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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DO 11º

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE FORTALEZA – CEARÁ

AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS

• Pedido de comunicações processuais em nome de advogado específico – art. 272, § 5º, CPC
• Pedido de gratuidade da justiça – art. 98, CPC
• Inversão do ônus da prova – art. 6º, inc. VIII, CDC
• Danos morais – art. 5º, incs. V e X, CF/88 c/c arts. 186 e 927, CC c/c arts. 6º, inc. VI, e 14, CDC

ANA KAROLINE AMARAL DE LIMA, brasileira, divorciada, coordenadora


comercial, portadora do RG nº 2003010205379 SSPDC/CE e do CPF nº
018.094.463-09, endereço eletrônico karoline.amaral@gmail.com, residente
e domiciliada na Rua Edno Alves de Oliveira, nº 640, apartamento nº 102,
bairro Mata Galinha, Fortaleza – Ceará, CEP nº 60.867-550, vem à presença
de Vossa Excelência, por intermédio dos advogados que esta subscrevem,
propor a presente AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS em face
de COMPANHIA DE ÁGUA E ESGOTO DO ESTADO DO CEARÁ –
CAGECE, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº
07.040.108/0001-57, endereço eletrônico grupo.gcontfiscal@cagece.com.br,
com sede estabelecida na Rua Lauro Vieira Chaves, nº 1030, bairro Vila
União, Fortaleza – Ceará, CEP nº 60.422-700, em razão dos fundamentos
de ordem fática e jurídica que passa a expor:

1. PRELIMINARMENTE

a. Da Necessidade de Audiência de Instrução


Conforme restará demonstrado no escorço fático, se faz necessária a
designação de audiência de instrução, para a produção de prova oral, o que,
de logo, se requer, nos moldes do art. 361, do CPC.
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b. Das Comunicações Processuais

Requer, a parte autora, que todas as comunicações processuais


sejam feitas em nome de João Aurélio Ponte de Paula Pessoa, inscrito na
OAB/CE sob nº 15.196-B, sob pena de nulidade, consoante disposto no art.
272, § 5º, do CPC.

c. Pedido de Gratuidade da Justiça

A parte autora declara-se pobre no sentido jurídico da palavra, não


possuindo recursos para arcar com o pagamento das custas, despesas
processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do sustento próprio e de
sua família, necessitando, portanto, da gratuidade da justiça, nos termos
dos arts. 98 e ss., do CPC, o que de logo se requer.

2. DOS FATOS

A parte autora possui contrato, com a parte ré, de fornecimento de


água e coleta de esgoto em sua residência – visto ser esta última detentora
do monopólio dos mencionados serviços – estando o mesmo registrado sob
nº 10983350.

Ocorre que, no dia 09/02/2021, a parte ré cortou,


indevidamente, o fornecimento de água da residência da parte
autora, sem dar qualquer justificativa ou aviso prévio, em ato de
flagrante ilegalidade, visto que as faturas foram adimplidas a
contento, conforme documentação ora colacionada.

Em tempos de pandemia de Covid-19, o corte abusivo, ilegal,


imoral e indevido é um descalabro, sendo agravado pelo fato de que
o labor da parte autora exige que ela entre em contato, diariamente,
com várias pessoas diferentes, em visitas a supermercados e, ao
chegar em casa, não tinha água para banho e higiene pessoal, razão

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pela qual precisava pedi-la aos vizinhos e, na ausência destes,
aparar a água da chuva!

No intuito de religar o fornecimento de água do imóvel, a parte


autora entrou em contato, por inúmeras vezes, com a parte ré, conforme
prints ora acostados, restando tais tentativas registradas sob protocolo
único, qual seja, o de nº 57305768.

Frise-se que o companheiro da parte autora, que labuta como


motorista executivo, necessitou ficar dias sem trabalhar, aguardando a
equipe da parte ré, que nunca aparecia. Inclusive, já chegou a falar com
algumas que apareceram pelo bairro, tendo estas argumentado que não
poderiam auxilia-lo, pois não estavam ali para atender ao protocolo da sua
residência.

Somente no dia 18/02/2021, ou seja, após 9 (nove) dias


mendigando água aos vizinhos, e aparando-a da chuva, é que uma
equipe da parte ré compareceu, e – pasme, Excelência – informou
que o corte no fornecimento fora realizado de forma equivocada,
efetivando, de imediato, a religação.

Assim, em razão desse rosário de absurdos inumanos, a parte autora


se socorre do Poder Judiciário para obter justa reparação por toda o
sofrimento experimentado nesses intermináveis 9 (nove) dias sem acesso
ao bem mais básico ao ser humano: a água.

3. DO DIREITO

a. Da Inversão do Ônus da Prova

No contexto da presente demanda, há possibilidades claras de


inversão do ônus da prova, ante a verossimilhança das alegações, conforme
disposto no art. 6º, inc. VIII, do CDC, in verbis:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

(…)

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VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, seguindo as regras
ordinárias de expectativas.

Desse modo, cabe à parte ré demonstrar provas em contrário ao que


foi exposto pela parte autora.

Resta informar, ainda, que algumas provas seguem em anexo. Assim,


as demais provas que se acharem necessárias para resolução da lide,
deverão observar o exposto no artigo supratranscrito, pois se tratam de
princípios básicos do consumidor.

b. Do Dano Moral

Conforme exaustivamente exposto, a parte autora passou 9 (nove)


dias sem fornecimento de água, em razão do corte indevido desta,
culminando com imensurável transtorno psíquico, e pondo em risco, até
mesmo, sua integridade física, visto que fora privada – em tempos de
pandemia de Covid-19 – de sua higiene pessoal, o que, per si, enseja a
reparação moral.

De acordo com art. 5º, incs. V e X, da CF/88:

Art. 5º

(…)

V – É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem; (grifou-se)

(…)

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação. (grifou-se)

Nos termos dos arts. 186 e 927, do CC:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito. (grifou-se)

(…)

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Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.

Rezam os arts. 6º, inc. VI, e 14, do CDC:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

(…)

VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos; (grifou-se)

(…)

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. (grifou-se)

Maria Helena Diniz, acerca do dano moral, leciona1:

“é a dor, angústia, o desgosto, a aflição espiritual, a humilhação, o complexo


que sofre a vítima de evento danoso, pois estes estados de espírito
constituem o conteúdo, ou melhor, a conseqüência do dano”

E prossegue:

“o direito não repara qualquer padecimento, dor ou aflição, mas aqueles que
forem decorrentes da privação de um bem jurídico sobre o qual a vítima
teria interesse reconhecido juridicamente”

É a jurisprudência do E. TJ/CE:

“APELAÇÃO CÍVEL. CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS. CORTE DO FORNECIMENTO DE ÁGUA. SEM AVISO
PRÉVIO. FATURA PAGA. INDEVIDO. REDUÇÃO DO QUANTUM
INDENIZATÓRIA DEVIDA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. 1. O cerne do presente recurso consiste em saber se o corte no
fornecimento de água do apelado foi medida correta, se incide o dano moral
na querela em questão e qual o quantum adequado para a indenização. 2.
De início, ressalta-se que se aplica ao presente caso o Código de Defesa do
Consumidor, uma vez que a empresa apelante atua como concessionária
prestadora de serviço essencial à população (fornecimento de água), fato
que enseja seu enquadramento como fornecedora de produto, nos termos
do artigo 3º, §2º do CDC. 3. O referido corte foi realizado na data de
05/08/2017, quando o débito apontado já havia sido adimplido pelo apelado,
conforme comprovante contido à fl. 28, sem qualquer comunicação prévia e
03 dias após o pagamento e 05 dias antes do vencimento da referida fatura.

1 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil – Responsabilidade Civil. 18. ed. 7º v., c.
3.1, p. 92.
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A empresa, ainda, não trouxe aos autos qualquer documento que indicasse
que houve comunicação prévia ao desligamento do fornecimento de água da
residência do apelado, fato esse que gera dissabor para o consumidor. 4.
Dessa forma, caberia à apelante demonstrar o contrário, ou seja, comprovar
fato modificativo, impeditivo ou extintivo do direito do apelado, de acordo
com o inciso II do artigo 373 do CPC, ônus do qual não se desincumbiu. 13.
Como a água é bem essencial à sobrevivência digna, se o serviço foi
interrompido indevidamente, privou-se o consumidor de bem
indispensável, o que dá causa à indenização por danos morais, que
se caracterizam, nesse caso, na modalidade in re ipsa. 5. Resta avaliar
o quantum a ser estipulado em face do dano moral causado. O valor do
arbitramento pelo dano sofrido deve pautar-se pelos parâmetros da
razoabilidade e da proporcionalidade, sob pena de se deferir enriquecimento
indevido a uma das partes ou arbitrar valor que não repare o dano sofrido.
6. Considerando as peculiaridades da demanda em tela, quais sejam, o corte
no fornecimento de água na residência do apelado, em razão de uma fatura
já paga e sem aviso prévio, a falta de assistência e de soluções por parte da
apelante, quando procurada para resolver o problema administrativamente e
o seu grau de culpa, entende-se que a verba indenizatória fixada pelo juízo
primevo de R$ 10.000,00 (dez mil reais) é além do suficiente para reparar o
dano sofrido pelo apelado, podendo causar-lhe enriquecimento indevido,
uma vez que a fatura em questão tem o valor apenas de R$ 21,85 (vinte e
um reais e oitenta e cinco centavos) e já houve o religamento do serviço,
razão pela qual entende-se pela redução do quantum indenizatório para R$
2.000,00 (dois mil reais). 7. Recurso conhecido e parcialmente provido.
ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de apelação
cível nº 0159072-51.2018.8.06.0001, em que figuram as partes acima
indicadas, acordam os Desembargadores integrantes da 2ª Câmara de
Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade,
em conhecer do recurso, para dar-lhe parcial provimento, em conformidade
com o voto do eminente relator. Fortaleza, 4 de setembro de 2019
FRANCISCO DARIVAL BESERRA PRIMO Presidente do Órgão Julgador
DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO MENDES FORTE Relator” (Relator(a):
CARLOS ALBERTO MENDES FORTE; Comarca: Fortaleza; Órgão julgador: 31ª
Vara Cível; Data do julgamento: 04/09/2019; Data de registro: 04/09/2019)
(grifou-se)

Desta forma, pugna pela reparação dos danos morais, pelo que se
sugere o valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais).

4. DO PEDIDO

Diante do exposto, requer a parte autora:

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a. A designação de audiência de instrução, para a produção de prova
oral, nos moldes do art. 361, do CPC;
b. Que todas as comunicações processuais sejam feitas em nome de
João Aurélio Ponte de Paula Pessoa, inscrito na OAB/CE sob nº
15.196-B, sob pena de nulidade, consoante disposto no art. 272, §
5º, do CPC;
c. A concessão da gratuidade da justiça, nos termos dos arts. 98 e ss.,
do CPC;
d. A inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, inc. VIII, do
CDC;
e. A citação da parte ré para, tempestivamente, apresentar a resposta
que tiver, sob as penas da lei;
f. No mérito, requer seja a presente ação julgada totalmente
procedente, para o fim de condenar a parte ré ao pagamento do
valor arbitrado, a título de danos morais, por este D. Juízo, pelo qual
se sugere o importe de R$ 15.000,00 (quinze mil reais).

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito


admitidos, notadamente depoimentos pessoais, oitiva de testemunhas,
juntada posterior de documentos, perícia contábil, se assim se fizer
necessário, tudo de logo requerido.

Dá-se à causa o valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), para fins


legais.

Nesses termos, pede deferimento.

Fortaleza, 18 de fevereiro de 2021.

Priscilla Maria Santana Macedo Nicomedes Martins de Figueiredo

OAB/CE 24.660 OAB/CE 23.314

João Aurélio Ponte de Paula Pessoa Francisco Figueiredo de Paula Pessoa Neto

OAB/CE 15.196-B OAB/CE 13.805


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