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DIREITO DE SEGUROS PRIVADOS E GESTÃO ATUARIAL – CARLOS PAGANO BOTANA

PORTUGAL GOUVÊA

AULA 1 – 24/02/2011

1. Origens do contrato de Seguros – 24/02


2. Sistema de regulatório no Brasil – 03/03
3. Conceito de risco
4. Natureza jurídica
5. Organização Empresarial
6. Seguro de Dano
7. Seguro de Pessoas
8. 1ª Prova – 14 de abril: 40% da nota
9. Princípios da regulação
10. Instituições reguladoras
11. Concorrência
12. Distribuição e consumo
13. Seguro de crédito
14. Revisão
15. 2ª Prova – 16 de junho: 60% da nota e matéria acumulativa.

Bibliografia: direito dos seguros – amadeu carvalhaes ribeiro e 2 textos serão


disponibilizados no xerox.

Origens do contrato de Seguros – 24/02

Função dos seguros na sociedade: brasil – indústria em crescimento em função da


mudança na estrutura da economia brasileira (maior planejamento do futuro).

Noção de risco: todo contrato é uma forma de manejar risco entre as pessoas.
Contrato é mecanismo desenvolvido para que se possa estabelecer relação com outro
indivíduo que vc não conhece necessariamente. Regulação do risco.
Contrato de seguros: outros riscos envolvidos (violência, saúde, vida, carro). Estamos
sempre mensurando os riscos em nossas ações – instinto humano. Teoria: passamos a
nos organizar em sociedade em razão do medo. No momento em que nos organizamos
como sociedade para se proteger desse medo, construímos maior segurança para todos.
Contrato no qual cedemos algumas liberdades para a obtenção de maior segurança
(HOBBES – segurança física e também material). As pessoas também se organizam em
sociedade para a obtenção de mais riquezas. Segurança gera o desenvolvimento de
riqueza. As pessoas participam do comércio para apropriar mais riquezas?? Não
importa, de qualquer forma é preciso ter segurança pessoal, jurídica.

Sociedade primitiva (indígena por exemplo): quais eram as fontes de segurança social?
(i) Famíla—dá segurança nos momentos de maior fragilidade infância e velhice; (ii)
capacidades individuais; (iii) religião/comunidade.

Origem história dos seguros: código de Hamurabi: apresentava lei especifica sobre
seguros (forma legal de distribuição de riscos – financiamento da atividade econômica
mercantil). Art. 102: Relações entre o comerciantes e o comissionário. Art. 103: se
durante a viagem o inimigo lhe leva alguma coisa pertencente à outra pessoa, o
comissionario deverá jurar em nome de deus e ir livre (não é obrigado a devolver o
dinheiro emprestado, se foi roubado).

Analogia: seguro de automóveis – roubo de carro – é necessário fazer um Boletim de


Ocorrência, no qual os fatos devem ser relatados de boa-fé. Contratos de seguros:
conceito de boa-fé é importante desde o inicio. Declarações devem ser feitas de boa-fé
(falar a verdade) desde a contratação.

(continuar)

Elemento essencial do seguro: analise estatística. Seguro passou a ser uma relação
coletiva, não mais individual/bilateral.

Introdução do principio matemático na relação de seguros – lei de Roger: desenvolvida


com a lei de organização entre mercadores marítimos. Ex. navio mercante que esteja
transportando a carga de 5 mercadores e durante a viagem o navio fica prestes a
afundar, tornando-se necessário jogar algumas mercadorias no mar. Qual carga deve-se
jogar fora? A carga mais pesada, a carga menos valiosa ou a carga do mercador mais
rico??! Solução: contrato que estabeleça a divisão do risco entre todos os
mercadores (ideia incorporada ao direito romano) e que faz com que as pessoas ajam
da forma mais racional possível.

Conceito de riscos pré determinados (art. 757 do CC): o segurador se obriga mediante o
pagamento de um prêmio a garantir a interesse legitimo do segurado contra riscos
determinados.

Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a
garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos
predeterminados.

Seguro moderno: a empresa individual relacionada com empresa seguradora. Técnicas e


matemática mais sofisticada. Técnica probabilística na qual poderia-se prever os
eventos do futuro através da analise dos eventos do passado (noções de probabilidade).

Seguro de incêndio: mudança foi permitida em razão da matemática e estudo


probabilístico. Analise de quantos incêndios haviam ocorrido nos anos anteriores.

LOIDS: maior “bolsa de valores” de seguros em Londres. Bar onde as pessoas iam e
faziam comércio de seguros marítimos. Lista dos produtos e quanto seria pago para a
assunção do risco (analise pelo tipo de rota desenvolvida pelo navio). Comitê criado
dentro do bar passou a regular esses seguros. Até hoje loids é o principal mercado de
seguros do mundo. Ofertas públicas de riscos e seguradoras compram os riscos. Houve
a necessidade da regulamentação governamental, uma vez que haviam casos em que
aquele que estava vendendo o risco e comprando uma apólice de seguros não era o
mercador ou o interessado direto, mas um terceiro/outra pessoa (quebra do elemento
essencial do seguro: boa-fé- relação moral e de confiança entre as partes e alinhamento
de interesses). 1ª legislação inglesa sobre riscos, proibiu esse tipo de seguro (relação de
jogo/apostas) em seguros marítimos.

Seguro vs contrato de aposta: a diferença consiste na relação de interesse(com o risco).


Deve-se haver interesse em relação ao risco (o qual deve existir previamente), o qual
não deve ser fabricado.

Porque o seguro surgiu junto com o capitalismo mercantil?


Capitalismo gerou maior capacidade de acumulação de riquezas e maior risco na hora
de empregar esse capital. Risco pode representar maior ganho no futuro, mas também
uma perda dos recursos – lógica da relação empresarial.

Estado e direito é demanda do capitalismo. Estrutura capitalista exige previsibilidade.


Capacidade de cálculo dos riscos. Seguro: mecanismo dentro do setor privado que
permite tornar previsível quase todos os riscos no setor empresarial. Transformar
um risco futuro em um risco presente.

Mudança significativa com o desenvolvimento do capitalismo: passou-se a ter seguros


de caráter social, relacionado com as consequências do empreendimento para a
sociedade. Ex. DPVAT, seguro desemprego, seguridade social (controle de riscos
sistêmicos da sociedade – verificados principalmente com a crise de 1929 nos EUA).

3 tipos de seguro: (i) seguro feito pelo Estado – protege as pessoas de inseguranças
sistêmicas (substituição das famílias). (ii) Seguros organizados de forma cooperativa –
principalmente na europa: exemplo: seguro realizado pelo empregador – mais barato
(dissolve o risco entre os trabalhadores). (iii) Contratos individuais de seguro –
bilaterais.

BRASIL: Nossa sociedade está se tornando mais rica, de forma que vai necessitar mais
de seguros – poder aquisitivo da população está maior. Direito seguros está relacionado
ao desenvolvimento econômico de nosso país.

AULA 2 – 03/03/2011

Boa-fé,

previsibilidade – segurança, possibilidade de avaliação dos riscos, inclusão de aspectos


matemáticos dentro da distribuição de riscos.

Interesse – lei de seguros marítimos que impediu os seguros de jogo – terceiro que não
tinha interesse pelo bem em questão contratava seguro – conflitos de interesse, uma vez
que terceiro teria o interesse de que o navio afunde.
1. Família: Estado – sistema de seguridade social
2. Comunidade – seguros de capacidade comunitária
3. Capacidade individual – seguros de base exclusivamente contratual e
empresarial.

3 fontes de segurança , mesmo em sociedades primitivas. Fontes de estruturação do s


seguros privados na sociedade contemporânea.

Evolução do direito securitário no brasil, em 3 fases: - fase mutualista – baseada na


formação de sociedades anônimas, depois no previdenciário – sociedades
previdenciárias (era vargas - 1930) até mais recentemente grandes empresas de seguros.
Hoje a uma mistura dessas três fases.

1ª fase: mutualismo: fase ligada à formação de empresas com características


corporativas – estruturadas na forma de sociedades anônimas – por ações – regras e
limites para a participação dos sócios que não estava necessariamente relacionado aos
números de ações, acabava funcionando como uma cooperativa. 1ª sociedade anônima
por ações foi uma companhia de seguros martimos. Até o inicio do período republicano
temos o acesso a todos os registros societários das empresas.

Exercício de sala:

Quais os limites para a tomada de risco presentes na empresa – 3% do capital em


relação a qualquer navio. E com relação ao total de risco que a empresa poderia tomar?
Não.

O que aconteceria se empresa não tivesse recurso para pagar a apólice: acionistas
deveriam se reunir para pagar esse dinheiro – tal regra contradiz com a ideia de
responsabilidade limitada. Se sócio se recusar a pagar ele é expulso da sociedade e
ainda tem que pagar o risco.

Liberdade contratual? Clausula 13 permite a convenção a respeito das clausulas e


premio – liberdade total de contratação entre segurado e sócio de empresa

Existe restrição no estatuto quanto ao tipo de seguro contratado? Não, mas


provavelmente seria um seguro maritimo. Sociedades anônimas eram formadas pelos
seus consumidores – origem pública. Sócios eram os próprios tomadores de serviços,
consumidores. Aspecto corporativo e mutualista da sociedade anônima -
praticamente em todas as sociedades securitárias daquela época .Cada sócio deveria
ter pelo menos 5 ações.

Empresas constituídas posteriormente ao código comercial de 1850 – primeira


regulação dos diretos dos seguros – continua em vigor até hoje. Parte que cuidava de
direitos dos seguros – art. 666 em diante. Serve de base para a regulação do direito
securitário como um todo. Após o CComercial: companhia de seguros contra a
mortalidade de escravos e previdência. Seguro de vida com relação aos escravos –
proteção tanto da vida como da propriedade. Companhia de seguros de vida
tranquilidade. 1858 – companhia de seguros marítimos/terrestres feliz lembrança.

1ª empresa de seguros de escravos – tinham o máximo de ações que cada sócio poderia
ter. garantia que todos os sócios teriam uma certa igualdade na participação da
sociedade. 1858- limitação pelo numero de voto nas assembleias, independentemente do
numero de ações. Nesse período também houve uma grande entrada de empresas de
seguros estrangeiras do brasil. – em razão da forte dependência brasileira da Inglaterra.
Regulamento estabelece regras básicas de regulação – autorização prévia para o
desenvolvimento da atividade de seguros – todas as sociedades anônimas exigiam uma
certa autorização previa. Falta de liberdade de associação. Sociedades anônimas –
mecanismo relevante para capitação de recursos e novas indústrias – poder do estado de
permitir ou não industrialização de colônia, etc.. Governo – analise de relações e dizia
se a existência dessas relações eram boas para a sociedades - separação do seguro de
vida dos seguros de danos.

Todos os dividendos e pagamentos de apólice deveriam ser feitos em moeda nacional –


restrição a atuação de empresas estrangeiras. Fiscalização de livros e constituição do
primeiro órgão regulatório de seguros – superintendencia geral de seguros.

Reação das empresas estrangeiras que atuavam no brasil revogando a grande maioria
dessas regras.

1930 – consolidação do estado novo. Reação aos elementos do momento interior –


liberalismo nas relações privadas – com baixa regulação de diversos aspectos da vida
empresarial e grande presença de capital externo. REAÇAO BASTANTE FORTE
COM O ESTADO NOVO – CF de 1934 – nacionalização das empresas de seguros –
devendo constituir-se como empresas brasileiras as empresas estrangeiras localizadas no
brasil. Movimento foi se fortalecendo –CF 1937 – somente poderão funcionar no brasil
os bancos de deposito e as empresas de seguros autorizadas a atuar no pais. –
nacionalização total das empresas de seguros.

Dois objetivos principais para essa lógica: 1- maior controle dos pagamentos dos
prêmios no país – antes havia saída de divisas do pais, 2- incentivar o desenvolvimento
das industrias nacionais.

Movimento de estatização – se deu basicamente pela criação do instituto de


resseguros do brasil – ente estatal. Instituto foi criado logo depois da nacionalização
das operações de seguro e foi uma evolução aos sistemas – antes – barreira de entrada
para empresas era a necessidade de grande capitalização das mesmas, capaz de pagar os
riscos que eventualmente ocorram . Empresa que toca os riscos acaba transferindo uma
parte desses riscos a outra instituição. – capacidade de analise diferente da empresa que
vende seguros diretamente ao consumidor. Empresa de resseguros está analisando o
mercado de seguros como um todo, a possibilidade de um risco sistêmico no mercado –
de todas as empresas sofrerem um risco que abale o sistema.

Institutos de resseguros analisa o mercado de uma forma geral – se o mercado tem o


risco de entrar em guerra, se existe um problema regulatório que possa levar em colapso
várias empresas de seguros. Característica peculiar do instituto de resseguros –
monopolista – empresa estatal e órgão regulador de seguros no Brasil – próprio
decreto que o constituiu deu a ele essa obrigação.

Outro aspecto importante é que o instituto de resseguros do brasil acabou


desenvolvimento uma burocracia que sofria as deficiências técnicas das empresas de
seguro no Brasil. Segunda responsabilidade era também acabar fazendo a analise de
risco específicos tomados pelas empresas em relação aos consumidores.

Outras característica do período Vargas foi a socialização do direito securitário. Tema


dessa aula são os seguros privados, mas diferenciação entre seguros privados e públicos
não é uma separação estanque , mas que varia ao longo da história . vários seguros
privados tornaram-se públicos – tentativa de trazer para esfera pública seguros de
acidentes de trabalho – eram os seguros mais lucrativos para a indústria de seguros –
lógica tam´bem de financiamento do estado nessa transição , pois eram os seguros mais
lucrativos.

Origem e fortalecimento da formação da seguridade social como um tempo. 1953 –


primeira legislação de seguridade social – consolidação dessas empresas em institutos
de pensão. Lógica da previdência social é lógica fiscal –

Período da ditadura militar – consolidação do instituto de resseguros do brasil e


transição. Fortalecimento das industrias brasileiras na época, estimulou também as
industrias de seguros – grandes fusões e aquisições. Prática do instituto de resseguros do
brasil – ao invés de fazer uma transferência para o exterior, passaram a fazer uma
retrocessão dos seguros – para empresa com determinado capital – grandes indústrias do
brasil na época.

Grande risco sistêmico – existia algumas empresas que não estavam fazendo nenhuma
analise de risco. Pequenas empresas as vezes não faziam analise sofisticada dos riscos
que estavam tomando – por estarem competindo com grandes empresas com
retrocessões

Conselho nacional de seguros privados e SUSEP – superintendência de seguros


privados – ORGAOS externo que pudessem regulamentar o IRB e as industrias de
seguros, fortalecendo o seguros como um todo e dando condições iguais as pequenas
empresas que estavam entrando no mercado. BAIXO índice de securitização das
relações econômicas no brasil – porque? Grande desigualdade econômica no brasil e
por outro lado a partir de 1978 passamos também a conviver com o problema da
inflação que basicamente acaba com o elemento fundamental da PREVISIBILIDADE
das indústrias de seguros. Pessoas simplesmente não faziam seguros – atrofia das
empresas de seguros.

Renascimento na década de 90 – estabilização monetária e privatização/liberalização. –


flexibilização dos prêmios que foram liberalizados e liberalização da entrada de capital
estrangeiro e medida provisória n. 15/78 que fortaleceu os órgãos de conselho nacional
de seguros privados e susep transferindo o poder regulamentar do IRB para esses
órgãos.

3 MOVIMENTO que ainda naõ está completo seria a privatização do instituto de


resseguros do brasil – irb somente teria o controle dos resseguros transferidos pelas
empresas estrangeiras, mas o resseguros interno no brasil já foi liberalizado.

Hoje temos uma estrutura mais mista e equilibrada – sistema de securitização forte e
serie de mudanças que facilitaram o desenvolvimento de empresas com caráter
comunitário e fortalecimento das grandes empresas de seguros.

AULA 3 – 10/03/2011

Ultima aula: evolução dos direitos de seguros de uma forma universal.

Hoje vamos discutir dois conceitos: interesse e boa-fé – conceitos inter-relacionados.

Próxima aula: conceito da probabilidade e como isso se aplica ao funcionamento das


empresas de seguros.

Conceito de seguro: art. 757 do CC, que diz: Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga,
mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos

predeterminados.

Interesse legitimo = interesse segurável. Lembre-se que foram proibidos os seguros


realizados por terceiros – pessoas sem qualquer interesse no objeto segurado.
Surgimento de conflito, pelo qual terceiro teria interesse econômico no fracasso da
empreitada.

Interesse segurado: evento prejudicial que gera consequências para o SEGURADO.

Contrato de seguros – media o risco entre as partes. Peculiaridade: a partir do momento


em que o contrato é feito o risco econômico dele é transferido para uma das partes,
qual seja, o segurador ( que passa a ter total controle sobre o risco).

Art. 778 e 781 – limitação do risco do segurador.

Art. 778. Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse
segurado no momento da conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem
prejuízo da ação penal que no caso couber.

Art. 781. A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento do
sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da garantia fixado na apólice, salvo em caso
de mora do segurador.

Existem contratos que estabelecem a compra de apólice de seguros mais baratas, mas
que em contrapartida somente cobririam uma porcentagem do valor do bem (80%,
75%). Todavia, não é admitido no direito brasileiro qualquer tipo de seguro que possa
gerar algum lucro para o segurado (recebimento de valor superior ao valor do bem –
125%, por ex).

Existe debate, por exemplo, em relação a possibilidade de utilização da tabela FIP no


caso de seguros automóveis? O preço da apólice é menor, porque o segurador não está
correndo o risco de apreciação do bem. (e se houver valorização do veiculo, ao invés de
depreciação do veículo??? – crítica). STJ consolidou que não existe nenhuma regra que
impeça seguros de automóveis baseados na tabela FIP.

Regra existe para garantir que todo o contrato de seguro tenha o risco moral: PESSOA
segurada deve estar correndo algum tipo de risco, deve ter algo a perder. Tendência das
pessoas se tornarem menos cuidadosas em relação ao riso, no caso de terem
determinados bens segurados – transferência do dano econômico do prejuízo para um
terceiro. Daí a necessidade de se ter um seguro de automóveis equilibrado com o real
valor do automóvel, evitando que pessoa tenha qualquer lucro com o mesmo (seria um
estimulo para os indivíduos facilitarem o furto de automóveis e aumentarem o número
de acidentes automobilísticos). Interesse social dos seguros é a existência de agentes
atuando de forma coordenada para a redução dos riscos.

Questão do custo da apólice de seguros: para que ela venha a ter 100% de cobertura.
Mesmo considerando que ela terá o risco moral de não se envolver em risco morais que
causariam algum risco psicológico.

Valor da apólice de seguros é uma função da transferência de risco – forma de baixar o


valor da apólice é manter uma certa porcentagem do risco com o sergurado. Ex. o
seguro de acidente de trabalho, o qual somente cobre uma parcela da renda/salário que
era recebido pelo segurado (e não 100%). Do ponto de vista prático, apesar de ser mais
justo um sistema no qual pessoa receba 100% de sua renda, na prática são feitos
contratos nos quais ocorre uma divisão do risco.

É tudo uma escolha de politicas públicas – trazer risco para a seguridade social ou
deixá-lo para ser resolvido pela responsabilidade civil - o que enseja a criação de
contratos de seguros.

Outro exemplo é o contrato de seguro de vida com clausula na qual nos casos em que a
pessoa que venha a falecer por meio de suicídio, o prêmio não é devido. Tal cláusula é
válida? Jurisprudência é uníssona a preservar esse tipo de cláusula. Qual é a razão de
manutenção dessa regra? A principal razão é que o seguro poderia chegar a um preço tal
alto que deixaria de existir. Risco de vida: analise de fatores pessoais (pessoa fuma ou
não fuma) – o que influencia no preço da apólice. Interesse de terceiros com relação ao
seguro de vida (questão do interesse legítimo).

Contrato de seguros: seguradora não será responsável se estiver dirigindo bêbado.


Motorista bate o carro e morre e mata também uma outra pessoa: viúva terá que arcar
com o valor do carro e também com a indenização devida as vitimas do acidente?! STJ.
Art 768—segurado perderá o direito a garantia se agravar intencionalmente o risco do
objeto do contrato. Riscos para sociedade de se considerar essa regra abusiva, invalida?
STJ durante muito tempo teve uma jurisprudência dividida: 1: prova especifica de que o
fato da pessoa ter bebido aumentou o risco de acidentes, ou que o acidente foi causado
porque a pessoa estava bêbada. 2. Reversão do entendimento da jurisprudência –
presunção legal de que dirigir bêbado aumenta o risco. Antes stj tinha tendência de
interpretar cláusula do art. 768 a contário sensu. Necessidade da existência de uma
relação de casualidade, a qual não poderia ser presumida.

Questão do risco moral é principalmente uma questão informacional – problema de


assimetria de informações (o que ocorre no momento de formação do contrato –
segurado tem plena noção do risco que está correndo e segurador tem menos
informação. Por outro lado segurador tem mais informação com relação aos aspectos
estatísticos desse seguro, o que equilibra esta relação – naõ sabemos o índice de furtos,
etc...). Após feito o contrato, a assimetria de informações é ainda maior do que no
momento de formação. Segurado tem muito mais contato com os riscos que leva do que
a seguradora. – uma vez feito o contrato nada garante a seguradora que aquelas práticas
serão mantidas. Portanto, para manter o equilíbrio na troca de informações e o risco
moral do segurado deve-se acrescentar no contrato cláusula de modo a evitar o
problema de assimetria de informações: (i) estabelecer vistorias – implicaria em
impacto no custo dos seguros – preço das vistorias; (ii) art. 766 CC – se o segurado
fizer declarações inexatas, ou omitir circunstancias perderá o direito a garantia
além de ficar obrigado ao prêmio vencido – forma barata de garantir a simetria de
informações.

Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir
circunstâncias que possam influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o
direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio vencido

Existe um equilíbrio entre os conceitos de interesse e o conceito de que contrato de


seguro é um contrato de máxima boa-fé – boa fé do contrato de seguro deve estar
mantida desde a sua formação e em todos os atos durante esse contrato de seguros.

Seleção adversa: seguro de saúde/vida – grupo de fumantes (maior risco de vida) e não
fumantes (menor risco de vida) – impacto no valor da apólice. Qual é a consequência
disso? Sistema no qual inexistisse qualquer mecanismo que obrigasse pessoa a falar a
verdade no momento de formação da apólice!? Como consequência, apólice seria mais
cara para os não fumantes. Tendência em imaginar que maior parte das pessoas
seguradas são fumantes. Teoria econômica bastante influente no direito dos seguros:
assimetria das infomaçaoes – mercado de limões: possibilidade de ter alguns mercados
no qual a assimetria de informações pode gerar, não só esse tipo de distorção, como
também a total eliminação deste tipo de mercado. Seleção adversa no qual somente as
pessoas que tendem a ter atitudes agressivas, tendentes a maior risco contratariam o
seguro.

Exemplo recente – decisão na corte europeia de justiça: impossibilidade de


diferenciação dos preços de seguros em relação aos gêneros – sexo feminino e
masculino, o que seria discriminatório. Consequência: impossibilidade de redução do
preço do seguro de automóveis para as mulheres por se envolverem menos em acidente
do que os homens. Será que esta decisão seria justa?

AULA 4 – 17/03/2011
Efeito dos seguros na sociedade: seguros auxiliam na reconstrução da sociedade
(Japão). Reconstrução de casas, morte de parentes.

Conceitos de interesse e de boa-fé. Umas das referencias para o interesse é justamente o


seu valor. Particularmente no seguro de danos. Art. 781 – indenização não pode
ultrapassar o valor do interesse segurado. Parâmetros dado pelo CC que permite
algumas variações (automóvel baseado na tabela FIP). Contrato de seguro deve ser
estipulado de modo que não exista a possibilidade de risco para o segurado

Risco moral – perderá a garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato


(bêbado dirigindo e suicídio). Estrutura de seguros regulamentada pelo IRB – estimulo a
formação de grandes empresas de seguros - seguradoras acabavam não sendo fieis a lei
na formação de seus contratos e de outro lado o judiciário interpretava o contrato de
modo favorável ao segurado. Jurisprudência: no caso de seguro de vida com excludente
em caso de suicídio, esta somente seria aplicada no caso de suicídio premeditado. CC
agora, permitiu a cláusula excludente em razão de suicídio – com a carência de dois
anos. Sumula do STJ: cláusula somente seria aplicável se demonstrada a premeditação
do suicídio.

Art. 766 – caso o segurado fizer declarações inexatas – perderá o direito a garantia.

Seguro de danos e seguros de pessoas – Ascarelli

Conceito que explique tanto o seguro de danos como o seguros de pessoas (proposta do
texto): art. 789 – seguros de pessoas é ilimitado na estipulação do prêmio – proponente
pode estipular o valor que entender, bem como pode ser contratado mais de um seguro
com relação a vida de uma mesma pessoa.

Art. 789. Nos seguros de pessoas, o capital segurado é livremente estipulado pelo proponente,
que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos
seguradores

Seguros de danos é limitado.

Teoria da necessidade: contrato de seguro se caracterizaria pela sua formação com


base em uma necessidade. Interesse não pode ser criado de forma artificial.
Obs: Surgimento da ideia de seguros em sua perspectiva moderna – primeira lei feita na
Inglaterra – limita o que seria interpretado como seguro de jogo (se você pudesse fazer
um seguro com base em um interesse que não fosse seu, você estaria fazendo uma
aposta). Esse tipo de contrato não é benéfico à sociedade. Geraria o interesse de causar
aquele dano, causar aquele risco e estimula-lo.

Teoria é importante para separação do seguro do contrato de aposta. Estimulo ao


aumento dos riscos poderia gerar uma crise sistêmica dos seguros com excesso de
vendas, sem que pessoas tivessem capacidade econômica para pagamento dos prêmios.
Exemplo: EUA, até 2001 – contratos derivativos. Alternativa ao seguro de crédito, mas
com a característica específica de aposta – foi dado como um exemplo de uma das
causas da crise de 2007. Distribuição do risco de uma forma equivocada, pessoas que
estavam na ponta da cadeia não tinham como honrar os pagamentos.

Seguro por conta de outrem: o estipulante do seguro é o único que assina a apólice e
temos um terceiro beneficiado que normalmente não é identificado. Ex1. contrato de
seguro de alguns bens transportados. Adquiro bem e transação se dá quando
vendedor entrega o bem à empresa de transporte (logo a responsabilidade é transferida).
Empresa de transportes, contrato global de todos aqueles bens transportados (de
proprietários não identificados – inexistência de identificação individual dos
proprietários).

Isso desafiaria o argumento do interesse, uma vez que estamos segurando pessoa não
identificada, mas o CC permite esse tipo de contrato. Segundo a teoria da
necessidade, estabelece-se que o terceiro atua como procurador do interessado.

Ex. 2: contratos coletivos- alguém contrata por um grupo de pessoas. Empregado era o
beneficiário, mas mantinha-se a obrigação do estipulante de cumprimento de todas as
regras dos contratos de seguros.

Seguro de vida: aspecto moral desta relação – todo o contrato de seguro deve envolver a
questão do risco moral, mesmo que valor não possa ser materializado de forma objetiva.

CC – estipulação de seguro de vida em face de terceiro. Deve haver declaração


indicando o seu interesse na preservação da vida do terceiro. Somente existe
pressuposto de interesse no caso de cônjuge, ascendente e descendente. Existe
pressuposto de que família próxima tem o interesse na preservação da sua vida.

Aspecto de interesse no seguro de vida fica evidente quando imaginamos alguém


realizar seguro de vida com o objetivo de fraude por meio da forjação/simulação da
própria morte.

É difícil determinar um valor para a vida, fato é que as pessoas fazem mais coisa para
preservar a sua própria vida, (estimulo grande de preservação), bem diferente do caso de
bens materiais.

Critica a teoria da necessidade: em todas as relações existe um aspecto econômico


– que é inegável – por mais que tenhamos dificuldade de estabelecer um valor para
a vida. Essa seria a maior diferença entre o seguro de vida e seguro de danos.

Interesse: somatória de interesses tanto do estipulante como do beneficiário.

Teoria da empresa: (como que se organizam as empresas de seguros) – contrato de


seguros exige uma estrutura empresarial, porque vc precisa ter uma empresa com
capital grande, para que se possa realizar os cálculos de probabilidade, analisar seguros
e manter carteiras de seguros..etc... IRB estimulou as fusões e aquisições entre empresas
de seguros. Riscos da tentativa de contratação de seguros com um segurador particular:
empresa de seguros possui muitos contratos (diluição do risco) e, ainda, existe a
segurança de que o pull de seguros está protegido pela própria lei da probabilidade.

Critica: empresa de seguros – jogo também pode ser realizado por empresas.
Seguros de bens de altíssimo valor NÃO são efetivados por uma empresa de
seguro, individualmente. Risco altamente especializado – seguro individualizado,
somente para aquele bem, distribuído para varias pessoas – algumas delas não
necessariamente seguradoras. Usina nuclear – também exsite a necessidade de se fazer
um pull – dispersão do risco, ou ainda um resseguro.

Teoria do próprio Ascarelli: teoria unitária, entendendo o seguro como uma


espécie de indenização. Todo o contrato de seguros tem um aspecto necessariamente
econômico.
Critica: caráter único do direito de seguros, buscando a prevenção do risco. Aspecto
prático da indenização: possibilidade de negociar uma solução, mais aberta ao exercício
das assimetrias de poder. Já no contrato de seguros não existe negociação entre
seguradora e segurado (simetria de informações). Indenização somente seria cabível na
regressiva da seguradora contra o causador do dano.

AULA 5 – 24/03/2011

Teoria da necessidade: interesse, importante para diferenciar o contrato de seguros


(interesse pré existente) do contrato de jogo, no qual seu risco somente começa no
momento em que se faz a aposta. Presunção de interesse – cônjuge, ascendente e
descendente – e com relação ao irmão?

Teoria da empresa: contrato de seguros fundamentado na organização empresarial.


Necessidade de um volume mínimo de seguros para começar a realizar esta atividade.
Alguns seguros todavia, estão muito mais baseados em um mercado, uma bolsa de
seguros. E cassino: também são empresas.

Teoria da indenização: objetivo das partes é obter previsibilidade com esse contrato
e conseguir uma indenização, seja com o seguro de danos ou com o seguros de
pessoas. Teoria tem dificuldade em aceitar o estabelecimento de um valor em dinheiro
para a vida.

Contrato de seguros é contrato único ou são dois contratos distintos – de dano e de


seguros de pessoas. Muitos autores não aceitam o caráter indenizatório do seguro
de pessoas.

Nenhuma teoria explica por si só o conceito de contratos de seguros. CC incorpora


todos os elementos destas teorias.

Nem todos os contratos de seguros tem caráter indenizatório (indenização a terceiros),


uma vez que muitas vezes são eventos da natureza que não provem da vontade das
partes.

Contrato de seguros é tradicionalmente interpretado como um produto da indústria


financeira. Custos de transação. Função dos bancos: analisar distribuição de custos de
transação e servir como agentes de depósito de um lado. Analise de informação: aonde
podemos investir e o risco. Se os custos de transação fossem 0, as funções do banco
desapareceriam. E com relação as empresas de seguros, será que desapareceriam? Ex:
seguros de créditos - possibilidade de uma parte pagar as suas dívidas. Mesmo nessa
sociedade perfeita é possível imaginar a continuidade da existência de seguros.
Custos de transação não incorporam riscos relacionados a eventos da natureza e para
isso sempre teremos a necessidade de seguros. Ex. não existiria roubo de carros, caso
em que o seguro não seria necessário. mas existem eventos que não são relacionados a
vontade de outra parte, porque o carro pode pegar fogo, pode ter um terremoto, etc.

Risco sempre existirá em uma sociedade, mesmo em uma sociedade perfeita! Por
isso que a teoria da indenização não é suficiente, mas temos a necessidade também da
teoria da necessidade. Também é inegável que o contrato de seguros é parte essencial do
desenvolvimento do capitalismo – empresas capitalistas precisam de contratos de
seguros para desenvolver as suas atividades, uma vez que toda empresa possui sua
especificidade e o contrato de seguro serve para o empresário separar as questões –
empresário desconhece alguns riscos e para isso contrata seguros – tudo para que
consigamos ter maior previsibilidade na vida.

Mas de uma certa forma o que a teoria da empresa diz é que existe algo inerente ao
contrato de seguros que torna necessário que sejam realizados dentro de uma estrutura
empresarial

Teoria do mercado dos limões, segundo a qual alguns mercados ficam distorcidos de
forma a estimular somente pessoas de ma-fé a participarem desses mercados. Se
fizermos regras que aumentem muito os custos de seguros, somente pessoas com muitos
riscos contratariam seguros. – ciclo vicioso: perda do aspecto central da teoria dos
contratos – mutualismo (distribuição do risco entre as pessoas). Dificuldade: se
propormos alterações de regras que tornem o seguro mais caro, posso prejudicar
indiretamente os consumidores em razão da deturpação dos contratos de seguros.

LEI DOS GRANDES NÚMEROS: digamos que tenhamos um risco dentro da


sociedade de 5% (anual) de roubo de automóveis e em determinada cidade temos 1.000
carros. Teríamos, portanto, estatisticamente por ano um roubo de 50 carros. Portanto, se
por acaso tivéssemos uma empresa de seguros que segurasse apenas 50 carros, ela
correria o risco de ter que pagar 100% de suas apólices. Mas se tivéssemos uma
seguradora monopolista – com 100% dos contratos de seguros, ou seja, 1000 carros.
Nesse caso, a não ser que tenhamos um desvio histórico do n. de carros roubados em um
ano específico, a maior probabilidade é que o risco desta empesa seja de apenas 5%.

Portanto, de uma certa forma temos uma tendência na empresa de seguros: quanto
maior a empresa de seguros, maior o n. de apólices e portanto mais próximo será o
risco efetivo que a empresa esta sofrendo do risco probabilístico.

Nesse caso, a empresa pequena certamente teria que cobrar maior preço para o contrato
de seguros. Uma vez que surge o risco dos 5% dos carros roubados estejam na
inteiramente na carteira de seguros dela (empresa eventualmente pode ter de cobrir
100%)!! Empresa deveria formar uma reserva de dinheiro, ao invés de distribuir os
lucros – custo o qual é embutido no preço da apólice, que, portanto, será maior.

Lei dos grandes números é verdadeira em relação a riscos homogêneos, mas se os riscos
são muito genéricos entre si, fica mais difícil utilizar essa regra.

Efeito nas seguradoras: conceito dos ganhos de escala: quanto maior o seu volume
menor o seu custo. Essa característica é quase inerente a empresa de seguros, na qual
quanto maior o n. de apólices, menor será o custo para ela (estatisticamente o cálculo
fica melhor).

No caso da indústria de seguros: não existe esse aspecto físico, mas uma inerência aos
ganhos de escala, o que também ocorre na indústria de softer, por exemplo (elemento de
rede, na qual cada novo participante valoriza mais aquele sistema, de forma
desproporcional a entrada do participante anterior). Objetivo de uma rede sempre será
adquirir o maior n. de participantes possível.

Todavia, elementos da indústria de seguros que se desenvolveram de forma a criar certa


competitividade: a instituição de resseguros, por exemplo – diminui o risco da empresa
pequena ou ainda os co-seguros (como era no Inglaterra – assunção de parte dos riscos
por particulares – distribuição dos riscos) – plataforma de petróleo – varias seguradoras
assumem cada uma parte deste risco.
Portanto, de uma certa forma precisamos da empresa de seguros para atingirmos alguns
objetivos – mutualidade e distribuição do risco entre desiguais –( por exemplo, decisão
da corte europeia que não permitia a separação de risco entre homens e mulheres. ). O
ideal seria que o seguro de carros de mulheres, por exemplo, fosse mais barato –
estatisticamente ocorrem menores acidentes. Estabelecer igualdade, nesse caso, seria
prejudicial as mulheres.

Importância de um Esquema competitivo vc necessidade de empresas grandes

Em relação a cada carteira de riscos, temos um número que é calculado da seguinte


forma – cada carteira tem o número de riscos multiplicado pelo valor do premio que foi
pago.

Grande barreira de entrada: toda a empresa de seguros precisa ter uma capacidade
técnica de analisar esse risco como também tem que ter um volume significativo de
recursos para manter reservas.

AULA 06 – 31/03/2011

SEGURO DE DANOS

Interesse pode ser quantificado monetariamente (proteção do valor econômico de um


bem), enquanto no seguro de pessoas nem sempre é assim.

Valor de mercado de um bem – como determina-lo de forma objetiva? – (i) pela


identificação do valor da apólice, (ii) valor de mercado do bem no momento da
ocorrência do sinistro.

Art. 778 CC, 781 CC:

Art. 778. Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse

segurado no momento da conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem
prejuízo da ação penal que no caso couber

Art. 781. A indenização não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento do
sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da garantia fixado na apólice, salvo em caso
de mora do segurador..
Objetivo do artigo 781 cc é desestimular o lucro.

Jurisprudência do STJ ficou dividida essas correntes: “cláusula abusiva: pratica de


incluir na apólice o valor sobre o qual é incluído o premio e pagar o seguro com base no
valor menor, correspondente ao valor de mercado estipulado pela seguradora”.

Prejuízo ao consumidor que teria pago percentual sobre o valor da apólice.

Questão continuou a ser debatida no stj levando a ocorrência de embargos de


divergência (divergência jurisprudêncial entro do STJ): voto do ministro foi favorável a
essa cláusula: “seguro de automóveis tem essa peculiaridade, de que o decurso do tempo
implica a depreciação da coisa assegurada. Nesse contexto, o pagamento da indenização
pelo valor máximo do seguro, contraria o principio de que o seguro não pode exceder o
valor da coisa segurada (...)”

Argumento: partes no momento de constituírem o contrato de seguro, contrataram o


valor do premio, não com base em um percentual fixo do valor da apólice, mas sim
levando em consideração a desvalorização do bem. Ou seja, fazia parte do contrato essa
perda de valor, depreciação do valor do automóvel.

Esta cláusula seria válida mesmo no caso de apreciação do valor do automóvel.

STJ - jurisprudência mudou a poucas semanas: somente agora se tornou uma prática
com algum fundamento legal a utilização da tabela fip como referencia do seguro de
automóveis. Porque houve essa modificação?

Pesquisa da fip – redução dos custos de transação na hora de identificação dos preços de
mercado dos automóveis. (Identificação do preço de mercado por terceiro
independente).

Casos de imóveis, bens de uma indústria, etc: Existe entendimento de que a melhor
forma de se determinar valor do bem, nesses casos, é o valor da apólice. Muita
dificuldade em apreciar o valor de mercado do bem no momento do sinistro.

Tabela fip: função publica de reduzir a assimetria de informações entre as partes.

Dois tipos de seguro de danos:


1. Danos diretos: danos que já estão no seu patrimônio de uma forma
individualizada. Carro, casa, indústria que temos.
2. Danos indiretos: danos potenciais ao seu patrimônio, derivados da
responsabilidade civil.

Prof vera helena tenta diferenciar esses dois tipos do ponto de vista patrimonial.
Critica: Contrato de responsabilidade civil pode ser feito em um valor específico. (ex:
seguro de carro em relação a terceiros – estipulação de um valor limite de cobertura).
Diferenciação pela origem = Origem do seguro de dano indireto- dano a terceiro.

Seguro de responsabilidade civil pode ser feito de forma genérica, sob todo um
patrimônio, o que é difícil porque o preço seria muito elevado.

Seguro de responsabilidade civil sobre escritório de advocacia: normalmente, analisa-se


o valor em jogo das demandas existentes no escritório, para a determinação do valor da
apólice de seguro.

Diferenciação entre seguros de danos de ocorrências naturais e de ocorrências derivadas


de fatos humanos: seguros seriam uteis mesmo imaginando uma sociedade perfeita onde
ninguém causa dano em ninguém.

Subsistirá responsabilidade do segurado perante terceiro, se o segurador for insolvente.

Seguros de indenização de diretores de empresa com relação aos atos que eles tomam
perante algumas autoridades da CVM.

Seguro de crédito, seria um seguro de dano direto ou de dano indireto? Seguro de dano
direto – porque é um bem (valor pré determinado).

Seguros voluntários ou obrigatório.

Art. 787. No seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e


danos devidos pelo segurado a terceiro.

§ 1º Tão logo saiba o segurado das conseqüências de ato seu, suscetível de lhe
acarretar a responsabilidade incluída na garantia, comunicará o fato ao segurador.
§ 2º É defeso ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou confessar a ação, bem como
transigir com o terceiro prejudicado, ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do
segurador.
§ 3º Intentada a ação contra o segurado, dará este ciência da lide ao segurador.
§ 4º Subsistirá a responsabilidade do segurado perante o terceiro, se o segurador for insolvente

Seguro obrigatório: decreto lei 73/21.11.1976:

Exemplos: seguros de danos pessoais, responsabilidade civil de construtora de imóveis


por danos a pessoas ou coisas, bens dados em garantias de empréstimos /financiamentos
de instituições financeiras públicas, edifícios divididos em unidades autônomas (seguro
de incêndio do prédio), danos pessoais causados por veículos automotores em vias
terrestres (DPVAT)

Art. 788. Nos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios, a indenização por sinistro
será paga pelo segurador diretamente ao terceiro prejudicado

Paga indenização o segurador sub-roga- se no limite do seguro respectivo no valor;

Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos
direitos e ações que competirem ao segurado contra o autor do dano.
§ 1º Salvo dolo, a sub-rogação não tem lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do segurado,
seus descendentes ou ascendentes, consangüíneos ou afins.
§ 2º É ineficaz qualquer ato do segurado que diminua ou extinga, em prejuízo do segurador, os
direitos a que se refere este artigo.

Por fim, a prescrição:

CC art 206

Prescreve:
§ 1º Em um ano:
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é
citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da
data que a este indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão

prazo prescricional para a seguradora é o mesmo do segurado contra o terceiro autor do


dano (3 anos – acho).
AULA 07 – 07/04/2011

Prova: 2 questões: leitura: livro do Amadeu Ribeiro – Direitos de Seguros (cap: I,II, IV,
V) e artigo Do Tulio Ascarelli (1 QUESTÃO sobre esse texto) e texto da professora
Vera Helena – Seguro de Danos e Seguro de Pessoas.

SEGUROS DE PESSOAS

Interesse em tese não é proporcional ao dano (art. 789)

Art. 789. Nos seguros de pessoas, o capital segurado é livremente estipulado pelo proponente,
que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos
seguradores

Seguro de pessoas não teria caráter indenizatório: vida é um valor inestimável. Não se
deve moralmente aceitar que a vida humana tenha um valor preciso – ser humano não
pode ser meio para atingir um outro objetivo.

Por outro lado, sabemos que existem tentativas de se identificar um valor para vida
humana. Exemplo: dois últimos acidentes aéreos no Brasil. Câmara de mediação com
uma serie de parâmetros para o estabelecimento de indenizações para cada uma das
famílias (renda de cada uma das pessoas e parâmetros gerais como valores mínimos e
máximos para essas indenizações). Mesmo do ponto de vista prático é difícil estimar o
valor da vida, uma vez que o valor presente da vida pode não corresponder ao valor
futuro (rendimento presente pode não ser equivalente ao longo dos anos). Quanto o
indivíduo dedicava de sua renda para a família, impostos.

Estatísticas: dano pode ser calculado de forma geral: renda média das pessoas atingidas
por um dano ambiental, por exemplo.

Seguro de pessoas acaba estabelecendo um valor para a vida que incorpora não só
analises externas, mas principalmente analises que são feitas pelo próprio individuo
estatuidor do seguro. Pai e mãe podem fazer seguros de vida em benefício dos filhos:
segurança não só em relação ao futuro, mas também ao momento presente.
Função do seguro de dano: redução de riscos. Qual seria o objetivo do seguro de vida?
Não seria a redução de risco de morte!! Função seria tentar reduzir os riscos de
insuficiência patrimonial da família.

Seguradora deve analisar relação do estipulante na sociedade como um todo: se pessoa


tem um razão pela qual está constituindo aquele seguro. Se não existe tentativa de
fraude.

Seguro de saúde e de acidentes pessoais: zona entre seguro de vida e seguro de danos.
Dificuldade em realizar classificação precisa, nesses casos.

Multiplicidade de seguros de pessoas: única exigência (de base regulamentar – SUSEP)


= conhecimento da seguradora sobre a multiplicidade de seguros do segurado
(importante para a seguradora verificar a razoabilidade do seguro instituído pela
pessoa). Se houver desproporcionalidade do seguro em relação à renda do indivíduo,
poderá ser um indicativo de má-fé do segurado.

Jurisprudência antiga: Empresas de seguro estariam obrigadas a indenizar suicídios caso


estes não fossem premeditados: gerava insegurança. CC consolidou discussão dizendo
que a partir de 2 anos seguradora fica obrigada a indenizar o suicídio. Pessoa fica
obrigada a notificar seguradora de todos os outros seguros de vida firmados.

Art. 798. O beneficiário não tem direito ao capital estipulado quando o segurado se suicida nos
primeiros dois anos de vigência inicial do contrato, ou da sua recondução depois de
suspenso, observado o disposto no parágrafo único do artigo antecedente.
Parágrafo único - Ressalvada a hipótese prevista neste artigo, é nula a cláusula contratual que
exclui o pagamento do capital por suicídio do segurado.

Qual a posição que o seguro de vida ocupa no patrimônio das pessoas?

Caso o sinistro ocorra durante o período de carência, segurador tem de devolver a


reserva técnica ao beneficiário: valor do prêmio excluído as taxas administrativas e o
lucro da seguradora.

Nesse caso, o valor pago de prêmio faz parte do patrimônio do segurado, do estipulante
ou da empresa de seguros (da seguradora). Um dos poucos mecanismos de transferência
de patrimônio causa mortes livre de qualquer necessidade de regulamentação sucessória
(única forma legal de transferência de patrimônio causa mortes sem seguir-se as regras
sucessorias).

Isso porque, valor do seguro de vida saiu do patrimônio das pessoas. Diferença do ponto
de vista legal entre uma poupança bancária é o grau de controle que tenho sobre os
recursos. No caso de seguro de vida, considera-se que propriedade foi de fato já
transferida para terceiro.

Art. 791. Se o segurado não renunciar à faculdade, ou se o seguro não tiver como causa
declarada a garantia de alguma obrigação, é lícita a substituição do beneficiário, por ato entre
vivos ou de última vontade.
Parágrafo único - O segurador, que não for cientificado oportunamente da substituição,
desobrigar-se-á pagando o capital segurado ao antigo beneficiário.
Art. 792. Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer motivo não
prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não
separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da
vocação hereditária.
Parágrafo único - Na falta das pessoas indicadas neste artigo, serão beneficiários os que
provarem que a morte do segurado os privou dos meios necessários à subsistência.

Não existem limitações do valor do seguro de vida feitas pela legítima/regras


sucessórias (doações a um dos herdeiros necessários não pode ser feita em mais de 50%
do patrimônio do doador, eis que isso significaria uma burla as regras sucessórias).

Art. 794. No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital estipulado
não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de
direito.

Art. 793. É válida a instituição do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o


segurado era separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato.

Interpretação jurisprudencial: Impossibilidade de segurar/colocar como beneficiário


um amante/concubino. Ou seja, somente após separação de fato posso colocar como
beneficiário o meu companheiro.

Imposto de renda não se aplica ao benefício pago de seguro de vida: além de ser um
mecanismo de superação de regras sucessória, também existem benefícios fiscais.
(ITCMD – imposto de transição causa mortis – também não há incidência – mesmo
porque também não há incidência de regras sucessórias!). Porque não se considera o
benefício como renda? Regra de indenização: qualquer valor pago a nível de
indenização não está sujeito a imposto de renda (pagamento por dano/perda
sofrido).
Art. 796 – Prazo

Art. 796. O prêmio, no seguro de vida, será conveniado por prazo limitado, ou por toda a vida
do segurado.

STJ: segurado ao longo de 30 anos contratou sucessivamente diversos seguros de vida.


Em primeiro momento individual e posteriormente coletivo. 30 anos depois, seguradora
notificou segurado da impossibilidade de renovação do seguro contratado. Seguro por
prazo pré determinado de um ano que era renovado a cada ano. STJ: apesar de ser um
seguro anual, ao longo dos 30 anos gerou-se uma serie de expectativas ao consumidor
que acreditava que poderia continuar renovando o contrato nas mesmas bases-
constituição de um contrato relacional (obrigações anexas ao contrato). A alteração das
regras do contrato deveriam de ter sido feitas de forma gradual.

Qual será a tendência? Aumento do valor do seguro de vida por prazo limitado, de
modo a chegar mais próximo ao valor do seguro de vida para a vida toda (mesmo
durante o período em que individuo é jovem e o risco é menor).

Eliminação do mercado de seguro de vida por prazo limitado.

Isso porque, no regime de seguro por prazo limitado, o seu valor é bem baixo enquanto
pessoa é jovem e vai se tornando cada vez mais caro/alto quando o indivíduo é mais
velho. Enquanto isso, o seguro de vida para a vida toda o valor é estável durante toda a
vida do segurado.

Seguro de danos existe a sub-rogação automática – diferença paga pela seguradora pode
ser por ela cobrada de terceiro (autor do ilícito).

Já no caso do seguro de vida não existe possibilidade de se exigir indenização do autor


do dano (exemplo: assassino do segurado).

Art. 800. Nos seguros de pessoas, o segurador não pode sub-rogar-se nos direitos e ações do
segurado, ou do beneficiário, contra o causador do sinistro.

Porque o legislador impediu a subrogaçao? Está clausula bem explica diferença entre
seguro de vida e de pessoas. Natureza do valor pago em caso de sinistros de seguro
de vida não é indenizatória (característica quase que previdenciária). Se
eventualmente alguém for culpado pelo sinistro, seria um beneficio a mais para a
família.

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