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Informativo nº 0694

Publicação: 3 de maio de 2021.


QUARTA TURMA
Processo

REsp 1.512.001-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por
unanimidade, julgado em 27/04/2021.

Ramo do Direito

DIREITO CIVIL

Tema

Acidente de trânsito. Evasão do local. Dano moral in re ipsa. Inexistência.


Produção probatória. Necessidade

Destaque

A omissão de socorro à vítima de acidente de trânsito, por si, não


configura hipótese de dano moral in re ipsa.

Informações do Inteiro Teor

A omissão de socorro incontestavelmente possui elevada gravidade


social, tanto que constitui o crime omissivo tipificado no art. 135 do Código
Penal, ou, ainda, pode configurar conduta criminosa prevista no Código de
Trânsito Brasileiro (arts. 304 e 305).

De fato, considerando a solidariedade um imperativo de ordem


moral, de sua ausência pode decorrer um dever jurídico, como na omissão de
socorro. Assim, todos são obrigados a agir para ajudar alguém que se encontre
em estado de perigo, na medida de suas possibilidades, ou seja, sem risco
pessoal.

No entanto, relevante ressaltar que, por afastar a necessidade da


demonstração do dano moral, a presunção judicial dificulta a defesa do réu.
Diante disso, a dedução lógica da ocorrência do dano deve ser restrita a casos
muito específicos de ofensa a direitos da personalidade.
Segundo dispõe o art. 944 do CC/2002, a indenização deve
somente reparar o dano daquele que foi atingido, na correta medida do
prejuízo suportado.

Importa destacar que, para ser caracterizado o dano moral, deve-se


previamente traçar o limite entre os meros incômodos da vida em sociedade e
os fatos ensejadores da indenização.

Conquanto reconhecer que a evasão do réu do local


do acidente pode, de fato, causar ofensa à integridade física e psicológica da
vítima, verifica-se também a possibilidade de, dependendo do contexto fático,
não existir violação a direito da personalidade, razão pela qual há relevância
em avaliar as particularidades envolvidas em cada caso concreto.

Realmente, haverá circunstâncias em que a fuga do réu, sem


previamente verificar se há necessidade de auxílio aos demais envolvidos
no acidente, superará os limites do mero aborrecimento e, por consequência,
importará na devida compensação pecuniária do sofrimento gerado. Por outro
lado, é possível conceber situação hipotética em que a evasão do réu do local
do sinistro não causará transtorno emocional ou psicológico à vítima.

É prudente, portanto, averiguar as peculiaridades que envolvem o


caso concreto para constatação do dano moral, tais como: I) se alguém se
feriu gravemente; II) se houve pronto socorro por terceiros; III) se a pessoa
ferida estava consciente após o acidente; IV) se, em decorrência do atraso do
socorro, houve alguma sequela e qual sua extensão; e v) se a vítima possuía
condição física e emocional de conseguir sozinha ajuda, entre outros fatores.

Sob esse prisma, o contexto do ato ilícito e suas consequências


danosas, assim como o nexo causal, devem ser devidamente examinados pelo
julgador por intermédio das alegações das partes e das provas produzidas,
atendendo aos princípios do contraditório e da ampla defesa.

Feitas essas considerações, a omissão de socorro, por si, não


configura hipótese de dano moral in re ipsa, sob pena de negar vigência ao
disposto nos arts. 186 e 927 do CC/2002.
Informativo nº 0645
Publicação: 26 de abril de 2019.
TERCEIRA TURMA
Processo

REsp 1.799.041-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade, julgado em


02/04/2019, DJe 04/04/2019

Ramo do Direito

DIREITO FALIMENTAR

Tema

Recuperação judicial. Classificação de créditos. Pensionamento decorrente


de acidente de trânsito. Incapacidade definitiva para o trabalho. Natureza
Alimentar. Equiparação a crédito derivado da legislação trabalhista.

Destaque

O pensionamento fixado em sentença judicial, decorrente de ação de


indenização por acidente de trânsito, pode ser equiparado ao crédito derivado
da legislação trabalhista para fins de inclusão no quadro geral de credores de
sociedade em recuperação judicial.

Informações do Inteiro Teor

O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que créditos de natureza


alimentar, ainda que não decorram especificamente de relação jurídica
submetida aos ditames da legislação trabalhista, devem receber tratamento
análogo para fins de classificação em processos de execução concursal. Essa
posição da jurisprudência decorre do reconhecimento de que as diversas
espécies de verbas que ostentam natureza alimentar, dada a afinidade
ontológica que lhes é inerente, devem receber tratamento isonômico para os
fins da Lei de Falência e Recuperação de Empresas, ainda que ausente
disposição legal específica versando sobre cada uma elas. Essa foi a orientação
da Corte Especial por ocasião do julgamento o REsp 1.152.218/RS (DJe
9/10/2014), submetido à sistemática dos recursos repetitivos, que acabou
fixando a tese de que os valores devidos a título de honorários advocatícios
devem, de fato, ser classificados no mesmo patamar destinado aos créditos
trabalhistas. Da mesma forma, versando a hipótese sobre valores que
ostentam indubitável natureza alimentar, pois se referem à pensão fixada em
decorrência de perda definitiva da capacidade laboral deve ser observado,
quanto a esses, o tratamento conferido aos créditos derivados da legislação do
trabalho.

Informativo nº 0625
Publicação: 1º de junho de 2018.
SEGUNDA SEÇÃO
Processo

EREsp 973.725-SP, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado


Do TRF 5ª Região), por unanimidade, julgado em 25/04/2018, DJe 02/05/2018

Ramo do Direito

DIREITO CIVIL

Tema

Seguro de vida. Acidente de trânsito. Embriaguez do segurado. Exclusão de


cobertura. Vedação.

Destaque

É vedada a exclusão de cobertura de seguro de vida em razão da embriaguez


do segurado.

Informações do Inteiro Teor

A Segunda Seção do STJ, em apreciação aos embargos de divergência,


pacificou o entendimento que encontrava dissonância no âmbito das Turmas
responsáveis pelas matérias relativas a Direito Privado, acerca do direito, ou
não, de os beneficiários de seguro de vida receberem a
respectiva indenização securitária quando constatado que o segurado estava
embriagado na ocasião do acidente automobilístico que o levou a óbito. Sobre
o tema, o Código Civil de 1916, vigente à época dos fatos, disciplinando o
seguro de pessoas, estabeleceu em seu artigo 1.440 que "a vida e as
faculdades humanas também se podem estimar como objeto segurável, e
segurar, no valor ajustado, contra os riscos possíveis, como o de morte
involuntária, inabilitação para trabalhar, ou outros semelhantes". Cabe
salientar que, no âmbito de contrato de seguro de veículos, é aceitável que se
presuma, cabendo prova em contrário, que a condução de veículos por
motorista que se encontre sob os efeitos de bebida alcoólica configura
agravamento do risco contratado, podendo ocasionar, casuísticamente, a
exclusão da cobertura securitária que incide sobre a coisa. Todavia, não
obstante as diferenças existentes nas espécies de seguro, no âmbito das
Turmas que compõem a Segunda Seção desta Corte, a questão, na
generalidade dos casos, recebeu uniforme solução, tanto na hipótese de
seguro de vida quanto no de automóveis, no sentido de que é possível a
exclusão da cobertura securitária, a depender da comprovação do aumento
decisivo do risco, não bastando, por si só, a situação de embriaguez do
condutor segurado. Embora o estado mental do segurado possa ter sido
decisivo para a ocorrência do sinistro, a doutrina entende que é "da essência
do seguro de vida para o caso de morte um permanente e contínuo
agravamento do risco segurado". Desse modo, a jurisprudência da Segunda
Seção deste Tribunal se uniformiza, adotando o entendimento de que, nos
seguros de pessoas, é vedada a exclusão de cobertura na hipótese de sinistros
ou acidentes decorrentes de atos praticados pelo segurado em estado de
insanidade mental, de alcoolismo ou sob efeito de substâncias tóxicas.

Informativo nº 0605
Publicação: 12 de julho de 2017.
TERCEIRA TURMA
Processo

REsp 1.656.614-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, por unanimidade,


julgado em 23/5/2017, DJe 2/6/2017.

Ramo do Direito

DIREITO DO CONSUMIDOR

Tema
Ação de indenização por danos materiais e compensação por danos
morais. Acidente de trânsito. Segurança. Graves lesões. Mecanismo de
segurança. Risco inerente. Produto defeituoso.

Destaque

A comprovação de graves lesões decorrentes da abertura de air


bag em acidente automobilístico em baixíssima velocidade, que extrapolam as
expectativas que razoavelmente se espera do mecanismo de segurança, ainda
que de periculosidade inerente, configura a responsabilidade objetiva da
montadora de veículos pela reparação dos danos ao consumidor.

Informações do Inteiro Teor

Cinge-se a controvérsia a analisar se montadora de veículo pode ser


responsabilizada por lesões ocasionadas a consumidor pela abertura de
mecanismo de segurança conhecido como air bag.  Cabe considerar, de início,
que, segundo a legislação consumerista, o fabricante tem o dever de colocar
no mercado um produto de qualidade, sendo que, se existir alguma falha, seja
quanto à segurança, ou à adequação do produto em relação aos fins a que se
destina, haverá responsabilidade do fabricante à reparação dos danos que esse
produto vier a causar. Sua responsabilidade pelo fato do produto é objetiva e,
portanto, prescinde da análise de culpa, apesar de não dispensar a prova do
dano e do nexo causal (art. 12, caput, do CDC). Sobre o tema, a doutrina
assevera que “em matéria de proteção da saúde e segurança dos
consumidores vige a noção geral da expectativa legítima. Isto é, a ideia de que
os produtos e serviços colocados no mercado devem atender as expectativas
de segurança que deles legitimamente se espera. As expectativas são
legítimas quando, confrontadas com o estágio técnico e as condições
econômicas da época, mostram-se plausíveis, justificadas e reais. É
basicamente o desvio deste parâmetro que transforma a periculosidade
inerente de um produto ou serviço em periculosidade adquirida”. Na hipótese,
os contornos fáticos demonstram que o consumidor sofreu graves lesões no
rosto, principalmente nos olhos, pela abertura do mecanismo de segurança
conhecido como air bag em acidente automobilístico ocorrido em baixíssima
velocidade, com pequenos danos ao carro. Assim, a contrapartida da utilização
do air bag pelo consumidor ultrapassou a expectativa normal e legítima dos
possíveis danos causados pelo funcionamento do referido mecanismo de
segurança. Nessa linha, o fato da utilização do air bag como mecanismo de
segurança de periculosidade inerente, não autoriza que as montadoras de
veículos se eximam da responsabilidade em ressarcir danos fora da
normalidade do “uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam” (art. 12,
§ 1º, II do CDC).

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