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Este livro apresenta um recorte do universo da gestão

financeira estratégica, mostrando – por meio de alguns principais

Gestão financeira estratégica


conceitos, elementos, ferramentas, estratégias e índices – a
possibilidade de conhecer e melhor gerir um empreendimento.
Com foco na gestão financeira das empresas, esta obra busca
elucidar os aspectos mais importantes que envolvem as
atividades financeiras empresariais, dando prioridade para o
entendimento da gestão interna, mas considerando também o
contexto externo das empresas.
Por meio do estudo das finanças corporativas, dos indicadores
financeiros e dos diferentes tipos de análise, são mostradas
algumas maneiras utilizadas pelas empresas para se organizar
estrategicamente, visando ao crescimento e desenvolvimento
de seus negócios.

Carolina Casella Galli

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6660-5

59499 9 788538 766605


Gestão financeira
estratégica

Carolina Casella Galli

IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: metallic icon series/elements.envato.com

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
G16g

Galli, Carolina Casella


Gestão financeira estratégica / Carolina Casella Galli. - 1. ed. - Curiti-
ba [PR] : IESDE, 2020.
84 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6660-5

1. Administração financeira. 2. Gestão estratégica. I. Título.


CDD: 658.15
20-64911
CDU: 658.15

Todos os direitos reservados.

IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Carolina Casella Galli Doutoranda em Administração pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Mestra em
Administração pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Especialista em Gestão Empresarial pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM). Economista
também pela UEM. Experiência em tutoria e docência
para graduação a distância. Professora conteudista
e consultora em gestão financeira, de negócios, de
pessoas e estratégica.
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SUMÁRIO
1 Fundamentos da gestão financeira estratégica   9
1.1 Alocação de recursos e organização financeira   9
1.2 Funções da administração financeira estratégica   12
1.3 Objetivos e atividades das empresas   14

2 Gestão de caixa e capital de giro   19


2.1 Ciclo e controle de caixa   19
2.2 Características do capital de giro   28
2.3 Análise de crédito e despesas   30

3 Orçamento, preço e custo   35


3.1 Classificação de custos e despesas   36
3.2 Formação de preço   42
3.3 Controle orçamentário e planejamento   45

4 Decisões, análise de investimentos e riscos   52


4.1 Avaliação de investimentos   52
4.2 Gestão de riscos e incertezas   60
4.3 Criação de valor   64

5 Estratégias corporativas e planejamento   68


5.1 Finanças corporativas   68
5.2 Análise financeira e de tendências   72
5.3 Avaliação e planejamento estratégico   76

Gabarito   81
APRESENTAÇÃO
Este livro apresenta um recorte do universo da gestão financeira
estratégica, mostrando – por meio de alguns principais conceitos, elementos,
ferramentas, estratégias e índices – a possibilidade de conhecer e melhor
gerir um empreendimento. Com foco na gestão financeira das empresas, esta
obra busca elucidar os aspectos mais importantes que envolvem as atividades
financeiras empresariais, dando prioridade para o entendimento da gestão
interna, mas ao mesmo tempo considerando o contexto externo das empresas.
No primeiro capítulo, conhecemos os fundamentos da gestão financeira
estratégica e os conceitos e termos essenciais para as finanças empresariais.
Abordando a função básica da economia – a alocação de recursos escassos –,
discutimos as principais funções da gestão financeira em relação ao cotidiano
das empresas e às suas atividades, demostrando como é possível organizar as
finanças quando temos o entendimento claro de quais são os objetivos que as
empresas almejam alcançar.
No segundo capítulo, tratamos das operações essenciais para a realização
das atividades diárias da empresa, que dizem respeito à forma como esta
aloca recursos e os organiza em curto prazo, bem como a questão da previsão
de recursos, por meio de explicações e exemplos sobre o Fluxo de Caixa.
Apresentamos, ainda, o capital de giro e sua relevância como indicador de
saúde financeira em curto prazo. Nesse mesmo capítulo, abordamos também
a classificação das atividades empresariais e os conceitos de despesa, custo,
gasto, incentivo e crédito.
No terceiro capítulo, discutimos a importância de conhecer e elaborar o
orçamento e da realização do planejamento orçamentário como ferramenta
estratégica de gestão financeira. Apresentamos exemplificações de tipos
de orçamentos, acompanhadas de reflexões que analisam seus dados,
o que configura ao orçamento um caráter de ferramenta estratégica. Para
tanto, conceituamos os indicadores financeiros e econômicos da empresa,
mostrando como são calculados e quais são as possíveis análises do gestor
financeiro. Sem ignorar os fatores externos, incluímos alguns aspectos que
devem ser considerados na elaboração de um planejamento orçamentário
empresarial, como as taxas de juros e tributos.
Diante da importância de aprimorar o conhecimento sobre a tomada
de decisão, no quarto capítulo, tratamos da análise de investimentos.
Assim, discutimos a criação de valor como foco estratégico da gestão
financeira das empresas e apresentamos diferentes formas de avaliação
dos investimentos no que se refere à viabilidade, lucratividade e exposição
aos riscos, com o intuito de trazer ao entendimento da administração
estratégica a relevância da análise de investimentos.
No quinto capítulo, abordamos as estratégias corporativas e o planejamento.
O entendimento do conteúdo apresentado abarca a ideia de que as empresas
estão inseridas em um contexto de mudanças e expansões, no qual os
agentes econômicos precisam estar cada vez mais cientes e preparados para
lidar com o conhecimento teórico-prático que envolve o mundo das empresas
e, especialmente, em como colocá-lo em ação. Dessa forma, apresentamos
importantes indicadores, internos e externos à empresa, para a tomada
de decisão estratégica. Por meio do estudo das finanças corporativas, dos
indicadores financeiros e dos diferentes tipos de análise, mostramos algumas
maneiras utilizadas pelas empresas para se organizar estrategicamente,
visando ao crescimento e desenvolvimento de seus negócios e pretendendo
sempre o alinhamento entre as demandas, que se originam internamente, e
as necessidades apresentadas pelo ambiente externo.
Com base em uma abordagem conceitual e explicativa, nesta obra
buscamos construir conhecimento a respeito de alguns dos principais
aspectos que caracterizam a gestão financeira estratégica das empresas.
Bons estudos!
1
Fundamentos da gestão
financeira estratégica
Quando falamos em gestão financeira, tal ideia nos remete a
uma infinidade de imagens: um porquinho cheio de moedas para
uma criança, uma conta bancária “recheada” para alguns, a aqui-
sição de um carro novo, a mudança para aquela casa e/ou apar-
tamento dos sonhos, a realização de uma viagem bacana, entre
outras situações. Isso acontece porque gerir as finanças de ma-
neira estratégica nos remete a uma sensação de bem-estar, de
sucesso financeiro.
Neste capítulo, conheceremos quais são os fundamentos da ges-
tão financeira estratégica, ou seja, os principais conceitos, definições
e termos utilizados no universo das finanças, lembrando que, neste
conteúdo, o foco está sobre as finanças empresariais. Falaremos so-
bre como ela é feita, a importância da alocação de recursos e como
organizamos inicialmente as finanças; apresentaremos as funções
da administração financeira estratégica, isto é, como se dá no dia a
dia das empresas e, por fim, exploraremos quais são os objetivos e
as atividades mais comuns praticadas nas empresas para o desen-
volvimento de uma gestão financeira estratégica.

1.1 Alocação de recursos e


organização financeira
Vídeo
Alocar recursos significa organizá-los de forma eficiente. É uma
prática que envolve muito mais do que “juntar” dinheiro, investi-
mentos e bens. Significa organizar de forma produtiva esses re-
cursos e destiná-los a um determinado fim, ou seja, para alguma
atividade específica.

Fundamentos da gestão financeira estratégica 9


A alocação de recursos nas empresas envolve orientar os recur-
sos financeiros para alcançar lucros. Quando falamos em recursos,
estamos nos referindo aos ativos que estão relacionados à produ-
ção e ao comércio de bens e serviços nas empresas. O objetivo da
organização financeira empresarial, que ocorre a partir da alocação
eficiente de recursos, é, para a empresa privada, um retorno finan-
ceiro compatível com o risco assumido, e, para a pública, um lucro
que representa uma gestão eficiente que visa melhorar os serviços
prestados à sociedade (BRAGA, 1989).

A otimização no uso dos recursos para que a empresa tenha ca-


pacidade de atingir seus objetivos também deve estar envolvida na
alocação de recursos. Isso implica, para os gestores financeiros, a ne-
cessidade de conhecer todo o funcionamento da empresa, ou seja, os
gestores precisam entender como todas as áreas da empresa intera-
gem (BRAGA, 1989). Isso significa que os gestores devem ter uma visão
holística da empresa, isto é, uma visão integrada dos setores de atua-
ção. Dessa maneira, é possível entendermos como cada setor produz e
interage com o outro e, assim, quanto recurso há disponível e como é
possível trabalhá-lo de modo eficiente.

As fontes de recursos que podem estar disponíveis para a empresa


também se diferem e podem ser: fontes de recursos próprios, que são
as reservas, os lucros retidos; fontes de recursos de terceiros, advindas
de dívidas e outros compromissos; fontes de recursos permanentes, ou
seja, os recursos próprios e as dívidas de longo prazo; fontes de recursos
advindos de compromissos de curto prazo, chamadas de recursos tempo-
rários; e fontes de recursos chamados onerosos, que implicam despesas
financeiras e fontes de recursos não onerosos, que não implicam essas
despesas. Gerir essas fontes de recursos requer que a empresa se ade-
que a prazos e custos, conforme interage com o ambiente em que está
inserida e com seus parceiros (BRAGA, 1989).

Além disso, gerir eficientemente os recursos significa analisar os


projetos de investimento, o que vai além de conhecer o funcionamento
da empresa com relação à integração de suas áreas. Esses projetos são
representados pela definição e distribuição de ativos, estoques e con-
tas a receber, bem como os também chamados ativos operacionais, por
exemplo, além de imóveis, entre outros, que podem ser operacionais
ou não, como aplicações financeiras. É importante entendermos que,

10 Gestão financeira estratégica


quando aloca recursos na forma de ativos, a empresa está lidando com Livro
custos financeiros, porque ela sofre o custo de oportunidade em fazer
essa escolha, buscando a geração de receitas, ou seja, de lucros futu-
ros, com cada ativo (BRAGA, 1989).

Segundo Neto (2012), no que implica articular de forma eficiente


a busca e alocação de recursos em torno dos objetivos da empresa, a
organização financeira depende cada vez mais da atuação do gestor
financeiro, para além de um organizador das técnicas e ferramentas
utilizadas na administração financeira. O administrador de finanças
Uma dica interessante
precisa ter mais atenção sobre as informações estratégicas e outros para o melhor enten-
dimento da dinâmica
valores que a empresa integra.
da gestão financeira
empresarial é conhecê-la
Dessa forma, para organizarmos as finanças, é importante enten-
e aplicá-la no âmbito
dermos melhor o que significa administrar. O processo de administrar pessoal. Um livro que
pode abrir os olhos para
é também decidir e, especialmente, com que qualidade as decisões são
aspectos importantes,
tomadas. Conforme aponta Neto (2012), a tomada de decisão é uma prá- alertar para uma mudan-
ça de comportamento
tica essencial porque requer conhecimento sobre diferentes funções da
e um possível caminho
empresa, diferentes áreas e suas respectivas informações, o que reforça para novas realizações é
o Do Mil ao Milhão. Sem
a ideia de Hoji (2012), para quem a empresa é um sistema dinâmico que
cortar o cafézinho.
necessita da interação eficiente entre seus setores e atores.
NIGRO, Thiago. São Paulo:
A administração financeira vem evoluindo ao longo do tempo, prin- HarperCollins, 2018.

cipalmente após a década de 1920, época em que os negócios sofreram


mudanças e se tornaram mais complexos. Devido a essas transforma-
ções, a área financeira não é mais apenas aquela que contabiliza os
fatos, descrevendo-os e mensurando-os, mas sim a que busca sempre
entender o motivo de determinados comportamentos e quais os efeitos
deles. Segundo Neto (2012), com o passar do tempo, a administração
financeira recebeu influência das teorias da administração, começando
a olhar não apenas para fatores externos, como fornecedores, acio-
nistas, isto é, as formas de alocação de recursos, mas também para
os fatores internos da empresa, buscando desenvolver e melhorar sua
estrutura.

Essa evolução da administração financeira se refletiu na transfor-


mação e no aperfeiçoamento da alocação de recursos, que passou a
olhar também para fontes de financiamento, investimentos – retorno
e custo de capital – com foco nas decisões financeiras. Mais ainda, a
partir da década de 1990, o tema da gestão de risco ganhou relevân-
cia, juntamente com o aprimoramento dos chamados indicadores eco-

Fundamentos da gestão financeira estratégica 11


nômicos e financeiros relacionados ao mercado, como taxa de juros,
câmbio, cotações, entre outros. Também foi na década de 1990 que
as estratégias da administração financeira se voltaram para o conceito
de criação de valor, juntamente com o movimento da globalização das
finanças, que assim se caracterizou devido à integração das economias
mundiais, mais interdependentes e expostas aos riscos de mercado
(NETO, 2012).

A administração financeira, como podemos notar, é uma área de


estudo que envolve tanto a teoria quanto a prática. Conforme evolui e
se modifica ao longo do tempo, é exigido cada vez mais que o gestor
financeiro seja capaz de gerenciar os recursos financeiros de forma di-
nâmica, considerando metas estratégicas e o todo em que a empresa
está inserida. Segundo Neto (2012), essa evolução conceitual e práti-
ca da administração financeira permite que explicações mais lógicas e
completas deem significado aos comportamentos financeiros, distan-
ciando-se do pensamento meramente descritivo e restrito.

Com relação às atividades financeiras, ainda conforme Neto (2012), al-


gumas funções podem ser, por exemplo, planejamento e controle finan-
ceiro, administração de ativos e passivos, em que a empresa será avaliada
segundo a forma com que toma decisões, como decisões de investimen-
tos – em que os recursos são aplicados –, e decisões de financiamentos
– em que os recursos são captados. Além disso, as decisões financeiras
também se referem a decisões de dividendos – que envolvem a distribui-
ção ou retidão de lucros aos acionistas –, em que há a integração e o ali-
nhamento das diferentes áreas responsáveis por essas decisões.

1.2 Funções da administração


financeira estratégica
Vídeo Uma das principais funções da administração financeira é gerir o
conjunto de atividades que ocorre dentro das empresas, especialmen-
te com relação aos seus recursos. Isso porque a função crucial da em-
presa é obter os recursos que são necessários para a determinação da
estratégia que visa maximizar, isto é, otimizar esses recursos. Com isso,
a função financeira, em qualquer empresa, importa essencialmente na
estruturação das atividades operacionais, ou seja, seu desenvolvimen-
to a fim de que a empresa tenha sucesso (BRAGA, 1989).

12 Gestão financeira estratégica


As funções financeiras estão relacionadas desde a compreensão
de elementos que compõem e caracterizam a gestão financeira, até
o que é realizado com os lucros. Dessa forma, as funções financei-
ras estão na identificação dos investimentos que vão constituir as
formas de produção e estruturar a empresa, como instalações, má-
quinas e imóveis. Já outras funções se referem ao estabelecimento
das atividades operacionais, bem como a alocação de recursos para
sua realização – dispêndio de mão de obra, pagamento de salários,
demais despesas, outros custos.

Segundo Braga (1989), o financiamento das operações, a aplicação


de recursos em estoques, a obtenção de recursos nas instituições fi-
nanceiras, assim como as receitas de vendas e a forma como será a
distribuição de lucros são considerações que se referem a como os
recursos estarão em movimento na empresa, ou seja, as funções da
gestão financeira estão relacionadas a toda estruturação do fluxo de
recursos que são definidos e desenvolvidos nas empresas.

Nesse sentido, segundo Braga (1989), a alocação de recursos e os


objetivos e atividades das empresas se fundam a partir de como elas
definem e desenvolvem suas funções. As duas tarefas essenciais que
norteiam essas funções são a aquisição dos recursos para a empresa
da forma mais proveitosa possível, com relação à facilidade de acesso,
e a alocação eficiente desses recursos.

Dessa forma, garantir um fluxo de recursos, alocando-os e orga-


nizando-os, garantir liquidez e rentabilidade, estabelecer metas para
a administração financeira, utilizar de forma eficiente as informações
relacionadas à contabilidade, conhecer e desenvolver as áreas de de-
cisões financeiras, organizando de maneira eficiente o setor financeiro
da empresa, contemplam, de modo geral, as funções da administração
financeira estratégica (BRAGA, 1989; HOJI, 2012).

A partir disso, entendendo um pouco melhor quais são as funções


da administração financeira, perguntamos: o que significa essa admi-
nistração ser estratégica? A importância de conhecer as funções da
gestão financeira é nortear quais são os elementos e aspectos a serem
pensados e desenvolvidos com relação ao universo financeiro da em-
presa. No entanto, essas funções só se tornam fundamentais para a
gestão financeira quando entendidas pelo ponto de vista da estratégia.

Fundamentos da gestão financeira estratégica 13


Filme Estratégia é um conceito polissêmico, isto é, estratégia é um constru-
to que possui diferentes significados, dependendo da vertente teórica
e do contexto em que é empregada. No entanto, quando falamos em
economia e finanças, especificamente, podemos pensar na estratégia
como o caminho que a empresa traça para alcançar vantagens compe-
titivas. Vantagens competitivas são atributos que diferem a empresa
de seus concorrentes, isto é, quando a empresa consegue gerar maior
valor econômico no momento em que é comparada às suas concorren-
tes (BARNEY; HESTERLY, 2011).
A visualização de como
estratégias pessoais e Nesse sentido, ainda segundo os autores, por meio da estratégia,
empresariais podem
coincidir e conflitar, a empresa pode minimizar a probabilidade de realização de erros, ao
não deixando de lado passo que acompanha, de forma sistemática, o processo de adminis-
aspectos polêmicos sobre
as escolhas estratégicas, tração estratégica. Essa administração se refere a um conjunto de as-
mas não menos inspira- pectos que busca orientar a empresa à adoção do que seria a melhor
dores, está implicada no
filme The Founder ou, em estratégia possível, para que a empresa atinja seus objetivos e, espe-
português, Fome de Poder, cialmente, obtenha vantagens competitivas.
lançado em 2016.

Direção: John Lee Hancock.


Além das vantagens competitivas, há demais conceitos e aspec-
Diamond Films. 2016. tos que se associam à gestão financeira estratégica e que compõem
o processo de gestão estratégica da empresa, com relação tanto
aos aspectos e elementos da dinâmica interna à empresa quanto à
dinâmica externa.

1.3 Objetivos e atividades das empresas


Vídeo
Os objetivos e atividades das empresas que dão sustentação para a
gestão financeira estarão, muitas vezes, voltados para que a empresa
priorize seu valor de mercado, o que significa buscar a maximização
de sua riqueza. Segundo Hoji (2012), essa valorização dos recursos se
refere tanto aos bens físicos e materiais das empresas, quanto ao seu
capital investido, se esse for o caso.

Como objetivo principal, as empresas buscam ter retornos fi-


nanceiros que justifiquem, melhor dizendo, compensem sua ex-
posição ao risco assumido em determinadas decisões, transações,
investimentos, novas atividades, entre outras situações do dia a
dia. Essa recompensa ao risco se refere a resultados econômicos
e financeiros, normalmente relacionados a períodos de médio a
longo prazo (HOJI, 2012).

14 Gestão financeira estratégica


Com isso, a empresa pode ser entendida como um sistema que
visa reproduzir e aumentar os recursos financeiros nela investi-
dos, tanto em âmbito privado quanto público (BRAGA, 1989). Para
Hoji (2012), a empresa pode ser entendida como um sistema que
funciona de forma dinâmica – aberta ao ambiente – porque deve
representar os interesses dos diferentes atores que estão a ela re-
lacionados, como os administradores, aqueles que lidam com os
aspectos da gestão de forma direta, os colaboradores e as demais
esferas que integram o ambiente em que a empresa opera, além
do governo, dos fornecedores, dos clientes e demais parceiros.

Entender a empresa como esse sistema que visa criar e gerar rique-
zas implica reconhecer seus integrantes, administradores, colaborado-
res e parceiros e também as características do ambiente em que está
inserida, como, por exemplo, se caracteriza seu setor produtivo, o setor
de serviço que oferece, o ambiente virtual em que atua. Por isso, as
atividades empresariais podem ser diferenciadas e classificadas. Uma
forma de diferenciação é entre atividades de operações, de investimen-
tos e de financiamentos (HOJI, 2012).

As atividades operacionais dão estrutura ao aspecto operacio-


nal da empresa, ou seja, fazem referência às atividades de geração
de lucro, das contas, compra e venda das matérias-primas, dos ele-
mentos que envolvem a prestação de serviço – como distribuição,
aluguel, elaboração dos salários, aspectos jurídicos, controle das
contas, entradas e saídas de recursos –, quando for o caso, entre
outros aspectos que integram as atividades básicas e estruturantes
da empresa. Dessa forma, segundo Hoji (2012), podemos classificar
as atividades operacionais como aquelas que dão forma ao planeja-
mento estratégico empresarial.

As atividades de investimento, por sua vez, são aquelas que dão


suporte às atividades operacionais, caso a empresa trabalhe com as
contas de investimentos, sejam eles temporários ou os chamados per-
manentes. Os investimentos, nesse caso, referem-se aos recursos apli-
cados que, quase sempre, servem para estruturar a empresa, como a
obtenção de máquinas e equipamentos ou demais bens de valor con-
siderável e que estruturam a capacidade produtiva da empresa, e/ou o
capital que é aplicado (HOJI, 2012).

Fundamentos da gestão financeira estratégica 15


Ainda, Hoji (2012) explica que as atividades de financiamentos são
aquelas que refletem as decisões da empresa com relação à forma
como irá financiar suas atividades de operações e de investimentos.
Quando são estudadas as contas financeiras – aquelas que se referem
aos chamados ativos e passivos financeiros –, é possível entendermos
que as atividades de financiamentos são aquelas que caracterizam as
contas do passivo financeiro e também do chamado Patrimônio Líquido.

Quando, então, pensamos na empresa como um sistema que deve


buscar gerar riquezas por meio de seus integrantes e realização de
suas atividades – sendo elas operacionais, de investimentos e financia-
mentos –, podemos entender a empresa como esse sistema dinâmico
que funciona pela existência de ciclos (HOJI, 2012).
Livro Os ciclos, nesse sentido, são o operacional – quando se pensa
na atividade inicial de compra de matéria-prima e no recebimento
da venda, por exemplo –, em que o ciclo é o tempo existente entre
o prazo de rotação dos estoques e o prazo de receber pela venda
efetuada; o ciclo econômico, que representa desde o processo de
compra de matéria-prima até a venda do produto fabricado, quando
a empresa recebe pela venda de determinado produto e/ou serviço
advindo dessa matéria-prima. Assim, o ciclo econômico ocorre en-
quanto a empresa desembolsa com a compra das matérias-primas.
Para entender um pouco
mais sobre o que é o O ciclo financeiro, no entanto, normalmente se caracteriza pelo iní-
valor de mercado e como cio da compra da matéria-prima com o primeiro recebimento refe-
a empresa caminha na
construção do seu valor, rente à venda (HOJI, 2012).
agregando seus objetivos
buscando sempre ser
Esses processos chamados também de ciclos são classificados em
bem-sucedida, especial- estratégias, ferramentas e instrumentos, que são base para a gestão,
mente no quesito dife-
renciação, em que preço
ou seja, para a administração financeira das empresas. É importante
não é entendido como ressaltar, a partir dessas considerações, que a definição do objetivo da
valor, o livro “Como Vender
Valor: O revolucionário
empresa não é algo fácil de se fazer porque implica se orientar ou para
sistema Venda + Valor satisfação dos proprietários ou para o que pode ser a atribuição de um
para resolver os problemas
dos clientes e vencer” é
bem-estar social (NETO, 2012).
uma dica interessante de
Nesse sentido, a maximização do lucro como objetivo principal da
leitura e reflexão.
empresa está sujeita a diversas controvérsias, principalmente porque
ROCCATO, P. L. 2. ed. São Paulo:
Editora Portal do Canal, 2018. não mensura, por exemplo, o quanto a empresa é capaz de efetuar
seus pagamentos. Não leva em consideração o risco, sendo o lucro en-
tão uma medida de desempenho que, no longo prazo, não leva em
conta os riscos associados às atividades da empresa. Da mesma forma,

16 Gestão financeira estratégica


o lucro não demonstra como os resultados da empresa podem ser dis-
tribuídos ao longo do tempo (NETO, 2012).

Por essas avaliações, segundo Neto (2012), é que o chamado valor


de mercado se caracteriza como um critério bem utilizado para indicar
a tomada de decisões financeiras na empresa. O valor de mercado é a
riqueza dos acionistas, e é por meio de instrumentos decisórios – como
fluxos de caixa, taxa de atratividade e risco, isto é, expectativas dos
investidores, que podem se alterar ao longo do tempo – que se deter-
mina o valor de mercado de uma empresa.

Assim, os objetivos e atividades da empresa estão constantemen-


te sendo alinhados para que haja geração de riqueza, isto é, para o
aumento do valor de mercado da empresa. Para isso, como colocado
anteriormente, existem diferentes ferramentas e indicadores para
nortear a tomada de decisão. No entanto, o gestor financeiro é um
administrador que deve estar além de dados descritivos e ser um en-
tendedor de todo o contexto em que a empresa está inserida, conhe-
cendo sua dinâmica e buscando explicações cada vez mais completas
sobre as mudanças de comportamentos financeiros e no âmbito da
economia de forma geral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conhecer os fundamentos da gestão financeira estratégica pode faci-
litar a forma como indivíduos, sendo gestores ou não, melhor compreen-
dem as atividades que envolvem os âmbitos econômico e financeiro das
empresas, sejam atividades do contexto operacional ou do contexto da
tomada de decisões estratégicas.
Diante da complexidade da sociedade moderna e das consequências
da globalização em todos os setores, especialmente no financeiro, as
transformações constantes na economia demandam maior capacitação
de gestores e colaboradores no entendimento dos novos papéis das or-
ganizações atuais, especialmente no que se refere à competitividade e
sobrevivência das empresas a longo prazo.
Nesse sentido, para participar dos processos, atividades e decisões do
setor financeiro, é preciso que mais e mais pessoas sejam capacitadas e
conheçam a área financeira, o que vai além da descrição de números e re-
gistros contábeis, mas buscar explicações cada vez mais completas para
as questões que constantemente emergem na realidade empresarial.

Fundamentos da gestão financeira estratégica 17


ATIVIDADES
1. Por que a visão holística do gestor é importante na alocação eficiente
de recursos para a empresa?

2. Sobre as diferentes funções desenvolvidas pela área financeira, é


preciso entender quais são e como os recursos se movimentam na
empresa, relacionando as funções com o fluxo de recursos que estão
em constante circulação. Nesse sentido, descreva quais são essas
funções que são desenvolvidas pela área financeira.

3. Sabendo que a maximização da riqueza é buscada incessantemente


pelas empresas, explique qual é o objetivo principal do exercício da
gestão financeira estratégica que corrobora para que a organização
valorize sua riqueza.

REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. S. Administração estratégica e vantagem competitiva. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2011.
BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1989.
HOJI, M. Administração financeira: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2012.

18 Gestão financeira estratégica


2
Gestão de caixa e capital de giro
Neste capítulo, os temas tratados referem-se ao caminho per-
corrido pelos recursos financeiros dentro da empresa, a forma
como esses recursos são alocados em atividades e operações
essenciais para o funcionamento diário da empresa, consideran-
do-se o curto prazo e, ao mesmo tempo, direcionando-se para
períodos posteriores.
Aqui conheceremos dois instrumentos importantes da gestão
financeira: o ciclo ou fluxo de caixa e o capital de giro. Tratando-
se de como os gestores organizam as atividades empresariais, em
operacionais, de investimento e financiamento, assim como no
foco das entradas e saídas de recursos no curto prazo, apresen-
taremos diferentes formas de registrar as operações financeiras.
Para isso, abordaremos conceitos relacionados aos dispên-
dios financeiros – como despesas, custos e gastos – e aos incen-
tivos e o crédito.

2.1 Ciclo e controle de caixa


Vídeo O caixa da empresa se refere ao que chamamos de fluxo de caixa.
Conhecido também como ciclo de caixa, trata-se do registro das en-
tradas e saídas de capital líquido no exercício financeiro das empre-
sas em determinado período. O demonstrativo do fluxo de caixa (DFC)
documenta as entradas e saídas de caixa da empresa em um período
específico e, por isso, é um registro indispensável para que se faça uma
análise eficiente da viabilidade financeira de determinada empresa.

O fluxo de caixa pode ser dividido em três segmentos de análise, o


operacional, de investimentos e de financiamentos. O segmento opera-
cional descreve, por exemplo, a receita advinda das vendas; o segmento
de investimentos descreve o quanto a empresa tem investido ou precisa

Gestão de caixa e capital de giro 19


investir; e o segmento de financiamentos apresenta como a empresa fi-
nancia suas operações, isto é, quais são as fontes do capital utilizado para
investir. Fontes de investimento e financiamento podem ser, por exemplo,
empréstimos em bancos, capitalização por meio de títulos e por meio da
aplicação de investidores, entre outros (WAINBERG, 2018a).

O ciclo de caixa representa a quantidade de liquidez que a empresa


tem disponível, por isso é tanto um registro fundamental para identi-
ficar a saúde financeira quanto um dado importante para investidores
interessados em determinada empresa.

Pensando dessa maneira, como os agentes financeiros podem op-


tar por investir em uma empresa ao invés de outra a partir da análise
do fluxo de caixa? É simples.

Quando positivo, o ciclo de caixa mostra que a empresa tem receita


líquida crescente, o que significa dizer, por exemplo, que ela pode liqui-
dar suas dívidas, é capaz de remunerar seus investidores, reinvestir no
próprio negócio, entre outras situações. Já quando se encontra negati-
vo, o ciclo de caixa aponta que a empresa tem dificuldades para realizar
suas operações e, dependendo do tempo em que fica nessa situação
ruim, indica que suas operações se inviabilizam ainda mais, o que se
configura em um cenário muito preocupante.

Dessa forma, o fluxo de caixa, sendo o registro de tudo que entra


e sai da empresa, é importante independentemente do tamanho do
empreendimento – pequeno, médio ou grande –, e da quantidade de
capital envolvida em suas operações, porque indica de forma precisa
a quantidade de dinheiro disponível para o desenvolvimento das ati-
vidades da empresa. Pelo fato de as empresas se diferenciarem em
necessidades, características de operações, clientela, entre outros fato-
res, existem também tipos distintos de fluxos de caixa.

O fluxo de caixa diário é aquele muitas vezes praticado pelas em-


presas que realizam uma quantidade significativa de transações finan-
ceiras diárias, como restaurantes, lojas, mercados, entre outras. Esse
modelo de registro se refere especificamente aos recursos que entram
e saem da empresa em determinado dia. Para um período maior, essa
análise não traz contribuições.

Outro modelo é o chamado fluxo de caixa simples, utilizado em


empresas menores, que possuem uma quantidade razoável de ope-

20 Gestão financeira estratégica


rações diárias e/ou semanais e registram de forma simplificada as ati-
vidades financeiras. São anotações que se referem ao resultado da
conta de subtração entre tudo que entrou e tudo que saiu de recursos
em determinado período. É uma forma eficiente de registrar, no en-
tanto, mesmo que simplificada, é preciso que o fluxo de caixa simples
seja feito com critérios.

O fluxo de caixa direto, entretanto, é o mais utilizado pelas empre-


sas, pois analisa, sem descontos, o quanto a empresa registrou de en-
tradas (recebimentos) e saídas (pagamentos). Assim, as informações
são disponibilizadas diariamente (WEINBERG, 2018a; REIS, 2019).

O fluxo de caixa operacional, outro modelo, refere-se somente às


receitas e despesas em determinado período, no qual é feita a soma
do lucro antes mesmo de descontar os juros e impostos pagos pela
empresa. O ciclo operacional não deixa de registrar o faturamento em-
presarial, porém não registra se há necessidade de capital de giro e não
contabiliza os investimentos.

Outra forma de se registrar o ciclo de caixa da empresa é o livre, que


se refere ao fluxo de caixa operacional, isto é, o quanto a empresa ob-
teve dele depois de ter realizado todos seus gastos. Esse fluxo se refere
ao valor presente da empresa, o que fica disponível para ser utilizado
(WEINBERG, 2018a).

Uma outra forma de registar as atividades financeiras da empresa é Saiba mais


o fluxo de caixa indireto. Neste ciclo, a base é o chamado Demonstrativo Balanço Patrimonial é um tipo
de Resultado do Exercício (DRE), sendo assim, o gestor utiliza os lucros e de demonstração em forma
de relatório que apresenta as
prejuízos advindos das informações contábeis e Balanço Patrimonial para situações econômica e contábil
saber quanto a empresa tem disponível de ativo em liquidez. Como se ba- da empresa, pois registra as infor-
mações relativas a bens, valores e
seia nos valores de lucro e prejuízo, o registro de caixa indireto pode apre-
direitos que a empresa possui em
sentar distorções preocupantes nos resultados, mesmo sendo uma forma determinado período. O Balanço
simplificada de registrar as operações financeiras (WEINBERG, 2018a). Patrimonial é constituído por três
principais grupos de contas, o Ati-
Outro tipo de registro é o chamado ciclo de caixa projetado. Além de vo Circulante, o Passivo Circulante
registrar, o gestor financeiro analisa as entradas e saídas de recursos, e o Patrimônio Líquido.

podendo então fazer projeções para as futuras operações. Com ele, o


responsável pelo registro e pela análise passa a ser estratégico, pois
começa a gerir investimentos que podem vir a ocorrer, faz projeções de
pagamentos e recebimentos, consegue corrigir falhas conforme anali-
sa o que pode estar sendo gasto sem necessidade e onde podem haver
oportunidades de recebimentos (WEINBERG, 2018a).

Gestão de caixa e capital de giro 21


Por fim, há, ainda, o ciclo de caixa chamado descontado. Por meio
dele, são feitas projeções do quanto a empresa poderá gerar de re-
cursos no futuro, e é essa medida que estabelece seu valor presente.
Nesse sistema de caixa, dois aspectos são levados em consideração,
o risco e o retorno, variáveis importantes que se referem a possíveis
resultados futuros e descontos do fluxo de caixa. O ciclo de caixa des-
contado permite que seja estimado um valor de investimento, bem
como riscos e oportunidades a ele implicados (WEINBERG, 2018a).

Tendo em vista as diferentes formas de se registrar os ciclos de cai-


xa, é possível entender como a análise desse fluxo de operações é fun-
damental para a empresa, tanto na realização e manutenção de suas
atividades quanto para a avaliação dela no mercado. Por isso, para os
investidores, é tão relevante conhecer e analisar os ciclos de caixa.

Nesse sentido, vamos entender melhor como se constitui um fluxo


de caixa. É preciso ter em mente que, por meio do fluxo de operações e
do fluxo de financiamentos, a empresa tem acesso aos recursos, e, por
meio do fluxo de investimentos, ela mostra como utiliza esses recursos.

O fluxo de caixa das operações, ou caixa líquido das atividades


operacionais, refere-se ao lucro líquido gerado a partir das operações,
além de ser a primeira conta no DRE. Forma-se o resultado de caixa
das operações quando são descontadas transações que não afetam
o caixa, como depreciação, impostos diferidos, depreciação, provisões
para devedores, entre outras.

Por sua vez, o fluxo de caixa dos investimentos, ou caixa líquido das
atividades de investimento, é o segmento que registra as entradas e
saídas referentes aos investimentos que a empresa realiza. Caso a em-
presa compre um terreno, por exemplo, esse desembolso é registrado
como uma saída de caixa. A venda de um terreno, em contrapartida, é
registrada como uma entrada de caixa.

Já o caixa líquido das atividades de financiamento registra as tran-


sações que se referem à estrutura de capital da empresa, como a va-
riação de caixa, a obtenção e pagamento de empréstimos, o retorno de
ações, entre outras atividades.

A partir do entendimento de como o fluxo de caixa é composto, in-


dependentemente do tipo de modelo que o gestor financeiro adote
para a empresa, podemos, assim, representar o ciclo de caixa empre-
sarial por meio dessas relações:

22 Gestão financeira estratégica


Caixa inicial + caixa líquido das atividades operacionais + caixa das
atividades de investimento + caixa das atividades de financiamento =
caixa final de determinado período.

Livro
Essas relações entre os componentes do ciclo de caixa também
apontam para a importância de conhecermos e analisarmos o ciclo
de caixa de uma empresa. Quando o gestor avalia as operações que
compõem o fluxo de caixa, ele pretende entender como a empresa
está operando, por exemplo, se positivamente, ou seja, obtendo boas
margens, tendo despesas compatíveis com o previsto, isto é, se tem
geração de fluxo de caixa (WAINBERG, 2018a).

A partir dessas percepções, o gestor, e/ou demais interessados


nas atividades da empresa, analisará como a empresa tem inves- Uma dica para o melhor
tido, ou melhor dizendo, se as decisões tomadas estão gerando entendimento do Fluxo
de Caixa e como elabo-
o retorno esperado, bem como se a empresa tem o potencial de rá-lo de forma prática a
investir cada vez mais na busca pelo crescimento e desenvolvimen- fim de atender ao que
determinada empresa
to do negócio. Se sim, será analisada também de que forma serão necessita, é o livro Finan-
financiados os investimentos, quais são os prazos de pagamento e ças para Autônomos, que
aborda, além do fluxo
os juros implicados nas atividades de financiamento (WAINBERG, de caixa, a explicação de
2018a). demais conceitos e como
se aplicam nas atividades
Apesar de todas essas considerações, é relevante esclarecer que, financeiras das empresas
de acordo com suas
mesmo sendo um indicativo fundamental sobre a saúde da empresa, necessidades.
a análise do ciclo de caixa deve ser feita juntamente com a análise de AMURI, E. São José dos Campos:
outros indicadores significativos para a empresa. Editora Benvirá, 2018.

Dessa maneira, quando falamos em ciclo e controle de caixa, nos


referimos à realização do demonstrativo de fluxo de caixa (DFC). A
partir dele, é possível entender, de fato, como o caixa de uma empre-
sa é gerado, porque são apresentadas as entradas e saídas de caixa
registradas em um período específico.

Para exemplificar, como o fluxo de caixa pode ser elaborado de acor- Importante
do com a estrutura financeira de cada empresa, podemos visualizar Para empresas classificadas
duas representações de DFC. Uma delas está na Figura 1, que apresen- como de capital aberto e aquelas
cujo Patrimônio Líquido excede
ta um modelo de DFC simplificado e, como pode ser visto na ilustração, dois milhões de reais, o DFC
tem como objetivo registrar as atividades diárias da empresa, por isso é obrigatório, exigido pela
Lei n. 11.638/2007.
lemos “Movimento do Dia” na parte superior do fluxo de caixa.

Gestão de caixa e capital de giro 23


Figura 1
Modelo simplificado de fluxo de caixa

Movimento do Dia Saldo Acumulado


ATIVIDADES
R$ US$ R$ US$
ATIVIDADES DE OPERAÇÕES
Recebimento de vendas
(-) Impostos sobre vendas e compras
(-) Materiais e serviços
(-) Salários e encargos sociais – fábrica
(-) Custos indiretos de fabricação
(=) Superavit (deficit) bruto operacional
(+) Outras receitas operacionais
(-) Outras despesas operacionais
(=) Resultado antes dos efeitos financeiros
(+) Juros recebidos
(–) Juros pagos
(+/-) Ganho (perda) com inflação *** ***
(+/-) Ganho (perda) na conversão
(=) Superavit (deficit) de operações
ATIVIDADES DE INVESTIMENTOS
(-) Investimentos permanentes – aplicação
(-) Imobilizado – aplicação
(-) Diferido – aplicação
(+) Investimentos permanentes – venda/dividendos
(+) Imobilizado – venda
(+/-) Resultado não operacional
(=) Superavit (deficit) de investimentos
ATIVIDADES FINANCEIRAS
(+) Investimentos temporários – resgate
(+) Empréstimos – captação
(+) Integralização de capital
(-) Investimentos temporários – aplicação
(-) Empréstimos – amortização
(-) Dividendo pagos
(=) Superavit (deficit) de financiamentos
CAIXA
Superavit (deficit) (A + B + C)
(+) Saldo anterior
(=) Saldo final

Fonte: Adaptada de Hoji, 2012, p. 152.


24 Gestão financeira estratégica
Podemos notar ainda que no modelo de DFC da Figura 1, apresen-
tam-se três segmentos que podem compor o ciclo de caixa: as atividades
operacionais, as atividades de investimento e as atividades financeiras,
referentes às atividades de financiamento. As operações caracteriza-
das pelo sinal de (+) indicam as entradas de recursos, as operações
sinalizadas com (-) relacionadas às saídas de recursos, em que se tem
espaço para o resultado das operações (=) no final de cada segmento,
podendo apontar para um superavit (saldo positivo) ou deficit (saldo
negativo).

Sobre as atividades presentes no DFC da Figura 1, destacamos algu-


mas que podem não ficar muito claras quanto ao que se referem. Na
atividade Imobilizado – aplicação, o termo imobilizado se refere ao ativo
formado pelos bens que estruturam a empresa, ou seja, que são essen-
ciais para a sua existência, como propriedades, automóveis, o próprio
maquinário da empresa, entre outros bens tangíveis.

Em Diferido – aplicação, o termo diferido diz respeito a uma despesa


que foi feita no momento do registro e ainda não foi consumida, por
isso pode ser chamada de despesa pré-operacional. Exemplos dessas
despesas são custos com estudos, despesas com organização, propa-
gandas, abertura de firma, dentre outros. Esses dispêndios são trata-
dos como ativos diferidos porque são cobrados das despesas antes
que os benefícios advindos deles sejam consumidos.

A atividade Integralização de capital, ou dizendo de outra forma, ca-


pital a integralizar, refere-se a uma parte do capital da empresa que
ainda não faz parte do caixa, ou seja, é o capital intencionado para ser
investido na empresa, à vista ou parcelado, da parte de um sócio ou
acionista, dependendo do contrato estabelecido.

Outra atividade que pode ser destacada é Dividendos pagos,


que se referem aos recursos pagos pelas empresas a seus acionis-
tas, que podem ser remunerados em dinheiro ou por meio de juros
sobre o capital. Esse pagamento ocorre para a corretora em que o
acionista possui ação – o período de pagamento varia de empresa
para empresa.

Já a Figura 2 apresenta um modelo analítico de DFC, em que são


discriminadas as operações das atividades operacionais e financei-
ras. Esse exemplo de modelo também se refere a uma movimenta-
ção diária, e o que devemos destacar é que a escolha do modelo de

Gestão de caixa e capital de giro 25


DFC feita pelo gestor financeiro, bem como o período que ele quer
analisar devem atender às demandas e necessidades do empreen-
dimento, por isso existem diferentes modelos e formas de dispor as
atividades, sejam elas operacionais ou financeiras, relacionadas aos
investimentos e financiamentos.

Figura 2
Modelo analítico de fluxo de caixa

Movimentos do Dia Saldo Acumulado


ITENS E ATIVIDADES
R$ US$ R$ US$
ATIVIDADES DE OPERAÇÕES
(+) Recebimento de vendas
1. Vendas no mercado interno
Vendas no mercado externo
(-) Impostos sobre vendas e compras
ICMS
2.
IPI
Outros impostos
(-) Materiais e serviços
3. Matérias-primas
Serviços contratados

(-) Salários e encargos sociais/fábrica


4. Salários
Encargos sociais

(-) Custos indiretos de fabricação


5. Aluguel
Manutenção industrial etc.
(-) Outras despesas operacionais
Comissão sobre vendas
Salários e encargos sociais
8. Despesas com veículos
Imposto de Renda
Propaganda
Outras despesas
(+) Juros recebidos
Juros sobre investimentos temporários
10.
Juros de mora
Resultados de hedge recebidos

(Continua)

26 Gestão financeira estratégica


Movimentos do Dia Saldo Acumulado
ITENS E ATIVIDADES
R$ US$ R$ US$
(-) Juros pagos
Juros sobre empréstimos e financia-
11. mentos
Juros de mora
Resultados de hedge pagos
(-) Ganho (perda) com inflação
Sobre o saldo de caixa
12.
Sobre vendas financiadas
Sobre investimentos temporários
ATIVIDADES FINANCEIRAS
(+) Investimentos temporários –
resgate
22.
Fundos de investimento financeiro
Certificado de depósito bancário etc.
(+) Empréstimos – captação
23. Empréstimos para capital de giro
Financiamento de importação etc.
(-) Investimentos temporários –
aplicação
26.
Fundos de investimento financeiro
Certificado de depósito bancário etc.
(-) Empréstimos – regaste
27. Empréstimos para capital de giro
Financiamento de importação etc.

Fonte: Adaptada de Hoji, 2012, p. 153.

No modelo analítico da Figura 2, também podemos destacar o sig-


nificado de algumas atividades. Na atividade 11, constam os chamados
juros de mora, que se referem a uma penalidade advinda do atraso da
quitação de uma dívida. Na mesma atividade, está descrita a operação
resultados de hegde pagos, em que o hegde é um fundo de investimen-
to que se caracteriza por altas taxas de retorno, no qual os recursos
são alocados sem levar em consideração políticas rígidas muitas vezes
estabelecidas para a maioria dos outros fundos.
Notamos ainda que, no DFC analítico da Figura 2, o registro ter-
mina na atividade 27, que consta no segmento das atividades finan-
ceiras. Para finalizar esse registro de caixa, é preciso, assim como
aparece na Figura 2, fechar o caixa, desse modo o saldo final será (=)
o saldo inicial (anterior ao período presente) (+) o saldo resultante
do período presente (superavit ou deficit).

Gestão de caixa e capital de giro 27


2.2 Características do capital de giro
Vídeo Capital de giro é o nome dado ao recurso financeiro fundamental
que permite à empresa conseguir desenvolver suas atividades do dia a
dia. É um recurso necessário para que a empresa tenha uma garantia
financeira no período posterior ao pagamento de salários, desembol-
sos como custos e despesas, aquisição de estoques, entre outras situa-
ções que caracterizam a rotina financeira das empresas no curto prazo.

Assim como o ciclo de fluxo de caixa é um indicador eficiente para


medir a saúde financeira de uma empresa, o capital de giro também o
é, além de possuir foco no curto prazo (REIS, 2018b). O capital de giro
então pode ser representado com a seguinte relação:

Ativo Circulante – Passivo Circulante = capital de giro

O componente Ativo Circulante se refere aos chamados ativos da


empresa que são, por exemplo, o caixa, os estoques, as aplicações fi-
Livro
nanceiras, as contas a receber, entre outros recursos que indicam as
entradas e/ou recursos disponíveis da empresa. O Passivo Circulante,
por sua vez, indica as obrigações de curto prazo da empresa, como pa-
gamento de fornecedores, contas a pagar, dívidas e demais dispêndios.

Dada essa relação entre Ativo e Passivo Circulante, o que espera-


mos do capital de giro é que ele seja um montante sempre positivo,
isto é, que os ativos sejam sempre superiores aos passivos. Mas e as
empresas que trabalham com vendas a prazo, por exemplo, como con-
Uma dica para conhecer- seguem se organizar? Vamos pensar sobre isso. Se os recebimentos se-
mos melhor o capital de
giro e, com isso, aperfei-
rão futuros, mas os dispêndios presentes se mantêm estáveis, de que
çoarmos sua gestão no forma o gestor financeiro pode se atentar à saúde financeira de curto
dia a dia das empresas
é o livro Administração
prazo? Melhor dizendo, como saberá se terá capital de giro para que as
do capital de giro, o qual atividades da empresa não sejam prejudicadas?
é interessante por con-
textualizar o capital de Para responder a essas perguntas, o gestor financeiro deve se
giro enquanto conceito
atentar aos seguintes aspectos: se está havendo redução de vendas,
e técnica de gestão para
a realidade brasileira, se há crescimento de inadimplência, se as despesas financeiras estão
trazendo modernidade
aumentando, se os custos vêm aumentando, entre outros aspectos
a essa análise vital para
a manutenção da saúde que mostram uma mudança de comportamento dos componentes fi-
financeira de qualquer
nanceiros. Por isso, o gestor financeiro deve estar sempre atento ao
empresa.
que pode ser passível de redução de gastos, fazer a manutenção do
ASSAF NETO, A.; SILVA; C. A. T. 4. ed.
São Paulo: Atlas, 2011. controle da inadimplência e estar sempre revendo suas estratégias de
recebimentos (REIS, 2018b).
28 Gestão financeira estratégica
No entanto, uma ressalva importante sobre o capital de giro é que,
como toda falta é prejudicial, o excesso de capital de giro também o é. Isso
porque essa situação pode significar que a empresa está trabalhando com
um excedente de estoques, ou seja, está com recursos parados por tempo
e volume maiores do que o necessário, ou também, pode estar perdendo
oportunidades de reinvestir seu excedente de caixa (REIS, 2018b).

Para ilustrar esse conceito e instrumento de gestão financeira tão im-


portante, na Figura 3, está representado um exemplo tradicional, e, por
isso, aparentemente complexo, de ciclo de capital de giro de uma indústria.

Figura 3
Ciclo de capital de giro em uma indústria

Contas não Circulantes Ativos Circulantes Operações Passivos Circulantes

Estoques de Pedidos
matérias-primas Compras
e materiais Fornecedores
auxiliares Remessas

Despesas
Atividades operacionais
administrativas e Contas a pagar
outras Prov. Imp.
Renda etc.
Baixa dos estoques

MOD e parte dos CIF


Depreciação
Ativos Fixos Produção

Estoques de
produtos
Custos de produção

Baixas (CPV)

Vendas

Duplicatas a
receber
Vendas a prazo
Vendas à vista

Desconto
Duplicatas
de
descontadas
duplicatas
(redutora do AC)
Líquido creditado

Incobráveis Cobrança

Recebimentos
Capital circulante
Empréstimos a
líquido (parte do Caixa e bancos
curto prazo
PL e do ELP)
Excedente gerado Pagamentos

Capital de giro
Fonte: Adaptada de Braga, 1989, p. 83.

Gestão de caixa e capital de giro 29


Apesar de parecer confuso, com relação à quantidade de atividades e
operações descritas, o ciclo de capital de giro da Figura 3 chama a atenção
sobre o capital de giro estar descrito como aquele que dá suporte para a
realização das atividades da empresa, que é do segmento industrial.

Isso reforça o que sabemos, estando como alicerce, o capital de giro


é o recurso financeiro que garante a saúde financeira da empresa no
período posterior à realização de todas as suas obrigações de curto
prazo, isto é, demonstra que o Ativo Circulante é maior do que o Passi-
vo Circulante. Assim como no DFC, o capital de giro pode ser ilustrado
de diferentes formas, para que o gestor financeiro visualize e avalie, da
melhor maneira possível, o fluxo de atividades e recursos transaciona-
dos na empresa no curto prazo.

2.3 Análise de crédito e despesas


Vídeo Vamos falar de crédito e despesas, dois conceitos fundamentais
para entender como os gestores podem conduzir de maneira eficiente
as atividades financeiras das empresas. Primeiramente, conhecer a di-
ferença entre despesa, custo e gasto facilita a organização das finanças,
isso tanto em âmbito pessoal quanto empresarial.

A despesa pode ser entendida como o dispêndio financeiro relacio-


nado a uma constância, isto é, um dispêndio recorrente, que normal-
mente ocorre mensalmente (MOSMANN, 2020). Exemplos de despesas
são aluguel, contas de telefone, energia, água, condomínio, alimenta-
ção, entre outros.

O custo, por sua vez, refere-se a uma aquisição, assim como o gasto.
Custo e gasto são conceitos parecidos e, muitas vezes, confundidos. No
entanto, custo é uma aquisição necessária, isto é, não poderia ser subs-
tituída. Já o gasto pode ser entendido como uma aquisição supérflua, ou
seja, poderia ser adiada, dispensada (MOSMANN, 2020). Veja que, por
esse entendimento, a realização e classificação de custo e gasto depen-
dem, essencialmente, da gestão financeira, de como o gestor entende e
toma decisão a partir dos recursos disponíveis, e essa importância reside
tanto no âmbito empresarial, foco do nosso estudo, quanto no pessoal.

Nesse sentido, quando estudamos esses conceitos, crédito, despesa,


custo, gasto, ciclo de caixa, capital de giro, ativos, passivos, entre outros,
que dão nome e significado às atividades e aos valores do dia a dia fi-

30 Gestão financeira estratégica


nanceiro das empresas, estamos nos referindo aos ciclos operacional e
financeiro. Esses ciclos, então, compõem o cenário do setor financeiro.

Para reforçar, o ciclo operacional é aquele que auxilia o gestor no


entendimento de quantas mercadorias, e/ou serviços, estão em mo-
vimento na empresa. Portanto, é o período referente ao desembolso
inicial relacionado à produção, seguido do período de venda e, poste-
riormente, o recebimento das vendas, no relacionamento cliente-em-
presa. É esse período que mostra para o gestor quanto de capital de
giro é necessário para dar continuidade às atividades e, com isso, po-
der expandir o empreendimento (REIS, 2018c). Com relação ao ciclo
financeiro, o ponto principal é a estratégia, isto é, o conceito estraté-
gico começa a fazer parte da tomada de decisão do gestor financeiro,
porque passa a se tratar da análise de projeção do ciclo de caixa, por
exemplo, para além da necessidade de obter capital de giro.

Sobre as despesas, podemos classificá-las para melhor compreen-


dermos como se dá a composição dos ciclos operacional e financeiro.
A despesa administrativa, por exemplo, é aquela que não está relaciona-
da de forma direta com a produção, além disso se refere normalmente
às questões administrativas, como contas de telefone, recepção, dispên-
dios com limpeza, departamento jurídico. Pode ser chamada também de
gastos gerais. As despesas operacionais, entretanto, estão relacionadas
às atividades da produção de bens e serviços, à matéria-prima de fato
(REIS, 2018d). Isso quer dizer que, existindo uma mudança na quantida- Saiba mais
de produzida pela empresa do produto x, os custos operacionais mu-
O fato de que a empresa pode
dam, mas os custos administrativos se mantêm estáveis. conduzir suas escolhas para
otimizar a forma e o quanto
Quando falamos sobre as despesas administrativas, podemos dizer
produz leva-nos a outro con-
que estamos falando também de custos fixos, que são também chama- ceito, o de economia de escala,
dos de gastos permanentes, como já dito anteriormente. Nesse sentido, que é recorrente para a gestão
das contas de ciclo de caixa e
a importância da gestão das despesas administrativas reside no enten-
capital de giro, no que se refere
dimento de que, quanto menor for o custo fixo da empresa, menores às despesas. Economia de escala
são os custos totais e maiores as oportunidades de a empresa fazer as é um conceito que dá nome ao
momento em que a empresa
melhores escolhas com relação ao quanto produzir. Dizendo de outra produz uma quantidade a mais
maneira, quanto mais a empresa produz, mais fragmentado, ou seja, de bem e/ou serviço e, com
mais diluído nos custos totais da empresa, o valor do custo fixo estará. isso, consegue reduzir o custo
de produção por unidade. Esse
As despesas não operacionais, por sua vez, referem-se aos gastos aumento de produção a um
custo menor torna a empresa
que formam o DRE. Como ocorrem fora da produção, os gastos não
mais competitiva nesse quesito.
operacionais não incidem sobre os custos da produção. Dessa forma,

Gestão de caixa e capital de giro 31


como vimos, a despesa administrativa é não operacional. Outras des-
pesas não operacionais são: indenização de seguros, aluguéis, despe-
sas de ajuste de valor de mercado, despesas patrimoniais, juros sobre
um empréstimo, entre outras.
Vídeo Por último, temos as despesas classificadas como financeiras. Refe-
Para visualizar de forma rem-se ao preço que uma empresa paga aos seus credores e aos juros
mais concreta como os
conceitos de gasto, des- de empréstimos feitos em prol do empreendimento. Dessa forma, nor-
pesa, custo, receita, entre malmente as despesas financeiras constam no DRE como vinculadas
outros, dão forma ao dia
a dia da gestão financeira ao endividamento da empresa.
das empresas, uma dica é
assistir à série de vídeos Feitas as considerações sobre as despesas, vamos então ao enten-
do canal Suno Research dimento do crédito. O crédito ao consumidor é uma modalidade de
com Alberto Amparo.
De uma forma bastante empréstimo e de financiamento de origem bancária, de lojas ou outras
didática, ele auxilia no instituições financeiras, também chamado de Crédito Direto ao Consu-
entendimento de como
os conceitos se aplicam midor (CDC). Normalmente o valor liberado para empréstimo, indepen-
no cotidiano da adminis- dentemente de quanto, pois varia em cada caso, destina-se a compras,
tração financeira.
financiamento de imóveis, veículos, por exemplo. Tanto pessoa física
Disponível em: https://youtu.
be/YpJemiJ4qo8. Acesso em: 16 quanto jurídica podem utilizar o CDC.
jun. 2020.
Alguns aspectos sobre a concessão de crédito para as empresas
devem ser observados. A necessidade de resolver problemas de capi-
tal de giro insuficiente, obtenção de máquinas ou de um imóvel maior
para o empreendimento são situações que exemplificam uma possível
necessidade da concessão de crédito ser realmente utilizada para be-
neficiar a empresa. Entretanto, para ser feita com parcimônia, é impor-
tante o gestor financeiro atentar para a real necessidade desse tipo
de operação e realizar seu planejamento, para que haja aumento da
lucratividade, a fim de que a empresa possa ter condições de quitar o
crédito. Dizendo de outra forma, é necessário que a taxa de retorno
sobre o valor emprestado seja maior do que o custo para consegui-lo.

A análise de crédito trata da capacidade de pagamento dos juros,


no período estabelecido para a operação, por quem assumiu o em-
préstimo. Na avaliação para a liberação do crédito, o banco avalia, por
exemplo, histórico de pagamentos, situação patrimonial, garantias e
fiadores. Quando se faz análise de crédito, o analista responsável pela
gestão de risco do crédito deve fornecer ao credor o máximo de infor-
mações possíveis sobre o cenário real da capacidade do devedor em
honrar os compromissos (WAINBERG, 2018b).

32 Gestão financeira estratégica


Como vimos, o crédito é essencial tanto às pessoas quanto às em-
presas, para que haja continuidade e um melhor planejamento das
finanças. No entanto, é relevante verificarmos se existe a real neces-
sidade de buscá-lo e, especialmente, onde alocar esse recurso, ao
pensarmos principalmente no retorno financeiro que ele trará em de-
terminado planejamento pessoal e/ou empreendimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A gestão financeira estratégica envolve todos os aspectos que carac-
terizam uma empresa, o que significa conhecer desde as atividades es-
senciais até as políticas de tomadas de decisão estratégicas. Dessa forma,
a gestão de caixa e capital de giro apresentada neste capítulo reforça o
olhar minucioso e atento que o gestor financeiro deve ter com a transação
de recursos e operações no dia a dia empresarial.
Entender como as atividades são organizadas e de que forma os recur-
sos são alocados implica conhecer a saúde financeira da empresa, se está
em uma situação positiva ou negativa com relação ao desenvolvimento de
funções, na busca por seus objetivos e, ainda, se está competitiva quando
comparada a outras empresas.
Por isso, a forma escolhida pelo gestor para registrar a movimentação fi-
nanceira, e de que maneira identifica e trabalha sobre suas necessidades e di-
ferenciais implica o olhar para o curto prazo com planejamento para períodos
posteriores. Assim, o conhecimento das ferramentas de gestão aqui apresenta-
das, além de conceitos essenciais, é também instrumento de direcionamento.

ATIVIDADES
1. Sabendo que o fluxo ou ciclo de caixa é instrumento essencial de
gestão para o registro e acompanhamento da saúde financeira das
empresas, diferencie o ciclo de caixa direto do ciclo de caixa livre.

2. Ao diferenciar as atividades de investimento das atividades de financiamento,


o gestor financeiro consegue também alocar os diferentes recursos
advindos dessas atividades de forma correta na elaboração do fluxo de
caixa. Descreva por que o fluxo de caixa das atividades de investimento é
diferente do fluxo de caixa das atividades de financiamento.

3. As despesas, assim como os gastos e custos, fazem parte da rotina


financeira das empresas e saber registrá-las é tão importante quanto

Gestão de caixa e capital de giro 33


identificá-las. Para fazer esse exercício de identificação, explique por que
as despesas administrativas se diferenciam das despesas operacionais.

4. Sabendo que, quando falamos em capital de giro, estamos também


nos referindo às contas do Passivo e Ativo Circulantes das empresas,
descreva qual é a operação simplificada que mostra como se calcula o
capital de giro e explique a diferença entre Ativo e Passivo Circulantes.

REFERÊNCIAS
BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1989.
HOJI, M. Administração financeira: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2012.
MOSMANN, G. Entenda a diferença entre despesas, custos e gastos. 2020. Disponível em:
https://www.sunoresearch.com.br/artigos/custos-e-gastos/. Acesso em: 20 maio 2020.
REIS, T. Capital de giro: o que é qual sua importância para a empresa? Suno Research,
2018b. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/capital-giro/. Acesso em:
20 maio 2020.
REIS, T. Ciclo operacional: veja como funciona esse aspecto vital de um negócio. Suno
Research, 2018c. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/ciclo-
operacional/. Acesso em: 20 maio 2020.
REIS, T. Fluxo de caixa direto: conheça esta análise financeira. Suno Research, 2019.
Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/fluxo-de-caixa-direto/. Acesso
em: 20 maio 2020.
REIS, T. O que é balanço patrimonial e qual a função desse demonstrativo contábil. Suno
Research, 2018a. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/o-que-e-
balanco-patrimonial/. Acesso em: 20 maio 2020.
REIS, T. O que são despesas administrativas? Saiba como analisá-las. Suno Research, 2018d.
Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/despesas-administrativas/.
Acesso em: 20 maio 2020.
WAINBERG, R. Análise de crédito: siga essas 3 dicas para se proteger de perdas. 2018b.
Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/analise-de-credito/. Acesso em:
20 maio 2020.
WAINBERG, R. Fluxo de caixa: o que é, qual sua importância e como analisá-lo? 2018a.
Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/fluxo-de-caixa/. Acesso em: 20
maio 2020.

34 Gestão financeira estratégica


3
Orçamento, preço e custo
Uma parte importante da gestão financeira estratégica é aque-
la que aborda o planejamento orçamentário como ferramenta es-
sencial para guiar a tomada de decisão do gestor com relação às
finanças empresariais. A importância da elaboração orçamentária
é que ela demonstra como a saúde financeira está, esteve e deve
estar no decorrer do desenvolvimento das atividades empresa-
riais, o que implica, necessariamente, a análise de fatores internos
e externos à empresa.
Os fatores internos podem ser chamados de indicadores finan-
ceiros e econômicos pertencentes à empresa. Envolvem o conheci-
mento da estrutura de custos, despesas, quantidades produzidas
e vendidas, percentual de lucro e demais aspectos que o gestor
financeiro deve conhecer para fazer a manutenção financeira das
operações. Os fatores externos, por sua vez, não são menos im-
portantes, como as taxas de câmbio, juros, impostos e tributos pra-
ticados no ambiente em que a empresa atua e no cenário nacional.
Sendo assim, o planejamento orçamentário, bem como os indi-
cadores internos da empresa, especialmente os relacionados aos
custos e à precificação de produtos e serviços, são uma ferramenta
que oferece recursos matemáticos e conceituais para que o gestor
elabore e desenvolva cada vez melhor a rotina financeira, especial-
mente as projeções futuras necessárias para a manutenção e o
progresso do empreendimento.

Orçamento, preço e custo 35


3.1 Classificação de custos e despesas
Vídeo Os custos e as despesas são conceitos relacionados aos gastos de
uma organização na realização de suas atividades. Os custos se refe-
rem aos gastos vinculados às atividades principais da organização, nor-
malmente pertencentes à produção, como compras de matéria-prima,
pagamentos de contas, entre outras operações essenciais.

As despesas, por sua vez, já não são diretamente relativas à produ-


ção, mas, sim, à continuidade do empreendimento, alguns exemplos
de despesas podem ser os salários, as comissões pagas, entre outras.
Quanto à classificação, ambos custos e despesas podem ser fixos – gas-
tos que não variam com a variação do volume produzido ou vendido
– e variáveis – gastos que variam conforme a variação do volume pro-
duzido ou vendido.

O conhecimento da diferenciação existente entre custos e despesas,


ou seja, saber classificá-los, tem importância porque é o acompanha-
mento das atividades e processos internos da empresa que permite ao
gestor encontrar as melhores oportunidades e criar mecanismos de
controle, com relação à organização e à maximização dos resultados.

O estudo dos custos e despesas se refere a uma parte das ciências


contábeis que é a contabilidade de custos, fundamentalmente impor-
tante para a gestão econômica da empresa, já que, por meio dela, as
informações financeiras transformam-se em indicadores de gestão, ali-
cerces para a tomada de decisão.

A partir disso, vamos nos aprofundar nos diferentes tipos de custos


fundamentais para a administração financeira empresarial. O primeiro
deles é o chamado custo de produção. Esse custo se refere a quanto
se gasta para produzir algo e, a partir dele, é possível determinar por
quanto um produto deve ser vendido para poder “cobrir” o custo de
produção, isto é, o necessário para gerar lucro para a empresa.

De acordo com Reis (2018a), o cálculo do custo de produção está


vinculado à viabilidade econômica do empreendimento, servindo como
um indício para saber como estão a produção e a capacidade da em-
presa em maximizar seus retornos. O custo de produção está também
associado a quanto a empresa consegue ser competitiva em relação

36 Gestão financeira estratégica


ao mercado, isto é, quanto consegue produzir gastando menos e, por
isso, a importância da análise constante dos processos e das atividades
internos à organização.

Para formar o custo de produção, temos que olhar para os gastos


com matérias-primas, gastos com materiais e gastos com fabricação.
Custos com mão de obra, por exemplo, são salários, encargos sociais;
assim como o cálculo de quanto custa a hora de trabalho. Depreciação,
custos de energia elétrica e manutenção são custos de fabricação, por
exemplo. De maneira geral, os custos de produção envolvem muitas
variáveis, como cálculos de aluguel, custos de manutenção, máquinas,
entre outras (REIS, 2018a).

Sobre os custos envolvidos no processo de produção, podemos


apontar os custos fixos e variáveis, custo total, marginal e de oportunida-
de. Vejamos cada um deles a fim de saber identificá-los e mensurá-los
para que a administração financeira empresarial seja eficiente.

Os custos fixos são aqueles que não sofrem variação conforme a va-
riação da quantidade produzida. O exemplo do aluguel caracteriza mui-
to essa definição de custo fixo, porque não se altera com a produção e
é um dispêndio constante e necessário para que a empresa continue a
realizar suas atividades. O custo fixo médio pode ser calculado a partir
do custo fixo total, sendo então:

Custo fixo médio = custo fixo total / quantidade produzida total

O valor do custo fixo médio nos indica quanto a empresa gasta para
produzir uma unidade.

Os custos variáveis, ao contrário, são aqueles que variam de acordo


com a quantidade produzida, como, por exemplo, a compra de maté-
rias-primas. Dentro do custo variável, temos o chamado custo variável
médio, que é o custo que varia para cada unidade produzida. Então
podemos calcular assim:

Custo variável médio = custo variável total / quantidade produzida total

Esse cálculo é importante porque indica qual pode ser o preço do


produto a ser vendido.

Orçamento, preço e custo 37


O indicador que aponta para a lucratividade da empresa, especial-
mente com relação ao lucro bruto é o chamado custo da mercadoria
vendida (CVM). O cálculo do CVM é feito da seguinte forma:

CMV = E (inicial) + C – E (final)

Em determinado período específico, o custo da mercadoria vendi-


da será o estoque inicial adicionado do valor das compras feitas nesse
mesmo período, subtraindo-se, desse valor, o estoque final.

O cálculo do CVM aponta para a necessidade de gerir os estoques,


pois quanto maior o valor do estoque em determinado período, menor
será, por exemplo, o capital de giro da empresa nesse mesmo período
(REIS, 2019a). O conhecimento dos custos e despesas faz com que en-
tendamos de forma conjunta diferentes conceitos que, na prática, são
indicadores fundamentais da saúde financeira empresarial.

Ainda pode ser calculado o custo total médio:

Custo total médio = custo total / quantidade produzida total

Esse custo é fundamental no processo de precificação do produto


vendido, porque espera-se que esse preço seja, no mínimo, maior que
o custo total médio.

O cálculo do custo marginal é outra operação fundamental à gestão


financeira. O custo marginal indica quanto precisamos para produzir
uma unidade a mais do que se produz. Então, quanto custaria produzir
101 pregos, sendo que produzimos 100 pregos por dia? Essa resposta
é dada quando encontramos o custo marginal. O cálculo do custo mar-
ginal tem como objetivo encontrar um ponto de otimização em que o
custo de produzir uma unidade a mais seja igual ao custo total médio
de toda produção.

Nesse sentido, podemos calcular o custo marginal dessa forma:

Custo marginal = variação do custo total / variação da quantidade


produzida

Custo marginal então é a conexão entre as variações de custo e a


quantidade produzida. Quando o custo marginal é zero – situação que
normalmente acontece em empresas de tecnologia e inovação –, signi-
fica que as empresas conseguiram criar formas eficientes de produção

38 Gestão financeira estratégica


que reduzem o custo marginal a níveis baixíssimos, ou seja, o custo fixo
de produção é muito maior do que o custo variável.

Outro custo importante é o chamado custo de oportunidade, o custo


de escolher uma coisa em detrimento de outra. Na gestão financeira,
o custo de oportunidade significa renunciar a uma escolha porque foi
feita outra, como por exemplo, escolher fazer um investimento em um
novo empreendimento ao invés de utilizar um espaço que já se tem.
Para isso, o gestor deve estar sempre pensando sobre quais são os ris-
cos de escolher algo em detrimento de outro, e quais são os benefícios
que essa escolha deve trazer para a empresa.

Outro tipo de custo importante para o entendimento da gestão


financeira é o chamado custo de transação. O custo de transação
está relacionado ao lucro líquido gerado pela empresa, por isso é
importante conhecê-lo para que se saiba qual é a lucratividade do
empreendimento. O quanto a empresa gasta com a manutenção de
suas atividades, bem como o quanto gasta na realização de suas
transações, como as de captação de recursos, por exemplo, são con-
siderados custos de transação.

Alguns fatores são levados em consideração para a análise do custo


de transação. No momento da escolha, o tomador de decisão deve ten-
tar maximizar suas informações, isto é, obter o máximo de informações
possíveis a respeito do contexto que envolve determinada escolha, isso
porque a chamada Teoria dos Custos de Transação tem o pressuposto
de que a racionalidade dos indivíduos é limitada e, por isso, temos sem-
pre que buscar o máximo de conhecimento possível a respeito do que
se quer entender (REIS, 2019b).

Outro fator a ser considerado no cálculo do custo de transação é o


quanto uma oportunidade pode ser específica. Isso se refere ao fato
de que, quanto mais específico for um produto, um serviço, um ativo,
uma situação, maior será o custo de transação. O terceiro fator que
impacta na percepção do custo de transação pelo gestor é o oportunis-
mo, ou seja, deve-se levar em consideração que os agentes econômicos
têm interesses diferentes e, muitas vezes, podem buscar agir conforme
esses interesses, causando incerteza e instabilidade na realização de
contratos. Por isso, existe a necessidade de uma gestão constante e
eficaz da administração dos custos e das práticas de gestão financeira
da empresa (REIS, 2019b).

Orçamento, preço e custo 39


Além desses custos, uma diferenciação fundamental para a admi-
nistração financeira e contábil da empresa é a existente entre os custos
direto e indireto. O custo direto é todo aquele ligado ao produto e/ou
serviço que a empresa desenvolve ou que ela não produz, mas que
faz parte da sua atividade funcional. Para obter, então, o preço base
da venda de um produto e/ou serviço que será acrescido (mais tarde)
pelos custos indiretos da produção, basta somar os custos diretos da
empresa e dividi-los pela quantidade total produzida, assim:

Preço base de venda (sem adição dos custos indiretos) = Custo direto
total / Quantidade produzida total

O custo indireto, por sua vez, é aquele composto pelos gastos com
manutenção das atividades de mercado da empresa que não são di-
retamente relacionados à produção, como transporte para entrega de
determinado produto, se for o caso, despesas administrativas, energia,
tempo de trabalho, tempo de pesquisa, entre outros exemplos, porque
não estão diretamente vinculados às atividades fim da empresa e, por
isso, variam de empreendimento para empreendimento. A importân-
cia de conhecer os custos indiretos reside no fato de que eles precisam
ser rateados para que o gestor os inclua na elaboração do preço do
produto e/ou serviço que será comercializado.

Sobre as despesas, que são os dispêndios não relativos diretamente


à produção da empresa, elas podem ser classificadas de diferentes for-
mas, assim como vimos os diferentes tipos de custos existentes. Desse
modo, podemos identificar alguns tipos de despesas: fixas, pré-opera-
cionais, operacionais, não-operacionais, tributárias, administrativas, finan-
ceiras e despesas de capital.

As despesas fixas são aquelas não vinculadas ao custo do produto,


ou seja, independe do custo de um produto e/ou serviço produzido
ou vendido. Despesas fixas são, por exemplo, energia elétrica, telefo-
ne, internet. As despesas pré-operacionais, por sua vez, são as asso-
ciadas à abertura ou expansão de um empreendimento. Neste caso,
esse tipo de despesa pode vir da produção, pois envolve todos os as-
pectos referentes ao início de um empreendimento, isto é, à abertura
de um negócio. Podemos elencar alguns exemplos de despesas pré-
-operacionais, como licenças de funcionamento, instalação – local e de
equipamentos –, capacitação de funcionários, entre outras.

40 Gestão financeira estratégica


Outros tipos de despesas são as operacionais, aquelas associadas
ao funcionamento e à manutenção das operações, como a manutenção
de uma máquina, por exemplo. No entanto, as despesas operacionais
podem estar muitas vezes relacionadas a terceiros, como despesas
com viagens, seguridade, despesas de escritório, folha de pagamen-
to, publicidade, entre outras. O cálculo e a administração das despe-
sas operacionais estão associados ao acompanhamento das finanças
por meio da utilização do fluxo de caixa, do orçamento – tanto pessoal
quanto empresarial –, do Balanço Patrimonial e também do Demons-
trativo do Resultado de Exercício (DRE).

As despesas não operacionais, no entanto, são aquelas que com-


põem o DRE e são, frequentemente, segmentadas em quatro tipos: as
administrativas, comerciais, não operacionais e operacionais. O objetivo
de conhecer as despesas não operacionais é analisar o desempenho da
empresa no tocante à obtenção de lucro ou prejuízo. Exemplos de des-
pesas não operacionais são: indenização de seguros, implementação de
um negócio, os juros implicados em um empréstimo, entre outras.

Outras despesas são as chamadas tributárias, aquelas destina-


das ao pagamento dos impostos, multas, e/ou qualquer penalidade
que a empresa venha a sofrer. Pelo fato de as despesas tributárias
variarem bastante conforme o tipo de empreendimento, alguns fa-
tores interferem na sua composição, como, por exemplo: o regime
tributário adotado pela empresa, o tipo de produto que ela ofere-
ce, a sua localização geográfica e onde o produto e/ou serviço é
comercializado.

A gestão das despesas tributárias deve ser feita por meio do orça-
mento, ou seja, precisam estar no orçamento adotado pela empresa,
com o chamado planejamento tributário, porque, assim, o gestor conse-
gue administrar quais serão essas despesas em determinado período.

Quando falamos nas despesas administrativas, nos referimos às


despesas que incidem sobre o funcionamento do negócio de forma
indireta e não atreladas à produção. Nesse sentido, é importante
ressaltar que as despesas administrativas muitas vezes são tam-
bém custos fixos e, quanto menores forem essas despesas e custos
fixos, menor é o custo total da empresa e mais liberdade ela terá
em escolher o quanto produzir.

Orçamento, preço e custo 41


Livro
Outra classificação para as despesas é chamá-las de financeiras. As
despesas financeiras são aquelas registradas no DRE. De acordo com
Reis (2018b), as despesas financeiras: “representam o preço a ser pago
por um empreendimento aos seus credores e são relativas aos juros
provenientes de empréstimos contraídos pelo negócio, independente-
mente de qual seja, de fato, o intuito dessa dívida”.

Além dos tipos de despesas estudados até aqui, outra classificação


Para complementar nosso é a chamada despesa de capital, que são investimentos utilizados pelas
estudo sobre os custos,
tanto relativos a fatores con- empresas quando buscam expandir seus negócios. Exemplos de des-
tábeis quanto financeiros, o
livro Contabilidade de Custos, pesas de capital, também chamadas de investimento de capital, podem
de Osni Moura Ribeiro, é ser: a construção de um novo espaço de atuação, a aquisição de bens
uma leitura produtiva. Com
uma construção didática, o de longa duração, como carros e alguma máquina/equipamento, entre
autor esboça os construtos
contábeis sobre os custos outras. No fluxo de caixa, é no segmento de investimentos que as des-
dos níveis mais fáceis até pesas de capital são contabilizadas.
as concepções mais com-
plexas, fazendo com que o
entendimento seja passado
Como vimos, há uma extensa classificação para custos e despesas
de forma clara e muito e, por isso, é importante saber identificá-los na estrutura de atividades
explicativa.
da empresa para que seja possível a realização e acompanhamento de
RIBEIRO, O. M. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 2018.
uma gestão financeira eficiente.

3.2 Formação de preço


Vídeo A formação do preço de venda, tanto para produtos quanto ser-
viços, é uma função especialmente importante do gestor financeiro,
porque é preciso que o preço seja condizente com as necessidades
internas da empresa e com o que é praticado pelo mercado. Nesse
sentido, a empresa deve praticar um preço, ou seja, vender um produ-
to/serviço a um preço que não incorra em prejuízos para si, que não
produza retornos negativos.

Dessa maneira, a formação do preço pode ser baseada no custo,


na receita líquida, no valor do dinheiro no tempo, entre outras formas,
sempre com uma análise recorrente das necessidades do empreendi-
mento e do que tem acontecido no mercado em que a empresa está
inserida e/ou opera (HOJI, 2012).

O cálculo de um preço de venda líquido (PVL) e o cálculo do preço


de venda bruto (PVB) com base nos custos da empresa, por exemplo,
devem ser feitos a partir do conhecimento de qual é a receita líquida e

42 Gestão financeira estratégica


qual é a receita bruta empresarial a partir da identificação dos custos e
despesas fixos e variáveis. Dessa forma, partimos das equações:

Receita líquida = custos (fixos e variáveis) + despesas (fixas e variáveis)


+ lucro

Receita bruta = custos (fixos e variáveis) + despesas (fixas e variáveis) +


lucro + tributos

Assim, para os cálculos do PVL e PVB, precisamos inicialmente cal-


cular as receitas líquidas e brutas para depois, dividindo esses valores,
separadamente, pela quantidade produzida e pela que a empresa es-
tima vender, chegarmos aos preços de venda. Logo, o PVL unitário =
receita líquida / quantidade produzida, e o PVB = receita bruta total /
quantidade produzida.

No caso do cálculo do preço de venda com base na receita lí-


quida da empresa, podemos calcular o PVL a partir do percentual
de lucro sobre a receita líquida ou deduzindo o percentual de lucro
do percentual da margem de contribuição. Neste caso, para calcular
a receita líquida, com base em uma margem de contribuição esta-
belecida pela empresa, e, a partir do lucro que o gestor financeiro
pretende ter, temos a equação:

Receita líquida = Soma dos custos e despesas fixos / % margem de


contribuição - % de lucro

A partir da receita líquida obtida, calculamos o PVL da mesma ma-


neira: dividindo a receita líquida pela quantidade produzida.

Já a margem de contribuição é calculada subtraindo-se os custos e


despesas variáveis da receita de vendas, ou seja:

MC = receita das vendas – custos e despesas variáveis


Saiba mais
Para encontrar o valor percen-
A margem de contribuição é importante porque é a diferença entre
tual, aquele que aparece na
a receita de uma venda e os seus custos diretos e indiretos, ou seja, o equação do cálculo do PVL com
valor da margem de contribuição é o quanto sobra do valor da venda base na receita líquida, utiliza-
mos a equação: MC % = (MC /
do produto/serviço após o pagamento de todos os custos e despesas.
receita de vendas) * 100%.
Ela mostra então o quanto uma empresa consegue gerar de capital

Orçamento, preço e custo 43


para continuar funcionando e o quanto gera de lucro em determinado
período (REIS, 2018c).

Para o cálculo do preço de venda em um mercado competitivo,


por exemplo, muito frequentemente estabelecido no ambiente orga-
nizacional moderno, o gestor pode se basear no conceito do valor de
dinheiro no tempo. Isso quer dizer que o gestor considerará a perda
de valor do dinheiro no tempo, devido à ocorrência de amortizações e
depreciações. Então a equação para o cálculo do preço de venda passa
pela equação que calcula a receita bruta da seguinte forma:

Receita bruta = custos + despesas + lucro + tributos + custos financeiros


- depreciações

Conforme a complexidade dos cálculos das receitas bruta e líquida


e dos preços de venda líquido e bruto aumentam – devido à incidência
de custos e tributos recorrentes –, o gestor financeiro está livre para
buscar os melhores recursos possíveis para facilitar sua tarefa, como,
por exemplo, a utilização de uma planilha do Excel, a partir do modelo
que o empreendimento venha a necessitar (HOJI, 2012).

No tocante ao mercado, ou seja, pensando no cenário externo à


empresa, podemos pensar na formação do preço de venda de algumas
formas, com base em elementos distintos que englobam a realidade do
empreendimento. No contexto da globalização em que todos nós nos
encontramos, as empresas precisam cada vez mais dar conta de quali-
dade e bons preços aos consumidores, na manutenção de sua compe-
titividade. A ideia básica de precificação para a venda é lucro = receita
- custos - despesas - encargos financeiros. Por isso, a busca incessante
das empresas em diminuir dispêndios e maximizar receitas.

Quando pensamos então no mercado como aquele que pode definir


o preço de venda, uma forma de precificar é por meio do preço corrente,
em que concorrentes de um mesmo produto tendem a praticar preços
semelhantes, e não há uma empresa que lidere essa precificação. Uma
outra forma é praticar o chamado preço do concorrente, normalmente
empresas adotam para determinado produto ou serviço um preço pra-
ticado pela empresa líder do setor, por exemplo. Preços agressivos são
aqueles que as empresas adotam quando determinam uma estratégia
mais arriscada, praticando preços muito abaixo do que normalmente se
tem no mercado com a finalidade de aumentar sua participação no mer-
cado. Essa prática de redução brusca dos preços é chamada de dumping

44 Gestão financeira estratégica


em termos econômicos. Podemos também ter a prática do chamado
preço promocional, ou seja, as empresas fazem promoções, reduzindo o
preço dos produtos ou serviços, a fim de que mais clientes se atentem e
busquem também novos produtos e serviços (HOJI, 2012).

Como vimos, a formação do preço de venda é uma função que deve


considerar, para cada tipo de empreendimento, as condições e neces-
sidades internas da empresa pensando nos fundamentos básicos, que
são os dispêndios – custos e despesas fixos e variáveis –, as receitas
bruta e líquida e demais aspectos como o percentual de lucro que o
gestor estabelece e pretende obter, assim como a margem de contri-
buição que o negócio tem e, de modo geral, os elementos e aspectos
que envolvem a rotina financeira da empresa. Essa rotina, como vimos,
também abrange o cenário externo à empresa, as condições econô-
micas e financeiras, taxas de câmbio e juros, tributação, entre outros
indicadores ou contingências em determinados períodos de tempo.

3.3 Controle orçamentário e planejamento


Vídeo O orçamento é um tipo de planejamento financeiro amplamente
utilizado na realidade das empresas. Como parte do registro das des-
pesas e receitas, a ideia é que ele seja estabelecido para determinado
período com o propósito de que a empresa tenha um plano de gestão
e consiga executá-lo.

Um entendimento sobre o orçamento é que tanto sua periodicidade


e quanto a forma como é elaborado dependem do tipo de empreen-
dimento que a empresa desenvolve. Isso ocorre porque, quanto mais
fluidas forem as atividades da empresa, modificando-se rapidamente
no dia a dia, movimentando diferentes tipos de atividades e recursos,
como acontece nas empresas de tecnologia, por exemplo, mais fre-
quente deve ser a elaboração do orçamento, ou seja, mais contínuo
deve ser seu acompanhamento.

Para a elaboração de um orçamento, o gestor precisa ter conhe-


cimento de alguns indicadores financeiros da empresa, fundamentais
na realização de um planejamento eficiente para determinado período.
Esses indicadores são, por exemplo, entradas e saídas de capital, fon-
tes de renda da empresa, custos e despesas fixos e variáveis, e vendas
de produtos e/ou serviços.

Orçamento, preço e custo 45


O planejamento orçamentário se dá em consonância com a es-
tratégia estabelecida pela empresa, isto é, de acordo com os obje-
tivos e demais aspectos que a empresa busca melhor desenvolver.
Nesse sentido, a previsão orçamentária ocorre a partir de relatórios e
demais documentos advindos de diferentes funcionários e por parte
dos gestores no que diz respeito a tudo que precisa ser planejado e
mensurado. Com isso, as informações desses relatórios devem ser
utilizadas por meio da análise das receitas e despesas e demais indi-
cadores, especialmente sobre o que se deseja melhorar para que a
empresa tenha um bom desempenho.

Ele também pode ser ajustado a partir do planejamento inicialmen-


te realizado. Isso porque, conforme as atividades da empresa se de-
senvolvem, é necessário ajustar as finanças de acordo com um novo
plano de negócios, principalmente quando há alterações significativas
com relação às receitas e despesas. Dessa maneira, podemos pensar
nos orçamentos como de várias formas, mais flexível, mais estático,
que envolvem mais indicadores, menos indicadores, dependendo da
necessidade que cada gestor identifica na empresa (REIS, 2019c).

Um tipo de orçamento flexível é aquele utilizado pelo gestor como


um auxílio na elaboração dos cálculos de quantidades e valores espe-
rados para determinado período, por exemplo. Pode estar mais rela-
cionado ao controle dos custos e das despesas. O orçamento contínuo,
nesse sentido, é aquele que abrange um período de doze meses e que
pode ser revisado periodicamente de acordo com a percepção do ges-
tor, na correção de erros e revisão de previsões.

Há orçamentos elaborados com base nas despesas fixas, no in-


tuito de controlar o fluxo dessas despesas. Enquanto outros são
mais focados nos gastos, com relação ao que pode ser sempre evi-
tado e revisado, questionando de fato os dispêndios implicados nas
atividades empresariais.

O planejamento orçamentário, desse modo, é uma ferramenta que


auxilia o gestor na organização das atividades e finanças empresariais
para que seja possível conhecer quanto de dinheiro a empresa tem,
quanto precisará despender para que consiga desenvolver suas ati-
vidades e quanto deverá faturar para atingir seus objetivos. Por isso,

46 Gestão financeira estratégica


para um orçamento ser eficiente, é preciso que a empresa tenha cla-
reza sobre quais são seus objetivos para o futuro e em quanto tempo
pretende alcançá-los (REIS, 2019c).

Sendo assim, o relatório orçamentário deve ser detalhado, sempre


revisado e discutido, e composto pelos demonstrativos financeiros da
empresa, isto é, pelas informações sobre fluxo de caixa, custos, inves-
timentos e receitas. Tudo que envolve dispêndios e recebimentos de
recursos deve ser registrado, bem como tudo que envolve todos os
tipos de despesas, fixas, variáveis, além de um esforço contínuo na bus-
ca por otimizar as operações, isto é, cortar gastos. Mais do que isso, o
orçamento deve conter as projeções que o gestor financeiro faz, com
relação a atividades futuras, compras de terrenos, aquisição de máqui-
nas, consertos, entre outros, por exemplo.

Outro tipo de orçamento é o chamado de capital, ferramenta utiliza-


da para que os gestores façam as previsões dos investimentos e cená-
rios futuros para a empresa. No orçamento de capital, os investimentos
são analisados conforme a previsibilidade de sua rentabilidade, ou seja,
é um orçamento bastante estratégico, porque frequentemente implica
altos valores. Segundo Reis (2019d), aspectos como o fluxo de caixa, se
a empresa é ou será competitiva no mercado, custos possivelmente im-
plicados no crescimento da empresa, os riscos envolvidos no empreen-
dimento, são todos presentes na elaboração do orçamento de capital.

A elaboração do orçamento de capital envolve, então, cálculos do


chamado valor presente líquido (VPL), uma das principais ferramen-
tas da gestão de investimentos, taxa interna de retorno (TIR), fluxo
de caixa descontado (FCD), e, até mesmo, a análise do período ne-
cessário para a recuperação do investimento realizado. Ainda assim,
outros aspectos são fundamentais para a elaboração de um orça-
mento de capital, como a localização geográfica da empresa – devido
a impostos e demais tributações que possam incorrer e são diferen-
tes entre regiões –, análises que envolvem custos, mercados, supri-
mentos, preços, financiamentos, ou seja, relacionadas a indicadores
dos mais variados segmentos da empresa. Além de ser necessário
também considerar aspectos externos, como os cenários político e
econômico, as taxas de câmbio, as taxas de juros, a inflação, o au-
mento salarial, por exemplo (REIS, 2019d).

Orçamento, preço e custo 47


Como ferramenta de planejamento e instrumento de controle, por
acompanhar as atividades empresariais e os recursos alocados em cada
uma delas, o orçamento gera informações para a tomada de decisão
relacionada à natureza dessas atividades, ou seja, de modo completo,
um orçamento é a junção dos orçamentos referentes, por exemplo, a
vendas, produção, custos, investimentos, entre outros, de acordo com
cada tipo de atividade que compõe a empresa.

Vamos entender um pouco mais sobre o que é o orçamento de cada


atividade para que, depois, seja possível visualizar como pode ser um
modelo orçamentário empresarial. Um orçamento referente a vendas,
por exemplo, é aquele que registra a quantidade e o valor dos produtos
a vender, juntamente com os impostos incorporados nessas vendas, a
partir das projeções que o gestor de vendas, marketing, ou qualquer
setor responsável por essas projeções faz.

O orçamento relativo à produção, por exemplo, deve registrar a


projeção dos produtos que serão produzidos em função das vendas
planejadas, considerando estoques e outros aspectos que podem estar
associados à produção. Outro orçamento é o de matérias-primas, esse
é o que deve planejar a quantidade de materiais a comprar, a consu-
mir, no que concerne aos impostos, às necessidades, sempre envolven-
do os elementos que compõem a realidade de cada empreendimento.

Esses exemplos mostram, então, como o orçamento é uma fer-


ramenta de planejamento empresarial que deve ser feita de modo
minucioso e, reforçando, adequado para a realidade de cada empreen-
dimento, de acordo com a percepção que o gestor tem dos objetivos da
empresa. A Figura 1 é um exemplo do montante de informações que
podem compor a elaboração orçamentária de uma empresa.

48 Gestão financeira estratégica


Figura 1
Estrutura de informações do planejamento orçamentário

ORÇAMENTO DE MARKETING

1 7 ORÇAMENTO
ORÇAMENTO DE DE DESPESAS DE
VENDAS VENDAS

ORÇAMENTO DE
PROCESSO DE
PRODUÇÃO 2 ORÇAMENTO 7 ORÇAMENTO
DE PRODUÇÃO DE DESPESAS
GERAIS E
ADMINISTRATIVAS

3 ORÇAMENTO 5 ORÇAMENTO
4 ORÇAMENTO
DE CUSTOS 8 ORÇAMENTO
DE MATÉRIAS- DE MÃO DE
INDIRETOS DE DE
-PRIMAS OBRA DIRETA
FABRICAÇÃO INVESTIMENTOS

6 ORÇAMENTO
9 ORÇAMENTO
DE CUSTO DE
DE APLICAÇÃO
PRODUÇÃO
FINANCEIRA E
EMPRÉSTIMOS

DE 3, 6, 8, 9, 10
PARA 5, 7

DEMONSTRAÇÃO BALANÇO
DE RESULTADO ORÇAMENTO 10 ANÁLISE DAS
PATRIMONIAL
DE CAIXA MOVIMENTAÇÕES
FINANCEIRAS

Fonte: Adaptada de Hoji, 2012, p. 410.

Feitas essas considerações a respeito do que é um orçamento, seus


elementos e aspectos, com relação às informações e aos dados que
podem compô-lo, em conformidade com o que o gestor pensa ser ne-
cessário registrar e planejar para o empreendimento, podemos discutir
algumas vantagens e limitações da escolha de elaborar um orçamento.

Orçamento, preço e custo 49


Livro Nesse sentido, as limitações do planejamento
orçamentário podem ser: mudança dos indicado-
res econômicos; mudança das variáveis financeiras
e econômicas que afetam os valores projetados;
dificuldade em ajustar as projeções; o não acom-
panhamento eficiente das variações, o que pode
atrasar a realização dos ajustes pontuais; o custo
de implementar e acompanhar o sistema orçamen-
tário, relativo à manutenção do sistema, pessoal
O livro Orçamento Empresarial Passo a Passo,
de Masakazu Hoji, explora de modo didático qualificado para isso, entre outras (HOJI, 2012).
como elaborar um orçamento empresarial, no
que diz respeito à antecipação das transações, No entanto, as vantagens são que o controle
acompanhamento e ferramenta de análise para gerencial se torna mais robusto e objetivo; mais efi-
a tomada de decisão. Trata-se, portanto, de
uma boa opção de leitura. ciência na utilização dos recursos; a tomada de deci-

HOJI, M. São Paulo: Saraiva, 2017.


são se torna mais diversificada no que diz respeito à
elaboração do orçamento de cada área/setor e suas

atividades; manutenção dos hábitos de planejamento e controle a partir


da continuidade das projeções. Além da elaboração, de acordo com Hoji
(2012), o acompanhamento do orçamento pode se dar, muitas vezes,
por meio de softwares, sendo estes de diferentes tipos, o que facilita ao
gestor optar pelo que melhor atenda às suas necessidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Orçamento, preço e custo são aspectos essenciais para a gestão fi-
nanceira empresarial. Quando bem formulados e geridos pelos gestores
financeiros, transformam-se em ferramentas que guiam a tomada de de-
cisão no tocante a quanto a empresa tem, teve e precisará ter, em termos
de recursos físicos e financeiros, para que consiga realizar eficientemente
suas funções.
Nesse sentido, é parte fundamental da gestão financeira estratégica
elaborar e analisar continuamente diferentes maneiras de pensar, de
acordo com as necessidades de cada empreendimento; a melhor escolha
do relatório orçamentário, com o objetivo de criar e manter um planeja-
mento orçamentário que dê base aos gestores financeiros com relação às
estratégias a serem tomadas, tanto no saber administrar os indicadores
internos quanto no saber lidar com os indicadores externos à empresa.

50 Gestão financeira estratégica


ATIVIDADES
1. Sobre a equação a seguir, explique quais elementos constituem as
relações estabelecidas e qual a finalidade da realização desse cálculo:
MC = receita das vendas – custos e despesas variáveis.

2. Discorra a respeito do custo de transação, o que é e qual é a sua


importância para a gestão financeira estratégica.

3. O que é um orçamento? Por que dizemos que o planejamento


orçamentário é estratégico para a empresa?

REFERÊNCIAS
HOJI, M. Administração financeira: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2012.
REIS, T. Custo de produção: a contabilidade fundamental de uma empresa. Suno Research,
2018a. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/custo-producao/.
Acesso em: 15 jun. 2020.
REIS, T. As despesas financeiras e sua importância dentro de uma análise contábil. Suno
Research, 2018b. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/despesas-
financeiras/. Acesso em: 15 jun. 2020.
REIS, T. Margem de contribuição: o indicador financeiro das vendas de uma empresa. Suno
Research, 2018c. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/margem-de-
contribuicao/. Acesso em: 15 jun. 2020.
REIS, T. CMV: o que é e como funciona o Custo de Mercadoria Vendida? Suno Research,
2019a. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/cmv/. Acesso em: 15 jun.
2020.
REIS, T. Custos de transação: entenda como eles afetam a lucratividade. Suno Research,
2019b. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/custos-de-transacao/.
Acesso em: 15 jun. 2020.
REIS, T. Orçamento ajustado: como funciona essa forma de controle. Suno Research, 2019c.
Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/orcamento-ajustado/. Acesso
em: 15 jun. 2020.
REIS, T. Orçamento de capital: saiba o que ele representa para uma empresa. Suno
Research, 2019d Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/orcamento-de-
capital/. Acesso em: 15 jun. 2020.

Orçamento, preço e custo 51


4
Decisões, análise de
investimentos e riscos
O estudo para a tomada de decisão, bem como todos os as-
pectos que envolvem a gestão financeira empresarial, ganha uma
nova dinâmica quando engloba a análise de investimentos. Investir
é uma forma fundamental para que a empresa impulsione suas
atividades e gere, de maneira consistente, cada vez mais lucrativi-
dade. Assim, a análise de investimentos ganha força quando estu-
dada com o processo de criação de valor para a empresa, no qual
se leva em consideração a possibilidade do crescimento sucessivo
do empreendimento.
No entanto, para que haja expansão, há exposição ao risco.
Nesse sentido, a gestão financeira estratégica também deve recor-
rer a uma variedade de conceitos e ferramentas para que o agente
econômico esteja cada vez mais seguro, com acesso ao máximo
de informações possível, para a tomada de decisão estratégica.
Por isso, neste capítulo, o intuito é estudarmos algumas formas
de avaliar investimentos, como mensurá-los e, também, os riscos
frequentemente implicados na análise de investimentos e na ges-
tão financeira de forma geral, apresentando, desse modo, como
as empresas valorizam suas atividades por meio da agregação de
valor para além da precificação de produtos e serviços.

4.1 Avaliação de investimentos


Vídeo Para as empresas, investir significa uma forma de direcionar recur-
sos financeiros para gerar mais receita, mais faturamento e melhorar
constantemente o fluxo de caixa. Para investir de modo seguro e prós-
pero, as empresas contam com uma série de ferramentas matemáticas
e computacionais que, a partir de cálculos e análises diversas, direcio-
nam a tomada de decisão dos investidores.

52 Gestão financeira estratégica


Algumas taxas e números são calculados e interpretados pelos ges-
tores financeiros com o objetivo de que a empresa visualize o cenário
possível para que possa fazer as melhores escolhas sobre como, quan-
to, quando e onde investir. Essas avaliações, mesmo com o apoio de
técnicas exatas – os cálculos e as previsões –, devem refletir o contexto
atual do mercado e das organizações, que é de adaptação constante,
de ação e reação, caracterizando as mudanças e o movimento do cená-
rio financeiro. Isso porque, como consequência da globalização, o am-
biente financeiro reflete os cenários da sociedade moderna de maneira
geral, o que envolve todos os âmbitos – política, saúde, educação, tec-
nologia, indústria, comércio – dos aspectos nacionais e internacionais e
os demais que compõem o mundo globalizado.

Dessa forma, precisamos entender conceitualmente esses valores,


mas também matematicamente, aprendendo a calcular, analisar e,
com isso, avaliar os cenários econômicos com base em índices e taxas.
São esses números que influenciam e direcionam as decisões de in-
vestimentos nas empresas. É importante lembrar que, dadas as condi-
ções da sociedade moderna, globalizada e que muda constantemente,
o gestor financeiro decide sempre, considerando os aspectos internos
da empresa – por meio de seus dados, cálculos, ferramentas gerenciais
– e aspectos externos – os elementos do cenário econômico.

Um primeiro número que vamos conhecer é a chamada taxa de tur-


nover, um índice de investimentos que indica a situação geral da em-
presa quando mensura a rotatividade da carteira de investimentos, a
frequência de compra e venda de ativos. Com base nessa taxa, o gestor
financeiro consegue identificar a capacidade da empresa em gerar re-
ceitas por meio de seus investimentos, comparado-as com os valores
de suas dívidas e Patrimônio Líquido. A partir da análise dessa taxa, o
gestor entende quantas vezes a empresa consegue retornar o capital
nela investido. Isso quer dizer que quanto maior a taxa de ­turnover,
mais a empresa consegue valorizar seus próprios ativos e transformá-
-los em mais faturamento.

Para calcular a taxa de turnover de investimentos, podemos utilizar


a seguinte fórmula:

Turnover = receita líquida / (Patrimônio Líquido + dívidas)

Decisões, análise de investimentos e riscos 53


O valor obtido a partir dessa equação mostra que para cada x que sai
do Patrimônio Líquido ou das dívidas da empresa, é gerado y em receita.

Interpretando o valor da taxa de turnover dos investimentos pelo


aspecto financeiro, o valor alto de turnover indica que a empresa está
eficiente tanto no pagamento de suas contas quanto na forma como
capta seus recursos. Pelo aspecto operacional, significa que a empresa
consegue alocar eficientemente os recursos no seu processo produtivo,
diminuindo desperdícios, por exemplo – mostrando que não necessita
de um excesso de investimentos e que o empreendimento é sustentá-
vel operacionalmente. Já na análise pelo aspecto comercial, o turnover
elevado indica que a empresa está sendo capaz de transformar seus
produtos e/ou serviços em vendas e faturamento, aproveitando a pro-
dução e formando poucos estoques.

O que podemos destacar, também, é que o turnover, como ou-


tras taxas e índices de investimento, não aborda todos os aspectos
que caracterizam a decisão de investir, o que, sem dúvida, é natural.
Por isso, contamos com uma variedade de cálculos e ferramentas
que, analisada em conjunto, é essencial no direcionamento da to-
mada de decisão eficiente (HOJI, 2012). Tendo isso em vista, algumas
limitações da taxa de turnover são:
•• não é um índice bom para comparar a efetividade de empresas
de diferentes setores, porque cada empreendimento requer dife-
rentes necessidades;
•• é um cálculo elaborado em um determinado momento, então o
valor dos investimentos pode mudar conforme a necessidade da
empresa e o comportamento do mercado;
•• é uma taxa que não leva em consideração o lucro da empresa,
pois somente a quantidade de vendas não significa que a empre-
sa está sendo necessariamente lucrativa (REIS, 2018a).

Um segundo indicador é o valor presente líquido (VPL), que infor-


ma o quanto a empresa tem de fluxo de caixa no momento presen-
te, considerando a totalidade de entradas e saídas dos recursos
financeiros. Segundo Assaf Neto (2012), a base do cálculo do VPL
é a diferença entre o valor presente do ciclo de caixa e o valor do
investimento inicial – desembolso de caixa – , o que significa dizer
que o VPL mostra como a empresa consegue criar valor por meio da
realização de um determinado investimento.

54 Gestão financeira estratégica


O VPL, então, diz respeito ao valor do dinheiro no tempo, o que
significa que o valor do dinheiro hoje não é o mesmo valor no futu-
ro, e isso quer dizer que é preciso analisar como é possível valorizar
esse dinheiro ao longo do tempo. O cálculo do VPL pode ser feito a
partir da seguinte fórmula:

VPL = FCo+ ∑
n
FCi
(i=1) (1 + TMA)i

O elemento FCo se refere ao investimento realizado pela em-


presa na data de hoje, no presente. Esse investimento pode ser
a compra de uma ação ou a realização de um projeto novo, por
exemplo. Por representar sempre uma saída de caixa, o sinal desse
elemento é sempre negativo. O elemento FCi se refere ao valor do
investimento estimado pela empresa para o próximo período. O
elemento TMA, por sua vez, refere-se à chamada taxa mínima de
atratividade, que indica qual é o custo de levantar o capital inicial
para a realização do investimento na data presente FCo. Quando
esse custo não é identificado, a TMA pode ser o valor dos juros im-
plicados nessa operação de financiamento inicial.

A interpretação do VPL é positiva quando seu valor for positivo,


ou seja, significa que é viável a realização de determinado inves-
timento. Em caso negativo, o cálculo mostra sua inviabilidade. O
VPL sempre mostra ao gestor financeiro qual investimento vale a
pena realizar em detrimento de outro, isto é, apresenta o custo de
oportunidade de se escolher uma alternativa em vez de outra (REIS,
2017e).

Temos, ainda, um terceiro indicador muito utilizado por ser essen-


cial na tomada de decisão dos investimentos: a taxa de retorno, sendo
mais conhecida a denominada taxa interna de retorno (TIR). A TIR indica
com um grau muito considerável de exatidão se um investimento será
rentável no futuro. O cálculo da TIR se dá pela seguinte equação:

n
∑ FCt =0
t=0 (1 + TIR)t

Os elementos que constituem a fórmula de obtenção matemática


da TIR são: t como período de registro de ocorrência do ciclo de caixa
(meses, trimestres, bimestres etc.); FCt, o fluxo de caixa de um determi-

Decisões, análise de investimentos e riscos 55


nado período t; n como número dos períodos analisados; e ∑, que é o
somatório dos fluxos de todos os períodos.

Para analisar a TIR, precisamos conhecer a TMA, isso porque é com


base na comparação entre os valores da primeira com relação à segun-
da que definimos se a TIR indica que o investimento é ou não atrativo. A
taxa mínima de atratividade da empresa frequentemente é o custo de
capital, podendo a TMA ser, por exemplo, a taxa de juros para empres-
tar ou tomar Capital de Terceiros.

Com isso, sabe-se que, se a TIR for maior que a TMA, o investimento
será atrativo; se a TIR for menor que a TMA, o investimento não será
atrativo, porque significa que a rentabilidade de determinado investi-
mento será menor do que a rentabilidade de qualquer investimento
com um mínimo de retorno já definido; e se a TIR for igual à TMA, o
investimento é neutro em relação à atratividade, pois significa que ren-
deria o mesmo valor que uma taxa livre de risco.

A interpretação da TIR, assim como os demais indicadores, apresen-


ta vantagens e desvantagens. As vantagens da TIR são: facilidade de
interpretação; considera a perda de valor do dinheiro no tempo, por
isso traz fluxos futuros de capital para o presente; pode ser utilizada na
comparação entre investimentos, porque se trata de um valor relativo,
como o cálculo do VPL, por exemplo. As desvantagens da TIR são:
•• pode ser que não haja taxa interna de retorno ou que existam di-
ferentes taxas dependendo do tipo de empreendimento existente;
•• é um cálculo com certo grau de dificuldade para ser realizado
manualmente;
•• não serve para empreendimentos que tenham um ciclo de caixa
diferente do convencional.

A TIR é um dos indicadores financeiros mais utilizados e, devido às


suas características, muitas vezes é calculada e analisada por meio de
planilhas eletrônicas e softwares estatísticos (REIS, 2018d).

Outra taxa a ser considerada na avaliação dos investimentos é a


taxa de desconto. Seu cálculo é utilizado para analisar o retorno dos
investimentos, ou seja, é realizado sobre um valor futuro para se saber
qual é o valor equivalente no presente. Assim, a taxa de desconto é cal-
culada para identificar se o retorno de um determinado investimento
será satisfatório ao investidor – ou, melhor dizendo, àquele que dispo-

56 Gestão financeira estratégica


nibiliza o dinheiro. Para a empresa, esse valor pode ser o custo de um
financiamento de origem interna (empréstimos) ou externa, como no
caso de dinheiro dos sócios da empresa (REIS, 2019c).

Uma taxa de desconto conhecida é chamada de custo médio pon-


derado do capital (Weighted Average Capital Cost – WACC), que analisa
a atratividade de um investimento com base no cálculo do retorno es-
perado de determinado investimento. O cálculo do WACC pode ser ex-
presso da seguinte forma:

WACC = E/V * Re + D/V * Rd * (1-Tc)

Os elementos que compõem a fórmula são: Re = custo de capital;


Rd = custo da dívida; E = valor de mercado do patrimônio da empresa;
D = valor de mercado da dívida da empresa; V = E + D = valor total de
mercado do financiamento da empresa (patrimônio e dívida); E/V = por-
centagem de financiamento que é patrimônio; D/V = porcentagem de
financiamento que é dívida; e Tc = taxa de imposto corporativo.

Uma ferramenta muito utilizada pelo mercado para avaliar os


investimentos com relação à sua viabilidade e análise é o cálculo do
payback simples e descontado. O payback é o nome dado ao tempo
que se leva para recuperar o custo de um investimento, o prazo
para que os rendimentos acumulados no tempo se igualem ao va-
lor inicialmente investido. A importância de se calcular o payback
reside na exatidão sobre quanto tempo o agente econômico levará
para recuperar o valor inicial investido.

Nesse sentido, a interpretação do valor calculado para o payback


está diretamente relacionada ao tempo de recuperação do investimen-
to inicial, pois quanto maior esse tempo, maior é o risco envolvido na
realização do investimento, e quanto menor for esse tempo, menor
será o risco e mais atrativo o investimento se tornará. A fórmula para
encontrar o valor do payback é:

Payback = investimento inicial / ganhos no período

Assim, as vantagens de calcular o payback de um investimento são:


•• trata-se de uma ferramenta simples e prática;

Decisões, análise de investimentos e riscos 57


•• por lidar diretamente com o tempo, mostra uma ideia de como
será o futuro da empresa;
•• colabora para a identificação dos graus de risco de determi-
nado investimento.

No entanto, há algumas desvantagens: o valor do payback varia


para cada período analisado e, depois que o capital inicial é recupera-
do em determinado período, o payback passa a não ser mais um bom
indicador (REIS, 2019a).

Um sexto indicador que revela o nível mínimo de rentabilidade que


pode ser estimado como certo para um investimento é a chamada taxa
livre de risco. Essa taxa diz respeito ao valor mínimo de rentabilidade
que o investidor estima receber, com certo grau de certeza, com base
no que foi investido – o capital investido, os juros atrelados à aplicação
desse recurso sem risco.

Para escolher a taxa livre de risco, que norteará o investidor em rela-


ção à escolha de investir ou não (analisando o custo de oportunidade na
tomada de decisão), o agente econômico olhará para o fator físico, geo-
gráfico – uma vez que a taxa livre de risco variará para cada país, porque
um país que proporciona um risco menor ao investidor oferece uma me-
nor taxa –, e olhará para o fator temporal – os projetos que demandam
maior duração de tempo oferecem riscos maiores (REIS, 2019d).

Outro instrumento para avaliar a viabilidade de um investimento é


a taxa mínima de atratividade (TMA), já citada anteriormente neste capí-
tulo por aparecer nos cálculos e nas interpretações de outros índices e
por ser um indicador que mostra o retorno financeiro mínimo que um
investimento deve gerar para que seja viável ­economicamente. A TMA,
além de ser uma rentabilidade percentual, pode ser a taxa mínima de
um empréstimo ou financiamento que o agente econômico tomador
Saiba mais se dispõe a aceitar.
A Selic é a taxa básica de juros
Não se calcula a TMA com uma fórmula. Ela é tomada pelo agen-
da economia. É o principal ins-
trumento de política monetária te econômico com base em algum índice existente na economia – por
utilizado pelo Banco Central exemplo, a taxa básica de juros do Brasil, a SELIC. Dizer que uma TMA
para controlar a inflação. Ela
influencia todas as taxas de é, no mínimo, o valor da SELIC, significa que, para um investimento ser
juros do país, como as taxas viável, no mínimo ele precisa ter uma rentabilidade maior que a dessa
de juros dos empréstimos, dos taxa. Desse modo, para estabelecer uma TMA, levam-se em considera-
financiamentos e das aplicações
financeiras (BCB, 2020). ção alguns aspectos, como o custo de oportunidade, o risco do negócio e
o nível de liquidez de um projeto de investimento (REIS, 2019e).

58 Gestão financeira estratégica


Podemos apontar ainda, sendo o nosso oitavo indicador e ferra-
menta de análise de viabilidade dos investimentos, o retorno sobre o
investimento (ROI), que calcula o rendimento que a empresa pode ­gerar
a partir dos ativos que tem disponíveis. O ROI mede quanto a empresa
ganhou ou perdeu de recursos em um investimento, podendo também
ser utilizado por qualquer agente econômico que queira saber sobre a
eficiência de um investimento em relação a ações, fundos de investimen-
tos, títulos de renda fixa, aquisição de equipamentos, abertura de novos
empreendimentos, capacitação de profissionais, entre outras situações.

O ROI é, por isso, uma ferramenta que pode ser utilizada para dife-
rentes finalidades e é importante por considerar o histórico dos inves-
timentos, o que faz dele um índice essencial para a tomada de decisão,
mas não como indicador de previsão de eventos futuros. Assim, pela
análise do ROI, o agente econômico avalia o desempenho de uma em-
presa quanto à sua aplicação de recursos; traz mais racionalidade para
o processo da tomada de decisões; facilita o planejamento de objetivos
com base na análise de resultados já atingidos, entre outras vantagens.

O cálculo do ROI pode ser feito com a seguinte fórmula:

ROI = (lucro obtido – investimento) / investimento

Uma ressalva a se fazer sobre seu uso é que a análise das op-
ções de um investimento deve ser feita utilizando-se outros indi-
cadores junto ao ROI, isso porque uma avaliação eficiente precisa
levar em consideração outros fatores e variáveis de um ativo, como
setor de atuação (se é o mesmo ou não) e período, isto é, tempo do
investimento, por exemplo.

Com isso, podemos elencar algumas vantagens na utilização do ROI:


•• mensura o tempo que um investimento leva para ser recuperado;
•• é uma medida utilizada em diferentes países, sendo universal;
•• é de fácil interpretação e cálculo, além de permitir a comparação
entre diferentes tipos de investimentos.

Por outro lado, algumas desvantagens do uso do ROI são: não leva
em consideração o risco do investimento; não dispensa a utilização de
outros índices para estimar o retorno de um investimento; e não leva
em conta receitas e gastos de um período futuro, baseando-se apenas
no período corrente (REIS, 2017d).

Decisões, análise de investimentos e riscos 59


Vídeo Outro indicador utilizado pelos gestores financeiros é o retorno so-
Becoming Warren Buffett bre o Patrimônio Líquido (ROE), uma porcentagem que indica a eficiên-
é um documentário clás-
sico para qualquer leitor cia da empresa quanto à sua capacidade de gerar lucros. O ROE pode
interessado no mundo ser calculado quando se chega ao valor do lucro líquido acumulado
dos investimentos. Buffett
é considerado, quase pela empresa no período de 12 meses com relação ao seu Patrimônio
que de maneira unânime, Líquido:
o maior investidor dos
nossos tempos. Com uma
narrativa instigante, a vida ROE = lucro líquido / Patrimônio Líquido
de Buffett é perpassada da
infância até ao dias atuais.

Disponível em: https:// É necessário observar que o valor do Patrimônio Líquido pode ser o
www.youtube.com/ valor dos ativos menos os passivos da empresa, como também o valor
watch?v=PB5krSvFAPY. Acesso em:
27 jul. 2020. que os sócios (acionistas) têm investido em determinado período (REIS,
2017c).

Por medir a forma e o quanto a empresa está gerando de lucro


aplicando recursos, ou seja, sendo eficiente, o ROE é um indicador de
gestão e que também deve ser analisado em conjunto com demais in-
dicadores. Em casos de análise comparativa, devem-se utilizar empre-
sas pertencentes ao mesmo setor.

4.2 Gestão de riscos e incertezas


Vídeo O risco financeiro está associado à perda de dinheiro, à perda de
recursos e capital e está presente em todas as atividades (HOJI, 2012).
Nesse sentido, aprender a lidar com os riscos, bem como evitá-los,
­s­ignifica se precaver a fim de tomar as melhores decisões em relação
às escolhas feitas pelos agentes econômicos. Conforme a empresa atua
em seu mercado, pode evitar ou atrair riscos financeiros por meio das
atividades e das práticas que reverbera. Quando a empresa obtém e
trabalha com informações de baixa qualidade, executa operações com
alto grau de risco – dependendo do investimento que faz –; quando se
expõe às variáveis econômicas como taxa de juros e câmbio sem me-
didas de gestão e se endivida em excesso, por exemplo, está sujeita a
uma variedade considerável de riscos financeiros.

O cálculo do risco financeiro de um empreendimento ocorre


quando se exercita a combinação entre a probabilidade de o risco
ocorrer e o prejuízo que ele pode gerar, de modo a mensurar essa
condição e suas consequências. Dessa maneira, a análise dos riscos

60 Gestão financeira estratégica


é um exercício contínuo devido à tomada de decisão constante no
dia a dia empresarial, tanto com relação às operações financeiras
quanto à realização de investimentos.

Alguns tipos de riscos são o de liquidez, aquele que a empresa sofre


quando não é capaz de cumprir seu passivo financeiro devido a cir-
cunstâncias como a má gestão do capital de giro; outro risco pode ser
o de crédito, quando o credor está vulnerável à possibilidade de não
recebimento; também há o risco de mercado, aquele a que a empresa
está sujeita quando tem ações na bolsa de valores e há oscilações de
preços e cotações, por exemplo (REIS, 2018c).

A gestão financeira e organizacional oferece uma forma de classi-


ficar e administrar os riscos e, dada a necessidade dessa ação no am-
biente empresarial, vamos conhecer algumas classificações. Uma delas
é o chamado rating, que diz respeito a uma avaliação de risco de crédito
atribuída por uma agência de classificação de risco a uma empresa ou
ao governo. O rating mostra quão robusta e sólida é a qualidade finan-
ceira de determinado agente econômico, ou seja, qual é a incapacidade
desse agente em cumprir com seus compromissos financeiros. Essa
nota de risco de crédito não é definitiva, porque a classificação pode
Saiba mais
mudar ao longo do tempo, ao passo que as agências de risco sofrem
modificações conforme as mudanças econômicas acontecem. Alavancagem é uma operação
financeira em que a empresa
As agências de classificação de risco, dessa forma, avaliam diver- aumenta consideravelmente
suas receitas sem aumentar
sos aspectos e fatores econômicos, financeiros e sociais para emitir o
seus gastos ou investimentos
rating de uma empresa ou país: resultados e projeções futuros; a con- na mesma proporção. Nesse
sistência do Balanço Patrimonial; o fluxo de caixa; a taxa de juros; o sentido, a alavancagem está
relacionada ao endividamento
contexto político em que a empresa e o país estão inseridos; o nível de
da empresa em determinado
alavancagem, entre outros. momento, como na busca por
uma alavanca financeira de fato,
O rating é definido por meio da análise aprofundada dos fatores em um empréstimo no banco
e aspectos descritos, englobando todas as informações referentes ao de desenvolvimento, no uso
cenário em que a empresa se encontra. Além disso, o rating pode ser de recursos de terceiros para a
realização de algo no empreen-
de diferentes tipos, por exemplo, analisar a relação entre retorno e ris- dimento, como a expansão
co de um ativo, o chamado rating por grau, que classifica os ativos e de resultados, aumentando o
Patrimônio Líquido. Assim, o uso
os títulos pelo grau especulativo, que, por sua vez, identifica o risco
da alavancagem deve ser feito
da inadimplência; o grau de investimento, títulos e ativos classificados com segurança, planejamento e
com menor grau de inadimplência; e o rating por nota, que classifica o confiança, partindo do pressu-
posto de que essa exposição será
título ou ativo de acordo com os graus de investimento e especulativo,
recuperada pela rentabilidade do
avaliando a relação entre risco e retorno. investimento que será realizado.

Decisões, análise de investimentos e riscos 61


Com o rating, empresas e governos podem avaliar sua nota de risco
e buscar, com isso, uma melhor gestão de dívidas e demais aspectos
que impactam a saúde financeira, buscando mais estabilidade e con-
fiabilidade com níveis mais estáveis na atividade econômico-financeira.

Apesar da importância em conhecer o rating, as agências de classifi-


cação de risco não são isentas de críticas quanto a conflitos de interes-
ses entre grandes agências e suas respectivas avaliações às empresas.
No entanto, o rating é uma ferramenta importante para que investido-
res relacionem os riscos e os retornos de títulos e ativos, o que minimi-
za a assimetria de informações no mercado e facilita os processos de
gestão (REIS, 2019b).

Outra ferramenta utilizada pelo mercado para avaliar e classificar o


grau de risco a que um fundo de investimentos ou um ativo pode estar
exposto é o Value at Risk (VaR). O gerenciamento do risco por meio do
VaR é feito pela quantificação do risco financeiro – dentro de um inter-
valo de confiança, é estimada uma perda máxima potencial que um
investimento pode sofrer em um determinado período.

Desse modo, o valor do VaR será baseado em dois aspectos: no ní-


vel de confiança que um indicador oferece (recomenda-se que seja de
no mínimo 95%) em determinado período analisado; e na possibilidade
de perda, ou seja, o quanto uma carteira de ativos pode perder consi-
derando-se o valor total.

Há duas formas de calcular o VaR. Uma delas se baseia no método


analítico chamado de valor paramétrico, pelo qual utilizam-se estimativas
de rentabilidades: VaR = │R – zẟ │V, em que R se refere ao retorno espe-
rado; z é o valor do nível de significância; ẟ é o desvio padrão de rentabi-
lidade e V, o valor do investimento. Outra forma de calcular o VaR é por
meio da análise dos rendimentos históricos dos retornos, então não se
utilizam hipóteses e estimativas sobre a rentabilidade dos ativos.

Apesar de ser utilizado no mercado como um meio de classificar os


riscos financeiros, o VaR não indica de fato o tamanho da possibilidade
da perda de um retorno porque se baseia em um determinado nível de
confiança, isto é, uma hipótese matemática que pode não se consoli-
dar. Além disso, há outras formas de calcular o VaR, e isso abre possibi-
lidades para diferentes interpretações e resultados divergentes, o que
implica dizer que utilizá-lo em conjunto com demais indicadores é mais
seguro e deve gerar mais eficiência na tomada de decisão (REIS, 2018e).

62 Gestão financeira estratégica


Outra ferramenta utilizada na classificação dos riscos financeiros é
o índice Beta, uma medida de risco que avalia o retorno dos investimen-
tos em relação a previsões de retorno que uma simulação de carteira
diversificada de investimentos poderia gerar em um mercado específi-
co. Para isso, usam-se índices de mercado – como o da bolsa de valores
de São Paulo, o Ibovespa – como base para o cálculo do índice Beta.

A fórmula para calcular o Beta como índice de gestão de riscos é:

Beta = Covariância (Rm, Ri) / Variância (Rm)

Em que Ri é o retorno da carteira e Rm, o retorno do índice do merca-


do. Assim sendo, o valor do Beta mostra quanto o retorno de uma cartei-
ra consegue responder às variações do índice de determinado mercado.
Quanto maior o for Beta de uma carteira, maior será a propensão de
retorno dessa carteira em relação às variações do índice do mercado e,
com isso, maior é o risco sistêmico dessa operação (REIS, 2017b).

Quando uma empresa paga seus acionistas em retribuição por


terem acreditado no empreendimento, isto é, terem investido na
organização, chamamos esse pagamento de dividendos de ações.
Uma companhia de capital aberto tem a opção de pagar dividendos
aos seus investidores conforme o empreendimento gera valor ao
longo do tempo. As empresas que pagam dividendos têm vanta-
gens em comparação àquelas que não pagam por alguns motivos,
como apresentar menor volatilidade, alta rentabilidade e alta gera-
ção de caixa e lucratividade.

A menor volatilidade acontece porque empresas que pagam divi-


dendos tendem a ser mais previsíveis do que as que não pagam, pois
podem pertencer, em maioria, a setores que têm uma demanda em
­continuidade e que não cessa. A alta rentabilidade, por sua vez, está as-
sociada à capacidade que a empresa tem de gerar lucros, dividi-los por
meio dos dividendos e, mesmo assim, continuar crescendo, como em-
presas do setor de fidelidade. A alta geração de caixa e a lucratividade
correspondem à noção de que, normalmente, as ações de dividendos
são mais lucrativas que as outras no longo prazo (REIS, 2017a).

No entanto, a percepção e a gestão do risco também incidem nas


empresas que distribuem dividendos, e alguns aspectos devem ser le-
vados em consideração, como a liquidez, a concentração e o preço das

Decisões, análise de investimentos e riscos 63


Livro
ações. O preço da ação deve ter uma margem de segurança, ou seja,
mesmo que a empresa tenha um bom desempenho operacional, isto
é, lucre bastante, se pagar caro demais por uma ação, dificulta a distri-
buição de dividendos aos acionistas (WAINBERG, 2018).

No que diz respeito à liquidez, o risco que a empresa corre é o da


falta dela, o que pode ocorrer, por exemplo, quando um investidor de
longo prazo não pretende vender suas ações em um período menor de
Uma leitura interessante
para quem busca um
tempo e a empresa precisa de recursos por estar passando por uma
conhecimento mais apro- emergência financeira ao perceber sua deterioração econômica.
fundado sobre a tomada de
decisão empresarial diante Sobre a concentração, o risco é o de que a empresa esteja forte-
dos aspectos financeiros
mente concentrada em algum tipo específico de ação – de algum setor
que perpassam a gestão de
todas as áreas da empresa, em especial, por exemplo –, o que pode levar a uma perda drástica de
de uma forma didática e por
capital caso a empresa erre em suas projeções quanto ao desempenho
meio de uma abordagem
clara sobre situações reais, é de determinada ação. Uma recomendação dos especialistas para mi-
o livro Finanças Corporativas:
nimizar ao máximo o risco de concentração excessiva é que o agente
teoria e prática, de Aswath
Damodaran. econômico, seja ele pessoa física ou de caráter empresarial, não tenha
DAMODARAN, A. 2ª ed. São Paulo: mais que 20% de seu portfólio em uma única ação, sendo indicado que
Bookman, 2004.
o agente diversifique a carteira e, com isso, atue com maior segurança.

4.3 Criação de valor


Vídeo Criar ou agregar valor para a empresa significa dizer que os
produtos e/ou serviços oferecidos por ela são vistos pelos clientes
como diferenciados se comparados aos produtos e serviços oferta-
dos por outras companhias. Agregar valor significa fazer com que
o cliente crie significado, valor, na compra de determinado produto
ou serviço, para além do valor pago pelo cliente, o que chamamos
de preço. ­Quando a empresa consegue agregar valor nesse sentido,
consegue também abertura para aumentar os preços ao longo do
tempo, gerando mais lucratividade.

O preço serve como referência para a clientela e normalmente


segue as leis de oferta e demanda que permeiam o mercado, mas
também variam de acordo com a necessidade, os gostos e demais
aspectos que influenciam o porquê, o quando e a quantidade que as
pessoas compram. Dessa forma, os preços são formados pelas em-
presas com base na comparação com preços de concorrentes, na ca-
pacidade aquisitiva do público-alvo, na margem de lucro prevista pelo

64 Gestão financeira estratégica


agente econômico e pela análise do custo de produção ou aquisição, Livro
ou seja, o preço pode ser estabelecido levando-se em consideração
aspectos internos e externos à empresa.

O valor, por sua vez, é um conceito amplo, subjetivo e que é discu-


tido de diferentes formas pelas áreas do conhecimento, já que indiví-
duos atribuem valor de acordo com suas necessidades, seus desejos,
suas expectativas, entre outros fatores. O valor está muito mais relacio-
nado à satisfação do cliente para com determinado produto ou serviço,
por isso as empresas buscam incessantemente aprimorar suas estra- Para aqueles que se fascinam pelo
tégias e melhorar a satisfação da sua clientela. Por essa perspectiva, mundo dos negócios, especialmente
pela história do dinheiro e sua
entendemos por que o fato de algo ser caro ou barato pode ser muito trajetória transformadora na vida
distinto entre as pessoas, uma vez que essa classificação dependerá de das pessoas e das empresas por
todo mundo, o livro A ascensão do
vários aspectos que não são necessariamente explícitos. dinheiro: a história financeira do
mundo, do autor Niall Ferguson,
Quanto mais valor as empresas conseguem atribuir aos seus pro- é uma excelente leitura. A obra é
dutos e serviços, maior vantagem competitiva ela gera em comparação interessante para entender o poder
do fator econômico em crises,
aos seus concorrentes, pois consegue elevar seus preços, aumentar a expansões e demais acontecimentos
oferta e demanda, gerando mais lucratividade (REIS, 2018b). que caracterizam a história do
dinheiro.
Para a empresa de capital aberto – aquela que tem ações –, criar ou
FERGUSON, N. São Paulo: Crítica,
agregar valor significa apresentar ao acionista uma rentabilidade maior 2017.
que o custo de capital; melhor dizendo, a empresa deve remunerar o
investidor para além do retorno esperado pelo capital investido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise de investimentos, assim como a gestão de riscos e incer-
tezas e a criação de valor, são aspectos diretamente relacionados na
gestão financeira empresarial. Assim, de maneira geral, é fundamental
para as empresas e os agentes econômicos conhecer as possibilidades
de investir e, com isso, gerar lucros e expandir o empreendimento. Co-
nhecer os tipos de investimentos, como mensurá-los, conhecer os ris-
cos e como minimizá-los, bem como entender sobre como as empresas
criam valor em um mercado cada vez mais competitivo é essencial na
maximização da eficiência da gestão empresarial.

Por isso, a gestão do risco aparece como ferramenta gerencial in-


dispensável para dar sustentação ao processo de investir. Quando
realizada de modo eficiente, a avaliação de investimento e a tomada
de decisão facilitam o processo de criação e agregação de valor pelas

Decisões, análise de investimentos e riscos 65


empresas. Essas considerações confirmam, de maneira clara, que a ad-
ministração financeira estratégica possui um arcabouço conceitual e
ferramental que, quando utilizado em conjunto, fornece diversas possi-
bilidades de ação e decisão para os gestores e os agentes econômicos.

ATIVIDADES
1. Qual é a importância da avaliação de investimentos?

2. Explique os tipos de riscos financeiros.

3. No que consiste a criação de valor para as empresas?

REFERÊNCIAS
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BCB. Taxa Selic. 2020. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/taxaselic.
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HOJI, M. Administração financeira: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 2012.
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REIS, T. Velos Presente Líquido: entenda como calcular e usar o VPL. Suno Research, 2017e.
Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/valor-presente-liquido/. Acesso
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REIS, T. O que é a taxa de turnover de investimentos de uma empresa?. Suno Research,
2018a. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/turnover/. Acesso em:
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REIS, T. Preço e valor: entenda de uma vez a diferença desses dois conceitos. Suno Research,
2018b. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/preco-valor/. Acesso em:
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REIS, T. Riscos financeiros: entenda a importância de conhecê-los. Suno Research, 2018c.
Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/riscos-financeiros/. Acesso em:
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REIS, T. TIR: apresenta a analisar investimentos utilizando a Taxa Interna de Retorno. Suno
Research, 2018d. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/taxa-interna-
de-retorno/. Acesso em: 29 jul. 2020.

66 Gestão financeira estratégica


REIS, T. Value at Risk (VaR): uma ferramenta para gerenciar o risco em investimentos. Suno
Research, 2018e. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/value-at-risk/.
Acesso em: 29 jul. 2020.
REIS, T. Payback: entenda como calcular o prazo de retorno de um investimento. Suno
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REIS, T. Rating: o que é e como funciona essa classificação de risco?. Suno Research, 2019b.
Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/rating/. Acesso em: 29 jul. 2020.
REIS, T. Taxa de desconto: entenda como funciona esse tipo de cálculo. Suno Research,
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Research, 2019d. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/taxa-livre-de-
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REIS, T. TMA: entenda o que é a Taxa Mínima de Atratividade e como calculá-la. Suno
Research, 2019e. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/taxa-minima-
de-atratividade/. Acesso em: 29 jul. 2020.
WAINBERG, R. Gestão de riscos: descubra os 3 grandes perigos para o investidor. Suno
Research, 2018. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/gestao-de-
riscos/. Acesso em: 29 jul. 2020.

Decisões, análise de investimentos e riscos 67


5
Estratégias corporativas
e planejamento
Quando falamos em estratégias corporativas e planejamento,
estamos nos referindo a uma grande variedade de opções que
os gestores organizacionais podem acessar a fim de otimizar a
eficiência na tomada de decisão estratégica. Isso porque o en-
tendimento da empresa como parte de um todo, em constante
transformação e expansão, passou a exigir dos estudiosos e agen-
tes atuantes na área corporativa, cada vez mais, conhecimento
teórico-prático no tocante a novas ferramentas e alternativas de
análises para a tomada de decisão.
Nesse sentido, este capítulo aborda conceitos, aspectos e
elementos econômico-financeiros que interferem diretamente
nas decisões que são tomadas pelos gestores, especialmente em
relação à administração financeira das empresas. Esses elemen-
tos e aspectos abrangem tanto o ambiente econômico externo
à empresa, que dá contorno a sua estrutura, quanto os diversos
indicadores e variáveis de análise internos, que dão sustentação
para a tomada de decisão. Além disso, são apresentadas, com
base em uma definição de estratégia, formas e processos da ad-
ministração estratégica que levam a empresa à busca constante
por melhoria e desenvolvimento.

5.1 Finanças corporativas


Vídeo O tema das finanças corporativas está contido na evolução da socie-
dade contemporânea e se relaciona com as mudanças no arcabouço
conceitual, bem como nos métodos de avaliação das empresas. Con-
forme se consolidaram as transformações da sociedade moderna, o
administrador financeiro passou a ter mais atribuições e responsabi-

68 Gestão financeira estratégica


lidades, sendo cada vez mais exigido em suas funções, o que conse-
quentemente demandou dele mais especialização.

No contorno das finanças corporativas temos a chamada governan-


ça corporativa – que teve seu crescimento após a expansão do mo-
vimento de globalização pelo mundo –, marcada pelo crescimento da
interconectividade dos mercados, do aumento da complexidade das
operações financeiras, do aumento dos riscos e, por isso, da maior ne-
cessidade de controle e gestão.

Essas transformações fizeram com que a governança corporativa Saiba mais


trouxesse para a pauta das empresas temas como ética empresarial, Stakeholders são grupos ou
transparência entre as organizações e seus stakeholders bem como indivíduos que, de alguma
forma, participam das atividades
sustentabilidade e responsabilidade. Isso implica dizer que a gover-
desenvolvidas ou vinculadas a
nança corporativa voltou o olhar da empresa para uma diversidade determinada empresa, impac-
de novas responsabilidades, que, ao mesmo tempo, têm como obje- tando nos objetivos dela. Nesse
sentido, stakeholders buscam se
tivo agregar valor econômico para a empresa, remunerando o capital beneficiar da empresa e auxi-
de risco e atraindo investidores, ao passo que beneficia os stakehol- liá-la a atingir seus objetivos de
ders e a sociedade como um todo. algum modo, pois fazem parte
do que a empresa é, do que ela
Com a evolução da administração financeira e as responsabilidades busca e do ambiente em que
atua. Exemplos de stakeholders
das empresas se tornando gradativamente intensas, no que diz respeito
são: acionistas, fornecedores,
ao gerenciamento dos recursos na busca pelas metas estabelecidas e à clientes, governo, funcionários,
saúde financeira e econômica em longo prazo, os administradores finan- entre outros (NETO, 2012).
ceiros ganharam ainda mais relevância, principalmente diante de cenários
como a escassez de capital no mercado e o aumento das taxas de juros.

A taxa de juros ou os juros propriamente ditos se referem à pre-


ferência temporal de indivíduos, empresas ou governo em consumir
determinados bens ou serviços no presente e no futuro. Isso quer dizer
que os agentes, quando postergam seu consumo, esperam uma re-
compensa pelo sacrifício que fizeram em poupar, e é esse esforço que
chamamos de juros (NETO, 2012). Quanto maiores forem as oscilações
econômico-financeiras, maiores serão as variações de escolhas dos
agentes em relação a postergar ou não o consumo e, por isso, maiores
serão as modificações nas taxas de juros também.

Nesse cenário de mudanças, a tomada de decisão sobre a aplicação


de recursos, definição de projetos e interpretação de modelos finan-
ceiros exige do administrador financeiro, além da capacitação técnica
e especializada, uma visão estratégica que atue de maneira sinérgica
para com o futuro dos negócios.

Estratégias corporativas e planejamento 69


Dessa forma, quando falamos das finanças corporativas no ambien-
te empresarial, a gestão financeira tem como foco algumas funções
essenciais que dizem respeito ao planejamento financeiro, ao controle
financeiro e à administração de ativos e passivos. Por meio do planeja-
mento financeiro, o gestor pretende identificar e trabalhar com as ne-
cessidades de expansão do empreendimento, assim como selecionar
quais ativos devem ser mais rentáveis para a empresa, isto é, buscar
estabelecer a melhor rentabilidade para os investimentos. O controle
financeiro, por sua vez, permite ao gestor acompanhar e administrar
o desempenho financeiro, analisando desajustes e fazendo previsões,
ajustando-os ao longo do tempo.

Com a administração de ativos, o gestor estuda continuamente quais


são as melhores opções de risco e retorno dos possíveis investimentos,
realizando também a gestão de capital de giro, fator primordial que
demonstra a saúde financeira do caixa da empresa. A administração de
passivos, por fim, é outra função primordial da gestão financeira corpo-
rativa, em que se estudam as opções de financiamento, a redução de
custos, o aumento da liquidez e a administração dos riscos em relação
ao gerenciamento dos fundos de financiamento.
Saiba mais
Assim, com base nessas quatro funções essenciais da administra-
Os dividendos se referem à ção financeira, as empresas passam a ser avaliadas mediante duas
distribuição de parte dos lucros
aos acionistas da empresa. A principais decisões: a maneira como tomam as decisões sobre investi-
decisão de distribuir os dividen- mentos, isto é, como aplicam recursos; e o modo como decidem finan-
dos é tomada pelos gestores,
ciamentos, ou seja, como captam recursos. Além disso, uma terceira
com base na análise do custo de
oportunidade existente entre a decisão implica a alocação dos resultados líquidos das empresas: a de
decisão de distribuir os recursos dividendos, que é uma forma específica e alternativa de a empresa fi-
aos acionistas ou manter esses
nanciar suas atividades.
recursos retidos para que a
empresa agregue mais valor aos As decisões financeiras de investimento e financiamento, desse
seus negócios.
modo, devem ser tomadas de maneira integrada, já que representam
duas importantes áreas de decisão das empresas, assim como a prá-
tica da distribuição de dividendos – na implicação entre a decisão de
financiamento perante capital próprio, ao reter resultados, ou perante
capital de terceiros, ao distribuir resultados – deve ser, também, inte-
grada por meio do que se justifica ser mais benéfico para a empresa.

Outro aspecto essencial a ser considerado no estudo das decisões


financeiras é o ambiente inflacionário. A inflação é provocada quando
o poder aquisitivo da moeda é corroído ao longo do tempo, ou seja,

70 Gestão financeira estratégica


há uma diminuição do poder de compra da moeda. A inflação é uma
ocorrência frequente em diversas economias do mundo, devido às va-
riações recorrentes nos índices gerais de preços delas.

Um problema especial causado pela inflação é a forma desigual com


que atinge os agentes econômicos, pois aqueles que detêm mais rique-
za são menos atingidos pela perda de valor da moeda e, com isso, so-
frem menor perda do poder de compra. Sobre as finanças corporativas,
especificamente, quando a inflação não é devidamente considerada, os
resultados previstos podem ser distorcidos, tornando as decisões pre-
cárias, o que incorre em risco de perda do empreendimento.

Desse modo, podemos citar, dentre as consequências da inflação,


a descaracterização dos valores patrimoniais da empresa e valoriza-
ção de outros valores, dando a impressão de um cenário de possíveis
compensações que não será verdadeiro. Esse processo vai se tornando
complexo e contínuo à medida que a desvalorização da moeda vai cau-
sando distorções dos valores financeiros. A problemática inflacionária,
nesse sentido, deve estar sempre presente na elaboração dos modelos
Livro
financeiros, como na projeção do lucro empresarial, porque os valo-
res estimados estarão comprometidos caso as variáveis de perda da
moeda não sejam consideradas nos cálculos.

Outros aspectos importantes quanto à tomada de decisão com rela-


ção às finanças corporativas são, por exemplo, os objetivos da empre-
sa e a concentração de capital. Os objetivos podem envolver aspectos,
como: a maximização da riqueza e do lucro, a melhoria do valor de
mercado – foco na expansão da riqueza dos acionistas –, o ambiente
Para aqueles que se
financeiro e o valor da empresa, que são sempre fatores analisáveis,
interessam pelas trans-
assim como a responsabilidade social. formações incessantes
da sociedade moderna,
Da mesma forma, a concentração de capital da empresa – no que especialmente no que se
diz respeito à organização das ações no mercado e às suas formas de refere à estrutura e aos
objetivos das empresas
gestão – impacta a eficiência de mercado de capitais e, por isso, é es- atuais, o livro Finanças
sencial para a tomada de decisão. para Startups: o essencial
para empreender, liderar e
O que podemos concluir com essas considerações é que as de- investir em startups é uma
opção essencial para o
cisões financeiras se baseiam em pressupostos que sustentam a entendimento dessa nova
adoção de diferentes modelos. Com a evolução das finanças, em forma de organização
empresarial, as startups.
conceitos e práticas, a administração financeira vem se tornando
LOSADA, B. São Paulo: Saint Paul,
cada vez mais consistente diante de uma vasta possibilidade de 2020.
propostas (NETO, 2012).

Estratégias corporativas e planejamento 71


No entanto, é importante evidenciar que as decisões devem ser
tomadas não apenas com base em pressupostos e modelos exatos,
mas conforme se apresenta o ambiente econômico, tentando ao má-
ximo aproximar as projeções da realidade das empresas em seus ce-
nários de atuação. Isso quer dizer que aspectos restritivos – como a
ausência de crédito e ineficiência de recursos, por exemplo – limitam
a capacidade de crescimento e competitividade das empresas e, nessa
situação, é preciso criar e adaptar alternativas de ação.

Desse modo, dadas as limitações e dificuldades que podem vir a


interferir no processo decisório, as empresas devem trabalhar com as
decisões de financiamento, investimento, concentração e distribuição
de capital, bem como lidar com a taxa de juros, os aspectos inflacioná-
rios, entre outras situações, na busca da sua estabilidade financeira e
da continuidade do negócio.

5.2 Análise financeira e de tendências


Vídeo A análise financeira pode ser entendida como o acompanhamento
da saúde das finanças da empresa, sendo essencial para a gestão do
empreendimento, porque vai além do estudo do caixa, da liquidez e da
análise de investimentos, por exemplo. Esses são alguns aspectos que,
juntamente com uma diversidade de variáveis, estruturam a vida finan-
ceira e, quando acompanhados de modo eficaz, permitem à empresa
um crescimento e desenvolvimento sustentáveis ao longo do tempo.

Com isso, a análise financeira possibilita a visualização de aspectos


que precisam de melhorias, setores que estão desajustados, gastos em
excesso, investimentos que não dão retorno, entre outros pontos que,
quando identificados e passíveis de correção, permitem uma realocação
mais eficiente de recursos e impulsionam a empresa na direção da reali-
zação de suas atividades nas melhores condições possíveis.

Dessa maneira, podemos pensar em alguns aspectos essenciais da


análise financeira para que, posteriormente, possamos entender como
diferentes formas de análise podem ser utilizadas na empresa, sendo
benéficas a ela, e, com base nisso, como identificar e trabalhar com
algumas tendências de mercado.

Alguns indicadores fundamentais da análise financeira podem ser,


segundo Reis (2018b):

72 Gestão financeira estratégica


•• capital circulante: indica o quanto de valor a empresa tem, levan-
do em consideração o dinheiro e os estoques e descontando to-
das suas obrigações em um determinado período;
•• prazo médio de recebimento: refere-se ao tempo em média que
a empresa leva para receber por suas vendas;
•• rentabilidade sobre as vendas: mostra o quanto a empresa lucra
com suas atividades;
•• endividamento: demonstra o quanto a empresa tem de dívidas
em comparação com o quanto ela tem para quitá-las;
•• liquidez: apresenta o quanto e como o empreendimento con-
segue se manter e sua capacidade de quitar obrigações em
determinado período.

Esses indicadores apontam para o caminho onde poderia se iniciar


uma análise financeira eficaz, na medida em que permitem ao gestor
acessar dados e interpretá-los na tomada de decisão para o bom fun-
cionamento do empreendimento. No entanto, esses fatores não são os
únicos, pois a análise contábil, com sua infinidade de informações e va-
riáveis, também é importante e compõe o cenário de uma gestão finan-
ceira eficiente – tal como no que diz respeito aos custos e às receitas.

Outros indicadores financeiros e suas respectivas análises devem


ser levados em consideração conforme o gestor avalia a saúde financei-
ra da empresa. No caso da decisão pelos investimentos, por exemplo,
o gestor financeiro deve olhar para aspectos, como: a liquidez corrente
– indicador em curto prazo dos recebimentos da empresa em um ano,
em relação ao quanto ela deve pagar nesse mesmo período –; indica-
dores de margens – demonstram o lucro em percentagem para cada
venda líquida efetuada pela empresa –; dívida líquida – retrata, por meio
da análise do fluxo de caixa, qual a dívida líquida da empresa no período
de um ano –; e o retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) – valor que
representa o cálculo obtido da divisão do lucro de um ano da empresa
pelo seu Patrimônio Líquido –, sendo que, quanto maior for esse valor,
mais rentável se caracterizará o empreendimento (REIS, 2018a).

Já para analisar o desdobramento de uma decisão futura, as em-


presas utilizam o recurso da modelagem financeira para direcionar a
tomada de decisão a respeito de um projeto. Com a modelagem, os ges-
tores conseguem elaborar projeções de cenários futuros com base nos
cenários atuais, mediante um conjunto de pressupostos. Por meio da

Estratégias corporativas e planejamento 73


construção de um modelo matemático, que tende a representar a rea-
lidade do mercado financeiro, o gestor consegue projetar os possíveis
investimentos para a empresa, tanto em curto quanto em longo prazo.

As planilhas de Excel, ferramenta mais comumente utilizada entre


outros softwares, dão base para a elaboração dos modelos, de acor-
do com o planejamento estratégico elaborado pelo gestor para atingir
seus objetivos, em que os dados da empresa são analisados em con-
junto com os indicadores econômicos.

Nesse sentido, a modelagem financeira é uma ferramenta de análise


para a tomada de decisão que, segundo Reis (2019), tem como objetivos:
•• avaliar se o cenário que se projeta é consistente e sustentável;
• • representar o valor da empresa para possíveis investidores
e compradores;
•• melhorar o gerenciamento de riscos dos investimentos e, com
isso, a estrutura e a dinâmica da organização também.

Além disso, a modelagem financeira serve para que a empresa con-


siga: arrecadar mais recursos; adquirir ativos ou outros negócios; ex-
pandir o empreendimento, abrindo novas lojas ou atuando em outros
mercados; elaborar a previsão orçamentária, especialmente em longo
prazo; dar prioridade para a alocação de capital em projetos que te-
nham maior potencial de crescimento; e fazer comparações entre em-
presas do mesmo setor – estudo dos concorrentes, por exemplo. Essa
modelagem também pode ser utilizada como projeção antecipada do
desempenho das ações da empresa, quando for o caso, dependendo
de quais eventos futuros possam ocorrer (REIS, 2019).

Outros dois tipos de análises financeiras são as chamadas horizontal


e vertical, que dão base para entender como o negócio evolui ao longo
do tempo e são frequentemente utilizadas pelos gestores das empre-
sas e investidores. As análises vertical e horizontal têm como objetivo
entender como as operações da empresa variam no decorrer do tempo,
isto é, na dinâmica do negócio. Na análise vertical, busca-se entender
qual é o percentual de cada setor da empresa em seus resultados. Já
na análise horizontal, pretende-se compreender como os resultados da
empresa evoluem ao longo do tempo (REIS, 2018c).

Vamos exemplificar o que seria uma análise vertical. Partindo de um


demonstrativo de resultado da empresa X e focando, neste exemplo,

74 Gestão financeira estratégica


apenas o valor da sua receita líquida em três diferentes localidades de
atuação, regiões que chamaremos de A, B e C, vamos analisar, então,
qual o percentual de cada setor nos resultados dessa empresa.

Considerando as receitas líquidas obtidas pela empresa X no


primeiro trimestre do ano de 2019, nas três regiões, temos: na lo-
calidade A, uma receita líquida de 480 milhões de reais; na B, de
245 milhões; e na C, de 160 milhões. Para calcularmos o percentual
de participação de cada local nos resultados finais da empresa X,
temos que dividir a receita líquida de cada região pela receita lí-
quida total da empresa no período analisado e, ao multiplicar esse
valor por 100, teremos o percentual.

A receita líquida total da empresa X no primeiro trimestre de 2019


será, então, a soma das receitas das regiões A, B e C: 480 + 245 + 160
= 885 milhões de reais. Com todos os valores necessários, podemos,
enfim, calcular o percentual de cada região no resultado final da
empresa X. Para a região A: (480 / 885) * 100 = 54,23%. Para a região B:
(245 / 885) * 100 = 27,68%. Para a região C: (160 / 885) * 100 = 18,07%.

Para efetuarmos a análise vertical, dessa forma, não basta apenas


calcularmos os valores, mas interpretarmos o que significam para a Livro
empresa X. Os valores calculados nos indicam que a região A é bastan-
te significativa para essa empresa no que se refere a valores de ven-
das, por exemplo, já que mais de 50% da receita líquida da empresa X
é atribuída à localidade A. Se pensarmos nas regiões B e C, conjunta-
mente, ao somá-las percebemos que a empresa X tem mais de 45%
de sua receita nesses locais, o que implica dizer que há uma parcela
de mercado bastante significativa e que, caso essas regiões sejam em
outros países, a empresa X pode ter ganhos importantes com a va- Um livro considerado
lorização de determinadas moedas ou, caso contrário, perdas signi- por muitos como um dos
melhores quando se fala
ficativas com a desvalorização. Além disso, se acontecer de uma das da obtenção de sucesso
regiões ser instável economicamente ou mesmo susceptível a crises nos negócios é Iludidos pelo
acaso: a influência da sorte
políticas, a empresa X deve se preocupar, pois ambas representam nos mercados e na vida. A
grande parte de suas vendas (REIS, 2018c). ideia do autor se dá na
quebra da idealização de
Para a análise horizontal, no entanto, devemos olhar para as Recei- que tudo no mundo dos
negócios acontece por
tas Líquidas da empresa X ao longo do tempo, comparando-as em cada razões definidas e, com
período nas diferentes regiões. Caso a receita líquida tenha crescido isso, a leitura se torna ins-
piradora e surpreendente.
mais na região A, por exemplo, é preciso interpretar o motivo dessa ex-
TALEB. N. N. São Paulo: Objetiva, 2019.
pansão – como no caso desse local ter sofrido uma expansão de consu-

Estratégias corporativas e planejamento 75


mo interno, o que impactaria o aumento das vendas e o crescimento da
receita em determinado período. Esse crescimento também pode estar
relacionado a um melhor posicionamento da marca da empresa X na
região A, aumentando as vendas. Já uma receita em queda em alguma
região, como na B, pode expressar impactos de uma recessão econô-
mica, entre outros fatores (REIS, 2018c).

Essas considerações são exemplos de como as análises vertical e


horizontal, com base no demonstrativo das receitas líquidas em de-
terminados períodos, podem orientar a tomada de decisão do gestor
financeiro. Ainda assim, existem vários outros dados com valores es-
senciais para a análise financeira, que consideram os aspectos contá-
beis e demais fatores que estruturam o Demonstrativo de Resultado
do Exercício (DRE), fluxo de caixa, entre outras ferramentas de gestão.

5.3 Avaliação e planejamento estratégico


Vídeo Por que o estudo da estratégia é importante? Para respondermos
a essa pergunta, temos que pensar no processo de administração es-
tratégica como fundamental para a sustentação das empresas, princi-
palmente no contexto globalizado e de constantes transformações em
que estamos inseridos. Além disso, estudantes de uma vasta diversi-
dade de áreas serão os futuros gestores e estrategistas das inúmeras
empresas ao redor do mundo.

Para além dessa consideração, a administração estratégica fornece


ferramentas importantes de gestão, como aquelas que levam as em-
presas a garantir suas vantagens competitivas. A maioria das empresas
possui estratégias voltadas para suas vantagens competitivas, portanto
aquelas que não as têm proporcionam aos gestores eficientes poucos
espaços de atuação e, com isso, eles se limitam em suas atividades e
em seu desenvolvimento ao longo do tempo.

Outrossim, a administração e o planejamento estratégicos não


estão necessariamente vinculados às grandes empresas. Muito con-
trariamente, são essenciais para a gestão de empreendimentos de
qualquer dimensão, ao passo que pessoas capacitadas se tornam
gestores conforme escolhem e implementam as estratégias mais
convenientes para seus empreendimentos.

76 Gestão financeira estratégica


Um dos entendimentos do que é estratégia, o qual vamos especi-
ficar aqui, é que ela, em uma empresa, se configura na forma como
esta ganha vantagens competitivas. Falamos que se refere a um dos
entendimentos, porque podemos entender estratégia como um con-
ceito polissêmico, ou seja, que possui diferentes significados e pode
ser empregada em diversos contextos. Até mesmo dentro dos estu-
dos de administração e economia, bem como no assunto que trata-
mos neste tópico – em relação à administração estratégica e avaliação
para a tomada de decisão –, poderíamos trabalhar com uma varieda-
de de abordagens estratégicas.

Porém, a fim de que tenhamos foco sobre como a gestão estratégi-


ca das empresas está muito vinculada na forma como capta e expande
os recursos em um mercado cada vez mais complexo e competitivo,
trataremos a estratégia da empresa como aquela capaz de fazer com
que a empresa crie e mantenha vantagens diante de sua concorrência.

Isso significa dizer que o processo de gestão estratégica tem como


finalidade concretizar as vantagens competitivas – em outras palavras, a
empresa tem vantagem competitiva quando é capaz de criar valor eco-
nômico acima do que criam suas concorrentes. Esse valor econômico
diz respeito à diferença entre os benefícios percebidos pelo consumi-
dor dos custos econômicos totais que a empresa tem em desenvolver
e vender os bens e serviços adquiridos por esse consumidor. Ou seja,
quanto mais essa diferença for positiva e os benefícios percebidos pelos
consumidores superarem os dispêndios da empresa na produção e dis-
tribuição, maior será a vantagem competitiva (BARNEY; HESTERLY, 2011).

A vantagem competitiva, nesse sentido, pode se configurar como


sustentável ou temporária, da mesma forma que ocorre com a des-
vantagem competitiva. Quando uma empresa cria um valor econômico
igual ao de suas rivais, temos uma paridade competitiva; quando ela
cria um valor inferior, há uma desvantagem competitiva. Duas medidas
são significativas em relação à vantagem competitiva das empresas:
o desempenho financeiro e o desempenho econômico. O primeiro se
refere aos recebimentos e perdas das empresas por meio de índices de
lucros e dispêndios, que são utilizados na comparação com o desempe-
nho financeiro de outras empresas. O segundo, no entanto, compara o
quanto a empresa tem de retorno no que diz respeito ao seu custo de

Estratégias corporativas e planejamento 77


capital, isto é, o desempenho econômico mede a taxa de retorno que a
empresa se propôs a entregar para seus investidores no intuito de que
eles investissem na empresa (BARNEY; HESTERLY, 2011).

O processo de administração estratégica é uma forma da empre-


sa determinar a estratégia que quer seguir, com base num conjunto
de análises e decisões que a levem a obter vantagens competitivas.
O início do processo de administração estratégica pode ser entendi-
do quando a empresa identifica sua missão, sua finalidade em longo
prazo. Por meio dos objetivos estabelecidos, as empresas conseguem
avaliar se estão conseguindo alcançar a missão estabelecida.

Outro aspecto fundamental do planejamento estratégico é quan-


do a empresa passa a mapear seus ambientes interno e externo,
estabelecendo, para o interno, suas forças e fraquezas organizacio-
nais e identificando, para o externo, suas oportunidades e ameaças.
Com essa ferramenta de mapeamento, o gestor consegue fazer uma
escolha estratégica.

Ameaças podem ser, por exemplo, os chamados novos entran-


tes – empresas que iniciam suas atividades em determinado setor ou
ameaçam entrar no mercado e passam a concorrer com aquelas ali já
estabelecidas. Barreiras à entrada, por sua vez, são atributos que um
setor tem e que dificultam a entrada de qualquer organização, ou seja,
exercem resistência às empresas entrantes. Quanto maior for o custo
de uma empresa em entrar em determinado setor, maior será essa
barreira. Um exemplo de barreira à entrada são as economias de esca-
la, em que uma organização consegue diminuir seus custos em função
do aumento da quantidade que produz.

A diferenciação de produtos e serviços também se caracteriza como


uma barreira, assim como as vantagens de custos independentes. Além
disso, são exemplos de barreiras à entrada: a adoção de determinadas
tecnologias ou o desenvolvimento de tecnologias próprias; o chamado
know-how gerencial, isto é, o conhecimento e informações extremamen-
te relevantes de determinadas empresas de setor específico; o acesso
facilitado de matérias-primas pelas empresas estabelecidas; as van-
tagens de custo em processos de aprendizagem das empresas es-
tabelecidas; e até mesmo as políticas governamentais que possam

78 Gestão financeira estratégica


dificultar entradas de empresas em determinados setores, como as Livro
regulamentações específicas.

Ameaças podem ser relacionadas a empresas que se configuram


como substitutas, conforme os produtos e serviços que oferecem, as-
sim como o acesso aos fornecedores e compradores. No entanto, as
forças podem ser: oportunidades de se consolidar em determinados
setores, chamados de fragmentados por se caracterizarem por empre-
sas pequenas ou de médio porte; e chances de a empresa ser pioneira
em setores emergentes, por exemplo, por meio de liderança tecnológi- Um livro clássico do
ca, pela posse de ativos com valor significativo de mercado, na criação planejamento estratégico
na área de administração
de mudanças para o consumidor, entre outras. é Safári da estratégia: um
roteiro pela selva do plane-
Há, também, uma forma de classificar a estratégia em duas: a estra-
jamento estratégico. Neste
tégia a nível de negócios, que se refere à liderança em custos e diferen- livro, os autores deter-
minam a importância da
ciação de produtos, e a estratégia a nível corporativo, que diz respeito à
estratégia, bem como
integração vertical, aliança estratégica, diversificação, fusão e aquisição os diferentes aspectos e
formas em que ela pode
(BARNEY; HESTERLY, 2011). Ou seja, por meio da adoção de diferen-
ser desenvolvida, em
tes ferramentas, de acordo com a necessidade que o gestor estabelece uma narrativa expressi-
vamente didática, tanto
para a empresa, notamos as possibilidades de tomada de decisão e os
para alunos quanto para
diferentes caminhos que a administração estratégica oferece. interessados no universo
da gestão.
Nesse sentido, com as avaliações dos gestores, diante da escolha es-
MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.;
tratégica, tem-se o processo de implementação, o que implica em proje- LAMPEL, J. Porto Alegre: Bookman,
tos de remuneração para as estratégias corporativas, políticas de controle 2010.

gerencial e decisões sobre as estruturas organizacionais.

É importante destacar, como visto, que o processo de gestão estra-


tégica, em relação à avaliação, tomada de decisão e implementação,
não acontece necessariamente por meio do uso de todas essas fer-
ramentas, em determinado período de tempo e de maneira concomi-
tante. A estratégia pode acontecer conforme os gestores se deparam
com as questões a serem resolvidas e mudanças imprevistas, tanto em
relação aos aspectos internos quanto aos externos à empresa.

É por esse motivo que entendemos a administração estratégica


como um modo de se fazer estratégia por meio da obtenção de vanta-
gens competitivas, podendo ser considerada uma forma de se realizar
uma gestão organizacional, haja vista a infinidade de ferramentas, pro-
cessos e demais aspectos que envolvem o mundo das organizações.

Estratégias corporativas e planejamento 79


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando os conceitos, indicadores, tipos de análises, processos
de administração estratégica e demais aspectos e elementos apresentados
neste capítulo, podemos entender a importância do conhecimento sobre o
tema do planejamento estratégico no mundo organizacional. As empresas,
por meio de sua estrutura de gestão, se organizam e buscam, constante-
mente, se estabelecer em seus mercados e desenvolver seus negócios.
Com isso, percebemos a necessidade de conhecer as ferramentas or-
ganizacionais, especialmente no que se refere à gestão financeira, a fim de
que a empresa tenha uma estratégia condizente com suas necessidades
internas e esteja apta a atender e dialogar com o ambiente externo, bus-
cando alcançar seus objetivos e se consolidando em longo prazo.

ATIVIDADES
1. Com relação à estrutura de tomada de decisão empresarial
fundamental para as empresas, discorra sobre os tipos de decisões
financeiras que os gestores devem conhecer.

2. Sobre a análise financeira, descreva sua importância e cite quais


aspectos podem ser impactados por ela na gestão das empresas.

3. Conceitue administração estratégica e sua relação com a gestão


empresarial.

REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. S. Administração estratégica e vantagem competitiva. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2011.
REIS, T. Análise de indicadores: conheça a importância de levá-los em conta. 2018a.
Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/analise-indicadores/ Acesso
em: 10 jul. 2020.
REIS, T. Análise financeira: conheça o negócio para melhorá-lo. Suno Research, 2018b.
Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/analise-financeira/ Acesso em:
10 jul. 2020.
REIS, T. Análise vertical e horizontal: aprenda na prática como fazer. Suno Research, 2018c.
Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/analise-vertical-e-horizontal/
Acesso em: 10 jul. 2020.
REIS, T. Modelagem financeira: entenda como funciona essa ferramenta. Suno Research,
2019. Disponível em: https://www.sunoresearch.com.br/artigos/modelagem-financeira/
Acesso em: 10 jul. 2020.

80 Gestão financeira estratégica


GABARITO
1 Fundamentos da gestão financeira estratégica
1. A alocação de recursos envolve a otimização no uso dos recursos para
que a empresa tenha capacidade de atingir seus objetivos. Por isso, a
alocação de recursos implica aos gestores financeiros o conhecimento
de todo o funcionamento da empresa, melhor dizendo, os gestores
precisam entender como todas as áreas da empresa interagem. Isso
significa dizer que os gestores devem ter visão integrada dos setores
de atuação, pois, dessa maneira, é possível entender como cada setor
produz e interage com outro, e assim quanto recurso tem disponível e
como é possível trabalhar de forma eficiente com esses recursos.

2. As funções financeiras estão na identificação dos investimentos que


vão constituir as formas de produção, que vão estruturar a empresa,
como instalações, máquinas, os imóveis. Outras funções se referem ao
estabelecimento das atividades operacionais, bem como a locação de
recursos para sua realização – dispêndio de mão de obra, pagamento
de salários, demais despesas, outros custos. O financiamento das
operações, a aplicação de recursos em estoques, por exemplo, a
obtenção de recursos nas instituições financeiras, assim como as
receitas de vendas e a forma como será a distribuição de lucros.

3. O objetivo principal é que as empresas tenham retornos financeiros


que justifiquem e compensem sua exposição aos riscos assumidos em
determinadas decisões, transações, investimentos, novas atividades,
entre outras situações do dia a dia. Essa recompensa ao risco se refere
aos resultados econômicos e financeiros, normalmente relacionados a
períodos de médio a longo prazo.

2 Gestão de caixa e capital de giro


1. O fluxo de caixa direto é o mais utilizado pelas empresas, pois analisa
sem descontos quanto a empresa registrou de entradas (recebimentos)
e saídas (pagamentos). A disponibilização das informações, assim, é
feita diariamente. Outro tipo de forma de se registrar o ciclo de caixa
da empresa é o livre, que se refere ao fluxo de caixa operacional (o
quanto dele) a empresa obteve depois de ter realizado todos seus
gastos. Esse fluxo se refere ao valor presente da empresa, o que fica
disponível para ser utilizado.

Gabarito 81
2. O fluxo de caixa dos investimentos ou caixa líquido das atividades
de investimento é o segmento que registra as entradas e saídas
referentes aos investimentos que a empresa realiza. Caso a empresa
compre um terreno, por exemplo, esse desembolso é registrado
como uma saída de caixa. A venda de um terreno, em contrapartida, é
registrada como uma entrada de caixa. Já o caixa líquido das atividades
de financiamento registra as transações que se referem a estrutura de
capital da empresa, como a variação de caixa, a obtenção e pagamento
de empréstimos, o retorno de ações, entre outras atividades.

3. Sobre as despesas, podemos classificá-las para melhor compreender


como se dá a composição dos ciclos operacional e financeiro. A despesa
administrativa, por exemplo, é aquela que não está relacionada de
forma direta com a produção, refere-se normalmente às questões
administrativas, como contas de telefone, recepção, dispêndios com
limpeza, departamento jurídico. Podem ser chamadas também de
gastos gerais. As despesas operacionais, entretanto, estão relacionadas
as atividades da produção de bens e serviços, a matéria-prima de fato.
Isto quer dizer que, havendo uma mudança na quantidade produzida
pela empresa do produto x, os custos operacionais mudam, mas os
custos administrativos se mantêm estáveis.

4. O capital de giro pode ser representado com a seguinte relação: Ativo


Circulante – Passivo Circulante = capital de giro. O Ativo Circulante
se refere aos chamados ativos da empresa, que são, por exemplo, o
caixa, os estoques, as aplicações financeiras, as contas a receber, entre
outros recursos que indicam as entradas e/ou recursos disponíveis da
empresa. O Passivo Circulante, por sua vez, indica as obrigações de
curto prazo da empresa, como pagamento de fornecedores, contas a
pagar, dívidas e demais dispêndios.

3 Orçamento, preço e custo


1. MC = receita das vendas – custos e despesas variáveis. Essa equação
se refere ao cálculo da margem de contribuição. Receita de vendas
é o valor calculado da soma entre os custos fixos e variáveis com as
despesas fixas e variáveis mais o lucro – no cálculo da receita líquida.
Para o cálculo da receita bruta fazemos essa soma e ainda somamos
o valor dos tributos. Os custos e despesas variáveis são calculados a
partir da identificação deles, utilizando a ferramenta de fluxo de caixa,
por exemplo, e fazendo a soma entre custos e despesas não fixos
que a empresa tem. O conhecimento da margem de contribuição
é importante para o gestor financeiro porque é a diferença entre a

82 Gestão financeira estratégica


receita de uma venda e os seus custos diretos e indiretos, ou seja,
o valor da margem de contribuição é o quanto sobra do valor da
venda do produto e/ ou serviço após o pagamento de todos os custos
e despesas. A margem de contribuição mostra então o quanto uma
empresa consegue gerar de capital para continuar funcionando e o
quanto gera de lucro em determinado período.

2. O custo de transação está relacionado ao lucro líquido gerado pela


empresa – o quanto a empresa gasta com manutenção de suas
atividades bem como o quanto gasta na realização de suas transações.
No momento da escolha de qual transação fazer, o tomador de decisão
deve tentar maximizar suas informações para buscar o máximo de
conhecimento possível a respeito do que se quer entender. Outro fator
a ser considerado no cálculo do custo de transação é a especificidade
do produto, quanto mais específico for um produto, um serviço, um
ativo, uma situação, maior será o custo de transação. O gestor deve
se atentar ao oportunismo porque os agentes econômicos têm
interesses diferentes e, muitas vezes, podem buscar agir conforme
esses interesses, causando incerteza e instabilidade na realização e
cumprimento de contratos.

3. O planejamento orçamentário é uma ferramenta que auxilia o


gestor na organização das atividades e finanças empresariais para
que seja possível conhecer quanto de dinheiro a empresa tem,
quanto precisará despender para que consiga desenvolver suas
atividades e quanto deverá faturar para atingir seus objetivos. Para a
elaboração de um orçamento, o gestor precisa ter conhecimento de
alguns indicadores financeiros da empresa, fundamentais para que
seja possível realizar um planejamento eficiente para determinado
período. O planejamento orçamentário é estratégico porque se dá
em consonância com a estratégia estabelecida pela empresa, isto é,
de acordo com os objetivos e demais aspectos que a empresa busca
melhor desenvolver. Nesse sentido, a previsão orçamentária ocorre
a partir de relatórios e demais documentos advindos de diferentes
funcionários e por parte dos gestores no que diz respeito a tudo que
precisa ser planejado e mensurado.

4 Decisões, análise de investimentos e riscos


1. A avaliação de investimentos tem importância significativa para as
empresas e também para os investidores, pois direciona a sua tomada
de decisão. A partir dela, é possível analisar as possibilidades dos
desdobramentos de um determinado investimento, como o grau de
segurança, de risco e até mesmo a prosperidade do investimento.

Gabarito 83
2. Há três tipos de riscos financeiros: liquidez, crédito e mercado. O risco
de liquidez é aquele que a empresa sofre quando não é capaz de
cumprir seu passivo financeiro. O risco de crédito ocorre quando o
credor está vulnerável à possibilidade de não recebimento. O risco de
mercado acontece quando a empresa tem ações na bolsa de valores,
caso ocorram oscilações de preços e cotações.

3. A criação de valor consiste em dizer que os produtos e/ou serviços


oferecidos por uma empresa são vistos pelos clientes como
diferenciados se comparados aos produtos e serviços ofertados
por outras empresas, ou seja, a agregação de valor se refere a
criar significado na compra de produtos e/ou serviços para além
do valor pago pelo cliente.

5 Estratégias corporativas e planejamento


1. As decisões financeiras nas empresas se referem a: investimentos,
ligados à aplicação de recursos; financiamento, relacionados à captação
de recursos; e dividendos, que remetem à alocação dos resultados
líquidos das empresas. As decisões financeiras de investimento e
financiamento, dessa forma, devem ser tomadas de maneira integrada,
já que representam duas importantes áreas de decisão das empresas.
As decisões financeiras devem ser tomadas conforme o ambiente
econômico, tentando ao máximo aproximar as projeções da realidade
das empresas em seus cenários de atuação.

2. A análise financeira, por meio de um conjunto de aspectos, indicadores


e variáveis, acompanham a vida financeira de uma empresa. Com as
análises financeiras, é possível visualizar o que deve ser melhorado e/ou
priorizado, quais são as operações que estão desajustadas, os gastos
em excesso, o status dos investimentos, a realocação dos recursos,
entre outros pontos que devem ser identificados e trabalhados.

3. A administração estratégica pode ser entendida como fundamental


para a sustentação das empresas, fornecendo ferramentas importantes
de gestão, como aquelas que levam as empresas a garantir suas
vantagens competitivas. Nesse sentido, a estratégia empresarial pode
ser entendida como aquela capaz de fazer com que a empresa crie e
mantenha vantagens diante de sua concorrência.

84 Gestão financeira estratégica


Gestão financeira estratégica
Carolina Casella Galli

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6660-5

59499 9 788538 766605

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