos acionistas ou do mercado. Vide slide de número quatro
do Plano diretor de negócios e gestão, do período entre 2019 e 2023 (ELETROBRAS, 2018).
32 Planejamento financeiro e orçamentário

É importante lembrar que todo planejamento estratégico de investimentos engloba e


exige a correta mensuração de riscos e retornos esperados. Tal realidade demanda que ele seja,
portanto, o mais abrangente possível e contemple as mais diversas áreas da organização, como a de
contabilidade e os setores financeiros, regulatórios, comerciais e, não menos importante, de análise
dos cenários macro e microeconômico. Tal exercício de planejamento é, por fim, essencial à correta
e precisa decisão de investimento e à influência gerada no negócio em longo prazo.

3.2 Economia nacional e seu impacto nos negócios das empresas


Vídeo
Quando nos referimos ao cenário macroeconômico de um país, estamos
tratando de temas específicos, como inflação, câmbio, taxas de juros, crédito, geração
de emprego, renda e taxa de desemprego. Sabemos que todos esses indicadores
econômicos afetam, direta e indiretamente, os mercados financeiros de um país e,
consequentemente, o desempenho operacional, os resultados e a lucratividade das
empresas.
A explicação para essa realidade, segundo Ross, Westerfield e Jaffre (2002, p. 59), decorre
do fato de a tomada de decisão de investimentos e financiamento requerer “o conhecimento dos
princípios econômicos básicos dos mercados financeiros”. Assim, segundo esse entendimento, “os
mercados financeiros podem ser usados pelos indivíduos para ajustar seus fluxos de consumo e pelas
empresas para ajustar seus fluxos de investimentos” (ROSS; WESTERFIELD; JAFFRE, 2002, p. 59).
Todavia, como ocorre tal relação entre o desempenho de uma economia, o consumo das
famílias e o resultado das empresas? Para responder a essa questão, vejamos como uma análise
macroeconômica publicada pelo IBGE, referente ao desempenho de alguns setores da economia,
pode nos auxiliar a compreender o desempenho de determinado negócio em um mercado. Nesse
caso, considera-se a economia brasileira em 2019 em comparação ao ano anterior:
No acumulado do ano, frente a igual período do ano anterior, o setor de serviços
cresceu 0,6%, com expansão em três das cinco atividades e em 48,8% dos 166
tipos de serviços investigados. Entre os setores, os serviços de informação e
comunicação (3,0%) tiveram o principal impacto positivo. Os demais avanços
vieram de serviços prestados às famílias (4,3%) e de outros serviços (2,7%).
Em contrapartida, as influências negativas ficaram com os segmentos de
transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (-2,5%) e de serviços
profissionais, administrativos e complementares (-0,7%). (IBGE, 2019)

Perceba como, frequentemente, a economia de um país se comporta de maneira bastante


inconstante e imprevisível. Por exemplo, os desempenhos dos mercados e setores industriais e
de serviços reportados no referido período apresentaram bastante variação entre si. Isso reflete
exatamente as duas variáveis-chave de nossa análise: os fluxos de consumo das famílias e os fluxos
de investimento das empresas.
Sabemos que, a todo instante, tais variáveis se ajustam às realidades dos mercados,
às expectativas das pessoas em relação ao futuro de suas rendas e das empresas quanto a seus
desempenhos.
A tomada de decisões de investimento e financiamento 33

Consideremos o exemplo de um empresário brasileiro do setor de transporte de cargas. Ao ler a


mesma análise publicada pelo IBGE (2019), ele se depara com a seguinte frase “as influências negativas
ficaram com os segmentos de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (-2,5%)”. Esse
empresário pode decidir rever seus investimentos em aquisição de novos caminhões, preocupado
com o fraco desempenho dos mercados. Tal decisão (conservadora) de contenção de investimentos
refletiria, portanto, o fraco aquecimento da economia do país e, mais especificamente, do setor de
sua atividade. Entretanto, é importante destacar que tal decisão de corte de gastos (investimentos)
pode ser revista pelo empresário num futuro próximo, caso a situação macro se reverta e os
números se mostrem positivos.
Perceba ainda que, da mesma forma como um industrial revê seus investimentos com base
nas informações e expectativas macroeconômicas de seu mercado, todo cidadão (consumidor
em potencial) também o faz. Assim, não é possível pensarmos em um exercício de planejamento
financeiro ou orçamentário que não esteja efetivamente relacionado aos números da economia
e do mercado de atuação de uma empresa. O conhecimento dos números da economia e o
desempenho financeiro da organização (conforme vimos no início deste capítulo) são essenciais
e determinantes ao sucesso de uma estratégia operacional e de qualquer negócio.

Considerações finais
Podemos tirar muitas conclusões até esse estágio de discussões e estudos a respeito do tema
planejamento financeiro e orçamentário e, mais especificamente, sobre as mais diversas decisões de
investimento e financiamento disponíveis nos mercados.
De todo modo, a definição da melhor combinação de investimento e financiamento
sempre estará determinada por variáveis muitas vezes externas à empresa, como taxa de juros,
câmbio, disponibilidade de crédito, preços de mercado e nível de concorrência. Não que variáveis
relacionadas com as características de negócios, mercado e operacionais da empresa serão excluídas,
mas sim combinadas a fatores voltados à maximização do valor do negócio.
O valor do negócio também será determinado pelo correto e preciso equilíbrio entre
risco e retorno definido pelos gestores e que, portanto, torna-se muitas vezes essencial para
compreendermos a maneira como estes se relacionam com seus acionistas e controladores. Muitas
vezes, a defesa do equilíbrio econômico-financeiro da empresa e sua perpetuação em longo prazo
vão de encontro aos interesses dos acionistas por maiores lucros e maior distribuição de resultados
(dividendos). Isso exige do gestor a capacidade de negociar e planejar de modo a justificar suas
ações, atendendo, da melhor maneira possível, a todos os envolvidos nesse contexto.
34 Planejamento financeiro e orçamentário

Ampliando seus conhecimentos


• GITMAN, L. J. Planejamento de caixa: orçamentos de caixa. In: GITMAN, L. J. Princípios
de administração financeira. São Paulo: Pearson, 2012. p. 108-115.
O capítulo “Planejamento de caixa: orçamentos de caixa” apresenta detalhes sobre o
demonstrativo financeiro chamado orçamento de caixa, o qual compreende todas as
entradas e saídas de caixa da empresa em determinado período. Essa leitura possibilita
conhecer modelos e exemplos de orçamentos de caixa de empresas e o propósito deles,
além da forma como o gestor financeiro pode utilizá-los para determinar as necessidades
de crédito e investimentos.

• ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Capital de giro e equilíbrio financeiro. In: ASSAF
NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Editora Atlas,
2014. p. 645-661.
No capítulo “Capital de giro e equilíbrio financeiro”, é possível estudar com mais
profundidade o conceito de capital de giro e sua importância no equilíbrio financeiro do
negócio. Conforme estudamos, o capital de giro é essencial para a correta e eficaz gestão
financeira da empresa. Assim, seu cálculo e suas aplicações no dia a dia da organização
possibilitam conhecer se a companhia está ou não preparada para sustentar seus negócios
e seus resultados positivos ao longo do tempo.

• ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFRE, J. F. Política de dividendos: por que é


relevante? In: ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFRE, J. F. Administração financeira.
2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 399-417.
No capítulo “Política de dividendos: por que é relevante?”, é possível ler a respeito da
essencial política de dividendos e aprofundar os conhecimentos sobre os tipos de
dividendos, bem como a respeito dos métodos de pagamento existentes. Pode-se também
conhecer em mais detalhes as regras de impostos incidentes e outras que as empresas são
obrigadas a seguir quando definem tal política.

Atividades
1. Levando em conta que o risco e o retorno do investimento devem estar presentes em
qualquer análise de investimento, responda à seguinte questão: como equilibrar o risco e o
retorno de modo a atender a todos os interessados no negócio?

2. Sabemos que toda tomada de decisão financeira deve, de algum modo, contemplar a análise do
orçamento de capital. Portanto, qual a importância da administração do caixa como parte da
estratégia de investimentos de uma empresa?
A tomada de decisões de investimento e financiamento 35

3. Considerando os lucros das empresas, a importância dos dividendos e as suas formas de


pagamento, qual a melhor medição de resultado de uma organização: seu lucro contábil
apurado no período ou o total de dividendos distribuídos?

Referências
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2014.

ELETROBRAS. Plano Diretor de Negócios e Gestão – PDNG 2019-2023. Rio de Janeiro: Eletrobras, 2018.
Disponível em: https://eletrobras.com/pt/GestaoeGorvernancaCorporativa/PDNG_2019-2023.pdf. Acesso
em: 31 jul. 2019.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Pearson, 2012.

IBGE. Em abril, setor de serviços cresce 0,3%. Agência de notícias. Rio de Janeiro, 13 jun. 2019. Disponível em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/24822-
em-abril-setor-de-servicos-cresce-0-3. Acesso em: 31 jul. 2019.

ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFRE, J. F. Administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
4
O planejamento de caixa e seus fundamentos

Neste capítulo, estudaremos um importante tema: planejamento de caixa e seus fundamentos.


Iniciaremos conhecendo a execução desse planejamento, bem como a análise do fluxo de caixa da
empresa e suas peculiaridades, além de tratarmos da essencial e sensível questão da depreciação
e seu impacto no caixa das companhias. Por fim, discutiremos a respeito dos conceitos e da
importância do fluxo de caixa financeiro para, em seguida, debatermos em profundidade sobre o
Fluxo de Caixa Operacional e o Fluxo de Caixa Livre da empresa, observando que o entendimento
a respeito do fluxo de caixa exige que o profissional ou estudante de finanças esteja familiarizado
com os principais conceitos relacionados à contabilidade, sistemas de informações, administração,
marketing e operações do negócio analisado.
No entanto, antes de tratarmos desses temas em maiores detalhes, precisamos compreender a
importância do fluxo de caixa no planejamento financeiro e orçamentário das empresas atualmente.
Sabemos que toda organização deve concentrar suas ações no cumprimento dos objetivos de seus
sócios controladores e demais acionistas, sendo que esses objetivos normalmente envolvem uma
administração focada nos ganhos de eficiência e produtividade e voltada, principalmente, ao
crescimento das vendas, à manutenção de custos, às despesas dentro de parâmetros razoáveis e à
obtenção de margens operacionais e resultados (lucros) conforme o esperado.
Portanto, a execução do planejamento de caixa da organização oferece uma ferramenta de
controle contábil e de análise gerencial imprescindível à administração do negócio e, sobretudo,
um “retrato” preciso de seu desempenho financeiro em curto, médio e longo prazos. Tudo isso
deve sempre considerar as metas almejadas pelos gestores.
Conforme defende Gitman (2012), espera-se que o profissional de finanças conheça as
conexões entre o fluxo de caixa e o planejamento financeiro do negócio analisado. Tal fato ocorre,
primeiramente, compreendendo-se as relações entre os procedimentos fiscais referentes à apuração
e ao lançamento da depreciação de seus ativos imobilizados e o efeito desses montantes no valor
da empresa e no resultado contábil do negócio. Posteriormente, deve-se compreender como o
planejamento estratégico e operacional afeta os resultados e os números reportados no Fluxo de
Caixa Operacional e no Fluxo de Caixa Livre da empresa.

4.1 Análise do fluxo de caixa da empresa


Vídeo
Sabemos que o cálculo, a apuração, a análise e a administração dos fluxos
de caixa estão entre as principais responsabilidades do gestor. Também é de nosso
conhecimento que cabe a esse profissional de finanças atuar continuamente de
modo a gerar valor ao acionista. Portanto, qualquer decisão tomada pelos gestores
deve (sempre) ser precedida do conhecimento de seu impacto no fluxo de caixa do
38 Planejamento financeiro e orçamentário

negócio e no preço do papel em bolsa de valores1. Assim, a expansão de uma planta fabril, a criação
de uma nova linha de produção, o lançamento de um novo produto, a decisão de investimento (ou
desinvestimento) ou mesmo o aumento ou a redução de seus preços de venda, por exemplo, devem
ser criteriosamente avaliados pela perspectiva dos impactos na liquidez do negócio e no valor da
companhia para os acionistas.
Vejamos uma notícia publicada pela revista Exame em 28 de fevereiro de 2019 a respeito do
resultado da Petrobras em 2018. Perceba como todas as informações da matéria buscam explicar as
razões do desempenho econômico-financeiro do negócio no período em questão:
São Paulo – As ações da Petrobras registravam valorização na manhã desta
quinta-feira. Por volta das 10h30, os papéis preferenciais subiam 2,14%
e os ordinários em 1,30%, sendo negociados na casa dos R$ 27 e R$ 21,
respectivamente. O mercado repercute os dados apresentados pela estatal
na noite de ontem. Em 2018, a companhia registrou lucro líquido de 25,8
bilhões de reais, após quatro anos consecutivos de prejuízos. Foi o primeiro
desempenho positivo depois de estourar o escândalo de corrupção investigado
pela operação Lava Jato, em 2014. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos,
depreciação e amortização) ajustado somou 114,8 bilhões de reais, ante
76,5 bilhões de reais em 2017. No quarto trimestre. A receita de vendas da
Petrobras totalizou 349,8 bilhões de reais em 2018, aumento de 23% ante
2017, refletindo os maiores preços dos derivados de petróleo no mercado
interno, principalmente diesel e gasolina, e das exportações, afirmou a
empresa. (MAMONA, 2019)

Podemos notar, inclusive, a preocupação da companhia em reportar os dados do impacto de


seu desempenho no preço dos papéis em bolsa de valores quando a autora afirma: “Por volta das
10h30, os papéis preferenciais subiam 2,14% e os ordinários em 1,30%, sendo negociados na casa
dos R$ 27 e R$ 21, respectivamente” (MAMONA, 2019). Portanto, podemos concluir que empresas
de capital aberto (notadamente as de médio e grande porte) tendem a tomar suas decisões (sejam
financeiras, operacionais, mercadológicas ou de precificação) considerando seu resultado contábil
(ou gerencial) e, prioritariamente, a reação e a precificação que tais movimentos trarão ao preço do
papel em bolsa de valores.
Na sequência, vamos analisar as principais contas que expressam entradas ou saídas de caixa
e discutir a maneira como tais movimentos devem ser analisados e incorporados à análise do fluxo
de caixa da companhia.

4.1.1 Depreciação
Definimos depreciação como o modo pelo qual a diminuição do valor de bens do Ativo
Imobilizado2 é contabilizada e registrada, sendo resultado do desgaste advindo de sua utilização.

1 Caso a empresa seja uma S.A. de capital aberto e tenha suas ações negociadas em bolsa de valores, toda ação
de seus gestores financeiros (de uma forma ou de outra) gerará impacto positivo ou negativo no preço negociado do
papel pelos investidores. Se a empresa for Limitada (Ltda.) e não tiver, obviamente, acionistas nos mercados, seu “valor”
também (direta ou indiretamente) estará relacionado a tal desempenho.
2 O Ativo Imobilizado é definido como a soma de todos os bens adquiridos pela empresa e mantidos para uso nas
próprias operações produtivas ou a seu serviço.
O planejamento de caixa e seus fundamentos 39

Segundo Gitman (2012), um dos principais fatores que afetam o fluxo de caixa do negócio é a
depreciação3, sendo considerada um tipo de despesa não reembolsável.
Para fins fiscais e de relatórios financeiros, as empresas podem lançar contra
as receitas anuais uma parte dos custos do Ativo Imobilizado. Essa alocação de
custos históricos ao longo do tempo é chamada depreciação. Para fins fiscais, a
depreciação dos ativos da empresa é regulada pela legislação tributária. Como
os objetivos dos relatórios financeiros às vezes diferem dos encontrados na
legislação tributária, as empresas muitas vezes usam métodos de depreciação
diferentes para os dois fins. É perfeitamente legítimo manter dois conjuntos
separados de registros para esses dois propósitos. (GITMAN, 2012, p. 95)

Sabemos que as empresas devem calcular a depreciação de seus ativos por meio de diversos
métodos, segundo a exigência da legislação local e conforme seus objetivos de controle gerencial
de resultados. O valor da “despesa de depreciação” lançada nos demonstrativos de resultados
(para cada período) dependerá diretamente da relação entre o valor contábil do bem e sua vida
útil, definida como o prazo ao longo do qual o ativo se depreciará. Além disso, a “despesa de
depreciação”, lançada em determinado período fiscal, tem papel absolutamente relevante no cálculo
e na apuração dos impostos e das contribuições de qualquer empresa, exatamente por refletir o
reconhecimento da depreciação de seus bens.
Assim, conforme vimos anteriormente, a depreciação é a perda de valor de um bem em
virtude de seu uso no cotidiano da operação do negócio, aplicável ao Ativo Permanente, ou seja,
a bens adquiridos com a expectativa de serem usados por mais de um ano. Por essa razão, é
extremamente importante que a empresa proceda com a correta depreciação de seus ativos de
modo a ter pleno controle sobre suas finanças e reduzir os riscos inerentes ao negócio. Quando
o gestor financeiro (nesse caso, o contador) registra a depreciação como um custo intrínseco à
produção, o montante lançado contabilmente (em conta determinada) começa a ser descontado
do lucro líquido da empresa, e, somado a esse impacto redutor do lucro, cabe ao contador proceder
ao registro preciso de tal montante lançado a título de depreciação no período fiscal em questão.
Do mesmo modo, as corretas apurações dos valores e as inequívocas contabilizações vão
permitir a correção do valor do bem ao longo dos anos – o qual será reduzido em razão de seu
desgaste natural pelo seu uso no tempo. Isso também gera reflexos nos impostos a pagar, no lucro
e nas saídas de caixa da empresa. Portanto, neste momento, temos um claro exemplo da forma
como um lançamento contábil (nesse caso, “despesa com depreciação”) de caráter estratégico afeta
diretamente o caixa da companhia e seus resultados aos acionistas.
Para concluir essa análise sobre a importância da depreciação e seu impacto no fluxo de
caixa, faz-se necessário diferenciar os termos depreciação econômica e depreciação fiscal.
As novas regras contábeis introduzidas pela Lei n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007) e pela Lei
n. 11.941/2009 (BRASIL, 2009) estabelecem que as empresas façam criteriosa análise do seu ativo

3 Segundo Gitman (2012, p. 95), “a depreciação é o lançamento sistemático de uma porção dos custos dos Ativos
Imobilizados contra as receitas anuais com o passar do tempo. E, segundo esta análise, o sistema modificado de
recuperação acelerada de custos (MACRS – modified accelerated cost recovery system) é usado para determinar a
depreciação de ativos para fins fiscais”.
40 Planejamento financeiro e orçamentário

imobilizado, estimando sua vida útil de modo a possibilitar o cálculo, a apuração e o lançamento
do que se denomina depreciação econômica.
Segundo o Pronunciamento Técnico CPC 27 (CPC, 2009), tal procedimento contábil,
independente do regime tributário da pessoa jurídica, é obrigatório. A depreciação econômica usa
critérios (estratégicos) aplicados pela organização, sendo que o gestor financeiro determina a vida
útil econômica dos bens depreciáveis por meio de um laudo técnico interno ou externo – de modo
que tal depreciação seja calculada somente sobre o valor depreciável (custo de aquisição do bem –
valor residual do bem4 = valor depreciável).
Por outro lado, a Receita Federal do Brasil oferece um benefício às empresas, aceitando,
para fins tributários, a depreciação fiscal como base para o cálculo do Imposto de Renda Pessoa
Jurídica (IRPJ)5. Devemos destacar que tal elaboração é facultativa por se tratar de um benefício
tributário às empresas que trabalham no regime de lucro real. Portanto, concerne ao profissional
de contabilidade acessar a tabela de prazo de vida útil e de taxa de depreciação dos bens destinados
ao Ativo Imobilizado, considerando que se refere a uma despesa dedutível no cálculo do Imposto
de Renda Pessoa Jurídica e na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)6.
Desse modo, é o gestor financeiro que decide, segundo o nível de depreciação desejado, o
impacto que a despesa de depreciação pode ter sobre o fluxo de caixa da empresa. Por exemplo,
quanto mais longa a vida útil do bem, menor é o valor lançado a cada período reportado na conta
“depreciação” no demonstrativo de resultados. O oposto é certamente verdadeiro: um ativo mais
rapidamente depreciado gera uma despesa de depreciação maior, com maior impacto redutor no
caixa e no lucro do negócio.
Gitman (2012, p. 96) descreve seis prazos de depreciação alinhados com a classificação
dos ativos7, segundo as categorias do Sistema de Recuperação de Custos Acelerados Modificados
(MACRS) para períodos de 3, 5, 7, 10, 15 e 20 anos de vida útil. A seguir, para maiores
análises e discussões, veremos exemplos de cálculo de períodos de depreciação das quatro
primeiras categorias:
• 3 anos: ativos designados como equipamentos de pesquisa e ferramentas especiais. Nesse
caso, serão lançados a título de despesa de depreciação 33% do valor contábil de aquisição
do bem anualmente.
• 5 anos: ativos designados como computadores, veículos automotores e equipamentos
tecnológicos. Nesse caso, serão lançados a título de despesa de depreciação 20% do valor
contábil de aquisição do bem anualmente.

4 Ao final da vida útil econômica do bem, a empresa terá contabilizado apenas uma fração do valor original lançado no
Ativo Imobilizado, a qual se denomina valor residual.
5 A Instrução Normativa RFB n. 1.881, de 03 de abril de 2019, altera a Instrução Normativa RFB n. 1.700, de 14 de março
de 2017, que dispõe sobre IRPJ, CSLL, Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins (BRASIL, 2019).
6 Segundo a Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil – RFB nº 1700/17.
7 Devemos lembrar que determinadas categorias de ativos não são depreciáveis. Assim, os imóveis têm regras
especiais para depreciação, dado que os terrenos não sofrem depreciação, a qual deve ser apenas aplicada e calculada
sobre as construções e benfeitorias.
O planejamento de caixa e seus fundamentos 41

• 7 anos: ativos designados como equipamentos industriais em geral e materiais de escritório.


Nesse caso, serão lançados a título de despesa de depreciação 14% do valor contábil de
aquisição do bem anualmente.
• 10 anos: ativos designados como equipamentos industriais voltados ao setor petroquímico.
Nesse caso, serão lançados a título de despesa de depreciação 10% do valor contábil de
aquisição do bem anualmente.
Podemos notar que cada tipo de ativo tem, segundo a classificação mencionada, um período
padrão para cálculo e lançamento de despesa de depreciação, cujos impactos no resultado da
operação estarão refletidos no fluxo de caixa da empresa no período específico de apuração.

4.2 Planejamento, apresentação e elaboração dos tipos de fluxos


de caixa
Vídeo Abordaremos de início os três principais componentes do fluxo de caixa:
Fluxo de Caixa Financeiro, Fluxo de Caixa Operacional e Fluxo de Caixa Líquido.
Segundo Ross, Westerfield e Jaffre (2002, p. 43), “talvez o item mais importante
que pode ser extraído das demonstrações financeiras seja o fluxo de caixa efetivo
da empresa”. Tal afirmação faz todo sentido em razão de a demonstração do fluxo
de caixa ajudar a explicar as variações dos saldos de caixa da empresa e de seus investidores – os
autores denominam de Fluxo de Caixa Financeiro (FCF), com base nas variações do caixa das
operações, nos gastos de capital, nas variações do capital de giro utilizado no negócio e nos fluxos
dos credores e do pagamento aos acionistas.
Ross, Westerfield e Jaffre (2002, p. 43-44) descrevem ainda que, dado que o valor dos
ativos da empresa é sempre igual ao valor de seus passivos mais o valor de seu patrimônio (ativo
= passivo + PL), os fluxos de caixa recebidos desses mesmos ativos FC(A) advindos de sua
operação devem ser iguais aos fluxos de caixa pagos aos credores FC(B) e aos acionistas FC(S)
e outros. Logo:

FC(A) = FC(B) + FC(S)


42 Planejamento financeiro e orçamentário

Vejamos agora um exemplo de Fluxo de Caixa Financeiro (FCF) da Indústria ABC S.A.:
Figura 1 – Fluxo financeiro da Indústria ABC S.A.

Indústria ABC S.A.

Fluxo de Caixa Financeiro


Ano Base X1

Fluxo de Caixa da Empresa Em R$ MM*

Fluxo de Caixa das Operações 476


(Lucros antes dos Juros e Impostos, mais Depreciação menos Impostos)

Gastos de Capital -346,00


(aquisição de Ativos Fixos menos vendas de Ativos Fixos)

Acréscimo de Capital de Giro Líquido -46,00

Total 84,00

Fluxo de Caixa aos Investidores na Empresa

Credores 72,00
(Juros mais resgate de Dívidas menos Financiamento de Longo Prazo)

Acionistas 12,00
(Dividendos mais recompras de Ações menos novos Recursos Próprios)

Total 84,00
*Em milhões de reais.

Fonte: Adaptada de Ross; Westerfield e Jaffre, 2002, p. 43.

Veremos agora os cinco itens que compuseram o Fluxo de Caixa Financeiro da indústria
ABC S.A., sendo eles: fluxo de caixa das operações, gastos de capital, acréscimo de capital de giro
líquido, credores e acionistas.
Todo trabalho de cálculo do fluxo de caixa da empresa deve, portanto, iniciar com o cálculo
do Fluxo de Caixa da Operação (FCO), que nada mais é que os recursos efetivamente gerados
pelo negócio ou atividade-fim da empresa. Segundo Gitman (2012, p. 102), “é o fluxo de caixa que
ela gera a partir de suas operações regulares – produção e venda de bens e serviços”. Ele pode ser
calculado pela fórmula:

FCO = LAIR + depreciação – Imposto de Renda


(sendo LAIR o lucro antes do pagamento de Imposto de Renda)
O planejamento de caixa e seus fundamentos 43

Tal fluxo de caixa das operações inclui as vendas de bens e as efetivas receitas de prestação
de serviços, quando for o caso. Somado a isso, o FCO deve incluir o pagamento de impostos de
fato efetuado pela empresa, excluindo-se financiamentos, gastos de capital ou variação do capital
de giro líquido. Nesse exemplo, ficou assim calculado:
Figura 2 – Fluxo de caixa das operações da Indústria ABC S.A.

Em R$ MM*

Lucros antes dos Juros e Impostos 438

Depreciação 180

Impostos Correntes -142

Fluxo de Caixa das Operações 476

*Em milhões de reais.

Fonte: Adaptada de Ross; Westerfield e Jaffre, 2002, p. 43.

No que se refere aos gastos de capital, os quais refletem as variações efetivas de Ativos Fixos
nos balanços da empresa no período de análise, a variação líquida (ou fluxo de caixa em gastos de
capital) será sempre calculada com base na diferença entre as vendas de Ativos Fixos (entrada de
recursos no caixa da empresa) reduzidas da aquisição de Ativos Fixos (saída de recursos do caixa
da empresa). Nesse exemplo, o cálculo fica da seguinte forma:
Figura 3 – Gastos de capital da Indústria ABC S.A.

Em R$ MM*

Aquisição de Ativos Fixos -396

Vendas de Ativos Fixos 50

Gastos de Capital -346


*Em milhões de reais.

Fonte: Adaptada de Ross; Westerfield e Jaffre, 2002, p. 43.

Nesse caso, o fluxo de caixa foi impactado pela variação de R$ 46 milhões de reais referentes
a aumentos do capital de giro líquido. Já o fluxo de caixa aos investidores foi calculado com base
nos saldos de credores e acionistas, conforme demonstrado a seguir:
Figura 4 – Total do serviço da dívida/Total credores da Indústria ABC S.A.

Em R$ MM*

Juros 98

Amortizações e Quitações/Resgates de Dívidas 146

Total do Serviço da Dívida 244

Novos Títulos de Longo Prazo -172

Total Credores 72

*Em milhões de reais.

Fonte: Adaptada de Ross; Westerfield e Jaffre, 2002, p. 43.


44 Planejamento financeiro e orçamentário

O fluxo de caixa distribuído aos credores é composto dos pagamentos dos juros dos
empréstimos tomados pela empresa e o eventual pagamento de montantes financeiros referentes
ao valor principal do empréstimo ou amortizações de empréstimos. A empresa pode também
emitir novas dívidas e obter recursos para investimento de longo prazo.
Por fim, o fluxo de caixa deve ser distribuído aos acionistas. Segundo a definição de Ross,
Westerfield e Jaffre (2002, p. 44), o fluxo de caixa distribuído aos acionistas é medido pelo efeito
líquido do pagamento de dividendos, mais recompras de ações, menos emissão de novas ações.
Vejamos como essa distribuição foi efetuada no exemplo anterior:
Figura 5 – Pagamentos aos acionistas/Total credores da Indústria ABC S.A.

Em R$ MM*

Dividendos 86

Recompras de Ações 12

Pagamentos aos Acionistas 98

Venda de Novas Ações -86

Total Credores 12
*Em milhões de reais.

Fonte: Adaptada de Ross; Westerfield e Jaffre, 2002, p. 43.

Já o Fluxo de Caixa Livre (FCL) de uma empresa é, segundo Gitman (2012, p. 103), “o valor
do fluxo de caixa disponível para os investidores (credores e proprietários), após a cobertura das
necessidades operacionais e investimentos em Ativo Imobilizado Líquido e Ativo Circulante
Líquido”. Portanto, temos que:

FCL = FCO – IAFL – IACL

Ou seja, o FCL é o resultado do FCO deduzido do investimento no Ativo Fixo Líquido (IAFL)
e do investimento no Ativo Circulante Líquido (IACL). O investimento no Ativo Fixo Líquido
(IAFL) deve ser calculado pela soma entre a variação do Ativo Fixo Líquido e a depreciação no
período, desta forma:

IAFL = Variação Ativo Fixo Líquido + Depreciação

O investimento no Ativo Circulante Líquido (IACL), segundo Gitman (2012, p. 104),


representa o investimento líquido que a empresa faz em seus ativos circulantes (operacionais), ou
seja, trata-se de recursos que objetivam manter a empresa operando em longo prazo, executando as
O planejamento de caixa e seus fundamentos 45

atividades a que se propõe. Desse modo, o IACL será definido como o Ativo Circulante e a soma de
fornecedores e contas a pagar. É importante lembrar que “Banco a Pagar” não é incluído no cálculo
do IACL porque representa um direito negociado do credor contra o Fluxo de Caixa Líquido da
empresa. Vejamos a fórmula do Ativo Circulante Líquido em linha com esse conceito:

IACL = Variação Ativo Circulante – Variação (Fornecedores + Contas a Pagar)

Considerações finais
A discussão a respeito do fluxo de caixa e seus fundamentos teve como ponto de partida a
importância da sua correta elaboração pela gestão financeira da empresa. Tratamos igualmente da
relevância dos fluxos de caixa como parte de uma administração contábil-financeira voltada ao
atendimento dos objetivos organizacionais, em primeiro lugar, e dos acionistas, em segundo.
Nesse sentido, o planejamento e os demonstrativos de caixa são os referenciais indispensáveis
para uma gestão financeira baseada em valor e que pretende atender às exigências legais e contábeis
do país e às expectativas de investidores, credores, sócios, acionistas e do mercado como um todo.
Tratamos também da depreciação e vimos sua enorme relevância no cálculo dos fluxos
de caixa financeiro, operacional e de caixa livre da empresa, os quais são essenciais ao perfeito
conhecimento da situação financeira da organização. E temos sempre que enxergar o fluxo de caixa
como reflexo das atividades da empresa e dos seus resultados operacionais, de suas decisões e seus
gastos com investimentos, bem como de suas estratégias de financiamento, como resultado de um
planejamento de caixa e de liquidez.

Ampliando seus conhecimentos


• GITMAN, L. J. Fluxo de caixa e planejamento financeiro. In: GITMAN, L. J. Princípios de
administração financeira. São Paulo: Pearson, 2012. p. 105.
No capítulo “O fluxo de caixa livre do eBay”, o autor reforça os conceitos sobre fluxo
de caixa e sua importância para a gestão de um novo negócio, conforme as discussões
levantadas em nossos estudos. Nesse caso em especial, é possível refletir, mais uma vez,
sobre a importância do planejamento financeiro e de caixa para os novos negócios,
altamente demandadores de novidades tecnológicas. Pode-se também analisar como a
liquidez e a sustentação do caixa ao longo do tempo são essenciais ao gestor do negócio,
aos investidores e ao mercado.
46 Planejamento financeiro e orçamentário

• PETROBRAS. Conheça importantes indicadores que reforçam nossa capacidade


operacional. Fatos e dados. Rio de Janeiro, 11 abr. 2016. Disponível em: http://www.
petrobras.com.br/fatos-e-dados/conheca-importantes-indicadores-que-reforcam-nossa-
capacidade-operacional.htm. Acesso em: 8 ago. 2019.
Nesse blog da Petrobras, há uma excelente análise a respeito de indicadores operacionais da
empresa que relacionam os conceitos de Ebitda, Lucro Bruto, Fluxo de Caixa Livre e Receita
Operacional Líquida do exercício de 2015 da companhia. Nessa leitura, é possível relacionar
os conceitos destacados pela empresa e perceber a importância deles na informação e no
detalhamento do desempenho da companhia, conforme discutido neste capítulo.

• BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder


Legislativo, Brasília, DF, 28 dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso em: 8 ago. 2019.
A leitura sugerida proporciona o aprofundamento do que foi discutido neste capítulo com
maior detalhamento sobre as leis, as regulamentações e os atos do Executivo no que tange
à obrigatoriedade de divulgação de demonstrações financeiras no Brasil.

Atividades
1. Reflita sobre como os contabilistas das empresas podem alterar o lucro publicado para
apresentar demonstrativos de resultados mais favoráveis aos acionistas. Depois, responda às
seguintes questões: qual o risco existente de uma gestão fraudulenta ‘‘maquiar’’ os resultados
em determinado período e quais instrumentos são utilizados atualmente para coibir tal
prática no caso brasileiro e, especificamente, na questão do fluxo de caixa?

2. Neste capítulo, afirmamos que o financista precisa compreender a forma como o


planejamento estratégico e operacional afeta os resultados e os números reportados pela
empresa. Se for efetuado um planejamento estratégico e de venda equivocado, que prejudique
os recebimentos das vendas efetuadas e faturadas, como essa realidade deverá afetar o fluxo
de caixa da empresa?

3. Pense a respeito do que tratamos neste capítulo entre a diferença de lucro e caixa gerado pela
operação do negócio no tempo e responda: uma empresa endividada pode ser mais valiosa
na visão do mercado financeiro e de capitais que uma similar sem dívida?
O planejamento de caixa e seus fundamentos 47

Referências
BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 28
dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso
em: 8 ago. 2019.

BRASIL. Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 27
maio 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm.
Acesso em: 8 ago. 2019.

BRASIL. Instrução normativa RFB n. 1.700, de 14 de março de 2017. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 05 abr. 2019. Disponível em: hhttp://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.
action?visao=anotado&idAto=99916. Acesso em: 8 ago. 2019.

BRASIL. Instrução normativa RFB n. 1.881, de 03 de abril de 2019. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 16 mar. 2017

CPC – COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico CPC 27. Brasília,


2009. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/316_CPC_27_rev%2003.pdf. Acesso em:
8 ago. 2019.

GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Pearson, 2012.

MAMONA, K. Petrobras volta a lucrar e as ações sobem na bolsa. Exame. Disponível em: https://exame.abril.
com.br/mercados/petrobras-volta-a-lucrar-e-as-acoes-sobem-na-bolsa/. Acesso em: 8 ago. 2019.

ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFRE, J. F. Administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
5
A administração do capital de giro e análise
risco/retorno do negócio

Neste capítulo, discutiremos o conceito de capital de giro e a importância do equilíbrio


financeiro da organização. O objetivo é tratarmos da importância do financiamento e
administração do caixa nas empresas, entendendo as relações entre os setores de contas a pagar e
de contas a receber. Por fim, buscaremos compreender as relações entre o conceito e o significado
de risco/retorno do negócio.
Administrar o capital de giro (ou capital circulante) de uma empresa significa tomar a todo
instante decisões de compras e vendas que diretamente afetam a entrada e a saída de recursos
(dinheiro) em caixa. Somada a isso, a administração do capital de giro também incorpora toda
a atividade própria do negócio (atividade operacional) e qualquer outro movimento financeiro
exigido para sua atividade no dia a dia dos negócios.
Dessa forma, a administração do capital de giro (conceito que precisa ser compreendido sob
a perspectiva de englobar todas as ações que podem, direta ou indiretamente, afetar a entrada ou a
saída de dinheiro da empresa) deve, portanto, garantir que a companhia execute todas as atividades
de compra e venda de matérias-primas, materiais, produtos e serviços dentro de condições
financeiras razoáveis e com prazos desejados.
O equilíbrio econômico-financeiro de uma empresa depende de diversos fatores. Entre eles,
podemos destacar: planejamento estratégico coerente com a realidade do negócio, conhecimento
profundo de seu mercado e da concorrência, constante busca por eficiência e produtividade,
estabelecimento de políticas de preços e vendas em linha com expectativas de crescimento e,
como já sabemos, total comprometimento com a geração de valor aos acionistas. Entretanto, tal
equilíbrio requer atenção na administração do capital de giro, sob o risco de faltarem recursos para
a continuidade da operação e do negócio.
Veremos neste capítulo que o dilema da tomada de risco pelos gestores diante do retorno
esperado do negócio encontra-se intimamente relacionado à correta administração do capital
de giro. Da mesma forma, esse aspecto é absolutamente dependente da maneira pela qual os
investimentos em Ativos Circulantes são administrados.

5.1 Conceito e administração do capital de giro


Vídeo
É importante destacar que, mesmo as empresas que oferecem produtos e
serviços de excelência, podem, muitas vezes, fracassar em suas atividades (gerar
prejuízos, encerrar atividades ou perder mercados etc.) exclusivamente em
razão da ausência de um planejamento financeiro adequado, o qual garanta o
financiamento de sufas atividades em condições de volume (montante) e custos
50 Planejamento financeiro e orçamentário

(juros) minimamente razoáveis. Portanto, encontra-se na correta administração do caixa (e do


capital de giro) a certeza de manutenção das atividades da organização no tempo.
Gerir adequadamente o volume e financiar o Ativo Circulante (ou seja, caixa, contas
a pagar e contas a receber) a juros baixos, segundo parâmetros competitivos de mercado, é
trabalho essencial da gestão financeira baseada em valor. Desse modo, cabe ao gestor financeiro
manter-se também atento às relações entre a administração do capital de giro e a análise de
risco/retorno do negócio.
Gitman (2012) defende a importância da administração financeira de curto prazo e os
fundamentos que sustentam o conceito de capital de giro como essenciais ao entendimento da
geração de valor do negócio ao acionista. Para o autor, estes são cruciais à administração dos negócios
atualmente, extrapolando o simples trabalho contábil-financeiro de administração de caixa. Assim,
deve-se colocar no centro desse estudo o valor da correta administração do caixa, lembrando de
sua essencialidade como reflexo dos investimentos empenhados no curso normal das atividades
corporativas, a relevância da liquidez financeira e as perspectivas do risco corporativo diante dos
retornos financeiros esperados pelos acionistas.
Quando pensamos em capital de giro, estamos nos referindo às decisões financeiras de curto
prazo tomadas pelos administradores da empresa. Portanto, toda decisão financeira ou operacional
que afete os Ativos ou Passivos Circulantes e traga efeito para entidade em prazo inferior a um
ano está diretamente relacionada ao capital de giro. Antes de prosseguirmos, porém, é necessário
conhecermos dois importantes conceitos: o Ativo Circulante e o Passivo Circulante.
O Ativo Circulante (AC) é caracterizado pelos saldos de caixa e demais ativos que podem
ser transformados em caixa em no máximo um ano. Normalmente suas contas são apresentadas
no Balanço Patrimonial em ordem decrescente dessa liquidez (ou seja, a capacidade ou a facilidade
de esses ativos serem transformados em dinheiro nesse curto prazo de tempo). Como exemplos
de contas do AC, destacam-se: caixa, aplicações de curto prazo, contas a receber de curto prazo,
estoques e demais itens líquidos do ativo.
O Passivo Circulante (PC) é representado por todas as formas de endividamento (obrigações)
de curto prazo que devem ser liquidadas, em dinheiro, também no prazo máximo de um ano.
Como exemplos de contas componentes do PC, destacam-se: contas a pagar de curto prazo,
salários e fornecedores a pagar, impostos a recolher, financiamentos bancários de curto prazo a
pagar e outros itens do passivo devidos em curto prazo.
Ross, Westerfield e Jaffre (2002, p. 599) afirmam que o conceito de Capital de Giro Líquido
(CGL) está diretamente relacionado a toda decisão financeira de curto prazo tomada pela empresa.
Essas decisões envolvem, necessariamente, entradas e saídas de caixa no prazo máximo de um ano.
Além disso, segundo o autor, o CGL deve ser calculado com base na diferença entre os saldos do
Ativo Circulante e do Passivo Circulante.
Segundo Assaf Neto e Lima (2014), o capital de giro equivale aos Ativos Circulantes mantidos
por uma empresa e representa o valor total dos recursos demandados para o financiamento do ciclo
operacional, englobando, assim, as suas necessidades circulantes identificadas desde a aquisição de
matérias-primas até a venda e o recebimento dos produtos elaborados.
A administração do capital de giro e análise risco/retorno do negócio 51

De todo modo, o que se busca, segundo esses autores, é definir e compreender a centralidade
de três questões e desafios ao dia a dia do negócio, os quais exigem bastante atenção e cuidado por
parte dos gestores financeiros:

1. Qual é o nível ideal de caixa que a empresa deve manter em conta


corrente nos bancos de modo a garantir o pagamento de seus
compromissos no cotidiano de suas operações?
2. Qual é o nível razoável e seguro de estoques no período?
3. Quanto e qual nível de crédito a empresa deve conceder para sustentar
suas vendas aos clientes?

Tal fato ocorre não apenas em função dos altos custos de financiamento – especialmente
pensando em empresas operando no Brasil, em que as taxas de juros são normalmente altas em
comparação aos padrões internacionais –, mas em razão de diversos custos e riscos envolvidos na
operação de negócios localmente. Nesse sentido, compreender a realidade de risco e retorno do
negócio e a necessidade de manter um capital de giro líquido, a fim de possibilitar o financiamento
da operação e a liquidez no dia a dia, exige trabalho dos gestores e profundo conhecimento da real
situação dos números da companhia no curto prazo.
Desse modo, administrar o capital de giro demanda fundamentalmente bom conhecimento
do ciclo operacional da empresa, o qual Assaf Neto e Lima (2014, p. 646) definem como “o período
identificado desde a compra da matéria-prima (ou mercadoria) até a venda e recebimento do
produto vendido”. Assim, quando a organização lança mão de recursos próprios ou de terceiros
(empréstimos bancários) para financiar seu Ativo Circulante na etapa inicial do processo de
produção e venda para, em seguida, utilizá-lo para financiar suas vendas e demais necessidades
de caixa nas etapas posteriores da operação, estará precisamente gerando esse ciclo operacional.
A esse processo Assaf Neto e Lima (2014, p. 647) chamam de ininterrupto e é representado
exatamente pelo fluxo de recursos, que, primeiramente, financia a produção da empresa por meio
da compra de estoques de matérias-primas e demais pagamentos dos denominados Custos Fabris.
Numa segunda etapa, esses recursos são representados pelos estoques de produtos acabados
que se encontram disponíveis para venda aos clientes. E na terceira etapa do processo, a efetiva
venda possibilita que a empresa receba os recursos à vista (creditando caixa) ou financie seus
clientes (creditando contas a receber), iniciando o processo. A companhia pode, ainda, descontar
as duplicatas lastreadas nos faturamentos a prazo a seus clientes nos bancos e receber à vista os
recursos, descontados custos, impostos e juros cobrados pelo banco.
Como as atividades operacionais de uma empresa exigem uma série de eventos e decisões,
faz-se necessário sabermos medir as consequências de cada ato, tanto sob a ótica das ações
gerenciais, quanto sob a perspectiva da produção e dos impactos no caixa da entidade.
52 Planejamento financeiro e orçamentário

Ross, Westerfield e Jaffre (2002) destacam uma série de “eventos e decisões” do ciclo
operacional que acabam por gerar impactos no ciclo de caixa no dia a dia do negócio, conforme
demonstra o Quadro 1 a seguir.
Quadro 1 – Eventos e decisões do ciclo operacional

Eventos Decisões
Compra de matéria-prima Qual o nível de estoques?

Pagamento das compras Utilizar linhas de crédito bancário ou recursos próprios (caixa)?

Produção (fabricação) Qual tecnologia utilizar no processo produtivo?

Venda dos produtos Venda à vista ou a prazo?

Recebimento das vendas Processo de cobrança


Fonte: Adaptado de Ross; Westerfield; Jaffre, 2002, p. 602.

Os autores destacam que tais eventos geram uma série de reflexos “não sincronizados” e
“incertos” de entradas e saídas de caixa no decorrer dos períodos. Não sincronizados em virtude de
os pagamentos da matéria-prima não ocorrerem na mesma data dos recebimentos das vendas aos
clientes. Incertos em razão de os recebimentos das vendas poderem não ocorrer pela inadimplência
e porque os custos futuros de produção e de vendas são difíceis de prever.
Dessa maneira, o ciclo operacional é definido pelo prazo decorrido da chegada da matéria-prima
nos estoques da empresa até o recebimento efetivo das vendas pagas pelos clientes. O ciclo de caixa,
por sua vez, começa com o efetivo pagamento das compras de matérias-primas e termina com os
recebimentos das contas a receber de clientes. Logo, o conceito de linha de tempo do fluxo de caixa
incorpora um ciclo operacional e um ciclo de caixa relativos às operações da empresa. Segundo
Ross, Westerfield e Jaffre (2002, p. 603),
a necessidade de tomada de decisões financeiras a curto prazo é indicada pela
defasagem entre as entradas e as saídas de caixa. Essa defasagem depende
da duração do ciclo operacional e do prazo para pagamento de contas. Essa
defasagem pode ser coberta pela obtenção de empréstimos ou pela manutenção
de uma reserva de liquidez em títulos negociáveis. Pode ser encurtada pela
alteração dos prazos de estoques, contas a receber e contas a pagar.

Nesse sentido, cabe ao administrador financeiro, portanto, interpretar esses dados e números
e administrar corretamente as contas a pagar e a receber, bem como, as definições e estratégias
de compras de matérias-primas, produção e vendas de produtos (ou prestação de serviços), de
modo a otimizar suas ações, minimizando a necessidade de caixa (recursos) e maximizando os
seus resultados. Por fim, destacam-se nesta análise:
• A duração do ciclo operacional, que equivale à soma entre o prazo de estoque
(correspondente ao prazo de encomendas de matérias-primas) e o prazo de contas a
receber (relativo ao prazo de recebimento dos créditos concedidos aos clientes).
• Prazo de contas a pagar, que reflete o período administrado pela companhia referente aos
pagamentos de compras e demais obrigações em geral.
• O período do ciclo de caixa, que equivale ao tempo decorrido entre o pagamento e o
recebimento efetivo de caixa pela empresa em suas operações. Pode, ainda, ser definido
A administração do capital de giro e análise risco/retorno do negócio 53

pela diferença entre o ciclo operacional e o prazo de contas a pagar: ciclo de caixa = ciclo
operacional – prazo de contas a pagar.
A seguir, veremos alguns exemplos de como os prazos operacionais podem ser calculados
na empresa. É importante destacar que este capítulo não objetiva abordar por completo o tema
de índices ou indicadores financeiros, mas visa apenas apresentar alguns dos mais relevantes e
significativos, com o intuito de auxiliar na análise do desempenho operacional da empresa.
Vamos tomar como primeiro exemplo a empresa Industrial ABC, que apresenta as seguintes
informações em seus demonstrativos financeiros nos dois últimos anos fiscais (X1 e X2):
Quadro 2 – Empresa Industrial ABC: demonstrativos financeiros

Ano X1 Ano X2
Contas contábeis
R$ mil R$ mil
Duplicatas a receber 60.000 100.000

Estoques de mercadorias 90.000 130.000

Contas a pagar 48.000 56.000

Custo de produtos vendidos - 660.000

Faturamento anual - 1.800.000

Prazo médio de vendas (%) - 85%


Fonte: Adaptado de Assaf Neto; e Lima, 2014, p. 654-655.

Para o cálculo do indicador do ciclo operacional, devemos considerar os seguintes itens:


• Prazo médio de armazenagem de mercadorias (PMAm): representa o prazo médio (em
dias) que as mercadorias ficam armazenadas até serem vendidas. É assim calculado:
90.000 + 130.000
PMAm = 2 x 360 = 60 dias
660.000
Ou seja, as mercadorias da Industrial ABC demoram 60 dias, em média, para serem vendidas.
Isso significa que mercadorias acabadas ficam em estoques por dois meses, em média, até serem
totalmente adquiridas pelos clientes. Por isso, devemos lembrar que, quanto maior esse indicador,
maiores as necessidades de recursos (caixa) por parte dos administradores na gestão do negócio.
• Giro de estoque: representa o inverso do prazo médio. É quantas vezes os estoques são
adquiridos e posteriormente vendidos no ano-base de análise, ou seja, quantas vezes ele
“girou”. É calculado da seguinte maneira:
Giro de estoques = 360 = 360 = 6,0 vezes
PMAm 60
• Prazo médio de cobrança (PMC): representa o prazo médio (em dias) que os clientes
tardam para pagar suas duplicatas a prazo. É assim calculado:
60.000 + 100.000
PMC = 2 x 360 = 18,82 dias
85% x 1.800.000
Logo, o giro das duplicatas a receber = 360 / 18,82 = 19,12 vezes. Ou seja, neste caso ocorre
um giro de duplicatas a receber de 19,12 vezes no exercício (período) analisado.
54 Planejamento financeiro e orçamentário

Portanto, o ciclo operacional é medido pela soma do prazo médio de armazenagem de


mercadorias (PMAm) com o prazo médio de cobrança (PMC):

ciclo operacional = PMAm + PMC = 60 + 18,82 = 78,82 dias

Desse modo, a Industrial ABC gasta, em média, 78,82 dias da compra de mercadorias,
matérias-primas e demais produtos em processo até o recebimento de seus clientes da mercadoria
acabada e vendida.
Para o cálculo do indicador do ciclo financeiro (caixa), consideramos os seguintes elementos:
• Prazo médio de pagamento de fornecedores (PMPF): representa o prazo médio (em dias)
em que a empresa paga seus fornecedores. É calculado da seguinte maneira:
48.000 + 56.000
PMPF = 2 x 360 = 28,36 dias
660.000
Como vimos, o ciclo financeiro é denominado pela fórmula: ciclo de caixa = ciclo
operacional – prazo de contas a pagar. Então, ciclo financeiro = 78,82 dias – 28,36 dias = 50,46 dias.
Isso significa que a companhia apresenta um tempo médio de 50,46 dias do momento em
que pagou suas contas de compras de mercadorias e produtos em processo ou acabados até o efetivo
recebimento das vendas realizadas. Em resumo, nesse exemplo, a empresa adquire mercadorias
que demoram 50,46 dias para serem vendidas e ainda permanece outros 28,36 para receber dos
clientes, em um total de 78,82 dias para completar seu ciclo operacional.
A despeito dos resultados acima expostos, deve-se sempre lembrar que a busca do equilíbrio
entre as contas a pagar e a receber é essencial para a saúde do capital de giro de qualquer negócio.
Além disso, compreender o caminho do dinheiro no cotidiano da empresa é a base do trabalho
de todo gestor financeiro. Isso porque é muito importante não se perder uma venda em razão
da incapacidade do comprador em pagar à vista, por exemplo. Logo, muitas empresas aceitam
negociar seu prazo de pagamento, vender parcelado e administrar esses fluxos de forma a garantir
seu faturamento, mas, deve-se lembrar também que quanto mais a entidade demora para receber
a venda efetuada, pior para o seu caixa. Por outro lado, não é apenas esse aspecto que precisa ser
observado; o prazo de pagamento dos fornecedores também é essencial para a correta e precisa
administração do caixa no tempo.

5.2 Análise de risco, retorno do negócio e financiamento do


capital de giro
Vídeo Assaf Neto e Lima (2014) destacam que o dilema risco/retorno das organizações
se relaciona às três posturas que elas podem tomar diante de seus investimentos
em Ativo Circulante, colocando como relevante as posturas conservadora, média e
agressiva como determinantes para a compreensão da dinâmica dos riscos envolvidos
nos negócios frente aos retornos esperados pelos acionistas.
A administração do capital de giro e análise risco/retorno do negócio 55

Desse modo, para os autores, a política “conservadora” “levaria a empresa a diminuir seu
risco mediante aplicações mais elevadas em capital de giro” (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 655).
Ou seja, nesse caso, o gestor vai preferir, via de regra, manter o caixa elevado como forma de
minimizar riscos e fazer frente a qualquer eventualidade, como pagamentos, ou mesmo para honrar
possíveis obrigações que a empresa venha a contrair no futuro. Como exemplo, podemos pensar
em estratégias de promoção de vendas mais agressivas e na manutenção de estoques mais altos de
forma às empresas “financiarem” resultados mais altos, numa clara estratégia de crescimento do
negócio. Essa tática teria, por outro lado, seu risco minimizado, com a manutenção do caixa em
níveis mais altos no período.
No que se refere às demais políticas “média” e “agressiva”, a empresa estaria optando
pela gradual redução do nível de seu investimento em Ativo Circulante, adotando uma busca
por maior rentabilidade do negócio, a despeito de, por exemplo, manter reservas de caixa para
cobrir eventualidades.
Ainda no que tange à análise de risco-retorno do negócio, fica clara a pertinência de a
gestão financeira sempre buscar o alcance de volume ótimo de capital de giro no dia a dia de suas
operações. Tudo isso de modo a atingir a maximização de seus retornos e a minimização de seus
naturais riscos, com um trabalho (esforço) de orçamentos e previsões de receitas, gastos e custos
que possibilitem a administração do capital de giro nos limites adequados (ótimos).
Tal cuidado com o nível do capital de giro e sua administração passa também pela análise
e gestão de custos de investimento ou de carregamento, que, ainda segundo Assaf Neto e Lima
(2014, p. 657), “são formados pelos gastos com manutenção e armazenagem de produtos e,
principalmente, pelo custo de oportunidade do capital alocado ao Ativo Circulante”. Assim,
quanto maior o nível de investimentos projetados e definidos pela alta administração da empresa,
maior seu custo de carregamento – e isso, é importante destacar, a despeito do nível de taxa de
juros que financia a operação.
Da mesma maneira, quando a organização opta por reduzir o padrão e o nível de seus
investimentos (portanto, de desembolsos em ativos fixos e demais itens do chamado CAPEX1),
reduzindo a necessidade de manutenção de altos níveis de capital de giro no negócio, a empresa
passa a ter outros custos, denominados “Custos de Falta”. Ainda segundo Assaf Neto e Lima, tais
Custos de Falta “podem incluir insuficiência de caixa para pagamentos ou para concessão de crédito
a clientes, falta de estoques para atender algum tipo de venda, entre outros” (2014, p. 657). Logo, pode-se
afirmar que esse custo de falta será menor proporcionalmente ao aumento dos investimentos por
parte dos administradores.
Antes de concluirmos os estudos deste capítulo, ainda é necessário tratarmos brevemente
do financiamento do capital de giro das organizações na atualidade. Esse tema não é apenas nobre
por se referir a algo significativo nos negócios de qualquer empresa, mas, mais especificamente, em

1 CAPEX (Capital Expenditure) é a nomenclatura normal e globalmente utilizada para determinar o gasto e o
investimento em Ativos Imobilizados voltados à produção de bens ou à prestação de serviços pela empresa.
56 Planejamento financeiro e orçamentário

decorrência da realidade brasileira, com altas taxas de juros e relativa escassez de recursos de longo
prazo para investimentos no sistema financeiro nacional.
Sabemos que existem diversas formas de se abordar esse nobre tema. No entanto, segundo
Gitman (2012, p. 550-551), é prioritário pensarmos primeiramente nos conceitos de “necessidade
de financiamento” e, em seguida, na “estratégia de financiamento” a ser adotada pelos empresários.
Assim, o autor destaca quatro conceitos relevantes para essa análise, a saber:
1. Necessidade de financiamento: um investimento constante em ativos operacionais,
resultante de vendas constantes.
2. Necessidade de financiamento sazonal: investimentos em ativos operacionais que variam
no tempo em razão do comportamento cíclico das vendas.
3. Estratégia de financiamento agressiva: estratégia de financiamento segundo a qual a
empresa cobre suas necessidades sazonais com dívidas de curto prazo e suas necessidades
permanentes com dívidas de longo prazo.
4. Estratégia de financiamento conservadora: estratégia de financiamento segundo a qual a
entidade financia suas necessidades sazonais e permanentes com dívidas de longo prazo.
Percebemos, assim, que a gestão financeira busca administrar o capital de giro, prioritariamente,
segundo um planejamento estratégico claro, alinhado às expectativas da alta administração e de
seus acionistas. Sabemos que a busca por maior retorno sobre o capital investido e o foco no maior
valor ao acionista são prioritários em qualquer negócio. Entretanto, ao tomar como ponto de partida
determinada estratégia (seja de financiamento permanente, financiamento sazonal, financiamento
agressivo ou financiamento conservador), o gestor financeiro estará, certamente, estabelecendo uma
forma de agir e se comportar na gestão do negócio. Estas formas, aliás, não podem ser nem diferentes
das expectativas e exigências do capital e acionistas definidas anteriormente, nem muito distantes dos
padrões e das expectativas do mercado como um todo.
Muitas vezes os custos do crédito são muito diferentes para investimentos a curto ou longo
prazo, logo, saber exatamente como, quando e qual montante aplicar no negócio é essencial ao seu
crescimento e à sua sobrevivência no mercado em que está inserido. Certamente, bancos costumam
cobrar mais caro pelo capital (empréstimo), cujo retorno (prazo) se dará no longo prazo, mas,
ao mesmo tempo, muito capital de giro de curtíssimo prazo também é geralmente caríssimo e
indisponível ao empresário. No caso do Brasil, nem sempre linhas de crédito de longo prazo são
as mais caras. Linhas de investimento e financiamento de longo prazo repassadas pelos bancos
com base em empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
por exemplo, costumam ser bem mais baratas que empréstimos convencionais de grandes bancos
comerciais e de investimentos locais.
A realidade, porém, é que nem sempre tais linhas subsidiadas a juros baixos e com carências
longas estão disponíveis aos tomadores. Esta é a razão pela qual a operação de qualquer negócio em
países com histórico de altas taxas de juros na ponta tomadora de empréstimos é mais complexa e
envolve mais riscos a acionistas e administradores.
A administração do capital de giro e análise risco/retorno do negócio 57

Considerações finais
Pensar em risco/retorno de qualquer investimento, financiamento de capital de giro,
expansão de negócios e crescimento de longo prazo de qualquer atividade empresarial exige
muito esforço e conhecimento técnico, econômico, financeiro e operacional, apenas para citar
alguns. A importância e a ênfase dadas neste capítulo a tais realidades impõem, portanto, um
grande trabalho de investigação, informação e conhecimento nas mãos dos gestores financeiros de
qualquer empresa.
É bastante óbvio afirmar que devemos, na medida do possível, buscar o equilíbrio entre
risco e retorno, bem como a otimização de recursos envolvidos na operação concomitantemente
aos retornos esperados pelos acionistas. O fato é que tais ações são dificílimas e, no caso específico
do Brasil, exigem diária atenção às muitas variáveis micro e macroeconômicas que afetam o
desenvolvimento e a operação do negócio no tempo.
Por outro lado, saber os níveis de manutenção de caixa em comparação ao nível de
investimentos, de aplicações financeiras e de financiamento de clientes, por exemplo, é ainda tarefa
mais difícil, além de fundamental ao sucesso da gestão financeira.
A questão do saldo médio e sua manutenção no dia a dia do negócio é também objeto de
elevada consideração e estudo dos financistas da atualidade. Os bancos costumam exigir e valorizar
empresas que mantêm saldos médios em suas contas como sinônimo de segurança e, em parte,
como sinônimo de reciprocidade pelos serviços prestados por essas instituições financeiras.
Para concluir, devemos sempre lembrar que toda manutenção de saldos (sejam médios ou
simplesmente em caixa) requer conhecimento de seu custo de oportunidade, ou seja, o quanto tais
recursos (caixa) poderiam render (gerar) sob a forma de retorno se aplicados de forma diferente.
Assim, encontrar a combinação ótima para os recursos e os caixas da empresa é tarefa essencial e
desafiadora que, com a realidade dos juros e da escassez de recursos da atualidade, impõe ainda
mais desafios aos financistas neste século XXI.

Ampliando seus conhecimentos


• ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFRE, J. F. Gestão de caixa. In: ROSS, S. A.;
WESTERFIELD, R. W.; JAFFRE, J. F. Administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2002. p. 617-622.
Ao tratarem do importante tema da determinação do ponto (ou nível) ótimo de caixa para
as empresas na atualidade, os autores desse livro retomam a última parte de nossos estudos
neste capítulo, aprofundado-a. Com essa leitura, é possível perceber de que modo os dois
modelos propostos permitem compreender os custos envolvidos na manutenção de caixa
pelas organizações, suas implicações e os fatores que afetam sua análise e administração.
58 Planejamento financeiro e orçamentário

• GITMAN, L. J. Capital de giro e administração do ativo. In: GITMAN, L. J. Princípios de


administração financeira. São Paulo: Pearson, 2012. p. 552-557.
No Capítulo Capital de giro e administração do ativo, o autor discute com mais
profundidade a questão dos estoques mantidos pelas organizações. A leitura possibilita
uma análise mais completa do assunto, trazendo conhecimentos específicos de forma
bem resumida e essencial à compreensão deste importante item da administração do
capital de giro das empresas.

• ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Capital de giro e equilíbrio financeiro. In: ASSAF NETO,
A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2014. p. 658-660.
No subitem Abordagem para o financiamento do capital de giro do Capítulo 24, o autor
discute com mais profundidade a matéria de financiamento de capital de giro. A leitura
possibilita um pouco mais de ênfase e estudo sobre o tema da análise dos investimentos
necessários no tempo.

Atividades
1. Com base em nossos estudos e nas leituras deste capítulo, responda à seguinte questão: no
caso específico de empresas operando no Brasil, qual é o peso da decisão de financiamento
de longo prazo em razão dos juros atualmente cobrados no mercado?

2. Os investimentos da empresa devem ocorrer de forma a atender às necessidades e


obrigações dos gestores financeiros, de compras, de marketing, bem como de seus mais
diversos departamentos. Entretanto, estes agentes nem sempre pensam igualmente ou têm
necessidades iguais. Explique as razões que sustentam essa realidade dos negócios.

3. Pense a respeito do tema ciclo de caixa, trabalhado neste capítulo, e responda: qual é a
importância da administração do ciclo de caixa para a geração de resultados positivos
à empresa?

Referências
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G.. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2014.

GITMAN, J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Pearson, 2012.

ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFRE, J. F. Administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
6
A estrutura das demonstrações contábeis

Neste capítulo, estudaremos os conceitos que regem a elaboração, a apuração, a


publicação e a análise das principais demonstrações contábeis das empresas no Brasil.
Também estudaremos os modelos, regras de publicação e importância do relatório da
diretoria, das notas explicativas e do parecer dos auditores. Primeiro será discutida a
origem, a pertinência e as limitações dessas demonstrações como fornecedoras de dados e
informações das empresas. Em seguida, buscaremos compreender os objetivos e o conteúdo
de cada uma delas em particular.
Cumpre destacar, todavia, que este capítulo não pretende esgotar o extenso tema das
demonstrações contábeis. Mas, sim, busca apresentar, em linhas gerais, as principais razões e
relevância dos demonstrativos para a avaliação da situação econômico-financeira das organizações
no Brasil e, dessa forma, expor os pontos centrais para tal análise.

6.1 Uma visão das demonstrações contábeis


Vídeo
As companhias de capital aberto (S.A.) operantes no Brasil são obrigadas por
lei a publicar periodicamente o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado
do Exercício (DRE), a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA)
e a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC). Importante lembrar que, além
dessas demonstrações contábeis comumente disponibilizadas, cabe às companhias
abertas também a obrigatória publicação da Demonstração do Valor Adicionado (DVA).
Quando tratamos do Balanço Patrimonial, estamos nos referindo à demonstração contábil
que explicita, em uma data específica, a posição patrimonial e a posição financeira da firma. No
Balanço Patrimonial, cada conta é classificada, registrada e agrupada fornecendo uma ampla visão
da situação financeira na data em questão. A demonstração do exercício deverá ser apresentada
juntamente com as demonstrações do exercício anterior, para fins de comparação. Compõe o
Balanço Patrimonial:

• o Ativo (bens, direitos e demais aplicações de recursos que podem


gerar benefícios econômicos futuros);
• o Passivo (obrigações para com terceiros que exigem ativos para a sua
liquidação); e
• o Patrimônio (recursos próprios da entidade cujo valor pode ser
calculado pela diferença positiva entre o Ativo e o Passivo).
60 Planejamento financeiro e orçamentário

Quando tratamos da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), estamos nos


referindo ao documento contábil que apresenta o resultado líquido do exercício obtido pelo
confronto das receitas, dos custos e das despesas. Estes números reportados são apurados
contabilmente por meio do regime de competência, no qual tanto as receitas quanto as
despesas (resultados operacionais e não operacionais) representam o que efetivamente ocorre
no período de publicação. Legalmente, a DRE abrange o período do exercício financeiro,
podendo ser elaborada mensalmente para fins administrativos, trimestralmente para fins
fiscais e anualmente de forma obrigatória.
A Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) reporta as alterações ocorridas
no saldo da conta de lucros ou prejuízos acumulados, indicando, ainda, o montante do dividendo
por ação do capital social no Patrimônio Líquido da empresa em determinado período. Importante
destacar que, de acordo com o artigo 186, § 2º, da Lei n. 6.404 (BRASIL, 1976), a companhia poderá,
se preferir, incluí-la nas demonstrações das mutações do patrimônio líquido. Outrossim, a DLPA
é obrigatória para as sociedades limitadas e outros tipos de empresas, conforme Decreto n. 9.580
de 22 de novembro de 2018, artigo 286. Segundo a referida legislação, a DLPA deverá apresentar:
• o saldo do início do período e os ajustes de exercícios anteriores;
• as reversões de reservas e o lucro líquido do exercício;
• as transferências para reservas, os dividendos, a parcela dos lucros incorporada ao capital
e o saldo ao fim do período.
Já a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) indica quais foram as saídas e as entradas de
dinheiro no caixa durante o período e o resultado desse fluxo. A DFC é uma demonstração dinâmica
incluída no Balanço Patrimonial, de publicação obrigatória para todas as sociedades de capital
aberto ou com Patrimônio Líquido superior a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais)1. Devemos
lembrar que a DFC também é obrigatória para as pequenas e médias empresas, devendo, ainda,
ser ao menos anualmente publicada pela empresa em conjunto com os demais demonstrativos
financeiros. O demonstrativo do fluxo de caixa deve ser apresentado contendo: (a) atividades
operacionais; (b) atividades de investimento; (c) atividades de financiamento2.
Assaf Neto e Lima (2014, p. 21) resumidamente destacam a relevância e centralidade desse
tema afirmando que:
a análise dos demonstrativos financeiros publicados pelas empresas deve
refletir, de forma correta e elucidativa, a situação econômica e financeira, o risco
e a viabilidade do negócio. A confiança dos diversos investidores no retorno
apurado, e dos gestores no processo de tomada de decisões, depende bastante

1 Esta obrigatoriedade vigora desde 1º de janeiro de 2008, por força da Lei n. 11.638 (BRASIL, 2007). Dessa forma,
torna--se mais um importante relatório para a tomada de decisões gerenciais.
2 Segundo Antonik, e Müller (2017), as Atividades Operacionais são as receitas e os gastos decorrentes da
industrialização, comercialização ou prestação de serviços da empresa. Essas atividades têm ligação com o capital
circulante líquido da empresa. As Atividades de Investimento “são os gastos efetuados no Realizável a Longo Prazo, em
Investimentos, no Imobilizado ou no Intangível, bem como as entradas por venda dos ativos registrados nos referidos
subgrupos de contas” (ANTONIK; MÜLLER, 2017, p. 177). As Atividades de Financiamento “são os recursos obtidos do
Passivo Não Circulante e do Patrimônio Líquido [...]. Devem ser incluídos aqui, ainda, os empréstimos e financiamentos
de curto prazo [...]. As saídas correspondem à amortização destas dívidas e os valores pagos aos acionistas a título de
dividendos, distribuição de lucros” (ANTONIK; MÜLLER, 2017, p. 177).
A estrutura das demonstrações contábeis 61

da qualidade das informações contábeis e das técnicas de análise empregadas,


assim como do ambiente de mercado econômico no qual a empresa se insere.
Assim, é tarefa essencial do analista e do profissional de finanças deter um profundo
conhecimento de cada conta em particular, tendo em vista as mais diversas operações realizadas
pela empresa. Sob essa perspectiva, exige-se desses profissionais conhecimento não apenas de
questões contábeis, mas, também, econômicas, financeiras e de risco do negócio. Vê-se aqui,
portanto, a relevância de se compreender a análise das demonstrações como parte integrante do
processo de tomada de decisão organizacional. Desse modo, desenvolvendo a familiaridade e a
compreensão geral dos objetivos das demonstrações contábeis, pode-se avaliar a forma como tais
relatórios medem e apresentam os resultados das atividades corporativas, facilitando tanto a sua
gestão contábil-financeira quanto o planejamento estratégico.
As demonstrações contábeis são instrumentos que comunicam fatos e eventos importantes
sobre as entidades e, em especial, sobre as empresas. Por esse motivo, analistas, investidores,
financistas e administradores se utilizam de suas informações para a tomada de decisões. Dessa
forma, toda informação contábil-financeira, ou mesmo de caráter puramente informativo, a
respeito da operação ou fato ocorrido na empresa, servirá, direta ou indiretamente, como base
para os mais diversos propósitos, como a definição de alocação de investimentos, desinvestimentos
ou demais aplicações de recursos.
Encontra-se na Lei n. 6.404, Lei das Sociedades por Ações (BRASIL, 1976), as disposições
gerais que definem as obrigações e regras, com base na escrituração mercantil, de elaboração
das demonstrações a serem publicadas ao fim de cada exercício social da companhia de forma a
exprimir com clareza a situação do seu patrimônio, bem como as mutações ocorridas no exercício.
As Normas Brasileiras de Contabilidade têm sua estrutura regulamentada na Resolução
CFC n. 1.328 (CFC, 2011). Elas serão a base para o apuramento, organização e divulgação das
informações provenientes da operação do negócio. As práticas e os princípios contábeis comumente
utilizados pelas empresas no trato das informações terão sempre como origem os objetivos de
praticidade e utilidade.
Portanto, as práticas e princípios contábeis deverão se moldar às normas no sentido de
possibilitar a obtenção e o fornecimento de resultados gerenciais da maneira mais precisa e útil
possível (e dentro de regras e expectativas comumente esperadas das organizações). Resultados
esses que atenderão diretamente: ao seu público interno, representado pelos administradores; e
ao seu público externo, representado por investidores, analistas, órgãos de fiscalização, e demais
entidades governamentais correlatas. Logo, caberá à contabilidade, segundo o Pronunciamento
Técnico do CPC 26 (R1)3, apresentar as demonstrações contábeis de forma apropriada e em
conformidade com as práticas contábeis brasileiras.
Nesse aspecto específico, podemos dizer que a contabilidade vem apresentando um
desenvolvimento significativo nas últimas décadas ao conseguir estabelecer um conjunto de normas
e demonstrativos contábeis que possibilita aos interessados – seja de seu público interno ou externo
– uma avaliação correta e independente do negócio. Isso é proveniente tanto de uma avaliação dos
seus aspectos e desenvolvimento patrimonial quanto gerencial de seus administradores.

3 Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/312_CPC_26_R1_rev%2013.pdf. Acesso em: 29 ago. 2019.


62 Planejamento financeiro e orçamentário

Somado a isso, as políticas e práticas contábeis devem oferecer não apenas informações
relevantes, confiáveis, comparáveis e compreensíveis, mas, também, dados e explicações adicionais
que possam ser necessários à compreensão dos números reportados. Caberá também à contabilidade
produzir e disponibilizar periodicamente o conjunto de relatórios e as demonstrações, bem como
informativos que, direta e indiretamente, oferecerão preciso retrato situacional da operação
do negócio, contribuindo com o trabalho de planejamento e controle econômico-financeiro,
posicionando-se, assim, como elemento-chave no processo de tomada de decisões empresariais.
As demonstrações contábeis são uma representação estruturada da posição
patrimonial e financeira e do desempenho da entidade. O objetivo das
demonstrações contábeis é o de proporcionar informação acerca da posição
patrimonial e financeira, do desempenho e dos fluxos de caixa da entidade
que seja útil a um grande número de usuários em suas avaliações e tomada
de decisões econômicas. As demonstrações contábeis também objetivam
apresentar os resultados da atuação da administração na gestão da entidade
e sua capacitação na prestação de contas quanto aos recursos que lhe foram
confiados. (COSIF, 2013 apud SILVA et al., 2014, p. 2)

O Código Brasileiro de Governança Corporativa das companhias abertas4 traz os princípios


básicos de transparência, prestação de contas, responsabilidade e equidade. Eles são voltados às
boas práticas de publicação de informações contábeis, práticas e políticas corporativas, sendo os
pilares básicos que formam o alicerce sobre o qual se desenvolve a boa governança. Segundo o CFC
(2019), a Governança pode ser definida como sendo
a combinação de processos e estruturas implantadas pela alta administração, para
informar, dirigir, administrar, avaliar e monitorar atividades organizacionais,
a Governança tem o propósito de melhorar o desempenho organizacional,
contribuir para a redução dos riscos, alinhar as ações à estratégia do Sistema
CFC/CRCs e prestar contas das atividades desenvolvidas para a sociedade.
Nesse sentido, a Política de Governança no âmbito do Sistema CFC/CRCs foi
instituída pela Resolução CFC n.º 1.549, aprovada em 20 de setembro de 2018,
com o objetivo de direcionar e monitorar as estratégias, políticas e planos
institucionais, alinhando as ações às necessidades das partes interessadas, de
modo a assegurar o alcance dos objetivos e a prestação de serviços de qualidade;
aperfeiçoar os controles internos e implementar a gestão de risco aos processos e
procedimentos de trabalho, garantindo sua eficácia e melhoria no desempenho
das atividades; promover a comunicação aberta, voluntária e transparente,
fortalecendo a participação social e o acesso público à informação, entre outros.

Os princípios fundamentais estabelecidos pela Resolução são transparência, ética,


eficiência, integridade, equidade e accountability; sendo, este último, compreendido
como o conjunto de boas práticas adotado pelas organizações públicas e pelos
indivíduos que as integram, os quais evidenciam sua responsabilidade por
decisões tomadas e ações implementadas, incluindo a salvaguarda de recursos
públicos, a imparcialidade e o desempenho das organizações.

4 Disponível em: https://www.anbima.com.br/data/files/F8/D2/98/00/02D885104D66888568A80AC2/Codigo-


Brasileiro-de-Governanca-Corporativa_1_.pdf. Acesso em: 29 ago. 2019.
A estrutura das demonstrações contábeis 63

As boas práticas de governança corporativa possibilitam maior transparência nos números


obtidos e clareza nas informações a respeito das operações, oferecendo ao mercado os seguintes
requisitos de valores (CFC, 2019):
• Transparência: caracterizada pela abrangência das informações fornecidas sobre o
desempenho econômico-financeiro e, também, sobre os fatores norteadores da ação
gerencial e de otimização do valor da companhia.
• Equidade: caracterizada pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios e demais
partes interessadas (stakeholders) no negócio.
• Prestação de contas (accountability): caracterizada pelo modo claro, conciso,
compreensível e tempestivo das publicações.
• Responsabilidade corporativa: caracterizada pelo objetivo de manutenção da viabilidade
econômico-financeira do negócio.
De forma simplificada, ao observar as boas práticas de governança e os critérios técnicos
e contábeis, bem como as regras e leis estabelecidas que regem a contabilização e publicação dos
demonstrativos, notamos que poderão ser publicados números e informações com maior precisão
e veracidade acerca da entidade, como:
• Ativos;
• Passivos;
• Patrimônio Líquido;
• Receitas e Despesas;
• Alterações no Capital Próprio;
• Fluxos de Caixa.
Tais informações, juntamente com outras das notas explicativas, ajudam os usuários das
demonstrações contábeis a analisarem o desempenho passado e, também, preverem os seus futuros
fluxos de caixa (CPC, 2011b). São dados essenciais a qualquer analista de investimentos interessado
no entendimento a respeito do desempenho de uma organização. Note que o conjunto completo
de demonstrações contábeis inclui, ainda, o Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado,
Demonstração do Resultado Abrangente, Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido e
Demonstração dos Fluxos de Caixa, ao fim do período de apuração:
Esses relatórios, acompanhados das Notas Explicativas, compreendem um resumo das
políticas contábeis significativas e outras informações elucidativas. Por exemplo, informações
comparativas com o período anterior e o Balanço Patrimonial do início do período mais antigo
– comparativamente apresentado – quando a empresa aplicar uma política contábil que exija
reclassificação ou reajustes das demonstrações contábeis, ou quando proceder à reclassificação
de seus itens (CRCPR, 2018). Por fim, a Demonstração do Valor Adicionado, conforme
Pronunciamento Técnico CPC 09 (CPC, 2008), quando for exigida legalmente ou por algum
órgão regulador ou mesmo se apresentada voluntariamente.
64 Planejamento financeiro e orçamentário

Os demonstrativos devem conter, segundo a Estrutura Conceitual para Elaboração e


Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro (CPC, 2011a), os critérios de reconhecimento
para ativos, passivos, receitas e despesas das companhias. Ou seja, devem representar
apropriadamente a posição financeira e patrimonial, o desempenho e os fluxos de caixa da
entidade de acordo com as definições e normas contábeis estabelecidas. Entretanto, em relação
ao aspecto qualitativo do patrimônio (caixa, recebíveis, estoques, máquinas e equipamentos), os
demonstrativos devem constar e registrar fatos que propiciaram sua formação, movimentação
e variação para a contínua e atualizada informação a respeito da sua composição e variações
no tempo. Desse modo, portanto, deve:
• Representar apropriadamente a posição financeira e patrimonial, o desempenho e os
fluxos de caixa da entidade.
• Expor de forma resumida e ordenada os principais fatos registrados pela contabilidade
que causam mutação no patrimônio das empresas, em determinado período.
• Ser denominado de Demonstrações Financeiras quando se referirem às sociedades por
ações e empresas de grande porte, portanto, obrigadas a publicar a prestação de suas
contas aos acionistas.
Conforme já destacamos, a contabilidade é fonte de diversas informações essenciais para o
entendimento, gestão e planejamento do negócio, as quais servem, geralmente, ao seu público interno
e externo. Vejamos, por exemplo, alguns usuários das informações contábeis disponibilizadas:
Quadro 1 – Usuários de informações contábeis

Usuário Informação disponibilizada

Resultados; metas; orçamentos; lucro por ação;


Acionistas e alta administração
dividendos distribuídos; valor da ação.

Expectativa de lucros; lucros distribuídos nos


Investidores
períodos.

Liquidez; capacidade de geração de caixa; nível


Credores e fornecedores
de endividamento.

Imposto efetivamente recolhido; informações


Governo
estatísticas; cumprimento de obrigações.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Então, com base nas informações de caráter quantitativo disponibilizadas, torna-se


possível observar e avaliar o comportamento do negócio por meio da comparação (gerencial)
dos resultados atuais com os números previamente publicados. Tal análise gerencial dos
resultados obtidos, em relação ao orçamento e ao planejamento já executados, aproxima a
contabilidade da gestão financeira e estratégica, além de expandir significativamente o
número de usuários das informações contábeis produzidas, posicionando-a mais próxima do
seu processo decisório.
A estrutura das demonstrações contábeis 65

6.2 Estrutura e análise dos resultados


Vídeo
No contexto da estrutura das demonstrações, Matarazzo (2010) explica que
a análise das demonstrações financeiras exige noções do seu conteúdo, significado,
origens e limitações. Logo, o domínio desse tema exige, primeiramente, que se
apresente as principais partes componentes:
• Primeiro grupo de publicações: composto pelo Relatório da Administração
(Relatório da Diretoria), as Notas Explicativas e o Parecer dos Auditores.
• Segundo grupo de demonstrativos: composto pelo Balanço Patrimonial, a Demonstração
do Resultado (DRE), a Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) e a
Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR).
Sobre o Relatório da Administração, é expresso na Lei das S.A.s (BRASIL, 1976) a exigência de
que as empresas divulguem de forma clara e objetiva as suas demonstrações contábeis em veículos
de circulação (jornais, periódicos e revistas) e em seus sites nas datas e períodos previamente
estipulados. Portanto, é obrigação da diretoria oferecer informações aos acionistas e ao mercado
a respeito das principais decisões tomadas (não confidenciais) e sobre o desempenho do negócio
de forma transparente, nas datas definidas de publicação das demonstrações contábeis: mensal,
trimestral, semestral e anual.
Somado a isso, é obrigatória a publicação dos relatórios de administração que detalhem
as principais decisões empresariais tomadas e seus respectivos resultados obtidos no período
de análise, bem como os dados adicionais que possam esclarecer algum resultado atípico, por
exemplo. É obrigatória, ainda, a publicação de informações detalhadas a respeito dos currículos
dos administradores, gestores e membros do Comitê de Auditoria.
Dessa forma, a diretoria prestará aos acionistas detalhes a respeito do desempenho e gestão
da empresa no período, as perspectivas dos negócios, as estratégias comerciais (vendas, compras,
produtos, expansão e novos lançamentos), além de questões econômico-financeiras próprias do
mercado em que atua, somadas às questões de legislação, de política financeira, de investimentos e
de práticas de RH, por exemplo. Por fim, pode-se afirmar que o Relatório da Administração é peça-
chave no entendimento das grandes estratégias e das políticas de posicionamento da companhia
em seus mercados.
Vejamos, a seguir, um extrato do Relatório de Administração – nesse caso denominado
“Mensagem da Administração” – publicado pela Eletrobras, referente ao período encerrado em 31
de dezembro de 2018.
66 Planejamento financeiro e orçamentário

MENSAGEM DA ADMINISTRAÇÃO
GRI 102-14

Em 2018, a Eletrobras colheu os frutos do trabalho que vem realizando desde


2016 para reduzir os sucessivos prejuízos financeiros, a baixa capacidade de
investimento e a dificuldade de captação de recursos. A crise profunda que a
empresa atravessou está superada. O valor de mercado da companhia saltou de
R$ 9 bilhões, no início de 2016, para mais de R$ 33 bilhões em 2018, chegando
a R$ 50 bilhões em fevereiro de 2019.

“Excelência sustentável” foi o objetivo de um amplo programa de reestruturação


da companhia, materializado no Plano Diretor de Negócios e Gestão da
Eletrobras, com ações pautadas nos pilares “disciplina financeira”, “excelência
operacional” e “governança e conformidade”. Em dezembro de 2018, a
relação Dívida Líquida/EBITDA ajustado da companhia atingiu o índice
de 3,1 apresentando uma redução substancial sobre o elevado índice de 8,5
registrado em setembro de 2016, e de 3,7 em 2017. A privatização das empresas
de distribuição e a venda das participações minoritárias em 26 sociedades de
propósito específico, no montante de R$ 1,3 bilhão, foram de suma importância
para o resultado de 2018. Os efeitos desses desinvestimentos vão se refletir na
redução dos níveis de alavancagem e na melhora do EBITDA da companhia a
partir de janeiro de 2019.

O cronograma dos empreendimentos foi colocado em dia e, em 2018, concluímos


Mauá 3 e São Manoel. Em 2019, serão concluídas as obras da usina Sinop e a
usina de Belo Monte entrará em plena operação, tornando-se a terceira maior
hidrelétrica do mundo, com capacidade instalada total de 11.233 MW.

Fonte: Eletrobras, 2018.

Segundo a Resolução CFC n. 1.185 (2009)–NBC TG 26, as


Notas Explicativas contêm informação adicional em relação à apresentada nas
demonstrações contábeis. As notas explicativas oferecem descrições narrativas ou
segregações e aberturas de itens divulgados nessas demonstrações e informação
acerca de itens que não se enquadram nos critérios de reconhecimento nas
demonstrações contábeis.

Ainda no que tange à obrigatoriedade legal da elaboração e publicação das Notas Explicativas,
há mais instruções no § 4° do artigo 176 da Lei n. 6.404 (BRASIL, 1976), que destaca as situações em
que “as demonstrações serão complementadas por notas explicativas e outros quadros analíticos
ou demonstrações contábeis necessárias para esclarecimento da situação patrimonial e resultados
A estrutura das demonstrações contábeis 67

do exercício”. Os dispositivos mencionados aplicam-se às sociedades anônimas regidas pela Lei n.


6.404/1976 e, por extensão, às demais sociedades, independente do regime de tributação. Logo,
deve ser publicada a Nota Explicativa mesmo para empresas que se utilizam do Simples Nacional.
Somado a isso, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) editou a Resolução n. 1.255/20095
obrigando todas as empresas a emitirem Notas Explicativas, a fim de aproximar a contabilidade
no Brasil às normas internacionais. Vejamos, a seguir, o extrato da Nota Explicativa dos resultados
publicada pela Eletrobras sobre o 1º trimestre de 2019.

ELETROBRÁS PARTICIPAÇÕES S. A.

ELETROPAR
(COMPANHIA ABERTA)
CNPJ 01.104.937/0001-70
NOTAS EXPLICATIVAS DAS INFORMAÇÕES TRIMESTRAIS DO
PERÍODO FINDO EM 31 DE MARÇO DE 2019
[...] A Eletrobrás Participações S.A.–ELETROPAR (“ELETROPAR” ou
“Companhia”) é uma sociedade por ações, controlada pela Centrais Elétricas
Brasileiras S.A.–ELETROBRAS, criada em 29 de janeiro de 1996, pela Lei nº
9.163, de 15 de dezembro de 1995 [...].

Conforme comunicados ao mercado dos dias 06 de junho, 03 de julho e 16 de


julho de 2018, a Eletropar alienou as ações da Eletropaulo, de sua propriedade,
tendo a operação sido concluída no dia 13 de julho de 2018.

Com base na opinião dos assessores jurídicos da Companhia, considerando


os desdobramentos das reorganizações societárias ocorridas na Eletropaulo –
Eletricidade de São Paulo S.A., após a criação da Eletropar, antiga Lightpar, pela
Lei. 9.163, de 15 de dezembro de 1995, e as alienações dos respectivos ativos
no programa de privatização do estado de São Paulo, a venda da participação
na companhia Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo S.A., não
descumpriu o estabelecido na referida Lei e no objeto social da Companhia.

Fonte: Eletrobras, 2019b, p. 12.

5 Segundo Carneiro (2011), com a Lei n. 11.638/2007 o CFC convergiu as Normas Brasileiras de Contabilidade aos
Padrões Internacionais e transformou em norma contábil todos os Pronunciamentos Técnicos emitidos pelo Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (CPC), que tiveram por base as Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) e Internacional
Accountant Standard (IAS) do IASB. As empresas e os profissionais da contabilidade dispõem de duas opções para
elaborarem tanto a escrituração contábil como as demonstrações contábeis, ou seja, as IFRS completas ou as IFRS para
as pequenas e médias empresas. As IFRS completas são dirigidas basicamente às companhias de capital aberto e às
enquadradas pela Lei n. 11.638/2007, companhias de grande porte, além daquelas obrigadas por órgãos reguladores (CVM,
BCB, Susep). O que se pode observar é que as pequenas e médias empresas devem adotar as IFRS para PMEs editadas pelo
CFC, como NBCT.
68 Planejamento financeiro e orçamentário

Acerca do parecer dos auditores, segundo Girotto (2016), auditorias de demonstrações


contábeis estão sujeitas ao conjunto de Normas Brasileiras de Contabilidade de Auditoria
Independente (NBC–TA). O Relatório do Auditor segue normas muito restritas das auditorias.
Com isso, é possível oferecer maior transparência nas informações emitidas ao mercado, já
que os investidores e outros usuários se beneficiarão com informações que antes não eram de
conhecimento público.
Veja, a seguir, o extrato do parecer dos auditores, publicado pela Eletrobras Participações
S.A. sobre o seu Relatório Anual de 2018.

Auditor independente
Nos termos da Instrução CVM n. 381, de 14 de janeiro de 2003, destacamos que
a Companhia passou a utilizar os serviços de auditoria independente fornecidos
pela KPMG Auditores Independentes, a partir de março de 2014, que incluem a
auditoria de suas demonstrações contábeis, bem como a revisão de informativos
contábeis, para um período de 3 (três) anos. [...]

Aos acionistas da Eletrobras Participações S.A.–Eletropar Rio de Janeiro – RJ

Opinião

Examinamos as demonstrações financeiras da Eletrobras Participações


S.A.–Eletropar (Companhia), que compreendem o Balanço Patrimonial em
31 de dezembro de 2018 e as respectivas demonstrações do resultado, do
resultado abrangente, das mutações do patrimônio líquido e dos fluxos de
caixa para o exercício findo nessa data, bem como as correspondentes notas
explicativas, compreendendo as políticas contábeis significativas e outras
informações elucidativas.

Em nossa opinião, as demonstrações financeiras acima referidas apresentam


adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e
financeira, da Eletrobras Participações S.A.–Eletropar em 31 de dezembro de
2018, o desempenho de suas operações e os seus respectivos fluxos de caixa para
o exercício findo nessa data, de acordo com as práticas contábeis adotadas no
Brasil e com as normas internacionais de relatório financeiro (IFRS) emitidas
pelo International Accounting Standards Board (IASB).

Fonte: Eletrobras, 2019a, p. 10-62.

Assim, nota-se que as padronizações e normas auxiliam no repasse de informações,


sendo, portando, instrumentos fundamentais que comunicam fatos e eventos importantes
sobre as entidades e, em especial, sobre as empresas. Analistas, investidores, financistas e
administradores utilizam suas informações para a tomada de decisões. Dessa forma, toda
A estrutura das demonstrações contábeis 69

informação contábil-financeira, ou mesmo de caráter puramente informativo, a respeito da


operação ou fato ocorrido na empresa, servirá, direta ou indiretamente, como base para os mais
diversos propósitos, como a definição de alocação de investimentos, desinvestimentos ou demais
aplicações de recursos.

Considerações finais
É sabido que a contabilidade é a ciência que se ocupa prioritariamente em estudar e controlar
o patrimônio das entidades, definido como sendo o conjunto de bens, direitos e obrigações
pertencente a uma pessoa física, grupo de pessoas, sociedade ou instituição, que pode ou não ter
como finalidade a obtenção de lucros.
Por meio da contabilidade é possível identificar, medir e comunicar a informação aos mais
diversos profissionais e interessados a respeito da posição econômico-financeira da empresa,
auxiliando-os no processo de tomada de decisão de investimento ou financiamento, por exemplo. É
preciso ter sempre em mente que esse processo ocorre de forma dinâmica e é uma das características
das economias altamente competitivas no século XXI. Tudo sob a vigilância de órgãos reguladores
do Estado e atendendo às exigências dos administradores, acionistas, bancos e mercados.
Neste capítulo, vimos que a análise das demonstrações contábeis visa a determinar a
evolução da situação econômico-financeira de uma entidade, sendo que, para a execução de tal
tarefa, é necessário o estudo das contas contábeis e dos demonstrativos disponibilizados pelas
companhias periodicamente.
Quando se efetua a análise de uma demonstração contábil, coloca-se em prática,
primeiramente, uma série de conhecimentos. Em primeiro lugar, é necessário o entendimento de
cada conta contábil que reflita diretamente as mais diversas operações efetuadas pela empresa no
cotidiano de suas atividades. Em segundo lugar, que se compreenda o papel e a importância de
cada uma dessas contas na composição do conjunto das demonstrações. Sendo que, a despeito
do tamanho da organização – seja ela de micro, pequeno, médio ou de grande porte –, existe uma
gama de contas contábeis que representam os mais diversos movimentos e operações realizados no
decorrer das atividades.
Consequentemente, por essa razão se faz necessário ao profissional de finanças conhecê-
las em detalhes no momento da interpretação das demonstrações contábeis. Pois, será a partir do
domínio das principais regras de escrituração contábil e da forma como cada movimento contábil
se reflete no conjunto dos demonstrativos, que se tornará possível a análise do desempenho dos
negócios com a precisão necessária à correta tomada de decisões.
No caso do Brasil, deve-se destacar que a maioria das empresas encerra, por motivos
fiscais, suas atividades em 31 de dezembro, juntamente com o fim do ano civil. Portanto, é de
se esperar, ainda, eventuais disparidades em diversos saldos reportados nas contas presentes nos
demonstrativos. E isso como consequência da diferença existente entre a apuração dos números
com base no ciclo operacional e aqueles reportados com base no ciclo contábil da empresa.
70 Planejamento financeiro e orçamentário

Razão pela qual se faz também necessário saber proceder sempre com a análise econômico-
-financeira (gerencial) das demonstrações de forma a poder ajustar os números reportados em
linha com os objetivos dos gestores e poder compreender efetivamente o desempenho da operação
no tempo. Mas a análise gerencial de resultados é tema para outra obra.

Ampliando seus conhecimentos


• MATARAZZO, D. Estrutura das demonstrações financeiras. In: MATARAZZO, D. Análise
financeira de balanços: abordagem gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 39-50.
Essa leitura ajudará você a aprofundar os seus conhecimentos sobre o tema de análise
da balanços com base nas informações e números fornecidos pelas empresas. O
desenvolvimento de uma boa análise das demonstrações contábeis de uma companhia
exige profundo conhecimento, entendimento e interpretação de cada uma de suas contas
componentes. Essas contas refletem, em seus saldos, as operações realizadas pela firma
no dia a dia de suas atividades, sejam elas de caráter industrial, comercial, financeiro ou
de prestação de serviços.

• CPC – COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento técnico CPC


26 (R1). Brasília, DF, 2011. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/312_
CPC_26_R1_rev%2006.pdf. Acesso em: 29 ago. 2019.
O CPC é fonte importante de informações voltadas ao aprimoramento dos conhecimentos
sobre contabilidade, finanças e controles gerenciais. Logo, a leitura e familiarização a
respeito das informações e dados disponibilizados no site do Comitê será certamente
valiosa. No site do CFC há uma seção muito interessante denominada “Projetos e
Programas” que oferece diversas informações e serviços na área educacional valiosíssimas
para o estudante e profissional de contabilidade e finanças. Vale a pena visitar o site e
explorar os materiais disponibilizados.

• BLATT, A. Demonstrações financeiras ou contábeis. In: BLATT, A. Análise de balanços:


estruturação e avaliação das demonstrações financeiras e contábeis. São Paulo: Pearson
Makron Books, 2001. p. 8-44.
A leitura desse capítulo proporciona o aprofundamento dos conceitos aqui estudados,
cujo foco é a estrutura das demonstrações financeiras. Em razão da complexidade do
trabalho de análise e entendimento dos números publicados, é sempre valioso e importante
conhecer em detalhes cada conta componente dos demonstrativos, suas relações e seus
impactos nos números finais reportados.
A estrutura das demonstrações contábeis 71

Atividades
1. Leia o trecho a seguir:

S&P Global Ratings mantém classificação de risco da Petrobras


A Petrobras comunica que a agência de classificação de risco S&P Global Ratings
(S&P) anunciou a manutenção do nível de risco (rating) da dívida corporativa
da companhia em BB-, com perspectiva estável, após rebaixar o nível de risco
soberano do Brasil de BB (perspectiva negativa) para BB- (perspectiva estável).

A S&P considera que o nível de risco da companhia segue correlacionado com


o risco soberano, estando, portanto, limitado à classificação de risco do Brasil.

Fonte: Agência Petrobras, 2018.

Sabemos que muitas operações ocorridas no decorrer do ano de exercício reportado nos
demonstrativos exigem explicações e esclarecimentos adicionais por parte dos seus administradores
aos acionistas e ao mercado. Você incluiria esse comunicado nas Notas Explicativas desse referido
ano? Por quê? Com qual justificativa e grau de importância você incluiria esse aviso anterior no
conjunto das informações que complementam as demonstrações financeiras?

2. Leia o excerto a seguir e o texto exposto no box para responder à questão.

As Notas Explicativas são importantes fontes de informação e análise a respeito do


desempenho da empresa no período em questão e integram obrigatoriamente o conjunto de
publicação dos demonstrativos financeiros. Sua correta análise e interpretação são essenciais para
a precisa e adequada análise do desempenho econômico-financeiro do negócio.

Petrobras efetua pré-pagamento de dívidas bancárias


A Petrobras informa que efetuou em dezembro, diretamente ou por meio de
suas controladas, pré-pagamentos de dívidas, que totalizaram US$ 5,1 bilhões,
com os seguintes credores [...]. Desse montante, 72% estavam previstos para
serem amortizados ao longo de 2018 e 2019.

Essas operações concluem a estratégia de gerenciamento de dívidas realizada


ao longo de 2017, em que foram captados US$ 26,1 bilhões, pré-pagos US$ 28,2
bilhões e repactuados US$ 9,7 bilhões.

A Petrobras continuará avaliando novas oportunidades de alongamento


e redução de custo da sua dívida, de acordo com a meta de desalavancagem
prevista em seu Plano de Negócios e Gestão 2018-2022.

Fonte: Agência Petrobras, 2017.


72 Planejamento financeiro e orçamentário

Em qual demonstração contábil você, como gestor da companhia, incluiria essas informações
no balanço anual? Quando fornecer essa informação?

3. Leia a citação a seguir e responda à questão.


As demonstrações contábeis são uma representação estruturada da posição
patrimonial e financeira e do desempenho da entidade. O objetivo das
demonstrações contábeis é o de proporcionar informação acerca da posição
patrimonial e financeira, do desempenho e dos fluxos de caixa da entidade [...].
As demonstrações contábeis também objetivam apresentar os resultados da
atuação da administração, em face de seus deveres e responsabilidades na gestão
diligente dos recursos que lhe foram confiados. (CPC, 2011b)
Com vistas a satisfazer esse objetivo, quais seriam as demonstrações contábeis publicadas?

Referências
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AGÊNCIA PETROBRAS. S&P Global Ratings mantém classificação de risco da Petrobras. Rio de Janeiro, 12
jan. 2018. Disponível em: https://www.agenciapetrobras.com.br/Materia/ExibirMateria?p_materia=979947.
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CARNEIRO, J. D. A Escrituração Contábil elaborada a partir da Convergência das Normas Brasileiras de


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A estrutura das demonstrações contábeis 73

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GIROTTO, M. Normas do novo relatório do auditor independente são publicadas pelo CFC. CFC, 4 jul.
2016. Disponível em: https://cfc.org.br/noticias/normas-do-novo-relatorio-do-auditor-independente-sao-
publicadas-pelo-cfc/. Acesso em: 29 ago. 2019.

MATARAZZO, D. Análise financeira de balanços: abordagem gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

SILVA, F. B. da. et al. Análise das demonstrações contábeis no setor da construção civil: um estudo de
caso na empresa MRV Engenharia e Participações S. A. In: SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
E TECNOLOGIA, 11., 2014, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: Aedb, 2014. Disponível em: https://
www.aedb.br/seget/arquivos/artigos14/21220280.pdf. Acesso em: 29 ago. 2019.
7
Planejamento financeiro, orçamentos e investimento
empresarial

Neste capítulo, será abordado o planejamento financeiro em linha com o orçamento


e o investimento empresarial. Primeiramente, será discutido o processo de planejamento e o
desenvolvimento de uma cultura de orçamentos. Em seguida, será apresentado o conceito de
orçamento face ao planejamento definido pela organização e a resultante tomada de decisão de
investimento de curto, médio e longo prazo.
Para que esse trabalho possa ser executado de forma a atender aos objetivos e às metas
da empresa, é necessário utilizar como embasamento os números fornecidos pela contabilidade,
fonte de informações essenciais para o entendimento, gestão e planejamento do negócio. Portanto,
a partir das informações de caráter quantitativo e do comparativo com dados posteriormente
emitidos, será possível avaliar não apenas a situação estática do negócio, mas também as tendências
e o seu desenvolvimento ao longo do tempo.
Assim, com base nas informações disponibilizadas, torna-se possível observar e avaliar o
comportamento do negócio por meio da comparação (gerencial) dos resultados atuais com os
números previamente publicados, planejar e decidir onde, como e de que forma proceder com as
estratégias de investimento de acordo com os objetivos dos acionistas.

7.1 O planejamento e o desenvolvimento de uma cultura de


orçamentos na organização
Vídeo É sabido que as empresas operam nas economias dentro de ambientes
caracterizados pela existência de muita concorrência, incerteza e escassez de
capitais, o que acaba por impor limitações quanto ao planejamento, à alocação
e ao gasto de recursos materiais e financeiros por parte de gestores e acionistas.
É exatamente nesse ambiente complexo das economias contemporâneas que as
empresas se veem forçadas a desenvolver um trabalho de planejamento e de controle
de investimentos, gastos e resultados (positivos e crescentes) bastante desafiadores e formalizados
– trabalho de caráter puramente orçamentário, que busca permitir que os gestores antecipem
movimentos de mercado, oportunidades de negócios ou eventuais dificuldades que possam vir a
coibir o crescimento do empreendimento.
A análise gerencial dos resultados obtidos, em relação ao orçamento e ao planejamento
previamente executados, aproxima a contabilidade da gestão financeira e estratégica da organização,
além de expandir significativamente o número de usuários das informações contábeis produzidas,
posicionando-a, também, mais próxima do processo decisório da empresa. Frezatti (2006) afirma
que o planejamento e o controle de resultados das organizações exigem que os mais diversos
76 Planejamento financeiro e orçamentário

elementos se relacionem com o objetivo de possibilitar que as atividades diárias da empresa


continuem a serem feitas juntamente com um trabalho de definição de horizonte de longo prazo
de atuação do negócio.
Segundo esse pensamento, a visão geral do planejamento e controle de uma empresa deve
contemplar seis dimensões, a saber:
Base de dados do desempenho passado: é necessário que a empresa detenha, arquive e
informatize dados e informações de operações e desempenhos passados. Deve ser possível acessar
e utilizar tal banco de dados dos números já publicados sempre que requerido. Essa base de dados
é essencial e será o ponto de partida para o processo de planejamento e de orçamentos da firma.
Expectativas dos interesses externos: as expectativas em relação ao desempenho e ao
comportamento da empresa por parte do mercado são muito relevantes por pressionarem os
denominados agentes internos do negócio. Assim, acionistas, clientes, sociedade, comunidade e
governos atuam juntos no sentido de forçar os gestores da empresa a agirem de tal forma que as
expectativas sejam atingidas.
Esse é o caso, por exemplo, dos sindicatos da categoria, que esperam que a empresa preserve
os empregos e, se possível, expanda a oferta de contratações. E também dos governos, que contam
com os impostos pagos pela companhia para poderem sustentar os gastos públicos. Ou, ainda,
dos acionistas, que esperam lucros e dividendos crescentes ao longo do tempo. Esses resultados só
serão possíveis com ganhos de eficiência, produtividade e obtenção de maiores margens por parte
da empresa em suas atividades.
Expectativas dos interesses internos: cabe aos gestores conviver com as pressões dos agentes
externos e administrar o negócio de maneira que corresponda às mais altas expectativas.
Os gestores têm pressões monetárias, de carreiras e mesmo de poder, as quais,
afetadas pelas pressões externas, proporcionam a definição de planos de
negócios que tornem viável a perseguição de objetivos nem sempre harmônicos.
(FREZATTI, 2006, p. 15)

Dessa forma, o trabalho de planejamento orçamentário deverá, na medida do possível,


apresentar-se como moderador de tais demandas (pressões externas) e manter-se alinhado com
os potenciais da empresa. Somente com a correta mensuração das potencialidades existentes (face
às expectativas externas) é que o orçamento poderá ser não apenas factível, mas, também, o mais
realista possível.
Visão de longo prazo: neste momento, o planejamento estratégico torna-se essencial para
antever movimentos e, ainda, contemplar objetivos de longo prazo, políticas internas, planos
operacionais (incluídos de suas revisões e ajustes periódicos), de forma a dar solidez ao trabalho de
organização e aplicação eficiente e eficaz dos recursos no tempo.
O orçamento do exercício: segundo Frezatti (2006, p. 15), “é o instrumento que implementa
as decisões do plano estratégico dentro do horizonte temporal anual, estando a ele subordinado”.
Assim, deve ser elaborado sobre toda a estrutura montada, decisões tomadas e planos de ação
definidos no planejamento estratégico.
Planejamento financeiro, orçamentos e investimento empresarial 77

O acompanhamento orçamentário: ocorre e se desenvolve após as etapas de elaboração,


análise, aprovação e divulgação do orçamento propriamente dito. Esse controle orçamentário
se torna, dessa maneira, um instrumento de monitoramento do planejamento estratégico da
organização. Deve-se destacar que é no processo de acompanhamento orçamentário que a empresa
realiza ajustes, correção de rumos, redefinição de metas e objetivos ante à realidade dos mercados
e de seu desempenho econômico-financeiro.
Assim, os processos orçamentários são efetivamente úteis para os gestores apenas quando
existe uma cultura de planejamento estratégico realmente amadurecida e integrada à organização.
Essa cultura de orçamentos deve auxiliar e permitir o levantamento, a execução e o acompanhamento
das informações e números de resultados do negócio no tempo.
Mais uma vez, deve-se esperar, por fim, que exista um equilíbrio saudável entre o
planejamento estratégico e o controle financeiro, possibilitando o efetivo acompanhamento,
medição e comparação do desempenho atingido versus desempenho projetado dos números da
empresa no período.
Não há uma sequência precisa, exata ou correta para se proceder com a elaboração de um
orçamento empresarial. Padoveze (2005) define que o processo de elaboração é composto das
fases de Previsão, Reprojeção e Controle. De todo modo, a sua organização, processo teórico de
elaboração, bem como as regras de construção de cenários e a elaboração de premissas, serão
descritas adiante.

7.1.1 Os princípios do planejamento


As atividades desempenhadas pelo administrador financeiro, apesar do caráter gerencial e
estratégico que a função representa, não podem nunca se afastar do que é relevante para o correto
e efetivo funcionamento do dia a dia do negócio. Assim, cabe a esse profissional, por exemplo, a
responsabilidade pela gestão “ótima” das entradas e saídas de recursos, pela garantia do crescimento
do faturamento e pelo desempenho e sustentação do negócio alinhado ao orçamento previamente
definido e aprovado.
Assim, Frezatti (2006) afirma que esse trabalho está conectado aos objetivos orçados e
aprovados pela diretoria. Dessa forma, tais orçamentos oferecem um checklist dos trabalhos diários
a serem executados e sempre voltados a atender e atingir as metas preestabelecidas. O autor citado
desenvolve, ainda, uma breve análise a respeito dos preceitos teóricos que sustentam as políticas
de planejamento, investimento e orçamento das empresas elencando dez princípios gerais a serem
observados no momento da elaboração dos trabalhos.
Iniciando sua análise, Frezatti (2006) cita um princípio fundamental denominado
envolvimento administrativo, que deve ocorrer, principalmente, no topo da pirâmide
administrativa das empresas. Esse comprometimento deve sustentar os investimentos, orientar a
elaboração dos projetos, incentivar e coordenar o planejamento de todos os negócios voltados
ao desenvolvimento do empreendimento e, por fim, trabalhar no sentido de cobrar resultados.
E esse princípio se relaciona com o da contabilidade por área de responsabilidade ao definir as
78 Planejamento financeiro e orçamentário

regras de contabilização/escrituração a partir de unidades de negócios, centros de custos, lucros,


resultados e responsabilidades.
Outro princípio destacado pelo autor é o da adaptação organizacional, que estabelece
a importância das responsabilidades de cada membro dos quadros da organização. Nesse
sentido, defende-se a clareza na definição de cargos e a ausência de sobreposição de funções e
de reponsabilidades, de forma a possibilitar a melhor gestão e cobrança de resultados. Esse
aspecto interage com o princípio da orientação por objetivos, que delimita as responsabilidades
e os objetivos dos indivíduos na empresa em relação a comportamento, avaliações e políticas de
remuneração de pessoal.
A comunicação integral, defende o autor, deve ser parte da cultura organizacional e servir –
quando clara e apoiada pelo processo de planejamento – como motor do crescimento e cumprimento
de metas. Esse aspecto relaciona-se com as expectativas realistas estabelecidas a partir do pleno
conhecimento dos cenários externos e internos da organização no momento de definição do orçamento
de caixa e dos investimentos pela alta administração. Esse princípio combina-se perfeitamente com
o da oportunidade, que defende a publicação e o amplo conhecimento do planejamento estratégico
nas datas precisas e corretas como instrumentos de tomada de decisão gerencial.
Uma vez colocado em prática o planejamento orçamentário, é possível realizar a sua
aplicação flexível a partir de ajustes constantes e realistas em conformidade com novas estratégias
da organização, mudanças no mercado ou na economia; desse modo, evita-se que o orçamento se
transforme em “camisas-de-força” que impedirão que os gestores ajam quando as circunstâncias
exigirem. Esse princípio, por sua vez, relaciona-se com a questão do acompanhamento, que
valoriza e incentiva o monitoramento e o controle orçamentário do real versus orçado. Por fim,
há o princípio do reconhecimento do esforço individual e do grupo, que defende os feedbacks
como parte da cultura organizacional, auxiliando na mensuração de desempenhos e na aplicação
de recompensas aos indivíduos.
Uma vez que os trabalhos tenham sido iniciados e sejam compreendidas tais relações
existentes entre as ações de planejamento estratégico, definição de metas organizacionais e
estabelecimento dos números como parte dos objetivos da firma, pode-se iniciar a próxima etapa
de efetiva elaboração do orçamento. Mas, antes de tratar de cenários e premissas, é necessário
introduzir também o conceito de investimento como elemento central de planejamento e de
sustentação do negócio no tempo.

7.2 O orçamento da empresa e a questão do investimento inicial


Vídeo
Em qualquer organização, tanto a definição de valores designados na cifra
“investimentos” quanto o efetivo desembolso de caixa voltado à compra de máquinas
e equipamentos, por exemplo, objetivam, prioritariamente, a continuidade do
negócio no tempo e – se possível – a melhoria dos resultados operacionais advindos
de ganhos de eficiência, produtividade, redução de perdas e demais benefícios
provenientes da incorporação de novas tecnologias, procedimentos e métodos de produção ou de
prestação de serviços aos clientes finais.
Planejamento financeiro, orçamentos e investimento empresarial 79

Assaf Neto e Lima (2014) definem investimento inicial como sendo o desembolso (gasto)
inicial de capital resultante de uma saída efetiva de caixa que tenha sido direcionada à geração
de resultados operacionais a serem atingidos posteriormente. Logo, encontramos somados nos
números reportados como investimentos todos os gastos de capital destinados a produzir benefícios
econômicos futuros de caixa, tais como aumentos de receitas ou reduções de custos e despesas.
Assim, sob a conta Investimentos estarão lançadas (contabilizadas) todas as aquisições de
ativos fixos produtivos, como edifícios, terrenos, máquinas e equipamentos, essenciais para a
operação do negócio da firma. Somada a esses valores, a conta Investimentos agrega também todos
os gastos necessários para a colocação dos itens em operação.
Por exemplo, ao adquirir uma máquina por R$ 1.000,00 e gastar outros R$ 500,00 com
serviços de instalação e montagem, o valor a ser imobilizado e contabilizado na referida conta
contábil será de R$ 1.500,00, que passará a sofrer, nos períodos subsequentes, a depreciação
segundo as regras contábeis oficiais e determinadas pela empresa.
Finalmente, lança-se no cálculo de investimento inicial todo o caixa proveniente de operação
de venda de ativos fixos que eventualmente tenham sido substituídos por outros itens novos
(máquinas, por exemplo).
Enquanto os investimentos em ativos permanentes retornam à empresa na
forma de despesas não desembolsáveis anuais (depreciação, amortização e
exaustão), as aplicações incrementais realizadas no capital de giro retornam ao
caixa da empresa normalmente nos anos finais de vida útil do projeto. (ASSAF
NETO; LIMA, 2014, p. 376)

Exemplo numérico: admitindo que a Empresa Industrial ABC Ltda. deseja comprar um novo
equipamento para a sua linha de produção de peças, o valor do bem em questão é de R$ 500.000,00
e terá a sua vida útil calculada, inicialmente, em cinco anos (ASSAF NETO; LIMA, 2014).
Para a sua operação, será necessário investir, ainda, em montagem e adaptações da fábrica,
bem como em gastos de mão de obra no montante de R$ 30.000,00 a serem lançados como despesa
de instalação.
O capital de giro exigido para a entrada de operação dessa linha de produção, de forma a
suprir as necessidades de aquisições de matérias-primas, gastos com energia, entre outros, será de
R$ 110.000,00. A expectativa é que esse montante seja recuperado ao fim da vida útil da máquina.
A empresa venderá equipamentos antigos que serão substituídos. Espera-se gerar com tal
desinvestimento um montante de R$ 90.000,00, sendo que – contabilmente – este esteja no Balanço
Patrimonial a um valor de R$ 40.000,00. A alíquota de imposto de renda é de 34%. A seguir, o
Quadro 1 ilustra esses dados.
80 Planejamento financeiro e orçamentário

Quadro 1 – Cálculo do investimento

Empresa Industrial ABC Ltda.

Cálculo do Investimento Inicial Líquido


Valor do investimento R$ 500.000,00

Despesa com instalação R$ 30.000,00

Valor inicial investido R$ 530.000,00

Capital de giro investido R$ 110.000,00

Valor total investido R$ 640.000,00

Receita venda (desinvestimento) (R$ 90.000,00)

Despesa com IR (34%)

Cálculo do IR sobre venda (desinvestimento)

Valor da venda R$ 90.000,00

Custo contábil (R$ 40.000,00)

IR a pagar (R$ 50.000 x 0,34) R$ 17.000,00

Investimento inicial líquido = R$ 640.000,00 - R$ 90.000,00 + R$ 17.000,00


= R$ 567.000,00
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Assaf Neto; Lima, 2014, p. 377.

Segundo Padoveze (2005, p. 48), “todo sistema orçamentário compreende um conjunto de


pessoas, tecnologia administrativa, sistemas de informação, recursos materiais disponibilizados e a
administração do sistema para execução dos planos orçamentários”. Esse trabalho deve estar sempre
sob a responsabilidade do controller da organização, que coordenará os trabalhos do chamado
Comitê Orçamentário – responsável pela elaboração dos cenários das Premissas Orçamentárias,
definição do Modelo do Processo Orçamentário e escolha da Estrutura Contábil, a qual será a
base dos trabalhos contendo os critérios de contabilização, rateio, alocação, entre outros detalhes
técnicos da atividade.
Somadas essas definições, o controller será, ainda, o líder que definirá a tecnologia de sistema
a ser empregada nos trabalhos de elaboração das planilhas, cálculos e lançamentos contábeis. Ele
será, também, quem desenhará os modelos de apresentação das planilhas e relatórios que servirão
de base para as análises e os futuros acompanhamentos periódicos de resultados (real vs. orçado),
eventuais ajustes dos números orçados apresentados e, por fim, o definidor do cronograma anual
dos trabalhos de orçamentos da empresa.
Padoveze (2005, p. 49) descreve em detalhes o que denomina “passos da preparação do
plano orçamentário”, que, apesar de essencial nos estudos, não será aprofundado na análise deste
capítulo. Por outro lado, é importante destacar a centralidade de tais etapas a serem seguidas no
trabalho de orçamentos e discutir, posteriormente, um modelo de processo orçamentário e suas
principais responsabilidades.
Em linhas gerais, o plano orçamentário se divide em três segmentos específicos: orçamento
operacional; orçamentos de investimentos e financiamentos; e trabalho de projeção de
demonstrativos financeiros – que resulta no orçamento de caixa.
Planejamento financeiro, orçamentos e investimento empresarial 81

O trabalho do orçamento operacional, como explica Padoveze (2005), é o que engloba


a maioria das chamadas “peças orçamentárias” das mais diversas áreas da empresa. Assim, esse
orçamento incorpora as áreas administrativa, comercial e de produção, que fornecem – nos
trabalhos de montagem do orçamento – dados, informações e números. Juntos, eles compõem
os demonstrativos que serão incorporados ao orçamento propriamente dito, com os números
referentes a receitas, custos, despesas e resultados de cada departamento nos períodos de análise.
Assim, o orçamento operacional fornece aos gestores o orçamento de vendas, produção, compras,
estimativas de estoques e despesas departamentais.
Em relação às despesas departamentais, elas incorporam os números estimados dos seguintes
gastos e despesas por centro de custo: (1) consumo de matérias; (2) mão de obra direta e indireta;
(3) gastos gerais; (4) despesa de depreciação.
O trabalho de orçamentos de investimentos e financiamentos é composto pelos números
orçados para as contas de investimento (conforme visto no exemplo anterior), pelos números de
financiamento e amortizações e pelas despesas financeiras estimadas para os períodos orçados.
A última parte é sempre o trabalho de projeção das demonstrações contábeis. Elas precisam,
partindo dos números reais de períodos anteriores e atuais da empresa, ser projetadas com base
nas estimativas, premissas, informações e trabalhos realizados pelas equipes e departamentos da
empresa, conforme apresentado aqui. A projeção dos demonstrativos contábeis
é o segundo plano orçamentário que consolida todos os orçamentos. Parte do
balanço patrimonial inicial incorpora o orçamento operacional e o orçamento
de investimentos e financiamentos, projeta as demais contas e conclui com um
balanço patrimonial final. (PADOVEZE, 2005, p. 58)

É importante lembrar que um orçamento completo de uma empresa é a composição de uma


série de demonstrativos contábeis para anos (períodos) futuros. Tais demonstrativos, portanto,
projetam (estimam) um número para cada uma das contas a partir de números (valores reportados)
reais do último demonstrativo existente.
Por exemplo, elabora-se o orçamento de uma determinada empresa para o ano de 2020
tendo como base informações de exercícios anteriores, números fechados (ou estimados de 2019)
e demais premissas e informações coletadas nas diversas fases dos trabalhos. Uma vez fechados os
demonstrativos para esse orçamento, a controladoria acompanhará, no decorrer do referido ano,
se suas estimativas e projeções encontram-se (ou não) alinhadas ao estimado.
O efetivo trabalho de orçamentos exige que o analista – ou financista – projete (faça o plano
orçamentário) linha a linha, contemplando cada uma das contas pertencentes aos demonstrativos
financeiros. Assim, a projeção do demonstrativo de resultados exigirá que sejam consideradas, por
exemplo, as contas outras receitas, despesas operacionais e não operacionais, receitas e despesas
financeiras, entre outras. O mesmo ocorrerá com a projeção das contas para o Balanço Patrimonial,
o Fluxo de Caixa, a DOAR e demais demonstrativos que o trabalho do orçamento exigir ou precisar
contemplar. E devemos lembrar que essas projeções são feitas com base nos números reais obtidos
82 Planejamento financeiro e orçamentário

(publicados) nos últimos demonstrativos disponibilizados pela empresa e criados para diversos
exercícios futuros, contemplando, inclusive, projeções de cinco a até dez anos, em alguns casos.
Uma vez de posse do orçamento completo, a controladoria fará o acompanhamento dos
números reais versus os projetados e buscará efetuar o monitoramento gerencial dos números
obtidos e da diferença entre os valores originalmente orçados de forma a auxiliar no alcance
de metas e objetivos econômico-financeiros da entidade. Esse trabalho de acompanhamento
é essencial e parte integrante da administração financeira e gerencial de uma organização sob a
liderança da controladoria e, portanto, em conjunto com a contabilidade da empresa. Como tal,
ele possibilita que a alta administração corrija rotas, ajuste desempenhos e controle estimativas e
premissas durante o ano de 2020 – e realizar adequações sempre que as diferenças entre o real vs
orçado forem significativas.
É necessário e importante ressaltar, mais uma vez, que todo o trabalho de orçamentos
deve servir efetivamente para a empresa e seus administradores como instrumento de controle
econômico-financeiro e gerencial. Como toda a informação contábil e todas as contas presentes
na contabilidade oficial da empresa devem estar contempladas nos demonstrativos projetados no
orçamento do ano em questão, o trabalho poderá ser utilizado não apenas como um instrumento de
verificação da capacidade da controladoria em prever e projetar números, mas também como guia
sobre a capacidade da companhia em compreender e entender suas realidades, potencialidades,
dinâmicas e contextos de mercado onde atua.
Dessa forma, pode-se entender o trabalho de projeção econômico-financeira presente nos
orçamentos como um termômetro do conhecimento da controladoria a respeito da operação e da
dinâmica do negócio. Logo, orçamentos muito irreais e que apresentem erros (e que exijam muitos
ajustes no decorrer dos períodos subsequentes) certamente refletem inabilidade de entendimento
da gestão a respeito do desempenho do negócio.
Certamente, diversas outras variáveis podem gerar o que aqui se denominaria orçamento
falho ou irreal. Por exemplo, falhas em sistemas operacionais, problemas de escrituração e
contabilização, inadequado controle gerencial de informações, além de outros aspectos, podem vir
a gerar dados impróprios às projeções. Contudo, via de regra, o orçamento é peça-chave na gestão
econômico-financeira das empresas, essencial como instrumento-base de planejamento estratégico
e, portanto, deve ser realista e orientar a administração no cumprimento de suas expectativas e na
correção de rumos em linha com suas metas e objetivos. Vejamos, a seguir, um exemplo numérico
que trata do orçamento de caixa de uma empresa.
Exemplo numérico: tomando-se como base um exemplo de Assaf Neto e Lima (2014)
de orçamento de caixa para determinado ano fiscal de uma empresa, pode-se observar como a
projeção de números a partir de informações disponíveis ao financista permite a montagem de um
orçamento de caixa.
Suponhamos que uma empresa deseje projetar o seu caixa para o ano X2 com base nos
seguintes números disponíveis do ano X1 e, também, informações coletadas da sua contabilidade,
que farão parte de seu orçamento do ano X2:
Planejamento financeiro, orçamentos e investimento empresarial 83

• Saldo em caixa em 31-dezembro-X1: R$ 900 mil;


• Vendas estimadas para o ano X2: R$ 8.500 mil;
• As vendas serão recebidas 60% à vista em X2 e 40% em anos futuros;
• Compras de estoques à vista em X2: R$ 3.000 mil;
• Despesas operacionais em X2: R$ 1.500 mil;
• Despesas financeiras do ano X2: R$ 800 mil;
• Aumento de capital esperado em dezembro de X2: R$ 500 mil;
• Realizável de curto prazo recebível em novembro de X2: R$ 400 mil.
Calculando o saldo líquido de caixa em 31-dezembro-X2, temos o resultado presente no
Quadro 2.
Quadro 2 – Cálculo do saldo líquido

Orçamento Real Variação


Fluxos de Caixa
Ano X2 Ano X2 orçado vs.
Orçamento do ano X2
(R$ mil) (R$ mil) real (R$ mil)
Saldo real de caixa em
900 ? =
31-dezembro-X1

Entradas de caixa:
Vendas 5.100
Aumento de Capital 500
Realizável C-P 400

Total de entradas + Saldo inicial 6.900 ? =

Saídas de caixa:
Estoques 3.000
Despesas Operacionais 1.500
Despesas Financeiras 800

Total das saídas de caixa 5.300 ? =

Saldo de caixa orçado para 31-dezembro-X2 1.600 ? =


Fonte: Elaborado pelo autor.

Perceba, portanto, como se chega ao montante de R$ 1.600,00, que nada mais representa do
que o saldo de caixa líquido final da empresa orçado para o final do ano X2, segundo as projeções
com base nas informações disponibilizadas. Pelos valores considerados na projeção anterior, vê-se
que a empresa conseguirá manter um nível de caixa positivo, porém maior que o reportado em
X1. Caso essas projeções sejam efetivamente atingidas, a coluna ano X2 real será preenchida por
números iguais (ou semelhantes), e as eventuais diferenças aparecerão na última coluna, seguidas
de explicações sobre a variação no desempenho inicialmente previsto no orçamento.
84 Planejamento financeiro e orçamentário

Considerações finais
Neste capítulo, buscou-se abordar a forma como o planejamento financeiro e orçamentário,
em todas as suas peculiaridades e particularidades, permite o trabalho de elaboração do orçamento
empresarial. Não se tratou aqui de apresentar detalhadamente modelos de demonstrativos
financeiros como base de planejamento orçamentário, mas, sim, de apresentar teoricamente a
maneira como as informações caminham na empresa, como ocorre sua elaboração e como elas
geram números mais precisos e extremamente úteis para a gestão do negócio no tempo.
O orçamento nada mais é, portanto, do que estimativas de saldo para cada uma das contas
contábeis presentes nos demonstrativos no tempo futuro. Esse trabalho de estimativa e de projeção
de números de exercícios futuros exige conhecimento do negócio, coordenação administrativa,
trabalho árduo da controladoria, sistemas, relatórios, controles e vontade política da empresa em
ter o orçamento como peça-chave para o acompanhamento de desempenho, seja ele econômico,
financeiro, operacional ou mesmo gerencial das atividades.

Ampliando seus conhecimentos


• PADOVEZE, C. L. Orçamento de vendas, produção e capacidade. In: PADOVEZE, C. L.
Planejamento orçamentário. 2 ed. rev. atual. São Paulo: Cengage Learning, 2010. p. 69-108.
Essa leitura trata do “ponto-chave do orçamento operacional”, que é o orçamento de
vendas de uma empresa. Você poderá aprimorar o conhecimento sobre o que foi discutido
neste capítulo e aprofundar-se no exercício do passo a passo do trabalho de estimativas,
levantamento de premissas e projeções desses importantes números do universo
empresarial. Todo número projetado pela controladoria – e que fará parte do orçamento,
– é importante. Entretanto, como você perceberá durante a leitura, as receitas de vendas
de produtos ou serviços serão, muitas vezes, as principais informações sobre as quais
se desenvolverão os debates a respeito do desempenho da companhia no futuro. Assim,
saber como projetá-la e quais premissas e informações coletar para poder desenvolver um
trabalho preciso de previsão de vendas e seus detalhes é a base do orçamento.

• PETROBRAS. Orçamento de investimento. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: http://


transparencia.petrobras.com.br/despesas/orcamento-investimento. Acesso em: 29 ago. 2019.
A Petrobras, companhia brasileira de capital misto, tem suas ações negociadas em bolsas de
valores do Brasil e do exterior. Sua importância como maior empresa nacional e detentora
de enorme fatia do mercado de óleos combustíveis, lubrificantes, gás e diversos outros
produtos e serviços a faz essencial para o desenvolvimento econômico nacional. O site de
relações com investidores da empresa é bastante rico e traz detalhes sobre os orçamentos
da companhia referentes aos anos recentes e ao futuro próximo. A proposta da leitura é
oferecer análise e compreensão sobre a maneira como os orçamentos são publicados e as
formas de seu acompanhamento pelos investidores, mercado e público em geral.
Planejamento financeiro, orçamentos e investimento empresarial 85

• PAGOTTO, L. M.; YAMAHAKI, C. Mapa do Valor. GVExecutivo, Fundação Getulio


Vargas, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 44-47, maio/jun. 2019. Disponível em: https://rae.fgv.br/
sites/rae.fgv.br/files/gv_183art3.pdf. Acesso em: 29 ago. 2019.
Esse artigo trata da importância dos controles e das novas práticas administrativas para a
geração de valor para empresas. Segundo as autoras, há, atualmente, diversos instrumentos
gerenciais, como o balanced scorecard (bsc), passíveis de serem implementados visando a
melhorias no planejamento estratégico e de negócios e, ainda, voltados ao desenvolvimento
sustentável, gerando valor tanto para seus acionistas quanto para as comunidades. Além
disso, a leitura vale a pena para pensar como esses controles e objetivos impactariam na
elaboração de um orçamento empresarial.

Atividades
1. Sabemos que a questão do resultado das organizações extrapola a simples busca constante
pela eficiência e produtividade, bem como a simples análise econômico-financeira do
negócio. Assim, a empresa deve estar atenta, também, ao desenvolvimento de outros valores
e pensar no impacto de seus negócios para a comunidade na qual encontra-se inserida.
Nesse sentido, quais outros fatores você acredita que influenciam os resultados do negócio
no Brasil atualmente?

2. A partir do que estudamos neste capítulo a respeito do orçamento e de seu acompanhamento


pelo gestor financeiro, como proceder caso os resultados da empresa estejam se afastando
dos números originalmente orçados? O que poderia estar dando lastro a essa divergência?

3. Todo orçamento deve ser elaborado tomando-se como base números, dados e informações
de desempenhos históricos. Qual é a razão e a importância de se observar essa prática?

Referências
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

PADOVEZE, C. L. Planejamento orçamentário. 3. ed. rev. e aum. São Paulo: Thomson, 2005.
Gabarito

1 A gestão corporativa moderna


1. A resposta deve conter duas análises que se complementam. Primeiramente, devemos
definir o modelo de gestão em finanças com base na discussão desenvolvida neste
capítulo, observando a importância dele como um dos principais geradores de valor
das empresas na atualidade. Ou seja, gerir finanças é gerir valor do negócio aos
acionistas. A correta gestão em finanças possibilita levantar corretamente informações
e números contábeis e financeiros, essenciais à manutenção do negócio no tempo e
à maximização dos resultados. Devemos focar a análise na importância do gestor
financeiro no uso correto das informações contábil-financeiras na atualidade,
lembrando e citando o papel das tecnologias de informação como aliadas desses
profissionais, por fornecerem informações com mais velocidade e precisão em razão
dos avanços tecnológicos disponíveis atualmente. Seria igualmente relevante destacar
a forma como a gestão financeira contribui para a geração de valor do negócio no
tempo. Em seguida, devemos pensar no caso brasileiro, pois o essencial para o sucesso
e o alcance das metas organizacionais no Brasil é compreender suas peculiaridades,
dificuldades de gestão e particularidades econômicas, as quais impõem um desafio
enorme ao gestor financeiro em seu dia a dia de trabalho.

2. A resposta deve conter duas análises que se complementam. Primeiramente, devemos


defender a importância da correta contabilização das operações das empresas, de
modo a possibilitar a publicação de demonstrativos financeiros – como balanço e
demonstrativos de resultados – que realmente reflitam a verdadeira situação delas. Isso
só é possível se a contabilidade e a controladoria fizerem a correta apuração e análise
gerencial dos números do período estipulado, sendo que esses dados só serão realmente
válidos para as decisões se expressarem a realidade do negócio e da empresa. Erros nos
registros, na apuração e na contabilização de números levam a análises equivocadas,
pois geram demonstrativos financeiros incorretos. Os riscos são diversos, pois os dados
são usados para tomada de decisões e projeções, gerando problemas que impactam os
resultados das empresas, seus lucros e dividendos e o preço das ações em bolsa. Tais
realidades afetam os acionistas, que esperam lucros e resultados consistentes ao longo
dos períodos e que confiam no trabalho de gestão financeira como fator de redução de
risco do negócio, e não o oposto.

3. Conforme discutimos no exemplo da empresa Uber, há situações em que determinado


negócio pode estar crescendo e apresentando faturamento e lucros consistentes, ser
tecnologicamente avançado e, mesmo assim, ser penalizado pelos investidores nos
mercados de capitais. Dessa forma, a complexidade exigida no processo de gestão
corporativa demanda conhecimento profundo do negócio em si e dos números
88 Planejamento financeiro e orçamentário

publicados, além do entendimento dos riscos de mercado existentes. A razão pela qual o
IPO da Uber ter sofrido pressão por preços mais baixos que os esperados por seus acionistas
pode estar centrada neste último aspecto. Logo, devem ser incluídos em qualquer análise
econômico-financeira os riscos de mercado, a concorrência, a viabilidade do negócio e – não
menos importante – a percepção do investidor quanto à solidez do negócio no longo prazo.

4. Como se trata de uma empresa de capital aberto (ou seja, com muitos sócios detentores de
ações em bolsa de valores), transparência, informação e publicação de qualquer decisão
de investimento são obrigatórios. A CVM exige tal procedimento e há leis específicas que
obrigam os gestores das empresas S.A. a abrir ao mercado todo movimento de investimento
relevante e determinante no negócio. A pergunta reflete sobre a pretensão da empresa em fazer
um vultoso investimento em uma nova fábrica. Isso exige análise séria dos valores envolvidos
nos investimentos e resultados esperados com a operação da nova unidade, além da análise
detalhada da forma como esse aporte de capital deve ser discutido interna e externamente.
Tanto o tesoureiro quanto o controller estariam, assim, absolutamente envolvidos no processo
– o primeiro, na análise da viabilidade e existência de caixa para o aporte, por exemplo; o
segundo, na análise gerencial dos números e no acompanhamento do processo, a fim de
garantir a transparência das informações prestadas aos acionistas.

2 Objetivos e desafios do administrador no século XXI


1. Os conflitos sempre existirão entre as exigências de elaboração e publicação de uma série
de demonstrativos contábeis e a administração de informações confidenciais e estratégicas
de uma empresa. Apesar de a lei e as resoluções e práticas contábeis exigirem transparência
e precisão nos números informados, é possível um “equilíbrio” no trato dos números e na
publicação de dados e informações sem ferir a questão estratégica e a importância de se manter
a confidencialidade sobre alguns números e dados da empresa. Portanto, é, sim, possível ser
“transparente” com o mercado e acionistas nas informações financeiras cuidando para que os
passos efetivamente confidenciais e estratégicos se mantenham restritos à alta administração.
Pode-se desenvolver uma boa governança corporativa, bem como a transparência nos números
e informações a respeito das operações disponibilizadas ao mercado, sem comprometer sua
estratégia e confidencialidade.

2. Primeiramente, é essencial que o gestor esteja a par dos números da empresa e que participe
(nos limites de sua função) da coleta, contabilização, organização, publicação e análise de
números a respeito do resultado da companhia. O gestor também precisa ter acesso aos
números e lembrar que deve sempre atender aos objetivos da empresa de geração de valor
no tempo e de atendimento das demandas dos acionistas. Ele deve perceber que a firma está
inserida no mercado e na sociedade, portanto precisa operar segundo critérios éticos e legais
do país no sentido de propiciar, além de resultados financeiros positivos, riqueza e benefícios
à sociedade. Somando a isso, precisa ainda desenvolver uma boa análise das demonstrações
contábeis (Balanço Patrimonial, Demonstração de Resultados, Demonstração de Lucros ou
Gabarito 89

Prejuízos Acumulados e DOAR), exigindo, assim, profundo conhecimento, entendimento


e interpretação de cada conta componente. Desse modo, a análise das demonstrações
contábeis deve compreender também a interpretação das informações contidas nas demais
demonstrações financeiras obrigatórias, como o relatório da administração, as notas
explicativas e o parecer dos auditores.

3. A importância é imensa. As informações contidas nos demonstrativos financeiros das


empresas de capital aberto devem ser sempre disponibilizadas e liberadas ao mercado, pois
fornecem dados precisos e atualizados a respeito do desempenho da companhia e possibilitam
decisões de investimentos de agentes externos. Quanto à sua precisão, os demonstrativos
e as principais ações de qualquer companhia devem colaborar no sentido de se efetuarem
novos investimentos ou desinvestimentos, ou mesmo modificar alguma prática corrente na
sua gestão. Os comunicados ao mercado via nota em jornais, revistas e na internet devem
informar em detalhes as razões e bases de sua execução, por meio de informações de atividades
da empresa a acionistas e investidores. Somente com essa prática de transparência as empresas
irão atender às regras da CVM (no caso do Brasil), gerando solidez de seus negócios.

3 A tomada de decisões de investimento e financiamento


1. A pergunta pode ser respondida de diversas maneiras, contanto que contemple a busca pelo
valor da empresa no tempo. Ou seja, considerando-se que os gestores sempre trabalharão
pelo bem do negócio e pela perpetuação da empresa em longo prazo, qualquer decisão
de investimento estará, via de regra, voltada às melhorias de eficiência, produtividade,
vendas e resultados crescentes. Se tal estratégia for efetivamente colocada em prática pelos
gestores, um dos principais passos a se tomar será a busca por investimentos lucrativos e
financiamentos vantajosos. Portanto, o equilíbrio será sempre a combinação “ótima” de uma
série de variáveis (como investimento, financiamento, definição de preços e planejamento
estratégico e orçamentário) voltadas ao bem do negócio e ao atendimento dos objetivos
dos acionistas. Isso tudo considerando as realidades econômicas e de mercado que, de uma
forma ou de outra, impactarão o valor do negócio no tempo.

2. Primeiramente, devemos lembrar que qualquer decisão na esfera financeira de uma empresa
exige que o setor financeiro execute um orçamento de capital. Será apenas com os números
desse orçamento que haverá uma avaliação mais precisa e uma seleção dos investimentos
voltados a atender ao objetivo da empresa (ou seja, a maximização de riqueza dos acionistas
considerando os princípios esperados pelos gestores). Logo, a correta e precisa administração
do caixa é essencial e será a base para qualquer trabalho de planejamento financeiro e
orçamentário. Então, o investimento pode ser financiado com capital (caixa) próprio ou de
terceiros (externo), de modo que sua escolha e seu menor custo possível (juros) determinarão
o menor ou o maior valor da empresa para os investidores e acionistas.

3. A importância dos dividendos é grande em qualquer gestão financeira, mas sua distribuição
e magnitude dependem dos resultados efetivamente apurados pelo setor de contabilidade
90 Planejamento financeiro e orçamentário

e devidamente publicados nos balanços e demonstrativos. A exigência dessas apurações e


publicações possibilita aos gestores decidirem o volume e os montantes de dividendos a
distribuir. No entanto, há um detalhe importante nessa realidade: só se distribuem dividendos
se existir caixa no período para tal. Portanto, o lucro e os resultados contábeis são essenciais
tanto quanto a existência de caixa e liquidez do negócio.

4 O planejamento de caixa e seus fundamentos


1. Diversos países vêm aumentando os controles, restringindo e combatendo fraudes contábeis.
O governo federal e as empresas brasileiras não se encontram isentas desse perigo e dessa
ação antiética. O fato é que o Brasil tem leis sérias, muito claras e há tempos estabelecidas
para o controle, a padronização e a fiscalização de números publicados pelas empresas.
Além do mais, órgãos como a Comissão de Valores Mobiliários e a Receita Federal muitas
vezes têm informações das empresas e cruzam os dados, evitando fraudes. Porém, com
relação ao fluxo de caixa, podemos afirmar que este demonstrativo reflete muito mais a
real situação da empresa que um demonstrativo de resultados, que, apesar da inexistência
de fraudes, pode contabilizar e reportar números de determinado período fiscal que não
têm, necessariamente, reflexo no caixa. Ou seja, uma empresa pode ter lucro contábil em
determinado trimestre, mas não apresentar caixa ao fim do mesmo período. Isto é, poderia,
a princípio, ter direito de distribuir dividendos, sem ter caixa para fazê-lo.

2. Em primeiro lugar, é realmente importantíssimo que haja um perfeito planejamento de ciclo


operacional da empresa, de modo que, desde a compra de matéria-prima (ou mercadoria)
até a venda e o recebimento do produto vendido, a empresa possa se manter produzindo e
entregando seus produtos aos clientes. É essencial que se tenha um planejamento estratégico
e operacional que não apenas conheça profundamente as necessidades de caixa da empresa,
mas consiga refleti-los nas ações comerciais. Ou seja, a empresa não pode simplesmente
vender apenas com o objetivo de fazer crescer seu faturamento sem ter capital de giro e a
certeza de recebimento do que foi efetivamente faturado. Assim, o equilíbrio e a estratégia
de gestão financeira devem coordenar objetivos e metas orçamentárias factíveis, com
políticas de preços e volumes de vendas sustentáveis, com investimentos e capital de giro que
sustentem tais operações no tempo, de modo a gerar resultados (caixa) efetivos no tempo, e
não apenas resultados contábeis positivos.

3. Muitas vezes, temos ideias deturpadas a respeito de endividamento. Uma empresa com
caixa e dívida bem estruturados, a juros baixos e competitivos, com boa carência para esses
pagamentos, pode, sim, ter valor maior no mercado que uma empresa não endividada e sem
caixa disponível. A necessidade de existência de capital de giro é muitas vezes determinante
no sucesso do negócio. Ter dinheiro em caixa para investimentos e cumprimento de
obrigações (mesmo que por meio de captação de dívida) é essencial à sustentação do negócio
no tempo. Portanto, a percepção do mercado de capitais será sempre no sentido de avaliar o
Gabarito 91

tamanho da dívida, os custos, os prazos e o uso pelo gestor financeiro. Caso seja uma dívida
que atenda à empresa e ao negócio, é mais vantagem tê-la que operar sem dívida nem caixa.

5 A administração do capital de giro e análise risco/retorno


do negócio
1. Vimos nesse capítulo que, apesar de ser normalmente o que ocorre nos mercados
financeiros mundiais, os juros de curto prazo no Brasil nem sempre são mais baratos que
os juros de longo prazo. Certamente que, nas economias industrializadas, esse pensamento
procede, visto que os bancos tendem a cobrar juros menores por empréstimos e linhas de
financiamento de curto ou curtíssimo prazo. Logo, as operações mais longas tendem a ter
maior risco e, portanto, podem vir a ter juros embutidos mais altos. Contudo, tal realidade
não é absolutamente verdadeira no caso do Brasil, pois os empresários locais pagam juros
altos em linhas de curtíssimo e curto prazos e juros também altos nas de longo prazo. Estas
últimas são mais raras e específicas. Assim, apesar do argumento anterior, no caso do Brasil
as linhas de longo prazo ofertadas por bancos de fomento, como o BNDES, são mais baratas
e a juros mais baixos que as normalmente disponibilizadas pelos bancos comerciais para o
dia a dia do financiamento do capital de giro das empresas.

2. O que é importante lembrar é que cada agente na empresa sempre – e na medida do possível
– disputará recursos financeiros e investimentos no sentido de atender às suas principais
demandas. Mas, mesmo conhecendo tal realidade, a companhia deve administrar essas
demandas caso a caso e pensar no conjunto, nos objetivos finais do negócio e na forma de
obter os melhores retornos possíveis no período.

3. Administrar o ciclo de caixa corretamente e de forma ótima significa oferecer à empresa


melhores alternativas de financiamento, investimento e, acima de tudo, prazos e condições
para a pesquisa e a contratação de recursos internos e externos ao financiamento de seu
capital de giro. Gerir corretamente a linha de tempo do ciclo de caixa “paralelamente” à linha
do ciclo operacional, por exemplo, significa uma constante busca de equilíbrio das contas
e de financiamento das operações das empresas. Pensar, portanto, nos “eventos” e em seus
impactos nos negócios (enfim, necessidade ou excesso de caixa) é essencial na administração
de contas a pagar e a receber, na organização do fluxo produtivo, na administração de
estoques e na lucratividade do negócio.

6 A estrutura das demonstrações contábeis


1. A resposta exige primeiramente a percepção de que o comunicado é importantíssimo.
Segundo o aviso, apesar de ser a respeito de uma decisão externa de uma agência de
classificação de risco, também é motivo de um destaque nas Notas Explicativas. A mudança
de um rating sempre gera impactos nos custos de captação de empréstimos bancários, emissão
de dívidas e de diversas outras operações no mercado de capitais. É difícil, a princípio, definir
92 Planejamento financeiro e orçamentário

a importância relativa de um comunicado. O que é fato é que o comunicado em tela está


muito relacionado com as percepções de risco por parte das agências de classificação. Dado
o nível de endividamento da companhia, todo movimento no sentido de redução desse
patamar deve ser visto com a devida importância e, se possível, comunicado imediatamente
ao mercado e posteriormente incluído nas Notas Explicativas.

2. Dada a relevância da informação, é necessário que ela esteja reportada em diversos relatórios
e demonstrativos ao mesmo tempo. Logo, por ser dívida, os números deverão estar descritos
e publicados no Balanço Patrimonial no Passivo. Por ser uma questão de renegociação e
de peso gerencial, seria interessante publicar o fato em um jornal ou periódico, bem como
colocar no site da companhia os detalhes. Seria válido que os auditores independentes
também analisassem os números e incluíssem um comentário a respeito ao final do ano.
As informações detalhadas devem ser fornecidas juntamente com os demonstrativos. A
publicação de uma nota explicativa ou fato relevante ao mercado poderá ocorrer, ainda,
quando algo muito relevante suceder na empresa e os gestores se sintam obrigados por lei a
fazer tal publicação e esclarecimento ao mercado.

3. De forma a espelhar de maneira bastante ampla as atividades empresariais, quase todos os


demonstrativos tratados neste capítulo deveriam ser considerados na resposta. Além das
Notas Explicativas, do Parecer de Auditores e do Relatório da Administração, deveriam ser
publicados os ativos, passivos, Patrimônio Líquido, receitas e despesas, alterações no capital
próprio e fluxos de caixa juntamente com outras informações constantes das notas explicativas
que fossem mais relevantes pelos seguintes motivos: modificaram significativamente os
resultados do ano ou período recente publicado. Isto é, se alteraram consideravelmente a
estrutura de capital ou de financiamento da empresa (dívidas) ou em razão de uma mudança
vultosa em uma política, por exemplo, de preços ou de mercado.

7 Planejamento financeiro, orçamentos e investimento


empresarial
1. Muitos fatores influenciam os resultados dos negócios nas economias contemporâneas.
Assim, devemos lembrar que não bastam faturamento, lucro e distribuição alta de dividendos
aos acionistas. Muito menos a medição de bom desempenho se limita ao alcance de metas
financeiras ou ao cumprimento de metas baseadas em indicadores contábil-financeiros.
Logo, se a empresa vive inserida em um contexto maior e social, a estratégia tradicional
voltada apenas ao lucro e ao atendimento aos acionistas pode não se sustentar se a companhia
abandonar o entendimento de seu mercado, público e comunidade. Desse modo, busca-se
geração de valor social como se busca valor financeiro para o acionista, o que exige que
os gestores tomem iniciativa e ampliem seus conhecimentos e visão de mercado global e
se preocupem com ações de redução de danos ambientais, ajuda às comunidades carentes
próximas etc.
Gabarito 93

2. Quando uma empresa executa um orçamento relativo aos seus desempenhos futuros
projetados, elabora-o a partir de premissas econômicas e mercadológicas afinadas com
a realidade dos setores em que atua. Assim, o desempenho real obtido nos períodos
subsequentes e o quanto ele se alinha (ou não) com as projeções determinará o ajuste no
orçamento proposto. Caso o gestor financeiro perceba que os números do dia a dia se
afastam do orçamento para o período, é preciso proceder com os ajustes e sugerir novas
aprovações. Muitas vezes, o processo de acompanhamento das diferenças entre o real vs.
orçado se deve a fatores externos como, por exemplo, inflação, variação cambial e taxas de
juros de mercado. Por outro lado, há também fatores internos que podem afetar os números,
comprometendo o resultado da empresa, como políticas de preços, estratégias de marketing,
vendas e descontos. De todo modo, todo ajuste ao orçamento é viável e possível de ser
alterado (aplicação flexível), de modo que o planejamento financeiro e orçamentário, bem
como a gestão do dia a dia da organização, atendam às exigências de controle por parte de
seus gestores.

3. Não é possível prever resultados futuros, sejam eles de caráter operacional, mercadológico ou
mesmo macroeconômico, sem lançarmos mão das informações do passado. Assim, é crucial
que a companhia detenha, arquive a informatize dados e informações de suas operações e
desempenhos passados e utilize-os nos orçamentos futuros. Bem como a elaboração de um
banco de dados dos números já publicados para que seja acessado sempre que necessário,
facilitando a projeção e a compreensão das variações real versus orçado. Afinal, uma boa
base de dados econômico-financeiros é essencial para o processo de planejamento.
Walter Franco Lopes da Silva

Planejamento Financeiro e Orçamentário


Planejamento
Walter Franco Lopes da Silva Financeiro e
Orçamentário
Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6491-5

58653 9 788538 764915

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6491-5

58653 9 788538 764915

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