a) Conceito: contrato de compra e venda, verbal ou escrito, é
a espécie mais comum dos contratos. Em nosso dia-a-dia realizamos inúmeras operações de compra e venda, muitas vezes sem prestar atenção. Por exemplo, vamos ao supermercado, estamos realizando pequenas operações de compra e venda. Não é à toa que essa é a primeira espécie a ser tratada pelo Código Civil, sendo que outros contratos, como permuta, são regulados também pelas disposições do contrato de compra e venda.
b) Efeitos: O contrato de compra e venda não gera efeitos
reais, ou seja, não transfere, por si só, o domínio do bem alienado. O contrato de compra e venda gera:
Para o vendedor: a obrigação de transferir a coisa vendida;
para o comprador, a obrigação de pagar o preço ajustado. Porém, a transferência do domínio só ocorre com a tradição (entrega) do bem, no caso de bem móvel, e com o registro do título de compra no Registro de Imóveis na hipótese de bem imóvel. (arts. 1.267 e 1.245 da Lei n° 10.406/2002).
Para o comprador: o pagamento do preço pactuado.
Os artigos 481 e 482 da Lei 10.406/2002 dispõem:
“Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos
contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”. “Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço”.
A partir da leitura desses dois artigos, podemos extrair a
natureza jurídica e os elementos do contrato de compra e venda.
c) natureza jurídica:
c.1) Consensual e não solene: Depende apenas da vontade
das partes. Estando ambas de acordo com o objeto e o preço, o contrato é realizado. Não se exige, em regra, formalidade específica para o contrato de compra e venda, que só será obrigatória quando prevista especificamente em lei. Tanto é assim que a compra de um chiclete no baleiro da esquina perfaz uma compra e venda perfeita, embora não formalizada em contrato escrito. Pode-se dizer, sem medo de errar, que a maioria esmagadora das operações de venda é feita sem formalidades específicas previstas em lei. Todavia, não se pode esquecer que, para algumas espécies de compra e venda, a observância de determinadas formalidades poderão alterar os efeitos do contrato. Na venda de bem imóvel de valor superior a 30 (trinta) vezes o maior salário mínimo vigente no país, é necessária a realização de contrato escrito mediante escritura pública e seu registro no RGI para que gere efeitos perante terceiros. Importante: o contrato de compra e venda de imóvel realizado por meio de instrumento particular é negócio jurídico existente, válido e plenamente eficaz, mas somente entre as partes. Existem outros contratos que, embora não necessitem de formalidades especiais para seu aperfeiçoamento, necessitam de um determinado registro para que a tradição do bem – apesar de móvel – tenha sua eficácia plena, inclusive perante terceiros. c.2) sinalagmático ou bilateral: Envolve prestações recíprocas de ambas as partes. O comprador deve entregar o preço enquanto o vendedor deve entregar a coisa.
c.3) Oneroso: Tanto o comprador quanto o vendedor tem
prestações a cumprir, que envolvem transferência de seu patrimônio. A gratuidade da compra e venda, expressa na desproporção manifesta entre o valor da coisa transferida e o preço acordado, desfigura o contrato. O correspondente gratuito da compra e venda é a doação.
d) Elementos: Os elementos do contrato de compra e venda
encontram-se destacados em negrito no artigo 482 acima, quais sejam:
d.1) Consentimento: Comprador e vendedor têm que chegar
a acordo quanto ao objeto e o preço.
d.2) Preço: Conforme artigo 481 da Lei n° 10.406/2002, o
preço deve ser pago em dinheiro. Além disso, o preço não deve ser irrisório, pois senão pode ser considerado uma doação e não uma compra e venda. Como visto acima, deve haver uma proporcionalidade entre o valor da coisa e seu preço. O preço deve ser determinado ou determinável. Ou seja, a lei permite que o preço não esteja determinado no contrato e que as partes indiquem: (i) terceiro para fixá-lo; ou (ii) taxa do mercado ou da bolsa, em certo e determinado dia e local; ou (iii) índices ou parâmetros, desde que possam ser determinados objetivamente. A fixação do preço em regra segue o livre consentimento das partes. Sendo assim, qualquer fórmula estipulada para fixação do preço é permitida. Pode o preço, inclusive, ser ajustado no tempo, ou seja, mesmo após a tradição do objeto o preço pode estar sujeito a ajustes posteriores. Ex: Marvin (comprador) e Vital (vendedor) firmaram contrato de compra e venda no qual deixaram de definir o preço. E agora? Não é possível, porém, estabelecer que o preço será fixado de acordo com a vontade de apenas uma das partes, pois nesse caso seria uma hipótese de condição potestativa, vedada pela Lei n° 10.406/2002.
d.3.) Coisa ou objeto: Em teoria, todas as coisas que não
estejam fora do comércio podem ser objetos do contrato de compra e venda. Sua amiga, Mônica, conta que está super empolgada com o presente que ganhou do namorado. Imagine que Eduardo inovou desta vez: comprou-lhe a constelação das Três Marias!!! Ela lhe pergunta quanto vale esse presente. Um pouco constrangido (a) com a situação, você explica que esse presente, embora possa ter muito valor sentimental, não tem qualquer valor econômico. Por quê? Isso não quer dizer, entretanto, que só podem ser objetos de venda os bens tangíveis. Os bens imateriais, ou intangíveis, também podem ser alienados, como as marcas e o fundo de comércio. – É possível alienar algo que não existe? Nada impede que seja contratada a alienação de um bem que ainda não existe. Como vimos anteriormente, no direito brasileiro, o contrato de compra e venda não transfere o domínio do bem. Ele representa a obrigação de transferir um bem no presente ou no futuro, de acordo com a combinação das partes. Tanto é assim, que é possível alienar um empreendimento imobiliário, mesmo antes da construção dos prédios. Qual seria um outro exemplo de venda de coisa futura? e) despesas do contrato e garantia: Em regra, as despesas de escritura e registro ficam a cargo do comprador e as despesas com a tradição ficam sob responsabilidade do vendedor. As partes podem, porém, estabelecer regra diversa. No contrato de compra e venda à vista, quem tem que cumprir primeiro com sua obrigação: o vendedor ou o comprador? Além disso, no caso de venda a termo, o vendedor pode deixar de entregar a coisa, se o comprador torna-se insolvente, até que o comprador lhe dê garantia de que efetuará os pagamentos no prazo ajustado. Essa regra do art. 495 está em consonância com a previsão da exceção de contrato não cumprido.
f) riscos da coisa:
Res perit domino – princípio segundo o qual a coisa perece
em poder de seu dono, sofrendo este os prejuízos. Esse princípio foi utilizado pelo legislador ao determinar, no art. 492, que “até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do comprador”. Tendo em vista que a celebração do contrato de compra e venda não é suficiente para transferir o domínio da coisa até o momento da tradição (para bens móveis) e do registro (para bens imóveis), a coisa continua a pertencer ao alienante. Por isso, até o momento de sua efetiva entrega ou registro, os riscos com a coisa são do vendedor. Porém, os riscos com a coisa correm por conta do comprador quando: – a coisa encontra-se à disposição do comprador para que ele possa contar, marcar ou assinalar a coisa e, em razão de caso fortuito ou força maior, a coisa se deteriora; – o comprador solicita que a coisa seja entregue em local diverso daquele que deveria ser entregue; – o comprador está em mora de receber a coisa, que foi posta à disposição pelo vendedor no local, tempo e modo acertado. Esta hipótese é uma exceção ao princípio da Res perit domino, pois neste caso não houve a tradição da coisa. Não seria justo, entretanto, que o vendedor arcasse com os riscos da coisa, uma vez que cumpriu sua parte do contrato. – houver mútuo acordo entre as partes.
g) limitações à compra e venda: A lei veda que
determinadas pessoas participem de compra e venda. Essa vedação não resulta da incapacidade das pessoas para realizar essa operação, mas sim da posição na relação jurídica. No caso, eles não têm legitimidade para realizar determinadas operações. Isto ocorre nas seguintes situações: – tutores, curadores, testamenteiros e administradores não podem comprar, ainda que em hasta pública, os bens confiados à sua guarda ou administração; – servidores públicos não podem comprar, ainda que em hasta pública, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração, direta ou indireta; – juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da Justiça não podem comprar, ainda que em hasta pública, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade; – leiloeiros e seus prepostos não podem adquirir, ainda que em hasta pública, os bens de cuja venda estejam encarregados. – descendentes não podem adquirir bens do ascendente, sem consentimento expresso dos demais descendentes e do cônjuge do alienante. - O condômino de coisa indivisível pode alienar sua parte a terceiros, desde que dê direito de preferência aos demais condôminos, ou seja, ele precisa oferecer aos demais condôminos sua parte pelo mesmo preço e condições pelos quais pretende vender a terceiros.
h) regras especiais:
h.1.) venda por amostra: Ocorre quando a venda ocorre com
base em amostra exibida ao comprador. O comprador tem direito de receber coisa igual à amostra.
h.2.) venda ad corpus e venda ad mensuram:
Venda ad mensuram – as partes estão interessadas em uma determinada área. Exemplo: Fazendeiro tem interesse em adquirir mil hectares para poder plantar. O objetivo do adquirente é comprar uma coisa com determinado comprimento necessário para desenvolver uma finalidade.
Venda ad corpus – as partes estão interessadas em comprar
coisa certa e determinada, independentemente da extensão. Exemplo: Fazendeiro tem interesse em adquirir a Fazenda Boa Esperança. Nestes casos, entende-se que a referência à medida do terreno é meramente enunciativa. Embora em alguns casos seja difícil determinar se a venda foi feita ad mensuram ou ad corpus, por vezes essa distinção se faz necessária em razão das regras peculiares a cada uma. No caso de venda ad mensuram, o comprador tem o direito de exigir que a coisa vendida tenha as medidas acertadas e não o tendo pode pedir a complementação da área, ou caso isso não seja possível, rescindir o contrato de compra e venda. Já no caso de venda ad corpus, o comprador não teria esse direito, caso verifique que as medidas do imóvel adquirido não correspondem exatamente as medidas que constaram do contrato.
h.3.) defeito oculto nas vendas conjuntas:
“Art. 503. Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto