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Gouvêa Vieira

Advogados

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª


VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL DA LAPA– SP.

PROCESSO nº.: 06.125965-7

SUL AMÉRICA COMPANHIA NACIONAL DE SEGUROS,


devidamente qualificada nos autos da ação MARIA CLEONICE BRANDINO
DE LACERDA move em face de FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA,
por sua advogada abaixo assinada, vem, à presença de Vossa Excelência, na
qualidade de denunciada à lide, apresentar sua CONTESTAÇÃO, pelas razões
de fato e de direito a seguir expostas:

I - SÍNTESE DOS FATOS

A autora ajuizou a presente ação de indenização em virtude de


acidente de trânsito ocorrido em 02.10.03, onde seu esposo, foi colhido pelo
veículo da Ré, vindo a falecer,.

Por fim, requer a condenação da ré no pagamento de indenização


por danos materiais e morais causados, com o pagamento da quantia equivalente
a R$ 123.973,93, referente a pensão mensal, até que o “de cujus” completasse
65 anos, e, danos morais à serem arbitrados pelo juízo, acrescidos de juros e
atualização monetária, além das custas, honorários de 20% sobre o valor da
condenação e demais cominações legais.

A ré, em contestação, realizou a denunciação à lide.

II - DO MÉRITO

a-) Do Contrato de Seguro

O réu-denunciante,, firmou o contrato de seguro de


responsabilidade civil facultativa – com a denunciada referente ao veículo
Santana GL, ano 1991, placa CCP 7540, cujo o nº. da apólice é 54251-7, pelo
período compreendido entre 02.10.03 a 02.10.04.

O referido contrato, possui tão somente, as seguintes coberturas:


danos corporais até o limite de R$200.000,00 (duzentos mil reais), e R$
25.000,00 (vinte e cinco mil reais) para danos materiais.

Assim, na remota hipótese de virem a ser julgados


procedentes os pedidos da presente demanda, responderá a seguradora
litisdenunciada perante a denunciante, a título de reembolso, até a importância
máxima segurada limitada corporais até o limite de R$200.000,00 (duzentos
mil reais), e R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) para danos materiais.

Ademais, é importante esclarecer sobre as obrigações assumidas


pela ré/denunciante e pela denunciada no contrato de seguro de responsabilidade
civil pactuado entre ambas, senão vejamos.

2
A contratação do seguro de RCF (responsabilidade civil facultativa)
trata de reembolso da importância que o Segurado vier a ser obrigado a pagar a
terceiro em conseqüência de sua condenação judicial, respeitadas as condições
contratuais e o valor limite das modalidades contratadas (no caso, danos
corporais e materiais somente), as quais são distintas, não se confundindo, nem
se comunicando, cujas verbas, inclusive, podem ter valores diferenciados ou
não, devendo ser utilizadas em situações determinadas, conforme previsto nas
Condições Gerais do seguro.

O dano corporal é caracterizado por lesões físicas, incapacidade ou


morte de pessoas;

O dano material é todo dano que atinja os bens móveis ou imóveis,


o que não cabe no caso em questão;

O dano estético é todo e qualquer dano causado a pessoas,


implicando em redução de beleza ou estética;

Já o dano moral é todo aquele que traz como conseqüência ofensa


à honra, ao afeto, à liberdade, à profissão, ao respeito aos mortos, à psique, à
saúde, ao nome, ao crédito, ao bem estar e à vida, sem necessidade de ocorrência
de prejuízo econômico.

Cabe esclarecer ainda que, quanto aos danos corporais, cobertos na


apólice, estes são completamente distintos dos danos morais, bem como os
danos morais requeridos, como explica o ilustre doutrinador Ricardo Bechara
Santos, senão vejamos:

"Realmente, como já entenderam as Comissões Jurídica e Técnica


da FENASEG, o dano moral, efetivamente, não está amparado no seguro de
RC da maioria da apólices, a não ser naquelas poucas em que a seguradora
3
resolveu contemplá-lo, eis que, sem previsão expressa, não estaria, por simples
ilação, inserido na cobertura por danos pessoais ou materiais, já que o dano
moral consiste numa terceira categoria de dano, com suas definições e
características próprias e autônomas. Demais, porque os danos físicos e
materiais previstos na cobertura convencional, hoje vigentes na maioria das
apólices concebidas antes do advento da Constituição Federal de 1988, não se
confundem com os danos morais, inclusive porque objeto de pedidos
concomitantes e cumulativos, por isso que se somáveis e cumuláveis não têm
a mesma natureza, possuindo modos de cálculo diversos e titulares diferentes.
Até porque, só se cumulam ou se somam os valores que entre si se distinguem."
In Direito de Seguro no Cotidiano/Ricardo Bechara Santos - 2ª edição - Rio de
Janeiro - Editora Forense - 1999 - pág 148. (grifo nosso)

Dessa forma, como amplamente visto, para efeitos do presente


contrato de seguro, o dano moral e estético não podem ser confundidos com o
dano corporal.

Salienta-se que o dano corporal para fins de ressarcimento previsto


pela apólice firmada é a espécie de dano pessoal delimitada pela lei 6.194/74,
que regula o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais, cujo a definição encontra-se
em seus artigo 2° e no caput do artigo 3°, verbis:

Art . 2º Fica acrescida ao artigo 20, do Decreto-lei nº 73, de 21 de


novembro de 1966, a alínea 1 nestes termos:

"Art. 2º ....... ..............

1) - Danos pessoais causados por veículos automotores de via


terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não."

Art . 3º Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no


artigo 2º compreendem as indenizações por morte, invalidez permanente e

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despesas de assistência médica e suplementares, nos valores que se seguem,
por pessoa vitimada:"

Outrossim, cumpre ainda fazer referência à lição do mestre Pedro


Alvim referente à interpretação restrita dos contratos de seguro, senão
vejamos:

“Uma das normas importantes para o contrato de seguro é a que


determina que a interpretação restritiva de suas cláusulas. É necessário
aplicar restritivamente os termos convencionais, sobretudo com relação aos
riscos cobertos. Há uma correlação estreita entre a cobertura e o prêmio.
Forçar essa correlação por via de interpretação extensiva poderá falsear as
condições técnicas do contrato, em que repousa toda a garantia das operações
de seguro.

omissis...

Se as cláusulas da apólice estão regidas com clareza a delimitar o


risco coberto, não devem ser desvirtuadas sob pretexto de interpretação para
incluir coberturas que não estavam previstas ou foram expressamente
excluídas do contrato.” In O Contrato de Seguro / Pedro Alvim - 3ª ed. - Rio
de Janeiro: Editora Forense, 1999, p. 175/176. (grifo nosso)

Por outro lado, esclarece o citado jurista a viabilidade dos riscos a


serem assumidos pelo segurador, entendendo que:

“O segurador não pode ser obrigado a incluir na garantia da


apólice todos os riscos da mesma espécie. É preciso ter a liberdade de
conceber os planos técnicos de acordo com a conveniência do próprio negócio
sob pena de não poder resguardar sua estabilidade necessária.” In O Contrato
de Seguro / Pedro Alvim - 3ª ed. - Rio de Janeiro: Editora Forense, 1999, p.
255.

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Por conseguinte, deverá prevalecer a convenção consoante as
vontades emanadas pelos contratantes, com estreita observância às cláusulas
contratuais e ao princípio da pacta sunt servanda, por ser basilar aos negócios
jurídicos, devendo ser aplicada em sua totalidade, para que as condições
pactuadas sejam respeitadas por ambas as partes.

E no novo Código Civil não é diferente, pois tal disposição veio


diluída nos artigos 757 e 759 do recente diploma legal, que rezam:

"Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga,


mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado,
relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados." (grifo nosso)

"Art. 759. A emissão da apólice deverá ser precedida de proposta


escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser garantido
e do risco."

Aliás, os doutrinadores ERNESTO TZIRULNIK, FLÁVIO DE QUEIROZ


B. CAVALCANTI e AYRTON PIMENTEL1 corroboram tais assertivas, senão
vejamos:

"Em princípio a garantia é dirigida para todos os riscos, mas é


evidente que o contrato pode restringi-la por meio da predeterminação dos
riscos (arts. 757 e 759). Podem as partes, igualmente, delimitar o interesse a
ser garantido, o que inclui ser possível considerá-lo na sua totalidade ou
parcialmente (por exemplo, os danos físicos sim, mas não os lucros cessantes -
art. 759). O mesmo ocorre quanto à extensão das despesas de salvamento,
como já examinado (art. 771). É o que decorria, aliás, da norma do art. 1460
do Código de 1916, que entendemos veio também contida no dispositivo em
comento." (grifo nosso).

1
In O Contrato de seguro - Ed. Revista dos Tribunais, 2ª Edição, 2003, São Paulo, pág. 779
6
E como bem acentua o professor CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO,
"querer aumentar a responsabilidade das seguradora por razões
exclusivamente humanitárias poderia parecer socialmente bom, mas é injusto. E
o injusto nunca será realmente bom".

De maneira a ilustrar e corroborar as alegações acima, o saudoso


Mestre Clóvis Bevilácqua, ao explicar o artigo 1460 do Código Civil (1916),
não deixa dúvidas sobre o seu alcance:

“Art. 1.460: Quando a apólice limitar ou particularizar os riscos do


seguro, não responderá por outros o segurador.

É este um dos cânones fundamentais do contrato de seguro: a


responsabilidade do segurador é limitada ao risco assumido”. In Código Civil
dos Estados Unidos do Brasil, ed. Histórica, Editora Rio, Rio de Janeiro, 1977,
p. 588.

Acresça-se que não houvesse a formalidade, cristalizada pelo


contrato, onde é expressa a extensão dos riscos, ficariam as partes sem a garantia
do cumprimento daquilo que se ajustou intencionalmente no momento da
celebração do contrato, abrindo espaços para os abusos de parte a parte. A
declaração precisa dos riscos na apólice é, portanto, condição essencial no
seguro.

Prova eloqüente da natureza formal do contrato de seguro vem


também hasteada nos artigos 1432, 1434, 1435 e 1460, dentre outros, do Código
Civil de 1916, Vê-se que, com a simples leitura dos mencionados artigos, mais
precisamente a do artigo 1435, a importância que o legislador imprimiu às
cláusulas do contrato de seguro, elevando-o à condição de lei entre as partes o
legislador manteve a importância do princípio do "pacta sunt servanda", ou
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seja, firmando que esse princípio, de rigoroso respeito às cláusulas contratuais,
ganha sobrelevada importância no contrato de seguro, posto que, são com base
nelas que o segurador pode gerir o mutualismo que, como se disse, caracteriza a
operação de seguro, projetando os cálculos atuariais dos prêmios, ajustando-os
conforme maior ou menor seja a sinistralidade, enfim, mantendo o equilíbrio e a
tranqüilidade que deve ter, não apenas esse ou aquele segurado individualmente,
mas principalmente todo o grupo segurável.

Outrossim, ainda no que diz respeito aos limites da apólice de


seguros, esta é a posição atual do Primeiro Tribunal de Alçada Civil, através
do qual pedimos venia para transcrever:

"Denunciação da lide - responsabilidade civil - ato ilícito -


pretensão a que seja denunciada a lide a seguradora para, solidariamente com
a re-denunciante, compor a indenização exeqüenda - inadmissibilidade -
obrigatoriedade da recorrente responder, em sede de reembolso junto a
denunciante, somente nos limites da cobertura - recurso provido para esse
fim. (processo : 765115 - 8, órgão julg.: 6ª câmara, data : 16/12/1997,
relator : Evaldo Veríssimo)"(grifo nosso)

Por argumento, sabe-se que obrigar uma seguradora a garantir


riscos não cobertos ou acima do limite contratado, importa em alterar a
comutatividade e o equilíbrio do contrato, permitindo a contagem ilícita e sem
causa do segurado, porquanto estaria ele recebendo algo porque não pagou.

Dessa forma, se caso a decisão proferida for contrária à posição


definida pela litisdenunciada, necessariamente haverá a aplicação do artigo 76
do Código de Processo Civil2, sendo tal posição corroborada pelo Superior
Tribunal de Justiça3:
2
Art. 76 do CPC: "A sentença que julgar procedente a ação, declarará, conforme o caso, o direito do evicto, ou
a responsabilidade por perdas e danos, valendo como título executivo."
3
In, STJ-4ª Turma, Resp 16.255-SP, rel. Min. Sálvio de Figueiredo, j. 29.3.94, deram provimento, v.u., DJU
9.5.94, p. 10.873, 2ª col. Ainda nesse sentido vide: PROCESSO CIVIL. HONORÁRIOS DE ADVOGADO.
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"A Seguradora, denunciada da lide com fundamento no artigo 70,
II do CPC, não responde de forma reflexa pelo pagamento dos ônus da
sucumbência devidos pela denunciante à autora, sendo certo que, nas
hipóteses em que se limita apenas a oferecer resistência à pretensão regressiva
contra si deduzida, sem de qualquer modo contrapor-se ao exercício do direito
subjetivo postulado na ação principal, não lhe impõe arcar, sequer
proporcionalmente, com os encargos processuais desta resultantes”.

Resta evidenciado, portanto, que a disciplina processual concede à


denunciação àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar,
em regresso, o prejuízo daquele que perder a demanda, veio apenas, sem
desvirtuar a relação jurídica de direito material, a atender ao princípio da
economia processual, evitando a duplicidade de ações e, também, a permitir,
como no presente caso, que a Seguradora interessada possa participar da defesa
na ação originária.

Com efeito, caso a ré/denunciante remotamente seja considerada


culpada pelo ocorrido e, conseqüentemente, condenada ao pagamento da
indenização pleiteada pelo autor, requer sejam obedecidos os limites impostos
no contrato de seguro celebrado entre o denunciante e a denunciada,
considerando-se ainda, as relevantes afirmações acerca do referido contrato.

b-) Dos Fatos

Quanto aos fatos, em conformidade com as alegações suscitadas na


contestação da ré/denunciante pede vênia para subscrever naquilo que não
colidir com a presente.
DENUNCIAÇÃO DA LIDE. À vista da natureza condicional da denunciação da lide, a respectiva procedência
só induz a condenação em honorários de advogado, quando for objeto de resistência; se aderiu, simplesmente, à
defesa que o denunciante opôs ao autor da demanda, sem negar sua responsabilidade acaso procedente a ação, o
denunciado não está sujeito ao pagamento de honorários de advogado. Recurso especial conhecido e provido
(RESP 285723 / RS).

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Com efeito, em se tratando de indenização por ato ilícito, para
haver a obrigação de indenizar por parte do Réu/Denunciante, se torna
necessário a presença dos três pressupostos que definem a
RESPONSABILIDADE CIVIL, quais sejam:

a) a existência de um dano contra o direito;


b) relação de causalidade entre esse dano e o fato imputável ao
agente ; e,
c) CULPA do agente no evento danoso.

Assim, a obrigação de indenizar decorre, impreterivelmente, da


comprovação de um dano, bem como da demonstração de culpa por esse dano, o
que, conforme o demonstrado, não se vislumbra no caso "sub judice", tendo em
vista que o acidente ocorreu em decorrência de um fato súbito e imprevisível.

Assim sendo, a culpa do agente é o elemento central da


responsabilidade civil e, inexistindo a mesma, não pode se falar em
responsabilidade.

Com efeito, as provas existentes nos autos não demonstram a


ocorrência de qualquer fato que demonstre a existência de culpa por parte do
Réu/Denunciante, o que afasta a pretensão indenizatória.

Por conseguinte, tal pretensão merece ser julgada totalmente


improcedente, tendo em vista a total ausência de culpa do Réu/Denunciante pelo
acidente, bem como a não comprovação efetiva do dano, como se demonstrará
no decorrer do processo e conforme aduzido na contestação do
Réu/Denunciante, no que, repita-se, não colidir com a presente.

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Observa-se novamente, que a premissa estabelecida no Código
de Processo Civil no sentido de que o ônus da prova cabe ao Autor restou
aqui descumprida, motivo pelo qual não há o que se falar em indenização a
este título.

Assim, somente por amor ao princípio da eventualidade, inserto no


artigo 300 do Código de Processo Civil, já que nenhuma indenização é devida, é
que esta Denunciada impugna o valor da indenização pretendida.

Por outro lado, em sendo acolhido o pleito constante da exordial, o


que admite-se apenas para que se possa argumentar, a ré/denunciante terá
direito ao reembolso das despesas até o limite do contrato, ocorridas com
danos corporiais causados a terceiros, e aplicável ao presente caso e em
sendo constatado a sua responsabilidade no acidente.

Ademais, a Seguradora conforme informado pela própria autora,


tentou a composição amigável, que não foi possível em razão do primeiro réu ter
se recusado a assinar o termo do acordo.

III - DOS DANOS MORAIS

Tal pleito não merece prevalecer, pelos relevantes motivos abaixo:

Ademais, quanto ao fato em si, não basta, para que a demanda


possa obter o êxito da procedência, meras alegações sem qualquer comprovação,
eis que efetivamente o autor não apresentou nestes autos quaisquer meios
probatórios que indicassem a existência de requisitos necessários para a
configuração do dano moral.

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Assim como em qualquer área da responsabilidade civil, põe-se em
evidência, como pressuposto da obrigação de reparar o dano moral, o nexo de
causalidade entre a ação ou omissão voluntária e o resultado lesivo, aplicando-
se, como regra, o artigo 159 do Código Civil de 1.916, bem como o artigo 186
do novo Diploma Legal.

Assim sendo, não há que se falar em indenização por danos morais


por parte da ré/denunciante sem que tenhamos o mínimo de provas carreada aos
autos que demonstrem a responsabilidade do mesmo por danos causados ao
autor.

Em sendo assim, face as afirmações acima, bem como as


comprovações consubstanciadas nos autos, requer esta denunciada, a
improcedência da ação sob estes títulos.

IV - VALOR DA INDENIZAÇÃO

Por mera argumentação, em caso de procedência do pedido, devem


ser considerados alguns parâmetros para a fixação do quantum.

A indenização por danos morais visa aliviar a mágoa e sentimentos


agravados do ofendido, servindo, por outro lado, de inflição de pena ao infrator.

Levam-se, pois, em conta, em sua determinação, as condições


pessoais (sociais, econômicas) do ofendido e do causador do dano, o grau de sua
culpa ou a intensidade do elemento volitivo, assim como a reincidência. São
critérios preconizados na Lei de Imprensa, e no Código Brasileiro de
Telecomunicações.

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Aqui, ainda, um cuidado se impõe: de evitar a atração, apenas pelo
caráter de exemplaridade contido na reparação, de somas que ultrapassem e que
representou o agravo para o ofendido.

Nesta seara, mais do que nunca, há de reter-se não consistir a


responsabilidade civil em fonte de enriquecimento para o ofendido. Os critérios
da razoabilidade e proporcionalidade são recomendáveis, para sem exageros,
atingir-se indenização adequada.

Neste campo, mais ainda se redobram cautelas, eis que, tendo em


vista ser o agente economicamente mais poderoso do que o lesado, quase
sempre, insinuar-se-á tentação de impor-lhe reparação elevada. Não condiz,
todavia, com sua natureza.

Mas, se por um lado, a reparação efetiva dá-se, até


excepcionalmente, prescindindo de base subjetiva, de outro lado, há, por estes
mesmos fatores, de ser alcançada de forma módica, compatível, sem absurdos
que possam desestimular a cadeia de sua oferta.

Portanto, além da observação desses critérios, a aplicação deve ser


norteada pelos princípios da razoabilidade, proporcionalidade e equidade.

Entretanto, não restou provado nos autos dano, não sendo cabível a
indenização pretendida na inicial.

V - DA PENSÃO MENSAL

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A autora pretende o recebimento de pensão vitalícia mensal,
entretanto, resta impugnado o valor pleiteado a título de indenização pela
pensão vitalícia vez que estes não foram comprovados, não podendo, portanto,
serem presumidos e devem ser demonstrados de forma incontroversa por parte
daquele que os pleiteia, o que não ocorreu no caso em questão.

Os danos sofridos pela autora a que alude o art. 1.539 do Código


Civil, conforme a reiterada jurisprudência e a lei, têm que ser provados, e não
estimados, como fez a autora.

E ainda, a remuneração apresentada nos autos não foi provada, o


que desde já resta impugnado.

Assim, a inexistência de prova da efetiva remuneração do de cujus à


época, afasta a pretensão ao recebimento da pensão vitalícia na forma pleiteada.

Caso seja admitida a possibilidade de se deferir a pensão vitalíca


perseguida, independentemente do articulado acima, a pensão deverá ser
arbitrada em no máximo, observado o patamar de 30% do valor do salário
mínimo.

E ainda, caso não seja este o entendimento deste MM. Juízo, em


sendo devida a pensão vitalícia mensal pleiteada, que esta seja fixada até a idade
limite de 65 (sessenta e cinco) anos do autor, tendo em vista que esta é idade
média de vida da população, descontando o 2/3 do valor, que seria utilizado para
seu consumo particular, demonstrada em vasta doutrina e jurisprudência.

Assim, não deve prosperar o pedido de pensão vitalícia, vez que o


autor não comprovou nos autos serem estes devidos.

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VI - DA DEDUÇÃO DO SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT)

Por argumento, para a improvável hipótese de procedência da


demanda, a ora contestante requer seja deduzido de eventual indenização a
título de danos corporais que deverá ser pago à Requerente, o valor a ser
recebido pelo mesma, em decorrência da cobertura do Seguro Obrigatório
(DPVAT).

Desta maneira, o valor que for pago à Requerente pelo seguro de


DPVAT deve ser deduzido do valor do reembolso, referente à eventual
condenação por danos corporais que esta Requerida/denunciada deverá efetuar
à Requerida/denunciante, em caso de procedência da lide secundária, uma vez
que a obrigatoriedade dessa dedução consta expressamente nas Condições
Gerais do Contrato de Seguro, item 2.5 – Coberturas, Responsabilidade civil
facultativa (RCF) – Danos materiais ou corporais causados a terceiros pelo
veículo segurado, em anexo, verbis:

“Tendo o Segurado definido um Limite Máximo de Indenização para danos


corporais causados a terceiros, ele responderá, em cada reclamação, somente
pela parte da indenização que exceder os limites vigentes na data do sinistro
para as coberturas do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por
Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT), previstas no artigo 2º da Lei
nº 6.194, de 19/12/1974.”

A respeito disso, convém trazer aos autos a lição do mestre Rui


Stoco, vertida in "Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial"
que nos oferece a exata dimensão da justificativa jurídica para a dedução do
seguro obrigatório sobre o total da indenização:

“Se, em razão do acidente, o prejuízo foi de 1.000 (mil), mas a vítima recebeu
300 (trezentos), por força da cláusula constante da apólice de seguro
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obrigatório, ao causador do evento caberá indenizar apenas o restante (700),
pois o prêmio, ademais de ser compulsório, é pago pelo dono do veículo, com
o objetivo precípuo de reparar danos físicos causados a terceiros, nos casos
de acidente de trânsito. Se, além de ter que pagar o seguro obrigatório o
agente for obrigado a compor integralmente os danos causados, a instituição
dessa garantia será inócua e sem sentido lógico, ferindo o conceito moderno
de socialização dos encargos, como tendência mundial, que preconiza que se
aparte da responsabilidade civil o conceito de culpa como seu preposto.”

Portanto, em caso de eventual condenação em danos corporais, o


que só se admite ad argumentandum, seja descontado do total da indenização a
ser paga, o valor recebido pela Requerente a título de seguro obrigatório.

VII - DOS JUROS DE MORA

Tratando-se de obrigação contratual, os juros legais aplicados na


espécie são de 1% ao mês, sendo devidos somente a partir da citação. Dessa
forma, tem-se que o dies a quo para incidência dos juros de mora é a data em
que mandado de citação da Requerida/Denunciante foi juntado aos autos.

A jurisprudência de nossos Tribunais, em consonância com o STJ,


tem decidido conforme as seguintes ementas:

“Em caso de ilícito contratual, os juros de mora fluem a partir da citação, e


não do evento.”(STJ, 2a Seção, Resp. nº: 11.624-0/SP, Rel: Min. Fontes de
Alencar, julg. 27.11.91, DJU de 01.03.93, pág. 2482)

“AÇÃO DE INDENIZATÓRIA. ERRO MÉDICO. JUROS. TERMO


INICIAL. Provido o recurso na parte pertinente à fixação do juros a partir da
citação, em ação de indenização por erro médico, vez que se consubstancia em
ilícito decorrente de relação de natureza contratual, de prestação de serviços,

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entre o médico e o paciente. (Resp. nº: 228.199/RJ, Rel: Min. Eduardo Ribeiro.
Julg. 21.10.99)

Dessa forma, na remota possibilidade de condenação, os juros


aplicados na espécie deverão incidir somente a partir da citação, na razão de 1%
ao mês, equivalente a 12% ao ano, consoante o Código Civil de 2002.

VIII - DA CORREÇÃO MONETÁRIA

Ad Cautelam, caso remotamente seja a Requerida/Denunciante


condenada nos valores constantes na exordial, requer que a mesma seja fixada
somente desde o ajuizamento da ação.

Conforme a Lei 6899/81, a correção monetária, como índice de


correção do valor aquisitivo da moeda, incide somente a partir do ajuizamento
da presente ação. Este é o entendimento dos Tribunais sobre a matéria,
conforme demonstramos os acórdãos abaixo mencionados:

“Ação ordinária de execução coativa de contrato de compra e venda.


Correção monetária somente devida a partir do ajuizamento do processo
principal ou de conhecimento e não desde o aforamento de medida cautelar,
destinada à produção antecipada de prova” (RTJ 124/333).

“Não ofende o art. 6º da Lei de Introdução ao Código Civil o acórdão que


restringe a incidência da correção monetária a partir do ajuizamento da ação,
e não antes, por falta de previsão legal.”(STJ - 6º Turma, Resp 43.640-0/SP,
rel. Min. Anselmo Santiago, j. 21.6.94, DJU 28.11.94, p. 32.645)

Assim, na distante hipótese de condenação, a correção monetária


deverá incidir a partir do ajuizamento da ação, ao invés da data do sinistro.

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IX - DO PEDIDO

Por todas as razões expostas, conclui-se que razão não assiste à


Requerente ao formular o pedido inicial, já que carece de respaldo fático,
contratual e legal, de modo a justificar a imperiosa necessidade de
improcedência da ação, tudo na melhor forma da lei, do direito e da JUSTIÇA.

Logo, requer-se seja julgada improcedente a lide principal, por


todos os argumentos de fato e de direito acima expostos, com a conseqüente
improcedência da lide secundária, impondo-se à Requerente o ônus da
sucumbência, assim como a condenação ao pagamento de honorários
advocatícios.

Protesta pela produção de todos os meios de prova em direito


admitidos, em especial o depoimento pessoal do Requerente, entre outros, sob
pena de confissão, oitiva de testemunhas e juntada posterior de documentos.

Requer por fim, que conste tão somente na contracapa dos presentes
autos, como patronos da denunciada, os nomes FERNANDA MORALES
TEIXEIRA e CEZAR AUGUSTO FERREIRA NOGUEIRA, inscritos na
OAB/SP 234.906 e 170.914, respectivamente.

Termos em que,
Pede deferimento.
São Paulo, 14 de fevereiro de 2007

Fernanda Morales Teixeira


OAB/SP 234.906
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