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SEGURO – PARTE 1
É o contrato pelo qual “o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio,
a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos
predeterminados” (CC, art. 757, caput).
Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o
pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a
pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.
Para que seja exigível o pagamento da indenização em caso de sinistro, é
necessário que o risco esteja previsto na apólice ou no bilhete de seguro (art. 760).
Art. 760. A apólice ou o bilhete de seguro serão nominativos, à ordem ou
ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim de sua
validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o
nome do segurado e o do beneficiário.
Parágrafo único. No seguro de pessoas, a apólice ou o bilhete não podem
ser ao portador.
É contrato regido pelos artigos 757 a 802 do Código Civil.
São sujeitos do contrato de seguro:
a) O segurador → aquele que recebe o prêmio e se responsabiliza por indenizar o
segurado em caso de sinistro;
b) O segurado → quem efetua o pagamento do prêmio e recebe a cobertura do
seguro.
Atenção!
A cobertura dos riscos previstos no contrato só se inicia após a entrega da
proposta de seguro à seguradora, conforme entendimento do STJ:
O proprietário de automóvel furtado não terá direito a indenização
securitária se a proposta de seguro do seu veículo somente houver sido enviada à
seguradora após a ocorrência do furto. No caso concreto, o proprietário somente
entregou a proposta de seguro preenchida e assinada à seguradora após o seu
veículo ter sido furtado. Logo, não tem direito à indenização.
(Entendimento extraído do REsp n. 1.273.204/SP, 3ª Turma, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 07/10/2014).
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. SEGURO DE AUTOMÓVEL. FORMAÇÃO DO
CONTRATO.
NÃO OCORRÊNCIA. ENVIO DA PROPOSTA APÓS O SINISTRO (FURTO DO
VEÍCULO). VONTADE DO CONSUMIDOR MANIFESTADA A DESTEMPO.
AUSÊNCIA DE ACEITAÇÃO EXPRESSA OU TÁCITA DA SEGURADORA. PERDA
DO OBJETO DO CONTRATO. INEXISTÊNCIA DE RISCO SEGURÁVEL.
1. Ação de cobrança visando ao pagamento de indenização securitária,
cingindo-se a controvérsia a perquirir se o contrato de seguro de
automóvel, após prévias negociações, perfectibiliza-se quando a proposta
for encaminhada pelo consumidor à seguradora depois de ocorrido o
sinistro.
2. O contrato de seguro, para ser concluído, necessita passar, comumente,
por duas fases: i) a da proposta, em que o segurado fornece as informações
necessárias para o exame e a mensuração do risco, indispensável para a
garantia do interesse segurável, e ii) a da recusa ou aceitação do negócio
pela seguradora, ocasião em que emitirá, nessa última hipótese, a apólice.
3. A proposta é a manifestação da vontade de apenas uma das partes e, no
caso do seguro, deverá ser escrita e conter a declaração dos elementos
essenciais do interesse a ser garantido e do risco.
Todavia, apesar de obrigar o proponente, não gera por si só o contrato,
que depende de consentimento recíproco de ambos os contratantes.
4. A seguradora, recebendo a proposta, terá o prazo de até 15 (quinze) dias
para recusá-la, caso contrário, o silêncio importará em aceitação tácita (cf.
Circular Susep nº 251/2004).
5. No contrato de seguro de automóvel, o início da vigência será a partir da
realização da vistoria, exceto para os veículos zero quilômetro ou quando
se tratar de renovação do seguro na mesma sociedade seguradora, pois,
nessas situações, a vigência será a partir da data da recepção da proposta
pelo ente segurador (art. 8º, caput e § 1º, da Circular Susep nº 251/2004).
6. Para que o contrato de seguro se aperfeiçoe, são imprescindíveis o envio
da proposta pelo interessado ou pelo corretor e o consentimento, expresso
ou tácito, da seguradora, mesmo sendo dispensáveis a apólice ou o
pagamento de prêmio.
7. Não há contrato de seguro se o particular envia a proposta após ocorrido
o sinistro (a exemplo de furto de veículo), visto que não há a manifestação
da vontade em firmar a avença em tempo hábil, tampouco existe a
concordância, ainda que tácita, da seguradora.
Além disso, nessa hipótese, quando o proponente decidiu ultimar a avença,
já não havia mais o objeto do contrato (interesse segurável ou risco futuro).
8. Recurso especial não provido.
(REsp 1273204/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 07/10/2014, DJe 28/10/2014)
ESTRUTURA DO CONTRATO DE SEGURO NO CÓDIGO CIVIL DE 2002
O Código Civil de 2002 divide o Capítulo que trata do contrato de Seguro em 3
Seções:
Seção I – Disposições Gerais (art. 757 a 777), que trata de questões relacionadas
a:
Constituição da apólice e hipóteses de nulidade do contrato;
Condições de pagamento do prêmio e etc.
Seção II – Do Seguro de Dano (art. 778 a 788): historicamente, eram
compreendidos aqui apenas os danos materiais, o que foi modificado pela Súmula n.
402 do STJ.
O contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais,
salvo cláusula expressa de exclusão.
(Súmula 402, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/10/2009, DJe 24/11/2009)
Seção III – Do Seguro de Pessoa (art. 789 a 802): abrange principalmente o seguro
de vida, mas também as questões voltadas à invalidez por acidentes, diárias
hospitalares, cobertura de doenças graves etc.
CONTROLE E REGULAÇÃO DOS SEGUROS PRIVADOS
No Brasil, a entidade responsável por controlar e exercer a fiscalização deste
segmento é a SUSEP (Superintendência de Seguros Privados), que possui
personalidade jurídica de autarquia federal.
A atuação da SUSEP alcança os mercados de seguros privados, previdência
complementar aberta, capitalização e resseguros.
http://novosite.susep.gov.br/
CLASSIFICAÇÃO DO SEGURO
O contrato de seguro pode ser classificado como:
a) Bilateral – apresenta direitos e deveres proporcionais para ambas as partes;
b) Oneroso – o prêmio representa a remuneração a ser paga pelo segurado ao
segurador. Durante a vigência do contrato, os prêmios pagos não são irrepetíveis,
haja vista a natureza aleatória do contrato;
c) Aleatório – esse contrato é aquele que sua natureza apresenta risco;
d) De duração continuada - seriam aqueles que têm por objeto a prestação de um
serviço de forma contínua, ou seja, a realização de uma atividade profissional
ininterrupta durante um período determinado, em que o prazo faz parte do objeto
do contrato. Nesse tipo de contrato se objetiva o serviço ou o potencial
fornecimento, nos termos e condições pactuadas durante um certo tempo. As
partes só estão desobrigadas após o vencimento deste prazo.
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA APÓLICE
Segundo o art. 760, caput do CC, há diversos elementos constitutivos
(pressupostos) do contrato de seguro que devem constar na apólice, a saber:
Art. 760 – A apólice ou o bilhete de seguro serão nominativos, à ordem ou
ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim de sua
validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o
nome do segurado e o do beneficiário.
Entendimento importante do STJ quanto à apólice é que a demora injustificada
em sua emissão não pode prejudicar o segurado. Veja-se:
A seguradora de veículos não pode, sob a justificativa de não ter sido
emitida a apólice de seguro, negar-se a indenizar sinistro ocorrido após a
contratação do seguro junto à corretora de seguros se não houve recusa da
proposta pela seguradora em um prazo razoável, mas apenas muito tempo depois e
exclusivamente em razão do sinistro.
(REsp n. 1.306.367/SP, 4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em
20/03/2014)
DIREITO CIVIL. DIREITO DOS CONTRATOS. SEGURO. CONTRATO
CONSENSUAL.
MOMENTO EM QUE É CONSIDERADO PERFEITO E ACABADO.
MANIFESTAÇÃO DE VONTADE, AINDA QUE TÁCITA. CONTRATAÇÃO JUNTO
À CORRETORA.
PREENCHIMENTO DA PROPOSTA COM AUTORIZAÇÃO DE PAGAMENTO DO
PRÊMIO POR DÉBITO EM CONTA. SINISTRO. OCORRÊNCIA ANTES DA
EMISSÃO DA APÓLICE.
NEGATIVA DE COBERTURA. DESCABIMENTO.
1. O seguro é contrato consensual e aperfeiçoa-se tão logo haja
manifestação de vontade, independentemente de emissão da apólice - ato
unilateral da seguradora -, de sorte que a existência da avença não pode
ficar a mercê exclusivamente da vontade de um dos contratantes, sob pena
de ter-se uma conduta puramente potestativa, o que é, às expressas,
vedado pelo art. 122 do Código Civil.
2. O art. 758 do Código Civil não confere à emissão da apólice a condição
de requisito de existência do contrato de seguro, tampouco eleva tal
documento ao degrau de prova tarifada ou única capaz de atestar a
celebração da avença.
3. É fato notório que o contrato de seguro é celebrado, na prática, entre a
corretora e o segurado, de modo que a seguradora não manifesta
expressamente sua aceitação quanto à proposta, apenas a recusa ou
emite, diretamente, a apólice do seguro, enviando-a ao contratante,
juntamente com as chamadas condições gerais do seguro.
Bem a propósito dessa praxe, a própria Susep disciplinou que a ausência de
manifestação por parte da seguradora, no prazo de 15 (quinze) dias,
configura aceitação tácita da cobertura do risco, conforme dispõe o art. 2º,
caput e § 6º, da Circular Susep n.
251/2004.
4. Com efeito, havendo essa prática no mercado de seguro, a qual,
inclusive, recebeu disciplina normativa pelo órgão regulador do setor, há de
ser aplicado o art. 432 do Código Civil, segundo o qual "[s]e o negócio for
daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente
a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a
tempo a recusa". Na mesma linha, o art.
111 do Estatuto Civil preceitua que "[o] silêncio importa anuência, quando
as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a
declaração de vontade expressa". Doutrina e precedente.
5. No caso, não havendo nenhuma indicação de fraude e tendo o sinistro
ocorrido efetivamente após a contratação junto à corretora de seguros,
ocasião em que o consumidor firmou autorização de pagamento do prêmio
mediante débito em conta, se em um prazo razoável não houve recusa da
seguradora, só tendo havido muito tempo depois e exclusivamente em
razão do sinistro noticiado, há de considerar-se aceita a proposta e
plenamente aperfeiçoado o contrato. Deveras, vulnera os deveres de boa-
fé contratual a inércia da seguradora em aceitar expressamente a
contratação, vindo a recusá-la somente depois da notícia de ocorrência do
sinistro e exclusivamente em razão disso.
6. Recurso especial não provido.
(REsp 1306367/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 20/03/2014, DJe 05/05/2014)
A ACEITAÇÃO DA PROPOSTA PELO SEGURADOR
Em regra, a recusa da proposta de cobertura pelo segurador deve ser justificável
(existência de riscos extraordinários, por ex.), de modo que a simples negativa, per
si, não é o suficiente para impedir a constituição do vínculo contratual.
A recusa do segurador é entendida pelo STJ como ilegítima em alguns casos:
Segurado que possua restrição financeira junto a órgãos de proteção ao
crédito (SPC, Serasa etc.), mas que se disponha a pagar o prêmio à vista (REsp n.
1.594.024/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. em 27/11/2018);
RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. MINISTÉRIO
PÚBLICO. INTERESSE DE AGIR. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
CONFIGURAÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. RELEVÂNCIA SOCIAL
QUALIFICADA. SEGURO. CONSUMIDOR. RESTRIÇÃO DE CRÉDITO.
CONTRATAÇÃO E RENOVAÇÃO. PAGAMENTO À VISTA. SEGURADORA.
RECUSA DE VENDA DIRETA.
CONDUTA ABUSIVA. CONDENAÇÃO GENÉRICA. EFEITOS ERGA OMNES.
ABRANGÊNCIA. TERRITÓRIO NACIONAL. DIVULGAÇÃO. REDE MUNDIAL DE
COMPUTADORES. PÁGINAS OFICIAIS E DO FORNECEDOR. SUFICIÊNCIA.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. Ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público estadual visando
compelir seguradora a se abster de recusar a contratação ou a renovação
de seguro a quem se dispuser a pronto pagamento, ainda que possua
restrição financeira junto a órgãos de proteção ao crédito.
3. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de
origem motiva adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia
com a aplicação do direito que entende cabível à hipótese, apenas não no
sentido pretendido pela parte.
4. O Ministério Público está legitimado para promover a tutela coletiva de
direitos individuais homogêneos, mesmo de natureza disponível, quando a
lesão a tais direitos, visualizada em seu conjunto, em forma coletiva e
impessoal, transcender a esfera de interesses puramente particulares,
passando a comprometer relevantes interesses sociais. Na hipótese,
consideradas a natureza e a finalidade social das diversas espécies
securitárias, há interesse social qualificado na tutela coletiva dos direitos
individuais homogêneos dos consumidores, alegadamente lesados por
prática abusiva do ente segurador. 5. Nas relações securitárias, a
interpretação do art. 39, IX, do CDC é mitigada, devendo sua incidência ser
apreciada concretamente, ainda mais se for considerada a ressalva
constante na parte final do mencionado dispositivo legal e a previsão dos
arts. 9º e 10 do Decreto-Lei nº 73/1966. 6. Existem situações em que a
recusa de venda se justifica, havendo motivo legítimo o qual pode se opor
à formação da relação de consumo, sobretudo nas avenças de natureza
securitária, em que a análise do risco pelo ente segurador é de primordial
importância, sendo um dos elementos desse gênero contratual, não
podendo, portanto, ser tolhido. Aplicabilidade do art. 2º, § 4º, da Circular
SUSEP nº 251/2004, que estabelece ser obrigação da seguradora, no caso
de não aceitação da proposta de seguro, proceder à comunicação formal,
justificando a recusa.
7. No que tange especificamente à recusa de venda de seguro (contratação
ou renovação) a quem tenha restrição financeira junto a órgãos de
proteção ao crédito, tal justificativa é válida se o pagamento do prêmio for
parcelado, a representar uma venda a crédito, a evitar os adquirentes de
má-fé, incluídos os insolventes ou maus pagadores, mas essa motivação é
superada se o consumidor se dispuser a pagar prontamente o prêmio. De
qualquer maneira, há alternativas para o ente segurador, como a elevação
do valor do prêmio, diante do aumento do risco, visto que a pessoa com
restrição de crédito é mais propensa a sinistros ou, ainda, a exclusão de
algumas garantias (cobertura parcial).
8. Os efeitos da sentença proferida em ação civil pública versando direitos
individuais homogêneos em relação consumerista operam-se erga omnes
para além dos limites da competência territorial do órgão julgador, isto é,
abrangem todo o território nacional, beneficiando todas as vítimas e seus
sucessores, já que o art. 16 da Lei nº 7.347/1985 (alterado pelo art. 2º-A da
Lei nº 9.494/1997) deve ser interpretado de forma harmônica com as
demais normas que regem a tutela coletiva de direitos. Precedentes.
9. Ao juiz é possível dar concretude ao princípio da publicidade dos atos
processuais (arts. 5º, LX, da CF e 83 e 94 do CDC), determinando a adoção
das técnicas que mais se compatibilizam com as ações coletivas. Suficiência
da divulgação da decisão condenatória na rede mundial de computadores,
notadamente em órgãos oficiais, bem como no sítio eletrônico do próprio
fornecedor (art. 257, II e III, do CPC/2015), a evitar o desnecessário
dispêndio de recursos nas publicações físicas, sem haver o
comprometimento de as informações atingirem grande número de
interessados.
10. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1594024/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 27/11/2018, DJe 05/12/2018)
Negativa pura e simples da seguradora de contratar seguro de vida com
pessoa que teve doença grave no passado (REsp n. 1.300.116/SP, 3ª T., Rel. Min.
Nancy Andrighi, j. em 23/10/2012).
DIREITO CIVIL E SECURITÁRIO. PROPOSTA DE SEGURO DE VIDA.
CONSUMIDOR JOVEM ACOMETIDO POR LEUCEMIA, DE QUE SE ENCONTRA
CURADO. SEGURO OFERECIDO NO ÂMBITO DA RELAÇÃO DE TRABALHO.
PROPOSTA REJEITADA PELA SEGURADORA, SOB A MERA
FUNDAMENTAÇÃO DE DOENÇA PRÉ-EXISTENTE.
AUSÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DE OPÇÕES. DANO MORAL
CARACTERIZADO.
1. Na esteira de precedentes desta Corte, a oferta de seguro de vida por
companhia seguradora vinculada a instituição financeira, dentro de
agência bancária, implica responsabilidade solidária da empresa de
seguros e do Banco perante o consumidor.
2. Nos dias de hoje a contratação de seguros, seja de saúde, de automóveis
ou de vida, é pratica cada vez mais comum, integrando o dia a dia das
pessoas. Assim, conquanto o direito securitário tenha um notório viés
econômico, é inegável que também apresenta um acentuado componente
social. Assim, a negativa de aceitar um consumidor na contratação de
seguro deve ser regra absolutamente excepcional.
3. Para a manutenção do equilíbrio da carteira de seguros, é importante
que a companhia seguradora formule um preço que respeite o correto
cálculo atuarial. Consumidores que apresentam grau de risco maior, devem
arcar com prêmios mais elevados, ao passo que consumidores cujo risco
seja menor, devem poder contratar o seguro a preço mais baixo.
4. Se um jovem foi portador de leucemia, mas apresenta-se clinicamente
curado, a pura e simples negativa de contratar seguro de vida é ilícita,
violando a regra do art. 39, IX, do CDC. Diversas opções poderiam substituir
a simples negativa, como a formulação de prêmio mais alto ou mesmo a
redução da cobertura securitária, excluindo-se os sinistros relacionados à
doença pré-existente.
Rejeitar o consumidor, pura e simplesmente, notadamente em situações
em que o seguro é oferecido como consectário do contrato de estágio, gera
dano moral. O consumidor, rejeitado pelo seguro, vê sua doença
desnecessariamente exposta em seu ambiente de trabalho.
5. O fato de o consumidor não ter cumulado a seu pedido de reparação de
dano moral, também um pedido de imposição da assinatura do contrato de
seguro, não macula seu direito de se ver indenizado. Não é inusitado que a
parte, ofendida pela postura da outra, decida não mais se vincular a ela
por contrato, sem prejuízo do desejo de reparação.
6. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, provido.
(REsp 1300116/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 23/10/2012, DJe 13/11/2012)
CAUSAS INVALIDANTES IMPUTÁVEIS AO SEGURADO
Se, por um lado, a liberdade contratual do segurador é mitigada em casos como
os do slide anterior, por outro podemos afirmar que a má conduta do segurado
pode implicar na perda da proteção ou até na nulidade do contrato.
1. “Nulo será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso do
segurado, do beneficiário, ou de representante de um ou de outro” (art. 762).
Exemplo: Ausência de proteção do suicídio nos dois primeiros anos do seguro
de vida.
Súmula 610 do STJ: “O suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de
vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado o direito do beneficiário
à devolução do montante da reserva técnica formada”.
2. “Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou
omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do
prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido” (art.
766, caput).
Ex.: segurado que omite predisposição genética a determinada doença na
contratação do seguro de vida.
Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações
inexatas ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da
proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar
obrigado ao prêmio vencido.
3. “O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco
objeto do contrato” (art. 768).
Ex.: cobertura de seguro de dano sobre um automóvel, na qual o segurado
propositalmente deixa o veículo de portas abertas e com a chave de ignição, em
local de alta periculosidade.
Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar
intencionalmente o risco objeto do contrato.
4. “O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente
suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o
direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé” (art. 769, caput).
Ex.: segurado que, na iminência de renovar a apólice de seu seguro de vida,
descobre que está acometido de doença grave, e deixa de comunicar tal fato ao
segurador.
Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba,
todo incidente suscetível de agravar consideravelmente o risco coberto, sob
pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé.
OUTRAS OBRIGAÇÕES DO SEGURADO
I. Pagar o prêmio (art. 757, caput) de acordo com os prazos de vencimento
estabelecidos, sob pena de perda da proteção (art. 763)*;
Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o
pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a
pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.
Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no
pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.
II. Guardar a mais estrita boa-fé perante o segurador (art. 765);
Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e
na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a
respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele
concernentes.
III. Comunicar o segurador acerca da ocorrência do sinistro tão logo este aconteça,
além de tomar as providências para minorar-lhe as consequências (art. 771, caput).
Art. 771. Sob pena de perder o direito à indenização, o segurado
participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e tomará as
providências imediatas para minorar-lhe as consequências.
Obs.: Súmula 616 do STJ – A indenização securitária é devida quando ausente a
comunicação prévia do segurado acerca do atraso no pagamento do prêmio, por
constituir requisito essencial para a suspensão ou resolução do contrato de seguro.
OBRIGAÇÕES DO SEGURADOR
I. Garantir ao segurado a cobertura pelos riscos previstos no contrato (art.
757, caput);
Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a
garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos
predeterminados.
II. Guardar a mais estrita boa-fé perante o segurado (art. 765);
Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do
contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias
e declarações a ele concernentes.
III. Em caso de sinistro, pagar a indenização ao segurado (ou seus beneficiários)
com a devida correção monetária* e incidência de juros moratórios (art. 772);
Art. 772. A mora do segurador em pagar o sinistro obriga à atualização monetária da
indenização devida segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, sem prejuízo dos juros
moratórios.
IV. Pagar a indenização em dinheiro, salvo se prevista no contrato a reposição da
coisa objeto de proteção (art. 776).
Art. 776. O segurador é obrigado a pagar em dinheiro o prejuízo resultante
do risco assumido, salvo se convencionada a reposição da coisa.
*Súmula 632, STJ – Nos contratos de seguro regidos pelo Código Civil, a correção
monetária sobre a indenização securitária incide a partir da contratação até o
efetivo pagamento.
BELÉM, PA, 23 DE NOVEMBRO DE 2020
SEGURO – PARTE 2
SEGURO DE DANO
É a modalidade de seguro que costuma alcançar os bens jurídicos de titularidade
do segurado, seja de forma direta ou indireta, ou seja:
a) Bens jurídicos do segurado diretamente afetados pelo sinistro;
b) Recomposição do patrimônio após o segurado ter indenizado um terceiro (seguro
de responsabilidade civil).
c) No último caso, o segurado poderá fazer uso de denunciação da lide nos casos em
que for réu de ação indenizatória movida pelo terceiro prejudicado (CPC, art. 125).
Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição
suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito,
a que ele visa.
Ex.: Ao descumprir o limite de velocidade permitido para uma determinada via,
Otávio causa um acidente de trânsito no qual atinge o veículo de Rosana, causando-
lhe perecimento. Em razão dos danos suportados, Rosana move ação de
indenização por perdas e danos em face de Otávio, o qual, na contestação, denuncia
a lide à seguradora responsável.
LIMITES À COBERTURA NO SEGURO DE DANO
1. O seguro de dano é limitado em face do prejuízo ocasionado pelo sinistro, o que
abrange os custos de prevenção, redução ou evitamento do dano:
Art. 779 – O risco do seguro compreenderá todos os prejuízos resultantes
ou consequentes, como sejam os estragos ocasionados para evitar o
sinistro, minorar o dano, ou salvar a coisa.
2. Também é limitado pelo teto da apólice securitária, quando os prejuízos forem
maiores do que o prejuízo real suportado pelo segurado (ver também art. 781):
Art. 781. A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado
no momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da
garantia fixado na apólice, salvo em caso de mora do segurador.
Ainda que o sinistro tenha ocasionado a perda total do bem, a indenização
securitária deve ser calculada com base no prejuízo real suportado pelo segurado,
sendo o valor previsto na apólice, salvo expressa disposição em contrário, mero teto
indenizatório (STJ, REsp n. 1.473.828/RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em
27/10/2015).
PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA.
INDENIZAÇÃO. SEGURO EMPRESARIAL. INCÊNDIO. PERDA TOTAL.
AUSÊNCIA DOS VÍCIOS ELENCADOS NO ART. 535 DO CPC. INSTÂNCIAS
ORDINÁRIAS QUE CONCLUÍRAM QUE O SINISTRO OCASIONOU A PERDA
TOTAL DOS BENS SEGURADOS. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DO PLEITO
DE MODIFICAÇÃO DA EXTENSÃO DO DANO. REVOLVIMENTO DO
ARCABOUÇO FÁTICO-PROBATÓRIO.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7 DESTA CORTE. INCIDÊNCIA DO CDC AO CASO
CONCRETO. RELAÇÃO DE CONSUMO. INDENIZAÇÃO QUE DEVE
CORRESPONDER AO VALOR DO EFETIVO PREJUÍZO NO MOMENTO DO
SINISTRO. APLICAÇÃO DO ART.
781 DO CC/02. SUCUMBÊNCIA FIXADA. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.
1. Não há violação do disposto no art. 535 do CPC quando o aresto
recorrido adota fundamentação suficiente para dirimir a controvérsia,
sendo desnecessária a manifestação expressa sobre todos os argumentos
apresentados, até porque o pleito de que os danos suportados pela
segurada foram parciais demanda inevitável revolvimento do arcabouço
fático-probatório, o que é vedado em sede de recurso especial nos termos
da Súmula nº 7 desta Corte, mormente em face da conclusão judicial de
perda total dos bens segurados.
2. A pessoa jurídica que firma contrato de seguro visando a proteção de
seu próprio patrimônio é considerada destinatária final dos serviços
securitários, incidindo, assim, em seu favor, as normas do Código de Defesa
do Consumidor.
3. Nos termos do art. 781 do CC/02, a indenização não pode ultrapassar o
valor do interesse segurado no momento do sinistro. Ou seja, a quantia
atribuída ao bem segurado no momento da contratação é considerada,
salvo expressa disposição em sentido contrário, como o valor máximo a ser
indenizado ao segurado.
4. Levando em consideração o real prejuízo no momento do sinistro
segundo os valores de mercado dos bens (maquinário e imóvel) e os
apurados pelos peritos judiciais, deve a indenização ser fixada em R$
1.364.626,33, corrigidos monetariamente desde o evento danoso e
acrescidos de juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação, até o
pagamento, nos termos do art. 406 do CC/02.
5. Recurso parcialmente provido.
(REsp 1473828/RJ, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 27/10/2015, DJe 05/11/2015)
EXCLUSÃO DA COBERTURA NO SEGURO DE DANO
1. Sinistro provocado por vício intrínseco da coisa segurada, não declarado pelo
segurado:
Art. 784 – Não se inclui na garantia o sinistro provocado por vício intrínseco
da coisa segurada, não declarado pelo segurado.
Parágrafo único – Entende-se por vício intrínseco o defeito próprio da coisa,
que se não encontra normalmente em outras da mesma espécie.
2. Seguro de dano em favor de empresa que, de forma negligente, permite a
condução do veículo por empregado não habilitado:
Ocorre a exclusão da garantia se demonstrado que a falta de habilitação
importou em incremento do risco (STJ, REsp n. 1.412.816/SC, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 15/05/2014).
CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE SEGURO.
CULPA IN VIGILANDO. APOSSAMENTO DO BEM POR EMPREGADO
INABILITADO.
AGRAVAMENTO DO RISCO PELO SEGURADO. DEVER DE INDENIZAR.
AUSÊNCIA.
1. Ação de cobrança distribuída em 06.12.2006, da qual foi extraído o
presente recurso especial, concluso ao Gabinete em 10.10.2013.
2. Cinge-se a controvérsia em definir se a culpa in vigilando da empresa, ao
não evitar que empregado inabilitado para dirigir se aposse do bem
segurado, afasta a cobertura securitária.
3. À vista dos princípios da eticidade, da boa-fé e da proteção da confiança,
o agravamento do risco decorrente da culpa in vigilando da empresa, ao
não evitar que empregado não habilitado se apossasse do veículo, tem
como consequência a exclusão da cobertura, haja vista que o apossamento
proveio de culpa grave do segurado.
4. Recurso especial não provido.
(REsp 1412816/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 15/05/2014, DJe 30/05/2014)
3. Ocorrência de acordo entre o segurado e a vítima sem anuência da seguradora:
Art. 787 – No seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o
pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado a terceiro.
§2º – É defeso (proibido) ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou
confessar a ação, bem como transigir com o terceiro prejudicado, ou
indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do segurador.
Observação: se não há demonstração de que a transação realizada tenha sido
abusiva, infundada ou desnecessário, sendo, ao contrário, favorável ao segurado e à
seguradora, não será aplicado o art. 787, §2º (STJ, REsp n. 1.133.459/RS, 3ª Turma,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/08/2014).
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. SEGURO DE AUTOMÓVEL. ACIDENTE DE
TRÂNSITO.
RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSAÇÃO JUDICIAL ENTRE SEGURADO E
VÍTIMA (TERCEIRO PREJUDICADO). FALTA DE ANUÊNCIA DA SEGURADORA.
INEFICÁCIA DO ATO. BOA-FÉ DOS TRANSIGENTES. DIREITO DE
RESSARCIMENTO. ACORDO VANTAJOSO ÀS PARTES. INEXISTÊNCIA DE
PREJUÍZO EFETIVO AO ENTE SEGURADOR.
1. No seguro de responsabilidade civil, o segurado não pode, em princípio,
reconhecer sua responsabilidade, transigir ou confessar, judicial ou
extrajudicialmente, sua culpa em favor do lesado a menos que haja prévio
e expresso consentimento do ente segurador, pois, caso contrário, perderá
o direito à garantia securitária, ficando pessoalmente obrigado perante o
terceiro, sem direito de reembolso do que despender.
2. As normas jurídicas não são estanques, ao revés, sofrem influências
mútuas, pelo que a melhor interpretação do parágrafo 2º do art. 787 do
Código Civil é de que, embora sejam defesos, o reconhecimento da
responsabilidade, a confissão da ação ou a transação não retiram do
segurado, que estiver de boa-fé e tiver agido com probidade, o direito à
indenização e ao reembolso, sendo os atos apenas ineficazes perante a
seguradora (enunciados nºs 373 e 546 das Jornadas de Direito Civil). Desse
modo, a perda da garantia securitária apenas se dará em caso de prejuízo
efetivo ao ente segurador, a exemplo de fraude (conluio entre segurado e
terceiro) ou de ressarcimento de valor exagerado (superfaturamento) ou
indevido, resultantes de má-fé do próprio segurado.
3. Se não há demonstração de que a transação feita pelo segurado e pela
vítima do acidente de trânsito foi abusiva, infundada ou desnecessária,
mas, ao contrário, sendo evidente que o sinistro de fato aconteceu e o
acordo realizado foi em termos favoráveis tanto ao segurado quanto à
seguradora, não há razão para erigir a regra do art. 787, § 2º, do CC em
direito absoluto a afastar o ressarcimento do segurado.
4. Recurso especial não provido.
(REsp 1133459/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 21/08/2014, DJe 03/09/2014)
OUTRAS DISPOSIÇÕES RELEVANTES SOBRE O SEGURO DE DANO
No Código Civil:
Salvo disposição contratual diversa, autoriza-se a cessão ou alienação
do interesse segurado em caso de transferência do contrato a terceiro, mediante
aviso escrito assinado por cedente e cessionário em caso de contrato nominativo ao
segurado (art. 785)*.
Art. 785. Salvo disposição em contrário, admite-se a transferência do
contrato a terceiro com a alienação ou cessão do interesse segurado.
Após pagar a indenização, o segurador sub-roga, nos limites do valor respectivo,
nos direitos e ações do segurado contra o autor do dano (art. 786).
Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor
respectivo, nos direitos e ações que competirem ao segurado contra o
autor do dano.
* Cuidado com a aplicação do art. 785, §1º aos casos envolvendo venda de veículos:
Súmula 465 do STJ: “Ressalvada a hipótese de efetivo agravamento do
risco, a seguradora não se exime do dever de indenizar em razão da
transferência do veículo sem a sua prévia comunicação”.
Art. 785. Salvo disposição em contrário, admite-se a transferência do
contrato a terceiro com a alienação ou cessão do interesse segurado.
§ 1º Se o instrumento contratual é nominativo, a transferência só produz
efeitos em relação ao segurador mediante aviso escrito assinado pelo
cedente e pelo cessionário.
Na jurisprudência do STJ:
Apólice que prevê cobertura para furto qualificado também alcança furto
simples (REsp n. 1.293.006/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em
21/06/2012).
RECURSO ESPECIAL - CONTRATO DE SEGURO - RELAÇÃO DE CONSUMO -
CLÁUSULA LIMITATIVA - OCORRÊNCIA DE FURTO QUALIFICADO -
ABUSIVIDADE - IDENTIFICAÇÃO, NA ESPÉCIE - VIOLAÇÃO AO DIREITO DE
INFORMAÇÃO AO CONSUMIDOR - RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
I - Não há omissão no aresto a quo, tendo sido analisadas as matérias
relevantes para solução da controvérsia.
II - A relação jurídica estabelecida entre as partes é de consumo e,
portanto, impõe-se que seu exame seja realizado dentro do microssistema
protetivo instituído pelo Código de Defesa do Consumidor, observando-se a
vulnerabilidade material e a hipossuficiência processual do consumidor.
III - A circunstância de o risco segurado ser limitado aos casos de furto
qualificado exige, de plano, conhecimentos do aderente quanto às
diferenças entre uma e outra espécie de furto, conhecimento esse que, em
razão da sua vulnerabilidade, presumidamente o consumidor não possui,
ensejando-se, por isso, o reconhecimento da falha no dever geral de
informação, o qual constitui, é certo, direito básico do consumidor, nos
termos do artigo 6º, inciso III, do CDC.
IV - A condição exigida para cobertura do sinistro - ocorrência de furto
qualificado - por si só, apresenta conceituação específica da legislação
penal, cujo próprio meio técnico-jurídico possui dificuldades para
conceituá-lo, o que denota sua abusividade.
Precedente da eg. Quarta Turma.
V - Recurso especial provido.
(REsp 1293006/SP, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 21/06/2012, DJe 29/06/2012)
Apólice que prevê cobertura para furto e roubo também abrange a
extorsão (REsp n. 1.106.827/SP, 4ª Turma, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
16/10/2012), mas não abrange casos de apropriação indébita (REsp n. 1.177.479/PR,
4ª Turma, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. em 15/05/2012).
RECURSO ESPECIAL (ART. 105, III, "A", DA CRFB) - DEMANDA
RESSARCITÓRIA DE SEGURO - SEGURADO VÍTIMA DE CRIME DE EXTORSÃO
(CP. ART. 158) - ARESTO ESTADUAL RECONHECENDO A COBERTURA
SECURITÁRIA.
IRRESIGNAÇÃO DA SEGURADORA.
1. Violação do art. 535 do CPC inocorrente. Acórdão local devidamente
fundamentado, tendo enfrentado todos os aspectos fático-jurídicos
essenciais à resolução da controvérsia.
Desnecessidade de a autoridade judiciária enfrentar todas as alegações
veiculadas pelas partes, quando invocada motivação suficiente ao bom
desate da lide.
Não há vício que possa nulificar o acórdão recorrido ou ensejar negativa de
prestação jurisdicional, mormente na espécie em que a recorrente sequer
especificou quais temas deixaram de ser apreciados pela Corte de origem.
2. A redefinição do enquadramento jurídico dos fatos expressamente
mencionados no acórdão hostilizado constitui mera revaloração da prova.
A excepcional superação das súmulas 5 e 7 desta Corte justifica-se em
casos particulares, sobretudo quando, num juízo sumário, for possível
vislumbrar primo icto oculi que a tese articulada no apelo nobre não
retrata rediscussão de fato e nem interpretação de cláusulas contratuais,
senão somente da qualificação jurídica dos fatos já apurados e dos efeitos
decorrentes de avença securitária, à luz de institutos jurídicos próprios a
que se reportou a cláusula que regula os riscos acobertados pela avença.
3. Mérito. Violação ao art. 757 do CC. Cobertura securitária.
Predeterminação de riscos. Cláusula contratual remissiva a conceitos de
direito penal (furto e roubo). Segurado vítima de extorsão.
Tênue distinção entre o delito do art. 157 do CP e o tipo do art. 158 do
mesmo Codex. Critério do entendimento do homem médio. Relação
contratual submetida às normas do Código de Defesa do Consumidor.
Dever de cobertura caracterizado.
4. Firmada pela Corte a quo a natureza consumerista da relação jurídica
estabelecida entre as partes, forçosa sua submissão aos preceitos de
ordem pública da Lei n. 8.078/90, a qual elegeu como premissas
hermenêuticas a interpretação mais favorável ao consumidor (art. 47), a
nulidade de cláusulas que atenuem a responsabilidade do fornecedor, ou
redundem em renúncia ou disposição de direitos pelo consumidor (art. 51,
I), ou desvirtuem direitos fundamentais inerentes à natureza do contrato
(art. 51, §1º, II).
5. Embora a aleatoriedade constitua característica elementar do contrato
de seguro, é mister a previsão de quais os interesses sujeitos a eventos
confiados ao acaso estão protegidos, cujo implemento, uma vez verificado,
impõe o dever de cobertura pela seguradora.
Daí a imprescindibilidade de se ter muito bem definidas as balizas
contratuais, cuja formação, segundo o art. 765 do Código Civil, deve
observar o princípio da "estrita boa-fé" e da "veracidade", seja na
conclusão ou na execução do contrato, bem assim quanto ao "objeto" e as
"circunstâncias e declarações a ele concernentes".
6. As cláusulas contratuais, uma vez delimitadas, não escapam da
interpretação daquele que ocupa a outra extremidade da relação jurídica,
a saber, o consumidor, especialmente em face de manifestações volitivas
materializadas em disposições dúbias, lacunosas, omissas ou que
comportem vários sentidos.
7. A mera remissão a conceitos e artigos do Código Penal contida em
cláusula de contrato de seguro não se compatibiliza com a exigência do art.
54, § 4º, do CDC, uma vez que materializa informação insuficiente, que
escapa à compreensão do homem médio, incapaz de distinguir entre o
crime de roubo e o delito de extorsão, dada sua aproximação topográfica,
conceitual e da forma probatória. Dever de cobertura caracterizado.
8. Recurso especial conhecido e desprovido.
(REsp 1106827/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado
em 16/10/2012, DJe 23/10/2012)