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Bom dia, o meu trabalho insere-se no tema das Finanças públicas e direitos humanos, mais especificamente na questão
da orçamentação;
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Antes de mais, é necessário perceber o que é o Orçamento - o orçamento é uma lei e, como tal, terá de ser
aprovado pelo Parlamento antes da sua entrada em vigor.
Esta é uma lei que encerra em si mesma o conjunto de prioridades económicas e sociais do governo,
estipulando, por isso, o tipo de despesas que o governo planeia realizar assim como o tipo de receitas que
pretende arrecadar para um determinado período financeiro – o designado período orçamental (inicia-se,
em regra, a 1 de Janeiro e termina a 31 de dezembro).
Representa ainda a declaração política mais importante que é efetuada pelo governo, visto que é através
dele que se revela o o grau de comprometimento do governo com as questões relacionadas aos Direitos
Humanos, e fazemo-lo através de uma análise das políticas públicas e as decisões governamentais
relativas à alocação de recursos nos orçamentos públicos.
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Neste seguimento é importante percebermos o que são estas políticas públicas e qual a sua relação com o
orçamento;
O orçamento é indissociável das políticas públicas, visto que o Orçamento do Estado (OE) constitui o
instrumento de maior relevância para a execução das políticas públicas.
Por política pública podemos entender uma ação equacionada e redigida pelo poder público que tem em vista
a produção de determinados efeitos num conjunto de pessoas, isto é, nos seus destinatários- por exemplo uma
política pública relacionada com a educação pode incluir determinadas medidas, tais como, a construção de
escolas, o pagamento de salários aos professores e auxiliares de ação educativa. Portanto, a política pública
abrange todas as ações que, envolvendo recursos públicos, desencadeiem efeitos sociais ou económicos.
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É imperativo que os Estados garantam o respeito pelos Direitos Humanos e que disponibilizem todos os
recursos necessários para a sua concretização, sendo o Orçamento do Estado o instrumento de
planeamento económico mais importante para esse efeito;
Algumas maneiras pelas quais a orçamentação e os DH estão interligados:
1. Alocação de recursos: A orçamentação pública envolve a alocação de recursos financeiros para diversos
programas e serviços governamentais. Os direitos humanos são garantidos quando o governo alocou
recursos adequados para áreas como saúde, educação, habitação, alimentação e outros serviços essenciais.
A alocação do máximo de recursos disponíveis para a realização dos Direitos Humanos permite que os
Estados tenham uma margem de discricionariedade no que se refere à efetiva quantidade de recursos que
alocam à realização dos Direitos Humanos. No entanto, o Comité dos Direitos económicos, sociais e
culturais, com as metas indicadas pelo PIDESC, possui o poder de decidir se o Estado cumpriu de forma
efetiva as suas obrigações.
A perspetiva apresentada anteriormente não implica a que os Estados tenham de alocar todos os seus
recursos com vista à realização dos Direitos Humanos, mas somente que aloquem a quantidade
máxima de recursos que lhes seja possível com vista a atingir objetivos sem que, com isso, prejudiquem
outros setores igualmente importantes.
Além disso, esta obrigação está ainda relacionada com a própria tributação, referimo-nos às receitas do
Estado, receitas essas que podem ser conseguidas por via de uma tributação direta ou indireta.
2. Ação do Estado: Um sistema democrático implicará sempre que o Estado respeite, proteja e promova os
Direitos Humanos, assim como repare as violações contra os mesmos.
Isto significa: não poderá corroborar com atitudes atentatórias dos mesmos ou ser o agente causador da
sua violação; elaborar e implementar políticas públicas com vista à promoção dos Direitos Humanos.
Por fim, o Estado tem ainda a obrigação de reparar e indemnizar qualquer pessoa que veja os seus direitos
a serem violados por meio da ação ou inação do Estado. Assim, podemos afirmar que certos direitos
obrigam a uma ação negativa por parte dos Estados, ou seja, é necessário que os mesmos respeitem os
direitos já implementados, falamos sobretudo dos direitos civis e políticos. Por outro lado, outros
direitos há que exigem uma ação positiva por parte dos Estados como é o caso dos direitos económicos,
sociais e culturais. Neste contexto, o Estado terá de prover diversos serviços direcionados para a sua
comunidade, tais como a educação ou a saúde.
4. Informação e Participação dos cidadãos: os governos devem garantir que os direitos à informação
(artigo 19.º do PIDCP) e à participação (artigo 25.º do PIDCP) são respeitados e cumpridos no processo
orçamental, isto é, que todos os cidadãos tem acesso à informação sobre o processo orçamental,
devendo, para além disso, estar habilitados a participar, não só no processo de formulação e
aprovação, mas, sobretudo, na respetiva implementação/ execução.
5. Monitorização Internacional: Os Direitos Humanos têm de ser implementados a nível nacional, por
meio dos governos. No entanto, podem surgir obstáculos quanto à sua aplicação. Dentro destes obstáculos
podemos encontrar causas como a corrupção e a ineficiência do poder executivo. Por isso, e tendo em
vista, um maior controlo na aplicação dos Direitos Humanos foi criada a monitorização internacional do
desempenho dos Estados na maioria das convenções internacionais de Direitos Humanos-
essencialmente através de um sistema de apresentação de relatórios que está presente em várias
convenções internacionais, e que posteriormente, um comité vai analisar os relatórios e expor várias
recomendações para promover a sua implementação.
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Por fim, temos a questão das obrigações dos Estados em termos internacionais no que toca aos DH;
Ora, os Estados têm obrigação de garantir o cumprimento dos Direitos Humanos em termos nacionais para
com todos os que se encontrem em território nacional, no entanto essa obrigação transcende o âmbito
nacional, tendo a obrigação de auxiliar os governos de outros países no cumprimento dos Direitos
Humanos.
Essas obrigações são estabelecidas em tratados de direitos humanos, como a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional sobre Direitos
Económicos, Sociais e Culturais, entre outros.
E portanto, em geral, os Estados gozam de uma margem discricionária no que diz respeito à garantia dos
Direitos Humanos e à aplicação de medidas. No entanto, existem mínimos que devem nortear as atividades
dos Estados e a respetiva alocação de recursos dos governos, tais como: a promoção da igualdade; a
obrigação de garantir e promover a satisfação do mínimo existencial no que concerne aos direitos
económicos e sociais; o comprometimento para com uma realização progressiva dos Direitos Humanos,
realização essa quer qualitativa quer quantitativa. Para além destes princípios norteadores existem outros
que estão relacionados, por exemplo, com a transparência da atividade dos governos.
Estes princípios mencionais são importantes para analisar o financiamento que os governos estão a dirigir
para as cumprir as suas obrigações, nomeadamente o de orientar o orçamento de forma a que este se
mostre sensível às questões relacionadas com os Direitos Humanos.