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ESTRATÉGIA EMPRESARIAL
que contribui para que as organizações atinjam seus objetivos,
esse não é um conceito tão simples de ser aplicado no dia a dia das
empresas. Considerando que toda organização está inserida em
um contexto que é composto de uma série de desafios e oportuni-
dades, o primeiro passo para desenvolver uma estratégia empresa-
rial de sucesso é conhecer esse contexto e avaliar se a organização
está preparada para atuar e competir nele.
Não há uma estratégia empresarial melhor ou pior. O que pode
ser argumentado é que existe um alinhamento estratégico mais
ou menos adequado ao contexto empresarial. Portanto, o objetivo
deste livro é apresentar ao leitor uma maneira holística de como as
empresas podem interpretar o ambiente no qual estão inseridas e,
com isso, estabelecer uma dinâmica interna de atuação.
TOMAS S. MARTINS
Tomas S. Martins
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Envato Elements
Martins, Tomas S.
Estratégia Empresarial / Tomas S. Martins. - 1. ed. - Curitiba [PR] :
IESDE, 2020.
154 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6560-8
8 Estratégia Empresarial
1
Fundamentos da estratégia
Podemos definir estratégia genericamente como o conjunto de
ações adotadas por um indivíduo ou uma organização para criar
uma relação dinâmica com o ambiente onde está inserido(a). Por
exemplo, ao pensar em fazer uma viagem de aventura pelo Caminho
de Santiago de Compostela, na Espanha, você deve primeiramente
olhar para si, analisar sua forma física, seus recursos financeiros,
seu tempo e seu estado de espírito. Tendo isso em vista, você deve
estudar o ambiente externo, ou seja, para onde vai, a geografia, a
topografia, o clima e a cultura do local. Com esses dados, você pode
começar a traçar um plano com base em ideias e ações que o levem
ao seu objetivo final.
Uma organização, de modo semelhante, ao planejar o lançamento
de um novo produto ao mercado, também deve olhar para si e
para seus recursos humanos, financeiros, estruturais, tecnológicos
e organizacionais e, após essa análise interna, deve considerar seu
entorno, isto é, seu ambiente externo, composto de consumidores,
concorrentes, governo, economia e sociedade em geral. Por meio
dessas informações internas e externas, a organização propõe um
conjunto de ações que a levem ao melhor alinhamento entre o novo
produto a ser lançado e o contexto do lançamento.
Assim, um bom estrategista é curioso, está sempre buscando
dados e informações sobre sua organização e seu ambiente externo,
não é necessariamente o mais analítico ou o mais criativo, mas é
quem consegue, coletivamente, absorver, disseminar e usar as
informações para promover o melhor encaixe entre a organização
e seu ecossistema. Desse modo, para que você esteja habilitado
a desenvolver estratégias de sucesso pessoal ou organizacional, é
fundamental conhecer os principais conceitos da estratégia, sua
história e suas etapas de aplicação.
Fundamentos da estratégia 9
1.1 Estratégia e sua história
Vídeo
Como vivemos em um ambiente muito dinâmico, agitado e competitivo,
os gestores estão estrategicamente focados no presente, que, obviamen-
te, oferece lições importantes. No entanto, para desenhar e desenvolver
a estratégia de maneira sustentável e colocá-la em prática por meio de
etapas intelectual e pragmaticamente concebidas, é essencial que você
conheça a história do pensamento estratégico e seu efeito nos principais
conceitos sobre esse tema.
Lyudmyla Kharlamova/Shutterstock
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10 Estratégia Empresarial
Podemos perceber a influência desses ensinamentos até os dias
atuais. A afirmação de Tzu (2015) sobre conhecer o inimigo está rela-
cionada a compreender o ambiente externo no qual a organização está
inserida. Por meio desse conhecimento, a organização elabora sua es-
tratégia, que deriva de táticas de atuação. Segundo o autor, não há pos-
sibilidade de uma tática apresentar resultado sem uma estratégia bem
definida. Ainda, ao elaborar sua estratégia, uma organização fará uma
combinação múltipla de seus recursos para atingi-la.
Fundamentos da estratégia 11
Lyudmyla Kharlamova/Shutterstock
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12 Estratégia Empresarial
Figura 1
Linha do tempo da evolução conceitual da estratégia
FASE 1 (1950-1960)
Planejamento e metas
FASE 2 (1960-1970)
Planejamento estratégico
FASE 3 (1970-1975)
Estratégia corporativa
FASE 4 (1975-1985)
Estratégia competitiva
FASE 5 (1985-1995)
Recursos, capacidades e competências
FASE 6 (1995-2000)
Implementação estratégica e inovação
FASE 7 (2000-2010)
Novos modelos de negócios
FASE 8 (2010-)
Releitura da vantagem competitiva
Fundamentos da estratégia 13
que, com Peter Drucker, chegou à conclusão de que as empresas mais
bem-sucedidas eram centralizadas e boas devido ao estabelecimento
de metas. Assim, evoluíram o conceito de estratégia para um planeja-
mento com base em metas que devem ser controladas. Com o con-
trole das metas, é possível ajustar as ações de maneira estratégica
(MILLER; DESS, 1996).
Para Chandler Jr. (1962), que oferece uma das primeiras definições
de estratégia no contexto de negócios, estratégia é determinar objeti-
vos e metas de longo prazo e alocar recursos necessários para atingi-las
por meio de um conjunto de ações. A popularidade do planejamento
corporativo nos anos 1960 gerou departamentos de planejamento en-
carregados de previsão, tomada de decisões de investimento e criação
de planos de longo prazo (cinco a dez anos).
14 Estratégia Empresarial
nológicos, ecológicos e legais do ambiente onde a organização está in-
serida. Com base no diagnóstico, conforme Ansoff (1965), cenários são
criados, a estrutura organizacional é avaliada e o planejamento estra-
tégico é desenvolvido. Por exemplo, se você administra uma empresa
de software, deve analisar a evolução tecnológica do setor, a legislação
atual e as tendências sociais e políticas para criar um cenário futuro.
Com o cenário criado e os recursos disponíveis, você poderá definir a
estratégia para sua empresa, ou seja, em qual mercado irá atuar, quais
tipos de software irá desenvolver e para quem irá vender.
Fundamentos da estratégia 15
presas começaram a examinar mais de perto suas opções dentro do
seu setor, mercados, segmentos e posicionamento dentro desses seg-
mentos. O trabalho de Porter (2004) impulsionou a análise da indústria
e da concorrência por meio de um modelo denominado As cinco forças
competitivas, que avalia uma empresa com base em sua posição em
relação a cinco fatores:
16 Estratégia Empresarial
Fase 5: Recursos e competências (1985-1995)
Fundamentos da estratégia 17
res, os recursos são desenvolvidos, integrados à empresa e usados
de uma maneira diferente. As capacidades dinâmicas adotam uma
abordagem processual – um elo dinâmico entre os recursos da em-
presa e o ambiente de negócios. Elas ajustam constantemente o mix
de recursos da empresa e, assim, mantêm a sustentabilidade da van-
tagem competitiva.
18 Estratégia Empresarial
executivos dessas empresas mediram o potencial do mercado brasi-
leiro e realizaram uma série de pesquisas para entender o que não
estava funcionando. Quando perceberam que era necessário aceitar
pagamentos em dinheiro, mudaram rapidamente sua estratégia e se
tornaram líderes de mercado. O interessante é que esse aprendizado
no Brasil os levou a adotar a mesma estratégia na Índia, que resultou
em sucesso expressivo.
Fundamentos da estratégia 19
Figura 2
Ciclo de adoção de novos produtos pelos consumidores
Mercado Inicial Mercado Principal
Receita
O Abismo
13,5% (the chasm) 34% 34% 16%
2,5%
Tempo
Fonte: Adaptada de Moore, 1991.
Para lidar com esse novo ambiente agitado e dinâmico, apenas a ino-
vação de produto não é suficiente. Muitas organizações dispendem uma
enorme quantidade de recursos em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento),
que, muitas vezes, não resultam em produtos e serviços rentáveis. Um
dos motivos desse tipo de fracasso é a organização ser muito fechada e
não olhar para fora nem entender o ecossistema em que está inserida.
20 Estratégia Empresarial
rápido e contínuo, ou seja, não se trata mais de analisar o cenário em
detalhes e investir muitos recursos para ter uma “certeza” de sucesso. O
ambiente atual requer que organizações operem por meio de ensaio e
1
erro com protótipos , que gerem aprendizagem antes de uma decisão 1
mais definitiva. Dessa forma, Osterwalder e Pigneur (2010) criaram o Protótipo é uma versão inicial de
Business Model Canvas, uma ferramenta visual para o desenvolvimento um produto criado para testar
um conceito ou processo. Assim,
e a avaliação de como a empresa deseja criar valor para seus clientes. antes de fazer um investimento
enorme em algo, você terá
Por exemplo, você não fará um plano de negócios ou planejamento
resultados preliminares que
estratégico formal, pois isso levará muito tempo, consumirá muitos re- guiarão suas decisões com mais
cursos e, provavelmente, quando você colocá-lo em prática, o mercado assertividade.
já terá mudado. Logo, você deverá visual e rapidamente montar um pla-
no que identifique fontes de receita, mostre a base de clientes-alvo, os
produtos e como gostaria de se relacionar com eles. Se você pensa em
cervejaria artesanal, comece montando um esquema rápido de como
seria diferente e lucraria com isso. Você perceberá que é um ambiente
muito concorrido e com pouca chance de fazer algo diferente, assim, tal-
vez, seu modelo esteja na distribuição de cervejas artesanais para bares
e restaurantes. Porém, antes de fazer uma megaoperação, monte um
protótipo com um ou dois clientes e teste para ver se dá certo. Com base
nos dados do seu protótipo, reconfigure seu negócio.
Figura 3
Vantagem competitiva transitória
Retorno
Fundamentos da estratégia 21
Conforme observamos na Figura 3, sua estratégia, se bem-sucedida,
lhe proporcionará um crescimento alto em um primeiro momento e
um retorno consistente em uma segunda fase, que é a sua vantagem
competitiva temporária. Desse modo, você deve aproveitar essa fase
para planejar a reconfiguração da estratégia. Se o processo de reconfi-
guração for bem realizado, você terá um novo lançamento e uma nova
fase de crescimento.
22 Estratégia Empresarial
des. Ambos estão tendo grande impacto nas empresas e gerando um
grande número de teorias e modelos estratégicos. Contudo, ainda não
é possível saber quais desses modelos são modismos e quais serão
capazes de resistir ao tempo em sua utilidade estratégica.
Fundamentos da estratégia 23
coisas e se colocar no mercado melhor que seus concorrentes
com relação a algumas características.
3 Estratégia como padrão é a forma que as ações são tomadas
consistentemente ao longo do tempo pela organização. Nesse
caso, a compreensão da estratégia e de sua forma ocorre com
base no olhar para o passado e a definição futura, com base
nesse olhar. Por exemplo, uma empresa baixa os preços de seus
produtos no fim do mês para girar seu estoque e percebe que
suas vendas aumentam consideravelmente nos cinco últimos
dias do mês. Assim, todo fim de mês baixa seus preços, gira o
estoque e melhora seu fluxo de caixa. A repetição dessa ação
acaba se tornando um padrão e vira uma estratégia da empresa.
Depois de um tempo, essa prática é incorporada sem uma
reflexão constante, o que a torna parte da estratégia.
4 Estratégia como plano é a determinação de um conjunto específico
de ações com base na concepção de um diagnóstico. Elaborar a
estratégia como plano é definir um conjunto de ações (o quê?)
que serão realizadas por alguém (quem?) em determinado prazo
(quando?) e espaço (onde?) de uma maneira particular (como?)
por algum motivo (por quê?). Por exemplo, se você quiser
começar a fazer vendas on-line de seu produto, responda: O quê?
Construir um site. Onde? Em uma plataforma on-line. Por quê?
Porque o custo de varejo físico é muito alto. Quem? Contratar
Glossário uma empresa terceirizada. Quando? Até o fim de dezembro.
marketplace: palavra Como? Contratar uma empresa terceirizada para desenvolver o
originada dos termos em inglês site e expor os produtos em uma plataforma de marketplace.
market (mercado) e place
(lugar), que significa local – 5 Estratégia como manobra (ploy) tem como objetivo estabelecer
físico ou virtual – onde se faz manobras astuciosamente elaboradas para confundir o
comércio.
concorrente e superá-lo ao longo do tempo. Por exemplo, você
pode anunciar a entrada de um novo produto no mercado sem
que ele esteja finalizado para verificar se seus concorrentes têm
produtos similares.
24 Estratégia Empresarial
Estudo de caso
Vídeo
Você e sua família são proprietários de um restaurante que serve refeições por quilo em sua cidade há mais de dez
anos. É um negócio lucrativo que proporciona a vocês uma renda para viverem bem. Você abriu esse restaurante No vídeo Como grandes
líderes inspiram ação,
porque havia poucas opções de refeições rápidas e saudáveis na sua cidade e porque, desde criança, sempre teve
publicado pelo canal
vontade de empreender. Negócios familiares, pelo menos em seus estágios iniciais, se confundem muito com
TED, Simon Sinek, um
os princípios e valores familiares. Para você e sua família, a liberdade de escolha é muito importante para uma consultor de negócios
vida saudável e feliz. Com base nessa simples descrição, podemos dizer que sua estratégia como perspectiva é que se tornou conhecido
proporcionar à cidade uma escolha gastronômica simples, familiar, saudável e livre. Assim, todas as suas decisões e pelo público por meio
seus futuros empreendimentos giram e girarão em torno dessa perspectiva. de um dos dez vídeos
É claro que quando você abriu seu restaurante, fez uma análise da concorrência e dos hábitos alimentares dos mais vistos na plataforma
TED Talk, explica o seu
consumidores locais. Na época, e ainda hoje, você ocupa uma posição diferente dos outros com um foco em
modelo de negócios
alimentação saudável e caseira (ou familiar). Hoje em dia, existem outros restaurantes que prestam um serviço pa-
chamado Círculo de ouro.
recido com o seu, mas você conseguiu, nesses dez anos de atuação, manter sua posição com escolhas consistentes Vale assistir a esse vídeo
apoiadas em sua proposta inicial. e perceber que o seu
Essa consciência para manter sua posição competitiva e seus valores proporcionaram um padrão de decisões para propósito deve ser a es-
seu negócio. Por exemplo, você faz compras semanais de fornecedores que garantam a qualidade dos insumos com sência da sua estratégia.
um preço médio de mercado. Dessa forma, comprar produtos de qualidade com um preço de mercado garantindo Disponível em: https://www.you-
um estoque semanal faz parte do seu padrão estratégico. A soma dos padrões de decisão e atuação do seu tube.com/watch?v=qp0HIF3SfI4.
negócio se formaram com base na sua perspectiva para manter sua posição competitiva. Acesso em: 13 abr. 2019.
Quando você decidiu abrir o restaurante você precisou de crédito e, por isso, montou um plano de negócios e foi
até ao banco. O gerente do banco, analisando suas intenções e ações planejadas, viu potencial no empreendimento
e lhe concedeu o crédito necessário. Ao abrir o restaurante, você seguiu esse plano e, todos os anos, com sua Livro
família, revisa, adapta e incrementa ele para que, no ano seguinte, haja um crescimento por meio da sua posição. No livro Comece pelo por-
Muitos outros empreendedores, ao analisarem o sucesso de seu restaurante, tentam entrar no mercado para ocupar quê: como grandes líderes
sua posição. Os concorrentes locais também ajustam suas estratégias para “copiar” algumas coisas que você faz inspiram pessoas e equipes
bem. Você evita que seus concorrentes ou entrantes consigam oferecer uma solução igual a sua, ou muito parecida, a agir, o autor defende
com um custo mais baixo para os consumidores por meio de uma manobra de precificação dinâmica. Você que as organizações
iniciem sua comunicação
não tem um preço fixo por quilo, mas faz seu preço variar de acordo com a oferta do dia, a fidelidade do cliente,
com o “por quê?”, seguido
campanhas promocionais e parcerias locais. Dessa maneira, você observa os concorrentes e os leva a fazer ofertas
de “como?” e, finalmen-
com preço mais baixo, mas, talvez, insustentáveis para eles. Portanto, os afasta de sua posição. te, “o quê?”. A razão de
ser de uma empresa,
seu “por quê?” orienta
Com base no exemplo do restaurante, podemos concluir que a es- e inspira sua atividade
estratégica.
tratégia tem como referência uma rede complexa de pensamentos,
SINEK, Simon. Rio de Janeiro:
ideias, experiências, objetivos, conhecimentos, memórias, percepções
Sextante, 2018.
e expectativas, que fornecem orientações gerais para ações específicas
com o intuito de chegar a objetivos particulares.
Fundamentos da estratégia 25
encaixe entre esses dois ambientes. Atualmente, conforme já mencio-
nado, o ambiente externo é um espaço temporal de mudança e trans-
formação constante, assim o conjunto de ações de uma organização é
profundamente dinâmico. Antigamente, em ambientes mais estáveis,
era possível se planejar estrategicamente para daqui dez anos. Hoje
em dia, mesmo o planejamento estratégico sendo algo de longo prazo,
isto é, cinco anos em média, é quase impossível que o plano inicial não
seja constantemente revisitado e ajustado.
Figura 4
O alinhamento estratégico
• Governo
• Financeiros
• Consumidores
• Tecnológicos
• Fornecedores
• Conhecimento
• Concorrentes
• Estrutura
• Tecnologia
• Legislação
26 Estratégia Empresarial
isso visualmente observando a Figura 5, que reflete um exemplo com-
pleto dos níveis em uma grande empresa com negócios diversificados.
Figura 5
Conceitos e níveis estratégicos
Níveis Estratégicos
Estratégia Corporativa
Responsabilidade dos gestores corporativos.
Estratégia Empresarial
Responsabilidade dos gestores da unidade de negócios.
Estratégia Tático-Funcional
Responsabilidade dos gerentes médios.
Estratégia Operacional
Responsabilidade dos coordenadores da operação.
Fundamentos da estratégia 27
exemplo do restaurante, locar o imóvel do lado para expandir suas ati-
vidades é uma ação estratégica empresarial ou, para muitos autores,
uma estratégia de negócios.
28 Estratégia Empresarial
Logo, compreendemos a importância dos conceitos estratégi-
cos primeiramente reconhecendo que estratégia não tem um úni-
co significado e que, para agir estrategicamente, devemos levar em
consideração suas múltiplas definições e hierarquia. A estratégia
empresarial tem um conceito particular relacionado com um conjun-
to de ações específico para determinado negócio da organização. É
uma maneira ampla de como o negócio se posicionará no ambiente
externo e, para ser implementada, dependerá das ações táticas e
operacionais definidas pela empresa.
Figura 6
Desenho estratégico
Fundamentos da estratégia 29
dos os envolvidos no desenho da estratégia. O objetivo é identificar
fatores críticos de sucesso internos e externos que afetam ou podem
vir a afetar o futuro da organização. O ambiente externo é composto
de inúmeras variáveis, como política, economia, sociedade, tecnologia,
concorrentes e fornecedores. O intuito do diagnóstico é identificar o
que nesse ambiente externo, ou seja, fora da organização e fora do seu
controle, representa uma oportunidade ou uma ameaça. A combinação
dessas variáveis externas forma o contexto competitivo da empresa.
Figura 7
Modelo de análise Swot para um restaurante
Com base na figura anterior, seu restaurante tem como força a qua-
lidade da comida, o atendimento, a localização, o bom relacionamento
30 Estratégia Empresarial
com os fornecedores e a tradição representada pela marca. Com essas
forças, você poderá aproveitar uma série de oportunidades, por exem-
plo, hoje em dia, as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a
qualidade de sua alimentação e, ao mesmo tempo, gostam de ficar
em casa. Sendo assim, aderindo ao delivery, por exemplo, sua marca e
qualidade das refeições conseguirão fazer com que seu restaurante se
conecte a um maior número de pessoas. Também, você estará mais pre-
parado para lidar com um grande número de concorrentes. Agora, como
a maior parte de suas fraquezas estão relacionadas com a gestão dos
funcionários, novos restaurantes que entram no mercado terão a opor-
tunidade de contratar seus funcionários que parecem estar insatisfeitos.
2 Formulação estratégica
Figura 8
Processo de formulação e planejamento estratégico
Fundamentos da estratégia 31
3 Implementação estratégica
Figura 9
Exemplo de implementação estratégica
32 Estratégia Empresarial
4 Controle estratégico
Figura 10
Ciclo de controle estratégico
1 2
1 2
Diagnóstico Planejamento e
estratégico formulação
Controle
4 3 3
Implementação
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fundamental para a compreensão da estratégia e sua efetiva aplica-
ção prática é entender os dois elementos essenciais de seu processo, ou
seja, o ambiente interno e externo. Atualmente, isso é um grande desafio
porque o ambiente externo é mutável, assim a organização precisa ser
mutável e adaptável. Uma organização flexível, conectada com seu ecos-
sistema, será sustentável, mas esse processo adaptativo depende do cor-
Fundamentos da estratégia 33
reto entendimento e desenvolvimento da estratégia e de processos de
aprendizagem que a incrementam constantemente.
Diante disso, uma organização deve sempre focar em desenvolver re-
cursos e capacidades que a habilitem para competir na sua área de atua-
ção e que proporcionem oportunidades de crescimento e diversificação
em vários mercados de maneira sinérgica e simultânea.
Ainda, a necessidade do desenvolvimento de ações e práticas diversas
pode levar à falta de foco e ao desperdício de energia e recursos. Dessa
forma, é muito importante que o propósito e o conjunto de valores da
organização a guiem em suas escolhas e decisões. Com isso, a empresa
poderá ter uma atuação representativa e marcante no ambiente, expon-
do seus diferenciais e inovando sempre.
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GABARITO
1. Há muitas variáveis no ambiente externo que devem ser observadas, principalmente
fatores políticos, econômicos, sociais, tecnológicos, legais e, ambientais, mas
também, de uma maneira mais próxima e, talvez, mais importante, os consumidores,
concorrentes e fornecedores.
Fundamentos da estratégia 35
2. A falta de comunicação para toda organização do que foi planejado é um fator que
dificulta a implementação. Além disso, podemos destacar a cultura e a estrutura
das organizações. Se ambas não estiverem alinhadas ao processo estratégico, a
implementação será falha e difícil.
36 Estratégia Empresarial
2
Diagnóstico estratégico:
objetivos e propósito
empresarial
Independentemente da área em que pretendemos atuar, é im-
portante, antes de qualquer coisa, fazermos um diagnóstico inicial
da situação para não desperdiçarmos recursos nem energia. O
diagnóstico é um ponto de partida para toda inciativa, seja pessoal,
seja organizacional. Por exemplo, não adianta você querer perder
peso ou ter uma vida saudável sem fazer uma análise inicial de sua
condição física, seu peso e sua saúde em geral.
Neste capítulo, aprenderemos a fazer o diagnóstico estratégico
de empresas, começando com o ambiente externo, ou seja, ma-
peando tudo o que está fora da organização e afeta criticamente o
sucesso das ações. Para tanto, analisaremos elementos estruturais
do ambiente competitivo. Em seguida, por meio de uma ferramen-
ta denominada cinco forças de Porter, faremos uma varredura nos
fatores externos mais próximos, como consumidores e concorren-
tes. Por fim, estudaremos os fatores internos, isto é, nossos recur-
sos e capacidades, que são a base para estabelecermos objetivos
e ações estratégicos no ambiente externo, tudo isso guiado por
nossos propósitos empresariais.
38 Estratégia Empresarial
2.2 O ambiente externo
Vídeo O ambiente externo é composto do macro e do microambiente. De
uma maneira bem simples, podemos definir o macroambiente pelo
conjunto de fatores mais distantes da organização, por exemplo, a
economia ou a sociedade em geral. Esses elementos têm um impacto
indireto na vida e nas atividades diárias das empresas. Já o microam-
biente é formado pelas relações e intersecções de elementos mais
próximos à empresa, como concorrentes ou consumidores. Os atores
do microambiente têm uma capacidade direta de influenciar a estra-
tégia e o dia a dia da organização. Podemos visualizar essa relação na
figura a seguir.
Figura 1
O ambiente externo de uma empresa
acroambiente
M
oambien
icr t
M
Empresa
Fatores políticos
40 Estratégia Empresarial
em qualquer economia, como o controle das taxas de juros e os gastos
públicos do próprio governo. Já os fatores microeconômicos são aque-
les que afetam a maneira como as pessoas gastam sua renda (HITT;
IRELAND; HOSKISSON, 2011).
Fatores socioculturais
Fatores tecnológicos
Fatores ecológicos
Fatores legais
42 Estratégia Empresarial
As empresas globais têm um esforço extra porque cada país tem
seu conjunto próprio de leis, regras e regulamentos que ordenam as
práticas empresariais. Além de conhecer as leis, uma organização deve
monitorar as tendências legislativas, uma vez que a sociedade é dinâ-
mica e precisa de constantes ajustes na sua estrutura legal. Quando
uma empresa se antecipa às exigências legais, podemos dizer que ela
sai na frente das outras e, por algum tempo, terá uma vantagem com-
petitiva oriunda do seu bom monitoramento legal.
2.2.2 Microambiente
O microambiente afeta diretamente os negócios da empresa – o
ambiente operacional. Esse ambiente está dentro do setor específi-
co onde a empresa opera e pode afetar todos os processos do ne-
gócio. Em outras palavras, é constituído de todos os fatores que têm
um efeito direto e particular sobre a empresa ou, ainda, de todas as
forças próximas a ela que afetam seu desempenho e sua operação,
por exemplo, fornecedores, concorrentes e consumidores. É impor-
tante destacar que esses fatores não afetam todas as empresas do
mesmo setor da mesma maneira e com a mesma intensidade. Cada
empresa reage de modo diferente à pressão que esses fatores exer-
cem sobre ela, pois elas têm tamanho, capacidades, recursos e es-
tratégias diferentes.
Figura 3
As cinco forças competitivas de Porter
Ameaça
de novos
entrantes
Poder de Poder de
Rivalidade
barganha dos barganha dos
entre os
fornecedores clientes
concorrentes
Ameaça de
produtos
ou serviços
substitutos
44 Estratégia Empresarial
Rivalidade entre os concorrentes
46 Estratégia Empresarial
Poder de barganha dos fornecedores
O Tinder teve que investir para continuar sendo relevante. Isso significa que o poder de barganha dos fornecedores
também aumentou com o passar do tempo. Os fornecedores que mais aumentaram seu poder de negociação
foram os profissionais de marketing e as empresas de tecnologia que dão suporte à plataforma. Assim como
os clientes, o acesso a informações permitiu aos fornecedores conhecer os diferentes aspectos do mercado e as
necessidades do Tinder, aumentando assim seu poder de barganha.
Poder de barganha dos clientes (compradores)
Com a crescente popularidade da internet, a maioria dos clientes consegue acessar informações e conhecer dife-
rentes aspectos e detalhes das ofertas semelhantes ao Tinder, podendo escolher sites que consideram adequados
às suas preferências. Os sites de nicho apareceram porque perceberam que havia uma lacuna não explorada pelo
Tinder. O Tinder investe muito em pesquisa e desenvolvimento para atender às novas necessidades dos clientes,
visando sempre a sustentabilidade a longo prazo.
Lições do estudo de caso Tinder
Podemos perceber a intensidade competitiva que há nesse setor, ou seja, nas plataformas de relacionamento entre
usuários, composta de elementos-chave, acesso à informação e ao conhecimento. Conforme analisamos neste
Estudo de caso, concorrentes, entrantes e substitutos identificaram que há necessidade de plataformas como a do
Tinder para segmentos de mercado específicos que possibilitam um “match” mais assertivo.
Talvez uma plataforma genérica como o Tinder não tenha mais espaço no futuro, cedendo lugar a soluções meno-
res, mais particulares e específicas. Porém, quem determinou essa dinâmica foram os consumidores que, munidos
de conhecimento e informação, estão moldando suas demandas e levando os fornecedores a desenvolverem
ferramentas e projetos de comunicação mais específicos. No entanto, não vamos nos esquecer de que o Tinder
também pode estar atento a essa análise e adaptando seus serviços e suas ofertas.
2.3.1 Recursos
Os recursos podem ser tangíveis ou intangíveis. Recursos tangíveis
são ativos que podem ser vistos, manipulados e quantificados, como
equipamentos, fábricas e pessoas. Já recursos intangíveis normalmente
incluem ativos profundamente enraizados na história e cultura da em-
presa, assim são mais difíceis de serem copiados pelos concorrentes,
como conhecimento, confiança, ideias, inovação e a marca (FELDMAN,
2000; KNOTT; MCKELVEY, 1999).
48 Estratégia Empresarial
•• sociais: relacionamentos, confiança, normas, amizades e
reputação;
•• organizacionais: informações, sistemas (formais e informais),
procedimentos, estruturas, conhecimento de gestão, cultura, re-
lações organizacionais (alianças, por exemplo) etc.
2.3.2 Capacidades
As capacidades são a habilidade da empresa de explorar recursos
(HUNGER; WHEELEN, 2011). Estes não são produtivos por si próprios,
por exemplo, um cirurgião não tem utilidade sem um anestesista, en-
fermeiros, instrumentos cirúrgicos, equipamentos de imagem e um
conjunto de outros recursos. Para executar uma tarefa, uma empresa
precisa que uma série de recursos trabalhem em conjunto. Assim, po-
demos definir uma capacidade como sendo a habilidade de uma em-
presa em desenvolver atividades por meio de seus recursos.
Embora uma pessoa seja capaz de tocar violão, cantar bem e falar
uma língua estrangeira, não significa que ela será uma artista interna-
cional de sucesso. Da mesma forma, uma organização possuir recursos
para fabricar produtos e distribuí-los por todo o Brasil não garante a
ela uma posição competitiva superior, porque a vantagem competitiva
tem como base colocar em prática a combinação simultânea de todos
esses recursos.
Quadro 1
Capacidades estáticas e capacidades dinâmicas
Capacidades em detectar
necessidades e oportunida- Eficácia na execução
Capacidades dinâmicas des, selecionar opções e (re) e no alcance dos
configurar recursos e rotinas objetivos.
estáticas.
50 Estratégia Empresarial
tiu o que os clientes queriam e sabia o que o pessoal técnico estava
fazendo. Tendo isso em vista, ele construiu os recursos que a Apple
precisava para aproveitar essa oportunidade. Por exemplo, para fazer
o iPod funcionar, a Apple se concentrou em recursos para gerenciar
propriedade intelectual digital e para criar o design de aparelhos portá-
teis. Jobs e sua equipe aprenderam como fechar acordos com estúdios
e gravadoras e como reunir uma tecnologia intuitiva para o usuário
de modo muito atraente. A Nokia, que estava mais avançada do que
a Apple na tecnologia de smartphones, optou por se concentrar em
sua própria pesquisa e desenvolvimento interno. Ela aproveitou e se
fundamentou na ciência, mas perdeu a emoção, a intuição e o estado
de espírito.
Figura 4
Os blocos de construção da operacionalização da estratégia
Uma organização, por maior e melhor que seja, pode não ser
competente. Assim, Prahalad e Hamel (1990) criaram o termo
competências essenciais como o processo de exploração da combi-
nação única de recursos e capacidades para cumprir uma estraté-
gia. Uma organização deve focar suas atividades estratégicas em
três ou quatro competências essenciais. Para isso, é fundamental
que as identifique usando três critérios específicos (HITT; IRELAND;
HOSKISSON, 2011), descritos a seguir.
52 Estratégia Empresarial
II. Contribuir significativamente para os benefícios percebidos
pelo cliente do produto final.
Exemplo: Por que o Walmart tem uma posição tão forte no varejo
mundial?
Competências principais que são difíceis de a concorrência imitar:
•• Cliente sempre consegue comprar produtos mais baratos do que
em qualquer outro lugar.
•• Venda de todos os tipos de mercadorias usando o mesmo modelo. Glossário
Estudo de caso
Para os mais velhos, a Netflix era uma empresa de aluguel de DVDs por correio. Você assinava o site, navegava nos
filmes que desejava alugar e esperava um envelope vermelho chegar à sua casa com o filme. Você assistia ao filme
e depois o devolvia pelo correio ou em algum lugar de devolução, geralmente disponibilizado em supermercados.
Então, qual era a competência essencial da Netflix? Entrega de conteúdo em casa. O modelo de negócios original
era poupar a viagem a uma locadora de vídeos. Sua mudança no modelo de negócios de DVDs para streaming
refletiu essa competência. A entrega de conteúdo em casa permitiu a eles que superassem a Blockbuster e muitas
outras empresas nesse setor. Hoje, a Netflix é conhecida como um serviço de streaming de vídeo.
Considere o que a Netflix é hoje. Ela não apenas entrega conteúdo de modo conveniente para nossas casas, mas
agora também cria conteúdo original. Essa decisão de negócios mais recente quebra seu alinhamento com sua
competência principal? De modo nenhum. A criação de conteúdo original reduz seus custos de licenciamento,
e enquanto o conteúdo é o que os clientes desejam, eles ainda estão alinhados com sua competência essencial.
Enquanto eles continuarem a tomar decisões que entregam conteúdo convenientemente em nossas casas (ou
dispositivos, pelo menos), eles continuarão se saindo bem.
Desse modo, além de olhar para fora de sua empresa, é muito im-
portante que você faça uma análise do que tem ao seu dispor para
competir, ou seja, quais são seus recursos, suas capacidades e suas
competências essenciais. Com base na análise do ambiente interno,
você pode definir realisticamente as suas ações estratégicas.
54 Estratégia Empresarial
Figura 5
Processo de diagnóstico estratégico
Pestel
Propósito organizacional
Análise do
ambiente
externo Cinco forças
de Porter Visão e Objetivos Estratégia
Análise do missão estratégicos empresarial
ambiente Recursos
interno
Capacidades
Competências
Quadro 2
Visão das empresas
Empresa Visão
Quadro 3
Missão das empresas
Empresa Missão
56 Estratégia Empresarial
tresse para as pessoas que compram e vendem um imóvel”. Isso
traz o foco externo a um nível totalmente diferente, não apenas
enfatizando a importância de atender aos clientes ou entender suas
necessidades, mas também faz com que os gerentes e funcioná-
rios se coloquem no lugar deles. Você não está querendo apenas
lucrar, você está fazendo algo por outra pessoa, assim o lucro será
consequência disso. É uma mensagem motivacional, visto que se
conecta à emoção e à razão de todas as partes, é como se fosse um
batimento cardíaco filosófico. Vamos observar, no quadro a seguir,
alguns exemplos de propósito.
Quadro 4
Propósito das empresas
Empresa Propósito
A Uber é uma empresa estruturada como uma rede de transportes que funciona por
meio de um aplicativo, uma plataforma de conexão entre usuários e motoristas inde-
pendentes. Ela está em mais de 60 países com 100 milhões de usuários ativos. A Uber
é reconhecida no cenário mundial por meio de sua tecnologia disruptiva de mobilidade.
Uber
O propósito da Uber é democratizar e tornar a mobilidade urbana compartilhada e in-
dependente. Isso significa que a Uber não visa ao transporte de passageiros em si, mas
ao compartilhamento, à independência de escolha do usuário e a uma alternativa para
um problema urbano, a mobilidade.
A Body Shop é uma empresa de varejo de produtos de alta qualidade para cuidados
com a pele e o corpo. Hoje, a Body Shop opera em mais de duas mil lojas em 51 países.
The Body Shop Ela estabeleceu uma reputação de empresa social e ambientalmente responsável.
O propósito da Body Shop é “valorizar sem explorar”. Para eles, isso significa valorizar as
pessoas, o planeta e sua biodiversidade.
O Virgin Atlantic Group é uma empresa inglesa impulsionada inicialmente pela parti-
cipação em companhias aéreas. Ela é uma organização internacional com mais de 30
destinos mundiais. No entanto, hoje, a empresa possui negócios em vários setores, de
Virgin Atlantic
serviços financeiros a ferrovias, de refrigerantes a cosméticos.
Group
O propósito da Virgin é mudar os negócios para sempre por meio do bem, assim o
direcionamento das decisões na empresa é dado pelo impacto a longo prazo para os
clientes, as pessoas, as comunidades e o meio ambiente.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Uber, 2020; The Body Shop, 2019; Virgin Atlantic Group, 2019.
Estudo de caso
58 Estratégia Empresarial
Em seguida, precisamos definir a visão para a organização, que es-
sencialmente indica uma orientação de longo prazo para a empresa.
Uma declaração de visão normalmente considera a posição e a situa-
ção da empresa para os próximos cinco anos. Ela responde às seguin-
tes perguntas-chave:
•• Onde queremos estar daqui a cinco anos?
•• Que produtos e serviços novos devemos oferecer?
•• Que posição no nosso setor queremos ter?
•• Quais são as mudanças pelas quais nossos clientes-alvo estão
passando?
•• Quais novos grupos de clientes-alvo queremos servir?
Estudo de caso
Você deve ser específico sobre o que deseja realizar. Essa não deve
ser uma lista detalhada de como você alcançará um objetivo, mas uma
reflexão levando em conta as respostas para as perguntas 6W:
•• Who (quem?): considere quem precisa ser envolvido e é respon-
sável pelos objetivos; isso é especialmente importante quando
você estiver trabalhando em um projeto de grupo.
•• What (o quê?): pense exatamente no que você está tentando
realizar; faça isso com detalhes.
•• When (quando?): defina um prazo para as ações a serem
realizadas.
•• Where (onde?): identifique, se houver, um local onde as ações
serão realizadas.
4 •• Which (quais?): determine quaisquer obstáculos ou requisitos
Por exemplo, se o objetivo é relacionados; essa questão ajudará você a decidir se seu objetivo
abrir uma pizzaria, mas você 4
é realista .
nunca cozinhou antes, isso pode
ser um problema. Assim, você •• Why (por quê?): estabeleça o motivo do objetivo; isso ajuda, espe-
poderá refinar as especificidades cialmente, os funcionários a atribuírem sentido para suas ações.
do objetivo, como “aprender
a fazer pizzas para abrir uma
pizzaria”. M (Measurable – Mensurável)
Quais métricas você usará para determinar se chegou aos seus ob-
jetivos? Assim, você torna um objetivo mais tangível porque fornece
uma maneira de medir seu progresso. Se é um projeto que vai demorar
alguns anos ou meses para concluir, defina alguns marcos intermediá-
rios, considerando tarefas específicas a serem realizadas. Os marcos
são uma série de etapas ao longo do caminho que, quando somadas,
resultarão na conclusão do seu objetivo principal.
A (Attainable – Alcançável)
60 Estratégia Empresarial
Filme
R (Relevant – Relevante)
3 Atrair mais 25% de clientes internacionais nos primeiros dois anos de operações.
Objetivos operacionais
Implementar sistemas de informação, de modo que 90% a 100% das principais funções e dos servi-
4
ços sejam suportados por sistemas de informação nos primeiros 24 meses de operação.
6 Oferecer sistema de reserva on-line, de modo que represente 60% da receita total em até três anos.
Desenvolver forte reconhecimento da marca entre os clientes-alvo com base na excelência do aten-
8 dimento nos três primeiros anos de operação, de modo que 80% dos clientes-alvo estejam familiari-
zados com a marca do hotel.
(Continua)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos juntos percorrer os estágios iniciais do processo estratégico,
ou seja, analisar onde estamos e projetar aonde queremos ir. Essa fase
inicial do trabalho, que envolve planejar e implementar a estratégia em-
presarial, é de suma importância porque, além de organizar as ações den-
tro da empresa, irá mostrar a todos os stakeholders, internos e externos,
sua posição e o que você pretende fazer. Assim, você e sua organização
terão comprometimento global para montar uma base de recursos sólida,
desenvolver capacidades e adquirir competências. Com isso, a empresa
terá mais alternativas para estabelecer e atingir seus objetivos.
No entanto, de nada adianta uma empresa ter realizado todo esse
processo de análise estratégica e ter estabelecido objetivos claros se
não há algo por trás disso tudo, uma inspiração, um propósito. Essa é
a verdadeira fonte da vantagem competitiva que nunca será perdida,
pois há uma alma que abrange e estimula a criatividade e aplicabilida-
de das ações.
62 Estratégia Empresarial
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GABARITO
1. Recursos são ativos de uma empresa; capacidades possibilitam aos recursos que se-
jam explorados; e competência é uma integração multifuncional e coordenação dos
recursos e das capacidades. A empresa com a maior base de recursos não necessa-
riamente será a mais competitiva, pois o que a torna competitiva é o uso do conjunto
de capacidades que ela desenvolveu e de competências que vai adquirindo à medida
que opera no ambiente.
3. Todo mundo, empresas e indivíduos, cria objetivos para ter em mente aonde se quer
chegar. Porém, uma simples lista de coisas para fazer não fará com que você chegue
a lugar algum. Assim, a grande contribuição da técnica SMART é proporcionar a todos
os envolvidos uma visão genérica do que está sendo e o que será feito dentro da or-
ganização, comprometendo as pessoas e gerando formas alternativas e criativas para
se chegar a realizar sua visão.
64 Estratégia Empresarial
3
Posicionamento e
valor sustentável
Após aprender a fazer o diagnóstico estratégico, você estará
pronto para posicionar sua empresa no mercado. Um meio de
fazer isso é estabelecer diferenças entre sua empresa e seus con-
correntes para que, dessa forma, seus consumidores percebam os
benefícios de fazer negócios com você. A essência da estratégia é
fazer diferente e ganhar em cima das diferenças que você criativa-
mente desenvolve depois de entender bem como o mercado em
que você está funciona.
Ao posicionar sua empresa de modo assertivo, você tem vanta-
gens em relação aos seus concorrentes. Assim, é necessário que
você proteja e desenvolva sua posição sempre criando uma distân-
cia entre você e a concorrência. Quando você é percebido como
diferente e tem apelo de seu público-alvo, podemos dizer que está
bem posicionado.
Com base nisso, neste capítulo, primeiramente, você aprenderá
a se posicionar de modo estratégico. Em segundo lugar, observará
como traçar estratégias e atividades que possibilitem a você e à
sua empresa uma atuação dentro desse posicionamento, a qual
será pautada pelo crescimento, pela estabilidade ou pela análise
de continuar ou não em determinado mercado. Por fim, dentro de
uma posição e com um conjunto de atividades que o levarão a atin-
gir seus objetivos, você analisará quais atividades realmente geram
valor para sua empresa e garantem sua vantagem competitiva.
Figura 1
Variáveis da estratégia competitiva
Mercado amplo
Liderança
Diferenciação
de custo
Nicho Nicho de
de custo diferenciação
Mercado restrito
Fonte: Elaborada pelo autor.
66 Estratégia Empresarial
Com base na Figura 1, você deve levar em conta quatro variáveis:
custo, diferenciação, mercado amplo e mercado restrito. Por exemplo,
suponha que você tem uma empresa de confecção de roupas, você
pode optar por: vender no mercado brasileiro geral com custo baixo;
vender suas peças com preço maior, tendo em vista uma marca co-
nhecida; atender a um mercado bem específico, como o de uniformes
escolares, com preço baixo; ou atender ao mercado restrito de roupas
de luxo, com preços mais altos. Não existe opção melhor ou pior, as
quatro podem levar ao mesmo nível de lucratividade. Veja como isso
ocorre de maneira específica:
•• Se vender 1 milhão de peças por mês para o Brasil todo e seu lucro
por peça for de R$ 1,00, no fim, seu lucro será de R$ 1.000.000,00.
•• Se vender 10 mil peças de roupa com base em sua marca no Bra-
sil e seu lucro por peça for de R$ 100,00, seu lucro, no fim, conti-
nuará sendo de R$ 1.000.000,00.
•• Se optar por vender uniformes escolares em sua cidade, fechar um
acordo com as escolas locais e vender 5 mil uniformes com o lucro
de R$ 200,00 por uniforme, você também obterá R$ 1.000.000,00.
•• Se escolher por trabalhar com produtos de luxo, você não preci-
sará vender muitas peças, por exemplo, mil peças a um lucro de
R$ 1.000,00 por peça geram um resultado de R$ 1.000.000,00.
Estudo de caso
A Ryanair obteve grande sucesso nos últimos anos devido ao seu modelo de negócios
de baixo custo e se tornou a maior companhia aérea do mundo em termos de número
de passageiros internacionais. Levando em consideração as estratégias genéricas de ne-
gócios de Porter (1985), essa empresa opera uma estratégia de liderança de custos. O
objetivo da Ryanair é se estabelecer como a principal companhia aérea de passageiros
da Europa, por meio da oferta de tarifas baixas.
As tarifas baixas são projetadas para estimular a demanda, atraindo os viajantes que se
preocupam com a tarifa, os que usavam formas alternativas de transporte ou aqueles
que não tinham o hábito de viajar de avião. As passagens são vendidas quase que ex-
clusivamente em seu site, o que reduz os custos de vendas.
Os serviços a bordo das aeronaves são básicos. Isso significa que a tarifa inclui apenas
o voo, assim há algumas medidas diferentes diretamente relacionadas ao custo: o em-
barque é sem bilhete, os assentos não são marcados, há custo adicional de bagagem
para o passageiro e para o check-in antecipado, seguem uma política de não reembolso,
os assentos são básicos (para aumentar a capacidade da aeronave) e há cobrança por
qualquer serviço adicional. Tudo isso reduz significativamente os custos para a empresa.
A Ryanair voa para aeroportos secundários, onde pode negociar de modo extremamen-
te agressivo e exigir as mais baixas taxas de desembarque e operação em solo.
Essa organização compra aeronaves novas e padronizadas, o que lhes proporciona poder
de barganha na encomenda de várias das mesmas aeronaves. Além disso, aviões padro-
nizados proporcionam uma economia no treinamento de pessoal, como comissários,
pilotos e técnicos. Ao comprar aviões novos, a empresa possui mais segurança e econo-
miza no consumo de combustível e manutenção.
A política de recursos humanos também está diretamente relacionada à redução de
custos. Os funcionários devem pagar por seu próprio uniforme e equipamento. O treina-
mento ministrado é o mínimo exigido e a utilização da equipe está entre as mais altas
do setor aéreo. Muitos funcionários estão empregados em contratos de desempenho, e
aqueles que não atendem às expectativas são substituídos. Também, é esperado que
o pessoal assuma várias funções, por exemplo, o pessoal da cabine faz a limpeza da
aeronave antes do próximo voo e o pessoal do check-in ajuda no embarque na aeronave.
68 Estratégia Empresarial
Wilson e Gilligan (2012) observam que o risco de seguir a estratégia
de liderança de custos está no foco excessivo para redução de custos.
Muitas vezes, a busca obsessiva pelo custo mais baixo gera uma perda
de visão do porquê da escolha, além de fazer com que a empresa aban-
done qualquer nova oportunidade e se feche para inovações.
Estudo de caso
Antes conhecida apenas por seus computadores, a Apple tornou-se uma grande em-
presa de tecnologia que oferece de tudo, desde eletrônicos pessoais a streaming de
entretenimento. Por meio de seu modelo de negócios com base em inovação e design,
a Apple se estabeleceu como precursora em marketing, serviços diferenciados e ven-
das customizadas.
A Apple tem uma estratégia de diferenciação multifacetada, pois está continuamente
inovando e oferecendo novas linhas de produtos e serviços excelentes para o cliente. Ela
capitaliza sua diferenciação na própria marca, que se tornou parte da cultura por meio
de suas campanhas publicitárias e colocação de produtos.
Um dos fatores mais bem-sucedidos da estratégia da Apple é a criação de seu próprio
“ecossistema”. A linha de produtos Apple foi projetada para integrar e compartilhar
todo seu conteúdo e sua mídia em seus dispositivos. Esse ecossistema oferece aos
usuários a capacidade de compartilhar seus arquivos do iPad para o iPhone, para o
computador ou para a Apple TV. Sair do ecossistema não seria apenas caro para o
usuário, mas também seria complicado assimilar a mesma facilidade de uso nos dis-
positivos concorrentes.
Outro importante fator de sucesso é a inovação contínua com o lançamento constante de
novas ofertas. Assim, a Apple mantém sua posição como líder do mercado de tecnologia.
70 Estratégia Empresarial
Observe o caso Ferrari, a seguir, e sua estratégia de nicho de dife-
renciação (FERRARI, 2020).
Estudo de caso
2
Empresas que utilizam a estratégia de nicho, tanto de custo quanto As economias de escala estão
de diferenciação, têm uma pequena parcela do mercado total porque relacionadas às vantagens
obtidas quando a produção se
encontraram um segmento pequeno e focado, com poucos concorren- torna eficiente. As empresas
tes. Assim, uma possível desvantagem dessa estratégia é que o nicho obtêm economias de escala
aumentando a produção e redu-
escolhido talvez não seja significativo ou grande o suficiente para justi- zindo os custos. Quanto maior
ficar a atuação exclusiva da empresa. for a economia nos custos e na
produtividade, menor será o cus-
O foco nos custos pode ser difícil em setores nos quais as econo- to unitário dos produtos, o que
2 possibilita à empresa trabalhar
mias de escala desempenham um papel importante. Existe o perigo
com preços mais baixos.
evidente de que o nicho possa desaparecer à medida que o ambiente
de negócios e as preferências dos clientes mudem ao longo do tempo.
3
3
Agora, analise o caso de um motel dos Estados Unidos da América
Nos EUA, o conceito de motel
(EUA) e sua estratégia de nicho de custo (COLLINS; PARSA, 2006). significa hotéis geralmente em
estradas ou áreas mais distantes
do centro das cidades com pre-
ços baixos e com oferta restrita
de serviços como entretenimen-
to e restaurante. Esses motéis
servem essencialmente para os
hóspedes passarem a noite.
O Motel 6 é uma cadeia de hotéis nos EUA que opera com preços imbatíveis no setor
de hospitalidade desde 1962, sendo a maior cadeia de hotéis supereconômicos. Sua
diária média atualmente é de aproximadamente US$ 51,00, e a média nacional é de
US$ 150,00.
Ele se destaca como uma cadeia de acomodações básicas, com quartos com decoração
funcional, o que reduz o tempo para que sejam limpos, e não oferece refeições. A oferta
do Motel 6 vai para qualquer pessoa que se preocupa com a economia e bons serviços
hoteleiros: executivos, profissionais liberais, aposentados, famílias com crianças peque-
nas, estudantes ou estrangeiros que precisam de um quarto de uma semana a um mês.
72 Estratégia Empresarial
Livro
muito. Além do custo do aluguel do novo imóvel, você terá de contratar Por meio da leitura do
mais pessoas para atuar na cozinha e servir, a fim de manter a qualida- livro Estratégia boa, estra-
tégia ruim: descubra suas
de da sua comida e do seu atendimento. Esse aumento nos custos só diferenças e importância,
compensará se você tiver uma demanda extra estimada de 20 pessoas, você pode ter acesso a
exemplos muito interes-
ou seja, um restaurante maior, que mantém o posicionamento e pas- santes sobre a estratégia
sa a servir 60 pessoas com a mesma qualidade e atendimento. Assim, adotada por organiza-
ções diferentes. Nessa
você deverá refletir se a melhor alternativa para seu restaurante é cres- obra, o autor argumenta
cer ou manter as coisas como estão. que uma estratégia boa
vem do insight sobre
Em termos práticos, uma decisão, como a apresentada nesse exem- a verdadeira natureza
da situação em que a
plo, faz parte do que denominamos estratégia empresarial ou estratégia empresa está. Ainda, o
de negócios – o que de fato você irá fazer, dentro destas amplas opções: insight pode ser cultivado
por uma variedade de
crescimento, estabilidade ou redução de suas atividades. ferramentas que dire-
cionam o pensamento
Figura 2
Matriz de produtos e mercados esquematizada
Produtos
Existentes Novos
Existentes
Penetração Desenvolvimento
de mercado de produtos
Mercados
Desenvolvimento
Diversificação
Novos
de mercado
74 Estratégia Empresarial
de produtos. Por fim, se, ao lado da padaria, você abre um restaurante,
é uma estratégia de diversificação relacionada porque você já trabalha
com gastronomia. No entanto, caso divida esse novo espaço entre o
restaurante e uma loja de roupas, você estará adotando uma estratégia
de diversificação não relacionada.
→ →
Estudo de caso
76 Estratégia Empresarial
Figura 4
Representação da integração vertical direta
Matéria-prima
1
Fornecedores
2
Manufatura
3
Distribuição
4
Varejo
5
Consumidor final
6
Fonte: Elaborada pelo autor.
Estudo de caso
Dirceu montou uma churrascaria-rodízio em sua cidade e logo foi reconhecido pela
qualidade das carnes e do buffet, além do preço baixo. Após um ano de operação, sua
churrascaria estava sempre lotada com uma espera média de 30 minutos nos dias de
semana e duas horas nos fins de semana.
Assim, conversou com sua família e resolveu abrir uma filial em outro bairro da cidade
e combinou com sua esposa para gerenciá-la. Como sua marca, Churrascaria Nova Lua,
ficou conhecida rapidamente, não demorou para que o sucesso chegasse a essa nova
filial. Novamente, conversou com sua família e acertou com seu filho para abrir e geren-
ciar a terceira filial. Em menos de seis meses, ela também estava “bombando”.
78 Estratégia Empresarial
Assim, podemos dizer que os negócios para Dirceu e sua família estavam Figura 5
indo muito bem, até que a prefeitura sancionou uma lei proibindo que Exemplo de estratégia de
restaurantes armazenassem alimentos congelados em seus estabeleci- integração vertical indireta
mentos. Dirceu ficou muito preocupado porque fazia a compra de carnes
Fazenda
de frigoríficos em grande volume e as congelava para abastecer seus
restaurantes.
Diante dessa ameaça, resolveu integrar verticalmente suas atividades de
maneira indireta, abrindo um frigorífico. Logo chegou à conclusão de que Postos Nasa
o frigorífico daria prejuízo se ele existisse com a única finalidade de fornecer
carnes para seus restaurantes. Assim, abriu o Frigorífico Lua Crescente para
vender carnes para outros restaurantes, açougues e pequenos mercados na Transportadora
cidade. Como a atividade de um frigorífico é diferente do que estava acostu- Constelação
mado a fazer em seus restaurantes, teve um pouco de dificuldade inicial em
montar seu modelo de negócios e operação. Após dois anos de atividade, Frigorífico
atingiu o ponto de equilíbrio com seu frigorífico e começou a lucrar com essa Lua Crescente
nova atividade. Enquanto isso, suas três churrascarias estavam muito bem
e a qualidade, com o novo esquema de distribuição, melhorou muito. Seus Churrascaria
clientes não cansavam de elogiar a experiência que tinham no almoço e jan- Nova Lua
tar, o que possibilitou a Dirceu aumentar os preços sem perder sua clientela.
Outro gargalo que Dirceu percebeu em sua cadeia de valor foi o transporte Fonte: Elaborada pelo autor.
que nem sempre era confiável: cargas eram roubadas, atrasos aconteciam
com frequência e a armazenagem dentro dos caminhões não era muito eficiente e organizada.
Assim, Dirceu resolveu comprar três caminhões, dois grandes e um pequeno, para fazer o transporte
de carnes para seu frigorífico e deste para seus restaurantes. Como já tinha a experiência da aber-
tura do frigorífico, resolveu abrir a Transportadora Constelação. Logo fechou um contrato para levar
insumos para fazendas onde buscava a carne para seu frigorífico, ou seja, seus caminhões levavam
produtos da cidade para as fazendas e voltavam com carne. À medida que sua transportadora foi
crescendo, percebeu que seus motoristas precisavam de lugares com condições adequadas para
descansar. Dirceu mapeou a rota de viagem de seus caminhões e percebeu que sempre havia duas
paradas na rota principal, assim resolveu comprar os dois postos de combustíveis na estrada e mon-
tou a Rede Nasa de Postos de Combustíveis.
Como todos sabem, postos de beira de estrada oferecem serviços de alimentação, geralmente uma
churrascaria, ou seja, mais uma oportunidade para a Churrascaria Nova Lua. Como Dirceu estava
cansado de tantos empreendimentos, resolveu comprar uma fazenda para descansar e, é claro, de-
senvolver a atividade pecuária, matéria-prima de sua cadeia de valor.
Figura 6
Alternativas para a integração vertical
Mais integração
1 Joint venture
4 Transações únicas
80 Estratégia Empresarial
2. Contratos de longo prazo:
Um mercado caracterizado
O governo brasileiro, por meio do Conselho Administrativo de
por monopólio é composto de
apenas uma empresa que pode Defesa Econômica (CADE), regula a atuação das empresas com
oferecer os produtos e serviços. o objetivo de atender melhor ao cidadão. Em geral, segundo as
Um mercado monopolista é o
regras do CADE, a livre concorrência é afetada quando uma em-
oposto de um mercado com
concorrência perfeita, no qual há presa detém mais de 20% do mercado, assim o governo procura
um número infinito de empresas controlar e regulamentar o crescimento da participação de mer-
operando. Em um modelo pura-
cado das empresas.
mente monopolista, a empresa
monopolista pode restringir a Por exemplo, vamos pensar que, hipoteticamente, sua empresa
produção, aumentar preços e detém 50% do mercado e essa participação de mercado foi aceita
obter lucros acima do normal.
pelo CADE. Se você não pensar estrategicamente e quiser conti-
nuar a crescer, poderá estar sujeito a uma penalidade governa-
mental e, possivelmente, terá que dividir sua empresa em duas,
o que pode aumentar consideravelmente seus custos e diminuir
sua lucratividade.
82 Estratégia Empresarial
Por exemplo, o mundo do acesso à informação mudou com-
pletamente. Imagine que você trabalha em um jornal impresso Atividade 2
tradicional da sua cidade. A maioria das pessoas hoje busca in- Suponha que você tem uma loja
de sapatos e achou interessante
formação em outros meios, como blogs e redes sociais, no tempo
a estratégia de integração ver-
delas. Além disso, quem determina a pauta é o leitor, não mais tical indireta, mas sua empresa
o meio de comunicação. Um jornal impresso não consegue fazer possui poucos recursos para
uma análise customizada e em tempo real dos acontecimentos. desenvolvê-la sozinha. O que
você poderia fazer?
Assim, em vez de investir mais em máquinas de impressão, por
exemplo, você deve manter sua operação estável e migrar sua
produção de conteúdo para um serviço on-line.
84 Estratégia Empresarial
Figura 7
Cadeia de valor
Infraestrutura
Atividades de suporte
Desenvolvimento tecnológico
Margens
Aquisições/compras
Atividades primárias
86 Estratégia Empresarial
Observe, a seguir, alguns passos para usar a cadeia de valor.
I. Identifique subatividades para cada atividade principal
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Agora, você já tem um roteiro genérico do que fazer depois do diagnóstico
estratégico. Assim, você pode ajudar sua organização a gerar valor com base
em posicionamento e atividades específicas para os negócios da empresa.
Uma conclusão importante a que chegamos é que não há estratégia
competitiva genérica melhor ou pior. Contudo, ao escolher um posiciona-
mento, você deve se manter fiel a ele, ou seja, tudo o que você fizer em
sua empresa deve ser pautado pelo posicionamento que você escolheu.
Quando nos preocupamos em manter nossa posição, proporciona-
mos à empresa e aos seus colaboradores consistência estratégica no de-
senvolvimento das atividades diárias e nos negócios. Com isso, decisões,
como crescer ou não, ficam mais claras e evidentes.
Ainda, ao tomar uma decisão, é importante que você observe cada
atividade estratégica em bloco e analise o efeito desse bloco na geração
de valor para a empresa. Ao ter um monitoramento constante do valor
gerado pelas atividades, você terá mais domínio de como melhorar cada
uma e possivelmente terá certeza de que, ao final de cada ciclo de análi-
se, suas ações estratégicas estão criando e mantendo o valor sustentável
para sua organização.
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90 Estratégia Empresarial
4
Planejamento estratégico
e governança
Diariamente, colocamos em prática, para nós, para nossa famí-
lia, para nossas organizações e para a comunidade à qual perten-
cemos, o que governamos. Suponha que você, estrategicamente,
planeja comprar um carro para atender às suas necessidades, por
um menor preço. Como, de fato, você faz isso?
Em primeiro lugar, taticamente, elenca todas as necessidades
relacionadas ao carro e, depois, analisa seu orçamento e como irá
executar esse objetivo, além de listar alguns modelos pelos quais
se interessa. Em seguida, operacionalmente, você faz pesquisas na
internet, visita lojas e concessionárias de veículos, conversa com
amigos e especialistas e, por fim, compra o automóvel e contrata
um financiamento e um seguro para seu mais novo bem.
Considerando todo esse processo, vamos analisar, neste ca-
pítulo, como ocorre o planejamento empresarial, dividindo-o em
três níveis: estratégico, tático e operacional. Esse processo, que
deve ser governado por princípios, é muito complexo, pois envol-
ve todos os elementos relacionados com a atuação da empresa,
sejam internos ou externos a ela. Além disso, vamos nos dedicar à
compreensão de como criar um sistema ético e transparente que
gerencie a implementação da estratégia por meio dos planejamen-
tos nos três níveis.
Lyudmyla Kharlamova/Shutterstock
Colocar em prática
lecer o
tudo o que se Estabe nho
pe
pretende fazer em desem ido.
d
um tempo esperado. preten
tar
Apresen de
odo
um mét o aceito
entaçã
implem da
r tod os dentro
po a.
empres
92 Estratégia Empresarial
operacional, além de uma sequência que determina o comportamento
da empresa, como vemos na Figura 1.
Figura 1
Hierarquia e sequência comportamental do processo de planejamento
Planejamento estratégico
Abert/Shutterstock
Planejamento tático
Criar um mapa para integrar todas
as áreas da organização e atingir os
objetivos estratégicos.
Planejamento operacional
Colocar em prática as ações para
percorrer o caminho do mapa e
chegar aos objetivos.
Planejamento estratégico
94 Estratégia Empresarial
crever especificamente todos os objetivos que foram traçados pela em-
presa e como será avaliado se foram atingidos ou não.
Planejamento tático
Marketing e vendas
(Continua)
Recursos humanos
Tecnologia
Operações
96 Estratégia Empresarial
De acordo com Fischmann e Almeida (2018), se pensarmos em um
documento, apesar de ser flexível, o plano tático deve conter:
•• Metas específicas com prazos fixos
O plano tático deve listar todos os recursos que você precisa reunir
para alcançar os objetivos. Isso deve incluir recursos humanos, finan-
ceiros, estruturais, físicos, de propriedade intelectual etc.
•• Orçamento
Planejamento operacional
98 Estratégia Empresarial
com a mesma eficiência que faziam quando o negócio era menor. As-
sim, decidem contratar gestores profissionais com mais experiência
e conhecimento para administrar suas empresas. Quando isso ocor-
re, naturalmente, o empreendedor inicial perde o controle pessoal de
seu empreendimento, podendo sentir insegurança e, de certa forma,
desconfiança e desconforto por não poder mais fazer as coisas como
sempre fez. Nesse contexto, surgem o conceito e a prática da gover-
nança corporativa.
Enron
O caso envolvendo a Enron é um dos mais famosos escândalos corporativos de todos
os tempos. A situação começou no início de 2001, quando os analistas questionaram
as contas apresentadas no relatório anual da empresa. Essas contas usavam uma varie-
dade de procedimentos irregulares, o que dificultava descobrir como a empresa estava
ganhando dinheiro, apesar de ser uma das maiores organizações dos Estados Unidos da
América (EUA) nos setores de energia e telecomunicações. A Enron escondia seus pas-
sivos em outras empresas que controlava, o que lhe permitia parecer lucrativa, embora
estivesse realmente quebrada. O preço de suas ações caiu de US$ 90,56 para menos de
um dólar, assim a Enron foi forçada a pedir uma das maiores falências da história.
Facebook
O maior escândalo do Facebook ocorreu em março de 2018, quando o The Guardian e o
The New York Times relataram que uma empresa chamada Global Science Research ha-
via coletado dados de milhões de usuários do Facebook em 2013, sem o consentimento
explícito. Isso foi possível devido a uma versão anterior da política de privacidade do
Facebook que permitia a outros aplicativos acessar dados dos usuários. A Global Science
Research coletou informações de 87 milhões de usuários do Facebook, embora apenas
cerca de 30 mil pessoas a tenham realmente usado. Esses detalhes foram posteriormen-
te vendidos à Cambridge Analytica, que os usou para criar anúncios altamente segmen-
tados para incentivar os usuários a votarem em Trump e na saída da Inglaterra da União
Europeia. A exaltação em torno desse escândalo foi tão grave que Mark Zuckerberg foi
chamado para responder a perguntas diante do Congresso nos EUA.
Petrobras
A Petrobras tinha conquistado a reputação de ser uma das empresas de petróleo e gás
mais éticas do mundo. No entanto, a investigação da Lava Jato revelou o que foi con-
siderado o maior caso de corrupção na história do Brasil. O escândalo começou com o
pagamento de subornos de um suposto cartel de empreiteiros à Petrobras em troca de
grandes contratos de infraestrutura. A investigação revelou que as fraudes foram reali-
zadas ao longo de uma década. Dezenas de políticos e empresários em conluio (cumpli-
cidade) com gestores da Petrobras receberam pagamentos ilícitos e subornos. Os efeitos
do escândalo abalaram não só a empresa, mas o país social, econômica e politicamente.
Na prática, como podemos ado- dade e ao meio ambiente em que a empresa opera. Hoje, as empresas
tar a boa governança corporativa são responsáveis por ambos, assim a governança corporativa é uma
para que nossa estratégia seja
mais sustentável? forma de garantir que a empresa se preocupe, além do lucro, com a
sociedade e com o meio ambiente.
Equidade
Prestação de contas
Figura 2
Estrutura de governança corporativa
GOVERNANÇA
ACIONISTAS
CONSELHO
TOMADA DE DECISÃO ADMINISTRATIVO FLUXO DE INFORMAÇÃO
E FISCAL
DIRETORIA GESTÃO
GERENTES
RESULTADOS
Fonte: Elaborada pelo autor.
Transparência
V. Prestação de contas
1. M
apeie a estrutura atual da sua empresa e visualize como ela vai
crescer. Essencialmente, crie um organograma que estabeleça uma
hierarquia e defina amplamente as responsabilidades. Em seguida,
desenvolva descrições de cargos e descreva as responsabilidades para
proprietários, parceiros, investidores e funcionários.
2. Estruture e formalize as políticas e os processos internos. Isso significa
olhar todos os aspectos do negócio e desenvolver um protocolo para
definir precedentes e agilizar as operações internas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A implementação da estratégia não é algo simples. No entanto, se uma
empresa tiver convicção de que suas ações estratégicas lhe proporciona-
rão vantagem competitiva, é apenas uma questão de organização. Parece
estranho, mas, para implementar a estratégia, é necessário ter uma estra-
tégia de planejamento de como isso irá acontecer.
Além disso, quando uma empresa adota boas práticas de governança
corporativa, o planejamento da implementação ocorre de maneira automá-
tica porque há uma definição prévia do que pode ou deve ser feito versus
o que não pode ou não deve ser feito. Assim, todos na organização, enten-
dendo o que a empresa quer para ter sucesso sustentável, seguirão um
roteiro preestabelecido e monitorado pelas boas práticas de governança.
Dessa maneira, antes mesmo de fazer o diagnóstico, definir a missão,
a visão, os valores e a estratégia genérica dos negócios, é fundamental
que a empresa esteja preparada com uma boa definição da sua estrutu-
ra organizacional, papéis e responsabilidade e processo correntes. Com
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3. A resposta é pessoal, mas espera-se que, com base na leitura deste capítulo, você res-
ponda que não concorda com a afirmação. Ao aplicar os princípios da boa governança
corporativa, você está preparando e consolidando seus negócios para atuar de manei-
ra ética, transparente, com a apresentação sistemática de resultados e avaliando se o
seu planeamento estratégico está gerando os resultados preestabelecidos. Assim, o
crescimento é pautado e facilitado pelas melhores práticas de governança corporativa.
Quadro 1
Aplicação dos princípios éticos
phipatbig/Shutterstock
Princípio Foco Descrição Exemplo de aplicação
Egoísmo
A sociedade como um todo será melhor,
Não tome decisões que não sejam
Interesses mais livre e produtiva se cuidarmos de nos-
de seu interesse pessoal e da orga-
individuais sos próprios interesses, sem interferir nos
nização em que trabalha.
direitos dos outros.
Utilitarismo
Uma ação é moralmente correta se resul- Não tome decisões que não resul-
Bem-estar
tar no bem maior, ou seja, da maior quan- tem em um bem maior para a socie-
coletivo
tidade de pessoas afetadas pela decisão. dade da qual você faz parte.
(Continua)
Direitos
Direitos do Eticamente, os direitos geralmente resul- Nunca tome uma decisão que redu-
homem tam no dever dos outros em respeitá-los. za os direitos dos outros.
Justiça
Nunca tome uma decisão em que a
Preocupação com procedimentos e resul-
Justiça humana parte desfavorecida possa ser preju-
tados justos.
dicada.
Eficiência
econômica Atingir esse objetivo é otimizar a eficiência Sempre aja para maximizar os lu-
Supremacia dos do sistema econômico. Todos os sistemas cros, sujeito a restrições legais e de
acionistas econômicos são mecanismos para servir às mercado. Lucros representam um
necessidades da população. sistema de produção eficiente.
Não
igualitário O princípio baseia-se na premissa de que a
Nunca tome uma atitude que inter-
distribuição da riqueza na sociedade é jus-
Empoderamento fira no direito de autorrealização ou
ta, desde que sejam criadas condições para
de autodesenvolvimento dos outros.
trocas e transferências justas.
Estudo de caso
Juan foi contratado para ser presidente de uma empresa de autopeças que está pas-
sando por um momento muito ruim. Ela está prestes a perder seu principal contrato com
um fabricante de veículos, porque ele entendeu que a empresa não tem uma política de
gênero adequada e lhe deu 60 dias para encontrar uma solução.
O quadro que Juan se depara é o de uma organização muito eficiente, que produz e
entrega peças de qualidade com o menor preço do mercado, mas 90% dos seus funcio-
nários são homens e nenhuma mulher exerce um cargo de liderança. O que Juan deve
fazer? Mandar 40% dos homens embora e contratar mulheres para seus lugares? Juan
deve, então, tomar uma decisão baseada nos princípios éticos.
Pelo princípio do egoísmo, Juan deve atender à demanda do seu cliente (o fabricante
de autopeças), porque é do interesse da sua empresa manter o contrato. Além disso, pelo
princípio de eficiência econômica, mantendo o contrato, Juan continua maximizando 3
os lucros, mesmo incorrendo em custos trabalhistas e previdenciários ao dispensar 40%
O plano de demissão voluntária
dos homens. Em situações como essa, Juan pode, por exemplo, minimizar os custos crian- (PDV) é um instrumento legal
do um plano de demissão voluntária (PDV) 3 . para a redução do quadro de
De acordo com o princípio do utilitarismo, Juan também deve seguir com a demis- funcionários de uma empresa
que consiste em um acordo
são, porque os únicos prejudicados serão 40% dos homens demitidos e, além de atender às
mútuo entre a empresa e o
exigências do cliente, Juan criará um benefício social maior ao criar uma política de gestão funcionário, por meio do qual se
de pessoas que leva em consideração a igualdade de gênero. estabelece o fim de um contrato
No entanto, com base nos princípios da ética dos deveres, dos direitos e da de trabalho partindo de uma
“demissão espontânea”, gerando
justiça, Juan não estará agindo eticamente se apenas demitir os 40% e contratar as mu- vantagens para o empregado e
lheres para continuar com o contrato, pois não está sendo justo e não estará fazendo o que para o empregador.
deve ser feito. Assim, para que sua decisão seja ética, Juan deve criar uma compensação
extra para os homens demitidos, custeando, por exemplo, um programa de recolocação
para eles no mercado ou em outras empresas.
(Continua)
A TOMS Shoes é um fabricante de sapatos que construiu uma imagem social baseada
no modelo comprar um/doar um. Seu fundador teve essa ideia quando visitou a Argentina
e viu muitas crianças descalças e, ao mesmo tempo, percebeu que muitos adultos usavam
um sapato muito simples e confortável – as tradicionais alpargatas (TOMS, 2020).
Assim, a TOMS Shoes começou a fabricar alpargatas em muitos estilos e cores e pro-
meteu aos clientes que, a cada par de sapatos que comprassem, outro par iria para as
pessoas necessitadas. Essa ideia decolou a empresa a tal ponto que a TOMS retirou o Shoes
de seu nome e construiu um império de produtos, expandindo-se para óculos de sol, café
(cuja compra fornece água para onde é necessário) e outros produtos.
O universo de doações da TOMS continua em expansão e agora inclui nutrição, saúde
e educação. A TOMS, seguindo a tendência emergente da RSC, iniciou uma onda de negó-
cios que faz o bem como parte de sua estratégia. Segundo seu gestor, o incentivo de seu
trabalho está no fato de todos saberem que todos os dias irão doar um par de sapatos para
cada um que venderem e, se não conseguirem fazer o negócio funcionar dessa maneira,
ele não existirá.
Por meio desse Estudo de caso, podemos perceber que a TOMS vai
além do que as outras empresas fazem, pois se baseia na premissa de
que as vendas são iguais ao bem feito. Esse efeito é gerado pela TOMS
porque ela desenvolveu sua estratégia com base em um projeto social,
fazendo com que a RSC esteja totalmente integrada à sua estratégia.
Atividade 2
Assim, ao incluir a identificação e análise dos interesses dos
Por que uma orientação para
stakeholders à estratégia da sua empresa, desenvolver ações de
a responsabilidade social
corporativa é considerada mais RSC alinhadas ao que você faz bem parece se tornar mais nítido e
estratégica? gera retornos pelos seus esforços.
Estudo de caso
Xerox
A Xerox se envolve em inúmeras iniciativas de RSC, com destaque para o XEROX
Community Program (XCIP). O XCIP é o programa mais antigo da empresa e adota uma
abordagem “glocal” (global e local) para sua estratégia de RSC. Nesse programa, funcioná-
rios são financiados para atuar em projetos de sua escolha, em suas comunidades locais,
para fazer a diferença nos projetos. Desde 2012, eles patrocinam mais de 18 mil projetos
com mais de 400 mil participantes.
Patagonia
A Patagonia é uma empresa de roupas que se identifica com o ar livre e acredita em am-
biente saudável. Porém, o seu impacto ambiental aumenta à medida que a empresa cresce.
Assim, a Patagonia tem o desafio de aumentar sua produção e, ao mesmo tempo, reduzir
esse impacto. Para isso, a empresa é transparente e aborda diferentes questões ambientais
e sociais, por exemplo:
a. Fornecimento de materiais: usar algodão orgânico, desde 1994, e ter relações
profundas com os agricultores desse material para manter a qualidade de seu insumo.
b. Salário digno: garantir que seus funcionários não recebam apenas um salário
mínimo, mas, sim, um salário digno, admitindo que isso é algo difícil de alcançar
e que ainda não atingiram seu objetivo, mas que estão trabalhando nesse sentido.
c. Mudança climática: garantir que usem energia renovável e trabalhem em prédios
verdes, além de apoiar ambientalistas por meio de uma taxa criada por eles
mesmos, doando 1% de suas vendas para esforços de conservação ambiental.
5.3 Sustentabilidade
Vídeo De acordo com o relatório do Banco Mundial (2013), o número
de pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia diminuiu
consideravelmente nos últimos 30 anos, de 50% para 21%, mesmo
levando em consideração o aumento de 59% em população. Se-
gundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Eco-
Figura 1
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
MintArt/Shutterstock
2. FOME ZERO
DA POBREZA BEM-ESTAR DE QUALIDADE DE GÊNERO E SANEAMENTO
7. ENERGIA 8. EMPREGO DIGNO 9. INDÚSTRIA, 10. REDUÇÃO DAS 11. CIDADES E 12. CONSUMO
ACESSÍVEL E LIMPA E CRESCIMENTO INOVAÇÃO E COMUNIDADES E PRODUÇÃO
INFRAESTRUTURA DESIGUALDADES
ECONÔMICO SUSTENTÁVEIS RESPONSÁVEIS
13. COMBATE 14. VIDA DEBAIXO 15. VIDA SOBRE 16. PAZ, JUSTIÇA Objetivos de
17. PARCERIAS EM
ÀS ALTERAÇÕES Desenvolvimento
D’ÁGUA A TERRA E INSTITUIÇÕES PROL DAS METAS
CLIMÁTICAS Sustentável
FORTES
Viabilidade Aceitável
Dimensão ambiental
Pessoas
Planeta
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme estudamos neste capítulo, as empresas e seus gerentes to-
mam decisões estratégicas constantes sobre alocações de recursos no
ambiente natural e acerca do uso sustentável dos recursos naturais, o tra-
tamento dos ecossistemas e seres humanos e não humanos. Assim, é im-
possível ignorar os fundamentos éticos de tais ações e suas consequências.
Além disso, estratégias orientadas para Responsabilidade Social Cor-
porativa (RSC) e a sustentabilidade são mais eficazes. No entanto, não
adianta abordar esses temas como um meio para um fim, pois sua estra-
tégia terá apenas um papel instrumental marginal. Desse modo, é neces-
sário incluir uma abordagem mais integrativa e intrínseca que veja a RSC
e a sustentabilidade como um fim e o processo estratégico como o meio
para tanto, visando a uma empresa verdadeiramente ética, responsável
e sustentável.
GABARITO
1. A reflexão ética depende da sua abordagem para a questão. Por exemplo, do seu
ponto de vista, vender a empresa é uma decisão ética, em princípio, porque atende
ao seu interesse. Mas, de uma maneira mais abrangente, a decisão ética seria vender
a empresa, comunicar os empregados e discutir com o comprador uma solução em
conjunto para o desemprego deles.
3. Uma abordagem tripla faz com que sua estratégia seja mais abrangente, mais alinha-
da com o ambiente externo e mais criativa, porque faz com que você observe elemen-
tos não óbvios no contexto empresarial.
Estudo de caso
Pedro decidiu abrir um restaurante italiano com a proposta de representar o conhecimento sobre
gastronomia e cultura italiana, para que o cliente realmente se sentisse jantando em uma cantina de
Roma. Assim, ele refletiu seu conhecimento sobre cultura e gastronomia italianas na estrutura física
do restaurante contratando um arquiteto que entendia de arquitetura e arte da Itália para desenhar o
projeto arquitetônico e comprar os móveis que compuseram a decoração do restaurante.
Porém, tendo em vista que um restaurante não é uma casa, Pedro levou em consideração que seu
layout permitisse o fluxo dos atendentes e dos clientes para que o atendimento fosse ágil e que o
cliente tivesse uma percepção agradável. Além disso, contratou um chefe que montasse um menu prá-
tico e diferenciado e que refletisse as tendências italianas de gastronomia. Fora isso, o chefe precisou
coordenar todo o trabalho na cozinha, conhecer as regulamentações de vigilância sanitária e fazer a
compra dos produtos para serem transformados nos pratos do menu.
Apesar disso, Pedro reconheceu que ainda não havia chegado na metade do conjunto de conhecimen-
tos e habilidades necessários para o restaurante italiano, que precisariam estar integrados e agrupados
para que o cliente conseguisse perceber, mesmo que indiretamente, tudo o que estava por trás do seu
pedido e atendimento. Esses conhecimentos e habilidades por parte de Pedro foram o que o diferen-
ciou de outros empreendedores na abertura de um restaurante de sucesso.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Lovelock, Wirtz e Hemzo, 2011.
I. Benefício central
O benefício central representa a necessidade fun-
Figura 1 damental do cliente que é satisfeita. É uma resposta
Os três níveis de produto/serviço
à seguinte pergunta: fundamentalmente, por que o
cliente está comprando determinado produto? Por
Produto
exemplo, o principal benefício de um smartphone é
aumentado
fornecer um mecanismo de comunicação, indepen-
dentemente de onde você estiver. Você já sabe que
Produto real
raramente conseguirá comercializar seus produtos
com base apenas no benefício central porque não
Benefício tem como foco a diferenciação, mas a funcionalida-
central de do mesmo. Seria muito estranho você fazer uma
campanha de comunicação para um smartphone com
base no seguinte slogan: “compre um smartphone para
mandar, receber mensagens e fazer ligações!”
Figura 2
Ciclo de vida do produto
$ Maturidade
Crescimento
Declínio
Introdução
tempo
Agora, vamos analisar e ver como cada uma dessas etapas é desen-
volvida pelas empresas.
Após a seleção das ideias, os conceitos dos produtos devem ser de-
senvolvidos, ou seja, as ideias selecionadas devem ser desenvolvidas
para serem apresentadas de maneira detalhada e significativa como
conceitos de produtos. O conceito é uma descrição do produto e de seu
funcionamento. Em seguida, esses conceitos são avaliados por meio de
um teste de conceito com grupos de clientes selecionados. Basicamen-
te, os conceitos são apresentados individualmente aos consumidores
por meio de entrevistas ou questionários, ou coletivamente por meio Glossário
de grupos focais. A apresentação é simples: o conceito é mostrado aos
grupo focal: conjunto de indi-
consumidores por meio de uma frase que descreve o conceito e o seu víduos reunidos com os objetivos
funcionamento. Algumas empresas usam um esboço gráfico ou visual de validação e identificação de
problemas.
para facilitar a interpretação pelos consumidores. Os conceitos mais
bem classificados nos testes são selecionados como produtos para se-
rem pré-desenvolvidos na fase seguinte.
DESIGN THINKING PARA EDUCADO- Nesse estágio, são feitos testes para identificar como a estratégia de
RES. Página inicial, 2020. Disponível
marketing do novo conceito de produto deve ser conduzida para obter
em: https://www.dtparaeduca-
dores.org.br/site/. Acesso em: 13 os melhores resultados antes de a empresa ter que lidar com custos de
abr. 2020.
estratégias inadequadas. Todos os elementos de marketing devem ser
desenvolvidos, ou seja, segmentação do mercado-alvo do novo concei-
to de produto, posição desejada no mercado, branding, publicidade e
propaganda, distribuição, venda e orçamento de marketing.
Desenho
Tecnologia Produção Marketing Distribuição Serviços Consumidor
de produtos
Estudo de caso
• Criptomoeda: pode mudar a maneira com que os serviços financeiros são oferecidos. Exemplos incluem
Bitcoin, Ethereum e BitGold. A tecnologia disruptiva sempre esteve presente no mundo financeiro; já avan-
çamos muito nos últimos anos com o banco on-line, PayPal, FinTechs e Crowdfunding.
• Comércio colaborativo: está interferindo no varejo e no comércio eletrônico. Por exemplo, a hospedagem
P2P (pessoa para pessoa) está desafiando a indústria hoteleira com resultados muito significativos. Um
excelente exemplo é a Airbnb, que entende o que os seus consumidores buscam no setor de hospitalidade,
ou seja, flexibilidade e simplicidade.
• Li-Fi: é uma alternativa 100 vezes mais rápida que o Wi-Fi e pode se colocar como uma tecnologia disrup-
tiva para mudar a maneira como nos conectamos e nos comunicamos. A ideia é transformar lâmpadas LED
domésticas em transmissores pela tecnologia Li-Fi, proporcionando aos usuários conexões com a internet
mais eficientes. Basicamente, o que precisa ser feito é ajustar um pequeno microchip a cada dispositivo
de iluminação que combinaria duas funcionalidades básicas: iluminação e transmissão de dados sem fio.
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GOVINDARAJAN, V.; TRIMBLE, C. Ten rules for strategic innovators: from idea to execution.
GABARITO
1. O benefício básico de um produto é o mesmo que uma commodity, isto é, um pro-
duto sem diferencial. A diferenciação dos novos produtos está no produto real e
no aumentado. A quantidade de ofertas similares no mercado força a empresa a
inserir elementos em cada nível de produto que gerem diferenças percebidas por
seus consumidores.
Retorno
Financeiro
Introdução
Geração de ideias
Teste do conceito
Introdução
Triagem e avaliação de ideias
Análise de marketing
Desenvolvimento do protótipo
Crescimento
Declínio
Teste de marketing
Maturidade
Tempo
Ciclo de desenvolvimento
3. Não é algo tão simples e fácil responder às três perguntas simultaneamente, mas
podemos orientar a nossa inovação estratégica pelos clientes, ou seja, pela Pergunta
3, que é determinar o tamanho do mercado e a nossa base de clientes. Com essas
informações, podemos definir melhor o valor que queremos entregar a eles e, interna-
mente, tornar nosso processo de desenvolvimento e fabricação mais eficiente.