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CONTRATOS EM ESPÉCIE
AULA 01
1. COMPRA E VENDA
Art. 481 a 532 do CC.
O art. 481 traz a definiçã o do contrato de compra e venda. O art. 481 é fiel ao chamado
SISTEMA OBRIGACIONAL – a luz do sistema obrigacional os contratos por si só não
tem o condão de transferir a propriedade. No direito BR o que transfere a
propriedade, em regra, é:
OBS.: Por exemplo, no direito comparado – Portugal e França – os contratos por si só tem
o condã o de transferir a propriedade. Nã o é essa a perspectiva do direito brasileiro.
1) CONTRATO BILATERAL
2) ONEROSO
4) COMUTATIVA ou ALEATÓRIA
5) CONTRATO TÍPICO
6) PARITÁRIO ou DE ADESÃO
COISA
PREÇO
CONSENSO
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Lembrando que os elementos esseciais gerais de validade do negó cio jurídico estã o no art.
104 do CC: a) agente capaz; b) objeto lícito, possível e determinado ou determiná vel; c)
forma prescrita ou nã o defesa em lei.
QUANTO À COISA:
O CC admite a possibilidade de compra e venda sobre coisa atual ou futura. E percebam
que a possibilidade de compra e venda sobre coisa futura vem em consonancia com o
sistema obrigacional, porque se pelo contrato nã o se transfere imediatamente a
propriedade, ou seja, pelo contrato apenas se obriga a transferir a propriedade, nada
impede que no momento da celebraçã o do contrato a coisa nã o exista. Art. 483 do CC.
O contrato de compra e venda sobre coisa futura pode vir a perder a eficácia caso a
coisa futura não venha a existir – haverá uma ineficácia superveniente do contrato –
SALVO se a intenção das partes era de contrair contrato aleatório. Entã o, se no
momento da celebraçã o do contrato as partes celebraram um contrato de compra e venda
aleató rio no qual eles assumiram o risco pela inexistencia da coisa, neste caso, se as partes
assumiram o risco pela inexistencia da coisa, ainda que ela nã o venha a existir, o contrato
de compra e venda irá produzir efeitos, excepcionalmente.
a) EMPTIO SPEI (art. 458) significa venda de esperança; entã o, nesta modalidade
o comprador tem a mera esperança de que a coisa venha a existir. Portanto, nesta
1ª modalidade o comprador assume o risco pela inexistência. “cujo risco de nã o vir
a existir um dos contratantes assume”
Portanto, quando o art. 483, 2ª parte diz: “Neste caso (compra e venda de coisa futura),
ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de
concluir contrato aleatório.” esse contrato aleató rio a que se refere a parte final do
art. 483 do CC é o do art. 458 – EMPTIO SPEI – porque apenas nesta modalidade de
contrato aleató rio o contratante assume o risco pela inexistencia do bem. Se o contrato
aleató rio for da 2ª modalidade – EMPTIO REI SPERATAE – percebam que nesse caso nó s
nã o aplicaremos a ú ltima parte do art. 483, porque neste caso o contratante nã o assumiu o
risco pela inexistencia, mas apenas pela quantidade.
OBS.: O CC admite compra e venda sobre coisa futura, mas há uma EXCEÇÃO prevista no
art. 426 que diz que não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. Entã o, a
herança de pessoa viva é coisa futura que nã o pode ser objeto de contrato de compra e
venda – é a chamada VEDAÇÃO A PACTA CORVINA. Remissã o do art. 483 ao 426 do CC.
Percebam, inclusive, que é possivel aplicar por analogia o art. 1.268, § 1º do CC, que
trata de uma situação muito mais drástica – “pós-eficacização da tradição” – nesse
caso, aquele que transferiu a propriedade pela tradiçã o nã o era o dono no momento em
que realizou a tradiçã o. Aqui estamos falando de verdadeira transferencia de propriedade
de bem mó vel e ainda assim o § 1º diz:
Vejam que no caso da compra e venda envolvendo bem pertencente a terceiro a soluçã o
ainda é mais simples, porque pela compra e venda o sujeito sequer transferiu a
propriedade, ele apenas se obrigou a transferí-la. Então, evidentemente que a compra e
venda só irá produzir efeitos se o vendedor vier a adquirir a propriedade
posteriormente a celebração do contrato e antes do tradição ou registro. Mas nada
impede que haja compra e venda de bem pertencente a terceiro.
EM RELAÇÃO AO PREÇO:
Em relação aos critérios para fixação do preço: a regra geral, permeia o princípio da
autonomia privada, ou seja, as partes tem bastante liberdade para definir os critérios
para a fixaçã o do preço da compra e venda.
Por exemplo, o art. 485 permite que a fixaçã o do preço seja deixada ao arbítrio de terceiro.
O art. 486 deixa que as partes deixem a fixaçã o do preço de acordo com taxa de mercado
ou de bolsa.
Por outro lado, o art. 487 permite que as partes deixam a fixaçã o do preço em funçã o de
indices ou parametros, desde que suscetíveis de objetiva determinaçã o. Aqui inclusive
temos alguns indices oficiais como: INCC (para construçã o civil), etc.
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Exceção: art. 489 diz que é nulo o contrato de compra e venda quando se deixa ao
arbítrio exclusivo de uma das partes a fixaçã o do preço. Hipó tese de nulidade absoluta.
Qual é a razã o dessa nulidade absoluta? Art. 122, parte final – prevê a impossibilidade de
condiçõ es meramente potestativas, que sã o aquelas que sujeitam o negó cio juridico ao
puro arbítrio de uma das partes.
Regra importante e que nã o havia no CC/16 é a do art. 488 porque desde o direito
romano sempre se afirmou que o preço é um dos elementos essenciais específicos da
compra e venda e que nã o há possibilidade de compra e venda vá lida sem preço. Só que o
art. 488 do CC traz uma exceção: em não havendo preço na compra e venda, o CC diz
que o preço será aquele adotado nas vendas correntes e habituais do vendedor.
Ex.: imagine que o sujeito seja renomado por vender obras de arte. Até hoje ele nã o tinha
vendido ainda nenhuma obra expressiva, de um pintor conhecido; e finalmente ele
consegue vender uma obra de grande valor de PICASSO. Será que aquele preço corrente
das vendas habituais de quadros de pintores desconhecidos pode ser levado em conta
para a fixaçã o do preço da obra do picasso? Evidente que nã o, porque nã o há fungibilidade
entre aqueles bens anteriormente alienados e aquele bem agora objeto da compra e venda
sem preço. Entã o, essa fungibilidade também é requisito essencial à aplicaçã o do art. 488.
O enunciado deixa claro que nã o é em qualquer hipotese que será possivel a aplicaçã o do
pará grafo ú nico do art. 488, é preciso que tenhamos preços habitualmente praticados. O
professor acrescentaria ainda: além disso, é preciso que haja fungibilidade.
EM RELAÇÃO AO CONSENSO:
Art. 496: trata da chamada venda de ascendente para descendente a hipó tese é de
anulabilidade (o CC/16 nã o era tã o claro).
(lembrando que o art. 178 prevê o prazo de 04 anos para suscitar as causas gerais de
anulabilidade, quais sejam: incapacidade relativa e os defeitos do negó cio juridico)
O art. 179 prevê o prazo de 02 anos “a contar da conclusão do ato” o problema aqui é
que essa anulabilidade do art. 496 do CC prejudica terceiros estranhos ao contrato de
compra e venda, porque em tese essa anulabilidade causa prejuízo aos outros
descendentes e ao conjuge, que nã o integraram o negó cio jurídico. Entã o, em homenagem
à legítima expectativa desses terceiros que nã o fizeram parte do contrato, o enunciado 538
do CJF diz o seguinte:
O que o enunciado traz de novo é que em se tratando de negó cios imobiliá rios, o registro
gera presunçã o absoluta de conhecimento inclusive em relaçã o a terceiros, e aí o prazo de
02 anos flui a partir do registro.
Duas correntes:
1ª corrente: sim, com base no art. 226, § 3º da CF. Na medida em que a uniã o está vel é
espécie de família, tal qual o casamento, seria aplicá vel por analogia essa exigência de
consentimento também no caso de uniã o está vel.
Porque se o companheiro for herdeiro necessá rio nó s teremos argumentos plausíveis para
justificar a aplicaçã o por analogia do dispositivo, até porque como vimos a ratio do
dispositivo resulta do fato de que o conjuge é herdeiro necessá rio. Sobre o tema há
divergencia no direito sucessó rio, mas a grosso modo, nó s temos:
Isso fica claro se nó s percebermos que se um ascendente faz explicitamente uma doaçao
para um dos seus descendentes nã o se exige anuência dos demais descendentes e do
conjuge; no caso de doaçã o, aplicá vel o art. 544 do CC – logo, nesse caso, nã o se exige
anuência dos demais, porque a hipotese de doaçã o representaria adiantamento de
legítima.
Parágrafo único do art. 496: fala em “ambos os casos” – nã o é “ambos os casos” aqui,
houve uma falha aqui na redaçã o do CC atual. Porque na origem do projeto do CC o caput
previa anulabilidade nã o apenas de venda de ascendentes para descendente, mas também
anulabilidade de venda de descendente para ascendente. Na tramitaçã o do projeto, esta 2ª
hipó tese de anulabilidade foi retirada no texto legal e o paragrafo ú nico continuou com a
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redaçã o em “ambos os casos”. Na origem a redaçã o do caput contemplava dois casos, mas
depois da modificaçã o na tramitaçã o passou a contemplar apenas um casos, mas o
paragrafo ú nico foi erroneamente mantido como “ambos os casos”. Nesse sentido,
enunciado 177 do CJF.
Correlacionado a esse tema surge outra questão: se esse consentimento dos demais
descendentes e do conjuge é suprível judicialmente?
Lembrando que em sede de abuso do direito de propriedade tem uma regra específica – §
2º do art. 1228 – na parte final o legislador parece ter adotado a teoria dos atos emulativos
para abuso do direito de propriedade especificamente. A doutrina e jurisprudencia sã o
unâ nimes em repudiar a literalidade do § 2º do art. 1228 em nã o exigir a intençã o de
prejudicar outrem, mesmo para a configuraçã o do abuso do direito de propriedade em que
o CC aparentemente contemplou tal teoria.
Também vale a pena relacionar essa exigência de anuência do conjuge ao art. 1647,
I do CC. Quando é que essa exigencia de consentimento do conjuge do art. 496 vai ter
efetiva relevâ ncia diante do que já diz o art. 1647? Este dispositivo ganha maior relavancia
no caso de compra e venda de bens mó veis, porque em relaçã o à imó veis nó s já tinhamos o
art. 1647, I do CC.
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Essa classificaçã o ganha relevâ ncia quando a metragem real do imó vel nã o corresponder à
metragem prevista no contrato.
No caso de compra e venda AD MENSURAM se o imó vel na prá tica é menor do que a
metragem prevista no contrato, surge para o comprador a seguinte possibilidade:
Art. 500, § 1º: traz a presunçã o relativa de que se a divergencia de metragem nã o supera
1/20 a compra e venda seria AD CORPUS e nã o AD MENSURAM, ou seja, ela nã o é uma
diferença de metragem determinante, essencial à fixaçã o do preço. Portanto, nó s nã o
aplicaríamos essas possibilidades. Trata-se de presunçã o RELATIVA.
Diante do silêncio do CC/16 muitos diziam que nesse caso nã o seria aplicá vel a sistemá tica
da compra e venda ad mensuram, porque o erro do vendedor seria um erro inescusá vel;
caberia ao vendedor ter ciencia da metragem do seu imovel. Nã o poderia, entã o, o
vendedor ter nenhum tipo de postulaçã o em face do comprador caso ele vendesse o
imovel maior do que aquilo que o contrato contemplava.
Art. 500, § 2º: o alienante terá que provar que seu erro é um erro escusá vel. E aí nesse
caso vai surgir uma obrigaçã o alternetiva para o comprador, que acaba sendo beneficiado
nesse caso com imovel maior do que o previsto no contrato. O erro aqui foi do vendedor,
logo, na concentraçã o caberá ao comprador: ele vai escolher entre completar o valor
correspondente ao preço ou devolver o excesso – obrigaçã o alternativa, cuja concentraçã o
cabe ao comprador, na medida em que o equívoco partiu do vendedor.
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“devolver o excesso” – qual seria aqui a parcela a ser devolvida? O comprador tem
puro arbitrio para devolver qualquer parcela do imovel? Aqui parece justificá vel que essa
devoluçã o do excesso tenha que necessariamente ser proporcional ao preço – princípio da
boa-fé objetiva. Nã o pode o sujeito, por exemplo, devolver a pior parte da fazenda; e talvez
ele também nã o veja obrigado a devolver a melhor. Pela boa-fé objetiva e pelo equilíbrio
economico, parece aplicá vel por analogia o art. 244, parte final do CC, que vincula as
partes ao termo médio.
Por outro lado, imaginem que aquela parcela de terra adquirida pelo comprador
corresponda ao mó dulo urbano ou ao mó dulo rural mínimo, ou seja, nã o é possivel o
fracionamento daquele imovel. Nesse caso, ao professor parece que haverá concentraçã o
automá tica, porque a devoluçã o do excesso aqui representaria aqui a violaçã o do mó dulo
urbano mínimo ou do mó dulo rural mínimo e por essa concentraçao automá tica o
comprador terá que necessariamente completar o valor correspondente.
Art. 500, § 3º: compra e venda ad corpus nã o será aplicavel aqui nem a questã o da
complementaçã o da á rea nem a devoluçã o do excesso, porque neste caso a metragem nã o
foi determinante à fixaçã o do preço.
O prazo decadencial previsto para a propositura das ações está no art. 501: prazo de
01 ano a contar do registro. Exceçã o no paragrafo ú nico: “Parágrafo único. Se houver
atraso na imissão de posse no imóvel, atribuível ao alienante, a partir dela fluirá o prazo de
decadência.”
Art. 503 do CC: traz uma regra específica a respeito de vícios redibitó rios no contrato de
compra e venda. Se por ventura for alienado um aservo de uma biblioteca e houver defeito
oculto em um dos livros integrantes desse acervo, o defeito oculto neste livro nã o autoriza
a rejeiçã o de todo o aservo da biblioteca. Da mesma forma que se há a alienaçã o de um
fundo de empresa e há um defeito oculto de um dos integrantes do estoque desse fundo de
empresa, o vício oculto de um desses integrantes nã o autoriza a rejeiçã o de o fundo
empresarial. Esse artigo vem em consonância com o principio da conservação dos
atos e dos negócios juridicos.
O que se afirma é que essa regra do art. 503 é presunçã o relativa, ou seja, nada impede que
o comprador comprove por a + b que o defeito oculto de um item compromete a
destinaçã o do todo. Ex.: colecionador em série. RESP 991.317 – vem no sentido de se tratar
de presunçã o relativa.
1ª corrente: diz que nã o, porque o CC exige aqui que a coisa seja indivisível. Intepretaçã o
literal do dispositivo.
2ª corrente: ainda que o bem sobre o qual recaia o condominio seja divisível, o quota
ideal do condô mino alienante é por si só indivisível. Porque em se tratando de
condomínio, cada um dos condominos é cotitular do todo, ainda que o bem seja divisível.
Entã o, ainda que a coisa seja divisível, a cota ideal por si só é indivisível e o que estamos
abordando aqui é a compra e venda da cota ideal do condomino. Entã o, ainda que o
condominio recaia sobre bem divisível, a cota ideal do condomino por si só é indivisível.
Portanto, há direito de preferencia ainda que a coisa seja divisível, porque a cota ideal do
condomino por si só é indivisível. RESP 489.860.
Necessidade de interpretaçã o sistemá tica entre esse direito de preferencia do art. 504 do
CC com o art. 1420, § 2º do CC – trata dos direitos reais em garantia; e diz: “§ 2o A coisa
comum a dois ou mais proprietários não pode ser dada em garantia real, na sua totalidade,
sem o consentimento de todos; mas cada um pode individualmente dar em garantia real a
parte que tiver.” entã o, cada condomino pode aferer em garantia real a sua respectiva
cota ideal.
Entã o, vamos supor que um determinado condomino ofereça como garantia hipotecá ria a
sua cota ideal de um condominio que recai sobre um imovel. Ele se torna inadimplente e a
sua cota ideal vai a hasta pú blica para que com o produto da arremataçã o o credor
hipotecá ria venha a receber o seu direito de crédito. É possivel sim a hasta pú blica da cota
ideal, mas os demais condominos necessariamente precisam ser intimados da hasta
pú blica – é requisito de validade da hasta pú blica a intimaçã o dos demais condominos
para oportunizar aos demais condominos o direito de preferencia contemplado no art. 504
do CC.
Art. 484: trata da compra e venda por amostras, protótipos ou modelos. Esse artigo é
influenciado pelo princípio da boa-fé objetiva. Se a amostra é de laranja lima, nã o pode o
sujeito vender laranja pera; prevalece o que consta da amostra do protó tipo ou do modelo
– princípio da boa-fé objetiva e dever anexo de informaçã o e de cooperaçã o.
Esse artigo também se aplica por analogia no caso de fotografia. O bem a ser vendido é
exposto em fotografia e na verdade quando o bem é entregue se percebe que o bem nã o é
o mesmo, nã o tem as mesmas caracteristicas daquele objeto da fotografia. Aquilo que
constava da fotografia prevalece sobre aquilo que fora objetivo de efetiva entrega por
força da celebraçã o do contrato.
Será que seria, entã o, um contrato sujeito a condiçã o suspensiva? Nã o! A hipó tese nã o é de
condiçã o suspensiva. Até porque quando o legislador quis sujeitar a compra e venda a uma
condiçã o suspensiva, ele o fez explicitamente, como no caso do art. 509. O contrato aqui se
consuma desde logo e no caso de vício, de defeito, ele poderá vir a ser desconstituido, ele
produz efeitos imediatamente.
Art. 491: traz genericamente regra sobre ordem de pagamento. Essa regra nã o é
cogente, é supletiva da vontade das partes; podem as partes dispor diversamente. Regra
dispositiva!
Art. 492: manifestação da lógica RES PERITI DOMINO – a coisa perece para o dono. Em
tese, até a tradiçã o o bem pertence ao vendedor; e o preço pertence ao comprador.
§ 1º: se o bem já foi colocado a disposiçã o do comprador, res periti domino em face do
comprador, desde que o bem já tenha sido colocado a disposiçã o do comprador.
Art. 494: contempla aqui uma regra específica de tradição ficta longa manu – aqui o
bem é entregue a um terceiro de acordo com as ordens ou instruçõ es do adquirente.
Entã o, vamos supor que eu vá comprar um determinado bem mó vel (computador); prazo
de entrega daqui a 30 dias; só que daqui a 30 dias eu aqui nã o estarei, estarei viajando.
Entã o, eu recomendo o alienante a entregar o bem na casa do meu pai; na medida em que
o alienante entrega aquele bem na casa do meu pai é como se aquele bem tivesse sido
entregue diretamente a mim, o meu pai atua como um longa manu do efetivo comprador.
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Efeito prá tico disso: em se tratando de bem mó vel a entrega do bem ao terceiro, nesse
caso, gera imediata transferência da propriedade ao comprador; quer dizer, ainda que o
bem nã o tenha sido diretamente entregue ao comprador, no exato momento em que o
bem é entregue a um terceiro de acordo com as instruçõ es do comprador, há imediata
transferencia da propriedade ao comprador; e a partir daquele instante passa a ser
aplicá vel res periti domino, a coisa perece para o dono; entã o, se há perda sem culpa do
bem a partir do momento em que o bem é entregue a um terceiro, os riscos já correm
imediatamente por conta do comprador.
A gestao de negó cios se parece muito com o mandato, porque na gestao de negó cios o
gestor atua em favor de outrem, tal qual ocorre no mandato. A diferença é que no mandato
há previa outorga de poderes; na gestã o nã o! Na gestã o de negó cios alguém atua em nome
ou em favor de outrem sem que haja prévia outorga de poderes. O sujeito atua
unilateralmente em favor de outrem. No nosso exemplo, o vizinho em nenhum momento
recebeu poderes para interceder em meu favor. Ele unilateralmente se predispô s a
receber em meu nome e em meu benefício.
Em relaçã o à natureza juridica, a gestã o de negó cios no CC/16 era tratada no capítulo dos
contratos; a doutrina criticava muito isso, já que o contrato pressupoe acordo de vontades
e na gestã o de negó cios nã o há prévio acordo de vontade; entã o, o CC atual sensível a isso
retirou a gestã o do capítulo dos contratos e a gestã o agora inequivocadamente tem
natureza jurídica de ato unilateral.
Percebam, inclusive, que o vencimento antecipado da dívida é muito mais drá stico do que
a exceçã o de insegurança, porque pelo vencimento antecipado a parte poderá exigir do
outro contratante a prestaçã o antes da data acordada. Ex.: para o vencimento antecipado
da dívida o art. 333, I exige falência do devedor ou concurso de credores, ou seja, é preciso
que haja um prévio reconhecimento judicial da insolvência.
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Art. 490: trata das dispesas da compra e venda. Regra supletiva, dispositiva – princípio
da autonomia privada.
Art. 493: é exceção a regra geral do art. 327 do CC. A regra geral do art. 327 é de que no
silêncio do contrato as dívidas sã o quesíveis, ou seja, no silêncio do contrato o pagamento
se efetua no domicílio do devedor. E o art. 493 é regra especial! Pode ser que no momento
da venda o bem se encontrasse em lugar diverso do domicílio de ambas as partes e ainda
assim a presunçã o vem no sentido de que a entrega da coisa dar-se-á no local em que o
bem se encontrava no momento da celebraçã o do contrato. O art. 493 é presunçã o
relativa; logo, as partes podem dispor em contrá rio.
Art. 502: regra dispositiva; percebam que em que pese essa expressã o “todos” a mera
leitura do art. 1345 do CC deixa claro que na verdade essa expressao “todos” é
inadequada; o art. 1345 diz que o adquirente de unidade responde pelos débitos do
alienante em relaçã o ao condomínio, inclusive multas e juros morató rios – isso porque
débito condominial é obrigaçã o PROPTER REM. Entã o, nã o se aplica o art. 502 no caso de
obrigaçã o propter rem. Perante o credor, quem responde nã o é o vendedor nesse caso,
mas sim o atual proprietá rio, por se tratar de obrigaçã o propter rem.
É evidente que esse art. 502 nã o é oponível ao credor; no caso das obrigaçõ es propter rem,
por exemplo, quem vai responder perante o credor é o atual proprietá rio. Mas esse art.
502 pode funcionar como instrumento de direito de regresso – o atual proprietá rio paga o
credor e com base no art. 502 ele vai exercer o direito de regresso em face do antigo
proprietá rio por débitos condominiais pretéritos.
Vamos imaginar que o sujeito antes de comprar o imó vel tenha obtido uma certidã o
negativa do município e depois de emitir a certidã o negativa por débitos tributá rios o
município vem cobrar debitos tributá rios pretéritos que estariam abrangidos por essa
certidã o negativa. É possível obstaculizar a cobrança do município com base em venire
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contra factum proprium. Nã o pode o município que concedeu uma certidao negativa
cobrar débitos tributá rios que estariam abrangidos por essa certidã o negativa.
Caso o vendedor exerça o direito potestativo de recobrar a coisa, qual é a natureza juridica
da propriedade do comprador, no caso da retrovenda? O comprador tem propriedade
resolúvel – art. 1.359 do CC. Propriedade sujeita a uma condiçã o resolutiva, qual seja a
manifestaçã o de vontade do vendedor em recobrar a coisa. Ele pode manifestar ou nã o
essa vontade.
O art. 1359 deixa claro que quem tem propriedade resolú vel, transfere propriedade
resolú vel! Ou seja, como ninguém pode transferir mais direitos do que tem, aquele que
adquire a propriedade resolú vel se sujeita as consequencias da condiçã o resolutiva, tal
qual o proprietá rio originá rio.
O art. 507, parte final diz que esse direito de retrato pode ser exercido contra o terceiro
adquirente. Entã o, se por ventura um terceiro adquire a propriedade resolú vel do
comprador, esse terceiro adquirente se sujeita a mesma condiçã o resolutiva, qual seja o
direito de retrato do vendedor originá rio.
Na prova objetiva, nã o vamos brigar com o CC – o art. 505 deixa claro que a retrovenda se
aplica a bens IMÓ VEIS; entã o, a princípio, a retrovenda se restringe a compra e venda de
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bens imó veis. Só que o STJ admite a aplicaçã o de retrovenda para bens mó veis em
homenagem ao princípio da autonomia privada, especialmente no caso de compra e venda
de açõ es. RESP 856.826.
Caso o vendedor exerça o direito de retrato, o bem volta para o vendedor, mas é possível
que nesse lapso temporal, durante a propriedade resolú vel, o comprador tenha realizado
benfeitorias. A dú vida é: em que medida esssas benfeitorias realizadas pelo comprador
devem ser indenizadas pelo vendedor que efetivamente exerceu o direito de retrato?
Cuidado, pois a sistemá tica do art. 505 é diferente da sistemá tica do art. 1.219 do CC –
trata da questã o das benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé. Só que o possuidor
de boa-fé (art. 1201 do CC) é aquele que ignora, que desconhece o vício da sua posse.
Entã o, o possuidor de boa-fé, a grosso modo, é aquele que supõ e que o bem lhe pertence.
Entã o, o sujeito está realizando benfeitorias no bem na suposiçã o de que aquele bem lhe
pertence. O legislador aqui foi mais protetivo no caso do art. 1219 – diz que o possuidor de
boa-fé tem direito a indenizaçã o pelas benfeitorias necessá rias e ú teis, com direito de
retençã o; podendo aindsa levantar as benfeitorias voluptuá rias que nã o lhes forem
indenizadas, desde que nã o haja prejuizo a substancia do bem.
Aqui no caso do art. 505 o comprador sabe que tem propriedade resolú vel e que naquele
prazo má ximo de 03 anos (que pode ser encurtado por acordo de vontades) ele tem uma
potencial obrigaçã o de restituir; potencial, pois se subordina à manifestaçã o de vontade do
vendedor. Mas ele tem a convicçã o de que aquela propriedade por ele exercida é uma
propriedade temporá ria, instá vel, que pode ceder diante da vontade do vendedor. Entã o,
nesse caso, o legislador diz que o comprador só vai ser ressarcido das benfeitorias
necessá rias. Em relaçã o à s ú teis e voluptuá rias ele só será indenizado se houver
autorizaçã o escrita do vendedor.
Logo, a sistemá tica do art. 505 é diferente do art. 1219 do CC. O art. 505 se parece muito
com o art. 35 da lei de locaçõ es, até porque no caso da locaçã o, o locatá rio sabe que tem
obrigaçã o de restituir, de maneira similar ao que ocorre na sistemá tica do art. 505 do CC.
OBS.: Vamos supor que haja um contrato de mú tuo. Para garantir o cumprimento do
contrato de mú tuo, o mutuá rio transfere a propriedade de um determinado bem em favor
do mutuante. E nessa compra e venda, há uma retrovenda. Por essa retrovenda, o
mutuá rio pode exercer o direito potestativo de retomar o bem do mutuante, mas
subordinada a quitaçã o do mú tuo. Percebam que no caso de inadimplemento do mú tuo, a
propriedade vai se consolidar em face do mutuante. O STJ já repudiou essa possibilidade,
quer dizer, nã o pode haver compra e venda do mutuá rio para o mutuante com pacto de
retrovenda subordinado a quitaçã o do mú tuo, uma vez que o art. 1428 do CC prevê a
chamada nulidade da cláusula comissória – entã o, mesmo o credor com garantia real no
caso de inadimplemento do devedor nã o pode ficar com o objeito da garantia real; ele tem
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que alienar o objeto judicialmente para que com o produto da alienaçã o ele receba o seu
direito de crédito.
Esse é um exemplo típico de negó cio fiduciá rio – as partes se utilizam de um tipo negocial
de efeitos mais amplos, mais abragentes do que o tipo usualmente adotado para atingir
determinado fim. A grosso modo, é o que acontece com a alienaçao fiduciá ria em garantia;
o devedor fiduciante transfere a propriedade ao credor fiduciá rio, mas percebam que o
ú nico objetivo da transferencia de propriedade aqui é a garantia! Por isso, inclusive, a
propriedade fiduciá ria é uma propriedade desprovida das faculdades juridicas inerentes
domínio. O proprietá rio fiduciá rio nã o tem uso, nã o tem gozo nem disposiçã o da coisa,
porque essa propriedade tem por objetivo a mera garantia.
Só que neste caso trata-se de negó cio fiduciá rio nulo, a hipotese seria de simulaçã o,
porque o objetivo primordial seria violar o art. 1428 do CC que prevê a nulidade da
clá usula comissó ria.
RESP 508.878.
AULA 02
2) VENDA A CONTENTO E VENDA SUJEITA A PROVA (art. 509 a 512)
O art. 509 trata da venda a contento e o art. 510 trata da venda sujeita à prova.
Art. 509 deixa claro que na venda feita a contento ainda que a coisa tenha sido
entregue ao comprador a venda é realizada sob condiçã o suspensiva, só se considerando
perfeita a partir do momento em que o comprador manifestar o seu agrado.
Em ambos os casos a venda é feita sob condiçã o suspensiva. Só que no art. 509 o legislador
exige à eficacia da compra e venda que o adquirente manifeste o seu agrado. Já no art. 510
o legislador fala em: “que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja
idonea para o fim a que se destina”. Há maior discricionariedade para o comprador na
hiptoese de venda a contento, porque na venda a contento é preciso que o comprador
manifeste o seu agrado. Entã o, é possivel que o bem tenha as qualidades asseguradas pelo
vendedor; é possivel que a experiencia do comprador tenha sido favorá vel, mas ainda
assim a concretizaçã o, a eficá cia da compra e venda carece da manifestaçã o de agrado do
comprador. Entã o, pode ter tido experiencia favorá vel e ainda assim nã o manifestar o seu
agrado – maior discricionariedade.
O art. 509 ao tratar da venda a contento subordina a eficá cia da compra e venda a
manifestaçã o de agrado do comprador. Estamos aqui diante de uma condição
suspensiva (manifestação de agrado). Será que essa condição suspensiva não seria
meramente potestativa?
Isso porque o art. 122, parte final do CC proibe condiçoes meramente potestativas – “ou se
sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes” – entã o, nã o pode a condiçã o sujeitar o
negó cio jurídico ao puro arbítrio de uma das partes. Mas essa manifestaçao de agrado do
comprador nã o seria uma condiçã o meramente potestativa na medida em que ela
sujeitaria a eficá cia do negó cio ao puro arbítrio do comprador?
1ª corrente: Há quem sustente que esse art. 509, como contempla uma condiçã o
meramente potestativa, seria uma exceçã o ao art. 122, parte final do CC. Em que pese se
tratar de condiçã o meramente potestativa, o legislador neste caso estaria
excepcionalmente admitindo tal modalidade de condiçã o.
2ª corrente: Essa manifestaçã o de agrado do art. 509 nã o estaria sujeita ao pura arbítrio
do comprador. Ela confere sim maior discricionariedade ao comprador, mas isso nã o pode
se confundir com arbitrariedade. Essa manifestação de agravo à luz da boa-fé objetiva
pode ser expressa ou tácita.
Ex. manifestaçã o tá cita de agrado: o comprador poderia ter consumido parte, mas ele
acaba consumindo a integralidade da coisa. Se ele consume a integralidade do bem quando
só poderia ter consumido parte do bem, nó s temos uma manifestaçã o tácita de agrado. Ele
nã o poderia aqui consumir a integralidade e depois dizer “nã o gostei” sob pena de venire
contra factum proprium.
Ex.: o sujeito poderia ter pago parte da prestaçã o e acaba pagando a integralidade. Nã o
pode o comprador nesse caso efetuar o pagamento integral, quando poderia ter feito o
pagamento parcial, e depois nã o manifestar o seu agrado, sob pena de venire.
Logo, essa condiçao não seria arbitrária, não seria meramente potestativa. Não
teriamos aqui uma exceção propriamente dita ao art. 122, parte final do CC.
O art. 511 deixa claro que tanto na venda a contento como na venda sujeita a prova
há uma condição suspensiva (manifestaçã o de agrado e atendimento dos requisitos
objetivos do art. 510, respectivamente). Diz que as obrigaçõ es do comprador na pendencia
da condiçã o suspensiva sã o as de mero comodatá rio. Entã o, enquanto pendente a condiçã o
suspensiva, o comprador assume obrigaçõ es equiparadas a de comodatá rio.
Qual seria uma vantagem para o comprador por ser ele equiparado a posição de
comodatário?
A aplicaçã o da ló gica RES PERITI DOMINO – a coisa perece para o dono; os riscos da perda
do bem sem dolo ou culpa sã o suportados pelo dono. Se o comprador assume a posiçao de
mero comodatá rio, os riscos por perda ou deterioraçã o sem culpa do bem, ainda que a
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coisa já tenha sido entregue ao comprador, correm por conta do vendedor. Isso porque na
pendencia da condiçã o suspensiva, o vendedor ainda é o dono.
O depositá rio presumidamente nã o faz jus ao uso do bem – art. 640 do CC – aqui a
presunçã o relativa é de que o depositá rio nã o pode usar o bem. E essa perspectiva do art.
640 nã o é compatível com o instituto em questã o, na medida em que é da essencia da
compra e venda feita a contento e da compra e venda sujeita à prova, que o comprador
possa utilizar-se do bem, até para que ele possa manifestar o seu agrado ou até que possa
ser atestada a observancia das qualidades asseguradas pelo vendedor.
Além disso, nó s veremos que no contrato de deposito o depositante pode reaver o bem em
face do desitá rio mesmo antes do termino do contrato – é direito potestativo do
depositante. Essa ló gica também seria incompatível com a venda a contento e a venda
sujeita a prova.
Por essas razõ es o legislador optou por equiparador a figura do comprador à de mero
comodatá rio e nã o a de depositá rio.
O CC no art. 111 traz regras gerais sobre o silencio. E em aplicando o art. 111 do CC, a
consequencia do silencio acaba sendo a mesma no CC – o silencio importa em anuência.
O CC diz que tanto na venda a contento quanto na venda sujeita à prova o negócio
juridico se subordina a uma condição suspensiva. Podem as partes pactuarem que
ao inves de condição suspensiva seja aqui aplicável uma condição resolutiva?
A luz dessa perspectiva o negó cio jurídico seria eficaz desde logo, mas poderia o
comprador, manifestando o seu desagrado, extinguir os efeitos daquele negó cio, porque a
manifestaçã o de desagrado seria uma condiçã o resolutiva.
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1ª corrente: defende que sim – princípio da autonomia privada. Os art. 509 a 511 quando
falam em condiçã o suspensiva, nã o trazem norma cogente e sim dispositiva – nã o há
questã o de ordem pú blica envolvida.
2ª corrente: defende que nã o – isso porque uma interpretaçã o evolutiva: o CC/16 era
explícito quanto a essa possibilidade. O CC/16 dizia explicitamente que essa condiçã o
poderia ser suspensiva ou resolutiva a critério das partes. O CC atual suprimiu essa
possibilidade de escolha! Já define que a hipotese é de condiçã o suspensiva. Além disso, o
art. 509 na parte final diz “e nã o se reputará perfeita” sugerindo cogencia.
Essas hipoteses sã o direito de preferencia por força de lei. O que nó s estamos tratando
aqui é de um direito de preferencia que nã o resulta de determinaçã o legal, mas sim de
eventual acordo de vontades em contrato de compra e venda.
Não há dúvida de que a preferência pode ser pactuada em compra e venda de bens
móveis ou imóveis. A lei não restringe. Diversamente do que ocorre na retrovenda!
Na retrovenda, o art. 505 faz alusã o a possibilidade de retrovenda apenas no caso de bens
imó veis. Já no art. 513 o legislador nã o restringe!
O pará grafo ú nico traz o prazo má ximo para o exercício do direito de preferência:
O art. 514 deixa claro que o vendedor não é obrigado a esperar a notificação do
comprador quando ele presentir que o comprador está na iminencia de vender os
seus bens.
O legislador deixa claro no art. 513 que o direito de preferencia se aplica no caso de venda
ou daçã o em pagamento por parte do comprador. Se a hipó tese for de doaçã o nã o há
incidencia de direito de preferência, até porque a doaçao por ser um negó cio jurídico
gratuito evidencia que nesta caso o comprador busca na realidade beneficiar determinada
pessoa com a doaçã o e nã o faria sentido que houvesse direito de preferencia em favor do
vendedor para receber o bem a título gratuito.
É possível que haja simulaçã o. Vamos imaginar que haja uma compra e venda com esse
pacto adjeto de preferencia. O comprador quer vendero bem para um terceiro, mas na
realidade o comprador simula com este terceiro uma doaçao que busca esconder a compra
e venda. E o objetivo dessa doaçã o seria fraudar o direito de preferência do vendedor. É
evidente que nesse caso haverá nulidade absoluta do negó cio jurídico, aplicando-se o art.
167 do CC.
O art. 515 traz uma sanção para hipótese em que o vendedor anuncia que irá
exercer o direito de preferencia, mas no momento adequado não o exerce
efetivamente.
Percebam que o CC quer dizer que se por ventura o vendedor perde o negó cio com o
terceiro comprador diante da falácia do 1º vendedor, que anuncia que irá exercer a
preferencia, mas na verdade nã o o faz, aquele vendedor perde o direito de preferencia nã o
apenas para aquele negó cio jurídico, mas daí para frente. Nesse caso, cai o direito de
preferencia ajustado.
Art. 516 o CC aqui preve os prazos limite para o exercício do direito de preferência
apó s a notificaçao do vendedor. Entã o, uma vez notificado o vendedor ele tem:
A premissa o art. 516 é que haja notificaçã o ao vendedor. Essa é a diferença do art. 516
para o pará grafo ú nico do art. 513 – preve o prazo limite para o exercicio do direito de
preferencia, independentemente de notificaçã o. Já o art. 516 estabelece o limite temporal
má ximo, pó s notificaçã o do vendedor.
O legislador deixa claro que o vendedor que for preterido no seu direito de preferencia
nã o vai poder reaver o bem em face do terceiro.
A sistemá tica do art. 518 é diferente da sistemá tica do art. 504 do CC – que deixa claro que
o condomino preterido no seu direito de preferencia pode reaver o bem em face do
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terceiro. O direito de preferencia do condomino no art. 504 tem eficácia real, ate porque o
condomino é titular de direito real. Já na preferencia o legislador optou pelo efeito
obrigacional, até por se tratar de uma relaçã o puramente obrigacional – contrato de
compra e venda.
A parte final diz que caso haja má-fé do terceiro adquirente haverá regime de
solidariedade passiva nas perdas e danos. Ainda que haja má -fé do terceiro adquirente
que sabe do direito de preferencia, ainda assim o vendedor NÃ O pode reaver o bem do
terceiro.
Ponto de contato: o direito de preferencia do locatá rio, em regra, também produz efeitos
apenas interpartes – art. 33 da lei de locaçõ es. Só que o legislador lá excepciona na
hipotese em que o contrato de locaçã o foi previamente averbado junto ao registro. Se o
contrato de locaçã o foi averbado junto ao registro, com antecedencia de 30 dias em
relaçã o a compra e venda, o legislador preve que nesse caso o locatá rio preterido pode
reaver o bem do terceiro, sugerindo aí uma eficá cia real do contrato de locaçã o – passa a
ser um contrato com eficá cia real.
O CC também deixa claro que o direito de preferencia é pelo preço atual da coisa e nã o o
preço histó rico com correçao monetá ria.
No caso da venda com reserva de domínio o comprador, ainda que tenha adquirido a
posse do bem, só adquire o propriedade a partir da quitaçã o, do pagamento integral do
preço.
Isso gera repercussã o no computo do prazo para propositura das açoes edilícias, no caso
de vício redibitó rio – art. 445, caput, parte final do CC – é a partir da entrega efetiva que o
comprador tem meios de perceber o vício; só que a parte final do dispositivo vem e diz “se
já estava na posse o prazo conta-se da alienaçã o reduzido à metade”. Se já estava na posse
– ENTENDA-SE TRADIÇÃ O FICTA BREVI MANU – como nesse caso o comprador já tinha
meios de perceber o vício, o prazo conta-se da alienaçao reduzido à metade: o prazo que é
de 30 dias para moveis, cai para 15 dias; o prazo que é de 01 ano para imó vel, cai para 06
meses.
O art 522 deixa claro que a compra e venda com reserva de domínio é negócio
jurídico formal. O art. 522 exige forma escrita. Além disso, para ser oponível em face de
terceiros, o CC exige o registro no domicilio do comprador. A princípio, é registro no
cartorio de titulos e documentos em se tratando de bens mó veis; com um cuidado em
relaçã o à automoveis: aplicá vel por analogia a sú mula 92 do STJ – ou seja, tem que ser
registrada no CRV.
Art. 523 exige que o bem objeto da compra e venda com reserva de domínio seja
um bem individualizável. O CC exige que o bem seja suscetível de caracterizaçã o
perfeita, o CC nã o exige a infungibilidade. O bem pode ser fungível, mas desde que
suscetível de caracterizaçao perfeita. Desde que ele seja individualizá vel para que
possamos distinguí-los de outros bens.
O legislador exige isso, porque o CPC (art. 1070 e 1071) preve o cabimento da busca e
apreensã o do bem, caso haja inadimplemento por parte do comprador.
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A parte final do art. 523 vem em homenagem à tutela da legítima expectativa de terceiros
de boa-fé. Entã o, se porventura o comprador se torna inadimplente, mas o comprador
transferiu supostamente o bem em favor de terceiro e a busca e apreensã o por parte do
vendedor vítima do inadimplemento recaia sobre um bem do terceiro e haja dú vida se
aquele bem era efetivamente um bem que já pertencia ao terceiro ou se aquele bem era ou
nã o objeto da compra e venda com reserva de domínio, o legislador diz que na dú vida se
decide em favor do terceiro adquirente de boa-fé. Na duvida se afasta a busca e apreensã o
desse bem e a questao se resolve em perdas e danos.
Art. 524, parte final é uma exceção à regra RES PERITI DOMINO – se o bem só passa
a ser do comprador com a quitaçã o do preço, antes da quitaçã o pelo comprador o dono é o
vendedor; e pela regra geral, quem suportaria os riscos por perda ou deterioraçã o sem
culpa até a quitaçã o do preço seria o vendedor. Só que o art. 524, parte final traz uma
exceçã o a isso. O comprador que ainda não é dono responde e suporta os riscos por
perda ou deterioração sem culpa, antes mesmo da quitação e da aquisição da
propriedade.
Esses riscos do art. 524 envolvem os riscos de perda física do bem, mas não de
perda jurídica. Perda jurídica nos remete ao instituto da evicçã o. A evicçã o está nos art.
447 a 457 do CC. Caso emblemá tico de evicçã o é no caso de alienaçã o a non domino.
Art. 525 vem em consonâ ncia com o art. 1071 do CPC – aqui fica evidente que a mora é
ex persona, ainda que haja data certa. A mora só se constitui apó s o protesto do título ou
interpelaçã o judicial. Vale remissã o para o art. 397, caput do CC – o art. 525 é exceçã o ao
art. 397, caput do CC. Pelo art. 397, caput quando há data certa, a mora é ex re – se
constitui automaticamente.
Qual é a razã o de ser disso? Uma vez constituída a mora, vem o art. 526 e diz: essa
recuperaçã o da posse se dá através do manejo da busca e apreensã o disciplinada no art.
1070 e 1071 do CPC. Entao, as consequencias aqui da mora sã o extremamente drá sticas,
seja pela responsabilidade das prestaçõ es nã o apenas vencidas, mas também as vincendas,
e principalmente pelo cabimento da busca e apreensã o. Entã o, como contrapeso à
drasticidade das consequencias da mora, o legislador traz esse mecanismo de proteçã o
aqui em favor do comprador – mora ex persona.
Pelo art. 526 o vendedor pode optar pela cobrança ou pela busca e apreensão. É
possível sustentar aqui que o adimplemento substancial pelo comprador afasta o
cabimento da busca e apreensã o. O STJ vem assim decidindo no caso de leasing. RESP
1.051.270. Aplicaçã o por analogia aqui!
Art. 527 vem em harmonia com a vedaçã o ao enriquecimento sem causa. Remissã o
para os art. 884 a 886 do CC.
Art. 528 prevê uma hipótese de pagamento com sub-rogação. Vamos supor aqui
que o vendedor consiga receber a integralidade de uma vez só de uma instituiçã o
financeira. Entã o, ao inves de aguardar o pagamento fracionado pelo comprador, ele
consegue receber a integralidade do valor pela instituiçã o financeira.
Percebam que a instituiçao financeira acaba efetuando o pagamento por terceiro, porque
na verdade a instituiçã o financeira paga uma dívida que era do comprador. E aí nesse caso
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a instituiçã o financeira que efetua o pagamento vai se sub-rogar nos direitos do vendedor
que recebe o montante que lhe era devido. Remissã o para o art. 349 do CC.
O art. 528 nã o trata do assunto. Só que nó s temos varios autores defendendo que esta
garantia, qual seja, a propriedade, nã o é objeto de sub-rogaçao. Ou seja, a instituiçã o
financeira nã o passa a ser a proprietá ria do bem mó vel, porque nesse caso nó s teríamos
um desvirtuamento instituto; nó s deixaríamos de ter a compra e venda com reserva de
domínio e passaríamos a ter alienaçã o fiduciá ria em garantia – o devedor de um contrato
de mú tuo transfere a propriedade a uma instituiçã o financeira com o objetivo de garantia.
CHAVES defende que nesse caso a propriedade permanece com o vendedor, ela nã o passa
à instituiçã o financeira.
Efeito prá tico disso: o bem objeto da compra e venda com reserva de domínio serve como
instrumento de garantia por dívidas do comprador? Nã o, porque enquanto nã o quita o
preço o bem pertence ao vendedor. Mas será que ele responde por dívidas do vendedor?
Também nã o! Isso porque em que pese aquele bem ser de titularidade do vendedor, na
realidade aquela propriedade serve como instrumento de mera garantia.
Isso também acontece na alienaçã o fiduciá ria em garantia. O bem objeto da alienaçã o
fiduciá ria nã o responde por dívidas do devedor fiduciante, porque o bem pertence ao
credor fiduciá rio; mas também nã o responde por dívidas do credor fiduciá rio, porque o
objeto da propriedade fiduciá ria busca mera garantia. Se aquele bem respondesse por
dívidas do credor fiduciá rio haveria burla à garantia abrangida pela alienaçã o fiduciá ria.
A entrega de documentos ao invés da coisa vem em consonâ ncia com o dinamismo das
relaçõ es jurídicas contemporâ neas.
Vejam que isso atrairia riscos incalculá veis ao comprador. Por isso, a venda sobre
documentos está quase sempre associada a um contrato de seguro, que venha a cobrir os
riscos suportados pelo comprador. E a questã o do seguro vem, inclusive, prevista no art.
531 do CC. Nesse caso, os riscos correm por conta do comprador na medida em que o
seguro lhe oferece tal proteçã o. É claro que se o seguro é parcial (nã o cobre a totalidade da
mercadoria) os riscos para o comprador também sã o parciais. Os riscos sã o suportados na
exata proporçã o do seguro realizado.
O que transfere a propriedade aqui não é o contrato de doação. O que vai transferir
a propriedade será a tradição ou o registro, em regra. Pelo contrato de doação o
doador apenas se obriga a transferir.
Ao contrá rio da doaçã o, a redaçã o da compra e venda – art. 481 – vem em harmonia com o
sistema obrigacional. Ao contrá rio do art. 538 – doaçã o – que vai contra o sistema
obrigacional.
Só que a expressã o “transfere” deixa claro que é da essência da doação que haja
mutação patrimonial. É preciso que o bem saia do patrimônio do doador e passe ao
patrimônio do donatário.
Percebam que nem toda a liberalidade abrange essa mutaçã o patrimonial. Existem
liberalidades que nã o configuram doaçã o, porque é premissa à doaçã o que haja mutaçã o
patrimonial – ex.: remissã o de dívida – a remissã o de dívida é um ato de liberalidade, mas
nã o há mutaçã o, transferência patrimonial; nã o se confunde com doaçã o. Da mesma forma,
a renú ncia – também nã o se confunde com doaçã o, porque na renú ncia nã o há mutaçã o
patrimonial, nã o há transferência patrimonial.
Com a aceitaçã o expressa ou tácita da herança, os bens objeto do acervo hereditá rio
passam a incorporar definitivamente o patrimô nio do herdeiro; e apó s essa incorporaçã o,
se ele “renuncia”, aí sim nó s passamos a ter mutaçã o patrimonial – o bem vai sair do
patrimonio daquele herdeiro em favor de outro herdeiro envolvido no inventá rio. Nesse
caso, nó s temos a renú ncia translativa que tem natureza jurídica de doaçã o e o efeito
prá tico é a incidência do ITD intervivos. Nesse caso, além do ITD mortis causa, fruto da
sucessã o mortis causa, nó s também teremos a incidência do ITD intervivos, por força da
doaçã o.
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É gratuito.
OBS.: Muito se discutia se a doação com encargo era gratuita ou onerosa. E a maioria
da doutrina dizia que a doaçã o com encargo era gratuita, porque o encargo nã o tem
natureza de contraprestaçã o – o encargo é elemento acidental do negó cio jurídico. Por
esta razã o, a doaçã o seria um contrato gratuito, ainda que a doaçã o estivesse sujeita a
encargo.
Só que o CC atual parece nã o tem adotado essa posiçã o – o art. 441, pará grafo ú nico fala
em doaçã o onerosa. E o art. 562 da mesma forma! Entã o, pela letra fria do CC a doaçã o
com encargo seria uma exceçã o – seria um contrato oneroso – o que nã o é objeto de
concordancia absoluta da doutrina. Boa parte da doutrina diverge do CC.
Além disso, a doação é, em regra, contrato formal, solene – art. 541, caput do CC – “a
doaçã o far-se-á por escritura pú blica ou instrumento particular”. Ou seja, a doaçao far-se-á
por escrito. O legislador exige, em regra, forma escrita.
Só que o pará grafo ú nico traz uma EXCEÇÃO: “A doação verbal será válida, se, versando
sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.” se a doação
envolver bem móvel e de pequeno valor, a doação passa a ser contrato não solene,
porque admite-se forma verbal. Mas, em contrapartida, a doação que passa a ser
não solene, passa a ser contrato real, porque o legislador passa a exigir a entrega do
bem para formação da doação nesse caso.
(Cuidado para nã o confundir: uma primeira classificaçã o dos contratos diz que os
contratos podem ser consensuais ou reais. Os contratos reais sã o aqueles que só se
consumam com a entrega da coisa. Os contratos consensuais se consumam
independentemente da entrega da coisa; eles se consumam com o acordo de vontades. Só
que os contratos consensuais podem ser solenes ou nã o solenes, formais ou nã o formais.
Eles vao ser solenes quando o acordo de vontades necessariamente obedecer uma forma
exigida por lei; se o legislador exige forma escrita, isso já basta para que o contrato seja
tido como solene; mas se o legislador admite a forma verbal, ele passa a ser um contrato
nã o solene, um contrato nã o formal. Entã o, vejam que sã o duas classificaçõ es diferentes!
Nada impede que um contrato seja solene e real ou nã o solene e real. Contrato real nã o se
confunde com contrato solene. Atençã o, pois os contratos reais representam uma exceçã o
no direito brasileiro contemporâ neo)
Percebam que a definição aqui de “pequeno valor” deve ser interpretada à luz da
capacidade contributiva/econômica do doador. RESP 155.240.
O art. 539 do CC diz que no caso de doação pura o silêncio do donatário implica em
concordância – aceitação presumida. Por se tratar de liberalidade o legislador flexibiliza
bastante o rigor em relaçã o à s formas de aceitaçã o pelo donatá rio.
Além disso, o art. 546 prevê uma hipó tese de aceitaçã o tá cita do donatá rio – no caso da
chamada DOAÇÃO PROPTER NUPTIAS (em favor dos nubentes) – o casamente
superveniente gera aceitaçã o tá cita dos donatá rios.
O legislador prevê ainda aceitaçã o ficta na hipó tese do art. 543. O donatá rio pode ser
absolutamente incapaz no caso de doaçã o pura. Exceçã o à regra geral das incapacidades.
Nada impede a aceitaçã o tácita da doaçã o – é o donatá rio que passa a utilizar o bem – ele
nã o diz que aceita, mas ele passa a utilizar-se do bem.
Art. 543 – doaçã o pura em favor de absolutamente incapaz: nesse caso, dispensa-se a
aceitaçã o. Nã o se exige nem sequer anuência do representante legal do absolutamente
incapaz.
O CC também prevê doaçã o a entidade futura no art. 554. Pode o doador querer estimular
a criaçã o de uma PJ e com isso ele faz essa doaçã o em favor dessa entidade futura só que
esta doaçã o pressupõ e para sua efetividade que haja a constituiçã o da pessoa jurídica e o
prazo má ximo é de 02 anos.
O donatá rio prestou aqui algum tipo de serviço ao doador, só que em que pese a prestaçã o
desse serviço, o donatá rio nã o é credor do doador por esses serviços prestados. Ex.: um
amigo advogado presta serviço ao outro gratuitamente. O amigo que foi contemplado com
a prestaçã o gratuita dos serviços advocatícios, se sente tã o satisfeito com os serviços
prestados que pretende remunerar o seu amigo. Nesse caso, temos uma doaçã o
remunerató ria.
Nã o chega a ser uma obrigaçã o natural, porque a prestaçao nã o é sequer devida, mas há
uma razã o de ordem moral que inspira a doaçao remunerató ria. Mas nã o se confunde com
a obrigaçã o natural (em que há o débito, mas nã o há a responsabilidade). Na doaçã o
remunerató ria nã o há sequer o débito.
O art. 540 diz que a doaçao remuneratória não perde o caráter de liberalidade.
serviços prestados, nó s teríamos onerosidade; mas naquilo que acresce ao valor dos
serviços prestados nó s teríamos liberalidade. A junçã o da prestaçã o de serviços com a
doaçã o gera a doaçã o remunerató ria. Os dois tipos se fundem num só . Entã o, a doaçã o
remunerató ria resultaria da junçã o entre a prestaçã o de serviços + doaçã o.
Com isso, TEPEDINO destaca que é preciso interpretar com cautela algumas disposiçõ es
do CC a respeito de doaçã o remunerató ria. Ex.: o art. 552 do CC diz que o doador nã o é
obrigado a pagar juros morató rios e nem se sujeita à s consequencias da evicçã o ou do
vício redibitó rio. Para a doaçã o remunerató ria, o doador só nã o responde por juros, vício
redibitó rio e evicçã o em relaçã o à quilo que ultrapassa o valor dos serviços prestados. Até
o limite do valor dos serviços prestados nã o se aplica o art. 552, em que pese a doaçã o
remunerató ria englobar tanto a prestaçã o de serviços quanto a doaçã o.
Por outro lado, o art. 564, I do CC diz que nã o se revogam por ingratidã o as doaçõ es
puramente remunerató rias. TEPEDINO diz que esse art. só se aplica à parte que vai até
valor dos serviços prestados, porque até o valor dos serviços prestados houve na verdade
uma contrapartida do donatá rio. Mas pelo valor que ultrapassa os serviços prestados cabe
sim a revogaçã o por ingratidã o, porque aquilo que ultrapassa o valor dos serviços
prestados constitui verdadeira liberalidade.
Essa regra seria ou nã o aplicá vel a uniã o está vel? Vide aula passada – interpretaçã o do art.
496 do CC. Mesma discussã o.
Presunçã o relativa! O doador nã o é obrigado a dispor de maneira paritá ria dos seus bens
em favor de cada um dos seus herdeiros. O que o CC prevê no direito sucessó rio é a
intangibilidade da legítima, ou seja, o testador só pode dispor de até 50% do seu
patrimonio. Mas ele nã o é obrigado a contemplar os herdeiros em cará ter paritá rio, pois
ele tem uma parcela disponível.
Entã o, dentro da parcela disponível pode o doador manejar os seus bens da maneira que
melhor lhe aprouver. Logo, afirmar que a doaçao importa adiantamento de legítima é
presunçã o relativa, porque impede que o doador esteja contemplando um dos seus
descedentes de maneira mais favorá vel, desde que respeitada a intangibilidade da
legítima.
Em sendo a doaçã o adiantamento de legítima, aqueles bens objeto da doaçã o terã o que ser
trazidos à colaçã o; e a colaçã o é sistematizada nos art. 2002 a 2012 do CC.
Vamos supor que o doador tenha feito a doaçã o para um dos seus descendentes. E que
essa doaçã o seja um adiantamento de legítima. Vamos supor que haja perda sem culpa
daquele bem doado parte do donatá rio. Será que mesmo diante da perda sem culpa o
donatá rio terá que trazer à colaçao o equivalente daquele bem perdido? Será que a perda
sem culpa mantem a obrigaçã o do donatá rio em trazer à colaçã o o equivalente pecuniá rio
do bem perdido?
O CC brasileiro nã o trouxe a mesma soluçã o. Ao contrá rio, o CC no art. 2010 diz o que nã o
deve ser trazido à colaçã o e nã o ressalvou essa hipoteses. Logo, o donatá rio terá que trazer
o equivalente do bem perdido sem culpa à colaçã o – res periti domino. Na medida em que
obem foi entregue ao donatá rio, o bem passou a ser de titularidade daquele donatá rio
contemplado e os riscos por perda ou deterioraçã o sem culpa correm por conta do
donatá rio.
Remissã o para o art. 2011 c/c 540 do CC – como na doaçã o remunerató ria houve algum
tipo de serviço prestado pelo descendente em favor do ascendente, o legislador dispensa
aqui a colaçã o, em homenagem à vedaçã o ao enriquecimento sem causa. Entã o, a
32
O CC traz a presunçã o relativa de que a morte do doador a extingue. E por outro lado, traz
a presunçã o absoluta de que a morte do donatá rio extingue o contrato.
Com a clá usula de reversã o (que nã o se presume), se o donatá rio morrer antes do doador,
os bens voltam para o doador. Entã o, no caso de pré-falecimento do donatá rio em relaçã o
ao doador, os bens voltam ao doador, desde que haja clá usula de reversã o.
Vale a remissã o desse art. 547 para o art. 1359 do CC – nó s estamos aqui diante de uma
condiçã o resolutiva, qual seja o pré-falecimento do donatá rio em relaçã o ao doador –
evento futuro e incerto. Ou seja, nesse caso, a propriedade do donatá rio é resolú vel e aí
nó s passamos a aplicar o art. 1359 do CC – deixa claro que quem tem propriedade
resolú vel, transfere propriedade resolú vel. Até porque ninguém pode transferir mais
direitos do que tem. Percebam que, nesse caso, o terceiro que adquire o bem do donatá rio
vai se submeter à mesma condiçã o resolutiva. Ou seja, se o donatá rio morrer antes do
doador, o terceiro adquirente perde a propriedade em favor do doador, porque ele
adquire propriedade resolú vel nos mesmos moldes do donatá rio.
Atenção: só se aplica o art. 1359 se a condiçã o resolutiva tiver averbada no registro para
que terceiros saibam que estã o adquirindo propriedade resolú vel. Entã o, é preciso que
clausula de reversã o esteja averbada junto ao registro.
falecimento do donatá rio. E o art. 130 deixa claro que o titular do direito eventual, nesse
caso, pode adotar medidas conservativas do seu direito.
AULA 03
6) DOAÇÃO UNIVERSAL (art. 548)
A hipotese aqui é de nulidae absoluta. Na verdade, o dispositivo, hoje, deve ser
interpretado a luz da tutela da dignidade da pessoa humana, porque é premissa à nulidade
da doaçã o nesse caso que o sujeito disponho de todos os bens sem manter consigo meios
para sua propria subsistencia.
Nesse contexto, parece nítido que na hipotese em que o sujeito doa todos os seus bens com
reserva de usufruto, nesse caso, nã o há nulidade do art. 548 do CC. Ex.: sucessã o em vida –
os pais doam todos os bens aos respectivos filhos com reserva de usufruto. Nesse caso, nã o
há nulidade do art. 548 do CC, porque através do usufruto o doador o doador vai manter
consigo as faculdades juridicas de natureza economica que lhe permitirã o a tutela da sua
propria subsistencia; permanecerã o com as faculdades juridicas de uso e goza, mantendo,
portanto, mecanismos de subsistencia, em que pese ter doado todos os seus bens.
(Isso se faz até mesmo como forma de planejamento tributá rio; há uma legislaçã o estadual
que prevê que nesse caso ao inves de pagar 4% quando do falecimento a titulo de ITD, se
paga 2% a título de imposto no momento da doaçã o + 2% remanescentes com a baixa do
usufruto quando do falecimento do doador; nesse caso, também nã o há necessidade de
inventá rio).
Hipótese em que o sujeito doa todos os seus bens, mas mecanismos de subsistencia
através de remuneração –salário, subsídio ou aposentadoria, por exemplo – nesse
caso, temos duas correntes:
1ª corrente (CUNHA GONÇALVES): entende que é possivel a doaçã o nesse caso afinal de
contas a remuneraçã o do doador mantém com ele mecanismos de subsistencia.
2ª corrente (SILVIO CAPANEMA): nesse caso, é possivel que haja insegurança juridica e
fatica quanto à manutençã o da sua propria subsistencia. E aí nesse caso seria nula a
doaçã o.
Há quem defenda que seria possível a hipotese de doação em que o sujeito dispõe de
todos os seus bens com encargo ao donatário de prover a subsistência do doador
34
(doação modal, com encargo). Nesse caso, o doador poderia dispor de todos os seus
bens em favor do donatá rio. Até porque caso o donatá rio descumpra a sua obrigaçã o de
prover a subsistencia do doador caberia a revogaçã o da doaçã o por inexecuçã o do encargo
(SILVIO CAPANEMA).
Muitos autores defendem que na hipotese do art. 548 é possível falar em nulidade
parcial. Isso nã o está previsto no dispositivo. A nulidade parcial permitiria a reduçã o da
liberalidade até o limite necessá rio a preservaçã o da subsistência do doador. Entã o, ao
inves da doaçã o se desconstituir por completo, a nulidade absoluta atingiria apenas parte
da disposiçã o patrimonial, de molde a preservar a subsistencia do doador. Isso decorreria
da aplicaçã o por analogia dos art. 184 e 549 do CC – ambos os artigos contemplam a
possibilidade de invalidade parcial (princípio da conservaçã o dos atos e dos negó cios
jurídicos). Nesse sentido, CHAVES, PABLO STOLZE.
O art. 549 do CC traz uma modificaçã o relevante em relaçã o a disciplina do tema que era
abordada no art. 1.014, paragrafo ú nico do CPC. Antes do CC/02, o art. 1.014, paragrafo
ú nico do CPC dizia que o momento adequado para aferir o atingimento ou nã o da legítima,
no caso da doaçã o, seria a abertura da sucessã o. O CC atual inova em relaçã o ao tema (foi
abolido o art. 1.014, paragrafo ú nico do CPC) e o CC agora diz “no momento da
liberalidade” e nã o mais no momento da abertura da sucessã o. Entã o, o que importa aqui é
verificar se houver ou nã o atingimento da legítima no momento da liberalidade.
A ratio aqui foi a segurança juridica, porque a questã o ganha relevâ ncia na hipó tese de
oscilaçã o patrimonial. Pode ser que um determinado sujeito rico faça uma determinada
doaçã o na data de hoje, aquela doaçã o tem pouca expressã o economica dentro do contexto
patrimonial do doador, nã o atinge a legítima dos herdeiros necessá rios e ao longo da vida,
30 anos depois, o sujeito falece empobrecido, por circunstancia absolutamente alheias à
doaçã o. Pode ser que aquele montante no momento da doaçã o que era desprezível, no
momento da abertura da sucessã o corresponda a mais da metade do patrimonio do
doador. Vejam que essa oscilaçã o patrimonial ao longo de 30 anos poderia permitir a
desconstituiçã o da doaçã o realizada anos atrá s. Logo, haveria abalo à segurança jurídica e
a legítima expectativa do donatá rio e de terceiros adquirentes de boa-fé. O STJ já
enfrentou a questão – Informativo 512.
Nós temos aqui, na verdade, uma hipótese de nulidade parcial, aqui sim
explicitamente prevista, porque o CC diz que é nula a doaçã o apenas na prte que exceder a
parcela disponível. Remissã o ao art. 2.007 do CC.
herdeiros necessá rios discutir a nulidade dessa doaçã o que ultrapasse a parcela disponível
do doador, enquanto vivo o doador, porque estariam discutindo herança de pessoa viva.
STJ, RESP 1.361.983 – INFORMATIVO 539 O STJ nesse julgado afirmou que no caso de
cessã o de herança o cedente permanece legitimado à provocar a nulidade da doaçã o
inoficiosa. O STJ diz que nesse caso o cedente nã o cede a qualidade de herdeiro, mas
apenas as suas prerrogativas patrimoniais oriundas da herança e como ele mantém
consigo a qualidade de herdeiro, ele permanece legitimado a suscitar a nulidade do art.
549 do CC.
Vamos imaginar que no curso da sociedade conjugal o conjuge atraído tome ciencia da
doaçã o feita pelo outro conjuge à amante. Em que pese a ciencia da doaçã o feita para a
amante, o conjuge inocente perdoa o outro e o casamento subsiste. E por um fato
superveniente, diferente da doaçã o mencionada, eles venham a se separar. Será que nesse
caso, ainda assim, é aplicá vel o art. 550? Poderá o conjuge inocente provocar a
anulabilidade até dois anos depois de solvida a sociedade conjuge, considerando o perdã o
anterior? A tendencia da doutrina é no sentido de que nã o! Haveria aqui venire contra
factum proprium – boa-fé objetiva.
Nesse caso da doaçã o do conjuge para a amante haveria anulabilidade no caso de doaçã o
remunerató ria? (Lembrando que doaçã o remunerató ria está no art. 540 do CC e o
entendimento predominante é no sentido de que a doaçã o remunerató ria ocorre em favor
de alguém que lhe presta um determinado serviço em relaçã o ao qual nã o há pretensã o
exigível) Logo, será que o art. 550 se aplica ainda no caso de doaçã o remunerató ria?
Duas correntes:
36
1ª corrente: entende que sim, há anulabilidade de qualquer forma. Isso porque o art. 540
diz que a doaçã o remunerató ria nã o perde o cará ter de liberalidade. E o art. 550 nã o
restringe.
OBS.: DOAÇÃO CONJUNTIVA está no art. 551 do CC. Se há uma doaçã o em favor de A e
B sem que o doador explicite a parcela cabível a cada um deles, presume o legislador aqui
50% para A e 50% para B – presunçã o relativa (princípio da autonomia privada).
O parágrafo único do art. 551 diz que em regra o direito de acrescer não se
presume. Só se presume o direito de acrescer se os donatá rios forem marido e mulher; o
direito de acrescer seria o seguinte: doaçã o feita para A e para B; no caso de falecimento
do A, aquela parcela do A viria automaticamente em favor do B e nisso consiste o direito
de acrescer. E o CC explicitamente diz que só se aplica o direito de acrescer se A e B forem
marido e mulher. Nas demais hipoteses o direito de acrescer nã o se presume. Remissã o
para o art. 1411 do CC – também traz a ideia de que o direito de acrescer nã o se presume
no caso de usufruto.
Essa regra pode ser ou nã o aplicada na hipotese de uniao está vel? No caso de uniã o está vel
o direito de acrescer se presume ou nã o?
Art. 552 diz que o doador não é obrigado a pagar juros moratórios nem é sujeito
as consequencias da evicção ou do vício redibitório. Ou seja, como a doaçã o é um ato
de liberalidade, o doador nã o responde por juros morató rios nem se sujeita à s
consequencias da evicçã o e do vício redibitó rio.
Essa 1ª parte do art. 552, de acordo com boa parte da doutrina, só se aplica à s doaçõ es
genuinamente gratuitas. Nã o se aplicam ao que alguns chamam de doaçõ es onerosas.
Basta remissã o ao art. 441, paragrafo ú nico – esse dispositivo está no contexto da
sistemá tica dos vícios redibitó rios. Então, em se tratando de doações onerosas (doação
remuneratória e doação com encargo), o doador responde por juros moratórios e
também pela evicção e pelos vícios redibitórios. (em relaçã o aos juros morató rios e a
evicçã o é possivel invocar o paragrafo ú nico do art. 441 por analogia).
Parte final do pu do art. 552 – Doaçã o propter nuptias está no art. 546 do CC – doaçã o feita
em contemplaçã o de determinado casamento.
Ingratidão do donatário
Inexecução do encargo
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O art. 556 merece interpretaçã o estritiva, literal. Veda a renuncia antecipada do direito
de revogar a doação por ingratidão do donatário. A contrá rio senso, é lícita a renú ncia
antecipada ao direito de revogar a doaçã o por inexecuçã o do encargo.
Em que consiste a ingratidã o do donatá rio? O art. 557 traz hipó teses de ingratidã o.
Atentado contra a vida do doador, ofensa física, atingimento da honra (também se aplica
no caso de difamaçã o apesar da omissã o do inciso III) e recusa de alimentos em favor do
doador.
1ª corrente: rol taxativo, até porque a norma é restritiva de direitos, logo, comporta
interpretaçã o literal, estritiva. Além disso, segurança jurídica
2ª corrente: Enunciado 33/CJF – isso porque o CC/16 dizia “só se pode revogar por
ingratidã o nas seguintes hipó teses”. O CC atual nã o mais! Logo, em comparaçã o da redaçã o
do CC/16 com a redaçã o do CC atual se sustenta que o rol passou a ser exemplificativo.
Nó s vimos que o art. 549 do CC diz que o momento para se aferir a nulidade da doaçã o é o
momento da liberalidade e nã o mais o momento da abertura da sucessã o. Vamos imaginar
que o sujeito tenha 500 em patrimô nio e tenha um herdeiro necessá rio. Ele doa 250 –
respeitou o art. 549 do CC. Um mês depois ele tem 250 e doa 125 – respeitou o art. 549.
Dois meses depois ele tem 125 e doa 60 – também respeitou o art. 549. Ele faz, assim,
sucessivas doaçõ es até o aniquilamento total do seu patrimonio, em que pese ter herdeiros
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necessá rios, e na verdade numa interpretaçã o literal todas essas sucessivas doaçõ es
respeitaram o art. 549, porque no momento das respectivas doaçõ es o sujeito só teria
disposto de até metade do seu patrimonio. Nesses casos, em que há uma mera aparência
de licitude, é possível aplicar o instituto da fraude à lei – art. 166, VI do CC.
O art. 558 traz uma novidade em relaçã o ao CC velho, porque no CC/16 só haveria
revogaçã o por ingratidã o do donatá rio nas hipoteses em que o donatá rio atentava
diretamente contra a vida do doador. O art. 558 modificou essa regra – pode ocorrer a
revogação quando o ofendido for também o conjuge, ascendente, descendente ou
irmão do doador – isso por si só já caracteriza a ingratidão do donatário. É pacífico
que a regra aqui também se estende à hipótese de união estável (ao companheiro do
doador).
O art. 559 traz o prazo decadencial de 01 ano para a revogação da doação por
ingratidão do donatário, a contar de quando chegue ao conhecimento do doador o
fato que a autorizar (a partir do conhecimento da materialidade da ingratidã o e também
da autoria).
A maioria da doutrina defende a aplicaçã o por analogia do art. 559 do CC, porque nó s
estaríamos falando aqui de um direito potestativo de desconstituir o negó cio jurídico. e em
se tratando de direito potestativo o prazo aqui teria natureza decadencial e como o art.
559 contempla situaçã o parecida, seria aplicá vel o prazo de 01 ano por analogia.
O STJ, em sua ú ltima manifestaçã o sobre o tema, decidiu em sentido contrá rio. O STJ disse
que a demanda em que se pretende a revogaçã o da doaçã o por inexecuçã o do encargo é
condenató ria e em sendo a pretensã o condenató ria o prazo tem natureza prescricional e
nã o decadencial e na ausencia de regra específica contemplando o prazo prescricional, nó s
aplicaríamos o prazo ordiná rio de 10 anos do art. 205 do CC. RESP 472.733. RESP 231.945.
O art. 560 prevê o caráter personalíssimo do direito de revogar a doação. E o cará ter
personalíssimo reciprocamente falando, quer dizer, só o doador pode exigir a revogaçã o
da doaçã o e o doador só pode exigir a revogaçã o da doaçã o em face do donatá rio. O que o
art. 560 prevê é a possibilidade de sucessão processual.
O CC contempla uma exceçã o obvia que o CC/16 nã o previa: art. 561 – caso de homicídio
doloso do doador – é evidente que se o doador foi morto pelo donatá rio nã o há como ele
pleitear a revogaçã o da doaçã o. E aí nesse caso se aplica o art. 561 do CC.
Críticas em relaçã o ao art. 560 do CC: o doador tem o prazo de 01 ano para provocar a
revogaçã o da doaçã o por ingratidã o, prazo esse que flui a partir da ciencia do doador
quanto à materialidade e autoria da ingratidã o. Vamos supor que o doador venha a falecer
um mês depois de tomar ciencia da ingratidã o. Vejam que em se tratando de cará ter
personalíssimo, haveria como que um perdã o tácito, porque se o doador falece um mês
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depois, muito antes do final do transcurso do prazo, ninguém mais pode exigir a revogaçã o
da doaçã o.
Art. 558 – hoje, se o donatá rio pratica atos de ingratidã o contra conjuge, companheiro,
ascendente, descendente ou irmã o do doador, também cabível a revogaçã o. E aí percebam
que se por ventura o doador já tiver falecido o donatá rio parece estar livre para praticar
atos de ingratidã o contra essas pessoas proximas do doador falecido, tendo em vista que
essas pessoas nã o tem legitimidade para suscitar a revogaçã o da doaçã o por ingratidã o.
Aqui houve falha legislativa!
PROVA PARA O MP – art. 553, caput e paragrafo único o donatá rio tem que cumprir
o encargo sob pena de revogaçã o da doaçã o. O pará grafo ú nico diz que se o encargo for de
interesse geral o MP poderá exigir a sua execuçã o depois da morte do doador, se este nã o
tiver o feito. O MP nã o tem, porém, legitimidade para exigir revogaçã o da doaçã o, já que
esta é personalíssima. Então, não confundir a legitimidade do MP para exigir o
cumprimento do encargo nesse caso com a possibilidade de revogar a doação, que
não exite nesse caso.
A entendimento amplamente dominante vem no sentido contrá rio: em que pese o art. 562
falar em mora, nã o se exige a culpa do donatá rio na inexecuçã o do encargo para a
possibilidade de se revogar a doaçã o.
Numa prova dissertativa, é possível sustentar que o legislador alterou o paragrafo ú nico
do art. 397 e se esqueceu de alterar o art. 562 do CC, porque o paragrafo ú nico do art. 397
permite a constituiçã o da mora ex persona por interpelaçã o judicial ou extrajudicial, vindo
em consonancia com a tendencia de desjudicializaçã o de procedimentos.
O art. 563 merece remissã o para o art. 1360 do CC – trata da chamada propriedade
revogá vel – a propriedade se extingue por uma causa superveniente. Ex.: doador transfere
algum bem para o donatá rio. O donatá rio transfere aquele bem a um terceiro de boa-fé e
posteriormente a essa transferencia o doador revoga a doaçã o feita ao donatá rio em
virtude de sua ingratidã o. Percebam que a causa extintiva da propriedade foi uma causa
posterior a aquisiçã o da propriedade pelo terceiro de boa-fé. Entã o, nesse caso, parece
ló gico e razoá vel que como a causa extintiva da propriedade é superveniente, ela nã o
atinge terceiros de boa-fé. Ou seja, a revogaçã o por ingratidã o do donatá rio produz efeitos
ex nunc. Aquele terceiro que adquiriu o bem do donatá rio nã o pode ser surpreendido e vir
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“nem obriga o donatário a restituir os frutos percebidos antes da citação válida” direito
reais: diferença do possuidor de boa-fé para o possuidor de má-fé. O possuidor de boa-fé é
aquele que ignora o vício. E aí há uma discussã o nos direitos reais: a partir de que
momento ocorre a transmudaçã o da posse de boa-fe para má-fé? Quando for poassível
detectar o exato momento em que o possuidor toma ciencia do vício, esse será o momento
da transmudaçã o. Mas na prá tica, dificilmente será possivel demonstrar o exato momento
em que o possuidor toma ciência do vício; trata-se de elemento subjetivo. Entã o, para
esses casos, a doutrina criou um standard nos direitos reais: seria a partir da citaçã o. É
preciso que haja a propositura da açã o por um terceiro que conteste a posse, que haja
transito em julgado favorá vel ao terceiro, mas esse transito em julgado retroage à data da
citaçã o; entã o, a partir da citaçã o, subordinada ao transita em julgado favorá vel ao
terceiro, ocorre a transmudaçã o da posse de boa para má-fé.
Entã o, até a citaçã o vá lida o donatá rio é considerado possuidor de boa-fé e por isso ele nã o
é obrigado a restituir os frutos percebidos. Remissã o ao art. 1214, caput do CC.
2ª corrente (TEPEDINO): para ele seria aplicá vel nã o o art. 563 por analogia e sim o art.
1359 do CC que trata da propriedade resolú vel estrito senso. Porque na hipotese do art.
1359 na propriedade resolú vel estrito senso a propriedade é temporá ria em virtude de
uma causa pré-existente a sua aquisiçã o. O sujeito adquire um bem já sujeito a condiçã o
resolutiva ou termo final. Logo, na verdade, a implemento dessa condiçã o resolutiva ou
termo final num momento futuro vai produzir efeitos ex tunc, atingindo inclusive terceiros
adquirentes.
Ex.: doaçã o com clá usula de reversã o – art. 547 do CC – o doador transfere os bens aos
donatá rio com clá usula de reversã o, ou seja, se o donatá rio morrer antes do doador, os
bens voltam para o doador. E aí a dú vida é se esse donatá rio que recebe o bem com
clá usula de reversã o tem faculdade de disposiçã o sobre aquele bem em favor de um
terceiro – o art. 1359 diz que sim! Só que tem propriedade resolú vel transfere
propriedade resolú vel. Entã o, nos termos do art. 1359 o donatá rio pode transferir o bem
para um terceiro, mas se donatá rio falecer antes do doador, o terceiro perde os bens em
favor do doador. Ninguém pode transferir mais direitos do que tem.
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Nesse sentido, o encargo seria uma causa pré-existente, porque quando o donatá rio recebe
o bem a título de liberalidade o encargo já gravava aquela liberalidade. E quando o terceiro
recebe o bem do donatá rio aquele encargo já incidia anteriormente sobre a coisa e por ser
causa pré-existente o encargo aplicá vel o art. 1359 do CC. O que a doutrina afirma quanto
ao art. 1359 é que a condiçã o resolutiva ou termo seja averbado ao registro para que o
terceiro tenha ciencia da condiçã o, do termo ou do encargo.
Art. 564 traz hipóteses em que não se admite a revogação da doação por
ingratidão:
1) Comodato
2) Mútuo
COMODATO MÚTUO
3.1. COMODATO
O art. 579 diz que o comodato “perfaz-se com a tradição do objeto” – o comodato é
contrato real.
Exceção: nã o se aplica a regra geral na hipó tese em que o serviço para o qual o bem foi
emprestado ainda nã o tenha sido executado. Ex.: o sujeito empresta gratuitamente um
trator para um vizinho para que ele venha a arar suas terras; é razó avel que o sujeito
gastasse em torno de 02 semanas para efetuar o serviço. Só que um dia depois da entrega
dos tratores, o vizinho vem a falecer. Quer dizer, nã o houve tempo suficiente para a
execuçã o do serviço para o qual o trator foi emprestado. É justificá vel que nesse caso o
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O art. 581 prevê tanto a hipótese do comodato por prazo indeterminado quanto a
hipótese do comodato por prazo determinado. Naquele exemplo do trator, se nã o há
prazo previsto para o término do comodato, qual é o prazo presumido aqui pelo
legislador? O prazo necessá rio para que o vizinho venha a arar as terras. Se o prazo
razoá vel for de 02 semanas para arar as terras, ultrapassado o prazo de 02 semanas, é
possível que o comodante venha a constituir o comodatá rio em mora.
Se o comodato tiver prazo determinado a mora vai ser ex re; se o comodato nã o tiver prazo
determinado e for ultrapassado o prazo razoá vel para a execuçã o do serviço, mora será ex
persona – terá como pressuposto a notificaçã o judicial ou extrajudicial (art. 397, pará grafo
ú nico). O comodante nã o pode, em regra, requerer a extinçã o antecipada do contrato,
salvo necessaridade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz. Percebem que essa
necessidade imprevista e urgente se exige para as duas hipó teses, tanto para prazo
determinado quanto para prazo indeterminado. E ela é uma necessidade imprevista e
urgente oriunda de uma clausula superveniente à celebraçã o do contrato.
Entã o, vamos supor que o comodante que tenha emprestado gratuitamente um imó vel
venha a ser despejado do imó vel em que ele reside. O despejo do comodante pode gerar
uma necessidade de que o comodante retome o imó vel emprestado gratuitamente para
que ele venha a residir naquele imó vel. Entã o, é possível que haja uma necessidade
imprevista e urgente que venha a impelir o comodante a retomar o bem antes do tempo.
Processualmente, será que pode o comodante exigir a retomada antecipada do bem com
base no art. 581 através de uma açã o possessó ria típica? Reintegraçã o de posse, por
exemplo?
Vale aqui destacar que o comodatá rio pode fazer eventualmente jus a indenizaçã o por
benfeitorias realizadas. E aí nó s aplicaríamos lá a sistemá tica dos direitos reais. Alguns,
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Art. 582 do CC SILVIO VENOSA afirma que o comodatá rio nã o faz jus a percepçã o dos
frutos, salvo acordo em contrá rio. A presunçã o relativa é de que comodatá rio nã o pode
perceber os frutos. Ao professor parece que essa afirmativa colide com a redaçã o dos
artigos 581 e 584 do CC – ambos os dispositivos falam em uso e gozo do comodatá rio. E o
gozo pressupõ e a percepçã o dos frutos.
Parte final: constituída a mora do comodatá rio (ex re ou ex persona), o comodatá rio vai
responder pelo chamado “ALUGUEL PENA” que for arbritrado pelo comodante. O aluguel
pena nã o desnatura o comodato para contrato de locaçã o. Permanece a natureza jurídica
de comodato.
Esse aluguel pena pode ser fixado pelo comodante por uma sifra exagerada? Em
valores estratosféricos? Será que o comodante tem liberdade absoluta, plena para
fixar o valor do aluguel pena?
1ª corrente (clássica – CAIO MÁRIO): entendia que sim, o comodante tinha plena
liberdade para fixar o aluguel pena já que o objetivo da regra é sançã o.
Argumentos: princípio da boa-fé objetiva – art. 422 do CC; vedaçã o ao enriquecimento sem
causa – art. 884 a 886 do CC; aplicaçã o por analogia do art. 413 do CC, que prevê a reduçã o
da clá usula penal se excessiva; aplicaçã o por analogia do art. 575, pará grafo ú nico, que
prevê aluguel pena no caso de locaçã o.
Art. 584 “jamais poderá recobrar” – a doutrina aqui ameniza o rigor do art. 584 do CC.
De acordo com a doutrina, o art. 584 quando fala em despejas se refere apenas à s despesas
ordiná rias. O comodatá rio nã o pode recobrar do comodante as despesas ordiná rias feitas
com a coisa. ex.: gasolina e revisã o perió dica do automó vel emprestado; alimentaçã o de
um animal emprestado gratuitamente.
Quanto as despesas extraordiná rias e urgente, inaplicá vel o art. 584 do CC. Estas poderã o
ser cobradas do comodante.
Muitos autores – CAIO MARIO, SILVIO VENOSA, ORLANDO GOMES – defendem que por
essas despesas extraordiná rias e urgentes o comodatá rio pode invocar por analogia o
direito de retençã o do art. 1219 do CC. Há quem defenda que nã o – CARVALHO SANTOS –
já que direito de retençã o nã o se presume.
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Art. 583 é uma exceçã o à regra geral do art. 393, 1ª parte – pela regra geral, o devedor
nã o responde por caso fortuito ou força maior; o art. 583 traz uma exceçã o a essa regra: se
o sujeito empresta gratuitamente um determinado bem mó vel para o comodatá rio e há um
incendio no imó vel do comodatá rio e esteja lá o bem mó vel emprestado e outros de
titularidade do comodatá rio, ainda que esse incendio resulte de caso fortuito ou força
maior, se o comodatá rio primeiro salvar os seus bens em detrimento do objeto que lhe
fora emprestado gratuitamente, no caso de danos a esse objeto emprestado gratuitamente
o comodatá rio responderá pelo perecimento, ainda que por caso fortuito ou força maior. É
uma hipó tese típica de responsabilidade civil objetiva.
Mas percebam, por outro lado, que a solidariedade passiva prevista no CDC, que busca
proteger o consumidor, é matéria de ordem pú blica; logo, a solidariedade passiva prevista
no CDC nã o é afastá vel pela vontade das partes.
Logo, o art. 585 traz presunção relativa – as partes podem dispor em contrário.
Nó s vimos no art. 582, parte final do CC a questã o do aluguel pena. Vimos que se o
comodatá rio for constituído em mora na obrigaçã o de restituir o comodante pode fixar o
aluguel pena, que nã o poderá ser fixado em valores exagerados.
Aplicando-se isso aqui, comodatá rio diria que ele tem que reparar o aluguel pena previsto
em lei, mas por outro lado o comodante tinha as açõ es possessó rias a sua disposiçã o e esse
retardamento injustificado no manejo das açõ es possessó rias de molde a permitir que o
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comodante possa exigir o aluguel pena por dois anos daria azo à aplicaçã o do instituto do
DUTY TO MITIGATE THE LOSS – por esse argumento o comodatá rio buscaria restringir a
exigibilidade plena do aluguel pena por todo o lapso temporal de 02 anos. Haveria uma
inercia injustificada do comodante em nã o ter manejado a açã o possessó ria e com isso
seria aplicá vel o enunciado 169 do CJF de molde restringir a incidencia do aluguel pena.
AULA 04
3.2. MÚTUO
No mú tuo nó s temos um empréstimo de consumo. O mutuá rio vai consumir o bem que lhe
fora entregue, se comprometendo a restituir outro de mesmas quantidade, qualidade e
espécie. Diante disso, diz o art. 586, que o mú tuo é o empréstimo de coisas fungíveis. Na
medida em que o mutuá rio consume o bem e se compromete a entregar outro de mesma
quantidade, qualidade e espécie é da essência do mú tuo que ele recaia sobre bens
fungíveis e consumíveis. Por essa razã o, a princípio, nã o se admite mú tuo envolvendo bens
imó veis, na medida em que eles sã o qualificados como bens infungíveis.
Nó s vimos que para a maioria da doutrina o mú tuo é contrato real. Só se perfaz com a
tradiçã o; a entrega do bem faz parte da constituiçã o do contrato de mú tuo. Mas há uma
tese minoritá ria defendendo que o mú tuo feneratício (oneroso) nã o seria contrato real.
Logo, o mú tuo gratuito é incontroversamente contrato real, porém em relaçã o ao mú tuo
feneratício/oneroso há uma sutil controvérsia.
Isso nã o é unanime! Para quem entende que o mú tuo feneratício é contrato consensual, ele
será oneroso e bilateral, porque mesmo antes da efetiva entrega do dinheiro já há relaçã o
contratual a partir do acordo de vontades. Se nó s compreendermos que o contrato já se
forma a partir do acordo de vontades o mutuante assume a obrigaçã o contratual de dar o
bem fungível ao mutuá rio.
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Como o mutuá rio vai consumir o bem e entregar ao mutuante outro de mesma quantidade,
qualidade ou espécie, nó s já vimos que o mú tuo transfere a propriedade – art. 587 do CC. E
na medida em que mú tuo transfere a propriedade aplicá vel a ló gica do RES PERITI
DOMINO – os riscos por perda ou deterioraçã o sem culpa do bem correm por conta do
mutuá rio.
Nã o há nenhuma dú vida de que o mú tuo transfere a propriedade – art. 587 do CC. Mas, na
realidade, em que pese o mú tuo transferir a propriedade, o mú tuo nã o é um contrato de
alienaçã o tal qual a compra e venda e a doaçã o, porque no mú tuo a transferencia da
propriedade é um simple meio para o atingimento da sua finalidade, qual seja, propiciar ao
mutuá rio o consumo do bem. Entã o, na verdade, a transferencia da propriedade é apenas
um meio de atingimento da real finalidade do mú tuo.
O comodante não precisa ser proprietário, o mutuante sim! Isso porque o mú tuo
transfere a propriedade e se o mutuante nã o for o dono nó s teríamos uma alienaçã o a non
domino.
Os art. 588 e 589 tratam da sistemática do mútuo feito a pessoa menor. É possível
notar que o mú tuo feito em favor de pessoa menor pode ser nulo ou anulá vel conforme o
caso. Haverá nulidade absoluta no caso de mutuá rio absolutamente incapaz e haverá
anulabilidade ou nulidade relativa no caso de mutuá rio relativamente incapaz.
Art. 588 remissã o ao art. 180 do CC – pode mitigar a aplicaçã o do art. 588 do CC – o art.
180 trata da hipotese do garoto entre 16 e 18 anos que dolosamente oculta sua propria
idade quando inquerido pela outra parte. Dentro das premissas do art. 180, afasta-se a
incidencia do art. 588 – entã o, se o mutuá rio dolosamente oculta sua propria idade, em
que pese inquirido pela outra parte, afasta-se o art. 588 e o contrato de mú tuo produz
efeitos regulares.
Em relaçã o à parte final do art. 588: o bem infungível “não pode ser reavido nem do
mutuário, nem de seus fiadores” – remissã o para o art. 824, pará grafo ú nico.
O art. 824, caput diz que as obrigaçõ es nulas nã o sã o suscetíveis de fiança, exceto se a
nulidade resultar apenas de incapacidade pessoal do devedor. Entã o, se a hipó tese da
nulidade decorrer a incapacidade do devedor, o fiador responde. Essa seria a regra geral a
respeito do contrato de fiança.
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Só que o paragrafo ú nico diz que a “exceção estabelecida nesse artigo não abrange o caso de
mútuo feito a menor” – logo, no caso de mú tuo feito a menor o mutuante nã o poderá reaver
o montante nã o apenas do mutuá rio como também nã o poderá reaver em face do fiador.
O art. 589 traz hipóteses em que o art. 588 não se aplica, ou seja, traz hipóteses em
que o objeto do mútuo pode ser reavido pelo mutuante por outro de mesma
quantidade, qualidade e espécie. Sã o hipoteses em que mú tuo irá produzir efeitos em
que pese feito a pessoa menor.
III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a
execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças; pressupõe
que não tenha havido a emancipação do art. 5º, parágrafo único, V –
então, se da relação de emprego o menor, a partir dos 16 anos, tem
economia propria, dar-se-á a emancipação e se houver a
emancipação, evidentemente que nós não aplicaremos os art. 588 e
589, porque esses artigos pressupõe empréstimos feitos em favor
de incapaz.
Vejam que de maneira similar temos o art. 477 do CC. A exceçã o de insegurança do art.
477 (teoria geral dos contratos) pressupõ e que tenhamos prestaçõ es sucessivas, ou seja,
pressupõ e que A tenha que pagar no dia 05 e o B tenha que pagar no dia 20. E aí qual é a
premissa fá tica do art. 477? Aquele a quem incumbe pagar primeiro (A) percebe que o
outro contratante B, a quem incumbe pagar no dia 20, suporta dificuldade patrimonial
superveniente; apó s o contrato surge uma situaçã o economica desfavorá vel ao B. E a
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O A postula nã o pagar no dia 05, na medida em que o B, que deverá pagar no dia 20, está
em situaçã o patrimonial difícil e por conta disso eu pretendo pagar ou quando o B efetuar
o pagamento no dia ou apó s oferecimento de garantia pelo B em relaçã o ao seu futuro
adimplemento.
O art. 590 é uma projeçã o do art. 477, mas há uma diferença marcante aqui: no art. 590 o
mutuante já cumpriu a sua prestaçã o (entregar o bem fungível ao mutuá rio); e, em se
entendendo que o mú tuo é contrato real, quando o art. 590 diz “o mutuante pode exigir a
garantia da restituição” isso já pressupõ e que o mutuante tenha entregue o dinheiro ao
mutuá rio, porque em se tratando de contrato real o contrato de mú tuo só se perfaz a
partir da tradiçã o, da entrega da coisa. No art. 477, por sua vez, o excipiente (A) ainda nã o
cumpriu a sua prestaçã o, ele vai postular a suspensã o da exigibilidade da sua propria
prestaçã o. Aqui no caso do art. 590, o excipiente/mutuante nã o vai requerer a suspensã o
da exigibilidade da sua propria prestaçã o, porque na verdade ele já cumpriu a sua
prestaçã o, ele já se despendeu do capital, na medida em que o mú tuo é contrato real. O que
ele vai postular é apenas uma garantia de cumprimento da prestaçã o pelo mutuá rio.
SILVIO RODRIGUES (posição isolada) defende que o art. 590 só se aplica ao mú tuo
gratuito, porque em relaçã o ao mú tuo feneratício, mú tuo com juros, os juros
compensató rios já abrangem o risco de inadimplemento. Um dos fundamentos para a
incidencia dos juros compensató rios é o risco do inadimplemento. Logo, haveria aqui um
bis in idem – dupla proteçã o indevida em favor do mutuante. Posição isolada! A doutrina
majoritária afirma que o art. 590 se aplica tanto ao mútuo gratuito quanto ao mútuo
oneroso.
Quando esse artigo diz “destinando-se o mútuo a fins economicos presumem-se devidos
juros” – esses juros entenda-se como juros remunerató rios ou compensató rios.
Evidentemente que nã o se refere aqui aos juros de mora.
“os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406,
permitida a capitalização anual.” os juros compensató rios do mú tuo nã o poderã o
exceder a taxa a que se refere o art. 406 – trata do percentual dos juros morató rios. O CC
aqui trata dos juros remunerató rios, porém se utilizou como limite do valor desses juros
remunerató rios no mú tuo do percentual dos juros morató rios do art. 406. Mas isso nã o
quer dizer que os juros do art. 406 sã o juros morató rios! Só que o teto dos juros
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remunerató rios no mú tuo feneratício se submete ao art. 406 que disciplina juros
morató rios.
1ª corrente: defendendo a aplicaçã o da taxa SELIC, porque seria a taxa em vigor para a
mora no pagamento de impostos devidos a fazenda nacional;
Mas será que esse limite se aplica às instituições financeiras? É evidente que na
prá tica já percebemos que as instituiçõ es financeiras cobram juros muito superiores a
isso. Em relaçã o as instituiçõ es financeiras temos a Sú mula 596 do STF – as instituiçõ es
financeiras nã o se submetem a regra geral do art. 591 do CC, porque em relaçã o a estas
nó s temos regras especiais.
Como é que fica então os limites das instituições financeiras? O STJ tem entendimento
consolidado de que nesse caso o teto/limite é a taxa praticada pelo mercado. RESP
1.036.818. RESP 971.853. RESP 973.827.
A parte final do art. 591 diz: “permitida a capitalização anual” – essa parte final revoga o
art. 4º do Decreto 22626/33. Esse artigo da antiga lei de usura proibia o anatocismo/juros
sobre juros. O CC atual permite o anatocismo/juros sobre juros com periodicidade anual.
Sobre essa regra especial em favor das instituiçõ es financeiras, há a ADI 2316-1. Os
argumentos deduzidos nesse ADI sã o basicamente: ausencia de relevancia e urgencia; nos
moldes do art. 192 da CF matéria atinente a sistema financeiro nacional tem que ser
disciplinada por LC e portanto ela nã o poderia ser objeto de MP. Ainda nã o houve o
julgamento dessa ADI. E o fato é que o STJ vem aplicando diariamente o art. 5º da MP. O
STJ nã o encampa a ideia da inconstitucionalidade do dispositivo, vide RESP 973.827.
O que o STJ exige para a incidência de anatocismo/juros sobre juros com perioricidade
inferior a um ano é que os contratos tenham sido celebrandos apó s a ediçã o do MP 2170;
além disso, exige ainda que haja explícita previsã o contratual em relaçã o ao cabimento de
anatocismo/juros sobre juros com periodicidade inferior a 01 ano.
O art. 627 fala em “objeto móvel”. É possível contrato de depósito envolvendo bem
imóvel?
Pela letra fria do art. 627 nã o haveria essa possibilidade. Então, o entendimento firme,
hoje, é no sentido de que o contrato de depósito pressupõe que ele recaia sobre
bens móveis.
Vamos imaginar que alguém entregue as chaves de um imó vel para outra pessoa para que
aquele que receba as chaves venha a guardar e conservar o imó vel. O que a doutrina
afirma é que em relaçã o à entrega das chaves em favor de um terceiro para conservaçã o
do imó vel, escapa ao ambito do contrato de depó sito, pois nã o é da essência do depositá rio
um dever de conservaçã o tã o ativo quanto esse. Na realidade, em relaçã o a imó veis, se
alguém assume a obrigaçã o de conservar o imó vel de outra pessoa, recebendo as chaves
por conta disso, o que há é um contrato de prestaçã o de serviços.
O que alguns autores afirmam (CAIO MÁ RIO, SILVIO VENOSA) é que existe a figura do
depó sito judicial, no caso de sequestro por determinaçã o judicial. Só que aqui nã o há um
contrato de depó sito, o que há é a figura do depó sito judicial – nã o há natureza contratual
nesse caso.
Fica nítido que quem tem posse indireta nã o pode ser depositante, porque é premissa ao
contrato de deposito que haja a efetiva entrega e, portanto, quem exerce a posse a
distancia, a posse indireta nã o tem o bem consigo para efetivar a tradiçã o, o contrato real.
O depositante não tem que ser proprietário. O depositante tem que ter poderes de
administraçã o sobre o bem. Entã o, pode o usufrutuá rio ser depositante, o locatá rio
também, por exemplo. Só uma exceçã o que iremos ainda tratar: é o depó sito irregular do
art. 645 do CC – nesse caso, o depositante transfere a propriedade ao depositá rio.
DEPÓSITO COMODATO
O depó sito se dá a benefício do depositante O comodato se dá em favor do comodatá rio
O depositá rio, a princípio, nã o faz jus ao É empréstimo de uso. Entã o, é da essencia
uso do bem – art. 640 do CC. do comodato que o comodatá rio faça jus ao
uso do bem.
DEPÓSITO LOCAÇÃO
O depositá rio a princípio nã o faz jus ao uso Também é da essencia da locaçã o que o
do bem. locatá rio faça jus ao uso do bem, de forma
remunerada.
O depositá rio pode ser instado a restituir o O locatá rio só tem obrigaçã o de restituir o
bem antes do término do prazo do contrato bem locado apó s o término do contrato.
53
de depó sito.
RESP 1.321.739 julgado do STJ afastou a aplicaçã o da sú mula quando a hipó tese for de
vallet park em via pú blica. Acontece muito de determinados restaurantes terem convênios
com serviços de vallet park que sã o empresas terceirizadas e essa empresa se incumbe de
estacionar os veículos em via pú blica e nã o em estacionamento do restaurante. O STJ disse
que nesse caso se houver furto ou roubo haverá fato exclusivo de terceiro que romperá o
nexo causal com o restaurante; e que como nã o há um estacionamento fechado é um
serviço que propicia mera comodidade aos clientes em que o dever de incolumidade é
menos contundente. Nã o se pode tratar com o mesmo rigor a hipó tese em que o veículo é
parado na estacionamento do restaurante com o caso em que o veículo é parado em via
pú blica através do serviço de vallet park – nesse caso, o restaurante a princípio nã o
responde por furto ou roubo do veículo.
É discutível até mesmo porque apesar do carro nã o estar estacionado nas dependencias do
restaurante é evidente que o serviço de vallet park tem aptidã o para atrair clientela e é
evidente que o restaurante obtém lucro, no mínimo, indireto através dos serviços
prestaçõ es pela empresa terceirizada. A ló gica do risco do empreendimento talvez
justificasse a responsabilidade civil nesse caso, mas nã o foi esse o entendimento do STJ.
O art. 628 deixa claro que o depósito é contrato bifronte, ou seja, pode ser gratuito ou
oneroso conforme o caso. A presunção relativa é de que o contrato de depósito é
gratuito, salvo acordo contrário.
O pará grafo ú nico diz: “Se o depósito for oneroso e a retribuição do depositário não constar
de lei, nem resultar de ajuste, será determinada pelos usos do lugar, e, na falta destes, por
arbitramento.” – o legislador aqui permite inclusive a fixaçã o da remuneraçã o do depó sito
oneroso por arbitramento, desde que ele nã o tenha sido acordado pelas partes.
Nó s vimos que o contrato de depó sito pode ser gratuito ou oneroso. Por sua vez, o art. 392
diz que nos contratos benéficos aquele que pratica a liberalidade só responde por dolo.
Entã o, no caso da doaçã o pura, o doador só responde se agir dolosamente.
Será que o art. 392 se aplica no caso de depósitos gratuitos? Será que no caso de
depósitos gratuitos o depositário só responde se agir dolosamente?
Muitas hipó teses de depó sito gratuito na realidade envolvem contratos de depó sito
apenas aparentemente gratuitos. Ex.: um contrato de depó sito de guarda de mó veis ou
roupas num teatro ou num museu. Ainda que nã o se pague pela guarda dos mó veis ou dos
casacos nos museus é evidente que aquela gratuidade do depó sito é puramente aparente,
porque aquele serviço de depó sito tem aptidã o para atrair clientela e automaticamente
aumentar os lucros por parte do estabelecimento. Entã o, quando o depó sito for apenas
aparentemente gratuito e, portanto, ele nã o for genuinamente gratuito, nã o é hipó tese do
54
art. 392 – pressupoe que o contrato seja benéfico – que seja praticado por pura
liberalidade, hipó tese que nã o se aplica aos contratos aparentemente gratuitos. Entã o,
quando o contrato for aparentemente gratuito nã o é a hipó tese do art. 392 do CC.
Mas por outro lado, ainda que um determinado contrato de depó sito seja efetivamente
gratuito, ainda assim, a JUDITH MARTINS COSTA defende a inaplicabilidade do art. 392 do
CC. Isso porque o art. 392 isentaria o depositá rio desprovido de dolo pela
responsabilidade em relaçã o à conservaçã o do bem. O depositá rio que culpasamente
(culpa estrito senso) permitisse a deterioraçã o da coisa ou nã o guardasse devidamente a
coisa, se eximiria de responsabilidade e isso iria contra a propria essencia, a propria causa
do contrato de depó sito, porque o dever de guarda e conservaçã o é da essência do contrat
de depó sito. Logo, o art. 392 nã o seria aplicá vel nos contratos de depó sito, ainda que o
depó sito seja efetivamente gratuito, porque a aplicaçã o do art. 392 desnaturaria a causa, a
essência do contrato de depó sito que é o dever de guarda e conservaçã o do bem.
O art. 629 se refere aqui ao dever de guarda e conservação do depositário. Diz que
ele tem que cuidar da coisa como se sua pró pria fosse.
“bem como a restituí-la, com todos os frutos e acrescidos, quando o exija o depositante.” o
depositá rio, portanto, tem obrigaçã o de restituir o bem ao depositante quando ele lhe
exigir o bem, ainda que antes do término do prazo contratual.
Só que o art. 633 traz exceçõ es à regra segundo a qual o depositá rio é obrigado a restituir
o bem tã o logo o depositante lhe exija:
A doutrina afirma que existem ainda outras exceçõ es nã o previstas no art. 633, como, por
exemplo, no caso da morte do depositante, em que ninguém se apresenta com documento
há bil para comprovar a qualidade de herdeiro do depositante. O depositá rio, nesse caso,
pode se recusar a restituir, a entregar o bem ao herdeiro do depositante.
Art. 637 quando o artigo diz que o herdeiro do depositá rio de boa-fé vendeu a coisa
depositada, qual seria a hipó tese? A depositá rio falece, o bem, a princípio, se encontrava
com a posse direta do depositá rio falecido e o herdeiro do depositá rio na suposiçã o de que
aquele bem pertencia ao depositá rio vende o bem a um terceiro de boa-fé. O que há na
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realidade é uma hipó tese de alienaçã o a non domino, porque o herdeiro do depositá rio de
boa-fé transfere um bem que na realidade era de titularidade do depositante. E no caso de
alienaçã o a non domino o instituto aplicá vel é a evicçã o. Entã o, o art. 637 do CC na
realidade trata de evicçã o – remissã o para o art. 447 a 457 do CC.
Nesse caso, o depositante é o verdadeiro proprietá rio que vai buscar a retomada do bem –
é o evictor. E o herdeiro do depositá rio é o evicto, que vai ter que responder pelo preço ao
comprador, no caso o terceiro.
Possível singularidade no caso do art. 1268 – direitos reais: esse artigo pode mitigar a
aplicaçã o do art. 637 do CC. O art. 1268 na 1ª parte traz a regra geral de que ninguém pode
transferir mais direitos que tem – quem nã o é proprietá rio, nã o transfere a propriedade.
Só que a parte final traz as exceçõ es: “exceto se a coisa oferecida ao público, em leilão ou
estabelecimento comercial, for transferida em circunstancias tais que ao adquirente de boa-
fé como a qualquer pessoa a alienante se afigurar dono”.
Entã o, o art. 1268, 2ª parte, traz exceçõ es à regra geral segundo a qual ninguém pode
transferir mais direitos que tem. O que justifica essa parte final é a teoria da aparência –
tutela da legítima expectativa de terceiros de boa-fé.
Entã o, percebam que se o herdeiro do depositá rio transfere o bem para um terceiro
mediante estabelecimento comercial – vamos supor que o herdeiro do depositá rio tenha
um estabelecimento comercial e ele vende aquele objeto do deposito naquele
estabelecimento comercial. Aplicando-se o art. 1268 percebam que o terceiro que adquiriu
o bem de boa-fé nã o perderá a coisa em favor do depositante, porque o art. 1268 nesse
caso afirma que apesar do herdeiro do depositá rio nã o ser o proprietá rio haveria
transferência da propriedade se o terceiro o adquiriu em estabelecimento comercial. E aí
nesse caso a questã o se resolve em perdas e danos; o herdeiro do depositá rio vai
responder civilmente perante o depositante pela alienaçã o a non domino.
O art. 640 do CC traz a presunção relativa de que depositário não pode usar o bem.
Art. 640. Sob pena de responder por perdas e danos, não poderá o
depositário, sem licença expressa do depositante, servir-se da coisa
depositada, nem a dar em depósito a outrem.
Entã o, para que o depositá rio possa se utilizar do bem é preciso que haja licença expressa
do depositante. Isso distingue de maneira nítida o depó sito do comodato e da locaçã o,
porque tanto o comodato quanto a locaçã o envolvem basicamente empréstimo de uso, ao
passo que o depó sito pressupõ e que a princípio o depositá rio nã o possa usar a coisa.
Se um determinado contrato, cujo título seja depósito, haja uma cláusula que
permita o uso irrestrito do bem pelo depositário, qual seria a consequencia dessa
cláusula?
Os autores que aprofundam o tema afirmam que se o contrato permite o uso ilimitado da
coisa pelo depositá rio, na verdade, se desqualifica o contrato de depó sito, porque é da
essência do depó sito que o objetivo do contrato nã o seja o uso do bem pelo depositá rio; o
objetivo do contrato é a guarda e a conservaçã o da coisa. Se a cláusula contratual permite
o uso irrestrito, o uso ilimitado do bem fica evidente que nesse caso o que nó s temos é um
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empréstimo de uso e aí nesse caso o contrato se desqualifica como depó sito e ele passa a
ser comodato ou locaçã o conforme o caso. Seria comodato no caso de empréstimo gratuito
e locaçã o no caso pagamento de aluguel.
Tem uma exceção a isso: se ficar comprovado que o uso ilimitado do bem pelo
depositá rio é de interesse do depositante. Imaginemos que o depositante vá ficar fora do
Brasil por bastante tempo e ele comprova que a melhor forma de conservar a coisa se dá
com o uso diá rio do bem. Entã o, em se demonstrando que esse uso reiterado pelo
depositá rio é de interesse do depositante, neste caso sim é possivel afirmar que
permanece a natureza contratual de depó sito.
O art. 642 representa uma projeção da lógica RES PERITI DOMINO – o depositário
não responde pelos casos de força maior. Na medida em que o bem é de titularidade do
depositante o depositá rio nã o assume os riscos por perda ou deterioraçã o sem culpa. Só
que aqui há uma singularidade: “mas para que lhe valha a escusa deverá prová-los”. Entã o,
na verdade, o depositá rio nã o responde por casos de força maior, mas há uma inversã o do
onus da prova, pois caberá ao depositá rio comprovar que a hipó tese é de força maior.
Entã o, o art. 642 na realidade é uma exceçã o à regra geral do art. 238 do CC.
Art. 643 se refere à s despesas necessá rias. Nã o abrange as voluptuá rias e a princípio
também nã o se aplicaria as despesas ú teis, porque estas buscariam otimizar a utilizaçã o
do bem e a principio o depositá rio nã o faz jus a utilizaçã o do bem – art. 640. Entã o, a rigor,
o art. 643 se aplicaria apenas as despesas necessá rias.
Mas há quem defenda (CARVALHO SANTOS) que é possível aplicar o art. 643 à s despesas
ú teis se o depositá rio agiu como bom administrador, sem excessos. Essa expansã o do art.
643 à s despesas ú teis neste caso viria em consonancia com a vedaçã o ao enriquecimento
sem causa.
O art. 643 também fala do prejuízo que do depó sito provierem. Imaginem que o
depositá rio tenha recebido junto de um determinado depositante um animal doente e que
venha a contaminar todos os demais animais que já era de titularidade do depositá rio.
Nesse caso, é evidente que há prejuízo decorrente do depó sito, prejuizo esse que será
ressarcido pelo depositante.
Art. 645 na realidade, o contrato de depósito pode ser regular ou irregular (essa
classificação não tem nada a ver com a ilicitude ou não do contrato).
No depó sito regular o depositá rio se compromete a restituir o mesmo bem que lhe fora
entregue. Quase sempre o depó sito é regular.
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Já no depó sito irregular o depositá rio nã o se compromete a restituir o mesmo bem que lhe
fora entregue e sim outro de mesma quantidade, qualidade e espécie. Parece nítido que o
depó sito irregular decai necessariamente sobre bens fungíveis, porque apenas nesse caso
será possível ao depositá rio restituir outro bem de mesma quantidade, qualidade ou
espécie.
O simples fato do bem ser fungível nã o significa dizer que o depó sito é necessariamente
irregular. Portanto, se um depó sito recai sobre um bem fungível, mas o depositá rio se
compromete a restituir aquele mesmo bem fungível, o depó sito é regular e nã o irregular.
Embargos no RESP 396.699.
Entã o, o que caracteriza o depó sito irregular é o fato do depositá rio se comprometer nã o a
restituir o bem que lhe fora entregue, mas sim outro de mesma quantidade, qualidade e
espécie.
Nesse depó sito irregular, o depositá rio vai receber um bem que nã o lhe pertence, que
pertencia ao depositante e vai restituir outro bem que nã o aquele, mas de mesma
quantidade, qualidade e espécie. Percebam que esse depó sito irregular se parece mais com
o mú tuo do que com o proprio depó sito regular, porque no mú tuo o mutuá rio também
recebe o bem, vai consumir o bem e vai restituir outro de mesma quantidade, qualidade e
espécie. Por isso o art. 645 na parte final diz que o deposito irregular se regula pelo
disposto acerca do mú tuo. Assim, o depó sito irregular segue a sistemá tica do contrato de
mú tuo.
Depende! O depó sito irregular transfere a propriedade, pois o depositá rio vai receber um
bem e vai entregar ao depositante outro de mesma quantidade, qualidade e espécie. Entã o,
aquele bem que é entrega ao depositá rio é objeto de transferencia de propriedade. E além
disso o art. 645 diz que o deposito irregular segue a sistemá tica do contrato de mú tuo.
Remissã o para o art. 587 do CC – diz que o mutuo transfere a propriedade e os riscos por
perda ou deterioraçã o sem culpa correm por conta do mutuá rio. No caso de depó sito
irregular os riscos por deterioraçã o sem culpa correm para o depositá rio. Logo, no caso de
deposito irregular nã o se aplica o art. 642 – aplicá vel o art. 587 por analogia.
Entã o, vejam que no caso de depó sito em dinheiro, por exemplo, é possível que haja a
aplicaçao do art. 645, conforme o caso.
Quando se admitia prisã o civil do depositá rio infiel (o que hoje já nã o é mais admitido pelo
STF) o cabimento dessa prisã o civil nã o se aplicava ao deposito irregular dizia o STJ,
porque o deposito irregular segue a sistemá tica do mú tuo e nã o do deposito regular.
Entã o, se nã o cabia prisã o civil do mutuá rio também nã o caberia prisã o civil do
depositá rio no caso de deposito irregular. Isso hoje nã o tem mais relevancia prá tica uma
vez que nã o mais se admite prisã o civil para qualquer depó sito, seja regular ou irregular.
Art. 373, II está dentro do capítulo de compensaçã o; regra geral, a origem das dívidas
nã o é obice à compensaçã o; entã o, pode uma dívida originar de um contrato de compra e
venda e outra de um contrato de locaçã o; ainda assim é possivel a compensaçã o; só que o
art. 373 traz exceçõ es: II - “se uma se originar de depósito”. Entã o, se uma das dívidas
objeto de compensaçã o provém de deposito o art. 373, II impede a compensaçã o.
Por que isso? Por conta do art. 313 do CC – contempla o principio da exatidã o do
pagamento; identidade da coisa devida. É da essencia do deposito que o depositante possa
exigir do depositá rio aquele mesmo bem que ele entregou ao depositá rio. Como pelo
principio da exatidã o do pagamento o depositante nã o é obrigado a receber bem diverso
daquele que ele entregou ao depositá rio, o art. 373, II obstaculiza a compensaçã o nesse
caso. Se coubesse compensaçã o, ao inves do depositante receber o objeto que ele entregou
ao depositá rio, ele seria contemplado com o abatimento de uma dívida, o que nã o seria
admissível pelo art. 313 do CC.
Mas percebam que o que muitos defendem é que essa vedaçã o do art. 373, II nã o se aplica
no caso de depó sito irregular, porque no caso de deposito irregular o depositante nã o
pode exigir do depositá rio o mesmo bem que ele entregou ao depositá rio, mas outra de
mesma quantidade, qualidade e espécie. Entã o, dada a generalidadedo objeto a ser
entregue ao depositante que nã o é exatamente aquele que foi entregue ao depositá rio,
muitos defendem que o art. 373, II nã o se aplicaria no caso de deposito irregular.
Art. 632 trata da hipótese de depósito no interesse de terceiro. Ex.: depó sito de
dinheiro em determinado banco em favor de um terceiro. Nesse caso, nã o pode o
depositá rio (instituiçã o financeira, por exemplo) se exonerar restituindo o bem ao
depositante sem o consentimento do terceiro, na medida em que aqueles depositos eram
efetuados a benefício de terceiros. Esse artigo nos remete a estipulaçã o em favor de
terceiro. Logo, remissã o do art. 632 para o art. 437 do CC.
CLASSIFICAÇÃO:
Percebam que o contrato estimató rio nã o se confunde com a compra e venda. Isso fica
muito nítido em relaçã o ao preço, por exemplo. O preço da compra e venda há de ser
maior do que o preço acordado no contrato estimató rio, uma vez que a diferença entre o
preço da compra e venda e o preço do contrato estimató rio é o chamado “sobre-preço” e é
esse sobre-preço que garante o lucro do consignatá rio no caso da venda do veículo.
1ª corrente: contrato estimató ria gera obrigaçã o alternativa. O art. 534 diz que o
consignatá rio fica autorizado a vender o bem a um terceiro passando ao consignante o
preço ajustado, salvo se preferir restituir-lhe a coisa consignada. Entã o, a obrigaçã o
alternativa aqui seria: ou pagamento do preço de estima ao consignante ou devoluçã o da
coisa consignada. RESP 710.658. Enunciado 32/CJF – sugere que a obrigaçã o seria
alternativa.
Se há perda sem culpa do carro que é a prestaçã o devida, o credor só vai poder exigir o
status quo ante, a resoluçã o da obrigaçã o. Só que o devedor pode afastar essa pretensao
do credor cumprindo a prestaçã o facultativa.
O contrato estimató rio seria uma obrigaçã o facultativa, porque a redaçã o diz “pagando
aquele o preço ajustado, salvo se preferir restituir-lhe a coisa consignada” – expressã o
“salvo de preferir” parece sugerir que é direito potestativo do consignatá rio restituir a
coisa consignada e que na verdade a prestaçã o devida seria o pagamento do preço.
A doutrina ainda afirma que a redação do art. 534 sugere que o contrato estimatório
é contrato real – só se constitui com a entrega da coisa.
OBS.: FLÁ VIO TARTUCE se nó s entendermos que o contrato estimató rio é contrato real
o contrato estimató rio só vai se constituir a partir da entrega do bem pelo consignante em
favor do consignatá rio. Entã o, antes da entrega da coisa nó s nã o temos obrigaçõ es
contratuais, porque o contrato nã o se forma antes da entrega. Diante disso, em se tratando
de contrato real o contrato estimató rio seria um contrato unilateral. Em tese, qual seria a
obrigaçã o do consignante? Entregar o bem ao consignatá rio. Só que antes da entrega nó s
nã o temos contrato, porque se o contrato estimató rio for contrato real, o contrato só se
constitui a partir da entrega e nó s nã o poderiamos cogitar de obrigaçã o contratual de
entregar o bem, porque o contrato só se forma a partir da entrega. Entã o, se nó s
entendermos que o contrato estimató rio só se forma a partir da entrega, porque se trata
de um contrato real, o contrato estimató rio passa a ser unilateral, pois só gera obrigaçõ es
para o consignatá rio.
TEPEDINO o art. 534 sugere que o consignatá rio possa ou pagar o preço estimado ao
consignante ou restituir o bem ao consignante. É preciso interpretar esse artigo a luz da
boa-fé objetiva. Em algumas situaçõ es o consignatá rio nã o terá tanta liberdade assim
como segure o dispositivo.
61
Ex.: vamos imaginar contrato estimató rio envolvendo livros. As livrarias recebem em
consignaçã o os livros da editora. Editora – consignante; livraria – consignatá rio. E aí
determinados exemplares de um determinado autor sã o objeto de consignaçã o em relaçã o
a uma determinada livraria que tem vendas significativas na regiã o. Só que aquela livraria
em conluio com um autor e com uma editora concorrente aquela adquire em seus proprio
nome os livros e paga o preço de estima ao consignante, com o objetivo de nã o divulgar a
obra.
Vejam que nesse caso é nítido que a editora tem interesse na venda dos livros; mas a
médio e longo prazo a nã o divulgaçã o da obra trará prejuízos flagrantes. Nesse caso, é
evidente que além da venda do livro para terceiros, o interesse da editora nã o é apenas no
recebimento do preço estimado, mas também na divulgaçã o da obra. Nesse caso, haveria
uma hipotese típica de simulaçã o associada aos deveres anexos da boa-fé objetiva. Seria
possivel falar em inadimplemento contratual nesse caso através da violaçã o positiva do
contrato – a transgressã o dos deveres anexos configura inadimplemento contratual. É
curioso, pois, em que pese o pagamento do preço de estima, que seria a via adequada para
o consignatá rio se exonerar do vínculo, nesse caso, nó s poderíamos falar em
inadimplemento contratual pela violaçã o positiva do contrato.
Art. 535 chama atençã o por excepcionar a regra geral RES PERITI DOMINO – o
proprietá rio da coisa na vigencia da contrato estimató rio é o consignante. Entã o, a
princípo, o consignante suportaria os riscos por perda ou deterioraçã o sem culpa. Só que o
art. 535 diz que nã o. Esse artigo atribui os riscos por perda ou deterioraçã o sem culpa ao
consignatá rio.
É claro que a princípio ele fará jus ao recebimento do preço de estima no prazo acordado
entre as partes – princípio da autonomia privada. Mas e no silêncio do contrato? 03
correntes:
Art. 536 na vigencia do contrato estimató rio o bem pertence ao consignante; o bem nã o
é de titularidade do consignatá rio. E, desse modo, é evidente que aquele bem nã o é
instrumento de garantia para os credores do consignatá rio; serve apenas como
instrumento de garantia para os credores do consignante e nã o do consignatá rio.
62
Parte final A redaçã o sugere que quando houver o pagamento integral do preço
estimado aquele bem passaria a ser passível de penhora ou sequestro pelos credores do
consignatá rio e na realidade nem sempre, vai depender do caso concreto. Se por ventura o
consignatá rio vende o bem a um terceiro para com o recebimento do preço da compra e
venda lucrar com o sobre-preço e pagar o preço de estima ao consignante, se o
consignatá rio vende o bem para o terceiro, o bem sai da titularidade do consignante
diretamente para a titularidade do terceiro; ele nunca foi da titularidade do consignatá ria.
Entã o, se, na verdade, o bem é vendido pelo consignatá rio ao terceiro o bem sai da
titularidade do consignante diretamente para a titularidade do terceiro. E, portanto, nã o
será aplicá vel a parte final do art. 536 do CC, porque ainda que seja integralmente pago o
preço de estima ao consignatá rio, aquele bem jamais servirá como instrumento de
garantia para os credores do consignatá rio. Ele deixa de ser instrumento de garantia para
os credores do consignante e passa a ser instrumento de garantia para os credores do
terceiro comprador.
Entã o, a parte final do art. 536 só será aplicá vel se o proprio consignatá rio adquire o bem
em seu proprio nome. Nesse caso sim aquele bem sai da titularidade do consignante para a
titularidade do consignatá rio, passando a ser passível de sequestro ou arresto pelos
credores do consignatá rio.
Art. 537 quando a gente pensa em proprietá rio sem faculdade de disposiçã o nos
recordamos apenas da hipotese de cláusula de inalienabilidade. Só que no contrato
estimató rio nó s temos mais um exemplo disso: enquanto o consignatário não restitui o
bem ao consignante ou enquanto o consignatário não comunica ao consignante que
lhe irá restituir o bem, o consignante, que é o proprietário, fica desprovido da
faculdade de disposição. A faculdade de disposiçã o se concentra no consignatá rio – art.
537. Entã o, esse é um ó timo exemplo em que o proprietá rio perde a faculdade jurídica de
disposiçã o.
Na vigencia do contrato estimató rio, o bem objeto da consignaçã o serve como instrumento
de garantia para os credores do consignante, na medida em que o bem pertence ao
consignante. Entã o, se houver penhora ou sequestro do bem pelos credores do
consignante, na realidade, aquele bem sai da posse direta do consignatá rio, vai ficar
afetada à satisfaçã o das dívidas do consignante perante seus credores. Mas percebam que
nesse caso o consignatá rio vai poder exigir do consignante eventuais despesas quanto à
conservaçã o do bem, anuncios para sua venda, dentre outros.
AULA 05
6. CONTRATO DE MANDATO
Para que terceiros saibam que, apesar de estarem negociando com o representante, na
realidade, eles estã o se vinculante perante o representado, é preciso que a representaçã o
seja dotada de publicidade. Essa publicidade, que busca exteriorizar a representaçao
perante terceiros, é chamada pela doutrina de CONTEMPLATIO DOMINI.
atua em favor do comitente, porém em nome proprio. Entã o, quem se vincula perante
terceiros é comissá rio e posteriormente o comissá rio vai prestar contas perante o
comitente.
TEORIA DA SEPARAÇÃO:
Vá rios autores clá ssicos destacavam que representaçã o voluntá ria seria sinô nimo de
mandato – a representaçã o voluntá rio decorreria necessariamente do contrato de
mandato. Ainda se posicionando nesse sentido: CRG.
Agora, vamos supor que um determinado negó cio jurídico praticado pelo mandatá rio em
nome e em favor do mandante extrapole o ambito do que fora acordado entre as partes, ou
seja, extrapola o contrato de mandato, mas está dentro dos estreitos limites da
procuraçã o. Sabendo-se que é a procuraçã o quem publiciza o contrato perante terceiros.
Vejam que nesse caso se o ato obedece precisamente a procuraçã o, mas extrapola o
contrato de mandato, o negó cio jurídico praticado é lícito, é adequado em homenagem à
tutela da legítima expectativa de terceiros.
REPRESENTAÇÃO APARENTE
A representaçã o aparente funciona justamente a luz da TEORIA DA APARÊ NCIA. O art. 116
do CC diz que a manifestaçã o de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes,
produz efeitos em relaçã o ao representado. Mas e a contrá rio senso? E na hipótese em
que o representante exorbita dos seus poderes? Será que nesse caso o representado
se vincula?
Ex.: o sujeito vai a um restaurante, para na frente e aparece alguém uniformizado com o
nome do restaurante; o sujeito entrega as chaves ao falso manobrista, suposto preposto do
restaurante, e na realidade aquele sujeito é um meliante que pega o carro e desaparece.
Em tese, o restaurante alegaria que na realidade nã o responde por atos daquele indivíduo
na medida em que ele nã o era seu preposto. Mas percebam que a conduta omissiva do
restaurante de algum modo contribuiu para a situaçã o geradora de confiança, ao permitir
que alguém com seu uniforme, nas suas depedencias, receba a chave de um cliente. Entã o,
nesse caso, aplicá vel a representaçã o aparente.
Ou imaginem uma empresa de transporte de valores que entregue dinheiro para um falso
funcioná rio do banco dentro da instituiçã o financeira. Vejam que ainda que aquele sujeito
nã o seja preposto do banco, a conduta omissiva do banco de algum modo contribuiu para
a situaçã o geradora de confiança da empresa de transporte de valores. E aí nesse caso
aplicá vel a figura da representaçã o aparente.
Nesse ultimo exemplo, imaginemos que a instituiçã o financeira com a sua conduta
omissiva permita que um nã o funcioná rio receba o numerará rio e posteriormente alega
que aquele sujeito nã o era seu preposto. Nó s temos aí conduta contraditá rias. É possível
aqui invocar a venire contra factum proprium de molde a subsidiar a figura da
representaçã o aparente.
Dentro desse contexto nã o custa lembrar que o mandato produz efeitos interpartes
(princípio da relatividade) e a procuraçã o busca externar os efeitos do mandato perante
terceiros.
OBS.: É preciso diferenciar duas situaçõ es que se parecem, mas que nã o se confundem e
que produzem efeitos prá ticos totalmente diferentes.
Nesse caso, nó s temos o art. 662 e 665 do CC. Se o mandatá rio atua com excesso de poder,
ele nã o tem poder de praticar o ato realizado perante terceiros, a regra geral trazida por
nesses artigos vem no sentido de que neste caso o mandante nã o se vincula perante
terceiros. “salvo se este os ratificar”
Remissã o para a sistemá tica da gestã o de negó cios que vem nos art. 861 a 875 do CC.
Lembrando que na gestã o de negó cios o gestor atua em nome e em favor de outrem sem
que tenha recebido poderes para isso. E é claro que para que o dono do negó cio se vincule
é preciso que ele venha a ratificar os atos praticados pelo gestor. Por isso esses artigos
falam em ratificaçã o superveniente.
Entã o, a rigor, se o mandatá rio atua sem poderes, o mandante nã o se vincula. E a luz da
teoria da separaçã o a definiçã o desses poderes perante terceiros se dá através da
procuraçã o e nã o através do mandato. Se o sujeito atua para além dos poderes previstos
no mandato, mas dentro dos poderes previstos na procuraçã o, nó s nã o aplicaremos os art.
662 e 665. Nó s só aplicaremos esses dispositivos na hipotese em que os poderes
extrapolam aqueles previstos na procuraçã o, à luz da teoria da separaçã o.
Esses art. 662 e 665, que afirmam que o mandante nã o se vincula perante terceiros na
hipotese em que o mandatá rio atua sem poderes, cedem diante da representaçã o aparente
– se for o caso de aplicaçã o da representaçã o aparente.
Diversamente desta hipótese, em que o mandatário atua sem poderes, nós temos a
hipótese de mera inobservancia das instruções pelo mandatário
Nessa 2ª hipó tese, o mandatá rio tem poderes para praticar o ato, só que ele inobserva as
instruçõ es que lhe foram conferidas pelo mandante. E aí, neste caso, privilegia-se a tutela
da legítima expectativa de terceiros de boa-fé, em detrimento do mandante. Porque, nesse
caso, se o mandatá rio tem poderes para a prá tica do ato, ainda que ele inobserve as
instruçõ es que lhe foram conferidas pelo mandante, o art. 679 deixa claro que perante
terceiros o mandante se vincula e posteriormente o mandante poderá exercer açã o
reparató ria em face do mandatá rio que inobservou as instruçõ es que lhe foram dadas.
Entã o, o negó cio jurídico praticado com o terceiro é vá lido, é eficaz, o terceiros terá sua
legítima expectativa prestigiada e posteriormente o mandante vai poder exercer açã o
reparatá ria em face do mandatá rio.
parte externou o seu descontentamento, merece ser homologado, tendo em vista que o
advogado tinha poderes para transigir e caberia a parte nesse caso ingressar depois com
uma açã o de responsabilidade civil, se for o caso, em face do advogado.
Art. 663 a 1ª parte é a regra geral. Já a parte final diz que se o mandatá rio agir no seu
proprio nome, ainda que ele esteja atuando em nome do mandante quem se vincula
perante terceiros nesse caso nã o será o mandante, mas sim o proprio mandatá rio, na
medida em que ele atua em nome pró prio. Ou seja, ele atua sem CONTEMPLATIO DOMINI.
Nã o há publicidade na existência do mandato perante terceiros – o que normalmente se dá
através da procuraçã o. Entã o, como terceiros nã o sabem que na verdade estã o negociando
com o mandante, quem se vincula perante terceiros é o proprio mandatá rio nesse caso.
Para alguns autores nessa parte final do art. 663 nó s teríamos mandato sem representaçã o
propriamente dita – nó s teríamos um mandato com representaçã o impró pria. Nó s vimos
que a representaçã o impró pria se dá justamente quando nã o há CONTEMPLATIO DOMINI,
porque nesse caso quem se vincula perante terceiros nã o é o representado, mas sim o
representante. No nosso caso aqui seria o proprio mandatá rio.
Ao passo que para outros, é da essencia do mandato que haja contemplatio domini. O
proprio art. 653 quando define a causa do contrato de mandato deixa claro que quem se
vincula perante terceiros na verdade nã o é o mandatá rio, mas sim o mandante. E aí, na
realidade, a parte final do art. 663 geraria transmudaçã o do mandato no contrato de
comissã o – art. 693 – é da essencia da comissã o que quem vincule perante terceiros nã o
seja o comitente e sim o comissá rio. (o debate é puramente acadêmico – sem efeitos
prá ticos).
Art. 658 deixa claro que o mandato é contrato BIFRONTE, ou seja, ele pode ser
gratuito ou oneroso. Há presunção relativa de que o mandato é contrato gratuito.
Entã o, a regra é de que o mandato presume-se gratuito quando nã o tiver sido estipulada a
retribuiçã o. A exceçã o é se o objeto do mandato corresponder àquilo que o mandatá rio
atua como ofício ou profissã o lucrativa – ex.: despachante; advogado. o mandato firmado
com o despachante ou com o advogado presume-se oneroso, porque diz respeito ao
proprio objeto da atuaçã o profissional do mandatá rio.
Paragrafo único vamos supor que no mandato nã o haja retribuiçã o ajustada, mas seja
um mandato firmado com despachante ou advogado – dentro do objeto de sua atividade
profissional. Ainda que nã o haja retribuiçã o previsto no contrato, aquele mandato é
presumidamente oneroso, presunçã o também relativa – nada impede que as partes
explicitamente ajustem que o advogado esteja prestando serviços gratuitamente ao amigo,
mas é preciso que haja explicita previsã o contratual, nesse sentido.
OBS.: CAPACIDADE:
Em relaçã o à capacidade do mandatá rio, há uma peculiaridade aqui no art. 666 – o maior
de 16 anos e menor de 18 anos, a rigor, é relativamente incapaz, carece de assistência para
a prá tica dos atos da vida civil. Só que uma das exceçõ es à necessidade de assistência do
maior de 16 e menor de 18 está justamente no art. 666 – o maior de 16 e menor de 18
pode ser mandatá rio, independentemente de assistência. Exceçã o ao art. 4º do CC.
68
Mas por outro lado, defendem alguns autores, que se o mandante é absolutamente
incapaz, na realidade, quem está outorgando poderes a outrem nã o é propriamente o
mandante e sim o seu representante legal. Porque no caso de absolutamente incapaz, na
realidade, o que supre a incapacidade absoluta é a representaçã o e na representaçã o legal
na realidade em regra a vontade do representado é desimportante, porque o
absolutamente incapaz nã o tem nenhum discernimento para os atos da vida civil. E dada a
desimportâ ncia da vontade do representado, no caso da representaçã o legal, na realidade,
quem outorga poderes a outrem para a prá tica do ato nã o é propriamente o
absolutamente incapaz, mas sim o seu representante legal. Como nesse caso quem outorga
poderes a outrem nã o é o absolutamente incapaz, na medida em que ele é desprovido de
discernimento, quem outorga poderes a outrem é o representante legal do absolutamente
incapaz, nesse caso, a procuraçã o poderia se dar mediante instrumento particular, porque
na verdade o incapaz nã o outorga qualquer poder a terceiros, mas apenas e tã o somente o
representante legal do absolutamente incapaz. BEVILAQUA, CAIO MARIO, CERPA LOPES.
Divergindo desse entendimento: ARNALD WALD – para ele, sempre se exige instrumento
pú blico na hipotese de incapaz, seja relativamente ou absolutamente incapaz.
Então, a forma do ato a ser praticado pelo mandatário atrai a forma do contrato de
mandato. Logo, nã o se admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por
escrito.
OBS.: Art. 655 o subestabelecimento pode ser dado sempre por instrumento particular,
ainda que a procuraçã o tenha sido feita por instrumento pú blico.
1ª corrente: vai interpretar literalmente o art. 655 e vai dizer que o subestabelecimento
sempre pode ser feito por instrumento particular, ainda que a procuraçã o tenha sido feita
por instrumento pú blico. Só que esse nã o é o entendimento hoje predominante.
2ª corrente: no sentido de que esse art. 655 há de ser interpretado sistematicamente com
o art. 657 do CC – exige que o mandato obedeça a forma do ato a ser praticado pela
mandatá rio. Numa interpretaçã o sistemá tica, o que se sustenta é que se o mandato foi
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feito por instrumeno pú blico por exigencia legal, o subestabelecimento também terá que
ser feito por instrumento pú blico. Caso contrá rio, haveria um esvaziamento do rigor do
art. 657. Nó s só aplicaríamos o art. 655 se as partes tiverem celebrado o mandato por
instrumento pú blico porque desejaram, porque quiseram trazer maior segurança jurídica
e nã o por determinaçã o legal. Nesse sentido, ENUNCIADO 182/CJF.
O art. 656 (que foi reproduzido do CC/16) hoje precisa ser interpretado com
cautela. Diz que o mandato pode ser expresso ou tácito; verbal ou escrito. Esse art. tem
que ser interpetado em conjunto com o art. 657 do CC, porque se o ato a ser praticado
necessariamente for de forma escrita por determinaçã o legal, é evidente que o mandato
nã o pode ser verbal. Nem sempre o mandato pode ser tá cito ou verbal.
Atenção: é possível que haja a aplicaçã o da teoria da aparência de molde a mitigar o § 3º!
Mas é preciso que haja margem para a aplicaçã o da teoria da aparência.
vamos supor que nó s tivéssemos como mandatá rios: Carol, Pedro e Felipe – qual era a
presunçã o relativa do CC? De que, a princípio, o mandatá rio seria a Carolina. Na ausencia
dela, o mandatá rio seria o Pedro e na ausência de ambos o mandatá rio seria o Felipe –
mandatos sucessivos.
O CC atual no art. 672 altera essa sistemá tica. O art. 672 traz a presunção de mandato
solidário ou mandato IN SOLIDUM – NÃO SE CONFUNDE COM MANDATO CONJUNTO.
No mandato solidá rio (que é a presunçã o do CC) se nó s temos três mandatá rios, qualquer
desses três pode atuar em nome e em favor do mandante, sejam os três em conjunto ou
separadamente.
Art. 660 o mandato pode ser geral ou especial. O mandato geral abrange todos os
interesses e todos os negó cios do mandante. O mandato especial, por sua vez, se refere a
determinados negó cios do mandante.
Outra classificação que não se confunde com a anterior – art. 661 o mandato pode
se dar em termos gerais ou pode se dar com poderes especiais. O mandato em termos
gerais está no art. 661, caput – só confere poderes de administraçã o. Ou seja, no mandato
em termos gerais nã o há outorga de poderes para a prá tica de atos de disposiçã o, apenas
atos de administraçã o. Já o mandato com poderes especiais está nos §§ 1º e 2º - nó s temos
poderes nã o apenas para a prá tica dos atos de administraçã o, mas também para a prá tica
de atos de disposiçã o.
Enunciado 183 do CJF no caso do mandato com poderes especiais, que é aquele em
que se confere ao mandatá rio poderes para a prá tica de atos de disposiçã o, o mandato
com poderes especiais não pode ser mandato geral, ou seja, nã o pode o mandatá rio
receber poderes para a prá tica de atos de disposiçã o em envolvendo todos os negó cios e
interesses do negó cio. O mandato com poderes especiais NECESSARIAMENTE será
mandato especial!
Art. 668 1ª parte: prevê que o mandatá rio é obrigado a prestar contas. Isso é da
essência do contrato de mandato.
RESP 1.122.589 esse julgado diz que o direito de exigir a prestaçã o de contas do
mandatá rio se transmite aos herdeiros do mandante. Isso é interessante, porque a
princípio, com a morte do mandante o contrato de mandato se extingue – art. 682, II; e a
princípio, nã o mais haveria o dever de prestar contas. Só que o STJ disse que nã o! O dever
de prestar contas pelo mandatá rio resulta da lei e ele independe da vigencia do mandato;
entã o, ainda que o mandato nã o esteja mais vigente, porque a morte extingue o mandato; o
dever de prestar contas vai além da vigência do mandato.
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O mesmo art. 668 na parte final traz outra consideraçã o importante: todas as vantagens
provenientes do mandato em nome e em favor do mandante pertencem ao mandante e
nã o ao mandatá rio. Ex.: vamos supor que o mandante tenha outorgado poderes ao
mandatá rio de um imó vel que pentence ao mandante de 300 mil reais. Só que o
mandatá rio consegue vender por um preço um pouco maior – 330 mil reais – esses 30 mil
excedentes pertencem ao mandante, nã o ficam com o mandatá rio.
Percebam que aqui nó s temos uma nítida diferença entre o mandato e o contrato
estimató rio, porque no contrato estimató rio, o lucro do consignatá rio se dá justamente no
sobrepreço, na diferença entre os preço de estima e o preço obtido pelo consignantá rio
perante terceiros. Aqui nã o! Aqui todas as vantagens alcançadas pelo mandatá rio
pertencem ao mandante e nã o ao proprio mandatá rio.
É claro que pelo principio da autonomia privada nada impede que o mandante estipule
com o mandatá rio algum tipo de comissã o, percentual sobre aquilo que o mandatá rio
conseguir além do que fora acordado entre as partes. Mas isso demandaria explícito
acordo de vontades.
E aí como decorrencia do art. 668, 2ª parte nó s temos o art. 669 do CC – diz que o
mandatá rio nã o pode compensar os prejuízos a que deu causa com os proveitos com que
por outro lado tenha grangeado ao seu constituinte. Faz todo o sentido, porque os
proveitos que o mandatá rio obteve para o mandante pertencem ao proprio mandante. E
por outro lado, os prejuizos que o mandatá rio deu causa, sã o objeto de direito de crédito
também do mandante. Ambos os créditos sã o de titularidade do madante, seja o crédito
correspondente ao prejuízo causado pelo mandatá rio, seja o crédito resultante dos
benefícios alcançados pelo mandatá rio e a compensaçã o pressupõ e que haja reciprocidade
de obrigaçõ es. Por isso o art. 669 afasta o cabimento de compensaçã o, até porque nã o
como se compensar créditos que sã o de titularidade de uma ú nica pessoa, no caso, o
proprio mandante.
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