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NQO
numero
Out/Nov /Dez 1998
6 36
Património construído Opinião
As mudanças necessárias A internet" agora" ~stá na
por Elísio Summavielle moda
10 por Mário Cardoso
Reportagem 38
FundaçãoCultursintra Opinião
12 Trabalhosde recuperação
da Igrejade S.Lourençode
Reportagem Lisboa
EscolaProfissionalde
por TeresaCamposCoelho
Recuperação
do Patrimóniode Sintra 42 ,
15 Opinião
Castelos:de pedra e cal
Entrevista
por FranciscoSousaLobo
Edite Estrela
Presidente da Câmara 45
Municipal de Sintra Opinião
19 Algumasreflexõessobreas
relações
Reportagem entrea investigação,o
Recuperação do Centro
Histórico do Porto projecto
e a intervençãono
23 património
Actualidade arquitectónico
Sismo nos Açores por Maria ManuelaBarata
25 46, 47, 48
Entrevista Divulgação
Vítor Cóiase Silva Quinagre,02 e
PresidentedoGECoRPA Monumenta
29 49
Igreja da Cartuxa Notícias
33 50
Opinião Agenda
A formaçãosuperior
e a conservaçãode
edifíciosantigos
por PauloLourenço
.
on
\~}~.~
v: Cóias e Silva
(Director)
"'" .
neCeSSarlaS
- - Direcção-Geral
dos enquadramento e na definição da
Edifícios e Monumentos Nacionais acção,constatamosuma tendência
(DGEMN) é detentora de uma crescente para a busca de um
experiênciabem sucedida,e única no maior grau de especialização e
contexto nacional, de intervenção profissionalização, que permita
em património arquitectónico garantir o rigor da autenticidade
classificado.Ao cumprir no próximo das intervenções em património
ano de 1999 setenta anos de edificado. Em Portugal são bem
existência como entidade pública visíveis, para quem no seu dia a dia
responsável,na viragemdé um novo lida com estasquestões,os sinais de
milénio, considera se~tempo para mudança de atitude por parte dos
reflectir (e temo-lo feito diversos poderes, públicos e
empenhadamente), inovando a privados, administração local,
acção,indo ao encontro das formas agentes, cidadãos, e na própria
mais adequadasde responder com opinião pública. Salvaguardar e
eficácia às novas questões que valorizar o património é matéria de
enformam esta área do cidadania, começa a ser entendido
conhecimento, e, sobretudo, tendo como factor de progresso e
em conta um novo enquadramento desenvolvimento estratégico,enfim,
de mudança, na atitude e nas como sinal de qualidade e bem estar.
motivações dos mais diversos
agentes e entidades, envolvidos na Haverá assim diversasvertentes de
salvaguarda e valorização do nosso actuaçãoa ter em conta nesta área,
património construído. Por um considerandoa montante a situação
lado, todas as recomendações, geral,a identidade e o estadoem que
declaraçõese convénios internacionais se encontra o património edificado,
apontam nitidamente para um e depois a definição das opções de
alargamento do conceito de intervenção, o estabelecimento de
"património arquitectónico", que prioridades, graus de tecnicidade,
ultrapassa o edifício isolado, e faz complexidade,. e capacidades de
do património construído de resposta no tempo considerado
interesse histórico e/ou cultural o necessário.É neste contexto que a
objecto prioritário da atenção de DGEMN, para além do modo
todo e qualquer planeamento urbano sistemático como vem procedendo
e regional (Declaração de Amsterdão, ao Inventário do Património
Convenção de Granada, Carta das Arquitectónico (IPA) - elemento
Odades Históricas, ICOMOS, etc.).Fbr indispensável a qualquer projecto
outro lado, e paralelamente a uma de intervenção, pela informação
maior aberturae transversalidadeno que congrega e cruza (1), está
também a dar os primeiros passos
no que designamos "Carta de
Risco", em que as patologias são
hierarquizadas e analisadas, de
modo a constitUir a basetécnica das
soluções e dos projectos de
execução.No futuro (como já vem
acontecendo no presente) as
operações de conservação e
reabilitação irão pautar-se cada vez
mais por critérios testados de
qualidade, não sónas componentes
técnicas da construção (segurança,
estabilidade, térmica, materiais,
durabilidade, etc.) como também
por uma maior exigência face às
necessidades e aspirações das
populações,ou seja,na melhoria das
suascondiçõese qualidadede vida.
Resultadoda tendênciaab'ásreferida,
éo factode constatannosem Portugal,
nos úlnrnos anos, que na área da
construção civil se verificou um
acentuadocrescimentodo volume de
investimento em conservação/
recuperaçãode pabirnónio edificado
(cerca de 10% do total do
investimento). A média europeia
andará nos 40%, com tendência a
aumentar. Ora tal situação irá, com
toda a certeza,b'azertransfonnações
nos mecanismoslegais e operativos
do sistema,ou melhor, na "cultura"
das intervenções em património
histórico/cultural. E se por um lado,
do ponto de vista legal, será
naturalmente tida em conta uma
nova segmentação do mercado,
assumindo-se as suas implicações
em regulamentações específicas
(alvarás, licenciamentos, etc.), ou
na legislação geral (património, caminhar lado a lado com os novos processo de mudança na cultura e na
REGEU, planeamento, etc.), "mestres" das técnicastradicionais, mentalidade, pelo qual todos seremos
também por outro lado, e não garantia da autenticidade e mestria co-responsáveis.Pelanossaparte, pelo
meno&;importante, irá ser tida em das intervenções em património percurso que a DGEMN vem
conta a natural estruturação de edificado. hilhando ao longo de décadas,pelo
novas empresasvocacionadaspara entusiasmo com que inovamos e
esta área, definindo-se normas, Por tudo isto, do nosso ponto de vista encaramos o futuro, haverá razões
critérios e apoios na área da é extremamente ilusuativo e meritório, acrescidasde confiança,cooperação
fonnação técnica e qualificação da como resposta dinâmica ao sinal dos e abertura, em torno de um
mão de obra, não esquecendo que tempos, o aparecimento de uma projecto ambicioso que vai dando
hoje a procura supera largamente associação de empresas como o ponderadamente os primeiros
a oferta (estamosperante um novo GECoRPA,vocaàonada para estaárea passos,ao encontro de um legado
potencial mercado de emprego), nobre da consh"ução.A "Declaração de que todos desejamosmais estimado,
não descurando o papel da Princípios" que preside à sua mais respeitado, e mais vivido por
inovação tecnológica e a amplitude constituição, e os objectivos nela todos os portugueses.
dos seus recursos, os quais irão enunciados, garantem desde já um
da
DA DEÇLARAÇÃO DE
PRINCIPIaS DO
GECoRPA
isolamento das coberturas e das ao consenso de uma Comissão da Fundação, Eduardo Geada,
fachadas de forma a travar a Consultiva,e que prevêjá para o ano IIvamos deixar a descoberto as várias
degradaçãoestrutural do edifício. O de 1999a elechificaçãoda Quinta e a camadas e os vários extractos históricos
também chamado de Palácio dos recuperação de outras edificações, que a Quinta comporta, desde a data em
Milhões, transformar-se-áentão no nomeadamente o Palácio das que foi amstruída até hoje, de fonna a que
palco privilegiado dos "Encontrosda Cocheiras, projectos de carácter as pessalSpossam ver muito bem o original,
Regaleira", tertúlias temáticas, de executivo específico, que passam como este se preservou e quais as
espectáculosde carácter erudito, e pela avaliação e aprovação do intervenções subsequentes".
serviráainda para instalarum espaço Centro Histórico de Sintra e do "Ela não só é um monumento que merece
museológico. Instituto Português do Património ser preservado, como pode transfonnar-se
'ftata-se,pois, de um plano integrado Arquitectónico. num equipamento cultural, marco histórico
para os próximosquatro anos,sujeito Citando o Administrador Delegado para o COnl:elhoe sua identidade".
EscolaProfissional de RecuoJeracãodo Património de Sintra
- :. Palavra-chave
quesurge
no preâmbulo da Carta de Veneza, ao abordar o
dever que representa para a Humanidade a
transmissão, às futuras gerações, das obras
monumentais "em toda a riqueza da sua
autenticidade", Mas o desafio que se coloca é o de
encontrar a melhor forma de evidenciar com
actualidade, a integridade dos valores expressos
pelo património, E é esteo desafiocolocadoà equipa
que hoje recupera o Centro Histórico do Porto - um
aglomerado urbano de grand~ valor histórico,
arquitectónico,artísticoe cultural, confinado, na sua
maior parte, à linha de muralhas do séc.:x:Iv:Uma
zona que resultade um processohistóricocom cerca
de três mil anos, comprovado por inúmeros
acontecimentosuroanísticosque se somam ao longo
dos séculos,numa cadeia contínua de sucessose
desaires.
Ao longo do séc.,XX, a cidade do Porto sofreu,
gradualmente, alterações na sua estrutura
económica e social. De cidade industrial dos finais
do século passado, transformou-se numa urbe
essencialmentede serviços. As grandes alterações
funcionais e sociaisremeteram o Centro Histórico
para um processode abandono por parte dasclasses
sociais capazes de o manter e de o preservar. Os
imóveis abandonados pelas abastadas famílias
burguesas e de mercadores, que optaram pela
periferia, deixaram de ser edifícios
únifamiliares, para passarem a
autênticas "colmeias humanas",
onde viviam várias famílias por
piso. No processo de
sobreocupaçãoapareceo inquilino
que subaluga os pequenos espaços,
e enquanto recebe elevadas somas
dos moradores, paga geralmente
pouco aos senhorios. Em edifícios
onde, após a recuperação, foi
possível realizar uma dúzia de
habitações,viviam em muitos casos
mais de 300 pessoas. Moralmente,
deixou de haver força para impôr
aos proprietários obras de
conservação e a responsabilidade
da manutenção dos imóveis diluiu-
se. Entre outros factores, as
grandes obras de Engenharia do
Ferro, como a Ponte D. Maria e a
Ponte D. Luís, contribuíram
também para o isolamento da zona
ribeirinha.
E deu-seinício ao lento processode
decadênciada Zona Histórica, hoje
Património da Humanidade...
Em consequência da degradação
física e social que sofreu, sobretudo
nos últimos cem anos, nos edifícios
habitacionais e nos espaços
públicos, o Centro Histórico do
Porto correu o risco de eliminação,
quer pela ruína mais ou menos
consentida, quer pela demolição de modernização, e em que a maior exposição. A classificaçãode
decretada em épocas em que o "tentação monumentalista" insistia insalubre, intransitável e periférico
património das cidades era em demolir a envolvente de colocaramo CentroHistóricona mira
menosprezadoface àsnecessidades edifícios notáveis para lhes dar dos demolidores,nos anos40a fJJ.
Mas,em 1974,nasceuuma instituição
que assumiua conduçãodo projecto
de salvaguardado CentroHistóricodo
Porto - o CRUARB (Comissariado
para a Renovação Urbana da Área
da Ribeira - Barredo).Onze anos
mais tarde, passou a Projecto
Barredo Municipal, responsável pela
recuperação de habitações onde
são relojados agregados familiares
Essencialmente, e pelo arranjo e reanimação do
o que distingue espaço urbano. (ver caixa). O
esta área é o esforçojá feito caminho prudente e a lógica de
no passadopara intervenção por pequenos passos,
recuperar e impedir o avanço tendo em conta a especificidade de
da degradação. cada caso,permitiram ao CRUARB
Aqui a operaçãojá abrange uma progress~va percepção das
cerca de 50% dos edifícios. questões envolvidas no processo
de recuperação, correndo o risco
então de a intervenção ser mais
morosa.
O Centro Histórico do Porto, sob o
ponto de vista da sua preservação,
abrange hoje três áreas distintas:
Ribeira/Barredo (Freguesia de S,
Nicolau), Freguesia da Sé, e
freguesias de Miragaia e da Vitória.
Essencialmente, o que distingue
estas áreas é o esforço já feito no
passadopara recuperar e impedir o
avanço da degradação,muito mais
visível na áreada Ribeira/Barredodo
que nas restantes.Enquanto aqui a
operaçãojá abrangecercade 50%dos
edifícios, nas restantes áreas a
operação é mais recente. Em
Miragaia e Vitória os edifícios em
ruínas, ou muito degradados,
preenchem certas manchas de
expressão relativamente pequena,
enquanto que no bairro da Sé são
quarteirõesinteirosque seencontram
num processoavançadode colapso,
associadoa um tecido socialtambém
debilitado.
A realizaçãono edifícioda Alfândega
da Cimeira Ibero-Americana de
Chefes de Estado, em Outubro de necessariamente acelerados. O juntamente com Roterdão.
1998,foi o motivo para concentrar que está hoje em obras já faz parte A actuação do CRUARB, embora
este ano em Miragaia um grande também do conjunto de espaços se possa classificar como
conjunto de projectos que, apesar de cultura que o Porto irá dominantemente física, incluiu
de estarem previstos, foram apresentar à Europa no ano 2001, sempreuma importantecomponente
social, equilibrando o que deve ser o
bom entendimento da recuperação
urbana, por integração das duas
valências. Porém, a maturidade do
processo reclamou um esforço
integrador, que permitisse uma
abordagem mais consentânea com as
metodologias de intervenção social
mais actuais. Foi essa a principal
motivação para a criação, em 1m, da
Fundação para o Desenvolvimento da
Zona Histórica do Porto (ver caixa),
cujo âmbito de actuação abrange as
freguesias da Sé , S. Nicolau, Miragaia
e Vitória, onde residem cerca de 21 mil
pessoas. Globalmente, a finalidade da
acçãoda Fundação é conbibuir para a
melhoria das condições de vida da
população, para a valorização do
Centro Histórico e para o desenvol-
vimento local, embora também se
envolva em intervenções de tipo
físico. Apesar de as tarefas de
reabilitação social consumirem mais
tempo e atenção, a FDZHP também
se ocupa com a aquisição de
edifícios degradados e promove a
sua reconstrução. No entanto, fá-Io
para neles acolher equipamentos de
carácter social que identificou como
necessários na área Qares de idosos,
cozinhas para o fornecimento de
refeições, lavandarias colectivas,
creches), e para realojar famílias
carentes,emcondições mais favoráveis
do que as oferecidas pelo mercado.
A filosofia de actuação da Fundação
baseia-se na convicção de que a
degradação do edificado é apenasuma
das manifestações mais visíveis de
uma teia complexa de problemas
económicos e sociais. A recuperação
física dos imóveis é tão importante
como o combate às causasda própria
Casasdo Barredo
degradação, em especial as que
(antes e após a
resultam da precariedade económica
g da exclusão social. Apesar de muito renovação)
ainda estar por reconsb-uir,o objectivo
é desencadeaI:um processoque avance
por si SÓ,criando uma /, massacrítica
de intervenção pública", capaz de
atrair outros agentes, públicos e
privados, incentivando dessaforma
um processo sustentável, que se
desenvolva: dentro de padrões
preestabelecidos, urbanístic,a e
socialmente correctos.
T.Al'ês meses depois de aterra tremer
e ter deixado um rasto de destruição
pelas ilhas do Pico e do Faial na
sequência de um sismo de média
magrútude, cujo epicentro foi registado
junto ao Farolda Ribeirinha,e que
afectou essencialmente aszonas rurais
e mais tenuamente a cidade da Horta,
é tempo de delinear e aplicar planos
de reconstrução.
Para o efeito, foi criado o Centro de
Promoção de Reconstrução (CPR) -
dependente da SecretariaRegional da
Habitação e Equipamento, instalado
na ilha do Faial. Este organismo
contará com a colaboração técnica de
uma vasta equipa, composta por
representantes do Laboratório
Nacional de Engenharia Civil
(LNEC), do Laboratório Regional de
Engenharia dos Açores e do Instituto
Superior Técnico, que estabeleceu as
regras gerais de reabilitação.
Sob a orientação do Eng2 Eduardo as várias estruturas apresentam. vibrações sísmicas, característica
Cansado Carvalho, Chefe do Centro Um conjunto de medidas gerais, natural do arquipélago açoriano,
de Estudos e Equipamentos de necessariamente concertadas com acabando por não oferecer
Engenharia Sísmica do LNEC, foi a legislação em vigor no que qualquer capacidade de resistência
respeita àsregras de segurançados e, por consequência, desmoronar,
projectos de construção e sobrando apenas um quadro de
sustentadas institucionalmente escombros.
pelas directivas do Governo De acordo com Eduardo Cansado
Carvalho " importa avaliar as
Regional, que não pode descurar
os factores de índole social, já que condições das construções mais
a percentagem de destruição nas antigas, demolir no caso de não
casas de construção tradicional satisfazeremos parâmetrosmínimos
antigas atingiu quase os 100%. e reconstruir, tendo semprepor base
Nas zonas rurais, as construções diminuir o riscoda sua utilização".
caracterizam-se por concepções Já nas construções mais modernas
de baixa tecnicidade, sem a intensidade dos estragos foi
acompanhamento, não tendo francamente menor, devido à
detem1inado um plano de intervenção sido considerados os elementares existência de alguns elementos de
dirigido a edifícios correntes de princípios de segurança.Denota-se travamento estrutural, não se
habitação,tanto nas zonas rurais, como a ausência de estruturas de registando sequer fendas na
urbanas, orientado sob três travamento ou amortecimento, o maioria dos casos,o que elucida de
diferentes níveis de aplicação, de que as torna gradualmente mais facto que há uma diferença
acordo com o grau de lesões que frágeis e susceptíveisàs frequentes substancialde comportamentoentre
asconstruções antigas e asconstruções perda de capacidade de resistir ao sua função, limitando a
mais modernas, evolução natural face impulso horizontal; movimentos nas danificação das naves e das torres
aos ensinamentos da engenharia fundações, pois sãoestruturas pesadas; das igrejas.
sísmica nos últimos 50 anos. para além de que algumas delas já Há, pois, que estabelecer normas de
Concretamente na Horta, os danos apresentavam lesões do sismo do estabilização global das estruturas,
são moderados a "olho nú', mas os princípio do século, agora privilegiando a utilização de
levantamentos que se elementos de ti"avamento
fizeram posteriormente ao metálicos em detrimento
sismo, no interior das do betão (de característica
habitaçÕes, mostram não-reversível), já que na
que há danos efectivos, questão das intervenções
que é preciso agora em monumentos, a
reparar, procurando as preservação da estrutura
metodologias certas a original faz parte integrante
utilizar. Isto verifica-se dos prinápios básicos da
principalmente, e mais conservação e restauro do
uma vez, ao nível das património arquitectónico.
construções mais antigas, Outra vertente de actuação,
com paredes mais frágeis, nestes casos,será recorrer a
quase sem argamassa, técnicas indutoras da
que na sequência de uma dissipação de energias,
leve agitação sísmica se aduzindo às estruturas
desagregam com facilidade, a capacidade de
apesar de na cidade, mais amortecimento e de
distante da zona onde foi absorção da excitação
registado o epicentro, as dinâmica e violenta
construções urbanas mais imposta pelo sismo.
Eduardo Cansado Carva-
antigas apresentarem
outras características. São lho revela ainda que em
edifícios um pouco mais situações limite poderá
altos (até 4 pisos), que já recorrer-se a um p!ocesso
- que neste caso não se
tiriham sido afectados pelo
justificará - designado por
sismo do Faial na década
de 20, e qu~ pela ausência isolamento de base, que
de medidas de reparação consiste em transportar as
ou reforço à posteriori, esti"uturas de base do
deixaram agora expostas edifício, sustentando-
lesões estruturais, que as sobre rolamentos,
nalguns casos até se protegendo solidamente
toda a construção das
agravaram.
Nas edificações modernas, vibrações tectónicas.
cujos projectos são É o Chefe do Centro de
concebidos e homologados Estudos e Equipamento
ao abrigo de legislação em de Engenharia Sísmica
vigor há já 15 anos, o ~~\;:?"' do LNEC quem opina
.,.~.~ ainda que é cada vez
comportamento foi
substancialmente melhor, mais premente uma
pois são estruturas postura de cariz preventivo,
correntes, relativamente sublinhando a título de
simples, em betão armado, exemplo que, com o apoio
e que não ultrapassam os da Fundação de Ciências
5 pisos. e Tecnologia, se prevê
No que concerne a iniciar a curto prazo um
monumentos ou edificações de valor acentuadas. projecto de investigação para os
patrimonial, são essencialmente as No entanto, casos há em que se próximos dois anos e meio, tendo em
igrejas, de menor porte do que as que encontram sinais claros de vista interpretar o comportamento das
existiam na Ilha Terceira e Angra do intervenções de reforço, construções da zona mais antiga da
Heroísmo muito afectadas nomeadamente introdução de cidade de Lisboa, de forma a
aquando do sismo de 1980, que elementosde cintamento metálicos, providenciar a sua protecção e
denotam problemas típicos: fissuras amarração ou atirantamento, e que anular o risco que lhes está
nas torres; os arcos tendem a abrlTpor aparentemente cumpriram com a associado.
V '" C ",8 S 8
..l.
"Não é possível
caminhar em
direcçãoà excelência
nas intervençõesde
conservação
e 'restauro
sem que haja uma
cuidada selecção
d "
asempresas.
metalizadas,trabalhosem alvenaria, alvará, embora possam ter uma
caixilharia de perfis de alumínio e classificação diferente. Pela
vidros. Isto é, ao mesmo nível de importância de que se revestem, nós
importância. pretendemos que venham a aderir
Há, efectivamente, um ao GECoRPA.
desajustarnentodo sistemade alvarás, Depois, há um conjunto circundante
que se presta ao referido deste chamado núcleo central,
aventureirismo e oportunismo, de constituído pelas empresas que se
empresas sem qualificação para dedicam à renovação urbana, ou se
operar nesta área. quisennos, à reabilitação em geral. São
p &C - Há alguma intervenção empresas que actuam em consh"uções
comunitária ao nível da legislação? já existentes, construções antigas e
VCS - A forma como é feita a
qualificação das empresas que
operam na área do património
arquitectónico em toda a Europa é
extremamente variada. Não há
uniformidade, de acordo com um
relatório do Conselho da Europa
sobre as prátiças de 27 países
europeus, a que tive acesso.
O Conselho da Europa tem feito
alguma coisa com vista à existência
de u~a entidade reguladora.
A Associação Europeia das
Em presas de Conservação e Restauro
do Património Arquitectónico
(AEERPA),está a desenvolver um
trabalho, em colaboração com o
Conselho da Europa, no sentido de
secaminhar para uma uniformidade
da legislação. O próprio CEN -
Comité Européen de Normalisation
também desenvolve esforçosnesse
sentido.
P&C - Estamosafinal, a falar de que
empresas? "Há património
VCS- O universode empresasa queo inventariado, cujo estado se
GECoRPAse dirige, excede as que conhece,mas sobre o qual não
coisas que estas já deviam ter se dedicam exclusivamente à
provado à comissão. conservação e restauro do existe informação de base que
P&C - Há muitas empresas sem permita projectar as
património arquitectónico.
condições para actuar nesta área ? Eu diria que há um grupo de 50 a intervenções necessárias"
VCS - Há de facto, um grande uma centena de empresas, que
aventureirismo. constitui como que um núcleo
P&C- É uma situação preocupante? central daquela que pode ser
VCS - Sim. Sem dúvida. Até porque considerada a parte mais nobre do
o sistema de alvarás, tal como sectotjque é a conservaçãoe restauro
existe, quase que ignora, na prática, do património arquitectónico. São
este sector. empresasque têin uma estrutura que
Os monumentos e o património lhes permite funcionar como bairroshistóricos,ou seja,pabimónio
arquitectónico estão contemplados empreiteirosgerais.Mas há também arquitectónico não classificado.
no actual sistema de alvarás, numa as que se especializam em Também estas são potenciais
categoria denominada " edifícios e
determinadas tarefas muito associadasdo nosso Grémio.
monumentos", na qual aparecem específicas como o restauro d~ p &c - O universo de actuação do
diversas subcategorias. Os peças escultóricas, pintura mural GECoRPA é então esse1
monumentos nacionais aparecem ou fresco ou, mesmo, o vitral. VCS- Sim, mas não só.
como uma de enb'e 15 subcaregorias, São empresas que executam É predso nãoesquecerosgabin~ de
em paralelo com coisas como trabalhos de menor dimensão e estudosde Arquitecturae Engenharia
esbuturas de betão armado ou pré- orçamento, com uma actividade especificamentevocacionadospara
esforçado, estruturas metálicas ou que não exige o mesmo tipo de esta área que, como acontece nas
empresasjá referidas, devem VCS - Temos ainda muito por faze!: A Por outro lado, há património
fazer prova de conhecimentose começar pela necessidade de inventariado, cujo estado se conhece,
competênciasapropriadas, no que toca inventariar, pois não podemos mas sobre o qual não existeinformação
à elaboração de projectos. salvaguardar o que nem sabemos de base que permita projectar as
A obrigatoriedade de qualificação que existe. Reconheço que a intervenções necessárias.
destesgabinetes é outro dos objectivos Direcção Geral de Edifícios e Se tivéssemos recursos financeiros
do GECoRPA, o que vai ao encontro Monumentos Nacionais tem feito suficientes para actuar de acordo
dos próprios profissionais desta área. um grande esforço de inventariação. com as necessidades, verificar-se-
Mas há ainda as empresas, a maior Mas, de facto, é urgente fazer um ia que não existiam projectos em
parte multinacionais, que se reconhecimento, uma descrição e condições de avançar.\ E o que é
dedicam ao desenvolvimento de estabelecerprioridades quanto ao risco mais grave é saber-se de serviços
materiais próprios para utilização de perda do património, por forma a com responsabilidades nesta área
..
"Estamos a falar de um sector que
representa30 milhões de contos/anode
obras da conservaçãoe restauro
adjudicadas, mais cercade 180 milhões
de contos/anode reabilitação de
edifícios"
..
nestas actividades. que os fundos disponíveispossam que não conseguem utilizar a
P&C- E qual é então a realidade responder prioritariamente às totalidade dos seus orçamentos,
actual do GECoRPA em termos de situaçõesdemaiorurgência. por não terem projectoscredíveis
associados ? em carteira.
VCS - Até agora as nossas p &C - Existe classificação
atenções foram canalizadas paraopabimónio?
para as empresas que VCS - Sim. Em Portugal
actuam em património existem h"ês categorias de
classificado,pois é aí que as património arquitectónico:
consequências de uma Os monumentos nacionais,
intervenção defeituosa os imóveis de interesse
podem ser desastrosas. público e os valores
Mas existe,face ao que lhe concelhios.
apresentei, um enorme As unidades que foram
potencial de empresasque objecto dessa classificação,
podem aderir ao nosso constituem actualmente o
Grémio. património arquitectónico
E é preciso ter em conta que propriamente dito. Mas,
estamos a falar de um sector depois, há o património
que representa 30 milhões construído que também
de contos/ano de obras de tem valor arquitectónico e
conservação e restauro, apresenta condições para
adjudicadas, e cerca de 180 ser classificado.
milhões de contos/ano de Em Portugal há cerca de
reabilitação de edifícios,para 3300unidades classificadas,
lhe dar apenas estes dois mas há umas 7000 que
exemplos. reúnem condições e que,
P&C - Como está o mais cedo ou mais tarde,
patrimónioemPortugal? também serãoclassificadas.
..~Évora, integrada no
convento da Ordem
Cartusiana, a Igreja da
Cartuxa ou de Nossa Senhora
Scala Coeli, foi alvo de uma
intervenção de restauro,
apoiada pela Comunidade
Europeia.
A candidatura ao programa
comunitário de apoio a Projectos
Piloto de Conservação do
Património Arquitectónico Europeu
foi uma das 100seleccionadasentre
um total de 2004 apresentadas.Os
50 mil ecus concedidos, apenas
cobriram uma parte dos 120 mil
contos do custo total da obra, sendo
a diferençasuportadapela Fundação
Eugénio de Almeida, actual
proprietária do convento e pelo
Estado Português.
É visível e perfeitamente justificado,
o orgulho manifestado pelo
Arquitecto Fernando Pinto, quanto
ao facto deste projecto ter sido
apoiado com o valor máximo
previsto, reflexo óbvio da qualidade
do projecto apresentado pela
Direcção Geral dos Edifícios e
Monumentos do.Sul.
Mas para o director deste serviço,
igualmente importante é o facto de
a intervenção efectuada ser "um
trabalhonotável" a corresponder às
expectativas. No final da obra, que
durou cerca de dois anos, "a maior
parte daquilo que foi feito não se vê, que
é o que deveacontecerem obrasde
ao
e
e o Mestrado em Restauro de Conservação de vitrais, = SuA.u-.l<.-
Estruturas Arquitectónicas, da pinturas murais, decorações
Universidade de Florença,Itália. Os de interior e conceitos ~
programas destes mestrados sobre as instalações
ilustram as áreas abrangidas e a técnicas em edifícios
pluridisciplinaridade referidas históricos; Introdução à
anteriormente. Todosos mestrados conservação de jardins
incluem ainda um número elevado históricos e paisagens;
de classespráticas e visitas a locais Estereotomia
seleccionados. 6. Políticas de conservação
L e gi s I a ç ã o europeia e análise
Programa do Mestrado em comparativa de decretosno l
Conservaçãode Centros e Edifícios campo da conservação;
Históricos Protecção internacional a
(CentroR. Lemairepara conservação monumentos e zonas
- Uniwrsidade Católicade Lovaina) históricas;Análise sociológica ~
I Rocchi, G., "lstituzioni di restauro dei beni architettonici e arnbientali: Cause, Accertarnenti, Diagnosi, Prevenzione, lnterventi'
..
o utilizador típico
-deinternet é
extremamente
exigente e procura
altíssimos padrões
de qualidade,
dos quais não
abremão.
..
tentar deixar claro o que desejam e
esperam os utilizadores.
Um site atractivo, rápido e bem
organizado, faz com que muitas
vezes o utilizador prolongue a sua
visita para além do que pretendia
inicialmente. Encontrar e ficar a
conhecer mais sobre os serviços e
capacidades de uma empresa pode
vir a traduzir-se num contacto
futuro e num possível trabalho.
Numa situação oposta, se a
utilização de um site for confusa e,
ou, lenta será rapidamente
abandonado pelo utilizador/
cliente, sem nunca ter alcançado o
seu objectivo. O pior é que, tendo-se
provocado uma desagradável
sensaçãode frusb"ação,os utilizadores,
na sua grande maioria, não voltarão a
visitar osite. Oub"a agravante é que,
além de fugirem apressadamente do
site em questão, poderemos ver a
nossa ciber-reputação descer.
Aliás, o utilizador típico de intemet
é extremamente exigente e procura
altíssimos padrões de qualidade,
dos quais não abre mão. Este
utilizador (em linguagem calão
classificado como ciber-surfista ou rato
de internet) rasteja vorazmente pela
internet coleccionando informação útil
ou simplesmente deambulando
curioso em busca de novidades.
Como diz o ditado popular: o que
é barato sai caro. No caso de um
site, este ditado faz todo o sentido.
No entanto pode optar-se por a Marketing, designe
soluçõeseconómicassem seprejudicar mestria técnica são
a imagem da empresa. Existem
soluções tipo implementadas com componentes
sucesso que sem grandes custos essenCIaISpara o
podem asseguraruma forma digna de desenvolvimentode
nos posicionarmos na intemet.
É possível ter um site com um pequeno
um site que
investimento que não prejudique a
imagem da empresa e que se traduza
. .
vroporclone uma
posiçãoestratégica.
num substancial valor acrescentado.
Outra das consequênciasdevastadoras
da forma desadequada de alguns sites, que este deve fornecer urna perda de tempo e dinheiro.
é o problema que se tem de imagem atractiva (design) ser Deve ter-se sempre em conta o
enfrentar, quando mais tarde se tecnicamente funcional (técnica) e factor custo/benefício:Seele não for
pretende ter uma presença mais ter um conteúdo sedutor favorável, talvez dispense uma
consequente e apelativa. Nesse (marketing). presença na intemet - a não ser
contexto teremos de contabilizar Marketing, design e mestria que se pretenda apenas estar na
aoscustosde produção o acréscimo técnica sãocomponentes essenciais moda.
dos de afirmação/promoção. Ou para o desenvolvimento de um site
seja, é mais caro recuperar uma que proporcione urna posição
imagem do que criá-Ia. estratégica. Os sites criados sem Nota: O GECoRPApõeà disposiçãodos
Para concluir, ao pensar num site urna destas três fundamentais seus associadoscondiçõesfavoráveis de
para a sua empresa tenha em conta componentes são em geral urna elaboraçãode sites na internet.
...
Igreja
s.
Consolidação: S.T.A.r, OZ e
Cimeira.
Investigação histórica:
- Arq~ Teresade Campos Coelho
-
1 Entrada principal (Rua Marquês Ponte do Lima) Arquitectura (Universidade
2 - Entrada secundária (Largo da Rosa) Aberta e Gab.Local da Mouraria)
A-Nave - Prof. Doutor José Custódio
B - Capela-mor
Vieira da Silva -Arquitectura
C-Sacristia Gótica (Dep. de História da Arte
O - Sala de apoio à sacristia (piso 1) da Universidade Nova de
Tribuna com ligação ao Palácio da Rosa (piso 2) Lisboa)
E - Baptistério
F - Sala de apoio à igreja (actualmente, segiunda capela gótica) - Prof. Doutor Vítor Serrão-
G - Antiga habitação do pároco (actualmente, segunda capela Pintura (Dep. de História da Arte
da Faculdade de Letras de
gótica) Lisboa)
H - Antiga casado guarda do palácio (área actualmente integrada
no projecto da igreja) - José Meco - Azulejaria (Instituto
José de Figueiredo)
A s aspiraçõesda sociedadeem materiais originais são muitas os agentes,em particular dos que têm
vezes preferíveis;por outro lado,
relaçãoaopatrimónioculturale, a seu cargo a execução dos trabalhos.
em particular,em relaçãoao pode haver vantagem em lançar
têmvindo mão de materiais e tecnologias
patrimónioarquitectónico, Com o objectivo de viabilizar uma
a ser,frequentemente,defraudadas avançadas. maior especializaçãoe assegurara
através de intervenções menos postura mais apropriada, foi
felizes, ditadas por uma postura Quanto à postura, ela define-se fundada, em Novembro de 1997,
demasiado economicista e pela por três aspectos fundamentais. uma nova empresa, vocacionada
predominância do cimento e do O primeiro é a contenção. As exclusivamente para este nobre
betão. intervenções no património domínio: A Monumenta,
arquitectónico são sempre Conservação e Restauro do
É hoje patente que a conservação e perturbadoras do seu equilíbrio, Património Arquitectónico, Lda.
o restauro do património representando, portanto, um risco.
arquitectónico não podem ser A extensão dessasintervenções deve,
abordados pelos métodos correntes por consequência, ser a mínima
da consh"uçãocivil, antes constituem necessária para atingir, com eficácia,
uma área de especialização bem os objectivos preconizados.
identificada e fazem apelo a uma O segundo aspecto é o rigor. As
postura radicalmente diferente. intervenções no património
Quanto à especialização, constata- arquitectónico deverão ser, primeiro,
se que os materiais e tecnologias cuidadosamente concebidas e
que hoje têm mais peso nos planeadas e, depois, executadas de
hábitos dos construtores, não são
os mais adequados à conservação
acordo com o plano.
O terceiro aspecto é a mONUmeNC,,\
e restauro do património responsabilidade. As intervenções Conservação e Restauro do Património
Arquitectónico, Lda.
arquitectónico: por um lado, as no património arquitectónico exigem R. PedroNunes, 27 - 1° Dto. - 10SOLisboa,Portugal
uma participação responsável de todos Tel.: (01) 317 46 98 - Fax (01) 315 68 71
velhas "artes e ofícios" e os ..
www.monumenta.pt
A conservação dos centros históricos irá ser debatida em Guimarães, nos dias 25, 26
e 27 de Novembro de 1998, durante o III Encontro futemacional de Municípios
com Centro Histórico. De acordo com José Noras, presidente da Associação
Portuguesa de Municípios com Centro Histórico (APMCH) e também da Câmara
Municipal de Santarém, esteencontro irá permitir 'I uma troca de experiênciase o debate
em tomo dos métodos e técnicas utilizadas, além do confronto de políticas concretas".
A APMffi conta actualmente com 126 membros.
ções:
:C - Av. Brasil 101 - 1799Lisboa
~ 2131- Fax (01) 846 34 57
pee98@lnec.pt