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IESDE
2019
© 2019 – IESDE BRASIL S/A.
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direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Phongphan/iStockphoto
Apresentação 7
Gabarito 87
Apresentação
Fazendo uma análise teórica combinada com exemplos práticos, refletiremos sobre
a importância de o gestor financeiro se manter alinhado à realidade econômica do país,
compreendendo a forma como as variáveis da economia e do mercado impactam o desempenho
organizacional.
Por fim, aprofundaremos nossa análise estudando o capital de giro, os custos e a viabilidade
dos investimentos e financiamentos pensando sempre no trabalho de administração do caixa e no
equilíbrio financeiro do negócio no longo prazo. Como toda obra de planejamento financeiro e
orçamentário exige que os números reportados sejam precisos e confiáveis, concluiremos nossos
estudos com uma breve análise das demonstrações contábeis, parte essencial do acompanhamento
do desempenho econômico-financeiro e gerencial do negócio.
Bons estudos!
1
A gestão corporativa moderna
tais investimentos?”; “Como a empresa deve gerir suas atividades monetárias e financeiras em
seu dia a dia?”.
Veremos, no decorrer deste estudo, que parte dessas respostas se encontra no entendimento
da importância do capital de giro na gestão do negócio, bem como na disponibilidade e no custo
dos recursos que os gestores precisarão para financiar suas atividades.
A gestão financeira moderna vem, portanto, modificando-se nas últimas décadas. Além
disso, conforme destacado anteriormente, está se afastando da simples análise e da administração de
números e resultados contábeis comuns das décadas de 1980 e 1990, por exemplo. Tal realidade
de administração tem se aproximado gradativamente de um trabalho mais complexo e robusto, o
qual exige um entendimento e um conhecimento mais amplo por parte dos gestores. Assim, o atual
foco sobre a missão das entidades empresariais, conforme defendido por Padoveze (2015, p. 3),
estaria centrado no conceito de criação de valor para os acionistas. O autor ainda afirma que esse
valor seria “representado pelo preço de mercado da ação ordinária da companhia, o qual, por outro
lado, é uma função das decisões de investimento, financiamento e dividendos da empresa”.
Dessa forma, quando nos referimos a planejamento financeiro e orçamentário de uma
empresa, estamos muito mais preocupados com a criação, agregação ou adição de valor ao longo
do tempo aos acionistas do que com os números relativos ao faturamento, às margens operacionais
ou aos lucros contábeis reportados.
Vejamos, a seguir, uma notícia recente a respeito de uma oferta pública de ações1 (OPA, ou
IPO em inglês) da empresa Uber, companhia de tecnologia voltada ao transporte de passageiros,
com atuação praticamente global. Esse caso exemplifica bem a discussão sobre a percepção de
valor aos acionistas segundo a gestão corporativa moderna:
O aplicativo de transporte Uber decidiu vender US$ 10 bilhões em ações em
sua oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), informou a agência
de notícias Reuters, que conversou com pessoas familiarizadas com o assunto.
A empresa fará o registro público da abertura de capital nesta quinta-feira, 11.
Esse valor em ações faria do IPO do Uber um dos maiores de empresas de
tecnologia de todos os tempos [...]. O Uber está buscando uma avaliação entre
US$ 90 bilhões e US$ 100 bilhões, influenciado pela performance ruim das
ações de sua rival Lyft, que fez IPO no mês passado. Bancos de investimentos
chegaram a dizer ao Uber que a empresa valeria até US$ 120 bilhões. O Uber
recentemente foi avaliado em US$ 76 bilhões no mercado privado. A maioria
das ações vendidas seria emitida pela própria empresa, enquanto uma parcela
menor seria de propriedade de investidores do Uber, disse uma das fontes à
Reuters. (COM US$..., 2019)
Perceba que o mercado ajuda a empresa a “precificar” o negócio por meio de avaliações e
análises baseadas nos dados fornecidos pela própria companhia, que os obtêm como parte de seu
1 Esse conceito é muito importante. A oferta pública de ações (cuja sigla em inglês é IPO, de Initial Public Offering)
é o ato empresarial de ofertar ou colocar à venda, em determinado mercado de ações, uma quantidade de seu capital
(referenciado em ações) por determinado preço inicial. Com a OPA, a empresa pretende obter recursos (caixa) para seus
planos de investimentos sem precisar se endividar com bancos. Com essa venda de ações, a empresa ganha novos
sócios e sua ação passa – logo após o preço inicial de venda na bolsa de valores – a ter preços determinados pelo
“apetite” dos investidores, podendo subir ou descer dependendo dos desempenhos da empresa ou de notícias, riscos e
outras variáveis da economia e política local.
12 Planejamento financeiro e orçamentário
trabalho interno de planejamento financeiro e orçamentário. Esse fato ocorre porque tal avaliação
do negócio terá sempre como ponto de partida os demonstrativos financeiros publicados pela
empresa e as informações relativas à expectativa de seu desempenho futuro.
Portanto, o valor dos papéis (ações) em bolsas de valores seria determinado pela combinação
do desempenho atual nos negócios – segundo os demonstrativos financeiros – e, não menos
importante, pela perspectiva de desempenho futuro do negócio nos mercados em que atua.
A seguir veremos uma análise que mostra a reação do mercado após o lançamento das ações
da Uber. Poderemos perceber como os mercados reagiram em relação ao comportamento de seus
preços a partir da oferta pública de ações (OPA). Ao longo do dia do lançamento das ações em
bolsa de valores, elas atingiram a casa dos US$ 44,85. No entanto, voltaram a cair e fecharam o dia
inclusive abaixo do preço inicial daquela data (US$ 42,00), ou seja, antes da OPA:
Apesar da grande expectativa do mercado, as ações da Uber (código UBER)
derraparam no primeiro dia de negociações na bolsa de Nova Iorque (NYSE).
Os papéis terminaram a sexta-feira cotados em US$ 41,60, uma queda de mais
de 7% em relação ao preço estipulado na abertura de capital (US$ 45) [...]. A
justificativa pode estar atrelada a vários fatores. John Tuttle, executivo-chefe
de operações da NYSE (bolsa de Nova Iorque), disse, em entrevista ao site
Yahoo Finance, que “há duas variáveis que costumam impactar no preço do
IPO: as condições do mercado e como duas companhias comparáveis estão
performando dentro desse mercado”. (FURLANI, 2019)
Nesse contexto, podemos refletir sobre como a empresa e seus gestores atualmente vêm
se preocupando em não apenas demonstrar que o negócio em si é valioso aos acionistas, mas
importante para a estratégia e sobrevivência dele em longo prazo.
Percebemos até aqui toda uma mudança de grau e complexidade do papel da gestão
financeira nas últimas décadas. Somada a essa realidade, uma enorme responsabilidade passou
a ser creditada à função do gestor financeiro: não apenas à sua capacidade de gerir contábil e
financeiramente o negócio, mas à sua habilidade para agregar um pensamento estratégico e global
voltado à geração de valor do business no tempo.
Quando pensamos em um negócio, é comum que a primeira coisa a vir à mente seja o lucro.
É interessante notar que, apesar de sua importância e do fato de esse ser o objetivo de qualquer
empresário, conforme discutimos anteriormente, com o tempo o conceito de contábil deixou de
ser a única prioridade dos gestores das empresas. Assim, somadas à relevância do lucro obtido na
operação do negócio, outras variáveis, como a perpetuação da atividade empresarial ao longo do
tempo, tornaram-se também um dos principais objetivos dos administradores. Ou seja, além dos
resultados financeiros, é interesse dos gestores que a operação do negócio esteja “conectada” às
novas formas de tecnologia e comunicação modernas e que o empreendimento tenha vida longa,
gerando resultados também no futuro.
Assim, percebemos que a administração financeira do século XXI preocupa-se com muitas
outras variáveis, atribuindo aos responsáveis (gestores) um papel mais amplo e variado, cuja
complexidade trataremos a partir de agora. No entanto, antes de prosseguirmos, vamos analisar o
ponto de vista de um importante pesquisador do tema. Segundo Gitman (2012, p. 4),
Os administradores financeiros são responsáveis pela gestão dos negócios
financeiros das organizações de todos os tipos – financeiras ou não, abertas
ou fechadas, grandes ou pequenas, com ou sem fins lucrativos. Eles realizam
as mais diversas tarefas financeiras, tais como planejamento, concessão de
crédito a clientes, avaliação de propostas que envolvam grandes desembolsos
e captação de fundos para financiar as operações da empresa. Nos últimos
anos, as mudanças nos ambientes econômico, competitivo e regulamentador
aumentaram a importância e a complexidade das tarefas desse profissional.
O administrador financeiro de hoje está mais ativamente envolvido com o
desenvolvimento e a implementação de estratégias empresariais que têm por
objetivo o “crescimento da empresa” e a melhoria de sua posição competitiva.
14 Planejamento financeiro e orçamentário
Portanto, nesse estágio dos estudos, cabe uma reflexão a respeito da forma como a
globalização do mercado modificou a gestão dos negócios e de que modo tal mudança “cria” e
“padroniza” novas formas e expectativas dos gestores em relação aos resultados em um cenário
competitivo e dinâmico como o dos mercados internacionais.
Assim sendo, as empresas, a despeito do país onde atuam, precisam estar sempre em
conformidade com essa nova cultura e observa os modernos princípios de gestão. Atuando
no Brasil ou nos Estados Unidos, por exemplo, toda companhia necessita observar princípios
de gestão, ética, procedimentos e tarefas muitos semelhantes, independentemente do local de
operação do negócio.
Portanto, nos mercados altamente competitivos da atualidade, não é aceitável um negócio
ser gerenciado (e aqui podemos lembrar que não nos referimos unicamente à gestão financeira)
sem que seus administradores sigam padrões e procedimentos normalmente exigidos e esperados
por clientes, mercados, competidores, governos e demais autoridades.
Gitman (2012) vai além nessa importante análise e afirma ainda que devemos nos lembrar
das mais variadas formas jurídicas que encontramos organizadas nas empresas ao redor do mundo.
Esse autor define a princípio três tipos (ou modelos) de empresas: as individuais, as limitadas
(Ltda.) e as sociedades por ações (S.A.). Vejamos, a seguir, uma breve descrição dessas classificações
e alguns exemplos para o caso brasileiro.
dos empregos gerados por elas neste período (67,7%). Entre 2012 e 2015, as
empresas de alto crescimento apresentaram um crescimento de 172,1% no
pessoal ocupado, passando de 1,3 milhão de pessoas em 2012, para 3,5 milhões
em 2015, um incremento de 2,2 milhões de postos de trabalho. (IBGE, 2017)
2 Segundo a CVM, o estatuto social das companhias define as espécies de ações conforme os direitos que concedem
aos acionistas. O estatuto é o conjunto de regras dos administradores e acionistas que define as características de
cada espécie de ação. No que se refere às ações preferenciais, estas podem ser divididas entre as classes A e B
(ESPÉCIES..., 2019).
16 Planejamento financeiro e orçamentário
Considerações finais
O papel exercido atualmente pelo administrador financeiro extrapola os limites da empresa.
Dessa forma, a controladoria age no sentido de oferecer as linhas mestras da atuação desse
profissional, sempre voltada ao atingimento dos objetivos, a saber: a perpetuação do negócio, a
garantia de retornos positivos dos negócios ao longo do tempo e a maximização dos lucros (com a
consequente distribuição de dividendos aos acionistas).
Discutimos até aqui que a contabilidade é também a ciência que extrai da empresa as
principais e mais relevantes informações a respeito do desempenho do negócio. Tais informações
contábil-financeiras possibilitam aos gestores determinarem as principais linhas de atuação. O
trabalho do contador e do gestor financeiro, portanto, envolve uma enorme lista de atribuições e
A gestão corporativa moderna 17
sempre terá papel essencial e central na gestão do negócio, na geração de valor aos acionistas e na
coleta e organização (gerencial) das informações mais relevantes voltadas às decisões estratégicas.
Dessa forma, podemos enxergar o valor da empresa como intimamente ligado e
dependente do correto e preciso trabalho desenvolvido pelos profissionais de finanças. Portanto,
torna-se prioritário administrar tendo em mente a geração máxima de valor ao acionista e gerir
o negócio com competência, eficiência e conhecimento técnico, exigidos pelo mercado e pelos
acionistas controladores.
Discutimos também a realidade da nova tecnologia da informação, que modificou
significativamente a maneira como as empresas têm atuado neste início de século. Como
consequência, a gestão financeira do negócio vem incluindo tal realidade em seu trabalho diário de
coleta, organização e uso dos dados econômico-financeiros do negócio em questão. Atualmente, a
controladoria encontra-se, mais do que nunca, no centro das informações e das tomadas de decisão
das companhias. Além disso, ela é uma das grandes usuárias das diversas tecnologias disponíveis
para o atingimento dos principais objetivos das empresas.
Atividades
1. Reflita a respeito da importância do modelo de gestão das empresas no século XXI; da
relevância do planejamento; do levantamento de informações contábil-financeiras; do
processo decisório e da tecnologia da informação. Como você define um modelo ideal
de gestão em finanças para uma empresa operando no Brasil? O que você define como
essencial ao sucesso e ao atingimento das metas organizacionais em razão de todas as
características da economia e da sociedade brasileira e dos mercados internacionais?
18 Planejamento financeiro e orçamentário
2. Como você vê a importância da correta contabilização das operações das empresas, de modo
a publicar demonstrativos financeiros – como balanço e demonstrativos de resultados – que
reflitam sua verdadeira situação? Quais riscos você enxerga à sociedade e aos acionistas nos
casos de números errados serem publicados nos demonstrativos?
3. Sabemos que resultados de vendas e lucros são ainda os grandes determinantes de qualquer
negócio. No entanto, ultimamente o valor das ações (preço do papel no mercado) vem
ganhando espaço na gestão financeira devido à importância que a percepção dos investidores
têm no sucesso dos negócios. Com base nisso, reflita a respeito das razões pelas quais uma
empresa pode ser avaliada como excelente opção de investimento mesmo sem apresentar –
em determinado momento – vendas ou lucros extraordinários. Quais outras variáveis você
incluiria em sua análise?
4. Imagine uma empresa de capital aberto (ou seja, com muitos sócios detentores de ações em
bolsa de valores) que tem a intenção de fazer um grande e vultoso investimento em uma
nova fábrica. De que forma esse aporte de capital deve ser discutido interna e externamente?
Quais papéis você vê sob responsabilidade do tesoureiro e do controller nesse processo?
Referências
BRASIL. Lei n. 6.385, de 7 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 7
dez. 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6385.htm. Acesso em: 31 jul. 2019.
COM US$ 10 bi em ações, abertura de capital do Uber pode ser o maior de 2019. O Estado de S. Paulo, São
Paulo, 10 abr. 2019. Disponível em: https://link.estadao.com.br/noticias/empresas,com-us-10-bi-em-acoes-
abertura-de-capital-do-uber-pode-ser-a-maior-do-ano,70002786288. Acesso em: 31 jul. 2019.
ESPÉCIES de ações. Portal do Investidor. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: http://www.investidor.gov.br/
menu/Menu_Investidor/valores_mobiliarios/Acoes/especies_de_acoes.html. Acesso em: 31 jul. 2019.
FURLANI, B. De carona com a Uber? Ações derrapam no 1º pregão e tem queda de mais de 7%. Seu
Dinheiro. São Paulo, 10 maio 2019. Disponível em: https://www.seudinheiro.com/acoes-da-uber-comecam-
a-ser-negociadas/. Acesso em: 31 jul. 2019.
GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2012.
IBGE. Estatísticas de empreendedorismo: empresas de alto crescimento geraram 67,7% dos postos
de trabalho entre 2012 e 2015. Agência de notícias. Rio de Janeiro, 17 nov. 2017. Disponível em: https://
agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/18016-
estatisticas-de-empreendedorismo-empresas-de-alto-crescimento-geraram-67-7-dos-postos-de-trabalho-
entre-2012-e-2015. Acesso em: 31 jul. 2019.
ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. F. Administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
Sempre que nos referimos aos objetivos e desafios do administrador na atualidade, podemos,
primeiramente, pensar na constante e difícil busca por eficiência e produtividade nas organizações.
A gestão moderna está bastante conectada e preocupada com esses aspectos em razão do foco que
as empresas vêm dando, em maior ou menor grau, ao alcance de ambiciosas metas de resultados.
Portanto, mesmo que as empresas ainda se encontrem preocupadas com a manutenção de
diversos outros valores culturais, morais e éticos – os quais devem fazer parte dos objetivos de qualquer
negócio –, a ausência de compromisso com a constante busca por eficiência e produtividade poderá
resultar no fracasso diante dos dinâmicos e competitivos mercados atuais. Desse modo, esta obra
busca oferecer ferramentas para que estudantes e profissionais de finanças possam compreender
e analisar, de modo crítico, a maneira pela qual a gestão do negócio vem sendo efetuada em uma
empresa e para que sejam capazes de propor soluções e aprimoramentos nos procedimentos e
controles financeiros existentes.
Assim, a despeito de seu objeto ou ramo de atividade – seja a fabricação ou a comercialização
de produtos, ou a prestação de serviços –, toda empresa deve se preocupar em concentrar ações
em alguns aspectos hoje considerados cruciais na gestão de sua rotina organizacional. É o caso, por
exemplo, da maximização dos lucros, dos corretos controles de procedimentos, do comportamento
ético e profissional de seus colaboradores e, não menos importante, do valor do negócio para os
acionistas em curto, médio e longo prazos.
Sabemos, obviamente, que o lucro da atividade é o principal objetivo empresarial. Entretanto,
não deve ser apenas por meio de uma gestão centrada em resultados contábil-financeiros e ganhos
de eficiência e de produtividade que o administrador financeiro contribuirá com o futuro do
negócio. Cabe ao gestor moderno preocupar-se também com princípios éticos de conduta e com
metas que atendam à companhia e à sociedade na qual está inserida.
Por isso, essa será também a razão pela qual estudaremos neste capítulo as modernas
definições de objetivos e metas organizacionais. Combinando (incorporar) o já “tradicional”
objetivo de maximização do lucro com o maior valor econômico do negócio, a maximização da
riqueza ao acionista e, por fim, a preocupação com a sustentabilidade do negócio no tempo em
sintonia com as expectativas do mercado como um todo.
Tal afirmação dos autores implica que a realidade contemporânea e os mercados altamente
competitivos imponham, juntos, um desafio bem mais complexo ao gestor financeiro: acompanhar
o desempenho operacional, financeiro (retorno do investimento) e social do negócio sob a
perspectiva do risco envolvido na operação.
O gestor deve realizar essa tarefa de modo a ganhar maior protagonismo, oferecendo
análises orçamentárias, estratégicas, de risco-retorno e concorrenciais, por exemplo, em sintonia
com as “tradicionais” funções contábil-financeiras. Portanto, podemos afirmar que tal acúmulo de
responsabilidades posiciona o profissional de finanças no centro da tomada de decisões, agindo em
conjunto com a alta administração na manutenção e no desenvolvimento do negócio em longo prazo.
Esse tema bastante atual nos força a compreender de que maneira as organizações vêm
sendo geridas. Portanto, incorporamos a este estudo uma nova ótica: a do valor gerado ao
acionista. Tal conceito é bem recente no mundo acadêmico e defende – em poucas palavras –
que todo planejamento financeiro e orçamentário deve voltar-se à geração de valor ao acionista.
Ultimamente, tanto o planejamento financeiro e orçamentário quanto o papel do gestor ganham
destaque exatamente em razão da importância que os mercados têm dado à maximização do valor
do negócio ao acionista, conforme discutiremos em seguida.
De acordo com Gitman (2012), devemos ver a gestão do negócio e seus objetivos para muito
além da maximização dos lucros contábeis. Não que o resultado contábil seja desprezível ou pouco
importante (pelo contrário), todavia é preciso lembrar que a contabilidade se modernizou e que
atualmente o trabalho do contador ou do financista, além de essencial e prioritário, extrapola em
muito o simples fornecimento de dados e informações aos administradores ou ao público externo
da empresa. Segundo o autor,
as sociedades por ações costumam medir sua lucratividade em termos de lucros por
ação (LPA), que representa o montante ganho em cada período (ano ou período
fiscal) para cada ação ordinária em circulação. O LPA é calculado dividindo-se o
lucro total do período disponível para os acionistas ordinários da empresa pelo total
do número de ações ordinárias em circulação. (GITMAN, 2012, p. 12)
1 Lei das Sociedades por Ações. Veja os detalhes e as regulamentações que regem as obrigações das firmas para com
a publicação de demonstrativos na Lei n. 6.404/1976 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM, 2019).
2 Instruções e regras emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Veja em mais detalhes o objetivo, o
alcance, as definições e a finalidade das demonstrações contábeis no Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1). Comitê de
Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1) – Apresentação das Demonstrações Contábeis, p.
1-7. Disponível em: www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=57. Acesso em:
23 jul. 2019.
3 Agency ou conflito de agência é o confronto de interesses existente entre os acionistas de uma empresa e os
seus gestores.
4 O conceito de dividendos (dividendos por ação) refere-se ao montante do lucro líquido do período que a administração
decide distribuir a todos os acionistas que fazem jus, dividido pelo total de ações existentes. Muitas vezes, a empresa
pode apresentar lucros contábeis em determinado ano fiscal, mas não desejar (ou não poder) distribuí-los aos acionistas.
Nem sempre o aumento do lucro de um ano para o outro significa, efetivamente, aumento do valor, distribuído sob a forma
de dividendo.
22 Planejamento financeiro e orçamentário
5 Apesar de amplo, o conceito de governança corporativa refere-se a todo tipo de processo, hábito, política, lei ou
instituição normalmente utilizados no dia a dia empresarial, voltados à sua efetiva administração segundo os objetivos
dos seus acionistas.
Objetivos e desafios do administrador no século XXI 23
Podemos notar a preocupação da administração com ações voltadas a uma gestão seguindo
rígidos padrões e condutas éticas local e internacionalmente aceitas. Ações estas, aliás, alinhadas
com padrões de reporting para empresas de capital aberto e com ações transacionadas em bolsa de
valores em seu país e no exterior.
Ou seja, quando nos referimos à governança corporativa, tratamos, basicamente, de uma
metodologia de controle e de tomada de decisão de caráter puramente ético e profissional. Esse
conceito e essa preocupação com as melhores práticas de governança – normalmente obrigatórias
a grandes corporações – são relevantes principalmente em razão de o Brasil ser uma economia em
desenvolvimento e cujos mercados financeiro e de capitais ainda estarem amadurecendo.
Tal realidade nos impõe o desafio de atrairmos capital e investimento estrangeiro de longo
prazo. E, para o mercado financeiro e de capitais, a vitrine geralmente serão as grandes empresas
nacionais ou estrangeiras aqui sediadas que operem nesses mercados como tomadoras de recursos.
Assaf Neto e Lima (2014, p. 23-24) destacam que, para o caso brasileiro, “as decisões
financeiras em condições ideais de equilíbrio são bastante prejudicadas pela persistente insuficiência
de recursos de longo prazo para as empresas”. A ausência de capitais e de linhas de investimento
de longo prazo a juros internacionalmente baixos, bem como condições favoráveis ao empresário
em geral, não apenas reduz as perspectivas de desempenho futuro das companhias, mas também
impede planejamentos orçamentários mais precisos e realistas.
Portanto, pensar o planejamento financeiro e orçamentário no início do século XXI
certamente exige uma abordagem que extrapola os cumprimentos de princípios contábeis
e financeiros. Devemos incorporar uma política de governança alinhada às mais modernas
práticas internacionais. Na medida em que tais instrumentos de controle e de gestão (voltados
24 Planejamento financeiro e orçamentário
6 Segundo Gitman (2012, p. 15), a partir do ano 2000, vários órgãos reguladores nos EUA descobriram e combateram
uma série de improbidades administrativas e más condutas de gestores e empresas que causaram problemas em razão
de fraudes na publicação de relatórios financeiros e nos comunicados aos mercados. Em muitos casos, a ausência
da devida comunicação a respeito de conflitos de interesse entre a empresa e analistas, auditores e seus acionistas
gerou muitos prejuízos e graves impactos nos mercados de capitais internos. Tal realidade forçou o estabelecimento
de uma nova legislação nos EUA, chamada Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, cujo objetivo é coibir ou eliminar problemas de
divulgação e conflitos de interesses nas organizações que possam causar impacto financeiro a acionistas e ao mercado
como um todo.
Objetivos e desafios do administrador no século XXI 25
Perceba como o texto enfatiza que “o fechamento da transação ocorreu hoje com o
pagamento total de R$ 33,5 bilhões para a Petrobras [...]” (PETROBRAS, 2019b). Devemos,
porém, pensar em algumas questões: Como a empresa determina o valor de tal transação? O
que precisamos contemplar nessa análise para precificar esse ativo da Petrobras e ofertá-lo ao
mercado? Como tal valor predeterminado no processo de avaliação pode obter interessados,
pelo menos no preço mínimo do leilão? Essas respostas e o cálculo do valor do negócio podem
ser efetuados de diversas maneiras.
Então, quando se analisa no exemplo a questão dos R$ 33,5 bilhões pagos pelos
investidores por meio da subsidiária de operação de gasodutos da Petrobras (TAG), vê-se que
os compradores pagaram pelos ativos presentes e reportados nos demonstrativos financeiros e,
efetivamente, pelo potencial futuro de geração de caixa (valor) do negócio.
Para concluir, pode-se destacar que esse trabalho de valuation e seus modelos de avaliação
derivam diretamente de um planejamento financeiro e orçamentário bem-feito. Tal exercício
matemático oferece dados e informações econômico-financeiras mais realistas possíveis, os quais
possibilitam entender o desempenho passado da empresa e estimar como será o desempenho
projetado (orçado).
Considerações finais
Considerando o momento pelo qual passam as economias mundiais, todo trabalho de
planejamento financeiro e orçamentário bem-feito será sempre um esforço e um enorme desafio
aos gestores das organizações. A necessidade de informações financeiras precisas e constantes, o
rigor na elaboração de relatórios e demonstrativos contábeis e o significativo grau de exigência
dos mercados externos para com os números publicados são atualmente fundamentais a qualquer
negócio que deseje ser bem-sucedido em longo prazo.
Somado a isso, princípios morais, éticos e sociais permeiam as empresas da atualidade e
exigem, assim, muito mais do que precisão na esfera econômico-financeira. A todo instante, buscam-
-se ações e uma gestão voltadas aos princípios, às demandas sociais, às demandas dos mercados
financeiros e de capitais do Brasil, bem como dos mercados com os quais a empresa se relaciona.
Tal realidade deriva do processo de globalização em curso, o qual modificou a gestão
corporativa oferecendo simultaneamente novos mercados e novas perspectivas de ganhos e
crescimentos. No entanto, ao mesmo tempo, cresceu a responsabilidade do gestor nesse contexto,
pois, além do cuidado com a contabilização, montagem e publicação de demonstrações contábeis,
relatório da diretoria, notas explicativas e parecer dos auditores, espera-se do gestor maior exatidão
nas informações publicadas. Junto a essa capacidade de desenvolver tal trabalho, bem mais
complexo, somou-se a necessidade de maior controle contábil-financeiro e orçamentário.
Desse modo, compreender as análises das demonstrações como parte do planejamento
é a base para todo o processo de tomada de decisões. Portanto, atualmente exige-se desse
profissional profundo conhecimento do que representa cada conta em particular e seus
impactos no valor do negócio.
Nesse sentido, discutir a relevância e importância de cada conta representativa das mais
diversas operações realizadas pela empresa (seja em suas atividades industriais, comerciais,
financeiras ou de prestação de serviços) é a base de qualquer trabalho sério e voltado ao atendimento
das demandas de acionistas e controladores.
Objetivos e desafios do administrador no século XXI 27
Atividades
1. Como pensar a resolução de conflitos existentes entre as exigências de elaboração e publicação
de uma série de demonstrativos contábeis e a administração de informações confidenciais e
estratégicas da empresa? Será que é possível ser “transparente” com o mercado e acionistas
nas informações financeiras e, ao mesmo tempo, cuidar do que é confidencial e estratégico
para a companhia?
2. Considerando os deveres e as responsabilidades do gestor financeiro quanto aos
recursos financeiros da empresa, quais as habilidades e condições exigidas para que esse
profissional possa trabalhar executando o seu trabalho de coleta, elaboração e publicação de
demonstrativos financeiros dentro dos mais rígidos princípios éticos e profissionais?
28 Planejamento financeiro e orçamentário
3. Com base nos deveres e nas responsabilidades do gestor financeiro quanto à correta
avaliação do negócio de uma empresa pelo conceito de valuation, qual a importância de uma
companhia de capital aberto, como a Petrobras, fornecer avisos aos acionistas e ao mercado
em geral? Analise de que forma esses comunicados podem impactar e modificar a percepção
dos acionistas a respeito do futuro e do valor da empresa.
Referências
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Editora Atlas, 2014.
DCI. Alto custo de capital e inviabilidade de investimentos são impasses no Brasil. São Paulo, 5 set. 2018.
Disponível em: https://www.dci.com.br/economia/alto-custo-de-capital-e-inviabilidade-de-investimentos-
s-o-impasses-no-brasil-1.737942. Acesso em: 31 jul. 2019.
PETROBRAS. Modelo e diretrizes de governança. Relações com investidores. Rio de Janeiro, 2019a.
Disponível em: https://www.investidorpetrobras.com.br/pt/governanca-corporativa/modelo-e-diretrizes-
de-governanca. Acesso em: 31 jul. 2019.
PETROBRAS. Petrobras conclui a venda da TAG. Relações com investidores. Rio de Janeiro, 2019b. Disponível
em: https://www.investidorpetrobras.com.br/ptb/14989/9512_696003.pdf. Acesso em: 31 jul. 2019.
3
A tomada de decisões de investimento e financiamento
É importante perceber que tal definição coloca sob a responsabilidade da gestão financeira
o trabalho de análise e a seleção do investimento de longo prazo da empresa. Isso porque, segundo
os autores, cabe ao gestor medir o montante de recursos empenhados no negócio, administrar o
fluxo de caixa do período e aplicar adequadamente as técnicas apropriadas de tomada de decisões
com base nos resultados obtidos.
Com o tempo, ativos imobilizados em máquinas e equipamentos e demais itens diretamente
ligados à atividade-fim do negócio se tornam obsoletos e desatualizados, o que exige manutenções e
substituições por itens de maior valor agregado ou tecnologicamente mais avançados. Desse modo,
Gitman (2012, p. 236) afirma que “toda decisão financeira na empresa normalmente precisará passar
pela análise do Orçamento de Capital que […] engloba a avaliação e seleção dos investimentos
voltados a atender o objetivo empresarial de maximização de riqueza dos acionistas”. Segundo o autor,
As empresas costumam fazer muitos tipos de investimento de longo prazo, mas
os mais comuns entre as indústrias são em ativos imobilizados, que abrangem
terrenos, instalações e equipamentos. Esses ativos, às vezes chamados de ativos
A tomada de decisões de investimento e financiamento 31
1 Segundo Assaf Neto e Lima (2014, p. 207), “os investimentos são considerados permanentes quando não destinados
à negociação, mas dirigidos para produzirem benefícios à investidora mediante sua participação nos resultados
de empresas investidas, ou para obtenção de bom relacionamento com os clientes ou fornecedores [...]”. Os autores
destacam ainda que o imobilizado “inclui todos os bens de longa duração (permanentes), que não se destinam a venda, e
utilizados nos negócios da empresa” (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 207).
2 O uso de um disclaimer (resumo explicativo) é prática comum nas empresas de Sociedade Anônima (S.A.) de capital
aberto quando da apresentação de informações econômico-financeiras e operacionais relacionadas à sua atividade, a
orçamentos, a fatos relevantes e a planejamentos para o público externo que possam, direta ou indiretamente, impactar
no valor do negócio e na decisão de investimentos por parte dos acionistas ou do mercado. Vide slide de número quatro
do Plano diretor de negócios e gestão, do período entre 2019 e 2023 (ELETROBRAS, 2018).
32 Planejamento financeiro e orçamentário
Considerações finais
Podemos tirar muitas conclusões até esse estágio de discussões e estudos a respeito do tema
planejamento financeiro e orçamentário e, mais especificamente, sobre as mais diversas decisões de
investimento e financiamento disponíveis nos mercados.
De todo modo, a definição da melhor combinação de investimento e financiamento
sempre estará determinada por variáveis muitas vezes externas à empresa, como taxa de juros,
câmbio, disponibilidade de crédito, preços de mercado e nível de concorrência. Não que variáveis
relacionadas com as características de negócios, mercado e operacionais da empresa serão excluídas,
mas sim combinadas a fatores voltados à maximização do valor do negócio.
O valor do negócio também será determinado pelo correto e preciso equilíbrio entre
risco e retorno definido pelos gestores e que, portanto, torna-se muitas vezes essencial para
compreendermos a maneira como estes se relacionam com seus acionistas e controladores. Muitas
vezes, a defesa do equilíbrio econômico-financeiro da empresa e sua perpetuação em longo prazo
vão de encontro aos interesses dos acionistas por maiores lucros e maior distribuição de resultados
(dividendos). Isso exige do gestor a capacidade de negociar e planejar de modo a justificar suas
ações, atendendo, da melhor maneira possível, a todos os envolvidos nesse contexto.
34 Planejamento financeiro e orçamentário
• ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Capital de giro e equilíbrio financeiro. In: ASSAF
NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Editora Atlas,
2014. p. 645-661.
No capítulo “Capital de giro e equilíbrio financeiro”, é possível estudar com mais
profundidade o conceito de capital de giro e sua importância no equilíbrio financeiro do
negócio. Conforme estudamos, o capital de giro é essencial para a correta e eficaz gestão
financeira da empresa. Assim, seu cálculo e suas aplicações no dia a dia da organização
possibilitam conhecer se a companhia está ou não preparada para sustentar seus negócios
e seus resultados positivos ao longo do tempo.
Atividades
1. Levando em conta que o risco e o retorno do investimento devem estar presentes em
qualquer análise de investimento, responda à seguinte questão: como equilibrar o risco e o
retorno de modo a atender a todos os interessados no negócio?
2. Sabemos que toda tomada de decisão financeira deve, de algum modo, contemplar a análise do
orçamento de capital. Portanto, qual a importância da administração do caixa como parte da
estratégia de investimentos de uma empresa?
A tomada de decisões de investimento e financiamento 35
Referências
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2014.
ELETROBRAS. Plano Diretor de Negócios e Gestão – PDNG 2019-2023. Rio de Janeiro: Eletrobras, 2018.
Disponível em: https://eletrobras.com/pt/GestaoeGorvernancaCorporativa/PDNG_2019-2023.pdf. Acesso
em: 31 jul. 2019.
IBGE. Em abril, setor de serviços cresce 0,3%. Agência de notícias. Rio de Janeiro, 13 jun. 2019. Disponível em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/24822-
em-abril-setor-de-servicos-cresce-0-3. Acesso em: 31 jul. 2019.
ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFRE, J. F. Administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
4
O planejamento de caixa e seus fundamentos
negócio e no preço do papel em bolsa de valores1. Assim, a expansão de uma planta fabril, a criação
de uma nova linha de produção, o lançamento de um novo produto, a decisão de investimento (ou
desinvestimento) ou mesmo o aumento ou a redução de seus preços de venda, por exemplo, devem
ser criteriosamente avaliados pela perspectiva dos impactos na liquidez do negócio e no valor da
companhia para os acionistas.
Vejamos uma notícia publicada pela revista Exame em 28 de fevereiro de 2019 a respeito do
resultado da Petrobras em 2018. Perceba como todas as informações da matéria buscam explicar as
razões do desempenho econômico-financeiro do negócio no período em questão:
São Paulo – As ações da Petrobras registravam valorização na manhã desta
quinta-feira. Por volta das 10h30, os papéis preferenciais subiam 2,14%
e os ordinários em 1,30%, sendo negociados na casa dos R$ 27 e R$ 21,
respectivamente. O mercado repercute os dados apresentados pela estatal
na noite de ontem. Em 2018, a companhia registrou lucro líquido de 25,8
bilhões de reais, após quatro anos consecutivos de prejuízos. Foi o primeiro
desempenho positivo depois de estourar o escândalo de corrupção investigado
pela operação Lava Jato, em 2014. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos,
depreciação e amortização) ajustado somou 114,8 bilhões de reais, ante
76,5 bilhões de reais em 2017. No quarto trimestre. A receita de vendas da
Petrobras totalizou 349,8 bilhões de reais em 2018, aumento de 23% ante
2017, refletindo os maiores preços dos derivados de petróleo no mercado
interno, principalmente diesel e gasolina, e das exportações, afirmou a
empresa. (MAMONA, 2019)
4.1.1 Depreciação
Definimos depreciação como o modo pelo qual a diminuição do valor de bens do Ativo
Imobilizado2 é contabilizada e registrada, sendo resultado do desgaste advindo de sua utilização.
1 Caso a empresa seja uma S.A. de capital aberto e tenha suas ações negociadas em bolsa de valores, toda ação
de seus gestores financeiros (de uma forma ou de outra) gerará impacto positivo ou negativo no preço negociado do
papel pelos investidores. Se a empresa for Limitada (Ltda.) e não tiver, obviamente, acionistas nos mercados, seu “valor”
também (direta ou indiretamente) estará relacionado a tal desempenho.
2 O Ativo Imobilizado é definido como a soma de todos os bens adquiridos pela empresa e mantidos para uso nas
próprias operações produtivas ou a seu serviço.
O planejamento de caixa e seus fundamentos 39
Segundo Gitman (2012), um dos principais fatores que afetam o fluxo de caixa do negócio é a
depreciação3, sendo considerada um tipo de despesa não reembolsável.
Para fins fiscais e de relatórios financeiros, as empresas podem lançar contra
as receitas anuais uma parte dos custos do Ativo Imobilizado. Essa alocação de
custos históricos ao longo do tempo é chamada depreciação. Para fins fiscais, a
depreciação dos ativos da empresa é regulada pela legislação tributária. Como
os objetivos dos relatórios financeiros às vezes diferem dos encontrados na
legislação tributária, as empresas muitas vezes usam métodos de depreciação
diferentes para os dois fins. É perfeitamente legítimo manter dois conjuntos
separados de registros para esses dois propósitos. (GITMAN, 2012, p. 95)
Sabemos que as empresas devem calcular a depreciação de seus ativos por meio de diversos
métodos, segundo a exigência da legislação local e conforme seus objetivos de controle gerencial
de resultados. O valor da “despesa de depreciação” lançada nos demonstrativos de resultados
(para cada período) dependerá diretamente da relação entre o valor contábil do bem e sua vida
útil, definida como o prazo ao longo do qual o ativo se depreciará. Além disso, a “despesa de
depreciação”, lançada em determinado período fiscal, tem papel absolutamente relevante no cálculo
e na apuração dos impostos e das contribuições de qualquer empresa, exatamente por refletir o
reconhecimento da depreciação de seus bens.
Assim, conforme vimos anteriormente, a depreciação é a perda de valor de um bem em
virtude de seu uso no cotidiano da operação do negócio, aplicável ao Ativo Permanente, ou seja,
a bens adquiridos com a expectativa de serem usados por mais de um ano. Por essa razão, é
extremamente importante que a empresa proceda com a correta depreciação de seus ativos de
modo a ter pleno controle sobre suas finanças e reduzir os riscos inerentes ao negócio. Quando
o gestor financeiro (nesse caso, o contador) registra a depreciação como um custo intrínseco à
produção, o montante lançado contabilmente (em conta determinada) começa a ser descontado
do lucro líquido da empresa, e, somado a esse impacto redutor do lucro, cabe ao contador proceder
ao registro preciso de tal montante lançado a título de depreciação no período fiscal em questão.
Do mesmo modo, as corretas apurações dos valores e as inequívocas contabilizações vão
permitir a correção do valor do bem ao longo dos anos – o qual será reduzido em razão de seu
desgaste natural pelo seu uso no tempo. Isso também gera reflexos nos impostos a pagar, no lucro
e nas saídas de caixa da empresa. Portanto, neste momento, temos um claro exemplo da forma
como um lançamento contábil (nesse caso, “despesa com depreciação”) de caráter estratégico afeta
diretamente o caixa da companhia e seus resultados aos acionistas.
Para concluir essa análise sobre a importância da depreciação e seu impacto no fluxo de
caixa, faz-se necessário diferenciar os termos depreciação econômica e depreciação fiscal.
As novas regras contábeis introduzidas pela Lei n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007) e pela Lei
n. 11.941/2009 (BRASIL, 2009) estabelecem que as empresas façam criteriosa análise do seu ativo
3 Segundo Gitman (2012, p. 95), “a depreciação é o lançamento sistemático de uma porção dos custos dos Ativos
Imobilizados contra as receitas anuais com o passar do tempo. E, segundo esta análise, o sistema modificado de
recuperação acelerada de custos (MACRS – modified accelerated cost recovery system) é usado para determinar a
depreciação de ativos para fins fiscais”.
40 Planejamento financeiro e orçamentário
imobilizado, estimando sua vida útil de modo a possibilitar o cálculo, a apuração e o lançamento
do que se denomina depreciação econômica.
Segundo o Pronunciamento Técnico CPC 27 (CPC, 2009), tal procedimento contábil,
independente do regime tributário da pessoa jurídica, é obrigatório. A depreciação econômica usa
critérios (estratégicos) aplicados pela organização, sendo que o gestor financeiro determina a vida
útil econômica dos bens depreciáveis por meio de um laudo técnico interno ou externo – de modo
que tal depreciação seja calculada somente sobre o valor depreciável (custo de aquisição do bem –
valor residual do bem4 = valor depreciável).
Por outro lado, a Receita Federal do Brasil oferece um benefício às empresas, aceitando,
para fins tributários, a depreciação fiscal como base para o cálculo do Imposto de Renda Pessoa
Jurídica (IRPJ)5. Devemos destacar que tal elaboração é facultativa por se tratar de um benefício
tributário às empresas que trabalham no regime de lucro real. Portanto, concerne ao profissional
de contabilidade acessar a tabela de prazo de vida útil e de taxa de depreciação dos bens destinados
ao Ativo Imobilizado, considerando que se refere a uma despesa dedutível no cálculo do Imposto
de Renda Pessoa Jurídica e na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)6.
Desse modo, é o gestor financeiro que decide, segundo o nível de depreciação desejado, o
impacto que a despesa de depreciação pode ter sobre o fluxo de caixa da empresa. Por exemplo,
quanto mais longa a vida útil do bem, menor é o valor lançado a cada período reportado na conta
“depreciação” no demonstrativo de resultados. O oposto é certamente verdadeiro: um ativo mais
rapidamente depreciado gera uma despesa de depreciação maior, com maior impacto redutor no
caixa e no lucro do negócio.
Gitman (2012, p. 96) descreve seis prazos de depreciação alinhados com a classificação
dos ativos7, segundo as categorias do Sistema de Recuperação de Custos Acelerados Modificados
(MACRS) para períodos de 3, 5, 7, 10, 15 e 20 anos de vida útil. A seguir, para maiores
análises e discussões, veremos exemplos de cálculo de períodos de depreciação das quatro
primeiras categorias:
• 3 anos: ativos designados como equipamentos de pesquisa e ferramentas especiais. Nesse
caso, serão lançados a título de despesa de depreciação 33% do valor contábil de aquisição
do bem anualmente.
• 5 anos: ativos designados como computadores, veículos automotores e equipamentos
tecnológicos. Nesse caso, serão lançados a título de despesa de depreciação 20% do valor
contábil de aquisição do bem anualmente.
4 Ao final da vida útil econômica do bem, a empresa terá contabilizado apenas uma fração do valor original lançado no
Ativo Imobilizado, a qual se denomina valor residual.
5 A Instrução Normativa RFB n. 1.881, de 03 de abril de 2019, altera a Instrução Normativa RFB n. 1.700, de 14 de março
de 2017, que dispõe sobre IRPJ, CSLL, Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins (BRASIL, 2019).
6 Segundo a Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil – RFB nº 1700/17.
7 Devemos lembrar que determinadas categorias de ativos não são depreciáveis. Assim, os imóveis têm regras
especiais para depreciação, dado que os terrenos não sofrem depreciação, a qual deve ser apenas aplicada e calculada
sobre as construções e benfeitorias.
O planejamento de caixa e seus fundamentos 41
Vejamos agora um exemplo de Fluxo de Caixa Financeiro (FCF) da Indústria ABC S.A.:
Figura 1 – Fluxo financeiro da Indústria ABC S.A.
Total 84,00
Credores 72,00
(Juros mais resgate de Dívidas menos Financiamento de Longo Prazo)
Acionistas 12,00
(Dividendos mais recompras de Ações menos novos Recursos Próprios)
Total 84,00
*Em milhões de reais.
Veremos agora os cinco itens que compuseram o Fluxo de Caixa Financeiro da indústria
ABC S.A., sendo eles: fluxo de caixa das operações, gastos de capital, acréscimo de capital de giro
líquido, credores e acionistas.
Todo trabalho de cálculo do fluxo de caixa da empresa deve, portanto, iniciar com o cálculo
do Fluxo de Caixa da Operação (FCO), que nada mais é que os recursos efetivamente gerados
pelo negócio ou atividade-fim da empresa. Segundo Gitman (2012, p. 102), “é o fluxo de caixa que
ela gera a partir de suas operações regulares – produção e venda de bens e serviços”. Ele pode ser
calculado pela fórmula:
Tal fluxo de caixa das operações inclui as vendas de bens e as efetivas receitas de prestação
de serviços, quando for o caso. Somado a isso, o FCO deve incluir o pagamento de impostos de
fato efetuado pela empresa, excluindo-se financiamentos, gastos de capital ou variação do capital
de giro líquido. Nesse exemplo, ficou assim calculado:
Figura 2 – Fluxo de caixa das operações da Indústria ABC S.A.
Em R$ MM*
Depreciação 180
No que se refere aos gastos de capital, os quais refletem as variações efetivas de Ativos Fixos
nos balanços da empresa no período de análise, a variação líquida (ou fluxo de caixa em gastos de
capital) será sempre calculada com base na diferença entre as vendas de Ativos Fixos (entrada de
recursos no caixa da empresa) reduzidas da aquisição de Ativos Fixos (saída de recursos do caixa
da empresa). Nesse exemplo, o cálculo fica da seguinte forma:
Figura 3 – Gastos de capital da Indústria ABC S.A.
Em R$ MM*
Nesse caso, o fluxo de caixa foi impactado pela variação de R$ 46 milhões de reais referentes
a aumentos do capital de giro líquido. Já o fluxo de caixa aos investidores foi calculado com base
nos saldos de credores e acionistas, conforme demonstrado a seguir:
Figura 4 – Total do serviço da dívida/Total credores da Indústria ABC S.A.
Em R$ MM*
Juros 98
Total Credores 72
O fluxo de caixa distribuído aos credores é composto dos pagamentos dos juros dos
empréstimos tomados pela empresa e o eventual pagamento de montantes financeiros referentes
ao valor principal do empréstimo ou amortizações de empréstimos. A empresa pode também
emitir novas dívidas e obter recursos para investimento de longo prazo.
Por fim, o fluxo de caixa deve ser distribuído aos acionistas. Segundo a definição de Ross,
Westerfield e Jaffre (2002, p. 44), o fluxo de caixa distribuído aos acionistas é medido pelo efeito
líquido do pagamento de dividendos, mais recompras de ações, menos emissão de novas ações.
Vejamos como essa distribuição foi efetuada no exemplo anterior:
Figura 5 – Pagamentos aos acionistas/Total credores da Indústria ABC S.A.
Em R$ MM*
Dividendos 86
Recompras de Ações 12
Total Credores 12
*Em milhões de reais.
Já o Fluxo de Caixa Livre (FCL) de uma empresa é, segundo Gitman (2012, p. 103), “o valor
do fluxo de caixa disponível para os investidores (credores e proprietários), após a cobertura das
necessidades operacionais e investimentos em Ativo Imobilizado Líquido e Ativo Circulante
Líquido”. Portanto, temos que:
Ou seja, o FCL é o resultado do FCO deduzido do investimento no Ativo Fixo Líquido (IAFL)
e do investimento no Ativo Circulante Líquido (IACL). O investimento no Ativo Fixo Líquido
(IAFL) deve ser calculado pela soma entre a variação do Ativo Fixo Líquido e a depreciação no
período, desta forma:
atividades a que se propõe. Desse modo, o IACL será definido como o Ativo Circulante e a soma de
fornecedores e contas a pagar. É importante lembrar que “Banco a Pagar” não é incluído no cálculo
do IACL porque representa um direito negociado do credor contra o Fluxo de Caixa Líquido da
empresa. Vejamos a fórmula do Ativo Circulante Líquido em linha com esse conceito:
Considerações finais
A discussão a respeito do fluxo de caixa e seus fundamentos teve como ponto de partida a
importância da sua correta elaboração pela gestão financeira da empresa. Tratamos igualmente da
relevância dos fluxos de caixa como parte de uma administração contábil-financeira voltada ao
atendimento dos objetivos organizacionais, em primeiro lugar, e dos acionistas, em segundo.
Nesse sentido, o planejamento e os demonstrativos de caixa são os referenciais indispensáveis
para uma gestão financeira baseada em valor e que pretende atender às exigências legais e contábeis
do país e às expectativas de investidores, credores, sócios, acionistas e do mercado como um todo.
Tratamos também da depreciação e vimos sua enorme relevância no cálculo dos fluxos
de caixa financeiro, operacional e de caixa livre da empresa, os quais são essenciais ao perfeito
conhecimento da situação financeira da organização. E temos sempre que enxergar o fluxo de caixa
como reflexo das atividades da empresa e dos seus resultados operacionais, de suas decisões e seus
gastos com investimentos, bem como de suas estratégias de financiamento, como resultado de um
planejamento de caixa e de liquidez.
Atividades
1. Reflita sobre como os contabilistas das empresas podem alterar o lucro publicado para
apresentar demonstrativos de resultados mais favoráveis aos acionistas. Depois, responda às
seguintes questões: qual o risco existente de uma gestão fraudulenta ‘‘maquiar’’ os resultados
em determinado período e quais instrumentos são utilizados atualmente para coibir tal
prática no caso brasileiro e, especificamente, na questão do fluxo de caixa?
3. Pense a respeito do que tratamos neste capítulo entre a diferença de lucro e caixa gerado pela
operação do negócio no tempo e responda: uma empresa endividada pode ser mais valiosa
na visão do mercado financeiro e de capitais que uma similar sem dívida?
O planejamento de caixa e seus fundamentos 47
Referências
BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 28
dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso
em: 8 ago. 2019.
BRASIL. Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 27
maio 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm.
Acesso em: 8 ago. 2019.
BRASIL. Instrução normativa RFB n. 1.700, de 14 de março de 2017. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 05 abr. 2019. Disponível em: hhttp://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.
action?visao=anotado&idAto=99916. Acesso em: 8 ago. 2019.
BRASIL. Instrução normativa RFB n. 1.881, de 03 de abril de 2019. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 16 mar. 2017
MAMONA, K. Petrobras volta a lucrar e as ações sobem na bolsa. Exame. Disponível em: https://exame.abril.
com.br/mercados/petrobras-volta-a-lucrar-e-as-acoes-sobem-na-bolsa/. Acesso em: 8 ago. 2019.
ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFRE, J. F. Administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
5
A administração do capital de giro e análise
risco/retorno do negócio
De todo modo, o que se busca, segundo esses autores, é definir e compreender a centralidade
de três questões e desafios ao dia a dia do negócio, os quais exigem bastante atenção e cuidado por
parte dos gestores financeiros:
Tal fato ocorre não apenas em função dos altos custos de financiamento – especialmente
pensando em empresas operando no Brasil, em que as taxas de juros são normalmente altas em
comparação aos padrões internacionais –, mas em razão de diversos custos e riscos envolvidos na
operação de negócios localmente. Nesse sentido, compreender a realidade de risco e retorno do
negócio e a necessidade de manter um capital de giro líquido, a fim de possibilitar o financiamento
da operação e a liquidez no dia a dia, exige trabalho dos gestores e profundo conhecimento da real
situação dos números da companhia no curto prazo.
Desse modo, administrar o capital de giro demanda fundamentalmente bom conhecimento
do ciclo operacional da empresa, o qual Assaf Neto e Lima (2014, p. 646) definem como “o período
identificado desde a compra da matéria-prima (ou mercadoria) até a venda e recebimento do
produto vendido”. Assim, quando a organização lança mão de recursos próprios ou de terceiros
(empréstimos bancários) para financiar seu Ativo Circulante na etapa inicial do processo de
produção e venda para, em seguida, utilizá-lo para financiar suas vendas e demais necessidades
de caixa nas etapas posteriores da operação, estará precisamente gerando esse ciclo operacional.
A esse processo Assaf Neto e Lima (2014, p. 647) chamam de ininterrupto e é representado
exatamente pelo fluxo de recursos, que, primeiramente, financia a produção da empresa por meio
da compra de estoques de matérias-primas e demais pagamentos dos denominados Custos Fabris.
Numa segunda etapa, esses recursos são representados pelos estoques de produtos acabados
que se encontram disponíveis para venda aos clientes. E na terceira etapa do processo, a efetiva
venda possibilita que a empresa receba os recursos à vista (creditando caixa) ou financie seus
clientes (creditando contas a receber), iniciando o processo. A companhia pode, ainda, descontar
as duplicatas lastreadas nos faturamentos a prazo a seus clientes nos bancos e receber à vista os
recursos, descontados custos, impostos e juros cobrados pelo banco.
Como as atividades operacionais de uma empresa exigem uma série de eventos e decisões,
faz-se necessário sabermos medir as consequências de cada ato, tanto sob a ótica das ações
gerenciais, quanto sob a perspectiva da produção e dos impactos no caixa da entidade.
52 Planejamento financeiro e orçamentário
Ross, Westerfield e Jaffre (2002) destacam uma série de “eventos e decisões” do ciclo
operacional que acabam por gerar impactos no ciclo de caixa no dia a dia do negócio, conforme
demonstra o Quadro 1 a seguir.
Quadro 1 – Eventos e decisões do ciclo operacional
Eventos Decisões
Compra de matéria-prima Qual o nível de estoques?
Pagamento das compras Utilizar linhas de crédito bancário ou recursos próprios (caixa)?
Os autores destacam que tais eventos geram uma série de reflexos “não sincronizados” e
“incertos” de entradas e saídas de caixa no decorrer dos períodos. Não sincronizados em virtude de
os pagamentos da matéria-prima não ocorrerem na mesma data dos recebimentos das vendas aos
clientes. Incertos em razão de os recebimentos das vendas poderem não ocorrer pela inadimplência
e porque os custos futuros de produção e de vendas são difíceis de prever.
Dessa maneira, o ciclo operacional é definido pelo prazo decorrido da chegada da matéria-prima
nos estoques da empresa até o recebimento efetivo das vendas pagas pelos clientes. O ciclo de caixa,
por sua vez, começa com o efetivo pagamento das compras de matérias-primas e termina com os
recebimentos das contas a receber de clientes. Logo, o conceito de linha de tempo do fluxo de caixa
incorpora um ciclo operacional e um ciclo de caixa relativos às operações da empresa. Segundo
Ross, Westerfield e Jaffre (2002, p. 603),
a necessidade de tomada de decisões financeiras a curto prazo é indicada pela
defasagem entre as entradas e as saídas de caixa. Essa defasagem depende
da duração do ciclo operacional e do prazo para pagamento de contas. Essa
defasagem pode ser coberta pela obtenção de empréstimos ou pela manutenção
de uma reserva de liquidez em títulos negociáveis. Pode ser encurtada pela
alteração dos prazos de estoques, contas a receber e contas a pagar.
Nesse sentido, cabe ao administrador financeiro, portanto, interpretar esses dados e números
e administrar corretamente as contas a pagar e a receber, bem como, as definições e estratégias
de compras de matérias-primas, produção e vendas de produtos (ou prestação de serviços), de
modo a otimizar suas ações, minimizando a necessidade de caixa (recursos) e maximizando os
seus resultados. Por fim, destacam-se nesta análise:
• A duração do ciclo operacional, que equivale à soma entre o prazo de estoque
(correspondente ao prazo de encomendas de matérias-primas) e o prazo de contas a
receber (relativo ao prazo de recebimento dos créditos concedidos aos clientes).
• Prazo de contas a pagar, que reflete o período administrado pela companhia referente aos
pagamentos de compras e demais obrigações em geral.
• O período do ciclo de caixa, que equivale ao tempo decorrido entre o pagamento e o
recebimento efetivo de caixa pela empresa em suas operações. Pode, ainda, ser definido
A administração do capital de giro e análise risco/retorno do negócio 53
pela diferença entre o ciclo operacional e o prazo de contas a pagar: ciclo de caixa = ciclo
operacional – prazo de contas a pagar.
A seguir, veremos alguns exemplos de como os prazos operacionais podem ser calculados
na empresa. É importante destacar que este capítulo não objetiva abordar por completo o tema
de índices ou indicadores financeiros, mas visa apenas apresentar alguns dos mais relevantes e
significativos, com o intuito de auxiliar na análise do desempenho operacional da empresa.
Vamos tomar como primeiro exemplo a empresa Industrial ABC, que apresenta as seguintes
informações em seus demonstrativos financeiros nos dois últimos anos fiscais (X1 e X2):
Quadro 2 – Empresa Industrial ABC: demonstrativos financeiros
Ano X1 Ano X2
Contas contábeis
R$ mil R$ mil
Duplicatas a receber 60.000 100.000
Desse modo, a Industrial ABC gasta, em média, 78,82 dias da compra de mercadorias,
matérias-primas e demais produtos em processo até o recebimento de seus clientes da mercadoria
acabada e vendida.
Para o cálculo do indicador do ciclo financeiro (caixa), consideramos os seguintes elementos:
• Prazo médio de pagamento de fornecedores (PMPF): representa o prazo médio (em dias)
em que a empresa paga seus fornecedores. É calculado da seguinte maneira:
48.000 + 56.000
PMPF = 2 x 360 = 28,36 dias
660.000
Como vimos, o ciclo financeiro é denominado pela fórmula: ciclo de caixa = ciclo
operacional – prazo de contas a pagar. Então, ciclo financeiro = 78,82 dias – 28,36 dias = 50,46 dias.
Isso significa que a companhia apresenta um tempo médio de 50,46 dias do momento em
que pagou suas contas de compras de mercadorias e produtos em processo ou acabados até o efetivo
recebimento das vendas realizadas. Em resumo, nesse exemplo, a empresa adquire mercadorias
que demoram 50,46 dias para serem vendidas e ainda permanece outros 28,36 para receber dos
clientes, em um total de 78,82 dias para completar seu ciclo operacional.
A despeito dos resultados acima expostos, deve-se sempre lembrar que a busca do equilíbrio
entre as contas a pagar e a receber é essencial para a saúde do capital de giro de qualquer negócio.
Além disso, compreender o caminho do dinheiro no cotidiano da empresa é a base do trabalho
de todo gestor financeiro. Isso porque é muito importante não se perder uma venda em razão
da incapacidade do comprador em pagar à vista, por exemplo. Logo, muitas empresas aceitam
negociar seu prazo de pagamento, vender parcelado e administrar esses fluxos de forma a garantir
seu faturamento, mas, deve-se lembrar também que quanto mais a entidade demora para receber
a venda efetuada, pior para o seu caixa. Por outro lado, não é apenas esse aspecto que precisa ser
observado; o prazo de pagamento dos fornecedores também é essencial para a correta e precisa
administração do caixa no tempo.
Desse modo, para os autores, a política “conservadora” “levaria a empresa a diminuir seu
risco mediante aplicações mais elevadas em capital de giro” (ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 655).
Ou seja, nesse caso, o gestor vai preferir, via de regra, manter o caixa elevado como forma de
minimizar riscos e fazer frente a qualquer eventualidade, como pagamentos, ou mesmo para honrar
possíveis obrigações que a empresa venha a contrair no futuro. Como exemplo, podemos pensar
em estratégias de promoção de vendas mais agressivas e na manutenção de estoques mais altos de
forma às empresas “financiarem” resultados mais altos, numa clara estratégia de crescimento do
negócio. Essa tática teria, por outro lado, seu risco minimizado, com a manutenção do caixa em
níveis mais altos no período.
No que se refere às demais políticas “média” e “agressiva”, a empresa estaria optando
pela gradual redução do nível de seu investimento em Ativo Circulante, adotando uma busca
por maior rentabilidade do negócio, a despeito de, por exemplo, manter reservas de caixa para
cobrir eventualidades.
Ainda no que tange à análise de risco-retorno do negócio, fica clara a pertinência de a
gestão financeira sempre buscar o alcance de volume ótimo de capital de giro no dia a dia de suas
operações. Tudo isso de modo a atingir a maximização de seus retornos e a minimização de seus
naturais riscos, com um trabalho (esforço) de orçamentos e previsões de receitas, gastos e custos
que possibilitem a administração do capital de giro nos limites adequados (ótimos).
Tal cuidado com o nível do capital de giro e sua administração passa também pela análise
e gestão de custos de investimento ou de carregamento, que, ainda segundo Assaf Neto e Lima
(2014, p. 657), “são formados pelos gastos com manutenção e armazenagem de produtos e,
principalmente, pelo custo de oportunidade do capital alocado ao Ativo Circulante”. Assim,
quanto maior o nível de investimentos projetados e definidos pela alta administração da empresa,
maior seu custo de carregamento – e isso, é importante destacar, a despeito do nível de taxa de
juros que financia a operação.
Da mesma maneira, quando a organização opta por reduzir o padrão e o nível de seus
investimentos (portanto, de desembolsos em ativos fixos e demais itens do chamado CAPEX1),
reduzindo a necessidade de manutenção de altos níveis de capital de giro no negócio, a empresa
passa a ter outros custos, denominados “Custos de Falta”. Ainda segundo Assaf Neto e Lima, tais
Custos de Falta “podem incluir insuficiência de caixa para pagamentos ou para concessão de crédito
a clientes, falta de estoques para atender algum tipo de venda, entre outros” (2014, p. 657). Logo, pode-se
afirmar que esse custo de falta será menor proporcionalmente ao aumento dos investimentos por
parte dos administradores.
Antes de concluirmos os estudos deste capítulo, ainda é necessário tratarmos brevemente
do financiamento do capital de giro das organizações na atualidade. Esse tema não é apenas nobre
por se referir a algo significativo nos negócios de qualquer empresa, mas, mais especificamente, em
1 CAPEX (Capital Expenditure) é a nomenclatura normal e globalmente utilizada para determinar o gasto e o
investimento em Ativos Imobilizados voltados à produção de bens ou à prestação de serviços pela empresa.
56 Planejamento financeiro e orçamentário
decorrência da realidade brasileira, com altas taxas de juros e relativa escassez de recursos de longo
prazo para investimentos no sistema financeiro nacional.
Sabemos que existem diversas formas de se abordar esse nobre tema. No entanto, segundo
Gitman (2012, p. 550-551), é prioritário pensarmos primeiramente nos conceitos de “necessidade
de financiamento” e, em seguida, na “estratégia de financiamento” a ser adotada pelos empresários.
Assim, o autor destaca quatro conceitos relevantes para essa análise, a saber:
1. Necessidade de financiamento: um investimento constante em ativos operacionais,
resultante de vendas constantes.
2. Necessidade de financiamento sazonal: investimentos em ativos operacionais que variam
no tempo em razão do comportamento cíclico das vendas.
3. Estratégia de financiamento agressiva: estratégia de financiamento segundo a qual a
empresa cobre suas necessidades sazonais com dívidas de curto prazo e suas necessidades
permanentes com dívidas de longo prazo.
4. Estratégia de financiamento conservadora: estratégia de financiamento segundo a qual a
entidade financia suas necessidades sazonais e permanentes com dívidas de longo prazo.
Percebemos, assim, que a gestão financeira busca administrar o capital de giro, prioritariamente,
segundo um planejamento estratégico claro, alinhado às expectativas da alta administração e de
seus acionistas. Sabemos que a busca por maior retorno sobre o capital investido e o foco no maior
valor ao acionista são prioritários em qualquer negócio. Entretanto, ao tomar como ponto de partida
determinada estratégia (seja de financiamento permanente, financiamento sazonal, financiamento
agressivo ou financiamento conservador), o gestor financeiro estará, certamente, estabelecendo uma
forma de agir e se comportar na gestão do negócio. Estas formas, aliás, não podem ser nem diferentes
das expectativas e exigências do capital e acionistas definidas anteriormente, nem muito distantes dos
padrões e das expectativas do mercado como um todo.
Muitas vezes os custos do crédito são muito diferentes para investimentos a curto ou longo
prazo, logo, saber exatamente como, quando e qual montante aplicar no negócio é essencial ao seu
crescimento e à sua sobrevivência no mercado em que está inserido. Certamente, bancos costumam
cobrar mais caro pelo capital (empréstimo), cujo retorno (prazo) se dará no longo prazo, mas,
ao mesmo tempo, muito capital de giro de curtíssimo prazo também é geralmente caríssimo e
indisponível ao empresário. No caso do Brasil, nem sempre linhas de crédito de longo prazo são
as mais caras. Linhas de investimento e financiamento de longo prazo repassadas pelos bancos
com base em empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
por exemplo, costumam ser bem mais baratas que empréstimos convencionais de grandes bancos
comerciais e de investimentos locais.
A realidade, porém, é que nem sempre tais linhas subsidiadas a juros baixos e com carências
longas estão disponíveis aos tomadores. Esta é a razão pela qual a operação de qualquer negócio em
países com histórico de altas taxas de juros na ponta tomadora de empréstimos é mais complexa e
envolve mais riscos a acionistas e administradores.
A administração do capital de giro e análise risco/retorno do negócio 57
Considerações finais
Pensar em risco/retorno de qualquer investimento, financiamento de capital de giro,
expansão de negócios e crescimento de longo prazo de qualquer atividade empresarial exige
muito esforço e conhecimento técnico, econômico, financeiro e operacional, apenas para citar
alguns. A importância e a ênfase dadas neste capítulo a tais realidades impõem, portanto, um
grande trabalho de investigação, informação e conhecimento nas mãos dos gestores financeiros de
qualquer empresa.
É bastante óbvio afirmar que devemos, na medida do possível, buscar o equilíbrio entre
risco e retorno, bem como a otimização de recursos envolvidos na operação concomitantemente
aos retornos esperados pelos acionistas. O fato é que tais ações são dificílimas e, no caso específico
do Brasil, exigem diária atenção às muitas variáveis micro e macroeconômicas que afetam o
desenvolvimento e a operação do negócio no tempo.
Por outro lado, saber os níveis de manutenção de caixa em comparação ao nível de
investimentos, de aplicações financeiras e de financiamento de clientes, por exemplo, é ainda tarefa
mais difícil, além de fundamental ao sucesso da gestão financeira.
A questão do saldo médio e sua manutenção no dia a dia do negócio é também objeto de
elevada consideração e estudo dos financistas da atualidade. Os bancos costumam exigir e valorizar
empresas que mantêm saldos médios em suas contas como sinônimo de segurança e, em parte,
como sinônimo de reciprocidade pelos serviços prestados por essas instituições financeiras.
Para concluir, devemos sempre lembrar que toda manutenção de saldos (sejam médios ou
simplesmente em caixa) requer conhecimento de seu custo de oportunidade, ou seja, o quanto tais
recursos (caixa) poderiam render (gerar) sob a forma de retorno se aplicados de forma diferente.
Assim, encontrar a combinação ótima para os recursos e os caixas da empresa é tarefa essencial e
desafiadora que, com a realidade dos juros e da escassez de recursos da atualidade, impõe ainda
mais desafios aos financistas neste século XXI.
• ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Capital de giro e equilíbrio financeiro. In: ASSAF NETO,
A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2014. p. 658-660.
No subitem Abordagem para o financiamento do capital de giro do Capítulo 24, o autor
discute com mais profundidade a matéria de financiamento de capital de giro. A leitura
possibilita um pouco mais de ênfase e estudo sobre o tema da análise dos investimentos
necessários no tempo.
Atividades
1. Com base em nossos estudos e nas leituras deste capítulo, responda à seguinte questão: no
caso específico de empresas operando no Brasil, qual é o peso da decisão de financiamento
de longo prazo em razão dos juros atualmente cobrados no mercado?
3. Pense a respeito do tema ciclo de caixa, trabalhado neste capítulo, e responda: qual é a
importância da administração do ciclo de caixa para a geração de resultados positivos
à empresa?
Referências
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G.. Curso de administração financeira. São Paulo: Atlas, 2014.
ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFRE, J. F. Administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
6
A estrutura das demonstrações contábeis
1 Esta obrigatoriedade vigora desde 1º de janeiro de 2008, por força da Lei n. 11.638 (BRASIL, 2007). Dessa forma,
torna--se mais um importante relatório para a tomada de decisões gerenciais.
2 Segundo Antonik, e Müller (2017), as Atividades Operacionais são as receitas e os gastos decorrentes da
industrialização, comercialização ou prestação de serviços da empresa. Essas atividades têm ligação com o capital
circulante líquido da empresa. As Atividades de Investimento “são os gastos efetuados no Realizável a Longo Prazo, em
Investimentos, no Imobilizado ou no Intangível, bem como as entradas por venda dos ativos registrados nos referidos
subgrupos de contas” (ANTONIK; MÜLLER, 2017, p. 177). As Atividades de Financiamento “são os recursos obtidos do
Passivo Não Circulante e do Patrimônio Líquido [...]. Devem ser incluídos aqui, ainda, os empréstimos e financiamentos
de curto prazo [...]. As saídas correspondem à amortização destas dívidas e os valores pagos aos acionistas a título de
dividendos, distribuição de lucros” (ANTONIK; MÜLLER, 2017, p. 177).
A estrutura das demonstrações contábeis 61
Somado a isso, as políticas e práticas contábeis devem oferecer não apenas informações
relevantes, confiáveis, comparáveis e compreensíveis, mas, também, dados e explicações adicionais
que possam ser necessários à compreensão dos números reportados. Caberá também à contabilidade
produzir e disponibilizar periodicamente o conjunto de relatórios e as demonstrações, bem como
informativos que, direta e indiretamente, oferecerão preciso retrato situacional da operação
do negócio, contribuindo com o trabalho de planejamento e controle econômico-financeiro,
posicionando-se, assim, como elemento-chave no processo de tomada de decisões empresariais.
As demonstrações contábeis são uma representação estruturada da posição
patrimonial e financeira e do desempenho da entidade. O objetivo das
demonstrações contábeis é o de proporcionar informação acerca da posição
patrimonial e financeira, do desempenho e dos fluxos de caixa da entidade
que seja útil a um grande número de usuários em suas avaliações e tomada
de decisões econômicas. As demonstrações contábeis também objetivam
apresentar os resultados da atuação da administração na gestão da entidade
e sua capacitação na prestação de contas quanto aos recursos que lhe foram
confiados. (COSIF, 2013 apud SILVA et al., 2014, p. 2)
MENSAGEM DA ADMINISTRAÇÃO
GRI 102-14
Ainda no que tange à obrigatoriedade legal da elaboração e publicação das Notas Explicativas,
há mais instruções no § 4° do artigo 176 da Lei n. 6.404 (BRASIL, 1976), que destaca as situações em
que “as demonstrações serão complementadas por notas explicativas e outros quadros analíticos
ou demonstrações contábeis necessárias para esclarecimento da situação patrimonial e resultados
A estrutura das demonstrações contábeis 67
ELETROBRÁS PARTICIPAÇÕES S. A.
ELETROPAR
(COMPANHIA ABERTA)
CNPJ 01.104.937/0001-70
NOTAS EXPLICATIVAS DAS INFORMAÇÕES TRIMESTRAIS DO
PERÍODO FINDO EM 31 DE MARÇO DE 2019
[...] A Eletrobrás Participações S.A.–ELETROPAR (“ELETROPAR” ou
“Companhia”) é uma sociedade por ações, controlada pela Centrais Elétricas
Brasileiras S.A.–ELETROBRAS, criada em 29 de janeiro de 1996, pela Lei nº
9.163, de 15 de dezembro de 1995 [...].
5 Segundo Carneiro (2011), com a Lei n. 11.638/2007 o CFC convergiu as Normas Brasileiras de Contabilidade aos
Padrões Internacionais e transformou em norma contábil todos os Pronunciamentos Técnicos emitidos pelo Comitê de
Pronunciamentos Contábeis (CPC), que tiveram por base as Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS) e Internacional
Accountant Standard (IAS) do IASB. As empresas e os profissionais da contabilidade dispõem de duas opções para
elaborarem tanto a escrituração contábil como as demonstrações contábeis, ou seja, as IFRS completas ou as IFRS para
as pequenas e médias empresas. As IFRS completas são dirigidas basicamente às companhias de capital aberto e às
enquadradas pela Lei n. 11.638/2007, companhias de grande porte, além daquelas obrigadas por órgãos reguladores (CVM,
BCB, Susep). O que se pode observar é que as pequenas e médias empresas devem adotar as IFRS para PMEs editadas pelo
CFC, como NBCT.
68 Planejamento financeiro e orçamentário
Auditor independente
Nos termos da Instrução CVM n. 381, de 14 de janeiro de 2003, destacamos que
a Companhia passou a utilizar os serviços de auditoria independente fornecidos
pela KPMG Auditores Independentes, a partir de março de 2014, que incluem a
auditoria de suas demonstrações contábeis, bem como a revisão de informativos
contábeis, para um período de 3 (três) anos. [...]
Opinião
Considerações finais
É sabido que a contabilidade é a ciência que se ocupa prioritariamente em estudar e controlar
o patrimônio das entidades, definido como sendo o conjunto de bens, direitos e obrigações
pertencente a uma pessoa física, grupo de pessoas, sociedade ou instituição, que pode ou não ter
como finalidade a obtenção de lucros.
Por meio da contabilidade é possível identificar, medir e comunicar a informação aos mais
diversos profissionais e interessados a respeito da posição econômico-financeira da empresa,
auxiliando-os no processo de tomada de decisão de investimento ou financiamento, por exemplo. É
preciso ter sempre em mente que esse processo ocorre de forma dinâmica e é uma das características
das economias altamente competitivas no século XXI. Tudo sob a vigilância de órgãos reguladores
do Estado e atendendo às exigências dos administradores, acionistas, bancos e mercados.
Neste capítulo, vimos que a análise das demonstrações contábeis visa a determinar a
evolução da situação econômico-financeira de uma entidade, sendo que, para a execução de tal
tarefa, é necessário o estudo das contas contábeis e dos demonstrativos disponibilizados pelas
companhias periodicamente.
Quando se efetua a análise de uma demonstração contábil, coloca-se em prática,
primeiramente, uma série de conhecimentos. Em primeiro lugar, é necessário o entendimento de
cada conta contábil que reflita diretamente as mais diversas operações efetuadas pela empresa no
cotidiano de suas atividades. Em segundo lugar, que se compreenda o papel e a importância de
cada uma dessas contas na composição do conjunto das demonstrações. Sendo que, a despeito
do tamanho da organização – seja ela de micro, pequeno, médio ou de grande porte –, existe uma
gama de contas contábeis que representam os mais diversos movimentos e operações realizados no
decorrer das atividades.
Consequentemente, por essa razão se faz necessário ao profissional de finanças conhecê-
las em detalhes no momento da interpretação das demonstrações contábeis. Pois, será a partir do
domínio das principais regras de escrituração contábil e da forma como cada movimento contábil
se reflete no conjunto dos demonstrativos, que se tornará possível a análise do desempenho dos
negócios com a precisão necessária à correta tomada de decisões.
No caso do Brasil, deve-se destacar que a maioria das empresas encerra, por motivos
fiscais, suas atividades em 31 de dezembro, juntamente com o fim do ano civil. Portanto, é de
se esperar, ainda, eventuais disparidades em diversos saldos reportados nas contas presentes nos
demonstrativos. E isso como consequência da diferença existente entre a apuração dos números
com base no ciclo operacional e aqueles reportados com base no ciclo contábil da empresa.
70 Planejamento financeiro e orçamentário
Razão pela qual se faz também necessário saber proceder sempre com a análise econômico-
-financeira (gerencial) das demonstrações de forma a poder ajustar os números reportados em
linha com os objetivos dos gestores e poder compreender efetivamente o desempenho da operação
no tempo. Mas a análise gerencial de resultados é tema para outra obra.
Atividades
1. Leia o trecho a seguir:
Sabemos que muitas operações ocorridas no decorrer do ano de exercício reportado nos
demonstrativos exigem explicações e esclarecimentos adicionais por parte dos seus administradores
aos acionistas e ao mercado. Você incluiria esse comunicado nas Notas Explicativas desse referido
ano? Por quê? Com qual justificativa e grau de importância você incluiria esse aviso anterior no
conjunto das informações que complementam as demonstrações financeiras?
Em qual demonstração contábil você, como gestor da companhia, incluiria essas informações
no balanço anual? Quando fornecer essa informação?
Referências
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Disponível em: https://www.agenciapetrobras.com.br/Materia/ExibirMateria?p_materia=979925. Acesso
em: 29 ago. 2019.
AGÊNCIA PETROBRAS. S&P Global Ratings mantém classificação de risco da Petrobras. Rio de Janeiro, 12
jan. 2018. Disponível em: https://www.agenciapetrobras.com.br/Materia/ExibirMateria?p_materia=979947.
Acesso em: 29 ago. 2019.
ANTONIK, L. R.; MÜLLER, A. N. Avaliação de empresas para leigos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017.
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
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CFC – CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Governança. Brasília, DF, 2019. Disponível em:
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A estrutura das demonstrações contábeis 73
ELETROBRAS. Informações trimestrais. Rio de Janeiro, mar. 2019b. Disponível em: http://www.eletrobraspar.
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GIROTTO, M. Normas do novo relatório do auditor independente são publicadas pelo CFC. CFC, 4 jul.
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caso na empresa MRV Engenharia e Participações S. A. In: SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
E TECNOLOGIA, 11., 2014, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: Aedb, 2014. Disponível em: https://
www.aedb.br/seget/arquivos/artigos14/21220280.pdf. Acesso em: 29 ago. 2019.
7
Planejamento financeiro, orçamentos e investimento
empresarial
Assaf Neto e Lima (2014) definem investimento inicial como sendo o desembolso (gasto)
inicial de capital resultante de uma saída efetiva de caixa que tenha sido direcionada à geração
de resultados operacionais a serem atingidos posteriormente. Logo, encontramos somados nos
números reportados como investimentos todos os gastos de capital destinados a produzir benefícios
econômicos futuros de caixa, tais como aumentos de receitas ou reduções de custos e despesas.
Assim, sob a conta Investimentos estarão lançadas (contabilizadas) todas as aquisições de
ativos fixos produtivos, como edifícios, terrenos, máquinas e equipamentos, essenciais para a
operação do negócio da firma. Somada a esses valores, a conta Investimentos agrega também todos
os gastos necessários para a colocação dos itens em operação.
Por exemplo, ao adquirir uma máquina por R$ 1.000,00 e gastar outros R$ 500,00 com
serviços de instalação e montagem, o valor a ser imobilizado e contabilizado na referida conta
contábil será de R$ 1.500,00, que passará a sofrer, nos períodos subsequentes, a depreciação
segundo as regras contábeis oficiais e determinadas pela empresa.
Finalmente, lança-se no cálculo de investimento inicial todo o caixa proveniente de operação
de venda de ativos fixos que eventualmente tenham sido substituídos por outros itens novos
(máquinas, por exemplo).
Enquanto os investimentos em ativos permanentes retornam à empresa na
forma de despesas não desembolsáveis anuais (depreciação, amortização e
exaustão), as aplicações incrementais realizadas no capital de giro retornam ao
caixa da empresa normalmente nos anos finais de vida útil do projeto. (ASSAF
NETO; LIMA, 2014, p. 376)
Exemplo numérico: admitindo que a Empresa Industrial ABC Ltda. deseja comprar um novo
equipamento para a sua linha de produção de peças, o valor do bem em questão é de R$ 500.000,00
e terá a sua vida útil calculada, inicialmente, em cinco anos (ASSAF NETO; LIMA, 2014).
Para a sua operação, será necessário investir, ainda, em montagem e adaptações da fábrica,
bem como em gastos de mão de obra no montante de R$ 30.000,00 a serem lançados como despesa
de instalação.
O capital de giro exigido para a entrada de operação dessa linha de produção, de forma a
suprir as necessidades de aquisições de matérias-primas, gastos com energia, entre outros, será de
R$ 110.000,00. A expectativa é que esse montante seja recuperado ao fim da vida útil da máquina.
A empresa venderá equipamentos antigos que serão substituídos. Espera-se gerar com tal
desinvestimento um montante de R$ 90.000,00, sendo que – contabilmente – este esteja no Balanço
Patrimonial a um valor de R$ 40.000,00. A alíquota de imposto de renda é de 34%. A seguir, o
Quadro 1 ilustra esses dados.
80 Planejamento financeiro e orçamentário
(publicados) nos últimos demonstrativos disponibilizados pela empresa e criados para diversos
exercícios futuros, contemplando, inclusive, projeções de cinco a até dez anos, em alguns casos.
Uma vez de posse do orçamento completo, a controladoria fará o acompanhamento dos
números reais versus os projetados e buscará efetuar o monitoramento gerencial dos números
obtidos e da diferença entre os valores originalmente orçados de forma a auxiliar no alcance
de metas e objetivos econômico-financeiros da entidade. Esse trabalho de acompanhamento
é essencial e parte integrante da administração financeira e gerencial de uma organização sob a
liderança da controladoria e, portanto, em conjunto com a contabilidade da empresa. Como tal,
ele possibilita que a alta administração corrija rotas, ajuste desempenhos e controle estimativas e
premissas durante o ano de 2020 – e realizar adequações sempre que as diferenças entre o real vs
orçado forem significativas.
É necessário e importante ressaltar, mais uma vez, que todo o trabalho de orçamentos
deve servir efetivamente para a empresa e seus administradores como instrumento de controle
econômico-financeiro e gerencial. Como toda a informação contábil e todas as contas presentes
na contabilidade oficial da empresa devem estar contempladas nos demonstrativos projetados no
orçamento do ano em questão, o trabalho poderá ser utilizado não apenas como um instrumento de
verificação da capacidade da controladoria em prever e projetar números, mas também como guia
sobre a capacidade da companhia em compreender e entender suas realidades, potencialidades,
dinâmicas e contextos de mercado onde atua.
Dessa forma, pode-se entender o trabalho de projeção econômico-financeira presente nos
orçamentos como um termômetro do conhecimento da controladoria a respeito da operação e da
dinâmica do negócio. Logo, orçamentos muito irreais e que apresentem erros (e que exijam muitos
ajustes no decorrer dos períodos subsequentes) certamente refletem inabilidade de entendimento
da gestão a respeito do desempenho do negócio.
Certamente, diversas outras variáveis podem gerar o que aqui se denominaria orçamento
falho ou irreal. Por exemplo, falhas em sistemas operacionais, problemas de escrituração e
contabilização, inadequado controle gerencial de informações, além de outros aspectos, podem vir
a gerar dados impróprios às projeções. Contudo, via de regra, o orçamento é peça-chave na gestão
econômico-financeira das empresas, essencial como instrumento-base de planejamento estratégico
e, portanto, deve ser realista e orientar a administração no cumprimento de suas expectativas e na
correção de rumos em linha com suas metas e objetivos. Vejamos, a seguir, um exemplo numérico
que trata do orçamento de caixa de uma empresa.
Exemplo numérico: tomando-se como base um exemplo de Assaf Neto e Lima (2014)
de orçamento de caixa para determinado ano fiscal de uma empresa, pode-se observar como a
projeção de números a partir de informações disponíveis ao financista permite a montagem de um
orçamento de caixa.
Suponhamos que uma empresa deseje projetar o seu caixa para o ano X2 com base nos
seguintes números disponíveis do ano X1 e, também, informações coletadas da sua contabilidade,
que farão parte de seu orçamento do ano X2:
Planejamento financeiro, orçamentos e investimento empresarial 83
Entradas de caixa:
Vendas 5.100
Aumento de Capital 500
Realizável C-P 400
Saídas de caixa:
Estoques 3.000
Despesas Operacionais 1.500
Despesas Financeiras 800
Perceba, portanto, como se chega ao montante de R$ 1.600,00, que nada mais representa do
que o saldo de caixa líquido final da empresa orçado para o final do ano X2, segundo as projeções
com base nas informações disponibilizadas. Pelos valores considerados na projeção anterior, vê-se
que a empresa conseguirá manter um nível de caixa positivo, porém maior que o reportado em
X1. Caso essas projeções sejam efetivamente atingidas, a coluna ano X2 real será preenchida por
números iguais (ou semelhantes), e as eventuais diferenças aparecerão na última coluna, seguidas
de explicações sobre a variação no desempenho inicialmente previsto no orçamento.
84 Planejamento financeiro e orçamentário
Considerações finais
Neste capítulo, buscou-se abordar a forma como o planejamento financeiro e orçamentário,
em todas as suas peculiaridades e particularidades, permite o trabalho de elaboração do orçamento
empresarial. Não se tratou aqui de apresentar detalhadamente modelos de demonstrativos
financeiros como base de planejamento orçamentário, mas, sim, de apresentar teoricamente a
maneira como as informações caminham na empresa, como ocorre sua elaboração e como elas
geram números mais precisos e extremamente úteis para a gestão do negócio no tempo.
O orçamento nada mais é, portanto, do que estimativas de saldo para cada uma das contas
contábeis presentes nos demonstrativos no tempo futuro. Esse trabalho de estimativa e de projeção
de números de exercícios futuros exige conhecimento do negócio, coordenação administrativa,
trabalho árduo da controladoria, sistemas, relatórios, controles e vontade política da empresa em
ter o orçamento como peça-chave para o acompanhamento de desempenho, seja ele econômico,
financeiro, operacional ou mesmo gerencial das atividades.
Atividades
1. Sabemos que a questão do resultado das organizações extrapola a simples busca constante
pela eficiência e produtividade, bem como a simples análise econômico-financeira do
negócio. Assim, a empresa deve estar atenta, também, ao desenvolvimento de outros valores
e pensar no impacto de seus negócios para a comunidade na qual encontra-se inserida.
Nesse sentido, quais outros fatores você acredita que influenciam os resultados do negócio
no Brasil atualmente?
3. Todo orçamento deve ser elaborado tomando-se como base números, dados e informações
de desempenhos históricos. Qual é a razão e a importância de se observar essa prática?
Referências
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
FREZATTI, F. Orçamento empresarial: planejamento e controle gerencial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
PADOVEZE, C. L. Planejamento orçamentário. 3. ed. rev. e aum. São Paulo: Thomson, 2005.
Gabarito
publicados, além do entendimento dos riscos de mercado existentes. A razão pela qual o
IPO da Uber ter sofrido pressão por preços mais baixos que os esperados por seus acionistas
pode estar centrada neste último aspecto. Logo, devem ser incluídos em qualquer análise
econômico-financeira os riscos de mercado, a concorrência, a viabilidade do negócio e – não
menos importante – a percepção do investidor quanto à solidez do negócio no longo prazo.
4. Como se trata de uma empresa de capital aberto (ou seja, com muitos sócios detentores de
ações em bolsa de valores), transparência, informação e publicação de qualquer decisão
de investimento são obrigatórios. A CVM exige tal procedimento e há leis específicas que
obrigam os gestores das empresas S.A. a abrir ao mercado todo movimento de investimento
relevante e determinante no negócio. A pergunta reflete sobre a pretensão da empresa em fazer
um vultoso investimento em uma nova fábrica. Isso exige análise séria dos valores envolvidos
nos investimentos e resultados esperados com a operação da nova unidade, além da análise
detalhada da forma como esse aporte de capital deve ser discutido interna e externamente.
Tanto o tesoureiro quanto o controller estariam, assim, absolutamente envolvidos no processo
– o primeiro, na análise da viabilidade e existência de caixa para o aporte, por exemplo; o
segundo, na análise gerencial dos números e no acompanhamento do processo, a fim de
garantir a transparência das informações prestadas aos acionistas.
2. Primeiramente, é essencial que o gestor esteja a par dos números da empresa e que participe
(nos limites de sua função) da coleta, contabilização, organização, publicação e análise de
números a respeito do resultado da companhia. O gestor também precisa ter acesso aos
números e lembrar que deve sempre atender aos objetivos da empresa de geração de valor
no tempo e de atendimento das demandas dos acionistas. Ele deve perceber que a firma está
inserida no mercado e na sociedade, portanto precisa operar segundo critérios éticos e legais
do país no sentido de propiciar, além de resultados financeiros positivos, riqueza e benefícios
à sociedade. Somando a isso, precisa ainda desenvolver uma boa análise das demonstrações
contábeis (Balanço Patrimonial, Demonstração de Resultados, Demonstração de Lucros ou
Gabarito 89
2. Primeiramente, devemos lembrar que qualquer decisão na esfera financeira de uma empresa
exige que o setor financeiro execute um orçamento de capital. Será apenas com os números
desse orçamento que haverá uma avaliação mais precisa e uma seleção dos investimentos
voltados a atender ao objetivo da empresa (ou seja, a maximização de riqueza dos acionistas
considerando os princípios esperados pelos gestores). Logo, a correta e precisa administração
do caixa é essencial e será a base para qualquer trabalho de planejamento financeiro e
orçamentário. Então, o investimento pode ser financiado com capital (caixa) próprio ou de
terceiros (externo), de modo que sua escolha e seu menor custo possível (juros) determinarão
o menor ou o maior valor da empresa para os investidores e acionistas.
3. A importância dos dividendos é grande em qualquer gestão financeira, mas sua distribuição
e magnitude dependem dos resultados efetivamente apurados pelo setor de contabilidade
90 Planejamento financeiro e orçamentário
3. Muitas vezes, temos ideias deturpadas a respeito de endividamento. Uma empresa com
caixa e dívida bem estruturados, a juros baixos e competitivos, com boa carência para esses
pagamentos, pode, sim, ter valor maior no mercado que uma empresa não endividada e sem
caixa disponível. A necessidade de existência de capital de giro é muitas vezes determinante
no sucesso do negócio. Ter dinheiro em caixa para investimentos e cumprimento de
obrigações (mesmo que por meio de captação de dívida) é essencial à sustentação do negócio
no tempo. Portanto, a percepção do mercado de capitais será sempre no sentido de avaliar o
Gabarito 91
tamanho da dívida, os custos, os prazos e o uso pelo gestor financeiro. Caso seja uma dívida
que atenda à empresa e ao negócio, é mais vantagem tê-la que operar sem dívida nem caixa.
2. O que é importante lembrar é que cada agente na empresa sempre – e na medida do possível
– disputará recursos financeiros e investimentos no sentido de atender às suas principais
demandas. Mas, mesmo conhecendo tal realidade, a companhia deve administrar essas
demandas caso a caso e pensar no conjunto, nos objetivos finais do negócio e na forma de
obter os melhores retornos possíveis no período.
2. Dada a relevância da informação, é necessário que ela esteja reportada em diversos relatórios
e demonstrativos ao mesmo tempo. Logo, por ser dívida, os números deverão estar descritos
e publicados no Balanço Patrimonial no Passivo. Por ser uma questão de renegociação e
de peso gerencial, seria interessante publicar o fato em um jornal ou periódico, bem como
colocar no site da companhia os detalhes. Seria válido que os auditores independentes
também analisassem os números e incluíssem um comentário a respeito ao final do ano.
As informações detalhadas devem ser fornecidas juntamente com os demonstrativos. A
publicação de uma nota explicativa ou fato relevante ao mercado poderá ocorrer, ainda,
quando algo muito relevante suceder na empresa e os gestores se sintam obrigados por lei a
fazer tal publicação e esclarecimento ao mercado.
2. Quando uma empresa executa um orçamento relativo aos seus desempenhos futuros
projetados, elabora-o a partir de premissas econômicas e mercadológicas afinadas com
a realidade dos setores em que atua. Assim, o desempenho real obtido nos períodos
subsequentes e o quanto ele se alinha (ou não) com as projeções determinará o ajuste no
orçamento proposto. Caso o gestor financeiro perceba que os números do dia a dia se
afastam do orçamento para o período, é preciso proceder com os ajustes e sugerir novas
aprovações. Muitas vezes, o processo de acompanhamento das diferenças entre o real vs.
orçado se deve a fatores externos como, por exemplo, inflação, variação cambial e taxas de
juros de mercado. Por outro lado, há também fatores internos que podem afetar os números,
comprometendo o resultado da empresa, como políticas de preços, estratégias de marketing,
vendas e descontos. De todo modo, todo ajuste ao orçamento é viável e possível de ser
alterado (aplicação flexível), de modo que o planejamento financeiro e orçamentário, bem
como a gestão do dia a dia da organização, atendam às exigências de controle por parte de
seus gestores.
3. Não é possível prever resultados futuros, sejam eles de caráter operacional, mercadológico ou
mesmo macroeconômico, sem lançarmos mão das informações do passado. Assim, é crucial
que a companhia detenha, arquive a informatize dados e informações de suas operações e
desempenhos passados e utilize-os nos orçamentos futuros. Bem como a elaboração de um
banco de dados dos números já publicados para que seja acessado sempre que necessário,
facilitando a projeção e a compreensão das variações real versus orçado. Afinal, uma boa
base de dados econômico-financeiros é essencial para o processo de planejamento.
Walter Franco Lopes da Silva