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"'"

NQO
numero
Out/Nov /Dez 1998

6 36
Património construído Opinião
As mudanças necessárias A internet" agora" ~stá na
por Elísio Summavielle moda
10 por Mário Cardoso

Reportagem 38
FundaçãoCultursintra Opinião
12 Trabalhosde recuperação
da Igrejade S.Lourençode
Reportagem Lisboa
EscolaProfissionalde
por TeresaCamposCoelho
Recuperação
do Patrimóniode Sintra 42 ,

15 Opinião
Castelos:de pedra e cal
Entrevista
por FranciscoSousaLobo
Edite Estrela
Presidente da Câmara 45
Municipal de Sintra Opinião
19 Algumasreflexõessobreas
relações
Reportagem entrea investigação,o
Recuperação do Centro
Histórico do Porto projecto
e a intervençãono
23 património
Actualidade arquitectónico
Sismo nos Açores por Maria ManuelaBarata
25 46, 47, 48
Entrevista Divulgação
Vítor Cóiase Silva Quinagre,02 e
PresidentedoGECoRPA Monumenta
29 49
Igreja da Cartuxa Notícias
33 50
Opinião Agenda
A formaçãosuperior
e a conservaçãode
edifíciosantigos
por PauloLourenço
.
on

Na era da comunicação, lançar uma nova revista é quase um


acto trivial.
Espero que não seja esseo casocom a revistado GECoRPA. O
nascimento da "Pedra & Cal" é desejado, e creio que ela irá
preencher um vazio e desempenhar uma missão.
Preencher um vazio porque, de facto, não existia entre nós
nenhuma revista que abordasse a prática da reabilitação das
construçõesantigas e, em partiailar, a conservaçãoe restauro do
património arquitectónico: o que se faz, como, quando, onde,
para quem e porquê... visto por quem faz.
Desempenhar uma missão porque, dirigindo-se aos associados
e, em geral, às empresas e profissionais desta área, a revista os
irá, por todos os meios, ajudar a fazerem um melhor trabalho.
A acçãoda revista inscreve.,se,necessariamente,nos objectivos
do GECoRPA: a defesa dos interesses dos associados, a
promoção na qualidade nas intervenções de reabilitação das
construções antigas e da excelência na conservaçãoe restauro
do património arquitectónico português.
Desde já, uma palavra de agradecimento a todos os que se
empenharam nesta iniciativa e, em particular, aos que
contribuíram e vão contribuir para o conteúdo da revista.

\~}~.~
v: Cóias e Silva
(Director)
"'" .
neCeSSarlaS

- - Direcção-Geral
dos enquadramento e na definição da
Edifícios e Monumentos Nacionais acção,constatamosuma tendência
(DGEMN) é detentora de uma crescente para a busca de um
experiênciabem sucedida,e única no maior grau de especialização e
contexto nacional, de intervenção profissionalização, que permita
em património arquitectónico garantir o rigor da autenticidade
classificado.Ao cumprir no próximo das intervenções em património
ano de 1999 setenta anos de edificado. Em Portugal são bem
existência como entidade pública visíveis, para quem no seu dia a dia
responsável,na viragemdé um novo lida com estasquestões,os sinais de
milénio, considera se~tempo para mudança de atitude por parte dos
reflectir (e temo-lo feito diversos poderes, públicos e
empenhadamente), inovando a privados, administração local,
acção,indo ao encontro das formas agentes, cidadãos, e na própria
mais adequadasde responder com opinião pública. Salvaguardar e
eficácia às novas questões que valorizar o património é matéria de
enformam esta área do cidadania, começa a ser entendido
conhecimento, e, sobretudo, tendo como factor de progresso e
em conta um novo enquadramento desenvolvimento estratégico,enfim,
de mudança, na atitude e nas como sinal de qualidade e bem estar.
motivações dos mais diversos
agentes e entidades, envolvidos na Haverá assim diversasvertentes de
salvaguarda e valorização do nosso actuaçãoa ter em conta nesta área,
património construído. Por um considerandoa montante a situação
lado, todas as recomendações, geral,a identidade e o estadoem que
declaraçõese convénios internacionais se encontra o património edificado,
apontam nitidamente para um e depois a definição das opções de
alargamento do conceito de intervenção, o estabelecimento de
"património arquitectónico", que prioridades, graus de tecnicidade,
ultrapassa o edifício isolado, e faz complexidade,. e capacidades de
do património construído de resposta no tempo considerado
interesse histórico e/ou cultural o necessário.É neste contexto que a
objecto prioritário da atenção de DGEMN, para além do modo
todo e qualquer planeamento urbano sistemático como vem procedendo
e regional (Declaração de Amsterdão, ao Inventário do Património
Convenção de Granada, Carta das Arquitectónico (IPA) - elemento
Odades Históricas, ICOMOS, etc.).Fbr indispensável a qualquer projecto
outro lado, e paralelamente a uma de intervenção, pela informação
maior aberturae transversalidadeno que congrega e cruza (1), está
também a dar os primeiros passos
no que designamos "Carta de
Risco", em que as patologias são
hierarquizadas e analisadas, de
modo a constitUir a basetécnica das
soluções e dos projectos de
execução.No futuro (como já vem
acontecendo no presente) as
operações de conservação e
reabilitação irão pautar-se cada vez
mais por critérios testados de
qualidade, não sónas componentes
técnicas da construção (segurança,
estabilidade, térmica, materiais,
durabilidade, etc.) como também
por uma maior exigência face às
necessidades e aspirações das
populações,ou seja,na melhoria das
suascondiçõese qualidadede vida.

(1) O IPA está disponívelatravésda


Internet:http//www.monumentos.pt

Resultadoda tendênciaab'ásreferida,
éo factode constatannosem Portugal,
nos úlnrnos anos, que na área da
construção civil se verificou um
acentuadocrescimentodo volume de
investimento em conservação/
recuperaçãode pabirnónio edificado
(cerca de 10% do total do
investimento). A média europeia
andará nos 40%, com tendência a
aumentar. Ora tal situação irá, com
toda a certeza,b'azertransfonnações
nos mecanismoslegais e operativos
do sistema,ou melhor, na "cultura"
das intervenções em património
histórico/cultural. E se por um lado,
do ponto de vista legal, será
naturalmente tida em conta uma
nova segmentação do mercado,
assumindo-se as suas implicações
em regulamentações específicas
(alvarás, licenciamentos, etc.), ou
na legislação geral (património, caminhar lado a lado com os novos processo de mudança na cultura e na
REGEU, planeamento, etc.), "mestres" das técnicastradicionais, mentalidade, pelo qual todos seremos
também por outro lado, e não garantia da autenticidade e mestria co-responsáveis.Pelanossaparte, pelo
meno&;importante, irá ser tida em das intervenções em património percurso que a DGEMN vem
conta a natural estruturação de edificado. hilhando ao longo de décadas,pelo
novas empresasvocacionadaspara entusiasmo com que inovamos e
esta área, definindo-se normas, Por tudo isto, do nosso ponto de vista encaramos o futuro, haverá razões
critérios e apoios na área da é extremamente ilusuativo e meritório, acrescidasde confiança,cooperação
fonnação técnica e qualificação da como resposta dinâmica ao sinal dos e abertura, em torno de um
mão de obra, não esquecendo que tempos, o aparecimento de uma projecto ambicioso que vai dando
hoje a procura supera largamente associação de empresas como o ponderadamente os primeiros
a oferta (estamosperante um novo GECoRPA,vocaàonada para estaárea passos,ao encontro de um legado
potencial mercado de emprego), nobre da consh"ução.A "Declaração de que todos desejamosmais estimado,
não descurando o papel da Princípios" que preside à sua mais respeitado, e mais vivido por
inovação tecnológica e a amplitude constituição, e os objectivos nela todos os portugueses.
dos seus recursos, os quais irão enunciados, garantem desde já um
da

DA DEÇLARAÇÃO DE
PRINCIPIaS DO
GECoRPA

- - empresasportuguesas Sendoo Património


que se dedicam à conservação e Arquitectónico obra dos
restaurodo pabimónio arquitectónico antigos mestres
são as principais depositárias do construtores, são os seus
"saberfazer" que ainda resta, e que sucessores, os construtores
é imprescidível quando realmente
de hoje, organizadosem
se procura a excelência nas
intervenções neste domínio.
empresasdevidamente
No entanto, como acontecenoutros estruturadas, quem está
países, também entre nós há, Pedra& Cal, constaa abordagemde melhor posicionado para
infelizmente, exemplos de temas tão actuais e importantes realizal; em obra, as
intervenções mal concebidas ou como: Objectivos e Metodologias, in tervençõesnecessárias
mal executadas, que acabam por por António Lamas, do 1ST, para a sua conservaçãoe
contribuir para a desvalorizaçãodo Levantamento e Diagnóstico, por restauro.
pabimónio arquitectónico,motivadas Luigia Binda, do Poli técnico de
Pedra & Cal conta apresentar na próxima
sobretudo por desconhecimentoou Milão, Projecto e Planeamento das edição,um traba1hodesenvolvido sobreeste
imprevidência. Intervenções, por Mascarenhas evento.
Surge, portanto, com grande Mateus, do 1ST, Intervenções
Palácio de Seteais
oportunidade, o encontro Estruturais: TécnicasTradicionais e
O Paláciode Seteaisfoi edificado no
promovido em Seteais no dia 30 TécnicasAvançadas,por GasparNem, último quartel do SécxvIll, pelo cônsul
Outubro pelo GECoRPA, dirigido do 15'1;Intervenções na Superficie holandês Daniel Gildmeester e é hoje
fundamentalmente às empresas, Envolvente: Pedra, .Rebocos e uma requintada unidade hoteleira, na
com o objectivo de equacionar as qual serealiza a jornada do GECoRPA.
Pinturas, por JoséAguiar, do LNEC,
questõescolocadaspela "Prática da Oportunidades de Formação Nos finais desse século, a propriedade
Conservação e Restauro do Profissional por Vítor Dias, do foi vendida ao 5QMarquês de Marialva,
Património Arquitectónico" em CENFIC, Monitoragem e Gestãoda Esbibeiro-mor do reino, que acrescentou
à primitiva construção um seg1lndo
Portugal, e promover uma reflexão Informação sobre o Património
núcleo, ligando-os por um arco
sobreestetema. Arquitectónico, por Pier ~ Rossi, encimado pelo brasão real e um
Do programa desta Jornada, a ex-ISMES, e Classificação e medalhão que contém as efígies de
decorrer precisamenteno dia em Acreditação das Empresas por D.João VIe D. CarlotaJoaquirnl. A obra
que é apresentadaesta ediçãoda terminou em 1802.
Cóias e Silva, do GECoRPA.
da conservação pahimonial ao nível
do seu uso quotidiano, o quadro de
intervenção rege-se pela adaptação
funcionál de álguns dos edifícios da
Quinta. A expressão"planificar o
futuro do passado" é utilizada pelo
Administrador Delegado da
Fundação Cultursintra, Eduardo

I Geada, para introduzir a ideia de


que "nãose recupera o património só
porque pertence ao passado, mas porque
é necessário criar condições para que
continue a ser útil ao presente".
de confluência entre a Decorrente desta premissa, foi
História e o Mito, a Quinta da delineado um programa anuál de
Regaleira ocupa um lugar único na actividades culturais, a ter início no
identidade cultural da tradição mítica próximo ano, no sentido de
portuguesa e do revivalismo romântico transformar a Quinta da Regáleira
sintrense", É este o tom descritivo num ponto de enconb"Ocomunitário,
com que Edite Estrela, presidente pólo de atracçãocultural, pálco vivo de
da Câmara Municipal de Sintra, eventos lúdicos como exposições,
alude à Quinta da Regaleira, em colóquios, conferências, espectáculos
entrevista a P&C (página 15). Mas musicais e teatrais.Ainda neste âmbito,
qualquer narrativa será, talvez, foi decidido abrir os portões da Quinta
modesta perante o encantamento da Regaleira ao público. Desde Junho
de quem percorrer os segredos e são proporcionadas visitas guiadas -
mistérios do lugar onde a natureza uma viagem de hora e meia sob
é gqardiã das correntes inspiradoras um quadro tridimensional de
dos seus criadores - a Quinta da simbolismos, mitos e talento
Regaleira. arquitectónico (ver caixa).
Inserida no Centro Histórico de Sintra, E são as receitas da exploração
classificado Património Mundial pela turística, somadas aos subsídios que
UNESCO, a Quinta da Regaleirainclui a Câmara de Sintra determina de
um conjunto de edificações acordo com o Plano Anual de Obras
extremamente valioso do ponto de de Recuperação e aos apoios de um
vista patrimonial. Adquirida em 1997 corpo de mecenas institucionais,
pela Câmara Municipal, a Quinta da sobretudo grandes empresários do
Regaleira é agora objecto de um Plano Concelho de Sintra, que perfazem a
de Recuperação e Gestão dirigido pela base de financiamento da actividade
Fundação Cultursintra, com o intuito da Fundação Cultursintra, cujo
de preservar estes quatro hectares de objectivo primeiro é proceder ao Plano
património arquitectónico e natural, Global de Recuperação, de forma
transformando-os, simultaneamente, gradual e faseada. O primeiro passo
num lugar privilegiado de cultura. está dado: a instalação da sede sociál
Nesse sentido, a Fundação da Fundação na Casa da Renascença,
Cultursintra traçou vectores de vivenda acastelada próxima do
actuação. Para além, obviamente, pálácio.
o Palácio da Regaleira é
indubitavelmente o ex-libris da
panópliaarquitectónicaexpostana
Quinta da Regaleira.Actualmente
apenas parte do edifício está aberto ao
público.nata-sedo piso térreo,por
onde se distribuem imponentes
divisões,recheadasde sentimento
artístico testamentado "nas cores
hannoniosas
dosrevestimentoscerâmÍaJs,
nos ambientes arolhedores
dasmadeirasde
carvalho,ou no aveludadoe real púrpura
das portas". O piso superior está, de
momento, reselVado aos trabalhos de
restauro, que implicam igualmente o

isolamento das coberturas e das ao consenso de uma Comissão da Fundação, Eduardo Geada,
fachadas de forma a travar a Consultiva,e que prevêjá para o ano IIvamos deixar a descoberto as várias
degradaçãoestrutural do edifício. O de 1999a elechificaçãoda Quinta e a camadas e os vários extractos históricos
também chamado de Palácio dos recuperação de outras edificações, que a Quinta comporta, desde a data em
Milhões, transformar-se-áentão no nomeadamente o Palácio das que foi amstruída até hoje, de fonna a que
palco privilegiado dos "Encontrosda Cocheiras, projectos de carácter as pessalSpossam ver muito bem o original,
Regaleira", tertúlias temáticas, de executivo específico, que passam como este se preservou e quais as
espectáculosde carácter erudito, e pela avaliação e aprovação do intervenções subsequentes".
serviráainda para instalarum espaço Centro Histórico de Sintra e do "Ela não só é um monumento que merece
museológico. Instituto Português do Património ser preservado, como pode transfonnar-se
'ftata-se,pois, de um plano integrado Arquitectónico. num equipamento cultural, marco histórico
para os próximosquatro anos,sujeito Citando o Administrador Delegado para o COnl:elhoe sua identidade".
EscolaProfissional de RecuoJeracãodo Património de Sintra

s questões relacionadas com a


conservação e recuperação do
património histórico tomaram-se
um tema particularmente sensível
nos últimos anos: elas são o rosto
das estratégias de salvaguarda
desenvolvidas, e que dependem,
tantas vezes, do apoio político e
social. E dependem também da
aposta na formação de técnicos
qualificados, que vêm substituindo
os velhos artesãos.
A Escola Profissional de
Recuperação do Património de
Sintra(EPRPS), que teve origem
num curso co-financiado pelo
Fundo Social Europeu e pela
Câmara Municipal de Sintra, no ano
lectivo de 1989/90,tem desenvolvido
um trabalho meritório na formação de
jovens nesta área. O processo de
ofidalizaçã<;>
iniciou-se no ano seguinte,
com a apresentaçãoao GETAP de
uma proposta de homologação,
que foi aprovada em 1991/92.
O curso de Recuperação do e Recuperação de Espaços Verdes, o
Património Edificado reparte-se qual confere a mesma qualificação
por seis áreas de intervenção: que o anterior.
Cantarias,Metais, Estuques,Pintura No entanto, as intervenções ao
Mural, Azulejaria e Madeiras, nível da recuperação do património
conferindo aos alunos uma edificado ou de jardins históricos
formação técnica de nível 3, são pontuais e, uma vez terminado
equivalente ao 12Qano. No ano o curso, os alunos podem ter
lectivo de 1994/95,a Escolaalargou dificuldade em encontrar um
a sua área de actuação, após emprego. '~inda não há, infelizmente,
aprovação pelo Ministério da obrassuficientesqueconsigamabsorver
Educação,com a criaçãode um novo todos os técnicos..." - lamenta Ana
curso na área de Recuperação de Xavier, directora da Escola - "Mas
Jardins Históricos, cuja designação sou optimista, e acredito que os nossos
oficial é: Curso de Técnicode Gestão jovens estão muito bem preparados, e
têm agressividade suficiente para se
constituírem em empresa, para se
lançarem no mercado de trabalho como
profissionais liberais, OU mesmo para
fazerem alguma manufactura". Foi
precisamente o que aconteceu com
um grupo de alunos que, ao
terminarem o curso na área de
metais, continuaram a trabalhar em
restauro de estátuas, mas
começaram também a fabricar obra
nova em metal. Actualmente
fazem candeeiros, castiçais e outras
peças, nas oficinas cedidas pela
Escola, para arranque de carreira.
Ao contrário do que acontece na
maioria das Escolas Profissionais,
que adoptam a figura do estágio
integrado numa empresa, após
conclusão do curso, a Escola
Profissional de Recuperação do
Património de Sintra tem uma outra
estratégia: já que existem ainda
poucas empresas vocacionadas para
a área de restauro, embora haja
tendência para nascerem mais, a
Escola adoptou o sistema de
formação prática em contexto de
trabalho. "É impossível ensinar
restauro num atelier" - acrescenta
Ana Xavier. Assim, através do
estabelecimento de protocolos, a
EPRPS tem vindo a ser solicitada
por entidades públicas e privadas
para prestação de serviços no
âmbito das várias áreas que
lecciona. "Devemos muito ao Dr. José
Manuel Martins Carneiro, Director do
Palácio da Pena, que desdea primeira
hora nos apoiou, sabendoque os nossos
técnicos docentes eram oriundos do
Instituto JosédeFigueiredo,qualificados
para acompanhar os alunos nos
trabalhos" - sublinha a directora da
Escola. A lista de intervenções é
hoje bem vasta (ver caixa). Uma das
mais 'importantes está a ser
concluída na Charola do Convento
de Cristo, em Tomar, para
reintegração de pinturas manuelinas
descobertas nos anos 70.
Com o Curso Técnico de Gestão e
Recuperação de Espaços Verdes, a
EPRPS procura, mediante uma
formação teórica e prática no
âmbito das técnicas de jardinagem,
dotar os alunos de uma preparação
adequada, que lhes permita tomar
contacto com a natureza, identificar
as várias espécies vegetais, sa~er
cuidar delas e inseri-Ias no espaço
próprio, tendo em conta o seu meio
circundante, a sua funcionalidade
e ambiência. Sob orientação de um
técnico superior, os alunos podem
fazer uma investigação ao nível
bibliográfico, encontrar a filosofia e
concepção de base de um jardim, e
proceder à sua reconstrução. O
objectivo é, igualmente, requalificar
a profissão de jardineiro, que nos
últimos anos caiu em desuso. ';'\final,
os jardins de Monserrate foram feitos
por jardineiros, e o Parque da Pena, sem
jardineiros, não teria sido feito..." -
ironiza Ana Xavier. Os alunos do
curso de Recuperação de Jardins
Históricos desenvolveram trabalhos
na Quinta da Regaleira, no Palácio
da VIla, na Quinta de D. Duarte de
Bragança, no Palácio de Queluz, no
Jardim Botânico da Faculdade de
Ciências de Lisboa e no Parque do
Monteiro Mor, no Museu do Traje.
O corpo docente da Escola
Profissional de Recuperação do
Património de Sintra é constituído
por técnicos de diversas áreas. Para
os domínios sócio-cultural e
científico (que.inclui as disciplinas
de Português, Língua Estrangeira,
Área de Integração, História de Arte,
Físico-Química, Matemática e concursopara restauro de 20 mil o projecto já foi aprovado, e o
Geomehia Descritiva), a Escolarecruta azulejos do Palácio dos Marqueses de terreno cedido pela autarquia - só
professores do ensino secundário em Minas, propriedade da Misericórdia de falta a luz verde do Ministério da
regime de acumulação, ou recém- Usboa. Alguns dos painéis tinham que Educação para o início das obras,
licenciados à procura do primeiro ser retirados, pois as salas iam sofrer que há três anos estavam orçadas
emprego. Nas áreas tecnológicas e obras de repavimentação, outros em 200 mil contos. A nova escola
práticas, os alunos são orientados tinham que ser protegidos, para que ficará situada em Odrinhas, junto
por técnicos com formação superior a trepidação das máquinas não os ao Museu Arqueológico. Os
ou obtida no Instituto José de fizesse saltar da parede. "Trabalhámos arquitectos responsáveis pelo
Figueiredo, e pelos chamados muito bem com a Teixeira Duarte. Todas projecto - Alberto Castro Nunes e
mestres - artesãos com décadas de as semanas havia reunião de obra, para António Maria Braga - foram também
experiência que, com grande que os técnicosda empresa percebessem responsáveis pelo Complexo
conhecimento empírico, acabam o que é que os jovens estavam a faze1;: e Museológico de Odrinhas, onde a
por explicàr as técnicas quase em que fase tinham que articular Escola ficará integrada. A nova
cientificamente. ';'\os alunos cabe o trabalho. O processo resultou muito esb"utura permitirá a articulação enh"e
crummento dos dois tipos de informação" bem, e serve de exemplo para obras as aulas teóricas e práticas, "0 quehojeé
- esclareceAna Xàviet: futuras" - congratula-se Ana Xavier. conseguidocom muito esforço,já que as
Embora já comecem a surgir empresas A EPRPS tem funcionado em actuais oficinas, alugadaspela Câmara,
de construção civil que integram instalações provisórias, no Cacém, estãosituadas em Cabriz, muito longe,
técnicos formados em restauro, na cedidas pela Câmara Municipal de portanto, das instalaçõesda Escola".
generàlidade verifica-se a inexistência Sintra, que é simultâneamente No novo edifício estarão também
de formação e materiais adequados entidade promotora. Mas, com a reunidas as condições para o
para estetipo de serviço. "Cadavezmais evolução da Escola, tornou-se avanço de novos projectos,
- reforça a diredora da EPRPS - é imperativa a aquisição de um espaço nomeadamente a criação de uma
necessáriocruzar as formações dos vários próprio, onde sejapossível aglutinar os empresa de restauro, associada a
técnicosfazendo convergir para um projecto serviços administrativos, aulas teóricas uma empresa de construção civil, e
roncreto uma pluralidade deconhecimentos, e práticas. Em 1995, elaborou uma o retomar de uma valência já
desde a História de Arte aos materiais candidatura ao Concurso 2 do desenvolvida - cursos livres de
tradicionais". Foi o que sucedeu há dois PRODEp, Medida 1 - Acção 1.3, restauro, em horário pós-laboral.
anos,quandoa Escolaganhouum para construção de infraestruturas.
Presidente da Câmara Municipal de Sintra

Pedra & Cal- Que reflexos se fizeram sentir ao nível


da conservação e restauro do Património
Arquitectónico desde que, em 1995, Sintra foi
declarada Património Mundial da UNESCO?
Edite Estrela - Os reflexosque essencialmentesefizeram
sentir,mais do que práticos ou imediatos,foram ao nível
da consciencializaçãodaspessoaspara a necessidadede
preservar o Património que é de todos. Houve, desde a
Classificação,em 1995,uma maior abertura de toda a
comunidade em relação à questão do Património, as
pessoas olham Sintra com outros olhos. Os próprios
moradoresda zona classificadaestãomuito sensibilizados
e têm a preocupação de consultar os técnicos do
Gabinete do Projecto de Recuperação do Centro
Histórico de Sintra sempre que têm necessidade de
proceder a alguma obra nas suascasas.Por outro lado,
a classificação de Sintra como Património da
Humanidade veio facilitar a captação de verbas e
fundos comunitários para a realização de
investimentos que há muito eram necessários.
P&C - Esta classificação trouxe condicionalismos
à intervenção da autarquia sobre o Património
construido?
EE - A Classificação de Sintra não trouxe
propriamente condicionalismos, entendidos
como regras e normas fixas a cumprir, até porque
a UNESCO, quando clássifica determinado
Monumento, Centro Histórico ou mais um importante instrumento pudessem participar os vários
Paisagem como Património da institucional de afirmação e agentes culturais e económicos da
Humanidade, fá-Io por diferentes divulgaçãocultural. Cientede que sociedade civil - individualidades,
motivos. Ou pelo Património Natu- a classificação de Património instihiições, empresas - no esforço
ral ou pelo Património Edificado, ou Mundial atribuído pela UNESCO do desenvolvimento dos valores e
mais raramente pela conjugaçãode a Sintra, sendo um motivo de das actividades culturais do nosso
ambos, caso de Sintra. O que nos orgulho paratodosnós,representa Concelho. Numa época de rápidas
trouxe foram responsabilidades também o reconhecimento de mudanças e trocas sociaisitant-o no
acrescidas na defesa e preservação de responsabilidades acrescidasna plano da economia como no plano da
toda a zona classificada e sua conservação, na expansão e na informação, o Concelho precisa de se
envolvente. fruição do património histórico e manteraberto ao mundo, acolhendo e
difundindo experiências artísticas de
outras localidades e de outros povos,
enriquecendo assim a vivência cul-
tural dos munícipes. Pode,
"Ponto de confluência entre simultaneamente, aprofundar os
a História e o Mito, a meios de divulgação no exterior da
Quinta da Regaleira ocupa enorme riqueza histórica, patrimonial
e tradicional da região, de modo a
um lugar único na
preservar e a partilhar a singularidade
identidade cultural da do modo de ser sintrense. Sendo
tradição mítica portuguesa e uma iniciativa do Município, a
do revivalismo romântico Fundação Cultursintra não dispensa
o valioso contributo da sociedade
sintrense", civil, a todos os níveis de participação.
A Fundação Cultursintra tem a sua
sede social na Quinta da Regaleira,
onde desenvolve um plano de
P&C - Quais os projectos cultural do Concelho, decidiu o actividades que visa assegurar o
prioritários da autarquia no campo Município promover a criaçãode restauro e a recuperação patrimonial
da conservação e restauro do uma Fundaçãode direito na qual dos jardins e dos edifícios da Quinta,
Património? bem como programar eventos de
EE - Encarando o Património como natureza cultural que façam da
um todo e não como um ou vários Regaleira um espaço privilegiado de
edifícios isolados, o que Sintra tem reconhecimento histórico e lúdico.
é um Plano Global, um Projecto P&C- Qu~ o papel que a Fundação
Integrado de conservaçãoe restauro Cultursintra desempenha no
do Património. A VIla da Sintra é processo de recuperação da Quinta
encaradano seuconjunto e para pôr da Regaleira?
em prática a sua preservação foi EE - Ponto de confluência entre a
definido o Programa Integrado de História e o Mito, a Quinta da
Reabilitaçãoe Valorizaçãodo Centro Regaleira ocupa um lugar único na
Histórico, que se compõe de treze identidade cultural da tradição mítica
capítulos cada um deles dizendo portuguesa e do revivalismo
respeitoa uma áreaespecífica.Além romântico sintrense.No cumprimento
disso existe uma Divisão do do Plano de Actividades para esteano,
Paffimónio Histórico-Cultural que a Fundação Cultursinta continua a
sempre que necessário e em dar prioridade às intervençÕes na
articulação com outras instituições, "Um dos objectivos Quinta da Regaleira, na sequência da
tem como funções fazer o sua abertura ao público, ocorrida em
levantamento de todo o Património prioritátrios do Município Junho deste ano e que está a
concelhio e de apresentarpropostas tem sido o de lançar constituir um assinalável êxito de
conducentes à sua conservação e programas de conservação, popularidade. A colaboração da
valorização.nata-se nomeadamente Comissão Consultiva da Regaleira,
do Património Arqueológico,
beneficiação e correcção de composta por técnicos altamente
Histórico-Artístico, Etnográfico e edifícios antigos, municipais qualificados do projecto de
Arquivistico. e privados". Recuperação do Centro Histórico
P&C - G:Jmosurgiu a necessidadeda de Sintra, da Direcção Geral dos
criaçãoda F1mdaçãoCu1husintta? Edifícios e Monumentos Nacionais,
EE - Com a formação da Fund~ção do Instituto Português da
Cultursintra, criou o Município Património Arquitectónico e
Arqueológico e da Associação de
Defesa do Património de Sintra
.. ao nível da angariaçãode fundos,
quer junto de mecenasempresariais,
contribui para asseguraro nível das quer solicitando patrocínios e
várias intervenções que este ano
"Houve,desde a apoios institucionais, visam
foram contempladas com o Classificação,em 1995, uma ampliar os meios financeiros de
Primeiro Prémio Nacional do maior abertura de toda a participação colectiva nos custos
Património Histórico, concedido das obras de recuperação da
comunidade em relaçãoà
pela Ford Portuguesaà candidatura Regaleira. Embora a rentabilização
que a Cultursintra apresentou questãodo Património, as económica da Quinta da Regaleira
tendo por fundamento o projecto de pessoasolham Sintra com também seja um objectivo
conservação, recuperação e outros olhos." prioritário da Câmara Municipal
dinamização cultural da Quinta da de Sintra, é preciso, antes de mais,
Regaleira.A FundaçãoCultursintra,
classificada como instituição de
utilidade pública, coordena o plano
global de recuperaçãoda Regaleira
.. assegurar a conservação da sua
riqueza patrimonial e histórica.
P&C - Tem havido intervenção da
EscolaProfissional de Recuperação
e, em simultâneo, desenvolve um do Património de Sintra em
plano anual de actividades culturais algumas obras importantes, não só
que visa transformar a Regaleira pode ser equiparadaà rendibilidade em Sintra, como noutros pontos do
num local privilegiado de convívio cultural, na medida em que esta país. Sendo a Câmara Municipal a
e de cultura. deve ser enquadrada em termos promotora desta Escola, que
P&C - Quais os projectosda Câmara mais gerais de serviço público. Pela importância atribui à sua existência
Municipal para rentabilizar, quer sua natureza jurídica, a Fundação no Concelho?
em termos culturais, quer Cultursintra não tem fins lucrativos. EE - A Escola Profissional de
económicos,o investimento feito na Todas estas actividades que Recuperaçãodo Património tem-se
Quinta da Regaleira? desenvolve ao nível da exploração vindo a afirmar dentro e fora do
-
EE A rendibilidade económicanão turística da Quinta da Regaleira e Concelho, já há alguns anos. Tem
dado passospequenose segurose
em grandeparte a suafamafoi-lhe
granjeada, primeiro fora do
concelhoe só depois reconhecida './1Escola Profissional de
internamente. Contudo os Recuperação do
trabalhosrealizadosno Concelho Património de Sintra
contribuíram para a divulgação e
aceitaçãoda Escola,por parte da permitiu aquilo a que
população. Trabalhos como o chamo a democratização
restauro e limpeza da Fonte da do conceito "Recuperação
Pipa,do Monumentodo Dr. Carlos
França, o Busto "Oesidério do Património"
Cambournac", o Pelourinho de
Colares,ou maisrecentemente,os
restaurosefectuadosna Quinta da
Regaleira,aqui na dupla vertente a dignidade que merecem,sejauma caminho.
de recuperaçãode parte do jardim CasaSaloiaou um PalácioNacional. Um dos objectivos prioritários do
e conservação das Estátuas do P&C - O Palacete e os Jardins de Município tem sido o de lançar
Patamar dos Deuses. Mas o Monserrate estão a ser ou vão ser programas de conservação,
primeiro monumentoa acolheros alvo de alguma intervenção por beneficiação e correcção de edifícios
nossosjovens alunos foi o Palácio parte da autarquia? antigos, municipais e privados. De
da Pena,permitindo a limpeza e EE - O Palacete e os Jardins de entre os municipais gostaria de
restaurode azulejos,devidamente Monserrate estãoa ser alvo de uma salientar o investimento que foi feito
acompanhadospor docentes da intervenção,maspor parte do IPPAR na adaptação do edifício dos
Bombeiros da Vila Ve1haa Museu do
Brinquedo, da recuperação da Casa
Mantero a Biblioteca Municipal e do
Cine-Teatro Carlos Manuel a Teatro e
espaço polivalente, assim como do
'~ Classificaçãode Sintra antigo Casino, adaptado a Museu de
como Património da Arte Moderna. Ainda nos imóveis
Humanidade veio facilitar municipais temos as obras de
beneficiação do centenário Mercado
a captaçãode verbases
da Vtla Velha.
fundos comunitários, para Nos edifícios não municipais,
a realizaçãode pretende-se relançar os Programas
investimentos que há muito RECRIA e CORESINTRA, este
último da exclusiva responsabilidade
eram necessárioslI. do Municipio, numa iniciativa que
visa essencialmente intervir nos
exteriores dos imóveis do Centro
Histórico, restituindo-os à sua
linguagem arquitectónica original.
Escola. Quanto à importância que e do Parque Natural Sintra CascaÍ5, Mas num Município que conta pelas
a Câmara atribui à sua existênciano entidades responsáveispor aquele centenas os imóveis de interesse
concelho, há um aspecto muito espaço. Histórico-Artístico e Arquitectónico e
importante que gostaria de frisar: a No entanto, e a exemplo de outras que pertencem quer a particulares
existênciada Escolapennitiu aquilo a situações,a CMS tem acompanhado quer ao Estado ou à Autarquia,
que chamo a democratização do de perto ostrabalhos,de forma a que compreende-se que nem todos
conceito "Recuperação do a recuperação em curso seja digna poderão ser tratados em simultâneo.
Património". Isto é, durante muito dos pergaminhos daquele local e de Como costumo dizer, perante o
tempo o conceitode Patrimóniopara Sintra Património Mundial. que falta fazer, gostaria de ter
a maioria dos cidadãos estava P&C - Comoclassificao actual uma varinha de condão para,
directamente relacionado a elites estadode conservaçãodo Património rapidamente, recuperar este
sociais e culturais. Escolas como a Arquitectónico de Sintra? concelho único que, infelizmente,
nossacontribuíram para a difusão da EE - Quanto a esta questão, o foi tão mal tratado ao longo de
ideia da preservaçãode bensmóveis Muniápio tudo tem feito para que o décadas.
ou imóveisque estejamdirectamente Património Arquitectónico de Sintra Mas e a tenninar, penso que estamos
ligados à nossa cultura, à nossa sejapreservadoda melhor forma para no caminho certo e, dentro de poucos
ancestralidade,bem como o "dever" as geraçõesfuturas, e podemosdizer anos, Sinhâ voltará a ter o esplendor
de cuidar dessesbens e conferir-lhes que nestemomento estamosno bom de outrora.
d

- :. Palavra-chave
quesurge
no preâmbulo da Carta de Veneza, ao abordar o
dever que representa para a Humanidade a
transmissão, às futuras gerações, das obras
monumentais "em toda a riqueza da sua
autenticidade", Mas o desafio que se coloca é o de
encontrar a melhor forma de evidenciar com
actualidade, a integridade dos valores expressos
pelo património, E é esteo desafiocolocadoà equipa
que hoje recupera o Centro Histórico do Porto - um
aglomerado urbano de grand~ valor histórico,
arquitectónico,artísticoe cultural, confinado, na sua
maior parte, à linha de muralhas do séc.:x:Iv:Uma
zona que resultade um processohistóricocom cerca
de três mil anos, comprovado por inúmeros
acontecimentosuroanísticosque se somam ao longo
dos séculos,numa cadeia contínua de sucessose
desaires.
Ao longo do séc.,XX, a cidade do Porto sofreu,
gradualmente, alterações na sua estrutura
económica e social. De cidade industrial dos finais
do século passado, transformou-se numa urbe
essencialmentede serviços. As grandes alterações
funcionais e sociaisremeteram o Centro Histórico
para um processode abandono por parte dasclasses
sociais capazes de o manter e de o preservar. Os
imóveis abandonados pelas abastadas famílias
burguesas e de mercadores, que optaram pela
periferia, deixaram de ser edifícios
únifamiliares, para passarem a
autênticas "colmeias humanas",
onde viviam várias famílias por
piso. No processo de
sobreocupaçãoapareceo inquilino
que subaluga os pequenos espaços,
e enquanto recebe elevadas somas
dos moradores, paga geralmente
pouco aos senhorios. Em edifícios
onde, após a recuperação, foi
possível realizar uma dúzia de
habitações,viviam em muitos casos
mais de 300 pessoas. Moralmente,
deixou de haver força para impôr
aos proprietários obras de
conservação e a responsabilidade
da manutenção dos imóveis diluiu-
se. Entre outros factores, as
grandes obras de Engenharia do
Ferro, como a Ponte D. Maria e a
Ponte D. Luís, contribuíram
também para o isolamento da zona
ribeirinha.
E deu-seinício ao lento processode
decadênciada Zona Histórica, hoje
Património da Humanidade...
Em consequência da degradação
física e social que sofreu, sobretudo
nos últimos cem anos, nos edifícios
habitacionais e nos espaços
públicos, o Centro Histórico do
Porto correu o risco de eliminação,
quer pela ruína mais ou menos
consentida, quer pela demolição de modernização, e em que a maior exposição. A classificaçãode
decretada em épocas em que o "tentação monumentalista" insistia insalubre, intransitável e periférico
património das cidades era em demolir a envolvente de colocaramo CentroHistóricona mira
menosprezadoface àsnecessidades edifícios notáveis para lhes dar dos demolidores,nos anos40a fJJ.
Mas,em 1974,nasceuuma instituição
que assumiua conduçãodo projecto
de salvaguardado CentroHistóricodo
Porto - o CRUARB (Comissariado
para a Renovação Urbana da Área
da Ribeira - Barredo).Onze anos
mais tarde, passou a Projecto
Barredo Municipal, responsável pela
recuperação de habitações onde
são relojados agregados familiares
Essencialmente, e pelo arranjo e reanimação do
o que distingue espaço urbano. (ver caixa). O
esta área é o esforçojá feito caminho prudente e a lógica de
no passadopara intervenção por pequenos passos,
recuperar e impedir o avanço tendo em conta a especificidade de
da degradação. cada caso,permitiram ao CRUARB
Aqui a operaçãojá abrange uma progress~va percepção das
cerca de 50% dos edifícios. questões envolvidas no processo
de recuperação, correndo o risco
então de a intervenção ser mais
morosa.
O Centro Histórico do Porto, sob o
ponto de vista da sua preservação,
abrange hoje três áreas distintas:
Ribeira/Barredo (Freguesia de S,
Nicolau), Freguesia da Sé, e
freguesias de Miragaia e da Vitória.
Essencialmente, o que distingue
estas áreas é o esforço já feito no
passadopara recuperar e impedir o
avanço da degradação,muito mais
visível na áreada Ribeira/Barredodo
que nas restantes.Enquanto aqui a
operaçãojá abrangecercade 50%dos
edifícios, nas restantes áreas a
operação é mais recente. Em
Miragaia e Vitória os edifícios em
ruínas, ou muito degradados,
preenchem certas manchas de
expressão relativamente pequena,
enquanto que no bairro da Sé são
quarteirõesinteirosque seencontram
num processoavançadode colapso,
associadoa um tecido socialtambém
debilitado.
A realizaçãono edifícioda Alfândega
da Cimeira Ibero-Americana de
Chefes de Estado, em Outubro de necessariamente acelerados. O juntamente com Roterdão.
1998,foi o motivo para concentrar que está hoje em obras já faz parte A actuação do CRUARB, embora
este ano em Miragaia um grande também do conjunto de espaços se possa classificar como
conjunto de projectos que, apesar de cultura que o Porto irá dominantemente física, incluiu
de estarem previstos, foram apresentar à Europa no ano 2001, sempreuma importantecomponente
social, equilibrando o que deve ser o
bom entendimento da recuperação
urbana, por integração das duas
valências. Porém, a maturidade do
processo reclamou um esforço
integrador, que permitisse uma
abordagem mais consentânea com as
metodologias de intervenção social
mais actuais. Foi essa a principal
motivação para a criação, em 1m, da
Fundação para o Desenvolvimento da
Zona Histórica do Porto (ver caixa),
cujo âmbito de actuação abrange as
freguesias da Sé , S. Nicolau, Miragaia
e Vitória, onde residem cerca de 21 mil
pessoas. Globalmente, a finalidade da
acçãoda Fundação é conbibuir para a
melhoria das condições de vida da
população, para a valorização do
Centro Histórico e para o desenvol-
vimento local, embora também se
envolva em intervenções de tipo
físico. Apesar de as tarefas de
reabilitação social consumirem mais
tempo e atenção, a FDZHP também
se ocupa com a aquisição de
edifícios degradados e promove a
sua reconstrução. No entanto, fá-Io
para neles acolher equipamentos de
carácter social que identificou como
necessários na área Qares de idosos,
cozinhas para o fornecimento de
refeições, lavandarias colectivas,
creches), e para realojar famílias
carentes,emcondições mais favoráveis
do que as oferecidas pelo mercado.
A filosofia de actuação da Fundação
baseia-se na convicção de que a
degradação do edificado é apenasuma
das manifestações mais visíveis de
uma teia complexa de problemas
económicos e sociais. A recuperação
física dos imóveis é tão importante
como o combate às causasda própria
Casasdo Barredo
degradação, em especial as que
(antes e após a
resultam da precariedade económica
g da exclusão social. Apesar de muito renovação)
ainda estar por reconsb-uir,o objectivo
é desencadeaI:um processoque avance
por si SÓ,criando uma /, massacrítica
de intervenção pública", capaz de
atrair outros agentes, públicos e
privados, incentivando dessaforma
um processo sustentável, que se
desenvolva: dentro de padrões
preestabelecidos, urbanístic,a e
socialmente correctos.
T.Al'ês meses depois de aterra tremer
e ter deixado um rasto de destruição
pelas ilhas do Pico e do Faial na
sequência de um sismo de média
magrútude, cujo epicentro foi registado
junto ao Farolda Ribeirinha,e que
afectou essencialmente aszonas rurais
e mais tenuamente a cidade da Horta,
é tempo de delinear e aplicar planos
de reconstrução.
Para o efeito, foi criado o Centro de
Promoção de Reconstrução (CPR) -
dependente da SecretariaRegional da
Habitação e Equipamento, instalado
na ilha do Faial. Este organismo
contará com a colaboração técnica de
uma vasta equipa, composta por
representantes do Laboratório
Nacional de Engenharia Civil
(LNEC), do Laboratório Regional de
Engenharia dos Açores e do Instituto
Superior Técnico, que estabeleceu as
regras gerais de reabilitação.
Sob a orientação do Eng2 Eduardo as várias estruturas apresentam. vibrações sísmicas, característica
Cansado Carvalho, Chefe do Centro Um conjunto de medidas gerais, natural do arquipélago açoriano,
de Estudos e Equipamentos de necessariamente concertadas com acabando por não oferecer
Engenharia Sísmica do LNEC, foi a legislação em vigor no que qualquer capacidade de resistência
respeita àsregras de segurançados e, por consequência, desmoronar,
projectos de construção e sobrando apenas um quadro de
sustentadas institucionalmente escombros.
pelas directivas do Governo De acordo com Eduardo Cansado
Carvalho " importa avaliar as
Regional, que não pode descurar
os factores de índole social, já que condições das construções mais
a percentagem de destruição nas antigas, demolir no caso de não
casas de construção tradicional satisfazeremos parâmetrosmínimos
antigas atingiu quase os 100%. e reconstruir, tendo semprepor base
Nas zonas rurais, as construções diminuir o riscoda sua utilização".
caracterizam-se por concepções Já nas construções mais modernas
de baixa tecnicidade, sem a intensidade dos estragos foi
acompanhamento, não tendo francamente menor, devido à
detem1inado um plano de intervenção sido considerados os elementares existência de alguns elementos de
dirigido a edifícios correntes de princípios de segurança.Denota-se travamento estrutural, não se
habitação,tanto nas zonas rurais, como a ausência de estruturas de registando sequer fendas na
urbanas, orientado sob três travamento ou amortecimento, o maioria dos casos,o que elucida de
diferentes níveis de aplicação, de que as torna gradualmente mais facto que há uma diferença
acordo com o grau de lesões que frágeis e susceptíveisàs frequentes substancialde comportamentoentre
asconstruções antigas e asconstruções perda de capacidade de resistir ao sua função, limitando a
mais modernas, evolução natural face impulso horizontal; movimentos nas danificação das naves e das torres
aos ensinamentos da engenharia fundações, pois sãoestruturas pesadas; das igrejas.
sísmica nos últimos 50 anos. para além de que algumas delas já Há, pois, que estabelecer normas de
Concretamente na Horta, os danos apresentavam lesões do sismo do estabilização global das estruturas,
são moderados a "olho nú', mas os princípio do século, agora privilegiando a utilização de
levantamentos que se elementos de ti"avamento
fizeram posteriormente ao metálicos em detrimento
sismo, no interior das do betão (de característica
habitaçÕes, mostram não-reversível), já que na
que há danos efectivos, questão das intervenções
que é preciso agora em monumentos, a
reparar, procurando as preservação da estrutura
metodologias certas a original faz parte integrante
utilizar. Isto verifica-se dos prinápios básicos da
principalmente, e mais conservação e restauro do
uma vez, ao nível das património arquitectónico.
construções mais antigas, Outra vertente de actuação,
com paredes mais frágeis, nestes casos,será recorrer a
quase sem argamassa, técnicas indutoras da
que na sequência de uma dissipação de energias,
leve agitação sísmica se aduzindo às estruturas
desagregam com facilidade, a capacidade de
apesar de na cidade, mais amortecimento e de
distante da zona onde foi absorção da excitação
registado o epicentro, as dinâmica e violenta
construções urbanas mais imposta pelo sismo.
Eduardo Cansado Carva-
antigas apresentarem
outras características. São lho revela ainda que em
edifícios um pouco mais situações limite poderá
altos (até 4 pisos), que já recorrer-se a um p!ocesso
- que neste caso não se
tiriham sido afectados pelo
justificará - designado por
sismo do Faial na década
de 20, e qu~ pela ausência isolamento de base, que
de medidas de reparação consiste em transportar as
ou reforço à posteriori, esti"uturas de base do
deixaram agora expostas edifício, sustentando-
lesões estruturais, que as sobre rolamentos,
nalguns casos até se protegendo solidamente
toda a construção das
agravaram.
Nas edificações modernas, vibrações tectónicas.
cujos projectos são É o Chefe do Centro de
concebidos e homologados Estudos e Equipamento
ao abrigo de legislação em de Engenharia Sísmica
vigor há já 15 anos, o ~~\;:?"' do LNEC quem opina
.,.~.~ ainda que é cada vez
comportamento foi
substancialmente melhor, mais premente uma
pois são estruturas postura de cariz preventivo,
correntes, relativamente sublinhando a título de
simples, em betão armado, exemplo que, com o apoio
e que não ultrapassam os da Fundação de Ciências
5 pisos. e Tecnologia, se prevê
No que concerne a iniciar a curto prazo um
monumentos ou edificações de valor acentuadas. projecto de investigação para os
patrimonial, são essencialmente as No entanto, casos há em que se próximos dois anos e meio, tendo em
igrejas, de menor porte do que as que encontram sinais claros de vista interpretar o comportamento das
existiam na Ilha Terceira e Angra do intervenções de reforço, construções da zona mais antiga da
Heroísmo muito afectadas nomeadamente introdução de cidade de Lisboa, de forma a
aquando do sismo de 1980, que elementosde cintamento metálicos, providenciar a sua protecção e
denotam problemas típicos: fissuras amarração ou atirantamento, e que anular o risco que lhes está
nas torres; os arcos tendem a abrlTpor aparentemente cumpriram com a associado.
V '" C ",8 S 8

ltor alas e lY~


}

..l.

área do património . .J..


"".
ar qUI tectonlCO

_..~. ~~...~ ~ Silva, 55anos,Engenheiro


Civil, é o presidente do GECoRPA - Grémio das
Empresasde Conservaçãoe Restauro do
Património Arquitectónico.
O GECoRPA, as empresas,e o presenteefuturo
do sector,constituem as I'pedrasbase" da
entrevista que se segue.

Pedra & Cal - Qual é o objectivo da existência do


GECoRPA?
Vítor Cóias e Silva -Fundamentalmente, valorizar o
paper das empresas que exercem actividade relacionada
com a conservaçãoe restauro do pahimónio arquitectónico.
Tendo em conta as limitações do próprio país, sobretudo
se em comparação com outros países europeus,
nomeadamente do norte da Europa, existe um conjunto
de insuficiências que é necessário combater e ulh"apassaI:
P&C- De que forma?
VCS - Uma primeira forma de actuação será através
de acções de formação que contribuam para que, a
todos os níveis, o potencial humano das empresas seja
o mais bem aproveitado possível.
É preciso ter em conta que a preocupação com o
património arquitectónico é uma coisa nova,
adquirida há relativamente pouco tempo.
Por exemplo, o grande Coliseu de Roma, um dos
paradigmas do pahimónio da própria humanidade, só teve
as primeiras intervenções de restauro no século passado.
Em Portugal, as primeiras vozes que se levantaram
em defesa do património foram as de Ramalho
Ortigão e Alexandre Herculano.
P&C - Passou entretanto muito tempo. Como é hoje
em Portugal?
VCS - A sociedade, de uma ~orma geral, já tomou
consciência de que esse património existe e é algo de
muito importante que tem que ser revalidação, de que resulta o
preservadopara asfuturas gerações. aparecimento de empresas que não
Preservar,para travar o processode possuem a necessária competência.
deterioração, e restaurar, para Penso que o GECoRPA tem um
devolver as formas e o aspecto de importante papel a desempenhar
uma determinada época. nesse contexto e pode, senão ele
P&C -A intervenção das empresas próprio funcionar como entidade
nesse processo é, portanto, de qualifica dor a, pelo menos,
grande responsabilidade. Há colaborar com a comissão que
garantias quanto à capacidade das existe neste momento, com vista a
intervenções? uma maior fiabilidade da
VCS - Essa é uma questão muito qualificação.
pertinente. Na verdade, não é P&C - E essa posição do GECoRPA
possível caminhar em direcção à já chegou a quem de direito?
excelência nas intervenções de VCS - Enviámos recentemente
conservaçãoerestauro,sem que haja uma carta para a entidade que ahibui
uma cuidada selecção das os alvarás,a Comissão de Mercados de
empresas. Obras Públicas e Particulares, na qual
Por mais especialistas, cientistas nos disponibilizamos para dar o
e catedráticos que existam, as nosso contributo, quer no quadro do
intervenções são feitas através de actual sistema, quer na revisão dessa
empresas,e tem que haver certezas mesma legislação, que está em CUrso.
quanto à competência destas para Estou convicto que o conhecimento
intervir. aprofundado que possuímos nesta
P&C- Mas, insisto.. É possível ter matéria será aproveitado..
garan..tias
'? -
P&C Até que ponto o mercado,
VCS - Neste momento existe a em particular das obras públicas,
legislação sobre alvarás. O Decreto - Lei exige esses alvarás ?
100/88 regula a concessão de VCS - À face da lei, quando se abre
"certificados" que são,'âo mesmo um concurso para intervenções nesta
tempo, atestados de competência área, os donos de obra devem exigir
autorizações para as empresas os alvarás. E fazem-no. Mas face ao
operarem naquela área. deficiente funcionamento do
Se a legislação fosse cumprida, as sistema, têm de ir mais longe,
coisasestariamrazoavelmentebem. substituindo-se à comissão, no
Acontece que não é totalmente sentido de terem garantias de tais
cumprida pois há uma grande qualificações. Ou seja, pedem nos
permissividade quer na concessão, processosde concurso que asempresas
quer no acompanhamento e enh"eguemdocumentação que prove

"Não é possível
caminhar em
direcçãoà excelência
nas intervençõesde
conservação
e 'restauro
sem que haja uma
cuidada selecção
d "
asempresas.
metalizadas,trabalhosem alvenaria, alvará, embora possam ter uma
caixilharia de perfis de alumínio e classificação diferente. Pela
vidros. Isto é, ao mesmo nível de importância de que se revestem, nós
importância. pretendemos que venham a aderir
Há, efectivamente, um ao GECoRPA.
desajustarnentodo sistemade alvarás, Depois, há um conjunto circundante
que se presta ao referido deste chamado núcleo central,
aventureirismo e oportunismo, de constituído pelas empresas que se
empresas sem qualificação para dedicam à renovação urbana, ou se
operar nesta área. quisennos, à reabilitação em geral. São
p &C - Há alguma intervenção empresas que actuam em consh"uções
comunitária ao nível da legislação? já existentes, construções antigas e
VCS - A forma como é feita a
qualificação das empresas que
operam na área do património
arquitectónico em toda a Europa é
extremamente variada. Não há
uniformidade, de acordo com um
relatório do Conselho da Europa
sobre as prátiças de 27 países
europeus, a que tive acesso.
O Conselho da Europa tem feito
alguma coisa com vista à existência
de u~a entidade reguladora.
A Associação Europeia das
Em presas de Conservação e Restauro
do Património Arquitectónico
(AEERPA),está a desenvolver um
trabalho, em colaboração com o
Conselho da Europa, no sentido de
secaminhar para uma uniformidade
da legislação. O próprio CEN -
Comité Européen de Normalisation
também desenvolve esforçosnesse
sentido.
P&C - Estamosafinal, a falar de que
empresas? "Há património
VCS- O universode empresasa queo inventariado, cujo estado se
GECoRPAse dirige, excede as que conhece,mas sobre o qual não
coisas que estas já deviam ter se dedicam exclusivamente à
provado à comissão. conservação e restauro do existe informação de base que
P&C - Há muitas empresas sem permita projectar as
património arquitectónico.
condições para actuar nesta área ? Eu diria que há um grupo de 50 a intervenções necessárias"
VCS - Há de facto, um grande uma centena de empresas, que
aventureirismo. constitui como que um núcleo
P&C- É uma situação preocupante? central daquela que pode ser
VCS - Sim. Sem dúvida. Até porque considerada a parte mais nobre do
o sistema de alvarás, tal como sectotjque é a conservaçãoe restauro
existe, quase que ignora, na prática, do património arquitectónico. São
este sector. empresasque têin uma estrutura que
Os monumentos e o património lhes permite funcionar como bairroshistóricos,ou seja,pabimónio
arquitectónico estão contemplados empreiteirosgerais.Mas há também arquitectónico não classificado.
no actual sistema de alvarás, numa as que se especializam em Também estas são potenciais
categoria denominada " edifícios e
determinadas tarefas muito associadasdo nosso Grémio.
monumentos", na qual aparecem específicas como o restauro d~ p &c - O universo de actuação do
diversas subcategorias. Os peças escultóricas, pintura mural GECoRPA é então esse1
monumentos nacionais aparecem ou fresco ou, mesmo, o vitral. VCS- Sim, mas não só.
como uma de enb'e 15 subcaregorias, São empresas que executam É predso nãoesquecerosgabin~ de
em paralelo com coisas como trabalhos de menor dimensão e estudosde Arquitecturae Engenharia
esbuturas de betão armado ou pré- orçamento, com uma actividade especificamentevocacionadospara
esforçado, estruturas metálicas ou que não exige o mesmo tipo de esta área que, como acontece nas
empresasjá referidas, devem VCS - Temos ainda muito por faze!: A Por outro lado, há património
fazer prova de conhecimentose começar pela necessidade de inventariado, cujo estado se conhece,
competênciasapropriadas, no que toca inventariar, pois não podemos mas sobre o qual não existeinformação
à elaboração de projectos. salvaguardar o que nem sabemos de base que permita projectar as
A obrigatoriedade de qualificação que existe. Reconheço que a intervenções necessárias.
destesgabinetes é outro dos objectivos Direcção Geral de Edifícios e Se tivéssemos recursos financeiros
do GECoRPA, o que vai ao encontro Monumentos Nacionais tem feito suficientes para actuar de acordo
dos próprios profissionais desta área. um grande esforço de inventariação. com as necessidades, verificar-se-
Mas há ainda as empresas, a maior Mas, de facto, é urgente fazer um ia que não existiam projectos em
parte multinacionais, que se reconhecimento, uma descrição e condições de avançar.\ E o que é
dedicam ao desenvolvimento de estabelecerprioridades quanto ao risco mais grave é saber-se de serviços
materiais próprios para utilização de perda do património, por forma a com responsabilidades nesta área

..
"Estamos a falar de um sector que
representa30 milhões de contos/anode
obras da conservaçãoe restauro
adjudicadas, mais cercade 180 milhões
de contos/anode reabilitação de
edifícios"

..
nestas actividades. que os fundos disponíveispossam que não conseguem utilizar a
P&C- E qual é então a realidade responder prioritariamente às totalidade dos seus orçamentos,
actual do GECoRPA em termos de situaçõesdemaiorurgência. por não terem projectoscredíveis
associados ? em carteira.
VCS - Até agora as nossas p &C - Existe classificação
atenções foram canalizadas paraopabimónio?
para as empresas que VCS - Sim. Em Portugal
actuam em património existem h"ês categorias de
classificado,pois é aí que as património arquitectónico:
consequências de uma Os monumentos nacionais,
intervenção defeituosa os imóveis de interesse
podem ser desastrosas. público e os valores
Mas existe,face ao que lhe concelhios.
apresentei, um enorme As unidades que foram
potencial de empresasque objecto dessa classificação,
podem aderir ao nosso constituem actualmente o
Grémio. património arquitectónico
E é preciso ter em conta que propriamente dito. Mas,
estamos a falar de um sector depois, há o património
que representa 30 milhões construído que também
de contos/ano de obras de tem valor arquitectónico e
conservação e restauro, apresenta condições para
adjudicadas, e cerca de 180 ser classificado.
milhões de contos/ano de Em Portugal há cerca de
reabilitação de edifícios,para 3300unidades classificadas,
lhe dar apenas estes dois mas há umas 7000 que
exemplos. reúnem condições e que,
P&C - Como está o mais cedo ou mais tarde,
patrimónioemPortugal? também serãoclassificadas.
..~Évora, integrada no
convento da Ordem
Cartusiana, a Igreja da
Cartuxa ou de Nossa Senhora
Scala Coeli, foi alvo de uma
intervenção de restauro,
apoiada pela Comunidade
Europeia.

A candidatura ao programa
comunitário de apoio a Projectos
Piloto de Conservação do
Património Arquitectónico Europeu
foi uma das 100seleccionadasentre
um total de 2004 apresentadas.Os
50 mil ecus concedidos, apenas
cobriram uma parte dos 120 mil
contos do custo total da obra, sendo
a diferençasuportadapela Fundação
Eugénio de Almeida, actual
proprietária do convento e pelo
Estado Português.
É visível e perfeitamente justificado,
o orgulho manifestado pelo
Arquitecto Fernando Pinto, quanto
ao facto deste projecto ter sido
apoiado com o valor máximo
previsto, reflexo óbvio da qualidade
do projecto apresentado pela
Direcção Geral dos Edifícios e
Monumentos do.Sul.
Mas para o director deste serviço,
igualmente importante é o facto de
a intervenção efectuada ser "um
trabalhonotável" a corresponder às
expectativas. No final da obra, que
durou cerca de dois anos, "a maior
parte daquilo que foi feito não se vê, que
é o que deveacontecerem obrasde

reparado, bem como a aplicação de resolveu o problema, já nas


novos rebocos e caiações. cantarias não foi possível evitar a
Naquilo que se pode classificar existência de vestígios.
como intervenções especializadas, No caso do restauro da lindíssima
refira-se o trabalho de revisão e talha dourada na parede de fundo
reparação de caixilharias e outros da Igreja, para se avaliar do
elementos de madeira. E, neste caso,é resultado da referida utilização
notória a importância da competência como celeiro, atente-se nos 80 kilos
técnica do arlffice carpinteiro que faz de pó aspirados antes de passar à
ajustar a parte nova de substituição ao limpeza técnica.
restauro quando são bem feitas", refere que fica da peça original. Para Para além da reconstrução da
Fernando Pinto acrescentando com Fernando Pinto, que ~ssumiu a armação que suporta e liga a talha
ênfase "a essenível, esta é uma obra responsabilidade máxima pela à parede, foram também efectuadas
irrepreensível". globalidade dos trabalhos, "este reconstituições de partes, às quais,
Os trabalhos de limpeza e restauro procedimento é tecnicamente mais no entanto, não foram aplicadas
das pedras, devolveram à fachada da eficienteface à dinâmica dos materiais novas douragens. A justificação de
igreja da Cartuxa uma imponência e historicamente mais correcto", Femando Pinto surge de forma
própria, que a luminosidade do sol Para se ter uma ideia mais aproximada natural e segura quando explica "não
do Alentejo em muito beneficia, da dificuldade de recuperação do mascarámosnada do que foi feito, para
propiciando, na zona de entrada do interior do imóvel, convém referir que queseentendaqueaquelapeça tem uma
convento, uma imagem de grande a Igreja da Cartuxa serviu durante um idade".
força visual. Uma admiração largo período de tempo como Outra intervenção que registou um
reforçada quando se verifica a armazém de cereais.Uma utilização significativo grau de dificuldade foi
impossibilidade de transpor o portão que, para além de danificar tudo o que a reconstituição dos cadeirais que
de ferro trabalhado, imposta pelas seencontrava abajxo dos 4/5 meh'OSde se encontravam totalmente
regras deste convento, de clausura. altura de cereal, nomeadamente os desmontados, sendo necessário
Regras aliás, rarissimas vezes cadeirais,resultou em penetrações nas refazer as zonas de fixação à parede.
quebradas. paredes e pedras, de sulfato de cobre Por último, refira-se as intervenções
As obras, incluíram diversos trabalhos utilizado para manter os roedores meticulosas que refizeram a pintura
de construção civil, como asreparações afastados do trigo armazenado. Se mural e permitiram a revisão dos
do telhado, que já em 1989 tinha sido nas paredes a aplicação de nova cal azulejos.
- undada e edificada entre 1530 e 1602, por vontade de D. Teotónio de
Bragança, que custeou quaseintegralmente as obras, registou entre 1621e 1625
a construção do claustro e pórtico principal, em mármore, da autoria de Filipe
Terzi.
Em 1663 foi destruída, aquando do cerco de Évora, restando o pórtico de
mármore.
Em 1834 foi extinta a congregação em Portugal e em 1852 foi ali instalada a
EscolaAgrícola Regional,extinta 17anos depois. O Estadovendeu-a a JoséMaria
Eugénio de Almeida, que em 1960a devolveu aos Frades Cartuxos.
Nadescrição feita pela DGEMN -Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais pode ler-se:
- Planimetria longitudinal orientada,composta, regular; volumes articulados,
massasdispostasna vertical,coberturadiferenciada.AntecedeaIgrejamajestosonártex
de cinco tramos de arcariaem alvenaria,corrido na cima1hapor baixa balaustrada
sobre friso de biglifos. A rematar cada um dos fortes pilares de alvenaria,um par
geminadode colunascaneladasda ordem dórica,sobrealtosplintos paralelipipédicos.
Ergue-sesobreo nártexfrontaria monumental de dois lanços,o primeiro corrido por FICHA TÉCNICA DA OBRA
colunatacorintia,em trêstramos,em tudo semelhanteà anterio~com arquitravebem Responsável - ArqQ.Fernando
marcada de molduras profundas e emoldurando os vãos de três amplos janelões Pinto
rectangulares,gradeados.Levanta-seentãoo segundolanço,maisestreitoe amparado Controle T écnico/Financeiro
às ilhargasde volutas,com par de duplas colunasgerninadasda ordem corintia. O ArqQ.JoséRamalho
corpo da nave, cobertode telliado de duas águas,é rematado,no topo, pela curiosa Técnico Projectista e
mole do oratório privativo da comunidade, um cubelo rematado por cunhais OrçamentaçãoArqQ.JoséSousa
apilastrados de cantaria granítica, nos paramentos do qual se rasgam lunetas Fiscalização- António Modas
circulares. A capela mor, pouco profunda, não se distingue exteriormente do Trabalhos de Construção Civil
corpo da nave. No interior do nártex coberto por cinco cruzarias de ogiva Paulo Ferreira (Empreiteiro)
descarreguesem mísulas, abre-seo pórtico, com belo entablamento setecentista Conservação da Pedra - Carlos
assenteem sobreposição de pilastras da ordem jónica. Interiormente, a Igreja Eduardo Boal
tem traça modesta, com nave única de berço e a capela mor pouco profunda Recuperação e Restauro dos
franqueada por arco triunfal de volta perfeita e ombreiras apilastradas. Cadeirais - Isabel Pombo
Pinturas Murais - Mural da
História, Lda
Recuperaçãode Talhas
Douradas - Tacula,Lda
Af e
I'W

ao

L_I Portugal,no início dos aqueles envolvidos na defesa do


anos 90, inicia-se a democratização património, sãoaspectosdecisivosna
dos cursos de especializaçãoe tese divisãoenh"ea arte da construçãoe a
a que se atribui o título de Mestre. ciênàada conservaçãoe restauro.fur
Nos últimos três ou quatro anos, outro lado, começa a surgir uma
produziu-se um desenvolvimento consciênàapúblicada necessidade de
e crescimento rápido do número de protegero património arquitectónico
cursos de mestrado, considerado e wbano.
anómalo por alguns especialistas Estes aspectos introduzem na
que dizem ser motivados pelo êxito conservação do património uma
económico alcançado por alguns dimensãoe carácterpróprios, sendo
deles. Esta proliferação tem levado extraordinariamentedifícil respeitar
a um certo grau de saturação desta o património sem formação e
modalidade de ensino e, em conhecimento específicos. O
diversos casos, à perda do rigor conheCimento e formação cobrem
académicoque a sua aprendizagem uma variedademuito abrangentede
requ~ assistindo-se, inclusivamente,à áreas,muitas das quais não estão
sua desvalorização no currículo incluídas na formação tradicional
profissional por parte do meio oferecida a engenheiros civis e
empresarial. arquitectos, os profissionais
usualmente mais envolvidos na
A arte da construção e a ciência da conservação do património. Estas
conservação/restauro áreas incluem a arqueologia, a
A necessidade de receber uma história da arquitectura e do
formação séria, regrada e urbanismo,o planeamentowbano, a
metodológica no mundo da forma estrutural da arquitectura e a
conservação é imprescindível em utilização dos materiaistradicionais,
Portugal, ainda que se verifique a o estudo dos seus mecanismos de
quase inexistência de cursos deterioração e os métodos de
nacionais de mestradonestecampo. consolidação ou substituição, e,
A conservação e restauro de finalmente, a história da filosofia e
monumentos e zonas históricas ética da conservação.
wbanas ou rurais sãodisciplinasque
exigem uma formação espeáfica.O o panorama
internacional
rápido desenvolvimentodosmateriais 'Irês cursos de mesh'ado atingiram
e técnicas de construção, que se renome internacional sendo, por
afastaramda prática tradicional,e as isso, leccionadosna língua inglesa,
descobertascientíficas,que colocam nomeadamente o Mestrado em
novos métodosà disposiçãode todos Conservaçãode Cenh'ose Edifícios
Estudos de Conservação da 5. Campos específicos de
LA MAI8ON DE VILLE DE
Universidade de York,Reino Unido, actuaçãoe técnicasespeciais LDUVAIN.

e
e o Mestrado em Restauro de Conservação de vitrais, = SuA.u-.l<.-
Estruturas Arquitectónicas, da pinturas murais, decorações
Universidade de Florença,Itália. Os de interior e conceitos ~
programas destes mestrados sobre as instalações
ilustram as áreas abrangidas e a técnicas em edifícios
pluridisciplinaridade referidas históricos; Introdução à
anteriormente. Todosos mestrados conservação de jardins
incluem ainda um número elevado históricos e paisagens;
de classespráticas e visitas a locais Estereotomia
seleccionados. 6. Políticas de conservação
L e gi s I a ç ã o europeia e análise
Programa do Mestrado em comparativa de decretosno l
Conservaçãode Centros e Edifícios campo da conservação;
Históricos Protecção internacional a
(CentroR. Lemairepara conservação monumentos e zonas
- Uniwrsidade Católicade Lovaina) históricas;Análise sociológica ~

1. Teoria e história da conservação e futuro da reabilitação de


do pabimónio arquitectónico centros históricos; Aspectos
Teoria actual da conservação do económicosda conservação:
pabimónio arquitectónicoe daszonas dimensão económica do
históricas;História da conservaçãodo património arquitectónico e
pabimónio arquitectónicoe daszonas custos;Aspectoseconómicos
históricas;Metodologiada história da da conservação; Problemasde
arquitectura; História e análise das segurança:protecçãoao fogo,
estruturas arquitectónicas e a sua risco sísmico,problemas de
evolução;Métodosde conservação de acessibilidade
monumentos, com aplicações(casos Importa salientar que na
práticos) vizinha Espanha, nos
2.Teoriae históriade zonashistóricas últimos dez anos, surgiram
rurais e urbanas cursos de mestrado no
Teoria e história urbana: a campo da conservação, -
renovação urbana; Metodologia da restauro e reabilitação em
história urbana; Métodos e prática diferentes universidades.
da reabilitação e conservação de Os sucesso dos mestrados
centros históricos e zonas rurais na área da conservaçãodo
(ilustrado com casos práticos); património é portanto uma
Arquitectura do recheio realidade no panorama
3. Técnicasde análisee registo internacional.Osinteressados
Técnicasde levantamento,incluindo nesta formação deverão
fotogrametria, levantamento aéreo incluir técnicosdasautarquias
e interpretaçãofotográfica; Métodos e das instituições que
utilizados na arqueologia,incluindo tutelam o património,
anastylosis; Técnicas de registo e consultores de arquitectura
documentação do património; e engenharia, e quadros de
Teoria e métodos no projecto empresas especializa das, de
estrutural e arquitectónico (CMD); forma a que os diversos
Seminários sobre concepção e intervenientesno património
modelação estrutural passem a dispor de uma
linguagem e uma atitude -
4. Materiais de construçãoe técnicas
de conservação comuns, se respeitem
Materiaisde construçãoe decoração: mutuamente e cada interveniente seus quadros, forçando o debate
evolução da sua utilização, técnicas compreenda as preocupações e sobre os melhores materiais e a sua
tradicionais nas diferentes artes os problemas dos restantes aplicação idónea, tais como
(Argamassas; Madeira; Pedra); intervenientes. Estes mestrados empresasde conservaçãode pedra,
Patologiase técnicasde conservação; podem ainda funcionar como um de madeira, de rebocos,de estuque
Estabilidadede estruturashistóricas: fórum para empresasque dispõem e pinturas tradicionais, de vitrais, de
análise, diagnóstico, reparação e de materiais e técnicas de ponta gesso, acústica, iluminação,
técnicas de consolidação; Análise das para o restauro, que se preocupam climatização, reforço e segurança
causasda humidade e tratamentos com a formação permanente dos estrutural, etc.
o panoramanacional
Em Portugal, parecem existir
apenasdoiscursosde mestradosde
algum modo relacionadoscom o
património: o Mestrado em
Museologia e Património do
Departamentode Antropologiada
UNL e o Mestradoem Reabilitação
da Arquitecturae NúcleosUrbanos
da FaculdadedeArquitecturadaUTL.
É habitual que os mestradosdos
Departamentos de Engenhariaavi!
da EEUM, FEUp, FCTUC e 1ST,
relacionados com a construção,
incluamdisciplinassobreconservação,
patologia, reabilitação ou reforço
(infelizmente,somosde opinião que
alguma formação, generalista e
desenquadrada da problemáticado
pabimónio, pode sermaisprejudicial
que benéfica).Entre outras iniciativas
referem-setambém os cursosde pós-
graduaçãono âmbito da conservação
e reabilitaçãode edifíciosno 1STe da
patologiada pedra na FEUI?
A reduzida actividade na área é de
difícil compreensãomas demonstraa
realidade inquestionável do seu
abandonopela comunidadetécnicae
científica.Esteabandonoterá decerto
inúmeras razões, devendo-se
responsabilizar a globalidade dos
intervenientes: instituições que
tutelam o património, entidades
financiadoras da investigação,
empresas e Universidades.
Um aspecto que poderá ter
também contribuído para este
estado das coisas é o facto da
Arquitectura em Portugalter estado,
por um longo período de tempo,
integrada nasBelasArtes,possuindo
uma componente técnica reduzida
e uma componente artísticaelevada.
Em diversos países europeus a
formação em arquitectura é de
índole substancialmente mais
técnico. Admitindo como válidas as
palavras de Rocci, "quando a acção
de restauro se afirmou como constituído pela consolidação da Departamentosde EngenhariaOvil,
conservação, o peso determinante esh"uturae dos materiaise, portanto, ainda que a pluridisciplinaridade do
da componente estilista do a verdadeira competência alargada tema e a falta de uma atitude comum
restaurador, entendido como um num restauroé de caráctertécnico"!, contribuem, presentemente, para
reintegrador estilístico, foi os cursos de mestra do em algumasdificuldadesna constituição
imensamente diminuído: hoje 80% conservação,restauro e reabilitação de equipase programasde formação
do conteúdo do restauro é deverão estar ligados aos avançada.

I Rocchi, G., "lstituzioni di restauro dei beni architettonici e arnbientali: Cause, Accertarnenti, Diagnosi, Prevenzione, lnterventi'

Collaudi, Editore Vinco Hoepli, Milano, 1990.


verdade, mas é uma presença que, para além de não ter
moda que veio para ficar, pena é qualquer efeito, o que é já de si
que muitas empresas não inconsequente, não estabelece
valorizem este novo meio de qualquer mais valia adicional.
comunicação,atitude que pode vir Muitas das empresas apresentam
a ter consequências negativas a sites, vulgarmente chamados
médio e longo prazo. "páginas", sem qualquer objectivo
A competitividade crescentea nível definido e sem daí se constituir
local e regional não deixa espaço nenhum valor acrescentado ou
para opçõesmenos certas,exigindo vantagem competitiva.
das empresas uma presença A forma como uma empresa se
objectiva e cuidada. apresenta na intemet não deve ser
Existe,por outro lado, um mercado deixada ao critério de um indivíduo
totalmente inexplorado à nossa ou de um grupo restrito de pessoas
espera, oportunidades que se sem o conhecimento real das suas
escondemnum universo semlimites característicasparticulares, da sua
e em contínua expansão (podemos história, limitações (se é que elas
comparar este fenómeno a um dia existem),potencialidades,evolução,
em que nas 24h disponíveis a tendências,regrase vantagens.
intemet se encontra, em termos de O que acontecemuitas das vezes é
crescimento, apenas no lQ segundo). uma empresacolocar a sua imagem
Mas a nossarealidade actual é bastante corporativa como um autocolante
diferente.A maioria das empresas que se fixa numa superfície, neste
portuguesas tem apenas uma caso o cinescópio do monitor, sem

..
o utilizador típico
-deinternet é
extremamente
exigente e procura
altíssimos padrões
de qualidade,
dos quais não
abremão.
..
tentar deixar claro o que desejam e
esperam os utilizadores.
Um site atractivo, rápido e bem
organizado, faz com que muitas
vezes o utilizador prolongue a sua
visita para além do que pretendia
inicialmente. Encontrar e ficar a
conhecer mais sobre os serviços e
capacidades de uma empresa pode
vir a traduzir-se num contacto
futuro e num possível trabalho.
Numa situação oposta, se a
utilização de um site for confusa e,
ou, lenta será rapidamente
abandonado pelo utilizador/
cliente, sem nunca ter alcançado o
seu objectivo. O pior é que, tendo-se
provocado uma desagradável
sensaçãode frusb"ação,os utilizadores,
na sua grande maioria, não voltarão a
visitar osite. Oub"a agravante é que,
além de fugirem apressadamente do
site em questão, poderemos ver a
nossa ciber-reputação descer.
Aliás, o utilizador típico de intemet
é extremamente exigente e procura
altíssimos padrões de qualidade,
dos quais não abre mão. Este
utilizador (em linguagem calão
classificado como ciber-surfista ou rato
de internet) rasteja vorazmente pela
internet coleccionando informação útil
ou simplesmente deambulando
curioso em busca de novidades.
Como diz o ditado popular: o que
é barato sai caro. No caso de um
site, este ditado faz todo o sentido.
No entanto pode optar-se por a Marketing, designe
soluçõeseconómicassem seprejudicar mestria técnica são
a imagem da empresa. Existem
soluções tipo implementadas com componentes
sucesso que sem grandes custos essenCIaISpara o
podem asseguraruma forma digna de desenvolvimentode
nos posicionarmos na intemet.
É possível ter um site com um pequeno
um site que
investimento que não prejudique a
imagem da empresa e que se traduza
. .
vroporclone uma
posiçãoestratégica.
num substancial valor acrescentado.
Outra das consequênciasdevastadoras
da forma desadequada de alguns sites, que este deve fornecer urna perda de tempo e dinheiro.
é o problema que se tem de imagem atractiva (design) ser Deve ter-se sempre em conta o
enfrentar, quando mais tarde se tecnicamente funcional (técnica) e factor custo/benefício:Seele não for
pretende ter uma presença mais ter um conteúdo sedutor favorável, talvez dispense uma
consequente e apelativa. Nesse (marketing). presença na intemet - a não ser
contexto teremos de contabilizar Marketing, design e mestria que se pretenda apenas estar na
aoscustosde produção o acréscimo técnica sãocomponentes essenciais moda.
dos de afirmação/promoção. Ou para o desenvolvimento de um site
seja, é mais caro recuperar uma que proporcione urna posição
imagem do que criá-Ia. estratégica. Os sites criados sem Nota: O GECoRPApõeà disposiçãodos
Para concluir, ao pensar num site urna destas três fundamentais seus associadoscondiçõesfavoráveis de
para a sua empresa tenha em conta componentes são em geral urna elaboraçãode sites na internet.
...
Igreja
s.

- ' ituada no bairro da


o dízimo sobre os moradores e os
Mouraria de Lisboa, a meio da proprietários da freguesia, de modo a
encosta na antiga linha de que se pudesse pagar os trabalhos
separação da cidade cristã e do necessários à sua reconstrução, no
arrabalde que D. Afonso Henriques valor de 390$00 para a carpintaria,
destinou aos mouros vencidos, e de 2.000 cruzados para a pedraria3.
encontra-se a Igreja de S. Lourenço, Parte desses trabalhos pode, ainda
cuja fundação recua, pelo menos, hoje, ser observada na capela-mor e
ao séc. XII. Do período gótico nos arcos de embrechados existentes
ficaram duas das cinco capelas que no interior da igreja,bem como nos que
tinha a primitiva igreja, capelas foram transferidos para uma ala do
essas postas a descoberto pelas contíguo Palácio da Rosa, consttuído
campanhas de obras recentemente também nesseperíodo. O palácio ligar-
empreendidas. Separadas pelo que se-ia à igreja, então, através de uma
é hoje o corredor lateral de acesso tribuna aberta na parede norte num
à igreja (entrada do Largo da Rosa), espaço que, pela sua volumetria,
terão sido bastante destruídas pelos sugere ter aproveitado uma das
sismos que abalaram a cidade, em capelas góticas. Os numerosos
especial o de 1531. Mais do que o vestígios ainda existentes mostram-
de 1755, responsável pela queda de nos que foram, sem dúvida,
metade do tecto e de todo o coro, importantes as obras empreendidas
foi o abalo de 1531 aquele que sob o domínio filipino.
maiores estragos produziu, como Não menos importantes seriam os
se pode inferir do pedido feito em trabalhos do séc. XVIII, devidos
1611 a Filipe 11 por Lourenço não só à iniciativa de D. Tomás de
Macedo de Fróis, Provedor das Almeida (primeiro Patriarca de
Capelas dos Orfãos, para que Lisboa, que teve aqui o seu
fossem executadas obras na igreja, primeiro cargo eclesiástico), mas
em virtude de não se poder celebrar também às já referidas campanhas
nela o ofício divind . Foi então lançado empreendidas depois do sismo de

I Arquitecta Mestre em História da Arte, Assistente e membro do Centro de Estudos Históricos da


Universidade Aberta, colaboradora do Gabinete Local da Mouraria da Câmara Municipal de Lisboa.
2 A.N. T. T. - Chancelaria de Filipe 11,Livro XXVIII,fi. 62ve fi. 40.
3Ibidem
1755 (concluídas em 1763) que calda de cimento e cal nas
confeririam à igrej a o seu paredes resinas hipóxidas nas
aspecto actual, revestindo as cantarias. A convite da S.IA.E
paredes da nave com azulejos veio a Lisboa o Professore EngfJ
historiados alusivos à vida de S. Lizzi (responsável pela
Lourenço. consolidação de importantes
Um século mais tarde, nova monumentos em Itália, tais como
campanha de obras seria Ponte Vecchio em Florença, e o
responsável por oubâs alterações Templo de Ceresem Paestum,só
de menor importância. Já neste para citar alguns)que,na própria
século, as obras empreendidas obra, nos aconselhou sobre os
pelo Marquês de Ponte do métodos e técnicas a utilizar.
Lima em consequência da As sondagens realizadas - picagem
abertura da rua homónima, .de
dasparedes e verificação do estado
fundações - implicaram a
provocariaI)1 consideráveis
transformações, em especial nos necessidade de intervenção de
espaços anexos à igreja (agora uma equipa de arqueólogos do
ligados a uma nova ala do palácio I.EP:A.R., que acompanharam
construída a sul), e, subindo todos os trabalhosdestaprimeira
consideravelmente a cota da rua, fase.Essassondagensrevelaram-
o que implicou o desaparecimento sede primordial importânciauma
da escadaria de acesso à porta vez que, para além de nos terem
principal da igreja, registada numa dado algumas respostas a
gravura de Gonzaga Pereira, problemas de ordem técnica
em 18334. ajudaram-nos, também, a
Em 1970 a família Castelo- conhecer melhor a história do
Melhor venderia à Câmara próprio edifício.Pudemosconcluir,
Municipal de Lisboa o conjunto com efeito, que muitas das
formado pela igreja e palácio. patologias existentesresultavam
da coexistenciade campanhasde
Metodologia de intervenção obras e de materiais de épocas
Integrada na Área de diferentescompletando,na prática,
Recuperação e Reconversão alguns dos conhecimentos
Urbanística do Gabinete Local adquiridosatravésda investigação
da Mouraria a C.M.L. iniciaria, histórica.
em 1989, os trabalhos para a As importantes descobertas
recuperação da igreja, em então feitas, com especialrelevo
virtude do elevado estado de para as capelasde período gótico
degradação em que esta se (F~ 3 e 4), obrigaram à
encontrava. Inicialmente, estes reformulaçãoda proposta inicial
tinham por objectivo, apenas,a de simplesconsolidação estrutural
sua consolidação estrutural, de e de restauro,e à criaçãode uma
acordo com as seguintes equipa multidisciplinar que, ao
patologiasdetectadas: acompanhar ininterruptamente
- fendilhação acentuada das todos os trabalhos, tem vindo
paredes mestras; sempre a confrontar-se com
- desligamento da fachada novas situações. Houve, assim,
principal; necessidade de adoptar uma
- alvenarias com elevada metodologia que estabelecesse
percentagemde vazios; diferentes níveis de intervenção
- cantarias desniveladas e e que, apesardo confronto entre
partidas; vestígios de períodos diferentes,
- nós estruturais fragilizados; mantivesse a unidade formal do
- ataque de insectos xilófagos e edifício.Essamesmametodologia
de fungos nas madeiras. obrigou a uma redefinição dos
Ntnm primeira fase, os espaçose à adopçãode diferentes
trabalhos têm-secentrado nessa níveis de intervenção(parao que
mesma consolidação, feita é fundamental,do ponto de vista
através da execução de micro- técnico e formal, a análise
estacas (Fig.1), pregagem da
ln "Monumento" Sacros". Lisboa 1834.
fachada (Fig.2), injecções de 4
atenta dos materiais), a que sua vez, diferentes níveis de
correspondem, também, zonas intervenção, evitando o
distintas de intervenção. ecletismo que resulta, na maior
Iniciar-se-á,assim,uma segunda parte das vezes,da necessidade
fase dos trabalhos que terá por de coexistênciade elementosde
objectivo(Fig.5): diferentes períodos (todos eles
igualmente importantes) em
1.- A par da consolidação das espaçosnão diferenciados.
estruturas, o restauro integral
da igreja (nave, capela-mor, 3 - Reposição integral de uma
baptistério, sacristia e tecto, de das capelas góticas (capela
que faz parte, ainda, o restauro gótica principal), através do
do altar-mor e altares laterais, seu desentulhamento, e do
aZulejos,telase imaginária).Para refechamento dos vãos abertos
tal, foram analisados todos os no séc.XVIll.
materiais, nomeadamente os
diferentes tipos de argamassas, 4 - Criação de uma área
para que.os elementos agora museológica que integrará e
utilizados tenham características articulará os espaços que, em
semelhantes aos originais, de virtude das suascaracterísticas,
modo a evitar incompatibilidades já não sejam passíveis de um
que possam provocar novas restauro integral, ou que não
patologias. tenham grande valor
patrimonial. Estão neste caso a
~ 2- Reformulação da áreasul, segunda capela gótica
~ anteriormente ocupada pelas (bastante destruída pelos
'1 habitaçõesdo pároco e do vários sismos), a antiga casa
,. guarda do palácio e que do guarda e, no piso 3, a sala
correspondem,actualmente,às situada sobreas capelasgóticas,
capelas góticas descobertas que se destinarão a um espaço
duranteostrabafuos.As evoluções simultaneamente de apoio à
i sofridaspelaigrejaao longodos igreja e de exposições. Esta
séculosconduziu à transformação área, além de integrar os
da igreja gótica com capelas vestígios arqueológicos já
laterais, numa igreja barroca e descobertos (e que venham a
rocócóde nave única,tendo essas ser descobertos em futuras
capelassidoadaptadasa serviços campanhas) integrará, ainda,
autónomos em relaçãoà própria uma exposição permanente
nave. Estasituaçãopermitiu, por com o historial do edifício.
Direcção de obra: Arq~ Teresade
Campos Coelho.

Fiscalização: Arq~ Teresa de


Campos Coelho e Eng!!Elizabeth
Figueiredo

Equipa projectista exterior:


ArqQ Khol de Carvalho e En~
Prada-Santos

Fotografia: Jorge Brilhante


(Presidênciada República)

Consolidação: S.T.A.r, OZ e
Cimeira.

Estudo dos materiais: S.IA.E e


OZ.

Restaurode azulejo: Equipado


Museuda Cidadeda CoMoLo

Restauro de pintura: Instituto


Joséde Figueiredo.

Investigação histórica:
- Arq~ Teresade Campos Coelho
-
1 Entrada principal (Rua Marquês Ponte do Lima) Arquitectura (Universidade
2 - Entrada secundária (Largo da Rosa) Aberta e Gab.Local da Mouraria)
A-Nave - Prof. Doutor José Custódio
B - Capela-mor
Vieira da Silva -Arquitectura
C-Sacristia Gótica (Dep. de História da Arte
O - Sala de apoio à sacristia (piso 1) da Universidade Nova de
Tribuna com ligação ao Palácio da Rosa (piso 2) Lisboa)
E - Baptistério
F - Sala de apoio à igreja (actualmente, segiunda capela gótica) - Prof. Doutor Vítor Serrão-
G - Antiga habitação do pároco (actualmente, segunda capela Pintura (Dep. de História da Arte
da Faculdade de Letras de
gótica) Lisboa)
H - Antiga casado guarda do palácio (área actualmente integrada
no projecto da igreja) - José Meco - Azulejaria (Instituto
José de Figueiredo)

- Dr. Clementino Amaro


Arqueologia (Instituto Português
de Arqueologia)
ce e ca

- ---' grande tomada de pronunciar. A grande diferença na


escrutura das paredes dos castelos e
consciência das pessoasem relação ao
valor do Património, associada ao fortalezasdeve-seao aparecimento das
desenvolvimento do turismo cultural armas de fogo, nomeadamente os
está a levar a um crescente interesse canhões. O aumento da energia
das entidades públicas e privadas na cinética dos projecteis e mais tarde o
preservação de Zonas e Edifícios aparecimento da bala explosiva,
Históricos. Neste contexto têm especial alterou radicalmente o desenho das
destaque, castelose fortalezas, devido fortificações usando-se no entanto os
ao seu aspecto emblemático, às suas mesmos materiais estruturados de
grandes dimensões e características forma diferente.
construtivas. Não podemos esquecer Os edifícios civis foram conshuídos,
que asformas, estruttiras e os materiais ao longo da história, para resistir às
componentes das fortificações solicitações normais. Nos termos
funcionam de forma completamente modernos essas solicitações foram
diferente dos edifícios civis. regulamentadas e aprovadas em
As paredes dos castelos e fortalezas Portariasque têm força de lei geral para
todo o país. Essesregulamentos não
eram especialmente preparadas para
resistir às acções mecânicas violentas contemplam as solicitaçõesa que estão
que visavam a sua destruição. Essas sujeitas as fortificações, pois desde
acçõesevoluíram no entanto ao longo sempre essesaspectosparticulares dos
dos séculos, de acordo com os sistemas escruturais eram tratados no
processosnos armamentos. Isso pode âmbito militar. Primitivamente de
ser compreendido pelo estudo da forma empírica e a partir do séculoXVI
evolução da Arquitectura Militar, em de forma cada vez mais científica. As
que tudo tem uma lógica. O mais fácil grandes alteraçõesderam-se no século
de apreender é a diferença na passadodevido ao espantosoaumento
configuração exterior e interior das
formas, mas esseaspecto nem sempre
é o mais relevante. A selecção de
materiais de construção e a sua
aplicação, que muitas vezes escapa a
um observador menos atento, pode
ser o aspecto essencial
As diferenças de materiais estão
associadas a diferenças estruturais.
Podemos observar eventualmente
tanto um castelo como uma fortaleza
revestidos de pedra. No entanto, esse
material que vemos exteriormente
pode ter funções distintas. Temos que
conhecer os efeitos mecârricos das
acçõesde guerra para saber o porquê
da aplicação dos materiais. É
necessárioconhecer o efeito dos
armamentospara nos podermos
do efeito dos projecteis. A resposta fui embarcada nos navios do que
a utilizaçãointensiva do ferro nas extrair e transportar este material
eshuturas furtificadas, a que se seguiu por via terrestre.
o betão annado. O mito do transporte das pedras e
Há no entanto um aspecto comum, ao da madeira no bojo dos navios está
longo da história da fortificação até ao em declínio. Alguns historiadores
século XIX, que corresponde ao uso fizeram uma generalização apressada
intensivo dos recursos locais. Não daquilo que foi uma excepção. Em
havia outra soluçãodevido à espantosa certos casos foram transportadas
quantidade de materiais de construção pedras aparelhadas e por vezes
que era necessário utilizar. Por essa trabalhadas destinadas ao
razão existiu semprel1ffi predomínio guarnecimento de vãos ou a
de materiais naturais e de fácil outros locais nobres dos edifícios.
aquisiçãolocal Nos castelosmedievais, A madeira também só foi transportada
herdeiros da q-adição assíria, romana em casos excepcionais em que havia
e muçuJmana havia um predomínio necessidade da construção rápida de
da pedra, do tijolo ou de um material tranqueiras ou casas fortes em
quase petrificado, a taipa. Em situaçõesde construção à viva força ou
contraposição na fortificação de perto disso.
transição do séc. XV e na sua Há que fazer UI)1esforço de pesquisa e
sucessora abaluartada do séc. XVI divulgação no que se refere à
e XVII começou a prevalecer o aplicação destes materiais de
uso da terra sobre a pedra. construção elementares para não se
A madeira como material esteve cometerem erros no restauros nem
sempre presente em: todos os se fazerem opções erradas nos
modelos de fortificação.. programas de recuperação dos
Conjugada com o uso da terra era imóveis. É preciso não esquecer que
base da fortificação passageira, estes materiais eram aplicados com
complemento indispensável da critérios que por vezes demoraram
fortificaçãopermanente. Era séculos a aperfeiçoar. As dimensões
também usada directamente com que eram incorporados no todo
aplicada em articulação com as construtivo estavam relacionadas com
eshuturas fortificadas dos castelos e as suas característicase com a função
fOrtalezas devido às suas características que essecomponente desempenhava
como material de conshução. Podia- no todo em que estava aplicado.
setrabalhar facilmente, resistiaà flexão, A conservação e o restauro de castelos
tinha um bom comportamento à e fortalezas devido a este papel muito
compressão e era relativamente específico que os materiais de
durável em ambientes climáticos construção desempenham constitui
estáveis. uma disciplina à parte em questões de
Para além do uso da terra, da pedra e recuperação. Não podemos esquecer
da madeira havia lugar à aplicação de que a mudança de configuração das
outro material sempre que possível de próprias fortalezas durante a sua
recurso local e que tinha a função de existência está relacionada com a entender a Arquitectura Militar do
aglutinante. Essematerial era a cal, que alteração do papel que os edifício e a sua própria evolução para
podemos encontrar na composição mesmos materiais de construção tomar decisões na aplicação dos
das argamassas das fortalezas que desempenhavam na estrutura materiais. Os estudos arqueológicos
os portugueses construíram ou defensiva. No período medieval a não podem continuar com a atenção
remodelaram em Marrocos, nas pedra era o material mais centrada num passado deslumbrante
Ilhas Atlânticas, na Costa Africana, importante na construção dos que se encontra enterrado.
na Índia, no Extremo Oriente e no castelos. Na época moderna a pedra Diante dos nossosolhos, sobressaindo
Brasil. passa a ter um papel mais decorativo no terreno há uma realidade física que
De todos os materiais que citámos a e também de protecção ao material tem que serestudada com o auxílio dos
cal foi o único que foi transportado mais importante para o sistema de especialistas em Arquitectura Militar.
em quantidades apreciáveis. Nem defesa, a terra. Só dessaforma serápossível preservar
sempre se podia dispor deste Nos restauros que temos vindo a esse emblemático património
precioso aglutinante nos locais em acompanhar ou a observar nem construído que marca fortemente as
que por razões estratégicas militares, sempre sevê que haja uma perfeita nossaspaisagens.Castelose Fortalezas
ou comerciais, havia necessidade de compreensãodo papel dosmateriais só semanterão" de pedra e cal" senão
construir o recinto fortificado. Era de construçãocomoconbibuto paraa cedennos à tentação de intervir antes
mais fácil, por vezes trazer a cal capacidade defensiva. É essencial de os estudar.
. .
~lnveshgação,

com informação já conhecida. Talvez que ocorre desde a sua construção,


a única coisa "inalteráveY' desta fase seja por degradação dos materiais,
sejam os dados dimensionais, uma vez negligência, novos usos, alteração
que toda a oub'a informação funciona na sua, relação com a envolvente,
como variável que pode, inclusive, origina uma página nessa história,
modificar "verdades" entendidas que se torna necessário"ler",
como absolutas, atendendo ao seu Perante o que se disse atrás, é óbvio que
carácteressencialmenteinterpretativo. qualquer intervenção no património
O rigor científico com que se devem arquitectónico deverá começar pela
realizar estas tarefas, fazem da investigação que fundamentará o
análise uma etapa fundamental projecto e, consequentemente, a
para o conhecimento dos elementos intervenção.
constitutivos do imóvel e das suas Na verdade, porém, a realidade ~
patologias. bem diferente e por diversos
A partir desta etapa, começarão a motivos: o desconhecimento das
manifestar-se à priori, pré- investigações realizadas, os
diferentes critérios de intervenção
dos Organismos que têm a seu cargo
" Todoo edifíciotem uma história
os projectos, objectivos distintos, etc.,
e toda a alteração que ocorre originam intervenções conjunturais.
A investigação é, nonnalmente, feita
desde a sua construção, seja ou por Laboratório Oficiais ou pelas
por degradação dos materiais, Universidades, enquanto que a
negligência, novos usos, competência e autoridade ~ intervir
no Património Arquitectónico,
alteração na sua relação com
especificamente no classificado, está
a envolvente, origina uma entregue a dois Organismos Oficiais
--- odo o projecto e posterior
- o WPAR e DGEMN.
]xi gina nessa história, que se torna
intervenção no património
Esta situação pode descrever-se
arquitectónico, qualquer que seja necessário "ler".
a sua escala, começa com a
investigação, entendendo-se por .. utilizando aspalavrasde Ortegae
Gasset".".,somosaJmOessesremoinhos do
deserto,em que ~recendo uma coluna, mda
esta o estudo, o conhecimento e a diagnósticos ou conclusões
análisedo edifício. parciais das patologias que levarão uma das areiasque aformam não reconhece
Os dados adquirem um carácter a um juízo crítico que, como no a ex"istênciareal das outras, mesmo que o
particular e manife~tam-se no casodo levantamento, deverão ser ventoqueasimpelesejao mesmo ",
levantamento, sejao das patologias, passíveis de reinterpretação. Assim são estesOrganismos, formam
o dimensional ou o histórico. O É importante referir aqui a o mesmo remoinho, quer dizer o
levantamento, como suporte relevância da monitoragem da mesmo fenómenode afinidades, mas
fundamental para o conhecimento, evolução do comportamento do conhecem-se pouco e, nalguns
não constitui uma tarefa fechada edifício, quer na fase do diagnóstico aspectos, ignoram-se por completo.
em si mesma, mas pelo contrário quer para a avaliação dos efeitos Torna-se então necessário encontrar
abre novas possibilidades de das medidas correctivas e os canais adequados para que os
reinterpretação de dados, seja pelo resultantes da intervenção. conhecimentos e realidades de cada
avanço tecnológico, por novas Poderá perguntar-se porquê este uma destas Instituições sejam um só
investigaçõesou pela confrontação contínuo voltar ao conhecimento já conhecimento e realidade, em
adquirido? Porque todo o edifício benefício do nosso Património
,specialista em recuperação de património
tem uma história e toda a alteração Arquitectónico.
H á maisde uma décadaque a Recuperaçãoe Beneficiaçãoda Recuperaçãodo Jardim da
QUINAGRE - Estudos e Igreja da Graça - Santarém Cascata
Construções,Lda. decidiu Início - 1996 Quinta Real de Caxias
entrarno segmentodarecuperação -
Duração 18meses Início - 1996
do património. Uma decisão Valor - 165 mil contos Duração - 18 meses
estratégica que implicou uma Dono da Obra - IPPAR Valor - 75 mil contos
verdadeirareorganização interna, Dono da Obra - Câmara
de procedimentose normas. Recuperaçãodo Jardim das Municipal de Oeiras
Afinal, tratava-se de contribuir Damas
paraa preservação do património, Palácio Nacional da Ajuda em Recuperaçãoda Torre do Relógio
classificadoou não, de um país e Arranjos Exteriores - Santarém
Lisboa
coma responsabilidade de séculos Início - 1994 Início - 1998
de História. -
Duração 18 meses -
Duração 3 meses
Hoje, o balanço é francamente -
Valor 170 mil contos Valor 50 mil contos
positivo, e o futuro tem como -
Dono da Obra IPPAR Dono da Obra - Câmara
indicadores as marcas de Municipal de Santarém
intervenções que valorizam o
curriculo de uma empresacom
I credibilidade no presente, para
garantir para o futuro a riqueza
arquitectónica do passado. Palácio Nacional
De acordo com o En~. Joaquim da Ajuda
Quintas "nãofoi, nem seráfácil, JUraas Recuperação do
empresasqueassumemresrxmsabilidades Jardim das
nas suas intervenções, fazer face a Damas
IPPAR - Inst. Porto
uma concorrência que faz do preço a
do Patrim.
sua arma principal". O sócio gerente
Arquitectónicoe
da Quinagre acrescenta 'felizmente
Arqueológico
que a grande maioria dos nossos clientes
exige referências de trabalhos executados
pornós".
A título de exemplo, a seguir se
enunciam algumas das últimas
Museu Nacional
i obras de referência:
de Arqueologia
RecuperaçãoEsb"uturalda Recuperação
Coberturada Ala Norte do Museu estrutural da
Nacionalde Arqueologia Mosteiro cobertura
Ala poente
dos Jerónimos IPPAR - Inst. Porto
Início-l996 do Patrim.
Duração- 24meses
Arquitect6nico e
Valor- 102mil contos
Arqueol6gico
Donoda Obra- WPAR
QZ

A Oz passourecentementea ter disponíveis 5 novas técnicasde


levantamentoe diagnóstico,particularmentevocacionadaspara
construções antigas. Estas técnicas vêm-se juntar às já
anteriormentediponíveis na Oz, constituindo um poderosoconjunto
de ferramentaspara uma adequadapreparaçãodas intervençõesde
conservaçãoou recuperaçãodo património construído.

Levantamento fotogramétrico de monumentos e de edifícios antigos.


O "software" Elcovision com apoio topográfico no campo permite o
levantamento rápido e fiável de fachadas trabalhadas, incluindo
informação quanto àstipologias construtivas, materiais e suaspatologias

Determinação"in situ" da resistênciadumaargamassapelo métododo


arrancamento duma hélice. Um ensaio simples, desenvolvido pelo
RILEM, que permite caracterizar, com alguma aproximação as
propriedadesmecânicasdasargamassas de assentamento

Avaliação da integridade de elementos de madeira. Detecção,


reduzidamente intrusiva, de deteriorações em elementos de madeira,
com vista à verificação do seu estado de conservação e capacidade
resistente

Identificação de sais em eflorescênciase na água em contacto com


construções.Caracterização expeditae "in situ" dos saispresentesem
eflorescênciasou subflorescênciassalinas em construções, ou da
agressividadedas águaspresentesno terreno, em contacto com as
fundações
Ensaios com macacos planos para avaliação das características
mecânicas de estruturas de alvenaria. Do antecedente, vinha já a Oz a
prestar um serviço utilizando a tecnologia dos macacosplanos, com vista
a avaliar o estado de tensão em estruturas de alvenaria.
A nova técnica, agora oferecida, representa uma extensão da
determinação do estado de tensão e baseia-sena utilização conjunta de
dois macacos planos, permitindo avaliar a deformabilidade e a
resistência à com1)ressãoda alvenaria.
e

A s aspiraçõesda sociedadeem materiais originais são muitas os agentes,em particular dos que têm
vezes preferíveis;por outro lado,
relaçãoaopatrimónioculturale, a seu cargo a execução dos trabalhos.
em particular,em relaçãoao pode haver vantagem em lançar
têmvindo mão de materiais e tecnologias
patrimónioarquitectónico, Com o objectivo de viabilizar uma
a ser,frequentemente,defraudadas avançadas. maior especializaçãoe assegurara
através de intervenções menos postura mais apropriada, foi
felizes, ditadas por uma postura Quanto à postura, ela define-se fundada, em Novembro de 1997,
demasiado economicista e pela por três aspectos fundamentais. uma nova empresa, vocacionada
predominância do cimento e do O primeiro é a contenção. As exclusivamente para este nobre
betão. intervenções no património domínio: A Monumenta,
arquitectónico são sempre Conservação e Restauro do
É hoje patente que a conservação e perturbadoras do seu equilíbrio, Património Arquitectónico, Lda.
o restauro do património representando, portanto, um risco.
arquitectónico não podem ser A extensão dessasintervenções deve,
abordados pelos métodos correntes por consequência, ser a mínima
da consh"uçãocivil, antes constituem necessária para atingir, com eficácia,
uma área de especialização bem os objectivos preconizados.
identificada e fazem apelo a uma O segundo aspecto é o rigor. As
postura radicalmente diferente. intervenções no património
Quanto à especialização, constata- arquitectónico deverão ser, primeiro,
se que os materiais e tecnologias cuidadosamente concebidas e
que hoje têm mais peso nos planeadas e, depois, executadas de
hábitos dos construtores, não são
os mais adequados à conservação
acordo com o plano.
O terceiro aspecto é a mONUmeNC,,\
e restauro do património responsabilidade. As intervenções Conservação e Restauro do Património
Arquitectónico, Lda.
arquitectónico: por um lado, as no património arquitectónico exigem R. PedroNunes, 27 - 1° Dto. - 10SOLisboa,Portugal
uma participação responsável de todos Tel.: (01) 317 46 98 - Fax (01) 315 68 71
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fotocópia) através do
Fax (01) 315 79 96 para fazer a sua
assinatura da Pedra & Cal. Em
alternativa poderá enviá-Ia pelo
correio para Rua Pedra Nunes,
- -
nQ27 1Q OtQ 1050Lisboa
.otícias I
C om vista ao reforço localizado de elementos esh"uturais de madeira
compósitos, foi recentemente comunicada a aprovação pela DGXXI da
proposta nQFA 52-9248,Programa FAIR "Local reinforcement for timber
sh"uctures-Coloretim".
Estãoenvolvidos no Projecto Craft"Coloretim", para além da STAP-Reabilitação,
Modificação e Protecçãode Esbuturas, o LNEC -Núcleo de Madeiras (Instituição
de Investigação, Portugal), RBB- Laboratoire de Rehologie du Bois de Bordeaux
(Instituição de Investigação, França), Lamecol, 5A (PME, França) e Cowley
Construçãoe reforço de um antigo 5h"uctural TlInber Ltd. (PME, Reino Unido).
mastrode um moinho de vento O projecto, no montante aproximado de 5OOkECUe uma duração de 24 meses,
tradicional
tem em vista desenvolver métodos de reforço de zonas localizadasde elementos
esh"uturais de madeira com materiais compósitos, utilizando fibras de vidro e
S.IA.P inicia de carlx>no.Estesreforços locaispodem abrir novas po&Slbilidadesde concepção
e projecto de esbuturas de madeira.
Prqj ecto CraftII
Coloretim
1/ Com este projecto, a 5tap espera ampliar a sua capacidade de intervenção em
esbuturas de madeira, quer ao nível das técnicas, quer ao nível dos materiais.
Um possível campo de aplicação desta tecnologia são os edifícios antigos, onde
é frequente a ocorrência de elementos de madeira com comportamento
esbutllral deficiente.
-
O trabalho de conservaçãoe
restauro executado numa
pintura ilusionistaa têmpera
existentena Igreja de S. Francisco,
Capelada Ordem Tercciraem Évora,
(fotos) é um dos exemplos da
actividade da Mural da História. A
intervençãoda empresanestettaballio
de restauro passou pela fixação da
camadapictóricae reboco,limpeza e
reintegraçãocromática.
Constituída em 1991, a Mural da
História, Lda desenvolve a sua
actividadede conservaçãoe restauro
exclusivamente na área de pintura
mural, para a qual conta com a
Mesmo pormenorantese depoisda colaboração de pessoal especializado. LisTorres
intervenção A par desta actividade, a empresa
cooperacom instituiçõesoficiais em
Mural da História ttaballiosde estudo,documentaçãoe
inventariação.
A s dificuldades sentidas
pelas empresas do sector em
recrutar pessoal qualificado
na área da conservação e restauro,
levam a LisTorres a continuar o
esforçode preservação das técnicas
tradicionais de restauro.
Como exemplo, refira-se o
trabalho efectuado no Lar
Académico Femjnino da GNR, em
Braga, onde foram executadas
sancas em gesso, moldadas no lo-
cal, com moldes (Papos de Rola)
fabricados propositadamente para
reproduzir o desenho original
_gend~ I
, Bragança, Chaves, Ferrol, Guimarães, La Corufla, Lugo, Monforte de Lemos,
ense, Peso da F.égua, Pontevedra, Porto, Santiago de Compostela, Vtana do
elo, Vigo, Vila Nova de Gaia, Vila Real e Vllagarcia de Arosa são os municípios
~sese espanhóis presentes nas I Jornadas de Centros Históricos do Eixo
, que se realizam nos dias 29 e 30 de Outubro de 1998na cidade espanhola de
promOção E!recuperação do Centro Histórico do Porto" (Património da
dade) , 'í\ promoção e recuperação de Centro Histórico de Guimarães"
:andidata a Património da Humanidade) e'í\ promoção e recuperação do
listórico de Vigo-Programa Urban", são alguns dos temas a debater nestas
" que contam com intervenções de destacadas personalidades de ambos
s.

1derstanding ancient consh"uctions", "The signs of time", "The elements of


he analysis" , "Relationslúp between analysis and intervention" e "Real case
;tudies (I e 11)" constituem as 6 sessões temáticas do Seminário, que se
m Barcelona nos dias 4, 5 e 6 de Novembro de 1998,estando previstas 22
~ de diversos especialistasoriundos de Espanha,Itália, Reino Unido, Ibrtugal,
]nidos e França. Uma visita à Catedral Gótica de Barcelona faz também
programa oficial.

A conservação dos centros históricos irá ser debatida em Guimarães, nos dias 25, 26
e 27 de Novembro de 1998, durante o III Encontro futemacional de Municípios
com Centro Histórico. De acordo com José Noras, presidente da Associação
Portuguesa de Municípios com Centro Histórico (APMCH) e também da Câmara
Municipal de Santarém, esteencontro irá permitir 'I uma troca de experiênciase o debate
em tomo dos métodos e técnicas utilizadas, além do confronto de políticas concretas".
A APMffi conta actualmente com 126 membros.

madas realizam-se no LNEC, em Lisboa, de 25 a 28 de Novembro de


B e serão organizadas em tomo de três temas gerais, englobando cada
vários subtemas especificos:
:açãoda Segurançade Estruturas.
)ortamento de Estruturas.
, Realizaçõesde Estruturas.

ções:
:C - Av. Brasil 101 - 1799Lisboa
~ 2131- Fax (01) 846 34 57
pee98@lnec.pt

Assembleia Geral e Simpósio Gentífico do ICOMaS, terá lugar no México,


l7 a 23 de Outubro de 1999."Utilização Correcta do Património - Património e
;envolvimento" é o tema do Simpósio, cujos trabalhos se repartem por qua,tro
Património e Conservação","Património e Sociedadé', "Património e Território"
\ónio e Desenvolvimento", que se realizam, respectivamente, nas cidades de
Morelia, Guanajuato e Guadalajara, e rujas conclusões serão apresentadas
a cerimónia de encerramento da Assembleia Geral, que se realiza nos dias 22-
ltubro na cidade de Guadalajara.

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