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Identidade, Intemporalidade e Efemeridade

Projeto de Reabilitação e Revitalização do


Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente
Agradeço,

ao professor João Mendes Ribeiro e professor Rui Lobo, pelos ensinamentos,


acompanhamento e disponibilidade ao longo da investigação.
aos meus amigos próximos pela confiança, apoio e perseverança.
aos docentes e colegas pelos momentos de aprendizagem em comum,
ao Darq, a minha segunda casa, e às memórias que “levo comigo pra’vida”.
à minha família.

a Coimbra.

Nota à edição:
Utiliza-se para referenciação bibliográfica, por decisão do autor, a norma Chicago Manual of Style, 17th Edition;
O símbolo “ ” indica que existe conteúdo na parte posterior da página;
Para melhor compreensão do texto, recomenda-se o acompanhamento dos documentos em anexo.

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Projeto SANTACRUZ - Reconstituição digital em 3D do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em 1834 (referência
PTDC/ART- DAQ/30704/2017 - POCI-01-0145-FEDER-030704), financiado por FEDER - Fundo Eu- ropeu de Desenvolvimento Regional através do COMPETE
2020 - Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI) e por fundos portugueses através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
RESUMO

A investigação desenvolve-se num gesto de reflexão perante a vulnerabilidade das cidades


contemporâneas, onde os diálogos entre a preexistência e o contemporâneo estabelecem as
diretrizes do projeto. A baixa, é um momento singular que reúne um património histórico
e cultural ímpar para a identidade da cidade de Coimbra, constituindo agora um espaço
descaraterizado. O espaço de caráter Humanístico, de conhecimento, culto e cultura, caiu
na indiferença, e é agora um vazio preenchido por meros acasos e agitações impessoais. O
Mosteiro de Santa Cruz, símbolo de uma identidade coletiva e dos seus estratos temporais,
é envolto no esquecimento, sendo apenas o resultado de múltiplas adições e subtrações de
diferentes épocas, tornando impercetível a sua leitura como um todo.

O projeto tem como premissa o ressignificar do lugar, num gesto de continuidade com a
memória e o simbolismo do mesmo. O novo programa surge do entendimento abrangente das
relações com a cidade, onde a cultura se revela como uma oportunidade de mudar o seu rumo
e de restabelecer novas dinâmicas. Não obstante, numa sociedade marcada pela transitoriedade,
a arquitetura é obrigada a sofrer um processo de metamorfose: o conceito de efémero surge tendo
em conta uma arquitetura reversível e intemporal, potenciadora de reinterpretações do passado
e, ao mesmo tempo, de uma atmosfera sensorial, que celebra o instante como testemunho de
comunicação simbólica e arquitetónica. Surgem assim, peças efémeras de distintas escalas, que
acolhem o espaço através de uma conceção dinâmica, capaz de o transformar numa dança
ritmada com flexibilidade e adaptabilidade. Estes elementos soltos, adequados ao ritmo da vida
contemporânea, estabelecem uma relação com a preexistência, com os movimentos do corpo
no espaço, e com os elementos da exposição, onde as sucessivas relações com a memória e o
sensorial permitem a releitura dos seus estratos, marcando simultaneamente o seu presente,
sem comprometer o futuro.

Propõe-se assim, através de uma linguagem contemporânea, traduzir a narrativa que marcou
e eternizou esta construção erguida pela fé e pela regra, perpetuada até ao presente, onde o
projeto se torna um meio de lhe devolver a sua essência e caraterização perdida, eternizando-a.

Palavras-chave: Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra; Reabilitação no Património;


Museografia; Reversibilidade; efemeridade;
ABSTRACT

The investigation is developed as a reflection on the vulnerability of contemporary cities, where


the dialogues between the preexistence and the contemporary establish the guidelines of the
project. Downtown Coimbra is a singular moment that brings together an unique historical
and cultural heritage for the identity of the city of Coimbra, which is currently considered
to be an uncharacterized space. The Humanistic space of knowledge, cult and culture has
collapsed into indifference, featuring now a place made of transitory moments and impersonal
agitations. The Monastery of Santa Cruz, the symbol of a collective identity and its history,
is currently shrouded in oblivion, as the result of multiple additions and subtractions from
different eras, making its reading as a whole imperceptible.

The premise of the project is the resignification of the place in a gesture of continuity with its
memory and symbolism. The new program arises from understanding the relations between
the people and the city, where culture reveals itself as an opportunity to change its course
and generate new dynamics. However, in a society marked by transience, architecture is
forced to undergo a process of metamorphosis: the concept of ephemeral appears considering
a reversible and timeless architecture, enhancing reinterpretations of the past and, at the same
time, a sensorial atmosphere, that allows to reinterpret the history and the symbolism of the
site. The ephemeral architectural pieces emerge in different scales, which embrace the space
through a dynamic design, able to transform it into a rhythmic dance with flexibility and
adaptability. These autonomous elements are related with the rhythm of a contemporary life,
and they establish a connection not only with the preexistence, but also with the movements
between the human scale and space, and with the elements of the exhibition, where the
successive relationships with memory and the sensorial allows the re-reading of its strata,
marking simultaneously its present, without compromising the future.

Therefore, through a contemporary language, it is proposed to translate the narrative that


eternalized this construction, risen by faith and rule, perpetuated until the present, where the
project becomes a way of restoring its lost essence and characterization, eternalizing it.

Keywords: Santa Cruz Monastery of Coimbra; Heritage Rehabilitation; Museography;


Reversibility; ephemerality;
SUMÁRIO
Resumo 06
Introdução 13
Estrutura e método 19
a) A investigação de base analítica 23
b) A investigação a partir do projeto 25

I- O OBJETO DE ESTUDO
COMPREENDER
1.1- O lugar: Evolução histórica e construtiva de Santa Cruz
1.1.1 A fundação do Mosteiro e a experiência do Românico 37
1.1.2 As reformas quinhentistas: do M anuelino ao Joanino 47
1.1.3 A nova expressão artística e construtiva de Santa Cruz 63
1.1.4 O Declínio: o século XIX e a extinção das ordens religiosas 69
1.2- A importância do processo de revitalização e conservação do Património
1.2.1 Os valores do restauro e do Património 77
1.2.2 A relação entre as teorias de restauro e a contemporaneidade 89

II- O PROJETO
REFLETIR
2.1- Reflexão crítica e problematização
2.1.1 Diálogos com a preexistência-análise e reinterpretação 99
2.1.2 Referências de estudo 113

2.2- A Crise de identidade: o atual Mosteiro de Santa Cruz 129

INTERVIR
3- O Retorno da centralidade - proposta de grupo
3.1- O Novo núcleo museológico 143
3.2- O Espaço, a forma e o programa 153
4- Identidade, Intemporalidade e Efemeridade – proposta individual
Abreviaturas
CIAM- Congresso Internacional de Arte Moderna
4.1- Arquitetura e memória 171
CMC- Câmara Municipal de Coimbra
4.2- (re)ssignificar o lugar 187
4.3- O Percurso Museológico - Permanência e continuidade 197
DGEMN- Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais
DRCC -Direcção Regional da Cultura Centro 4.3- O efémero e o perene - diálogos entre o corpo e o espaço 215
4.4- A expressão construtiva do efémero 225
ICOMOS ou ICOM- International Council of Museums;
IGESPAR- Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico
Considerações finais 235
MNMC- Museu Nacional Machado Castro
Referências bibliográficas 247
PSP- Polícia de Segurança Pública
Fontes de imagens 257
SIPA- Sistema de Informação para o Património Arquitetónico Anexos I i
UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Anexos II - Desenhos Rigorosos
INTRODUÇÃO

A dissertação integra o Projeto de Valorização, Reabilitação e Conservação do Mosteiro de Santa Cruz


e área urbana envolvente, desenvolvido no âmbito da disciplina de Atelier de Projeto II, cuja
premissa parte da reflexão sobre cidade atual tendo em conta os valores do património e a
história do lugar, mas também a sua simbologia e memória desvanecida com o passar do tempo.
A investigação surge articulada com a o projeto Reconstituição 3D do Mosteiro de Santa Cruz de
Coimbra 1834, juntamente com uma vasta equipa que integra outros professores e exalunos
do departamento, assim como investigadores, arquitetos, cronistas, entre outros, reunidos
numa constante procura por compreender as pegadas da era Crúzia ao longo dos séculos. Este
processo incessante de pesquisa comum, juntamente com a reflexão dos alunos do Atelier de
Projeto II, retrata a cooperação, a troca e conformidade de esforços, de pensamentos e ideias
entre alunos de diferentes gerações e docentes, essência tão caraterística e ímpar da nossa escola.

Tendo em conta a vulnerabilidade das cidades contemporâneas, o tema “Construir no


Construído” consolidou-se como um dos temas mais pertinentes da arquitetura. O crescimento
dos centros urbanos ao longo das últimas décadas reflete-se na crescente valorização dos
projetos de intervenção e reabilitação dos edifícios preexistentes. Com o intuito de promover
a revitalização urbana, tanto do objeto de estudo como da baixa da cidade, o exercício
proposto fundamentou-se na adaptação dos espaços remanescentes do antigo Mosteiro de
Santa Cruz, de modo a acolher o seu património material e artístico e o reavivar da memória.
A investigação e o desenvolvimento do projeto visa olhar para o objeto de estudo não como
um monumento ou objeto particular, mas sim como uma fusão de tempos, que lhe concedem
identidade e outras dimensões, tendo como um dos maiores desafios a preservação da sua
memória enquanto um todo.

13 Fig.1- Fotografia Fonte da Manga.


INTRODUÇÃO

Coimbra apresenta um tecido urbano fragmentado, expondo diferentes dimensões


morfológicas, formais e simbólicas, consequência de um esforço de adaptação das necessidades
de expansão urbana que a cidade exigiu ao longo dos tempos. A centralidade medieval da
baixa de Coimbra e a importância do Mosteiro de Santa Cruz foram-se perdendo, não só em
termos de notoriedade cívica e cultural, como também em termos de escala e coesão urbana,
que levou à sua descaraterização, e à perda da dinâmica que outrora existira. O espaço urbano
deixou de ser um espaço de desenvolvimento humano, para dar lugar a um local impessoal de
movimentos acelerados do quotidiano, de mera passagem e desadequados à escala do cidadão.

Um dos objetivos do projeto é o “retorno” a esta centralidade, numa tentativa não só de unificar
os diferentes tecidos urbanos desconectados, como também de introduzir uma nova dinâmica
cultural catalisadora de desenvolvimento, que poderá trazer de volta o dinamismo de outrora
e de criar novas dinâmicas socioecónomicas1.

A revitalização e preservação do património arquitetónico2 é um tema fundamental na


problemática da cidade atual, onde alguns aspetos como a capacidade de otimização das
construções existentes, a sua flexibilização, a integração de programas atuais com diversidade
formal e funcional, devem ser considerados pontos essenciais. Estes permitem conferir às
construções e à vivência urbana alguma longevidade, qualidade e identidade no contexto
urbano, de acordo com o passado e simultaneamente assumindo a sua contemporaneidade.

As sucessivas intervenções feitas ao longo dos anos, desde a demolição da antiga Torre dos
Sinos, do antigo Claustro da Portaria e dos volumes que delimitavam o antigo Claustro da
Manga; à ocupação inadequada dos espaços do antigo mosteiro por parte de outros serviços,
impossibilitam a leitura global do conjunto e da própria caraterização da baixa de Coimbra.
Neste âmbito, compreender a história do lugar torna-se indissociável da arquitetura, e como
tal, a proposta de intervenção é reflexo dessa análise, desenvolvendo-se essencialmente a partir
da escala urbana e das sucessivas relações entre o espaço arquitetónico e o cidadão.

[1] Relacionado com o conceito de desenvolvimento sustentável, onde se procura resposta para a melhoria da qualidade de
vida, critérios de equidade entre as populações atuais, equidade inter-regional, em termos de dimensões sociais, económicas
e éticas do bem-estar humano, “garantindo as necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras”, Relatório Brundtland
“Nosso Futuro Comum”/“Our Common future” 1987, p.46.
[2] Entende-se por património arquitetónico o “conjunto de estruturas físicas (os edifícios ou estruturas construídas e os seu componentes,
os núcleos urbanos, as paisagens e os seus componentes) às quais determinado individuo, comunidade ou organização reconhece, num dado momento
histórico, interesse cultural e ou civilizacional, independentemente da natureza (...) do valor arquitetônico (artístico, construtivo, funcional) valor
histórico ou documental, valor simbólico e valor identitário” IHRU, IGESPAR. 2010. Património Arquitetônico -Geral. Kits património
nº1 versão 2.0. p.8.
0 20 50 100m

CERCA DO MOSTEIRO
QUINTA DE SANTA CRUZ
Fig.2- Imagem aérea de Coimbra com a Reinterpretação da Cerca e da Quinta de Santa Cruz. 15
INTRODUÇÃO

Em contacto com o lugar é clara a falta de conexão e de programas catalisadores de


desenvolvimento: a baixa é dinamizada consoante os programas turísticos ou de consumo, e
não consoante a vivência de quem habita a cidade.

Neste sentido, a proposta procura estabelecer uma nova dinâmica entre o novo núcleo
museológico e os cidadãos, nomeadamente através de espaços públicos diversificados, que
se articulam com os novos programas propostos. Estes, integram edifícios envolventes que
pertenceram outrora ao antigo mosteiro, dos quais se destacam os seguintes: o edifício dos
antigos Correios (1) que envolve o perímetro do antigo Claustro da Manga e o edifício da
Direção Regional da Cultura e Centro (2) na ala poente; o edifício da Câmara Municipal
de Coimbra (3), construído onde outrora se encontrava o mosteiro das Donas e o posterior
Claustro da Portaria; o atual edifício onde se encontra a Polícia de Segurança Pública e
outros serviços camarários (4), antigo celeiro do mosteiro; o espaço que integra a escadaria de
Montarroio (5), que ocupa a área onde existia a Torre Sineira demolida em 1935; o edifício da
atual escola Jaime Cortesão (6), onde antes se localizava a enfermaria geral, a casa do Primor e
o dormitório do Pilar; e o espaço e envolvente do Mercado D.Pedro V (7) onde se localizava
a horta e laranjal do antigo mosteiro.

Apesar do programa de museologia já se encontrar agregado ao mosteiro, este apresenta


incoerência: a entrada não é apropriada interferindo com o percurso de culto, grande parte
dos elementos do espólio não se encontram no local, e os que se encontram expostos, carecem
de organização e informação necessária, pois esta é escassa e a leitura do antigo mosteiro não é
conseguida, há falta de coesão entre percursos e falta de infraestruturas, entre outros. O projeto
não altera o programa do edifício, mas complementa-o. Integra novas infraestruturas que dão
resposta às novas necessidades, organiza o espaço e propõe uma nova dinâmica, respeitando
0 15 60m
simultaneamente a vertente formal e construtiva da preexistência.

“ O Mosteiro de Santa Cruz oferece, assim, múltiplos potenciais de abordagem patrimonial que suscitam uma
intervenção museológica em diferentes formatos. Quer seja a partir da consciência dos níveis de importância do
edificado, da sua qualidade artística e da sua capacidade de projeção politica e cultural, quer da analise discutida
de um acervo presente no local ou transferido, quer seja a partir da exploração do seu papel religioso e social
[...] ou, finalmente, da recuperação do papel aqui desempenhado por muitas personalidades de projeção nacional
e internacional, o Mosteiro de Santa Cruz mantém-se como alfobre energético de índole patrimonial [...]” 3

[3] Craveiro, Maria Lurdes, 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs; e|d|arq.p.28

Fig.3- Imagem aérea ampliada da área envolvente ao Mosteiro de Santa Cruz.


Fig.4- Fotografia Claustro do Silêncio.
Fig.5- Fotografia da Fonte da Manga. 17


ESTRUTURA E MÉTODO

A dissertação divide-se em duas partes: o primeiro capítulo “O Objeto de Estudo”, onde se


analisa a evolução morfológica e histórico-social do conjunto e os princípios fundamentais do
restauro; e numa segunda instância o capítulo intitulado “O Projeto”, onde são aprofundados
e interpretados os diferentes modos de intervenção, e a relação entre a pré-existência e o novo
através do exercício de projeto.

No primeiro capítulo, “O Objeto de Estudo”, procura-se compreender. É elaborada uma


análise da evolução histórica e morfológica do conjunto, desde as diferentes fases e estilos
arquitetónicos às questões de ordem política e religiosa, de modo a perceber a evolução
espacial e volumétrica ao longo dos séculos, e, assim, traçar uma proposta com coerência
formal, história e simbólica.

Posteriormente, são estudadas as várias temáticas à volta do património e do restauro ao longo


dos séculos XIX e XX, até aos dias de hoje, tema muito vasto do qual se falou concisamente,
contando com o contributo de alguns dos autores mais relevantes. A análise das teorias de
restauro surge na procura por compreender o legado do passado relativamente às diferentes
perspetivas dos modos de intervir no património, de modo a desenvolver uma posição crítica
para a construção de uma proposta o mais harmoniosa possível.

No segundo capítulo, “O Projeto”, procura-se numa primeira instância refletir. O cruzamento


entre a teoria e a prática foi fundamental ao longo do desenvolvimento do projeto, uma vez
que permitiu explorar e refletir sobre as diferentes abordagens perante a pré-existência: desde a
adaptação ao lugar, às diferentes dualidades materiais e construtivas, aos graus de intervenção,
de diálogo com a pré-existência e com a sua verdade formal e construtiva. Neste sentido, olhar
para as teorias de restauro, compará-las a outros projetos/referências de estudo e interpretá-las
na sua essência como ferramenta de projeto, foi fulcral para determinar as diretrizes do mesmo.

Fig.6- Esquisso do Mosteiro de Santa Cruz. 19


ESTRUTURA E MÉTODO

Após a problematização, nomeadamente relativa à crise de identidade e ao contexto atual do


Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, procura-se intervir de forma a revitalizar o espaço.
O projeto passa a ganhar duas dimensões: o desenvolvimento e análise numa escala territorial,
e um nível mais contido relacionado com o programa museológico. Ambas as escalas foram
estudadas e articuladas entre si no decorrer do processo projetual, sempre em cruzamento
com teorias relativas ao património e aos modos de intervir.

Na estratégia urbana, primeiramente desenvolvida em grupo, procura-se colmatar as necessidades


da área, melhorar e expandir o programa museológico existente e, simultaneamente, o reavivar
de um lugar através de novos programas e novas dinâmicas. A proposta no conjunto monástico
desenvolve-se num gesto de leitura contemporânea do que foi o passado, propondo novos
volumes, integrando no percurso museológico espaços do antigo mosteiro e reinterpretando
o ambiente e simbologia do mesmo.

A partir da análise e troca de ideias do projeto de grupo, foram estabelecidas linhas gerais
que regem a proposta individual, cujas premissas pretendem valorizar e tornar mais nobre
o espaço de culto e cultura, destacando primeiramente a monumentalidade construtiva e
espacial da preexistência. O desenvolvimento do projeto rege-se a partir do respeito por esta,
passando por uma intervenção de cariz minimalista e articulando-se com a ideia de efemeridade
4
. Deste modo, são incluídas peças efémeras que permitem ter diferentes leituras do conjunto,
uniformizar percursos, expor o espólio artístico e material, e simultaneamente, estabelecer
uma relação de diálogo com o existente num gesto de reavivar da memória. A proposta passa
a integrar uma escala mais detalhada que vai desde a macro à microescala, ou seja, desde
a escala urbana, à pequena escala expositiva que acolhe e dialoga com as peças do espólio,
com o espaço arquitetónico e com a escala do corpo humano. Todas as escalas são estudadas
simultaneamente, assim como todas as diferentes fases da investigação, desde a análise histórica
e construtiva, às teorias de restauro, sendo que apenas fazem sentido numa leitura integrada.

[4] O termo efemeridade tem origem do dialeto grego, efêmeros, cujo significado se encontra relacionado a algo passageiro,
transitório. A arquitetura efêmera baseia-se na sua temporalidade, podendo constituír algo transitório, ser transferida
para diversos lugares, podendo a ideia refletir-se inclusive na sua materialidade, forma e narrativa.

21
ESTRUTURA E MÉTODO

A metodologia adotada fundamenta-se em duas vertentes claras: a investigação de base


analítica, através da pesquisa, leitura de documentos, análise territorial, inquéritos, entre
outros; e a investigação a partir do projeto, através da ferramenta do desenho, da procura de
formas e da relação entre os diferentes espaços. Estas duas vertentes pressupõem uma dualidade
e simultaneamente uma concordância, sendo que o trabalho se desenvolveu num elo entre a
teoria e a prática, desde as diferentes teorias e os modos de intervir, a leitura e reinterpretação
histórica, à relação entre preexistência e o novo.

a) A Investigação de base Analítica


O contexto urbano em que se insere o Mosteiro de Santa Cruz detém um panorama peculiar,
apresenta diversas camadas de história e passou por sucessivas transformações ao longo
dos anos, tendo desde sempre um forte impacto na morfologia da cidade. Como tal, foi
fundamental um olhar crítico e interpretativo da cidade e do contexto do conjunto monástico,
seguindo-se de uma análise da área envolvente do mosteiro ao longo dos séculos, desde as
construções e demolições, às diferentes perdas e reassumes do conjunto, que ditaram a narrativa
de todo o processo projetual.

Destaca-se a dissertação de mestrado de Daniel Teixeira Couto (2014) “Mosteiro Santa Cruz de
Coimbra. Análise e Reconstituição”, orientada pelo Doutor Professor Rui Lobo, uma vez que nesta
constam desenhos de possível reconstituição dos diferentes volumes do conjunto arquitetónico
e da sua relação com a cidade medieval, essenciais para a compreensão e contextualização
do mosteiro. A troca de ideias e esboços entre o Doutor professor Rui Lobo e os alunos da
investigação de seminário foi primordial, assim como a leitura de obras como “O Mosteiro Santa
Cruz de Coimbra” de Maria de Lurdes Craveiro (2011), ou “Urbanismo antes dos Planos: Coimbra
1834-1934 Vol.I e Vol.II” (2014) de Margarida Relvão Calmeiro.

Neste seguimento, e tendo em conta um dos objetivos principais (compreender os diferentes


tipos de relação linguística, temporal, funcional, construtiva e material entre a preexistência
e o novo) foi indispensável a aproximação ao método científico das teorias de restauro e
conservação. Dentro deste tema, a dissertação de Mestrado de Mariana Lunardi Vetrone
(2019), “Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio cultural edificado
de Coimbra nas últimas décadas”, ditou as bases para uma interpretação individual face aos
modos de intervir. Nesta, são abordadas e analisadas diferentes estratégias de intervenção,
catalogadas sob categorias interpretativas que permitem criar uma correspondência entre o

Fig.7- Fotografia do processo de análise histórica. 23


ESTRUTURA E MÉTODO

grau de intervenção e a preexistência, considerado uma valiosa ferramenta a ter em conta


na execução do projeto, e em correspondência com as questões patrimoniais. A dissertação
desenvolve-se tendo em conta a investigação, conhecimento e leitura de diferentes pontos de
vista de colegas do Departamento, num gesto de continuidade, crítica e desenvolvimento de
um processo de investigação que, embora individual, se complementa e se vai articulando
como um todo.

b) A investigação a partir do projeto

Para uma maior compreensão das diferentes relações espaciais do Mosteiro de Santa Cruz,
foram realizadas várias visitas ao complexo, juntamente com o orientador Doutor Professor
João Mendes Ribeiro, o Doutor Professor Rui Lobo e a Doutora Susana Menezes, diretora
da DRCC, onde se analisou a qualidade arquitetónica, estrutural e formal, assim como
levantamentos fotográficos e desenhos à mão levantada. Dada a apropriação das diversas
alas do mosteiro, que pertencem a variadas entidades, a logística das visitas foi difícil, ou até
mesmo impossível de realizar, como no caso da ala norte superior do Claustro do Silêncio,
que se encontra encerrada por uma espécie de marquise com arquivos da autarquia; o edifício
dos Antigos Correios, que agora pertence a uma entidade privada, ou o antigo celeiro, atual
edifício da PSP, do qual não se obteve autorização por parte da administração. A visita ao
local foi fundamental para a percepção não só do conjunto monástico, com uma enorme
complexidade, como também da relação urbana, dos fluxos entre a Baixa, a Avenida Sá da
Bandeira, Praça da República e a Alta, o que ditou os principais aspectos e pontos a intervir.

Durante o seminário de investigação, foram também realizadas aulas de suporte teórico


complementar, com convidados como a Doutora Professora Margarida Relvão Calmeiro,
Arquiteta Mariana Vetrone, Arquiteta Fernanda Vierno, Doutor Pedro Tavares, especialista
em patologias pétreas e a historiadora Doutora Maria de Lurdes Craveiro, essenciais para o
desenvolvimento de uma visão crítica e o evoluir do pensamento sobre o projeto e o lugar.

Numa fase seguinte procedeu-se à aquisição de registos fotográficos de desenhos técnicos,


inicialmente fornecidos pela Câmara Municipal para uso académico, que possibilitaram as
primeiras análises e elaboração de peças gráficas, assim como a disponibilização de desenhos
técnicos e alguns levantamentos das peças do espólio por parte do Atelier do Corvo.

Fig.8- Fotografia das apresentações da disciplina de Seminário de Investigação. 25


ESTRUTURA E MÉTODO

Posteriormente, numa fase de pesquisa individual5, foram realizadas visitas ao Inventário


Artístico da Biblioteca Geral de Coimbra, ao Museu Nacional Machado Castro, Museu
Nacional Soares dos Reis, entre outros, onde foram feitos registos fotográficos e procedeu-se
também ao levantamento de todas as peças pertencentes ao Mosteiro de Santa Cruz. Este
processo foi fundamental para desenvolver uma narrativa do percurso museológico que reúna
novamente as obras de arte, manuscritos, tapeçarias e outros artefactos. Fez-se um estudo da
relação entre as diferentes peças e a escala humana, na procura de compreender a sua relação
com os diferentes espaços de culto, nomeadamente com os nichos e capelas preexistentes.
Estas relações espaciais, entre a luz, as proporções, e as sensações que o espaço nos transmite,
foram aprofundadas mais tarde com o desenvolvimento do projeto individual. Foi também
realizado um levantamento de outros elementos, desde a escala urbana (análise territorial)
até à estereotomia dos diferentes pavimentos, à análise de ritmos e composição de elementos
do antigo mosteiro, entre outros.

Numa fase avançada, os alunos do Atelier de Projeto II participaram no projeto “Reconstituição


3D do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra 1834” 6, organizado pelo Doutor Professor Rui Lobo,
Doutor Professor Mauro Couceiro, Doutora Professora Susana Lobo e o Arquiteto António
Monteiro. Neste foram realizados vários eventos, palestras, apresentações e visitas guiadas,
que narravam a história do antigo mosteiro e as pegadas da era crúzia, agora apagadas e
destruídas pelos modos de viver da cidade contemporânea. Dentro destes, destaca-se a criação
de um percurso de sete hotspots 7 estrategicamente colocados ao longo das antigas dependências
monásticas e espaços envolventes, onde os participantes puderam observar o contraste entre
a realidade atual e a que se pensa ser correspondente a 1834.

No âmbito do projeto foram também realizadas discussões públicas, uma delas onde os alunos
apresentaram as suas propostas tanto de grupo como individuais, havendo troca de ideias e
perpetivas com convidados como Arquiteto Gonçalo Byrne, Arquiteto João Mendes Ribeiro,
Doutor Professor Luís Miguel Correia, diretor do DARQ-FCTUC, Doutor José Manuel Silva,
presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Doutor António Sousa Ribeiro, diretor do
Centro de Estudos Sociais, Doutor Delfim Leão, Vice-Reitor da Cultura da Universidade de
Coimbra, entre outros.

[5] Elementos de análise disponíveis no capítulo “Anexo”.


[6] Evento organizado no Mosteiro de Santa Cruz e inaugurado a 29 de janeiro de 2022, com o debate público sobre os
trabalhos; seguindo-se com apresentações na Sala do Capítulo a 3, 5 e 12 de fevereiro, e a 9, 14 e 16 de abril; o programa
Fig.9- Fotografia do processo de levantamento da estereotomia; 2020. de visitas guiadas aos hotspots de visualização foram realizadas sábados à tarde entre 19 de fevereiro e 2 de abril.
Fig.10- Fotografia a capturar o momento de visualização do hotspot através do dispositivo móvel. [7] Estes possuem um QR Code, de possível leitura quando ligado à internet, através do smartphone ou tablet do visitante.
Fig.11- Fotografia das apresentações na Sala do Capítulo. 27
ESTRUTURA E MÉTODO

No antigo refeitório, atual Sala da Cidade, foram apresentadas as maquetes de grupo e


individuais, onde os visitantes podiam observar a diversidade de propostas dos alunos do
Atelier de Projeto, desde a grande escala urbana, até à escala de maior detalhe dos projetos
individuais. A exposição detinha também uma hipotética projeção da “Última Ceia” obra de
1530/1534, realizada por Hodart, um notável conjunto em terracota à escala humana, cujas
peças se encontram totalmente e/ou parcialmente destruídas, hoje expostas no Museu Machado
Castro, mas que outrora pertenceram ao nicho ainda semi-visível na sala. O ciclo encerrou
com a apresentação do livro“Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente”8 ,
onde se encontram compilados textos de alguns dos participantes do projeto como arquitetos,
historiadores, cronistas, assim como textos elaborados pelos alunos do Atelier de Projeto onde
expõem as suas propostas de grupo e individuais.

O evento, para além de ter sido enriquecedor na troca de perpetivas, no adquirir de novos
conhecimentos e de críticas construtivas, foi também fundamental para a investigação no
que respeita ao modo como os utilizadores apreendem e dialogam com o espaço. Deste
modo, o panorama conduziu à elaboração de um Questionário por Inquérito9 que considero
fundamental para a pesquisa individual. Este permitiu adquirir maior perceção acerca da
perspetiva do utilizador e uma maior sensibilidade perante a subjetividade do mesmo, assim
como assimilar os aspectos positivos e negativos, as falhas e incoerências do percurso, e
reunir sugestões relevantes que permitiram questionar, refletir e construir novas ideias. Este
processo, apesar de se aproximar de uma análise antropológica, ditou as diretrizes do projeto
de curadoria e dos modos expositivos e teve um grande impacto no projeto de museografia.

[8] Coordenação de João Mendes Ribeiro e Rui Lobo, com a colaboração de Susana Lobo e Miguel Alberto; Edição
e|d|arq, coleção Darq Docs; Abril 2022.
[9] Questionário por Inquérito e correspondente análise estatística disponível no capítulo “anexos”.

Fig.12- Fotografia da exposição na Sala da Cidade.


Fig.13- Fotografia do livro “Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente”.
Fig.14- Fotografia do processo de entrega de inquéritos, Claustro do Silêncio. 29


31


I- O OBJETO DE ESTUDO

COMPREENDER

1.1- O lugar: Evolução Histórica, Morfológica e Construtiva de Santa Cruz


1.1.1- A fundação do Mosteiro e a experiência do Românico
1.1.2- As reformas quinhentistas: do Manuelino ao Joanino
1.1.3- A nova expressão artística e construtiva de Santa Cruz
1.1.4- O Declínio: o século XIX e a extinção das ordens religiosas

1.2- A importância do processo de revitalização e conservação do Património


1.2.1- Os valores do restauro e do Património
1.2.2- A relação entre as teorias de restauro e a contemporaneidade

Fig.15- Vista da Quinta de Santa Cruz, George Vivian 1839. 33


Fig.16- Cronologia resumo da Evolução Histórica, Morfológica e Construtiva do Mosteiro de Santa Cruz ao longo dos tempos


1.1- O LUGAR: EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA E CONSTRUTIVA


DE SANTA CRUZ

1.1.1- A FUNDAÇÃO DO MOSTEIRO E A EXPERIÊNCIA DO ROMÂNICO

O Mosteiro de Santa Cruz afirmava-se como um meio de reconhecimento religioso e de


articulação com o mundo exterior. A sua construção deu-se a 28 de Junho de 1131, fora
da cerca defensiva da cidade, e com o passar dos anos, tanto o seu território como a sua
comunidade foram-se expandindo e adquirindo reconhecimento. Coimbra era caracterizada
pelo seu declive, que se tornava uma desvantagem em termos de expansão da cidade. Era
essencialmente dividida pela zona da alta (almedina) e a baixa (arrabalde), contando com a
presença do rio mondego. O arrabalde era a área edificada extramuros que começou a ganhar
densidade ao redor dos núcleos religiosos, nomeadamente da igreja de S.Bartolomeu, S.Tiago
e Santa Justa. A construção da muralha acentua a marcação da almedina que “por obvias razões
estratégicas e topográfico-paisagísticas, tal local sempre terá atraído a sede do poder e, assim, provavelmente a
primeira cidadela da urbe.” 10

Consta que os primeiros limites foram traçados pela primeira civilização da qual existe
documentação: os romanos, onde a partir do séc. II denominaram a povoação como Aeminium.
A urbe era caracterizada pelos edifícios de caracter público, que na transição para a época
medieval foram sendo ocupados por outras funções, sendo que no século XI surgiu o castelo
como estratégia defensiva. Situava-se na área onde atualmente se encontra a universidade,
nomeadamente a praça D.Dinis, e foi demolido no século XVIII devido ao plano da reforma
pombalina. As definições dos espaços do mosteiro do século XII são escassas e de difícil
interpretação devido à falta de registos documentais. A maioria é feita por conjeturas de
arqueólogos, historiadores e outros. Virgílio Correia supõe que o mosteiro teria sido construído
sob uns antigos banhos romanos que D.Afonso Henriques doou a D.Telo. Os banhos de
0 30 100m
D.Sesnando mencionados em 1064-109111. Um fator de implantação determinante seria sem
1- Mosteiro Santa Cruz 2- Celeiro 3- Torre Santa Cruz 4- Igreja de Santa Justa 5- Igreja de S.Tiago 6- Igreja de S.Bartolomeu
7- Primeira ponte rio Mondego; Portagem 8- Porta de Almedina 9- Porta de Belcouce 10- Igreja de S.Cristóvão
11- Sé de Coimbra 12- Porta Nova 13- Igreja S. Salvador 14- Paço do Bispo/Paço Episcopal 15- Igreja S.João de Almedina [10] Rossa, Walter. 2001. Diversidade: urbanografia do espaço de Coimbra até ao estabelecimento definitivo da Universidade. Tese de
16- Alcaçova 17- Hospital de Milréu 18- Igreja de S.Pedro de Almedina 19- Castelo e Porta do Sol Doutoramento em Arquitectura Coimbra: Faculdade Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. p.23
[11] Sobre o tema consultar: Rossa,Walter. 2001. Divercidade: urbanografia do espaço de Coimbra até ao estabelecimento definitivo
Possível Cerca de Santa Cruz
da Universidade. Dissertação de doutoramento em Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra.

Fig.17- Reinterpretação da planta da cidade de Coimbra na Época Medieval. 37


EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

dúvida a presença de água, fundamental para o auto-sustento do mosteiro, bem como a


passagem da “principal artéria urbana, que conduzia da ponte sobre o Mondego ao adro do convento crúzio”.12

Após a retomada Cristã (1064), e de D.Afonso Henriques ter sido consagrado como primeiro
rei de Portugal (1143), Coimbra é tida como capital do reino, o que teve um impacto na
estrutura urbana da cidade. Durante o seu reinado realizou um conjunto de obras, renovou a
muralha, a ponte que unia as duas margens do mondego, mandou construir a torre de menagem
para o Castelo de Coimbra, entre outros, e coadjuvou na integração dos cónegos regrantes
de Santo Agostinho. Esta doutrina é trazida por D.Telo, arcediago e um dos fundadores de
Santa Cruz, que contatou com a mesma em São Rufo de Avinhão, com o desígnio de formar
uma nova comunidade com um modelo comunitário monástico. Acompanhado por onze
apoiantes, destacam-se D.João Peculiar, mais tarde bispo no Porto, e São Teotónio, primeiro
prior do mosteiro entre 1132 e 1152. O mosteiro situava-se num vale fora dos limites da
cidade que detinha todas as condições híbridas e de fertilidade de terras indispensáveis para
a autossuficiência do mosteiro, sendo que com o passar dos anos os seus limites foram
expandindo, sendo inclusive construída uma cerca própria para defesa conventual e militar,
uma vez que o local obrigava a fortificações devido à ameaça muçulmana. Por volta de 1150
o mosteiro é concluído, sendo aberta uma nova porta na muralha no lado de Montarroio,
a Porta Nova, que facilitava a deslocação dos cónegos para a almedina, e construídos uns
edifícios acastelados onde mais tarde foram residências dos priores de Santa Cruz. Nesta zona
foi também erguida a Torre Sineira de Santa Cruz, que “terá sido feita no séc. XVI, mas antes de
1534.”13

A construção do mosteiro surge numa época de renovação espiritual e religiosa, e como tal,
careceu de revoltas e obstáculos por parte de outras entidades, como no caso da Sé de Coimbra
que pretendia a doação dos bens patrimoniais crúzios e que estes lhes ficassem associados.
A supremacia da Sé assumia-se como algo soberano, e toda esta conjuntura motivou D.Telo
e D.João Peculiar a viajar até Pisa, contactando com o Papa Inocêncio II que aprovou a
proteção papal ao mosteiro, por bula de 26 de maio de 1135.14 Após a aprovação juntaram-se

[12] Lobo, Rui. 2006. Santa Cruz e a Rua da Sofia: arquitectura e urbanismo no século XVI. Coimbra: eld|arq, p.28.
[13] Alarcão, Jorge de. 2013. A Judiaria Velha de Coimbra e as Torres Sineiras de Santa Cruz. Coimbra: Centro de Estudos
Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto. p.15
[14] O privilégio isento concedia uma autonomia incomum comparativamente ao clero da península: “liberdade, geral
isenção, vastos privilégios e subsequentes garantias” - Dias, Pedro e Coutinho, José Eduardo Reis. 2003. Memórias de Santa Cruz.
Coimbra: Câmara Municipal de Coimbra. p.26.

Fig.18- “Illustris Ciutatis Conimbria in Lusitania ad flumen ilundam effigies”, gravura de Georg Hoefnagel 1566/1567.
Fig.19- Ampliação de imagem anterior; detalhe do Mosteiro de Santa Cruz. 39
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

13 12 fundadores e o mosteiro começou a crescer, contando com cerca de 72 crúzios. Nesta altura
o conjunto monástico já contava com o claustro, o refeitório e o dormitório, cuja rapidez
de obra foi facilitada devido aos elementos construtivos de baixo custo e de fácil construção
como a cobertura em madeira, as paredes e abóbadas em alvenaria.

O mosteiro foi um impulsionador arquitetónico na cidade de Coimbra. A igreja românica pode


ser tida como “um laboratório experimental de um românico tecnicamente mais evolucionado em Coimbra” 15,
onde se estudaram outras relações espaciais e construtivas, como a articulação entre o claustro e
os diferentes espaços, tendo em conta a funcionalidade do conjunto monástico, ou os sistemas
de cofragem de grande eficácia e segurança. Alguns registos e estudos apontam que a Igreja de
12
Santa Cruz e o claustro do Silêncio permanecem no mesmo local da implantação original,
7
20
sendo o claustro românico um elemento fundamental para a articulação e organização do
10 espaço e da vida de culto. Detinha dois acessos ao mosteiro: a sudeste a porta da Espada-à-
cinta, e no local onde agora se encontra a Sacristia a porta da Trindade.
8

Os restantes elementos que faziam parte do complexo carecem de informação e, uma vez
1 que não subsistem na mesma localização, não há documentação suficiente acerca destes, as
19
6
tentativas de reconstituição passam por meras suposições16. Pensa-se que o primeiro refeitório
11
se encontrava no claustro românico a nascente, perto da fonte ainda existente, e os dormitórios
3
9
no piso superior das alas nascente e norte, ligados ao sobreclaustro, de modo a facilitar o
2 acesso à igreja e coro. Há registos também de uma livraria, mas apenas a partir do século XVI,
mas dada a importância da mesma para os cónegos, pensa-se que já existia anteriormente17. O
5 4
antigo Mosteiro das Donas, convento feminino pertencente ao mosteiro, ocupava o espaço
14 onde atualmente se encontra a Câmara Municipal de Coimbra. Este detinha um espaço muito
contido com um pequeno claustro e uma modesta capela (a capela de S.João das Donas),
18 que passa a ser intitulada de igreja aquando a implementação da Freguesia de Santa Cruz. A
instituição feminina altera a sua localização no séc. XVI.
15 16 17

[15] Craveiro.Maria de Lurdes. 2003.O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do Centro.
Darq Docs, e|d|arq. p.13
[16] Com exceção de alguns vestígios da original obra românica como os túmulos de S. Teotónio e do Bispo D. Miguel
0 10 30m Salomão e “algumas capelas laterais, numa das quais se conserva o arco de entrada pesando sobre os capitéis das colunas que o sustentavam”
Correia, Vergílio, e António Nogueira Gonçalves. 1947. Inventário Artístico de Portugal - Cidade de Coimbra. p.XI.
1- Claustro Românico 2- Mosteiro das Donas 3- Igreja Românica 4- Igreja das Donas 5- Ala do Mosteiro das Donas Quando não citado, as suposições relatadas ao longo do texto são referências da autora Maria Lurdes Craveiro.
6- Dormitórios 7- Refeitório 8- Sala do Capítulo 9- Porta da Trindade 10- Porta de Espada à Cinta 11- Celeiro
12- Torre de Santa Cruz 13- Horta 14- Possível Cerca 15- Rua dos Caldeireiros 16- Rua da Moeda 17- Rua dos Tintureiros [17] Craveiro. Maria de Lurdes. 2002. O Renascimento em Coimbra. Modelos e Programas Arquitectónicos. Dissertação de
18- Rua de Coruche 19- Rua das Figueirinhas 20- Rua de Montarroio doutoramento em História da Arte, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Fig.20- Planta de Reconstituição do Mosteiro de Santa Cruz no Românico (baseada na reinterpretação de Jorge de Alarcão) 41
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

Existem diversas especulações acerca da Igreja Românica, em 1943 Nogueira Gonçalves


apresenta as primeiras reinterpretações do que poderia ter sido a igreja, sendo que esta poderia
ter apenas uma nave da mesma largura da atual, com uma abóbada de berço e três capelas
abobadadas de cada lado. A frontaria da igreja românica seria semelhante à da Sé Velha de
Coimbra, localizada no mesmo lugar da atual. As primeiras transformações terão sido feitas
em quatrocentos, quando D. Gomes Eanes decide ligar as duas capelas próximas da Sacristia.
Apesar dos sucessivos ajustes e reassumes formais implementados ao longo dos séculos,
através dos os diferentes estilos arquitetónicos, da original igreja podemos observar alguns
vestígios como os túmulos de S. Teotónio e do Bispo D.Miguel Salomão e algumas capelas
laterais, numa das quais se mantém rastos do arco de entrada. Pensa-se que a igreja detinha
um nártex, da mesma largura que a nave, sobre o qual se erguia uma torre “portentosa torre-
nárthex, que coroava, por assim dizer, o sistema defendivo do mosteiro[...] uma das maiores do género em toda a
Europa[...] assemelhava-se exteriormente a uma fortificação[...] um pouco à imagem de Sto Isidoro de Leon”.18
Supõe-se que no nartex se encontravam sepultados os dois primeiros reis de Portugal, sendo
que alguns autores afirmam que estes se encontravam no claustro. Estes confrontos de ideias
e contradições também acontecem a par de outras espéculações, por exemplo relativamente à
capela-mor da igreja, Manuel Real apresenta uma planta em 1974, onde esta seria rectângular
com duas capelas colaterais, sendo que Jorge de Alarcão recentemente afirma que a capela-
mor seria ladeada por dois absidíolos que comunicavam com a mesma através de passagens
laterais, realizando algumas plantas e desenhos em 2003 (fig.21).

Um outro elemento que marcou desde sempre a paisagem urbana, tornando-se um marco na
cidade de Coimbra foi a Torre dos Sinos de Santa Cruz (fig.23). Estima-se que a primeira torre
foi construída entre 1131, data da construção do mosteiro, e 1174, data onde se menciona a
existência da mesma nas escrituras. Em 1540 os sinos seriam deslocados para uma outra torre,
e chamar-se-ia Torre de Montarroio. A torre detinha características medievais, agregada a um
conjunto acastelado coroado por ameias, e por duas partes que correspondem a dois tempos
construtivos diferentes: a parte fortificada inferior com paredes autoportantes, coincide com
os primórdios da monarquia, e a parte superior, de arquitetura barroca com os sinos, do
século XVIII19. Em 1933 a torre passa a supervisão da recém criada Direção-Geral dos Edifícios

[18] Rossa, Walter. 2001. Divercidade: urbanografia do espaço de Coimbra até ao estabelecimento definitivo da Universidade. Dissertação
de doutoramento em Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.p. 336 - citando
diretamente Manuel Luís Real “A organização do espaço arquitectónico entre Beneditinos e Agostinhos, no século XI”. 1982. Porto:
Grupo de estudos Arqueológicos do Porto 1982
[19] Correia, Vergílio, e António Nogueira Gonçalves. 1947. Inventário Artístico de Portugal - Cidade de Coimbra”. Lisboa.

Fig.21- Corte e Axonometria de Jorge Alarcão.


Fig.22- Axonometria da reconstituição do conjunto monástico.
Fig.23- “Passado ao Espelho”, fotografia de Alexandre Ramires. 43
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

e Monumentos Nacionais, mas acaba por ser demolida a 3 de janeiro de 1935. O primeiro
testemunho gráfico20 da existência da mesma pertence a Pier Maria Baldi, que desenhou a vista
de Coimbra em 1669. A 3 de janeiro de 1935 a torre foi demolida, uma vez que se encontrava
em risco de cair devido a infiltrações e cedência do terreno.

Esta fase da evolução do mosteiro durante a Idade Média, juntamente com a boa gestão, e
a aquisição contínua de bens materiais e artísticos, legaram as diretrizes que permitiram o
Mosteiro de Santa Cruz afirmar-se como um centro de cultura do Humanismo e Renascimento
em Coimbra, começando a consolidar a sua imagem de poder. As novas necessidades de
adaptação, nomeadamente de circulação e reorganização dos espaços, antecederam uma época
de obras e de grande agitação que transformará o mosteiro num “formidável estaleiro de arquitectura
onde o velho edifício românico se transfigura e ganha nova dimensão espacial e simbólica”.21

[20] “Existem dois desenhos perspéticos quinhentistas que retratam o interior da torre, mas a sua autoria permanece incerta” citação
de Marques, Cátia. 2012. Na torre dos sinos do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra: Um tesouro de moedas medievais e dois desenhos
quinhentistas.
Jorge de Alarcão também elabora reconstituções disponíveis em: Alarcão, Jorge de. 2013. A Judiaria Velha de Coimbra e as
Torres Sineiras de Santa Cruz. Coimbra: Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto.
[21] Craveiro, Maria de Lurdes. 2002. O Renascimento em Coimbra. Modelos e Programas Arquitectónicos. Dissertação de
doutoramento em História da Arte, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. p.58.

45


1.1.2- AS REFORMAS QUINHENTISTAS: DO MANUELINO AO JOANINO

“A travessia do mosteiro de Santa Cruz pelo século de Quinhentos é feita de momentos de enorme pujança
financeira que acaba por ter reflexos determinantes na sua política construtiva, quer no volume das obras que
decorrem à sua custa quer no jogo de influências estéticas que varrem a cidade” 22

Durante o reinado de D.Manuel I compreendido entre 1495 e 1521, o mosteiro foi marcado
por diversos experimentalismos. Os cânones manuelinos já implementados no Mosteiro da
Batalha e no Mosteiro de Jerônimos, influenciaram também uma intensa renovação estilística
do Mosteiro de Santa Cruz, de modo a retratar a cultura de uma nova era, e seguindo uma forte
vertente política e ideológica régia, muito característica do manuelino. Apesar do forte impulso
e evolução da cidade de Coimbra na Idade Média, “foram as obras crúzias que impuseram tipos
artísticos que, com a sua divulgação, vieram dar unidade e características próprias à arte coimbrã do manuelino
e da renascença”23. São as reformas quinhentistas do século XVI que alteram de forma radical as
caraterísticas da obra românica, quer na reforma Manuelina que decorre desde 1507 até 1521,
à reforma Joanina de 1527 a 1535. As construções e requalificações Manuelinas podem ser
distinguidas em três fases: a primeira entre 1507 e 1516 marcada pela transformação da igreja
românica pela igreja atual, com uma nova espacialidade e o início de uma nova fachada; a
segunda fase entre 1517 e 1521, onde foi feita a reconstrução do Claustro do Silêncio segundo
o novo estilo; e a terceira fase que se sucede após a morte de D.Manuel em 1521, marcada
pela conclusão de algumas obras e pela reformulação no portal da igreja.

A reforma Manuelina é influenciada pela visita de D.Manuel a Coimbra, desapontado com o


estado em que se encontravam os túmulos dos reis D.Afonso Henriques e D.Sancho, situados
humildemente após o nártex, mandando redimensionar a capela-mor para lá construir os

[22] Alarcão, Jorge de. 2013. A Judiaria Velha de Coimbra e as Torres Sineiras de Santa Cruz (Coimbra: Centro de Estudos
0 10 30m Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto), p.71.
Demolido [23] Dias, Pedro. 1982. A arquitectura de Coimbra na transição do gótico para a renascença. 1490-1540. Coimbra: EPARTUR –
Construído Edições Portuguesas de Arte e Turismo. p.103.

Fig.24- Planta de análise das demolições e construções da passagem do Românico para o Manuelino. 47
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

túmulos régios com o devido louvor. Cinco anos depois, no começo do priorado de D.Pedro
Gavião, o rei executa uma profunda campanha de renovação do mosteiro, sendo que a
expressão das reformas é caracterizada pela “conjugação de uma estratégia que engloba o portal e os
túmulos passa pela fortíssima imagem de supremacia do mosteiro como núcleo capaz de um domínio temporal
e espiritual sobre a comunidade envolvente, ao mesmo tempo que explicita a vontade régia num percurso que
reivindica a tutela do processo em exposição marcada de atualidade e erudição compositiva” 24. A reforma
determinou as diretrizes que tornaram o mosteiro uma forte influência na cultura Humanista
da cidade, viabilizando a implantação da Universidade em 1537.

Em 1507 o mestre Diogo Boitaca já participava na reforma, cujo objetivo consistia em criar
uma extensão das obras iniciadas anteriormente na igreja e nas principais dependências
monásticas. Nesta finalizou-se a frontaria da igreja e a abóbada da nave, a capela-mor e a
sacristia manuelina. No entanto em 1517, o mestre foi substituído pelo arquiteto Marcos
Pires, que se integra na segunda fase e fica responsável pela reforma. Nesta fase as obras
são intensificadas e, entre 1518 e 1522, concluíram-se as obras do Claustro do Silêncio,
nomeadamente a nova cobertura abobadada, a capela de Jesus, de S.Teotónio e de S.Miguel,
no piso superior à livraria e ao cartório. Reconstituiu-se o refeitório da ala nascente com
13 a fonte Paio Guterres, assim como o dormitório; colocaram-se os túmulos dos reis no fim
da nave da igreja, e apostou-se na vertente artística, como o retábulo principal da igreja de
12 11
Cristovão Figueiredo, o púlpito de Nicolau Chanterene, e o cadeiral manuelino realizado

10
9 por Olivier de Gand25.

6
7
Entretanto, o mestre Marcos Pires falece e inicia-se a terceira fase da reforma. Esta última
1 4 5 fase consta com a finalização das obras até então, por exemplo na frontaria, onde podemos
8 observar o contraste da pedra escura de calcário amarelo da igreja Românica, com a pedra
14
branca de ança.

15 3
[24] Craveiro, Maria Lurdes. 2003.O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do Centro. p.27.
[25] Inicialmente a obra foi associada a Machim, escultor flamengo a quem foi paga a sua conclusão em 1513. No
0 10 30m entanto, constata-se que o mesmo foi apenas responsável pelo trabalho da madeira, sendo o projeto em si da autoria de
1- Claustro do Silêncio 2- Mosteiro das Donas 3- Igreja de Santa Cruz 4- Túmulo de D.Afonso Henriques 5- Túmulo D.Sancho Olivier de Gand.
6- Capela-mor e Cadeiral 7- Capela de Nossa Senhora da Piedade 8- Sacristia Manuelina 9- Capela de S.Teotónio
10- Sala do Capítulo 11- Capela de S.Miguel 12- Capela de Jesus 13- Refeitório 14- Dormitórios 15- Ala Mosteiro das Donas

Fig.25- Esquisso do Claustro do Silêncio.


Fig.26- Planta de Reconstituição do Mosteiro de Santa Cruz durante a Reforma Manuelina. 49
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

A reforma Joanina passa por um movimento de reforma das casas religiosas portuguesas, que
começou em Santa Cruz. Pretendia-se o retorno à clausura de uma maneira mais rigorosa, e
como tal, foram efetuadas obras de expansão e melhoria das dependências monásticas. Em
1526 o rei D.João III instala-se em Coimbra durante um mês, e ao visitar o Mosteiro de Santa
Cruz decide tomar “medidas que restituíssem a ordem e moralidade religiosa, extinguindo o mosteiro feminino
e nomeando um reformador, responsável pelo cumprimento das novas constituições crúzias” 26. Nomeou então
Frei Brás de Braga, membro da ordem de S. Jerónimo, para alterar os costumes comunitários
e reger a nova onda de obras das dependências conventuais entre 1527 e 1545. Estas reformas
caracterizaram o que foi denominado “o Renascimento Português”, movimento marcado pela
tendência Humanista, que se refletiu na reforma dos espaços e no âmbito artístico, e sofre
declínio quando os esforços passam a ser voltados para a construção da Universidade na década
de 40. O contrato para as novas obras de Santa Cruz é assinado a 5 de março de 1528, realizado
entre o amo do rei, Bartolomeu Dias, e Diogo de Castilho, que passa a ser o braço direito de
frei Brás de Braga. O acordo era o primeiro manifesto de uma arquitetura relacionada com a
cultura do Renascimento em Coimbra, dos quais se destacam os principais nomes da vertente
artística em Portugal daquele período como: Garcia Fernandes, Gregório Lopes e Cristóvão
Figueiredo, que detêm peças inigualáveis desde retábulos, telas pintadas a óleo, entre outros.

Durante esta reforma de 1527, foram também inseridos dois colégios dentro do espaço
monástico, “para solidificar a estrutura humanista era necessário criar as condições para o desenvolvimento
de uma área interna de Saber que pudesse acompanhar as mudanças em curso e, ao mesmo tempo, legitimar a
própria reforma pela via do conhecimento” 27, nomeadamente o colégio de Santo Agostinho e S. João
Baptista28, instituidos por frei Brás de Braga em 1535, preparando a vinda da Universidade
de Coimbra.

O primeiro espaço construído que é referido no contrato seria o novo dormitório, dispostos na
parte superior do mosteiro, ao longo das alas norte e nascente do claustro. No interior“sobressaía
o magnífico tecto de madeira, em meia cana quartelada [...] entretanto desmantelada” 29
cujo autor se
supõe que tenha sido João de Ruão. O novo volume a nascente aumenta o número para 76

[26] Lobo, Rui. 2006. Santa Cruz e a Rua da Sofia - Arquitetura e Urbanismo no século XVI. Coimbra: eld|arq, p.41
[27] Craveiro, Maria de Lurdes. 2002. “O Renascimento em Coimbra – Modelos e Programas Arquitetónicos”. Tese de Doutoramento
na especialidade de História da Arte, Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. p.147.
[28] “do primeiro desses colégios, que veio ocupar a igreja gótica de S.João das Donas e que corresponde a um pórtico clássico, de entablamento
reto, suportado por colunas (Mendanha, 1541, apud Révah, 1957). (...) O outro colégio, de s. João de Baptista, localizava-se por cima da nova
0 10 30m igreja de S.João.” Lobo, Rui. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Coimbra. p.17.
Demolido
Construído [29] Lobo, Rui. 2006. Santa Cruz e a Rua da Sofia - Arquitetura e Urbanismo no século XVI. Coimbra: eld|arq. pp.51-52.

Fig.27- Planta da análise das demolições e construções da passagem do Manuelino para o Joanino. 51
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

celas totais, distribuídas na extensão de um corredor de 110 metros30, limitando as diretrizes


de um novo claustro: o Claustro da Manga31. No contrato de 1530 a nova enfermaria já se
23 encontrava na ala nascente do novo claustro, e iria substituir o velho Hospital de S.Nicolau.
Na ala sul localizavam-se as oficinas tipográficas, a norte a capela dos ossos e a poente o
dormitório dos noviços.

A igreja de nave única, de capela-mor retângular e de grandes dimensões, o arco “romano” da


capela-mor, o arco de remate do coro alto, de João de Ruão, e os arcos e abóbadas de volta
inteira das capelas laterais, representam a nova arquitetura de composição renascentista. Do
lado esquerdo podemos ver as três capelas, algumas ainda com os azulejos setecentistas, como a
capela de Santo António, onde se situava o conjunto escultórico “Deposição de Cristo no Túmulo”
22 de João de Ruão, a capela do Senhor dos Passos. A capela gótica dos Mártires de Marrocos,
hoje atual capela das Confissões, foi unificada, e o arco renascentista que se encontra debaixo
do arco gótico continua a ser preservado como marca das campanhas humanistas. O “magnífico
cadeiral [que] deste período e com a envergadura deste, não existe no país exemplar que lhe possa corresponder”
32
, obra recentemente associada a Olivier de Gand,

Como referido anteriormente, um dos principais princípios da reforma espiritual de D.João


III consistia na imposição da clausura, como moralização do clero regular. Nesse sentido, “o
recentíssimo refeitório manuelino, concluído em finais de 1522 na ala nascente do Claustro do Silêncio, era um
obstáculo à construção do ideário reformista”33, e por isso é também mencionado no contrato um novo
refeitório, com a pataria no seu prolongamento a poente, construído no piso térreo também
da ala norte do claustro. Trata-se de uma sala retangular de elevado pé direito, de 9.98m de
largura e 33,30m de comprimento, dividida em quatro tramos, com quatro janelas que mais
0 20m
tarde foram abertas por S.Acúrcio entre 1599 e 1602, para introduzir mais luminosidade no
espaço, tal como se encontra nos dias de hoje. Tal alteração acabou por debilitar a estrutura,
começando a ceder, sendo necessário reforçar a mesma com contrafortes exteriores. mesas em
pedra34, agora desaparecidas, mantendo-se apenas os bancos corridos ao longo das paredes, os

0 10 30m
[30] “As coadras deste dormjtorio terã de largo cimcoenta palmos em que averá duas remgas de çelas hua de cada parte e no meo hua Rua
de dezoyto palmos de largo. E as ditas casas terão de largo dezaseis palmos e de cõprido dezoyto e as ditas çelas seram por todas setenta e seis”
Garcia, Prudêncio Quintino. 1923. Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra. p.177.
[31] Também conhecido como claustra terceira ou da enfermaria. Consultar: Ribeiro, Mário de Sampaio. 1958. El-rei D.
1- Igreja 2- Capelas dos flancos 3- Capela-Mor 4- Túmulo de D.Afonso Henriques 5- Túmulo D.Sancho 6- Púlpito 7- Órgão
João III e o Claustro da Manga do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.
8- Coro alto (piso superior) 9- Igreja Paroquial S.João 10- Sacristia Manuelina 11- Sala do Capítulo 12- Capela de S.Teotónio
13- Capela de S.Miguel 14- Capela de Jesus 15- Capela de Nossa Senhora da Piedade 16- Capela da Virgem 17- Capela de S.António Embora a construção do claustro não seja mencionada nos contratos, já estaria prevista, uma vez que começa a ganhar
18- Claustro do Silêncio 19- Acesso ao Claustro da Manga 20- Refeitório 21- Ceia de Hodart 22- Fonte e Claustro da Manga 23- Enfermaria forma com a extensão do novo volume referido anteriormente, já documentado no contrato de 1528.
[32] Craveiro, Maria Lurdes. 2003.O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do Centro. p.142.
[33] Craveiro. Maria de Lurdes. 2002. O Renascimento em Coimbra. Modelos e Programas Arquitectónicos. Dissertação de
doutoramento em História da Arte, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. p.108.
Fig.28- Planta de Reconstituição do Mosteiro de Santa Cruz na Reforma Joanina. [34] “treze mesas de pedra brãca .S. seis de cada parte & hua fronteyra que he a mesa principal” Révah, I.S. 1057. Descripçam e debuxo
Fig.29- Reconstituição do dormitório no contrato de 1528 e após o contrato de 1530, por Rui Lobo (vertical). do moesteyro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Biblioteca da53Universidade. s.p.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

azulejos e os registos dos púlpitos e da capela onde se encontrava a Última Ceia, “o principal
ornamento desta casa”35. Neste espaço constava um conjunto de treze figuras de barro, de tamanho
natural, realizado entre 1530 e 1534 pelo mestre Hodart, que se encontram atualmente expostas
no Museu Nacional Machado Castro.

Um outro marco escultórico singular, símbolo das reformas renascentistas no Mosteiro de


Santa Cruz é a Fonte da Manga36 ,“Arquitectonicamente é um dos pontos altos do primeiro renascimento
português. Composição clássica de planta centralizada e cúpula suportada por colunas coríntias, à maneira de
tempietto”,37pensada e desenhada segundo princípios que visavam a correção e o retorno aos
cânones da regra de Santo Agostinho, nomeadamente a ideia de clausura, pobreza e castidade.
A sua composição rege-se à volta de uma cúpula central, com colúnas coríntias, cobrindo
uma fonte com quatro tanques em forma de “L” e quatro cubelos angulares, onde os frades se
poderiam recolher e meditar, com total enclausura e separação do mundo profano. A própria
composição da peça, indica a separação dos cubelos, sendo que o acesso era feito através de
pontes levadiças em madeira que simultaneamente recolhiam e fechavam o espaço. Embora
atualmente a fonte pertença à cidade como objeto único e completamente fora do contexto,
na era crúzia marcava a correlação entre as ideologias da reforma e a arquitetura, uma vez
que o claustro não detinha apenas a função de maximizar a articulação entre os espaços, mas
também uma ideia simbólica fortemente vinculada. Realizada pelo escultor João de Ruão,
juntamente com Jerónimo Afonso no trabalho das cantarias, e com os pedreiros Pero de
Évora, Diogo Fernandes e Fernão Luís, caracteriza-se pela interpretação arquitetónica das
ideias presentes no livro Espelho de perfeicam38 de Hendrik Herp.

No lugar onde se encontrava o Mosteiro Feminino das Donas, a poente do Claustro do


Silêncio, seria agora construída a nova portaria do mosteiro. Nesta área salienta-se o pequeno
Claustro da Portaria e algumas dependências do parlatório a nascente do mesmo, sendo que
na ala norte se encontrava a capela de S.Vicente39 e no piso superior a livraria. O novo alçado
Celeiro
Torre Sineira

Enfermaria Geral - Alojamento dos Priores


[35] Ibidem, s.p.
Dormitórios
[36] Pensa-se que a mesma não estaria idealizada desde a construção do claustro, uma vez que só foi mencionada a 7
Convento das Donas/ Claustro da Portaria
de setembro de 1533.
Claustro do Silêncio
[37] Lobo,Rui. 2006. Santa Cruz e a Rua da Sofia: arquitectura e urbanismo no século XVI. Coimbra: Departamento de
Santuário das Relíquias
Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. p.53.
Claustro da Manga
[38] Consultar “A fonte do Claustro da Manga, “espelho de perfeycam”: uma leitura iconológica da sua arquitetura.”
de Abreu, Susana Matos. 2008-2009. Revista da Faculdade de Letras Ciências Técnicas do Património. Porto. pp.33-52.
0 10 30m
[39] Também títulada capéla do Santo Espírito, estabelecida após a demolição do Mosteiro das Donas quando se
construíu o Claustro da Portaria.

Fig.30- Planta dos irmãos Goullard do Mosteiro de Santa Cruz, 1873-1874.


Fig.31- Geometria atual Fonte da Manga.
Fig.32- Reinterpretação da geometria - proposta de grupo.. 55
Fig.33- Esquema síntese das dependências monásticas em 1834.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

do Claustro da Portaria encerrava a ocidente o espaço do Colégio de Santo Agostinho e um


pequeno pátio interno, no lado poente, detinha as hospedarias. Durante 1530 contava-se
já com a construção do coro-alto, a nova Igreja Paroquial de São João, onde atualmente se
encontra o café de Santa Cruz, e as capelas laterais do flanco esquerdo da igreja “A construção
do Claustro da Portaria e a extinção do pequeno mosteiro das Donas a norte da igreja obrigaram também
a nova projecção da igreja paroquial de S. João de Santa Cruz, em situação de coincidência com a igreja das
Donas até ao período manuelino”.40 Em 1540 realiza-se uma segunda entrada pelo largo da Sansão,
a Porta do Carro. Esta permitia o acesso de serventes, trabalhadores, mercadorias e outros,
assim como o restabelecer de limites, sendo que a nascente estes são tidos pelos muros, e a
poente por um volume que liga o mosteiro das Donas ao edifício do celeiro.

“A travessia do mosteiro de Santa Cruz pelo século de Quinhentos é feita de momentos de enorme pujança
financeira que acaba por ter reflexos determinantes na sua política construtiva, quer no volume das obras que
decorrem à sua custa quer no jogo de influências estéticas que varrem a cidade”. 41 A Universidade e as
novas instituições começaram a ganhar força na cidade de Coimbra, as rendas começaram
a ser direcionadas essencialmente para estes, e o espectro de investimento para o mosteiro
começou a ser limitado, o que causou diversos conflitos internos e deu origem a períodos de
menor fulgor financeiro.

“Já com a Universidade de Coimbra (1537), Frei Brás organizaria a operação urbanística de abertura da
amplíssima Rua de Santa Sofia, que arrancava do mosteiro crúzio para norte, onde se deveriam instalar os
colégios da nova universidade reformada.”42 Desta fase da reforma, ainda subsistem até hoje alguns
espaços. Outros foram reconstruídos mais tarde ou até mesmo destruídos. Atualmente o
refeitório pertence à Câmara Municipal e é considerado espaço de exposições temporárias.
A capela que acolhia as belíssimas peças como “A Última Ceia”, assim como os acessos aos
púlpitos, foram demolidos para albergar os serviços da Direção Regional da Cultura e Centro,
restando apenas vestígios. O atual percurso expositivo, incluí apenas alguns espaços como
o coro-alto, as capelas laterais da igreja (com exceção da capela dos Mártires de Marrocos), e
somente duas capelas do Claustro do Silêncio. Os dormitórios foram destruídos e ocupados
pelos serviços camarários, a estrutura de madeira foi retirada, subsistindo apenas o corredor

[40] Craveiro, Maria Lurdes. 2003.O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do Centro. p.45.
[41] Alarcão, Jorge. 2013. A Judiaria Velha de Coimbra e as Torres Sineiras de Santa Cruz. Coimbra: Centro de Estudos
Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto. p.71.
[42] Lobo, Rui. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq. Coimbra. p.17
;Sobre o tema consultar pp.67-85.

Fig.34- Fotografia Antigos Dormiórios.


Fig.35- Fotografia atual dos antigos dormitórios que albergam agora Serviços Camarários.
Fig.36- Clautro e Fonte da Manga, Sartoris, 1879/1888. 57
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

e as portas para as celas. A ala norte superior do Claustro do Silêncio é agora ocupada por
arrumos da autarquia, impossibilitanto a circulação orgânica do mesmo. Todos os volumes que
delimitavam o Claustro da Manga foram demolidos, resta apenas a Fonte da Manga que parece
estar esquecida, sem contexto, cuja relação é inexistente com o que resta das dependências
monásticas. A Igreja Paroquial de S.João exerce agora a função de café, e o Claustro da Portaria
foi destruído para ser edificado o edifício da Câmara Municipal. O conjunto foi perdendo
assim, ao longo dos anos, a sua caracterização e identidade.

59


1.1.3- A NOVA EXPRESSÃO ARTÍSTICA E CONSTRUTIVA DE SANTA CRUZ

As intervenções de carácter maneirista e barroco a partir de finais do século XVI, abrangeram


as últimas atualizações do conjunto, traduzindo a sabedoria e o domínio da matéria espiritual
dos crúzios, particularidade sempre presente na história do desenvolvimento do mosteiro.
É “nos finais do século XVI (que) o mosteiro de Santa Cruz voltaria a encontrar o sopro da energia capaz
de um novo estímulo construtivo” 43, vigor esse provocado por um grande acrescento de relíquias
provenientes de Flandres em 1595, que exigiu novos equipamentos e uma necessidade de
revitalização dos espaços. A vertente artística começou a ter outra ênfase, desde a substituição
de elementos existentes, à realização de diversas intervenções no conjunto. Destas, destacam-se
as obras da capela de S.Teotónio44, uma extensão do lanço nascente-poente do dormitório, o
revestimento em azulejo do corpo e capela-mor da igreja, e a construção da nova Sacristia em
1622, atribuída recentemente a Baltazar Álvares. O órgão barroco45, acabado em março de 1724,
é também uma peça destaque, que “terá sido, no seu tempo, o mais famoso de Portugal e um dos melhores
da Europa”46, assim como o conjunto vasto de esculturas belíssimas, como as de Nicolau de
Chanterene e Hodart. Embora a nova Sacristia47 se localize no local da anterior, adquiria uma
expressão arquitetónica completamente distinta, destacando-se pela sua monumentalidade,
desde aos detalhes das pilastras, frisos, ao janelão termal, e à dinâmica da abóbada com

[43] Craveiro, Maria de Lurdes. 2011. O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do
Centro. p.49.
[44] Capela agregada à Sala do Capítulo
[45] Situado no lado esquerdo da nave da igreja; O órgão barroco surge da intenção de substituir o antigo no reinado de
D. Manuel, que contratou Francisco de Lorete em 1532 para podruzir um de maiores dimensões. “A 26 de Outubro desse
ano de 1532, celebrou-se ainda o cotrato [...] do novo órgão, ou, mais propriamente, da sua caixa, cuja empreitada foi entregue ao marceneiro
francês Francisco Lorete”. Dias, Pedro. 1982. A arquitectura de Coimbra na transição do Gótico para a Renascença: 1490-1540. Coimbra:
EPARTUR. pp.170-171.
[46] Vieira, Padre José Bento- 2001. Santa Cruz de Coimbra: Arte e História Coimbra: Igreja de Santa Cruz. p.23.
[47] “Esta obra recentemente atribuída a Baltasar Álvares (Branco, 2013:70-74), o maior arquiteto português da sua época. A atribuição
justifica-se pelo emprego de quatro mascarões, ou carrancas, sobre as portas principais, representativos dos “estados de espírito”, semelhantes a
peças idênticas que o arquiteto terá observado na sua viagem ao norte de Tlália, e que surgem também na fachada da igreja dos jesuítas, atribuída
ao mesmo arquiteto.” Lobo, Rui. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.
Coimbra. p.18

Fig.37- Fotografia da Sacristia.


Fig.38- Fotografia da Sala do Capítulo (Capela S.Teotónio). 61
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

caixotões octogonais. De momento, o espaço agrega figuras como o Cristo Crucificado, realizada
no século XIV, e outras esculturas inseridas nos nichos das pilastras, como a Virgem, S.João,
Santa Gúdula e Santa Gertrudes. Para além destas, encontram-se esculturas de menor escala
em madeira policromada e/ou dourada, datadas entre os séculos XVII e XVIII, expostas de
maneira aleatória em cima de um arcaz seiscentista que, embora reabilitado diversas vezes,
se encontra em mau estado. Destaca-se a representação de A Invenção e exaltação de Santa Cruz,
pertencente os retábulos quinhentistas de Cristóvão de Figueiredo, o retábulo de Pentecostes,
de Vasco Fernandes, datado a 1535 e, a tela da Descida da Cruz, de André Gonçalves.

No entanto, o ponto auge da expressão barroca no Mosteiro de Santa Cruz centraliza-se na


construção do Santuário que, embora a data de construção seja incerta, pertence certamente
ao século XVIII. Indubitavelmente, “é a cultura barroca de nítido recorte rococó que preside à construção
deste espaço oval, na captação de um usufruto de grande dinamismo onde se inscreve o espectáculo que decorre da
apresentação das relíquias, agora concentradas em torno de uma circularidade sustentada pela arquitectura”. 48
Construída numa posição dominante e estratégica em relação ao conjunto, uma vez que a sua
função era reunir as relíquias que se encontravam dispersas pelo mosteiro, conta com mais
de mil relíquias de diferentes épocas. A sua planta elíptica, inserida numa forma retangular,
permitia a criação de uma ilusão ótica que modificava a perceção espacial da mesma, estratégia
muito característica da arquitetura barroca.

É durante o século XVIII que é realizado o projeto do Parque da Sereia, elemento que hoje
ainda detém grande expressão urbana, e que simbolizava o culminar do percurso monástico,
conformando um espaço de lazer e contemplação. No edifício que hoje ocupa a escola
situava-se a nova enfermaria, melhorado no século XVIII, tendo albergado a residência do
Prior e a nova biblioteca do mosteiro, assim como o jardim do Prior marcado por dois
torreões49 semelhantes mas menores dos que marcam a entrada do Jardim da Sereia. Uma vez
que o edifício era conhecido pelo “Dormitório do Pilar”, pensa-se que tinha sido adaptada
essa função, até porque o mesmo tinha uma ligação direta com o dormitório do mosteiro no
piso superior, atravez de um arco, conhecido como Arco do Correio.

[48] Craveiro, Maria de Lurdes. 2011. O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do
Centro. p.145.
[49] “Seguia-se às dependências do Prior um jardim formal, de que ainda sobram dois dos quatro pequenos torreões angulares. (...) Recentemente
foi proposto que o arco barroco que está hoje na Praça 8 de Maio diante da igreja, marcava a entrada deste jardim formal.” Lobo, Rui. 2022.
Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.Coimbra. p.18

Fig.39- Fotografia do Santuário.


Fig.40- Fotografia do orgão barroco. 63
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

O Mosteiro de Santa Cruz, detinha um vasto espólio artístico não só na área da pintura e
escultura, como também na literatura, desde tratados manuscritos, livros de matemática,
medicina, música (relacionados com o coro), estampas, entre outros, que após as transformações
do mosteiro a partir de 1834, parte deste acervo acabaria por se perder, salvo algumas exceções
que se encontram atualmente na Biblioteca da Universidade, na Biblioteca Pública do Porto,
no Museu Machado Castro e noutras entidades. Conta também com uma vasta coleção de
ourivesaria e de tapeçarias, com crucifixos, estolas e casulas de grande detalhe.

No decorrer da investigação, foi fundamental perceber todos os elementos do espólio e o


contexto que os envolve, não só porque este foi essencial na vivência dos cónegos, como
também para o reconhecimento e desenvolvimento da esfera artística e Humanista de Coimbra
e do país. Como tal, reuniu-se informação sobre o conjunto vastíssimo de esculturas, retábulos,
telas, objetos de culto de pequena escala e artes decorativas50, e analisaram-se as diferentes
relações entre as mesmas, desde os polípticos da capela-mor, onde foram feitas diversas
reconstituições, às diferentes relações entre a sua antiga localização, autor, período, ou até
mesmo funcionalidade, que será fundamental para a composição do percurso expositivo e
para a leitura global do acervo artístico de Santa Cruz.
Alçado Românico

Alçado Reconstituição de 1834

Alçado Atual

0 10 30m
[50] Lista do acervo artístico e material disponível no capítulo “Anexos”

Fig.41- “Mappa Thopografico da cidade de Coimbra com a Divizão das Antigas Freguezias”, final séc.XVIII.
Fig.42- Reconstituição e evolução do alçado poente do Mosteiro de Santa Cruz ao longo dos séculos (primeiro
realizado tendo em conta a teoria de Jorge de Alarcão; segundo realizado por Fernando Couto). 65


1.1.4- O DECLÍNIO: O SÉCULO XIX E A EXTINÇÃO DAS ORDENS RELIGIOSAS

O século XIX foi um período de diversas transformações a nível socioeconómico, político


e religioso. O contexto de instabilidade que se vivia no país, associado às invasões francesas
na primeira metade do século à Revolução Liberal de 1834 e, teve um grande impacto no
desenvolvimento das cidades, dando origem à extinção das ordens religiosas e nacionalização
dos seus bens a 29 de maio de 1834. Esta reforma, imposta pelo Estado Liberal, fez com que
o património pertencente às comunidades religiosas fosse atribuído ao estado, sendo que
em Coimbra foram vendidos ou ocupados vinte e dois colégios e sete conventos, incluindo
o Mosteiro de Santa Cruz, adjudicado ao município em 1839. Esta decisão teve um grande
impacto na morfologia da cidade, sucedendo “a maior expansão da cidade, com a urbanização da
Quinta de Santa Cruz e da avenida Sá da Bandeira, definindo-se as diretrizes dos novos crescimentos, à imagem
das grandes operações urbanísticas que por essa época transformavam a Europa. Coimbra entrara, assim, na
modernidade.” 51

A extinção das ordens deu origem não só à transferência do domínio do mosteiro, mas também
à perda da cerca conventual, assim como ao desaparecimento ou dispersão de grande parte do
espólio à medida que os espaços foram sendo ocupados. Parte deste foi dividido por diversas
instituições de ensino e museus ao longo dos anos, como o Museu Machado Castro, o Museu
Nacional de Arte Antiga, o Museu Nacional Soares dos Reis, a Biblioteca da Universidade de
Coimbra e a Biblioteca Pública do Porto, entre outros.

Estabelecido numa zona fora da muralha, o mosteiro constituía uma barreira de expansão
urbana a nascente, e definia, simultaneamente, espaços de grande importância como por
exemplo a Rua da Sofia e a Praça da Sansão, hoje conhecida como Praça 8 de Maio. Este
período de transição levou assim à realização de obras neste ponto estratégico da cidade, com

[51] Rossa, Walter. “O espaço de Coimbra. Da instalação da urbanidade ao fim do antigo regime” em Evolução do Espaço
0 30 70
Físico de Coimbra. 2006. Câmara Municipal de Coimbra, p.44 Demolições
Construções

Fig.43- Ampliação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente.


Fig.44- Francisco e Cesar Goullard, “Planta topographica da Cidade de Coimbra”, 1873-1874 [Coleção de Plantas (Coimbra: AHMC)]. Fig.45- Esquema de demolições e contruções; comparação entre a Extinção das Ordens Religiosas e a atualidade;
67 planta piso térreo e planta de cobertura
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

a finalidade de representar o poder local e valorizar a área envolvente, levando à demolição


de partes do mosteiro, como por exemplo do Claustro da Portaria para a implantação do
edifício da Câmara Municipal, construído entre 1876 e 187952.

O processo de descaracterização tem início em 1835, altura em que se traça “um extenso plano
de intenções de reforma da cidade que, embora não tenha tido execução imediata, serviu de base a muitas das
reformas introduzidas até ao final do século. [...] O Plano previa a cedência de [...] terreno para a construção de
um matadouro público na cerca do extinto Mosteiro de Santa Cruz e parte dos seus edifícios para a instalação
das repartições judiciais administrativas e da fazenda e o pátio do mesmo mosteiro para o mercado público.
Pretendia ainda [...] a cedência da Quinta de Santa Cruz para jardim público”.53

Em 1872 a Câmara Municipal promove um concurso para levantamento da planta da cidade,


vencido pelos irmãos Francisco e Cesar Gullard. Esta foi realizada entre 1873 e 1874, e serviu
como base que guiaram as diretrizes dos novos planos urbanos e futuras intervenções da cidade
até inícios do século XX. Em 1885, a Câmara Municipal efetua um Plano de melhoramento
da Quinta de Santa Cruz, cujas premissas consistiam em estabelecer ligação entre a alta e
a baixa, alargar o Mercado Municipal, construir o novo Matadouro Municipal e criar um
jardim público.

Fig.46- Planta de reconstituição de Coimbra, c.1845 Área da possível Cerca e Quinta de Santa Cruz Planta de reconstituição de Coimbra, c.1895 0 50 100m
A descaracterização do conjunto monástico prosseguiu nos anos seguintes: acredita-se que
Plantas elaboradas tendo como base os desenhos de Calmeiro, Margarida Relvão. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834 -1934 vol.II. Dissertação
de doutoramento em Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Anexos. “as destruições começaram logo em 1859(?) com a demolição do corpo da antiga hospedaria, entre a esquina
e a fachada da Praça 8 de Maio e o edifício do celeiro, assumindo-se a articulação urbana no antigo pátio
do mosteiro.” 54; na mesma época, é construído o edifício para a Direção de Obras Públicas
do Mondego, virado para as hortas, que sofre um incêndio em 192655. em 1867 a horta e
laranjal do mosteiro foram ocupadas pelo Mercado Municipal, inicialmente numa lógica de
mercado ao ar livre, e em 1907 foi construído o Pavilhão do Peixe, projetado pelo arquiteto
Augusto de Carvalho da Silva Pinto, ainda hoje existente. Junto a este podemos ver o atual

[52] A intenção de implementar o edifício surge em 1840, no entanto, “apenas 37 anos depois, em 1877, é destruída
toda a zona do claustro da portaria até ao claustro do Silêncio, para se construir o novo edifício da câmara.” Calmeiro,
Margarida. 2014. Apropriação e conversão do Mosteiro de Santa Cruz. Ensejo e pragmatismo na construção da cidade de Coimbra, CES-
FCTUC. p.233
Para tal, destroí-se a fachada barroca da igreja paroquial de S.João de Santa Cruz, que teve diversas funções desde
cangalheiro, esquadra da polícia a loja de ferragens.
[53] Calmeiro, Margarida Relvão. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834 -1934 vol.I. Dissertação de doutoramento
em Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. pp.183-184.
[54] Lobo, Rui. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.Coimbra. p.19
[55] Edifício que mais tarde serve como sede dos Correios Telégrafos e Telefones

Fig.47- Mercado Municipal no antigo laranjal da cerca do Mosteiro de Santa Cruz. Fig.48- Claustro da Manga após incêndio de 1917. Fig.49- Demolição da Torre e parte da enfermaria, 1935. 69
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

Mercado de D.Pedro V, construído em 2001, que substituiu o mercado inaugurado em 1867,


com o objetivo de melhorar as condições de salubridade e preservação da qualidade e venda
dos produtos. É neste período que são previstos os projetos de expansão e melhoramento da
cidade de Coimbra, à semelhança das grandes operações urbanísticas por toda a Europa: entre
1858 e 1866 é alargada a rua Visconde da Luz, antiga Rua de Coruche, estabelecendo ligação
com a Rua da Sofia, elevando-se a cota da atual praça 8 de Maio, e é apenas em 1906 que é
concluída a avenida Sá da Bandeira, o desejado “boulevard”, eixo organizador da cidade até
aos dias de hoje, que permite a ligação entre a baixa da cidade e a atual Praça da República.

Algumas dependências alteraram a sua função ao longo do tempo, por exemplo,“Os lanços
envolventes do Claustro da Manga destinaram-se ao correio, malaposta e Direção de Obras Públicas do Mondego,
o celeiro destinou-se à nova prisão da cidade e o Dormitório do Pilar foi atribuído à Roda dos Expostos, onde
residiam as crianças enjeitadas do distrito.”56. O antigo refeitório, acolheu a Escola Livre de Artes e
Desenho e a Associação de Artistas em 1866, posteriormente passou a pertencenter à Biblioteca
Municipal, e atualmente, está sob o domínio da Câmara Municipal, sendo designada “Sala
Eixo principal Avenida Sá da Bandeira - Rua Nicolau Olimpo Fernandes - Rua da Sofia 0 100m
da Cidade”, onde se realizam exposições temporárias; os antigos dormitórios, por cima do
antigo refeitório, foram destruídos e apresentam agora também alguns serviços camarários;

Seguiram-se outros acontecimentos e sucessivas perdas do conjunto monástico, por exemplo


a demolição da ala norte do Claustro da Manga e do edifício que fechava o pátio em 1888,
juntamente com o Arco do Correio, com o intuito de regularizar o traçado da via; o incêndio
de 1917 que deu origem à destruição da ala poente e sul; a instalação do Café de Santa Cruz
onde se situava antes Igreja de S.João em 1923; Mais tarde na ala poente do antigo Claustro
da Manga é adaptada ao edifício da atual Direção Regional da Cultura e Centro57, e na ala
nascente o edifício do antigo Telégrafo Postal, demolido em 1926 devido a um incêndio, e
substituído pelo atual edifício dos Correios de Portugal, entre 1935 e 1939. Para além destes,
em 1935 dá-se a demolição da Torre Sineira58, que marcou durante séculos o perfil da baixa
da cidade. Esta conjuntura descaracterizou completamente o conceito original do claustro,
descontextualizando a Fonte da Manga.

[56] Ibidem, p.19


[57] Antiga Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN)
[58] “Esta demolição escusada levou a recém-constituída DGEMN a realizar uma operação de rearranjo urbano da zona, de modo a recuperar
a Fonte da Manga, demolindo-se as barracas da Escola Industrial e Artística Avelar Brotero que, entretanto, tinham aí sido instaladas. A
operação esteve em encargo do arquiteto Luís Benavente, que projetou também as escadas e o restaurante que hoje subsistem a sul.” Lobo,
Rui. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.Coimbra. p.19

Fig.50- Planta de reconstituição de Coimbra, c.1934


Fig.51- Avenida Sá da Bandeira, c.195- 71
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
 E CONSTRUTIVA

Surgiram alguns conflitos resultantes dos planos, como por exemplo a hipótese da demolição
do Mercado, que causou muita discussão na década de 1930. “Enquanto se planeava o primeiro
plano de urbanização da cidade, o Arquiteto Luís Benavente propunha a sua demolição [do mercado],
prolongando a Avenida Sá da Bandeira até ao edifício dos Correios.”59

O novo bairro da Quinta de Santa Cruz correspondeu à expansão urbana no topo nascente
do vale. Este, foi essencial para o desenvolvimento da cidade, uma vez que detinha condições
de salubridade, permitia reforçar a rede de abastecimento de água da cidade e estabelecia
diferentes relações morfológicas entre a Alta e a Baixa, assim como a ligação a Celas. Para
o local, pretendia-se criar um jardim público, um jardim de infância, e outros programas.
No entanto, com o desenvolvimento da cidade e o aparecimendo de outros centros, a Praça
8 de Maio, considerada ponto cívico e político, perdeu alguma relevância, tendo sido alvo
de uma requalificação em 1992 pelo Arquiteto Fernando Távora, que rebaixou o pavimento
para a cércea da Igreja de Santa Cruz, estabelecendo relação entre o espaço público e a igreja.

“Hoje esta área, tal como toda a Baixa perdeu algum dinamismo, mas mantem a centralidade assegurada
pelas funções aqui instaladas e, desde 2013, pela inscrição na lista de Património Mundial da UNESCO,
um reconhecimento que sublinha o valor histórico e simbólico do conjunto. A análise revela como este valor se foi
construindo num longo e vivo processo de apropriação e transformação, pautado por planos, projetos, mas também
hesitações, que construíram a cidade atual com os vestígios do passado como um recurso ativo.” 60

[59] Calmeiro,Margarida Relvão. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.
Coimbra. p.32.
[60] Ibidem, p.32.

73


1.2.1- OS VALORES DO RESTAURO E DO PATRIMÓNIO

“O mosteiro de Santa Cruz é um dos espaços patrimoniais de maior importância em Coimbra. A sua categoria
de panteão nacional, assumida em 2003, justifica que seja um dos locais mais visitados do país e reivindica
agora um estatuto de proteção a que nem sempre se atendeu. [...] Desde a sua fundação, em 1131, até ao século
XIX, o mosteiro de Santa Cruz escreveu uma página brilhante nos capítulos da cultura e das artes e a sua
relevância ultrapassou a circunscrição da cidade de Coimbra. Cabe agora honra-lo através da recuperação de
uma dignidade [...]” 61

A investigação rege-se sob uma constante reflexão e compreensão das camadas de história
presentes no Mosteiro de Santa Cruz, desde a primeira pedra em 1131, até dias de hoje. É
a sua história, a vivência do lugar e a sua simbologia que dita as diretrizes do projeto e faz
com que este ganhe forma. O reconhecimento da importância do Mosteiro de Santa Cruz é
algo ímpar no decurso da história de Portugal e na evolução da cidade de Coimbra. Como
foi visto anteriormente, com o passar dos anos o simbolismo do lugar foi desvanecendo,
o espólio de grande primor cultural foi desviado ou esquecido, assim como os ideais de
inteligência de gestão de um património material, espiritual e artístico da era crúzia. A
valorização e conservação deste conjunto é fundamental quer para a identidade62 nacional, quer
para a salvaguarda de uma memória coletiva da cidade de Coimbra, sendo capaz não só de
restabelecer a esfera histórica, artística e cultural do mosteiro, como também de introduzir uma
nova dinâmica à mesma. Deste modo, é na tentativa de perceber a relação entre as diferentes
dimensões urbanas63, até aos temas de preservação do património, que se estabeleceu um elo de
ligação entre o conhecimento científico e a prática, nomeadamente entre as diferentes teorias
e os modos de intervir, com o objetivo de refletir sobre a cidade contemporânea e desenvolver

[61] Craveiro, Maria de Lurdes. 2011. O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do Centro. p.6.
[62] “Identidade: entende-se como a referência coletiva englobando, quer os valores actuais que emanam de uma comunidade, quer os valores
autênticos do passado.” Conferência Internacional sobre Conservação 2020, Carta de Cracóvia- Príncipios para a conservação e o
restauro do património construído.
[63] Quando se fala em dimensões urbanas, refere-se às dimensões que caracterízem o desenvolvimento sustentável: a dimensão
Social (política), a dimensão Económica, a dimensão Ambiental e a dimensão Cultural.

Fig.52- Postal do Claustro do Silêncio, 1521. 75


OS VALORES DO RESTAURO
 E DO PATRIMÓNIO

um conjunto de estratégias equilibradas no âmbito de projeto. Assim, neste subcapítulo, será


descrita uma parte da pesquisa e análise à volta deste tema tão denso e repleto de diferentes
visões e perspetivas, onde o único dado absoluto é que não se pode deixar desvanecer por
completo o que fez parte da génese da cidade de Coimbra, por muito que passe por uma mera
interpretação do que foi, do que é, e - com o projeto - do que poderá ser e a sua transmissão ao
futuro.

Ao longo das últimas décadas os estudos à volta do tema da preservação do património foram-se
intensificando. O aumento dos projetos de reabilitação, muito ligado à expansão urbana e à
necessidade de requalificar as construções pré-existentes, deu origem a uma preocupação e ao
questionamento sobre modos de intervir. A noção de Património64 teve inicialmente como
foco o valor do monumento histórico, no entanto com a apropriação de novos conteúdos e
novos pontos de vista, deu-se uma reestruturação destes valores e o conceito de Património
passa a integrar um reportório de carácter universal, de acumulação de bens imóveis, móveis
e imateriais, estando hoje relacionado tanto com a arquitetura erudita como com a corrente.
A génese do conceito surge sob o impulso das Revoluções manifestadas ao longo do século
XVIII e XIX, sendo a sua principal disseminação ao longo do século XX com as consequências
das Grandes Guerras que realçaram a importância da salvaguarda do mesmo.

Os processos de globalização da cultura relativa às intervenções no Património surgiram


de meios teórico-práticos que, independentemente da sua origem, promoveram a discussão
sobre a relevância do património cultural na afirmação da identidade até aos dias de hoje.
Ao longo dos diferentes períodos da história deu-se um conjunto de apropriações de uns
modelos arquitetónicos em detrimento de outros, particularidade visível no Mosteiro de Santa
Cruz, onde constam diversas transformações, demolições e reassumes, alguns inclusive com
diferentes expressões arquitetónicas. No período Renascentista o “gosto clássico” é retomado
em detrimento da herança medieval; no Barroco foram feitas muitas intervenções com o intuito
de instituir uma nova estética; durante a era da Revolução Francesa prevalece a estética de uma
nova ordem social em prol da destruição da simbologia do Antigo Regime; entre outros. Para
além das diferentes expressões arquitetónicas, todas estas roturas proporcionaram um conjunto
de novas posições, ideologias e teorias por parte de diversos autores, que complementando

[64] “O património é definido como a conjugação das criações e dos produtos da natureza e do homem que, na sua integridade, constituem, no
espaço e no tempo, o ambiente que vivemos. O património é uma realidade, um bem da comunidade e uma valiosa herança que pode ser legada
e que convida ao nosso reconhecimento e participação.” Definição proposta pela Quebec Association for the Interpretation of the
National Heritage. 1980. Committee on Terminology.

Fig.53- “Dictionnaire raisonné de l’architecture française du XXI au XVI siècle” Viollet-le-Duc 1814-1879.
Fig.54- Corte construtivo da catedral de Aimens, Viollet-le-Duc. 77
OS VALORES DO RESTAURO
 E DO PATRIMÓNIO

ou refutando certas perspetivas e “estilos”, tiveram um papel fundamental para a noção de


património e restauro até aos dias de hoje. Compreender a analisar algumas das principais
teorias da história do restauro e do património do século XIX e XX é fundamental, uma vez
que os modos de intervir de então pressupõem uma análise e conhecimento do passado e das
suas “estratificações”, aceitando simultaneamente o seu carácter de presente histórico65.

Em meados do século XIX, uma das mais importantes personalidades no âmbito da definição
do conceito de património foi Viollet-le-Duc (1814-1879)66. Os seus princípios consideravam
primeiramente a novidade ao invés da historicidade presente até então, muito articulada ao
antigo regime pré-revolução. Valoriza “uma nova relação com o passado, relação essa eminentemente
moderna” de modo a disputar os paradoxos típicos do séc.XIX, e propondo “a procura de uma
nova linguagem em consonância com o seu próprio tempo”.67 O seu foco insistia essencialmente na
modernização da prática da arquitetura, sendo esta em consonância com os meios oferecidos
pela era da Revolução Industrial, numa perspetiva intervencionista68, através da ideia de de
restauro estilístico, onde admitia que o edifício deveria ser restaurado consoante o estilo
da sua construção. John Ruskin (1819-1900)69 representa uma perspetiva contemporânea,
no entanto oposta, no sentido de não apoiar um gótico científico ou funcionalista, ou a
reprodução na totalidade, mas sim num gesto pitoresco e sublime do Romantismo Inglês. A
pré-existência deveria manter a sua imagem original, assim considerada um documento único
e irreproduzível, onde “O trabalho das gerações passadas confere aos edifícios que elas nos legaram um
caráter sagrado. As marcas que o tempo imprimiu sobre elas fazem parte da sua essência.” 70.

[65] Este conceito caracteriza o espectro entre a atualidade e a sua história, onde“a contemporização entre as duas instâncias
que representa a dialética do restauro (...)”. Brandi, Cesare. 2004. Teoria do Restauro [Teoria del Restauro]. Tradução de KÜHL,
Beatriz Mugayar. Cotia, SP: Ateliê Editorial.
[66] Villet-le-Duc (1814-1879) - arquiteto francês muito ligado à arquitetura revivalista do século XIX e aos temas
relacionados com a preservação e conservação do património. Realizou várias obras nomeadamente em castelos, câmaras
municipais e edifícios religiosos, e escreveu cerca de 19 obras e artigos sobre arquitetura.
[67] Vollet-le-Duc, Eugène Emmanuel. 1996. Restauro [Restauration]; tradução de Dourado, Odete. Salvador: Pretextos
(V.1) /PPGAU-UFBA. pp. 5-6.
[68] Em 1866 publica o oitavo volume da sua compilação do Dictionnaire Raisonné de l’Architecture Française du XIème au
XVIème Siècle, onde defende a sua definição de restauro: “Restaurar um edifício não significa repará-lo, reconstruí-lo ou mantê-lo.
Significa restabelece-lo no seu estado mais completo, que pode até nunca ter existido.”. Ibidem, p.17.
[69] John Ruskin (1819–1900) foi poeta, pintor e crítico de arte de família londrina abastada, cujo pensamento se
encontra muito articulado ao Romantismo, movimento ideológico e literário de finais do século XVII até meados do
século XIX. Esteve na génese do movimento Arts & Crafts.
[70] Choay, Françoise. 2011. As questões do património: antologia para um combate. Edições 70. p.31.

Fig.55- Painel da exposição Cronocaos, OMA 2010. 79


OS VALORES DO RESTAURO
 E DO PATRIMÓNIO

Ruskin publica o livro The Seven Lamps of Architecture em 1849, e The Stones of Venice em 1851,
onde refletiu sobre o processo de ruína/abandono em detrimento do restauro e reabilitação,
defendendo simultaneamente o valor do antigo e a linguagem dos estilos passados, a
prevalência da história e não a sua beleza, onde os materiais originais deveriam ser preservados
e respeitados. Assim, numa visão anti intervencionista, o seu princípio baseava-se na memória
histórica e simbolismo que um edifício pode adquirir.

Esta dicotomia entre ideias de meados do século XIX, entre outras problemáticas, demonstram-se
como “uma atitude passiva e contemplativa do transcorrer do tempo contraposta a uma deliberada vontade
de cancelar as pegadas que este deixou impressa sobre a matéria. E essa dicotomia hoje, distante já 150 anos,
segue condicionando o debate sobre o restauro e marca, de facto, os limites extremos da discussão atual.” 71.

Entre estas duas posições opostas, Camillo Boito (1836-1914)72 por sua vez adota diferentes
pontos das duas teorias e elabora critérios de intervenção relacionados com a conservação e
restauro, numa tentativa de se afastar da teoria e aliar esta à prática. Procura nas leituras do
passado as premissas para uma criação contemporânea, de modo a incentivar uma arquitetura
que estabelece uma relação de diálogo com o lugar e que se compatibilize com o programa
moderno. Destaca também a necessidade de distinção entre as partes originais e as alteradas,
a mínima intervenção ou reversibilidade, defendendo que o restauro só deveria acontecer em última
instância, e que por isso se devia apostar na manutenção periódica de modo a prevenir a
sua ruína. Assim, propõe oito princípios básicos no Congresso de Engenheiros e Arquitetos
de 1884, em Roma, que defenderem a recomposição e consolidação das partes desagregadas,
apoiadas em princípios de manutenção e conservação já referidos por Ruskin e William Morris
(1834-1896), fundamentais para a compreensão dos modos de intervir dos séculos seguintes.

O pensamento evolui por volta de 1912, com a Teoria do Restauro Científico de Camillo
Boito, Gustavo Giovannoni (1873-1947), Luca Beltrami (1854-1933), e outros autores. Estes
têm como objetivo solidificar e reconstituir o património edificado, de forma priorizar
a conservação em detrimento da intervenção profunda, não excluindo esta vertente, mas

[71] Lagunes, María Margarita Segarra em: Gomes, Marco Aurélio. 2011. Em Reconceituações contemporâneas do patrimônio.
Coleção Arquimemória; V.1. Salvador: EDUFBA. p.19
[72] Camillo Boito (1836–1914) - “foi arquiteto, restaurador, crítico, historiador, professor, teórico, literato e um analista dos mais argutos
de seu próprio tempo (...); como restaurador e teórico, tem um lugar consagrado pela historiografia da restauração, sendo a ele reservada uma
posição moderada e intermediária entre Viollet-le-Duc (...) e Ruskin, sintetizando e elaborando princípios que se encontram na base da teoria
contemporânea de restauração. Kühl, Beatriz Mugayar em Boito, Camillo. 2008. Os restauradores; [I restauratori: Conferenza tenuta
all’Esposizione di torino il 7 giugno 1884] Tradução de Beatriz Mugayar KÜHL,. Cotia, SP: Ateliê Editorial. p.9.

81
OS VALORES DO RESTAURO
 E DO PATRIMÓNIO

aceitando-a de acordo com as suas limitações e como forma de consolidação. Fundamentado


a partir de evidências documentais, caracterizava-se por métodos e conhecimentos próprios
das ciências humanas (arqueologia, história ou filologia).

No entanto, após um período tão conturbado, quer pelas discussões geradas pelas divergências
e críticas, quer pelas consequências da Segunda Grande Guerra, surgiu numa tentativa de
normalização de métodos e procedimentos básicos que deram origem às “Cartas Patrimoniais”
- documentos normativos essenciais para o desenvolvimento dos modos de intervenção. Com
a Grande Guerra, os monumentos e tecidos urbanos históricos ficaram danificados, surgindo
muitas reflexões sobre como reconstruir, exigindo uma postura neutra por parte dos arquitetos
em relação ao bem cultural. Surgiram assim, as primeiras reflexões que originaram o Restauro
Crítico, mais condescendente face à pressão sociopolítica, nomeadamente no que respeita à
recomposição de monumentos segunda a sua vertente social e simbólica, respeitando sempre
as diferentes fases da obra e a preservação das suas marcas do tempo. Através do debate
aberto, cartas e convenções estabeleceu-se um novo paradigma que conduziu à manifestação
de novos valores que se foram adquirindo. Valores esses que continuam a ser revistos na
contemporaneidade.

As necessidades de salvaguarda do Património após as Grandes Guerras tiveram por


consequência a formação de organismos com o intuito de criar medidas, legislações e
metodologias de preservação do património. A Sociedade das Nações, fundada em 1919, após a
Primeira Guerra Mundial no contexto do Tratado de Versailles, teve como objetivo propagar a
cooperação internacional e abranger a paz e segurança. Esta, deu origem mais tarde à criação
da ONU, em 1945, com o objetivo de decretar medidas que permitam reestabelecer a ordem
após a Segunda Guerra Mundial. Instituições internacionais como a UNESCO fundada
no mesmo ano, o ICOMOS ou o ICOM73 em 1965, foram também fundamentais uma vez
através de cartas e convenções, permitiram criar um desenvolvimento disciplinar e estabelecer
um conjunto de técnicas e orientações deontológicas, que por sua vez determinaram novas
práticas no âmbito de projeto e intervenção no património.

[73] Abreviaturas: ONU- Organização das Nações Unidas (em inglês UNO- United Nations Organization);
UNESCO - United Nations Education, Scientific and Cultural Organization;
ICOMOS ou ICOM- International Council of Museums;
O ICOM ja existia desde 1946. Com a necessidade urgente de se criar um organismo semelhante mas para a área do
património, formolou-se o ICOMOS, que surgiu após a realização de um congresso em Veneza (Itália), de 25 a 31 de
Maio de 1964: o 2.ºCongresso de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos.

Fig.56- Fotografia do Palácio de Versalhes na assinatura do Tratado de 1919. 83


OS VALORES DO RESTAURO
 E DO PATRIMÓNIO

Estes estabeleceram princípios que foram transpostos para a legislação de diversos países, dando
origem mais tarde à publicação destes em diferentes suportes nomeadamente com a internet,
meio que possibilitou a sua disseminação e permitiu a discussão à volta da problemática,
desencadeando novas perspetivas.

Neste período destaca-se a Carta de Atenas de 1931, crucial na reflexão e no desenvolvimento


das práticas inerentes ao Património, onde se predispôs uma releitura dos princípios em vigor
que caracterizavam o Restauro Científico, com destaque nos aspetos documentais da obra, e
defendendo o conceito de cidade enquanto organismo funcional. Outro marco importante
foi a Conferência de Atenas sobre a Conservação dos Monumentos e Sítios, que acabou por influir
no IV debate da Assembleia do CIAM em 1933, cujas premissas conduziram ao início de uma
consciencialização no âmbito da salvaguarda do Património, problematizando sobre a falta
de medidas de intervenção em conformidade com as diferentes tipologias patrimoniais.

A partir de meados do séc XX desenvolveu-se um campo disciplinar autónomo, marcado


pela realização de um Congresso em Veneza em 1964, onde foi declarada a importância da
problematização internacional relativamente aos critérios de intervenção no património
construído, que levou à concretização da Convenção da UNESCO, sobre a Proteção do Património
Mundial, Cultural e Natural em 1972. Nesta, os princípios do Restauro Científico foram revistos
e desenvolvidos na Carta Italiana de Restauro de 1972, elaborada por Cesare Brandi, onde se
predispõe uma tentativa de olhar para a preexistência não como um “documento”, mas como
uma obra figurativa com conotação social e simbólica, em contraposição ao restauro científico
que se fazia no pós-guerra, sendo ainda hoje uma das principais referências que melhor dialoga
com as práticas de restauro atuais.

85


1.2.2- A RELAÇÃO ENTRE AS TEORIAS DE RESTAURO E A CONTEMPORANEIDADE

A nova visão estética criada a partir de meados do século XX contribuiu para uma nova vertente
no que respeita à conservação, a “Nova Conservação Científica” ou o chamado Restauro Crítico.
Este movimento prevalecia o uso de novas metodologias e técnicas, em detrimento de teorias
da conservação até então, não descurando estas, e admitindo os resultados e aprendizagem das
mesmas como essenciais para a perceção dos modos de intervir. Este processo é algo natural,
uma vez que, ao longo dos séculos as práticas de intervenção e restauro do Património foram
sendo alteradas a partir do da atualidade de cada um dos teóricos e críticos, e como tal,
devemos considerar o seu próprio contexto de ação.

A partir do Movimento Moderno,74 a problemática à volta dos modos de intervir ganha uma
outra dimensão. Surgem as primeiras críticas ao arquiteto modernista, que tem como premissa a
negação do passado, interrompendo-o e afirmando-se propositadamente de maneira diferente.
No entanto a conceção do que é “moderno” de cada época, presume uma rotura com algo
considerado antigo, ou seja, os conceitos funcionam como uma contraposição um ao outro:
o novo pressupõe o antigo e vice-versa. A intervenção no património edificado deve ter em
consideração a preexistência e os valores desta, no seu passado e no seu presente, e neste
sentido, não deve seguir em absoluto os “cânones” estabelecidos na arquitetura moderna,
onde a ideia de tábua rasa e rotura dos estilos se encontra eminentemente presente, nem
seguir estritamente estas ideologias das teorias do século XIX, ou outras teorias do restauro.
Por muito que a era da globalização permita a fácil difusão de diferentes ideias e discussões,
a solução inédita nunca existirá, apenas persiste a ideia de que há uma atualidade em certos
pontos das diferentes teorias de restauro, que nos permite obter uma aprendizagem contínua
e tomar decisões de projeto de maneira mais coerente e apropriada.

[74] Caracterizado pelo conjunto de pensamentos, movimenos e escolas, que influênciaram grande parte da arquitetura
do século XX, inserida no contexto artístico e cultural do modernismo. Este, surge num contexto de mudança a nível
social e cultural, ligadas à revolução industrial e à transição gradual do meio rural para a cidade, tendo consequências na
arquitetura. A linha de pensamento advém de William Morris (1834-1896), no entanto a sua génese é a partir de 1919,
quando Walter Gropius funda a Bauhaus em Weimar, Alemanhã.

Fig.57- “Catholic town in 1440 vs The same town in 1840”. Pugin, Augustus em “Contrasts”.
Fig.58- Plan Voisin de Le Corbusier. Medida radical de intervenção da Arquitetura Moderna. 87
A RELAÇÃO ENTRE AS TEORIAS DE RESTAURO
 E A CONTEMPORANEIDADE

A investigação apresenta uma intensa pesquisa à volta destes temas precisamente por haver
um raciocínio e uma contemporaneidade em cada uma das teorias, por muito simplista que
seja. Um exemplo dessa “atualidade” nas teorias de Viollet-le-Duc, consiste na forma como
é abordada uma posição racional-funcionalista: as decisões de restauro são guiadas perante
a análise compositiva e a função, tendo em conta também o respeito pela matéria prima e a
consequência dos materiais, da estrutura e a relação destes com a leitura de um monumento.
Por sua vez com Camillo Boito podemos observar a negação da mimese dos estilos do passado,
valorizando o saber intervir de modo crítico, de modo a evitar falsos históricos, e tendo
em conta novos conceitos como o de reversibilidade75, de compatibilidade dos programas/
funcionalidade, entre outros, num gesto de incentivo tendo em conta o valores simbólicos
e sociais, principalmente quando falamos em meios urbanos e históricos, como no caso do
Mosteiro de Santa Cruz.

No entanto, no presente ponto de vista, a ideia de ato crítico perante o exercício de restauro deve
ter em consideração não só alguns dos aspetos das teorias de restauro referidos anteriormente,
mas também a história da preexistência até aos dias de hoje, a sua relação com “o sítio”, o seu
significado histórico e simbólico e o seu valor social. A dicotomia presente entre as ideologias
dos arquitetos do século XIX e inícios de XX, persiste numa divergência entre a relação do
valor da pré-existência e o projeto: enquanto antes o ponto de partida estava na preservação
e salvaguarda do monumento, os arquitetos modernistas entendiam este como um cenário,
uma espécie de enquadramento. Cria-se um paralelismo entre o de projetar na pré-existência ou
para esta, cuja intenção e metodologia é completamente distinta nos dois casos.

Os princípios do restauro científico no segundo pós-guerra revelaram imensas críticas,


nomeadamente relativas ao “moderno-ambientado”, que consistia na simplificação construtiva,
na repetição das formas, escala e implantação dos edifícios antigos, assim como da exclusiva
consideração dos monumentos como documentos históricos, negando a sua realidade
figurativa. Pretendia-se que estes tivessem um caracter “neutro”, no entanto, de acordo com a
noção da obra arquitetónica como obra de arte, detentora de uma imagem figurativa, punha
em causa a validade destes como falsos substitutos. Nenhuma arquitetura verdadeira poderia
ter essência “neutra” se esta fosse desprovida de valor artístico e descontextualizada da sua
realidade urbana.

[75] “Reversibilidade significa que uma intervenção pode essencialmente ser desfeita, ou retirada, sem causar mudanças ou alterações na estrutura
material histórica.” ICOMOS-ISC20C. 2011. Documento de Madrid - Critérios de Conservação do Património Arquitetónico do Século
XX, Glossário

Fig.59- Fotografia Museu Nacional Machado Castro - distinção material entre o novo e a preexistência. 89
A RELAÇÃO ENTRE AS TEORIAS DE RESTAURO
 E A CONTEMPORANEIDADE

Por outro lado, o Restauro Crítico afirma que cada obra é única e é feita de acordo com o
seu tempo, logo pode deter soluções únicas, sem esquemas ou linguagens pré-concebidas.
Estas soluções podem ter como base uma análise atenta à preeexistência, mas num gesto de
crítica, não como uma atividade empírica. Deste modo, o exercício de reabilitação de um
edifício patrimonial tem de surgir como um ato crítico, baseado num critério com o seu
valor artístico, no grau de importância e no próprio valor da obra no passado e no presente.
A partir daqui, deve-se recuperar, devolver a essência da obra e liberta-la, retornando-lhe a sua
imagem e significado, uma vez que esta exprime a sua individualidade.

Como referido anteriormente, a teoria de Cesare Brandi é considerada das mais atuais, uma
vez que traduz princípios válidos até aos dias de hoje. As teorias anteriores preconizavam
a manutenção do monumento apenas como documento histórico, de modo a colocar em
segundo plano a sua imagem figurativa. A teoria brandiana considera o restauro apenas da
matéria, o que se observa até aos dias de hoje, sendo que nenhuma intervenção deve ser feita
se esta desfigurar a imagem da sua origem. Deste modo, o estado de conservação é que limita a
intervenção, e a distinção entre o antigo e o novo deve ser visível e reversível, de modo a melhorar
a leitura da obra de arte e a nunca retirar o valor e relevância da preexistência. Neste sentido, o
princípio de distinguibilidade da ação contemporânea pressupõe que a intervenção se deve assumir
como diferente, sem infringir a própria unidade e singularidade da pré-existência, assim como
deter uma certa reversibilidade, onde qualquer intervenção se deve inserir com propriedade e
respeito, de modo a não comprometer igualmente intervenções futuras ou a essência da obra.

A complexidade e debate acerca dos conceitos inerentes ao património, assim como a definição
destes, são delicados e controversos, sendo praticamente impossível defini-los sem as suas
ambiguidades. Tal dificuldade é observada através das diferentes abordagens possíveis no
âmbito do restauro até aos dias de hoje, onde se considera a arquitetura como produção
artística de distintas naturezas, que por sua vez requerem um tratamento distinto e uma
metodologia própria.

“A ideia de património foi-se alterando ao longo do tempo e continua a alterar-se [...] a condição de património
passou a abranger as mais diversificadas manifestações culturais, desde as de suporte material e natural às
intangíveis. A uni-las o reconhecimento da sua capacidade de representar valores e necessidades que estabelecem
vínculos entre o presente e o passado, dando assim coerência a um mundo em constante transformação”76

[76] Choay, Françoise. 2000. Alegoria do Património [Trad. Teresa Castro]. Lisboa: Edições 70.

91


93


II- O PROJETO

REFLETIR

2- Reflexão Crítica e Problematização


2.1- Diálogos com a Preexistência - análise e reinterpretação
2.2- Referências de Estudo
2.3- A Crise de Identidade: O atual Mosteiro de Santa Cruz

INTERVIR

3- O Retorno da Centralidade - proposta de grupo


3.1- O novo núcleo museológico
3.2- O espaço, a forma e o programa

4- Identidade, intemporalidade e efemeridade - proposta individual


4.1- arquitetura e memória
4.2- (Re)ssignificar o Lugar
4.3- O Percurso museológico - Permanência e Continuidade
4.4- O Efémero e o perene - Diálogos entre o corpo e o espaço
4.5- A Expressão Construtiva do Efémero

Fig.61- Esquisso Jardim da Manga. 95




2- REFLEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO


CARBONARA:
MIMESE/REPRISTINAÇÃO- CONTINUIDADE LINGUÍSTICA
ANALOGIA/TRADIÇÃO- PRINCIPIOS COMPOSITIVOS E TÉCNICAS ANTIGAS 2.1- DIÁLOGOS COM A PREEXISTÊNCIA - ANÁLISE E REINTERPRETAÇÃO
RESTITUIÇÃO TIPOLÓGICA- RECUPERAÇÃO DO ARQUÉTIPO
(TAMBÉM POR VARAGNOLI)

Os valores referidos nas Teorias de Restauro permitem analisar as diferentes relações e


dinâmicas que o projeto de arquitetura pode promover e, simultaneamente, contribuir para
o processo de valorização e salvaguarda do património edificado. A reflexão sobre as diferentes
teorias surgem como meio de conter um campo de ação relativamente à preservação de
bens culturais e patrimoniais, orientando uma metodologia que incentive à prática de uma
CARBONARA: intervenção adequada. Esta permite assim adotar uma atitude responsável perante o exercício de
FILOLOGIA PROJETUAL/COEXTENSÃO- PALIMPSESTO HISTÓRICO DITA
DIRETRIZES DO PROJETO CONTEMPORÂNEO; VALOR PRÓPRIO projeto, de modo a que as tomadas de decisões sejam fundamentadas, conscientes e prudentes,
REINTEGRAÇÃO DA IMAGEM/ACOMPANHAMENTO CONSERVATIVO- UNIÃO
ENTRE AS PARTES; DISTINÇÃO DO NOVO
e garantam as condições de preservação da simbologia e da memória coletiva, dos quais os
VARAGNOLI: conjuntos urbanos e edifícios patrimoniais são a materialização.
DIFERENCIAÇÃO DE LINGUAGEM; DESCODIFICAÇÃO

Neste sentido, e no seguimento da reflexão crítica perante o tema, destaco a dissertação de


mestrado “Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio cultural
edificado de Coimbra nas últimas décadas” 77
de Mariana Vetrone, onde é feita uma análise às
categorias interpretativas de intervenção de três autores relacionados com o restauro crítico:
Claudio Vagnoli, Giovanni Carbonara e Beatrice Vivio, de modo a “compreender os possíveis tipos
VIVIO:
de relação linguística, material, funcional e temporal entre o antigo e o novo, numa perspetiva de reconhecimento
CONTRASTE DIALÉTICO- INTERAÇÃO ENTRE O ANTIGO E O NOVO;
INTEGRAÇÃO DIFERENCIADA- BASE NA PREEXISTÊNCIA MAS MATERIAIS dos seus valores intrínsecos e de sua transmissão ao futuro.”78 Na dissertação referida, é analisada a
DIFERENCIADOS; REINTERPRETAR EQUILIBRIO DA FORMA E ESTÉTICA
LÓGICA DA HARMONIA; MÍNIMA INTERVEÇÃO forma como o novo é capaz de dialogar com a preexistência, tendo em conta a linguagem

VARAGNOLI:
das intervenções em termos de compatibilidade, técnicas construtivas, materialidade, mas
DIFERENCIAÇÃO DE LINGUAGEM; DESCODIFICAÇÃO sobretudo os diferentes graus de respeito pela mesma. Dada a complexidade e abrangência
dos temas, e uma vez que os critérios e as metodologias dos autores italianos são distintas,
não foi possível a tradução direta dos conceitos, havendo por vezes convergência de ideias
mesmo em posições completamente opostas.

[77] Vetrone, Mariana Lunardi. 2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio cultural
edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de Arquitetura. DARQ-FCTUC
[78] Ibidem, p.2.

Fig.62- Esquissos de reinterpretação das categorias no contexto do Mosteiro de Santa Cruz. 97


RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
 - DIÁLOGOS COM A PREEXISTÊNCIA

Como tal, a metodologia encontrada para viabilizar o paralelo entre os diferentes autores
foi “o termo de comparação”, de modo a encontrar as semelhanças e diferenças, categoriza-
las e interpretá-las. É perante esta ideia de complexidade, e numa consequente tentativa de
desenvolvimento de espírito crítico, quer perante a viabilização deste conhecimento, quer
como ferramenta essencial para a prática futura face ao exercício de arquitetura, que surge a
ideia de sintetizar e aprofundar o tema, não só tendo em conta as perspetivas de autores que
foram referências nestas temáticas, mas também tendo em conta as condicionantes e os fatores
da contemporaneidade. O ponto de partida, para além do estudo dos princípios básicos dos
diferentes teóricos do século XIX e XX, foi um quadro síntese elaborado a partir do cruzamento
das teorias interpretativas dos três autores italianos referidos por Mariana Vetrone (fig.63).

O esquema tem como objetivo o diferenciar da leitura do cruzamento entre as diferentes


categorias, norteando as relações de classificação entre os mesmos, de modo a tentar
compreender o seu critério e lógica basiliares. Como tal, passa por um processo sintético e
crítico por parte da autora, não devendo ser interpretado como tradução direta, mas sim num
gesto de comparação e de equilíbrio dialético. Sinteticamente, as categorias foram agrupadas
de acordo com cinco graus de diálogo com a matéria antiga: Negação, Autonomia, Assimilação,
Relação Dialética e Não-Intervenção Direta, sendo divididas também por cores, de acordo com
a relação temporal que desenvolvem entre os valores do antigo e do novo. Num modo geral,
as categorias onde prevalece o valor do antigo, mostram-se menos invasivas e as categorias de
Repristinação e Continuidade Sem Cuidado pela Distinção representam uma quebra com este valor
temporal, dando uma falsa ideia de retorno ao passado.

“Caberia, certamente, um adicional esforço de síntese, além de certa inventividade, para reorganizar as categorias
sob este novo olhar [...] poderia elaborar-se uma nova sistemização, capaz de atualizar o debate em questão
e, porventura, adicionar também a componente funcional, voltada às relações de programa e uso nos edifícios
preexistentes [...]” 79

[79] Ibidem, p. 22.

Fig.63- “Esquema de síntese elaborado a partir do cruzamento das categorias interpretativas propostas por Varagnoli, Carbonara e Vivio.”
Realizado por Mariana Vetrone. 99
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
 - DIÁLOGOS COM A PREEXISTÊNCIA

Após a leitura e interpretação dos conceitos abordados na investigação, e apesar de se considerar


a análise e abordagem aos temas muito completa, atenta e exemplar, mediante a sugestão
da autora, da análise das diferentes teorias ao longo dos séculos, e da tentativa de resposta à
problemática relativa às novas exigências da cidade contemporânea, sentiu-se a necessidade de
reorganizar alguns dos conceitos e categorias. Procedeu-se assim, à realização de um esquema
onde as categorias foram reorganizadas tendo em conta os modos de intervir e a relação
entre o antigo e o novo (fig 64). Neste são adicionados outros conceitos mais abstratos e
elementares da arquitetura, interligados muitas vezes ao sensorial, por exemplo, uma quarta
dimensão: o conceito de Temporalidade80 entre a preeexistência e a obra contemporânea, por
Beatrice Vivio81. Dentro deste esquema, foram sub-agrupadas consoante as suas semelhanças
em termos de materialidade e linguagem, dando origem a outras dimensões de caráter mais
abstrato, mas indispensáveis neste diálogo entre as duas instâncias. Salienta-se que o esquema
apresentado, assim como o de Mariana Vetrone, é apenas uma referência visual para simplificar
o cruzamento entre as categorias, e serve somente para orientar a leitura entre as diferentes
lógicas e critérios de intervenção, não devendo ser utilizado como forma de tradução direta.

A versão apresentada trata-se de uma metodologia menos analítica do ponto de vista teórico,
mais ligada à relação entre o projeto e o fruidor do espaço, tendo em conta o sensorial e a
vertente simbólica, social e cultural da preexistência. O objetivo deste novo quadro síntese
de carácter experimental, não é subvalorizar as diversas teorias, mas tentar interpretá-las face
a uma vertente mais prática, que possa ser adequada ao exercício de projeto e aos modos de
intervir. As categorias que dispõem uma relação de Não-Intervenção Direta, ligada aos conceitos
de conservação imaterial, reconstrução, sistematização indireta e não intervenção, mencionados pela autora
referida, assim como o de Negação perante a preexistência, Repristinação e Continuidade em cuidado pela
distinção82, não foram tidas em consideração, uma vez que o foco da síntese elaborada consta
da relação direta entre a linguagem, a matéria e tectónica do novo com a preexistência.

[80] Conceito já mencionado na Dissertação referida;


[81] Arquiteta graduada na Universidad Central de Venezuela e na Università degli Studi di Roma “La Sapienza”, onde fez sua
especialização em Restauro de monumentos (1995) e seu doutorado, com tese sobre a obra de Franco Minissi (2004-2008).
Realizou várias investigações sobre a intervenção projetual contemporânea em preexistências históricas (2001-2006) e
em cursos de pós-graduação em Restauro da Sapienza. Trabalha em obras de restauro particulares na Itália desde 1995 e,
atualmente, também colabora com a Superintendência de Bens Arqueológicos de Roma e com o Instituto Superior para
a Conservação e Restauro.
[82] Para definição dos conceitos ver Vetrone, Mariana Lunardi. 2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos
de intervenção no patrimônio cultural edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de Arquitetura.
DARQ-FCTUC. pp.6-22.

Fig.64- Esquema de reinterpretação e análise das categorias interpretativas, tendo em conta as relações de
dialética entre o antigo e o novo. 101
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
 - DIÁLOGOS COM A PREEXISTÊNCIA

Perante a reflexão deste tema, estas dinâmicas apresentam-se como falsos dialéticos, não de
transmissão dos valores do edificado, mas muito ligados a um gesto de falso artístico, de mimese
historicista e representativa de estilos anteriores. Faz parte da arte do exercício de projeto,
conseguir estabelecer um equilíbrio entre o respeito pela preexistência, os seus valores do
passado, mas também tendo em conta o nosso “presente histórico”83, e a transmissão de ambos
às gerações futuras. O objetivo do estudo é precisamente perceber a articulação entre esta
relação intemporal entre a preexistência e todas as dimensões formais e simbólicas desta, assim
como as novas integrantes da contemporaneidade, como o conceito de desenvolvimento
sustentável, de reversibilidade, a importância dos novos usos, a relação entre a linguagem e
matéria, entre outros.

São assim identificadas três vertentes abstratas fundamenais: A (In)temporalidade, relacionada


com questões da marca da preexistência no tempo; a Identidade, muito ligada à simbologia
e à ideia de memória coletiva; e a Linguagem, a expressão através da matéria e da tectónica.
São também acrescentadas três categorias: a questão dos usos/funcionalidade, o conceito de
efemeridade e reversibilidade, que serão aprofundados ao longo da dissertação, nomeadamente
através da ferramenta de desenho, o conceito de desenvolvimento sustentável84, essencial
quando se refere à intervenção na contemporaneidade.

A vermelho pode-se observar a categoria abstrata mais palpável: a linguagem. Segundo Franco
Purini, pode ser definida “como o conjunto de elementos que dão à composição arquitetónica, enquanto
expressão artística, um certo ordenamento sintático, morfológico e semântico [...] este conceito está fortemente
ligado à semiótica, abrangendo também questões de apreciação estética e até mesmo conceitos estilísticos.” 85 Nesta
a materialidade, desde as texturas, à estereotomia, ritmo, proporção, efeitos de luz e sombra
e contrastes, é o caráter mais tangível e concreto. A escolha da materialidade pode assumir
diferentes posições: a de contraste e oposição novo vs o existente, a de diferença tendo em conta o

[83] Presente histórico , segundo Cesare Brandi, corresponde ao período intermediário entre as duas historicidades
da obra: “Aquela que coincide com o ato de sua formulação, o ato da criação, e se refere, portanto, a um artista, a um tempo e a um lugar; e
uma segunda historicidade que provém do fato de insistir no presente de uma consciência, e portanto, uma historicidade que se refere ao tempo
e ao lugar que está naquele momento” Brandi, Cesare.2004. Teoria do Restauro [Teoria del Restauro]. Tradução de KÜHL, Beatriz
Mugayar. Cotia, SP: Ateliê Editorial.
[84] Fala-se em desenvolvimento sustentável e não sustentabilidade, uma vez que este abrange um espectro maior,
um conjunto de diferentes dimensões catalisadoras de desenvolvimento, que permitem por sua vez estimular padrões
sustentáveis de modo a que uma determinada sociedade seja capaz de responder às necessidades das gerações presentes e
futuras.
[85] Purini, Franco. 2012. Linguaggio Architettonico. Retirado de Vetrone, Mariana Lunardi. 2018.“Diálogos com a preexistência:
leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio cultural edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado
Integrado de Arquitetura. DARQ-FCTUC. p.23.

103
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
 - DIÁLOGOS COM A PREEXISTÊNCIA

uso de materiais distintos dos originais, a sua expressão visual e o impacto que este pode ter;
ou ser algo em concordância com o que existia, propondo-se com uma linguagem semelhante.
No esquema, pode-se ver que se aproxima da “analogia/tradição” e da “dialética crítico-criativa/
reinterpretação”, uma vez que podem estar interligadas com esta ideia de aproximação e representação
do passado, ou da “lógica da harmonia”, que se relaciona com o que o projeto pretende transmitir
e na leitura deste como um todo.

As duas categorias restantes estão essencialmente relacionadas com a vivência da arquitetura


e com o seu caráter multissensorial e memorial. Embora inconscientemente, a perceção da
arquitetura é feita através da interação de todos os sentidos, aproximando-se de um gesto de
fenomenologia86. O Mosteiro de Santa Cruz tem uma leitura muito mais enriquecedora no lugar,
devido ao sensorial que os diferentes espaços nos desperta.

O tacto é o sentido que dá dimensão real à visão: fornece uma informação tridimensional
do objeto, detalhes sobre a textura, peso, densidade e temperatura; a textura e temperatura da
pedra de Ançã rugosa, dos relevos da talha dourada, das colunas salomónicas;

A capacidade auditiva estabelece uma ligação recíproca entre a pessoa e o edifício, na


medida em que o som introduz outra dimensão ao espaço; o som da precursão ao falar nas
abóbadas do Claustro do Silêncio, que nos proporciona uma ideia de tridimensionalidade, o
ambiente tranquilo que nos acolhe do caos da cidade; a música ambiente da igreja e do órgão
quinhentista, que proporciona um caráter ainda mais monumental ao espaço; o barulho da
água e dos repuxos da Fonte da Manga, que nos transmite a ideia de serenidade e paz.

O paladar, ligado ao olfato, uma vez que as partículas que se inalam através do nariz passam
pela boca, estimulando o paladar. O olfato explora a relação entre o utilizador e a memória,
estabelece ligação com o edifício pela familiaridade que nele podemos encontrar. Os
odores apenas sentidos uma vez têm uma associação direta com o momento em que foram
percecionados e ativam a memória. Desde o cheiro das madeiras velhas, que cria a sensação
de quase se conseguir sentir o seu sabor, ao cheiro do relvado e das laranjeiras da Fonte da
Manga e do incenso da igreja.

[86] A palavra fenomenologia tem origem no grego phainesthai, que significa “aquilo que se apresenta ou que se mostra”
juntamente com o sufixo logos, “explicação” ou “estudo”. Fenomenologia consiste no estudo de um conjunto de fenômenos,
e de como estes se manifestam, seja através do tempo ou do espaço, com o objetivo estudar a essência das coisas e a
perceção delas no mundo.

Fig.65- Fotografias das sensações presentes ao longo da visita ao Mosteiro. 105


RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
 - DIÁLOGOS COM A PREEXISTÊNCIA

A visão é o que nos permite ler o espaço, ter perceção do que nos rodeia. Momentos de
compressão através das passagens estreitas dentro das paredes, dos arcos que oprimem, que
trazem desconforto, e que enfatizam os pés-direito duplos da igreja ou do santuário, que
criam uma sensação de liberdade; a leitura longitudinal e panorâmica do Claustro do Silêncio
que vai desde os efeitos de perspetiva do claustro, ao ritmo das abóbadas, aos jogos de luz e
sombra das colunas, das reentrâncias dos nichos e capelas, dos frisos, das colunas; o percorrer
de espaços e escadas sinuosas até ao esplendor do Santuário, cuja morfologia oval origina
uma perceção completamente distinta dos espaços regulares - entre infinitas sensações que
tornam o espaço absolutamente singular e enriquecedor: a leitura do Mosteiro de Santa Cruz
só é tida na sua totalidade, quando o espaço é vivido e sentido. “a ideia de lugar diferencia-se da
de espaço pela presença da experiência. Lugar está relacionado com o processo fenomenológico da perceção e da
experiência do mundo por parte do corpo humano.” 87

A questão sensorial faz parte da arte de projetar. A arquitetura não consegue viver da
bidimensionalidade. O espaço existe teoricamente e precisa ser ocupado fisicamente, algo
que vai para além da forma e da materialidade. O corpo humano não só se move no espaço,
como também o define nos seus termos. Daí a análise e reinterpretação das categorias tendo
em conta a vertente sensorial, simbólica e ideia de memória individual e coletiva: a memória
define o indivíduo, tendo influência na sua identidade e na maneira de entender e assimilar o
mundo. Os conceitos encontram-se interligados entre si e refletem-se nos modos de intervir.
As duas dimensões restantes, de (In)temporalidade e Identidade serão aprofundadas no decorrer
do exercício de projeto, propondo-se uma visão de reflexão fenomenológica, desde a escala
dos espaços, a relação da escala humana com os mesmos e com os elementos que compõem
o percurso museológico, onde toda a narrativa do projeto é construída a partir de uma ideia
e de uma experiência arquitetónica, vivida pelo utilizador, caracterizando, no presente ponto
de vista, a maneira mais verdadeira de comunicar com o utilizador: através da arquitetura,
apelando a todos os seus sentidos.

[87] Montaner, Josep Maria. 2001. A modernidade superada: arquitetura, arte e pensamento so século XX. Barcelona: Gustavo
Gil. p.37

107
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
 - DIÁLOGOS COM A PREEXISTÊNCIA

“Toda experiência comovente com a arquitetura é multissensorial; as características de espaço, matéria e escala
são medidas igualmente pelos nossos olhos, ouvidos, nariz, pele, língua, esqueleto e músculos. A arquitetura
reforça a experiência existencial, a nossa sensação de pertencer ao mundo, e essa é essencialmente uma experiência
de reforço de identidade pessoal. Em vez da mera visão, ou dos cinco sentidos clássicos, a arquitetura envolve
diversas esferas da experiência sensorial que interagem e fundem entre si.”88

“Achei o desenvolvimento dos conceitos muito bem estruturados e fiquei feliz em saber que as minhas reflexões
estão dando frutos em outros desenvolvimentos teóricos e de projeto. Gostei muito da proposta de releitura das
categorias e, sobretudo, da inserção sobre as percepções dos sentidos na arquitetura. Achei a abordagem muito
sensível e interessante.” 89 - Mariana Vetrone.

[88] Pallasmaa, Juhani. 2005. Os Olhos da Pele, Porto-Alegre: Bookman. p.11.


[89] Citação referida por Mariana Vetrone ao longo do processo de troca de ideias e perspetivas via email.

109


2.2- REFERÊNCIAS DE ESTUDO

“Aprender a ver é fundamental para um arquiteto, existe uma bagagem de conhecimentos aos quais inevitavelmente
recorremos, de modo que nada do quanto façamos é absolutamente novo” 90

O processo de desenvolvimento do projeto tem sempre presente a influência, mesmo que


inconsciente, de um conjunto de referências, fruto das vivências individuais e memórias que
acumulamos ao longo dos anos. A nossa memória é o produto da experiência do nosso corpo
no espaço físico, e relacionar a memória individual com arquitetura é ter perceção do modo
como esta nos molda e se reflete no processo criativo e na arte de projetar.

Uma vez que o processo de desenvolvimento do projeto foi sempre movido por
experimentalismos no que respeita aos modos de intervir e tendo em conta o diálogo entre
a preexistência e o contemporâneo, teve muitos avanços e recuos, sendo difícil apresentar
uma síntese ou casos de estudo em concreto. Num primeiro momento, e no contexto de
desenvolvimento do trabalho de grupo, deu-se a procura por edifícios que estabeleçam uma
dialética entre o antigo e o novo, de referências a nível programático capazes de introduzir
novas dinâmicas na cidade, assim como de projetos que detenham uma sensibilidade e
expressão que narrem a essência e a história da obra. Posteriormente, numa fase individual,
após o aprofundar do contexto histórico e construtivo, e tendo em conta a análise das teorias,
as categorias e os graus de intervenção, deu-se a procura pelas diferentes abordagens que o
projeto pode assumir desde a macro à micro escala: desde a relação com a cidade, até à forma
e materialização, ao objeto de pequena escala. De maneira orgânica começaram a surgir as
primeiras referências (fig.66), cuja leitura global começaram-se a articular com a ideia de “mínima
intervenção” e o conceito de efemeridade e reversibilidade, através de peças que estabelecem uma
relação de dialética com a preexistência.

[90] Siza, Álvaro Vieira. 2000. Imaginar a Evidência. Lisboa: Edições 70. p.139.

111


Referências [canto esquerdo superior, leitura de cima para baixo]:


P.110: Mosteiro de Lorvão; Armazém e escritórios da Adémia; interiores- JMR
Villa Castro- AP Valleta+Jens Bruenslow; Museu Nacional Machado Castro- Gonçalo Byrne
Casa Robalo Cordeiro- JMR; House of Culture- depA;
P.111: Municipal Museum of Pinhel- depA; Casa Robalo Cordeiro- JMR;
The Quiet Shore; Kunsthaus Bregenz- David Claerbout; Semente em Boa Terra-
Atelier do Corvo; Museu da Cidade do Porto- JMR; Extension of the Canovian
gipsothèque- Carlo Scarpa; Caixa para guardar o vazio- Fernanda Fragateiro

Fig.66- Fotografias de referências ao longo do desenvolvimento do projeto. 113


RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
 - REFERÊNCIAS DE ESTUDO

Tendo em conta este espectro de diferentes escalas, as principais referências foram: o


Centro de Artes Visuais de Coimbra, do Arquiteto João Mendes Ribeiro, quer pela sua
aproximação ao objeto de estudo, fortemente ligada à proposta de grupo e à criação de um
CAV
novo núcleo cultural; quer pelo programa, contexto urbano e relação com a memória do lugar;
e numa escala menor, o projeto “Semente em Boa Terra”, do Atelier do Corvo, por introduzir
uma escala mais contida capaz de dialogar com o espaço de culto, de enfatizar a sua ideia
de sublime, e de ao mesmo tempo, estabelecer uma dialética entre os modos de exposição
museológica de caráter efémero o espaço de culto, de índole perene e robusto.

O CENTRO DE ARTES VISUAIS DE COIMBRA - ARQ. JOÃO MENDES RIBEIRO (1997-2003)


O LUGAR
À semelhança do Mosteiro de Santa Cruz, o CAV foi um dos edifícios que, após a extinção das
ordens religiosas e a implementação da Universidade em 1532, sofreu alterações programáticas
(e consequentemente formais), tendo sido entregue à Inquisição. Localizado na Baixa de
Coimbra, a sua função era albergar o Colégio das Artes, aquando da abertura da Rua da
0 15 45m Sofia e da construção dos colégios, que se encontravam sob a tutela do Mosteiro de Santa
Cruz. No entanto, uma vez que a construção foi consequência da junção de partes de dois
colégios crúzios, o espaço acabou por se tornar ambíguo. Em finais de 154891, Diogo Castilho,
personalidade que também esteve presente no complexo monástico de Santa Cruz, ficou
responsável pela construção do novo volume, que adquire uma cota superior e reorganiza e
define o espaço através dos dois pátios que ainda existem. É construído um pátio interno com
colunata regular a nascente, poente e a norte, restando apenas a última. Desta “compunha-se por
seis tramos, com arcos geminados e contrafortes salientes e interrompidos à altura dos capiteis. Nenhum vestígio
indica a constituição da abobada a cobrir as galerias, embora a presença dos contrafortes lance a suspeita de que
poderiam ter sido dotadas abobadas de berço, à semelhança da que, na mesma altura, se andava a fazer por
exemplo, no Claustro do Colégio da Graça.” 92

[91] Consta-se que o projeto inicial teria sido entregue a João de Ruão, mencionado inclusive na Carta de André de
Gouveia, a 13 de Março de 1548, onde refere que “os aspetos revolucionários deste projeto não se cingiam ao modelo construtivo, mas
a toda uma nova concepção de orgânica espacial. É um momento em que, claramente, o profano se sobrepõe ao sagrado”, no entanto não se
sabe se foi efetivamente o projeto que conduziu às obras de 1548.
Craveiro, Maria de Lurdes. Monumentos 25 - Revista Semanal de Edifícios e Monumentos. Setembro 2006. Direção Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais, Lisboa. p.48.
[92] Ibidem, pp.48-49.

Fig.67- Imagem aérea de localização do Centro de Artes Visuais.


Fig.68- Plantas do edifício da Inquisição, piso térreo e superior. 115
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
 - REFERÊNCIAS DE ESTUDO

Os grossos pilares com capitéis jónicos sustentam uma rede regular de arcos cruzados, que
suportam dois pisos superiores, dando lugar ao espaço de refeição dos Jesuítas, pertencente
à Inquisição. Em 1555, durante o período joanino, o colégio passa a pertencer à Companhia
de Jesus até à data de 1566, sendo depois instalado o Tribunal da Inquisição, até à extinção
do mesmo a 31 de março de 1821, período que se caraterizou pelas grandes alterações, “quer
na redefinição das áreas habitadas, quer no capítulo da circulação imposta, quer ainda na mudança radical de
uma atmosfera letiva e de saber para a esfera da repressão” 93. Posteriormente, o edifício foi cedido
à Guarda Nacional Republicana, albergando alojamentos, onde na década de 1950, com a
construção da Caixa Geral de Depósitos, se deu a demolição de partes do Colégio, mantendo-se
apenas o pátio e parte dos volumes. Em 1990 a Câmara Municipal realizou uma campanha
de escavações arqueológicas no local, nas quais se depararam com cerâmicas pré-romanas.
“Foi adotada uma estratégia de adequação do edifício ao programa, atendendo ao seu valor histórico e arqueológico
sem limitar o novo uso. Essa adequação passou por uma linguagem inequivocamente contemporânea que procura
a transparência entre o antigo e o novo, entre o passado e o presente.” 94

A INTERVENÇÃO
O primeiro contacto do arquiteto com o edifício surge no âmbito do concurso para os
Encontros de Fotografia em Coimbra, com a exposição “Céu e Inferno” de Joel Peter Witkin, em
1996, contacto determinante para o projeto de reabilitação, uma vez que o mesmo estabelecia
uma carga simbólica e histórica muito forte com a preexistência. O projeto surge após o
Concurso de Requalificação do Edifício em 1997, cujo programa foi reformulado perante
a proposta do Atelier95, passando a integrar todo o piso inferior e superior, onde se situava
a antiga “Casa dos Pobres”, o pátio a Sul que detém a arcada de Diogo de Castilho, e a
revitalização de toda a área envolvente, nomeadamente dos espaços públicos.

As diretrizes do projeto fundamentaram-se na procura de equilíbrio entre os valores da


preexistência e as novas necessidades programáticas, nomeadamente com a inclusão da nova
galeria de arte contemporânea e os espaços de apoio para atividades complementares. Na Ala
Poente, o piso térreo preserva as colunas de ferro do século XIX, agora reforçadas, mantendo

[93] Ibidem, pp. 48-50.


[94] Ribeiro, João Mendes. 2003. Centro de Artes Visuais - Memória Descritiva. Coimbra.
[95] O projeto resulta de um concurso realizado pela Câmara Municipal de Coimbra, cuja proposta integrava um
programa que abrangia apenas o piso térreo da Ala Poente, espaço que seria dividido entre o CAV e a “Escola da Noite”.
Após a crítica programática por parte do Atelier, esta última foi transferida para outro local, passando a integrar o Teatro
da Cerca de São Bernardo, projeto realizado por J.A.Arquitetos.

Fig.69- Fotografia da galeria exterior.


Fig.70- Fotografia do interior; relação entre os pilares de ferro, o arco em pedra e as paredes movíveis. 117
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
 - REFERÊNCIAS DE ESTUDO

a modulação espacial da preexistência. O espaço expositivo foi pensado de modo a ter um


caráter flexível, sendo que a caraterização do percurso é concebida através de painéis pivotantes,
que suportam as obras e possibilitam a configuração de diferentes espaços, de acordo com as
necessidades de cada exposição. Esta versatilidade reflete-se também no desenho do pavimento
de madeira contínuo, instalado sob um sistema desmontável semelhante às quarteladas de
um teatro, que permite a visita aos vestígios arqueológicos encontrados no subsolo. No piso
superior a lógica compositiva rege-se pela parede estrutural preexistente, que divide o piso em
dois momentos: num lado um contentor em madeira, que detém espaços auxiliares ligados à
fotografia; e no outro espaços abertos, organizados segundo o desenho de mobiliário, onde
se encontra a biblioteca e a administração. Este paralelepípedos transparentam um caráter
reversível, onde “Aparentemente removíveis, estes novos objectos destacam-se das preexistências, enfatizando o
contraste entre o novo e o antigo, o efémero e o perene, o leve e o pesado.” 96 Esta aproximação ao conceito de
peças efémeras é também tido na escadaria que permite a ligação entre os dois pisos: uma escada
de estrutura metálica que se diferencia da preexistência, com a reinterpretação de um lanternim
que existia no lugar, permitindo a sua iluminação; e de outra escada com ligação aos passadiços
metálicos superiores, que se encontram entre as asnas, e que permitem uma leitura global
do espaço numa perspetiva diferente. Em termos espaciais, a verdade construtiva prevalece,
deixando-se as asnas da cobertura à vista, e mantendo-se os vãos da fachada, assegurando a
leitura do ritmo da própria construção.

Segundo Mariana Vetrone, a intervenção enquadra-se “na categoria definida por Varagnoli como
Diferenciação de Linguagem, que é também consoante com as categorias de Relação Dialética e Reintegração da
Imagem, definidas por Carbonara; [...] uma relação de Contraste Dialético, ou até mesmo, em uma leitura mais
radical, de Autonomia do Novo, ambas propostas por Beatrice Vivio; (e, simultaneamente, um conjunto
de elementos que poderiam) [...] caracterizar uma relação de Destaque ou Oposição, caracterizando um
objeto completamente independente da preexistência” 97
Categorias que se encontram relacionadas
com o conceito de linguagem que a obra contemporânea detém com a preexistência: desde a
preocupação com a distinção entre o antigo e o novo, até ao contraste linguístico, por exemplo,
quando comparamos a leveza e caráter efémero dos volumes e peças de mobiliário do piso
superior, que se contrapõem à perenidade e robustez da preexistência.

[96] Ribeiro, João Mendes. 2008. Arquitectura e Espaço Cénico. Um percurso biográfico. Coimbra: Universidade de Coimbra,
Departamento de Arquitetura. Tese de Doutoramento. p. 184.
[97] Vetrone, Mariana Lunardi. 2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio cultural
edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de Arquitetura. DARQ-FCTUC. pp.42-43.

Fig.71- Axonometria explodida do projeto de intervenção. 119


RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
 - REFERÊNCIAS DE ESTUDO

Outros aspetos que a autora acima referida menciona, são a aproximação “do conceito definido
por Varagnoli como Descodificação [...] ao conceito de assimilação dos elementos preexistentes definidos por
Carbonara como Restituição Tipológica, na qual o projeto se desenvolve como recuperação de um arquétipo, ou
seja, de um modelo com uma componente linguística formal. Neste contexto, as intervenções buscam justamente
uma reinterpretação de elementos preexistentes, reinventando-os no projeto do novo.” 98 ligados, por exemplo,
à releitura do lanternim por cima da escada, que é uma reinterpretação de um preexistente,
promovendo a sua ressignificação consoante um desenho eminentemente contemporâneo, e
reinserindo o objeto no tempo presente. Outro exemplo, são as colunas jónicas que, embora
recuperadas, transpõem a ideia (in)temporal da obra, admitindo a parte em ruína como parte
da materialidade preexistente, como marca do edifício no espaço e no tempo.

Estes conceitos, encontram-se por sua vez interligados à ideia de (In)temporalidade presente
na obra, onde “o projeto ressalta a importância da manutenção das marcas do tempo como testemunhos
materiais da história do edifício e evidencia uma postura voltada ao Acompanhamento Conservativo, definido por
Carbonara, ou ainda à Mínima Intervenção, estabelecida por Vivio. Em ambos os casos, há uma prevalência
dos valores do antigo, de modo que a intervenção contemporânea aparece apenas para garantir sua fruição,
legibilidade e transmissão ao futuro.” 99

Surge, deste modo, uma outra categoria fundamental: a nova adaptação dos usos. A integração
de um programa adequado é um potencial catalisador de desenvolvimento, cuja garantia de
uso e consequentemente manutenção e preservação da obra, permitem a permanência desta ao
longo dos tempos, algo fortemente discutido pelo atelier, e que acabou por ser bem concebido
e adaptado ao lugar. Os conceitos de efemeridade e reversibilidade - presentes nos painéis pivotantes,
volumes, na escada efémera, ou na própria maneira como são trabalhados os materiais -
estabelecem uma continuidade temporal e permitem atribuir ao projeto uma leitura do edifício
no seu todo, possibilitando uma nova interpretação do simbolismo inerente à preexistência, das
camadas do passado e, simultaneamente, do presente. “Para reforçar a ideia de efemeridade, dentro
de uma estrutura permanente, no edifício do CAV, cria-se um espaço flexível e adaptável, comprometido com
o ritmo de vida contemporâneo, com os recursos da sociedade, com as inovações tecnológicas do futuro próximo.
Entende-se que a flexibilidade não é a antecipação exaustiva de todas as mudanças possíveis. A flexibilidade
é a criação de uma capacidade de ampla margem que permite diferentes e até opostas interpretações e usos.” 100

[98] Ibidem, p.44.


[99] Ibidem, p.45.
[100] Ribeiro, João Mendes. 2008. Arquitectura e Espaço Cénico. Um percurso biográfico. Coimbra: Universidade de Coimbra,
Departamento de Arquitectura. Tese de Doutoramento. p. 186.

Fig.72- Fotografia da escada efémera.


Fig.73- Fotografia do interior; piso superior. 121
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
 - REFERÊNCIAS DE ESTUDO

“SEMENTE EM BOA TERRA” - ATELIER DO CORVO (2001)


O LUGAR
A cronologia da construção românica da Igreja de Santiago de Coimbra é ainda hoje incerta. Embora
consagrada em 1206101, é marcada pelas obras que certamente se prolongaram ao longo dos séculos, como
se pode perceber através dos elementos estilisticamente tardios como a rosácea e de alguns capitéis das
janelas da fachada principal. A igreja de Santiago consiste num exemplo fiel do Românico Coimbrão, no
seguimento da construção da Sé Velha, onde se encontram os mesmos modelos escultóricos e temáticos
que representam a maior obra românica da cidade, como as gárgulas dos animais injuriados. O edifício
atual de S. Tiago não deve ser o primeiro: existe documentação que prova a existência de um edifício
religioso bastante anterior, na posse de Compostela. De facto, na primeira reconquista de Coimbra,
dos séculos IX-X, Santiago de Compostela possuía no território coimbrão diversas propriedades. 102
Acredita-se que, uma vez que a Igreja se encontra localizada relativamente perto daquela que era a mais
importante porta da cidade muralhada, a Porta da Almedina, servisse como parte do acolhimento dos
IGREJA DE SANTIAGO peregrinos que percorriam a rota de Santiago de Compostela.

No entanto, a forçada interrupção das obras em finais do século XII, conduziu a duas fases construtivas
0 15 60m
distintas: uma primeira fase que indica o declínio do estilo Românico Coimbrão, que se reflete no
edifício através da repetição dos temas escultóricos da Sé Velha, visíveis no portal Sul (as três arquivoltas
sem decoração e os capitéis com motivos vegetalistas, entre outros); e uma fase posterior, visível no
portal principal construído numa época mais tardia, onde “Sobre o arco, de finos colunelos, folheados capitéis e
delicadas molduras, levanta-se uma decoração flamífera, parecendo todo o portal arder em chamas que, subindo, vão morrer
na faixa onde antes terminam, ao passo que floridos cordões cercam a composição, como que prenunciando que à chama
final do gótico iria suceder a primavera da renascença” 103

“A medieval igreja de Santiago, que hoje existe, é um edifico da década de 1940, que resulta de uma reconstrução quase
integral e bastante polémica da ruína antes existente, em busca do que se presumia ser a sua matriz românica original,
que permitiu, entre outras coisas, a transladação de uma capela lateral manuelina do lado direito para o lado esquerdo, e
a supressão de uma outra capela lateral situada no lugar da actual.” 104

[101] A carta de demarcação da freguesia de Santa Cruz, menciona a Igreja em 1137. Gonçalves, António Nogueira.1938.
Novas hipóteses acerca da arquitectura românica de Coimbra. Gráfica de Coimbra. p.122.
[102] Ibidem, p.121.
[103] Gonçalves, António Nogueira. 1943. Evocação da obra dos canteiros medievais de Coimbra. pp.43-44.
[104] Atelier do Corvo, Memória descritiva “Semente em boa terra” disponível em: https://www.atelierdocorvo.com/project/
Fig.74- Imagem aérea de localização da Igreja de Santiago. semente-em-boa-terra/
Fig.75- Fotografia da fachada da igreja durante a exposição, 2001.
Fig.76- Fotografia dos volumes expositivos. 123
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
 - REFERÊNCIAS DE ESTUDO

A INTERVENÇÃO

“A nossa solução ironicamente glosa esta insuspeita amovibilidade do construído, propondo seis novos espaços/
capelas nas naves laterais, criando uma nova igreja de uma nave e três tramos com deambulatório. As peças a
expor pertencem, na sua maioria, a pequenas capelas da Dioceses de Coimbra e, com poucas excepções não possuem
valor artístico significativo, antes relevam um testemunho iconográfico cristão. As salas/capelas propostas têm
a dimensão 3m x 3m e 6m de altura, procurando a escala dos espaços de origem das peças a expor e evitando
a monumentalização das mesmas. Resulta a nossa intervenção numa alteração completa do espaço, sem que no
entanto se perca a sua dimensão protogótica, e isto parece-nos ser o mais interessante.” 105

A proposta do Atelier do Corvo para albergar a exposição “Semente em boa terra” em 2001,
constituí um exemplo único de diálogo entre a ideia de efemeridade, em contraste com a
perenidade, a escala e o sublime de um monumento religioso. Embora a relação dos volumes
não esteja diretamente relacionada com a escala das peças a expor, encontra-se intimamente
ligado à relação que detém com espaço, na procura por exemplo, do enfatizar das colunas que
o desenham e conformam, e da verticalidade e robustez da preexistência. Através da estrutura
regular, revestida com um material leve, as obras ganham uma nova escala e dramatismo,
aproximando-se do conceito de instalação.

Neste exemplo, as categorias diretamente ligadas à linguagem ganham uma expressão singular,
nomeadamente a relação de Contraste Dialético, de Autonomia do Novo e Destaque ou Oposição. A
construção de objetos transitórios, em confronto com a construção patrimonial, cuja robustez
românica se admite como permanente, reforçam a condição mutável do projeto, num gesto
de temporalidade aberta. O contraste vai desde esta ideia, até à materialização, da sólida pedra
presente ao longo do espaço de pé-direito duplo, à madeira, de semelhantes tons quentes que
acolhe e define um espaço mais contido. A escolha do material encontra-se muito relacionada
com as caraterísticas expressivas, tectónicas e estruturais. Apesar da madeira ser um material
leve, as caixas num primeiro momento, indicam a ideia de massa, mas na sua essência são
objetos reversíveis, leves, mutáveis e transitórios, tal como a própria exposição.

[105] Ibidem.

Fig.77- Fotografia da exposição; relação com o altar mor.


Fig.78- Fotografia da exposição, relação com as colunas preexistentes.
Fig.79- Planta, Corte e Axonometrias explicativas do projeto. 125


2.3- A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL MOSTEIRO DE SANTA CRUZ

“O património oferece-se, assim, como uma plataforma ideal para a interação das áreas do pensamento e ação
política e cultural com os mais diversos estratos sociais, campos de atividade e domínios disciplinares capazes
de desenhar uma cultura de respeito e paz. [...]a massificação da cultura, como bem de consumo, tem vindo a
assumir nas atividades e economia da sociedade pós-fordista. O turismo é disso a maior expressão, mas também
o seu maior risco.” 106

O interesse pela reabilitação e valorização do Património Arquitetónico na cidade


contemporânea, deve-se ao valor de continuidade com o passado que a cidade antiga deteve ao
longo dos séculos, como meio de adquirir dignidade e coerência, através da estratificação
por recurso à memória. Hoje a cidade histórica, insere-se num sistema de atribuição de
valores patrimoniais consoante mecanismos de preservação que visam o benefício económico,
onde o papel da salvaguarda do património cultural ultrapassa as questões históricas e de
memória coletiva, e passa a desempenhar um papel económico e social, de acordo com as
possibilidades de ampliação de atividades económicas. Os planos de requalificação urbana e
do património edificado transformaram-se uma espécie de solução que algumas autarquias
encontraram, num gesto de procura por uma afirmação ou criação de uma imagem que as
identifiquem, tendo como objetivo o desenvolvimento da atividade turística. Deixa-se para trás
a cidade moderna, para dar lugar a cidades mutantes da contemporaneidade, caracterizadas
pela produção capitalista e pela fragmentação do território.

[106] Rossa, Walter. 2017. Patrimónios de influência portuguesa: modos de olhar. Imprensa da Universidade de Coimbra. p.16

Fig.80- Fotografia do cruzamento da Rua Olímpo Nicolau Fernandes com a Rua da Sofia. 127
A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL
 MOSTEIRO DE SANTA CRUZ

Atualmente, os centros históricos passam por um processo de desocupação, uma vez que
as funções produtivas e as condições de habitabilidade se tornaram obsoletas ou foram
transferidas para outras áreas de expansão, prevalecendo unicamente as funções relacionadas
com o turismo. Este, foi durante muitos anos impulsor de políticas de reabilitação patrimoniais,
ajudando a combater o abandono do edificado, e a suprimir a negligência perante a cultura
histórica e artística. Com uma boa gestão, o mesmo pode ser uma ferramenta que promove
a valorização e conservação do património a longo prazo, uma vez que envolve diversas
dimensões socioculturais e económicas. Não obstante, os efeitos negativos do turismo surgem
logo a partir do momento em que este passa a assumir um caráter de “bem de consumo”,
transformando a cidade contemporânea numa espécie de economia commodity.107 “O turismo
nasceu em volta de bens culturais paisagísticos e arquitetónicos preservados, e hoje, cada vez mais, vai exigindo
a criação de mais cenários, de mais exotismos, provocando quadros artificiais, inclusive.” 108

O panorama do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente é peculiar: a baixa de Coimbra


atualmente é descaraterizada e vive essencialmente das políticas de turismo, que a pouco e
pouco se ocupam da cidade e lhe deterioram a alma e memória. Isto afeta não só a dinâmica
do lugar, como também a cidade no geral, uma vez que o aumento das taxas de turismo tem
um peso muito elevado nas decisões e investimentos privados e autárquicos. Na baixa, o
espaço que antes era para o cidadão, onde o carácter social prevalecia, hoje não passa de um
local de movimentos impessoais acelerados, de mera passagem e com uma escala desadequada
à do cidadão, ajustando-se ao automóvel e à vida quotidiana. Os edifícios potencializadores
de dinamização cultural e social, como os antigos colégios da Rua da Sofia, encontram-se
encerrados ao público e em processo de degradação. As atividades artesanais foram sendo
substituídas por atividades de comércio e serviços; o carácter economicamente pouco
qualificado levou à presença de uma população mais desfavorecida, contribuindo para a
depreciação do estatuto social; a habitação tornou-se essencialmente temporária, para estudantes
ou alojamentos locais; e a vivência desta passou a ser feita essencialmente por turistas e para
turistas. A envolvente do mosteiro torna-se pouco convidativa ao cidadão, nomeadamente
no horário noturno, uma vez que o espaço é exclusivamente dinamizado pelo comércio e os
turistas, de caráter transitório.

[107] O termo commodity significa mercadoria de importância mundial, cujo preço é determinado pela oferta e pela
procura internacional, independente de quem as produziu ou da sua origem.
[108] Lemos, Carlos. 2000. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Ed. Brasiliense. p.20

Fig.81- Fotografias da Rua Ferreira Borges tomada pelos serviços de comércio e turismo;
Rua da Sofia em ambiente noturno. 129
A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL
 MOSTEIRO DE SANTA CRUZ

A pertinência do programa visa o desenvolvimento de novas funções com potencial


regenerador, que se adequem ao lugar, e que por sua vez, estimulem o desenvolvimento
económico e cultural, permitindo gerar novas dinâmicas. Algumas das estratégias passam
inclusive, pela criação de programas com horários divergentes, contribuindo para um maior
controlo e segurança, que permitem por sua vez gerar diversidade de funções e eventos,
resultando na divulgação dos espaços e no aumento da atratividade local, assim como de
políticas de investimento público. Estas são essenciais de modo a contrariar o envelhecimento
da população, promovendo a fixação de jovens e, consequentemente, estimulando também
o investimento de agentes privados e de um empreendorismo urbano. Não se trata apenas
de englobar realidades como as relações do território, da salvaguarda histórica ou o modo
de preservar um ato épico, mas sim de garantir a relação de continuidade e permanência da
A nossa memória individual e coletiva intrínseca ao lugar. A vivência da baixa de Coimbra não
pode ser pensada só para os turistas, mas sim para os cidadãos. “Mas o facto do crescimento humano
ser exponencial implica que o passado se tornará em dado momento demasiado “pequeno” para ser habitado e
partilhado por aqueles que estão vivos. Nós mesmos o esgotamos. [...] Esta rarefacção é exacerbada pela massa
sempre crescente de turistas, uma avalanche que, na busca perpétua do “carácter”, tritura as identidades bem
sucedidas transformando-as em poeira insignificante.” 109

B
A área de intervenção compreende um conjunto de terrenos e antigos edifícios, que outrora
pertenceram ao Mosteiro de Santa Cruz. Uma área determinada por sucessivas camadas
históricas que, hoje, deveria ser um espaço de testemunho da história de Coimbra. No entanto,
fragilizada de descaraterizada, a envolvente do mosteiro tem sido consequência de sucessivos
acrescentos e demolições, acompanhadas por intervenções parciais aparentemente incompletas,
que nunca consolidaram o espaço como um todo. É, portanto, difícil obter uma leitura integral
deste local, construído por fragmentos, ajustes e vazios não consolidados.

O mercado D. Pedro V sofreu inúmeras tentativas de revitalização ao longo das últimas


décadas, sem sucesso, uma vez que o mesmo não estabelece qualquer relação com a cidade ou
com a dinâmica do antigo mercado, e não é capaz de introduzir as dinâmicas essenciais que
fermentem o seu uso. A própria morfologia do edifício, desde a cobertura em chapa visível a
partir dos pontos altos da cidade, que marca a paisagem envolvente, até à fraca relação entre
as diferentes cotas das ruas, ou dos estacionamentos que o rodeiam, constituí uma espécie

0 15 60m
[109] Koolhaas, Rem. 1995. Três textos sobre a cidade : Grandeza, ou, O problema do grande; A cidade genérica; Espaço-lixo [tradução
2014 por Luís Santiago Baptista].1a edição -São Paulo : Gustavo Gili.
Eixo Praça da Républica - Baixa (zona ribeirinha)

Fig.82- Imagem aérea de análise da problemática da envolvente do Mosteiro de Santa Cruz. 131
A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL
 MOSTEIRO DE SANTA CRUZ

de “barreira urbana” ao invés de um momento de dinamização social, inerente ao próprio


A
conceito de mercado ao longo dos séculos. A rua Olímpio Nicolau Fernandes é tomada por
um grande fluxo automóvel, tanto de transportes públicos como privados, que prevalecem
em detrimento dos peões. O espaço público é assim consomado por paragens de autocarro,
onde destaco a que se encontra a norte do Jardim da Manga, cuja afluência de trânsito, fluxo
de pessoas e caos, impede a total vivência e permanência do espaço, que se apresenta como
“vazio” completamente descaraterizado da sua essência original.

No local, podemos observar vários edifícios de função pública, que originalmente pertenciam
ao mosteiro como a Escola Jaime Cortesão, a DRCC, a CMC, os antigos correios e a PSP, que
ainda hoje apresentam uma elevada carga patrimonial e histórica, um programa completamente
desajustado, e que abafam o protagonismo e importância de espaços elementares para a
cidade, como o Jardim e a Fonte da Manga, e o próprio Mosteiro de Santa Cruz. O complexo
monástico foi tomado por divisões administrativas como a CMC e a DRCC, edifícios que se
sobrepõem à carga histórica presente no mosteiro, não permitindo a leitura do que era e da
sua notoriedade. Apesar da intervenção do Arquiteto Fernando Távora ter mudado a relação
do mosteiro com a cidade atual, através do projeto para a Praça 8 de Maio, numa tentativa
de devolver o protagonismo à igreja, o verdadeiro simbolismo inerente ao mosteiro está
corrompido pela sua falta de coerência espacial e programática.

No capítulo “O Declínio: O século XIX e a Extinção das Ordens Religiosas”, observaram-se


as sucessivas adições e demolições, desde a extinção do Claustro da Portaria, do Claustro da
Manga, da Torre Sineira, e da descaractarização não só material, como artística e simbólica das
pegadas crúzias. Hoje, na cidade contemporânea, continuam a prevalecer soluções temporárias,
quer na ocupação das dependências monásticas, quer na falta de uma estratégia que permita
a coesão urbana entre a baixa e o resto da cidade, que suprima a falta de infraestruturas e
que introduza programas catalisadores de desenvolvimento. Continua a ser posto de parte
a evolução morfológica da cidade, a sua história, dando origem à demolição de edifícios
patrimoniais de elevada importância, ou a deixá-los em completo desuso, dando origem ao
seu abandono e à ruína. Questiono-me até que ponto é viável “apagar” os vestígios do passado,
sobrepondo-lhe novas construções apenas por mera funcionalidade. A evolução sempre foi
feita num sobrepor de “estratos”, sempre foi construir e sobrepor arquiteturas, sempre houve
a questão (in)temporal, a questão da apropriação consoante o presente histórico de cada época,
mas é precisamente a procura de um equilíbrio entre todas as instâncias que se deve refletir
e intervir.

Fig.83- Fotografia da relação do Mercado Municipal D. Pedro V com a envolvente.


Fig.84- Fotografia da relação do Mercado D. Pedro V com o Edifício dos Correios - galeria. 133


Séc. XII

Séc. XVI

Séc. XIX

Séc. XXI

Fig.85- Fotografia que retrata o ambiente do atual Jardim da Manga. Fig.88- Fachada do Mosteiro de Santa Cruz para o Largo de Sansão, 1841. Desenho de Lopes Júnior.
Fig.86- Fotografia do fim da Rua Olímpo Nicolau Rui Fernandes. Fig.89- Fotografia da atual Praça 8 de Maio.
Fig.87- Esquema síntese da evolução do Mosteiro de Santa Cruz ao longo dos séculos. 135
A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL
 MOSTEIRO DE SANTA CRUZ

Perante toda a problemática, coloca-se então a questão: Como intervir no património, de modo
a estabelecer novas dinâmicas socioculturais catalisadoras de um desenvolvimento sustentável,
que simultaneamente permitam reinterpretar os valores do passado, a sua simbologia, mas
também afirmar a sua contemporaneidade sem comprometer o futuro?

A revitalização da área urbana que envolve o Mosteiro de Santa Cruz, deve ser pensada como
um momento capaz de atribuir novas dinâmicas na cidade, transformando-a de acordo com
as necessidades do século XXI. Deste modo, é importante que os novos programas estejam
adequados ao meio, para que não sejam elementos “segregadores” ou inibidores de participação
de toda a população, correspondendo aos anseios da cidade.

Portugal é um dos países onde a quantidade de edifícios construídos mais transpõe


as necessidades dos seus habitantes, sendo que grande parte da riqueza está imobilizada
em património construído desocupado e não rentabilizado, o que retrata a urgência em
implementar medidas de intervenção mais eficazes nos centros urbanos, de forma a promover
a revitalização destes, e consequentemente, expandir a economia e resolver as lacunas relativas
às questões sociais. O Mosteiro de Santa Cruz teve desde sempre um impacto enorme na
evolução da cidade e infelizmente, nem com a atribuição do estatuto de Património Mundial
atribuído à Universidade e aos edifícios da Alta e Rua da Sofia, em 2013, se procedeu a um
conjunto de políticas necessárias para a conservação e revitalização do espaço, o que faz com
que hoje se observem dinâmicas completamente distintas relativamente ao resto da cidade, e
a consequente degradação da baixa.

Quando se fala em conservação não se pode referir apenas ao sentido histórico: é necessário
preservar para o futuro, não visando o regresso ao passado, mas sim uma tentativa de progredir.
Para tal, é fulcral ter em consideração as integrantes essenciais para o desenvolvimento
urbano sustentado e sustentável, social, económico e ambiental, que por sua vez visam o
desenvolvimento de comunidades humanas socialmente justas, economicamente viáveis,
ecologicamente corretas e culturalmente diversas, melhorando a qualidade de vida das
populações.

Fig.90- Esquema “What makes a great place? Project for Public Places.”.
Fig.91- Esquema sobre as diferentes dimensões inerentes ao conceito de desenvolvimento sustentável.
137
A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL
 MOSTEIRO DE SANTA CRUZ

O conceito de desenvolvimento sustentável surge como um dos temas fundamentais no


projeto de intervenção e de reabilitação no património na contemporaneidade, integrando
a necessidade da preservação e reuso das estruturas preeexistentes, garantindo a atualização
das suas condições de funcionamento e conforto, e tendo como objetivo a preservação e
manutenção das preexistências, a curto e longo prazo.

Naturalmente, as vantagens económicas e ambientais inerentes ao conceito de desenvolvimento


sustentável não são lineares, pois dependem não só do estado de conservação do edifício, da
estratégia de intervenção e do processo das fases da obra, do uso dos materiais, dos fatores
aliados à melhoria da eficiência energético-ambiental; como também de questões de ordem
social, que integram a criação de programas de intervenção ativa e participada, apoiados na
identidade local e no contexto socioecónomico atual. Para além destas, existem outras questões
de ordem formal, relacionadas com a manutenção da identidade arquitetónica dos edifícios,
desde a caraterização tipológica, espacial, até ao sistema construtivo, assim como de outros
fatores de ordem cultural, histórica e patrimonial, essenciais num exercício de intervenção
no meio urbano. Um dos pontos fundamentais é precisamente ter perceção de todas estas
dimensões, chegando a um equilíbrio capaz de permitir tomar opções mais ponderadas durante
a concretização do projeto desde a escala urbana, até à fase de pormenorização construtiva, não
querendo, por exemplo, falar de cidades sustentáveis ou de arquitetura sustentável, mas sim
de uma arquitetura equilibrada que caminha para a sustentabilidade. Trata-se apenas de uma
consciencialização que o arquiteto atual tem de considerar no exercício de projeto, o impacto
que a obra tem nas diferentes dimensões, motivo pelo qual o conceito de desenvolvimento
sustentável se encontra integrado no novo quadro apresentado no capítulo “Diálogos com a
preexistência - análise e reinterpretação”.

“Para proteger o património natural e cultural deve ser enfatizada a necessidade de integrar estratégias de
conservação, gestão e planeamento urbano, tais como os associados à arquitetura contemporânea e à criação
de infraestruturas, e a uma abordagem baseada na paisagem que ajudará a manter a identidade urbana.
Considerando igualmente que o princípio de desenvolvimento sustentável implica a conservação de recursos
existentes, a proteção ativa do património urbano e a sua gestão sustentável como condição imprescindível para
o desenvolvimento.”110

[110] Citação retirada de “Recomendação sobre as Paisagens Urbanas Históricas” UNESCO, Paris 10 de novembro 2011;
Tradução de Flávio Lopes Correia

139
A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL
 MOSTEIRO DE SANTA CRUZ

A proposta de revitalização do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente engloba um


conjnto de aspectos e dimensões, pensados em sintonia com o conceito de Paisagem Urbana
Histórica, definido recentemente pela UNESCO111. Este, reflete sobre as conceções de paisagem,
preservação e património, ampliando este último num gesto de aproximação às dimensões
cultural, natural, material e imaterial. Neste sentido, engloba o reconhecimento dos valores
imateriais, e compreende o território urbano como resultante de uma estratificação histórica
de valores e atributos naturais e culturais, “ultrapassando os conceitos de “centro histórico” ou “conjunto
histórico” (...) este contexto mais amplo compreende notadamente a topografia, a hidrologia, a geomorfologia
e as características naturais do sítio, o seu ambiente construído, tanto histórico quanto contemporâneo, (...) a
organização do espaço, as percepções e relações visuais, assim como todos os outros elementos construtivos da
estrutura urbana. Engloba também as práticas e os valores sociais e culturais, os processos económicos e as
dimensões intangíveis do património como um vetor de diversidade e identidade.”112

O principal desafio da arquitetura contemporânea perante a paisagem histórica urbana, é


responder a uma dinâmica de desenvolvimento que possibilite as reformas socioeconómicas,
respeitando o seu legado e simultaneamente a sua configuração, numa relação equilibrada entre
as necessidades das gerações presentes e futuras. É dentro desta temática que se desenvolve o
projeto, que será descrito no capítulo que se segue, de modo a englobar as diferentes dimensões
urbanas e sociais, mas também os valores imateriais e dentitários. Estes, passam por exemplo,
pelo retorno do simbolismo do antigo Claustro da Manga, resguardando a fonte do caos
citadino num gesto de recolhimento e introespeção da fonte renascentista, pela reinterpretação
contemporânea da Torre dos Sinos medieval, que marcou o perfil da baixa durante séculos
e pelo retorno simbólico do antigo mercado e laranjal, assumindo simultaneamente a sua
contemporaneidade.

[111] Até 2007 a UNESCO promoveu 26 encontros e reniões sobre o tema paisagem cultural, debatendo metodologias,
critérios de classificação, avaliação, gestão e conservação. Nos anos seguintes, são estudados outros conceitos relacionados
com o tema, e em Maio de 2011, após uma Reunião Intergovernamental de Especialistas, foi anunciado o projeto final,
aprovado por 55 países, consolidando o conceito.
[112] UNESCO Propositions concernant l’opportunité d’un instrument normatif sur les paysages urbains historiques. 2011. Tradução de
Vanessa Figueiredo, disponível no artigo “O Património e as paisagens: Novos Conceitos para velhas conceções” 2013.
Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/268306649.pdf

Fig.92- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em 1834.

141


143
3- O RETORNO DA CENTRALIDADE - PROPOSTA DE GRUPO

3.1- O NOVO NÚCLEO MUSEOLÓGICO

“Para o arquiteto, projetar na cidade contemporânea pressupõe uma leitura do lento e paradoxal processo de
antropização do espaço físico que o envolve, já que as cidades são sempre temporariamente contemporâneas
e a cada tempo (leia-se a cada estrato histórico) corresponde a uma dada contemporaneidade com os seus
próprios conceitos e métodos de estruturação. Nessa leitura, a História é um instrumento, como outros à
nossa disposição, que nos ajuda a determinar o grau de transformação a imprimir sobre os diversos contextos.
Projetar é sempre, neste sentido, transformar.” 113

A proposta de grupo114 tem como objetivo o restabelecer de uma nova centralidade urbana,
através do âmbito cultural e num gesto de continuidade com o simbolismo e memória
coletiva inerente ao lugar. Na procura de refletir uma vida urbana dinâmica e cultural, a
proposta visa unificar edifícios deste âmbito, como os colégios da Rua da Sofia, o Pátio da
Atual
Inquisição (Centro de Artes Visuais) e o núcleo museológico a propor que reúne o espólio
artístico original da instituição115 e agrega edifícios preeexistentes como a Direcção Regional
da Cultura do Centro e o antigo edifício dos Correios, atualmente em desuso. De modo
a integrar a população local, e não só responder a necessidades turísticas, a proposta visa
a adição de novos programas como a reformulação do Mercado Municipal, a proposta de
um novo Centro Cultural (atual edifício da PSP), um Centro Audiovisual e uma Biblioteca.
O Mercado D. Pedro V torna-se um ponto estratégico nesta ideia de coesão urbana, cujas
premissas da estratégia de grupo incluem a sua reformulação, reaproveitando os materiais e
integrando não só a lógica do antigo mercado ao ar livre existente, como melhores condições
de salubridade e qualidade arquitetónica, permitindo simultaneamente uma relação mais ampla
com a cidade e o espaço público. No Mercado, é introduzido um novo programa tendo em

[113] Grande, Nuno Lídio Pinto Rodrigues. 1997. O Verdadeiro Mapa do Universo. Uma leitura diacrónica da cidade portuguesa.
Proposta de Grupo Prova de Capacidade Científica Departamento de Arquitetura da FCTUC, Coimbra. p.19.
[114] Numa fase inicial o grupo integra 4 elementos, Bruno Santos e Laura Paulos (que continuaram o seu percurso em
outros seminários de investigação, realizando o projeto para o Novo Mercado e para a Nova Torre, correspondentemente);
e Gabriela Rebelo, que colaborou posteriormente com a defenição e detalhe da proposta de grupo no complexo monástico.

Demolições [115] Disponível no capítulo “anexos”.

Construções
intervenção na preexistência

Fig.94- Axonometria demolições e construções, proposta de grupo. 145


Fig.95- Fotografia da maquete de grupo
O RETORNO DA CENTRALIDADE
 - PROPOSTA DE GRUPO

conta o conceito de “indústrias criativas”116 , com novas atividades como workshops, feiras do
livro, feiras de velharias, e outros, sendo que o Mercado do Peixe se mantém sem alterações,
e é apenas reorganizado tendo em conta os espaços atualmente em desuso.

A Torre dos Sinos, demolida em 1935, que marcou durante séculos o perfil da cidade baixa, é
também tema de projeto, onde é tido em conta o retorno desta ideia, de marca urbana singular.
É assim erguida uma nova torre no mesmo local, tornando-se agora uma marca de afirmação
contemporânea num gesto de memória coletiva. Esta, por sua vez, marcará a transição da
Baixa para a encosta de Montarroio, integrando também um programa museológico que
estabelece relações permanentes com a cidade, através da abertura de frestas (na lógica da torre
anterior), dos quais podem ser observados determinados pontos de vista, que complementam
a história da evolução do conjunto do mosteiro e área envolvente até aos dias de hoje. No
volume horizontal encontra-se o Centro Audiovisual, cuja materialidade da fachada se reflete
não só como um gesto de continuidade da ideia de robustez da torre, como também tendo
em conta a finalidade de “tela”, para a projeção de filmes ou atividades multimédia que
envolvam o cidadão, atribuindo um carácter mais dinâmico ao espaço público que antecede
o “Novo Claustro da Manga”.

A proposta desenvolve-se através de uma lógica sustentável, tendo em conta a sua dimensão
social, ambiental e económica, mas também tendo em conta a valorização da escala humana
em detrimento do uso do automóvel. Deste modo, o perfil da Rua da Sofia e da Rua Olimpo
Nicolau Rui Fernandes foi alterado, passando a ter um caráter pedonal, à semelhança da Rua
Ferreira Borges, incentivando o uso de transportes públicos e dando prosseguimento ao projeto
do Metro Mondego117. A ideia surge também na tentativa de coesão urbana, no sentido em
que permite fluxos mais dinâmicos entre outros tecidos urbanos, facilitando a ligação entre
os diferentes aglomerados numa rede comum.

[116] Conceito que tem como base a tentativa de resposta à necessidade de uma nova economia, potencializando atividades
de elevado interesse financeiro e tecnológico, promovendo artes e design, cultura, entre outros; de modo a introduzir
uma nova dinâmica económico-social na cidade. Ferreira, Ana Margarida Antunes. 2014. Cidades criativas uma estratégia
para a regeneração da Baixa de Coimbra. Dissertação de Mestrado da Universidade de Coimbra.
[117] O projeto Metro Mondego tem como objetivo a criação de um metrapolitano ligeiro de superfície, que estabeleça
ligação entre os diversos pontos da cidade, desde a Baixa até ao Hospital da Universidade. Os veículos ferroviários do
tipo tram-train circulariam não só na zona urbana, como também na zona suburbana de Coimbra, até às vilas de Miranda
do Corvo e Lousã.
0 15 45m

147

Fig.96- Painel Final de Proposta de Grupo - Seminário de Investigação


O RETORNO DA CENTRALIDADE
 - PROPOSTA DE GRUPO

O centro do projeto é marcado por um momento singular do complexo: o Claustro da Manga.


A Fonte da Manga (1533), peça central, é um símbolo do espaço humanista e do ambiente
sagrado do mosteiro, onde os monges se resguardavam do mundo para praticar o recolhimento
contemplativo. Como tal, este é reformulado, numa lógica de retorno do seu ambiente e
memória, onde são propostos novos volumes contemporâneos, que propõem resguardar e,
de certo modo, estabelecer um diálogo em termos espaciais, formais, mas também simbólicos
com a história do mosteiro. Esta procura da forma baseia-se no retorno da perfeita geometria
do quadrado que existiu anteriormente, e na criação de diferentes conexões com o edifício dos
Correios, num gesto de reinterpretação do passado. O projeto desenrola-se na incessante busca
entre o equilíbrio de uma atitude contemporânea e o preexistente, num ensaio que tenciona
enriquecer a relação entre os cidadãos, a cidade e a sua vivência. A conexão entre o antigo e o
novo passa não só pela valorização do preexistente, como também pelas diferentes vertentes
materiais, formais, linguísticas e temporais do edifício, para que a proposta equacionada
possa – num horizonte futuro – integrar uma Arquitetura que serve a cidade e as exigências
da sua contemporaneidade.

Dentro das categorias apresentadas, durante o desenvolvimento do trabalho de grupo teve-se


como premissa o tema “Filologia Projetual/coextensão”, onde a história dita as diretrizes para o
projeto contemporâneo, assim como alguns dos conceitos de Vivio, como o contraste dialético,
a integração diferenciada, a lógica de harmonia e a mínima intervenção. É precisamente esta procura de
relação e simbiose entre a história e simbolismo do Mosteiro de Santa Cruz, que se pretende
integrar o programa museológico, num gesto de retorno de uma memória coletiva, que segue
as lógicas espaciais e compositivas da era Crúzia. O projeto é pensado num gesto de coextensão
do antigo e de reinterpretação do passado, admitindo o seu valor próprio, assumindo a sua
expressão através da materialidade e linguagem.

Fig.97- Fotografia da maquete de grupo. 149


Fig.98- Fotografia maquete de grupo, Jardim da Manga.


3.2- O ESPAÇO, A FORMA E O PROGRAMA

O desenvolvimento da investigação prossupõe o estudo do modo como as diferentes soluções


de projeto assumem uma conexão com a preexistência, procurando compreender os diferentes
tipos de relação material, formal, linguística, funcional e temporal entre o antigo e o novo.
Assim, desenvolve-se sempre num elo de ligação entre a prática projetual e a história e
simbolismo do lugar, num gesto de reconciliação com o passado, e onde a preexistência passa
a ser objeto central do projeto contemporâneo, de modo a assegurar a relação de continuidade
e perseverança da nossa memória individual e da memória coletiva do sítio.

Após o trabalho de grupo, os alunos que continuaram a sua dissertação no âmbito do Projeto
de Valorização e Revitalização do Mosteiro de Santa Cruz e Área Envolvente, consolidaram os conceitos
estudados, de forma a que os projetos individuais fossem a sinopse e a materialização das
reflexões ao longo do Seminário de Investigação. Neste sentido, e apesar do foco ter sido a
organização e reestruturação do programa de Museografia para o Complexo Monástico, com
a definição de novos conceitos, surgiram novas críticas e reformulações, nomeadamente no
Novo Mercado proposto, tendo sido desenvolvidos mais tarde de forma individual.

Os avanços e recuos ao longo do projeto individual, foram introduzindo mudanças noutras


escalas, sendo que os desenhos e esquemas que se seguem, foram elaborados numa tentativa de
transmitir o pensamento durante o desenvolvimento do projeto, e devem ser acompanhados
pelos desenhos disponíveis em anexo, para uma melhor compreensão do mesmo.

Fig.99- Esquissos vivência e caracterização dos espaços antes vs agora. 151


O RETORNO DA CENTRALIDADE - O ESPAÇO, A FORMA E O PROGRAMA

O Novo Mercado é repensado num gesto de continuidade com os conceitos da proposta de


grupo, mantendo o Pavilhão do Antigo Mercado do Peixe, e reinterpretando o mercado ao ar
livre, com a mesma lógica de plataformas. No entanto, o exercício passa por um gesto radical
de demolição total do Mercado D.Pedro V, não estabelendo relação com a preexistência, que,
apesar de não ser da época da era crúzia, assume a sua própria contemporaneidade na história
da cidade. Neste sentido, na proposta que se segue é apenas demolida parte do mesmo, de
modo a estabelecer uma nova relação com a entrada do museu, com o espaço público, e
com a cidade.

Estas alterações devem-se ao facto do primeiro mercado proposto não se integrar totalmente
com as diretrizes formuladas em grupo, nomeadamente com a lógica de reutilização de
materiais e questões de ordem ambiental, e das categorias como Integração Diferenciada,
Contraste Dialético e Acompanhamento Conservativo, aproximando-se mais da Mimese/Repristinação
da continuidade linguística e formal do Pavilhão do Peixe, e não tendo em conta a memória
da antiga Quinta de Santa Cruz. Tendo em conta estes conceitos e o simbolismo do lugar,
algumas das premissas passam por exemplo pela reinterpretação do laranjal onde outrora
Proposta de Grupo
existia, apelando à arquitetura dos sentidos, desde o cheiro das laranjas, os efeitos de sombra,
ao alinhamento perspético que antecipa e direciona para a entrada do novo museu.

O projeto desenvolve-se assim a partir de dois eixos, que ditam a forma e definem os diferentes
espaços: o eixo referido, que estabelece relação com os outros edifícios do novo núcleo cultural,
e um eixo transversal que permite a permeabilidade no sentido Alta/Conchada, através de
uma escadaria preexistente da atual Escola Jaime Cortesão, pertencente outrora ao Mosteiro
de Santa Cruz. Este conceito de devolver a permeabilidade urbana, foi essencial quer no
contexto do mercado, quer na nova leitura do claustro da manga, uma vez que este gesto
de continuidade é essencial para a coesão entre os diferentes tecidos urbanos, permitindo
inclusive uma leitura muito mais enriquecedora do lugar, estabelecer uma nova afluência de
pessoas e consequentemente novas dinâmicas. O projeto desenvolve-se num elo de harmonia
com os espaços de permanência e conexão, adequando-se à escala da paisagem e retomando
a memória, a permeabilidade e a vivência do espaço.

Proposta Individual

Eixos transversais alta/conchada


Eixo longitudinal
Demolições
Construções
intervenção na preexistência

Fig.100- Axonometria proposta de grupo vs proposta individual. 153 Fig.101- Fotomontagem atual vs proposta; relação com o Edifício dos Correios e a cidade
O RETORNO DA CENTRALIDADE - O ESPAÇO, A FORMA E O PROGRAMA

Neste sentido, o programa divide-se igualmente em dois momentos: o Mercado Municipal,


que integra parte do edifício preexistente, nomeadamente o piso superior, num gesto de
continuação com o Mercado do Peixe, e que, por sua vez, se prolonga nas plataformas
27.00
27.00 propostas ao longo do eixo transversal referido; e o de contacto com o novo espaço à frente
do Edifício dos Correios, que propõe devolver-lhe a escala e importância perdida, libertar o
edifício, e, simultaneamente, permitir a criação de um espaço multiusos que permita uma
participação ativa dos cidadãos.
Piso térreo - Demolido Piso térreo - Construído

Neste, o espaço é contido através de um novo volume vertical, com a mesma cércea que o
Edifício dos Correios, que conforma o espaço, juntamente com as novas peças e o novo
desenho do pavimento, que seguem o alinhamento da peça do Claustro da Manga, guiando
34.00
34.00
as pessoas e interligando os diferentes espaços. O espaço público é pensado tendo em conta o
conceito de indústrias criativas e a versatilidade de programas e atividades, reformulando um
espaço outrora invadido pelo caos, por estacionamentos, passeios invadidos por automóveis,
27.00 caixotes do lixo, entre outros. Os percursos internos relativos ao funcionamento do mercado
27.00
são reformulados, assim como o acesso ao estacionamento subterrâneo, agora ampliado tendo
em conta a área de um dos dois existentes à superfície. Embora a ideia seja o incentivo aos
0 5 15m
transportes públicos, deve-se admitir as novas condicionantes da contemporaneidade, das
quais o automóvel faz parte, portanto, excluir por completo esta vertente seria mais uma
Primeiro Piso - Demolido Primeiro Piso - Construído
condicionante, no ponto de vista de atrair as pessoas, do que uma vantagem. A inclusão de
novas infraestruturas, elevadores, espaços de armazenamento, etc, foi também parte integrante
do projeto.

45.00 Nas novas plataformas que estabelecem continuidade com a Rua Martins de Carvalho, detêm
uma área adjacente ao mercado, onde são introduzidas hortas urbanas relacionadas com o
35.00
32.00 mesmo, sendo que as restantes plataformas, são caraterizadas por espaços multifuncionais
29.50

24.50 onde se podem realizar várias atividades, desde a venda de produtos hortícolas ao ar livre,
até feiras de velharias e outros. O desenho destas culmina numa peça efémera que estabelece
ligação com o “novo Claustro da Manga”118 a Sul, num gesto de continuidade do espaço e
de coextensão do programa: o novo núcleo cultural ganha assim, tal como a antiga Quinta
de Santa Cruz, uma leitura como um todo.

45.00
[118] Quando se fala no conceito de “novo Claustro da Manga”, não se refere ao conceito de claustro em si, uma vez
que a definição deste integra limites definidos e galerias, mas sim à reinterpretação dos conceitos do antigo Claustro da
35.00 Manga, nomeadamente do retorno da geometria, do “corredor” aberto contido pelos novos volumes, etc.
32.00
29.50

24.50

0 5 15m

155

Fig.102- Plantas e perfis esquemáticos de vermelhos e amarelos - Piso Térreo e Primeiro Piso atual Mercado Pedro V vs proposta individual; Perfil Rua Olimpo Nicolau Rui Fernandes e Perfil Transversal, atual vs proposta.
O RETORNO DA CENTRALIDADE - O ESPAÇO, A FORMA E O PROGRAMA

Como referido anteriormente, a Fonte da Manga, símbolo do espírito humanista da era


crúzia, é o centro do projeto, num gesto de descodificação, onde se procura “uma relação
linguística entre a arquitetura do passado e a contemporânea. Está ligada às questões da semiótica, onde o
arquiteto opera com os elementos compositivos da obra preexistente e os revisita segundo os códigos arquitetônicos
contemporâneos. As intervenções buscam reinterpretar os elementos, ritmos e lógicas construtivas do edifício antigo
e reinventá-los no projeto do novo.” 119 O conceito do projeto tem como princípio a reinterpretação
das volumetrias, ritmos e proporções preexistentes, que transmitam uma ideia de retorno,
mas que assumam simultaneamene uma nova temporalidade.

A análise da evolução das proporções do Claustro da Manga ao longo dos séculos, foi o

1973- 974 - Planta irmãos Goullard 1902 - Invasão por escola industrial avelar brotero
primeiro passo para o reinterpretar do “novo claustro”. O Jardim e a Fonte do Claustro
1932 - Construção Edifício dos Correios
da Manga foram obras entregues por Frei Brás de Barros a João de Ruão em 1533, do
qual o desenho original se desconhece. A planta mais antiga é a executada pelos irmãos
Goullard em 1874. Mais tarde, sabe-se que a Escola Industrial de Avelar Brotero instalou as
oficinas no local, já em 1906 Joaquim Martins de Carvalho “criticou o uso que estava a ser dado
ao local pela Escola Industrial de Avelar Brotero, que localizava as suas oficinas sobre canteiros e tanque.”
120
Posteriormente, dá-se a construção do Telegrafo Postal que foi destruído pelo incêndio
de 1926, sendo substituído pelo Edifício dos Correios que conquista parte do jardim. Estes
sucessivos acontecimentos, avanços e recuos, fazem com que atualmente apenas se encontrem
quatro degraus dos sete existentes, assim como uma assimetria dos tanques de água. “Quatro
escadas de pedra, ricamente lavrada, cada qual de sete degraus”. 121

1930 -1940 - Intervenções da DGEMN 1944 - Obras de Recuperação do jardim


Em 1934 o Jardim da Manga é classificado Monumento Nacional, e entre 1936 e 1940
o Arquiteto Luís Benavente assume as obras impostas pela Direção Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais, onde se procedeu à demolição dos anexos da escola, e a construção
da escadaria que ainda hoje se encontra no local. Mais tarde, entre 1955 e 1994, a fonte foi
sofrendo diversas intervenções, onde são por exemplo, reintegrados os retábulos e recuperados
os jardins, e desde então a fonte tem contando com projetos de manutenção realizados pela
DGEMN e CMC, entre 1999 e 2000, e mais recentemente em 2019.

[119] Vetrone, Mariana Lunardi. 2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio cultural
edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de Arquitetura. DARQ-FCTUC. p8.
[120] Parreira, Inês. 2015. “O Vale de Santa Cruz de Coimbra. Análise e Reconstituição.” Dissertação no âmbito do Mestrado
Integrado em Arquitetura, Coimbra: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, p.165.
[121] [Tradução do Espanhol, por Virgílio Correia em 1935]. Ibidem, p.161.
atual Proposta de grupo - construções
Proposta de grupo - demolições

Fig.103- Plantas esquemáticas demolições e construções do Jardim da Manga ao longo das últimas décadas. 157
O RETORNO DA CENTRALIDADE - O ESPAÇO, A FORMA E O PROGRAMA

Não se sabe ao certo as medidas e proporção do antigo Claustro da Manga. Em “La ‘Descripçam
e debuxo do moesteyro de Santa Cruz de Coimbra” menciona-se que “Esta claustra he quadrada &
tem duzentos palmos de comprido & quinze de largo.”122 Destaco a análise feita pelos colegas de
investigação123, cuja premissa era reinterpretar o antigo claustro na sua proporção original,
onde, “Em conversas com o professor Rui Lobo assumiu-se que esta referência deve ser interpretada da seguinte
maneira: o vazio do claustro mais a largura de uma galeria equivale aos 44 metros, isto sem considerar a espessura
da parede do edifício. Estas medidas foram também usadas na dissertação de Fernando Couto onde é feita a
reconstituição do mosteiro no ano de 1834. Assim conclui-se que o claustro tinha 44 metros de comprimento e
que integrava uma galeria de 3,3 metros de largura. Também Maria Lurdes Craveiro confirma esta interpretação
referindo que “cada uma das alas atingia 44 m, integrando uma galeria de 3.3 m de largura. [...] A partir
desta estratégia concluiu-se que a medida seria aproximadamente de 39,5 metros.”124

No entanto, para a reconstituição da proporção do claustro, seria necessário a demolição do


Edifício dos Correios, princípio que não achamos viável uma vez que o edifício é de grande
porte e detém uma componente memorial marcante, que também fez parte da história da
cidade. Como tal, as diretrizes do projeto de grupo passam pela reinterpretação das proporções
do mesmo, contido através de novos volumes contemporâneos, que definem o espaço e que
simultaneamente se afastam da preexistência. Estes, surgem como volumes que estabelecem
diálogo com o preexistente, não só em termos de forma e proporção, como também em
termos de continuidade programática e em termos de retorno de memória do lugar. O espaço
outrora central da Fonte da Manga, originalmente interligado com o mosteiro, encontra-se
agora desprotegido e descaraterizado.

[122] Medanha, Francisco de. 1958. La Descripçam e debuxo do moesteyro de Santa Cruz de Coimbra, 1541; in Boletim da
Universidade de Coimbra, Vol. XIII, p.417.
[123] Nomeadamente Sofia Eghteda e Rafael Rebimbas.
[124] Eghteda, Sofia. 2021. (Re)pensar o antigo Claustro da Manga. Projeto de Reconstituição e Reabilitação do Mosteiro
de Santa Cruz e área envolvente. Dissertação da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra. p.123.

Fig.104- Francisco e Cesar Goullard, “Planta topographica da Cidade de Coimbra”, 1873-1874 ; Ampliação.
Fig.105- Proposta de grupo - Nova proporção Jardim da Manga. 159
O RETORNO DA CENTRALIDADE - O ESPAÇO, A FORMA E O PROGRAMA

O PROGRAMA

O projeto de museografia para o Mosteiro de Santa Cruz tem como principais premissas
valorizar e tornar mais nobre o espaço de Culto e Cultura, valorizando primeiramente a
monumentalidade construtiva e espacial da preexistência. O percurso pretende enaltecer
o espólio singular, articular os diferentes espaços sagrados e simultaneamente permitir
a integração de novas infraestruturas necessárias. Um dos objetivos, é garantir melhores
condições expositivas e de conservação, assim como a organização dos espaços, estabelecendo
percursos independentes, desde os privados relativos ao funcionamento interno do Museu,
até à separação e privacidade do percurso de prestação ao culto, indispensável para a vivência
e intimidade religiosa dos crentes.

O percurso inicia-se no volume do antigo edifício dos Correios, atualmente em desuso, com
uma escala e monumentalidade ímpar, com uma forte relação urbana, nomeadamente com
o culminar do eixo da Avenida Sá da Brandeira, antecipando a transição para a mudança de
escala presente na baixa. Para além de marcar a entrada do novo museu, detém programas
que complementam o percuso museológico, e acolhe outros programas socioculturais e
espaços polivalentes, como a serviço educativo. No piso supeior encontram-se os serviços
administrativos, e no rés-do-chão, em contacto com a Fonte da Manga, abre-se uma galeria
que permite o retorno da proporção da geometria do antigo claustro, articulada com sala de
exposições temporárias, um arquivo e laboratórios de restauro.

No atual edifício da Direção Regional da Cultura do Centro, é rebaixado um dos pisos, num
gesto de retorno da leitura volumétrica do que seria a antiga ala do mosteiro, dando união
ao conjunto. Na cobertura é introduzida uma biblioteca, à semelhança da que se pensa que
teria existido no antigo mosteiro, que por sua vez consiste num programa catalisador de
desenvolvimento, para o uso do cidadão. Estas questões foram reconsideradas no trabalho
individual, onde se mantém a preexistência na sua integra e se adota uma linguagem mais
leve, tratando os novos volumes como peças de línguagem própria e reversível, respeitando
as características temporais do conjunto.

Fig.106- Axonometria Proposta de grupo. 161




163

Fig.107- Painel distribuição do programa e organização do Percurso Museológico - Proposta de grupo.


O RETORNO DA CENTRALIDADE - O ESPAÇO, A FORMA E O PROGRAMA

A nova reinterpretação do antigo Claustro da Manga, assim como o Claustro do Silêncio,


constituem pontos estratégicos fundamentais na dispersão e articulação do programa,
organizando-o organicamente. O novo volume da Fonte da Manga permite manter o
atravessamento urbano hoje existente, e simultaneamente estabelecer uma relação entre o
antigo Edifício dos Correios e o edifício da DRCC. A composição formal dos volumes
contemporâneos e o desenho dos diferentes momentos do percurso, tem em conta as diferentes
peças do espólio, sendo que, os nichos e capelas serão considerados também momentos
integrantes da exposição, assim como alguns elementos agora descontextualizados, como a
Fonte da manga, cuja relação com esta é completamente ignorada durante percurso existente.
As requalificações e funções atribuídas aos novos espaços visam a consciente revitalização
da baixa da cidade e fomentam o desenvolvimento desta dissertação, da qual o novo núcleo
museológico surge como um arquivo de perpetuação da memória coletiva e cultural da cidade,
num gesto de herança material e imaterial.

Novo Mercado D.Pedro V


Industrias Criativas
Serviço Educativo, Espaços Multiusos para outras atividades
Administração
Sala de Exposições Temporárias
Centro Audiovisual
Centro Cultural
Museu- Percurso expositivo

Fig.108- Axonometria explicativa do programa - Proposta Final. 165




167

Fig.109- Fotografia da maquete individual




4- IDENTIDADE, (IN)TEMPORALIDADE E EFEMERIDADE – PROPOSTA INDIVIDUAL

4.1- ARQUITETURA E MEMÓRIA

“É provável que este valor da história, entendida como memória coletiva, portanto como relação da coletividade
com o lugar e com a ideia deste, nos dê ou nos ajude a perceber o significado de estrutura urbana, da sua
individualidade - da arquitectura na cidade que é a forma desta individualidade” 125

O complexo do Mosteiro de Santa Cruz detém sucessivas camadas de história, experienciou


diversos movimentos artísticos, momentos de desenvolvimento e regressão, que quase sempre
transformaram o edificado sem, no entanto, desmantelar a sua presença e memória. Através da
investigação, da troca de ideias e assimilação de conceitos, foi possível ao longo do processo,
traduzir a narrativa que marcou e eternizou esta construção erguida pela fé, perpetuada até
ao presente, onde o projeto se torna um meio de lhe devolver a sua essência e caraterização
perdida, eternizando-a.

É a memória que define o indivíduo, tendo influência na sua identidade126 e na maneira de


este ver e assimilar o que o rodeia. Aliada à história, constitui um instrumento criativo
fundamental para o desenho contemporâneo, podendo restabelecer a capacidade comunicativa
e cultural da arquitetura. Num gesto de continuidade com os temas do restauro abordados
nos capítulos anteriores, e tendo em conta que o projeto estabelece sempre um elo entre a
teoria e a prática, a pesquisa individual desenvolve-se a partir de sucessivas reflexões sobre os
modos de intervir, integrando o desenvolvimento de novos conceitos, como identidade e memória,
temporalidade, reversibilidade e efemeridade. Num primeiro momento, de uma forma mais analítica,
será apresentada de maneira geral os conceitos e a conexão entre eles; posteriormente, com o
projeto, será apresentada a materialização da minha reflexão sobre os mesmos.

[125] Rossi, Aldo. 2018. A arquitetura da cidade. Lisboa: Edições 70. p.172.
[126] Anteriormente à década de 1960 o conceito de identidade presente na modernidade clássica era caracterizado
como algo permanente e estável. Após um conjunto de movimentos e desenvolvimento de teorias e ideias, surgiu a
produção e divulgação de cartas e convecções que proporcionaram uma rotura deste conceito, passando a ser contestado
e caracterizado pela diferença e transformação

Fig.110- Fonte da Manga, 1865. 169


ARQUITETURA
 E MEMÓRIA

O processo de globalização da cultura relacionada com o Património surgiu por meios teórico-
práticos, que por sua vez promoveram o debate sobre a importância do património cultural
na afirmação da identidade. Surge assim uma vertente contemporânea onde o interesse dos
sujeitos prevalece em detrimento do valor presente nos objetos em si, disputando a objetividade
da conservação da metodologia científica adotada até meados do século XX.

Neste espectro de pensamento, destaco Alois Riegl (1858-1905)127, que apresenta a sua perspetiva
num gesto de rotura com as teorias baseadas na historiografia, e aborda o monumento
segundo os seus valores, e não através de estilos. A definição de monumento relaciona-se com
o contexto e o modo como o fruidor vive o espaço, e pelo significado que este lhe atribui, em
detrimento do valor do monumento em si, e incluindo conceitos de afetividade e de memória
coletiva128. Os critérios de preservação dos monumentos seriam aplicados de acordo com a
antiguidade e o simbolismo emotivo ou social, e não apenas pela sua singularidade histórica
ou artística. Esta abordagem acaba por ser fundamental para uma nova prática no âmbito
da conservação e restauro, uma vez que não cabe ao interveniente hierarquizar ou dividir os
valores atribuídos ao monumento, sendo o valor mais significativo o que dita a intervenção
que o mesmo deve sofrer.

Dentro da mesma lógica mas numa perspetiva mais contemporânea, é fundamental analisar
pensamento de Aldo Rossi (1931-1997)129. Para este, construir não é dar entidade material a
um objeto, construir é recordar a realidade daquela disciplina através da qual se manifestam
todas as realidades: a arquitetura. A memória é reconhecimento. É através da memória coletiva
que se configuram os grupos sociais, alcançando a sua individualidade e a imagem do espaço

[127] Alois Riegl (1858-1905) - Historiador de Arte, escritor, filósofo e professor que ingressou na Escola de História da
Arte de Viena. Em “O Culto Moderno dos Monumentos” de 1903, estabelece princípios para a preservação histórica
com base nos valores dos monumentos: o valor de antiguidade, valor histórico, valor de rememoração intencional, valor
de uso, valor de arte relativo e valor de novidade.
[128] Segundo Aldo Rossi, a “memória coletiva, entendida, portanto, como relação da coletividade com o lugar e com a
ideia deste, nos dê ou nos ajude a perceber o significado da estrutura urbana, da sua individualidade, da arquitetura da
cidade que é a forma desta individualidade, a qual resulta tão ligada ao facto originário, ao princípio no sentido dado
por Cattaneo; que é um acontecimento e é uma forma.” Ibidem, p.172.
[129] Aldo Rossi (1931-1997) - Arquiteto graduado em Milão, conhecido pelas formas simples puristas de influência
clássica. Reflete sobre tecidos urbanos enquanto factos históricos e garante da permanência dos lugares vivenciais do
homem em L’Architettura della Città (a arquitetura da cidade, 1966), um dos textos teóricos mais influentes da segunda
metade do século XX. A sua arquitetura caracteriza-se por elementos formais arquetípicos como o cubo, o cone, o
pórtico, a galeria, as colunas, etc, cujo valor simbólico e plástico, interligado às questões da memória, ultrapassam a
linguagem mais pragmática e “banal”. Lecionou desde os anos 60 em diversas universidades italianas, em 1981 publicou
Un Autobiografia Scientifica (Autobiografia Científica), e em 1990 foi-lhe atribuído o prestigiado Pritzker Prize.

Fig.111- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. 171


Fig.112- Fotomontagem da Proposta individual.
ARQUITETURA
 E MEMÓRIA

que conformam. No discurso rossiano, a cidade emerge como um locus da memória coletiva,
onde as imagens arquitetónicas são o que a constituem ao longo do tempo, são referências
indispensáveis para a perceção da cidade. Neste sentido, a continuidade da arquitetura resulta
da memória, sendo a partir das permanências que se assegura a continuidade da cidade,
respeitando o passado e conservando a sua imagem. “Esta persistência e permanência é dada pelo
valor construtivo, pela história e pela arte, pelo ser e pela memória.[...] a memória coletiva torna-se a própria
transformação do espaço por obra da coletividade” 130

No contexto de projeto, um exemplo perfeito do reflexo destes conceitos é a Fonte da Manga,


marca ímpar do espírito Humanista do Mosteiro de Santa Cruz. Embora fora do seu contexto
original, simboliza o antigo claustro e o espírito crúzio. A sua conotação ultrapassa a imagem
do objeto em si e a sua expressão arquitetónica, onde a sua própria génese, o pensamento por
trás da forma, ultrapassa a sua imagem figurativa.

Desenhada metaforicamente tendo em conta os princípios do “Espelho de Perfeycam” de Hendrik


Herp, o desenho harmoniza-se entre a escultura e os jogos de água, interligados por um
traçado em planta de dupla cruz, com centro definido, que simboliza o local da árvore da
vida. O claustro representa o paraíso terrestre, cujas quatro divisões abrangem os quatro rios
do paraíso: o rio Eufrates, Tigre, Gehon e Phison, que partem do centro e correm em direção
aos pontos cardeais. São também considerados outros dois planos fundamentais: o primeiro de
forma retangular e marcado pelos tanques e terreno; e a plataforma elevada de traçado circular,
com uma cúpula suportada por colunas coríntias que transmitem a ideia de templo, e que
remete para o espaço espiritual. A passagem da vida mundana para este é marcada pelos sete
degraus, numa analogia aos dons do Espírito Santo, sendo que, para alcançar este, é necessário
o autoconhecimento e a conexão ao interior mais profundo, através do momento de clausura
e reflexão. Este passo é realizado dentro dos quatro cubelos individuais, assinalados pelos
arcobotantes, cujo acesso era realizado através de pequenas pontes de madeira retrateis, de
modo a permitir este momento de introspeção longe das tentações e de quaisquer estímulos.
No seu interior constavam retábulos de João de Ruão, agora praticamente inexistentes. Esta
peça de composição singular, juntamente com a sua vertente metafórica, pode ser descrita
como o “procedimento que juntou número, geometria e certas evocações tipológicas, além de evidente auxiliar
à memória, seria certamente ainda o de permitir ao religioso crúzio penetrar das coisas espirituais através das

[130] Ibidem. p.77.

Fig.113- Esquissos do antigo Claustro da Manga vs proposta; Fonte da Manga.


173
ARQUITETURA
 E MEMÓRIA

corpóreas.”131 e que “de certa forma rematava o sentido da intervenção joanina no edifício
crúzio, tanto no âmbito da reforma espiritual como da reforma material do convento”132.

Eis o motivo pela qual a peça foi considerada o centro da proposta de intervenção, por ser
um objeto singular, o reflexo dos principais desígnios da reforma espiritual e ideológica da era
crúzia, aproximando-se do que poderia voltar a ser o mosteiro: um núcleo de desenvolvimento
humanista. Outro exemplo desta ideia de memória, intrinsecamente ligada à arquitetura dos
sentidos, é a Torre dos Sinos, que marcou durante séculos a paisagem citadina e fez parte do
quotidiano e da vivência dos cidadãos, cuja demolição simboliza a perda da identidade do
conjunto monástico. “No séc.XVI, estavam os sinos numa torre na encosta de Montarroio. Repicavam
tão contentes ou dobravam tão doídos que não havia, na cidade, outros que melhor interpretassem a alegria das
festas ou o nojo dos funerais.” 133

O conceito de obra de arte tem a capacidade de transcender a mortalidade humana, de


marcar um momento do passado e de simultaneamente ser reapropriada e ressignificada,
independentemente da época e/ou do sujeito. A noção de arquitetura e os valores relacionados
com o restauro e o património partilham desta ideia de múltiplas (in)temporalidades. Este
conceito, advém da relação que o tempo estabelece com o edifício, marcando-o e assinalando
o seu envelhecimento. A sua durabilidade, pela resistência implícita, torna-a intemporal,
transformando o edifício numa caixa de memórias. No obstante do que torna ou não algo uma
obra de arte, uma vez que esta detém uma certa intemporalidade e é capaz de se ressignificar,
torna o conceito em si algo dinâmico e, portanto, digna de ideias e metodologias de intervenção
em constante mutação. Cada obra é única na sua conformação e no seu tempo, e exige,
por isso, soluções ajustadas. Como tal, ao longo da dissertação não é referido o conceito
de temporalidade, mas sim, intemporalidades, porque o conceito inerente à arquitetura
aproxima-se de um gesto de metamorfose, a leitura global deste, é tida perante a subjetividade
do sujeito e o seu tempo. Ao longo dos séculos as práticas de intervenção e restauro do
património foram sendo alteradas a partir da atualidade de cada um dos teóricos e críticos,
e como tal, quando analisamos as teorias, devemos considerar o seu próprio contexto de
ação, assim como quando falamos de contemporaneidade, devemos ter em conta todas as
problemáticas que a sociedade moderna acarreta.

[131] Abreu, Susana Matos. 2009. A Fonte do Claustro da Manga, “espelho de perfeycam”: uma leitura iconológica da sua arquitetura.
Revista da Faculdade de Letras - ciências e técnicas do patrimônio.
[132] Lobo, Rui. 2006. Santa Cruz e a Rua da Sofia - Arquitetura e Urbanismo no século XVI. Coimbra: eld|arq, p.52-53
[133] Alarcão, Jorge de. 2008. Coimbra: a montagem do cenário urbano. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, p.8.

Fig.114- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. Claustro da Manga. 175
ARQUITETURA
 E MEMÓRIA

“A temporalidade – qualificação do tempo – a noção de presente, a memória de passado e a aspiração de futuro


dão ao tempo uma qualidade estética que é fundamento na liberdade humana.” 134

Analisando o quadro síntese elaborado, podemos observar a mancha laranja que retrata
as relações de (in)temporalidade. Dentro deste tema, destaco a autora Beatrice Vivio135, que
categoriza as intervenções no património de acordo com a relação de temporalidade entre
a preexistência e o novo. Segundo a autora, “É a musealização que revela um reconhecimento do
valor documental da história, oferecendo ao público a oportunidade de apreciar vivências materiais de produtos,
arquiteturas ou da natureza do território, com distanciamento físico-temporal do passado que é uma garantia
de respeito e uma compreensão mais profunda da sobrevivência material.” 136
Na categoria de Intervenção
Diferenciada, a autora sugere uma intervenção que segue a ideia de reversibilidade, a partir
da diferenciação dos materiais, explorando simultaneamente as formas originais, de modo
a garantir a autenticidade ao conjunto. “Em cada caso, a autonomia está enraizada na identidade do
elemento, obtida através de formas circunscritas e materiais diferentes, que asseguram a ideia de reversibilidade
da intervenção, mas dentro de uma colaboração estrutural bastante sólida, suficiente para dissuadir qualquer
regresso à fase anterior.” 137

A memória permite localizarmo-nos no espaço e no tempo, “A materialidade sensual e o senso da


tradição evocam experiências benevolentes de duração natural e ‘continuum’ temporal; não habi- tamos somente
no espaço, também habitamos no ‘continuum’ da cultura, do tempo e da memória.” 138
Sobre este tema,
o arquiteto Gonçalo Byrne aponta como uma das questões elementares no debate sobre o
a intervenção no património face às necessidades da cidade contemporânea, onde aquilo
que há de mais valioso na cidade histórica é o poder reconhecer, a partir da sua contínua
transformação, os múltiplos períodos e estratos em que a cidade se foi construindo, destruindo
e reabilitando. Assim, assumindo o carácter passível de transformação da arquitetura no
decorrer do tempo, e segundo o conceito de património por Françoise Choay139, onde este
integra na vertente histórica a ideia de memória coletiva, e a identidade de diferentes culturas,
com desígnio de preservar os valores físicos, culturais e sociais que são momentos singulares

[134] Rodrigues, Maria João. 2002. O que é Arquitectura. Quimera Editores, Lda. Lisboa. p.28.
[135] Também analisada na dissertação de Mariana Vetrone
[136] Interpretação retirada do artigo de Beatrice Vivio “Il moderno sull’antico.Lettura dell’intervento contempora-
neo.”(En aggiornamento Trattato di restauro architettonico, vol.IX, Tomo I, UTET, Torino. 2007) p.212. Tradução por
Julia Vedotti.
[137] Ibidem. p.241. Tradução por Julia Vedotti.
[138] PALLASMAA, Juhani. 2018. Essências. Barcelona: Editorial Gustavo Gil. p.54.
[139] Choay, Françoise. 2000. Alegoria do Património [Trad. Teresa Castro]. Lisboa: Edições 70.

Fig.115- Análise do gráfico elaborado por Beatrice Vivio relativo às categorias interpretativas das intervenções atuais
sobre a preexistência histórica.
Fig.116- Esquema da autora com a reinterpreação e reorganização das diferentes categorias. 177
ARQUITETURA
 E MEMÓRIA

dos monumentos. Rossi reflete sobre o mesmo tema, onde defende que o monumento é o
exemplo singular de permanência, é um facto urbano dinâmico por ter um papel favorável e
essencial no crescimento da cidade. Retrata a realidade formada pela história e pela memória,
que adquire a sua complexidade consoante a vontade coletiva, sendo que permanência do
monumento, enquanto facto urbano, está vinculada ao seu uso ou função. Na realidade,
continuamos a fruir elementos cuja função de há muito se perdeu; o valor destes factos reside unicamente na
sua forma. A sua forma participa intimamente na forma geral da cidade, é, por assim dizer, uma invariante;
muitas vezes, estes factos estão profundamente ligados aos elementos constitutivos, aos fundamentos da cidade, e
estes reencontram-se nos monumentos” 140

Preservar e atribuir uma nova funcionalidade pode ser responsável pela mudança entre
um processo de decadência, por falta de uso ou uso inadequado, para um processo de
revitalização, não só como monumento singular, mas essencialmente como catalisador de
um desenvolvimento social e de complexidade urbana. Contudo, a preservação deve deter um
uso compatível com a preexistência, respeitando as suas estratificações, simbologia, morfologia,
características e materialidade, de modo garantir a sua funcionalidade e consequentemente a
sua manutenção e preservação.

Um dos maiores desafios da preservação do património é precisamente garantir o uso adequado


a um edifício ou conjunto arquitetónico, uma vez que este deve ser pensado num espectro
amplo, quer em termos programáticos, quer em termos sociais e de relação com a cidade
moderna, e não como fundamento para uma mera intervenção. A atribuição de um uso
incompatível, o adaptar de um uso preestabelecido, ou o submeter de transformações altamente
intrusivas e em divergência com as particularidades do mesmo, pode ter o efeito contrário e
acelerar o processo de degradação, tornando-se um risco mais intenso do que o seu abandono.
A questão dos usos, nomeadamente num contexto urbano como o do Mosteiro de Santa
Cruz torna-se um tema fundamental, sendo que a atribuição de novos usos surge como forma
de preservar, de cumprir a sua “função social” e simultaneamente salvaguardar os seus valores
culturais e simbólicos de um dos polos fulcrais da cidade.

[140] Rossi, Aldo. 2018. A arquitetura da cidade. Lisboa: Edições 70. p.79.

Fig.117- Fotomontagens da proposta individual numa primeira fase. 179


ARQUITETURA
 E MEMÓRIA

No entanto, o processo de revitalização do edificado do património e a questão do uso social


encontra-se contida pelas políticas públicas e autárquicas que, apesar do esforço e tentativa
de revalorização de bens culturais, deixam de parte esta questão. Deste modo, os edifícios
preexistentes e de elevado valor cultural passam a ser “museus-de-si-mesmos”, abandonados e sem
planos de revalorização e conservação. Consequentemente, a desvalorização da manutenção
constante dá origem a um conjunto de condições que aceleram o processo de degradação do
edificado, o que leva a longo prazo à necessidade de intervenções profundas de elevado custo
e impacto na preexistência ou ao total abandono da mesma. Não obstante a estes problemas,
surge uma exigência acrescida no que respeita à burocracia dos órgãos públicos, conjuntura
que muitas vezes leva à sua venda a entidade privadas, como no caso do antigo edifício dos
Correios de Coimbra; ou a propostas travadas pelos órgãos de preservação, que consideram
que determinadas intervenções “descaraterizam” o bem cultural, quando na verdade o seu
abandono assume a maior ameaça à sua integridade e à ideia de identidade.

181


183

Fig.118- Fotomontagem proposta individual - relação com a cidade


4.2- (RE)SSIGNIFICAR O LUGAR

“A arquitetura é uma disciplina que permite ao arquiteto trabalhar no tempo e com o tempo [...] diferencialmente
da disciplina de história, a arquitetura trabalha sobre a transição. Durante o curto tempo do projeto, o
arquiteto toma decisões, sobre formas e espaços, e gere todo o valor desse tempo. A temporalidade é a condição
da contemporaneidade.” 141

O projeto desenvolve-se a partir da observação da cidade como um todo, como um imensurável


organismo histórico repleto de diferentes (in)temporalidades. É através da analogia, como exercício
de memória, que se repensa na arquitetura, analogia essa que surge como instrumento de
projeto, e que se reflete na nova proposta individual. A reinterpretação do Claustro da Manga,
o centro do projeto, é agora repensado tendo em conta a ideia intemporal da arquitetura,
assumindo uma linguagem inequivocamente contemporânea, que marca simultaneamente
o passado e o presente. No projeto de grupo, os novos volumes apesar de estabelecerem um
diálogo com a preexistência apresentam um caráter perene. Assumem-se perante a mesma, e
assumem simultaneamente o seu presente e a sua permanência. Olhando para o sítio, e tendo
em conta o sobrepor de estratos temporais e a relação de metamorfose que o tempo detém com
a arquitetura, o conceito do projeto foi-se desenvolvendo num gesto leve, reversível e efémero142.

Estes conceitos já se encontram na génese da proposta para o novo mercado, cuja organização
dos espaços, materialidade e forma, foram pensados consoante a contemporaneidade e a sua
constante necessidade de reformular programas no decorrer do tempo. No entanto, esta ideia
não se encontra apenas inerente à morfologia dos espaços, mas também ao modo como a
arquitetura dialoga com estes. Um bom exemplo disso, é o atual Mercado D.Pedro V, que
apesar da tentativa de dinamização com programas mais participativos, por exemplo novos
serviços de restauração com atividades como música ao vivo, continuam a não obter muita

[141] Gonçalo Byrne, conferência Julho 2014, Luxemburgo


[142] O termo efémero encontra-se relacionado com a ideia de um tempo limitado, algo passageiro, transitório. O
conceito de efémero na arquitetura será explorado nos capítulos que se seguem.

Fig.119- Esquema da evolução do conjunto monástico ao longo dos séculos. 185 Fig.120- Fotografia da maquete individual.
(RE)SSIGNIFICAR
 O LUGAR

aderência por parte dos cidadãos. A arquitetura tem de ser pensada desde as suas relações com
a cidade, com o espaço público, e só depois deve ser aprofundada na escala mais contida, na
relação do espaço com o indivíduo e nas sensações fenomenológicas que este transmite. Deste
modo, a nova proposta para o mercado referida no capítulo anterior, advém primeiro das
relações com a cidade, quer em termos de forma, quer em termos de programa com capacidade
dinamizadora, e de espaços adaptáveis e reversíveis, passíveis de diferentes usos.

O projeto de revitalização do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, é pensado numa


sucessiva relação entre os dois momentos propostos: o novo mercado e o novo espaço
transversal que conforma o Jardim da Manga e o novo Centro Audiovisual. Esta ideia é
marcada quer pelo programa, quer pela caraterização dos espaços, pelas peças reversíveis que
o delimitam, e que, juntamente com a estereotomia e a caraterização do espaço público, guiam
e convidam as pessoas a viver-lo e a interpretá-lo.

O elemento proposto ao redor da Fonte da Manga surge num gesto de acolher o espaço,
numa lógica de retorno à forma e simbologia do antigo claustro, nomeadamente ao seu
ambiente de silêncio e reflexão. A nova forma, transmite esta ideia de continuidade espacial,
estabelecendo uma relação de diálogo com a Fonte da Manga e com os edifícios preexistentes,
prolongando-se num gesto que acompanha os movimentos urbanos, que uniformizam e dão
sentido ao espaço. Este gesto de promover a continuidade espacial através de dispositivos
leves e reversíveis, em confronto com o caráter perene da preexistência, foi um dos temas
fulcrais do projeto, desde a macro à microescala. A preexistência é a matéria de projeto, a
nova intervenção propõe-se como um gesto de clarificação da sua evolução histórica, cultural
e simbólica, onde o ambiente resulta numa simultaneidade de tempos que se justapõem e
desenham um todo único.

Fig.121- Planta cobertura e Perfil pela Rua Olímpo Nicolau Rui Fernandes.

187
(RE)SSIGNIFICAR
 O LUGAR

“é como se [o projecto] ilustrasse, provocador, um código de bem intervir: limpar o máximo, clarificar a história
e adequar o uso contemporâneo com estruturas de reversibilidade gentilíssima que possam equipar o existente,
torná-lo útil e resignificá-lo ao nosso olhar diferente, no que mais notável lhe encontramos e, no entanto, sem o
tocar, ferir ou sobrepor, só se aproximando muito castamente, muito poeticamente, muito levemente” 143

(Re)ssignificar o lugar compreende não só a leitura das sucessivas camadas de história da


preexistência, mas também as dimensões sociais, de identidade e de memória coletiva.
Como tal, apesar das demolições e reassumes do complexo monástico, o projeto passa pela
reinterpretação de alguns momentos marcantes para o conjunto, que vão desde a morfologia do
mesmo, à vivência de culto e quotidiano dos crúzios. Esta releitura foi crucial para a proposta
do novo percurso expositivo, uma vez que as peças de espólio deveriam estar distribuídas
de acordo com a relação entre estes e a memória dos espaços. O arquiteto deve estar sempre
ciente dos estratos da obra, e do facto de que esta, com a intervenção, irá configurar uma nova
temporalidade naquele lugar. Torna-se portanto fundamental levar os temas de restauro e dos
modos de intervir sempre à extensão do projeto, em diferentes escalas e contextos.

O retorno à ideia de claustro, embora de cariz abstrato, adquire significado e escala a partir do
movimento dos corpos que os percorrem, sendo a relação do corpo humano com o espaço um
dos temas de projeto. A proposta assume a permeabilidade urbana que hoje existe, que embora
a afaste do conceito de claustro, acolhe a Fonte da Manga do caos citadino, evidenciando-a
e dando-lhe escala. O pavimento ajardinado é substituído por espelhos de água, num gesto
simbólico de coextensão com as proporções do antigo claustro, e num gesto subsequente da
metáfora da Fonte da Manga, onde a ideia de paraíso terrestre é substituída pela continuidade
figurativa do espírito crúzio. Nestes, o volume é refletido, atribuindo-lhe uma outra dimensão,
conformando os seus limites, e conferindo à Fonte da Manga o destaque e dignidade merecido.

A ideia de reversibilidade presente nas novas peças, em contraste com a estrutura perene,
envolve-se com o ritmo de vida contemporâneo, e é pensada desde os recursos da nova sociedade
de modo a não comprometer as inovações do futuro, mas permitindo simultaneamente a
releitura do passado. É neste sentido que se desenvolve o projeto, no diálogo temporal, formal
e simbólico entre o antigo e o novo, na sua transmissão ao longo dos tempos.

[143] Dias. Manuel Graça. 2003. O código leve. Duas obras de requalificação em Coimbra. In Expresso, “Actual”, 18 de Abril.
p.35.

Fig.122- Fotografia ampliada maquete individual, esc.1:500.


189
Fig.123- Fotografia maquete individual, morfologia do “novo Claustro da Manga”, esc.1:100.
(RE)SSIGNIFICAR
 O LUGAR

Em termos formais, a peça da manga apresenta uma leitura assumidamente ambígua: tal como
o projeto se debruça no contraste entre o reversível e o perene da preexistência, a peça apesar
de leve e de semi-transparente, propõe na sua totalidade uma leitura de volume. Este gesto, é
intencionalmente marcado pelo ritmo do ripado, cuja secção remete para as paredes densas
da preexistência, num gesto de continuidade linguística: apesar de formalmente se afastar
desta, estabelece uma relação de diálogo e continuidade em diversas dimensões. Os pontos
onde estas se ligam foram estrategicamente pensados consoante a estrutura da preexistência,
respeitando-a, e assumindo a sua diferença através da materialidade. Metaforicamente, o
material escolhido para este momento de transição foi o aço corten, cujas caraterísticas se
encontram relacionadas com a temporalidade, uma vez que o que o distingue dos outros
materiais é o seu processo de corrosão e mutação ao longo do tempo. Marca assim, a distância
intemporal e a relação dialética entre a preexistência e os novos volumes, a transição entre o
passado e a contemporaneidade.

Nos espaços do mosteiro as intervenções limitam-se a momentos específicos, caraterizando-se


sobretudo pelas intervenções pontuais e criação de novos acessos, de forma a restabelecer e
agilizar percursos lógicos, atualmente dissociados. Aproxima-se assim, do princípio da Mínima
Intervenção defendido por Beatrice Vivio, caraterizado pela “discrição e a leveza das intervenções [...
nas quais o projeto procura intervir...] apenas o mínimo necessário para que a obra preexistente possa ser
inserida no tempo presente e cumprir suas devidas funções” 144. Como tal, as infraestruturas desta área
que exigiram uma intervenção de maior grau, foram introduzidas numa ala pertencente ao
edifício da Câmara Municipal, cuja cota de acesso é rebaixada e feita por um vão preexistente.

Nesta mesma ala, foi aberta um dos espaços na qual se fez uma reinterpretação da antiga capela
de S. Vicente ou “Espírito Santo, de 20 palmos de largura e abóbada de madeira, onde figurava na parede
do fundo (a nascente?) o retábulo com o magnifico Pentecostes de Vasco Fernandes” 145
, cuja localização é
incerta, apenas se sabe que estaria algures na ala entre o Claustro do Silêncio e o Claustro da
Portaria. A localização da nova capela tem em conta este gesto pontual, onde se procura apenas
“abrir e fechar vãos”, tendo sido escolhido um espaço cujo trabalho das cantarias indicam
que poderia ter sido um momento singular ou uma capela preexistente.

[144] Vetrone, Mariana Lunardi. 2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio cultural
edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de Arquitetura. DARQ-FCTUC. p17.
[145] Lobo, Rui. 2006. Santa Cruz e a Rua da Sofia: arquitectura e urbanismo no século XVI (Coimbra: Departamento de
Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 2006). p.49.

Fig.124- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. Capela S.Vicente.
191
Fig.125- Fotografia da entrada para a Igreja; acesso ao piso superior do Claustro do Silêncio; capela oclusa.
(RE)SSIGNIFICAR
 O LUGAR

Este espaço agora fechado e sem qualquer relação, é reflexo de como a adição dos novos
volumes da autarquia não tiveram em consideração a morfologia do espaço, invadindo o
mesmo e ignorando a sua leitura original.

Os antigos dormitórios, agora indevidamente ocupados pelos serviços camarários, voltam a


ser parte integrante do complexo monástico, assim como o antigo refeitório, onde consta a
atual Sala da Cidade. A ocupação pelas quais as antigas celas foram alvo ao longo do tempo,
acabou por se traduzir em várias intervenções que descaraterizaram o espaço, onde através de
documentação e fotografias, se percebe que a organização espacial, a estrutura da cobertura
e as paredes divisórias não correspondem às originais. O espaço, é assim redesenhado de
acordo com a métrica original, mas tendo em conta o novo programa e a adaptabilidade do
espaço, organizado através de módulos reversíveis que irão ser apresentados nos capítulos que
se seguem. A cobertura, não é reconstruída na sua totalidade, mas é reinterpretada a abóbada
com a mesma lógica efémera e de transparência.

Estando delineadas as diretrizes que garantem a unidade da intervenção, o projeto desenvolve-se


a partir da reinterpretação da preexistência, onde as novas peças contemporâneas exploram esta
nova composição do espaço, estabelecendo uma relação de diálogo. O percurso museológico
permite a leitura da mesma, assim como a criação de momentos estimulantes, onde temas
como a espacialidade, materialidade e luz se encontram intimamente ligados à escala do corpo
humano, e à relação que este detém com o espaço e com os objetos a expor. Pensar no novo
percurso museológico implica repensar nas sucessivas relações que o mosteiro detém, das quais
o caos das diferentes cotas e assimetrias, das incoerências e diferentes lógicas construtivas, das
A
B dissonâncias entre os espaços, fazem parte. A resposta está em pensar no projeto como um
todo, e isso implica assumir os seus desequilíbrios, tenta-los colmatar através da arquitetura,
do programa e da participação ativa dos cidadãos, de modo a devolver a dinâmica do lugar,
a torna-lo o que foi outrora, a ressignifica-lo.

Fig.126- Análise do ritmo das antigas celas/dormitórios.


193
Fig.127- Desenhos esquemáticos do Atual vs Proposta. Representação do ritmo das antigas celas.
4.3- O PERCURSO EXPOSITIVO – PERMANÊNCIA E CONTINUIDADE

“O objetivo das exposições, como Franco Albini referiu, é o de permitir ao público a compreensão das obras
expostas, quer sejam antigas ou modernas, a sua pertença à atualidade da nossa vida, à nossa cultura viva.
Desenhar exposições é um processo que reúne em distintos graus, a arquitetura, o design de interiores e
equipamento, assim como outras disciplinas que procuram interpretar o potencial dos espaços [...] ‘Acima de
tudo, o desenho de uma exposição é o diálogo entre os objetos a expor e o espaço no qual irão ser apresentados’
(Dernie 2006,6)” 146

A relação entre as caraterísticas da preexistência e o programa é uma das principais premissas PLANTA COTA 26;

do projeto. A adaptação dos espaços de modo a preservar e respeitar a sua qualidade formal
e estrutural, é essencial para a atribuição de um uso adequado, e de uma arquitetura capaz de
se integrar e de estabelecer uma relação de harmonia com o lugar. Neste sentido, o projeto
divide-se em duas instâncias: uma parte com programa catalisador, que integre os cidadãos e
seja capaz de revitalizar o lugar; e o percurso museológico, onde as peças do acervo artístico
são reunidas, valorizando as caraterísticas da preexistência, e simultaneamente, preservando
e sublinhando a ideia de sublime dos espaços de culto, e o caráter pitoresco do mosteiro.

Antes de aprofundar o novo programa proposto, é fundamental, em primeiro lugar, perceber


as principais alterações formais e estruturais para a inclusão do mesmo. De uma maneira
geral, assumiu-se as diferenças do complexo, as suas assimetrias e diferentes relações espaciais.
As alterações passam essencialmente por derrubar paredes secundárias, de modo a permitir a
apropriação do novo programa museológico, sendo que os elementos que unem os edifícios
ou que se propõem dar coerência ao percurso, detêm um caráter leve e reversível. O momento
que incluiu maior intervenção em termos construtivos, foi o atual Edifício da DRCC, onde
as asnas prevalecem à vista, expondo a verdade construtiva, e os vãos são tratados numa

[146] Pedro, Désirée. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.Coimbra.
p.57 e p.59.

Fig.128- Esquisso da articulação entre os diferentes edifícios. 195


ATUAL

PROPOSTA CORTE TRANSVERSAL JARDIM MANGA


0
1
0

17

19
1
5
33.00

29.00

ATUAL 24.50

34.00
33.00
32.00
30.90

29.00

24.50

PROPOSTA

DEMOLIDO
CONSTRUÍDO CORTE LONGITUDINAL DRCC
0

17

19
0
1

0 5 15m

Fig.129- Plantas vermelhos e amarelos cota 36 e cota 35; Perfis da preexistência vs proposta.
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA E CONTINUIDADE

lógica de cheios e vazios, sendo alguns encerrados para permitir um maior controlo de luz e
de temperatura dos espaços expositivos. A laje do último piso foi parcialmente demolida, de
modo a permitir a perceção da espacialidade do edifício na sua totalidade, e a estabelecer trocas
visuais entre os diferentes momentos expositivos e os movimentos do museu. Os materiais
desta foram reaproveitados para executar o pavimento da nova peça efémera da Manga, a
nova laje do fim do percurso, dentro de uma lógica sustentável de reutilização dos materiais.
Este novo piso surge em continuidade com o piso dos antigos dormitórios, substituindo a
escadaria provisória existente devolvendo dignidade ao espaço.

Neste ponto exceção, é introduzida uma escada efémera que marca o culminar do percurso,
atribuindo simultaneamente uma nova escala e espacialidade ao átrio da Sala de Epoxições
Temporárias. Desta peça solta, que marca o ponto de interseção dos dois momentos expositivos,
pode observar-se a dinâmica e fluxo de pessoas na entrada e contemplar a obra da Última
Ceia de Hodart numa perspetiva distinta. Na perpetiva do visitante da Sala de Exposições
Temporárias, a dinâmica da peça e este momento singular, surgem como meio de suscitar
interesse para visitar o museu.

Este e outros pontos de articulação entre pisos e diferentes momentos expositivos, foram
pensados consoante a organização e fluidez dos percursos, permitindo a separação dos
mesmos, não só de acordo com a sua função, como também conforme o seu pragmatismo e
o funcionamento interno do museu. Neste sentido, apesar da Sala de Exposições Temporárias
poder ser percorrida no fim do percurso de culto, detém igualmente uma entrada exclusiva, de
modo a garantir a permanência ativa do cidadão no sítio. A entrada individual é assinalada pela
própria torção do volume da DRCC e pela verticalidade da nova escada efémera no interior.

Os percursos internos, reservados aos funcionários e os movimentos privados, foram pensados


tendo em conta a funcionalidade dos espaços. Tendo em conta que o museu é um organismo
suscetível a mudanças de curadoria, a momentos de substituição e manutenção de peças,
entre outros, a importância da introdução, por exemplo, de ascensores e monta-cargas, foi
essencial. Os acessos verticais foram pensados tendo em conta esta questão, assim como
as questões de acessibilidade, ou até mesmo as questões de legislação, por exemplo, face à
Acessos verticais
segurança contra incêndios. Neste sentido, e tendo em conta o conceito de efemeridade, Instalações Sanitárias
Área Privada - funcionamento interno do museu
este ponto foi um dos mais difíceis de trabalhar, sendo que a única opção foi afirmar estes Acessos Serviço Educativo

mesmos eixos verticais quando necessário. Reconhecem-se assim, as implicações e exigências Acessos Administração

Fig.130- Axonometria escada efémera. 199 Fig.132- Axonometria esquemática da articlação entre pisos; Acessos principais do percurso expositivo.
Fig.131- Fotomontagem do átrio da Sala de Exposições Temporárias.
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA
 E CONTINUIDADE

que a introdução das novas infraestruturas detêm, consequências que as novas necessidades
contemporâneas acarretam. Assume-se a ambiguidade, por exemplo, das “caixas” e elementos
soltos que contêm instalações sanitárias, que transmitem esta ideia de reversibilidade, o que
acaba por ser inexequível na sua essência, devido às instalações de saneamentos e outros. Não
obstante, e tendo em conta este ponto, pretende-se que o projeto adquira uma linguagem
como um todo, por isso trata-se de uma opção de projeto, e do modo como este adquire a
sua linguagem. Em alguns momentos peculiares onde se tem em consideração o conceito de
“mínima intervenção”, nomeadamente no mosteiro, as infraestruturas são pensadas de maneira
a não criar ruído que possa perturbar a leitura da preexistência, que deve sempre prevalecer.
Nos restantes momentos, nomeadamente naqueles onde o conceito de reversibilidade está mais
presente, as infraestruturas encontram-se à vista, por exemplo no edifício da DRCC, onde a
estrutura e as suas consequências são assumidas, desde as asnas à vista, do ritmo das vigas, ao
elevador e escala efémera que se afirmam como elementos independentes.

Para além destas questões, ao longo do percurso foram desenhados diversos espaços de
arrecadação, como resposta às necessidades do próprio sítio após a troca de ideias com os
funcionários do atual percurso expositivo. O trabalho de campo, relacionado com a pesquisa
antropológica do espaço, foi primordial: as conversas com os funcionários da atual Igreja
de Santa Cruz, juntamente com as reflexões das pessoas que participaram nas atividades do
projeto de Reconstituição 3D do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra 1834, e todos os participantes
do Questionário por Inquérito147, foram de tal forma surpreendentes, quanto fundamentais
para a reformulação do programa. Por vezes, esquecemo-nos que nada melhor do que ter
uma narrativa do mosteiro com os olhos de quem vive o lugar sucessivamente, ou de quem
não tem formação na área da arquitetura. Deste diálogo, saliento a necessidade de introduzir
eventos mais didáticos e interativos, que desencadeou à extensão dos programas catalisadores
que irei referir de seguida, até à falta de sinalização, instalações sanitárias e elevadores, ou à
necessidade de reorganização do percurso e do aproveitamento dos nichos e capelas, questões
que não são indiferentes a quem visita o espaço.

[147] O Questionário por Inquérito e conteúdo analítico enconta-se disponível em Anexo.


Fig.133- Planta cota 26; relação com a Fonte da Manga.

201
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA
 E CONTINUIDADE

“A introdução da componente memorial entre as características que definem património, configurando ambientes
e identidades próprias, obriga a acrescentar a componente social, geradora de movimentos e relações complexas,
confinadas por um espaço físico com o qual interage.” 148

No seguimento da problematização (capítulo 2.2- A Crise de Identidade: O atual Mosteiro de


Santa Cruz), refletiu-se sobre o tema da progressiva descaraterização da baixa, e do modo como
a degradação dos núcleos urbanos resulta tantas vezes em intervenções e usos desadequados,
que ao invés de preservarem a memória e o sentido de continuidade histórica, visam apenas
a manutenção de uma imagem. O exercício de reabilitação detém um caráter flexível, que
ambiciona a possibilidade dos espaços se adaptarem a diversas interpretações e usos. Estes,
para além de contribuirem para a reutilização da matéria preexistente, tendo em conta a
dimensão ambiental, têm a capacidade de regenerar os espaços debillitados e possibilitar que
estes possam ser novamente vividos.

Deste modo, e tendo em conta as premissas de grupo, estabeleceu-se uma extensão do âmbito
cultural, tendo em conta a introdução de novas dinâmicas socioculturais, que estimulem
a visita ao lugar por parte dos cidadãos, tornando o espaço um momento relevante da
coletividade.

Como programa revitalizante, capaz de introduzir novas dinâmicas, é proposto um conjunto


de espaços multifuncionais e flexíveis, capazes de se apropriarem de diversos usos. Entende-se
que a flexibilidade não é a previsão minuciosa de todas as mudanças possíveis. A flexibilidade
é a conceção de grande espectro que permite diferentes e até opostas interpretações e usos.
Esta, concede um caráter híbrido ao espaço, capaz de dar resposta à diversidade de programas,
sendo considerada em função, não apenas da utilização que se pretende no momento, mas
também das condições futuras. Estas condições estão intrinsecamente ligadas aos conceitos
implementados no esquema formulado anteriormente, à ideia de reversibilidade, dos novos
usos, e de desenvolvimento sustentável, permitindo suprimir as necessidades do presente, sem
comprometer as gerações futuras. A ideia de reversibilidade é tida em consideração em todas
as decisões de projeto e em todas as escalas, por isso não se fala em percurso permanente: a
ideia de perenidade subsiste apenas na preexistência, tudo o resto advém das relações com
esta e com os movimentos do corpo no espaço.

[148] Couceiro, João. 1998. Urbanidade e Património; capítulo: Património. Do Monumento ao Território.

Fig.134- Fotografia maquete; Relação com o pátio exterior. 203


Fig.135- Fotomontagem relação do volume com a Fonte da Manga.
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA E CONTINUIDADE

No piso de entrada é proposto um espaço polivalente, articulado com o pátio, pensado


estratégicamente num gesto convidativo perante os movimentos urbanos. Este permite não
só relacionar-se com o serviço educativo, como também concretizar atividades ao “ar livre” e
articular-se com o espaço galeria-bar, onde os cidadãos podem expor as suas obras de pintura,
artesanato e outros. Este novo conceito surge num gesto de coextensão do novo mercado e
das indústrias criativas, de modo a não retirar o destaque ao Café de Santa Cruz. Esta ideia
de participação ativa reflete-se também no piso superior, onde se encontram os espaços de
coworking, a biblioeca didática e uma área reservada aos serviços administrativos. No rés-do-
chão, em contacto com o Novo Claustro da Manga, apresenta-se a nova Sala da Cidade, uma
vez que o antigo refeitório volta a ser parte integrante do percurso expositivo. Adjacente a esta
sala, encontram-se as oficinas de restauro, onde são realizadas diversas atividades relacionados
com arqueologia e conservação de obras.

Estes programas assumem uma posição mais relevante no projeto, comparativamente à proposta
de grupo, sendo que o programa de exposições temporárias abraça todo o Claustro da Manga,
inclusive o espaço exterior, de caráter público. Deste modo, os cidadãos são sucessivamente
convidados a participar nas atividades e nas exposições rotativas, suscitando sempre novos
interesses e atribuindo ao novo núcleo museológico um carácter ativo e estimulante.

A proposta de curadoria149 do percurso expositivo é organizada consoante quatro momentos


(fig.136): a Contextualização da História do Mosteiro, da envolvente e do Claustro da Manga;
a exposição do espólio no edifício da DRCC, que tem continuidade no piso superior do
Claustro do Silêncio; o Percurso Religioso que se inicia com a visita ao coro alto, e por
último, a ala das Pinturas e Retábulos, no volume do antigo refeitório. A organização dos
diferentes espaços do percurso expositivo é pensada tendo em conta a lógica de reversibilidade,
permitindo definir espaços de diversas formas, conferir novas leituras e novas dinâmicas. O
projeto ganha uma outra dimensão, que passa pela reflexão sobre as sucessivas relações entre o
sistema modular, que irá ser detalhado no capítulo que se segue, as peças do espólio, o espaço
que estas confinam e o modo como o corpo dialoga com estes. De maneira sucinta, o módulo
apresenta diversas configurações: desde o mobiliário, até parede expositiva bidimensional, ou
à “caixa” tridimensional. No entanto a ideia vai para além da sua espacialidade, procurando
Início do Percurso Museológico - Contextualização da História do Mosteiro de Santa Cruz estabelecer uma dialética com a preexistência.
Exposição de Objetos de Pequena escala, Ourivesaria, Tapeçarias e outros;
Percurso Religioso
Exposição de Retábulos e Pinturas
[149] Para uma maior compreensão do percurso expositivo, recomenda-se a leitura juntamente com os desenhos disponíveis
Exposições Temporárias
em anexo.

Fig.136- Axonometria explodida com os diferentes temas de exposição propostos. 205 Fig.137- Fotomontagem peça efémera novo Claustro da Manga.
Fig.138- Fotomontagem relação visual com a Fonte da Manga.
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA
 E CONTINUIDADE

A entrada do museu é marcada pela monumentalidade do átrio do edifício dos correios, onde
se encontra a bilheteira. Prosseguindo, a oposição entre a robustez e permanência do edifício
de carácter colossal contrasta com o carácter da peça que envolve a Fonte da Manga, onde
a estereotomia dinâmica permite criar efeitos de luz e sombra e instigar a mesma, mas não
observa-la na sua totalidade.

A verdade construtiva toma conta da leitura do espaço, cujas treliças suportam as peças de
grande carga, que complementam a narrativa do percurso (fig.137). No momento de viragem,
uma janela insurge curiosidade, mostra que há algo dinâmico a acontecer no interior do
edifício. Na galeria adjacente ao antigo edifício da DRCC, relata-se a história do antigo
claustro, onde a meio se abre um rasgo que permite não só observar a Fonte da Manga
noutra perspetiva (fig.138), como também ter perceção de um eixo longitudinal entre este e o
Claustro do Silêncio, que simboliza as diferentes relações espaciais e temporais do mosteiro.
Na interseção do antigo edifício da DRCC, antecede-se por um momento que descreve a
importância do espólio de Santa Cruz, sendo que o contacto com as peças é apenas tido no
piso superior.

No piso em contacto com o Santuário, podemos observar as caixas expositivas que estabelecem
uma continuidade espacial e que enfatizam as caraterísticas do mesmo: primeiro somos
contidos por um espaço compacto, para depois nos libertarmos na grandiosidade e no sublime,
símbolo do auge da expressão artística do mosteiro. Continuando a explorar o espaço, somos
surpreendidos pelo mezanino que nos permite observar o edifício noutra perspetiva, e pelas
“caixas suspensas” que expõem a enorme tela do retábulo da capela-mor, permitindo ler a
mesma na sua totalidade (fig.140).

O acesso ao piso inferior é feito pela escada preexistente, onde o espaço multifuncional é agora
ocupado com as caixas expositivas, podendo contar por exemplo, com o espaço destinado a
narrar a história e as peças dos mártires de Marrocos. A ligação ao piso superior do Claustro
do Silêncio é feita de maneira orgânica por uma nova rampa. Contactando com este espaço,
o utilizador pode agora explora-lo, uma vez que é retirada a marquise pertencente à Câmara
Municipal, que impedia a fluidez do mesmo. Deste modo, podemos obter novamente a sua
leitura total, assim como contactar com momentos de exposição que integram os espaços
preexistentes, atualmente inacessíveis, como a capela da ala Norte e a sala situada abaixo
do Santuário, onde se propõe expôr as tapeçarias e peças de vestuário. O próprio espaço
preexistente orienta o utilizador, dramatizado agora por uma luz zenital que guia em direção
ao coro alto, marcando o início do percurso de culto.
Fig.139- Planta cota 30 e Piso superior do Claustro do Silêncio; Corte longitudinal.

207
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA E CONTINUIDADE

O acesso ao piso inferior do Claustro do Silêncio é feito pela mesma escadaria metálica que
hoje existe, e é neste ponto que se inicia a visita à igreja e capelas, sacristia e sala do capítulo.
No mesmo piso, as capelas são recuperadas e algumas complementadas por novas peças do
espólio, realçando a reinterpretação da Capela de S.Vicente, e a reformulação da Capela do
Tesouro, que atualmente se encontra caótica, com esculturas completamente danificadas
e aglomeradas. No Claustro do Silêncio o módulo efémero proposto pode ser distribuído
permitindo atribuir uma nova dinâmica ao espaço, como a realização de atividades lúdicas
ou exposições (fig.141).

O momento de transição para o novo tema da exposição é marcado pela espacialidade do


antigo refeitório (fig.142). Neste, são expostos, por exemplo, os retábulos quinhentistas, numa
composição que segue a reinterpretação de Fernando Baptista Pereira150, e outras telas de
grande dimensão, que se articulam com a monumentalidade do próprio espaço. O nicho que
albergava as esculturas da Última Ceia de Cristo (1530-1534) do escultor Hodart é reinterpretado,
e as figuras regressam ao seu lugar original.

O acesso ao piso superior desta ala, é feito pela escadaria preexistente, que se afirma como
um vazio dentro da parede maciça, dando acesso às celas, onde o tema da relação entre a
escala humana e as peças do espólio foi elementar. Repetindo o gesto de tensão, as pessoas são
confrontadas com a beleza dos retábulos, numa escala eminentemente real, onde o confronto
de escalas permite não só ter uma leitura das obras com maior detalhe, como também
transmitir uma ideia fenomenológica, uma narrativa diferente das técnicas de pintura, das
texturas e das cores. A organicidade do espaço é conseguida pelo modo como os módulos
efémeros que suportam os retábulos se encontram distribuídos, guiando o visitante, e levando-o
até ao momento de mezanino, que detém relação com o átrio da entrada e a escada efémera.

[150] Reinterpretação com base no estudo de Pedro Dias. Pereira, Fernando António Baptista. 2001. Imagens e histórias de
devoção: espaço, tempo e narrativa na pintura portuguesa do Renascimento (1450-1550). Dissertação de Doutoramento em Ciências
da Arte, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. p.425.

Fig.140- Fotomontagem relação espacial interior antigo edifício DRCC. Piso Santuário. 209 Fig.142- Fotomontagem antigo refeitório/Sala da Cidade.
Fig.141- Fotomontagem Claustro do Silêncio e o módulo efémero - exemplo de atividade lúdica de leitura. Fig.143- Fotomontagem caixa “suspensa”; visualização 3D.
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA
 E CONTINUIDADE

O próprio desenho da escada direciona o utilizador até ao culminar do percurso, onde a relação
visual com o triplo pé-direito é ainda mais forte, podendo observar os diferentes momentos
que já percorreu. Neste ponto, destaca-se a lógica de introdução de meios de exposição mais
tecnológicos, num gesto de continuação com o projeto Reconstituição 3D do Mosteiro de Santa
Cruz de Coimbra 1834, onde o utilizador pode visualizar através de dispositivos eletrónicos,
o que seria o mosteiro nos tempos da era crúzia. Estes hotspots são contidos pelas caixas
efémeras, que permitem introduzir um outro ambiente encerrado, acompanhados por texto ou
elementos multimédia, enfatizando a leitura e dramatologia destes momentos, terminando com
a visualização do Claustro da Manga e da Antiga Torre Sineira, na última “caixa expositiva”
(fig.143). O efeito promenade termina na caixa efémera suspensa: a exceção que simboliza o
gesto de continuidade intemporal no seu limite.

Fig.144- Planta cota 35; Corte transversal dormitório e corte longitudinal DRCC

211


4.4- O EFÉMERO E O PERENE - DIÁLOGOS ENTRE O CORPO E O ESPAÇO

“O almejar humano passa pela vontade de permanência, mas esta tem os seus custos. A melancolia de assistir
ao desenvolver de uma ruína torna-se muitas vezes insuportável, a obra efémera deixa-nos evitar essa dor. [...]
é instante e história; é presença e ausência. Como câmbio passado é algo que já não é.” 151

A efemeridade é um conceito que decorre da ideia de tempo. O termo origem deriva do


dialeto grego efêmeros, cujo significado se encontra relacionado a algo passageiro, transitório.
O tempo é uma criação do Homem, que nutriu a necessidade da organização e controlo,
sendo que o conceito de efemeridade está essencialmente relacionado com o tempo de vida
do Ser Humano. No entanto, quanto menor é o tempo de permanência de uma construção
no espaço, maior é a sensação da sua efemeridade. É a partir desta relação intemporal, que a
arquitetura efémera ganha destaque.

Construir algo efémero é uma das necessidades mais primitivas do Homem, desde a ideia de
abrigo e de tenda ao contexto militar. Posteriormente, a ideia começou a estar relacionada
com as feiras, exposições, cenografia, até à conceção de abrigos de emergência, ou centros
de apoio a saúde e educação. Com os tempos de pandemia dos últimos anos, a arquitetura
efémera ganhou uma outra importância, da qual se tornou uma nova modalidade do tempo
e uma conceção presente, estando inevitavelmente cada vez mais presente nas nossas vidas.
Ainda que tudo esteja sentenciado à ideia de fim, e que a nossa consciência do temporário
e do transitório esteja cada vez mais intensa, devemos olhar para a essência das coisas, para
as sensações e aprendizagem que estas nos podem oferecer, ainda que fisicamente por tempo
limitado.

[151] Ventosa, Margarida. De que falamos quando falamos em Efémero: O Efémero Enquanto Poética Emergente. Lisboa: arqa -
Arquitectura e Arte Contemporâneas: <http://www.revarqa.com/con- tent/1/458/que-falamos-quandofalamos-efemero/>

Fig.145- Estudo da relação entre a escala humana, a caixa e o espaço. CAV - caso de estudo. 213
O EFÉMERO E O PERENE - DIÁLOGOS
 ENTRE O CORPO E O ESPAÇO

Apesar da Arquitetura ter sido desde sempre pensada como matéria perene, o progresso
da história, de globalização e de abertura para o futuro, empurrou o presente para este
espectro de transformações e mudanças, que precisámos reconhecer e reinterpretar de modo
a beneficiar do seu potencial. O que distingue a arquitetura efémera de outras arquiteturas, é
a maneira como esta dialoga com o tipo de uso do edifício, a rapidez de construção e a fácil
inserção e extração no lugar, através da reversibilidade e a adaptabilidade, tendo a vantagem
de poder subsistir à evolução da sociedade durante o decurso do tempo. Na reabilitação,
onde as premissas são não danificar ou alterar permanentemente o preexistente, o conceito
de reversibilidade vai para além da forma e ideia temporal, incluíndo a análise dos processos
de montagem e desmontagem.152

Perante o contexto que envolve o Mosteiro de Santa Cruz e a baixa da cidade, surgiu assim a
ideia de criar um elemento que abraçasse o espaço através de uma conceção dinâmica, capaz
de se transformar, numa dança ritmada com flexibilidade, adaptabilidade e reversibilidade.
Um elemento reversível, solto, adequado ao ritmo da vida contemporânea, onde não nos
questionamos acerca do significado que o objeto poderá ter, ou o seu grau de importância,
uma vez que nos deparamos com a sua fragilidade, e com a evidência de que o seu destino,
no limite, resumir-se-á a pó ou noutro objeto e função.

No projeto, este coinceito é tido em consideração desde a macro à micro escala, na procura
por encontrar um conjunto de elementos que permitissem integrar o programa de maneira
versátil e independente, que respeitasse e não comprometesse a preexistência. Na macro
escala surge a Peça do “novo Claustro da Manga”, e os elementos no mercado e envolvente
que estabelecem uma relação de continuidade; na micro escala surge um elemento modular,
reversível e adaptável, capaz não só de organizar o espaço como também de suprimir as
necessidades do percurso expositivo.

[152] Relacionado com o conceito Design for Deconstruction (DfD), que tem vindo a ganhar destaque desde meados do século
XX, nomeadamente com o Open Building movement, estudado por N. J. Habakren. Stewart Brand reflete sobre arquitetura
adaptável, tendo em contra outros conceitos como o design para reciclar, o design para reconstruir e/ou o design para reutilizar.

Fig.146- Axonometria esquemática da articulação entre pisos; Acessos principais do percurso expositivo. 215
O EFÉMERO E O PERENE - DIÁLOGOS
 ENTRE O CORPO E O ESPAÇO

A Arquitetura é considerada como lugar de vivências efetivas, configurada perante a relação


com o corpo humano. O módulo proposto foi pensado não só como elemento individual
de exposição, como também, consoante as sucessivas relações que o corpo detém com este. A
forma deriva da sua capacidade de se articular com outros módulos, de se inscrever e gerar
espaço, e de estabelecer um diálogo com a escala do corpo humano e as peças do espólio, cujo
desenho traduz essa interação. A ideia, é olhar para o objeto efémero como uma maneira de
articular diferentes espaços e gerar novas dinâmicas de exposição, distintas das consideradas
convencionais, através da arquitetura dos sentidos.

A articulação entre estes conceitos e a densidade e o peso dos próprios materiais, a espessura,
dimensão, a cor, constituiu um dos maiores desafios do projeto, mas foram simultaneamente,
estimuladores, porque caraterizaram a individualidade de cada momento expositivo. Apesar
do mesmo princípio construtivo, da mesma medida, da mesma composição, cada módulo
detém a sua singularidade, assim como cada peça do espólio.

As “caixas expositivas” tornam-se uma espécie de dispositivos cenográficos, que exprimem a


lógica do corpo em movimento e o espaço-tempo em que ele se inscreve. A composição do
movimento está interligada com a manipulação dos objetos, à exploração do seu potencial
cénico e das suas particularidades plásticas. Aproximam-se inclusive de uma arquitetura de
ação 153, carregada de dinamismo, mutabilidade espacial e experimento táctil. A sua rigidez
material, contrasta com a ideia de maleabilidade humana, expressa na sua flexibilidade, como
se se tratassem de extensões de corpos em movimento. É este contraste , “é a partir da oposição
do corpo à rigidez do objecto, que se revelam as formas do espaço – “o princípio da gravidade e o da rigidez são
as condições para a existência de um espaço vivo”.154

[153] “Bernard Tschumi define esta como uma arquitetura que materializa o movimento no espaço e que é claramente
oposta à ordem da arquitectura clássica. Na introdução do livro Architecture and Disjunction, o arquitecto e teórico
Bernhard Tschumi refere que não existe arquitectura sem acção, programa e acontecimento. Para Tschumi, a arquitectura
deve lidar com o movimento e a acção no espaço. Arquitectura sem corpo, sem programa, sem acção ou evento é
somente construção.” fonte Ribeiro, João Mendes. 2008. Arquitetura e Espaço Cénico - Um percurso biográfico. Dissertação de
Doutoramento do Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra. p.266.
[154] Ibidem, p.292. [que por sua vez cita Adolphe Appia no seu livro L’oeuvre d’art vivant, de 1921].

Fig.147- Esquema representativo entre a escala humana e a concepção de espaço.


Fig.148- Diálogos dinâmicos entre corpo e espaço. Casa Robalo Cordeiro- João Mendes Ribeiro. 217
Fig.149- Fotomontagem do módulo/caixa expositiva proposta com instalação artística.
O EFÉMERO E O PERENE - DIÁLOGOS
 ENTRE O CORPO E O ESPAÇO

Deste modo, é pensado como um sistema dinâmico, capaz de servir as exigências funcionais
da exposição, que poderia funcionar como parede expositiva, com nichos que integrassem as
peças; poderia converter-se num local de repouso para o visitante ou em vitrines expositivas;
ou em espaços tridimensionais mais contidos, “caixas expositivas”, que permitissem por
exemplo, a projeção de atividades interativas e multimédia, ou atribuir uma narrativa específica
ao momento.

Estas últimas, surgem do estudo das sucessivas relações que o corpo humano detém com
o espaço, onde os elementos adquiriram uma multiplicidade de movimentos, como um
complexo jogo abstrato de relações com o espaço, com o corpo humano, com as peças a
expor, com os jogos de luz entre o interior e o exterior, o aberto e o fechado. Aproximam-se
da ideia de enigma e surpresa, cujas caixas realçam a ideia de tensão e expectativa, entre o que
se imagina, e aquilo que se descobre quando se explora o seu interior. Os temas de luz, cheios
e vazios, de explorar o espaço, encontra-se intimamente ligado às relações fenomenológicas,
e são pensados tendo em conta a narrativa do próprio percurso, consoante os momentos
de tensão, drama, ênfase espacial, ênfase de uma determinada peça, entre outros. Apesar de
todos os momentos expositivos conterem o mesmo módulo - a estrutura, a escala, a regra,
os limites do espaço, a composição, a relação dos cheios e vazios, a articulação interior/
exterior, os efeitos de luz e sombra, as cores, a acústica do espaço, o sensorial, assumem uma
singularidade e individualidade.

Numa primeira abordagem, as caixas expositivas, apesar da sua essência leve, transmitiam a
ideia de rigidez, uma vez que se tratavam de volumes assumidos e densos. Com o desenvolver
do projeto, com os conceitos de reversibilidade e efemeridade, e com a exploração dos temas
referidos anteriormente, começaram a obter uma linguagem mais leve, mais próxima da sua
verdade construtiva e da ideia que pretendem transmitir. A nova linguagem remete para a ideia
de escavação, não a partir da erosão de um material concreto, mas pela extinção de elementos
construtivos e pelo ritmo tridimensional da estrutura. Escavar constitui uma metáfora para
construir, transfigurando um elemento aparentemente sólido - a parede- , num espaço vazio,
aberto.

Fig.150- Multifuncionalidade do módulo proposto. Peças de mobiliário, elemento que organiza o espaço ou caixa expositiva. 219
Desenhos rigorosos disponíveis no capítulo “Anexos”.
EXEMPLO CAIXA A

Caixa A

Caixa B

Fig.151- Exemplo de Caixa Expositiva. Fig.152- Fotomontagens Caixas Expositivas: relação com o Santuário.
0 5m

Fig.153- Proposta de curadoria do espólio artístico. 0 2,5 5m




4.5- A EXPRESSÃO CONSTRUTIVA DO EFÉMERO

[Sobre o projeto do Atelier do Corvo para o mosteiro] “A proposta procurou respeitar e desvelar sistemas
construtivos, estruturas formais e funcionais existentes, evitando uma intervenção arbitrária e inconsequente
sobre a preexistência de modo a coexistir e relacionar-se coerentemente com a mesma. [...] intervenções pontuais
onde se demoliram e subsistiram integralmente elementos considerados espúrios e/ou inadequados às condições
necessárias aos novos espaços. [...] ‘A musealização dos espaços religiosos de Santa Cruz impõe uma nova visão
de utilização, não só para manter o património vivo, mas também par garantir a preservação do existente, para
que outras gerações possam usufruir dele’.”155

A intervenção nos edifícios preexistentes deve ter como premissa a salvaguarda das caraterísticas
dos mesmos, passando por intervenções de melhoria térmica e acústica, e à adaptação de novas
infraestruturas inerentes às necessidades da nova sociedade. Perante o exercício de projeto,
a estas questões acrescenta-se os requisitos do programa de museografia, com exigências
peculiares relativas às condições de conservação das peças a expor. No antigo Edifício dos
Correios ou na DRCC, as intervenções passam pelo reforço do isolamento, nomeadamente
na cobertura, e pela substituição dos caixilhos existentes de vidro simples, por caixilharia
com vidro duplo e corte térmico, cuja expressão e linguagem se aproxima da existente, mas
num gesto mais minimalista de modo a não sobrecarregar a leitura da preexistência. No
segundo edifício, é introduzido reboco à base de argamassas com adição de inertes com
cortiça, de maior porosidade e plasticidade que permitem a alvenaria respirar, onde se adiciona
um pigmento natural, muito ténue e translúcido. Este, é constituído à base de óxidos de
ferro, aproximando-se subtilmente do bege-ocre, com o objetivo de estabelecer uma ideia de
continuidade com a atual fachada do volume do refeitório.

[155] Pedro, Pedro, Désirée. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.
Coimbra. p.55-59; que por sua vez cita Dra.Adília Alarcão e Dra. Maria Cândida Martins Ferreira, em Programa Museológico
para o Mosteiro de Santa Cruz. Documento integrante do Dossier do convite enviado a 30 de junho de 2004. (Coimbra:MC/
IPPAR/ DRC).

Fig.154- Esquissos de desenvolvimento do projeto. 225


A EXPRESSÃO CONSTRUTIVA
 DO EFÉMERO

Nos pontos intrinsecamente ligados à história do mosteiro, por exemplo, no volume dos
antigos dormitórios e refeitório, prevalece a ideia de reinterpretação dos espaços. Neste
sentido, as infraestruturas são dissimladas de modo a não perturbar a leitura do mesmo,
sendo adicionado um espaço sob o peitoril para desumificadores, cabos e outros equipamentos
Fachada e outros acabamentos
necessários. Na área dos antigos dormitórios é reinterpretada a cobertura abobadada, tendo em
conta a linguagem efémera e de transparência. Numa fase inicial, pretendia-se uma intervenção
muito pontual no espaço do antigo refeitório, no entanto, após as adversidades perante as
sucessivas exposições ao longo do último ano156, surgiu a necessidade de substituir a caixilharia
e de colocar infraestruturas ocultas, de modo a garantir a salubridade do espaço e a capacidade
de albergar diferentes exposições.

Não obstante, o conceito de efemeridade engloba uma propensão para uma vertente técnica
e construtiva distinta, mais minimalista, onde se pretende fazer mais com menos, na procura
de rentabilizar matéria, energia e tempo. Procura estabelecer o equilíbrio entre a visão técnica,
Isolamento, pavimentos, tetos falsos sensível e humanista, tendo em conta a sua expressão e linguagem e o respeito pelos recursos
caixilharias e infraestruturas
disponíveis. Como referido ao longo da dissertação, uma das premissas quando se fala em
intervir na cidade contemporânea, é ter em consideração os conceitos de desenvolvimento
sustentável. No século XIX e XX, o explorar das técnicas construtivas e da materialidade,
encontrava-se muito ligada à relação entre forma e estrutura. Hoje, o enorme espectro de
sistemas construtivos e materiais permite atribuir diferentes temporalidades à obra.

Durante o desenvolvimento do projeto, o termo Design for Deconstruction referido anteriormente,


passou a ser parte integrante do projeto, revelando a importância da durabilidade dos materiais
para além do tempo de vida útil do edifício, uma componente essencial, nomeadamente
Subestruturas e
Perfis Auxiliares quando se fala em reversibilidade e temporalidade da obra. Esta ideia, marca a oposição entre a
arquitetura efémera e a robustez e o caráter dominante das construções dos séculos anteriores,
que são parte da identidade das cidades e que marcam a sua identidade e intemporalidade.
A materialidade e o sistema construtivo devem de ser pensados de acordo com esta noção de
tempo, tendo esta não só de ultrapassar sempre as espectativas da data limite da obra, como
também de ter em conta o conceito de reversibilidade, adaptabilidade e questões de reutilização
de materiais. Perante a constante mudança dos hábitos da sociedade moderna, onde os valores

[156] Segundo o Arquiteto João Mendes Ribeiro, que participou na exposição “Luz e Memória” em Agosto de 2022, a
mesma contou com inúmeros obstáculos, nomeadamente a necessidade de inserir deshumificadores de escala industrial
para garantir a concretização da mesma.
Estrutura
Metálica

Fig.155- Esquemas de desconstrução das peças propostas. 227


A EXPRESSÃO CONSTRUTIVA
 DO EFÉMERO

económicos se sobrepõem aos valores ambientais e sociais, é cada vez mais importante olhar
para o projeto tendo em conta estes conceitos e o equilíbrio entre todas as dinâmicas.

No projeto, as peças efémeras foram sendo pensadas e adaptadas consoante estas noções, desde
a caraterização dos simples módulos, até peça da manga, à escadaria, ou até mesmo às novas
lajes, paredes e elementos secundários. A escolha dos materiais teve em conta os processos de
reutilização, a rapidez de construção e desmontagem, durabilidade e versatilidade destes. Por
exemplo, a estrutura das peças reversíveis, em aço, é desenhada de acordo com as medidas
standard dos perfis metálicos, que carateriza este tipo de construções. Uma vez que os perfis
têm medidas e espessuras preestabelecidas, facilitam a questão da adaptação destes noutras
circunstâncias, assim como nos processos de montagem e desmontagem, que simplificam
o processo na obra e diminuem a necessidade de recursos de água, energia e transportes,
relativamente aos métodos de construção tradicional.

Este tipo de construção com estruturas “secas”, facilita também a logística de manutenção
da obra a longo prazo, tornando-se mais fácil, por exemplo trocar cabos e infraestruturas,
comparando ao processo da construção tradicional que implica mais desperdício, como
demolir paredes e desmanchar camadas de materiais. A lógica de elementos secos e leves, foi
tida não apenas nas peças efémeras, como também no volume que substituí o atual restaurante
e escadaria da Manga, ou nas paredes e elementos urbanos, por exemplo, do Novo Claustro da
Manga, que apesar de aparentemente transmitirem robustez e massa, detêm esta caraterística
leve e reversível. Esta decisão de projeto, surge perante os conceitos e teorias estudados ao
longo da investigação, e num gesto de reflexão face o projeto de grupo, cuja materialidade
detinha um caráter eminentemente perene. Estes espaços, aproximam-se do sistema construtivo
Passivehaus, que permite um elevado desempenho térmico, de modo a garantir as condições e
salubridade dos espaços de hoje e do futuro, devido ao seu caráter reversível.

A madeira, embora detenha características mais débeis, pode ser um material igualmente
reciclado, quer para a produção de outros materiais com maior desempenho, como os
contraplacados, quer na reutilização deste na sua essência. Um exemplo no contexto do
projeto, são as vigas e a riga velha resultantes da desconstrução da última laje do edifício da
DRCC, que foram reaproveitadas em parte do novo volume que substituí a área do atual
Restaurante da Manga, e que repete o ritmo das vigas do mesmo, ou o desmanche do soalho
reaproveitado no novo pavimento da Peça da Manga.

Fig.156- Axonometrias construtivas da proposta. Ver axonometria disponível no capítulo “Anexos”. 229
A EXPRESSÃO CONSTRUTIVA
 DO EFÉMERO

Esta escolha, vai para além das questões ambientais, constituindo uma metáfora de continuidade
entre o antigo e o novo. A madeira é um material proveniente da natureza, inofensivo para
a saúde e para o ambiente (se o seu processo de corte e tratamento for bem administrado),
possuindo inúmeras vantagens relativamente ao seu desempenho físico-mecânico, que
lhe permitem atribuir uma caraterística versátil. A adaptabilidade do material no projeto
engloba diversos usos e formas, e vai desde a escala urbana, onde este enfatiza a linguagem
tridimensional através do invólucro das peças efémeras, à escala mais contida e eminentemente
estrutural, que contém os módulos e as peças de mobiliário. O uso bidimensional deste, por
exemplo como estereotomia, reflete-se numa ideia tridimensional de conceção do espaço,
no sentido que lhe atribuí ritmo e dimensão, assim como uma particularidade sensorial que
estimula os sentidos.

No módulo expositivo, é estruturalmente composto por fasquias de madeira, travadas entre si.
A escolha de material deve-se não só ao seu caráter universal, ligeiro e versátil, como também
às questões de natureza tátil e simbólica que o mesmo atribui. As suas caraterísticas contrastam
com a perenidade e robustez da preexistência, afastando-se desta. Quando organizado como
“caixa expositiva” o lado tátil e a temperatura do material atribuem uma outra dimensão ao
espaço, tornando-o mais acolhedor. Os mecanismos de abertura e fecho das caixas, reside
na própria construção, de modo a estimular as pessoas a explorar os espaços, e a abertura
dos nichos é feita através de eixos horizontais e verticais dissimulados entre as juntas dos
contraplacados, incentivando ao uso do tato, ao explorar da sensação do material. Os
módulos foram pensados tendo em conta a sua versatibilidade, podendo contar com baterias
independentes, sistemas de som e outros dispositivos, que permitem introduzir um caráter
dramático e outras narrativas ao percurso expositivo. A flexibilização do módulo permite este
ser agrupado em diversas formas e direções, podendo inclusive expandir-se na vertical, como
no caso do antigo refeitório, sendo feito um reforço estrutural no encontro dos mesmos. O
transporte destes é facilitado pela possibilidade de encaixe uns sobre os outros, ou pelo total
desmanche das peças que o constituem, dada a simplicidade do sistema de fixação e construção.

Reforça-se, que não se quer aqui falar de arquitetura sustentável, ou da escolha de uns materiais
em detrimento de outros, até porque há outras dimensões e especificidades, como a logística de
obra, que são de certo modo incontroláveis; mas sim de uma consciência perante a arquitetura
que tem em conta as dinâmicas de desenvolvimento sustentável, essencial quando falamos
em intervir na cidade contemporânea. O exercício de projeto tem de ser visto como um ato

Fig.157- Esquissos do desenvolvimento do módulo construtivo. 231


A EXPRESSÃO CONSTRUTIVA
 DO EFÉMERO

crítico, ponderado e o mais equilibrado possível, quer pelo respeito pelo preexistente, quer pela
introdução de novas arquiteturas, que devem estabelecer uma relação de diálogo harmoniosa
com as dinâmicas sociais, económicas e ambientais do presente e do futuro. É a admiração
pelos vestígios do passado, que devem legitimar as ações que delineamos sobre o património,
cujas heranças que se acumulam só farão sentido se, nós os herdeiros, e, particularmente os
arquitetos, detivermos meios de sensibilização para a sua salvaguarda e preservação da sua
identidade.

O conceito de efémero surgiu na procura por explorar a maneira como o espaço sensorial
comunica e se interliga com a perceção emotiva do utilizador, tendo em conta a adaptabilidade
funcional, a linguagem e as caraterísticas materiais, que permitam o seu reuso e reversibilidade.
Estes, suportados por uma verdade construtiva metódica e racional, devem ser pensados
segundo uma eficácia económica e ambiental, tendo em conta o respeito pelo passado, a sua
adaptação no presente, e, a continuidade destas duas instâncias no futuro. O projeto reside da
harmonização destas múltiplas dimensões, através da sua expressão formal, artística e simbólica.

Fig.158- Fotografias maquete individual; esc.1:100. 233




CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema da investigação surge a partir do debate sobre a vulnerabilidade das cidades


contemporâneas, onde o tema “Construir o Construído” se articula com os modos de intervir,
na procura por perceber os diálogos entre o antigo e o novo. No entanto, a reflexão ao longo
da investigação foi muito além da análise destes: transformou-se numa aprendizagem que se
revelou fundamental para o desenvolvimento de um espírito crítico, e de uma sensibilidade
perante o exercício de reabilitação e o lugar.

A dissertação tornou-se uma ferramenta que permitiu adquirir um olhar mais abrangente
perante a preexistência, dando origem a uma narrativa para além dos valores tangíveis e da
sua matéria. Desde o conhecer as estratificações da obra, a importância desta na identidade
da sociedade, as sucessivas relações que a arquitetura pode estabelecer com a cidade e com os
cidadãos; o diálogo entre a preexistência e o contemporâneo, e a sua capacidade de (re)ssignificar
o lugar; até às relações de fenomenologia dos espaços e a importância dos movimentos do
corpo neste. Estes temas constituíram o alicerce da investigação, ultrapassando as questões de
linguagem, forma e matéria. O projeto de arquitetura surge da leitura do todo, estabelecendo
sucessivos diálogos e abordagens distintas, não subsistindo apenas de uma forma ou solução.

O contexto do projeto envolve uma complexidade singular: Coimbra apresenta um tecido


urbano fragmentado, onde a centralidade da zona histórica e a importância do Mosteiro de
Santa Cruz se foram perdendo, não só em termos de notoriedade cívica e cultural, como
também em relação a questões de identidade, escala urbana, morfologia e de dinâmica e
vivência dos espaços. O simbolismo, a memória do lugar e a dinâmica social inerente ao
mosteiro e envolvente foi desvanecendo, o espólio de grande primor cultural foi desviado
ou esquecido, assim como os ideais de inteligência de gestão de um património material,
espiritual e artístico da era Crúzia.

Fig.159- Fotomontagem da relação urbana com o “Novo Claustro da Manga”. 235


CONSIDERAÇÕES
 FINAIS

O projeto desenvolveu-se tendo em conta a valorização e conservação do conjunto, fundamental


quer para a identidade nacional, quer para a salvaguarda de uma memória coletiva da cidade
de Coimbra. O programa é tido como um momento de dinamização, capaz de resolver
problemáticas de ordem social e de integrar programas de intervenção ativa e participada, não
só apoiados na identidade local, como também no seu contexto socioecónomico e cultural.

Neste sentido, foi fundamental a análise da contínua transformação dos espaços nos
diferentes períodos e estratificações da cidade, cujo reconhecimento permitiu que a proposta
se desenvolvesse numa reinterpretação dos mesmos, consoante uma linguagem eminentemente
contemporânea. Os conceitos inerentes ao valor do património, promoveram a pesquisa à
volta do conhecimento teórico-prático sobre as teorias de restauro e os modos de intervir na
preexistência, que possibilitaram, juntamente com a ferramenta de desenho, um conjunto
de pensamentos que se refletiram no projeto. Esta vertente mais analítica, permitiu estudar
questões de dialética entre o antigo e o novo, desde a sua linguagem e expressão, até às suas
instâncias de carácter mais abstrato, relacionados com o movimento do corpo no espaço e
com a componente memorial e afetiva do utilizador. O contemporâneo surge como reflexo
da preexistência, num gesto de reinterpretação do que foi, admitindo simultaneamente, uma
nova narrativa, quer no presente, quer na sua continuidade com o futuro.

Os edifícios antigos detêm a capacidade de serem flexíveis, onde os limites impostos pelas
caraterísticas espaciais da preexistência, surgem como uma oportunidade de revitalização dos
mesmos, cabendo à arquitetura transparecer as suas qualidades. Ao salvaguardar o património,
estamos simultaneamente a reutilizar matéria preexistente, numa atitude que dá uma nova
vida aos centros de indentidade. Na contemporaneidade este pensamento revela-se pertinente,
como possibilidade de regenerar espaços catalizadores de novas dinâmicas de desenvolvimento
sustentável. A adaptação do programa de museografia no contexto do Mosteiro de Santa Cruz,
envolveu interpretar as sucessivas relações espaciais do mesmo, das quais o caos das diferentes
cotas, assimetrias, incoerências e diferentes lógicas construtivas fazem parte. A resposta implicou
pensar no projeto como um todo, assumindo os seus desequilíbrios, colmatando-os através
da arquitetura, do programa e da envolvência com os cidadãos.

237
CONSIDERAÇÕES
 FINAIS

Contactar com o programa de museologia, nomeadamente num edifício de elevado valor


patrimonial foi desafiador. O percurso museológico deveria ser criado de modo a articular
os edifícios preexistentes com os diferentes espaços sagrados, como o Claustro do Silêncio e
a Igreja de Santa Cruz, e simultaneamente, gerar percursos independentes, desde os privados
relativos ao funcionamento interno do Museu, até aos percursos de prestação ao culto,
indispensáveis para a vivência e intimidade religiosa dos crentes. Em termos espaciais e
construtivos, a adaptação do programa passou pelo derrubar de paredes secundárias, tornando
os espaços adaptáveis a diferentes usos. Os elementos que unem os edifícios e que se propõem
dar coerência ao percurso, detêm um caráter leve e reversível, pensados de acordo com a
organização, a fluidez, o pragmatismo e a (in)temporalidade da preexistência. A relação entre os
diferentes percursos teve sempre em consideração o caráter do espaço museológico, suscetível
de sucessivas transformações, assim como a introdução de infraestruturas e elementos que
garantam o funcionamento do mesmo, as condições de acessibilidade, e outras exigências que
as novas necessidades contemporâneas acarretam.

As peças efémeras fazem parte do programa e simultaneamente ilustram o partido concetual


da obra, numa ação clara e inequívoca de reinterpretação do passado. Estes elementos surgem
como forma de expressão da procura das relações entre o cidadão e o espaço, num propósito
de coexistência, que gera encontros sociais, diálogos e reflexões, e que delimitam o espaço e o
tempo sob o ponto de vista simbólico. Apesar dos novos volumes contemporâneos não tocarem
e se distanciarem da preexistência, aproximam-se desta em termos de geometria, proporção
e simbologia. O gesto de promover a continuidade espacial pelo meio de dispositivos leves
e reversíveis, contrasta com o caráter perene da preexistência, realçando o seu caráter (in)
temporal, abraçando o espaço através de uma concepção dinâmica e metamórfica, perante a
sua flexibilidade, adaptabilidade e reversibilidade.

Estes elementos soltos, ajustados ao ritmo da vida contemporânea, refletem-se desde a macro
à microescala. A estrutura efémera proposta em redor da Fonte da Manga permite manter
a permeabilidade urbana atual e, simultaneamente, criar uma narrativa do antigo claustro,
devolvendo-lhe o seu ambiente de silêncio e reflexão. Este integra o percurso de museologia,
estabelecendo uma ligação entre os dois edifícios preexistentes, cuja premissa passa pela
valorização da vertente monumental e construtiva dos mesmos. As alterações nestes passam
por traduzir a sua verdade construtiva, com destaque no edifício da DRCC, onde os elementos
estruturais permanecem à vista, e parte da laje do último piso é demolida, de maneira a

239
CONSIDERAÇÕES
 FINAIS

estabelecer diferentes dinâmicas espaciais e ligações visuais entre os usuários e o percurso


museológico. Os materiais daqui resultantes, são reaproveitados numa lógica sustentável,
sendo aplicados em distintos locais, como no novo volume contemporâneo do Jardim da
Manga. As questões ambientais, de extrema importância quando falamos em intervir na
contemporaneidade, começam a ganhar destaque, dando origem a uma reflexão sobre a possível
reutilização dos materiais, sobre o processo de construção, de montagem e desmontagem, de
modo a diminuir os impactos ambientais.

Numa escala mais contida, e tendo em conta o valor patrimonial da preexistência, era
fundamental encontrar um elemento que permitisse integrar o programa de maneira versátil e
independente, que respeitasse e não comprometesse a mesma. O percurso expositivo é pensado
a partir de um elemento modular, como um sistema dinâmico capaz de servir as exigências
funcionais da exposição, pensado não só como elemento individual, como também, consoante
as sucessivas relações que o corpo detém com este. A forma deriva da sua capacidade de se
articular com outros módulos, de se inscrever e gerar espaço, e de estabelecer um diálogo
entre a escala do corpo humano e as peças do espólio, cujo desenho traduz essa interação.
Objeto efémero foi pensado de maneira a articular diferentes espaços e gerar novas dinâmicas
de exposição, distintas das consideradas convencionais, através da arquitetura dos sentidos.

A luz, a relação com as peças, a dinâmica expositiva, materialidade, expressão e linguagem, são
elementos fundamentais, quer no desenho das arquiteturas expositivas, quer no diálogo destas
com a preexistência, sendo que os claustros, nichos e capelas serão considerados, também,
partes destes momentos. Esta sucessiva relação desenvolve-se sempre num elo de ligação entre
os modos de intervir e a história e simbolismo do lugar, numa reconciliação com o passado,
onde as preexistências passam a ser objeto central do projeto contemporâneo, e onde os
conceitos de reversibilidade e identidade surgem como gesto de respeito pela pré-existência e pela
sua permanente relação intemporal, respeitando as marcas do seu presente histórico e da sua
delegação ao futuro.

241
CONSIDERAÇÕES
 FINAIS

Em suma, dos ensinamentos adquiridos ao longo do desenvolvimento da investigação,


destaca-se o conhecimento minucioso da história do edificado e da sua evolução construtiva,
onde as estratificações da obra e a relação com a identidade e memória coletiva dos cidadãos,
são a génese do projeto. A partilha do conhecimento cultural e histórico, articulado com o
entendimento das necessidades da cidade e dos seus cidadãos, demonstram-se indispensáveis
para uma intervenção harmoniosa e pertinente, que ressignifique e estabeleça novas dinâmicas
com o lugar. A intervenção deve procurar assumir a sua contemporaneidade, adaptando a
função da preexistência à atualidade, dotando-a de uma continuidade que impede que estea
caia no esquecimento.

Não obstante da complexidade, hesitações e dúvidas inerentes ao projeto, a investigação foi


desenvolvida durante um período de enormes adversidades, onde numa fase inicial, devido à
Pandemia, as reflexões e troca de ideias com os orientadores e colegas, perderam a interação
essencial que um ecrã não consegue transparecer. As visitas ao mosteiro e a outras arquiteturas,
foram sucessivamente canceladas, o que dificultou o acesso à recolha do espólio, à concretização
de desenhos e ao contacto com o espaço. Numa fase posterior, o projeto ganha outro rumo,
onde o trabalho de campo reflete a importância do contacto com o sítio e com as pessoas
que o coabitam, das relações fenomenológicas e antropológicas. Esta etapa, é a prova que
arquitetura é configurada perante a relação com o corpo humano, onde o espaço é o lugar de
vivências efetivas, devendo o projeto ser reflexo destas. E assim foi: a troca de ideias entre os
funcionários do atual percurso expositivo, dos participantes das atividades que decorreram
no mosteiro, de diversas pessoas que deambulavam pelo lugar, dos professores, investigadores
e colegas, foram de tal forma surpreendentes quanto fundamentais para o desenvolvimento
do projeto.

A dissertação permitiu olhar para o ato de projetar numa perspetiva distinta, quer pelo
contato com o exercício de reabilitação e com o património, pelo aprofundar do contexto
histórico, da vertente analítica, até ao contacto com o espaço e com as pessoas, nunca antes
tão aprofundado no meu percurso académico. Neste sentido, apesar de todos os contratempos,
o projeto apresentado é o reflexo de um desenvolvimento de espírito crítico e resiliência,
que culminaram em novas aprendizagens e ferramentas, que serão essenciais para a vida
profissional.

243


Do projeto apresentado sucede o anseio pela procura do (re)ssignificar do lugar, do conhecimento


dos seus estratos, onde o ato de projetar surge como um estímulo de processos de salvaguarda,
capaz de estabelecer uma nova narrativa à preexistência, sem esquecer que,

- os nossos pensamentos, reflexões e projetos, serão parte de mais um capítulo da história.

Fig.160- Fotografia do Jardim da Manga. 245




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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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3 de julho de 2021. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/32967/1/O%20
Lugar%20Evanescente%20-%20caracter%C3%ADsticas%20da%20arquitetura%20 Fig.1- Fotografia Fonte da Manga, 2021. Fotografia da autora, 2021.
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Fig.2- Imagem aérea de Coimbra com a reinterpretação da Cerca e da Quinta de Santa
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Disponível em: https://www.icomos.pt/images/pdfs/2021/52%20Recomenda%C3%A7%C3%A3o%20 earth, edição da autora.
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pdf?fbclid=IwAR2rzJyn6nxzMp0KeAHm4mAAIVFTW8OiON5ji8zIa1NWL6mpyIbNBg_Axa0. Fig.4- Fotografia Claustro do Silêncio. Fotografia da autora, 2020.

Fig.5- Fotografia Fonte da Manga. Fotografia da autora, 2020.

Fig.6- Esquisso do Mosteiro de Santa Cruz. Desenho da autora, 2019.

Fig.7- Fotografia do processo de análise histórica. Fotografia da autora, 2019.

Fig.8- Fotografia das apresentações da disciplina de Seminário de Investigação. Fotografia


retirada de: https://santacruz.ces.uc.pt/atelier-de-projeto-design-studio/. Apresentações de 4
de Fevereiro de 2019.

Fig.9- Fotografia do processo de levantamento da estereotomia. Fotografia de Miguel Góis,


2020.

Fig.10- Fotografia a capturar o momento de visualização de hotspot através do dispositivo


móvel. Fotografia de Rita Sousa, 5 de Fevereiro de 2022.

Fig.11- Fotografia das apresentações na Sala do Capítulo. Fotografia de Miguel Góis, 5 de


Fevereiro de 2022.

Fig.12- Fotografia da exposição na Sala da Cidade. Fotografia da autora, 5 de Fevereiro de 2022.

Fig.13- Fotografia do livro “Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área
envolvente”. Fotografia da autora, 16 de Abril de 2022.

Fig.14-Fotografia do processo de entrega de inquéritos, Claustro do Silêncio. Fotografia da


autora, Março de 2022.

255
REFERÊNCIA DE IMAGENS REFERÊNCIADE IMAGENS

Fig.15- Vista da Quinta de Santa Cruz, George Vivian 1839. Imagem de pintura a óleo fornecida
pelo Professor Rui Lobo (Proveniente da coleção de Alexandre Ramires). Fig.23- “Passado ao Espelho”, Fotografia de Alexandre Ramires. Imagem fornecida pelo
Professor Rui Lobo (Proveniente da coleção de Alexandre Ramires).
Fig.16- Cronologia resumo da Evolução Histórica, Morfológica e Construtiva do Mosteiro
de Santa Cruz ao longo dos tempos. Esquema elaborado pela autora. Fig.24- Planta de análise das demolições e construções da passagem do Românico para o
Manuelino. Desenho da Autora; realizado tendo em conta referências da dissertação de
Fig.17- Reinterpretação da planta da cidade de Coimbra na Época Medieval. Imagem da mestrado de: Eghteda, Sofia. 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga; Projeto de
autora. Recriação a partir de Rossa, Walter. 2001 «Diversidade: urbanografia do espaço de reconstituição e reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Faculdade
Coimbra até ao estabelecimento definitivo da Universidade». Dissertação de Doutoramento de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
em Arquitectura (especialidade de Teoria e História da Arquitectura), Coimbra: Faculdade
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra; realizado tendo em conta referências da Fig.25- Esquisso do Claustro do Silêncio; Esquisso da autora, 2020.
dissertação de mestrado de: Eghteda, Sofia. 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga;
Projeto de reconstituição e reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Fig.26- Planta de Reconstituição do Mosteiro de Santa Cruz durante a Reforma Manuelina;
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Desenho da Autora.

Fig.18- “Illustris Ciutatis Conimbria in Lusitania ad flumen ilundam effigies” Gravura de Fig.27- Planta de análise das construções e demolições da passagem do Manuelino para o
Georg Hoefnagel 1566/1567. Colorida por Braun, de 1566 ou 1567 e publicada em 1598 Joanino. Desenho da Autora; realizado tendo em conta referências da dissertação de mestrado
na obra “Civitatis Orbis Tarrarum”. Retirada de: Ribeiro, Maria, e Arnaldo Melo. 2012. de: Eghteda, Sofia. 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga; Projeto de reconstituição
Evolução da paisagem urbana: sociedade e economia. Braga: CITCEM – Centro de Investigação e reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Faculdade de Ciências
Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória», pag.142 e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Fig.19- Ampliação da imagem anterior; Detalhe do Mosteiro de Santa Cruz; Retirada de: Fig.28- Planta de Reconstituição do Mosteiro de Santa Cruz na Reforma Joanina. Desenho da
Ribeiro, Maria, e Arnaldo Melo. 2012. Evolução da paisagem urbana: sociedade e economia. Autora; realizado tendo em conta referências da dissertação de mestrado de: Eghteda, Sofia.
Braga: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória», 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga; Projeto de reconstituição e reabilitação do
pag.142 Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra.
Fig.20- Planta de reconstituição do Mosteiro de Santa Cruz no Românico (baseada na
reinterpretação de João de Alarcão); Desenho da autora a partir de: Rossa, Walter. 2001 Fig.29- Reconstituição do dormitório no contrato de 1528 e após o contrato de 1530, por
“Diversidade: urbanografia do espaço de Coimbra até ao estabelecimento definitivo da Rui Lobo. Retirado de: Couto, Fernando Daniel Teixeira. 2014. “Mosteiro de Santa Cruz de
Universidade”. Dissertação de Doutoramento em Arquitectura (especialidade de Teoria e Coimbra. Análise e Reconstituição.”, p.92. Universidade de Coimbra.
História da Arquitectura), Coimbra: Faculdade Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra; e Alarcão, Jorge de. 2013. A Judiaria Velha de Coimbra e as Torres Sineiras de Santa Fig.30- Planta dos irmãos Goullard do Mosteiro de Santa Cruz, 1873-1874; Geometria fonte
Cruz. Coimbra: Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto. da Manga. Imagem de planta retirada de: Couto, Fernando Daniel Teixeira. 2014. Mosteiro
Fig.21- Corte e Axonometria de Jorge de Alarcão. Retirada de: Alarcão, Jorge de. 2013. A de Santa Cruz de Coimbra. Análise e Reconstituição, p.112. Universidade de Coimbra; e
Judiaria Velha de Coimbra e as Torres Sineiras de Santa Cruz. Coimbra: Centro de Estudos imagem da geometria da fonte retirada do livro: O mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, p.37,
Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto; P.25 e p.27. Maria de Lurdes Craveiro.

Fig.22- Axonometria da reconstituição do conjunto monástico. Imagem retirada da dissertação Fig.31- Geometria atual da Fonte da Manga. Ibidem.
de mestrado de: Eghteda, Sofia. 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga; Projeto de
reconstituição e reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Faculdade Fig.32- Reinterpretação da geometria - proposta de grupo. Imagem da autora, 2020.
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. p.28.

257
REFERÊNCIA DE IMAGENS REFERÊNCIADE IMAGENS

Fig.33- Esquema síntese das dependências monásticas em 1834; Elaborado pela autora. Fig.45- Esquema e demolições: comparação entre a extinção das ordens religiosas e a atualidade;
Referências base da tese de: Couto, Fernando Daniel Teixeira. 2014. Mosteiro de Santa Cruz planta piso térreo e planta cobertura. Desenho da autora.
de Coimbra. Análise e Reconstituição.
Fig.46- Planta de reconstituição de Coimbra, c.1845 e Planta de reconstituição de Coimbra,
Fig.34- Fotografia dos antigos dormitórios. Retirada de: SIPA, Sistema de Informação para o c.1895. Plantas elaboradas tendo como base os desenhos de Calmeiro, Margarida Relvão.
Património Arquitetónico. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834 -1934 vol.II. Dissertação de doutoramento
em Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Anexos.
Fig.35- Fotografia atual dos antigos dormitórios que albergam agora serviços camarários.
Fotografia de Rita Sousa, 2020. Fig.47- Mercado Municipal no antigo laranjal da cerca do Mosteiro de Santa Cruz. Retirada
de: Parreiro, Inês Catarina Arromba da Silva. 2015. O Vale de Santa Cruz de Coimbra. Análise
Fig.36- Claustro e Fonte da Manga, Sartoris,1879/1888. Coleção Alexandre Ramires. Revelar e Reconstituição, p.138. Universidade de Coimbra.
Coimbra: Os Inícios da imagem fotográfica em Coimbra, 1842-1900. Lisboa: Museu Nacional
Machado Castro, 2001. Fig.48- Clausto da Manga após incêndio, 1917. Retirada de: Dias, Pedro e Coutinho, José
Eduardo Reis, Memórias de Santa Cruz. Coimbra: Câmara Municipal de Coimbra, 2003, p. 86.
Fig.37- Fotografia da Sacristia. Fotografia da autora, 2022.
Fig.49- Demolição da torre e parte da enfermaria. Imagoteca da Biblioteca Municipal de
Fig.38- Fotografia da Sala do Capítulo (Capela S.Teotónio). Fotografia da autora, 2022. Coimbra, N.o BMC-F152.

Fig.39- Fotografia do Santuário. Fotografia da autora, 2022. Fig.50- Planta de reconstituição de Coimbra, c.1934. Plantas elaboradas tendo como base os
desenhos de Calmeiro, Margarida Relvão. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834
Fig.40- Fotografia do órgão barroco. Fotografia da autora, 2022. -1934 vol.II. Dissertação de doutoramento em Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia
da Universidade de Coimbra. Anexos.
Fig.41-“Mappa Thopografico da cidade de Coimbra com a Divizão das Antigas Freguezias”,
final séc.XVIII. Imagem retirada de: Calmeiro, Margarida. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Fig.51- Avenida Sá da Bandeira, c.195-. Retirada de: Parreira, Inês Catarina Arromba da Silva.
Coimbra 1834-1934 Vol.I. Universidade de Coimbra. 2015. O Vale de Santa Cruz de Coimbra. Análise e Reconstituição, p.96. Universidade de
Coimbra.
Fig.42- Reconstituição e evolução do alçado poente do Mosteiro de Santa Cruz ao longo dos
séculos (primeiro realizado tendo em conta a teoria de Jorge de Alarcão; segundo realizado Fig.52- Postal do Claustro do Silêncio, 1521. Retirada de: Couto, Fernando Daniel Teixeira.
por Fernando Couto); Desenho da Autora; realizado tendo em conta referências da dissertação 2014. Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Análise e Reconstituição., p.16. Universidade de
de mestrado de: Eghteda, Sofia. 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga; Projeto de Coimbra.
reconstituição e reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Fig.53- “Dictionnaire raisonné de l’architecture française du XXI au XVI siècle” Viollet-le-Duc
1854-1868. Retirada do site: https://fr.wikisource.org/wiki/Page:Viollet-le-Duc_-_Dictionnaire_
Fig.43- Ampliação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente. Imagem retirada de: Calmeiro, raisonné_de_l’architecture_française_du_XIe_au_XVIe_siècle,_1854-1868,_tome_6.djvu/3
Margarida. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1934 Vol.I. Universidade de
Coimbra. Fig.54- Corte construtivo da catedral de Aimens, “Dictionnaire raisonné de l’architecture
française du XXI au XVI siècle”. Retirada de: https://fr.wikisource.org/wiki/Page:Viollet-
Fig.44- Francisco e Cesar Goullard, “Planta topographica da Cidade de Coimbra”, 1873-1874 le-Duc_-_Dictionnaire_raisonné_de_l’architecture_française_du_XIe_au_XVIe_
[Coleção de Plantas (Coimbra: AHMC)]. Imagem retirada de: Calmeiro, Margarida. 2014. siècle,_1854-1868,_tome_2.djvu/332
Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834-1934 Vol.I. Universidade de Coimbra.

259
REFERÊNCIA DE IMAGENS REFERÊNCIADE IMAGENS

Fig.55- Painel da exposição Cronocaos, 2010. OMA. Retirada de: https://www.oma.com/ 66.2- Armazém e escritórios da Adémia; interiores. JMR. Retirado de: https://
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ribeiro/5667a1e3e58ece70b60006a8-ademia-office-building-and-industrial-warehouse-joao-
Fig.56 - Fotografia do Palácio de Versalhes na assinatura do Tratado de 1919. Retirada de: mendes-ribeiro-photo?next_project=no.
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br/br/885868/villa-castro-architecture-project-plus-jens-bruenslow/5a154e9bb22e38b922000
Fig.57- “Catholic town in 1440 vs The same town in 1840”. Retirada de: Pugin, Augustus. 1817. 0bf-villa-castro-architecture-project-plus-jens-bruenslow-photo?next_project=no.
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of Michigan libraries. S.p. 66.4- Museu Nacional Machado Castro. Gonçalo Byrne. Fotografia da autora, 2022.

Fig.58- Plan Voisin de Le Corbusier. Medida radical de intervenção da Arquitetura 66.5- Casa Robalo Cordeiro. JMR. Retirado de: https://www.archdaily.com.br/br/784990/
Moderna. Retirada de: http://comover-arq.blogspot.com/2011/02/arquitetura-do-pos-guerra- casa-robalo-cordeiro-joao-mendes-ribeiro/5703d32ce58ece364900010f-casa-robalo-cordeiro-
simbolismo-em.html joao-mendes-ribeiro-photo?next_project=no.

Fig.59- Fotografia Museu Machado Castro - distinção material entre o novo e a pré-existência. 66.6- House of Culture- depA. Retirado de: https://www.depa.pt/House-of-Culture-Pinhel.
Fotografia da autora, 2021.
66.7- Municipal Museum of Pinhel. depA. Retirado de: https://www.depa.pt/
Fig.60- Jardim da Manga. Fotografia de Júlia Vedotti. Municipal-Museum-of-Pinhel.

Fig.61- Esquisso Jardim da Manga. Desenho da autora. 66.8- Casa Robalo Cordeiro- JMR. Retirado de: https://www.archdaily.com.br/br/784990/
casa-robalo-cordeiro-joao-mendes-ribeiro/5703d2fbe58ece364900010c-casa-robalo-cordeiro-
Fig.62- Esquissos de reinterpretação das categorias no contexto do Mosteiro de Santa Cruz. joao-mendes-ribeiro-photo?ad_medium=widget&ad_name=navigation-next&next_project=yes.
Desenho da autora.
66.9- The Quiet Shore; Kunsthaus Bregenz- David Claerbout. Retirado de: https://www.
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Vetrone, Mariana Lunardi. 2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de 66.10- Semente em Boa Terra. Atelier do Corvo. Retirado de: https://www.atelierdocorvo.
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de Mestrado Integrado de Arquitetura. DARQ-FCTUC
66.11- Museu da Cidade do Porto. JM. Retirado de página de facebook do atelier. https://
Fig.64- Esquema de reinterpretação e análise das categorias interpretativas, tendo em conta as www.facebook.com/JoaoMendesRibeiro.
relações de dialética entre o antigo e o novo. Desenho da autora. 66.12- Extension of the Canovian gipsothèque- Carlo Scarpa. Retirada de: https://www.
atlantearchitetture.beniculturali.it/en/ampliamento-della-gipsoteca-canoviana/.
Fig.65- Fotografias das sensações presentes ao longo do Mosteiro. Desenho da autora.
66.13- Caixa para guardar o vazio. Fernanda Fragateiro. Retirada de: https://www.
Fig.66- Referências de estudo: casadamemoria.pt/detail-eventos/conferencia-com-fernanda-fragateiro/.
66.1- Mosteiro de Lorvão. JMR. Retirado de: https://www.domalomenos.com/projects/
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através de Google Earth Pro. Editada pela autora.

261
REFERÊNCIA DE IMAGENS REFERÊNCIADE IMAGENS

Fig.68- Plantas do edifício da Inquisição, piso térreo e superior. (Livro das Plantas da Inquisição, Fig.81- Fotografias da Rua Ferreira Borges tomada pelos serviços de comércio e turismo; Rua
Declaração das Traças da Inquisição de Coimbra.) Retirado de: Vetrone, Mariana Lunardi. da Sofia em ambiente noturno. Fotografia da autora, 2020.
2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio
cultural edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de Fig.82- Imagem aérea de análise da problemática da envolvente do Mosteiro de Santa Cruz.
Arquitetura. DARQ-FCTUC. Imagem satélite capturada através de Google Earth Pro. Editada pela autora.

Fig.69- Fotografia da galeria exterior. Fotografia da autora, 2021. Fig.83- Fotografia da relação do Mercado Municipal D. Pedro V com a envolvente. Fotografia
da autora, 2020.
Fig.70- Fotografia do interior; relação entre os pilares de ferro, o arco em pedra e as paredes
movíveis. Fotografia da autora, 2022. Fig.84- Fotografia da relação do Mercado com o Edifício dos Correios – galeria. Fotografia
da autora, 2020.
Fig.71- Axonometria explodida do projeto de intervenção. Retirada de: https://divisare.com/
projects/302249-joao-mendes-ribeiro-fernando-guerra-fg-sg-luis-ferreira-alves-centre-for-visual- Fig.85- Fotografia que retrata o ambiente do atual Jardim da Manga. Fotografia da autora, 2020.
arts-cav.
Fig.86- Fotografia do fim da Rua Olímpo Nicolau Rui Fernandes. Fotografia da autora, 2021.
Fig.72- Fotografia da escada efémera. Fotografia da autora, 2021.
Fig.87- Esquema síntese da evolução do Mosteiro de Santa Cruz ao longo dos séculos. Desenho
Fig.73- Fotografia do interior; piso superior. Fotografia da autora, 2021. da autora.

Fig.74- Imagem aérea de localização da Igreja de Santiago. Imagem satélite capturada através Fig.88- Fachada do Mosteiro de Santa Cruz para o Largo de Sansão, 1841. Desenho de Lopes
de Google Earth Pro. Editada pela autora. Júnior. Retirada de: https://santacruz.ces.uc.pt/iconografia/

Fig.75- Fotografia da fachada da igreja durante a exposição, 2001. Disponível em: https:// Fig.89- Fotografia da atual Praça 8 de Maio. Fotografia da autora, 2021.
www.atelierdocorvo.com/project/semente-em-boa-terra/.
Fig.90 - Esquema “What makes a great place? Project for Public Places.” Retirada de: http://
Fig.76- Fotografia dos volumes expositivos. Disponível em: https://www.atelierdocorvo.com/ website-files.com/581110f944272e4a11871c01/5acfa7910b1c9faf752f2229_greatplace-?fbclid=
project/semente-em-boa-terra/. IwAR27R2gw6t2cRZsyxlDQRUEdCB5TFG3sKUMMgkkMBgis0BAh4zC1e-ruM8Y

Fig.77- Fotografia da exposição; relação com o altar mor. Disponível em: https://www. Fig.91- Esquema sobre as diferentes dimensões inerentes ao conceito de desenvolvimento
atelierdocorvo.com/project/semente-em-boa-terra/. sustentável. Desenho da autora.

Fig.78- Fotografia da exposição, relação com as colunas preexistentes. Disponível em: https:// Fig-92- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em 1834. Retirada
www.atelierdocorvo.com/project/semente-em-boa-terra/. de: https://santacruz.ces.uc.pt/reconstituicoes/

Fig.79- Planta, Corte e Axonometrias explicativas do projeto. Disponível em: https://www. Fig.93- Esquisso da autora, 2020.
atelierdocorvo.com/project/semente-em-boa-terra/.
Fig.94- Axonometria demolições e construções, proposta de grupo. Desenho da autora.
Fig.80- Fotografia do cruzamento da Rua Olímpo Nicolau Fernandes com a Rua da Sofia.
Fotografia da autora, 2020. Fig.95- Fotografia da maquete de grupo. Fotografia da autora, 2021.

263
REFERÊNCIA DE IMAGENS REFERÊNCIADE IMAGENS

Fig.96- Painel Final de Proposta de Grupo - Seminário de Investigação. Painel de grupo Fig.110- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. Retirada
apresentação Janeiro 2021. de: https://santacruz.ces.uc.pt/reconstituicoes/.

Fig.97- Fotografia da maquete de grupo. Fotografia da autora, 2021. Fig.111- Fotomontagem proposta indidivual. Fotomontagem da autora.

Fig.98- Fotografia maquete de grupo, Jardim da Manga. Fotografia da autora, 2021. Fig.112- Esquissos do antigo Claustro da Manga vs proposta; Fonte da Manga. Desenho da
autora.
Fig.99- Esquissos vivência e caracterização dos espaços antes vs agora. Desenhos da autora.
Fig.113- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. Retirada
Fig.100- Axonometria proposta de grupo vs proposta individual. Desenho da autora. de: https://santacruz.ces.uc.pt/reconstituicoes/.

Fig.101- Fotomontagem atual vs proposta; relação com o Edifício dos Correios e a cidade. Fig.114- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. Claustro
Fotomontagem da autora. da Manga. Imagem retirada de: https://santacruz.ces.uc.pt/reconstituicoes/.

Fig.102- Plantas e perfis esquemáticos de vermelhos e amarelos - Piso Térreo e Primeiro Piso Fig.115- Análise do gráfico elaborado por Beatrice Vivio relativo às categorias interpretativas
atual Mercado Pedro V vs proposta individual; Perfil Rua Olimpo Nicolau Rui Fernandes e das intervenções atuais sobre a preexistência histórica. Retirado de: Vetrone, Mariana Lunardi.
Perfil Transversal, atual vs proposta. Desenhos da autora. 2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio
cultural edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de
Fig.103- Plantas esquemáticas demolições e construções do Jardim da Manga ao longo das Arquitetura. DARQ-FCTUC.
últimas décadas. Desenhos da autora, realizado tendo em conta referências da dissertação
de mestrado de: Eghteda, Sofia. 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga; Projeto de Fig.116- Esquema da autora com a reinterpreação e reorganização das diferentes categorias.
reconstituição e reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Faculdade Desenho da autora.
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Fig.117- Fotomontagens da proposta individual numa primeira fase. Desenho da autora.
Fig. 104- Francisco e Cesar Goullard, “Planta topographica da Cidade de Coimbra”, 1873-1874
; Ampliação. Imagem retirada de: Calmeiro, Margarida. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Fig.118- Fotomontagem proposta individual - relação com a cidade. Desenho da autora.
Coimbra 1834-1934 Vol.I. Universidade de Coimbra.
Fig.119- Esquema da evolução do conjunto monástico ao longo dos séculos. Desenho da autora.
Fig.105- Proposta de grupo - Nova proporção Jardim da Manga. Desenho da autora.
Fig.120- Fotografia da maquete indivivual. Fotografia de Rita Sousa.
Fig.106- Axonometria Proposta de grupo. Elaborada pela colega de grupo Gabriela Rebelo,
com edição da autora. Fig.121- Planta cobertura e Perfil pela Rua Olímpo Nicolau Rui Fernandes. Desenhos da autora.

Fig.107- Painel distribuição do programa e organização do Percurso Museológico - Proposta Fig.122- Fotografia ampliada maquete individual, esc.1:500. Fotografia da autora. Dezembro
de grupo. Elaborada pela autora – painel individual entrega Atelier de Projeto I, Janeiro 2021. 2022.

Fig.108- Fotografia da Maquete individual. Fotografia de Rita Sousa. Exposição março 2022. Fig.123- Fotografia maquete individual, morfologia do “novo Claustro da Manga”, esc.1:100.
Fotografia da autora. Dezembro 2022.
Fig.109 -Fonte da Manga, 1865. B. Lima, Arquivo Pittoresco. Retirada de https://santacruz.
ces.uc.pt/iconografia/. Fig.124- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. Capela
S.Vicente. Retirada de: https://santacruz.ces.uc.pt/reconstituicoes/.

265
REFERÊNCIA DE IMAGENS REFERÊNCIADE IMAGENS

Fig.140- Fotomontagem relação espacial interior antigo edifício DRCC. Piso Santuário. Imagem
Fig.125- Fotografia da entrada para a Igreja; acesso ao piso superior do Claustro do Silêncio; da autora.
capela oclusa. Fotografia da autora. 20 de Março 2022.
Fig.141- Fotomontagem Claustro do Silêncio e o módulo efémero - exemplo de atividade
lúdica de leitura. Imagem da autora.
Fig.126- Análise do ritmo das antigas celas/dormitórios. Retirada de: Rebimbas, Rafael. 2021.
Ressignificar o lugar; Projeto de Reconstrução e Reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e Fig.142- Fotomontagem antigo refeitório/Sala da Cidade. Imagem da autora.
área envolvente. Dissertação no âmbito de Mestrado Integrado em Arquitetura, Coimbra:
Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra. Fig.143- Fotomontagem caixa “suspensa”; visualização 3D.Imagem da autora.

Fig.127- Desenhos esquemáticos do Atual vs Proposta. Representação do ritmo das antigas Fig.144- Planta cota 35; Corte transversal dormitório e corte longitudinal DRCC. Desenhos
celas. Desenhos da autora. da autora.

Fig.128- Esquisso da articulação entre os diferentes edifícios. Desenho da autora. Fig.145- Estudo da relação entre a escala humana, a caixa e o espaço. CAV - caso de estudo.
Fotografia capturada por Mariana Vinha.
Fig.129- Plantas vermelhos e amarelos cota 36 e cota 35; Perfis da preexistência vs proposta.
Desenhos da autora. Fig.146- Axonometria esquemática da articulação entre pisos; Acessos principais do percurso
expositivo. Desenho da autora.
Fig.130- Axonometria escada efémera. Desenho da autora.
Fig.147- Esquema representativo entre a escala humana e a concepção de espaço. Retirada de: https://
Fig.131- Fotomontagem do átrio da Sala de Exposições Temporárias. Desenho da autora. adastracomix.com/2014/09/08/undocumented-maps-the-hidden-world-of-migrant-detention/.

Fig.132- Axonometria esquemática da articlação entre pisos; Acessos principais do percurso Fig.148- Diálogos dinâmicos entre corpo e espaço. Casa Robalo Cordeiro- João Mendes
expositivo. Desenho da autora. Ribeiro. Retirado de: https://www.archdaily.com.br/br/784990/casa-robalo-cordeiro-joao-
mendes-ribeiro/5703d32ce58ece364900010f-casa-robalo-cordeiro-joao-mendes-ribeiro-photo.
Fig.133- Planta cota 26; relação com a Fonte da Manga. Desenhos da autora.
Fig.149- Fotomontagem do módulo/caixa expositiva proposta com instalação artística.
Fig.134- Fotografia maquete; Relação com o pátio. Fotografia da autora. Fotomontagem realizada pela autora com a integração da performance artística de Caroline
Denervaud, disponível em: http://fineartdrawinglca.blogspot.com/2017/12/performance-
Fig.135- Fotomontagem relação do volume com a Fonte da Manga. Imagem da autora. drawing.html?m=1.

Fig.136- Axonometria explodida com os diferentes temas de exposição. Desenho da autora. Fig.150- Multifuncionalidade do módulo proposto. Peças de mobiliário, elemento que organiza
o espaço ou caixa expositiva. Desenhos da autora.
Fig.137- Fotomontagem peça efémera novo Claustro da Manga. Imagem da autora.
Fig.151- Exemplo de Caixa Expositiva. Desenhos da autora.
Fig.138- Fotomontagem relação visual Fonte da Manga. Imagem da autora.
Fig.152- - Fotomontagens Caixas Expositivas relação com Santuário. Desenho da autora.
Fig.139- Planta cota 30 e Piso superior do Claustro do Silêncio; Corte longitudinal. Desenhos
da autora. Fig.153- Proposta de curadoria do espólio artístico. Desenho da autora.

Fig.154- Esquissos do projeto, estudo das diferentes hipóteses construtivas. Desenhos da autora.

267
REFERÊNCIA DE IMAGENS

Fig.155- Esquemas de desconstrução das peças propostas. Desenhos da autora.

Fig.156- Axonometrias construtivas da proposta. Desenhos da autora.

Fig.157- Esquissos do desenvolvimento do módulo construtivo. Desenhos da autora.


ANEXOS I:
Fig.158- Fotografias maquete individual; esc.1:100. Fotografia da autora. Dezembro 2022.
- Desenhos Técnicos Auxiliares ii
Fig.159- Fotomontagem da relação urbana com o “Novo Claustro da Manga”. Imagem da
- Análise territorial, programática e de rede viária vi
autora.
- Processo de pensamento e desenvolvimento do Projeto x
Fig-160- Fotografia do Jardim da Manga. Fotografia da autora. 20 de março 2021. - Questionários por inquérito xx
- Atividades e Projetos extracurriculares xxvi
- Levantamento do espólio artístico do Mosteiro de Santa Cruz xxvi

i
Desenhos do módulo expositivo

2,44
0,47

0,42
CAIXA COM PAREDES AMOVÍVEIS CAIXA FECHADA
2,5

ALÇADO ALÇADO

MÓDULO BANCO

PLANTA
0,57

PERFIL A PERFILB

MÓDULO EXPOSITOR

PLANTA
PLANTA

PLANTA
1,05

PERFIL C PERFIL D

ii iii
Desenhos da Peça Efémera da Manga - métrica estrutural escala 1:200

iv v
Análise territorial e programática

Fig.161- Análise programática da envolvente do Mosteiro de Santa Cruz. Fig.162- Análise territorial dos edifícios religiosos e culturais.
vi vii
Análise Rede Viária Urbana

Rua Olimpo Nicolau Rui Fernnandes

Rua Olimpo Nicolau Rui Fernandes


Fig.163- Análise rede viária da envolvente do Mosteiro de Santa Cruz.
Fig.165- Esquema de análise programática do atual Mercado D.Pedro V.
Fig.164- Projeto Metro Mondego. Imagens retiradas de: https://www.metromondego.pt/pt/metrobus.
viii ix
Processo de pensamento e desenvolvimento do Projeto

Fig.166- Processo de trabalho. Maquetes de grupo diversas escalas. Fotomontagens


x e axonometrias de processo. xi
x
Fig.167- Maquete escala 1:500.
Fig.169- Fotografia da apresentação da Dissertação de Mestrado. 24 de janeiro de 2022.
Fig.168- Maquete escala 1:100.
xii xiii
xiv xv
xvi xvii
xviii xix
xx xxi
Questionários por Inquérito

Perceber as sensações que o espaço transmite ao utilizador é fundamental quando se fala em


intervir no património construído. Olhar para o sítio na perspetiva do utilizador, significa
ter uma atitude mais ponderada na hora de projetar, na medida em que é o sujeito quem
coabita o espaço e o conforma. O estudo antropológico do sítio é fundamental para salientar
as incoerências do mesmo, para conseguir identificar os problemas e até adquirir novas
soluções e perspetivas.

Neste sentido, foi realizado um Questionário por Inquérito, que decorreu ao mesmo tempo que
o projeto “Reconstituição 3D do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra 1834”, no Mosteiro de Santa Cruz.
Apesar deste ter sido inaugurado a 29 de janeiro de 2022, o inquérito foi distribuído apenas
durante o mês de março, uma vez que a ideia surgiu das conversas e trocas de perspetivas com
os participantes das visitas guiadas, que colocaram questões e propuseram ideias extremamente
pertinentes. Foi simultaneamente estimulante perceber o modo como as pessoas percorrem
o espaço, os detalhes que destacam à vista do sujeito e o modo como têm (ou não) perceção
da história do conjunto monástico. O Questionáio por Inquérito permitiu adquirir maior
sensibilidade perante o espaço, assimilar novas falhas e incoerências do percurso, adquirir novas
sugestões e ideias para atividades e outros programas que poderiam ser incluídos no espaço.

Fig.170- Participantes do Questionário por Inquérito. Fotografia da autora, 03 de março 2022.


Fig.171- Estatísticas e Modelo Base do Questionário por Inquérito. Elaborada pela autora.
xxii xxiii
Fig.172- Dados analíticos Questionário por Inquérito
xxiv xxv
Atividades e projetos extracurriculares
Reconstituição 3D do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra 1834

Fig.176- Fotografias da Exposição. Fotografias por Rita Sousa.


Fig.173- Cartaz da Inauguração da Exposição com a Proposta apresentada; 29 de janeiro 2022.
Fig.177- Visitas guiadas com o professor Rui Lobo ao longo do percurso interátivo. Fotografia da autora.
Fig.174- Cartaz na entrada da Sala da Cidade. Fotografia da autora. 29 de janeiro 2022.
Fig.178- Participantes das visitas guiadas a ler os códigos QR de visualização 3D. Fotografia da autora.
Fig.175- Fotografia da Exposição na Sala da Cidade. Ibidem..
Fig.179- Apresentação da proposta na Sala so Capítulo; Fotografia de Sofia Eghteda.

xxvi xxvii
CONCURSOS PÚBLICOS

Durante a investigação foram realizados concursos extracurriculares, que de alguma forma


tiveram relação com a proposta individual para o Mosteiro de Santa Cruz, nomeadamente na
relação entre o corpo e o espaço. A análise deste tema perante outros contextos e abordagens,
foi fundamental para desenvolver um espírito crítico face ao contexto peculiar do Mosteiro de
Santa Cruz. Nos diferentes concursos destaca-se os conceitos de arquitetura modular, espaço e
fenomenologia, onde a ideia de caixa expositiva é explorada quer no contexto museológico,
quer no contexto de vivência quotidiana.

- PLADUR 2020

- PLADUR 2021

Fig.180- Artigos do jornal Diário as Beiras. Disponível em: https://www.asbeiras.pt/2022/01/projeto-apresenta- Fig.181- Fotografia da Gala Pladur 2021 realizada em Madrid; vencedores e representantes do DARQ-FCTUC
estudo-para-criacao-de-nucleo-museologico-no-mosteiro-de-santa-cruz/; e https://www.asbeiras.pt/2022/02/ acompanhados pelo professor Arquiteto Carlos Antunes e professora Arquiteta Désirée Pedro.
reabilitacao-do-mosteiro-de-santa-cruz-pode-ser-projeto-mobilizador-para-o-seculo-xxi/
xxviii xxix
CONCURSO PLADUR 2020
Elementos da equipa: Eduardo Braga e João Pereira.

xxx xxxi
xxxii xxxiii
-CONCURSO PLADUR 2022
Elementos da equipa: Rita Caniceiro e Catarina Jegundo

xxxiv xxxv
xxxvi xxxvii
LEVANTAMENTO DO ESPÓLIO ARTÍSTICO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ

BIBLIOGRAFIA E OUTROS:

- Documentos fornecidos pelo Atelier do Corvo.

- Levantamento relizado pela autora no Mosteiro Santa Cruz e Museu Machado Castro.

- Keil, Luís.“Inventário Artístico de Portugal” vol.II; Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes 1943-1975 –
Arquivo da Biblioteca Geral de Coimbra.

- Serrão Vítor. 2006. “Pittura senza tempo em Coimbra, cerca de 1600”, em Monumentos no25, Lisboa: DGPC.

- Craveiro, Maria de Lurdes. 2011. O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Coimbra: Direcção Regional de Cultura
do Centro.

- Dias, Pedro; Coutinho, José Eduardo Reis. 2003. Memórias de Santa Cruz. Coimbra: Câmara Municipal de
Coimbra.

- Correia,Virgílio; Gonçalves, Nogueira. 1947. Inventário artístico de Portugal: cidade de Coimbra, Lisboa: Academia
Nacional de Belas Artes.

Notas de interpretação do documento que se segue:

Imagem da peça Descrição da peça: Data e Dimensões Atual localização/Descrição

- Nome e autor Séc.- ; 00x00x00cm Localização e notas

ÍNDICE:

1) ESTATUÁRIA

1.1) Estatuária de grande escala

1.2) Estatuária de Pequena/Média escala

2) OBJETOS DE CULTO

2.1) Objetos de culto de grande/média escala

2.2) Objetos de culto de pequena escala

3) TÊXTEIS E TAPEÇARIAS

4) RETÁBULOS E PINTURA

xxvi
1. ESTATUÁRIA
1.1) ESTATUÁRIA DE GRANDE ESCALA

Imagem Título e Autor Data e Dimensões Atual localização/Descrição


Cristo Negro Séc. XIV Museu Nacional Machado
Ou Castro, Coimbra
Cristo Crucificado

Autor:
Desconhecido 284,5x150x61cm Madeira policromada

“Cálvário” Séc. XVII Mosteiro de Santa Cruz-


Grupo escultórico Sacristia da Igreja

Autor:
Desconhecido Apróx.127x300cm Madeira policromada

Deposição de Cristo no 1535-1540 Museu Nacional Machado


Túmulo Castro, Coimbra

Autor:
João de Ruão 222x225cm Pedra de ança

Túmulo de Rodrigo de Segunda metade Mosteiro de Santa Cruz -


Carvalho, Bispo de séc. XVIII Capela de Jesus, Claustro
Miranda do Silêncio

Autor:
Desconhecido 226x180x113cm Pedra de ança

Restaurado em 1866 pela


CMC

Cristo deposto na Cruz 1518-1522 Situada na capela da


Grupo escultórico Nossa Senhora da Piedade
de Antezude, Coimbra
Autor: Apróx.
João de Alemão 150x190cm Tamanho natural

xxvii
Anjo Heráldico 1500-1525 Museu Nacional Machado
Castro, Coimbra
Autor:
Diogo Pires-o-Moço 190x64x46cm Pedra de ança

Maria Madalena 1530-1530 Museu Nacional Machado


Castro, Coimbra
Autor:
João de Ruão 122x38,5x27,5cm Pedra calcário

São Pedro Séc.XVIII Museu Nacional Machado


Castro, Coimbra
Autor:
João de Ruão 80x165cm Pedra de ança

São Paulo Séc. XVIII Museu Nacional Machado


Castro, Coimbra
Autor:
João de Ruão 80x165cm Pedra de ança

São João Baptista Séc. XVI Museu Nacional Machado


Castro, Coimbra
Autor:
João de Ruão 40x120cm Pedra de ança

xxviii
Não identificado Séc. XVI Mosteiro de Santa Cruz -
Capela de Jesus,
Claustro do Silêncio
Autor:
Nicolau Chanterenne 73x172cm Escultura proveniente da
fachada da igreja

Pedra de ança

Rei David Séc. XVI Mosteiro de Santa Cruz -


Capela de S.Joaquim,
Claustro do Silêncio
Autor:
João de Ruão 80x186cm Escultura proveniente da
fachada da igreja

Pedra de ança

Profeta Isaías Séc.XVI Mosteiro de Santa Cruz -


Capela da Virgem,
Claustro do Silêncio
Autor:
João de Ruão 80x185cm Escultura proveniente da
fachada da igreja

Pedra de ança

Virgem Séc.XVI Mosteiro de Santa Cruz -


Capela de Santo António,
Claustro do Silêncio
Autor:
João de Ruão 80x185cm Escultura proveniente da
fachada da igreja

Pedra de ança

Santa Águeda Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sala do Capítulo

Autor:
Desconhecido 54x107 cm Madeira policromada

xxix
São João Baptista Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Capela do Tesouro
Autor:
Desconhecido 54x107 cm Madeira policromada

Santo António Séc.XVII Mosteiro de Santa Cruz -


Capela do Tesouro
Autor:
Desconhecido 39x125cm Madeira policromada

São Pedro, São Gregório Séx. XVI Mosteiro de Santa Cruz -


e Santo Ambrósio Capela de Jesus,
Claustro do Silêncio
Autor:
Nicolau Chanterenne Aprox 73x172 Escultura proveniente da
fachada da igreja

Pedra de ança

São Jerónimo, São Séc. XVI Mosteiro de Santa Cruz -


Agostinho e São Tiago Capela de Jesus,
Claustro do Silêncio
Autor:
Nicolau Chanterenne Aprox. 73x172 Escultura proveniente da
fachada da igreja

Pedra de ança

Nossa Senhora da Séc. XVII Mosteiro de Santa Cruz -


Piedade Capela de Jesus, Claustro
do Silêncio
Autor:
Desconhecido 80x120cm Pedra

Período Manuelino

xxx
Cristo Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Em reserva no arquivo do
Altar-Mo
Autor:
Desconhecido 55x175 cm Pedra de ança

Cristo de Cana Verde Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Em reserva no arquivo do
Altar-Mor
Autor:
Desconhecido 60x90 cm Pedra de ança

Capitel Séc. XII Museu Nacional Machado


Castro, Coimbra

Autor:
João de Ruão 36x45cm Pedra de ança

Capitel Séc. XII Museu Nacional Machado


Castro, Coimbra

Autor:
João de Ruão 28x40cm Pedra de ança

A última Ceia de Cristo 1530-1534 Museu Nacional Machado


Composição Castro, Coimbra

Autor: ---------------------- Esculturas em Barro


Hodart Vyryo

xxxi
1.2) ESTATUARIA DE PEQUENA/MÉDIA ESCALA

Imagem Título e Autor Data e Dimensões Atual localização/Descrição


São Mateus Séc.XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Sacristia
Conjunto evangelista

Autor: 13.5x52cm Madeira dourada


Desconhecido

São Lucas Séc.XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Conjunto evangelista

Autor: 13.5x52cm Madeira dourada


Desconhecido

São João Séc.XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Conjunto evangelista

Autor: 13.5x52cm Madeira dourada


Desconhecido

São Marcos Séc.XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Conjunto evangelista

Autor: 20x52cm Madeira dourada


Desconhecido

xxxii
São Teotónio Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Sacristia
Autor:
Desconhecido 26x55cm Madeira policromada

São Roque Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Autor:
Desconhecido 16x55cm Madeira policromada

São Teotónio Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Autor:
Desconhecido 17x64cm Madeira dourada

São Francisco de Assis Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Autor:
Desconhecido 17x67cm Madeira dourada

Santo Diácono Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Autor:
Desconhecido 17x67cm Madeira dourada

xxxiii
São Tiago, o Menor Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Sacristia
Autor:
Desconhecido 18x65cm Madeira dourada

Santo Diácono Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Autor:
Desconhecido 18x65cm Madeira dourada

Santo Presbítero Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Autor:
Desconhecido 18x65cm Madeira dourada

Santa Bárbara Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz


– Sacristia
Autor:
Desconhecido 18x31cm Madeira dourada

Santa Águeda Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Autor:
Desconhecido 17x67cm Madeira policromada

xxxiv
São Goldrofe Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Sacristia
Autor:
Desconhecido 16x55cm Madeira policromada

São Pedro de Fureiro Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Autor:
Desconhecido 18x55cm Madeira policromada

São Pedro de Arbués Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Autor:
Desconhecido 14x53cm Madeira policromada

São Veríssimo Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Em reserva no arquivo
do Altar-Mor
Autor:
Desconhecido 21x56cm Madeira policromada

São Miguel Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Em reserva no arquivo
do Altar-Mor
Autor:
Desconhecido 22x59cm Madeira policromada

xxxv
São Fernando Séc. XVIII Mosteiro- de Santa Cruz
Em reserva no arquivo
do Altar-Mor
Autor:
Desconhecido 23x57cm Madeira policromada

Rei Mago Gaspar Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Em reserva no arquivo
do Altar-Mor
Autor:
Desconhecido 22x57cm Madeira policromada

Santo Mártir de Marrocos Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia

Conjunto Mártires de 24x65cm Madeira dourada


Marrocos

Autor:
Desconhecido

Santo Mártir de Marrocos Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia

Conjunto Mártires de 24x65cm Madeira dourada


Marrocos

Autor:
Desconhecido

xxxvi
Santo Mártir de Marrocos Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Sacristia

Conjunto Mártires de 24x65cm Madeira dourada


Marrocos

Autor:
Desconhecido

Santo Mártir de Marrocos Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia

Conjunto Mártires de 24x64cm Madeira dourada


Marrocos

Autor:
Desconhecido

Santo Mártir de Marrocos Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia

Conjunto Mártires de 24x65cm Madeira dourada


Marrocos

Autor:
Desconhecido

Santo António Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia

Conjunto Mártires de 25x52cm Madeira dourada


Marrocos

Autor:
Desconhecido

Figuras Masculinas Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Reservas do Arquivo do
Alar-Mor

Autor: 46x86cm Madeira dourada


Desconhecido 45x90cm

xxxvii
Figuras Femininas Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Reservas do Arquivo do
Alar-Mor

Autor: 34x88cm Madeira dourada


Desconhecido 45x90cm

Santos Mártires de Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Marrocos Capela do Tesouro

Autor:
Desconhecido 50x40cm Madeira dourada e
policromada

Mártires de Marrocos Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Autor:
Desconhecido 75x65cm Madeira dourada e
policromada

Presépio Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Reservas do Arquivo do
Alar-Mor
Autor:
Desconhecido 56x30cm Barro policromado

xxxviii
2. OBJETOS DE CULTO

2.1) OBJETOS DE CULTO DE GRANDE/MÉDIA ESCALA

Imagem Título e Autor Data e Dimensões Atual localização/Descrição


Cruz processional Séc. XVI Mosteiro de Santa Cruz -
Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 40x140cm Prata

Varas de Juízes Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 2x173cm Prata

Conjunto processional Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Autor: 40x225cm Relíquias
Desconhecido 40x175cm
35x21cm Prata

Gaiola Séc. XVI Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na antecâmera do
Autor: Santuário
Desconhecido 60x115cm
Prata dourada, vidro e
pedraria

Suporte de Cruz Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Processional Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 52x63cm Madeira dourada e
policromada

xxxix
Faldistório Séc. XVII Mosteiro de Santa Cruz -
Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 88x67x53cm Metal amarelo, ferro e
damasco

Estantes de Leitura Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela do
Tesouro
Autor:
Desconhecido 57x66x155cm Madeira entalhada e tecido

Caixa de Palas de Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Cálice Exposto na Sacristia

Autor: Madeira entalhada e


Desconhecido 30x29x80cm policromada

Sino Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto no acesso ao
Santuário
Autor:
Desconhecido 50x60cm Bronze

Espelho Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Sacristia
Autor:
Desconhecido 30x80cm Prata

xl
2.2) OBJETOS DE CULTO DE PEQUENA ESCALA

Imagem Título e Autor Data e Dimensões Atual localização/Descrição


Busto Relicário de São 1624 Mosteiro de Santa Cruz -
Teotónio Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 32x85cm Prata e bronze

Braço Relicário de Santo Séc. XVI Mosteiro de Santa Cruz -


Agostinho Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 18x56cm Prata dourada, vidro e
pedraria

Busto de Mártires de 1510 Mosteiro de Santa Cruz -


Marrocos (x2) Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 29x45cm Prata

Custódia Chaga do Criso Séc. XIV Mosteiro de Santa Cruz -


Negro Exposto na antecâmera
do Santuário
Autor:
Desconhecido 28x30cm Prata

Cruz de D.Sancho I 1214 Exposto no Museu


Nacional de Arte Antiga,
Lisboa
Autor:
Desconhecido 34,5x65cm Ouro, safiras, granadas,
pérolas e aljôfares

xli
Custódia de Prata Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Dourada Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 27x71cm Prata

Custódia Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 14x25,5cm Prata

Cruz de Madrepérola Séc. XVII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 26x67cm Madrepérola

Porta-Paz Séc. XVI Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 11.5x17cm Prata dourada

Naveta Séc. XIX Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto no Pátio
Exterior
Autor:
Desconhecido 18x20cm Prata

Bacia a Gomil de Prata Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 34x14x43cm Prata

xlii
Galhetas e pratos Séc. XIX Mosteiro de Santa Cruz -
Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 20x30cm Prata

Turíbulo (x2) Séc. XIX Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 25x70cm Prata

Conjunto sinos Séc. XVIII/XIX Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Relíquias
Autor: Aprox. 11x24cm
Desconhecido (varia entre peças) Prata; Prata dourada

Conjunto cálices Séc. XVIII/XIX Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Autor: Apróx. Relíquias
Desconhecido 8x28cm (pequenas)
11x24cm (grandes) Prata; Prata dourada

(varia entre peças)

Píxides (x3) Séc. XIX Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Autor: Relíquias
Desconhecido 15x25cm
Prata; Prata dourada

Espada de D.Afonso Séc. XI Exposto no Museu


Henriques Nacional Soares dos Reis,
Porto
Autor:
Desconhecido 99.5x14.5cm Ferro

Período românico

xliii
Reliquiário Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Exposto na Capela das
Autor: Relíquias
Desconhecido 18x30cm
Prata dourada

Livro dos Irmãos da Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


confraria dos Mártires de Exposto na Capela das
Marrocos Relíquias

Autor:
Desconhecido 25.5x37cm Prata e papel

Campainha, chamada Séc. XIII Mosteiro de Santa Cruz -


dos Mártires de Marrocos Exposto na Capela do
Tesouro
Autor:
Desconhecido Apróx. 11x24cm Bronze

Escrivaninha Séc. XVIII Exposto no Museu


Nacional Soares dos Reis,
Porto
Autor:
Desconhecido Apróx. 30x11cm Tartaruga escura, ouro e
madrepérola

Ampulheta Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 29x13cm Bronze

xliv
3) TÊXTEIS E TAPEÇARIAS

Imagem Título e Autor Data e Dimensões Atual localização/Descrição


Casula dos Mártires Séc. XIII Mosteiro de Santa Cruz -
de Marrocos Exposto na Capela do
Tesouro
Autor:
Desconhecido 74x107cm Tecidos marroquinos

Casula Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela do
Tesouro
Autor:
Desconhecido 74x107cm Algodão branco e fio
metálico dourado

Dalmática Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 100x130cm Algodão branco e fio
metálico dourado

Pluvial ou Capa de Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Asperges Exposto na Capela do
Tesouro
Autor:
Desconhecido 100x130cm Algodão branco e fio
metálico dourado

Casula Branca Séc. XIV Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 93x131cm Algodão branco e fio
metálico dourado

Estola Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela do
Tesouro
Autor:
Desconhecido 21x109cm Algodão branco e fio
metálico dourado

xlv
Manípulo Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Exposto na Capela do
Tesouro
Autor:
Desconhecido 21x91cm Algodão branco e fio
metálico dourado

Umbelas Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Exposto na Capela do
Tesouro
Autor:
Desconhecido 178x96cm Algodão branco e fio
metálico dourado

Peças não Mosteiro de Santa Cruz -


identificadas Átrio do Santuário das
Relíquias
Autor: -----------------
Desconhecido

Tapetes Persas Séc. XVI-XVII Arquivados;


Estimam-se que existam
Autor: 174x413cm cerca de cinco tapetes,
Desconhecido 180x275 muitos deles
incompletos/danificados

xlvi
4) RETÁBULOS E PINTURAS

Imagem Título e Autor Data e Dimensões Atual localização/Descrição


Ecce-Homo 1522-1530 Mosteiro de Santa Cruz -
Sacristia
Conjunto Políptico
Quinhentista 165x170cm Óleo sobre madeira

Autor:
Cristóvão Figueiredo

Calvário 1522-1530 Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Conjunto Políptico
Quinhentista 209x258cm Óleo sobre madeira

Autor:
Cristóvão Figueiredo

Deposição no Túmulo 1522-1530 Museu Nacional de Arte


Antiga, Lisboa
Conjunto Políptico
Quinhentista 155x182cm Óleo sobre madeira

Autor:
Cristóvão Figueiredo

Achamento da Cruz por 1522-1530 Museu Nacional Machado


Santa Helena Castro, Coimbra

Conjunto Políptico 150x140cm Óleo sobre madeira


Quinhentista

Autor:
Cristóvão Figueiredo

Milagre da Ressurreição do 1522-1530 Museu Nacional Machado


Mancebo Castro, Coimbra

Conjunto Políptico 106x141cm Óleo sobre madeira


Quinhentista

Autor:
Cristóvão Figueiredo

xlvii
Exaltação da Santa Cruz 1522-1530 Museu Nacional Machado
Castro, Coimbra
Conjunto Políptico
Quinhentista 129,5x149cm Óleo sobre madeira

Autor:
Cristóvão Figueiredo

Santa Helena e a Invenção 1610-1612 Sacristia da Igreja do


de Santa Cruz Carmo, Porto

Conjunto Retábulo --------------- Óleo sobre madeira


Quinhentista

Autor:
Simão Rodrigues e
Domingos Vieira Serrão

Santa Helena e o milagre do 1610-1612 Sacristia da Igreja do


reconhecimento da Cruz Carmo, Porto

Conjunto Retábulo --------------- Óleo sobre madeira


Quinhentista

Autor:
Simão Rodrigues e
Domingos Vieira Serrão

O Imperador Heráclio e o 1610-1612 Sacristia da Igreja do


exalçamento da Santa Cruz Carmo, Porto

Conjunto Retábulo --------------- Óleo sobre madeira


Quinhentista

Autor:
Simão Rodrigues e
Domingos Vieira Serrão

O Imperador Heráclio entra 1610-1612 Sacristia da Igreja do


com a Cruz em Jerusalém Carmo, Porto

Conjunto Retábulo --------------- Óleo sobre madeira


Quinhentista

Autor:
Simão Rodrigues e
Domingos Vieira Serrão

xlviii
Visão de Santa Mónica 1612 Sacristia da Igreja do
Carmo, Porto

Autor:
Simão Rodrigues e --------------- Óleo sobre madeira
Domingos Vieira Serrão

Baptismo de Santo 1612 Sacristia da Igreja do


Agostinho Carmo, Porto

Autor: --------------- Óleo sobre madeira


Simão Rodrigues e
Domingos Vieira Serrão

São Cosme e São Damião 1520-1530 Museu Nacional Machado


Castro, Coimbra

Autor:
Garcia Fernandes 126x55cm Óleo sobre madeira

Pentecostes 1535 Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia
Autor:
Vasco Fernandes 158x162cm Óleo sobre madeira

São Teotónio curando Séc. XVII Mosteiro de Santa Cruz -


D.Afonso Henriques Sala do Capítulo

Autor:
Desconhecido 240x305cm Óleo sobre madeira

xlix
São Teotónio em oração Séc. XVII Mosteiro de Santa Cruz -
Sala do Capítulo

Autor:
Desconhecido 240x305cm Óleo sobre madeira

Descida da Cruz Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia

Autor:
André Gonçalves --------------- Óleo sobre madeira

Santo António com a Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Virgem e o Menino Sacristia

Autor:
Agostino Masucci 250x200cm Óleo sobre madeira

Sagrada Família Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia

Autor:
Agostino Masucci 235x175cm Óleo sobre madeira

Santo Agostinho em êxtase Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -


Sacristia

Autor:
Agostino Masucci 235x175cm Óleo sobre madeira

l
Tela do retábulo da capela- 1876 Mosteiro de Santa Cruz -
mor Átrio da capela do Tesouro

Autor:
Desconhecido ---------------- Óleo sobre tela

1.Santo António 1520-1530 Mosteiro de Santa Cruz -


2.São Lourenço Sacristia
3.São Roque
4.São Sebasião Óleo sobre madeira
5. São Vicentre

Autor:
Garcia Fernandes 126x55cm cada

1.Santo André e São Tomé 1521-1530 Mosteiro de Santa Cruz -


2.São Bartolomeu e São Sacristia
Filipe
3.São João Baptisa e outro Óleo sobre madeira
4.São Pedro e São Paulo

Autor:
Cristóvão de Figueiredo 57x41cm cada

li
I-DESENHOSRI
ANEXO I GOROSOS:

I
-ANÁLISE -VERMELHOSE AMARELOS
01-AXONOMETRIASEXPLICATIVAS;
PLANTADECOBERTURA;
PERFI
L
02-PLANTACOTA2 6;
CORTELONGITUDINALMERCADO
03-PLANTACOTA3 0;
CORTETRANSVERSALMERCADO

I
I-RELAÇÃO URBANAENTRE O MOSTEIRO SANTACRUZE PROGRAMASPROPOSTOS
04-PLANTADEPISOSDEENTRADA; PERFILLONGITUDINAL.
05-PLANTACOBERTURA; PERFILLONGITUDINAL
06-PERFISLONGITUDINAISETRANSVERSAISATUALVSPROPOSTA
07-PERFISLONGITUDINAISETRANSVERSAISATUALVSPROPOSTA

I
II-PROGRAMAE PERCURSO MUSEOLÓGICO
0
8-PLANTACOTA2 6;PISO DERELAÇÃO FONTEDAMANGA
0
9-PLANTACOTA3 0EPISO SUPEIORDO CLAUSTRO DO S
I O;
LÊNCI CORTELONGITUDINAL.
1
0-PLANTACOTA3 5;CORTETRANSVERSALDORMITÓRIO ECORTETRANSVERSALDRCC
1
1-PLANTACOBERTURA; CORTETRANSVERSALJARDIM DAMANGA

I
V-PORMENORESCONSTRUTIVOS
12-PORMENORCONSTRUTIVO PRÉEXISTÊNCIA-ANTIGO REFEITÓRIO EDORMITÓRIO
13-PORMENORCONSTRUTIVO PRÉEXISTÊNCIA-EDIFÍCIO DRCC
14-PORMENORCONSTRUTIVO PEÇAS EFÉMERAS-CAIXAEXTERIOREESCADAEFÉMERA
15-PORMENORCONSTRUTIVO PEÇAEFÉMERACLAUSTRO DAMANGA
16-AXONOMETRIACONSTRUTIVAPEÇASEFÉMERAS
45.00

MERCADO

35.00

32.00

29.50

24.50

PERFIL A-A'
ANTES

47.50 RUA MARTINS DE CARVALHO

1 0

5
23

1
0
13

5
22
0
1
32.00

8
0

1
1

0
3
0

1
0

6
1

0
PRAÇA 8 DE MAIO

17

19
0
1
18.00

5
34.00

27.00

31.50
PROPOSTA DE GRUPO

25.00
RUA OLÍMPO NICOLAU RUI FERNANDES

PROPOSTA INDIVIDUAL

60.00

50.00

45.00

35.00
PERFIL B-B' 32.00

29.50

24.50

IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE


PROJETO DE REABILITAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ

0
1

17

19
0
1
5
A D'ARQ - FCTUC ORIENTADOR PROFESSOR DOUTOR JOÃO MENDES RIBEIRO
DEMOLIDO B' CAROLINA DOS SANTOS MAGALHÃES
CONSTRUÍDO
EDIFÍCIOS A REABILITAR
A'
B
- VERMELHOS E AMARELOS
AXONOMETRIAS EXPLICATIVAS VERMELHOS E AMARELOS s.escala
PLANTA COBERTURAS; PERFIS RUA OLÍMPO NICOLAU RUI FERNANDES esc.1:500 01
PRAÇA 8 DE MAIO
18.00
e)

23.30

20.00

24.50

25.00

a)

b)

c)

d)

45.00

35.00

32.00

29.50

24.50

PERFIL C-C'

IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE


PROJETO DE REABILITAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ

0
1

17

19
0
1
5
C C' D'ARQ - FCTUC ORIENTADOR PROFESSOR DOUTOR JOÃO MENDES RIBEIRO
CAROLINA DOS SANTOS MAGALHÃES
DEMOLIDO
CONSTRUÍDO a) Entrada Exposição Temporária b) Entrada Centro Audiovisual c) Entrada Centro Cultural d) Entrada Ponto Turismo e) Entrada Igreja Santa Cruz
- VERMELHOS E AMARELOS
PLANTA COTA 26; CORTE LONGITUDINAL MERCADO esc.1:500
02
0
0
1

19
PRAÇA 8 DE MAIO
18.00

f)

1
2
1
27.00
g)

20.00

25.00

45.00

35.00

32.00

29.50

24.50

PERFIL D-D'

D IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE


PROJETO DE REABILITAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ

0
1

17

19
0
1
5
D'ARQ - FCTUC ORIENTADOR PROFESSOR DOUTOR JOÃO MENDES RIBEIRO
DEMOLIDO CAROLINA SANTOS MAGALHÃES
CONSTRUÍDO f) Entrada Novo Mercado D.Pedro V/Indústrias Criativas g) Entrada Museu
DOS
PLANTA COTA 30; CORTE TRANSVERSAL MERCADO ESC.1:500
03
D'
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EDAL
ICOND
S
RUAV
1
8.

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1
7.
PRAÇA8DEMAI
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1
8.0
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3.

1
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2
7.0
0 a
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1
4.

1
5.

1
2.

2
0.0
0

2
5.0
0

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1
6.
b)

1
9.
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2
0.

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2
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2
3.0
0

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NSDECARVALHO

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0

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0
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gre
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ATUAL PROPOSTA

47.50 47.50

31.00 31.00

28.00

23.50 23.50

0
1

17
0

19
1
5
ENTRADA MUSEU

32.50 34.50

24.50 24.50

0
1

17
0

19
1
5
PERFIL RUA OLIMPO NICOLAU RUI FERNANDES

32.80 32.50 32.80 32.50

29.00
28.60

25.00
25.00 24.50

0
1

17
0

19
1
5
CORTE TRANSVERSAL JARDIM DA MANGA

IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE


PROJETO DE REABILITAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
D'ARQ - FCTUC ORIENTADOR PROFESSOR DOUTOR JOÃO MENDES R IBEIRO
CAROLINA SANTOS MAGALHÃES

0 5
DOS
PERFIS LONGITUDINAIS E TRANSVERSAIS ATUAL VS PROPOSTA

15m
06
ATUAL PROPOSTA

34.35 34.00
33.00

30.90 30.90

29.00 29.00

22.30

0
1

17
0

19
1
5
21.00 21.00

CORTE LONGITUDINAL; RELAÇÃO COM REFEITÓRIO

33.00

29.00 29.00 29.00 29.00

26.50

24.50 24.50

20.50

0
1

17
0

19
1
5
CORTE LONGITUDINAL; RELAÇÃO DA ENTRADA - FONTE MANGA - CLAUSTRO DO SILÊNCIO

34.00
33.00 33.00
32.00
30.90

29.00 29.00

24.50 24.50

0
1

17
0

19
1
5
CORTE LONGITUDINAL DRCC

33.00 32.70 33.00 32.70


32.50

29.55 29.55
29.00 29.00

24.50 24.50

19.20 19.20

0
1

17
0

19
1
5
CORTE LONGITUDINAL; RELAÇÃO SALA DE EXPOSIÇOES TEMPORÁRIA - SANTUÁRIO - IGREJA

IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE


PROJETO DE REABILITAÇÃO E REVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
D'ARQ - FCTUC ORIENTADOR PROFESSOR DOUTOR JOÃO MENDES R IBEIRO
CAROLINA SANTOS MAGALHÃES

0 5
DOS
PERFIS LONGITUDINAIS E TRANSVERSAIS ATUAL VS PROPOSTA

15m
07
15

16

17
18
19
01 20
21

02

B.01

03

04
A.01 B.02

05
22
06 23

07
08
09

B.01

10

11
12
13 25
14

B.02

A.01
LEGENDA A e B: IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE
01-Camada enchimento para pendente 02-Terça Asna 100x100mm 03-Substítuição do reboco exterior por reboco térmico à base de cortiça, cal e argila, tipo "Diasen Diathonite Evolution" 04-Caixilho de Madeira 05-MDF hidrófugo lacado a branco (fixação portadas) 14mm 06-Portada MDF lacada a branco 19mm com dobradiça de balanço em aço escovado 07-Grelha Linear do Tipo FranceAir 08-Mdf hidrófugo 30mm PROJETO DE R EABILITAÇÃO E R EVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
lacado a branco 09-Mdf hidrófogo 19mm lacado a branco 10-Sarrafo Madeira Pinho Nórdico 70x50mm 11-Soalho Madeira preexistente 22mm 12-Isolamento térmico Aglomerado de Cortiça Expandida 80mm 13-Barrotes Preexistentes 80x60mm 14-Camada regularização 15-Remate de cumeeira com argamassa e fita asfáltica 16-Telha cerâmica tipo canudo grampeada (reaproveitamento da atual) 17-Ripas 60x40mm 18-Tela D'A RQ - FCTUC O RIENTADOR P ROFESSOR D OUTOR J OÃO M ENDES R IBEIRO
Pára-vapor 0,6mm 19-Placa de contraplacado marítimo 12mm 20-Isolamento Térmico com Poliestireno extrudido 80mm 21-Placa de contraplacado marítimo 16mm 22-Subestrutura Madeira pontual (fixação ripado) 23-Ripas de Madeira 120x120mm 24-Pedra preexistente a recuperar.
CAROLINA SANTOS MAGALHÃES
DOS

12
PORMENOR CONSTRUTIVO PREEXISTÊNCIA - ANTIGO REFEITÓRIO esc.1:50 e 1:10
01
02 21

22
03
23

24
25

26
27
04
28
29

D.01
05
30

31

06

C.01

C.01 D.01

32

33

34
35
07 36
D.02 08 37
38
A 09
39
10
40
11

C.02
41

D.03
12

D.02

13

C.02

14

15 42
43
B 44
45
C.03
16 46
47
17

18

19

20

D.03

C.03
LEGENDA C e D: IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE
01-Remate de beiral com argamassa 02-Caleira em chapa de zinco 03-Lintel de remate 04-Perna Asna 05- Linha Asna 06-Substituição do reboco exterior por reboco térmico à base de cortiça, cal e argila, tipo "Diasen Diathonite Evolution" 07- Elemento madeira para fixação portada 08-Isolamento térmico de Aglomerado de Cortiça Expandida 60mm 09-Tubular 60x70mm PROJETO DE R EABILITAÇÃO E R EVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
10-Caixilho latão com vidro duplo e corte térmico (Secco) 11-Portada de Mdf hidrófogo 16mm lacado a branco 12-Grelha Linear do Tipo FranceAir 13-Pedra de remate exterior 14-Lajetas de pedra ataíja creme, acabamento serrado esp.5mm 15-Caixa de Areia 16-Lintel de betão 17-Betonilha 18-Laje 19-Proteção com tela de polietileno 20-Caixa de brita 21-Remate de cumeeira com
argamassa e fita asfáltica 22- Telha Canudo preexistente 23- Ripas 40x50mm 24- Manta Impermeabilizante 5mm 25- Poliestireno Extrudido 80mm 26- Tela pára-vapor 2,5mm 27- Contraplacado marítimo 16mm 28- Caibro 60x60mm 29- Terça Asna 30- Ferragens auxiliares 31- Empena Asna 32- Subestrutura Madeira fixação do ripado 33- Ripas de Madeira 120x120mmm D'A RQ - FCTUC O RIENTADOR P ROFESSOR D OUTOR J OÃO M ENDES R IBEIRO
CAROLINA SANTOS MAGALHÃES
34-Soalho Madeira (reutilizado do desmanche da laje preexistente)22mm 35-Caixilho simples em cantoneira de latão 30mm 36-Barrotes Preexistentes (reutilizados) 60x60mm 37-Isolamento térmico de Aglomerado de Cortiça Expandida 60mm 38-Contraplacado marítimo 21mm 39-Viga (reutilizada) 300X150mm 40-Perfil UPN310 41-Pilar Madeira suporte escada efémera
300x150mm 42-Pedra preexistente antigo refeitório 35mm 43-Tubular quadrado 60x60mm em vista (suporte soalho) 44-Contraplacado marítimo 21mm 45-Cantoneira auxiliar suporte contraplacado, abas iguais 50x50mm 46-Perfil UPN230 47-Viga Madeira 150x220mm
DOS
PORMENOR CONSTRUTIVO PREEXISTÊNCIA - EDÍFICO DA DRCC esc. 1:50 e 1:10
13
E.01

F.01

E.02

A B
ALÇADO CAIXA EXTERIOR PLANTA ESCADA EFÉMERA

01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12

13

14

15
16

17
18
19 26
E.01
27

28

29

30
20 31
21 32 AXONOMETRIA ESCADA EFÉMERA
s.escala
22
33
23

24

34

25

E.02 F.01 IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE


LEGENDA E e F: PROJETO DE R EABILITAÇÃO E R EVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
01-Cobertura chapa de aço corten esp.2mm 02-Pedestais metálicos 03-Rufo em chapa de cobre 04-Chapa de aço corten esp.2mm 05-Membrana drenante tipo TecDrain 2mm 06-Tubular fixação caixilho 80x30mm 07-Caixilho de latão 08-Isolamento Térmico de Aglomerado de Cortiça Expandida 80mm 09-Contraplacado marítimo 16mm 10-Perfis aço D'A RQ - FCTUC O RIENTADOR P ROFESSOR D OUTOR J OÃO M ENDES R IBEIRO
B

galvanizado 80x40mm 11-Perfil U160 12-Cantoneira abas iguais 50x50mm 13-Tubular quadrangular 60x60mm 14-Contraplacado marítimo 21mm 15-Estor de rolo blackout 16-Perfil aço galvanizado 50x100mm 17-Montantes fixação teto falso 18-Lã de Rocha Mineral esp. 60mm 19-Placa Pladur Fon+Basic TR 13mm 20-Soalho Madeira (reutilizado) 22mm C.03

CAROLINA SANTOS MAGALHÃES


21-Isolamento térmico de Aglomerado de Cortiça Expandida 60mm 22-Contraplacado marítimo 21mm 23-Perfil aço galvanizado 160x80mm 25-Perfil UPN260 25-Tubular 30x70mm 26-Guarda contraplacado Marítimo 50mm 27- Soalho madeira 2,5mm 28-Tubular retangular de ferro 40x60mm-suporte soalho 29- Viga de madeira 100x200mm 30-Degrau em
madeira de riga sem nós 31- Chapa metálica 4mm 32- Tubular retangular de ferro 40x60mm 33-Secção de madeira 150x300mm 34-Tubular quadrangular 40x40mm (em vista)
DOS
PORMENOR PEÇAS EFÉMERAS - CAIXA EXTERIOR E ESCADA esc. 1:20 e 1:05
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LEGENDA G,H e I:
01-Secção Madeira Fachada 200x100mm 02-Ripa 65x65mm 03-Chapa de cobre 3mm 04-Perfil UPN360 05-Cantoneira abas iguais 80x80mm 06-Perfil U aço galvanizado sem abas 150x150mm 07-Placa de contraplacado 57
marítimo 16mm 08-Cantoneira abas iguais 50x50mm 09-Tubular retangular 100x50mm 10-Caixilho de latão Secco com oscilo batente - sitema circulação de ar passivo 11-Sitema de iluminação 12-Pilar estrutura metálica 58
13-Viga estrutura metálica 14-Substrutura para exposição do acervo; estrutura com barras tipo U12 vertical e U20 horizontal 15-Rufo com chapa de cobre 16-Cunha para pendente 17-Tela de Impermeabilização 2,5mm
18-Tubular 70x30mm 19-Placas de contraplacado marítimo 16mm 20-Perfil UPN340 21-Lã de Rocha mineral 80mm 22-Chapa de cobre 3mm 23-Sistema fixação ripado madeira 24-Chapa em L pontual 100x100mm
H.02
25-Secção Madeira Cobertura 100x100mm 26-Barrote de remate para pendente 27-Ruf o em chapa de cobre 28-Membrana drenante picotada TecDrain 2mm 29-Tela Pára-Vapor 1,5mm 30-Pedestais de suporte
31-Isolamento térmico Aglomerado de Cortiça Expandida 80mm 32-Barrotes Madeira Pendente 33-Lã de Rocha mineral 80mm 34-Perfil HEA200 35-Revestimento chapa de cobre 3mm 36-Perfil omega fixação do teto IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE
falso 37-Cantoneira abas iguais 50x50mm 38-Pladur FON+basic TR 13mm 39-Substrutura para exposição do acervo- revestimento em aço corten 3mm 40-Soalho Madeira 220mm (reutilização do soalho do edifício PROJETO DE R EABILITAÇÃO E R EVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
adjacente) 41-Grelha de difusor linear com defletor ajustável 42-Barrote suporte soalho 80x80mm 43-IPE200- suporte auxiliar de túmulo 44-Perfil IPE100 45-Lã de Rocha mineral 100mm 46-Lajetas de pedra ataíja creme, D'A RQ - FCTUC O RIENTADOR P ROFESSOR D OUTOR J OÃO M ENDES R IBEIRO
acabamento serrado esp.5mm (dim. variável) 47-Areia (dim. variável) 48-Brickslot AcoDrain LW100K 49-Caixa de brita 50-Perfil UPN260 51-Tela Impermeabilizante 4mm 52-Lintel de betão 53-Sistema fixação pilar-
CAROLINA SANTOS MAGALHÃES
placa de apoio e perno de ancoragem 54-Geodreno 55-Sapata betão 56-Geotêxtil de separação, gramagam 200g/m2 57-Betão de Limpeza 100mm 58-Terreno 59-Lajetas de pedra ataíja creme, acabamento serrado
esp.5mm (dim. variável) 60 -Sistema de f ixação de pedra "Linea cladding systems"ABCStone 61 -Tubulares de ref orço 500x700mm 62 -Lintel de Betão 63 -Pedestais de suporte de pedra (rampa) H.01
DOS
PORMENOR PEÇA EFÉMERA CLAUSTRO DA MANGA esc. 1:50 e 1:10
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ESQUEMA DE DESCONSTRUÇÃO s.esc:

FACHADA E OUTROS ACABAMENTOS

ISOLAMENTO, PAVIMENTOS, TETOS FALSOS


CAIXILHARIAS E INFRAESTRUTURAS

SISTEMA CONSTRUTIVO
PEÇA FACHADA s.esc

SISTEMA FICAÇÃO PEDRA s.esc

IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE


SUBESTRUTURAS E PERFIS AUXILIARES PROJETO DE R EABILITAÇÃO E R EVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
ESTRUTURA METÁLICA D'A RQ - FCTUC O RIENTADOR P ROFESSOR D OUTOR J OÃO M ENDES R IBEIRO
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AXONOMETRIA CONSTRUTIVA PEÇAS EFÉMERAS
0 1 5m16

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