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EXMO.[A] SR.[A] DR.

[A] JUIZ[A] DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL


DE CAUSAS CÍVEIS DA COMARCA DE

FULANO DE TAL, brasileiro, solteiro, do


comércio, inscrito no CPF sob nº ..., residente e domiciliado na Rua
...., através de seu advogado devidamente constituído e infra-
assinado (mandato incluso – Doc. 01), vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, propor a presente,

AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO DE VEÍCULO

em desfavor de,

CICLANA DE TAL S/A, pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ sob nº ..., por sua filial
estabelecida na Rua ..., pelos motivos de fato e de direito que a
seguir passa a expor:

1. SÍNTESE FÁTICA

1.1. ...
1.10. Certamente, houve um erro de
digitação dos prepostos da Requerida no preenchimento do perfil
do segurado, no que diz respeito ao seu estado civil, equívoco que
não é capaz de justificar a recusa ao pagamento da indenização
devida, haja vista a ausência de má-fé do Requerente.

1.11. ....

1.13. Contudo, certo é que as


declarações inexatas ou omissões no questionário de risco não
autorizam, automaticamente, a perda da indenização securitária,
ainda mais, quando não houve má-fé do segurado no
preenchimento da proposta.

1.14. Embora tais informações sejam


válidas para a determinação do valor do prêmio, jamais poderão
ser invocadas para exonerar a seguradora da cobertura do sinistro,
sob pena de colocar o segurado em exagerada desvantagem,
ocasionando indesejado desequilíbrio contratual.

1.15. Dessa forma, deve a Requerida


arcar com o pagamento da indenização contratada.

1.16. ...

1.18.

1.21. Por consequência, há que ser


reconhecido o direito do Requerente em receber a indenização do
seguro contratada, ora reivindicada através da presente ação.

1.22. Destaca-se que o Requerente,


até o momento, não procedeu ao conserto do veículo,
permanecendo o mesmo com as avarias resultantes do sinistro.
2. DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR

2.1. Diante da incontroversa


existência de contrato de seguro celebrado entre as partes, nos
termos da APÓLICE, o caso em exame traduz inequívoca relação de
consumo, condicionando as partes aos conceitos de consumidor e
fornecedor, prescritos nos artigos 2º e 3º do Código de Defesa do
Consumidor, a seguir transcritos:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica


que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

(...)
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

2.2. Por consequência, torna-se


obrigatória a aplicação do Código de Defesa do Consumidor à
relação havida entre o Requerente (consumidora de serviço) e a
seguradora Requerida (fornecedora de serviço).

2.3. Cumpre ressaltar que as avenças


securitárias constituem-se em verdadeiros contratos de adesão, na
medida em que o consumidor preenche proposta de simples
aceitação de cláusulas pré-estabelecidas, sem qualquer
possibilidade de negociação das condições contratuais.

2.4. Neste sentido, referidas cláusulas


tendem sempre a favorecer a seguradora, garantindo-lhe uma
posição de superioridade na relação.
2.5. O consumidor, por sua vez, na
condição de parte vulnerável e hipossuficiente, assume posição de
absoluta submissão jurídica, o que acaba por dificultar,
sobremaneira, o seu direito de defesa.

2.6. Colhe-se da jurisprudência do


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA:

(...) É pacífico o entendimento jurisprudencial de ser


aplicável o Código de Defesa do Consumidor nas
relações que envolvem segurado e seguradora. (...)
(TJSC, Terceira Câmara de Direito Civil, Apelação
Cível n. 2013.013858-1, Rel. Des. Fernando Carioni,
j. 2-4-2013)

(...) É pacífico o entendimento jurisprudencial de ser


aplicável o Código de Defesa do Consumidor nas
relações que envolvem segurado e seguradora. (...)
(TJSC, Apelação Cível n. 2010.067675-2, de
Blumenau, rel. Des. Subst. Saul Steil, j. em 13-11-
2012)

(...) Constata-se que a atividade securitária está


abrangida pelo art. 3º, § 2º do Código de Defesa do
Consumidor. (...)
(TJSC, AI n. 2011.064550-9, de Lages, rel. Des.
Subst. Stanley da Silva Braga, j. em 7-2-2012).

2.7. Inquestionável, portanto, a


aplicação do Código de Defesa do Consumidor ao caso em exame,
diante da relação de consumo existente entre as partes, bem como,
em face do caráter adesivo dos contratos de seguro.

2.8. Diante do exposto, requer que o


pedido exordial seja analisado sob a égide das determinações
constantes no Código de Defesa do Consumidor, conforme dispõem
os artigos 2º e 3º do referido Diploma.
3. DO CÁLCULO DO VALOR DO PRÊMIO – DA “CLÁUSULA
PERFIL”

3.1. Após o envio da documentação


solicitada, a Requerida se recusou a efetuar o devido pagamento,
sob o fundamento de haver divergência no perfil do segurado
quanto ao seu estado civil.

3.4. Segundo a seguradora, o


Requerente declarou-se “casado”, sendo de fato, “solteiro”, o que
implicaria na perda do direito à indenização, em razão da
“alteração do risco contratado e precificado pela Seguradora no
momento da aceitação” (Doc. 14).

3.5. De fato, para efetuar o cálculo


do valor do prêmio, a seguradora leva em conta as informações
fornecidas pelo próprio segurado a respeito do bem objeto do
seguro e do condutor.

3.6. Fatores como a idade, o estado


civil do condutor, os dados do veículo, e o local onde este passa a
noite, são analisados pela seguradora, afim de se obter o valor da
apólice e o valor do prêmio a ser pago pelo segurado.

3.7. Assim, segundo o que dispõe o


art. 766 do Código Civil, se o segurado fizer declarações inexatas
ou omitir circunstâncias que possam influir na aceitação da
proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia.

3.8. No entanto, as declarações


inexatas ou omissões no questionário de risco não autorizam,
automaticamente, a perda da indenização securitária, ainda mais,
quando não houve má-fé do segurado no preenchimento da
proposta.

3.9. De fato, a “cláusula perfil”


prevista nos contratos de seguro somente pode servir para a
estipulação do prêmio, não sendo aceita como fundamento
suficiente a justificar a recusa no pagamento da indenização pela
seguradora, salvo se comprovada a má-fé do segurado.

3.10. Em outras palavras, a aceitação


do risco não está vinculada à cláusula de perfil do usuário, pois
esta diz respeito, tão-somente, à quantificação do prêmio, e não à
aceitação do risco.

3.11. Por consequência, a informação


imprecisa não afeta a essencialidade da obrigação securitária,
notadamente quando a proposta nem sequer é assinada pelo
segurado.

3.12. Ocorre que a “cláusula perfil”,


excepcionada a má-fé, coloca o segurado em exagerada
desvantagem, ensejando um desequilíbrio contratual entre as
partes.

3.13. Consoante dispõe o art. 51, §


1º, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor:

§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a


vantagem que:
(...)

II - restringe direitos ou obrigações fundamentais


inerentes à natureza do contrato, de tal modo a
ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;

3.14. Oportuno observar, ainda, que


cabe à seguradora averiguar as informações constantes no perfil do
segurado, não sendo possível, como já ressaltado, alegar a quebra
de perfil como fundamento para a negativa do seguro.

3.15. Dessa forma, se a seguradora


não envidou esforços no sentido de conferir as informações
constantes no perfil do segurado, deve ela assumir os riscos
decorrentes do contrato, cabendo, inclusive, arcar com o
pagamento da quantia relativa à cobertura contratada.

3.16. Nesse sentido, vale conferir as


seguintes decisões proferidas pelo Egrégio TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DO PARANÁ:

APELAÇÃO CÍVEL - CONTRATO DE SEGURO -


DANOS A VEÍCULO AUTOMOTOR - ACIDENTE DE
TRÂNSITO - NEGATIVA DE COBERTURA
SECURITÁRIA - ALEGAÇÃO DE MÁ-FÉ DO
SEGURADO E IRREGULARIDADE DO
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DE RISCO -
INOCORRÊNCIA - INCIDÊNCIA CDC -
INTERPRETAÇÃO DO CONTRATO QUE DEVE SER
FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR - ART. 766,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC - MÁ-FÉ NÃO
EVIDENCIADA - DEVER DE INDENIZAR DA
SEGURADORA. AGRAVAMENTO DE RISCO NÃO
CONFIGURADO - ÔNUS PROBATÓRIO DA
SEGURADORA - SIMPLES AFIRMAÇÃO DE "PERFIL
DE RISCO" QUE NÃO BASTA PARA DEFINIR A
CAUSA DO ACIDENTE - PRECEDENTES DO STJ.
DEVER DO SEGURADO EM ATUALIZAR SUAS
INFORMAÇÕES JUNTO A SEGURADORA -
ACRÉSCIMO NO VALOR DO PRÊMIO - RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
(TJPR - 10ª C.Cível - AC - 1131262-6 - Pato Branco
- Rel.: Marcelo Gobbo Dalla Dea - Unânime - J.
11.12.2014) (grifo nosso)

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA C/C


DANOS MORAIS - SEGURO AUTOMÓVEL -
CÓDIGO DEFESA DO CONSUMIDOR - SINISTRO -
VEÍCULO CONDUZIDO PELO FILHO DO
SEGURADO -NEGATIVA DE PAGAMENTO DA
INDENIZAÇÃO, SOB A ALEGAÇÃO DE
DESCUMPRIMENTO DA "CLÁUSULA PERFIL",
ANTE A DIVERGÊNCIA ENTRE AS INFORMAÇÕES
PRESTADAS NO QUESTIONÁRIO PERFIL E NO
AVISO DE SINISTRO - AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ DO
SEGURADO - ÔNUS DA SEGURADORA -
EQUÍVOCO NO PREENCHIMENTO DO AVISO DE
SINISTRO EVIDENCIADO - INDENIZAÇÃO DEVIDA
- RECURSO DESPROVIDO.
1. Salvo comprovada má-fé do segurado no
preenchimento da proposta, não se justifica a
negativa da seguradora, no pagamento da
indenização securitária, com base em "cláusula de
perfil".
2. É que, a "cláusula perfil", embora válida para a
determinação do valor do prêmio, a luz do art. 51, §
1º, II, do Código de Defesa do Consumidor, jamais
poderá ser invocada para exonerar a seguradora da
cobertura do sinistro, por colocar o segurado em
exagerada desvantagem, ocasionando indesejado
desequilíbrio contratual.
3. Recurso conhecido e desprovido.
(TJPR - 9ª C.Cível - AC - 626373-0 - Foro Central da
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.:
Francisco Luiz Macedo Junior - Unânime - J.
13.04.2010) (grifo nosso)

3.17. Ademais, o contrato de seguro


tem natureza intuito rei e não intuito persona, levando- se em
conta o bem segurado e não a pessoa que o conduz.

3.18. Cumpre destacar, que nosso


ordenamento jurídico não privilegia a fraude nem a má-fé, de
maneira que compete à seguradora comprová-la, nos termos do
artigo 373, II, do Código de Processo Civil.

3.19. Portanto, não há que se falar


em perda do direito ao seguro, pois além da abusividade da
cláusula invocada pela seguradora, não houve má-fé do
Requerente, e muito menos, agravamento do risco.

4. DA CLÁUSULA DE RISCO NÃO CONTRATADO


4.1. O contrato de seguro, regulado
pelo artigo 757 e seguintes do Código Civil vigente, foi firmado
entre as partes com o objetivo de garantir o pagamento de
indenização para a hipótese de ocorrer evento danoso decorrente
de acidente de trânsito, mediante o pagamento do respectivo
prêmio.

4.2. É notório que o objetivo principal


do seguro é a cobertura do risco contratado, ou seja, o evento
futuro e incerto que poderá gerar o dever de indenizar por parte do
segurador, devendo prevalecer o elemento essencial do contrato
sob a visão do princípio da boa-fé.

4.3. Nesse sentido são as disposições


dos artigos 422, 765 e 766, parágrafo único, do Código Civil:

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar,


assim na conclusão do contrato, como em sua execução,
os princípios de probidade e boa-fé.

Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a


guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais
estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto
como das circunstâncias e declarações a ele
concernentes.

Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante,


fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que
possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do
prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar
obrigado ao prêmio vencido.

Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas


declarações não resultar de má-fé do segurado, o
segurador terá direito a resolver o contrato, ou a cobrar,
mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio.
4.4. No caso dos autos, o contrato de
seguro firmado pelas partes prevê CLÁUSULA DE RISCO NÃO
CONTRATADO (Doc. 14), nos seguintes termos:

Se no momento do sinistro houver qualquer divergência


entre a situação apurada e as respostas anteriores,
referentes ao principal condutor, não haverá pagamento
de indenização se ocorrer algum risco coberto por se
tratar de RISCO NÃO CONTRATADO. Nesta modalidade
de seguro a ACEITAÇÃO DA PROPOSTA e a
PRECIFICAÇÃO DO VALOR A SER PAGO PELO
CONSUMIDOR são realizadas a partir das informações
fornecidas pelo próprio consumidor e por isso quando
comprovadas as falhas, intencionais ou não intencionais,
a indenização não será feita por falta de ACEITAÇÃO DO
RISCO, ou seja, por gerar RISCO NÃO CONTRATADO.

4.5. Ocorre que a cláusula em


referência deve ser analisada com reservas, uma vez que cria
limitações ao direito do segurado, ainda mais na hipótese de
contrato de seguro de veículo, onde é da natureza do negócio a
indenização do bem.

4.6. Na hipótese em apreço, as


informações acerca do perfil do segurado foram inicialmente
prestadas aos prepostos da Requerida (corretores de seguro), tendo
estes repassado tais informações à seguradora para o cálculo do
prêmio.

4.7. O Requerente, por sua vez, em


nenhum momento declarou-se “casado”, sendo certo que houve
erro dos prepostos da Ré no preenchimento da proposta.

4.8. Portanto, não houve desvio do


perfil apresentado pelo Requerente, e muito menos má-fé nas
declarações prestadas pelo segurado com intenção de agravar o
risco ou praticar fraude securitária.
5. DO NÃO AGRAVAMENTO DO RISCO DO CONTRATO – DA
DEDUÇÃO DA DIFERENÇA DO PRÊMIO

5.1. Segundo já mencionado, a


“cláusula perfil” foi criada para favorecer o segurado na
determinação do valor do prêmio, e não para restringir o seu
direito.

5.2. Nesse sentido, a CLÁUSULA DE


RISCO NÃO CONTRATADO só poderá ser aplicada nas hipóteses
em que estiver presente o aumento considerável dos riscos
cobertos por ato direito do próprio segurado, e ainda, deve restar
claro o nexo causal entre o sinistro e a situação apontada como
excludente do dever de cobertura.

5.3. É o que dispõe o art. 768 do


Código Civil:

Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se


agravar intencionalmente o risco objeto do contrato. (grifo
nosso)

5.4. Assim, constitui causa


exonerativa da responsabilidade da seguradora o fato de o
segurado, ao dirigir o seu veículo, na ocorrência do sinistro, agir
com culpa grave e dolo.

5.5. Conforme ensina MARIA HELENA


DINIZ1, é obrigação do segurado, pois, “abster-se de tudo que possa
aumentar ou agravar o risco objeto do contrato, sob pena de perder o
direito à garantia securitária”.

1DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos, v. 4 – 7. ed. – São
Paulo : Saraiva, 2013, p. 706.
5.6. Sobre o assunto, SÍLVIO DE SALVO
VENOSA2 tece os seguintes comentários:

É obrigação do segurado não agravar os riscos, salvo se o


contrato o autorizou expressamente (art. 768). (...)
O risco deve ser compreendido sempre como um evento
incerto que não depende da vontade dos interessados. O
magistrado deve ter, portanto, o máximo cuidado em
concluir pela agravação do risco, levando em conta que o
segurado ao contratar o seguro, está pagando justamente
por sua tranquilidade.

5.7. Todavia, a legitimidade da recusa


ao pagamento do seguro demanda a comprovação de que houve
voluntário e consciente agravamento do risco por parte do
segurado, de tal forma que, o seu ato seja a condição determinante
na configuração do sinistro, para o fim de ensejar à perda da
cobertura securitária.

5.8. A esse respeito, o Egrégio


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA decidiu na Apelação Cível
n. 2008.000475-8, Câmara Especial Regional de Chapecó, relator
Des. Edson Ubaldo, DJe de 15.10.2010:

SEGURO. ACIDENTE DE VEÍCULO. SAÍDA DE PISTA.


PERDA TOTAL DO BEM. NEGATIVA DA SEGURADORA
DE INDENIZAR OS PREJUÍZOS. FUNDAMENTO NA
MUDANÇA DE PERFIL DO SEGURADO. CLÁUSULA
CONTRATUAL QUE PREVÊ A EXCLUSÃO DA
RESPONSABILIDADE. ALTERAÇÃO DO ESTADO CIVIL
DO CONTRATANTE DE CASADO PARA SOLTEIRO.
INCREMENTO VOLUNTÁRIO DO RISCO NÃO
DEMONSTRADO. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO
DE QUE O FATO FOI DETERMINANTE PARA O
SINISTRO. RELAÇÃO DE CONSUMO. INTERPRETAÇÃO
À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
DEVER DA SEGURADORA DE INDENIZAR OS DANOS

2VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: contratos em espécie – 14. ed. – São
Paulo : Atlas, 2014, p. 435.
OCASIONADOS NO VEÍCULO SEGURADO. ÔNUS DA
SUCUMBÊNCIA IMPOSTO INTEGRALMENTE À RÉ.
AUTOR QUE DECAIU DE PARTE MÍNIMA DO PEDIDO.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO.

5.9. Nesse sentido o posicionamento


do Egrégio TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO:

Seguro de veículo - Perda total do automóvel - Ação de


cobrança cumulada com indenização por danos morais -
Recusa de pagamento - Questionário perfil - Prestação de
informações falsas - Estado civil não revelado, bem como
que o segurado tinha filhos na idade constante no
questionai 10 da proposta - Irrelevância para a espécie -
O fato de o segurado não ser casado e ter filho com idade
entre 15 e 25 anos não influiu em nada no sinistro – (...) -
Apelação da ré e recurso adesivo do autor não providos.
(TJSP – Processo 1001122008 SP - 36ª Câmara de Direito
Privado – Publicação 12/11/2008 – Julgamento 6 de
Novembro de 2008 – Relator Romeu Ricupero)

Seguro facultativo de veículo. Ação de cobrança de


indenização securitária. Contratação na modalidade
"perfil". Roubo do bem segurado. Recusa da seguradora
ao pagamento da indenização securitária. Agravamento
do risco. Eventuais informações inexatas fornecidas pelo
segurado acerca de seu estado civil e do local de pernoite
do veículo objeto do contrato de seguro não se traduzem
em agravamento do risco e, portanto, não são capazes de
liberar a seguradora do seu dever de indenizar,
notadamente se o bem segurado foi roubado, fato que
não teria sido evitado, independentemente das
declarações constantes do questionário para avaliação do
risco. Recurso não provido.
(TJSP, Apelação nº 0003147-58.2010.8.26.0010, Rel.
Des. CESAR LACERDA, 28ª Câmara de Direito Privado, j.
23/04/2013) (grifo nosso)

5.10. Também, do Egrégio TRIBUNAL


DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ:
SEGURO. CLÁUSULA PERFIL. NECESSIDADE PARA A
SUA INCIDÊNCIA E EXONERAÇÃO DA
RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA DA ALEGAÇÃO
E PROVA DE QUE O DESCUMPRIMENTO DA CLÁUSULA
FOI A CAUSA DETERMINANTE DO ACIDENTE. LUCROS
CESSANTES. AUSÊNCIA DE PROVAS A RESPEITO.
DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO. APELAÇÃO
PROVIDA EM PARTE.
(TJPR - Apelação Cível nº 807634-0 - 10ª Câmara Cível
Relator: Des. Albino Jacomel Guerios - Julgado em
01.12.2011) (grifo nosso)

5.11. Nessa direção, igualmente,


consolidou-se a jurisprudência do Colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA, no que interessa:

(...) 2. As declarações inexatas ou omissões no


questionário de risco em contrato de seguro de veículo
automotor não autorizam, automaticamente, a perda da
indenização securitária. É preciso que tais inexatidões ou
omissões tenham acarretado concretamente o
agravamento do risco contratado e decorram de ato
intencional do segurado. Interpretação sistemática dos
arts. 766, 768 e 769 do CC/02.
3. "No contrato de seguro, o juiz deve proceder com
equilíbrio, atentando às circunstâncias reais, e não a
probabilidades infundadas, quanto à agravação dos
riscos" (Enunciado n. 374 da IV Jornada de Direito Civil
do STJ).
(...) 7. Recurso especial não provido”.
(REsp 1210205 / RS, Rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO,
Quarta Turma, j. 01/09/2011).

5.12. De fato, é a partir do perfil do


proponente que a seguradora aceita ou não o contrato e fixa o
respectivo prêmio, proporcional ao risco.
5.13. Na ocasião do sinistro, segundo
relato no BOLETIM DE OCORRÊNCIA (Doc. 04), o veículo estava
sendo conduzido pelo Requerente e “veio a sofrer derrapagem
lateral com a parte traseira devido a intensa chuva no momento e
acúmulo de água na pista vindo o veículo a se chocar com o meio fio
do bordo da via e tombou no local causando danos materiais ao
veículo”.

5.14. Ora, para tal evento, é


absolutamente irrelevante que o Requerente seja casado ou não,
que tenha filhos ou não, que tenha pessoas entre 15 e 25 anos
residindo com ele ou não.

5.15. Em outras palavras, é


absolutamente irrelevante a afirmação constante do
questionário perfil, em contraste com a realidade.

5.16. Também não houve má-fé por


parte do Requerente no preenchimento do questionário para obter
redução do prêmio, haja vista que jamais se declarou “casado”
junto à seguradora, existindo, no caso, um erro dos prepostos da
Requerida quando do repasse das informações.

5.17. Por outro lado, o fato do


segurado ser considerado civilmente “casado”, considerando que a
seguradora nunca se importou em verificar a veracidade de tal
informação, em nada influenciou o risco da ocorrência do sinistro.

5.18. Tal circunstância é capaz de


acarretar, tão somente, pequena diferença no valor do prêmio,
não havendo má-fé que autorize a sanção, drástica e absoluta, da
perda do direito à indenização, porque não está presente a má-fé,
nem fator de agravamento de risco.

5.19. E sendo, afinal, o direito da


seguradora somente a diferença do prêmio, considerando que a
boa-fé deve pautar também a atuação da seguradora na execução
do contrato, esta há que pagar a indenização contratada, com a
dedução da diferença do prêmio, relativa ao estado civil correto
do Requerente, que é solteiro.

5.20. Julgando caso semelhante ao


que ora se pondera, decidiu o Egrégio TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE
SANTA CATARINA, na Apelação Cível n. 2007.044676-4, Sexta
Câmara de Direito Civil, relator Des. Ronei Danielli, DJe de
15/08/2011:

APELAÇÃO CÍVEL. COBRANÇA DE SEGURO DE


VEÍCULO AUTOMOTOR. NEGATIVA DA SEGURADORA
EM PAGAR A INDENIZAÇÃO SOB ARGUMENTO DE
QUEBRA DA CLÁUSULA PERFIL. CONTRATO DE
NATUREZA SECURITÁRIA. APLICABILIDADE DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
INTERPRETAÇÃO DAS CLÁUSULAS DE FORMA
FAVORÁVEL AO SEGURADO, BUSCANDO O
EQUILÍBRIO CONTRATUAL. RESPONSABILIDADE DA
SEGURADORA TAMBÉM EVIDENCIADA PELO CÓDIGO
CIVIL. EXEGESE DOS ARTS. 766 E 768. MÁ-FÉ E
AGRAVAMENTO PROPOSITAL DO RISCO PELO
CONSUMIDOR NÃO COMPROVADO. DANO MORAL.
INOCORRÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO
DO ABALO PSICOLÓGICO. MERO ABORRECIMENTO
DIANTE DO INADIMPLEMENTO CONTRATUAL.
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
Contatada divergência entre as informações prestadas
pelo segurado, na contratação, e a realidade acerca do
seu estado civil - declarou ser casado e era solteiro -
ausente prova da má-fé, incide na espécie o disposto no
parágrafo único do art 766 do Código Civil, facultando-se
à seguradora anteriormente ao sinistro rescindir o
contrato e, após, cobrar a diferença do prêmio. "[...]
para fins de indenização por dano moral, carece o autor
de comprovação das alegações de que sofrera danos
extrapatrimoniais decorrentes da negativa de pagamento
por parte da seguradora, não se podendo presumi-los."
(Ap. Civ. n. , relator Des. Mazoni Ferreira, DJe de
26.05.2009)
5.21. Consoante já dito, em nenhum
momento houve infração contratual por parte do Requerente,
porquanto, o fato de ser considerado “casado” ao invés de “solteiro”
repercutiu tão somente no valor do prêmio.

5.22. Ad argumentandum tantum,


ainda que o Requerente tenha prestado informação equivocada
acerca do seu estado civil, o que não é o caso, tal fato, por si só,
não configura aumento de risco, devendo a seguradora demonstrar
o nexo causal entre o acidente e a omissão desses dados no citado
questionário.

5.23. Melhor dizendo: não há como


concluir que a circunstância do Requerente ser de fato solteiro
contribuiu decisivamente para o acidente.

5.24. Dessa forma, configurada a


obrigação legal da Requerida em garantir a cobertura contratada
para a hipótese em apreço, haja vista que eventual irregularidade
das informações constantes no questionário do perfil, não se
prestam para afastar o dever de indenizar quando o segurado agiu
de boa-fé e não houve o agravamento do risco provocado por ato
direto do Requerente, devendo ser julgada totalmente procedente a
presente ação, para reconhecer o direito do Requerente em receber
a indenização, com autorização para dedução da diferença do
prêmio.

Por todo o exposto, REQUER:

a) A citação da Requerida para,


querendo, comparecer em audiência de conciliação e
apresentar defesa, no prazo legal, sob pena de revelia e
confissão;

b) Seja a presente ação JULGADA


TOTALMENTE PROCEDENTE, para o fim de condenar a
Requerida ao pagamento da cobertura securitária do veículo
segurado prevista na Apólice;

c) Seja abatido do montante da


indenização a diferença do prêmio, a ser informada pela
Requerida, relativa ao estado civil correto do Requerente,
que é solteiro;

d) Que o valor apurado seja corrigido


monetariamente pelo INPC, a contar da data de recusa do
pagamento da indenização objeto da Apólice de Seguro
(07/07/2017), com a incidência de juros de mora de 12%
ao ano, a contar da citação, até o efetivo pagamento;

e) Que o pedido exordial seja


analisado sob a égide das determinações constantes no
Código de Defesa do Consumidor, com a consequente
inversão do ônus da prova;

f) A produção de todos os meios de


prova em direito permitidos, e que se fizerem necessárias ao
fiel deslinde da questão;

Dá-se à causa o valor de R$

Termos em que,
Pede Deferimento.

29 de setembro de 2017.

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