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Administração financeira

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Créditos
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Francisco Shoiti Tanaka Wagner Ferri
João Francisco Correia de Souza
Juliana Quitério Lopez Salvaia
Administração financeira

Administração financeira
Aula 01
O papel e o ambiente da administração financeira

Objetivos Específicos
• Entender as principais aplicações da disciplina, sua importância é relembrar
as principais demonstrações financeiras.

Temas
Introdução
1 Conceitos gerais
2 As origens e aplicações de caixa
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
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Introdução

As empresas são entidades vivas e em constante evolução. Portanto, não seria de


estranhar que o estudo das finanças seja ainda mais dinâmico. Nos últimos anos, temos
presenciado importantes mudanças que elevaram o grau de sofisticação da administração
financeira, cujo papel é maximizar o valor das organizações através da geração de lucro e
caixa. A visão atual da função do administrador financeiro não envolve apenas a tomada de
decisão de financiamento e investimentos ou o controle das contas, mas abrange a chamada
longevidade dos negócios. Isso quer dizer que o administrador financeiro, apesar de não
se envolver com a produção, é uma das peças-chave para a perpetuidade da companhia. A
palavra sustentabilidade entrou no jogo.

Após a intensificação da globalização, na década de 1990, o fluxo internacional de capitais,


de produtos e de serviços tornou-se mais intenso e as empresas ficaram mais vulneráveis às
crises e eventos internacionais. Isso fica claro na crise de 2008, que iniciou nos Estados Unidos
e contaminou o mundo inteiro, principalmente a Europa. Por esse motivo, a administração
financeira torna-se cada vez mais sofisticada, com novos instrumentos e conceitos. Há um
aumento da preocupação com a gestão de riscos, que se tornou fundamental no estudo da
administração financeira.

Novos instrumentos financeiros surgiram, como os derivativos. Importante lembrar que,


apesar de o objetivo das empresas ser a produção, sua trajetória financeira pode ser motivo
de seu sucesso ou seu fracasso. Casos recentes como o da Sadia, que sofreu grandes perdas
financeiras por conta de operações com derivativos, exemplificam a importância de uma boa
gestão de riscos.

Neste capítulo iremos abordar o conceito de administração financeira, sua importância


para a geração de valor nas corporações, retomar os conceitos básicos das demonstrações
financeiras e sua relação com as atividades empresariais.

1 Conceitos gerais

1.1 Administração financeira

Para compreender a administração financeira e o papel dos profissionais que atuam


nessa área, é preciso entender o conceito de finanças. “Podemos definir finanças como a arte
e a ciência de administrar fundos” (GITMAN, 2005, p. 4). Ao contrário do que se imagina, os
administradores financeiros não atuam apenas em instituições financeiras, mas em empresas
e segmentos de todos os tipos e tamanhos. “Já que a maioria das decisões empresariais são
tomadas em termos financeiros, o administrador financeiro desempenha um papel crucial na
operação da empresa” (GITMAN, 2005, p. 10).
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No contexto das empresas a administração das finanças busca otimizar o uso dos recursos
disponíveis com vista a ampliar a lucratividade e a geração de caixa. Para isso, há uma grande
variedade de funções na administração financeira que envolve atividades, como controle de gastos,
elaboração de orçamento, gestão de caixa, captação de recursos e decisões de investimentos.

Dessa forma, afirma-se que as funções do administrador financeiro concentram-se em


três áreas principais: planejamento financeiro (caixa), atividades de investimento (ativo) e
atividades de financiamento (passivo e patrimônio líquido). Deve-se, entretanto, frisar que
tanto as decisões de investimento quanto de financiamento dependem de um fator: caixa. É
a geração de caixa que garante a longevidade da empresa e não a lucratividade. Portanto o
caixa é o “calcanhar de Aquiles” de um administrador financeiro. Você entenderá melhor o
que estamos explicando quando falarmos de regime de caixa versus regime de competência.

1.2 Planejamento financeiro

A principal função do administrador é o planejamento financeiro, que traça o caminho


a ser percorrido pela empresa para que seus objetivos sejam atingidos. Podemos ver o
planejamento financeiro como um mapa a ser seguido. Ele envolve também o monitoramento
de todas as atividades (produção, investimento e financiamento). Ao ter em mãos um
planejamento financeiro consistente, a alta direção da empresa tem maior confiança em
tomar suas decisões, seja de aumentar ou reduzir a produção, contrair um empréstimo ou
realizar um investimento. O processo começa com a elaboração de planos financeiros de
longo prazo, ou estratégicos. A estratégia traçada servirá para orientar a formulação de planos
e orçamentos de curto prazo.

O planejamento financeiro deve ser composto por dois planos essenciais: o planejamento
de caixa e o planejamento de resultados. Como falamos, a gestão de caixa é primordial para
a perpetuidade da empresa. Dessa forma, o orçamento de caixa é um passo importante. O
orçamento de caixa, também denominado de previsão de caixa, é uma demonstração que
apresenta as entradas e as saídas de caixa planejadas da empresa, que a utiliza para estimar
suas necessidades de caixa no curto prazo, com especial atenção para o planejamento do
uso de superávits e a cobertura de déficits. De uma forma geral, o orçamento de caixa deve
cobrir o prazo de um ano, dividido em intervalos. Quanto mais estável for o caixa da empresa,
maiores podem ser os intervalos do fluxo de caixa. Mas a realidade é outra: a maioria das
empresas exibe certas sazonalidades nas suas contas e, por esse motivo, os executivos
financeiros acabam por elaborar orçamentos mensais.

O planejamento de resultados envolve a projeção das demonstrações da empresa.


Tais projeções (receita, custos, despesas, balanço etc.) irão nortear o futuro da empresa no
longo prazo e evitar que o administrador seja surpreendido por um descasamento entre
recebimentos e pagamentos.

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Essas funções abarcam todo o balanço patrimonial, assim como a demonstração do


resultado do exercício e outros demonstrativos contábeis. Embora essas atividades
repousem fortemente em demonstrativos financeiros elaborados com base no regime
de competência, seu objetivo fundamental é avaliar o fluxo de caixa da empresa e
desenvolver planos que assegurem que os recursos necessários estarão disponíveis
para o alcance dos objetivos. (GITMAN, 2005, p. 14)

1.3 Decisões de investimento

As atividades de investimento influenciam diretamente o lado esquerdo do balanço


patrimonial, ou seja, a composição do ativo (curto ou longo prazo). A busca do administrador
financeiro deve ser por obter o nível ótimo e evitar o desequilíbrio entre o curto e o longo prazo.
As decisões, portanto, são de aplicações de recursos em ativos temporários ou permanentes.
Como exemplo, podemos citar a compra de maquinário, integralização de capital de empresas
controladas, aplicações financeiras de curto e longo prazos, nova sede etc.

1.4 Decisões de financiamento

Se as decisões de investimento aparecem do lado esquerdo do balanço, as decisões de


financiamento encontram-se do lado direito. As atividades de financiamento envolvem o curto
e o longo prazo. A busca do administrador é pela composição ideal que represente o menor
custo de capital e, para isso, deve avaliar todas as alternativas disponíveis no mercado. Ao
contrário do que muitos pensam, nem sempre depender apenas de capital próprio é o ideal
para uma empresa. Iremos voltar a esse assunto mais tarde. Dentre as atividades classificadas
como financiamento podemos destacar as contas classificáveis no passivo financeiro e no
patrimônio líquido, tais como empréstimos bancários, emissão de debêntures, integralização
de capital da empresa etc.

1.5 Caixa versus lucro

• Lucro: é o que sobra após subtrair do valor da receita todos os custos e despesas
necessários para que ocorra.

• Caixa: é o que sobra após todos os recebimentos de receitas e pagamentos de custos


e despesas.

Ao avaliarmos a história de empresas de todos os portes fica claro que a causa da


mortalidade ou da perpetuidade dos negócios está relacionada a um fator: a má ou boa
gestão do caixa. Lembre-se: caixa é todo dinheiro que entra e sai da empresa como resultado
de suas operações. Se a empresa não tem caixa, torna-se inadimplente e precisa ampliar seu
endividamento para honrar seus compromissos, decisão nada saudável. Portanto, a função

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crucial do administrador financeiro é planejar e avaliar financeiramente o negócio como um


todo, evitando problemas de caixa. O caixa representa a solvência da empresa. Assim, quando
tratamos da função do administrador financeiro, estamos falando de regime de caixa e não
do regime de competência. Qual a diferença?

• Regime de Caixa

No regime de caixa as receitas/despesas são reconhecidas no momento em que ocorrem


as entradas/saídas de caixa. O regime de caixa dá uma visão mais realista da empresa, mas
lembre-se: sobra/falta de caixa não é sinônimo de lucro/prejuízo.

• Regime de Competência

É utilizado na contabilidade. Nessa abordagem, que serve de base para a montagem


das demonstrações financeiras, as receitas/despesas são reconhecidas no momento em que
são fechadas com os compradores/vendedores. Isso significa que não há a necessidade de
transação financeira para que sejam reconhecidas.

Agora podemos retomar a discussão lucro versus caixa. O lucro é apurado pelo regime
de competência e não no regime de caixa. “A maximização do lucro é falha por várias razões:
ignora (1) a data da ocorrência dos retornos, (2) o fluxo de caixa disponível aos acionistas
e (3) o risco” (GITMAN, 2005, p. 17). Há uma grande diferença entre resultados esperados
e a efetividade de tais resultados. Dessa forma, concluímos que o papel do administrador
financeiro pode ser resumido em uma frase: maximização do retorno do acionista.

1.6 Revisão de contabilidade

Demonstrações Financeiras

Para entendermos melhor como o administrador financeiro toma suas decisões e suas
consequências na vida das empresas, precisamos compreender as principais demonstrações
financeiras. Vale a pena retomarmos alguns conceitos. Recentemente, as normas contábeis
brasileiras sofreram profundas transformações, resultado da adoção do International
Financial Reporting Standard (IFRS). O IFRS consiste em um conjunto de pronunciamentos
de contabilidade produzidos, publicados e revisados por organismos internacionais. A sua
adoção visa à padronização das normas em diversos países para facilitar o entendimento
financeiro internacional.

1.7 Balanço patrimonial

O balanço patrimonial pode ser definido como uma demonstração resumida da posição
financeira da empresa durante determinado exercício. Na parte esquerda, é apresentado

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o ATIVO, ou seja, todos os bens e direitos que a empresa possui. Do lado direito, está o
PASSIVO que abrande todas as origens de recursos, ou seja, as obrigações para com terceiros
que exigirão ativos para a sua liquidação. Ainda do lado direito está o PATRIMÔNIO LÍQUIDO,
composto pelos recursos próprios da empresa. O patrimônio líquido é a diferença entre o
ativo e o passivo.

Estrutura

• ATIVO

No ativo de um balanço patrimonial encontram-se todos os investimentos da empresa,


naquela data, expressos em valores monetários. Em se tratando de investimentos, pode-se
traduzir que o ativo representa as aplicações da empresa que, a qualquer momento, poderão
ser realizadas.

De acordo com as normas do IFRS, o ATIVO é composto por duas grandes contas:

ATIVO CIRCULANTE ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO


Aplicações resgatáveis no curto prazo, no Aplicações resgatáveis no longo prazo, no
curso do exercício. exercício seguinte (após um ano).
Disponibilidades Direitos realizáveis após o exercício
Direitos realizáveis no exercício Investimentos
Imobilizado
Aplicações
Intangível

• PASSIVO

No passivo, encontram-se todos os financiamentos da empresa, naquela datas. Em se


tratando de financiamentos, pode-se dizer que o passivo representa as dívidas da empresa. Os
credores são terceiros, pessoas físicas ou jurídicas que financiam a empresa sem ter participação
societária ou acionária, e também os proprietários, aqueles que financiam a empresa e que
são seus sócios ou acionistas. O IFRS classifica as contas do passivo da seguinte forma:

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PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE


Obrigações e financiamentos para aquisição
Obrigações com vencimento de prazo mais
de direitos do Ativo quando vencerem no
longo que o exercício seguinte.
exercício seguinte.

• PATRIMÔNIO LÍQUIDO – Financiamentos dos sócios, acionistas, proprietários


◦◦ Capital Social

◦◦ Reserva de Capital

◦◦ Reservas de Lucros

◦◦ Lucros ou prejuízos acumulados

1.8 Demonstração de resultado do exercício (DRE)


A Demonstração de Resultados aborda um resumo dos resultados operacionais da
empresa durante o exercício. Destaca as alterações provocadas no Patrimônio Líquido devido
às operações da empresa. Resume o movimento de algumas entradas e saídas de recursos
do balanço. Destaca as receitas e despesas da empresa. A DRE mostra como é formado o
lucro líquido da empresa. Começando pela receita de vendas e descontando todos os custos
– vendas, operacionais, comerciais, depreciação e despesas financeiras –, chegamos no lucro
antes do IR e finalmente ao lucro líquido disponível para o acionista.

Receita de vendas
(-) Custo dos Produtos Vendidos
(=) Lucro bruto
(-) Desp. operacionais
Desp. comerciais
Desp. gerais e administrativas
(=) Lucro antes dos juros e IR (LAJIRDA = EBITDA)
Desp. de depreciação
(=) Lucro Operacional (LAJIR - EBIT)
(-) Desp. financeiras
(=) Lucro líquido antes do IR (LAIR)
(-) IR
(=) Lucro líquido
(-) Dividendos das ações preferenciais
(=) Lucro líquido disponível aos acionistas ordinários

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1.9 Demonstração dos Fluxos de Caixa (FC)


A Demonstração dos Fluxos de Caixa mostra a movimentação financeira da empresa
durante o exercício, ou seja, as fontes e aplicações dos recursos. Através dessa demonstração,
é possível saber como os recursos foram gerados e aplicados e, dessa forma, a análise
financeira da solidez da companhia é facilitada. O Fluxo de Caixa mostra todas as entradas e
saídas, ou seja, tudo que a empresa recebeu ou pagou em um período de tempo que pode
ser um mês ou um ano. O fluxo de caixa está diretamente relacionado à produção e à venda
dos produtos e serviços da empresa.

Atividades Operacionais
Lucro líquido do exercício
Depreciações e amortizações
Valor residual do imobilizado
Variações monetárias e cambiais
Resultado de equivalência patrimonial
Aumento ou redução do Ativo Circulante Operacional
Contas a receber
Estoques
Outros
Aumento ou redução do Passivo Circulante
Fornecedores
Impostos a pagar
Salários e encargos
Outros
Caixa gerado ou absorvido pelas Atividades Operacionais
Atividades de Investimentos – Fluxos de caixa associados à compra e à venda tanto de
ativos permanentes quanto de participações societárias. Evidentemente, transações de
compra resultariam em fluxos de saida de caixa, enquanto transações de venda gerariam
fluxos de entrada de caixa.
Títulos e valores mobiliários
Venda de investimentos ou ativo imobilizado
Dividendos recebidos
Aquisição de bens imobilizados
Caixa gerado ou absorvido pelas Atividades de Investimento
Atividades de Financiamento – Fluxos de caixa que resultam de transações de
financiamento por dívida e capital próprio; incluem a contratação e a quitação da dívida,
a entrada de caixa por venda de ações, assim como o fluxo de saída de caixa para pagar
dividendos em dinheiro ou recomprar ações.
Pagamento de dividendos ou juros sobre o Capital Próprio
Captação de empréstimos e financiamentos
Amortização de empréstimos e financiamentos

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Caixa gerado ou absorvido pelas Atividades de Financiamento


Geração ou absorção líquida de caixa
(+) saldo inicial do caixa
(=) saldo final do caixa

Como usar a Demonstração dos Fluxos de Caixa

A demonstração de fluxos de caixa resume as origens e aplicações de caixa durante um


dado período. Ela é desenvolvida usando a demonstração de resultado do exercício, junto
com os balanços patrimoniais de início e fim do período. Essa demonstração permite que o
administrador financeiro analise as entradas e saídas de recursos na empresa. A demonstração
também pode ser usada para avaliar o progresso em direção a metas projetadas, pois pode
demonstrar as ineficiências.

2 As origens e aplicações de caixa

Origem – Aumento de Caixa


Diminuição do ativo
Aumento do passivo
Lucro líquido após o IR
Depreciação e outros encargos não financeiros
Vendas de ações
Aplicações – Redução de Caixa
Aumento do ativo
Diminuição do passivo
Prejuízo líquido
Dividendos pagos
Recompra ou resgate de ações

Considerações finais

Como identificamos através do material exposto, a administração financeira busca a


eficiência das empresas na utilização dos recursos disponíveis. O principal objetivo é a geração
de valor ao acionista, a qual não está apenas relacionada ao lucro, mas também à excelência
na gestão do caixa. O fluxo de caixa deve ser visto como a alma da empresa e, portanto, uma
das grandes preocupações é com a liquidez da empresa.

Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de responder:

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Administração financeira

• Qual o conceito de administração financeira?

• Quais as funções do administrador financeiro?

• Qual a diferença de caixa e lucro?

• Qual a diferença de regime de caixa para regime de competência?

• Quais são e para que servem as três principais demonstrações financeiras?

Referências
GITMAN, Lawrence J.; MADURA, Jeff. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São
Paulo: Pearson, 2005.

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Administração Financeira
Aula 02
Principais conceitos financeiros: inflação versus juros e
porcentagem. Taxa real versus nominal

Objetivos Específicos
• Entender como as taxas de juros e a inflação influenciam na situação
enconomia e financeira da empresa

Temas

Introdução
1 Inflação
2 Juros
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
Neste capítulo, vamos abordar dois conceitos que são fundamentais para que o
administrador financeiro tome decisões sobre o futuro da empresa: inflação e taxa de juros.
Como a inflação representa o aumento generalizado dos preços e custos, não é de se
estranhar que cada reajuste no valor da mercadoria produzida de uma empresa seja
baseado, em parte, nesse indicador. Sim, a inflação tem um impacto forte na atividade
empresarial e não somente no bolso do consumidor.

Ao mesmo tempo que influencia o orçamento empresarial, a inflação impacta na


tomada de decisões de investimento tanto das empresas quanto das pessoas físicas.
Lembre-se de que o conceito de inflação está relacionado ao poder de compra da moeda.
Portanto, a inflação leva à desvalorização do dinheiro. Quanto maior o aumento
generalizado dos preços, menos podemos comprar com a mesma quantidade de dinheiro.
Assim, ao decidirmos deixar de adquirir uma mercadoria para investir o dinheiro e adiar
nosso consumo de forma a ter mais recursos no futuro, precisamos comparar a
rentabilidade recebida com a inflação do período. A pergunta, afinal, é: vale a pena investir?

Neste capítulo, vamos aprender a comparar a rentabilidade de um investimento com a


inflação acumulada do período e saber o quanto estamos realmente ganhando, ou seja, qual
a taxa real de juros. A empresa precisa ser eficiente nessas contas para não recair em erros e
é função do administrador financeiro garantir isso!

1 Inflação
Comecemos definindo inflação. Segundo um dos maiores autores da macroeconomia
moderna, Olivier Blanchard, a inflação pode ser definida como “uma alta continuada no nível
de preços. A taxa de inflação é a taxa à qual o nível de preços aumenta” (BLANCHARD, 2001,
p. 30). Com base no conceito exposto, vemos que existe um desafio claro: como medir a
inflação? Tal cálculo é papel dos chamados índices de preços, que medem o aumento do
custo dos produtos para os consumidores.

Mas não é qualquer índice de preço que pode ser considerado como índice de inflação.
Os índices de preço precisam ser abrangentes o suficiente para evidenciar a retração do
valor do dinheiro, ou seja, do poder de compra da população ao redor do mundo. Assim,
podemos concluir que os índices de preço que mais bem evidenciam a inflação são os
indicadores da evolução do preço ao consumidor. Tais índices envolvem uma gama maior de
produtos pesquisados.

2
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Administração Financeira

Ao ler este texto você deve estar se perguntando: por que se preocupar com a inflação?
Na realidade, se a inflação fosse pura, ou seja, o aumento dos preços e salários fosse igual
para todos, não haveria com que se preocupar. No entanto, esse mundo de inflação pura
fica apenas nos livros e teoria. Na prática, vemos no dia a dia que o aumento dos preços
afeta determinados setores e outros não. Dessa forma, a inflação impacta a distribuição de
renda e os negócios das empresas. Vejamos um exemplo: quando há o aumento dos preços
do minério de ferro, as empresas siderúrgicas deparam-se com o incremento de seus custos,
mas nem sempre conseguem repassar tais custos aos clientes finais. Tal fato leva à redução
da margem de ganho e, por consequência, da lucratividade das empresas.

Principais índices de inflação brasileiros

Os índices de preços medem a variação de preços, com diferentes finalidades. Alguns


são específicos e abrangem determinados segmentos, outros são mais amplos e, portanto,
podem ser considerados balizadores da inflação. Vejamos as principais diferenças entre os
índices mais usados no Brasil.

ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO CONSUMIDOR AMPLO (IPCA)

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é produzido pelo Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde 1979. O IPCA, divulgado mensalmente, tem
por objetivo medir a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no
varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias, cujo rendimento varia entre 1 e 40
salários mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos.

O IPCA reflete a variação dos preços pagos pelos consumidores das principais regiões
metropolitanas brasileiras. Como indicador de variação de preços, o IPCA tornou-se o índice
oficial de inflação do Brasil e, desde junho de 1999, é utilizado pelo Banco Central do Brasil
para o acompanhamento dos objetivos estabelecidos no sistema de metas de inflação.

Os preços obtidos para o cálculo do índice são os cobrados ao consumidor, para


pagamento à vista. Uma pesquisa é realizada, para que seja observada a variação dos preços
em determinado mês em estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços, domicílios e
concessionárias de serviços públicos das áreas de alimentação e bebidas, habitação,
vestuário, transportes, saúde, despesas pessoais, educação, entre outras; considerando o
custo de vida das famílias que tem entre 1 e 40 salários mínimos. Para isso, são escolhidas 11
capitais: Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Brasília, Belém,
Fortaleza, Salvador, Curitiba e Goiania. Dessa forma, fica fácil analisar a variação do IPCA em
cada capital.

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Variações por Regiões e Grupos - fevereiro de 2013 - IPCA


Grupos Rio de Janeiro Porto Alegre Belo Horizonte Recife São Paulo Brasília
Índice Geral 0,25 0,35 0,84 0,98 0,66 0,77
Alimentação e Bebidas 0,88 1,01 1,65 2,61 1,25 1,84
Habitação -2,04 -3,18 -2,37 -1,88 -2,04 -1,41
Artigos de Residência 0,06 -0,34 0,20 -0,15 1,14 -0,40
Vestuário -0,82 0,00 0,53 0,90 0,84 1,19
Transportes 0,26 1,56 1,57 1,06 0,59 0,75
Saúde e Cuidados 0,83 0,40 0,67 0,74 0,64 0,92
Pessoais
Despesas Pessoais 0,26 0,48 1,04 0,09 0,70 0,15
Educação 5,20 3,39 6,69 4,81 6,07 4,99
Comunicação 0,10 0,14 0,18 -0,22 0,05 0,25
Grupos Belém Fortaleza Salvador Curitiba Goiânia Nacional
Índice Geral 0,58 0,72 0,67 0,47 0,41 0,60
Alimentação e Bebidas 1,83 1,80 1,97 1,16 1,52 1,45
Habitação -4,68 -1,80 -2,97 -2,48 -3,15 -2,38
Artigos de Residência 0,81 1,01 0,75 1,10 -0,02 0,53
Vestuário 0,62 -0,01 1,05 1,17 0,20 0,55
Transportes 0,78 1,54 0,49 0,55 1,05 0,81
Saúde e Cuidados 0,48 0,64 0,54 0,66 0,56 0,65
Pessoais
Despesas Pessoais 0,37 -0,08 0,40 0,76 0,65 0,57
Educação 4,80 0,77 6,19 5,58 5,06 5,40
Comunicação -0,02 0,14 0,28 0,16 0,02 0,10

ÍNDICE GERAL DE PREÇOS – DISPONIBILIDADE INTERNA (IGP-DI)

O IGP-DI está estruturado para captar o movimento geral de preços através de pesquisa
realizada nas áreas de cobertura de cada componente, durante o mês calendário, isto é, do
primeiro ao último dia do mês de referência. Nessa pesquisa, cobre-se todo o processo
produtivo, desde preços de matérias-primas agrícolas e industriais, passando pelos preços
de produtos intermediários até os de bens e serviços finais.

O IGP-DI foi concebido no final dos anos de 1940 para ser uma medida abrangente do
movimento de preços, ou seja, que englobasse não apenas diferentes atividades como
também etapas distintas do processo produtivo. Assim, ele poderia ser usado como deflator
do índice de evolução dos negócios, resultando em um indicador mensal do nível de
atividade econômica. O IGP-DI começou a ser divulgado em 1947, embora sua série histórica
retroaja a 1944. De início, resultava da média aritmética simples entre o Índice de Preços por
Atacado (IPA) e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC). A partir de 1950, passou a contar
com mais um componente, o índice de custo da construção (ICC).

Hoje, o indicador é obtido pela média aritmética ponderada dos três índices: 60% de
IPA, 30% de IPC apurado nas cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, e 10% do Índice Nacional
de Custo da Construção (INCC). Até novembro de 1985, o IGP-DI foi o índice oficial de
inflação do Brasil. O período de coleta de dados vai do primeiro ao último dia de cada mês,
sendo divulgado no final da primeira quinzena do mês seguinte.

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ÍNDICE GERAL DE PREÇOS DO MERCADO (IGP-M)

O IGP-M tem a mesma composição e estrutura do IGP-DI. Seu diferencial é o período de


coleta de dados, que vai do dia 21 de um mês até o dia 20 do mês seguinte. Foi criado em
1989, por encomenda da Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto (Andima)
e outras instituições do mercado financeiro à FGV para atender à necessidade do mercado
financeiro de acompanhar a evolução e a tendência do índice de preços em prazo menor. O
IGP-M é elaborado para contratos do mercado financeiro e usado para reajuste de contratos
como aluguel e prestação de serviços.

ÍNDICE DE PREÇO AO CONSUMIDOR DA FIPE (IPC-FIPE)

Esse é um dos índices de preços mais antigos do Brasil. O Índice de Preços ao


Consumidor do Município de São Paulo é o mais tradicional indicador da evolução do custo
de vida das famílias paulistanas e um dos mais antigos do Brasil. Começou a ser calculado em
janeiro de 1939 pela Divisão de Estatística e Documentação da Prefeitura do Município de
São Paulo. Em 1968, a responsabilidade do cálculo foi transferida para o Instituto de
Pesquisas Econômicas da USP e, posteriormente em 1973, com a criação da FIPE, para essa
instituição. Mede o custo de vida da família paulistana durante o mês (do primeiro ao último
dia de cada mês). A cesta básica considerada a partir de janeiro de 1994 é de 1 a 20 salários
mínimos. Originalmente, denominava-se Índice Ponderado de Custo de Vida da Classe
Operária na Cidade de São Paulo. Em 1972, a denominação do índice foi alterada para Índice
de Preços ao Consumidor (Custo de Vida) da Classe de Renda Familiar Modal no Município
de São Paulo.

Como calcular índices de inflação

O número-índice pode ser definido como medida estatística utilizada para comparar
grupos de variáveis relacionadas entre si e permite estabelecer comparações entre as
variações ocorridas nos indicadores ao longo do tempo. O número-índice é utilizado em
diversas áreas, tais como em demografia, economia e finanças. Quando o número-índice é
empregado para medir a variação do nível de preços de produtos e serviços específicos,
chama-se índice de preços.

O cálculo do número-índice é relativamente simples e dado pela seguinte fórmula:

In = (1 + Δn) X In-1

In = índice do período de referência;

Δn = variação do período de referência (em percentual);

In-1 = índice do período anterior ao de referência.


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Analisando a fórmula, parece que esse cálculo é bastante complicado, mas não é.
Vejamos um exemplo prático. Utilizaremos, nesse caso, dados reais divulgados pelo IBGE
(série histórica do IPCA). Os dados da tabela utilizada como exemplo abrangem o número-
índice de cada mês do ano (janeiro a dezembro) e a variação do índice no mês, em três
meses, seis meses e no ano.

Variação (%)
Número Índice
Ano Mês
(Dez 93 = 100) No Mês 3 Meses 6 Meses No Ano 12 Meses
Jan 141,31 41,31 162,13 533,33 41,31 2693,84
Fev 198,22 40,27 171,24 568,17 98,22 3035,71
Mar 282,96 42,75 182,96 602,93 182,96 3417,39
Abr 403,73 42,68 185,71 648,92 303,73 3828,49
Mai 581,49 44,03 193,36 695,71 481,49 4331,19
Jun 857,29 47,43 202,97 757,29 757,29 4922,6
1994
Jul 915,93 6,84 126,87 548,17 815,93 4005,08
Ago 932,97 1,86 60,44 370,67 832,97 3044,89
Set 947,24 1,53 10,49 234,76 847,24 2253,15
Out 972,06 2,62 6,13 140,77 872,06 1703,17
Nov 999,37 2,81 7,12 71,86 899,37 1267,54
Dez 1016,46 1,71 7,31 18,57 916,46 916,46

A série parte do princípio de que o número-índice do mês de dezembro de 1993


corresponde a 100. A variação em percentuais no mês de janeiro de 1994 foi de 41,31%.
Com essas duas informações e através da aplicação da fórmula, podemos chegar ao índice
de janeiro. Confira:

IPCA de janeiro = (1 + Δn) x IPCA de dezembro

IPCA de janeiro = (1+0,4131) x 100

IPCA de janeiro = 141,31

Sabendo que o índice de janeiro é 141,31 e que a variação mensal de fevereiro é


40,27%, obtemos o índice de fevereiro:

IPCA de fevereiro = (1+ 0,4027) X 141,31 = 198,22

Treine os próximos meses calculando da mesma forma anterior e obterá os números da


primeira coluna. Repare que essa série de dados é real, ou seja, você está calculando como o
próprio IBGE!

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Cálculo da variação dos níveis de preços

Existem diversos métodos e critérios para cálculo da variação dos níveis de preços

CÁLCULO COM AS VARIAÇÕES MÉDIAS DOS PREÇOS

Para calcular as variações médias dos preços do ano de 1994, podemos fazer uma
média aritmética simples, com coleta de preços no final de cada mês:

Assim, a inflação média de 1994 é dada da seguinte forma:

41,31+40,27 +42,75+42,68+44,03+47,43+6,84+1,86+1,53+2,62+2,81+1,71
12

Variação média do IPCA de 1994 é igual a 22,98%.

CÁLCULO DA INFLAÇÃO ACUMULADA

Para calcular a inflação acumulada de um período é preciso acumular as variações mês


a mês da seguinte forma:

[(1+0,4131)x(1+0,4027)x(1+0,4275)x(1+0,4268)x(1+0,4403)x(1+0,4743)x(1+0,0684)x
(1+0,0153)x(1+0,0262)x(1+0,0281)x(1,0171)x(1+0,0186)] – 1 = 10,1643

10,1643 -1 = 9,1643

9,1643 X 100 = 916,43%

Isso significa que ocorreu uma alta de 916,43% nos preços durante o ano de 1994.
Imagine o cenário negativo para o empresário que se deparou com uma forte alta de seus
custos e não conseguiu repassar esse aumento para os seus clientes.

Uma forma mais fácil de calcular a inflação acumulada é através do número-índice, veja:

Dividimos o índice de dezembro de 1994 pelo índice de dezembro de 1993. Depois


subtraímos 1 e multiplicamos por 100.

1.016,46 -1 x 100 = 916,46

A pequena variação que aparece de um cálculo para o outro está relacionada às


decisões de arredondamento dos números-índices mês a mês. Quanto mais casas usarmos
no cálculo, maior a precisão. Vamos adotar como padrão neste livro o uso de quatro casas
decimais. É importante notar que arredondamos para cima números acima de 5 (inclusive) e
para baixo números abaixo de 5.

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2 Juros
Para entendermos a importância dos juros na vida econômica, precisamos pensar nos
motivos que levam as pessoas a pouparem. Quando alguém poupa está deixando de
consumir agora para consumir no futuro. Para que haja poupança, é preciso que haja um
estímulo. Caso contrário, não haveria motivo que me levasse a abrir mão de algo que quero
hoje para guardar dinheiro e comprar depois. Esse estímulo é dado pelos juros.

De uma forma bem simples, os livros e estudiosos de matemática financeira definem


juro como a remuneração do capital. Olhando por essa ótica, podemos perceber que,
quanto maior for a taxa de juros para um dado investimento, mais as pessoas estarão
dispostas a poupar/aplicar seus recursos ao invés de consumir. Já aqueles que precisarão
tomar empréstimos para investir em determinada atividade, pensarão duas vezes antes de
recorrer a uma linha de crédito. Fica claro, assim, a importância da taxa de juros no
comportamento da economia. Quanto maior o risco que a atividade de uma empresa
apresenta, maior a taxa de juros cobrada pelo sistema financeiro na hora de conceder um
empréstimo. Assim, é muito mais fácil que o banco financie e cobre juros menores de uma
empresa como a Vale, por exemplo, do que de uma empresa nova ou que apresente
problemas financeiros.

Baseado nessa visão, o governo, através do Banco Central (BACEN), utiliza a taxa de juro
como instrumento de política econômica e monetária para controlar o nível de propensão ao
consumo e incentivar a poupança. A cada 45 dias, o colegiado do BACEN reúne-se para definir
se será necessário elevar ou reduzir a taxa básica de juros brasileira, denominada de SELIC –
taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia para títulos federais.

Uma importante variável que irá influenciar o percentual cobrado de juros é a inflação.
Não adianta para a instituição financeira cobrar 5% de juros anuais, se o IPCA estiver a 7% ao
ano. Quando o banco receber o dinheiro do empréstimo, ele valerá menos do que quando
foi concedido, mesmo que o cliente esteja pagando os juros combinados!

A partir da taxa básica determinada pelo BACEN, o sistema financeiro adiciona outras
variáveis que irão compor as taxas oferecidas aos seus clientes, como o cheque especial,
crédito imobiliário ou financiamento de um veículo. Esses outros componentes aumentam a
taxa ao consumidor final e basicamente estão relacionados à incerteza e aos custos da
operação. Quando falamos de incerteza, referimo-nos àquela palavra mágica que baliza
qualquer operação financeira: risco. Quanto maior o risco, maior a taxa de juros. Ora, se
você tem aquele cunhado “caloteiro” que pede dinheiro emprestado e nunca paga, nem
pela maior taxa de juros do mundo você irá emprestar. Mas existe alguém disposto a correr
o risco de não receber se ele assinar um contrato em que se compromete a pagar uma taxa
condizente com seu perfil de risco.

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Além desses três componentes listados (Selic, risco e inflação), outras questões são
levadas em consideração na hora de o banco definir a taxa de juros que será cobrada, tais
como: custos da operação, impostos e compulsórios – reserva obrigatória recolhida dos
depósitos bancários, conforme percentual fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Portanto, há uma grande diferença entre o custo de captação (Selic) do dinheiro e o


valor repassado aos clientes. Essa diferença é chamada de spread bancário.

A título de curiosidade, apresentamos aqui a composição do spread bancário brasileiro


em 2008, segundo o Banco Central. Note que o maior percentual do spread bancário está
relacionado ao risco, evidenciado pela inadimplência, com o percentual de 33/6%. Enquanto
que os demais ficam com: Custo Administrativo 11,8; Margem Líquida, Erros e Omissões
29,4%; Custo de Direcionamento Compulsorio 1,9% e Impostos 23,3%.

Fonte: Banco central

No nosso estudo vamos simplificar a realidade e, portanto, vamos pensar na taxa de


juros como um todo. A única diferenciação que faremos é entre os juros nominais e reais
(descontados a inflação). Quando a taxa bruta de juro é maior do que a taxa de inflação do
período de capitalização, diz-se que a taxa de juro real é positiva; caso contrário, é negativa
(perdemos dinheiro). Mas como calcular a inflação real? Não, não é simplesmente diminuir a
taxa de inflação da taxa nominal; ao contrário, não podemos de forma alguma fazer isso.

Vejamos a fórmula de cálculo da taxa real de juros

ir = (1+ie) - 1
(1+ D)

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Onde:

ir = taxa de juros real;

ie = taxa efetiva do período;

D = deflator (taxa de inflação do período).

Para facilitar o entendimento, façamos um cálculo!

Exemplo: Suponha que você tenha investido seu dinheiro no banco a uma taxa efetiva
de 17% ao ano (a.a). Durante o ano em que o investimento foi feito, a inflação acumulada
somou 13%. Qual a taxa real?

Aplicando a fórmula...

ir = (1+0,17) - 1
(1+ 0,13)

ir = 0,0354

Multiplicando por 100, achamos 3,54%.

Assim, ao invés de ter valorizado seu investimento em 17%, na realidade você obteve
uma renda real de 3,54%

Porcentagem e taxa de juros

Como você deve ter observado nos exercícios anteriores, a taxa é expressa geralmente
em porcentagem. A palavra porcentagem, ou percentagem (per + cento + agem), representa
uma fração por cento (cem) de qualquer coisa mensurável. Um valor que represente “dez
por cento” de um número qualquer pode ser escrito da seguinte forma: 10%. Na forma
fracionária, seria escrito como: 10/100. A fração mostra que o número 10 está sendo
dividido por 100. Então, seria o mesmo que escrever na forma unitária: 0,1.

As taxas de juros são expressas em unidades de tempo: ao mês (a.m.), ao trimestre


(a.t.), ao semestre (a.s.), ao ano (a.a.) etc. Porém, as mais comuns são ao mês e ao ano.

Em cálculos de juros, deve ser utilizada a forma unitária. Portanto, o número deve ser
dividido por 100, transformando-o na forma unitária antes de efetuar o cálculo. E, se o
cálculo referir-se à obtenção da taxa de juro, o resultado deve ser multiplicado por 100, para
ser expresso em “por cento”.

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Observação: quando utilizamos as teclas financeiras da HP 12C, a taxa de juros não será
dividida por 100, pois a calculadora já fará esse cálculo por nós.

Principais conceitos empregados nas operações financeiras

Para continuarmos nosso estudo sobre os juros, precisamos explicar o significado de


alguns termos utilizados em uma operação financeira.

Capital ou principal: corresponde ao empréstimo cedido ao tomador sem os juros.


Também refere-se ao valor do dinheiro aplicado em determinada operação de investimento.

Prazo: é o espaço de tempo da operação.

Amortização: pode ocorrer de uma única vez, ao final do prazo da operação, ou em


parcelas intermediárias. No momento em que o tomador devolve o capital parcialmente,
ocorre a amortização do empréstimo. Quando devolve integralmente, ocorre a liquidação.

Taxa de juro: é o percentual que se aplica ao capital, para determinar o valor do juro.

Forma de pagamento de juros: determina como os juros serão pagos e sua


periodicidade.

Período de capitalização: é o espaço de tempo em que o capital rende juro, ao fim do


qual é pago ou integrado ao capital, para gerar novo juro. Nas operações de desconto, o juro
é pago no início da operação.

Juro comercial versus juro exato

O juro comercial é calculado com taxa expressa em porcentagem, com base em ano
comercial convencionado de 360 dias. Por essa forma de expressão, a taxa anual refere-se à
taxa do período de 360 dias, a taxa semestral à do período de 180 dias, a taxa mensal à do
período de 30 dias, e assim por diante. Geralmente, as taxas de juros praticadas no mercado
financeiro referem-se ao ano comercial.

O juro exato é calculado considerando o ano civil de 365 dias e de 366 dias em anos
bissextos.

Considerações finais
Conforme pudemos perceber neste capítulo, as atividades empresariais são
influenciadas pela inflação e o pagamento de juros. Portanto essas duas variáveis não

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podem passar despercebidas pelos administradores financeiros. Ao contrário, suas decisões


de investimento/financiamento levam bastante em conta tanto o cenário inflacionário
quanto as taxas de juros correntes.

A inflação influencia a formação das taxas de juros do mercado. Para sabermos se uma
decisão de investimento é positiva, precisamos levar em conta a desvalorização do dinheiro
no tempo, ou seja, calcular a taxa de juros real. Os percentuais cobrados pelo sistema
financeiro são influenciados pelo risco da operação. Quanto pior a capacidade de
pagamento de uma empresa, mais caro será obter um empréstimo.

Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de:

• calcular os índices de preço;

• saber o conceito de inflação e sua influência nas atividades empresariais;

• calcular a variação média dos índices;

• encontrar a inflação acumulada;

• calcular a taxa de juros nominal;

• saber definir spread bancário.

Referências
BRANCO, Anísio Costa Castelo. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage
Learning, 2005. E.book.

GIMENES, Cristiano Marchi. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem
descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006.

CASTANHEIRA, Nelson Pereira; MACEDO, Luis Roberto Dias de. Matemática financeira
Aplicada. São Paulo: Pearson, 2008.

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Aula 03
Juros simples e compostos

Objetivos Específicos
• Saber calcular, na prática, o ganho de capital ou a despesa com financiamento
em determinadas situações. Entender qual é a melhor decisão para a empresa

Temas
Introdução
1 Capitalização
2 Juros simples
3 Juros compostos
4 Como calcular
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
Após entender o conceito de inflação e juros, passaremos a aprender a utilizar as
ferramentas da matemática financeira para entender o valor do dinheiro no tempo. A
matemática financeira é o ramo da matemática que estuda o valor do dinheiro e é
empregada em operações financeiras, tais como empréstimo, financiamento, aplicação e
investimento e seu principal objetivo é permitir a análise e comparação de tais operações,
auxiliando-nos na tomada de decisão quanto às mesmas.

Para montarmos as fórmulas utilizadas na capitalização simples (juros simples) e na


capitalização composta (juros compostos), assim como nos cálculos da prestação, sistemas
de amortização e operações de descontos.

Capital (C): Capital é a quantidade de dinheiro que será transacionada.

Juro (J): É a remuneração pelo uso do capital por certo intervalo de tempo. É a
compensação financeira para o agente econômico que emprestou os recursos privando-se,
portanto, de utilizá-lo para outra finalidade.

Prazo ( “n” ou “t”): É o intervalo de tempo de duração da operação.

Montante (M): É a soma do CAPITAL aplicado no início da operação financeira aos juros
acumulados durante o prazo da operação.

Taxa de juros (i): É a porcentagem do capital que será paga a título de juros, após um
determinado tempo. A taxa de juros sempre é referida a um período de tempo, denominado
periodicidade. Normalmente, é abreviado conforme tabela abaixo:

ao dia a.d.

ao mês a.m.

ao bimestre a.n.

ao trimestre a.t.

ao quadrimestre a.q.

ao semestre a.s.

ao ano a.a.

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Desenvolvimento

1 Capitalização
É o processo de incorporação do juro ao capital. Chamamos de regime ou sistema de
capitalização a forma como vamos realizar esse processo de incorporação.

 sistema de capitalização simples: também chamado de juros simples;

 sistema de capitalização composta: também chamado de juros compostos.

2 Juros simples
No sistema de capitalização simples, o juro de qualquer período é constante e sempre
calculado sobre o capital ( C ) inicial.

Exemplo 1:

Se aplicarmos um CAPITAL de R$ 100,00 a uma taxa de juros simples de 5% ao mês,


durante 3 meses, quanto iremos receber de juros?

Vamos calcular

No primeiro mês, vamos receber 5% sobre os R$ 100,00.

Assim: Juros iguais a 100 X 0,05= 5

No segundo mês, vamos receber 5% sobre os R$ 100,00.

Assim: Juros iguais a 100X 0,05= 5

No terceiro mês, vamos receber 5% sobre os R$ 100,00.

Assim: Juros iguais a 100X 0,05= 5

No total receberemos de juros: 5 + 5 + 5 = 15

O valor do resgate, portanto, será o valor investido, R$ 100, mais os juros totais
recebidos, R$ 15,00.

Assim, concluímos que receberemos R$ 115,00.

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Note que calculamos três vezes a incidência da taxa no capital, ou seja, repetimos a
operação três vezes porque o n era igual a 3. Mas seria muito complicado fazer esse cálculo
se o “n” fosse muito grande, não é verdade?

Poderíamos então pensar, para calcular o valor do juro no sistema de capitalização


simples, que precisamos multiplicar a taxa pelo capital quantas vezes o “n” mandar...

Assim,

J = C.i.n

J = juro

C= capital

n = período

Vamos aplicar a fórmula com os dados do exercício anterior...

J = 100 x 0,05 x 3 = 15

Continuando no mesmo raciocínio, temos que o montante, ou seja, o valor que iremos
receber após a aplicação, será igual ao capital que investimos mais os juros recebidos.

Assim,

M=C+J

M = montante

C = capital

J = juros

Vamos aplicar a fórmula com os dados do exercício anterior...

M = 100 + 15 = 115

Pensando mais uma vez....

Se o M = C+J e J= C.i.n, posso chegar a conclusão de que:

M = C + (C.i.n)

ou colocando em evidência

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M = C (1+in)

O fator “(1 + i . n)” é chamado de fator de acumulação de capital para juros simples.

Portanto, o montante de uma operação financeira que utiliza o regime de capitalização


simples será igual à multiplicação do CAPITAL (C) pelo fator de acumulação de capital para
juros simples (1 + i . n).

Confirmando a conta...

M = 100. (1+0,05.3)

Cuidado com a matemática! Precisamos, primeiramente, resolver a multiplicação


dentro dos parênteses, depois somar e, por último, realizar a multiplicação.

Assim,

M = 100. (1+0,15) = 115

IMPORTANTE: Para calcular os juros totais que a aplicação financeira rendeu, tivemos
que converter 1 ano em 12 meses, que era a PERIODICIDADE da taxa. Portanto, A UNIDADE
DE TEMPO DO PRAZO DA OPERAÇÃO DEVERÁ SER SEMPRE IGUAL À PERIODICIDADE DA
TAXA DE JUROS, pois “n” É O NÚMERO DE PERÍODOS DA TAXA DE JUROS CONTIDOS NO
PRAZO DA APLICAÇÃO!

Outras fórmulas:

Das duas equações que deduzimos, conseguimos calcular qualquer variável necessária:

C= M
(1 +i.n)

I = M/C – 1
n

n = M/C – 1
i

3 Juros Compostos
No sistema de capitalização composta, o juro de qualquer período é calculado sobre o
valor do montante (M) do período anterior.

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Exemplo 2 - Se aplicarmos um CAPITAL de R$ 100,00 a uma taxa de juros composta de


5% ao mês, durante 3 meses, quanto iremos receber de juros?

Vamos calcular:

No primeiro mês, vamos receber 5% sobre os R$ 100,00.

Assim: Juros iguais a 100X 0,05= 5

No segundo mês, vamos receber 5% sobre os R$ 105,00.

Assim: Juros iguais a 105X 0,05= 5,25

No terceiro mês, vamos receber 5% sobre os R$ 110,25.

Assim: Juros iguais a 110,25X 0,05= 5,51

No total receberemos de juros: 5 + 5,25 + 5,51 = 15,76

O valor do resgate, portanto, será o valor investido, R$ 100, mais os juros totais
recebidos, R$ 15,76.

Assim, concluímos que receberemos R$ 115,76.

Note que na capitalização composta, o valor dos juros recebidos no período é maior do
que o valor que obtivemos nos juros simples.

Logo, podemos concluir que:

M1 = C . (1 + i) o “n” não é necessário, pois a capitalização é efetuada a cada “1” período.

M2 = M1 . (1 + i) ou seja, M2 = C (1 + i) . (1 + i), ou seja, M2 = C . (1 + i)²

M3 = M2 . (1 + i) ou seja, M3 = C (1 + i)² . (1 + i) ou seja, M3 = C . (1 + i)³

Assim, a fórmula para o cálculo do montante no enésimo período é dada por:

M = C . (1 + i)n

A fórmula dos juros compostos acumulados ao final do prazo é obtida a partir da


fórmula geral de juros, conforme segue:

J=M–C

J = C . (1 + i)n - C

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Colocando “C” em evidência, obtemos:

J = C . [ (1 + i)n - 1]

O fator “(1 + i)n” é chamado de FATOR DE ACUMULAÇÃO DO CAPITAL para JUROS


COMPOSTOS, ou ainda FATOR DE CAPITALIZAÇÃO COMPOSTA.

Perceba que tanto no regime de juros simples como no regime de juros compostos, o
montante é dado pelo produto do capital pelo respectivo fator de acumulação.

Das fórmulas apresentadas, podemos derivá-las para encontrar as outras variáveis:

C= M
(1+i)n

i = ( √( ))

𝑛 = 𝑙𝑛 (𝐹𝑉/𝑃𝑉)
ln(1 + 𝑖)

Na HP 12 C, utilizamos as teclas financeiras que ficam na primeira fileira do lado


esquerdo da calculadora, conforme a figura abaixo:

Primeiro passo: limpe a memória de sua calculadora, apertando f CLX.

Segundo passo: vamos adaptar as contas para juros compostos, para isso aperte STO
EEX. Após apertar essas duas teclas, você pode verificar que vai aparecer um c no canto
direito do painel da calculadora.

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Terceiro passo: inserir os dados:

C = PV

M = FV

i = i (colocamos a forma em percentuais e não em decimais!)

n=n

Utilizando os dados do exemplo, vamos calcular o montante na HP.

100 PV

5i

3n

FV

Note que o resultado que aparece é negativo (-115,76). Isso acontece porque a HP 12C
trabalha com o conceito de fluxo de caixa, ou seja, um dos dois (FV ou PV) deverá ser
negativo e o outro positivo. Este é um simples ponto de vista. Se você investiu $100, quer
dizer que saiu do seu bolso, o PV é negativo e quando receber de volta terá o FV positivo. O
contrário também é verdadeiro. Ao final, na hora de apresentar o resultado, ignore o sinal
negativo. Mas cuidado! Atente para esse conceito, quando precisar calcular a taxa de juros
ou o prazo. Um dos dois (PV ou FV) precisará ter o sinal trocado.

4 Como calcular
Para que esses conceitos fiquem mais claros, vamos resolver juntos alguns exercícios
que envolvem a capitalização simples e a capitalização composta.

Exemplos de cálculo de juros simples

Exemplo 1

Calcular o montante produzido por um capital de R$ 6.000,00, aplicado a uma taxa de


juros de 8% aa., pelo prazo de 2 anos.

Resolução:

M = ? – É o que o problema me pede

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C = R$ 6.000,00

i = 8% aa = 0,08 aa.

n = 2 anos

Como a periodicidade do prazo e da taxa são iguais, podemos utilizar diretamente n = 2.


Assim, passamos a aplicar a fórmula:

J = C.i.n

J = R$ 6.000,00 x 0,08 x 2

J = R$ 960,00

M=C+J

M = R$ 6.000,00 + R$ 960,00

M = R$ 6.960,00

Também podemos aplicar a fórmula do montante diretamente:

M = C (1 + i . n)

M = R$ 6.000,00 (1 + 0,08 x 2)

M = R$ 6.000,00 x 1,16

M = R$ 6.960,00

Exemplo 2

Um capital no valor de R$ 120,00, aplicado a juros simples a uma taxa de 3,6% a.m.,
atinge, em 20 dias, um montante de:

Note que o período (n) do empréstimo é diferente do período da taxa de juros,


portanto precisamos tornar os dois iguais. Como o mês (juros comercial) é de 30 dias, temos
que o n deve ser dado por 20/30, assim n passa a ser 0,6667. Estamos usando quatro casas
decimais para que o cálculo se torne mais exato. Aplicando a fórmula dada, temos:

M = C (1+ i.n)

M = 120 (1+ 0,036.0,06667) = 122,90 ou R$ 122,88 (quando empregamos quatro


casas após a vírgula)

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Exemplo 3

Calcular o montante produzido por um capital igual a R$ 20.000,00 durante 3 anos,


considerando o regime de juros simples e uma taxa de 5% a.t.

A unidade de medida de tempo do prazo é anual e a taxa é trimestral. Portanto, para


calcularmos os juros é necessário que adotemos a mesma unidade de tempo para a taxa de
juros e para o prazo. Assim, convertendo o prazo para trimestres, temos que n = 12, pois, se
1 ano = 4 trimestres, 3 anos = 12 trimestres (4 trimestres vezes 3 anos).

C = 20.000

n = 12

i = 0,05

M=?

Aplicando a fórmula, temos: M = 20.000 (1 + 0,05x12) = 32.000

Exemplo 4

Em quanto tempo um capital, aplicado à taxa de 2,50% a.m., rende juros simples
equivalentes a 2/5 do seu valor?

Como não temos o capital, precisamos fixar o valor. Portanto, vamos adotar R$ 100,00,
de forma a facilitar nosso cálculo.

Se o capital é 100, o valor dos juros é igual a 100 X 2/5, ou seja, é igual a 40,00.

Com base nesses valores, conseguimos calcular o tempo...

J = C.i.n

40 = 100.0,025.n

40= 2,5 n

Passamos o 2,5 que está multiplicando para o outro lado, dividindo.

Assim,

n = 40/2,5

n = 16 meses.

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Exemplo 5

Uma loja oferece um fogão por R$ 2.000,00 à vista ou 20% do valor à vista de entrada
e mais um pagamento de R$ 1.700,00 após 6 meses. A taxa de juros simples cobrada no
financiamento é igual a:

Vamos avaliar a situação. Onde está o capital e onde estão o montante e os juros?

Se a loja cobra 2.000 pelo fogão, presumimos que esse seja o capital, pois nas
aquisições à vista não há incidência de taxa de juros!

E o montante? Ora, se a loja cobra 20% do valor à vista mais 1.700 após 6 meses,
presumimos que há incidência de juros!

Temos que a parcela inicial equivale a R$ 400,00, ou 20% do valor total (R$ 2.000). Após
seis meses, a pessoa paga R$ 1.700.

Assim, o valor final que a pessoa irá pagar no valor do fogão é de R$ 2.100. Esse é o
montante!

Assim, temos que:

2.100 = 2000 (1+i.6)

Passamos os 2000 que estão multiplicando para o outro lado, desta vez dividindo...

2.100/2000 = (1 + i.6)

1,05 = 1 + i.6

Passamos o 1 que está somando, para o outro lado, reduzindo...

1,05 – 1 = i.6

0,05 = i.6

Passamos o 6 dividindo e temos que i = 0,00833. Ao multiplicarmos por 100, temos a


taxa em percentuais – 0,833%.

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Exemplos de cálculo de juros compostos

Exemplo 1

Calcular o montante produzido por um capital de R$ 6.000,00, aplicado a uma taxa de


juros de 8% a.a., pelo prazo de 2 anos.

Resolução

M = 6000 (1+0,08)2 = 6998,4

Na HP

6000 PV

2n

8i

FV

- 6.998,40

Exemplo 2

Um capital de R$ 100.000,00, aplicado a juros compostos, capitalizados mensalmente


durante 8 meses, elevou-se a R$ 170.000,00. A taxa de juros que remunerou esse capital,
ao mês, é de?

i = i = ( √( ))

i =8√ ou 1,7 1/8 -1

i = 0,06859 X 100

i = 6,86%

Na HP 12 C

170.000 CHS FV

100.000 PV

8N

6,86%
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Exemplo 3

Qual é o valor que devo aplicar hoje, a uma taxa de juros compostos de 3,50% a.m. e
capitalizados bimestralmente, para obter R$ 22.410,00 de juros ao final de 1 ano e 4 meses?

Note que o tempo é anual e a taxa de juros é mensal, assim precisamos transformar o
tempo em meses: 1 ano é igual a 12 meses. Nesse caso, ainda temos mais 4 meses. Assim,
n= 16 meses.

C= 22.410
(1+ 0,035)16

C = 12.923,98

Na HP 12 C

22410 FV

16 n

3,5 i

PV

12.923,98

Exemplo 4

Qual a quantia que deve ser aplicada a uma taxa de juros compostos de 2,50% ao mês,
capitalizadas mensalmente, para gerar o montante de R$ 13.257,10 ao final de 1,5 ano?

C=?

n = 1,5 anos = 18 meses

i = 2,5% a.m = 0,025 a.m.

M = R$ 13.257,10

C = R$ 13.257,10
( 1 + 0,025)18

C = R$ 8.500,00

Na HP 12 C

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13.257 FV

2,5 i

18 n

PV

8.4999,94

Exemplo 5

Seu cunhado pega emprestado de você o valor de R$ 20.000, para pagar juros
compostos de 20% ao ano. Ele ficará com o dinheiro por um semestre. No meio do
caminho, ele decide repassar o recurso a juros simples, com a mesma taxa no mesmo
período. Quanto ele “perderá”?

Lembre-se: 1 semestre = meio ano, ou seja, 0,5.

Empréstimo a juros compostos

M = 20.000 (1+0,2)0,5 = 21.908,90

Empréstimo a juros simples

M = 20.000 (1+0,2.0,5) = 22.000

Note que seu cunhado ganhou dinheiro. Sempre que o prazo de uma operação ficar
abaixo de 1, os juros simples renderão mais que os juros compostos.

Considerações finais
Neste capítulo aprendemos as diferenças entre a capitalização simples e a capitalização
composta e como calcular as duas. Esse conhecimento é de extrema importância não só
para o administrador financeiro mas para qualquer cidadão que toma empréstimos ou
realiza operações de investimento.

Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de:

 resolver operações que envolvam capitalização simples;

 resolver operações que envolvam capitalização composta.

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Referências
BRANCO, Anísio Costa Castelo. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage
Learning, 2005. E.book.

GIMENES, Cristiano Marchi. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem
descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006.

CASTANHEIRA, Nelson Pereira; MACEDO, Luis Roberto Dias de. Matemática financeira
Aplicada. São Paulo: Pearson, 2008.

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Aula 04
Taxas equivalentes, nominais e efetivas

Objetivos Específicos
• Saber como fazer conversão de taxas

Temas

Introdução
1 Taxas proporcionais
2 Taxas equivalentes
3 Taxas nominais e efetivas
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
Até agora calculamos os exercícios fazendo a conversão do tempo para que fique na
mesma periodicidade da taxa. Neste capítulo veremos como converter as taxas em juros
simples e em juros compostos e as diferenças entre taxas nominais e efetivas. Tal
conhecimento é importante para que entendamos como funcionam algumas operações no
mercado financeiro e quais juros verdadeiramente incidirão sobre os empréstimos que
vamos obter.

1 Taxas proporcionais
As taxas proporcionais pertencem ao sistema de capitalização simples. São
denominadas, assim, duas ou mais taxas expressas em unidades de tempo diferentes, que
produzem uma mesma taxa, quando calculadas no mesmo período.

Como obter?

As taxas proporcionais são obtidas multiplicando ou dividindo de acordo com a unidade


de tempo. Podemos fazer isso porque estamos trabalhando com juros lineares: J = C.i.n

C . i1 . n = C . i2 . n

Exemplos

1% ao dia = 30% ao mês = 60% ao bimestre = 120% ao quadrimestre = 180% ao


semestre = 360% ao ano.

Da mesma forma...

20% ao ano = 10% ao semestre = 5% ao trimestre.

Vamos resolver um exercício juntos?

As taxas de juros ao semestre, proporcionais às taxas de 30%a.t., 40%a.b., 36%a.q. e


24%a.m. no regime de capitalização simples, são respectivamente:

Um semestre é igual a dois trimestres. Portanto a.s. = 2x 30% = 60%

Um semestre é igual a três bimestres. Portanto a.s. = 3x40% = 120%

Um semestre é igual a 1,5 quadrimestre. Portanto a.s. = 1,5 x 36 = 54%

Um semestre é igual a seis meses. Portanto a.s. é igual a 6x24 = 144%


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2 Taxas equivalentes
As taxas equivalentes pertencem ao sistema de capitalização composta. São
denominadas assim duas ou mais taxas expressas em unidades de tempo diferentes, que
produzem uma mesma taxa, quando calculadas no mesmo período.

Como obter?

As taxas equivalentes NÃO PODEM ser obtidas multiplicando ou dividindo de acordo


com a unidade de tempo, pois NÃO estamos trabalhando com juros lineares. Dessa forma,
precisamos utilizar a fórmula abaixo para obtê-las:

ou melhor

iq = (1+i)1/q - 1

Exemplos

1. A taxa mensal equivalente à taxa anual de 12% é igual a...

Sabemos que um ano é igual a 12 meses. Então...

im = (1 + ia)1/12 – 1

im = (1+0,12) 1/12 – 1

im = 0,009488 ou 0,949% ao mês

2. A taxa anual equivalente a uma taxa diária de 0,05% é igual a...

Aqui temos uma situação diferente!

id = (1+ia)1/360 – 1

Como temos o ia e queremos saber o id, precisamos mexer nessa equação, que ficará
da seguinte forma:

ia = (1+id)360 -1

ia = (1+ 0,0005)360 – 1 = 0,1972 ou 19,72% ao ano.

3
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Para entender melhor como obtemos o número que deve entrar como expoente,
precisamos ter em mente que:

1 ano = 2 semestres = 3 quadrimestres = 4 trimestres = 6 bimestres = 12 meses = 360 dias

1 dia = 1/30 meses = 1/60 bimestres = 1/90 trimestres = 1/120 quadrimestres = 1/180
semestres = 1/360 anos

1 mês = 1/12 anos = 1/6 semestres = 1/4 quadrimestres = 1/3 trimestres = 1/2
bimestres = 30 dias.

Vamos resolver exercícios juntos?

As taxas de juros ao semestre, equivalentes às taxas de 30%a.t., 40%a.b., 36%a.q. e


24%a.m. no regime de capitalização composta, são respectivamente:

Um semestre é igual a dois trimestres.

Portanto

as = (1+it)2 - 1= (1 +0,3)2 -1 = 0,69 ou 69%

Um semestre é igual a três bimestres.

Portanto

as = (1+ib)3 - 1= (1 +0,4)3 -1 = 1,744 ou 174%

Um semestre é igual a 1,5 quatrimestre.

Portanto

as = (1+iq)1,5 - 1= (1 +0,36)1,5 -1 = 0,58602 = 58,6%

Um semestre é igual a seis meses.

Portanto

as = (1+im)6 - 1= (1 +0,24)6 -1 = 2,6352 = 263,52%

As taxas de juros ao mês, equivalentes às taxas de 30%a.t., 40%a.b., 36%a.q. e


24%a.a. no regime de capitalização composta, são respectivamente:

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Um mês é igual a 1/3 trimestre

Portanto

am = (1+it)1/3 - 1= (1 +0,3)1/3 -1 = 0,0914 ou 9,14%

Um mês é igual a 1/2 bimestre

Portanto

am = (1+ib)1/2 - 1= (1 +0,4)1/2 -1 = 0,1832 = 18,32

Um mês é igual a 1/4 quadrimestre

Portanto

am = (1+iq)1/4 - 1= (1 +0,36)1/4 -1 = 0,0799 = 7,99%

Um mês é igual a 1/12 ano

Portanto

am = (1+ia)1/12 - 1= (1 +0,24)1/12 -1 = 0,01809 = 1,81%

3 Taxas nominais e efetivas


Taxa nominal é a taxa de juros contratada em uma operação financeira. Serve apenas
como uma taxa de referência, através da qual INICIAMOS A ANÁLISE DA CAPITALIZAÇÃO OU
DESCAPITALIZAÇÃO, independentemente do regime utilizado.

Taxa efetiva é a taxa produzida pela capitalização da taxa nominal. É a taxa


verdadeiramente paga por uma aplicação ou utilizada em um desconto.

Exemplo:

No REGIME DE JUROS SIMPLES, uma taxa nominal de 1% ao mês, aplicada sobre um


capital pelo prazo de um ano, equivale a uma taxa efetiva de 12% ao ano. Nesse regime,
para um mesmo prazo, taxas nominais e efetivas são iguais. Por exemplo:

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Uma aplicação de R$ 1.000,00, com remuneração de 1% a.m., juros simples, por um


ano, produz juros de R$ 120,00.

Já no REGIME DE JUROS COMPOSTOS e considerando o exemplo anterior, uma taxa


nominal de 12% ao ano, CAPITALIZADA MENSALMENTE, equivale a uma taxa efetiva de
12,6825% ao ano, produzindo juros aproximados de R$ 126,83. Nesse regime, para um
mesmo prazo, taxas nominais e efetivas são diferentes.

Como calculamos isso?

Primeiro dividimos a taxa nominal por 12 meses. Temos o resultado de 1% ao mês.

Depois vamos encontrar a taxa anual equivalente a 1% ao mês

ia = (1+im)12 -1

ia = (1,01)12 – 1 = 0,12683 ou 12,683%.

Assim, para C = 1.000 , temos

M = 1.000 x (1+0,12683)1 = 1126,83

J=M–C

1.126,83 – 1.000 = 126,83

Vamos resolver exercícios juntos?

1 - Quanto pagarei de juros em um financiamento de R$ 50 mil com taxa nominal de


10% ao ano, capitalizados diariamente?

Primeiro dividimos a taxa nominal por 360 dias. Temos o resultado de 0,000278 ou
0,027778% ao dia.

Depois vamos encontrar a taxa anual equivalente a 0,027778% ao dia.

ia = (1+id)360 -1

ia = (1,000278)360 – 1 = 0,105156 ou 10,516%

Assim, para C = 50.000, temos

M = 50.000 x (1+0, 105156)1 = 55.257,78

J=M–C
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J = 55.257,78 – 50.000

Pagarei 5.257,78

2 - Você pegou um empréstimo de R$ 6.000 a uma taxa nominal de 30% ao ano,


capitalizada semestralmente. Quanto pagará de juros?

Primeiro dividimos a taxa nominal por 2 semestres. Temos o resultado de 15% ao semestre.

Depois vamos encontrar a taxa anual equivalente a 15% ao semestre .

ia = (1+is)2 -1

ia = (1,15)2 – 1 = 0,3225 = 32,25% ao semestre

Assim, para C = 6.000, temos

M = 6.000 x (1+0,3225)1 = 7935

J=M–C

7935-6000 =1935

3 – Qual será a taxa nominal de uma operação de duração de 1 ano, em que a pessoa
pegou emprestado o valor de R$ 8.000 e pagou um juros de R$ 800. (Considere
capitalização mensal.)

Nesse exercício, faremos o processo inverso!

Primeiro, vamos encontrar a taxa efetiva desse empréstimo, através da fórmula dos
juros compostos.

O montante é o capital (empréstimo) somado ao juros pagos, ou seja, 8.000 + 800 =


8.800.

Assim, temos:

i = ( √( ))

i = ( √( ))

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i = 0,10 ou 10% ao ano

Agora vamos encontrar a taxa mensal equivalente a 10% ao ano.

im = (1+ia)1/12 -1

im = (1+0,10)1/12 -1

im = 0,007974 ou 0,7974% ao mês

A taxa nominal anual será a taxa mensal nominal multiplicada por 12 = 9,57% ao mês.

Considerações finais
Neste capítulo aprendemos os conceitos e as diferenças das taxas proporcionais, taxas
equivalentes, taxas nominais e efetivas. Realizamos uma série de cálculos para entender
como chegamos aos resultados finais.

Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de:

 comparar taxas;

 converter taxas proporcionais e equivalentes;

 transformar taxas nominais em efetivas.

Referências
BRANCO, Anísio Costa Castelo. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage
Learning, 2005. E.book.

GIMENES, Cristiano Marchi. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem
descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006.

CASTANHEIRA, Nelson Pereira; MACEDO, Luis Roberto Dias de. Matemática financeira
Aplicada. São Paulo: Pearson, 2008.

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Aula 05
Descontos: comercial, bancário e racional

Objetivos Específicos
• Aprender a calcular na prática e entender quando vale a pena antecipar os
pagamentos ou obter crédito através das operações de descontos

Temas
Introdução
1 Desconto
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
Quando uma empresa ou nós mesmos fazemos um financiamento de longo prazo,
muitas vezes conseguimos dinheiro o suficiente para pagar o valor do empréstimo restante
de uma vez só. Porém, se a instituição financeira não descontasse os juros que incidiria
sobre o valor, com certeza tal operação não valeria a pena. Assim, decidiríamos aplicar o
dinheiro disponível e pagar as prestações do empréstimo como acordado. Na prática, as
operações de antecipação de pagamentos devem vir com um desconto sobre o que seria
pago a prazo. Veremos como calcular esses descontos neste capítulo.

1 Desconto
A operação de desconto consiste em antecipar o recebimento que um credor teria no
futuro mediante a “retirada” dos juros relativos ao prazo da antecipação. As operações mais
comuns de desconto são aquelas em que as empresas se utilizam dos chamados títulos de
crédito para antecipar um recebimento futuro. Os títulos de crédito são instrumentos
financeiros usados para a formalização de dívidas pagas no futuro e formalizadas em prazo
previamente estipulado. Esses ativos financeiros, por serem endossáveis, possibilitam que os
credores possam vendê-los por um valor à vista menor que o recebimento futuro. Tal
operação é denominada de desconto de títulos.

1.1 Títulos

• Letra de câmbio
• Fatura
• Duplicata
• Nota promissória
• Debêntures

Por exemplo, uma empresa recebeu uma duplicata de seu cliente no valor de R$ 5.000
para dois meses. Essa empresa pode ir ao banco trocar a duplicata e receber um valor hoje,
menor que os R$ 5.000 a receber. A diferença é relativa aos juros cobrados pelo banco.

O valor pago pelo banco na data do desconto é chamado de VALOR ATUAL (Va) ou
VALOR DESCONTADO, resultado do VALOR NOMINAL (N), ou VALOR DE FACE ou VALOR
FUTURO (VF) menos o DESCONTO (D), ou seja:

Va = N - D

2
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As formas mais usuais de desconto são o desconto bancário ou comercial simples (por
fora) e o desconto racional simples (por dentro). Também existem os descontos compostos:
desconto bancário composto (não utilizado no Brasil) e desconto racional composto
(utilizado nas operações financeiras de longo prazo). Vejamos as diferenças:

1.2 Desconto comercial (bancário) simples ou por fora

É amplamente adotado no Brasil. Nessa operação temos os juros que seriam produzidos
pelo VALOR NOMINAL (N) se ele fosse aplicado pelo prazo de antecipação, à taxa de
desconto dada. Portanto, considerando que o VALOR NOMINAL é o CAPITAL que produzirá
os juros, obtemos as seguintes fórmulas:

M = N (1 + i . n)

O desconto será dado por:

D=N.i.n

O Valor Atual, ou seja, o valor recebido pelo comerciante ao descontar a duplicada será
igual a:

Va = N – D,

Assim, concluímos que:

Va = N – N . i , n

Colocando “N” em evidência, obtemos que:

Va = N (1 – i . n)

Nomenclatura utilizada

N = valor nominal (capital);


n = número de termos ou número de parcelas ou número de prestações;
i = taxa de juros;
M = montante, valor futuro ou valor final (VF);
D = desconto;
Va = valor atual.
3
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Exemplo1:

Um comerciante possui uma nota promissória com valor nominal de R$ 440,00 que
vencerá em 2 meses. Entretanto, como ele necessita de recursos imediatamente, decide
antecipá-la em um banco. O valor que o comerciante receberá será igual ao VALOR ATUAL
(Va) da nota promissória. Considerando que a taxa de juros adotada pelo banco seja de 5%
a.m., temos que:

M = N (1 + i . n)
M = R$ 440,00 (1 + 0,05 x 2)
M = R$ 440,00 x 1,10
M = R$ 484,00

Ora, se consideramos que o VALOR NOMINAL aplicado a juros simples de 5% a.m.


produzirá um montante de R$ 484,00, concluímos que a diferença entre eles, ou seja, R$
44,00, é o DESCONTO COMERCIAL SIMPLES.

Outra forma de calcularmos o desconto deriva da seguinte fórmula:

Va = N (1 – i . n)
Va = R$ 440,00 (1 – 0,05 x 2)
Va = R$ 440,00 x 0,90
Va = R$ 396,00

Como D = N – Va, logo:


D = R$ 440,00 – R$ 396,00
D = R$ 44,00

Exemplo 2

Um comerciante decide descontar em um banco um título de valor nominal igual a R$


5.000,00, com vencimento para 180 dias. Para esse tipo de operação, o título sofrerá um desconto
comercial simples de 9% ao trimestre. Portanto, o valor do desconto e o valor atual serão:

Lembre-se 180 dias = 6 meses = 2 trimestres

M = N (1 + i . n)

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M = 5.000 (1 + 0,09.2)

M = 5.900

Se considerarmos que o VALOR NOMINAL aplicado a juros simples de 9% a.t. produzirá


um montante de R$ 5.900, concluímos que a diferença entre eles, ou seja, R$ 900,00, é o
DESCONTO COMERCIAL SIMPLES

O valor atual é N – D. Assim:

Va = 5.000 – 900 = 4.100

1.3 Desconto racional simples ou por dentro

No Desconto Racional Simples, o VALOR ATUAL (Va) corresponde a um CAPITAL (C)


aplicado a juros simples, pelo prazo de antecipação, e o VALOR NOMINAL (N) corresponde
ao MONTANTE (M) produzido por essa aplicação.

Considerando que a fórmula do montante a juros simples é M = C (1 + i . n), e,


considerando que M = N e Va = C, temos:

N = Va (1 + i . n)

Logo, o VALOR ATUAL (Va) será:

Va = N
(1 + i . n)

Como vimos anteriormente, Va = N – D. Logo, concluímos que:

D = N – Va

Exemplo 1

Um comerciante possui uma nota promissória com valor nominal de R$ 440,00 que
vencerá em 2 meses. Entretanto, como ele necessita de recursos imediatamente, decide
antecipá-la em um banco. O valor que o comerciante receberá será igual ao VALOR ATUAL
(Va) da nota promissória. Considerando que a taxa de juros adotada pelo banco seja de 5%
a.m., temos que:

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N = R$ 440,00
I = 5% AM.
n = 2 meses

Va = N
(1 + i . n)
Va = 440,00
(1 + 0,05 x 2)
Va = 440,00
1,10
Va = R$ 400,00

Portanto, o DESCONTO RACIONAL SIMPLES é:

D = N – Va
D = R$ 440,00 – R$ 400,00
D = R$ 40,00

Exemplo 2

Um comerciante decide descontar em um banco um título de valor nominal igual a R$


5.000,00, com vencimento para 180 dias. Para esse tipo de operação, o título sofrerá um
desconto racional simples de 9% a.t. Portanto, o valor do desconto e o valor atual serão...

Lembre-se 180 dias = 6 meses = 2 trimestres

Va = N
(1 + i . n)

Va = 5000
(1 + 0,09 . 2)

Va = 4,237,29

Portanto, o DESCONTO RACIONAL SIMPLES é:

D = N – Va
D = R$ 5.000 – R$ 4237 = 762,71
D = R$ 40,00

6
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1.4 Diferenças

Para entender a diferença entre as nomenclaturas, imaginemos os descontos simples


como o sendo um ser humano, em que a parte COMERCIAL é o corpo, que se vê e está POR
FORA, enquanto o cérebro, que é o raciocínio, o RACIONAL, não se vê e está POR DENTRO.
Seguindo esse raciocínio, basta lembramos que, no DESCONTO RACIONAL, os juros são
produzidos por um VALOR ATUAL que desconhecemos. Já no DESCONTO COMERCIAL, os
juros são produzidos pelo VALOR NOMINAL, que conhecemos. Costuma-se diferenciar os
tipos de descontos utilizando “Drs” para DESCONTO RACIONAL SIMPLES e “Dcs” para
DESCONTO COMERCIAL SIMPLES, assim como para as demais variáveis.

1.5 Desconto racional composto ou por dentro

No Desconto Racional Composto, “por dentro”, é calculada a diferença entre o valor


futuro de um título e o seu valor atual, determinado com base no regime de capitalização
composta; portanto de aplicação generalizada. o VALOR ATUAL (Va) corresponde a um
CAPITAL (C) aplicado a juros simples, pelo prazo de antecipação, e o VALOR NOMINAL (N)
corresponde ao MONTANTE (M) produzido por essa aplicação.

O desconto é a diferença entre o valor futuro de um título e o seu valor atual, calculado
com base no regime de capitalização composta, como segue:

D = N – Va = N – N
(1+i) n

ou

D = N (1+i) n - 1
(1+i) n

Exemplo 1

Um comerciante possui uma nota promissória com valor nominal de R$ 440,00 que
vencerá em 2 meses. Entretanto, como ele necessita de recursos imediatamente, decide
antecipá-la em um banco. O valor que o comerciante receberá será igual ao VALOR ATUAL
(Va) da nota promissória. Considerando que a taxa de juros adotada pelo banco seja de 5%
a.m. e admitindo um desconto racional composto, temos que:

D = 440 (1+0,05) 2 - 1
(1+0,05) 2
D = 440 0,10
1,10
7
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Administração Financeira

D = 39,90
VA = 440 – 39,91 = 400,09

1.6 Desconto comercial composto ou por fora

Como esse tipo de desconto não é utilizado no Brasil, não vamos nos concentrar no
cálculo dessa operação.

Considerações finais
Neste capítulo aprendemos como calcular descontos e operações financeiras de
antecipação de recebíveis. Após a leitura deste capítulo você será capaz de calcular:

• desconto comercial simples (por fora);

• desconto racional simples (por dentro);

• desconto racional composto.

Referências
BRANCO, A. C. C. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2005.
E.book.

GIMENES, C. M. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem


descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006.

CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. de. Matemática financeira Aplicada. São Paulo:


Pearson, 2008.

8
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Administração Financeira
Aula 06
Séries de pagamentos

Objetivos Específicos
• Entender o que é e como calcular as séries uniformes de pagamentos

Temas

Introdução
1 Séries uniformes de pagamento
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
Neste capítulo você aprenderá a calcular algo presente em toda a vida. Quem nunca
financiou um eletrodoméstico ou algo similar em algumas prestações? Já parou para
verificar o valor dos juros pagos? Vamos estudar agora como calcular as prestações em
séries uniformes de pagamento. Saber isso é muito importante para você, que passará a
pensar duas vezes antes de comprar a prazo. Além do mais, poderá comparar os juros entre
os estabelecimentos comerciais e tomar a melhor decisão.

1 Séries uniformes de pagamento


Séries de pagamentos estão relacionadas a pagamentos feitos ao longo do tempo. Os
valores pagos ou recebidos em intervalos durante o prazo acordado são denominados de
parcelas. Precisamos lembrar ainda que o tempo de duração da operação financeira é
definido como prazo e os intervalos de pagamentos são chamados de período.

A série uniforme de pagamentos, portanto, é a sucessão de prestações, de mesmo


valor, que podem ser representadas por R ou PMT e são pagas em intervalos iguais. A
principal característica de uma série uniforme de pagamentos é que os desembolsos são
divididos regularmente num período de tempo. Assim, o montante a ser pago durante o
período pode ser obtido através da soma do valor das prestações.

1.1 Tipos de séries

1.1.1 Antecipadas

Nas séries uniformes de pagamentos definidas como antecipadas, há o pagamento da


primeira parcela no ato do fechamento do negócio, ou seja, no tempo zero. Esse tipo de
sistema de pagamento é também chamado de sistema de pagamento com entrada.

Portanto, o fluxo de caixa de pagamentos pode ser demonstrado assim:

P ou C PMT ou R

2
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Administração Financeira

Diante de um diagrama de fluxo de caixa, podemos fazer algumas observações. No


momento 0 pegamos o valor do financiamento e pagamos a primeira prestação, ou seja,
damos uma entrada e dividimos o restante depois. Podemos perceber também que o valor
da prestação (exibido pelo tamanho da seta) é igual para todos os períodos. A última
prestação será paga no momento n, que dependerá do número de vezes em que o
empréstimo foi acordado. A soma de todas nos dá o valor total a ser pago.

1.1.2 Postecipadas

Nas séries uniformes de pagamentos definidas como postecipadas, NÃO há o


pagamento da primeira parcela no ato do fechamento do negócio, ou seja, a primeira
prestação é paga no período seguinte do acordado, geralmente um mês depois.

Portanto, o fluxo de caixa de pagamentos pode ser demonstrado assim:

O fluxo de caixa abrange o valor de recebimento inicial e o número de parcelas de


pagamentos ao longo do tempo. Se o número de intervalos for n, então temos n parcelas
que são encaradas de forma negativa, ou seja, há saída de caixa. O diagrama de fluxo de
caixa destaca que no tempo 0 pegamos o valor do financiamento. A primeira prestação vai
ser paga no momento 1, ou seja, se a prestação for mensal, ela será paga somente um mês
após o financiamento ser realizado. Como não há entrada, essa série é chamada de série de
termos vencidos. Podemos perceber também que o valor da prestação (exibido pelo
3
Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Administração Financeira

tamanho da seta) é igual para todos os períodos. A última prestação será paga no momento
n, que dependerá do número de vezes em que o empréstimo for acordado. A soma de todas
nos dá o valor total a ser pago.

• Nomenclatura utilizada

P ou C = valor financiado, também chamado de principal ou valor presente (PV –


present value) ou valor atual;

R ou PMT = valor de cada prestação ou termo; PMT vem do Inglês “Payment”

n = número de termos ou número de parcelas ou número de prestações;

i = taxa de juros;

M = montante, valor futuro ou valor final (VF – Future Value).

1.1.3 Como calcular as séries antecipadas

Principal, capital ou valor presente

C = PMT (1+i)n -1
(1+i)n-1 .i

Prestação (PMT ou R)

PMT = PV (1+i)n-1 .i
(1+i)n -1

ou

PMT = M i 1
(1+i)n -1 (1+i)

Valor final ou montante

M = PMT (1+i)n -1 . (1+i)


i

4
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Administração Financeira

1.1.4 Na HP 12 C

Para calcularmos as séries


antecipadas de pagamentos na HP 12 C,
precisamos usar a tecla BEGIN (BEG de
begin = início). Para acionar a tecla
Begin, aperte G e em seguida 7.
Note que no mostrador vai aparecer
escrito Begin logo abaixo dos 0,0000.
Não esqueça também que o c deve
aparecer no mostrador logo à direita.
Caso não apareça, aperte STO EEX.

Vejamos agora onde aparecem nossas variáveis.

Abaixo do mostrador temos as teclas: n, i, PV, PMT, FV.

Onde:

n = tempo (número de prestações);

i = taxa de juros;

PV = valor presente ou capital;

PMT = valor da prestação;

FV = valor final ou montante.

Observação: se estivermos procurando o valor inicial ou o valor final, não esqueça que
o valor da PMT deve entrar como negativo. Use a tecla CHS.

Exercícios resolvidos

1 - Um fogão é oferecido na loja por quatro pagamentos iguais, com entrada, no valor
de R$ 185,00. Sabendo-se que a taxa cobrada pelo estabelecimento comercial corresponde a
5% ao mês, qual o valor à vista dessa mercadoria?

Queremos saber o capital – C = ?

Temos o valor da PMT = 185

a taxa de juros (i) = 5%

o prazo é de 4 meses – n = 4

5
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Administração Financeira

Assim....

C = PMT (1+i)n -1
(1+i)n-1 .i

C = 185 (1+0,05)4 - 1
(1+0,05)4-1 .0,05

C = 185 0,21551
0,05788

C = 688,80

Na HP 12C

Limpe a memória

F CLX

NÃO ESQUEÇA QUE O BEGIN PRECISA ESTAR ACIONADO

185 CHS PMT

5i

4n

PV

O valor será de R$ 688,80

2- Uma geladeira no valor de R$ 2.350 pode ser financiada em 12 meses com entrada.
A taxa de juros do financiamento é de 1% ao mês. Qual o valor da prestação? Qual o valor
final pago?

O capital a ser financiado (C) é de R$ 2.350

A taxa de juros é de 1% ao mês

o prazo (n) é de 12 meses.

6
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Assim, temos os dados para aplicar a fórmula:

PMT = PV (1+i)n-1 .i
(1+i)n -1

PMT = 2.350 (1+0,01)12-1 .i


(1+0,01)12 -1

PMT = 2.350 0,011157


0,0126825

PMT = 206,73

Na HP 12 C

f CLX

2.350 PV

12 n

1i

PMT

206,727.... ARREDONDANDO TEMOS 206,73

Montante ou valor final

M = PMT (1+i)n -1 . (1+i)


i

M = 206,73 (1+0,01)12 -1 . (1+0,01)


0,01

M = 206,73 0,1281
0,01

M = 2.648,07

Na HP 12 C

206,73 CHS PMT

12 n

7
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1i

FV

FV = 2.648,07

1.2 Como calcular as séries postecipadas

Principal, capital ou valor presente


P = PMT (1+i)n -1
(1+i)n.i

Prestação (PMT ou R)
PMT = P (1+i)n .i
(1+i)n -1

ou
PMT = M i
(1+i)n -1

Valor final ou montante

M = PMT (1+i)n -1
i

1.2.1 Na HP 12 C

Para calcular as séries postecipadas de


pagamentos na HP 12 C, precisamos
desfazer a tecla BEGIN (BEG de begin
= início). Para isso apertamos G END,
encontrado na tecla 8. Note que no
mostrador vai desaparecer o nome
Begin logo abaixo dos 0,0000. Não
esqueça também que o c deve
aparecer no mostrador logo à direita.
Caso não apareça, aperte STO EEX.

8
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Exercícios resolvidos

1 - Um fogão é oferecido na loja por quatro pagamentos iguais, sem entrada, no valor
de R$ 185,00. Sabendo-se que a taxa cobrada pelo estabelecimento comercial corresponde a
5% ao mês, qual o valor à vista dessa mercadoria?

P = PMT (1+i)n -1
(1+i)n.i

Queremos saber o capital – C = ?

Temos o valor da PMT = 185

a taxa de juros (i) = 5%

o prazo é de 4 meses – n = 4

Aplicando a fórmula....

P = 185 (1+0,05)4 -1
(1+0,05)4.0,05

P = 185 0,2155506
0,06077

P = 656,00

Na HP 12C

NÃO ESQUEÇA QUE O BEGIN NÃO PODE ESTAR ACIONADO

185 CHS PMT

5i

4n

PV

O valor será de R$ 656,00

9
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Administração Financeira

Note que o valor inicial neste exercício é menor, pois, quando não há entrada, os juros
incidentes sobre o pagamento das prestações são maiores.

2- Uma geladeira no valor de R$ 2.350 pode ser financiada em 12 meses sem entrada. A
taxa de juros do financiamento é de 1% ao mês. Qual o valor da prestação? Qual o valor final
pago?

O capital a ser financiado (C) é de R$ 2.350

A taxa de juros é de 1% ao mês

o prazo (n) é de 12 meses.

Assim, temos os dados para aplicar a fórmula:

PMT = P (1+i)n .i
(1+i)n -1

PMT = 2.350 (1+0,01)12 .0,01


(1+0,01)12 -1

PMT = 2.350 0,01/0,1268

PMT = 208,79

Na HP 12C

NÃO ESQUEÇA QUE O BEGIN NÃO PODE ESTAR ACIONADO

2350 CHS PV

1i

12n

PMT

PMT= 208,79

Note que o valor das prestações será maior, pois, quando não há entrada, os juros
incidentes sobre o pagamento das prestações são maiores.

10
Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Administração Financeira

Montante ou valor final

M = PMT (1+i)n -1
i

M = 208,79 (1+0,01) )12 -1


0,01

M = 2.648,98

Na HP 12 C

208,79 CHS PMT

12 n

1i

FV

FV = 2.648,98

Considerações finais
Neste capítulo aprendemos como calcular séries uniformes de pagamentos antecipadas
e postecipadas. Vimos as diferenças entre as duas modalidades de pagamentos e como
podemos obter os valores das prestações a serem pagas a partir dos dados oferecidos, juros,
prazo e valor à vista. Com esse conhecimento você pode chegar a algumas conclusões sobre
como gerenciar melhor seus pagamentos. Será que é válido dar entrada ou não? Quanto isso
vai impactar no seu fluxo de caixa? Quanto irá aumentar o valor do produto adquirido.

Após a leitura deste capítulo você será capaz de calcular:

• prestações nas séries uniformes de pagamento: antecipadas e postecipadas;

• comparar as formas de pagamento oferecidas nas lojas e tomar a melhor


decisão de financiamento.

Referências
BRANCO, A. C. C. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2005.
E.book.

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Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Administração Financeira

GIMENES, C. M. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem


descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006.

CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. de. Matemática financeira Aplicada. São Paulo:


Pearson, 2008.

12
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Administração Financeira
Aula 07
Séries não uniformes de pagamento

Objetivos Específicos
• Entender o que é e como calcular as séries não uniformes de pagamentos

Temas

Introdução
1 Séries não uniformes de pagamento
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
Nem sempre a série de pagamentos é uniforme. Muitas vezes, podemos pagar uma
parcela maior na entrada, ou uma parcela maior durante o fluxo de pagamentos. Também
podemos negociar com o credor para que os intervalos sejam maiores – intervalos
irregulares. Neste capítulo iremos aprender como se calcula esse tipo de série de
pagamentos.

1 Séries não uniformes de pagamento


As séries de pagamentos estão relacionadas à realização de pagamentos feitos ao longo
do tempo. Os valores pagos ou recebidos em intervalos durante o prazo acordado são
denominados de parcelas. Precisamos lembrar ainda que o tempo de duração da operação
financeira é definido como prazo e os intervalos de pagamentos são chamados de período.

Nas séries não uniformes de pagamentos, a sucessão de prestações, que podem ser
representadas por R ou PMT, nem sempre são do mesmo valor, nem sempre são liquidadas
em intervalos iguais. Esse tipo de operação é mais raro no mercado e depende da
negociação feita entre as duas partes. No entanto, às vezes nos deparamos com propostas
como comprar um bem com entrada maior, depois pagamentos mensais iguais até o sexto
mês, quando o valor aumenta.

A principal característica de uma série não uniforme de pagamentos é que os


desembolsos não são divididos regularmente num período de tempo.

O fluxo de caixa de pagamentos de uma série não uniforme pode ser demonstrado assim:

P ou C PMT ou R

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Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Administração Financeira

O diagrama de fluxo de caixa destaca que no momento 0 pegamos o valor do


financiamento e já pagamos a primeira prestação que é mais elevada do que as seguintes,
ou seja, damos uma entrada maior e dividimos o restante depois. Note que, no terceiro mês
e no último mês, o valor da prestação é maior que nos outros meses. Assim, percebemos
que os pagamentos são totalmente irregulares. A última prestação será paga no momento n,
que dependerá do número de vezes em que o empréstimo for acordado.

Nomenclatura utilizada

P ou C = valor financiado, também chamado de principal ou valor presente (PV –


PRESENT VALUE) ou valor atual;

R ou PMT = valor de cada prestação ou termo;

n = número de termos ou número de parcelas ou número de prestações;

i = taxa de juros;

M = montante, valor futuro ou valor final (FV – future value).

Como calculamos as séries não uniformes de pagamentos

Quando fazemos um investimento

Precisamos calcular o valor equivalente de cada parcela dada, de acordo com o tempo e a
incidência de taxa de juros. Tal cálculo é realizado com a aplicação da fórmula dos juros
compostos em cada parcela. No entanto, há uma observação, quando elevamos a parcela, o
indicador equivale a n-t, sendo n o número total de parcelas e t a parcela que queremos calcular.

Na prática, esse cálculo é mais simples do que em palavras. Vejamos um exemplo sobre
como calculamos o montante.

1 - Dada a série de investimentos, calcule o seu valor equivalente no décimo período. A


taxa de juros incidente é de 1% ao mês.

Tempo (meses) 1 3 5 8 10

Valor ($ mil) 5 10 3 20 60

3
Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Administração Financeira

Usando a fórmula

PMT = (1+i)n-t

Cada parcela, portanto, será equivalente a:

PMT1 = 5.000 (1+0,01)10-1 = 5.468,42

PMT 3 = 10.000 (1+0,01)10-3 = 10.721,35

PMT5 = 3.000 (1+0,01)10-5 = 3.153,03

PMT8 = 20.000 (1+0,01)10-8 = 20.402

PMT10 = 60.000 (1+0,01)10-10 = 60.000

O valor total a receber, portanto, será a soma das parcelas com a incidência de juros
proporcional ao tempo de cada uma. Assim, temos que o valor equivalente no décimo
período é igual a PMT1 + PMT3 + PMT5 + PMT8 + PMT10 = 99.744,80.

Quando efetuamos pagamentos

As séries não uniformes de pagamento devem ser vistas a partir do conceito de fluxos
de caixa. Ao sabermos o valor das prestações a serem pagas em cada período, podemos
trazê-las a valor presente e ver quanto pagaríamos se fôssemos adquirir o bem à vista. Dessa
forma, poderemos saber quanto pagamos de juros durante o processo.

2 - Dada a série de pagamentos que corresponde ao valor de um imóvel, calcule o seu


valor à vista. A taxa de juros incidente é de 1% ao mês.

Tempo (meses) 1 ao 5 6 7 ao 11 12

Valor ($ mil) 10 30 15 50

Para sabermos quanto pagaríamos pelo imóvel à vista, precisamos trazer todos os
pagamentos para o valor presente, ou seja, descobrir o valor na data zero de cada parcela. Isso
significa descontar os juros em cada uma. Usaremos a fórmula do capital nos juros compostos.

C= M
(1+i)n

4
Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Administração Financeira

Vamos usar uma nomenclatura diferente para essa fórmula, onde o capital passará a se
chamar PV (present value) e o montante será renomeado para valor final (FV). Desta forma:

PV = FV
(1+i)n

Agora aplicaremos essa fórmula para cada parcela. As primeiras cinco são dadas assim...

1ª Parcela
PV1 = 10.000
(1+0,01)1
PV1 = 9.900,99

2ª Parcela
PV2 = 10.000
(1+0,01)2
PV2 = 9.802,96

3ª Parcela
PV3 = 10.000
(1+0,01)3
PV3 = 9.705,90

4ª Parcela
PV4 = 10.000
(1+0,01)4
PV4 = 9.609,80

5ª Parcela
PV5 = 10.000
(1+0,01)5
PV5 = 9.514,66

5
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Administração Financeira

Do primeiro ao quinto mês, os R$ 50 mil pagos correspondem ao valor de R$ 48.534,31,


descontando o valor dos juros.

Também poderíamos obter esse valor através da HP 12 C da seguinte forma.

10.000 PMT
5n
1i
PV
48.534,31

Lembre-se de que conseguimos calcular assim porque as parcelas do primeiro ao quinto


mês são iguais. Mas, no sexto mês, a parcela aumenta para R$ 30.000.

Assim...

6ª Parcela
PV6 = 30.000
(1+0,01)6
PV6 = 28.261,36

Após a sexta parcela, o fluxo de pagamentos passa a ser regular, em cinco vezes de R$
15.000. No entanto, a primeira parcela é descontada por (1+i)7 e assim por diante. Dessa
forma, precisamos calcular uma a uma...

7ª Parcela
PV7 = 15.000
(1+0,01)7
PV7 = 13.990.77

8ª Parcela
PV8 = 15.000
(1+0,01)8
PV8 = 13.852,25
6
Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Administração Financeira

9ª Parcela
PV9 = 15.000
(1+0,01)9
PV9 = 13.715,10

10ª Parcela
PV10 = 15.000
(1+0,01)10
PV10 = 13.579,30

11ª Parcela
PV11 = 15.000
(1+0,01)11
PV 11 = 13.444,86

Total 7 a 11 = 68.582.28

Por último, o comprador paga R$ 50.000. Vamos trazer a última parcela a valor presente.

12ª Parcela
PV12 = 50.000
(1+0,01)12
PV6 = 44.372,46

Somando todos os valores que obtivemos, temos quanto custa o imóvel à vista:

48.534,31 + 28.261,36 + 68.582.28 + 44.372,46 = 189.750,41

A prazo, o imóvel custa R$ 205.000 (soma das prestações).

Assim, pagamos de juros o valor de R$ 15.249,59.

7
Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Administração Financeira

Na HP 12 C podemos montar esse


exercício, usando as teclas
correspondentes ao fluxo de caixa.
As teclas dessa função são
acionadas do lado esquerdo, mesma
localização das teclas para
calcularmos juros compostos (n, i,
PV, PMT e FV). No entanto, para
acioná-las, vamos utilizar a tecla G.
Assim, o PV se torna CF0, o PMT se
torna CFJ, o FV se torna NJ.

A tecla i não deve ser usada junto com o g.

Tempo (meses) 1 ao 5 6 7 ao 11 12

Valor ($ mil) 10 30 15 50

Vamos plotar os dados do exercício na HP 12 C como fluxo de caixa.

10.000 g CFJ
5 G NJ (o valor repete 5 vezes)
30.000 g CFJ
15.000 g CFJ
5 G NJ
50.000 g CFJ
1i
FNPV
189.750

Note que há uma pequena diferença de centavos. Isso ocorre porque, ao longo dos
nossos cálculos anteriores, fizemos uma série de arredondamentos.

Vamos fazer outro exercício com prazo menor e desembolsos mais erráticos?

8
Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Administração Financeira

Suponha que seu cunhado lhe ofereceu seu Fiat 147, ano 86, que deve ser pago em
cinco meses, da seguinte forma.

Primeiro mês: 500


Terceiro mês: 2.500
Quarto mês: 500
Quinto mês: 200

O valor total a prazo, com taxa de juros de 2% ao mês é de R$ 3.700. Sabendo que o Fiat
147 vale no mercado R$ 3.100, seu cunhado está oferecendo um bom negócio?

Para sabermos responder se o cunhado quer dar “calote” ou não, precisamos trazer
todas as prestações a valor presente.

1ª Parcela
PV1 = 500
(1+0,02)1

PV1 = 490,20

2ª Parcela
Não existe

3ª Parcela
PV3 = 2.500
(1+0,02)3
PV3 = 2.355,81

4ª Parcela
PV4 = 200
(1+0,02)4
PV4 = 184,77

9
Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Administração Financeira

O valor que você pagará à vista, ou seja, trazendo todas as prestações a valor presente
será de R$ 3.030,78. Seu cunhado ofereceu o carro por um bom preço! Mas pense na conta
do mecânico se decidir adquirir!

Façamos o fluxo de caixa na HP 12 C

500 G CFJ
0 G CFJ
2500 G CFJ
200 G CFJ
2i
F NPV
3.030,77

Considerações finais
Neste capítulo aprendemos como calcular séries não uniformes de pagamentos e de
recebimentos. Vimos como utilizar o conceito de fluxo de caixa da HP 12 C para facilitar
nossos cálculos e descobrirmos o valor à vista de um bem. Também vimos como calcular o
valor futuro de uma série de investimentos não uniformes.

Após a leitura deste capítulo você será capaz de calcular:

• valor presente de séries não uniformes de pagamento;

• valor futuro de séries não uniformes de recebimento.

Referências
BRANCO, A. C. C. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2005.
E.book.

GIMENES, C. M. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem


descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006.

CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. de. Matemática financeira Aplicada. São Paulo:


Pearson, 2008.

10
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Administração Financeira
Aula 08
Sistemas de amortização

Objetivos Específicos
• Entender o que é e como calcular os sistemas de amortização

Temas

Introdução
1 Sistemas de amortização
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
Depois de aprender a calcular a capitalização simples e composta e converter as taxas
para o tempo especificado, vamos estudar como calcular as prestações em financiamentos e
as taxas de juros incidentes nos financiamentos. Vamos aprender as diferenças entre os
tipos de amortização, de forma a avaliar qual a melhor opção na hora de adquirir um bem.
Tal conhecimento é importante tanto no exercício da função do administrador financeiro
quanto na vida pessoal. Diante dessa realidade, passaremos a estudar agora os diferentes
sistemas de amortização.

1 Sistemas de amortização
Podemos definir uma “série de pagamentos” ou “rendas certas” como a realização de
pagamentos ou recebimentos feitos ao longo do tempo. Se a série se refere ao pagamento
de uma dívida, dividida (parcelada) por determinado tempo, denominamos o processo de
sistema de amortização. Caso a série seja referente a um investimento, é chamada de
sistema de capitalização.

Os valores pagos ou recebidos em intervalos durante o prazo acordado são


denominados parcelas. Precisamos lembrar ainda que o tempo de duração da operação
financeira é definido como prazo e os intervalos de pagamentos são chamados de período.

Podemos concluir, assim, que os sistemas de amortização referem-se às formas como


são pagas as dívidas, ou melhor, amortizadas. Amortização é um processo que extingue
dívidas através de pagamentos periódicos, é a extinção de uma dívida através de sua
quitação. Na amortização, cada prestação é uma parte do valor total, incluindo os juros e o
saldo devedor restante.

1.1 Classificação

As séries dos sistemas de amortização são classificadas da seguinte forma:

Quanto ao valor dos termos:

• CONSTANTES – os valores dos termos são iguais;

• VARIÁVEIS – os valores dos termos são diferentes.

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Quanto ao período:

• PERIÓDICA – termos com períodos iguais;

• NÃO PERIÓDICA – termos com períodos diferentes.

Quanto ao prazo:

• TEMPORÁRIA – quando o número de termos for finito;

• PERPÉTUA – quando o número de termos for ilimitado (uma aposentadoria, por


exemplo).

Quanto ao vencimento:

• IMEDIATA – quando os termos forem exigidos a partir do primeiro período, e


pode ser:

• ANTECIPADA – quando os termos são exigíveis no início do período;

• POSTECIPADA – quando os termos são exigíveis no final do período.

• DIFERIDA – quando os termos forem exigidos a partir de outro período que não
seja o primeiro, ou seja, existirá um intervalo de tempo em que não ocorre o
pagamento ou recebimento. Esse intervalo de tempo é chamado de CARÊNCIA.

Exemplo:

Se realizarmos a compra de um carro em três parcelas mensais, iguais e consecutivas,


sendo a primeira no ato, a segunda em 30 dias e a terceira em 60 dias por diante, estamos
realizando uma operação com uma série de pagamentos que pode ser classificada da
seguinte forma:

• CONSTANTE, pois os pagamentos são iguais;

• PERIÓDICA, porque os pagamentos são efetuados em intervalos regulares de


tempo, ou seja, a cada mês;

• TEMPORÁRIA, porque o número de pagamentos é finito e igual a três;

• IMEDIATA, porque os termos são pagos a partir do primeiro período, e;

• ANTECIPADA, porque o primeiro pagamento ocorre logo no seu início, com a


primeira parcela paga no ato da compra.

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Portanto, o diagrama de fluxo de caixa seria:

1.1.1 Nomenclatura utilizada

P ou C = valor financiado, também chamado de principal ou valor presente ou valor atual;


R ou PMT = valor de cada prestação ou termo;
n = número de termos ou número de parcelas ou número de prestações;
i = taxa de juros.

O diagrama de fluxo de caixa diz que no momento 0 pegamos o valor do financiamento


e já pagamos a primeira prestação, ou seja, damos uma entrada e dividimos o restante
depois. Podemos perceber também que o valor da prestação (exibido pelo tamanho da seta)
é igual para todos os períodos. A última prestação será paga no momento n, que dependerá
do número de vezes em que o empréstimo foi acordado. A soma de todas nos dá o valor
total a ser pago.

1.2 Tipos de sistemas de amortização

Existem diferentes sistemas de amortização. Os mais utilizados no Brasil são o Sistema


de Amortização Constante (SAC) e a tabela Price. Existe ainda o sistema de amortização
francês e americano, pouco usados no Brasil. Veremos, agora, a diferença entre os dois
sistemas de amortização mais utilizados pelo sistema financeiro brasileiro.

1.2.1 Sistema Price

Nesse sistema, a taxa é nominal (geralmente anual) enquanto o período de amortização


é menor do que a taxa (geralmente mensal). Assim, para encontrarmos o valor da prestação,
precisamos, em primeiro lugar, transformar a taxa de juros de anual em mensal, através do
regime de proporcionalidade, pois dessa forma a nominal se tornará efetiva mensal.
Vejamos um exemplo:

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Se a taxa for de 12% ao ano, se tornará 1% ao mês. Caso seja de 36% ao ano, será de 3%
ao mês e assim sucessivamente.

Esta é a grande diferença do sistema Price para o chamado sistema francês. Enquanto,
na tabela Price, temos a taxa nominal anual e precisamos convertê-la para efetiva mensal,
no sistema francês, a taxa anual é efetiva e deve ser convertida para anual. Confira no
exemplo.

Se a taxa for de 24% ao ano no sistema francês, será igual a 1,808% ao mês. Fazemos a
conversão pelo regime de equivalência, visto no capítulo anterior.

O sistema francês e o Price têm essa única diferença. O princípio de cálculo dos dois é
muito similar. Sua principal característica é de que a prestação é igual em todos os meses e é
dada pela seguinte fórmula:

PMT = P x (1+ i)n x i


(1+i)n-1

Onde:

PMT é a prestação;
P é o valor do empréstimo (principal);
i = é a taxa de juros;
n = número de prestações.

Portanto, as prestações são iguais, periódicas e sucessivas. Os juros a serem pagos


reduzem ao longo das prestações e a amortização do empréstimo aumenta ao longo do
empréstimo. Para que fique mais claro, façamos um exercício.

Exercício:

Um banco financia um principal de R$ 200.000,00 para uma empresa que irá adquirir
novo maquinário. O empréstimo deverá ser pago mediante prestações mensais iguais e
postecipadas (sistema Price), no prazo de 1 ano a uma taxa de juros de 12% ao ano. Pede-se
o valor da parcela e a montagem da tabela Price.

Primeiro vejamos a taxa de juros. O valor dado é de 12% ao ano. Para obtermos a
efetiva mensal, devemos dividir 12% por 12. Assim, a taxa utilizada é de 1% ao mês.

Agora calcularemos o valor da prestação

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PMT = P x (1+ i)n x i


(1+i)n-1
PMT = 200.000 x (1+ 0,01)12 x 0,01
(1+ 0,01)12-1
PMT = 17.769,76
Na HP 12 C
200.000 PV
1i
12 n
PMT

- 17.769,76 (conforme explicamos nos capítulos anteriores o sinal é negativo. Devido ao


princípio do fluxo de caixa).

Agora passaremos a montar a tabela com a prestação, amortização, juros e valor da


prestação mensal. Vejamos como ocorrerão os pagamentos.

Saldo Final –
Saldo Juros (saldo Amortização –
Mês Prestação saldo inicial –
inicial inicial X i) prestação – juros
amortização

1 200.000 2.000,00 17.769,76 15.769,76 184.230,24

2 184.230,24 1.842,30 17.769,76 15.927,46 168.302,78

3 168.302,78 1.683,03 17.769,76 16.086,73 152.216,05

4 152.216,05 1.522,16 17.769,76 16.247,60 135.968,45

5 135.968,45 1.359,68 17.769,76 16.410,08 119.558,37

6 119.558,37 1.195,58 17.769,76 16.574,18 102.984,19

7 102.984,19 1.029,84 17.769,76 16.739,92 86.244,27

8 86.244,27 862,44 17.769,76 16.907,32 69.336,95

9 69.336,95 693,37 17.769,76 17.076,39 52.260,56

10 52.260,56 522,61 17.769,76 17.247,15 35.013,41

11 35.013,41 350,13 17.769,76 17.419,63 17.593,78

12 17.593,78 175.94 17.769,76 17.593,80 -

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Conforme fica evidente no exemplo calculado, as prestações da tabela Price são iguais,
periódicas e sucessivas. Os juros a serem pagos reduzem diminuindo ao longo das
prestações e a amortização do empréstimo aumenta.

Podemos obter o total dos juros pagos somando os valores da coluna. Assim, o valor é
de R$ 13.237,08. O total pago pelo empréstimo foi de R$ 200.000 + R$ 13.237,08 = R$
213.237,08. Também podemos calcular, multiplicando o valor da prestação por 12: R$
213.237,12.

1.2.2. Sistema de Amortização Constante (SAC)

Nesse sistema, a parcela da amortização é constante e os juros são calculados sobre o


saldo devedor. Com relação à taxa utilizada, nesse sistema a taxa anual é efetiva, como no
francês. As prestações são decrescentes ao longo do tempo. As taxas proporcionais são
obtidas multiplicando ou dividindo de acordo com a unidade de tempo. Podemos fazer isso
porque estamos trabalhando com juros lineares: J = C.i.n.

Exemplos

1% ao dia = 30% ao mês = 60% ao bimestre = 120% ao quadrimestre = 180% ao


semestre = 360% ao ano.

Da mesma forma:

20% ao ano = 10% ao semestre = 5% ao trimestre.

Vamos resolver um exercício juntos?

Exercício:

Um banco financia um principal de R$ 200.000,00 para uma empresa que irá adquirir
novo maquinário. O empréstimo deverá ser pago mediante prestações mensais iguais e
postecipadas (sistema Price), no prazo de 1 ano a uma taxa de juros de 12% ao ano. Pede-se
o valor da parcela e a montagem do SAC.

Primeiro vejamos a taxa de juros. O valor dado é de 12% ao ano. Para obtermos a
efetiva mensal, devemos dividir 12% por 12. Assim, a taxa utilizada é de 1% ao mês.

Amortização = Valor Financiado/Prazo

Logo, no exemplo teremos:

Amortização = R$ 200.000,00/12 = R$ 16.666,67

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Prestação Saldo final –


Saldo Juros (saldo
Mês amortização + Amortização saldo inicial –
inicial inicial X i)
juros amortização

1 200.000 2.000 18.666,67 16.666,67 183.333,33

2 183.333,33 1.833,33 18.500 16.666,67 166.666,66

3 166.666,66 1.666,67 18.333,34 16.666,67 149.999,99

4 149.999,99 1.500 18.166.67 16.666,67 133.333,32

5 133.333,32 1.333,33 18.000 16.666,67 116.666,65

6 116.666,65 1.166,67 17.833,34 16.666,67 99.999,98

7 99.999,98 1.000 17.666,67 16.666,67 83.333,31

8 83.333,31 833,33 17.500 16.666,67 66.666,64

9 66.666,64 666,67 17.333,34 16.666,67 49.999,97

10 49.999,97 500 17.166,67 16.666,67 33.333,30

11 33.333,30 333,33 17.000 16.666,67 16.666.63

12 16.666.63 166,67 16.833,34 16.666,67 -

Como vemos nesse exemplo, as prestações são periódicas e sucessivas e reduzem ao


longo do tempo. Os juros a serem pagos também diminuem ao longo das prestações e a
amortização do empréstimo é constante.

Podemos obter o total dos juros pagos somando os valores da coluna. Assim, o valor é
de R$ 13.000. O total pago pelo empréstimo foi de R$ 200.000 + R$ 13.000 = R$ 213.000.
Também podemos calcular, somando as prestações: R$ 213.000.

Podemos perceber por esses dois exemplos que o valor dos juros pagos em
empréstimos que utilizam a tabela SAC é menor do que o valor dos juros na tabela Price.

Considerações finais
Neste capítulo aprendemos os conceitos e diferenças dos principais sistemas de
amortização utilizados pelos bancos e financeiras brasileiros: SAC e Price. Também
calculamos o valor da prestação, amortização e vimos o valor dos juros pagos em cada
sistema. Percebemos que o SAC é mais favorável para o credor, pois, ao pegar esse tipo de

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financiamento, acaba por pagar um valor de juros menor que no sistema Price. O SAC
também é mais indicado, pois suas prestações são decrescentes.

Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de:

• calcular financiamento pela tabela Price e pelo sistema SAC;

• encontrar o valor dos juros pagos em cada sistema;

• comparar os sistemas e tomar a melhor decisão de financiamento.

Referências
BRANCO, A. C. C. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2005.
E.book.

GIMENES, C. M. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem


descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006.

CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. de. Matemática financeira Aplicada. São Paulo:


Pearson, 2008.

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Administração Financeira
Aula 09
Planejamento e orçamento de caixa

Objetivos Específicos
• Aprender a melhor gerenciar o caixa e tomar decisões de curto prazo

Temas

Introdução
1 Fluxo de caixa e capital de giro
2 Conceitos importantes
3 Visão integrada do fluxo de caixa
4 Modelos de administração de caixa
5 Modelos de administração de estoques
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
O planejamento do caixa de uma empresa é a principal forma de se controlar as contas
da empresa (recebimentos e pagamentos), além de ser essencial para orientar as decisões
do gestor quanto à tomada de financiamentos e realização de investimentos. As informações
que o planejamento do caixa proporciona são úteis para que os gestores avaliem a
capacidade da empresa em gerar caixa e valores equivalentes ao caixa e às necessidades da
mesma para utilizar esses fluxos.

Além disso, o fluxo de caixa propicia aos analistas financeiros uma fonte segura para
melhor elaborar seus planejamentos financeiros, como também serve a outros usuários a
forma com que a empresa gerou o caixa, ou até mesmo como utilizou os recursos e valores
equivalentes ao caixa. A empresa, quando utiliza essa demonstração com as demais, supre
de forma completa os usuários e, principalmente, os habilitam à avaliação nas mudanças de
ativos líquidos de uma empresa e sua estrutura financeira, que podem ser exemplificadas
nas questões de liquidez e solvência. Enfim, planejar o fluxo de caixa proporciona aos
gestores da empresa a adaptação às circunstâncias e às oportunidades de negócios.

1 Fluxo de caixa e capital de giro


O caixa é reflexo das políticas de investimentos e financiamentos, como vendas, créditos,
compras, estoques. Nesse sentido, a gestão do caixa deve primar pela sincronia das entradas e
saídas, para que a empresa se torne líquida sem manter excesso de liquidez, incorrendo em
altos custos de oportunidade. Os modelos de gestão de caixa buscam estabelecer o equilíbrio
entre os benefícios e os custos de liquidez. Em geral, os modelos buscam minimizar o
investimento nesse ativo, satisfazendo as necessidades básicas da empresa de pagamento dos
seus compromissos programados, e mantendo, quando possível, uma reserva de segurança de
modo a cobrir imprevistos.

Para entender fluxo de caixa, vamos retormar o conceito de capital de giro, destacado
no capítulo anterior. Como percebemos, o capital de giro é conhecido também como capital
circulante e corresponde aos recursos aplicados em ativos circulantes, que se transformam
dentro do ciclo operacional. Em suma: o capital de giro fica “girando” dentro da empresa se
transforma, produz reflexo na contabilidade até virar novamente em dinheiro. A cada
transformação do capital deve ocorrer um acréscimo de valor (geração de valor do negócio).
Dessa forma, o capital final será bem maior que o inicial.

Exemplo:

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De maneira simplificada podemos ilustrar o fluxo do capital de giro dentro do ciclo


operacional da seguinte forma:

 Fase 1: o capital tem valor de $200 e está representado pela conta caixa,
transforma-se em estoque de matérias-primas, que vai para a fase 2.

 Fase 2: o capital é ampliado em $80, em consequência do processo de


fabricação. Assim, o capital passa a ser de $280.

 Fase 3: o capital tem um acréscimo de $ 40, causado pelas despesas de vendas e


distribuição. Ainda nessa fase, o capital de giro é acrescido de $60,
correspondente ao lucro, pois precisa ser acrescido no preço da venda.

 Fase 4: o capital de giro acumulado, no valor de $380, transforma-se em


dinheiro, em decorrência da venda dos produtos.

Conclusão: o desembolso inicial de $ 200 resultou em retorno de $ 380. No entanto, o


acréscimo de $180 não significa que a empresa obteve um superávit de caixa. Os $380
devem ser utilizados para que a empresa liquide os compromissos financeiros nos valores de
$80 e $40, correspondentes a outros custos e despesas, respectivamente. Ao liquidar, a
empresa terá no caixa o saldo de $ 260, o que significa um superávit de caixa ou lucro de $60
ao final do ciclo operacional.

É preciso lembrar que a circulação do capital também é composta pelas contas do


passivo circulante. Na prática, os recursos financeiros gerados pelas duplicatas recebidas
entram primeiramente no caixa e, após essa fase, saem para liquidação das obrigações
financeiras.

2 Conceitos importantes
Os termos que são utilizados nesta demonstração têm o seguinte significado:

Caixa: é o dinheiro disponível e o depósito bancário disponível;

Equivalente à caixa: são investimentos de curto prazo, de alta liquidez, que são
prontamente conversíveis em valores conhecidos de caixa e que estão sujeitos a um
insignificante risco de mudança de valor;

Fluxos de caixa: são entradas e saídas de caixa, e equivalentes ao caixa.

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3 Visão integrada do fluxo de caixa


Após analisarmos o comportamento do capital de giro, vamos nos concentrar no fluxo
de caixa. Lembre-se que a administração eficiente de caixa (disponibilidades) contribui
significativamente para a maximização do lucro das companhias. Quando a área de
tesouraria recebe ou paga, geralmente as decisões que geram os fluxos financeiros já foram
tomadas por administradores de outras áreas.

3.1 Objetivos do fluxo de caixa:

a. Avaliar as alternativas de investimento e controlar ao longo do tempo as


decisões importantes que são tomadas na empresa, com reflexos monetários.

b. Verificar as situações presentes e futuras do fluxo de caixa na empresa,


posicionando-a para que não chegue a situações de não liquidez, com a precisão
de que não haja excessos monetários de caixa e, se houver que sejam
devidamente aplicados.

c. As informações constantes dessas demonstrações sempre apresentarão a


capacidade de geração de caixa e de controle dos itens financeiros da empresa.
Dessa forma, será evidenciada a capacidade financeira de autofinanciamento
das operações. O uso de recursos de terceiros (financiamento bancário) deve ser
usado em última instância.

d. Demonstra a capacidade de gerar recursos e expandir o nível de investimento,


sempre considerando que as dívidas estarão suficientemente amortizadas, tanto
a curto como em longo prazo.

3.2 Principais contas patrimoniais operacionais que geram impacto


no caixa:

a. Contas a receber (clientes): o não pagamento ou o atraso no pagamento tem


consequência desastrosa para a empresa. As receitas crescentes geradas pelo
aumento das vendas por crédito significam somente que os direitos em
recebimento da empresa estão crescendo ou “inchando” o contas a receber,
pois esses recebimentos são, na realidade, somente um documento de dívida. E
em razão da expansão dos pagamentos feitos em atraso, a conversão desses
ativos em líquidos de caixa será atrasada. Assim, a empresa parecerá saudável
financeiramente, mas será tão somente no papel. A realidade poderá ser
diferente e levar até à insolvência.

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b. Estoques: a compra à vista gera impacto imediato no caixa. Já nas compras a


prazo, o impacto ocorre na data de pagamento da duplicata. No caso das
compras financiadas, o impacto no caixa é mais longo.

c. Contas a pagar (fornecedores): quando a empresa adquire matéria-prima de um


fornecedor precisa, e deve, negociar a forma de pagamento que mais amenize
seu impacto no caixa. É preciso que seja realizada uma negociação com o
fornecedor para alongar o máximo possível o prazo de pagamento da compra do
material. Lembre-se do ciclo operacional: antes de uma indústria vender o
produto final, que muitas vezes é pago a prazo pelo cliente, precisa transformar
a matéria-prima em produto final. Tal fato reduz o fôlego para o pagamento à
vista para o fornecedor e leva a um descasamento das contas.

3.3 Fatores que acarretam as principais faltas de caixa

 excesso de investimento em estoques;

 aumento do prazo médio de recebimento de vendas;

 diminuição do prazo médio de pagamento de compras;

 excesso de imobilização;

 expansão descontrolada das vendas, acima de sua capacidade de


comercialização;

 insuficiência de capital próprio e utilização do capital de terceiros em proporção


excessiva;

 aumento exagerado do prazo de faturamento;

 necessidade de compras em grande volume;

 aumento da inadimplência;

 aumento da necessidade de capital de giro em proporção maior do que o


aumento do capital circulante líquido;

 aumento exagerado do ciclo financeiro;

 baixa velocidade da rotação dos estoques;

 excessiva distribuição de dividendos.

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3.4 Fatores que poderão levar a empresa a sérios problemas de


desequilíbrio financeiro:

 insuficiência crônica de caixa;

 captação sistemática de recursos por meio de empréstimos bancários,


principalmente de curto prazo;

 sensação de esforços desmedidos;

 sensação de risco de “quebra” repentina.

A demonstração de fluxo de caixa mostra as alterações líquidas que ocorrem na


empresa e as atividades do fluxo que criam essas mudanças.

3.4 Manutenção do saldo mínimo de caixa

Uma das finalidades da gestão de caixa é manter o saldo mínimo de recursos, de forma
que possam ser utilizados imediatamente em função da incerteza associada aos fluxos dos
recebimentos e pagamentos.

Podem ser considerados elementos de caixa, além dos recursos monetários, as


aplicações financeiras de liquidez imediata e os depósitos bancários a vista.

3.4.1 Para manter adequado o saldo de caixa, as empresas precisam atender estas
necessidades:

 pagamentos de compromissos financeiros gerados pelas atividades operacionais


como compra de matérias-primas e contratação de serviços;

 amortização de empréstimos e financiamentos;

 desembolsos para investimentos permanentes;

 pagamentos de eventos não previstos.

A manutenção do saldo de segurança de recursos disponíveis deve levar em


consideração a capacidade de obtenção de caixa.

3.5 Capacidade de obtenção de caixa

Ao conhecer o limite de máximo de endividamento, a empresa pode planejar com


maior eficácia a expansão do nível de atividades e resolver eventuais problemas de oscilação
nas disponibilidades de caixa. As atividades devem ficar dentro do limite de capacidade de
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obtenção de caixa. Ao extrapolar esse limite, a empresa poderá enfrentar dificuldades


financeiras. Os investidores e emprestadores fornecem recursos financeiros a tomadores
somente se tiverem a possibilidade de receberem de volta os recursos emprestados.

A capacidade de obtenção de caixa dependerá da capacidade de a empresa gerar


caixa por meio de suas operações.

3.6 Capacidade de geração e caixa operacional

O simples aumento no saldo de caixa não significa que as atividades operacionais estão
gerando caixa. Para saber se há geração de caixa é preciso verificar o fluxo de caixa. Por
exemplo, se uma companhia tem um aumento de caixa no valor de $700 mil, por meio de
$200 mil gerados pelas operações e $500 mil gerados pelos empréstimos, é preciso
considerar que estes $500 mil não lhe pertencem, já que deverão ser devolvidos em algum
momento. Assim, o caixa operacional efetivamente gerado é de $200 mil. Se no período a
companhia gerar um lucro de $400 mil, este valor será refletido somente no patrimônio
líquido. A diferença entre o lucro e o caixa gerados está relacionada à defasagem entre o
ciclo financeiro e o ciclo econômico. As empresas devem gerar caixa operacional ao longo do
tempo, para que não haja a descapitalização.

Podemos concluir que:

A empresa pode melhorar os resultados econômicos e financeiros administrando


adequadamente o ciclo financeiro.

O esforço de redução do ciclo financeiro deve ser feito por todas as áreas da empresa
(políticas eficientes de crédito, descontos financeiros, compras, etc.).

4 Modelos de administração de caixa


Conforme pudemos perceber, o caixa apropriado deve ser administrado sem prejudicar
a eficiência e a eficácia das atividades da empresa. Os modelos de administração de caixa
visam fundamentalmente definir esse nível de equilíbrio, buscando sempre minimizar os
custos. Os modelos são baseados nas estratégias ótimas para um determinado padrão de
fluxo de caixa: investimentos e desinvestimento. Também são baseados no trade-off a
rentabilidade do caixa e os custos de transação. Vamos conhecer os princípios de dois dos
modelos mais conhecidos: Baumol e de Miller e Orr (MMO).

Modelo de Baumol

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O modelo de Baumol é baseado no modelo de lote econômico, desenvolvido para a


administração de estoques. O autor desse modelo, William Baumol, percebeu que os saldos
de caixa se comportam como saldos de estoques e aplicou o modelo de lote econômico para
a gestão de caixa. No entanto, é preciso notar que esse modelo só pode ser aplicado em
empresas que registram entradas periódicas de dinheiro no caixa, e saídas constantes de
recursos.

Segundo o modelo, as saídas de dinheiro de uma empresa são permanentes e


distribuídas de forma constante no tempo. Assim, é preciso investir determinada quantidade
de dinheiro, que será consumido uniformemente pelas suas saídas constantes. Portanto, o
saldo ótimo de caixa do modelo é dado em função do custo e manutenção do caixa e do
custo de transação.

O custo de manutenção dos recursos em caixa é dado pelo custo de oportunidade do


estoque médio de caixa (valor dos juros que seriam recebidos se a empresa optasse por
investir esse valor). O custo de transação é dado pelo custo fixo de vender títulos ou de
obter empréstimos.

Modelo de Miller e Orr (MMO)

O modelo de Merton Miller e Daniel Orr é baseado na otimização que considera que as
entradas e saídas de caixa oscilam aleatória e diariamente. É um modelo probabilístico que
considera a aleatoriedade do comportamento de caixa como uma distribuição normal, bem
como demonstra a versão ou propensão ao risco dos gestores, resultando em um modelo
mais adequado à realidade do caixa.

Características do modelo:

 Assume custos fixos de investimento e resgate, independentemente do


montante investido.

 Considera que o investimento e o resgate podem ser feitos instantaneamente e


que há limites de controle, do qual o saldo de caixa não pode sair, isso quer dize
que a empresa investe uma parte de seu saldo de caixa em aplicações
financeiras de CP.

 O limite inferior é determinado pela gestão, não sendo calculado pelo modelo,
ou seja, o saldo de caixa deve oscilar entre um valor mínimo, definido pela
empresa e um valor máximo, a ser determinado pelo modelo.

 Considera um fluxo de caixa padronizado em tempo e valores, logo, não existe


sazonalidade no caixa.

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 Considera o fluxo de caixa em que o saldo gira em torno de zero e o desvio-


padrão dessa distribuição não varia com o tempo, além de evidenciar que não
há correlação com o fluxo de caixa ao longo do tempo.

 Assume que os fluxos de caixa são normalmente distribuídos.

 Quando o saldo cair abaixo do mínimo, a empresa deve resgatar aplicações,


voltando a um determinado "ponto de retorno".

 Quando o saldo subir acima do máximo, a empresa pode e deve aplicar recursos
de modo a voltar ao "ponto de retorno“ e ter um ganho financeiro pela
aplicação.

5 Modelos de administração de estoques


A administração dos estoques tem peso significativo em empresas comerciais e
industriais, e até em empresas de prestação de serviços. Nas empresas comerciais, os
estoques são representados pelas mercadorias para revenda. Em empresas industriais, o
estoque é composto pela matéria-prima, produtos em elaboração, materiais de consumo,
materiais de embalagem e produtos acabados. Já nas empresas de prestação de serviços, os
estoques são representados pelo material de consumo e de almoxarifado.

A administração do estoque consiste em mantê-lo em nível mínimo suficiente para não


interromper o processo de produção. Essa responsabilidade não é do administrador
financeiro, mas influi nos resultados globais da empresa. Assim os gestores precisam ter
consciência de que o capital de giro investido em estoque tem custo financeiro, que afetará
o resultado econômico.

5.1 Modelo de lote econômico

É utilizado para determinar a quantidade ótima de compra de um item do estoque.


Pressupõe-se a existência de dois tipos de custos, além do custo efetivo da mercadoria:

 custos de pedidos – são compostos pelos custos fixos administrativos para emitir
e receber um pedido, como o processamento de requisição interna de compras,
pesquisas de tecnologia, cotação, inspeção de materiais, etc.

 custos de manutenção de estoques – incorrem durante a permanência do


estoque no ativo da empresa, que varia em função da quantidade de valor do
estoque, tais como: custo de armazenagem, seguro, custo de deterioração e
obsolência e, principalmente, o custo de oportunidade.

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Administração Financeira

5.2 Sistema ABC

Uma empresa que usa o sistema ABC de estoques divide-os em três grupos: A, B e C.

 Grupo A: inclui os itens com o maior investimento em valor monetário; em geral,


esse grupo compreende 20% dos itens estocados, mas representa 80% do
investimento em estoques.

 Grupo B: consiste em itens responsáveis pelo maior investimento seguinte em


estoques.

 Grupo C: formado por um grande número de itens que exigem investimento


relativamente pequeno.

O grupo ao qual pertence certo item determina o grau de monitoramento que será
aplicado. Os itens do grupo A recebem um monitoramento mais intenso, por causa do
elevado valor neles aplicado; costumam ser acompanhado com um sistema perpétuo que
permite a verificação diária do nível de cada item em estoque. Os itens do grupo B são
frequentemente controlados com uma verificação periódica, às vezes semanal, de seus
níveis em estoque. Os itens do grupo C são monitorados com técnicas pouco sofisticadas,
como a de duas gavetas. No método das duas gavetas, cada item é colocado em duas
gavetas e quando uma unidade é exigida, ela é retirada da primeira gaveta; quando essa
gaveta fica vazia, ela é reabastecida e as unidades continuam a ser retirada da segunda
gaveta; a segunda gaveta é então usada até ficar vazia, e assim por diante.

Considerações finais
Nesse capítulo aprendemos sobre a importância do fluxo de caixa para a solvência das
empresas. Entendemos quais as principais variáveis que influenciam o caixa da empresa e
como o gestor financeiro pode monitorá-las. Também destacamos os mais importantes
modelos de administração do fluxo de caixa, que buscam minimizar os custos para as
empresas, e de gestão de estoques, os quais têm grande influência nas contas das empresas.

Após a leitura desse capítulo você deve ser capaz de:

 Entender a importância do fluxo de caixa e os principais fatores que influenciam


a solvência das empresas.

 Saber quais os principais modelos de gestão de caixa.

 Saber quais os principais modelos de gestão de estoques.

 Entender a relação entre o capital de giro e o caixa.

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Administração Financeira

Referências
GITMAN, L.J.; MADURA, J. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo:
Pearson, 2005.

PADOVEZE, C.L. Introdução à administração financeira. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

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Aula 10
Decisões de investimento

Objetivos Específicos
• Entender quais os princípios envolvidos para decidir qual o melhor investimento

Temas

Introdução
1 Decisão de investimento
2 Métodos de avaliação de decisão de investimento
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
Para crescer e gerar valor aos seus acionistas, as empresas precisam avaliar bem suas
decisões de investimento. Existem importantes indicadores que servem de parâmetros para
que o gestor tome suas decisões: se realmente vale investir em determinado negócio ou
não. As decisões de investimento envolvem coleta de dados relevantes, avaliação e escolha
de propostas de desembolso de capital, efetuadas com o objetivo de gerar resultados
positivos aos proprietários dos recursos a longo prazo. Esse processo de tomada de decisão
de investimento está relacionado com todos os desembolsos não ligados à operação da
empresa. Pode-se citar, como exemplo, a aquisição de novas máquinas ou instalações para a
ampliação da produção, lançamento de novos produtos, substituição de ativos, pesquisa de
novos produtos, etc. Vamos avaliar nesse capítulo alguns desses e entender como o gestor
deverá decidir aplicar ou não os recursos da empresa.

1 Decisão de investimento
Decisão de investimento de capital – é o processo decisório no qual os administradores
se envolvem para identificar os projetos que agregam valor à empresa. Pode ser assim
definida como o processo global de analisar projetos e decidir qual(is) deverá(ão) ser
aprovado(s).

Uma decisão de investimento é composta de quatro etapas distintas:

 Levantamento dos dados relevantes do investimento e montagem do fluxo de


caixa incremental.

 Definição da taxa de remuneração exigida pelos investidores em função do custo


de oportunidade do capital e do risco envolvido.

 Avaliação dos fluxos de caixa do investimento proposto com a utilização de


diversos métodos quantitativos.

 Avaliação do risco do sucesso e do insucesso desse investimento.

Processo de investimento de capital

A decisão de investimento de capital é um processo que pode ser desdobrado em várias


etapas.

 Identificação das oportunidades;

2
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Administração Financeira

 Avaliação financeira;

 Seleção das propostas;

 Implementação dessas propostas.

Identificação das oportunidades

O processo de decisão de investimento de capital se inicia com a identificação das


oportunidades de negócio que possam ser convertidas em propostas de investimento
potenciais e que gerem valor para a empresa.

Avaliação financeira

Após serem identificadas, as propostas de investimento devem ser avaliadas


financeiramente. As variáveis necessárias para a avaliação financeira incluem:

 Estimar a vida útil do projeto;

 Dimensionar os fluxos de caixa esperados para esse período;

 Selecionar a taxa de desconto apropriada para calcular o valor presente do fluxo


de caixa.

Seleção das propostas

Depois de estimarmos os parâmetros financeiros das propostas, é preciso empregar um


método, um critério ou uma regra de decisão para a seleção de uma das oportunidades.

Implementação das propostas

Por último, as propostas aprovadas são postas em prática. Após todo o processo, os
projetos são auditados regularmente. O monitoramento dos projetos deve indicar os desvios
em relação às projeções efetuadas.

2 Métodos de avaliação de Decisão de Investimento


Existem vários métodos de avaliação econômica de investimento. Neste capítulo vamos
estudar quatro importantes métodos:

 VPL - Valor Presente Líquido.

3
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Administração Financeira

 IL - Índice de Lucratividade.

 TIR - Taxa Interna de Retorno.

 Payback - o período de retorno do investimento.

Estes métodos devem ser avaliados em função das seguintes propriedades:

 A época de ocorrência dos fluxos de caixa esperados;

 O risco dos fluxos de caixa esperados;

 A criação de valor.

2.1 Valor presente líquido (VPL)

O VPL é a diferença entre o valor presente dos benefícios líquidos de caixa – FCs –,
previstos para cada período do horizonte de duração do projeto, e o valor presente do
investimento ou desembolso inicial. Esse é o método mais conhecido de avaliação e um dos
mais utilizados devido às suas propriedades.

 Leva em conta a época de ocorrência dos fluxos de caixa esperados;

 Leva em consideração o risco dos fluxos de caixa esperados;

 Diferencia os projetos com base na criação de valor.

Época dos fluxos de caixa

Como os fluxos de caixa de uma proposta de investimento são projetados para ocorrer
ao longo de vários períodos, é necessário considerar a época de ocorrência dos fluxos de
caixa esperados. Logo, os fluxos de caixa não podem, simplesmente, ser somados. Para levar
em consideração o valor dos recebimentos ao longo do tempo precisamos descontar os
fluxos de caixa futuro pela taxa de desconto, dada pelo custo de oportunidade de investir no
projeto, em vez de fazer um investimento livre de risco. Essa taxa, em geral, é dada pela taxa
básica de juros da economia. Tal operação consiste em trazer os fluxos de caixa futuro a
valor presente.

VP – o valor presente dos fluxos de caixa esperados de um projeto, descontado sua taxa
de custo de capital, é uma estimativa do valor pelo qual o projeto pode ser vendido no
mercado.

VPL – o valor presente líquido de um projeto de investimento representa, caso o


projeto seja implementado, a variação imediata na riqueza dos proprietários da empresa.

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Administração Financeira

Exemplo:

Só é possível escolher uma das propostas de investimento – A e B –, pois elas são


mutuamente excludentes. Essas propostas de investimento requerem o mesmo
investimento inicial de R$ 1.000,00, têm a mesma duração: 3 anos e têm o mesmo custo de
oportunidade de 10% ao ano.

Os fluxos de caixa das propostas de investimento A e B são:

Período Opção A Opção B


1 R$ 800,00 R$ 300,00
2 R$ 500,00 R$ 500,00
3 R$ 300,00 R$ 800,00

Um investidor desavisado pode achar que as opções são equivalentes, pois requerem
iguais investimentos, prazos, taxas de desconto e fluxos de caixa, exceto pela inversão na
ordem das entradas.

Vamos calcular o VPL. Primeiro trazemos os fluxos de caixa a valor presente. Lembre-se
da fórmula do valor presente:

VP = VF
(1+ i )n

Onde

VP = Valor Presente

VF = Valor Futuro (valor que será recebido)

i = taxa de desconto

n = período que ocorrerá o recebimento

Assim...

Opção A

1º período

VP = 800
(1+ 0,10 )1

VP = 727,27

2º período
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VP = 500
(1+ 0,10 )2

VP = 413,22

3º período

VP = 300
(1+ 0,10 )3

VP = 225,39

VP do projeto A = 727,27 + 413,22 + 225,39 = 1.365,88

VPL = 1.365,88 – 1.000 = 365,88. O VPL do projeto R$365,88, com investimento inicial
de R$ 1.000.00. Isso quer dizer que o projeto é viável e tem o retorno do investimento em
mais um ganho real de R$ 365,88.

Opção B

1º período

VP = 300
(1+ 0,10 )1

VP = 272,73

2º período

VP = 500
(1+ 0,10 )2

VP = 413,22

3º período

VP = 800
(1+ 0,10 )3

VP = 601,05

VP do projeto B = 272,73 + 413,22 + 601,05 = 1.287

VPL = 1.287 – 1.000 = 287

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O VPL do projeto 287,00, com investimento inicial de R$ 1.000.00. Então os dois


projetos são viáveis.

Um investidor mais atento não tem dúvidas em selecionar a opção A, pois esta promete
retornar o investimento muito mais rapidamente do que a opção B.

Ao aplicar o método do VPL, encontramos um valor para A de R$ 366,00 e outro para B,


de R$ 287,00, o que indica, claramente, que a opção A é superior e deve ser a preferida.

Na HP 12 C

Limpe a memória – fCLX

Coloque o investimento inicial – deve ser negativo

1.000 CHS G CFo

Depois vamos colocar os fluxos de caixa, no caso de A

800 G CFJ

500 G CFJ

300 G CFJ

Insira a taxa de juros

10 i

Agora peça o VPL

f NPV

O resultado será $ 365,89

Agora tente fazer o mesmo com o fluxo de caixa da opção B.

Risco dos fluxos de caixa

O VPL distingue os projetos menos arriscados dos mais arriscados.

Quanto maior é a probabilidade de os fluxos de caixa efetivo de um projeto desviar-se


de seus valores esperados, maior é o risco do fluxo de caixa.

Quanto maior é o risco atribuído aos fluxos de caixa esperados, mais alto é o custo de
oportunidade suportado – e requerido – pelos investidores.

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Diante de duas opções de investimento com idênticos desembolsos iniciais e


mesmos FCs projetados, o gestor deve selecionar aquela que apresenta menor risco.

Criação de valor

Diferenciar projetos, com base na criação de valor, pode definir o investimento que
aumenta o valor de mercado da empresa para os acionistas. A escolha do investimento é
que possibilita a criação de valor.

Limitações do método do VPL

O VPL não pode ser aplicado, de forma padrão, em todas as situações. Por ser um
critério baseado apenas nas informações disponíveis no momento em que as estimativas são
feitas, o VPL ignora as oportunidades de mudanças no projeto, a serem feitas à medida que
o tempo passa e que mais dados ficam disponíveis. O VPL é estimado a partir dos fluxos de
caixa esperados do projeto, descontada a taxa de custo de capital, que corresponde ao risco
do projeto. As estimativas tanto dos fluxos de caixa quanto do custo de capital dependem
das informações disponíveis no momento do cálculo do VPL. Dois projetos podem
apresentar o mesmo VPL, mas terem flexibilidades diferentes em relação ao ajuste a novas
circunstâncias.

2.2 Payback

Há dois tipos de período de payback:

 Payback simples;

 Payback descontado.

Payback Simples

O período de payback simples de um projeto é o número de períodos, geralmente


medido em anos, requerido para que a soma dos FCs esperados do projeto sejam iguais ao
investimento inicial. Assim, determina-se o tempo necessário para que a empresa recupere
os recursos investidos em um projeto. Para calculá-lo, basta acumular as entradas anuais de
caixa até atingir o valor do investimento.

Usaremos como exemplo a avaliação de seis projetos de investimento – A, B, C, D, E e F.

Exemplo: Investimento inicial de R$ 500.000,00 tem os seguintes fluxos de caixa:

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Período Invest. A Invest. B Invest. C Invest. D Invest. E Invest. F


1 300.000,00 50.000,00 125.000,00 125.000,00 163.000,00 163.000,00
2 150.000,00 150.000,00 125.000,00 125.000,00 163.000,00 163.000,00
3 50.000,00 300.000,00 125.000,00 125.000,00 163.000,00 163.000,00
4 100.000,00 100.000,00 125.000,00 125.000,00 163.000,00 163.000,00
5 150.000,00 150.000,00 125.000,00 125.000,00 163.000,00 448.000,00
Custo de Cap. 10% 10% 5% 10% 10% 10%
VPL 95.700,00 56.255,00 41.185,00 -26.152,00 117.898,00 319.698,00

Aplicando esse conceito ao projeto A, verificamos que são necessários três anos
completos para que os fluxos de caixa empatem com o valor do investimento inicial.

Investimento inicial $ 500.000,00 – $ 300.000.00 – $ 200.000.00 – $ 50.000,00 = $0,00

Ano 1 $ 300.000,00 saldo $ 200.000,00

Ano 2 $ 150.000,00 saldo $ 50.000,00

Ano 3 $ 50.000,00 saldo zero. Exatamente no terceiro ano tem o retorno do


investimento.

Portanto, o período de payback simples do projeto A é de 3 anos. Os demais períodos


são os seguintes:

Investimento A B C D E F
Payback 3,0 3,0 4,0 4,0 3,07 3,07

Nos casos dos projetos E e F, é necessário calcular uma fração de ano para completar o
período de payback, ou seja:

parte inteira 3 anos x 163 = 489

parte fracionária: (500 – 489)/163 = 0,07

Total 3,07

De acordo com o método do payback simples, um projeto torna-se atraente se seu


período de payback é inferior, ou pelo menos igual, ao número de períodos estabelecido
como limite pela empresa. Esse período mínimo é chamado de período de corte –
cutoffperiod. Se o período de corte for de 3,5 anos, os projetos C e D devem ser rejeitados.
Se a decisão for escolher apenas um projeto, aquele que apresentar o menor período de
payback deverá ser selecionado.

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Desvantagens do Payback Simples

Em relação à época de ocorrência dos fluxos de caixa esperados, os projetos A e B


requerem o mesmo investimento inicial, pois têm a mesma duração e apresentam o mesmo
risco – indicado pela taxa de desconto. Embora os períodos de payback dos projetos A e B
também sejam iguais, há diferenças na época de ocorrência dos fluxos de caixa são
diferentes – as entradas de caixa apresentam-se muito mais favoráveis ao projeto A do que
ao projeto B. O escolhido seria o projeto A em função do que o no segundo ano
praticamente ja teria o retorno do investimento so faltando $ 50.000,00 para o terceiro ano,
quanto que no projeto B no segundo ano ainda falta $ 300.000,00.

Em relação ao risco dos fluxos de caixa esperados, o investimento inicial, a duração e as


entradas de caixa dos projetos C e D são iguais a R$ 125,00. Contudo, os fluxos de caixa
esperados de D são mais arriscados – taxa de custo de capital maior. Dessa forma, o período
de payback simples dos projetos C e D é igual 4 anos.

Em relação à criação de valor, pelo fato de não considerar nem a época nem o risco dos
fluxos de caixa, este critério não pode ser contemplado pelo período de payback simples.
Além disso, a escolha de um período de corte é arbitrária, nada garante que essa escolha
leve à maximização da riqueza dos acionistas.

Vantagens do PPS

A maior vantagem do período de payback simples é a simplicidade e a facilidade de


aplicação o que é conveniente para as decisões sobre investimentos repetitivos e de
pequena monta.

Payback descontado

O payback descontado de um projeto é o número de períodos, geralmente, em anos,


para que os valores presentes dos fluxos de caixa esperados do projeto igualam-se ao
investimento inicial.

Exemplo investimento A com taxa de custo de capital de 10%.

Final de ano Investimento A VP dos FCs


1 300,00 272,72
2 150,00 123,95
3 50,00 37,65
4 100,00 68,30
5 150,00 93,13

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Exemplo usando a calculadora HP12C

Ano 1 - 1 n taxa 10% i capital $ 300,00 CHS PV = 272,72

Ano 2 - 2 n taxa 10% i capital $ 150,00 CHS PV = 123,95

Ano 3 - 3 n taxa 10% i capital $ 50,00 CHS PV = 37,65

Ano 4 - 4 n taxa 10% i capital $ 100,00 CHS PV = 68,30

Ano 5 - 5 n taxa 10% i capital $ 150,00 CHS PV = 93,13

FCD = 272,72 + 123,95 + 37,65 + 68,30 + 93,13 = 595,75

O valor descontado em três anos será de R$ 434,32 mil. Portanto, a empresa paga o
investimento em quatro anos, quando o valor descontado recebido soma R$ 503 mil.

Desvantagens do payback descontado

Por trazer os valores dos fluxos de caixa a valor presente, o período payback
descontado leva em conta a época de ocorrência desses eventos. No entanto, o payback
descontado não capta os fluxos de caixa que ocorrem após o período de cálculo ou após o
período de corte. Logo, mesmo que o projeto A apresentasse um fluxo de caixa duas vezes
maior no quinto ano, seu PPD continuaria sendo o mesmo. PPD só considera o risco do
projeto até o ponto em que o retorno foi obtido. Os fluxos de caixa posteriores permanecem
ignorados. Nem sempre o método do período de payback descontado seleciona os projetos
que maximizam a riqueza dos proprietários. O período de corte continua sendo uma escolha
arbitrária.

2.3 Taxa interna de retorno (TIR)

A taxa interna de retorno – TIR – de um projeto é a taxa de desconto que torna seu VPL
igual a zero.

Por ser a taxa que iguala as entradas de caixa com o investimento inicial, a TIR expressa
a rentabilidade do projeto.

Não há fórmula de calculo: sua fórmula de cálculo só é possível por tentativa e erro, por
isso a importância de recorrermos ao auxílio de uma calculadora financeira ou de uma
planilha eletrônica como o Excel, por exemplo.

Exemplo: TIR na calculadora HP-12C

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Para calcular a TIR do projeto A na calculadora HP-12C, devem ser observados os


seguintes passos:

fCLx
500 CHS g CF0
300 gCFj
150 gCFj
50 gCFj
100 gCFj

Tente encontrar a TIR dos outros projetos

Investimento A B C D E F
TIR 19,1% 13,9% 7,9% 7,9% 18,9% 28,6%

Critério de decisão

De acordo com o método da TIR:

 Um projeto deve ser aprovado se sua TIR for maior que o custo de capital;

 Quanto maior a TIR, melhor se podem comparar projetos de investimento


concorrentes.

A proposta A tem uma TIR de 19%, bem superior ao custo de oportunidade do capital
de 10%.

Portanto, o projeto é atraente e deve ser aprovado. O payback do A é de 3 anos com


um TIR de 19%, apesar do F ter um TIR de 28,6% não seria o escolhido em função do
payback ser 3,07 anos um tempo maior para o retorno do fluxo de caixa.

Vantagens da TIR

A TIR capta o valor do dinheiro no tempo.

Em relação à criação de valor, a TIR de um projeto é calculada fixando-se seu VPL em zero.

Quando construímos um gráfico de VPLs com diferentes taxas de desconto, os


resultados desses métodos são equivalentes quando o VPL é positivo, a TIR é superior ao
custo de capital, e quando o VPL é negativo, a TIR é inferior ao custo de capital.

12
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Limitações da TIR

A TIR, em algumas situações, pode levar a decisões de investimento incorretas.

Quando se trata de projetos mutuamente excludentes, só um deverá ser escolhido, a


TIR pode conflitar com a decisão apontada pelo VPL. Isso ocorre, em geral, quando os
padrões de fluxo de caixa dos projetos analisados diferem muito.

A TIR também pode causar problemas, quando a sequência dos fluxos de caixa se afasta
do modelo convencional de uma saída e várias entradas.

2.4 Índice de lucratividade (IL)

O índice de lucratividade – IL – de um projeto é o resultado da divisão do valor presente


dos fluxos de caixa esperados do projeto pelo valor do investimento inicial. O IL é uma
variante do VPL, ou ainda, um índice de custo-benefício.

Para as propostas do exemplo anterior, podemos consultar os respectivos dados e


refazer os cálculos a título de exercício.

Investimento A B C D E F
IL 1,19 1,11 1,08 0,95 1,24 1,64

Critério de decisão do IL

 Um projeto deve ser aprovado se IL > 1,0 e rejeitado se IL < 1,0;

 Quanto maior o IL, melhor é o projeto ao se compararem investimentos


alternativos.

De acordo com esse critério, apenas o projeto D deve ser rejeitado, pois resulta em IL < 1.

Devemos notar também que a proposta C tem um IL bem próximo da unidade.

13
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a. Vantagens do IL

O IL leva em conta o fator tempo no valor do dinheiro.

O IL considera o risco do projeto, pois usa o custo de capital como taxa de desconto.

O IL leva às mesmas decisões que o VPL. Portanto, é consistente com a meta da


maximização da riqueza.

Considerações finais
Nesse capítulo aprendemos os principais métodos para avaliar as propostas de
investimento, suas vantagens e desvantagens como critério de decisão dos acionistas.

Após a leitura desse capítulo você deve ser capaz de:

 Entender e calcular o VPL;

 Entender e calcular a TIR;

 Entender e calcular o IL;

 Entender e calcular o Payback Simples e Descontado.

Referências
GITMAN, L.J.; MADURA, J. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo:
Pearson, 2005.

PADOVEZE, C.L. Introdução à administração financeira. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

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Aula 11
Administração do capital de giro e disponibilidades

Objetivos Específicos
• Entender a importância do controle e gestão do capital de giro para a
longevidade da empresa

Temas

Introdução
1 Caixa e necessidade de capital de giro
2 Capital circulante líquido (capital de giro)
3 Estrutura analítica do capital de giro (CDG)
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
As empresas precisam estar atentas a pelo menos um fato: como administrar seu
capital de giro. Desde o início deste curso tenho destacado a importância do capital de giro e
as implicações da má gestão de capital que levam à falência da empresa. Se não conseguir
honrar com seus compromissos e necessitar de aportes de capital de curto prazo, a empresa
acaba sendo forçada a fechar as portas. Assim, não basta apenas ser bom naquilo que faz, é
essencial ter controle tanto dos gastos quanto dos recebimentos. O lucro é importante,
claro, mas ter dinheiro para pagar seus prestadores de serviços, fornecedores e qualquer
outra despesa em dia é mais ainda. Neste capítulo veremos que isso não é tão simples assim,
e requer uma boa dose de disciplina. Durante a leitura das próximas páginas você verá os
detalhes das contas que compõe o ciclo de caixa que representa as atividades operacionais
da empresa – veremos as principais necessidades das empresas, os conceitos de necessidade
de capital de giro e saldo de tesouraria, além de modelos de gestão de caixa.

1 Caixa e necessidade de capital de giro


Para entender o capital de giro, precisamos primeiramente retomar o conceito de fluxo
de caixa, o qual consiste em um controle financeiro que ajuda o gestor ou empresário a
tomar decisões sobre a situação da empresa. Nesse controle, encontram-se tanto a origem
de todo o dinheiro que entrou no caixa da empresa quanto à aplicação de todo o dinheiro
que saiu do caixa. O fluxo de caixa pode ser projetado (forecast), isso quer dizer que abrange
todas as entradas e saídas futuras dos recursos. Também é adotado o fluxo de caixa passado
(budget), que engloba as entradas e saídas de dinheiro já ocorridas.

As principais finalidades do fluxo de caixa são:

• Planejar e controlar as entradas e saídas de caixa num período determinado de


tempo, normalmente um mês ou vários meses.

• Auxiliar o empresário ou gestor de pequenos negócios a tomar decisões


antecipadas sobre o fluxo financeiro da empresa.

• Demonstrar a situação do caixa da empresa de forma antecipada, permitindo


eventuais ajustes quando necessário.

• Verificar se a empresa está trabalhando com aperto ou folga financeira.

2
Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados
Administração Financeira

Para elaborar o Fluxo de Caixa é necessário:

• Conhecer com detalhes o ciclo financeiro da empresa – prazos de pagamentos e


recebimento.

• Manter os controles auxiliares em dia, tais como: controle bancário, controle de


recebimento de clientes, controle de pagamento de fornecedores, controle de
pagamento de despesas e o controle de movimento de caixa.

• Todos os valores lançados no fluxo de caixa deverão ser realistas, ou seja,


manter os valores das estimavas das entradas e saídas caixa sempre atualizados.

Necessidades de capital de giro - NCG

Quando elaboramos o fluxo de caixa de uma empresa não é incomum vermos que os
pagamentos no final são maiores que os recebimentos. Isso não significa que a empresa está
completamente quebrada, mas muitos dos problemas estão relacionados à própria atividade
do setor no qual a empresa atua. Diversos segmentos, como o setor de construção civil, são
capital intensivo e requerem que a empresa disponha de bastante dinheiro para investir no
negócio que terá retorno de médio ou longo prazo. O empresário desembolsa hoje para
receber amanhã – o descasamento é problema de caixa, é óbvio.

Para entender essa realidade, precisamos introduzir outros conceitos que envolvem a
vida da empresa. Vejamos.

As empresas costumeiramente tomam recursos para fazerem frente às suas


necessidades de giro. Como mencionamos anteriormente, essa necessidade está relacionada
à própria atividade da empresa. A seguir, analisaremos os ciclos de uma empresa industrial e
de uma varejista para facilitar o entendimento.

Ciclo Operacional

No caso de uma empresa industrial, em um modo geral, sua atividade consiste na com-
pra de matéria-prima e sua transformação. Supondo uma hipotética fábrica de jeans que
tenha as seguintes características operacionais; compra de tecidos e aviamentos que ficam
estocados, em média, por 15 dias; no processo de produção de roupas, a empresa leva em
média cinco dias; o produto acabado gira (venda), em média, em 20 dias; a empresa paga ao
fornecedor de matéria-prima, em média, em 30 dias; e as calças jeans são vendidas ao
distribuidor com prazo de 40 dias para pagar.

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Compra Paga Vende Recebe

MP = 15 FB = 5 PA = 20 Prazo médio de recebimento das vendas =


40 dias
Prazo médio de rotação dos estoques =
40 dias

Prazo médio de pagamento das Ciclo financeiro = 50 dias


compras = 30 dias

T0 T1 T2 T3

CICLO OPERACIONAL

Sendo:

MP = estoque de matéria-prima

FB = estoque de produtos em fabricação

PA = estoque de produtos acabados

Note que há uma defasagem de 50 dias entre T1 e T3, ou seja, a saída e a entrada de
caixa, respectivamente. Essa conjugação de prazo e o volume de vendas determinam o
volume de recursos que a empresa aplica em suas atividades operacionais.

No caso do comércio, a atividade resume-se à compra, estocagem e venda. Vamos


supor uma loja de roupas que compre do fabricante, estoque durante 20 dias e venda com
prazo de 25 dias.

Compra Vende Paga Recebe

Prazo médio de rotação dos estoques = 20 Prazo médio de recebimento das vendas = 25
dias dias

Prazo médio de pagamento das compras = 40 dias Ciclo financ. = 5 dias

T0 T1 T2 T3

CICLO OPERACIONAL

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Note que o lojista paga ao fornecedor em T2 e recebe em T3, com um ciclo de apenas
cinco dias. Supondo que o volume de vendas do lojista fosse igual ao do fabricante, sua
necessidade de capital de giro seria menor.

Assim, em cada uma das atividades, o ciclo operacional inicia-se com a compra da
matéria-prima ou do produto e conclui-se com o recebimento das vendas. Todavia, o ciclo
financeiro inicia-se com o pagamento ao fornecedor e finda com o recebimento das vendas.
Já o ciclo econômico inicia-se com a compra da matéria-prima e termina com a venda final,
em que nenhuma das duas pontas há a necessidade de recebimento nem desembolso.

Podemos perceber por meio dessa avaliação que a necessidade de capital de giro faz
parte da vida das empresas. Comumente, as empresas se deparam com diferentes tipos de
necessidades, definidas a seguir:

Necessidades normais de Capital de Giro: são uma consequênciado ciclo financeiro e


do nível de atividade na empresa. Quando o capital permanente líquido (CPL) não é
suficiente para financiar as necessidades líquidas de capital de giro (NLCG), a empresa
recorre a empréstimos de curto prazo, desconta duplicatas ou notas promissórias. Os
chamados “limites rotativos” também são adequados para satisfazer tais necessidades, as
quais devem ter um caráter ocasional. Normalmente, esses empréstimos de curto prazo
devem ser pagos com caixa obtido a partir da realização de ativos circulantes – vendas e
recebimentos, redução de estoques da empresa.

Necessidades Sazonais de Capital de Giro: as atividades de muitas empresas apresentam


características sazonais que afetam suas necessidades de capital de giro, quanto às épocas,
aos volumes e às finalidades desses recursos. As atividades rurais como café, fruticultura
(maçã, pêra e figo, por exemplo) estão sujeitas às épocas de suas colheitas. Os empréstimos
para atender às necessidades sazonais devem ser pagos com caixa obtido pela realização
natural dos ativos circulantes, as vendas do dia a dia. É importante destacar que a parcela
sazonal das necessidades de capital de giro de uma empresa, cuja atividade não seja sazonal,
não se enquadra na categoria de necessidades sazonais, para o propósito de estruturação.

Necessidades especiais de Capital de Giro: ocorrem quando as empresas recebem


certas encomendas para produção de bens, cujos volumes excedem aos seus níveis habituais
de producão, demandando uma necessidade especial de recursos para financiar o incremen-
to no investimento operacional em giro (IOG). Nesse caso, a estruturação do empréstimo
requer a compreensão da forma de operação da empresa e do impacto da demanda especial
na necessidade de capital de giro da empresa. Também nessa situação, o empréstimo deve
ser pago com caixa decorrente da realização natural dos ativos circulantes.

Deficiência Permanente de Capital de Giro: Esse é o grande problema. É identificada


pela existência de um hiato permanente entre o capital permanente líquido da empresa

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(GPL) e seu IOG. Como nos demais casos, após minuciosa análise financeira da empresa, um
empréstimo para financiar esse tipo de necessidade deve ser por prazo longo, o suficiente
para compatibilizá-lo com a capacidade de pagamento da empresa. Portanto, o empréstimo
deverá ser parcelado e será pago com caixa gerado pelo lucro da atividade operacional da
empresa ao longo do período de financiamento.

2 Capital circulante líquido (Capital de Giro)


O estudo da liquidez de uma empresa concentra-se nas contas de curto prazo, isto é,
ativo e passivo circulante. A liquidez é definida como a capacidade de a empresa pagar as
contas de curto prazo. O primeiro indicador para medir a liquidez é o capital circulante
líquido (CCL), que é a expressão primeira da mensuração da capacidade de pagamento da
empresa. Como vimos no capítulo 3, o CCL engloba tudo o que a empresa tem aplicado no
curto prazo (AC) confrontado com todos os compromissos a pagar (PC) nesse período (o CCL
expressa o capital de giro de uma empresa).

Assim, temos:

CCL = AC – PC

Conforme destacamos na aula 3, podemos analisar o CCL como uma expressão do fluxo
de caixa da empresa.

CCL = AC – PC

Saldo de Caixa = Entrada – Saída

FLUXO DE CAIXA

Agora aprofundaremos mais nossa avaliação baseada no conceito de CCL.

Modelo Fleuriet

Se olharmos de forma crítica a forma como é montado o balanço de uma empresa,


veremos que o ativo circulante engloba, dentro de um mesmo conjunto, ativos que possuem
características muito diferentes entre si. Enquanto as contas caixa, bancos e aplicações
financeiras possuem liquidez imediata, as duplicatas a receber e estoques não são tão
líquidas assim.

O tempo para transformar duplicatas a receber e estoques em caixa (dinheiro),


depende dos prazos de recebimento concedidos aos clientes e do prazo médio de
estocagem. Assim, do ponto de vista gerencial, além de se considerarem os diferentes
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estágios de liquidez entre esses ativos, a classificação das contas utiliza outro critério com o
objetivo de dar uma dinâmica maior à análise. Esse é o modelo Fleuriet. O primeiro passo é
separar as contas em duas categorias.

Contas Cíclicas – Estão relacionadas à atividade básica da empresa, ou seja, à venda de


seus produtos/serviços. Tais contas fazem parte do ciclo operacional que vimos logo no
início dessa aula.

Contas Erráticas – São as demais contas circulantes que não possuem relação com o
ciclo operacional da empresa.

Vejamos agora como são classificadas as principais contas de um balanço:

A. Cíclico A. Erráticos
Contas a receber
= Estoque
Ativo Circulante + Disponibilidades
Outras contas a receber
Impostos a compensar
Desp. antecipadas
Outros

– – –

P. Cíclico P. Erráticos
Fornecedor
Financiamentos a curto
= Importação, Taxa e
Passivo Circulante + prazo
Contribuições
Debenture
Encargos regulatórios
Outros valores a pagar
Obrigações sociais

= = =

CCL /CDG = NCG + S. Tesouraria

Lembra da BOCA S.A.? Vejamos novamente o ativo e o passivo circulante da empresa.

R$ mil
Ativos 2012 2011 Passivo 2012 2011
ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE
- Caixa 500 600 - Duplicatas a pagar 800 500
- Aplicação 600 200 - Títulos a pagar 600 700
- Duplicatas a receber 400 500 - Outras contas a pagar 100 200
- Estoques 600 900 Total Passivo Circulante 1.500 1.400
Total Ativo Circulante 2.100 2.200

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A. Cíclico A. Erráticos
Duplicatas a receber 400
Ativo Circulante = Estoques - 600 Caixa + aplicações 1100
+
2012 Outras contas a receber 0 Impostos a Compensar
Despesas Antecipadas 0
Outros 0

– – –

P. Cíclico P. Erráticos
Fornecedor
(duplicatas a pagar) - 800
Passivo Circulante = Importação, Taxa e Financiamento a curto prazo
+
2012 Contribuições 0 Debenture
Encargos regulatórios Outros valores a pagar 100
Obr. sociais 0
Títulos a pagar 600

= = =

CCL /CDG = NCG + S.Tesouraria


600 – 400 1.000

Note pelo quadro acima a diferença entre capital de giro (CDG) e a necessidade de
capital de giro (NCG). O capital de giro é um conceito composto de investimentos líquidos
tanto na operação quanto fora da atividade básica da empresa e seu cálculo é baseado no
CCL. Já a NCG é unicamente operacional porque é consequência das políticas de negociação
com clientes, estoques e fornecedores. As contas consideradas erráticas compõem o saldo
de tesouraria.

Podemos concluir, portanto, que o gerenciamento da liquidez consiste exatamente na


identificação do volume adequado e da real necessidade de capital de giro de uma empresa,
visando torná-la mais eficiente, com melhor desempenho e menor risco.

Necessidade de Capital de Giro (NCG): representa o volume de recursos aplicados na


operação.

Saldo de Tesouraria (T): é a diferença entre as contas que estão fora da atividade básica
da empresa, que não tem relação com o ciclo operacional da empresa.

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3 Estrutura Analítica do Capital de Giro (CDG)


O CCL iguala-se ao CDG na medida em que indica o valor de aplicações no curto prazo
não financiadas por recursos de curto prazo, enquanto o CDG evidencia a fonte de tais
recursos. Os fundos de longo prazo (FLP) que não estão aplicados nos ativos fixos (AF) de
longo prazo estão aplicados no CDG. Dessa forma, apesar dele ser igual ao CDG em valor, se o
primeiro for uma aplicação, o segundo será fonte, e vice-versa. No exemplo, o CCL é uma
aplicação (AC > PC) e o CDG é a fonte.

Vejamos como isso é expresso no balanço:

P. Circulante A. Circulante
Ativo Circulante A. Circulante P. Circulante P. Circulante

CDG CDG

Ativos de longo Fundos de longo Ativos de longo Fundos de longo Ativos de longo Fundo de longo
prazo prazo prazo prazo prazo prazo

Capital de giro positivo Capital de giro nulo Capital de giro negativo

Quando o CDG é positivo, ou seja, o ativo Quando o ativo circulante e o passivo Quando o ativo circulante é menor que o
circulante é maior que o passivo circulante são iguais, o CDG é nulo. passivo circulante, dizemos que o CDG é
circulante, dizemos que ele é uma fonte uma aplicação de recurso.
de recurso.

No primeiro caso (AC > PC), o CCL é uma aplicação de recursos e o CDG é fonte de recurso.
Assim, há uma parcela de fontes de longo prazo financiando ativos de curto prazo.

No último caso (AC < PC), quer dizer, o CCL é negativo, podemos perceber que o capital de giro
está aplicado em ativos de longo prazo. Desse modo, o capital de giro é negativo, indicando
uma descaracterização de seu princípio como fonte de recursos para a situação inversa:
aplicação de recursos. Assim, fontes de PC estão financiando ativos de longo prazo.

Um valor de CDG inferior à NCG levaria a empresa a ter de buscar capitais financeiros de
curto prazo para complementar a sua necessidade de capital de giro.

O gerenciamento do capital de giro, importante instrumento da liquidez das empresas


(lembre-se, liquidez é a capacidade da empresa de assegurar o cumprimento de seus
compromissos financeiros), deve ter como diretriz a igualdade com a necessidade de capital de
giro. Consequentemente, o saldo de tesouraria deve ser positivo, mas tendendo a zero. A busca
desse objetivo deverá ser o principal foco da administração financeira no aspecto de liquidez.

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Considerações finais
No capítulo aprendemos como avaliar e calcular o capital de giro da empresa e sua
diferença com relação à necessidade de capital de giro. Analisamos as contas que compõem o
ciclo de caixa que representa as atividades operacionais da empresa, as principais
necessidades das empresas e os conceitos de necessidade de capital de giro e saldo de
tesouraria. Após a leitura do capítulo você será capaz de realizar essa análise quando se
deparar como balanço de uma empresa e tomar decisões como um administrador financeiro.

Referências
BRUNI, A.L. A administração de custos, preços e lucros: com aplicações na HP12C e Excel.
São Paulo: Atlas, 2010.

GITMAN, L.J.; Madura, J. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo:
Pearson.

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Aula 12
Os custos e seus impactos

Objetivos Específicos
• Entender o cálculo dos custos e seu impacto na formação do preço do produto

Temas

Introdução
1 Principais conceitos usados
2 Custos versus despesas
3 Classificação dos custos
4 Como apuramos os custos
5 Margem de contribuição, mark-up e ponto de equilíbrio
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
As empresas precisam entender como é a composição de seus custos para definir qual o
preço final a ser cobrado pelo produto. Mas quais são os componentes dos custos? Como
calcular esses custos? Quais são seus impactos no aumento da produção? Quanto os custos
representam no valor final do produto? Temos margens aceitáveis, ou seja, estamos fazendo
um bom negócio? Essas e outras perguntas serão respondidas neste capítulo.

A importância do estudo da contabilidade de custos adquiriu elevada importância com


o aumento da complexidade do mundo dos negócios. Os especialistas perceberam que as
informações fornecidas por essa área eram úteis ao auxílio gerencial e, portanto, não
deveriam ficar apenas restritas ao campo de registro. Assim, a contabilidade de custos
passou a ser utilizada no auxílio ao controle (os custos podem, através de comparações com
padrões e orçamentos, indicar onde está ocorrendo problemas ou situações não previstas) e
na tomada de decisões: as informações de custos subsidiam informações úteis nos
processos decisórios de curto e longo prazos, como: corte de produtos, fixação de preços de
vendas, opção de compra ou fabricação de produtos etc.

1 Principais conceitos usados


Antes de começarmos a estudar o impacto dos custos na formação dos preços,
precisamos definir as principais terminologias usadas e o diferencial entre custos e despesas.

Gasto: é o sacrifício financeiro que a empresa faz para obter um produto ou serviço.

Custo: gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outro bem ou serviço.
Consiste no valor dos insumos utilizados na produção de um bem. O gasto refere-se aos insumos
adquiridos, já o custo está relacionado com os insumos efetivamente utilizados na produção.

Despesa: é o valor dos insumos não identificados com a produção e que são
consumidos para o funcionamento da empresa. Está relacionada às atividades não
produtivas da empresa. São classificadas como administrativas, comerciais e financeiras. A
principal diferença entre os custos e as despesas é que as últimas não estão relacionadas
diretamente com a produção.

Investimento: gasto classificado como um ativo em função da sua vida útil ou benefício
atribuível a períodos futuros. Os investimentos podem ter naturezas e períodos de ativação
variados. O gasto com a aquisição de produtos para o estoque é um investimento assim
como o gasto com a aquisição de equipamentos produtivos também.

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Perda: bens ou serviços consumidos de forma anormal ou involuntária.

Desembolso: é o pagamento resultante da obtenção de insumos e que pode ocorrer em


momento diferente do gasto. Por exemplo: se for efetuada uma compra de material com 60
dias de prazo para o pagamento, o gasto ocorre imediatamente, mas o desembolso só
ocorre no dia do pagamento.

2 Custos versus despesas


Os custos e despesas que ocorrem durante o exercício do período analisado são
encontrados nas demonstrações de resultados das empresas, independente do segmento
em que atuam: industrial, comercial e serviços. Os custos referem-se a produtos,
mercadorias ou serviços que foram entregues ou prestados aos clientes gerando as
respectivas receitas. Na Demonstração de Resultados os custos estão sempre relacionados
com as receitas. As despesas são consideradas esforços realizados para gerar a receita e
administrar a empresa.

Em uma Empresa Industrial, os custos estão relacionados aos gastos relativos à


fabricação dos produtos. Já as despesas referem-se aos gastos relacionados à administração.

Na Demonstração de Resultados:

Receita obtida na venda dos produtos

- Custo dos produtos que foram vendidos

= Lucro na comercialização dos produtos

- Despesas administrativas, comerciais e financeiras

= Lucro líquido

Em uma Empresa Comercial, os custos correspondem aos gastos relativos à aquisição


das mercadorias. Já as despesas referem-se aos gastos relacionados à administração da
empresa e à geração de receitas.

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Na Demonstração de Resultados:

Receita obtida na venda das mercadorias

- Custo das mercadorias vendidas

= Lucro Bruto

- Despesas administrativas, comerciais e financeiras

= Lucro líquido

Em uma Empresa Prestadora de Serviços, os custos correspondem aos gastos relativos


à execução dos serviços. Já as despesas referem-se aos gastos relacionados à administração
da empresa e a geração de receitas.

Na Demonstração de Resultados:

Receita obtida na prestação dos serviços

- Custo dos serviços que foram prestados

= Lucro na prestação de serviços

- Despesas administrativas, comerciais e financeiras

= Lucro líquido

3 Classificação dos custos

3.1 Custos diretos e indiretos

Conforme vimos, todos os gastos que ocorrem na fabricação do produto são


classificados como custos. Dessa forma, podemos concluir que a matéria-prima, a mão de
obra, a energia elétrica, e até mesmo o material de limpeza da fábrica são exemplos de
custo. Mas, nesse universo, ainda precisamos classificar que tipos de custos são.
Primeiramente vamos diferenciar os custos entre diretos e indiretos em relação ao objeto de
custeio. Depois, passaremos a ver se são fixos ou variáveis.

• Custos Diretos: são aqueles que podemos apropriar diretamente a cada


produto, através de medidas de consumo, ou seja, sabemos quanto cada
produto respondeu por aquele gasto. Podem ser definidos como custos
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específicos de cada produto fabricado. Exemplos: mão de obra da produção,


matéria-prima e embalagem do produto.

• Custos Indiretos: são aqueles que não oferecem a possibilidade de alocação


direta aos produtos, pois representam custos relacionados com toda a atividade
industrial, e não especificamente com os produtos fabricados. A apropriação
desses custos aos produtos é processada mediante rateio.

A classificação entre Custos Fixos ou Variáveis é obtida pela análise da relação existente
entre o valor total de um custo e o volume da atividade. Se o custo se eleva quando a
produção é ampliada, podemos afirmar que é variável. Se ele se mantém estático,
classificamos como fixo.

• Custos Variáveis: são aqueles que estão relacionados com o volume de


produção. Quanto maior a quantidade produzida, maior o valor de seu consumo
total. Quanto mais a indústria produz, maiores são esses custos. Exemplos:
matéria-prima, mão de obra da produção (direta), embalagem etc.

• Custos Fixos: são aqueles que independem do volume de produção. A produção


pode aumentar e diminuir, mas esses custos permanecem os mesmos. Exemplo:
aluguel da fábrica, mão de obra não ligada à produção, como a limpeza da
fábrica.

A classificação em Fixos ou Variáveis também pode ser aplicada às Despesas


Operacionais, como as despesas fixas de vendas (propaganda, salários da administração de
vendas) e as despesas variáveis de vendas (comissões de vendedores, despesas com
transporte). Já as Despesas Administrativas são quase todas fixas, com raríssimas exceções.

4 Como apuramos os custos

4.1 Custo de Produção

Em uma empresa industrial, o Custo de Produção (CP) é formado por três fatores de
produção: materiais (matérias-primas, embalagens e materiais auxiliares), mão de obra
(direta e indireta) e despesas gerais de fabricação. Para a apuração do montante
correspondente aos materiais consumidos na produção, utilizamos a fórmula que representa
a movimentação desses estoques:

Movimentação de Estoques de Materiais

EI + C - MCP = EF

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Nomenclatura

EI – Estoque Inicial: representa o valor de estoques formados em períodos anteriores;


C – Compras: o montante correspondente às compras de materiais é apurado a partir
do valor da compra, excluindo os impostos recuperáveis e os valores relativos às devoluções
ocorridas no período;
MCP – Materiais Consumidos na Produção: corresponde ao custo total de todos os
materiais requisitados no processo de produção.
EF – Estoque Final: é o custo total dos materiais adquiridos e ainda não requisitados
pela produção.

4.2 Custo da Produção Acabada

O Custo da Produção Acabada (CPA) é o total dos custos contidos nas unidades
acabadas no período e transferidas para o estoque de Produtos Acabados, ficando, portanto,
disponíveis para serem vendidas. A movimentação da produção é registrada na
contabilidade em uma conta denominada Produtos em Elaboração, podendo ser
representada de acordo com a fórmula:

Produtos em Elaboração

EIPE + CP - CPA = EFPE

Nomenclatura

EIPE – Estoque Inicial de Produtos em Elaboração: representa o custo dos produtos cuja
produção foi iniciada em períodos anteriores, e ainda não concluída;
CP – Custo da Produção: valor correspondente aos custos de materiais, mão de obra e
despesas gerais de fabricação relativos à produção executada no período;
CPA – Custo da Produção Acabada: conforme a definição dada neste tópico, é o total
dos custos contidos nas unidades acabadas no período e transferidas para o estoque de
Produtos Acabados;
EFPE – Estoque Final de Produtos em Elaboração: representa o valor dos produtos cuja
produção foi iniciada no período e ainda não concluída.

4.3 Custo dos Produtos Vendidos

O Custo dos Produtos Vendidos (CPV) é o total dos custos incorridos na produção e
contidos nas unidades efetivamente vendidas no período. Na Contabilidade o CPV é obtido
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pelo registro do custo das saídas de produtos vendidos, baixados do estoque de Produtos
Acabados, conforme podemos observar:

Produtos Acabados

EIPA + CPA - CPV = EFPA

Nomenclatura

EIPA – Estoque Inicial de Produtos Acabados: representa o custo dos produtos cuja
produção foi concluída em períodos anteriores, e ainda não vendidos;
CPA – Custo da Produção Acabada: valor correspondente ao custo da produção
concluída no período, transferida do estoque de produtos em elaboração;
CPV – Custo dos Produtos Vendidos: conforme a definição dada neste tópico, é o total
dos custos contidos nas unidades acabadas e vendidas no período;
EFPA – Estoque Final de Produtos Acabados: representa o valor dos produtos cuja
produção foi concluída no período e ainda não vendidos.

Assim, o CPV é dado por:

O saldo inicial de matérias-primas


Mais As compras
Menos As devoluções de compras
Menos O saldo final de matérias-primas
É igual Ao MATERIAL CONSUMIDO NO PERÍODO
Mais A mão de obra direta (MOD)
É igual Ao CUSTO PRIMÁRIO
Mais Os Custos Indiretos de Fabricação (CIF)
É igual Ao CUSTO INDUSTRIAL
Mais O Saldo Inicial de Estoques de Produtos em Processo
Menos O Saldo Final de Estoques de Produtos em Processo
É igual Ao CUSTO DOS PRODUTOS FABRICADOS NO PERÍODO
Mais O Saldo Inicial de Estoques de Produtos Acabados
Menos O Saldo Final de Estoques de Produtos Acabados
É igual Ao CUSTO DOS PRODUTOS VENDIDOS

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4.4 Custos no Comércio

O Custo da Mercadoria Vendida (CMV) é o total dos custos das mercadorias incorridos
na comercialização e contidos nas unidades efetivamente vendidas no período. Na
contabilidade o CMV é obtido pelo registro do custo das saídas de produtos vendidos,
baixados do estoque de Produtos para Revenda. Assim...

Produtos para Revenda

EIPR + CMP - CMV = EFPR

Nomenclatura

EIPR – Estoque Inicial de Produtos para Revenda: representa o custo dos produtos que
ainda não foram revendidos no início do período da apuração;
CMP – Compras de Produtos para Revenda: valor correspondente ao custo de aquisição
das mercadorias para revenda;
CMV – Custo das Mercadorias Vendidas: é o total dos custos contidos nas unidades
revendidas no período;
EFPR – Estoque Final de Produtos para Revenda: representa o valor dos produtos que
ainda não foram revendidos no final do período de apuração do custo.

5 Margem de contribuição, mark-up e ponto de equilíbrio

5.1 Margem de Contribuição

É a margem bruta obtida pela venda de um produto que excede seus custos variáveis
unitários. Representa o lucro variável. É a diferença entre o preço de venda do produto e os
custos e despesas variáveis por unidade de produto. Significa que em cada unidade vendida
a empresa lucrará determinado valor. Multiplicado pelo total vendido, teremos a
contribuição marginal total do produto empresa.

Para calcular a Margem de Contribuição Unitária:

MC unitária = RLV – CDV

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Para calcular a Margem de Contribuição Percentual:

𝑴𝑪
𝑴𝑪% = � � × 𝟏𝟎𝟎
𝑹𝑳𝑽

Nomenclatura

RLV – receita líquida da venda por unidade;


CDV – custo direto variável unitário.

5.2 Ponto de Equilíbrio

O ponto de equilíbrio mostra o volume que a empresa precisa produzir ou vender, para que
consiga pagar todos os custos e despesas fixas, além dos custos e despesas variáveis que tem
necessariamente que incorrer para fabricar/vender o produto. No ponto de equilíbrio, não há
lucro ou prejuízo. A partir de volumes adicionais de produção ou venda, a empresa passa a ter
lucros. Assim, o PE identifica o nível mínimo de atividade em que a empresa ou cada divisão
deve operar. Também é denominado ponto de ruptura ou Break-Even Point (BEP).

5.3 Cálculo do Ponto de Equilíbrio

Como o ponto de equilíbrio mostra quando as receitas se igualam com os custos, temos:

𝐑𝐞𝐜𝐞𝐢𝐭𝐚 𝐝𝐞 𝐕𝐞𝐧𝐝𝐚𝐬 = 𝐂𝐮𝐬𝐭𝐨𝐬 𝐕𝐚𝐫𝐢á𝐯𝐞𝐢𝐬 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐢𝐬 + 𝐂𝐮𝐬𝐭𝐨𝐬 𝐅𝐢𝐱𝐨𝐬 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐢𝐬

Graficamente:

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5.4 Ponto de Equilíbrio em Quantidade

Objetiva determinar a quantidade mínima que a empresa deve produzir e vender.


Abaixo dessa quantidade de produção e vendas, a empresa opera com prejuízo.

𝑪𝒖𝒔𝒕𝒐𝒔 𝑭𝒊𝒙𝒐𝒔 𝑻𝒐𝒕𝒂𝒊𝒔


𝑷𝒐𝒏𝒕𝒐 𝒅𝒆 𝑬𝒒𝒖𝒊𝒍í𝒃𝒓𝒊𝒐𝒒𝒕 =
𝑴𝒂𝒓𝒈𝒆𝒎 𝒅𝒆 𝑪𝒐𝒏𝒕𝒓𝒊𝒃𝒖𝒊çã𝒐 𝒖𝒏𝒊𝒕á𝒓𝒊𝒂

Onde a Margem de Contribuição unitária é o resultado da diferença entre o PVun –


Preço de Venda unitário e o CVun – Custo Variável unitário.

Exemplo

Determine a quantidade mínima (PE) de um produto que uma empresa com CFT de R$
120.000,00 deve vender para não incorrer em prejuízo, sendo seu custo variável unitário de
R$ 12,00 e seu preço de venda unitário de R$ 20,00 .

𝟏𝟐𝟎. 𝟎𝟎𝟎
𝑷𝒐𝒏𝒕𝒐 𝒅𝒆 𝑬𝒒𝒖𝒊𝒍í𝒃𝒓𝒊𝒐𝒒𝒕 = = 𝟏𝟓. 𝟎𝟎𝟎 𝒖𝒏𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆𝒔
(𝟐𝟎, 𝟎𝟎 − 𝟏𝟐, 𝟎𝟎)

5.5 Mark-Up

O preço de um produto deve ser o mínimo suficiente para pagar todos os seus custos,
diretos e indiretos, despesas, impostos e o lucro desejado na venda. O mark-up é o fator que
irá agregar aos custos, todas as despesas, impostos e o lucro, formando o preço de venda
mínimo a ser praticado. Para formar o mark-up é importante lembrar que, no Brasil, temos
impostos incidentes na comercialização do produto e impostos que incidem sobre o lucro. O
mark-up deve considerar os impostos que incidem sobre o preço de venda.

Exemplo

Para o cálculo do mark-up utilizaremos os seguintes fatores:

Fatores Incidentes sobre o Preço de Venda do Produto


ICMS na venda 18,00%
PIS/COFINS 9,25%
Comissões sobre vendas 2,00%
LAIR Desejado 15,00%
TOTAL 44,25%

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Podemos calcular o mark-up por duas metodologias:

𝟏𝟎𝟎 − 𝟒𝟒, 𝟐𝟓
𝑴𝒂𝒓𝒌 − 𝑼𝑷𝒅𝒊𝒗𝒊𝒔𝒐𝒓 = = 𝟎, 𝟓𝟓𝟕𝟓
𝟏𝟎𝟎

𝟏 𝟏
𝑴𝒂𝒓𝒌 − 𝑼𝑷𝒎𝒖𝒍𝒕𝒊𝒑𝒍𝒊𝒄𝒂𝒅𝒐𝒓 = = = 𝟏, 𝟕𝟗𝟑𝟕
𝟏 − 𝟎, 𝟒𝟒𝟐𝟓 𝟎, 𝟓𝟓𝟕𝟓

Para um produto que tenha o preço de custo de R$ 100,00, podemos aplicar o mark-up
da seguinte forma:

𝟏𝟎𝟎, 𝟎𝟎
𝑷𝒓𝒆ç𝒐 𝒅𝒆 𝑽𝒆𝒏𝒅𝒂 𝒑𝒆𝒍𝒐 𝑴𝒂𝒓𝒌 − 𝑼𝑷𝒅𝒊𝒗𝒊𝒔𝒐𝒓 = = 𝟏𝟕𝟗, 𝟑𝟕
𝟎, 𝟓𝟓𝟕𝟓

𝑷𝒓𝒆ç𝒐 𝒅𝒆 𝑽𝒆𝒏𝒅𝒂 𝒑𝒆𝒍𝒐 𝑴𝒂𝒓𝒌 − 𝑼𝑷𝒎𝒖𝒍𝒕𝒊𝒑𝒍𝒊𝒄𝒂𝒅𝒐𝒓 = 𝟏𝟎𝟎, 𝟎𝟎 × 𝟏, 𝟕𝟗𝟑𝟕 = 𝟏𝟕𝟗, 𝟑𝟕

Considerações finais
Neste capítulo aprendemos como se dão as implicações dos custos na formação do
preço das empresas e como podemos analisar os custos e despesas de forma a tomar
decisões. Falamos sobre as diferenças de custos e despesas, como apuramos o custo na
índústria (CPV) e no comércio (CMV) e como estes impactarão na lucratividade da
companhia. Também falamos do Ponto de Equilíbrio e da Margem de Contribuição como
fatores de análise da empresa. Também abordamos o mark-up como o indicador de
formação de preço.

Após a leitura deste capítulo você será capaz de:

• separar custos e despesas;

• classificar os custos;

• calcular o CPV e o CMV;

• calcular a Margem de Contribuição;

• calcular o Ponto de Equilíbrio;

• encontrar o Mark-up.

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Administração Financeira

Referências
BRUNI, A. L. A administração de custos, preços e lucros: com aplicações na HP12C e Excel.
São Paulo: Atlas, 2010.

GITMAN, L. J.; M., J. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo:
Pearson, 2005.

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Aula 13
Custo e estrutura de capital - Financiamento

Objetivos Específicos
• Entender quais os princípios envolvidos na tomada de um financiamento

Temas

Introdução
1 Estrutura de capital
2 Financiamento das atividades empresariais
3 Capital próprio
4 Capital de terceiros
5 Estrutura de capital
6 Custo médio ponderado de capital (WACC)
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
Para a maioria das empresas, a principal fonte de fundos é o caixa líquido gerado pelas
operações, ou seja, o que sobra após se quitarem às obrigações com os credores (juros e
amortização do principal), com o governo (impostos) e com os acionistas (dividendos). Quando
o caixa gerado internamente não é suficiente para manter os ativos atuais e financiar as novas
oportunidades de investimento que criam valor, a empresa precisa recorrer a fundos
adicionais, de fontes externas, na forma de capital próprio ou de capital terceiros.

Há diferentes maneiras de classificar as fontes de recursos às quais o administrador


financeiro pode recorrer:

 Recursos próprios versus recursos de terceiros, isto é, os recursos próprios são


representados por capital integralizado, reservas e lucros retidos – contas do
patrimônio líquido; os recursos de terceiros correspondem aos compromissos e
às dívidas contraídas – contas do passivo circulante e do exigível em longo prazo;

 Recursos permanentes versus recursos temporários, isto é, os recursos


permanentes são os recursos próprios adicionados às dívidas de longo prazo; os
recursos temporários são os compromissos e as dívidas de curto prazo;

 Recursos onerosos versus recursos não onerosos, isto é, os recursos onerosos


provocam encargos financeiros; os outros não.

Nesse capítulo veremos como as empresas tomam suas decisões de financiamento das
atividades e como elas influenciam na estrutura de capital da empresa e nos custos.

1 Estrutura de capital
No lado direito do balanço patrimonial encontra-se representada a estrutura financeira
da empresa, constituída por obrigações vencíveis a curto e em longo prazo (passivo
circulante mais exigível em longo prazo), e por recursos próprios (patrimônio líquido).

A estrutura de capital de uma empresa mostra a estrutura financeira formada por


recursos de terceiros com vencimento no longo prazo e recursos próprios. Já os recursos de
curto prazo – passivo circulante – suprem as necessidades de investimento sazonais.

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Administração Financeira

2 Financiamento das atividades empresariais

2.1 Tipos de fundos

Os fundos utilizados pelas empresas podem ser divididos em duas categorias:

 Capital próprio: contas que compõem o patrimônio líquido;

 Capital de terceiros: saldos das contas de passivo circulante e exigível em longo


prazo.

2.2 Recursos próprios internos e externos

Os recursos próprios podem ter origem em fontes internas e externas.

Os fundos próprios gerados internamente originam-se da retenção do lucro líquido.

A retenção do lucro líquido é registrada no patrimônio líquido, nas contas de reservas


de lucros e de lucros acumulados.

A principal fonte externa de recursos próprios são as subscrições e integralizações de


aumentos de capital.

2.3 Recursos de terceiros internos e externos

As fontes internas de recursos de terceiros correspondem às diversas obrigações


decorrentes das atividades operacionais da empresa e às despesas a pagar.

Obrigações Despesas a pagar


Salários Aluguéis
Encargos sociais Seguros
Obrigações fiscais a recolher Água, energia, telefone...

As fontes externas de recursos de terceiros podem ser geradas espontaneamente,


como os créditos concedidos pelos fornecedores e os adiantamentos de clientes relativos à
encomenda de bens ou serviços.

As principais fontes externas de passivos onerosos incluem:

 Os empréstimos e financiamentos de curto e longo prazo contratados com


instituições financeiras do país e do exterior;

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 A colocação, no mercado, de capitais de títulos de dívida – subscrição de


debêntures;

 As operações de arrendamento mercantil – leasing.

2.4 Seleção de fontes de financiamentos

A definição da melhor composição de fundos a serem empregados no financiamento


das atividades empresariais é influenciada pelas condições da economia, pelas perspectivas
do ramo de negócios, pela situação específica da empresa e pelo grau de aversão ao risco de
seus administradores.

Ao optar por uma maior participação de recursos em curto prazo, o administrador


financeiro deve estar ciente do risco que essa estrutura traz e do grau de sua flexibilidade
em obter fundos adicionais no mercado assim que necessitar.

O mix de financiamento é limitado pela disponibilidade dos vários tipos de fundos


procurados. Os planos e desejos da empresa devem ser contrapostos às condições requeridas
pelos financiadores, sejam bancos, fornecedores ou acionistas. Assim, a empresa nem sempre
consegue todos os recursos que necessita nas condições que lhe sejam favoráveis.

3 Capital próprio
O capital próprio representa a fonte de fundo mais apropriada para financiar aplicações
de maior risco ou de longa maturação.

O capital próprio é levantado por meio de:

 Aumentos de capital: aporte de recursos por parte dos acionistas e/ou oferta
pública de ações na Bolsa de Valores (OPA).

 Retenção de lucros: parte dos lucros obtidos durante o exercício deve ser
alocada no patrimônio líquido. A retenção de lucros está intimamente
relacionada à política de dividendos.

3.1 Risco dos acionistas residuais

A decisão de levantar financiamento mediante subscrição e integralização de novas


ações pressupõe que a empresa ofereça condições de atratividade, em geral, avaliadas:

 Por seus resultados econômico-financeiros;

 Pelas características básicas da emissão;


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 Pelo estudo setorial;

 Pela situação conjuntural.

O aumento de capital por oferta pública de ações só pode ser realizado por companhias
de capital aberto, com a intermediação de banco de investimento, sociedade corretora ou
sociedade distribuidora.

3.2 Retenção de lucros

Os lucros retidos constituem uma importante fonte interna de capital próprio,


amplamente utilizada no financiamento das necessidades operacionais e de investimentos.
Os lucros retidos encontram-se registrados nas contas de reservas de lucros e de lucros
acumulados, constantes do grupo do patrimônio líquido no balanço patrimonial.
Logicamente, esses fundos encontram-se aplicados nos diversos ativos da empresa.

A empresa reduz a necessidade de captar recursos adicionais em fontes externas


quando tem condições de reinvestir, a cada exercício, a maior parcela possível do lucro no
próprio negócio. Contudo, a decisão de reter lucros esbarra em outra questão crucial que diz
respeito à remuneração periódica dos acionistas, por meio da distribuição de dividendos.

3.3 Política de dividendos

Uma das principais decisões financeiras a serem tomadas pelas empresas consiste na
definição de sua política de dividendos. Ao passo que a retenção de lucros constitui a forma
mais rápida de se obterem fundos de longo prazo, se não a principal fonte, os acionistas
precisam ser remunerados por terem investido na empresa. Assim, parte do lucro obtido no
exercício deve ser distribuída aos investidores em forma de dividendo.

Para complicar o dilema, o administrador de uma empresa de capital aberto, com ações
negociadas por muitos investidores em bolsas de valores, não tem como saber qual é o
desejo dos acionistas com relação ao destino a ser dado ao lucro líquido.

A essência de uma política de dividendos se resume em decidir se a empresa deve


distribuir lucros aos acionistas sob a forma de dividendos em dinheiro, e em qual
porcentagem, ou se deve retê-los, visando ao reinvestimento em sua própria atividade, de
modo a atender ao interesse deles.

As decisões de dividendos constituem um aspecto particular das decisões de


financiamento empresarial.

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Política de dividendos ótima

Uma política de dividendos é considerada ótima quando concilia da melhor forma possível
o volume a ser retido pela empresa e aquele a ser distribuído em dinheiro a seus acionistas.

Razões para reterem lucros

 Aproveitamento de oportunidades de investimentos lucrativos.

 Limitações financeiras – baixa liquidez devido a um alto grau de imobilização.

 Baixa capacidade e flexibilidade para captar recursos no mercado.

Razões para distribuir dividendos

 Redução de incertezas do mercado e, por consequência, a voltatilidade da ação.

 Tornar as ações mais atrativas de forma a facilitar captações futuras.

 Sinalizar boas perspectivas para a empresa.

Lembre-se que a meta fundamental é a maximização da riqueza dos acionistas.

A decisão de reter lucros deve ser tomada somente quando as oportunidades de


investimento nos negócios da empresa forem economicamente mais atraentes do que
aquelas disponíveis aos acionistas no mercado. Caso contrário, os resultados são
considerados ociosos e devem ser pagos aos acionistas para que estes cuidem de direcionar
sua utilização.

Na prática, as companhias mais jovens e as indústrias nascentes são as que tendem a


reter mais lucros, seja por necessitarem financiar investimentos ou pela baixa capacidade de
captar financiamentos.

Já as empresas mais maduras, tendem a distribuir mais dividendos, já que, se por um


lado, apresentam geração de caixa mais elevada, por outro, a quantidade de projetos
atrativos costuma ser menor.

4 Capital de terceiros
O capital de terceiros pode ser gerado, espontaneamente, no curso normal das
atividades operacionais e pode ser obtido mediante contratação de empréstimos e
financiamentos, subscrição de debêntures e outras modalidades.

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4.1 Exigibilidades

As exigibilidades da empresa para com seus empregados e diretores, órgãos


governamentais, credores diversos e acionistas são fontes internas de capital de terceiros:

 Salários e encargos incidentes sobre a folha de pagamento, inclusive as


contribuições previdenciárias e sindicais dos empregados retidas para posterior
recolhimento;

 Impostos e contribuições sobre o faturamento;

 Imposto de renda a pagar sobre o lucro do exercício e imposto de renda retido


na fonte sobre salários;

 Contas a pagar e provisões para despesas incorridas e ainda não pagas relativas a
férias, salário, indenizações contratuais, contingências fiscais e trabalhistas, etc;

 Dividendos a pagar.

Muitos desses passivos não onerosos são de curtíssimo prazo, mas sua constante
renovação permite que a empresa disponha de uma soma de recursos que faz parte de seu
capital de giro.

4.2 Empréstimos e financiamentos

Os empréstimos e financiamentos referem-se a operações de captação de recursos


realizadas diretamente pela empresa em instituições financeiras.

Exemplos:

 Notas promissórias e duplicatas a receber;

 Linha de crédito de curto prazo ou crédito rotativo;

 Fomento comercial – factoring.


Nesse segmento, destaca-se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) como principal executor da política oficial de fomento a atividades consideradas de
interesse econômico, os bancos Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.

Já os repasses de recursos externos são poupanças captadas no exterior por instituições


financeiras nacionais.

4.3 Debêntures

As debêntures são títulos privados de crédito emitidos por companhias de capital


aberto e colocados no mercado à disposição dos investidores. São títulos que, geralmente,
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concedem juros – fixos ou variáveis, pagos periodicamente – e atualizações monetárias – a


ser amortizada juntamente com o valor do título, por ocasião do vencimento.

A captação pela subscrição de debêntures segue, geralmente, a mesma sistemática de


lançamento discutida para as ações. Sua finalidade é levantar recursos de médio e longo
prazo para financiar as necessidades de capital de giro e de capital fixo da empresa emissora.

As debêntures podem ser:

 Simples – resgatadas em dinheiro;

 Conversíveis em ações – o possuidor, por ocasião do resgate, pode converter o


montante acumulado em ações da empresa.

5 Estrutura de capital
O custo de capital total – também chamado de custo médio ponderado de capital – é
determinado pela média ponderada dos custos do capital de terceiros e do capital próprio.

O capital de terceiros é formado por diversas dívidas onerosas contraídas pela empresa
em um custo explícito determinado, principalmente pela cobrança de encargos financeiros,
acrescido da exigibilidade de recebimento do principal. Ao realizar um financiamento, a
empresa se depara com um benefício fiscal, já que ela pode abater os juros quanto a
apuração de seu IR a pagar.

O capital próprio é o recurso dos acionistas e introduz um custo de oportunidade para a


empresa. A expectativa de remuneração dos acionistas é a taxa de retorno mínima que a
empresa deve exigir em suas decisões de investimentos. O capital próprio é considerado
uma aplicação de elevado risco, pois os acionistas têm direito somente ao resultado residual.
Um eventual insucesso nos negócios repercute diretamente sobre sua remuneração.

Como o custo do capital de terceiros é inferior ao custo do capital próprio, podemos


entender que empresa deve favorecer a participação de dívidas em sua estrutura de capital,
isto é, buscar maior alavancagem. Entretanto, existe o efeito contrário, já que mais
endividamento introduz maior risco financeiro, levando os acionistas – e os novos credores –
a elevarem suas expectativas de retorno como forma de compensar a incerteza.

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5.1 Dilema

Qual das estruturas de capital mais favorece os acionistas?

Existe um nível ótimo de endividamento em que o custo de capital total da empresa


seria mínimo. Alguns autores defendem que, em face da existência do IR seria de se esperar
que as empresas procurassem o máximo endividamento, em vista do menor custo do capital
de terceiros.

6 Custo médio ponderado de capital (WACC)


No financiamento de suas atividades, a maioria das empresas emprega uma
combinação de capital próprio e capital de terceiros. Esses dois tipos de capitais têm em
comum uma característica – os investidores que provêm os fundos esperam receber um
retorno sobre seus investimentos. O custo do capital de terceiros para a empresa é o
retorno esperado pelos investidores que concedem empréstimos a ela e que aplicam em
títulos emitidos pela empresa. O custo do capital próprio para empresa é o retorno esperado
pelos investidores que aplicam em ações da empresa.

A taxa de custo de capital total é utilizada como a taxa mínima de atratividade nas
decisões de investimentos para calcular o valor presente líquido – VPL – ou comparar com a
taxa interna de retorno – TIR – do projeto.

Taxa de desconto = taxa de custo de capital = custo de oportunidade do capital

O modelo denominado de WACC consiste no custo médio ponderado de capital ou


custo de capital total, que queremos determinar:

WACC = Kd (1 - IR) D + Ke E
D+E

O raciocínio desenvolvido pode ser repetido usando símbolos. Devido ao amplo uso, na
área de finanças de siglas em inglês, aqui são mantidas as seguintes notações:

 D – originário de debt – para significar capital de terceiros;

 E – de equity – para capital próprio;

 WACC – weighted average cost of capital – para custo médio ponderado de


capital.

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Dessa forma:

 Kd = taxa de retorno esperada sobre as dívidas, ou seja, 10%;

 D = montante das dívidas onerosas, ou seja, R$ 1.000,00;

 Ke = taxa de retorno esperada sobre o capital próprio, ou seja, 20%;

 E = montante de capital próprio, ou seja, R$ 2.000,00;

 IR = alíquota de imposto de renda, ou seja, 34%;

 WACC = custo médio ponderado de capital ou custo de capital total, que


queremos determinar.

Exemplo:

Fonte Custo Participação


Empréstimos de longo prazo 34% 40%
Ações preferenciais 25% 10%
Ações ordinárias 15% 50%

O administrador financeiro da empresa determinou os vários custos de capital de


acordo com suas fontes e custos relativos abaixo. Em vista do custo de capital, e supondo-se
inalterado o nível de risco, a empresa deve aceitar todos os projetos que obtenham um
retorno maior ou igual a qual valor? Considere o imposto de renda igual a 20%.

Fonte Custo Participação


Empréstimos de longo prazo 34% 40%
Ações preferenciais 25% 10%
Ações ordinárias 15% 50%

Como estamos trabalhando com percentuais, não precisamos dividir pelo capital total:

WACC = 0,34 (1-0,2) x 0,40 + 0,25 X 0,10 + 0,15 X 0,5 =

WACC = 0,1088 + 0,10 =

WACC = 0,2088

Vamos multiplicar por 100 e encontrar o valor em percentuais:

0,2088 X 100 = 20,88%

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Considerações finais
Nesse capítulo aprendemos como é a estrutura de capital de uma empresa, quais as
principais fontes de financiamento e seus custos. Também abordamos as decisões sobre a
distribuição de dividendos aos acionistas em relação à retenção de lucro.

Após a leitura desse capítulo você deve ser capaz de:

 Entender a estrutura de capital de uma empresa;

 Quais as fontes mais onerosas;

 Calcular o custo médio ponderado de capital.

Referências
GITMAN, L.J.; MADURA, J.. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo:
Pearson, 2005.

PADOVEZE, C.L. Introdução à administração financeira. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

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Administração Financeira
Aula 14
Leitura e interpretação das demonstrações financeras.
Análises das demonstrações contábeis

Objetivos Específicos
• Compreender e interpretar as demonstrações financeiras e entender o que
elas representam para a tomada de decisões

Temas

Introdução
1. Fluxo de caixa: a essência da vida da empresa
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
No capítulo anterior discutimos as principais responsabilidades do administrador
financeiro e falamos sobre as demonstrações financeiras. Agora, abordaremos como devemos
entender e interpretar os demonstrativos financeiros. Vamos falar sobre os principais
indicadores utilizados pelos administradores financeiros para a tomada de decisão de
investimento ou de financiamento, assim como para planejar e traçar quais são os objetivos
da empresa no médio e longo prazos.

Tais indicadores também são utilizados pelos analistas de investimento para


recomendações de investimentos, pois buscam responder uma simples pergunta: Esta
empresa está em uma boa situação econômico-financeira? Para entender a situação da
empresa, precisamos saber analisar as informações que constam de seu balanço e DRE.
Lembramos que tais informações dizem respeito ao passado da empresa e, portanto, não
são garantia de desempenho futuro. Assim, traçar uma recomendação não é uma tarefa
nada trivial. Precisamos também pesquisar o setor em que a empresa está inserida e as
perspectivas macroeconômicas que influenciarão tal segmento.

Assim, a análise das demonstrações de uma empresa é o primeiro passo, mas não diz tudo
sobre sua realidade. Simplesmente olhar um lucro, receita ou endividamento separadamente
não diz muito. É preciso desmembrar os números e tornar as demonstrações financeiras
uma espécie de mapa para o usuário. Cabe ao gestor financeiro ter sensibilidade para avaliar
os indicadores financeiros e contextualizá-los de forma a tomar ou recomendar a melhor
decisão a ser tomada.

1. Fluxo de caixa: a essência da vida da empresa

A importância dessa demonstração


No capítulo anterior falamos exaustivamente sobre a importância do caixa no dia a dia
da empresa. Comentamos como um caixa pode levar os negócios à bancarrota ou alavancá-
los para o crescimento. As empresas gastam e recebem caixa diariamente. Cada vez que
há a necessidade de comprar matéria-prima para a produção ou fazer um investimento em
aumento de maquinário, por exemplo, uma parte do caixa é desembolsada. Por esse simples
exemplo, podemos compreender que um aumento do ativo significa redução de caixa.

Para fazer frente a esses gastos, a empresa precisa lucrar com sua atividade e, assim,
obter recursos. Mas, muitas vezes, os lucros não são suficientes para que os investimentos
necessários sejam feitos. Nesse caso, a empresa lança mão de recursos de terceiros, ou seja,
empréstimos. Os recursos obtidos no mercado financeiro ficam evidenciados do lado direito
do balanço patrimonial, chamado de passivo. Portanto, podemos perceber que um aumento
do passivo significa um aumento de caixa.

Senac São Paulo- Todos os Direitos Reservados 2


Administração Financeira

Muitos estudantes discordam dessa frase e perguntam: a empresa não está se


endividando, como há um aumento de caixa? Para que essa perspectiva torne-se mais
clara para você, lembre-se do seguinte exemplo: você está sem um real no bolso e vai ao
banco sacar dinheiro. Chegando lá, vê que não há recursos disponíveis, somente o cheque
especial. Assim, para não ficar sem dinheiro, resolve sacar do cheque especial, ou seja, tomar
emprestado do banco. Sim, sua dívida para com a instituição aumentou, mas agora você tem
dinheiro no bolso, ou melhor, tem caixa.

Como montar a demonstração do fluxo de caixa

Tendo em mente as informações expressas no Capítulo 1, em que demonstramos


que a variação do caixa de uma empresa depende de três fluxos de caixa: investimento,
financiamento e operacional, vamos montar a demonstração do fluxo de caixa a partir do
balanço patrimonial e da demonstração de resultados de uma empresa.

Utilizaremos como exemplo o balanço patrimonial da fabricante de batom Boca S.A.

O balanço da Boca S.A. a seguir mostra o comportamento das principais contas da


empresa. No ativo circulante temos os valores de 2011 e 2012 das contas caixa, aplicação,
duplicatas a receber (também conhecida como conta clientes) e estoques. O ativo realizável
a longo prazo envolve as propriedades da empresa, máquinas, prédios e terrenos, além dos
móveis e utensílios da empresa. No passivo circulante estão descritas as contas duplicatas a
pagar, títulos a pagar e outras contas a pagar. O passivo não circulante destaca as dívidas de
longo prazo da empresa. Por último temos o patrimônio líquido, ou seja, o capital da empresa.

Ativos 2012 2011


ATIVO CIRCULANTE R$ mil
- Caixa 500 600
- Aplicação 600 200
- Duplicatas a receber 400 500
- Estoques 600 900
Total Ativo Circulante 2.100 2.200
ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO
- Terrenos e edifícios 1.300 1.200
- Máquinas e Equipamentos 800 820
- Móveis e utensílios 400 200
- Outros 100 80
- Depreciação acumulada -1.300 -1.200

Total realizável a longo prazo 1.300 1.100


TOTAL ATIVO 3.400 3.300

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Administração Financeira

Passivo 2012 2011


PASSIVO CIRCULANTE R$ mil
- Duplicatas a pagar 800 500
- Títulos a pagar 600 700
- Outras contas a pagar 100 200
Total Passivo Circulante 1.500 1.400
PASSIVO NÃO-CIRCULANTE 700 800
Total Passivo 2.200 2.200
PATRIMÔNIO LIQUIDO
- Ações ordinárias 100 100
- Ações ordinárias 120 120
- Ágio nas vendas das ações ordinárias 380 380
- Lucros acumulados 600 500

Total Patrimônio Líquido 1.200 1.100


TOTAL PASSIVO 3.400 3.300

Fonte: autoria própria

Diante da comparação entre os Ativos e os Passivos, percebemos que houve um aumento


da conta caixa + aplicações: em 2011, a soma representava R$ 800 mil e, em 2012, passou
para R$ 1,1 milhão.

O que gerou esse crescimento?

- Apesar do aumento de caixa, o ativo circulante recuou em R$ 100 mil entre 2011 e
2012. O motivo? Podemos perceber a retração nas duplicatas a receber e nos estoques.

- No período analisado, também é possível enxergar que a empresa aumentou os


investimentos no seu negócio: houve um incremento no ativo realizável em longo prazo!

- Parte desse aumento de investimentos foi financiada pelo capital próprio da empresa
Vemos que o passivo não mudou.

- Já o aumento do patrimônio líquido foi provocado por uma maior lucratividade: a conta
lucros acumulados cresceu R$ 100 mil.

Logo, a demonstração de resultados da Boca SA referente ao ano de 2012 pode ser


organizada da seguinte forma:

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Administração Financeira

Demonstração de Resultado - DRE


R$ mil
Receita de vendas 1.800
( - ) Custo dos Produtos Vendidos -1.100
( = ) Lucro bruto 700
( - ) Desp. Operacionais -60
Desp. Comerciais -120
Desp. Gerais e administrativas -70
( = ) Lucro antes dos Juros e IR (LAJIRDA = ABITDA) 450
Desp. De depreciação -100
( = ) Lucro Operacional (LAJIR - EBIT) 350
( - ) Desp. Financeiras -50
( = ) Lucro Líquido Antes do IR (LAIR) 300
( - ) IR -120
( = ) Lucro Líquido 180
( - ) Dividendos as ações preferenciais -10
( = ) Lucro Líquido disponível aos Ac. Ordinários 170

Fonte: autoria própria

Conforme falamos anteriormente, a empresa registrou lucro líquido no exercício, que


foi, em parte, destinado à conta denominada lucros acumulados. Para entender melhor esse
processo, precisaremos considerar outra demonstração: lucros e prejuízos acumulados.

Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados


Data base: 31 de Dezembro de 2012 R$ mil
Saldo do lucro Acumulado (31/12/2011) 500
(+ ) Lucro após IR - 2012 180
( - ) Dividendos pagos -
Ações preferenciais -10
Ações ordinarias -70
Total -80
Saldo do lucro Acumulado (31/12/2012) 600

Fonte: autoria própria

Perceba que a empresa lucrou durante o ano R$ 180 mil, mas não armazenou
completamente esse ganho. Ao contrário, parte foi distribuída como dividendos aos seus
acionistas, ou seja, foi dada como remuneração para aqueles que investiram no negócio.

Senac São Paulo- Todos os Direitos Reservados 5


Administração Financeira

Podemos interpretar essa distribuição como o custo do capital próprio da empresa. Assim
como o banco exige uma taxa de juros para emprestar os recursos aos empresários, os
próprios sócios da empresa (acionistas) requerem uma remuneração para investir seu capital
no negócio. Entretanto, a empresa não pode e não deve distribuir todo o lucro para seus
donos, pois precisa reinvestir parte dele na própria atividade.

Com base nessas três demonstrações, iremos montar a demonstração do fluxo de caixa
e, dessa forma, perceber como a empresa conseguiu aumentar seu caixa de 2011 e 2012.

O primeiro passo para montar essa demonstração é calcular a variação de caixa. Para isso,
lembre-se: caixa é todo recurso que a empresa tem disponível no banco e suas aplicações de
curto prazo!

Voltemos ao Ativo Circulante...

Ativo 2012 2011


ATIVO CIRCULANTE R$ mil
- Caixa 500 600
- Aplicação 600 200
- Total 1100 800

Houve um aumento de R$ 300 mil no caixa de 2012 em relação ao caixa de 2011.


Essa elevação foi provocada pela movimentação de três tipos de atividades: operacionais,
investimentos e financiamentos. Portanto, para saber qual delas consumiu ou gerou caixa,
precisamos avaliar de perto o balanço.

O próximo passo será a avaliação das atividades operacionais, ou seja, iremos montar o
fluxo de caixa operacional. Para isso, precisamos olhar de perto uma conta: o lucro. Quando o
contador calcula o lucro de uma empresa, ele precisa descontar um tipo de despesa chamada
de depreciação. Essa conta refere-se às despesas relacionadas ao desgaste do ativo realizável
a longo prazo (máquinas, veículos, móveis, imóveis e instalações) da empresa. Apesar de
as máquinas e os equipamentos perderem valor ao longo dos anos, isso não significa que o
administrador precisa pagar por esse desgaste. Ora, seu carro vale menos a cada ano, mas
você só irá sentir isso no momento da venda.

Com esse pensamento em mente, fica fácil perceber que a despesa com depreciação
reduz o lucro da empresa, mas não representa saída de caixa. Assim, precisamos somar a
despesa com depreciação ao lucro para acharmos quanto entrou efetivamente no caixa da
empresa! Vejamos:

Lucro Líquido R$ 180


( + ) Encargos não esembolsáveis R$ 100
( = ) Fluxo de caixa Operacional R$ 280

Senac São Paulo- Todos os Direitos Reservados 6


Administração Financeira

A empresa pode ter um prejuízo líquido, ou seja, um lucro líquido após o imposto negativo
mas ainda assim ter um fluxo de caixa de operações positivo, quando não há desembolso dos
encargos (exemplo, a depreciação) durante o período em que são maiores do que o prejuízo
líquido.

Essa é a primeira conta do fluxo de caixa operacional. Existem outras atividades


operacionais que vão provocar entradas e saídas de caixa, como o salário a ser pago para os
funcionários, as compras de matérias-primas, os estoques e o pagamento dos fornecedores.
Dessa forma, precisamos olhar as contas do ativo circulante e do passivo circulante e verificar
o que a empresa pagou, deixou de pagar ou pegou emprestado no curto prazo para honrar
seus compromissos.

Ativos 2012 2011 Passivo 2012 2011


ATIVO PASSIVO
R$ mil R$ mil
CIRCULANTE CIRCULANTE
- Duplicatas a
- Caixa 500 600 800 500
pagar
- Aplicação 600 200 - Títulos a pagar 600 700
- Duplicatas a - Outras contas
400 500 100 200
receber a pagar
- Estoques 600 900
Total
Total Ativo
2.100 2.200 Passivo 1.500 1.400
Circulante
Circulante

Destacamos apenas as contas de curto prazo do balanço da Boca S.A. que mostram o
comportamento do ativo circulante de 2011 e 2012: contas caixa, aplicação, duplicatas a
receber –também conhecida como conta clientes – e estoques. No passivo circulante estão
descritas as contas duplicatas a pagar, títulos a pagar e outras contas a pagar.

Já sabemos que caixa e aplicação não são contas do fluxo de caixa operacional. Assim,
vamos ignorá-las. Portanto, iremos começar a avaliar as contas restantes do ativo circulante.
Lá encontramos as duplicatas a receber e os estoques. As duplicatas a receber representam
as dívidas dos clientes para com a empresa. Se há um aumento nas duplicatas, significa que
os clientes estão devendo mais para a empresa. Se há uma redução, os clientes pagaram
suas dívidas. No caso da Boca S.A., os clientes deviam R$ 500 mil em 2011 e R$ 400 mil em
2012, ou seja, houve o pagamento de R$ 100 mil a mais entre os dois períodos. A empresa
registrou, assim, um incremento de R$ 100 mil no seu caixa.

Vamos passar para a segunda conta, estoques. Em 2011, a Boca S.A. tinha um estoque
avaliado em R$ 900 mil e, em 2012, o valor era de R$ 600 mil. Ora, tomando por base o mesmo
raciocínio anterior, percebemos que a empresa vendeu mais no ano de 2012. Assim, ocorreu
uma entrada de caixa no valor de R$ 300 mil a mais no ano de 2012, quando comparado a 2011.

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Administração Financeira

Agora, iremos avaliar o passivo circulante. A conta duplicatas a pagar refere-se às dívidas
da empresa com relação a seus fornecedores. Em 2011, esse endividamento era de R$ 500
mil. No ano seguinte, a conta subiu para R$ 800 mil. Isso significa que a empresa deixou de
pagar R$ 300 mil, ou seja, ela está se financiando através de seus fornecedores e, dessa
forma, obtendo mais recursos para o caixa. A conta títulos a pagar refere-se à dívida bancária
e faz parte do fluxo de caixa de financiamento. A última verificação refere-se às outras contas
a pagar, as quais recuaram no valor de R$ 100 mil. Isso representa R$ 100 mil a menos no
caixa, pois a empresa pagou o valor no período avaliado.

Após avaliarmos todas essas contas, podemos montar o fluxo de caixa operacional,
conforme segue:

Fluxo de caixa de atividades operacionais R$ mil


- Lucro Líquido 180
- Depreciação 100
- Diminuição nas duplicatas a receber 100
- Diminuição nos estoques 300
- Aumento nas duplicatas a pagar 300
- Diminuição em outras contas a pagar -100
Total Fluxo do Caixa Operacional 880

Após avaliarmos o fluxo de caixa operacional (FCO), vamos passar a verificar o fluxo de
caixa das atividades de investimentos, ou seja, quanto a empresa alocou de recursos na própria
atividade. Essa avaliação é bem simples e está relacionada à variação do ativo realizável em
longo prazo bruto. Não iremos considerar a depreciação!

ATIVO REALIZÁVEL EM LONGO PRAZO 2012 2011


- Terrenos e edifícios 1.300 1.200
- Máquinas e Equipamentos 800 820
- Móveis e utensílios 400 200
- Outros 100 80
- Depreciação acumulada -1.300 -1.200

Total realizável a longo prazo 1.300 1.100

Some todas as contas do ativo de 2012 e de 2011:

• em 2011 o ativo realizável em longo prazo era de R$ 2,3 milhões;

• em 2012 o ativo realizável em longo prazo era de R$ 2,6 milhões.

Podemos perceber que, entre 2011 e 2012, a empresa investiu R$ 300 mil em máquinas,

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equipamentos e outros ativos. A Boca S.A. retirou R$ 300 mil do seu caixa para adquirir esses
ativos. Assim, o fluxo de caixa de investimento é negativo, dado da seguinte forma:

Fluxo de caixa de atividades de investimento R$ mil


- Aumento em ativos realizáveis a longo prazo brutos - 300
Total Fluxo do Caixa de Investimento - FCI - 300

Por último, analisaremos as contas das atividades de financiamento. As contas referentes


a essas atividades encontram-se no passivo da empresa e no custo do capital próprio. Veremos
o quanto ela pagou de financiamentos, remuneração dos seus acionistas ou dos empréstimos
de terceiros e também o valor dos empréstimos obtidos. Lembre-se de que a empresa pagou
dividendos. Esse pagamento representa saída de caixa!

Passivo 2012 2011


PASSIVO CIRCULANTE R$ mil
- Duplicatas a pagar 800 500
- Títulos a pagar 600 700
- Outras contas a pagar 100 200
Total passivo Circulante 1.500 1.400
PASSIVO NÃO CIRCULANTE 700 800
Total passivo 2.200 2.200

No passivo circulante estão descritas as contas duplicatas a pagar, títulos a pagar e outras
contas a pagar. O passivo não circulante destaca as dívidas de longo prazo da empresa.

A primeira conta é a conta títulos a pagar, que se refere aos financiamentos bancários de
curto prazo. A Boca S.A. devia R$ 700 mil em 2011 e R$ 600 mil em 2012. A redução permite
concluir que a empresa pagou R$ 100 mil de um ano para o outro, ou seja, retirou R$ 100
mil do caixa. Vemos que o mesmo ocorreu com o financiamento de longo prazo (passivo não
circulante): a empresa reduziu o valor emprestado em exatamente R$ 100 mil. Esse valor saiu
do caixa.

Agora vamos ver quanto a empresa pagou de dividendos através da Demonstração de


Lucros e Prejuízos Acumulados.

Saldo do lucro Acumulado (31/12/2011) R$ mil 500


( + ) Lucro após IR - 2012 180
( - ) Dividendos pagos
Ações preferenciais -10
Ações ordinarias -70
Total -80
Saldo do lucro Acumulado (31/12/2012) 600

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Conforme demonstrado na tabela, o valor pago somou R$ 80 mil. Para remunerar seus
acionistas, a empresa retirou do caixa esse valor, que entrará negativo no fluxo de caixa das
atividades de financiamento.

Fluxo de caixa de atividades financeiras R$ mil


- Diminuição em títulos a pagar -100
- Redução em exigível em longo prazo -100
- Dividendos pagos -80
Total do Fluxo de Caixa Financeiro - FCF -280

Agora podemos ver quais foram os principais usos e obtenções de recursos da empresa,
ou seja, as origens e aplicações de caixa, e montar a demonstração do fluxo de caixa da Boca
S.A. Essa demonstração nos ajudará a verificar quais atividades contribuíram para o aumento
de R$ 200 mil no caixa e quais as que consumiram recursos, de forma que o incremento do
caixa não fosse ainda maior.

Fluxo de caixa de atividades operacionais R$ mil


- Lucro Líquido 180
- Depreciação 100
- Diminuição nas duplicatas a receber 100
- Diminuição nos estoques 300
- Aumento nas duplicatas a pagar 300
- Diminuição em outras contas a pagar -100
Total FCO - Fluxo de Caixa Operacional 880

Fluxo de caixa de atividades de investimento


- Aumento em ativos realizáveis a longo prazo brutos -300
Total FCI - Fluxo de Caixa de Investimento -300
Fluxo de caixa de atividades financeiras
- Diminuição em títulos a pagar -100
- Redução em exigível a longo prazo -100
- Dividendos pagos -80
Total do FCF - Fluxo de Caixa Financeiro -280

Assim FCO + FCI + FCF = 880 + (-300) + (-280) = 300

Vemos, dessa forma, que a soma dos fluxos de caixa montados será igual à variação do
caixa da empresa. Isso ocorrerá em todas as empresas, de todos os tamanhos.

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Administração Financeira

Considerações finais
A empresa gerou uma grande quantidade de caixa operacional, R$ 880 mil, e investiu
parte desses recursos em ampliar o seu ativo realizável a longo prazo. A empresa também
conseguiu reduzir os financiamentos utilizando recursos gerados pelas sua atividade
operacional. Olhando por essa ótica fica claro que a empresa está em excelente situação
em termos de geração de caixa e que as decisões tomadas anteriormente mostraram-se
acertadas. Para obtermos uma análise mais apurada da situação da empresa, passaremos no
próximo capítulo a outro tipo de avaliação, através de índices.

• Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de:

• elaborar a demonstração do fluxo de caixa operacional;

• elaborar a demonstração do fluxo de caixa de investimento;

• elaborar a demonstração do fluxo de caixa de financiamento;

• avaliar quais as atividades que foram origem de caixa e quais foram as atividades que
aplicaram/consumiram caixa;

• analisar a situação econômico-financeira da empresa.

Referências
GITMAN, Lawrence J.; MADURA, Jeff. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São
Paulo: Pearson, 2005.

ROSS, Stephen A. Administração Financeira. São Paulo: McGraw-Hill, 2008.

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Administração Financeira
Aula 15
Análise de balanço e índices de avaliação: estrutura de capital,
liquidez, rentabilidade e conclusões

Objetivos Específicos
• Saber como avaliar qual a situação econômico-financeira de uma empresa

Temas
Introdução
1 Índices de liquidez
2 Índices de rentabilidade
3 Índices de endividamento
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
Índices são indicadores retirados do balanço que servem de guia sobre a situação
econômico-financeira da empresa que compõem a análise. Após avaliarmos a geração de caixa
e a situação da companhia, podemos aprofundar ainda mais a análise através do uso dos
índices que nos permitirão comparar a situação da empresa com as demais do seu setor. “A
análise através de índices é usada para comparar o desempenho e a situação de uma empresa
com outras empresas ou consigo mesma ao longo do tempo” (GITMAN, 2005, p. 102).

Neste capítulo vamos estudar três classes de índices: rentabilidade, liquidez e


endividamento. Utilizaremos os dados do balanço da Boca S.A., demonstrados no capítulo
anterior para exemplificar o cálculo e fazer as análises. A avaliação através de índices não é
complexa e agrega uma série de informações importantes para o administrador financeiro,
tais como: grau de liquidez da empresa, endividamento, evolução de suas contas etc. Essas
informações são de extrema importância para aqueles que interagem com a empresa:

 Fornecedores: precisam saber a capacidade de pagamento da empresa;

 Bancos e sociedades financeiras: necessitam saber a solvência da empresa na


hora de conceder um empréstimo;

 Investidores e acionistas: devem entender o negócio e sua rentabilidade para


tomar a decisão de investimento;

 Concorrentes: saber a situação das empresas concorrentes é fundamental para


a tomada de decisão.

Conforme vimos, entender a situação da empresa, o que é possível somente ao analisar


o seu balanço, é essencial para diversos públicos, além do próprio gestor da companhia.

1 Índices de liquidez
Os índices de liquidez não mostram a capacidade de solvência, ou seja, de pagamento
da empresa, mas sim a solidez da empresa. São extraídos das contas do balanço patrimonial
e destacam o quanto a empresa tem de recursos, seja no curto ou no longo prazo, para fazer
frente a suas obrigações. Isso não significa, entretanto, que a empresa terá dinheiro
disponível para honrar o seu compromisso na data acertada. Mas bons índices aumentam a
probabilidade de que não ocorram atrasos.

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Administração Financeira

Apesar disso, quanto melhor o índice de liquidez, maior a confiança dos fornecedores e
financiadores, portanto, mais facilmente a empresa conseguirá captar recursos de terceiros
ou atrair sócios. Para entender o papel dos índices de liquidez na tomada de decisão de uma
empresa, precisamos ter em mente algumas premissas:

 os índices mostram a situação financeira da empresa;

 não são índices de capacidade de pagamento;

 os índices são retirados do balanço patrimonial e confrontam ativo com passivo


e passivo;

 a empresa com bons índices de liquidez tem boa capacidade de pagar suas
dívidas, mas pode não conseguir em função de outras variáveis (caixa).

Liquidez Geral: LG

Esse índice demonstra quanto a empresa tem de ativo diante do endividamento com
terceiros (passivo). Quanto maior o número obtido melhor, e é dado pela seguinte fórmula:

Ativo circulante + realizável a longo prazo


Passivo circulante + exigível a longo prazo

Como podemos deduzir pela fórmula, o índice de liquidez geral destaca quanto a
empresa possui de ativo para cada $ 1,00 de dívida com terceiros. Assim, se o indicador for
maior que 1, há uma folga financeira, ou seja, a empresa tem ativos suficientes para honrar
seus compromissos e ainda “fica com troco”. Por outro lado, se o índice ficar abaixo de 1, a
empresa não tem recursos para pagar todas as suas dívidas e está com patrimônio líquido
negativo. Este é o pior dos mundos para uma empresa.

Vejamos o caso da Boca S.A.:

2011 em R$ mil

Ativo circulante: 2.200

Ativo realizável a longo prazo: 1.100

Passivo circulante: 1.400

Passivo não circulante: 800

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Assim:

LG = 2.200 + 1.100 3.300


1.400 + 800 2.200

LG = 1,5

Em 2011, para cada R$ 1,00 de dívida, a BOCA S.A. detinha R$ 1,50 de ativos. Isso
mostra que há uma folga financeira de 50%. Essa situação é extremamente positiva para a
empresa. Note que o ativo circulante é que garante a folga, pois é muito maior do que o
endividamento de curto prazo (passivo circulante).

Vamos agora comparar com o ano seguinte:

2012 em R$ mil

Ativo circulante: 2.100

Ativo realizável a longo prazo: 1.300

Passivo circulante: 1.500

Passivo não circulante: 700

LG = 2.100 + 1.300 3.400


1.500 + 700 2.200

LG = 1,55

Em 2012, para cada R$ 1,00 de dívida, a Boca S.A. detinha R$ 1,55 de ativos. A folga
financeira aumentou de 50% para 55%. A situação da empresa que já era extremamente positiva
ficou ainda melhor. Note que o ativo circulante reduziu e a empresa aumentou a imobilização.

Liquidez Corrente: LC

Esse índice demonstra quanto a empresa tem de ativo circulante, ou seja, recebimentos
de curto prazo, em relação ao passivo circulante, quer dizer dívidas de curto prazo. Quanto
maior o número obtido melhor e é dado pela seguinte fórmula:

Ativo circulante
Passivo circulante

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Como podemos deduzir pela fórmula, o índice de liquidez corrente destaca quanto a
empresa possui de ativo circulante para cada $ 1,00 de financiamento de curto prazo. Assim,
se o indicador for maior que 1, há uma folga financeira, ou seja, a empresa tem ativos
disponíveis o suficiente para honrar seus compromissos e ainda “fica com troco”. Por outro
lado, se o índice ficar abaixo de 1, a empresa não tem recursos para pagar as suas dívidas de
curto prazo. Parte do ativo realizável a longo prazo é financiada pelo passivo circulante.

Vejamos o caso da Boca S.A.:

2011 em R$ mil

Ativo circulante: 2.200

Passivo circulante: 1.400

Assim:

LC = 2.200
1.400

LC = 1,57

Mais uma vez, a nossa empresa mostra que fabricar batons é um bom negócio. Em
2011, para cada R$ 1,00 de dívida de curto prazo, a Boca S.A. detinha R$ 1,50 de ativos de
curto prazo. Há uma folga financeira de 57% na comparação entre os recursos disponíveis no
exercício de 2011 e o endividamento.

Vamos agora comparar com o ano seguinte:

2012 em R$ mil

Ativo circulante: 2.100

Passivo circulante: 1.500

LC = 2.100
1.500

LC = 1,4

Em 2012, para cada R$ 1,00 de dívida de curto prazo, a Boca S.A. detinha R$ 1,4 de
ativos. A folga financeira recuou de 57% para 40%, mas ainda é favorável. Houve um
aumento dos investimentos, verificados pelo incremento do ativo realizável a longo prazo e
um “encurtamento da dívida”. De qualquer forma a empresa trabalha com folga financeira.
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Liquidez Seca

Esse índice demonstra quanto a empresa tem de ativo circulante que realmente pode
ser convertido em dinheiro, ou seja, recebimentos de curto prazo, em relação às dívidas de
curto prazo. A diferença da liquidez seca para a liquidez corrente é que para o calculo nós
retiramos o ativo de maior risco: os estoques. Por quê? Queremos saber se a empresa
consegue pagar seus compromissos sem vender o total estocado. Lembre-se de que, se a
companhia for tentar vender o estoque total, não obterá o preço evidenciado no balanço,
pois para conseguir vender precisará fazer promoções. Além disso, o estoque pode
facilmente ficar obsoleto ou perder a validade.

Quanto maior o número obtido melhor, e é dado pela seguinte fórmula:

Ativo circulante – estoques


Passivo circulante

Como podemos deduzir pela fórmula, o índice de liquidez corrente destaca quanto a
empresa possui de ativo circulante de fácil conversão em dinheiro para cada $ 1,00 de
financiamento de curto prazo. Assim, se o indicador for maior que 1, há uma folga
financeira, ou seja, a empresa tem ativos disponíveis o suficiente para honrar seus
compromissos e ainda há uma sobra. Por outro lado, se o índice ficar abaixo de 1, a empresa
não tem recursos disponíveis o suficiente para pagar as suas dívidas de curto prazo.

Vejamos o caso da Boca S.A.:

2011 em R$ mil

Ativo circulante: 2.200

Estoque: 900

Passivo circulante: 1.400

Assim:

LS = 2.200 – 900
1.400

LS = 0,93

Vemos que a Boca S.A. tem um índice de liquidez seca abaixo de R$ 1,00. A empresa
mostra certa dependência de vender os estoques para honrar todos os compromissos de

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curto prazo. Esta, entretanto, não é uma situação muito preocupante, pois a liquidez seca
não está tão abaixo de R$ 1,00 e os outros indicadores de liquidez são ótimos. Pelo valor dos
estoques também vemos que não estão “encalhados”.

Vamos agora comparar com o ano seguinte:

2012 em R$ mil

Ativo circulante: 2.100

Estoques: 600

Passivo circulante: 1.500

Assim:

LS = 2.100 – 600
1.500

LS = 1,00

Conforme fica claro, após este cálculo, a Boca S.A. conseguiu vender R$ 300 mil em
estoques e equilibrar a liquidez seca em exatamente R$ 1,00. Assim, independente de
vender todo o estoque, a empresa consegue pagar toda a dívida de curto prazo.

Capital Circulante Líquido

O capital circulante líquido (CCL) engloba tudo o que a empresa tem aplicado no curto
prazo (AC) confrontado com todos os compromissos a pagar (PC) nesse período. O CCL é a
expressão da capacidade de pagamento da empresa. Todo desenvolvimento da mensuração
do risco de liquidez de uma atividade empresarial tem a sua base de fundamentação no
dimensionamento e análise do CCL.

CCL = AC-PC

Vejamos o caso da Boca S.A.:

2011 em R$ mil

Ativo circulante: 2.200

Passivo circulante: 1.400

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Assim:

CCL = 2.200 – 1.400

CCL = 800

Sempre que o CCL for positivo, o índice de liquidez corrente é maior que 1. O contrário
também é verdadeiro. No caso da Boca S.A., vemos que a sobra de recursos é elevada e o
CCL é positivo em 2011. Assim, a empresa, aparentemente, não está encontrando nenhuma
dificuldade em liquidar suas contas em dia. O CCL de R$ 800 mil é uma aplicação dos
recursos da empresa.

Vamos agora comparar com o ano seguinte:

2012 em R$ mil

Ativo circulante: 2.100

Passivo circulante: 1.500

Assim:

CCL = 2.100 - 1.500

CCL = 600

Apesar da piora do indicador, a situação da Boca S.A. ainda é bastante positiva e os R$


600 mil demonstram que há sobra de recursos, ou seja, são considerados uma aplicação.

Para entender melhor a questão, é necessário transformar a linguagem contábil do CCL em


uma forma de expressão mais gerencial e de fácil entendimento, que é a linguagem de caixa.

CCL = AC - PC

Saldo de Caixa = Entrada - Saída

FLUXO DE CAIXA

2 Índices de rentabilidade
Os índices de rentabilidade mostram quanto os investimentos feitos no negócio
renderam. A ideia é ver como a empresa gera valor a partir do desempenho operacional, ou
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seja, seu êxito para os acionistas. Esses índices podem ser comparáveis aos índices de
mercado, de forma que os sócios concluam se fizeram um bom negócio ao investir na
empresa ao invés de aplicar seus recursos no mercado financeiro.

2.1 Giro do Ativo: GA

Para entendermos o giro do ativo, precisamos ter em mente que a empresa vive para
um motivo: vender. Todos os investimentos realizados têm como finalidade fazer com que
haja o incremento das vendas e a melhora das margens da empresa. Assim, quanto maior o
giro do ativo, melhor para a empresa. O índice é dado pela seguinte fórmula:

GA = Vendas
Ativo

Analisando essa fórmula, podemos perceber que o giro do ativo destaca quanto a
empresa vendeu para cada R$ 1,00 de investimento total.

Vamos avaliar a situação da Boca S.A. nesse quesito. Lembre-se de que temos a receita
somente de 2012:

2012 em R$ mil

Vendas (receita líquida): 1.800

Ativo circulante: 2.100

Ativo realizável a longo prazo: 1.300

Assim:

GA = 1.800
2.100 + 1.300

GA = 0,53

Para cada R$ 1,00 investido, a Boca S.A. vendeu R$ 0,53.

2.2 Margem Líquida: ML

Vamos avaliar através desse indicador o quanto a empresa obtém de lucro em relação
ao total de vendas. Lembre-se de que a empresa existe para vender, mas não a qualquer
preço: é preciso obter ganhos da sua atividade.
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ML = Lucro líquido
Vendas líquidas

Esse indicador mostra quanto a empresa lucrou para cada R$ 1,00 vendido. Podemos
multiplicar o valor da divisão acima por 100 e obter a margem em percentuais. É possível
concluir também que, quanto maior a margem líquida, melhor é o negócio da empresa.

2012 em R$ mil

Vendas (receita líquida): 1.800

Lucro líquido: 180

ML = 180
1.800

ML = 0,10

Para cada R$ 1,00 vendido, a Boca S.A. obteve um lucro de R$ 0,10, ou seja, sua
margem é de 10%.

2.3 Rentabilidade do patrimônio líquido: RPL

Para os sócios, o que realmente importa é quanto a empresa obteve de lucro frente aos
investimentos feitos por eles. Por esse motivo, a rentabilidade do PL é de extrema
importância.

RPL = Lucro líquido


PL médio

Esse indicador mostra quanto a empresa lucrou para cada R$ 1,00 de capital próprio.
Podemos multiplicar o valor da divisão acima por 100 e obter o índice em percentuais.

R$ mil

Lucro líquido em 2012: 180

PL em 2011: 1.100

PL em 2012: 1.200

PL médio = 1.100 + 1.200


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PL médio = 1.150

RPL = 180
1.150

RPL = 0,16

Para cada R$ 1,00 investido na empresa, os sócios obtiveram um ganho de R$ 0,16. A


rentabilidade é de 16% ao ano. É possível concluir que, mantendo essa rentabilidade nos
próximos anos, os sócios irão recuperar todo o capital investido em 6,25 anos ou seis anos e
três meses (1,00/0,16).

3 Índices de endividamento
Os índices de endividamento, colocados por alguns autores como índices de estrutura
de capitais, mostram as decisões financeiras tomadas pelos gestores em termos de captação
de recursos. Eles buscam responder a algumas perguntas como: a empresa prefere financiar
seus investimentos com capital próprio ou com recursos de terceiros; os financiamentos
obtidos são em sua maioria de curto ou de longo prazo? Veremos dois dos principais índices
dessa classe.

3.1 Participação de capitais de terceiros (PCT)

Esse índice mostra que tipo de capital financia a empresa. A empresa é dependente de
recursos de terceiros (empréstimos e financiamentos) ou conta mais com o capital próprio
dos sócios para alavancar os negócios? O PCT mostra o risco do negócio.

PCT = Passivo
PL

Esse indicador mostra quanto a empresa pegou emprestado para cada R$ 1,00 de
capital próprio. Podemos multiplicar o valor da divisão acima por 100 e obter o índice em
percentuais. Podemos concluir que quanto menor, melhor.

2011 R$ mil

passivo: 2.200

PL: 1.100

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PCT = 2.200
1100

PCT = 2,20

2012 R$ mil

Por esse número, concluímos que para cada R$ 1,00 de capital próprio a Boca S.A.
tomou emprestados R$ 2,20. Isso mostra que a empresa tem uma dependência de
empréstimos para manter seus negócios. No entanto, se combinarmos essa conclusão com
os índices de liquidez, veremos que a empresa tem plena capacidade de pagamento dos
seus financiadores.

passivo: 2.200

PL: 1.200

PCT = 2.200
1200

PCT = 1,83

O PCT mostrou uma melhora entre 2011 e 2012. Essa mudança está relacionada ao
crescimento do PL da empresa, resultado da lucratividade obtida, que incrementou a conta
lucros acumulados.

3.2 Composição do endividamento

Esse índice relaciona o endividamento de curto prazo com o endividamento total da


empresa. Assim como o índice anterior, quanto menor o resultado, melhor. O problema de
ter dívidas de curto prazo é que a empresa terá menos tempo para gerar capital para pagá-
las, por isso é importante alongar o perfil do endividamento.

CE = Passivo circulante
Passivo total - PL

2011 R$ mil

passivo: 2.200

passivo circulante: 1.400

12
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CE = 1400
2.200

CE= 0,64

Mais da metade do endividamento da Boca S.A. é de curto prazo nesse exercício. Essa é
uma situação que merece uma observação mais de perto. Vejamos 2012:

2012 R$ mil

passivo: 2.200

passivo circulante: 1.500

CE = 1500
2200

CE = 0,68

A composição do endividamento piorou na comparação entre os dois anos. Em vez de


optar pelo alongamento da dívida, o gestor liquidou parte dos empréstimos de longo prazo e
aumentou o endividamento de curto prazo, tornando pior o perfil da dívida. Há um sinal de
alerta aí, mas que é amenizado pela situação de liquidez da companhia.

Considerações finais
Podemos concluir que a Boca S.A. está em excelente situação e provê rentabilidade a
seus acionistas. Diante dos indicadores de liquidez, que mostra a empresa extremamente
capaz de honrar seus compromissos de longo e curto prazos. Apesar de os índices de
endividamento não se mostrarem favoráveis, é possível concluir que a companhia pode
aumentar seu nível de endividamento de longo prazo de forma a alavancar os negócios e
ampliar as vendas. O mais sábio a fazer, nesse caso, é aumentar o aporte de capital na
empresa, ou seja, elevar o patrimônio líquido. O objetivo de uma operação dessas é elevar
os investimentos de forma a ampliar as vendas, atingir outros mercados e, por fim, obter
uma maior lucratividade. De qualquer forma, um aporte de capital não é essencial para que
a empresa continue produzindo resultados favoráveis.

Quanto aos outros públicos interessados em se relacionarem com a empresa, não há


fatores de preocupação. Um banco, por exemplo, não negaria linhas de crédito a essa
empresa em virtude da elevada liquidez. Fornecedores também não veriam problema em
alongar os prazos de pagamento de fornecimento da matéria-prima.
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Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de:

 calcular os índices de liquidez;

 calcular os índices de rentabilidade;

 calcular índices de endividamento;

 analisar a situação financeira da empresa e sugerir decisões aos gestores.

Referências
GITMAN, Lawrence J.; MADURA, Jeff. Administração financeira: uma abordagem gerencial.
São Paulo: Pearson, 2005.

ROSS, Stephen A. Administração Financeira. São Paulo: McGraw-Hill, 2008.

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Aula 16
Princípios da administração de riscos

Objetivos Específicos
• Entender a importância da gestão de riscos e saber quais os instrumentos
de gestão

Temas

Introdução
1 Gestão de riscos
2 Ponto de equilíbrio
3 Alavancagem
Considerações finais
Referências

Professor
Clodoir Vieira
Administração Financeira

Introdução
Neste capítulo veremos como as decisões das empresas são, muitas vezes, incertas e
arriscadas. Portanto, cada passo dado pelos gestores deve se levar em conta uma variável: o
risco. Quando fazemos planos, projetamos fluxos de caixa para determinado investimento
não temos certeza absoluta de que os valores que tanto estudamos irão se concretizar.
Assim, a vida das empresas é tomada por riscos, ou seja, por probabilidades de que as
projeções ora traçadas não se concretizem e, desta forma, o projeto estudado não dê o
retorno necessário para equilibrar as contas. Para entendermos a gestão de riscos, vamos
passar por alguns conceitos de avaliação da vida do projeto ou da empresa, como ponto de
equilíbrio e alavancagem.

1 Gestão de riscos
Risco

O conceito de risco, em diversos autores da área de finanças, está relacionado com a


incerteza, ou com a possibilidade de algo “dar errado”. Essa noção fica clara nas obras de
alguns autores.

 Gitman (1994, p. 31): “No sentido mais básico, risco pode ser definido como a
possibilidade de perda.”

 Solomon e Pringle (1981, p.290): “Risco é o grau de incerteza a respeito de um


evento”.

 Jorion (1999, p. 13): “Risco pode ser definido como a volatilidade de resultados
inesperados, normalmente relacionados ao valor de ativos ou passivos de
interesse”.

Quando a empresa toma decisões arriscadas, ou seja, com alta probabilidade de que
sua projeção não se concretize, em vez de criar valor aos acionistas, pode-se estar
destruindo valor. E é nesse sentido que entra a importância da gestão de riscos.

Gestão de riscos

Conforme pudemos perceber, este gerenciamento trata de riscos e oportunidades que


afetam a criação ou a preservação de valor. Lembre-se que todas as organizações enfrentam
incertezas, e o desafio é determinar o nível de incerteza que a organização está preparada
para aceitar, na medida em que se empenha em agregar valor para as partes interessadas.
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A gestão de riscos, portanto, é um processo conduzido pelo conselho de administração


e diretoria que devem estar alinhados. Tal processo deve ser aplicado por intermédio de
estratégias que identificam os riscos potenciais dentro de toda a organização. Os riscos
devem ser compatíveis com o perfil da organização e controlados.

Assim, a administração estabelece os planos principais, seleciona as estratégias e


determina o alinhamento dos objetivos nos níveis da organização. Essa estrutura de
gerenciamento de riscos corporativos é orientada a fim de alcançar o objetivo principal de
uma empresa: geração de valor aos acionistas.

A importância do gerenciamento de riscos ganhou força na metade da década de 1990,


nos Estados Unidos, quando os acionistas despertaram para a necessidade de novas regras
que os protegessem dos abusos da diretoria executiva das empresas, da inércia de conselhos
de administração inoperantes e das omissões das auditorias externas.

Desse movimento surge outro importante conceito: a governança corporativa.


Conceitualmente, a governança corporativa surgiu para superar o "conflito de agência",
decorrente da separação entre a propriedade e a gestão empresarial. Nesta situação, o
proprietário (acionista) delega a um agente especializado (executivo) o poder de decisão
sobre sua propriedade. No entanto, os interesses do gestor nem sempre estarão alinhados
com os do proprietário, resultando em um conflito de agência ou conflito agente-principal.

A preocupação da governança corporativa é criar um conjunto eficiente de


mecanismos, tanto de incentivos quanto de monitoramento, a fim de assegurar que o
comportamento dos executivos esteja sempre alinhado com o interesse dos acionistas.

Ao colocar em prática o gerenciamento de riscos corporativos, os gestores da empresa


deverão examinar as atividades em todos os níveis da organização, desde as atividades
realizadas no âmbito empresarial, como planejamento estratégico e alocação de recursos, às
atividades das unidades de negócios, como marketing e recursos humanos e, ainda, analisar
os processos do negócio, como produção e análise de crédito de clientes novos.

Para entendermos os riscos que as empresas correm, principalmente com relação a novos
projetos, precisamos analisar alguns conceitos, como os de alavancagem e ponto de equilíbrio.

2 Ponto de equilíbrio
Vamos retomar o conceito do ponto de equilíbrio, abordado no capítulo 11. Veremos
como o conceito pode ser aplicado do ponto de vista empresarial para a gestão de risco e
aprofundaremos o cálculo dos diferentes pontos de equilibrio nas próximas páginas.

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Ponto de equilíbrio em quantidade

Determina a quantidade mínima que a empresa deve produzir e vender. Abaixo dessa
quantidade de produção e vendas, a empresa estará operando com prejuízo.

A fórmula do ponto de equilíbrio em quantidade é apresentada abaixo:

Lembre-se que a margem de contribuição unitária é o resultado da diferença entre o


preço de venda unitário e o custo variável unitário.

Exemplo:

A Companhia Boop, que produz canecas, tem um custo fixo de R$ 600.000. Cada caneca
é vendida a R$ 10,00. O custo variável por caneca é de R$ 2,00. Quantas canecas a Boop
deve produzir e vender para não incorrer em prejuízo?

Como pudemos perceber no exemplo acima, para não incorrer em prejuízo, a Boop
precisa produzir e vender, no mínimo, 75 mil canecas, uma quantidade muito grande. Apesar
de a margem de contribuição dessa empresa ser elevada, R$ 8,00, seu custo fixo é grande
demais R$ 600.000. Dessa forma, a empresa está correndo um risco grande. Se não
conseguir vender essa grande quantidade de canecas, cairá em prejuízo. Uma das
recomendações que o gestor deve dar a essa companhia é reduzir os custos fixos. De
repente, seria melhor que a Boop mudasse sua fábrica para um local mais barato ou
reduzisse os valores a serem pagos aos funcionários que não estão ligados à produção (mão
de obra indireta). Tais considerações aqui podem até parecer óbvias, mas tenha certeza que
a maioria dos pequenos empresários não fazem tais avaliações na hora de criar seu negócio.

Pela fórmula do ponto de equilíbrio, é possível perceber que, quanto maior o custo fixo
de uma empresa, mais riscos ela estará incorrendo ao decidir emplacar seu negócio. Portanto,
se você tem alma empreendedora, pense no custo fixo antes de iniciar seu negócio.

Para completar nossa análise, vamos supor que a Boop fez um trabalho sério de
redução de custos e transferiu sua fábrica para o interior, o que reduziu o custo do aluguel
de R$ 300.000/mês para R$ 100.000/mês. Dentro dessa nova realidade, seu custo fixo caiu
para R$ 400.000. O novo ponto de equilíbrio em quantidades será:

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Tal decisão reduziu os riscos para a empresa. Ela poderá vender menos sem incorrer em
prejuízo, ou continuar vendendo a mesma quantidade e obter uma lucratividade maior.
Lembre-se, quanto menor o custo fixo menor o risco de a empresa quebrar. Por esse motivo,
empresas que necessitam de mais capital são mais arriscadas. Pense em uma empresa de
aviação. O custo de manter os aviões e toda a estrutura de operação são muito elevados.
Assim, a gestão deve ser altamente eficiente, o que em muitos exemplos reais, não ocorreu.
Somente para citar alguns, podemos lembrar os casos Varig, Vasp e Transbrasil.

Tipos de ponto de equilíbrio

Ponto de equilíbrio contábil

Quando as empresas vendem uma ampla gama de produtos diferentes torna-se difícil
calcular o ponto de equilíbrio em quantidades. Como poderíamos definir qual o mix ideal de
produtos e suas quantidades no ponto de equilíbrio? Como identificar os custos e despesas
fixas para cada produto? Para facilitar o cálculo devemos, portanto, avaliar o ponto de
equilíbrio em valor de vendas. Assim, o que o ponto de equilíbrio contábil visa é calcular o
valor mínimo que deve ser vendido para que a empresa não tenha prejuízo.

Para esse cálculo é necessário sabermos a margem de contribuição em percentual sobre


o preço de venda. Vamos pegar três variáveis das nossas vendas que estão contidas no
demonstrativo de resultado do produto. Vejamos os valores referentes à Boop. O preço de
venda da caneca é de R$ 10,00. O custo variável unitário é de R$ 2,00. A diferença entre o
preço e o custo variável – a margem de contribuição unitária – é de R$ 8,00. Em percentuais,
podemos perceber que a margem de contribuição unitária corresponde a 80% do valor do
preço de venda e o custo variável unitário responde por 20%.

Demonstrativo de resultados do produto


Preço de venda unitário 10,00 100,00%
Custo variável unitário 2,00 20%
Margem de contribuição unitária 8,00 80%

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Para calcularmos o ponto de equilíbrio contábil, dividimos o custo fixo da empresa pela
margem de contribuição unitária. Se o custo fixo da Boop for de R$ 400.000, seu ponto de
equilíbrio contábil será dado por...

Concluímos que R$ 500.000,00 por mês é o mínimo que esta empresa precisa vender
para conseguir bancar a sua estrutura, ou seja, para não amargar com prejuízo.

Ponto de equilíbrio econômico

O ponto de equilíbrio econômico leva em consideração o lucro desejado pelo


empresário ou gestor. Suponhamos que no planejamento financeiro da Boop, a diretoria
tenha determinado que o lucro desejado seja de R$ 100.000 por mês. Esse valor deve ser
somado com o custo fixo e dividido pela margem de contribuição unitária em percentuais:

Assim, para conseguir o lucro de R$ 100.000 previstos pela diretoria, nossa empresa
precisa vender R$ 625.000 em canecas. Como cada caneca custa R$ 10,00, a quantidade
necessária é de 62.500 canecas.

E se fosse na situação anterior, em que o custo fixo era de R$ 600.000?

A nossa empresa precisaria vender R$ 875 mil em canecas por mês ou 87.500 canecas.
Haja gente para tomar café!

Como podemos perceber, quanto maior o custo fixo maior o risco.

Ponto de equilíbrio financeiro

Dentro dos custos fixos de uma empresa, existem variações patrimoniais que não
significam desembolsos para a empresa, mas que são deduzidos das receitas, de acordo com

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os princípios contábeis. Um exemplo é a depreciação. O ponto de equilíbrio financeiro, leva


em consideração o valor da depreciação, e que esta conta não representa desembolso para
a empresa. Usando o exemplo do ponto de equilíbrio contábil, vamos imaginar que dentro
dos custos fixos exista um valor de R$ 20.000,00 referentes à depreciação. Eliminando-se a
depreciação, o ponto de equilíbrio cai.

Conclusão: o ponto de equilíbrio é uma ferramenta fundamental na Administração


Financeira como controle de risco, principalmente quando os gestores estão analisando
novos projetos. Entretanto, esse cálculo não é tão preciso quanto parece. O que tratamos
como custo fixo, na realidade, não é fixo. Ele é assim chamado somente porque não varia de
acordo com as vendas. Entretanto, alguns componentes do custo fixo variam de acordo com
o tempo. A energia elétrica, comunicações, combustíveis e outros gastos considerados fixos,
sempre estarão variando e, com eles, o ponto de equilíbrio também. Portanto, esse
coeficiente tem um valor aproximado.

3 Alavancagem
O conceito de alavanca diz que é algo que potencializa a sua força, e permite que uma
tarefa seja realizada igual, com menos força. Em finanças, esse conceito está relacionado ao
uso de ativos ou recursos de custo fixo com o objetivo de aumentar os retornos dos
proprietários da empresa (GITMAN, 2005, p. 418). Mudanças na alavancagem de uma
empresa levam a um aumento ou queda do risco/retorno da mesma.

Podemos perceber que, quanto maior a alavancagem de uma empresa maior é seu
retorno, mas ao mesmo tempo, maior é o risco de perda. Lembre-se: quanto maior o salto
maior a queda. Portanto, na gestão de riscos da empresa, o administrador deve estar atento
ao grau de alavancagem dos negócios. A alavancagem afeta o valor da empresa.

Para entender melhor o conceito de alavancagem, devemos pensar no que potencializa


o negócio de uma empresa. Ora, a palavra nesse caso é uma só: dinheiro. Portanto, ao
contrair dívidas, a empresa está alavancando seus negócios, com recursos para investir no
aumento das vendas. Mas, ao mesmo tempo, a empresa estará aumentando o risco
associado aos seus negócios. Dizer que uma empresa está alavancada é o mesmo que dizer
que ela está muito endividada.

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Na prática...

Para entendermos melhor como contrair dívidas e potencializar ganho da empresa,


vamos pensar em abrir nosso próprio negócio. Você foi visitar o campus do Senac e
percebeu que uma grande quantidade de alunos gosta de cachorro quente, mas que as
lanchonetes do campus não oferecem esta “iguaria”. Assim, entende-se que é a
oportunidade perfeita de ganhar dinheiro com um bom negócio.

Você estima que após investir R$ 20 mil para comprar uma perua, além de pagar o
salário do funcionário que cuidará do negócio, comprar a matéria-prima, e conseguirá obter
um lucro de R$ 2 mil. Você gastou toda a sua poupança na perua, mas sabe que o
investimento é bom. Ao começarem as vendas, percebe que são até maiores do que você
estimava inicialmente. Assim, decide procurar outro campus do Senac e montar outra
unidade de venda aos arredores da faculdade. Mas você não tem mais dinheiro. Então
decide financiar outra perua com o banco. A perspectiva de lucro dessa segunda unidade é
igual à da primeira e, se tudo der certo, você terá um lucro mínimo de R$ 4 mil com as duas
unidades de venda.

No banco, o gerente empresta os R$ 20 mil e cobra juros de R$ 600 por mês. Você toma
o empréstimo. Com duas unidades, seu negócio deverá lhe promover um ganho de R$ 4 mil
por mês. Descontando os juros que você deverá pagar sobram ainda R$ 3.400. Se você não
tivesse pegado o empréstimo e criado a segunda unidade de vendas, seu lucro seria cerca de
R$ 2 mil. Assim, ao se endividar, você quase dobrou o ganho, está feliz com o resultado e
pensa em uma terceira unidade de venda.

Conclusão: aumentar o endividamento potencializa a possibilidade de ganho, mas


também aumenta os riscos.

Considerações finais
Nesse capítulo aprendemos a importância da gestão de riscos na vida das empresas
como forma de perpetuar a organização e evitar que haja a perda de valor ao acionista.
Avaliamos de perto dois importantes conceitos que permeiam a gestão de riscos: ponto de
equilíbrio e alavancagem. Além disso, percebemos os motivos que tornam as práticas de
governança corporativa tão importantes para as empresas.

Após a leitura desse capítulo você deve ser capaz de:

 Entender a importância da gestão de riscos;

 Calcular os diferentes pontos de equilíbrio;

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 Entender o conceito de alavancagem.

Referências
GITMAN, L.J.; MADURA, J. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo:
Pearson, 2005.

PADOVEZE, C.L. Introdução à administração financeira. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

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