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Introduçã o ………………………………………………………………………..………………………………………….
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Fá brica ……………………………………………………………………………………………………………20
Conclusã o ………………………………………………………………………………………..……………..…………..25
Bibliografia ……………………………………………………………………………………….…………………..……26
Anexos ……………………………………………………….………………………..…………………………………......31
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Introdução
Tendo o Convento passado por diferentes fases, o edifico conventual foi o maior do
Algarve e o ú nico da Ordem Cister na regiã o Sul do país, nesse sentido, o convento
feminino apresenta uma monumentalidade de grandeza arquitetô nica. (FIDALGO, 2008, p.
51)
Assim, este trabalho tem como objetivo o enquadramento histó rico do edifício, perceber as
suas diferentes fases de intervençã o, os pontos construtivos em comum com outras obras
do arquiteto e a sua importâ ncia histó rica, desde obras de adaptaçã o até à transformaçã o
em programa privado.
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Contexto Histórico
Como vontade de uma viú va natural da cidade de Tavira, Brites Pacheco se desejava
recolher bem como as filhas das principais famílias algarvias e por meio da açã o do Bispo
de Silves, uma vez a obra constituída nos anos de 1528-1530.
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Desde a sua entrega nessa primeira fase, restam apenas alguns elementos importantes
para compreender a génese do objeto atual, como um portal manuelino visível no alçado
norte, um elemento icó nico cuja estrutura original resistiu até os dias atuais e no alçado
poente, as marcaçõ es em cantaria dos vã os dos dormitó rios originais. Ainda no séc. XVII,
algumas obras de ampliaçã o foram efetuadas e novamente configuraram o convento
original. (VIEIRA, 2014, pp. 67-69)
No ano seguinte, 1863, um incêndio destruiu parte do convento, sendo assim, mais uma
vez alvo de especulaçõ es de obras de cunho militar. Em 1866 o edifico foi vendido a José
Maria de Lemos. O historiador e arquiteto alemã o Albrecht Haupt visitou o mosteiro em
1888, constatando um segundo claustro, ainda de pé, sendo este registado em desenhos
das colunas.
Em uma das suas fases evolutivas e formais, o mosteiro foi adaptado a uma Fá brica de
Moagem e Massas a Vapor, tendo esse período sido fundamental para uma série de
alteraçõ es do edifício original, como a introduçã o do complexo industrial na estrutura
conventual, a destruiçã o da torre sineira e das arcadas do claustro, uma vez que foram
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ainda necessá rias construçõ es de infraestruturas técnicas como um depó sito de á gua. Esta
fase durou até 1968, data apó s a qual o edifício encontrava-se em estado de abandono.
(FIDALGO, 2008 pp. 18-19)
Implantação da obra
Localizado na cidade de Tavira, um espaço urbano caracterizado pelas suas raízes e traços
medievais e quinhentistas, a sua localizaçã o é fundamental para as características de
enquadramento das construçõ es régias da Ordem Cister em Portugal. Nesse sentido, é
notó rio o conjunto de arquitetura religiosa que a cidade possui, uma vez que Tavira detém
um sentimento de sensibilidade religiosa com diversos centros de devoçã o que revelam a
sua importâ ncia e prosperidade ao longo do tempo.
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Fig.2 – Implantaçã o do Convento das Bernardas, Tavira. Visã o sobre as salinas, o rio Gilã o
e a lagoa da Ria Formosa.
O antigo convento localiza-se mais precisamente entre a Rua dos Má rtires e a Rua Arq.
Eduardo Souto de Moura, em Tavira.
Sendo os aspetos hidroló gicos uma característica dos mosteiros de Ordem Cister, a
implantaçã o do edifício religioso nã o difere dos demais nesse sentido, teve certamente em
consideraçã o a abundâ ncia de á gua no local, devido a sua proximidade com o Rio Gilã o,
essencial para as produçõ es que o pró prio edifício proporcionava. A escolha do local,
respeitando assim uma exigência de um curso de á gua essencial para a fixaçã o da Ordem
Cister, esta procurava dar uma justificaçã o para as localizaçõ es em locais desertos,
fechados sobre si pró prios e isolados das construçõ es da Ordem. (FIDALGO, 2008, pp. 23-
24)
“Os mosteiros instalar-se-ão sempre que possível onde haja água para o moinho e para as
hortas, para que não sejam necessários os monges andarem por fora (…).” (NEVES, 1995,
p.14)
Os cistercienses mantinham os seus pró prios meios de subsistência, uma vez pela sua
localizaçã o pró xima à s á guas, sendo estas abundantes e indispensá veis nã o somente para
a subsistência do edifício como também para a vida, para a higiene dos que ocupavam
esses lugares e as produçõ es agrícolas.
Para além de aspetos hidroló gicos, era fundamental a verificaçã o da á rea de implantaçã o
das construçõ es conventuais, uma vez que estas carecem de materiais necessá rios para a
construçã o dos seus edifícios, como pedra, madeira, barro, entre outros. A importâ ncia
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desses materiais para além de seguir uma linguagem construtiva, foram essenciais para
perceber as construçõ es em ruínas do edifício apó s o terremoto de 1755, o incêndio em
1863 e os resquícios de construçõ es em fundaçõ es posteriormente encontradas durante as
obras do arquiteto Souto de Moura, em 2009. (MOURA, 2009 pp. 7-18)
Ainda sobre a implantaçã o do edifício, a sua construçã o foi erguida num lugar plano e, pela
sua localizaçã o, nã o existem elementos que asseguram a existência de uma cerca
moná stica, apenas as suas diferentes fases de construçã o que nos leva a adotar a hipó tese
de que os limites da cerca se deviam situar a sul e a poente, paralelo ao edifício.
É sabido que pouco ou nenhum edifício histó rico chegou até aos dias de hoje sem ter
passado por grandes transformaçõ es, desde o campo formal ao funcional. Desta forma, o
convento das Bernardas nã o é exceçã o. De acordo com Carlos Fernandes Neves, na sua
dissertaçã o de mestrado, o mosteiro foi sofrendo vá rias alteraçõ es profundas ao longo de
vá rios anos, sendo impossível em muitos casos, averiguar acerca do que foi feito em cada
época. Começou tendo funçõ es religiosas, mais tarde foi transformado num complexo
fabril, sendo este um dos grandes processos de descaracterizaçã o do convento, e acabou
até aos dias de hoje por desempenhar o papel de um condomínio privado. (NEVES, 1995)
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O convento apresenta uma organizaçã o funcional muito idêntica à s abadias femininas
Cistercienses, transmitindo toda essa semelhança na organizaçã o das suas plantas. Quanto
à ornamentaçã o escultó rica, esta é muito reduzida, limitando-se ao portal manuelino,
localizado no alçado norte. Desta forma os alçados seguem a simplicidade da planta,
obedecendo à rigidez e frieza de uma fortificaçã o e transmitindo uma grande sobriedade
arquitetó nica.
Fase Manuelina
De acordo com Catarina Marado, esta planta “apesar de datada de 1645, se refere à cidade
do século anterior” (MARADO, 2015, p.58). Leonardo representa o mosteiro com uma
linha de um quadrado fechado, mas apenas mostra a presença de dois volumes, levando-
nos a acreditar que o autor da planta esquematizou os elementos existentes, ou seja, as
alas que até à data estavam construídas, nã o sendo visível nenhuma construçã o na á rea
envolvente.
“Na planta de Ferrari (…) podemos ver representados os três corpos da igreja (capela-mor,
igreja de dentro e igreja de fora), a ala poente e o limite da cerca. Posteriormente foram
construídas as restantes alas, o claustro, e acrescentada a cerca”. (MARADO, 2015, p.60)
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Fig.4 – Planta de Leonardo di Ferrari, com o convento localizado à esquerda.
Sendo assim, a obra seria inicialmente formada por dois corpos, um a norte, onde se
localiza a igreja, da qual restam poucos vestígios, sendo um deles o portal manuelino; e
outro a poente, onde se encontrava o refeitó rio e a ala das monjas, englobando o
dormitó rio e a ala das conversas. Baseando-nos na planta de Ferrari, a nascente e a sul
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localizavam-se os espaços exteriores, estando estes possivelmente relacionados com as
atividades agrícolas, como o caso do cultivo da horta.
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Quanto à igreja, ela tinha cobertura em madeira e compunha-se de uma ú nica nave, de
capela-mor e nã o tinha transepto, sendo esta uma das características das igrejas dos
mosteiros femininos. A utilizaçã o da igreja estava destinada unicamente à comunidade
moná stica e as monjas ocupavam o fundo da nave, dividindo-se pelo coro alto e o coro
baixo, podendo existir neste espaço uma porta de acesso ao convento, de forma a que as
monjas nã o tivessem contacto com o mundo exterior (informaçã o difícil de comprovar
devido à destruiçã o e entaipamento de muitos vã os). No entanto, isto só era possível pela
ausência do pó rtico axial na igreja. Sendo este um mosteiro feminino, a entrada da igreja
realizava-se pela fachada lateral, permitindo que os fiéis se dirigissem ao altar, nã o tendo
contacto visual com as monjas. (SILVA, 2015, p.51)
Sendo assim, o portal manuelino da igreja possuí uma grande importâ ncia por ser um dos
mais antigos exemplares de arte manuelina no Algarve e uma grande imponência, sendo
dos poucos elementos com uma decoraçã o mais trabalhada. É assim constituído por arco
pleno com três arquivoltas, pelo coroamento de estilo gó tico, onde acreditamos que os
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quatro fogaréus sejam de acrescento posterior, da época barroca. Ainda do estilo
manuelino, encontramos os capitéis com uma decoraçã o vegetalista e os duplos colunelos
exteriores representando folhas de louro ou escamas. (FIDALGO, 2008, pp. 39-40)
Possuía dois claustros, um no piso térreo e outro, sobreposto a este, no piso superior, mas
sem jardim, nem tanque, nem sombra (…)” (CORRÊ A, 1991, p.13)
A entrada fazia-se a poente e atravessava-se a ala até chegar ao claustro. Do lado esquerdo
tínhamos a portaria e do lado direito um armazém ou despensa, onde anteriormente, no
rés do chã o tinha sido o refeitó rio e no piso superior os dormitó rios com vã os de diversas
dimensõ es.
No piso térreo tínhamos a cozinha, o refeitó rio e o calefató rio na ala sul; a sala do capítulo,
a sacristia e a sala das monjas na ala nascente; e a igreja que se mantinha na ala norte.
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Quanto ao piso superior, a ala das conversas ficava a poente e os dormitó rios a nascente e
sul, podendo só ser acedidos durante a noite ou no intervalo do trabalho. (SILVA, 2015, p.
52-53)
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“Da igreja gótico-tardia, ostentando um tosco portal manuelino, apenas se conserva ainda
parcialmente de pé o claustro de dois registos com as suas colunas octogonais de capitéis
de nós.” (HAUPT, 1986, p.309)
Contudo, nã o nos deixa só uma obra, mas também um desenho muito valioso de uma
coluna do claustro do mosteiro ainda de pé, visto que pouco tempo depois da sua
passagem por Tavira, em 1888, já nã o existia.
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Fig.12 e 13 – Coluna do Claustro do Mosteiro, desenho por Albercht Haupt em 1888 e
proposta de reconstituiçã o da coluna.
Através do desenho de Haupt tentamos fazer uma reconstituiçã o de como seria o aspeto
original do claustro, sendo necessá rio primeiro que tudo especular sobre o autor desta
fase de obra. Segundo Andreia Fidalgo, este pode ter sido um trabalho influenciado por
Diogo Boitaca. Boitaca era francês e veio para Portugal nos finais do séc. XV, era um dos
principais arquitetos do rei D. Manuel I e a partir de 1510, deslocava-se com frequência ao
Norte de á frica, partindo de Tavira, desta forma é possível associar este arquiteto ao
convento das Bernardas. (FIDALGO, 2008, pp. 42-44)
Relativamente aos capitéis, bases e fustes, é possível comparar a outras obras de Boitaca,
mais concretamente aos enrolamentos dos capitéis que Haupt classificou como “capitéis
de nó s” e pelos fustes e bases oitavados que fazem um paralelo com a galeria do claustro
do Convento da Pena, em Sintra, sendo esta uma obra também de Diogo Boitaca.
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Fig.14 e 15 – Claustro da Pena e Claustro do Varatojo.
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Fase Renascentista
Sabemos que o mosteiro se iniciou com o estilo Manuelino muito presente. No entanto, à
data de finalizaçã o das obras, em 1528, já se fazia sentir o estilo Renascentista. Em 1550,
surgiram grandes obras no convento, o que levou à alteraçã o da sua fisionomia resultado
esse, possivelmente, pelo aumento do nú mero de religiosas pouco tempo depois do
mosteiro ter sido entregue à s monjas de Cister. (FIDALGO, 2008, p. 46)
Rafael Moreira, historiador de arte, defende que esta campanha de obras renascentista,
tenha sido da autoria de Miguel de Arruda, filho de Francisco de Arruda. Miguel tem um
papel fundamental para a arquitetura renascentista, onde as suas obras revelam a pureza
e a sobriedade dos elementos e das formas, mostrando a sua experiência na arquitetura
militar e traduzindo-a em diversas obras de arquitetura. Sendo assim, Miguel de Arruda,
de acordo com George Kubler, é um dos impulsionadores do “estilo-chão” em Portugal,
estilo este, batizado por Kubler e denominado de “plain style”, onde o cará cter simples e
despojado, devido à sua multiplicidade acaba por ser bastante complexo. (MOREIRA, 1995,
p. 356-357)
Através destas janelas é possível fazer um paralelo com uma outra obra de Arruda, onde
podemos observar uma grande semelhança destes elementos. O colégio do Espírito Santo,
em Coimbra, também pertencente à ordem de Cister, é possuidor de dois claustros, onde
Arruda ficou encarregue do claustro sul, deslocando-se a Coimbra em 1548. Dada a
existência de outras estruturas cistercienses no mesmo período de tempo, é possível
aproximar e interligar estes projetos a Miguel de Arruda. Desta forma, podemos observar
no primeiro andar do claustro fechado, uma sequência de janelas de avental clá ssico,
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apresentando dimensõ es variadas, sendo umas mais estreitas e outras mais largas, mas
tendo uma grande semelhança com as janelas renascentistas do nosso convento. (LOBO,
2017)
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A funcionalidade deste corpo nã o é de todo uma preocupaçã o de ligar estruturalmente o
edifício, mas sim criar uma relaçã o com a paisagem através de uma volumetria compacta.
Sendo assim, impondo a presença do edifício na paisagem, uma vez que é o ú nico corpo do
convento com três pavimentos, o corpo do mirante permitiria uma vista privilegiada da
cidade de Tavira, dando à s monjas um rasgo na sua clausura e lembrando à cidade a
existência desta casa religiosa. Desta forma, os mirantes eram corpos arquitetó nicos que
tentavam também responder à s questõ es da clausura nos mosteiros femininos. Nesse
sentido, eram capazes de induzir uma observaçã o à distâ ncia, pela sua posiçã o, num corpo
construído de maneira “emparedado”, como referido aos mosteiros femininos pela
questã o da posiçã o da mulher na sociedade nessa altura, situando-se em pontos
estratégicos e permitindo à s monjas verem, sem serem vistas. (FIDALGO, 2008)
A julgar pelos resultados arqueoló gicos que remetem à construçã o deste corpo a um
período cronoló gico, anterior ou contemporâ neo aos séculos XVII e XVIII e tendo em
consideraçã o a planta de Tavira de Leonardo Di Ferrari, onde nã o se observa nenhum
espaço edificado a encerrar o recinto à nascente, admite-se a suposiçã o de que a
construçã o de tal corpo arquitetó nico decorreu de facto entre os séculos em questã o.
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Fig.20 – Hipó tese do claustro sul ser encerrado por uma ala nascente.
Algum tempo mais tarde, no séc. XVIII, ainda antes do terramoto, o convento é submetido
a uma nova campanha de obras. Desta vez com uma intervençã o no corpo da igreja, onde
Diogo Tavares de Ataíde é o responsá vel, sendo este o maior arquiteto barroco a trabalhar
no Algarve. Nesta fase, é de realçar o remate e ampliaçã o da capela-mor, onde Ataíde cria a
forma de um retâ ngulo de â ngulos cortados, podendo ver-se no alçado exterior. Desta
forma a capela-mor passa a localizar-se num corpo saliente à fachada nascente,
permitindo assim, que a antiga capela-mor dê lugar a um falso transepto. Sobre este,
acredita-se na possibilidade de ter existido uma torre sineira, mais tarde demolida e
substituída por um depó sito de á gua. (MOURA, 2009, p. 10)
Apesar de todas estas alteraçõ es, a base da organizaçã o espacial do convento nã o difere
muito da vista na fase manuelina. Como visto anteriormente, tínhamos o claustro como
estruturador da distribuiçã o dos espaços essenciais e agora um novo pá tio formado pelas
alas poente e sul ajudava também nessa divisã o. Relativamente à igreja, a grande alteraçã o
foi a inclusã o de um transepto de reduzidas dimensõ es no antigo local da capela-mor,
podendo ser acedido pelo exterior. Continuando, a entrada do mosteiro mantinha-se a
poente, onde tínhamos a portaria à esquerda que dava acesso ao corpo do mirante; do
lado oposto, na ala nascente tínhamos a Sacristia na continuaçã o do falso transepto e a
portaria. No restante piso térreo mantinha-se a zona funcional, onde se englobava o
armazém, a despensa, o refeitó rio, a cozinha e a sala das monjas. Quanto ao piso superior,
a ala nascente (virada à s salinas), poente e sul seriam maioritariamente ocupadas pelas
celas das monjas, pelas conversas e pelas latrinas das religiosas, sabendo que o mosteiro
continha sessenta e uma celas de pequenas dimensõ es, sendo que na ala poente, a cada
janela renascentista, correspondia uma cela. Para finalizar, dedicado à s atividades
agrícolas, tínhamos as hortas das monjas, estando uma localizada no pá tio e outra maior a
sul do edifício. (NEVES, 1995)
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1- Capela-mor; 2- Falso transepto; 3- Corpo da igreja; 4- Coro baixo e alto; 5- Escadas; 6- Corpo do mirante; 7-
Portaria; 8- Entrada; 9- Armazém, despensa; 10- Latrinas; 11- Sala do capítulo e Sacristia; 12- Sala de trabalho;
13- Sala das monjas; 14- Acesso ao pátio; 15- Refeitório, cozinha e calefatório; 17- Poço; 18- Claustro; 19- Horta;
20- Conversas e Dormitório; 21- Reconstituição das celas.
Terramoto de 1755
Na segunda metade do século XVIII, sã o registadas importantes obras de recuperaçã o no
edifício, das quais estariam relacionadas com as remodelaçõ es verificadas no corpo
arquitetó nico central, possivelmente no decurso do mesmo século. O que é certo, é que tais
intervençõ es nã o modificaram, a organizaçã o espacial do convento, que manteve todas as
suas características formais adquiridas a partir do século XVII.
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Fundamental para a manutençã o da integridade física do edificado teria sido a sua
composiçã o estrutural, isto é, o emprego da alvenaria de terra em conjunto com a
construçã o em terra. Tecnologia esta que proporcionou a flexibilidade suficiente para a
resistência do edificado ao grande abalo sísmico de 1755.
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Extinção das ordens religiosas
Foi no ano de 1862, apó s a extinçã o das ordens religiosas em 1834, que os bens
conventuais sã o nacionalizados e dispersos por diversos edifícios, religiosos e cívicos, da
regiã o. sendo posteriormente adquirido por José Maria de Lemos para a atividade fabril.
entre os anos de 1858 e 1865 as celas das monjas foram demolidas, podendo esta
intervençã o ter alguma relaçã o com o incêndio de 1863.
Em 1888 segundo os desenhos e testemunho de Albrecht Haupt, por pior que fossem os
danos, o claustro original apresentava ainda a sua integridade formal. O Claustro terá sido
demolido poucos anos depois no âmbito das obras de implementaçã o da Fá brica, devido
ao seu mau estado de conservaçã o e para o acesso de camiõ es ao estaleiro de obras junto à
Igreja.
Fábrica
Para o emprego das novas atividades fabris o edifício é submetido a intensos processos
interventivos de alteraçã o funcional e consequentemente formal. É construído na ala
poente, um novo grupo de habitaçõ es para os novos proprietá rios, bem como, a instalaçã o
de um grande depó sito de á gua que resultou na demoliçã o da torre sineira e das arcarias
do claustro original. É neste contexto que podemos observar a destruiçã o do corpo
arquitetó nico central, e do claustro, do antigo convento. (VIEIRA, 2014, p. 68).
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Transformaçã o que implicou no amplo espaço do pá tio, existente até hoje. Também no
mesmo período, é possível observar a demoliçã o parcial do corpo arquitetó nico à
nascente, deixando em aberto o espaço de acesso ao antigo claustro sul do convento,
destinado à s hortas e aos pomares.
Foram construídas ainda habitaçõ es, em banda, paralelas à ala poente do Convento,
destinadas aos operá rios da fá brica, e em parte do pavimento térreo da ala poente
implicando na destruiçã o das estruturas originais de madeira dos pavimentos, estas que
foram substituídas por lajes de betã o armado.
A cobertura original do convento, de telha de canudo cerâmico, foi substituída por uma
nova de chapa ondulada de zinco, bem como a construçã o de diversos anexos pouco
qualificados, que ladeiam o Portal Manuelino, também em chapa de zinco, no exterior do
Convento.
Foi construído um armazém de grandes dimensõ es, de betã o armado, adossado à parte
exterior da ala sul. Novos vã os horizontais, mais adequados à funçã o industrial, foram
sobrepostos a antigas janelas renascentistas alterando a fisionomia das fachadas. Tendo
sido construída, também, uma imponente chaminé de tijolo maciço a poucos metros da
cabeceira da igreja.
A fá brica terá operado em funcionamento até 1968. Nã o obstante, até o momento de início
dos trabalhos de requalificaçã o do Convento das Bernardas já no século XXI, funcionou
naquele espaço uma padaria, barbearia e a antiga sede do clube de ciclismo de Tavira.
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Fig.23 – Planta de anexos.
1- Clube de Ciclismo; 2-Coméricio Local; 3- Habitaçõ es dos Operá rios; 4- Armazém Industrial do ano 1946.
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A reabilitaçã o do Convento das Bernardas, empreendimento de cará ter imobiliá rio, teve
como premissa a construçã o de 78 habitaçõ es distribuídas entre novas construçõ es e a
recuperaçã o do edifício pré-existente, isto é, antigo Convento e Fá brica.
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implementaçã o de 21 unidades de habitaçã o unifamiliares, fazendo uso do desnível de 3
metros existente entre plataformas.
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Fig.25 e 26 – Plantas piso 0 e 1, Intervençã o de Souto Moura.
25
Fig.27 e 28 – Alçado Norte e corte longitudinal, Intervençã o de Souto Moura.
O grande pá tio central do século XIX, de 75x32m, passou entã o a ser dividido em dois
espaços: a norte um recinto quadrado delimitado por á rvores que apelam à memó ria do
edifício e procuram a delimitaçã o do espaço outrora ocupado pelo claustro original, e a sul
uma piscina de 20x20m.
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Conclusão
O rico palimpsesto do Convento das Bernardas, bem como o seu exercício de reabilitaçã o,
ensina-nos que o patrimó nio nã o precisa de ser um caso especial de projeto.
O Convento das Bernardas foi mosteiro, fá brica, ruína e habitaçã o coletiva. Com o devido
respeito e manutençã o da sua relevâ ncia cultural perante a sociedade, os seus muros nos
permitirã o sempre uma leitura contemporâ nea do edifício e do que sã o valores a ser
preservados.
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Bibliografia
ARGAN, Giulio Carlo (2005). Histó ria da Arte como Histó ria da Cidade.
LOBO, Rui (2006). Santa Cruz e a Rua da Sofia. Arquitectura e urbanismo no século XVI.
Coimbra, Edarq.
MARADO, Catarina (2006). Antigos conventos do Algarve. Um percurso pelo patrimó nio da
regiã o. Lisboa: Fernando Mã o de Ferro.
URBANO, Luís (abril, 2007). Revista Monumentos, nº 26, Dossiê Centro Histó rico de É vora.
A Propó sito de É vora. Ideologia religiosa e arquitetura nos Conventos Femininos.
28
VASCONCELOS, Damiã o Augusto de Brito (1989). Notícias Histó ricas de Tavira, Tavira.
Sistema de Informaçã o para o Patrimó nio Arquitetó nico (monumentos.pt). Convento das
Bernardas, http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=15692.
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Índice de imagens
Fig.4 e 5 – Planta de Leonardo di Ferrari. NEVES, Carlos José Jacinto Fernandes. Mosteiro
de Sã o Bernardo em Tavira: Proposta de recuperaçã o e valorizaçã o arquitetó nica, É vora.
Dissertaçã o de Mestrado em Recuperaçã o do Patrimó nio Arquitetó nico e Paisagístico,
1995. Anexos, fig.1.
Fig.6 e 7 – Planta piso térreo e primeiro piso, corpo em “L”, autoria do grupo.
Fig.8 – Portal manuelino – corpo norte. NEVES, Carlos José Jacinto Fernandes. Mosteiro de
Sã o Bernardo em Tavira: Proposta de recuperaçã o e valorizaçã o arquitetó nica, É vora.
Dissertaçã o de Mestrado em Recuperaçã o do Patrimó nio Arquitetó nico e Paisagístico,
1995. Anexos, fig.35.
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Fig.17 – Janela Renascentista – Convento das Bernardas. NEVES, Carlos José Jacinto
Fernandes. Mosteiro de Sã o Bernardo em Tavira: Proposta de recuperaçã o e valorizaçã o
arquitetó nica, É vora. Dissertaçã o de Mestrado em Recuperaçã o do Patrimó nio
Arquitetó nico e Paisagístico, 1995. Anexos, fig.50.
Fig.18 – Janela Renascentista – Colégio do Espírito Santo, autoria do professor Rui Lobo.
Fig.20 – Hipó tese do claustro sul ser encerrado por uma ala nascente, autoria do grupo.
Fig.21 e 22 – Planta piso térreo e primeiro piso, fase renascentista, autoria do grupo.
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ANEXOS
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