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MÁRCIA RAQUEL CAVALCANTE GUIMARÃES

TURISMO URBANO E LOGRADOUROS: OLHAR INTERPRETATIVO


DAS AVENIDAS EM CENTROS HISTÓRICOS NA PERSPECTIVA DE
CONJUNTO

BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC)


2021
UNIVALI
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
Vice-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria - PPGTH
Curso de Doutorado em Turismo e Hotelaria
Doutorado Interinstitucional com a Universidade do Estado do Amazonas-UEA

MÁRCIA RAQUEL CAVALCANTE GUIMARÃES

TURISMO URBANO E LOGRADOUROS: OLHAR INTERPRETATIVO


DAS AVENIDAS EM CENTROS HISTÓRICOS NA PERSPECTIVA DE
CONJUNTO

Tese apresentada ao colegiado do PPGTH como


requisito à obtenção do grau de Doutor em
Turismo e Hotelaria- área de concentração:
Planejamento e Gestão do Turismo e Hotelaria.
Linha de pesquisa: Planejamento do Destino
Turístico.
Orientador: Dr. Luciano Torres Tricárico.
Coorientadora: Dra. Selma Paula Maciel Batista

BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC)


2021
DEDICATÓRIA

Em primeiro lugar à DEUS, que abençoa e protege minha família todos os dias,
dando-me sabedoria e saúde para eu trilhar esse caminho de vitórias e muito amor.

Dedico esse trabalho aos grandes amores da minha vida: Meu marido Aldeni e
minha filha Victoria que são tão importantes para minha vida profissional e
emocional. Além de acreditarem em mim e dando a força que precisava para
prosseguir e persistir.

E também os mais novos integrantes da família: minha cachorrinha Lily e minha


mais nova benção de Deus, meu filhinho Benício que está na minha barriga e em
breve estará chegando.
AGRADECIMENTOS
Acredito que o estudo é o grande legado que Deus pode proporcionar a um ser
humano. Mas, Deus coloca pessoas especiais na nossa vida que ajudaram na
concretização desse doutorado e que compartilharam do meu nervosismo, alegria e
angústia nesse período de 4 anos.
Às minhas irmãs e amigas Maria Adriana e Lúcia Cláudia que me deram força
para persistir e, sobretudo, acreditaram na minha capacidade. A amizade irmã de
vocês, é um dos maiores presentes que ganhei nessa vida.
À minha querida Vanda Batista que me deu tranquilidade ao cuidar da minha
casa, de mim e da minha família nesses 15 anos de convívio familiar com tanto amor
e carinho desde o mestrado.
Aos meus colegas do doutorado, que por meio do companheirismo e união,
deram-me a possibilidade de superar obstáculos e fortalecer meus princípios
profissionais e de amizade. Em especial, às minhas colegas e amigas queridas de
curso: Kalina, Karla, Paula, Helen e Marklea.
À Universidade do Estado do Amazonas-UEA que financiou minha formação
no doutoramento, na pessoa do Magnífico Reitor Cleinaldo Costa, apoiador fervoroso
do curso de turismo da Universidade, ajudando no desenvolvimento do turismo bem
como no fortalecimento do ensino, pesquisa e extensão no Amazonas.
À Capes pela de bolsa para o estágio de doutoramento no período de 2020
além de recursos para capacitação em eventos e cursos durante o processo de
qualificação.
Aos professores Francisco e Sara dos Anjos, o carinho, acolhimento,
hospitalidade que me deram foram essenciais para a continuidade da minha pesquisa
e sobretudo, base para a minha formação como futura pesquisadora-turismóloga.
Além do quê, acredito ter ganhado novos amigos para a minha vida pessoal e
profissional.
À minha co-orientadora e amiga Selma Batista, a geógrafa mais turismóloga
que conheci até agora. Sua amizade, orientação, dedicação, conhecimento e
profissionalismo foram o maior legado desse Doutorado. Tenho o orgulho de pautar
minha vida profissional nesse grande exemplo de pesquisadora referência e amizade,
mostrando-me o que é ser um professor na sua essência.
Por fim e não menos importante, o meu agradecimento ao meu orientador
Luciano Tricárico, que com seu rico conhecimento, paciência, dedicação e sabedoria,
expandiu o meu campo de conhecimento e incentivando-me a imergir de corpo e alma
no laborioso processo abduzido de ser pesquisador. A experiência de ter sido sua
orientanda foi muito gratificante e inesquecível.
EPÍGRAFE

“Eu não sou daqueles que ficam desesperados com o presente e lançam um olhar
nostálgico para o passado. O passado é o passado, mas é necessário investigá-lo
com cuidado, com sinceridade, não ficar preso a fazê-lo reviver, mas conhecê-lo,
para que nos possa servir” (VIOLLET-LE-DUC-1814-1879).
RESUMO

GUIMARÃES, Márcia Raquel Cavalcante. Turismo urbano e logradouros: olhar


interpretativo das avenidas em centros históricos na perspectiva de conjunto.
Balneário Camboriú: UNIVALI, 2021, 412p. anexos. (Programa de Pós Graduação
Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria da UNIVALI).

Reconstituir a história de uma cidade implica em um processo de descobertas,


interpretação dos olhares e desvelamento possível por meio de logradouros, tais como
ruas ou avenidas, proporcionando o exercício de valorização da identidade local e da
sua cidade. Nesta investigação, o objetivo foi identificar os logradouros, a partir das
avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro (Manaus, AM, Brasil), na perspectiva
de conjunto com seu patrimônio edificado preservado como elemento de composição
da atratividade turística, sob a ótica da interpretação patrimonial no âmbito do turismo
urbano. De natureza qualitativa e método hipotético-dedutivo, a pesquisa adotou o
paradigma sistêmico fazendo uso da abordagem ecológica e política de Ashworth
(1989) com o incremento associativo das categorias de análise: do espaço vivido,
percebido e concebido de Henri Lefebvre (1974), da formação socioespacial de Milton
Santos (1977), da teoria do espaço turístico de Boullón (2002), e, da análise dos
caminhos (ruas/avenidas) de Castrogiovanni (2013). Tendo como base esses autores,
elaborou-se uma ficha observacional contendo a sistematização de informações
obtidas em fontes documentais, associada à observação de campo, originando, desta
forma, a propositura de quatro dimensões de identificação: Dimensão normativa-D1;
Dimensão morfológica de conjunto-D2; Dimensão interpretativa patrimonial-D3;
Dimensão turística-D4. A contribuição teórico-prática desse estudo está permeada
na proposta integradora do turismo urbano com o espaço, o patrimônio edificado e os
logradouros na lógica interpretativa de conjunto em Centros Históricos bem como na
diversificação da oferta de atrativos turísticos. Proposta coadunada com a discussão
téorica no contexto dialético e sistêmico que associados permitiram o alcance dos
objetivos propostos, fundamentado nas abordagens: a) Sistêmica, referente ao lugar,
destino, região e b) Dialética, alirceçada no conceito de lugar, paisagem, espaço. Com
esta abordagem, conclui-se com a investigação que a representatividade dos
conjuntos urbanos na perspectiva dos logradouros está na cena, não somente no
edifício isolado, mas, no conjunto da cena, no valor da historicidade das avenidas
recuperado por meio do ambiente construído do seu entorno que, pelo valor histórico,
mantêm-se legalmente protegido e preservado. Esse conjunto da cena, ao atribuir
uma ambiência ao patrimônio edificado atua como uma moldura, integrando a
edificação e o restauro à uma atmosfera temporal que ao fortalecer a preservação dos
bens culturais, por meio do diálogo entre poder público e a sociedade civil, cria meios
para vitalizar e atribuir valor ao lugar.

PALAVRAS-CHAVES: Turismo Urbano. Patrimônio Cultural Edificado. Logradouros


em Conjunto.
ABSTRACT

GUIMARÃES, Márcia Raquel Cavalcante. Urban tourism and public places: an


interpretative look at the avenues in historic centers from the perspective of the
whole. Balneário Camboriú: UNIVALI, 2021, 412p. attachments. (Stricto Sensu
Postgraduate Program in Tourism and Hospitality at UNIVALI).

Reconstituting the history of a city involves a process of making discoveries,


interpreting perspectives, and a possible unveiling through public places, such as
streets or avenues, providing the exercise of valuing the local identity and the city. In
this investigation o the objective was to identify the public places of two avenues: Sete
de Setembro and Eduardo Ribeiro, in the Brazilian city of Manaus (state of Amazonas),
from the perspective of the complex as a whole, together with its built heritage,
preserved as an element of tourism appeal, from the perspective of the interpretation
of the heritage in the scope of urban tourism. This research is qualitative and uses the
hypothetical-deductive method. It adopts the systemic paradigm, using the Ashworth’s
(1989) ecological and political approach, with the addition of the categories of analysis:
the living space, perceived and designed by Henri Lefebvre (1974); Milton Santos’
(1977) socio-spatial formation, Boullón’s (1977) theory of tourist space, and
Castrionovanni’s (2013) analysis of the paths (streets/avenues). Based on these
authors, the information obtained in documentar sources, associated with observation,
giving rise to a proposed four dimensions of identification: Normative dimension-D1;
Morphological dimension of set-D2; Heritage interpretative dimension-D3;
Tourist dimension-D4. The theoretical-practical contribution of this study is
permeated in the proposal to integrate urban tourism with space, built heritage and
public places in the interpretative logic of the whole in Historic Centers, as well as in
the diversification of the offer of tourist attractions. Proposal combined with the
theoretical discussion in the dialectical and systemic context that associates allowed
the achievement of the proposed objectives, based on approaches: a) systemic,
referring to the palce, destination, region and b) dialectic, based on the concept of
place, landscape, space. With this approach, we conclude with the investigation that
representativeness of urban complexes is seen from the perspective of public places
and not just a building in isolation, but, in the scene set, in the value of historical
attributes of the avenues recovered through the enviroment, which by the historical
value remain in an environment that is legally protected and preserved. This set of the
scene, by assigning na ambience to the built heritage acts as a frame, integrating the
building and the restaration to with a temporal atmosphere that, by strengthening the
preservation of cultural assets, through dialogue between public authorities and civil
society, creates ways to vitalize and atribute value to the place.

KEYWORDS: Urban Tourism. Built Cultural Heritage. Public places in a set.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01: Resultados do Google Acadêmico 19


FIGURA 02: Lacuna teórica 21
FIGURA 03: Triangulação das teorias do turismo. 25
FIGURA 04: Práticas espaciais de Lefebvre e Harvey 38
FIGURA 05: Compilação das Cartas Patrimoniais aplicadas a esse estudo 59
FIGURA 06: Síntese dos princípios da filosofia interpretativa aplicados ao 78
patrimônio natural e cultural
FIGURA 07: Cronologia evolutiva do turismo urbano 95
FIGURA 08: Principais temáticas das pesquisas em turismo urbano 99
FIGURA 09: Objetos centrais de estudo do turismo urbano e cultural 105
FIGURA 10: Diagrama do sistema territorial turístico com base na relação 112
entre subsistemas fixos e fluxos
FIGURA 11: Caracterização da pesquisa e sua abordagem epistemológica 128
FIGURA 12: Etapas do método hipotético-dedutivo de Popper aplicado a tese 135
FIGURA 13: Técnicas e etapas da pesquisa 141
FIGURA 14: Objetivos, abordagem e instrumentos 142
FIGURA 15: Mapa com a delimitação do Centro Antigo de Manaus e o seu 144
sítio histórico de LOMAN (1990) com destaque em vermelho para
a avenida Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro
FIGURA 16: Mapa com as Poligonais de entorno e tombamento federal do 145
Centro Histórico de Manaus, publicada no DOU No. 222, Seção
03 na data de 22/11/2010
FIGURA 17: Síntese dos assuntos e teorias abordados nos resultados 148

FIGURA 18: Limites da cidade de Manaus com os municípios. 155

FIGURA 19: Imagem de satélite da área urbana de Manaus 156


FIGURA 20: Ruínas do Forte 157
FIGURA 21: Prospecto da antiga Fortaleza do Rio Negro (1751-1759) que deu 158
origem a cidade de Manaus
FIGURA 22: Manaus e a vista para o Palácio da Presidência do Amazonas em 160
1858/59
FIGURA 23: Panorama da Cidade da Barra do Rio Negro (Manaus) por um 161
desses viajantes em 1869
FIGURA 24: Entrada da Cidade da Barra do Rio Negro (Manaus) com a 161
perspectiva do provável igarapé do Espírito Santo em 1869
FIGURA 25: Manaus e o Porto em 1880 164
FIGURA 26: Vista área do Polo Industrial de Manaus 172
FIGURA 27: Cronologia dos principais fatos históricos de Manaus 176
FIGURA 28: Mapa de zoneamento da cidade de Manaus 180
FIGURA 29: Orla fluvial do Rio Negro, destaque azul avenida Sete de 181
Setembro e vermelho avenida Eduardo Ribeiro
FIGURA 30: Planta da cidade de Manáos (1852) 186
FIGURA 31: Igarapé do Espírito Santo, atual Avenida Eduardo Ribeiro, 187
imagem sem data
FIGURA 32: Pontes referenciadas por Wallace (setas verdes) e os igarapés 188
de São Vicente (seta azul) e Olaria (seta vermelha) que depois
viria a se chamar Espírito Santo na planta da cidade Manaus em
1845
FIGURA 33: Igarapé do Espirito Santo (1865), fotografia tirada pelo alemão 189
Christoph Albert Krisch no atual cruzamento da Avenida Eduardo
Ribeiro (seta vermelha) e a Avenida Sete de Setembro (seta
azul).
FIGURA 34: Sede do governo da província (atual edifício da Receita Federal, 189
seta amarela) de frente para a ponte da Imperatriz sobre o
igarapé do Espírito Santo (seta vermelha), início da avenida
Eduardo Ribeiro
FIGURA 35: Planta da cidade de Manaus (1844) com as setas de identificação 191
do igarapé da Olaria (posteriormente Espírito Santo).
FIGURA 36: Foto do alemão Albert Krish em 1865 no cruzamento da Rua 192
Brasileira (Sete de Setembro, seta azul) com o Igarapé do
Espírito Santo (atual Eduardo Ribeiro, seta vermelha). Destaque
para a ponte existente na época sobre o igarapé e a construção
da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição
FIGURA 37: Registro (sem data) da antiga ponte da Imperatriz, construída 193
para ligar os antigos bairros de Espírito Santo e República,
estava situada na área hoje compreendida como o início da
Avenida Eduardo Ribeiro, paralela aos jardins da igreja da Matriz
próximo do Porto e com o igarapé aterrado
FIGURA 38: Gravura de Taylor (1870) vistos da torre da Igreja da Matriz com 194
destaque para Rua Brasileira (Sete de Setembro, setas azuis),
Ponte do Espírito Santo (seta amarela e o igarapé do mesmo
nome da ponte (seta vermelha)
FIGURA 39: Gravura de Franz Keller (1874) tomada pela ponte sobre o 194
igarapé Espírito Santo (setas amarelas), tendo ao fundo o Palácio
dos Presidentes da Província (seta verde)

FIGURA 40: Início da Rua Municipal (atual Av. Sete de Setembro) indicado 196
pela seta azul ao lado do Paço da Liberdade, gravura de 1884
feita por Charles Wiener
FIGURA 41: Registro de Manaus de 1884, feito por Conde Stradelli, 196
provavelmente esse terreno estava próximo a igreja da Matriz
com setas que marcam o local exato da ponte onde foi construída
a Avenida Sete de Setembro sobre o igarapé do Espírito Santo
canalizado (atualmente Avenida Eduardo Ribeiro). À direita,
imagem com outro ângulo dessa ponte sobre o mesmo igarapé
FIGURA 42: Esse registro retrata residências típicas que ocupavam a área do 199
centro manauara (1889). Essas casas foram retiradas desse local
para dar espaço aos jardins da igreja Matriz e também para a sua
escadaria. Detalhe para essas construções às margens do
igarapé do Espírito Santo (atual Avenida Eduardo Ribeiro, seta
vermelha) no cruzamento com a rua Municipal (atual Avenida
Sete de Setembro, seta azul)
FIGURA 43: Igarapé do Espírito Santo com seu casario localizado nas suas 200
margens em 1890
FIGURA 44: Drenagem do igarapé Espírito Santo (esquerda) e galerias 201
construídas na área que seria o Porto de Manaus (direita) entre
os anos de 1892-1900, registro disponível em George Huebner
1862 - 1935: um fotógrafo em Manaus citado por Duarte (2009)
FIGURA 45: Foto montagem da Avenida Eduardo Ribeiro feita em 2014 com 202
o projeto do novo Palácio do Governo
FIGURA 46: Construção do novo Palácio do Governo (final do século XIX) 202
FIGURA 47: Carta Cadastral da Cidade e Arrabaldes de Manaós levantada 204
por João Ribas e desenhado por Willy von Bancels em 1893 em
Lisboa, impressa em 1895 no Rio de Janeiro
FIGURA 48: Começo da Sete de Setembro em 1896, com destaque para a 206
Praça Dom Pedro II e o Paço da Liberdade, ambos localizados a
direita da Avenida
FIGURA 49: Avenida Sete de Setembro em 1898 com o tráfego de pessoas e 206
animais, com postes de iluminação pública, pela perspectiva da
1ª ponte (ponte romana I). Na época chamava-se Rua Fileto
Pires
FIGURA 50: Teatro Amazonas no ano de 1898 (seta verde), porém, com as 207
obras da avenida do Palácio ainda em andamento, sinalizada
pela seta vermelha
FIGURA 51: Avenida Eduardo Ribeiro em 1897 no cruzamento da atual a rua 208
José Clemente. O retrato mostra as obras de construção do
Palácio da Justiça (seta amarela). Foto original do Álbum do
Amazonas 1897/1898 (Governo Fileto Pires)
FIGURA 52: Avenida do Palácio (Eduardo Ribeiro) com destaque para o 209
prédio do Palácio do Governo (seta laranja), os mesmos em
construção provavelmente no ano de 1899
FIGURA 53: Rua Municipal (1899) no trecho próximo à rua Marechal Deodoro. 209
As proteções de mudas de madeira da nova arborização,
composta de castanholeiras (amendoeiras) plantadas na gestão
de Eduardo Ribeiro (1892-1896)
FIGURA 54: Avenida Sete de Setembro (Álbum do Amazonas-1901-1902), 210
destaque para os fundos do Palacete Provincial
FIGURA 55: Avenida Sete de Setembro no trecho entre o canto do Quintela e 210
a avenida Getúlio Vargas, ao fundo pavimento superior e a
cobertura do Ginásio Amazonense (1901)
FIGURA 56: Bonde, arborização, fluxo de pessoas e carruagens na Avenida 211
Eduardo Ribeiro 1905
FIGURA 57: Avenida Eduardo Ribeiro decorada para o desfile de carros 211
alegóricos e foliões fantasiados no carnaval de 1905
FIGURA 58: Avenida Eduardo Ribeiro 1906 211
FIGURA 59: Avenida Eduardo Ribeiro (1906). No detalhe com a seta em 212
amarelo e paralelo encontra-se Avenida Sete de Setembro
FIGURA 60: Em 1906 rua Municipal (Sete de Setembro, seta azul) e Avenida 214
Eduardo Ribeiro (seta vermelha). Destaque para o bonde elétrico
(seta verde), igreja da Matriz (seta amarela) e poste de
iluminação do tipo cajado (seta laranja)
FIGURA 61: Rua Municipal (Sete de Setembro) com o bonde nº 8 circulando 215
pela ponte Benjamin Constant, em 1906
FIGURA 62: Rua Municipal (Sete de Setembro) e a Ponte Romana I, 1908 215
FIGURA 63: Igarapé de São Vicente, ao fundo visualiza-se o antigo hospital 215
na ilha de São Vicente (seta amarela), detalhe para o início da
Rua Municipal (seta azul), hoje Avenida Sete de Setembro, 1906
FIGURA 64: Paisagem da Rua Municipal (Sete de Setembro) cortada por 217
igarapés. Esse trecho localiza-se nas proximidades da
Penitenciaria Raimundo Vidal Pessoa e a Ponte Benjamin
Constant (circulada na imagem). Foto de Hubner S. do Amaral
em 1910
FIGURA 65: Rua Municipal, hoje Avenida Sete de Setembro (1910), 218
arborizada com o Ficus- benjamim, destaque aos trilhos do
bonde (ao fundo)
FIGURA 66: Paisagem da Avenida Sete de Setembro em 1913 com sua 219
arborização, os trilhos do bonde, poste de iluminação e via limpa,
configuração urbana compatível aos lucros advindos da
borracha. Esse trecho da Avenida, atualmente, situa-se em frente
à sede do Banco da Amazônia-BASA
FIGURA 67: Avenida Eduardo Ribeiro (seta vermelha) no cruzamento com a 220
Avenida Sete de Setembro (seta azul), então Rua Municipal
(1913)
FIGURA 68: Cartão postal colorizado da Avenida Eduardo Ribeiro (1914) 220
FIGURA 69: Avenida Sete de Setembro (1914), na época Rua Municipal, 221
capturado da esquina da Praça Oswaldo Cruz, então Praça do
Comércio. Destaques: Em obras, edificação ao fundo, à
esquerda, em frente à Praça Dom Pedro II (seta verde), é o atual
Palácio Rio Branco (seta laranja). Registro feito na inauguração
das obras de calçamento deste trecho da avenida
FIGURA 70: Avenida Eduardo Ribeiro (1916). Registro colorizado, a partir da 221
Rua Henrique Martins. Ao fundo, no final da Avenida, o Palacete
Miranda Correia (seta laranja) com o Teatro Amazonas (seta
vermelha), Igreja de São Sebastião à direita (seta amarela) e
Palácio da Justiça à esquerda (seta verde)
FIGURA 71: Avenida Sete de Setembro em 1917, na época Rua Municipal 222
FIGURA 72: Vista aérea da cidade de Manaus na década de 20. Avenidas 222
Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro destacadas em vermelho
com os suntuosos palacetes e a Igreja da Matriz Nossa Senhora
da Conceição no entorno
FIGURA 73: Vista aérea (1924-1925) de Manaus por ocasião da vinda da 223
"Expedição Hamilton Rice". Destaques: Avenida Eduardo Ribeiro
(seta vermelha) e Avenida Sete de Setembro (seta azul)
FIGURA 74: Avenida Eduardo Ribeiro (1927) orientado para norte, capturado 224
a partir da esquina da Rua Henrique Martins
FIGURA 75: Avenida Eduardo Ribeiro (1930). Ao fundo Teatro Amazonas 224
(seta verde)
FIGURA 76: Início da Avenida Eduardo Ribeiro (1930, seta vermelha) 224
apanhada do alto do edifício da Alfândega. Destaques com setas
amarelas: Igreja da Matriz e Relógio Municipal recém inaugurado
FIGURA 77: Avenida Eduardo Ribeiro no cruzamento com a Avenida Sete de 224
Setembro (1930). Ao fundo o Teatro Amazonas e a torre da Igreja
de São Sebastião (setas verdes)
FIGURA 78: Avenida Sete de Setembro (1931). Vista próximo ao cruzamento 225
com a Avenida Eduardo Ribeiro orientado para oeste. Em
primeiro plano vê-se dois bondes circulando
FIGURA 79: Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro (1935) orientado 225
para oeste mostrando parte dos prédios e a bela arborização
FIGURA 80: Avenida Sete de Setembro (1935), imagem capturada da rua 225
Lobo D´Almada orientado para leste, ao fundo bonde subindo a
avenida
FIGURA 81: Avenida Sete de Setembro (1936) festejos da Semana do 225
Amazonas e da Pátria com alunas do Ginásio Amazonense D.
Pedro II desfilando
FIGURA 82: Avenida Eduardo Ribeiro (1935), registro a partir da calçada da 226
sede do Ideal Clube. Destaques: arborização incipiente, com
mudas recém plantadas, protegidas por grades e ao fundo Teatro
Amazonas
FIGURA 83: Avenida Eduardo Ribeiro (1936), aspecto tomado do meio do 226
quarteirão entre as ruas 24 de maio e José Clemente, vendo-se
ao fundo o Palácio da Justiça
FIGURA 84: Avenida Eduardo Ribeiro (1938) no cruzamento com a Avenida 226
Sete de Setembro. À direita cabine de controle do trânsito no
centro das duas avenidas

FIGURA 85: Avenida Eduardo Ribeiro (1940). Entre a Avenida Sete de 226
Setembro e o cais do porto, orientado para o sul. À esquerda, o
conjunto de prédios da extinta firma "J. G. Araújo & Cia Ltda", no
canteiro central o Relógio Municipal
FIGURA 86: Linha do Bonde da linha Cachoeirinha-Circular atravessando a 2ª 227
ponte na Avenida Sete de Setembro em meados de 1940. Ao
fundo do bonde na parte direita da Avenida, o Palácio Rio Negro
FIGURA 87: Avenida Sete de Setembro, cruzamento com a atual Avenida 227
Getúlio Vargas. À esquerda muro do Colégio D. Pedro II e à
direita parte do edifício do Cine Guarani. Foto da jornalista Maria
de Lourdes Acher Pinto, provavelmente da década de 40 do
século XX
FIGURA 88: Cruzamento da Avenida Sete de Setembro (seta vermelha) com 228
Avenida Eduardo Ribeiro (seta azul) em 1950
FIGURA 89: Vista aérea parcial de Manaus (1955). Mostrando parte da região 228
central, no quadrilátero formada pelas ruas Barroso, Saldanha
Marinho, Joaquim Sarmento e José Clemente, tendo ao centro o
eixo da Avenida Eduardo Ribeiro. O registro traz em destaque o
Cine Odeon (seta verde)
FIGURA 90: Trecho final da Avenida Eduardo Ribeiro no final da década de 229
60, pela perspectiva da escadaria do IEA para a praça
Bittencourt. À esquerda, o Teatro Amazonas
FIGURA 91: Aspecto aéreo de Manaus (1967). Avenidas Sete de Setembro 230
(seta azul) e Eduardo Ribeiro (seta vermelha)
FIGURA 92: Trecho inicial da Avenida Eduardo Ribeiro (1972) 230
FIGURA 93: Vista aérea da Avenida Sete de Setembro na década de 70. À 230
direita da foto Colégio D. Pedro II, à esquerda Praça Heliodoro
Balbi (ainda dividida em três seções) e o Palacete Provincial
FIGURA 94 Casario da Avenida Eduardo Ribeiro (1970), à direita, no trecho 231
inicial
FIGURA 95: Perspectiva da Avenida Eduardo Ribeiro (1976), no trecho final, 231
a partir da praça Bittencourt
FIGURA 96: Registro de 2020 do cruzamento das Avenidas Eduardo Ribeiro 231
(seta vermelha) e Sete de Setembro (seta azul)

FIGURA 97: Mapa da Avenida Sete de Setembro com os imóveis e praças 247
protegidos
FIGURA 98: Mapa da Avenida Eduardo Ribeiro com os imóveis e praças 248
protegidos
FIGURA 99: Cruzamento da Av. Eduardo Ribeiro com Av. Sete de Setembro- 252
1906
FIGURA 100: Cruzamento da Av. Eduardo Ribeiro com Av. Sete de Setembro- 252
2021
FIGURA 101: Vista áerea das Avenidas Sete de Setembro (seta azul) e 253
Eduardo Ribeiro (seta vermelha) -2021
FIGURA 102: Praça XV de Novembro (à direita) e Praça Adalberto Vale (à 260
esquerda)
FIGURA 103: Panorâmica da Praça XV de Novembro localizada na Avenida 260
Eduardo Ribeiro com detalhe para a Igreja da Matriz (centro) e
Relógio Municipal (à direita)
FIGURA 104: Locais referenciados na pesquisa em percentagem 266
FIGURA 105: Obras de restauração da Ponte Benjamim Constant e o 273
aterramento do Igarapé do Mestre Chico contemplados no
PROSAMIM, respectivamente
FIGURA 106: Vista aérea do entorno da Ponte Benjamim Constant após a 274
intervenção do PROSAMIM
FIGURA 107: Plano urbanístico da ideia vencedora 276
FIGURA 108: Área do Projeto Centro Antigo de Manaus-eixo Bernardo Ramos 276

FIGURA 109: Rua Bernardo Ramos no projeto e depois de implantada em 2001 277
FIGURA 110: Retirada manual de paralelepípedos e demolição das calçadas 279
em 2016

FIGURA 111: Obras de requalificação da Avenida Eduardo Ribeiro no trecho 279


do cruzamento com a Rua 10 de Julho
FIGURA 112: Obras no piso, calçadas e meio fio da avenida Eduardo Ribeiro 281
FIGURA 113: Janela do trilho e o totem informativo, exposição da 282
recomposição de paralelepípedos no cruzamento da Rua 10 de
Julho com a Avenida Eduardo Ribeiro
FIGURA 114: Linha do tempo das políticas públicas no Centro Histórico de 283
Manaus
FIGURA 115: PIB dos setores de serviços ligados ao turismo 287
FIGURA 116: Arrecadação do ISS de Manaus das ACT de Turismo (2015- 287
2020)
FIGURA 117: Arrecadação Anual 2015-2018 por atividade 288
FIGURA 118: Comparativo de ISS de Jan-Set de 2020 288
FIGURA 119: Aeroporto Internacional Eduardo Gomes 291
FIGURA 120: Porto Roadway de Manaus 293
FIGURA 121: Fluxo doméstico e internacional na hotelaria urbana de Manaus 299
FIGURA 122: Estados emissores de turistas domésticos em 2019 299
FIGURA 123: Principais países emissores de turistas internacionais em 2019 300
FIGURA 124: Mapa da oferta turística da área urbana de Manau 304
FIGURA 125: Atrativos, serviços e equipamentos turísticos em logradouros do 307
Centro Histórico de Manaus
FIGURA 126: Las Ramblas no Centro Histórico de Barcelona (Espanha) 317
FIGURA 127: Parâmetros de análise dos logradouros em conjunto em Centros 325
Históricos
LISTA DE QUADROS

QUADRO 01: Quadro Conceitual 31


QUADRO 02: Autores e suas contribuições teóricas e conceituais para o estudo 97
do turismo urbano em ordem cronológica
QUADRO 03: Resumo das categorias de análise da ficha observacional do 138
apêndice B
QUADRO 04: Cronologia dos nomes da Avenida Sete de Setembro. 232
QUADRO 05: Cronologia dos nomes da Avenida Eduardo Ribeiro 237
QUADRO 06: Imóveis de interesse de preservação municipais e tombamento 240
individual federal e estadual nos logradouros pesquisados
QUADRO 07: Unidades de 1º grau municipais de interesse para preservação 241
QUADRO 08: Unidades de 2º grau municipais de interesse para preservação 243

QUADRO 09: Síntese das categorias estabelecidas pelo IPHAN-AM 264


QUADRO 10: Logradouros referenciados na pesquisa do IPHAN-AM 267
QUADRO 11: Perfil da Demanda de Turismo em Manaus. 301
QUADRO 12: Quadro resumo dos principais atrativos turísticos de Manaus. 306
QUADRO 13: Categorias da inventariação cultural e turística 319
QUADRO 14: Diagnóstico turístico das avenidas Sete de Setembro e Eduardo 328
Ribeiro
LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01: Comparativo de publicações sem e com refinamento 14


GRÁFICO 02: Comparativo de publicações sem e com refinamento City 15
Tourism
GRÁFICO 03: Evolução de publicações Turismo Urbano X Refinamento 16
GRÁFICO 04: Volume de Turistas do Amazonas 2003-2019 294
GRÁFICO 05: Taxa de Crescimento no Amazonas em 2003-2019 295
GRÁFICO 06: Volume de turistas no Amazonas em 2003-2019 295
GRÁFICO 07: Fluxo de turistas Amazonas e Manaus (2007-2018) 296
GRÁFICO 08: Fluxo de turistas da hotelaria urbana de Manaus-1983-2018 297
GRÁFICO 09: Fluxo de Visitação no Teatro Amazonas 309
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................. 08

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA..................................... 08

1.2 ASPECTOS NORTEADORES DA HIPÓTESE CENTRAL DA 13


PESQUISA....................................................................................

1.2.1 Análise da evolução da literatura sobre o tema turismo


urbano e suas correlações......................................................... 15

1.3 PROBLEMÁTICA..................................................................... 22

1.4 OBJETIVOS............................................................................. 23

1.4.1 Objetivo Geral ................................................................... 24


1.4.2 Objetivos específicos......................................................... 24
1.5. JUSTIFICATIVA...................................................................... 24

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................... 31

2.1 A FORMAÇÃO DO ESPAÇO NO ÂMBITO DAS


RELAÇÕES SOCIAIS E TURÍSTICAS.......................................... 32

2.1.1 A construção do espaço por meio das teorias da 33


formação socioespacial, dialética social e da prática
espacial........................................................................................

2.1.2 O desenvolvimento do turismo no contexto 43


espacial........................................................................................

2.2 PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO NO CONTEXTO


INTERPRETATIVO....................................................................... 54

2.3 TURISMO URBANO: PERSPECTIVA CONCEITUAL,


CONEXÕES E INFLUÊNCIA NA CIDADE.................................... 86

3. PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO............................. 125


3.1 ABORDAGEM E CARACTERIZAÇÃO DA 125
PESQUISA....................................................................................

3.2 TÉCNICA, COLETA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS


DADOS.......................................................................................... 136

143
3.3 LÓCUS DA PESQUISA............................................................

4. RESULTADOS........................................................................ 148
4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO EVOLUCIONAL DAS AVENIDAS
SETE DE SETEMBRO E EDUARDO
RIBEIRO........................................................................................ 149

4.1.1 O nascer e florescer de Manaus: Origens, Borracha e


Zona Franca................................................................................ 149

4.1.2 Passado presente das avenidas Sete de Setembro e


Eduardo Ribeiro........................................................................... 178

4.2 POLÍTICAS PÚBLICAS NO CENTRO HISTÓRICO DE


MANAUS: TOMBAMENTO, PROCESSO DE NORMATIZAÇÃO
E AÇÕES GOVERNAMENTAIS.................................................... 254

4.3 CARACTERIZAÇÃO DA OFERTA DO TURISMO URBANO


NOS LOGRADOUROS DO ENTORNO......................................... 285

4.4 TURISMO URBANO E VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL:


PARÂMETROS DE ANÁLISE DOS LOGRADOUROS NA
PERSPECTIVA DE CONJUNTO COM O PATRIMÔNIO
EDIFICADO NA COMPOSIÇÃO DA OFERTA TURÍSTICA EM
CENTROS HISTÓRICOS............................................................. 313

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................... 332

REFERÊNCIAS............................................................................ 341
8

1 INTRODUÇÃO

Como parte introdutória, nessa seção será tratada a temática da tese e sua
contextualização, tendo por objetivo apresentar informações preliminares sobre o
tema de investigação da pesquisa. Em seguida, será realizada uma discussão a
respeito da problemática, resultando na elaboração da pergunta-problema bem como
na construção da hipótese apresentada. Posteriormente, serão explanados os
objetivos, geral e os específicos, concluindo a seção introdutória com a justificativa,
mediante a exposição das lacunas teóricas que possibilitam argumentar o ineditismo
da tese submetida.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

O turismo é um consumidor do espaço, seja ele natural ou cultural. Porém, os


olhares dos visitantes, em sua maioria, passam despercebidos pelas questões
evolutivas do lugar, sendo essa evolução resultado de um processo social, no qual
definem as particularidades de um espaço ou de uma paisagem. O homem apropria-
se do espaço como resultado desse processo social, articulando os seus saberes
sobre a natureza e dessa interação auxilia na formação física e cultural de um local.
Nesse contexto, Henri Lefèbvre faz a diferença entre “o espaço extremo formal, lógica-
matemática” e “o domínio prático-sensorial do espaço social” (LEFÈBVRE, 1991, p.
15), argumentando que o espaço pode ser lido e que envolve um processo de
significação (p.17).
Ao mesmo tempo, isso demonstra haver uma relação simbiótica entre espaço e
lugar, ao descrever que “o espaço fornece um contexto para lugares e sem dúvida
deriva sua diversidade de significados a partir desses lugares” (RICHARDS, 2007, p.
94). Na visão de Crăciunescu (2015, p.45), “todo lugar é uma história em si, que
envolve um processo de nomeação e a narração de uma identidade, o nome de um
lugar representa de fato uma ferramenta evocativa do marketing de destino”. Assim,
surgem os atrativos turísticos, como resultado dessa apropriação e relação entre
espaço e o homem, em suma, esse contexto favorece a identificação desses atrativos.
No âmbito onde a regeneração urbana1 requer “um entrelaçamento coerente de
passado, presente e futuro” (RICHARDS, 2007, p.101), o planejamento desempenha

1 Optou-se pela distinção de determinados conceitos, geralmente confundidos entre si, onde esses
termos aparecem nessa tese como elementos contributivos ao trabalho, porém não serão
9

um papel-chave na construção e representação do espaço urbano, que conduz à ideia


que marca uma determinada cidade. De forma elucidativa, Corrêa (1989) afirma que
tal espaço urbano é simultaneamente fragmentado e articulado (cada uma das partes
mantém relações espaciais com as demais); reflexo e condicionante social além de
um campo simbólico e de lutas. Nesse sentido, a cidade atua como uma base territorial
com seus limites-lócus e o urbano representa todo objeto materializado em um
processo social dado.
Milton Santos (2007, p.20) relata que “o passado que herdamos implica uma
submissão do presente; um presente submetido ao passado exatamente através das
formas criadas, cuja estrutura devemos reconhecer e estudar.” Um exemplo, dessas
formas criadas pelo homem, está materializado nos seus logradouros,
especificamente ruas e avenidas de uma cidade, que acabam reunindo uma
concentração de atrações, serviços, simbolismos e produções culturais que passam
despercebidos aos olhares de visitantes e residentes. Nesse escopo de atratividade
turística, cultura e turismo são aspectos interligados num processo de simbiose, sendo
fundamentais para o desenvolvimento de cidades, regiões e países, onde essa
associação como recurso turístico possibilitou o crescimento do turismo cultural,
principalmente em ambientes urbanos.
Diante desse contexto, surge o turismo urbano que para Castrogiovanni (2001)
possibilita um ganho social e econômico de investimentos em função da singularidade
de uma cidade, que oferece um espetáculo diferenciado e centraliza o poder de
sedução. No entanto, para Santos (1997) deve-se tomar cuidado para não gerar
confusão entre cidade e urbano, pois, na visão dele urbano é o geral, o externo e

desenvolvidos como categoria de análise na pesquisa, apenas contextualizados. Assim, Mendes (2013)
esclarece os seguintes conceitos: 1) Regeneração urbana: visão abrangente e integrada com a
finalidade de resolução de problemas urbanos com a geração de mudanças mais duradouras da
condição econômica, física, social e ambiental de áreas que tenham sido sujeitas a
transformações/alterações; 2) Reabilitação urbana: pressupõe o respeito pelo caráter arquitetônico
dos edifícios, sem confundir-se com o conceito mais estrito de restauro, o qual implica a reconstituição
do traçado original de edifícios, no mínimo, das fachadas e das coberturas;3)Renovação urbana: ação
que implica na demolição das estruturas morfológicas e tipológicas existentes numa área urbana
degradada (tecidos urbanos onde não há reconhecimento do valor patrimonial arquitetônico e histórico)
e a sua consequente substituição por um novo padrão urbano, como novas edificações; 4) Reabilitação
urbana: esse processo abrange intervenções como a recuperação do edificado e dos espaços
públicos, estratégias de caráter social e assistencial dirigida a problemas específicos de grupos socio
espacialmente marginalizados até ações mais abrangentes de revitalização social e econômica. 5)
Requalificação urbana: visa restituir a qualidade a um determinado espaço a partir da melhoria das
condições físicas dos edifícios e/ou dos espaços urbanos, podendo ser alterada a função primitiva de
forma a dar resposta às exigências da época.
10

abstrato, a cidade é o concreto e o aspecto interno, onde teremos histórias do urbano


e histórias da cidade.
A utilização da cidade como espaço de integração de produtos turísticos
responde ao crescente interesse pelas questões culturais e patrimoniais, salientando
que a centralidade urbana é carregada de memória e urbanidade, consequentemente
torna essa área potencialmente turística. Complementarmente, para Bădiţă (2013)
existe uma relação bidirecional entre o turismo e a cidade: o turismo pode ser uma
maneira de aproximação com a cidade com muitos bens capitalizados, ou seja, certas
rotas, ruas da cidade e o próprio centro histórico (com suas atividades culturais,
festivais, performances de rua, etc.). Sob a lógica da dialética socioespacial
lefebvriana, onde a sociedade determina o espaço e o espaço também determina
sociedade, o turismo apresenta-se como uma prática socioespacial e não influencia a
existência de uma cidade, porém faz uso dela para determinar seus produtos
turísticos.
Desta forma, percebe-se que a cidade se torna o objeto de estudo para o turismo
urbano, e é procurado por turistas “que querem fugir de sua rotina diária e que
procuram os lugares fantásticos” (URRY, 1990, p.11). Nesse sentido, tem-se um
círculo vicioso onde a cidade influencia o turismo e o mesmo influencia a cidade. O
turismo urbano desenvolveu-se na década de 1990, correspondendo ao movimento
de globalização e de crescente competição entre cidades, levando os agentes
públicos a considerar a cidade como um produto a ser melhor posicionado em um
mercado competitivo, com a finalidade de destacar sua singularidade,
especificamente a identidade urbana, o que favorece ao estabelecimento de um elo
entre a comunidade humana e ao território urbanizado (BĂDIŢĂ, 2013). No
entendimento de Gheorghilaş (2004, p.12):
As diversas formas de turismo que interferem no turismo urbano evidenciam
a complexidade do fenômeno turístico nas cidades, onde também existem
outras formas de turismo, como turismo cultural, turismo de negócios, turismo
de compras, turismo esportivo, visita a parentes e amigos e turismo de lazer,
tanto para turistas como para residentes (tradução livre).

Os fatores que compõem e influenciam na complexidade do turismo urbano


estão diretamente ligados com tamanho da cidade, a sua história, seus patrimônios,
a morfologia urbana, a qualidade do ambiente, a localização geográfica e a imagem
de destino (BĂDIŢĂ, 2013). Acrescenta-se a esses fatores, a relevância na construção
da identidade de um povo, que se molda a partir de sua memória, agregando seus
11

valores, manifestações, escrevendo suas histórias que serão passadas de geração


em geração, entendimento este pouco valorizado na sociedade. Sem memória não há
história, nem identidade e muito menos o futuro de uma cidade será construído, o que
para Ashworth e Page (2011) o elo essencial entre o passado, o presente e o futuro é
a ideia de patrimônio, ideia que não só transcende o tempo, mas permite que o
passado passe a existir não só no presente, mas também para desempenhar um papel
importante na formação de tal presente. Os mesmos autores sintetizam que a
“herança pode ser vista como um processo em que objetos, eventos, locais,
desempenhos e personalidades, derivados do passado, são transformados em
experiências para o presente” (2011, p.2).
Reconstituir a história de uma cidade implica em um processo de muitas
descobertas e reafirmações dos valores culturais de uma população, que precisa
interpretar o seu olhar e descobrir por meio de uma rua ou avenida o verdadeiro
exercício de valorização da sua identidade e da sua cidade. Mário Ypiranga Monteiro
afirma que:

A rua não é apenas o espaço físico que você ocupa, mas um produto
socializante universal do grupamento de indivíduos, um eixo horizontal, que
conduz você e sua vontade a qualquer lugar determinado. Você não é só na
sua aldeia ou cidade, mas parte da rua, produto dela, a ele ligado por um
acordo explícito que é a casa. Antigamente era multado quem não tinha onde
morar, por isso que a rua só existe em função daquilo que você representa
na sociedade (1998, p.11).

A relevância de uma rua ou avenida não pode ser resumida apenas ao contexto
físico-espacial, mas também como produto da sociedade, dentro de um processo
cíclico e dinâmico de interpretação de sua própria história, ligando passado e presente
em um só lugar que vai se reinventando ao longo do tempo. O olhar do residente ou
do turista precisa ser ampliado para o contexto socioespacial de uma rua, avenida ou
na visão de conjunto entre os logradouros e suas edificações. Na visão de Peirce
(2000) a linguagem do espaço é plurissignificativa, daí a dificuldade de apreensão do
observador, ou seja, raras são as vezes que as pessoas conseguem entender ou se
inserir no processo de construção de um espaço, especificamente de uma rua ou
avenida, que vai além da materialização da arquitetura de prédios, monumentos,
edificações diversas ou logradouros.
A construção, pavimentação e urbanização de ruas ou avenidas são elementos
de base da formação visual de uma capital e de integração da população, residente
ou em trânsito, com esse aspecto de urbanidade do ser humano, que também é um
12

elemento de atratividade turística de um local. Kevin Lynch (1999), afirma que a cidade
é uma construção do espaço, em grande escala, perceptível apenas ao longo do
tempo, onde as pessoas possuem uma visão fragmentada sem relação com o todo,
mas tendo que entender que suas formas são dinâmicas e que respondem a uma
demanda atual ou futura do lugar, dependendo do momento em que essa sociedade
está vivendo. A cidade apresenta-se como fruto dos valores éticos, filosóficos e
sociológicos de cada cultura e de cada época, onde não há como não relacionar o
traçado urbano de Centros Históricos, resultado, sobretudo, de aspectos econômicos
e sociais do passado e do presente de uma cidade.
Essa complexidade de apropriação do espaço pela sociedade é abundante e
complexa, e segundo Lefebvre em La producion de l´espace (1974) há três dimensões
que podem fundamentar a dinâmica destes espaços, a saber: as práticas espaciais
(vivido), as representações do espaço (percebido) e espaços de representação
(imaginado). Tais dimensões auxiliam na leitura do espaço, na medida em que
homem, espaço e paisagem são indissociáveis, a história está presente na formação
morfológica de uma paisagem, sendo objeto histórico e passível de ser narrado. A
paisagem é resultado de um processo histórico que, aos lugares atribuem valor e, por
este motivo, são apropriados e comercializados no contexto da atividade do turismo.
Como parte desse processo de apropriação do turismo, a cidade deve ser entendida
como um organismo vivo e rico culturalmente, onde o seu conhecimento aprofundado
e dos seus subprodutos, como ruas e avenidas, revela ser a cidade uma densa
amostra da produção do homem (ser social) como agente transformador do espaço,
em um determinado momento.
As contribuições científicas dessa pesquisa estão permeadas na análise do
velho no novo ou vice versa, principalmente fundamentadas na interpretação das
transformações antigas e contemporâneas da cidade de Manaus por meio das
principais avenidas do Centro Histórico dentro de uma perspectiva de conjunto aliada
às edificações com valor histórico, das reflexões dessa formação socioespacial diante
de um contexto nacional e internacional e, sobretudo uma possibilidade de ampliar a
compreensão espacial e histórica desses logradouros e edificações auxiliando, assim,
na diversificação da oferta de atrativos turísticos tanto para visitantes como para os
moradores locais.
Com base no referencial, justifica-se a relevância deste estudo alicerçada em
questões relativas ao valor histórico e conservação da memória de um lugar, aflorando
13

sentimentos de pertencimento e valorização do patrimônio cultural em residentes e


visitantes no âmbito do turismo urbano. Relacionando, também, ao contexto da
interpretação do conjunto patrimonial construído, nesse caso, edificações com seus
logradouros, aplicando os princípios da interpretação do patrimônio de Tilden (1957),
da Carta de Icomos (2008) no âmbito da abordagem ecológica e política de Ashworth
(1989) que dialogam com a teorias da Dialética Social de Henri Lefebvre (1974), da
Formação socioespacial de Milton Santos (1977), do espaço turístico de Boullón
(2002) e das variáveis de análise dos caminhos de Castrogiovanni (2013).

1.2. ASPECTOS NORTEADORES DA HIPÓTESE CENTRAL DA PESQUISA

Para iniciar o processo de construção da pesquisa de uma tese, com elaboração


de suas hipóteses e ainda a validação de seu propósito de ineditismo, perpassa pela
necessidade de um levantamento preliminar das produções cientificas relativas a
temática abordada e suas correlações, para que assim os aportes teóricos estejam
alicerçados em fundamentos clássicos e contemporâneos, identificando as lacunas
existentes nos estudos já produzidos nacional e internacionalmente. O título da
pesquisa para elaboração da tese é: TURISMO URBANO E LOGRADOUROS:
OLHAR INTERPRETATIVO DAS AVENIDAS EM CENTROS HISTÓRICOS NA
PERSPECTIVA DE CONJUNTO
Foram realizadas pesquisas junto a base de dados do Elton Bryson Stephens
Company- EBSCO no período de 05/2018 a 05/2019 referente aos constructos Urban
Tourism e City Tourism. No que tange ao constructo Urban Tourism várias temáticas
apresentam-se correlatas a construção do estado da arte da referida busca, a citar:
espaço urbano (urban space); patrimônio cultural (cultural heritage); turismo cultural
(cultural tourism) e turismo urbano (urban tourism). Sendo assim, é importante
destacar os resultados da busca na base de dados dos periódicos científicos nacionais
e internacionais no EBSCO, conforme gráfico 01:
14

Gráfico 01: Comparativo de publicações sem e com refinamento

1078
URBAN TOURISM
575

3384
CULTURAL TOURISM
1747

CULTURAL HERITAGE 9273


4863

URBAN SPACE
2582
8069

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000

1983-2018 1971-2018 1950-2018 2000-2018 1899-2018

Fonte: Pesquisa na base de dados do EBSCO em 24 de maio de 2018.

No comparativo estabelecido no gráfico 01, existe um quantitativo geral de


21.804 publicações diversas sem filtro (inclusos textos completos e vídeos) nos 4
temas e posteriormente, distribuídos, caso a caso, nos seus respectivos períodos
(1983,1971,1950 e 1899) tendo sempre 2018 como o ano final. Ao se estabelecer
como parâmetro de ligação entre as temáticas o período de 2000 a 2018 e ainda os
limitadores somente para textos completos publicados em revistas acadêmicas, o
número reduz sensivelmente para 9.767 artigos científicos que versam sobre espaço
urbano, patrimônio cultural, turismo cultural e turismo urbano. Desta forma, verificou-
se um número significativo na soma de pesquisas publicadas nos últimos 18 anos com
a temática cultural relacionada a patrimônio e a atividade turística, o mesmo não
ocorreu as temáticas de espaço e turismo urbano, demonstrando inicialmente uma
carência nas discussões cientificas sobre esses assuntos.
Na busca pelo constructo City Tourism no período de 13/03 a 05/05/2019
alcançou-se os resultados expostos no Gráfico 2:
15

Gráfico 02: Comparativo de publicações sem e com refinamento City Tourism.

1443
CITY TOURISM
1559

1380 1400 1420 1440 1460 1480 1500 1520 1540 1560 1580

2000-2019 1982-2019

Fonte: Pesquisa na base de dados do EBSCO em 05 de maio de 2019.

Percebe-se que no recorte temporal de 37 anos, sem refinamento, houveram


publicações das mais diversas 1982 a 2019 no quantitativo de 1559, porém, ao
selecionar periódicos avaliado por pares e ainda nos últimos 10 anos, detectou-se
uma diminuição de 116 publicações comparativamente. Também foram gerados
Thesaurus, onde selecionou-se 12 para fins de aplicabilidade desse estudo, onde será
detalhado no item 1.2.1. Em complementação, no período de 01/04 a 24/04/2019
realizou-se a busca na base de dados do Google Acadêmico no recorte temporal de
2000 a 2019 com as palavras Avenues and Urban Tourism e Avenidas e Turismo
Urbano, maior detalhamento do resultado será abordado a seguir.
Apesar da correlação e complementação dos temas, o objetivo desse
levantamento é a possibilidade de aprofundamento sobre estudos ligados as
experiências empíricas ou revisões teóricas sobre turismo urbano e suas variáveis,
publicados em revistas cientificas além de teses e dissertações.
1.2.1 Análise da evolução da literatura sobre o tema turismo urbano e suas
correlações
Com a finalidade de verificar a temática sobre o turismo urbano, conforme
relatado anteriormente, foi realizada um levantamento na base de dados EBSCO, na
data de 24/05/2018. Onde, no período de 1983 até 2018, sem limitadores, foram
encontradas 1078 publicações, incluindo textos completos e vídeos. Posteriormente a
16

essa pesquisa inicial, houve um refinamento com os limitadores de texto completo em


revistas acadêmicas no recorte temporal de 2000 a 2018, obteve-se, por
consequência, 575 artigos científicos, conforme visualizado no gráfico 03:
Gráfico 03: Evolução de publicações Turismo Urbano X Refinamento.

2000 a 2018

1983 a 2018

0 200 400 600 800 1000 1200

Artigos Refinados Publicações Totais

Fonte: Pesquisa na base de dados do EBSCO em 24 de maio de 2018.


Observa-se poucas publicações cientificas sobre essa temática, o que acaba por
gerar a necessidade de publicização ou incentivo aos estudos que tenham como
vertente esse assunto e suas correlações. Na visão de Luo (2013), a literatura
internacional sobre turismo urbano nos países ocidentais teve origem na década de
1960, e seus conteúdos se tornaram mais ricos e profundos nos últimos anos,
enfatizando, principalmente, preocupações sobre gestão e proteção do patrimônio
urbano, ambientes de turismo urbano, turismo de negócios e turismo de compras,
desenvolvimento de referenciais teóricos, impactos do turismo urbano,
sustentabilidade, progresso da pesquisa, o uso da satisfação e o desenvolvimento da
produção no contexto do turismo urbano internacional bem como a percepção dos
visitantes das cidades internacionais.

Corroborando, Godfrey e Buhalis mencionam que:

É um pouco irônico que, embora as pessoas tenham viajado e visitado


cidades desde tempos imemoriais, foi apenas na última década que alguém
parece ter percebido isso na escrita e na pesquisa do turismo. Essa falta geral
de pesquisa em turismo urbano talvez seja melhor evidenciada pela
multiplicidade de textos gerais um pouco repetitivos sobre turismo nos últimos
10 a 15 anos. Embora seja verdade que muitos livros de turismo fizeram
referência a cidades como destinos de visitantes, isso raramente foi além da
descrição de tendências e atividades. Em termos de autores únicos, um dos
primeiros e mais abrangentes textos em termos de sua discussão sobre os
fenômenos do turismo urbano é o livro Urban Tourism: Attracting Visitors to
17

Large Cities, de Chris Law. Outro livro com título similar é o livro Urban
Tourism, de Stephen Page. Em termos de livros de múltiplos autores, dois
que parecem se destacar como merecedores de uma leitura baseada
simplesmente em seus títulos incluem: International City Tourism: Análise e
Estratégia e The Tourist City. Um par de outros textos multi-escritos que
merecem ser considerados incluem: Turismo Urbano: Desempenho e
Estratégias em Oito Cidades Europeias e Turismo nas Grandes Cidades. Os
livros mencionados aqui não são os únicos textos sobre turismo urbano
atualmente disponíveis, no entanto, muitos outros não revisados tendem a ter
um tema específico, como turismo em cidades históricas, ou se concentrar
em um aspecto particular dos fenômenos turísticos como marketing ou
promoção (2001, p.77-78).

Na maioria das visões recentes, foi afirmado que “o turismo urbano continua a
ser um campo imaturo de pesquisa e prática” (PASQUINELLI, 2015, p. 4). Isso
justifica-se, para Ashworth (2012), pois essa situação reside, em grande parte, no fato
de que no âmbito da investigação do turismo urbano, “apesar de sua significância, o
mesmo permanece de forma imprecisa e vagamente demarcado no que tange ao
pouco desenvolvimento de uma sistemática estrutura de entendimento, quer do papel
do turismo em cidades ou de cidades em turismo” (2012, p.1). Vários temas podem
ser discernidos nos estudos existentes em torno do turismo da cidade, onde a melhor
definição é a de viagens para os destinos de cidade e normalmente caracterizado por
estadias curtas (PASQUINELLI, 2015). Crăciunescu (2015, p.50) menciona Richard
Butler (2006, p.140) na afirmação de que o “turismo urbano permanece em uma
espécie de vácuo científico”. Desta forma, esses autores acabam por comprovar a
necessidade latente de pesquisas mais aprofundadas, principalmente no que diz
respeito aos estudos de revisão teórica. Perceber esses parcos estudos científicos no
âmbito internacional, dá a essa tese a justificativa de aprofundamento na construção
da fundamentação teórica, buscando, principalmente, as lacunas que possam dar ao
seu escopo a relevância e contribuição acadêmica necessária para sair do senso
comum e tornar-se ciência.
Com base no levantamento realizado em maio de 2018, os estudos
apresentados revelam que dos 38 artigos verificados (quadro-síntese no Apêndice A),
8 são revisões teóricas e comunicação. Das 7 revisões teóricas, apenas 2 são de
autores brasileiros, 30 são pesquisas empíricas/estudos de caso, 13 concentram-se
na Europa, o restante está distribuído em 3 outros continentes: africano, americano,
asiático. Isso demonstra pouca produção de revisão teórica e sobretudo, a parca
produção científica brasileira voltada para a temática do turismo urbano no que tange
aos estudos empíricos e revisionais. Outro aspecto que também é vislumbrado, é que
18

TODAS as publicações analisadas não trazem nenhum estudo relacionado a temática


principal dessa tese, que é o turismo urbano e logradouros dentro de uma perspectiva
de interpretação patrimonial do seu conjunto ou até mesmo individual quanto a
importância de avenidas e ruas no contexto do desenvolvimento turístico.
O diagnóstico feito nessas 38 publicações é apenas de pesquisas que abordam
o segmento de mercado do turismo urbano no âmbito do patrimônio de forma
individual e não coletiva no que tange ao conjunto de edificações e avenidas/ruas
como importante componente do produto turístico, detectando-se, assim, uma das
lacunas teóricas apresentadas nessa pesquisa, ou seja, a ideia de conjunto do
patrimônio edificado com seus logradouros, especificamente ruas/avenidas. No geral,
têm-se 2 publicações na língua espanhola, 2 publicações na língua portuguesa, 4
publicações na língua chinesa e as 30 restantes concentram-se na língua inglesa. O
interessante observar é que existe pouco detalhamento nas metodologias adotados
no que concerne aos seus paradigmas epistemológicos metodologicamente adotados
e as tipologias dos estudo não mencionadas explicitamente. As principais
convergências nas produções sobre turismo urbano referem-se a estreita a simbiose
entre turismo e cultura dentro de um processo de valorização da experiência turística
ao apropriar-se dos insumos culturais como elementos de atratividade e permanência
espacial do turista nos destinos.
Como complementação de constructos correlatos buscou-se no EBSCO a
mesma metodologia para a palavra City Tourism no período de 2000 a 2019 o que
gerou 1443 publicações em revistas cientificas. Foram pesquisados 12 Thesaurus,
quantificados da seguinte forma: 1. Urban Tourism: (153); 2. Tourist Atractions (96);
3. Tourists (58); 4. City Promotion (41); 5. Cities & Towns (54); 6. Culture & Tourism
(37); 7. Tourism and urban planning (142); 8. History (10); 9. Public Spaces (10); 10.
Archicture (4); 11. Heritage and Culture Tourism (70); 12. Tourism Government Policy
(26).
Ao realizar a pesquisa no Google Acadêmico pelos termos Avenues and Urban
Tourism, Avenidas e Turismo Urbano no recorte temporal de 01 a 24/04/2019, foram
encontrados artigos, dissertações e teses que mencionam as ruas ou avenidas como
atrativos turísticos ou sua importância histórica. Porém, todos esses estudos
mencionam as ruas/avenidas de forma isolada, não trazendo relação com a
perspectiva de conjunto da malha viária com as edificações, sem relacionar com o
contexto da interpretação patrimonial.
19

Figura 01: Resultados do Google Acadêmico

Fonte: Elaborada pela autora com base na pesquisa de 01 a 24/04/2019.


Destaca-se aqui um trecho do artigo de Claudia Moraes (2016): Atrativo
turístico no contexto de cidade para pessoas: Avenida Paulista, São Paulo, Brasil:

As ruas como atrativos turísticos foram estudadas como turismo de compras


por Getz (1994), Yuksel (2004), Kemperman, Borgers e Timmermans (2009);
a relação entre a renovação de distritos comerciais com pedestres em
Saarloos, John, Zhang e Fujiwara (2011) ou experiências turísticas como
flâneur como em Wearing e Foley (2017). Como se nota, há interesse em
examinar diversos aspectos que relacione ruas e avenidas e turismo (p.100).

O Gráfico 04 apresenta o contexto evolutivo do cruzamento dos termos Avenues


and Urban Tourism e Avenidas e Turismo Urbano:
20

Gráfico 04: Evolução dos artigos filtrados no Google acadêmico.

5
5 5

4
4 4 4 4

3
3 3

2
2 2 2 2

1
1 1 1 1 1

Fonte: Elaborada pela autora com base na pesquisa de 01 a 24/04/2019.

No que concerne as dissertações e teses cronologicamente elas apresentam-se


da seguinte forma: A) DISSERTAÇÕES: 2004 (1- Cidade do Porto-Portugal, Conjunto
da Avenida dos Aliados à Rua Ceuta); 2008 (2- Bairro de Santa Felicidade, Curitiba e
Rua dos Caetés); 2011 (1-Avenida Paulista Poética Urbana sob a ótica dos artistas
de Rua); 2012 ( 1-Espaço Urbano e Avenida Litorânea em São Luiz-MA); 2015 ( 1-
Turismo Urbano como agente do produto turístico-Valência-Espanha) e 2018 (2-
Avenida Paulista Literatura e Urbanismo e Regeneração da Avenida da
Independência do Centro Histórico da cidade de Veracruz -México); B) TESES: 2006
(2- Focos qualitativos no Centro de SP e Turismo urbano e hotelaria em SP); 2007 (1-
Avenida Paulista Formação e consolidação do ícone da metrópole de São Paulo);
2007 (1- Urban Tourism Global); 2015 (1- Intepretação do Patrimônio Barcelona-
Espanha) e 2018 (1- Avenida Afonso Pena análise da paisagem).
Até o presente momento, pode-se perceber que os resultados obtidos nesse
levantamento demonstram a existência da falta de uniformidade nas bases teóricas
acerca do turismo urbano, poucos estudos recentes e aprofundados, principalmente
no que se refere a produção de revisões teóricas, sugerindo assim, elaboração de
pesquisas voltadas a esse assunto. Outro ponto a destacar, como já supracitado, é a
21

inexistência de estudos científicos que retratem as ruas ou avenidas na perspectiva


de valorização cultural por meio da visão de conjunto e relação entre suas edificações
no segmento turístico. Entretanto, autores abordam a questão individual do patrimônio
no contexto de preservação e conservação, a historicidade e projetos de ruas e/ou
avenidas, do sistema do turismo urbano tendo as cidades como objeto central de
estudo, conceituações do turismo e patrimônio cultural, importância de sítios
históricos, dos elementos que compõem o produto turístico urbano, incluindo ruas
como atrativos turísticos, formulação de novos produtos, destinos urbanos,
motivações e perfil de turistas urbanos, marketing de lugares e promoção da cidade,
tendo esses assuntos aplicados em pesquisas empíricas ou teóricas.
Assim, a proposta dessa pesquisa, consiste em uma abordagem indissociável e
interdisciplinar do conceito de patrimônio cultural e do turismo urbano (Figura 2) na
materialização interpretativa do ambiente construído por meio dos logradouros (ruas
ou avenidas) em Centros Históricos, aspectos que até agora ficaram dissociados e a
margem da discussão acadêmica.
Figura 02: Lacuna teórica

Turismo
Patrimônio Urbano
cultural
(edificado)

Logradouros

Perspectiva de conjunto dos logradouros em


Centros Históricos

Fonte: Elaborada pela autora


Desse estudo, emerge a hipótese central da pesquisa no qual derivam as duas
hipóteses secundárias, listadas abaixo:
22

• HC: Os logradouros, em conjunto com o patrimônio edificado, são


elementos de atratividade turística que influenciam na valorização
histórico-cultural de uma cidade no âmbito do turismo urbano.
• H1: No plano de tombamento de Centros Históricos, os conjuntos viários
associados ao patrimônio arquitetônico proporcionam uma dinamização
no mercado turístico;
• H2: Ruas ou avenidas podem ser patrimônio turístico;

1.3 PROBLEMÁTICA

Em relação a oferta do turismo urbano na cidade de Manaus, ao analisar os


dados e mapas dispostos no Plano de Desenvolvimento de Turismo Integrado e
Sustentável-PDTIS (2011), verificou-se que os atrativos mais relevantes para o
turismo em Manaus estão localizados na área central localizada no Centro Histórico
(zona sul), a Orla da Ponta Negra (zona oeste) e a Reserva Florestal Adolpho Ducke,
onde se localiza o Museu da Amazônia – Musa Jardim Botânico de Manaus (zona
leste). Ainda, de acordo com o levantamento realizado em sites das agências de
turismo que operam o receptivo na cidade de Manaus, percebeu-se que para o turismo
de natureza existem muitos roteiros turísticos comercializados, fato que não acontece
com o turismo urbano, no âmbito do segmento cultural, devido à oferta insuficiente de
roteiros que valorizem o patrimônio material e imaterial da capital manauara. No
entanto, o acautelamento desse patrimônio, por meio do tombamento da área ou
individualmente das edificações históricas, pode ser melhor aproveitado
turisticamente quando associado aos seus conjuntos viários. Ou seja, a observação
das transformações, historicidades específicas e singulares dos logradouros
localizados em Centro Históricos como elementos indutores da valorização turística
bem como da intepretação patrimonial, são aspectos no âmbito do turismo urbano que
precisam ser analisados.
Nesse contexto, as avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, concentram
a maior parte dos atrativos turísticos da capital manauara além de estarem situadas
na área do Centro Histórico de Manaus2. Como extensão de características do próprio
Centro Histórico, essas avenidas são uma área comercial e residencial que concentra

2 Tombada na esfera municipal pela Lei Orgânica do Município de Manaus-LOMAN (1990) e


federal conforme decreto publicado no Diário Oficial da União.
23

um grande volume de pessoas daquilo que se pode chamar de população flutuante,


frequentadas tanto por visitantes como os residentes locais. Hoje, elas são percebidas
apenas como, uma das principais vias de trânsito da cidade, onde possui edificações
históricas, monumentos, praças e áreas que recentemente sofreram intervenções de
urbanização contempladas no Programa de Saneamento Ambiental dos Igarapés de
Manaus-PROSAMIM do governo estadual em convênio com o BID. O conjunto dos
fatores que constituem a história destas avenidas, são elementos que materializados
no espaço, apresentam potencial para promover uma proposta diferencial de roteiro
turístico interpretativo para Manaus propiciando uma atmosfera autêntica na
experiência do visitante além do aspecto protetivo da ambiência do entorno do seu
patrimônio edificado preservado. Entre os elementos contidos na paisagem, devem
ser considerados os elementos paisagísticos desde suas origens à atualidade e os
principais momentos da história no intuito de proporcionar o reconhecimento da
população residente e a valorização de interesse turístico, com foco no
desenvolvimento local.
Diante desse cenário e na busca pela diversificação e atratividade turística,
elaborou-se o seguinte questionamento: Como os logradouros, na perspectiva de
conjunto com seu patrimônio edificado, podem ser elementos de atratividade turística
em Centros Históricos sob a ótica da interpretação patrimonial no âmbito do turismo
urbano?

1.4 OBJETIVOS

Após a construção da hipótese central e da pergunta-problema, tem-se os


estabelecimentos do objetivo geral, como finalidade principal da pesquisa e resposta
ao problema apresentado e confirmador do pressuposto levantado. Seus objetivos
específicos são etapas complementares necessárias para atingir o propósito basilar
da tese.
24

1.4.1 Objetivo Geral:

Identificar logradouros na perspectiva de conjunto como elemento de


composição da atratividade turística em Centros Históricos sob a ótica da
interpretação patrimonial no âmbito do turismo urbano.

1.4.2 Objetivos específicos:

• Narrar a historicidade das avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro


estabelecendo relações entre o ambiente construído e os aspectos
socioeconômicos dominantes no período temporal de sua construção até os
dias atuais;

• Descrever as políticas públicas implementadas no Centro Histórico de


Manaus bem como a oferta de turismo urbano a luz da paisagem urbana
pesquisada;

• Elaborar parâmetros interpretativos de análise dos logradouros na


perspectiva de conjunto com o patrimônio edificado na composição da oferta
turística aplicados em Centros Históricos.

1.5. JUSTIFICATIVA

A contribuição inédita dessa pesquisa é vislumbrar a prática do turismo urbano


em uma cidade cravada no meio da maior floresta tropical do mundo, onde o apelo
natural é predominante na discussão teórica e o maior desafio resulta na harmonia
entre natureza e urbano, tendo a cidade como diferencial de atratividade turística
utilizando o seu patrimônio edificado em conjunto com seus logradouros
(ruas/avenidas). Propondo parâmetros interpretativos de análise como forma de
identificar as potencialidades turísticas dos logradouros (especificamente ruas ou
avenidas) que são constituídas por uma paisagem urbana que foi construída ao longo
dos tempos pela sobreposição de várias camadas e a partir daí tem-se uma história
vinculada a esse espaço urbano. Esses parâmetros apresentam-se como uma forma
de auxiliar gestores, trade turístico, turismólogos e demais estudiosos a discutirem
esse aproveitamento turístico das ruas e avenidas associadas ao patrimônio edificado
e ainda como vetor de valorização do plano de tombamento do patrimônio cultural
edificado, tendo como intuito a preservação desse espaço e também utilizá-los como
25

um elemento que venha constituir o plano de desenvolvimento do turismo urbano em


uma localidade, não só aplicado ao Centro Histórico de Manaus, como também a
possibilidade desses parâmetros de análise serem replicados, posteriormente em
outros logradouros localizados no demais Centros Históricos do mundo.
Tudo na cidade gera competição e o tempo é fator fundamental para qualquer
cidadão se projetar nesse mundo capitalista. Desta forma, deve-se entender a cidade
como lócus da produção e reprodução social em uma estrutura capitalista. As cidades,
ao mesmo tempo em que sintetizam as tensões sociais existentes, são espaços
privilegiados de atrações, serviços, simbolismos e produções culturais. No processo
elaboração das bases teóricas e conceituais do turismo, Rodrigues (2006) estabelece
a triangulação entre patrimônio, turismo cultural e turismo urbano tendo na cidade seu
objeto central de análise, conforme demonstrado na figura 03:
Figura 03: Triangulação das teorias do turismo.

Fonte: Elaborado pela autora com base em RODRIGUES (2006).

Boullón (2002) afirma que o homem urbano possui dificuldades para


reconhecer esse espaço artificial que ele mesmo criou. Porém, vale ressaltar que os
habitantes estabelecem relações complexas com os lugares a partir de seu cotidiano,
culminado na manifestação de uma cidade de diferentes modos para diferentes
pessoas. Existem complicações para decifrar a paisagem natural, devido à sua
26

amplitude, complexidade e variedade, responsável pela dificuldade de alcançar a sua


percepção em detalhes. Ao passar para a paisagem urbana, o processo inverte-se,
porque é muito mais fácil reconhecer uma cidade por meio de um edifício do que pelas
perspectivas de conjunto com seus logradouros. Em geral, os mapas de uma cidade,
entregues aos turistas para sua orientação, são plantas baixas que mostram sua
forma em duas dimensões, formada pela rede de ruas e áreas construídas. Outras se
limitam em um detalhe retangular, à área central em que se encontram os hotéis,
perdendo-se a ideia da extensão total da cidade e a forma de seu perímetro. No
entanto, “a cidade que os turistas querem ver é das ruas, praças e edifícios e não da
representação em um papel, que só lhe serve como parâmetro de direção e
localização” (BOULLÓN, 2002, p. 190-191). Aqui reside a amplitude e possibilidade
da pesquisa de ultrapassar esses limites e sair do convencional, ao propor um novo
olhar para o Centro Histórico de Manaus por meio de suas avenidas em conjunto com
suas edificações, onde a memória da cidade pode ser observada pelo seu ambiente
construído de uma forma singular aliando a busca da real dimensão do lugar, e
consequentemente, criando um diferencial para o desenvolvimento da atividade
turística na capital, agregando valor ao destino. Nessa perspectiva, no momento em
que o observador se põe a analisar as formas de maneira direcionada, devem ser
ponderados os pontos de vista de quem produz e consome o espaço urbano.
Diante da construção dos pilares no fazer da ciência, o pesquisador depara-se
com o processo de desvendar a realidade e necessariamente, deverá fazer uso de
conceitos, ou seja, de categorias de análise científica para validar suas hipóteses e
dar a credibilidade ao estudo na eterna busca pela verdade científica. Assim, essa
pesquisa tem como intuito desvendar aspectos escondidos ou não potencializados da
oferta turística no Centro Histórico de Manaus, onde a inquietação dessa
pesquisadora contribuirá na aplicação do conhecimento científico turístico no
Amazonas bem como a aproximação da academia com o mercado.
Convém salientar, que o turismo urbano é hoje uma das mais relevantes
atividades econômicas e sociais, onde o componente cultural das cidades constitui-se
um dos fatores principais para a atração de visitantes, no entanto, a pauta sobre o
turismo urbano é raramente incluída no âmbito das etapas de planejamentos locais
(RODRIGUES, 2006). Discutir essa temática, resguardadas suas particularidades, dá
a esse estudo um caráter inovador porque existe uma concentração de estudos
científicos e roteiros turísticos com o foco nos aspectos naturais, gerando uma miopia
27

do olhar para as especificidades teórico-práticas que o turismo urbano e o patrimônio


edificado juntamente com seus logradouros podem proporcionar aos visitantes e
residentes.
Nesse sentido, o posicionamento turístico de Manaus deve estar baseado na
diferenciação e no enfoque da associação do turismo na natureza com a experiência
cultural, tanto do ponto de vista histórico-urbano quanto de conhecimento de novos
modos e costumes dos povos tradicionais e indígenas, produzindo, desta forma,
atrativos ímpares e singulares (GUIMARÃES, 2012). Segundo análise do Plano de
Desenvolvimento de Turismo Integrado e Sustentável-PDTIS (2011), o turismo
manauara caracteriza-se pela existência de produtos turísticos pouco consolidados
na área urbana de Manaus, pela baixa oferta de equipamentos que oferecem
atividades de lazer e entretenimento, pela ausência de local qualificado para usufruto
do rio Negro de residentes e visitantes, além da baixa oferta de serviços e
equipamentos para eventos de grande porte. Para alterar esse quadro, existe a
necessidade de elaborar estratégias para a diversificação da oferta de produtos e
serviços turísticos no núcleo turístico principal, localizado na área urbana do
município.
Deve-se pensar em métodos de olhar, vivenciar e apreciar, reafirmando não
apenas o sítio e os objetos, mas a oportunidade dos visitantes (turistas e comunidade)
de apreenderem novas formas de se relacionar com o lugar. Nessa mesma linha de
raciocínio pode-se entender os espaços urbanos como opções de lazer à comunidade
local e como consequência, o turismo apropria-se desses lugares como insumos à
formatação do seu produto. As novas exigências do público dos turistas nos levam a
repensar a cultura, dessa forma, não apenas como motivação para a viagem, mas
como “insumo” específico, ao lado dos atrativos naturais e dos serviços, nas
formatações de produtos turísticos e estratégias de promoção cultural.
Elegeu-se para aplicação dos estudos dessa tese, o Centro Histórico de
Manaus, delimitado a partir da Avenida Sete de Setembro e Avenida Eduardo Ribeiro,
pelo valor de conjunto potencializado e seu acervo de elementos acumulados ao longo
dos séculos XIX e XX, vinculadas ao cotidiano dos residentes e às atividades
portuárias, comerciais e de serviços desenvolvidas. Diante da observação empírica in
loco, dessa pesquisadora, e de consultas aos sites dos órgãos de turismo bem como
nas agências de turismo receptivas locais, percebe-se que no Centro Histórico o
turismo acontece de forma espontânea e individual no que se refere ao patrimônio
28

arquitetônico, onde os visitantes têm a sua disposição material promocional, painéis


ilustrativos e condutores turísticos que mostram os lugares ou prédios históricos de
forma isolada, não como um todo em relação à localização contínua dos mesmos nos
logradouros a serem estudados, especificamente Avenidas Sete de Setembro e
Eduardo Ribeiro. As edificações históricas e seus logradouros seriam melhor
estudadas, aprendidas e vivenciadas dentro do seu processo evolutivo histórico e
econômico dentro dos princípios de intepretação do patrimônio cultural da Carta de
ICOMOS (2008) que primam pelos seguintes aspectos: a) acesso e compreensão; b)
fontes de informação; atenção ao entorno e ao contexto; c) preservação da
autenticidade; d) plano de sustentabilidade; e) preocupação com a inclusão e com a
participação e por fim, f) importância da pesquisa, da formação e da avaliação.
Destaca-se, que no contexto da política de proteção ao patrimônio Rodrigues
(2015, p.314) afirma que existe a necessidade de “desmascarar a forma como é feita
a patrimonialização, que pode congelar um determinado bem”, ou seja, o perigo de
espetacularização urbana em determinadas localidades, pois existe uma ilusão de que
os processos de patrimonialização possam integrar uma rede de cidades turísticas,
sem se preocupar essencialmente com a preservação e conservação da identidade e
autenticidade desses lugares. Assim, a mesma autora valida esse pensamento ao
afirmar que conceitualmente patrimônio deve se remeter àquilo que se refere a nossa
identidade: entornos culturais, as tradições, formas de vida, linguagem e ainda deve
ser pensado como símbolo de qualidade de vida a serviço dos cidadãos. O que se
pode observar dessa afirmação de Rodrigues (2015) é que o nascedouro da política
de proteção patrimonial, nacional ou internacional, deu-se na visão do individual, o
que nos traz uma reflexão para as questões do tombamento de conjunto e não apenas
de monumentos, prédios ou casarios, mas também dos logradouros em que estão
inseridos, sendo essa de igual importância no processo da espacialização da
edificação e relevância do lugar para o turismo.
Esta pesquisa proporciona uma reflexão do turismo urbano sobre as
possibilidades de interpretação do patrimônio cultural na perspectiva de conjunto das
Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, ambas localizadas no Centro Histórico
de Manaus tombado a nível municipal (1990) e federal (2010). Esses são importantes
logradouros locais, símbolos do passado e presente da cidade. Em sua extensão se
destacam evidências dos processos de construção e transformação de Manaus,
remanescentes do período do ciclo da borracha (séculos XIX e XX) e da Zona Franca
29

de Manaus (1964). Ainda nesse contexto urbano, o estudo de Boullón (2002)


menciona que as cidades podem ser analisadas em dois grandes grupos: edifícios e
espaços abertos, no qual contém seis pontos focais urbanos: logradouros, marcos,
bairros, setores, bordas e roteiros. Para fins dessa pesquisa será dado o enfoque
maior na definição de logradouros que são “espaços abertos ou cobertos de uso
público, em que o turista pode entrar e percorrer livremente” (BOULLÓN, 2002,
p.214)3.
No exercício exemplificado desse aspecto conceitual de Boullón, as Avenidas
são os logradouros; o Centro (bairro); Centro Histórico de Manaus (setores);
edificações, monumentos, entre outros (marcos); a posição axial das avenidas em
relação ao sítio urbano (borda) na perspectiva de conjunto com a possibilidade de
aproveitamento turístico por meio de roteirização. Em recente pesquisa junto aos sites
das principais agências que operam o receptivo turístico na capital e no material
publicitário de órgãos públicos de turismo e cultura, verificou-se que os principais
roteiros oferecidos são basicamente visitas guiadas às edificações, city tour e
sightseeing4 no Centro Histórico. Não é oferecido ao visitante opções de roteiros que
contem parte da história da cidade através de um passeio por uma de suas avenidas
apresentando a evolução histórico-cultural das edificações com sua malha viária.
Fomentar uma nova imagem ao Centro Histórico, expandindo a percepção sobre o
patrimônio cultural presente na cidade, para além das edificações, é um desafio
necessário, pois a inalterabilidade em divulgar sempre a mesma coisa, acaba
limitando as gerações atuais de mais conhecimento sobre o patrimônio local, o que
acaba por dificultar o surgimento de novos roteiros turísticos para qualificar a
experiência vivida em Centro Históricos no Brasil e no mundo.
Segundo Murta e Goodey (2002, p.13), a valorização cultural é “o processo de
acrescentar valor à experiência do visitante, por meio do fornecimento de informações
e representações que realcem a história e as características culturais e ambientais de
um lugar”. Assim sendo, a valorização cultural ocorrerá a partir do momento que
houver uma maior apropriação da história local, onde realçar a trajetória histórica das
avenidas evitará perdas culturais, e principalmente, modificará o olhar sob a

3 Um shopping tem uso público, mas é espaço privado, ou seja, existe uma discussão e diferenciação
entre uso público e bem público, porém, esse não é o propósito desse estudo, por isso não houve
aprofundamento nessa questão.
4 Visita panorâmica sem paradas como o city tour.
30

perspectiva de que a história que constitui Manaus é única, sendo culturalmente


significativa e capaz de gerar uma ponte entre o passado, o presente e sua ambiência.
Dessa forma, é extremamente importante que o visitante possa descobrir as
referências que estão, nesse caso, ao longo do trajeto das Avenidas Sete de Setembro
e Eduardo Ribeiro e relacioná-las com a história local, compreendendo que o conjunto
de monumentos e edificações que estão materializados em toda a sua extensão
tornam possível uma narrativa sobre todo o processo de transformações pelo qual a
cidade de Manaus passou, desde sua construção, ascensão, expansão desordenada,
investimento modificadores de sua paisagem. Tendo essa aplicação teórica proposta
na tese, como parâmetro de replicação em outros Centros Históricos em escala
nacional e internacional.
Essa tese está estruturada em 4 capítulos além da introdução, referências e
anexos. Sendo que os alicerces teóricos dispostos em três sub-seções abordando
sobre conceitos e definições concernentes ao espaço e suas teorias na relação com
a atividade turística; patrimônio cultural edificado diante da lógica da intepretação
patrimonial bem como o estado da arte sobre o turismo urbano e suas inter-relações
com a cidade e os logradouros. O capítulo 3 sobre a trajetória teórico-metodológica
explicita acerca da abordagem epistemólogica, caracterização, procedimentos
técnicos e lócus da pesquisa. O 4º capítulo sub-divide-se em 4 sub-seções que trazem
os resultados alcançados para atingir os objetivos propostos principalmente no que
tange a proposta de elaboração de parâmetros interpretativos no contexto diagnóstico
de identificação de logradouros na perspectiva de conjunto com o seu patrimônio
edificado preservado compositivo da oferta turística em Centros Históricos. Finaliza-
se com as considerações finais que refletem a síntese do conteúdo dissertativo da
tese além das principais implicações teóricas e práticas desse estudo.
31

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A estruturação do marco teórico é basilar no processo de formação das


categorias de análise aplicadas ao objeto de estudo em questão. Deste modo, a seguir
se apresenta o quadro conceitual que subsidia a concepção deste capítulo, orientado
pelos conceitos de espaço social, espaço turístico, patrimônio e turismo urbano.

Quadro 01: Quadro Conceitual

CONCEITOS AUTORES ABORDAGEM


CONCEITUAL
Lefebvre (1974, 1993 e Dialética Social
2000)
Santos (1977, 1988, 1997 e Formação Sócio Espacial
1. Espaço Social 2006)
Soja (1993) Espaço na Teoria Social.

Mullins (1991) Urbanização Turística


2. Espaço Turístico Gladstone (1998)
Espaço Urbano
Boullón (2002) (logradouros, marcos,
bairros, setores, bordas e
roteiros).

Choay (2006, 2011) As questões do patrimônio


e Alegoria do Patrimônio
Camargo (2002) Patrimônio Histórico e
Cultural
Tilden (1957) Princípios da Filosofia
Interpretativa
3. Patrimônio Murta, Albano e Godey Interpretar o patrimônio:
(2005) um exercício do olhar
Costa (2014) Turismo e patrimônio
Cultural: interpretação e
qualificação
Icomos (2008) Cartas patrimoniais
Ashworth (2012) e Cohen Turismo cultural e
(2014) patrimonial
Meneses (2004) História e Turismo Cultural
32

Beni (1998), OMT (2001) e Patrimônio e atrativo/,


Anjos (2004) recurso turístico, sistema
territorial turístico.

Ashworth (1989) Turismo urbano:


desequilíbrio na atenção

Ashworth (1992) Existe um turismo urbano?


4. Turismo Law (2002) Turismo urbano: a
Urbano economia do visitante e o
crescimento das grandes
cidades

Ashworth e Page (2011) Pesquisa em turismo


urbano: progressos
recentes e paradoxos
atuais.

Bell (2007) A cidade hospitaleira

Lynch (1999) Imagem da cidade

Lefebvre (2001) Direito a cidade

A produção do espaço
urbano: agentes e
Carlos, Souza e Spósito processos, escalas e
(2017) desafios

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

2.1 A FORMAÇÃO DO ESPAÇO NO ÂMBITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS E


TURÍSTICAS

O ponto de partida para melhor compreensão das relações que interferem na


dinâmica do turismo enquanto atividade e até mesmo na sua consolidação como
ciência, perpassa por aspectos relacionados na formação do espaço em conjunto com
seus conceitos de paisagem e lugar alicerçados no contexto da dialética social de
Lefebvre (1974, 1993 e 2000), do clássico de Milton Santos com sua teoria de formação
socioespacial (1977,1988,1997 e 2006), resgatando a teoria social do espaço de Soja
(1993). Outrossim, não há como avançar nessas teorias sem relacionar com o
planejamento do espaço turístico de Boullón (2002) bem como os conceitos abordados
por Patrick Mullins (1991) com sua teoria da urbanização turística.
33

2.1.1 A construção do espaço por meio das teorias da formação socioespacial,


da dialética social e da prática espacial
A sociedade tem a necessidade do espaço para formar o núcleo base de sua
existência, onde para Carlos (2017) deve-se pensar nas relações sociais
convergentes a sua dimensão espacial analisando a espacialidade como inerente à
existência constitutiva do ser humano social, o que por consequência, essa ação dá
uma conotação histórica nas reproduções espaciais ao longo do tempo bem como nas
diferentes escalas e lugares da terra. Corroborando, no entendimento de Santos
(1977, p.1), deve-se:
Interpretar o espaço humano como o fato histórico que ele é, somente a
história da sociedade mundial, aliada à da sociedade local, pode servir como
fundamento à compreensão da realidade espacial e permitir a sua
transformação a serviço do homem. Pois a História não se escreve fora do
espaço e não há sociedade a-espacial. O espaço, ele mesmo, é social.

No sentido complementar a esse pensamento de Santos, Coutinho (2019)


reforça a possibilidade de que a representação é também revelar o que não se vê,
onde na construção do ser humano social, o homem individual se consubstancia no
outro porque direciona a sua reflexão ao mundo, induzindo-se pelo objeto lições de
maturidade reflexiva e apontando horizontes da existência que delimita um lugar, ora
improvisando uma tensão por antagonismo, ora descortinando uma relação dual.

Milton Santos afirma que a noção de formação social como como categoria
analítica "concerne à evolução diferencial das sociedades em seu próprio quadro e
em relação com forças externas das quais frequentemente lhe vem um impulso motor”
(1980, p.201). Trabalhar com a categoria de formação socioespacial significa acima
de tudo, utilizar como fundamento para a explicação da produção, isto é, o trabalho
do homem para transformar, segundo leis historicamente determinadas, “o espaço
com o qual o grupo se depara" (1980, p.201). E mais adiante, reafirma que tudo o que
existe articula o presente e o passado, pelo fato de sua própria existência, por essa
lógica racional, conecta igualmente o presente e o futuro (SANTOS, 1980). Nesse
processo de construção conceitual Lefebvre (1976, p.14 e 17) revela que “reconhecer
o espaço, reconhecer o que está acontecendo ali e para que é usado, é retomar a
dialética”. Para Lefebvre (1974), sociólogo, afirma que cada sociedade produz um
espaço que lhe é particular, o seu próprio espaço, e dessa forma, ainda segundo o
referido autor, o espaço (social) seria então um produto (social), indispensável para a
realização das atividades humanas, sejam sociais, culturais, políticas e/ou
34

econômicas, já que ele é o lugar de morada do homem, de vida, de produção e de


trabalho. Um enfoque espacial ou temporal isolado são ambos insuficientes para sua
compreensão.
A constituição estrutural do espaço organizado não é um aspecto dissociável,
com leis autônomas de construção e transformação, nem tampouco uma expressão
da estrutura de classes que surge das relações sociais de produção, ou seja, é
justamente o contrário, na realidade esse espaço organizado é um componente
dialeticamente definido a partir das relações de produções gerais, simultaneamente
sociais e espaciais (SOJA,1993).
Mas, afinal qual o conceito de espaço e do que se constitui? No clássico de
Milton Santos (2006) na sua obra a Natureza do Espaço, ele menciona que o espaço
é tornado único, à medida que os lugares se globalizam, sendo o resultado de um
conjunto de objetos organizados que segue uma lógica da instalação das coisas e da
realização das ações históricas, pelo qual o próprio espaço assegura a continuidade.
Em complementaridade, por tempo, deve-se compreender como o transcurso de
eventos e sua trama, já o espaço é o meio, o lugar possível de materialidade desses
eventos e numa amplitude global, o mundo é a soma sintética de eventos e lugares,
em síntese, cada lugar, não importa sua localização, revela o mundo o que ele é e
não é, já que todos os lugares são suscetíveis de intercomunicação (SANTOS, 1997).
A luz de Soja (1993), percebe-se que existe a necessidade de separação entre
o espaço per se, o espaço como conceito e a espacialidade como produto social,
criado a partir da organização e das produções sociais. Na sua visão,
independentemente das perspectivas materialistas, mecanicistas ou dialéticas, o
espaço e o tempo são a forma objetiva da matéria e ligados entre si. Para ele, a parte
física espacial constituiu-se na base epistemológica ilusória para análise da
concretude e subjetividade da espacialidade humana, onde o espaço em si, pode ser
primordialmente dado, mas a organização e o seu sentido são produto da translação,
da transformação e das experiências da sociedade, sendo ele, estruturalmente um
espaço socialmente produzido. Ainda nesse sentido, Lefebvre apresenta uma
diferença entre natureza como um contexto ingenuamente dado e a denominada
“segunda natureza” que nada mais é que a espacialidade transformada e socialmente
concretizada oriunda da aplicabilidade do trabalho humano deliberado. Outrossim,
para ele o “espaço foi formado e moldado a partir de elementos históricos e naturais”
(LEFEBVRE,1976, p.31). Edward Soja (1993) nos provoca uma reflexão conclusiva,
35

a partir dessas discussões, no que tange a especificidade do espaço como produto


social fruto de uma prática social deliberada, porém, o que passa a ter maior
relevância, não é sua estrutura separada com transformações sociais independentes,
e sim, na perspectiva materialista, é sua conotação calcada nas relações entre o
espaço criado e organizado bem como demais estruturas no contexto do modo de
produção.
Buscando aprofundar detalhadamente os elementos que compõem as
categorias de análise do espaço, traz-se aqui, os conceitos de escala espacial e
conceitual. Onde, para Corrêa (2017), a espacial consiste no traço fundamental da
ação do homem em relação às práticas que se realizam em âmbitos espaciais
limitados ou amplos, mas não dissociados entre eles. Ele também complementa que
a escala do conceito espacial emerge da consciência da dimensão variável da ação
humana, sendo útil para a inteligibilidade dessa ação. O próprio autor menciona que
essas duas escalas são relativas à rede urbana e ao espaço intraurbano além de
reforçar que:
A produção do espaço, seja o da rede urbana, seja intraurbano, não é o
resultado da “mão invisível do mercado”, nem de um Estado hegeliano, visto
como entidade supra orgânica, ou de um capital abstrato que emerge fora
das relações sociais. É consequência da ação de agentes sociais concretos,
históricos, dotados de interesses, estratégias e práticas espaciais próprias,
portadores de contradições e geradores de conflitos entre eles mesmo e com
outros segmentos da sociedade. Onde os agentes sociais da produção do
espaço estão inseridos na temporalidade e espacialidade de cada formação
capitalista (CORRÊA, 2017 p.43).

No entendimento da formação do espaço sob a égide do capitalismo, tem-se nos


textos de Lefebvre (1976) uma busca incessante pela compreensão política de como
e porque o capitalismo sobreviveu, desde o seu momento industrial competitivo da
época de Marx até o atual capitalismo industrial oligopolista e controlado pelo Estado
(SOJA,1993). Ainda na visão de Soja (1993), Lefebvre vincula esse espaço capitalista
tardio à reprodução das relações sociais dominantes de produção, tendo o capital a
capacidade de intervenção direta no desenvolvimento das forças produtivas e
tornando essas relações dominantes base primordial da sobrevivência do próprio
capitalismo. A continuidade do processo produtivo é a característica da produção do
capitalismo, a partir de um aspecto cíclico de articulação entre produção e circulação,
ensejando, assim, no aumento da concentração espacial e sob a ótica de que o capital
tende, assim, a criar sua base (CARLOS, 2008).
36

Em complemento, Santos (1977), no seu artigo “Sociedade e Espaço: Formação


Espacial como Teoria e como Método” discute a sociedade e a formação econômico-
social, baseado em conceitos definidos por Kusmin e Marx, da seguinte forma:
A sociedade evolui sistematicamente, como um organismo social coerente
cujas leis sistêmicas são as leis supremas, a medida-padrão para todas as
outras regularidades mais específicas (V. Kusmin, 1974, p.72). A noção de
Formação Econômica e Social como etapas de um processo histórico, que
preocupou Marx, é um dos elementos fundamentais de sua caracterização.
O desenvolvimento da formação econômica da sociedade é assimilável à
marcha da natureza e de sua história, dizia Marx no prefácio da primeira
edição de O Capital, como para dar ao desenvolvimento histórico e às suas
etapas o lugar central na interpretação das sociedades. Com isso, Marx
queria evitar o materialismo abstrato das ciências naturais, onde o
desenvolvimento histórico não é considerado (Jakobowsky, 1971, p.43) nas
suas causas e consequências, mesmo se não fosse o caso de delimitar as
formações sociais de maneira extremamente precisa. (SANTOS, 1977, p.3).

No entendimento de Milton Santos (2009, p.54), “em qualquer momento, o ponto


de partida é a sociedade humana em processo, isto é, realizando-se”. A base material
(território usado) é o palco dessa realização, ou seja, o espaço e seu uso; o tempo e
seu uso; a materialidade e suas diversas formas; as ações e suas diversas feições,
em síntese, a proposta epistemológica de Santos foi abrangente na sua totalidade,
visto que considerou inúmeras das dimensões que produzem e dinamizam o espaço,
a partir da materialidade dos objetos e das formas e da intencionalidade das ações e
dos conteúdos sociais.
Esse movimento da sociedade pode proporcionar materialidades no espaço que
aguçam o imaginário de quem busca analisá-lo ou interpretá-lo, resultando na
seguinte indagação de Harvey (1992, p.201): Será esse o fundamento da memória
coletiva, de todas as manifestações nostálgicas interligadas com o lugar que infectam
as nossas imagens de país, de cidade, de região, ambiente ou localidade? Para ele,
a imagem espacial possui uma grande influência sobre a história, pois, o tempo
sempre é memorizado não como fluxo, mas como recordação de lugares e espaços
vividos, onde a história deve ceder espaço à poesia e o tempo ao espaço, como
alicerce fundamental da expressão social.
Nessa condicionante, Lefebvre (1974) afirma que a história do espaço não deve
estudar somente os momentos privilegiados da formação, do estabelecimento, do
declínio e o estilhaçamento de um tal código. Que se apresenta como uma
superestrutura e forma de legibilidade espacial, não correspondendo a própria cidade
e o espaço e a relação “cidade-campo” nesse mesmo espaço, onde com esse código,
fixaram-se o alfabeto e a língua da cidade, os signos elementares, seu paradigma e
37

suas ligações. Corroborando na perspectiva do espaço urbano, Boullón (2002) afirma


que:

a percepção da cidade – principalmente quando esta ultrapassa os 20.000


mil habitantes – não é total e instantânea como a que se tem de um objeto
alcançável de uma só vez, mas se realiza no transcurso do tempo, pela soma
das imagens parciais que o espaço físico transmite e que o homem registra
em sucessivas vivências (visão em série). (2002, p.193)

As reflexões de Lefebvre (1974) trazem parâmetros de que a história do espaço


proporciona a periodização do processo produtivo, ao mesmo tempo não podendo
negligenciar o lado global, a citar: os modos de produção como generalidades, as
sociedades particulares que eles englobaram com suas singularidades, eventos,
instituições. O caminho da noção de produção do espaço, contextualizado por Carlos
(2017) definido por Marx e Lefebvre, ganha destaque como uma forma de evidenciar
a análise espacial por meio da reconstituição da sua materialidade no intuito de buscar
os conteúdos mais aprofundados da realidade social para a descoberta dos seus
sujeitos e obras, colocando-se, portanto, como momento indispensável a
compreensão do mundo contemporâneo. De acordo com a constatação feita por Cruz
e Arruda:

a representação da cidade é uma representação social que também estrutura


o espaço urbano é de extrema relevância para os estudos urbanos e
regionais e, particularmente, para o planejamento urbano e regional.
Sobretudo, porque nenhum espaço se reconstrói sem que antes esse espaço
e essa reconstrução tenham sido concebidos mentalmente, enquanto
representação social, saberes sociais enfim transformados em ação (2008,
p.39).

Reforçando, Jovchelovitch (1994) menciona que as representações sociais são


conhecimentos da realidade com dois lados conectados: um lado figurativo (criador
de imagens) e o lado simbólico propriamente dito, ou seja, na constituição de imagens
que são ideias, o conhecimento da realidade é concebido pelos sujeitos sociais de
forma direta (nas ruas, nas praças, nos rituais coletivos) ou mediado
institucionalmente, assumindo suas formas de representação.Toda a transformação
da sociedade tem uma apreensão na estrutura das práticas espaciais e temporais,
então, supõem-se que a prática espacial, as representações do espaço e os espaços
de representação intervêm diferentemente na produção do espaço, ditados pelas suas
qualidades e propriedades, segundo as sociedades (modo de produção) bem como
suas épocas, em suma, essas relações dialéticas entre esses três momentos – o
38

percebido, o concebido, o vivido nunca são simples, nem estáveis (LEFEBVRE, 1974).
Para ele, se existe produção e processo produtivo do espaço, há história, o que implica
na formulação do quarto aspecto, por conseguinte, a história do espaço, de sua
produção enquanto “realidade”, de suas formas e representações, não se confunde
com o encadeamento causal de fatos “históricos” (datados), nem com a sucessão,
com ou sem finalidade, de costumes e leis, de ideias e ideologias, de estruturas
socioeconômicas ou de instituições (superestruturas). A figura 04, sintetiza as teorias
das práticas sociais de Lefebvre (1974) norteadoras dessa tese:
Figura 04: Práticas espaciais de Lefebvre

Práticas Represen- Espaços de


espaciais tações do representa- LEFEBVRE
materiais espaço ção (1974)
(vivido) (percebido) (imaginado)

Fonte: Elaborado pela autora baseado em Lefebvre (1974)

As três dimensões de Lefebvre, são conceituadas e exemplificadas por Harvey


(1992, p.201-202):

1. Vivido: práticas espaciais referentes aos fluxos e interações físicos e


materiais ocorridos no e ao longo do espaço garantindo a produção e
reprodução social. Ex: bens, dinheiro, pessoas, sistemas de transporte
e comunicação, hierarquias urbanas e de mercado; aglomeração.
2. Percebido: representações do espaço que compreende todos os signos
e significações, códigos e conhecimentos que possibilitam a falar sobre
essas práticas materiais e compreendê-las por meio do senso comum e
das disciplinas acadêmicas.
3. Imaginado: espaços de representação mentais inventados que
imaginam novos sentidos ou possibilidades de práticas espaciais. Ex:
códigos, signos, paisagens imaginárias, construções materiais como
espaços simbólicos, pinturas, museus, etc.).
39

As dimensões propostas por Lefebvre (1974) trazem um arcabouço clássico na


representatividade da interpretação e leitura do espaço, onde seus argumentos são
de que as fachadas se conciliam para determinar as perspectivas das entradas e
saídas, portas, janelas, subordinam-se às fachadas às perspectivas, ruas e praças
ordenam-se em torno de edifícios, palácios de chefes políticos e de instituições.
Assim, o código do espaço permite ao mesmo tempo nele viver, compreendê-lo,
produzi-lo, fornecendo um procedimento simples de legibilidade através da reunião de
signos verbais (palavras, frases, com seu sentido resultando de um processo
significante) e signos não verbais (músicas, sons, chamados, construção arquitetural),
perfeitamente aplicados aos objetivos dessa tese. Santos (1988) destaca que:
(...) o espaço resulta do casamento da sociedade com a paisagem. O espaço
contém o movimento. Por isso, paisagem e espaço são um par dialético.
Complementam-se e se opõem. Um esforço analítico impõe que os
separemos como categorias diferentes, se não queremos correr o risco de
não reconhecer o movimento da sociedade (p. 25).

Para Guimarães (2012), o entendimento é que os dois conceitos se


complementam e ao mesmo tempo formam uma antítese, é o primeiro passo no
processo de desmistificação, assimilando o aspecto de diálogo entre eles, onde a
base do caminhar dialético é a forma como a sociedade manifesta-se e insere-se na
paisagem e consequentemente no espaço construído. Santos (1988) aborda que a
forma produtiva e o intercâmbio entre os homens é que definem o aspecto geral da
paisagem, o trabalho morto (acumulado) e a vida se dão juntos, mas de maneiras
diferentes. Na visão do mesmo autor, o trabalho morto seria a paisagem, onde o
espaço seria o conjunto do trabalho morto (formas geográficas) e do trabalho vivo (o
contexto social). Diante do exposto, entende-se que a sociedade se encaixa na
paisagem e, ainda, nos lugares onde se instalam, em cada momento e em diferentes
frações. No caso da Avenida Sete de Setembro e da Avenida Eduardo Ribeiro, objetos
dessa pesquisa, é necessária uma análise do contexto social que influenciou na
configuração desses logradouros.
No entendimento de Corrêa (2015), a paisagem é reflexo social, revelando e
escondendo necessidades e possibilidades com contradições e conflitos sociais,
entretanto, não esgotam o seu papel na vida humana. Onde para Serpa (2013, p.170)
“não há possibilidade de construção de uma análise crítica da paisagem
contemporânea, sem analisar o espaço e o todo estrutural”. Significando assim, que
a paisagem urbana não é apenas uma forma, mera morfologia, mas processo e forma,
40

movimento e pausa, cujo ritmo tende a ser de duração relativamente longa, tornando
mais evidentes as formas e menos os processos. Pela percepção de Coutinho (2019,
p.11), “quando olhamos os objetos e as coisas que estão distribuídas no mundo –
arrumação que se convencionou chamar “paisagem” –, imediatamente apontamos
direções interpretativas e, por elas, formatamos opiniões acerca de sua forma”. O
mesmo autor, menciona que a paisagem tem sido sempre o ponto de partida e o de
chegada, raramente é tida como mediação, pressupondo que a qualidade da
paisagem já não é transmitida por uma referencialidade, mas pela qualidade em si, ou
seja, nesse sentido, o “mundo externo” que se apresenta como outra dicotomia é
independente do “interno”, por conseguinte, a paisagem aprimora suas qualidades em
si e se afasta do que se move, da totalidade, por isso, ela é memória.
É o valor atribuído à cada fração da paisagem pela vida que metamorfoseia a
paisagem em espaço, no qual permite a seletividade da espacialização (SANTOS,
1988). A configuração da paisagem de hoje, guarda vários momentos do processo de
produção espacial, o que nos permite identificar elementos da evolução dessa
produção para análise e discussão (CARLOS, 2008). A essência é captar a relação
existente entre a percepção cultural de uma sociedade e as transformações do meio
físico, obra desta mesma sociedade, sem perder a memória. Na concepção de
Coutinho (2019, p.16), a paisagem fornece o sentido de localização às formas
geográficas e às relações entre os homens e as coisas-do-mundo, “não é uma
primeira representação do espaço, por isso, o homem apreende, na paisagem, a
espacialidade como uma totalidade do espaço”.
Enfim, “os modos de produção escrevem a História no tempo, as formações
sociais escrevem-na no espaço” (SANTOS, 1977). A distinção entre modo de
produção e formação social é necessária do ponto de vista metodológico. Milton
Santos (1977, p.3) cita M. Godelier segundo o qual:
O modo de produção seria o gênero cujas formações sociais seriam as
espécies e o modo de produção seria apenas uma possibilidade de realização
e somente a formação econômica e social seria a possibilidade realizada. A
noção de Formação Econômica e Social é indissociável do concreto
representado por uma sociedade historicamente determinada. Defini-la é
produzir uma definição sintética da natureza exata da diversidade e da
natureza específica das relações econômicas e sociais que caracterizam uma
sociedade numa época determinada.

O interesse dos estudos sobre as formações econômicas e sociais está na


possibilidade de permitir o conhecimento de uma sociedade na sua totalidade e nas
suas frações, primando sempre pela sua evolução. Faz-se necessário a definição da
41

especificidade de cada formação, o que a distingue das outras, e, no interior da


formação econômica e social, a apreensão do particular como uma cisão do todo, um
momento do todo, assim como o todo reproduzido numa de suas frações (SANTOS,
1977). Interpretar o espaço humano em sua historicidade, à luz da dinâmica mundial
associada à realidade local, implica em considerar a categoria de formação econômica
e social aliada com a dialética socioespacial, como as melhores ferramentas de
análise do desenvolvimento do espaço (GUIMARÃES, 2012).
Com base nestes referenciais se fundamenta a análise do objeto dessa pesquisa
com foco na realidade do Centro Histórico de Manaus ou de sua fração, devendo-se
considerar as características naturais do espaço em que ela se originou e
desenvolveu-se, pois o grupo social que ali vivia e vive atua no e com o espaço. No
caso do objeto dessa pesquisa, é compreender o contexto miltoniano da formação
econômica e social passada e presente na escala local, regional, nacional e
internacional bem como uma análise aprofundada da configuração morfológica de
construção da paisagem das Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro dentro
de uma perspectiva de conjunto com suas edificações. Estabelecendo que essas
avenidas são o resultado de uma reprodução dialética social dos habitantes de
Manaus na relação tempo e espaço embasado no tripé das práticas espaciais de
Lefebvre, o que garante a originalidade e particularidade das manifestações desses
grupos humanos que ali viveram e vivem até hoje nesses logradouros.
A continuidade e descontinuidade do processo histórico não podem ser
realizadas senão no espaço e pelo espaço. A evolução da formação social está
condicionada pela organização do espaço (formação social atual e permanente
(SANTOS, 1977). O espaço é a matéria trabalhada por excelência: a mais
representativa das objetificações da sociedade, acumulando, no tempo, as marcas
das práxis acumuladas (SANTOS, 2007). O importante é a lei do movimento geral da
sociedade, pois é por ele que apreendemos o movimento geral do espaço (SANTOS,
2007). São essas experiências que acabam por definir o lugar como histórico,
relacional e identitário: um espaço que não se pode definir assim, deve ser encarado
como um não-lugar (SERPA, 2013). Porém, para Augé (1994) o não-lugar5 nunca
existe sob uma forma pura, pois, lugares se recompõem nele e relações se

5 Termo contributivo para o encadeamento lógico textual e teórico da pesquisa, porém, não será uma
categoria de análise a ser aprofundada nessa tese.
42

reconstituem nele, ou seja, o lugar nunca é completamente apagado e o não-lugar


nunca se realiza totalmente. É importante salientar que lugar da memória em uma
determinada cultura é “definido por uma rede discursiva extremamente complexa,
envolvendo fatores rituais e míticos, históricos, políticos e psicológicos” (HUYSSEN,
2000, p.69).
Yázigi (2001) propõem que revelar o cerne da alma do lugar, é sobretudo,
perceber a relevância do meio natural como vetor na produção e reprodução de um
lugar construído e reconstruído na extensão apropriada pelo homem. A identificação
de lugar para Serpa (2017) passa pela composição de três componentes: traços
físicos, atividade e funções observáveis inter-relacionados associados aos
significados ou símbolos. No bojo dessas discussões, emerge-se a relevância da
compreensão dos aspectos conceituais concernente ao processo dialético da
configuração espacial.
Mais do que a formação socioeconômica é a formação socioespacial que exerce
esse papel de mediação: este não cabe ao território em si, mas ao território e seu uso,
num momento dado, o que supõe, de um lado, uma existência material de formas
geográficas, naturais ou transformadas pelo homem, formas atualmente usadas e, de
outro lado, a existência de normas de uso, jurídicas ou meramente costumeiras,
formais ou informais (SANTOS, 2006). Em uma das passagens de sua obra, Santos
explicita que:
A ordem global serve-se de uma população esparsa de objetos regidos por
essa lei única que os constitui em sistema. A ordem local é associada a uma
população contígua de objetos, reunidos pelo território e como território,
regidos pela interação. Cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão
global e de uma razão local, convivendo dialeticamente (2006, p.230-231).

Por meio da categoria de formação socioespacial de Milton Santos (1977) e da


Dialética de Lefebvre (1974) podem ser aprofundados os conhecimentos e a
legibilidade dos elementos histórico-geográficos responsáveis pela formação e
evolução da Amazônia, em especial, Manaus. Contribuições teóricas que permitem
desvelar a simbiose contida em cada momento da construção e evolução dos objetos,
edificações e marcos na perspectiva de conjunto contido nas Avenidas Sete de
Setembro e Eduardo Ribeiro, sob a ótica da interpretação do patrimônio como
alternativa para o desenvolvimento do turismo.
43

2.1.2 O desenvolvimento do turismo no contexto espacial

O turismo é um setor que por essência apropria-se do espaço como lugar de


interação entre o sujeito do turismo (turista), os atrativos e equipamentos turísticos,
além da comunidade receptora, tendo no espaço um pressuposto para o seu
desenvolvimento. Segundo Arruda e Tricárico (2019), o turismo corresponde ao
campo das práticas histórico-sociais no involucro das pessoas no tempo e no espaço
diferentes do cotidiano. Como atividade econômica, a partir da interação entre o
sujeito do turismo (turista), os atrativos turísticos, os serviços e equipamentos
turísticos, e a comunidade receptora, delimita um espaço de domínio turístico
materializado sobre a base apropriada do espaço geográfico. Segundo Cândido
(2003), onde ocorrem os movimentos entre as áreas de dispersão (emissoras), as
áreas de deslocamento (vias de acesso) e as áreas de atração (receptoras),
promovendo, na opinião de Xavier (2007), a manutenção das complexas formas de
relacionamento do homem com a natureza e com os grupos humanos.
César (2010) menciona que sendo a atividade turística, essencialmente espacial,
ela produz espaço e ao produzir espaço, como uma das consequências, definem-se
materialidades. O mesmo autor, amplia o pensamento ao afirmar que no contraste do
espaço, identifica-se o visitante, agente que se desloca e se apropria,
temporariamente, deste espaço para práticas e consumos, reproduzindo-o,
desenvolvendo-se nele a produção de capital pela produção do local como
mercadoria. Lefebvre (1974, p.127) entende que “o espaço não pode ser reduzido
apenas a uma localização ou às relações sociais da posse de propriedade – ele
representa uma multiplicidade de preocupações socio materiais”. No que tange ao
aspecto cultural-ideológico, o turismo proporciona a emissão, transmissão e recepção
de valores culturais e ideológicos, possibilitando a troca constante de conteúdos
simbólicos da cultura, da arte, da religião, do folclore, dos modos de vida, da culinária,
da indumentária, da moda, entre outros, o que acaba por contribuir para sua
reprodução (PAIVA, 2013).
Em aprofundamento dessa questão de comunicação entre a atividade turística e
o espaço reproduzido, para Barrios (1986) a transmissão de mensagens revelam-se
por meio das proposições de Véron:
As proposições de Verón sobre o tema levam a distinguir três classes de
‘veículos’ transmissores de mensagens: a) os que englobam a linguagem e
seus produtos: os livros e panfletos, os meios de comunicação de massa, as
artes plásticas, as artes cênicas, os estilos musicais, as concepções do
44

espaço arquitetônico; b) os processos observáveis de ação social, que


compreendem: os ‘usos e costumes; os sistemas de comportamento
definidos por certos marcos institucionais, profissionais ou técnicos; os rituais;
as condutas de consumo; os sistemas de ação política organizada; as pautas
de interação familiar’; c) a organização do espaço social, que inclui ‘tanto os
fatos arquitetônicos como o universo dos objetos de consumo que ocupam
esse espaço seguindo diferentes regras e configurações’, concepção que
deveria estender-se e abarcar também os fenômenos urbanos e regionais
(1986, p.131).

Tanto os atrativos, como os empreendimentos e a infraestrutura turística têm


presença física e uma localização precisa no território e acabam, de forma análoga,
por corresponder como veículos de mensagens. Destaca-se que outros setores se
manifestam fisicamente, porém em nenhum caso a especialização em algum tipo de
atividade produtiva tem como resultado a ocupação absoluta de um território por essa
atividade (BOULLÓN, 2002). Sendo o turismo uma atividade humana, gera impactos
de ordem social, cultural e ecológica, transformando paisagens e culturas em
mercadorias, produzindo apropriação dos lugares pelo capital (XAVIER, 2007). Nessa
simbiose do lugar turístico, edificações, ruas, jardins, montanhas, clima, construções
diversas, enfim, o conjunto desses elementos naturais e culturais criam uma
atmosfera podendo gerar interesse do turista além de tornarem-se objeto de consumo,
pois, o turismo consome espaço.
Reforçando ainda essa questão da inter-relação entre o turismo e o espaço, tem-
se no diagrama do SISTUR, proposto por Mário Beni (1998), três conjuntos: o de
relações ambientais, o de organizações institucionais e o de ações operacionais. Com
base nesse conjunto, Xavier (2007) destaca que no campo de estudo da geografia do
turismo existe um paralelo no sistema de relações ambientais que se completa na
busca das interpretações das interseções dos três grandes conjuntos, evidenciando,
seu caráter espacial. Vale salientar que, o turismo não só estimula a criação de novas
configurações urbanas e arquitetônicas, como se vale das existentes, inclusive as
concebidas e erguidas dentro de contextos histórico-sociais distintos no tempo e no
espaço, onde a motivação de sua construção não guardava nenhuma relação com o
turismo, ou seja, tinham sua função relacionada ao poder político ou religioso,
econômico ou, mais recentemente, à lógica da produção industrial e aos avanços
tecnológicos (PAIVA, 2013).
Para Lefebvre (1993) a produção do lugar ou atrativo turístico constitui uma
estratégia de valorização da mercadoria espaço, qualificando o “espaço turístico”.
Paiva (2013) ainda complementa ao abordar que a diferenciação do espaço produzido
45

para o turismo qualifica-o positivamente para o consumo e constitui, nessa


perspectiva, um caráter espetacular, único, irreproduzível das formas espaciais,
segregadas socio espacialmente, sejam naturais ou construídas, como conjuntos
urbanos e arquitetônicos, históricos ou de formação recente, constituem um
importante insumo para a atividade turística.
No campo do conhecimento turístico, a paisagem conforme Murta e Albano
(2002) deve ser observada e conhecida, ao ser conhecida, será valorizada, e quem
valoriza a conserva. Santos (1988) considera tanto a paisagem quanto o espaço um
resultado de movimentos superficiais e de fundo da sociedade, um mosaico de
relações, de formas, funções e sentidos, no qual nossa visão alcança, tendo na
percepção a sua dimensão, chegando aos sentidos, em um processo seletivo de
apreensão. Finaliza, ainda, dizendo que:

Nossa tarefa é a de ultrapassar a paisagem como aspecto, para chegar ao seu


significado. A percepção não é ainda o conhecimento, que depende de sua
interpretação e esta será tanto mais válida quanto mais limitarmos o risco de
tomar por verdadeiro o que é só aparência (1988, p.22).

Ferrara (1996) argumenta que sob a égide da experiência turística, o tempo e o


espaço, precisam ser vistos e reinventados com o propósito de recuperar a eficiência
epistemológica que lhes permitirá interpretar um cotidiano mais virtual do que real, e,
por conseguinte a cultura que edifica e os novos valores e signos daí decorrentes. E
acrescenta que a “viagem corresponde aos deslocamentos espaciais que demarcam
suas diferenças concretas a partir das paisagens que revela e, sobretudo, pela
visibilidade que produz” (p.17).
Boullón (2002) afirma que existem duas formas de apreciar-se o espaço: 1)
mediante o tamanho dos objetos materiais e 2) pelas distâncias que os separam, pois
tanto os objetos materiais como os vazios que deixam têm uma forma. Diz que o
espaço físico tem três dimensões (Plana, Volumétrica e Tempo) e que só adquire a 4ª
dimensão no momento que o homem intervém como observador, revestida de
subjetividade. Essa 4ª dimensão é importante no planejamento do uso dos atrativos
turísticos, porque um estudo minucioso da qualidade espacial de cada lugar deve
servir para traçar os percursos ideais e para calcular os tempos ótimos e mínimos de
cada visita, ilustrando folhetos de promoção e servir de base para a programação de
excursões e roteiros.
46

No estabelecimento da diferenciação entre espaço e paisagem, bem como suas


transformações, como forma de adaptação às novas necessidades da sociedade,
tem-se uma paisagem representativa dos diferentes momentos do desenvolvimento
de uma sociedade, resultado de uma acumulação de tempos. Para cada lugar, cada
porção do espaço, essa acumulação é diferente. A forma é alterada, renovada,
suprimida para dar lugar à outra forma que atenda às necessidades novas da estrutura
social (SANTOS, 2007). Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o
conjunto de forma que, num dado momento exprime as heranças que representam as
sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. A rigor, a paisagem é
apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão. Assim,
quando se fala em paisagem, há, também, referência à configuração (SANTOS,
1988).
A paisagem natural foi a base sobre a qual e com a qual os grupos humanos que
se instalaram na região foram desenvolvendo os meios necessários à sua
sobrevivência. Daí a preocupação em contemplar os elementos naturais e humanos,
ou seja, as bases naturais e a ocupação humana. Santos (2006) relata que antes da
instalação do homem, os objetos naturais respondiam às questões de outros objetos
naturais, mediante troca de energia em estado bruto. Os sistemas naturais se
constituíam sem finalidade. Os primeiros objetos sociais (e, mesmo, os objetos
mecânicos) retiravam sua finalidade da ação humana. Boullón (2002, p.118), cita
Petroni e Kenigsberg que estabeleceram a seguinte tipificação de paisagem bem
como, as suas diferenças:
• Paisagem natural: conjunto de caracteres físicos visíveis de um lugar
que não foi modificado pelo homem;
• Paisagem cultural: paisagem modificada pela presença e atividade do
homem (lavouras, cidades, diques, etc);
• Paisagem urbana: conjuntos de elementos plásticos naturais e artificiais
que compõem a cidade: colinas, rios, edifícios, ruas, praças.
A paisagem urbana reúne e associa pedaços de tempo materializados de forma
diversa, autorizando comportamentos econômicos e sociais diversos (SANTOS,
2006). Assim sendo, é no espaço urbano e, por consequência, na paisagem que se
têm disponível um número considerável de recursos culturais que podem ser
transformados em atrativos turísticos. Por meio de uma série de elementos formais,
que o homem consegue identificar e reter em sua memória, constrói-se a imagem da
47

paisagem urbana (BOULLÓN, 2002). O mesmo autor, decifra que sem o homem, a
paisagem desaparece, ou seja, ela se vai com o observador porque não passa de
uma ideia da realidade elaborada e interpretada esteticamente por aquele que está
vendo, variando entre estética, utilitária ou indiferente, proporcionando mudanças na
sua forma de percepção e de seu juízo sobre uma mesma situação real.
Em complementação a essa definição conceitual, Cullen (2009) afirma ser ela
uma composição artística de tornar coerente e organizado, do ponto de vista visual, o
emaranhado de edifícios, ruas e espaços que constituem o ambiente urbano,
possibilitando análises sequenciais e dinâmicas da paisagem urbana a partir de
premissas estéticas, isto é, quando os elementos e jogos urbanos provocam impactos
de ordem emocional. E, interessante notar que esse mesmo autor, menciona três
aspectos principais a serem considerados na paisagem urbana: 1) Perspectiva como
uma visão serial repleta de surpresas e repentinas revelações; 2) O Local relacionado
de forma instintiva e contínua com o meio ambiente e 3) Sensação de localização que
atribui personalidade e singularidade na constituição da própria cidade relacionando-
se com os aspectos ligados à sua natureza, cor, textura, escala ou estilo. Alberti (2005)
menciona que a paisagem urbana se apresenta como um mosaico de interação entre
elementos físicos e biológicos dentro de uma matriz de infraestrutura e organização
social, o que acaba por resultar na materialização da sociedade predominante em
conformidade com as condições do sítio urbano. Sendo assim, o turismo apropria-se
desse processo de interação entre homem e paisagem no momento em que planeja
e organiza os atrativos turísticos que ficarão à disposição do residente e do
visitante/turista para conhecer, interpretar e experenciar os produtos materializados
nessa paisagem urbana, como edificações, praças, ruas e monumentos.
No processo de compreensão da paisagem, parte-se do pressuposto de que a
mesma deva ser considerada com uma imagem sociocultural, um produto coletivo da
localidade, em determinado período (tempo histórico), onde existe a necessidade da
presença de um observador (homem) para que possa existir uma ideia elaborada pelo
indivíduo, ao observar e interpretar um determinado lugar. Em síntese, as paisagens
podem ser entendidas como representações das formas das cidades, seus espaços
abertos e edificações na sua configuração espacial, proporcionando ao observador as
marcas impostas pelo tempo e pelas ações dos habitantes no lugar (FERNANDES;
SOUZA; TONON; GÂNDARA, 2014).
48

Para Santos (2006), o espaço é resultado da inseparabilidade entre sistemas de


objetos e sistemas de ações. Estradas, edifícios, pontes, portos, depósitos, entre
outros, são acréscimos à natureza sem os quais a produção é impossível,
encontrando na cidade um hospedeiro e melhor exemplo dessas adições ao natural.
Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades
diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos. Daí vem a anarquia das
cidades capitalistas, elementos de épocas distintas se mantêm juntos, eles vão
responder diferentemente às demandas sociais (SANTOS, 1988). No caso aplicado à
essa pesquisa, as paisagens urbanas são carregadas de simbologia e significados,
em função de que a cidade consiste em uma reprodução dos movimentos sociais e
de sua evolução na produção e reprodução dela mesma, enfim a urbe consiste na
apropriação do espaço urbano pela sociedade (CASTROGIOVANNI, 2001;
BOULLON, 2002; SOUZA 2005; ACHER 2010).
A cidade é essa heterogeneidade de formas, subordinada a um movimento
global, apenas uma parte dos objetos geográficos não atende mais aos fins para os
quais foi construída, o que faz com que se chegue à conclusão de que, a paisagem é
uma herança de muitos momentos, já passados, o que levou Lênin a dizer que a
grande cidade é uma herança do capitalismo, devendo os planejadores levar em conta
essa realidade (SANTOS, 1988). A paisagem não é dada para todo o sempre, é objeto
de mudança, resultado de adições e subtrações sucessivas, uma espécie de marca
da história do trabalho, das técnicas, por isso, as casas, a rua, os rios canalizados, o
metrô, entre outros equipamentos urbanos, são resultados do trabalho corporificado
em objetos culturais. Sendo ela um conjunto de formas heterogêneas, de idades
diferentes, pedaços de tempos históricos representativos das diversas maneiras de
produzir as coisas, de construir o espaço (SANTOS, 1988).
Cesar (2010) traz uma reflexão quando afirma que:
os produtores espaciais, aqueles que transformam espaços representando
espaços com casas, ruas, cidades, o fazem conforme suas representações,
seguindo ideologias, processos. Transferem-se, para o usuário,
passivamente, experiências do vivido, impropriamente impostas, mesmo que,
com a produção social, este transforme, reutilize, desterritorialize (CÉSAR,
2010, p.11).

Desta forma, reconstituímos a história pretérita da paisagem, mas a função da


paisagem atual nos será dada por sua confrontação com a sociedade atual. São as
suas formas que realizam, no espaço, as funções sociais (SANTOS, 2006). Para Kant
(1802), citado por Milton Santos, “a história é um processo sem-fim; mas os objetos
49

mudam e dão uma geografia diferente a cada momento da história” (2007, p.54).
Carlos acrescenta ainda que “a paisagem é não só fruto da história, ela reproduz a
história e a concepção que o homem tem e teve do morar, do habitar, do trabalhar, do
comer, do beber, enfim do viver” (CARLOS, 2008, p.46).
Para Boullón (2002) a paisagem é um ambiente artificial, construído pelo homem,
cujo objetivo prático é a vida em sociedade. Homens diferentes construíram cidades
com personalidades diversas que se adaptaram ao ambiente natural que lhes
serviram de base, refletindo a energia das forças sociais e econômicas do período
histórico em que se originaram e perduram. As cidades possuem funções utilitárias de
trabalho, circulação, habitação e lazer (LE CORBUSIER, 2004) e mantiveram-se em
equilíbrio e dentro de uma dimensão humana, mas depois com o crescimento dos
fluxos comerciais e a mudança dos modos de produção trazidos pela Revolução
Industrial, seu crescimento acelerou-se até alcançar os tamanhos gigantescos das
atuais megalópoles. Essas funções qualificam a atmosfera citadina, em que não se
deve privilegiar uma função em detrimento de outra, pois, todas ao mesmo tempo dão
vida e movimento perene da cidade na conjugação da apropriação dessa urbe pela
indústria, comércio, mobilidade, turismo, lazer, moradia e serviços em geral.
Para Paiva (2013) a cidade está na origem da relação entre o turismo e a
urbanização, pois constitui, um elemento de atratividade para os viajantes, ou seja, o
turismo é um fenômeno essencialmente urbano. O mesmo autor menciona que essa
atividade interfere no processo de urbanização contemporânea na medida em que
reforça as transformações funcionais, técnicas, estruturais, formais e estéticas da
cidade contemporânea ligadas às práticas sociais da atividade turística. As estruturas
espaciais existentes e consolidadas nas cidades históricas suscitam o
desenvolvimento da atividade turística, por conseguinte, não podendo minimizar o
poder de atração das áreas urbanizadas para a fluidez do turismo, não é à toa que as
grandes metrópoles constituem grandes destinos turísticos mundiais. Este argumento
encontra sustentação no fato de que a cidade constitui não somente o principal centro
de emissão de turistas, como também um importante centro de recepção, sendo ela,
por excelência, “um importante atrativo turístico, pois materializa as diversas fases do
processo de urbanização, que cristalizaram importantes artefatos culturais,
ressemantizados e transformados em atrativos turísticos” (PAIVA, 2013, p.136).
50

Mullins (1991) associa a “urbanização turística 6” com a cidade pós-moderna,


signo do consumo. Para o autor, a urbanização pode ser considerada uma
urbanização baseada na venda e consumo de prazer, apesar de ter suas origens nos
altos salários e consumo de massa do fordismo. E complementa que a forma urbana
da "pós-modernidade" pode ser chamada de “cidade”, com a urbanização do turismo
sendo a sua expressão mais dramática, porque aqui cidades e vilas são construídas
explicitamente por prazer. A urbanização do turismo, pode-se dizer, é:
(1) espacialmente diferente porque é socialmente diferente; (2)
simbolicamente distintivo, com os símbolos urbanos agindo como atração
para os turistas; (3) distinguido pelo crescimento rápido da população e força
de trabalho – após a experiência dos Estados Unidos; (4) distingue-se pelo
sistema flexível de produção porque faz parte do pós-fordismo; (5) distinguido
por uma forma de intervenção estatal que é 'impulsionador' em grande estilo
- como a cidade pós-moderna em geral; (6) distinguidos por uma massa e
consumo personalizado de prazer; e (7) distinguidos por uma população
residente que é socialmente distintivo, porque essa urbanização é
socialmente diferente (MULLINS, 1991, p.332).

Mullins conclui que essa urbanização turística se caracteriza pelo rápido


crescimento da população e da força de trabalho e ainda por um sistema flexível de
produção e de distinção social da população residente. Ao analisar David Gladstone
(1998), em seu artigo intitulado “Tourism Urbanization7 in the United States”, analisa
as especificidades desse processo nos Estados Unidos, valendo-se da análise de
Mullins e comparando com o fenômeno verificado na Austrália, onde o mesmo insere
a classificação para dois tipos de “urbanização turística “nos Estados Unidos: um tipo
relacionado e especializado em “sun, sand and sea”, equivalente à modalidade de
turismo de sol e mar, e outro relacionado ao alto capital intensivo aplicado em atrações
turísticas. Ele levanta uma questão que é particularmente distinta, no caso dos
Estados Unidos, em relação aos estudos de Mullins feitos na Austrália, que são as
cidades que possuem sua urbanização atrelada à existência de grandes atrativos
turísticos, como é o caso dos cassinos e hotéis em Las Vegas e a Disney World em
Orlando, diferentes da urbanização resultante do turismo “sun, sand and sea”, que
possuem sua atratividade vinculada aos recursos naturais, diferenciando, assim, as
“leisure cities” como uma urbanização ligada à modalidade de turismo de sol e mar e

6 Termo contributivo para o encadeamento lógico textual e teórico da pesquisa, porém, não será uma
categoria de análise a ser aprofundada nessa tese.
7 Termo contributivo para o encadeamento lógico textual e teórico da pesquisa, porém, não será uma
categoria de análise a ser aprofundada nessa tese.
51

aos atrativos naturais. Na visão de Gladstone, a urbanização turística é, portanto,


sintomática da cultura moderna e, ao mesmo tempo, é fundamental para criá-la.
Para Guimarães (2012) no processo de reconhecimento e assimilação por parte
do turista, visitante ou residente, reside a possibilidade do turista, e até mesmo do
residente, experimentar novas experiências através de um outro olhar que permite
uma atitude menos contemplativa e mais interpretativa do lugar. As pessoas, porém,
não conseguem no primeiro momento reconhecer a importância de uma edificação,
de uma rua ou do seu conjunto, sem o auxílio de outros recursos que venham a facilitar
a correta interpretação da memória da cidade ou do lugar, como mapas e folhetos
ilustrativos, painéis com fotos, sinalização, guias de turismo especializados, entre
outros.
Existem complicações para decifrar a paisagem natural, devido à sua amplitude,
complexidade e variedade, responsável pela dificuldade de alcançar a sua percepção
em detalhes, ao passar à paisagem urbana, o processo inverte-se, porque é muito
mais fácil reconhecer uma cidade por meio de um edifício do que pelas imagens de
conjunto que não a incluem. Em geral, os mapas de uma cidade, entregues aos
turistas para sua orientação, são plantas baixas que mostram sua forma em duas
dimensões, formada pela rede de ruas e áreas construídas, outras se limitam em um
detalhe retangular, à área central em que se encontram os hotéis, perdendo-se a ideia
da extensão total da cidade e a forma de seu perímetro. No entanto, a cidade que os
turistas querem ver é das ruas, praças e edifícios e não da representação em um
papel, que só lhe serve como parâmetro de direção e localização (BOULLÓN, 2002).
Aqui reside a amplitude e possibilidade da pesquisa de ultrapassar esses limites e sair
do convencional, ao propor um novo olhar para o Centro Histórico de Manaus por meio
dos logradouros Avenida Sete de Setembro e Avenida Eduardo Ribeiro, onde a
memória da cidade pode ser observada de uma forma diferente, buscando cada vez
mais a real dimensão do lugar e criando um diferencial para o desenvolvimento da
atividade turística na capital, agregando valor ao destino. Assim, no momento em que
o observador se põe a analisar o local devem ser ponderados os pontos de vista de
quem produz e consome o espaço urbano.
Na interpretação de Carlos (2008), a observação da paisagem urbana permite
perceber dois elementos: o espaço construído e o movimento da vida. Um expressa
a materialidade das formas (pontes, praça, monumentos, prédios) e o outro a simbiose
entre o passado e o presente cotidiano da sociedade em um determinado espaço
52

geográfico. Para se obter uma definição mais precisa dos tipos de paisagem de uma
cidade, é preciso combinar as seguintes variáveis: tipo de urbanização; nível
socioeconômico das edificações; estilo arquitetônico; topografia; tipo de rua; tipo de
pavimento e tipo de árvore (BOULLÓN, 2002). A paisagem urbana não é
simplesmente para ser vista, mas sim para ser explorada e compreendida, visto que
relata a história de cada sociedade, possuindo memória, apresentando registros do
passado e do presente que juntos formam um grande atrativo para o turismo
(FERNANDES; SOUZA; TONON; GÂNDARA, 2014).
A paisagem urbana deve ser compreendida como um elemento de qualificação
da cidade, de modo que esta é um reflexo do próprio espaço apropriado da cidade,
sendo um elemento dinâmico, cheio de signos e símbolos que devem ser lidos para o
entendimento da formação e realidade dos espaços da urbe. Sendo assim, as
paisagens tornam-se elementos fundamentais na atratividade turística de uma cidade,
sendo responsáveis pelo primeiro contato que indicará ao turista, que o mesmo se
encontra fora de seu local habitual de residência, deste modo sua qualidade é
imprescindível de modo a aguçar os sentidos do visitante convidando-o a um olhar
meticuloso na tentativa de ler as formas da cidade. Lynch (1999) afirma que a imagem
da cidade é formada por uma série de paisagens encontradas nos espaços urbanos
percorridos por visitantes e visitados, que observam, compreendem, avaliam e
qualificam cada uma destas paisagens formando uma imagem seriada da destinação
visitada e vivenciada. Deste conjunto surge o conceito de cidade, portanto a imagem
da cidade (LYNCH, 1999).
Nesse sentido, cidades transformam-se com o intuito de atrair turistas e esse
processo provoca, de um lado, o sentimento de estranhamento - para os residentes -
e, de outro, transforma tudo em espetáculo e o turista em espectador passivo
(CARLOS, 1996). A paisagem urbana não deve servir apenas para fins de
contemplação, mas deve ser encarada como um lugar a ser descoberto, explorado,
analisado, percorrido pelo observador, na busca de sua historicidade e memória, ou
seja, registros do passado e presente, que juntos formam um atrativo turístico
(CULLEN, 2009).
Convém destacar que para Boullón (2002), a linguagem de uma cidade são
formas apoiadas nos seus signos e que sua base de leitura reside em dois grandes
grupos: os edifícios e os espaços abertos. Suas características heterogêneas podem
analisadas por meio de seis pontos focais urbanos dentre os edifícios e espaços
53

abertos, da organização focal à relação existente entre eles e o esquema físico, sua
representação gráfica. Os seis pontos focais, aplicados para os objetos de estudo
dessa tese, conforme Boullón (2002) são:
1. Logradouros: espaços abertos ou cobertos de uso público com acesso
livre por parte do turista. Cabe salientar que algumas encruzilhadas ou
partes de ruas produzem acontecimentos incomuns, possibilitando
atratividade.
2. Marcos: artefatos urbanos ou edifícios, objetos que pela sua dimensão ou
qualidade da forma destacam-se dos demais, atuando como pontos de
referência exteriores ao observador.
3. Bairros: grandes seções da cidade pelo qual o turista pode entrar e
deslocar-se.
4. Setores: são partes menores que os bairros possuindo as mesmas
características, em uma escala menor, normalmente, restos de um antigo
bairro, cujas edificações originais foram suplantadas por outras mais
modernas, atingindo um novo valor comercial.
5. Bordas: elementos lineares fronteiriço que marcam o limite entre duas
partes da cidade, separando bairros diferentes, quebra continuidade de
um espaço homogêneo ou define margens de partes da cidade.
6. Roteiros: vias de circulação selecionadas para o trânsito turístico de
veículos e pedestres, nos seus respectivos deslocamentos para visitação
aos atrativos ou para entrar ou sair da cidade.

Com base nas contribuições teóricas, a paisagem considerada como forma do


espaço geográfico expressa movimento, historicidade e sua natureza social, o urbano
(espaço e paisagem) apresenta-se como reprodução da história de forma contínua,
onde elementos atuantes, passado e presente, materializam as relações da sociedade
em um determinado momento da história da humanidade. O turismo tem sua base no
movimento de pessoas no espaço, por um determinado período, objetivando
experenciar e conhecer lugares através da busca de cenários e culturas, atendendo,
assim, as necessidades e desejos singulares a cada turista ou visitante propiciando
ao residente a possibilidade de valorização e um novo olhar de suas próprias
paisagens e culturas.
54

E a combinação desses elementos, associado aos meios de comunicação, que


veiculam as imagens e descrições dos lugares, que constituem a matéria prima do
turismo, resultando no conceito de espaço turístico de Boullón (2002). Um espaço com
potencial de despertar sonhos, lembranças, nostalgias e, sobretudo, a necessidade
de repetir a experiência. Dinâmica que permite o desenvolvimento do turismo no
contexto espacial desde que, o processo de mercadorização do espaço pelo turismo
(CARLOS, 1996), seja revisto de modo a garantir ao sujeito (o turista) se apropriar do
que vê, deste modo, modificando a lógica que incorpora o turismo em outra
mercadoria, como integrante do mesmo consumo/produção/do espaço pelo mercado
(CARLOS, 1996) ou ainda dentro da concepção de Rodrigues (2006) ao afirmar que
o “consumo efetivo do espaço”, acontece quando a escolha do destino ou local passa
a ser apreendida quando acompanhada por suas respectivas histórias.
Este tópico ao discorrer sobre a formação do espaço no âmbito das relações
sociais e turísticas, com base nas teorias da formação socioespacial, da dialética
social e da prática espacial, buscou fundamentar com base nos referenciais teóricos
o desenvolvimento do turismo em um contexto espacial, com objetivo de incorporar a
atividade do turismo em uma categoria de análise que permita a partir de parâmetros
metodológicos a valorização de logradouros na perspectiva de conjunto como
elemento de composição da atratividade turística em Centros Históricos sob a ótica
da interpretação patrimonial no âmbito do turismo urbano. Segue-se com o tópico
seguinte abordando sobre patrimônio cultural edificado em conformidade com os
princípios da interpretação patrimonial no contexto do turismo urbano.

2.2 PATRIMÔNIO CULTURAL EDIFICADO NO CONTEXTO INTERPRETATIVO

Analisar e interpretar o patrimônio é considerar que ele pertence à cultura em


seu sentido amplo, estando fundamentalmente relacionado ao passado e ao legado
cultural de um povo pelo qual se converge em uma representação da comunidade que
herdou e o detém com a finalidade de tornar-se um símbolo de identidade desse grupo
social. Faz-se necessário desvelar atributos histórico-culturais para residentes e
turistas no qual conferem singularidades a uma localidade, a um povo ou nação
materializados nos seus bens móveis ou imóveis.
Contextualizado em um determinado local, o patrimônio histórico-cultural permite
a reconstituição de sua produção e sua apropriação por sociedades específicas além
55

de estabelecer ligações entre as comunidades que o ocuparam no passado e aqueles


que residem no presente, tornando possível, desse modo, examinar em que medida
o patrimônio cultural representa uma continuidade cultural (DIAS, 2006). Nesse
sentido, a cultura assume um papel importante na atratividade de um lugar. Existem
várias definições para cultura, porém, a mais aceita foi apresentada no documento
final da conferência mundial do ICOMOS dedicada às políticas culturais, realizada em
1982, no México, no qual se afirma que:
No seu sentido mais amplo, a cultura pode ser considerada atualmente como
conjunto de traços distintivos espirituais, materiais, intelectuais e afetivos que
caracterizam uma sociedade e um grupo social. Ela engloba, além das artes
e das letras, os modos de vida, os direitos fundamentais do ser humano, os
sistemas de valores, as tradições e as crenças (p.1 e 2).

Em um plano geral, a cultura é um somatório de todas as conquistas e


descobertas do ser humano, levando-se em conta seus hábitos, costumes,
organização social, ciência, religião, economia, medicina, entre outros, relativos a um
país, estado, região ou lugar (SANCHES,1999). Como consequência, ela acaba
sendo concebida por sua característica dinâmica e pela sua capacidade de alteração
por meio das interações, no entanto, sua concepção estática perpassa a compreensão
através da intencionalidade dos discursos que se sustentam por interesses diversos
no sentido de esquecer, lembrar e reescrever narrativas históricas e identitárias sob o
olhar de dado presente sociocultural (BLACH, 2019).
A definição de cultura também é composta pelo aspecto do tradicional, o que
para Leonardo Castriota (2009), tal conceito vincula-se aos aspectos da vida cotidiana
que são herdados de gerações passadas, como ritos, técnicas, arte, costumes,
linguagem, ou seja, a cultura é transmitida pelas gerações ao longo do tempo. Em
síntese, “a tradição teria então, uma dimensão necessariamente conservadora: o
presente repetiria o passado através daquilo que dele herdou.” (CASTRIOTA, 2009,
p.21). Porém, os sistemas culturais, por mais tradicionais que pareçam, são
caracterizados por processos de incessantes transformações, ou seja, nenhuma
cultura é estática, imóvel ou essencialmente tradicional, porque apesar da lentidão
haverá sempre um processo de transformação, seja através do desenvolvimento
interno da própria cultura ou através de influências promovidas por contatos
interculturais (SAHLINS, 1997; KUPER, 2002).
Vale ressaltar, que sob o olhar geográfico, a partir da década de 1980 o conceito
de cultura como meio de vida com significado ligado ao espaço vivido ganha robustez
56

nas pesquisas, tendo como referenciais as obras de Tuan (1980; 1983). No que
concerne ao meio ambiente construído, o autor menciona que a arquitetura revela,
instrui, atendendo a um propósito educativo de explicação de uma visão da realidade,
seja ela atual ou passada, pois em algumas cidades as construções arquitetônicas
são os primeiros testemunhos que possibilitam a transmissão de geração para outra
geração de uma tradição. Para ele, é possível inferir, portanto, que uma cidade antiga
ou uma fração dela guarda um acervo de fatos onde os cidadãos e suas respectivas
gerações podem se inspirar e recriar sua concepção e imagem de lugar (TUAN, 1983).
Portanto, o patrimônio construído é resultado de uma apropriação coletiva do passado
pelo presente com vistas a transmissão desse legado ao futuro calcada na ideia de
preservação da memória e construção da identidade de um povo (ROSSINI, 2012).
Na visão de Paes (2017), a cultura, hoje, não é apenas um supérfluo da
economia ou uma dimensão menor do conhecimento científico, ela estrutura o nosso
estar no mundo, por isso têm a atenção e interesse da economia contemporânea
atualmente, pois, impõem diretrizes na seleção de valores para a sociedade. O
mesmo autor menciona que ela estando presente em todas as dimensões da vida, a
sua apropriação econômica adentrou no campo dos valores simbólicos e invadiu as
identidades, os gostos e costumes, criando selos e certificações para os patrimônios
materiais, imateriais e naturais. Desta forma, considerando-se a cultura uma condição
de produção e reprodução da sociedade (MENESES, 1996), não há patrimônio, seja
ele material ou imaterial, que não seja cultural. No entanto, a cultura “diz respeito a
valores” definidos no complexo jogo de forças presente no interior de uma sociedade,
na medida que conforme Luchiari (2005), a eleição de um patrimônio é um processo
socialmente seletivo ou culturalmente seletivo.
O patrimônio cultural imaterial, para Cruz (2012), apresenta uma característica
definidora, a partir do entendimento, em sua espontaneidade expressada por meio
das artes da dança e música, festas, reuniões, rituais, “artes de fazer”, ou seja, uma
infinidade de práticas culturais, são heranças que as sociedades inventam, reinventam
e destituem a mercê de seus interesses, onde curiosamente essa mesma
espontaneidade contraditoriamente é ameaçada pelos mecanismos sociais
inventados para protegê-las. Quanto ao patrimônio material, sob a análise da autora,
as contradições não são menores, o que está por trás de um objeto, seja ele uma
gravura, uma escultura, um instrumento musical ou um edifício são manifestações
culturais, dotadas de características temporais e de uma espacialidade que lhes são
57

próprias e específicas, compreender por que determinados bens e objetos merecem


ser preservados e outros não, traz uma reflexão e algo passível de profundas
discussões.
Sob a égide jurídica, têm-se a Constituição do Brasil de 1988, que no artigo 216,
define ser patrimônio cultural brasileiro:
os bens de natureza material e imaterial, tomado individualmente ou em
conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, por meio de suas
formas de expressão; dos modos de criar, fazer e viver; das criações
científicas, artísticas e tecnológicas; das obras, dos objetos, dos documentos,
das edificações; dos conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico
(BRASIL, 1988).

Podemos, então, afirmar que, hoje, o conceito de bem cultural foi bastante
ampliado pela Constituição de 1988, sendo resultado de um longo processo de
ressignificação que inclui as inúmeras áreas do conhecimento. É preciso, pois, ter
sempre em vista que se trata de uma concepção em processo, e que envolve
perspectiva multidisciplinar, considerando que cada período da história está voltado
para determinados interesses que vão, de alguma forma, alterar e interferir no
significado que podemos dar ao termo bem cultural (GUEDES; MAIO, 2016).
Convém salientar, a existência das cartas patrimoniais, que são documentos
utilizados como instrumentos norteadores do patrimônio cultural objetivando a
orientação e uniformização das práticas em torno da proteção aos bens culturais
chancelados por especialistas ou instituições de credibilidade nacional e internacional
que atuam na preservação e conservação patrimonial. Internacionalmente, têm-se a
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) que
é um organismo reconhecido para elaborar as regulamentações e a definição de
procedimentos de identificação e proteção do patrimônio cultural em nível mundial. No
Brasil, na esfera federal, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) têm a função de identificar, salvaguardar e nominar os bens como patrimônio
nacional nos seus diversos livros de tombo (patrimônio material) e de registro
(patrimônio imaterial). Apesar da existência de outras instituições, a UNESCO e
IPHAN são as mais reconhecidas ao nível nacional e mundial. Eles acabam atuando
como instâncias formais de proteção, definindo regras e normas para a preservação
do patrimônio, sendo isso resultado de reuniões, seminários, congressos e espaços
de discussão no qual grupos interessados reúnem-se para discutir, debater e
deliberar, podendo no seu término produzir Cartas Patrimoniais (CP) que tenham
58

relação direta com a preservação do patrimônio (GRANATO, RIBEIRO e ARAÚJO,


2018).
Essas cartas oferecem aspectos norteadores de padronização e regulação na
política patrimonial que possibilitam a elaboração de marcos lógicos a nível mundial
com reverberação local. Kühl complementa ao mencionar que:

As cartas patrimoniais são fruto da discussão de um determinado momento.


Antes de tudo, não têm a pretensão de ser um sistema teórico desenvolvido
de maneira extensa e com absoluto rigor, nem de expor toda a
fundamentação teórica do período. As cartas são documentos concisos e
sintetizam os pontos a respeito dos quais foi possível obter consenso,
oferecendo indicações de caráter geral. Seu caráter, portanto, é indicativo ou,
no máximo, prescritivo (KÜHL, 2010, p. 289).

No entanto, existem quatro tipos diferentes de documentos no âmbito da


UNESCO, que Granato, Ribeiro e Araújo (2018, p. 211) trazem para facilitar a
compreensão dos mesmos, são eles:

1. Preâmbulos são documentos que não serão adotados a partir de uma


Conferência Geral, mas por conferências internacionais realizadas entre
Estados. Esses instrumentos assumirão, portanto, a forma de acordos
internacionais (recomendações aos Estados Membros). 2.Convenções são
adotadas através de uma Conferência Geral e preparadas de acordo com um
procedimento pré-estabelecido (regras de procedimento), definindo regras
que os Estados se comprometem a cumprir. Estão sujeitas à ratificação e
aceitação dos Estados. 3.Recomendações são documentos em que, numa
Conferência Geral, formula-se princípios e normas em torno de determinada
questão em particular e convida-se os Estados Membros a tomarem medidas
em conformidade com tais princípios. Não são sujeitos à ratificação e os
Estados Membros são convidados a aplicá-las. 4.Declarações são
instrumentos formais e solenes, apropriados para raras ocasiões, quando
princípios de grande importância são enunciados, como a Declaração de
Direitos Humanos, adotada em 10 de dezembro de 1948. Estes documentos
também não são sujeitos à ratificação dos Estados Membros.

Desta forma, entre cartas, declarações e recomendações tanto da UNESCO


quanto de outras instituições brasileiras e internacionais, foram analisadas 22
documentos disponíveis no site do IPHAN, porém para a finalidade dessa tese, 15
foram sistematizadas em forma de quadro-síntese (Figura 05) para melhor
visualização cronológica e conteúdo principal, conforme descrito abaixo:
59

Figura 05: Compilação das Cartas Patrimoniais aplicadas a esse estudo


• Doutrinas e princípios normativos para proteção dos monumentos
CARTA DE ATENAS (1931)
• Conceituação de cidade e suas peculiaridades, aspectos urbanísticos e o valor da
CARTA DE ATENAS (1933) salvaguarda dos edifícios isolados ou em conjunto das cidades

• Relativa a proteção da beleza e do caráter das paisagens e sítios


RECOMENDAÇÃO DE PARIS (1962)
• Sobre conservação e restauração de monumentos e sítios com aprofundamento
CARTA DE VENEZA (1964) dos princípios da carta de Atenas (1931)

• Reunião sobre a conservação e utilização de monumentos e lugares de interesses


NORMAS DE QUITO (1967) históricos e artísticos com destaque para sua relação com o turismo

• Definição e Proteção Mundial do Patrimônio Natural e Cultural


RECOMENDAÇÃO DE PARIS (1972)
CARTA DE TURISMO CULTURAL (1976) • Influência turística nos monumentos e sítios patrimoniais bem como conceituação
Bruxelas-Bélgica do turismo cultural

• Salvaguarda dos conjuntos históricos e sua função na vida contemporânea


RECOMENDAÇÃO DE NAIRÓBI (1976)
• Revisão da Carta de Atenas (1931) no propósito principal de reintegração do
CARTA DE MACHU PICCHU (1977) edifício-cidade e paisagem e temporalidade do espaço

• Sobre Políticas culturais com os conceitos de identidade cultural, dimensão cultural


DECLARAÇÃO DO MÉXICO (1982) do desenvolvimento, patrimônio cultural, entre outros
CARTA DE WASHINGTON (1986) ratificada • Salvaguarda das Cidades Históricas
em 1987
• Seminário Brasileiro para preservação e revitalização de Centros Históricos com
CARTA DE PETROPÓLIS (1987) ênfase no sítio histórico urbano-SHU

• Cone Sul sobre autenticidade com destaque na conservação da autenticidade dos


CARTA DE BRASÍLIA (1995) conjuntos urbanos de valor patrimonial, equilíbrio entre edifício e seu entorno

• Substituição da antiga Carta de Turismo Cultural de 1976


CARTA MÉXICO(1999)
• Estabelecimento de princípios da interpretação e apresentação para compreensão
CARTA DE QUÉBEC (2008) pelo público dos sítios culturais patrimoniais

Fonte: Elaborado pela autora

Nesses documentos não existe termos explícitos para a importância dos


logradouros no contexto do patrimônio histórico-cultural, especificamente ruas ou
avenidas, apenas para jardins históricos. No entanto, diante da leitura analítica dos
mesmos, observa-se o uso de frases como: “revitalização de seus conjuntos históricos
ou tradicionais e de sua ambiência”, “forma urbana pelo seu traçado e parcelamento”,
preservar a relação entre os espaços urbanos, espaços construídos, espaços abertos
e verdes”, “relação da cidade com seu entorno natural ou criado pelo homem”, tais
termos possibilitam a inserção de ruas ou avenidas na perspectiva de conjunto do
patrimônio edificado que podem ser facilmente interpretados e contextualizados pelos
aspectos históricos-evolutivos de uma cidade, tornando-se, assim, um candidato a
bem cultural representativo de um lugar ou de seu povo. Sugere-se, então, uma carta,
declaração, recomendação que aborde essa especificidade do aproveitamento dos
logradouros, especificamente ruas ou avenidas, no âmbito do patrimônio cultural.
60

No contexto da discussão técnica e acadêmica, Blach (2019) sugere uma


reflexão do conceito de patrimônio cultural, em seu sentido ampliado de patrimônio,
envolvendo diversas categorias: a arquitetura, a imaterialidade, os caminhos naturais,
o meio ambiente, o espaço urbano e as expressões artísticas, criativas e culturais.
Deste modo, o mesmo ainda defende que esse conceito de patrimônio cultural, a partir
de sua concepção “ampliada e processual,” traz à tona à necessidade de pensá-lo
sob uma perspectiva multidisciplinar, considerando sua dinâmica própria de
transformação e de reprodução da vida. Sendo assim, para Inoue (2015) o domínio
patrimonial:

não são mais edifícios individuais, mas bens imateriais, conjuntos urbanos e
até cidades inteiras, e atualmente, grandes porções do território sob o nome
paisagens culturais. O patrimônio em seu aspecto urbano, isto é não apenas
o edifício isolado, mas considerando o tecido urbano e o contexto, já vinha
sendo tratado pelos teóricos do patrimônio (INOUE, 2015, p.4).

A declaração na conferência do ICOMOS, em 1982 no México explana ser o


patrimônio cultural de um povo o conjunto das obras de seus artistas, arquitetos,
músicos, escritores e sábios, criações anônimas surgidas da alma popular e a
simbiose de valores que dão sentido à vida expressadas criativamente nas obras
materiais e não materiais: a língua, os ritos, as crenças, os lugares e monumentos
históricos, a cultura, as obras de arte e os arquivos e bibliotecas. Segundo Choay
(2006, p.11) as origens da palavra patrimônio estavam “ligadas às estruturas
familiares, econômicas e jurídicas de uma sociedade estável, enraizada no espaço e
no tempo”.
Complementarmente, Castriota (2009) afirma que, inicialmente, o conceito
remete à herança familiar transmitida ao longo das gerações no antigo direito romano.
Funari e Pelegrini (2006) destacam características marcantes do termo: o patrimônio
era, no antigo direito romano, toda a propriedade pertencente ao pater famílias (pai
de família): bens móveis e imóveis, seus escravos e até mesmo sua esposa e seus
filhos que poderiam ser transmitidos por testamento por constituírem parte de seu
patrimônio. Ou seja, na visão de Blach (2019) com base nesses autores, o patrimônio,
no seu nascedouro, estava associado à propriedade individual e particular,
intimamente relacionada aos interesses aristocráticos do mundo greco-romano, onde
nesse contexto histórico, não havia a caracterização do patrimônio como
representação do bem público, já que seu sentido estava voltado para a perpetuação
61

da propriedade familiar no decorrer do tempo. No entendimento de Choay (2011,


p.11):
o patrimônio é constituído pelo quadro estrutural das sociedades humanas.
Sinônimo de patrimônio edificado no espaço pelos homens, é, segundo as
suas diversas categorias, qualificado como patrimônio construído,
arquitetural, monumental, urbano, paisagista...e, segundo o seu modo de
inserção na temporalidade, é referido como histórico ou contemporâneo.

A compreensão do patrimônio está associada ao entendimento da ideia de


monumento histórico, pois, ele é uma interpelação da memória, não apresenta uma
informação neutra, mas traz uma memória viva (MENEGUELLO, 2000). Ainda no
aspecto de construção conceitual do patrimônio no que tange ao conceito de
monumento histórico, Choay (2006) esclarece sobre as ideias de Ruskin (1819-1900)
expondo as críticas deste autor àqueles que se interessem exclusivamente pela
"riqueza isolada dos palácios". Ruskin (1819-1900) propõem:
a continuidade da malha formada pelas residências mais humildes: ele é o
primeiro, logo seguido por Morris (1834-1896), a incluir os "conjuntos
urbanos, da mesma forma que os edifícios isolados no campo da herança
histórica a ser preservada (CHOAY, 2006, p.141).

Salienta-se que Morris (1834-1896) procura combinar as teses de Ruskin às de


Marx, em prol de uma arte "feita pelo povo e para o povo"; onde a ideia é que o
operário se torne artista podendo conferir valor estético ao trabalho desqualificado da
indústria, ou seja, com Morris, o conceito de belas-artes é rechaçado na medida que
o artesão desenha e executa a obra num ambiente de produção coletiva (ARTS and
CRAFTS, 2020). Ruskin e Morris pertencem ao movimento estético e social inglês (2ª
metade do século XIX) que reunia teóricos e artistas com o objetivo de revalorizar o
trabalho manual e a recuperação da dimensão estética dos objetos produzidos
industrialmente para uso cotidiano, defendem o artesanato criativo como alternativa à
mecanização e à produção em massa (ARTS and CRAFTS, 2020).
No entanto, mesmo que a ideia inicial de conjunto tenha sido vislumbrada por
Ruskin e Morris, foi Gustavo Giovannoni (1873-1947) quem sistematizou do ponto de
vista teórico e conceitual, sendo o primeiro a colocar a questão do conjunto
arquitetônico de arquitetura menor (fazendo parte a história dos logradouros) como
moldura da arquitetura maior (monumento que possui natureza própria e singular),
devendo esse menor ser objeto de preservação, por comprometer a harmonia e a
integridade do monumento construído (KÜHL, 2013). Giovannoni imprime uma
importância especial ao conceito de urbanismo ao mencionar a necessidade da
62

recuperação de casas e ruas, seu percurso investigativo traçado proporcionou um


caminho para a apreensão dos valores essenciais de história e de arte associados à
“vida arquitetônica” desses espaços e conjuntos, considerando-os em sua inteireza
compositiva e não somente como somatório de edifícios exemplares (RUFINONI,
2013). Ele desempenhou um papel fundamental ao aproximar as teorias do restauro
às contribuições advindas do urbanismo referente à valorização dos conjuntos
urbanos antigos além de ter sido o primeiro que entendeu e nomeou pela primeira vez
a cidade como “patrimônio urbano”, ou seja, representando um relevante passo para
a compreensão dos tecidos urbanos como patrimônio, desvelando o caminho para a
delimitação de critérios de intervenção na cidade histórica com vistas à preservação
de suas especificidades (RUFINONI, 2013; VIEGAS; TEIXEIRA, 2017).
Manoela Rossinetti Rufinoni (2013) relata que na literatura patrimonial, a
contribuição pioneira de Gustavo Giovannoni (1873‐1947), deriva em grande parte do
seu entendimento do organismo urbano como sujeito histórico e como artefato
cultural, no qual o tecido urbano antigo é considerado organismo vivo e integrado à
vida contemporânea, possuindo valor de uso e mantendo sua função museal. Nesse
sentido, para Andrade Junior (2006) ele seria também o responsável pela difusão, a
partir de 1910, da noção corrente de que conjuntos urbanos históricos podem ser
considerados patrimônio cultural e, portanto, dignos de serem preservados. Nesse
contexto, o mesmo autor complementa que a inovação contributiva da teoria
giovanniana decorre não somente na defesa da conservação de conjuntos urbanos
inteiros, mas também por reconhecer as relações históricas entre o monumento e o
contexto urbano no qual está inserido (seu entorno), trazendo luz, desta forma, ao
conceito de ambiente como definição urbana visual do monumento, na medida em
que constitui sua própria natureza imagética.
O interessante é que esse entendimento de Giovannoni está alicerçado a partir
do entrelace de objetivos conservacionistas nas cidades italianas em crescimento e
transformação, assim como pelo conhecimento e compartilhamento de uma forma de
ver a cidade e interpretá-la nos moldes de figuras como Camillo Sitte. Sitte
compreende elementos como o espaço da praça, seus edifícios principais, as
estátuas, chafarizes e bebedouros e as ruas que nele desembocam, em um contexto
relacional (CAMPELLO; CABRAL; DUARTE; SILVA, 2017). Sitte (1992) define essa
relação sempre pela observância em função das impressões que o observador poderá
ter. O mesmo autor, menciona que de acordo com tal disposição, a harmonia viva e
63

orgânica entre os edifícios e seus arredores, bem como os efeitos de perspectiva,


seriam totalmente anulados, conferindo à construção isolada o triste aspecto de “uma
torta exposta numa bandeja” (SITTE, 1992, p. 42).
Para Rufinoni (2012) o supracitado isolamento seria grave quando envolve
monumentos antigos, pois, a demolição do entorno anula o efeito de toda a
composição da obra, subtraindo, portanto, um dos fundamentos essenciais de sua
concepção no qual foi pensada a partir da integração com o ambiente circundante. Na
visão da mesma autora, as partes constituintes sob análise de Sitte (a composição
dos traçados urbanos antigos, a incidência dos fatores ambientais sobre o projeto
urbano, as relações de escala entre os espaços edificados, vias e praças, os efeitos
de perspectiva gerados pela sinuosidade das ruas) não tinham como foco a imitação
sem limites de tais composições na atuação contemporânea sobre a cidade, mas,
sobretudo, na possibilidade de apreensão da essência das obras urbanas antigas.
Camillo Sitte impulsiona a valorização dos tecidos antigos com princípios a
serem aplicados com sensatez às necessidades da atualidade ou, na impossibilidade
de tal aplicação, fossem ao menos preservados como patrimônio além de valorizá-los
enquanto composição e estrutura, evidenciando as especificidades estéticas do
conjunto urbano e não apenas do monumento e seu entorno imediato, em síntese,
buscava alinhavar, no limite do alcance histórico de suas análises, as conquistas do
urbanismo e a importância da cidade antiga (RUFINONI, 2012). Desta forma:
No que se refere ao tratamento de áreas urbanas, as considerações de
Giovannoni e de outros teóricos demarcaram a importância de preservar
certos aglomerados antigos, não somente para garantir as relações entre o
monumento e o seu entorno, mas também devido à importância conferida aos
próprios conjuntos (RUFINONI, 2013, p.81).

Diante desse contexto teórico, deve-se acrescentar a essa discussão, o


entendimento técnico do principal órgão de proteção ao patrimônio cultural brasileiro
no que se refere aos conjuntos urbanos. Sendo assim, na visão do Iphan (2020) os
conjuntos urbanos históricos são as cidades e os núcleos históricos, lugares especiais
de uma nação que representam as referências urbanas do Brasil, onde nelas é
possível vivenciar os processos de transformação do país, por meio da preservação
de expressões próprias de cada período histórico. Portanto, constituem-se na base do
patrimônio cultural brasileiro e sua preservação é de responsabilidade da União, dos
estados e municípios bem como da sociedade civil. Destaca-se, também, a definição
de conjuntos históricos na Recomendação de Nairóbi de 1976 que versa:
64

Considera-se conjunto histórico ou tradicional todo agrupamento de


construções e espaços, inclusive sítios arqueológicos, paleontológicos, que
constituam um assentamento humano, tanto no meio urbano quanto rural e
cuja a coesão e valor são reconhecidos do ponto de vista arqueológico,
arquitetônico, pré-histórico, histórico, estético ou sociocultural. Entre esses
“conjuntos”, que são muito variados, podem-se distinguir especialmente os
sítios pré-históricos, as cidades históricas, os bairros urbanos antigos, aldeias
e lugarejos, assim como os conjuntos monumentais homogêneos, ficando
entendido que esses últimos, deverão em regra, ser conservados em sua
integridade (1976, p.3).

Convém salientar, que as propostas de Ruskin, Morris, Giovannoni e Sitte aliada


a definição técnica do IPHAN bem como a Recomendação de Nairóbi da UNESCO
(1976) alicerçam a proposta dessa tese sobre a possibilidade interpretativa do
patrimônio histórico na perspectiva de conjunto entre edificações e logradouros como
elemento constituinte da oferta turística de um município, aplicando-se no objeto de
estudo proposto nas avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro do Centro
Histórico de Manaus.
No intuito de dar robustez ao contexto de conjuntos urbanos, acrescenta-se a
noção de ambiência ou atmosfera, que para o arquiteto Rogers (1997) é o reflexo da
reintegração paisagística do conjunto com a cidade devendo ser estudada a partir dos
locais públicos de observação, dando uma atenção especial à abordagem do
conjunto, recriando uma atmosfera dos espaços externos como ladeiras, vielas, largos
e encostas, por meio da restauração das relações de cores das calçadas e pisos,
espécies vegetais, etc. Viegas e Teixeira (2017) afirmam que uma ambiência histórica
é a expressão da harmonia na integração de um bem cultural entre suas partes e o
seu entorno, independente da escala, entendendo essa harmonia como as
vinculações históricas, de usos sociais, econômicas, culturais, entre outras.
Outrossim, a sequência de emoções e dessas vinculações culmina com o encontro
do conjunto que constitui a iniciação do observador à compreensão do monumento
(ROGERS, 1997). Nuno Portas (1969, p.81) ponderou sobre a necessidade na
“organização de sequências de conjunto de edifícios e espaços interdependentes ao
nível da vida quotidiana do conjunto dos cidadãos” bem como atentou para o aspecto
de que a qualificação de um ambiente não se dava apenas por variações de detalhes
arquitetônicos, nos tipos de materiais ou nas unidades de agrupamentos mais
elementares, mas por:
critérios mais significativos, da esfera social e espacial que consideram a
escala e organização dos núcleos, a relação com arruamentos e sistemas de
transportes, as linhas estruturais da forma da paisagem, etc. (1969, p.42).
65

A noção histórica de ambiência foi consolidada nas cartas patrimoniais, definida


pelo nome de “enquadramento dos conjuntos históricos” na Recomendação de Nairóbi
(1976, p.3) como “o meio envolvente, natural ou construído, que influencia a
percepção estática ou dinâmica desses conjuntos, ou que a eles se associa, por
relações espaciais diretas ou por laços sociais, econômicos ou culturais”. A definição
de “espírito do lugar”, foi exposta inicialmente pela Declaração de Quebec (2008), que
também pode ser incorporado à noção de ambiência histórica, composto pelos:
[...] elementos tangíveis (edifícios, sítios, paisagens, rotas, objetos) e
intangíveis (memórias, narrativas, documentos escritos, rituais, festivais,
conhecimento tradicional, valores, texturas, cores, odores, etc.), isto é, os
elementos físicos e espirituais que dão sentido, emoção e mistério ao lugar
(ICOMOS, 2008, p. 3).

O IPHAN também contribui com a ambiência histórica por meio do Manual de


Normatização de Cidades Históricas elaborada em 2010 pela coordenação geral de
gestão, normas e fiscalização e pela coordenação geral de cidades históricas, no qual
contempla a poligonal de tombamento do entorno com vistas a valorização do bem
tombado, desta forma:
[...] com a finalidade de se conferir visibilidade ao bem tombado, visibilidade
esta que deve ser aferida em seu sentido mais amplo de ambiência,
garantindo a harmonia do bem tombado com os imóveis vizinhos. [...] E para
sua normatização deve-se buscar explicitar em que aspectos essa área de
entorno se relaciona com a visibilidade e ambiência da área tombada,
definindo, dessa forma, os pontos sobre os quais o IPHAN irá se manifestar.
(BRASIL. IPHAN, 2010, p. 14-15).
No âmbito dessa discussão da delimitação de poligonais de tombamento de
Sítios Históricos Urbanos, Viegas e Teixeira (2017) relatam que nas entrelinhas do
texto supracitado está sendo posta a importância dada à historicidade de um local
candidato a SHU, assim, sugerindo a presença de uma ambiência histórica, condição
essencial do bem cultural estar integrado ao seu entorno, levando-se em consideração
as vinculações históricas e de usos. Os mesmos autores exemplificam essa situação
textualmente no seu artigo, citando que:

Um exemplo dessa iniciativa foi a publicação das instruções do IPHAN no


Plano de Preservação de Sítios Históricos Urbanos (2005), que para análise
de SHUs consideram: (i) características do tombamento (motivação, aspectos
históricos, arquitetônicos, urbanísticos, paisagísticos, entre outros); (ii)
características morfológicas e tipológicas do espaço urbano/natural e
do conjunto construído (conformação natural do sítio como suporte
físico da estrutura urbana, características geográficas, geológicas e
geomorfológicas, climáticas e ambientais, estrutura urbana, tipologias
existentes, predominância estilística, características dos espaços
construídos, volumetria dominante, padrões urbanísticos e
arquitetônicos e seu estado de preservação); (iii) aspectos construtivos do
66

sítio histórico (materiais de construção, técnicas empregadas em cada


período histórico e suas adaptações locais, materiais disponíveis atualmente,
cores utilizadas, tipos de pavimentos dos logradouros e seus estados de
conservação); (iv) elementos vegetais existentes (áreas verdes na
composição da área); (v) sítios arqueológicos (sítios arqueológicos, pré-
históricos e/ou históricos, identificados ou cadastrados na área, se houver);
(vi) manifestações culturais locais (manifestações culturais, perfil e atividades
econômicas correlatas); (vii) aspectos visuais e perspectivas a serem
preservadas (elementos naturais e construídos responsáveis pela
produção de efeitos visuais que caracterizam a identidade figurativa do
sítio histórico) (VIEGAS E TEIXEIRA, 2017, p.39, grifo nosso).

Em suma, o valor de uma área antiga não reside apenas nos edifícios, mas na
sua localização e na sua centralidade para quem vive, mora e trabalha nessa área,
que deve ser preservada com renovação ou restaurada com revitalização para que
assim, esses espaços possam ser vividos sujeitos a alterações e não museus
“mortos”, pois, para salvaguardar a vida urbana faz-se necessário a criação de
políticas públicas que permitam a sobrevivência das cidades com suas
especificidades antigas e contemporâneas além da garantia de seu patrimônio
histórico (PORTAS, 1969). Nesse contexto, convém salientar que Huyssen (2000, p.
10-15) lança luz para uma reflexão no que tange a uma busca exacerbada nos tempos
atuais pela “cultura da memória”, onde a possibilidade de resgate do passado parece
frequentemente mais interessante que a construção do novo. Ou seja, o passado,
presente e o futuro do patrimônio edificado nas áreas antigas devem andar juntos,
num processo de simbiose que resultará na qualidade da experiência turística
proporcionando uma atmosfera histórica do lugar em conformidade com os seus bens
culturais preservados.
Então, deve-se ressaltar, o conceito de bem cultural como uma categoria a ser
considerada no processo de tombamento, que na visão de Ferreira (1986, p.247) são
considerados como bens culturais “obras arquitetônicas, ou plásticas, ou literárias, ou
musicais, conjuntos urbanos, sítios arqueológicos, manifestações folclóricas, etc.” No
entanto, Flavio Carsalade (2016) relata sobre uma tendência das convenções
internacionais em correlacionar a terminologia ao bem protegido:
Na verdade, qualquer bem produzido pela cultura é, tecnicamente, um bem
cultural, mas o termo, pela prática, acabou se aplicando mais àqueles bens
culturais escolhidos para preservação – já que não se pode e nem se deve
preservar todos os bens culturais –, fazendo com que, no jargão patrimonial
– e por força de convenções internacionais –, a locução bem cultural queira
se referir ao bem cultural protegido (CARSALADE, 2016, p. 14).

Portanto, existem diversas formas legais de acautelamento desse patrimônio nas


esferas municipais, estaduais e federais. Porém, respeitando a hierarquia, aqui será
67

exposto as leis federais de proteção patrimonial. Sendo assim, um instrumento


constitucional de proteção ao patrimônio material é o ato de tombar um bem, que de
acordo com o decreto-lei n°25 de 1937 explana ser o tombamento um instituto jurídico
de proteção patrimonial efetivado a partir da inscrição no livro do tombo. O artigo 4°
deste mesmo decreto menciona quatro livros do tombo onde os bens culturais devem
ser inscritos: Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico; Livro do
Tombo Histórico; Livro do Tombo das Belas Artes e o Livro do Tombo das Artes
Aplicadas (BRASIL, 1937). No livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e
Paisagístico são inscritos os bens referentes às categorias das artes arqueológicas,
etnográficas, ameríndia e popular bem como os monumentos naturais, as paisagens
e sítios que importe conservar por sua singularidade. No do Tombo Histórico são
inscritos os elementos e as obras de arte de interesse e importância histórica. Já o
Tombo das Belas Artes e do Tombo das Artes Aplicadas são inscritas as obras de arte
erudita e aplicada sejam elas nacionais ou estrangeiras. Silva (2012) relata que o ato
de inscrição nesses livros determina diretrizes de conservação que são estabelecidas
pelo órgão responsável pelo tombamento, onde o bem tombado pode ser de caráter
público ou privado e também voluntário ou compulsório, quando concluso todo o
processo de tombamento, em seguida é feita sua respectiva inscrição em um dos
livros apropriados a sua categoria.
No que tange ao patrimônio imaterial, o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico
Nacional (Iphan) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (Unesco), definem como bens culturais de natureza imaterial as práticas e
domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer;
celebrações; objetos, artefatos e lugares culturais que as comunidades, reconhecem
como parte integrante de seu patrimônio cultural (IPHAN, 2020). Reflete-se que o
pressuposto principal dessa definição de patrimônio imaterial é a transmissão de
geração em geração e sua constante recriação e apropriação pelos indivíduos e
grupos sociais como relevantes elementos de sua identidade, fator que contribui na
promoção do respeito à diversidade cultural e à criatividade humana (SILVA, 2014).
Salienta-se uma distinção com relação ao tombamento e o planejamento,
mesmo que, ultimamente, devido a ampliação conceitual de patrimônio passando de
edifícios isolados ao patrimônio urbano, e inclusive de vastas áreas de paisagens em
que o ambiente e a cultura acabam por se mesclar, as práticas de conservação
aproximam-se dos instrumentos de planejamento e de organização do território
68

(INOUE, 2015). Isto posto, na visão do mesmo autor, está nítido nessa situação a
dialética entre conservação e desenvolvimento, ou conservação e mudança, o que
CHOAY (2006) coloca como a dialética dimensão museal e dimensão contemporânea,
seja dos objetos, tecidos urbanos, cidades e paisagens. Chama-se atenção ao uso do
termo “tecidos urbanos”, sinônimo aplicado aos logradouros e no caso dessa pesquisa
ruas ou avenidas.
No âmbito da sua concepção cientifica e legal, o patrimônio cultural está
diretamente ligado à sua construção física ( prédios, monumentos, edificações,
acervos arquitetônicos) edificada em um determinado tempo e espaço bem como à
sua dimensão simbólica nas diversas formas de agir, sentir e viver dos grupos sociais
enquanto membros partícipes de uma comunidade: os ofícios e manifestações
populares tradicionais, a gastronomia, as artes populares, o artesanato, os quais
estabelecem processos de identificação (HALL, 2000). Carvalho (2010,p.17) afirma
que o mesmo possui um aspecto vinculante à memória e à identidade dos grupos
sociais, os quais estabelecem a apropriação e a coletivização do patrimônio cultural,
ao mesmo tempo que produzem nos espaços urbanos lugares significantes, com os
quais a comunidade local se afeiçoa e se identifica, “podendo vincular-se à infância,
às atividades corriqueiras, aos encontros sociais e familiares e, consequentemente,
fazem-se presentes na memória de indivíduos e grupos sociais específicos”.
A ideia de que o “patrimônio cultural” é mais que a memória de nós mesmos e,
assim, são referenciais sociais, espaciais, históricos e existenciais, por conseguinte,
o direito à memória torna-se inerente ao direito fundamental de todo ser humano
podendo acabar por gerar uma situação conflituosa, pois, esse direito esbarra em
outro direito igualmente universal: o direito à mudança, à transformação, ao novo
(CRUZ, 2012). Nesse contexto, surge então, a patrimonialização como um “um
conjunto de práticas sociais, desde as mais diversas formas de produção cultural, de
saberes simbólicos e técnicos até os inúmeros processos de institucionalização do
patrimônio como tal, que permitem a preservação dos bens culturais” (PAES, 2009, p.
164). A “patrimonialização do patrimônio”8 somente pode ser compreendida, portanto,

8 É um movimento, que na visão de Pereiro Pérez (2003), emerge a partir da 2ª guerra mundial, onde
deu-se um salto quantitativo e qualitativo na ativação do patrimônio cultural, no qual esse processo de
ativação, para ele é denominado de “patrimonialização”, estando associado a um esforço
conservacionista de longo alcance e que tem um fio destacado no romantismo. Neste processo os
especialistas (arqueólogos, antropólogos, arquitetos, historiadores da arte, etc.) são vitais, enquanto
criadores de uma legitimidade patrimonial seletiva. Os especialistas certificam o valor dos elementos
69

no contexto do complexo e contraditório processo de produção do espaço. (CRUZ,


2012). A mesma autora exemplifica essa ambiência ao relatar que o patrimônio
material inserido em contextos urbanos, onde encontram-se a maior parte dos
remanescentes culturais materiais de tempos pretéritos, demandam as ações de
inventariação e tombamento que acontecem no interior de uma arena conflituosa,
assentada em interesses (nem sempre) antagônicos e da qual sobressai a hegemonia
de uns mediante a submissão dos interesses de outros.

Ao mesmo tempo em que o patrimônio cultural tombado representa um


constrangimento as ações objetivas futuras no processo de produção do
espaço, ele é, também, permanentemente constrangido por novos projetos
públicos ou privados voltados para o seu entorno. No que diz respeito ao
patrimônio arquitetônico, especialmente, a patrimonialização tem
desdobramentos peculiares tais como valorização ou desvalorização da terra
no entorno do bem tombado, surgimento de serviços específicos no interior
do objeto patrimonializado ou na região em que se insere o mesmo, expulsão
de populações locais (CRUZ, 2012, p.100).

A discussão das políticas públicas patrimoniais que geram esse produto do


tombamento ou “patrimonialização” dos bens culturais materiais e imateriais requer
uma reflexão quanto à sua relevância e consequências que estão alicerçadas no
discurso de manutenção da memória e da identidade de uma população, portanto,
deve-se ter planejamento dessas ações para que os impactos sejam
predominantemente positivos aos envolvidos, sobretudo no estabelecimento de
critérios técnicos e identitários necessários a implementação de políticas de
preservação ou conservação do patrimônio cultural, evitando sua banalização ou até
mesmo comoditização (produto massificado e não diferenciado perante os
consumidores, origem da palavra inglesa “commodity”). Esse pensamento encontra
embasamento científico na afirmação de Lobato (2016) no qual menciona que:

Sabe-se que o instrumento de tombamento não garante que efetivamente o


bem será preservado, mas é uma ação que pode contribuir com a
concretização de outras ações como, por exemplo, o acesso a editais de
fomento a requalificação urbana, reforma e restauro lançados tanto por
órgãos estaduais quanto federais. Essa é uma medida interessante, mas que,
mal trabalhada, pode gerar problemas e conflitos entre os agentes ligados
tanto ao patrimônio quanto ao turismo, no caso de se usar o patrimônio como
atrativo de turismo (LOBATO, 2016, p.402).

culturais dignos de serem patrimonializados e reconhecem como bem de tutela pública o que antes não
estava reconhecido como tal.
70

O interessante é perceber essas interfaces na produção da paisagem urbana,


que na visão de Paes (2017) cultura e natureza são mercadorias simbólicas, porém a
cultura não é só mercadoria, reduzir a interpretação da cultura a sua apropriação pelo
mercado, ao tratarem a cultura como commodity, implica uma redução interpretativa
e limitante do real alcance da singularidade e especificidade cultural. O autor ainda
complementa mencionando a miopia da cultura tornada em mercadoria, pois, a
mercantilização de tudo, a estetização da realidade, o consumo cultural da experiência
alienada e vazia de autenticidade serviram à modificação sistêmica do próprio
capitalismo, “da monumentalidade inicial à semiótica atual, as paisagens urbanas
falam muito sobre nós mesmos e nossa sociedade” (PAES, 2017, p.673).
Diante do processo de mercadorização da cultura, o patrimônio é instrumento
indissociável e inerente ao consumo além de ser usado de forma incessante e
exacerbada, acarretando prejuízos para todos os lados envolvidos no processo de
consumação, seja ele residente ou turista até mesmo o próprio patrimônio enquanto
elemento de oferta. Desse modo, Choay (2011, p.48) traz a seguinte reflexão:
Esta cruzada pelo consumo mercantil do patrimônio não é somente prejudicial
aos visitantes, ao mesmo tempo enganados quanto à natureza do bem a
consumir e colocados em condições de amontoamento e ruído totalmente
impróprias a qualquer deleite intelectual ou estético. Conduz também
frequentemente à destruição dos lugares classificados, tanto pela edificação
das necessárias estruturas de recepção (hoteleiras e outras) como pela
eliminação de atividades criativas ligadas à cultura local e à sua identidade
(CHOAY, 2011, p.48).

Esse consumo cultural induz a uma ressignificação de bens patrimoniais por


meio de sua refuncionalização convertendo-se em estratégia de seus defensores com
o intuito de proporcionar valorização disfarçados de uma suposta necessidade de
protegê-lo de uma iminente destruição de objetos considerados representativos de um
tempo e de um espaço, o chamado “patrimônio cultural” (CRUZ, 2012). Patrimônio
cultural, turismo e renovação urbana são vetores interligados no processo de
reestruturação do território (PAES, 2017), no entanto, por outro lado, o consumo
desses bens pela atividade turística desdobra-se em fonte de renda para sua
manutenção, constituindo-se, portanto, uma relação de mútua dependência entre
turismo e bem patrimonializado. Historicamente, desde os anos 1990, a preservação
de sítios históricos urbanos no Brasil e na América Latina serviu de base para a
refuncionalização turística (PAES, 2012) e a ascensão econômica de inúmeras
cidades, gerando um processo articulado de formulação de estratégias políticas e
econômicas de renovação urbana, partir de visões teóricas ou técnicas, interesses
71

políticos ou escalas diferenciadas, como: enobrecimento, requalificação, reabilitação,


revitalização e a gentrificação (PAES, 2017).
Surge, nesse processo de patrimonialização, ressignificação e refuncionalização
turística as chamadas cidades históricas, palco dos conflitos e das contradições que
movem a reprodução da vida nos lugares, o que as diferencia, do conjunto das demais
cidades no mundo é o fato de abrigarem remanescentes materiais de objetos ou
conjuntos de objetos arquitetônicos pretéritos, considerados como legítimos
representantes de uma cultura que deve ser protegida e reverenciada (CRUZ, 2012).
Por sua vez, ainda na visão da autora, as cidades históricas sejam elas capitais ou
cidades do interior, metrópoles ou cidades pequenas, acabam ficando vulneráveis às
novas lógicas de produção dos espaços urbanos, segundo as quais a cidade
transforma-se em mercadoria. Aqui, entra em cena, o turismo como elemento
desvirtuante dos sentidos do patrimônio cultural material e imaterial, proporcionando,
muitas vezes, uma cenarização, espetacularização, mercantilização das paisagens
em geral e dos elementos patrimonializados, especificamente, norteados pelo “visual”,
enquanto a visualidade (registro de um dado físico e referencial) e a visibilidade
(propriamente semiótica) são oprimidas pela experiência turística, fugaz, transitória e
não raras vezes alienante, resultados esses da falta de planejamento sustentável do
turismo ( FERRARA, 2002 e CRUZ, 2012).
A dinâmica dos centros históricos está visceralmente marcada pela presença de
suas populações e tais áreas não sobrevivem apenas com o uso turístico (PAES,
2017). Sua importância emerge a necessidade latente de sua conservação, pois, o
centro histórico de uma cidade assume um papel de estruturador das primeiras formas
e funções urbanas, tornando-se responsável por esta vitalidade no decorrer da
história, sendo neste casco histórico que se encontram uma diversidade formas e
funções pretéritas e presentes, de signos e significados que ganharam ou perderam
a relevância social no decorrer do tempo (ROSSINI, 2012).
Representativos de condições técnicas, políticas, culturais, econômicas de um
dado tempo e de um dado grupo social, Cruz (2012) explana que esses centros
históricos são igualmente signos, impregnados de uma dimensão simbólica,
desprezada pelo olhar voyeurístico de observadores desatentos e ambiguamente
capitalizado pela ação estratégica de agentes de mercado, em síntese, impõe-se uma
nova estética, pensada para atrair o olhar do turista (URRY, 1996; CRUZ, 2007).
72

Como exemplo, dessa cenarização turística e patrimonialização pura e simples9,


observa-se o caso do Centro Histórico de São de Luís:

Contudo, ainda que patrimonializado, a falta de políticas públicas ou o mau


uso dessas e de seus recursos o deixaram abandonado, indicando que a
simples patrimonialização não é suficiente para incluir o desenvolvimento
local em uma agenda global. As premissas do Iphan de “tornar o patrimônio
cultural eixo indutor e estruturante na geração de renda, de novos empregos,
de agregação social e afirmação identitária das cidades protegidas” não
foram aproveitadas para o caso de São Luís do Maranhão (PAES, 2017,
p.675).

O patrimônio edificado é a tangibilização do sentido conceitual de cultura, pois


engloba sua materialidade com o modo de vida do ser humano, somado aos
elementos imateriais. Nas últimas décadas, a valorização do patrimônio cultural para
fins turísticos tem evidenciado a associação entre o “urbanismo e o planejamento do
território na produção de imagens e discursos que privilegiam ou excluem
determinadas memórias e paisagens do território” (PAES, 2009, p.166). Portuguez
(2004) propõem pensar o espaço turístico a partir de suas formas arquitetônicas
antigas, significando uma interpretação do mundo vivido pelos grupos sociais que
antecederam a vida moderna, despertando o interesse e a curiosidade dos turistas.
Investir em interpretação significa agregar valor ao produto turístico, pois para a sua
formatação, constitui-se em um componente essencial e adquire aspectos singulares
e distintivos quando se apoia na cultura e em paisagens especiais.
A valorização do meio ambiente urbano e natural, da história, dos saberes e
fazeres culturais amplia o processo de diversificação do produto, aumentam a
permanência no destino e possibilita a abertura de novos mercados para diferentes
nichos turísticos (MURTA; ALBANO, 2005). As paisagens produzidas pelos seres
humanos nos representam, pois são portadoras de nossa identidade simbólica,
patrimônio coletivo de significação histórica e política localizada, fração da totalidade
do espaço que permite que o tempo ou a memória, sedimente-se, doando-se a nós
para interpretação (PAES, 2017). Para o mesmo autor (PAES, 2009), uma das formas
mais recorrentes para se interpretar o patrimônio remete à história sociocultural que
deve ser preservada, porém, existe uma necessidade de compreensão das
dimensões cultural, técnica e política:

9 Esse exemplo do Centro Histórico de São Luís associados às temáticas de patrimonialização e


gentrificação foram colocados apenas de forma contributiva ao encadeamento das ideias dissertadas
no texto, porém, são assuntos que não serão aprofundados nessa tese.
73

Cultural, porque somos nós, homens, no exercício da cultura, que elegemos


o que deve ser preservado, imprimindo uma dimensão valorativa aos bens
materiais ou intangíveis. Técnica, pois devemos desenvolver saberes,
instrumentos e normas para levar a termo o processo de preservação.
Política, porque esta seleção e normatização dos bens que devem ser
patrimonializados envolvem ações e decisões, resultantes de conflitos de
interesses, que devem ser normatizadas – o tombamento é, assim, uma ação
cultural, técnica e política (PAES, 2009, p.163-164).

Sendo um dos componentes de formação do produto turístico, não cabe mais


aos atrativos histórico-culturais tornarem-se apenas elementos de configuração
territorial, estático e representação do passado sem ligá-lo ao processo construtivo da
sociedade no presente e no futuro. Por conseguinte, as evidências denotam que o
patrimônio cultural tem forte conexão com o desenvolvimento do turismo cultural, no
qual apropria-se dos patrimônios, que são em alguns casos “vendidos” para o
consumo dos turistas. Outrossim, existem situações nas quais o desenvolvimento da
atividade turística pode concorrer para a preservação de bens patrimoniais, mas, para
isso, a população local deve perceber o patrimônio como parte de sua identidade e
participar das ações voltadas ao desenvolvimento do turismo nas cidades e das
políticas ligadas à preservação do patrimônio (LOBATO, 2016). Os bens culturais
apropriados pelo turismo necessitam dialogar com a população residente num
processo contínuo de pertencimento servindo de referência para as futuras gerações
além de testemunho da sua história, inseridos na busca permanente pelo
descobrimento, interpretação e valorização da memória, autoestima e, sobretudo
propiciando o fortalecimento da identidade local.
Corroborando, Silva (2014) infere que a partir deste sentimento de identidade
com o local de residência é que ações de preservação e conservação do patrimônio
podem ser elaboradas e neste sentido o turismo cultural pode vir a ser um colaborador.
No Brasil, de acordo com a pesquisa sobre a caracterização e o dimensionamento do
da demanda turística internacional, realizada pelo Ministério do Turismo, no
detalhamento das motivações de viagens a lazer no recorte temporal de 2013-2017,
a cultura ocupa o terceiro lugar na média, essas viagens também tiveram certa
estabilidade ao longo dos últimos cinco anos, mantendo percentual entre 9,0 e 12,1
pontos (BRASIL, 2018).
Esse interesse do turismo pelos patrimônios pode ter um aspecto positivo à
medida que contribuem para a proteção e recuperação além da divulgação de sua
relevância. Desta forma, possibilita a inserção dos bens na dinâmica social, dando-
lhe uma função e retirando-os da condição de isolamento, entretanto, urge uma
74

necessidade latente para a verdadeira compreensão do significado desses bens, para


evitar que o patrimônio se torne um mero objeto de consumo (SCIFONI, 2006). A
denominação do turismo cultural tem como pano de fundo os conceitos geográficos
de espaço e lugar, constituindo-se de uma ferramenta educativa para disseminação
do conhecimento por intermédio da interpretação do patrimônio bem como também
um instrumento de valorização da história e do cotidiano da comunidade local (SILVA,
2014).
A valorização do patrimônio-histórico pode ser obtida de diversas maneiras, mas
é na interpretação, que se pode construir, em uma base sólida de relacionamento com
a população residente e o visitante, a identidade e a diferenciação do produto turístico.
Em sua Assembleia Geral de 1999 realizada no México, o ICOMOS atualizou a Carta
Internacional sobre Turismo Cultural, originalmente instituída em 1976, onde nessa
nova carta deu um grande destaque para a intepretação patrimonial como princípio
basilar nas ações que busquem a compreensão do visitante sobre o sítio visitado no
intuito de propiciar uma vivência de experiência educativas que auxiliem no
desenvolvimento integral dos visitantes e na preservação do recurso ou local cultural
visitado. Conceitualmente, a intepretação do patrimônio é considerada um processo
social de desvelamento dos valores históricos, arquitetônicos e culturais, os sentidos
e significados dos espaços urbanos para a comunidade e para grupos de visitantes,
sendo um importante instrumento destinado ao resgate e à valorização da história e
da memória local presentes no espaço urbano da cidade e, sobretudo, de
intensificação dos vínculos de afetividade e de compromisso dos moradores com o
patrimônio do lugar, de modo a garantir que a mesma tenha acesso aos benefícios do
turismo (MURTA e ALBANO, 2005). Murta e Goodey (2005) reforçam a ideia de que
interpretar o patrimônio é um exercício do olhar, consistindo em um ato de
comunicação, acrescentando valor à experiência do visitante através do fornecimento
de informações e representações que exaltem a história e as características culturais
do ambiente de um lugar.
A interpretação também é uma etapa importante no processamento de
informações como parte do processo de comunicação (COREN, 2003). Atualmente, a
interpretação do patrimônio figura nas discussões sobre patrimônios e também
encontra espaço no segmento do turismo cultural, considerando que seu desafio é
“ensinar” ao visitante, por meio de informações sobre a história do local, tornando o
patrimônio mais do que um objeto de mera contemplação e sim um meio de conhecer
75

a cultura e a identidade a partir da percepção do local visitado (CHIOZZINI, 2011).


Penna (1968) citado por Silva (2014) afirma que a percepção é um processo
interpretativo originado dos sentidos, ou seja, o ato de perceber consiste
essencialmente numa aproximação entre o indivíduo e o objeto. Em complemento,
Bastarz (2010) define a percepção como um processo mental de aproximação do
observador com o meio originado dos sentidos e determinado pela cultura carregada
pelo indivíduo.
Nessa ambiência conflituosa entre turismo e a conservação, Costa (2014)
menciona a necessidade de um balanceamento entre os interesses do bem
patrimonial e as do visitante, portanto, no intuito de explorar esse bem cultural como
parte da oferta turística com o mote de “vender o passado” (a história e seus
remanescentes materiais), emerge a interpretação patrimonial. No Brasil têm-se uma
incipiente produção cientifica, porém, três obras dedicaram-se especificamente a essa
temática: 1. Interpretação do patrimônio para o turismo sustentado: um guia de Stela
Maris Murta e Brian Goodey (1995); 2. Interpretar o patrimônio: um exercício do olhar,
coletânea organizada por Stela Maris Murta e Celina Albano (2005) e mais
recentemente 3) Turismo e patrimônio cultural: interpretação e qualificação de Flávia
Roberta Costa (2014). Entretanto, esse assunto ganhou notoriedade internacional
graças a obra do jornalista americano Freeman Tilden (1957), que fundou a ciência
da interpretação estabelecendo uma série de princípios de interpretativos para
especialistas de áreas naturais protegidas com o objetivo de proporcionar uma
experiência única aos visitantes e continua sendo uma referência mundial em termos
de filosofia da intepretação. Cabe salientar, que em 1998, Beck e Cable reestruturam
e atualizaram alguns desses princípios de Tilden.
A maioria dos exemplos de aplicação da comunicação interpretativa ainda está
em áreas naturais, especificamente unidades de conservação ou parque nacionais,
mas as atividades interpretativas em recursos patrimoniais, menos comuns, seguem
o mesmo padrão das realizadas nas áreas naturais, enquadrando-se, normalmente,
em programas de educação patrimonial, onde contrariamente a reconhecida
educação ambiental, está ainda em fase de sedimentação no Brasil (COSTA, 2014).
Atualmente, o papel da interpretação transita da necessidade de preservação para a
relevância da visibilidade e provocação do visitante, de modo que a atenção seja
direcionada das áreas naturais protegidas para as instituições culturais com valor
turístico (DUMBRAVEANU; CRACIUN; TUDORICU, 2016).
76

Basicamente, os supracitados autores definem que:


os dados brutos são recebidos, interpretados e transmitidos através de uma
linguagem codificada que consiste em um conjunto de símbolos validados e
relacionados ao mundo interno e externo. Estímulos externos representa a
percepção de um objeto, fenômeno ou situação. Antes da percepção, existe
a sensação, que é definida como um passivo processo de recebimento de
informações do ambiente externo pelo sujeito percebendo os estímulos.
Assim, a mera exposição a informações sensoriais externas não requer
esforço cognitivo da pessoa em questão. A percepção não consiste
meramente em receber sensorial informações, mas também na seleção,
organização e interpretação de informações recebido através dos órgãos
sensoriais, e é frequentemente definido como uma “tradução” de informação
É, nomeadamente, uma fase em que a percepção faz sentido nos estímulos,
constituindo assim o elemento essencial da próxima fase: a de
representação. (DUMBRAVEANU; CRACIUN; TUDORICU, 2016, p.59 e 60).

A representação baseada na percepção emana as experiências e informações


acumuladas até aquele momento, pois está sendo realizada na área de conhecimento
do indivíduo que automaticamente projeta de acordo com as informações que ele
possui (URRY e LARSEN, 2011). Finalmente, o processo de interpretação é a terceira
fase de todo o circuito, onde a percepção interpreta a sensação que engloba
sensações e percepções e atribui-lhes significância dependendo do contexto, pois é
um processo de nível macro (DUMBRAVEANU; CRACIUN; TUDORICU, 2016). Não
obstante, a mente humana acaba por ter dificuldades no processamento das
totalidades das informações recebidas externamente, em vez disso, faz uma seleção,
dependendo do perfil e motivação do indivíduo, por conseguinte, são necessárias três
etapas importantes para que o processo de interpretação ocorra: endereço, o material
sujeito à interpretação (texto, objeto etc.) e o destinatário (DUMBRAVEANU;
CRACIUN; TUDORICU, 2016, p.61).
Antes de aprofundar os princípios da filosofia interpretativa de Tilden, convém
trazer à tona o que o Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios- ICOMOS, uma
organização não-governamental mundial associada à UNESCO, instituiu na sua Carta
para a interpretação e apresentação de sítios de patrimônio cultural em 04 de outubro
de 2008, em sua assembleia geral. Nela são estabelecidos 7 princípios, a citar: acesso
e compreensão; fontes de informação; atenção ao entorno e contexto; preservação
da autenticidade; plano de sustentabilidade; inclusão e participação e importância da
pesquisa, da formação e avaliação. Além de algumas definições para fins de
entendimento quanto à interpretação e apresentação dos sítios culturais patrimoniais
como ferramenta básica na compreensão pelo público. Desta forma, destacam-se as
seguintes definições: 1) Interpretação: todas as atividades realizadas para o
77

incremento da conscientização pública propiciando maior conhecimento sobre o sítio


de patrimônio cultural; 2) Apresentação: comunicação planificada do conteúdo
interpretativo ajustada para a informação interpretativa, à acessibilidade física bem
como infraestrutura nesses locais; 3) Infraestrutura interpretativa: instalações físicas,
equipamentos e espaços patrimoniais ou a eles relacionados que são usados
exclusivamente para os propósitos da interpretação e apresentação; 4) Intérpretes do
patrimônio: referindo-se aos profissionais ou voluntários dos sítios responsáveis pela
comunicação ao público da informação valorada e significada do patrimônio cultural e
por último 5) Sítio do patrimônio cultural: um lugar, uma paisagem cultural, um
complexo arquitetônico, um depósito arqueológico ou uma estrutura existente,
reconhecido como sítio histórico e cultural, geralmente, com aparato legal de proteção.
Em termos conceituais, os autores Dumbraveanu, Craciun e Tudoricu (2016),
definem a interpretação com um processo cognitivo implícito à composição da
realidade percebida por cada pessoa, ou seja, cada indivíduo têm uma capacidade
pessoal de interpretação que supre às suas necessidades e seus interesses. Onde
para Tilden (1967) essa mesma pessoa está presente na sua própria interpretação
independente do meio de transmissão escolhido para divulgação das informações,
pois para ele “a interpretação deve ter como objetivo apresentar um todo e não uma
parte. A interpretação é conceitual e deve explicar as relações entre as coisas”
(TILDEN,1967, p.66). O mesmo autor reforça que o processo interpretativo é
interdisciplinar além de ser uma arte que faz a conjugação de várias artes, assim,
estabeleceu 6 princípios interpretativos norteadores de todo esse processo de
elaboração de projetos ou plano de interpretação que busquem alcançar uma
mudança na abordagem do patrimônio natural, tornando-o acessível e "traduzindo"
para o público em geral sobre sua preservação. Mesmo que o foco dos seus estudos
tenha sido concentrado nos aspectos naturais, facilmente os princípios de Tilden
podem ser aplicados ao patrimônio cultural. No entanto, Beck e Cable (1998)
complementaram esses princípios ampliando-os para mais 9 com algumas
especificidades e atualizações. Para facilitar a compreensão e fluidez no
entendimento desses princípios, segue abaixo (Figura 6) um resumo cronológico e
comparativo acrescido da carta patrimonial do ICOMOS de 04/10/2008 sobre
interpretação dos sítios de patrimônio cultural que também instituiu parâmetros
interpretativos.
78

Figura 06: Síntese dos princípios da filosofia interpretativa aplicados ao patrimônio


natural e cultural
TILDEN (1957)-NATURAL BECK e CABLE (1998)- NATURAL ICOMOS (2008) - CULTURAL

1º Relacionar com a
personalidade ou experiência do 1º Acesso e compreensão
1º Todo lugar tem história
visitante
2º Fontes de informação
2º Revelação baseada em 2º Uso prudente da tecnologia
informação revela novas formas 3ºAtenção ao entorno e ao
3º Basear-se na quantidade e contexto
3º Interpretação é uma
qualidade da informação
combinação de artes 4º Preservação da autenticidade
4º Formação do profissional da
4º Objetivo da interpretação não interpretação
é a instrução, mas provocação 5º Plano de sustentabilidade
5º Redação interpretativa com
5º Abordagem holística com foco na curiosidade dos 6º Preocupação com a inclusão e
descrição do todo ou interpretar visitantes com a participação
como um todo 6º Suporte financeiro,
voluntário, político e 7º Importância da pesquisa, da
6º Atendimento interpretativo administrativo formação e da avaliação
diferenciado para as crianças 7º Instigar a capacidade e o
desejo de sentir a beleza a sua
volta
8º Promoção da melhor
experiência
9º Paixão pelo recurso e pelas
pessoas que buscam ser
inspiradas por ele
Fonte: Elaborada pela autora

Tais princípios darão ao bem cultural edificado, qualidade na experiência por


meio da interpretação patrimonial possibilitando ao visitante uma reflexão diante das
informações recebidas e por consequência uma transformação no olhar e na
concretização de atitudes conservacionistas do patrimônio cultural. Essa forma de
interpretação do patrimônio dará ao intérprete, ao lugar interpretado bem como
turistas e residentes a oportunidade de serem os protagonistas de sua própria
mudança a partir da filosofia interpretativa.
Nesse contexto de reflexão e aprofundamento da compreensão sobre o
patrimônio cultural, reforça-se que nos organismos internacionais, essa definição foi
discutida inicialmente na conferência geral da Organização das Nações Unidas para
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1972, pelo qual esclarece no artigo
1º que a constituição do mesmo é por: monumentos, conjuntos e lugares, no entanto,
especificamente para as finalidades do objeto de estudo dessa tese chama-se a
atenção para o conceito de conjunto e lugares, respectivamente:

Grupos de construções isoladas ou reunidas que, em virtude de sua


arquitetura, unidade ou integração na paisagem, tenham um valor universal
excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência. Lugares
79

notáveis são obras do homem ou obras conjugadas do homem e da natureza,


bem como as áreas que incluam sítios arqueológicos, de valor universal
excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico
(p.2).

Observa-se que na primeira parte do parágrafo é considerado somente o aspecto


das edificações tomadas individualmente ou em conjunto não levando em
consideração de forma explícita as ruas ou avenidas, porém, ao complementar com a
frase “unidade ou integração na paisagem” têm-se aqui a possibilidade de aglutinar
os logradouros nesse processo de implementação do conceito nas políticas
preservação, conservação e intepretação patrimonial uma vez que a própria definição
de lugar prioriza áreas com valor histórico, estético, etnológico ou antropológico.
Desvelando, assim, uma lacuna conceitual e técnica sob o olhar da intepretação
patrimonial na perspectiva de conjunto das edificações com seus respectivos
logradouros que primam pela resguarda do valor histórico e identitário do lugar como
sua população, acabando por criar uma necessidade latente na definição de
parâmetros classificativos desse olhar patrimonial e turístico.
Com base em Portuguez (2004), acredita-se que o patrimônio se refere às
pessoas, às origens e à história de uma comunidade, pregando- se a necessidade de
preservar e conservar o patrimônio para reforçar a identidade das pessoas e dos
lugares em primeiro lugar e, se houver potencial turístico, sua utilização para os fins
recreacionais. Mas, afinal de contas, o que seria identidade? No senso comum,
corresponde ao conjunto de traços físicos que caracterizam uma pessoa. Aplicando-
se o termo à questão cultural, pode-se definir identidade como um conjunto de
características, que vai desde a construção de símbolos, passando por edificações,
as crenças e tradições, peculiares a uma população, sociedade ou lugar, no qual
instaura o processo de diferenciação e singularidade em relação aos demais grupos.
Devendo ser vista como um processo social, onde o sujeito assume identidades
diferentes em diferentes momentos, definida histórica e não biologicamente, portanto,
como algo formado ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não
algo inato existente na consciência no momento do nascimento, ressaltando que a
sociedade na qual se está inserido desempenha um papel crucial na formação da
identidade. Foetsch conclui que a identidade cultural pode ser entendida na
perspectiva da identidade “étnico-cultural”, pois, ao se retratar de identidade de uma
cultura, deve-se localizá-la no tempo, espaço e no interior de um grupo étnico. Ao
80

abordar estas questões, tem-se que a construção da identidade depende dos fatores
de ordem cultural que os atores cultivaram e que vêm sendo constantemente
colocados à prova em todos os lugares (2007). Nesse mesmo pensamento, Sá
assinala que a identidade é o conjunto de características que qualificam uma nação
com seu território, conjunto de raças, língua, cultura, crenças, religião, interesses e
sua geografia, conferindo a esses elementos uma personalidade ou uma imagem
(2002). Complementando Dias (2006) argumenta que a identidade cultural é a busca
pela afirmação de uma diferença e de uma semelhança, o ato de identificar significa
procurar traços comuns entre si, fortalecendo o sentimento de solidariedade grupal.
Muitos turistas procuram o reencontro com o passado, com tradições e essas
supracitadas identidades, uma espécie de resposta ao processo de mundialização da
cultura, acelerado a partir da segunda metade do século XX, acarretando na
ressignificação de uma série de conceitos e valores (BARRETTO, 2007). Para iniciar
esse processo de valorização dos atrativos turísticos é necessário primeiro inventariar
o patrimônio cultural e natural, sendo eles a matéria-prima do turismo cultural
simbolizando a identidade cultural de uma comunidade, nas dimensões locais,
regionais ou nacionais.
Camargo (2002) expõem a preservação ou conservação das edificações e dos
conjuntos urbanos, afirma-se como uma necessidade face ao grau de destruição,
surgidas a partir do fenômeno da Revolução Industrial. A partir da Revolução
Industrial, as cidades deixam de ter um perímetro delimitado e preciso. As muralhas
foram demolidas em razão do desuso e necessidade expansão, correspondendo
àquilo que se pode chamar de território urbano, outro traço está relacionado à
segmentação socioeconômica em bairros. Porém, para falar de preservação e
conservação como política de Estado é preciso remeter à Revolução Francesa, 1960
anos após a queda da Bastilha. O mesmo autor, afirma que surgiu nessa época o
conceito de patrimônio nacional, ou seja, os cidadãos, com essa Revolução, eram
iguais e livres perante a lei, e, nascidos no país, são todos irmãos e herdeiros do
mesmo pai, o Estado Nacional, como consequência, os monumentos seriam a
materialização da identidade nacional, e, por meio deles, os cidadãos se
reconheceriam franceses.
A exploração da cultura como atrativo turístico possibilitou o crescimento do
turismo cultural, principalmente em ambientes urbanos.
81

O turismo cultural é aquela forma de turismo que tem por objetivo, entre
outros fins, o conhecimento de monumentos e sítios histórico-artísticos.
Exerce um efeito realmente positivo sobre estes tanto quanto contribui - para
satisfazer seus próprios fins - a sua manutenção e proteção. Esta forma de
turismo justifica, de fato, os esforços que tal manutenção e proteção exigem
da comunidade humana, devido aos benefícios socioculturais e econômicos
que comporta para toda a população implicada (ICOMOS, 1976).

A Association for Tourism and Leisure Education na sua definição conceitual


aborda que o turismo cultural deve ser entendido como movimento de pessoas para
atrações culturais fora da sua residência, com o objetivo de assimilar novas
informações e experiências com vistas a atender suas necessidades culturais
(RICHARDS, 1996). O Ministério do Turismo entende que este tipo de segmento
“compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de
elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais,
valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura”. Para
Swarbrooke (2000), o turismo cultural tem múltiplas facetas, ficando evidente, porém
diante dos vários recursos utilizados (atrações históricas; festivais; cultura popular;
tipos de arquitetura; comidas e bebidas tradicionais; artes; locais religiosos;
linguagem, etc.), que ele pode não ser abrangente, apesar dos diferentes tipos de
recursos culturais estarem inter-relacionados. Seu principal componente de
atratividade são os aspectos da cultura humana e seus fins a valorização da história,
do cotidiano, dos saberes de uma comunidade tanto por parte dos visitantes como por
parte dos visitados (BARRETO, 2000). Esses aspectos supracitados de uma
comunidade são representados por intermédio de patrimônios de caráter material,
imaterial e natural, o que inclui tudo aquilo que constitui um bem apropriado pelo
homem, com suas características únicas e particulares (PINSKY; FUNARI, 2003).
Neste contexto, vale a pena salientar o papel das Normas de Quito de 1967
estabelecida pela Organização dos Estados Americanos na sua reunião sobre
conservação e utilização de monumentos e lugares de interesse histórico e artístico,
cujos pressupostos reiteram o turismo cultural como forma de preservar o patrimônio
edificado e de reverter a degradação das áreas históricas dos países latino-
americanos, pressupondo o respeito pelas necessidades sociais da população local.
Richards (2001) reitera que o turismo cultural são todos os movimentos de pessoas
na busca pela satisfação das necessidades humanas para a diversidade por meio da
expansão do nível cultural dos indivíduos e fornecendo conhecimentos adquiridos por
novas experiências e encontros. O intrigante é a afirmação de Funari & Pinsky (2001)
82

onde nem todo turismo é cultural, pois “a ideia que queremos apresentar aqui é a de
que não é o que se vê, mas o como se vê, é que caracteriza o turismo cultural” (p.7-
8). Então, pode-se argumentar, ser o turismo cultural não um nicho de mercado dentro
do turismo, mas sim, uma amálgama de tipologias de turismo com diversas atividades
que têm um foco cultural, como turismo de patrimônio, turismo de artes, turismo
cultural urbano, turismo cultural rural e turismo cultural indígena (WANG; YAMADA;
BROTHERS, 2011).
O turismo cultural traz benefícios para as comunidades anfitriãs e fornece um
motivo importante para que eles cuidem e mantenham sua herança e práticas
culturais, sendo uma estratégia de turismo alternativo com dimensões econômicas,
sociais, culturais, educacionais e ecológicos, visando o desenvolvimento sustentável
local (SHIN, 2010). Tomando o continente europeu como um exemplo para um
entendimento inicial do perfil da demanda dos turistas culturais, estudos realizados de
Bywater (1993) concluiu que a tríade sugerida na seleção da escolha dos destinos
pelos viajantes era com base na motivação cultural, inspiração cultural ou atração
cultural. A primeira categoria descreveu os viajantes que escolheram um destino com
base em suas ofertas culturais, já segunda pertencia a viajantes que selecionavam
apenas ícones culturais conhecidos. A última e terceira categoria eram dos viajantes
menos envolvido, onde apenas incluía alguma cultura como parte da viagem. As
características do turista cultural também são influenciadas por um complexo de
variáveis, como dados demográficos, percepção de destino, distância cultural,
atividades realizadas durante as férias e outras (MCKERCHER & DU CROS, 2003).
Para ZBUCHEA (2012), a tipologia apresenta cinco segmentos de turistas culturais:
de propósito, de turismo, o casual, o incidental e o acaso cultural turista, observando-
os cada tipo de turista cultural está presente ao mesmo tempo em todo destino e sua
combinação real de tipos de turistas pode variar em cada localidade turística.
O produto do turismo cultural é complexo, abrangendo não apenas os elementos
culturais (MUNSTERS & DE KLUMBIS, 2005). Mesmo que “o objetivo principal da
visita não seja relacionado à cultura, muitos turistas participam de algumas atividades
culturais ou são expostos para contextos culturais” (ZBUCHEA, 2012, p.55). No
âmbito da oferta turística, Prentice (1993) identifica 23 tipos de atrações turísticas,
entre eles:
83

11 são de natureza cultural (atrações científicas, centros de artesanato e


oficinas de artesanato, atrações socioculturais, atrações associadas a
pessoas históricas, realizando atrações artísticas, galerias, festivais e
concursos, casas senhoriais e ancestrais, atrações religiosas, atrações
militares, monumentos do genocídio), enquanto 7 poderiam ser culturalmente
interpretada para atrair turistas (atrações em questão com produção primária,
atrações preocupadas com a indústria de transformação, transporte atrações,
parques temáticos, cidades e paisagens urbanas, vilas e aldeias, paisagens
campestres e preciosas) (PRENTICE,1993, p. 39-40).

Goeldner e Ritchie (2009, p.214) dividem atrações turísticas em 5 categorias


principais: “atrações culturais e naturais, eventos, recreação e atrações de
entretenimento”. Uma das principais categorias é de natureza puramente cultural e
compreende locais históricos, locais arquitetônicos, arquitetura, culinária, monumento,
locais industriais, museus, étnica, concertos e teatro. Entre as outras atrações, os
autores identificaram outros apelos culturais, como centros de artes cênicas, festivais,
eventos religiosos ou passeios turísticos. O interessante salientar que entre as demais
atrações, outras subcategorias podem ser relevantes para turistas culturais, de acordo
com à maneira como eles são organizados e promovidos, por exemplo, a paisagem
poderia ser uma paisagem cultural, promovida como tal, ou eventos comunitários
poderiam ter um componente cultural importante.
Neste sentido, Cunha (2013) sistematiza um esquema dos principais
componentes do turismo cultural assentados em três dimensões: 1) patrimônio
construído; 2) modelos e estilos de vida da população e, finalmente, 3) manifestações
culturais associadas à região. Porém, o mesmo autor, compreende que, se não forem
acautelados mecanismos sustentáveis para a utilização dos recursos patrimoniais, as
probabilidades de mercantilização sem controle e de trivialização dos produtos
culturais são elevadas, com danos irreparáveis no patrimônio, desta forma, sua
valorização deve ser projetada na base de um planeamento turístico que envolva os
diferentes agentes no local e salvaguarde as mais-valias econômicas, sociais e
culturais.
Por outro lado, para De Castro e Carvalho (2014, p.11) é importante destacar
que “o visitante atual possui um maior nível cultural e uma maior consciência acerca
da importância do património natural e cultural que, associado a experiências
turísticas mais vastas e diversificadas, conduz a procurar serviços personalizados e
com melhor qualidade”. Pérez (2009) ainda menciona que face ao turismo
convencional e de massas, o turismo cultural aparece como uma alternativa ao
turismo de sol e praia, mas, num sentido genérico, o turismo pode ser entendido como
84

um ato e uma prática cultural, falando em “turismo cultural” como uma reiteração, não
existindo turismo sem cultura, daí a origem de se falar em cultura turística, pois o
turismo é uma expressão cultural.
Curiosamente, pressupõe-se que o turista ou visitante irá descobrir por si mesmo
e encantar-se automaticamente com as belezas naturais, históricas e manifestações
culturais. É na interpretação do patrimônio natural e cultural que o conhecimento do
visitante e do habitante será ampliado e desvelado, visando estimular várias formas
de olhar, apreender e experenciar encontrando a singularidade do lugar, símbolos e
significados mais marcantes no composto da identidade e diferenciação do local,
assim, os ambientes, em especial as cidades, devem ser vistos como um enigma a
ser descoberto (MURTA; ALBANO, 2005). A cidade é como um organismo vivo, com
células e órgãos vitais para o seu perfeito funcionamento, ao mesmo tempo elas
sintetizam as tensões sociais existentes, são espaços privilegiados de atrações,
serviços, simbolismos e produções culturais.
O reconhecimento de uma cidade ou de partes das suas referências culturais no
aspecto da salvaguarda legal e institucionalizada na esfera municipal, estadual,
federal ou mundial consiste numa das principais estratégias destinadas a tal
finalidade, mesmo que o alegado teor de autenticidade e singularidade perdurem mais
enquanto discurso idealizado do que como realidade concreta (CIFELLI; PEIXOTO,
2012). Estudar a cidade é considerar variáveis que dão referências e valores ao
espaço urbano, seu caráter hospitaleiro ou não, de sua história, onde a compreensão
de patrimônio deixou de corresponder apenas à qualidade estética, ampliando-se o
conceito ao cotidiano da vida, no exercício da cultura e do desenvolvimento
socioeconômico das comunidades urbanas, responsável pela sua identidade e sua
qualidade de vida (GRINOVER, 2006). Concentrados nas cidades, os patrimônios
históricos e artísticos nas sociedades modernas ocidentais representam
simbolicamente a identidade e memória de uma nação (OLIVEIRA, 2008). Estão
relacionados com à ideia de autenticidade, legitimidade e herança ao mesmo tempo
que auxiliam no resgate da memória e valorização da identidade. A preservação,
conservação e recuperação do patrimônio histórico, no seu sentido amplo, faz parte
de um processo de recuperação e conservação da memória, que permite a
manutenção da identidade dos povos (BARRETTO, 2007).
O intuito é fazer do patrimônio cultural, reconhecido e institucionalmente
consagrado, uma mercadoria representativa da memória, da identidade e de uma
85

tradição, em muitos casos, reinventada, em busca do resgate de um passado ideal,


exaltados nas suas cores e formas a partir de imagens e discursos propagados pelos
dispositivos mediáticos, tais bens culturais contribuem para a elevação do teor de
competitividade das cidades em busca da atração de capital (CIFELLI; PEIXOTO,
2012). Ainda na visão desses autores, em muitos casos de intervenções urbanas nos
centros históricos:
o patrimônio torna-se um cenário para a dinamização do consumo, e a rua,
espaço público por excelência, “converte-se em rede organizada e disputada
pelo/para o consumo. A tentativa de compreensão das referências históricas
e culturais das edificações torna-se, em grande parte dos casos, elemento
secundário diante do fascínio e do poder de sedução exercido pela forma-
mercadoria ou do assédio de vendedores e de figurantes do patrimônio
(CIFELLI; PEIXOTO, 2012, p.44).

Por esse entendimento, a rua é um espaço natural e excelente para a prática do


consumo desses cenários, porém, mesmo que o esforço na busca pela compreensão
das referências culturais e históricas do patrimônio edificado possa ser infrutífera por
meio do estabelecimento de uma estrutura interpretativa, ainda sim, vale a pena a
insistência pela implementação prática da filosofia interpretativa do patrimônio nesses
espaços carregados de simbologia cultural e histórica no intuito de garantir a
qualidade da experiência turística bem como proporcionar uma identidade e
sentimento de pertencimento a população residente.
Quando o patrimônio é colocado a serviço das cidades e dos lugares, em vez do
seu uso indiscriminado em proveito do turismo, esses locais acabam por ordenados
com a preocupação de beneficiar os seus residentes e não tanto de atrair visitantes,
ou seja, patrimônio e desenvolvimento territorial podem reforçar-se mutuamente
(CIFELLI; PEIXOTO, 2012). O cenário teórico proposto nesse capítulo, solidifica a
relevância do patrimônio edificado que representa um repertório de estruturas
simbólicas que alimenta o desejo de conhecimento e preservação dessas áreas
objetos de referência cultural e portadoras da construção da memória social de um
povo, onde a busca pela preservação da arquitetura implica na sua garantia de
sobrevivência como suporte dessa memória, do legado de um passado que projeta a
sociedade em direção a um futuro e sendo uma das principais estratégias de
revitalização do patrimônio material das cidades (ROSSINI, 2012). Corroborando, no
entendimento de Meneguello (2020) as estratégias de preservação do patrimônio e
de tombamento de edifícios ou regiões influenciam não apenas no traçado urbano das
cidades, e sim, nos seus usos, por conseguinte, a apropriação da história deve vir não
86

apenas como "citação material" (e necessariamente visual) do passado, mas como


trazendo em si a possibilidade de transformação.
A valorização do patrimônio histórico-cultural, enquanto produto turístico e base
para a construção da identidade, é um dos aspectos norteadores dessa pesquisa, pois
estudos e propostas para a área poderão ser novos balizadores para o
desenvolvimento local, em termos econômicos, fortalecendo os laços dos moradores
com a paisagem urbana dos logradouros na perspectiva de conjunto com suas
edificações, especificamente das Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro,
podendo promover, um melhor posicionamento do destino Manaus no mercado
turístico através da diferenciação e especialização da sua oferta turística.

2.3 TURISMO URBANO: PERSPECTIVA CONCEITUAL, CONEXÕES E


INFLUÊNCIA NA CIDADE

Diante da notada importância do turismo na apropriação do espaço além do


auxílio na conservação do patrimônio cultural edificado, surge a necessidade de uma
discussão mais aprofundada sobre suas bases conceituais, principalmente no
contexto dessa pesquisa, que é a caracterização do turismo urbano. Ou seja,
considerando a concepção teórica anteriormente discutida, há a patrimonialização do
patrimônio e a mercadorização do espaço urbano, pelo turismo urbano.
A formação da paisagem como um reflexo da apropriação dos elementos
naturais pela sociedade bem como o entendimento de que o espaço é produto de
consumo e mercadorização usufruído pela atividade turística, exige uma abordagem
diferenciada no que tange aos aspectos relativos ao patrimônio histórico-cultural, em
função de sua representatividade na manifestação física e tangível da sociedade
naquele momento e em um determinando espaço geográfico. No entendimento de
Carvalho (2010) enquanto prática econômica e fenômeno social, o turismo apresenta
múltiplas possibilidades de consumo do lugar, variando somente nas preferências
intrínsecas de cada grupo de visitantes e das vivências que estes elegem como
prioritárias durante o seu período de estadia.
A interpretação e o conhecimento das particularidades das edificações,
logradouros e monumentos auxiliam no processo de construção, valorização e
87

reconhecimento, por parte da população local, que diferenciam um lugar, ou seja,


reconhece nele a sua identidade. Nesse sentido, têm-se a seguinte reflexão:
Os espaços urbanos, sobretudo os locais de valor histórico e cultural devem
ser vistos como áreas a serem descobertas e, portanto, compreendidas pelos
turistas por meio de elementos interpretativos que possam valorizar a sua
identidade, suas histórias, seus aspectos arquitetônicos, seus valores
artísticos e tradicionais e sua importância cultural. A forma como os indivíduos
identificam-se com determinadas porções do território, estabelecendo
relações de afetividade, edificando-os como lugares de memória, torna-se
relevante na perspectiva de reorientar as políticas públicas de preservação
do legado cultural, possibilitando que as futuras intervenções nos sítios
históricos possam efetivamente resgatar, nos espaços inutilizados (ou
subutilizados), os conteúdos simbólicos a eles subjacentes, evitando-se a
padronização e a cenarização da paisagem urbana e da cultura,
possibilitando que a atividade turística se desenvolva concernente às
expectativas e anseios da comunidade local (CARVALHO, 2010, p.29).

Assim, esses conjuntos de recursos culturais formam, juntamente com a


natureza, os atrativos turísticos, porém sua disponibilidade enquanto produto turístico
está associada à existência de equipamentos e infraestrutura que atendam às
necessidades e desejos dos turistas e visitantes. Validando essa ideia, Molina (1997,
p.13) assinala que o turismo é um sistema integrado por um conjunto de subsistemas
que se relacionam para alcançar um objetivo comum. Tais subsistemas são
compostos por cinco itens:
a. Superestrutura: organizações do setor público e privado; leis; regulamentos,
planos e programas;
b. Demanda: turistas residentes no país e no estrangeiro;
c. Infraestrutura: aeroportos, rodovias, redes de água potável, esgoto,
telefone, energia, etc;
d. Atrativos naturais e culturais;
e. Equipamentos e instalações: hotéis, restaurantes, pousadas, campings,
agências de viagem, cafeterias, quadras de tênis, boliche, entre outros;
f. Comunidade receptora: residentes locais ligados direta ou indiretamente ao
turismo.

A atividade turística é naturalmente cultural, pois constitui um fluxo de interações


contínuas entre a comunidade receptora e emissora, tal fluxo apropria-se de espaços
distintos socialmente e construídos em lugares que apresentam uma diversidade
atraente àqueles que buscam consumir conhecimento e cultura dos destinos visitados.
Mazaro e Varzin (2008) expõem que essa diversidade tornou-se ingrediente principal
na diferenciação do lugar, da autoestima local e no desenvolvimento do setor, no
88

entanto, seu maior desafio reside no planejamento e na gestão da oferta turística que
assuma um modelo considerando o impacto do turismo na economia local,
reconfigurando uma nova estrutura dentro do sistema de produção e gestão da
atividade, ao mesmo tempo esforçando-se para preservar a identidade social e
cultural como um valor fundamental de um destino que deseja tornar-se competitivo e
singular.
Para buscar esses novos mercados e sua diversificação, é preciso entender a
definição de produto turístico. Sendo assim, Machín (1997, p. 34), esclarece que “Un
producto turístico es una combinación de prestaciones y elementos tangibles e
intangibles que ofrecen unos benefecios al cliente como respuesta a determinada
expectativas e motivaciones”, no entanto, em termos de destino não existe um único
responsável pelo produto e sim a parceria e combinação entre o setor público e
privado. Considerando que o produto turístico reúne elementos necessários para o
atendimento das necessidades de consumo dos visitantes - atrativos, facilidades de
acesso, equipamentos e serviços, ao apropriar-se do espaço urbano, a atividade
turística torna-se um dos principais agentes intervenientes da dinâmica das relações
sociais estabelecidas, constituindo-se, assim, num fator decisivo para o
engendramento de um processo dialético na produção de novas territorialidades
(CARVALHO, 2010). Outrossim, é importante ressalvar que “os destinos ou
equipamentos turísticos que não buscarem inovação ou diferenciação estarão fora da
disputa no mercado turístico cada vez mais competitivo” (CARVALHO, 2004, p.147).
Nesse sentido, urge a necessidade para que destinos busquem compreender a
composição dos seus produtos turísticos, principalmente no que tange as
características singulares da atratividade local e a concretização de recursos turísticos
em atrativos.
Para Lickorish e Jenkins (2000), o produto do turismo é composto por dois
elementos: 1) o destino e 2) a satisfação obtida no destino escolhido. Acrescenta-se
também a definição de Dias ao afirmar que “a soma dos elementos interligados
(recursos, infraestrutura, serviços básicos e equipamentos turísticos) é que constitui o
produto turístico principal, o destino territorialmente considerado, como uma cidade
ou uma região”.
Middleton (2002) considera que o produto turístico é um amálgama de três
componentes principais de atrações, instalações e acessibilidade no destino, ou seja,
não é apenas um assento de avião, ônibus ou cama de hotel, na realidade é uma
89

combinação desses elementos na oferta final ao consumidor turístico buscando


satisfazer suas necessidades. Entendendo-o como uma experiência, disponível a um
preço, Ansarah (2001) frisa que o produto turístico se constitui de cinco componentes
básicos:

1. Atrações: matéria-prima, onde o núcleo se organiza;


2. Facilidades, instalações e serviços: podem não gerar fluxos turísticos, mas
a falta deles pode dificultar a visitação às atrações;
3. Acessos: vias e meios de transportes integrantes da infraestrutura do
núcleo receptor;
4. Imagens e percepções dos destinos: motivadores nas viagens turísticas;
5. Preço: nas viagens como um todo, influenciando na decisão do cliente,
devido à competitividade dos produtos.

O termo atração serve para abranger características e eventos físicos que


agradam aos cidadãos, novos moradores, visitantes, empresas e investidores
(KOTLER; GERTNER; REIN; HAIDER, 2006). Percebe-se que em todas as definições
supracitadas, o elemento atração é o que mais aparece nas definições, em síntese,
pode-se afirmar que apesar da oferta turística constituir-se da junção de serviços e
bens materiais, o atrativo turístico é o que se coloca como uma condição central no
processo de atratividade e motivação turística. Porém, a que se esclarecer os
conceitos de patrimônio, recursos ou atrativos turísticos, pois, é muito frequente a
utilização dessas expressões como sinônimos entre si e sem o estabelecimento de
diferenças conceituais. A Organização Mundial de Turismo- OMT diferencia os termos
patrimônio e recursos turísticos, respectivamente, da seguinte forma:

O primeiro é definido como o conjunto potencial (conhecido ou desconhecido)


dos bens materiais ou não à disposição do homem e que podem ser utilizados
mediante um processo de transformação para satisfazer suas necessidades
turísticas. O segundo termo compreende todos os bens e serviços que, por
intermédio da atividade do homem e dos meios com que conta, tornam
possível a atividade turística e satisfazem às necessidades da demanda.
Assim, o patrimônio turístico constitui a matéria-prima sobre a qual deve
existir uma intervenção dos responsáveis pelo desenvolvimento turístico e
que, mediante um programa adequado de investimentos e atuações, possa
obter um recurso turístico- o que posteriormente se denomina produto- que
seja criativo para o consumidor (2001, p.171-172).
90

Atração turística é um produto, de acordo com Gunn (1988) e ainda são


identificadas três zonas na sua estrutura espacial: 1) Núcleo contém o eixo central da
atração; 2) Zona de fechamento com os serviços complementares associados à
atração, como lojas, estacionamento e lanchonete e 3) Cinturão inviolável uma área
que protege o núcleo da atração da área comercial na zona de fechamento. No escopo
de uma definição operacional para o termo atração turística, Pearce (1991) entende
que ele se caracteriza como um local de característica natural ou artificial, que é o
foco da atenção do turista.
No Brasil, Beni (1998, p. 271) define atrativo turístico como “todo lugar, objeto ou
conhecimento de interesse turístico que motiva o deslocamento de grupos humanos
para conhecê-los”. Dentro dessa definição encontram-se os elementos naturais;
histórico-culturais; manifestações e usos tradicionais e populares; realizações
técnicas e científicas e acontecimentos programados. O mesmo autor, conceitua que
os atrativos histórico-culturais são manifestações concretizadas em elementos
materiais que se apresentam sob a forma de bens imóveis ou móveis, entende-se por
imóveis aqueles considerados fixos e, por móveis fixos, os pertencentes ou não a
coleções ou acervos, que estejam em exposições permanentes no mesmo local. Suas
subcategorias são três: monumentos (arquitetura civil; religiosa/funerária;
industrial/agrícola; militar; ruínas; esculturas; pinturas, outros legados); sítios
(históricos e científicos) e instituições culturais de estudo, pesquisa e lazer
(bibliotecas, arquivos e institutos históricos e geográficos (BENI, 1998). Dessa
maneira, patrimônio turístico é o insumo potencial in natura, que quando transformado
ou habilitado para a utilização do turismo converte-se em um recurso ou atrativo
turístico, posteriormente, poderá ser formatado com o restante dos itens de
infraestrutura básica e turística de um destino, tornando-se um produto a ser
comercializado para futuros consumidores-turistas.
Elemento fundamental para a harmonia no desenvolvimento da atividade
turística, o planejamento turístico é sinônimo de processo, sistema e mecanismo
ordenamento das ações humanas sobre um destino turístico, além do direcionamento
adequado das construções de serviços e equipamentos, de modo a evitar impactos
negativos nos recursos que possam destruir ou afetar sua atratividade
(RUSCHMANN, 1997). O planejamento na prática, por mais bem administrado que
seja, está longe das ordenadas sequências dos teóricos, para os quais a visão
cibernética ou sistêmica do planejamento é uma condição (HALL, 2008). Ao relacionar
91

as ideias básicas de Bertalanffy e seus seguidores ao turismo, tem-se como exemplos


de sistemas a economia de um destino, a organização política de um município e a
cadeia produtiva do turismo de uma região qualquer. Conforme Hall (2008), a análise
sistêmica é uma ferramenta analítica muito poderosa, pois, na sua forma mais simples,
significa um todo integrado cujas propriedades essenciais surgem das relações entre
suas partes constituintes. Da Teoria Geral dos Sistemas surgiram os sistemas de
turismo, concebidos por vários autores. Podem-se observar duas categorias de
tipologias no planejamento do turismo, de acordo com Cocossis e Constantoglou
(2006): (a) interessadas pelas características da demanda turística (ex: motivações
de viagem); e (b) focadas nas peculiaridades do próprio destino turístico, como, por
exemplo, elementos geográficos, econômicos, demográficos. Essa noção busca
compreender o conceito de destino como sistema turístico e os elementos internos de
análise, bem como suas particularidades espaciais condicionantes no processo de
desenvolvimento do turismo local.
No contexto de diversificação, segmentação da oferta e da procura turística,
ocorridas ao longo da segunda metade do século XX, Fortuna (1999, p.48) citado por
Gomes (2008) afirma que um tipo singular de turismo foi ganhando destaque: aquele
"que se desenrola em contextos urbanos, particularmente os que registram uma forte
incidência de fatores arquitetônicos, histórico-arqueológicos e monumentais". O
turismo urbano é um fenômeno recente, principalmente no contexto teórico, configura-
se como uma atividade em crescimento, visto não somente como mero segmento de
mercado, vem crescentemente interferindo na estrutura e na dinâmica das cidades-
metrópole, acabando por revelar peculiaridades em termos de oferta (atividades,
serviços, etc.) e da dinamicidade de apropriação espacial, as quais refletem as
especificidades do espaço em que ocorrem: as cidades. (KUNZ e CÉSAR, 2014).
Para Gârbea (2013), antigamente o turismo urbano era considerado resultado da
mobilidade da população, no qual a cidade era apenas um pequeno intervalo, porém,
em função da própria dinâmica enquanto atividade turística associadas às
transformações e mudanças comportamentais que ocorreram, a cidade se tornou um
centro cultural, um local de relaxamento, onde as pessoas vão fazer compras,
encontrar-se com amigos e passar o tempo livre.
O turismo urbano é um conjunto de recursos ou atividades localizados na cidade
e disponibilizados aos visitantes externos com objetivos de entretenimento, negócios,
entre outros (CONFERINŢA NAŢIONALĂ A TURISMULUI URBAN, 1988).
92

Complementando esse escopo conceitual, na visão de Bădiţă (2013) é principalmente


uma atividade de movimento em que turistas fazem trocas e transformações de bens,
valores individuais e modelos culturais, moldando assim um sistema de turismo. Essa
modelagem provou que a configuração turística urbana é um fenômeno difícil, pois
está em constante contato com o espaço geográfico impactando-o frequentemente,
onde sua influência no espaço urbano cria certas transformações morfológicas.
Portanto, pode-se atribuir que o turismo urbano não é apenas uma forma de turismo,
mas também uma parte integrante, tradicional e característica da vida urbana
(HOWIE, 2003). Nesse contexto, para os autores Edwards, Griffin, Hayllar (2008):

o turismo urbano é definido como uma dentre muitas forças econômicas no


ambiente urbano. Abrange uma indústria que gerencia e comercializa uma
variedade de produtos e experiências para pessoas que têm uma ampla
gama de motivações, preferências, perspectivas culturais e estão envolvidos
em um engajamento dialético com a comunidade anfitriã. O resultado desse
engajamento é um conjunto de consequências para o turista, a comunidade
anfitriã e a indústria (EDWARDS, GRIFFIN, HAYLLAR, p.1038).

A definição de turismo urbano geralmente apresenta-se como viagens para


cidades, bairros, vilas e áreas urbanas (Law, 1996). No entendimento da Comissão
Europeia (2000) é "um grupo de atrações ou atividades turísticas localizadas em vilas
e cidades e oferecidas a visitantes de outros lugares" (p. 21). Apesar de inúmeras
definições, a Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas (WORLD
TOURISM ORGANIZATION, 2012) compreendeu o turismo urbano como viagens
curtas realizadas por viajantes a cidades ou locais de alta densidade populacional com
duração de um a três dias. Esses visitantes são atraídos para as áreas urbanas para
diferentes fins, como negócios, conferências, esporte, cultura e entretenimento (Al-
Saad; Ababneh, 2017). Numa perspectiva teórica, o turismo urbano existe como um
meio suficientemente diferente e que pode ser estudado separadamente de outros
aspectos do turismo ou do ambiente urbano, de forma simplista, ele é intrinsecamente
mais difícil de estudar dentro da estrutura conceitual e metodológica dominante do
que o turismo nas áreas rurais ou o turismo nas escalas regional, nacional e
internacional (ASHWORTH, 1992).
A complexidade do turismo urbano não pode ser reduzida a uma definição devido
as diferenças entre si nas cidades, principalmente em termos de tamanho e
características existentes para atender a um padrão semelhante de interpretação
(LAW,1996). Cazes e Potier (1996) argumentam que as dificuldades encontradas na
93

identificação do turismo urbano devem-se as práticas e motivações distintas,


complexidade dos fluxos turísticos e dados estatísticos insuficientes. Ashworth e Page
(2011) acreditam que o turismo urbano é definido de maneira vaga e imprecisa, sem
uma estrutura sistemática para a compreensão do fenômeno. Os mesmos autores
pressupõem que ele não seja apenas um ponto de partida:
É inerentemente vinculado a locais. É um local específico de uma maneira
que muitas outras formas de turismo, especialmente o turismo de praia, não
são. A “proposição de valor único”, que considera que uma vantagem sobre
uma localização está relacionada ao caráter da localidade única, em vez de
quaisquer benefícios funcionais sem lugar e atributos onipresentes. A
experiência turística em Londres, Paris ou Bangcoc deriva diretamente de um
local específico e não é replicável em outros lugares: é o próprio local que é
vendido e não apenas um produto que existe inevitavelmente no espaço.
Portanto, pode-se supor que a criação e o gerenciamento do produto de
turismo urbano serão essencialmente exclusivos para cada cidade. A
dificuldade dessa proposição é que, embora o produto turístico seja
consumido localmente, o turismo, como atividade, a indústria e o investimento
são inerentemente globais e não locais. Os investidores, desenvolvedores,
empreendedores e promotores são organizações predominantemente
globais ou os locais ainda estão inseridos nas tendências e circunstâncias
globais. Até políticos e autoridades urbanas locais que se espera que
ofereçam um localismo estão conscientes de tendências, modas e 'melhores
práticas' mais amplas. Todos eles terão, portanto, uma tendência à
duplicação do que foi bem-sucedido em outros lugares, em vez de uma
inovação mais arriscada (ASHWORTH, G.; PAGE, 2011, p.11).

Parafraseando Gârbea (2013) e combinando as definições apresentadas, em


síntese, o turismo urbano representa todos os recursos turísticos atraentes de uma
cidade destinada a atrair visitantes e moradores, pelo qual diversas tipologias de
turismo interferem e contribuem para o desenvolvimento e a regeneração de áreas
urbanas. Portanto, deve-se aprofundar nas questões evolutivas do termo tanto sob a
ótica mercadológica quanto teórica, para assim evidenciar a necessidade de
discussões científicas e econômicas que influenciam diretamente ou indiretamente na
consolidação desse arcabouço teórico-prático no âmbito do turismo urbano.
Num recorte histórico, Gospodini (2001) afirma que a evolução do turismo urbano
ocorreu na segunda metade do século XX, especificamente a partir de 1950, pode ser
caracterizada resumidamente, da seguinte forma: o turismo urbano de massa
altamente organizado durante o período pós-guerra foi predominante entre as
décadas de 50, 60 e 70, onde as férias eram entendidas principalmente como uma
interrupção no trabalho e de outras atividades cotidianas no intuito de fazer algo
diferente em qualquer ambiente agradável. Ainda na contextualização de Gospodini
(2001), já nos anos de 1980 e 90, as formas alternativas e contemporâneas do turismo
urbano apresentam uma predominância da busca do indivíduo na dimensão formal do
94

ambiente, tal mudança pode estar associada ao espírito de nova modernidade bem
como a certos desenvolvimentos tecnológicos, onde os novos modos comunicação e
participação social tendem a embaçar os limites entre as atividades sociais
diferentemente do que ocorria no passado. Além do que o alto nível de
telecomunicações resultou em informações excessivas e crescente participação a
distância (acesso eletrônico) de indivíduos em várias atividades sociais como trabalho,
bancos, compras, educação, recreação, lazer, turismo, etc. Seu contexto evolutivo,
também é proveniente do declínio econômico das cidades do Reino Unido, Europa
Ocidental e América do Norte no final da década de 1970 (ROGERSON &
ROGERSON, 2014; MURILLO, VAYÁ, ROMANÍ & SURIÑACH, 2013). Na visão de Al-
saad e Ababneh (2017) esses fatores econômicos condicionaram o turismo a ser uma
solução catalizadora para impulsionar as economias urbanas e no entendimento de
Ashworth (1989), ele tornou-se a força motriz ativa nas economias das cidades.
Após esses eventos, o campo do turismo urbano tornou-se um tópico mais
pesquisável, a partir da década de 90, atraiu muitos artigos de periódicos, livros
didáticos e coleções editadas de livros (LAW, 1996; SHAW & WILLIAMS, 1994,
GARCÍA-HERNÁNDEZ, DE LA CALLE-VAQUERO e YUBERO, 2017). Reforçando
essa afirmação, o turismo urbano realmente começou a surgir nos anos 90, pois,
embora há muito tempo algumas cidades já recebessem visitantes, os fluxos turísticos
aumentaram e por conseguinte, o turismo acabou assumindo um papel de destaque
na agenda urbana e as pesquisas de turismo redescobriram a cidade (GARCÍA-
HERNÁNDEZ, DE LA CALLE-VAQUERO e YUBERO, 2017). Para melhor
visualização desse aspecto evolutivo, abaixo uma linha temporal do turismo urbano
no campo mercadológico e cientifico:
95

Figura 07: Cronologia evolutiva do turismo urbano

1950, 60, 70 1980 e 90


•Turismo de massa altamente organizado; •Novas formas alternativas e contemporâneas do
•Declínio econômico das cidades Reino Unido, turismo urbano onde o indivíduo busca uma
Europa Ocidental e América do Norte no final da dimensão formal do ambiente;
década de 1970; •Mudança associada ao espírito de nova
•Foco no turismo urbano como função modernidade e desenvolvimentos tecnológicos;
catalizadora para impulsionar economias •Novos modos comunicação e participação social
urbanas; tendem a embaçar os limites entre as atividades
•Férias entendidas como uma interrupção no sociais diferentemente do que ocorria no
trabalho e de outras atividades cotidianas na passado.
busca individual fazer algo diferente em qualquer •Na década de 90, o campo do turismo urbano
ambiente agradável. tornou-se um tópico mais pesquisável;
•Maior destaque na agenda urbana e as pesquisas
de turismo redescobriram a cidade nesse
período.

Fonte: Elaborada pela autora com base nos autores supracitados.

No viés cientifico, observa-se a falta de centralidade e parcos estudos, antes


dos anos 80, as pesquisas sobre turismo urbano eram fragmentadas e não
reconhecidas como um campo distinto (EDWARDS; GRIFFIN e HAYLLAR, 2008).
Para esses mesmos autores, os primeiros estudos foram: Burgess (1975), Pearce
(1977) com base nas ideias de Lynch (1960) sobre imagens de cidades; Blank e
Petkovich (1979); e Judd e Collins (1979). Nos anos 80 apareceram as primeiras
referências na literatura acadêmica ao turismo urbano como fenômeno distinto e área
de pesquisa. Vandermey (1984) analisa que de todos os tipos de turismo, o turismo
urbano é um dos mais incompreendidos e subestimados, corroborando com essa
perspectiva, Pearce (1987) afirma sobre a escassez de pesquisas sobre turismo
urbano. O interessante notar que Hall (1987), conhecido no campo do planejamento
turístico, chama a atenção para o potencial do turismo de contribuir para a
regeneração de centros urbanos industriais em declínio.
Ainda na visão de Edwards, Griffin e Hayllar (2008), em conjunto a literatura
aborda tópicos que incluem a teoria geral do turismo urbano, dos quais são exclusivos
do mesmo ou são principalmente fenômenos urbanos e alguns comuns a várias
formas de turismo, porém, podem assumir características particulares em um contexto
urbano. São temáticas com o foco principal nos fenômenos urbanos que incluem a
conservação do patrimônio, a estrutura e a infraestrutura urbanas dos recintos
turísticos, a regeneração do centro da cidade e as margens dos rios bem como as
atividades realizadas especificamente em contextos urbanos, como compras em
96

grandes cidades, artes, jogos de azar, cassinos e comer fora. Já os tópicos mais
genéricos incluem festivais e eventos, impactos culturais, econômicos e sociais,
atitudes dos turistas e marketing de destinos. No entanto, um artigo intitulado "Turismo
urbano: um desequilíbrio na atenção” despertou um grande interesse, de autoria de
Ashworth (1989, p. 33) onde afirma que:
Simplesmente houve um viés rural notável tanto na quantidade da produção
literária quanto na qualidade das teorizações sobre o turismo. Isso por si só
é notável, porque a maioria dos turistas é originária das cidades, muitos as
procuram como destinos de férias e os impactos sociais e econômicos do
turismo são substanciais nas áreas urbanas. Assim, a falha em considerar o
turismo como uma atividade especificamente urbana impõe uma restrição
séria que não pode deixar de impedir o desenvolvimento do turismo como
objeto de estudo sério (1989, p.33).

Desta forma, o notável crescimento da pesquisa em turismo urbano levou a


uma proliferação de vários estudos (ASHWORTH e PAGE, 2011). Incluíam
abordagens holísticas focadas nos locais de destino com estudos muito mais
específicos sobre um ou dois aspectos do impacto além da produção de estimativas
sobre os efeitos do turismo na economia urbana com base no modelo de insumo-
produto (PARLETT, FLETCHER e COOPER, 1995). A cientificidade do turismo
urbano, também chamado de turismo nas cidades, não resultou em uma produção
literária abundante, quanto mais estudos são feitos sobre turismo urbano, mais
percebe-se a complexidade desse fenômeno e as implicações que tem na sociedade,
cultura, economia e meio ambiente, pois, ao contrário de outros destinos onde o
turismo é mais fácil de ver, no sistema urbano, a identificação das funções do turismo
é mais complicada (GÂRBEA, 2013). Para Ashworth e Page (2011) o turismo urbano
é uma forma de turismo mundial extremamente importante, mesmo tendo recebido
uma atenção desproporcionalmente pequena de estudiosos do turismo ou da cidade,
principalmente ao vincular a pesquisa teórica aos estudos turísticos de forma
generalista, por conseguinte, apesar de seu significado e relevância, o mesmo acabou
permanecendo imprecisamente definido e vagamente demarcado, com pouco
desenvolvimento de uma estrutura sistemática de entendimento.
Face ao exposto e diante do impasse de que, se o turismo urbano foi
amplamente ignorado por uma geração de estudiosos comprometidos com o estudo
do turismo e das cidades, como isso pode ser importante o suficiente para justificar
uma investigação mais aprofundada dessa temática? A rota de fuga reside no
paradoxo de que, embora tenha havido insuficientes trabalhos específicos sobre o
mesmo, houve uma quantidade considerável de produção acadêmica sobre turismo
97

nas cidades sendo isso um reflexo da realidade básica de que a maioria dos
habitantes dos países ocidentais vive e trabalha não apenas nas cidades mas também
nas regiões urbanizadas, o que nas sociedades, seria impossível não definir muito,
senão a maioria dos resultados dos estudos científicos em ambientes urbanos
(ASHWORTH, 1992). Como resultado disso, Ashworth e Page (2011) catalogaram
essas pesquisas, concluindo que numa dimensão da escala crescente da pesquisa
em turismo urbano houve uma proliferação relativa de subtemas em linha com o
desenvolvimento mais amplo do turismo destacando a natureza multidisciplinar de
muitas contribuições acadêmicas que permanecem fracamente conectadas por
construções teóricas ou conceituais. Como complementação a essa análise, de forma
mais detalhada abaixo, o quadro 02 reúne os principais autores dedicados também a
essa temática com um espectro de resultados acadêmicos.
Quadro 02: Autores e suas contribuições teóricas e conceituais para o estudo do
turismo urbano em ordem cronológica.
AUTORES/ANO CONTRIBUIÇÃO
Ashworth (1989) Turismo urbano: desequilíbrio na atenção

Ashworth e Tunbridge (1990) A cidade histórica e turística

Burtenshaw et al (1991) Usuários da cidade (turistas, moradores e


visitantes de lazer)

Garreau (1991) Cidades periféricas como centros de


consumo de serviços

Mullins10 (1991) Urbanização Turística

Law (1992) Turismo urbano e sua contribuição para a


regeneração econômica

Roche (1992) Megaeventos e micro modernização: na


sociologia de um novo turismo urbano

Dear (1994) Geografia humana pós-moderna: uma


avaliação preliminar

Mullins11 (1994) Relações de classe e urbanização do


turismo

Page (1995) Turismo urbano como sistema

10 acrescentado por essa pesquisadora no escopo desse estudo.


11 acrescentado por essa pesquisadora no escopo desse estudo.
98

Castells (1996) A ascensão da cidade em rede

Zukin (1996) As culturas das cidades e o ambiente pós-


moderno

Mazanec e Wöber (1997, 2009) Gestão de cidades para o turismo

Thrift (1997) Cidades sem modernidade, cidades com


magia

Gladstone12 (1998) Urbanização do Turismo nos EUA

Hannigan (1998) Cidade da fantasia

Dear and Flusty (1999) Envolver o urbanismo pós-moderno

Law (2002) Síntese do Turismo Urbano

Page e Hall (2002) Modelagem do turismo na cidade pós-


moderna

Ashworth (2003) Turismo urbano: desequilíbrio na atenção

Mommas (2004) Clusters culturais e a cidade pós-industrial

Beedie (2005) A aventura do turismo urbano

Gibson e Kong (2005) Economia Cultural

Mordue (2007) Turismo, Governança Urbana, Espaço


Público e a Cidade.

Edwards; Griffin e Hayllar (2008) Agenda de pesquisa para o turismo urbano


australiano

McNeill (2008) O hotel e a cidade

TOTAL DE PUBLICAÇÕES: 26

Fonte: Elaborado pela autora com base em Ashworth e Page, 2011.

Os resultados apresentados no quadro 02, tiveram uma cronologia de 1989 até


2008, porém, cabe ressaltar que a atualização desse estado da arte foi feita por meio
do levantamento realizado por essa pesquisadora no EBSCO. Os mesmos acabam
por trazer um panorama recente das pesquisas cientificas sobre o turismo urbano e

12 idem.
99

suas vertentes bem como principais autores que discorrem sobre esse assunto,
acarretando no uso desses autores para a construção do marco teórico principal
coadunado com os objetivos da tese.
De forma sintética, abaixo a Figura 08 fornece uma visão geral do escopo e
extensão do surgimento de subtemas na pesquisa em turismo urbano, com base em
Ashworth e Page (2011).
Figura 08: Principais temáticas das pesquisas em turismo urbano

Impactos Sustentabilidade

Agendas Percepção e
Satisfação dos
Culturais Visitantes

Gestão e Regeneração
Planejamento Urbana

Marketing
place e Modelos
Imagens

Tipologias de
Transporte e
Infraestrutura cidades
turísticas

PESQUISAS
DE Estudos de
Teorias
caso das
Sociais TURISMO cidades
URBANO

Fonte: Elaborada pela autora com base em Ashworth e Page, 2011

Ao associar o assunto supracitado ao objeto de pesquisa dessa tese e com


base no quadro 05 e na figura 09 em consonância com as leituras realizadas por essa
autora em mais de 50 artigos científicos, teses, dissertações e livros específicos na
literatura acadêmica sobre turismo urbano, percebe-se que estudos que relacionem o
turismo urbano com a interpretação patrimonial é inexistente. No entanto, dois tópicos
são comuns e predominantes nessas pesquisas: Cidades e Centros Históricos.
Essa literatura reconhece uma mudança contínua de perspectiva em direção a uma
abordagem mais ampla para analisar, medir e monitorar o turismo e seu papel no
contexto urbano (PASQUINELLI, 2017). Salienta-se o caráter urbano do turismo, o
fato de que a atividade turística é apenas uma economia dentro do sistema urbano e
é apenas uma das muitas funções urbanas, sendo esse aspecto central para a
“urbanidade” do turismo (ASHWORTH e PAGE, 2011). Assim, existe uma
necessidade de mudar a unidade de análise adotada para os estudos de turismo
urbano ou na cidade, seguindo uma mudança no objeto de observação - o foco mudou
100

para o “caráter urbano” do turismo na cidade - para estar firmemente enraizado na


dinâmica mais ampla da mudança urbana (PASQUINELLI, 2017).
No entendimento de Pasquinelli (2016) uma perspectiva conceitual dos estudos
do turismo urbano deve complementar a análise das “indústrias” (empresas) do
turismo com uma compreensão do conjunto de conexões entre o turismo e setores
que produzem bens e serviços normalmente não voltados para turistas. Ou seja, os
esforços metodológicos e empíricos devem buscar identificar e medir a conectividade
interna do turismo urbano, especificamente sua capacidade ou característica
intrínseca de conectar-se com os múltiplos componentes do sistema econômico local
(PASQUINELLI, 2017). Porém, é interessante notar o contraste entre as visões da
“indústria” e da academia em relação à definição de prioridades para a pesquisa em
turismo urbano, o que acaba por constatar que as empresas tenham enfatizados mais
as questões que poderiam servir aos seus interesses comerciais diretos, em vez da
reflexão mais ampla dos interesses das outras partes envolvidas direta ou
indiretamente, como o meio ambiente (EDWARDS, GRIFFIN, e HAYLLAR, 2008).
Para esses mesmos autores, essas questões de impacto eram bastante proeminentes
na visão dos acadêmicos, contraditoriamente foram percebidas como menos
importantes pela indústria, com a exceção de identificar os benefícios do turismo para
as comunidades locais. Desse modo, não se pode buscar uma sobreposição de um
ponto de vista sob o outro, pois, ambos são relevantes e complementares, onde
devem ser considerados na formulação de qualquer agenda de pesquisa em turismo
urbano ou outra modalidade turística que tenha o intuito de melhoria na
competitividade de destinos turísticos.

No contexto de uma questão ampla, como o desenvolvimento sustentável do


turismo urbano, as prioridades do setor não podem ser ignoradas para as
empresas permanecerem competitivas e viáveis. Talvez não seja de
surpreender que as prioridades dos acadêmicos reconheçam a necessidade
de considerar também as questões contextuais mais amplas da
sustentabilidade sociocultural e ecológica. Uma questão sobre a qual houve
um consenso geral diz respeito às lacunas de conhecimento no turismo
urbano e à necessidade de pesquisas dedicadas nessa área, bastante
negligenciada, mas altamente significativa do turismo (EDWARDS, GRIFFIN,
e HAYLLAR, 2008 p.1049-1050).

Pesquisas nas últimas décadas em turismo urbano destacaram a contínua


expansão e diversificação do turismo no âmbito de apropriação do espaço, mas
também temporalidades e atores envolvidos, especialmente em contextos
metropolitanos, podendo ser entendido simultaneamente como causa e consequência
101

de dois processos interconectados (LE GALLOU, 2018). Todas essas evoluções no


turismo urbano, de acordo com Le Gallou (2018) definem o contexto para uma
crescente importância de novas práticas espaciais que se desenvolvem em áreas que
ainda não estavam integradas ao setor, particularmente notáveis são as contribuições
para a renovação de suas formas em termos de práticas e imaginários bem como as
implicações espaciais dessas mudanças para cidades mundo todo.
Gheorghilaş (2004) evidencia que as diversas formas de turismo interferem no
turismo urbano, ou seja, podem existir no seu âmbito as tipologias de turismo cultural,
de negócios, esportivo entre outras que atendam às necessidades tanto de visitantes
como de residentes. Concordando com essa visão de Gheorghilaş, Ashworth (1992)
compreende que o turismo urbano ocorre ao lado do turismo cultural, de compras,
gastronômico e similares, pois, o aspecto da palavra “urbano” abrange uma variedade
implícita de atividades específicas, sendo os locais urbanos a principal área geradora
do mundo para turistas e da mesma forma eles recebem uma proporção substancial
da população mundial. Porém, para Lerario (2018), é um fenômeno indubitavelmente
mais complexo do que simplesmente “o turismo realizado nas cidades” e não em
outros locais e não é conceitualmente homogêneo como as expressões “turismo
marítimo” ou “turismo rural”, em particular, para ele, o termo "turismo urbano" pode
ser considerado quase como definidor de uma categoria, na qual o turismo cultural, o
turismo de conferências, o turismo esportivo e muitos outros podem ser considerados
possíveis "turistas urbanos".
Entretanto, a compreensão do turismo urbano depende de um entendimento
prévio do contexto de urbanidade em que está inserido, ele não é como outros
adjetivos turísticos, na medida que suas especificações adicionais, por exemplo
culturais (inclusos festival ou arte), histórico, congresso, esporte, gastronômico, vida
noturna e compras, também utilizam dos serviços e na operação de uma variedade
de mercados turísticos, em que o cerne dessa diversidade reside na relação entre a
cidade e o turista, mas é apenas metade da interação (ASHWORTH e PAGE, 2011).
Então, desta forma, em que sentido existe um turismo urbano? Adicionando o adjetivo
urbano ao turismo, localiza-se uma atividade no espaço que não define seu contexto
e oferece limitações, pode ser vislumbrada como não mais que uma descrição de um
outro subconjunto de possíveis atividades em que as pessoas se envolvem durante
as férias ou se já têm turismo de montanha, no deserto ou beira-mar, certamente,
102

turismo urbano é igualmente uma possibilidade válida, um caso particular de turismo


que faz parte da especificidade da vida urbana (ASHWORTH, 1989 e 1992).
Complementarmente, Ashworth (1992) afirma que os objetivos de desenvolver e
criar atrações são os resultados da estratégia de desenvolvimento de uma cidade
como destino turístico, podendo ela optar por desenvolver vários tipos diferentes de
turismo urbano: turismo cultural, turismo de eventos, turismo de saúde, turismo
esportivo e recreativo, turismo de negócios, turismo para jovens, turismo educacional
e assim por diante, atraindo diferentes segmentos de mercado favorecendo o
comércio turístico nas cidades que podem desfrutar de operações durante todo o ano.
Em suma, conclui-se, com base na discussão teórica abordada, que o turismo urbano
é uma dimensão macro onde podem ocorrer simultaneamente as mais diversas
tipologias de turismo tanto sob a ótica da oferta como da demanda turística, podendo
as mesmas atuarem na localidade resguardando suas características e
especificidades. Assim, levando em consideração a formação acadêmica em turismo
dessa pesquisadora, a literatura estudada e adotando o viés geográfico, no
entendimento dessa autora existem apenas duas dimensões turísticas gerais:
Turismo Urbano (ou em áreas urbanas) e Turismo na Natureza13 (ou em áreas
naturais). Convém salientar, que as duas dimensões possuem os preceitos basilares
de deslocamento, tempo ( permanência mínima de 24 horas até 1 ano), espaço e ser
humano (motivações e fluxo de pessoas) para ser considerado turismo, porém, sua
diferenciação reside na especificidade do local ou paisagem (urbana ou natural/rural),
aonde a atividade turística acontece com a reunião de atrativos, serviços e
infraestrutura turística necessárias além do fluxo de turistas que se deslocam para
essas áreas com a mais diversas finalidades. Também, faz-se necessário refletir
sobre discussões referente ao Turismo Rural (ou em áreas rurais)14, no entanto,
considera-se que no âmbito cientifico não há consenso gerando discrepâncias
conceituais, existindo assim, a necessidade latente de estudos futuros com
aprofundamento e discussões mais ampliadas em relação ao turismo urbano e turismo
na natureza como dimensões gerais/guarda-chuvas ou acrescido do turismo rural

13 consiste na visitação de territórios predominantemente naturais com o objetivo de apreciar e fruir da


natureza ou na prática de atividades e experiências diretamente relacionadas com recursos naturais
(SILVA, 2013, p.165).
14 é um conceito que abarca toda a atividade turística no interior de um país e endógena suportada
pelo ambiente humano e natural (SILVEIRA, 2001).
103

como terceira dimensão, suscintamente, residindo nos termos natureza e rural o


contraponto ao urbano.
É importante ressaltar uma característica singular distinta do turismo em um
contexto urbano, é que ele é apenas uma das muitas atividades econômicas dentro
de uma cidade e deve competir com várias outras indústrias por recursos como mão-
de-obra e terra, tendo isso, implicações para a sensibilização e a importância
percebida de questões relacionadas ao turismo entre empresas, governo e
comunidades residenciais numa complexa mistura de restrições ao desenvolvimento,
com fatores ambientais naturais (geralmente menos significativos), patrimônio cultural
e fatores residenciais mais significativos do que em outras formas de turismo
(EDWARDS, GRIFFIN e HAYLLAR, 2008). Desta forma, existe a necessidade de uma
reflexão sobre as características do turismo urbano, que nada mais é do que uma
relevante atividade econômica e social, onde a dimensão cultural das cidades é um
dos principais fatores que atraem visitantes.
Na visão de Barrera-Fernandez (2015), um dos principais impactos do turismo
urbano é a intensificação do processo de seleção do patrimônio, o que desperta para
a falta de interesse nos ativos menos comerciais. Ele também aborda que outro
impacto “é a homogeneização das cidades turísticas-históricas, envolvendo o tema
das ruas mais visitadas e a perda de mix de moradores e atividades” (BARRERA-
FERNANDEZ, 2015, p.163). Sinteticamente, o patrimônio cultural é um dos
componentes dos produtos culturais-turísticos de maior atração citadina e um
elemento básico da estrutura da cidade moderna. Ashworth e Page (2011) afirmam
que o patrimônio é usado instrumentalmente nas construções do turismo urbano e o
uso da herança enfatiza o passado único do local, como ruas de paralelepípedos.
Essas interfaces imanentes ao patrimônio cultural contribuem para a formação de
áreas turísticas e, consequentemente, para a incorporação das cidades ao processo
de desenvolvimento do turismo cultural, no qual consiste no segmento da atividade
turística em que o acervo cultural de uma comunidade constitui-se no principal motivo
de visitação (BENI, 1998; BARRETTO, 2000).
A modalidade ou tipologia que mais cresce no turismo urbano é a do turismo
cultural, isto é, o que está ligado ao patrimônio e aos recursos materiais em particular,
onde os seus efeitos positivos nas economias locais são principalmente exercidos
pela promoção do patrimônio tangível e o tecido construído é o principal componente
do ambiente urbano e da morfologia, hospedando quase a totalidade do tempo de
104

atividades de turistas e habitantes (LERARIO, 2018). O mesmo ressalta que a


importância do ambiente construído (dos edifícios especificamente) é central na
consideração da sustentabilidade do turismo e do desenvolvimento urbano em geral.
O ambiente construído é considerado na conservação do patrimônio cultural e na
melhoria da paisagem urbana como um aspecto social básico (LOZANO-OYOLA,
BLANCAS, GONZÁLEZ, E CABALLERO, 2012). O turismo cultural por meio do uso
do seu patrimônio é um componente relevante do turismo urbano e desenvolve-se
principalmente dentro do turismo de cidades ou urbano (RICHARDS, 2013).
Do ponto de vista crítico, isso acaba por representar, para Williams e Ponsford
(2009), um exemplo de paradoxo do turismo, isto é, a tendência da atividade turística
de esgotar os mesmos recursos que ela precisa para se alimentar. Para minimizar
essa situação, deve-se procurar fazer com que o turismo cultural esteja alicerçado na
identidade e originalidade do contexto e região local (UNITED NATIONS
EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION-UNESCO, 2009) e
transformando o potencial desse patrimônio em um valor adicional na atratividade
turística pelo qual a comunidade local possa beneficiar-se, sem danificar os
monumentos (LERARIO, 2018).
Vale destacar que o patrimônio cultural:
Concentra-se no número de locais protegidos e utiliza contribuições
voluntárias e a intensidade do uso do patrimônio como indicadores. O aspecto
da paisagem urbana concentra-se, entre outros, nos indicadores de custos
de reforma predial e na melhoria do ambiente urbano em relação aos
recursos disponíveis. Pensamos que é fundamental ampliar os indicadores
sobre o ambiente construído, principalmente no turismo cultural, em que ele
é uma das forças motrizes dos fluxos turísticos. Também é necessário
ampliar a perspectiva da análise, considerando o ambiente construído, a
dinâmica do desenvolvimento urbano e sua relação com os fenômenos
turísticos como foco central da questão (LERARIO, 2018, p.10).

O turismo cultural capitaliza os recursos já existentes na cidade histórica e a


utilização de infraestruturas para o turismo e serviços da cidade proverá apenas
custos marginais aos equipamentos existentes quando comparado com o esforço
necessário em outros setores e em áreas onde existem poucas alternativas
(ASHWORTH E TUNBRIDGE, 1990). Existe a necessidade de uma “abordagem
integradora do conceito de cultura, patrimônio e turismo urbano, domínios que até
agora ficaram separados”. (GONÇALVES, 2007, p.111).
Na figura 09 têm-se os elementos principais que unem o turismo urbano e
cultural no mesmo constructo de análise em prol de uma abordagem associativa e que
integra.
105

Figura 09: Objetos centrais de estudo do turismo urbano e cultural

TURISMO TURISMO
URBANO CULTURAL
• CIDADE •HERANÇA
E
PATRIMÔ
NIO
CULTURAL

Fonte: Elaborada pela autora com base em Gonçalves (2007)

Ashworth (1989), em seu artigo seminal, descreve quatro abordagens existentes


para analisar o turismo urbano:
1. Abordagem das instalações: considera a análise espacial da localização
das atrações turísticas, instalações, infraestrutura e zonas - incluindo
rotas de transporte, hotéis e zonas históricas e comerciais;
2. Abordagem ecológica: concentra-se no estudo da estrutura ou morfologia
das áreas urbanas, que parecem evoluir e funcionar de maneira
sistemática e orgânica. Uma característica dessa abordagem é a
identificação de zonas ou distritos funcionais, por exemplo, núcleo
histórico, área de mercados, área industrial;
3. Abordagem do usuário: foco nas características, atividades, motivações,
propósitos e atitudes dos turistas - particularmente relacionados ao
marketing do turismo.
4. Abordagens políticas: surgem das preocupações dos governos das
cidades de acomodar e / ou promover o turismo, concentrando-se em uma
série de questões políticas, incluindo fornecimento de infraestrutura e
marketing de destino.

Reforçando as abordagens de Ashworth (1989), os próximos autores


consideram três aspectos importantes no conceito de turismo urbano. Primeiro, o
fornecimento de instalações de turismo em áreas urbanas, como hotéis, restaurantes,
lojas, atrações, agentes de viagens, vida noturna entre outros serviços de apoio a
106

turistas (MORRISON, 2014, KOLB, 2006; JENSEN-VERBEKE, 1986). Entretanto, um


segundo ponto a ser contemplado, são as necessidades da demanda das mais
variadas classes demográficas, com diversos motivos, padrões e comportamento
(ZATORI, 2013). O último aspecto surge da perspectiva da governança, na qual
governo, associações e outras autoridades interessadas (SCOTT & COOPER, 2010)
criam uma política abrangente para sustentar um ecossistema turístico (MATHIS, KIM,
UYSAL, SIRGY E PREBENSEN, 2016). Com base em Inskeep (1991) e Law (1996),
é possível resumir os seguintes princípios básicos do turismo urbano:

➢ A hotelaria ou outras instalações de acomodação devem estar localizados nas


áreas de fácil acesso, com um ambiente atraente e seguro, e próximo a pelo
menos algumas atrações, lojas, área de entretenimento;
➢ Sinalização turística em toda a cidade, principalmente para atrações a pé;
➢ Transporte público eficiente vislumbrando a possibilidade de organização de
um transporte público especial para turistas (ônibus abertos, barcos etc. para
passeios turísticos) e serviço de táxi;
➢ Pedestrialização das áreas de turismo para incentivar a caminhada com um
sistema de calçada bem desenvolvido, passarelas por parques e
pedestralização de áreas comerciais. As possibilidades dos turistas
caminharem na área central e de seus hotéis até as atrações devem ser
analisadas especialmente porque muitos turistas preferem caminhar para ter
experiência direta com o ambiente urbano;
➢ Criação de poucas rotas turísticas para passeios turísticos (passeio de uma
hora, passeio de duas horas, passeio de meio dia);
➢ Melhoria da aparência da cidade com paisagismo, estilos arquitetônicos
interessantes, sistema de parques e abertura de vistas;
➢ Aproveitando as áreas à beira-mar, localizando tipos interessantes de
estabelecimentos comerciais, praças e passarelas ao longo da orla, orientadas
para a vista da água. Na aplicação para o objeto de estudo dessa tese,
especificamente o Centro Histórico de Manaus, aproveitar essa ideia para a
contemplação do Rio Negro;
➢ Conservação de prédios históricos com reforma de seus interiores para funções
modernas, preservação de distritos históricos completos e desenvolvimento de
pequenos museus;
107

➢ Melhoria das atrações turísticas e controle da capacidade de visitantes para


evitar congestionamento da degradação ambiental das atrações;
➢ Infraestrutura básica adequada e eficiente com bons serviços de transporte,
assegurando o fornecimento de água, esgoto e disposição de resíduos sólidos
com a finalidade de não sobrecarregar o sistema levando a problemas
ambientais;
➢ Serviços de informação aos turistas com a disponibilidade de instalações
turísticas e de recursos multilíngues nas empresas de turismo, quando
necessário. Além da abertura de centros de informações para visitantes em
locais estratégicos, em áreas e ruas de turismo intensamente usadas, cabines
de informações turísticas localizadas nas esquinas;
➢ Segurança elevada dos turistas, controle do crime nas áreas de turismo (e em
outros lugares) com segurança policial suficiente e informar os turistas sobre
medidas de proteção;
➢ Atendimento médico organizado garantindo que os serviços estejam
disponíveis para os turistas, inclusive através de informações sobre eles nas
instalações de alojamento;
➢ Planejamento para que os benefícios do turismo sejam absorvidos diretamente
pela atividade favorecendo aos moradores/residentes o usufruto do ambiente
urbano reforçando a sensação de bem-estar e pertencimento deles em relação
à sua cidade;
➢ A parceria público-privada é uma obrigação, tanto quanto a coordenação eficaz
das atividades, a fim de melhorar a qualidade integral da oferta turística da
cidade garantindo o monitoramento contínuo das atividades turísticas.
No compasso desse processo, o planejamento do desenvolvimento do turismo
urbano ou de cidade envolve seis passos norteadores (ASHWORTH,1992, p.139):
✓ Estudar as situações existentes e pesquisar as atitudes dos moradores em
relação ao turismo;
✓ Formular um plano de uso da terra;
✓ Avaliar atrações primárias e secundárias (atrações existentes e potenciais);
✓ Analisar o mercado e selecionar mercados-alvo;
✓ Elaborar um plano de investimentos de acordo com as oportunidades e
demandas do mercado;
108

✓ Integrar os objetivos do desenvolvimento do turismo da cidade e alinhá-los


aos objetivos econômicos e sociais da cidade e da região em geral.

Como parte desse processo de desenvolvimento, é necessário a identificação


do produto do turismo urbano para sua formatação. Jensen-Verbeke (1986) e Kolb
(2006) elegeram três elementos que compõem esse produto: primários, secundários
e adicionais.

A) Elementos primários: são instalações culturais (cinemas, museus, teatros,


exposições), esportivas, entretenimento e diversão, características físicas
(monumentos e estátuas antigas, portos, água, canais e orlas de rio,
parques, áreas verdes, templos religiosos, prédios relevantes e padrão
histórico de ruas e socioculturais (folclore, língua, cordialidade, usos e
costumes, segurança, vivacidade e ambiente do lugar);
B) Elementos secundários: consistem nas instalações e serviços de apoio que
os turistas consomem durante a visita, como hotéis, mercados e
estabelecimentos comerciais;
C) Elementos adicionais: é a infraestrutura turística que condiciona a visita,
como acessibilidade, espaços de estacionamento, guias turísticos,
sinalização, mapas e centros de informação turística.

Percebe-se que os produtos do turismo urbano supracitados são


predominantemente aspectos tangíveis, de fácil materialidade ou chamados de
atrações de destino, sendo esses elementos relevantes como objetos de interesse
para que os turistas cheguem aos destinos (HERMAWAN; WIDIYANTI;
MAYANGSARI; NOVANI, 2018).
Sabedores que vivemos num mundo globalizado, convém estudar
comparativamente o desenvolvimento dessa atividade em outros continentes, mesmo
sabendo que cada lugar possui sua especificidade e singularidade, assim, Gomes
(2008) aponta algumas tendências que impulsionaram a eclosão do turismo urbano
na Europa: 1) mobilidade recreativa e, particularmente, o turismo de curta duração; 2)
renovada atração pelos recursos e produtos culturais e patrimoniais que as cidades
concentram: eventos e exposições, grandes infraestruturas e equipamentos culturais,
espaços dotados de elevado valor patrimonial e simbólico, como os centros históricos,
109

que foram incorporando atividades de recreação e animação e por último 3) avanço


de uma nova geração de políticas de regeneração das paisagens urbanas, baseada
no princípio da captação dos mercados e dos fluxos turísticos, o que constituiria num
importante fator de competitividade das cidades no sistema urbano globalizado.
A complexidade do turismo urbano é diretamente influenciada pelo tamanho da
cidade, a sua história, seus patrimônios, a morfologia urbana, a qualidade do
ambiente, a localização geográfica e a imagem de destino (BĂDIŢĂ, 2013). Kotler e
outros autores (2006, p.168), salientam a importância de lugares conservarem o sabor
do passado como um aspecto decisivo no seu desempenho competitivo e interno, pois
“muitas cidades desperdiçam oportunidades de marketing e outras exploram sua
personalidade local e seu patrimônio histórico sabiamente”. As atividades turísticas e
o crescente número de turistas induzem processos de transformação espacial, como
mudanças na morfologia do lugar, nas estruturas físicas, nos padrões funcionais e no
uso do espaço público (SUDI, 2013). Jansen-Verbeke (1997) revela que os turistas
que visitam cidades históricas são atraídos pela concentração espacial de edifícios
como cenário para passeios turísticos e diversas oportunidades para atividades
culturais, podendo eles serem fortemente atraídos pelas relíquias conservadas do
passado.
De forma mais aprofundada, Chias (2007) esclarece que dentro do seu processo
estratégico de implementação da divulgação de um destino, o sistema que utiliza para
a valorização dos recursos engloba três características: unicidade; valor intrínseco e
caráter local. Unicidade significa o valor único do recurso na cidade, região, país,
continente ou mundo. Intrínseco é a tipificação do recurso dentro de sua própria
categoria. Já o caráter local é o valor a ser outorgado a um recurso por ser típico ou
característico do lugar, atribuindo-lhe sempre um diferencial pelo fato de ser próprio,
fazendo parte da identidade local e adicionando o aspecto de autenticidade no
atrativo. A identidade do núcleo receptor torna o destino único e valioso, os elementos
do núcleo de identidade devem refletir o significado e a essência do destino (LIN;
PEARSON; CAI, 2011). Corroborando com esse processo de valorização de um
destino, Gomes (2008) menciona que alguns lugares se tornam atrações turísticas
obrigatórias devido a essa procura incessante de significados originais por parte dos
turistas, onde essa busca pela autenticidade é apenas uma das fórmulas que
aumentam o turismo urbano e cultural, configurando-os como um mercado muito
heterogêneo.
110

Em tela, observa-se um fio condutor entre os conceitos discutidos nessa tese na


relação entre turismo, espaço, paisagem e patrimônio cultural edificado, ou seja, a
evidência da cidade como catalizadora da atratividade turística. Destaca-se que a
delimitação proposta como lócus dessa pesquisa, é o sítio histórico, esse sítio urbano,
que é a cidade, sendo a cidade a base material. Em que o urbano, vai vir na
perspectiva dos objetos materializados, a base técnica, em síntese, tudo aquilo que
foi materializado nessa paisagem na perspectiva de conjunto, a partir das avenidas
Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro. No contexto do espaço-tempo (forma e função)
é que haverá a união entre cidade e o urbano (SANTOS, 1997), onde a diferenciação
entre eles é apontada por Lefebvre (1974) como sendo a cidade a materialização
objetiva do urbano, o resultado, o objeto localizado no tempo e no espaço, já o
urbano seria um contexto maior pelo qual a cidade é o seu principal produto, um
contraponto ao natural/rural. Milton Santos (1997) menciona a relação entre história
urbana e história da cidade:
(..), mas em todos os momentos as formas criadas no passado têm um papel
ativo na elaboração do presente e do futuro. A história da cidade é a das suas
formas, não como um dado passivo, mas como um dado ativo, e esse fato
não pode nos escapar em nossa análise (1997, p.72).

Eixo central, ela torna-se “objeto de estudo do turismo urbano e é procurada por
turistas que desejam fugir de sua rotina diária e que buscam lugares fantásticos”
(URRY, 1990, p.11). Sendo as cidades verdadeiros polos de arte, cultura e patrimônio,
por conseguinte, sempre constituíram lugares de relevo dos circuitos turísticos,
propiciando um impulso no turismo urbano e cultural ao longo das últimas décadas,
pois, nas sociedades modernas ocidentais, o fenômeno turístico apresentou-se como
fator decisivo de reorganização dos territórios, das condições de ordenamento do
espaço e das políticas de planejamento e desenvolvimento, em especial a visibilidade
nos espaços urbanos (GOMES, 2008). Por sua natureza epistemológica, as cidades
surgem da materialização do urbano, da concentração de pessoas, do desenrolar de
atividades produtivas, tornando o espaço urbano dinâmico e polissêmico (SIVIERO,
2006).
Ao verbalizar a palavra “cidade” remete-se, imediatamente, ao aspecto de
urbanidade e adensamento populacional, no entanto sua definição, com base em
dicionários e no senso comum, está relacionada a uma área urbanizada ou
agrupamento urbano que concentra um número relevante de pessoas que exercem
atividades dependentes entre si com a presença de estabelecimentos residenciais,
111

comerciais, industriais, hospitais, praças, ruas, avenidas além dos mais diversos
serviços públicos e privados em seu núcleo espacial. No entendimento de
Castrogiovanni (2013), ela é um produto que faz parte da complexidade do espaço
geográfico e no Brasil o conceito de cidade está associado ao aspecto político, ou
seja, são sedes administrativas dos municípios que, por sua vez, representam a
menor parcela do território com gerenciamento político próprio. Complementando,
Wassal e Salles (2019) supõe que a mesma seja “uma dimensão pública que se opõe
ou complementa a dimensão privada da vida cotidiana, adquirindo diferentes
contornos ao longo do tempo que redefinem a relação entre espaço privado e espaço
público” (p.387). A visão de Portas (1969, p.122) é sistêmica, pois, para ele a cidade
é um conjunto de relações entre partes e designa um conceito de habitat “que potencia
a comunicação e a colaboração, a troca se quiser, e se é estrutural a relação entre
cidade social e a cidade arquitetural”.
A cidade é parte do planeta terra, fruto da construção social e cultural carrega na
sua corporeidade, a totalidade das condições de sua [re]construção, sintetizando um
feixe de relações que são produtos culturais e a materialização do discurso, os textos
que a compõe revelam lógicas no modo de pensar a ordenação territorial
(CASTROGIOVANNI, 2013). Na visão poética de Italo Calvino (1990):
A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das
recordações e se dilata. (...), mas a cidade não conta o seu passado, ela
contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das
janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros
das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes,
esfoladuras (CALVINO, 1990, p.14-15).

Heeley (2015, p.37) citou um pensamento do cantor Ben King que escreveu a
seguinte frase no Sunday Times sobre suas preferências urbanas: “As cidades são o
coração e a alma de um país, e eu prefiro ficar na cidade e ouvir música, ver pessoas
e absorver a atmosfera”. O envolvimento desses complexos processos de recriação
de narrativas e imagens sobre as cidades são articulados com transformações
morfológicas e funcionais do espaço urbano, redefinindo continuamente a identidade
dos lugares e suas formas de relacionamento com a cidade (GOMES, 2008).
Resumindo, para compreendê-la como um destino turístico, a base conceitual de
cidade deve ser universalmente entendida como um sistema social e econômico
complexo que oferece muitas facilidades e atrações (JURDANA e SUŠILOVIĆ, 2006).
112

Sua composição não é apenas de um conjunto de elementos observados (fixos),


mas o produto de muitos construtores, detalhes estes que para o turismo podem ser
fundamentais no processo de capitalização da paisagem citadina, onde agregado aos
seus elementos móveis (fluxos), tão importantes como os fixos, acabam por interagir,
aceleram mudanças, criam expectativas e desconstroem o aparentemente rígido
cenário urbano (CASTROGIOVANNI, 2013). O mesmo autor menciona que na maioria
das vezes, a percepção não é total, mas parcial do tempo e do espaço, e nesse
escopo os turistas, fazem parte dos fluxos, eles não são meros observadores deste
espetáculo de interações, mas parte dele. Como parte complementar desse arranjo
sistêmico de fixos e fluxos, Anjos (2004) afirma que para a compreensão do sistema
territorial turístico, os elementos territoriais são divididos em: comunidade local ou
residente e turistas além dos fixos e fluxos (Figura 10):

Figura 10: Diagrama do sistema territorial turístico com base na relação entre
subsistemas fixos e fluxos

Fonte: ANJOS, F. (2004, p. 164)

Na visão desse autor, os subsistemas de fixos compreendem os elementos


naturais (flora, fauna, água, clima, acidentes geográficos, solo, etc.) e os construídos
pelo ser humano (edifícios e estrutura urbanística). Já os fluxos abrangem as
dinâmicas socioculturais (renda, trabalho, escolaridade, manifestações folclóricas,
etc.) e econômicas (produção, distribuição, acumulação do capital).
113

Certa vez, Bell (2007) explanou a importância de adotar a ideia de cidade


hospitaleira para a promoção de cidades pós-industriais em regeneração que se
vendem como espaços de lazer e prazer, porque além de acolher o imigrante, ela
recebe outros hóspedes, de fluxo temporário, ou seja, visitantes que usufruem da
oferta de hospitalidade comercial. Os turistas são uma população temporária sempre
presente como consumidores culturais mesmo naquelas cidades pós-industriais que
até recentemente não eram imaginadas como locais turísticos (MORDUE, 2017). De
forma sintética, esses fluxos (visitantes) podem ter uma leitura muito tênue daquilo
que um determinado espaço urbano pode significar, cada lugar de uma cidade pode
ser um refúgio permanente para alguém ou uma extensão do significado e da riqueza
da existência humana (CASTROGIOVANNI, 2013).
A observância da complexidade, dinâmica e a realidade do ambiente vivido são
fatores fundamentais na busca pela compreensão da natureza interconectada das
diferentes dimensões do sistema urbano. Nesse sentido, vislumbra-se as cidades não
apenas como espaços materiais ou vividos e sim igualmente espaços de imaginação
e de representação, na medida que o seu funcionamento, as formas de serem vividas
são traduzidas em planos e ambientes construídos (GOMES, 2008). Lefebvre enfatiza
(2001) que o direito à cidade é como uma exigência, como o direito à vida urbana,
condição de um humanismo, de uma democracia transformada, direito aos locais de
encontro e de trocas, de ritmos de vida e do uso pleno desses locais e momentos,
direito à produção do espaço urbano como uma construção coletiva. Carlos (2016,
p.108) complementa ao colocar esse direito como: “uma necessidade prática de
superação da contradição valor de uso-valor de troca, que só se resolveria na
superação daquilo que funda o capitalismo: a propriedade privada”. O direito à cidade,
portanto, seria o direito de usufruir do espaço urbano como o reino do uso e do
encontro separados do valor de troca, do domínio do econômico, do mercado e da
mercadoria (LEFEBVRE, 2001). O autor considera ainda a reafirmação de que a
cidade é uma projeção da sociedade sobre um local, história e obra de uma história,
de pessoas e grupos que realizam essa obra em condições de historicidade e das
relações sociais que existem nela, enfim, num processo de simbiose a cidade muda,
sempre, quando a sociedade em seu conjunto também muda.
Para sua atuação como uma atração turística é essencial, em primeiro lugar, ter
um valor patrimonial a ser acompanhado por uma infraestrutura complexa para
atender aos desejos dos turistas, assim no bojo desse pensamento, as preocupações
114

que visam desenvolver infraestrutura, serviços específicos, preservação de centros


históricos estão ganhando cada vez mais atenção nos municípios, contribuindo para
a afirmação das cidades como destinos de viagem (GÂRBEA, 2013). Sua área possui
uma funcionalidade complexa com a utilização de suas zonas, que imprimem uma
especificidade do local, mas também se baseiam na estética arquitetônica que
determina um estilo de vida local e um potencial que pode ser explorado por meio de
atividades turísticas (BĂDIŢĂ, 2013). Na relação turística com as cidades, passam a
existir pequenas nuances entre cultura, história e patrimônio, onde tendem a
confundir-se por meio da submissão dos seus recursos possíveis a uma apropriação
cultural, sendo tudo passível de ser apropriado na cidade, numa relação de
sentimentos, com um forte componente estético e simbólico, tanto da parte dos
agentes turísticos como da parte dos turistas (GOMES, 2008).
A cidade com seus produtos e obras são determinações resultantes do
capitalismo, tornando-a uma mercadoria no movimento do processo de valorização
do valor (CARLOS, 2016). A semiótica do ambiente urbano proporciona um
ensinamento de que a cidade deve ser observada como uma escritura, uma fala a ser
interpretada pelo transeunte com graus variados de legibilidade na percepção
estimulada por sua arquitetura, vias, avenidas, cafés, bares, cores, odores, hábitos,
costumes, história e memória, assim, cada detalhe é relevante na composição do todo
(WAINBERG, 2001). Atuando como sistemas sociais complexos, elas propiciam o
desenvolvimento de visses plurais, impedindo de serem retratadas numa só imagem
ou reduzidas a uma única narrativa. (GOMES, 2008). No livro “A imagem da cidade”,
Lynch (1999) menciona que as imagens são representações mentais influenciadas
por fatores imateriais, porém, estruturadas principalmente por elementos materiais
das cidades, mesmo com o seu partilhamento, essas imagens não deixam de ser
representações mentais individuais. Kevin Lynch reconhece, também, a significância
social de uma área, a sua função, a sua história, seu nome como um outro conjunto
de fatores influenciadores, onde os elementos possuem imaginabilidade (qualidade
que provocar a evocação de uma imagem mental a um dado indivíduo), por exemplo,
as vias, limites, bairros, cruzamentos configuram-se, em contraste, com as formas
físicas estruturantes das imagens individuais sobre as cidades.
No contexto do turismo, Gomes (2008) pretende demonstrar a existência de
várias imagens publicitárias heterogêneas, nos programas turísticos, na forma como
a cidade é turisticamente promovida, portanto, a proposta de análise dele é a
115

existência de três perfis de cidade: a "cidade dos circuitos turísticos", a "cidade dos
guias informativos" e a "cidade das estadias". Essa heterogeneidade implica em
recursos locais promovidos, os elementos realçados, a relevância dada à cidade e,
em última análise, “todo o imaginário com ela relacionado, variam em função dos três
tipos de programas e das lógicas subjacentes à sua produção e comercialização”
(p.68-69). Cantos-Aguirre et al (2015) traduzem a dualização da cidade em duas
áreas: as habilitadas e promovidas para o turismo e os espaços que não são, portanto,
a cidades destinadas a circuitos do turismo urbano são ajustadas para alcançar a
otimização do tempo de lazer. Na opinião de Ashworth e Tunbridge (1990) pode-se
identificar seis cidades turísticas: 1) históricas; 2) de patrimônio histórico e cultural (as
duas capitalizam os recursos antrópicos do patrimônio móvel e imóvel); 3) locais
históricos; 4) cidades para negócios; 5) esportes e recreação e 6) cidades que
capitalizam o teatro, a arte, os festivais, ou seja, o lado artístico e cultural da cidade.
Enquanto espaço de construção social, a cidade abrange elementos alusivos à
dinamicidade dos diferentes grupos sociais, em termos de materialidade
(representada pelos prédios, casarões, ruas, igrejas, esculturas, entre outros) e
imaterialidade que integram o patrimônio cultural de uma determinada coletividade,
tais atributos constituem-se importantes recursos agenciados pelo turismo sob a forma
de roteiros, produtos e atrações (CARVALHO, 2010). Na visão de Meneses (2006):
A cidade passa, assim, a ser vista como construção histórico-cultural, como
patrimônio de seus moradores, como espaço de memória. A cidade enfim é
monumento e é documento [...] ela é o lócus continuum de cultura, onde
natureza, construção material, símbolos e significados e representações se
constroem em diversidade e em harmonia (p.86).

Essas memórias presentes no tecido urbano, transformam os espaços em


lugares únicos com apelo afetivo para quem neles vive ou para quem os visitam, ou
seja, lugares que não apenas têm memória, mas que para determinados grupos da
sociedade, transformam-se em verdadeiros lugares de memória (GASTAL, 2002). Os
lugares de memória recriam identidades e reafirmam o sentido de territorialidade e de
pertença à cultura local, transitando no imaginário coletivo, reelaborando e
fortalecendo as identidades em meio às interferências de um mercado de consumo
turístico globalizado (CARVALHO, 2010). Nesse ínterim, Pierre Nora (1993) identifica
os lugares de memória como espaços impregnados de um conteúdo simbólico e de
referências culturais, estabelecendo elos de continuidade em relação a um passado
socialmente construído, sendo aportes de referências, aglutinadores e definidores da
116

identidade de diferentes grupos sociais. As cidades acabam funcionando como pontos


de ancoragem e detentoras dessa memória, pois, são lugares em que nos
reconhecemos, em que vivemos experiências do cotidiano ou situações excepcionais,
e tais sentidos estão referidos no passado, fazendo evocar ações, personagens e
tramas que se realizaram em um tempo já escoado (PESAVENTO, 2008). Esse
passado, materializado na paisagem, é uma das dimensões que atribuem
singularidade a um local, preservado por meio de “instituições de memória”, ou ainda
vivo nos fatores culturais e no cotidiano desses lugares, deste modo, não é surpresa
que seja ele que vem dando o suporte mais sólido a essa busca pela diferenciação
(ABREU, 2017).
História e memória são narrativas de um passado presente por meio de uma
ausência, reconfigurando uma temporalidade escoada, possível de ser recuperada
através do imaginário (PESAVENTO, 2008). Conceitualmente, Abreu (2017) define a
memória, individual ou coletiva, como uma categoria biológica/psicológica com
capacidade de armazenamento e conservação das informações que pode expressar
o sentido de identidade de um lugar, então, a memória de um lugar, a memória de
uma cidade é uma memória coletiva. Calvino (1990, p.23) reforça que “a memória é
redundante: repete os símbolos para que a cidade comece a existir”. Estas memórias
são necessárias para construir futuros locais diferenciados num mundo global, pois,
elas vivem de forma ativa e com vivacidade incorporada na sociedade, isto é, em
indivíduos, famílias, grupos, nações e regiões (HUYSSEN, 2000).
Convém salientar que, nas palavras de Halbwachs (1990) quando a memória
social se decompõe, ela tende a se transformar em memória histórica:
Quando a memória de uma sequência de acontecimentos não tem mais por
suporte um grupo, aquele mesmo em que esteve engajada ou que dela
suportou as consequências, que lhe assistiu ou dela recebeu relato vivo dos
primeiros atores e espectadores, quando ela se dispersa por entre alguns
espíritos individuais, perdidos em novas sociedades para as quais esses fatos
não interessam mais porque lhe são decididamente exteriores, então o único
meio de salvar tais lembranças é fixá-las por escrito em uma narrativa
seguida, uma vez que as palavras e os pensamentos morrem, mas os
escritos permanecem (p.80-81).

Adicionalmente a essa afirmação, contextualiza-se a contribuição da memória


individual na recuperação da memória das cidades, pois, envereda-se pelas
lembranças das pessoas atingindo momentos urbanos que já aconteceram e formas
espaciais que desapareceram, no contraponto, têm-se a memória coletiva como um
conjunto dessas lembranças portadoras de referências a um grupo e construídas
117

socialmente que transcende o aspecto do indivíduo e sempre está redefinindo-se


(ABREU, 2017 e HALBWACHS, 1990).
Lynch (1999) sugere que na construção de um lugar, uma de suas partes
definem sua identidade, no entanto, ela é culturalmente definida a partir de como o
lugar é habitado, usado, adaptado e assimilado no modo de vida das pessoas, muitas
vezes essa identidade pode ser observada visualmente em suas formas construídas,
como edifícios, monumentos e espaços da cidade. Outrossim, para Carvalho (2010)
esses lugares de memória enriquecem a experiência turística, num estreitamento das
relações entre turistas e residentes, possibilitando a democratização do acesso e o
direito à memória de grupos sociais distintos, concomitantemente traduzem-se na
criação de cenários e ambientes inovadores transformando os visitantes em
protagonistas da experiência turística, gerando benefícios sociais e econômicos. O
mesmo autor, conclui que paralelamente a esse contexto, existe a tendência de
reforço no sentido de pertença da comunidade em relação à cultura local, por
consequência propiciam a preservação do meio ambiente, seja ele urbano ou natural,
bem como o desenvolvimento sustentável da atividade turística.
No entendimento de Abreu (2017) a cidade não é um coletivo de vivência
homogêneas, ela representa uma das aderências que ligam os indivíduos, famílias e
grupos sociais entre si, essa qualidade não permite que suas memórias fiquem
esquecidas no tempo, ancorando-as no espaço. Ele sustenta que memória e História
são distintas, na medida que a memória individual ou coletiva é parcial, descontínua,
seletiva e vulnerável às manipulações e utilizações, já a História, busca iluminar as
memórias ajudando-a nas retificações de suas omissões e erros com o uso da
objetividade, registro, distanciamento, problemáticas, críticas e reflexões. A história e
a memória de uma cidade constroem-se em um espaço complexo dominado por
determinações e contingências, onde para o tratamento da memória desse lugar “há
que se trabalhar, então, na recuperação simultânea da história no e do lugar” (ABREU,
2017, p.32-33). Respeitando o momento atual, Henri Lefebvre (1974) afirma que o
passado histórico é redefinido quando consolida no presente uma possibilidade cuja
a realização ele lhe permitiu. Empiricizar e interpretar o tempo de um lugar não é uma
tarefa fácil, por isso, não basta apenas resgatar o passado, o fato de que a memória
das cidades está sendo produzida dia-a-dia, traz à tona a relevante atenção que deve
ser dada ao momento presente no intuito de preocupar-se sempre no registro de
memórias coletivas que ainda estão vivas no cotidiano atual da cidade (ABREU,
118

2017). Passado, presente e futuro estarão interligados em uma trama comum que
buscará permanentemente o resgate, valorização e a singularidade de um destino
turístico.
A elaboração e formatação de produtos culturais, especificamente os centrados
na ambiência urbana necessitam ser planejados de forma a valorizar o patrimônio
cultural, promovendo uma interlocução permanente com os grupos sociais
construtores do lugar turístico, incorporando os lugares mantenedores de sua
identidade, no sentido de buscar uma maior integração entre turistas e residentes nos
espaços de vivência comunitária, além de possibilitar variadas leituras e
interpretações dos bens culturais (CARVALHO, 2010). A ambiguidade do olhar do
turista reside nos aspectos mais espetaculares da paisagem, em modos de vida e
costumes diferenciados do seu cotidiano (URRY, 1996), e ainda da necessidade de
realçar as características sociais, históricas e culturais do espaço urbano que
particulariza sua vivência coletiva (MURTA e ALBANO, 2002).
Em síntese, face ao exposto, os lugares de memória podem conferir novas
possibilidades de gestão do patrimônio cultural e serem utilizados como instrumento
de planejamento turístico, vislumbrando a promoção articulada e integrada além do
protagonismo comunitário, o fortalecimento da identidade, a valorização do lugar e a
sua capitalização por meio do turismo, tendo como premissas a proteção dos
ambientes naturais e culturais, a qualidade dos produtos e serviços e a validade da
experiência turística local (CARVALHO, 2010).
Para realizar grandes feitos no presente e no futuro, existe o princípio de saber
onde estivemos, sem esse entendimento, é difícil saber para onde vamos
(ROSSI,1995). Desta forma, o primordial para compreender a morfologia urbana, é
conhecer o ponto de partida das cidades (ROSSINI; TRICÁRICO e TOMELIN, 2016).
Em linhas gerais, a cidade surge e desenvolve-se a partir de um centro, de um núcleo
original, onde situa-se a sua parte mais antiga, contudo, elas tendem a aumentar,
densificar-se, crescer de forma desordenada e os seus centros são, tendencialmente,
os primeiros a sofrerem tais transformações (PESAVENTO, 2008). Sendo assim, o
objeto de estudo de investigação dessa tese parte do centro histórico, marco do
desenvolvimento econômico de Manaus e que resguarda uma estreita relação com a
orla do rio Negro.
Essa centralidade é fundamental, pois o centro é o local das contradições de
uma cidade, onde o espaço deveria ser democrático e representativo de sua
119

sociedade como um todo, no entanto, o centro tem que respeitar e dialogar com a
história urbana na busca por uma cidade real e verdadeira (BIELSCHOWSKY e
PIMENTA, 2014). Nas palavras desses autores, para que isso aconteça, é necessário
representar o modo de vida e os processos contemporâneos também na arquitetura
e no desenho da cidade do seu tempo, devendo ao mesmo tempo, possibilitar o
respeito e diálogo com a paisagem, o rio, a topografia, os espaços e a própria história
da cidade como uma construção permanente e sucessiva. Por um longo tempo, o
centro de uma cidade foi cartão de visitas funcionando como padrões de referência
identitária para uma cidade bem como um espaço privilegiado no tempo, o marco zero
de uma cidade, o local onde tudo começou, o seu núcleo de origem, o ponto de partida
nodal e uma aglomeração urbana, apesar das degradações que deixaram marcas
(PESAVENTO, 2008). Destarte, ser o núcleo mais antigo de um assentamento urbano
implica poder contar histórias, de forma visível ou não, ser o sítio portador do traçado
original da urbe e como núcleo de origem, os centros urbanos concentram os prédios
mais antigos, ditos históricos e potencialmente referenciais para o passado dessa
urbe. Salienta-se a relevância das características de formação desse centro,
composto por três componentes fundamentais que articulam as dimensões do espaço
e do tempo:
Primeiramente, os elementos, por assim dizer, estruturais que presidiram o
traçado e organização do espaço físico e do espaço construído e que se
revelam em termos de uma materialidade; a seguir, a apropriação deste
espaço no tempo, construindo a experiência do vivido e transformando este
espaço em território, dotado de uma função e onde se manifestam as
relações de sociabilidade; por último, a dotação de uma carga imaginária de
significados a este “espaço-território” no tempo, transformando-o em lugar
portador do simbólico e das sensibilidades (PESAVENTO, 2008, p.5).

Na organização do turismo urbano, a arquitetura é uma forma física que


desempenha um papel significativo, onde a presença dos seus elementos
arquitetônicos, como edifícios, monumentos, esculturas, parques, paisagens e
espaços públicos contribuem para a identidade dos lugares além de serem parte do
tecido urbano, tornam as cidades como uma das atrações mais desejadas da
atividade turística (RAHMAN, HALIM e ZAKARIYA, 2018). A percepção ou mapa
mental dos turistas da cidade, conforme proposto por Lynch (1999) baseia-se em
cinco elementos principais: caminhos que representam linhas de movimento, como
ruas; arestas que servem como barreiras ao movimento (zonas de transição, rios,
margens de água, etc.); distritos que são áreas distintas da cidade; nós que são pontos
de encontro estratégicos em que as pessoas podem pausar ou encontrar-se (estações
120

de trem etc.) e marcos que são objetos singulares onde as pessoas não podem entrar.
Sinteticamente, Lynch resumiu que os distritos se estruturam com os nós, definidos
por bordas, penetrados por caminhos e polvilhados com pontos de referência.
Castrogiovanni (2013) relata que muitas vezes os caminhos, locais por onde os
fluxos movimentam-se, podem ser o principal atrativo e simultaneamente,
apresentam-se como as melhores opções para visitação nos atrativos turísticos ou até
mesmo entrar e sair da cidade. Ele continua seu pensamento ao dizer que eles são
parte das paisagens ou assumem em seus limites paisagens particulares, estando
para as áreas urbanas turísticas assim como estão os corredores para a totalidade do
espaço turístico: ambos estruturam o conjunto. Corroborando, Lynch (1999) afirma
que as vias, a rede de linhas habituais ou potenciais de deslocamento são o meio
mais poderoso pelo qual o todo pode ser ordenado. Portanto, proporcionar a
identificação desses caminhos no espaço urbano, no caso aplicado dessa tese as
avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, nos possibilita transitar entre o
edificado materializado e o imaginário possível de ser construído a qualquer momento
pelos sujeitos observadores com base na historicidade de ruas ou avenidas em
consonância com o seu casario. Desta forma, para o reconhecimento e análise dos
caminhos como ruas, avenidas, blocos e passagens, é fundamental considerar os
seguintes aspectos:

1. A facilidade de fluxo dos sujeitos e dos veículos (acessibilidade): devem


ser observados os equipamentos turísticos e a facilidade ou não do
movimento entre os mesmos e outros pontos de interesse por parte dos
turistas; 2. A agradabilidade estética ou cênica: é a impressão estética
causada por usos residencial e comercial, as áreas verdes, as áreas
industriais, a ordenação dos elementos que compõe a cartografia da cidade,
etc. Deve ser avaliado como são usados pelos diferentes segmentos dos
espaços urbanos e ambientes (determinados conjuntos do caminho que se
destacam por causar uma impressão agradável. Pode ser um conjunto de
prédios, o desenho das calçadas, a disposição de uma grande árvore, a
arborização das margens de um riacho, etc.); 3. A paisagem construída e os
caminhos: são as impressões, os sentimentos que a paisagem sugere a partir
da visão arquitetônica, da sua apresentação, da sua [re]construção inserida
no tempo e no tecido espacial; 4. Os serviços urbanos: arborização, água,
esgoto, pavimentação, iluminação, limpeza pública, transporte público ou
privado, águas correntes, etc; 5. Os equipamentos de apoio ao turismo:
restaurantes, bares, teatros, centros de informação, hotéis, bancos, parques,
praças, comunicações, postos de gasolina, borracharias, farmácias, lojas de
souvenires, centros de artesanato, etc; 6. O mobiliário urbano: placas de
sinalização, mapas de orientação urbana, bancos de praça, paradas de
ônibus, postes para iluminação pública, floreiras, lixeiras, quiosques,
corredores verdes, limpeza do meio-fio, brinquedos nas praças, etc.
(CASTROGIOVANNI, 2013, p.387-388).
121

O traçado de uma cidade é uma arte processual com uma leitura temporal, onde
cada instante, existe mais do que os olhos podem ver, do que o olfato pode sentir ou
do que os ouvidos podem escutar, isto posto, cada momento é um processo constante
na construção de significações (CASTROGIOVANNI, 2013). Daniel Libeskind (1992)
citado por Huyssen (2000, p.108) fez a seguinte proposta no centro de Berlim: “Rilke
disse uma vez que tudo está lá. Precisamos apenas ver e proteger. Precisamos
desenvolver um sentimento pelos lugares, as ruas e as casas precisam de nosso
apoio”. Castrogiovanni (2013) complementa ser este o olhar que os profissionais do
turismo devem absorver, agindo com mais criatividade além de estarem imbuídos do
sentimento de que a cidade é o que é visto e ainda mais, o que pode ser sentido.
Desse modo, existe uma busca permanente pela descoberta de novas possibilidades
para a oferta de atrativos turísticos urbanos. Nesse contexto, o centro urbano é como
uma vitrine, um microcosmo do tempo que passou, mas que nem sempre se deixa
ver, alguns vestígios da cidade antiga ainda podem ser visualizados, ou seja, com isto,
fala-se tanto de materialidades, de traços visíveis, presentes no espaço edificado,
como prédios e demais edificações, quanto do traçado original urbano, em termos de
abertura de ruas, avenidas, praças (PESAVENTO, 2008).
Sassen, Castro e Santoro (2013) compreendem os espaços públicos (que
devem estar associados às infraestruturas e equipamentos coletivos) como lugares
urbanos que dão suporte à vida em comum, são eles: ruas, avenidas, praças e
parques. No entanto, por mais que o foco dessa pesquisa não esteja vinculado às
praças, é interessante trazer uma reflexão comparativa de Gehl (2013) entre ruas e
praças, no qual entende que:
Os componentes básicos da arquitetura urbana são o espaço de movimento,
a rua, e o espaço de experiência, a praça. (...) enquanto a rua sinaliza
movimento – ‘por favor, siga em frente’ –, psicologicamente a praça sinaliza
a permanência. Enquanto o espaço de movimento diz ‘vá, vá, vá’, a praça diz
‘pare e veja o que acontece aqui’ (GEHL, 2013, p. 38).

A partir dessa premissa reflexiva de Gehl, em que rua é só movimento, a


proposta desse estudo é justamente associar esse movimento das ruas/avenidas ao
espírito de permanência que as praças naturalmente trazem, primando pelo
entendimento desse tipo de logradouro como parte da materialização histórica na
construção da paisagem e sobretudo, de identidade daquela sociedade sob a ótica da
filosofia interpretativa, por conseguinte, elemento de atratividade e singularidade de
um destino turístico.
122

Assim, de acordo com o dicionário online de português, logradouros são locais,


espaços, terrenos anexos em algumas casas com a finalidade pública podendo ser
logrado, usufruído ou desfrutado pela população, onde essa mesma designação
também é atribuída à rua, à praça, à via, ao parque ou a qualquer lugar de utilização
pública. Para fins dessa tese, destaca-se as ruas como uma tipologia de logradouro,
no qual existem nos mais diversos níveis ou escalas da forma urbana, desde a rua
pedonal, travessa, via rápida até avenida, tendo a função precípua de deslocamento,
percurso e mobilidade de bens, pessoas e ideias (LAMAS,2000).
Salienta-se, o entendimento de Boullón (2002, p.214) no qual afirma que
logradouros são “espaços abertos ou cobertos de uso público, em que o turista pode
entrar e percorrer livremente”, conceito já apresentado no capítulo 2.1. Os logradouros
de Boullón (2002), correspondem aos caminhos e pontos nodais de Lynch (1999), no
entanto para Siviero (2006, p.55) “os pontos nodais têm natureza de conexão como
um cruzamento de rua ou esquina”. Complementarmente, Lamas (2000) apresenta
esse conceito de logradouro como um elemento morfológico não autônomo, sendo
um espaço privado do lote (parcela fundiária que representa a gênese e base da
edificação) não ocupado por construção, ou seja, “um complemento residual, espaço
que fica escondido: não utilizado pela habitação nem contribui para as formas dos
espaços públicos” (LAMAS, 2000 p.102). O mesmo autor, ao analisar um bairro,
apresenta a denominação da “dimensão setorial” ou “escala de rua” como forma de
identificar os edifícios com suas fachadas e planos marginais, o traçado, a estrutura
verde, desenho do solo ou mobiliário urbano. Isto posto, os logradouros são elementos
fundamentais ao ecossistema da cidade, pelo papel que desenvolvem na
permeabilidade do solo e salubridade dos edifícios em seu redor, podendo tornar-se
espaços de refúgio (BRANCO, 2014).
Logradouros, prédios, bairros, equipamentos, festas, ritos, hábitos, usos e tipos
humanos configuram-se como sendo os principais elementos dos espaços urbanos
que criam o caráter do lugar, remanescentes do passado e que são ainda visíveis no
presente da cidade, tornando-se essenciais para a evocação de diferentes narrativas
sobre o patrimônio cultural de uma determinada sociedade (PESAVENTO, 2008;
CARVALHO, 2010; ROHAYAH, SHUHANA e AHMAD, 2013). Esses autores, ainda
refletem que esses elementos são rastros do passado em meio à cidade do presente,
fragmentos de uma temporalidade escoada, detentores de história acumulada, onde
os significados e o seu papel baseiam-se no design, organização e detalhamento. No
123

que tange as ruas e avenidas funcionam como elementos chaves na configuração das
cidades, tornando-se ingredientes principais da existência do urbano além de um
produto do design e local de prática social (ÇELIK, FAVRO e INGERSOLL, 1994). É
interessante notar que para os seus usuários, elas são movimentos sendo vividos, no
entanto, percebidas por meio da sobreposição de imagens sequenciais interligadas
que constroem diferentes narrativas pessoais (LYNCH, 1999 e CERTEAU, 2000).
Do ponto de vista da mobilidade, as ruas e avenidas são essenciais no tráfego
e fluxos de veículos e indivíduos, seus layouts definem as rotas pelas quais as
pessoas deslocam-se diariamente de diversas maneiras, atuando como poderosas
linhas condutoras e conectores de espaços de domínio público e sua urbanidade, por
conseguinte, acabam sendo o reflexo nos relatos de experiências, dilemas, soluções,
tensões e decisões de diferentes épocas que se materializam e conectam
cotidianamente (LIMA, 2014). Segundo Lynch (1999), elas são os elementos
predominantes na imagem da cidade, pois, organizam a rota e conectam os outros
elementos ambientais. Têm valor simbólico para os cidadãos, podem ser retas ou
curvilíneas e sobretudo são espaços públicos que estabelecem "a interseção do
público e do privado, do indivíduo e da sociedade, do movimento e do lugar, do que é
construído e do que não é construído, da arquitetura e planejamento" (ANDERSON,
1981, p.09). A título de exemplo, Lima (2014, p.04) relata que: “em São Paulo, a
Avenida Paulista agrega todos esses atributos, vincula tecidos, dá sentido e acesso
aos espaços e organiza sequências urbanas de diferentes formas e temporalidades,
além de ser uma referência territorial importante”.
As ruas e seus elementos da paisagem urbana tornam-se preponderantes para
definir o caráter de áreas urbanas (NASAR, 1989; SHUHANA, 2011; SHUHANA,
AHMAD e ROHAYAH, 2012), no qual a maioria dos moradores da cidade vive, onde
cada uma delas retrata a identidade de uma comunidade com diferentes antecedentes
históricos (ROHAYAH, SHUHANA e AHMAD, 2013). Nesse sentido, a rua deve ser
compreendida não só como espaço de circulação, mas também como espaço de
permanência e ainda como verdadeiros vasos que irrigam os espaços centrais de
sociabilidade (PEREIRA, 2012; SANDRE, MADUREIRA e KUSSUNOKI, 2015).
Em suma, a proposta central dessa tese reside na visão do turismo urbano na
perspectiva do conjunto incluindo os logradouros, ou seja, a partir dos elementos que
formam esse conjunto: as vias, os nós, os marcos. No caso aplicado a esse estudo,
as Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, dentro de uma perspectiva de
124

conjunto com suas edificações, um recurso turístico potencial para se tornar um


atrativo de diferenciação da cidade de Manaus, devido a sua originalidade e
características evolutivas e históricas da paisagem.
O próximo capítulo disserta sobre os procedimentos teóricos-metodológicos
coadunando-se com os métodos e técnicas a serem desenvolvidos para alcançar os
objetivos propostos dessa tese.
125

3 PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO

Praticar ciência é estar imbuído do espírito de investigação que se inicia a partir


do questionamento do pesquisador, quando ele interroga e formula questões que
visam o seu desvelamento, com o objetivo de decifrar determinada realidade. É a partir
destes questionamentos que o pesquisador vai transformando o tema da pesquisa em
“objeto científico”, ou seja, aquilo que se percebe na realidade de forma imediata,
através da mera observação, da constatação, é apenas a aparência dessa realidade.
O processo da pesquisa cientifica visa exatamente revelar ou desvendar os aspectos
do fenômeno que a simples percepção imediata não consegue captar (esses aspectos
é que constituem a essência). Sair da aparência para a essência é o que distingue a
apreensão intuitiva do trabalho científico. A teoria do conhecimento se consolida de
forma implícita ou explicita sobre uma determinada teoria da realidade, pressupondo,
assim, uma determinada concepção dessa própria realidade (KOSIK, 1985).
O caminhar do fazer cientifico perpassa por paradigmas e procedimentos que o
qualificam a sair do senso comum para o fazer ciência no sentido lato da palavra. “O
homem procura conhecer a realidade para poder agir sobre o rumo dos
acontecimentos” (DENCKER, 1998, p.30). Não teria como o homem alcançar essa
busca pelo conhecimento se não fundamentar sua pesquisa em procedimentos de
metodologia científica, pois essa se constitui a base para o entendimento da realidade
e da dinâmica que o cerca, permitindo assim a elaboração de propostas que visam
tanto ações em pequena escala, no âmbito empresarial, quanto em macro escala, no
caso de planejamento (DENCKER,1998). Esses procedimentos metodológicos
fornecem uma estrutura científica que auxiliam na busca pelas informações e na
concretização dos objetivos da pesquisa.

3.1 ABORDAGEM E CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Filosofia e produção do conhecimento científico são termos indissociáveis, pois


refletem primeiramente a visão do homem e o mundo ao seu redor. Adotar um
paradigma, dá ao estudo um princípio norteador que solidifica o processo da
investigação em busca de decifrar a realidade por meio da ciência. Assim, no
entendimento de Dencker (1998) para explicar os fatos a ciência parte de uma
abordagem teórica que constrói modelos para nortear o ato de investigar no âmbito
do processo da pesquisa.
126

Salienta-se a importância de apresentar a orientação, abordagem ou paradigma


da pesquisa, que envolve “[...] o sistema de crenças básicas, a visão de mundo que
guia o investigador” (GUBA; LINCOLN, 1994 p. 105), o que acaba por influenciar na
escolha, seleção e uso dos métodos de coleta e análise de dados. Godoi e Balsini
(2006) entendem que os pressupostos ontológicos, epistemológicos e teóricos do
pesquisador estabelecem a coerência entre a noção do sujeito e as relações de objeto,
delineando a escolha metodológica da investigação. Em síntese, para Martins e
Theóphilo (2009) a construção da metodologia têm origem na epistemologia (teoria
do conhecimento) com a finalidade de transmitir os procedimentos lógicos e
epistemológicos do saber adotados pelo pesquisador.
Nesse entendimento, a abordagem sistêmica considera a eficiência e eficácia
entre as partes, com foco na funcionalidade e retroalimentação do sistema enquanto
que o dialético pressupões as partes no todo e o todo nas partes, de acordo com a
evolução histórica, onde o ser é valorizado e modifica o todo a partir das partes ou
vice versa. Para fins desse estudo, foram utilizadas a duas abordagens associadas
em conjunto para alcançar os objetivos propostos, no qual, resumidamente os
conceitos aplicados nessa pesquisa são: a) Sistêmico: lugar, destino e região e b)
Dialético: lugar, paisagem, espaço.
Partindo do princípio que o turismo se apresenta como uma atividade que
contempla vários aspectos que, inter-relacionados, formam um grande sistema ligado
por componentes que interagem e se retroalimentam, o paradigma epistemológico
adotado nessa investigação é o sistêmico, que busca compreender um fenômeno
dentro do contexto de um todo maior nas interações entre os componentes e a função
que desempenham bem como o resultado da interdependência dessas relações,
garantindo as características da integridade dos sistemas (CAPRA, 1997;
BERTALANFFY, 2008). Para Rocha, Da Costa, Anjos (2017), a abordagem sistêmica
tem caráter interdisciplinar e permite uma visão mais organizada e dinâmica,
condições que favorecem e são pertinentes no âmbito do planejamento turístico.
O turismo é uma área que essencialmente necessita do planejamento para sua
correta atuação, não há como deixar de correlacionar a visão sistêmica como modelo
na construção e fortalecimento das suas bases conceituais centrada na teoria de
sistemas. Nesse contexto, o sistema turístico pode ser entendido basicamente por três
níveis espaciais: o lugar (atrativo), o destino e a região. A combinação desses
elementos, associado aos meios de comunicação, que veiculam as imagens e
127

descrições dos lugares, que constituem a matéria prima do turismo, resultando no


conceito de espaço turístico de Boullón (2002). Um espaço com potencial de despertar
sonhos, lembranças, nostalgias e, sobretudo, a necessidade de repetir a experiência.
Dinâmica que permite o desenvolvimento do turismo no contexto espacial desde que,
o processo de mercadorização do espaço pelo turismo (CARLOS, 1996), seja revisto
de modo a garantir ao sujeito (o turista) se apropriar do que vê, deste modo,
modificando a lógica que incorpora o turismo em outra mercadoria, como integrante
do mesmo consumo/produção/do espaço pelo mercado (CARLOS, 1996) ou ainda
dentro da concepção de Rodrigues (2006) ao afirmar que o consumo efetivo do
espaço acontece quando a escolha do destino ou local passa a ser apreendida quando
acompanhada por suas respectivas histórias. Exemplificando, observa-se o processo
de primeira visita de um turista a uma determinada cidade, nesse momento, inicia-se
uma interação entre o sujeito e a localidade: a cidade passa a ser, integralmente, um
sistema turístico, com suas ruas, avenidas, edificações, atrativos e residentes.
Portanto, a visão sistêmica da TGS possibilita analisar cada um desses sistemas, sob
o olhar unificado ou isolado de cada parte para facilitar sua compreensão e estudo.
Outro pesquisador de destaque no campo sistêmico é o argentino Roberto
Boullón (2002) que, amparado também pela teoria geral de sistemas-TGS,
desenvolveu sua teoria do espaço turístico analisado sob a ótica de três modelos:
oferta-demanda, antropológico-social e a “indústria” do turismo. Ele tem uma visão do
processo histórico antropológico-social para a proposta de ordenamento do espaço,
tanto que o considera social, portanto, o ordenamento turístico é sistêmico. Paralelo a
isso, o mesmo autor categorizou os elementos do espaço como: zona, área,
complexo, centro, unidade, núcleo, conjunto, corredor, corredor de translado e de
estada.
A Figura 11 representa de forma sintética o desenho metodológico do estudo da
tese:
128

Figura 11: Caracterização da pesquisa e sua abordagem epistemológica.

SISTÊMICO
PARADIGMA EPISTEMOLÓGICO (CAPRA, 1997; BERTALANFFY, 2008, BOULLÓN,
2002)

ABORDAGEM, NATUREZA DO ABORDAGEM DO TURISMO HIPOTÉTICO-


ESTUDO E MÉTODO CIENTÍFICO URBANO QUALITATIVA DEDUTIVO
(ASHWORTH, 1989) (POPPER,1975)

TIPOLOGIA ESTUDO DE
ECOLÓGICA POLÍTICA CASO

TEORIAS E CATEGORIAS DE DIALÉTICA SOCIAL DE HENRI LEFEBVRE


ANÁLISE (1974); FORMAÇÃO SÓCIO ESPACIAL DE DESCRITIVO INTERPRETATIVO
MILTON SANTOS (1977); CATEGORIAS DE
ANÁLISE DO ESPAÇO TURÍSTICO DE
BOULLÓN (2002) E DE CASTROGIOVANNI
(2013).

Fonte: Elaborado pela autora

Desta forma, as premissas principais utilizadas nessa pesquisa estão


alicerçadas no cerne filosófico da teoria geral dos sistemas por meio da adoção da
abordagem ecológica e política para análise do turismo urbano de Ashworth (1989),
que se coadunam com as teorias da Dialética Social de Henri Lefebvre (1974) e
Formação Sócio Espacial de Milton Santos (1977) além das categorias de análise do
espaço turístico de Boullón (2002) e de Castrogiovanni (2013). Ou seja, teoria aplicada
com sua empiria nos logradouros das Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro
(operacionalização e concretização). Para melhor delineamento da investigação
científica em tela, as estratégias adotadas para alcançar as metas estabelecidas
perpassam as seguintes etapas do processo de pesquisa baseadas em duas
abordagens de análise do turismo urbano de Ashworth (1989), conforme descrito
abaixo:

1. Ecológica: estudo da morfologia (questões históricas por meio da dialética


tridimensional de Lefebvre e da formação socioespacial de Milton Santos) no
entendimento de que os logradouros analisados são resultados dessa
construção dialética entre espaço e sociedade, um produto social. A lógica da
oferta, da leitura e tipologia da paisagem da cidade de Boullón e Castrogiovanni
com suas categorias de análise dos caminhos (ruas/avenidas) também
auxiliam na estrutura de identificação e elaboração dos parâmetros de
atratividade turística dos logradouros na perspectiva de conjunto com suas
edificações protegidas legalmente;
129

2. Política: Identificação das políticas públicas implementadas nesses logradouros


nas esferas: federal, estadual e municipal, ou seja, conjunto de ações
desencadeadas pelo Estado nas escalas federal, estadual e municipal
implementados no Centro Histórico de Manaus que influenciaram na preservação
do patrimônio histórico edificado bem como na configuração da paisagem
estudada.
As abordagens das instalações e do usuário de Ashworth (1989) foram
descartadas para fins metodológicos dessa pesquisa em função do não atendimento
aos objetivos precípuos dessa tese, principalmente no fato de que a abordagem das
instalações tem foco no entendimento da condição espacial de localização dos
atrativos, instalações e infraestrutura turística e a do usuário preocupa-se diretamente
com a análise do perfil dos turistas. Portanto, as abordagens ecológicas e politicas, já
descritas acima, são as que se adequam aos propósitos e lócus da pesquisa
associadas a outras teorias que auxiliaram na compreensão dos logradouros e seu
patrimônio edificado protegido e por conseguinte, a construção dos parâmetros de
análise do potencial de atratividade turística das avenidas Sete de Setembro e
Eduardo Ribeiro. Em síntese, a forma de abordagem ecológica e politica do turismo
urbano proposta por Ashworth (1989) em conjunto com as teorias de Lefebvre (1974)
e Santos (1977) e categorias de análise de Boullón (2002) e Castrogiovanni (2013)
contribuíram na construção dos procedimentos metodológicos alicerçadas nas etapas
do método hipotético-dedutivo e culminaram na elaboração da ficha observacional
responsável pela sistematização das categorias de análise inseridas nas quatros
dimensões diagnósticas dos logradouros em Centros Históricos como elementos
compositivos da oferta turística de uma cidade.
Vale salientar que a teoria de Henri Lefebvre (1974), versa sobre as relações
sociais como influência na configuração do espaço de cidades, enfoque principal do
turismo urbano. O mesmo estabelece que ao interpretar a legibilidade da construção
do espaço como resultado de uma dialética tridimensional que interconecta as
dimensões dos conceitos prática espacial (vivido), representação do espaço
(percebido) e espaços de representação (imaginado) no contexto da sociedade do
capital. Para Lefebvre o espaço faz parte das forças e meios de produção sendo
produto dessas mesmas relações e parte essencial desse processo. A cidade, o
espaço urbano e a realidade urbana não podem ser concebidas apenas como locais
de produção e consumo, onde espaço e tempo são entendidos como produtos da
130

prática social, resultado e pré-condição da produção da sociedade (relação entre os


seres humanos por meio de suas atividades práticas). Desta forma, como espaço e
tempo são produzidos socialmente, só podem ser compreendidos no contexto de uma
sociedade específica, tal assertiva implica que o espaço e tempo são relacionais e
históricos. No contexto do objeto empírico dessa tese, essas categorias de análise de
Lefebvre são aplicadas com a seguinte leitura:
1. Espaço vivido: aspectos do presente (usos comerciais, residenciais,
institucionais além do turismo) que caracterizam e atribuem valor ao
Centro Histórico de Manaus além da vivência nas situações evolutivas
do lugar (passado) com o foco nos logradouros analisados. Assim, as
questões históricas e socioeconômicas investigadas, responsáveis pela
materialização do ambiente construído, são o retrato desses fatos
evolutivos, sistêmicos e orgânicos;
2. Espaço percebido: aquilo que pode ser percebido, a materialização do
espaço e do patrimônio edificado pelos usuários do lugar (avenidas Sete
de Setembro e Eduardo Ribeiro em conjunto com suas edificações);
3. Espaço concebido ou imaginado: novos sentidos atribuídos pelo
usuário, seja ele residente ou turista, proporcionado pelos princípios da
interpretação do patrimônio alinhados a essa categoria de espaço de
representação de Lefebvre. A possibilidade de ressaltar os aspectos de
historicidade das avenidas por meio de mídias interpretativas e de
roteiros turísticos, são a concretude dos elementos potenciais de
atratividade turística dispostos nesses logradouros.
No âmbito da caracterização da pesquisa, essa tese é de natureza qualitativa
baseada em uma análise aprofundada da área, objeto da investigação. Em um projeto
qualitativo, o problema de pesquisa será descrito para que seja melhor compreendido
ao explorar um conceito ou fenômeno (CRESWELL, 2007). Apresenta um caráter
globalizante, decorrente de uma análise que se apoia na observação dos fenômenos
em toda sua extensão, onde as variáveis de interesse levantam as possíveis variáveis
existentes, objetivando dentro da interação entre elas o verdadeiro significado do
objeto de estudo (COSTA, 2001). Minayo expõem que na pesquisa qualitativa
dificilmente os resultados podem ser traduzidos em números e indicadores
quantitativos (2007). Nesse sentido, Creswell (2007) expõe que a pesquisa qualitativa
é interpretativa na medida que busca o desenvolvimento da descrição de uma pessoa
131

ou cenário, análise de dados para identificar temas ou categorias e, por fim, interpretar
ou tirar conclusões sobre seu significado.
No que tange ao estudo em questão, o mesmo enquadra-se como qualitativo,
pois, esse enfoque permitirá abarcar aspectos de descrição, compreensão e
interpretação dos múltiplos elementos responsáveis pela configuração do ambiente
construído nos logradouros com suas edificações, contidos no Centro Histórico de
Manaus, especificamente as avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro. A
profundidade da análise da paisagem urbana dessas avenidas no âmbito do turismo
urbano da cidade de Manaus, propiciou a identificação de categorias ou parâmetros
de análise turística dos logradouros em Centros Históricos na perspectiva de conjunto
com o seu patrimônio edificado preservado.
Das tipologias mais comuns de pesquisa qualitativa, destacam-se (MERRIAM,
1998): 1. pesquisas básicas ou genéricas; 2. etnográficas (estudos do povo a partir da
imersão em sua cultura); 3. fenomenológicas (estruturação e entendimento dos
fenômenos sociais); 4. grounded theory (teoria fundamentada nos dados); 5. adaptive
theory (combinação da perspectiva hipotético-dedutiva e da grounded theory) e 6.
estudo de caso (seleção de unidade de análise particularista analisada em
profundidade). No caso da pesquisa aplicada a essa tese, define-se como caráter de
estudo de caso, que de acordo com Yin (2005) corresponde a uma estratégia de
pesquisa que contribui com o conhecimento dos fenômenos individuais,
organizacionais, sociais, políticos além de outros relacionados. Ainda complementado
por Stake (1994), os estudos de casos têm se tornado uma das formas mais comuns
de fazer pesquisas qualitativas, mas que representa a escolha do que se pretende
estudar. Ou seja, “estuda um fenômeno (o “o caso”) em seu contexto real” (YIN, 2016,
p.34), ele permite uma investigação que tem por intuito preservar as características
holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real, tais como ciclos de vida
individuais, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais, entre
outros, sendo assim, apresenta-se como mais adequado para a investigação de um
fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto real, onde os limites entre os
mesmos não são claramente percebidos.
Considerando a natureza de seus objetivos, a que se destacar a diferenciação
proposta por Merriam (1998) para as tipologias de estudos de caso que podem ser:
132

1. DESCRITIVO: relato detalhado de um fenômeno social pouco


estudado procurando ilustrar a complexidade da situação e os
aspectos nela envolvidos, onde frequentemente formam uma base
de dados para futuros trabalhos comparativos e de formulação de
teoria;
2. INTERPRETATIVO: contém uma rica descrição do fenômeno
estudado buscando encontrar padrões nos dados e desenvolver
categorias conceituais que possibilite interpretar ou teorizar sobre o
fenômeno podendo ir de simples sugestões de variáveis até
elaboração de uma teoria. Ressalta-se que o termo teoria proposto
tem alcance mais limitado em relação as grandes teorias, tendo
como meta a organização e o desenvolvimento de um conjunto
integrado de conceitos e do relacionamento entre eles, sendo obtida
a partir de dados empíricos coletados no campo e explicitamente
identificados;
3. AVALIATIVO: a preocupação é gerar dados e informações obtidas
de forma sistemática com a finalidade de apreciação do mérito e
julgar os resultados e a efetividade de um programa.

No que tange a tipologia de estudo de caso, o presente estudo classifica-se como


descritivo e interpretativo. Na investigação em questão, a espacialidade foi descrita,
analisada e interpretada por meio da sua evolução no tempo como resultado das
questões sociais e econômicas dominantes, materializadas nos logradouros
estudados em conjunto com suas edificações, que serão desvelados durante o
processo investigativo. A situação sistêmica e dialética da pesquisa descritiva decorre
da intenção de descrever a paisagem urbana das avenidas Sete de Setembro e
Eduardo Ribeiro, contextualizando-as como parte integrante de um contexto maior
representado pela formação socioespacial regional, relacionada a fatores mundiais,
nacionais e regionais materializadas na sua configuração espacial, tendo como base
a abordagem ecológica do turismo urbano (Ashworth, 1989) com o uso das categorias
de análise do espaço vivido, percebido e concebido de Henri Lefebvre (1974), a
formação socioespacial de Milton Santos (1977), da teoria do espaço turístico de
Boullón (2002) e análise dos caminhos (ruas/avenidas) de Castrogiovanni (2013). Já
na abordagem política (Ashworth, 1989) esse processo descritivo dar-se na
133

identificação das políticas públicas implementadas nesses logradouros nas seguintes


esferas: federal, estadual e municipal.
Conceitualmente, para Barros e Lehfeld (2000, p.55), o método científico “não é
único e nem sempre o mesmo para o estudo deste ou daquele objeto e/ou para este
ou aquele quadro da ciência, uma vez que reflete as condições históricas do momento
que o conhecimento é construído”. Os princípios essenciais do método cientifico são:
Observação direta do fenômeno; variáveis, métodos e procedimentos
claramente definidos; hipóteses empiricamente verificáveis; capacidade de
descartar hipóteses concorrentes; justificativa das conclusões de forma
estatística, e não linguística e processo de autocorreção (COOPER e
SCHINDLER, 2016, p.68).

Para a construção dessa tese o método hipotético-dedutivo é o que melhor se


aplica ao processo investigativo, pois, parte da premissa da existência de uma lacuna
no conhecimento com a formulação de hipóteses e, pelas inferências dedutivas testa
a predição da ocorrência de fenômenos englobados pelas hipóteses criadas
(OLIVEIRA NETTO, 2006). Esse método é oriundo de Popper (1975, p.14) no qual
afirma de que “consiste na escolha de problemas interessantes e na crítica de nossas
permanentes tentativas experimentais e provisórias de solucioná-los”. Metring (2009)
reforça que esse tipo de pesquisa científica se inicia com o aparecimento claro e
preciso do problema, depois de identificado, o pesquisador formula as hipóteses e
busca outros conhecimentos e instrumentos para auxiliá-lo no desenvolvimento de um
trabalho que permita solucionar a questão, confirmar a hipótese ou refutá-la.
Especificamente no caso dessa pesquisa, a lacuna encontrada está alicerçada na
escassez de estudos do turismo urbano na perspectiva dos logradouros consonante
aos princípios da interpretação patrimonial.
Cooper e Schindler (2016) afirmam que as hipóteses criadas se valem de
conceitos de mensuração que são desenvolvidos por meio dos quais essas
declarações hipotéticas são testadas. Os mesmos mencionam que quando
formulamos uma proposição para testes empíricos para quais atribuímos variáveis a
casos, as mesmas recebem o nome de hipótese. Um caso, para eles, “é definido como
uma entidade ou coisa sobre a qual as declarações discorrem. A variável é a
característica, o traço, ou atributo que, nelas, é imputado ao caso” (COOPER E
SCHINDLER, 2016, p.60). Nesse sentido, com base em Popper, Marconi e Lakatos
(2009) apresentam os seguintes passos desse processo investigatório:
134

1. Problema: surge de conflitos perante às expectativas e


teorias existentes;
2. Solução proposta: consiste na conjectura (nova teoria);
dedução de consequências na forma de proposições
passíveis de teste;
3. Testes de falseamento: tentativas de refutação pela
observação e experimentação, em sua maioria.

Na medida em que conceito é a expressão de um conjunto de características


associado a eventos, objetos, condições, situações e comportamentos, geralmente
precisa-se adotar novos significados para as palavras (fazendo uma palavra abranger
um conceito diferente) ou o desenvolvimento de novos rótulos para esses conceitos
(COOPER; SCHINDLER, 2016). Assim, na atribuição desses novos olhares
conceituais, consequência da aplicação do método hipotético-dedutivo, abaixo na
próxima página visualiza-se a figura 12, que representa um esquema ilustrativo
sintetizando essas etapas na tese.
135

Figura 12: Etapas do método hipotético-dedutivo de Popper aplicado a tese

CONHECIMENTO PRÉVIO/TEORIAS EXISTENTES

Estado da arte, análise das cartas patrimoniais e levantamento bibliométrico da temática Turismo Urbano e suas correlações
no Ebsco e Google acadêmico.

LACUNA /PROBLEMA

Carência de estudos que correlacionem o turismo urbano e logradouros dentro de uma perspectiva de interpretação
patrimonial do seu conjunto ou até mesmo individual quanto a importância de avenidas e ruas no contexto do
desenvolvimento turístico

CONJECTURAS/SOLUÇÕES OU HIPÓTESES
Os logradouros, em conjunto com o patrimônio edificado, são elementos de atratividade turística que influenciam na
valorização histórico-cultural de uma cidade no âmbito do turismo urbano (HC)

H1: No plano de tombamento de Centros Históricos, os


H2: Ruas ou avenidas em Centros Históricos podem ser
conjuntos viários associados ao patrimônio arquitetônico
patrimônio turístico.
podem contribuir na dinamização do mercado turístico

TESTAGEM DAS HIPÓTESES/ APLICAÇÃO DA FICHA OBSERVACIONAL/INSTRUMENTO (apêndice B)


Observação da morfologia dos logradouros pesquisados no contexto histórico-evolutivo; Verificação do fluxo de visitação nos
principais atrativos turísticos do entorno dessas avenidas; Análise do plano de tombamento e políticas públicas no Centro
Histórico de Manaus além de consultas bibliográficas, documentais e na internet sobre os recursos/roteiros turísticos de
Manaus oferecidos.

AVALIAÇÃO DAS CONJECTURAS/SOLUÇÕES OU HIPÓTESES

REFUTAÇÃO (Rejeição) CORROBORAÇÃO (Não Rejeição)

CORROBORAÇÃO

NOVA TEORIA/LACUNA

Abordagem integradora do conceito de patrimônio cultural e do turismo urbano na materialização interpretativa do ambiente
construído por meio dos logradouros (ruas ou avenidas) em Centros Históricos, aspectos que até agora ficaram dissociados e
a margem da discussão acadêmica.

Fonte: Adaptada de Marconi e Lakatos (2009)

Ao alcançar uma densa e robusta descrição da historicidade e materialização do


patrimônio edificado dessa paisagem, a partir dos dados empíricos levantados no
campo, da análise bibliográfica e documental apoiada na literatura existente passa-se
para a etapa interpretativa do estudo, pois, foram desenvolvidas categorias
conceituais para a formulação de parâmetros interpretativos de análise da oferta
turística aplicados nos logradouros na perspectiva de conjunto com suas edificações.
Utilizando como referência os princípios da interpretação do patrimônio de Tilden
(1957) e da Carta de Icomos (2008). A proposta dessa tese, traduz-se na integração
136

do conceito de patrimônio cultural e do turismo urbano na materialização interpretativa


do ambiente construído por meio dos logradouros e suas edificações, aspectos
dissociados e não retratados academicamente até o presente momento, sendo essa
a principal contribuição científica da pesquisa.

3.2 TÉCNICA, COLETA, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Após a definição da abordagem epistêmica, do método cientifico, da natureza do


estudo e sua tipologia, inicia-se a fase mais prática e operacional da pesquisa, visto
que as anteriores basicamente são a essência estratégica do processo investigativo.
Nesse âmbito, o método torna-se mais generalista e abrangente estabelecendo o que
se deve fazer, enquanto as técnicas são como fazer (DENCKER, 1998). Observa-se
que no enfoque qualitativo existe um conjunto de práticas interpretativas que tornam
o mundo “visível”, transformando-o em uma série de representações na forma de
observações, anotações, gravações e documentos, proporcionando profundidade aos
dados, riqueza interpretativa, contextualização do ambiente ou entorno com múltiplas
técnicas de coleta dos dados não padronizados, sem medição numérica e análise não
estatística (SAMPIERI, COLLADO, LUCI, 2013).
Este trabalho utilizou os procedimentos baseados em Marconi e Lakatos (2009),
com o uso das seguintes técnicas de pesquisa: a) Documentação Indireta
(bibliográfica e documental) e b) Observação direta intensiva do tipo não participante
(o pesquisador entra em contato com a realidade estudada permanecendo de fora,
sem integrar-se a ela). Costa (2001) e Marconi e Lakatos (2009) afirmam que a
pesquisa bibliográfica ou fontes secundárias vem basicamente dos livros e revistas,
abrangendo toda a bibliografia tornada pública em relação a temática estudada,
enquadrando-se nessa categoria as fontes de informações obtidas via internet.
Diferentemente da pesquisa bibliográfica, a documental ou fontes primárias ainda não
recebeu tratamento analítico ou que pode ser reelaborado. São documentos oficiais,
pessoais, internos de instituições públicas ou privadas bem como dados estatísticos
gerados por relatórios de empresas. Mesmo constituindo dados estáveis e históricos,
o pesquisador deve ater-se a verificar sua veracidade e representatividade procurando
interpretar de forma correta o conteúdo analisado (MARCONI e LAKATOS, 2009).
O ponto de partida para tese iniciou-se pela etapa da pesquisa secundária, com
consulta nos acervos bibliográficos, documentais, cartográficos e iconográficos
137

existentes na área que serão catalogados e revisados em conformidade com o objeto


investigado, estudando toda a literatura existente sobre o assunto.
Após a fase de tipificação e explanação da pesquisa é necessário contemplar o
momento da aplicação dos instrumentos selecionados e das técnicas escolhidas com
a finalidade de coletar os dados (OLIVEIRA NETTO, 2006). As evidências de estudos
de caso podem vir de seis fontes distintas: documentos, registros em arquivos,
entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos (YIN, 2005).
Numa pesquisa qualitativa, as técnicas de observação e a análise de documentos são
os instrumentos de coleta mais utilizados (DENCKER, 1998). A coleta de dados tem
como propósito obter informações sobre a realidade foco da investigação. No entanto,
Creswell (2007) destaca que a coleta na pesquisa qualitativa envolve quatro tipos
básicos:
1. Observações: notas de campo em que o pesquisador registra de maneira
estruturada ou semiestruturada as atividades no local de pesquisa,
durante a observação recomenda-se o uso de um protocolo
observacional. Nesse sentido, no apêndice B está a ficha observacional
dos logradouros com as categorias de análise a serem observadas no
registro de campo das avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro.
Essa ficha foi elaborada a partir da abordagem ecológica e política de
Ashworth (1989) do turismo urbano com o incremento associativo das
categorias de análise: do espaço vivido, percebido e concebido de Henri
Lefebvre (1974), da formação socioespacial de Milton Santos (1977), da
teoria do espaço turístico de Boullón (2002), e, da análise dos caminhos
(ruas/avenidas) de Castrogiovanni (2013). E, ainda, é uma adaptação com
base na ficha de Inventário do Patrimônio Cultural da Fundação Cultural
de Santa Catarina, disponibilizado pela professora Alessandra De Vitte e
da Ficha de Inventário Turístico da Goiás Turismo cedido pela turismóloga
Giovanna Tavares, autorizada pelas mesmas. Essa ficha contêm a
sistematização de informações obtidas documentalmente e na
observação de campo, originando, desta forma, a propositura de quatro
dimensões de identificação: Dimensão normativa-D1; Dimensão
morfológica de conjunto-D2; Dimensão interpretativa patrimonial-
D3; Dimensão turística-D4. O quadro 03 apresenta, a partir do uso do
método hipotético-dedutivo, as abordagens política e ecológica do turismo
138

urbano, gerando os parâmetros/dimensões de análise turística dos


logradouros na perspectiva de conjunto com o seu patrimônio edificado
protegido.
Quadro 03: Resumo das categorias de análise da ficha observacional do
apêndice B

ABORDAGEM ABORDAGEM ECOLÓGICA


POLÍTICA (Ashworth,1989)
(Ashworth,1989) Morfologia das áreas urbanas
Políticas
públicas e ações
governamentais

D1-Normativa* D2- Morfológica D3- Interpretativa D4- Turística


de conjunto patrimonial

➢ Legislação ➢ Zona; ➢ Mídias ➢ Atrativos


protetiva do logradouro; extensão, interpretativas física e e roteiros turísticos-
patrimônio cultural; localização GPS; virtual (Lefebvre, 1974- (Lefebvre, 1974-
bairro; tipificação e Espaço Imaginado e Espaço Vivido;
➢ Quantidade foto área do Castrogiovanni, 2013- Boullón,2002-
de imóveis tombados logradouro Mobiliário urbano). Roteiros);
individualmente e de (Boullón,2002);
interesse para ➢ Acessibi-
preservação; ➢ Entorno do lidade
logradouro: (Castrogiovanni,
➢ Programas; edificações de uso 2013- Análise dos
projetos e comercial/residencial caminhos-facilidade
intervenções /institucional/híbrida); de fluxo dos sujeitos
públicas. áreas verdes; e dos veículos);
calçada; iluminação
pública; paradas de ➢ Placas
* Observação: essas ônibus; lixeiras. de sinalização de
categorias de análise (Castrogiovanni, trânsito e turística
são oriundas de 2013- Análise dos (Castrogiovanni,
abordagem política caminhos- 2013- Mobiliário
de Ashworth (1989). Agradabilidade urbano);
estética ou
cênica/Paisagem ➢ Serviços
construída e os e equipamentos de
caminhos/Serviços apoio ao turismo-
urbanos/Mobiliários (Lefebvre, 1974-
urbanos e Lefebvre, Espaço Vivido e
1974-Espaço Castrogiovanni,
Percebido); 2013-Serviços
urbanos/Equip.
➢ Ambiência apoio ao turismo.
histórica e
contemporânea na
perspectiva de
conjunto da paisagem
e levantamento
fotográfico (Lefebvre,
1974-espaço
imaginado; Formação
sócio espacial de
Milton Santos (1977);

➢ Descrição da
pavimentação atual
139

(Boullón,2002-tipo de
pavimento;
Castrogiovanni,
2013- serviços
urbanos);

➢ Tipologia/
uso das edificações
históricas
(Boullón,2002- nível
socioeconômico das
edificações;
Castrogiovanni,
2013- Análise dos
caminhos- paisagem
construída e os
caminhos; Lefebvre,
1974-Espaço
Percebido);

➢ Estilo
arquitetônico
predominante das
edificações
históricas.
(Boullón,2002-estilo
arquitetônico e
Lefebvre, 1974-
Espaço Percebido);

➢ Breve
descrição das
características
principais da
ambiência histórica e
atual do logradouro
(Lefebvre, 1974-
Espaço Percebido;
Formação Sócio
Espacial de Milton
Santos (1977).

Fonte: Elaborado pela autora

2. Documentos: o investigador qualitativo pode coletar documentos públicos


(jornais, atas de reunião, relatórios oficiais) ou privados (registros
pessoais, diários, cartas, e-mails). Dentre vários documentos analisados
para os fins dessa tese, cabe destacar o relatório do IPHAN-AM “Olhares
sobre Manaus: atributos e qualidades que conferem valor ao Centro
Histórico” um documento norteador para essa pesquisa e que possui uma
natureza qualitativa de viés participativo aplicando as seguintes técnicas,
conforme orientação da consultoria da Organização das Nações Unidas
para a Ciência, a Educação e a Cultura- UNESCO: a) mapas de
percepção com grupos focais; b) observação participante; c) entrevistas
140

temáticas semiestruturadas com indivíduos selecionados; d) pesquisa


bibliográfica e documental;

3. Material de áudio e visual: esses dados podem ter a forma de fotografias,


objetos de arte, fitas de vídeo ou qualquer forma de som. Assim, foram
pesquisados registros fotográficos, pinturas e vídeos que retratassem a
ambiência pretérita e atual do Centro Histórico de Manaus,
especificamente as áreas onde localizam-se as avenidas Sete de
Setembro e Eduardo Ribeiro.

Vale salientar que foram coletadas os registros iconográficos e informações dos


logradouros e as edificações do seu entorno localizadas no Centro Histórico de
Manaus; Lei Orgânica do Município; Plano Diretor da cidade de Manaus; Indicadores
de Turismo da AMAZONASTUR15 e MANAUSCULT16; Processo de Tombamento do
Centro Histórico de Manaus e outros Relatórios técnicos do IPHAN-AM17; Publicações
do OBSERVATUR-UEA18; Material promocional impresso e nos sites do órgão público
estadual e municipal relacionados à área de turismo e cultura, das principais agências
de turismo que trabalham com o receptivo em Manaus.
A coleta, tabulação, interpretação dos dados e análise dos resultados são
consequências continuadas do processo investigativo. Após a coleta das informações
a etapa seguinte é de organização dos dados (SCHLUTER, 2003). Como no estudo
de caso os procedimentos de coleta de dados são os mais variados, o processo de
análise e interpretação pode, naturalmente, envolver diferentes modelos de análise,
porém é comum admitir que, nessa fase, a natureza da análise seja
predominantemente qualitativa. Assim, serão analisados os relatórios, textos,
gráficos, tabelas e figuras provenientes da fase do levantamento documental e
bibliográfico, os quais serão interpretados pelo pesquisador por meio de textos
descritivos que fornecerão subsídios para elaboração de um modelo de análise
interpretativa dos logradouros em conjunto com suas edificações.

15 Empresa Amazonense de Turismo, órgão do governo estadual responsável pela gestão e


planejamento do Turismo no estado.
16 Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos, secretaria municipal da Prefeitura que responde
pelo turismo na cidade de Manaus.
17 Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Amazonas.
18 Observatório de Turismo da Universidade do Estado do Amazonas-UEA.
141

Na figura 13 e 14 têm-se sinteticamente os procedimentos técnicos, seu


instrumento e etapas bem como o escopo estratégico para alcançar os objetivos do
estudo em epígrafe.

Figura 13: Técnicas e etapas da pesquisa

FASE 1- COLETA DE DADOS:


FASE 2-COLETA DE DADOS:

Fontes Bibliográficas e Documentais:


Observação dos fenômenos físicos e
Pesquisa secundária nos acervos
humanos por meio da ficha de campo para
bibliográficos, documentais, cartográficos e
análise dos logradouros pesquisados.
iconográficos.

RESULTADO FINAL:
FASE 3-ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS
DADOS:
Parâmetros/Dimensões de análise
Sistematização, análise e interpretação das interpretativa dos logradouros em conjunto
informações obtidas. com suas edificações como elemento de
composição da oferta turístuca em Centros
Históricos.

Fonte: Elaborado pela autora


142

Figura 14: Objetivos, abordagem e instrumentos

Descrever as políticas públicas Estabelecer parâmetros


Narrar a historicidade das interpretativos de análise dos
avenidas Sete de Setembro e implementadas no Centro
Histórico de Manaus bem como logradouros na perspectiva de
Eduardo Ribeiro estabelecendo conjunto com o patrimônio
as relações entre o ambiente a oferta de turismo urbano a luz
da paisagem urbana edificado na composição da
construído e os aspectos oferta turística aplicados em
socioeconômicos dominantes no pesquisada
Centros Históricos.
período temporal de sua
construção até os dias atuais
Abordagens de Asworth,
(1989) política e ecológica
Abordagem ecológica Abordagem política (dialética tridimensional de
Lefebvre (1974); formação
(Asworth, 1989) com a (Asworth, 1989) socioespacial de Santos
dialética tridimensional de
Lefebvre (1974); formação (1977); teoria sistêmica do
socioespacial de Santos espaço turístico de Boullón
(1977) e teoria sistêmica do (2002) e análise dos
espaço turístico de Boullón caminhos (ruas/avenidas)
(2002). de Castrogiovanni (2013).

Fontes bibliográficas,
documentais,
cartográficas e
Fontes bibliográficas, Sistematização da ficha
iconográficas observacional dos
documentais e logradouros; Sites das
iconográficas agências e órgãos públicos;
arquivos e documentos
oficiais quanto ao fluxo
turístico

Fonte: Elaborado pela autora

A finalidade da pesquisa é de justamente ampliar o olhar no contexto da


interpretação patrimonial que contemple os logradouros em Centro Históricos como
lugares representativos que marcam diferenças espaciais urbanas singulares e que
em conjunto com suas edificações, poderiam ser mais bem explorados no contexto
turístico urbano, reforçando os aspectos de identidade e memória do lugar para
residentes e visitantes.
143

3.3 LÓCUS DA PESQUISA

A amostragem teórica ou lócus da pesquisa são unidades de análise


representativas para o desenvolvimento de um estudo científico. Nos estudos de caso
voltados para a construção de uma teoria devem ser escolhidos em função da sua
contribuição para a formulação da teoria emergente bem como são selecionados a
partir de sua relevância para as questões da pesquisa dando suporte à explanação
que será desenvolvida e testada pelo pesquisador no âmbito de seus pressupostos
teóricas propostos (EISENHARDT, 1989; CRESWELL, 2007). Conforme Fonseca
(2010), em todo empreendimento de pesquisa, o pesquisador deve tomar a decisão
quanto à totalidade do campo, ou parte do mesmo a ser abarcada. Para a aplicação
da pesquisa de campo da tese e também como parâmetro de aplicação do estudo
proposto, será o utilizado como objeto o Centro Histórico de Manaus. Assim, entende-
se ser o Centro Histórico de Manaus, a área de estudo ideal para aplicação das
hipóteses dessa pesquisa, onde propõem-se um novo olhar na perspectiva de
conjunto dos logradouros (aqui representados pelas Avenidas Sete de Setembro e
Eduardo Ribeiro) com as edificações do entorno como recursos para o planejamento
da oferta turística de um destino. Em suma, o Centro Histórico de Manaus seria o
universo e as avenidas a amostragem teórica do estudo.
Vale salientar, que o objeto empírico da pesquisa serve como um teste para
aplicação desses parâmetros de análise dos logradouros como atratividade turística
na perspectiva de conjunto como suas edificações. Seus resultados, não se limitarão
à essa área específica, mas que poderá ser aplicado em outros Centros Históricos no
Brasil, auxiliando no processo de desenvolvimento do turismo do destino bem como
de valorização e preservação de um sítio histórico.
As Avenidas Sete de Setembro e Avenida Eduardo Ribeiro localizam-se no
Centro Antigo de Manaus (Figura 16), tombado em 1990 pela Lei Orgânica do
Município (art. 342). Destaca-se que as supracitadas avenidas também estão situadas
no sítio histórico, como define o artigo 235 da Lei Orgânica do Município de Manaus
– LOMAN, de 1990.

Tem-se por sítio histórico da cidade o trecho compreendido entre a Avenida


Sete de Setembro até a orla do Rio Negro, inclusive Porto Flutuante de
Manaus, Praças Torquato Tapajós, 15 de novembro e Pedro II, Ruas da
144

Instalação, Frei José dos Inocentes, Bernardo Ramos, Av. Joaquim Nabuco,
em toda a sua extensão, Visconde de Mauá, Almirante Tamandaré, Henrique
Antony, Lauro Cavalcante e Governador Vitório.

Figura 15: Mapa com a delimitação do Centro Antigo de Manaus e o seu sítio
histórico de acordo com a LOMAN (1990) com destaque em vermelho para a
avenida Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro

Fonte: MANAUSCULT (2017)

O mapa da figura 15 demonstra que o Sítio Histórico está contido em uma área
maior que é o Centro Antigo de Manaus, de acordo com os limites estabelecidos pela
LOMAN. Essa área encontra-se sob a tutela das três esferas da Administração (União,
Estado e Município), mediante diferentes instrumentos legais e variadas formas de
proteção (individual ou conjunto) o que denota que a área, objeto de estudo dessa
pesquisa, possui a proteção legal necessária do ambiente construído e ainda,
demonstra a relevância e representatividade de sua configuração urbana. Esse
arcabouço de leis de proteção ao patrimônio histórico e cultural ao receber a
intervenção federal, por intermédio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
145

Nacional – IPHAN, reconheceu a importância do Centro Histórico de Manaus para o


país, determinando sua proteção, através do tombamento da área, publicado no diário
oficial da União nº 222 de 22 de novembro de 2010, conforme ilustrado na Figura 16,
onde as Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro também fazem parte,
destacadas com as setas brancas. Essa área é depositária da maior parte do
patrimônio edificado remanescente da fundação e evolução urbana de Manaus, uma
espécie de marco urbano da cidade, com valores patrimoniais distintos e
complementares, em que o paisagístico e o urbanístico, o histórico e o pré-histórico
estão fortemente entrelaçados como autênticos representantes do patrimônio cultural
da região.

Figura 16: Mapa com as Poligonais de entorno e tombamento federal do Centro


Histórico de Manaus, publicada no DOU No. 222, Seção 03 na data de 22/11/2010

Fonte: BENZECRY (2018)


146

Conforme a figura, percebe-se que antes do tombamento do Centro Histórico,


realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, a formas
de acautelamentos protetivos a nível federal ocorreram de modo individual, sem
considerar seu entorno. “Muito embora a área do porto exprima a preservação
histórica da função portuária de Manaus e da origem do núcleo urbano, não contempla
os inúmeros bens passíveis de tombamento e ainda existentes” (IPHAN, 2010, p.12).
No mesmo documento, o órgão relata que a capital manauara possui apenas 04
(quatro) bens tombados em nível federal (Teatro Amazonas 1966; Porto de Manaus-
1966; Reservatório do Mocó-1984 e Mercado Adolpho Lisboa-1987), e que embora
sejam destaque na historicidade regional, foram vistos isoladamente sem uma maior
integração com a cidade, constituída especialmente a partir da exploração da
borracha, em fins do século XIX. Sendo assim, ao IPHAN procurou corrigir essa
distorção ao ampliar a visão isolada de proteção do patrimônio na forma individual
passando a considerar a área destacada em verde como tombada, juntamente com o
seu entorno e também passível de proteção.
A área está inserida próximo à orla fluvial da malha urbana, no bairro Centro,
zona sul da cidade. Constitui-se em uma densa e pequena amostra do município, ou
seja, ali encontra-se uma síntese do conjunto das atividades econômicas locais:
portuárias, comerciais, de serviços, abastecimento, institucionais, educacionais,
culturais e residenciais, estão localizados também os bairros mais antigos da capital
amazonense, cujo significado nos remete às origens da cidade de Manaus bem como
a diferentes etapas de sua evolução histórica. O espaço construído nessa área possui
todo um acervo de elementos acumulados ao longo do tempo, imprimindo à área uma
imagem própria, que pode encontrar no turismo a oportunidade de valorizar e
potencializar novas atividades.
Para a historiadora Edinéia Dias no final do século XIX e início do século XX as
funções do espaço na cidade de Manaus foram redefinidas, para cada igarapé surgia
uma avenida ou uma antiga viela era alargada, o tecido urbano passou a configurar
um novo formato de cidade, com novos grupos sociais em suas mais diferentes
relações, situações e conflitos. O centro da cidade era um polo de atração de pessoas
das mais diversas nacionalidades: ingleses, alemães, portugueses, espanhóis,
147

italianos, franceses além de vários migrantes do país, sobretudo nordestinos (2007,


p.35).
Mesquita (2006) defende essas transformações de Manaus como a projeção de
uma vitrine elegante e maquiada, mostrando apenas uma face da realidade da cidade,
“como resultado das mudanças ocorridas no final do XIX, surgia com o novo século,
outra cidade, que pode ser interpretada como a imagem da vitrine instalada, resultado
de uma série de transformações” (MESQUITA, 2006, p. 147). Contudo, entende-se
que a modernidade não chegou a todos, pois a cidade foi recriada em moldes
europeus para atrair pessoas que tivessem poder aquisitivo e não para acomodar o
indígena, o ribeirinho, o manauara. Resultado de todo esse processo de mudanças,
herança do período áureo da borracha, a área central de Manaus foi construída,
destacando grande valor estético e simbólico em seu patrimônio cultural. Por conta
desse fato, visitantes se surpreendem ao conhecer o Centro Histórico de Manaus, pois
quase não encontram as singularidades da cultura nativa, o que aguça a curiosidade
para entender o contexto histórico local. Os principais atrativos culturais desse período
estão presentes na área central da cidade, representado pelo patrimônio edificado,
como museus, teatros, centros culturais, residências, comércio, praças e parques,
estes em sua maioria localizados na Avenida Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro.
148

4. RESULTADOS
Nesse capítulo a compilação e sistematização das informações coletadas de
forma documental, bibliográfica e na observação de campo estão alicerçadas
fundamentalmente na abordagem política e ecológica do turismo urbano de Ashworth
(1989) adotando o paradigma epistemológico sistêmico que essencialmente versa
sobre a interdependência entre as partes constituintes do sistema turístico
necessários ao entendimento do todo compreendendo o fenômeno dentro do contexto
maior dessas interações entre suas partes e respectivas funções. Dentro dessa
abordagem do turismo urbano também estão relacionados ao contexto da
interpretação do conjunto patrimonial construído, nesse caso, edificações com seus
logradouros, aplicando os princípios da interpretação do patrimônio de Tilden (1957),
da Carta de Icomos (2008) que dialogam com a teorias da Dialética Social de Henri
Lefebvre (1974), da Formação socioespacial de Milton Santos (1977), do espaço
turístico de Boullón (2002) e das categorias de análise dos caminhos de
Castrogiovanni (2013), contextualizado e inseridos em cada capítulo. Desta forma,
esquematicamente as seções a seguir estão pautadas nos seguintes assuntos e
teorias:
Figura 17: Síntese dos assuntos e teorias abordados nos resultados.
• Narrativa geo-histórica na conexão entre espaço-tempo no sentido global,
regional e local como parte da abordagem ecológica de Ashworth (1989)
4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO EVOLUTIVA DAS com a aplicação das categorias de análise do espaço vivido, percebido e
AVENIDAS SETE DE SETEMBRO E EDUARDO
imaginado de Lefebvre (1974) e o uso da teoria da formação socioespacial
RIBEIRO
de Milton Santos (1977).

4.2 POLÍTICAS PÚBLICAS NO CENTRO • Ações públicas federais, estaduais e municipais no Centro Histórico
HISTÓRICO DE MANAUS: TOMBAMENTO, de Manaus com base na abordagem política de Ashworth (1989).
PROCESSO DE NORMATIZAÇÃO E AÇÕES
GOVERNAMENTAIS

• Descrição da atividade turística na cidade de Manaus com foco nas avenidas


estudadas no âmbito da abordagem ecológica de Ashworth (1989) com a
4.3 CARACTERIZAÇÃO DA OFERTA DO TURISMO aplicação das categorias de análise do espaço vivido e imaginado de
URBANO NOS LOGRADOUROS E SEU ENTORNO Lefebvre (1974) verificando a utilização dos princípios interpretativos de
Tilden (1957) e da Carta de Icomos (2008) nesses logradouros.

• Análise das fichas de inventário do IPHAN e do Ministério do Turismo


4.4 TURISMO URBANO E VALORIZAÇÃO • Compilação e sistematização das informações oriundas da aplicação da ficha
PATRIMONIAL: PARÂMETROS DE ANÁLISE DOS observacional que reúne as categorias analíticas das teorias de Lefebvre (1974);
LOGRADOUROS NA PERSPECTIVA DE Santos (1977); Boullón (2002) e Castrogiovanni (2013).
CONJUNTO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO NA • Utilização das abordagens política e ecológica de Ashworth (1989) com a
COMPOSIÇÃO DA OFERTA TURÍSTICA EM associação das teorias dialéticas e sistêmicas tendo como finalidade a criação
CENTROS HISTÓRICOS dos parâmetros/dimensões normativas; morfológica de conjunto; interpretativa
patrimonial e turística.

Fonte: Elaborada pela autora.


149

4.1 CONTEXTUALIZAÇÃO EVOLUTIVA DAS AVENIDAS SETE DE SETEMBRO E


EDUARDO RIBEIRO

A materialidade e a atmosfera do entorno dos logradouros devem ser


entendidas diante de uma perspectiva socioeconômica e de historicidade do lugar.
Desta forma, faz-necessário narrar a história de Manaus, seus principais ciclos
econômicos e as especificidades evolutivas passadas e presentes na paisagem
urbana das avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro no intuito de valorar a
experiência turística alicerçada na interpretação do patrimônio herdado e construído.

4.1.1 O nascer e florescer de Manaus: Origens, Borracha e Zona Franca

O processo de elucidação da evolução do município de Manaus no que tange


aos aspectos sociais, históricos, econômicos perpassam pela formação
socioeconômica da Amazônia Ocidental, em especial do estado do Amazonas. O
conhecimento do seu contexto geral e específico exige a análise da ocupação e
manifestações histórico-culturais desse território que remetem às suas origens, o que
acaba por proporcionar uma melhor compreensão das formas e ambiência contidas
nas avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro em consonância com o contexto
atual da cidade de Manaus.
Para Ab’Saber (2004) Manaus é a verdadeira hinterlândia19 amazônica além de
ser capital do Amazonas, está situada entre a Amazônia Ocidental e Oriental, em um
ponto principal da navegação fluvial, formado por grandes rios consequentes da
Amazônia Ocidental que possuem seu fecho de raios na altura de Manaus, na
confluência dos rios Negro e Solimões. Assenta-se na porção ribeirinha de um sistema
de colinas tabuliformes, comportando-se rigorosamente como uma cidade fluvial de
confluência: daí o seu humilde e ajustado apelido inicial de “Logar da Barra”
(AB’SABER, 2004, p.201-202). No desenvolvimento de sua colonização, a região não
era um vazio demográfico, portanto, a Amazônia que os europeus iriam descobrir no
século XVI, estava habitada havia 10 mil anos ou mais (OLIVEIRA, 2014 e GARCIA,

19 De acordo como o dicionário online de português é uma região servida por um porto ou via
navegável. Disponível em: https://www.dicio.com.br/hinterlandia/. Acessado em 28 dez de 2020.
150

2010). Os estudos demonstram que essas populações eram grandes grupos humanos
em diferentes estágios culturais com formas próprias de organização social,
distribuíam-se em pelo menos cinco troncos linguísticos: tupi, linguísticos, pano e gê
(GARCIA, 2010). Essa ocupação significou uma forma peculiar de colonização não
acrescentando novos contingentes humanos à área, pelo contrário, sangrava-os
ininterruptamente em suas populações indígenas, dizimando-as e destruindo suas
estruturas sociais (OLIVEIRA, 2014).
A invasão europeia deixou como legado para a região, um brutal processo de
despovoamento e de extinção cultural, pois antes havia uma ampla diversidade social
em uma Amazônia bastante povoada por povos adaptados às condições ambientais
do local. Quando os europeus chegaram, no século XVI, a área era habitada por um
conjunto de sociedades hierarquizadas, com alta concentração demográfica,
ocupando o solo com povoações em escala urbana, um sistema intensivo de produção
de ferramentas e cerâmicas, agricultura diversificada, rituais e ideologias vinculadas
a um sistema político centralizado e uma sociedade fortemente estratificada (SOUZA,
2009). A ocupação e consolidação do domínio de Portugal na Amazônia caracteriza-
se pela demarcação da defesa e a conquista do território como ponto de apoio para a
interiorização do extremo oeste da região até o século XVIII, garantindo a posse do
território e praticamente definindo os limites fronteiriços ao Norte e a Oeste, existentes
até hoje (OLIVEIRA, 2014).Os portugueses fixaram-se na foz do rio Amazonas em
1616, tempo da União Ibérica, com a construção do Forte Presépio (por Francisco
Caldeira) que tinha a finalidade de expulsar ingleses e holandeses, começando a
empurrar para o oeste a linha de Tordesilhas, dando partida ao processo de
colonização que possibilitou à Coroa Lusa incorporar aos seus domínios os extensos
territórios amazônicos que se tornariam brasileiros (GARCIA, 2010).
Consumada a vitória da coroa portuguesa, redefiniu-se a estratégia de defesa e
colonização do litoral norte brasileiro, mandando tropas lusas rumo à foz do rio
Amazonas, montando bases, expulsando os europeus não-ibéricos, retomando
territórios ocupados e instituindo o sistema legal de organização do trabalho indígena
vigente na época: o sistema de “capitães de aldeia” (GARCIA, 2010; PONTES FILHO,
2000). A conquista luso-brasileira da foz do Amazonas foi mais bem programada que
a dos seus concorrentes, pois tinha uma diretriz político-religiosa sobrepondo-se à
151

econômica dos seus opositores (LOUREIRO, 1982). Desta forma, a historiadora


Etelvina Garcia (2010) relata que a viagem de Pedro Teixeira (1637-39) fez com que
os conquistadores portugueses se sentissem donos do grande universo de água e
floresta e por conseguinte, tomassem atitudes preventivas contra a cobiça de
concorrentes europeus na empreitada da colonização. Nesse contexto que,
supostamente em 1669, o Forte de São José do Rio Negro foi construído, acumulando
dupla serventia de entreposto de venda de escravos e de drogas do sertão. Com a
chegada dos frades carmelitas (1695) começou a se formar, ao redor da fortaleza, o
núcleo minúsculo de colonização que mais tarde daria origem à cidade de Manaus
(GARCIA, 2010).
O Estado Colonial do Grão-Pará e Rio Negro extinguiu-se em 1823, ao
incorporar-se ao Império do Brasil, dando origem à Província do Pará (consagrada na
Constituição outorgada por D. Pedro I em 25 de março de 1824) com jurisdição sobre
o território da antiga capitania de São José do Rio Negro, que seria reduzida a
comarca do Grão-Pará em 1825 e só em 05 de setembro de 1850 ganharia o foro de
província do Império, com o nome de Província do Amazonas (GARCIA, 2010). Antes
de ser elevada à categoria de província do Amazonas, territorialmente a região
constituía o Estado do Grão-Pará, com sede em Belém, abrangendo as capitanias do
Grão-Pará e São José do Rio Negro, onde os seus assuntos eram tratados
diretamente com Lisboa e com governadores nomeados pelo Rei (LOUREIRO, 1982).
Esse mesmo autor descreve que a instalação da província se deu em primeiro de
janeiro de 1852, quando tomou posse o seu primeiro presidente, João Baptista de
Figueiredo Tenreiro Aranha, tendo como limites e extensão os mesmos da antiga
Comarca do Rio Negro, e como capital a cidade de Nossa Senhora da Conceição da
Barra do Rio Negro (hoje Manaus). Complementando a criação da província, no dia
seguinte, foi organizada a Companhia do Comércio e Navegação do Alto Amazonas,
do Barão de Mauá, destinada a propiciar e estabelecer comunicações e transporte,
para as cidades amazônicas bem como promover o comércio e a colonização da
região (LOUREIRO, 1982 e 2007).
Ressalta-se que na época colonial, o Amazonas sobrevivia de uma atividade
agrícola de comodidades, plantando algodão, café, guaraná, tabaco e cacau, com
alguma agricultura alimentar de subsistência baseada na mandioca, batata doce,
152

macaxeira, milho, arroz, feijão, entre outros (LOUREIRO, 2007). A principal ocupação
dos habitantes do Amazonas na época Imperial foi o extrativismo, que explorava os
recursos naturais de origem animal (couro de animais silvestres, pesca do pirarucu,
peixe-boi, manteiga de tartaruga, etc.) e vegetal, até que um de seus produtos, a
borracha, predominasse em definitivo, no total das exportações, na segunda metade
do período (LOUREIRO, 2007).
José Aldemir (2014) salienta que em linhas gerais o acontecimento mais
relevante na segunda metade do século XIX foi a exploração extensiva dos seringais,
o que possibilitou o estabelecimento da malha urbana e a modificação da paisagem
na Amazônia. O comércio de exportação e importação sofreu rápidas mudanças
durante o Império, devido à navegação a vapor fluvial e de longo curso bem como
pela adoção do sistema de aviamentos na produção extrativa (LOUREIRO, 2007). No
período da borracha a maioria da população não estava nas vilas existentes, mas
embrenhada no interior da floresta, ou seja, as vilas e as poucas cidades continuaram
com as mesmas funções para as quais haviam sido criadas no século XVIII:
representação do poder público para arrecadação de impostos, sede das missões
religiosas, base para a circulação de produtos extrativos para exportação e internação
de produtos alimentícios básicos que vinham de lugares externos a região e eram
internalizados a partir de Belém e Manaus (OLIVEIRA, 2014).
A nova província do Amazonas só irá assumir maior relevância econômica no
país, por ocasião da crescente demanda de látex pela Europa e Estados Unidos, em
função do desenvolvimento da indústria automobilística e da II Revolução Industrial,
no final do século XIX para a fabricação de pneus, ligas, bolas, entre outros (GARCIA,
2010). No relato da supracitada autora, no final do Império fortalecia-se o sistema de
produção e exportação da borracha, dinamicidade na construção civil, aterros seriam
feitos, calçavam-se ruas, abriam-se praças, construíam-se pontes, levantavam-se
novos edifícios públicos, implementava-se o sistema pioneiro de captação e
abastecimento de água. Em síntese, “a instalação da província do Amazonas, a
navegação a vapor e as necessidades mundiais de borracha criaram as condições
necessárias ao expansionismo amazonense da segunda metade do século 19”.
(LOUREIRO, 2007.p.97).
153

Vale destacar, a entrada de centenas de milhares de emigrantes nordestinos,


que por causa da seca procuravam na região melhores condições de vida, perante o
desenvolvimento do ciclo da borracha. O sincretismo entre o passado indígena do
Nordeste encontrou suas raízes na Amazônia, no entanto, as regiões de menor
influência do cearense permaneceram as antigas tradições amazônicas: Belém, por
ter uma concentração de maior do elemento nativo, guardou as recordações do seu
modo de ser, já Manaus, sem grande população, intensamente infiltrada, quase nada
manteve desse passado anterior à borracha (LOUREIRO, 1982). Para o professor
Samuel Benchimol (2009), historicamente a Amazônia evoluiu pela incorporação do
desdobramento de quatro frentes de ocupação e povoamento, a via atlântica de
colonização portuguesa que entrou pelo vale amazônico, produziu a fase histórica do
ciclo das drogas do sertão e do povoamento nordestino que impulsionou o ciclo da
borracha.
Os ideais republicanos difundiram-se na Província do Amazonas, a partir dos
anos 1870, mas obtiveram maior força com o Clube Republicano do Amazonas,
fundado em 29 de junho de 1889 e instalado no dia 03 de julho (GARCIA, 2010). Os
primeiros anos da República no Amazonas foram caracterizados pela instabilidade
política, que segundo Arthur Cézar Ferreira Reis, citado por Pontes Filho (2000, p.
157): “todos queriam mandar e ninguém queria obedecer”. Em menos de 3 anos, entre
1889 e 1892, passaram pelo governo do Estado, seis diferentes governadores,
somente a partir do oitavo governo, com Eduardo Ribeiro, é que o estado passou a
ter estabilidade política e surto de urbanização, progresso e desenvolvimento na
cidade de Manaus. Desta forma, Garcia expõe que:

O planejamento urbanístico do governador Eduardo Ribeiro (1892-96)


modernizou e expandiu para o norte a pequena cidade que se debruçava
sobre o rio e palmilhavam-se os chãos de São Vicente, Espírito Santo,
Remédios... E abriu espaço para edificações monumentais e equipamentos
urbanos comprados da Europa, fazendo de Manaus, capital do Amazonas,
umas mais bonitas capitais brasileiras. (2010, p.90).

Após a fase áurea da borracha, o Amazonas entrou em período de decadência


e estagnação, as gerações, que se seguiram ao fim do monopólio da borracha e ao
desaparecimento abrupto da civilização do látex, lutaram contra a pior sequela da
decadência econômica: a inércia. Até que com a queda de Getúlio Vargas e o
restabelecimento da democracia representativa, organizou-se eleições livres e logo
154

depois, estabeleceu-se um modelo desenvolvimentista que faria com que a Amazônia


brasileira saísse do atoleiro, reorganizando a economia extrativista, aproveitando a
demanda internacional de fibras de juta, pimenta-do-reino, castanha do Pará e
madeiras de lei (GUIMARÃES,2012).
A partir de 1967, o Governo Federal começou a voltar-se para a região, com a
criação da Zona Franca de Manaus resultado da política de incentivos fiscais e
tributários, implementados pelo regime militar, seguindo a lógica das forças e
interesses nacionais e internacionais. Com essa ação, mais uma vez, o interior do
estado era progressivamente abandonado. A capital expandiu-se rapidamente e o
governo do Estado aumentava significativamente sua arrecadação de receitas
oriundas do recolhimento de impostos das indústrias e comércios instalados na ZFM 20
(PONTES FILHO, 2000). Na visão de Loureiro (1982), instaura-se na região um
neocolonialismo econômico juntamente com o político, afastando as populações
amazônicas das decisões, que afetarão sua sobrevivência futura, caracterizando a
Amazônia como uma área rica em recursos naturais e de uma economia em franco
crescimento, o que acaba por ocasionar uma procura de empresas e pessoas fora da
região para usufruir desses recursos, gerando uma situação cíclica de picos positivos
e negativos.
Cabe destacar as ideias explicitadas pelo escritor amazonense Milton Hatoum
na obra de Edineia Mascarenhas Dias (2007, p.12), em que convida o leitor atento a
pensar a cidade atual salientando que “não podemos entender o presente sem uma
compreensão aguda do passado”. Isso significa dizer que apesar desta parte da
pesquisa estar voltada para o passado da cidade, ela leva à reflexão sobre o presente,
na perspectiva do ontem visando à construção dos alicerces do amanhã. Portanto, o
processo histórico de evolução da cidade de Manaus é preciso recuar até a chegada
dos primeiros descobridores que aqui chegaram, entre os quais, espanhóis e
holandeses e, finalmente, os portugueses que passaram a dominar a região para se
chegar ao contexto atual. prédios e edificações históricas.
Localizada aos 3º de latitude Sul e 60º de longitude Oeste, próxima à linha do
Equador, o município de Manaus faz parte da região Norte do Brasil e capital do
estado do Amazonas, situando-se no centro geográfico da Amazônia. Sua superfície

20 Zona Franca de Manaus.


155

total é de 11.458,5km2 (Lei Municipal nº 279, de 05 de abril de 1995), equivalendo a


0,73% do território do Estado do Amazonas, que abrange 1.577.820,2 km 2.
Os limites do município confrontam: ao Norte, com as terras do município de
Presidente Figueiredo; a Leste, com o município de Rio Preto da Eva e sudeste com
Itacoatiara; ao Sul, com os municípios de Careiro da Várzea e Iranduba; a Oeste, com
o território do município de Novo Airão. A cidade está assentada sobre um baixo
planalto que se desenvolve na barranca da margem esquerda do rio Negro, na
confluência deste com o rio Solimões, no local em que se forma o rio Amazonas,
conforme demonstrado na Figura 18:

Figura 18: Limites da cidade de Manaus com os municípios.

Fonte: https://www.brasil-turismo.com/amazonas/manaus-mapa.htm. Acesso: 09 de


janeiro de 2021.

A área urbana de Manaus (Figura 19) se estende por 377km2, correspondendo


apenas a 3,3% do território municipal. Atualmente, Manaus, apresenta uma população
156

estimada para 2020 num total de 2.219,580 habitantes, sendo que o último censo de
2010 correspondeu a 1.802.014 de habitantes, com uma concentração de 99,49% na
área urbana – 1.394.724 habitantes (IBGE, 2010).
Figura 19: Imagem de satélite da área urbana de Manaus.

Fonte: AMAZONAS EM MAPAS (2016).


157

Meio século após a fundação de Belém (1615-1616), a região amazônica,


especificamente as áreas do entorno do Rio Negro, passaram a ser objeto das
incursões portuguesas provenientes dos núcleos atlânticos pré-existentes (São Luís
e Belém), uma espécie de bandeirismo paulista ao longo dos caudais amazônicos
(AB’SABER, 2004). A penetração portuguesa no território amazonense foi realizada
pelas expedições militares, pelos sertanistas e missionários. Essas expedições
militares puniam os grupos nativos, os sertanistas colhiam especiarias regionais e
resgatavam os índios que por sua vez eram catequizados pelos missionários (IGHA 21,
2001). Manaus tem sua origem no século XVIII, quando justamente essas incursões
portuguesas passaram a explorar a região em busca de escravos indígenas
(MESQUITA, 2006). Foi fundada em 1669 e elevada à categoria de cidade em
24.10.1848, pela Lei Provincial nº 146 (MONTEIRO, 1972). Em 2021, completará 352
anos de fundação e 173 anos de elevação à categoria de cidade. A história de Manaus
começa em um aldeamento indígena, em torno da Fortaleza de São José da Barra
(Figura 20), em 1669 conforme menciona Monteiro:

Ano 1669, aos 3º 8’ 7” latitude S e 60º 61’ 34” longitude O Greenwich, na


altura de 44,99 metros sobre o nível do mar, ergueu-se lentamente, colgada
à barreira da margem esquerda do rio Negro um simulacro de fortaleza, de
forma quadrangular, em pedra e barro, sem fosso (1972, p.26).

Figura 20: Ruínas do Forte.

Fonte: ANJOS e PEREIRA (2011).

21 Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas.


158

De acordo com Garcia (2010), o povoado que se desenvolveu em torno da


fortaleza recebeu o nome de São José da Barra do Rio Negro (Lugar da Barra). A
partir dos relatos do historiador Mário Ypiranga Monteiro, a história de Manaus deve
ser pensada a partir da aldeia indígena já existente na época da construção do forte,
valorizada pelo equipamento militar e pelo qual com a sua edificação marca o início
de uma atividade orgânica. Manaus não teve fundação oficial, nem decretos, nem
fórmulas simples, que ofereçam um curso cronológico dessa fundação. Ela evoluiu
por si mesma até que recebesse sucessivamente as predicações de lugar, de vila e
de cidade, quando outros lugares mais longe no tempo e no espaço já haviam passado
por essas fases político-administrativas, documentadamente (IGHA, 2001). O núcleo
urbano que deu origem à cidade teve início com a construção, por Francisco da Mota
Falcão, do já citado forte, a exemplo de várias outras cidades brasileiras. Os Fortes
tinham como objetivo demonstrar a presença lusitana e fixar o seu domínio, situação
típica da política de colonização portuguesa na época, que buscava assegurar a
soberania sobre o território. A Figura 21 demonstra as características do início de
Manaus, tendo na Fortaleza do Rio Negro a comprovação da ocupação portuguesa:

Figura 21: Prospecto da antiga Fortaleza do Rio Negro (1751-1759) que deu origem
a cidade de Manaus.

Fonte: A CRÍTICA e PREFEITURA DE MANAUS, 2003.


159

A origem, crescimento e desenvolvimento da cidade de Manaus parte de um


primeiro momento que foi o encontro desses dois grupos (colonizador e indígenas), o
qual provocou um choque cultural que exigiu um processo de aculturação 22 e
deculturação23 dos povos indígenas bem como a miscigenação entre colonizador e
colonizado, formando a base sociocultural da população Manauara. Como
comprovação desse encontro e consequentemente a formação do embrião que deu
origem a cidade, Braga (2001) diz que:

Por todos os levantamentos, vê- se claro que aquele sítio, quase familiar de
um grupo indígena, foi alentado pela construção do forte em 1669, e a cidade
foi se constituindo sem que ordem portuguesa tenha havido para sua
decretação, alcançando evolução natural, assumindo os predicamentos
ordinários de lugar, vila e cidade, sede e capital, ao contrário de outros
lugarejos que, mesmo fortificados, não prosperaram. Esta era a política de
Portugal, chamada por alguns de “política das fortalezas (IGHA, 2001, p.12).

Na construção dessa cidade, Monteiro (1972) relata que do arraial, povoa ou


povoado da Barra existem descrições superficiais segundo as quais sua configuração
espacial na época se limitava ao exíguo trato de terra que ia do pontal de São Vicente-
de-Fora, a Oeste, ao igarapé da Ribeira Imperial, a Leste; e do “mar” (Rio Negro), ao
Sul, ao igarapé de São Vicente24-de-Fora, ao Norte. Depois do Arraial vem o Lugar,
que está um grau acima daquele em matéria de melhoramento administrativo e logo
abaixo da Vila, em termos de autonomia, onde sua predicação foi assinalada no ano
de 1799, quando adquiriu uma categoria não-oficial de Sede da Capitania de São José
do Rio Negro (MONTEIRO, 1972).
Em 1832, sob a denominação de N. S. da Conceição da Barra do Rio Negro, o
lugarejo foi elevado à categoria de Vila, ainda não era o máximo, mas já era um passo
no sentido de uma autonomia que só seria alcançada em 24 de outubro de 1848
quando obteve a predicação de cidade, mudando seu nome de Vila da Barra para
Cidade da Barra do Rio Negro, amparada pela Lei n o 147, votada pela Assembléia
Legislativa do Pará. Em 04.09.1856 pela Lei Provincial n o 68, finalmente, recebeu o
nome de Manaus, em homenagem à nação indígena dos Manáos (Mãe dos Deuses),
o mais importante grupo étnico habitante da região, reconhecido historicamente pela

22 Absorção de uma nova cultura.


23 Perda da cultura original.
24 Que foi aterrado para a construção da Avenida do Palácio, atual Eduardo Ribeiro.
160

sua coragem e valentia (MONTEIRO, 1972; IGHA, 2001; DIAS, 2007; GARCIA, 2010;
MANAUSTUR, 2010). Em 1804, a Vila da Barra do Rio Negro virou capital da
Capitania do Rio Negro, depois Província do Amazonas, que se separou do Pará em
1852, portanto, foi no alvorecer do século XIX que o Lugar da Barra se transformou
em capital, obtendo pela primeira vez funções administrativas, esse aspecto tardio de
funções de capital está diretamente ligado a história do crescimento da cidade
(AB’SABER, 2004). Quando Manaus alcançara o título de Cidade, em 1848, estava
crescendo verticalmente (ver Figura 22), com palácios modestos, pontes, igrejas,
quartéis, teatros, hotéis, igarapés aterrados, ruas calçadas, numerosas ruas e praças,
jardins, escolas, logradouros públicos, etc. (MONTEIRO, 1972).

Figura 22: Manaus e a vista para o Palácio da Presidência do Amazonas em 1858/59

Fonte: MESQUITA (2006).

Praticamente na mesma época em que se tornou Cidade, em 1848, a comarca


do Alto Amazonas foi elevada, em 5 de setembro de 1852, à categoria de Província,
tendo sua instalação ocorrido de fato apenas em 01 de janeiro de 1852, quando
desembarcou em Barra o seu primeiro presidente, João Baptista de Figueiredo
161

Tenreiro Aranha. Com esses fatos relevantes, iniciava-se a história de Manaus na


segunda metade século XIX quando mudanças significativas implementadas no lugar
fizeram com que a região despertasse um crescente interesse internacional, atraindo
grande número de viajantes: pesquisadores, cronistas, cientistas e aventureiros que
divulgavam relatos de suas impressões e investigações. Os acidentes geográficos, a
topografia e os hábitos regionais faziam do lugar um exótico aglomerado urbano, que
misturava elementos ocidentais aos traços nativos, surpreendendo e impressionando
os viajantes estrangeiros por sua diferenciação do padrão europeu. Seu traçado
obedecia aos ditames da natureza: desenhada por igarapés, relevo bastante
acidentado (ver figuras 23 e 24), com morros e ladeiras, enquanto as construções de
uso residencial utilizavam materiais da região, tais como a madeira, a palha e o barro
(MESQUITA, 2006).
Figura 23: Panorama da Cidade da Barra Figura 24: Entrada da Cidade da Barra
do Rio Negro (Manaus) por um desses do Rio Negro (Manaus) com a
viajantes em 1869. perspectiva do provável igarapé do
Espírito Santo em 1869.

Fonte: MESQUITA (2006) Fonte: MESQUITA (2006)

O fato é que o tipo de formação e origem desses viajantes fazia com que eles
estranhassem os aspectos sociais e urbanos da cidade vividos naquele momento e
não observassem que Manaus era um lugar que adaptava sua vida e necessidades
aquilo que o clima e a natureza podiam oferecer, o que para eles era considerado
rudimentar, atrasado, fazendo comparações com a Europa, que “naquela época já
162

usufruía de alguns benefícios introduzidos pela indústria e pelas modernas noções de


higiene” (MESQUITA, 2006, p.36). Assim, Aziz Ab’Saber (2004) reforça que:
Manaus, nesse tempo, era sobretudo, uma cidade índia, onde a população
de origem índia e os resíduos de costumes e atividades dos índios eram um
fato na movimentação urbana; apenas os índios pareciam ter uma vida mais
livre e agradável, em face do clima e do ambiente físico. A iluminação pública
do lugarejo havia algum tempo, era feita por sistema de lampiões alimentados
por manteiga de tartaruga, óleo de peixe-boi ou óleo de mamona. Nada mais
amazônico poderia ser imaginado do que esse fato (2004, p.207).

A partir de Manaus, os brasileiros marcaram sua presença, reconhecendo rios,


reconstruindo fortes, estabelecendo a navegação a vapor, a estrada de ferro Madeira-
Mamoré e a concessão de franquias nos portos de Manaus e Belém. No campo
econômico, a região vivia do poliextrativismo animal e vegetal, envolvendo a extração
de diversos produtos da fauna e da flora, em pequenas quantidades, predominando a
pesca do pirarucu, de acordo com Loureiro (2007). A pacificação regional e a sua
definitiva anexação política ao Brasil foram os resultados mais significativos desta
época em relação à situação política do Amazonas e, por conseguinte, de Manaus.
(LOUREIRO, 2007). Esse mesmo autor relata que com o aumento de consumo
mundial da borracha, a população nativa, autóctone ou não, tornou-se insuficiente
para atender à expansão da indústria extrativa, iniciando-se a importação de
trabalhadores da região do nordeste do país e do Pará, necessários à implantação
dos seringais das frentes pioneiras dos rios da borracha, onde se chocaram com as
populações ameríndias ali refugiadas. Dentre os acontecimentos desse período
imperial, merecem destaque: primeiro navio a vapor a fazer o trajeto Belém-Manaus,
em 1843; a criação das Diretorias de Índios, com regulamento de 24 de julho de 1845
e, finalmente, a elevação de Manaus à categoria de cidade, em 24 de outubro de 1848.
(LOUREIRO, 2007). As pressões internacionais para aumentar a produção de
borracha, juntamente com o reconhecimento do potencial da bacia Amazônica,
levaram à defesa da ideia de liberdade de navegação do rio Amazonas, fatos esses
que talvez tenham forçado o Brasil a criar uma nova unidade administrativa. Assim em
05 de setembro de 1850, a Comarca do Alto Amazonas foi elevada à categoria de
Província, objetivando a reafirmação da soberania nacional sobre tão vastos,
desconhecidos e abandonados territórios (LOUREIRO, 2007).
Na visão de Souza (2009), independente da territorialidade dos estados ou
países que compõem a Amazônia, vale ressaltar que dois acontecimentos
163

anunciariam um período de prosperidade econômica na região em meados do século


XIX, após anos de instabilidade política, social e econômica sob a gestão da
Regência/Império os quais seriam fundamentais para o desenvolvimento da cidade
de Manaus, no que diz respeito à expansão do chamado “ouro branco”, a borracha,
entre outras matérias-primas produzidas na região. O primeiro refere-se à criação em
1852 da Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, de iniciativa do Barão
de Mauá, com linhas regulares de três navios a vapor que intensificavam o comércio
entre as duas províncias brasileiras (Pará e Amazonas) e o Peru. O segundo
acontecimento, consequência do primeiro, foi a assinatura em 1867 do decreto
imperial que concedia a abertura do rio Amazonas ao comércio de todas as nações.
Para marcar esse momento histórico, foi erguido um monumento ainda existente em
Manaus, localizado na Praça São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas chamado
“Monumento de Abertura dos Portos às Nações Amigas.”
Antônio Loureiro ao caracterizar Manaus, do ponto de vista urbanístico e social,
no período imperial relata que:

Em 1853, a Barra possuía uma igreja, os prédios da câmara municipal e da


cadeia, dois quartéis, a recebedoria e a tesouraria da fazenda, 89 casas
térreas particulares telhadas, oito sobrados, 12 casas telhadas em
construção, totalizando 243 edificações. A população da Província, em 2 de
julho de 1856 era estimada em 42.592 habitantes, sendo 36.078 livres, 822
escravos e 332 estrangeiros. Cidade da Barra: 9.813 livres, 368 escravos e
128 estrangeiros. No período de 1 de junho de 1877 a 5 de fevereiro de 1878
entraram em Manaus, 827 emigrantes cearenses, sendo 647 homens e 180
mulheres (2007, p.42-43).

Os anos transcorridos entre 1880 e 1889, registram o período mais rico do


Império no que se refere à construção de obras públicas, graças às crescentes rendas
decorrentes do aumento de produção da borracha. A cidade de Manaus dobrou de
tamanho e de população, crescendo a partir da Praça Pedro II até a Praça da Saudade
rumo aos Remédios e com a inauguração da nova ponte de ferro, sobre o igarapé do
Aterro, seguiu para a Praça de São Sebastião (LOUREIRO, 2007). Em 1889, com a
Proclamação da República no Brasil, terminava o sistema monárquico no país,
começando um novo ciclo da história econômica e política brasileira e, ao mesmo
tempo, inaugurando uma nova fase de prosperidade na economia do Estado do
Amazonas motivada pelo crescente número de obras públicas realizadas em Manaus
bem como transformações socioespaciais profundas que interferiram na formação
164

cultural dos manauaras e na configuração da urbanística da cidade (MESQUITA,


2006; LOUREIRO, 2007). Abaixo a figura 25 com a frente da cidade em 1880:

Figura 25: Manaus e o Porto em 1880.

Fonte: GARCIA (2010).

Com a Proclamação da República (1889), Manaus passou por transformações


políticas e sociais ocorridas no Brasil, no final do século XIX, que foram ofuscadas
pelo advento do ciclo da borracha que veio a beneficiar Manaus, tanto no seu
desenvolvimento demográfico quanto urbanístico. De 1889 para 1920, sua população
saltou de 10.000 para 75.000 habitantes, crescimento considerado invejável para uma
pequena cidade da distante e pouco desenvolvida Amazônia Central (AB’SABER,
2004). Entre 1890 e 1920, graças à exportação da borracha natural25, os governantes
e comerciantes locais trouxeram do velho mundo centenas de arquitetos e
paisagistas, para a execução de um ambicioso plano urbanístico, que resultaria em

25 Também favorecida pelo cenário internacional, onde a 2ª Revolução Industrial promoveu o


surgimento do motor a combustão e, a partir daí, da indústria automobilística. A seringueira como planta
nativa do Brasil, onde a região norte concentrava essas árvores em abundância na floresta amazônica,
acabou por impulsionar a borracha produzida na Amazônia (extraída da seringueira) e assumir grande
importância dos recursos provenientes da sua colocação no mercado internacional e na balança
comercial de exportações brasileiras nesse período.
165

uma cidade com perfil arquitetônico europeu, embora encravada no meio da selva.
Manaus, moderna e inovadora, foi uma das primeiras cidades brasileiras a contar com
luz elétrica, galerias pluviais, tratamento de águas e esgotos e serviço de bondes
elétricos (DIAS, 2007; GARCIA, 2010 e MANAUSTUR, 2010).
Durante a fase áurea da produção do látex no Brasil (1870-1910), foi introduzido
na Amazônia através dos portugueses o sistema mercantilista de intercâmbio com as
casas aviadoras, e essa expansão gomífera reduziu em alguns momentos os números
do café na balança comercial de exportações brasileira (BENCHIMOL, 2009) além de
ter gerado implicações demográficas, econômicas, políticas, culturais26. Esse ciclo
econômico da borracha influenciou diretamente no traçado urbano da cidade de
Manaus e na configuração do seu patrimônio arquitetônico construído. Vale salientar,
que todo ciclo econômico deve ser entendido dentro de um panorama contextualizado
com os aspectos regionais, nacionais e internacionais que dialogam na morfologia de
construção do espaço. Esse pensamento está alicerçado na integração entre o
mundo, região e o lugar mediação presente na teoria da formação socioespacial
miltoniana que específica o diferencial evolutivo da sociedade na estreita ligação com
as forças externas bem como os modos de produção que escrevem a História no
tempo e as formações sociais escrevem-na no espaço (SANTOS, 1977 e 1980).
Também estão embasados na dialética lefvebriana no qual reconhece os
acontecimentos e uso do espaço, sendo ele entendido como lugar de morada do
homem, de vida, de produção e de trabalho, resumidos na simbiose do tripé das
relações dialéticas dos momentos percebidos, concebidos e vividos, em síntese:
espaço formado e moldado a partir de elementos históricos e naturais periodizados
no processo produtivo, sem negligenciar o lado global (LEFEBVRE, 1974 e 1976).
Essa relação espaço-tempo no sentido global, regional e local, deve ser feita não
apenas para entender o que se passa em cada lugar, mas para compreender o
processo de desenvolvimento e as peculiaridades econômicas em diferentes escalas,
assim como seus impactos na cultura e na sociedade que acabam imprimindo uma
nova configuração socioespacial à cidade, região ou país influenciado pelo cenário

26 Fato interessante que na melhor fase da borracha a maioria das coisas importantes nas cidades de
Belém e Manaus tinha nome inglês: bancos, casas exportadoras, empresas de navegação, serviços
urbanos, estaleiros, entre outros, o que representava o progresso trazido pelo capital estrangeiro na
região (TEIXEIRA, 1993, p.222).
166

econômico em questão. A fase da economia gomífera na Amazônia perpassa os


principais momentos da história política brasileira, processando-se décadas após o
advento da Independência, passando pelo Império, chegando até a Primeira
República, sendo esta responsável por grandes alterações na região, materializadas
nas ruas, avenidas e edificações ainda presentes no Centro Histórico de Manaus.
Prado e Capelato (2006) mencionam que o ciclo da borracha foi um dos mais
promissores no Brasil, sua origem remonta a 1870 e, em 1910, representava um
quarto do total das exportações brasileiras, crescimento notável por ocorrer
concomitante ao crescimento da cultura do café, base da economia do país, tendo um
significado especial para a região norte. Tais autores afirmam que no período de 1890
a 1920, Manaus era conhecida como a “Cidade da Borracha”, onde sua população
passou de 20 mil habitantes em 1889, para 65 mil em 1910 (crescimento de 225%,
num período de praticamente duas décadas), gozando de uma prosperidade
desconhecida até mesmo no sul do país. O comércio do látex se beneficiava do
progresso tecnológico da nova Revolução Industrial (final do século XIX), com a
abertura de novas linhas de produtos nas fábricas americanas e européias, tais como
bolas, cintos, espartilhos, ligas, molas e um pouco mais tarde, já depois em 1890, a
produção de pneumáticos para veículos, aumentava a cotação da borracha no
mercado internacional e sobretudo, o seu aperfeiçoamento e desenvolvimento, junto
com as exportações, proporcionaram um reconhecimento de Manaus em todo o
mundo como a “Paris da Selva” (PRADO e CAPELATO, 2006).
O Brasil durante toda a segunda metade do século XIX ocupou uma posição
invejável no mercado mundial, com uma produção que, em 1892, representava 61%
da produção mundial de borracha, sem concorrência e, em 1910, ainda respondia por
50% do consumo internacional. No final do século XIX e início do século XX, grandes
transformações na capital do Amazonas foram promovidas pela exportação da
borracha: ganhou iluminação pública, sistema telefônico e um novo plano viário,
implantado por Eduardo Ribeiro, durante o seu governo no período de 1892 a 1896,
em que as ruas se articulavam ao porto, tendo um desenvolvimento radial a partir dele,
com quarteirões longos e poucas ruas paralelas. A face oficial do látex estava na
paisagem urbana, criada para atender aos interesses e necessidades do grupo
167

extrativista, como lugar para realização de seus negócios (DIAS, 2007; BENCHIMOL,
2009; SOUZA, 2009; GARCIA, 2010 e MANAUSTUR, 2010).
Na medida em que a cidade crescia para atender as necessidades mais
emergentes desse fausto econômico, o patrimônio edificado construído na época
vinha com o objetivo de atender a esses anseios da elite extrativista e da nova
sociedade que ser formava, tendo concentração no Centro Histórico de Manaus em
função da sua proximidade com o Porto de Manaus, o local aonde se recebia e
escoava a matéria-prima, o que também incluenciou na formação das vias urbanas
do seu entorno usadas como conexão entre esses insumos que chegavam juntamente
com os viajantes. Os principais estabelecimentos comerciais, como as Casas
Aviadoras que faziam a ligação entre seringalista e os países importadores como a
Inglaterra, localizavam-se nesse perímetro, o que, na visão de Prado e Capelato
(2006), acabava por ser a principal compradora da borracha além de controlar a sua
distribuição para o resto do mundo, como Europa e Estados Unidos. As avenidas Sete
de Setembro e Eduardo Ribeiro estão localizadas justamente nessa área que
concentrava o poder político, social e econômico da época.
De acordo com Dias (2007), o maior responsável pela execução das grandes
obras de embelezamento e melhorias urbanas na cidade de Manaus, foi o capital
inglês. Trazendo ao contexto nacional, para Ignácio Rangel (2005), da Independência
até o início do século XX, a economia brasileira esteve, no plano externo,
profundamente vinculada ao capital industrial inglês. Atendendo aos interesses da
burguesia extrativista, diferentes firmas atuaram em diversos setores urbanos,
alterando profundamente a imagem da cidade. Os ingleses transformaram a aldeia
em uma capital moderna, das instalações portuárias aos transportes urbanos; do
abastecimento de água ao sistema de iluminação, numa demonstração de que a
capital amazonense se organizava não só pela interferência do Estado ou do
município, mas também com o auxílio fundamental de empresas privadas, que dão
uma nova fisionomia ao espaço urbano, imprimindo à cidade as feições da classe que
executava as reformas, impulsionadas pela sua importância comercial, portuária e até
mesmo sociocultural (DIAS,2007).Numa certa medida, Manaus também experimentou
um pouco daquilo que São Paulo vivenciou, na mesma época, com o desenvolvimento
econômico do café, quando a capital paulista se diferenciava ao estabelecer um
168

controle sobre a expansão ferroviária no planalto, a imigração estrangeira e a


industrialização crescente. A capital amazonense, ao contrário, cresceu sob o impulso
econômico da coleta extensiva, altamente dependente da migração interna, da
distribuição logística morosa dependente exclusivamente dos rios e tendo ainda que
dividir as glórias de metrópole com Belém, a maior cidade do Norte do país nesse
período (AB’SABER, 2004).
No decorrer da segunda metade do século XIX e durante os primeiros 12 anos
do século XX, a Amazônia fornecia, em média, mais da metade da produção mundial
de borracha. E isso só foi possível devido justamente ao aumento da oferta de mão
de obra na região, oriunda do nordeste brasileiro. O nordestino dirigia-se à Amazônia
para trabalhar como seringueiro e já saía endividado com a passagem até Manaus ou
Belém, somado ao dinheiro recebido para manter-se até a instalação definitiva no
seringal, dando início, assim, a um ciclo vicioso de dependência ao seringalista. As
grandes possibilidades de auferir lucro rapidamente, a avidez por ganhos ilimitados
disseminou os homens da Amazônia no período áureo da borracha, o que explica a
forma violenta de exploração do trabalhador que acabou se prendendo a um sistema
de trabalho escravocrata, egoísta e criminoso que pode ser comparado à escravidão
negra no Brasil (PONTES FILHO, 2000 e PRADO, CAPELATO, 2006).
Essas novas feições socioculturais culminaram na perda da face
predominantemente indígena da Amazônia, em especial Manaus. Pontes Filho (2000)
menciona a vinda das levas de nordestinos e estrangeiros atraídos à Amazônia, na
expectativa de enriquecimento rápido, que tinham o propósito de trabalhar na extração
do látex bem como a concentração de investidores externos, que se fixavam em
Belém e Manaus. Essa situação corrobora com a perda de identidade e autenticidade
de Manaus, pois Belém registrou um fluxo migratório menor que a capital
amazonense. Em uma passagem da sua obra a Ilusão do Fausto (2007), Edinéia Dias
explicita que para ser considerada moderna e civilizada, a capital amazonense
necessitaria também que no processo de representação de uma nova cidade, os
comportamentos, costumes e tradições antigas, vergonha da nova classe, deveriam
desaparecer. Manaus precisava deixar de ser um lugar “onde a maior parte dos
moradores jamais tinha aberto um livro e desconhecia todo e qualquer tipo de
ocupação intelectual, onde, apesar de ser uma comunidade civilizada, os costumes
169

eram os mais decadentes possíveis”27. A mesma complementa ainda que nesse


quadro de distanciamento e diferenciação das origens, a cidade procurou copiar
diretamente a arquitetura européia, rejeitando e expulsando o natural.
Manaus foi a única cidade brasileira que vivenciou com profundidade a chamada
Belle Époque, período no qual os coronéis da borracha, com seus palacetes, tinham
um pé na cidade e outro no distante barracão central, rompendo com o isolamento e
os costumes coloniais para transplantar os ingredientes políticos e culturais da velha
Europa (SOUZA, 2009). Ainda no relato de Dias (2007), o ideal de progresso e
prosperidade vividos na época foi assumido por Eduardo Ribeiro que exerceu um
papel essencial na transformação urbana de Manaus quando se tornou Governador
do Estado do Amazonas, em 1892. Saneamento, sistema portuário moderno, abertura
de ruas, eletricidade, coleta de lixo, edifícios públicos, serviços telefônicos, bondes
elétricos, arborização, residências confortáveis, eram exemplos da modernidade da
cidade e da visão de um governador que soube aproveitar os lucros auferidos do ciclo
da borracha com planejamento e melhorias urbanas. De pequena aldeia Manaus se
transforma em uma grande urbe, levando à destruição de todo e qualquer vestígio que
lembrasse o antigo Lugar da Barra do Rio Negro. Com suas funções comerciais e
administrativas ampliadas, destaca-se como a capital nacional da borracha. Esse
poderio econômico, mencionado por Márcio Souza (2009) foi capaz de elevar o nível
educacional, criando no Amazonas a primeira universidade brasileira, em 22 de
novembro de 1908, a Escola Universitária Livre de Manaus, com os cursos de
Ciências Jurídicas e Sociais, Medicina, Odontologia e Farmácia.
A cidade viveu nos seus trinta anos de crescimento acelerado (1890-1920), dias
de grande movimentação, porém a instabilidade dos preços da borracha e a falta da
diferenciação no pequeno grupo de produtos exportáveis acarretaram consequências
graves para o seu crescimento. O capital estrangeiro, que administrava a
comercialização e distribuição do produto brasileiro no exterior, trocou a Amazônia
pelos lucros mais seguros das plantações do Oriente (AB’SABER, 2004 e PRADO,
CAPELATO, 2006). Conforme destacado por Souza (2009), com os altos preços do
látex amazônico e com a intenção de quebrar o monopólio brasileiro, os ingleses,

27 Alfred Russel Wallace em Viagens pelos rios Amazonas e Negro, 1849, citado por Edinéia Dias
(2007, p. 48).
170

através de Henry Wickham, conseguiram, trinta anos antes do apogeu da borracha,


contrabandear 70 mil sementes de seringueira da Amazônia para Londres
(especificamente para o Jardim Botânico Kew Garden) com o propósito de
transplantar as mudas para o sudeste da Ásia, região que possuía condições
climáticas semelhantes ao clima amazônico.
A ruína da borracha brasileira é explicada não apenas pelo contexto no qual
estava inserida, mas também por fatores internos, pois os representantes políticos da
Amazônia nunca conseguiram consolidar uma política de defesa da borracha. Os
lucros obtidos na região foram direcionados para o consumo e não como
investimentos para transformar e melhorar as condições de produção e distribuição
existentes (PRADO, CAPELATO, 2006). Loureiro explica o fim desse ciclo da seguinte
forma:
Estava encerrado o ciclo da borracha, que nos deixava a melhoria urbana de
Manaus e Belém, o povoamento dos rios da borracha, a conquista do Acre e
o desenvolvimento industrial da região sudeste, bem como embelezamento
do Rio de Janeiro, graças ao saldo do ouro negro amazônico. Graças a este
produto, o país recuperou-se da fase inflacionária do encilhamento, ocorrido
após a proclamação da República, porém apesar dessa contribuição o
Governo Federal não prestou qualquer assistência, nem efetuou qualquer
programação desenvolvimentista na região, tudo o que aqui se realizou, neste
tempo, deveu-se ao esforço local (1982, p.178)

No intervalo do marasmo que assolou a região, houve uma tentativa de manter


a demanda da borracha e outros produtos da selva amazônica brasileira para atender
às exigências do mercado internacional dominado pelos Estados Unidos naquele
período. Márcio Souza (2009) menciona que durante a 2ª Guerra Mundial, em 1942,
com o propósito de gerar estoque para os aliados, o governo brasileiro estabeleceu
acordos com os Estados Unidos desencadeando a possibilidade de uma retomada
econômica da produção da borracha vivida no 1º ciclo, com o dinheiro voltando a
circular em Manaus e Belém. Corroborando com Souza, Loureiro (1982) lembra que
durante a 2ª Guerra Mundial, o Japão conquistou as zonas produtoras de borracha do
sudeste asiático que concentrava 97% da produção, provocando uma grande
escassez do produto. Os Estados Unidos, necessitando deste material estratégico,
financiaram um curto segundo ciclo da borracha, durante o qual milhares de
nordestinos vieram para Amazônia como os mesmos direitos das tropas. Terminada
a guerra, encerrou-se o ciclo, seguido de nova crise, pois a demanda pelo látex
amazônico e outras matérias primas cessou, resultando em milhares de mortes nos
171

seringais do interior do Amazonas, bem como desemprego e declínio econômico na


capital amazonense que agonizava por soluções para viabilizar o seu
desenvolvimento e crescimento.
O fausto da economia gomífera em Manaus deixou marcas no processo de
formação da população manauara no que tange a sua identidade sociocultural,
sofrendo um intenso movimento de deculturação das raízes indígenas em face de um
abrupto processo de aculturação da migração nordestina e imigração européia,
principalmente inglesa. Essa herança, bem como a relação do ciclo da borracha com
o patrimônio cultural pode ser observada nos traços físicos das pessoas que vivem
em Manaus e, principalmente, nas avenidas, ruas, prédios, praças e monumentos
situados no Centro Antigo. Para José Aldemir de Oliveira (2014), após o boom da
borracha, mais um período de estagnação se abateu sobre a região levando a crise.
Após um longo período em que a exploração da borracha trouxe enormes riquezas
para a região, sua produção entra em decadência (em função da concorrência do látex
asiático) fato esse que, por consequência, atinge a capital da borracha, fazendo
Manaus passar por mais de 60 anos de marasmo econômico.
Nesse meio tempo, a cidade passou por alguns momentos marcantes, tais como
a ocupação por tropas federais, em 1924, para sufocar a Rebelião do tenente Ribeiro
Júnior; as incertezas da Revolução de 1930; as turbulências da Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), período esse que resultou em um breve surto de crescimento
da exploração da borracha em função da demanda, por parte dos países aliados, pelo
látex amazônico; a grande enchente de 1953 até chegar à esperança da implantação,
no início dos anos 70, de uma nova fase de desenvolvimento da região Norte, com a
criação da Zona Franca de Manaus (PONTES FILHO, 2000; FIGUEIREDO, 2005). A
principal finalidade da Zona Franca era implantar, no interior da Amazônia Ocidental,
um centro comercial, industrial e agropecuário com condições mínimas para promover
o desenvolvimento do Estado do Amazonas. O mesmo dispositivo jurídico que a criou
(Decreto-Lei no 288, de 28 de janeiro de 1967), também instituiu o órgão responsável
pela sua administração: SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de Manaus).
O governo militar pretendia através de uma política de isenção de impostos, entre
outras facilidades, atrair empresas nacionais e multinacionais com o objetivo de criar
um polo industrial para a produção de bens duráveis que o Brasil não fabricava bem
172

como a instalação de uma zona de comércio de importados, com cotas limitadas e


livres de entraves alfandegários.
A dinâmica da ZFM compreende três polos econômicos: comercial, agropecuário
e industrial. O primeiro teve maior ascensão até o final da década de 80, quando o
Brasil adotava o regime de economia fechada, quando em sua primeira versão através
da Lei 3173 de 06/06/1957, idealizada pelo deputado federal Francisco Pereira da
Silva, começou a operar apenas como área de livre comércio de importação, ou seja,
a livre circulação de produtos estrangeiros, estimulados pela redução das alíquotas
do imposto de importação, visando gerar intenso comércio, elevar receitas portuárias
e criar empregos, a exemplo de outras regiões do mundo, tais como Hong Kong e
Cingapura, na Ásia (PONTES FILHO, 2000). O polo agropecuário abriga projetos
voltados às atividades de produção de alimentos, agroindústria, piscicultura, turismo,
beneficiamento de madeira, entre outras. Já o Polo Industrial (ver Figura 26) de
Manaus (PIM) é a base de sustentação da ZFM, com mais de 500 indústrias de alta
tecnologia que geram mais de meio milhão de empregos (105 mil diretos e 400 mil
indiretos). Além da geração de emprego e renda, a importância do Polo Industrial de
Manaus pode ser medida pela receita gerada por meio dos impostos recolhidos junto
às empresas incentivadas (MANAUSTUR, 2010 ).
Figura 26: Vista área do Polo Industrial de Manaus.

Fonte: AMAZONAS EM MAPAS (2016)


173

Com o decreto-lei no 288, de 28 de janeiro de 1967, foram acrescidos incentivos


fiscais especiais para a instalação de indústrias dos mais variados setores em
Manaus. Suas principais características nesse período (1967 a 1976) estão
relacionadas à predominância da atividade comercial; ao crescimento do fluxo turístico
doméstico com consumidores que buscavam produtos de elevada sofisticação, cuja
importação estava proibida no restante do país; à expansão do setor terciário com a
vinda de estabelecimentos bancários, lojas de departamento, crescimento da
telefonia, comunicações, construção de hotéis de luxo, entre outros; ao início da
atividade industrial e ao lançamento da pedra fundamental do Distrito Industrial
(30/09/1968) com fábricas de produtos eletroeletrônicos, relógios, informática, além
do maior polo produtor de motocicletas do Brasil. Da mesma forma que para poder
atender à demanda crescente pela borracha foi construído um porto para facilitar o
escoamento da produção, a cidade teve que construir um novo aeroporto para receber
turistas, na sua maioria empresários, e distribuir com mais rapidez a produção do polo
comercial e industrial da época. A capital foi interligada ao resto do país através de
rodovias federais, ampliação da capacidade do porto flutuante e o alargamento dos
limites da cidade (PONTES FILHO, 2000; FIGUEIREDO, 2005 e FERNANDES, 2005).
A chamada Nova Política Industrial e de Comércio Exterior do Governo Federal
implantada em 1991, na gestão do presidente Collor, ao promover a abertura do
mercado brasileiro às importações, a partir da redução das alíquotas do imposto de
importação, fez com que o modelo econômico da Zona Franca sofresse uma grande
crise, gerando como consequência a queda abrupta das vendas e demissões em
massa (PONTES FILHO, 2000). Essa exposição à nova ordem, caracterizada
especialmente pela entrada repentina de produtos estrangeiros no mercado nacional
afetou o modelo da ZFM28, no qual encontrava-se despreparada tecnologicamente
para competir. Esses fatores aliados à forte recessão que assolou a economia
brasileira na década de 90, agravou a situação local, exigindo profundas modificações
na legislação, fato que se concretizou com a edição da Lei 8.387, de 30 de dezembro
de 1991. Ela estabeleceu medidas que visavam a salvaguarda da Zona Franca de
Manaus mudando a condição do Polo Industrial (PIM) que deixou de ser entreposto
de montagem de aparelhos eletrônicos e passou a desenvolver produtos a serem

28 Zona Franca de Manaus.


174

consumidos em todo mundo (PONTES FILHO, 2000; FIGUEIREDO, 2005 e


FERNANDES, 2005).
Na história econômica mais recente do Estado do Amazonas, após o apogeu
da borracha, nada se compara ao advento da Zona Franca de Manaus. Ele
foi responsável pela reinserção da economia do Estado no sistema capitalista
internacional, e, por conseguinte, também pelos parcos benefícios
promovidos no Estado, e por certos impactos provocados na região (PONTES
FILHO, 2000, p.196).

A partir da implantação da Zona Franca, o município valeu-se dos incentivos


fiscais para transformar-se no maior polo comercial e industrial existente na faixa do
Equador (SOUZA, 2009). Na área comercial uma variada gama de produtos de alta
tecnologia contando com as principais indústrias brasileiras de aparelhos
eletroeletrônicos, relógios, bicicletas, motocicletas, óculos, etc. (PONTES FILHO,
2000). O município de Manaus assume a dianteira do desenvolvimento da região
Norte e responde sozinha por 98% da economia do Amazonas, responsável por sua
vez por 55% de toda a arrecadação da região (MANAUSTUR, 2010). A cidade volta
novamente a usufruir de um período de transformações e desenvolvimento da mesma
forma como aconteceu na época da borracha, responsável por uma nova configuração
espacial, social e econômica. Surgem novos bairros, aumenta o volume de carros
trafegando pelas vias urbanas, cresce o êxodo rural em função da falta de
perspectivas no interior e a vocação urbana até então de crescimento horizontal,
altera-se com a edificação de grandes arranha-céus e conjuntos habitacionais que
mudam a bucólica paisagem da cidade.
Para Pontes Filho (2000), no ciclo da borracha, os benefícios econômicos e
sociais concentravam-se em Manaus e o centro do setor produtivo situava-se no
interior, nos seringais. Já no ciclo industrial com a instalação da Zona Franca de
Processamento Industrial, ocorrida em 1980, a concentração tanto socioeconômica
quanto produtiva ficou na capital. Márcio Souza, no livro História da Amazônia (2009),
destaca que a Zona Franca de Manaus imprimiu transformações sociais e culturais
bem distintas das que ocorreram no período da borracha. Para ele, na época em que
a cidade era a capital mundial da borracha, Manaus consolidou-se como centro
urbano saindo na dianteira no que diz respeito ao desenvolvimento dos sistemas de
serviços públicos, como eletricidade, distribuição de água e esgotos. Nesse período,
o crescimento era planejado, as ruas eram pavimentadas, o número de hospitais
175

cresceu, criou-se uma Universidade, foi construída uma casa de óperas (Teatro
Amazonas) e a cidade se rendeu às influências culturais cosmopolitas, principalmente
de Paris e Londres. O seu desenvolvimento acompanhou o crescimento populacional,
sem degradar os serviços, ocorrendo exatamente o oposto com a implantação Zona
Franca de Manaus.
A instalação de empresas comerciais, as lojas de artigos importados que
invadiam o centro histórico da cidade, a chegada de multinacionais no Distrito
Industrial, institutos de pesquisas, horda de turistas em busca de aparelhos eletrônicos
baratos e o fluxo de migrantes em busca de novas oportunidades transformaram a
cidade em um verdadeiro formigueiro e tornaram-na vulnerável, pois naquele
momento a estrutura da capital, além de decadente, não estava preparada para
receber tal demanda. Em 1984, a cidade continuava com a mesma infraestrutura
precária inchando com inúmeras favelas, entregando-se a especulação imobiliária
degradando e perdendo grande parte dos seus marcos arquitetônicos, em troca de
uma arquitetura medíocre, ofuscando a memória e a identidade dos seus
monumentos, prédios e espaços públicos, fruto principalmente do seu crescimento
desordenado gerado pelos programas de desenvolvimento praticados pelo governo
federal, desde 1964 (SOUZA, 2009).
Essa nova situação interferiu diretamente no Centro Histórico de Manaus, pois
os impactos visuais gerados pelas novas edificações, a falta de conservação de
prédios e monumentos que remetem à memória da cidade, bem como a ausência de
controle social, no que tange ao aspecto habitacional, afetaram violentamente a
paisagem urbana do Centro Histórico, em particular as Avenidas Sete de Setembro e
Eduardo Ribeiro. A cronologia abaixo permite visualizar com maior clareza os
principais momentos da evolução histórica da cidade:
176

Figura 27: Cronologia dos principais fatos históricos de Manaus.

1860 a 1913-
1669 1791/1798 1808 1833 1848 1856 1967
1900 1930
•Construção •Transferência• Lugar da •Capitania de•Vila de •Cidade da •Expansão do•Decadência •Implantação
da Fortaleza da sede da Barra é São José do Manaós é Barra vira Ciclo da da economia da Zona
da Barra do Capital da transforma- Rio Negro promovida à Cidade de Borracha gomífera, Franca de
Rio Negro Capitania de do em passa a Cidade da Manaós, em população Manaus,
São José do Capital da condição de Barra do Rio referência ao começa a alternativas
Rio Negro Capitania de Comarca do Negro povo indígena migrar para econômicas:
para o Lugar São José do Alto extintos pelos outras comércio e
da Barra Rio Negro, Amazonas e colonizadores cidades indústria.
que viria ser sua capital é
Província do promovida à
Amazonas e Vila de
depois Manaós
Estado do
Amazonas

Fonte: MONTEIRO (1972); PONTES FILHO (2000); MESQUITA (2005) e GARCIA


(2010).

Adentrar no estudo da história de Manaus requer, no mínimo, um


desprendimento de preconceitos, além de conhecimentos acerca das reais dimensões
de sua origem, desde o aldeamento indígena até os dias atuais. Arthur Cezar Ferreira
Reis, em um relato sobre a fundação de Manaus, resume a gênese e o
desenvolvimento dessa urbe:

Manaus não nasceu como decorrência de um plano urbano prefixado. Ao


contrário, como milhares de unidades urbanas brasileiras resultaram de um
episódio histórico, ligado à implantação da soberania portuguesa, no caso de
Manaus, no vale amazônico. Manaus se foi realizando, desde seus primeiros
momentos, serena, vagarosa e silenciosamente, sem ousios de qualquer
espécie dos que foram estabelecendo onde hoje ela se realiza como capital
e centro ativo de vida econômica e cultural (IGHA, 2001, p.57-60)

Sendo assim, ao retomar a história de Manaus, do Amazonas e por


consequência da Amazônia, é compreender as peculiaridades e os mecanismos das
cidades amazônicas pelo qual diferentes sujeitos sociais estabeleceram estratégias
de dominação, controle sobre o território além do relacionamento dos lugares entre si
e estes com a dinâmica econômica da globalização, que, por sua vez, modifica as
relações territoriais reestruturando a dinâmica urbana (OLIVEIRA, 2014). Em
continuidade, José Aldemir de Oliveira (2014) reflete que a sociedade amazônica do
agora é a reatualização da exclusão que existia na exploração das drogas do sertão,
177

na economia gomífera e continua a produzir novos e velhos pobres na cidade, nas


florestas, nos rios e na terra, ou seja, as cidades amazônicas não são apenas produtos
do nosso tempo, mas de tempos pretéritos cristalizados na paisagem. Na visão do
mesmo autor, a paisagem urbana das cidades amazônicas é resultante das relações
de produção produzidas, reproduzidas, criadas e recriadas, contendo as dimensões
da sociedade de cada tempo comportando também as coisas da natureza. Em suma,
essas cidades de hoje são lugares bem diferentes das cidades pretéritas, não só em
função das profundas modificações do conjunto arquitetônico e da infraestrutura, mas
porque foram mudados também a terra, a floresta, os rios e sobretudo a cultura, quer
pela dinamicidade, quer pela estagnação (OLIVEIRA, 2014).
A narrativa geo-histórica apresentada até aqui, fornece a este estudo subsídios
para a correta interpretação da historicidade do município sob os aspectos espaciais
e socioeconômicos em conformidade com os pressupostos teóricos de Milton Santos
e Lefebvre. Os resultados proporcionam, por conseguinte, uma elucidação e
justificativas contextuais da evolução do traçado urbano e das edificações situadas
nas Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, localizadas no Centro Histórico
de Manaus, local de nascimento e crescimento socioeconômico que guarda
momentos de relevância para os manauaras, materializados em suas ruas e/ou
avenidas. Procurou-se retratar nessa seção a formação socioeconômica da Amazônia
Ocidental e sua evolução, com destaque ao Estado do Amazonas, abordando
elementos que, em conjunto com as forças internas e externas nacionais e
internacionais, constituem os alicerces históricos e geográficos da região, que
influenciaram decisivamente as origens e transformações das Avenidas Sete de
Setembro e Eduardo Ribeiro bem como o seu entorno.
Desta forma, a evolução de Manaus está relacionada aos aspetos culturais e
socioeconômicos característicos da vida dos diferentes grupos sociais que ali se
estabeleceram desde os tempos pré-colombianos, atravessando os vários períodos
da história do Brasil, marcada por diversos acontecimentos desde o período Colonial,
passando pelo Imperial e Republicano e desembocando, finalmente, nos tempos
atuais, trajetória essa que se reflete na configuração socioespacial do Centro Histórico
de Manaus e, em particular, das Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro. No
item a seguir, foi dedicado um espaço para aspectos narrados e tangibilizados
178

referentes ao passado e o momento atual dos logradouros pesquisados e seu


patrimônio construído na perspectiva de conjunto.

4.1.2 Passado presente das avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro

Ao contemporizar a memória passada e atual dos logradouros pesquisados


nessa tese, há que se considerar o seu aspecto conceitual e o ambiente pelo qual
estão inseridas no seu contexto geo-histórico. Inicialmente, surge o seguinte
questionamento: mas, afinal, o que é uma rua ou avenida? Uma consulta ao dicionário
logo esclarece que a rua é uma via pública menos larga e que a avenida possui uma
extensão maior e diversas pistas destinadas ao trânsito de veículos. Pelo Código de
Trânsito Brasileiro (2005) ruas, avenidas, estradas e outros são vias terrestres
urbanas destinadas à circulação pública, no perímetro urbano da cidade, tendo por
característica principal a existência de imóveis edificados ao longo de sua extensão.
Entretanto, convém salientar que uma rua ou avenida fazem parte da tipologia de
logradouros que são espaços abertos ou cobertos de uso público, lugares urbanos
que dão suporte à vida em comum, espaços de movimento não autônomo com
natureza de conexão representando a gênese e base da edificação, tendo a função
precípua de deslocamento, percurso e mobilidade de bens, pessoas e ideias (LAMAS,
2000; BOULLÓN, 2002; GEHL, 2013; SASSEN, CASTRO; SANTORO, 2013).
As ruas e avenidas são essenciais nos fluxos de veículos e indivíduos, seus
traçados definem as rotas pelas quais as pessoas deslocam-se, materializando-se e
conectando-se cotidianamente como condutoras e conectores dos espaços de
domínio público e sua urbanidade (LIMA, 2014). Pelo Código Brasileiro de Trânsito
(2005, p.91), a definição de via corresponde a uma “superfície por onde transitam
veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha
e canteiro central”. O art. 6029 esclarece que as vias urbanas estão classificadas como:
trânsito rápido; arterial; coletora e local. Trazendo para o objeto de estudo dessa
pesquisa, as Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro na sua configuração atual
são classificadas como uma via arterial, controladas por semáforos, com
acessibilidade às vias secundárias e locais possibilitando a circulação entre as regiões

29 SOBRINHO, José Almeida; BARBOSA, Manoel Messias; MUKAI, Nair Sumiko Nakamura. CÓDIGO
DE TRÂNSITO BRASILEIRO ANOTADO. 8ª ed. São Paulo: Editora Método, 2005.
179

da cidade. Convém salientar que no início do período republicano, a cidade de Manaus


não tinha grandes avenidas, a maior parte de suas ruas eram irregulares.
O estudo aqui apresentado propõe-se a ultrapassar o sentido de que
rua/avenida é só movimento, sobretudo, perpassa o viés inovador da associação
desse movimento como espaço também de permanência, na medida de que esses
logradouros imprimem a noção de ambiência ou atmosfera (ROGERS, 1997) e são
tecidos urbanos (arquitetura menor) moldurando a relação semântica com os edifícios
(arquitetura maior) proposto por Giovannoni (1873-1947). Ou seja, o caráter inédito
da tese dar-se na perspectiva de conjunto dos logradouros (enquanto avenidas) com
suas edificações como elemento da oferta turística sob a lógica interpretativa, dando
visibilidade e ambiência ao plano de tombamento ao relacionar o entorno com as
edificações tombadas em conjunto ou individualmente, materializando historicamente
a construção evolutiva da paisagem, tornando-se, assim, elementos de atratividade e
singularidade de um destino turístico. Ao resgatar o passado conectando ao presente
dessas avenidas, sendo elas um produto social da cidade de Manaus, estabelece-se
a condição de interpretação da legibilidade do espaço como resultado de uma dialética
tridimensional da prática espacial (vivido), da representação do espaço (percebido) e
dos espaços de representação (imaginado), tripé esse proposto por Lefebvre (1974).
A construção, pavimentação e urbanização de ruas ou avenidas são elementos
de base da formação visual de uma capital e de integração da população (residente
ou em trânsito) com esse aspecto de urbanidade do ser humano, que também é um
elemento de atratividade turística de um local. Sendo assim, qual seria o significado
das ruas e avenidas, produtos da cidade, para quem vive nela? Kevin Lynch (1999)
afirma que a cidade é uma construção do espaço, em grande escala, perceptível
apenas ao longo do tempo, onde as pessoas possuem uma visão fragmentada sem
relação com o todo, mas tendo que entender que suas formas são dinâmicas e que
respondem a uma demanda atual ou futura do lugar. Para Santos (2012), a cidade é
mais do que uma aglomeração de pessoas e construções num determinado espaço
territorial, ou seja, um lugar dinâmico para o qual converge o fluxo de capital
econômico, social, financeiro, advindo de várias localidades que estabelecem com ela
relações sociais, políticas e econômicas, transformando-se no decorrer do tempo em
virtude desses fatores, concentrando os bens de reprodução do capital e a força de
180

trabalho. Em suma, a cidade ideal se apresenta como fruto dos valores éticos,
filosóficos e sociológicos de cada cultura e de cada época. Desta forma, não há como
não relacionar o desenho das Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro com as
mudanças e interferências sofridas no Centro da cidade, resultado de aspectos
econômicos e sociais do passado e do presente de Manaus oriundos dessas relações
em escala internacional, nacional, regional e local.
O bairro do Centro faz parte da zona Sul da cidade, composta por mais 17 bairros
(Betânia; Cachoeirinha; Colônia Oliveira Machado; Crespo; Distrito Industrial I;
Educandos; Japiim; Morro da Liberdade; Nossa Sra. Aparecida; Petrópolis; Praça 14
de Janeiro; Presidente Vargas; Raiz; Santa Luzia; São Francisco; São Lázaro e Vila
Buriti). Esses são os bairros mais antigos da capital amazonense, no entanto o Centro
destaca-se por concentrar as atividades de comércio e serviços, tradicional área de
concentração de negócios, pela preservação da memória da urbe inicial da cidade de
Manaus materializadas nas suas edificações, logradouros, monumentos e ainda
abriga o Centro Histórico de Manaus. A população do Centro é 28.336 (IBGE, 2010)
estimativa de 2015 de 37.892 com renda mensal de R$ 1.927,00 e número de eleitores
de 52.546 (SEDECTI, 2019)30. A figura 28 ilustra a divisão das zonas da cidade.
Figura 28: Mapa de zoneamento da cidade de Manaus

Fonte: Prefeitura de Manaus, 2003.

30 Informações disponíveis em: http://www.sedecti.am.gov.br/wp-


content/uploads/2019/07/Mapa_da_popula%C3%A7%C3%A3o_por_bairro_de_Manaus.pdf. Acesso
em 02 de fevereiro de 2021.
181

As ruas/avenidas com maior fluxo de pessoas e veículos são: A) Avenidas:


Eduardo Ribeiro; Getúlio Vargas; Sete de Setembro; Epaminondas; Joaquim Nabuco,
Leonardo Malcher e Ramos Ferreira; B) Ruas: Monsenhor Coutinho; Saldanha
Marinho; 10 de julho; 24 de maio; Barroso; Henrique Martins; Floriano Peixoto;
Quintino Bocaiúva; Miranda Leão e Marechal Deodoro. O ponto inicial do Centro
começa no igarapé do Educandos com frente para o Rio Negro até a frente da Ilha de
São Vicente.
As avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro estão inseridas próximas à
orla fluvial do Porto de Manaus (Figura 29), centro-sul da malha urbana da cidade de
Manaus, situando-se dentro da área urbana mais antiga, denominada Sítio Histórico,
de acordo com o artigo 235 da LOMAN31·
Figura 29: Orla fluvial do Rio Negro, destaque azul avenida Sete de Setembro e
vermelho avenida Eduardo Ribeiro.

Fonte: Jornal Em Tempo, 31 de agosto de 2020.


Por sua vez, as avenidas pesquisadas estão contidas em uma área maior,
delimitada e tombada como Centro Histórico de Manaus (CHM), conforme consta no
artigo 342 da mesma LOMAN:
Fica tombado, para fins de proteção, acautelamento e programação especial,
a partir da data de promulgação desta Lei, o centro antigo da cidade,
compreendido entre a Rua Leonardo Malcher e a orla fluvial, limitado esse
espaço, à direita, pelo igarapé de São Raimundo e, à esquerda, pelo igarapé

31 Lei Orgânica do Município de Manaus de 1990.


182

de Educandos, tendo como referência a Ponte Benjamin Constant (1990,


p.121).

Vale ressaltar também, que esse limite foi revalidado no Plano Diretor Urbano e
Ambiental de Manaus publicado no diário oficial do município em 2002 e atualizado
em 2008, com a designação de Unidades de Estruturação Urbana - UES CENTRO
ANTIGO que:
Começa na confluência do Rio Negro com o Igarapé do São Raimundo;
segue por este até a projeção da Avenida Leonardo Malcher; daí, por uma
linha reta, até a Avenida Leonardo Malcher; segue por esta até o Igarapé do
Mestre Chico; seguindo por este até o Igarapé dos Educandos; segue por
este até o Rio Negro; deste, seguindo a sua margem esquerda, até o Igarapé
do São Raimundo (2008, p.25).

O mesmo plano menciona, no artigo 54, que a estruturação do espaço urbano


deve seguir várias diretrizes, dentre elas: “valorizar as paisagens notáveis, naturais e
construídas, destacando a importância das orlas dos rios Negro e Amazonas e do sítio
histórico da cidade para a identidade de Manaus”. Percebe-se, desta forma, que esse
espaço geográfico possui representatividade legal (sob a tutela do governo municipal)
da identidade manauara. Por consequência, esse arcabouço de leis de proteção ao
patrimônio histórico e cultural, recebeu também a intervenção federal, por intermédio
do IPHAN, que reconheceu a importância do Centro Histórico de Manaus para o país,
determinando sua proteção, através do tombamento da área, publicado no diário
oficial da União no 222 de 22 de novembro de 2010. Essa área é depositária da maior
parte do patrimônio edificado remanescente da fundação e evolução urbana de
Manaus, uma espécie de marco urbano da cidade, com valores patrimoniais distintos
e complementares, como o paisagístico e o urbanístico, o histórico e o pré-histórico,
fortemente entrelaçados como autênticos representantes do patrimônio natural e
cultural da região.
Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro possuem relevância tanto pela
extensão e circulação de pessoas e veículos bem como por reunir um conjunto de
singularidades históricas, econômicas e contemporâneas materializadas nas
edificações, praças e ainda no aspecto evolutivo de construção das mesmas ao longo
dos principais períodos da história do Amazonas e do Brasil. Nesse sentido, utilizando
a teoria da prática espacial (vivido) de Lefebvre (1974) e a formação socioespacial de
Milton Santos (1977), esses logradouros serão descritos conforme os principais
183

períodos da história nacional (Pré-colonial, Colonial, Império e República), de modo a


contextualizar suas morfologias evolutivas responsáveis pela materialização do
ambiente construído.
➢ PRÉ-COLONIAL: Não apresenta registros iconográficos, porém a partir dos
resultados de relatórios técnicos de arqueólogos, do IPHAN-AM e de publicações do
IGHA32 será narrado uma ambientação provável nesse período. O atual núcleo urbano
do Centro Histórico de Manaus, teve sua ocupação e povoamento bem anterior ao
processo de colonização portuguesa, antes mesmo da presença do colonizador
português, existia ali uma grande concentração de tribos indígenas dos Barés,
Baniuas, Passés e Manaós, que constituíram o núcleo demográfico inicial desse
centro urbano (IGHA, 2001). Daí a explicação para os achados arqueológicos, como
artefatos e urnas funerárias de aproximadamente 1000 d.C. ou 300 a.C 33 no entorno
da Praça Dom Pedro II34. Complementarmente, de acordo com o Iphan-AM foram
descobertos nessa área vestígios arqueológicos identificados como Terra Preta
Indígena (TPI)35 pesquisado por Peter Hilbert e Carlos Augusto da Silva na década de
1950 e início do século XXI por Eduardo Góes Neves, estes materiais constituem-se
como testemunhos de uma ocupação que datam de 100 a 800 anos antes do presente
(IPHAN, 2020). Desta forma, a partir desses relatos, supõem-se que essa área, onde
atualmente localizam-se as avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, era
ocupada por tribos indígenas dentro de um ambiente natural de floresta primária com
igarapés e igapós em consonância com a paisagem do Rio Negro.
➢ COLONIAL: Desde sua conquista até a independência do Brasil, o Amazonas
foi dominado pelos portugueses, igualmente ao resto do país, uma vez que de 1500 a
1822 o Brasil foi colônia de Portugal. Para Loureiro (2007), a Amazônia sempre
estivera diretamente ligada Lisboa, no que diz respeito aos seus assuntos coloniais,
desenvolvendo-se apartadamente do Brasil. Porém, com a ocupação de Portugal
pelos franceses e a transmigração da família real para o Rio de Janeiro, pela primeira

32 Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas.


33 NEVES e SILVA, 2002, p.29 citado por ABRAHIM, 2006, p.175.
34 Essa praça está situada no início da Avenida Sete de Setembro e esses achados estão hoje em
exposição no Paço da Liberdade-Museu da Cidade de Manaus-MuMa.
35 Material cerâmico e urnas funerárias com ossos humanos descobertos no Sítio Arqueológico
Manaus localizado na Praça D. Pedro II no Centro Histórico.
184

vez a região ficou subordinada ao sul do país, por frouxos laços, em face às
dificuldades de comunicação e da situação instável do Império Colonial Português,
além das atividades das duas regiões serem concorrentes em nível de mercado
(LOUREIRO, 2007). As Avenidas Sete de Setembro36 e Eduardo Ribeiro estão
assentadas na área onde a cidade começou a crescer originalmente, a partir da
instalação do Forte de São José da Barra do Rio Negro (1669), conforme explica
Garcia:
...que por desnecessidade não chegou a cumprir tarefas militares relevantes,
logo acumulou a dupla serventia de entreposto de venda de escravos e de
drogas do sertão. Com a chegada dos frades carmelitas (1695), começou a
se formar ao redor da pequenina fortaleza o núcleo minúsculo de colonização
que daria origem da cidade de Manaus (2010, p.26).

Em 2002 coordenado pelo arqueólogo Paulo Eduardo Zanettini, o Projeto


Arqueologia Urbana no Centro Histórico de Manaus - ARQUEOURBS, tinha dentre os
objetivos encontrar evidências das estruturas da antiga Fortificação de São José
(IPHAN, 2020). Na medida em que foram realizadas as prospecções de subsuperfície
constatou-se que a configuração da atual da malha urbana de Manaus, era fruto da
consolidação da economia extrativista da borracha principalmente a partir do século
XIX, desta forma, Zanettini descreve que o contorno original da orla e a paisagem
junto ao Rio Negro sofreram intervenções de movimentação de terra (aterro e
desaterro) provocando a completa desaparição da Fortaleza de São José e,
consequentemente reconfigurou o sítio urbano de fundação da Manaus atual (IPHAN,
2020).
Apesar da presença do colonizador, a urbanização do Lugar da Barra em torno
do Forte não obedecia a nenhum plano. O terreno, onde a cidade nascia era alto e
suas imediações em declive eram cortadas por inúmeros igarapés que dificultavam a
continuação de uma ruela mais extensa, favorecendo os chavascais e igapós 37,
salienta-se que o principal edifício da época era a Igreja, aliada do Estado, que

36 Destaca-se, que a Avenida Sete de Setembro foi uma das primeiras ruas da cidade, tendo como
primeiro nome Rua Direita (1787) quando Manaus ainda era chamada de Lugar da Barra, assim,
diferenciando-se das demais ruas ou avenidas por ser a única a conter uma memória evolutiva
materializada desde a pré-história até os tempos atuais (GUIMARÃES, 2012).
37 Vitousek e Sanford (1986) definem Igapó como uma cobertura vegetal localizada às margens dos
rios que são alagadas frequentemente pelas águas do rio Negro e afluentes durante o período da
estação úmida (chuvosa). Já os chavascais são terrenos baixos, onde geralmente existem nascentes
inundados quase sempre pelos rios. Os dois são típicos do ecossistema amazônico.
185

auxiliava na catequese dos índios e na educação dos filhos dos portugueses que
estavam a serviço da coroa lusitana (ANDRADE, 1985). Em síntese, essa é a
contextualização do entorno das Avenidas na época da colonização de Manaus.

➢ IMPÉRIO: Após a independência do Brasil (07.09.1822), entre os anos de 1823


a 1836, na fase Imperial, os primeiros arruamentos do povoamento do ainda Lugar da
Barra do Rio Negro (Manaus) eram estreitos, irregulares, de barro batido e causando
enormes sacrifícios aos condutores dos animais que transportavam os carregamentos
de lenha, carvão e água para o abastecimento da população, as melhores residências
eram as dos comerciantes, proprietários e autoridades portuguesas (ANDRADE,
1985). Próximo à criação da Província do Amazonas (05.09.1850), Araújo e
Amazonas descrevem a antiga cidade da Barra (Manaus) da seguinte forma:

...aprazível colina cortada de igarapés, com três pontes de madeira. Tem três
bairros: São Vicente, a oeste, Matriz no Centro e Remédios, a leste, todos
aprazíveis e arejados, e tem pontos pitorescos, como o dos Remédios, de
onde se avista o resto da cidade, confundidas as casas com a floresta e os
mastros das embarcações estacionadas nos igarapés. Tem de cada lado a
oeste e leste, uma cachoeira, a que aflui a população a passeios e banhos.
Principalmente pelo estabelecimento de algumas famílias de Barés, Banibas
e Passés, a sombra da fortaleza de São José do Rio Negro. Consta a cidade
de uma praça e 16 ruas, pela maior parte curtas e estreitas, e ainda por calçar
e iluminar. As casas são cobertas de telhas e poucos sólidas de fundação,
porém são cômodas, espaçosas e desafogadas, os sobrados são ainda em
diminuto número. As lojas carecem de maior gosto em sua peculiar
ostentação. Possui a cidade duas igrejas, a saber: a matriz de N.S. da
Conceição e a capela de N. S dos Remédios, ambas de fundação a imitação
da dos jesuítas no país, isto é, ligeira, frágil e destituída de arquitetura, o que
compensa o povo com um trato e asseio que lhe fazem honra (citado por
LOUREIRO, 2007, p.20-21).

Em 1850, Moacir Andrade (1985) menciona que as construções residenciais


eram todas levantadas sobre pau a pique e com paredes de tijolos de barro cozido,
cobertas com folhas de palmeiras, descrição essa validada pelo relato do cientista
inglês Alfredo Russel Wallace no livro “Viagens pelo Amazonas” em sua passagem
por Manaus no mesmo ano:

A cidade da Barra do Rio Negro está localizada em um terreno desigual,


repleto de ondulações, cerca de trinta pés acima do nível das mais altas
cheias, e é cortada por dois córregos, cujas águas, na estação chuvosa,
atingem a considerável altura, havendo, porém, sobre eles duas pontes de
madeira. As suas ruas são regularmente traçadas; não tem, no entanto, nem
calçamento, sendo muito onduladas e cheias de buracos. As casas
geralmente só têm um pavimento; são cobertas de palha vermelha e
186

assoalhadas com tijolos38, tem paredes pintadas de branco ou de amarelo e


as portas e janelas pintadas de verde. Quando o sol bate sobre elas, o efeito
é muito bonito (ANDRADE, 1985, p.20).

Batista (2013, p. 171) relata que em 1852, “a capital apresentava poucas ruas
e que as mesmas seguiam os contornos dos igarapés de São Vicente, Monte Cristo,
Bica da Boa Vista, Aterro ou Remédio, Espírito Santo e Ribeira das Naus”. A planta
de Manáos (Figura 30) apresenta esses igarapés cartograficamente.

Figura 30: Planta da cidade de Manáos (1852)

Fonte: DUARTE (2009).

Duarte (2009) reforça que Manaus sempre foi entrecortada por centenas de
igarapés e que, por muito tempo, o acesso entre as áreas só era possível por meio
fluvial, utilizando pequenas embarcações como catraias e canoas (Figura 31).

38 A historiadora Edinéia Dias (2007, p.59) complementa que pelo Código de Posturas de 1872 as
casas feitas de barro e coberta de palha, típicas habitações da população pobre da região amazônica,
eram proibidas em várias ruas e praças dentre elas: Remédios, Imperador, Brasileira (atual Sete de
Setembro) e São Vicente. O Código de Posturas no ano 1890, já no período republicano, mantém essa
proibição nos limites urbanos, sob pena do infrator ter a cobertura demolida.
187

Figura 31: Igarapé do Espírito Santo, atual Avenida Eduardo Ribeiro, imagem sem
data.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021).

O mesmo autor segue esclarecendo que “para dinamizar o deslocamento dos


moradores entre os bairros, foram construídas pontes de madeira as quais,
constantemente, precisavam ser recuperadas” (DUARTE, 2009, p. 86). E os dois
córregos apontados por Wallace em 1850 representavam as duas principais artérias
hídricas da cidade:

As duas pontes de madeira sobre os dois córregos, referidos pelo cientista


Alfred Wallace, seriam sobre o igarapé São Vicente e o igarapé do Espírito
Santo, considerando-se que o Lugar da Barra do Rio Negro floresceu em
torno do terreno onde está construído hoje o edifício da Prefeitura Municipal
de Manaus, na parte oeste da cidade (ANDRADE, 1984, p. 22).
188

Convém salientar, que essas pontes referenciadas por Wallace localizavam-se


no entorno do terreno justamente onde o Lugar da Barra (Manaus) floresceu, no local
exato em que se inicia a Avenida Sete de Setembro (igarapé São Vicente) até o
cruzamento da atual Avenida Eduardo Ribeiro (igarapé Olaria e posteriormente
Espírito Santo). A seguir, os registros visuais desse relato:

Figura 32: Pontes referenciadas por Wallace (setas verdes) e os igarapés de São
Vicente (seta azul) e Olaria (seta vermelha) que depois viria a se chamar Espírito
Santo na planta da cidade Manaus em 1845.

Fonte: DUARTE (2009).


189

Figura 33: Igarapé do Espirito Santo (1865), Figura 34: Sede do governo da província
fotografia tirada pelo alemão Christoph (atual edifício da Receita Federal, seta
Albert Krisch no atual cruzamento da amarela) de frente para a ponte da
Avenida Eduardo Ribeiro (seta vermelha) e Imperatriz sobre o igarapé do Espírito Santo
a Avenida Sete de Setembro (seta azul). (seta vermelha), início da avenida Eduardo
Ribeiro.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021) Fonte: GARCIA (2005). Foto de Albert


Krisch, 1865.

O historiador Mário Ypiranga Monteiro (1998), menciona que entre os anos de


1856 e 1858 foi aberta uma travessa39 ao longo de parte do igarapé do Espírito Santo,
na direção norte, que começava na ponte do Espírito Santo (atual cruzamento da
Avenida Eduardo Ribeiro com a Avenida Sete de Setembro) e terminava na Rua da
Constituição (atual 24 de Maio), posteriormente, com o aterro dessa área do igarapé,
a travessa foi alargada e prolongada, chegando até a estrada do Tarumã (atual
Avenida Leonardo Malcher). Complementarmente, Loureiro (2007) descreve que o
aspecto de barro batido e a irregularidade da avenida Sete de Setembro foi substituído
por uma paisagem de canteiro de obras, entre os anos 1852 a 1868, enquanto que a
atual avenida Eduardo Ribeiro ainda era igarapé do Espírito Santo. Nesse período,

39 A travessa citada por Ypiranga (1998) era chamada de Rua Comendador Clementino em 18 de
janeiro de 1875, quase vinte anos após sua abertura) e, de acordo com os relatos acima, ocupava boa
parte da área que viria a ser a Avenida Eduardo Ribeiro. Foi nessa área, entre as ruas 10 de julho e
José Clemente, que foram erguidos o Teatro Amazonas e, posteriormente, o Palácio da Justiça, o que
por consequência fez com que os governantes voltassem seus olhos para a humilde rua, favorecendo
a diversas ações de monumentalidade transformando por completo esse logradouro.
190

conforme afirmação do historiador Antônio Loureiro, foram executados o calçamento


da Rua Brasileira (atual Sete de setembro), da Praça Pedro II até a ponte do Espírito
Santo e de parte da Praça Riachuelo. Abria-se a Praça de São Sebastião e no seu
lado norte uma nova rua, a do Progresso, depois 10 de julho (LOUREIRO, 2007).
Diante desse intenso processo de urbanização, não se pode deixar de destacar
a relevância do igarapé do Espírito Santo como eixo de ligação no traçado original e
de confluência entre as atuais avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro.
Mesquita (2005) afirma que o igarapé do Espírito Santo já foi denominado de igarapé
da Olaria, em função da sua localização próxima da antiga olaria, hoje Praça 15 de
Novembro. No entanto, Duarte (2009) expõem que o igarapé da Olaria seria um braço
do igarapé do Espírito Santo, de todo modo os dois se complementavam e ocupavam
a área aterrada próxima à Catedral de N. S. da Conceição (Figura 81 p.274). Mário
Ypiranga Monteiro (1998), menciona que esse braço de rio desaguava no Rio Negro
(antigamente entres as bocas dos igarapés da Ribeira e a dos Remédios), na área
próxima ao prédio da Alfândega (por essa razão também era conhecido como igarapé
da Alfândega), atravessando o trecho conhecido como largo da Imperatriz
(posteriormente esse espaço foi aterrado tornando-se parte da Praça 15 de
Novembro) e avançava bastante para além da antiga Rua da Palma, hoje Saldanha
Marinho, próximo ao Teatro Amazonas. O mesmo autor informa que provavelmente
sua nascente localizava-se no trecho da atual Rua Barroso, especificamente na
interseção da Rua 24 de Maio, informação essa que foi corroborada por Bento Aranha
(1897) no qual afirma que desaguava no mesmo rio (Negro) o igarapé do Espírito
Santo, cuja nascente estava próxima do lugar onde se acha edificado o Teatro. Nas
representações cartográficas da cidade datadas entre 1844 (Figura 35) e 1845 (Figura
32), esse igarapé passa a ser representado com limite reduzido.
191

Figura 35: Planta da cidade de Manaus (1844) com as setas de identificação do


igarapé da Olaria (posteriormente Espírito Santo).

Fonte: DUARTE (2009).

A redução desse limite era um indicativo de que o aterro do mesmo já estava


sendo executado, desta forma Mesquita (2005) descreve:

A igreja foi erguida na área entre a antiga olaria e o respectivo largo, ao lado
do igarapé do Espírito Santo, que era denominado de igarapé da Olaria. [...],
o indicativo da redução dos limites do igarapé da Olaria (posteriormente
denominado de Espírito Santo), assim como a regularização de algumas ruas
localizadas em torno dele, sugere que o processo de aterramento desse
curso d’água estava sendo executado e, graças a esse procedimento, já se
tornava possível promover a regularização da área. (2005, p. 172).
192

Figura 36: Foto do alemão Albert Krish em 1865 no cruzamento da Rua Brasileira
(Sete de Setembro, seta azul) com o Igarapé do Espírito Santo (atual Eduardo
Ribeiro, seta vermelha). Destaque para a ponte existente na época sobre o igarapé
e a construção da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.

Fonte: GARCIA (2010)

Em 1868, continuando as obras da Matriz foi concluído o aterro da Praça da


Imperatriz e a calçada da Rua Brasileira, após a ponte do Espírito Santo e inaugurada,
no dia 08 de abril de 1870, a iluminação a querosene (LOUREIRO, 2007). Ainda
falando sobre o igarapé da Olaria (posteriormente Espírito Santo), o autor Durango
Duarte (2009, p. 19), afirma que o aterro desse córrego, em sua parte inferior, mais
próxima do Porto da cidade e da nova Matriz, fora iniciado na década de 60 do século
XIX, esse procedimento deu origem à antiga Praça da Imperatriz, hoje Praça da Matriz
(15 de novembro). Abaixo a Figura 37 contextualiza esse momento de construção da
infraestrutura de ligação entre os bairros antigos e a configuração inicial da Avenida
Eduardo Ribeiro (parte do igarapé do Espírito Santo já aterrado).
193

Figura 37: Registro (sem data) da antiga ponte da Imperatriz, construída para ligar
os antigos bairros de Espírito Santo e República, estava situada na área hoje
compreendida como o início da Avenida Eduardo Ribeiro, paralela aos jardins da
igreja da Matriz próximo do Porto e com o igarapé aterrado.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021)

Paralelamente, visualiza-se nas gravuras de Taylor-1870 (Figura 38) e Keller-


1874 (Figura 39) outras perspectivas do igarapé do Espírito Santo. Detalhe para o
registro Taylor trazendo um amplo panorama do traçado e configuração da Rua
Brasileira (atual Avenida Sete de Setembro) com a ponte do Espírito Santo sobre o
igarapé do mesmo nome que posteriormente, após seu total aterramento, tornar-se-
ia a Avenida Eduardo Ribeiro.
194

Figura 38: Gravura de Taylor (1870) vistos da torre da Igreja da Matriz com destaque
para Rua Brasileira (Sete de Setembro, setas azuis), Ponte do Espírito Santo (seta
amarela e o igarapé do mesmo nome da ponte (seta vermelha).

Fonte: MESQUITA (2019)

Figura 39: Gravura de Franz Keller (1874) tomada pela ponte sobre o igarapé
Espírito Santo (setas amarelas), tendo ao fundo o Palácio dos Presidentes da
Província (seta verde).

Fonte: MESQUITA (2019)


195

A partir da narrativa histórica de Antônio Loureiro, observa-se que o início do


ciclo da borracha já começava a impor suas mudanças, transformando a cidade. As
ruas sem calçamento e buracos começavam a ser recobertas com paralelepípedos
de granito cinzento, que eram trazidos, a peso de ouro, de Portugal, servindo de lastro
para os navios (LOUREIRO, 2007). As calçadas largas eram revestidas de mármores
de cantaria (pedras de Lioz40 de Portugal), colocadas artisticamente por profissionais
portugueses cantareiros, também importados, para fazer de Manaus uma cidade
europeia (ANDRADE, 1985). No 1º semestre de 1880 foram concluídos a muralha, o
túnel da Rua Municipal (atual Avenida Sete de Setembro), além dos reparos no
calçamento da referida rua até a rua da Cruz. Nesse mesmo período, a cidade de
Manaus crescia na direção da Sete de Setembro até além da Joaquim Nabuco, já
ultrapassando as suas duas pontes, e a dos Remédios, após a construção da ponte
de ferro. Nos anos de 1882-83 foi concluído o calçamento da Rua Municipal e da sua
escada que dava acesso à Biblioteca, o último decênio do período Imperial
caracterizou-se por uma intensa urbanização. (LOUREIRO, 2007).
Vale salientar que para Mesquita (2019) e Dias (2007), aterrar igarapés tornou-
se uma “febre” entre as autoridades no final do século XIX até meados do século XX,
ou seja, período de transição entre a fase imperial e republicana. pois, apesar de sua
utilidade para a população e significar um atributo singular da capital, os mesmos
comprometiam a imagem da cidade saneada e higiênica que Manaus queria projetar.
Souza e Oliveira (2016, p. 532), ressaltam que “o que antes marcava o caminho das
canoas, lazer da população e subsistência para muitos, tornou-se obstáculo à nova
forma que se impunha a cidade”. Valle e Oliveira (2003, p. 156) descrevem os aterros
de igarapés em Manaus da seguinte forma: “projetos europeus executados por
europeus em uma cidade dos trópicos, numa tentativa constante de excluir da cidade
os igarapés, obstáculos ao crescimento e ao acesso às novas áreas a serem
ocupadas”. As imagens abaixo (Figura 40 e 41) são um dos poucos registros desse
período final do Império.

40 Tipo raro de calcário que ocorre em Portugal, na região de Lisboa e seus arredores.
196

Figura 40 Início da Rua Municipal (atual Av. Sete de Setembro) indicado pela seta
azul ao lado do Paço da Liberdade, gravura de 1884 feita por Charles Wiener.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021)

Figura 41: Registro de Manaus de 1884, feito por Conde Stradelli, provavelmente
esse terreno estava próximo a igreja da Matriz com setas que marcam o local exato
da ponte onde foi construída a Avenida Sete de Setembro sobre o igarapé do
Espírito Santo canalizado (atualmente Avenida Eduardo Ribeiro). À direita, imagem
com outro ângulo dessa ponte sobre o mesmo igarapé.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021)


197

➢ REPÚBLICA: A fase final do Império foi preparatória da grande explosão


modernizadora dos 20 anos seguintes, justamente no início da República Federativa
do Brasil (15.11.1889). Dias (2007) relata que até o ano de 1890, a população de
Manaus era formada por indígenas nativos da região, mamelucos, portugueses,
negros, imigrantes nacionais e estrangeiros que se distribuíam, sem distinção de
classe, cor ou profissão, pelos primeiros bairros da cidade: São Vicente, Espírito Santo
e República. Essa população vivia rodeada pela natureza, que em função de sua
grandeza acabava por delimitar os contornos da cidade, sendo o principal meio de
sobrevivência para boa parte de seus habitantes, logo seus hábitos também eram
influenciados pelos aspectos naturais da localidade, onde as particularidades de suas
tradições no modo de vida dos manauaras, a simplicidade desses costumes causava
estranhamento aos olhos de visitantes, tanto estrangeiros quanto brasileiros, que os
consideravam primitivos e ultrapassados (MESQUITA 2005, 2019; DIAS 2007;
FIGUEIREDO, 2017). Os mesmos autores, informam que em função desse ambiente
as autoridades, muito instigadas pelos conceitos de modernidade europeus,
despertaram o desejo de mudar essa imagem, no entender deles, nada lisonjeira da
capital, porém as melhorias propostas sempre esbarravam na falta de recursos,
dificuldade a ser sanada, posteriormente, com o “boom” da indústria gomífera os
projetos de modernização e embelezamento de Manaus puderam ser concretizados.
Apesar das benfeitorias iniciadas no período Imperial, o cenário urbano dessa
época apresentava um porto precário, prédios públicos em ruínas ou construídos fora
do estilo determinado, trapiches e pontes de madeira rudimentares no centro da
cidade, ruas estreitas e desniveladas, calçamentos irregulares e de madeira, 5 bairros
(Campinas, São Vicente, Remédios, Espírito Santo e República), sem rede de esgotos
e saneamento, iluminação a gás, além do serviço de navegação deficiente (DIAS,
2007). Ou seja, tudo estava para ser feito nos primeiros anos da recém-instalada
República, nesse sentido Otoni Mesquita (2019) afirma que a cidade de Manaus no
período inicial republicano não era dotada de grandes avenidas, a maior parte de suas
ruas eram irregulares e acanhadas, a exemplo tinha-se a Rua Municipal (atual
Avenida Sete de Setembro) que era uma das artérias mais extensas e relevantes da
capital, porém, era muito estreita, ondulada e cortada por vários igarapés, faltava-lhe
monumentalidade requisitada pelo modelo das modernas avenidas.
198

As transformações que Manaus passou entre meados do século XIX e começo


do século XX, só foram possíveis pela combinação de alguns fatores, dois deles
podem ser citados como fundamentais: o apogeu do comércio da borracha amazônica
e a administração do governador Eduardo Ribeiro, apontam Garcia (2014), Figueiredo
(2017) e Mesquita (2005; 2019). Manaus, entre 1890 até 1920, experimentou um surto
de desenvolvimento e transformação que buscava transformá-la numa cidade nos
moldes das grandes metrópoles européias, em plena selva tropical. Assim, no relato
de Andrade:

Aterraram-se igarapés, terraplenaram, arruaram, construíram pontes


metálicas, instalaram trilhos de aço para os bondes ingleses, fincaram postes
de ferro fundido, que distribuíram energia a toda cidade; e calcetaram as ruas,
as praças, avenidas e travessas com pedras em forma de prisma, os famosos
paralelepípedos de granito cor de cinza, marchetado; construíram o maior e
mais moderno cais flutuante do Brasil, em frente da catedral de N. S. da
Conceição. Os edifícios suntuosos, as casas de dois pavimentos, com suas
varandas bordadas de artísticas grades de ferro e janelas de arco romano,
guarnecida de vidros coloridos importados da Inglaterra, Escócia e da França,
além dos seus belíssimos jardins cheios de angélicas (1985, p.22).

Conforme destacado por Mesquita (2005;2019) e Dias (2007) a drenagem e o


aterro dos mesmos tornaram-se prioridade entre as obras públicas, onde o aspecto
irregular do nível das águas destes córregos bem como a grande quantidade de lixo
que acumulava nas margens criava um cenário pouco agradável para a capital, além
disso, os mesmos eram constantemente apontados como uma das principais fontes
de miasmas41 e focos do mosquito da febre palustre, mal que afligia a população na
época.

41 o conjunto de odores fétidos provenientes de matéria orgânica em putrefação nos solos e


lençóis freáticos contaminados.
199

Figura 42: Esse registro retrata residências típicas que ocupavam a área do centro
manauara (1889). Essas casas foram retiradas desse local para dar espaço aos
jardins da igreja Matriz e também para a sua escadaria. Detalhe para essas
construções às margens do igarapé do Espírito Santo (atual Avenida Eduardo Ribeiro,
seta vermelha) no cruzamento com a rua Municipal (atual Avenida Sete de Setembro,
seta azul).

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021)

O igarapé do Espírito Santo cortava a área central da capital e delimitava o


bairro de mesmo nome, sendo uma das vias hídricas mais imponentes da cidade de
Manaus (MONTEIRO, 1998; MESQUITA, 2005;). Sobre sua nomenclatura, Monteiro
(1998), informa que o córrego recebeu esse nome, provavelmente, por conta da forte
influência da Igreja Católica na época, o que tornava comum denominar ruas e
igarapés com nomes tirados do calendário católico. Quanto à data em que o igarapé
passou a ser chamado assim, o autor assinala que a impossibilidade de determinar
exatamente o dia ou o mês em que começou a vigorar o nome do igarapé, mas é
provável que desde 1700 ou a partir de 1669 o mesmo já fosse referido dessa maneira.
200

Figura 43: Igarapé do Espírito Santo com seu casario localizado nas suas margens
em 1890.

Fonte: MAGABI (2019) registro disponível no site: http://www.ims.com.br. Acesso em


30 de set. de 2019.

Uma das primeiras providências do governador Eduardo Ribeiro foi promulgar,


em 1892, a Lei nº. 12 de 01/10/1892 que autorizava o governo a mandar aterrar vários
igarapés, já que o departamento de Higiene e Saúde apontava como medidas
urgentes o aterro dos mesmos (DIAS, 2007; BATISTA, 2013; MESQUITA, 2019).
Entre os igarapés que deveriam ser aterrados estava o do Espírito Santo ou o que
restava dele, uma vez que parte deste curso d’água já havia sido aterrada, entre as
décadas de 40 e 60 do século XIX, a área que ainda era tomada pelas águas do
igarapé ocupava um espaço destacado no plano de embelezamento da cidade,
planejado por Eduardo Ribeiro, uma vez que dependia dessa obra o prolongamento
da então Rua Comendador Clementino, referenciada na época como Avenida do
Palácio e atualmente Avenida Eduardo Ribeiro, conforme Mesquita (2019). É provável
que o aterro completo do igarapé tenha sido concluído no final de 1899 e começo de
1900 (MESQUITA, 2019).
201

Figura 44: Drenagem do igarapé Espírito Santo (esquerda) e galerias construídas na


área que seria o Porto de Manaus (direita) entre os anos de 1892-1900, registro
disponível em George Huebner 1862 - 1935: um fotógrafo em Manaus citado por
Duarte (2009).

Fonte: MAGABI (2019) registro disponível no site:


www.manausdeantigamente.com.br. Acesso em 13 de out. de 2019.

Essa afirmação de Mesquita (2019) baseia-se na fala do governador Eduardo


Ribeiro, em 1896, que lamentava a não conclusão do serviço de aterramento desse
igarapé, contudo, o próprio governador menciona que as obras da nova Avenida do
Palácio (atual Avenida Eduardo Ribeiro) seguiam e seu calçamento em
paralelepípedo já alcançava o topo da via, onde se erguia a construção do palácio do
governo, começando no encontro com a Rua Municipal (atual Av. Sete de Setembro).
Duarte (2009) e Mesquita (2019) afirmam que foi na fase de planejamento e
elaboração do projeto da via, que a mesma passou a ser referenciada como Avenida
do Palácio, em função da alusão ao grande palácio do governo a ser construído no
ponto mais alto do logradouro, local onde atualmente encontra-se o prédio do Instituto
de Educação do Amazonas (IEA). Abaixo uma ilustração retratando a narrativa
supracitada (Figuras 45 e 46):
202

Figura 45: Foto montagem da Avenida Figura 46: Construção do novo


Eduardo Ribeiro feita em 2014 com o Palácio do Governo (final do século
projeto do novo Palácio do Governo. XIX).

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021) Fonte: MESQUITA (2019)

Vale destacar, de acordo com os supracitados autores, que esse Palácio


abrigaria a Secretaria de Governo e representaria a sede do poder do Estado na
capital, fazendo parte dos projetos de embelezamento da cidade propostos e
executados, majoritariamente, na administração de Eduardo Ribeiro (1892-1896).
Garcia (2005) e Mesquita (2019) relatam que as obras foram paralisadas e o seu
projeto arquitetônico foi modificado algumas vezes por governadores posteriores à
Eduardo, porém, o pouco erguido desse projeto foi demolido à dinamite em 1900 na
administração de Ramalho Junior (1898-1900). Para os historiadores Mário Ypiranga
(1998) e Otoni Mesquita (2019) foi durante o governo de Álvaro Maia que os alicerces
da antiga obra do Palácio foram parcialmente aproveitados para a construção do
prédio do IEA, que foi inaugurado em 1945. Magabi (2019) diante dos relatos
históricos estudados entende que apesar de não ter sido concretizado, o Palácio do
Governo deve ser contextualizado ao se discutir a historicidade e a morfologia na
construção da Avenida Eduardo Ribeiro, tanto por ter dado a esta via seu primeiro
nome depois da finalização do aterro do igarapé no qual ela se assentou quanto por
sua importância para o projeto de modernização de Manaus engendrado por Eduardo
Ribeiro. Sobre isso o Mesquita (2019) corrobora ao ressaltar que:

A discussão sobre uma obra que não chegou a ser concluída pode parecer
um tanto absurda, no entanto justifica-se pela importância fundamental que
essa construção assumiu no projeto de embelezamento da cidade traçado
203

por Ribeiro: ocuparia lugar destacado, estrategicamente localizado no ponto


mais alto da principal avenida da capital. O palácio era uma das peças mais
importantes da vitrine que estava sendo montada. Repleto de significados,
pretendia destacar o poder por meio de uma imagem monumental e
pomposa. (MESQUITA, 2019, p. 235).

Nesse sentido, urge a necessidade de modificar a imagem da Manaus colonial,


indígena e de construções primitivas, fatos esses que municiaram de argumentos
justificáveis para o aterramento do igarapé do Espírito Santo, iniciado em 1892, e por
conseguinte, a elaboração e concretização do projeto da Avenida Eduardo Ribeiro,
dotando a cidade com uma nova feição bem como melhoramento do trânsito e
embelezamento de vias públicas (MESQUITA, 2019). O interessante observar que as
grandes quantias de dinheiro advindos da borracha, já no final do século XIX, sem a
devida administração não foram capazes de mudar as feições do município, foi preciso
um jovem e determinado político, nutrido de ideias modernas e fortemente
influenciado pelos modelos europeus de urbanização, ascendesse ao posto de
governador do Amazonas (MESQUITA, 2019). Esse jovem chamava-se Eduardo
Gonçalves Ribeiro, empreendendo um dos governos (1892-1896) mais prósperos da
história do Estado estabelecendo um projeto de modernização e embelezamento de
Manaus que, em parceria com os ingleses, executou várias obras de infraestrutura
urbana, “necessárias para o bem estar da população local e, indispensável para a
ambiência adequada aos estrangeiros residentes” (BATISTA, 2013, p. 173).
O Plano de Expansão e Melhoramentos idealizado por Eduardo Ribeiro (1892-
1896) buscava adequar Manaus às suas novas funções de capital mundial da
borracha, conforme relato de Dias (2007):

Modernizar, embelezar e adaptar Manaus às exigências econômicas e


sociais da época, passa a ser o objetivo maior dos administradores locais.
Era necessário que a cidade se apresentasse moderna, limpa e atraente,
para aqueles que a visitavam a negócios ou pretendessem estabelecer-se
definitivamente (2007, p. 28).

Para isso acontecer vários terrenos foram desapropriados em 1893 e o que


restava do igarapé do Espírito Santo começou a ser aterrado, portanto, o “pensador”,
apelido popular do governador Eduardo Ribeiro, planejava transformar o espaço em
uma avenida bela e monumental, sendo um exemplar das grandes vias europeias no
meio da floresta amazônica (GARCIA, 2005; MESQUITA, 2005, 2019).
204

Nesse contexto, Magabi (2019) afirma:

Compreende-se que o aterro do igarapé do Espírito Santo, e posteriormente


a construção da Avenida Eduardo Ribeiro, transformou radicalmente a vida
de grande parte da população de Manaus e exerceu forte influência na
formação identitária da mesma, especialmente os menos favorecidos
financeiramente, antes um local no qual podiam banhar-se, lavar roupas e os
mais variados materiais, fazer a limpeza de cavalos e deslocar-se usando
pequenas embarcações, agora fora convertido em uma via onde não eram
bem vindos, seus hábitos eram considerados ultrapassados e suas figuras
não “combinavam” com a cidade civilizada e moderna mostrada nas
propagandas. (MAGABI, 2019, p.89).

Conforme enfatizado por Silva; Costa; Coelho e Oliveira (2018), foi seguido
claramente o famoso modelo criado por Eugene Haussmann na urbanização de Paris
no começo do século XIX, o padrão “Tabuleiro de Xadrez” no qual os igarapés deram
lugar às novas ruas e avenidas largas e bem planejadas. Abaixo na Figura 47
demostra claramente esse modelo urbanístico na planta da cidade datada de 1893.
Figura 47: Carta Cadastral da Cidade e Arrabaldes de Manaós levantada por João
Ribas e desenhado por Willy von Bancels em 1893 em Lisboa, impressa em 1895 no
Rio de Janeiro
.

Fonte: MESQUITA (2019).


205

Desde a origem da cidade, o modelo importado foi a tônica em função da


colonização portuguesa, porém, nesse período que as mudanças foram mais
significativas, na visão de Mesquita (2019). Supõem-se que esse novo traçado foi
inspirado nas reformas de Paris, porém não se pode afirmar com precisão, mesmo
assim, percebe-se ao menos duas das características do modelo de Haussmann
impressas no mapa acima: a predominância do traçado retilíneo composto por ruas
largas e retas bem como a construção de uma avenida principal destacando
edificações de grande porte em seu ponto mais elevado (MESQUITA, 2019). Ainda
falando sobre as influências europeias no planejamento e modernização da capital
amazonense, Souza e Oliveira (2016, p. 532) trazem a seguinte reflexão: “o centro de
Manaus, onde a cidade teve seu início começou a ser descaracterizado nessa busca
pelo padrão europeu, modificando também o modo de vida da população que ali
morava”. Dentro dessa nova perspectiva de desenho urbanístico e intenso controle do
poder público, o Código Municipal de 1893 estabelece no artigo 3º que:
As ruas de novo abertas e as que ainda não estão edificadas terão a largura
de 30 metros e serão em linha reta. Os quarteirões terão 132 metros de lado,
salvo quando não permitirem as condições do terreno, devendo nesse caso
o engenheiro encarregado da abertura da rua trazer o fato ao conhecimento
da Superintendência (DIAS, 2007, p.55).

As construções e reconstruções de edificações também eram impostas e


ficavam na dependência de licença concedida pela supracitada Superintendência 42,
que impunha a construção de sobrados (DIAS, 2007) nos logradouros públicos, tais
como: a avenida do Palácio (Eduardo Ribeiro), as Praças da República, Constituição
e XV de Novembro bem como as ruas Governador Vitório, Tesouro, Tenreiro Aranha
e Municipal (Avenida Sete de Setembro). Nessa conjuntura é que o desenho urbano
foi sendo estabelecido nos logradouros públicos tendo a predominância deste tipo de
arquitetura na paisagem das atuais avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro
contando com a rigorosa fiscalização do poder público, tanto estadual quanto
municipal. As figuras 48 e 49 abaixo materializam essa busca permanente pela
limpeza e estéticas dos logradouros público, especificamente no trecho inicial da Rua
Municipal (Sete de Setembro) e na parte da 1ª ponte romana também nessa rua:

42 Cabia a Intendência Municipal, poder público, estabelecer por meio de códigos e regulamentos,
normas gerais de uso do espaço público e privado neste novo contexto urbano (DIAS, 2007, p.122).
206

Figura 48: Começo da Sete de Setembro Figura 49: Avenida Sete de Setembro em
em 1896, com destaque para a Praça Dom 1898 com o tráfego de pessoas e animais,
Pedro II e o Paço da Liberdade, ambos com postes de iluminação pública, pela
localizados a direita da Avenida. perspectiva da 1ª ponte (ponte romana I). Na
época chamava-se Rua Fileto Pires.

Fonte: GARCIA (2010). Fonte: DIAS (2007).

De acordo com Mesquita (2019) as primeiras menções ao projeto de


construção da avenida do Palácio (atual Eduardo Ribeiro), foram feitas pelo diretor de
Obras Públicas do Estado Armênio de Figueiredo em junho de 1893, onde o mesmo
comunicava quais dimensões teria o logradouro: trinta metros de largura e mil e
sessenta de comprimento, estendendo-se “entre a nova rampa e a fachada do novo
Palácio”. Essa rampa era da Imperatriz que dava acesso à terra firme para aqueles
que chegavam à capital nas grandes embarcações, situava-se próxima ao território
onde hoje está o Porto da cidade, esclarece Garcia (2014). As obras do logradouro
avançavam lentamente devido a demora no aterro do igarapé do Espírito Santo, tanto
que em 1894 o governador Eduardo Ribeiro previa que a Avenida seria concluída até
os dois últimos meses daquele ano, o que não ocorreu e, em 1899 os trabalhos ainda
estavam acontecendo (MESQUITA, 2019). As figuras 95 e 96 demonstram esse
momento de construção.
207

Figura 50: Teatro Amazonas no ano de 1898 (seta verde), porém, com as obras da
avenida do Palácio ainda em andamento, sinalizada pela seta vermelha.

Fonte: ANJOS e PEREIRA, 2011.


208

Figura 51: Avenida Eduardo Ribeiro em 1897 no cruzamento da atual a rua José
Clemente. O retrato mostra as obras de construção do Palácio da Justiça (seta
amarela). Foto original do Álbum do Amazonas 1897/1898 (Governo Fileto Pires).

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021).

Originalmente, a Avenida do Palácio (Figura 52) chegava até a ponte do


grandioso Palácio do Governo, local atualmente ocupado pelo Instituto de Educação
do Amazonas (IEA), atravessando, assim, a atual Praça Antônio Bittencourt (Praça do
Congresso) que não fazia parte dos planos iniciais da construção, exatamente nessa
área final do logradouro, haveria uma bifurcação entre as duas vias da Avenida onde
seria construído um jardim para embelezar a entrada do Palácio, informa Duarte
(2009).
209

Figura 52: Avenida do Palácio (Eduardo Ribeiro) com destaque para o prédio do
Palácio do Governo (seta laranja), os mesmos em construção provavelmente no
ano de 1899.

Fonte: ANJOS e PEREIRA, 2011. Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE


(2021)

Ainda nessa ambiência de grandes intervenções urbanísticas impressas pelo


governador Eduardo Ribeiro e por seus sucessores, os logradouros já existentes
também entraram no contexto do embelezamento da cidade de Manaus, assim a rua
Municipal (Sete de Setembro) não se furtou desses benefícios. As Figuras 53, 54 e 55
ilustram esse momento:
Figura 53: Rua Municipal (1899) no trecho próximo à rua Marechal Deodoro. As
proteções de mudas de madeira da nova arborização, composta de castanholeiras
(amendoeiras) plantadas na gestão de Eduardo Ribeiro (1892-1896).

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021). Foto: Arturo Caccavoni in Álbum


Descritivo Amazônico (1899).
210

Figura 54: Avenida Sete de Setembro Figura 55: Avenida Sete de Setembro
(Álbum do Amazonas-1901-1902), no trecho entre o canto do Quintela e a
destaque para os fundos do Palacete avenida Getúlio Vargas, ao fundo
Provincial. pavimento superior e a cobertura do
Ginásio Amazonense (1901).

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE


Fonte: A CRÍTICA e PREFEITURA DE (2021). Foto: Colorização Eletrônica
MANAUS (2003). Digital: Paulo Menezes

Conforme assinala Mesquita (2019), em 1902 a avenida Eduardo Ribeiro


aparece totalmente pronta no Álbum do Amazonas, uma coletânea de fotografias da
cidade publicado neste mesmo ano, no qual o fotógrafo responsável comunicava que
a mesma já estava quase totalmente edificada e que sua construção era recente. A
Avenida Eduardo Ribeiro (Figuras 56, 57 e 58), representava o maior símbolo da
Manaus moderna e rica que se buscava mostrar, a exemplo de muitas ruas e avenidas
da capital, era orginalmente recoberta com paralelepípedos de granito cinzento,
importados a peso de ouro de Portugal, suas calçadas eram revestidas com grandes
lajes de mármore de cantaria, dando um aspecto pitoresco à cidade lembrando, assim,
os bairros antigos de Lisboa, sendo ainda arborizada com os Fícus-benjamins, árvores
que enchiam os logradouros formando verdadeiros colares verdes, além de iluminada
por lampiões de arco voltaico ostentando a iluminação elétrica ainda novidade no resto
do Brasil (ANDRADE, 1984; MONTEIRO, 1998 e MESQUITA, 2019)
Por esse logradouro transitavam dezenas de pessoas, as elegantes carruagens
abertas, automóveis, carroças e os charmosos bondes elétricos, além disso, a mesma
211

assumia ampla importância como a principal artéria de Manaus tendo em sua


vizinhança ricos estabelecimentos comerciais e redações de jornais (MAGABI, 2019).

Figura 56: Bonde, arborização, fluxo de Figura 57: Avenida Eduardo Ribeiro
pessoas e carruagens na Avenida decorada para o desfile de carros
Eduardo Ribeiro 1905. alegóricos e foliões fantasiados no
carnaval de 1905.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE


(2021). (2021).

Figura 58: Avenida Eduardo Ribeiro 1906.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021).


212

Na sua extensão diversas edificações foram erguidas, todas “combinando” com


a “nossa mais luxuosa avenida”, entre elas os mais elegantes armazéns de moda, de
exposição e venda de objetos de arte, ateliers de modistas e de alfaiates, hotéis,
restaurantes, farmácias, botequins, mercearias, dentre outros tantos prédios
comerciais enfeitados com vistosas tabuletas em estilo art-noveau e pintados com
letras policrômicas, além do Teatro Amazonas, do Palácio da Justiça e da Catedral de
N. S. da Conceição, que complementavam majestosamente o conjunto arquitetônico
da Avenida e materializavam o glamour da Belle Époque manauara (ANDRADE, 1984;
GARCIA, 2014; MESQUITA, 2019).

Figura 59: Avenida Eduardo Ribeiro (1906). No detalhe com a seta em amarelo e
paralelo encontra-se Avenida Sete de Setembro.

Fonte: ANJOS e PEREIRA (2011).

Os manauaras concentravam-se na Avenida, especialmente à noite, onde a vida


cultural da capital aflorava e os passeios ficavam cobertos de mesas, onde eram
213

servidos sorvetes e bebidas variadas, era nessa via que a burguesia tinha seu
momento de lazer e consumo reproduzindo, de certo modo, a atmosfera festiva e
alegre dos espaços parisienses (MESQUITA, 2019). O historiador segue afirmando
que:

Sem dúvida, a Avenida Eduardo Ribeiro atendia ao modelo de espaço público


requisitado pela burguesia, em que o consumo e o lazer assumiam
importantes papéis, surpreendia ao viajante porque era como encontrar uma
cópia fiel dos grandes centros civilizados em pleno coração da selva
amazônica. Por muitas décadas, essa avenida manteve-se como a principal
via da cidade, mesmo depois do advento da Zona Franca: com o crescimento
acelerado da cidade e com a intensificação do trânsito, tornou-se
proporcionalmente pequena. (2019, p. 309).

Andrade (1985) destaca que na Rua Municipal ficavam instaladas as grandes


empresas comerciais, além dos melhores hotéis, bancos, indústrias, entre outros. O
mesmo autor relata que os hotéis recebiam os endinheirados e os seringalistas
possuíam belas mansões localizadas nas mais importantes ruas, avenidas e praças
da cidade. As principais ruas e avenidas da nova capital começaram a ser adornadas
por tabuletas43 de estilo art-noveaux, pintadas com letras policrômicas anunciando as
novas firmas estrangeiras que estavam instalando-se no centro comercial,
abastecidas de mercadorias importadas da Europa e da América (ANDRADE, 1985).

43 Tábua pintada e presa na parede ou na porta de certos estabelecimentos.


214

Figura 60: Em 1906 rua Municipal (Sete de Setembro, seta azul) e Avenida Eduardo
Ribeiro (seta vermelha). Destaque para o bonde elétrico (seta verde), igreja da
Matriz (seta amarela) e poste de iluminação do tipo cajado (seta laranja).

Fonte: ANJOS e PEREIRA (2011).

Mesquita (2019) esclarece que com a ampliação da malha urbana da cidade, os


limites de suas ruas avançavam pelos igarapés mais volumosos, exigindo a
construção de novas e maiores pontes, assim, o governador Eduardo Ribeiro incluiu
no plano de embelezamento o projeto de três pontes que deveriam ser instaladas na
Rua Municipal construídas sobre os igarapés de Manaus (Ponte Romana I),
Bittencourt (Ponte Romana II) e da Cachoeirinha (Benjamin Constant). As figuras 61,
62 e 63, retratam esse crescimento horizontal da cidade em contraste com a presença
dos igarapés, fisionomia adaptada as condições naturais do lugar, dando um caráter
singular à paisagem alicerçadas nos aspectos de natureza e urbano em harmonia.
215

Figura 61: Rua Municipal (Sete de Figura 62: Rua Municipal (Sete de
Setembro) com o bonde nº 8 circulando Setembro) e a Ponte Romana I, 1908.
pela ponte Benjamin Constant, em 1906.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE


(2021). (2021).
Figura 63: Igarapé de São Vicente, ao fundo visualiza-se o antigo hospital na ilha
de São Vicente (seta amarela), detalhe para o início da Rua Municipal (seta azul),
hoje Avenida Sete de Setembro, 1906.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021).


216

Apesar da ausência do Poder Federal, Manaus teve melhorias urbanas notáveis.


Além das obras de embelezamento, instalaram-se os serviços públicos, por iniciativa
do Governo Estadual. O historiador Antônio Loureiro (1982) salienta que, sobretudo
no setor de serviços públicos, foi importante a participação da Inglaterra, conforme a
listagem que segue:

a) Instalações portuárias: Manaos Harbour Ltd;


b) Luz e Bondes: Manaos Tramways and Light Cy Ltd;

c) Transporte Fluvial: The Amazon River Steamship Navigation Cy Ltd;


d) Mercado e Matadouro: Manaos Markets and Slaughter house Ltd;
e) Telégrafo: The Amazon Telegraph;
f) Banco: The London and Brazilian Bank;
g) Estaleiro Naval: The Amazon Engineering Cy.
A modernidade chega ao porto de lenha, com uma visão transformadora para
tirar a cidade do conceito de atrasada e feia para torná-la moderna e bela. A madeira
é substituída pelo ferro, o barro pela alvenaria, a palha pela telha, o igarapé pela
avenida, a iluminação a gás pela luz elétrica, a carroça pelos bondes movidos a
eletricidade. Essa transformação além de atingir a paisagem natural (ver Figura 64),
destrói antigos costumes e tradições para seguir os padrões vigentes do mundo
europeu, afastando os pobres dos ricos, civilizando índios para tornarem-se
trabalhadores urbanos, expande a navegação, desenvolve a imigração e, sem dúvida,
impõe uma dinamicidade ao comércio, onde transitavam toneladas de látex vindo dos
mais distantes seringais para a exportação e propiciando a circulação dos mais
diferentes tipos de mercadorias e pessoas (DIAS, 2007).
217

Figura 64: Paisagem da Rua Municipal (Sete de Setembro) cortada por igarapés.
Esse trecho localiza-se nas proximidades da Penitenciaria Raimundo Vidal Pessoa
e a Ponte Benjamin Constant (circulada na imagem). Foto de Hubner S. do Amaral
em 1910.

Fonte: MONTEIRO (1998).

Na nova configuração da paisagem, as avenidas eram arborizadas (ver figura


65) com os Fícus-benjamins. Manaus foi a segunda cidade brasileira a utilizar a
iluminação elétrica em seus lampiões românticos de arco voltaico colocado ao longo
de suas ruas e avenidas, transformou suas praças bem iluminadas em logradouros
bonitos e com um cheiro de flores de mil matizes, onde a mocidade sonhadora fazia
os seus passeios vespertinos, além dos proprietários seringalistas que, em ocasião
de festas, exibiam suas roupas e riquíssimas jóias importadas da Europa com o
melhor vinho da França (ANDRADE, 1985). Edinéia Dias reforça esse paisagismo da
seguinte forma:

Cidade higienizada, formosa, arborizada- a arborização que contribuiu, de


forma benéfica, para as condições de salubridade da urbe. Londres, Paris
são sempre lembradas pelos seus parques, jardins, praças e ruas, motivando
a arborização dos jardins da Matriz, das Praças da Constituição, República,
General Osório e Comércio. Fícus-benjamins, eucaliptos, cedros, rosas e
outras espécies passam a mostrar um novo aspecto na arborização dessas
praças (2007, p.29).
218

Figura 65: Rua Municipal, hoje Avenida Sete de Setembro (1910), arborizada
com o Ficus- benjamim, destaque aos trilhos do bonde (ao fundo).

Fonte: GARCIA (2010).

A configuração de um novo conceito de espaço urbano em Manaus foi


concentrada no período da República, como consequência direta dos lucros auferidos
no ciclo borracha, pois “era necessário que a cidade se apresentasse moderna, limpa
e atraente, para imigração, o capital e o consumo” (DIAS, 2007). Ela contemplava
amplas avenidas, praças, boulevards, porto, luz elétrica, redes de esgoto e de água,
além dos suntuosos palacetes, teatros, bondes que faziam parte do cenário urbano
daquela época. Como as Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro localizavam-
se no centro da cidade, espaço que atendia às necessidades de circulação de bens e
serviços do capitalismo, do consumo, do transporte de mercadorias, comércio em
geral, bancos, entre outras atividades, acabou sendo um dos pontos centrais para
receber esses benefícios e lugar privilegiado para a sociedade da época mostrar suas
roupas, grandiosidade das suas residências e um dos pontos preferidos pelos
comerciantes extrativistas. Para Dias (2007) essa mesma sociedade dominante, que
ditava as regras de conduta social e era agraciada pelas novas intervenções entorno
dos seus comércios e residências (ver figura 66), estava constituída pelos extrativistas
219

e aviadores no qual geriam o negócio do látex em estreita ligação com o capital


financeiro internacional e o poder público local. Tanto que para execução dos serviços
de obras públicas municipais e estaduais:

A prioridade são aos locais onde se estabelecem as casas comerciais, isto é,


os grandes estabelecimentos do comércio de importação e exportação, como
também as artérias que facilitam o deslocamento para o porto da cidade,
representativo de sua importância como centro dinâmico do comércio
internacional e nacional (DIAS, 2007, p.40).

Figura 66: Paisagem da Avenida Sete de Setembro em 1913 com sua arborização,
os trilhos do bonde, poste de iluminação e via limpa, configuração urbana
compatível aos lucros advindos da borracha. Esse trecho da Avenida, atualmente,
situa-se em frente à sede do Banco da Amazônia-BASA.

Fonte: MONTEIRO (1998).

Nesse esforço de resgate histórico, não pode passar despercebida a presença


dos Bondes Elétricos na paisagem das duas Avenidas. Andrade (1985) narra que às
cinco da manhã os bondes (de horário inglês, nunca atrasavam), começavam a rodar
pelas ruas de Manaus de curva em curva circulavam a antiga cidade. O interessante
é que até 1939, portanto até o advento da II Guerra Mundial, só podiam sentar nos
bancos do bonde quem estivesse de paletó e gravata, nos estribos e nos espaços
destinados aos condutores e motoristas viajavam as pessoas de camisas. Todos os
220

quarteirões tinham um poste pintado de branco, que indicava a parada de bonde e o


passageiro era deixado bem em frente ao sinal de parada (ANDRADE, 1985).
Como centro de escoamento da borracha, tudo na cidade de Manaus respondia
aos anseios de quem a administra e da visão de sociedade dos seus idealizadores,
seu tecido social urbano desenvolve-se pela necessidade de promoção de reformas
que facilitem a circulação e o consumo, diferente de outras capitais daquela época
que respondiam ao processo de urbanização provocado pela produção industrial.
(DIAS, 2007). A seguir, vários registros fotográficos das avenidas Sete de Setembro
e Eduardo Ribeiro nas décadas de 1913-1920:

Figura 67: Avenida Eduardo Ribeiro Figura 68: Cartão postal colorizado da
(seta vermelha) no cruzamento com a Avenida Eduardo Ribeiro (1914).
Avenida Sete de Setembro (seta azul),
então Rua Municipal (1913).

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE


(2021). Foto: A.s.d - Acervo da Fan Page (2021).
Manaus Sorriso.
221

Figura 69: Avenida Sete de Setembro (1914), na época Rua Municipal, capturado
da esquina da Praça Oswaldo Cruz, então Praça do Comércio. Destaques: Em
obras, edificação ao fundo, à esquerda, em frente à Praça Dom Pedro II (seta
verde), é o atual Palácio Rio Branco (seta laranja). Registro feito na inauguração
das obras de calçamento deste trecho da avenida.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021). Foto: Manaus Sorriso - Álbum da


Administração Jorge de Moraes (1911-1914).
Figura 70: Avenida Eduardo Ribeiro (1916). Registro colorizado, a partir da Rua
Henrique Martins. Ao fundo, no final da Avenida, o Palacete Miranda Correia (seta
laranja) com o Teatro Amazonas (seta vermelha), Igreja de São Sebastião à direita
(seta amarela) e Palácio da Justiça à esquerda (seta verde).

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021). Foto: Manaus Sorriso Cartão Postal -


Coleção Paulo Menezes.
222

Figura 71: Avenida Sete de Setembro em 1917, na época Rua Municipal.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021).


Figura 72: Vista aérea da cidade de Manaus na década de 20. Avenidas Sete
de Setembro e Eduardo Ribeiro destacadas em vermelho com os suntuosos
palacetes e a Igreja da Matriz Nossa Senhora da Conceição no entorno.

Fonte: ANJOS e PEREIRA (2011).


223

Figura 73: Vista aérea (1924-1925) de Manaus por ocasião da vinda da "Expedição
Hamilton Rice". Destaques: Avenida Eduardo Ribeiro (seta vermelha) e Avenida
Sete de Setembro (seta azul).

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021). Foto: Albert Stevens ou Silvino Santos -


Acervo Samuel Benchimol.

O aspecto social deve ser levado em consideração nesse conjunto de práticas


urbanísticas e de progresso no final do século XIX e nas primeiras décadas do século
XX. O uso do espaço coletivo estava sempre condicionado à interferência do poder
público no privado (dos indivíduos) através de privatizações, punições e controle junto
a população menos favorecida no sentido de manter a ordem e os interesses públicos.
Havia um inegável beneficiamento dos membros das classes mais abastadas da
sociedade vigente. O beneficiamento da borracha e a proposta urbanística da cidade
não estava sendo estendida aos setores populares, que foram compulsoriamente
afastados da área central da cidade em função da “política de demolição de suas
224

casas, para atender às necessidades de reedificação e embelezamento da capital”


(DIAS, 2007). Abaixo algumas ilustrações das Avenidas nas décadas de 30, 40 e 50:

Figura 74: Avenida Eduardo Ribeiro Figura 75: Avenida Eduardo Ribeiro
(1927) orientado para norte, capturado a (1930). Ao fundo Teatro Amazonas (seta
partir da esquina da Rua Henrique verde).
Martins.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE


(2021). (2021).
Figura 76: Início da Avenida Eduardo Figura 77: Avenida Eduardo Ribeiro no
Ribeiro (1930, seta vermelha) apanhada cruzamento com a Avenida Sete de
do alto do edifício da Alfândega. Setembro (1930). Ao fundo o Teatro
Destaques com setas amarelas: Igreja da Amazonas e a torre da Igreja de São
Matriz e Relógio Municipal recém Sebastião (setas verdes).
inaugurado.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE


(2021). (2021).
225

Figura 78: Avenida Sete de Setembro Figura 79: Avenidas Sete de


(1931). Vista próximo ao cruzamento com Setembro e Eduardo Ribeiro (1935)
a Avenida Eduardo Ribeiro orientado para orientado para oeste mostrando parte
oeste. Em primeiro plano vê-se dois dos prédios e a bela arborização.
bondes circulando.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021). Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE


Manaus Sorriso - Foto: Silvino Santos - (2021). Manaus Sorriso - Foto:
Colorização Eletrônica Digital: Paulo Trabalho acadêmico “Manaus e seu
Menezes. comércio de 1930 aos dias atuais”.
Foto: Colorização Digital de Paulo
Menezes.
Figura 80: Avenida Sete de Setembro Figura 81: Avenida Sete de Setembro
(1935), imagem capturada da rua Lobo (1936) festejos da Semana do
D´Almada orientado para leste, ao fundo Amazonas e da Pátria com alunas do
bonde subindo a avenida. Ginásio Amazonense D. Pedro II
desfilando.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021).


Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE
Manaus Sorriso - Foto: Robert Swanton
(2021). Manaus Sorriso - Foto: Revista
Platt - Colorização Eletrônica Digital: Paulo
"Cabocla" - setembro de 1936.
Menezes
226

Figura 82: Avenida Eduardo Ribeiro Figura 83: Avenida Eduardo Ribeiro
(1935), registro a partir da calçada da (1936), aspecto tomado do meio do
sede do Ideal Clube. Destaques: quarteirão entre as ruas 24 de maio e
arborização incipiente, com mudas recém José Clemente, vendo-se ao fundo o
plantadas, protegidas por grades e ao Palácio da Justiça.
fundo Teatro Amazonas.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021). Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE


Manaus Sorriso - Foto: Robert Platt. (2021). Manaus Sorriso - Foto: Cartão
Postal.
Figura 84: Avenida Eduardo Ribeiro Figura 85: Avenida Eduardo Ribeiro
(1938) no cruzamento com a Avenida (1940). Entre a Avenida Sete de
Sete de Setembro. À direita cabine de Setembro e o cais do porto, orientado
controle do trânsito no centro das duas para o sul. À esquerda, o conjunto de
avenidas. prédios da extinta firma "J. G. Araújo &
Cia Ltda", no canteiro central o Relógio
Municipal.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE


Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021). (2021). Manaus Sorriso. Foto: Hart
Manaus Sorriso. Foto: Colorização Preston.
Eletrônica Digital: Paulo Menezes.
227

Figura 86: Linha do Bonde da linha Cachoeirinha-Circular atravessando


a 2ª ponte na Avenida Sete de Setembro em meados de 1940. Ao fundo
do bonde na parte direita da Avenida, o Palácio Rio Negro.

Fonte: ANDRADE (1985).


Figura 87: Avenida Sete de Setembro, cruzamento com a atual Avenida
Getúlio Vargas. À esquerda muro do Colégio D. Pedro II e à direita parte
do edifício do Cine Guarani. Foto da jornalista Maria de Lourdes Acher
Pinto, provavelmente da década de 40 do século XX.

Fonte: ANDRADE (1985).


228

Figura 88: Cruzamento da Avenida Sete de Setembro (seta vermelha)


com Avenida Eduardo Ribeiro (seta azul) em 1950.

Fonte: ANJOS e PEREIRA (2011).

Figura 89: Vista aérea parcial de Manaus (1955). Mostrando parte da


região central, no quadrilátero formada pelas ruas Barroso, Saldanha
Marinho, Joaquim Sarmento e José Clemente, tendo ao centro o eixo
da Avenida Eduardo Ribeiro. O registro traz em destaque o Cine
Odeon (seta verde).

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE (2021). Manaus Sorriso - Foto:


Acervo Popper
229

Diante do exposto visual e narrativo, era esse o retrato socioeconômico das


Avenida Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro no período da República, onde o legado
urbano revestido de história, com sua arquitetura homogênea e harmoniosa, ainda
resiste à falta de valorização do patrimônio cultural e, principalmente, a memória da
população manauara. Porém, com o advento da Zona Franca de Manaus (1967), essa
paisagem urbana passa a sofrer interferências e descaracterizações. Moacir Andrade,
importante poeta e historiador amazonense, versa sobre essa falta de valorização e
modificações, da seguinte forma:

Com o desaparecimento dos românticos sobrados que estão sendo


destruídos para dar lugar a prédios modernos, as obras de arte, as calçadas
de mármores de cantaria portuguesa, as avenidas recobertas com os
famosos paralelepípedos, os quiosques de forma hexagonal, os carrinhos de
garapeiros das esquinas das ruas, as carroças com suas imensas rodas de
madeira que rangiam romanticamente pelas ruas de Manaus, foram também
desaparecendo das nossas ruas e praças, dos nossos becos de tantas
estórias e tantos dramas desenrolados sob o silêncio de noites antigas como
as suas próprias origens, seu chão nu, nu de calçamento, nu de violência que
lhe mancha a face com tantos crimes impunes, nos dias de hoje (1985, p.26).

As imagens abaixo dão uma perspectiva geral dessas transformações


explicitadas por Andrade (1985), com prédios contemporâneos e o asfalto nas
Avenida Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, na época da instalação e crescimento
da Zona Franca de Manaus, a partir da década de 1967.
Figura 90: Trecho final da Avenida Eduardo Ribeiro no final da década de 60, pela
perspectiva da escadaria do IEA para a praça Bittencourt. À esquerda, o Teatro
Amazonas.

Fonte: Duarte (2009). Acervo de Moacir de Andrade.


230

Figura 91: Aspecto aéreo de Manaus Figura 92: Trecho inicial da Avenida
(1967). Avenidas Sete de Setembro Eduardo Ribeiro (1972).
(seta azul) e Eduardo Ribeiro (seta
vermelha).

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE


(2021). Manaus Sorriso - Foto: Guia (2021).
Manaus 300 Anos.
Figura 93: Vista aérea da Avenida Sete de Setembro na década de 70. À direita da
foto Colégio D. Pedro II, à esquerda Praça Heliodoro Balbi (ainda dividida em três
seções) e o Palacete Provincial.

Fonte: DUARTE (2009)


231

Figura 94: Casario da Avenida Figura 95: Perspectiva da


Eduardo Ribeiro (1970), à direita, Avenida Eduardo Ribeiro (1976),
no trecho inicial. no trecho final, a partir da praça
Bittencourt.

Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE Fonte: MANAUS ANTIGAMENTE


(2021). (2021).

Figura 96: Registro de 2020 do cruzamento das Avenidas Eduardo


Ribeiro (seta vermelha) e Sete de Setembro (seta azul).

Fonte: Blog da Floresta. Foto: Eliana Nascimento (2021).


232

Além dessa memória narrativa e iconográfica que permeia as Avenidas Sete de


Setembro e Eduardo Ribeiro, os nomes atribuídos a elas também são parâmetros de
construção dessa historicidade. São duas épocas diferentes, mas o local é o mesmo:
Rua Brasileira, Rua Municipal. “Ligadas pela ponte do progresso. A ponte de madeira
desapareceu engolida pelo aterro e no gradiente passaram os trilhos do bonde
elétrico” (MONTEIRO, 1998, p.15). Essa frase de Mário Ypiranga introduz essa parte
da pesquisa, citando duas designações antigas que a Avenida Sete de Setembro
obteve, em momentos distintos da história da cidade, Brasileira na fase Imperial e
Municipal na República. No entanto, essa citação também traz referência a Avenida
Eduardo Ribeiro por meio da principal ligação entre elas: as pontes e aterros. As
tabelas a serem apresentadas com a ordem cronológica de suas devidas
denominações no recorte temporal especificado, foram organizadas a partir dos dois
volumes do livro Roteiro Histórico de Manaus, de autoria do historiador Mário Ypiranga
Monteiro (1998), de plantas da cidade e cartas registrais catalogadas do livro de
Durango Duarte (2009). Em função da sua condição de mais antiga, essa cronologia
inicia-se pela Avenida Sete de Setembro e posteriormente, Eduardo Ribeiro.
A nomenclatura atual deve-se à data histórica para a nação brasileira – 07 de
setembro de 1822 – dia em que foi proclamada a Independência do Brasil. De acordo
com Monteiro, essa nomenclatura foi adotada em Manaus, a partir do decreto n o 21,
de 7 de setembro de 1922 (1998, p.653). Em todo o país muitas praças, ruas e
avenidas homenageiam esse fato histórico, denominando inúmeros logradouros com
essa data. Assim, no quadro 04 apresenta-se resumidamente essas 17 denominações
dispostas nos seus respectivos anos:

Quadro 04: Cronologia dos nomes da Avenida Sete de Setembro.

No NOME ANO OBSERVAÇÕES


Iniciava na ponte de São
Vicente de Fora até a
1 Rua Direita 1787 Igreja da Matriz. Esse
trecho fica compreendido
entre a extrema do Bairro
São Vicente de Fora e o
início da Rua da
Instalação da Província.
233

Passeio público unindo


os bairros de São Vicente
2 Alameda dos Tamarindos 1823 de Fora ao dos
Remédios. Destruído em
1823, logo após a
independência do Brasil
(1822).

Começava na
extremidade da Rua de
3 Estrada da Cachoeirinha de Manaus ou Anterior a Miranda Reis, no igarapé
Caminho da Cachoeirinha 1830 de Manaus, localizado na
atual Av. Sete de
Setembro, terminando na
cachoeirinha de Manaus,
trecho sul da antiga Av.
Uapés.

Começava no litoral do
Rio Negro, no antigo
4 Rua Liberal [Entre 1831 a bairro São Vicente de
1832] Fora até o igarapé do
Espírito Santo, atual Av.
Eduardo Ribeiro.

Começava no Igarapé de
São Vicente de Fora,
5 Rua Brasileira 1841 lado esquerdo e
terminava na travessa de
Barroso, aberta em 1852.

Passando esse trecho


voltava a se chamar Rua
6 Rua do Sol (trecho ao lado da Praça 1844 Brasileira conforme
Dom Pedro II) detalhe da Planta das
Vilas de Manaós e Ega
datada de 1845, anexada
no trabalho.

Começava no litoral do
Bairro São Vicente, lado
7 Rua de Manaus 1866 oeste e terminava no
Igarapé de Manaus.
Apesar de não ter um
decreto, esse nome é
encontrado em vários
documentos oficiais.

Nomenclatura dada na
sessão pública da
8 Rua ou estrada do General Miranda 1872 Câmara Municipal em
Reis 06/08/1872. Começava
no litoral do Rio Negro e
terminava no igarapé de
234

Manaus, na atual junção


da Av Sete de Setembro
com Av. Joaquim
Nabuco.

Na planta da cidade
datada nesse período
9 Rua Brasileira 1879 aparece essa
denominação. Que
conforme o mapa iniciava
no trecho ao lado da
praça D. Pedro II até se
encontrar com a Rua
Miranda Reis.

Referência que apareceu


na sessão da Câmara
10 Estrada ou Avenida Conselheiro 1881 Municipal no dia
Furtado 02/06/1881, começando
na ponte do Igarapé de
Manaus e terminava no
Igarapé da Cachoeirinha
de Manaus.
Nomenclatura dada em
11/11/1890, começava
11 Rua Wandenkolk 1890 no igarapé de São
Vicente de Fora, lado
oeste e terminava na
Praça Dom Pedro II.

Decreto no 1, de 20 de
fevereiro de 1894, até
12 Rua Municipal 1894 e 1895 essa época não tinha o
comprimento atual da
Avenida Sete de
Setembro. O nome de
1895 foi encontrado na
Carta Registral da
Cidade, anexada a este
trabalho.

Começava no lado oeste


do litoral do Rio Negro e
13 Rua Fileto Pires 1897 terminava no Igarapé do
Mestre Chico, onde está
a ponte Benjamin
Constant. O decreto que
estabeleceu esse nome
foi o no 5 de
08/11/1897.Com a
renúncia desse
governador, em agosto
235

de 1898 voltou a ser Rua


Municipal.

Essa nomenclatura
passou a ser vigorada e a
14 Rua Municipal 1898; 1899; partir de então ela
aparece nas plantas da
1906; 1913 e cidade nos anos citados.
1915. Na planta 1906 sua
extensão vai até a ponte
sobre o Igarapé da
Cachoeirinha,
compatível com a
configuração atual da
Avenida.

Adquiriu essa
denominação a partir do
15 Avenida Sete de Setembro 1922 decreto no 21 de
07/09/1922. Iniciando no
litoral do Rio Negro, ao
lado do Paço da
Liberdade, antigo prédio
da Prefeitura, terminando
na ponte (ou terceira
ponte) metálica de
Benjamin Constant.

Não foi encontrado o


decreto com a data
16 Rua Dr. Edgard do Rego Monteiro [Entre 1923 e exata, mas foi atribuído
1924] esse nome na gestão
desse prefeito.
Posteriormente, o
decreto 23 revogou essa
nomenclatura. O trecho é
o mesmo citado acima.

Pelo Decreto no 23 de 6
de agosto do referido
17 Avenida Sete de Setembro 1924 ano, voltou chamar-se
Sete de Setembro.

Trecho atual da Avenida,


começando ao lado do
18 Avenida Efigênio Sales [Entre 1925 e Paço da Liberdade e
1929] terminando no igarapé do
Mestre Chico ou na ponte
metálica. Também não
foi encontrado decreto,
mas aproximadamente
nesse período,
documentos faziam
236

menção a esse nome,


dado na gestão do então
governador Efigênio
Sales. Com a revolução
de 1930 placas de
mármore indicativas.

Mesmo trecho citado


acima, nomenclatura
19 Avenida Dorval Porto [193-] imposta na gestão desse
Governador.

Denominação obtida
logo após a revolução
20 Avenida Juarez Távora [193-] Ginasiana de 1930.

Vigorando até os dias


atuais.
21 Avenida Sete de Setembro [193- até hoje]

Fonte: GUIMARÃES (2012). Atualizado em 2021.

Monteiro (1998) afirma que em 1845, a Rua Brasileira (atual Avenida Sete de
Setembro) foi ampliada até o Igarapé do Espírito Santo, hoje Avenida Eduardo Ribeiro.
Já no ano de 1874 ganhou mais alguns metros até o Igarapé dos Remédios ou do
Aterro, hoje Avenida de Getúlio Vargas, a partir de então foi aumentando até atingir o
comprimento atual, até a ponte Benjamin Constant, limite com o bairro da
Cachoeirinha. A evolução histórica dos nomes caminhava na mesma medida e
proporção das ascensões políticas, eles eram atribuídos em partes da Avenida para
contentar os políticos da época (MONTEIRO, 1998). Após essa descrição cronológica,
ressalta-se que a formação da via ou trecho urbano da Sete de Setembro em vigor
até os dias de hoje, foi uma junção de várias ruas, alamedas, estradas, caminhos,
onde até a primeira década do século XX passou a possuir a presente configuração.
O mesmo historiador, Mário Ypiranga (1998, p. 241), informa que a Avenida
Eduardo Ribeiro teve vários nomes, antes do igarapé do Espírito Santo ter sido
totalmente aterrado, não foi possível determinar a data exata que a via passou a
chamar-se Avenida Eduardo Ribeiro, sua nomenclatura atual, no entanto, verifica-se
que o nome é uma homenagem póstuma ao seu principal idealizador, o ex-governador
do Estado Eduardo Ribeiro (1892-1896). Convém salientar, que igualmente a Avenida
Sete de Setembro, a atual configuração da Avenida Eduardo Ribeiro é uma junção de
várias ruas, alamedas, travessas, mas principalmente, o aterramento do igarapé do
237

Espírito Santo. A mesma foi a única, no Centro Histórico de Manaus, a ser planejada
para ser uma avenida larga e com monumentalidade nos moldes urbanísticos
europeus da época, criando uma atmosfera europeia condizente com os novos
residentes oriundos em sua maioria da Inglaterra e França, tendo na Avenida Eduardo
Ribeiro, a materialização da bela vitrine manauara da Belle Époque, no auge da
borracha. A seguir, um breve resumo cronológico dos principais nomes atribuídos a
ela, de acordo com historiadores e cartas cadastrais (plantas da cidade).
Quadro 05: Cronologia dos nomes da Avenida Eduardo Ribeiro

No NOME ANO OBSERVAÇÕES


Nasce na antiga praça 05 de
setembro, lado oriental no trecho
da atual rua Barroso e interseção
1 Igarapé do Espírito Santo A partir de 1669 da rua 24 de maio. Desagua no rio
Negro, entre as bordas dos
igarapés da Ribeira ou dos
Seminários e dos Remédios.
Trecho também conhecido como
igarapé da Alfândega. Lado
esquerdo passava rua Manaus e
pelo direito a travessa da Olaria.

Um braço do igarapé do Espírito


2 Igarapé da Olaria 1844 e 1845
Santo, plantas das respectivas
datas.

3 Igarapé do Espírito Santo 1852 Planta da Cidade de Manaus.

Começava na rua Boa Vista,


contornando pelo lado esquerdo
4 Rua da Pedreira 1854
do Igarapé do Espírito Santo
naquele trecho ainda chamado de
igarapé da Alfândega e terminava
no largo Riachuelo.

Começava na rua da Constituição,


atual 24 de maio, Prolongamento
5 Travessa da Praça Paiçandu 1868
da travessa até o igarapé do
Espírito Santo, depois de aberta
denominou-se Comendador
Clementino, atual avenida
Eduardo Ribeiro.

Começava na rua Brasileira (atual


Sete de Setembro) terminando na
6 Igarapé da Alfândega 1869
rua Boa Vista (atual Marquês de
(aproximadamente) Santa Cruz) abrangendo o trecho
238

entre a Alfândega nova e


Armazém 10. Esse nome foi dado
em função da instalação da
Alfândega Velha na data de 27 de
março do ano de 1869 e por correr
em frente dessa repartição
federal.
Começava no largo Paiçandu e
terminava na estrada do Tarumã
7 Rua Comendador Clementino 1875
(atual rua Leonardo Malcher).

Planta da cidade do ano de 1893


impressa em 1895. Começava na
8 Avenida do Palácio 1893 e 1894
praça 15 de novembro e terminava
na praça 05 de setembro, ex-rua
Comendador Clementino.

Começava na rampa do rio Negro,


trecho sul e terminava na ponte
9 Rua de Manaus 1894
velha do Espírito Santo, correndo
pelo lado esquerdo do igarapé do
Espírito Santo até encontrar a
atual, avenida Sete de Setembro.

Começava no litoral do rio Negro e


terminava na rua Municipal,
10 Avenida Floriano Peixoto 1895 localizado à margem esquerda do
antigo igarapé da Alfândega.

Plantas da cidade dos respectivos


11 Avenida Eduardo Ribeiro 1899-1906-1913-1915-
anos. Começava na praça
até hoje.
Osvaldo Cruz (antiga 15 de
novembro) termina na praça
Bittencourt (popular praça da
saúde, Congresso Eucarístico).
Asfaltada em 1962, nomenclatura
que vigora até os dias atuais.

Fonte: Elaborado pela autora com base em Monteiro (1998) e Plantas da Cidade de
Manaus.

A construção da identidade de um povo molda-se a partir de sua memória,


agregando seus valores, manifestações, escrevendo suas histórias que serão
passadas de geração em geração, entendimento este pouco valorizado na sociedade.
Sem memória não há história, nem identidade e muito menos o futuro de uma cidade
será construído, sem passado, que dirá a reafirmação dos valores no presente. O
passado e o presente conseguem dialogar ao longo das Avenidas Sete de Setembro
e Eduardo Ribeiro, dentro de uma perspectiva evolutiva e socioeconômica.
239

Reconstituir a história de uma cidade implica num processo profundo de descobertas


e reafirmações dos valores culturais de uma população, que precisa interpretar o seu
olhar e descobrir através de uma rua ou avenida o verdadeiro exercício de construção
da sua identidade e da sua cidade. Mário Ypiranga Monteiro afirma que:

A rua não é apenas o espaço físico que você ocupa, mas um produto
socializante universal do grupamento de indivíduos, um eixo horizontal, que
conduz você e sua vontade a qualquer lugar determinado. Você não é só na
sua aldeia ou cidade, mas parte da rua, produto dela, a ele ligado por um
acordo explícito que é a casa. Antigamente era multado quem não tinha onde
morar, por isso que a rua só existe em função daquilo que você representa
na sociedade (1998, p.11).

A relevância de uma rua ou avenida não pode ser resumida apenas ao aspecto
físico-espacial, mas sobretudo como produto da sociedade, dentro de um processo
cíclico e dinâmico de interpretação de sua própria história, ligando passado e presente
em um só lugar que vai se reinventando ao longo do tempo (GUIMARÃES, 2012).
Para tanto, há que se estabelecer uma conectividade entre os momentos passados,
já retratados acima, com os aspectos atuais do lugar. Desta forma, a conexão entre
esse passado evolutivo das duas avenidas e o seu presente são a aplicação de duas
categorias da dialética tridimensional proposta por Lefebvre (1974): prática espacial
(vivido) e da representação do espaço (percebido). Ou seja, a materialização desse
processo histórico evolutivo das avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro na
perspectiva de conjunto com suas edificações. Portanto, é necessário relacionar às
principais características atuais dos logradouros aqui estudados aliando ao patrimônio
edificado do seu entorno no que tange ao âmbito legal e normativo.
Nesse sentido, para dar um panorama geral, a prefeitura de Manaus elaborou
e sintetizou culturalmente um mapa intitulado como “Plano Diretor de Reabilitação do
Centro de Manaus (PERCM): Sistematização da base de informação gerencial”,
contendo os perímetros de tombamento municipal e federal do Centro Antigo de
Manaus bem como a localização geográfica das unidades de interesse de
preservação da prefeitura, dos bens tombados a nível estadual e federal e suas
respectivas gestões. A partir desse mapa, também se detectou um total de 33 bens
tombados nos âmbitos federais, estaduais e municipais nos limites de tombamento
municipal e federal ao mesmo tempo que também apresenta o conjunto de unidades
municipais de 1º, 2º, unidades históricas abandonadas, praças históricas além das
festas religiosas, eventos sazonais e espaços para manifestações culturais. No que
240

tange às unidades de interesse de preservação de 1º, 2º grau além dos bens


tombados individualmente nos três níveis, têm-se a seguinte distribuição nos
logradouros analisados:
Quadro 06: Imóveis de interesse de preservação municipais e tombamento individual
federal e estadual nos logradouros pesquisados

AVENIDA 7 DE SETEMBRO AVENIDA EDUARDO


1º GRAU: 21 2º GRAU: 42 1º GRAU: 19 2º GRAU: 7

ESTADUAL= 7 MUNICIPAL = 2 FEDERAL= 1 ESTADUAL= 3


Catedral de No Sra da
Conceição; Paço da Liberdade e Relógio Municipal;
Teatro Amazonas
Biblioteca Pública do Praça da Agência dos Correios
Amazonas; Colégio Matriz/Chafariz. e Telégrafos.
Amazonense
D.Pedro II; Palacete
Provincial; Palácio
Rio Negro;
Penitenciária
Raimundo Vidal
Pessoa e Ponte
Benjamin Constant.
Sub-Total= 72 Sub-Total= 30
TOTAL GERAL = 102
Fonte: Elaborada pela autora com base no mapa PERCM.
Ainda no âmbito normativo e legal, cabe destacar o decreto de n o 71176
publicado no Diário Oficial do Munícipio de Manaus em 10 de fevereiro de 2004 na
gestão do prefeito Alfredo Nascimento, onde a mesmo regulamenta o “Setor Especial
das Unidades de Interesses de Preservação (SEUIP), em área tombada, para fins de
proteção, acautelamento e programação especial, de acordo com o art. 342 da Lei
Orgânica do Município” (DECRETO No 71176, 2004, p.1). No artigo 1º é explicitado
que esse setor é composto pelo conjunto de bens imóveis de valor significativo para
marcar as tradições e a memória da cidade. Classificando-se da seguinte forma:

Art. 4° - As Unidades de Interesse de Preservação classificam-se - 1° Grau;


II - 2° Grau; III - Orla Portuária; IV - Praças Históricas. As edificações
classificadas como Unidades de Preservação de 1° Grau deverão conservar
suas características originais, no respeito às suas fachadas, mantendo a
mesma volumetria da edificação e a mesma taxa de ocupação do terreno,
não podendo sofrer qualquer modificação física externa. Art. 6° - As
edificações classificadas como Unidades de Preservação de 2° Grau deverão
241

conservar as características mais marcantes da ambiência local, no que diz


respeito às suas fachadas, volumetria atual da edificação e do conjunto onde
está inserida. (DECRETO No 71176, 2004, p.1-2).

Desta forma, com base nesse decreto, abaixo estão nominadas essas unidades
de 1º e 2º grau junto com as praças históricas localizadas nas respectivas avenidas:

Quadro 07: Unidades de 1º grau municipais de interesse para preservação

AVENIDA EDUARDO RIBEIRO AVENIDA SETE DE SETEMBRO


No 1º GRAU No 1º GRAU
1 66.Relógio Municipal Av. Eduardo 1 259. Prédio Institucional - (Vila Ninita) Av.
Ribeiro – Canteiro Central. Sete de Setembro ao lado Palácio R.
Negro.

2 67. Prédio Comercial Av. Eduardo 2 260. Prédio Residencial Av. Sete de
Ribeiro n° 58. Setembro n° 182.

3 68. Prédio Comercial Av. Eduardo 3 261. Prédio Residencial Av. Sete de
Ribeiro n° 64. Setembro n° 188.

4 69. Prédio Comercial Av. Eduardo 4 262. Prédio Residencial Av. Sete de
Ribeiro n° 124 fundo c/Marechal Setembro n° 200.
Deodoro, n° 135/135-A.

5 70. Prédio Comercial Av. Eduardo 5 263. Prédio Comercial/


Ribeiro n° 126. Serviços/Residencial Av. Sete de
Setembro n° 344 c/ R. Governador
Vitório, n°1.50/152/164.

6 71. Prédio Comercial Av. Eduardo 6 264. Prédio Comercial/Serviços Av. Sete
Ribeiro n° 140 fundos c/Marechal de Setembro n° 392.
Deodoro n° 143.

7 72. Prédio Comercial Av. Eduardo 7 265. Prédio Serviços –Câmara Municipal
Ribeiro n° 160/216/216-C. Av. Sete de Setembro n° 384.

8 73. Prédio Comercial Av. Eduardo 8 266. Prédio/Serviços (BASA) Av. Sete de
Ribeiro n° 165. Setembro n° 397.

9 74. Prédio Comercial Av. Eduardo 9 267. Prédio Comercial Av. Sete de
Ribeiro n° 167. Setembro n° 400.

10 75. Prédio Comercial Av. Eduardo 10 268. Prédio/Serviços - (Palace Hotel) Av.
Ribeiro n° 171. Sete de Setembro n°
500/591/601/603/58.
242

11 76. Prédio Comercial Av. Eduardo 11 269. Prédio Comercial Av. Sete de
Ribeiro n° 173. Setembro n° 617R. Lobo D’Almada.

12 77. Prédio Comercial Av. Eduardo 12 270. Prédio Comercial Av. Sete de
Ribeiro n° 175. Setembro n° 687 c/ R Joaquim Sarmento,
n° 19/23.

13 78. Prédio Comercial Av. Eduardo 13 271. Antigo Grande Hotel Av. Sete de
Ribeiro n° 230 fundos c/Rua Marechal Setembro n° 826/832.
Deodoro n°227/229.

14 79. Prédio Comercial Av. Eduardo 14 272. Museu do Homem do Norte Av. Sete
Ribeiro n° 236 fundos p/Marechal de Setembro n° 1.385.
Deodoro n° 237.

15 80. Prédio Comercial Av. Eduardo 15 273. Cj. de Prédios Residencial/Serviços


Ribeiro n° 339/341. Av. Sete de Setembro n° 1.462.

16 81. Prédio Desocupado (Antigo Café 16 274. Cj. de Prédios Residencial/Serviços


Ponto Chic) Av. Eduardo Ribeiro n° Av. Sete de Setembro n° 1.472.
390/392.

17 82. Prédio Comercial Av. Eduardo 17 275. Cj. de Prédios Residencial/Serviços


Ribeiro n° 409. Av. Sete de Setembro n° 1.448.

18 83. Prédio Comercial (Antiga Credilar 18 276. Palácio Rio Negro Av. Sete de
Teatro) Av. Eduardo Ribeiro n° 659 Setembro n° 1.546.
esq.Rua J.Clemente n° 420.

19 84. Prédio Institucional (Palácio da 19 277. Centro de Estudos Bíblicos Av. Sete
Justiça) Av. Eduardo Ribeiro n° 833. de Setembro n° 1.801.

20 85. Prédio Residencial Casa Sr. 20 278. Prédio Institucional (C. D. C.) Av.
Thales Loureiro Av. Eduardo Ribeiro Sete de Setembro n° 1.806.
n° 874.

21 86. Prédio Residencial – 21 279. Cj. de Prédios


Comércio/Serviço Av. Eduardo Ribeiro Residencial/Comercial Av. Sete de
n° 890. Setembro n° 1.945/Visc. de Porto Alegre,
n°211 e 217.

22 87. Prédio Institucional (JUCEA) Av. 22 280. Centro Educacional Santa Terezinha
Eduardo Ribeiro n° 898. Av. Sete de Setembro n° 2.107.

23 88. Prédio – Serviços (Hotel 23 281. Antigo Politheama – Banco Auxiliar


Castelinho) Av. Eduardo Ribeiro n° Av. Sete de Setembro s/n° c/ Av.G.
906. Vargas, n° 80.

24 89. Prédio – Ideal Club Av. Eduardo 24 282. Ponte Benjamim Constant Av. Sete
Ribeiro n° 937. de Setembro s/n°.
243

25 258. Teatro Amazonas Pç. São 25 283. Prédio Institucional - Penitenciaria


Sebastião c/ Av. Ed. Ribeiro, n° 836. Central Av. Sete de Setembro s/n°.

26 284. Assembléia Legislativa -Palácio Rio


Branco Av. Sete de Setembro s/n°.

27 285. Colégio Amazonense D. Pedro II Av.


Sete de Setembro s/n°.

28 286. Ponte Romana I Av. Sete de


Setembro s/n°.

29 287. Ponte Romana II Av. Sete de


Setembro s/n°.

Fonte: Elaborada pela autora com base no decreto no 71176 de 10/02/2004.

Quadro 08: Unidades de 2º grau municipais de interesse para preservação

No AVENIDA EDUARDO RIBEIRO No AVENIDA SETE DE SETEMBRO


2º GRAU 2º GRAU

1 616. Av. Eduardo Ribeiro n° 36. 1 1444. Av. Sete de setembro n° 85.

2 617. Av. Eduardo Ribeiro n° 136. 2 1445. Av. Sete de setembro n° 98.

3 618. Av. Eduardo Ribeiro n° 144. 3 1446. Av. Sete de setembro n° 104.

4 619. Av. Eduardo Ribeiro n° 154, 4 1447. Av. Sete de setembro n° 110.
fundos Rua Mal. Deodoro, n° 153

5 620. Av. Eduardo Ribeiro n° 187. 5 1448. Av. Sete de setembro n° 118.

6 621. Av. Eduardo Ribeiro n° 218. 6 1449. Av. Sete de setembro n° 136.

7 622. Av. Eduardo Ribeiro n° 245. 7 1450. Av. Sete de setembro n° 145.

8 623. Av. Eduardo Ribeiro n° 309. 8 1451. Av. Sete de setembro n° 182.

9 624. Av. Eduardo Ribeiro n° 395. 9 1452. Av. Sete de setembro n° 188.

10 625. Av. Eduardo Ribeiro n° 399. 10 1453. Av. Sete de setembro n° 205.

11 626. Av. Eduardo Ribeiro n° 445. 11 1454. Av. Sete de setembro n° 208.

12 627. Av. Eduardo Ribeiro n° 462. 12 1455. Av. Sete de setembro n° 344.

13 628. Av. Eduardo Ribeiro n° 466. 13 1456. Av. Sete de setembro n° 377.

14 629. Av. Eduardo Ribeiro n° 472. 14 1457. Av. Sete de setembro n° 414.

15 630. Av. Eduardo Ribeiro n° 474. 15 1458. Av. Sete de setembro n° 430.
244

16 631. Av. Eduardo Ribeiro n° 509. 16 1459. Av. Sete de setembro n° 649.

17 632. Av. Eduardo Ribeiro n° 519. 17 1460. Av. Sete de setembro n° 665.

18 633. Av. Eduardo Ribeiro n° 523. 18 1461. Av. Sete de setembro n° 667/677.

19 634. Av. Eduardo Ribeiro n° 549. 19 1462. Av. Sete de setembro n° 711.

20 635. Av. Eduardo Ribeiro n° 575. 20 1463. Av. Sete de setembro n° 727.

21 636. Av. Eduardo Ribeiro n° 583. 21 1464. Av. Sete de setembro n° 766.

22 637. Av. Eduardo Ribeiro n° 892. 22 1465. Av. Sete de setembro n° 855.

23 638. Av. Eduardo Ribeiro n° 896. 23 1466. Av. Sete de setembro n° 860.

24 1467. Av. Sete de setembro n° 945.

24 639. Av. Eduardo Ribeiro s/n°. 25 1468. Av. Sete de setembro n° 1015.

26 1469. Av. Sete de setembro n°


1035/1043.

27 1470. Av. Sete de setembro n° 1051.

28 1471. Av. Sete de setembro n°


1061/1061-A.

29 1472. Av. Sete de setembro n° 1184.

30 1473. Av. Sete de setembro n° 1194.

31 1474. Av. Sete de setembro n° 1199.

32 1475. Av. Sete de setembro n° 1202.

33 1476. Av. Sete de setembro n° 1220.

34 1477. Av. Sete de setembro n° 1240.

35 1478. Av. Sete de setembro n° 1242.

36 1479. Av. Sete de setembro n° 1244.

37 1480. Av. Sete de setembro n° 1254.

38 1481. Av. Sete de setembro n° 1258.

39 1482. Av. Sete de setembro n° 1264.

40 1483. Av. Sete de setembro n° 1275.

41 1484. Av. Sete de setembro n° 1279.

42 1485. Av. Sete de setembro n° 1283.


245

43 1486. Av. Sete de setembro n° 1291.

44 1487. Av. Sete de setembro n° 1293.

45 1488. Av. Sete de setembro n° 1307.

46 1489. Av. Sete de setembro n° 1373.

47 1490. Av. Sete de setembro n° 1375.

48 1491. Av. Sete de setembro n° 1386.

49 1492. Av. Sete de setembro n° 1399.

50 1493. Av. Sete de setembro n° 1405.

51 1494. Av. Sete de setembro n° 1411.

52 1495. Av. Sete de setembro n° 1417-A.

53 1496. Av. Sete de setembro n° 1419 (8


casas).

56 1497. Av. Sete de setembro n° 1429.

57 1498. Av. Sete de setembro n° 1439.

58 1499. Av. Sete de setembro n° 1456.

59 1500. Av. Sete de setembro n° 1462.

60 1501. Av. Sete de setembro n° 1468.

61 1502. Av. Sete de setembro n° 1472.

62 1503. Av. Sete de setembro n° 1478.

63 1504. Av. Sete de setembro n° 1480.

64 1505. Av. Sete de setembro n° 1486.

65 1506. Av. Sete de setembro n° 1566.

66 1507. Av. Sete de setembro n° 1582.

67 1508. Av. Sete de setembro n° 1590.

68 1509. Av. Sete de setembro n° 1596.

69 1510. Av. Sete de setembro n° 1633.

70 1511. Av. Sete de setembro n° 1639.

71 1512. Av. Sete de setembro n° 1643.


246

72 1513. Av. Sete de setembro n° 1649.

73 1514. Av. Sete de setembro n° 1653.

74 1515. Av. Sete de setembro n° 1655.

75 1516. Av. Sete de setembro n° 1710.

76 1517. Av. Sete de setembro n° 1736.

77 1518. Av. Sete de setembro n° 1739.

78 1519. Av. Sete de setembro n° 1756.

79 1520. Av. Sete de setembro n° 1768.

80 1521. Av. Sete de setembro n° 1832.

81 1522. Av. Sete de setembro n° 1833.

82 1523. Av. Sete de setembro n° 1843.

83 1524. Av. Sete de setembro n° 1872.

84 1525. Av. Sete de setembro n° 1878.

85 1526. Av. Sete de setembro n° 1952.

86 1527. Av. Sete de setembro n° 1958.

87 1528. Av. Sete de setembro n° 1980.

88 1529. Av. Sete de setembro n° 2175.

89 1530. Av. Sete de setembro n° 2210.

90 1531. Av. Sete de setembro n° 2220.

91 1532. Av. Sete de setembro s/n°.

92 1533. Av. Sete de setembro s/n°.

Fonte: Elaborada pela autora com base no decreto no 71176 de 10/02/2004.

Já as praças históricas, conforme o mesmo decreto são: 1) Praça D. Pedro II;


2) Praça Heliodoro Balbi e Ribeiro Junior; 3) Praça da Matriz e Praça Oswaldo Cruz;
4) Praça do Congresso e 5) Praça XV de Novembro (extensão da Praça da Matriz).
Os mapas nas figuras 97 e 98 dão uma amplitude desses imóveis e praças históricas
protegidas pelas três esferas administrativas-governamentais bem como a relação
estabelecida entre o ambiente construído e o Porto de Manaus como principal
entreposto comercial e de fluxo de passageiros no século XIX e XX.
247

Figura 97: Mapa da Avenida Sete de Setembro com os imóveis e praças protegidos

Fonte: Elaborado pelo arquiteto e urbanista Aldeni Hayden Cavalcante Júnior (2021)
248

Figura 98: Mapa da Avenida Eduardo Ribeiro com os imóveis e praças protegidos

Fonte: Elaborado pelo arquiteto e urbanista Aldeni Hayden Cavalcante Júnior (2021)
249

Após essa análise normativa e legal quanto ao acautelamento dos imóveis no


entorno das avenidas bem como o seu perímetro municipal e federal de tombamento,
passa-se a descrição atual desses logradouros.

1. AVENIDA SETE DE SETEMBRO: Começa no antigo bairro de São


Vicente (hoje Centro), especificamente ao lado do edifício do Paço da Liberdade
(antiga Prefeitura Municipal), próximo a sede da Manaus Energia e prossegue
até encontrar a Avenida Castelo Branco, no bairro da Cachoeirinha. Ela começa
com 4,80 metros de largura (no trecho inicial do entorno do Paço da Liberdade- Ponto
A) e termina com 12 metros (na parte final do entorno da Ponte Benjamim Constant-
Ponto E). Possui 2.430 metros de extensão e está localizada 03o08.087’ sul (latitude)
e 060o01.077’ oeste (longitude). Atravessa três igarapés, o de Manaus, o de
Bittencourt e o Mestre Chico. Via de mão única de acesso ao centro de Manaus,
a Avenida Sete de Setembro possui um movimento intenso, com um fluxo
direcionado no sentido centro-bairro e parte dela servindo como artéria de interligação
de ruas. Em alguns trechos apresenta caixa viária para duas faixas de rolagem e
outros com três vias de rolamento. Com estacionamento, passeios de ambos os lados
em toda sua extensão e três pontes antigas, as quais foram recentemente
restauradas. Parte do seu calçamento é de pedra de Lioz nas áreas consideradas
nobres na época (Paço da Liberdade, Igreja da Matriz, Biblioteca Pública, Praça
Heliodoro Balbi, Palácio Rio Negro e Penitenciária Vidal Pessoa), porém, a falta de
manutenção e depredação do local, deixaram o calçamento em péssimo estado de
conservação. Devido a sua extensão, várias ruas e avenidas cruzam com a Avenida
Sete de Setembro, no total de 23, dentre elas: Rua Gabriel Salgado; Rua Taqueirinha;
Rua Governador Vitório; Rua Itamaracá (continuação da Avenida Epaminondas); Rua
Marquês de Santa Cruz; Rua da Instalação; Rua Lobo D’Almada; Rua Joaquim
Sarmento; Avenida Eduardo Ribeiro; Rua Barroso; Rua Marechal Deodoro; Rua José
Paranaguá; Rua Rui Barbosa; Avenida Getúlio Vargas; Avenida Floriano Peixoto;
Avenida Joaquim Nabuco; Rua Igarapé de Manaus; Rua Major Gabriel; Rua Jonathas
Pedrosa; Avenida Visconde de Porto Alegre; Avenida Duque de Caxias; Beco Somag
e por fim com a Avenida Presidente Castelo Branco.
250

2. AVENIDA EDUARDO RIBEIRO: Localizada no centro da cidade é considerada


curta, com pouco mais que um quilômetro de extensão, começa no trecho inicial do
Obelisco44-Ponta-A em frente aos jardins da Igreja da Matriz e termina no Praça
Bittencourt, popularmente conhecida como Praça do Congresso-Ponta-E. Têm
aproximadamente 623 metros de extensão e 19.50 de largura, está localizada
3o7`56,83´´sul (latitude) e 60o1`26,85´´oeste (longitude). No trecho inicial existe um
canteiro central no qual estão instalados o Obelisco e o Relógio Municipal, do lado
esquerdo está a Catedral de N. S. da Conceição (Matriz) bem como os jardins da
mesma e a Praça 15 de Novembro (da Matriz), e do lado direito, quase na esquina
com a Rua Marquês de Santa Cruz está o imponente edifício da Receita Federal
(atualmente usado como sede provisória do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional-Iphan), o prédio da Agência Central dos Correios (encontra-se
fechado aparentemente sem função) fica na esquina com a Rua Theodoreto Souto,
próximo a essa edificação fica parte do casario histórico da avenida e alguns prédios
comerciais, ainda do lado direito a via encontra-se com a Rua Quintino Bocaiuva. De
acordo com Magabi (2019), a Eduardo Ribeiro cruza com a Avenida Sete de
Setembro, ainda com a Matriz completando a paisagem em seu lado esquerdo, mais
à frente cruza com as ruas Henrique Martins, Saldanha Marinho e 24 de maio, nesse
trecho o cenário é composto por diversos estabelecimentos comerciais e algumas
bancas de jornal. No quarteirão delimitado pelas ruas José Clemente e 10 de Julho,
do lado direito encontram-se o Largo de São Sebastião, um Centro de Atendimento
ao Turista (CAT) e o Teatro Amazonas, do lado esquerdo, na esquina com a rua José
Clemente encontra-se uma agência da Caixa Econômica Federal45, o prédio do antigo
Tribunal de Justiça, hoje Centro Cultural Palácio da Justiça e na esquina com a rua
10 de Julho existe uma área na qual pode-se visualizar parte dos trilhos originais por
onde circulavam os bondes elétricos e uma placa informativa com o itinerário que os
mesmos seguiam. Entre as ruas 10 de julho e Monsenhor Coutinho, do lado direito,
edificações históricas, hotéis e um edifício residencial podem ser observadas do lado
esquerdo destaca-se a edificação do tradicional Ideal Clube, terminando na Praça

44 Monumento ao primeiro centenário da elevação da Vila da Barra do Rio Negro à categoria de cidade.
45 Edificação projetada por Severiano Mário Porto, Arquiteto brasileiro de referência e premiado, que
está associado à aplicação do conceito de regionalismo crítico.
251

Antônio Bittencourt no cruzamento com a Rua Monsenhor Coutinho, originalmente a


via chegava até a confluência com a Rua Ramos Ferreira, no local onde hoje encontra-
se o prédio do IEA (MAGABI, 2019). O tráfego na via é intenso, e segue o sentido
centro-bairro na extensão do cruzamento com a Avenida Sete de Setembro até a Rua
Monsenhor Coutinho, já abaixo da confluência com a Sete de Setembro até chegar à
Rua da Instalação o trânsito segue o sentido bairro-centro. Após o processo de
revitalização (ocorrido entre os anos de 2015 e 2016), a Avenida passou a apresentar
alguns de seus aspectos originais novamente, hoje a pavimentação no rolamento da
pista é composta por peças pré-moldadas de concreto encaixadas, nas calçadas
foram implantadas pedras do tipo São Tomé semelhantes ao calçamento original e no
meio-fio os paralelepípedos foram restaurados, além disso, em alguns pontos a
iluminação é decorativa e os postes são do tipo Cajado de São José (MAGABI, 2019).
Arborização quase extinta, as que restam não seguem nenhum padrão estético
e necessitam ser podadas; grande parte das fachadas do casario histórico está
tomada por placas e letreiros de propaganda ou descaracterizada por reformas que
não levaram em consideração seus aspectos originais; algumas edificações
centenárias apresentam pichações em suas paredes e muros, várias pedras do
calçamento estão quebradas ou soltas, o mesmo acontece com o pavimento da pista;
presença de vendedores ambulantes nas calçadas e moradores de rua impede,
muitas vezes, o transeunte de caminhar; a abundância de fios elétricos e cabos de
telefonia saindo dos postes prejudica muito a aparência das construções antigas e
dificulta sua devida apreciação.
A relevância dos espaços urbanos para formação de uma sociedade
possibilitam uma compreensão das identidades culturais geradas a partir dos sistemas
construídos, num processo de simbiose entre velho com o novo, do tradicional com o
moderno, das permanências com as inovações, ou seja, a significância da
configuração construída nas Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, com seus
elementos históricos e atuais caracterizam-se como a materialização da cultura e da
identidade da sociedade manauara (MAGABI, 2019). Melo e Vogel (1984), corroboram
com esse entendimento ao dizer que:
A materialidade das coisas culturais representa uma de suas dimensões mais
importantes. Os sistemas construídos, tal como o próprio quotidiano, não se
limitam a desempenhar o papel de cenários inertes das formas e dos eventos
252

sociais. São eles, na verdade, que dão lugar tanto ao desempenho das
rotinas, quanto à produção dos acontecimentos. (1984, p. 4).

O passado e o presente das duas avenidas estão retratados abaixo nas figuras
99 e 100 junto com uma imagem de satélite (Figura 101) dos dois logradouros.
Figura 99: Cruzamento da Av. Eduardo Ribeiro com Av. Sete de Setembro-1906

Fonte: ANJOS e PEREIRA (2011).


Figura 100: Cruzamento da Av. Eduardo Ribeiro com Av. Sete de Setembro-2021

Fonte: Blog da Floresta. Foto: Eliana Nascimento (2021).


253

Figura 101: Vista áerea das Avenidas Sete de Setembro (seta azul) e Eduardo
Ribeiro (seta vermelha) -2021

Fonte: Google Earth

Desta forma, as Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro retratam a


evolução social, histórica e econômica dos manauaras dentro de uma relação dialética
entre citadino e cidade, visitante e habitante, passado e presente. O resgate da sua
construção, em conformidade com o seu entorno até os tempos atuais, é o registro
dessa relação, onde os principais momentos da memória da cidade de Manaus são
materializados nesses logradouros, produto dessa sociedade em constante
crescimento.
254

4.2 POLÍTICAS PÚBLICAS NO CENTRO HISTÓRICO DE MANAUS:


TOMBAMENTO, PROCESSO DE NORMATIZAÇÃO E AÇÕES GOVERNAMENTAIS

O Centro Histórico de Manaus encontra-se sob a tutela das três esferas da


Administração (União, Estado e Município), mediante diferentes instrumentos legais e
variadas formas de proteção. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
– IPHAN tem sob sua responsabilidade três monumentos e conjuntos construídos,
localizados no Centro, protegidos pelo instrumento do tombamento: o Teatro
Amazonas; o Porto de Manaus e o Mercado Adolpho Lisboa, todos tem 1987. E mais,
recente, o acautelamento dessa área em 2010, através da Notificação de
Tombamento do Centro Histórico de Manaus, publicada no Diário Oficial da União nº
222, de 22.11.2010, Seção 3, Página 18 – Processo de Tombamento 1614-T-10, com
a confirmação do tombamento federal em 2018 pelo Supremo Tribunal Federal-STF.
O Estado do Amazonas, por sua vez, tem a Secretaria de Cultura e Economia
Criativa, que é responsável pela tutela de outros bens de interesse histórico e cultural
em Manaus, localizados no Centro Antigo e em outros bairros da capital. Estes
tombamentos decretados, em sua maior parte, pelo governo estadual, entre 1988 e
1990, abrangem edificações construídas nas primeiras décadas do século passado e
cumprem as mais variadas funções na vida da cidade, apresentando diferentes
características arquitetônicas. A maioria dessas edificações protegidas são
representativas da fase áurea da borracha e correspondem a obras executadas
durante o período em que foram realizadas as grandes melhorias e a expansão da
malha urbana de Manaus, entre as duas últimas décadas do século XIX e o início do
século XX. A tutela municipal dessa área foi normatizada por meio do art. 342 da Lei
Orgânica do Município de Manaus-LOMAN promulgada em 05/04/199046.
Continuamente à essa política pública de proteção municipal ao patrimônio histórico-
cultural da capital, em 10 de fevereiro de 2004 foi publicado no Diário Oficial do
Munícipio o decreto de no 71176 que regulamenta o Setor Especial das Unidades de
Interesses de Preservação (SEUIP), em área tombada, protegendo individualmente
as edificações e classificando-as como: 1° Grau; 2° Grau; Orla Portuária e Praças
Históricas. Sendo eles a representatividade do conjunto de bens imóveis de valor

46 Mapa já apresentado na seção de metodologia.


255

significativo para marcar as tradições e a memória da cidade. Destaca-se que nesse


tombamento municipal existem edificações da arquitetura contemporânea com um
valor estético e regional do renomado arquiteto Severiano Mário Porto.
Após a apresentação do acautelamento da área e do patrimônio individual
edificado do Centro Histórico de Manaus nas três esferas públicas, seguindo as
diretrizes de análise do turismo urbano em uma cidade no que tange à abordagem
política de Ashworth (1989), serão elencados a seguir, as principais políticas e ações
públicas realizadas e implantadas no âmbito federal, estadual e municipal que
influenciaram diretamente na configuração da paisagem dos logradouros pesquisados
e de suas edificações. Desta forma, as ações e intervenções serão apresentadas
cronologicamente e seguindo o critério hierárquico de responsabilidade federal,
estadual e municipal. Vale salientar, que não será feita nenhuma análise quanto à sua
eficiência, eficácia ou até mesmo impactos sociais, econômicos e ambientais do
programa, projeto ou da ação e sim, apenas a descrição, objetivos e eixos
norteadores.
No contexto federal têm-se: 1) Programa Monumenta/BID (2003); 2) Programa
de Aceleração do Crescimento-PAC-Cidades Históricas (2013) e a 3) Normatização
do Tombamento do Centro Histórico de Manaus (2020)47 :

1) PROGRAMA MONUMENTA/BID: Primeira experiência brasileira na cultura em


áreas urbanas tombadas pelo IPHAN, era um programa de preservação do patrimônio
histórico urbano do Ministério da Cultura (Minc) que buscava recuperar de forma
sustentável, o patrimônio histórico urbano brasileiro, implementando obras de
conservação e restauro, sob tutela do Governo Federal executado com recursos da
União, de estados e de municípios e financiamento do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) em cooperação com Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN) e da Unesco (PREFEITURA DE MANAUS, 2002). Seu
princípio básico é garantir condições de conservação do patrimônio restaurado,
conciliando esta ação com a sustentabilidade dos sítios históricos, motivando seus

47 “Olhares sobre Manaus: atributos e qualidades que conferem valor ao Centro Histórico”, é o
título do documento que descreve e sistematiza o processo de normatização sob a responsabilidade
do IPHAN-AM.
256

usos econômico, cultural e social bem como a desaceleração o processo de


degradação das áreas abrangidas pelo programa (BARROS; DE ALBUQUERQUE,
2010 e IPHAN, 2021).Na época contava com recursos de 200 milhões de dólares (62,5
BID; 62,5 governo brasileiro e 75,0 iniciativa privada) disponibilizando financiamento
para a recuperação de imóveis privados (fachadas, cobertura, estrutura, instalações
elétricas, reformas internas) com juros de 7,5% a.a. carência de 06 meses,
amortização de 15 anos residencial e 10 anos comercial além de retorno ao fundo de
preservação (PREFEITURA DE MANAUS, 2002). Vale destacar, a definição de área
de projeto e influência dentro do programa: A) área de projeto: o todo ou parte de Sítio
Histórico Urbano Nacional ou de área que compreende Conjunto Urbano de
Monumentos Nacionais, eleito pelo programa como objeto de investimento; B) área
de influência: espaço urbano que circunda a área de projeto no qual se localizam
atividades relacionadas com aquelas desenvolvidas na área de projeto. Em Manaus,
a área de abrangência do Programa encontra-se no Centro Histórico de Manaus
protegido pela Lei Orgânica do Município (art. 342), que possui monumentos
tombados, tanto no âmbito federal, estadual quanto municipal. Suas ações são
definidas num plano urbanístico que busca a retomada da rentabilidade
socioeconômica e cultural da área. Salienta-se que parte das Avenidas Sete de
Setembro e Eduardo Ribeiro estão contempladas no perímetro de intervenção do
programa na capital manauara.
As ações desse projeto iniciaram na cidade de Manaus, em julho de 2003, com
a aprovação da carta-consulta, passando a integrar o grupo de 27 cidades
brasileiras beneficiadas pelo Monumenta. Em dezembro do mesmo ano, é
apresentada a aprovação do Perfil do Projeto. As principais âncoras do projeto são:
1) Paço da Liberdade48, hoje sede do Museu da cidade de Manaus-MuMa; 2) Praça D.
Pedro II com seu jardim histórico, possuidor de referências arquitetônicas e
arqueológicas, em sua restauração incluía-se o coreto, o chafariz, pisos, a iluminação
e a vegetação, com base em pesquisas iconográficas e históricas; 3) Mercado
Municipal Adolpho Lisboa e seu entorno, como já havia aporte financeiro para
a sua restauração, proveniente de dotação orçamentária da SUFRAMA, ele

48 Paço da Liberdade e Praça D. Pedro II localizam-se no início da Avenida Sete de Setembro.


257

permaneceu no programa Monumenta, figurando como contrapartida.


Complementarmente, aos patrimônios considerados como obras âncoras, também
estavam inclusas as residências mais antigas do centro histórico, de n.º 69 e n.º 77
da rua Bernardo Ramos, o estacionamento do Museu da Cidade, a Praça IX de
novembro além dos logradouros no entorno do Paço Municipal (PREFEITURA DE
MANAUS, 2003).
Conforme o perfil do projeto, a área de intervenção do projeto tem sua dinâmica
associada às atividades desenvolvidas no Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do
Porto de Manaus que, além de ser mais um atrativo proporciona recursos por meio da
visitação e do uso portuário propriamente dito. Essa centralidade do Porto une os
outros dois polos, dando um sentido de integração à área, garantindo, assim, a auto-
sustentabilidade do projeto. Esses três polos (Mercado Adolpho Lisboa e seu entorno,
conjunto urbanístico, paisagístico e arqueológico do Paço da Liberdade/Praça D.
Pedro II e o conjunto arquitetônico e paisagístico do Porto de Manaus) são marcos
urbanos do centro da cidade, aliados à requalificação e/ou regeneração dos
logradouros públicos bem como os casarios de interesse para preservação
incentivarão a demanda de visitação intermunicipal, interestadual, nacional e
internacional, criando uma nova perspectiva à dinâmica socioeconômica da área de
intervenção e de influência do projeto (PREFEITURA DE MANAUS, 2003). Também
nesse documento enviado pela prefeitura de Manaus, destaca-se que a proposta de
conjunto do projeto está alicerçada nos aspectos da distribuição geográfica dos polos
de atração e seus respectivos usos:
• o mercado e seu entorno, em um dos extremos da área de investimento,
caracterizar-se como um centro comercial, com destaque para produtos
regionais de forte apelo turístico, como artesanato, frutas e peixes exóticos,
ervas, derivados da mandioca e tantos outros.
• O Paço da Liberdade e a Praça D. Pedro II, localiza-se no extremo oposto,
ele transformado no centro de Memória da Cidade e ela restaurada e
ambientada ao estilo de sua existência no início do século XX, como centro
de lazer e cultura.
258

2) PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO-PAC-CIDADES


HISTÓRICAS: Iniciado em 2007, é uma inciativa do governo federal coordenada pelo
Ministério do Planejamento que promoveu a retomada do planejamento e execução
de obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do Brasil. De acordo
com o IPHAN, em 2013, de forma até então inédita na história das políticas de
preservação, o Ministério do Planejamento autorizou a criação de uma linha destinada
exclusivamente aos sítios históricos urbanos protegidos pelo Iphan, dando origem ao
PAC Cidades Históricas. Com um volume total de R$ 1,6 bilhão destinado a 425 obras
de restauração de edifícios e espaços públicos, em 44 cidades de 20 estados
brasileiros, essa nova linha visava o incremento da política de preservação do
patrimônio por meio do Ministério do Planejamento que criou e destinou recursos
exclusivos para a preservação dos sítios urbanos históricos do país, que possuem
bens tombados pelo Iphan. Coube ao Instituto a concepção dessa linha do PAC,
executada com a cooperação com diversos co-executores, em especial os municípios,
universidades e outras instituições federais, com apoio técnico da Caixa Econômica
Federal (CAIXA) e de governos estaduais. Adicionalmente, foi dado um crédito
especial no valor de R$ 300 milhões para financiar obras em imóveis particulares
localizados em 105 cidades com áreas tombadas pelo Iphan, com juros subsidiados
e prazos de pagamento especiais, com tais recursos, possibilitariam os proprietários
de recuperar suas residências, ou mesmo investir na adaptação de edifícios para
exploração econômica, como hotéis, pousadas e restaurantes
Para Lima (2016) até 2008 poucas obras de importantes intervenções foram
realizadas no Centro Histórico de Manaus, onde a partir desse ano foi designada como
uma das cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, cenário modificado somente em
2013, às vésperas do grande evento. Desta forma, a Prefeitura Municipal de Manaus
montou uma equipe multidisciplinar para o processo de requalificação com a
elaboração de projetos e criação de uma a agenda da política pública do processo de
requalificação do Centro Histórico de Manaus (LIMA, 2016). Com base no
levantamento realizado pela supracitada pesquisadora, foi criada a Secretaria
Municipal Extraordinária do Centro (SEMEX), sem orçamento próprio, funcionou com
esse perfil até a data da criação legal da Secretaria Municipal do Centro (SEMC) em
259

31 de julho de 2013. Com a criação da SEMC ficou transferido para a Secretaria


Municipal do Centro o Programa de Reestruturação do Centro de Manaus instituído
pela Lei nº 1.354, de 07 de julho de 2009 na gestão anterior e que previa a
requalificação do Centro, onde de acordo com dados da SEMC, para as obras a
Prefeitura estimou receber R$ 30 milhões em recursos do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) Cidades-Históricas.
Esse programa teve 2 fases temporais, onde foram adicionados novos projetos
pelas cidades contempladas, incluindo Manaus que iniciou em 2013 com a
requalificação de praças da área central, entre elas: a Praça XV de Novembro (trecho
da Avenida Eduardo Ribeiro entre a Avenida 7 de Setembro e a Alfândega) e D. Pedro
II (situada na Av. Sete de Setembro). Abaixo a lista completa com as intervenções
pleiteadas no âmbito desse programa até 2018 com a inclusão de novos projetos bem
como sua situação atual, conforme o portal do IPHAN:
A. REQUALIFICAÇÃO URBANÍSTICA:

1. Praça XV de Novembro - jardins, entorno e restauração do Relógio Municipal,


escadaria, trecho da Av. Eduardo Ribeiro, entre a Av. 7 de Setembro e a
Alfândega (obra concluída);
2. Praça Adalberto Vale (obra concluída);
3. Praça Terneiro Aranha (obra concluída);
4. Praça D. Pedro II - Chafariz e Coreto (drenagem, irrigação, pavimentação,
sinalização, mobiliário urbano e paisagismo);
5. Entorno do Mercado Municipal Adolpho Lisboa (recuperação da pavimentação,
acessibilidade, iluminação, sinalização, mobiliário urbano e paisagismo, nas
ruas dos Barés, Barão de São Domingos, Miranda Leão, além da Av. Manaus
Moderna e Praça do Mercado).

B. RESTAURAÇÃO:

6. Pavilhão Universal (obra concluída);


7. Casarão da Biblioteca Municipal;
8. Antiga Câmara Municipal;
9. Antigo Hotel Cassina (implantação do Centro de Arte Popular);
10. Antigo edifício do Corpo de Bombeiros (implantação da Pinacoteca Municipal).
260

Manaus é a única cidade do Amazonas a receber o PAC Cidades Históricas com


investimentos em dez ações, totalizando quase R$ 34 milhões, baseado em
informações disponíveis no site do IPHAN. Abaixo algumas imagens das obras já
entregues:
Figura 102: Praça XV de Novembro (à direita) e Praça Adalberto Vale (à esquerda)

Fonte: Portal do IPHAN.


Figura 103: Panorâmica da Praça XV de Novembro localizada na Avenida Eduardo
Ribeiro com detalhe para a Igreja da Matriz (centro) e Relógio Municipal (à direita)

Fonte: Foto tirada por uma funcionária do IPHAN-AM na sede provisória do instituto
(antigo prédio da Receita Federal) e cedida gentilmente a esta pesquisadora na coleta
de campo, autorizada pela Superintendente Karla Bitar.
261

Conforme divulgado no portal oficial do IPHAN, esse programa proporcionou


uma valorização desses espaços públicos, onde as praças receberam recursos
estimados em R$ 6,5 milhões do Governo Federal por meio do Iphan, renovadas com
condições adequadas de acessibilidade, iluminação, paisagismo, melhorias de
sinalização e implantação de espaços de lazer, estimulando a permanência da
população nestes locais. Entre as intervenções, também estavam a completa
restauração do Pavilhão Universal e sua transferência da praça Tenreiro Aranha para
a Adalberto Vale, que agora está com novo uso, como Centro de Atendimento ao
Turista. Com relação a Praça XV de Novembro está localizada em frente ao terminal
marítimo, onde teve início o povoamento da região, entre as avenidas Sete de
Setembro e Eduardo Ribeiro, é formada ao redor da Igreja Matriz de Nossa Senhora
da Conceição, popularmente chamada de Praça da Matriz, e há registros de viajantes
que a relatam desde 1838. Composta pela edificação da igreja, seus jardins laterais
se estendem formando a praça, destacada ainda pela escadaria monumental e a área
frontal, chamada Praça Oswaldo Cruz. Sua intervenção contou com recursos federais
e foi conduzida pela Prefeitura Municipal de Manaus, além disso, a renovação desse
importante espaço de circulação da cidade, torna possível estabelecer um circuito
urbano histórico requalificado e integrado. Entre os bens recuperados, está o Relógio
Municipal, datado de 1929, considerado um dos monumentos mais representativos de
Manaus, em suma, com dois anos de duração, a obra de requalificação da Praça XV
de Novembro veio resgatar urbanisticamente o espaço em seu modelo original, com
a implantação de novo paisagismo, mobiliário urbano, serviços de iluminação e
calçamento.

3) NORMATIZAÇÃO DO TOMBAMENTO DO CENTRO HISTÓRICO DE MANAUS:


O Centro Histórico de Manaus foi tombado pelo IPHAN em 2010, tendo a
superintendência do Amazonas iniciado sua atuação nesse espaço tendo como base
diretrizes elencadas no dossiê do tombamento. Durante o tempo transcorrido, a
equipe do IPHAN/AM analisou a portaria nº 420 de 22 de dezembro de 2010 além de
diversas solicitações de intervenções na área, tendo atuado na sua vigilância através
da portaria nº 187, de 11 de junho de 2010. Um ano após a confirmação do
tombamento Federal pelo Supremo Tribunal Federal-STF, em 2018, iniciou-se os
trabalhos de elaboração de uma normativa do Centro Histórico, por conseguinte,
262

Blach et al (2020) menciona que para a confecção de um plano de gestão, foi iniciado
procedimento de elaboração de uma portaria normativa definindo parâmetros para
essas intervenções nos recortes geográficos denominados de poligonal de
tombamento e poligonal de entorno. Em síntese, esse processo de normatização do
Centro Histórico de Manaus, visava fornecer dados e análises a respeito da
apropriação que os detentores – agentes socioculturais que utilizam, vivenciam ou
são, de fato, proprietários de imóveis do Centro Histórico de Manaus - têm desse bem
cultural.
A partir de orientações feitas por Antônio Miguel Lopes de Sousa, consultor da
UNESCO, foi que sob a coordenação do historiador Matheus Cássio Blach e o
antropólogo Mauro Augusto Dourado Menezes, técnicos do IPHAN/AM, juntamente
com os estagiários da Universidade Estadual do Amazonas – UEA (LABOTUR) por
meio da parceria entre o Iphan e a Rede Observatur-UEA, foram às ruas compreender
como as pessoas e/ou os coletivos relacionavam-se com os bens culturais na área
tombada e de entorno, conferindo-os, inclusive, novos significados. Um dos objetivos
principais dessa pesquisa de natureza qualitativa e quantitativa49, além de coletar
dados para traçar o panorama dos atributos e qualidades que conferem valor ao
Centro Histórico, foi a provocação do reviver mnemônico por meio dos diálogos bem
como conhecer a profundidade da penetração das referências culturais na vida da
comunidade estudada. Assim, mediante os fundamentos aqui descritos, as técnicas
aplicadas no decorrer desse projeto foram: 1) Mapas de Percepção com grupos focais
2) Observação Participante 3) Entrevistas Temáticas Semiestruturadas com
indivíduos selecionados 4) Pesquisa Bibliográfica e Documental.
Os mapas de percepção utilizaram-se os grupos focais como proposta
metodológica de investigação, organizados considerando a relação dos integrantes
com o território, suas atuações, constituição enquanto grupo já consolidado ou de
formação induzida e notoriamente a sua faixa etária – priorizando aqueles moradores
mais antigos. Nesse sentido, procurou-se reunir quem, em potencial pôde, por meio
da abordagem proposta, representar narrativas gráficas das memórias, da imaginação
e dos universos de sentido, que têm hoje como testemunho as referências culturais

49 Realizada entre julho de 2019 e fevereiro de 2020.


263

do Centro Histórico de Manaus (BLACH, et al, 2020). Os mapas de percepção e


entrevistas informais realizadas em campo, durante a própria observação, serviram
como bússola, direcionaram a concentração de áreas de conteúdo simbólico, ou seja,
as narrativas de uma cidade invisível que só se revela na experiência cotidiana.
Detalhe importante nesses mapas, observado por essa autora, é o traçado de ruas e
avenidas como parte da memória, inclusive as analisadas nessa tese, além das
edificações históricas e turísticas do entorno desses logradouros. Concomitante, foi
utilizada a técnica de entrevista individual temática e semiestruturada para detalhar e
aprofundar as informações levantadas a partir dos mapas de percepção e da
observação participante bem como a compreensão, por meio de comparações das
percepções dos entrevistados em suas falas corroboram ou contradizem as demais
fontes produzidas, sem estabelecer hierarquias entre as categorias de memória
coletiva, memória individual e memória histórica (BLACH et al, 2020).
Desse modo, de acordo com o documento de autoria do IPHAN-AM, além das
referências diretamente citadas no decorrer desse texto, foi elaborada uma tabela
para sistematizar e organizar as diversas fontes de pesquisa bibliográficas e
documentais encontradas, visando a consulta durante o levantamento de dados e no
momento de escrita do relatório final. Portanto, um dos resultados dispostos nesse
relatório é que os olhares sobre o Centro de Manaus permitiram constatar que o ato
de enxergar a cidade não se trata somente de uma percepção visual, mas também,
da interiorização de eventos e práticas culturais do passado. As narrativas dos
detentores apresentam um repertório visual dos habitantes da cidade, ligando-os às
suas experiências afetivas ou momentos significativos de suas vidas, onde os bens,
são apropriados e carregados de sentido.
Com base nesses levantamentos feitos pelos técnicos e pesquisadores do
IPHAN descritos no documento de normatização, identificou-se 73 referências
culturais, com diferentes graus de repetição nos mapas e com atributos distintos que
justificaram a escolha desses bens50. A partir da análise desses atributos, elaborou-se

50 Na visão do IPHAN-AM, entende-se por atributos o conjunto de características positivas que os


próprios detentores definiram como inerentes às referências culturais representadas em seus mapas.
Aspectos negativos também foram registrados, no entanto, como o objetivo era fornecer dados para a
definição do que deve ser conservado no âmbito da política pública de Patrimônio Cultural no Centro
Histórico de Manaus, os esforços concentraram-se na definição de qualidades que devem ser mantidas
264

um conjunto de 8 categorias de apropriação social51, denominadas como qualidades,


que foram associadas a cada bem cultural, conforme as narrativas e descrições dos
detentores. Abaixo um quadro-síntese com esses conceitos que serviram como
diretrizes norteadoras no processo de sistematização e análise das informações
contidas no documento de normatização do Centro Histórico de Manaus:
Quadro 09: Síntese das categorias estabelecidas pelo IPHAN-AM
ITEM CATEGORIA DEFINIÇÃO

Aspectos subjetivos dos detentores: o “gosto”, a concepção


pessoal daquilo que é considerado belo e resulta da
1 BELEZA PAISAGÍSTICA apropriação e percepções individuais e coletivas da
paisagem. Atributos que levaram à elaboração da
qualidade: paisagem bonita, paisagismo, paisagem,
paisagem natural, estética, arte pública, apreciação e
proximidade com o Rio e com a natureza, dentre outros.
Eixos estruturantes de processos sócio-históricos e
contemporâneos de atribuição de identidades através do
2 CIRCUITO CULTURAL uso, dos percursos, da criação de roteiros e narrativas no
traçado da cidade representativo das transformações
urbanas ocorridas no período do ciclo da borracha.
Atributos que levaram à elaboração da qualidade: história e
memória da cidade, de povos nativos e de comunidades
afrodescendentes, elemento estruturante do traçado
urbano, dentre outros.
Espaços com boas condições de adaptabilidade ao clima
local, oferecendo: boa ventilação, sombras, coberturas e
3 CONFORTO TÉRMICO arborização resultando em uma temperatura agradável
expressada a partir de uma condição mental que denota
satisfação em relação ao ambiente. Atributos que levaram
à elaboração da qualidade: clima, arborização, ventilação,
sombras, local bom/agradável para se sentar e conversar,
dentre outros.
Associado às práticas culturais, edificações e espaços
públicos cuja apropriação dos atributos e qualidades
4 ESPAÇO DE RECORDAÇÃO perdeu-se devido às rupturas e transformações nos hábitos,
costumes, tradições e/ou no arruinamento e extinção da
própria materialidade. Atributos que levaram a elaboração
da qualidade: Apreciação estética do espaço vazio e da
ruína, beleza e paisagem da ruína, dentre outros.
Referências culturais em conjunto ou isoladamente que são
portadoras de narrativas de memórias hegemônicas ou
5 LUGAR DE MEMÓRIA dissidentes que fazem referência à identidade nacional e
local mediante diferentes formas de apropriação. Atributos

e potencializadas, cabendo para pesquisas futuras mapear e analisar também, os problemas


identificados.
51 Para a equipe de técnicos e superintendência do IPHAN-AM foi deliberado que a definição dessas
categorias são: repertórios das narrativas que mais se repetiram, constituindo a identidade de setores,
de vias e eixos estruturantes, de praças, de monumentos e edificações e das vivências do centro
histórico. Desta forma, a integração desse entendimento é feita em paralelo com a análise de cunho
arquitetônico (morfológico) realizada por arquitetos do Iphan-AM, equiparando-se o termo de categorias
de apropriação ao de qualidades, sendo esse último de mais fácil associação.
265

que levaram à elaboração da qualidade: espaço/lugar de


memórias afetivas, história e memória da cidade, história e
memória de povos nativos e de comunidades
afrodescendentes, popularidade, reconhecimento local,
lugar de encontros, resistência popular, manifestações
políticas, dentre outros.
Protagonismo que um determinado bem cultural exerce na
paisagem cultural, sendo referido por sua apreciação
6 MONUMENTALIDADE estética, pelo destaque na organização e distribuição
ordenada dos elementos urbanos, pela referência a
memória e identidade configurando-se um marco histórico
e espacial. Atributos que levaram à elaboração da
qualidade: marco visual da cidade, destaque na paisagem,
marco histórico, dentre outros.
Espaços conservam e têm predominância de elementos
representativos da produção urbana e arquitetônica que
7 UNIDADE DE CONJUNTO fazem referência à memória e identidade locais, associadas
ao período econômico do ciclo da borracha. Atributos que
levaram à elaboração da qualidade: unidade e gabarito do
conjunto arquitetônico, edifícios conservados, prédios e
casas antigas, dentre outros.

Associada à presença e ao fluxo de pessoas, a


possibilidade de uso e permanência bem como a qualidade
desse uso: habitar, caminhar, observar a paisagem, sentar-
8 VITALIDADE se, interagir com outras pessoas, divertir-se de diversas
formas e em diversos locais, olhar vitrines, pechinchar
preços, entrar e sair de espaços públicos e privados
(permeabilidade), segurança passiva e ativa, vivenciar
práticas culturais, ter experiências gastronômicas. Enfim, a
vitalidade urbana está ligada com a intensidade, qualidade
e riqueza da apropriação dos espaços. Atributos que
levaram à elaboração da qualidade: segurança, uso,
convívio, interação social, socialização, lazer,
manifestações culturais e festividades, musicalidade,
gastronomia, turismo, espaço propício para eventos,
recreação, comércio, bem-estar, Intercâmbio cultural,
dentre outros.
Fonte: IPHAN (2020).
A partir da construção dessas categorias, Blach et al (2020) relata que com
base nas 73 referências culturais citadas nos 31 mapas produzidos, destacam-se os
seguintes locais que apareceram em mais de 32% dos mapas, chegando a 71% no
caso do Largo de São Sebastião: 1) Largo de São Sebastião (22 vezes); 2) Porto de
Manaus (18 vezes);3) Av. Eduardo Ribeiro (14 vezes); 4) Teatro Amazonas (14
vezes); 5) Praça Dom Pedro II (11 vezes); 6) Catedral Metropolitana de Manaus Nossa
Senhora da Conceição - Igreja Matriz (11 vezes); 7) Praça Cinco de Setembro – Praça
da Saudade (11 vezes); 8) Mercado Adolpho Lisboa (10 vezes); 9) a Av. Sete de
Setembro (10 vezes). Esses resultados acabam por validar a relevância das Avenidas
Eduardo Ribeiro e Sete de Setembro, que aparecem entre os 9 locais mais citados,
266

lançando luz na percepção de pertencimento e apropriação social pelos detentores do


Centro Histórico de Manaus envolvidos na investigação do Iphan-AM. Abaixo, a Figura
104 apresenta a percentagem dessas citações, inclusive outros logradouros que
também são citados:
Figura 104: Locais referenciados na pesquisa em percentagem

Fonte: IPHAN (2020).

Esses dados quantitativos apresentados acima servem como um indício das


referências culturais mais importantes, mais queridas e mais lembradas pelos
detentores, onde o centro é um lugar percebido por sua beleza paisagística e que os
monumentos que são marcos visuais e históricos são amplamente notados e
referenciados como componentes significativos dessa paisagem. Adiante, as
qualidades de conforto térmico (7), circuito cultural (5) e unidade de conjunto (5)
são menos referenciadas, no entanto, essa contatação não configura um menor grau
de importância e sim revelam o potencial que certas áreas têm de se tornarem
267

referências em qualidade urbana (BLACH et al, 2020). Para os mesmos autores, a


pesquisa revela um processo de apropriação social, simbólico, afetivo, limitado e
fragmentário dos lugares, sendo alguns imbuídos de maior relevância na memória e
na autobiografia, pois, as abordagens realizadas constataram que alguns espaços,
monumentos e casarios que compõem o cenário ou paisagem do Centro não são tão
facilmente vistos ou descritos nas narrativas dos interlocutores consultados, tendo
sido dada maior ênfase aos edifícios, às vias e às praças públicas. Relacionando ao
objeto de estudo dessa tese, conforme relatório do grupo de técnicos da
superintendência do Iphan no Amazonas existem 3 grandes eixos estruturantes do
traçado urbano da cidade: Avenida Eduardo Ribeiro, Avenida Getúlio Vargas, Avenida
Sete de Setembro. Além da característica de eixo estruturante, também foram
adicionados outros itens à Avenida Eduardo Ribeiro: Clima; Arborização; Espaço
propício para feiras eventos e Paisagem.
Além das avenidas pesquisadas na tese, mais outros 9 logradouros são citados
por esses detentores nos 31 mapas de percepção, citar: A) Ruas: 10 de julho,
Bernardo Ramos, Lobo D´Almada, José Clemente, 24 de maio, Monsenhor Coutinho
e Epaminondas; B) Avenidas: Getúlio Vargas e Joaquim Nabuco. O quadro 10
sistematiza essas informações de forma mais detalhada.
Quadro 10: Logradouros referenciados na pesquisa do IPHAN-AM
No No
ORDEM LOGRADOUROS CITAÇÕES CATEGORIAS
Vitalidade; Lugar de Memória;
3 Avenida Eduardo Ribeiro 14 Circuito Cultural e Beleza
Paisagística (4)
Circuito Cultural; Unidade de
9 Avenida Sete de Setembro 10 Conjunto (em alguns trechos);
Vitalidade (em alguns trechos) e
Lugar de Memória (4)
20 Rua 10 de Julho 5 Lugar de Memória (1)

Unidade de Conjunto; Lugar de


21 Rua Bernardo Ramos 4 Memória; Beleza Paisagística;
Circuito Cultural e Conforto
Térmico (5)
Circuito Cultural; Conforto
22 Avenida Getúlio Vargas 4 Térmico; Beleza Paisagística e
Lugar de Memória (4)

33 Rua José Clemente 3 Beleza Paisagística e Lugar de


Memória (2)

47 Avenida Joaquim Nabuco 1


268

Beleza Paisagística e Lugar de


Memória (2)

54 Rua Lobo D`Almada 1 Lugar de Memória e Vitalidade (2)

67 Rua 24 de Maio 1 Lugar de Memória (1)

68 Rua Epaminondas 1 Lugar de Memória (1)

72 Rua Monsenhor Coutinho 1 Nenhum atributo foi descrito (0)

Fonte: Sistematizado pela autora com base no IPHAN (2020).


Otoni Mesquita52, historiador entrevistado pelos pesquisadores e técnicos do
Iphan-AM, menciona que o olhar sobre o Centro deve considerar os bens não somente
de forma isoladamente, mas também, o conjunto e as características que expressam
esse recorte da Belle Époque, que mantém uma presença relevante de tendências
arquitetônicas e artísticas nas construções com a tipologia eclética, ainda que
apresente muitas construções verticalizadas que descaracterizam essa visão de
conjunto em vários locais do centro, cita como exemplo de conjunto edificações
presente nos seguintes logradouros: Avenida 7 de setembro, Rua Pedro Botelho, Rua
José Clemente, Rua Lobo D’Almada, Avenida Joaquim Nabuco, Marechal Deodoro,
Miranda Leão, Marcilio Dias, Epaminondas, Luiz Antony. Para o entrevistado o que
muitas vezes se torna referência para o grupo não necessariamente condiz com a
manutenção da sua forma original, e sim a qualidade de uso proporcionado, por
conseguinte, o valor atribuído aos bens edificados faz relação ao envolvimento da
população, ao sentimento de pertencimento e as memórias afetivas que dão aos
espaços o significado de referência cultural e consequentemente o apreço e a vontade
de mantê-los preservado.
Contudo, a forma como as qualidades foram descritas, estruturadas
conceitualmente nesse estudo, proporcionam o entendimento de que qualquer bem,
com talvez apenas uma ou duas qualidades associadas, representa os valores ligados
ao tombamento do Centro Histórico de Manaus, ou seja, é dotado de valor histórico e
paisagístico, fazendo referência à identidade e à cultura local e nacional, desvelando

52 É um pesquisador morador do centro, o que proporcionou um olhar qualificado para as riquezas de


referências presentes, onde o mesmo evidencia uma vontade de manter viva a história da cidade, a
preservação dos bens edificados e a valorização da cultura.
269

que o tombamento foi assimilado pela população, reconhecendo como legítimo o


território cultural, a poligonal apresentada pelo Iphan no passado (BLACH et al, 2020).
Na visão dos mesmos autores, o conjunto dos mapas de percepção, entrevistas e
observações participantes transpareceram um caminhar retórico e reinvestiram os
espaços de antigos (ciclo da borracha, belle époque, ecletismo) e novos sentidos
atribuídos aos lugares do Centro Histórico, no qual os atributos gerados foram
analisados e agrupados definindo quais as qualidades do Centro Histórico de Manaus
que de fato devem ser conservadas enquanto patrimônio cultural no processo de
“fazer a cidade”.
O dossiê apresentado pelo Iphan-AM está alicerçado em uma pesquisa que
teve como finalidade precípua a produção, organização, sistematização e análise
prévia de dados concernentes à apropriação social do Centro Histórico de Manaus,
enquanto bem cultural passível de salvaguarda pelas políticas públicas de Patrimônio
Cultural, sobretudo, visando ao processo de normatização e gestão compartilhada
desse espaço. Nesse sentido, um projeto de revitalização de um bem edificado, que
considere a ressignificação cultural, constituída a partir do estado de ruína, não deve
buscar uma replicação do bem, mas respeitar a relação dos valores do passado e o
processo sociocultural do presente, permitindo enxergá-lo como documento que
registra a memória das transformações. Ou seja, em suma, no entendimento do Iphan-
AM além da busca de uma manutenção ou retomada de um real preexistente, existe
a necessidade de defesa do reconhecimento daquilo que o passado histórico da
cidade carrega consigo de valor cultural que deve de fato ser preservado por se
integrar ao cotidiano da cidade atendendo as demandas também, do presente.
As intervenções estaduais na área resumem-se basicamente nos programas
Manaus Belle Époque (1997) e PROSAMIM (2003).

1) PROGRAMA MANAUS BELLE ÉPOQUE: Iniciado em 1997 com projetos


pilotos e oficialmente institucionalizado como um programa no ano de 1999, foi
idealizado e promovido pelo Governo do Estado do Amazonas sob a gestão da
Secretaria de Estado e da Cultura-SEC na época, utilizou-se da ideia principal de
reforma arquitetônica das fachadas dos imóveis históricos com intervenção gratuita,
diferentemente do Monumenta com ações em troca do pagamento, em razoáveis
270

prestações, do valor da atividade, a ser revertido para o fundo administrado pelo


Município, respondendo pela sustentabilidade (BARROS; DE ALBUQUERQUE, 2010
e CASTRO, 2006). Essas edificações permaneceriam com os usos residencial ou
comercial além da recomposição e adequação de calçadas, meios-fios, sarjetas,
arborização, incluindo-se nestas ações a substituição da rede pública de energia
elétrica aérea por subterrânea em algumas das áreas abrangidas pelo programa
BARROS; DE ALBUQUERQUE, 2010). As primeiras atividades foram: A) Capacitação
de Trabalhadores em Técnicas de Restauração (1997) e B) Projeto Canteiro-Escola
Casas da Sete (1998) recuperando as fachadas de onze imóveis vizinhos ao Palácio
Rio Negro, bem tombado estadual, localizados na Avenida Sete de Setembro, entre
as pontes romanas (CASTRO, 2006). Castro (2006) relata que o programa Manaus
Belle Époque compreende os seguintes projetos: 1) Projeto de Revitalização da Área
de Entorno do Mercado Adolpho Lisboa; 2) Corredor Especial de Turismo (Rua
Marcílio Dias); 3) Projeto de Revitalização de Imóveis Históricos (Igreja do Pobre
Diabo, Cemitério São João Batista); 4) Restauração da Igreja Matriz Nossa Senhora
da Conceição, Casa da Cultura e Teatro da Instalação; 5) Projeto de Revitalização do
Entorno da Matriz, e 5) Projeto de Revitalização do Entorno do Teatro Amazonas e
Praça de São Sebastião. Este último projeto, iniciado em 2003, foi um exemplo de
intervenção do poder público em área de interesse de preservação, tendo como
resultado a preservação dos monumentos, considerando-as sob uma provável
estratégia política de propaganda da cidade (city marketing) bem como restituição à
sociedade de um logradouro, no centro de Manaus, dotado de segurança e
infraestrutura adequadas para sua população (CASTRO, 2006).
As áreas de abrangência do programa foram limitadas pelo Centro Antigo,
acautelada pela Lei Orgânica do Município de Manaus por meio do decreto Nº. 4673
de 21 de maio de 1985, colocando sob proteção especial as Unidades de Interesse
de Preservação, de acordo com o grau de originalidade condizentes com o decreto
Nº. 7176, de 10 de fevereiro de 2004 que versava sobre o impedimento nas
descaracterizações das fachadas e coberturas, mantendo-se, desta forma,
suas características e volumetrias originais (BARROS e DE ALBUQUERQUE, 2010).
Com essas transformações, o Programa Manaus Belle Époque estimulou ações
públicas e privadas, promovendo melhor qualidade de vida à população, fortalecendo
271

o turismo em Manaus, no qual independente do discurso de preservação, foi notória


a receptividade por parte da população: com a infraestrutura, os serviços disponíveis,
a programação cultural intensa e a qualidade estética, retornando o hábito de
frequentar locais públicos numa sociedade fadada ao confinamento, mas tão
necessário para a fruição do urbano e do patrimônio e para o bem-estar psíquico do
cidadão Programa (CASTRO, 2006; BARROS e DE ALBUQUERQUE, 2010).
Também, foi possível proporcionar resultados financeiros imediatos aos comerciantes
da área, pois de acordo com Barros e De Albuquerque (2010), essa aceitação ficou
evidenciada pela procura por parte de proprietários de imóveis solicitando a inserção
de seus bens no programa.
No entanto, Castro (2006) traz uma reflexão sobre o aspecto negativo do
programa que buscou por uma originalidade questionável em seu valor histórico,
reconstruindo-se todo um cenário antigo, mesmo contrapondo-se às recomendações
constantes da legislação patrimonial, o que por consequência, criou um falseamento
do cenário, em que o visitante não detém a informação para dissociar o original da
reprodução dada a homogeneidade do repertório, afinal, algumas unidades do entorno
do Teatro Amazonas não são originais e foram reerguidas à semelhança das
tipologias primitivas, embora, destas, não houvesse mais nenhum resquício material.
A mesma pesquisadora afirma quer recompor o fausto de uma época não vivenciada
na atualidade, acaba por criar uma nostalgia de algo desconhecido aos nossos,
reiterando-se, nesse aspecto, a necessidade de aplicação da coerência dos artigos
da Carta de Veneza, que estabelecem o zelo pela importância do testemunho dos
imóveis, independentemente de seu estilo ou período de construção, desde que
permeados de valores estéticos, artísticos ou históricos, e ainda, pela possibilidade
de preencher os intervalos urbanos ou arquitetônicos por meio de intervenções
qualificadas, mas que preservem a autenticidade dos bens, deixando as marcas do
novo tempo e as contribuições contemporâneas.
Em suma, para Castro (2006) de maneira geral, o resultado do projeto foi
positivo por restituir ao cidadão o direito à cidade, almejando-se sua continuidade nas
próximas administrações, em consonância de uma parceria com a sociedade no
sentido de incentivá-lo, prestigiá-lo e conservá-lo e estendendo sua abrangência a
272

outros logradouros de Manaus, resguardando a qualidade de vida de seus moradores


e a preservação da memória coletiva.

2) PROGRAMA SOCIAL E AMBIENTAL DOS IGARAPÉS DE MANAUS-


PROSAMIM: Em função do cenário da degradação socioambiental em torno dos
igarapés de Manaus, no ano de 2003 foi criado na gestão do governador Eduardo
Braga (2003-2010) o Programa Social e Ambiental dos Igarapés53 de Manaus-
PROSAMIM financiado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento-
BID, tendo a finalidade de requalificar a orla das bacias em áreas vulneráveis a
alagamentos com um conjunto de medidas corretivas e preventivas nas faixas
marginais, com canalização dos igarapés e remanejamento das famílias residente em
área de riscos (BATISTA, 2013). A referida autora também relata que o primeiro
empréstimo foi no valor de US$ 200 milhões, em 2006, desde então mais três novos
empréstimos foram firmados totalizando US$ 930 milhões em contrapartidas do
Governo do Estado do Amazonas de US$ 279 milhões. No que tange às essas
intervenções, a partir do ano de 2006, a Avenida Sete de Setembro, logradouro objeto
de estudo dessa tese, sofreu algumas modificações que interferiram no aspecto visual
da paisagem construída, em decorrência das obras de requalificação urbana do
PROSAMIM, especificamente no entorno do Palácio Rio Negro e da Ponte Benjamin
Constant. Por meio desse programa, o governo estadual pode realizar o saneamento,
o desassoreamento e, inclusive, redefinir o uso do solo às margens dos igarapés, com
vistas à manutenção do patrimônio natural e melhoria das condições de vida da
população envolvida. Antes, existia uma ocupação desordenada da área e poluição
dos igarapés, com moradias do tipo palafitas em situação precária, implantadas sobre
espelhos d’água ou em áreas sujeitas a inundações. A primeira etapa foi executada
na bacia do igarapé do Educandos, composto pelas subáreas: Bacia do Igarapé do
Quarenta, Bacia do Igarapé Manaus, Bacia do Igarapé Bittencourt e Bacia do Igarapé
Mestre Chico54.

53 Batista (2013) afirma que na Amazônia o termo igarapé é utilizado como sinônimo de curso d´água,
riacho ou canal de profundidade moderada e são importantes para a manutenção do microclima de
uma região, um conjunto de igarapés afluentes de um rio principal-tributário, formam uma microbacia.
A mesma menciona que é uma palavra indígena oriunda do tupi: “igara” significa canoa e pé, o caminho.
54 Os igarapés do Bittencourt e Mestre Chico estão localizados no entorno da Avenida Sete de
Setembro.
273

O propósito aqui não é detalhar essa ação ou criticá-la, mas contextualizá-la no


que tange às questões sociais e urbanas que impactaram diretamente a paisagem do
logradouro ora pesquisa, no caso em tela Avenida Sete de Setembro, principalmente
no que se refere aos aspectos de infraestrutura, valorização e atratividade da área em
questão. O interessante é que o PROSAMIM é um programa que apresenta aspectos
semelhantes em quase todas as suas intervenções nos igarapés de Manaus, mas na
Sete de Setembro adquiriu uma característica singular decorrentes da construção e
restauração de elementos urbanos harmonizados com a arquitetura e a história da
cidade, como o Parque Senador Jefferson Péres, o Largo do Mestre Chico e a Ponte
Benjamin Constant (ver figura 105).
Figura 105: Obras de restauração da Ponte Benjamim Constant e o aterramento do
Igarapé do Mestre Chico contemplados no PROSAMIM, respectivamente.

Fonte: http://www.prosamim.am.gov.br. Acessado em 18 de dezembro de 2011.

Também foi prevista a implantação de projetos para solucionar os problemas


habitacionais da população assentada nos igarapés, sujeita ao risco de inundações,
bem como para a população diretamente afetada pela construção das obras do
Programa. Foram diretamente beneficiadas 36.000 pessoas e, do ponto de vista
urbanístico, optou-se por produzir menos moradias no centro da cidade, priorizando a
harmonia arquitetônica 55, assim como a construção de áreas de lazer e esporte para
os moradores e visitantes do local. Desta forma, o PROSAMIM deu à Avenida uma
nova configuração paisagística, valorizando o seu entorno com a implantação de
áreas de lazer, além da restauração de monumentos representativos da história da

55 Todas as informações obtidas sobre o PROSAMIM estão disponíveis no site:


http://www.prosamim.am.gov.br. Acessado em 06 de dezembro de 2011.
274

cidade, como é o caso da Ponte Benjamim Constant. Os novos conjuntos


habitacionais, localizados nos lugares que sofreram as intervenções, também
contribuíram para a composição da nova paisagem da Sete de Setembro, sendo seus
moradores os principais usuários deste trecho modificado da Avenida, conforme
ilustrado na figura 106:
Figura 106: Vista aérea do entorno da Ponte Benjamim Constant após a
intervenção do PROSAMIM.

Fonte: PEREIRA (2011)

Antes mesmo da requalificação urbana proporcionada pelo PROSAMIM, não se


pode deixar de mencionar a influência da Zona Franca de Manaus nas mudanças
urbanas sofridas no Centro nas últimas décadas, o que afetou diretamente o espaço
correspondente às avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro juntamente com
seu entorno. Com a justificativa de que era necessário atender a novas demandas
econômicas vividas naquele momento, grande parte das edificações antigas perderam
275

o seu valor e foram sendo destruídas para dar lugar a prédios mais modernos. O
espaço central foi, então, sendo modificado para atender às necessidades comerciais
do ciclo da Zona Franca, da mesma forma que o ciclo da borracha, impusera o plano
de embelezamento da cidade com intervenções urbanísticas que deram origem a um
novo desenho do seu centro urbano, transformando-o em um local mais compatível
com o movimento econômico da época e os novos moradores e visitantes que eram
atraídos para Manaus. Cabe salientar que a grande diferença entre esses dois
momentos da história, consiste no planejamento urbano e controle do poder público
ocorrido no auge da economia do látex, o que não aconteceu no período da Zona
Franca, responsável por um fluxo desenfreado de migrantes para a cidade, os quais
passaram a ocupar desordenadamente as áreas próximas aos igarapés centrais e
implantar lojas e centros comerciais que modificaram parte dos prédios e logradouros
antigos, além da proliferação de ambulantes ocupando as calçadas, interferindo
negativamente na qualidade visual da paisagem das Avenidas pesquisadas e do seu
entorno, situação que perdura até hoje.
No aspecto municipal, as iniciativas próprias da Prefeitura de Manaus nas
políticas públicas de preservação e valorização do patrimônio histórico cultural
remontam desde 1994. Resumindo-se em duas grandes ações nas áreas que
impactaram diretamente ou indiretamente a paisagem nos logradouros aqui
estudados bem como o seu entorno, a citar: 1) Projeto de Revitalização do Centro
Antigo de Manaus (1994) e 2) Requalificação Urbanística da Avenida Eduardo Ribeiro
(2015).
1) PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DO CENTRO ANTIGO DE MANAUS: O projeto
de revitalização do Centro Antigo de Manaus (Figura 108) foi concebido no ano de
1994, a partir de um concurso público de ideias realizado pela Prefeitura em parceria
com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) com o intuito de revitalizar o entorno do
Paço da Liberdade na Praça D. Pedro II (FILIPPINI, 2008). A equipe de arquitetos
vencedores Ana Lúcia Abrahim, Almir de Oliveira, Mercia Parente e Roberto Moita
conceberam um plano (Figura 107) que previa a implementação de 3 polos de
atividades na área: comercial, cultural e lazer, além do corredor na rua Bernardo
Ramos destinados ao entretenimento e gastronomia (BLOG DO ROBERTO MOITA,
2021).
276

Figura 107: Plano urbanístico da ideia vencedora

Fonte: BLOG DO ROBERTO MOITA (2021).


Figura 108: Área do Projeto Centro Antigo de Manaus-eixo Bernardo Ramos

Fonte: PREFEITURA DE MANAUS (2001)


277

O polo comercial estaria no trecho mais degradado da área com a construção


de Centro Comercial, já o cultural primava pela recuperação do Paço Municipal para
a instalação de um Museu Multimídia da cidade (atual Museu da Cidade de Manaus-
MuMa) em consonância com o Centro de Cultura e Lazer da Ilha de São Vicente
(BLOG DO ROBERTO MOITA, 2021). A ilha de São Vicente seria convertida em um
Parque Urbano à beira rio de Manaus estando próxima ao terminal de transporte
público seria acessível a toda à cidade, já a rua Bernardo Ramos seria o eixo
articulador dos três polos do projeto Centro Antigo, beneficiada pelo fluxo induzido do
Parque da Ilha, possibilitando como um novo atrativo da cidade Manaus (BLOG DO
ROBERTO MOITA, 2021). A proposta complementava-se com a implantação de áreas
para estacionamento, medidas de gestão de segurança, iluminação pública,
sinalização turística, dentre outras. No entanto, a prefeitura na época perdeu o foco
com a incorporação da Ilha para instalações da Marinha do Brasil, enfraquecendo,
assim, a ideia do plano vencedor (BLOG DO ROBERTO MOITA, 2021).
De acordo com o relato de Filippini (2008) foi somente no ano de 2001 que a
Prefeitura de Manaus, deu continuidade ao projeto Centro Antigo iniciando as obras
da primeira etapa do projeto, que consistiria na regeneração urbana da Rua Bernardo
Ramos sendo a âncora de comércios e serviços na cidade além de obras nas calçadas
com desenhos dos casarões como se fossem sombras e pavimentação restaurando
o piso original da via (Figura 109), em paralelo com a restauração da Praça D. Pedro
II e do Paço da liberdade.
Figura 109: Rua Bernardo Ramos no projeto e depois de implantada em 2001

Fonte: PREFEITURA DE MANAUS (2001)


278

Como materialidade do compromisso assumido pelo governo municipal com a


com a revitalização e preservação do patrimônio histórico cultural, o prefeito Alfredo
Nascimento contratou o projeto e encaminhou-o à apreciação do Ministério da Cultura-
MinC para inclusão no programa Monumenta e em dezembro de 2002, a partir daí
Manaus passaria a receber o financiamento do supracitado programa. (FILIPPINI,
2008).

2) REQUALIFICAÇÃO URBANÍSTICA DA AVENIDA EDUARDO RIBEIRO: A


Prefeitura de Manaus executou com recursos provenientes do Fundo Municipal de
Desenvolvimento Urbano (FMDU), que compõe a estrutura do Instituto Municipal de
Planejamento Urbano (IMPLURB), o projeto de Requalificação Urbanística da Avenida
Eduardo Ribeiro entre os anos de 2015 e 2016 avaliada em R$ 9,2 milhões (MAGABI,
2019 e IPHAN, 2020). Foi implementado e executado pela Secretaria Municipal de
Infraestrutura-SEMINF após aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional-IPHAN-AM, consistindo no resgate do pavimento original da avenida, com a
retirada das camadas de asfalto, o resgate das pedras lioz do meio-fio e os
paralelepípedos originais com a finalidade principal de trazer os aspectos originais da
via na época de sua construção56(MAGABI, 2019). Castro (2017) menciona que esse
projeto primava essencialmente pela retomada das características da avenida no
início do século XX, a partir da exposição do piso histórico de paralelepípedos e pedra
de lióz, evidenciando o antigo calcetamento de paralelepípedos ao longo da Avenida
Eduardo Ribeiro, consequentemente, contribuindo para o turismo no Centro da cidade
de Manaus. Abaixo as ilustrações das figuras 110 e 111 desse processo de
requalificação:

56 Destaca-se que aonde não foi encontrado o pavimento original foi substituído por um trabalho com
blocos de concreto pigmentado e pedras de quartzito (MAGABI, 2019).
279

Figura 110: Retirada manual de paralelepípedos e demolição das calçadas em 2016

Fonte: CASTRO (2017).


Figura 111: Obras de requalificação da Avenida Eduardo Ribeiro no trecho do
cruzamento com a Rua 10 de Julho.

Fonte: MAGABI (2019).

Conforme relatório de arqueologia do Iphan-AM realizado na Avenida Eduardo


Ribeiro (2020), o subsolo do Centro Histórico abriga contextos pré-colonial (ex.: sítio
Manaus) e histórico (ex.: sítio Catedral) que também estão protegidos pela legislação
280

do patrimônio57 e, por isso, existe a necessidade de consulta prévia ao órgão federal


para realização de escavações. Portanto, esse projeto de requalificação foi a primeira
obra executada pela prefeitura que teve o acompanhamento da arqueologia em tempo
integral durante o período de duração da mesma, sendo realizado o monitoramento
arqueológico em que foi coletado material histórico (vidro, louça, metal e cerâmica)
resultando na coleção arqueológica com 532 peças, (CASTRO, 2017 e IPHAN, 2020).
Convém salientar, que essa pesquisa de Monitoramento Arqueológico e Educação
Patrimonial foi coordenada pelas arqueólogas Margaret Cerqueira e Vanessa
Benedito no recorte espacial correspondente ao trecho da Avenida Eduardo Ribeiro e
Rua 10 de Julho, ambas integrantes da Comissão Especial do PAC Cidades Históricas
da Prefeitura Municipal de Manaus (CASTRO, 2017). O mesmo autor, ressalta que
essa área já bastante antropizada, ofereceu uma diversidade de material histórico, do
além do piso histórico aparente, também foi encontrado vidro (garrafas), garrafas de
grés, manilhas cerâmicas que compunham o sistema de esgoto bem como material
metálico proveniente da estrutura do antigo trilho do bonde.
Os trabalhos de recolocação do piso histórico ocorreram em toda a extensão
da Avenida Eduardo Ribeiro (Figura 112), excetuando o trecho que corresponde da
Avenida 7 de Setembro à rua Floriano Peixoto, neste último trecho, os únicos trabalhos
executados ocorreram nas calçadas e meio fio, deixando a via de circulação intacta,
sendo que as calçadas dos quarteirões do Teatro Amazonas e Palácio da Justiça não
sofreram intervenção (CASTRO, 2017). Houveram também frentes que atuaram na
demolição das calçadas e meio fio, sendo as calçadas refeitas com assentamento de
pedras São Tomé, o meio fio demolido ocorreu somente com os blocos de concretos
contemporâneos, já as pedras de lioz históricas foram mantidas, apenas foram
niveladas ao novo nível das calçadas (IPHAN, 2020).

57 Lei Federal 3.924 /1961, com as Portarias SPHAN 07/1988 e IPHAN 230/2002, embasadas nessas
normativas federais os trabalhos tiveram por objetivo geral a arqueologia no local realizando o
monitoramento arqueológico bem como a educação ppatrimonial (CASTRO, 2017).
281

Figura 112: Obras no piso, calçadas e meio fio da avenida Eduardo Ribeiro.

Fonte: BENZECRY (2018) original do Acervo do Iphan-AM.

As atividades mecanizadas eram executadas normalmente com


retroescavadeiras e utilizadas para remoção da camada de asfalto ou concreto que
ficava sobre o piso histórico, a mesma também era utilizada para o nivelamento do
terreno após a retirada dos paralelepípedos, essas máquinas só intervinham
paulatinamente no subsolo e com o controle visual da equipe de arqueologia
responsável pelo monitoramento (CASTRO, 2017). Os bondes foram grandes
símbolos do período áureo da borracha na cidade Manaus, fizeram parte da vida
urbana durantes décadas da capital da borracha, talvez seja um dos motivos destes
permanecerem na memória e no imaginário de muitos manauaras (CASTRO, 2017).
Partindo dessa relevância histórica e cultural, o mesmo autor relata que os trilhos
foram evidenciados em áreas pontuais da Avenida Eduardo Ribeiro no entroncamento
da Rua 10 de Julho com a referida Avenida, nesse cruzamento foi evidenciado uma
estrutura conservada dos trilhos. A partir da rua 10 de Julho, no sentido que avança a
Avenida Eduardo Ribeiro até o entroncamento com a rua Saldanha Marinho não foi
282

observado o trilho, somente um lastro de pedra e muitos parafusos que podem


pertencer aos dormentes do antigo trilho, no entanto, os trilhos voltam a aparecer no
quarteirão da Avenida entre a Rua Saldanha Marinho e Avenida 7 de setembro
(CASTRO, 2017).
Os últimos trabalhos realizados na rua 10 de Julho, aconteceram na janela dos
trilhos com a recomposição de paralelepípedos (Figura 113) e a instalação do guarda-
corpo no intuito evitar acidentes no local e por último, houve a instalação do totem
escrito pela equipe de arqueologia (CASTRO, 2017).

Figura 113: Janela do trilho e o totem informativo, exposição da recomposição de


paralelepípedos no cruzamento da Rua 10 de Julho com a Avenida Eduardo Ribeiro.

Fonte: CASTRO (2017)


Após a conclusão dos serviços, o local transformou-se em bloco testemunho
da história de Manaus (CASTRO, 2017). Sendo assim, diante desse processo de
requalificação urbanística, a Avenida passou a apresentar alguns de seus aspectos
originais novamente, hoje a pavimentação no rolamento da pista é composta por
peças pré-moldadas de concreto encaixadas, nas calçadas foram implantadas pedras
do tipo São Tomé semelhantes ao calçamento original e no meio-fio os
paralelepípedos foram restaurados, em alguns pontos a iluminação é decorativa e os
postes são do tipo Cajado de São José (IPHAN, 2020).
Diante do exposto, nessa seção das ações e intervenções já implementadas
nas três esferas sob a égide da busca por políticas públicas de valorização ou
283

normatização do Centro Histórico de Manaus, sinteticamente a figura xx abaixo


apresenta uma linha tempo para possibilitar uma melhor compreensão cronológica-
evolutiva:
Figura 114: Linha do tempo das políticas públicas no Centro Histórico de Manaus

Normatização
Revitalização do
do Centro PAC- Tombamento
Antigo de Cidades do Centro
Manaus Monumenta/BID Históricas Histórico de
(1994) (2003) (2013) Manaus (2020)

Manaus PROSAMIM Requalificação


Belle (2003) Urbanística da
Époque Avenida
(1997) Eduardo Ribeiro
(2015)

Fonte: Elaborado pela autora.

Conforme relatado pelo Iphan-AM no documento de normatização, o Centro


Histórico de Manaus representa diversas camadas temporais pelas quais a cidade
passou: 1) seu traçado urbano está diretamente relacionado com o traçado do período
provincial; 2) arquitetura apresenta múltiplos contextos artísticos e de variados
processos de transformação; 3) representa uma porção urbana formada por
edificações do período reconhecido como ‘ciclo da borracha’ - belle époque -
mesclada a edifícios modernos e contemporâneos (IPHAN,2020). Contudo, enquanto
bairros modernos e mais qualificados desenvolviam-se em outras áreas do município,
o Centro Histórico deteriorou-se do ponto de vista da valorização econômica, apesar
de concentrar funções vitais da capital, tais como os serviços financeiros e
administrativos. Apesar das seis ações públicas implementadas na área que
influenciaram diretamente as paisagens do entorno das Avenidas Sete de Setembro
e Eduardo Ribeiro, percebe-se a falta de continuidade, alinhamento entre as esferas
envolvidas, fiscalização e monitoramento dessas políticas, de modo a garantir a
relação custo-benefício dos recursos financeiros e humanos utilizados em prol da
valorização cultural e turística efetiva da área.
284

Identifica-se, hoje, que o aspecto principal desta falta de integração resultou no


espaçoso lapso intervalo temporal entre as políticas implementadas e na indefinição
do poder público no estabelecimento de prioridades, tais como: reordenar, recuperar,
regenerar e restaurar edifícios e logradouros por meio de intervenções físicas, da
implantação de infraestruturas básicas com controle rigoroso do espaço público bem
como o alinhamento entre as ações promovidas pelas três esferas públicas
governamentais.
285

4.3 CARACTERIZAÇÃO DA OFERTA DO TURISMO URBANO NOS


LOGRADOUROS E SEU ENTORNO

O entendimento da oferta turística na cidade de Manaus, com foco nas avenidas


Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro é resultado da abordagem ecológica de
Ashworth (1989) sobre o turismo urbano, onde existe a necessidade de estudo da
estrutura ou morfologia das áreas urbanas com a identificação dos núcleos históricos,
onde no caso em tela, têm-se o Centro Histórico de Manaus como espaço contextual
do todo interferindo no conjunto de relações entre o fluxo turístico, institucional,
residencial e comercial nas paisagens urbanas dos referidos logradouros. Ou seja,
tratar da configuração turística urbana é um fenômeno difícil, pois existe um contato
com o espaço geográfico, impactando-o frequentemente e influenciando no espaço
urbano, por conseguinte as transformações morfológicas são inevitáveis em função
dessa troca constante. Salienta-se que para Edwards, Griffin e Hayllar (2008), o
turismo urbano é definido como uma dentre muitas forças econômicas no ambiente
urbano gerenciando e comercializando produtos e experiências para pessoas com
diversas motivações, preferências, perspectivas culturais, onde estão envolvidas
numa dialética com a comunidade anfitriã, gerando consequências para o turista, o
residente e o empresariado do setor turístico. Desta forma, para a organização textual
desse capítulo, ainda no âmbito dessa abordagem, estão sendo aplicadas as
categorias de análise do espaço vivido e imaginado de Lefebvre (1974) verificando a
utilização dos princípios interpretativos de Tilden (1957) e da Carta de Icomos (2008)
nas avenidas pesquisadas.
Como capital do estado do Amazonas, Manaus após o ciclo da borracha e com
o advento da Zona Franca ocupa atualmente uma posição estratégica na Região
Norte, tanto do ponto de vista logístico (entrada e saída de mercadorias) quanto no
desenvolvimento de novos setores da economia que possam dar ao município uma
dinâmica cada vez maior. Capital do estado apresenta a maior concentração
populacional relativa do país, equivalente a quase 52% da população amazonense
está registrada em Manaus, em conformidade com o último Censo do IBGE. Desta
forma, d acordo com Censo 2010, Belém possui 1.402.056 habitantes, não constando
entre as 10 maiores capitais do país, estando inclusive abaixo de Manaus, que
286

aparece em sétimo lugar com 1.802.525 habitantes, sendo assim, a maior cidade da
Região Norte, superando Belém com 1.402.056 em população. Segundo esses
mesmos dados do último recenseamento (2010), dentre as 11 maiores cidades
brasileiras, Manaus foi a que teve maior crescimento na última década, sua população
cresceu em torno de 28,21%, saltando de 1.405.835, em 2000, para 1.802.52558,
superando Curitiba e Recife, já é a sétima maior cidade do país, sendo que das 11
cidades, somente Manaus e Brasília cresceram acima da média nacional.
O IBGE relata que no ano de 2018 seu PIB foi de R$ 78.192.321.000,00 com
participação de 20,18% no Produto Interno Bruto da região Norte e 1,12%, no
nacional. Manaus é a 6ª cidade com os maiores índices no resultado do produto
interno bruto do Brasil, é inferior apenas ao de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília,
Belo Horizonte e Curitiba. A principal atividade da capital manauara e também do
Estado do Amazonas foi a dos serviços, deixando a indústria em segundo lugar.
Em reportagem para o G1 Amazonas, o IBGE informou que em 2018, pelo segundo
ano consecutivo, a indústria não aparece como a atividade econômica principal do
Estado, pois, os serviços (incluindo o comércio) assumiram essa posição, com
participação de 38,53% no valor adicionado total do PIB do Amazonas; a indústria
teve participação de 34,30%; a administração, 20,63%, e a agropecuária, participação
de 6,54%".
Complementarmente, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência,
Tecnologia e Inovação-SEDECTI-AM menciona que o PIB do Amazonas,
especificamente no quarto trimestre de 2020 registrou R$ 28.457 milhões, no
comparativo com o quarto trimestre de 2019, isso representa um crescimento nominal
de 4,19%. O serviço obteve crescimento de 4,16% e a indústria alcançou os 3,72%
no período (4ºtrimestre 2019/2020). Esse desempenho deve-se a recuperação da
atividade econômica que contribuiu com valores de R$ 26.870 milhões no terceiro e
R$ 28.457 milhões no quarto trimestre, compensando as perdas do segundo trimestre
(-7,33% comparativo entre 1º trimestre de 2020 e 2º trimestre de 2020), de um
acumulado R$ 105.787 milhões no ano de 2020. A composição de participação dos

58 2.219.580 pessoas [2020].Fonte:População estimada: IBGE, Diretoria de Pesquisas,


Coordenação de População e Indicadores Sociais, Estimativas da população residente com data de
referência 1o de julho de 2020.
287

setores da atividade econômica do PIB, representa o serviço com maior parcela


(51,13%), seguido da indústria (28,04%), imposto (15,73%) e agropecuária (5,19%).
O setor de serviços apresentou crescimento de 0,52% e dentre as atividades, a
administração pública apresentou o maior aumento, com 3,80%, ocasionado
principalmente pelos investimentos em saúde pública no enfrentamento ao Covid-19.
Cabe mencionar que especificamente nas atividades ligadas diretas ou indiretamente
ao setor de turismo (transporte, alojamento, alimentação, artes, cultura, esporte e
recreação) os resultados foram negativos, conforme demonstrado abaixo:
Figura 115: PIB dos setores de serviços ligados ao turismo
TRANSPORTE ALOJAMENTO E ARTES, CULTURA, ESPORTE
ALIMENTAÇÃO E RECREAÇÃO
2019 2020 2019 2020 2019 2020
3.808 3.699 2.053 1.969 1.187 1.178
Variação 2019/2020:- 2,86% Variação 2019/2020:-4,06% Variação 2019/2020:-0,78%

TOTAL GERAL 2019: 7.048 milhões de reais. 2020:6.846 milhões de reais.


202 milhões de reais = - 0,02%
VARIAÇÃO 2019/2020
Fonte: AMAZONAS (2020)

Ainda no âmbito da receita, deve ser observado o indicador evolutivo de


arrecadação municipal, no caso o Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza-ISS
relacionados às Atividades Características do Turismo (ACT), a citar: 1) meios de
hospedagem; 2) agenciamento; 3) espaços para eventos;4) eventos: 5) atividades
culturais; 6) recreação e animação e 7) guias de turismo. Assim, abaixo a Figura 116
apresenta esses indicadores referente a Manaus, de acordo com a Secretaria
Municipal de Finanças-SEMEF/MANAUS:
Figura 116: Arrecadação do ISS de Manaus das ACT de Turismo (2015-2020)

Fonte: OBSERVATUR-UEA (2019 e 2020)


Esclarece-se que as setas acima são indicativas de manutenção (seta amarela),
aumento (seta verde) e queda (seta vermelha). Então, a partir de uma análise mais
detalhada das fontes de arrecadação, detectou-se que as atividades que mais
288

arrecadaram no município de Manaus em 2015-2018 foram: 1º lugar: Meios de


Hospedagem; 2º lugar: Agenciamento; 3º lugar/ 4º lugar: Espaços de eventos e
Eventos respectivamente. A figura 117 traz esses dados em percentagem:
Figura 117: Arrecadação Anual 2015-2018 por atividade

Fonte: OBSERVATUR-UEA (2019 e 2020)


Com a pandemia da Covid-19, em 2020 no 1º, 2º e 3º trimestre, a hotelaria e
agenciamento prevalecem na mesma posição, mas tiveram uma queda abrupta no
faturamento e consequentemente na arrecadação do ISS de Manaus, a Figura 118
demonstra esse cenário.
Figura 118: Comparativo de ISS de Jan-Set de 2020

Fonte: OBSERVATUR-UEA (2019 e 2020)


289

Uma análise resumida desse quadro (seta vermelha-queda; seta amarela-


manutenção e seta verde-aumento), demonstra que a partir do mês março ocorreu
esse decréscimo relevante, porém com um leve crescimento nos meses de junho até
setembro nas atividades de agenciamento e hotelaria que juntas arrecadaram R$
2.223.102,02. Chama muito atenção a receita gerada pelas atividades culturais no
mês de fevereiro com R$ 93.730,22 de imposto, no entanto, os dados nos meses
seguintes são negativos, demonstrando que esse setor até o presente momento ainda
não conseguiu se recuperar das consequências dos efeitos econômicos e sanitários
da Covid-19 e suas variantes.
Diante do cenário antes, durante e pós-pandemia da Covid-19 relatado, o turismo
apresenta-se como uma das alternativas para o desenvolvimento econômico do
estado do Amazonas, tendo a capital manauara como indutora desse processo, no
âmbito da atratividade natural e cultural. O propósito dessa seção é traçar uma
perspectiva da oferta e demanda turística de Manaus bem como seus principais
segmentos de mercado voltados à captação e manutenção do fluxo de turistas para a
cidade. No escopo desse delineamento, devem ser observados os elementos
propostos por Jensen-Verbeke (1986) e Kolb (2006) na identificação do produto do
turismo urbano:
A) Elementos primários: são instalações culturais (cinemas, museus, teatros,
exposições), esportivas, entretenimento e diversão, características físicas
(monumentos e estátuas antigas, portos, água, canais e orlas de rio,
parques, áreas verdes, templos religiosos, prédios relevantes e padrão
histórico de ruas e aspectos socioculturais (folclore, língua, usos e
costumes, segurança, vivacidade e ambiente do lugar);
B) Elementos secundários: consistem nas instalações e serviços de apoio que
os turistas consomem durante a visita, como hotéis, mercados e
estabelecimentos comerciais;
C) Elementos adicionais: é a infraestrutura turística que condiciona a visita,
como acessibilidade, espaços de estacionamento, guias turísticos,
sinalização, mapas e centros de informação turística.
290

As características naturais e culturais dos lugares passaram a ser assunto


debatido em diferentes países, portanto, a Região Norte e, em particular, a Amazônia
possuem também uma forte vocação para o turismo, decorrente de singularidades
naturais e humanas, que constituem atrativos para os turistas. Em 1970, o setor de
turismo não fazia sequer parte das plataformas governamentais amazonense,
inclusive na década de 1960, o Estado do Amazonas nem possuía uma secretaria de
turismo ou qualquer outro órgão disciplinador da atividade. Após a criação da Zona
Franca de Manaus é que o empresariado local e de outros estados, voltaram suas
atenções para a cidade e, por conseguinte, para o Estado do Amazonas. Guimarães
(2012) relata que em 1975, com o intuito de coordenar a política de turismo do Estado,
foi criado o Departamento de Promoção e Turismo do Estado do Amazonas-DEPRO,
posteriormente, de 1983 até 1991, houve a constituição da Empresa Amazonense de
Turismo-EMAMTUR, desta forma, o estado saiu da condição de total ausência de
políticas e diretrizes turísticas, dando início a um planejamento estratégico para o
setor. Faz-se necessário ressaltar que a criação da Zona Franca de Manaus (1967)
desempenhou um papel importante na construção dos alicerces do turismo na capital
porque permitiu e viabilizou a instalação de uma infraestrutura urbana e turística que
a cidade ainda conserva até hoje para poder explorar o turismo, com hotéis, aeroporto,
frequência de voos, entre outros. Em contrapartida, o apogeu da borracha deixou
como herança a oferta de atrativos culturais e históricos na cidade materializadas em
diversas edificações como o porto, prédios, praças, monumentos bem como traçados
urbanos como as ruas e avenidas históricas que são ainda pouco explorados pelo
turismo local.
Destaca-se que no contexto amazônico, o modal aéreo é o principal meio de
transporte para o acesso ao território, em função da ausência de estradas e à distância
geográfica dos grandes centros (GASPAR; FARIAS; GUIMARÃES; FONSÊCA e
BATISTA, 2021). Sendo assim, integrando o escopo básico na hospitalidade turística,
Manaus abriga o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes (Figura 119) que representa
um elo de integração com o resto do Brasil e do mundo, considerado uma das
principais portas de entrada da região amazônica, em virtude da dificuldade existente
nas outras vias de transporte, a terrestre e a fluvial (INFRAERO,2021). De acordo com
o mesmo órgão, está localizado a 15 km do centro da cidade e movimenta,
291

diariamente, uma média de 9.020 passageiros, 134 voos, 336.930 kg de carga aérea,
com seus 2.700m x 45m de pista recebem voos nacionais e internacionais, com
capacidade para aeronaves de grande e pequeno porte, é administrado pela Empresa
Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária – INFRAERO, porém, em abril de 2021 foi
licitado a sua concessão de uso para a empresa francesa Vinci que administra
terminais aeroportuários na França, em Paris e que já opera o aeroporto de Salvador
(BA).

Figura 119: Aeroporto Internacional Eduardo Gomes

Fonte: Portal da Amazônia. Fonte: G1 Amazonas.

Gaspar, Farias, Guimarães, Fonsêca e Batista (2021) mencionam que apesar do


Amazonas ter uma extensão territorial de 1.559.161,682 km2, é no modal aquaviário
que a oferta do transporte fluvial, por vezes, é a única alternativa para residentes ou
turistas, visto que o modal aéreo conta com apenas dois aeroportos internacionais
(Manaus e Tabatinga). Os mesmos autores afirmam que o transporte aéreo é o
principal meio de acesso à capital e ao Estado, no entanto para deslocamentos
intermunicipais, o transporte fluvial com fluxo médio de 520.000 mil passageiros/ano
é, na maioria dos casos, a única e precária alternativa. Ainda com relação à
acessibilidade ao destino Manaus, o acesso rodoviário apresenta-se quase sempre
combinado com o fluvial, uma vez que a bacia amazônica entrecorta toda a região,
dificultando o desenvolvimento do transporte terrestre (GUIMARÃES,2012). Mesmo
assim, conecta-se aos municípios do Amazonas e a outros Estados brasileiros e, até
292

mesmo, a outros países, como é o caso da BR-174 que liga a cidade à Roraima e à
Venezuela, contando, ainda, com cinco inacabadas e precárias rodovias - Belém-
Brasília (BR-010), Cuiabá-Porto Velho (BR-364), BR-230 (Transamazônica – PA/AM),
BR-163 (Cuiabá-Santarém), BR-319 (Porto Velho–Manaus), favorecendo ao intenso
o uso do intermodal fluvial com tráfego de embarcações pelos rios amazônicos
(GUIMARÃES, 2012; GASPAR; FARIAS; GUIMARÃES; FONSÊCA e BATISTA,
2021). Apesar do modal rodoviário não ser o mais utilizado, o transporte rodoviário no
Estado do Amazonas conta com uma malha de estradas de cerca de 6.200 km, dos
quais apenas 1.706 km são pavimentados. As principais rodovias federais são as BR's
174, 210, 230, 307, 317, 319 e algumas estaduais, principalmente na região
polarizada pela capital Manaus, tais como AM-010, 254, 352 e 36359.
A extensão de vinte e sete quilômetros da orla urbana de Manaus é atendida por
seis áreas portuárias: Marina do David, Porto do São Raimundo, Porto do Educandos,
Porto da Manaus Moderna, Porto Roadway de Manaus e Porto da Ceasa (GASPAR;
FARIAS; GUIMARÃES; FONSÊCA e BATISTA, 2021). Acrescenta-se à essa
extensão, o Porto Chibatão, maior complexo portuário privado da América Latina
destinado a receber navios de carga geral e produtos siderúrgicos destinados ao Polo
Industrial de Manaus60. Em função dessa especificidade regional, geograficamente
cortada em sua maioria por rios afluentes do rio Amazonas, o barco é o meio de
transporte mais utilizado da região, com uma estrutura de poucos camarotes e muitas
redes (GUIMARÃES, 2012).
Dada sua localização estratégica no Centro Histórico de Manaus,
especificamente na confluência entre as ruas Taqueirinha, Avenida Lourenço Braga e
o início da Avenida Eduardo Ribeiro, o Porto Roadway de Manaus (Figura 120) têm
destaque logístico e patrimonial no contexto dessa pesquisa.

60
Dados extraídos do site oficial do Porto, disponível em: <http://www.grupochibatao.com.br/>. Acesso
em 03 fev 2021.
293

Figura 120: Porto Roadway de Manaus

Fonte: Porto de Manaus, 2021. Fonte: Imediato Online, 2021.

Localizado no sítio histórico de Manaus, inaugurado em 1919 foi em outubro de


1987, inscrito nos livros do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico por seu
valor enquanto Patrimônio Histórico Edificado, sua estrutura flutuante foi projetada
pelos ingleses e material vindo de vários países da Europa representando para a
sociedade manauara a memória do período marcado pelo ciclo da borracha entre
1879 e 1912; e o declínio, entre 1942 e 1945, contando ainda, com uma régua
fluviométrica instalada na parede lateral na orla responsável pelo monitoramento das
cotas máximas e mínimas do rio Negro (GASPAR; FARIAS; GUIMARÃES; FONSÊCA
e BATISTA, 2021). Atualmente, é o maior porto flutuante do mundo com a ampliação
do cais Flutuante das Torres, medindo cerca de 300 m de comprimento e 20 m de
largura, seu canal de acesso tem aproximadamente 500m de largura, sem restrições
a calado, o que permite o acesso de embarcações de grande porte e capacidade,
podendo operar tranquilamente com 04 (quatro) navios simultaneamente em qualquer
período do ano e mais 3 (três) navios durante a cheia do Rio Negro nos berços fixos
Paredão e TC-Plataforma Malcher, sendo administrado pelo Governo do Estado do
Amazonas (PORTO DE MANAUS, 2021). Possui, ainda, armazéns de grande
capacidade, alguns desses revestem-se de especial importância por terem sido
construídos ainda na época da borracha61.
Alguns aspectos relacionados ao fluxo turístico do Amazonas e de Manaus, são
necessários serem considerados, tais como: volume de turistas, os segmentos e perfil
da demanda de turistas nacionais e internacionais. No âmbito geral, o volume de

61 MANAUSTUR. Mini Perfil da cidade de Manaus, 2010.


294

turistas do Amazonas no período de 2003 a 2019 totalizou 10.396.457 turistas (Gráfico


04), no qual em 2017 houve um decréscimo de 4,72% em relação ao ano anterior
(AMAZONASTUR, 2017 e 2019), porém com um leve crescimento em 2019 de 2,76%
em relação a 2018.
Gráfico 04: Volume de Turistas do Amazonas 2003-2019

Fonte: AMAZONASTUR (2019)

Conforme o Gráfico 05 a seguir, a taxa de crescimento ao ano do volume de


turistas no Amazonas no recorte temporal de 2003-2019 é de 6,28%, porém, observa-
se uma queda abrupta a partir de 2015 com um decréscimo de -36,11% em relação
ao ano anterior, tendo uma diminuição dessa percentagem negativa entre 2016 e 2017
apresentando um leve crescimento nos anos de 2018 e 2019.
295

Gráfico 05: Taxa de Crescimento no Amazonas em 2003-2019

Fonte: AMAZONASTUR (2019)


De acordo com o Gráfico 06, o fluxo total no Amazonas totalizou 607.973 em
2018 e 624.744 no ano de 2019, representando um leve crescimento comparado ao
ano de 2017. Divididos entre 356.311 de domésticos e 220.549 estrangeiros em 2018
e 2019 com 368.207 domésticos e 223.714 estrangeiros.

Gráfico 06: Volume de turistas no Amazonas em 2003-2019

Fonte: AMAZONASTUR (2019)


296

No gráfico 07 é apresentado uma série histórica do fluxo de turistas domésticos


e internacionais no Estado de 2007-2018, a partir dos registros da Ficha Nacional de
Registros de Hóspedes (FNRH) e de pesquisas com a metodologia da Empresa
Estadual de Turismo (AMAZONASTUR) realizada nos principais portões de entrada
do Amazonas.
Gráfico 07: Fluxo de turistas Amazonas e Manaus (2007-2018)

Fonte: OBSERVATUR-UEA (2019)

Por esse gráfico, nos últimos 12 anos o volume de turistas no Amazonas para
esta série registrou um volume de 8.453.778, no qual desse quantitativo 6.673.842
são turistas que permaneceram na cidade de Manaus. Salienta-se que anterior a Copa
do Mundo de Futebol da FIFA em 2014, onde Manaus foi cidade-sede, a média de
turistas na série de 2007 a 2013 no Amazonas foi de 675.500 e para Manaus 515.443,
no entanto, após a Copa e Jogos Olímpicos, no recorte de temporal de 3 anos entre
2016-2018 a média mantêm-se em 639.166 turistas no Amazonas, já em Manaus é
de 518.455 (OBSERVATUR-UEA, 2019). Apesar do pico em 2014 dessa
movimentação turística com 1.168.612 de turistas no Estado, em função da Copa do
Mundo, identifica-se que o crescimento se deu de forma gradual nos 12 anos antes
do evento, mesmo com o decréscimo no fluxo turístico a partir de 2015, percebe-se
uma estabilidade na média desse volume.
297

Entende-se que o registro de hóspedes na hotelaria confirma a permanência real


do turista naquela cidade visitada, sendo assim, apresenta-se a seguir os dados
referente ao fluxo de turistas domésticos e internacionais da hotelaria urbana de
Manaus. Vale salientar, que os dados dessa série são oriundos da publicação do
Observatur-UEA (2019) intitulada: Fluxo de turistas domésticos e internacionais
na hotelaria urbana de Manaus anos 1983 – 2018. Tal compilação de dados no
gráfico 08 abaixo, foi baseada nos seguintes documentos: 1) Publicação Tourism
Development Master Plan de 1987-1990; 2) Relatórios da Ocupação Hoteleira (BOH)
fornecidos pela extinta Empresa Amazonense de Turismo (EMANTUR); 3) Ficha
Nacional de Registro de Hóspedes (FNRH) e 4) Boletim de Ocupação Hoteleira (BOH)
de responsabilidade da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas
(AMAZONASTUR), atual órgão de turismo do estado.
Gráfico 08: Fluxo de turistas da hotelaria urbana de Manaus-1983-2018

Fonte: OBSERVATUR (2019)

Essa série histórica demonstra a evolução do fluxo de turistas na hotelaria


urbana em Manaus, desde o auge da Zona Franca de Manaus na sua fase comercial,
passando pela estabilidade e retomada de crescimento com a fase industrial da ZFM
298

até o pico de visitação na Copa do Mundo de Futebol da FIFA em 2014. Cabe


esclarecer que o auge da fase comercial foi entre as décadas de 70 e final de 80, com
o comércio (principalmente de eletrônicos) para todo o Brasil que passava
obrigatoriamente pela ZFM, porém, seu colapso deu-se com a abertura de mercado
promovida pelo Governo Collor iniciado em 1990 (HAMDEH, 2017). Essa situação
interferiu diretamente no volume de turistas domésticos em Manaus, que nos anos de
1985 a 1989 teve um fluxo de 784.580 com uma média de 156.916 de turistas nesse
período de 5 anos e a partir de 1990 apresentando uma queda vertiginosa em função
da falta de atratividade para o turismo de compras característico desse período. No
entanto, mesmo com essa queda abrupta o fluxo doméstico manteve-se nos últimos
15 anos com uma média de 99.768 turistas62 dada a nova fase industrial da ZFM que
sofreu uma remodelagem e reformulação do parque industrial com o advento da
abertura de mercado provocando uma modernização das estruturas de fabricação a
partir de meados de 90 com um modelo industrial baseado em incentivos fiscais para
industrialização por etapas mínimas de fabricação sem políticas de desenvolvimento
em ciência, tecnologia e Inovação (HAMDEH, 2017). Somente no ano de 2005 o fluxo
doméstico retoma o crescimento com uma curva ascendente até seu pico em 2014
com 570.948 hóspedes da hotelaria urbana decorrente do fluxo gerado pele evento
da Copa do Mundo de Futebol da FIFA em 2014, porém, a partir de 2015 essa
realidade muda com o decréscimo nos registros de hóspedes.
A partir desse histórico evolutivo, observa-se que no período de 36 anos, no
recorte temporal de 1983 a 2018 (Gráfico 08), o volume de turistas domésticos na
hotelaria urbana de Manaus sofreu com muitas variações, alcançando uma média
conforme a série histórica de 5,39% de crescimento, enquanto que a taxa média de
crescimento de turistas estrangeiros alcançou 9,87%. O desempenho do fluxo turístico
de Manaus de 2005 a 2018 teve taxa média de crescimento de 7,34% no fluxo
doméstico, e 5,70% no fluxo de estrangeiros. Vale salientar que o fluxo de turistas
estrangeiros desde 1983 até 2004 sempre ficou atrás no comparativo com o fluxo
doméstico, oscilando entre 25.000 a 59.000 turistas na hotelaria urbana, no entanto a
partir de 2005 até 2014 o crescimento saltou de 39.340 para a quantidade de 116.016

62 Sugerindo uma possível predominância do turismo de negócios, motivação que deve ser melhor
pesquisada para a manutenção desse fluxo comparada à baixa demanda de turistas estrangeiros até
o ano de 2004.
299

a 397.759 no seu auge em 2014. O período mais difícil no desempenho da hotelaria


manauara verifica-se no recorte de 2015 a 2018, com decréscimo de 12,23% no fluxo
doméstico, e 17,20% de decréscimo no fluxo estrangeiro. Em 2018 (Gráfico 08), no
comparativo com 2017, foi identificado um discreto crescimento de 0,5% no fluxo
doméstico e 12,55% no fluxo internacional. Abaixo, a Figura 121 apresenta um resumo
geral por décadas desse fluxo no período de 1983-2018.
Figura 121: Fluxo doméstico e internacional na hotelaria urbana de Manaus

Fonte: OBSERVATUR-UEA (2019)


Em 2019, o Amazonas recebeu 368.207 turistas residentes no Brasil, o que
representa um crescimento de 3,34% em relação ao ano anterior. Os principais
estados emissores de turistas domésticos para o Amazonas em 2019, conforme a
figura 122 são: 1º São Paulo (120.100), 2º Rio de Janeiro (37.151) e 3º Pará (27.404).
Figura 122: Estados emissores de turistas domésticos em 2019

Fonte: AMAZONASTUR (2019)


300

Já no que tange aos países emissores, entre os turistas internacionais, em 2019


houve um fluxo de 223.714, que em comparação ao ano anterior obteve um
crescimento de 1,44%. A figura 123 apresenta os Estados Unidos (75.060) como
maior emissor para o Amazonas, seguido por Alemanha (25.072) e França (19.265).
Figura 123: Principais países emissores de turistas internacionais em 2019

Fonte: AMAZONASTUR (2019)

No intuito de contextualização atualizada com outro indicador como parâmetro


de análise dessa conjuntura internacional, com base no anuário estatístico do
Ministério do Turismo de 2020-ano base 2019 os dados a seguir referem-se à
quantidade de turistas internacionais que ingressaram no Brasil pelo estado do
Amazonas por meio aéreo e terrestre. Em síntese, de acordo com esse relatório, nota-
se uma diminuição no total de chegadas de visitantes - de 36.064 ingressos em 2018
para 29.303 em 2019, o que representa uma queda de 18,7%. Quanto às vias de
acesso, a maior parte dos visitantes optou pela via aérea, 69,4%, e 30,6% por via
terrestre, no entanto houve uma diminuição de 26,2% quanto ao uso do transporte
aéreo pelos turistas em 2019 se comparado ao ano de 2018, em contrapartida, as
chegadas por via terrestre aumentaram 5,6% no mesmo período. Os principais
continentes emissores de turistas, destacam-se América do Norte, 43,1%, seguido
pela América do Sul, 36,5%, e Europa, com 12,8%, especificamente quanto aos
países de proveniência, lideram Estados Unidos, com 11.796 turistas, logo depois
Colômbia, com 4.663, e Venezuela com 3.324 (MTUR, 2020).
301

Reconhecida em nível nacional e internacional como o portal de entrada da


Amazônia brasileira, Manaus é uma cidade com vocação para o turismo com imagem
fortemente atrelada aos recursos naturais e detentora de grande diversidade cultural,
no qual os segmentos mais relevantes são: Ecoturismo e o Turismo de Negócios
(PDITS, 2011). Pelo estudo do Ministério do Turismo (2020) de demanda turística
internacional - Síntese Brasil por motivo da viagem - Negócios, eventos e convenções
- 2015-2019: Manaus aparece em 13º destino mais visitado com 1,4 % em 2019 entre
os 15 destinos mais visitados com essa motivação. Por esse mesmo estudo, no
aspecto-Outros motivos - 2015-2019, Manaus está 15º destino mais visitado com 1,6
% em 2019 no escopo dos 15 destinos mais visitados com essa motivação.
De acordo com esse mesmo plano, o Ecoturismo é um segmento marcado
principalmente pelo binômio da floresta e do rio aliado a existência de hotéis de selva
no município, já o turismo de negócios tem como principal indutor o Polo Industrial de
Manaus – PIM. Vale salientar que outros segmentos turísticos complementares
também são efetivos na capital manauara e podem ser melhor trabalhados, a fim de
potencializar seus benefícios e o crescimento da atividade turística, são eles: Turismo
de Pesca, Turismo Náutico, Turismo Cultural, Turismo de Sol e Praia, Turismo
de Eventos (PDITS,2011). A seguir, dados condensados de 2002 a 2009 contidos no
Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável em Manaus-PDTIS:

Quadro 11: Perfil da Demanda de Turismo em Manaus.63

Turista Internacional* Turista Doméstico

Característica da Viagem

Estados Unidos 26% São Paulo 33%**

Procedência Venezuela 7% Rio de Janeiro 9,8%**

França 5,7% Distrito Federal 7,4%**

Motivo da Visita a parentes/amigos


Lazer 44%
Viagem Negócios

63 *Ministério do Turismo. Estudo da Demanda Turística Internacional 2004-2008. ** AMAZONASTUR.


Síntese dos Indicadores do Turismo no Amazonas 2003-2009. *** Ministério do Turismo.
Caracterização e Dimensionamento do Turismo Doméstico no Brasil 2002-2006 – dados referentes à
Região Norte.
302

Negócios, eventos e convenções


32%

Ecoturismo/Aventura 67,6%
Motivo da
Sol e Praia 11,1% Sol e Praia
Viagem a Lazer
Cultura 10,5%

Hotel/flat/Pousada 58,1% ***Casa de amigos/parentes 71%


Tipo de
Alojamento Casa de amigos/parentes 18,4% Hotel/Pousada/Resort 20,4%

***Ônibus de linha 37,6%


Meio de
Avião
Transporte Avião 27,1%

Sozinho 36%
Composição do ***Sozinho 38%
Casal sem filhos 18,6
Grupo ***Família 20,8%
Amigos 18,2%

Gasto Médio
US$64,89 ***R$28,54
Diário Per Capita

Permanência
12,0 ***15,1
Média (dias)

Turista Internacional* Turista Doméstico

Organização da Viagem

Internet 29,7% ** Amigos/Parentes 47,7%


Fonte de
Informação Amigos/Parentes 24% **Internet 30,9%

Não utilizou 51%


Utilização de ***Não utilizou 72%
Serviços avulsos 31,9%
Agência ***Pacote 12,1%
Pacote 17,1%

Perfil Socioeconômico

Masculino 70% ***Feminino 56,1%


Gênero
Feminino 30% Masculino 46,9%
303

32 a 50 anos 47,2%
Grupo de Idade **Faixa dos 40 anos
25 a 31 anos 16,6%

Grau de Superior 44%


*** Superior ou mais 51,3%
Instrução Pós graduação 33,1%

Renda Média
US$6.351,62 ***Mais de 10 SM 38,9%
Mensal Familiar

Fonte: PDTIS (2011)

Complementando e atualizando algumas informações, o Instituto


FECOMÉRCIO de Pesquisas Empresariais do Amazonas (IFPEAM) realizou para o
mês de junho, com aplicação em julho de 2019 a pesquisa para analisar o
Comportamento do Turismo na Região Metropolitana de Manaus. Desta forma, quanto
aos dados sociodemográficos dos turistas brasileiros, 65,3% são do gênero feminino
com faixa etária mais frequente de 26 a 35 anos (54,2%), 73,3% casados, tinham
ensino superior ou pós-graduação (58,0%) e eram funcionários públicos (35,8%). Já
em relação ao turista estrangeiro, observou-se que a maioria também era do gênero
feminino (57,1%), a faixa etária mais frequente ficou entre 36 e 50 anos (37,9%), eram
casados (51,7%), tinham nível superior ou pós-graduação (86,7%) sendo 30,0% com
perfil de empresários. A procedência dos turistas domésticos é de 42,4% da região
sudeste, 24,7% do Norte e 14,6% do Nordeste, já os estrangeiros são
predominantemente oriundos do continente europeu (45,4%) seguidos por 33,9% de
norte-americanos e 9,7% de asiáticos. No que concerne a motivação da viagem, para
os turistas nacionais são 45,0% fauna/flora; 40% de folclore; 20% saúde;10%
negócios; 8,3% artesanato/gastronomia e 3,3% arquitetura. No entanto, os
estrangeiros concentram suas motivações com 76,9% esporte/aventura; 65,4%
fauna/flora; 46,2% monumentos/museus; 30,8% artesanato/gastronomia; 11,5%
arquitetura.
Em suma, os índices sistematizados referentes a Manaus, nas escalas federal,
estadual e municipal, corroboram com a posição da capital manauara como indutora
304

do turismo bem como centralizadora dos aspectos sociais e econômicos em relação


aos demais municípios do estado. Diante disto, os órgãos públicos responsáveis direta
ou indiretamente pela atividade turística devem estar atentos aos indicadores,
monitorando-os no intuito de gerar ações para o desenvolvimento turístico municipal
e por consequência, do Amazonas. Os atrativos, serviços e equipamentos turísticos
existentes na área urbana de Manaus estão concentradas em dez bairros da cidade,
porém, é no Centro Histórico de Manaus que essa concentração é mais intensa,
conforme apresentado na figura 124:

Figura 124: Mapa da oferta turística da área urbana de Manaus

Fonte: PDITS (2011)


305

Com base nesse mapa, apesar do mapa estar devasado, as mesmas áreas de
atratividade turística permanecem até os dias atuais. Percebe-se, ainda, que os
atrativos turísticos existentes em Manaus são diferenciados numericamente na
classificação de atratividade alta (amarelo) e mantida (verde), em suma, sua utilização
turística encontra-se explorada em pequena escala, mesmo elementos que
correspondem ao artesanato, às festividades e aos sítios históricos. As áreas
prioritárias são a área central, incluindo o Centro Histórico de Manaus e a orla da
Ponta Negra, porém, cabe destacar que os rios também constituem atrativos
importantes, notadamente no ponto denominado de Encontro das Águas, unindo os
rios Negro e Solimões (PDITS, 2011). No entanto, o Distrito Industrial também possui
diversos equipamentos hoteleiros e 1 atrativo (Centro Cultural Povos da Amazônia),
com sua atratividade diretamente ligada à realização de negócios.
Essas áreas integram a maior parte da oferta, tanto no que tange aos
equipamentos turísticos quanto aos atrativos turísticos de maior relevância, portanto,
estão alinhadas com a comercialização turística atual e potencial. Do ponto de vista
do visitante, as referidas áreas congregam os atrativos mais visitados e de maior
potencial para visitação e demonstram também a gama variada de atrativos ofertados
(naturais, culturais e de lazer), tendo como pano de fundo o Ecoturismo (PDITS, 2011).
Observa-se que apesar da vocação forte e natural da cidade, em função da
localização na região Amazônica, para o turismo de natureza, os atrativos e recursos
culturais presentes são significativos em termos de quantidade e qualidade da
experiência turística, agregando, assim, valor à visitação nas áreas naturais. Os
patrimônios edificados, com construções de valor histórico e cultural, são em grande
parte remanescente do período da borracha, concentrados no Centro Histórico de
Manaus, área em que se situa a Avenida Sete de Setembro e Avenida Eduardo
Ribeiro. Destacam-se, também, os museus e manifestações da tradição amazônica,
além da gastronomia e o artesanato regional. Estas manifestações culturais auxiliam
na composição do destino turístico Manaus, contribuindo para aumentar a
permanência do turista na cidade através da combinação “natureza e cultura”.
O Quadro 12 demonstra de forma organizada os principais atrativos culturais e
naturais da cidade atualmente:
306

Quadro 12: Quadro resumo dos principais atrativos turísticos de Manaus.

ATRATIVOS DESCRIÇÃO
Museu de Manaus-MuMa (Paço da liberdade); Praça D.
Pedro II; Casarão de Inovação Cassina; Centro Cultural
Palácio Rio Branco; Biblioteca Pública do Estado; Centro
CULTURAIS Cultural Palacete Provincial; Centro Cultural Palácio Rio
Negro – CCPRN; Centro Cultural Largo de São
Sebastião; Centro Cultural Palácio da Justiça; Teatro
Amazonas; Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas
– IGHA; Porto de Manaus; Mercado Municipal Adolpho
Lisboa; Relógio Municipal; Igreja Nossa Senhora da
Conceição– Catedral de Manaus; Museu do Seringal Vila
Paraíso; Museu Amazônico; Museu do Índio; Centro
Cultural Povos da Amazônia.

Parque Municipal do Mindu; Bosque da Ciência; Encontro


das Águas; Museu da Amazônia-MUSA (Jardim Botânico
NATURAIS Adolpho Ducke); Zoológico do CIGS (Centro de
Instruções de Guerra na Selva); Parque Cultural, Esporte
e Lazer Ponta Negra; Praia do Tupé e Praia da Lua.

Fonte: Elaborada com base em Guimarães (2012) e atualizado em 2021 tendo


como critério a abertura desses locais para visitação.

Após pesquisas realizadas nos sites das principais agências de receptivo


turístico e no material publicitário de órgãos públicos de turismo e cultura, constatou-
se que os principais roteiros oferecidos são basicamente visitas guiadas às
edificações, city tour e sightseeing no Centro Histórico de Manaus, sendo assim, por
conseguinte não são oferecidas aos visitantes opções de roteiros que possam contar
parte da história da cidade por meio de um passeio por uma de suas avenidas,
apresentando a evolução histórico-cultural das edificações com sua malha viária
(GUIMARÃES; MAIA; OLIVEIRA e TRICÁRICO, 2020).
Para Oliveira, Guimarães e Maia (2020) o Centro Histórico oferece uma oferta
turística significativa, porém, as atividades turísticas ocorrem de maneira
desordenada, sem fiscalização, segurança e acessibilidade gerando resultados
insatisfatórios no cenário do turismo, desta maneira, existe a necessidade de
melhorias e investimentos em consonância com políticas públicas que qualifiquem os
307

atrativos, serviços e equipamentos turísticos na área em questão. A seguir serão


apresentados os resultados dos logradouros inventariados64 nesse estudo
sistematizado por autoria de Oliveira, Guimarães e Maia (2020):

Figura 125: Atrativos, serviços e equipamentos turísticos em logradouros do Centro


Histórico de Manaus.

Fonte: OLIVEIRA; GUIMARÃES e MAIA, 2020.

De acordo com esse estudo, o quantitativo dos meios de hospedagem com


Cadastur são 14 perfazendo um total de 378 Unidades Habitacionais com 801 leitos
e 04 com acessibilidade. Os serviços de agenciamento foram: 06 agências de viagens,
quatro delas com Cadastur, e outras duas atuando sem. Dentre os equipamentos de
lazer, tem-se 9 áreas livres e verdes, sendo praças e parques, com guardas
municipais e oferecendo serviços gastronômicos. No item Outros Serviços e
Equipamentos Turísticos, têm-se 1 CAT (Centro de Atendimento ao Turista) na
Avenida Eduardo Ribeiro, que atende aos turistas em língua estrangeira, inglês e
espanhol, sem acessibilidade. Dentre os atrativos culturais, verificou-se um total de
15, sendo todos os patrimônios históricos edificados, dentre eles tem-se três teatros,
um aberto a visitações, com visitas guiadas em língua inglesa e espanhola, com

64 Essa área contempla os seguintes logradouros: avenidas Eduardo Ribeiro e Sete de Setembro, e
as ruas Guilherme Moreira, Dr. Moreira, Marcílio Dias, Marechal Deodoro, Teodoreto Souto e José
Paranaguá.
308

acessibilidade na parte do térreo do prédio e os outros dois teatros que não realizam
visitas guiadas, apenas abertos ao público sob demanda de algum evento em
específico. E quanto aos eventos programados, são feiras de artesanatos que tem um
grande fluxo de visitantes locais e turistas, festas/celebrações realizadas durante o
carnaval e de cunho religioso no mês de junho, além do evento em comemoração pelo
aniversário da cidade de Manaus, em que o público alvo também é local. De acordo
com pesquisa de campo realizada por esses autores, Avenida Sete de Setembro é
uma das principais vias de acesso ao Centro Histórico, a mais extensa e que
apresentou maior quantitativo da oferta turística. Existem 2 eventos realizados nesse
logradouro que são: 1) Em fins de semana alternados a Feira do Paço, que oferece
uma programação diferenciada a população, com a comercialização de artesanatos,
bem como de serviços gastronômicos; 2) Feira Gastronômica do Passo a Paço, que
movimenta um grande público, realizada em diferentes meses do ano, com a
participação de chefs renomados bem como de artistas nacionais e regionais. Já a
Avenida Eduardo Ribeiro é menor em comparada a supracitada avenida, possuindo
igual relevância em função da existência do Teatro Amazonas, ícone histórico e que
tem uma movimentação intensa de turistas nacionais e internacionais. Nela o
comércio e serviços são diversos e de movimentação intensa, possuindo grande fluxo
de turistas a passeio, pedestres e veículos durante o horário comercial. Aos domingos,
essa avenida é fechada para a Feira do Artesanato da Av. Eduardo Ribeiro que reúne
artesãos além da gastronomia tipicamente regional concentrando um grande fluxo de
turistas e residentes.
De modo geral, a acessibilidade é insuficiente, poucos são os lugares que estão
adaptados ou com profissionais capacitados para receber as pessoas com alguma
necessidade especial, e quando se encontra, a adaptação contempla apenas uma
modalidade, que geralmente é a motora, através de uma rampa de acesso, porém, as
demais deficiências (auditiva, visual e intelectual) são incipientes. A sinalização
turística existe, mas é deficiente e confusa, pois a informação passada nem sempre
está coerente com a realidade, muitas veze não levam a lugar nenhum, outras
precisam ser atualizadas bem como as demais necessitam de manutenção, melhorias
e serem recolocadas (OLIVEIRA; GUIMARÃES e MAIA, 2020).
309

O Centro Histórico é o cartão de visita e portão de entrada da cidade de Manaus


por meio de sua orla fluvial, por isso a importância de serem apresentados os
indicadores de Cruzeiros Marítimos (AMAZONASTUR, 2014) em Manaus acabam por
estabelecer um número mais próximo em relação ao volume de turistas que
desembarcam no Porto de Manaus, bem próximo da Avenidas Sete de Setembro e
Eduardo Ribeiro, objeto de análise desse estudo. No período de 2003 a 2014, o
volume de turistas registrado nas temporadas de Cruzeiros Marítimos, foi de 227.554,
sendo que em 2014 foi de 19.198 passageiros e tripulantes desembarcados no local.
Nessa mesma linha, também devem ser considerados o fluxo de visitantes no principal
atrativo turístico do Centro Histórico de Manaus bem como da capital, o Teatro
Amazonas, localizado na Avenida Eduardo Ribeiro e próximo a Avenida Sete de
Setembro. O volume mês a mês são divididos e classificados com as seguintes
categorias: locais, estudantes, nacionais e internacionais. Porém, em 2020 houve uma
maior estratificação com a inserção de duas novas tipologias: 1) Pessoa com
Deficiência-PCD e 2) Crianças com até 10 anos. Desta forma, abaixo o gráfico 08
retrata o quantitativo anual geral com um recorte histórico evolutiva desse fluxo de
1997 até março de 2020, conforme metodologia de compilação da Secretaria de
Estado da Cultura e Economia Criativa-SEC.
Gráfico 09: Fluxo de Visitação no Teatro Amazonas
140.000

120.000
QUANTIDADE DE VISITANTES

100.000

80.000

60.000

40.000

20.000

0
1997

2000

2014
1998
1999

2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013

2015
2016
2017
2018
2019
2020*

* até

Fonte: OBSERVATUR-UEA (2019 e 2020)


310

A média do fluxo de visitantes no Teatro Amazonas é de 63.398 nesse recorte


temporal de 24 anos. Salienta-se que os anos de maior pico são respectivamente:
2001 (59.196); 2006 (92.258) e 2019 (116.750). Em 2020, em função da pandemia, o
Teatro ficou fechado para visitações de abril a julho com retorno em agosto até
dezembro com prévio agendamento, no entanto, com a nova variante da Covid-19, o
mesmo encontra-se fechado de janeiro/21 até o presente momento. Cabe destacar
que todo esse quantitativo de pessoas, independente da sua classificação, são
relevantes na projeção de potenciais visitantes aos logradouros pesquisados e
público-alvo da proposta dessa tese. Portanto, é interessante constatar, de acordo
com a análise do Observatur-UEA, um registro significativo no fluxo de visitantes locais
de 3.395 em 1997 para 30.240 em 2018, representando uma evolução de 890% e
indicando o fortalecimento da cidadania por meio da cultura, especificamente de uma
edificação histórica com arquitetura singular e ícone do passado cultural da cidade de
Manaus.
Levando em consideração que o foco dessa pesquisa é o turismo urbano na
interface com o turismo cultural, devem-se reforçar os aspectos de identidade e a
importância do o patrimônio cultural para um destino turístico. Nesse contexto,
Manaus possui uma gama de atrativos histórico-culturais que podem ser aliados aos
elementos naturais da capital e do Estado do Amazonas. Um estudo realizado pela
consultoria da Monitor Group65 mostra que 86% dos turistas brasileiros e 66% dos
estrangeiros que visitaram Manaus, declararam a necessidade de conhecer mais
profundamente a história da cidade. Esse fato corrobora com a importância da
presente pesquisa que busca reunir informações capazes de permitir o
aprofundamento dos conhecimentos acerca de uma pequena fração do espaço
geográfico de Manaus, representada pelas Avenidas Sete de Setembro e Eduardo
Ribeiro, recuperando as memórias históricas do lugar, desde suas origens até a
atualidade. Boa parte dos atrativos turísticos da área urbana de Manaus, de acordo
com o diagnóstico do PDTIS-Manaus não está incluída nos principais roteiros
turísticos comercializados, o que revela a baixa utilização destes recursos para fins
turísticos, visto que um número considerável de turistas que chega a Manaus segue

65 MONITOR GROUP. Slides do diagnóstico do cluster de turismo no Amazonas. Manaus, 2001.


311

direto para os alojamentos de floresta (popularmente conhecidos como hotéis de selva


da região) e não aproveita o riquíssimo acervo cultural e técnico-científico existente
na cidade. Não é oferecido ao visitante roteiro algum que pudesse contar parte da
história da cidade através, por exemplo, de um passeio por uma de suas avenidas.
Muito embora existam várias avenidas e ruas (Joaquim Nabuco e Bernardo Ramos,
por exemplo) localizadas no Centro Antigo que guardam parte do passado de Manaus,
as Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro são as que possuem a maior parte
das edificações históricas conservadas, podendo oferecer ao turista ou à população
residente a experiência de conhecer as origens da cidade desde o período pré-
colonial, passando pelo colonial, imperial, republicano, criação da zona franca e até
mesmo intervenções urbanas contemporâneas.
O posicionamento turístico de Manaus deve estar baseado na diferenciação e
no enfoque, associando o turismo de natureza com a experiência tanto do ponto de
vista histórico-urbano quanto de conhecimento de novos modos e costumes dos
povos tradicionais e indígenas, produzindo desta forma, atrativos ímpares e
singulares. A situação atual, segundo análise do PDTIS, caracteriza-se pela existência
de produtos turísticos pouco consolidados na área urbana de Manaus, pela baixa
oferta de equipamentos que oferecem atividades de lazer e entretenimento, pela
ausência de local qualificado para usufruto do Rio Negro pelo turista, além da baixa
oferta de serviços e equipamentos para eventos de grande porte. Para alterar esse
quadro, sugere estratégias para a diversificação da oferta de produtos e serviços
turísticos no núcleo turístico principal, localizado na área urbana do município, visando
à consolidação internacional de Manaus como portal de entrada da Amazônia
Brasileira e expoente nos segmentos de Ecoturismo, Negócios e Eventos. O destino
Manaus precisa estar atento às suas fragilidades (infraestrutura urbana e turística),
buscando diferenciação e inovação nos produtos turísticos disponibilizados ao
turista/visitante. O mercado do turismo está cada vez mais competitivo, exigente e
experiente. A concorrência acirrada com outros países que competem por uma fração
desses consumidores, torna necessária uma reflexão profunda acerca das políticas
públicas de turismo adotadas, além de incentivar e fomentar a iniciativa privada na
elaboração de experiências orientadas para o indivíduo e não mais para o produto,
312

priorizando melhores padrões de qualidade e maior atenção às necessidades dos


consumidores.
Conforme Guimarães (2012) o Centro Histórico retrata diferentes ciclos no que
tange a sua evolução histórica, e nos remete às origens da cidade de Manaus,
concentrando o desenvolvimento de diversas atividades econômicas locais. Por meio
do turismo existe a oportunidade de preservar, potencializar e valorizar o patrimônio
histórico que marca um importante período da história da capital amazonense. Deste
modo, considera-se a vocação dessa área para o desenvolvimento do turismo cultural,
capaz de atrair visitantes interessados em conhecer o contexto sociocultural que
influenciou na construção da cidade de Manaus, e consequentemente, seu Centro
Histórico. Como consequência da análise feita nesse capítulo, os dados encontrados
reforçam a importância dos objetos de estudos dessa pesquisa, pelos quais dentre
entre outros objetivos também busca uma proposta de sensibilizar a sociedade e o
trade turístico para os logradouros como potenciais atrativos turísticos na perspectiva
de conjunto, pois, tais avenidas concentram parte da história dos manauaras, no
interior do processo de evolução socioeconômica e espacial da cidade, agregando
conhecimento e experiência tanto para quem visita a cidade como para quem nela
reside.
No capítulo a seguir, serão consolidados e sistematizados a proposta aplicada
nas Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro dos parâmetros de análise dos
logradouros na perspectiva de conjunto com o seu patrimônio edificado como
elementos de composição da oferta turística.
313

4.4 TURISMO URBANO E VALORIZAÇÃO PATRIMONIAL: PARÂMETROS DE


ANÁLISE DOS LOGRADOUROS NA PERSPECTIVA DE CONJUNTO COM O
PATRIMÔNIO EDIFICADO NA COMPOSIÇÃO DA OFERTA TURÍSTICA EM
CENTROS HISTÓRICOS.

O turismo é vetor de desenvolvimento econômico de uma localidade, no qual


apropria-se predominantemente do espaço natural ou urbano bem como do ambiente
construído como recurso turístico, levando por consequência, a valorização
patrimonial e o fortalecimento do sentimento de identidade e pertencimento do lugar.
Na simbiose entre patrimônio e turismo, convém ressaltar que o patrimônio inscrito na
materialidade do espaço vivido proporciona legitimação das transformações sociais
ocorridas nesse ambiente herdado, atribuindo-lhe novas utilidades socioeconômicas
ao seu espaço, conectando-o à identidade local e ao turismo.
A atribuição coletiva de sentido ao patrimônio está traduzida num acordo social
implícito sobre valores coletivamente admitidos, que ajudam a testemunhar a
identidade compartilhada, pelo qual, o repensar deste espaço, no seu contexto do
espaço-tempo histórico, geográfico, cultural além do ponto de vista da paisagem –
pensada como ambiente natural, territorial e cultural, traz consigo contribuições às
tomadas de decisão com os atores que constituem o elemento humano nesta
paisagem urbana, dentre eles empresários, comerciários, turistas, gestores
municipais, munícipes, dentre tantos outros (DELVIZIO, 2018). Nesse contexto, é
recente o movimento em que a memória surge como preocupação cultural e política
central das sociedades ocidentais, desloca-se dos futuros presentes para os passados
presentes, sendo o foco desse deslocamento na experiência e na sensibilidade do
tempo que deve ser contado historicamente (HUYSSEN, 2000). Para lançar novos
alicerces para a vida urbana, deve-se compreender a natureza histórica das cidades,
distinguindo as funções originais daquelas que delas emergiram e aquelas que podem
ser reveladas e não estão explícitas (MUMFORD, 2004).
Nesse sentido, a identidade, memória, fluxo e o limite tornam-se metáforas que
revelam valores identitários corporificados de um logradouro, especificamente uma
avenida, não sendo apenas definições físicas do espaço, possibilitando a construção
tanto do seu valor afetivo como patrimonial por meio do plano vivido, do incentivo à
314

permanência, ao contato cotidiano com os elementos materiais, naturais e construídos


da sua paisagem (DELVIZIO, 2018). Os elementos constituintes do tecido urbano,
para Oliveira (2016) são os seguintes sistemas:
1. Sistema de Edifcíos: constituem o conjunto de espaços edificados
privados ou semipúblicos, sendo construções inseridas em parcelas
(lotes) e/ou quarteirões;
2. Sistema de Parcelas: conjunto de parcelas (lotes) formam quarteirões,
são elementos relevantes da forma urbana e do processo de
urbanização das cidades separando e delimitando o domínio público do
privado;
3. Sistema de Ruas: são espaços livres, estáveis do tecido urbano,
democráticos que permeam por toda a população, principal lócus das
práticas sociais urbanas, definindo quarteirões, distinguindo os domínios
público, semipúblico e privado.
No bojo desses três sistemas e tendo como foco principal desse estudo a
rua/avenida na perspectiva de conjunto com o seu patrimônio preservado edificado, a
linguagem do poeta João do Rio (2012) menciona que a rua é um fator de vida das
cidades, tem alma, é generosa, nasce como o homem, do soluço, do espasmo, do
suor humano na argamassa do seu calçamento e resume todo o conforto humano
para o animal civilizado. As ruas de uma cidade são como os retratos de nossos pais
e avós que colocamos em nossa casa no intuito de que a geração futura não esqueça
daqueles que muito fizeram em benefício à terra (CARVALHO, 1995). “Pode ser o
bairro, a praça, a rua, o condomínio, a pequena vila ou cidade, o lugar rural, desde
que possibilitem o encontro coletivo e relações de afetividade. (...) O lugar, portanto,
é onde a vida se desenvolve em todas as suas dimensões” (LE BOURLEGAT, 2000,
p.17-18). Em síntese, “a rua arranca a gente do isolamento e da insociabilidade, teatro
espontâneo, terreno de jogo sem regras sociais precisas e por isso mesmo
interessante, lugar de encontros e solicitude múltiplas – materiais, culturais, espirituais
– a rua resulta indispensável” (LEFÈBVRE, 1978 apud OLIVEIRA NETO, 1999, p.34).
Assim, o logradouro público – rua ou avenida- demonstra ser uma prova viva dos
ideais culturais e sociais que se sobrepuseram em camadas no tempo com produtos
de cada contexto cultural, adotando o espaço público urbano como suporte físico
315

(DELVIZIO, 2018). Na relação dialética desses fatores envolvidos, o aspecto coletivo


dado à um logradouro na perspectiva de conjunto com seu patrimônio edificado
proporciona valor agregado multidimensional (cultural, econômico e social) ao Centro
Histórico de qualquer destino turístico. Visão essa alicerçada em Giovannoni que
atribui qualidade compositiva aos logradouros (arquitetura menor) junto ao somatório
de edifícios singulares, onde ruas e avenidas devem ser preservadas e recuperadas,
pois, se não consideradas no aspecto dessa preservação patrimonial podem
comprometer a harmonia e a integridade do monumento construído, pelo qual o
traçado desses logradouros impulsiona um caminho de aprendizado dos valores
essenciais da história e da arte do conjunto arquitetônico e sobretudo, atuando como
um espécie de moldura da arquitetura maior. Corroborando, Nito (2015) afirma que o
entorno de bens de interesse cultural são unidades de preservação por excelência,
acabando por contribuir na preservação do próprio bem, pelo qual todas as ações
diretas de proteção sobre o mesmo são intensificadas na medida em que se atua no
entorno, ou seja, pensar os entornos como construção de uma atmosfera ou
ambiência dessas unidades, é entender o local destes bens no meio em que existem,
ao mesmo tempo instituindo um acompanhamento e gestão dos agentes de
degradação do bens culturais e não como ônus político de preservação.
Adicionalmente às bases teóricas dessa tese, têm-se a contribuição de Vicente
Del Rio (1991) na aplicação dos estudos da dimensão físico-ambiental para o desenho
urbano na revitalização de uma área central urbana em processo de declínio e sub-
utilização de seus potenciais para o desenvolvimento de uma cidade. Para ele, essa
aplicação, pode suscitar novos olhares na interação entre o conjunto de sistemas do
tecido urbano (edifícos, parcelas e ruas) e sua relação com as atividades cotidianas,
vivências e percepções da população usuária desse espaço, seja ela visitante ou
residente. Para o mesmo autor, as formas e os elementos estruturadores das cidades
perfazem um fenômeno único com suas funções, as ideias e os valores que as
pessoas associam a eles, pelo qual “o desenho urbano e a revitalização de áreas
centrais deverão seguir este caminho, fazendo visíveis as invisíveis cidades da mente,
se quiserem perseguir o mesmo destino” (DEL RIO, 1991, p.464).
Portanto, Cullen (2009) reflete que a paisagem urbana é a arte de tornar coerente
e organizado, visualmente, o emaranhado de edifícios, ruas e espaços que constituem
316

o ambiente urbano. A visão serial proposta por Cullen (2009) promove à percepção
da cidade, sendo um instrumento que faz surgir um novo observador mais atento às
suas emoções e aos espaços urbanos. As virtudes desse sistema de Cullen são três:
1) articulação na observação de princípios organizadores de ordem geral e
particulares de ordenação; 2) rapidez de processamento na percepção da paisagem,
pela facilidade de interação entre sujeito e objeto e 3) faculta elaborar em uma
linguagem síntese vários elementos, dados e referenciais históricos, socioculturais e
espaciais das cidades por meio de notas, fotos, documentos, croquis, imagens,
desenhos e conteúdos teóricos
A dimensão físico-ambiental de Del Rio (1991); os mapeamentos mentais ou
percepção dos turistas na cidade de Lynch (1999)66 e a visão serial de Cullen (2009)
complementam a motivação, identificação, seleção e análise de outros conjuntos
urbanos a serem utilizados como comparativos nessa pesquisa. Desta forma, o ponto
de partida para análise comparativa entre o objeto de estudo dessa tese (avenidas
Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro no Centro Histórico de Manaus) partiu
inicialmente da experiência pessoal dessa pesquisadora no ano 1999 em uma viagem
de estudos para Barcelona (Espanha). Enquanto estudante de turismo na época,
conheceu Las Ramblas (Figura xx), o que possibilitou vislumbrar a utilização de uma
avenida como atrativo turístico no contexto histórico evolutivo de uma cidade, em
harmonia com as edificações do entorno, sejam elas antigas ou contemporâneas. Vale
salientar, que Las Ramblas também guarda relação com as águas na sua construção
e proximidade com a orla do mar mediterrâneo igualmemente ao que ocorreu no
traçado das avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro que seguiram o curso dos
rios que ali estavam bem como influência da orla do Rio Negro e do Porto de Manaus
na configuração do ambiente construído que até hoje são explorados comercialmente
e turisticamente.

66
Baseia-se em cinco elementos principais: distritos, caminhos, nós, marcos e bordas. Ressaltando
que o referido autor afirma que as vias são o meio mais poderoso pelo qual o todo pode ser ordenado
por meio da organização da rota e conectando os outros elementos ambientais.
317

Figura 126: Las Ramblas no Centro Histórico de Barcelona (Espanha)

Fonte: OSPINA-TASCON (2014)

Por sua natureza, Las Ramblas são uma parte do território com valiosas
qualidades paisagísticas, as intervenções realizadas ao longo do tempo destacam-se
pelo desenho incorporado no espaço público, dotado de árvores abundantes que além
de gerarem sombra, reduzem a temperatura e os níveis de ruído, além de enquadrar
visualmente o traçado da rua, a contribuição urbana das obras realizadas na
exposição universal de 1888, ano em que o centro antigo foi reabilitado, permitiram
também a ligação da cidade ao mar (OSPINA-TASCON, 2014). Seu significado é “leito
do rio seco” ou avenida larga, localizada no bairro Gótico-Centro Histórico de
Barcelona, constituindo na junção de diversas ruas (Canaletes, Dels Estudis, Sant
Josep, Dels Caputxins e Santa Mônica) com uma larga calçada de pedestres,
estendendo-se por mais de 1 km (1.200 metros de comprimento), ligando a praça da
Catalunya até o mar mediterrâneo, no mirador de Colón. Ospina-Tascon (2014)
menciona que sua obra de urbanização foi realizada no século XV terminando em
1444, onde que com a sua inauguração, foi criado o primeiro espaço urbano de grande
318

dimensão para passeios, lazer e feiras ou mercados ocasionais. A mesma autora


relata que foi executado o plano de ampliação, idealizado pelo engenheiro Ildefonso
Cerdá, que desde o início buscou controlar as águas das chuvas em toda a área
urbana, assim, o traçado das vias de alargamento de Barcelona baseou-se no curso
natural dos riachos para configuração da malha atual da cidade canalizando esses
eixos naturais. Historicamente, Las Ramblas foi o primeiro lugar em Barcelona a ser
consolidado como um espaço público, o que aconteceu entre os anos 1700-1860, no
final deste período, realizaram-se diversas ações no centro histórico, visando a
conformação de novos ambientes contíguos a equipamentos emblemáticos e edifícios
de interesse patrimonial, que contribuem para consolidar as Ramblas como um grande
espaço público, com sua ligação a edifícios emblemáticos da cidade velha e espaços
públicos adjacentes, portanto essa rua que tornou-se um espaço icônico e atraente
na Barcelona contemporânea (OSPINA-TASCON, 2014). Em 1996, Alan Jacobs
descreve as características que permitiram que as Ramblas de Barcelona se
consolidassem como uma grande rua:
Numa cidade onde provavelmente se encontram as melhores ruas do mundo,
as Ramblas brilham com luz própria (…) as Ramblas foram pensadas para
caminhar e o resultado tem sido tão satisfatório que se destacariam em
qualquer lugar (…) sem dúvida, é uma rua desenhada para as pessoas, para
estarem, para passearem, para se encontrarem e para conversarem; e
cumpre esse objetivo (...), podem ser considerados um parque urbano
extenso e linear, um lugar alegre de descanso em meio à densa malha
urbana, muitas vezes escura, sempre sombria que é delimitada de forma
muito precisa (citado por OSPINA-TASCON, 2014, p . 34).

Refletir, a partir desse exemplo comparativo, é sobretudo, compreender a


relevância de ruas e avenidas no imaginário de visitantes e residentes além do
estabelecimento do diferencial na atratividade turística de um destino, em relação à
possibilidade de aumento da permanência de turistas na localidade, sensibilização e
autoestima da comunidade receptora bem como uma experiência qualificada e
singular. Ocorre, que esses logradouros não devem ser vistos de forma individual e
sem um contexto ligado às questões culturais de uma cidade, principalmente, em
Centros Históricos no contexto interpretativo sob a lógica de conjunto com suas
edificações. Por conseguinte, partindo desses pressupostos supracitados, a premissa
de identificação desses elementos materiais ou imateriais é necessária para avaliar
sua potencialidade na composição da oferta turística de um destino.
319

Ainda como parte da construção dos parâmetros, foram analisados os dois


principais modelos de referência para um diagnóstico cultural e turístico no Brasil:
1) SISTEMA INTEGRADO DE CONHECIMENTO E GESTÃO-SICG (IPHAN, 2021) =
constituído por um conjunto de fichas para a captura e organização de informações
conforme o objetivo do estudo ou inventário, que estão agrupadas em três módulos:
Conhecimento, Gestão e Cadastro. Esses módulos partem do geral para o específico
possibilitando o uso de outras metodologias (exemplo: Inventário Nacional de
Referências Culturais-INRC voltado para bens imateriais).

2) SISTEMA DE INVENTARIAÇÃO DA OFERTA TURÍSTICA-INVTUR (MINISTÉRIO


DO TURISMO, 2006; 2011) = ambiente virtual que permite congregar as informações
inventariadas em um único banco de dados facilitando o acesso, no qual esse sistema
armazena e sistematiza as informações coletadas por meio das fichas de
inventariação. Sendo estas disponibilizadas aos gestores públicos, privados e demais
interessados, porém, atualmente, o portal está desatualizado sem a disponibilização
dos referidos dados dos municípios envolvidos.
(http://inventario.turismo.gov.br/invtur/). O inventário está organizado em três
categorias contempladas por tipos e subtipos: Categoria A-Infraestrutura de Apoio ao
Turismo; Categoria B-Serviços e Equipamentos Turísticos e Categoria C- Atrativos
Turísticos.
Salienta-se que esses dois sistemas, atualmente, estão hierarquicamente
coordenados e sistematizados pelo Ministério do Turismo que têm na sua estrutura
organizacional a incorporação das pastas de Turismo e Cultura na mesma gestão
administrativa federal. Abaixo, a sistematização das categorias utilizadas nesses dois
modelos aplicados no Brasil para inventariação turística e cultural:

Quadro 13: Categorias da inventariação cultural e turística


SICG INVTUR
1. MÓDULO CONHECIMENTO 1. CATEGORIA A- INFRAESTRUTURA
Reunião organizada e sistematizada de DE APOIO AO TURISMO
informações que contextualizem os bens que Instalações e serviços, públicos e privados, que
são objetos de estudo na história e no proporcionam o bem-estar dos residentes e
território. também dos visitantes, tais como sistema de
transportes, de saúde, de comunicação, de
M101- CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL- abastecimento de água, de energia e tantas outras
Recorte territorial amplo das informações estruturas básicas e facilidades existentes nos
coletadas: identificação da região estudada; municípios.
do tema de estudo; universo/objeto de
320

análise; mapas de localização; contexto A1 – INFORMAÇÕES BÁSICAS DO MUNICÍPIO-


histórico e geográfico do universo/objeto de A.1.1. Caracterização do município.
análise; seleção de imagens;
mapeamentos/cartografias; fontes de A2 – MEIOS DE ACESSO AO MUNICÍPIO- A.2.1.
informação; palavras-chaves; data e Rodoviário; A.2.2. Ferroviário; A.2.3. Aeroviário;
responsável pelo preenchimento. A.2.4. Aquaviário.

M102- CONTEXTO IMEDIATO- A3 – SISTEMA DE COMUNICAÇÃO- A.3.1.


Caracterização geral de sítios ou conjuntos Agência postal; A.3.2. Posto telefônico; A.3.3.
históricos urbanos e rurais mais ampliadas Emissora de rádio; A.3.4. Emissora de TV; A.3.5.
em relação à ficha M101: identificação da Jornal; A.3.6. Revista; A.3.7. Outros.
região estudada; do tema de estudo;
universo/objeto de análise; mapas de A4 – SISTEMA DE SEGURANÇA- A.4.1. Polícia
localização; síntese histórica; aspectos Civil; A.4.2. Polícia Militar; A.4.3. Polícia
geográficos estatísticos e socioeconômicos; Rodoviária; A.4.4. Corpo de Bombeiros; A.4.5.
caracterização morfológica e tipológica do Serviços de busca e salvamento; A.4.6. Serviços
sítio/objeto de análise; iconografia histórica; de Polícia Marítima/Aérea/de Fronteiras; A.4.7.
seleção de imagens; Guarda Municipal; A.4.8. Defesa Civil; A.4.9.
mapeamentos/cartografias (planta cadastral; Outros.
evolução do traçado urbano; usos, gabaritos;
tipologias arquitetônicas; setores
morfológicos e de planejamento; perímetro de A5 – SISTEMA DE SAÚDE- A.5.1. Pronto-socorro;
proteção e entorno); informações sobre usos A.5.2. Hospital; A.5.3. Clínica médica; A.5.4.
e apropriações dos espaços (ofícios/modos Maternidade; A.5.5. Posto de saúde; A.5.6.
de fazer; celebrações; formas de expressão e Farmácia/drogaria; A.5.7. Clínica odontológica;
lugares); fontes de informação; data e A.5.8. Clínica veterinária; A.5.9. Outros.
responsável pelo preenchimento.

A6 – SISTEMA EDUCACIONAL-A.6.1.
M103-PROTEÇÃO EXISTENTE-Valores Caracterização do sistema de educação.
atribuídos ao sítio ou conjunto rurais ou
urbanos em relação sua proteção aplicável a A7 – OUTROS SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS
legislação cultural ou ambiental: identificação DE APOIO- A.7.1. Locadoras de imóveis para
da região estudada; do tema de estudo; temporada; A.7.2. Compras especiais
universo/objeto de análise; informações sobre (feira/mercado; galeria/rua comercial; Shopping
a legislação incidente do bem e processo de Plantas/flores/frutas; Antiquário; Cantina/cave;
proteção; fontes de informação; data e Bodega/alambique; Outras); A.7.3. Comércio
responsável pelo preenchimento. turístico (loja de artesanato/souvenir; Loja de
artigos fotográficos; Antiquário/galeria de arte;
outros); A.7.4. Serviços bancários; A.7.5. Serviços
mecânicos; A.7.6. Posto de combustível e A.7.7.
Representações Diplomáticas.

SICG INVTUR
2. MÓDULO GESTÃO 2. CATEGORIA B - SERVIÇOS E
Busca articulação do processo de EQUIPAMENTOS TURÍSTICOS
conhecimento presente no módulo 1 trazendo Conjunto de estabelecimentos e prestadores de
uma abordagem sistemática do patrimônio serviços que dão condições para que o visitante
cadastrado e protegido com a finalidade de tenha uma boa estada: hospedagem, alimentação,
estimular estratégias de gestão e valorização diversão, transporte, agenciamento, etc.
do bem.
M201-PRÉ-SETORIZAÇÃO- entendimento B1 – SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS DE
setorizado sobre diferentes componentes de HOSPEDAGEM- B.1.1. Hoteleira e de apoio;
sítios e conjuntos rurais e urbanos, protegidos B.1.2. Outro tipo de acomodação (Acampamento
ou em processo de proteção além de suas turístico/camping);
áreas de entorno com vistas a normatização
321

e construção de planos de preservação: B2 – SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS DE


identificação da região estudada; do tema de ALIMENTOS E BEBIDAS- B.2.1. Restaurante;
estudo; universo/objeto de análise; pré- B.2.2. Bar; B.2.3. Lanchonete; B.2.4. Cafeteria;
setorização; mapas da pré-setorização; data B.2.5. Quiosque; B.2.6. Barraca de praia; B.2.7.
e responsável pelo preenchimento. Sorveteria; B.2.8. Confeitaria/padaria; B.2.9.
Outros.
M202- CARACTERIZAÇÃO DOS
SETORES- detalhamento da ficha 201 B3 – SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS DE
considerando os problemas, as demandas, os AGÊNCIAS DE TURISMO- B.3.1. Agência de
fatores de pressão e potencialidades do viagem; B.3.2. Operadora de turismo; B.3.3.
identificados no conjunto ou sítio tombado e Agência de receptivo; B.3.4. Agência
áreas de entorno: identificação da região consolidadora.
estudada; do tema de estudo; universo/objeto
de análise; identificação dos setores de B4 – SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS DE
planejamento; mapas; data e responsável TRANSPORTE TURÍSTICO - B.4.1.
pelo preenchimento. Transportadora turística e similares; B.4.2.
M203- AVERIGUAÇÃO E PROPOSIÇÃO Locadoras de veículos; B.4.3. Outros tipos de
LOCAL- identificação de exceção às regras transporte.
que deverão ser tratadas de forma isolada,
considerando suas especificidades e B5 – SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS PARA
características morfológicas de EVENTOS - B.5.1. Espaços para eventos (Centro
homogeneidade e heterogeneidade em de convenções e feiras; parque/pavilhão/centro de
relação a inserção do bem no seu contexto: Exposições; Auditório/salão para reuniões; Outros;
identificação da região estudada; do tema de B.5.2. Serviços para Eventos (organizadora;
estudo; universo/objeto de análise; promotora; outros serviços especializados).
identificação da quadra; elevações de faces
de quadra; análise fotográfica; considerações B6 – SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS DE LAZER-
finais; data e responsável pelo B.6.1. Parques (aquático; temático; de diversões;
preenchimento. outros); B.6.2. Espaços livres e áreas verdes
M204- DIAGNÓSTICO DE ÁREAS (praça; jardim; parque; mirante; largo; outros);
URBANAS- dados relativos de cada Lote no B.6.3. Instalações esportivas (estádio; ginásio;
perímetro de estudo: dimensão geográfica; quadra; campo de golfe; campo de futebol; campo
urbana; imobiliária e arquitetônica. de paintball; autódromo; kartódromo; velódromo;
M205- DIAGNÓSTICO DE ÁREAS hipódromo; pista de equitação; pista de boliche;
URBANAS-agrupar dados relativos às pista de patinação; pista de skate; rampa para voo
Quadras de maneira global desde sua livre; piscina; outras); B.6.4. Instalações náuticas
ocupação, infraestrutura urbana até (marina; píer; garagem náutica; clube náutico;
equipamentos disponíveis: dimensão cais; outras); B.6.5. Espaços de diversão e cultura
geográfica e urbanística. (boate/discoteca; casa de espetáculos/shows;
M206- DIAGNÓSTICO DE CONSERVAÇÃO- casa de dança; cinema; clube social; centro de
Arquitetura Religiosa- orientação de vistorias tradições; outros); B.6.6. Outros espaços de
em imóveis tombados individualmente recreação (pesque e pague; pesque e solte; colha
acompanhando seu estado de conservação e e pague; sítios/chácaras de lazer; outros).
planejamento de obras à conservação do
bem: identificação da região estudada; do B7 – OUTROS SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS
tema de estudo; identificação do bem; TURÍSTICOS - B.7.1. Informações turísticas
imagens; danos estruturais; degradação do (posto; centro de atendimento; central; outros);
material; umidade; espaço avaliado; B.7.2. Entidades associativas e similares; B.7.3.
observações; avaliação outros elementos; guiamento e condução turística (guia de turismo
observações; outros levantamentos e fontes Monitor; condutor; outros).
de informação; data e responsável pelo
preenchimento.
M207- RELATÓRIO FOTOGRÁFICO-
documentação e organização das fotografias
de campo em estudos, inventários de
conhecimento e vistorias de bem protegidos:
identificação da região estudada; do tema de
estudo; identificação do bem; imagem;
322

comentários; data e responsável pelo


preenchimento.
SICG INVTUR
3. MÓDULO CADASTRO 3. CATEGORIA C - ATRATIVOS
Fichas padrão relativas a bens individuais TURÍSTICOS-
comuns a todas categorias do patrimônio Elementos da natureza, da cultura e da sociedade
material. – lugares, acontecimentos, objetos, pessoas,
M300-PLANILHA SÍNTESE- listagem geral: ações – que motivam alguém a sair do seu local de
identificação; localização e informações residência para conhecê-los ou vivenciá-los.
relevantes para a gestão do bem (estado de C1 – ATRATIVOS NATURAIS - C.1.1. Relevo
conservação; de preservação; proteção continental (montanha; serra; monte/morro/colina;
existente e proposta) propriedade, pico/cume; chapada; tabuleiro; patamar; matacão;
informações cadastrais; data de vale; planalto; planície; depressão; outros); C.1.2.
preenchimento e fontes de informações. Zona costeira (restinga; duna; barreira; praia;
M301-CADASTRO GERAL- campos de mangue; estuário; falésia; baía/enseada/saco;
identificação, localização e caracterização península/cabo/ponta; recife/atol; ilha;
comuns a todos os bens de natureza material: arquipélago; barra; outros); C.1.3. Relevo cárstico
identificação da região estudada; do tema de (caverna; gruta; furna; dolina); C.1.4. Hidrografia
estudo; universo/objeto de análise; (rio; riacho; córrego; arroio; lago/lagoa/laguna;
identificação do bem; propriedade; natureza alagado; fonte; outros); C.1.5. Unidades de
do bem; contexto; proteção existente e conservação e similares (área de proteção
proposta; estado de preservação e ambiental; área de relevante; interesse ecológico;
conservação; imagens; dados estação ecológica; floresta; monumento natural;
complementares; data e responsável pelo parque; refúgio de vida silvestre; reserva biológica;
preenchimento. reserva extrativista; reserva de desenvolvimento
M302-BEM IMÓVEL(ARQUITETURA)- sustentável; reserva de fauna; reserva particular
caracterização externa: identificação da do patrimônio natural; zoológico; jardim botânico;
região estudada; do tema de estudo; outras).
universo/objeto de análise; identificação do C2 – ATRATIVOS CULTURAIS- C.2.1. Conjunto
bem; propriedade; natureza do bem; arquitetônico (urbano; rural; industrial; ferroviário;
planta/croqui de implantação do terreno; outros); C.2.2. Comunidades tradicionais
imagens/ croqui das fachadas; tipologia; (quilombola; indígena; ribeirinha; de imigração;
época/data da construção; topografia do extrativista; outras); C.2.3. Sítios arqueológicos
terreno; pavimentos; uso original e atual; (lítico; cerâmico; lítico-cerâmico; estrutura de
medidas gerais da edificação; observações; pedra estrutura de terra; arte rupestre; sambaqui;
fotos e ilustrações de detalhes; breve outros); C.2.4. Sítios paleontológicos (floresta
descrição arquitetônica; informações fóssil; restos fósseis ou em processo de
complementares; levantamento arquitetônico fossilização; moldes, rastros, pegadas; outros);
existente; bases de dados; fontes C.2.5. Itinerários culturais (histórico;
bibliográficas e documentais; contexto; religioso/espiritual; relacionado a lendas/mitos/
proteção existente e proposta; estado de narrativas associadas; relacionado a fatos
preservação e conservação; data e históricos; outros); C.2.6. Parques históricos
responsável pelo preenchimento. (arqueológico; geoparque; histórico; outros);
M303- BEM IMÓVEL(ARQUITETURA)- C.2.7. Lugares de manifestações de fé (romaria e
caracterização interna: identificação da região procissão; culto; encontro para manifestação de fé;
estudada; do tema de estudo; universo/objeto referencial para mitos e narrativas de fé; visitação
de análise; identificação do bem; propriedade; de cunho religioso; outros); C.2.8. Lugares de
natureza do bem; cômodos; planta/croqui de referências à memória (acontecimento histórico;
planta baixa; divisórias; pisos, forros; referencial para narrativa mítica; ritual e
observações; bens móveis e integrados de celebração; outros); C.2.9. Feiras/mercados de
interesse; seleção de imagens do interior e caráter cultural; C.2.10. Arquitetura civil
detalhes; data e responsável pelo (casa/casarão/sobrado/solar; casa de comércio;
preenchimento. educandário/colégio/escola; liceu; universidade;
M304- BEM IMÓVEL (CONJUNTOS coreto; palácio/palacete; chalé; chafariz/fonte/bica;
RURAIS) -aspectos morfológicos sobre hospital; orfanato/creche; asilo; quinta; outras);
implantação, caracterização arquitetônica dos C.2.11. Arquitetura oficial (casa de câmara e
conjuntos e uso original e atual das atividades cadeia; paço municipal; cadeia; casa de
323

econômicas aplicados em áreas rurais intendência; casa de fundição; casa de alfândega;


(fazendas, engenhos e pequenas fórum/tribunal; residência oficial; sede do poder
propriedades): identificação da região executivo/legislativo/judiciário; outras); C.2.12.
estudada; do tema de estudo; universo/objeto Arquitetura militar (bateria; baluarte; bastião;
de análise; identificação do bem; propriedade; fortim; forte; fortaleza; quartel; colégio; vila militar;
natureza do bem; croqui de implantação; outras); C.2.13. Arquitetura religiosa (igreja;
seleção de imagens; edificações da basílica; catedral; Sé; Santuário; Capela; Ermida;
propriedade; informações sobre atividade Abadia; Oratório; Casa paroquial; Casa capitular;
econômica; informações complementares; Casa da providência; Palácio arquiepiscopal;
levantamento arquitetônico existente; bases Mosteiro; Seminário; Convento; Outras); C.2.14.
de dados; fontes bibliográficas e Arquitetura industrial/ Agrícola (Engenho;
documentais; data e responsável pelo Moinho/usina; celeiro; Alambique/vinícola;
preenchimento. Fábrica; casa de operários; Fazenda; Senzala;
M305- BEM MÓVEL E INTEGRADO- casa de chácara/sítio/fazenda/engenho; outras);
cadastramento do universo que integra as C.2.15. Arquitetura funerária (Panteão; Mausoléu;
obras de arte e bens integrados às Cruzeiro; Túmulo; Memorial; Cemitério; Outras);
edificações: identificação da região estudada; C.2.16. Marcos históricos (Divisão territorial;
do tema de estudo; universo/objeto de Referência à história; C.2.16.3. Relativos a festas
análise; identificação do bem; informações e rituais; Outros); C.2.17. Obras de infraestrutura
históricas; características físicas/técnicas; (Viaduto/ponte; Túnel; Caixa-d’água; Aqueduto;
descrição do bem; estatuto jurídico; Trapiche/píer; Marina; Porto; Quebra-mar/molhe;
documentos relacionados; dados Barragem/represa; Farol; Estrutura ferroviária;
complementares; imagem; data e Estrutura rodoviária; Estrutura aeroportuária;
responsável pelo preenchimento. Rotunda; Elevador/funicular; Viaduto; Torre;
M306-PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO- outras); C.2.18. Obras de interesse artístico (Bens
cadastro do acervo oriundo da extinta RFFSA integrados à edificação; Bens integrados à
com caracterização, estado de conservação, paisagem ou ao espaço urbano; outras); C.2.19.
etc: identificação da região estudada; do tema Ruínas; C.2.20. Museu/memorial; C.2.21.
de estudo; universo/objeto de análise; Biblioteca; C.2.22. Centros culturais/casas de
identificação do bem; localização do bem; tipo cultura/galerias; C.2.23. Teatros/anfiteatros;
de bem de acordo com o uso original; ano de C.2.24. Cineclubes; C.2.25. Gastronomia típica e
construção; uso original e atual; linha/ramal preparação de alimentos; C.2.26. Artesanato/
em operação; imóvel faz parte do conjunto trabalhos manuais; C.2.27. Atividades tradicionais
ferroviário; usuário/posse/concessão atual; de trabalho (Agricultor; Pescador; Seringueiro;
caracterização do bem; existência de bens Garimpeiro; Quebrador de coco; Fotógrafo lambe-
móveis, integrados ou documentais; interesse lambe; Carpinteiro; Peão; Outras); C.2.28. Formas
local na utilização do bem; foto; planta/croqui de expressão (Música; Dança; literária/oral;
de localização; conjunto de bens móveis cênica/performática; outras); C.2.29.
demanda levantamento em etapa posterior; Personalidades.
vigilância; data e responsável pelo C3 – ATIVIDADES ECONÔMICAS-C.3.1.
preenchimento. Extrativista; C.3.2. Agropecuária; C.3.3.
M307- PATRIMÔNIO NAVAL- caracterização Comercial; C.3.4. Industrial; C.3.5. Tecnológica.
morfológica e construtiva de cada C4 – REALIZAÇÕES TÉCNICAS E CIENTÍFICAS
embarcação além do seu uso, condições de CONTEMPORÂNEAS- C.4.1. Parque tecnológico;
trabalho e renda do dono e tripulação: C.4.2. Centro de pesquisa; C.4.3. Usinas e outras
identificação da região estudada; do tema de estruturas de geração de energia; C.4.4.
estudo; universo/objeto de análise; Barragem/eclusa/açude; C.4.5. Planetário; C.4.6.
identificação do bem; caracterização; Aquário; C.4.7. Viveiro; C.4.8. Outras.
elementos náuticos; tripulação e atividade C5 – EVENTOS PROGRAMADOS-C.5.1.
econômica; fotografias; bases de dados; Feiras/exposições; C.5.2. Congressos; C.5.3.
fontes bibliográficas e documentais; data e Convenções; C.5.4. Festivais/shows; C.5.5.
responsável pelo preenchimento. Seminários; C.5.6. Oficinas/workshops; C.5.7.
Competições; C.5.8. Desfiles/passeatas; C.5.9.
Encontros temáticos; C.5.10. Festas/celebrações;
C.5.11. Outros.

Fonte: Elaborado pela autora com base nos manuais do Iphan e Ministério do Turismo
324

O principal ponto de convergência entre dois os modelos do SICG e INVTUR


são basicamente a caracterização geral do munícipio, retirando esse aspecto os
demais itens apresentam características específicas a cada temática, a citar:
arquitetura, mapas, rico acervo icnográfico e histórico no sistema do IPHAN e de
existência de recursos naturais e culturais com potencial de atratividade turística e
acessibilidade ao atrativo no sistema do MTUR. Diferentemente do SICG do IPHAN,
o INVTUR constitui-se apenas num compilado de dados e informações descritivas,
sem qualquer possibilidade de análise e contextualização, requerendo dessa maneira
uma atualização desse sistema de modo a contemplar uma amplitude analítica no que
tange ao aspecto diagnóstico da oferta turística. Mesmo assim, é interessante notar,
uma lacuna comum existente nos sistemas acima analisados: os dois não possuem
logradouros (ruas e/ou avenidas) como categorias de identificação turística ou de
proteção patrimonial. Nesse sentido, levando em consideração a diversificação de
novos atrativos turísticos, a relevância patrimonial na preservação da atmosfera do
entorno do bem de interesse cultural e uma melhor experiência a ser proporcionada
ao visitante seja ele residente ou turista, propõem-se a inserção do item
LOGRADOUROS EM CONJUNTO (ruas/avenidas) no módulo cadastro do SICG do
IPHAN e na categoria C-atrativos turísticos do INVTUR do Ministério do Turismo,
especificamente na ficha C2-atrativos culturais.
A partir desse comparativo entre os instrumentos utilizados pelos órgãos
oficiais que normatizam a política cultural e turística no Brasil, com base na
metodologia estabelecida no Quadro 03 apresentado na seção de procedimentos
metodológicos, serão propostos, a seguir, os parâmetros de análise dos logradouros
na perspectiva de conjunto sob a lógica interpretativa patrimonial em Centros
Históricos, tendo por finalidade precípua sua aplicação na identificação e avaliação de
recursos turísticos na composição da oferta de um destino (Figura 127):
325

Figura 127: Parâmetros de análise dos logradouros em conjunto em Centros


Históricos
• Eletiva e • Eletiva e
indissociável; indissociável;
• Leis, • Ambiência histórica
decretos;normas, e contemporânea
regulamentos de na perspectiva de
preservação conjunto;
cultural; • Caracterização do
• Políticas públicas. logradouro;
DIMENSÃO DIMENSÃO • Pavimentação
NORMATIVA-D1 MORFOLÓGICA original e atual;
DE CONJUNTO-D2 • Estilo arquitetônico
e uso do patrimônio
edificado de
interesse para
preservação.

DIMENSÃO DIMENSÃO
• Atrativos e roteiros TURÍSTICA-D4 INTERPRETATIVA
turísticos; PATRIMONIAL-D3
• Sinalização de
trânsito e turística;
• Mídias
• Acessibilidade; interpretativas
• Serviços e (pessoais e
equipamentos de impessoais)
apoio ao turismo

Fonte: Elaborado pela autora.

Antes de explicitar sobre as categorias propostas, faz-se necessário esclarecer


sobre definição das mídias interpretativas, com base em Flávia Costa (2009).
Portanto, de acordo com Costa (2009) as mídias pessoais são chamadas de técnicas
pessoais, serviços de atendimento pessoais ou de interpretação ao vivo,
caracterizando-se pelo envolvimento direto do intérprete na realização da atividade.
Já as impessoais referem-se à um tipo de comunicação interpretativa que utiliza
equipamentos e materiais (como painéis, placas, computadores, exposições e
material gráfico), dispensando a presença do intérprete, caracteriza-se por ser uma
interpretação do tipo impessoal ou não personalizada.
Diante do exposto, as categorias e variáveis de análise estão sistematizadas
conceitualmente da seguinte forma:
➢ D1- DIMENSÃO NORMATIVA= verificação da existência do arcabouço
legal, normativo e de políticas públicas no âmbito municipal, estadual e
federal que credenciam a institucionalização protetiva do Centro
Histórico analisado bem como dos bens de interesse para preservação
no entorno do logradouro. Essa dimensão é critério obrigatório,
326

indissociável e condicionante para a elegibilidade da rua ou avenida a


ser contemplada em consonância com a D2 para posteriormente, se
atendido os critérios, avançar para as dimensões D3 e D4. Categorias
de análise: leis, decretos; normas, regulamentos de preservação
cultural e políticas públicas implementadas.
➢ D2-DIMENSÃO MORFOLÓGICA DE CONJUNTO= narrativas do
traçado urbano de ruas ou avenidas na perspectiva de conjunto com
edificações protegidas do entorno desses logradouros que sejam
representativos das principais transformações urbanas ocorridas na
paisagem. Tal ambiência deve conter processos sócio-históricos e
contemporâneos atributivos da produção urbana e arquitetônica
predominante que conservem à memória e identidade locais associados
ao patrimônio edificado destacando a organização e distribuição desses
elementos urbanos na configuração do logradouro, devendo estar
contido em uma área tombada de qualquer esfera pública. Também é
uma dimensão obrigatória, indissociável e condicionante para a
elebilidade de uma rua ou avenida e posterior avanço para a etapa
seguinte (D3 e D4). Categorias de análise: ambiência histórica e
contemporânea na perspectiva de conjunto; caracterização do
logradouro; pavimentação original e atual; predominância do estilo
arquitetônico (conforme acervo documental normativo existente) e uso
do patrimônio edificado de interesse para preservação.
➢ D3-DIMENSÃO INTERPRETATIVA PATRIMONIAL= identificação da
presença de mídias interpretativas (pessoais e impessoais) no espaço
contemplado, contextualizando referências históricas e atuais dos
logradouros e dos bens edificados protegidos do seu entorno que sejam
portadores culturais da identidade local e atendam aos critérios
estabelecidos na D1 e D2. Categorias de análise: intérpretes,
condutores ou monitores locais; painéis; placas; QRcodes; material
gráfico; exposições; equipamentos audiovisuais, maquetes, cenários
interiores, entre outros.
327

➢ D4-DIMENSÃO TURÍSTICA= eixo estruturante que proporcione a


viabilização da experiência turística para residentes e visitantes por meio
do uso, percursos, criação de roteiros, presença de mobiliários urbanos,
serviços e equipamentos de apoio à atividade turística. Categorias de
análise: atrativos e roteiros turísticos existentes; sinalização de trânsito
e turística; acessibilidade (estacionamento, estado de conservação e
barreiras de obstrução nas calçadas, recuo para cadeirantes, piso tátil,
etc.) e serviços e equipamentos de apoio ao turismo (bares,
restaurantes, meios de hospedagem, praça,
parques,bancos,artesanato, terminais de transporte, museu, igreja,
espaço para eventos, centros de informação ao turista, farmácias, lojas
de souvenires, posto de gasolina, borracharia).

Desta forma, tais parâmetros foram aplicados nas avenidas Eduardo Ribeiro e
Sete de Setembro por meio de uma ficha observacional (instrumento) aplicado para o
levantamento de campo bem como o documental (Apêndice B) gerando um conjunto
de informações que subsidiaram os resultados contidos nos capítulos 4.1, 4.2 e 4.3
além de possibilitar um diagnóstico sistematizado da potencialidade desses
logradouros como elementos compositivos da oferta turística, descritos a seguir:
328

Quadro 14: Diagnóstico turístico das avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro
LOGRADOURO

SETE DE SETEMBRO EDUARDO RIBEIRO

DIMENSÃO

➢ Limites das avenidas= contidos no perímetro de tombamento


federal (diário oficial da união no 222 de 22 de novembro de 2010-
IPHAN) e municipal (art.342-LOMAN) do Centro Histórico de
Manaus. Patrimônios edificados de interesse para preservação
protegidos individualmente no âmbito municipal, estadual e federal
nos seus respectivos entornos;

NORMATIVA-D1* ➢ Sete de Setembro= 121 edificações municipais de interesse para


preservação, sendo 29-1º grau e 92-2º grau; 7 imóveis estaduais
*Detalhamento descritivo nos capítulos 4.1 e 4.2
contendo levantamento de mapas e iconografia
tombados individualmente; 2 praças históricas;

➢ Eduardo Ribeiro= 49 edificações municipais de interesse para


preservação, sendo 25-1º grau e 24-2º grau; 3 imóveis estaduais
tombados individualmente; 1 imóvel federal tombado
individualmente; 2 praças históricas;

➢ Políticas públicas= a) Federal- Programa Monumenta/BID (2003);


Programa de Aceleração do Crescimento-PAC-Cidades Históricas
(2013); Normatização do Tombamento do Centro Histórico de
Manaus (2020); b) Estadual-Manaus Belle Époque (1997);
PROSAMIM (2003); c) Municipal-Projeto de Revitalização do Centro
Antigo de Manaus (1994); Requalificação Urbanística da Avenida
Eduardo Ribeiro (2015).

➢ Ambiência histórica e ➢ Ambiência histórica e


contemporânea na contemporânea na
perspectiva de conjunto = perspectiva de conjunto =
MORFOLÓGICA DE contexto evolutivo contexto evolutivo
CONJUNTO-D2* remanescente do ciclo da remanescente do ciclo da
borracha (séculos XIX e XX) em borracha (séculos XIX e XX)
contraponto as transformações em contraponto as
*Detalhamento descritivo no capítulo 4.1
ocorridas a da Zona Franca de transformações ocorridas a da
contendo levantamento de mapas e Iconografia Manaus (1964) tanto no Zona Franca de Manaus
patrimônio edificado do entorno (1964) tanto no patrimônio
da avenida Sete de Setembro edificado do entorno da
bem como morfologia no seu avenida Sete de Setembro
traçado urbano. Contemplada bem como morfologia no seu
com mais detalhamento no traçado urbano. Contemplada
capítulo 4.1; com mais detalhamento no
capítulo 4.1;
329

➢ Caracterização do ➢ Caracterização do
logradouro= Aberto e público; logradouro= Aberto e público;
Sete de Setembro; zona sul- Eduardo Ribeiro; zona sul-
bairro Centro; núcleo do Centro bairro Centro; núcleo do
Histórico de Manaus; Via Centro Histórico de Manaus;
urbana do tipo coletora com Via urbana do tipo coletora
fluxo de automóveis, bicicletas, com fluxo de automóveis,
transporte público e pedestre, bicicletas e pedestre, com
2.430 metros de extensão, extensão de 623 m, localizada
localizada 03o08.087’ sul 03o07`.56,83´’ sul (latitude) e
(latitude) e 060o01.077’ oeste 060o01`26,85’`oeste
(longitude). 4,80 metros de (longitude). Com 19,5 metros
largura (no trecho inicial do de largura. Edificações
entorno do Paço da Liberdade- existentes de uso comercial,
Ponto A) e termina com 12 residencial e institucional;
metros (na parte final do entorno Iluminação pública
MORFOLÓGICA DE
da Ponte Benjamim Constant- convencional de LED; Calçada
CONJUNTO-D2* Ponto E). Edificações de argamassa, carranca e
existentes de uso comercial, pedras de lioz; poucas árvores
*Detalhamento descritivo no capítulo 4.1
contendo levantamento de mapas e Iconografia residencial e institucional; do tipo Fícus Benjamim; não
Iluminação pública passa ônibus e 19 lixeiras;
convencional de LED; Calçada
de argamassa, carranca e ➢ Pavimentação original e
pedras de lioz; poucas árvores atual= Atualmente, após a
do tipo Fícus Benjamim; 2 revitalização da avenida, é
paradas de ônibus com abrigo e composta por quatro tipos de
3 lixeiras; pavimentação: asfalto;
paralelepípedo; pedra e bloco
➢ Pavimentação original e de concreto do tipo paver;
atual= Atualmente, é de asfalto
com afloramento de resquícios
da pavimentação original sob a
camada existente desgastada ➢ Predominância do estilo
de asfalto. Trecho com arquitetônico e uso do
paralelepípedo é no cruzamento patrimônio edificado de
da 7 de setembro com Eduardo interesse para preservação=
Ribeiro e ao lado do Paço da
Liberdade resquícios sob a edificações históricas eclética
camada asfáltica de uma pedra de uso comercial
com coloração vermelha, similar predominante com algumas
ao muro do Teatro Amazonas. unidades de estilo neoclássico
e contemporâneo.
➢ Predominância do estilo
arquitetônico e uso do
patrimônio edificado de
interesse para preservação=
edificações históricas eclética
de uso comercial predominante
com algumas unidades de estilo
neoclássico e contemporâneo.
330

➢ Placa informativa sobre a ➢ Placa informativa sobre os


arqueologia na praça D. Pedro II trilhos do antigo bonde no
INTERPRETATIVA e indicativa de alguns cruzamento da Eduardo
PATRIMONIAL-D3 monumentos presentes na Ribeiro com 10 de julho;
Heliodoro Balbi e Parque
Jeferson Perez; ➢ Não há mídias pessoais e
impessoais sobre a
➢ Não há mídias pessoais e
historicidade do logradouro.
impessoais sobre a
historicidade do logradouro.

➢ Atrativos e roteiros turísticos ➢ Atrativos e roteiros


existentes = 10 atrativos turísticos existentes = 7
turísticos (Colégio Amazonense atrativos turísticos (Teatro
Dom Pedro II; Cadeia Pública Amazonas; Teatro Gebes
Raimundo Vidal Pessoa; Ponte Medeiros; Centro Cultural
Pênsil Benjamin Constant; Palácio da Justiça; Catedral
Biblioteca Municipal de Manaus; Metropolitana N.Sra da
Centro Cultural Palácio Rio Conceição; Relógio Municipal;
Branco; Centro Cultural Palácio Obelisco e Feira de Artesanato
Rio Negro; Centro de da Eduardo Ribeiro (aos
Arqueologia de Manaus – CAM; domingos); Roteiros
Villa Ninita Cine Teatro Guarani; comercializados pelas
Evento Feira do Paço e Passo a agências de receptivo turístico
Paço; Roteiros comercializados e promovidos pelos órgãos
pelas agências de receptivo públicos que contemplam os
TURÍSTICA-D4 turístico e promovidos pelos atrativos turísticos já
órgãos públicos que consolidados de forma
contemplam os atrativos individual, sem incluir a
turísticos já consolidados de historicidade e a atmosfera de
forma individual, sem incluir a conjunto do logradouro com
historicidade e a atmosfera de suas edificações;
conjunto do logradouro com
suas edificações;

➢ Sinalização de trânsito e ➢ Sinalização de trânsito e


turística= Existente, porém turística= Existente, porém
deficiente no aspecto de deficiente no aspecto de
manutenção, identidade manutenção, identidade
compatível com a legislação compatível com a legislação
vigente e padronização das do vigente e padronização das do
uso correto dos pictogramas. uso correto dos pictogramas;

➢ Acessibilidade = ➢ Acessibilidade =
estacionamento rotativo no estacionamento rotativo no
sistema zona azul para usuários sistema zona azul para
locais, sem a presença de usuários locais; presença de
estacionamento exclusivo para estacionamento exclusivo para
veículos de turismo; existência veículos de turismo; existência
de rampas com recuo para de rampas com recuo para
cadeirantes e piso tátil, porém, cadeirantes e piso tátil, porém,
de forma incompleta em sua de forma incompleta em sua
extensão e com estado de extensão e com estado de
conservação deficiente. conservação deficiente.
Presença de ambulantes nas Presença de ambulantes nas
calçadas; postes de iluminação calçadas; postes de
331

e bancas de revistas que iluminação e bancas de


dificultando a mobilidade revistas que dificultando a
gerando barreiras de obstrução mobilidade gerando barreiras
para pedestres e cadeirantes. de obstrução para pedestres e
cadeirantes
➢ Serviços e equipamentos de
apoio ao turismo = 3- meios ➢ Serviços e equipamentos de
de hospedagem (Líder Hotel; apoio ao turismo = 2- meios
Pensão Andrade; Pousada de hospedagem (Casa
Girassol); 3- restaurantes Perpétua Hotel de Charme e
(Cristal Refeições; Churrascaria Hotel Manaós); 5-
Rio Negro; Churrascaria e restaurantes/bares/lanchon
Restaurante Delícias Grill; 3- etes (Gringos Bar, Beirute
bares e lanchonete ( Curupira lanches; Skina dos sucos e
Mãe do Mato; Skina dos Sucos; cafeteria; Hong Kong
TURÍSTICA-D4 Café do Pina); 1- espaço para lanchonete e restaurante e
eventos (Líder Hotel); 5- lanchonete Dobs); 1-serviço e
serviços e equipamentos de equipamentos de lazer (
lazer ( Praça Dom Pedro II; Praça do Congresso); 1-
Praça Heliodoro Balbi; Parque Centro de Atendimento ao
Jefferson Peres; Parque Paulo Turista-CAT/Amazonastur;
Jacob; Largo Mestre Chico); 9- 1- Agência de Turismo
Farmácias/Drogarias ( Farma (Paradise Tur) 6-
Bem; Farmácias FTB, Pharma Farmácias/Drogarias ( Farma
Vida; Farmácias Pague Menos; Bem; Farmácias FTB, Pharma
Droga Rios Center; Flex Farma; Vida; Farmácias Pague
Farma Bem; Farma Manaus; Menos; 2 Santo Remédio); 5-
Rondofarma; 5- serviços e serviços e equipamentos de
equipamentos de apoio ( Foto apoio ( Banco Santander;
Matriz; Lima Color; Banco Bradesco;Itaú; Galeria Dubai e
Bradesco; Banco Itaú; Banco Caixa Eletrônico 24 horas).
Bradesco).

Fonte: Elaborado pela autora com base na ficha observacional (Apêndice B)

Em síntese, tais parâmetros de análise dos logradouros na perspectiva de


conjunto auxiliam na inserção de uma nova categoria analítica que podem ser
utilizados tanto pela iniciativa pública e privada bem como pela comunidade científica
no embasamento teórico-prático dessa ferramenta de diagnóstico da oferta turística
de um destino.
332

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todo o processo de investigação realizado nesse estudo, originou-se da


premissa epistemológica de que o turismo é essencialmente interdisciplinar e
integrador das partes existentes correlacionadas entre si, retroalimentando-se
sistematicamente (teoria dos sistemas). Nesse sentido, a temática do turismo urbano
integrou conhecimentos transversais da geografia, arquitetura e cultura na busca pela
valorização interpretativa do patrimônio edificado tendo como eixo norteador a
experiência turística. O contexto sistêmico e dialético adotado, perpassando pela
abordagem ecológica e política de Ashworth (1989), proporcionou o incremento
associativo dos autores e suas respectivas categorias de análise no que tange ao
espaço vivido, percebido e concebido de Henri Lefebvre (1974), a formação
socioespacial de Milton Santos (1977), a teoria do espaço turístico de Boullón (2002)
e análise dos caminhos (ruas/avenidas) de Castrogiovanni (2013). Resumidamente:
1) Lefebvre e Santos de forma clássica abordam a práxis social na formação do
espaço; 2) Ashworth menciona o turismo urbano apenas nas questões teóricas, não
especificando as avenidas como atrativo turístico e 3) Boullón e Castrogiovanni
discutem conceitualmente e sistematicamente os logradouros e caminhos como
elementos do espaço urbano turístico, no entanto, também não são específicos para
uma rua e/ou avenida em conjunto com seu entorno na composição da oferta turística.
Ou seja, tais autores, possibilitaram o incremento metodológico e arcabouço teórico
dessa tese, porém, nenhum deles abordou a questão das avenidas na perpectiva de
conjunto com o patrimônio edificado no contexto da fruição turística de uma localidade,
sendo esse um dos aspectos de ineditismo desse estudo.
Desta forma, a trajetória metodológica utilizada forneceu subsídios para a
análise dos resultados alcançados e elaboração na empiria proposta por meio dos
logradouros pesquisados (avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro), oferecendo
assim um caráter inovador da tese na junção desses referenciais teóricos-
metodológicos. As estratégias adotadas para alcançar os objetivos propostos
seguiram etapas de pesquisa baseadas nas abordagens de análise do turismo urbano
de Ashworth (1989): A) Política: ações nas escalas federal, estadual e municipal
implementados no Centro Histórico de Manaus que influenciaram na preservação do
333

patrimônio histórico edificado bem como na configuração da paisagem estudada; B)


Ecológica: estudo da morfologia (questões históricas por meio da dialética
tridimensional de Lefebvre e da formação socioespacial de Milton Santos) no
entendimento de que os logradouros analisados são resultados dessa construção
dialética entre espaço e sociedade, um produto social. A lógica da oferta, da leitura e
tipologia da paisagem da cidade de Boullón e Castrogiovanni com suas variáveis de
análise dos caminhos (ruas/avenidas) também auxiliam na estrutura de identificação
e elaboração dos parâmetros de atratividade turística dos logradouros na perspectiva
de conjunto com suas edificações.
A cidade, o espaço urbano e a realidade urbana não podem ser concebidas
apenas como locais de produção e consumo, onde espaço e tempo são entendidos
como produtos da prática social. Assim, a aplicação das categorias de análise de
Lefebvre nos supracitados logradouros deu-se da seguinte forma no encadeamento
da tese:
1. Espaço vivido: aspectos do presente (usos comerciais, residenciais,
institucionais além do turismo) que caracterizam e atribuem valor ao Centro
Histórico de Manaus além da vivência nas situações evolutivas do lugar
(passado) com o foco nos logradouros analisados. Assim, as questões
históricas e socioeconômicas investigadas, responsáveis pela materialização
do ambiente construído, são o retrato desses fatos evolutivos, sistêmicos e
orgânicos;
2. Espaço percebido: aquilo que pode ser percebido, a materialização do espaço
e do patrimônio edificado pelos usuários do lugar (avenidas Sete de Setembro
e Eduardo Ribeiro em conjunto com suas edificações);
3. Espaço concebido ou imaginado: novos sentidos atribuídos pelo usuário, seja
ele residente ou turista, proporcionado pelos princípios da interpretação do
patrimônio alinhados a essa categoria de espaço de representação de
Lefebvre. A possibilidade de ressaltar os aspectos de historicidade das
avenidas por meio de mídias interpretativas e de roteiros turísticos, são a
concretude dos elementos potenciais de atratividade turística dispostos nesses
logradouros.
334

Salienta-se, também, que essa pesquisa é fruto da inquietação dessa


pesquisadora ao longo de sua trajetória acadêmica e profissional. Como futura
turismóloga, ao realizar um curso na Espanha pela Universidad de las Islas Baleares
(jan-1999) teve a oportunidade de vivenciar um destino turístico consolidado, no qual
deparou-se pela primeira vez com a avenida Las Ramblas (Barcelona) sendo utilizada
como atrativo turístico e com elementos interpretativos ao longo do logradouro. Como
profissional formada foi especialista em turismo na unidade executora do projeto de
Regeneração do Centro Histórico de Manaus da Prefeitura Municipal vinculado ao
órgão oficial de turismo-MANAUSTUR, projeto este contemplado no âmbito do
programa Monumenta/BID do Ministério da Cultura do Governo Federal no período de
2002-2003. Essa experiência profissional proporcionou a possibilidade de aliar o
binômio natureza e cultura como diferencial de atratividade turística para a capital
manauara, tendo como base para essa oferta histórico-cultural, o Centro Histórico de
Manaus. A partir dessa prática profissional aliada à obtida durante a graduação em
turismo (1998-2001) e MBA em marketing pela FGV (2002-2003), vislumbrou-se a
oportunidade de aperfeiçoamento stricto-sensu na realização do mestrado acadêmico
em turismo e hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí-Univali (2010-2012) por
meio da análise da Avenida Sete de Setembro como um local de conhecimento,
reafirmação da identidade local e diferencial no desenvolvimento turístico da cidade.
Diante desse aprendizado adquirido profissionalmente e academicamente, o processo
de doutoramento ora realizado, oportunizou à essa pesquisadora a construção de uma
proposta integradora do turismo com o espaço urbano, patrimônio edificado e
logradouros numa lógica interpretativa de conjunto.
O estado da arte apresentado demonstrou a falta de uniformização nas bases
teóricas acerca do turismo urbano com poucas pesquisas atuais e de revisões teóricas
bem como a inexistência de estudos científicos que retratem as ruas ou avenidas na
perspectiva de valorização cultural por meio da visão de conjunto e relação entre suas
edificações no segmento turístico. A natureza qualitativa dessa tese com a utilização
do método hipotético-dedutivo resultou na confirmação da hipótese central de que os
logradouros, em conjunto com o patrimônio edificado, são elementos de atratividade
turística que influenciam na valorização histórico-cultural de uma cidade no âmbito do
turismo urbano. Portanto, a nova teoria/lacuna identificada está na integração dos
335

conceitos de patrimônio cultural e turismo urbano na materialização interpretativa do


ambiente construído por meio dos logradouros (ruas ou avenidas) em Centros
Históricos, aspectos que ficaram dissociados e a margem da discussão acadêmica
até o presente momento. Face ao exposto, os objetivos foram estabelecidos como
resultado das lacunas encontradas na análise das produções científicas
disponibilizadas no Ebsco e Google Acadêmico, tendo como finalidade principal
analisar os logradouros enquanto avenidas, na perspectiva de conjunto como
elemento de composição da atratividade turística em Centros Históricos sob a ótica
da interpretação patrimonial no âmbito do turismo urbano. Essa proposta de tese
alicerçou-se na verificação e, por conseguinte, corroboração/confirmação da hipótese
central no intuito do compromisso com a ética científica e transparência dos resultados
pretendidos.
A elaboração das bases teóricas e conceituais da presente tese pautaram-se
nos conceitos de espaço social, espaço turístico, patrimônio e turismo urbano tendo a
cidade como seu objeto central de análise. Tais bases auxiliaram na construção da
hipótese central de pesquisa e consequentemente das secundárias, o que corroborou
teoricamente com a existência de relações entre as temáticas estudadas. Com o
percurso metodológico proposto, os objetivos específicos almejados foram
alcançados, a citar: apresentação das políticas públicas implementadas no Centro
Histórico de Manaus; descrição da oferta turística da paisagem urbana pesquisada;
narrativa do passado presente das avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro e o
estabelecimento de parâmetros interpretativos de análise desses logradouros na
perspectiva de conjunto com o seu patrimônio edificado como elemento da oferta
turística em Centros Históricos. Convertendo-se, desta maneira, no delineamento dos
caminhos trilhados durante a etapa dos resultados, que são respostas sistematizadas
dos objetivos específicos.
Isto posto, elegeu-se para aplicação dos estudos dessa tese, o Centro Histórico
de Manaus, delimitado a partir da Avenida Sete de Setembro e Avenida Eduardo
Ribeiro, pelo valor de conjunto potencializado associado ao seu acervo de elementos
acumulados ao longo do tempo, vinculados ao cotidiano dos residentes e às
atividades portuárias, comerciais e de serviços desenvolvidas na área. Atualmente,
essa porção urbana é formada por edificações ecléticas remanescentes do Ciclo da
336

Borracha (séculos XIX e XX) mesclada à edifícios modernos advindos da


implementação da Zona Franca de Manaus (1967). Nesses logradouros, estão
localizados a maior parte do patrimônio edificado protegido, que também são
utilizados como atrativos turísticos. A poligonal de tombamento federal do Centro
Histórico de Manaus foi estabelecida a partir da Avenida Sete de Setembro (Eixo X),
seguindo o sentido do fluxo do Rio Negro para o norte, e com a Avenida Eduardo
Ribeiro (Eixo Y), resultado do desenho urbano do padrão tabuleiro de xadrez
estabelecido nas bases de construção da cidade. A justificativa apresentada pelo
IPHAN-AM para o acautelamento do Centro Histórico de Manaus, disposta no dossiê
de tombamento (2008), é que essa área é depositária de um universo maior que foi a
história de Manaus, resultado de um dos mais importantes ciclos econômicos
brasileiros (borracha), expressada pelo ecletismo e pelo urbanismo racionalista de
Hausmann, revelando uma cidade fragmentada de vocabulário arquitetônico vasto e
diversificado, no qual todas as correntes ecléticas se encontram representadas.
Com base no levantamento bibliográfico, iconográfico, relatos de historiadores
e em documentos oficiais do IPHAN-AM, as vias que saiam do ponto central da cidade,
já estavam traçadas indicando a intencionalidade do poder público em empurrar a
selva amazônica para longe, rumo ao norte, uma vez que as ações objetivavam a
adequação da cidade à nova demanda populacional bem como caminhavam no
sentido de dotá-la de um traçado urbano que expandisse seus limites para além do
núcleo urbano provincial, estabelecendo algumas vias de ligação com futuras áreas
de povoamento, proporcionando investimento no setor de transportes, nivelando
aterros, pavimentação e alargamento de ruas. A configuração do supracitado desenho
da “nova” Manaus primava pelo estabelecimento de uma malha ortogonal com o
cruzamento de ruas perpendiculares entre si largas e arborizadas, confluindo para
uma praça composta por edifícios institucionais monumentais. Essa relação entre
espaço aberto/edifício público e a preocupação de dispor nas áreas livres, obras de
arte/pontos focais – coretos, esculturas, fontes - compõem o cenário ideal para a vida
urbana manauara da época. Destaca-se que do pequeno núcleo colonial, resta
apenas o traçado urbano sinuosamente orgânico (provavelmente do entorno do Paço
da Liberdade) em contraponto à racionalidade reta do traçado saído das pranchetas
do planejamento urbano do século XIX. Convém ressaltar no período de 1890 e 1910,
337

as duas principais vias de comercialização de mercadorias importadas e para


exportação em Manaus eram: a avenida Eduardo Ribeiro e a rua Municipal, atual
avenida Sete de Setembro. Portanto, esse objeto de investigação é um compilado de
transformações sócio-evolutivas e urbanas, resultado de um denso processo histórico
social influenciados pelos dois principais ciclos econômicos de Manaus: Borracha e
Zona Franca.
O objeto empírico da pesquisa, evidenciou a representatividade turística-
cultural das avenidas, levando a considerá-las como um conjunto patrimonial histórico
que pode ser melhor aproveitado pela dinâmica turística do lugar. No entanto, é
importante destacar que a localização e relevância histórica dos logradouros
pesquisados guarda estreita relação com o Porto de Manaus, por ele ser o único
entreposto comercial e de viajantes com destino para Manaus no final dos séculos
XIV e início do XX, auge do ciclo da borracha. O fluxo de pessoas, mercadorias,
infraestrutura estabelecida além da movimentação cultural e comercial da época,
necessariamente passavam pelas avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, que
acabavam sendo um reflexo da dinâmica dessa área portuária.
As políticas públicas implementadas permitem a organização dos dados de
proteção e normatização do conjunto patrimonial localizados no Centro Histórico de
Manaus bem como são uma resposta às necessidades de conservação e valorização
desse espaço como retrato da memória e identidade da sociedade manauara.
Favorecendo, desse modo, o uso do patrimônio edificado da área, de forma individual,
como recurso turístico por agências de turismo e fluxo intenso de visitantes, sejam
eles turistas ou residentes. Sendo assim, a descrição das políticas públicas, a lógica
da atividade turística local e a narrativa sócio-evolutiva do ambiente construído nas
paisagens urbanas dos logradouros analisados são o reflexo do espaço vivido,
percebido e concebido da Lefebvre e a formação socioespacial de Milton Santos no
âmbito da abordagem política e ecológica do turismo urbano de Ashworth.
Alicerçados em Ashworth; Lefebvre; Santos; Boullón e Castrogiovanni,
elaborou-se uma ficha observacional contendo a sistematização de informações
obtidas documentalmente e na observação de campo, originando, desta forma, a
propositura de quatro dimensões de identificação turística dos logradouros. Assim,
aliadas à análise dos modelos existentes de diagnóstico da oferta turística do
338

Ministério do Turismo e do patrimônio cultural sob a responsabilidade do Instituto do


Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN, foram propostas quatro dimensões
de identificação das potencialidades turísticas dos logradouros aplicados em Centros
Históricos: a) Dimensão normativa-D1; b) Dimensão morfológica de conjunto-D2;
c) Dimensão interpretativa patrimonial-D3 e d) Dimensão turística-D4. A estrutura
dessa ficha, reuniu as categorias de análise utilizadas distribuídas nas quatros
dimensões da seguinte forma: 1) Abordagem Política de Ashworth refere-se as
políticas públicas e ações governamentais congregando a D1-normativa e 2)
Abordagem Ecológica referente a ao aspecto da morfologia das áreas urbanas que
reúne as três dimensões restantes: D2- morfológica de conjunto; D3- interpretativa
patrimonial e D4- turística. Tais parâmetros apresentam-se como normas, critérios, e
estratégia operacional como uma matriz de indicações das etapas a serem seguidas
e sobretudo, um processo avaliativo de monitoramento de contínuo e sistemático do
diagnóstico.
A contribuição teórico-prática dessa tese é auxiliar gestores, trade turístico,
turismólogos e demais estudiosos a discutirem esse aproveitamento turístico das ruas
e avenidas associadas ao patrimônio edificado e ainda como vetor de valorização do
plano de tombamento do patrimônio cultural edificado, proporcionando a sua utilização
como um elemento compositivo do plano de desenvolvimento do turismo urbano em
uma localidade, não só aplicado ao Centro Histórico de Manaus, mas também a
possibilidade de replicação desses parâmetros de análise em outros logradouros
localizados nos demais centros históricos, situados no Brasil ou em outros países. O
ineditismo também reside na prática do turismo urbano em uma cidade cravada no
meio da maior floresta tropical do mundo, onde o apelo natural é predominante na
discussão teórica e o maior desafio resulta na harmonia entre natureza e urbano,
tendo a cidade como diferencial de atratividade turística utilizando o seu patrimônio
edificado em conjunto com seus logradouros (ruas/avenidas). Uma nova imagem ao
produto turístico Centro Histórico é um estímulo necessário para além das edificações,
expandindo a percepção sobre o patrimônio cultural presente na cidade de Manaus,
pois a inalterabilidade em divulgar sempre a mesma coisa, acaba limitando as
gerações atuais de mais conhecimento sobre o patrimônio local, dificultando o
surgimento de novos roteiros turísticos para qualificar a experiência vivida no destino.
339

O reconhecimento das dificuldades encontradas deve ser compreendido como


sugestão para a realização de futuras pesquisas. As principais limitações da tese
foram poucas produções científicas específicas sobre logradouros como patrimônio
cultural e turístico no âmbito do turismo urbano e cultural além da escassez dos
registros iconográficos com a precisão de datas e textos narrativos da historicidade
das avenidas pesquisadas. A generalização dos resultados é outra limitação, já que a
pesquisa se aplica apenas para o lócus do universo estudado, no caso em tela: a
análise das Avenidas Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro. Portanto, recomenda-se
a expansão para outras ruas e avenidas no Centro Histórico de Manaus bem como
estudos futuros em outros Centros Históricos com conjuntos urbanos protegidos e
significativos nos municípios brasileiros tendo por finalidade testar a aplicação do
instrumento de diagnóstico turístico com as categorias de análise propostas. Outra
oportunidade de pesquisas futuras seria investigar o raio de influência do ambiente
construído com as áreas portuárias, principalmente o traçado urbano materializado
pelas suas ruas e/ou avenidas, concomitantemente estabelecendo a conexão entre a
infraestrutura turística, dos portos, das avenidas localizadas em Centros Históricos e
seus impactos no turismo local. Considerar essa área como um circuito turístico-
cultural entre os destinos de Manaus e Belém por meio das águas que conectam
essas duas cidades, também demostra ser uma possibilidade de investigação
científica com um olhar pelos seus rios aliado ao patrimônio cultural existente nesses
locais de referência histórica, cultural e turística da região amazônica.
Outrossim, vislumbrar a elaboração de cartas patrimoniais que forneçam
orientações específicas (igualmente às existentes para jardins históricos) para a
salvaguarda de ruas/avenidas de valor histórico-cultural em áreas urbanas
proporcionando a perenidade na proteção, uso e função social dos bens preservados
institucionalmente no entorno desses logradouros, também são uma oportunidade de
reflexão teórica-prática no que tange a temática patrimonial. As implicações teóricas
dessa tese, proporcionaram a possibilidade de diálogo de duas teorias já consolidadas
cientificamente: Sistêmica e a Dialética. Tal aplicação requer a necessidade de maior
amplitude e aprofudamento nessa discussão para embasar instrumentos e lacunas
teóricas de futuras pesquisas.
340

No entendimento de Meneguello (2000) o fato patrimonial congrega três


aspectos na sua função: 1) o destino das obras e objetos; 2) a representação da
coletividade e a 3) interpretação do passado, por esse aspecto, percebeu-se, a
representatividade dos conjuntos urbanos na perspectiva dos logradouros, para além
das edificações. A ambiência preservada do entorno do patrimônio edificado como
uma moldura da edificação e restauro de uma atmosfera temporal fortalece a
preservação dos bens culturais e por consequência a possibilidade do seu uso como
atrativo turístico. Essas ambiências com seus ritmos, usos e significados comuns
quando compartilhados coletivamente, são indicativos da possibilidade de apontar um
logradouro (rua/ avenida) como um retrato da sociedade local, onde seu espaço
público é representativo de um movimento social, cultural e econômico tal como a
permanência interpretativa da vivência turística no ambiente construído. A partir daí,
conclui-se que turismo é uma prática de consumo com apropriação social e espacial,
tendo o ser humano como centralidade da experiência, seja ele visitante ou residente,
possibilitando a geração de valores de pertencimento e identidade no uso coletivo e
individualizado dos recursos turísticos.
A representatividade dos conjuntos urbanos na perspectiva dos logradouros
está na cena, não somente no edifício isolado, o que importa é o conjunto da cena, a
historicidade das avenidas com o ambiente construído do seu entorno legalmente
protegido e preservado. Tal ambiência do patrimônio edificado atua como uma
moldura da edificação e restauro de uma atmosfera temporal fortalecendo a
preservação dos bens culturais, a vitalidade do lugar, o diálogo entre o poder público
e a sociedade civil.
341

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374

APÊNDICE- A: Quadro-síntese das 38 publicações cientificas e suas contribuições.

ARTIGO/ANO DE OBJETIVO TIPOLOGIA/ CONTRIBUIÇÕES


PUBLICAÇÃO METODOLOGIA DE
ESTUDO

A significância do Centro
Histórico Initiave de
Canterbury para outros
cidades europeias muradas e
históricas são considerados
brevemente no contexto de
uma iniciativa de gestão do
centro da cidade, e o vínculos
com processos mais amplos
de planejamento urbano que
exemplifica. A Canterbury City
ESTUDO DE CASO. Um modelo Centre Initiative é forma
Analisa os problemas de sistema aberto e flexível é oficialmente adaptada de Town
gerais para as cidades usado para esclarecer o Center Management, mais de
histórica com atividade significado diferente da iniciativa 100 Town Center Management
1 LAWS, E; LE PELLEY, B. turística significativa, e para grupos selecionados de existem esquemas no Reino
Managing complexity and change então, examina o partes interessadas com Unido e na Associação da
in tourism: the case of a historic contexto, os objetivos interesses em cidade, sua Town Center Management foi
city. Case Studies. London: e direção futura da sociedade, economia, meio criada em 1991. É um
Routledge. International Journal of cidade inglesa de ambiente e ecologia. programa abrangente, em que
Tourism Research. 2, 4, 229-245, gerenciamento de autoridades públicas, setor
July 2000. visitantes de privado interesses e
Canterbury. organizações voluntárias
APLICAÇÃO DA PESQUISA: visam melhorar o padrão das
instalações, ambiente,
INGLATERRA/EUROPA. comodidade e segurança nos
centros das cidades. Este
artigo discutiu alguns dos
problemas confrontando os
gestores da histórica muralha
cidades que também são
destinos turísticos, e examinou
como um destino importante,
Canterbury, reconheceu o
particular dificuldades e
oportunidades que enfrenta, e
é respondendo a eles através
do Canterbury Iniciativa do
centro da cidade.

Explanar sobre as REVISÃO TEÓRICA No geral, em termos de turismo


principais publicações urbano em geral, o melhor
acadêmicas sobre a texto introdutório parece ser o
pesquisa em turismo de Chris Law (1993) Urban
urbano. Tourism: Attracting Visitors to
Large Cidades. De uma
GODFREY, KB; BUHALIS, D. perspectiva mais avançada,
2 Urban tourism — an ‘overview’ Judd e The Tourist City
perspective. International Journal de Fainstein
of Tourism Research. 3, 1, 77-79, (1999) definitivamente vale a
Jan. 2001. pena uma leitura. Texto da
conferência de Tyler et
al. (1998) também fornece
uma discussão muito útil da
política e questões de
planejamento que afetam o
turismo urbano, mas
igualmente mais apropriado
para um público avançado. Os
livros mencionados aqui
obviamente não são os apenas
textos sobre turismo urbano
disponíveis atualmente, no
375

ARTIGO/ANO DE OBJETIVO TIPOLOGIA/ CONTRIBUIÇÕES


PUBLICAÇÃO METODOLOGIA DE
ESTUDO
entanto, muitos outros não
revisados tendem a levar um
tema específico, como turismo
em cidades históricas, ou focar
em um aspecto particular dos
fenômenos do turismo como
marketing ou promoção. Além
disso, nenhum desses livros
(revisados ou outros sensato)
realmente lidar com o turismo
urbano fora das principais
economias “ocidentais”. O que
está faltando e dentro precisa
de alguma atenção é uma
descrição detalhada e análise
crítica do turismo urbano na
Ásia, África e América do Sul
para ajudar a completar o
básico 'urbano'
Cenário.
376

ESTUDO DE CASO. As entrevistas O que este artigo está


para o IPS são realizadas nos aconselhando, no entanto, é
BULL, P; CHURCH, A. Understanding principais pontos de entrada no Reino cuidado ao assumir que um motivo
Demonstrar a ideia de que
urban tourism: London in the early Unido, como aeroportos, portos recreativo, necessariamente
o turismo como 'prazer e
3 1990s. International Journal of Tourism marítimos e muito mais recentemente domina as razões pelas quais os
recreação' é totalmente
Research. 3, 2, 141-150, Mar. 2001. o término do Túnel do Canal, e é o viajantes podem ter por vir para um
inadequada para uma
cruzamento do nacional do Reino grande socialmente e área
compreensão mais ampla
Unido fronteira que define um metropolitana economicamente
e profunda.
indivíduo como um turista estrangeiro diversa, como Londres. No Reino
(Escritório de Estatísticas Nacionais, Unido, isso resulta diretamente na
1996). Nenhum critério de distância definição adotada pelas principais
percorrida está envolvido aqui, fontes estatísticas fontes para que
apenas o cruzamento de uma os turistas se tornem viajantes,
fronteira. Esse método só é possível independentemente do propósito,
devido ao status de ilha do Reino quem pernoita em seu destino. Ao
Unido, limitado a pontos de entrada e fazer isso, o jornal destaca duas
imigração estritamente aplicada áreas para pesquisas futuras, a
legislação nacional. tendência crescente no turismo de
curta distância e a crescente
importância de visitar amigos e
parentes. Este artigo demonstrou
APLICAÇÃO DA PESQUISA: não apenas a escala, mas também
INGLATERRA/ EUROPA. a complexidade do turismo em uma
grande área urbana, como
Londres.

Este estudo investiga o ESTUDO DE CASO. Um exemplo de


papel do turismo cultural turismo cultural urbano produto de
importância internacional é usado Visitantes de fora da cidade de
na competitividade global
como um caso de estudo para esta Ontário tendem a ser mais velho do
urbana aplicado na
CARMICHAEL, BA. Global pesquisa para investigar esse que os visitantes dos EUA, gastar
4 exposição de Barnes no
competitiveness and special events in potencial ligações. A atração da menos do que os visitantes dos
Art Gallery de Ontario em
cultural tourism: the example of the exposição é examinada usando dois EUA e são mais propensos a ter a
Toronto. Museu que
Barnes Exhibition at the Art Gallery of simples modelos de gravidade para Exposição Barnes como o objetivo
abrigou essa exposição
Ontario, Toronto. Canadian descrever o efeito de diminuição da principal de sua viagem a
de pinturas
Geographer. 46, 4, 310, 2002. distância. Visitantes de fora da cidade Toronto. Este estudo ilustra a
impressionistas francesas
de Ontário são comparados com natureza de valor agregado de
'De Cézanne a Matisse,
visitantes dos Estados Unidos de eventos especiais para o produto
Grandes Pinturas
acordo com os principais propósito da cultural urbano para recreação e
Francesas, 'conhecido
viagem, dados demográficos e gastos viagens turísticas. Mostra a
como a 'Exposição
padrões de integração. complexidade e a sobreposição
Barnes'. Este evento
dos campos urbanos de uma
cultural especial afetou a
atração de Toronto para diferentes
combinação de atrações
tipos de visitantes do mesmo
do turismo urbano de
evento.
Toronto e agiu como um APLICAÇÃO DA PESQUISA:
'ímã' atraindo visitantes de
fora da cidade de Toronto
com o objetivo principal de CANADÁ-AMÉRICA DO NORTE
visitar este evento
único. Este artigo explora
o espaço impacto da
Exposição Barnes em
uma análise de
segmentação dos
visitantes da Exposição
Barnes de 'fora da cidade'
.

Levantar os principais ESTUDO DE CASO. O desenvolvimento do turismo no


atrativos e valores país, particularmente em Varadero,
culturais da cidade de requer para seu sucesso uma
Matanzas com interesse diversificação de seu produto
turístico, destacando-se a APLICAÇÃO DA PESQUISA: CUBA/ turístico, que requer a incorporação
tendência de incremento AMÉRICA CENTRAL. de atrações e incentivos
GONZÁLEZ, SC. Principales atractivos do turismo cultural em a relacionadas com o patrimônio e os
5 para el turismo cultural en Matanzas. região como uma das valores culturais da região. A
Retos Turísticos. 2, 2/3, 1, Aug. 2003. premissas fundamentais cidade de Matanzas com seu
da diversificação do centro histórico é chamado a
*Publicação em língua espanhola. produto sol e praia. satisfazer essa necessidade em
correspondência com a tendência
da indústria do turismo deve
converter a modalidade de turismo
cultural em um dos atrativos mais
atraentes crescimento no futuro.
Nesse sentido, a pesquisa
377

realizada viabiliza a proposição de


projetos de produtos turismo
cultural, baseado no patrimônio e
no valor cultural do centro histórico
urbano da cidade de Matanzas,
materializada no desenvolvimento
histórico e cultural, econômico,
seus atrativos arquitetônicos,
paisagem e planejamento urbano,
monumentos, palácios, praças,
ruas, tradições, crenças,
personalidades e a idiossincrasia
de seu povo. O procedimento
apresentado para realizar o
diagnóstico e poder conceber um
produto turístico integrado ao
patrimônio e aos valores culturais
da cidade constitui uma ferramenta
relevante estabelecer estratégias
de desenvolvimento turístico por
parte de instituições, atores sociais
e empresariais no processo de
inserção do turismo cultural na
oferta do destino turístico de
Varadero.

ESTUDO DE CASO. O uso de vários


métodos de pesquisa em uma forma
Uma competição maior entre
entrevistas em grupo, método
cidades e regiões para atrair
“Delphi” e "estudo de caso" (métodos
receitas e investimentos turísticos
de três lados) -, tem revelou-se um
recebidos levou a uma ênfase
ponto forte da metodologia. Por outro
particular na diferenciação de o
lado, como será mostrado mais tarde,
produto, onde a cultura e a herança
RODRIGUES, A. The delphi technique a técnica “Delphi”, embora revelando
aparecem como elementos
6 applied to urban and cultural tourism algumas dificuldades de aplicação, e
determinantes. Existem interesses
research in the algarve. Tourism & Avaliar a existência de não sendo um instrumento de decisão
mútuos entre turismo e patrimônio
Management Studies. 2, 110-118, Jan. turismo nas vilas de Faro nem sendo frequentemente usado no
cultural na gestão, conservação e
2006. e Silves e propostas de turismo, tem sido muito útil para o
apresentação dos produtos de
fomentar tais atividades tratamento de informação qualitativa.
patrimônio cultural, no entanto,
no futuro.
ambos os setores ainda atuam em
planos paralelos, mantendo uma
parceria com pouco diálogo
(Benediktsson, 2004). Uma análise
APLICAÇÃO DA PESQUISA: das implicações resultantes dos
PORTUGAL (EUROPA). cenários avançados, possibilita a
introdução de melhorias, para que
Algarve renove sua competitividade
e no caso das cidades em estudo,
para que se afirmem como turistas
oferta complementar. esta
pesquisa tenha dado uma
contribuição principal para a união
de cultura, herança cultural e
agentes de turismo, e também para
demonstrar a necessidade de
trabalho estratégico entre o público
e o privado setores, para um melhor
uso do patrimônio cultural enquanto
recurso turístico.

Identificar os principais ESTUDO DE CASO. O modelo é


testado com dados qualitativos Esta pesquisa indica que embora
fatores que moldaram o
recolhidos através de entrevistas existam fatores gerais que
desenvolvimento do
7 MURPHY, C; BOYLE, E. Testing a aprofundadas com pessoal que tem contribuem para desenvolvimento
turismo cultural nas
conceptual model of cultural tourism vários graus de responsabilidade para bem-sucedido do turismo cultural
cidades pós-industriais no
development in the post-industrial city: A o desenvolvimento econômico, na cidades pós-industriais no Reino
Reino Unido e a apresenta
case study of Glasgow. Tourism & turístico e cultural em Glasgow. Unido, local contextual de
em um modelo conceitual,
Hospitality Research. 6, 2, 111-128, características são influentes,
examinando o contexto na
Feb. 2006. tornando o desenvolvimento único
transformação de muitas
para cada cidade.
cidades do Reino Unido. APLICAÇÃO DA PESQUISA:
INGLATERRA/ EUROPA
O turismo urbano é um mercado
turístico em crescimento e,
especialmente, são atraentes as
cidades de Europa. A invisibilidade
do turismo nas cidades, em parte
378

JURDANA, DS; SUŠILOVIĆ, Z. Analisar os principais REVISÃO TEÓRICA. decorre do fato de que muitas
8 Planning City Tourism development: atributos, princípios e instalações são utilizadas tanto por
Principles and Issues. Tourism & objetivos do turismo nas residentes quanto por
Hospitality Management. 12, 2, 135- cidades visitantes. Melhorando essas
144, Dec. 2006. instalações, portanto, oferecem
benefícios para os residentes
locais, além de auxiliar na
promoção do turismo. O plano de
desenvolvimento do turismo da
cidade deve ser preparado como
parte integrante da economia
global e social plano de
desenvolvimento da cidade, com o
objetivo principal de integrar o
turismo urbano existente
desenvolvimento e, ao mesmo
tempo, prevenir situações de
conflito. O desenvolvimento do
turismo na cidade precisa de um
relações de rede e cooperativas
entre o governo local, organização
turística, agências de turismo e
diferentes organizações/
instituições da cidade; parceria
público-privada é uma obrigação. O
turismo nas cidades está se
desenvolvendo de forma muito
intensa nas últimas décadas.
Cidades são agora não apenas um
importante mercado gerador, mas
também um importante mercado
receptivo e destino “que tem que
ser visitado”. Variedade de oferta
turística, atributos especiais e
relacionamentos e problemas
complexos são imanentes para
destinos urbanos. Cidades são
complexo multidimensional e
turismo é (geralmente) apenas uma
parte de todo o conjunto econômico
sistema. A melhoria da qualidade
da oferta turística tem dois objetivos
finais: (a) melhorar a satisfação dos
turistas e (b) melhorar as condições
e bem-estar dos locais
moradores. Como as cidades são
um dos mais importantes
marcadores de imagem da Europa
continente é realista esperar um
maior desenvolvimento do turismo
nas áreas urbanas.

ESTUDO DE CASO. Baseia-se em


dados secundários e primários como
envolvimento pessoal. Em primeiro
lugar, planos relevantes para o
turismo e áreas urbanas em geral
desenvolvimento foram revisados O desenvolvimento do turismo tem
para identificar as principais sido parte integrante de estratégia
tendências e pontos de decisão. Três geral de desenvolvimento
Documentar os esforços conjuntos de documentos municipais urbano. A melhoria ambiental tem
que uma cidade na China foram analisados e informações melhorou a imagem e a
tem feito para conectar o relevantes, resumindo: 1) Planos competência competitiva da
meio ambiente ao oficiais de Dalian, intitulados Plano cidade. Multifuncionais instalações
desenvolvimento Diretor da Cidade de Dalian (do mais urbanas foram construídas, como
econômico com o cenário antigo para a década de 1950 até o centros de conferências que são
global. Pouco depois que mais recente para a década de 2020) destinadas e utilizadas por clientes
a China foi aberta para e o Dalian Tourism Plano Diretor com múltiplas finalidades. O
o mundo exterior em (como o último concluído em turismo está bem estabelecido lida
1978, os funcionários de 2005); 2) os documentos da política em Dalian e tem sido um meio de
9 GUIRONG, X; WALL, G. Urban Tourism Dalian tiveram a visão de para construção urbana; e 3) os facilitar o desenvolvimento urbano
in Dalian, China. Anatolia: An incluir turismo em seus levantamentos e estatísticas da ao invés de um fim em si
International Journal of Tourism & planos urbanos. cidade, mediante no qual o Plano mesmo. Apesar dos esforços para
Hospitality Research. 20, 1, 178-195, Mestre de Turismo de Dalian em 2005 exercer uma presença global, a
June 2009. foi baseado. Em adição aos cidade é atualmente mais influente
documentos em nível de cidade, uma no nível regional do que no global.
revisão das políticas e regulamentos
de planejamento em nível nacional e
níveis provinciais relacionados com
cidades na China. Buscou-se o
envolvimento das partes interessadas
tanto no desenvolvimento do centro
379

de conferências em Dalian e em todo


o desenvolvimento do turismo urbano
processo. Além disso, atas de
reuniões municipais e relatórios da
mídia foram consultados a fim de
aumentar a base de informações. Em
segundo lugar, 61 entrevistas (32
pessoalmente e 29 por telefone)
foram realizadas em Dalian, entre
julho e setembro de 2006 com
funcionários do governo e políticos,
incluindo membros das Secretarias
Provinciais e Municipais de Turismo,
Planejamento, Construção e
Proteção Ambiental, e outras
Municípios e funcionários municipais
As análises foram realizadas a partir
de perspectivas nacionais e regionais.
As perspectivas nacionais foram
derivadas principalmente de
documentos publicados e a
internet. A perspectiva provincial foi
omitida porque Dalian é uma cidade
especial na China com quase a
mesma autoridade de uma
província. Escala regional refere-se à
cidade de Dalian e à região sob sua
jurisdição. Juntas, as fontes
secundárias e entrevistas forneceram
uma compreensão aprofundada
posição da criação de equipamentos
urbanos, principalmente da
perspectiva do governo.

APLICAÇÃO DA PESQUISA:

CHINA/ÁSIA.

Com o projeto de geoturismo,


Montreal se tornou um líder em
termos de geoturismo. Mesmo que
a cidade tenha sido usada como um
projeto piloto, os resultados foram
imediatos. O conceito de
geoturismo pode ser aplicado a
outras formas de destinos, sejam é
10 um país, é uma região, etc. Esta
Este estudo de caso ESTUDO DE CASO. Qualitativo avenida do geoturismo,
JOLY, M; VERNER, A; CÔTÉA, A. explora como Montreal se
sobre o projeto de Geoturismo de principalmente aquela que se
Urban geotourism: the case of Montreal. tornou a primeira cidade
Montreal. centra na área urbana destinos, é
E-Review of Tourism Research. 7, 6, do mundo a aderir ao
um conceito que ainda está em
124-132, Dec. 15, 2009. National Geographic
seus primeiros dias. Algumas das
Geotourism Charter e
maiores cidades do mundo agora
para desenvolver um
estão de olho em Montreal e já
Mapguide de geoturismo
APLICAÇÃO DA PESQUISA: abordaram a National Geographic
urbano.
Sociedade a aderir à Carta do
CANADÁ-AMÉRICA DO NORTE Geoturismo. Montreal agora tem
em mãos a possibilidade
permanecer na liderança nesse
assunto e na implementação de
novas tecnologias relacionadas
com o geoturismo é uma excelente
forma de permanecer nesta
posição.

A avaliação da capacidade
ambiental é uma valiosa ferramenta
DE OLIVEIRA, FV. Capacidade de Neste artigo são
para planejamento turístico. O
carga em cidades históricas.: carrying apresentados os
REVISÃO TEÓRICA. Pesquisador principal é determinar até que ponto
capacity in historic cities. Revista conceitos de capacidade
com origem no Brasil/ América Sul. um meio ambiente pode suportar
Brasileira de Pesquisa em Turismo. 4, 1, de carga e capacidade
uma intervenção, sem que a
61-75, Apr. 2010. ambiental vinculando-os
mesma danifique ou prejudique a
ao manejo de cidades
característica principal deste local.
históricas dentro dos
11 As cidades históricas e turísticas
com desejo de fomentar o turismo
380

pressupostos do turismo devem, necessariamente, delimitar


sustentável. suas capacidades de crescimento,
para geração de riquezas através
de sua economia diversificada e,
sobretudo, bem estar de sua
população, principal objetivo do
estudo de capacidade ambiental.
381

ESTUDO DE CASO. Uma pesquisa por


questionário foi realizada para coletar
dados primários para este estudo
(março -abril de 2008). O questionário
reuniu informações sobre os principais O turismo cultural constitui uma
estratégia alternativa de
aspectos sociodemográficos e
econômicos características de 350 desenvolvimento urbano sustentável
residentes em Gwangju. Além disso, o para melhorando a qualidade de vida. O
estudo mediu os residentes percepções principal objetivo desse tipo de turismo
do turismo cultural, relacionadas com os é transformar regiões caracterizado por
campos da economia, comunidade e recursos culturais em locais ideais para
cultura. Três limitações gerais do estudo férias, residência ou negócios.
podem ser identificadas. A pesquisa foi Verificou-se que a maioria dos
12 Youngsun, S. Residents' Perceptions of Examinar as percepções dos realizada durante a temporada turística respondentes tinha conhecimento da
the Impact of Cultural Tourism on Urban residentes sobre o turismo cultural na importância do turismo cultural e que
(meses de julho e agosto), que é um
Development: The Case of Gwangju, cidade de Gwangju, Coreia. período densamente povoado para a eles argumentaram que ele poderia
Korea. Asia Pacific Journal of Tourism contribuir para o desenvolvimento
área urbana, e este fato possibilitou
Research. 15, 4, 405-416, Dec. 2010. tanto temporário quanto residentes urbano. Os resultados também sugerem
que existe uma forte relação entre o
permanentes da área urbana para
responder ao questionário. Os dados caráter dos entrevistados
coletados foram analisados usando características e suas percepções sobre
estatística descritiva para calcular as o impacto do turismo cultural no
desenvolvimento urbano.
médias e desvios padrão de variação
contínua e as frequências e
percentagens de variáveis categóricas.

APLICAÇÃO DA PESQUISA: KOREA/


ASIA
ESTUDO DE CASO. Diagnóstico
13 turístico e morfológico do Centro
Histórico de Camaguey.
1.Cidades com diversidade cultural:
GONZÁLEZ GONZÁLEZ, R. Modelo de possibilitam a configuração de produtos
estructuración territorial de servicios turísticos de espaços físicos e serviços
turísticos: Camagüey: Territorial para o uso de moradores da cidade e
structure model of tourist services: APLICAÇÃO DA PESQUISA: visitantes em igualdade de condições;
Aplicar o modelo de estruturação
Camaguey. Retos Turísticos. 10, 1/2, territorial de serviços turístico na 2. A estrutura dos serviços na cidade de
50-57, Jan. 2011. cidade de Camaguey. CUBA/ AMÉRICA CENTRAL. Camagüey se comporta, em termos de
número de instalações, como a de uma
cidade dedicada ao turismo
cultural; onde a cidade tradicional
persiste como centro da cidade.
3. A partir do diagnóstico dos setores, a
acumulação de atividades
incompatíveis e espaciais recursos
subutilizados em um modelo
monocêntrico com um desequilíbrio nas
funções e pouca animação do sistema
central.
4. O modelo de estruturação do serviço
mostra a proposta de balanços de
animação por a vocação de cada setor
com base no modelo policêntrico.

O objetivo principal deste trabalho é ESTUDO DE CASO. O uso da Os resultados do trabalho sugerem,
CALVO-MORA, A; et al. Determining identificar ações que pode melhorar a metodologia Concept Mapping (CM). além do validade e adequação da
14 factors of a city's tourism attractiveness. atratividade turística de uma cidade, Esta metodologia combina informações metodologia, que atratividade de um
Tourism & Management Studies. 7, 9- especificamente Sevilha, e em qualitativas fornecidas por especialistas destino turístico pode ser melhorado
23, Jan. 2011. segundo lugar, para testar/avaliar a e informações quantitativas obtidos a pela implementação de um conjunto de
metodologia de mapeamento de partir de técnicas estatísticas planos privados ligados ao seu
conceito quando aplicada para a multivariadas. Um mapa conceitual é posicionamento turístico,
conceituação de construções um tipo de mapa conceituação que pode conscientização dos moradores, o
complexas associados à gestão do ser usada para desenvolver um quadro melhor uso da cultura e riqueza social e
turismo. conceitual sobre o qual basear uma a rica herança, bem como a melhoria da
avaliação e / ou projeto de planejamento infraestrutura e do público e gestão
para uma determinada situação e que privada do turismo.
envolve a participação de um grupo de
trabalho
382

APLICAÇÃO DA PESQUISA:
Espanha/Europa.

Examinou o sucesso fatores de


WANG, S; YAMADA, N; BROTHERS, L. ESTUDO DE CASO. Existe uma lacuna
desenvolvimento do turismo cultural
A Case study: discussion of factors and no corpo de conhecimento sobre o
urbano. Especificamente, este estudo Os resultados indicaram que todos os
challenges for urban cultural tourism turismo cultural urbano, como um
teve como objetivo alcançar o fatores foram considerados altamente
15 development. International Journal of número de estudos, incluindo Murphy e
seguinte: (1) Testando o conceito de inter-relacionados e interdependentes
Tourism Research. 13, 6, 553-569, Nov. o Modelo conceitual de Boyle, apenas
Murphy e Boyle (2006) modelo real no uns dos outros, o que pode ter
2011. sugeriu possíveis chaves, como
contexto da aplicação para um contribuído para a falta de qualquer fator
destino como Indianápolis; (2) diversidade de atividades,
vantajoso. As descobertas sugeriram
Identificar quaisquer fatores distintos conhecimento das características do
que a falta de fatores vantajosos pode
para Indianápolis no desenvolvimento viajante, colaboração privada e / ou
ser porque todos os fatores estavam
do turismo cultural; (3) Avaliar as orgulho cívico entre outras. Se um
altamente relacionados e aquele defeito
expectativas atuais e por decisões padrão de fatores para o sucesso
de um fator no marketing afetam
realizadas por profissionais das desenvolvimento existe, outras cidades
facilmente o desempenho de todos os
indústrias indianas do turismo no que poderiam emular esses padrões e
outros fatores. O desenvolvimento do
diz respeito ao núcleo fatores no desenvolver com mais sucesso turismo
turismo cultural de uma forma menos
desenvolvimento do turismo cultural; cultural urbano. A pesquisa é
competitiva no destino pode estar mais
(4) Identificar, para Indianápolis, necessária para investigar fatores de
relacionado a problemas elementares,
qualquer lacuna entre a expectativa sucesso para cultura no
como governamentais, liderança e
atual de importância e desempenho desenvolvimento do turismo. Estudo
financiamento, em vez dos fatores
real percebido no que diz respeito aos qualitativa e quantitativo. Para a parte
importantes enfatizados na teoria
principais fatores culturais qualitativa, entrevistas
modelos. As atitudes e comportamento
desenvolvimento do turismo e (5) semiestruturadas foram realizadas para
dos residentes pode ser importante
Explorando os desafios enfrentados identificar fatores importantes no
porque interações entre turistas e
por Indianápolis no desenvolvimento desenvolvimento cultural turismo
residentes têm um efeito significativo na
do turismo cultural. usando o modelo teórico desenvolvido
satisfação dos visitantes com o destino
por Murphy e Boyle (2006). Na parte
(Pizam et al 2000). Em outras palavras,
quantitativa, a importância dos fatores
uma estratégia de marketing
identificados foi ainda examinada e
convencional baseada em um modelo
avaliada em relação à sua real
teórico ou a identificação de um a força
realização em Indianápolis. Os
do destino pode não ser completamente
resultados das entrevistas forneceram
aplicável e outras variáveis podem
uma base para elaborar um
existir que deve ser adicionado à
questionário. Fatores incluídos nos
estrutura cultural desenvolvimento do
quatro temas recém-identificados, além
turismo. Sem um avanço nestes
dos fatores no modelo teórico de
elementos, outros esforços de
Murphy e Boyle (dois fatores foram
marketing que dependem de premissas
excluídos do modelo conceitual devido à
convencionais podem acabar sendo
sua inadequação para a situação de
muito menos fecundo.
Indianápolis).

APLICAÇÃO DA PESQUISA:
INDIANAPÓLIS-EUA-AMÉRICA

Descobrimos que a teoria de Savitch e


Kantor do desenvolvimento urbano é
apenas parcialmente útil para explicar o
desenvolvimento divergente do turismo
urbano trajetórias. Um estado unitário
ESTUDO DE CASO. O estudo de caso centralizado não leva necessariamente
é parcialmente baseado em um centro urbano social a uma trajetória
16 ÖZTÜRK, HE; TERHORST, P. Variety Neste artigo, aplicamos a teoria de documentos e em parte em entrevistas de desenvolvimento, mas pode ser uma
of Urban Tourism Development Savitch e Kantor ao desenvolvimento pessoais com representantes do setor pré-condição para uma construção
Trajectories: Antalya, Amsterdam and do turismo urbano de Antalya, público, semiprivado e organizações urbana neoliberal estratégia de
Liverpool Compared. European Amsterdam e Liverpool. privadas do setor de turismo. desenvolvimento vista em Antalya e
Planning Studies. 20, 4, 665-683, Apr. Liverpool. E embora as condições do
2012. mercado sejam favoráveis, um apoio
APLICAÇÃO DA PESQUISA: intergovernamental integrado, um
controle popular bem desenvolvido e
TURQUIA, HOLANDA E INGLATERRA uma cultura pós-materialista permitiu
( EUROPA). que Amsterdã seguisse uma política
urbana socialmente centrada, sem
intenção e paradoxalmente resultou na
gentrificação e uma mercantilização do
patrimônio e cultura. Uma forte política
urbana socialmente centrada em uma
primeira fase criou um ambiente urbano
que foi explorado por gentrifiers e pela
indústria do turismo em um estágio
posterior.

O objetivo principal é desenvolver O campo de pesquisa do turismo urbano


REVISÃO TEÓRICA relacionando
JANSEN-VERBEKE, M; Sun, Y. New ferramentas e conceitos que já possui uma longa tradição e se
com o turismo urbano na China.
Scripts for Urban Tourism: A permitam analisar os vetores de caracterizou por uma forte
383

Sustainable Way of Revalorising mudança na paisagem do turismo A pesquisa se concentra principalmente especialização nos últimos
17 Cultural Resources. Tourism Tribune / urbano. Este artigo espera revisar na relação entre turismo urbano e decênios. As características
Lvyou Xuekan. 27, 6, 10-19, June 2012. sistematicamente o que outros desenvolvimento regional, mecanismo multifuncionais dos espaços urbanos e
*Publicação na língua chinesa. documentos ainda não cobriram dinâmico e de desenvolvimento do a dinâmica das comunidades urbanas
sobre destinos turísticos em algumas turismo urbano, desenvolvimento explicam a face em rápida mudança de
cidades, status de planejamento e sustentável do turismo urbano, etc. As muitas cidades; lazer, cultura,
gerenciamento recente bem como várias relações entre produto e política patrimônio, entretenimento e eventos
algumas mudanças relacionadas na estão estabelecidas como padrão tornaram-se os elementos centrais de
pesquisa de turismo em algumas espacial do turismo. O uso de métodos vários projetos de revitalização urbana e
cidades. As perguntas são baseadas geográficos e um grande número de até de novas cidades construídas sobre
principalmente na literatura anterior, estudos de caso são um reflexo que a novos conceitos. A forma como novas
livros e outras mudanças importantes pesquisa do turismo urbano tem dado funções e atividades entraram no
no turismo urbano. uma contribuição significativa para cenário urbano e se desenvolveram em
promover sua formação de uma recursos econômicos alternativos é uma
estrutura de pesquisa lógica e rigorosa. das trilhas de pesquisa mais
A situação atual do estudo sugere desafiadoras. A interação entre lugar,
algumas inovações internacionais com pessoas, produtos, e as políticas foram
as quais o desenvolvimento do turismo estudadas de pontos de vista e
urbano chinês pode aprender. antecedentes disciplinares muito
diferentes. Isso resultou em uma visão
fragmentada sobre as paisagens do
turismo urbano, onde uma abordagem
integrada seria esperada. Além disso, a
construção do conhecimento sobre
turismo urbano baseia-se
principalmente em numerosos estudos
de caso, por definição focados em um
contexto temporal e espacial
específico. A linha vermelha neste
artigo de revisão é a necessidade de
desenvolver roteiros novos e criativos
para contar a história. Muitas das
transformações nos destinos de turismo
urbano podem ser descritas como
reações locais às forças da
globalização. É a singularidade de um
lugar, sua história e patrimônio e a
expressão dos valores culturais das
comunidades urbanas atuais que
determinam na competição global atrair
visitantes e turistas. Após a década de
90 do século 20, o estudo do turismo
urbano na China surgiu com o
desenvolvimento da cidade e o
planejamento urbano, e com a
contribuição de muitos estudiosos,
especialmente geógrafos. Os
problemas surgidos no mundo ocidental
do turismo urbano também afetam o
desenvolvimento do turismo urbano na
China, por exemplo, o problema lotado,
modelo de "copiar e colar" etc. Ideias
inovadoras e estruturas teóricas aponta
para vários métodos de pesquisa
importantes no futuro. O problema do
turismo patrimonial urbano causado
pela concentração do turismo nas
cidades. O impacto do desenvolvimento
na extensa duplicação e adesão do
planejamento do turismo urbano. Os
danos à competitividade do turismo
urbano e a existência de
desenvolvimento do turismo urbano em
Taiwan (ilha insular vinculada ao
governo chinês). O novo valor desta
paisagem urbana como experiência
cultural, ambiente de lazer, locais de
reunião, etc. em grande medida facilitou
os residentes locais e viagens. O
interesse econômico tem recebido
atenção de longo prazo na pesquisa de
turismo, mas a experiência de perto e da
tecnologia que transforma a economia
da experiência em produtos. As
pessoas estão começando a
redescobrir a cidade associados à
imagem cultural e capital tradicional por
meio de inovação e estratégia.
Recursos patrimoniais e capital cultural
estão intimamente relacionados.
Este estudo prova que a experiência
ocidental pode ajudar a China a ter
consciência das consequências do
384

desenvolvimento do turismo urbano e a


tomar as medidas adequadas para
enfrentá-las. Esta curta excursão pelas
paisagens do turismo urbano permite-
nos concluir que no século XXI o turismo
urbano tornou-se um importante ícone
para muitos destinos, morfológica e
funcionalmente, e um protagonista da
vida urbana, política, social, cultural e
economicamente.

Este estudo tem como objetivo ESTUDO DE CASO. O prognóstico da O turismo é um fenômeno que pode
analisar quantitativa e atividade turística foi feito usando o contribuir para o sucesso econômico de
18 BĂDIṬĂ, A. Assessment of tourism qualitativamente o fenômeno do modelo TALC (Tourism Area Life uma cidade ou mesmo para o seu
supply, demand and market trends in turismo urbano (oferta e demanda Ciclo), pertencente a Butler (1980). dinamismo, de forma que nos últimos
craiova city, romania. Revista de Turism turística) na cidade de Craiova, de anos verifica-se uma tendência
- Studii si Cercetari in Turism. 14, 34-40, forma a evidenciar as tendências do APLICAÇÃO DA PESQUISA: crescente e ativa de promoção da
Dec. 2012. mercado turístico e obter um Craiova (Romênia/ Europa) que é a indústria do turismo em muitas cidades
diagnóstico turístico. sede do condado de Dolj e um pólo de na Europa, Romênia também tentando
crescimento urbano da Oltenia região se alinhar com as tendências europeias.
de desenvolvimento. O turismo urbano como uma categoria
de recursos e atividades turísticas
dentro de uma cidade é um complexo e
forma multifuncional de turismo. Seu
desenvolvimento é diretamente
influenciado pela permissividade das
comunidades locais, regionais e política
nacional, mas ultimamente também
pelas novas estratégias e ações de
marketing e promoção do turismo e pela
receptividade adequada dessas
estratégias. O mercado de turismo
consiste em oferta e demanda e é
baseada na produção - troca -
processos de consumo, sendo na
verdade parte de um sistema turístico
que está localizado em uma área
geográfica, mas que está intimamente
ligada a comunidade e respectivamente
com as partes interessadas (Russo,
2002). O modelo turístico de Craiova
mostra um destino em fase de
desenvolvimento, com uma oferta de
alto potencial, mas ainda com baixa
demanda, falta de capitalização do real
potencial do turismo urbano. O
prognóstico da atividade turística feita a
partir do modelo TALC pode ajudar as
autoridades, que passaram a focar
neste setor, que estava menos
capitalizado na cidade devido ao perfil
econômico funcional focado
inicialmente em indústria e comércio.

Não somente o interesse geral dos


turistas pela cultura está crescendo,
ZBUCHEA, A. Cultural interests while on ESTUDO DE CASO. Uma pesquisa mas também a oferta cultural também
holidays. An exploratory investigation. exploratória sobre isto seria útil para os está crescente e atrai a atenção de tipos
Journal of Tourism Challenges & agentes de turismo, a fim de melhor cada vez mais diversos de turistas. A
Trends. 5, 2, 53-70, Dec. 2012. projetar suas ofertas. A pesquisa foi literatura no campo do turismo cultural
realizada online, entre agosto e está principalmente investigando
setembro de 2012. Os dados foram aspectos relacionados à antropologia do
coletados por meio de uma pesquisa turismo cultural. Uma vez que a
19 contendo apenas 10 questões, incluindo literatura tende a investigar turismo
O presente artigo é uma investigação as referindo-se ao perfil do cultural no contexto de visitas
exploratória dos motivos e atividades respondente. O objetivo desta internacionais, e não no contexto
que os turistas estão realizando abordagem era facilitar o processo de nacional, a pesquisa atual também está
durante suas férias no exterior, a fim resposta. Com os dados coletados e inserida em tal estrutura. Os resultados
de identificar o lugar da cultura neste analisados se destinam a fundamentar da presente investigação são
contexto. pesquisas futuras no campo, ajuda a consistentes com a literatura em campo:
projetar hipóteses complexas a serem cultura não é apenas um dos motivos
investigadas no futuro pesquisas mais importantes para viajar no exterior,
quantitativas e qualitativas. mas também é uma parte vital dos
interesses dos turistas enquanto estão
no destino. Apenas cerca de 20% estão
viajando para o exterior para outras
APLICAÇÃO DA PESQUISA: finalidades principais. Os interessados
Romênia/ Europa. em explorar o mundo e descobrir a
beleza natural tende a ser um pouco
mais jovem. Portanto, os motivos da
viagem são diversos, dependendo de
muitas características dos
385

respondentes. No entanto, atividades


culturais, especialmente visitas a
museus, são muito populares não
apenas entre aqueles que viajam para
descobrindo outras culturas, mas
também para quem busca belezas
naturais

ESTUDO DE CASO. Identificando o


perfil do city-breaker, criando um A cidade é uma área que possui uma
20
produto turístico, apresentando a funcionalidade complexa que se baseia
BĂDITĂ, A. Approaches to the analysis relação entre turismo e urbanidade para na utilidade das suas zonas que
and evaluation of urban tourism system determinar a qualidade dos lugares. imprimem uma qualidade de vida e uma
within urban destinations. Revista de especificidade ao local, mas também se
Turism - Studii si Cercetari in Turism. 16, baseia na estética arquitetônica que
58-66, Dec. 2013. determina um estilo de vida local e um
potencial que pode ser explorado
através de atividades turísticas. Este
tipo de cidade possui um sistema de
APLICAÇÃO DA PESQUISA: Esses turismo urbano que começa a ganhar
elementos serão aplicados como um corpo e, segundo a teoria de "cidades
O estudo visa identificar as estudo de caso em Craiova
características do turismo urbano e os sobrepostas", embora existam muitas
(Romênia/Europa), uma cidade de formas de turismo em uma cidade
elementos de um sistema de turismo primeira classe na Romênia, com
urbano. (cultural, negócios, compras, esportes,
serviços de perfil industrial e econômico turismo, visita de parentes e amigos e
misto, e com baixa função turística. turismo recreativo), O turismo urbano é
o conjunto de recursos ou atividades
turísticas localizadas em cidades e
oferecidas a visitantes que vêm de
outros lugares (Vighetti, 1994). Muitas
teorias consideram o turismo urbano
como mais acidental do que
propositalmente (Ashworth, Tunbridge,
1990). Craiova é conhecido por um fim
de semana turismo urbano, com o
turismo de trânsito dominando e áreas
de lazer peri-urbanas visitadas. Foca na
tipologia da cidade para festivais,
negócios, lazer e esporte, como
estratégia para o desenvolvimento do
setor turístico e de inserção no mercado
de turismo da Romênia. O sistema de
turismo urbano pode se desenvolver
dado o contexto social favorável e um
produto turístico, com base na boa
acessibilidade externa e interna que
gera imagem atraente de um destino
turístico pode ser criado.

A satisfação do turista é um dos


indicadores importantes para medir o
ESTUDO DE CASO. O artigo usa desenvolvimento do turismo urbano.
análise de literatura, questões de Uma revisão de pesquisas nacionais e
método de levantamento de volume e estrangeiras mostra que os turistas do
binário N0) Método de medição de turismo urbano estão satisfeitos.
modelo de escolha discreta H: K. Com Pesquisas quantitativas sobre os fatores
base nos dados de pesquisa no local de e suas relações com o grau de impacto
turistas, as características da cidade, ainda são raras, especialmente para
pessoais e viagens. Hipóteses entre 23 características urbanas. As
fatores que influenciam e a satisfação características urbanas são um
do turista sob as três principais variáveis componente necessário do turismo
LUO, W; et al. An Analysis of Factors Em síntese, este artigo traz à tona a da motivação para viagens. O modelo urbano como um fator objetivo e o
21 Influencing the Satisfaction of Urban satisfação do turista com o turismo principal N0) H: K é estatisticamente impacto dos fatores na satisfação do
Visitors: City Features, Personal urbano e busca compreender os significativo, e quatro hipóteses de turista é evidente. A pesquisa mostra o
Characteristics and Tourist Motives. fatores que influenciam a satisfação pesquisa foram verificadas na pesquisa. nível de desenvolvimento social da
Tourism Tribune / Lvyou Xuekan. 28, 11, do turista no desenvolvimento e cidade, grau de proteção ambiental,
50-58, Nov. 2013. gestão do turismo urbano. Changsha APLICAÇÃO DA PESQUISA: abundância de recursos turísticos e
*Publicação na língua chinesa como área de pesquisa. CHINA/ÁSIA. renda mensal de turistas. Fatores como
se os turistas visitam ativamente ou não
386

e a satisfação do turista com o turismo


na cidade são de maior impacto na
satisfação do turista e no
desenvolvimento social urbano é o fator
de menor efeito. As conclusões do
estudo conduzem os gestores da cidade
a prestar mais atenção ao
desenvolvimento urbano e à qualidade
do turismo. Por fim, a satisfação muda
em função de um bom sistema na
construção de elementos urbanos, no
desenvolvimento de recursos de turismo
urbano e na orientação de marketing
turístico. Persistir na ecologização
urbana e na proteção ambiental urbana
como desenvolvimento do turismo
urbano. Proporcionar aos turistas uma
cidade com paisagem ecológica com
um ambiente natural do turismo da
cidade estabelecendo um turismo
urbano verde, ecológico e sustentável,
essa é a base natural. Por outro lado,
devemos continuar promovendo a
cidade nos pilares da construção social
e cultural, aumento do nível cultural dos
residentes urbanos e melhoria da
habitação urbana. A alfabetização
civilizada do povo aumenta o
reconhecimento dos residentes da
comunidade sobre o desenvolvimento
do turismo urbano. Ao mesmo tempo,
cria um turista urbano amigável,
entusiasta e civilizado para os turistas,
onde o ambiente cultural, elimina a
barreira psicológica entre anfitrião e
hóspede e melhora a experiência social
dos turistas.

O desenvolvimento sinérgico do turismo


cultural regional não deve ser baseado
apenas na base realista do
desenvolvimento cooperativo do turismo
HOU, B; et al. Spatial Cognitive regional, mas também deve considerar
O artigo procurou elaborar um projeto ESTUDO DE CASO. Combinação de
Differentiation of Synergetic como herdar e integrar melhor a cultura
de pesquisa para elaborar a situação investigação social e análise
Development of Regional Cultural regional. Isso difere das formas
de desenvolvimento do turismo quantitativa para analisar a cognição
Tourism: A Case Study of Nanjing tradicionais de cooperação no turismo
cultural regional bem como delinear pública e a avaliação do
Metropolitan Area. Tourism Tribune / regional. É particularmente importante
uma base realista e as condições desenvolvimento sinérgico do turismo
Lvyou Xuekan. 28, 2, 102-110, Feb. considerar a cognição pública e a
básicas de desenvolvimento sinergé- cultural regional.
2013. avaliação do desenvolvimento do
tico. Tendo a área de metropolitana
*Publicação na língua chinesa. turismo cultural regional e entender as
de Nanjing como exemplo. APLICAÇÃO DA PESQUISA:
respostas sociais e as demandas do
CHINA/ÁSIA.
turismo cultural. Dessa forma, podemos
mudar o pensamento sobre o
desenvolvimento de um modelo
tradicional dominado pela influência do
22 governo, para uma nova forma
envolvendo o governo em conjunto com
o mercado, tendo a demanda como o
principal esteio do
desenvolvimento. Essa mudança de
pensamento pode ser benéfica para o
desenvolvimento e a prosperidade do
turismo cultural e do turismo regional.
Os resultados revelaram que as
perspectivas dos respondentes foram
afetadas pelo contexto histórico e
cultural urbano e pelo desenvolvimento
da indústria do turismo, entre outros
fatores. Foram encontradas diferenças
claras nas percepções das pessoas
sobre a formação histórica dos recursos
culturais urbanos e nas características e
influência dos aspectos culturais do
turismo. Descobrimos que os
entrevistados reagiram positivamente
sobre a identificação e o acúmulo de
influências culturais no turismo regional
e a necessidade de fortalecer o
desenvolvimento sinérgico entre o
turismo cultural urbano. Em
contraste, os participantes relataram
387

atitudes significativamente diferentes


sobre o sentimento de pertencimento e
integração cultural nas áreas
metropolitanas em comparação com a
cidade central de Nanjing. Além disso,
descobrimos que a presença de
elementos culturais comuns em uma
cidade influenciou diretamente a
extensão e o efeito do desenvolvimento
sinérgico do turismo regional. A análise
empírica atual revelou as características
da diferenciação cognitiva espacial do
desenvolvimento sinérgico do turismo
cultural regional; orientada para os
recursos culturais, localização do
tráfego e contato cultural. Esta
conclusão pode ser útil para esclarecer
o desenvolvimento da reflexão sobre o
turismo regional e o turismo cultural sob
a orientação do governo local, para
integrar e aprofundar o desenvolvimento
dos recursos do turismo cultural para
destinos turísticos,
388

Conclui que o modo "legal" de autenticação do


ESTUDO DE CASO. Implantar a patrimônio construído forneceu uma forma mais segura
distinção de Cohen e Cohen entre e base mais permanente para a preservação do
Este artigo busca desviar o dois modos de autenticação - patrimônio construído do que o modo "quente" de
discurso sobre o patrimônio quente e frio – isso indaga qual autenticação, o que, torna a preservação contingente à
23 edificado da definição desses modos foi dominante na reiteração contínua da autoria performativa por parte
COHEN, E. Heritage tourism in thai convencional e questões autenticação do patrimônio dos visitantes, mostraram-se muito instáveis para
urban communities. Tourism metodológicas à questão mais construído de três pequenas representar sérios obstáculos à modificação ou
Culture & Communication. 14, 1, 1- política de quem tem o poder cidades da Tailândia, e como cada destruição do patrimônio construído. Mas, nos casos em
15, Jan. 2014. ou autoridade para autenticar uma influenciou a extensão da consideração, eventualmente nenhum modo de
isto. preservação desse patrimônio. autenticação provou ser poderoso o suficiente para
impedir que desenvolvedores externos interferissem no
APLICAÇÃO DA PESQUISA: patrimônio construído e mudando o ambiente das
cidades antigas.
TAILÂNDIA / ASIA

Diferentes características e mecanismos e os resultados


mostram que tanto o anfitrião quanto o hóspede têm
percepção pós-turismo dos elementos materiais. O valor
ZHOU, W; et al. Research on the A pesquisa é sobre a memória da integração orgânica dos elementos na paisagem
ESTUDO DE CASO. Pesquisa por
Differentiation of Perceived urbana inclui principalmente a arquitetônica é precioso, a falta de funções e o método
meio de questionários e entrevistas
Dimensions after the Trip of the correlação da memória urbana de exibição estático único são todos fatores dominantes
em profundidade usando a
Cultural Tourism Destination based sobre a relação das paisagens e, porém, "há uma diferença de nível na dimensão de
matemática do modelo estatístico e
24 on the Urban Memory: A Case e a percepção dos destinos de percepção dos elementos não materiais após o passeio.
de equações estruturais. Análise
Study of Confucius Temple-Qinhuai turismo cultural do ponto de A cozinha tradicional local é bastante distinta além da
Empírica das Dimensões de
River Scenic Area of Nanjing. vista de residentes e turistas aceleração da aculturação cultural impulsionada por
Percepção de Destinos de Turismo
Tourism Tribune / Lvyou Xuekan. no cinturão cênico de Qinhuai interesses econômicos. As conclusões deste estudo
Cultural.
29, 3, 73-83, Mar. 2014. do Templo de Nanjing mostram que na construção e desenvolvimento de
*Publicação na língua chinesa Confucius. destinos turísticos, a proteção da memória urbana deve
APLICAÇÃO DA PESQUISA:
ser reforçada, a herança da cultura local como um
CHINA/ÁSIA.
reflexo da memória da cidade de Nanjing. Sendo esse
lugar um prisma espacial que testemunhou a ascensão
e queda da cidade de Nanjing desde as Seis Dinastias.
A mudança no curso de desenvolvimento com o foco
para a preservação da memória urbana e herança local,
portanto, devendo ter mais respeito pela história
herdada da profunda memória urbana dos destinos de
turismo cultural além do fechamento dos destinos de
turismo cultural tradicional, preservando a memória da
cidade. Deve ser observado também as diversas
necessidades de diferentes grupos de consumidores de
turismo.

ESTUDO DE CASO. Abordagem A dimensão simbólica e identitária do património


preliminar. histórico construído, representa para as cidades um
DE CASTRO, B; CARVALHO, P. instrumento impulsionador de desenvolvimento de
Património construído, turismo Com o objetivo de sensibilizar projetos turísticos locais visando, geralmente, a melhoria
25 APLICAÇÃO DA PESQUISA:
cultural e a cidade histórica do os diferentes stakeholders da imagem das próprias cidades, a conservação do seu
DONDO/ ANGOLA/ ÁFRICA.
Dondo (Angola). Turydes. 7, 16, 1- para a conservação e património cultural e natural, e a geração de mais-valias
12, June 2014. valorização do património económicas e sociais. No mesmo sentido é
histórico construído da cidade frequentemente visto como um indutor dos planos de
do Dondo (Angola). desenvolvimento locais, onde o planeamento turístico,
*Publicação em língua
pela sua natureza pluridimensional, constitui-se num
portuguesa, especificamente
elemento fulcral para a revitalização destes locais. O
Angola.
património histórico construído tem funcionado como
instrumento impulsionador para a valorização turística
de muitas cidades históricas numa simbiose com o
turismo, em que a intenção é a busca de vantagens
comuns. No entanto, compreende-se que, se não forem
acautelados mecanismos sustentáveis para a utilização
dos recursos patrimoniais, as probabilidades de
mercantilização desmesurada e de trivialização dos
produtos culturais são elevadas, com danos muitas
vezes irreparáveis no património.

Afigura-se, pois, fundamental que a sua valorização seja


projetada na base de um planeamento turístico que
tenha em atenção os diferentes agentes no local e
salvaguarde as mais-valias económicas, sociais e
culturais.
389

Por outro lado, importa referir que o visitante atual possui


um maior nível cultural e uma maior consciência acerca
da importância do património natural e cultural que,
associado a experiências turísticas mais vastas e
diversificadas, conduz a procurar serviços
personalizados e com melhor qualidade. A presente
reflexão (em jeito de abordagem preliminar) sugere o
desenvolvimento turístico da cidade, alicerçada no seu
património construído.

ESTUDO DE CASO. A
possibilidade de relacionar cultura
e estratégias de turismo no Na sequência da discussão teórica sobre as mudanças
processo de regeneração das no paradigma de desenvolvimento das cidades no
cidades croatas foi analisado pela período pós-industrial da sociedade, sobre as
aplicação de modelagem de implicações estratégicas da regeneração urbana e as
equações. Para coleta de dados o inter-relações da cultura e do turismo em nesses
questionário foi utilizado composto processos. A suposição de que a estratégia cultural
por três partes. A primeira parte baseada em projetos culturais emblemáticos não pode
continha perguntas sobre ser relacionada às estratégias de desenvolvimento do
26 MIKULIĆ, D; PETRIĆ, L. Can características demográficas dos
O artigo apresenta um modelo turismo nas cidades croatas. Além disso, o estimado
culture and tourism be the foothold entrevistados (idade, sexo, função)
conceitual que forneceu uma parâmetro tem apontado para a existência de uma
of urban regeneration? A Croatian e o tamanho da cidade. Na
base para a verificação correlação direta positiva entre as estratégias que
case study. Tourism (13327461). segunda parte do questionário, os
empírica de ligações promovem o desenvolvimento de distritos culturais e
62, 4, 377-395, Oct. 2014. respondentes foram solicitados a
presumidas e relações entre projetos semelhantes, que são integrados ao
os conceitos sob escrutínio. avaliar as declarações sobre os desenvolvimento geral da cidade e as estratégias de
efeitos potenciais das três desenvolvimento do turismo, contando principalmente
estratégias culturais selecionadas com o pequeno e médio empresário. Além da pesquisa
sobre aspectos econômicos, empírica, uma análise dos documentos de
sociais e aspectos espaciais da desenvolvimento estratégico das cidades mostrou a
regeneração urbana. A população crescente prevalência da abordagem em que a cultura é
deste estudo foi definida como considerada um poderoso recurso empreendedor para o
líderes cívicos de cidades com mais desenvolvimento do pequeno empreendedorismo,
de 10 mil habitantes. Os Conselhos especialmente através do turismo e indústrias
e a Promoção do Turismo Croata relacionadas. Na luz de problemas detectados,
(Diário Oficial 152/08), também são recomendações sobre pesquisas futuras têm sido
presidentes de turismo da cidade; propostas na área de planejamento urbano e gestão
chefes de departamentos urbana
administrativos responsáveis pela
cultura, planejamento urbano e
economia, e turismo. Existem 67
dessas cidades na Croácia e 215
líderes cívicos no total.

APLICAÇÃO DA PESQUISA:

CROÁCIA /EUROPA
RUIZ, TD; GÂNDARA, JM. O Analisar a relação entre o
Planejamento Urbano e a planejamento urbano e a REVISÃO TEÓRICA. Autores
Competitividade de Destinos competitividade de destinos Brasileiros. A metodologia do
27 Turísticos: uma análise desde a turísticos desde a perspectiva trabalho busca através do modelo O artigo identifica a influência e a relevância do
perspectiva do modelo de Dwyer e do Modelo de Dwyer e Kim, de avaliação de competitividade de planejamento urbano no desenvolvimento das cidades
Kim.: Turismo em Análise. 25, 3, contrastando diretamente Dwyer e Kim (2003) e seus como destino turístico competitivo, através dos 42
580-607, Dec. 2014. estes dois conceitos atuais que indicadores, determinar a indicadores presentes no modelo e que se relacionam
se refletem no relevância do planejamento urbano diretamente com o planejamento urbano.
*Publicação em língua desenvolvimento das cidades, no desenvolvimento da
portuguesa, especificamente proporcionando uma reflexão competitividade nos destinos
Brasil. sobre os temas. turísticos.
390

Uma forte tendência positiva na taxa de crescimento


percentual para cidades com o relatório de ECM
European Cities Marketing COMUNICAÇÃO. Relatório sem emergiu novamente este ano, atingindo uma taxa de
Esta nova seção do Relatório
28 Benchmarking Report 2015 mencionar a metodologia usada. 5,7% no total de dormidas e 7,0% nas noites
de Benchmarking ECM
confirms the emergence of a strong internacionais. Diminuições acentuadas no número de
examina o número de
positive city tourism trend. Journal bednights contribuídos pelo Japão e pela Rússia
pernoites que uma cidade
of Tourism & Services. 6, 11, 116- parecem ter sido compensados por as fortes tendências
acolhe por cidadão.
118, June 2015. de crescimento positivo dos outros sete principais
mercados de origem, com China e Itália, cada uma
alcançando aumentos de mais de 12% desde 2013.
Esses resultados fornecem insights cruciais sobre a
competitividade das cidades europeias e conjuntos de
concorrentes. O Relatório de Benchmarking de ECM
mostra claramente que o sucesso contínuo do turismo
urbano na Europa é baseado em uma rica mistura de
mercados de origem.

29 REVISÃO TEÓRICA.
A variabilidade contemporânea Hoje em dia, a constelação econômica e cultural global
CRĂCIUNESCU, A. URBAN
da cultura e sua distribuição determina as comunidades urbanas a encontrarem uma
RECONFIGURATIONS OF SPACE
em nível discursivo, bem como solução para preservar a identidade local e, ao mesmo
AND PLACE WITHIN TOWNSHIP
territorial um, nos levou a uma tempo, atrair capital para a área. O turismo representa
TOURISM. Revista de Turism -
abordagem interdisciplinar do em nossa opinião uma das maiores soluções já
Studii si Cercetari in Turism. 19, 44-
novo significações e exploradas na história da humanidade que apaga as
53, June 2015.
compreensões do espaço, fronteiras das nações e políticas, criando encontros
agrupados dentro dos limites globalizados. No caso de uma cidade, o turismo passa a
do lugar. Nosso estudo ser uma atividade econômica, vetor político e cultural
permanece tributário de um que unifica o espaço urbano que desenvolve uma rede
subcampo da geografia de genuínos e artificiais urbanos inter-relações entre os
humana – geografia cultural, principais stakeholders. A cidade como destino deve ser
disciplina que visa analisar o uma construção "segura" que atenda as expectativas de
nexo que a cultura estabelece vários tipos de viajantes e de suas diferentes motivações
com espaço, lugar e de viagem. Nós acreditamos que para um em certa
indivíduos. medida, a (re) marca das cidades hoje consiste na
criação de um espaço harmonizado que iria reitera as
instalações caseiras do viajante. Uma questão de estilo
de vida e qualidade de vida, esta questão será analisada
através da lente de viajar como uma atividade de lazer,
ou como uma forma de escapar da rotina monótona da
vida diária, eventualmente, uma forma de reinvestir
renda e criar equilíbrio econômico.
391

ESTUDO DE CASO. Resenha de


Tese de Doutorado.

Baseado no diagrama de Brito Um dos principais impactos do turismo urbano é a


(2009) para abordagem do conceito intensificação do processo de seleção patrimônio,
da cidade turística histórica resultando na falta de interesse em os menos ativos
(Ashworth e Tunbridge, 2000). A comerciais. Outro impacto é a homogeneização de
análise dos modelos britânicos e cidades histórico-turísticas, envolvendo a temática das
espanhóis foram feitos ruas mais visitadas e perder mistura de residentes e
comparando o conceitualização da atividades. Depois de comparar os modelos ingleses e
Analisar o uso turístico da herança legal, quadro, peso do espanhóis, é possível observar uma significativa
BARRERA-FERNANDEZ, D. Schools
cidade histórica e como isso público, privado e terceiros, diferença nos valores dados a herança construído,
of thoughts in heritage and tourism
processo afeta o patrimônio setores, distribuição de funções enquanto a identidade prevalece no modelo Inglaterra,
management of the historic city.
urbano em duas cidades dos entre órgãos públicos, características histórico-artísticas são mais relevantes
30 European Journal of Tourism
contextos britânico e financiamento e processo de no espanhol. Esta diferença afeta a gestão do
Research. 11, 162-165, Sept. 2015.
mediterrâneo, em Plymouth listagem. A evolução do turismo patrimônio em aspectos como critérios de listagem,
e Málaga. urbano é baseada em documentos controle do patrimônio em risco, envolvimento social,
de arquivos públicos, planos propriedade e financiamento para preservação. Ao
urbanos e outros documentos estudar os atores e iniciativas envolvidas na gestão da
administrativos. Seção específica cidade histórico-turística, a contribuição mais relevante
para a evolução de referências que da tese é a inclusão da dimensão econômico na
aparecem em guias de 1820 a metodologia explicada, amplamente ligada a outros
1990, seguindo a metodologia de fatores e necessária para alcançar a sustentabilidade. A
Marine-Roig (2011) e Galí Espelt aplicação prática reside nas propostas que foram
(2005). As referências receberam apresentadas com o objetivo de alcançar um melhor
um valor específico e agrupados equilíbrio no uso turístico da cidade histórica de
em 12 categorias temáticas que Málaga. O primeiro é um Plano de Atividades para
refletem a evolução do interesse limitar a concentração de grandes hotéis, restaurantes e
em visitar as cidades. Mesma catering em grande escala, instalações criativas em ruas
metodologia aplicada para analisar superutilizadas. As atividades podem ser concentradas
guias atuais e outras fontes de na área de Pozos Dulces-Beatas, que já mostrou um
informação para turistas, tornando potencial para este segmento. Uma melhoria no distrito
possível comparar o presente e as de negócios pode ser desenvolvida para alcançar um
principais atrações e serviços melhor equilíbrio entre custos e benefícios. Três novas
turísticos anteriores. Dados foram áreas de conservação podem ser criadas. Finalmente,
coletados de campo, folhetos, um Plano de Gestão Integral do Patrimônio Cultural
páginas da web, rotas, guias, sinais pode ser útil para unir estratégias turísticas, políticas
de direção, painéis e placas. As culturais, planejamento urbano, entrega econômica,
referências receberam um valor regeneração social e marketing.
específico e agrupados em
categorias. As informações foram
processadas usando uma
ferramenta de cartografia virtual,
seguindo a metodologia de
Salerno, Casonato e Villa (2011) e
Olukole e Balogun (2011) e
finalmente apresentado em 13
mapas de intensidade. O estudo
das partes interessadas e
iniciativas sobre políticas que
afetam a gestão do uso turístico na
cidade histórica é baseado em
trabalho de campo e análise
qualitativa de planos e projetos de
a administração pública, público-
privada, agências, empresas
privadas e terceiro setor,
organizações.

APLICAÇÃO DA PESQUISA:
ESPANHA/INGLATERRA.
(EUROPA).

Na presente investigação,
uma análise crítica da
CANTOS-AGUIRRE, E; et al. La cidade como produto de REVISÃO TEÓRICA. A premissa A análise crítica da cidade como produto turístico
31 ciudad como producto turístico: turismo, do ponto de vista da básica que norteou o estudo foi que permitiu defini-la, a partir do estudo de teorias da
análisis desde la economía política economia política Marxista, homens, na produção social de economia política marxista e suas leis, como se pode
marxista. Retos Turísticos. 14, 3, 65- a fim de compreender a suas vidas, estabelecer certas estabelecer o funcionamento do as relações sociais de
70, Sept. 2015. problemática que deve relações de produção e produção e as forças produtivas no contexto do modelo
*Publicação na língua espanhola enfrentar para se tornar um independente da vontade, que econômico capitalista atual. Portanto, pode-se esperar
produto turístico. correspondem a um certo grau que a indústria do turismo, apesar de estar sujeita a este
desenvolvimento de suas forças modelo, não constitui elemento de exploração de
392

produtivas materiais eles. Essas trabalhadores ou predador do patrimônio natural e


relações, tomadas em conjunto, cultural, isto é, que contribui para a construção do novo
constituem a estrutura econômica modelo econômico progressista que emerge na América
da sociedade, a base real em que a Latina como uma resposta ao capitalismo. Da
superestrutura legal é erguida e perspectiva da economia política marxista. Conclui-se
política, e para que certas formas que o desenho da cidade como produto turístico
da consciência social (Marx, contribui para a identificação de um novo a perspectiva
1946). Deste quadro de referência, da gestão da cidade, que permite que a superestrutura
as cidades constituem um dos mantenha coerência com a política dos governos
espaços físicos em que persegue nacionais, e que as equipes multidisciplinares que
as relações sociais de produção de implementam esta política pode contribui para a
bens e serviços e, portanto, a vida promoção de processos inclusivos e de redistribuição da
de grande parte da sociedade. riqueza nas respectivas sociedades.

No Norte Global, a requalificação urbana por meio de


lazer e intervenções turísticas tem sido uma interface de
pesquisa investigada. Esses tipos de intervenções,
sejam públicas, privadas ou em vários tipos de binations,
muitas vezes levaram a uma reformulação dramática e
extensa das áreas centrais da cidade. Menos atenção
tem se concentrado em cidades no Sul Global -
VISSER, G. Urban leisure and Esta investigação particularmente na África - que fornecem exemplos de
acompanha o ESTUDO DE CASO. Qualitativo.
32 tourism-led redevelopment frontiers in como esses processos de mudança urbana se
central Cape Town since the 1990s. desenvolvimento de lazer e manifestam neste contexto. Mostrou como se
2016. intervenções guiadas pelo APLICAÇÃO DA PESQUISA: desenvolveram os nós de desenvolvimento do lazer e
turismo como centrais para o turismo, que com o tempo se consolidaram no lazer e as
redesenvolvimento do AFRICA DO SUL. fronteiras de redesenvolvimento urbano do turismo que
centro da Cidade do Cabo. reformularam radicalmente o negócio central do distrito
da Cidade do Cabo junto com os bairros adjacentes. É
mostrado que a requalificação urbana veio para
derramar para partes cada vez maiores do centro da
Cidade do Cabo e (se não for governado com cuidado)
corre o risco de tornar grandes partes da cidade central
efetivamente excludente para a maioria da população da
Cidade do Cabo. No geral, esta investigação serve
como mais uma instância a ser observada por outras
cidades ao redor do globo que visam implantar
intervenções de lazer e turismo como centrais ou parte
de suas iniciativas de redesenvolvimento da cidade
central.

OLAGUE, JT. Efecto determinante de Essa pesquisa trabalho teve ESTUDO DE CASO. Uma revisão
la motivación de viaje sobre la imagen o propósito de encontrar Os turistas urbanos são reconhecidos como um dos
da literatura possibilitou a
de destino en turistas de ocio a un evidências na relação causal segmentos crescimento mais rápido no turismo
proposição de um instrumento de
destino urbano: el caso de Monterrey, entre viagens, motivação e atualmente mercados. Monterrey no México, é um dos
pesquisa com uma base teórica
33 México. Una aproximación por medio imagem de destino, duas principais destinos urbanos no país. Este estudo propôs
para reunir dados por meio de uma
de mínimos cuadrados parciales variáveis importantes devido em sua metodologia o uso da técnica de equações
amostra. Usando regressão e
(pls).: determinant effect of travel à sua influência na estruturais para testar um modelo causal ajustado por
equações estrutural e modelagem
motivation on the destination image of satisfação dos visitantes. mínimos quadrados parciais (PLS) com a intenção de
por mínimos quadrados
leisure tourist in an urban destination: mostrar a relação causal entre a motivação para viagens
parciais (PLS)um conjunto de
the case of monterrey, méxico. An e a imagem de destino. Finalmente, a utilidade de
componentes principais de ambas
approach through partial least instrumentos quantitativos para apoiar obter
as variáveis foram identificados
squares (pls). Anuario turismo y informações válidas e confiáveis para tomada de
possibilitando a obtenção de um
sociedad. 18, 61-77, jan. 2016. decisão por gerentes turista. Análise e uso de
modelo explicativo da imagem de
componentes de modelos estruturais pelo método
destino em termos de motivações
quadrados parciais têm muito a ver com contribuir para
de viagem. APLICAÇÃO DA
a melhor compreensão do dado obtido do controle de
PESQUISA: México/ América
gestão dos destinos. Os destinos urbanos, portanto, têm
Central
também uma opção neles para orientar suas estratégias
e transformar o turismo em potencial doador do seu
desenvolvimento turístico e econômico.

ESTUDO DE CASO. O referencial


teórico aplicado a este estudo é Os resultados demonstram um desejo compartilhado de
PETROVA, P; HRISTOV, D. Este artigo investiga a Timothy e Tosun (2003) colaboração adicional entre os principais órgãos
Collaborative Management and gestão e o planejamento participativo, incremental e públicos envolvidos, com colaboração limitada existente
Planning of Urban Heritage Tourism: colaborativos entre colaborativo do modelo de e anterior, além do trabalho que é o resultado de
Public Sector Perspective. organizações públicas planejamento ativo (PIC). Envolveu hierarquias existentes. A colaboração está em um
International Journal of Tourism envolvidas no turismo de duas fases de coleta de dados estágio inicial e muitos recorreram à autoridade local
Research. 18, 1, 1-9, Jan. 2016. patrimônio urbano. usando fontes de dados para fornecer liderança na condução de novas
34 secundárias (Fase 1). Os iniciativas. O setor privado tem um papel limitado, mas
resultados desta fase subsidiaram crescente, nisso. Existem diferentes pontos de vista
a Fase 2 (entrevista sobre o foco do desenvolvimento do turismo de
semiestruturadas com patrimônio - alguns sugerindo um enfoque regional,
especialistas) e forneceu um outros um foco na cidade.
contexto para a análise de dados
empíricos na Fase 2. Entrevistas e
discussões em mesa redonda
foram transcritas literalmente. O
estudo de caso exploratório foi
393

aplicado, capturando o
desenvolvimento do turismo de
patrimônio urbano em Plovdiv,
Bulgária. APLICAÇÃO DA
PESQUISA: Bulgária/ Europa.

RAŠOVSKÁ, I; RYGLOVÁ, K; Os fatores pesquisados levam em consideração


35 Verificar se as variáveis ESTUDO DE CASO. Análise
ŠÁCHA, J. The DIMENSIONS AND igualmente a qualidade funcional e técnica de serviços
quantificáveis originalmente fatorial foi obtida por uma pesquisa
QUALITY FACTORS IN URBAN (Grönroos, 2007) e são estipulados de forma a se
declaradas determinar a primária e foi testada
DESTINATIONS. Czech Hospitality & adequar a todos os tipos de destinos (Ryglová, et al.,
qualidade de um destino estatisticamente. Os fatores que
Tourism Papers. 12, 27, 19-27, July 2015). Na pesquisa de teste, onde o impacto do
também pode ser usado são avaliados no questionário
2016. desempenho (satisfação) de fatores individuais na
para destinos do tipo urbano foram formulados com base no satisfação geral ou lealdade foi determinada, os dados
ou se o conjunto deve ser original pesquisas sobre os primários foram processados usando a análise de
modificado em relação às componentes de qualidade de um regressão multidimensional. Com base nos resultados
especificações de um destino (Buhalis, 2003; Middleton - comprovou-se que para avaliar a qualidade dos destinos
destino urbano. As variáveis Clarke, 2001) e com base nas urbanos é adequado utilizar 6 dimensões de qualidade-
que são chamados de formulações teóricas para a gestão serviços, experiências, atrações, transporte, bem-estar
fatores de qualidade foram da qualidade do destino e imagem – contendo 19 fatores de qualidade
retirados do trabalho apresentadas por Woods e Deegan geralmente aplicáveis nos destinos. Outros fatores
Ryglová, et al. (2015). (2003) que analisou os modelos de típicos do turismo urbano são menos significativos para
qualidade como SERVQUAL, os visitantes e podem ser usados como variáveis
modelo Gap, modelo Kano e mensuráveis para as dimensões fornecidas. Os
Modelo EFQM. resultados provaram que o conjunto original de fatores
de qualidade de destino pode ser usado, pois as outras
APLICAÇÃO DA PESQUISA: variáveis declaradas não têm uma importância crucial
para os visitantes. A importância da qualidade dos
REPÚBLICA TCHECA/ serviços prestados e dos visitantes requisitos sobre a
EUROPA segurança, limpeza e exclusividade de um destino
ressoam em todos as análises.

Os formuladores de políticas e desenvolvedores de


turismo devem compreender o comportamento de
mobilidade dos visitantes e como eles consomem
espaço e recursos turísticos para estabelecer um
destino de turismo cultural sustentável. Nesse sentido, é
importante destacar que os padrões de mobilidade dos
ESTUDO DE CASO. Foi realizado
turistas em destinos urbanos estão localizados
com base no comportamento do
principalmente no centro da cidade (centralidade
visitante na cidade de Bilbao. Além
espacial), cuja análise nos permite definir "quão central"
disso, os locais centrais de Bilbao
são os recursos (museus, monumentos, etc.) e quais
foram determinados e uma análise
são as interações entre eles são. Além disso, quando os
ARANBURU, I; PLAZA, B; ESTEBAN, Compreender quais fatores da interação espacial entre locais
turistas visitam um destino, eles pensam representação
36 M. Sustainable Cultural Tourism in influenciam a mobilidade culturais, utilizando uma nova
do destino, construindo um mapa mental do
Urban Destinations: Does Space urbana dos visitantes metodologia baseada em
mesmo. Assim, os turistas não consomem apenas
Matter? Sustainability (2071-1050). 8, comportamento é a chave tecnologias GPS, análise de rede e
espaços, mas também a imagem de uma cidade /
8, 1-14, Aug. 2016. para compreender o pesquisas. Esta metodologia é a
destino. Além disso, o último influencia o primeiro. A
consumo de espaço dos principal contribuição deste
qualidade da arquitetura circundante e do urbanismo
turistas e suas conexões trabalho.
desempenha um papel crucial no aumento do valor
com os ativos turísticos da experiencial de um destino e influenciando as
cidade. APLICAÇÃO DA PESQUISA: preferências de consumo de espaço. Claramente, os
ESPANHA / EUROPA visitantes são mais prováveis para usar / consumir
ambientes de fácil navegação e legíveis
mentalmente. Os resultados sugerem que (1)
mobilidade fácil (caminhada, acessibilidade, diferentes
modos de transporte) dos visitados o espaço facilita a
experiência do turista; (2) mapas mentais simples e
elegíveis da cidade que são facilmente percebidos pelos
visitantes facilitam o consumo rápido do destino
turístico; e (3) a centralidade dos recursos turísticos
afeta a mobilidade dos visitantes e o consumo do
destino. Portanto, compreendendo como funciona a
mobilidade turística em um destino e analisando os
recursos turísticos centralidade, os formuladores de
políticas podem definir melhor estratégias sustentáveis
para destinos de turismo cultural.
394

Este artigo visa fornecer um ESTUDO DE CASO. Usando Indica que as três cidades têm muitas oportunidades
SAAD, SA; ABABNEH, A. Concept, melhor entendimento da documentação bibliográfica e decorrentes de sua localização e seus ricos recursos
opportunities and challenges of urban situação atual do turismo descritiva com o método analítico. turísticos. Além disso, o turismo urbano nessas cidades
tourism in the Arab world: Case urbano referindo-se às deve confrontar alguns fatores internos (baseados no
studies of Dubai, Cairo and Amman. experiências do mundo país) e externos (globais e desafios regionais), como
APLICAÇÃO DA PESQUISA:
37 Tourism (13327461). 65, 3, 361-375. árabe abordando as sazonalidade, poluição, congestionamento, competição,
Emirados Árabes Unidos, Egito e
2017. principais oportunidades, financiamento e instabilidade. Algumas recomendações
Jordânia- ORIENTE MÉDIO.
impedimentos e desafios do e implicações políticas foram sugeridas. O artigo
ambiente do turismo urbano conclui, argumentando, que os desafios comuns
em três cidades árabes internos e externos precisam ser abordados de uma
(Dubai, Cairo e Amã). maneira sistemática dentro do contexto de política
cultural e de turismo mais amplo, no qual o turismo
urbano está agora implicado. Falta da literatura sobre
turismo urbano nos países árabes, o que se atribui a
esse turismo no mundo árabe é um tipo de herança
dominada. Portanto, esta pesquisa também tenta
preencher a lacuna na literatura existente sobre turismo
urbano nas cidades árabes.

O turismo na cidade é um fenômeno complexo e está se


38 expandindo em importância dentro da economia do
ROGERSON, CM; ROGERSON, JM. turismo internacional. Esta análise confirma que as
CITY TOURISM IN SOUTH AFRICA: cidades são destinos turísticos multimotivados
DIVERSITY AND CHANGE. Tourism importantes porque as pessoas viajam para eles para
Este artigo interroga o ESTUDO DE CASO. Não detalhou
Review International. 21, 2, 193-211, vários destinos para diferentes fins incluindo negócios,
desenvolvimento e as a metodologia quanto a técnica e
Apr. 2017. lazer e entretenimento, para visitar amigos e parentes,
trajetórias dos destinos coleta de dados.
ou para a saúde ou razões religiosas. Revela-se que as
turísticos das cidades na
30 cidades do país são nós-chave no turismo nacional,
África do Sul. As atenções APLICAÇÃO DA PESQUISA: na economia espacial, especialmente para gastos com
estão em desvendar o África do sul. África. turismo. São apresentadas evidências de considerável
diferencial de atuação do
diversidade entre destinos da cidade com fortes
país em oito áreas
contrastes entre os padrões de turismo observados na
metropolitanas e sua rede
região metropolitana áreas em oposição às cidades
de 22 cidades secundárias.
secundárias. Diferenciação adicional é demonstrada ao
nível de destinos de cidade individuais em relação a
diferentes origens, propósitos de viagem e contribuição
relativa de turismo para o desenvolvimento econômico
local.

Fonte: Elaborado pela autora com base na pesquisa do EBSCO em 24 de maio de


2018.
395

APÊNDICE-B- Ficha Observacional dos Logradouros


FICHA OBSERVACIONAL DOS LOGRADOUROS
1.ABORDAGEM ECOLÓGICA (Ashworth,1989): Morfologia das áreas urbanas
1.1 ZONA SUL: núcleo do Centro Histórico de Manaus-D2 (Boullón,2002):
1.2 LOGRADOURO- D2 (Boullón,2002):
1.3 EXTENSÃO/ LOCALIZAÇÃO DO GPS/BAIRRO- D2:(Boullón,2002):

1.4 TIPIFICAÇÃO DO LOGRADOURO- D2 (vias urbanas-Código Brasileiro de Trânsito): (Boullón,2002-tipo de rua):


( ) Trânsito rápido ( ) Arterial ( ) Coletora ( ) Local

1.5 ENTORNO DO LOGRADOURO- D2 (Castrogiovanni, 2013- Análise dos caminhos- Agradabilidade estética ou
cênica/Paisagem construída e os caminhos/Serviços urbanos/Mobiliários urbanos e Lefebvre, 1974-Espaço Percebido):
( ) Edificações de uso comercial/residencial/institucional/híbrida). Especificar: __________
( ) Áreas verdes (arborização). Especificar: __________
( ) Calçada (desenho, material e tipo de piso). Especificar: __________
( ) Iluminação pública. Especificar: __________
( ) Paradas de ônibus. Especificar: __________
( ) Lixeiras. Especificar: __________

OBSERVAÇÕES:

1.5.1 AMBIÊNCIA HISTÓRICA E CONTEMPORÂNEA NA PERSPECTIVA DE CONJUNTO DA


PAISAGEM- D2: Lefebvre, 1974-Espaço Imaginado; Formação Sócio Espacial de Milton Santos (1977)

1.6 DESCRIÇÃO DA PAVIMENTAÇÃO ATUAL- D2 (Boullón,2002-tipo de pavimento; Castrogiovanni, 2013- serviços


urbanos):
( ) Asfalto
( ) Paralelepípedo
( ) Pedra
( ) Outros:_______________________
OBSERVAÇÕES (resquícios históricos aparentes, ex: pavimentação, trilhos, medalhões, etc):

1.7 TIPOLOGIA/USO DAS EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS- D2 (Boullón,2002- nível socioeconômico das edificações;
Castrogiovanni, 2013- Análise dos caminhos- paisagem construída e os caminhos; Lefebvre, 1974-Espaço Percebido):
( ) Institucional
( ) Comercial
( ) Residencial
( ) Outros:_______________________
OBSERVAÇÕES: Predominante
396

1.8 ESTILO ARQUITETÔNICO PREDOMINANTE DAS EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS*conforme


acervo documental e normativo existente- D2. (Boullón,2002-estilo arquitetônico e Lefebvre, 1974-Espaço Percebido):

1.9 ATRATIVOS E ROTEIROS TURÍSTICOS-D4 (Listar/verificar os divulgados nos órgãos e agências de turismo): Lefebvre,
1974-Espaço Vivido; Boullón,2002-Roteiros

1.10 FLUXO- D2 Castrogiovanni, 2013- Análise dos caminhos-facilidade de fluxo dos sujeitos e dos veículos:
( ) Automóveis/ Coletivos
( ) Bicicletas
( ) Pedestre
( ) Misto

OBSERVAÇÕES:

1.11 ACESSIBILIDADE- D4(estacionamento para residentes e turistas, estado de conservação e barreiras de obstrução nas calçadas; recuo
para cadeirantes; piso tátil, etc.): Castrogiovanni, 2013- Análise dos caminhos-facilidade de fluxo dos sujeitos e dos veículos:

1.12 PLACAS DE SINALIZAÇÃO DE TRÂNSITO E TURÍSTICA- D4: Castrogiovanni, 2013- Mobiliário urbano:

1.13 MÍDIAS INTERPRETATIVAS-D3 (física e virtual): Lefebvre, 1974-Espaço Imaginado e Castrogiovanni, 2013-Mobiliário urbano
397

1.14 SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS DE APOIO AO TURISMO-D4 (bares, restaurantes, meios de hospedagem,


praça,parques/bancos/ artesanato / transporte (terminais) / serviços / museu / igreja/ espaço para eventos/centros de informação ao turista/farmácias/lojas
de souvenires/postos de gasolina/borracharia).Lefebvre, 1974-Espaço Vivido e Castrogiovanni, 2013-Serviços urbanos/Equipamentos de apoio ao turismo:

1.15 BREVE DESCRIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA AMBIÊNCIA


HISTÓRICA E ATUAL DO LOGRADOURO-D2: Lefebvre, 1974-Espaço Percebido; Formação Sócio Espacial de Milton Santos
(1977):

2.ABORDAGEM POLÍTICA-D1 (Ashworth,1989): Políticas públicas e ações


governamentais

2.1 Legislação de proteção ao patrimônio cultural (Listar):


398

2.2 Quantidade de imóveis tombados individualmente e de interesse para preservação:

( ) Municipal
( ) Estadual
( ) Federal

2.3 Programas, Projetos e Intervenções públicas (Listar):

OBSERVAÇÕES:

3. ANÁLISE CRÍTICA DO PESQUISADOR:

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