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a Coimbra.
Nota à edição:
Utiliza-se para referenciação bibliográfica, por decisão do autor, a norma Chicago Manual of Style, 17th Edition;
O símbolo “ ” indica que existe conteúdo na parte posterior da página;
Para melhor compreensão do texto, recomenda-se o acompanhamento dos documentos em anexo.
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Projeto SANTACRUZ - Reconstituição digital em 3D do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em 1834 (referência
PTDC/ART- DAQ/30704/2017 - POCI-01-0145-FEDER-030704), financiado por FEDER - Fundo Eu- ropeu de Desenvolvimento Regional através do COMPETE
2020 - Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI) e por fundos portugueses através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
RESUMO
O projeto tem como premissa o ressignificar do lugar, num gesto de continuidade com a
memória e o simbolismo do mesmo. O novo programa surge do entendimento abrangente das
relações com a cidade, onde a cultura se revela como uma oportunidade de mudar o seu rumo
e de restabelecer novas dinâmicas. Não obstante, numa sociedade marcada pela transitoriedade,
a arquitetura é obrigada a sofrer um processo de metamorfose: o conceito de efémero surge tendo
em conta uma arquitetura reversível e intemporal, potenciadora de reinterpretações do passado
e, ao mesmo tempo, de uma atmosfera sensorial, que celebra o instante como testemunho de
comunicação simbólica e arquitetónica. Surgem assim, peças efémeras de distintas escalas, que
acolhem o espaço através de uma conceção dinâmica, capaz de o transformar numa dança
ritmada com flexibilidade e adaptabilidade. Estes elementos soltos, adequados ao ritmo da vida
contemporânea, estabelecem uma relação com a preexistência, com os movimentos do corpo
no espaço, e com os elementos da exposição, onde as sucessivas relações com a memória e o
sensorial permitem a releitura dos seus estratos, marcando simultaneamente o seu presente,
sem comprometer o futuro.
Propõe-se assim, através de uma linguagem contemporânea, traduzir a narrativa que marcou
e eternizou esta construção erguida pela fé e pela regra, perpetuada até ao presente, onde o
projeto se torna um meio de lhe devolver a sua essência e caraterização perdida, eternizando-a.
The premise of the project is the resignification of the place in a gesture of continuity with its
memory and symbolism. The new program arises from understanding the relations between
the people and the city, where culture reveals itself as an opportunity to change its course
and generate new dynamics. However, in a society marked by transience, architecture is
forced to undergo a process of metamorphosis: the concept of ephemeral appears considering
a reversible and timeless architecture, enhancing reinterpretations of the past and, at the same
time, a sensorial atmosphere, that allows to reinterpret the history and the symbolism of the
site. The ephemeral architectural pieces emerge in different scales, which embrace the space
through a dynamic design, able to transform it into a rhythmic dance with flexibility and
adaptability. These autonomous elements are related with the rhythm of a contemporary life,
and they establish a connection not only with the preexistence, but also with the movements
between the human scale and space, and with the elements of the exhibition, where the
successive relationships with memory and the sensorial allows the re-reading of its strata,
marking simultaneously its present, without compromising the future.
I- O OBJETO DE ESTUDO
COMPREENDER
1.1- O lugar: Evolução histórica e construtiva de Santa Cruz
1.1.1 A fundação do Mosteiro e a experiência do Românico 37
1.1.2 As reformas quinhentistas: do M anuelino ao Joanino 47
1.1.3 A nova expressão artística e construtiva de Santa Cruz 63
1.1.4 O Declínio: o século XIX e a extinção das ordens religiosas 69
1.2- A importância do processo de revitalização e conservação do Património
1.2.1 Os valores do restauro e do Património 77
1.2.2 A relação entre as teorias de restauro e a contemporaneidade 89
II- O PROJETO
REFLETIR
2.1- Reflexão crítica e problematização
2.1.1 Diálogos com a preexistência-análise e reinterpretação 99
2.1.2 Referências de estudo 113
INTERVIR
3- O Retorno da centralidade - proposta de grupo
3.1- O Novo núcleo museológico 143
3.2- O Espaço, a forma e o programa 153
4- Identidade, Intemporalidade e Efemeridade – proposta individual
Abreviaturas
CIAM- Congresso Internacional de Arte Moderna
4.1- Arquitetura e memória 171
CMC- Câmara Municipal de Coimbra
4.2- (re)ssignificar o lugar 187
4.3- O Percurso Museológico - Permanência e continuidade 197
DGEMN- Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais
DRCC -Direcção Regional da Cultura Centro 4.3- O efémero e o perene - diálogos entre o corpo e o espaço 215
4.4- A expressão construtiva do efémero 225
ICOMOS ou ICOM- International Council of Museums;
IGESPAR- Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico
Considerações finais 235
MNMC- Museu Nacional Machado Castro
Referências bibliográficas 247
PSP- Polícia de Segurança Pública
Fontes de imagens 257
SIPA- Sistema de Informação para o Património Arquitetónico Anexos I i
UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura Anexos II - Desenhos Rigorosos
INTRODUÇÃO
Um dos objetivos do projeto é o “retorno” a esta centralidade, numa tentativa não só de unificar
os diferentes tecidos urbanos desconectados, como também de introduzir uma nova dinâmica
cultural catalisadora de desenvolvimento, que poderá trazer de volta o dinamismo de outrora
e de criar novas dinâmicas socioecónomicas1.
As sucessivas intervenções feitas ao longo dos anos, desde a demolição da antiga Torre dos
Sinos, do antigo Claustro da Portaria e dos volumes que delimitavam o antigo Claustro da
Manga; à ocupação inadequada dos espaços do antigo mosteiro por parte de outros serviços,
impossibilitam a leitura global do conjunto e da própria caraterização da baixa de Coimbra.
Neste âmbito, compreender a história do lugar torna-se indissociável da arquitetura, e como
tal, a proposta de intervenção é reflexo dessa análise, desenvolvendo-se essencialmente a partir
da escala urbana e das sucessivas relações entre o espaço arquitetónico e o cidadão.
[1] Relacionado com o conceito de desenvolvimento sustentável, onde se procura resposta para a melhoria da qualidade de
vida, critérios de equidade entre as populações atuais, equidade inter-regional, em termos de dimensões sociais, económicas
e éticas do bem-estar humano, “garantindo as necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras”, Relatório Brundtland
“Nosso Futuro Comum”/“Our Common future” 1987, p.46.
[2] Entende-se por património arquitetónico o “conjunto de estruturas físicas (os edifícios ou estruturas construídas e os seu componentes,
os núcleos urbanos, as paisagens e os seus componentes) às quais determinado individuo, comunidade ou organização reconhece, num dado momento
histórico, interesse cultural e ou civilizacional, independentemente da natureza (...) do valor arquitetônico (artístico, construtivo, funcional) valor
histórico ou documental, valor simbólico e valor identitário” IHRU, IGESPAR. 2010. Património Arquitetônico -Geral. Kits património
nº1 versão 2.0. p.8.
0 20 50 100m
CERCA DO MOSTEIRO
QUINTA DE SANTA CRUZ
Fig.2- Imagem aérea de Coimbra com a Reinterpretação da Cerca e da Quinta de Santa Cruz. 15
INTRODUÇÃO
Neste sentido, a proposta procura estabelecer uma nova dinâmica entre o novo núcleo
museológico e os cidadãos, nomeadamente através de espaços públicos diversificados, que
se articulam com os novos programas propostos. Estes, integram edifícios envolventes que
pertenceram outrora ao antigo mosteiro, dos quais se destacam os seguintes: o edifício dos
antigos Correios (1) que envolve o perímetro do antigo Claustro da Manga e o edifício da
Direção Regional da Cultura e Centro (2) na ala poente; o edifício da Câmara Municipal
de Coimbra (3), construído onde outrora se encontrava o mosteiro das Donas e o posterior
Claustro da Portaria; o atual edifício onde se encontra a Polícia de Segurança Pública e
outros serviços camarários (4), antigo celeiro do mosteiro; o espaço que integra a escadaria de
Montarroio (5), que ocupa a área onde existia a Torre Sineira demolida em 1935; o edifício da
atual escola Jaime Cortesão (6), onde antes se localizava a enfermaria geral, a casa do Primor e
o dormitório do Pilar; e o espaço e envolvente do Mercado D.Pedro V (7) onde se localizava
a horta e laranjal do antigo mosteiro.
“ O Mosteiro de Santa Cruz oferece, assim, múltiplos potenciais de abordagem patrimonial que suscitam uma
intervenção museológica em diferentes formatos. Quer seja a partir da consciência dos níveis de importância do
edificado, da sua qualidade artística e da sua capacidade de projeção politica e cultural, quer da analise discutida
de um acervo presente no local ou transferido, quer seja a partir da exploração do seu papel religioso e social
[...] ou, finalmente, da recuperação do papel aqui desempenhado por muitas personalidades de projeção nacional
e internacional, o Mosteiro de Santa Cruz mantém-se como alfobre energético de índole patrimonial [...]” 3
[3] Craveiro, Maria Lurdes, 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs; e|d|arq.p.28
ESTRUTURA E MÉTODO
A partir da análise e troca de ideias do projeto de grupo, foram estabelecidas linhas gerais
que regem a proposta individual, cujas premissas pretendem valorizar e tornar mais nobre
o espaço de culto e cultura, destacando primeiramente a monumentalidade construtiva e
espacial da preexistência. O desenvolvimento do projeto rege-se a partir do respeito por esta,
passando por uma intervenção de cariz minimalista e articulando-se com a ideia de efemeridade
4
. Deste modo, são incluídas peças efémeras que permitem ter diferentes leituras do conjunto,
uniformizar percursos, expor o espólio artístico e material, e simultaneamente, estabelecer
uma relação de diálogo com o existente num gesto de reavivar da memória. A proposta passa
a integrar uma escala mais detalhada que vai desde a macro à microescala, ou seja, desde
a escala urbana, à pequena escala expositiva que acolhe e dialoga com as peças do espólio,
com o espaço arquitetónico e com a escala do corpo humano. Todas as escalas são estudadas
simultaneamente, assim como todas as diferentes fases da investigação, desde a análise histórica
e construtiva, às teorias de restauro, sendo que apenas fazem sentido numa leitura integrada.
[4] O termo efemeridade tem origem do dialeto grego, efêmeros, cujo significado se encontra relacionado a algo passageiro,
transitório. A arquitetura efêmera baseia-se na sua temporalidade, podendo constituír algo transitório, ser transferida
para diversos lugares, podendo a ideia refletir-se inclusive na sua materialidade, forma e narrativa.
21
ESTRUTURA E MÉTODO
Destaca-se a dissertação de mestrado de Daniel Teixeira Couto (2014) “Mosteiro Santa Cruz de
Coimbra. Análise e Reconstituição”, orientada pelo Doutor Professor Rui Lobo, uma vez que nesta
constam desenhos de possível reconstituição dos diferentes volumes do conjunto arquitetónico
e da sua relação com a cidade medieval, essenciais para a compreensão e contextualização
do mosteiro. A troca de ideias e esboços entre o Doutor professor Rui Lobo e os alunos da
investigação de seminário foi primordial, assim como a leitura de obras como “O Mosteiro Santa
Cruz de Coimbra” de Maria de Lurdes Craveiro (2011), ou “Urbanismo antes dos Planos: Coimbra
1834-1934 Vol.I e Vol.II” (2014) de Margarida Relvão Calmeiro.
Para uma maior compreensão das diferentes relações espaciais do Mosteiro de Santa Cruz,
foram realizadas várias visitas ao complexo, juntamente com o orientador Doutor Professor
João Mendes Ribeiro, o Doutor Professor Rui Lobo e a Doutora Susana Menezes, diretora
da DRCC, onde se analisou a qualidade arquitetónica, estrutural e formal, assim como
levantamentos fotográficos e desenhos à mão levantada. Dada a apropriação das diversas
alas do mosteiro, que pertencem a variadas entidades, a logística das visitas foi difícil, ou até
mesmo impossível de realizar, como no caso da ala norte superior do Claustro do Silêncio,
que se encontra encerrada por uma espécie de marquise com arquivos da autarquia; o edifício
dos Antigos Correios, que agora pertence a uma entidade privada, ou o antigo celeiro, atual
edifício da PSP, do qual não se obteve autorização por parte da administração. A visita ao
local foi fundamental para a percepção não só do conjunto monástico, com uma enorme
complexidade, como também da relação urbana, dos fluxos entre a Baixa, a Avenida Sá da
Bandeira, Praça da República e a Alta, o que ditou os principais aspectos e pontos a intervir.
No âmbito do projeto foram também realizadas discussões públicas, uma delas onde os alunos
apresentaram as suas propostas tanto de grupo como individuais, havendo troca de ideias e
perpetivas com convidados como Arquiteto Gonçalo Byrne, Arquiteto João Mendes Ribeiro,
Doutor Professor Luís Miguel Correia, diretor do DARQ-FCTUC, Doutor José Manuel Silva,
presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Doutor António Sousa Ribeiro, diretor do
Centro de Estudos Sociais, Doutor Delfim Leão, Vice-Reitor da Cultura da Universidade de
Coimbra, entre outros.
O evento, para além de ter sido enriquecedor na troca de perpetivas, no adquirir de novos
conhecimentos e de críticas construtivas, foi também fundamental para a investigação no
que respeita ao modo como os utilizadores apreendem e dialogam com o espaço. Deste
modo, o panorama conduziu à elaboração de um Questionário por Inquérito9 que considero
fundamental para a pesquisa individual. Este permitiu adquirir maior perceção acerca da
perspetiva do utilizador e uma maior sensibilidade perante a subjetividade do mesmo, assim
como assimilar os aspectos positivos e negativos, as falhas e incoerências do percurso, e
reunir sugestões relevantes que permitiram questionar, refletir e construir novas ideias. Este
processo, apesar de se aproximar de uma análise antropológica, ditou as diretrizes do projeto
de curadoria e dos modos expositivos e teve um grande impacto no projeto de museografia.
[8] Coordenação de João Mendes Ribeiro e Rui Lobo, com a colaboração de Susana Lobo e Miguel Alberto; Edição
e|d|arq, coleção Darq Docs; Abril 2022.
[9] Questionário por Inquérito e correspondente análise estatística disponível no capítulo “anexos”.
31
I- O OBJETO DE ESTUDO
COMPREENDER
Consta que os primeiros limites foram traçados pela primeira civilização da qual existe
documentação: os romanos, onde a partir do séc. II denominaram a povoação como Aeminium.
A urbe era caracterizada pelos edifícios de caracter público, que na transição para a época
medieval foram sendo ocupados por outras funções, sendo que no século XI surgiu o castelo
como estratégia defensiva. Situava-se na área onde atualmente se encontra a universidade,
nomeadamente a praça D.Dinis, e foi demolido no século XVIII devido ao plano da reforma
pombalina. As definições dos espaços do mosteiro do século XII são escassas e de difícil
interpretação devido à falta de registos documentais. A maioria é feita por conjeturas de
arqueólogos, historiadores e outros. Virgílio Correia supõe que o mosteiro teria sido construído
sob uns antigos banhos romanos que D.Afonso Henriques doou a D.Telo. Os banhos de
0 30 100m
D.Sesnando mencionados em 1064-109111. Um fator de implantação determinante seria sem
1- Mosteiro Santa Cruz 2- Celeiro 3- Torre Santa Cruz 4- Igreja de Santa Justa 5- Igreja de S.Tiago 6- Igreja de S.Bartolomeu
7- Primeira ponte rio Mondego; Portagem 8- Porta de Almedina 9- Porta de Belcouce 10- Igreja de S.Cristóvão
11- Sé de Coimbra 12- Porta Nova 13- Igreja S. Salvador 14- Paço do Bispo/Paço Episcopal 15- Igreja S.João de Almedina [10] Rossa, Walter. 2001. Diversidade: urbanografia do espaço de Coimbra até ao estabelecimento definitivo da Universidade. Tese de
16- Alcaçova 17- Hospital de Milréu 18- Igreja de S.Pedro de Almedina 19- Castelo e Porta do Sol Doutoramento em Arquitectura Coimbra: Faculdade Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. p.23
[11] Sobre o tema consultar: Rossa,Walter. 2001. Divercidade: urbanografia do espaço de Coimbra até ao estabelecimento definitivo
Possível Cerca de Santa Cruz
da Universidade. Dissertação de doutoramento em Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra.
Após a retomada Cristã (1064), e de D.Afonso Henriques ter sido consagrado como primeiro
rei de Portugal (1143), Coimbra é tida como capital do reino, o que teve um impacto na
estrutura urbana da cidade. Durante o seu reinado realizou um conjunto de obras, renovou a
muralha, a ponte que unia as duas margens do mondego, mandou construir a torre de menagem
para o Castelo de Coimbra, entre outros, e coadjuvou na integração dos cónegos regrantes
de Santo Agostinho. Esta doutrina é trazida por D.Telo, arcediago e um dos fundadores de
Santa Cruz, que contatou com a mesma em São Rufo de Avinhão, com o desígnio de formar
uma nova comunidade com um modelo comunitário monástico. Acompanhado por onze
apoiantes, destacam-se D.João Peculiar, mais tarde bispo no Porto, e São Teotónio, primeiro
prior do mosteiro entre 1132 e 1152. O mosteiro situava-se num vale fora dos limites da
cidade que detinha todas as condições híbridas e de fertilidade de terras indispensáveis para
a autossuficiência do mosteiro, sendo que com o passar dos anos os seus limites foram
expandindo, sendo inclusive construída uma cerca própria para defesa conventual e militar,
uma vez que o local obrigava a fortificações devido à ameaça muçulmana. Por volta de 1150
o mosteiro é concluído, sendo aberta uma nova porta na muralha no lado de Montarroio,
a Porta Nova, que facilitava a deslocação dos cónegos para a almedina, e construídos uns
edifícios acastelados onde mais tarde foram residências dos priores de Santa Cruz. Nesta zona
foi também erguida a Torre Sineira de Santa Cruz, que “terá sido feita no séc. XVI, mas antes de
1534.”13
A construção do mosteiro surge numa época de renovação espiritual e religiosa, e como tal,
careceu de revoltas e obstáculos por parte de outras entidades, como no caso da Sé de Coimbra
que pretendia a doação dos bens patrimoniais crúzios e que estes lhes ficassem associados.
A supremacia da Sé assumia-se como algo soberano, e toda esta conjuntura motivou D.Telo
e D.João Peculiar a viajar até Pisa, contactando com o Papa Inocêncio II que aprovou a
proteção papal ao mosteiro, por bula de 26 de maio de 1135.14 Após a aprovação juntaram-se
[12] Lobo, Rui. 2006. Santa Cruz e a Rua da Sofia: arquitectura e urbanismo no século XVI. Coimbra: eld|arq, p.28.
[13] Alarcão, Jorge de. 2013. A Judiaria Velha de Coimbra e as Torres Sineiras de Santa Cruz. Coimbra: Centro de Estudos
Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto. p.15
[14] O privilégio isento concedia uma autonomia incomum comparativamente ao clero da península: “liberdade, geral
isenção, vastos privilégios e subsequentes garantias” - Dias, Pedro e Coutinho, José Eduardo Reis. 2003. Memórias de Santa Cruz.
Coimbra: Câmara Municipal de Coimbra. p.26.
Fig.18- “Illustris Ciutatis Conimbria in Lusitania ad flumen ilundam effigies”, gravura de Georg Hoefnagel 1566/1567.
Fig.19- Ampliação de imagem anterior; detalhe do Mosteiro de Santa Cruz. 39
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
E CONSTRUTIVA
13 12 fundadores e o mosteiro começou a crescer, contando com cerca de 72 crúzios. Nesta altura
o conjunto monástico já contava com o claustro, o refeitório e o dormitório, cuja rapidez
de obra foi facilitada devido aos elementos construtivos de baixo custo e de fácil construção
como a cobertura em madeira, as paredes e abóbadas em alvenaria.
Os restantes elementos que faziam parte do complexo carecem de informação e, uma vez
1 que não subsistem na mesma localização, não há documentação suficiente acerca destes, as
19
6
tentativas de reconstituição passam por meras suposições16. Pensa-se que o primeiro refeitório
11
se encontrava no claustro românico a nascente, perto da fonte ainda existente, e os dormitórios
3
9
no piso superior das alas nascente e norte, ligados ao sobreclaustro, de modo a facilitar o
2 acesso à igreja e coro. Há registos também de uma livraria, mas apenas a partir do século XVI,
mas dada a importância da mesma para os cónegos, pensa-se que já existia anteriormente17. O
5 4
antigo Mosteiro das Donas, convento feminino pertencente ao mosteiro, ocupava o espaço
14 onde atualmente se encontra a Câmara Municipal de Coimbra. Este detinha um espaço muito
contido com um pequeno claustro e uma modesta capela (a capela de S.João das Donas),
18 que passa a ser intitulada de igreja aquando a implementação da Freguesia de Santa Cruz. A
instituição feminina altera a sua localização no séc. XVI.
15 16 17
[15] Craveiro.Maria de Lurdes. 2003.O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do Centro.
Darq Docs, e|d|arq. p.13
[16] Com exceção de alguns vestígios da original obra românica como os túmulos de S. Teotónio e do Bispo D. Miguel
0 10 30m Salomão e “algumas capelas laterais, numa das quais se conserva o arco de entrada pesando sobre os capitéis das colunas que o sustentavam”
Correia, Vergílio, e António Nogueira Gonçalves. 1947. Inventário Artístico de Portugal - Cidade de Coimbra. p.XI.
1- Claustro Românico 2- Mosteiro das Donas 3- Igreja Românica 4- Igreja das Donas 5- Ala do Mosteiro das Donas Quando não citado, as suposições relatadas ao longo do texto são referências da autora Maria Lurdes Craveiro.
6- Dormitórios 7- Refeitório 8- Sala do Capítulo 9- Porta da Trindade 10- Porta de Espada à Cinta 11- Celeiro
12- Torre de Santa Cruz 13- Horta 14- Possível Cerca 15- Rua dos Caldeireiros 16- Rua da Moeda 17- Rua dos Tintureiros [17] Craveiro. Maria de Lurdes. 2002. O Renascimento em Coimbra. Modelos e Programas Arquitectónicos. Dissertação de
18- Rua de Coruche 19- Rua das Figueirinhas 20- Rua de Montarroio doutoramento em História da Arte, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Fig.20- Planta de Reconstituição do Mosteiro de Santa Cruz no Românico (baseada na reinterpretação de Jorge de Alarcão) 41
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
E CONSTRUTIVA
Um outro elemento que marcou desde sempre a paisagem urbana, tornando-se um marco na
cidade de Coimbra foi a Torre dos Sinos de Santa Cruz (fig.23). Estima-se que a primeira torre
foi construída entre 1131, data da construção do mosteiro, e 1174, data onde se menciona a
existência da mesma nas escrituras. Em 1540 os sinos seriam deslocados para uma outra torre,
e chamar-se-ia Torre de Montarroio. A torre detinha características medievais, agregada a um
conjunto acastelado coroado por ameias, e por duas partes que correspondem a dois tempos
construtivos diferentes: a parte fortificada inferior com paredes autoportantes, coincide com
os primórdios da monarquia, e a parte superior, de arquitetura barroca com os sinos, do
século XVIII19. Em 1933 a torre passa a supervisão da recém criada Direção-Geral dos Edifícios
[18] Rossa, Walter. 2001. Divercidade: urbanografia do espaço de Coimbra até ao estabelecimento definitivo da Universidade. Dissertação
de doutoramento em Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.p. 336 - citando
diretamente Manuel Luís Real “A organização do espaço arquitectónico entre Beneditinos e Agostinhos, no século XI”. 1982. Porto:
Grupo de estudos Arqueológicos do Porto 1982
[19] Correia, Vergílio, e António Nogueira Gonçalves. 1947. Inventário Artístico de Portugal - Cidade de Coimbra”. Lisboa.
e Monumentos Nacionais, mas acaba por ser demolida a 3 de janeiro de 1935. O primeiro
testemunho gráfico20 da existência da mesma pertence a Pier Maria Baldi, que desenhou a vista
de Coimbra em 1669. A 3 de janeiro de 1935 a torre foi demolida, uma vez que se encontrava
em risco de cair devido a infiltrações e cedência do terreno.
Esta fase da evolução do mosteiro durante a Idade Média, juntamente com a boa gestão, e
a aquisição contínua de bens materiais e artísticos, legaram as diretrizes que permitiram o
Mosteiro de Santa Cruz afirmar-se como um centro de cultura do Humanismo e Renascimento
em Coimbra, começando a consolidar a sua imagem de poder. As novas necessidades de
adaptação, nomeadamente de circulação e reorganização dos espaços, antecederam uma época
de obras e de grande agitação que transformará o mosteiro num “formidável estaleiro de arquitectura
onde o velho edifício românico se transfigura e ganha nova dimensão espacial e simbólica”.21
[20] “Existem dois desenhos perspéticos quinhentistas que retratam o interior da torre, mas a sua autoria permanece incerta” citação
de Marques, Cátia. 2012. Na torre dos sinos do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra: Um tesouro de moedas medievais e dois desenhos
quinhentistas.
Jorge de Alarcão também elabora reconstituções disponíveis em: Alarcão, Jorge de. 2013. A Judiaria Velha de Coimbra e as
Torres Sineiras de Santa Cruz. Coimbra: Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto.
[21] Craveiro, Maria de Lurdes. 2002. O Renascimento em Coimbra. Modelos e Programas Arquitectónicos. Dissertação de
doutoramento em História da Arte, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. p.58.
45
“A travessia do mosteiro de Santa Cruz pelo século de Quinhentos é feita de momentos de enorme pujança
financeira que acaba por ter reflexos determinantes na sua política construtiva, quer no volume das obras que
decorrem à sua custa quer no jogo de influências estéticas que varrem a cidade” 22
Durante o reinado de D.Manuel I compreendido entre 1495 e 1521, o mosteiro foi marcado
por diversos experimentalismos. Os cânones manuelinos já implementados no Mosteiro da
Batalha e no Mosteiro de Jerônimos, influenciaram também uma intensa renovação estilística
do Mosteiro de Santa Cruz, de modo a retratar a cultura de uma nova era, e seguindo uma forte
vertente política e ideológica régia, muito característica do manuelino. Apesar do forte impulso
e evolução da cidade de Coimbra na Idade Média, “foram as obras crúzias que impuseram tipos
artísticos que, com a sua divulgação, vieram dar unidade e características próprias à arte coimbrã do manuelino
e da renascença”23. São as reformas quinhentistas do século XVI que alteram de forma radical as
caraterísticas da obra românica, quer na reforma Manuelina que decorre desde 1507 até 1521,
à reforma Joanina de 1527 a 1535. As construções e requalificações Manuelinas podem ser
distinguidas em três fases: a primeira entre 1507 e 1516 marcada pela transformação da igreja
românica pela igreja atual, com uma nova espacialidade e o início de uma nova fachada; a
segunda fase entre 1517 e 1521, onde foi feita a reconstrução do Claustro do Silêncio segundo
o novo estilo; e a terceira fase que se sucede após a morte de D.Manuel em 1521, marcada
pela conclusão de algumas obras e pela reformulação no portal da igreja.
[22] Alarcão, Jorge de. 2013. A Judiaria Velha de Coimbra e as Torres Sineiras de Santa Cruz (Coimbra: Centro de Estudos
0 10 30m Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto), p.71.
Demolido [23] Dias, Pedro. 1982. A arquitectura de Coimbra na transição do gótico para a renascença. 1490-1540. Coimbra: EPARTUR –
Construído Edições Portuguesas de Arte e Turismo. p.103.
Fig.24- Planta de análise das demolições e construções da passagem do Românico para o Manuelino. 47
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
E CONSTRUTIVA
túmulos régios com o devido louvor. Cinco anos depois, no começo do priorado de D.Pedro
Gavião, o rei executa uma profunda campanha de renovação do mosteiro, sendo que a
expressão das reformas é caracterizada pela “conjugação de uma estratégia que engloba o portal e os
túmulos passa pela fortíssima imagem de supremacia do mosteiro como núcleo capaz de um domínio temporal
e espiritual sobre a comunidade envolvente, ao mesmo tempo que explicita a vontade régia num percurso que
reivindica a tutela do processo em exposição marcada de atualidade e erudição compositiva” 24. A reforma
determinou as diretrizes que tornaram o mosteiro uma forte influência na cultura Humanista
da cidade, viabilizando a implantação da Universidade em 1537.
Em 1507 o mestre Diogo Boitaca já participava na reforma, cujo objetivo consistia em criar
uma extensão das obras iniciadas anteriormente na igreja e nas principais dependências
monásticas. Nesta finalizou-se a frontaria da igreja e a abóbada da nave, a capela-mor e a
sacristia manuelina. No entanto em 1517, o mestre foi substituído pelo arquiteto Marcos
Pires, que se integra na segunda fase e fica responsável pela reforma. Nesta fase as obras
são intensificadas e, entre 1518 e 1522, concluíram-se as obras do Claustro do Silêncio,
nomeadamente a nova cobertura abobadada, a capela de Jesus, de S.Teotónio e de S.Miguel,
no piso superior à livraria e ao cartório. Reconstituiu-se o refeitório da ala nascente com
13 a fonte Paio Guterres, assim como o dormitório; colocaram-se os túmulos dos reis no fim
da nave da igreja, e apostou-se na vertente artística, como o retábulo principal da igreja de
12 11
Cristovão Figueiredo, o púlpito de Nicolau Chanterene, e o cadeiral manuelino realizado
10
9 por Olivier de Gand25.
6
7
Entretanto, o mestre Marcos Pires falece e inicia-se a terceira fase da reforma. Esta última
1 4 5 fase consta com a finalização das obras até então, por exemplo na frontaria, onde podemos
8 observar o contraste da pedra escura de calcário amarelo da igreja Românica, com a pedra
14
branca de ança.
15 3
[24] Craveiro, Maria Lurdes. 2003.O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do Centro. p.27.
[25] Inicialmente a obra foi associada a Machim, escultor flamengo a quem foi paga a sua conclusão em 1513. No
0 10 30m entanto, constata-se que o mesmo foi apenas responsável pelo trabalho da madeira, sendo o projeto em si da autoria de
1- Claustro do Silêncio 2- Mosteiro das Donas 3- Igreja de Santa Cruz 4- Túmulo de D.Afonso Henriques 5- Túmulo D.Sancho Olivier de Gand.
6- Capela-mor e Cadeiral 7- Capela de Nossa Senhora da Piedade 8- Sacristia Manuelina 9- Capela de S.Teotónio
10- Sala do Capítulo 11- Capela de S.Miguel 12- Capela de Jesus 13- Refeitório 14- Dormitórios 15- Ala Mosteiro das Donas
A reforma Joanina passa por um movimento de reforma das casas religiosas portuguesas, que
começou em Santa Cruz. Pretendia-se o retorno à clausura de uma maneira mais rigorosa, e
como tal, foram efetuadas obras de expansão e melhoria das dependências monásticas. Em
1526 o rei D.João III instala-se em Coimbra durante um mês, e ao visitar o Mosteiro de Santa
Cruz decide tomar “medidas que restituíssem a ordem e moralidade religiosa, extinguindo o mosteiro feminino
e nomeando um reformador, responsável pelo cumprimento das novas constituições crúzias” 26. Nomeou então
Frei Brás de Braga, membro da ordem de S. Jerónimo, para alterar os costumes comunitários
e reger a nova onda de obras das dependências conventuais entre 1527 e 1545. Estas reformas
caracterizaram o que foi denominado “o Renascimento Português”, movimento marcado pela
tendência Humanista, que se refletiu na reforma dos espaços e no âmbito artístico, e sofre
declínio quando os esforços passam a ser voltados para a construção da Universidade na década
de 40. O contrato para as novas obras de Santa Cruz é assinado a 5 de março de 1528, realizado
entre o amo do rei, Bartolomeu Dias, e Diogo de Castilho, que passa a ser o braço direito de
frei Brás de Braga. O acordo era o primeiro manifesto de uma arquitetura relacionada com a
cultura do Renascimento em Coimbra, dos quais se destacam os principais nomes da vertente
artística em Portugal daquele período como: Garcia Fernandes, Gregório Lopes e Cristóvão
Figueiredo, que detêm peças inigualáveis desde retábulos, telas pintadas a óleo, entre outros.
Durante esta reforma de 1527, foram também inseridos dois colégios dentro do espaço
monástico, “para solidificar a estrutura humanista era necessário criar as condições para o desenvolvimento
de uma área interna de Saber que pudesse acompanhar as mudanças em curso e, ao mesmo tempo, legitimar a
própria reforma pela via do conhecimento” 27, nomeadamente o colégio de Santo Agostinho e S. João
Baptista28, instituidos por frei Brás de Braga em 1535, preparando a vinda da Universidade
de Coimbra.
O primeiro espaço construído que é referido no contrato seria o novo dormitório, dispostos na
parte superior do mosteiro, ao longo das alas norte e nascente do claustro. No interior“sobressaía
o magnífico tecto de madeira, em meia cana quartelada [...] entretanto desmantelada” 29
cujo autor se
supõe que tenha sido João de Ruão. O novo volume a nascente aumenta o número para 76
[26] Lobo, Rui. 2006. Santa Cruz e a Rua da Sofia - Arquitetura e Urbanismo no século XVI. Coimbra: eld|arq, p.41
[27] Craveiro, Maria de Lurdes. 2002. “O Renascimento em Coimbra – Modelos e Programas Arquitetónicos”. Tese de Doutoramento
na especialidade de História da Arte, Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. p.147.
[28] “do primeiro desses colégios, que veio ocupar a igreja gótica de S.João das Donas e que corresponde a um pórtico clássico, de entablamento
reto, suportado por colunas (Mendanha, 1541, apud Révah, 1957). (...) O outro colégio, de s. João de Baptista, localizava-se por cima da nova
0 10 30m igreja de S.João.” Lobo, Rui. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Coimbra. p.17.
Demolido
Construído [29] Lobo, Rui. 2006. Santa Cruz e a Rua da Sofia - Arquitetura e Urbanismo no século XVI. Coimbra: eld|arq. pp.51-52.
Fig.27- Planta da análise das demolições e construções da passagem do Manuelino para o Joanino. 51
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
E CONSTRUTIVA
0 10 30m
[30] “As coadras deste dormjtorio terã de largo cimcoenta palmos em que averá duas remgas de çelas hua de cada parte e no meo hua Rua
de dezoyto palmos de largo. E as ditas casas terão de largo dezaseis palmos e de cõprido dezoyto e as ditas çelas seram por todas setenta e seis”
Garcia, Prudêncio Quintino. 1923. Documentos para as biografias dos artistas de Coimbra. p.177.
[31] Também conhecido como claustra terceira ou da enfermaria. Consultar: Ribeiro, Mário de Sampaio. 1958. El-rei D.
1- Igreja 2- Capelas dos flancos 3- Capela-Mor 4- Túmulo de D.Afonso Henriques 5- Túmulo D.Sancho 6- Púlpito 7- Órgão
João III e o Claustro da Manga do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.
8- Coro alto (piso superior) 9- Igreja Paroquial S.João 10- Sacristia Manuelina 11- Sala do Capítulo 12- Capela de S.Teotónio
13- Capela de S.Miguel 14- Capela de Jesus 15- Capela de Nossa Senhora da Piedade 16- Capela da Virgem 17- Capela de S.António Embora a construção do claustro não seja mencionada nos contratos, já estaria prevista, uma vez que começa a ganhar
18- Claustro do Silêncio 19- Acesso ao Claustro da Manga 20- Refeitório 21- Ceia de Hodart 22- Fonte e Claustro da Manga 23- Enfermaria forma com a extensão do novo volume referido anteriormente, já documentado no contrato de 1528.
[32] Craveiro, Maria Lurdes. 2003.O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do Centro. p.142.
[33] Craveiro. Maria de Lurdes. 2002. O Renascimento em Coimbra. Modelos e Programas Arquitectónicos. Dissertação de
doutoramento em História da Arte, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. p.108.
Fig.28- Planta de Reconstituição do Mosteiro de Santa Cruz na Reforma Joanina. [34] “treze mesas de pedra brãca .S. seis de cada parte & hua fronteyra que he a mesa principal” Révah, I.S. 1057. Descripçam e debuxo
Fig.29- Reconstituição do dormitório no contrato de 1528 e após o contrato de 1530, por Rui Lobo (vertical). do moesteyro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Biblioteca da53Universidade. s.p.
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
E CONSTRUTIVA
azulejos e os registos dos púlpitos e da capela onde se encontrava a Última Ceia, “o principal
ornamento desta casa”35. Neste espaço constava um conjunto de treze figuras de barro, de tamanho
natural, realizado entre 1530 e 1534 pelo mestre Hodart, que se encontram atualmente expostas
no Museu Nacional Machado Castro.
“A travessia do mosteiro de Santa Cruz pelo século de Quinhentos é feita de momentos de enorme pujança
financeira que acaba por ter reflexos determinantes na sua política construtiva, quer no volume das obras que
decorrem à sua custa quer no jogo de influências estéticas que varrem a cidade”. 41 A Universidade e as
novas instituições começaram a ganhar força na cidade de Coimbra, as rendas começaram
a ser direcionadas essencialmente para estes, e o espectro de investimento para o mosteiro
começou a ser limitado, o que causou diversos conflitos internos e deu origem a períodos de
menor fulgor financeiro.
“Já com a Universidade de Coimbra (1537), Frei Brás organizaria a operação urbanística de abertura da
amplíssima Rua de Santa Sofia, que arrancava do mosteiro crúzio para norte, onde se deveriam instalar os
colégios da nova universidade reformada.”42 Desta fase da reforma, ainda subsistem até hoje alguns
espaços. Outros foram reconstruídos mais tarde ou até mesmo destruídos. Atualmente o
refeitório pertence à Câmara Municipal e é considerado espaço de exposições temporárias.
A capela que acolhia as belíssimas peças como “A Última Ceia”, assim como os acessos aos
púlpitos, foram demolidos para albergar os serviços da Direção Regional da Cultura e Centro,
restando apenas vestígios. O atual percurso expositivo, incluí apenas alguns espaços como
o coro-alto, as capelas laterais da igreja (com exceção da capela dos Mártires de Marrocos), e
somente duas capelas do Claustro do Silêncio. Os dormitórios foram destruídos e ocupados
pelos serviços camarários, a estrutura de madeira foi retirada, subsistindo apenas o corredor
[40] Craveiro, Maria Lurdes. 2003.O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do Centro. p.45.
[41] Alarcão, Jorge. 2013. A Judiaria Velha de Coimbra e as Torres Sineiras de Santa Cruz. Coimbra: Centro de Estudos
Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto. p.71.
[42] Lobo, Rui. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq. Coimbra. p.17
;Sobre o tema consultar pp.67-85.
e as portas para as celas. A ala norte superior do Claustro do Silêncio é agora ocupada por
arrumos da autarquia, impossibilitanto a circulação orgânica do mesmo. Todos os volumes que
delimitavam o Claustro da Manga foram demolidos, resta apenas a Fonte da Manga que parece
estar esquecida, sem contexto, cuja relação é inexistente com o que resta das dependências
monásticas. A Igreja Paroquial de S.João exerce agora a função de café, e o Claustro da Portaria
foi destruído para ser edificado o edifício da Câmara Municipal. O conjunto foi perdendo
assim, ao longo dos anos, a sua caracterização e identidade.
59
[43] Craveiro, Maria de Lurdes. 2011. O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do
Centro. p.49.
[44] Capela agregada à Sala do Capítulo
[45] Situado no lado esquerdo da nave da igreja; O órgão barroco surge da intenção de substituir o antigo no reinado de
D. Manuel, que contratou Francisco de Lorete em 1532 para podruzir um de maiores dimensões. “A 26 de Outubro desse
ano de 1532, celebrou-se ainda o cotrato [...] do novo órgão, ou, mais propriamente, da sua caixa, cuja empreitada foi entregue ao marceneiro
francês Francisco Lorete”. Dias, Pedro. 1982. A arquitectura de Coimbra na transição do Gótico para a Renascença: 1490-1540. Coimbra:
EPARTUR. pp.170-171.
[46] Vieira, Padre José Bento- 2001. Santa Cruz de Coimbra: Arte e História Coimbra: Igreja de Santa Cruz. p.23.
[47] “Esta obra recentemente atribuída a Baltasar Álvares (Branco, 2013:70-74), o maior arquiteto português da sua época. A atribuição
justifica-se pelo emprego de quatro mascarões, ou carrancas, sobre as portas principais, representativos dos “estados de espírito”, semelhantes a
peças idênticas que o arquiteto terá observado na sua viagem ao norte de Tlália, e que surgem também na fachada da igreja dos jesuítas, atribuída
ao mesmo arquiteto.” Lobo, Rui. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.
Coimbra. p.18
caixotões octogonais. De momento, o espaço agrega figuras como o Cristo Crucificado, realizada
no século XIV, e outras esculturas inseridas nos nichos das pilastras, como a Virgem, S.João,
Santa Gúdula e Santa Gertrudes. Para além destas, encontram-se esculturas de menor escala
em madeira policromada e/ou dourada, datadas entre os séculos XVII e XVIII, expostas de
maneira aleatória em cima de um arcaz seiscentista que, embora reabilitado diversas vezes,
se encontra em mau estado. Destaca-se a representação de A Invenção e exaltação de Santa Cruz,
pertencente os retábulos quinhentistas de Cristóvão de Figueiredo, o retábulo de Pentecostes,
de Vasco Fernandes, datado a 1535 e, a tela da Descida da Cruz, de André Gonçalves.
É durante o século XVIII que é realizado o projeto do Parque da Sereia, elemento que hoje
ainda detém grande expressão urbana, e que simbolizava o culminar do percurso monástico,
conformando um espaço de lazer e contemplação. No edifício que hoje ocupa a escola
situava-se a nova enfermaria, melhorado no século XVIII, tendo albergado a residência do
Prior e a nova biblioteca do mosteiro, assim como o jardim do Prior marcado por dois
torreões49 semelhantes mas menores dos que marcam a entrada do Jardim da Sereia. Uma vez
que o edifício era conhecido pelo “Dormitório do Pilar”, pensa-se que tinha sido adaptada
essa função, até porque o mesmo tinha uma ligação direta com o dormitório do mosteiro no
piso superior, atravez de um arco, conhecido como Arco do Correio.
[48] Craveiro, Maria de Lurdes. 2011. O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do
Centro. p.145.
[49] “Seguia-se às dependências do Prior um jardim formal, de que ainda sobram dois dos quatro pequenos torreões angulares. (...) Recentemente
foi proposto que o arco barroco que está hoje na Praça 8 de Maio diante da igreja, marcava a entrada deste jardim formal.” Lobo, Rui. 2022.
Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.Coimbra. p.18
O Mosteiro de Santa Cruz, detinha um vasto espólio artístico não só na área da pintura e
escultura, como também na literatura, desde tratados manuscritos, livros de matemática,
medicina, música (relacionados com o coro), estampas, entre outros, que após as transformações
do mosteiro a partir de 1834, parte deste acervo acabaria por se perder, salvo algumas exceções
que se encontram atualmente na Biblioteca da Universidade, na Biblioteca Pública do Porto,
no Museu Machado Castro e noutras entidades. Conta também com uma vasta coleção de
ourivesaria e de tapeçarias, com crucifixos, estolas e casulas de grande detalhe.
Alçado Atual
0 10 30m
[50] Lista do acervo artístico e material disponível no capítulo “Anexos”
Fig.41- “Mappa Thopografico da cidade de Coimbra com a Divizão das Antigas Freguezias”, final séc.XVIII.
Fig.42- Reconstituição e evolução do alçado poente do Mosteiro de Santa Cruz ao longo dos séculos (primeiro
realizado tendo em conta a teoria de Jorge de Alarcão; segundo realizado por Fernando Couto). 65
A extinção das ordens deu origem não só à transferência do domínio do mosteiro, mas também
à perda da cerca conventual, assim como ao desaparecimento ou dispersão de grande parte do
espólio à medida que os espaços foram sendo ocupados. Parte deste foi dividido por diversas
instituições de ensino e museus ao longo dos anos, como o Museu Machado Castro, o Museu
Nacional de Arte Antiga, o Museu Nacional Soares dos Reis, a Biblioteca da Universidade de
Coimbra e a Biblioteca Pública do Porto, entre outros.
Estabelecido numa zona fora da muralha, o mosteiro constituía uma barreira de expansão
urbana a nascente, e definia, simultaneamente, espaços de grande importância como por
exemplo a Rua da Sofia e a Praça da Sansão, hoje conhecida como Praça 8 de Maio. Este
período de transição levou assim à realização de obras neste ponto estratégico da cidade, com
[51] Rossa, Walter. “O espaço de Coimbra. Da instalação da urbanidade ao fim do antigo regime” em Evolução do Espaço
0 30 70
Físico de Coimbra. 2006. Câmara Municipal de Coimbra, p.44 Demolições
Construções
O processo de descaracterização tem início em 1835, altura em que se traça “um extenso plano
de intenções de reforma da cidade que, embora não tenha tido execução imediata, serviu de base a muitas das
reformas introduzidas até ao final do século. [...] O Plano previa a cedência de [...] terreno para a construção de
um matadouro público na cerca do extinto Mosteiro de Santa Cruz e parte dos seus edifícios para a instalação
das repartições judiciais administrativas e da fazenda e o pátio do mesmo mosteiro para o mercado público.
Pretendia ainda [...] a cedência da Quinta de Santa Cruz para jardim público”.53
Fig.46- Planta de reconstituição de Coimbra, c.1845 Área da possível Cerca e Quinta de Santa Cruz Planta de reconstituição de Coimbra, c.1895 0 50 100m
A descaracterização do conjunto monástico prosseguiu nos anos seguintes: acredita-se que
Plantas elaboradas tendo como base os desenhos de Calmeiro, Margarida Relvão. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834 -1934 vol.II. Dissertação
de doutoramento em Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Anexos. “as destruições começaram logo em 1859(?) com a demolição do corpo da antiga hospedaria, entre a esquina
e a fachada da Praça 8 de Maio e o edifício do celeiro, assumindo-se a articulação urbana no antigo pátio
do mosteiro.” 54; na mesma época, é construído o edifício para a Direção de Obras Públicas
do Mondego, virado para as hortas, que sofre um incêndio em 192655. em 1867 a horta e
laranjal do mosteiro foram ocupadas pelo Mercado Municipal, inicialmente numa lógica de
mercado ao ar livre, e em 1907 foi construído o Pavilhão do Peixe, projetado pelo arquiteto
Augusto de Carvalho da Silva Pinto, ainda hoje existente. Junto a este podemos ver o atual
[52] A intenção de implementar o edifício surge em 1840, no entanto, “apenas 37 anos depois, em 1877, é destruída
toda a zona do claustro da portaria até ao claustro do Silêncio, para se construir o novo edifício da câmara.” Calmeiro,
Margarida. 2014. Apropriação e conversão do Mosteiro de Santa Cruz. Ensejo e pragmatismo na construção da cidade de Coimbra, CES-
FCTUC. p.233
Para tal, destroí-se a fachada barroca da igreja paroquial de S.João de Santa Cruz, que teve diversas funções desde
cangalheiro, esquadra da polícia a loja de ferragens.
[53] Calmeiro, Margarida Relvão. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834 -1934 vol.I. Dissertação de doutoramento
em Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. pp.183-184.
[54] Lobo, Rui. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.Coimbra. p.19
[55] Edifício que mais tarde serve como sede dos Correios Telégrafos e Telefones
Fig.47- Mercado Municipal no antigo laranjal da cerca do Mosteiro de Santa Cruz. Fig.48- Claustro da Manga após incêndio de 1917. Fig.49- Demolição da Torre e parte da enfermaria, 1935. 69
EVOLUÇÃO HISTÓRICA, MORFOLÓGICA
E CONSTRUTIVA
Algumas dependências alteraram a sua função ao longo do tempo, por exemplo,“Os lanços
envolventes do Claustro da Manga destinaram-se ao correio, malaposta e Direção de Obras Públicas do Mondego,
o celeiro destinou-se à nova prisão da cidade e o Dormitório do Pilar foi atribuído à Roda dos Expostos, onde
residiam as crianças enjeitadas do distrito.”56. O antigo refeitório, acolheu a Escola Livre de Artes e
Desenho e a Associação de Artistas em 1866, posteriormente passou a pertencenter à Biblioteca
Municipal, e atualmente, está sob o domínio da Câmara Municipal, sendo designada “Sala
Eixo principal Avenida Sá da Bandeira - Rua Nicolau Olimpo Fernandes - Rua da Sofia 0 100m
da Cidade”, onde se realizam exposições temporárias; os antigos dormitórios, por cima do
antigo refeitório, foram destruídos e apresentam agora também alguns serviços camarários;
Surgiram alguns conflitos resultantes dos planos, como por exemplo a hipótese da demolição
do Mercado, que causou muita discussão na década de 1930. “Enquanto se planeava o primeiro
plano de urbanização da cidade, o Arquiteto Luís Benavente propunha a sua demolição [do mercado],
prolongando a Avenida Sá da Bandeira até ao edifício dos Correios.”59
O novo bairro da Quinta de Santa Cruz correspondeu à expansão urbana no topo nascente
do vale. Este, foi essencial para o desenvolvimento da cidade, uma vez que detinha condições
de salubridade, permitia reforçar a rede de abastecimento de água da cidade e estabelecia
diferentes relações morfológicas entre a Alta e a Baixa, assim como a ligação a Celas. Para
o local, pretendia-se criar um jardim público, um jardim de infância, e outros programas.
No entanto, com o desenvolvimento da cidade e o aparecimendo de outros centros, a Praça
8 de Maio, considerada ponto cívico e político, perdeu alguma relevância, tendo sido alvo
de uma requalificação em 1992 pelo Arquiteto Fernando Távora, que rebaixou o pavimento
para a cércea da Igreja de Santa Cruz, estabelecendo relação entre o espaço público e a igreja.
“Hoje esta área, tal como toda a Baixa perdeu algum dinamismo, mas mantem a centralidade assegurada
pelas funções aqui instaladas e, desde 2013, pela inscrição na lista de Património Mundial da UNESCO,
um reconhecimento que sublinha o valor histórico e simbólico do conjunto. A análise revela como este valor se foi
construindo num longo e vivo processo de apropriação e transformação, pautado por planos, projetos, mas também
hesitações, que construíram a cidade atual com os vestígios do passado como um recurso ativo.” 60
[59] Calmeiro,Margarida Relvão. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.
Coimbra. p.32.
[60] Ibidem, p.32.
73
“O mosteiro de Santa Cruz é um dos espaços patrimoniais de maior importância em Coimbra. A sua categoria
de panteão nacional, assumida em 2003, justifica que seja um dos locais mais visitados do país e reivindica
agora um estatuto de proteção a que nem sempre se atendeu. [...] Desde a sua fundação, em 1131, até ao século
XIX, o mosteiro de Santa Cruz escreveu uma página brilhante nos capítulos da cultura e das artes e a sua
relevância ultrapassou a circunscrição da cidade de Coimbra. Cabe agora honra-lo através da recuperação de
uma dignidade [...]” 61
A investigação rege-se sob uma constante reflexão e compreensão das camadas de história
presentes no Mosteiro de Santa Cruz, desde a primeira pedra em 1131, até dias de hoje. É
a sua história, a vivência do lugar e a sua simbologia que dita as diretrizes do projeto e faz
com que este ganhe forma. O reconhecimento da importância do Mosteiro de Santa Cruz é
algo ímpar no decurso da história de Portugal e na evolução da cidade de Coimbra. Como
foi visto anteriormente, com o passar dos anos o simbolismo do lugar foi desvanecendo,
o espólio de grande primor cultural foi desviado ou esquecido, assim como os ideais de
inteligência de gestão de um património material, espiritual e artístico da era crúzia. A
valorização e conservação deste conjunto é fundamental quer para a identidade62 nacional, quer
para a salvaguarda de uma memória coletiva da cidade de Coimbra, sendo capaz não só de
restabelecer a esfera histórica, artística e cultural do mosteiro, como também de introduzir uma
nova dinâmica à mesma. Deste modo, é na tentativa de perceber a relação entre as diferentes
dimensões urbanas63, até aos temas de preservação do património, que se estabeleceu um elo de
ligação entre o conhecimento científico e a prática, nomeadamente entre as diferentes teorias
e os modos de intervir, com o objetivo de refletir sobre a cidade contemporânea e desenvolver
[61] Craveiro, Maria de Lurdes. 2011. O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Coimbra: Direcção Regional de Cultura do Centro. p.6.
[62] “Identidade: entende-se como a referência coletiva englobando, quer os valores actuais que emanam de uma comunidade, quer os valores
autênticos do passado.” Conferência Internacional sobre Conservação 2020, Carta de Cracóvia- Príncipios para a conservação e o
restauro do património construído.
[63] Quando se fala em dimensões urbanas, refere-se às dimensões que caracterízem o desenvolvimento sustentável: a dimensão
Social (política), a dimensão Económica, a dimensão Ambiental e a dimensão Cultural.
Ao longo das últimas décadas os estudos à volta do tema da preservação do património foram-se
intensificando. O aumento dos projetos de reabilitação, muito ligado à expansão urbana e à
necessidade de requalificar as construções pré-existentes, deu origem a uma preocupação e ao
questionamento sobre modos de intervir. A noção de Património64 teve inicialmente como
foco o valor do monumento histórico, no entanto com a apropriação de novos conteúdos e
novos pontos de vista, deu-se uma reestruturação destes valores e o conceito de Património
passa a integrar um reportório de carácter universal, de acumulação de bens imóveis, móveis
e imateriais, estando hoje relacionado tanto com a arquitetura erudita como com a corrente.
A génese do conceito surge sob o impulso das Revoluções manifestadas ao longo do século
XVIII e XIX, sendo a sua principal disseminação ao longo do século XX com as consequências
das Grandes Guerras que realçaram a importância da salvaguarda do mesmo.
[64] “O património é definido como a conjugação das criações e dos produtos da natureza e do homem que, na sua integridade, constituem, no
espaço e no tempo, o ambiente que vivemos. O património é uma realidade, um bem da comunidade e uma valiosa herança que pode ser legada
e que convida ao nosso reconhecimento e participação.” Definição proposta pela Quebec Association for the Interpretation of the
National Heritage. 1980. Committee on Terminology.
Fig.53- “Dictionnaire raisonné de l’architecture française du XXI au XVI siècle” Viollet-le-Duc 1814-1879.
Fig.54- Corte construtivo da catedral de Aimens, Viollet-le-Duc. 77
OS VALORES DO RESTAURO
E DO PATRIMÓNIO
Em meados do século XIX, uma das mais importantes personalidades no âmbito da definição
do conceito de património foi Viollet-le-Duc (1814-1879)66. Os seus princípios consideravam
primeiramente a novidade ao invés da historicidade presente até então, muito articulada ao
antigo regime pré-revolução. Valoriza “uma nova relação com o passado, relação essa eminentemente
moderna” de modo a disputar os paradoxos típicos do séc.XIX, e propondo “a procura de uma
nova linguagem em consonância com o seu próprio tempo”.67 O seu foco insistia essencialmente na
modernização da prática da arquitetura, sendo esta em consonância com os meios oferecidos
pela era da Revolução Industrial, numa perspetiva intervencionista68, através da ideia de de
restauro estilístico, onde admitia que o edifício deveria ser restaurado consoante o estilo
da sua construção. John Ruskin (1819-1900)69 representa uma perspetiva contemporânea,
no entanto oposta, no sentido de não apoiar um gótico científico ou funcionalista, ou a
reprodução na totalidade, mas sim num gesto pitoresco e sublime do Romantismo Inglês. A
pré-existência deveria manter a sua imagem original, assim considerada um documento único
e irreproduzível, onde “O trabalho das gerações passadas confere aos edifícios que elas nos legaram um
caráter sagrado. As marcas que o tempo imprimiu sobre elas fazem parte da sua essência.” 70.
[65] Este conceito caracteriza o espectro entre a atualidade e a sua história, onde“a contemporização entre as duas instâncias
que representa a dialética do restauro (...)”. Brandi, Cesare. 2004. Teoria do Restauro [Teoria del Restauro]. Tradução de KÜHL,
Beatriz Mugayar. Cotia, SP: Ateliê Editorial.
[66] Villet-le-Duc (1814-1879) - arquiteto francês muito ligado à arquitetura revivalista do século XIX e aos temas
relacionados com a preservação e conservação do património. Realizou várias obras nomeadamente em castelos, câmaras
municipais e edifícios religiosos, e escreveu cerca de 19 obras e artigos sobre arquitetura.
[67] Vollet-le-Duc, Eugène Emmanuel. 1996. Restauro [Restauration]; tradução de Dourado, Odete. Salvador: Pretextos
(V.1) /PPGAU-UFBA. pp. 5-6.
[68] Em 1866 publica o oitavo volume da sua compilação do Dictionnaire Raisonné de l’Architecture Française du XIème au
XVIème Siècle, onde defende a sua definição de restauro: “Restaurar um edifício não significa repará-lo, reconstruí-lo ou mantê-lo.
Significa restabelece-lo no seu estado mais completo, que pode até nunca ter existido.”. Ibidem, p.17.
[69] John Ruskin (1819–1900) foi poeta, pintor e crítico de arte de família londrina abastada, cujo pensamento se
encontra muito articulado ao Romantismo, movimento ideológico e literário de finais do século XVII até meados do
século XIX. Esteve na génese do movimento Arts & Crafts.
[70] Choay, Françoise. 2011. As questões do património: antologia para um combate. Edições 70. p.31.
Ruskin publica o livro The Seven Lamps of Architecture em 1849, e The Stones of Venice em 1851,
onde refletiu sobre o processo de ruína/abandono em detrimento do restauro e reabilitação,
defendendo simultaneamente o valor do antigo e a linguagem dos estilos passados, a
prevalência da história e não a sua beleza, onde os materiais originais deveriam ser preservados
e respeitados. Assim, numa visão anti intervencionista, o seu princípio baseava-se na memória
histórica e simbolismo que um edifício pode adquirir.
Esta dicotomia entre ideias de meados do século XIX, entre outras problemáticas, demonstram-se
como “uma atitude passiva e contemplativa do transcorrer do tempo contraposta a uma deliberada vontade
de cancelar as pegadas que este deixou impressa sobre a matéria. E essa dicotomia hoje, distante já 150 anos,
segue condicionando o debate sobre o restauro e marca, de facto, os limites extremos da discussão atual.” 71.
Entre estas duas posições opostas, Camillo Boito (1836-1914)72 por sua vez adota diferentes
pontos das duas teorias e elabora critérios de intervenção relacionados com a conservação e
restauro, numa tentativa de se afastar da teoria e aliar esta à prática. Procura nas leituras do
passado as premissas para uma criação contemporânea, de modo a incentivar uma arquitetura
que estabelece uma relação de diálogo com o lugar e que se compatibilize com o programa
moderno. Destaca também a necessidade de distinção entre as partes originais e as alteradas,
a mínima intervenção ou reversibilidade, defendendo que o restauro só deveria acontecer em última
instância, e que por isso se devia apostar na manutenção periódica de modo a prevenir a
sua ruína. Assim, propõe oito princípios básicos no Congresso de Engenheiros e Arquitetos
de 1884, em Roma, que defenderem a recomposição e consolidação das partes desagregadas,
apoiadas em princípios de manutenção e conservação já referidos por Ruskin e William Morris
(1834-1896), fundamentais para a compreensão dos modos de intervir dos séculos seguintes.
O pensamento evolui por volta de 1912, com a Teoria do Restauro Científico de Camillo
Boito, Gustavo Giovannoni (1873-1947), Luca Beltrami (1854-1933), e outros autores. Estes
têm como objetivo solidificar e reconstituir o património edificado, de forma priorizar
a conservação em detrimento da intervenção profunda, não excluindo esta vertente, mas
[71] Lagunes, María Margarita Segarra em: Gomes, Marco Aurélio. 2011. Em Reconceituações contemporâneas do patrimônio.
Coleção Arquimemória; V.1. Salvador: EDUFBA. p.19
[72] Camillo Boito (1836–1914) - “foi arquiteto, restaurador, crítico, historiador, professor, teórico, literato e um analista dos mais argutos
de seu próprio tempo (...); como restaurador e teórico, tem um lugar consagrado pela historiografia da restauração, sendo a ele reservada uma
posição moderada e intermediária entre Viollet-le-Duc (...) e Ruskin, sintetizando e elaborando princípios que se encontram na base da teoria
contemporânea de restauração. Kühl, Beatriz Mugayar em Boito, Camillo. 2008. Os restauradores; [I restauratori: Conferenza tenuta
all’Esposizione di torino il 7 giugno 1884] Tradução de Beatriz Mugayar KÜHL,. Cotia, SP: Ateliê Editorial. p.9.
81
OS VALORES DO RESTAURO
E DO PATRIMÓNIO
No entanto, após um período tão conturbado, quer pelas discussões geradas pelas divergências
e críticas, quer pelas consequências da Segunda Grande Guerra, surgiu numa tentativa de
normalização de métodos e procedimentos básicos que deram origem às “Cartas Patrimoniais”
- documentos normativos essenciais para o desenvolvimento dos modos de intervenção. Com
a Grande Guerra, os monumentos e tecidos urbanos históricos ficaram danificados, surgindo
muitas reflexões sobre como reconstruir, exigindo uma postura neutra por parte dos arquitetos
em relação ao bem cultural. Surgiram assim, as primeiras reflexões que originaram o Restauro
Crítico, mais condescendente face à pressão sociopolítica, nomeadamente no que respeita à
recomposição de monumentos segunda a sua vertente social e simbólica, respeitando sempre
as diferentes fases da obra e a preservação das suas marcas do tempo. Através do debate
aberto, cartas e convenções estabeleceu-se um novo paradigma que conduziu à manifestação
de novos valores que se foram adquirindo. Valores esses que continuam a ser revistos na
contemporaneidade.
[73] Abreviaturas: ONU- Organização das Nações Unidas (em inglês UNO- United Nations Organization);
UNESCO - United Nations Education, Scientific and Cultural Organization;
ICOMOS ou ICOM- International Council of Museums;
O ICOM ja existia desde 1946. Com a necessidade urgente de se criar um organismo semelhante mas para a área do
património, formolou-se o ICOMOS, que surgiu após a realização de um congresso em Veneza (Itália), de 25 a 31 de
Maio de 1964: o 2.ºCongresso de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos.
Estes estabeleceram princípios que foram transpostos para a legislação de diversos países, dando
origem mais tarde à publicação destes em diferentes suportes nomeadamente com a internet,
meio que possibilitou a sua disseminação e permitiu a discussão à volta da problemática,
desencadeando novas perspetivas.
85
A nova visão estética criada a partir de meados do século XX contribuiu para uma nova vertente
no que respeita à conservação, a “Nova Conservação Científica” ou o chamado Restauro Crítico.
Este movimento prevalecia o uso de novas metodologias e técnicas, em detrimento de teorias
da conservação até então, não descurando estas, e admitindo os resultados e aprendizagem das
mesmas como essenciais para a perceção dos modos de intervir. Este processo é algo natural,
uma vez que, ao longo dos séculos as práticas de intervenção e restauro do Património foram
sendo alteradas a partir do da atualidade de cada um dos teóricos e críticos, e como tal,
devemos considerar o seu próprio contexto de ação.
A partir do Movimento Moderno,74 a problemática à volta dos modos de intervir ganha uma
outra dimensão. Surgem as primeiras críticas ao arquiteto modernista, que tem como premissa a
negação do passado, interrompendo-o e afirmando-se propositadamente de maneira diferente.
No entanto a conceção do que é “moderno” de cada época, presume uma rotura com algo
considerado antigo, ou seja, os conceitos funcionam como uma contraposição um ao outro:
o novo pressupõe o antigo e vice-versa. A intervenção no património edificado deve ter em
consideração a preexistência e os valores desta, no seu passado e no seu presente, e neste
sentido, não deve seguir em absoluto os “cânones” estabelecidos na arquitetura moderna,
onde a ideia de tábua rasa e rotura dos estilos se encontra eminentemente presente, nem
seguir estritamente estas ideologias das teorias do século XIX, ou outras teorias do restauro.
Por muito que a era da globalização permita a fácil difusão de diferentes ideias e discussões,
a solução inédita nunca existirá, apenas persiste a ideia de que há uma atualidade em certos
pontos das diferentes teorias de restauro, que nos permite obter uma aprendizagem contínua
e tomar decisões de projeto de maneira mais coerente e apropriada.
[74] Caracterizado pelo conjunto de pensamentos, movimenos e escolas, que influênciaram grande parte da arquitetura
do século XX, inserida no contexto artístico e cultural do modernismo. Este, surge num contexto de mudança a nível
social e cultural, ligadas à revolução industrial e à transição gradual do meio rural para a cidade, tendo consequências na
arquitetura. A linha de pensamento advém de William Morris (1834-1896), no entanto a sua génese é a partir de 1919,
quando Walter Gropius funda a Bauhaus em Weimar, Alemanhã.
Fig.57- “Catholic town in 1440 vs The same town in 1840”. Pugin, Augustus em “Contrasts”.
Fig.58- Plan Voisin de Le Corbusier. Medida radical de intervenção da Arquitetura Moderna. 87
A RELAÇÃO ENTRE AS TEORIAS DE RESTAURO
E A CONTEMPORANEIDADE
A investigação apresenta uma intensa pesquisa à volta destes temas precisamente por haver
um raciocínio e uma contemporaneidade em cada uma das teorias, por muito simplista que
seja. Um exemplo dessa “atualidade” nas teorias de Viollet-le-Duc, consiste na forma como
é abordada uma posição racional-funcionalista: as decisões de restauro são guiadas perante
a análise compositiva e a função, tendo em conta também o respeito pela matéria prima e a
consequência dos materiais, da estrutura e a relação destes com a leitura de um monumento.
Por sua vez com Camillo Boito podemos observar a negação da mimese dos estilos do passado,
valorizando o saber intervir de modo crítico, de modo a evitar falsos históricos, e tendo
em conta novos conceitos como o de reversibilidade75, de compatibilidade dos programas/
funcionalidade, entre outros, num gesto de incentivo tendo em conta o valores simbólicos
e sociais, principalmente quando falamos em meios urbanos e históricos, como no caso do
Mosteiro de Santa Cruz.
No entanto, no presente ponto de vista, a ideia de ato crítico perante o exercício de restauro deve
ter em consideração não só alguns dos aspetos das teorias de restauro referidos anteriormente,
mas também a história da preexistência até aos dias de hoje, a sua relação com “o sítio”, o seu
significado histórico e simbólico e o seu valor social. A dicotomia presente entre as ideologias
dos arquitetos do século XIX e inícios de XX, persiste numa divergência entre a relação do
valor da pré-existência e o projeto: enquanto antes o ponto de partida estava na preservação
e salvaguarda do monumento, os arquitetos modernistas entendiam este como um cenário,
uma espécie de enquadramento. Cria-se um paralelismo entre o de projetar na pré-existência ou
para esta, cuja intenção e metodologia é completamente distinta nos dois casos.
[75] “Reversibilidade significa que uma intervenção pode essencialmente ser desfeita, ou retirada, sem causar mudanças ou alterações na estrutura
material histórica.” ICOMOS-ISC20C. 2011. Documento de Madrid - Critérios de Conservação do Património Arquitetónico do Século
XX, Glossário
Fig.59- Fotografia Museu Nacional Machado Castro - distinção material entre o novo e a preexistência. 89
A RELAÇÃO ENTRE AS TEORIAS DE RESTAURO
E A CONTEMPORANEIDADE
Por outro lado, o Restauro Crítico afirma que cada obra é única e é feita de acordo com o
seu tempo, logo pode deter soluções únicas, sem esquemas ou linguagens pré-concebidas.
Estas soluções podem ter como base uma análise atenta à preeexistência, mas num gesto de
crítica, não como uma atividade empírica. Deste modo, o exercício de reabilitação de um
edifício patrimonial tem de surgir como um ato crítico, baseado num critério com o seu
valor artístico, no grau de importância e no próprio valor da obra no passado e no presente.
A partir daqui, deve-se recuperar, devolver a essência da obra e liberta-la, retornando-lhe a sua
imagem e significado, uma vez que esta exprime a sua individualidade.
Como referido anteriormente, a teoria de Cesare Brandi é considerada das mais atuais, uma
vez que traduz princípios válidos até aos dias de hoje. As teorias anteriores preconizavam
a manutenção do monumento apenas como documento histórico, de modo a colocar em
segundo plano a sua imagem figurativa. A teoria brandiana considera o restauro apenas da
matéria, o que se observa até aos dias de hoje, sendo que nenhuma intervenção deve ser feita
se esta desfigurar a imagem da sua origem. Deste modo, o estado de conservação é que limita a
intervenção, e a distinção entre o antigo e o novo deve ser visível e reversível, de modo a melhorar
a leitura da obra de arte e a nunca retirar o valor e relevância da preexistência. Neste sentido, o
princípio de distinguibilidade da ação contemporânea pressupõe que a intervenção se deve assumir
como diferente, sem infringir a própria unidade e singularidade da pré-existência, assim como
deter uma certa reversibilidade, onde qualquer intervenção se deve inserir com propriedade e
respeito, de modo a não comprometer igualmente intervenções futuras ou a essência da obra.
A complexidade e debate acerca dos conceitos inerentes ao património, assim como a definição
destes, são delicados e controversos, sendo praticamente impossível defini-los sem as suas
ambiguidades. Tal dificuldade é observada através das diferentes abordagens possíveis no
âmbito do restauro até aos dias de hoje, onde se considera a arquitetura como produção
artística de distintas naturezas, que por sua vez requerem um tratamento distinto e uma
metodologia própria.
“A ideia de património foi-se alterando ao longo do tempo e continua a alterar-se [...] a condição de património
passou a abranger as mais diversificadas manifestações culturais, desde as de suporte material e natural às
intangíveis. A uni-las o reconhecimento da sua capacidade de representar valores e necessidades que estabelecem
vínculos entre o presente e o passado, dando assim coerência a um mundo em constante transformação”76
[76] Choay, Françoise. 2000. Alegoria do Património [Trad. Teresa Castro]. Lisboa: Edições 70.
91
93
II- O PROJETO
REFLETIR
INTERVIR
VARAGNOLI:
das intervenções em termos de compatibilidade, técnicas construtivas, materialidade, mas
DIFERENCIAÇÃO DE LINGUAGEM; DESCODIFICAÇÃO sobretudo os diferentes graus de respeito pela mesma. Dada a complexidade e abrangência
dos temas, e uma vez que os critérios e as metodologias dos autores italianos são distintas,
não foi possível a tradução direta dos conceitos, havendo por vezes convergência de ideias
mesmo em posições completamente opostas.
[77] Vetrone, Mariana Lunardi. 2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio cultural
edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de Arquitetura. DARQ-FCTUC
[78] Ibidem, p.2.
Como tal, a metodologia encontrada para viabilizar o paralelo entre os diferentes autores
foi “o termo de comparação”, de modo a encontrar as semelhanças e diferenças, categoriza-
las e interpretá-las. É perante esta ideia de complexidade, e numa consequente tentativa de
desenvolvimento de espírito crítico, quer perante a viabilização deste conhecimento, quer
como ferramenta essencial para a prática futura face ao exercício de arquitetura, que surge a
ideia de sintetizar e aprofundar o tema, não só tendo em conta as perspetivas de autores que
foram referências nestas temáticas, mas também tendo em conta as condicionantes e os fatores
da contemporaneidade. O ponto de partida, para além do estudo dos princípios básicos dos
diferentes teóricos do século XIX e XX, foi um quadro síntese elaborado a partir do cruzamento
das teorias interpretativas dos três autores italianos referidos por Mariana Vetrone (fig.63).
“Caberia, certamente, um adicional esforço de síntese, além de certa inventividade, para reorganizar as categorias
sob este novo olhar [...] poderia elaborar-se uma nova sistemização, capaz de atualizar o debate em questão
e, porventura, adicionar também a componente funcional, voltada às relações de programa e uso nos edifícios
preexistentes [...]” 79
Fig.63- “Esquema de síntese elaborado a partir do cruzamento das categorias interpretativas propostas por Varagnoli, Carbonara e Vivio.”
Realizado por Mariana Vetrone. 99
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
- DIÁLOGOS COM A PREEXISTÊNCIA
A versão apresentada trata-se de uma metodologia menos analítica do ponto de vista teórico,
mais ligada à relação entre o projeto e o fruidor do espaço, tendo em conta o sensorial e a
vertente simbólica, social e cultural da preexistência. O objetivo deste novo quadro síntese
de carácter experimental, não é subvalorizar as diversas teorias, mas tentar interpretá-las face
a uma vertente mais prática, que possa ser adequada ao exercício de projeto e aos modos de
intervir. As categorias que dispõem uma relação de Não-Intervenção Direta, ligada aos conceitos
de conservação imaterial, reconstrução, sistematização indireta e não intervenção, mencionados pela autora
referida, assim como o de Negação perante a preexistência, Repristinação e Continuidade em cuidado pela
distinção82, não foram tidas em consideração, uma vez que o foco da síntese elaborada consta
da relação direta entre a linguagem, a matéria e tectónica do novo com a preexistência.
Fig.64- Esquema de reinterpretação e análise das categorias interpretativas, tendo em conta as relações de
dialética entre o antigo e o novo. 101
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
- DIÁLOGOS COM A PREEXISTÊNCIA
Perante a reflexão deste tema, estas dinâmicas apresentam-se como falsos dialéticos, não de
transmissão dos valores do edificado, mas muito ligados a um gesto de falso artístico, de mimese
historicista e representativa de estilos anteriores. Faz parte da arte do exercício de projeto,
conseguir estabelecer um equilíbrio entre o respeito pela preexistência, os seus valores do
passado, mas também tendo em conta o nosso “presente histórico”83, e a transmissão de ambos
às gerações futuras. O objetivo do estudo é precisamente perceber a articulação entre esta
relação intemporal entre a preexistência e todas as dimensões formais e simbólicas desta, assim
como as novas integrantes da contemporaneidade, como o conceito de desenvolvimento
sustentável, de reversibilidade, a importância dos novos usos, a relação entre a linguagem e
matéria, entre outros.
A vermelho pode-se observar a categoria abstrata mais palpável: a linguagem. Segundo Franco
Purini, pode ser definida “como o conjunto de elementos que dão à composição arquitetónica, enquanto
expressão artística, um certo ordenamento sintático, morfológico e semântico [...] este conceito está fortemente
ligado à semiótica, abrangendo também questões de apreciação estética e até mesmo conceitos estilísticos.” 85 Nesta
a materialidade, desde as texturas, à estereotomia, ritmo, proporção, efeitos de luz e sombra
e contrastes, é o caráter mais tangível e concreto. A escolha da materialidade pode assumir
diferentes posições: a de contraste e oposição novo vs o existente, a de diferença tendo em conta o
[83] Presente histórico , segundo Cesare Brandi, corresponde ao período intermediário entre as duas historicidades
da obra: “Aquela que coincide com o ato de sua formulação, o ato da criação, e se refere, portanto, a um artista, a um tempo e a um lugar; e
uma segunda historicidade que provém do fato de insistir no presente de uma consciência, e portanto, uma historicidade que se refere ao tempo
e ao lugar que está naquele momento” Brandi, Cesare.2004. Teoria do Restauro [Teoria del Restauro]. Tradução de KÜHL, Beatriz
Mugayar. Cotia, SP: Ateliê Editorial.
[84] Fala-se em desenvolvimento sustentável e não sustentabilidade, uma vez que este abrange um espectro maior,
um conjunto de diferentes dimensões catalisadoras de desenvolvimento, que permitem por sua vez estimular padrões
sustentáveis de modo a que uma determinada sociedade seja capaz de responder às necessidades das gerações presentes e
futuras.
[85] Purini, Franco. 2012. Linguaggio Architettonico. Retirado de Vetrone, Mariana Lunardi. 2018.“Diálogos com a preexistência:
leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio cultural edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado
Integrado de Arquitetura. DARQ-FCTUC. p.23.
103
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
- DIÁLOGOS COM A PREEXISTÊNCIA
uso de materiais distintos dos originais, a sua expressão visual e o impacto que este pode ter;
ou ser algo em concordância com o que existia, propondo-se com uma linguagem semelhante.
No esquema, pode-se ver que se aproxima da “analogia/tradição” e da “dialética crítico-criativa/
reinterpretação”, uma vez que podem estar interligadas com esta ideia de aproximação e representação
do passado, ou da “lógica da harmonia”, que se relaciona com o que o projeto pretende transmitir
e na leitura deste como um todo.
O tacto é o sentido que dá dimensão real à visão: fornece uma informação tridimensional
do objeto, detalhes sobre a textura, peso, densidade e temperatura; a textura e temperatura da
pedra de Ançã rugosa, dos relevos da talha dourada, das colunas salomónicas;
O paladar, ligado ao olfato, uma vez que as partículas que se inalam através do nariz passam
pela boca, estimulando o paladar. O olfato explora a relação entre o utilizador e a memória,
estabelece ligação com o edifício pela familiaridade que nele podemos encontrar. Os
odores apenas sentidos uma vez têm uma associação direta com o momento em que foram
percecionados e ativam a memória. Desde o cheiro das madeiras velhas, que cria a sensação
de quase se conseguir sentir o seu sabor, ao cheiro do relvado e das laranjeiras da Fonte da
Manga e do incenso da igreja.
[86] A palavra fenomenologia tem origem no grego phainesthai, que significa “aquilo que se apresenta ou que se mostra”
juntamente com o sufixo logos, “explicação” ou “estudo”. Fenomenologia consiste no estudo de um conjunto de fenômenos,
e de como estes se manifestam, seja através do tempo ou do espaço, com o objetivo estudar a essência das coisas e a
perceção delas no mundo.
A visão é o que nos permite ler o espaço, ter perceção do que nos rodeia. Momentos de
compressão através das passagens estreitas dentro das paredes, dos arcos que oprimem, que
trazem desconforto, e que enfatizam os pés-direito duplos da igreja ou do santuário, que
criam uma sensação de liberdade; a leitura longitudinal e panorâmica do Claustro do Silêncio
que vai desde os efeitos de perspetiva do claustro, ao ritmo das abóbadas, aos jogos de luz e
sombra das colunas, das reentrâncias dos nichos e capelas, dos frisos, das colunas; o percorrer
de espaços e escadas sinuosas até ao esplendor do Santuário, cuja morfologia oval origina
uma perceção completamente distinta dos espaços regulares - entre infinitas sensações que
tornam o espaço absolutamente singular e enriquecedor: a leitura do Mosteiro de Santa Cruz
só é tida na sua totalidade, quando o espaço é vivido e sentido. “a ideia de lugar diferencia-se da
de espaço pela presença da experiência. Lugar está relacionado com o processo fenomenológico da perceção e da
experiência do mundo por parte do corpo humano.” 87
A questão sensorial faz parte da arte de projetar. A arquitetura não consegue viver da
bidimensionalidade. O espaço existe teoricamente e precisa ser ocupado fisicamente, algo
que vai para além da forma e da materialidade. O corpo humano não só se move no espaço,
como também o define nos seus termos. Daí a análise e reinterpretação das categorias tendo
em conta a vertente sensorial, simbólica e ideia de memória individual e coletiva: a memória
define o indivíduo, tendo influência na sua identidade e na maneira de entender e assimilar o
mundo. Os conceitos encontram-se interligados entre si e refletem-se nos modos de intervir.
As duas dimensões restantes, de (In)temporalidade e Identidade serão aprofundadas no decorrer
do exercício de projeto, propondo-se uma visão de reflexão fenomenológica, desde a escala
dos espaços, a relação da escala humana com os mesmos e com os elementos que compõem
o percurso museológico, onde toda a narrativa do projeto é construída a partir de uma ideia
e de uma experiência arquitetónica, vivida pelo utilizador, caracterizando, no presente ponto
de vista, a maneira mais verdadeira de comunicar com o utilizador: através da arquitetura,
apelando a todos os seus sentidos.
[87] Montaner, Josep Maria. 2001. A modernidade superada: arquitetura, arte e pensamento so século XX. Barcelona: Gustavo
Gil. p.37
107
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
- DIÁLOGOS COM A PREEXISTÊNCIA
“Toda experiência comovente com a arquitetura é multissensorial; as características de espaço, matéria e escala
são medidas igualmente pelos nossos olhos, ouvidos, nariz, pele, língua, esqueleto e músculos. A arquitetura
reforça a experiência existencial, a nossa sensação de pertencer ao mundo, e essa é essencialmente uma experiência
de reforço de identidade pessoal. Em vez da mera visão, ou dos cinco sentidos clássicos, a arquitetura envolve
diversas esferas da experiência sensorial que interagem e fundem entre si.”88
“Achei o desenvolvimento dos conceitos muito bem estruturados e fiquei feliz em saber que as minhas reflexões
estão dando frutos em outros desenvolvimentos teóricos e de projeto. Gostei muito da proposta de releitura das
categorias e, sobretudo, da inserção sobre as percepções dos sentidos na arquitetura. Achei a abordagem muito
sensível e interessante.” 89 - Mariana Vetrone.
109
“Aprender a ver é fundamental para um arquiteto, existe uma bagagem de conhecimentos aos quais inevitavelmente
recorremos, de modo que nada do quanto façamos é absolutamente novo” 90
Uma vez que o processo de desenvolvimento do projeto foi sempre movido por
experimentalismos no que respeita aos modos de intervir e tendo em conta o diálogo entre
a preexistência e o contemporâneo, teve muitos avanços e recuos, sendo difícil apresentar
uma síntese ou casos de estudo em concreto. Num primeiro momento, e no contexto de
desenvolvimento do trabalho de grupo, deu-se a procura por edifícios que estabeleçam uma
dialética entre o antigo e o novo, de referências a nível programático capazes de introduzir
novas dinâmicas na cidade, assim como de projetos que detenham uma sensibilidade e
expressão que narrem a essência e a história da obra. Posteriormente, numa fase individual,
após o aprofundar do contexto histórico e construtivo, e tendo em conta a análise das teorias,
as categorias e os graus de intervenção, deu-se a procura pelas diferentes abordagens que o
projeto pode assumir desde a macro à micro escala: desde a relação com a cidade, até à forma
e materialização, ao objeto de pequena escala. De maneira orgânica começaram a surgir as
primeiras referências (fig.66), cuja leitura global começaram-se a articular com a ideia de “mínima
intervenção” e o conceito de efemeridade e reversibilidade, através de peças que estabelecem uma
relação de dialética com a preexistência.
[90] Siza, Álvaro Vieira. 2000. Imaginar a Evidência. Lisboa: Edições 70. p.139.
111
[91] Consta-se que o projeto inicial teria sido entregue a João de Ruão, mencionado inclusive na Carta de André de
Gouveia, a 13 de Março de 1548, onde refere que “os aspetos revolucionários deste projeto não se cingiam ao modelo construtivo, mas
a toda uma nova concepção de orgânica espacial. É um momento em que, claramente, o profano se sobrepõe ao sagrado”, no entanto não se
sabe se foi efetivamente o projeto que conduziu às obras de 1548.
Craveiro, Maria de Lurdes. Monumentos 25 - Revista Semanal de Edifícios e Monumentos. Setembro 2006. Direção Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais, Lisboa. p.48.
[92] Ibidem, pp.48-49.
Os grossos pilares com capitéis jónicos sustentam uma rede regular de arcos cruzados, que
suportam dois pisos superiores, dando lugar ao espaço de refeição dos Jesuítas, pertencente
à Inquisição. Em 1555, durante o período joanino, o colégio passa a pertencer à Companhia
de Jesus até à data de 1566, sendo depois instalado o Tribunal da Inquisição, até à extinção
do mesmo a 31 de março de 1821, período que se caraterizou pelas grandes alterações, “quer
na redefinição das áreas habitadas, quer no capítulo da circulação imposta, quer ainda na mudança radical de
uma atmosfera letiva e de saber para a esfera da repressão” 93. Posteriormente, o edifício foi cedido
à Guarda Nacional Republicana, albergando alojamentos, onde na década de 1950, com a
construção da Caixa Geral de Depósitos, se deu a demolição de partes do Colégio, mantendo-se
apenas o pátio e parte dos volumes. Em 1990 a Câmara Municipal realizou uma campanha
de escavações arqueológicas no local, nas quais se depararam com cerâmicas pré-romanas.
“Foi adotada uma estratégia de adequação do edifício ao programa, atendendo ao seu valor histórico e arqueológico
sem limitar o novo uso. Essa adequação passou por uma linguagem inequivocamente contemporânea que procura
a transparência entre o antigo e o novo, entre o passado e o presente.” 94
A INTERVENÇÃO
O primeiro contacto do arquiteto com o edifício surge no âmbito do concurso para os
Encontros de Fotografia em Coimbra, com a exposição “Céu e Inferno” de Joel Peter Witkin, em
1996, contacto determinante para o projeto de reabilitação, uma vez que o mesmo estabelecia
uma carga simbólica e histórica muito forte com a preexistência. O projeto surge após o
Concurso de Requalificação do Edifício em 1997, cujo programa foi reformulado perante
a proposta do Atelier95, passando a integrar todo o piso inferior e superior, onde se situava
a antiga “Casa dos Pobres”, o pátio a Sul que detém a arcada de Diogo de Castilho, e a
revitalização de toda a área envolvente, nomeadamente dos espaços públicos.
Segundo Mariana Vetrone, a intervenção enquadra-se “na categoria definida por Varagnoli como
Diferenciação de Linguagem, que é também consoante com as categorias de Relação Dialética e Reintegração da
Imagem, definidas por Carbonara; [...] uma relação de Contraste Dialético, ou até mesmo, em uma leitura mais
radical, de Autonomia do Novo, ambas propostas por Beatrice Vivio; (e, simultaneamente, um conjunto
de elementos que poderiam) [...] caracterizar uma relação de Destaque ou Oposição, caracterizando um
objeto completamente independente da preexistência” 97
Categorias que se encontram relacionadas
com o conceito de linguagem que a obra contemporânea detém com a preexistência: desde a
preocupação com a distinção entre o antigo e o novo, até ao contraste linguístico, por exemplo,
quando comparamos a leveza e caráter efémero dos volumes e peças de mobiliário do piso
superior, que se contrapõem à perenidade e robustez da preexistência.
[96] Ribeiro, João Mendes. 2008. Arquitectura e Espaço Cénico. Um percurso biográfico. Coimbra: Universidade de Coimbra,
Departamento de Arquitetura. Tese de Doutoramento. p. 184.
[97] Vetrone, Mariana Lunardi. 2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio cultural
edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de Arquitetura. DARQ-FCTUC. pp.42-43.
Outros aspetos que a autora acima referida menciona, são a aproximação “do conceito definido
por Varagnoli como Descodificação [...] ao conceito de assimilação dos elementos preexistentes definidos por
Carbonara como Restituição Tipológica, na qual o projeto se desenvolve como recuperação de um arquétipo, ou
seja, de um modelo com uma componente linguística formal. Neste contexto, as intervenções buscam justamente
uma reinterpretação de elementos preexistentes, reinventando-os no projeto do novo.” 98 ligados, por exemplo,
à releitura do lanternim por cima da escada, que é uma reinterpretação de um preexistente,
promovendo a sua ressignificação consoante um desenho eminentemente contemporâneo, e
reinserindo o objeto no tempo presente. Outro exemplo, são as colunas jónicas que, embora
recuperadas, transpõem a ideia (in)temporal da obra, admitindo a parte em ruína como parte
da materialidade preexistente, como marca do edifício no espaço e no tempo.
Estes conceitos, encontram-se por sua vez interligados à ideia de (In)temporalidade presente
na obra, onde “o projeto ressalta a importância da manutenção das marcas do tempo como testemunhos
materiais da história do edifício e evidencia uma postura voltada ao Acompanhamento Conservativo, definido por
Carbonara, ou ainda à Mínima Intervenção, estabelecida por Vivio. Em ambos os casos, há uma prevalência
dos valores do antigo, de modo que a intervenção contemporânea aparece apenas para garantir sua fruição,
legibilidade e transmissão ao futuro.” 99
Surge, deste modo, uma outra categoria fundamental: a nova adaptação dos usos. A integração
de um programa adequado é um potencial catalisador de desenvolvimento, cuja garantia de
uso e consequentemente manutenção e preservação da obra, permitem a permanência desta ao
longo dos tempos, algo fortemente discutido pelo atelier, e que acabou por ser bem concebido
e adaptado ao lugar. Os conceitos de efemeridade e reversibilidade - presentes nos painéis pivotantes,
volumes, na escada efémera, ou na própria maneira como são trabalhados os materiais -
estabelecem uma continuidade temporal e permitem atribuir ao projeto uma leitura do edifício
no seu todo, possibilitando uma nova interpretação do simbolismo inerente à preexistência, das
camadas do passado e, simultaneamente, do presente. “Para reforçar a ideia de efemeridade, dentro
de uma estrutura permanente, no edifício do CAV, cria-se um espaço flexível e adaptável, comprometido com
o ritmo de vida contemporâneo, com os recursos da sociedade, com as inovações tecnológicas do futuro próximo.
Entende-se que a flexibilidade não é a antecipação exaustiva de todas as mudanças possíveis. A flexibilidade
é a criação de uma capacidade de ampla margem que permite diferentes e até opostas interpretações e usos.” 100
No entanto, a forçada interrupção das obras em finais do século XII, conduziu a duas fases construtivas
0 15 60m
distintas: uma primeira fase que indica o declínio do estilo Românico Coimbrão, que se reflete no
edifício através da repetição dos temas escultóricos da Sé Velha, visíveis no portal Sul (as três arquivoltas
sem decoração e os capitéis com motivos vegetalistas, entre outros); e uma fase posterior, visível no
portal principal construído numa época mais tardia, onde “Sobre o arco, de finos colunelos, folheados capitéis e
delicadas molduras, levanta-se uma decoração flamífera, parecendo todo o portal arder em chamas que, subindo, vão morrer
na faixa onde antes terminam, ao passo que floridos cordões cercam a composição, como que prenunciando que à chama
final do gótico iria suceder a primavera da renascença” 103
“A medieval igreja de Santiago, que hoje existe, é um edifico da década de 1940, que resulta de uma reconstrução quase
integral e bastante polémica da ruína antes existente, em busca do que se presumia ser a sua matriz românica original,
que permitiu, entre outras coisas, a transladação de uma capela lateral manuelina do lado direito para o lado esquerdo, e
a supressão de uma outra capela lateral situada no lugar da actual.” 104
[101] A carta de demarcação da freguesia de Santa Cruz, menciona a Igreja em 1137. Gonçalves, António Nogueira.1938.
Novas hipóteses acerca da arquitectura românica de Coimbra. Gráfica de Coimbra. p.122.
[102] Ibidem, p.121.
[103] Gonçalves, António Nogueira. 1943. Evocação da obra dos canteiros medievais de Coimbra. pp.43-44.
[104] Atelier do Corvo, Memória descritiva “Semente em boa terra” disponível em: https://www.atelierdocorvo.com/project/
Fig.74- Imagem aérea de localização da Igreja de Santiago. semente-em-boa-terra/
Fig.75- Fotografia da fachada da igreja durante a exposição, 2001.
Fig.76- Fotografia dos volumes expositivos. 123
RELEXÃO CRÍTICA E PROBLEMATIZAÇÃO
- REFERÊNCIAS DE ESTUDO
A INTERVENÇÃO
“A nossa solução ironicamente glosa esta insuspeita amovibilidade do construído, propondo seis novos espaços/
capelas nas naves laterais, criando uma nova igreja de uma nave e três tramos com deambulatório. As peças a
expor pertencem, na sua maioria, a pequenas capelas da Dioceses de Coimbra e, com poucas excepções não possuem
valor artístico significativo, antes relevam um testemunho iconográfico cristão. As salas/capelas propostas têm
a dimensão 3m x 3m e 6m de altura, procurando a escala dos espaços de origem das peças a expor e evitando
a monumentalização das mesmas. Resulta a nossa intervenção numa alteração completa do espaço, sem que no
entanto se perca a sua dimensão protogótica, e isto parece-nos ser o mais interessante.” 105
A proposta do Atelier do Corvo para albergar a exposição “Semente em boa terra” em 2001,
constituí um exemplo único de diálogo entre a ideia de efemeridade, em contraste com a
perenidade, a escala e o sublime de um monumento religioso. Embora a relação dos volumes
não esteja diretamente relacionada com a escala das peças a expor, encontra-se intimamente
ligado à relação que detém com espaço, na procura por exemplo, do enfatizar das colunas que
o desenham e conformam, e da verticalidade e robustez da preexistência. Através da estrutura
regular, revestida com um material leve, as obras ganham uma nova escala e dramatismo,
aproximando-se do conceito de instalação.
Neste exemplo, as categorias diretamente ligadas à linguagem ganham uma expressão singular,
nomeadamente a relação de Contraste Dialético, de Autonomia do Novo e Destaque ou Oposição. A
construção de objetos transitórios, em confronto com a construção patrimonial, cuja robustez
românica se admite como permanente, reforçam a condição mutável do projeto, num gesto
de temporalidade aberta. O contraste vai desde esta ideia, até à materialização, da sólida pedra
presente ao longo do espaço de pé-direito duplo, à madeira, de semelhantes tons quentes que
acolhe e define um espaço mais contido. A escolha do material encontra-se muito relacionada
com as caraterísticas expressivas, tectónicas e estruturais. Apesar da madeira ser um material
leve, as caixas num primeiro momento, indicam a ideia de massa, mas na sua essência são
objetos reversíveis, leves, mutáveis e transitórios, tal como a própria exposição.
[105] Ibidem.
“O património oferece-se, assim, como uma plataforma ideal para a interação das áreas do pensamento e ação
política e cultural com os mais diversos estratos sociais, campos de atividade e domínios disciplinares capazes
de desenhar uma cultura de respeito e paz. [...]a massificação da cultura, como bem de consumo, tem vindo a
assumir nas atividades e economia da sociedade pós-fordista. O turismo é disso a maior expressão, mas também
o seu maior risco.” 106
[106] Rossa, Walter. 2017. Patrimónios de influência portuguesa: modos de olhar. Imprensa da Universidade de Coimbra. p.16
Fig.80- Fotografia do cruzamento da Rua Olímpo Nicolau Fernandes com a Rua da Sofia. 127
A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL
MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
Atualmente, os centros históricos passam por um processo de desocupação, uma vez que
as funções produtivas e as condições de habitabilidade se tornaram obsoletas ou foram
transferidas para outras áreas de expansão, prevalecendo unicamente as funções relacionadas
com o turismo. Este, foi durante muitos anos impulsor de políticas de reabilitação patrimoniais,
ajudando a combater o abandono do edificado, e a suprimir a negligência perante a cultura
histórica e artística. Com uma boa gestão, o mesmo pode ser uma ferramenta que promove
a valorização e conservação do património a longo prazo, uma vez que envolve diversas
dimensões socioculturais e económicas. Não obstante, os efeitos negativos do turismo surgem
logo a partir do momento em que este passa a assumir um caráter de “bem de consumo”,
transformando a cidade contemporânea numa espécie de economia commodity.107 “O turismo
nasceu em volta de bens culturais paisagísticos e arquitetónicos preservados, e hoje, cada vez mais, vai exigindo
a criação de mais cenários, de mais exotismos, provocando quadros artificiais, inclusive.” 108
[107] O termo commodity significa mercadoria de importância mundial, cujo preço é determinado pela oferta e pela
procura internacional, independente de quem as produziu ou da sua origem.
[108] Lemos, Carlos. 2000. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Ed. Brasiliense. p.20
Fig.81- Fotografias da Rua Ferreira Borges tomada pelos serviços de comércio e turismo;
Rua da Sofia em ambiente noturno. 129
A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL
MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
B
A área de intervenção compreende um conjunto de terrenos e antigos edifícios, que outrora
pertenceram ao Mosteiro de Santa Cruz. Uma área determinada por sucessivas camadas
históricas que, hoje, deveria ser um espaço de testemunho da história de Coimbra. No entanto,
fragilizada de descaraterizada, a envolvente do mosteiro tem sido consequência de sucessivos
acrescentos e demolições, acompanhadas por intervenções parciais aparentemente incompletas,
que nunca consolidaram o espaço como um todo. É, portanto, difícil obter uma leitura integral
deste local, construído por fragmentos, ajustes e vazios não consolidados.
0 15 60m
[109] Koolhaas, Rem. 1995. Três textos sobre a cidade : Grandeza, ou, O problema do grande; A cidade genérica; Espaço-lixo [tradução
2014 por Luís Santiago Baptista].1a edição -São Paulo : Gustavo Gili.
Eixo Praça da Républica - Baixa (zona ribeirinha)
Fig.82- Imagem aérea de análise da problemática da envolvente do Mosteiro de Santa Cruz. 131
A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL
MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
No local, podemos observar vários edifícios de função pública, que originalmente pertenciam
ao mosteiro como a Escola Jaime Cortesão, a DRCC, a CMC, os antigos correios e a PSP, que
ainda hoje apresentam uma elevada carga patrimonial e histórica, um programa completamente
desajustado, e que abafam o protagonismo e importância de espaços elementares para a
cidade, como o Jardim e a Fonte da Manga, e o próprio Mosteiro de Santa Cruz. O complexo
monástico foi tomado por divisões administrativas como a CMC e a DRCC, edifícios que se
sobrepõem à carga histórica presente no mosteiro, não permitindo a leitura do que era e da
sua notoriedade. Apesar da intervenção do Arquiteto Fernando Távora ter mudado a relação
do mosteiro com a cidade atual, através do projeto para a Praça 8 de Maio, numa tentativa
de devolver o protagonismo à igreja, o verdadeiro simbolismo inerente ao mosteiro está
corrompido pela sua falta de coerência espacial e programática.
Séc. XII
Séc. XVI
Séc. XIX
Séc. XXI
Fig.85- Fotografia que retrata o ambiente do atual Jardim da Manga. Fig.88- Fachada do Mosteiro de Santa Cruz para o Largo de Sansão, 1841. Desenho de Lopes Júnior.
Fig.86- Fotografia do fim da Rua Olímpo Nicolau Rui Fernandes. Fig.89- Fotografia da atual Praça 8 de Maio.
Fig.87- Esquema síntese da evolução do Mosteiro de Santa Cruz ao longo dos séculos. 135
A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL
MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
Perante toda a problemática, coloca-se então a questão: Como intervir no património, de modo
a estabelecer novas dinâmicas socioculturais catalisadoras de um desenvolvimento sustentável,
que simultaneamente permitam reinterpretar os valores do passado, a sua simbologia, mas
também afirmar a sua contemporaneidade sem comprometer o futuro?
A revitalização da área urbana que envolve o Mosteiro de Santa Cruz, deve ser pensada como
um momento capaz de atribuir novas dinâmicas na cidade, transformando-a de acordo com
as necessidades do século XXI. Deste modo, é importante que os novos programas estejam
adequados ao meio, para que não sejam elementos “segregadores” ou inibidores de participação
de toda a população, correspondendo aos anseios da cidade.
Quando se fala em conservação não se pode referir apenas ao sentido histórico: é necessário
preservar para o futuro, não visando o regresso ao passado, mas sim uma tentativa de progredir.
Para tal, é fulcral ter em consideração as integrantes essenciais para o desenvolvimento
urbano sustentado e sustentável, social, económico e ambiental, que por sua vez visam o
desenvolvimento de comunidades humanas socialmente justas, economicamente viáveis,
ecologicamente corretas e culturalmente diversas, melhorando a qualidade de vida das
populações.
Fig.90- Esquema “What makes a great place? Project for Public Places.”.
Fig.91- Esquema sobre as diferentes dimensões inerentes ao conceito de desenvolvimento sustentável.
137
A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL
MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
“Para proteger o património natural e cultural deve ser enfatizada a necessidade de integrar estratégias de
conservação, gestão e planeamento urbano, tais como os associados à arquitetura contemporânea e à criação
de infraestruturas, e a uma abordagem baseada na paisagem que ajudará a manter a identidade urbana.
Considerando igualmente que o princípio de desenvolvimento sustentável implica a conservação de recursos
existentes, a proteção ativa do património urbano e a sua gestão sustentável como condição imprescindível para
o desenvolvimento.”110
[110] Citação retirada de “Recomendação sobre as Paisagens Urbanas Históricas” UNESCO, Paris 10 de novembro 2011;
Tradução de Flávio Lopes Correia
139
A CRISE DE IDENTIDADE: O ATUAL
MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
[111] Até 2007 a UNESCO promoveu 26 encontros e reniões sobre o tema paisagem cultural, debatendo metodologias,
critérios de classificação, avaliação, gestão e conservação. Nos anos seguintes, são estudados outros conceitos relacionados
com o tema, e em Maio de 2011, após uma Reunião Intergovernamental de Especialistas, foi anunciado o projeto final,
aprovado por 55 países, consolidando o conceito.
[112] UNESCO Propositions concernant l’opportunité d’un instrument normatif sur les paysages urbains historiques. 2011. Tradução de
Vanessa Figueiredo, disponível no artigo “O Património e as paisagens: Novos Conceitos para velhas conceções” 2013.
Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/268306649.pdf
141
143
3- O RETORNO DA CENTRALIDADE - PROPOSTA DE GRUPO
“Para o arquiteto, projetar na cidade contemporânea pressupõe uma leitura do lento e paradoxal processo de
antropização do espaço físico que o envolve, já que as cidades são sempre temporariamente contemporâneas
e a cada tempo (leia-se a cada estrato histórico) corresponde a uma dada contemporaneidade com os seus
próprios conceitos e métodos de estruturação. Nessa leitura, a História é um instrumento, como outros à
nossa disposição, que nos ajuda a determinar o grau de transformação a imprimir sobre os diversos contextos.
Projetar é sempre, neste sentido, transformar.” 113
A proposta de grupo114 tem como objetivo o restabelecer de uma nova centralidade urbana,
através do âmbito cultural e num gesto de continuidade com o simbolismo e memória
coletiva inerente ao lugar. Na procura de refletir uma vida urbana dinâmica e cultural, a
proposta visa unificar edifícios deste âmbito, como os colégios da Rua da Sofia, o Pátio da
Atual
Inquisição (Centro de Artes Visuais) e o núcleo museológico a propor que reúne o espólio
artístico original da instituição115 e agrega edifícios preeexistentes como a Direcção Regional
da Cultura do Centro e o antigo edifício dos Correios, atualmente em desuso. De modo
a integrar a população local, e não só responder a necessidades turísticas, a proposta visa
a adição de novos programas como a reformulação do Mercado Municipal, a proposta de
um novo Centro Cultural (atual edifício da PSP), um Centro Audiovisual e uma Biblioteca.
O Mercado D. Pedro V torna-se um ponto estratégico nesta ideia de coesão urbana, cujas
premissas da estratégia de grupo incluem a sua reformulação, reaproveitando os materiais e
integrando não só a lógica do antigo mercado ao ar livre existente, como melhores condições
de salubridade e qualidade arquitetónica, permitindo simultaneamente uma relação mais ampla
com a cidade e o espaço público. No Mercado, é introduzido um novo programa tendo em
[113] Grande, Nuno Lídio Pinto Rodrigues. 1997. O Verdadeiro Mapa do Universo. Uma leitura diacrónica da cidade portuguesa.
Proposta de Grupo Prova de Capacidade Científica Departamento de Arquitetura da FCTUC, Coimbra. p.19.
[114] Numa fase inicial o grupo integra 4 elementos, Bruno Santos e Laura Paulos (que continuaram o seu percurso em
outros seminários de investigação, realizando o projeto para o Novo Mercado e para a Nova Torre, correspondentemente);
e Gabriela Rebelo, que colaborou posteriormente com a defenição e detalhe da proposta de grupo no complexo monástico.
Construções
intervenção na preexistência
conta o conceito de “indústrias criativas”116 , com novas atividades como workshops, feiras do
livro, feiras de velharias, e outros, sendo que o Mercado do Peixe se mantém sem alterações,
e é apenas reorganizado tendo em conta os espaços atualmente em desuso.
A Torre dos Sinos, demolida em 1935, que marcou durante séculos o perfil da cidade baixa, é
também tema de projeto, onde é tido em conta o retorno desta ideia, de marca urbana singular.
É assim erguida uma nova torre no mesmo local, tornando-se agora uma marca de afirmação
contemporânea num gesto de memória coletiva. Esta, por sua vez, marcará a transição da
Baixa para a encosta de Montarroio, integrando também um programa museológico que
estabelece relações permanentes com a cidade, através da abertura de frestas (na lógica da torre
anterior), dos quais podem ser observados determinados pontos de vista, que complementam
a história da evolução do conjunto do mosteiro e área envolvente até aos dias de hoje. No
volume horizontal encontra-se o Centro Audiovisual, cuja materialidade da fachada se reflete
não só como um gesto de continuidade da ideia de robustez da torre, como também tendo
em conta a finalidade de “tela”, para a projeção de filmes ou atividades multimédia que
envolvam o cidadão, atribuindo um carácter mais dinâmico ao espaço público que antecede
o “Novo Claustro da Manga”.
A proposta desenvolve-se através de uma lógica sustentável, tendo em conta a sua dimensão
social, ambiental e económica, mas também tendo em conta a valorização da escala humana
em detrimento do uso do automóvel. Deste modo, o perfil da Rua da Sofia e da Rua Olimpo
Nicolau Rui Fernandes foi alterado, passando a ter um caráter pedonal, à semelhança da Rua
Ferreira Borges, incentivando o uso de transportes públicos e dando prosseguimento ao projeto
do Metro Mondego117. A ideia surge também na tentativa de coesão urbana, no sentido em
que permite fluxos mais dinâmicos entre outros tecidos urbanos, facilitando a ligação entre
os diferentes aglomerados numa rede comum.
[116] Conceito que tem como base a tentativa de resposta à necessidade de uma nova economia, potencializando atividades
de elevado interesse financeiro e tecnológico, promovendo artes e design, cultura, entre outros; de modo a introduzir
uma nova dinâmica económico-social na cidade. Ferreira, Ana Margarida Antunes. 2014. Cidades criativas uma estratégia
para a regeneração da Baixa de Coimbra. Dissertação de Mestrado da Universidade de Coimbra.
[117] O projeto Metro Mondego tem como objetivo a criação de um metrapolitano ligeiro de superfície, que estabeleça
ligação entre os diversos pontos da cidade, desde a Baixa até ao Hospital da Universidade. Os veículos ferroviários do
tipo tram-train circulariam não só na zona urbana, como também na zona suburbana de Coimbra, até às vilas de Miranda
do Corvo e Lousã.
0 15 45m
147
Após o trabalho de grupo, os alunos que continuaram a sua dissertação no âmbito do Projeto
de Valorização e Revitalização do Mosteiro de Santa Cruz e Área Envolvente, consolidaram os conceitos
estudados, de forma a que os projetos individuais fossem a sinopse e a materialização das
reflexões ao longo do Seminário de Investigação. Neste sentido, e apesar do foco ter sido a
organização e reestruturação do programa de Museografia para o Complexo Monástico, com
a definição de novos conceitos, surgiram novas críticas e reformulações, nomeadamente no
Novo Mercado proposto, tendo sido desenvolvidos mais tarde de forma individual.
Estas alterações devem-se ao facto do primeiro mercado proposto não se integrar totalmente
com as diretrizes formuladas em grupo, nomeadamente com a lógica de reutilização de
materiais e questões de ordem ambiental, e das categorias como Integração Diferenciada,
Contraste Dialético e Acompanhamento Conservativo, aproximando-se mais da Mimese/Repristinação
da continuidade linguística e formal do Pavilhão do Peixe, e não tendo em conta a memória
da antiga Quinta de Santa Cruz. Tendo em conta estes conceitos e o simbolismo do lugar,
algumas das premissas passam por exemplo pela reinterpretação do laranjal onde outrora
Proposta de Grupo
existia, apelando à arquitetura dos sentidos, desde o cheiro das laranjas, os efeitos de sombra,
ao alinhamento perspético que antecipa e direciona para a entrada do novo museu.
O projeto desenvolve-se assim a partir de dois eixos, que ditam a forma e definem os diferentes
espaços: o eixo referido, que estabelece relação com os outros edifícios do novo núcleo cultural,
e um eixo transversal que permite a permeabilidade no sentido Alta/Conchada, através de
uma escadaria preexistente da atual Escola Jaime Cortesão, pertencente outrora ao Mosteiro
de Santa Cruz. Este conceito de devolver a permeabilidade urbana, foi essencial quer no
contexto do mercado, quer na nova leitura do claustro da manga, uma vez que este gesto
de continuidade é essencial para a coesão entre os diferentes tecidos urbanos, permitindo
inclusive uma leitura muito mais enriquecedora do lugar, estabelecer uma nova afluência de
pessoas e consequentemente novas dinâmicas. O projeto desenvolve-se num elo de harmonia
com os espaços de permanência e conexão, adequando-se à escala da paisagem e retomando
a memória, a permeabilidade e a vivência do espaço.
Proposta Individual
Fig.100- Axonometria proposta de grupo vs proposta individual. 153 Fig.101- Fotomontagem atual vs proposta; relação com o Edifício dos Correios e a cidade
O RETORNO DA CENTRALIDADE - O ESPAÇO, A FORMA E O PROGRAMA
Neste, o espaço é contido através de um novo volume vertical, com a mesma cércea que o
Edifício dos Correios, que conforma o espaço, juntamente com as novas peças e o novo
desenho do pavimento, que seguem o alinhamento da peça do Claustro da Manga, guiando
34.00
34.00
as pessoas e interligando os diferentes espaços. O espaço público é pensado tendo em conta o
conceito de indústrias criativas e a versatilidade de programas e atividades, reformulando um
espaço outrora invadido pelo caos, por estacionamentos, passeios invadidos por automóveis,
27.00 caixotes do lixo, entre outros. Os percursos internos relativos ao funcionamento do mercado
27.00
são reformulados, assim como o acesso ao estacionamento subterrâneo, agora ampliado tendo
em conta a área de um dos dois existentes à superfície. Embora a ideia seja o incentivo aos
0 5 15m
transportes públicos, deve-se admitir as novas condicionantes da contemporaneidade, das
quais o automóvel faz parte, portanto, excluir por completo esta vertente seria mais uma
Primeiro Piso - Demolido Primeiro Piso - Construído
condicionante, no ponto de vista de atrair as pessoas, do que uma vantagem. A inclusão de
novas infraestruturas, elevadores, espaços de armazenamento, etc, foi também parte integrante
do projeto.
45.00 Nas novas plataformas que estabelecem continuidade com a Rua Martins de Carvalho, detêm
uma área adjacente ao mercado, onde são introduzidas hortas urbanas relacionadas com o
35.00
32.00 mesmo, sendo que as restantes plataformas, são caraterizadas por espaços multifuncionais
29.50
24.50 onde se podem realizar várias atividades, desde a venda de produtos hortícolas ao ar livre,
até feiras de velharias e outros. O desenho destas culmina numa peça efémera que estabelece
ligação com o “novo Claustro da Manga”118 a Sul, num gesto de continuidade do espaço e
de coextensão do programa: o novo núcleo cultural ganha assim, tal como a antiga Quinta
de Santa Cruz, uma leitura como um todo.
45.00
[118] Quando se fala no conceito de “novo Claustro da Manga”, não se refere ao conceito de claustro em si, uma vez
que a definição deste integra limites definidos e galerias, mas sim à reinterpretação dos conceitos do antigo Claustro da
35.00 Manga, nomeadamente do retorno da geometria, do “corredor” aberto contido pelos novos volumes, etc.
32.00
29.50
24.50
0 5 15m
155
Fig.102- Plantas e perfis esquemáticos de vermelhos e amarelos - Piso Térreo e Primeiro Piso atual Mercado Pedro V vs proposta individual; Perfil Rua Olimpo Nicolau Rui Fernandes e Perfil Transversal, atual vs proposta.
O RETORNO DA CENTRALIDADE - O ESPAÇO, A FORMA E O PROGRAMA
A análise da evolução das proporções do Claustro da Manga ao longo dos séculos, foi o
1973- 974 - Planta irmãos Goullard 1902 - Invasão por escola industrial avelar brotero
primeiro passo para o reinterpretar do “novo claustro”. O Jardim e a Fonte do Claustro
1932 - Construção Edifício dos Correios
da Manga foram obras entregues por Frei Brás de Barros a João de Ruão em 1533, do
qual o desenho original se desconhece. A planta mais antiga é a executada pelos irmãos
Goullard em 1874. Mais tarde, sabe-se que a Escola Industrial de Avelar Brotero instalou as
oficinas no local, já em 1906 Joaquim Martins de Carvalho “criticou o uso que estava a ser dado
ao local pela Escola Industrial de Avelar Brotero, que localizava as suas oficinas sobre canteiros e tanque.”
120
Posteriormente, dá-se a construção do Telegrafo Postal que foi destruído pelo incêndio
de 1926, sendo substituído pelo Edifício dos Correios que conquista parte do jardim. Estes
sucessivos acontecimentos, avanços e recuos, fazem com que atualmente apenas se encontrem
quatro degraus dos sete existentes, assim como uma assimetria dos tanques de água. “Quatro
escadas de pedra, ricamente lavrada, cada qual de sete degraus”. 121
[119] Vetrone, Mariana Lunardi. 2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio cultural
edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de Arquitetura. DARQ-FCTUC. p8.
[120] Parreira, Inês. 2015. “O Vale de Santa Cruz de Coimbra. Análise e Reconstituição.” Dissertação no âmbito do Mestrado
Integrado em Arquitetura, Coimbra: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, p.165.
[121] [Tradução do Espanhol, por Virgílio Correia em 1935]. Ibidem, p.161.
atual Proposta de grupo - construções
Proposta de grupo - demolições
Fig.103- Plantas esquemáticas demolições e construções do Jardim da Manga ao longo das últimas décadas. 157
O RETORNO DA CENTRALIDADE - O ESPAÇO, A FORMA E O PROGRAMA
Não se sabe ao certo as medidas e proporção do antigo Claustro da Manga. Em “La ‘Descripçam
e debuxo do moesteyro de Santa Cruz de Coimbra” menciona-se que “Esta claustra he quadrada &
tem duzentos palmos de comprido & quinze de largo.”122 Destaco a análise feita pelos colegas de
investigação123, cuja premissa era reinterpretar o antigo claustro na sua proporção original,
onde, “Em conversas com o professor Rui Lobo assumiu-se que esta referência deve ser interpretada da seguinte
maneira: o vazio do claustro mais a largura de uma galeria equivale aos 44 metros, isto sem considerar a espessura
da parede do edifício. Estas medidas foram também usadas na dissertação de Fernando Couto onde é feita a
reconstituição do mosteiro no ano de 1834. Assim conclui-se que o claustro tinha 44 metros de comprimento e
que integrava uma galeria de 3,3 metros de largura. Também Maria Lurdes Craveiro confirma esta interpretação
referindo que “cada uma das alas atingia 44 m, integrando uma galeria de 3.3 m de largura. [...] A partir
desta estratégia concluiu-se que a medida seria aproximadamente de 39,5 metros.”124
[122] Medanha, Francisco de. 1958. La Descripçam e debuxo do moesteyro de Santa Cruz de Coimbra, 1541; in Boletim da
Universidade de Coimbra, Vol. XIII, p.417.
[123] Nomeadamente Sofia Eghteda e Rafael Rebimbas.
[124] Eghteda, Sofia. 2021. (Re)pensar o antigo Claustro da Manga. Projeto de Reconstituição e Reabilitação do Mosteiro
de Santa Cruz e área envolvente. Dissertação da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra. p.123.
Fig.104- Francisco e Cesar Goullard, “Planta topographica da Cidade de Coimbra”, 1873-1874 ; Ampliação.
Fig.105- Proposta de grupo - Nova proporção Jardim da Manga. 159
O RETORNO DA CENTRALIDADE - O ESPAÇO, A FORMA E O PROGRAMA
O PROGRAMA
O projeto de museografia para o Mosteiro de Santa Cruz tem como principais premissas
valorizar e tornar mais nobre o espaço de Culto e Cultura, valorizando primeiramente a
monumentalidade construtiva e espacial da preexistência. O percurso pretende enaltecer
o espólio singular, articular os diferentes espaços sagrados e simultaneamente permitir
a integração de novas infraestruturas necessárias. Um dos objetivos, é garantir melhores
condições expositivas e de conservação, assim como a organização dos espaços, estabelecendo
percursos independentes, desde os privados relativos ao funcionamento interno do Museu,
até à separação e privacidade do percurso de prestação ao culto, indispensável para a vivência
e intimidade religiosa dos crentes.
O percurso inicia-se no volume do antigo edifício dos Correios, atualmente em desuso, com
uma escala e monumentalidade ímpar, com uma forte relação urbana, nomeadamente com
o culminar do eixo da Avenida Sá da Brandeira, antecipando a transição para a mudança de
escala presente na baixa. Para além de marcar a entrada do novo museu, detém programas
que complementam o percuso museológico, e acolhe outros programas socioculturais e
espaços polivalentes, como a serviço educativo. No piso supeior encontram-se os serviços
administrativos, e no rés-do-chão, em contacto com a Fonte da Manga, abre-se uma galeria
que permite o retorno da proporção da geometria do antigo claustro, articulada com sala de
exposições temporárias, um arquivo e laboratórios de restauro.
No atual edifício da Direção Regional da Cultura do Centro, é rebaixado um dos pisos, num
gesto de retorno da leitura volumétrica do que seria a antiga ala do mosteiro, dando união
ao conjunto. Na cobertura é introduzida uma biblioteca, à semelhança da que se pensa que
teria existido no antigo mosteiro, que por sua vez consiste num programa catalisador de
desenvolvimento, para o uso do cidadão. Estas questões foram reconsideradas no trabalho
individual, onde se mantém a preexistência na sua integra e se adota uma linguagem mais
leve, tratando os novos volumes como peças de línguagem própria e reversível, respeitando
as características temporais do conjunto.
163
167
“É provável que este valor da história, entendida como memória coletiva, portanto como relação da coletividade
com o lugar e com a ideia deste, nos dê ou nos ajude a perceber o significado de estrutura urbana, da sua
individualidade - da arquitectura na cidade que é a forma desta individualidade” 125
[125] Rossi, Aldo. 2018. A arquitetura da cidade. Lisboa: Edições 70. p.172.
[126] Anteriormente à década de 1960 o conceito de identidade presente na modernidade clássica era caracterizado
como algo permanente e estável. Após um conjunto de movimentos e desenvolvimento de teorias e ideias, surgiu a
produção e divulgação de cartas e convecções que proporcionaram uma rotura deste conceito, passando a ser contestado
e caracterizado pela diferença e transformação
O processo de globalização da cultura relacionada com o Património surgiu por meios teórico-
práticos, que por sua vez promoveram o debate sobre a importância do património cultural
na afirmação da identidade. Surge assim uma vertente contemporânea onde o interesse dos
sujeitos prevalece em detrimento do valor presente nos objetos em si, disputando a objetividade
da conservação da metodologia científica adotada até meados do século XX.
Neste espectro de pensamento, destaco Alois Riegl (1858-1905)127, que apresenta a sua perspetiva
num gesto de rotura com as teorias baseadas na historiografia, e aborda o monumento
segundo os seus valores, e não através de estilos. A definição de monumento relaciona-se com
o contexto e o modo como o fruidor vive o espaço, e pelo significado que este lhe atribui, em
detrimento do valor do monumento em si, e incluindo conceitos de afetividade e de memória
coletiva128. Os critérios de preservação dos monumentos seriam aplicados de acordo com a
antiguidade e o simbolismo emotivo ou social, e não apenas pela sua singularidade histórica
ou artística. Esta abordagem acaba por ser fundamental para uma nova prática no âmbito
da conservação e restauro, uma vez que não cabe ao interveniente hierarquizar ou dividir os
valores atribuídos ao monumento, sendo o valor mais significativo o que dita a intervenção
que o mesmo deve sofrer.
Dentro da mesma lógica mas numa perspetiva mais contemporânea, é fundamental analisar
pensamento de Aldo Rossi (1931-1997)129. Para este, construir não é dar entidade material a
um objeto, construir é recordar a realidade daquela disciplina através da qual se manifestam
todas as realidades: a arquitetura. A memória é reconhecimento. É através da memória coletiva
que se configuram os grupos sociais, alcançando a sua individualidade e a imagem do espaço
[127] Alois Riegl (1858-1905) - Historiador de Arte, escritor, filósofo e professor que ingressou na Escola de História da
Arte de Viena. Em “O Culto Moderno dos Monumentos” de 1903, estabelece princípios para a preservação histórica
com base nos valores dos monumentos: o valor de antiguidade, valor histórico, valor de rememoração intencional, valor
de uso, valor de arte relativo e valor de novidade.
[128] Segundo Aldo Rossi, a “memória coletiva, entendida, portanto, como relação da coletividade com o lugar e com a
ideia deste, nos dê ou nos ajude a perceber o significado da estrutura urbana, da sua individualidade, da arquitetura da
cidade que é a forma desta individualidade, a qual resulta tão ligada ao facto originário, ao princípio no sentido dado
por Cattaneo; que é um acontecimento e é uma forma.” Ibidem, p.172.
[129] Aldo Rossi (1931-1997) - Arquiteto graduado em Milão, conhecido pelas formas simples puristas de influência
clássica. Reflete sobre tecidos urbanos enquanto factos históricos e garante da permanência dos lugares vivenciais do
homem em L’Architettura della Città (a arquitetura da cidade, 1966), um dos textos teóricos mais influentes da segunda
metade do século XX. A sua arquitetura caracteriza-se por elementos formais arquetípicos como o cubo, o cone, o
pórtico, a galeria, as colunas, etc, cujo valor simbólico e plástico, interligado às questões da memória, ultrapassam a
linguagem mais pragmática e “banal”. Lecionou desde os anos 60 em diversas universidades italianas, em 1981 publicou
Un Autobiografia Scientifica (Autobiografia Científica), e em 1990 foi-lhe atribuído o prestigiado Pritzker Prize.
que conformam. No discurso rossiano, a cidade emerge como um locus da memória coletiva,
onde as imagens arquitetónicas são o que a constituem ao longo do tempo, são referências
indispensáveis para a perceção da cidade. Neste sentido, a continuidade da arquitetura resulta
da memória, sendo a partir das permanências que se assegura a continuidade da cidade,
respeitando o passado e conservando a sua imagem. “Esta persistência e permanência é dada pelo
valor construtivo, pela história e pela arte, pelo ser e pela memória.[...] a memória coletiva torna-se a própria
transformação do espaço por obra da coletividade” 130
corpóreas.”131 e que “de certa forma rematava o sentido da intervenção joanina no edifício
crúzio, tanto no âmbito da reforma espiritual como da reforma material do convento”132.
Eis o motivo pela qual a peça foi considerada o centro da proposta de intervenção, por ser
um objeto singular, o reflexo dos principais desígnios da reforma espiritual e ideológica da era
crúzia, aproximando-se do que poderia voltar a ser o mosteiro: um núcleo de desenvolvimento
humanista. Outro exemplo desta ideia de memória, intrinsecamente ligada à arquitetura dos
sentidos, é a Torre dos Sinos, que marcou durante séculos a paisagem citadina e fez parte do
quotidiano e da vivência dos cidadãos, cuja demolição simboliza a perda da identidade do
conjunto monástico. “No séc.XVI, estavam os sinos numa torre na encosta de Montarroio. Repicavam
tão contentes ou dobravam tão doídos que não havia, na cidade, outros que melhor interpretassem a alegria das
festas ou o nojo dos funerais.” 133
[131] Abreu, Susana Matos. 2009. A Fonte do Claustro da Manga, “espelho de perfeycam”: uma leitura iconológica da sua arquitetura.
Revista da Faculdade de Letras - ciências e técnicas do patrimônio.
[132] Lobo, Rui. 2006. Santa Cruz e a Rua da Sofia - Arquitetura e Urbanismo no século XVI. Coimbra: eld|arq, p.52-53
[133] Alarcão, Jorge de. 2008. Coimbra: a montagem do cenário urbano. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, p.8.
Fig.114- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. Claustro da Manga. 175
ARQUITETURA
E MEMÓRIA
Analisando o quadro síntese elaborado, podemos observar a mancha laranja que retrata
as relações de (in)temporalidade. Dentro deste tema, destaco a autora Beatrice Vivio135, que
categoriza as intervenções no património de acordo com a relação de temporalidade entre
a preexistência e o novo. Segundo a autora, “É a musealização que revela um reconhecimento do
valor documental da história, oferecendo ao público a oportunidade de apreciar vivências materiais de produtos,
arquiteturas ou da natureza do território, com distanciamento físico-temporal do passado que é uma garantia
de respeito e uma compreensão mais profunda da sobrevivência material.” 136
Na categoria de Intervenção
Diferenciada, a autora sugere uma intervenção que segue a ideia de reversibilidade, a partir
da diferenciação dos materiais, explorando simultaneamente as formas originais, de modo
a garantir a autenticidade ao conjunto. “Em cada caso, a autonomia está enraizada na identidade do
elemento, obtida através de formas circunscritas e materiais diferentes, que asseguram a ideia de reversibilidade
da intervenção, mas dentro de uma colaboração estrutural bastante sólida, suficiente para dissuadir qualquer
regresso à fase anterior.” 137
[134] Rodrigues, Maria João. 2002. O que é Arquitectura. Quimera Editores, Lda. Lisboa. p.28.
[135] Também analisada na dissertação de Mariana Vetrone
[136] Interpretação retirada do artigo de Beatrice Vivio “Il moderno sull’antico.Lettura dell’intervento contempora-
neo.”(En aggiornamento Trattato di restauro architettonico, vol.IX, Tomo I, UTET, Torino. 2007) p.212. Tradução por
Julia Vedotti.
[137] Ibidem. p.241. Tradução por Julia Vedotti.
[138] PALLASMAA, Juhani. 2018. Essências. Barcelona: Editorial Gustavo Gil. p.54.
[139] Choay, Françoise. 2000. Alegoria do Património [Trad. Teresa Castro]. Lisboa: Edições 70.
Fig.115- Análise do gráfico elaborado por Beatrice Vivio relativo às categorias interpretativas das intervenções atuais
sobre a preexistência histórica.
Fig.116- Esquema da autora com a reinterpreação e reorganização das diferentes categorias. 177
ARQUITETURA
E MEMÓRIA
dos monumentos. Rossi reflete sobre o mesmo tema, onde defende que o monumento é o
exemplo singular de permanência, é um facto urbano dinâmico por ter um papel favorável e
essencial no crescimento da cidade. Retrata a realidade formada pela história e pela memória,
que adquire a sua complexidade consoante a vontade coletiva, sendo que permanência do
monumento, enquanto facto urbano, está vinculada ao seu uso ou função. Na realidade,
continuamos a fruir elementos cuja função de há muito se perdeu; o valor destes factos reside unicamente na
sua forma. A sua forma participa intimamente na forma geral da cidade, é, por assim dizer, uma invariante;
muitas vezes, estes factos estão profundamente ligados aos elementos constitutivos, aos fundamentos da cidade, e
estes reencontram-se nos monumentos” 140
Preservar e atribuir uma nova funcionalidade pode ser responsável pela mudança entre
um processo de decadência, por falta de uso ou uso inadequado, para um processo de
revitalização, não só como monumento singular, mas essencialmente como catalisador de
um desenvolvimento social e de complexidade urbana. Contudo, a preservação deve deter um
uso compatível com a preexistência, respeitando as suas estratificações, simbologia, morfologia,
características e materialidade, de modo garantir a sua funcionalidade e consequentemente a
sua manutenção e preservação.
[140] Rossi, Aldo. 2018. A arquitetura da cidade. Lisboa: Edições 70. p.79.
181
183
“A arquitetura é uma disciplina que permite ao arquiteto trabalhar no tempo e com o tempo [...] diferencialmente
da disciplina de história, a arquitetura trabalha sobre a transição. Durante o curto tempo do projeto, o
arquiteto toma decisões, sobre formas e espaços, e gere todo o valor desse tempo. A temporalidade é a condição
da contemporaneidade.” 141
Estes conceitos já se encontram na génese da proposta para o novo mercado, cuja organização
dos espaços, materialidade e forma, foram pensados consoante a contemporaneidade e a sua
constante necessidade de reformular programas no decorrer do tempo. No entanto, esta ideia
não se encontra apenas inerente à morfologia dos espaços, mas também ao modo como a
arquitetura dialoga com estes. Um bom exemplo disso, é o atual Mercado D.Pedro V, que
apesar da tentativa de dinamização com programas mais participativos, por exemplo novos
serviços de restauração com atividades como música ao vivo, continuam a não obter muita
Fig.119- Esquema da evolução do conjunto monástico ao longo dos séculos. 185 Fig.120- Fotografia da maquete individual.
(RE)SSIGNIFICAR
O LUGAR
aderência por parte dos cidadãos. A arquitetura tem de ser pensada desde as suas relações com
a cidade, com o espaço público, e só depois deve ser aprofundada na escala mais contida, na
relação do espaço com o indivíduo e nas sensações fenomenológicas que este transmite. Deste
modo, a nova proposta para o mercado referida no capítulo anterior, advém primeiro das
relações com a cidade, quer em termos de forma, quer em termos de programa com capacidade
dinamizadora, e de espaços adaptáveis e reversíveis, passíveis de diferentes usos.
O elemento proposto ao redor da Fonte da Manga surge num gesto de acolher o espaço,
numa lógica de retorno à forma e simbologia do antigo claustro, nomeadamente ao seu
ambiente de silêncio e reflexão. A nova forma, transmite esta ideia de continuidade espacial,
estabelecendo uma relação de diálogo com a Fonte da Manga e com os edifícios preexistentes,
prolongando-se num gesto que acompanha os movimentos urbanos, que uniformizam e dão
sentido ao espaço. Este gesto de promover a continuidade espacial através de dispositivos
leves e reversíveis, em confronto com o caráter perene da preexistência, foi um dos temas
fulcrais do projeto, desde a macro à microescala. A preexistência é a matéria de projeto, a
nova intervenção propõe-se como um gesto de clarificação da sua evolução histórica, cultural
e simbólica, onde o ambiente resulta numa simultaneidade de tempos que se justapõem e
desenham um todo único.
Fig.121- Planta cobertura e Perfil pela Rua Olímpo Nicolau Rui Fernandes.
187
(RE)SSIGNIFICAR
O LUGAR
“é como se [o projecto] ilustrasse, provocador, um código de bem intervir: limpar o máximo, clarificar a história
e adequar o uso contemporâneo com estruturas de reversibilidade gentilíssima que possam equipar o existente,
torná-lo útil e resignificá-lo ao nosso olhar diferente, no que mais notável lhe encontramos e, no entanto, sem o
tocar, ferir ou sobrepor, só se aproximando muito castamente, muito poeticamente, muito levemente” 143
O retorno à ideia de claustro, embora de cariz abstrato, adquire significado e escala a partir do
movimento dos corpos que os percorrem, sendo a relação do corpo humano com o espaço um
dos temas de projeto. A proposta assume a permeabilidade urbana que hoje existe, que embora
a afaste do conceito de claustro, acolhe a Fonte da Manga do caos citadino, evidenciando-a
e dando-lhe escala. O pavimento ajardinado é substituído por espelhos de água, num gesto
simbólico de coextensão com as proporções do antigo claustro, e num gesto subsequente da
metáfora da Fonte da Manga, onde a ideia de paraíso terrestre é substituída pela continuidade
figurativa do espírito crúzio. Nestes, o volume é refletido, atribuindo-lhe uma outra dimensão,
conformando os seus limites, e conferindo à Fonte da Manga o destaque e dignidade merecido.
A ideia de reversibilidade presente nas novas peças, em contraste com a estrutura perene,
envolve-se com o ritmo de vida contemporâneo, e é pensada desde os recursos da nova sociedade
de modo a não comprometer as inovações do futuro, mas permitindo simultaneamente a
releitura do passado. É neste sentido que se desenvolve o projeto, no diálogo temporal, formal
e simbólico entre o antigo e o novo, na sua transmissão ao longo dos tempos.
[143] Dias. Manuel Graça. 2003. O código leve. Duas obras de requalificação em Coimbra. In Expresso, “Actual”, 18 de Abril.
p.35.
Em termos formais, a peça da manga apresenta uma leitura assumidamente ambígua: tal como
o projeto se debruça no contraste entre o reversível e o perene da preexistência, a peça apesar
de leve e de semi-transparente, propõe na sua totalidade uma leitura de volume. Este gesto, é
intencionalmente marcado pelo ritmo do ripado, cuja secção remete para as paredes densas
da preexistência, num gesto de continuidade linguística: apesar de formalmente se afastar
desta, estabelece uma relação de diálogo e continuidade em diversas dimensões. Os pontos
onde estas se ligam foram estrategicamente pensados consoante a estrutura da preexistência,
respeitando-a, e assumindo a sua diferença através da materialidade. Metaforicamente, o
material escolhido para este momento de transição foi o aço corten, cujas caraterísticas se
encontram relacionadas com a temporalidade, uma vez que o que o distingue dos outros
materiais é o seu processo de corrosão e mutação ao longo do tempo. Marca assim, a distância
intemporal e a relação dialética entre a preexistência e os novos volumes, a transição entre o
passado e a contemporaneidade.
Nesta mesma ala, foi aberta um dos espaços na qual se fez uma reinterpretação da antiga capela
de S. Vicente ou “Espírito Santo, de 20 palmos de largura e abóbada de madeira, onde figurava na parede
do fundo (a nascente?) o retábulo com o magnifico Pentecostes de Vasco Fernandes” 145
, cuja localização é
incerta, apenas se sabe que estaria algures na ala entre o Claustro do Silêncio e o Claustro da
Portaria. A localização da nova capela tem em conta este gesto pontual, onde se procura apenas
“abrir e fechar vãos”, tendo sido escolhido um espaço cujo trabalho das cantarias indicam
que poderia ter sido um momento singular ou uma capela preexistente.
[144] Vetrone, Mariana Lunardi. 2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio cultural
edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de Arquitetura. DARQ-FCTUC. p17.
[145] Lobo, Rui. 2006. Santa Cruz e a Rua da Sofia: arquitectura e urbanismo no século XVI (Coimbra: Departamento de
Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 2006). p.49.
Fig.124- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. Capela S.Vicente.
191
Fig.125- Fotografia da entrada para a Igreja; acesso ao piso superior do Claustro do Silêncio; capela oclusa.
(RE)SSIGNIFICAR
O LUGAR
Este espaço agora fechado e sem qualquer relação, é reflexo de como a adição dos novos
volumes da autarquia não tiveram em consideração a morfologia do espaço, invadindo o
mesmo e ignorando a sua leitura original.
“O objetivo das exposições, como Franco Albini referiu, é o de permitir ao público a compreensão das obras
expostas, quer sejam antigas ou modernas, a sua pertença à atualidade da nossa vida, à nossa cultura viva.
Desenhar exposições é um processo que reúne em distintos graus, a arquitetura, o design de interiores e
equipamento, assim como outras disciplinas que procuram interpretar o potencial dos espaços [...] ‘Acima de
tudo, o desenho de uma exposição é o diálogo entre os objetos a expor e o espaço no qual irão ser apresentados’
(Dernie 2006,6)” 146
A relação entre as caraterísticas da preexistência e o programa é uma das principais premissas PLANTA COTA 26;
do projeto. A adaptação dos espaços de modo a preservar e respeitar a sua qualidade formal
e estrutural, é essencial para a atribuição de um uso adequado, e de uma arquitetura capaz de
se integrar e de estabelecer uma relação de harmonia com o lugar. Neste sentido, o projeto
divide-se em duas instâncias: uma parte com programa catalisador, que integre os cidadãos e
seja capaz de revitalizar o lugar; e o percurso museológico, onde as peças do acervo artístico
são reunidas, valorizando as caraterísticas da preexistência, e simultaneamente, preservando
e sublinhando a ideia de sublime dos espaços de culto, e o caráter pitoresco do mosteiro.
[146] Pedro, Désirée. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.Coimbra.
p.57 e p.59.
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ATUAL 24.50
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PROPOSTA
DEMOLIDO
CONSTRUÍDO CORTE LONGITUDINAL DRCC
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0 5 15m
Fig.129- Plantas vermelhos e amarelos cota 36 e cota 35; Perfis da preexistência vs proposta.
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA E CONTINUIDADE
lógica de cheios e vazios, sendo alguns encerrados para permitir um maior controlo de luz e
de temperatura dos espaços expositivos. A laje do último piso foi parcialmente demolida, de
modo a permitir a perceção da espacialidade do edifício na sua totalidade, e a estabelecer trocas
visuais entre os diferentes momentos expositivos e os movimentos do museu. Os materiais
desta foram reaproveitados para executar o pavimento da nova peça efémera da Manga, a
nova laje do fim do percurso, dentro de uma lógica sustentável de reutilização dos materiais.
Este novo piso surge em continuidade com o piso dos antigos dormitórios, substituindo a
escadaria provisória existente devolvendo dignidade ao espaço.
Neste ponto exceção, é introduzida uma escada efémera que marca o culminar do percurso,
atribuindo simultaneamente uma nova escala e espacialidade ao átrio da Sala de Epoxições
Temporárias. Desta peça solta, que marca o ponto de interseção dos dois momentos expositivos,
pode observar-se a dinâmica e fluxo de pessoas na entrada e contemplar a obra da Última
Ceia de Hodart numa perspetiva distinta. Na perpetiva do visitante da Sala de Exposições
Temporárias, a dinâmica da peça e este momento singular, surgem como meio de suscitar
interesse para visitar o museu.
Este e outros pontos de articulação entre pisos e diferentes momentos expositivos, foram
pensados consoante a organização e fluidez dos percursos, permitindo a separação dos
mesmos, não só de acordo com a sua função, como também conforme o seu pragmatismo e
o funcionamento interno do museu. Neste sentido, apesar da Sala de Exposições Temporárias
poder ser percorrida no fim do percurso de culto, detém igualmente uma entrada exclusiva, de
modo a garantir a permanência ativa do cidadão no sítio. A entrada individual é assinalada pela
própria torção do volume da DRCC e pela verticalidade da nova escada efémera no interior.
mesmos eixos verticais quando necessário. Reconhecem-se assim, as implicações e exigências Acessos Administração
Fig.130- Axonometria escada efémera. 199 Fig.132- Axonometria esquemática da articlação entre pisos; Acessos principais do percurso expositivo.
Fig.131- Fotomontagem do átrio da Sala de Exposições Temporárias.
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA
E CONTINUIDADE
que a introdução das novas infraestruturas detêm, consequências que as novas necessidades
contemporâneas acarretam. Assume-se a ambiguidade, por exemplo, das “caixas” e elementos
soltos que contêm instalações sanitárias, que transmitem esta ideia de reversibilidade, o que
acaba por ser inexequível na sua essência, devido às instalações de saneamentos e outros. Não
obstante, e tendo em conta este ponto, pretende-se que o projeto adquira uma linguagem
como um todo, por isso trata-se de uma opção de projeto, e do modo como este adquire a
sua linguagem. Em alguns momentos peculiares onde se tem em consideração o conceito de
“mínima intervenção”, nomeadamente no mosteiro, as infraestruturas são pensadas de maneira
a não criar ruído que possa perturbar a leitura da preexistência, que deve sempre prevalecer.
Nos restantes momentos, nomeadamente naqueles onde o conceito de reversibilidade está mais
presente, as infraestruturas encontram-se à vista, por exemplo no edifício da DRCC, onde a
estrutura e as suas consequências são assumidas, desde as asnas à vista, do ritmo das vigas, ao
elevador e escala efémera que se afirmam como elementos independentes.
Para além destas questões, ao longo do percurso foram desenhados diversos espaços de
arrecadação, como resposta às necessidades do próprio sítio após a troca de ideias com os
funcionários do atual percurso expositivo. O trabalho de campo, relacionado com a pesquisa
antropológica do espaço, foi primordial: as conversas com os funcionários da atual Igreja
de Santa Cruz, juntamente com as reflexões das pessoas que participaram nas atividades do
projeto de Reconstituição 3D do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra 1834, e todos os participantes
do Questionário por Inquérito147, foram de tal forma surpreendentes, quanto fundamentais
para a reformulação do programa. Por vezes, esquecemo-nos que nada melhor do que ter
uma narrativa do mosteiro com os olhos de quem vive o lugar sucessivamente, ou de quem
não tem formação na área da arquitetura. Deste diálogo, saliento a necessidade de introduzir
eventos mais didáticos e interativos, que desencadeou à extensão dos programas catalisadores
que irei referir de seguida, até à falta de sinalização, instalações sanitárias e elevadores, ou à
necessidade de reorganização do percurso e do aproveitamento dos nichos e capelas, questões
que não são indiferentes a quem visita o espaço.
201
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA
E CONTINUIDADE
“A introdução da componente memorial entre as características que definem património, configurando ambientes
e identidades próprias, obriga a acrescentar a componente social, geradora de movimentos e relações complexas,
confinadas por um espaço físico com o qual interage.” 148
Deste modo, e tendo em conta as premissas de grupo, estabeleceu-se uma extensão do âmbito
cultural, tendo em conta a introdução de novas dinâmicas socioculturais, que estimulem
a visita ao lugar por parte dos cidadãos, tornando o espaço um momento relevante da
coletividade.
[148] Couceiro, João. 1998. Urbanidade e Património; capítulo: Património. Do Monumento ao Território.
Estes programas assumem uma posição mais relevante no projeto, comparativamente à proposta
de grupo, sendo que o programa de exposições temporárias abraça todo o Claustro da Manga,
inclusive o espaço exterior, de caráter público. Deste modo, os cidadãos são sucessivamente
convidados a participar nas atividades e nas exposições rotativas, suscitando sempre novos
interesses e atribuindo ao novo núcleo museológico um carácter ativo e estimulante.
Fig.136- Axonometria explodida com os diferentes temas de exposição propostos. 205 Fig.137- Fotomontagem peça efémera novo Claustro da Manga.
Fig.138- Fotomontagem relação visual com a Fonte da Manga.
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA
E CONTINUIDADE
A entrada do museu é marcada pela monumentalidade do átrio do edifício dos correios, onde
se encontra a bilheteira. Prosseguindo, a oposição entre a robustez e permanência do edifício
de carácter colossal contrasta com o carácter da peça que envolve a Fonte da Manga, onde
a estereotomia dinâmica permite criar efeitos de luz e sombra e instigar a mesma, mas não
observa-la na sua totalidade.
A verdade construtiva toma conta da leitura do espaço, cujas treliças suportam as peças de
grande carga, que complementam a narrativa do percurso (fig.137). No momento de viragem,
uma janela insurge curiosidade, mostra que há algo dinâmico a acontecer no interior do
edifício. Na galeria adjacente ao antigo edifício da DRCC, relata-se a história do antigo
claustro, onde a meio se abre um rasgo que permite não só observar a Fonte da Manga
noutra perspetiva (fig.138), como também ter perceção de um eixo longitudinal entre este e o
Claustro do Silêncio, que simboliza as diferentes relações espaciais e temporais do mosteiro.
Na interseção do antigo edifício da DRCC, antecede-se por um momento que descreve a
importância do espólio de Santa Cruz, sendo que o contacto com as peças é apenas tido no
piso superior.
No piso em contacto com o Santuário, podemos observar as caixas expositivas que estabelecem
uma continuidade espacial e que enfatizam as caraterísticas do mesmo: primeiro somos
contidos por um espaço compacto, para depois nos libertarmos na grandiosidade e no sublime,
símbolo do auge da expressão artística do mosteiro. Continuando a explorar o espaço, somos
surpreendidos pelo mezanino que nos permite observar o edifício noutra perspetiva, e pelas
“caixas suspensas” que expõem a enorme tela do retábulo da capela-mor, permitindo ler a
mesma na sua totalidade (fig.140).
O acesso ao piso inferior é feito pela escada preexistente, onde o espaço multifuncional é agora
ocupado com as caixas expositivas, podendo contar por exemplo, com o espaço destinado a
narrar a história e as peças dos mártires de Marrocos. A ligação ao piso superior do Claustro
do Silêncio é feita de maneira orgânica por uma nova rampa. Contactando com este espaço,
o utilizador pode agora explora-lo, uma vez que é retirada a marquise pertencente à Câmara
Municipal, que impedia a fluidez do mesmo. Deste modo, podemos obter novamente a sua
leitura total, assim como contactar com momentos de exposição que integram os espaços
preexistentes, atualmente inacessíveis, como a capela da ala Norte e a sala situada abaixo
do Santuário, onde se propõe expôr as tapeçarias e peças de vestuário. O próprio espaço
preexistente orienta o utilizador, dramatizado agora por uma luz zenital que guia em direção
ao coro alto, marcando o início do percurso de culto.
Fig.139- Planta cota 30 e Piso superior do Claustro do Silêncio; Corte longitudinal.
207
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA E CONTINUIDADE
O acesso ao piso inferior do Claustro do Silêncio é feito pela mesma escadaria metálica que
hoje existe, e é neste ponto que se inicia a visita à igreja e capelas, sacristia e sala do capítulo.
No mesmo piso, as capelas são recuperadas e algumas complementadas por novas peças do
espólio, realçando a reinterpretação da Capela de S.Vicente, e a reformulação da Capela do
Tesouro, que atualmente se encontra caótica, com esculturas completamente danificadas
e aglomeradas. No Claustro do Silêncio o módulo efémero proposto pode ser distribuído
permitindo atribuir uma nova dinâmica ao espaço, como a realização de atividades lúdicas
ou exposições (fig.141).
O acesso ao piso superior desta ala, é feito pela escadaria preexistente, que se afirma como
um vazio dentro da parede maciça, dando acesso às celas, onde o tema da relação entre a
escala humana e as peças do espólio foi elementar. Repetindo o gesto de tensão, as pessoas são
confrontadas com a beleza dos retábulos, numa escala eminentemente real, onde o confronto
de escalas permite não só ter uma leitura das obras com maior detalhe, como também
transmitir uma ideia fenomenológica, uma narrativa diferente das técnicas de pintura, das
texturas e das cores. A organicidade do espaço é conseguida pelo modo como os módulos
efémeros que suportam os retábulos se encontram distribuídos, guiando o visitante, e levando-o
até ao momento de mezanino, que detém relação com o átrio da entrada e a escada efémera.
[150] Reinterpretação com base no estudo de Pedro Dias. Pereira, Fernando António Baptista. 2001. Imagens e histórias de
devoção: espaço, tempo e narrativa na pintura portuguesa do Renascimento (1450-1550). Dissertação de Doutoramento em Ciências
da Arte, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. p.425.
Fig.140- Fotomontagem relação espacial interior antigo edifício DRCC. Piso Santuário. 209 Fig.142- Fotomontagem antigo refeitório/Sala da Cidade.
Fig.141- Fotomontagem Claustro do Silêncio e o módulo efémero - exemplo de atividade lúdica de leitura. Fig.143- Fotomontagem caixa “suspensa”; visualização 3D.
O PERCURSO EXPOSITIVO - PERMANÊNCIA
E CONTINUIDADE
O próprio desenho da escada direciona o utilizador até ao culminar do percurso, onde a relação
visual com o triplo pé-direito é ainda mais forte, podendo observar os diferentes momentos
que já percorreu. Neste ponto, destaca-se a lógica de introdução de meios de exposição mais
tecnológicos, num gesto de continuação com o projeto Reconstituição 3D do Mosteiro de Santa
Cruz de Coimbra 1834, onde o utilizador pode visualizar através de dispositivos eletrónicos,
o que seria o mosteiro nos tempos da era crúzia. Estes hotspots são contidos pelas caixas
efémeras, que permitem introduzir um outro ambiente encerrado, acompanhados por texto ou
elementos multimédia, enfatizando a leitura e dramatologia destes momentos, terminando com
a visualização do Claustro da Manga e da Antiga Torre Sineira, na última “caixa expositiva”
(fig.143). O efeito promenade termina na caixa efémera suspensa: a exceção que simboliza o
gesto de continuidade intemporal no seu limite.
Fig.144- Planta cota 35; Corte transversal dormitório e corte longitudinal DRCC
211
“O almejar humano passa pela vontade de permanência, mas esta tem os seus custos. A melancolia de assistir
ao desenvolver de uma ruína torna-se muitas vezes insuportável, a obra efémera deixa-nos evitar essa dor. [...]
é instante e história; é presença e ausência. Como câmbio passado é algo que já não é.” 151
Construir algo efémero é uma das necessidades mais primitivas do Homem, desde a ideia de
abrigo e de tenda ao contexto militar. Posteriormente, a ideia começou a estar relacionada
com as feiras, exposições, cenografia, até à conceção de abrigos de emergência, ou centros
de apoio a saúde e educação. Com os tempos de pandemia dos últimos anos, a arquitetura
efémera ganhou uma outra importância, da qual se tornou uma nova modalidade do tempo
e uma conceção presente, estando inevitavelmente cada vez mais presente nas nossas vidas.
Ainda que tudo esteja sentenciado à ideia de fim, e que a nossa consciência do temporário
e do transitório esteja cada vez mais intensa, devemos olhar para a essência das coisas, para
as sensações e aprendizagem que estas nos podem oferecer, ainda que fisicamente por tempo
limitado.
[151] Ventosa, Margarida. De que falamos quando falamos em Efémero: O Efémero Enquanto Poética Emergente. Lisboa: arqa -
Arquitectura e Arte Contemporâneas: <http://www.revarqa.com/con- tent/1/458/que-falamos-quandofalamos-efemero/>
Fig.145- Estudo da relação entre a escala humana, a caixa e o espaço. CAV - caso de estudo. 213
O EFÉMERO E O PERENE - DIÁLOGOS
ENTRE O CORPO E O ESPAÇO
Apesar da Arquitetura ter sido desde sempre pensada como matéria perene, o progresso
da história, de globalização e de abertura para o futuro, empurrou o presente para este
espectro de transformações e mudanças, que precisámos reconhecer e reinterpretar de modo
a beneficiar do seu potencial. O que distingue a arquitetura efémera de outras arquiteturas, é
a maneira como esta dialoga com o tipo de uso do edifício, a rapidez de construção e a fácil
inserção e extração no lugar, através da reversibilidade e a adaptabilidade, tendo a vantagem
de poder subsistir à evolução da sociedade durante o decurso do tempo. Na reabilitação,
onde as premissas são não danificar ou alterar permanentemente o preexistente, o conceito
de reversibilidade vai para além da forma e ideia temporal, incluíndo a análise dos processos
de montagem e desmontagem.152
Perante o contexto que envolve o Mosteiro de Santa Cruz e a baixa da cidade, surgiu assim a
ideia de criar um elemento que abraçasse o espaço através de uma conceção dinâmica, capaz
de se transformar, numa dança ritmada com flexibilidade, adaptabilidade e reversibilidade.
Um elemento reversível, solto, adequado ao ritmo da vida contemporânea, onde não nos
questionamos acerca do significado que o objeto poderá ter, ou o seu grau de importância,
uma vez que nos deparamos com a sua fragilidade, e com a evidência de que o seu destino,
no limite, resumir-se-á a pó ou noutro objeto e função.
No projeto, este coinceito é tido em consideração desde a macro à micro escala, na procura
por encontrar um conjunto de elementos que permitissem integrar o programa de maneira
versátil e independente, que respeitasse e não comprometesse a preexistência. Na macro
escala surge a Peça do “novo Claustro da Manga”, e os elementos no mercado e envolvente
que estabelecem uma relação de continuidade; na micro escala surge um elemento modular,
reversível e adaptável, capaz não só de organizar o espaço como também de suprimir as
necessidades do percurso expositivo.
[152] Relacionado com o conceito Design for Deconstruction (DfD), que tem vindo a ganhar destaque desde meados do século
XX, nomeadamente com o Open Building movement, estudado por N. J. Habakren. Stewart Brand reflete sobre arquitetura
adaptável, tendo em contra outros conceitos como o design para reciclar, o design para reconstruir e/ou o design para reutilizar.
Fig.146- Axonometria esquemática da articulação entre pisos; Acessos principais do percurso expositivo. 215
O EFÉMERO E O PERENE - DIÁLOGOS
ENTRE O CORPO E O ESPAÇO
A articulação entre estes conceitos e a densidade e o peso dos próprios materiais, a espessura,
dimensão, a cor, constituiu um dos maiores desafios do projeto, mas foram simultaneamente,
estimuladores, porque caraterizaram a individualidade de cada momento expositivo. Apesar
do mesmo princípio construtivo, da mesma medida, da mesma composição, cada módulo
detém a sua singularidade, assim como cada peça do espólio.
[153] “Bernard Tschumi define esta como uma arquitetura que materializa o movimento no espaço e que é claramente
oposta à ordem da arquitectura clássica. Na introdução do livro Architecture and Disjunction, o arquitecto e teórico
Bernhard Tschumi refere que não existe arquitectura sem acção, programa e acontecimento. Para Tschumi, a arquitectura
deve lidar com o movimento e a acção no espaço. Arquitectura sem corpo, sem programa, sem acção ou evento é
somente construção.” fonte Ribeiro, João Mendes. 2008. Arquitetura e Espaço Cénico - Um percurso biográfico. Dissertação de
Doutoramento do Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra. p.266.
[154] Ibidem, p.292. [que por sua vez cita Adolphe Appia no seu livro L’oeuvre d’art vivant, de 1921].
Deste modo, é pensado como um sistema dinâmico, capaz de servir as exigências funcionais
da exposição, que poderia funcionar como parede expositiva, com nichos que integrassem as
peças; poderia converter-se num local de repouso para o visitante ou em vitrines expositivas;
ou em espaços tridimensionais mais contidos, “caixas expositivas”, que permitissem por
exemplo, a projeção de atividades interativas e multimédia, ou atribuir uma narrativa específica
ao momento.
Estas últimas, surgem do estudo das sucessivas relações que o corpo humano detém com
o espaço, onde os elementos adquiriram uma multiplicidade de movimentos, como um
complexo jogo abstrato de relações com o espaço, com o corpo humano, com as peças a
expor, com os jogos de luz entre o interior e o exterior, o aberto e o fechado. Aproximam-se
da ideia de enigma e surpresa, cujas caixas realçam a ideia de tensão e expectativa, entre o que
se imagina, e aquilo que se descobre quando se explora o seu interior. Os temas de luz, cheios
e vazios, de explorar o espaço, encontra-se intimamente ligado às relações fenomenológicas,
e são pensados tendo em conta a narrativa do próprio percurso, consoante os momentos
de tensão, drama, ênfase espacial, ênfase de uma determinada peça, entre outros. Apesar de
todos os momentos expositivos conterem o mesmo módulo - a estrutura, a escala, a regra,
os limites do espaço, a composição, a relação dos cheios e vazios, a articulação interior/
exterior, os efeitos de luz e sombra, as cores, a acústica do espaço, o sensorial, assumem uma
singularidade e individualidade.
Numa primeira abordagem, as caixas expositivas, apesar da sua essência leve, transmitiam a
ideia de rigidez, uma vez que se tratavam de volumes assumidos e densos. Com o desenvolver
do projeto, com os conceitos de reversibilidade e efemeridade, e com a exploração dos temas
referidos anteriormente, começaram a obter uma linguagem mais leve, mais próxima da sua
verdade construtiva e da ideia que pretendem transmitir. A nova linguagem remete para a ideia
de escavação, não a partir da erosão de um material concreto, mas pela extinção de elementos
construtivos e pelo ritmo tridimensional da estrutura. Escavar constitui uma metáfora para
construir, transfigurando um elemento aparentemente sólido - a parede- , num espaço vazio,
aberto.
Fig.150- Multifuncionalidade do módulo proposto. Peças de mobiliário, elemento que organiza o espaço ou caixa expositiva. 219
Desenhos rigorosos disponíveis no capítulo “Anexos”.
EXEMPLO CAIXA A
Caixa A
Caixa B
Fig.151- Exemplo de Caixa Expositiva. Fig.152- Fotomontagens Caixas Expositivas: relação com o Santuário.
0 5m
[Sobre o projeto do Atelier do Corvo para o mosteiro] “A proposta procurou respeitar e desvelar sistemas
construtivos, estruturas formais e funcionais existentes, evitando uma intervenção arbitrária e inconsequente
sobre a preexistência de modo a coexistir e relacionar-se coerentemente com a mesma. [...] intervenções pontuais
onde se demoliram e subsistiram integralmente elementos considerados espúrios e/ou inadequados às condições
necessárias aos novos espaços. [...] ‘A musealização dos espaços religiosos de Santa Cruz impõe uma nova visão
de utilização, não só para manter o património vivo, mas também par garantir a preservação do existente, para
que outras gerações possam usufruir dele’.”155
A intervenção nos edifícios preexistentes deve ter como premissa a salvaguarda das caraterísticas
dos mesmos, passando por intervenções de melhoria térmica e acústica, e à adaptação de novas
infraestruturas inerentes às necessidades da nova sociedade. Perante o exercício de projeto,
a estas questões acrescenta-se os requisitos do programa de museografia, com exigências
peculiares relativas às condições de conservação das peças a expor. No antigo Edifício dos
Correios ou na DRCC, as intervenções passam pelo reforço do isolamento, nomeadamente
na cobertura, e pela substituição dos caixilhos existentes de vidro simples, por caixilharia
com vidro duplo e corte térmico, cuja expressão e linguagem se aproxima da existente, mas
num gesto mais minimalista de modo a não sobrecarregar a leitura da preexistência. No
segundo edifício, é introduzido reboco à base de argamassas com adição de inertes com
cortiça, de maior porosidade e plasticidade que permitem a alvenaria respirar, onde se adiciona
um pigmento natural, muito ténue e translúcido. Este, é constituído à base de óxidos de
ferro, aproximando-se subtilmente do bege-ocre, com o objetivo de estabelecer uma ideia de
continuidade com a atual fachada do volume do refeitório.
[155] Pedro, Pedro, Désirée. 2022. Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área envolvente. Darq Docs, e|d|arq,.
Coimbra. p.55-59; que por sua vez cita Dra.Adília Alarcão e Dra. Maria Cândida Martins Ferreira, em Programa Museológico
para o Mosteiro de Santa Cruz. Documento integrante do Dossier do convite enviado a 30 de junho de 2004. (Coimbra:MC/
IPPAR/ DRC).
Nos pontos intrinsecamente ligados à história do mosteiro, por exemplo, no volume dos
antigos dormitórios e refeitório, prevalece a ideia de reinterpretação dos espaços. Neste
sentido, as infraestruturas são dissimladas de modo a não perturbar a leitura do mesmo,
sendo adicionado um espaço sob o peitoril para desumificadores, cabos e outros equipamentos
Fachada e outros acabamentos
necessários. Na área dos antigos dormitórios é reinterpretada a cobertura abobadada, tendo em
conta a linguagem efémera e de transparência. Numa fase inicial, pretendia-se uma intervenção
muito pontual no espaço do antigo refeitório, no entanto, após as adversidades perante as
sucessivas exposições ao longo do último ano156, surgiu a necessidade de substituir a caixilharia
e de colocar infraestruturas ocultas, de modo a garantir a salubridade do espaço e a capacidade
de albergar diferentes exposições.
Não obstante, o conceito de efemeridade engloba uma propensão para uma vertente técnica
e construtiva distinta, mais minimalista, onde se pretende fazer mais com menos, na procura
de rentabilizar matéria, energia e tempo. Procura estabelecer o equilíbrio entre a visão técnica,
Isolamento, pavimentos, tetos falsos sensível e humanista, tendo em conta a sua expressão e linguagem e o respeito pelos recursos
caixilharias e infraestruturas
disponíveis. Como referido ao longo da dissertação, uma das premissas quando se fala em
intervir na cidade contemporânea, é ter em consideração os conceitos de desenvolvimento
sustentável. No século XIX e XX, o explorar das técnicas construtivas e da materialidade,
encontrava-se muito ligada à relação entre forma e estrutura. Hoje, o enorme espectro de
sistemas construtivos e materiais permite atribuir diferentes temporalidades à obra.
[156] Segundo o Arquiteto João Mendes Ribeiro, que participou na exposição “Luz e Memória” em Agosto de 2022, a
mesma contou com inúmeros obstáculos, nomeadamente a necessidade de inserir deshumificadores de escala industrial
para garantir a concretização da mesma.
Estrutura
Metálica
económicos se sobrepõem aos valores ambientais e sociais, é cada vez mais importante olhar
para o projeto tendo em conta estes conceitos e o equilíbrio entre todas as dinâmicas.
No projeto, as peças efémeras foram sendo pensadas e adaptadas consoante estas noções, desde
a caraterização dos simples módulos, até peça da manga, à escadaria, ou até mesmo às novas
lajes, paredes e elementos secundários. A escolha dos materiais teve em conta os processos de
reutilização, a rapidez de construção e desmontagem, durabilidade e versatilidade destes. Por
exemplo, a estrutura das peças reversíveis, em aço, é desenhada de acordo com as medidas
standard dos perfis metálicos, que carateriza este tipo de construções. Uma vez que os perfis
têm medidas e espessuras preestabelecidas, facilitam a questão da adaptação destes noutras
circunstâncias, assim como nos processos de montagem e desmontagem, que simplificam
o processo na obra e diminuem a necessidade de recursos de água, energia e transportes,
relativamente aos métodos de construção tradicional.
Este tipo de construção com estruturas “secas”, facilita também a logística de manutenção
da obra a longo prazo, tornando-se mais fácil, por exemplo trocar cabos e infraestruturas,
comparando ao processo da construção tradicional que implica mais desperdício, como
demolir paredes e desmanchar camadas de materiais. A lógica de elementos secos e leves, foi
tida não apenas nas peças efémeras, como também no volume que substituí o atual restaurante
e escadaria da Manga, ou nas paredes e elementos urbanos, por exemplo, do Novo Claustro da
Manga, que apesar de aparentemente transmitirem robustez e massa, detêm esta caraterística
leve e reversível. Esta decisão de projeto, surge perante os conceitos e teorias estudados ao
longo da investigação, e num gesto de reflexão face o projeto de grupo, cuja materialidade
detinha um caráter eminentemente perene. Estes espaços, aproximam-se do sistema construtivo
Passivehaus, que permite um elevado desempenho térmico, de modo a garantir as condições e
salubridade dos espaços de hoje e do futuro, devido ao seu caráter reversível.
A madeira, embora detenha características mais débeis, pode ser um material igualmente
reciclado, quer para a produção de outros materiais com maior desempenho, como os
contraplacados, quer na reutilização deste na sua essência. Um exemplo no contexto do
projeto, são as vigas e a riga velha resultantes da desconstrução da última laje do edifício da
DRCC, que foram reaproveitadas em parte do novo volume que substituí a área do atual
Restaurante da Manga, e que repete o ritmo das vigas do mesmo, ou o desmanche do soalho
reaproveitado no novo pavimento da Peça da Manga.
Fig.156- Axonometrias construtivas da proposta. Ver axonometria disponível no capítulo “Anexos”. 229
A EXPRESSÃO CONSTRUTIVA
DO EFÉMERO
Esta escolha, vai para além das questões ambientais, constituindo uma metáfora de continuidade
entre o antigo e o novo. A madeira é um material proveniente da natureza, inofensivo para
a saúde e para o ambiente (se o seu processo de corte e tratamento for bem administrado),
possuindo inúmeras vantagens relativamente ao seu desempenho físico-mecânico, que
lhe permitem atribuir uma caraterística versátil. A adaptabilidade do material no projeto
engloba diversos usos e formas, e vai desde a escala urbana, onde este enfatiza a linguagem
tridimensional através do invólucro das peças efémeras, à escala mais contida e eminentemente
estrutural, que contém os módulos e as peças de mobiliário. O uso bidimensional deste, por
exemplo como estereotomia, reflete-se numa ideia tridimensional de conceção do espaço,
no sentido que lhe atribuí ritmo e dimensão, assim como uma particularidade sensorial que
estimula os sentidos.
No módulo expositivo, é estruturalmente composto por fasquias de madeira, travadas entre si.
A escolha de material deve-se não só ao seu caráter universal, ligeiro e versátil, como também
às questões de natureza tátil e simbólica que o mesmo atribui. As suas caraterísticas contrastam
com a perenidade e robustez da preexistência, afastando-se desta. Quando organizado como
“caixa expositiva” o lado tátil e a temperatura do material atribuem uma outra dimensão ao
espaço, tornando-o mais acolhedor. Os mecanismos de abertura e fecho das caixas, reside
na própria construção, de modo a estimular as pessoas a explorar os espaços, e a abertura
dos nichos é feita através de eixos horizontais e verticais dissimulados entre as juntas dos
contraplacados, incentivando ao uso do tato, ao explorar da sensação do material. Os
módulos foram pensados tendo em conta a sua versatibilidade, podendo contar com baterias
independentes, sistemas de som e outros dispositivos, que permitem introduzir um caráter
dramático e outras narrativas ao percurso expositivo. A flexibilização do módulo permite este
ser agrupado em diversas formas e direções, podendo inclusive expandir-se na vertical, como
no caso do antigo refeitório, sendo feito um reforço estrutural no encontro dos mesmos. O
transporte destes é facilitado pela possibilidade de encaixe uns sobre os outros, ou pelo total
desmanche das peças que o constituem, dada a simplicidade do sistema de fixação e construção.
Reforça-se, que não se quer aqui falar de arquitetura sustentável, ou da escolha de uns materiais
em detrimento de outros, até porque há outras dimensões e especificidades, como a logística de
obra, que são de certo modo incontroláveis; mas sim de uma consciência perante a arquitetura
que tem em conta as dinâmicas de desenvolvimento sustentável, essencial quando falamos
em intervir na cidade contemporânea. O exercício de projeto tem de ser visto como um ato
crítico, ponderado e o mais equilibrado possível, quer pelo respeito pelo preexistente, quer pela
introdução de novas arquiteturas, que devem estabelecer uma relação de diálogo harmoniosa
com as dinâmicas sociais, económicas e ambientais do presente e do futuro. É a admiração
pelos vestígios do passado, que devem legitimar as ações que delineamos sobre o património,
cujas heranças que se acumulam só farão sentido se, nós os herdeiros, e, particularmente os
arquitetos, detivermos meios de sensibilização para a sua salvaguarda e preservação da sua
identidade.
O conceito de efémero surgiu na procura por explorar a maneira como o espaço sensorial
comunica e se interliga com a perceção emotiva do utilizador, tendo em conta a adaptabilidade
funcional, a linguagem e as caraterísticas materiais, que permitam o seu reuso e reversibilidade.
Estes, suportados por uma verdade construtiva metódica e racional, devem ser pensados
segundo uma eficácia económica e ambiental, tendo em conta o respeito pelo passado, a sua
adaptação no presente, e, a continuidade destas duas instâncias no futuro. O projeto reside da
harmonização destas múltiplas dimensões, através da sua expressão formal, artística e simbólica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dissertação tornou-se uma ferramenta que permitiu adquirir um olhar mais abrangente
perante a preexistência, dando origem a uma narrativa para além dos valores tangíveis e da
sua matéria. Desde o conhecer as estratificações da obra, a importância desta na identidade
da sociedade, as sucessivas relações que a arquitetura pode estabelecer com a cidade e com os
cidadãos; o diálogo entre a preexistência e o contemporâneo, e a sua capacidade de (re)ssignificar
o lugar; até às relações de fenomenologia dos espaços e a importância dos movimentos do
corpo neste. Estes temas constituíram o alicerce da investigação, ultrapassando as questões de
linguagem, forma e matéria. O projeto de arquitetura surge da leitura do todo, estabelecendo
sucessivos diálogos e abordagens distintas, não subsistindo apenas de uma forma ou solução.
Neste sentido, foi fundamental a análise da contínua transformação dos espaços nos
diferentes períodos e estratificações da cidade, cujo reconhecimento permitiu que a proposta
se desenvolvesse numa reinterpretação dos mesmos, consoante uma linguagem eminentemente
contemporânea. Os conceitos inerentes ao valor do património, promoveram a pesquisa à
volta do conhecimento teórico-prático sobre as teorias de restauro e os modos de intervir na
preexistência, que possibilitaram, juntamente com a ferramenta de desenho, um conjunto
de pensamentos que se refletiram no projeto. Esta vertente mais analítica, permitiu estudar
questões de dialética entre o antigo e o novo, desde a sua linguagem e expressão, até às suas
instâncias de carácter mais abstrato, relacionados com o movimento do corpo no espaço e
com a componente memorial e afetiva do utilizador. O contemporâneo surge como reflexo
da preexistência, num gesto de reinterpretação do que foi, admitindo simultaneamente, uma
nova narrativa, quer no presente, quer na sua continuidade com o futuro.
Os edifícios antigos detêm a capacidade de serem flexíveis, onde os limites impostos pelas
caraterísticas espaciais da preexistência, surgem como uma oportunidade de revitalização dos
mesmos, cabendo à arquitetura transparecer as suas qualidades. Ao salvaguardar o património,
estamos simultaneamente a reutilizar matéria preexistente, numa atitude que dá uma nova
vida aos centros de indentidade. Na contemporaneidade este pensamento revela-se pertinente,
como possibilidade de regenerar espaços catalizadores de novas dinâmicas de desenvolvimento
sustentável. A adaptação do programa de museografia no contexto do Mosteiro de Santa Cruz,
envolveu interpretar as sucessivas relações espaciais do mesmo, das quais o caos das diferentes
cotas, assimetrias, incoerências e diferentes lógicas construtivas fazem parte. A resposta implicou
pensar no projeto como um todo, assumindo os seus desequilíbrios, colmatando-os através
da arquitetura, do programa e da envolvência com os cidadãos.
237
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Estes elementos soltos, ajustados ao ritmo da vida contemporânea, refletem-se desde a macro
à microescala. A estrutura efémera proposta em redor da Fonte da Manga permite manter
a permeabilidade urbana atual e, simultaneamente, criar uma narrativa do antigo claustro,
devolvendo-lhe o seu ambiente de silêncio e reflexão. Este integra o percurso de museologia,
estabelecendo uma ligação entre os dois edifícios preexistentes, cuja premissa passa pela
valorização da vertente monumental e construtiva dos mesmos. As alterações nestes passam
por traduzir a sua verdade construtiva, com destaque no edifício da DRCC, onde os elementos
estruturais permanecem à vista, e parte da laje do último piso é demolida, de maneira a
239
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Numa escala mais contida, e tendo em conta o valor patrimonial da preexistência, era
fundamental encontrar um elemento que permitisse integrar o programa de maneira versátil e
independente, que respeitasse e não comprometesse a mesma. O percurso expositivo é pensado
a partir de um elemento modular, como um sistema dinâmico capaz de servir as exigências
funcionais da exposição, pensado não só como elemento individual, como também, consoante
as sucessivas relações que o corpo detém com este. A forma deriva da sua capacidade de se
articular com outros módulos, de se inscrever e gerar espaço, e de estabelecer um diálogo
entre a escala do corpo humano e as peças do espólio, cujo desenho traduz essa interação.
Objeto efémero foi pensado de maneira a articular diferentes espaços e gerar novas dinâmicas
de exposição, distintas das consideradas convencionais, através da arquitetura dos sentidos.
A luz, a relação com as peças, a dinâmica expositiva, materialidade, expressão e linguagem, são
elementos fundamentais, quer no desenho das arquiteturas expositivas, quer no diálogo destas
com a preexistência, sendo que os claustros, nichos e capelas serão considerados, também,
partes destes momentos. Esta sucessiva relação desenvolve-se sempre num elo de ligação entre
os modos de intervir e a história e simbolismo do lugar, numa reconciliação com o passado,
onde as preexistências passam a ser objeto central do projeto contemporâneo, e onde os
conceitos de reversibilidade e identidade surgem como gesto de respeito pela pré-existência e pela
sua permanente relação intemporal, respeitando as marcas do seu presente histórico e da sua
delegação ao futuro.
241
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A dissertação permitiu olhar para o ato de projetar numa perspetiva distinta, quer pelo
contato com o exercício de reabilitação e com o património, pelo aprofundar do contexto
histórico, da vertente analítica, até ao contacto com o espaço e com as pessoas, nunca antes
tão aprofundado no meu percurso académico. Neste sentido, apesar de todos os contratempos,
o projeto apresentado é o reflexo de um desenvolvimento de espírito crítico e resiliência,
que culminaram em novas aprendizagens e ferramentas, que serão essenciais para a vida
profissional.
243
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pdf?fbclid=IwAR2rzJyn6nxzMp0KeAHm4mAAIVFTW8OiON5ji8zIa1NWL6mpyIbNBg_Axa0. Fig.4- Fotografia Claustro do Silêncio. Fotografia da autora, 2020.
Fig.13- Fotografia do livro “Projetos para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e área
envolvente”. Fotografia da autora, 16 de Abril de 2022.
255
REFERÊNCIA DE IMAGENS REFERÊNCIADE IMAGENS
Fig.15- Vista da Quinta de Santa Cruz, George Vivian 1839. Imagem de pintura a óleo fornecida
pelo Professor Rui Lobo (Proveniente da coleção de Alexandre Ramires). Fig.23- “Passado ao Espelho”, Fotografia de Alexandre Ramires. Imagem fornecida pelo
Professor Rui Lobo (Proveniente da coleção de Alexandre Ramires).
Fig.16- Cronologia resumo da Evolução Histórica, Morfológica e Construtiva do Mosteiro
de Santa Cruz ao longo dos tempos. Esquema elaborado pela autora. Fig.24- Planta de análise das demolições e construções da passagem do Românico para o
Manuelino. Desenho da Autora; realizado tendo em conta referências da dissertação de
Fig.17- Reinterpretação da planta da cidade de Coimbra na Época Medieval. Imagem da mestrado de: Eghteda, Sofia. 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga; Projeto de
autora. Recriação a partir de Rossa, Walter. 2001 «Diversidade: urbanografia do espaço de reconstituição e reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Faculdade
Coimbra até ao estabelecimento definitivo da Universidade». Dissertação de Doutoramento de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
em Arquitectura (especialidade de Teoria e História da Arquitectura), Coimbra: Faculdade
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra; realizado tendo em conta referências da Fig.25- Esquisso do Claustro do Silêncio; Esquisso da autora, 2020.
dissertação de mestrado de: Eghteda, Sofia. 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga;
Projeto de reconstituição e reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Fig.26- Planta de Reconstituição do Mosteiro de Santa Cruz durante a Reforma Manuelina;
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Desenho da Autora.
Fig.18- “Illustris Ciutatis Conimbria in Lusitania ad flumen ilundam effigies” Gravura de Fig.27- Planta de análise das construções e demolições da passagem do Manuelino para o
Georg Hoefnagel 1566/1567. Colorida por Braun, de 1566 ou 1567 e publicada em 1598 Joanino. Desenho da Autora; realizado tendo em conta referências da dissertação de mestrado
na obra “Civitatis Orbis Tarrarum”. Retirada de: Ribeiro, Maria, e Arnaldo Melo. 2012. de: Eghteda, Sofia. 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga; Projeto de reconstituição
Evolução da paisagem urbana: sociedade e economia. Braga: CITCEM – Centro de Investigação e reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Faculdade de Ciências
Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória», pag.142 e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Fig.19- Ampliação da imagem anterior; Detalhe do Mosteiro de Santa Cruz; Retirada de: Fig.28- Planta de Reconstituição do Mosteiro de Santa Cruz na Reforma Joanina. Desenho da
Ribeiro, Maria, e Arnaldo Melo. 2012. Evolução da paisagem urbana: sociedade e economia. Autora; realizado tendo em conta referências da dissertação de mestrado de: Eghteda, Sofia.
Braga: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória», 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga; Projeto de reconstituição e reabilitação do
pag.142 Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra.
Fig.20- Planta de reconstituição do Mosteiro de Santa Cruz no Românico (baseada na
reinterpretação de João de Alarcão); Desenho da autora a partir de: Rossa, Walter. 2001 Fig.29- Reconstituição do dormitório no contrato de 1528 e após o contrato de 1530, por
“Diversidade: urbanografia do espaço de Coimbra até ao estabelecimento definitivo da Rui Lobo. Retirado de: Couto, Fernando Daniel Teixeira. 2014. “Mosteiro de Santa Cruz de
Universidade”. Dissertação de Doutoramento em Arquitectura (especialidade de Teoria e Coimbra. Análise e Reconstituição.”, p.92. Universidade de Coimbra.
História da Arquitectura), Coimbra: Faculdade Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra; e Alarcão, Jorge de. 2013. A Judiaria Velha de Coimbra e as Torres Sineiras de Santa Fig.30- Planta dos irmãos Goullard do Mosteiro de Santa Cruz, 1873-1874; Geometria fonte
Cruz. Coimbra: Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto. da Manga. Imagem de planta retirada de: Couto, Fernando Daniel Teixeira. 2014. Mosteiro
Fig.21- Corte e Axonometria de Jorge de Alarcão. Retirada de: Alarcão, Jorge de. 2013. A de Santa Cruz de Coimbra. Análise e Reconstituição, p.112. Universidade de Coimbra; e
Judiaria Velha de Coimbra e as Torres Sineiras de Santa Cruz. Coimbra: Centro de Estudos imagem da geometria da fonte retirada do livro: O mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, p.37,
Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto; P.25 e p.27. Maria de Lurdes Craveiro.
Fig.22- Axonometria da reconstituição do conjunto monástico. Imagem retirada da dissertação Fig.31- Geometria atual da Fonte da Manga. Ibidem.
de mestrado de: Eghteda, Sofia. 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga; Projeto de
reconstituição e reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Faculdade Fig.32- Reinterpretação da geometria - proposta de grupo. Imagem da autora, 2020.
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. p.28.
257
REFERÊNCIA DE IMAGENS REFERÊNCIADE IMAGENS
Fig.33- Esquema síntese das dependências monásticas em 1834; Elaborado pela autora. Fig.45- Esquema e demolições: comparação entre a extinção das ordens religiosas e a atualidade;
Referências base da tese de: Couto, Fernando Daniel Teixeira. 2014. Mosteiro de Santa Cruz planta piso térreo e planta cobertura. Desenho da autora.
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Fig.46- Planta de reconstituição de Coimbra, c.1845 e Planta de reconstituição de Coimbra,
Fig.34- Fotografia dos antigos dormitórios. Retirada de: SIPA, Sistema de Informação para o c.1895. Plantas elaboradas tendo como base os desenhos de Calmeiro, Margarida Relvão.
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Fig.39- Fotografia do Santuário. Fotografia da autora, 2022. Fig.50- Planta de reconstituição de Coimbra, c.1934. Plantas elaboradas tendo como base os
desenhos de Calmeiro, Margarida Relvão. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Coimbra 1834
Fig.40- Fotografia do órgão barroco. Fotografia da autora, 2022. -1934 vol.II. Dissertação de doutoramento em Arquitetura, Faculdade de Ciências e Tecnologia
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final séc.XVIII. Imagem retirada de: Calmeiro, Margarida. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Fig.51- Avenida Sá da Bandeira, c.195-. Retirada de: Parreira, Inês Catarina Arromba da Silva.
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[Coleção de Plantas (Coimbra: AHMC)]. Imagem retirada de: Calmeiro, Margarida. 2014. siècle,_1854-1868,_tome_2.djvu/332
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Fig.61- Esquisso Jardim da Manga. Desenho da autora. 66.8- Casa Robalo Cordeiro- JMR. Retirado de: https://www.archdaily.com.br/br/784990/
casa-robalo-cordeiro-joao-mendes-ribeiro/5703d2fbe58ece364900010c-casa-robalo-cordeiro-
Fig.62- Esquissos de reinterpretação das categorias no contexto do Mosteiro de Santa Cruz. joao-mendes-ribeiro-photo?ad_medium=widget&ad_name=navigation-next&next_project=yes.
Desenho da autora.
66.9- The Quiet Shore; Kunsthaus Bregenz- David Claerbout. Retirado de: https://www.
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relações de dialética entre o antigo e o novo. Desenho da autora. 66.12- Extension of the Canovian gipsothèque- Carlo Scarpa. Retirada de: https://www.
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Fig.65- Fotografias das sensações presentes ao longo do Mosteiro. Desenho da autora.
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261
REFERÊNCIA DE IMAGENS REFERÊNCIADE IMAGENS
Fig.68- Plantas do edifício da Inquisição, piso térreo e superior. (Livro das Plantas da Inquisição, Fig.81- Fotografias da Rua Ferreira Borges tomada pelos serviços de comércio e turismo; Rua
Declaração das Traças da Inquisição de Coimbra.) Retirado de: Vetrone, Mariana Lunardi. da Sofia em ambiente noturno. Fotografia da autora, 2020.
2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio
cultural edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de Fig.82- Imagem aérea de análise da problemática da envolvente do Mosteiro de Santa Cruz.
Arquitetura. DARQ-FCTUC. Imagem satélite capturada através de Google Earth Pro. Editada pela autora.
Fig.69- Fotografia da galeria exterior. Fotografia da autora, 2021. Fig.83- Fotografia da relação do Mercado Municipal D. Pedro V com a envolvente. Fotografia
da autora, 2020.
Fig.70- Fotografia do interior; relação entre os pilares de ferro, o arco em pedra e as paredes
movíveis. Fotografia da autora, 2022. Fig.84- Fotografia da relação do Mercado com o Edifício dos Correios – galeria. Fotografia
da autora, 2020.
Fig.71- Axonometria explodida do projeto de intervenção. Retirada de: https://divisare.com/
projects/302249-joao-mendes-ribeiro-fernando-guerra-fg-sg-luis-ferreira-alves-centre-for-visual- Fig.85- Fotografia que retrata o ambiente do atual Jardim da Manga. Fotografia da autora, 2020.
arts-cav.
Fig.86- Fotografia do fim da Rua Olímpo Nicolau Rui Fernandes. Fotografia da autora, 2021.
Fig.72- Fotografia da escada efémera. Fotografia da autora, 2021.
Fig.87- Esquema síntese da evolução do Mosteiro de Santa Cruz ao longo dos séculos. Desenho
Fig.73- Fotografia do interior; piso superior. Fotografia da autora, 2021. da autora.
Fig.74- Imagem aérea de localização da Igreja de Santiago. Imagem satélite capturada através Fig.88- Fachada do Mosteiro de Santa Cruz para o Largo de Sansão, 1841. Desenho de Lopes
de Google Earth Pro. Editada pela autora. Júnior. Retirada de: https://santacruz.ces.uc.pt/iconografia/
Fig.75- Fotografia da fachada da igreja durante a exposição, 2001. Disponível em: https:// Fig.89- Fotografia da atual Praça 8 de Maio. Fotografia da autora, 2021.
www.atelierdocorvo.com/project/semente-em-boa-terra/.
Fig.90 - Esquema “What makes a great place? Project for Public Places.” Retirada de: http://
Fig.76- Fotografia dos volumes expositivos. Disponível em: https://www.atelierdocorvo.com/ website-files.com/581110f944272e4a11871c01/5acfa7910b1c9faf752f2229_greatplace-?fbclid=
project/semente-em-boa-terra/. IwAR27R2gw6t2cRZsyxlDQRUEdCB5TFG3sKUMMgkkMBgis0BAh4zC1e-ruM8Y
Fig.77- Fotografia da exposição; relação com o altar mor. Disponível em: https://www. Fig.91- Esquema sobre as diferentes dimensões inerentes ao conceito de desenvolvimento
atelierdocorvo.com/project/semente-em-boa-terra/. sustentável. Desenho da autora.
Fig.78- Fotografia da exposição, relação com as colunas preexistentes. Disponível em: https:// Fig-92- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em 1834. Retirada
www.atelierdocorvo.com/project/semente-em-boa-terra/. de: https://santacruz.ces.uc.pt/reconstituicoes/
Fig.79- Planta, Corte e Axonometrias explicativas do projeto. Disponível em: https://www. Fig.93- Esquisso da autora, 2020.
atelierdocorvo.com/project/semente-em-boa-terra/.
Fig.94- Axonometria demolições e construções, proposta de grupo. Desenho da autora.
Fig.80- Fotografia do cruzamento da Rua Olímpo Nicolau Fernandes com a Rua da Sofia.
Fotografia da autora, 2020. Fig.95- Fotografia da maquete de grupo. Fotografia da autora, 2021.
263
REFERÊNCIA DE IMAGENS REFERÊNCIADE IMAGENS
Fig.96- Painel Final de Proposta de Grupo - Seminário de Investigação. Painel de grupo Fig.110- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. Retirada
apresentação Janeiro 2021. de: https://santacruz.ces.uc.pt/reconstituicoes/.
Fig.97- Fotografia da maquete de grupo. Fotografia da autora, 2021. Fig.111- Fotomontagem proposta indidivual. Fotomontagem da autora.
Fig.98- Fotografia maquete de grupo, Jardim da Manga. Fotografia da autora, 2021. Fig.112- Esquissos do antigo Claustro da Manga vs proposta; Fonte da Manga. Desenho da
autora.
Fig.99- Esquissos vivência e caracterização dos espaços antes vs agora. Desenhos da autora.
Fig.113- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. Retirada
Fig.100- Axonometria proposta de grupo vs proposta individual. Desenho da autora. de: https://santacruz.ces.uc.pt/reconstituicoes/.
Fig.101- Fotomontagem atual vs proposta; relação com o Edifício dos Correios e a cidade. Fig.114- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. Claustro
Fotomontagem da autora. da Manga. Imagem retirada de: https://santacruz.ces.uc.pt/reconstituicoes/.
Fig.102- Plantas e perfis esquemáticos de vermelhos e amarelos - Piso Térreo e Primeiro Piso Fig.115- Análise do gráfico elaborado por Beatrice Vivio relativo às categorias interpretativas
atual Mercado Pedro V vs proposta individual; Perfil Rua Olimpo Nicolau Rui Fernandes e das intervenções atuais sobre a preexistência histórica. Retirado de: Vetrone, Mariana Lunardi.
Perfil Transversal, atual vs proposta. Desenhos da autora. 2018.“Diálogos com a preexistência: leitura crítica de projetos de intervenção no patrimônio
cultural edificado de Coimbra nas últimas décadas”. Dissertação de Mestrado Integrado de
Fig.103- Plantas esquemáticas demolições e construções do Jardim da Manga ao longo das Arquitetura. DARQ-FCTUC.
últimas décadas. Desenhos da autora, realizado tendo em conta referências da dissertação
de mestrado de: Eghteda, Sofia. 2021. “(Re)pensar o antigo Claustro da Manga; Projeto de Fig.116- Esquema da autora com a reinterpreação e reorganização das diferentes categorias.
reconstituição e reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e área envolvente, Coimbra Faculdade Desenho da autora.
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Fig.117- Fotomontagens da proposta individual numa primeira fase. Desenho da autora.
Fig. 104- Francisco e Cesar Goullard, “Planta topographica da Cidade de Coimbra”, 1873-1874
; Ampliação. Imagem retirada de: Calmeiro, Margarida. 2014. Urbanismo antes dos Planos: Fig.118- Fotomontagem proposta individual - relação com a cidade. Desenho da autora.
Coimbra 1834-1934 Vol.I. Universidade de Coimbra.
Fig.119- Esquema da evolução do conjunto monástico ao longo dos séculos. Desenho da autora.
Fig.105- Proposta de grupo - Nova proporção Jardim da Manga. Desenho da autora.
Fig.120- Fotografia da maquete indivivual. Fotografia de Rita Sousa.
Fig.106- Axonometria Proposta de grupo. Elaborada pela colega de grupo Gabriela Rebelo,
com edição da autora. Fig.121- Planta cobertura e Perfil pela Rua Olímpo Nicolau Rui Fernandes. Desenhos da autora.
Fig.107- Painel distribuição do programa e organização do Percurso Museológico - Proposta Fig.122- Fotografia ampliada maquete individual, esc.1:500. Fotografia da autora. Dezembro
de grupo. Elaborada pela autora – painel individual entrega Atelier de Projeto I, Janeiro 2021. 2022.
Fig.108- Fotografia da Maquete individual. Fotografia de Rita Sousa. Exposição março 2022. Fig.123- Fotografia maquete individual, morfologia do “novo Claustro da Manga”, esc.1:100.
Fotografia da autora. Dezembro 2022.
Fig.109 -Fonte da Manga, 1865. B. Lima, Arquivo Pittoresco. Retirada de https://santacruz.
ces.uc.pt/iconografia/. Fig.124- Reconstituição Digital 3D do Mosteiro Santa Cruz de Coimbra em 1834. Capela
S.Vicente. Retirada de: https://santacruz.ces.uc.pt/reconstituicoes/.
265
REFERÊNCIA DE IMAGENS REFERÊNCIADE IMAGENS
Fig.140- Fotomontagem relação espacial interior antigo edifício DRCC. Piso Santuário. Imagem
Fig.125- Fotografia da entrada para a Igreja; acesso ao piso superior do Claustro do Silêncio; da autora.
capela oclusa. Fotografia da autora. 20 de Março 2022.
Fig.141- Fotomontagem Claustro do Silêncio e o módulo efémero - exemplo de atividade
lúdica de leitura. Imagem da autora.
Fig.126- Análise do ritmo das antigas celas/dormitórios. Retirada de: Rebimbas, Rafael. 2021.
Ressignificar o lugar; Projeto de Reconstrução e Reabilitação do Mosteiro de Santa Cruz e Fig.142- Fotomontagem antigo refeitório/Sala da Cidade. Imagem da autora.
área envolvente. Dissertação no âmbito de Mestrado Integrado em Arquitetura, Coimbra:
Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra. Fig.143- Fotomontagem caixa “suspensa”; visualização 3D.Imagem da autora.
Fig.127- Desenhos esquemáticos do Atual vs Proposta. Representação do ritmo das antigas Fig.144- Planta cota 35; Corte transversal dormitório e corte longitudinal DRCC. Desenhos
celas. Desenhos da autora. da autora.
Fig.128- Esquisso da articulação entre os diferentes edifícios. Desenho da autora. Fig.145- Estudo da relação entre a escala humana, a caixa e o espaço. CAV - caso de estudo.
Fotografia capturada por Mariana Vinha.
Fig.129- Plantas vermelhos e amarelos cota 36 e cota 35; Perfis da preexistência vs proposta.
Desenhos da autora. Fig.146- Axonometria esquemática da articulação entre pisos; Acessos principais do percurso
expositivo. Desenho da autora.
Fig.130- Axonometria escada efémera. Desenho da autora.
Fig.147- Esquema representativo entre a escala humana e a concepção de espaço. Retirada de: https://
Fig.131- Fotomontagem do átrio da Sala de Exposições Temporárias. Desenho da autora. adastracomix.com/2014/09/08/undocumented-maps-the-hidden-world-of-migrant-detention/.
Fig.132- Axonometria esquemática da articlação entre pisos; Acessos principais do percurso Fig.148- Diálogos dinâmicos entre corpo e espaço. Casa Robalo Cordeiro- João Mendes
expositivo. Desenho da autora. Ribeiro. Retirado de: https://www.archdaily.com.br/br/784990/casa-robalo-cordeiro-joao-
mendes-ribeiro/5703d32ce58ece364900010f-casa-robalo-cordeiro-joao-mendes-ribeiro-photo.
Fig.133- Planta cota 26; relação com a Fonte da Manga. Desenhos da autora.
Fig.149- Fotomontagem do módulo/caixa expositiva proposta com instalação artística.
Fig.134- Fotografia maquete; Relação com o pátio. Fotografia da autora. Fotomontagem realizada pela autora com a integração da performance artística de Caroline
Denervaud, disponível em: http://fineartdrawinglca.blogspot.com/2017/12/performance-
Fig.135- Fotomontagem relação do volume com a Fonte da Manga. Imagem da autora. drawing.html?m=1.
Fig.136- Axonometria explodida com os diferentes temas de exposição. Desenho da autora. Fig.150- Multifuncionalidade do módulo proposto. Peças de mobiliário, elemento que organiza
o espaço ou caixa expositiva. Desenhos da autora.
Fig.137- Fotomontagem peça efémera novo Claustro da Manga. Imagem da autora.
Fig.151- Exemplo de Caixa Expositiva. Desenhos da autora.
Fig.138- Fotomontagem relação visual Fonte da Manga. Imagem da autora.
Fig.152- - Fotomontagens Caixas Expositivas relação com Santuário. Desenho da autora.
Fig.139- Planta cota 30 e Piso superior do Claustro do Silêncio; Corte longitudinal. Desenhos
da autora. Fig.153- Proposta de curadoria do espólio artístico. Desenho da autora.
Fig.154- Esquissos do projeto, estudo das diferentes hipóteses construtivas. Desenhos da autora.
267
REFERÊNCIA DE IMAGENS
i
Desenhos do módulo expositivo
2,44
0,47
0,42
CAIXA COM PAREDES AMOVÍVEIS CAIXA FECHADA
2,5
ALÇADO ALÇADO
MÓDULO BANCO
PLANTA
0,57
PERFIL A PERFILB
MÓDULO EXPOSITOR
PLANTA
PLANTA
PLANTA
1,05
PERFIL C PERFIL D
ii iii
Desenhos da Peça Efémera da Manga - métrica estrutural escala 1:200
iv v
Análise territorial e programática
Fig.161- Análise programática da envolvente do Mosteiro de Santa Cruz. Fig.162- Análise territorial dos edifícios religiosos e culturais.
vi vii
Análise Rede Viária Urbana
Neste sentido, foi realizado um Questionário por Inquérito, que decorreu ao mesmo tempo que
o projeto “Reconstituição 3D do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra 1834”, no Mosteiro de Santa Cruz.
Apesar deste ter sido inaugurado a 29 de janeiro de 2022, o inquérito foi distribuído apenas
durante o mês de março, uma vez que a ideia surgiu das conversas e trocas de perspetivas com
os participantes das visitas guiadas, que colocaram questões e propuseram ideias extremamente
pertinentes. Foi simultaneamente estimulante perceber o modo como as pessoas percorrem
o espaço, os detalhes que destacam à vista do sujeito e o modo como têm (ou não) perceção
da história do conjunto monástico. O Questionáio por Inquérito permitiu adquirir maior
sensibilidade perante o espaço, assimilar novas falhas e incoerências do percurso, adquirir novas
sugestões e ideias para atividades e outros programas que poderiam ser incluídos no espaço.
xxvi xxvii
CONCURSOS PÚBLICOS
- PLADUR 2020
- PLADUR 2021
Fig.180- Artigos do jornal Diário as Beiras. Disponível em: https://www.asbeiras.pt/2022/01/projeto-apresenta- Fig.181- Fotografia da Gala Pladur 2021 realizada em Madrid; vencedores e representantes do DARQ-FCTUC
estudo-para-criacao-de-nucleo-museologico-no-mosteiro-de-santa-cruz/; e https://www.asbeiras.pt/2022/02/ acompanhados pelo professor Arquiteto Carlos Antunes e professora Arquiteta Désirée Pedro.
reabilitacao-do-mosteiro-de-santa-cruz-pode-ser-projeto-mobilizador-para-o-seculo-xxi/
xxviii xxix
CONCURSO PLADUR 2020
Elementos da equipa: Eduardo Braga e João Pereira.
xxx xxxi
xxxii xxxiii
-CONCURSO PLADUR 2022
Elementos da equipa: Rita Caniceiro e Catarina Jegundo
xxxiv xxxv
xxxvi xxxvii
LEVANTAMENTO DO ESPÓLIO ARTÍSTICO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
BIBLIOGRAFIA E OUTROS:
- Levantamento relizado pela autora no Mosteiro Santa Cruz e Museu Machado Castro.
- Keil, Luís.“Inventário Artístico de Portugal” vol.II; Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes 1943-1975 –
Arquivo da Biblioteca Geral de Coimbra.
- Serrão Vítor. 2006. “Pittura senza tempo em Coimbra, cerca de 1600”, em Monumentos no25, Lisboa: DGPC.
- Craveiro, Maria de Lurdes. 2011. O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Coimbra: Direcção Regional de Cultura
do Centro.
- Dias, Pedro; Coutinho, José Eduardo Reis. 2003. Memórias de Santa Cruz. Coimbra: Câmara Municipal de
Coimbra.
- Correia,Virgílio; Gonçalves, Nogueira. 1947. Inventário artístico de Portugal: cidade de Coimbra, Lisboa: Academia
Nacional de Belas Artes.
ÍNDICE:
1) ESTATUÁRIA
2) OBJETOS DE CULTO
3) TÊXTEIS E TAPEÇARIAS
4) RETÁBULOS E PINTURA
xxvi
1. ESTATUÁRIA
1.1) ESTATUÁRIA DE GRANDE ESCALA
Autor:
Desconhecido 284,5x150x61cm Madeira policromada
Autor:
Desconhecido Apróx.127x300cm Madeira policromada
Autor:
João de Ruão 222x225cm Pedra de ança
Autor:
Desconhecido 226x180x113cm Pedra de ança
xxvii
Anjo Heráldico 1500-1525 Museu Nacional Machado
Castro, Coimbra
Autor:
Diogo Pires-o-Moço 190x64x46cm Pedra de ança
xxviii
Não identificado Séc. XVI Mosteiro de Santa Cruz -
Capela de Jesus,
Claustro do Silêncio
Autor:
Nicolau Chanterenne 73x172cm Escultura proveniente da
fachada da igreja
Pedra de ança
Pedra de ança
Pedra de ança
Pedra de ança
Autor:
Desconhecido 54x107 cm Madeira policromada
xxix
São João Baptista Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Capela do Tesouro
Autor:
Desconhecido 54x107 cm Madeira policromada
Pedra de ança
Pedra de ança
Período Manuelino
xxx
Cristo Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Em reserva no arquivo do
Altar-Mo
Autor:
Desconhecido 55x175 cm Pedra de ança
Autor:
João de Ruão 36x45cm Pedra de ança
Autor:
João de Ruão 28x40cm Pedra de ança
xxxi
1.2) ESTATUARIA DE PEQUENA/MÉDIA ESCALA
xxxii
São Teotónio Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Sacristia
Autor:
Desconhecido 26x55cm Madeira policromada
xxxiii
São Tiago, o Menor Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Sacristia
Autor:
Desconhecido 18x65cm Madeira dourada
xxxiv
São Goldrofe Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Sacristia
Autor:
Desconhecido 16x55cm Madeira policromada
xxxv
São Fernando Séc. XVIII Mosteiro- de Santa Cruz
Em reserva no arquivo
do Altar-Mor
Autor:
Desconhecido 23x57cm Madeira policromada
Autor:
Desconhecido
Autor:
Desconhecido
xxxvi
Santo Mártir de Marrocos Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Sacristia
Autor:
Desconhecido
Autor:
Desconhecido
Autor:
Desconhecido
Autor:
Desconhecido
xxxvii
Figuras Femininas Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Reservas do Arquivo do
Alar-Mor
Autor:
Desconhecido 50x40cm Madeira dourada e
policromada
xxxviii
2. OBJETOS DE CULTO
xxxix
Faldistório Séc. XVII Mosteiro de Santa Cruz -
Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 88x67x53cm Metal amarelo, ferro e
damasco
xl
2.2) OBJETOS DE CULTO DE PEQUENA ESCALA
xli
Custódia de Prata Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Dourada Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 27x71cm Prata
xlii
Galhetas e pratos Séc. XIX Mosteiro de Santa Cruz -
Exposto na Capela das
Relíquias
Autor:
Desconhecido 20x30cm Prata
Período românico
xliii
Reliquiário Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Exposto na Capela das
Autor: Relíquias
Desconhecido 18x30cm
Prata dourada
Autor:
Desconhecido 25.5x37cm Prata e papel
xliv
3) TÊXTEIS E TAPEÇARIAS
xlv
Manípulo Séc. XVIII Mosteiro de Santa Cruz -
Exposto na Capela do
Tesouro
Autor:
Desconhecido 21x91cm Algodão branco e fio
metálico dourado
xlvi
4) RETÁBULOS E PINTURAS
Autor:
Cristóvão Figueiredo
Autor:
Cristóvão Figueiredo
Autor:
Cristóvão Figueiredo
Autor:
Cristóvão Figueiredo
Autor:
Cristóvão Figueiredo
xlvii
Exaltação da Santa Cruz 1522-1530 Museu Nacional Machado
Castro, Coimbra
Conjunto Políptico
Quinhentista 129,5x149cm Óleo sobre madeira
Autor:
Cristóvão Figueiredo
Autor:
Simão Rodrigues e
Domingos Vieira Serrão
Autor:
Simão Rodrigues e
Domingos Vieira Serrão
Autor:
Simão Rodrigues e
Domingos Vieira Serrão
Autor:
Simão Rodrigues e
Domingos Vieira Serrão
xlviii
Visão de Santa Mónica 1612 Sacristia da Igreja do
Carmo, Porto
Autor:
Simão Rodrigues e --------------- Óleo sobre madeira
Domingos Vieira Serrão
Autor:
Garcia Fernandes 126x55cm Óleo sobre madeira
Autor:
Desconhecido 240x305cm Óleo sobre madeira
xlix
São Teotónio em oração Séc. XVII Mosteiro de Santa Cruz -
Sala do Capítulo
Autor:
Desconhecido 240x305cm Óleo sobre madeira
Autor:
André Gonçalves --------------- Óleo sobre madeira
Autor:
Agostino Masucci 250x200cm Óleo sobre madeira
Autor:
Agostino Masucci 235x175cm Óleo sobre madeira
Autor:
Agostino Masucci 235x175cm Óleo sobre madeira
l
Tela do retábulo da capela- 1876 Mosteiro de Santa Cruz -
mor Átrio da capela do Tesouro
Autor:
Desconhecido ---------------- Óleo sobre tela
Autor:
Garcia Fernandes 126x55cm cada
Autor:
Cristóvão de Figueiredo 57x41cm cada
li
I-DESENHOSRI
ANEXO I GOROSOS:
I
-ANÁLISE -VERMELHOSE AMARELOS
01-AXONOMETRIASEXPLICATIVAS;
PLANTADECOBERTURA;
PERFI
L
02-PLANTACOTA2 6;
CORTELONGITUDINALMERCADO
03-PLANTACOTA3 0;
CORTETRANSVERSALMERCADO
I
I-RELAÇÃO URBANAENTRE O MOSTEIRO SANTACRUZE PROGRAMASPROPOSTOS
04-PLANTADEPISOSDEENTRADA; PERFILLONGITUDINAL.
05-PLANTACOBERTURA; PERFILLONGITUDINAL
06-PERFISLONGITUDINAISETRANSVERSAISATUALVSPROPOSTA
07-PERFISLONGITUDINAISETRANSVERSAISATUALVSPROPOSTA
I
II-PROGRAMAE PERCURSO MUSEOLÓGICO
0
8-PLANTACOTA2 6;PISO DERELAÇÃO FONTEDAMANGA
0
9-PLANTACOTA3 0EPISO SUPEIORDO CLAUSTRO DO S
I O;
LÊNCI CORTELONGITUDINAL.
1
0-PLANTACOTA3 5;CORTETRANSVERSALDORMITÓRIO ECORTETRANSVERSALDRCC
1
1-PLANTACOBERTURA; CORTETRANSVERSALJARDIM DAMANGA
I
V-PORMENORESCONSTRUTIVOS
12-PORMENORCONSTRUTIVO PRÉEXISTÊNCIA-ANTIGO REFEITÓRIO EDORMITÓRIO
13-PORMENORCONSTRUTIVO PRÉEXISTÊNCIA-EDIFÍCIO DRCC
14-PORMENORCONSTRUTIVO PEÇAS EFÉMERAS-CAIXAEXTERIOREESCADAEFÉMERA
15-PORMENORCONSTRUTIVO PEÇAEFÉMERACLAUSTRO DAMANGA
16-AXONOMETRIACONSTRUTIVAPEÇASEFÉMERAS
45.00
MERCADO
35.00
32.00
29.50
24.50
PERFIL A-A'
ANTES
1 0
5
23
1
0
13
5
22
0
1
32.00
8
0
1
1
0
3
0
1
0
6
1
0
PRAÇA 8 DE MAIO
17
19
0
1
18.00
5
34.00
27.00
31.50
PROPOSTA DE GRUPO
25.00
RUA OLÍMPO NICOLAU RUI FERNANDES
PROPOSTA INDIVIDUAL
60.00
50.00
45.00
35.00
PERFIL B-B' 32.00
29.50
24.50
0
1
17
19
0
1
5
A D'ARQ - FCTUC ORIENTADOR PROFESSOR DOUTOR JOÃO MENDES RIBEIRO
DEMOLIDO B' CAROLINA DOS SANTOS MAGALHÃES
CONSTRUÍDO
EDIFÍCIOS A REABILITAR
A'
B
- VERMELHOS E AMARELOS
AXONOMETRIAS EXPLICATIVAS VERMELHOS E AMARELOS s.escala
PLANTA COBERTURAS; PERFIS RUA OLÍMPO NICOLAU RUI FERNANDES esc.1:500 01
PRAÇA 8 DE MAIO
18.00
e)
23.30
20.00
24.50
25.00
a)
b)
c)
d)
45.00
35.00
32.00
29.50
24.50
PERFIL C-C'
0
1
17
19
0
1
5
C C' D'ARQ - FCTUC ORIENTADOR PROFESSOR DOUTOR JOÃO MENDES RIBEIRO
CAROLINA DOS SANTOS MAGALHÃES
DEMOLIDO
CONSTRUÍDO a) Entrada Exposição Temporária b) Entrada Centro Audiovisual c) Entrada Centro Cultural d) Entrada Ponto Turismo e) Entrada Igreja Santa Cruz
- VERMELHOS E AMARELOS
PLANTA COTA 26; CORTE LONGITUDINAL MERCADO esc.1:500
02
0
0
1
19
PRAÇA 8 DE MAIO
18.00
f)
1
2
1
27.00
g)
20.00
25.00
45.00
35.00
32.00
29.50
24.50
PERFIL D-D'
0
1
17
19
0
1
5
D'ARQ - FCTUC ORIENTADOR PROFESSOR DOUTOR JOÃO MENDES RIBEIRO
DEMOLIDO CAROLINA SANTOS MAGALHÃES
CONSTRUÍDO f) Entrada Novo Mercado D.Pedro V/Indústrias Criativas g) Entrada Museu
DOS
PLANTA COTA 30; CORTE TRANSVERSAL MERCADO ESC.1:500
03
D'
UZ
EDAL
ICOND
S
RUAV
1
8.
f
)
1
7.
PRAÇA8DEMAI
O
1
8.0
0
1
3.
1
1.
2
7.0
0 a
)
1
4.
1
5.
1
2.
2
0.0
0
2
5.0
0
RUAOLI
MPI
O NI
COLAURUIFERNANDES
1
6.
b)
1
9.
c
)
2
0.
d)
RU
e
)
AD
AS
OF
I
A
2
7.0
0
2
4.5
0
2
3.0
0
a)Entr
adaMuseu b)Entr
adaSal
adeExpos
içõe
sTemporá
ri
asc)EntradaCentr
oAudio
v i
suld)Ent
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11
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.Sal
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sTemporá
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nci
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1
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ATUAL PROPOSTA
47.50 47.50
31.00 31.00
28.00
23.50 23.50
0
1
17
0
19
1
5
ENTRADA MUSEU
32.50 34.50
24.50 24.50
0
1
17
0
19
1
5
PERFIL RUA OLIMPO NICOLAU RUI FERNANDES
29.00
28.60
25.00
25.00 24.50
0
1
17
0
19
1
5
CORTE TRANSVERSAL JARDIM DA MANGA
0 5
DOS
PERFIS LONGITUDINAIS E TRANSVERSAIS ATUAL VS PROPOSTA
15m
06
ATUAL PROPOSTA
34.35 34.00
33.00
30.90 30.90
29.00 29.00
22.30
0
1
17
0
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1
5
21.00 21.00
33.00
26.50
24.50 24.50
20.50
0
1
17
0
19
1
5
CORTE LONGITUDINAL; RELAÇÃO DA ENTRADA - FONTE MANGA - CLAUSTRO DO SILÊNCIO
34.00
33.00 33.00
32.00
30.90
29.00 29.00
24.50 24.50
0
1
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0
19
1
5
CORTE LONGITUDINAL DRCC
29.55 29.55
29.00 29.00
24.50 24.50
19.20 19.20
0
1
17
0
19
1
5
CORTE LONGITUDINAL; RELAÇÃO SALA DE EXPOSIÇOES TEMPORÁRIA - SANTUÁRIO - IGREJA
0 5
DOS
PERFIS LONGITUDINAIS E TRANSVERSAIS ATUAL VS PROPOSTA
15m
07
15
16
17
18
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01 20
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B.01
03
04
A.01 B.02
05
22
06 23
07
08
09
B.01
10
11
12
13 25
14
B.02
A.01
LEGENDA A e B: IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE
01-Camada enchimento para pendente 02-Terça Asna 100x100mm 03-Substítuição do reboco exterior por reboco térmico à base de cortiça, cal e argila, tipo "Diasen Diathonite Evolution" 04-Caixilho de Madeira 05-MDF hidrófugo lacado a branco (fixação portadas) 14mm 06-Portada MDF lacada a branco 19mm com dobradiça de balanço em aço escovado 07-Grelha Linear do Tipo FranceAir 08-Mdf hidrófugo 30mm PROJETO DE R EABILITAÇÃO E R EVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
lacado a branco 09-Mdf hidrófogo 19mm lacado a branco 10-Sarrafo Madeira Pinho Nórdico 70x50mm 11-Soalho Madeira preexistente 22mm 12-Isolamento térmico Aglomerado de Cortiça Expandida 80mm 13-Barrotes Preexistentes 80x60mm 14-Camada regularização 15-Remate de cumeeira com argamassa e fita asfáltica 16-Telha cerâmica tipo canudo grampeada (reaproveitamento da atual) 17-Ripas 60x40mm 18-Tela D'A RQ - FCTUC O RIENTADOR P ROFESSOR D OUTOR J OÃO M ENDES R IBEIRO
Pára-vapor 0,6mm 19-Placa de contraplacado marítimo 12mm 20-Isolamento Térmico com Poliestireno extrudido 80mm 21-Placa de contraplacado marítimo 16mm 22-Subestrutura Madeira pontual (fixação ripado) 23-Ripas de Madeira 120x120mm 24-Pedra preexistente a recuperar.
CAROLINA SANTOS MAGALHÃES
DOS
12
PORMENOR CONSTRUTIVO PREEXISTÊNCIA - ANTIGO REFEITÓRIO esc.1:50 e 1:10
01
02 21
22
03
23
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04
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D.01
05
30
31
06
C.01
C.01 D.01
32
33
34
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07 36
D.02 08 37
38
A 09
39
10
40
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C.02
41
D.03
12
D.02
13
C.02
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15 42
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B 44
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C.03
16 46
47
17
18
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20
D.03
C.03
LEGENDA C e D: IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE
01-Remate de beiral com argamassa 02-Caleira em chapa de zinco 03-Lintel de remate 04-Perna Asna 05- Linha Asna 06-Substituição do reboco exterior por reboco térmico à base de cortiça, cal e argila, tipo "Diasen Diathonite Evolution" 07- Elemento madeira para fixação portada 08-Isolamento térmico de Aglomerado de Cortiça Expandida 60mm 09-Tubular 60x70mm PROJETO DE R EABILITAÇÃO E R EVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
10-Caixilho latão com vidro duplo e corte térmico (Secco) 11-Portada de Mdf hidrófogo 16mm lacado a branco 12-Grelha Linear do Tipo FranceAir 13-Pedra de remate exterior 14-Lajetas de pedra ataíja creme, acabamento serrado esp.5mm 15-Caixa de Areia 16-Lintel de betão 17-Betonilha 18-Laje 19-Proteção com tela de polietileno 20-Caixa de brita 21-Remate de cumeeira com
argamassa e fita asfáltica 22- Telha Canudo preexistente 23- Ripas 40x50mm 24- Manta Impermeabilizante 5mm 25- Poliestireno Extrudido 80mm 26- Tela pára-vapor 2,5mm 27- Contraplacado marítimo 16mm 28- Caibro 60x60mm 29- Terça Asna 30- Ferragens auxiliares 31- Empena Asna 32- Subestrutura Madeira fixação do ripado 33- Ripas de Madeira 120x120mmm D'A RQ - FCTUC O RIENTADOR P ROFESSOR D OUTOR J OÃO M ENDES R IBEIRO
CAROLINA SANTOS MAGALHÃES
34-Soalho Madeira (reutilizado do desmanche da laje preexistente)22mm 35-Caixilho simples em cantoneira de latão 30mm 36-Barrotes Preexistentes (reutilizados) 60x60mm 37-Isolamento térmico de Aglomerado de Cortiça Expandida 60mm 38-Contraplacado marítimo 21mm 39-Viga (reutilizada) 300X150mm 40-Perfil UPN310 41-Pilar Madeira suporte escada efémera
300x150mm 42-Pedra preexistente antigo refeitório 35mm 43-Tubular quadrado 60x60mm em vista (suporte soalho) 44-Contraplacado marítimo 21mm 45-Cantoneira auxiliar suporte contraplacado, abas iguais 50x50mm 46-Perfil UPN230 47-Viga Madeira 150x220mm
DOS
PORMENOR CONSTRUTIVO PREEXISTÊNCIA - EDÍFICO DA DRCC esc. 1:50 e 1:10
13
E.01
F.01
E.02
A B
ALÇADO CAIXA EXTERIOR PLANTA ESCADA EFÉMERA
01
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04
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E.01
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21 32 AXONOMETRIA ESCADA EFÉMERA
s.escala
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galvanizado 80x40mm 11-Perfil U160 12-Cantoneira abas iguais 50x50mm 13-Tubular quadrangular 60x60mm 14-Contraplacado marítimo 21mm 15-Estor de rolo blackout 16-Perfil aço galvanizado 50x100mm 17-Montantes fixação teto falso 18-Lã de Rocha Mineral esp. 60mm 19-Placa Pladur Fon+Basic TR 13mm 20-Soalho Madeira (reutilizado) 22mm C.03
08
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14
G.01 I.01
G.01 I.01
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18
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G.02 I.02
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24
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G.02 I.02
46
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H.02
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H.01
60
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61
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63
55
56
LEGENDA G,H e I:
01-Secção Madeira Fachada 200x100mm 02-Ripa 65x65mm 03-Chapa de cobre 3mm 04-Perfil UPN360 05-Cantoneira abas iguais 80x80mm 06-Perfil U aço galvanizado sem abas 150x150mm 07-Placa de contraplacado 57
marítimo 16mm 08-Cantoneira abas iguais 50x50mm 09-Tubular retangular 100x50mm 10-Caixilho de latão Secco com oscilo batente - sitema circulação de ar passivo 11-Sitema de iluminação 12-Pilar estrutura metálica 58
13-Viga estrutura metálica 14-Substrutura para exposição do acervo; estrutura com barras tipo U12 vertical e U20 horizontal 15-Rufo com chapa de cobre 16-Cunha para pendente 17-Tela de Impermeabilização 2,5mm
18-Tubular 70x30mm 19-Placas de contraplacado marítimo 16mm 20-Perfil UPN340 21-Lã de Rocha mineral 80mm 22-Chapa de cobre 3mm 23-Sistema fixação ripado madeira 24-Chapa em L pontual 100x100mm
H.02
25-Secção Madeira Cobertura 100x100mm 26-Barrote de remate para pendente 27-Ruf o em chapa de cobre 28-Membrana drenante picotada TecDrain 2mm 29-Tela Pára-Vapor 1,5mm 30-Pedestais de suporte
31-Isolamento térmico Aglomerado de Cortiça Expandida 80mm 32-Barrotes Madeira Pendente 33-Lã de Rocha mineral 80mm 34-Perfil HEA200 35-Revestimento chapa de cobre 3mm 36-Perfil omega fixação do teto IDENTIDADE, INTEMPORALIDADE E EFEMERIDADE
falso 37-Cantoneira abas iguais 50x50mm 38-Pladur FON+basic TR 13mm 39-Substrutura para exposição do acervo- revestimento em aço corten 3mm 40-Soalho Madeira 220mm (reutilização do soalho do edifício PROJETO DE R EABILITAÇÃO E R EVITALIZAÇÃO DO MOSTEIRO DE SANTA CRUZ
adjacente) 41-Grelha de difusor linear com defletor ajustável 42-Barrote suporte soalho 80x80mm 43-IPE200- suporte auxiliar de túmulo 44-Perfil IPE100 45-Lã de Rocha mineral 100mm 46-Lajetas de pedra ataíja creme, D'A RQ - FCTUC O RIENTADOR P ROFESSOR D OUTOR J OÃO M ENDES R IBEIRO
acabamento serrado esp.5mm (dim. variável) 47-Areia (dim. variável) 48-Brickslot AcoDrain LW100K 49-Caixa de brita 50-Perfil UPN260 51-Tela Impermeabilizante 4mm 52-Lintel de betão 53-Sistema fixação pilar-
CAROLINA SANTOS MAGALHÃES
placa de apoio e perno de ancoragem 54-Geodreno 55-Sapata betão 56-Geotêxtil de separação, gramagam 200g/m2 57-Betão de Limpeza 100mm 58-Terreno 59-Lajetas de pedra ataíja creme, acabamento serrado
esp.5mm (dim. variável) 60 -Sistema de f ixação de pedra "Linea cladding systems"ABCStone 61 -Tubulares de ref orço 500x700mm 62 -Lintel de Betão 63 -Pedestais de suporte de pedra (rampa) H.01
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PORMENOR PEÇA EFÉMERA CLAUSTRO DA MANGA esc. 1:50 e 1:10
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ESQUEMA DE DESCONSTRUÇÃO s.esc:
SISTEMA CONSTRUTIVO
PEÇA FACHADA s.esc