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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO ___ JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DA SERRA – COMARCA DA CAPITAL - ESTADO DO


ESPÍRITO SANTO

CENTRAL ODONTO CAPIXABA LTDA, inscrita no CNPJ sob nº


29.642.671/0001-38, com sede à Av. Primeira Avenida, 232, sala 02, Parque Residência
Laranjeiras, Serra/ES, CEP: 29.165-155, – doravante denominada REQUERENTE -
vem, respeitosamente, por seus advogados, com escritório profissional na Av. Leitão da
Silva, nº 180, Ed. Atlantis Tower, Sala 702, Praia do Suá, Vitória/ES, Brasil, CEP
29.052-110, (Doc. 01), propor

AÇÃO ORDINÁRIA

contra ZURICH SANTANDER BRASIL SEGUROS S.A, inscrita no CNPJ sob nº


06.136.920/0001-18, com sede à Av Jorn Roberto Marinho, 85, Bairro Cidade
Moncoes, São Paulo/SP, CEP: 04.576-010, doravante denominada REQUERIDA,
consoante os fundamentos que passa a articular.

___________________________________________ I – DOS FATOS


1. A REQUERENTE é clínica prestadora de serviços odontológicos localizada na
cidade da Serra/ES.

2. Por sua vez, em 29.04.2021, as partes firmaram contrato de Seguro Patrimonial


(apólice nº 355062), conforme cópia do contrato em anexo. O contrato está vigente até a
presente data, haja vista renovação automática. (Doc. 02)

3. Dentre as coberturas e capitais segurados, o contrato prevê a cobertura no valor


de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para “Roubo ou furto qualificado”.

4. Para infelicidade da REQUERENTE, o seguro precisou ser acionado por esse


motivo.

5. Conforme consta no Boletim de Ocorrência, no dia 23.01.2022, um homem


invadiu o prédio onde fica situada a clínica REQUERENTE e arrombou a porta do
consultório, por volta das 20 horas. Ao entrar, subtraiu 2 aparelhos celulares (1
Iphone 5s e 1 Iphone 6s) e 3 Notebook’s modelo Samsung chromebook 11.6 n3060.
(Doc. 03)

6. As câmeras de videomonitoramento da empresa gravaram toda ação criminosa e


as imagens foram entregues a polícia, conforme consta no Boletim de Ocorrência. Uma
cópia da mídia também será disponibilizada em cartório para ficar à disposição desse d.
juízo.

7. Após o sinistro, a REQUERENTE acionou a seguradora REQUERIDA para


receber a cobertura securitária - (SIN-191694).

8. No entanto, para surpresa da REQUERENTE, a REQUERIDA negou a


indenização pleiteada. Como justificativa, a REQUERIDA alegou a ausência de
nota fiscal dos produtos furtados. (Doc. 04)
9. Ora Excelência, a REQUERENTE não possui a Nota Fiscal dos produtos, que
foram comprados nos EUA há alguns anos. Não era de se esperar que a
REQUERENTE guardasse os documentos fiscais por tanto tempo, ainda mais de
produtos adquiridos no exterior, mas o furto desses objetos é fato incontroverso pelas
filmagens e pelo próprio Boletim de Ocorrência, que possui presunção de veracidade.

10. Além disso, como se verá a seguir, não realizada pela seguradora vistoria prévia
no imóvel para identificar quais os bens estariam garantidos pelo seguro, não se admite
a exigência de apresentação das notas fiscais dos bens furtados para que se efetue o
pagamento da indenização securitária, na medida em que, com essa exigência, o
consumidor fica em desvantagem exagerada.

11. A seguradora REQUERIDA, ao deixar de fazer vistoria assume,


implicitamente, as consequências advindas do sinistro, não podendo, portanto, se
furtar ao pagamento. Como se verá a seguir, a jurisprudência pátria é uníssona nesse
sentido.

12. Portanto, conforme se verá a seguir, a condenação da REQUERIDA ao


pagamento da indenização securitária é medida que se impõe.

___________________ II – DO DIREITO - II.1 – DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO


DE DEFESA DO CONSUMIDOR

13. Deve ser aplicado à presente demanda o Código de Defesa do Consumidor (Lei
n.º 8.078/90) em virtude de restar configurada entre as partes litigantes uma relação de
consumo.
14. A dita relação fica patente tendo em vista a condição de consumidora da
REQUERENTE e, em contraponto, de fornecedor da REQUERIDA, consoante
dispõem os artigos 2º e 3º, da citada norma.
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.

15. Conforme demonstra os dispositivos do Código de Defesa do Consumidor, a


Pessoa Jurídica também é consumidora quando utiliza o serviço como destinatário final,
como na hipótese dos autos.

16. Dessa forma, tendo em vista que a REQUERENTE utiliza o produto da


REQUERIDA como destinatária final, se enquadra como consumidor e,
consequentemente, deve incidir os efeitos da relação de consumo.

17. Esse também é o entendimento do C. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA


e o E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESPÍRITO SANTO.
RECURSO ESPECIAL. QUALIFICAÇÃO JURÍDICA DE QUESTÕES FÁTICAS.
POSSIBILIDADE. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO EMPRESARIAL CONTRA
INCÊNDIO. TESE JURÍDICA ENFRENTADA NO ACÓRDÃO RECORRIDO.
REQUISITO DO PREQUESTIONAMENTO OBSERVADO. PROTEÇÃO DO
PATRIMÔNIO DA PRÓPRIA PESSOA JURÍDICA. RELAÇÃO DE CONSUMO
CONFIGURADA. CLÁUSULA EXCLUDENTE DE COBERTURA DURANTE
OPERAÇÕES DE CARGA E DESCARGA DE PRODUTOS INFLAMÁVEIS.
NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO PRÉVIA. ART. 46 DO CDC. DEVER DE
INFORMAÇÃO QUE NÃO FOI OBSERVADO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. RECURSO
PROVIDO.
[...]
3. A pessoa jurídica que firma contrato de seguro visando à proteção de seu próprio
patrimônio é considerada destinatária final dos serviços securitários, ficando
submetida a relação às normas do Código de Defesa do Consumidor.
4. Nos contratos que regulam as relações de consumo, o consumidor só se vincula às
disposições neles inseridas se lhe for dada a oportunidade de conhecimento prévio do seu
conteúdo ( CDC, art. 46), notadamente, em relação às cláusulas que importem restrição de
direitos.
[..]
8. Recurso especial provido a fim de permitir o recebimento da indenização reclamada,
tomando por base a quantia fixada na apólice, sobre a qual foi cobrado o prêmio.
(Superior Tribunal de Justiça STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp 1660164 SP
2016/0315250-7, Terceira Turma, Relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, DJe
23/10/2017)
_________________________________________________________

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL INDENIZATÓRIA SEGURO PESSOA JURÍDICA


RELAÇÃO CONSUMO APLICAÇÃO DO CDC INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
INCABÍVEL LUCROS CESSANTES E DANOS MORAIS INDEVIDOS AUSÊNCIA DE
PROVA INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA COMPROVAÇÃO DO DESEMBOLSO
JUNTADA POSTERIOR POSSIBILIDADE CONTRADITÓRIO OBSERVADO
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO SENTENÇA REFORMADA EM PARTE.
1 Atende ao requisito da regularidade formal e o princípio da dialeticidade recursal o
recurso que, a despeito de vir construído em peça com nítida atecnia, torna possível a
compreensão das razões pela qual pretende a reforma do ato impugnado. Preliminar
rejeitada.
2 Segundo o STJ, A pessoa jurídica que firma contrato de seguro visando à proteção
de seu próprio patrimônio é considerada destinatária final dos serviços securitários,
ficando submetida a relação às normas do Código de Defesa do Consumidor. (REsp
1660164/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA,
DJe 23/10/2017).
[...]
7 - Recurso parcial provido. Sentença reformada em parte.
(TJES, Classe: Apelação Cível, 030180051671, Relator : JANETE VARGAS SIMÕES,
Órgão julgador: PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL , Data de Julgamento: 26/10/2021, Data da
Publicação no Diário: 23/11/2021)

18. Por sua vez, demonstrada existência de relação de consumo entre as partes, tem-
se pacífico o entendimento de que o CONTRATO DE SEGURO se trata de um contrato
de adesão.

19. Os contratos de seguro são típicos contratos de adesão inseridos na definição do


artigo 54 do Código de Defesa do Consumidor, de modo que sua interpretação deve ser
norteada por aquela que for mais favorável ao consumidor:

Art. 54: "contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade
competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem
que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo".
_______________________________________________

Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao


consumidor.

20. Portanto, aplica-se na presente demanda o Código de Defesa do Consumidor, de


modo que no contrato formalizado entre as partes as cláusulas devem ser interpretadas
em favor da REQUERENTE.
__________ II.2 – DA NECESSIDADE DE CONDENAÇÃO DA SEGURADORA
REQUERIDA - SEGURO - FURTO - APÓLICE – AUSÊNCIA DE VISTORIA
PRÉVIA - EXIGÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DAS NOTAS FISCAIS –
ABUSIVIDADE NA CONDUTA DA SEGURADORA REQUERIDA

21. A legislação é objetiva no sentido de possibilitar ao credor o direito de requerer


em juízo o cumprimento da obrigação pelo devedor.

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e
atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado.

Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não
quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de


pleno direito em mora o devedor.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como
em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
22. Pois bem. No contrato entabulado entre as partes há previsão de cobertura
securitária no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para hipótese de furto
qualificado.

23. Nesse sentido, é fato incontroverso o furto qualificado ocorrido nas


dependências da empresa REQUERENTE. O Boletim de Ocorrência e as filmagens
não abrem margem para dúvidas.

24. Por sua vez, a recusa do pagamento da indenização securitária é flagrantemente


indevida no caso dos autos.

25. A REQUERIDA não poderia ter recusado o pagamento da indenização em


virtude da ausência de nota fiscal, sobretudo porque não realizou vistoria prévia sobre
os bens que guarneciam a empresa REQUERENTE.
26. Exigir da REQUERENTE documentos de pré-existência, como Nota Fiscal,
como condição sine qua non para pagamento da indenização, é atitude abusiva e que
coloca o consumidor em excessiva desvantagem, de modo que deve ser afastada por
esse d. juízo.

27. Nesse sentido, a jurisprudência pátria é uníssona em não admitir a exigência de


apresentação das notas fiscais dos bens furtados como condição para que se efetue o
pagamento da indenização securitária.
EMENTA: AÇÃO SEGURO RESIDENCIAL.
INDENIZATÓRIA.
FURTO. VISTORIA PRÉVIA. AUSÊNCIA. EXIGÊNCIA
DE APRESENTAÇÃO DAS NOTAS FISCAIS DOS BENS
FURTADOS. ABUSIVIDADE. MÁ-FÉ DO SEGURADO
NÃO COMPROVADA. 1- A seguradora, ao colocar seus serviços à disposição,
deve acautelar-se das medidas necessárias para que sua prestação seja efetivada da melhor
forma possível, de forma a não frustrar a expectativa do consumidor. 2- Assim, não
realizada vistoria prévia no imóvel segurado para identificar quais os
bens estão garantidos pelo seguro residencial, não se admite a exigência
de apresentação das notas fiscais dos bens furtados para que se efetue o
pagamento da indenização securitária, na medida em que, com essa
exigência, o consumidor fica em desvantagem exagerada".
(Apelação Cível Nº 1.0687.06.043422-6/001, TJMG, 13ª Câmara Cível, Relator: Francisco
Kupidlowski, J. 13.03.2008)
___________________________________________________________________

EMENTA: AÇÃO DE COBRANÇA - SEGURO - FURTO - APÓLICE - VISTORIA


PRÉVIA - AUSÊNCIA - EXIGÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DAS NOTAS FISCAIS
- ABUSIVIDADE - SENTENÇA REFORMADA
- Se a seguradora deixa de fazer vistoria ante de fechar o contrato assume, implicitamente,
as consequências advindas do sinistro, não podendo, portanto, se furtar ao pagamento do
não realizada vistoria prévia no imóvel
prêmio contratado - Assim,
segurado para identificar quais os bens estão garantidos pelo
seguro residencial, não se admite a exigência de apresentação
das notas fiscais dos bens furtados para que se efetue o
pagamento da indenização securitária.
(Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - Apelação Cível: AC 10024133555474001,
12ª Câmara Cível, Relator Domingos Coelho, Julgamento 30 de Janeiro de 2019)
___________________________________________________________________

DIREITO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. OBRIGAÇÃO


DE FAZER. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. SEGURO RESIDENCIAL. CLÁUSULA
LIMITATIVA. FURTO QUALIFICADO. BENS GUARNECEDORES DA
RESIDÊNCIA. DESNECESSIDADE DE APRESENTAÇÃO DE NOTAS FISCAIS.
1. São nulas as cláusulas limitativas dos direitos do consumidor, ainda que este possa
acessar o contrato em sítio da seguradora, pois devem ser redigidas em destaque, para
melhor compreensão por parte do contratante, nos termos do art. 54, § 4º, do CDC.
2. Deve a seguradora indenizar o consumidor no limite
contratado, quando os bens da segurada foram furtados de
sua residência, ainda que não apresentadas todas as notas
fiscais, em face da veracidade e boa-fé da consumidora.
3. Recurso conhecido e provido.
(Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-DF: 0738632-89.2017.8.07.0001,
5ª Turma Cível, Relator Sebastião Coelho, Publicado no DJE : 27/09/2018)

28. Portanto, deve a seguradora REQUERIDA ser condenada a indenizar a


consumidora no limite contratado (R$15.000,00) quanto os bens furtados, ainda que não
apresentadas as notas fiscais, em face da veracidade dos fatos.

29. Caso esse d. juízo entenda que a indenização não deve ser concedida no limite
contratado - R$15.000,00, foram furtados dois aparelhos telefônicos e 3 Notebook’s, os
quais somados perfazem um dano sofrido de R$ 9.600,00 (nove mil e seiscentos reais).

30. A REQUERENTE buscou por aparelhos similares aos furtados em sites de


venda de produtos usados na internet, de modo que considerou o valor de R$ 7.500,00
(sete mil e quinhentos reais) para os 3 (três) computadores (R$2.500,00 cada
computador), além do valor de R$ 900,00 (novecentos reais) para o Iphone 5s e o valor
de R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais) para o Iphone 6s. (Doc. 06)

31. Cumpre registrar que a aquisição de novos produtos atualmente ultrapassaria o


valor de R$25.000,00. Apenas 1 computador já ultrapassa o valor de R$7.000,00.

32. Portanto, a REQUERIDA deve ser condenada a indenizar a REQUERENTE


nos termos do contrato de seguro previamente contratado.
_________________________________ III – DOS REQUERIMENTOS

33. Ante o exposto, REQUER-SE:


a) seja a empresa REQUERIDA condenada a indenizar a REQUERENTE pelos
danos materiais em razão do furto qualificado no valor total contratado de R$
15.000,00 (quinze mil reais);

b) caso o pedido da alínea anterior seja julgado improcedente, requer a condenação


da seguradora REQUERIDA a indenizar a REQUERENTE pelos danos materiais
em razão do furto qualificado no valor total de R$ 9.600,00 (nove mil e seiscentos
reais), que correspondente ao preço dos produtos usados e similares aos furtados
vendidos na internet;

c) seja a REQUERIDA citada para, caso queira, contestar os termos da inicial, sob
pena de revelia;

d) protesta pela produção de todos os meios de prova admitidos em direito;

e) seja concedida a inversão do ônus da prova nos termos do artigo 6º, inciso VIII
do CDC por se tratar de relação de consumo.

Dá-se o valor da causa de R$ 15.000,00 (quinze mil reais).

Pede deferimento.
Vitória/ES, 19 de maio de 2022.

STÉFANO VIEIRA MACHADO FERREIRA RUANN HERZOG STOCCO


OAB/ES 16.962 OAB/ES 24.903

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