ARTESANATO EM
ARGILA - UTILITÁRIOS
E DECORATIVOS
POLEGAR, ACORDELADO, PLACAS E OCAGEM
ARTESANATO EM ARGILA -
UTILITÁRIOS E DECORATIVOS
POLEGAR, ACORDELADO, PLACAS E OCAGEM
SUPERVISÃO GERAL
Claudete Morandi Romano
Chefe da Divisão de Saúde, Promoção Social, Esporte e Lazer do SENAR-AR/SP
RESPONSÁVEIS TÉCNICOS
Claudete Morandi Romano
Chefe da Divisão de Saúde, Promoção Social, Esporte e Lazer do SENAR-AR/SP
Isabela Pennella
Divisão de Saúde, Promoção Social, Esporte e Lazer do SENAR-AR/SP
AUTORA
Marlene Carvalho Vicente
Artesã
Bibliografia
ISBN 978-85-99965-16-0
CDD 745.5
Direitos Autorais: é proibida a reprodução total ou parcial desta cartilha, e por qualquer processo, sem a
expressa e prévia autorização do SENAR-AR/SP.
APRESENTAÇÃO..............................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................................9
X. EXECUTAR A QUEIMA............................................................................................................................... 51
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................................58
O
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL – SENAR, criado em 23 de
dezembro de 1991, pela Lei n.º 8.315, e regulamentado em 10 de junho de 1992
como Entidade de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, teve
a Administração Regional do Estado de São Paulo criada em 21 de maio de 1993.
Nesta cartilha, serão descritos alguns passos para a confecção de artefatos utilitários e
decorativos utilizando como matéria-prima a argila.
Mesmo considerando as técnicas descritas e suas respectivas peças, pode-se obter objetos
diferenciados feitos com essa matéria-prima, variando de artesão para artesão, conforme
sua criatividade.
Trata, também, dos cuidados necessários para evitar acidentes e ainda informa sobre os
aspectos de preservação do meio ambiente e assuntos que possam interferir na melhoria
da qualidade dos artefatos produzidos.
As peças artesanais possuem diversos elementos de arte. Ao ser confeccionado, cada novo
objeto é recriado, dependendo das condições do material a trabalhar e dos instrumentos
empregados. Cada nova forma surge como recriação, com o toque pessoal do artesão.
A Argila, também conhecida como barro, é uma rocha “mole” que se forma através da
sedimentação de partículas (grãos muito finos) trazidas pelas águas de chuva ou de rios, e
depositadas no mesmo lugar durante milhares de anos.
Existem vários tipos de argila de acordo com a sua composição química (exemplo, quantidade
de óxido de ferro) e física tais como a quantidade de areia, restos de rochas ou pedras, restos
de folhas, troncos ou animais e água (grau de impureza). A quantidade destes componentes
influencia a cor, a textura e outras características da argila que irão influenciar nos materiais
e peças produzidos.
Existem várias técnicas para a produção artesanal utilizando a argila, tais como tornearia,
fundição em molde de gesso, além das técnicas do polegar, acordelado, da placa e da
ocagem, que serão descritas nesta cartilha.
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Estado de São Paulo 9
A técnica do polegar consiste em trabalhar com as mãos, produzindo peças de formas
irregulares.
A técnica da placa consiste em iniciar a peça com uma placa de argila plana.
A técnica da ocagem consiste em confeccionar peças com o interior oco, ou seja, sem argila.
Vale ressaltar que, mesmo considerando uma mesma técnica, é comum existirem maneiras
diferenciadas de se confeccionar as peças que variam de artesão para artesão, podendo
conduzir ao mesmo resultado, com o mesmo nível de qualidade. Além disso, cada pessoa
deve explorar, ao máximo, a sua criatividade.
Para este artesanato é utilizada a argila, bem como os seguintes equipamentos e utensílios:
• Colher de pau
• Colher de sopa
• Enxada
• Esponja
1. P R E PA R E - S E PA R A A AT I V I D A D E ,
GARANTINDO A SEGURANÇA
2. COLETE A ARGILA
Alerta ecológico: A retirada de argila na área de minas é proibida por lei ambiental.
A retirada desta camada é necessária para eliminar as impurezas tais como partes de plantas
(raízes, folhas), restos de animais, pedras etc. que pioram a qualidade da argila.
Precaução: Cuidados devem ser tomados no manuseio das ferramentas durante a coleta
para evitar acidentes.
Alerta ecológico: Deve-se evitar a extração da argila em locais que possam comprometer
o meio ambiente.
Atenção: Dependendo do tipo da argila é necessário deixá-la envelhecer, antes do seu uso,
para melhorar sua plasticidade.
Atenção: As porções de argila devem ser bem sovadas para que fiquem homogêneas,
facilitando o manuseio e sem bolhas de ar, para que a peça não estoure durante a queima.
Atenção: A argila sovada deve ser acondicionada em sacos plásticos até o momento da
sua utilização, evitando o ressecamento.
A queima das peças feitas em argila deve ser em forno próprio para cerâmica, que pode ser
a lenha, a gás ou elétrico. Os fornos a gás e elétricos têm custo elevado. Quando não for
possível a construção de um forno, pode-se utilizar fornos de olarias para queimar as peças.
Existem vários modelos de fornos a lenha sendo que as orientações abaixo mostram a
construção de um modelo simples.
1. CONSTRUA O FORNO
• Areia: 1 saco
Precaução: O local deve ser aberto e coberto com telhas, longe de árvores, de construções
e de locais onde sejam estocados produtos inflamáveis.
1.7. Suba as paredes do forno com tijolos, até a altura de 40 cm, deixando a boca da
fornalha
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1.8. Coloque uma camada de tijolos 1.9. Coloque as molas de caminhão sobre
deitados (piso da fornalha) as paredes e duas barras de ferro sobre
a porta do forno
1.11. Disponha tijolos sobre as molas de 1.12. Disponha uma mola de caminhão
caminhão, para fazer o piso do forno na parte superior do forno
1. CONFECCIONE UM PORTA-INCENSO
• Argila
• Esponja: 1 unidade
1.2. Corte um pedaço de argila com fio 1.3. Modele a argila com as mãos dando
de náilon o formato de uma bola
1.5. Molhe os dedos à medida que for modelando a peça, para dar acabamento, até
alcançar o formato desejado
1.10. Fure no centro com um palito de 1.11. Deixe secar por 4 dias ou mais, se
churrasco necessário
• Argila sovada: 3 Kg
• Esponja: 1 unidade
• Jornal usado
• Vinagre: 1 frasco
1.2. Monte o fundo da panela 1.2.2. Retire uma porção de argila, utilizando
o fio de náilon
1.2.1. Estenda o pano sobre a mesa
1.2.6. Recorte a argila com estilete ou faca, usando um círculo de jornal como molde
Atenção: Os rolos de argila devem ser bem pressionados sobre o fundo da panela para que
a união seja perfeita e não haja rachadura.
1.3.7. Alise o corpo da panela com espátula umedecida à medida em que forem sendo
colocados os rolos
Atenção: É importante controlar a secagem para que a panela fique com a umidade
adequada. A panela não deve estar nem muito seca nem muito úmida para que as alças
possam ser coladas posteriormente. Se o tempo estiver muito quente e seco, cubra a panela
com um saco plástico para não secar demais.
1.4. Faça a tampa da panela 1.4.2. Retire uma porção de argila, utilizando
o fio de náilon
1.4.1. Estenda o pano sobre a mesa
1.4.3. Coloque a argila sovada sobre o pano 1.4.4. Coloque as duas réguas nas laterais
do pano
1.4.6. Recorte a argila com estilete ou faca, usando o círculo de jornal com a mesma medida
da boca da panela
1.4.7. Molhe uma espátula 1.4.8. Alise a tampa com a espátula úmida
1.4.9. Alise as bordas com uma esponja 1.4.10. Coloque um pedaço de papelão
úmida sobre a peça
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1.4.11. Vire a peça com o auxílio do pano
1.4.12. Alise o outro lado da tampa com uma 1.4.13. Deixe a tampa secando
espátula úmida
Atenção: Os cuidados com a secagem da tampa são os mesmo da panela
Alerta Ecológico: As sobras de argila devem ser reaproveitadas e nunca jogadas em pias,
tanques, leitos de rios, etc. Se estiverem secas, misture água e embale em saco plástico.
Há vários tipos de pegadores para tampa de panela. Pode-se escolher livremente o tipo de
pegador a ser modelado.
Há vários tipos de alças de panela. Pode-se escolher livremente o tipo de alça a ser modelado.
1.7.1. Coloque pedaços de argila até a 1.7.3. Deixe a ar gila na água por
metade do volume do vidro aproximadamente 3 horas
1.7.4. Retire o excesso de água 1.7.5. Coloque uma colher de chá de sal
Atenção: Mantenha o vidro com a cola fechado, quando não estiver usando, para não
ressecar.
1.8. Cole as alças da panela 1.8.2. Retire as rebarbas dos cantos com
espátula úmida
1.8.1. Vire a panela
1.8.3. Arredonde os cantos com esponja 1.8.4. Posicione uma das réguas sobre a
úmida panela, marcando o meio, para servir de
guia no posicionamento das alças
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1.8.5. Faça ranhuras na panela, nos locais onde serão coladas as alças
1.8.8. Cole as alças nos locais marcados 1.8.9. Modele as alças com os dedos úmidos
1.8.10. Faça o acabamento nas alças, utilizando rolos finos de argila e um palito
Atenção: Os espaços vazios entre as alças e a panela devem ser preenchidos com rolos
de argila finos, evitando que se soltem na secagem final.
Atenção: Os espaços vazios entre as alças e a panela devem ser preenchidos com rolos
de argila finos, evitando que se soltem na secagem final.
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1.9.6. Deixe a tampa secar por mais de 24
horas
1.10.1. Passe uma pedra polida ou uma colher por toda a peça
A técnica da placa pode ser utilizada para confecção de diversas peças e utensílios como:
travessas, fruteiras, pratos, caixas, máscaras, telhas para assar peixe etc. Para ilustrar o
uso desta técnica, serão indicados os passos para a confecção de uma travessa.
• Argila sovada: 2 Kg
• Esponja: 1 unidade
1.4. Coloque a argila sovada sobre o 1.5. Coloque uma régua de cada lado da
pano argila
1.6. Abra a argila com o rolo na altura 1.7. Molhe uma espátula
da régua
1.8. Alise a peça com espátula 1.9. Verifique se a argila está do tamanho
do molde
1.12. Cubra a argila com filme plástico 1.13. Coloque o molde sobre a placa
1.14. Vire cuidadosamente a placa de argila com o filme plástico sobre o molde
Atenção: É importante controlar a secagem para que a travessa fique com a umidade
adequada. A travessa não deve estar nem muito seca nem muito úmida para que se possa
colar as alças posteriormente. Se o tempo estiver muito quente e seco, cobrir a travessa
com um saco plástico para não secar demais.
Alerta Ecológico: As sobras de argila devem ser reaproveitadas e nunca jogadas em pias,
tanques, leitos de rios, etc. Se estiverem secas, misture água e embale em saco plástico.
1.34. Faça o polimento (brunimento) da 1.34.2. Passe um saco plástico por toda a
travessa peça
1.34.1. Passe uma pedra polida ou uma Atenção: Este procedimento fecha os poros
colher por toda a peça da argila fazendo com que a superfície fique
bem lisa, evitando que os alimentos grudem,
principalmente no interior da panela, o que
pode causar contaminação.
38 Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo
1.35. Deixe a travessa secar por completo
• Argila sovada: 2 Kg
• Esponja: 1 unidade
1.2.3. Coloque a argila sovada sobre o pano 1.2.4. Coloque uma régua de cada lado da
argila
1.2.5. Abra a argila com o rolo na altura da 1.2.6. Alise a argila com espátula úmida
régua
1.2.7. Fure as bolhas que surgirem com 1.2.8. Alise com espátula úmida
palito ou estilete
Atenção: Esse procedimento evita a quebra da travessa durante a queima.
1.2.12. Feche a emenda com os dedos 1.2.13. Alise a argila com espátula
úmidos
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1.2.14. Corte as sobras das extremidades da saia com o estilete
1.2.15. Dê o formato que desejar à barra 1.2.16. Deixe a saia da boneca secar por
da saia cerca de 24 horas
Atenção: É importante que a saia da boneca seque o suficiente para suportar o peso das
peças que nela serão coladas.
1.8.1. Faça ranhuras nos locais onde será colocada a barbotina (cola) para facilitar a adesão
das peças
1.8.9. Faça o acabamento utilizando palito 1.8.10. Alise com esponja úmida
de churrasco
1.14.6. Alise a manga com o polegar 1.15. Alise a boneca com esponja úmida
Alerta Ecológico: As sobras de argila devem ser reaproveitadas e nunca jogadas em pias,
tanques, leitos de rios, etc. Se estiverem secas, misture água e embale em saco plástico.
Quando não se dispuser de forno próprio, a queima das peças poderá ser feita em fornos
de olaria. No caso de se ter disponível um forno a lenha, os procedimentos para a queima
estão descritos abaixo.
Atenção: A lenha a ser utilizada deve estar bem seca para que não produza fumaça.
1.10. Tampe a boca da fornalha com 2 telhas comuns para evitar a entrada de ar frio
Depois da queima e antes de utilizar as peças para o preparo de alimentos, deve-se fazer a
cura, pois sem isso os alimentos preparados com podem ficar com gosto de barro.
Existem várias maneiras de fazer a cura. Uma forma muito simples consiste nas seguintes
etapas:
Os materiais utilizados devem ser limpos e guardados após o uso e o local deve ser varrido,
retirando-se os resíduos, colas, restos de materiais e pó que ficaram sobre as mesas,
cadeiras e no chão.
Para fazer o cadastro, o artesão passa por uma entrevista e o seu trabalho é avaliado por
uma Comissão Técnica que classifica o produto, a matéria-prima e a produção.
Caso não seja possível executar a técnica no local da entrevista, deve-se trazer peças
em três fases diferentes do processo de confecção, ou seja: uma no início, uma na fase
intermediária e uma na fase final. Contudo, o artesão deverá completar uma das fases na
presença da Comissão Técnica, preferencialmente.
O artesão que pretende comercializar seu produto por intermédio da Sutaco deve entregar
junto à Seção de Comercialização e Exportação um portfólio com fotos do trabalho
desenvolvido e uma lista de preços para análise.
CUSTOS VARIÁVEIS
Unidade de
medida Quantidade Preço Unitário de VALOR TOTAL
Material
(kg, gramas, litro, (1) Mercado (2) (3)=(1) x (2)
unidade)
Tinta frasco 3 R$ 0,50 R$ 1,50
Refil de cola quente unidade 2 R$ 0,50 R$ 1,00
Goma laca frasco 1 R$ 1,00 R$ 1,00
Pincel 1 unidade 1 R$ 0,50 R$ 0,50
TOTAL R$ 4,00
3.2. Considere o custo de transporte, embalagem, energia elétrica, gás, água, aluguel,
telefonia, impostos, etc. que devem ser somados ao custo inicial (obtido na coluna
3). Por exemplo:
CUSTOS FIXOS
3.3. Considere o valor do tempo gasto na confecção da peça. Apesar de ser difícil de
calcular, deve ser incluído no cálculo do custo, inclusive considerando a experiência
do artesão. Por exemplo:
3.3.1. Determine um valor que deseja receber por mês, por exemplo: R$ 1.000,00
3.3.3. Divida o valor obtido por 8 horas de trabalho diário: R$ 45,45 ÷ 8 = R$ 5,68
3.4. O custo da peça é o resultado da soma dos itens 3.1, 3.2, 3.3 = R$ 36,90 mais 50%
de margem de lucro = R$ 55,35
3.6. Pesquise no mercado o preço de produtos similares, para serem usados como
referência na determinação do preço final de venda, não esquecendo que ele deve
ser competitivo.
Comprar em grupo é uma forma de organização por meio da qual se pode adquirir produtos,
ferramentas e outros materiais para serem usados de maneira coletiva, facilitando o acesso
de todos os envolvidos na produção artesanal.
BOA idéia: artesanato em casa. São Paulo: Abril Cultural, 1976. 616 p. 3 v.