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Não se pode iniciar o estudo de uma disciplina, sobretudo no campo do direito sem que
se apresente o respectivo conceito. O direito dos seguros, sendo uma disciplina de
índole jurídica não pode fugir à regra.
1. Conceito
Assim, o direito dos seguros pode ser definido como o conjunto de normas jurídicas
que regulam o seguro enquanto fenómeno social e económico.
2. Objecto
O direito dos seguros tem por base o contrato de seguro, negócio jurídico obrigacional,
produto da autonomia privada. O referido contrato de seguro, atendendo à sua natureza
mercantil, encontra-se regulado no Regime Jurídico dos Seguros, aprovado pelo
Decreto-lei nº 1/2010, de 31 de Dezembro e encontra nos códigos comercial, civil e
demais legislação extravagante uma base supletiva, por isso, qualificar-se como um
contrato de direito privado.
3. Características
Pelo facto de o direito dos seguros não estar codificado, encontrando-se a sua legislação
dispersa por vários diplomas, não se pode concluir que esteja insuficientemente
sedimentado. O direito dos seguros, a nível do Ordenamento Jurídico Moçambicano
encontra-se baseado no Regime Jurídico dos Seguros, aprovado pelo Decreto-lei nº
1/2010, de 31 de Dezembro, sendo este um possível prenúncio para o agrupamento de
múltiplos aspectos que tratam dos seguros, pese embora, pelo seu carácter dinâmico,
mutável, acompanhando todos os aspectos de evolução da economia e do mercado
segurador, permitir a produção de leis avulsas.
4. Enquadramento
Atendendo às várias características apontadas pelas teorias com base nas quais,
frequentemente, se distingue o direito privado e o direito público, conclui-se que o
direito dos seguros – excluindo alguns aspectos do direito institucional dos seguros – se
integra entre os ramos do direito privado.
Com base na teoria do interesse, verifica-se que no direito dos seguros não estão em
causa interesses públicos. É evidente que se podem indicar alguns interesses públicos,
em especial relacionados com a tutela dos segurados, mas tais interesses públicos não
são exclusivos do âmbito dos seguros, pois decorrem de regras comuns de tutela dos
cidadãos.
Assim, certos deveres que resultam de regimes relacionados com a protecção da saúde
ou, especificamente, de tutela do consumidor não transformam a situação em concreto
em direito público; tal como o contrato de compra e venda de produtos não passará a ser
de direito público por se imporem regras de protecção do consumidor ou do utilizador
desses produtos, também o contrato de seguro permanece no âmbito privado, não
obstante a preocupação de tutela dos segurados.
Quanto à natureza dos sujeitos, é sabido que os intervenientes nas relações jurídicas de
seguro – à excepção dos órgãos de tutela e de supervisão, nomeadamente, o Ministro
Aos seguros aplicam-se tanto as regras gerais de direito civil – por exemplo., no que
respeita à formação do contrato, ao regime das cláusulas contratuais gerais ou regras de
interpretação – como igualmente as de direito comercial. Dessa conjugação de regras de
direito civil e de direito comercial resultará, por exemplo, que, na particular relação
entre o seguro e o instituto da responsabilidade civil, esta tem de ser enquadrada numa
perspectiva mercantilista.
Tal como noutras áreas – por exemplo, sociedades – também se justificaria a autonomia
legislativa do direito dos seguros, a elaboração de um diploma único integrador da
matéria, que poderia ser um Código dos Seguros. Mas apesar de faltar esta
«independência» legislativa, a autonomia dos seguros no âmbito comercial parece
incontestável.
7. Fontes
Enunciação:
De forma mais ampla, é possível afirmar que as fontes materiais do direito são todos os
factores que condicionam a formação das normas jurídicas, ou seja, que implicam o
conteúdo das fontes formais, sendo todas as razões humanas que estabeleceram a feitura
de uma lei específica, de um determinado costume ou de um princípio geral de direito,
como razões económicas, sociológicas, políticas etc. que influenciaram a criação de
uma fonte formal. Este argumento demonstra que os factores sociais influenciam a
ordem jurídica, aspectos importantes, mas menos fundamentais para a ciência do direito
do que aqueles que digam respeito ao processo de produção de normas jurídicas, ou
seja, são regras não escritas que se formam por um comportamento e pela convicção de
que este é obrigatório e necessário. Regras não escritas que tornaram-se normas de
conduta.
Órgãos Competentes
a. Estatuto Orgânico do Ministério das Finanças
b. Estatuto ISSM – Instituto de Supervisão de Seguros de
Moçambique
c. Lei nº 5/2010, 07 de Julho – autoriza o Governo a aprovar
o Regime Jurídico dos Seguros
Usos
Como última fonte específica do direito dos seguros cumpre atender às
remissões para usos do sector.
Tudo para justificar que, por vezes é dada a relevância aos usos em
determinados sectores de seguros por via de remissões, mas perdendo relevo
dada a frequência de intervenção legislativa, vão cada vez mais dando lugar
às normas jurídicas.
8. Actividade Seguradora
Note-se que nenhum destes sistemas era, propriamente, aquilo a que hoje se chamaria
“seguro”: eram meros esquemas de assistência mútua. Só mais tarde, quando, na Idade
Média, se transfere o risco para um terceiro, totalmente estranho à actividade arriscada,
é que se abrem as portas do seguro moderno. Esta transferência ocorre com o contrato
de empréstimo, verdadeiro antecedente do seguro marítimo, também conhecido por
empréstimo para a grande aventura.
A institucionalização das obras de caridade, na Idade Média, foi uma outra forma de
responder ao desafio de minorar o risco, estamos a falar de riscos de pessoas e não de
patrimónios, podendo-se, desse modo, afirmar que a prática seguradora, em especial no
que se refere ao seguro de pessoas, tem origem no mutualismo cristão, sobretudo
monástico. Tratava-se, porém, de uma actividade filantrópica, não económica, não
visando obter um lucro, isso terá travado o desenvolvimento dos seguros de pessoas,
que só muito mais tarde se verificou o seu surgimento.
É na alta Idade Média, e em estreita ligação com o comércio marítimo, que o seguro,
propriamente dito, se começa a configurar no “empréstimo para a grande aventura”
separa-se a garantia do empréstimo propriamente dito, e é então que se assiste à
transferência do risco para uma entidade terceira, totalmente estranha à “grande
aventura” propriamente dita. Esse terceiro vai assumir o risco mediante uma
remuneração, cedo designada como prémio, e assim nasce o Seguro.
É também em Itália, em 1552, na cidade de Veneza, que será publicado o primeiro texto
sistemático sobre teoria e prática de seguros: o Tractatus de Assecurationibus et
Sponsionibus Mercatorum, da autoria do jurisconsulto e corretor de seguro Pedro de
Santarém, judeu português que exercia a actividade seguradora.
Esta obra, ímpar na literatura de seguros, tem a particularidade de não ser apenas um
trabalho meramente teórico, mas também um verdadeiro manual prático para o
exercício quotidiano da profissão de segurador.
Em Londres, em 1686, surge uma instituição única e muito sui generis. Vejamos do que
se tratou. Muitos armadores, comerciantes e seguradores londrinos reuniam-se, num
misto de convívio e de encontro de negócios, no café do Senhor Eduardo Lloyd. Para
fidelizar essa clientela o Senhor Lloyd teve a iniciativa de criar um registo de
naufrágios, ou seja, sempre que chegava a notícia de um naufrágio, não só o anunciava,
fazendo soar uma sineta, mas também registava num livro, colocado num ponto central
do seu estabelecimento, junto à sineta, o nome do navio sinistrado, a data e local do
acidente, o nome do armador, a carga, enfim toda a informação disponível e relevante.
Por outro lado, cedia o espaço do seu café para a realização de negócios. Foi assim que
nasceu a actual corporação Lloyds – ou mercado de Londres – onde se continua a
celebrar grande parte dos contratos de seguro, onde se mantém o registo de naufrágios,
sempre actualizado e usando o ritual do século XVII e onde se edita a gazeta do Lloyds,
O seguro de vida, tal como o conhecemos hoje, só apareceu mais tarde – final do século
XVII, primórdios do século XVIII – depois de estudos levados a cabo por Pascal e por
Halley.
Há que destacar aqui que, por razões de ordem religiosa, o Islão não acompanhou a
evolução do seguro, pois, segundo os seus princípios, fazer um seguro era tido como
uma heresia, pois era desafiar Deus e a Sua omnipotência. Contudo, nos países
islâmicos a pressão dos negócios e da vida moderna se fez sentir, levando os teólogos
A partir de uma dada situação de risco, a combinação daqueles três elementos veio
possibilitar garantir que, se o risco ocorrer de facto, é possível proceder à reparação
financeira dos danos verificados, ao ressarcimento dos danos, como se diz em
linguagem técnica-jurídica.
Todo esse crescimento da indústria, do comércio e dos meios de transporte, fez com que
as empresas seguradoras também evoluíssem para acompanhar a demanda do mercado.
E, existem hoje seguradoras que controlam elevadíssimos valores, contribuindo com a
sociedade, na geração de empregos e com projectos de responsabilidade social.
Antes de concluirmos esta breve passagem pela história dos Seguros, é interessante falar
um pouco de Moçambique, mas por força de razões também históricas que nos ligam a
Portugal, torna-se imperioso que olhemos com muita brevidade como foi a génese dos
seguros naquela antiga potência colonial.
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Espécie de um sistema de cooperativa em que são activados os mecanismos de interajuda em caso de
verificação de uma perda por ocasião de um evento danoso.
Foi, portanto, nesta base que, ainda, durante o século XVI foi criada a Casa dos
Seguros, uma espécie de central de registo e de negociação de contratos de seguros.
Mesmo assim, não foi de imediato que Portugal viu criada a primeira companhia
privada de seguros, na medida em que, teve que inicialmente fazer face aos problemas
de decadência económica, a perda da independência, em 1580, as lutas para a
reconquista dessa mesma independência, a reconstrução económica e demais obstáculos
de índole económico e social. Só assim surgiu, em 1791, a primeira companhia de
seguros de gestão privada.
Por outro lado, por razões que se prendem com as constantes invasões napoleónicas
fizeram com que a actividade seguradora passasse a ser exercida por seguradoras
estrangeiras, geralmente britânicas, situação que arrastou até 1848, ano em que nasceu a
Embora o seguro, na sua forma moderna, tenha iniciado a praticar-se na Europa, desde o
século XIV, e registado um grande desenvolvimento a partir do século XVIII, em
Moçambique só começou a ser transaccionado no início do século XX.
No nosso país, a origem e evolução do seguro, nas suas variadas vertentes está
fortemente ligada ao nascimento da indústria seguradora no solo pátrio que, durante
muitos anos vai conhecendo algumas inovações, em termos práticos, à medida que o
país vai dando sinais cada vez mais evidentes de desenvolvimento económico e social,
designadamente, mercê de um parque automóvel em constante crescimento e
surgimento de um parque industrial e empresas de prestação de serviços, assim como,
graças, também, da existência de instrumentos legais que dão corpo à figura jurídica às
várias classes de seguro.
Por outro lado, tal como foi nos países europeus, em relação a Moçambique também
pode dizer-se que a indústria de seguro evolui à medida do desenvolvimento económico
e da própria consciência que se vai tendo em relação ao “risco”, assim como a
preocupação cada vez mais crescente de proteger vidas e os bens patrimoniais, para
além decrescimento contínuo da responsabilidade de reparação de danos, em relação
que os causa para com o lesado.
Por tratar-se dum sector consumidor de divisas que, como tal, importava controlar;
Por ser um sector que gere, também, seguros sociais, no caso, por exemplo, de
Acidentes de Trabalho e, como tal, de reflexos sociais importantes;
Por ser um sector de serviços complexos e onde não havia quadros nacionais
preparados. Havia, assim, que garantir a sua formação técnica e profissional de
forma acelerada;
Nestes casos, pode questionar-se a summa divisio (a principal divisão) entre o crédito e
o seguro. Por via de regra, nos últimos tempos, a seguradora não é simplesmente uma
empresa que presta um serviço de assunção de risco como contrapartida da percepção
de um prémio, pois os seguros financeiros têm um papel relevante na dinâmica destas
sociedades.
Por via do seguro, pretende-se transferir o risco que seria suportado numa esfera jurídica
para outra entidade, mediante o pagamento de uma contrapartida. E o seguro tem que
ver com quase todos os aspectos da vida das pessoas – seja qual for a modalidade ou
ramo dos seguros.
O Regime Jurídico dos Seguros (RJS), refere que a actividade seguradora, incluindo o
segmento do micro-seguro, só pode ser exercida por sociedades anónimas e sociedades
mútuas, com sede social baseada em Moçambique, para o caso de exercício da
actividade do seguro directo, de resseguro ou de micro-seguro, respectivamente, e
sucursais de seguradoras, resseguradoras e micro-seguradoras estrangeiras, constituídas
nos países de origem, sob forma de sociedade comercial - art. 2.
Mas, por outro lado, o pedido poderá conhecer algum indeferimento, sempre que não
estiver instruído com todas as informações e documentos exigidos, ou se a sua instrução
apresentar inexactidões e falsidades, ou ainda, se se verificar a falta de garantias e
gestão sã e prudente. Para todos efeitos, a falta de notificação da decisão no prazo
legalmente previsto, equivale a indeferimento tácito do pedido.
Regulação e supervisão
Com entrada em vigor do novo Regime Jurídico dos Seguros é, simultaneamente e pelo
mesmo Decreto – Lei nº 1/2010, de 31 de Dezembro, criado o ISSM – Instituto de
Supervisão de Seguros de Moçambique.
O ISSM, no âmbito das suas atribuições e competências, emite, por Aviso publicado no
Boletim da República, normas técnicas, de cumprimento obrigatório, necessárias à
correcta implementação das disposições legais aplicáveis à actividade seguradora e sua
mediação.
Fica, efectivamente, clara esta transferência para o organismo recentemente criado com
extinção do outro, quando o nº 3 do artigo 6 do decreto-lei que aprova o RJS salienta
que os recursos humanos, financeiros e patrimoniais afectos à IGS transitaram para o
ISSM, salvaguardando-se os direitos adquiridos em carreiras profissionais ou categorias
ocupacionais anteriores dos funcionários e agentes do Estado que sejam integrados no
quadro de pessoal do ISSM, sendo estes regidos pelo Estatuto Geral dos Funcionários e
Agentes do Estado.
Por outro lado, deverá merecer a autorização prévia do Ministro que superintende a área
das Finanças, mediante parecer do Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique
(ISSM) aspectos relacionados com:
Devem ainda ser comunicadas ao ISSM as alterações estatutárias de todas entidades que
operem na actividade de seguros e que se apresentem sob forma de sociedade comercial,
consistindo exclusivamente na mudança do local da respectiva sede, no prazo de 10
dias, após a sua verificação. Outrossim, quando ocorram modificações que se
verifiquem nos estatutos ou na composição do órgão da administração de seguradora
com sede no estrangeiro, autorizada a instalar a respectiva sucursal em Moçambique, no
prazo de 30 dias a contar da data em que tiverem ocorrido.
Nos termos do artigo 13 do Regime Jurídico dos Seguros, obriga que as seguradoras
devem constituir-se em Moçambique sob forma de sociedade anónima, nos termos
previstos no Código Comercial e demais legislação aplicável ou sob forma de sociedade
mútua de seguros, com natureza de sociedade cooperativa. Sendo que, as
resseguradoras, revestem, igualmente, a forma de sociedade anónima.
Para todos efeitos, há uma obrigatoriedade de registo especial das entidades como uma
das condições para o acesso e exercício da actividade seguradora. Estão, sem prejuízo
de quaisquer outras obrigações legais de registo exigidas, igualmente sujeitos ao registo
especial na entidade de supervisão.
São, igualmente, factos sujeitos a registo, bem como o prazo da sua efectivação, aqueles
estabelecidos nas respectivas disposições regulamentares e do registo e das suas
f) Acta do órgão social competente dos accionistas que revistam a natureza de pessoa
colectiva ou sociedade comercial, deliberando a participação na sociedade;
h) Declaração dos accionistas fundadores de que nem eles nem as sociedades cuja
gestão tenham assegurado ou de que tenham sido administradores, directores ou
gerentes foram declarados em estado de insolvência ou falência que lhes seja
imputável, tendo nas mesmas sociedades exercido sempre uma gestão sã e prudente.