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Tomas S. Martins
IESDE BRASIL
2020
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Martins, Tomas S.
Estratégia Empresarial / Tomas S. Martins. - 1. ed. - Curitiba [PR] :
IESDE, 2020.
154 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6560-8
8 Estratégia Empresarial
1
Fundamentos da estratégia
Podemos definir estratégia genericamente como o conjunto
de ações adotadas por um indivíduo ou uma organização para
criar uma relação dinâmica com o ambiente onde está
inserido(a). Por exemplo, ao pensar em fazer uma viagem de
aventura pelo Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha,
você deve primeiramente olhar para si, analisar sua forma física,
seus recursos financeiros, seu tempo e seu estado de espírito.
Tendo isso em vista, você deve estudar o ambiente externo, ou
seja, para onde vai, a geografia, a topografia, o clima e a cultura
do local. Com esses dados, você pode começar a traçar um plano
com base em ideias e ações que o levem ao seu objetivo final.
Uma organização, de modo semelhante, ao planejar o
lançamento de um novo produto ao mercado, também deve olhar
para si e para seus recursos humanos, financeiros, estruturais,
tecnológicos e organizacionais e, após essa análise interna, deve
considerar seu entorno, isto é, seu ambiente externo, composto
de consumidores, concorrentes, governo, economia e sociedade
em geral. Por meio dessas informações internas e externas, a
organização propõe um conjunto de ações que a levem ao melhor
alinhamento entre o novo produto a ser lançado e o contexto do
lançamento.
Assim, um bom estrategista é curioso, está sempre buscando
dados e informações sobre sua organização e seu ambiente
externo, não é necessariamente o mais analítico ou o mais
criativo, mas é quem consegue, coletivamente, absorver,
disseminar e usar as informações para promover o melhor encaixe
entre a organização e seu ecossistema. Desse modo, para que
você esteja habilitado a desenvolver estratégias de sucesso
pessoal ou organizacional, é fundamental conhecer os principais
conceitos da estratégia, sua história e suas etapas de aplicação.
Fundamentos da estratégia 9
1.1 Estratégia e sua história
Como vivemos em um ambiente muito dinâmico, agitado e
Vídeo
competitivo, os gestores estão estrategicamente focados no presente, que,
obviamen- te, oferece lições importantes. No entanto, para desenhar e
desenvolver
a estratégia de maneira sustentável e colocá-la em prática por meio de
etapas intelectual e pragmaticamente concebidas, é essencial que você
conheça a história do pensamento estratégico e seu efeito nos
principais conceitos sobre esse tema.
Lyudmyla Kharlamova/Shutterstock
Ter tática de
Conhece atuação
batalha comnabase
ro
inim em
uma estratégia de
igo. guerra
maior e mais
abrangente.
Não existem
muitos
padrões
estratégicos
diferentes,
mas a de
combinação Ao aproveitar bem
partesdentro
diferentes uma
oportunidade,
desses
padrões leva a inúmeras
outras
infinitas
táticas de atuação virão.
difíceis
de serem previstas
ou
imita
das.
10 Estratégia Empresarial
Podemos perceber a influência desses ensinamentos até os dias
atuais. A afirmação de Tzu (2015) sobre conhecer o inimigo está
rela- cionada a compreender o ambiente externo no qual a
organização está inserida. Por meio desse conhecimento, a
organização elabora sua es- tratégia, que deriva de táticas de atuação.
Segundo o autor, não há pos- sibilidade de uma tática apresentar
resultado sem uma estratégia bem definida. Ainda, ao elaborar sua
estratégia, uma organização fará uma combinação múltipla de seus
recursos para atingi-la.
Fundamentos da estratégia
Lyudmyla Kharlamova/Shutterstock
A
Planejamen transforma
competição
to e não porque
se há
interatividade,
estratégia
são estratégiaarequer
logo
a mesma
um
processo
coisa.
dinâmico.
12 Estratégia Empresarial
Figura 1
Linha do tempo da evolução conceitual da estratégia
FASE (1950-1960)
1 Planejamento e metas
FASE (1960-1970)
2 Planejamento estratégico
FASE (1970-1975)
3 Estratégia corporativa
FASE (1975-1985)
4 Estratégia competitiva
FASE (1985-1995)
5 Recursos, capacidades e competências
FASE (1995-2000)
6 Implementação estratégica e inovação
FASE (2000-2010)
7 Novos modelos de negócios
FASE (2010-)
8 Releitura da vantagem competitiva
Fundamentos da estratégia
que, com Peter Drucker, chegou à conclusão de que as empresas mais
bem-sucedidas eram centralizadas e boas devido ao estabelecimento
de metas. Assim, evoluíram o conceito de estratégia para um planeja-
mento com base em metas que devem ser controladas. Com o
con- trole das metas, é possível ajustar as ações de maneira
estratégica (MILLER; DESS, 1996).
Para Chandler Jr. (1962), que oferece uma das primeiras definições
de estratégia no contexto de negócios, estratégia é determinar objeti-
vos e metas de longo prazo e alocar recursos necessários para atingi-las
por meio de um conjunto de ações. A popularidade do
planejamento corporativo nos anos 1960 gerou departamentos de
planejamento en- carregados de previsão, tomada de decisões de
investimento e criação de planos de longo prazo (cinco a dez anos).
14 Estratégia Empresarial
estratégico; e a análise Pestel, que estuda os fatores políticos,
econômicos, sociais, tec-
Fundamentos da estratégia
nológicos, ecológicos e legais do ambiente onde a organização está
in- serida. Com base no diagnóstico, conforme Ansoff (1965), cenários
são criados, a estrutura organizacional é avaliada e o planejamento
estra- tégico é desenvolvido. Por exemplo, se você administra uma
empresa de software, deve analisar a evolução tecnológica do setor, a
legislação atual e as tendências sociais e políticas para criar um
cenário futuro. Com o cenário criado e os recursos disponíveis, você
poderá definir a estratégia para sua empresa, ou seja, em qual
mercado irá atuar, quais tipos de software irá desenvolver e para quem
irá vender.
16 Estratégia Empresarial
hoteleira) e a concorrência. As em-
Fundamentos da estratégia
presas começaram a examinar mais de perto suas opções dentro
do seu setor, mercados, segmentos e posicionamento dentro desses
seg- mentos. O trabalho de Porter (2004) impulsionou a análise da
indústria e da concorrência por meio de um modelo denominado As
cinco forças competitivas, que avalia uma empresa com base em sua
posição em relação a cinco fatores:
18 Estratégia Empresarial
Fase 5: Recursos e competências (1985-1995)
Fundamentos da estratégia
O conceito de Teece, Pisano e Shuen (1997) surge de uma falha
da VBR, que ignora fatores em torno dos recursos. Segundo os auto-
20 Estratégia Empresarial
res, os recursos são desenvolvidos, integrados à empresa e usados
de uma maneira diferente. As capacidades dinâmicas adotam uma
abordagem processual – um elo dinâmico entre os recursos da em-
presa e o ambiente de negócios. Elas ajustam constantemente o mix
de recursos da empresa e, assim, mantêm a sustentabilidade da van-
tagem competitiva.
Fundamentos da estratégia
executivos dessas empresas mediram o potencial do mercado brasi-
leiro e realizaram uma série de pesquisas para entender o que não
estava funcionando. Quando perceberam que era necessário aceitar
pagamentos em dinheiro, mudaram rapidamente sua estratégia e
se tornaram líderes de mercado. O interessante é que esse
aprendizado no Brasil os levou a adotar a mesma estratégia na Índia,
que resultou em sucesso expressivo.
22 Estratégia Empresarial
Figura 2
Ciclo de adoção de novos produtos pelos consumidores
Mercado Inicial Mercado Principal
Receita
O Abismo
2,5% (the chasm)
34% 34% 16%
13,5%
Entusiastas Visionários
Pragmáticos Conservadores Céticos
Os que adotam no inicio (early adopters) Os retardatários
A maioria inicial A maioria tardia
Tempo
Fonte: Adaptada de Moore, 1991.
Fundamentos da estratégia
A agilidade e a inserção orgânica da organização no ecossistema em-
presarial dependem de um modelo de negócios que possa ter um
efeito
24 Estratégia Empresarial
rápido e contínuo, ou seja, não se trata mais de analisar o cenário em
detalhes e investir muitos recursos para ter uma “certeza” de sucesso. O
ambiente atual requer que organizações operem por meio de ensaio e
erro com protótipos 1
, que gerem aprendizagem antes de uma decisão 1
mais definitiva. Dessa forma, Osterwalder e Pigneur (2010) criaram o Protótipo é uma versão
Business Model Canvas, uma ferramenta visual para o inicial de um produto
criado para testar um
desenvolvimento e a avaliação de como a empresa deseja criar valor conceito ou processo.
para seus clientes. Assim, antes de fazer um
investimento enorme em
Por exemplo, você não fará um plano de negócios ou planejamento algo, você terá
estratégico formal, pois isso levará muito tempo, consumirá muitos resultados preliminares
que guiarão suas decisões
re- cursos e, provavelmente, quando você colocá-lo em prática, o com mais assertividade.
mercado já terá mudado. Logo, você deverá visual e rapidamente
montar um pla- no que identifique fontes de receita, mostre a base de
clientes-alvo, os produtos e como gostaria de se relacionar com eles.
Se você pensa em cervejaria artesanal, comece montando um
esquema rápido de como seria diferente e lucraria com isso. Você
perceberá que é um ambiente muito concorrido e com pouca chance
de fazer algo diferente, assim, tal- vez, seu modelo esteja na
distribuição de cervejas artesanais para bares e restaurantes. Porém,
antes de fazer uma megaoperação, monte um protótipo com um ou
dois clientes e teste para ver se dá certo. Com base nos dados do seu
protótipo, reconfigure seu negócio.
Figura 3
Vantagem competitiva transitória
Retorno
Lançamento Crescimento
Exploração Reconfiguração
Desengajamento
Fundamentos da estratégia
Fonte: Adaptada de McGrath, 2013.
26 Estratégia Empresarial
Conforme observamos na Figura 3, sua estratégia, se bem-
sucedida, lhe proporcionará um crescimento alto em um primeiro
momento e um retorno consistente em uma segunda fase, que é a
sua vantagem competitiva temporária. Desse modo, você deve
aproveitar essa fase para planejar a reconfiguração da estratégia. Se o
processo de reconfi- guração for bem realizado, você terá um novo
lançamento e uma nova fase de crescimento.
28 Estratégia Empresarial
coisas e se colocar no mercado melhor que seus concorrentes
com relação a algumas características.
3 Estratégia como padrão é a forma que as ações são tomadas
consistentemente ao longo do tempo pela organização. Nesse
caso, a compreensão da estratégia e de sua forma ocorre com
base no olhar para o passado e a definição futura, com base
nesse olhar. Por exemplo, uma empresa baixa os preços de seus
produtos no fim do mês para girar seu estoque e percebe que
suas vendas aumentam consideravelmente nos cinco últimos
dias do mês. Assim, todo fim de mês baixa seus preços, gira o
estoque e melhora seu fluxo de caixa. A repetição dessa ação
acaba se tornando um padrão e vira uma estratégia da empresa.
Depois de um tempo, essa prática é incorporada sem uma
reflexão constante, o que a torna parte da estratégia.
4 Estratégia como plano é a determinação de um conjunto
específico de ações com base na concepção de um
diagnóstico. Elaborar a estratégia como plano é definir um
conjunto de ações (o quê?) que serão realizadas por alguém
(quem?) em determinado prazo (quando?) e espaço (onde?) de
uma maneira particular (como?) por algum motivo (por
quê?). Por exemplo, se você quiser começar a fazer vendas
on-line de seu produto, responda: O quê? Construir um site.
Onde? Em uma plataforma on-line. Por quê? Porque o custo de
Glossário varejo físico é muito alto. Quem? Contratar uma empresa
marketplace: palavra terceirizada. Quando? Até o fim de dezembro. Como? Contratar
originada dos termos em inglês uma empresa terceirizada para desenvolver o site e expor os
market (mercado) e place
(lugar), que significa local – produtos em uma plataforma de marketplace.
físico ou virtual – onde se faz 5 Estratégia como manobra (ploy) tem como objetivo estabelecer
comércio.
manobras astuciosamente elaboradas para confundir o
concorrente e superá-lo ao longo do tempo. Por exemplo,
você pode anunciar a entrada de um novo produto no
mercado sem que ele esteja finalizado para verificar se seus
concorrentes têm produtos similares.
Fundamentos da estratégia
Estudo de caso
Vídeo
Você e sua família são proprietários de um restaurante que serve refeições por quilo em sua cidade há mais de dez
anos. É um negócio lucrativo que proporciona a vocês uma renda para viverem bem. Você abriu esse restaurante No vídeo Como grandes líderes
inspiram ação, publicado pelo
porque havia poucas opções de refeições rápidas e saudáveis na sua cidade e porque, desde criança, sempre teve
canal TED, Simon Sinek, um
vontade de empreender. Negócios familiares, pelo menos em seus estágios iniciais, se confundem muito com
consultor de negócios que se
os princípios e valores familiares. Para você e sua família, a liberdade de escolha é muito importante para uma tornou conhecido pelo público
vida saudável e feliz. Com base nessa simples descrição, podemos dizer que sua estratégia como perspectiva é por meio
proporcionar à cidade uma escolha gastronômica simples, familiar, saudável e livre. Assim, todas as suas decisões e de um dos dez vídeos mais vistos
seus futuros empreendimentos giram e girarão em torno dessa perspectiva. na plataforma TED Talk, explica
É claro que quando você abriu seu restaurante, fez uma análise da concorrência e dos hábitos alimentares dos o seu modelo de negócios
chamado Círculo de ouro. Vale
consumidores locais. Na época, e ainda hoje, você ocupa uma posição diferente dos outros com um foco em
assistir a esse vídeo e perceber
alimentação saudável e caseira (ou familiar). Hoje em dia, existem outros restaurantes que prestam um serviço pa- que o seu propósito deve ser a
recido com o seu, mas você conseguiu, nesses dez anos de atuação, manter sua posição com escolhas consistentes es- sência da sua estratégia.
apoiadas em sua proposta inicial.
Disponível em:
Essa consciência para manter sua posição competitiva e seus valores proporcionaram um padrão de decisões para https://www.you-
seu negócio. Por exemplo, você faz compras semanais de fornecedores que garantam a qualidade dos insumos com tube.com/watch?
um preço médio de mercado. Dessa forma, comprar produtos de qualidade com um preço de mercado garantindo v=qp0HIF3SfI4. Acesso em:
um estoque semanal faz parte do seu padrão estratégico. A soma dos padrões de decisão e atuação do seu 13 abr. 2019.
negócio se formaram com base na sua perspectiva para manter sua posição competitiva.
Quando você decidiu abrir o restaurante você precisou de crédito e, por isso, montou um plano de negócios e foi
até ao banco. O gerente do banco, analisando suas intenções e ações planejadas, viu potencial no empreendimento
e lhe concedeu o crédito necessário. Ao abrir o restaurante, você seguiu esse plano e, todos os anos, com sua Livro
família, revisa, adapta e incrementa ele para que, no ano seguinte, haja um crescimento por meio da sua posição. No livro Comece pelo por- quê:
Muitos outros empreendedores, ao analisarem o sucesso de seu restaurante, tentam entrar no mercado para ocupar como grandes líderes inspiram
sua posição. Os concorrentes locais também ajustam suas estratégias para “copiar” algumas coisas que você faz pessoas e equipes a agir, o autor
bem. Você evita que seus concorrentes ou entrantes consigam oferecer uma solução igual a sua, ou muito parecida, defende que as organizações
com um custo mais baixo para os consumidores por meio de uma manobra de precificação dinâmica. Você iniciem sua comunicação com o
“por quê?”, seguido de “como?”
não tem um preço fixo por quilo, mas faz seu preço variar de acordo com a oferta do dia, a fidelidade do cliente,
e, finalmen- te, “o quê?”. A
campanhas promocionais e parcerias locais. Dessa maneira, você observa os concorrentes e os leva a fazer ofertas
razão de ser de uma empresa,
com preço mais baixo, mas, talvez, insustentáveis para eles. Portanto, os afasta de sua posição.
seu “por quê?” orienta e inspira
sua atividade estratégica.
30 Estratégia Empresarial
encaixe entre esses dois ambientes. Atualmente, conforme já mencio-
nado, o ambiente externo é um espaço temporal de mudança e trans-
formação constante, assim o conjunto de ações de uma organização é
profundamente dinâmico. Antigamente, em ambientes mais estáveis,
era possível se planejar estrategicamente para daqui dez anos. Hoje
em dia, mesmo o planejamento estratégico sendo algo de longo prazo,
isto é, cinco anos em média, é quase impossível que o plano inicial
não seja constantemente revisitado e ajustado.
Figura 4
O alinhamento estratégico
Materiais• Governo
Financeiros• Consumidores
Tecnológicos• Fornecedores
Conhecimento• Concorrentes
Estrutura• Tecnologia
Legislação
Figura 5
Conceitos e níveis estratégicos
Níveis Estratégicos
Estratégia Corporativa
Responsabilidade dos gestores corporativos.
Estratégia Empresarial
Responsabilidade dos gestores da unidade de negócios.
Estratégia Tático-Funcional
Responsabilidade dos gerentes médios.
Estratégia Operacional
Responsabilidade dos coordenadores da operação.
32 Estratégia Empresarial
nosso
Fundamentos da estratégia
exemplo do restaurante, locar o imóvel do lado para expandir suas ati-
vidades é uma ação estratégica empresarial ou, para muitos
autores, uma estratégia de negócios.
3 Estratégia tático-funcional
34 Estratégia Empresarial
Logo, compreendemos a importância dos conceitos estratégi-
cos primeiramente reconhecendo que estratégia não tem um úni-
co significado e que, para agir estrategicamente, devemos levar em
consideração suas múltiplas definições e hierarquia. A estratégia
empresarial tem um conceito particular relacionado com um conjun-
to de ações específico para determinado negócio da organização. É
uma maneira ampla de como o negócio se posicionará no ambiente
externo e, para ser implementada, dependerá das ações táticas e
operacionais definidas pela empresa.
Figura 6
Desenho estratégico
Diagnóstico
Formulação Implementação Controle
estratégico
estratégica estratégica estratégico
Fonte: Elaborada pelo autor.
1 Diagnóstico estratégico
Fundamentos da estratégia
O diagnóstico estratégico é o monitoramento, a avaliação e a dis-
seminação de informações dos ambientes externo e interno para to-
36 Estratégia Empresarial
dos os envolvidos no desenho da estratégia. O objetivo é identificar
fatores críticos de sucesso internos e externos que afetam ou podem
vir a afetar o futuro da organização. O ambiente externo é composto
de inúmeras variáveis, como política, economia, sociedade, tecnologia,
concorrentes e fornecedores. O intuito do diagnóstico é identificar o
que nesse ambiente externo, ou seja, fora da organização e fora do
seu controle, representa uma oportunidade ou uma ameaça. A
combinação dessas variáveis externas forma o contexto competitivo da
empresa.
Figura 7
Modelo de análise Swot para um restaurante
Fundamentos da estratégia
relacionamento
38 Estratégia Empresarial
com os fornecedores e a tradição representada pela marca. Com essas
forças, você poderá aproveitar uma série de oportunidades, por exem-
plo, hoje em dia, as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a
qualidade de sua alimentação e, ao mesmo tempo, gostam de ficar
em casa. Sendo assim, aderindo ao delivery, por exemplo, sua marca e
qualidade das refeições conseguirão fazer com que seu restaurante se
conecte a um maior número de pessoas. Também, você estará mais pre-
parado para lidar com um grande número de concorrentes. Agora,
como a maior parte de suas fraquezas estão relacionadas com a gestão
dos funcionários, novos restaurantes que entram no mercado terão a
opor- tunidade de contratar seus funcionários que parecem estar
insatisfeitos.
2 Formulação estratégica
Figura 8
Processo de formulação e planejamento estratégico
Fundamentos da estratégia
3 Implementação estratégica
Figura 9
Exemplo de implementação estratégica
40 Estratégia Empresarial
4 Controle estratégico
Figura 10
Ciclo de controle estratégico
1 2
Diagnóstico
estratégico 1 2 Planejamento e
formulação
4
4 3 3
Controle
Implementação
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fundamental para a compreensão da estratégia e sua efetiva
aplica- ção prática é entender os dois elementos essenciais de seu
processo, ou seja, o ambiente interno e externo. Atualmente, isso é um
grande desafio porque o ambiente externo é mutável, assim a
organização precisa ser mutável e adaptável. Uma organização flexível,
conectada com seu ecos- sistema, será sustentável, mas esse processo
adaptativo depende do cor-
Fundamentos da estratégia
reto entendimento e desenvolvimento da estratégia e de processos de
aprendizagem que a incrementam constantemente.
Diante disso, uma organização deve sempre focar em desenvolver re-
cursos e capacidades que a habilitem para competir na sua área de atua -
ção e que proporcionem oportunidades de crescimento e diversificação
em vários mercados de maneira sinérgica e simultânea.
Ainda, a necessidade do desenvolvimento de ações e práticas
diversas pode levar à falta de foco e ao desperdício de energia e
recursos. Dessa forma, é muito importante que o propósito e o conjunto
de valores da organização a guiem em suas escolhas e decisões. Com
isso, a empresa poderá ter uma atuação representativa e marcante no
ambiente, expon- do seus diferenciais e inovando sempre.
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abr. 2019.
GABARITO
1. Há muitas variáveis no ambiente externo que devem ser observadas, principalmente
fatores políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, legais e, ambientais, mas
também, de uma maneira mais próxima e, talvez, mais importante, os consumidores,
concorrentes e fornecedores.
Fundamentos da estratégia
2. A falta de comunicação para toda organização do que foi planejado é um fator
que dificulta a implementação. Além disso, podemos destacar a cultura e a
estrutura das organizações. Se ambas não estiverem alinhadas ao processo
estratégico, a implementação será falha e difícil.
44 Estratégia Empresarial
2
Diagnóstico estratégico:
objetivos e propósito
empresarial
Independentemente da área em que pretendemos atuar, é im-
portante, antes de qualquer coisa, fazermos um diagnóstico inicial
da situação para não desperdiçarmos recursos nem energia. O
diagnóstico é um ponto de partida para toda inciativa, seja pessoal,
seja organizacional. Por exemplo, não adianta você querer perder
peso ou ter uma vida saudável sem fazer uma análise inicial de sua
condição física, seu peso e sua saúde em geral.
Neste capítulo, aprenderemos a fazer o diagnóstico estratégico
de empresas, começando com o ambiente externo, ou seja, ma-
peando tudo o que está fora da organização e afeta criticamente o
sucesso das ações. Para tanto, analisaremos elementos estruturais
do ambiente competitivo. Em seguida, por meio de uma ferramen-
ta denominada cinco forças de Porter, faremos uma varredura nos
fatores externos mais próximos, como consumidores e concorren-
tes. Por fim, estudaremos os fatores internos, isto é, nossos
recur- sos e capacidades, que são a base para estabelecermos
objetivos e ações estratégicos no ambiente externo, tudo isso
guiado por nossos propósitos empresariais.
Figura 1
O ambiente externo de uma empresa
cr o a mbien
Ma te
a
icr o mbien
M te
Empresa
Fatores políticos
Fatores socioculturais
de terceiros.
Referem-se às características demográficas, às normas, aos cos-
tumes e aos valores da população inserida no ambiente onde a or-
ganização opera. A compreensão desses fatores é essencial para os
profissionais da área de marketing porque são a base da
segmentação, do entendimento do comportamento de compra e da
demanda.
Fatores tecnológicos
Fatores ecológicos
Fatores legais
44 Estratégia Empresarial
As empresas globais têm um esforço extra porque cada país
tem seu conjunto próprio de leis, regras e regulamentos que
ordenam as práticas empresariais. Além de conhecer as leis, uma
organização deve monitorar as tendências legislativas, uma vez que a
sociedade é dinâ- mica e precisa de constantes ajustes na sua
estrutura legal. Quando uma empresa se antecipa às exigências
legais, podemos dizer que ela sai na frente das outras e, por algum
tempo, terá uma vantagem com- petitiva oriunda do seu bom
monitoramento legal.
2.2.2 Microambiente
O microambiente afeta diretamente os negócios da empresa – o
ambiente operacional. Esse ambiente está dentro do setor específi-
co onde a empresa opera e pode afetar todos os processos do ne-
gócio. Em outras palavras, é constituído de todos os fatores que têm
um efeito direto e particular sobre a empresa ou, ainda, de todas
as forças próximas a ela que afetam seu desempenho e sua
operação, por exemplo, fornecedores, concorrentes e consumidores. É
impor- tante destacar que esses fatores não afetam todas as
empresas do mesmo setor da mesma maneira e com a mesma
intensidade. Cada empresa reage de modo diferente à pressão que
esses fatores exer- cem sobre ela, pois elas têm tamanho,
capacidades, recursos e es- tratégias diferentes.
Uma ferramenta muito popular para analisar o microambiente
foi desenvolvida por Michael Porter, em 1979. Denominada análise da
Diagnóstico estratégico: objetivos e propósito empresarial
in- dústria ou análise das cinco forças de Porter, ela avalia e analisa o
ambien-
46 Estratégia Empresarial
te competitivo da organização. Segundo Porter (1986), para determinar
a intensidade competitiva de um setor, a empresa deve analisar aspec-
tos múltiplos e simultâneos, além dos concorrentes e consumidores.
Figura 3
As cinco forças competitivas de Porter
Ameaça
de novos
entrantes
Poder de Poder de
Rivalidade
barganha dos barganha dos
entre os
fornecedores clientes
concorrentes
Ameaça de
produtos ou
serviços
substitutos
48 Estratégia Empresarial
Rivalidade entre os concorrentes
entrada criadas.
É do interesse de uma empresa, às vezes com seus
concorrentes, criar barreiras para impedir que novos concorrentes
entrem no merca- do. Os entrantes são empresas novas ou já
estabelecidas que preten- dem diversificar sua atuação em novos
setores. Essas barreiras podem ser legais (como regulamentações de
patentes) ou setoriais (como pro- dutos ou marcas únicas). A
chegada de novos participantes também depende do tamanho do
mercado, da reputação de uma empresa já estabelecida, do custo
de entrada, do acesso a matérias-primas, dos padrões técnicos, das
barreiras culturais, entre outros.
50 Estratégia Empresarial
de imposição das condições é menor, o que os torna mais fracos. Uma
análise do poder de barganha dos fornecedores, além do número
deles, passa pela análise do número de pedidos realizados, do custo
de troca de fornecedor, da existência de matérias-primas e assim por
2 diante.
O Tinder é um aplicativo Os clientes podem impor suas exigências em termos de preço, pra-
de relacionamento entre
zo, serviço, qualidade etc. quando o número de concorrentes é baixo.
pessoas de acordo com a
geolocalização. Sua Uma empresa deve evitar ficar em uma situação de dependência de
interface tem como base certos clientes. O nível de concentração dos clientes atribui a eles mais
perfis de usuários que
ou menos poder de exigência. Geralmente, o poder de negociação dos
demons- tram interesse
uns nos outros tendo em clientes tende a ser inversamente proporcional ao dos fornecedores.
vista suas descrições
pessoais e fotos. Quando Agora, vamos aplicar as cinco forças competitivas de Porter em um
há interesse mútuo (um Estudo de caso envolvendo o Tinder 2 .
match) entre dois
usuários, eles são
Estudo de caso
informados pela Rivalidade entre os concorrentes
plataforma e podem A intensidade da participação de mercado dos concorrentes não pode ser
começar uma conversa. subestimada, assim o Tinder deve apoiar o crescimento de sua base de
membros investindo fortemente em marketing para lidar com o avanço da
sua concorrência direta. A rivalidade aumentou devido aos diferentes tipos
de concorrentes que surgiram com novos produtos voltados para nichos de
mercado específicos.
Ameaça de novos entrantes
O Tinder, até pouco tempo atrás, operava em um ambiente único e, por
isso, houve a ameaça de novos entrantes. Por mais que o Tinder ainda seja o
maior no mercado brasileiro, outras empresas começam a entrar com novos
pro- dutos projetados especificamente para diferentes segmentos do
mercado. Para lidar com essa força, é importante que o Tinder invista, cada
Glossário
vez mais, em marketing para manter o relacionamento com sua base de
sites de nicho: sites que usuários e tentar captar novos antes que eles procurem outras opções.
atendem à demanda Ameaça de produtos ou serviços substitutos
específica de um grupo
O setor de relacionamentos on-line sempre mudou com base nas novas
de consumidores.
necessidades e preferências dos clientes. Isso significa que a ameaça de
produtos alternativos está sempre presente. O Tinder deve lidar com novos
produtos e serviços, como sites pagos, sites gratuitos, sites de nicho e
redes sociais on-line. A preferência e os gostos dos consumidores estão
sempre mudando, e é por isso que esses sites criaram novos produtos para
desafiar o mercado do Tinder. A maioria desses sites se concentra no
segmento de mercado que não é coberto pelo Tinder, como relacionamentos
apenas entre pessoas do mesmo sexo ou interesses profissionais.
52 Estratégia Empresarial
Estudo de caso
A Amazon combinou vários recursos para prestar um serviço de vendas e
distribuição de produtos. Ela começou como uma livraria on-line, atendendo
diretamente aos clientes. Ao crescer, ela estabeleceu uma rede de distribui-
ção capaz de enviar milhões de produtos próprios ou de terceiros para
milhões de clientes ao redor do mundo.
As empresas tradicionais, que operam essencialmente com lojas físicas,
perceberam a dificuldade em estabelecer uma presença on-line e uma
distribuição eficaz como a Amazon. Essa percepção as levou a desenvolver
parcerias com a Amazon, que começou a prestar o serviço de presença on-
line, venda e transporte de mercadorias para essas empresas, as quais
puderam, assim, concentrar suas vendas em lojas físicas.
Conclusões
A Amazon possui recursos tecnológicos (um banco de dados e um sistema de
relacionamento com clientes e fornecedores), físicos (lugares para
armazenar os produtos) e humanos (pessoas para desen- volver as
atividades).
A Amazon possui capacidades de marketing (faz a seleção de produtos para
os consumidores), de logística (faz a entregar ágil dos produtos) e financeira
(faz a cobrança dos clientes e os pagamentos para os fornecedores).
A Amazon possui como competências essenciais sempre ter o produto
Por meio desse Estudo de caso envolvendo a Amazon, podemos
disponível para os clientes, fazer parcerias com empresas que não querem
en- tender um
desenvolver queesquema
os recursos
próprio são a fonte das
de e-commerce capacidades
e ter deon-line
uma presença uma
superior.
empresa, e as capacidades, por sua vez, são a fonte das competências
essenciais, que são a base da vantagem competitiva no mercado.
2.3.1 Recursos
Os recursos podem ser tangíveis ou intangíveis. Recursos tangíveis
são ativos que podem ser vistos, manipulados e quantificados, como
equipamentos, fábricas e pessoas. Já recursos intangíveis normalmente
incluem ativos profundamente enraizados na história e cultura da em-
presa, assim são mais difíceis de serem copiados pelos concorrentes,
como conhecimento, confiança, ideias, inovação e a marca (FELDMAN,
2000; KNOTT; MCKELVEY, 1999).
2.3.2 Capacidades
As capacidades são a habilidade da empresa de explorar
recursos (HUNGER; WHEELEN, 2011). Estes não são produtivos por
si próprios, por exemplo, um cirurgião não tem utilidade sem um
anestesista, en- fermeiros, instrumentos cirúrgicos, equipamentos
de imagem e um conjunto de outros recursos. Para executar uma
tarefa, uma empresa precisa que uma série de recursos trabalhem em
conjunto. Assim, po- demos definir uma capacidade como sendo a
habilidade de uma em- presa em desenvolver atividades por meio de
seus recursos.
Quadro 1
Capacidades estáticas e capacidades dinâmicas
Capacidades em detectar
Eficácia na execução
necessidades e oportunida-
Capacidades dinâmicas e no alcance dos
des, selecionar opções e (re)
configurar recursos e rotinas objetivos.
estáticas.
Figura 4
Os blocos de construção da operacionalização da estratégia
Recursos
Capacidades Competências Objetivos
gera atinge
m m
configuram
56 Estratégia Empresarial
Fonte: Elaborada pelo autor.
Uma organização, por maior e melhor que seja, pode não ser
competente. Assim, Prahalad e Hamel (1990) criaram o termo
competências essenciais como o processo de exploração da combi-
nação única de recursos e capacidades para cumprir uma estraté-
gia. Uma organização deve focar suas atividades estratégicas em
três ou quatro competências essenciais. Para isso, é fundamental
que as identifique usando três critérios específicos (HITT; IRELAND;
HOSKISSON, 2011), descritos a seguir.
O Sistema de Crédito
(Sicredi), originalmente com foco no fornecimento de crédito rural em
Coopera- tivo (Sicredi)
trata-se de uma pequenas comunidades no interior do Brasil, estabeleceu uma lideran-
instituição financeira ça tão forte em serviços financeiros?
composta de pessoas que
prestam ser- viços a Competências essenciais que permitiram ao Sicredi entrar em mer-
quem se associa a ela, cados aparentemente diferentes:
oferecendo serviços
como conta corrente, • Proposta de marca distinta e clara: concentração em um
aplicações financeiras, grupo de clientes bem definido, aqueles que buscam soluções
cartão de crédito,
coletivas para seus serviços financeiros.
empréstimos e
financiamentos. Os • Habilidades de marketing: gerenciamento de banco de dados; co-
associados são os donos
municação focada no conceito da marca; conversão de aberturas
da cooperativa, logo
podem votar para tomar de contas digitais.
decisões em uma • Habilidades em gerenciamento de relacionamento com clientes:
instituição que não visa
aos lucros, e os seus atendimento personalizado e agilidade.
direitos e deveres são
iguais.
58 Estratégia Empresarial
II. Contribuir significativamente para os benefícios percebidos
pelo cliente do produto final.
Exemplo: Por que o Walmart tem uma posição tão forte no varejo
mundial?
Competências principais que são difíceis de a concorrência imitar:
2.4
60 Estratégia Empresarial
Desse situação atual (Figura 5), vamos, nesta se- ção, moldar o que
modo, além queremos de nossa organização.
de olhar para
fora de sua
empresa, é
muito im-
portante que
você faça
uma análise
do que tem
ao seu
dispor para
competir, ou
seja, quais
são seus
recursos,
suas
capacidades
e suas
competência
s essenciais.
Com base na
análise do
ambiente
interno, você
pode definir
realisticament
e as suas
ações
estratégicas.
já
Agora que
Propósito organizacional e
entendemos objetivos estratégicos
que
precisamos,
inicialmente,
fazer uma
análise
detalhada de
nossa
Diagnóstico estratégico: objetivos e propósito empresarial
Figura 5
Processo de diagnóstico estratégico
Pestel
Análise do
Propósito organizacional
ambiente
externo Cinco forças de
Porter Visão e missão Objetivos Estratégia
Análise do estratégicos empresarial
ambiente Recursos
interno
Capaci dades
Competências
Quadro 2
Visão das empresas
Empresa Visão
62 Estratégia Empresarial
Há também a missão, que descreve em que negócio a organização
se encontra (e em qual não) agora e projetando no futuro. Seu objetivo
é fornecer foco para a gerência e a equipe. Uma empresa de
consul- toria pode definir sua missão pelo tipo de trabalho que realiza,
pelos clientes que atende e pelo nível de serviço que presta. Por
exemplo, uma empresa de consultoria, com base no serviço que
oferece e nos ti- pos de clientes que atende, poderia ter como missão:
“Fornecemos, por meio de serviços de consultoria e assessoria,
assistência de alto padrão para avaliação do desempenho de
mercado de empresas pequenas e médias do setor financeiro”.
Observe, no quadro a seguir, a missão do Google e da Uber.
Quadro 3
Missão das empresas
Empresa Missão
Quadro 4
Propósito das empresas
Empresa Propósito
A Uber é uma empresa estruturada como uma rede de transportes que funciona
por meio de um aplicativo, uma plataforma de conexão entre usuários e motoristas
inde- pendentes. Ela está em mais de 60 países com 100 milhões de usuários ativos. A
Uber é reconhecida no cenário mundial por meio de sua tecnologia disruptiva de
Uber
mobilidade.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Uber, 2020; The Body Shop, 2019; Virgin Atlantic Group, 2019.
64 Estratégia Empresarial
Você deve estar se perguntando: toda empresa tem um propósito?
Não necessariamente. Se o único objetivo da empresa for gerar lucro e
ter o foco no retorno financeiro, não.
O propósito é ir além da visão, da missão, dos valores e dos ob- jetivos. É saber
Atividade 2 responder por que você existe e, a partir da sua exis- tência, fazer todos à sua volta
quererem fazer parte do movimento que você criou. Você deve inspirar os
Por que o propósito move colaboradores e expressar o impacto da organização na vida de clientes, da
o processo estratégico? comunidade, dos for- necedores e da sociedade em geral.
66 Estratégia Empresarial
S (Specific – Específico)
Você deve ser específico sobre o que deseja realizar. Essa não deve
ser uma lista detalhada de como você alcançará um objetivo, mas uma
reflexão levando em conta as respostas para as perguntas 6W:
A (Attainable – Alcançável)
3 Atrair mais 25% de clientes internacionais nos primeiros dois anos de operações.
Objetivos operacionais
Implementar sistemas de informação, de modo que 90% a 100% das principais funções e dos servi-
4
ços sejam suportados por sistemas de informação nos primeiros 24 meses de operação.
6 Oferecer sistema de reserva on-line, de modo que represente 60% da receita total em até três anos.
Desenvolver forte reconhecimento da marca entre os clientes-alvo com base na excelência do aten-
8 dimento nos três primeiros anos de operação, de modo que 80% dos clientes-alvo estejam familiari-
zados com a marca do hotel.
(Continua)
68 Estratégia Empresarial
Objetivos financeiros
Obter um crescimento de 50% na receita bruta por meio de diferentes ofertas de produtos e serviços
9
até o final do terceiro ano de operação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos juntos percorrer os estágios iniciais do processo estratégico,
ou seja, analisar onde estamos e projetar aonde queremos ir. Essa
fase inicial do trabalho, que envolve planejar e implementar a
estratégia em- presarial, é de suma importância porque, além de
organizar as ações den- tro da empresa, irá mostrar a todos os
stakeholders, internos e externos, sua posição e o que você pretende
fazer. Assim, você e sua organização terão comprometimento global
para montar uma base de recursos sólida, desenvolver capacidades e
adquirir competências. Com isso, a empresa terá mais alternativas para
estabelecer e atingir seus objetivos.
No entanto, de nada adianta uma empresa ter realizado todo esse
processo de análise estratégica e ter estabelecido objetivos claros se
não há algo por trás disso tudo, uma inspiração, um propósito. Essa é
a verdadeira fonte da vantagem competitiva que nunca será perdida,
pois há uma alma que abrange e estimula a criatividade e aplicabilida-
de das ações.
70 Estratégia Empresarial
UBER. Quem somos. 2020. Disponível em: https://www.uber.com/br/pt-br/about/. Acesso
em: 13 abr. 2020.
VIRGIN ATLANTIC GROUP. Our story. 2019. Disponível em: https://corporate.virginatlantic.
com/gb/en/our-story.html. Acesso em: 13 abr. 2020.
WINTER, S. G. Four Rs of profitability: rents, resources, routines, and replication. In:
Resource- based and evolutionary theories of the firm: Towards a synthesis. Boston:
Springer, 1995. Disponível em: http://pure.iiasa.ac.at/id/eprint/4585/1/WP-95-007.pdf.
Acesso em: 13 abr. 2020.
WINTER, S. G. Understanding dynamic capabilities. Strategic Management Journal, v. 24,
n. 10, p. 991-995, 2003. Disponível em: http://web.mit.edu/rgibbons/www/nano2004/
lecture2/Understanding_dynamic_capabilities_winter.pdf. Acesso em: 13 abr. 2020.
GABARITO
1. Recursos são ativos de uma empresa; capacidades possibilitam aos recursos que se-
jam explorados; e competência é uma integração multifuncional e coordenação dos
recursos e das capacidades. A empresa com a maior base de recursos não
necessa- riamente será a mais competitiva, pois o que a torna competitiva é o uso do
conjunto de capacidades que ela desenvolveu e de competências que vai adquirindo à
medida que opera no ambiente.
3. Todo mundo, empresas e indivíduos, cria objetivos para ter em mente aonde se quer
chegar. Porém, uma simples lista de coisas para fazer não fará com que você chegue
a lugar algum. Assim, a grande contribuição da técnica SMART é proporcionar a todos
os envolvidos uma visão genérica do que está sendo e o que será feito dentro da or-
ganização, comprometendo as pessoas e gerando formas alternativas e criativas para
se chegar a realizar sua visão.
Figura 1
Variáveis da estratégia competitiva
Mercado amplo
Liderança
Diferenciação
de custo
66 Estratégia Empresarial
Mercado restrito
• Se vender 1 milhão de peças por mês para o Brasil todo e seu lucro
por peça for de R$ 1,00, no fim, seu lucro será de R$ 1.000.000,00.
• Se vender 10 mil peças de roupa com base em sua marca no Bra-
sil e seu lucro por peça for de R$ 100,00, seu lucro, no fim,
conti- nuará sendo de R$ 1.000.000,00.
• Se optar por vender uniformes escolares em sua cidade, fechar
um acordo com as escolas locais e vender 5 mil uniformes com o
lucro de R$ 200,00 por uniforme, você também obterá R$
1.000.000,00.
• Se escolher por trabalhar com produtos de luxo, você não preci-
sará vender muitas peças, por exemplo, mil peças a um lucro de
R$ 1.000,00 por peça geram um resultado de R$ 1.000.000,00.
68 Estratégia Empresarial
um
Estudo de caso
A Ryanair obteve grande sucesso nos últimos anos devido ao seu modelo de negócios
de baixo custo e se tornou a maior companhia aérea do mundo em termos de número
de passageiros internacionais. Levando em consideração as estratégias genéricas de ne-
gócios de Porter (1985), essa empresa opera uma estratégia de liderança de custos. O
objetivo da Ryanair é se estabelecer como a principal companhia aérea de passageiros
da Europa, por meio da oferta de tarifas baixas.
As tarifas baixas são projetadas para estimular a demanda, atraindo os viajantes que se
preocupam com a tarifa, os que usavam formas alternativas de transporte ou aqueles
que não tinham o hábito de viajar de avião. As passagens são vendidas quase que ex-
clusivamente em seu site, o que reduz os custos de vendas.
Os serviços a bordo das aeronaves são básicos. Isso significa que a tarifa inclui apenas
o voo, assim há algumas medidas diferentes diretamente relacionadas ao custo: o em-
barque é sem bilhete, os assentos não são marcados, há custo adicional de bagagem
para o passageiro e para o check-in antecipado, seguem uma política de não reembolso,
os assentos são básicos (para aumentar a capacidade da aeronave) e há cobrança por
qualquer serviço adicional. Tudo isso reduz significativamente os custos para a empresa.
A Ryanair voa para aeroportos secundários, onde pode negociar de modo extremamen-
te agressivo e exigir as mais baixas taxas de desembarque e operação em solo.
Essa organização compra aeronaves novas e padronizadas, o que lhes proporciona poder
de barganha na encomenda de várias das mesmas aeronaves. Além disso, aviões padro-
nizados proporcionam uma economia no treinamento de pessoal, como comissários,
pilotos e técnicos. Ao comprar aviões novos, a empresa possui mais segurança e econo-
miza no consumo de combustível e manutenção.
A política de recursos humanos também está diretamente relacionada à redução de
custos. Os funcionários devem pagar por seu próprio uniforme e equipamento. O treina-
mento ministrado é o mínimo exigido e a utilização da equipe está entre as mais altas
do setor aéreo. Muitos funcionários estão empregados em contratos de desempenho, e
aqueles que não atendem às expectativas são substituídos. Também, é esperado que
o pessoal assuma várias funções, por exemplo, o pessoal da cabine faz a limpeza da
aeronave antes do próximo voo e o pessoal do check-in ajuda no embarque na aeronave.
70 Estratégia Empresarial
Wilson e Gilligan (2012) observam que o risco de seguir a estratégia
de liderança de custos está no foco excessivo para redução de
custos. Muitas vezes, a busca obsessiva pelo custo mais baixo gera
uma perda de visão do porquê da escolha, além de fazer com que a
empresa aban- done qualquer nova oportunidade e se feche para
inovações.
72 Estratégia Empresarial
Porter (1980) argumenta que uma empresa que adota a estratégia
de diferenciação incorre em custos extras, que são compensados por
um preço mais alto. Podemos citar como exemplos desses custos um
gasto mais alto com publicidade para promover uma imagem de marca
Atenção diferenciada, um sistema de gestão e vendas mais moderno e customi-
Caso opte por adotar uma estra- zado e mais pessoas para prestar um melhor atendimento.
tégia de diferenciação, você não
pode considerar isso como custo, A diferenciação oferece muitas vantagens em termos de posiciona-
mas como um investimento. mento de mercado para a empresa, mas há uma dificuldade em
esti- mar se os custos extras envolvidos nessa estratégia podem
realmente ser recuperados por meio de preços premium para o
cliente, ou seja, não se sabe ao certo se o cliente irá ver vantagem
em arcar com esse preço maior.
74 Estratégia Empresarial
do centro das cidades com pre- ços baixos e com oferta restrita de serviços como entretenimen- to e restaurante. Esses
motéis servem essencialmente para os hóspedes passarem a noite.
76 Estratégia Empresarial
empreendimento para crescer, você terá apenas uma certeza: seus
custos irão aumentar
muito. Além do custo do aluguel do novo imóvel, você terá de Por meio da leitura do
contratar livro Estratégia boa, estra-
tégia ruim: descubra suas
mais pessoas para atuar na cozinha e servir, a fim de manter a diferenças e importância,
qualida- de da sua comida e do seu atendimento. Esse aumento você pode ter acesso a
exemplos muito interes-
nos custos só compensará se você tiver uma demanda extra estimada santes sobre a estratégia
de 20 pessoas, ou seja, um restaurante maior, que mantém o adotada por organiza-
ções diferentes. Nessa
posicionamento e pas- sa a servir 60 pessoas com a mesma qualidade obra, o autor argumenta
e atendimento. Assim, você deverá refletir se a melhor alternativa para que uma estratégia boa
vem do insight sobre
seu restaurante é cres- cer ou manter as coisas como estão. a verdadeira natureza
da situação em que a
Em termos práticos, uma decisão, como a apresentada nesse empresa está. Ainda, o
exem- plo, faz parte do que denominamos estratégia empresarial ou insight pode ser
cultivado por uma
estratégia de negócios – o que de fato você irá fazer, dentro destas variedade de ferramentas
amplas opções: crescimento, estabilidade ou redução de suas que dire- cionam o
pensamento coletivo na
atividades. empresa.
78 Estratégia Empresarial
d. Diversificação: consiste em entrar em novos mercados com
novos produtos relacionados ou não à oferta existente da
empresa. A diversificação, por sua vez, pode ser classificada em
dois tipos de
estratégias:
Figura 2
Matriz de produtos e mercados esquematizada
Produtos
Existentes
Novos
Existentes
Penetração
de mercado Desenvolvimento
de produtos
Mercados
Desenvolvimento
Novos
de mercado Diversificação
80 Estratégia Empresarial
de produtos. Por fim, se, ao lado da padaria, você abre um restaurante,
é uma estratégia de diversificação relacionada porque você já trabalha
com gastronomia. No entanto, caso divida esse novo espaço entre
o restaurante e uma loja de roupas, você estará adotando uma
estratégia de diversificação não relacionada.
82 Estratégia Empresarial
gram horizontalmente, assumem um tamanho que lhes proporciona a
oportunidade de diversificação, redução de risco e atuação estratégica
no mercado (GALPIN, 2014).
Estudo de caso
3.2.1.2Integração vertical
Essa é uma estratégia usada por uma empresa para obter
controle sobre seus fornecedores ou distribuidores, a fim de aumentar
seu poder no mercado, reduzir custos de transação e garantir o
fornecimento nos seus canais de distribuição. Por exemplo: um
supermercado que vende e fabrica produtos com sua própria marca
possui atividades de manufa- tura, distribuição e varejo. Existem dois
tipos de integração vertical nos quais as empresas combinam pelo
menos duas das fases da cadeia de suprimentos. A diferença depende
de onde a empresa se originou:
84 Estratégia Empresarial
Figura 4
Representação da integração vertical direta
Cadeia de valor Nível de integração vertical
Matéria-prima
1
Fornecedores
2
Manufatura
3 Distribuição
4 Varejo
5
Consumidor
final
6
Fonte: Elaborada pelo autor.
86 Estratégia Empresarial
Estudo de caso
88 Estratégia Empresarial
vas variam de acordo com a quantidade de investimentos necessários
e com o nível de integração. Na figura a seguir, você pode visualizar as
opções que genericamente variam de parcerias relacionais a
transa- ções únicas de curto ou longo prazo. São elas: joint venture,
contratos de longo prazo (licenciamento e franchising), contratos de
curto prazo e transações únicas.
Figura 6
Alternativas para a integração vertical
Mais integração
1 Joint
venture
3 Contratos de curto
prazo
4 Transações únicas
90 Estratégia Empresarial
to, para os quais a estratégia de estabilidade é indicada:
Um mercado
caracterizado por O governo brasileiro, por meio do Conselho Administrativo de
monopólio é composto de Defesa Econômica (CADE), regula a atuação das empresas
apenas uma empresa que com o objetivo de atender melhor ao cidadão. Em geral,
pode oferecer os
segundo as regras do CADE, a livre concorrência é afetada
produtos e serviços. Um
mercado monopolista é o quando uma em- presa detém mais de 20% do mercado, assim o
oposto de um mercado governo procura controlar e regulamentar o crescimento da
com concorrência participação de mer- cado das empresas.
perfeita, no qual há um
número infinito de Por exemplo, vamos pensar que, hipoteticamente, sua empresa
empresas operando. Em detém 50% do mercado e essa participação de mercado foi aceita
um modelo pura- mente
monopolista, a empresa pelo CADE. Se você não pensar estrategicamente e quiser conti-
monopolista pode nuar a crescer, poderá estar sujeito a uma penalidade
restringir a produção, governa- mental e, possivelmente, terá que dividir sua empresa
aumentar preços e obter
em duas, o que pode aumentar consideravelmente seus custos e
lucros acima do normal.
diminuir sua lucratividade.
92 Estratégia Empresarial
setores.
94 Estratégia Empresarial
Diante da diversidade de estratégias existentes, não há uma regra
que determine qual delas é melhor para o seu negócio. Desse
modo, você deve estudar os inúmeros fatores que envolvem sua
empresa e, então, buscar as estratégias que melhor atinjam seus
objetivos, cum- pram sua missão e alcancem a visão da sua
organização.
96 Estratégia Empresarial
Figura 7
Cadeia de valor
Infraestrutura
Atividades de suporte
Margens
Desenvolvimento tecnológico
Aquisições/compras
Atividades primárias
98 Estratégia Empresarial
Observe, a seguir, alguns passos para usar a cadeia de valor.
I. Identifique subatividades para cada atividade principal
Para aplicar os b. Analise o valor: para cada atividade, pense no que você
conhecimen- tos deste precisa fazer para adicionar mais valor para seu cliente.
capítulo, acesse o site do
c. Avalie e planeje: avalie se vale a pena fazer alterações e,
Sebrae e confira os
conteúdos sobre depois, planeje as ações necessárias para cada alteração.
planejamento e
empreendedorismo, por
Por meio desse passo a passo, bem como das dicas, podemos com-
meio de ferramentas preender que, para que nossa empresa ofereça vantagem competitiva,
disponibilizadas na não podemos apenas olhá-la como um todo, mas também, como
própria página.
obser- vamos nesta seção, como um conjunto de atividades distintas e
SEBRAE. Página inicial.
Dispo- nível em: interli- gadas, que devem estar alinhadas com nossos objetivos
www.sebrae.com.br. empresariais.
Acesso em: 13 abr. 2020.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Agora, você já tem um roteiro genérico do que fazer depois do
diagnóstico estratégico. Assim, você pode ajudar sua organização a gerar
valor com base em posicionamento e atividades específicas para os
negócios da empresa.
Uma conclusão importante a que chegamos é que não há
estratégia competitiva genérica melhor ou pior. Contudo, ao escolher um
posiciona- mento, você deve se manter fiel a ele, ou seja, tudo o que
você fizer em sua empresa deve ser pautado pelo posicionamento que
você escolheu.
Quando nos preocupamos em manter nossa posição, proporciona-
mos à empresa e aos seus colaboradores consistência estratégica no de-
senvolvimento das atividades diárias e nos negócios. Com isso, decisões,
como crescer ou não, ficam mais claras e evidentes.
Ainda, ao tomar uma decisão, é importante que você observe cada
atividade estratégica em bloco e analise o efeito desse bloco na
geração de valor para a empresa. Ao ter um monitoramento constante
do valor gerado pelas atividades, você terá mais domínio de como
melhorar cada uma e possivelmente terá certeza de que, ao final de
cada ciclo de análi- se, suas ações estratégicas estão criando e mantendo
o valor sustentável para sua organização.
REFERÊNCIAS
ANSOFF, H. I.; DECLERCK, R. P.; HAYES, R. L. Do planejamento estratégico à
administração estratégica. São Paulo: Atlas, 1981.
Lyudmyla Kharlamova/Shutterstock
Colocar em Estabelec
prática
tudo o desempen
er o
pretende
que sefazer ho
pretendi
um em
tempo do.
esperado.
Apresen
tar
um método
implementação
de
aceitodentro
por todos
da
empre
sa.
92 Estratégia Empresarial
operacional, além de uma sequência que determina o comportamento
da empresa, como vemos na Figura 1.
Figura 1
Hierarquia e sequência comportamental do processo de planejamento
Planejamento estratégico
Abert/Shutterstock
Planejamento tático
Criar um mapa para integrar todas
as áreas da organização e atingir
os objetivos estratégicos.
Planejamento operacional
Colocar em prática as ações
para percorrer o caminho do
mapa e chegar aos objetivos.
Planejamento estratégico
pragmática.
94 Estratégia Empresarial
criado para orientar as ações da empresa. Esse documento deve des-
Planejamento tático
Marketing e vendas
(Continua)
96 Estratégia Empresarial
Finanças
Recursos humanos
Tecnologia
Operações
O plano tático deve listar todos os recursos que você precisa reunir
para alcançar os objetivos. Isso deve incluir recursos humanos, finan-
ceiros, estruturais, físicos, de propriedade intelectual etc.
• Orçamento
Planejamento operacional
98 Estratégia Empresarial
Os planos operacionais podem ser de uso único ou de andamento:
Leitura
O Código das melhores
práticas de governança
corporativa é o principal
Na prática, o empreendedor inicial continua sendo o dono do
documento do Instituto
ne- gócio, mas a administração diária é feita por terceiros. No entanto, Brasileiro de Governança
Corporativa (IBGC) usado
os interesses do dono, muitas vezes, são conflituosos com os
como referência para a
interesses dos gestores. Por exemplo, os proprietários querem implementação desse
tema em empresas
maximizar o lu- cro e o gestor, por outro lado, independentemente
brasileiras. Esse código
do desempenho, quer maximizar sua renda, ocasionando, assim, um apresenta recomenda-
ções de boas práticas de
conflito natural. Se o dono do empreendimento aumentar a renda do
governança em lingua-
gestor, seu lucro di- minuirá. Em contrapartida, se aumentar o seu gem acessível e objetiva.
lucro, a renda do gestor provavelmente cairá. IBGC. 5. ed. São Paulo: IBGC, 2015.
Disponível em: https://edisciplinas.
Garvey e Swan (1994, p. 39) afirmam que “a governança determina usp.br/pluginfile.php/4382648/
como os principais tomadores de decisão (executivos) da empresa de- mod_resource/content/1/Livro_
Codigo_Melhores_Praticas_GC.pdf.
vem administrar as empresas que os contrataram”. A Organização para Acesso em: 13 abr. 2020.
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2004) definiu gover-
nança corporativa com um sistema pelo qual as empresas são dirigidas
e controladas. Para tanto, há um conjunto padrão de princípios gerais
que regem a governança corporativa: equidade (fairness), prestação de
contas (accountability), responsabilidade (responsability) e transparên-
cia (transparency). Esses princípios, que serão detalhados mais adiante,
têm como base cinco elementos: os direitos dos acionistas, o
tratamen-
Enron
O caso envolvendo a Enron é um dos mais famosos escândalos corporativos de todos
os tempos. A situação começou no início de 2001, quando os analistas questionaram
as contas apresentadas no relatório anual da empresa. Essas contas usavam uma varie-
dade de procedimentos irregulares, o que dificultava descobrir como a empresa estava
ganhando dinheiro, apesar de ser uma das maiores organizações dos Estados Unidos da
América (EUA) nos setores de energia e telecomunicações. A Enron escondia seus pas-
sivos em outras empresas que controlava, o que lhe permitia parecer lucrativa, embora
estivesse realmente quebrada. O preço de suas ações caiu de US$ 90,56 para menos de
um dólar, assim a Enron foi forçada a pedir uma das maiores falências da história.
Facebook
O maior escândalo do Facebook ocorreu em março de 2018, quando o The Guardian e o
The New York Times relataram que uma empresa chamada Global Science Research ha-
via coletado dados de milhões de usuários do Facebook em 2013, sem o consentimento
explícito. Isso foi possível devido a uma versão anterior da política de privacidade do
Facebook que permitia a outros aplicativos acessar dados dos usuários. A Global Science
Research coletou informações de 87 milhões de usuários do Facebook, embora apenas
cerca de 30 mil pessoas a tenham realmente usado. Esses detalhes foram posteriormen-
te vendidos à Cambridge Analytica, que os usou para criar anúncios altamente segmen-
tados para incentivar os usuários a votarem em Trump e na saída da Inglaterra da União
Europeia. A exaltação em torno desse escândalo foi tão grave que Mark Zuckerberg foi
chamado para responder a perguntas diante do Congresso nos EUA.
Petrobras
A Petrobras tinha conquistado a reputação de ser uma das empresas de petróleo e gás
mais éticas do mundo. No entanto, a investigação da Lava Jato revelou o que foi con-
siderado o maior caso de corrupção na história do Brasil. O escândalo começou com o
pagamento de subornos de um suposto cartel de empreiteiros à Petrobras em troca de
grandes contratos de infraestrutura. A investigação revelou que as fraudes foram reali-
zadas ao longo de uma década. Dezenas de políticos e empresários em conluio (cumpli-
cidade) com gestores da Petrobras receberam pagamentos ilícitos e subornos. Os efeitos
do escândalo abalaram não só a empresa, mas o país social, econômica e politicamente.
Na prática, como podemos ado- vantagens competitivas. A criação de valor está intimamente
tar a boa governança corporativa relacionada à socie- dade e ao meio ambiente em que a empresa
para que nossa estratégia seja
mais sustentável? opera. Hoje, as empresas são responsáveis por ambos, assim a
governança corporativa é uma forma de garantir que a empresa se
preocupe, além do lucro, com a sociedade e com o meio ambiente.
Prestação de contas
Figura 2
Estrutura de governança corporativa
GOVERNANÇA
ACIONISTAS
CONSELHO
ADMINISTRATIVO
TOMADA DE DECISÃO FLUXO DE INFORMAÇÃO
E FISCAL
DIRETORIA
GESTÃO
GERENTES
RESULTADOS
Fonte: Elaborada pelo autor.
Transparência
V. Prestação de contas
7
O RAI é o documento que mostra para todos os stakeholders tudo o que foi feito no ano e quais foram os resultados.
Mapeie a estrutura atual da sua empresa e visualize como ela vai crescer. Essencialmente, crie
um organograma que estabeleça uma hierarquia e defina amplamente as responsabilidades.
Em seguida, desenvolva descrições de cargos e descreva as responsabilidades para
proprietários, parceiros, investidores e funcionários.
Estruture e formalize as políticas e os processos internos. Isso significa olhar todos os aspectos
do negócio e desenvolver um protocolo para definir precedentes e agilizar as operações
internas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A implementação da estratégia não é algo simples. No entanto, se
uma empresa tiver convicção de que suas ações estratégicas lhe
proporciona- rão vantagem competitiva, é apenas uma questão de
organização. Parece estranho, mas, para implementar a estratégia, é
necessário ter uma estra- tégia de planejamento de como isso irá
acontecer.
Além disso, quando uma empresa adota boas práticas de
governança corporativa, o planejamento da implementação ocorre de
maneira automá- tica porque há uma definição prévia do que pode ou
deve ser feito versus o que não pode ou não deve ser feito. Assim, todos
na organização, enten- dendo o que a empresa quer para ter sucesso
sustentável, seguirão um roteiro preestabelecido e monitorado pelas
boas práticas de governança.
Dessa maneira, antes mesmo de fazer o diagnóstico, definir a missão,
a visão, os valores e a estratégia genérica dos negócios, é
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3. A resposta é pessoal, mas espera-se que, com base na leitura deste capítulo, você
res- ponda que não concorda com a afirmação. Ao aplicar os princípios da boa
governança corporativa, você está preparando e consolidando seus negócios para
atuar de manei- ra ética, transparente, com a apresentação sistemática de resultados
e avaliando se o seu planeamento estratégico está gerando os resultados
preestabelecidos. Assim, o crescimento é pautado e facilitado pelas melhores
práticas de governança corporativa.
Quadro 1
Aplicação dos princípios éticos
phipatbig/Shutterstock
Princípio Foco Descrição Exemplo de aplicação
Egoísmo
A sociedade como um todo será melhor, Não tome decisões que não sejam
Interesses mais livre e produtiva se cuidarmos de nos- de seu interesse pessoal e da
individuais sos próprios interesses, sem interferir orga- nização em que trabalha.
nos direitos dos outros.
Utilitarismo
Uma ação é moralmente correta se resul- Não tome decisões que não resul-
Bem-estar tar no bem maior, ou seja, da maior quan- tem em um bem maior para a socie-
coletivo
tidade de pessoas afetadas pela decisão. dade da qual você faz parte.
(Continua)
Direitos
Direitos do Eticamente, os direitos geralmente resul- Nunca tome uma decisão que redu-
homem tam no dever dos outros em respeitá-los. za os direitos dos outros.
Justiça
Nunca tome uma decisão em que a
Preocupação com procedimentos e resul-
Justiça humana parte desfavorecida possa ser preju-
tados justos.
dicada.
Eficiência
econômica Atingir esse objetivo é otimizar a eficiência Sempre aja para maximizar os lu-
Supremacia dos do sistema econômico. Todos os sistemas cros, sujeito a restrições legais e
acionistas econômicos são mecanismos para servir às de mercado. Lucros representam
necessidades da população. um sistema de produção eficiente.
Não
igualitário O princípio baseia-se na premissa de que a Nunca tome uma atitude que inter-
Empoderamento distribuição da riqueza na sociedade é fira no direito de autorrealização ou
jus- ta, desde que sejam criadas condições de autodesenvolvimento dos outros.
para trocas e transferências justas.
Estudo de caso
Juan foi contratado para ser presidente de uma empresa de autopeças que está pas-
sando por um momento muito ruim. Ela está prestes a perder seu principal contrato com
um fabricante de veículos, porque ele entendeu que a empresa não tem uma política de
gênero adequada e lhe deu 60 dias para encontrar uma solução.
O quadro que Juan se depara é o de uma organização muito eficiente, que produz e
entrega peças de qualidade com o menor preço do mercado, mas 90% dos seus funcio-
nários são homens e nenhuma mulher exerce um cargo de liderança. O que Juan deve
fazer? Mandar 40% dos homens embora e contratar mulheres para seus lugares? Juan
deve, então, tomar uma decisão baseada nos princípios éticos.
Pelo princípio do egoísmo, Juan deve atender à demanda do seu cliente (o fabricante
de autopeças), porque é do interesse da sua empresa manter o contrato. Além disso, pelo
princípio de eficiência econômica, mantendo o contrato, Juan continua maximizando 3
os lucros, mesmo incorrendo em custos trabalhistas e previdenciários ao dispensar 40%
dos homens. Em situações como essa, Juan pode, por exemplo, minimizar os custos crian- O plano de demissão
3 voluntária (PDV) é um
do um plano de demissão voluntária (PDV) . instrumento legal para a
De acordo com o princípio do utilitarismo, Juan também deve seguir com a redução do quadro de
funcionários de uma
demis- são, porque os únicos prejudicados serão 40% dos homens demitidos e, além de
empresa que consiste em
atender às exigências do cliente, Juan criará um benefício social maior ao criar uma política um acordo mútuo entre a
de gestão de pessoas que leva em consideração a igualdade de gênero. empresa e o funcionário,
No entanto, com base nos princípios da ética dos deveres, dos direitos e da por meio do qual se
estabelece o fim de um
justiça, Juan não estará agindo eticamente se apenas demitir os 40% e contratar as mu- contrato de trabalho
lheres para continuar com o contrato, pois não está sendo justo e não estará fazendo o que partindo de uma
deve ser feito. Assim, para que sua decisão seja ética, Juan deve criar uma compensação “demissão espontânea”,
extra para os homens demitidos, custeando, por exemplo, um programa de recolocação gerando vantagens para o
para eles no mercado ou em outras empresas. empregado e para o
(Continua) empregador.
1966, p. 39).
Atividade 2
Assim, ao incluir a identificação e análise dos interesses dos
Por que uma orientação para
stakeholders à estratégia da sua empresa, desenvolver ações de
a responsabilidade social
corporativa é considerada mais RSC alinhadas ao que você faz bem parece se tornar mais nítido e
estratégica? gera retornos pelos seus esforços.
Figura 1
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
MintArt/Shutterstock
2. FOME E IGUALDADE LIMPA
ERRADICAÇÃO DE
ZERO
BEM-ESTAR QUALIDADE DE GÊNERO E
DA POBREZA
SANEAMENTO
Dimensão econômica
Dimensão social
A capacidade da economia As necessidades
das nações deve suportar universais básicas e
indefinidamente determinado os direitos
nível de produção econômica Igualdade
humanos
que permita o acesso
devem ser respeitados
das pessoas aos recursos e disponibilizados a
financeiros. todas as pessoas,
garantindo segurança e
Sustentável
bem-estar social.
Viabilidade Aceitável
Dimensão ambiental
Pessoas
Planeta
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme estudamos neste capítulo, as empresas e seus gerentes
to- mam decisões estratégicas constantes sobre alocações de recursos no
ambiente natural e acerca do uso sustentável dos recursos naturais, o tra-
tamento dos ecossistemas e seres humanos e não humanos. Assim, é im-
possível ignorar os fundamentos éticos de tais ações e suas
consequências.
Além disso, estratégias orientadas para Responsabilidade Social Cor-
porativa (RSC) e a sustentabilidade são mais eficazes. No entanto, não
adianta abordar esses temas como um meio para um fim, pois sua estra-
tégia terá apenas um papel instrumental marginal. Desse modo, é neces-
sário incluir uma abordagem mais integrativa e intrínseca que veja a RSC
e a sustentabilidade como um fim e o processo estratégico como o
meio para tanto, visando a uma empresa verdadeiramente ética,
responsável e sustentável.
Ética, responsabilidade social corporativa e sustentabilidade
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GABARITO
1. A reflexão ética depende da sua abordagem para a questão. Por exemplo, do seu
ponto de vista, vender a empresa é uma decisão ética, em princípio, porque
atende ao seu interesse. Mas, de uma maneira mais abrangente, a decisão ética seria
vender a empresa, comunicar os empregados e discutir com o comprador uma
solução em conjunto para o desemprego deles.
3. Uma abordagem tripla faz com que sua estratégia seja mais abrangente, mais alinha-
da com o ambiente externo e mais criativa, porque faz com que você observe
elemen- tos não óbvios no contexto empresarial.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Lovelock, Wirtz e Hemzo, 2011.
Figura 2
Ciclo de vida do produto
$ Maturidade
Crescimento
Declínio
Introdução
tempo
Estratégia aplicada a produtos e serviços
Fonte: Adaptada de Levitt, 1965.
Agora, vamos analisar e ver como cada uma dessas etapas é desen-
volvida pelas empresas.
stakeholders.
Cadeia de valor
Entrega Valor
Desenho de Marketin
Tecnologia Produção Distribuição Serviços Consumidor
produtos g
3
A IKEA é uma empresa sueca es- pecializada na produção e venda de móveis domésticos de baixo custo e com ótima
qualidade.
REFERÊNCIAS
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GOVINDARAJAN, V.; TRIMBLE, C. Ten rules for strategic innovators: from idea to execution.
GABARITO
1. O benefício básico de um produto é o mesmo que uma commodity, isto é, um
pro- duto sem diferencial. A diferenciação dos novos produtos está no produto
real e no aumentado. A quantidade de ofertas similares no mercado força a
empresa a inserir elementos em cada nível de produto que gerem diferenças
percebidas por seus consumidores.
Retorno
Financeiro
Introdução
Introdução
Geração de ideias
Teste do conceito
Triagem e avaliação de ideias
Declínio
Análise de marketing
Crescimento
Desenvolvimento do protótipo
Maturidade
Teste de marketing
Tempo
Ciclo de desenvolvimento
3. Não é algo tão simples e fácil responder às três perguntas simultaneamente, mas
podemos orientar a nossa inovação estratégica pelos clientes, ou seja, pela Pergunta
3, que é determinar o tamanho do mercado e a nossa base de clientes. Com
essas informações, podemos definir melhor o valor que queremos entregar a eles e,
interna- mente, tornar nosso processo de desenvolvimento e fabricação mais
eficiente.