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CONTRATOS EM ESPÉCIE
AULA 01

1. COMPRA E VENDA
Art. 481 a 532 do CC.

O art. 481 traz a definiçã o do contrato de compra e venda. O art. 481 é fiel ao chamado
SISTEMA OBRIGACIONAL – a luz do sistema obrigacional os contratos por si só não
tem o condão de transferir a propriedade. No direito BR o que transfere a
propriedade, em regra, é:

 Tradição, em relação a bens móveis


 Registro, em relação a bens imóveis

“Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir (sistema


obrigacional)”  o CC nã o diz que pelo contrato de compra e venda o vendedor transfere;
pelo contrato ele apenas se obriga a tranferir, tranferência essa que se dará como regra
por meio da tradiçã o ou do registro.

OBS.: Por exemplo, no direito comparado – Portugal e França – os contratos por si só tem
o condã o de transferir a propriedade. Nã o é essa a perspectiva do direito brasileiro.

Em relação à CLASSIFICAÇÃO do contrato de compra e venda, trata-se de:

1) CONTRATO BILATERAL

2) ONEROSO

3) CONSENSUAL ou FORMAL, conforme o caso (o contrato de compra e venda é,


formal, por exemplo, no art. 108 do CC – compra e venda de bens imó veis; mas
nem sempre o contrato de compra e venda é um contrato solene; quando se
celebra um contrato de compra e venda de um determinado bem mó vel nã o
passível de registro, por exemplo, em que nã o se exige instrumento pú blico, o
contrato de compra e venda se torna um contrato consensual)

4) COMUTATIVA ou ALEATÓRIA

5) CONTRATO TÍPICO

6) PARITÁRIO ou DE ADESÃO

Os ELEMENTOS ESSENCIAIS ESPECÍFICOS da compra e venda estão no art. 482 do CC:

 COISA
 PREÇO
 CONSENSO
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Lembrando que os elementos esseciais gerais de validade do negó cio jurídico estã o no art.
104 do CC: a) agente capaz; b) objeto lícito, possível e determinado ou determiná vel; c)
forma prescrita ou nã o defesa em lei.

Vamos analisar agora aspectos importantes envolvendo cada um desses elementos


específicos da compra e venda.

 QUANTO À COISA:
O CC admite a possibilidade de compra e venda sobre coisa atual ou futura. E percebam
que a possibilidade de compra e venda sobre coisa futura vem em consonancia com o
sistema obrigacional, porque se pelo contrato nã o se transfere imediatamente a
propriedade, ou seja, pelo contrato apenas se obriga a transferir a propriedade, nada
impede que no momento da celebraçã o do contrato a coisa nã o exista. Art. 483 do CC.

O contrato de compra e venda sobre coisa futura pode vir a perder a eficácia caso a
coisa futura não venha a existir – haverá uma ineficácia superveniente do contrato –
SALVO se a intenção das partes era de contrair contrato aleatório. Entã o, se no
momento da celebraçã o do contrato as partes celebraram um contrato de compra e venda
aleató rio no qual eles assumiram o risco pela inexistencia da coisa, neste caso, se as partes
assumiram o risco pela inexistencia da coisa, ainda que ela nã o venha a existir, o contrato
de compra e venda irá produzir efeitos, excepcionalmente.

OBS.: Os contratos aleatórios admitem duas espécies:

a) EMPTIO SPEI (art. 458)  significa venda de esperança; entã o, nesta modalidade
o comprador tem a mera esperança de que a coisa venha a existir. Portanto, nesta
1ª modalidade o comprador assume o risco pela inexistência. “cujo risco de nã o vir
a existir um dos contratantes assume”

b) EMPTIO REI SPERATAE (art. 459)  venda de coisa esperada; nesse 2ª


modalidade parece nítido que na medida em que a coisa é esperada o contratante
nã o assume o risco pela inexistencia, mas apenas pela quantidade.

Portanto, quando o art. 483, 2ª parte diz: “Neste caso (compra e venda de coisa futura),
ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de
concluir contrato aleatório.”  esse contrato aleató rio a que se refere a parte final do
art. 483 do CC é o do art. 458 – EMPTIO SPEI – porque apenas nesta modalidade de
contrato aleató rio o contratante assume o risco pela inexistencia do bem. Se o contrato
aleató rio for da 2ª modalidade – EMPTIO REI SPERATAE – percebam que nesse caso nó s
nã o aplicaremos a ú ltima parte do art. 483, porque neste caso o contratante nã o assumiu o
risco pela inexistencia, mas apenas pela quantidade.

OBS.: O CC admite compra e venda sobre coisa futura, mas há uma EXCEÇÃO prevista no
art. 426 que diz que não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. Entã o, a
herança de pessoa viva é coisa futura que nã o pode ser objeto de contrato de compra e
venda – é a chamada VEDAÇÃO A PACTA CORVINA. Remissã o do art. 483 ao 426 do CC.

É lícita a celebração de compra e venda sobre bem que pertença a terceiro?


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Cuidado, porque numa visã o precipitada nó s pudéssemos imaginar que se a compra e


venda envolve um bem que pertence a terceiro nó s estaríamos diante de uma alienaçã o A
NON DOMINO, o que nã o é verdade! O simples fato do vendedor nã o ser o proprietá rio no
momento da celebraçã o do contrato de compra e venda nã o reflete uma alienaçã o A NON
DOMINO. Só refletiria se os contratos do direito brasileiro transferissem imediatamente a
propriedade, como o é na França ou em Portugual. Só que o BR, como vimos, adota o
sistema obrigacional – pela celebraçã o do contrato de compra e venda o vendedor nã o
transfere imediatamente a propriedade, ele apenas de obriga a transferir – art. 481.

Entã o, o simples fato de no momento da celebraçã o do contrato de compra e venda o


vendedor nã o ser o dono, nó s nã o temos uma alienaçã o A NON DOMINO, porque pela
compra e venda o vendedor se obriga a transferir. Nó s só teremos alienaçã o A NON
DOMINO se no momento da tradiçã o aquele que entrega o bem nã o tiver domínio ou se no
momento do registro aquele que transfere o domínio nã o tiver a propriedade.

Percebam, inclusive, que é possivel aplicar por analogia o art. 1.268, § 1º do CC, que
trata de uma situação muito mais drástica – “pós-eficacização da tradição” – nesse
caso, aquele que transferiu a propriedade pela tradiçã o nã o era o dono no momento em
que realizou a tradiçã o. Aqui estamos falando de verdadeira transferencia de propriedade
de bem mó vel e ainda assim o § 1º diz:

“§ 1o Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a


propriedade, considera-se realizada a transferência desde o momento em
que ocorreu a tradição.”  quer dizer, se aquele que realizou a
tradição a non domino posteriormente vier a adquirir a
propriedade, aquela aquisição superveniente da propriedade
produz efeitos EX TUNC – é a pós eficacização da tradição, que foi
realizado a non domino.

Vejam que no caso da compra e venda envolvendo bem pertencente a terceiro a soluçã o
ainda é mais simples, porque pela compra e venda o sujeito sequer transferiu a
propriedade, ele apenas se obrigou a transferí-la. Então, evidentemente que a compra e
venda só irá produzir efeitos se o vendedor vier a adquirir a propriedade
posteriormente a celebração do contrato e antes do tradição ou registro. Mas nada
impede que haja compra e venda de bem pertencente a terceiro.

 EM RELAÇÃO AO PREÇO:
Em relação aos critérios para fixação do preço: a regra geral, permeia o princípio da
autonomia privada, ou seja, as partes tem bastante liberdade para definir os critérios
para a fixaçã o do preço da compra e venda.

Por exemplo, o art. 485 permite que a fixaçã o do preço seja deixada ao arbítrio de terceiro.
O art. 486 deixa que as partes deixem a fixaçã o do preço de acordo com taxa de mercado
ou de bolsa.

Por outro lado, o art. 487 permite que as partes deixam a fixaçã o do preço em funçã o de
indices ou parametros, desde que suscetíveis de objetiva determinaçã o. Aqui inclusive
temos alguns indices oficiais como: INCC (para construçã o civil), etc.
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Exceção: art. 489  diz que é nulo o contrato de compra e venda quando se deixa ao
arbítrio exclusivo de uma das partes a fixaçã o do preço. Hipó tese de nulidade absoluta.

Qual é a razã o dessa nulidade absoluta? Art. 122, parte final – prevê a impossibilidade de
condiçõ es meramente potestativas, que sã o aquelas que sujeitam o negó cio juridico ao
puro arbítrio de uma das partes.

Regra importante e que nã o havia no CC/16 é a do art. 488  porque desde o direito
romano sempre se afirmou que o preço é um dos elementos essenciais específicos da
compra e venda e que nã o há possibilidade de compra e venda vá lida sem preço. Só que o
art. 488 do CC traz uma exceção: em não havendo preço na compra e venda, o CC diz
que o preço será aquele adotado nas vendas correntes e habituais do vendedor.

Nó s temos duas premissas à aplicaçã o do dispositivo (cumulativas):

a) Que a alienante tenha por há bito vender


b) Que o bem envolvido na compra e venda sem preço seja fungível em relaçã o aos
bens que o alienante tenha por há bito vender.

Ex.: imagine que o sujeito seja renomado por vender obras de arte. Até hoje ele nã o tinha
vendido ainda nenhuma obra expressiva, de um pintor conhecido; e finalmente ele
consegue vender uma obra de grande valor de PICASSO. Será que aquele preço corrente
das vendas habituais de quadros de pintores desconhecidos pode ser levado em conta
para a fixaçã o do preço da obra do picasso? Evidente que nã o, porque nã o há fungibilidade
entre aqueles bens anteriormente alienados e aquele bem agora objeto da compra e venda
sem preço. Entã o, essa fungibilidade também é requisito essencial à aplicaçã o do art. 488.

Art. 488, paragrafo único  o enunciado 441 do CJF diz o seguinte:

“Art. 488, parágrafo único. Na falta de acordo sobre o preço, não se


presume concluída a compra e venda. O parágrafo único do art. 488
somente se aplica se houverem diversos preços habitualmente praticados
pelo vendedor, caso em que prevalecerá o termo médio.”

O enunciado deixa claro que nã o é em qualquer hipotese que será possivel a aplicaçã o do
pará grafo ú nico do art. 488, é preciso que tenhamos preços habitualmente praticados. O
professor acrescentaria ainda: além disso, é preciso que haja fungibilidade.

Esse artigo vem em consonancia com o princípio da conservaçã o dos contratos.

 EM RELAÇÃO AO CONSENSO:
Art. 496: trata da chamada venda de ascendente para descendente  a hipó tese é de
anulabilidade (o CC/16 nã o era tã o claro).

Prazo para suscitar a anulabilidade: art. 179 do CC  02 anos (presunçã o relativa de


que para as causas específicas de anulabilidade o prazo é de 02 anos). Nesse sentido, o
enunciado 368 do CJF. Foi definitivamente sepultada a sú mula 494 do STF que dizia que o
prazo era de 20 anos (o STJ em verdade já nã o vinha aplicando essa sú mula, que era
aplicada até antes da CF/88, em que o STF enfrentava todas as questõ es de direito em
ú ltima instâ ncia).
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(lembrando que o art. 178 prevê o prazo de 04 anos para suscitar as causas gerais de
anulabilidade, quais sejam: incapacidade relativa e os defeitos do negó cio juridico)

O art. 179 prevê o prazo de 02 anos “a contar da conclusão do ato”  o problema aqui é
que essa anulabilidade do art. 496 do CC prejudica terceiros estranhos ao contrato de
compra e venda, porque em tese essa anulabilidade causa prejuízo aos outros
descendentes e ao conjuge, que nã o integraram o negó cio jurídico. Entã o, em homenagem
à legítima expectativa desses terceiros que nã o fizeram parte do contrato, o enunciado 538
do CJF diz o seguinte:

“No que diz respeito a terceiros eventualmente prejudicados, o prazo


decadencial de que trata o art. 179 do Código Civil não se conta da
celebração do negócio jurídico, mas da ciência que dele tiverem.”  o que
o enunciado busca é mitigar o que diz o art. 179, porque pelo art.
179 conta-se a partir da conclusão do ato; visa afastar essa
previsão na hipótese em que o prejuízo resultante da anulabilidade
atinge terceiros, porque na medida em que ele não integra a
celebração do negócio jurídico, possivelmente ele não tem ciência
da celebraçao do negócio a partir da sua celebração. Então, em
homenagem a legítima expectativa vem esse enunciado.

Além disso, é preciso lembrar do enunciado 545 do CJF:

“O prazo para pleitear a anulação de venda de ascendente a descendente


sem anuência dos demais descendentes e/ou do cônjuge do alienante é de
2 (dois) anos, contados da ciência do ato, que se presume absolutamente,
em se tratando de transferência imobiliária, a partir da data do registro
de imóveis”

O que o enunciado traz de novo é que em se tratando de negó cios imobiliá rios, o registro
gera presunçã o absoluta de conhecimento inclusive em relaçã o a terceiros, e aí o prazo de
02 anos flui a partir do registro.

O CC exige o consentimento dos outros descendentes, que sã o todos aqueles com


expectativa sucessó ria imediata. O examinador costuma colocar nas questõ es de prova a
sucessã o por estirpe ou por direito de representaçã o. Nesse caso, os sucessores a título de
representaçã o tem expectativa sucessó ria imediata ao lado dos demais descendentes de
grau inferior, quer dizer, se um dos descendentes de 1º grau é pré-morto, os filhos desse
descendente pré-morto herdarã o ao lado dos demais descendentes de grau anterior.
Entã o, todos eles terao que anuir, inclusive os sucessores por estirpe, por direito de
representaçã o.

O CC exige o consentimento do conjuge do alienante, “salvo se o regime for o da separação


obrigatória”  art. 496, pará grafo ú nico, CC – isso resulta do fato de que o conjuge passou
a ser herdeiro necessá rio.

Essa exigencia de anuência do cônjuge, resssalvado o regime de separação


obrigatória, também seria aplicável no caso de união estável? Será que se exige
anuência do companheiro para compra e venda de ascendente para descendente?
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Duas correntes:

1ª corrente: sim, com base no art. 226, § 3º da CF. Na medida em que a uniã o está vel é
espécie de família, tal qual o casamento, seria aplicá vel por analogia essa exigência de
consentimento também no caso de uniã o está vel.

2ª corrente: nã o, porque a norma é restritiva de direitos e normas restritivas de direitos


merecem interpretaçã o estritiva, liberal; nã o caberia aqui a interpretaçã o por analogia. Em
que pese a uniã o está vel ser modalidade de família tal qual o casamento, a uniã o está vel é
um instituto diferente do casamento, sã o institutos diferentes. E por serem diferentes,
podem produzir efeitos distintos. O fato de a uniã o está vel ser espécie de família tal qual o
casamento nã o atrai todas as consequências do casamento.

O companheiro é herdeiro necessário?

Porque se o companheiro for herdeiro necessá rio nó s teremos argumentos plausíveis para
justificar a aplicaçã o por analogia do dispositivo, até porque como vimos a ratio do
dispositivo resulta do fato de que o conjuge é herdeiro necessá rio. Sobre o tema há
divergencia no direito sucessó rio, mas a grosso modo, nó s temos:

1ª corrente: defende que o companheiro nã o é herdeiro necessá rio. Argumentos: art.


1845 do CC – lista os herdeiros necessá rios e nã o inclui o companheiro. Além disso, o art.
1850 só prevê a possibilidade de exclusã o dos colaterais.

2ª corrente: defende que o companheiro é herdeiro necessá rio. Na medida em que o CC


só prevê a possibilidade de exclusã o dos colaterais, o companheiro nã o poderia ser
excluído da sucessã o e, portanto, o companheiro seria herdeiro necessá rio – art. 1850 do
CC. Um 2º argumento seria a redaçã o imperativa do art. 1790 do CC – que diz que o
companheiro participará da sucessã o do outro, sugerindo cogência, inafastabilidade do
companheiro na sucessã o. Art. 226, § 3º da CF.

O que justifica essa anulabilidade do art. 496?

Tendemos a afirmar a tutela patrimonial dos demais descendentes e do conjuge. Mas se


aprofundarmos um pouco mais, perceberemos que o objetivo primordial desta invalidade
é evitar simulaçã o. Busca evitar que um ascendente esteja doando para um decendente só
uma aparência de compra e venda.

Isso fica claro se nó s percebermos que se um ascendente faz explicitamente uma doaçao
para um dos seus descendentes nã o se exige anuência dos demais descendentes e do
conjuge; no caso de doaçã o, aplicá vel o art. 544 do CC – logo, nesse caso, nã o se exige
anuência dos demais, porque a hipotese de doaçã o representaria adiantamento de
legítima.

Em relaçã o à forma desta anuência, aplicá vel o art. 220 do CC.

Parágrafo único do art. 496: fala em “ambos os casos” – nã o é “ambos os casos” aqui,
houve uma falha aqui na redaçã o do CC atual. Porque na origem do projeto do CC o caput
previa anulabilidade nã o apenas de venda de ascendentes para descendente, mas também
anulabilidade de venda de descendente para ascendente. Na tramitaçã o do projeto, esta 2ª
hipó tese de anulabilidade foi retirada no texto legal e o paragrafo ú nico continuou com a
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redaçã o em “ambos os casos”. Na origem a redaçã o do caput contemplava dois casos, mas
depois da modificaçã o na tramitaçã o passou a contemplar apenas um casos, mas o
paragrafo ú nico foi erroneamente mantido como “ambos os casos”. Nesse sentido,
enunciado 177 do CJF.

E se a hipótese é de venda de ascendente para descendente com preço justo e


adequado, sem qualquer tipo de simulação e sem ofensa à legítima?

RESP 1.211.531/STJ  A hipotese aqui é de ANULABILIDADE, que pressupõ e atingimento


ao interesse particular, diversamento do que ocorre na nulidade absoluta; matéria de
ordem pú blica. Na anulabilidade nã o, é preciso que haja atingimento ao interesse
particular. Entã o, o STJ deixou claro que o reconhecimento desta anulabilidade pressupõ e
demonstraçã o de prejuízo pelos demais descendentes e pelo conjuge. Entã o, se o preço é
justo e adequado, e nã o há simulaçã o, nã o há invalidade a ser decretada.

Correlacionado a esse tema surge outra questão: se esse consentimento dos demais
descendentes e do conjuge é suprível judicialmente?

1ª corrente (CAIO MÁRIO, BEVILÁQUA): entendem que nã o. A exigencia de


consentimento expresso dos demais descendentes e do conjuge afasta a possibilidade de
suprimento judicial.

2ª corrente (MARCO AURÉLIO BEZERRA DE MELLO): defende o cabimento de


suprimento judicial se a recusa à anuência tiver intuito emulativo, intençã o de prejudiciar
o ascendente e o descendente. Além disso, é possível o suprimento judicial se a venda for
necessá ria para o ascendente e/ou descendente.

3ª corrente (INÁCIO DE CARVALHO NETO): defende que cabe suprimento judicial. É


possivel trazer aqui a figura do abuso do direito. A recusa injustificada dos demais
descendentes e do conjuge, implica em abuso do direito – art. 187 – o CC nã o adota a teoria
dos atos emulativos no art. 187 quando trata de abuso do direito; nã o se exige a intençã o
de prejudicar outrem para a configuraçã o de abuso do direito no BR. Há abuso do direito
sempre que há exercício do direito em desarmonia com os valores, com os princípios do
sistema. Assim, a recusa injustificada por si só permitiria o suprimento judicial através da
figura do abuso do direito.

Lembrando que em sede de abuso do direito de propriedade tem uma regra específica – §
2º do art. 1228 – na parte final o legislador parece ter adotado a teoria dos atos emulativos
para abuso do direito de propriedade especificamente. A doutrina e jurisprudencia sã o
unâ nimes em repudiar a literalidade do § 2º do art. 1228 em nã o exigir a intençã o de
prejudicar outrem, mesmo para a configuraçã o do abuso do direito de propriedade em que
o CC aparentemente contemplou tal teoria.

Ao professor a 3ª corrente parece ser a mais interessante.

Também vale a pena relacionar essa exigência de anuência do conjuge ao art. 1647,
I do CC. Quando é que essa exigencia de consentimento do conjuge do art. 496 vai ter
efetiva relevâ ncia diante do que já diz o art. 1647? Este dispositivo ganha maior relavancia
no caso de compra e venda de bens mó veis, porque em relaçã o à imó veis nó s já tinhamos o
art. 1647, I do CC.
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E percebam que no caso de venda de imó veis no regime de separaçã o convencional ou


absoluta, também ganha relevâ ncia o art. 496, porque o art. 1647 diz que nã o se exige o
consentimento no caso do regime de separaçã o absoluta e o art. 496, paragrafo ú nico
excepciona apenas o regime de separaçã o obrigató ria.

Art. 500 do CC  trata de compra e venda de imóveis contemplando duas


modalidades:

a) Compra e venda AD CORPUS: quando a extensã o do imó vel nã o é determinante à


fixaçã o do preço.

b) Compra e venda AD MENSURAM: quando a extensã o do imó vel for determinante


à fixaçã o do preço.

Essa classificaçã o ganha relevâ ncia quando a metragem real do imó vel nã o corresponder à
metragem prevista no contrato.

No caso de compra e venda AD MENSURAM se o imó vel na prá tica é menor do que a
metragem prevista no contrato, surge para o comprador a seguinte possibilidade:

 Propor a ACTIO EX EMPTO e sucessivamente (apenas nã o sendo possível)


 ACTIO REDHIBITORIA ou ACTIO QUANTI MINORIS

Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de


extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em
qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito de
exigir o complemento da área (ACTIO EX EMPTO), e, não sendo isso
possível, o de reclamar a resolução do contrato (ACTIO REDHIBITORIA)
ou abatimento proporcional ao preço (ACTIO QUANTI MINORIS).

Art. 500, § 1º: traz a presunçã o relativa de que se a divergencia de metragem nã o supera
1/20 a compra e venda seria AD CORPUS e nã o AD MENSURAM, ou seja, ela nã o é uma
diferença de metragem determinante, essencial à fixaçã o do preço. Portanto, nó s nã o
aplicaríamos essas possibilidades. Trata-se de presunçã o RELATIVA.

E no caso de excesso? Hipotese em que a metragem real do imóvel é maior do que a


prevista no contrato?

Diante do silêncio do CC/16 muitos diziam que nesse caso nã o seria aplicá vel a sistemá tica
da compra e venda ad mensuram, porque o erro do vendedor seria um erro inescusá vel;
caberia ao vendedor ter ciencia da metragem do seu imovel. Nã o poderia, entã o, o
vendedor ter nenhum tipo de postulaçã o em face do comprador caso ele vendesse o
imovel maior do que aquilo que o contrato contemplava.

Art. 500, § 2º: o alienante terá que provar que seu erro é um erro escusá vel. E aí nesse
caso vai surgir uma obrigaçã o alternetiva para o comprador, que acaba sendo beneficiado
nesse caso com imovel maior do que o previsto no contrato. O erro aqui foi do vendedor,
logo, na concentraçã o caberá ao comprador: ele vai escolher entre completar o valor
correspondente ao preço ou devolver o excesso – obrigaçã o alternativa, cuja concentraçã o
cabe ao comprador, na medida em que o equívoco partiu do vendedor.
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“devolver o excesso” – qual seria aqui a parcela a ser devolvida? O comprador tem
puro arbitrio para devolver qualquer parcela do imovel? Aqui parece justificá vel que essa
devoluçã o do excesso tenha que necessariamente ser proporcional ao preço – princípio da
boa-fé objetiva. Nã o pode o sujeito, por exemplo, devolver a pior parte da fazenda; e talvez
ele também nã o veja obrigado a devolver a melhor. Pela boa-fé objetiva e pelo equilíbrio
economico, parece aplicá vel por analogia o art. 244, parte final do CC, que vincula as
partes ao termo médio.

Por outro lado, imaginem que aquela parcela de terra adquirida pelo comprador
corresponda ao mó dulo urbano ou ao mó dulo rural mínimo, ou seja, nã o é possivel o
fracionamento daquele imovel. Nesse caso, ao professor parece que haverá concentraçã o
automá tica, porque a devoluçã o do excesso aqui representaria aqui a violaçã o do mó dulo
urbano mínimo ou do mó dulo rural mínimo e por essa concentraçao automá tica o
comprador terá que necessariamente completar o valor correspondente.

Art. 500, § 3º: compra e venda ad corpus  nã o será aplicavel aqui nem a questã o da
complementaçã o da á rea nem a devoluçã o do excesso, porque neste caso a metragem nã o
foi determinante à fixaçã o do preço.

O prazo decadencial previsto para a propositura das ações está no art. 501: prazo de
01 ano a contar do registro. Exceçã o no paragrafo ú nico: “Parágrafo único. Se houver
atraso na imissão de posse no imóvel, atribuível ao alienante, a partir dela fluirá o prazo de
decadência.”

Art. 503 do CC: traz uma regra específica a respeito de vícios redibitó rios no contrato de
compra e venda. Se por ventura for alienado um aservo de uma biblioteca e houver defeito
oculto em um dos livros integrantes desse acervo, o defeito oculto neste livro nã o autoriza
a rejeiçã o de todo o aservo da biblioteca. Da mesma forma que se há a alienaçã o de um
fundo de empresa e há um defeito oculto de um dos integrantes do estoque desse fundo de
empresa, o vício oculto de um desses integrantes nã o autoriza a rejeiçã o de o fundo
empresarial. Esse artigo vem em consonância com o principio da conservação dos
atos e dos negócios juridicos.

Remissã o do art. 441 e 442 para o art. 503 do CC.

O que se afirma é que essa regra do art. 503 é presunçã o relativa, ou seja, nada impede que
o comprador comprove por a + b que o defeito oculto de um item compromete a
destinaçã o do todo. Ex.: colecionador em série. RESP 991.317 – vem no sentido de se tratar
de presunçã o relativa.

Art. 504: trata do direito de preferência do condômino. Como o condominio é uma


fonte interminá vel de litígios, o CC preve o direito de preferência dos demais condô minos
para a aquisiçã o da quota daquele condô mino que pretende sair da vida condominial. O
objetivo é evitar que um terceiro estranho ingresse à vida condominial, oportunizando aos
demais condominos o direito de preferencia.

“Não pode um condômino em coisa indivisível”  a dú vida é: e se o bem no qual recai o


condominio for divisível? Se o bem for divisível, ainda assim, há direito de
preferencia? Duas correntes:
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1ª corrente: diz que nã o, porque o CC exige aqui que a coisa seja indivisível. Intepretaçã o
literal do dispositivo.

2ª corrente: ainda que o bem sobre o qual recaia o condominio seja divisível, o quota
ideal do condô mino alienante é por si só indivisível. Porque em se tratando de
condomínio, cada um dos condominos é cotitular do todo, ainda que o bem seja divisível.
Entã o, ainda que a coisa seja divisível, a cota ideal por si só é indivisível e o que estamos
abordando aqui é a compra e venda da cota ideal do condomino. Entã o, ainda que o
condominio recaia sobre bem divisível, a cota ideal do condomino por si só é indivisível.
Portanto, há direito de preferencia ainda que a coisa seja divisível, porque a cota ideal do
condomino por si só é indivisível. RESP 489.860.

Necessidade de interpretaçã o sistemá tica entre esse direito de preferencia do art. 504 do
CC com o art. 1420, § 2º do CC – trata dos direitos reais em garantia; e diz: “§ 2o A coisa
comum a dois ou mais proprietários não pode ser dada em garantia real, na sua totalidade,
sem o consentimento de todos; mas cada um pode individualmente dar em garantia real a
parte que tiver.”  entã o, cada condomino pode aferer em garantia real a sua respectiva
cota ideal.

Entã o, vamos supor que um determinado condomino ofereça como garantia hipotecá ria a
sua cota ideal de um condominio que recai sobre um imovel. Ele se torna inadimplente e a
sua cota ideal vai a hasta pú blica para que com o produto da arremataçã o o credor
hipotecá ria venha a receber o seu direito de crédito. É possivel sim a hasta pú blica da cota
ideal, mas os demais condominos necessariamente precisam ser intimados da hasta
pú blica – é requisito de validade da hasta pú blica a intimaçã o dos demais condominos
para oportunizar aos demais condominos o direito de preferencia contemplado no art. 504
do CC.

“O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço,


haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob
pena de decadência.”  prazo previsto para o exercicio do direito de preferencia daquele
condomino que nã o tomou ciencia da venda é de 180 dias a partir da sua ciencia posterior
da venda.

É comum que se faça em paralelo entre o direito de preferência do condomino com


o direito de preferencia do locatário. O direito de preferencia do locatá rio está
sistematizado no art. 33 da lei 8.245/91 (lei de locaçõ es). A locaçã o é uma relaçã o
obrigacional, contratual e nas relaçõ es contratuais aplicá vel o princípio da relatividade – o
contrato produz efeitos entre os contratantes. Entã o, a princípio, o direito de preferencia
do locatá rio é oponível apenas em face do locador, nã o é oponivel em face de terceiros. Por
isso, em regra, o locatá rio preterido nã o pode reaver o bem de terceiros, porque o direito
de preferência do locatá rio é oponível apenas em face do locador. Entã o, em regra, o
locatá rio preterido vai fazer jus a perdas e danos em face do locador. A exceçã o que o
proprio art. 33 da lei de locaçõ es contempla é a hipotese em que o contrato de locaçã o foi
previamente averbado junto ao registro – neste caso, nó s passamos a ter um CONTRATO
COM EFICÁ CIA REAL – permanece a natureza contratual da locaçã o, mas ele passa a ter
eficácia real por força da oponibilidade erga omnes resultante do registro. Entã o, nesse
caso sim o locatá rio preterido poderá reaver o bem do terceiro. Mas é uma exceçã o.
11

No caso do condominio nã o; o condominio é essencialmente direito real e como tal é


oponivel erga omnes. Por isso o condomino preterido pode efetivamente reaver o bem do
terceiro. A questã o nã o desagua apenas nas perdas e danos; o condomino preterido pode
reaver o bem do terceiro.

Na verdade, o condomino preterido na verdade pode atuar contra a preteriçã o do seu


direito de preferencia antes mesmo do registro; com a mera celebraçao do contrato de
compra e venda da cota ideal de um condomino a um terceiro ele já pode atuar no sentido
de vindicar o seu direito de preferencia, independentemente do registro da compra e
venda.

Art. 484: trata da compra e venda por amostras, protótipos ou modelos. Esse artigo é
influenciado pelo princípio da boa-fé objetiva. Se a amostra é de laranja lima, nã o pode o
sujeito vender laranja pera; prevalece o que consta da amostra do protó tipo ou do modelo
– princípio da boa-fé objetiva e dever anexo de informaçã o e de cooperaçã o.

Esse artigo também se aplica por analogia no caso de fotografia. O bem a ser vendido é
exposto em fotografia e na verdade quando o bem é entregue se percebe que o bem nã o é
o mesmo, nã o tem as mesmas caracteristicas daquele objeto da fotografia. Aquilo que
constava da fotografia prevalece sobre aquilo que fora objetivo de efetiva entrega por
força da celebraçã o do contrato.

Será que seria, entã o, um contrato sujeito a condiçã o suspensiva? Nã o! A hipó tese nã o é de
condiçã o suspensiva. Até porque quando o legislador quis sujeitar a compra e venda a uma
condiçã o suspensiva, ele o fez explicitamente, como no caso do art. 509. O contrato aqui se
consuma desde logo e no caso de vício, de defeito, ele poderá vir a ser desconstituido, ele
produz efeitos imediatamente.

Art. 491: traz genericamente regra sobre ordem de pagamento. Essa regra nã o é
cogente, é supletiva da vontade das partes; podem as partes dispor diversamente. Regra
dispositiva!

Art. 492: manifestação da lógica RES PERITI DOMINO – a coisa perece para o dono. Em
tese, até a tradiçã o o bem pertence ao vendedor; e o preço pertence ao comprador.

§ 1º: se o bem já foi colocado a disposiçã o do comprador, res periti domino em face do
comprador, desde que o bem já tenha sido colocado a disposiçã o do comprador.

§ 2º: traz um dos efeitos da mora do comprador: em relaçã o a entrega da coisa o


comprador é o credor e se o credor que incorre em mora, ele passa a assumir os riscos
resultantes de caso fortuito ou força maior. Remissao para o art. 400 do CC.

Art. 494: contempla aqui uma regra específica de tradição ficta longa manu – aqui o
bem é entregue a um terceiro de acordo com as ordens ou instruçõ es do adquirente.
Entã o, vamos supor que eu vá comprar um determinado bem mó vel (computador); prazo
de entrega daqui a 30 dias; só que daqui a 30 dias eu aqui nã o estarei, estarei viajando.
Entã o, eu recomendo o alienante a entregar o bem na casa do meu pai; na medida em que
o alienante entrega aquele bem na casa do meu pai é como se aquele bem tivesse sido
entregue diretamente a mim, o meu pai atua como um longa manu do efetivo comprador.
12

Efeito prá tico disso: em se tratando de bem mó vel a entrega do bem ao terceiro, nesse
caso, gera imediata transferência da propriedade ao comprador; quer dizer, ainda que o
bem nã o tenha sido diretamente entregue ao comprador, no exato momento em que o
bem é entregue a um terceiro de acordo com as instruçõ es do comprador, há imediata
transferencia da propriedade ao comprador; e a partir daquele instante passa a ser
aplicá vel res periti domino, a coisa perece para o dono; entã o, se há perda sem culpa do
bem a partir do momento em que o bem é entregue a um terceiro, os riscos já correm
imediatamente por conta do comprador.

É premissa à tradiçã o ficta longa manus e consequentemente premissa à aplicaçã o do


dispositivo que o bem seja entregue a um terceiro de acordo com as instruçõ es do
adquirente. Ex.: eu compro determinado bem, o bem tem que ser entregue a mim, o
vendedor me procura na minha residencia; eu nã o estou e um vizinho escuta a
movimentaçã o e se oferece para receber. O alienante vai e entrega ao vizinha. Isso nã o é
tradiçã o ficta longa manu. Nesse caso, aplicá vel o instituto da gestao de negó cios – art. 861
a 875 do CC.

A gestao de negó cios se parece muito com o mandato, porque na gestao de negó cios o
gestor atua em favor de outrem, tal qual ocorre no mandato. A diferença é que no mandato
há previa outorga de poderes; na gestã o nã o! Na gestã o de negó cios alguém atua em nome
ou em favor de outrem sem que haja prévia outorga de poderes. O sujeito atua
unilateralmente em favor de outrem. No nosso exemplo, o vizinho em nenhum momento
recebeu poderes para interceder em meu favor. Ele unilateralmente se predispô s a
receber em meu nome e em meu benefício.

Em relaçã o à natureza juridica, a gestã o de negó cios no CC/16 era tratada no capítulo dos
contratos; a doutrina criticava muito isso, já que o contrato pressupoe acordo de vontades
e na gestã o de negó cios nã o há prévio acordo de vontade; entã o, o CC atual sensível a isso
retirou a gestã o do capítulo dos contratos e a gestã o agora inequivocadamente tem
natureza jurídica de ato unilateral.

Art. 495: desdobramento da chamada EXCEÇÃO DE INSEGURANÇA do art. 477 do CC


(regra geral). Nó s temos prestaçõ es sucessivas; um determinado contratante tem que
cumprir sua prestaçã o no dia 10 e o outro tem que cumprir no dia 30. Vamos supor que
aquele a quem incumba pagar no dia 10 perceba que aquele contratante que vai lhe pagar
no dia 30 passa por um situaçã o de profunda dificuldade patrimonial; uma dificuldade
patrimonial superveniente à celebraçã o do contrato. E aquela dificuldade patrimonial
torna duvidoso o adimplemento da prestaçã o por aquele que incumbe pagar no dia 30.
Nesse caso, aquele a quem compete pagar primeiro pode arguir a exceçã o de insegurança
e pela exceçã o de insegurança, o exipiente (que é aquele a quem compete pagar primeiro)
nã o vai postular o vencimento antecipado da dívida (art. 333, 1425); aqui o exipiente vai
postular a suspensã o da exigibilidade da sua propria prestaçã o, enquanto o outro o
contratante nã o paga ou preste cauçã o de que irá fazê-lo.

Percebam, inclusive, que o vencimento antecipado da dívida é muito mais drá stico do que
a exceçã o de insegurança, porque pelo vencimento antecipado a parte poderá exigir do
outro contratante a prestaçã o antes da data acordada. Ex.: para o vencimento antecipado
da dívida o art. 333, I exige falência do devedor ou concurso de credores, ou seja, é preciso
que haja um prévio reconhecimento judicial da insolvência.
13

No caso da exceçã o de insegurança do art. 477 nã o! O dispositivo fala apenas em


“diminuiçã o em seu patrimonio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestaçã o
pela qual se obrigou”, quer dizer, essa dificuldade patrimonial dispensa o prévio
reconhecimento judicial; pode ser comprovada incidenter tantum, no transcorrer da
propria exceçã o de insegurança.

O art. 495 é mera projeçã o da regra do art. 477 – fazer remissã o.

Quando o art. 495 fala em “insolvência” entenda-se nã o necessariamente insolvência


reconhecida previamente em juízo, ela pode ser demonstrada incidenter tantum. O
dispositivo só prevê essa hipó tese no caso de insolvencia do comprador! A dú vida é: e no
caso de insolvencia do vendedor? Será que é possível aplicar o mesmo dispositivo a
contrá rio senso? O PAULO LUIS NETO LOBO defende que sim! Princípio da simetrio e da
isonomia! E, além disso, em que pese a regra se referir apenas ao comprador, nó s temos o
art. 477 que é regra geral – abrange ambos os contratantes, nã o apenas o comprador, mas
também o vendedor.

Art. 490: trata das dispesas da compra e venda. Regra supletiva, dispositiva – princípio
da autonomia privada.

Art. 493: é exceção a regra geral do art. 327 do CC. A regra geral do art. 327 é de que no
silêncio do contrato as dívidas sã o quesíveis, ou seja, no silêncio do contrato o pagamento
se efetua no domicílio do devedor. E o art. 493 é regra especial! Pode ser que no momento
da venda o bem se encontrasse em lugar diverso do domicílio de ambas as partes e ainda
assim a presunçã o vem no sentido de que a entrega da coisa dar-se-á no local em que o
bem se encontrava no momento da celebraçã o do contrato. O art. 493 é presunçã o
relativa; logo, as partes podem dispor em contrá rio.

Art. 502: regra dispositiva; percebam que em que pese essa expressã o “todos” a mera
leitura do art. 1345 do CC deixa claro que na verdade essa expressao “todos” é
inadequada; o art. 1345 diz que o adquirente de unidade responde pelos débitos do
alienante em relaçã o ao condomínio, inclusive multas e juros morató rios – isso porque
débito condominial é obrigaçã o PROPTER REM. Entã o, nã o se aplica o art. 502 no caso de
obrigaçã o propter rem. Perante o credor, quem responde nã o é o vendedor nesse caso,
mas sim o atual proprietá rio, por se tratar de obrigaçã o propter rem.

Logo, a expressã o “todos os débitos” nã o abrange as obrigaçõ es propter rem e os ô nus


reais de um modo geral, na medida em que os onus reais sã o dotados de sequela,
ambulatoriedade; eles acompanham a coisa.

É evidente que esse art. 502 nã o é oponível ao credor; no caso das obrigaçõ es propter rem,
por exemplo, quem vai responder perante o credor é o atual proprietá rio. Mas esse art.
502 pode funcionar como instrumento de direito de regresso – o atual proprietá rio paga o
credor e com base no art. 502 ele vai exercer o direito de regresso em face do antigo
proprietá rio por débitos condominiais pretéritos.

Vamos imaginar que o sujeito antes de comprar o imó vel tenha obtido uma certidã o
negativa do município e depois de emitir a certidã o negativa por débitos tributá rios o
município vem cobrar debitos tributá rios pretéritos que estariam abrangidos por essa
certidã o negativa. É possível obstaculizar a cobrança do município com base em venire
14

contra factum proprium. Nã o pode o município que concedeu uma certidao negativa
cobrar débitos tributá rios que estariam abrangidos por essa certidã o negativa.

Da mesma forma se o condominio der uma certidao de quitaçã o para o morador em


relaçã o a debitos condominiais pretéritos, nã o pode o condomínio posteriormente exigir
débitos condominiais abrangidos por aquela declaraçã o de quitaçã o, sob pena de venire.

1.1. PACTOS ADJETOS/CLÁUSULAS ESPECIAIS À COMPRA


E VENDA

1) RETROVENDA (art. 505 a 508)


Na retrovenda o vendedor se reserva ao direito potestativo de recobrar a coisa.

Prazo máximo decadencial de 03 anos – as partes podem, portanto, ajustar prazo


decadencial menor.

Na retrovenda o vendedor tem para si o direito potestativo de recobrar a coisa dentro do


prazo má ximo de 03 anos (prazo decadencial), podendo as partes ajustarem prazo menor.

Caso o vendedor exerça o direito potestativo de recobrar a coisa, qual é a natureza juridica
da propriedade do comprador, no caso da retrovenda? O comprador tem propriedade
resolúvel – art. 1.359 do CC. Propriedade sujeita a uma condiçã o resolutiva, qual seja a
manifestaçã o de vontade do vendedor em recobrar a coisa. Ele pode manifestar ou nã o
essa vontade.

O art. 1359 deixa claro que quem tem propriedade resolú vel, transfere propriedade
resolú vel! Ou seja, como ninguém pode transferir mais direitos do que tem, aquele que
adquire a propriedade resolú vel se sujeita as consequencias da condiçã o resolutiva, tal
qual o proprietá rio originá rio.

O art. 507, parte final diz que esse direito de retrato pode ser exercido contra o terceiro
adquirente. Entã o, se por ventura um terceiro adquire a propriedade resolú vel do
comprador, esse terceiro adquirente se sujeita a mesma condiçã o resolutiva, qual seja o
direito de retrato do vendedor originá rio.

É evidente que essa oponibilidade do direito de retrato a terceiros pressupoe que a


retrovenda esteja averbada junto ao registro, porque a medida em que a retrovenda
estiver averbada junto ao registro, a retrovenda passa a ter oponibilidade erga omnes, em
face de terceiros.

Em relaçã o ao registro, nó s temos o art. 167, I, nº 29 da lei 6.015/73.

Art. 507: “O direito de retrato, que é cessível e transmissível a herdeiros e legatários”


 quer dizer, o direito de retrato é transferível inter vivos e mortis causae. Da mesma
forma com que preceitua o art. 1359 do CC. Claro que obedecido o prazo decadencial
má ximo de 03 anos.

Na prova objetiva, nã o vamos brigar com o CC – o art. 505 deixa claro que a retrovenda se
aplica a bens IMÓ VEIS; entã o, a princípio, a retrovenda se restringe a compra e venda de
15

bens imó veis. Só que o STJ admite a aplicaçã o de retrovenda para bens mó veis em
homenagem ao princípio da autonomia privada, especialmente no caso de compra e venda
de açõ es. RESP 856.826.

E em relação às benfeitorias realizadas pelo comprador?

Caso o vendedor exerça o direito de retrato, o bem volta para o vendedor, mas é possível
que nesse lapso temporal, durante a propriedade resolú vel, o comprador tenha realizado
benfeitorias. A dú vida é: em que medida esssas benfeitorias realizadas pelo comprador
devem ser indenizadas pelo vendedor que efetivamente exerceu o direito de retrato?

Cuidado, pois a sistemá tica do art. 505 é diferente da sistemá tica do art. 1.219 do CC –
trata da questã o das benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé. Só que o possuidor
de boa-fé (art. 1201 do CC) é aquele que ignora, que desconhece o vício da sua posse.
Entã o, o possuidor de boa-fé, a grosso modo, é aquele que supõ e que o bem lhe pertence.
Entã o, o sujeito está realizando benfeitorias no bem na suposiçã o de que aquele bem lhe
pertence. O legislador aqui foi mais protetivo no caso do art. 1219 – diz que o possuidor de
boa-fé tem direito a indenizaçã o pelas benfeitorias necessá rias e ú teis, com direito de
retençã o; podendo aindsa levantar as benfeitorias voluptuá rias que nã o lhes forem
indenizadas, desde que nã o haja prejuizo a substancia do bem.

Aqui no caso do art. 505 o comprador sabe que tem propriedade resolú vel e que naquele
prazo má ximo de 03 anos (que pode ser encurtado por acordo de vontades) ele tem uma
potencial obrigaçã o de restituir; potencial, pois se subordina à manifestaçã o de vontade do
vendedor. Mas ele tem a convicçã o de que aquela propriedade por ele exercida é uma
propriedade temporá ria, instá vel, que pode ceder diante da vontade do vendedor. Entã o,
nesse caso, o legislador diz que o comprador só vai ser ressarcido das benfeitorias
necessá rias. Em relaçã o à s ú teis e voluptuá rias ele só será indenizado se houver
autorizaçã o escrita do vendedor.

Entã o, se o comprador quiser realizar uma benfeitoria ú til e quiser assegurar a


indenizaçã o por essas befeitoriais, ele terá que obter uma autorizaçã o escrita prévia do
vendedor para posteriormente vindicar a indenizaçao por essas benfeitorias realizadas
caso o vendedor exerça o direito de recobrar a coisa.

Logo, a sistemá tica do art. 505 é diferente do art. 1219 do CC. O art. 505 se parece muito
com o art. 35 da lei de locaçõ es, até porque no caso da locaçã o, o locatá rio sabe que tem
obrigaçã o de restituir, de maneira similar ao que ocorre na sistemá tica do art. 505 do CC.

OBS.: Vamos supor que haja um contrato de mú tuo. Para garantir o cumprimento do
contrato de mú tuo, o mutuá rio transfere a propriedade de um determinado bem em favor
do mutuante. E nessa compra e venda, há uma retrovenda. Por essa retrovenda, o
mutuá rio pode exercer o direito potestativo de retomar o bem do mutuante, mas
subordinada a quitaçã o do mú tuo. Percebam que no caso de inadimplemento do mú tuo, a
propriedade vai se consolidar em face do mutuante. O STJ já repudiou essa possibilidade,
quer dizer, nã o pode haver compra e venda do mutuá rio para o mutuante com pacto de
retrovenda subordinado a quitaçã o do mú tuo, uma vez que o art. 1428 do CC prevê a
chamada nulidade da cláusula comissória – entã o, mesmo o credor com garantia real no
caso de inadimplemento do devedor nã o pode ficar com o objeito da garantia real; ele tem
16

que alienar o objeto judicialmente para que com o produto da alienaçã o ele receba o seu
direito de crédito.

Percebam que se o mutuá rio transfere a propriedade de um bem ao mutuante com o


direito potestativo de recobrá -la, mas esse direito potestivo subordinado a quitaçã o do
mú tuo, caso nã o haja a quitaçã o do mú tuo, qual é a consequencia? O mutuante fica com o
objeto da garantia o que violaria o art. 1428 do CC. Entã o, por via oblíqua estaríamos
burlando a nulidade da clá usula comissó ria prevista no art. 1428. RESP 284.296.

Esse é um exemplo típico de negó cio fiduciá rio – as partes se utilizam de um tipo negocial
de efeitos mais amplos, mais abragentes do que o tipo usualmente adotado para atingir
determinado fim. A grosso modo, é o que acontece com a alienaçao fiduciá ria em garantia;
o devedor fiduciante transfere a propriedade ao credor fiduciá rio, mas percebam que o
ú nico objetivo da transferencia de propriedade aqui é a garantia! Por isso, inclusive, a
propriedade fiduciá ria é uma propriedade desprovida das faculdades juridicas inerentes
domínio. O proprietá rio fiduciá rio nã o tem uso, nã o tem gozo nem disposiçã o da coisa,
porque essa propriedade tem por objetivo a mera garantia.

Só que neste caso trata-se de negó cio fiduciá rio nulo, a hipotese seria de simulaçã o,
porque o objetivo primordial seria violar o art. 1428 do CC que prevê a nulidade da
clá usula comissó ria.

RESP 508.878.

AULA 02
2) VENDA A CONTENTO E VENDA SUJEITA A PROVA (art. 509 a 512)
O art. 509 trata da venda a contento e o art. 510 trata da venda sujeita à prova.

Art. 509  deixa claro que na venda feita a contento ainda que a coisa tenha sido
entregue ao comprador a venda é realizada sob condiçã o suspensiva, só se considerando
perfeita a partir do momento em que o comprador manifestar o seu agrado.

O que há de comum entre ambos os intitutos?

Em ambos os casos a venda é feita sob condiçã o suspensiva. Só que no art. 509 o legislador
exige à eficacia da compra e venda que o adquirente manifeste o seu agrado. Já no art. 510
o legislador fala em: “que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja
idonea para o fim a que se destina”. Há maior discricionariedade para o comprador na
hiptoese de venda a contento, porque na venda a contento é preciso que o comprador
manifeste o seu agrado. Entã o, é possivel que o bem tenha as qualidades asseguradas pelo
vendedor; é possivel que a experiencia do comprador tenha sido favorá vel, mas ainda
assim a concretizaçã o, a eficá cia da compra e venda carece da manifestaçã o de agrado do
comprador. Entã o, pode ter tido experiencia favorá vel e ainda assim nã o manifestar o seu
agrado – maior discricionariedade.

Já na venda sujeita a prova, a compra e venda nã o depende da manifestaçã o de agrado do


comprador, basta que o vendedor comprove que as qualidades asseguradas por ele foram
observadas e que o bem seja idoneo à finalidade a qual ele se destina. Logo, na venda
17

sujeita à prova há menor discricionariedade, menor liberdade para o comprador. A


compra e venda se torna perfeita ainda que ele nã o manifeste o seu agrado; basta que
estejam preenchidos os requisitos objetivos do art. 510 do CC.

O art. 509 ao tratar da venda a contento subordina a eficá cia da compra e venda a
manifestaçã o de agrado do comprador. Estamos aqui diante de uma condição
suspensiva (manifestação de agrado). Será que essa condição suspensiva não seria
meramente potestativa?

Isso porque o art. 122, parte final do CC proibe condiçoes meramente potestativas – “ou se
sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes” – entã o, nã o pode a condiçã o sujeitar o
negó cio jurídico ao puro arbítrio de uma das partes. Mas essa manifestaçao de agrado do
comprador nã o seria uma condiçã o meramente potestativa na medida em que ela
sujeitaria a eficá cia do negó cio ao puro arbítrio do comprador?

1ª corrente: Há quem sustente que esse art. 509, como contempla uma condiçã o
meramente potestativa, seria uma exceçã o ao art. 122, parte final do CC. Em que pese se
tratar de condiçã o meramente potestativa, o legislador neste caso estaria
excepcionalmente admitindo tal modalidade de condiçã o.

2ª corrente: Essa manifestaçã o de agrado do art. 509 nã o estaria sujeita ao pura arbítrio
do comprador. Ela confere sim maior discricionariedade ao comprador, mas isso nã o pode
se confundir com arbitrariedade. Essa manifestação de agravo à luz da boa-fé objetiva
pode ser expressa ou tácita.

Ex. manifestaçã o tá cita de agrado: o comprador poderia ter consumido parte, mas ele
acaba consumindo a integralidade da coisa. Se ele consume a integralidade do bem quando
só poderia ter consumido parte do bem, nó s temos uma manifestaçã o tácita de agrado. Ele
nã o poderia aqui consumir a integralidade e depois dizer “nã o gostei” sob pena de venire
contra factum proprium.

Ex.: o sujeito poderia ter pago parte da prestaçã o e acaba pagando a integralidade. Nã o
pode o comprador nesse caso efetuar o pagamento integral, quando poderia ter feito o
pagamento parcial, e depois nã o manifestar o seu agrado, sob pena de venire.

Logo, essa condiçao não seria arbitrária, não seria meramente potestativa. Não
teriamos aqui uma exceção propriamente dita ao art. 122, parte final do CC.

O art. 511 deixa claro que tanto na venda a contento como na venda sujeita a prova
há uma condição suspensiva (manifestaçã o de agrado e atendimento dos requisitos
objetivos do art. 510, respectivamente). Diz que as obrigaçõ es do comprador na pendencia
da condiçã o suspensiva sã o as de mero comodatá rio. Entã o, enquanto pendente a condiçã o
suspensiva, o comprador assume obrigaçõ es equiparadas a de comodatá rio.

Qual seria uma vantagem para o comprador por ser ele equiparado a posição de
comodatário?

A aplicaçã o da ló gica RES PERITI DOMINO – a coisa perece para o dono; os riscos da perda
do bem sem dolo ou culpa sã o suportados pelo dono. Se o comprador assume a posiçao de
mero comodatá rio, os riscos por perda ou deterioraçã o sem culpa do bem, ainda que a
18

coisa já tenha sido entregue ao comprador, correm por conta do vendedor. Isso porque na
pendencia da condiçã o suspensiva, o vendedor ainda é o dono.

Uma desvantagem é a aplicação do art. 583 do CC: no caso de sinistro, no caso de


necessidade de salvar os bens, se o comprador nã o se antepõ e a salvar o bem objeto da
compra e venda em detrimento dos seus proprios bens, aplicá vel o art. 583 do CC – nesse
caso o comprador vai responder pela perda do bem ainda que por caso fortuito ou força
maior.

O CC aqui equiparada a condição do comprador à de comodatário. Por que ele não


equiparou à posição de depositário?

O depositá rio presumidamente nã o faz jus ao uso do bem – art. 640 do CC – aqui a
presunçã o relativa é de que o depositá rio nã o pode usar o bem. E essa perspectiva do art.
640 nã o é compatível com o instituto em questã o, na medida em que é da essencia da
compra e venda feita a contento e da compra e venda sujeita à prova, que o comprador
possa utilizar-se do bem, até para que ele possa manifestar o seu agrado ou até que possa
ser atestada a observancia das qualidades asseguradas pelo vendedor.

Além disso, nó s veremos que no contrato de deposito o depositante pode reaver o bem em
face do desitá rio mesmo antes do termino do contrato – é direito potestativo do
depositante. Essa ló gica também seria incompatível com a venda a contento e a venda
sujeita a prova.

Por essas razõ es o legislador optou por equiparador a figura do comprador à de mero
comodatá rio e nã o a de depositá rio.

Art. 512  uma novidade em relaçao ao CC/16 é a possibilidade de intimaçã o


extrajudicial – isso vem em consonancia com a tendencia de desjudicializaçã o de
procedimentos.

Qual é a consequência do silencio do comprador nesse prazo improrrogável


previsto no art. 512?

O CC/16 explicitamente dizia que o silencio importava em concordancia e com isso a


compra e venda se consumaria. O nosso CC se omite! Os autores em geral vem afirmando
que o nosso CC se omite, porque ele trouxe na parte geral uma regra propria a respeito de
silencio, diversamente do que fazia o CC/16. No CC/16 nó s nã o tinhamos uma regra na
parte geral tratando dos efeitos do silencio. Entã o, o CC/16 tinha a missã o de
casuisticamente trazer regras específicas.

O CC no art. 111 traz regras gerais sobre o silencio. E em aplicando o art. 111 do CC, a
consequencia do silencio acaba sendo a mesma no CC – o silencio importa em anuência.

O CC diz que tanto na venda a contento quanto na venda sujeita à prova o negócio
juridico se subordina a uma condição suspensiva. Podem as partes pactuarem que
ao inves de condição suspensiva seja aqui aplicável uma condição resolutiva?

A luz dessa perspectiva o negó cio jurídico seria eficaz desde logo, mas poderia o
comprador, manifestando o seu desagrado, extinguir os efeitos daquele negó cio, porque a
manifestaçã o de desagrado seria uma condiçã o resolutiva.
19

1ª corrente: defende que sim – princípio da autonomia privada. Os art. 509 a 511 quando
falam em condiçã o suspensiva, nã o trazem norma cogente e sim dispositiva – nã o há
questã o de ordem pú blica envolvida.

2ª corrente: defende que nã o – isso porque uma interpretaçã o evolutiva: o CC/16 era
explícito quanto a essa possibilidade. O CC/16 dizia explicitamente que essa condiçã o
poderia ser suspensiva ou resolutiva a critério das partes. O CC atual suprimiu essa
possibilidade de escolha! Já define que a hipotese é de condiçã o suspensiva. Além disso, o
art. 509 na parte final diz “e nã o se reputará perfeita” sugerindo cogencia.

3) PREEMPÇÃO OU PREFERÊNCIA (art. 513 a 520)


Art. 513  as partes celebram uma compra e venda, só que nesta compra e venda as
partes atribuem ao vendedor o direito de preferencia caso o comprador venha a
vender ou dar em pagamento aquele bem num momento futuro. Entã o, o direito de
preferencia é oriundo da manifestaçã o de vontade.

Essa direito de preferencia se subordina a uma dupla condiçã o:

a) Que o comprador venha a querer vender ou dar em pagamento o bem num


momento futuro – o dispositivo em nenhum momento impõ e ao comprador a
alienaçã o futura do bem. A alienaçã o futura do bem é direito potestativo do
comprador. Caso ele opte por vender o bem, estaríamos diante dessa primeira
condiçã o;
b) Que o vendedor queira comprar

Existem alguns direitos de preferência decorrentes de lei:

 Direito de preferencia do condomino – art. 504


 Direito de preferencia em favor do locatá rio – art. 35 da lei 8245/91;
 Direito de preferencia no art. 1373 – direito de superfície;

Essas hipoteses sã o direito de preferencia por força de lei. O que nó s estamos tratando
aqui é de um direito de preferencia que nã o resulta de determinaçã o legal, mas sim de
eventual acordo de vontades em contrato de compra e venda.

Não há dúvida de que a preferência pode ser pactuada em compra e venda de bens
móveis ou imóveis. A lei não restringe. Diversamente do que ocorre na retrovenda!
Na retrovenda, o art. 505 faz alusã o a possibilidade de retrovenda apenas no caso de bens
imó veis. Já no art. 513 o legislador nã o restringe!

O pará grafo ú nico traz o prazo má ximo para o exercício do direito de preferência:

 180 dias – mó veis


 02 anos – imó veis

Podem as partes pactuarem prazo menor.


20

O art. 514 deixa claro que o vendedor não é obrigado a esperar a notificação do
comprador quando ele presentir que o comprador está na iminencia de vender os
seus bens.

O legislador deixa claro no art. 513 que o direito de preferencia se aplica no caso de venda
ou daçã o em pagamento por parte do comprador. Se a hipó tese for de doaçã o nã o há
incidencia de direito de preferência, até porque a doaçao por ser um negó cio jurídico
gratuito evidencia que nesta caso o comprador busca na realidade beneficiar determinada
pessoa com a doaçã o e nã o faria sentido que houvesse direito de preferencia em favor do
vendedor para receber o bem a título gratuito.

É possível que haja simulaçã o. Vamos imaginar que haja uma compra e venda com esse
pacto adjeto de preferencia. O comprador quer vendero bem para um terceiro, mas na
realidade o comprador simula com este terceiro uma doaçao que busca esconder a compra
e venda. E o objetivo dessa doaçã o seria fraudar o direito de preferência do vendedor. É
evidente que nesse caso haverá nulidade absoluta do negó cio jurídico, aplicando-se o art.
167 do CC.

O art. 515 traz uma sanção para hipótese em que o vendedor anuncia que irá
exercer o direito de preferencia, mas no momento adequado não o exerce
efetivamente.

Percebam que o CC quer dizer que se por ventura o vendedor perde o negó cio com o
terceiro comprador diante da falácia do 1º vendedor, que anuncia que irá exercer a
preferencia, mas na verdade nã o o faz, aquele vendedor perde o direito de preferencia nã o
apenas para aquele negó cio jurídico, mas daí para frente. Nesse caso, cai o direito de
preferencia ajustado.

Art. 516  o CC aqui preve os prazos limite para o exercício do direito de preferência
apó s a notificaçao do vendedor. Entã o, uma vez notificado o vendedor ele tem:

 03 dias para exercer a preferencia em se tratando de bens mó veis;


 60 dias em se tratando de bens imó veis

A premissa o art. 516 é que haja notificaçã o ao vendedor. Essa é a diferença do art. 516
para o pará grafo ú nico do art. 513 – preve o prazo limite para o exercicio do direito de
preferencia, independentemente de notificaçã o. Já o art. 516 estabelece o limite temporal
má ximo, pó s notificaçã o do vendedor.

Lembrando que nã o basta a mera manifestaçã o de vontade do vendedor no sentido de


exercer a preferencia, é preciso que ele coloque a disposiçã o do comprador o preço nas
mesmas condiçõ es que havia sido acordado entre o comprador e o terceiro.

Art. 518  traz o chamado EFEITO OBRIGACIONAL da preempção ou preferencia.

O legislador deixa claro que o vendedor que for preterido no seu direito de preferencia
nã o vai poder reaver o bem em face do terceiro.

A sistemá tica do art. 518 é diferente da sistemá tica do art. 504 do CC – que deixa claro que
o condomino preterido no seu direito de preferencia pode reaver o bem em face do
21

terceiro. O direito de preferencia do condomino no art. 504 tem eficácia real, ate porque o
condomino é titular de direito real. Já na preferencia o legislador optou pelo efeito
obrigacional, até por se tratar de uma relaçã o puramente obrigacional – contrato de
compra e venda.

A parte final diz que caso haja má-fé do terceiro adquirente haverá regime de
solidariedade passiva nas perdas e danos. Ainda que haja má -fé do terceiro adquirente
que sabe do direito de preferencia, ainda assim o vendedor NÃ O pode reaver o bem do
terceiro.

Dá para perceber que esse efeito obrigacional da preempção também se diferencia


da sistemática da retrovenda – art. 507. A retrovenda produz efeitos erga omnes. Por
isso CRG (minoritá rio) chega a dizer que a retrovenda é direito real. Isso é curioso, pois a
maioria da doutrina defende que o rol dos direitos reais é taxativo – art. 1225 do CC. CRG
defende que há duas exceçõ es a essa taxatividade: a) direito de retençã o; b) retrovenda.

Se nós fizermos uma comparação desse direito de preferencia com o direito de


preferencia do locatário, nós observaremos pontos de contato e pontos de
distanciamento.

Ponto de contato: o direito de preferencia do locatá rio, em regra, também produz efeitos
apenas interpartes – art. 33 da lei de locaçõ es. Só que o legislador lá excepciona na
hipotese em que o contrato de locaçã o foi previamente averbado junto ao registro. Se o
contrato de locaçã o foi averbado junto ao registro, com antecedencia de 30 dias em
relaçã o a compra e venda, o legislador preve que nesse caso o locatá rio preterido pode
reaver o bem do terceiro, sugerindo aí uma eficá cia real do contrato de locaçã o – passa a
ser um contrato com eficá cia real.

Entã o, nesse caso, nó s temos um ponto de ditanciamento, porque a partir do momento em


a locaçã o é registrada há uma presunçao absoluta de conhecimento de terceiros
compradores do imó vel em relaçã o ao direito de preferencia do locatá rio que resulta da
lei. Aqui nã o! Ainda que haja ciencia do comprador, nã o há eficácia real, mas regime de
solidariedade passiva em relaçã o a perdas e danos.

Art. 519  trata de instituto de direito administrativo e não de direito civil:


RETROCESSÃO ou PREEMPÇÃO LEGAL.

Entã o, se há o decreto expropriató rio, se há desapropriaçã o do bem, mas o bem nã o é


destinado à finalidade pú blica, caberá ao expropriado direito de preferencia, pelo preço
atual da coisa.

Admite-se a renú ncia prévia do direito de retrocessã o. RESP 975.599.

O CC também deixa claro que o direito de preferencia é pelo preço atual da coisa e nã o o
preço histó rico com correçao monetá ria.

E a doutrina debate se a retrocessã o tem natureza real ou pessoal: se a inobservancia do


direito de preferencia gera perdas e danos apenas (natureza pessoal) – SILVIO VENOSA,
CRG; ou se teria natureza real, podendo o preterido vindicar o bem em face da
administraçã o pú blica e de terceiros.
22

Art. 520  prevê a natureza personalíssima do direito de preferência.


Diferentemente do que ocorre na retrovenda (art. 507). O direito de preferencia nã o é
passível de transferencia intervivos ou mortis causae.

4) VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO (art. 521 a 528)


É um instituto privativo da compra e venda de bens mó veis.

No caso da venda com reserva de domínio o comprador, ainda que tenha adquirido a
posse do bem, só adquire o propriedade a partir da quitaçã o, do pagamento integral do
preço.

Nesse caso da compra e venda com reserva de domínio há um desmembramento


possessorio, pois enquanto nã o há a quitaçã o do preço o vendedor permanece com a
propriedade e com a posse indireta da coisa. Ao passo que o comprador fica com a posse
direta, caso o bem lhe tenha sido entregue. Remissã o do art. 521 ao art. 1197 do CC.

E aí percebam que há o desmembramento possessó rio, o comprador vai pagando as


prestaçõ es e quando ele efetua a quitaçã o, é que ele efetivamente adquire a propriedade –
cessa o desmembramento possessó rio, e o comprador passa a ter a posse exclusiva e a
propriedade. Nesse caso, ocorre a chamada TRADIÇÃ O FICTA BREVI MANU – nã o há uma
efetiva entrega do bem ao comprador, porque na realidade o comprador já exercia
anteriormente o poder de fato sobre a coisa. Isso tem previsã o no art. 1267, pará grafo
ú nico, parte final.

Isso gera repercussã o no computo do prazo para propositura das açoes edilícias, no caso
de vício redibitó rio – art. 445, caput, parte final do CC – é a partir da entrega efetiva que o
comprador tem meios de perceber o vício; só que a parte final do dispositivo vem e diz “se
já estava na posse o prazo conta-se da alienaçã o reduzido à metade”. Se já estava na posse
– ENTENDA-SE TRADIÇÃ O FICTA BREVI MANU – como nesse caso o comprador já tinha
meios de perceber o vício, o prazo conta-se da alienaçao reduzido à metade: o prazo que é
de 30 dias para moveis, cai para 15 dias; o prazo que é de 01 ano para imó vel, cai para 06
meses.

O art 522 deixa claro que a compra e venda com reserva de domínio é negócio
jurídico formal. O art. 522 exige forma escrita. Além disso, para ser oponível em face de
terceiros, o CC exige o registro no domicilio do comprador. A princípio, é registro no
cartorio de titulos e documentos em se tratando de bens mó veis; com um cuidado em
relaçã o à automoveis: aplicá vel por analogia a sú mula 92 do STJ – ou seja, tem que ser
registrada no CRV.

Art. 523  exige que o bem objeto da compra e venda com reserva de domínio seja
um bem individualizável. O CC exige que o bem seja suscetível de caracterizaçã o
perfeita, o CC nã o exige a infungibilidade. O bem pode ser fungível, mas desde que
suscetível de caracterizaçao perfeita. Desde que ele seja individualizá vel para que
possamos distinguí-los de outros bens.

O legislador exige isso, porque o CPC (art. 1070 e 1071) preve o cabimento da busca e
apreensã o do bem, caso haja inadimplemento por parte do comprador.
23

A parte final do art. 523 vem em homenagem à tutela da legítima expectativa de terceiros
de boa-fé. Entã o, se porventura o comprador se torna inadimplente, mas o comprador
transferiu supostamente o bem em favor de terceiro e a busca e apreensã o por parte do
vendedor vítima do inadimplemento recaia sobre um bem do terceiro e haja dú vida se
aquele bem era efetivamente um bem que já pertencia ao terceiro ou se aquele bem era ou
nã o objeto da compra e venda com reserva de domínio, o legislador diz que na dú vida se
decide em favor do terceiro adquirente de boa-fé. Na duvida se afasta a busca e apreensã o
desse bem e a questao se resolve em perdas e danos.

Art. 524, parte final  é uma exceção à regra RES PERITI DOMINO – se o bem só passa
a ser do comprador com a quitaçã o do preço, antes da quitaçã o pelo comprador o dono é o
vendedor; e pela regra geral, quem suportaria os riscos por perda ou deterioraçã o sem
culpa até a quitaçã o do preço seria o vendedor. Só que o art. 524, parte final traz uma
exceçã o a isso. O comprador que ainda não é dono responde e suporta os riscos por
perda ou deterioração sem culpa, antes mesmo da quitação e da aquisição da
propriedade.

Esses riscos do art. 524 envolvem os riscos de perda física do bem, mas não de
perda jurídica. Perda jurídica nos remete ao instituto da evicçã o. A evicçã o está nos art.
447 a 457 do CC. Caso emblemá tico de evicçã o é no caso de alienaçã o a non domino.

Art. 525  vem em consonâ ncia com o art. 1071 do CPC – aqui fica evidente que a mora é
ex persona, ainda que haja data certa. A mora só se constitui apó s o protesto do título ou
interpelaçã o judicial. Vale remissã o para o art. 397, caput do CC – o art. 525 é exceçã o ao
art. 397, caput do CC. Pelo art. 397, caput quando há data certa, a mora é ex re – se
constitui automaticamente.

Qual é a razã o de ser disso? Uma vez constituída a mora, vem o art. 526 e diz: essa
recuperaçã o da posse se dá através do manejo da busca e apreensã o disciplinada no art.
1070 e 1071 do CPC. Entao, as consequencias aqui da mora sã o extremamente drá sticas,
seja pela responsabilidade das prestaçõ es nã o apenas vencidas, mas também as vincendas,
e principalmente pelo cabimento da busca e apreensã o. Entã o, como contrapeso à
drasticidade das consequencias da mora, o legislador traz esse mecanismo de proteçã o
aqui em favor do comprador – mora ex persona.

Pelo art. 526 o vendedor pode optar pela cobrança ou pela busca e apreensão. É
possível sustentar aqui que o adimplemento substancial pelo comprador afasta o
cabimento da busca e apreensã o. O STJ vem assim decidindo no caso de leasing. RESP
1.051.270. Aplicaçã o por analogia aqui!

Art. 527  vem em harmonia com a vedaçã o ao enriquecimento sem causa. Remissã o
para os art. 884 a 886 do CC.

Art. 528  prevê uma hipótese de pagamento com sub-rogação. Vamos supor aqui
que o vendedor consiga receber a integralidade de uma vez só de uma instituiçã o
financeira. Entã o, ao inves de aguardar o pagamento fracionado pelo comprador, ele
consegue receber a integralidade do valor pela instituiçã o financeira.

Percebam que a instituiçao financeira acaba efetuando o pagamento por terceiro, porque
na verdade a instituiçã o financeira paga uma dívida que era do comprador. E aí nesse caso
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a instituiçã o financeira que efetua o pagamento vai se sub-rogar nos direitos do vendedor
que recebe o montante que lhe era devido. Remissã o para o art. 349 do CC.

Em tese, qual é a maior garantia do vendedor? É a propriedade – ele só vai transferir a


propriedade com a quitaçã o pelo comprador porque a propriedade fica como instrumento
de garantia. Só que será que a instituiçã o financeira vai se sub-rogar nesta garantia? Ou
seja, será que a instituiçã o financeira passa a ser a proprietá ria do bem na medida em que
ela efetua o pagamento?

O art. 528 nã o trata do assunto. Só que nó s temos varios autores defendendo que esta
garantia, qual seja, a propriedade, nã o é objeto de sub-rogaçao. Ou seja, a instituiçã o
financeira nã o passa a ser a proprietá ria do bem mó vel, porque nesse caso nó s teríamos
um desvirtuamento instituto; nó s deixaríamos de ter a compra e venda com reserva de
domínio e passaríamos a ter alienaçã o fiduciá ria em garantia – o devedor de um contrato
de mú tuo transfere a propriedade a uma instituiçã o financeira com o objetivo de garantia.
CHAVES defende que nesse caso a propriedade permanece com o vendedor, ela nã o passa
à instituiçã o financeira.

QUAIS AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE COMPRA E VENDA COM RESERVA DE


DOMÍNIO x ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA:

COMPRA E VENDA COM RESERVA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA


DOMÍNIO

O parcelamente da dívida é realizado pelo Aqui quem realiza o financiamento é a


proprio devedor; as partes envolvidos aqui instituiçã o financeira e nã o o vendedor. O
sã o exclusivamente comprador e vendedor. vendedor quer transferir a propriedade
Só que o vendedor ao inves de transferir para o comprador, só que o comprador nã o
imediatamente a propriedade reserva para tem dinheiro para pagar a vista. Como o
si a propriedade como instrumento de vendedor nã o deseja ele pró prio realizar o
garantia na hipó tese em que o comprador financiamento o comprador produra uma
efetua o pagamento em parcelas. instituiçã o financeira e esta sim promove
um financiamento. Celebra-se um contrato
de mú tuo e para garantir o cumprimento
desse contrato de mú tuo aquele comprador
transfere a propriedade daquele bem ou de
outro qualquer de sua titularidade em favor
da instituiçã o financeira.

Percebam que na relaçã o jurídica de direito


real estã o presentes: instituiçã o financeira
(mutuante) comprador (mutuá rio). O
vendedor nã o aparece na relaçã o jurídica
de direito real; o vendedor só se faz
presente no contrato de compra e venda.
Nã o há transferência da propriedade, que Aqui há uma transferência de propriedade
permanece com o vendedor em favor da instituiçã o financeira.
Alguém que sequer integrava a relaçã o
jurídica contratual passa a titularizar a
propriedade, também com escopo de mera
garantia.
25

Só bens mó veis. Pode abranger bens mó veis e imó veis.

O QUE HÁ DE COMUM ENTRE OS INSTITUTOS?

Em ambos a propriedade é exercida com escopo de mera garantia. o proprietá rio


tanto na compra e venda com reserva de domínio, quanto na alienaçã o fiduciá ria nã o tem
as faculdades jurídicas de uso, gozo, disposiçã o ou reivindicaçao. A propriedade serve
como instrumento de mera garantia.

Efeito prá tico disso: o bem objeto da compra e venda com reserva de domínio serve como
instrumento de garantia por dívidas do comprador? Nã o, porque enquanto nã o quita o
preço o bem pertence ao vendedor. Mas será que ele responde por dívidas do vendedor?
Também nã o! Isso porque em que pese aquele bem ser de titularidade do vendedor, na
realidade aquela propriedade serve como instrumento de mera garantia.

Isso também acontece na alienaçã o fiduciá ria em garantia. O bem objeto da alienaçã o
fiduciá ria nã o responde por dívidas do devedor fiduciante, porque o bem pertence ao
credor fiduciá rio; mas também nã o responde por dívidas do credor fiduciá rio, porque o
objeto da propriedade fiduciá ria busca mera garantia. Se aquele bem respondesse por
dívidas do credor fiduciá rio haveria burla à garantia abrangida pela alienaçã o fiduciá ria.

Então, nós temos aqui duas hipóteses de PATRIMÔNIO DE AFETAÇÃO.

5) VENDA SOBRE DOCUMENTOS (art. 529 a 532)


Na venda sobre documentos a transferência da coisa é substituída pela
transferencia de documentos que representam a coisa. Entã o, ao invés de haver a
tradiçã o do bem em si como meio de transferência da propriedade, há a entrega de
documentos que substituem a coisa. É como se o proprio documento correspondesse à
coisa – art. 529 do CC.

A entrega de documentos ao invés da coisa vem em consonâ ncia com o dinamismo das
relaçõ es jurídicas contemporâ neas.

Paragrafo único  se o defeito nã o tiver sido previamente comprovado, se a


documentaçã o estiver em ordem, nã o pode o comprador recusar a entrega argumentando
defeito de qualidade ou estado da coisa vendida, porque na verdade a entrega do
documento substitui a entrega da coisa.

Vejam que isso atrairia riscos incalculá veis ao comprador. Por isso, a venda sobre
documentos está quase sempre associada a um contrato de seguro, que venha a cobrir os
riscos suportados pelo comprador. E a questã o do seguro vem, inclusive, prevista no art.
531 do CC. Nesse caso, os riscos correm por conta do comprador na medida em que o
seguro lhe oferece tal proteçã o. É claro que se o seguro é parcial (nã o cobre a totalidade da
mercadoria) os riscos para o comprador também sã o parciais. Os riscos sã o suportados na
exata proporçã o do seguro realizado.

Art. 532  prevê a hipótese de pagamento por estabelecimento bancário. Aqui, na


prá tica, quase sempre o banco realiza um financiamento em favor do comprador. O banco
empresta o dinheiro ao comprador para que o comprador efetue o pagamento.
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O banco nã o tem a obrigaçã o de verificar a idoneidade e a existencia ou nã o de vícios na


coisa. Basta checagem da documentaçã o. Nesse caso, a responsabilidade por vícios é do
vendedor.

2. CONTRATO DE DOAÇÃO (art. 538 e ss.)


Art. 538  o conceito de doaçã o trazido por esse artigo é objeto de críticas por parte da
doutrina. Porque a redaçã o do art. 538 nã o guarda fidelidade ao sistema obrigacional. O CC
está dizendo aqui que pelo contrato de doaçã o o doador “transfere” quando na verdade
pelo contrato de doaçã o o doador “se obriga a transferir”.

O que transfere a propriedade aqui não é o contrato de doação. O que vai transferir
a propriedade será a tradição ou o registro, em regra. Pelo contrato de doação o
doador apenas se obriga a transferir.

Ao contrá rio da doaçã o, a redaçã o da compra e venda – art. 481 – vem em harmonia com o
sistema obrigacional. Ao contrá rio do art. 538 – doaçã o – que vai contra o sistema
obrigacional.

Só que a expressã o “transfere” deixa claro que é da essência da doação que haja
mutação patrimonial. É preciso que o bem saia do patrimônio do doador e passe ao
patrimônio do donatário.

Percebam que nem toda a liberalidade abrange essa mutaçã o patrimonial. Existem
liberalidades que nã o configuram doaçã o, porque é premissa à doaçã o que haja mutaçã o
patrimonial – ex.: remissã o de dívida – a remissã o de dívida é um ato de liberalidade, mas
nã o há mutaçã o, transferência patrimonial; nã o se confunde com doaçã o. Da mesma forma,
a renú ncia – também nã o se confunde com doaçã o, porque na renú ncia nã o há mutaçã o
patrimonial, nã o há transferência patrimonial.

Em relaçã o à renú ncia à herança: se no primeiro momento em que cabe ao herdeiro


intervir no processo de inventá rio ele renuncia à herança, nó s temos a renú ncia
abdicativa, que é a renú ncia propriamente dita – nã o há doaçã o. Qual é a ló gica aqui por
ficçã o jurídica? Em que pese a saisine (pela saisine a propriedade passa automaticamente
aos herdeiros), se no momento em que primeiro lhe cabe intervir no processo o herdeiro
renuncia à herança, a herança nã o integrou ainda definitivamente o seu patrimô nio. Entã o,
se ele renú ncia nesse primeiro ato nã o há mutaçã o patrimonial, nã o há transferência
patrimonial. Agora, se o herdeiro aceita expressamente ou tacitamente a herança e
posteriormente, no curso do inventá rio, renuncia, aí nó s temos a renú ncia translativa. E a
renú ncia translativa tem natureza jurídica de doaçã o.

Com a aceitaçã o expressa ou tácita da herança, os bens objeto do acervo hereditá rio
passam a incorporar definitivamente o patrimô nio do herdeiro; e apó s essa incorporaçã o,
se ele “renuncia”, aí sim nó s passamos a ter mutaçã o patrimonial – o bem vai sair do
patrimonio daquele herdeiro em favor de outro herdeiro envolvido no inventá rio. Nesse
caso, nó s temos a renú ncia translativa que tem natureza jurídica de doaçã o e o efeito
prá tico é a incidência do ITD intervivos. Nesse caso, além do ITD mortis causa, fruto da
sucessã o mortis causa, nó s também teremos a incidência do ITD intervivos, por força da
doaçã o.
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A doação é contrato unilateral – gera obrigações apenas para o doador.

É gratuito.

OBS.: Muito se discutia se a doação com encargo era gratuita ou onerosa. E a maioria
da doutrina dizia que a doaçã o com encargo era gratuita, porque o encargo nã o tem
natureza de contraprestaçã o – o encargo é elemento acidental do negó cio jurídico. Por
esta razã o, a doaçã o seria um contrato gratuito, ainda que a doaçã o estivesse sujeita a
encargo.

Só que o CC atual parece nã o tem adotado essa posiçã o – o art. 441, pará grafo ú nico fala
em doaçã o onerosa. E o art. 562 da mesma forma! Entã o, pela letra fria do CC a doaçã o
com encargo seria uma exceçã o – seria um contrato oneroso – o que nã o é objeto de
concordancia absoluta da doutrina. Boa parte da doutrina diverge do CC.

Além disso, a doação é, em regra, contrato formal, solene – art. 541, caput do CC – “a
doaçã o far-se-á por escritura pú blica ou instrumento particular”. Ou seja, a doaçao far-se-á
por escrito. O legislador exige, em regra, forma escrita.

Só que o pará grafo ú nico traz uma EXCEÇÃO: “A doação verbal será válida, se, versando
sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.”  se a doação
envolver bem móvel e de pequeno valor, a doação passa a ser contrato não solene,
porque admite-se forma verbal. Mas, em contrapartida, a doação que passa a ser
não solene, passa a ser contrato real, porque o legislador passa a exigir a entrega do
bem para formação da doação nesse caso.

(Cuidado para nã o confundir: uma primeira classificaçã o dos contratos diz que os
contratos podem ser consensuais ou reais. Os contratos reais sã o aqueles que só se
consumam com a entrega da coisa. Os contratos consensuais se consumam
independentemente da entrega da coisa; eles se consumam com o acordo de vontades. Só
que os contratos consensuais podem ser solenes ou nã o solenes, formais ou nã o formais.
Eles vao ser solenes quando o acordo de vontades necessariamente obedecer uma forma
exigida por lei; se o legislador exige forma escrita, isso já basta para que o contrato seja
tido como solene; mas se o legislador admite a forma verbal, ele passa a ser um contrato
nã o solene, um contrato nã o formal. Entã o, vejam que sã o duas classificaçõ es diferentes!
Nada impede que um contrato seja solene e real ou nã o solene e real. Contrato real nã o se
confunde com contrato solene. Atençã o, pois os contratos reais representam uma exceçã o
no direito brasileiro contemporâ neo)

Percebam que a definição aqui de “pequeno valor” deve ser interpretada à luz da
capacidade contributiva/econômica do doador. RESP 155.240.

Além disso, a doação é contrato típico e principal.

CONTROVÉRSIA: CONTRATO PRELIMINAR DE DOAÇÃO OU PROMESSA DE DOAÇÃO.

Existem 04 correntes sobre o tema:

1ª corrente: veda contrato preliminar de doaçã o – nã o há efeitos na promessa de doaçã o.


Isso porque ninguém pode ser compelido a um ato de liberalidade. Entre a promessa de
doaçã o e a concretizaçã o da liberalidade, poderia o promitente doador voltar atrá s. E se a
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promessa de doaçã o produzisse efeitos, se o contrato preliminar de doaçã o produzisse


efeitos, poderia o promitente donatá rio se valer da tutela específica e compelir o
promitente doador a uma liberalidade. Como ninguém pode ser compelido a um ato de
liberalidade, nã o se admite efeitos à promessa de doaçã o.

2ª corrente (predominante): diz que, em regra, não se admite a promessa de


doação. A exceção seria quando a promessa de doação constitui verdadeira
transação. Isso é muito comum no caso de promessa de doaçã o no caso de ruptura de
sociedade conjugal; no momento da partilha os conjuges acordam promessa de doaçã o em
favor de um ou de outro. Só que nesses casos o que se sustenta é que a promessa de
doaçã o nã o é uma verdadeira liberalidade ajustada entre os conjuges e sim uma
verdadeira transaçã o quando da partilha dos bens. E aí nesse caso a promessa de doaçã o
produz efeitos vinculantes sim. Enunciado 549 do CJF.

3ª corrente: admite promessa de doaçã o, destacando que o descumprimento da promessa


gera perdas e danos. VENOSA, PONTES DE MIRANDA.

4ª corrente: admite a promessa de doaçã o, inclusive com o cabimento de tutela específica.


Entã o, poderia o promitente donatá rio constranger o promitente doador a transferir-lhe a
propriedade. ARNALDO RISARDO, HARNOLD WALD, MARIA CELINA BODIN DE MORAIS.

Argumentos: A) dificulmente o promitente doador nã o tem nenhum interesse na


liberalidade. Quase sempre o promitente doador tem algum interesse em praticar
liberalidade – discutível esse argumento, inclusive diante do princípio constitucional da
solidariedade! B) Para que a promessa de doaçã o nã o gere efeitos vinculantes, para que
nã o caiba tutela específica, basta a inserçã o da clá usula de arrependimento. Entã o, se as
partes nã o inserem a clá usula de arrependimento é porque elas desejaram a produçã o de
efeitos vinculantes. C) E além disso, fala-se ainda em boa-fé objetiva – tutela da legítima
expectativa do donatá rio.

EM RELAÇÃO À ACEITAÇÃO DO DONATÁRIO:

O art. 539 do CC diz que no caso de doação pura o silêncio do donatário implica em
concordância – aceitação presumida. Por se tratar de liberalidade o legislador flexibiliza
bastante o rigor em relaçã o à s formas de aceitaçã o pelo donatá rio.

Além disso, o art. 546 prevê uma hipó tese de aceitaçã o tá cita do donatá rio – no caso da
chamada DOAÇÃO PROPTER NUPTIAS (em favor dos nubentes) – o casamente
superveniente gera aceitaçã o tá cita dos donatá rios.

O legislador prevê ainda aceitaçã o ficta na hipó tese do art. 543. O donatá rio pode ser
absolutamente incapaz no caso de doaçã o pura. Exceçã o à regra geral das incapacidades.

Nada impede a aceitaçã o tácita da doaçã o – é o donatá rio que passa a utilizar o bem – ele
nã o diz que aceita, mas ele passa a utilizar-se do bem.

Por se tratar de liberalidade, o legislador também flexibiliza aqui regras a respeito


da capacidade do donatário. Porque, pela regra geral do direito civil, sem capacidade de
fato de ambas as partes o contrato só se constituiria no caso de representaçao ou
assistência da parte incapaz, sob pena de nulidade ou anulabilidade.
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Só que nó s temos aqui regras particulares no caso de doaçã o em relaçã o à capacidade do


donatá rio. Ex.: art. 542 prevê doaçã o em favor do nascituro (sabendo-se que há
controversia a respeito do surgimento da personalidade jurídica) – corrente natalista
entende que só há personalidade juridica a partir do nascimento com vida. Por essa teoria
o nascituro nã o teria sequer personalidade jurídica e o CC admite aqui a doaçã o em favor
do nascituro. Mas mesmo pela teoria concepcionista que defende que o nascituro tem
personalidade jurídica é inequivoco que o nascituro nã o tem capacidade de fato, mas ainda
assim o art. 542 prevê a doaçã o em favor do nascituro, desde que aceita pelo seu
representante legal.

Art. 543 – doaçã o pura em favor de absolutamente incapaz: nesse caso, dispensa-se a
aceitaçã o. Nã o se exige nem sequer anuência do representante legal do absolutamente
incapaz.

O CC também prevê doaçã o a entidade futura no art. 554. Pode o doador querer estimular
a criaçã o de uma PJ e com isso ele faz essa doaçã o em favor dessa entidade futura só que
esta doaçã o pressupõ e para sua efetividade que haja a constituiçã o da pessoa jurídica e o
prazo má ximo é de 02 anos.

O CC preve ainda no art. 546 a doaçã o em favor do concepturo – prole eventual.

2.1. ESPÉCIES DE DOAÇÃO:

1) DOAÇÃO REMUNERATÓRIA (art. 540)


Na doação remuneratória o doador busca recompensar o donatário por serviços
prestados e pelos quais não se tornara credor com prestação exigível.

O donatá rio prestou aqui algum tipo de serviço ao doador, só que em que pese a prestaçã o
desse serviço, o donatá rio nã o é credor do doador por esses serviços prestados. Ex.: um
amigo advogado presta serviço ao outro gratuitamente. O amigo que foi contemplado com
a prestaçã o gratuita dos serviços advocatícios, se sente tã o satisfeito com os serviços
prestados que pretende remunerar o seu amigo. Nesse caso, temos uma doaçã o
remunerató ria.

Nã o chega a ser uma obrigaçã o natural, porque a prestaçao nã o é sequer devida, mas há
uma razã o de ordem moral que inspira a doaçao remunerató ria. Mas nã o se confunde com
a obrigaçã o natural (em que há o débito, mas nã o há a responsabilidade). Na doaçã o
remunerató ria nã o há sequer o débito.

O art. 540 diz que a doaçao remuneratória não perde o caráter de liberalidade.

TEPEDINO: Para ele, a doação remuneratória é um contrato misto. Isso porque na


doaçã o remunerató ria há uma junçã o entre doaçã o e prestaçã o de serviços. A prestaçao de
serviços + doaçã o gera a doaçã o remunerató ria. Suponhamos que alguém tenha um
parente adoecido e haja lá uma enfermeira que cuida daquele parente. Há uma
remuneraçã o pactuada pelos serviços ali prestados. Mas vamos supor que a enfermeira é
tã o cuidadosa, que além de remunerá -la pelos serviços prestados, o sujeito decide pagar
um valor superior. Nó s teríamos nesse caso a doaçã o remunerató ria. Até o valor das
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serviços prestados, nó s teríamos onerosidade; mas naquilo que acresce ao valor dos
serviços prestados nó s teríamos liberalidade. A junçã o da prestaçã o de serviços com a
doaçã o gera a doaçã o remunerató ria. Os dois tipos se fundem num só . Entã o, a doaçã o
remunerató ria resultaria da junçã o entre a prestaçã o de serviços + doaçã o.

Com isso, TEPEDINO destaca que é preciso interpretar com cautela algumas disposiçõ es
do CC a respeito de doaçã o remunerató ria. Ex.: o art. 552 do CC diz que o doador nã o é
obrigado a pagar juros morató rios e nem se sujeita à s consequencias da evicçã o ou do
vício redibitó rio. Para a doaçã o remunerató ria, o doador só nã o responde por juros, vício
redibitó rio e evicçã o em relaçã o à quilo que ultrapassa o valor dos serviços prestados. Até
o limite do valor dos serviços prestados nã o se aplica o art. 552, em que pese a doaçã o
remunerató ria englobar tanto a prestaçã o de serviços quanto a doaçã o.

Por outro lado, o art. 564, I do CC diz que nã o se revogam por ingratidã o as doaçõ es
puramente remunerató rias. TEPEDINO diz que esse art. só se aplica à parte que vai até
valor dos serviços prestados, porque até o valor dos serviços prestados houve na verdade
uma contrapartida do donatá rio. Mas pelo valor que ultrapassa os serviços prestados cabe
sim a revogaçã o por ingratidã o, porque aquilo que ultrapassa o valor dos serviços
prestados constitui verdadeira liberalidade.

Lembrando que o TEPEDINO é minoritá rio.

2) DOAÇÃO EM CONTEMPLAÇÃO DO MERECIMENTO DO


DONATÁRIO (art. 540)
Essa doação busca reconhecer, exaltar o mérito do donatário, suas qualidades.
Vamos supor que o empregado de longa data receba do empregador uma caneta de ouro a
título de doaçã o quando de sua aposentadoria. Ou o doador que doa um veículo da
empresa ao empregado.

Cuidado: vamos supor que haja uma doaçao em contemplaçã o do merecimento do


donatá rio, pelo fato do donatá rio ter realizada uma determinada conduta em favor do
doador. Um empregado de longa data sempre muito diligente que vem a salvar o filho do
empregador, por exemplo. Entã o, a doaçã o está calcada no fato do donatá rio ter salvo a
vida do doador. Vejam que nesse caso vamos imaginar que posteriormente a essa doaçã o o
doador descobre que nã o foi o donatá rio quem salvou a vida do seu filho; ou descobre que
o donatá rio nã o tem aquelas qualidades que ele buscou exaltar quando fez a doaçã o. Nesse
caso, aplicá vel o art. 140 do CC – “O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando
expresso como razão determinante.” – entã o, se na doaçã o constar como razã o
determinante da doaçã o o fato do donatá rio ter salvo a vida do filho do doador, por
exemplo, se posteriormente se descobre que o donatá rio nã o salvou a vida do filho,
aplicá vel o art. 140 – anulabilidade da doaçã o em contemplaçã o. Mas é preciso que essa
razã o determinante conste explicitamente do contrato de doaçã o.

3) DOAÇÃO COMO ADIANTAMENTO DE LEGÍTIMA (art. 544)


É a doação de ascendente a descendente ou de um cônjuge a outro.
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Essa regra seria ou nã o aplicá vel a uniã o está vel? Vide aula passada – interpretaçã o do art.
496 do CC. Mesma discussã o.

Essa presunção de que a doação de ascendente para a descendente ou de conjuge a


outro é adiantamento de legítima, é presunção absoluta ou relativa?

Presunçã o relativa! O doador nã o é obrigado a dispor de maneira paritá ria dos seus bens
em favor de cada um dos seus herdeiros. O que o CC prevê no direito sucessó rio é a
intangibilidade da legítima, ou seja, o testador só pode dispor de até 50% do seu
patrimonio. Mas ele nã o é obrigado a contemplar os herdeiros em cará ter paritá rio, pois
ele tem uma parcela disponível.

Entã o, dentro da parcela disponível pode o doador manejar os seus bens da maneira que
melhor lhe aprouver. Logo, afirmar que a doaçao importa adiantamento de legítima é
presunçã o relativa, porque impede que o doador esteja contemplando um dos seus
descedentes de maneira mais favorá vel, desde que respeitada a intangibilidade da
legítima.

Remissã o para o art. 2005 e 2006 do CC.

Quando o CC fala aqui em doaçã o de ascendente à descendente, por descendentes aqui


entenda-se todos aqueles descendentes que tenham expectativa sucessó ria imediata.
Entã o, se atentem aqui para a hipó tese de sucessã o por estirpe ou por direito de
representaçã o; no caso de pré-morto, eventual sucessor de grau inferior pode ter que
anuir ao lado dos sucessores de grau inferior.

Em sendo a doaçã o adiantamento de legítima, aqueles bens objeto da doaçã o terã o que ser
trazidos à colaçã o; e a colaçã o é sistematizada nos art. 2002 a 2012 do CC.

Vamos supor que o doador tenha feito a doaçã o para um dos seus descendentes. E que
essa doaçã o seja um adiantamento de legítima. Vamos supor que haja perda sem culpa
daquele bem doado parte do donatá rio. Será que mesmo diante da perda sem culpa o
donatá rio terá que trazer à colaçao o equivalente daquele bem perdido? Será que a perda
sem culpa mantem a obrigaçã o do donatá rio em trazer à colaçã o o equivalente pecuniá rio
do bem perdido?

Em alguns países nã o! Ex.: CC portugues, italiano, francês – nesses países nã o haveria


colaçã o, porque houve perda sem culpa do bem.

O CC brasileiro nã o trouxe a mesma soluçã o. Ao contrá rio, o CC no art. 2010 diz o que nã o
deve ser trazido à colaçã o e nã o ressalvou essa hipoteses. Logo, o donatá rio terá que trazer
o equivalente do bem perdido sem culpa à colaçã o – res periti domino. Na medida em que
obem foi entregue ao donatá rio, o bem passou a ser de titularidade daquele donatá rio
contemplado e os riscos por perda ou deterioraçã o sem culpa correm por conta do
donatá rio.

Remissã o para o art. 2011 c/c 540 do CC – como na doaçã o remunerató ria houve algum
tipo de serviço prestado pelo descendente em favor do ascendente, o legislador dispensa
aqui a colaçã o, em homenagem à vedaçã o ao enriquecimento sem causa. Entã o, a
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realizaçã o das serviços pelo descendente em favor do ascendente afasta a necessidade de


colaçã o nesse caso.

4) DOAÇÃO EM FORMA DE SUBVENÇÃO PERIÓDICA (art. 545)


Ex.: Vamos supor que um tio se comprometa a fazer doaçõ es mensais a um determinado
sobrinho.

O CC traz a presunçã o relativa de que a morte do doador a extingue. E por outro lado, traz
a presunçã o absoluta de que a morte do donatá rio extingue o contrato.

5) DOAÇÃO COM CLÁUSULA DE REVERSÃO (art. 547)


Regra geral: o doador transfere os bens para o donatá rio e se o donatá rio vem a falecer os
bens passam para os herdeiros, para os sucessores do donatá rio.

Com a clá usula de reversã o (que nã o se presume), se o donatá rio morrer antes do doador,
os bens voltam para o doador. Entã o, no caso de pré-falecimento do donatá rio em relaçã o
ao doador, os bens voltam ao doador, desde que haja clá usula de reversã o.

Pergunta de prova: O que aconteceria no caso de comoriência entre doador e


donatário em havendo cláusula de reversão?

No caso de comoriencia, nã o há o pré-falecimento do donatá rio; há sim uma presunçã o de


falecimento simultâ neo – art. 8º do CC. Havendo presunçã o de simultaneidade no caso da
comoriência, nó s nã o temos aqui o implemento da condiçã o resolutiva (qual seja, pré-
falecimento do donatá rio). Sendo o falecimento simultaneo no caso de comoriencia, os
bens passam para os sucessores do donatá rio. Os bens só voltam para o doador se houver
o pré-falecimento do donatá rio em relaçã o ao doador.

O donatário, nesse caso, pode transferir o bem para terceiros? E em transferindo o


em para terceiros, quais são as consequencias disso?

Vale a remissã o desse art. 547 para o art. 1359 do CC – nó s estamos aqui diante de uma
condiçã o resolutiva, qual seja o pré-falecimento do donatá rio em relaçã o ao doador –
evento futuro e incerto. Ou seja, nesse caso, a propriedade do donatá rio é resolú vel e aí
nó s passamos a aplicar o art. 1359 do CC – deixa claro que quem tem propriedade
resolú vel, transfere propriedade resolú vel. Até porque ninguém pode transferir mais
direitos do que tem. Percebam que, nesse caso, o terceiro que adquire o bem do donatá rio
vai se submeter à mesma condiçã o resolutiva. Ou seja, se o donatá rio morrer antes do
doador, o terceiro adquirente perde a propriedade em favor do doador, porque ele
adquire propriedade resolú vel nos mesmos moldes do donatá rio.

Atenção: só se aplica o art. 1359 se a condiçã o resolutiva tiver averbada no registro para
que terceiros saibam que estã o adquirindo propriedade resolú vel. Entã o, é preciso que
clausula de reversã o esteja averbada junto ao registro.

Remissã o ao art. 130 do CC. No caso de pré-falecimento do donatá rio em relaçã o ao


doador, o doador volta a ter a titularidade sobre a coisa. Entã o, o doador na verdade é
titular de um direito eventual – direito sujeito a uma condiçao suspensiva, qual seja o pré-
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falecimento do donatá rio. E o art. 130 deixa claro que o titular do direito eventual, nesse
caso, pode adotar medidas conservativas do seu direito.

Paragrafo único do art. 547: não prevalece cláusula de reversão em favor de


terceiro. Entã o, a clá usula de reversã o só se admite se for feita em favor do proprio
doador. Isso porque o doador estaria se vinculando de antemã o a uma liberalidade em
favor de um terceiro e ninguém pode ser compelido a uma liberalidade futura. Remissã o
para o art. 166, VII do CC (nulidade virtual ou implícita).

AULA 03
6) DOAÇÃO UNIVERSAL (art. 548)
A hipotese aqui é de nulidae absoluta. Na verdade, o dispositivo, hoje, deve ser
interpretado a luz da tutela da dignidade da pessoa humana, porque é premissa à nulidade
da doaçã o nesse caso que o sujeito disponho de todos os bens sem manter consigo meios
para sua propria subsistencia.

OBS.: NÃO CONFUNDIR SUBSISTÊNCIA COM SOLVABILIDADE! Se a doaçã o compromete


a solvencia, mas nã o a subsistencia, a hipotese é de anulabilidade – fraude contra credores.
Mas se a doaçã o, além de atingir a solvencia, também atingir a subsistencia, neste caso sim
temos nulidade absoluta.

Nesse contexto, parece nítido que na hipotese em que o sujeito doa todos os seus bens com
reserva de usufruto, nesse caso, nã o há nulidade do art. 548 do CC. Ex.: sucessã o em vida –
os pais doam todos os bens aos respectivos filhos com reserva de usufruto. Nesse caso, nã o
há nulidade do art. 548 do CC, porque através do usufruto o doador o doador vai manter
consigo as faculdades juridicas de natureza economica que lhe permitirã o a tutela da sua
propria subsistencia; permanecerã o com as faculdades juridicas de uso e goza, mantendo,
portanto, mecanismos de subsistencia, em que pese ter doado todos os seus bens.

(Isso se faz até mesmo como forma de planejamento tributá rio; há uma legislaçã o estadual
que prevê que nesse caso ao inves de pagar 4% quando do falecimento a titulo de ITD, se
paga 2% a título de imposto no momento da doaçã o + 2% remanescentes com a baixa do
usufruto quando do falecimento do doador; nesse caso, também nã o há necessidade de
inventá rio).

Hipótese em que o sujeito doa todos os seus bens, mas mecanismos de subsistencia
através de remuneração –salário, subsídio ou aposentadoria, por exemplo – nesse
caso, temos duas correntes:

1ª corrente (CUNHA GONÇALVES): entende que é possivel a doaçã o nesse caso afinal de
contas a remuneraçã o do doador mantém com ele mecanismos de subsistencia.

2ª corrente (SILVIO CAPANEMA): nesse caso, é possivel que haja insegurança juridica e
fatica quanto à manutençã o da sua propria subsistencia. E aí nesse caso seria nula a
doaçã o.

Há quem defenda que seria possível a hipotese de doação em que o sujeito dispõe de
todos os seus bens com encargo ao donatário de prover a subsistência do doador
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(doação modal, com encargo). Nesse caso, o doador poderia dispor de todos os seus
bens em favor do donatá rio. Até porque caso o donatá rio descumpra a sua obrigaçã o de
prover a subsistencia do doador caberia a revogaçã o da doaçã o por inexecuçã o do encargo
(SILVIO CAPANEMA).

Muitos autores defendem que na hipotese do art. 548 é possível falar em nulidade
parcial. Isso nã o está previsto no dispositivo. A nulidade parcial permitiria a reduçã o da
liberalidade até o limite necessá rio a preservaçã o da subsistência do doador. Entã o, ao
inves da doaçã o se desconstituir por completo, a nulidade absoluta atingiria apenas parte
da disposiçã o patrimonial, de molde a preservar a subsistencia do doador. Isso decorreria
da aplicaçã o por analogia dos art. 184 e 549 do CC – ambos os artigos contemplam a
possibilidade de invalidade parcial (princípio da conservaçã o dos atos e dos negó cios
jurídicos). Nesse sentido, CHAVES, PABLO STOLZE.

7) DOAÇÃO INOFICIOSA (art. 549)


Quem tem herdeiros necessá rios só pode dispor da metade de seus bens. A tutela da
legítima das herdeiros necessá rios encontra-se no art. 1846 do CC. Com isso, o art. 549
do CC – que trata da doação inoficiosa – diz que quem tem herdeiros necessários só
pode doar a metade do seu patrimonio. Fazer remissã o do art. 549 ao art. 1846 do CC.

O art. 549 do CC traz uma modificaçã o relevante em relaçã o a disciplina do tema que era
abordada no art. 1.014, paragrafo ú nico do CPC. Antes do CC/02, o art. 1.014, paragrafo
ú nico do CPC dizia que o momento adequado para aferir o atingimento ou nã o da legítima,
no caso da doaçã o, seria a abertura da sucessã o. O CC atual inova em relaçã o ao tema (foi
abolido o art. 1.014, paragrafo ú nico do CPC) e o CC agora diz “no momento da
liberalidade” e nã o mais no momento da abertura da sucessã o. Entã o, o que importa aqui é
verificar se houver ou nã o atingimento da legítima no momento da liberalidade.

A ratio aqui foi a segurança juridica, porque a questã o ganha relevâ ncia na hipó tese de
oscilaçã o patrimonial. Pode ser que um determinado sujeito rico faça uma determinada
doaçã o na data de hoje, aquela doaçã o tem pouca expressã o economica dentro do contexto
patrimonial do doador, nã o atinge a legítima dos herdeiros necessá rios e ao longo da vida,
30 anos depois, o sujeito falece empobrecido, por circunstancia absolutamente alheias à
doaçã o. Pode ser que aquele montante no momento da doaçã o que era desprezível, no
momento da abertura da sucessã o corresponda a mais da metade do patrimonio do
doador. Vejam que essa oscilaçã o patrimonial ao longo de 30 anos poderia permitir a
desconstituiçã o da doaçã o realizada anos atrá s. Logo, haveria abalo à segurança jurídica e
a legítima expectativa do donatá rio e de terceiros adquirentes de boa-fé. O STJ já
enfrentou a questão – Informativo 512.

Nós temos aqui, na verdade, uma hipótese de nulidade parcial, aqui sim
explicitamente prevista, porque o CC diz que é nula a doaçã o apenas na prte que exceder a
parcela disponível. Remissã o ao art. 2.007 do CC.

Questão já pacificada: houve quem defendesse (WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO)


que essa nulidade só poderia ser provocada apó s o falecimento do doador. Isso por conta
do art. 426 – vedaçã o ao PACTA CORVINA. Logo, esse autor dizia que nã o poderiam os
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herdeiros necessá rios discutir a nulidade dessa doaçã o que ultrapasse a parcela disponível
do doador, enquanto vivo o doador, porque estariam discutindo herança de pessoa viva.

Essa tese, hoje, é absolutamente superada! O entendimento amplamente dominante é no


sentido de que a matéria aqui é direito obrigacional e nã o de direito sucessó rio. O que nó s
temos aqui é um requisito de validade a celebraçã o de um contrato. Além disso, a hipotese
é de nulidade – matéria de ordem pú blica. Além disso, o CC explicitamente diz que o
momento para se aferir a validade do contrato é o momento da liberalidade e nã o o
momento da abertura da sucessã o.

STJ, RESP 1.361.983 – INFORMATIVO 539  O STJ nesse julgado afirmou que no caso de
cessã o de herança o cedente permanece legitimado à provocar a nulidade da doaçã o
inoficiosa. O STJ diz que nesse caso o cedente nã o cede a qualidade de herdeiro, mas
apenas as suas prerrogativas patrimoniais oriundas da herança e como ele mantém
consigo a qualidade de herdeiro, ele permanece legitimado a suscitar a nulidade do art.
549 do CC.

Art. 550  prevê uma hipótese de anulabilidade da doação do conjuge adultero


para a amante. O prazo para provocar a anulabilidade é de 02 anos depois de solvida a
sociedade conjugal.

Percebam que se o conjuge traído à epoca da dissoluçã o da sociedade conjugal nã o tinha


ciencia da doaçã o feita pelo outro conjuge à amante, neste caso, nã o se inicia o prazo de 02
anos. É possível invocar aqui a TEORIA DA ACTIO NATA – se o conjuge inocente nã o sabia
da doaçã o feita pelo outro conjuge à amante no momento da dissoluçã o da sociedade
conjugal, nã o se inicia o prazo decadencial de 02 anos – pela teoria da actio nata, os prazos
prescricionais e até mesmo decadenciais só se iniciam a partir do momento em que o
direito é exercitá vel e percebam que como o conjuge inocente nã o tinha ciencia da doaçã o
quando da dissoluçã o da sociedade conjugal a pretensã o de anulabilidade nã o era
exercitá vel naquele momento.

Vamos imaginar que no curso da sociedade conjugal o conjuge atraído tome ciencia da
doaçã o feita pelo outro conjuge à amante. Em que pese a ciencia da doaçã o feita para a
amante, o conjuge inocente perdoa o outro e o casamento subsiste. E por um fato
superveniente, diferente da doaçã o mencionada, eles venham a se separar. Será que nesse
caso, ainda assim, é aplicá vel o art. 550? Poderá o conjuge inocente provocar a
anulabilidade até dois anos depois de solvida a sociedade conjuge, considerando o perdã o
anterior? A tendencia da doutrina é no sentido de que nã o! Haveria aqui venire contra
factum proprium – boa-fé objetiva.

Nesse caso da doaçã o do conjuge para a amante haveria anulabilidade no caso de doaçã o
remunerató ria? (Lembrando que doaçã o remunerató ria está no art. 540 do CC e o
entendimento predominante é no sentido de que a doaçã o remunerató ria ocorre em favor
de alguém que lhe presta um determinado serviço em relaçã o ao qual nã o há pretensã o
exigível) Logo, será que o art. 550 se aplica ainda no caso de doaçã o remunerató ria?
Duas correntes:
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1ª corrente: entende que sim, há anulabilidade de qualquer forma. Isso porque o art. 540
diz que a doaçã o remunerató ria nã o perde o cará ter de liberalidade. E o art. 550 nã o
restringe.

2ª corrente: entende que nã o. Argumentos: vedaçã o ao enriquecimento sem causa, já que


o serviço foi prestado; além disso, aplicaçã o por analogia do art. 2011 do CC.

OBS.: DOAÇÃO CONJUNTIVA  está no art. 551 do CC. Se há uma doaçã o em favor de A e
B sem que o doador explicite a parcela cabível a cada um deles, presume o legislador aqui
50% para A e 50% para B – presunçã o relativa (princípio da autonomia privada).

O parágrafo único do art. 551 diz que em regra o direito de acrescer não se
presume. Só se presume o direito de acrescer se os donatá rios forem marido e mulher; o
direito de acrescer seria o seguinte: doaçã o feita para A e para B; no caso de falecimento
do A, aquela parcela do A viria automaticamente em favor do B e nisso consiste o direito
de acrescer. E o CC explicitamente diz que só se aplica o direito de acrescer se A e B forem
marido e mulher. Nas demais hipoteses o direito de acrescer nã o se presume. Remissã o
para o art. 1411 do CC – também traz a ideia de que o direito de acrescer nã o se presume
no caso de usufruto.

Essa regra pode ser ou nã o aplicada na hipotese de uniao está vel? No caso de uniã o está vel
o direito de acrescer se presume ou nã o?

1ª corrente: entende que nã o! Ausência de previsã o normativa.

2ª corrente: entende que sim – art. 226, § 3º da CF.

Art. 552  diz que o doador não é obrigado a pagar juros moratórios nem é sujeito
as consequencias da evicção ou do vício redibitório. Ou seja, como a doaçã o é um ato
de liberalidade, o doador nã o responde por juros morató rios nem se sujeita à s
consequencias da evicçã o e do vício redibitó rio.

Essa 1ª parte do art. 552, de acordo com boa parte da doutrina, só se aplica à s doaçõ es
genuinamente gratuitas. Nã o se aplicam ao que alguns chamam de doaçõ es onerosas.
Basta remissã o ao art. 441, paragrafo ú nico – esse dispositivo está no contexto da
sistemá tica dos vícios redibitó rios. Então, em se tratando de doações onerosas (doação
remuneratória e doação com encargo), o doador responde por juros moratórios e
também pela evicção e pelos vícios redibitórios. (em relaçã o aos juros morató rios e a
evicçã o é possivel invocar o paragrafo ú nico do art. 441 por analogia).

Parte final do pu do art. 552 – Doaçã o propter nuptias está no art. 546 do CC – doaçã o feita
em contemplaçã o de determinado casamento.

2.2. REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO (art. 555 a 564)


O art. 555 já traz as causas da revogação da doação:

 Ingratidão do donatário
 Inexecução do encargo
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O art. 556 merece interpretaçã o estritiva, literal. Veda a renuncia antecipada do direito
de revogar a doação por ingratidão do donatário. A contrá rio senso, é lícita a renú ncia
antecipada ao direito de revogar a doaçã o por inexecuçã o do encargo.

Em que consiste a ingratidã o do donatá rio? O art. 557 traz hipó teses de ingratidã o.
Atentado contra a vida do doador, ofensa física, atingimento da honra (também se aplica
no caso de difamaçã o apesar da omissã o do inciso III) e recusa de alimentos em favor do
doador.

Nessas hipoteses em que a ingratidão do donatário coincide com a prática de ilícito


penal (ex.: inciso I), a absolvição criminal do donatário excluiria a possibilidade
revogação da doação por ingratidão? Duas posições:

1ª corrente (CAIO MÁRIO, BEVILAQUA): entendem que a absolviçã o criminal exclui a


possibilidade de revogaçã o da doaçã o.

2ª corrente (CARVALHO SANTOS): entende que nã o; teriamos duas cearas distintas e a


ceara criminal nã o interferiria a ceara cível.

Ao professor parece oportuno aplicar por analogia o art. 935 do CC – trata de


responsabilidade civil – diz que em regra há independencia entre as instancias cível e
criminal. A exceçã o é quando no juizo criminal já estiver decidida a materialidade e/ou a
autoria.

O rol do art. 557 é taxativo ou exemplificativo?

1ª corrente: rol taxativo, até porque a norma é restritiva de direitos, logo, comporta
interpretaçã o literal, estritiva. Além disso, segurança jurídica

2ª corrente: Enunciado 33/CJF – isso porque o CC/16 dizia “só se pode revogar por
ingratidã o nas seguintes hipó teses”. O CC atual nã o mais! Logo, em comparaçã o da redaçã o
do CC/16 com a redaçã o do CC atual se sustenta que o rol passou a ser exemplificativo.

OBS.: Duas ponderações em relação a temas que acabamos de ver:

Em relaçã o à doaçã o inoficiosa – art. 549 do CC – nó s temos autores importantes no Brasil


defendendo que essa regra do art. 549 nã o se justifica se todos os herdeiros sã o maiores e
capazes. Isso porque a aplicaçã o do art. 549 do CC nesse caso atinge a dignidade da pessoa
humana do doador, no sentido de que o doador tem a liberdade de dispor dos seus bens
como melhor se aprouver. Haveria uma indevida interferencia do Estado no princípio da
autonomia privada. Só se justificaçã o a aplicaçã o da regra na hipó tese de herdeiros
menores e/ou incapazes. CHAVES, PABLO STOLZE. Mas essa nã o é a redaçã o da lei, entã o,
nã o há nenhuma dú vida de que no Brasil a regra se aplica ainda que todos os herdeiros
sejam maiores e capazes.

Nó s vimos que o art. 549 do CC diz que o momento para se aferir a nulidade da doaçã o é o
momento da liberalidade e nã o mais o momento da abertura da sucessã o. Vamos imaginar
que o sujeito tenha 500 em patrimô nio e tenha um herdeiro necessá rio. Ele doa 250 –
respeitou o art. 549 do CC. Um mês depois ele tem 250 e doa 125 – respeitou o art. 549.
Dois meses depois ele tem 125 e doa 60 – também respeitou o art. 549. Ele faz, assim,
sucessivas doaçõ es até o aniquilamento total do seu patrimonio, em que pese ter herdeiros
38

necessá rios, e na verdade numa interpretaçã o literal todas essas sucessivas doaçõ es
respeitaram o art. 549, porque no momento das respectivas doaçõ es o sujeito só teria
disposto de até metade do seu patrimonio. Nesses casos, em que há uma mera aparência
de licitude, é possível aplicar o instituto da fraude à lei – art. 166, VI do CC.

O art. 558 traz uma novidade em relaçã o ao CC velho, porque no CC/16 só haveria
revogaçã o por ingratidã o do donatá rio nas hipoteses em que o donatá rio atentava
diretamente contra a vida do doador. O art. 558 modificou essa regra – pode ocorrer a
revogação quando o ofendido for também o conjuge, ascendente, descendente ou
irmão do doador – isso por si só já caracteriza a ingratidão do donatário. É pacífico
que a regra aqui também se estende à hipótese de união estável (ao companheiro do
doador).

A redaçã o aqui é ultrapassada em relaçã o à CF/88 – o artigo fala em descendente “ainda


que adotivo” – expressã o manifestamente incompatível com a vedaçã o à designaçã o
discriminató ria prevista na CF.

O art. 559 traz o prazo decadencial de 01 ano para a revogação da doação por
ingratidão do donatário, a contar de quando chegue ao conhecimento do doador o
fato que a autorizar (a partir do conhecimento da materialidade da ingratidã o e também
da autoria).

E no caso da revogação por inexecução do encargo? Qual seria o prazo aplicável?

A maioria da doutrina defende a aplicaçã o por analogia do art. 559 do CC, porque nó s
estaríamos falando aqui de um direito potestativo de desconstituir o negó cio jurídico. e em
se tratando de direito potestativo o prazo aqui teria natureza decadencial e como o art.
559 contempla situaçã o parecida, seria aplicá vel o prazo de 01 ano por analogia.

O STJ, em sua ú ltima manifestaçã o sobre o tema, decidiu em sentido contrá rio. O STJ disse
que a demanda em que se pretende a revogaçã o da doaçã o por inexecuçã o do encargo é
condenató ria e em sendo a pretensã o condenató ria o prazo tem natureza prescricional e
nã o decadencial e na ausencia de regra específica contemplando o prazo prescricional, nó s
aplicaríamos o prazo ordiná rio de 10 anos do art. 205 do CC. RESP 472.733. RESP 231.945.

O art. 560 prevê o caráter personalíssimo do direito de revogar a doação. E o cará ter
personalíssimo reciprocamente falando, quer dizer, só o doador pode exigir a revogaçã o
da doaçã o e o doador só pode exigir a revogaçã o da doaçã o em face do donatá rio. O que o
art. 560 prevê é a possibilidade de sucessão processual.

O CC contempla uma exceçã o obvia que o CC/16 nã o previa: art. 561 – caso de homicídio
doloso do doador – é evidente que se o doador foi morto pelo donatá rio nã o há como ele
pleitear a revogaçã o da doaçã o. E aí nesse caso se aplica o art. 561 do CC.

Críticas em relaçã o ao art. 560 do CC: o doador tem o prazo de 01 ano para provocar a
revogaçã o da doaçã o por ingratidã o, prazo esse que flui a partir da ciencia do doador
quanto à materialidade e autoria da ingratidã o. Vamos supor que o doador venha a falecer
um mês depois de tomar ciencia da ingratidã o. Vejam que em se tratando de cará ter
personalíssimo, haveria como que um perdã o tácito, porque se o doador falece um mês
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depois, muito antes do final do transcurso do prazo, ninguém mais pode exigir a revogaçã o
da doaçã o.

Art. 558 – hoje, se o donatá rio pratica atos de ingratidã o contra conjuge, companheiro,
ascendente, descendente ou irmã o do doador, também cabível a revogaçã o. E aí percebam
que se por ventura o doador já tiver falecido o donatá rio parece estar livre para praticar
atos de ingratidã o contra essas pessoas proximas do doador falecido, tendo em vista que
essas pessoas nã o tem legitimidade para suscitar a revogaçã o da doaçã o por ingratidã o.
Aqui houve falha legislativa!

PROVA PARA O MP – art. 553, caput e paragrafo único  o donatá rio tem que cumprir
o encargo sob pena de revogaçã o da doaçã o. O pará grafo ú nico diz que se o encargo for de
interesse geral o MP poderá exigir a sua execuçã o depois da morte do doador, se este nã o
tiver o feito. O MP nã o tem, porém, legitimidade para exigir revogaçã o da doaçã o, já que
esta é personalíssima. Então, não confundir a legitimidade do MP para exigir o
cumprimento do encargo nesse caso com a possibilidade de revogar a doação, que
não exite nesse caso.

Em relação ao art. 562, ele prevê a possibilidade de revogação da doação onerosa


por inexecução do encargo se o donatário incorrer em mora. Surge aqui uma dú vida:
há uma minoria da doutrina que defende que como o legislador fala em mora é preciso que
a inexecuçã o do encargo pelo donatá rio decorra de um atraso injustificado. Ou seja, uma
minoria da doutrina exige a configuraçã o da culpa do donatá rio. É uma posiçã o
minoritá ria, mas que usa a expressã o “mora” do art. 562 em consonancia com o art. 396 do
CC. Mas nem toda doutrina defende que o art. 396 depende da culpa para configuraçã o da
mora.

A entendimento amplamente dominante vem no sentido contrá rio: em que pese o art. 562
falar em mora, nã o se exige a culpa do donatá rio na inexecuçã o do encargo para a
possibilidade de se revogar a doaçã o.

Art. 562, parte final: se nã o há prazo para o cumprimento do encargo a mora é ex


persona – art. 397, paragrafo ú nico. E aí para se constituir a mora, o legislador aqui exige a
notificaçã o judicial no art. 562.

Numa prova dissertativa, é possível sustentar que o legislador alterou o paragrafo ú nico
do art. 397 e se esqueceu de alterar o art. 562 do CC, porque o paragrafo ú nico do art. 397
permite a constituiçã o da mora ex persona por interpelaçã o judicial ou extrajudicial, vindo
em consonancia com a tendencia de desjudicializaçã o de procedimentos.

O art. 563 merece remissã o para o art. 1360 do CC – trata da chamada propriedade
revogá vel – a propriedade se extingue por uma causa superveniente. Ex.: doador transfere
algum bem para o donatá rio. O donatá rio transfere aquele bem a um terceiro de boa-fé e
posteriormente a essa transferencia o doador revoga a doaçã o feita ao donatá rio em
virtude de sua ingratidã o. Percebam que a causa extintiva da propriedade foi uma causa
posterior a aquisiçã o da propriedade pelo terceiro de boa-fé. Entã o, nesse caso, parece
ló gico e razoá vel que como a causa extintiva da propriedade é superveniente, ela nã o
atinge terceiros de boa-fé. Ou seja, a revogaçã o por ingratidã o do donatá rio produz efeitos
ex nunc. Aquele terceiro que adquiriu o bem do donatá rio nã o pode ser surpreendido e vir
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a perder a titularidade sobre a coisa em virtude da revogaçã o da doaçã o por ingratidã o do


donatá rio ocorrida apó s a transferencia da propriedade em seu benefício. Em homenagem
à tutela da legítima expectativa, o art. 563 vem em consonancia com o art. 1360 do CC – a
questã o se resolve em perdas e danos.

“nem obriga o donatário a restituir os frutos percebidos antes da citação válida”  direito
reais: diferença do possuidor de boa-fé para o possuidor de má-fé. O possuidor de boa-fé é
aquele que ignora o vício. E aí há uma discussã o nos direitos reais: a partir de que
momento ocorre a transmudaçã o da posse de boa-fe para má-fé? Quando for poassível
detectar o exato momento em que o possuidor toma ciencia do vício, esse será o momento
da transmudaçã o. Mas na prá tica, dificilmente será possivel demonstrar o exato momento
em que o possuidor toma ciência do vício; trata-se de elemento subjetivo. Entã o, para
esses casos, a doutrina criou um standard nos direitos reais: seria a partir da citaçã o. É
preciso que haja a propositura da açã o por um terceiro que conteste a posse, que haja
transito em julgado favorá vel ao terceiro, mas esse transito em julgado retroage à data da
citaçã o; entã o, a partir da citaçã o, subordinada ao transita em julgado favorá vel ao
terceiro, ocorre a transmudaçã o da posse de boa para má-fé.

Entã o, até a citaçã o vá lida o donatá rio é considerado possuidor de boa-fé e por isso ele nã o
é obrigado a restituir os frutos percebidos. Remissã o ao art. 1214, caput do CC.

Há uma discussã o na doutrina no seguinte sentido: e se ao invés de ser revogação por


ingratidão do donatário, a hipótese for de revogação por inexecução do encargo?
Será que a revogaçã o por inexecuçã o do encargo atinge os interesses de terceiros?

1ª corrente (CHAVES, MARCO AURÉLIO BEZERRA DE MELLO): defende que nesta


hipó tese de inexecuçã o do encargo seria aplicá vel por analogia a mesma soluçã o do art.
563 do CC. Ou seja, haveria tutela da legítima expectativa de terceiros. Entã o, se nesse
exemplo o doador transfere para o donatá rio que transfere pra um terceiro de boa-fé, se
posteriormente à transferencia do donatá rio para o terceiro, o donatá rio vier a
descumprir o encargo e houver a revogaçã o da doaçã o por inexecuçã o do encargo, essa
revogaçã o da doaçã o nã o atinge a propriedade adquirida pelo terceiro.

2ª corrente (TEPEDINO): para ele seria aplicá vel nã o o art. 563 por analogia e sim o art.
1359 do CC que trata da propriedade resolú vel estrito senso. Porque na hipotese do art.
1359 na propriedade resolú vel estrito senso a propriedade é temporá ria em virtude de
uma causa pré-existente a sua aquisiçã o. O sujeito adquire um bem já sujeito a condiçã o
resolutiva ou termo final. Logo, na verdade, a implemento dessa condiçã o resolutiva ou
termo final num momento futuro vai produzir efeitos ex tunc, atingindo inclusive terceiros
adquirentes.

Ex.: doaçã o com clá usula de reversã o – art. 547 do CC – o doador transfere os bens aos
donatá rio com clá usula de reversã o, ou seja, se o donatá rio morrer antes do doador, os
bens voltam para o doador. E aí a dú vida é se esse donatá rio que recebe o bem com
clá usula de reversã o tem faculdade de disposiçã o sobre aquele bem em favor de um
terceiro – o art. 1359 diz que sim! Só que tem propriedade resolú vel transfere
propriedade resolú vel. Entã o, nos termos do art. 1359 o donatá rio pode transferir o bem
para um terceiro, mas se donatá rio falecer antes do doador, o terceiro perde os bens em
favor do doador. Ninguém pode transferir mais direitos do que tem.
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Nesse sentido, o encargo seria uma causa pré-existente, porque quando o donatá rio recebe
o bem a título de liberalidade o encargo já gravava aquela liberalidade. E quando o terceiro
recebe o bem do donatá rio aquele encargo já incidia anteriormente sobre a coisa e por ser
causa pré-existente o encargo aplicá vel o art. 1359 do CC. O que a doutrina afirma quanto
ao art. 1359 é que a condiçã o resolutiva ou termo seja averbado ao registro para que o
terceiro tenha ciencia da condiçã o, do termo ou do encargo.

Art. 564  traz hipóteses em que não se admite a revogação da doação por
ingratidão:

 Doações puramente remunerátorias (até o limite dos serviços prestados, nã o


cabe revogaçã o por ingratidã o sob pena de enriquecimento sem causa do doador;
apenas no que o valor ultrapassar o valor dos serviços prestados é possivel se
cogitar de revogaçã o da doaçã o)
 Doações com enarcago já cumprido (vejam que é possível sustentar o cabimento
da revogaçã o em relaçã o aos valores que ultrapassam ao montante do encargo --
TEPEDINO)
 As que se fizerem em cumprimento de obrigação natural (nã o confundir
obrigaçã o natural com dever de mera consciência; na obrigaçã o natural nã o há
responsabilidade, mas há débito)
 As feitas para determinado casamento (remissã o ao art. 546 – ideia do princípio
da intranscedência da pena – se por ventura o donatá rio pratica determinados atos
que geram a ingratidã o, esses atos nã o podem abalar a estrutura familiar)

3. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO (art. 579 a 592)


Empréstimo é gênero que comporta duas espécies:

1) Comodato
2) Mútuo

COMODATO MÚTUO

Art. 579 a 585 Art. 586 a 592


É empréstimo de uso É empréstimo de consumo
O comodatá rio se compromete a usar o O mutuá rio vai consumir o bem e se obriga
bem e a restituir a mesma coisa. a restituir outro de mesma quantidade
qualidade e espécie.
O comodato abrange bens infungíveis e O mú tuo tem por objeto bens fungíveis e
inconsumíveis. consumíveis
OBS.: nada impede que haja a chamada
“infungibilidade convencional”, ou seja, o
bem por sua natureza seria fungível, mas
naquele caso ele é tratado pelas partes
como infungível por acordo de vontades –
princípio da autonomia privada. É o que os
romanos chamavam de “COMODATO AD
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POMPAM” – é aquele que resulta da


infungibilidade convencional
O comodato nã o transfere a propriedade. O O mutuá rio vai consumir o bem e vai
que há no comodato é desmembramento restituir outro bem de mesma qualidade,
possessó rio. O comodante permenece como quantidade e espécie. Logo, aquele bem que
proprietá rio e possuidor indireto. E o é entregue ao mutuá rio na verdade é objeto
comodatá rio fica como possuidor direto. de transferencia de propriedade. Assim, o
Art. 1.197 do CC. mú tuo transfere a propriedade. Art. 587 do
Se há desmembramento possessó rio, CC.
ficando o comodante com a posse indireta,
o comodante tem tutela possessó ria.
No comodato os riscos por perda ou Se no mú tuo a propriedade passa ao
deterioraçã o sem culpa correm para o mutuá rio, aplicando-se a regra RES PERITI
comodante – RES PERITI DOMINO – já que o DOMINO os riscos por perda ou
dono é o comodante. deterioraçã o sem culpa no mú tuo correm
por conta do mutuá rio, por ser esse o dono
da coisa.
É necessariamente gratuito. A gratuidade é Pode ser gratuito ou oneroso. Ex.:
causa do contrato de comodato. emprestimo de dinheiro que pode ser com
(lembrando que a causa representa os ou sem juros. O mú tuo de dinheiro é
efeitos mínimos e indispensá veis a chamado de “MÚTUO FENERATÍCIO”.
caracterizaçã o de um determinado tipo
contratual – ex.: se há um contrato cujo Isso significa que o mú tuo é contrato
título seja “Do comodato” e há lá uma bifronte – há uma classificaçã o de contratos
clá usula que imponha ao comodatá rio a em que eles podem ser gratuitos, onerosos
remuneraçã o pelo uso do bem em favor do ou bifrontes. Contratos bifrontes sã o
comodante, na verdade, nó s nã o temos aqueles que podem ser gratuitos ou
comodato, em que pese o título do contrato, onerosos. Ex.: mú tuo, mandato e depó sito.
porque é causa do contrato de comodato a
gratuidade)
O comodato é contrato real – art. 579, caput Alguns autores afirmam que o mú tuo
do CC – “perfaz-se com a tradiçã o do também é contrato real – posiçã o
objeto”. Entã o, é premissa à constituiçã o do predominante na doutrina.
contrato de comodato que haja a entrega da Só que há alguns autores que defendem
coisa. que é preciso distinguir o mú tuo gratuito
(os contratos reais sã o exceçõ es no direito do mú tuo oneroso. Qual é a ratio do
brasileiro; em regra, a entrega da coisa faz comodato ser contrato real? Como o
parte apenas da execuçã o, do cumprimento comodato nã o é contrato solene, podendo
do contrato; já os contratos reais nã o se ser verbal, para evitar que alguém seja
constituem antes da entrega da coisa) compelido a uma liberalidade indesejada,
se por um lado o contrato de comodato
pode ser verbal, por outro o legislador
exige a entrega da coisa. Entã o, a mera
verbalizaçã o de um empréstimo gratuito de
um bem nã o seguido da sua entrega nã o
constitui o contrato de comodato, nã o gera
efeitos vinculantes para aquele que apenas
verbalizou o liberalidade.
Vejam que essa mesma ló gica valeria para o
mú tuo gratuito, mas nã o seria aplicá vel ao
mú tuo oneroso, já que neste nã o há
liberalidade por parte de qualquer das
partes.
Entã o, se a instituiçã o financeira de algum
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modo verbaliza que irá prestar dinheiro a


juros essa mera exteriorizaçã o da vontade
pela instituiçã o financeira já é suficiente
para a constituiçã o do contrato de mú tuo
feneratício, porque a ló gica dos contratos
reais que norteia o comodato também
abrangeria o mú tuo gratuito, mas nã o
abrangeria o mú tuo feneratício, que seria
um contrato consensual (surgiria a partir
do acordo de vontades). Essa posiçã o é
minoritá ria – defendida pelo SILVIO
VENOSA, MARIA CELINA BODIN DE
MORAES.

3.1. COMODATO
O art. 579 diz que o comodato “perfaz-se com a tradição do objeto” – o comodato é
contrato real.

Antes da entrega nã o há contrato de comodato, mas é possível aplicar a responsabilidade


civil pré-contratual pela VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM – responsabilidade civil por
ruptura abrupta das tratativas – como os deveres anexos oriundos da boa-fé objetiva se
projetam para a fase pré-contratual, é possivel que haja responsabilidade civil na fase pré-
contratual, ou seja, antes da entrega do bem pelo comodante.

Em regra, a responsabilidade civil pelo descumprimento dos deveres anexos oriundos da


boa-fé objetiva ou a responsabilidade civil em virtude da venire é uma responsabilidade
civil objetiva. Só que nesse caso nó s temos uma regra especial – art. 392 do CC – que diz
que nos contratos benéficos (ex.: comodato) aquele que pratica a liberalidade só responde
por dolo. Se durante a fase contratual o comodante só responde a título de dolo, parece
justificá vel que na fase pré-contratual o comodante também só responda dolosamente;
caso contrario, nó s teríamos uma responsabilidade pré-contratual mais gravosa do que a
propria responsabilidade contratual.

O falecimento do comodatário extingue o contrato?

1ª corrente (superada – ORLANDO GOMES): entende que nã o, salvo acordo em


contrá rio.

2ª corrente (ARNOLD WALD): como o comodato é firmado em favor do comodatá rio, é


uma liberalidade, o falecimento do comodatá rio extingue o contrato.

3ª corrente: em regra, o falecimento do comodatá rio extingue o contrato.

Exceção: nã o se aplica a regra geral na hipó tese em que o serviço para o qual o bem foi
emprestado ainda nã o tenha sido executado. Ex.: o sujeito empresta gratuitamente um
trator para um vizinho para que ele venha a arar suas terras; é razó avel que o sujeito
gastasse em torno de 02 semanas para efetuar o serviço. Só que um dia depois da entrega
dos tratores, o vizinho vem a falecer. Quer dizer, nã o houve tempo suficiente para a
execuçã o do serviço para o qual o trator foi emprestado. É justificá vel que nesse caso o
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contrato nã o venha a se extinguir imediatamente em virtude do falecimento do


comodatá rio.

Entã o, o que se sustenta é que, excepcionalmente, é possível que o contrato de comodato


se projete para além do falecimento do comodatá rio quando justificadamente a execuçã o
do serviço oriunda do empréstimo do bem nã o tenha sido executada. Norteia essa soluçã o:
princípio da boa-fé objetiva; funçã o social do contrato; aplicaçã o por analogia do art. 581,
1ª parte do CC.

O art. 581 prevê tanto a hipótese do comodato por prazo indeterminado quanto a
hipótese do comodato por prazo determinado. Naquele exemplo do trator, se nã o há
prazo previsto para o término do comodato, qual é o prazo presumido aqui pelo
legislador? O prazo necessá rio para que o vizinho venha a arar as terras. Se o prazo
razoá vel for de 02 semanas para arar as terras, ultrapassado o prazo de 02 semanas, é
possível que o comodante venha a constituir o comodatá rio em mora.

Se o comodato tiver prazo determinado a mora vai ser ex re; se o comodato nã o tiver prazo
determinado e for ultrapassado o prazo razoá vel para a execuçã o do serviço, mora será ex
persona – terá como pressuposto a notificaçã o judicial ou extrajudicial (art. 397, pará grafo
ú nico). O comodante nã o pode, em regra, requerer a extinçã o antecipada do contrato,
salvo necessaridade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz. Percebem que essa
necessidade imprevista e urgente se exige para as duas hipó teses, tanto para prazo
determinado quanto para prazo indeterminado. E ela é uma necessidade imprevista e
urgente oriunda de uma clausula superveniente à celebraçã o do contrato.

Entã o, vamos supor que o comodante que tenha emprestado gratuitamente um imó vel
venha a ser despejado do imó vel em que ele reside. O despejo do comodante pode gerar
uma necessidade de que o comodante retome o imó vel emprestado gratuitamente para
que ele venha a residir naquele imó vel. Entã o, é possível que haja uma necessidade
imprevista e urgente que venha a impelir o comodante a retomar o bem antes do tempo.

Processualmente, será que pode o comodante exigir a retomada antecipada do bem com
base no art. 581 através de uma açã o possessó ria típica? Reintegraçã o de posse, por
exemplo?

Ao professor parece que nã o! É possível que o comodante venha a retomar o bem do


comodatá rio por açã o possessó ria no caso de ultimado o prazo, seja na mora ex re ou na
mora ex persona. Mas a retomada antecipada por necessidade imprevista e urgente parece
que nã o! Isso porque o CC exige reconhecimento judicial dessa necessidade e urgencia do
comodante. E o reconhecimento judicial da necessidade e urgencia do comodante é
incompatível com o rito especial das açõ es possessó rias. O rito especial das açõ es
possessó rias nã o comporta dilaçã o probató ria no sentido do reconhecimento judicial da
necessidade e da urgencia do comodante. Entã o, parece que a via adequada aqui seria via
tradicional – açã o ordiná ria – e aí seria possível vindicar a antecipaçã o de tutela na açã o
ordiná ria ou uma cautelar preparató ria.

Vale aqui destacar que o comodatá rio pode fazer eventualmente jus a indenizaçã o por
benfeitorias realizadas. E aí nó s aplicaríamos lá a sistemá tica dos direitos reais. Alguns,
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inclusive, sustentando o direito de retençã o do comodatá rio por eventuais benfeitorias


necessá rias e ú teis, aplicando-se por analogia o art. 1219 do CC.

Art. 582 do CC  SILVIO VENOSA afirma que o comodatá rio nã o faz jus a percepçã o dos
frutos, salvo acordo em contrá rio. A presunçã o relativa é de que comodatá rio nã o pode
perceber os frutos. Ao professor parece que essa afirmativa colide com a redaçã o dos
artigos 581 e 584 do CC – ambos os dispositivos falam em uso e gozo do comodatá rio. E o
gozo pressupõ e a percepçã o dos frutos.

Parte final: constituída a mora do comodatá rio (ex re ou ex persona), o comodatá rio vai
responder pelo chamado “ALUGUEL PENA” que for arbritrado pelo comodante. O aluguel
pena nã o desnatura o comodato para contrato de locaçã o. Permanece a natureza jurídica
de comodato.

Esse aluguel pena pode ser fixado pelo comodante por uma sifra exagerada? Em
valores estratosféricos? Será que o comodante tem liberdade absoluta, plena para
fixar o valor do aluguel pena?

1ª corrente (clássica – CAIO MÁRIO): entendia que sim, o comodante tinha plena
liberdade para fixar o aluguel pena já que o objetivo da regra é sançã o.

2ª corrente (entendimento, hoje, pacificado – Enunciado 180/CJF): a liberdade nã o é


absoluta, nã o é plena.

Argumentos: princípio da boa-fé objetiva – art. 422 do CC; vedaçã o ao enriquecimento sem
causa – art. 884 a 886 do CC; aplicaçã o por analogia do art. 413 do CC, que prevê a reduçã o
da clá usula penal se excessiva; aplicaçã o por analogia do art. 575, pará grafo ú nico, que
prevê aluguel pena no caso de locaçã o.

RESP 1.175.848. Informativo 504 do STJ.

O aluguel pena nã o pode ser fixado em valores estratosféricos, mas ele nã o


necessariamente corresponde ao valor de mercado, até porque o objetivo é de sancionar.
Entã o, o que se sustenta é que, na verdade, o aluguel pena tem como limite o dobro do
valor de mercado. Nó s chegaríamos a essa clonclusã o aplicando-se por analogia a
sistemá tica das arras dos art. 417 a 420 do CC.

Art. 584  “jamais poderá recobrar” – a doutrina aqui ameniza o rigor do art. 584 do CC.
De acordo com a doutrina, o art. 584 quando fala em despejas se refere apenas à s despesas
ordiná rias. O comodatá rio nã o pode recobrar do comodante as despesas ordiná rias feitas
com a coisa. ex.: gasolina e revisã o perió dica do automó vel emprestado; alimentaçã o de
um animal emprestado gratuitamente.

Quanto as despesas extraordiná rias e urgente, inaplicá vel o art. 584 do CC. Estas poderã o
ser cobradas do comodante.

Muitos autores – CAIO MARIO, SILVIO VENOSA, ORLANDO GOMES – defendem que por
essas despesas extraordiná rias e urgentes o comodatá rio pode invocar por analogia o
direito de retençã o do art. 1219 do CC. Há quem defenda que nã o – CARVALHO SANTOS –
já que direito de retençã o nã o se presume.
46

Art. 583  é uma exceçã o à regra geral do art. 393, 1ª parte – pela regra geral, o devedor
nã o responde por caso fortuito ou força maior; o art. 583 traz uma exceçã o a essa regra: se
o sujeito empresta gratuitamente um determinado bem mó vel para o comodatá rio e há um
incendio no imó vel do comodatá rio e esteja lá o bem mó vel emprestado e outros de
titularidade do comodatá rio, ainda que esse incendio resulte de caso fortuito ou força
maior, se o comodatá rio primeiro salvar os seus bens em detrimento do objeto que lhe
fora emprestado gratuitamente, no caso de danos a esse objeto emprestado gratuitamente
o comodatá rio responderá pelo perecimento, ainda que por caso fortuito ou força maior. É
uma hipó tese típica de responsabilidade civil objetiva.

Art. 585  prevê solidariedade passiva entre comodatários. A regra é importante,


porque a solidariedade nã o se presume – art. 265 do CC (fazer remissã o). Ex.: aluguel pena
– se sã o dois os comodatá rios ambos responderã o solidariamente.

Podem as partes ajustar em contrário? Nas hipóteses em que a lei prevê a


solidariedade essa solidariedade decorrente de previsão legal pode ser afastada
pela vontade das partes?

Depende! É preciso investigar se a regra que contempla a solidariedade é ou nã o matéria


de ordem pú blica. No caso do comodato nã o há nenhum interesse pú blico que englobe a
solidariedade do art. 585 do CC. Entã o, é possível afirma que o art. 585 traz uma
presunçã o relativa de solidariedade, a matéria nã o é de ordem pú blica – princípio da
autonomia privada. Podem as parte dispor diversamente.

Mas percebam, por outro lado, que a solidariedade passiva prevista no CDC, que busca
proteger o consumidor, é matéria de ordem pú blica; logo, a solidariedade passiva prevista
no CDC nã o é afastá vel pela vontade das partes.

Logo, o art. 585 traz presunção relativa – as partes podem dispor em contrário.

Nó s vimos no art. 582, parte final do CC a questã o do aluguel pena. Vimos que se o
comodatá rio for constituído em mora na obrigaçã o de restituir o comodante pode fixar o
aluguel pena, que nã o poderá ser fixado em valores exagerados.

Constituída a mora do comodatário, o comodante tem a sua disposição a fixação do


aluguel pena, mas também tem a sua disposição o maneja das ações possessórias.
Vamos supor que o comodante, satisfeito com a possibilidade de recebr o aluguel pena,
retarde no manejo da açã o possessó ria com o objetivo de receber o montante do aluguel
pena. E aí vamos supor que 02 anos depois de fixado o aluguel pena e em nã o tendo o
comodante proposto a açã o possessó ria, ele venha a exigir 02 anos de aluguel pena do
comodatá rio.

Se nó s formos advogados do comodatá rio podemos sustentar em seu favor o enunciado


169 do CJF: “DUTY TO MITIGATE THE LOSS” – se por um lado o credor tem direito à
reparaçã o integral dos danos por ela suportados, por outro lado, esse mesmo credor tem o
dever de evitar o agravamento do seu proprio prejuizo – boa-fé objetiva.

Aplicando-se isso aqui, comodatá rio diria que ele tem que reparar o aluguel pena previsto
em lei, mas por outro lado o comodante tinha as açõ es possessó rias a sua disposiçã o e esse
retardamento injustificado no manejo das açõ es possessó rias de molde a permitir que o
47

comodante possa exigir o aluguel pena por dois anos daria azo à aplicaçã o do instituto do
DUTY TO MITIGATE THE LOSS – por esse argumento o comodatá rio buscaria restringir a
exigibilidade plena do aluguel pena por todo o lapso temporal de 02 anos. Haveria uma
inercia injustificada do comodante em nã o ter manejado a açã o possessó ria e com isso
seria aplicá vel o enunciado 169 do CJF de molde restringir a incidencia do aluguel pena.

Por outro lado, a favor do comodante, nó s teríamos a TU QUOQUE como contrargumento.


Nã o pode o comodatá rio que está em situaçã o de ilicitude, já que bastaria a ele restituir o
bem para cessar toda e qualquer controvérsia, se beneficiar da aplicaçã o do enunciado
169 do CJF. O comodatá rio nã o pode se beneficiar da sua propria situaçã o ilicitude para
minimizar, restringir a reparaçã o integral dos danos causados.

AULA 04

3.2. MÚTUO
No mú tuo nó s temos um empréstimo de consumo. O mutuá rio vai consumir o bem que lhe
fora entregue, se comprometendo a restituir outro de mesmas quantidade, qualidade e
espécie. Diante disso, diz o art. 586, que o mú tuo é o empréstimo de coisas fungíveis. Na
medida em que o mutuá rio consume o bem e se compromete a entregar outro de mesma
quantidade, qualidade e espécie é da essência do mú tuo que ele recaia sobre bens
fungíveis e consumíveis. Por essa razã o, a princípio, nã o se admite mú tuo envolvendo bens
imó veis, na medida em que eles sã o qualificados como bens infungíveis.

Nó s vimos que para a maioria da doutrina o mú tuo é contrato real. Só se perfaz com a
tradiçã o; a entrega do bem faz parte da constituiçã o do contrato de mú tuo. Mas há uma
tese minoritá ria defendendo que o mú tuo feneratício (oneroso) nã o seria contrato real.
Logo, o mú tuo gratuito é incontroversamente contrato real, porém em relaçã o ao mú tuo
feneratício/oneroso há uma sutil controvérsia.

Consequência disso: partindo-se da premissa de que o mú tuo é sempre contrato real, há


uma singularidade aqui em relaçã o ao mú tuo feneratício. O mú tuo feneratício (com juros)
é oneroso. O mutuante se desprende temporariamente do capital e o mutuá rio paga juros.
Porém, se nó s entendermos que o mú tuo feneratício é um contrato real, em que pese ser
contrato oneroso, ele será um contrato unilateral. A obrigaçã o do mutuante é de entregar
o bem fungível ao mutuá rio. Mas percebam que se nó s entendermos que a entrega do
dinheiro faz parte da constituiçã o do contrato de mú tuo, nó s nã o temos a obrigaçã o
contratual do mutuante em entregar o dinheiro ao mutuá rio, na medida em que o contrato
só se constitui a partir da entrega do dinheiro. Entã o, vejam que o contrato nesse caso será
oneroso, mas por outro lado ele seria um contrato unilateral, pois só geraria obrigaçõ es
contratuais para o mutuá rio. Nã o há obrigaçã o contratual do mutuante entregar o
dinheiro, porque antes da entrega do dinheiro o contrato nã o se constitui.

Isso nã o é unanime! Para quem entende que o mú tuo feneratício é contrato consensual, ele
será oneroso e bilateral, porque mesmo antes da efetiva entrega do dinheiro já há relaçã o
contratual a partir do acordo de vontades. Se nó s compreendermos que o contrato já se
forma a partir do acordo de vontades o mutuante assume a obrigaçã o contratual de dar o
bem fungível ao mutuá rio.
48

Em relaçã o ao mú tuo gratuito, ele é real e paralelamente é unilateral, pois só surgem


obrigaçõ es contratuais para o mutuá rio – restituir o valor pago sem juros.

Como o mutuá rio vai consumir o bem e entregar ao mutuante outro de mesma quantidade,
qualidade ou espécie, nó s já vimos que o mú tuo transfere a propriedade – art. 587 do CC. E
na medida em que mú tuo transfere a propriedade aplicá vel a ló gica do RES PERITI
DOMINO – os riscos por perda ou deterioraçã o sem culpa do bem correm por conta do
mutuá rio.

O mútuo é um contrato de alienação?

Nã o há nenhuma dú vida de que o mú tuo transfere a propriedade – art. 587 do CC. Mas, na
realidade, em que pese o mú tuo transferir a propriedade, o mú tuo nã o é um contrato de
alienaçã o tal qual a compra e venda e a doaçã o, porque no mú tuo a transferencia da
propriedade é um simple meio para o atingimento da sua finalidade, qual seja, propiciar ao
mutuá rio o consumo do bem. Entã o, na verdade, a transferencia da propriedade é apenas
um meio de atingimento da real finalidade do mú tuo.

Portanto, o mú tuo, em que pese transferir a propriedade, nã o é propriamente um contrato


de alienaçã o, tal qual a compra e venda e a doaçã o.

O comodante não precisa ser proprietário, o mutuante sim! Isso porque o mú tuo
transfere a propriedade e se o mutuante nã o for o dono nó s teríamos uma alienaçã o a non
domino.

Vimos também que o mutuante não dispõe de ação possessória – o mutuante


transfere a propriedade e a posse exclusiva ao mutuá rio, diversamente do que ocorre com
o comodante, na medida em que o comodante permanece com a posse indireta.

Os art. 588 e 589 tratam da sistemática do mútuo feito a pessoa menor. É possível
notar que o mú tuo feito em favor de pessoa menor pode ser nulo ou anulá vel conforme o
caso. Haverá nulidade absoluta no caso de mutuá rio absolutamente incapaz e haverá
anulabilidade ou nulidade relativa no caso de mutuá rio relativamente incapaz.

Art. 588  remissã o ao art. 180 do CC – pode mitigar a aplicaçã o do art. 588 do CC – o art.
180 trata da hipotese do garoto entre 16 e 18 anos que dolosamente oculta sua propria
idade quando inquerido pela outra parte. Dentro das premissas do art. 180, afasta-se a
incidencia do art. 588 – entã o, se o mutuá rio dolosamente oculta sua propria idade, em
que pese inquirido pela outra parte, afasta-se o art. 588 e o contrato de mú tuo produz
efeitos regulares.

Em relaçã o à parte final do art. 588: o bem infungível “não pode ser reavido nem do
mutuário, nem de seus fiadores” – remissã o para o art. 824, pará grafo ú nico.

O art. 824, caput diz que as obrigaçõ es nulas nã o sã o suscetíveis de fiança, exceto se a
nulidade resultar apenas de incapacidade pessoal do devedor. Entã o, se a hipó tese da
nulidade decorrer a incapacidade do devedor, o fiador responde. Essa seria a regra geral a
respeito do contrato de fiança.
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Só que o paragrafo ú nico diz que a “exceção estabelecida nesse artigo não abrange o caso de
mútuo feito a menor” – logo, no caso de mú tuo feito a menor o mutuante nã o poderá reaver
o montante nã o apenas do mutuá rio como também nã o poderá reaver em face do fiador.

O art. 589 traz hipóteses em que o art. 588 não se aplica, ou seja, traz hipóteses em
que o objeto do mútuo pode ser reavido pelo mutuante por outro de mesma
quantidade, qualidade e espécie. Sã o hipoteses em que mú tuo irá produzir efeitos em
que pese feito a pessoa menor.

Art. 589. Cessa a disposição do artigo antecedente:

I - se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário para contrair o


empréstimo, o ratificar posteriormente;  só se aplica no caso de
incapacidade relativa do mutuário; o legislador fala em ratificação
do negócio jurídico e não cabe ratificação do negócio jurídico nulo,
mas apenas do anulável – remissão ao art. 4º, I do CC.

II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o


empréstimo para os seus alimentos habituais;  diante da necessidade
de subsistencia do incapaz é validado o mútuo

III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a
execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças;  pressupõe
que não tenha havido a emancipação do art. 5º, parágrafo único, V –
então, se da relação de emprego o menor, a partir dos 16 anos, tem
economia propria, dar-se-á a emancipação e se houver a
emancipação, evidentemente que nós não aplicaremos os art. 588 e
589, porque esses artigos pressupõe empréstimos feitos em favor
de incapaz.

IV - se o empréstimo reverteu em benefício do menor;  o que inspira o


dispositivo é a vedação ao enriquecimento sem causa – art. 884 a
886.

V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.  muitos autores


defendem a tese de que na verdade esse inciso V do art. 589 se
aplicaria nos moldes do que já prevê o art. 180 do CC.

Art. 590  é uma projeção da chamada “EXCEÇÃO DE INSEGURIDADE ou DE


INSEGURANÇA” – art. 477 do CC.

Entã o, diante da mudança na situaçã o economica do mutuá rio, há risco iminante de


inadimplemento e diante desse risco o mutuante pode exigir garantia da restituiçã o.

Vejam que de maneira similar temos o art. 477 do CC. A exceçã o de insegurança do art.
477 (teoria geral dos contratos) pressupõ e que tenhamos prestaçõ es sucessivas, ou seja,
pressupõ e que A tenha que pagar no dia 05 e o B tenha que pagar no dia 20. E aí qual é a
premissa fá tica do art. 477? Aquele a quem incumbe pagar primeiro (A) percebe que o
outro contratante B, a quem incumbe pagar no dia 20, suporta dificuldade patrimonial
superveniente; apó s o contrato surge uma situaçã o economica desfavorá vel ao B. E a
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dificuldade patrimonial do B torna duvidoso o cumprimento da prestaçã o pelo B. Ora, sera


injustificá vel que o A tivesse que pagar no dia 05, em que pese o prová vel inadimplemento
do B no dia 20, diante de sua dificuldade patrimonial.

Entã o, através da exceçã o de insegurança o excipiente (A) nã o vai postular em face do B o


vencimento antecipado da dívida – o vencimento antecipado é outro instituto (art. 333 e
1425). Através da exceção de insegurança o que o A vai postular é a suspensão da
exigibilidade da sua própria prestação, enquanto a outra parte (B) não cumprir a
sua prestação ou enquanto não der garantia suficiente de que irá pagar no dia 20.

O A postula nã o pagar no dia 05, na medida em que o B, que deverá pagar no dia 20, está
em situaçã o patrimonial difícil e por conta disso eu pretendo pagar ou quando o B efetuar
o pagamento no dia ou apó s oferecimento de garantia pelo B em relaçã o ao seu futuro
adimplemento.

Qual é a diferença do art. 477 para o art. 590?

O art. 590 é uma projeçã o do art. 477, mas há uma diferença marcante aqui: no art. 590 o
mutuante já cumpriu a sua prestaçã o (entregar o bem fungível ao mutuá rio); e, em se
entendendo que o mú tuo é contrato real, quando o art. 590 diz “o mutuante pode exigir a
garantia da restituição” isso já pressupõ e que o mutuante tenha entregue o dinheiro ao
mutuá rio, porque em se tratando de contrato real o contrato de mú tuo só se perfaz a
partir da tradiçã o, da entrega da coisa. No art. 477, por sua vez, o excipiente (A) ainda nã o
cumpriu a sua prestaçã o, ele vai postular a suspensã o da exigibilidade da sua propria
prestaçã o. Aqui no caso do art. 590, o excipiente/mutuante nã o vai requerer a suspensã o
da exigibilidade da sua propria prestaçã o, porque na verdade ele já cumpriu a sua
prestaçã o, ele já se despendeu do capital, na medida em que o mú tuo é contrato real. O que
ele vai postular é apenas uma garantia de cumprimento da prestaçã o pelo mutuá rio.

SILVIO RODRIGUES (posição isolada)  defende que o art. 590 só se aplica ao mú tuo
gratuito, porque em relaçã o ao mú tuo feneratício, mú tuo com juros, os juros
compensató rios já abrangem o risco de inadimplemento. Um dos fundamentos para a
incidencia dos juros compensató rios é o risco do inadimplemento. Logo, haveria aqui um
bis in idem – dupla proteçã o indevida em favor do mutuante. Posição isolada! A doutrina
majoritária afirma que o art. 590 se aplica tanto ao mútuo gratuito quanto ao mútuo
oneroso.

Art. 591  trata do mútuo feneratício/oneroso.

Quando esse artigo diz “destinando-se o mútuo a fins economicos presumem-se devidos
juros” – esses juros entenda-se como juros remunerató rios ou compensató rios.
Evidentemente que nã o se refere aqui aos juros de mora.

“os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406,
permitida a capitalização anual.”  os juros compensató rios do mú tuo nã o poderã o
exceder a taxa a que se refere o art. 406 – trata do percentual dos juros morató rios. O CC
aqui trata dos juros remunerató rios, porém se utilizou como limite do valor desses juros
remunerató rios no mú tuo do percentual dos juros morató rios do art. 406. Mas isso nã o
quer dizer que os juros do art. 406 sã o juros morató rios! Só que o teto dos juros
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remunerató rios no mú tuo feneratício se submete ao art. 406 que disciplina juros
morató rios.

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o


forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei,
serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do
pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

Em síntese, há duas correntes em relação ao art. 406:

1ª corrente: defendendo a aplicaçã o da taxa SELIC, porque seria a taxa em vigor para a
mora no pagamento de impostos devidos a fazenda nacional;

2ª corrente: defende a aplicaçã o do art. 161, § 1º do CTN – 1% ao ano.

O STJ consolidou o entendimento em favor da SELIC.

Mas será que esse limite se aplica às instituições financeiras? É evidente que na
prá tica já percebemos que as instituiçõ es financeiras cobram juros muito superiores a
isso. Em relaçã o as instituiçõ es financeiras temos a Sú mula 596 do STF – as instituiçõ es
financeiras nã o se submetem a regra geral do art. 591 do CC, porque em relaçã o a estas
nó s temos regras especiais.

Como é que fica então os limites das instituições financeiras? O STJ tem entendimento
consolidado de que nesse caso o teto/limite é a taxa praticada pelo mercado. RESP
1.036.818. RESP 971.853. RESP 973.827.

A parte final do art. 591 diz: “permitida a capitalização anual” – essa parte final revoga o
art. 4º do Decreto 22626/33. Esse artigo da antiga lei de usura proibia o anatocismo/juros
sobre juros. O CC atual permite o anatocismo/juros sobre juros com periodicidade anual.

Em relaçã o à s instituiçõ es financeiras, há ainda uma regra especial em relaçã o ao


anatocismo/juros sobre juros: vide art. 5º da MP 2170 que permite a integrante do
sistema financeiro nacional cobrar juros sobre juros com periodicidade inferior a 01 ano.

Sobre essa regra especial em favor das instituiçõ es financeiras, há a ADI 2316-1. Os
argumentos deduzidos nesse ADI sã o basicamente: ausencia de relevancia e urgencia; nos
moldes do art. 192 da CF matéria atinente a sistema financeiro nacional tem que ser
disciplinada por LC e portanto ela nã o poderia ser objeto de MP. Ainda nã o houve o
julgamento dessa ADI. E o fato é que o STJ vem aplicando diariamente o art. 5º da MP. O
STJ nã o encampa a ideia da inconstitucionalidade do dispositivo, vide RESP 973.827.

O que o STJ exige para a incidência de anatocismo/juros sobre juros com perioricidade
inferior a um ano é que os contratos tenham sido celebrandos apó s a ediçã o do MP 2170;
além disso, exige ainda que haja explícita previsã o contratual em relaçã o ao cabimento de
anatocismo/juros sobre juros com periodicidade inferior a 01 ano.

Cuidado ainda, pois, em relaçã o a sistema financeiro da habitaçã o, também se admite a


cobrança de juros sobre juros com periodicidade inferior a 01 ano. Art. 75 da Lei
11.977/09 que inseriu o art. 15-A na lei 4380/64.
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4. CONTRATO DE DEPÓSITO (art. 627 a 652)


É da essência do contrato de depósito que o depositário assuma a obrigação de
guarda e conservação do bem – art. 627 e 629 do CC.

O art. 627 fala em “objeto móvel”. É possível contrato de depósito envolvendo bem
imóvel?

Pela letra fria do art. 627 nã o haveria essa possibilidade. Então, o entendimento firme,
hoje, é no sentido de que o contrato de depósito pressupõe que ele recaia sobre
bens móveis.

Vamos imaginar que alguém entregue as chaves de um imó vel para outra pessoa para que
aquele que receba as chaves venha a guardar e conservar o imó vel. O que a doutrina
afirma é que em relaçã o à entrega das chaves em favor de um terceiro para conservaçã o
do imó vel, escapa ao ambito do contrato de depó sito, pois nã o é da essência do depositá rio
um dever de conservaçã o tã o ativo quanto esse. Na realidade, em relaçã o a imó veis, se
alguém assume a obrigaçã o de conservar o imó vel de outra pessoa, recebendo as chaves
por conta disso, o que há é um contrato de prestaçã o de serviços.

O que alguns autores afirmam (CAIO MÁ RIO, SILVIO VENOSA) é que existe a figura do
depó sito judicial, no caso de sequestro por determinaçã o judicial. Só que aqui nã o há um
contrato de depó sito, o que há é a figura do depó sito judicial – nã o há natureza contratual
nesse caso.

O contrato de depósito é contrato real – art. 627 – “recebe um objeto móvel”.

Fica nítido que quem tem posse indireta nã o pode ser depositante, porque é premissa ao
contrato de deposito que haja a efetiva entrega e, portanto, quem exerce a posse a
distancia, a posse indireta nã o tem o bem consigo para efetivar a tradiçã o, o contrato real.

O depositante não tem que ser proprietário. O depositante tem que ter poderes de
administraçã o sobre o bem. Entã o, pode o usufrutuá rio ser depositante, o locatá rio
também, por exemplo. Só uma exceçã o que iremos ainda tratar: é o depó sito irregular do
art. 645 do CC – nesse caso, o depositante transfere a propriedade ao depositá rio.

DEPÓSITO COMODATO
O depó sito se dá a benefício do depositante O comodato se dá em favor do comodatá rio
O depositá rio, a princípio, nã o faz jus ao É empréstimo de uso. Entã o, é da essencia
uso do bem – art. 640 do CC. do comodato que o comodatá rio faça jus ao
uso do bem.

DEPÓSITO LOCAÇÃO
O depositá rio a princípio nã o faz jus ao uso Também é da essencia da locaçã o que o
do bem. locatá rio faça jus ao uso do bem, de forma
remunerada.
O depositá rio pode ser instado a restituir o O locatá rio só tem obrigaçã o de restituir o
bem antes do término do prazo do contrato bem locado apó s o término do contrato.
53

de depó sito.

Em relação à guarda de automóveis – Súmula 130 do STJ: “A empresa responde


perante o cliente pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu
estacionamento”. Entã o, se alguém para no estacionamento de um restaurante, por
exemplo, há um contrato de depó sito e no caso de furto ou roubo aplicá vel a sú mula 130
do STJ quanto a responsabilidade civil.

RESP 1.321.739  julgado do STJ afastou a aplicaçã o da sú mula quando a hipó tese for de
vallet park em via pú blica. Acontece muito de determinados restaurantes terem convênios
com serviços de vallet park que sã o empresas terceirizadas e essa empresa se incumbe de
estacionar os veículos em via pú blica e nã o em estacionamento do restaurante. O STJ disse
que nesse caso se houver furto ou roubo haverá fato exclusivo de terceiro que romperá o
nexo causal com o restaurante; e que como nã o há um estacionamento fechado é um
serviço que propicia mera comodidade aos clientes em que o dever de incolumidade é
menos contundente. Nã o se pode tratar com o mesmo rigor a hipó tese em que o veículo é
parado na estacionamento do restaurante com o caso em que o veículo é parado em via
pú blica através do serviço de vallet park – nesse caso, o restaurante a princípio nã o
responde por furto ou roubo do veículo.

É discutível até mesmo porque apesar do carro nã o estar estacionado nas dependencias do
restaurante é evidente que o serviço de vallet park tem aptidã o para atrair clientela e é
evidente que o restaurante obtém lucro, no mínimo, indireto através dos serviços
prestaçõ es pela empresa terceirizada. A ló gica do risco do empreendimento talvez
justificasse a responsabilidade civil nesse caso, mas nã o foi esse o entendimento do STJ.

O art. 628 deixa claro que o depósito é contrato bifronte, ou seja, pode ser gratuito ou
oneroso conforme o caso. A presunção relativa é de que o contrato de depósito é
gratuito, salvo acordo contrário.

O pará grafo ú nico diz: “Se o depósito for oneroso e a retribuição do depositário não constar
de lei, nem resultar de ajuste, será determinada pelos usos do lugar, e, na falta destes, por
arbitramento.” – o legislador aqui permite inclusive a fixaçã o da remuneraçã o do depó sito
oneroso por arbitramento, desde que ele nã o tenha sido acordado pelas partes.

Nó s vimos que o contrato de depó sito pode ser gratuito ou oneroso. Por sua vez, o art. 392
diz que nos contratos benéficos aquele que pratica a liberalidade só responde por dolo.
Entã o, no caso da doaçã o pura, o doador só responde se agir dolosamente.

Será que o art. 392 se aplica no caso de depósitos gratuitos? Será que no caso de
depósitos gratuitos o depositário só responde se agir dolosamente?

Muitas hipó teses de depó sito gratuito na realidade envolvem contratos de depó sito
apenas aparentemente gratuitos. Ex.: um contrato de depó sito de guarda de mó veis ou
roupas num teatro ou num museu. Ainda que nã o se pague pela guarda dos mó veis ou dos
casacos nos museus é evidente que aquela gratuidade do depó sito é puramente aparente,
porque aquele serviço de depó sito tem aptidã o para atrair clientela e automaticamente
aumentar os lucros por parte do estabelecimento. Entã o, quando o depó sito for apenas
aparentemente gratuito e, portanto, ele nã o for genuinamente gratuito, nã o é hipó tese do
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art. 392 – pressupoe que o contrato seja benéfico – que seja praticado por pura
liberalidade, hipó tese que nã o se aplica aos contratos aparentemente gratuitos. Entã o,
quando o contrato for aparentemente gratuito nã o é a hipó tese do art. 392 do CC.

Mas por outro lado, ainda que um determinado contrato de depó sito seja efetivamente
gratuito, ainda assim, a JUDITH MARTINS COSTA defende a inaplicabilidade do art. 392 do
CC. Isso porque o art. 392 isentaria o depositá rio desprovido de dolo pela
responsabilidade em relaçã o à conservaçã o do bem. O depositá rio que culpasamente
(culpa estrito senso) permitisse a deterioraçã o da coisa ou nã o guardasse devidamente a
coisa, se eximiria de responsabilidade e isso iria contra a propria essencia, a propria causa
do contrato de depó sito, porque o dever de guarda e conservaçã o é da essência do contrat
de depó sito. Logo, o art. 392 nã o seria aplicá vel nos contratos de depó sito, ainda que o
depó sito seja efetivamente gratuito, porque a aplicaçã o do art. 392 desnaturaria a causa, a
essência do contrato de depó sito que é o dever de guarda e conservaçã o do bem.

O art. 629 se refere aqui ao dever de guarda e conservação do depositário. Diz que
ele tem que cuidar da coisa como se sua pró pria fosse.

“bem como a restituí-la, com todos os frutos e acrescidos, quando o exija o depositante.”  o
depositá rio, portanto, tem obrigaçã o de restituir o bem ao depositante quando ele lhe
exigir o bem, ainda que antes do término do prazo contratual.

O contrato de depó sito é fixado a benefício do depositante. Entã o, o prazo previsto no


contrato de depó sito nã o tem condã o de impedir o depositante de reaver o bem antes
daquele lapso temporal acordado entre as partes; nã o é isso! O prazo previsto no contrato
de depó sito tem por objetivo estabelecer um limite temporal ao dever de guarda e
conservaçã o do depositá rio e apenas isso! O prazo nã o é ó bice à retomada do bem pelo
depositante antes do prazo, porque o contrato de depó sito é fixado a benefício do
depositante. Isso fica claro tanto no art. 629, parte final como no art. 633 do CC.

Só que o art. 633 traz exceçõ es à regra segundo a qual o depositá rio é obrigado a restituir
o bem tã o logo o depositante lhe exija:

“Art. 633. Ainda que o contrato fixe prazo à restituição, o depositário


entregará o depósito logo que se lhe exija, salvo se tiver o direito de
retenção a que se refere o art. 644 (confere direito de retenção ao
depositário caso ele não seja devidamente remunerado), se o objeto
for judicialmente embargado, se sobre ele pender execução, notificada ao
depositário, ou se houver motivo razoável de suspeitar que a coisa foi
dolosamente obtida”

A doutrina afirma que existem ainda outras exceçõ es nã o previstas no art. 633, como, por
exemplo, no caso da morte do depositante, em que ninguém se apresenta com documento
há bil para comprovar a qualidade de herdeiro do depositante. O depositá rio, nesse caso,
pode se recusar a restituir, a entregar o bem ao herdeiro do depositante.

Art. 637  quando o artigo diz que o herdeiro do depositá rio de boa-fé vendeu a coisa
depositada, qual seria a hipó tese? A depositá rio falece, o bem, a princípio, se encontrava
com a posse direta do depositá rio falecido e o herdeiro do depositá rio na suposiçã o de que
aquele bem pertencia ao depositá rio vende o bem a um terceiro de boa-fé. O que há na
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realidade é uma hipó tese de alienaçã o a non domino, porque o herdeiro do depositá rio de
boa-fé transfere um bem que na realidade era de titularidade do depositante. E no caso de
alienaçã o a non domino o instituto aplicá vel é a evicçã o. Entã o, o art. 637 do CC na
realidade trata de evicçã o – remissã o para o art. 447 a 457 do CC.

Nesse caso, o depositante é o verdadeiro proprietá rio que vai buscar a retomada do bem –
é o evictor. E o herdeiro do depositá rio é o evicto, que vai ter que responder pelo preço ao
comprador, no caso o terceiro.

Possível singularidade no caso do art. 1268 – direitos reais: esse artigo pode mitigar a
aplicaçã o do art. 637 do CC. O art. 1268 na 1ª parte traz a regra geral de que ninguém pode
transferir mais direitos que tem – quem nã o é proprietá rio, nã o transfere a propriedade.
Só que a parte final traz as exceçõ es: “exceto se a coisa oferecida ao público, em leilão ou
estabelecimento comercial, for transferida em circunstancias tais que ao adquirente de boa-
fé como a qualquer pessoa a alienante se afigurar dono”.

Entã o, o art. 1268, 2ª parte, traz exceçõ es à regra geral segundo a qual ninguém pode
transferir mais direitos que tem. O que justifica essa parte final é a teoria da aparência –
tutela da legítima expectativa de terceiros de boa-fé.

Entã o, percebam que se o herdeiro do depositá rio transfere o bem para um terceiro
mediante estabelecimento comercial – vamos supor que o herdeiro do depositá rio tenha
um estabelecimento comercial e ele vende aquele objeto do deposito naquele
estabelecimento comercial. Aplicando-se o art. 1268 percebam que o terceiro que adquiriu
o bem de boa-fé nã o perderá a coisa em favor do depositante, porque o art. 1268 nesse
caso afirma que apesar do herdeiro do depositá rio nã o ser o proprietá rio haveria
transferência da propriedade se o terceiro o adquiriu em estabelecimento comercial. E aí
nesse caso a questã o se resolve em perdas e danos; o herdeiro do depositá rio vai
responder civilmente perante o depositante pela alienaçã o a non domino.

O art. 640 do CC traz a presunção relativa de que depositário não pode usar o bem.

Art. 640. Sob pena de responder por perdas e danos, não poderá o
depositário, sem licença expressa do depositante, servir-se da coisa
depositada, nem a dar em depósito a outrem.

Entã o, para que o depositá rio possa se utilizar do bem é preciso que haja licença expressa
do depositante. Isso distingue de maneira nítida o depó sito do comodato e da locaçã o,
porque tanto o comodato quanto a locaçã o envolvem basicamente empréstimo de uso, ao
passo que o depó sito pressupõ e que a princípio o depositá rio nã o possa usar a coisa.

Se um determinado contrato, cujo título seja depósito, haja uma cláusula que
permita o uso irrestrito do bem pelo depositário, qual seria a consequencia dessa
cláusula?

Os autores que aprofundam o tema afirmam que se o contrato permite o uso ilimitado da
coisa pelo depositá rio, na verdade, se desqualifica o contrato de depó sito, porque é da
essência do depó sito que o objetivo do contrato nã o seja o uso do bem pelo depositá rio; o
objetivo do contrato é a guarda e a conservaçã o da coisa. Se a cláusula contratual permite
o uso irrestrito, o uso ilimitado do bem fica evidente que nesse caso o que nó s temos é um
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empréstimo de uso e aí nesse caso o contrato se desqualifica como depó sito e ele passa a
ser comodato ou locaçã o conforme o caso. Seria comodato no caso de empréstimo gratuito
e locaçã o no caso pagamento de aluguel.

Então, na verdade, a cláusula que permite o uso irrestrito do bem, a priori,


desqualifica o deposito para comodato ou locação, conforme o caso.

Tem uma exceção a isso: se ficar comprovado que o uso ilimitado do bem pelo
depositá rio é de interesse do depositante. Imaginemos que o depositante vá ficar fora do
Brasil por bastante tempo e ele comprova que a melhor forma de conservar a coisa se dá
com o uso diá rio do bem. Entã o, em se demonstrando que esse uso reiterado pelo
depositá rio é de interesse do depositante, neste caso sim é possivel afirmar que
permanece a natureza contratual de depó sito.

O art. 642 representa uma projeção da lógica RES PERITI DOMINO – o depositário
não responde pelos casos de força maior. Na medida em que o bem é de titularidade do
depositante o depositá rio nã o assume os riscos por perda ou deterioraçã o sem culpa. Só
que aqui há uma singularidade: “mas para que lhe valha a escusa deverá prová-los”. Entã o,
na verdade, o depositá rio nã o responde por casos de força maior, mas há uma inversã o do
onus da prova, pois caberá ao depositá rio comprovar que a hipó tese é de força maior.
Entã o, o art. 642 na realidade é uma exceçã o à regra geral do art. 238 do CC.

Art. 643  se refere à s despesas necessá rias. Nã o abrange as voluptuá rias e a princípio
também nã o se aplicaria as despesas ú teis, porque estas buscariam otimizar a utilizaçã o
do bem e a principio o depositá rio nã o faz jus a utilizaçã o do bem – art. 640. Entã o, a rigor,
o art. 643 se aplicaria apenas as despesas necessá rias.

Mas há quem defenda (CARVALHO SANTOS) que é possível aplicar o art. 643 à s despesas
ú teis se o depositá rio agiu como bom administrador, sem excessos. Essa expansã o do art.
643 à s despesas ú teis neste caso viria em consonancia com a vedaçã o ao enriquecimento
sem causa.

O art. 643 também fala do prejuízo que do depó sito provierem. Imaginem que o
depositá rio tenha recebido junto de um determinado depositante um animal doente e que
venha a contaminar todos os demais animais que já era de titularidade do depositá rio.
Nesse caso, é evidente que há prejuízo decorrente do depó sito, prejuizo esse que será
ressarcido pelo depositante.

O art. 644 prevê direito de retenção em favor do depositário. O direito de retençã o


aqui abrange nã o apenas a retribuiçã o devida, mas também o valor líquido das despesas e
os prejuízos resultantes do depó sito. Entã o, na verdade, o depositá rio exerce um direito de
retençã o por praticamente tudo.

Art. 645  na realidade, o contrato de depósito pode ser regular ou irregular (essa
classificação não tem nada a ver com a ilicitude ou não do contrato).

No depó sito regular o depositá rio se compromete a restituir o mesmo bem que lhe fora
entregue. Quase sempre o depó sito é regular.
57

Já no depó sito irregular o depositá rio nã o se compromete a restituir o mesmo bem que lhe
fora entregue e sim outro de mesma quantidade, qualidade e espécie. Parece nítido que o
depó sito irregular decai necessariamente sobre bens fungíveis, porque apenas nesse caso
será possível ao depositá rio restituir outro bem de mesma quantidade, qualidade ou
espécie.

O simples fato do bem ser fungível nã o significa dizer que o depó sito é necessariamente
irregular. Portanto, se um depó sito recai sobre um bem fungível, mas o depositá rio se
compromete a restituir aquele mesmo bem fungível, o depó sito é regular e nã o irregular.
Embargos no RESP 396.699.

Entã o, o que caracteriza o depó sito irregular é o fato do depositá rio se comprometer nã o a
restituir o bem que lhe fora entregue, mas sim outro de mesma quantidade, qualidade e
espécie.

Nesse depó sito irregular, o depositá rio vai receber um bem que nã o lhe pertence, que
pertencia ao depositante e vai restituir outro bem que nã o aquele, mas de mesma
quantidade, qualidade e espécie. Percebam que esse depó sito irregular se parece mais com
o mú tuo do que com o proprio depó sito regular, porque no mú tuo o mutuá rio também
recebe o bem, vai consumir o bem e vai restituir outro de mesma quantidade, qualidade e
espécie. Por isso o art. 645 na parte final diz que o deposito irregular se regula pelo
disposto acerca do mú tuo. Assim, o depó sito irregular segue a sistemá tica do contrato de
mú tuo.

O depósito transfere a propriedade?

Depende! O depó sito irregular transfere a propriedade, pois o depositá rio vai receber um
bem e vai entregar ao depositante outro de mesma quantidade, qualidade e espécie. Entã o,
aquele bem que é entrega ao depositá rio é objeto de transferencia de propriedade. E além
disso o art. 645 diz que o deposito irregular segue a sistemá tica do contrato de mú tuo.
Remissã o para o art. 587 do CC – diz que o mutuo transfere a propriedade e os riscos por
perda ou deterioraçã o sem culpa correm por conta do mutuá rio. No caso de depó sito
irregular os riscos por deterioraçã o sem culpa correm para o depositá rio. Logo, no caso de
deposito irregular nã o se aplica o art. 642 – aplicá vel o art. 587 por analogia.

Então, qual é a diferença do depósito irregular para o mútuo?

o mú tuo se dá no interesse do mutuá rio; ao passo que o deposito irregular se dá no


interesse do depositante. Além disso, a finalidade primordial do mú tuo é o consumo do
bem pelo mutuá rio; já no deposito irregular a finalidade primordial é a conservaçã o do
bem.

Entã o, vejam que no caso de depó sito em dinheiro, por exemplo, é possível que haja a
aplicaçao do art. 645, conforme o caso.

No caso do deposito irregular, tal qual ocorre no mutuo, nã o há desmembramento


possessorio, pois o depositante transfere a propriedade ao depositá rio. Entã o, o
depositante nã o tem tutela possessó ria, tal qual o mú tuo.
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Quando se admitia prisã o civil do depositá rio infiel (o que hoje já nã o é mais admitido pelo
STF) o cabimento dessa prisã o civil nã o se aplicava ao deposito irregular dizia o STJ,
porque o deposito irregular segue a sistemá tica do mú tuo e nã o do deposito regular.
Entã o, se nã o cabia prisã o civil do mutuá rio também nã o caberia prisã o civil do
depositá rio no caso de deposito irregular. Isso hoje nã o tem mais relevancia prá tica uma
vez que nã o mais se admite prisã o civil para qualquer depó sito, seja regular ou irregular.

Art. 373, II  está dentro do capítulo de compensaçã o; regra geral, a origem das dívidas
nã o é obice à compensaçã o; entã o, pode uma dívida originar de um contrato de compra e
venda e outra de um contrato de locaçã o; ainda assim é possivel a compensaçã o; só que o
art. 373 traz exceçõ es: II - “se uma se originar de depósito”. Entã o, se uma das dívidas
objeto de compensaçã o provém de deposito o art. 373, II impede a compensaçã o.

Por que isso? Por conta do art. 313 do CC – contempla o principio da exatidã o do
pagamento; identidade da coisa devida. É da essencia do deposito que o depositante possa
exigir do depositá rio aquele mesmo bem que ele entregou ao depositá rio. Como pelo
principio da exatidã o do pagamento o depositante nã o é obrigado a receber bem diverso
daquele que ele entregou ao depositá rio, o art. 373, II obstaculiza a compensaçã o nesse
caso. Se coubesse compensaçã o, ao inves do depositante receber o objeto que ele entregou
ao depositá rio, ele seria contemplado com o abatimento de uma dívida, o que nã o seria
admissível pelo art. 313 do CC.

Mas percebam que o que muitos defendem é que essa vedaçã o do art. 373, II nã o se aplica
no caso de depó sito irregular, porque no caso de deposito irregular o depositante nã o
pode exigir do depositá rio o mesmo bem que ele entregou ao depositá rio, mas outra de
mesma quantidade, qualidade e espécie. Entã o, dada a generalidadedo objeto a ser
entregue ao depositante que nã o é exatamente aquele que foi entregue ao depositá rio,
muitos defendem que o art. 373, II nã o se aplicaria no caso de deposito irregular.

Art. 632  trata da hipótese de depósito no interesse de terceiro. Ex.: depó sito de
dinheiro em determinado banco em favor de um terceiro. Nesse caso, nã o pode o
depositá rio (instituiçã o financeira, por exemplo) se exonerar restituindo o bem ao
depositante sem o consentimento do terceiro, na medida em que aqueles depositos eram
efetuados a benefício de terceiros. Esse artigo nos remete a estipulaçã o em favor de
terceiro. Logo, remissã o do art. 632 para o art. 437 do CC.

CLASSIFICAÇÃO:

 Depósito voluntário (tem natureza contratual – art. 627 a 646)


 Depósito necessário: se subdivide em:
 Legal (art. 647, I – o que se fizer em desempenho de obrigaçã o legal) – ex.: art.
649; art. 1º da lei 8866/94
 Miserá vel (art. 647, II – em situaçã o de calamidade como incendio, inundaçã o,
naufrá gio ou saque, etc.)

5. CONTRATO ESTIMATÓRIO (art. 534 a 537)


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Art. 534. Pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens móveis ao


consignatário, que fica autorizado a vendê-los, pagando àquele o preço
ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa
consignada.

O contrato estimatório é a chamada venda em consignação. Ex.: automó veis usados –


eu quero vender um determindo automó vel usado, tenho um amigo dono de uma
concessioná ria, deixo o carro na concessioná ria e combino com ele que eu quero para mim
30 mil reais; e o que ele por ventura apurar a mais na venda com o terceiro poderá ficar
para ele. Entã o, se por ventura o dono da concessioná ria conseguir vender o automó vel
por 35 mil reais, os 05 mil reais excedentes ficam com o dono da concessioná ria. É o
chamado “sobre-preço” – é o lucro da concessioná ria; a diferença entre o preço da compra
e venda e o preço estimado.

Sã o duas as partes envolvidas no contrato estimató rio:

 Consignante (aquele que entrega o bem mó vel)


 Consignatá rio (aquele que recebe o bem mó vel, ficando autorizado a vendê-lo)

Percebam que o contrato estimató rio nã o se confunde com a compra e venda. Isso fica
muito nítido em relaçã o ao preço, por exemplo. O preço da compra e venda há de ser
maior do que o preço acordado no contrato estimató rio, uma vez que a diferença entre o
preço da compra e venda e o preço do contrato estimató rio é o chamado “sobre-preço” e é
esse sobre-preço que garante o lucro do consignatá rio no caso da venda do veículo.

Sã o dois contratos diferentes que nã o se confundem; inclusive com partes diferentes; na


compra e venda um terceiro integra a relaçã o contratual, ao passo que o contrato
estimató rio é firmado exclusivamente entre consignante e consignatá rio.

Em relação à natureza jurídica, há uma controvérsia:

1ª corrente: contrato estimató ria gera obrigaçã o alternativa. O art. 534 diz que o
consignatá rio fica autorizado a vender o bem a um terceiro passando ao consignante o
preço ajustado, salvo se preferir restituir-lhe a coisa consignada. Entã o, a obrigaçã o
alternativa aqui seria: ou pagamento do preço de estima ao consignante ou devoluçã o da
coisa consignada. RESP 710.658. Enunciado 32/CJF – sugere que a obrigaçã o seria
alternativa.

2ª corrente (maioria da doutrina – SILVIO VENOSA, ARNALDO RISARDO, TEPEDINO):


a hipó tese seria de obrigaçao facultativa e nã o alternativa. Na obrigaçã o facultativa a
prestaçã o devida nã o é uma ou outra; a prestaçã o devida é apenas uma, só que as partes
atribuem ao devedor a prerrogativa de se eximir do vínculo entegando prestaçã o diversa
da devida. Consquencia: o credor nã o pode exigir a prestaçã o facultativa.

Ex.: Se a prestaçã o devida é um carro e a facultativa é a joia, se há perda com culpa do


carro que é a prestaçã o devida, o credor só pode exigir do devedor o equivalente + perdas
e danos do carro. E aí o devedor pode se eximir dessa pretensã o entregando a prestaçã o
facultativa, porque o cumprimento da prestaçã o facultativa é direito potestativo do
devedor, mas nã o é jamais exigível pelo credor.
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Se há perda sem culpa do carro que é a prestaçã o devida, o credor só vai poder exigir o
status quo ante, a resoluçã o da obrigaçã o. Só que o devedor pode afastar essa pretensao
do credor cumprindo a prestaçã o facultativa.

Entã o, a diferença é que na obrigaçã o alternativa é prestaçã o devida é uma ou outra. Na


facultativa a prestaçã o devida é apenas uma, só que as partes conferem ao devedor a
prerrogativa, o direito potestativo de se eximir do vínculo entregando prestaçã o diversa.

O contrato estimató rio seria uma obrigaçã o facultativa, porque a redaçã o diz “pagando
aquele o preço ajustado, salvo se preferir restituir-lhe a coisa consignada” – expressã o
“salvo de preferir” parece sugerir que é direito potestativo do consignatá rio restituir a
coisa consignada e que na verdade a prestaçã o devida seria o pagamento do preço.

Essa redaçã o se assemelha muito à do art. 1.234 do CC – exemplo típico de obrigaçã o


facultativa.

A doutrina ainda afirma que a redação do art. 534 sugere que o contrato estimatório
é contrato real – só se constitui com a entrega da coisa.

Em relação ao prazo: E se as partes não pactuam prazo para que o consignatário


efetue o pagamento do preço estimado ao consignante ou para que o consignatário
restitua o bem ao consignante?

1ª corrente: a ausencia de prazo desnatura o contrato.

2ª corrente (dominante): na ausencia de prazo se aplicaria o termo moral – um prazo


razoá vel para que o consignatá rio consiga pagar o preço de estima ao consignante ou
restituir-lhe o bem consignado.

E é claro que, em nã o havendo um prazo rígido, a constituiçã o da mora do consignatá rio


(em relaçã o a essa obrigaçã o de pagar o preço de estima ou restituir o bem consignado)
seria EX PERSONA pressupondo interpelaçã o judicial ou extrajudicial (art. 397, pú )

OBS.: FLÁ VIO TARTUCE  se nó s entendermos que o contrato estimató rio é contrato real
o contrato estimató rio só vai se constituir a partir da entrega do bem pelo consignante em
favor do consignatá rio. Entã o, antes da entrega da coisa nó s nã o temos obrigaçõ es
contratuais, porque o contrato nã o se forma antes da entrega. Diante disso, em se tratando
de contrato real o contrato estimató rio seria um contrato unilateral. Em tese, qual seria a
obrigaçã o do consignante? Entregar o bem ao consignatá rio. Só que antes da entrega nó s
nã o temos contrato, porque se o contrato estimató rio for contrato real, o contrato só se
constitui a partir da entrega e nó s nã o poderiamos cogitar de obrigaçã o contratual de
entregar o bem, porque o contrato só se forma a partir da entrega. Entã o, se nó s
entendermos que o contrato estimató rio só se forma a partir da entrega, porque se trata
de um contrato real, o contrato estimató rio passa a ser unilateral, pois só gera obrigaçõ es
para o consignatá rio.

TEPEDINO  o art. 534 sugere que o consignatá rio possa ou pagar o preço estimado ao
consignante ou restituir o bem ao consignante. É preciso interpretar esse artigo a luz da
boa-fé objetiva. Em algumas situaçõ es o consignatá rio nã o terá tanta liberdade assim
como segure o dispositivo.
61

Ex.: vamos imaginar contrato estimató rio envolvendo livros. As livrarias recebem em
consignaçã o os livros da editora. Editora – consignante; livraria – consignatá rio. E aí
determinados exemplares de um determinado autor sã o objeto de consignaçã o em relaçã o
a uma determinada livraria que tem vendas significativas na regiã o. Só que aquela livraria
em conluio com um autor e com uma editora concorrente aquela adquire em seus proprio
nome os livros e paga o preço de estima ao consignante, com o objetivo de nã o divulgar a
obra.

Vejam que nesse caso é nítido que a editora tem interesse na venda dos livros; mas a
médio e longo prazo a nã o divulgaçã o da obra trará prejuízos flagrantes. Nesse caso, é
evidente que além da venda do livro para terceiros, o interesse da editora nã o é apenas no
recebimento do preço estimado, mas também na divulgaçã o da obra. Nesse caso, haveria
uma hipotese típica de simulaçã o associada aos deveres anexos da boa-fé objetiva. Seria
possivel falar em inadimplemento contratual nesse caso através da violaçã o positiva do
contrato – a transgressã o dos deveres anexos configura inadimplemento contratual. É
curioso, pois, em que pese o pagamento do preço de estima, que seria a via adequada para
o consignatá rio se exonerar do vínculo, nesse caso, nó s poderíamos falar em
inadimplemento contratual pela violaçã o positiva do contrato.

Art. 535  chama atençã o por excepcionar a regra geral RES PERITI DOMINO – o
proprietá rio da coisa na vigencia da contrato estimató rio é o consignante. Entã o, a
princípo, o consignante suportaria os riscos por perda ou deterioraçã o sem culpa. Só que o
art. 535 diz que nã o. Esse artigo atribui os riscos por perda ou deterioraçã o sem culpa ao
consignatá rio.

Quando é que o consignante tem direito ao recebimento do preço de estima? Em que


momento o consignante tem direito ao recebimento do preço de estima?

É claro que a princípio ele fará jus ao recebimento do preço de estima no prazo acordado
entre as partes – princípio da autonomia privada. Mas e no silêncio do contrato? 03
correntes:

1ª corrente (minoritária): no momento da venda efetuada pelo consignatá rio ao


terceiro.

2ª corrente: no momento em que o consignatá rio recebe o produto da venda pelo


terceiro. entã o, no exato momento em que o terceiro compra o automó vel por 35 mil reais
e paga esse valor ao consignatá rio, o consignante já poderia exigir os 30 mil acordados
como preço de estima.

3ª corrente (predominante): ao término do prazo do contrato estimató rio. Vamos supor


que o preço para o conginatá rio pagar o preço de estima ou restituir a coisa seja de 60 dias
e o consignatá rio venda o bem no 40º dia. Nesse caso, o consignante só poderia exigir o
preço de estima do consignatá rio no 60º dia, em que pese o consignatá rio ter recebido o
preço no 40º dia.

Art. 536  na vigencia do contrato estimató rio o bem pertence ao consignante; o bem nã o
é de titularidade do consignatá rio. E, desse modo, é evidente que aquele bem nã o é
instrumento de garantia para os credores do consignatá rio; serve apenas como
instrumento de garantia para os credores do consignante e nã o do consignatá rio.
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Parte final  A redaçã o sugere que quando houver o pagamento integral do preço
estimado aquele bem passaria a ser passível de penhora ou sequestro pelos credores do
consignatá rio e na realidade nem sempre, vai depender do caso concreto. Se por ventura o
consignatá rio vende o bem a um terceiro para com o recebimento do preço da compra e
venda lucrar com o sobre-preço e pagar o preço de estima ao consignante, se o
consignatá rio vende o bem para o terceiro, o bem sai da titularidade do consignante
diretamente para a titularidade do terceiro; ele nunca foi da titularidade do consignatá ria.
Entã o, se, na verdade, o bem é vendido pelo consignatá rio ao terceiro o bem sai da
titularidade do consignante diretamente para a titularidade do terceiro. E, portanto, nã o
será aplicá vel a parte final do art. 536 do CC, porque ainda que seja integralmente pago o
preço de estima ao consignatá rio, aquele bem jamais servirá como instrumento de
garantia para os credores do consignatá rio. Ele deixa de ser instrumento de garantia para
os credores do consignante e passa a ser instrumento de garantia para os credores do
terceiro comprador.

Entã o, a parte final do art. 536 só será aplicá vel se o proprio consignatá rio adquire o bem
em seu proprio nome. Nesse caso sim aquele bem sai da titularidade do consignante para a
titularidade do consignatá rio, passando a ser passível de sequestro ou arresto pelos
credores do consignatá rio.

Em relação a responsabilidade por vícios redibitórios e evicção:

1ª corrente (minoritária): diz que na verdade na hipó tese de venda do bem a um


terceiro quem vende o bem nã o é o consignatá rio, mas sim o consignante – que é o
proprietá rio – e na medida que o consignante é o proprietá rio, só o consignante responde
perante o terceiro comprador por vícios redibitó rios e evicçã o.

2ª corrente (CAPANEMA, TEPEDINO): o que se sustenta é que, em que pese o


consignatá rio nã o ser o proprietá rio, ele é parte do contrato de compra e venda, porque
quem integra a relaçã o contratual nesse caso nã o é o proprietá rio consignante, mas sim o
consignatá rio que tem a posse direta. Dentro desse contexto, quem responderia por vícios
redibitó rio seria exclusivamente o consignatá rio e pela evicçã o o consignante e o
consignatá rio, porque a evicçã o é um vício de alienaçã o.

É claro que essa restriçã o a responsabilidade do consignante em relaçã o a vícios


redibitó rios nã o se aplica no caso de relaçã o de consumo. Se eu compro um bem de uma
livraria – relaçã o de consumo – solidariedade passiva entre consignante e consignatá rio,
por força do CDC.

Art. 537  quando a gente pensa em proprietá rio sem faculdade de disposiçã o nos
recordamos apenas da hipotese de cláusula de inalienabilidade. Só que no contrato
estimató rio nó s temos mais um exemplo disso: enquanto o consignatário não restitui o
bem ao consignante ou enquanto o consignatário não comunica ao consignante que
lhe irá restituir o bem, o consignante, que é o proprietário, fica desprovido da
faculdade de disposição. A faculdade de disposiçã o se concentra no consignatá rio – art.
537. Entã o, esse é um ó timo exemplo em que o proprietá rio perde a faculdade jurídica de
disposiçã o.

O que justifica a redaçã o do art. 537?


63

É o princípio da confiança, boa-fé objetiva – tutela da legítima expectativa de terceiro. Se


nã o existisse o dispositivo, o que poderia acontecer na prá tica? O consignatá rio arruma
um comprador para o bem, mas ao mesmo tempo o consignante também ofere o bem e
também arruma outro comprador para aquele mesmo bem. Nesse caso, haveria um abalo
à legítima expectativa daquele terceiro que havia acordado com o consignatá rio, porque
esse terceiro sucumbiria diante dos interesses do terceiro que teria acordado com o
consignante.

Na vigencia do contrato estimató rio, o bem objeto da consignaçã o serve como instrumento
de garantia para os credores do consignante, na medida em que o bem pertence ao
consignante. Entã o, se houver penhora ou sequestro do bem pelos credores do
consignante, na realidade, aquele bem sai da posse direta do consignatá rio, vai ficar
afetada à satisfaçã o das dívidas do consignante perante seus credores. Mas percebam que
nesse caso o consignatá rio vai poder exigir do consignante eventuais despesas quanto à
conservaçã o do bem, anuncios para sua venda, dentre outros.

AULA 05

6. CONTRATO DE MANDATO

 BREVES CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO INSTITUTO DA REPRESENTAÇÃO


(PARTE GERAL):

Vem nos art. 115 a 120 do CC.

É da essencia da representaçã o que o representante atue em nome e em favor do


representado, sobre quem recaem os efeitos negociais; é este que se vincula perante
terceiros.

Para que terceiros saibam que, apesar de estarem negociando com o representante, na
realidade, eles estã o se vinculante perante o representado, é preciso que a representaçã o
seja dotada de publicidade. Essa publicidade, que busca exteriorizar a representaçao
perante terceiros, é chamada pela doutrina de CONTEMPLATIO DOMINI.

Só que, em alguns casos, há representaçã o sem CONTEMPLATIO DOMINI. Ex.: imaginem


um empregado que vá comprar um cigarro para o patrã o – é possivel que terceiros que
negociem com esse empregado nã o tenham ciência da representaçã o – nó s teríamos nesse
caso representaçã o sem contemplatio domini.

Na realidade, em regra, quando nã o há publicidade quem se vincula perante terceiros nã o


é o representado e sim o representante – logo, na ausencia de ciencia de terceiros em
relaçã o a existencia da representaçã o quem se vincula perante esses terceiros é o
representante e depois o representante vai ter que prestar contas perante o representado
– surge uma relaçã o triangular.

O fato é que quando nã o há contemplatio domini surge a chamada REPRESENTAÇÃO


IMPRÓPRIA/INDIRETA/MEDIATA. Ex. legislativo no contrato de comissã o: art. 693 a
709. A diferença essencial da comissã o para o mandato é que na comissã o o comissá rio
64

atua em favor do comitente, porém em nome proprio. Entã o, quem se vincula perante
terceiros é comissá rio e posteriormente o comissá rio vai prestar contas perante o
comitente.

 TEORIA DA SEPARAÇÃO:

Vá rios autores clá ssicos destacavam que representaçã o voluntá ria seria sinô nimo de
mandato – a representaçã o voluntá rio decorreria necessariamente do contrato de
mandato. Ainda se posicionando nesse sentido: CRG.

Só que de tempos para cá , surgiu a TEORIA DA SEPARAÇÃ O. Pela teoria da separação o


poder de representação não resulta do mandato e sim da procuração. Em regra, o
mandato produz efeitos interpartes – entre mandante e mandatá rio. Já a procuraçã o busca
na verdade exteriorizar o mandato perante terceiros.

Quais as principais funçõ es da procuraçã o?

 Definiçã o dos poderes outorgados ao mandatá rio


 Contemplatio domini – publicizar a existencia do mandato perante terceiros

Se nó s entendermos que o poder de representaçã o nã o resulta do mandato e sim do


procuraçã o, nó s estaremos melhor protegendo o legítima expectativa de terceiros de boa-
fé. Ex.: vamos supor que haja algum vício envolvendo o contrato de mandato, só que a
procuraçã o é perfeita – licita, sem vícios. Percebam que eventual vício no contrato de
mandato nã o atinge a validade dos atos praticados pelo mandatá rio em nome e em favor
do mandante perante terceiros de boa-fé. Logo, o vício do contrato de mandato nã o
repercute na esfera juridica de terceiros de boa-fé.

Agora, vamos supor que um determinado negó cio jurídico praticado pelo mandatá rio em
nome e em favor do mandante extrapole o ambito do que fora acordado entre as partes, ou
seja, extrapola o contrato de mandato, mas está dentro dos estreitos limites da
procuraçã o. Sabendo-se que é a procuraçã o quem publiciza o contrato perante terceiros.
Vejam que nesse caso se o ato obedece precisamente a procuraçã o, mas extrapola o
contrato de mandato, o negó cio jurídico praticado é lícito, é adequado em homenagem à
tutela da legítima expectativa de terceiros.

Então, a teoria da separação busca, na verdade, enaltecer a tutela da legítima


expectativa de terceiros, em detrimento dos interesses do mandante, na medida em
que a representação voluntária não resultaria do mandato, mas sim da procuração.

 REPRESENTAÇÃO APARENTE

A representaçã o aparente funciona justamente a luz da TEORIA DA APARÊ NCIA. O art. 116
do CC diz que a manifestaçã o de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes,
produz efeitos em relaçã o ao representado. Mas e a contrá rio senso? E na hipótese em
que o representante exorbita dos seus poderes? Será que nesse caso o representado
se vincula?

Em regra, nã o! A exceçã o seria a REPRESENTAÇÃ O APARENTE.


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A representação aparente, de acordo com a doutrina e a jurisprudencia, pressupõe


não somente a teoria da aparente (na teoria da aparencia seria aplicá vel a
representaçã o aparente quando perante terceiros houver uma aparência de licitude da
conduta do representante; em que pese ele extrapolar os poderes resultantes da
representaçã o, nã o seria perceptível a terceiros que aquele representante estivesse
praticando tal ilicitude). Além da teoria da aparencia, se exige que o representado, de
alguma forma, contribua para a situação geradora de confiança.

Ex.: o sujeito vai a um restaurante, para na frente e aparece alguém uniformizado com o
nome do restaurante; o sujeito entrega as chaves ao falso manobrista, suposto preposto do
restaurante, e na realidade aquele sujeito é um meliante que pega o carro e desaparece.
Em tese, o restaurante alegaria que na realidade nã o responde por atos daquele indivíduo
na medida em que ele nã o era seu preposto. Mas percebam que a conduta omissiva do
restaurante de algum modo contribuiu para a situaçã o geradora de confiança, ao permitir
que alguém com seu uniforme, nas suas depedencias, receba a chave de um cliente. Entã o,
nesse caso, aplicá vel a representaçã o aparente.

Ou imaginem uma empresa de transporte de valores que entregue dinheiro para um falso
funcioná rio do banco dentro da instituiçã o financeira. Vejam que ainda que aquele sujeito
nã o seja preposto do banco, a conduta omissiva do banco de algum modo contribuiu para
a situaçã o geradora de confiança da empresa de transporte de valores. E aí nesse caso
aplicá vel a figura da representaçã o aparente.

Nesse ultimo exemplo, imaginemos que a instituiçã o financeira com a sua conduta
omissiva permita que um nã o funcioná rio receba o numerará rio e posteriormente alega
que aquele sujeito nã o era seu preposto. Nó s temos aí conduta contraditá rias. É possível
aqui invocar a venire contra factum proprium de molde a subsidiar a figura da
representaçã o aparente.

Voltemos agora ao CONTRATO DE MANDATO (art. 653 e ss.)...

O art. 653 traz a causa do contrato de mandato. É da essência do mandato que o


mandatá rio receba poderes para atuar em nome e em favor do mandante. A parte final diz
que a procuraçã o é o instrumento do mandato.

Como vimos, a procuraçã o é o instrumento do mandato na medida em que ela buscadefinir


os poderes outorgados ao mandatá rio e publicizar o contrato de mandato perante
terceiros – CONTEMPLATIO DOMINI.

Dentro desse contexto nã o custa lembrar que o mandato produz efeitos interpartes
(princípio da relatividade) e a procuraçã o busca externar os efeitos do mandato perante
terceiros.

OBS.: É preciso diferenciar duas situaçõ es que se parecem, mas que nã o se confundem e
que produzem efeitos prá ticos totalmente diferentes.

1) ATUAÇÃO EXORBITANTE DO MANDATÁRIO (o mandatário atua sem poderes


– com excesso de poder):
66

Nesse caso, nó s temos o art. 662 e 665 do CC. Se o mandatá rio atua com excesso de poder,
ele nã o tem poder de praticar o ato realizado perante terceiros, a regra geral trazida por
nesses artigos vem no sentido de que neste caso o mandante nã o se vincula perante
terceiros. “salvo se este os ratificar”

Remissã o para a sistemá tica da gestã o de negó cios que vem nos art. 861 a 875 do CC.
Lembrando que na gestã o de negó cios o gestor atua em nome e em favor de outrem sem
que tenha recebido poderes para isso. E é claro que para que o dono do negó cio se vincule
é preciso que ele venha a ratificar os atos praticados pelo gestor. Por isso esses artigos
falam em ratificaçã o superveniente.

Entã o, a rigor, se o mandatá rio atua sem poderes, o mandante nã o se vincula. E a luz da
teoria da separaçã o a definiçã o desses poderes perante terceiros se dá através da
procuraçã o e nã o através do mandato. Se o sujeito atua para além dos poderes previstos
no mandato, mas dentro dos poderes previstos na procuraçã o, nó s nã o aplicaremos os art.
662 e 665. Nó s só aplicaremos esses dispositivos na hipotese em que os poderes
extrapolam aqueles previstos na procuraçã o, à luz da teoria da separaçã o.

Esses art. 662 e 665, que afirmam que o mandante nã o se vincula perante terceiros na
hipotese em que o mandatá rio atua sem poderes, cedem diante da representaçã o aparente
– se for o caso de aplicaçã o da representaçã o aparente.

Diversamente desta hipótese, em que o mandatário atua sem poderes, nós temos a
hipótese de mera inobservancia das instruções pelo mandatário

2) MERA INOBSERVÂNCIA DAS INSTRUÇÕES PELO MANDATÁRIO (art. 679)

Nessa 2ª hipó tese, o mandatá rio tem poderes para praticar o ato, só que ele inobserva as
instruçõ es que lhe foram conferidas pelo mandante. E aí, neste caso, privilegia-se a tutela
da legítima expectativa de terceiros de boa-fé, em detrimento do mandante. Porque, nesse
caso, se o mandatá rio tem poderes para a prá tica do ato, ainda que ele inobserve as
instruçõ es que lhe foram conferidas pelo mandante, o art. 679 deixa claro que perante
terceiros o mandante se vincula e posteriormente o mandante poderá exercer açã o
reparató ria em face do mandatá rio que inobservou as instruçõ es que lhe foram dadas.

Entã o, o negó cio jurídico praticado com o terceiro é vá lido, é eficaz, o terceiros terá sua
legítima expectativa prestigiada e posteriormente o mandante vai poder exercer açã o
reparatá ria em face do mandatá rio.

RESP 1.034.264  os advogados das partes peticionaram em juízo externando um acordo


que poderia fim ao litígio, sendo que ambos os advogados tinham poderes para transigir.
Só que aquele acordo nã o interessava a uma das partes e aí ficou evidente que o advogado
aquele cliente inobservou as instruçõ es que lhe foram conferidas. Ele tinha poderes para
transigir, mas ele inobservou as instruçõ es que lhe foram dadas pelo cliente em relaçã o ao
acordo. Antes que o acordo levado a juízo fosse homologado, a parte descontente
peticionou em juízo revogando os poderes outorgados ao advogado, alegando que nã o
queria aquele acordo. O STJ entendeu, nesse julgado, que ainda que a parte tenha se
manifestado antes da homologaçã o do acordo, aquele acordo celebrado por um advogado
com poderes para transigir teria despertado na outra parte uma legítima expectativa; em
homenagem a boa-fé objetiva e ao art. 679 aquele acordo ainda nã o homologado, quando a
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parte externou o seu descontentamento, merece ser homologado, tendo em vista que o
advogado tinha poderes para transigir e caberia a parte nesse caso ingressar depois com
uma açã o de responsabilidade civil, se for o caso, em face do advogado.

Art. 663  a 1ª parte é a regra geral. Já a parte final diz que se o mandatá rio agir no seu
proprio nome, ainda que ele esteja atuando em nome do mandante quem se vincula
perante terceiros nesse caso nã o será o mandante, mas sim o proprio mandatá rio, na
medida em que ele atua em nome pró prio. Ou seja, ele atua sem CONTEMPLATIO DOMINI.
Nã o há publicidade na existência do mandato perante terceiros – o que normalmente se dá
através da procuraçã o. Entã o, como terceiros nã o sabem que na verdade estã o negociando
com o mandante, quem se vincula perante terceiros é o proprio mandatá rio nesse caso.

Para alguns autores nessa parte final do art. 663 nó s teríamos mandato sem representaçã o
propriamente dita – nó s teríamos um mandato com representaçã o impró pria. Nó s vimos
que a representaçã o impró pria se dá justamente quando nã o há CONTEMPLATIO DOMINI,
porque nesse caso quem se vincula perante terceiros nã o é o representado, mas sim o
representante. No nosso caso aqui seria o proprio mandatá rio.

Ao passo que para outros, é da essencia do mandato que haja contemplatio domini. O
proprio art. 653 quando define a causa do contrato de mandato deixa claro que quem se
vincula perante terceiros na verdade nã o é o mandatá rio, mas sim o mandante. E aí, na
realidade, a parte final do art. 663 geraria transmudaçã o do mandato no contrato de
comissã o – art. 693 – é da essencia da comissã o que quem vincule perante terceiros nã o
seja o comitente e sim o comissá rio. (o debate é puramente acadêmico – sem efeitos
prá ticos).

Art. 658  deixa claro que o mandato é contrato BIFRONTE, ou seja, ele pode ser
gratuito ou oneroso. Há presunção relativa de que o mandato é contrato gratuito.
Entã o, a regra é de que o mandato presume-se gratuito quando nã o tiver sido estipulada a
retribuiçã o. A exceçã o é se o objeto do mandato corresponder àquilo que o mandatá rio
atua como ofício ou profissã o lucrativa – ex.: despachante; advogado. o mandato firmado
com o despachante ou com o advogado presume-se oneroso, porque diz respeito ao
proprio objeto da atuaçã o profissional do mandatá rio.

Paragrafo único  vamos supor que no mandato nã o haja retribuiçã o ajustada, mas seja
um mandato firmado com despachante ou advogado – dentro do objeto de sua atividade
profissional. Ainda que nã o haja retribuiçã o previsto no contrato, aquele mandato é
presumidamente oneroso, presunçã o também relativa – nada impede que as partes
explicitamente ajustem que o advogado esteja prestando serviços gratuitamente ao amigo,
mas é preciso que haja explicita previsã o contratual, nesse sentido.

OBS.: CAPACIDADE:

Em relaçã o à capacidade do mandatá rio, há uma peculiaridade aqui no art. 666 – o maior
de 16 anos e menor de 18 anos, a rigor, é relativamente incapaz, carece de assistência para
a prá tica dos atos da vida civil. Só que uma das exceçõ es à necessidade de assistência do
maior de 16 e menor de 18 está justamente no art. 666 – o maior de 16 e menor de 18
pode ser mandatá rio, independentemente de assistência. Exceçã o ao art. 4º do CC.
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Em relaçã o à capacidade do mandante, o art. 654 traz a perspectiva de que se o mandante


é capaz, a procuraçã o pode ser feita por instrumento particular. A contrá rio senso, se o
mandante for incapaz se exige a observancia de instrumento pú blico.

Há alguns autores que defendem que no caso de mandante relativamente incapaz, a


outorga dos poderes por parte desse mandante se dá com a atuaçã o conjunta desse
mandante relativamente incapaz e seu respectivo assistente. Nesses casos, em que o
mandante é relativamente incapaz e atua em coadjuvâ ncia com o respetivo assistente, se
exige a adoçã o do instrumento pú blico.

Mas por outro lado, defendem alguns autores, que se o mandante é absolutamente
incapaz, na realidade, quem está outorgando poderes a outrem nã o é propriamente o
mandante e sim o seu representante legal. Porque no caso de absolutamente incapaz, na
realidade, o que supre a incapacidade absoluta é a representaçã o e na representaçã o legal
na realidade em regra a vontade do representado é desimportante, porque o
absolutamente incapaz nã o tem nenhum discernimento para os atos da vida civil. E dada a
desimportâ ncia da vontade do representado, no caso da representaçã o legal, na realidade,
quem outorga poderes a outrem para a prá tica do ato nã o é propriamente o
absolutamente incapaz, mas sim o seu representante legal. Como nesse caso quem outorga
poderes a outrem nã o é o absolutamente incapaz, na medida em que ele é desprovido de
discernimento, quem outorga poderes a outrem é o representante legal do absolutamente
incapaz, nesse caso, a procuraçã o poderia se dar mediante instrumento particular, porque
na verdade o incapaz nã o outorga qualquer poder a terceiros, mas apenas e tã o somente o
representante legal do absolutamente incapaz. BEVILAQUA, CAIO MARIO, CERPA LOPES.

Divergindo desse entendimento: ARNALD WALD – para ele, sempre se exige instrumento
pú blico na hipotese de incapaz, seja relativamente ou absolutamente incapaz.

QUANTO À FORMA: O art. 657 do CC aumentou o rigor formal do mandato em


comparaçã o com o CC anterior. Esse artigo deixa claro que a forma do mandato segue
a forma do ato a ser praticado por intermédio do mandato. Entã o, se através do
mandato de outorga poderes a outrem para celebrar um contrato de compra e venda de
imó vel que necessariamente tem que ser feito por intrumento pú blico, se o contrato a ser
praticado pelo mandatá rio exige instrumento pú blico, o contrato de mandato também terá
que se dar por instrumento pú blico.

Então, a forma do ato a ser praticado pelo mandatário atrai a forma do contrato de
mandato. Logo, nã o se admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por
escrito.

OBS.: Art. 655  o subestabelecimento pode ser dado sempre por instrumento particular,
ainda que a procuraçã o tenha sido feita por instrumento pú blico.

1ª corrente: vai interpretar literalmente o art. 655 e vai dizer que o subestabelecimento
sempre pode ser feito por instrumento particular, ainda que a procuraçã o tenha sido feita
por instrumento pú blico. Só que esse nã o é o entendimento hoje predominante.

2ª corrente: no sentido de que esse art. 655 há de ser interpretado sistematicamente com
o art. 657 do CC – exige que o mandato obedeça a forma do ato a ser praticado pela
mandatá rio. Numa interpretaçã o sistemá tica, o que se sustenta é que se o mandato foi
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feito por instrumeno pú blico por exigencia legal, o subestabelecimento também terá que
ser feito por instrumento pú blico. Caso contrá rio, haveria um esvaziamento do rigor do
art. 657. Nó s só aplicaríamos o art. 655 se as partes tiverem celebrado o mandato por
instrumento pú blico porque desejaram, porque quiseram trazer maior segurança jurídica
e nã o por determinaçã o legal. Nesse sentido, ENUNCIADO 182/CJF.

O art. 656 (que foi reproduzido do CC/16) hoje precisa ser interpretado com
cautela. Diz que o mandato pode ser expresso ou tácito; verbal ou escrito. Esse art. tem
que ser interpetado em conjunto com o art. 657 do CC, porque se o ato a ser praticado
necessariamente for de forma escrita por determinaçã o legal, é evidente que o mandato
nã o pode ser verbal. Nem sempre o mandato pode ser tá cito ou verbal.

Art. 659  prevê a possibilidade de aceitação tácita do mandato. O mandatá rio nã o


diz “aceito”, mas ele começa a praticar atos em nome e em favor do mandante. Nó s temos,
nesse caso, a aceitaçã o tá cita do mandato, que também só se admite quando nã o houver
rigor formal envolvendo o contrato de mandato. Entã o, o art. 659 também tem que ser
interpretado em conjunto com o art. 657.

Em relação ao substabelecimento: em que medida responde o mandatário por atos


praticados pelo subestabelecido?

Na realidade, nó s temos aqui tres situaçõ es diferentes:

1) Substabelecimento autorizado (art. 667, § 2º): nesse caso, o mandatá rio nã o


responde por conduta culposa do substabelecido, mas apenas por sua propria
culpa (culpa in eligendo ou por falha nas instruçõ es que tenha dado ao
substabelecido).
2) Substalecimento não autorizado (art. 667, § 4º): entenda-se omissã o da
procuraçã o quanto ao cabimento do substalecimento. E aí, nesse caso, o
mandatá rio responde nã o apenas por sua propria culpa, mas também pela culpa
do substabelecido. O ambito da responsabilidade do mandatá rio nesse caso é
muito mais abrangente.
3) Substabelecimento proibido (art. 667, § 1º): nesse caso, em que se veda o
substabelecimento e ainda assim o mandatá rio o pratica, o mandatá rio responderá
por sua pró pria culpa, pela culpa do substabelecido e em regra também por caso
fortuito e força maior.

§ 3º  traz uma proteção para o mandante se a proibição de substabelecer consta


da procuração. Se a proibiçã o de substabelecer consta apenas do mandato, a princípio, o
mandato nã o é oponível em face de terceiros, o mandato produz efeitos apenas entre
mandante e mandatá rio. Mas se a proibiçao de substabelecer consta da procuraçã o, a
procuraçã o é que gera publicidade, contemplatio domini, perante terceiros. E aí, nesse
caso, os atos praticados pelo substabelecido nã o obrigam o mandante, salvo ratificaçã o
expressa.

Atenção: é possível que haja a aplicaçã o da teoria da aparência de molde a mitigar o § 3º!
Mas é preciso que haja margem para a aplicaçã o da teoria da aparência.

Art. 672  quando há pluralidade de mandatários. À epoca do CC/16, o art. 1304 do


CC/16 estabelecia a presunçã o relativa de que teríamos mandatos sucessivos. Entã o,
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vamos supor que nó s tivéssemos como mandatá rios: Carol, Pedro e Felipe – qual era a
presunçã o relativa do CC? De que, a princípio, o mandatá rio seria a Carolina. Na ausencia
dela, o mandatá rio seria o Pedro e na ausência de ambos o mandatá rio seria o Felipe –
mandatos sucessivos.

O CC atual no art. 672 altera essa sistemá tica. O art. 672 traz a presunção de mandato
solidário ou mandato IN SOLIDUM – NÃO SE CONFUNDE COM MANDATO CONJUNTO.

No mandato solidá rio (que é a presunçã o do CC) se nó s temos três mandatá rios, qualquer
desses três pode atuar em nome e em favor do mandante, sejam os três em conjunto ou
separadamente.

Percebam que na solidariedade ativa ou passiva, qualquer um dos credores ou dos


devedores pode exigir ou responde pela totalidade do crédito. Aqui, da mesma forma,
qualquer um dos mandatá rios pode atuar sozinha em favor do mandante.

No mandato conjunto nã o! No mandato conjunto, se nó s temos três mandatá rios só se


admite que os três em conjunto atuem em nome e em favor do mandante.

Art. 660  o mandato pode ser geral ou especial. O mandato geral abrange todos os
interesses e todos os negó cios do mandante. O mandato especial, por sua vez, se refere a
determinados negó cios do mandante.

Outra classificação que não se confunde com a anterior – art. 661  o mandato pode
se dar em termos gerais ou pode se dar com poderes especiais. O mandato em termos
gerais está no art. 661, caput – só confere poderes de administraçã o. Ou seja, no mandato
em termos gerais nã o há outorga de poderes para a prá tica de atos de disposiçã o, apenas
atos de administraçã o. Já o mandato com poderes especiais está nos §§ 1º e 2º - nó s temos
poderes nã o apenas para a prá tica dos atos de administraçã o, mas também para a prá tica
de atos de disposiçã o.

Enunciado 183 do CJF  no caso do mandato com poderes especiais, que é aquele em
que se confere ao mandatá rio poderes para a prá tica de atos de disposiçã o, o mandato
com poderes especiais não pode ser mandato geral, ou seja, nã o pode o mandatá rio
receber poderes para a prá tica de atos de disposiçã o em envolvendo todos os negó cios e
interesses do negó cio. O mandato com poderes especiais NECESSARIAMENTE será
mandato especial!

Art. 668  1ª parte: prevê que o mandatá rio é obrigado a prestar contas. Isso é da
essência do contrato de mandato.

RESP 1.122.589  esse julgado diz que o direito de exigir a prestaçã o de contas do
mandatá rio se transmite aos herdeiros do mandante. Isso é interessante, porque a
princípio, com a morte do mandante o contrato de mandato se extingue – art. 682, II; e a
princípio, nã o mais haveria o dever de prestar contas. Só que o STJ disse que nã o! O dever
de prestar contas pelo mandatá rio resulta da lei e ele independe da vigencia do mandato;
entã o, ainda que o mandato nã o esteja mais vigente, porque a morte extingue o mandato; o
dever de prestar contas vai além da vigência do mandato.
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O mesmo art. 668 na parte final traz outra consideraçã o importante: todas as vantagens
provenientes do mandato em nome e em favor do mandante pertencem ao mandante e
nã o ao mandatá rio. Ex.: vamos supor que o mandante tenha outorgado poderes ao
mandatá rio de um imó vel que pentence ao mandante de 300 mil reais. Só que o
mandatá rio consegue vender por um preço um pouco maior – 330 mil reais – esses 30 mil
excedentes pertencem ao mandante, nã o ficam com o mandatá rio.

Percebam que aqui nó s temos uma nítida diferença entre o mandato e o contrato
estimató rio, porque no contrato estimató rio, o lucro do consignatá rio se dá justamente no
sobrepreço, na diferença entre os preço de estima e o preço obtido pelo consignantá rio
perante terceiros. Aqui nã o! Aqui todas as vantagens alcançadas pelo mandatá rio
pertencem ao mandante e nã o ao proprio mandatá rio.

É claro que pelo principio da autonomia privada nada impede que o mandante estipule
com o mandatá rio algum tipo de comissã o, percentual sobre aquilo que o mandatá rio
conseguir além do que fora acordado entre as partes. Mas isso demandaria explícito
acordo de vontades.

E aí como decorrencia do art. 668, 2ª parte nó s temos o art. 669 do CC – diz que o
mandatá rio nã o pode compensar os prejuízos a que deu causa com os proveitos com que
por outro lado tenha grangeado ao seu constituinte. Faz todo o sentido, porque os
proveitos que o mandatá rio obteve para o mandante pertencem ao proprio mandante. E
por outro lado, os prejuizos que o mandatá rio deu causa, sã o objeto de direito de crédito
também do mandante. Ambos os créditos sã o de titularidade do madante, seja o crédito
correspondente ao prejuízo causado pelo mandatá rio, seja o crédito resultante dos
benefícios alcançados pelo mandatá rio e a compensaçã o pressupõ e que haja reciprocidade
de obrigaçõ es. Por isso o art. 669 afasta o cabimento de compensaçã o, até porque nã o
como se compensar créditos que sã o de titularidade de uma ú nica pessoa, no caso, o
proprio mandante.

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