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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura


Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria – PPGTH
Curso de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria

ANDRÉ DA SILVA DUTRA

PRAIA DE BARRA GRANDE NO MUNICÍPIO DE CAJUEIRO DA PRAIA-PI: de


colônia de pescadores ao desenvolvimento turístico induzido pela prática do kitesurf

BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC)


2015
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura
Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria – PPGTH
Curso de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria

ANDRÉ DA SILVA DUTRA

PRAIA DE BARRA GRANDE NO MUNICÍPIO DE CAJUEIRO DA PRAIA-PI: de


colônia de pescadores ao desenvolvimento turístico induzido pela prática do kitesurf

Dissertação apresentada ao colegiado do PPGTH como


requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Turismo e
Hotelaria.
Área de concentração: Planejamento e Gestão do Turismo e
da Hotelaria
Linha de Pesquisa: Planejamento do Destino Turístico

Orientadora: Professora Dra. Raquel Maria Fontes do Amaral


Pereira

BALNEÁRIO CAMBORIÚ (SC)


2015
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura
Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria – PPGTH
Curso de Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria

CERTIFICADO DE APROVAÇÃO

ANDRÉ DA SILVA DUTRA

PRAIA DE BARRA GRANDE NO MUNICÍPIO DE CAJUEIRO DA PRAIA-PI: de


colônia de pescadores ao desenvolvimento turístico induzido pela prática do kitesurf

Dissertação avaliada e aprovada pela Comissão


Examinadora e referendada pelo Colegiado do
PPGTH, como requisito parcial à obtenção do grau de
Mestre em Turismo e Hotelaria.

Balneário Camboriú (SC), 10 de novembro de 2015.

Membros da Comissão:

Presidente: _______________________________________________
Dra. Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira (UNIVALI)

Membro Externo: _______________________________________________


Dra. Rafaela Vieira (FURB)

Membro Interno: _______________________________________________


Dr. Paulo dos Santos Pires (UNIVALI)
AGRADECIMENTOS

“O conhecimento é a base para qualquer ser humano. Reconhecido será aquele que percorrerá o
caminho mais difícil, mais árduo e mais tempestivo para, no final, compartilhá-lo da maneira
mais ética, simples e acessível.” (André Dutra)

Reconhecimento e agradecimento irão permear estes meus poucos parágrafos. São duas
palavras incorporadas em meu cotidiano, que me fizeram amadurecer diante das adversidades,
que não foram poucas. Deus, meu melhor amigo, obrigado por ter me iluminado nestes dois anos.
Minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, muito obrigado por sempre interceder a meu favor,
quando mais precisei.
Defendo uma ideologia na qual o conhecimento deve ser repassado com coração e com a
responsabilidade sem igual, sem traumas. Aposto na simplicidade e na adoção de um esforço sem
trocas ou sem interesses capitalistas. Por isso, virei fã de Raquel Fontes Pereira do Amaral, minha
orientadora, que com maestria me mostrou as belezas do caminho para uma dissertação de
Mestrado. Agradeço-te, honrosamente, professora. Visse! Entendesses? Rs! Saibas que para
aonde quer que eu vá, levarei seus ensinamentos, e saibas, também, que lá pelas bandas do Piauí,
tem alguém que tanto lhe ama e admira! Muito obrigado por tudo, professora.
Muito obrigado aos coordenadores, aos professores e aos servidores do Programa de
Mestrado em Turismo e Hotelaria da UNIVALI; aos meus alunos queridos, aos colegas de
trabalho do IFMA e do IFMA Campus Timon, pelo carinho, profissionalismo, incentivo e poio
emocional. Por outro lado, sou grato especialmente pelos colegas do IFMA, que conheci e fiz
novas amizades, através deste Minter. Lembrarei-me de cada um carinhosamente, e nunca se
esqueçam: - Não somos 35, somos 1!
Bem, as imagens abaixo demonstram um pouco dos inúmeros momentos felizes que
passei com todos vocês nestes dois anos.
Finalmente, obrigado a minha família, especialmente aos meus pais, José Dutra e Maria
de Jesus, por mais uma conquista ao meu lado. Juro que minha maior alegria é fazê-los felizes
através de minhas conquistas, e sinto que jamais soltarei suas mãos acolhedoras e firmes. Meus
maninhos: Júnior Dutra, Socorro Dutra, Carla Sousa, Jackelyne Geórgia, Talita oliveira, Ravena
Sena, Sammya e Thiago Chaves..., e demais amigos, sintam-se representados aqui! Muito
obrigado pelo apoio, ajuda e incentivo constantes. Às minhas sobrinhas, Thays e Lhays, muito
obrigado por aturarem uma pessoa tão estressada.
Agradeço, também, aos meus alunos-atletas de futsal do IFMA Campus Timon. Nossa,
como o meu amor por vocês é grandioso! Faria tudo de novo para vê-los crescer e amadurecer
através do esporte! À minha vida e afilhada, Flormaria, que para sempre irá iluminar e perfumar
o meu coração. Muito obrigado, Juliana Viegas e Mackléa Mayara, pela ajudinha no inglês,
sempre que precisei!!!!!I love u so much!
Sem vocês em minha vida nada disso seria possível. Eu amo todos, na proporção do
infinito. Não saberia viver sem nenhum ao meu lado! Confesso que nesta etapa de minha vida me
sinto capaz de ir além, à procura de mais e mais conhecimentos, através de minha inquietude
geminiana de ser. Não vislumbro contracheques recheados, nem títulos e, sim, conhecimento,
novas amizades, novos horizontes, pois sempre me enxerguei como um rio que necessita do mar!
A minha vida é efêmera por demais, e tenho muito ainda para percorrer.
O meu muito obrigado a todos!
RESUMO

O presente estudo analisou as origens da formação socioespacial do município de Cajueiro da


Praia, em especial, da praia de Barra Grande, identificando as diferentes etapas de uma trajetória
que se inicia com as colônias de pescadores e se volta, nos dias atuais, para o desenvolvimento do
turismo no contexto regional e internacional. As bases teórico-metodológicas para o
desenvolvimento desta pesquisa se apoiaram no paradigma de formação socioespacial proposto
por Milton Santos, que permitiu considerar a relação dialética entre espaço e sociedade ao longo
do tempo, conhecendo a sociedade que ali se instalou e as influências que ela sofreu em cada fase
do seu processo histórico frente à conjuntura local, regional, nacional e mundial. O trabalho tem
início com a discussão sobre gênese da ocupação do litoral do nordeste brasileiro, em especial,
com a ocupação do litoral piauiense, para uma maior compreensão de sua dinâmica atual. Com
base em dados bibliográficos e empíricos coletados acerca do turismo em Barra Grande, foi
discutido e analisado o desenvolvimento das atividades ligadas ao turismo no litoral piauiense,
particularmente no município de Cajueiro da Praia, visando à compreensão da realidade do objeto
de estudo no contexto atual. Barra Grande teve seu núcleo inicial de povoamento há quase 350
anos, como colônia de pescadores, e sua visitação remonta do início da década de 70 do século
XX, quando veranistas oriundos principalmente de algumas cidades dos estados do Piauí e Ceará
vinham passar suas férias. Só a partir de 2000, um novo destino turístico em Barra Grande se deu
em virtude, principalmente, da introdução do esporte kitesurf, trazido pelo empresário e médico
teresinense Ariosto Ibiapina, que foi determinante para consolidar aquela localidade em um
destino turístico conhecido nacional e internacionalmente.

Palavras-chave: Formação Socioespacial; Turismo no litoral do Piauí; Barra Grande;


Transformações Recentes.
ABSTRACT

This study analyzes the origins of the socio-spatial formation of the municipality of Cajueiro da
Praia, in particular, Barra Grande beach, identifying the various stages in a history that began
with the fishing communities, through to the region it is today, with tourism development in the
regional and international context. The theoretical and methodological bases used in the
development of this research are based on the paradigm of socio-spatial formation proposed by
Milton Santos, which allows us to consider the dialectical relationship between space and society
over time, gaining a better knowledge of the society that first settled there, and the influences that
it has been subjected to in each phase of its historical process, in terms to the local, regional,
national and international conjuncture. The work begins with a discussion of the origins of the
occupation of the Brazilian northeast coast, particularly the Piauí coast, seeking to gain a greater
understanding of its current dynamic. Based on bibliographical and empirical data on tourism in
Barra Grande, we discuss and analyze the development of activities connected to tourism on the
Piauí coast, focusing specifically on the municipality Cajueiro da Praia, seeking to understand the
reality of the object of study in a modern-day context. Barra Grande was first settled around 350
years ago, as a small fishing colony, and it became popular with visitors in the 1970s, when
vacationers, coming mainly from the certain cities in the states of Piauí and Ceará, came here to
spend their vacation. It was not until 2000 that Barra Grande began to be seen as a new tourist
destination, largely due to the introduction of kitesurfing, a sport brought by Ariosto Ibiapina, a
businessman and doctor from the city of Teresina. This activity was crucial for consolidating that
location into the national and international tourism destination that it is today.

Keywords: Socio-spatial formation; Tourism on the coast of Piauí; Barra Grande; Recent
transformations.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localização geográfica do litoral piauiense: praias de Cajueiro da Praia-PI.... 21


Figura 2 - Litoral piauiense: Parnaíba, Ilha Grande, Luís Correia e Cajueiro da 23
Praia..................................................................................................................
Figura 3 - Configuração territorial do Estado do Piauí do século XVII............................ 31
Figura 4 - Configuração territorial do Estado do Piauí do século XVIII........................... 42
Figura 5 - A economia do município de Cajueiro da Praia-PI........................................... 49
Figura 6 - Evolução populacional do município de Cajueiro da Praia-PI......................... 52
Figura 7 - Aspectos educacionais do município de Cajueiro da Praia-PI.......................... 55
Figura 8 - Estabelecimentos de saúde do município de Cajueiro da Praia-PI................... 56
Figura 9 - Praia de Barrinha – Cajueiro da Praia-PI.......................................................... 62
Figura 10 - Praia de Morro Branco – Cajueiro da Praia-PI................................................. 63
Figura 11 - Praia de Cajueiro – Cajueiro da Praia-PI.......................................................... 64
Figura 12 - Praia de Barra Grande – Cajueiro da Praia-PI.................................................. 65
Figura 13 - Trilha ecológica do Cavalo Marinho – Cajueiro da Praia-PI............................ 66
Figura 14 - Projeto Peixe Boi marinho – Cajueiro da Praia-PI........................................... 68
Figura 15 - Torre de observação do Projeto Peixe Boi marinho – Cajueiro da Praia-PI..... 69
Figura 16 - Cajueiro Rei – Cajueiro da Praia-PI.................................................................. 70
Figura 17 - Dr. Ariosto Ibiapina, proprietário da Pousada BGK – Cajueiro da Praia-PI.... 82
Figura 18 - Vista aérea da Pousada BGK, em Barra Grande – Cajueiro da Praia-PI.......... 83
Figura 19 - Escolas de kitesurf em Barra Grande – Cajueiro da Praia-PI............................ 85
Figura 20 - Mapa rodoviário do Piauí, Brasil...................................................................... 90
Figura 21 - Piauí em número de turistas (A) e em número de gastos (B)............................ 92
Figura 22 - Despesas dos orçamentos do município Cajueiro da Praia-PI.......................... 102
Figura 23 - Praia de Barra Grande, no Piauí, é um dos paraísos do litoral do Nordeste..... 110
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Produto Interno Bruto (Piauí e Cajueiro da Praia).......................................... 61


Tabela 2 - Passeios Turísticos ofertados em Barra Grande – Cajueiro da Praia-PI......... 107
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


APA Área de Proteção Ambiental
BGK Barra Grande Kite Camp
BNTM Brazil National Tourism Market
CEPRO Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí
CHESF Companhia Hidroelétrica do São Francisco
CMA Centro de Mamíferos Aquáticos
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
MTUR Ministério do Turismo
OMT Organização Mundial de Turismo
PDITS Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável
PNT Plano Nacional de Turismo
PRODETUR Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo
SEBRAE Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Piauí
SETUR Secretaria de Turismo
SUFRAMA Superintendência da Zona Franca de Manaus
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 11
2 GÊNESE E EVOLUÇÃO DA FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DO LITORAL 19
NORDESTINO E DO PIAUÍ.......................................................................................
2.1 Caracterização da área de estudo..................................................................................... 19
2.2 O processo de ocupação do litoral nordestino................................................................. 24
2.3 Breve história da ocupação do litoral piauiense.............................................................. 28
3 O MUNICÍPIO DE CAJUEIRO DA PRAIA: gênese e aspectos geo-históricos...... 34
3.1 O desenvolvimento das cidades de Parnaíba e Luis Correia........................................... 34
3.2 As origens de Cajueiro da Praia e características gerais.................................................. 47
3.3 Cajueiro da Praia no contexto econômico nacional e internacional................................ 57
3.4 A atratividade turística de Cajueiro da Praia................................................................... 61
4 ORIGENS DA PRAIA DE BARRA GRANDE.......................................................... 72
4.1 Etapas do desenvolvimento do turismo na praia de Barra Grande.................................. 72
4.2 Principais políticas públicas de esporte, lazer e turismo................................................. 87
5 CONCLUSÃO................................................................................................................ 111
REFERÊNCIAS............................................................................................................. 116
ANEXOS......................................................................................................................... 123
11

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa foi motivada pela intenção de compreender o recente processo de


transformação da praia de Barra Grande, localizada no município de Cajueiro da Praia, no litoral
piauiense, cujo núcleo original de povoamento teve início, segundo Macedo (2011), há quase 350
anos, como colônia de pescadores. A partir do ano 2005, em virtude, principalmente, da
introdução da prática do kitesurf 1, passa a receber turistas de diferentes regiões do Brasil e do
mundo.
Segundo a Organização Mundial do Turismo – OMT (2001), o turismo compreende as
atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e estadas em lugares diferentes do seu
entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com a finalidade de lazer,
negócios, ou outras.
De acordo com o Ministério do Turismo – MTUR (2012), o segmento Sol e Praia teve sua
origem na Europa, em meados do século XVIII, a princípio por necessidades terapêuticas ou por
indicações médicas para o restabelecimento físico ou mental das populações mais nobres. Só
então, a partir da década de 60 do século XX, com o processo de industrialização, melhoria dos
sistemas de transporte e, consequentemente, facilidade de acesso às cidades litorâneas, o
segmento ganha uma função social e deixa de ser elemento de uma demanda seletiva que se
amplia para o turismo de massa.
Para Moraes (2000), no Brasil, o processo de expansão do Turismo de Sol e Praia se
consolida nos anos de 1970, devido à construção de segundas residências no litoral do bairro de
Copacabana – Rio de Janeiro, expandindo-se para as regiões litorâneas do Sul e do Sudeste e,
posteriormente, para todo o litoral brasileiro. Cabendo destacar, segundo pesquisas de Hábitos de
Consumo do Turismo Brasileiro (2007 e 2009), a região Nordeste.
Na medida em que o Turismo de Sol e Praia se populariza ao longo das últimas décadas, a
atividade turística vem se modificando e acompanhando a evolução do capitalismo, tornando-se
cada vez mais uma mercadoria e transformando espaços urbanos e regiões pacatas em polos de
atração de turistas oriundos de diferentes lugares. Daí porque pesquisas e estudos que visam a
analisar os impactos, tanto positivos como negativos, causados por essa atividade nas

1
kitesurf é um esporte aquático sem certificação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que tem
como princípio básico “voar sobre a água” (com o uso de uma pipa movida pela força dos ventos, e com prancha
presa aos pés). É uma prática que se difundiu na praia de Barra Grande nos últimos anos e influenciou diretamente
no reconhecimento do local como destino turístico, nacional e internacional.
12

perspectivas ambiental, social, econômica e cultural, vêm sendo realizados na expectativa de


aprofundar o conhecimento sobre esse fenômeno.
Com apenas 66 km de extensão, todo o litoral do estado do Piauí está situado na Área de
Proteção Ambiental (APA) Costa do Delta, que é uma unidade de conservação de uso sustentável
criada pelo Decreto Federal s/nº, de 28 de agosto de 1996, sob a responsabilidade do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, órgão gestor que ordena as
atividades ali praticadas.
Com uma área aproximada de 313.809 hectares, a região do Delta do Parnaíba compõe o
Polo de Turismo da Costa do Delta, do Programa de Desenvolvimento do Turismo –
PRODETUR/NE. Está inserido no circuito turístico da Rota das Emoções 2, que envolve destinos
turísticos no Piauí, Ceará (PARNA de Jericoacoara) e Maranhão (PARNA de Lençóis
Maranhenses) na qual a atividade turística é desenvolvida em parceria com o Ministério do
Turismo.
Nesse sentido, por muito tempo o litoral piauiense foi considerado apenas como um
trecho de passagem de turistas entre as cidades de Jericoacoara (CE) e os Lençóis Maranhenses
(MA), no qual as paradas realizadas tinham por objetivo apenas conhecer o Delta do Parnaíba.
Atualmente, porém, esse pequeno litoral vem sendo considerado um ponto de parada quase que
obrigatório nas viagens tidas como turísticas, por conta de sua situação privilegiada, conforme
destacam Cavalcanti (2000), Costa (2006) e Carvalho (2010).
O município de Cajueiro da Praia possui quatro povoados em sua orla marítima (Barra
Grande, Barrinha, Morro Branco e Cajueiro) e, de acordo com dados estatísticos do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010), apresenta uma população de 7.163

2
A Rota das Emoções corresponde a um roteiro que liga três estados do Nordeste brasileiro: Ceará (Parque Nacional
de Jericoacoara), Piauí (Área de Proteção Ambiental Polo Costa do Delta) e Maranhão (Parque Nacional dos Lençóis
Maranhenses). Possui um ecossistema variado e apresenta mares de ondas perfeitas, próprias para a prática
do surf, windsurf, kitesurf, entre outros esportes náuticos. Toda a Rota das Emoções é envolta em muita aventura e a
região, bastante conservada, virou roteiro obrigatório para os amantes do ecoturismo, do turismo de aventura e dos
esportes ao ar livre. Este roteiro integrado é resultado do Projeto da Rede de Cooperação Técnica para a Roteirização
– 1ª edição, implementado pelo SEBRAE e pelo Ministério do Turismo. Desde 2005, lideranças locais,
empreendedores e entidades trabalham unidos para o desenvolvimento integrado dessa região. O SEBRAE tem
trabalhado as comunidades ao longo da Rota das Emoções, valorizando sua cultura, ensinando-lhes sobre a
importância deste potencial turístico, que é também uma forma de desenvolvimento das comunidades e sustento nos
mais diversos ramos do turismo, sempre com um olhar na sustentabilidade e competitividade do produto no mercado
nacional e internacional. Todos esses esforços contribuíram para que a Rota das Emoções, em 2009, fosse eleita
como Melhor Roteiro Turístico do país, concedido pelo Ministério do Turismo, durante o 4º Salão do Turismo, maior
evento turístico da América Latina.
13

habitantes. O município está inserido no Programa de Regionalização do Turismo, criado pelo


Ministério do Turismo – MTUR em 2004, com a proposta de estruturar, ordenar e diversificar a
oferta turística no Brasil, sendo um referencial de base territorial do Plano Nacional de Turismo –
PNT e integra o roteiro denominado Piauí Surpreendente, um dos 87 roteiros Turísticos
divulgados pelo MTUR (SETUR, 2010).
A praia de Barra Grande possui uma faixa litorânea de 13 quilômetros, sendo a mais
extensa das praias existentes na orla marítima de Cajueiro da Praia. De acordo com Ferreira
(2012), sua população é composta de aproximadamente 1.411 habitantes. Recentemente, passou a
ser mais citada nos discursos institucionais, como um destino de destaque, a partir do momento
em que a localidade começou a ser progressivamente procurada por estrangeiros.
Segundo Macedo (2011), a visitação à praia de Barra Grande remonta do início da década
de 70 do século XX, quando veranistas, oriundos principalmente das cidades de Teresina e
Parnaíba (PI), e do estado do Ceará, especialmente das cidades de Jericoacoara e Camocim,
vinham passar suas férias.
Desde então, só a partir do ano 2000, um novo destino turístico em Barra Grande se deu,
em virtude, principalmente, da introdução do esporte kitesurf, no ano de 2005, trazido pelo
empresário e médico teresinense Ariosto Ibiapina, que construiu uma pousada chamada de
Barraca Kite Camp (BGK), para oferecer suporte e estrutura aos praticantes de kitesurf, que
passaram a escolher aquela localidade para praticá-lo.
De acordo com Lopes (2012), segundo depoimento de moradores da comunidade de Barra
Grande, o local passou por uma série de mudanças nos últimos anos, de tal modo que a pequena
vila com tradições comparadas às de uma cidade de interior, começou a se transformar em um
destino para turistas do mundo inteiro. Isso ocorreu em razão da consolidação da prática do
kitesurf, facilitada principalmente pelo aproveitamento dos ventos alísios3 que ocorrem naquela
região litorânea do país.

3
Os alísios são ventos regulares que sopram constantemente, em superfície, das regiões de altas pressões
atmosféricas subtropicais, situadas em ambos os hemisférios nas latitudes de aproximadamente 30º, para as de baixas
pressões próximas à linha do Equador. Por serem bastante intensos em toda a costa litorânea piauiense durante todo o
ano, principalmente entre os meses de Agosto, Setembro e Outubro, chegando a velocidades superiores a 7 m/s,
favorecem a prática de esportes náuticos na região, como o kitesurf e o windsurf.
14

Sendo assim, acredita-se que o kitesurf praticado na praia de Barra Grande, a partir do ano
2000 foi, dentre as demais práticas esportivas e de lazer exploradas na região, determinante para
consolidar aquela localidade em um destino turístico conhecido nacional e internacionalmente.
Lopes (2012) destaca que o surgimento de novos empreendimentos em Barra Grande
causou muitos atritos e uma disputa pelo território, em que a comunidade composta por colônia
de pescadores acabou excluída e marginalizada no decorrer desse processo, já que pouco usufrui
dos aspectos positivos que o turismo pode oferecer.
Desta forma, admitindo que determinados espaços cheguem a redefinir toda sua vida
econômica, cultural e social, em decorrência do incremento do produto turístico, reorganizando-
se para projetar uma imagem atrativa ao turismo e admitindo, também, que este é um processo
que pode ser entendido a partir das categorias de análises espaciais. Acredita-se que a prática do
kitesurf induziu o desenvolvimento do turismo na praia de Barra Grande, organizando-se para
movimentar recursos e atrair investidores que ali desejam se fixar, construindo moradias ou
abrindo estabelecimentos comerciais, principalmente pousadas para acolher os turistas.
Também é preciso destacar que o turismo, ao ser interpretado através de categorias de
análise espaciais, numa perspectiva de base marxista, considera o fator econômico como
determinante na definição das formas como a sociedade se organiza para produzir, a partir de um
dado momento histórico.
Assim, a forma como a sociedade se organiza é que vai definir a relação entre ela e seu
espaço natural. Por esse motivo, para se analisar a configuração de um determinado espaço é
necessário conhecer a sociedade que ali se instalou e as influências que ela sofre, a cada
momento, diante da conjuntura regional, nacional ou internacional. É isso que se pretende fazer
ao analisar a realidade do objeto deste presente estudo, visto que existe uma relação dialética
entre espaço e sociedade.
Nessa perspectiva, serão adotadas as ideias defendidas por Santos (2008), as quais
permitem compreender o espaço como um conjunto indissociável, solidário e contraditório de
sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro
único no qual a história se dá.
Com este fim, o citado autor propõe que o território seja entendido enquanto território
usado e enquanto categoria de análise geográfica, pois “o território é o lugar em que desembocam
todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde
15

a história do homem plenamente se realiza, a partir das manifestações da sua existência”


(SANTOS, 2007, p. 13).
Dentro desse entendimento, pode-se ainda fazer referência ao fato de que a categoria
marxista de formação econômica e social, à qual Santos (1982) acrescentou o conceito de espaço,
é uma das mais adequadas formulações teóricas de análise da realidade socioespacial, pois
reconhece a evolução diferencial das sociedades, em um contexto no qual as determinações
externas também exercem pressão sobre as forças produtivas no plano interno, forçando o avanço
das relações capitalistas de produção e, consequentemente, ocasionando grandes transformações
na organização do espaço e da sociedade.
Desta forma, o presente trabalho aborda os aspectos relativos à formação e às
transformações socioespaciais do município de Cajueiro da Praia, especificamente da praia de
Barra Grande. Recorre-se a uma interpretação que leva em conta, de forma combinada, as
realidades local e global, conforme destaca Santos (2006, p. 270 e 279), em que as redes como
"um veículo de movimento dialético" confrontam, ao mesmo tempo em que unem o global e o
local, criando, paralelamente, ordem e desordem no território, já que "integram e desintegram,
destroem velhos recortes espaciais e criam outros".

As redes são, ao mesmo tempo, globais e locais. São globais porque cobrem todo o
ecúmeno e, na verdade, constituem o principal instrumento de unificação do Planeta.
Mas elas também são locais, já que cada lugar, através de sua estrutura técnica e de sua
estrutura informacional, acolhe uma fração, maior ou menor, das redes globais. No lugar,
elas servem ao trabalho e ao capital (vivo) e determinam a sua natureza (SANTOS,
1999, p. 14).

Entretanto, apesar de existirem pesquisas recentes que evidenciam a prática do kitesurf


como contribuidora para a consolidação do município de Cajueiro da Praia, especialmente da
praia de Barra Grande, em um destino turístico reconhecido nacional e internacionalmente
(CARVALHO, 2010; CAVALCANTI, 2000; COSTA, 2006; FERREIRA, 2012; LOPES, 2012;
MACEDO, 2012), observa-se, no entanto, a ausência de estudos que analisem a configuração
desta localidade, conhecendo a sociedade que ali se instalou e as influências que ela sofreu em
diferentes etapas de sua evolução, frente à conjuntura regional, nacional ou internacional,
especialmente nas últimas décadas, nas quais a prática do kitesurf foi a grande indutora para o
desenvolvimento do turismo daquela região.
Partindo dessas premissas, a dinâmica das transformações socioespaciais motivaram os
seguintes questionamentos:
16

 Como teve início a formação socioespacial do litoral piauiense e cajueirense, em


particular, e quais as principais etapas na sua evolução?
 Como e a partir de quando a praia de Barra Grande se tornou um destino turístico em
consolidação nacional e internacional? Quais as transformações no cenário nacional e mundial
responsáveis por essa mudança?
 Como está configurada a rede de turismo em Barra Grande? Qual a procedência dos
turistas que visitam a praia de Barra Grande?
 Quais as políticas de turismo que incidem e modificam o espaço geográfico e turístico de
Barra Grande?
 Quais são as principais manifestações esportivas e de lazer que ocorrem na praia de Barra
Grande? Em que época são realizadas? Qual o público que participa delas?
 O kitesurf contribuiu, de fato, para o desenvolvimento do turismo do município de
Cajueiro da Praia, através da exploração dessa prática na praia de Barra Grande?
Para encontrar as respostas para esses questionamentos, o presente estudo apresenta como
objetivo geral analisar as origens da praia de Barra Grande, localizada no município de Cajueiro
da Praia-PI, e sua evolução ao longo do tempo. Além disso, buscam-se, ainda, como objetivos
específicos, apontar as principais características naturais do litoral piauiense e
cajueirense; identificar e discutir a dinâmica das principais transformações socioespaciais
(gênese, características gerais, contexto econômico e atratividade turística) que contribuíram para
a consolidação do município de Cajueiro da Praia em um destino turístico; apontar as diferentes
etapas no desenvolvimento do Turismo da praia de Barra Grande, responsáveis pela consolidação
da localidade como destino turístico; e identificar as principais políticas públicas de esporte, de
lazer e de turismo que incidem e modificam o espaço geográfico e turístico da praia de Barra
Grande.
Como base metodológica para o desenvolvimento desta pesquisa foi adotado o método
proposto por Vergara (2011; 2012; 2013), que constitui um fio condutor para todo o processo de
construção do conhecimento, promovendo a aproximação do investigador com seu objeto de
estudo.
Assim, o enfoque qualitativo foi adotado, vislumbrando o pleno desenvolvimento deste
trabalho, com a intenção de conhecer a frequência de determinados fatos e acontecimentos,
sobretudo a gênese e a evolução da formação socioespacial de Cajueiro da Praia, especialmente
17

da praia de Barra Grande, bem como os elementos fundamentais responsáveis pela sua
configuração atual.
Para tanto, foi adotada, também, uma abordagem geo-histórica, que considerou tanto as
características físicas do lugar como os elementos humanos presentes desde as suas origens até a
atualidade, analisados em uma escala mais ampla, que permita perceber a relação entre o local, o
regional, o nacional e o mundial.
Nesse sentido, esta pesquisa recorreu, como estratégias para a coleta de dados com fins
descritivos e explicativos, à pesquisa documental e bibliográfica, realizada a partir de
informações históricas, buscando identificar os elementos naturais e humanos que determinaram
e contribuíram para a evolução do município de Cajueiro da Praia, em particular para a Praia de
Barra Grande, através do desenvolvimento do turismo dessa localidade, induzido pela prática do
kitesurf.
Assim, os dados coletados foram tratados, a fim de se conhecer melhor a realidade dos
indivíduos que residem e visitam a praia de Barra Grande, bem como os elementos contraditórios
dos interesses capitalistas que foram estabelecidos ao longo dos anos, através do turismo.
Para atingir os objetivos deste estudo, estruturou-se a dissertação em três capítulos e uma
conclusão. Na introdução foram apresentados os propósitos da investigação, os procedimentos
metodológicos, a justificativa e a relevância da pesquisa.
No primeiro capítulo foram abordadas a gênese e a evolução da formação socioespacial
do litoral nordestino e do Piauí. O segundo abordou a gênese e os aspectos geo-históricos do
município de Cajueiro da Praia. Já o terceiro capítulo versou sobre as origens de Barra Grande,
evidenciando as etapas do desenvolvimento do turismo e as principais políticas públicas de
esporte, lazer e de turismo que incidiram e modificaram o espaço geográfico e turístico da região.
Por fim, os resultados desta pesquisa foram apresentados na conclusão, na qual também
foram apontadas melhorias para que os atores de Cajueiro da Praia (do governo à sociedade),
especialmente em Barra Grande, possuam funções estratégicas na renovação do processo de
formulação de políticas públicas locais sustentáveis. Desta forma, a aplicação do princípio
participativo pode contribuir na construção da legitimidade do governo local, promover uma
cultura mais democrática, tornar as decisões e a gestão, em matéria de políticas públicas, mais
eficazes.
18

Nesse sentido, percebe-se que o presente estudo poderá reconhecer o município de


Cajueiro da Praia, em particular a Praia de Barra Grande, como um destino turístico que possa
vislumbrar a exploração do seu território, priorizando as ações humanas e institucionais,
envolvendo os aspectos físicos e ambientais, como capazes de influenciar nas condições de
saúde, qualidade de vida e segurança para as suas comunidades.
Espera-se, ainda, que este estudo possa contribuir como elemento formador do contexto
cultural e econômico desta região, bem como subsidiar as futuras ações dos órgãos públicos
locais, das comunidades e ciência, para formulação de políticas públicas de Planejamento e
Gestão do Destino Turístico, eficazes e legitimadas.
19

2 GÊNESE E EVOLUÇÃO DA FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DO LITORAL


NORDESTINO E PIAUIENSE

2.1 Caracterização da área de estudo

O Brasil possui uma área litorânea de extensão equivalente a 7.367 km, dentre os quais as
regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul têm contato direto com o Oceano Atlântico, com exceção
da Região Centro-Oeste.
Dentre as praias brasileiras mais procuradas pelos turistas, destacam-se as da região
Nordeste, que representa 18% do território nacional, com cerca de 1.558.196 km². Em extensão
territorial, é a terceira maior região do Brasil, sendo constituída por nove estados: Alagoas (AL),
Bahia (BA), Ceará (CE), Maranhão (MA), Paraíba (PB), Pernambuco (PE), Piauí (PI), Rio
Grande do Norte (RN) e Sergipe (SE). Possui cerca de 53 milhões de habitantes, concentrados
principalmente nas cidades de Salvador (BA), Fortaleza (CE), Recife (PE) e São Luís (MA). Com
uma qualidade de vida média e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,720, sua
densidade demográfica gira em torno de 32 hab./km² (IBGE, 2012).
A região Nordeste é subdividida em quatro regiões: o Meio-Norte, que ocupa toda a área
do estado do Maranhão e o oeste e sul do Piauí; o Sertão (maior sub-região), que corta o oeste da
Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, todo o território cearense e o leste do Piauí; a
Zona da Mata (domina todo o litoral leste da região) que vai desde o sul da Bahia até o Rio
Grande do Norte; e o Agreste, que se situa entre o Sertão e a Zona da Mata, percorrendo desde a
Bahia até o Rio Grande do Norte.
Segundo Aziz Ab’Saber (2003), a despeito de a maior parte das paisagens do país estar
sob a complexa ação de duas formas de organização distintas – ou seja, da natureza e da
sociedade – ainda existem possibilidades razoáveis para uma caracterização dos espaços naturais,
numa tentativa mais objetiva de reconstrução da estruturação espacial primária das mesmas.
Nesse sentido, de acordo com Emperaire (1989), a região “Meio-Norte” ou “Nordeste
Ocidental”, também conhecida como Mata dos Cocais, devido às palmeiras
de babaçu e carnaúba encontradas na região, é marcada ecologicamente por uma zona de
transição entre o domínio amazônico e o semiárido nordestino. Para Fernandes (1982), o estado
do Piauí se encontra na parte Ocidental desta região, ocupando quase totalmente a margem direita
da bacia do rio Parnaíba.
20

Ainda de acordo com Ab’Saber (1969), a Mata dos Cocais está situada entre os estados do
Maranhão e Piauí, representando a transição dos domínios amazônico, do cerrado e da caatinga,
onde a principal atividade econômica é o extrativismo vegetal de babaçu e carnaúba. Essa
formação vegetal de transição entre os climas semiárido, equatorial e tropical representa menos
de 3% da área brasileira e possui como principais espécies o babaçu e a carnaúba, abrangendo os
estados do Maranhão, do Piauí, e parte do Ceará, além do Tocantins, na Região Norte.
Do babaçu é extraído o palmito comercializado predominantemente para o consumo
humano, e as sementes para a produção de óleos utilizados em cosméticos e aparelhos. Da
carnaúba se extraem as raízes como diurético, os frutos como nutrientes para rações animais, o
tronco para construções e as palhas para a produção artesanal, a adubação do solo e a extração da
cera de carnaúba, que pode compor diversos produtos industriais, tais como cosméticos, cápsulas
de remédios, componentes eletrônicos, produtos alimentícios, ceras polidoras e revestimentos.
Por outro lado, a agricultura desenvolvida na região dos cocais se concentra
principalmente na produção de algodão e no cultivo de cana-de-açúcar e arroz. A mineração,
outra expressiva atividade econômica da região, está representada, por exemplo, pelo Programa
Grande Carajás, criado em 1980, pela Companhia do Vale do Rio Doce, que extrai e transporta
minérios de ferro em terras do Maranhão, do Pará e do Tocantins.
Com relação ao estado do Piauí, conforme figura 1, seu litoral possui 66 km de extensão,
ou 0,2% da faixa litorânea brasileira, e está localizado entre os litorais do Ceará e do Maranhão.
Por muito tempo foi considerado apenas uma passagem entre Jericoacoara e os Lençóis
Maranhenses, a famosa Rota das Emoções. A parada muitas vezes era feita somente para
conhecer o deslumbrante Delta do Parnaíba. Só agora o pequeno litoral do estado vem sendo
considerado um ponto de parada quase obrigatório na viagem.
21

Figura 1 - Localização geográfica do litoral piauiense: praias de Cajueiro da Praia-PI

Fonte: Elaborada pelo autor (2015).

Para Baptista (1981), a zona costeira piauiense começa na Barra das Canárias, seguindo
pela Ilha de Santa Isabel, que apresenta formas litorâneas retificadas sucessivas, entre a Barra do
Igarassu e as Canárias. O litoral piauiense, de acordo com Baptista e Filho (2012), apresenta uma
diversidade de feições distribuídas por seus 66 km de extensão, cujas características estão
associadas ao seu embasamento geológico, principalmente à ocorrência de recifes de arenito
ocorrentes. Apresenta, também, duas formações geológicas: depósitos de areias do Quaternário e
a Formação Barreiras.
De acordo com a classificação de Koppen, o clima é do tipo tropical, quente e úmido
(Aw’), com alto índice de pluviosidade em decorrência da influência da massa Equatorial
Atlântica durante os meses de janeiro a junho. Geologicamente, a região possui duas formações:
depósitos de areias quartzosas, do Quaternário, situados mais a oeste, chegando até os limites
com o Maranhão, e a formação Barreiras, datada do Terciário, situada mais a leste, até os limites
com o Ceará (JACOMINE et al., 1986; SOUSA & RODRIGUES NETA, 2006).
22

A capital do estado do Piauí é a cidade de Teresina, situada a 350 km do litoral, que


constitui o portão de entrada para que os turistas conheçam os principais produtos turísticos do
estado. Encontra-se em um importante entroncamento rodoviário que interliga os estados do
Nordeste à região Norte, e que facilita a comunicação com os principais centros urbanos das
regiões Centro-oeste e Sudeste.
Além do transporte rodoviário, Teresina possui um aeroporto local fora dos padrões
internacionais, no qual atuam as principais companhias aéreas do Brasil (GOL, TAM e AZUL),
transportando pessoas diariamente para as diferentes regiões do país, inclusive para Parnaíba,
localizada no litoral piauiense.
Situado na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa do Delta, o litoral piauiense por
muito tempo foi considerado apenas como uma passagem entre as cidades de Jericoacoara e os
Lençóis Maranhenses, a famosa Rota das Emoções, onde os turistas paravam brevemente para
conhecer o Delta do Parnaíba. Só agora o pequeno litoral vem sendo considerado um ponto de
parada quase obrigatório na viagem, figurando como destaque no turismo do Estado, por conta de
sua situação privilegiada, como destacam Cavalcanti (2000), Costa (2006) e Carvalho (2010).
De acordo com a Secretaria de Turismo (2010), a Região turística Polo Costa do Delta
apresenta inúmeras oportunidades de aventuras e descobertas, como: lagoas, dunas, mangues,
rios. Recebe esse nome por estar situada na região do baixo Parnaíba, que abrange o litoral
piauiense e onde se encontra o atrativo mais expressivo desta região, o Delta do Parnaíba. Essa
região é estratégica para o desenvolvimento do turismo no Piauí, por apresentar potencialmente
os segmentos mais expressivos do turismo, dentre eles: turismo de sol e praia, turismo de
aventura, turismo náutico, turismo de pesca e o ecoturismo.
Para Castro (2007), o litoral piauiense apresenta extensas planícies flúvio-marinhas que,
cortadas por uma rede de canais, formam as ilhas do Delta, e como resultado dos processos de
acumulação flúvio-marinha e influência das características desses ambientes, desenvolvem-se as
áreas de mangues, as dunas e as áreas de tensão ecológica, formadas pela caatinga a leste, pelo
cerrado a sudoeste, e por sistemas marinhos ao norte.
Segundo o Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí – CEPRO (1996), a
classificação dentre as principais formações vegetais se destacam: a vegetação pioneira psamófila
(de terrenos arenosos), a vegetação subperenifólia de dunas, a vegetação perenifólia de mangue,
23

vegetação de várzea, a vegetação do delta dos rios Parnaíba-Longá, a vegetação dos tabuleiros e a
vegetação estacional secundária do cerradão.
Assim, o valor turístico do Polo Costa do Delta é reforçado pela predominância desses em
espaços naturais e, em especial, costeiros. As singularidades deste litoral chamam atenção para
uma destinação turística onde a natureza se mostra praticamente intocada e inexplorada pela ação
humana.
Segundo o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável – PDITS Polo
Costa do Delta (2009), o Delta do Parnaíba, localizado entre os estados do Piauí e Maranhão,
especificadamente nos municípios de Parnaíba, Ilha Grande e Luís Correia (PI), Araioses e
Tutoia (MA), é constituído por mais de setenta ilhas fluviais em cinco braços do rio Parnaíba,
conforme demonstrado na figura 2.

Figura 2 - Litoral piauiense: Parnaíba, Ilha Grande, Luís Correia e Cajueiro da Praia-PI

Fonte: EMBRATUR (2015).

De acordo com Guzzi (2012), ocorrem no litoral piauiense cinco espécies brasileiras de
tartaruga marinha: Caretta caretta ou tartaruga cabeçuda, Chelonia mydas ou tartaruga verde,
Eretmochelys imbricata ou tartaruga de pente, Lepidochelys olivacea ou tartaruga oliva e
Dermochelys coriacea ou tartaruga de couro.
Nas praias da Pedra do Sal e de Barra Grande foram flagradas desovas da tartaruga de
couro, uma das espécies mais ameaçadas de extinção do país. Até recentemente, acreditava-se
que as desovas desta espécie só aconteciam no litoral do Espírito Santo. Por outro lado, também
24

foram registradas desovas da tartaruga de pente, outra espécie que está entre as mais ameaçadas
de extinção. Outra espécie ameaçada de extinção, que é encontrada também no litoral piauiense, é
o mamífero aquático peixe-boi marinho (Trichechus manatus). A espécie pode ser observada em
seu habitat natural no município de Cajueiro da Praia, como atrativo turístico, onde há uma base
do Projeto Peixe-Boi Marinho, de responsabilidade do Centro de Mamíferos Aquáticos – CMA e
do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio.
Segundo o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável – PDITS Polo
Costa do Delta (2009), nos passeios de barco pelo Delta e pela praia de Barra Grande é possível
conhecer e observar espécies típicas dos manguezais, um dos principais ecossistemas da região,
como o caranguejo, o cavalo marinho, jacarés, macacos, e uma grande diversidade de pássaros.
Apesar de o litoral piauiense apresentar características singulares que representam
potencialidades para o desenvolvimento do turismo, o que o diferencia dos demais litorais
nordestinos, essa atividade ocorre em toda a extensão litorânea do estado, de forma
desorganizada, somente nos períodos considerados de alta estação, correspondendo às férias
escolares.

2.2 O processo de ocupação do litoral nordestino

O Nordeste é a região de ocupação mais antiga do Brasil, com a fundação de vilas e


províncias ao longo do seu litoral, em decorrência da expansão marítima portuguesa. De acordo
com Marrone e Asnus (2005, p. 14), o litoral do Nordeste brasileiro foi a primeira área a ser
ocupada e explorada pelos portugueses, estando a economia pré-colonial centrada no pau-brasil,
sem criar, no entanto, núcleos de povoamento.
Antes da ocupação portuguesa os primeiros habitantes do território brasileiro eram os
índios Tabajaras, Tupinambás, Tupi-guaranis, Guajajaras, Tupiniquins, Tremembés, Tamoios,
Potiguaras, Caetés, entre outros.
Olivieri (2005) destaca que apesar de alguns estudos afirmarem que a exploração do
território brasileiro tenha sido feita pela Coroa Portuguesa no século XVI, no ano de 1498, Duarte
Pacheco Pereira chegou à altura dos atuais estados do Amazonas e Maranhão, muito embora
oficialmente a descoberta do Brasil seja registrada com a chegada das Caravelas portuguesas
25

comandadas por Pedro Alvares Cabral ao Brasil, em 1500, quando o território recém-descoberto
é batizado como Terra de Santa Cruz.
De fato, o processo da colonização do território brasileiro pelos portugueses, no século
XVI, foi marcado pelo confronto com os índios pela disputa do território, provocando uma
acentuada diminuição na população indígena; pela proliferação de doenças epidêmicas trazidas
pelo branco; pela escravidão; pela perda das identidades cultural e linguística; e pela
miscigenação entre as raças branca, indígena e negra.
Para Olivieri (2013), neste período os confrontos dos portugueses com os holandeses e os
franceses, pelo direito à exploração comercial do território brasileiro, também eram constantes, o
que estimulou o estabelecimento definitivo de povoações e estruturas econômicas (agricultura e
comércio) pelos portugueses em terras brasileiras, além da organização de um sistema político
administrativo.
Como nessa época as fronteiras criadas nas Américas pelo Tratado de Tordesilhas, em
1494, ainda não estavam claramente definidas, a constante presença dos franceses e holandeses
levou o novo rei de Portugal, Dom João III, a organizar expedições de defesa da costa brasileira,
especialmente na região Nordeste.
Segundo Fonseca et al. (2010), a formação territorial do Brasil, a partir da zona costeira,
favoreceu a conexão territorial entre o interior e o litoral. Embora houvesse pouca articulação
entre os espaços litorâneos, os principais contatos entre as regiões nacionais se processavam via
navegação de cabotagem, e era nesse contexto que as áreas costeiras mais próximas se
comunicavam. Os portos, embarcadouros e trapiches são bons exemplos de infraestrutura que
dava a fluidez geográfica necessária à atividade econômica.
Com a construção dos primeiros núcleos urbanos no litoral nordestino, a principal forma
de produção comercial esteve relacionada à economia canavieira, que proporcionou poder
político e econômico à região, no período colonial. Contudo, o território brasileiro era muito
extenso para uma ocupação inicial tão dispersa, o que facilitou as constantes invasões de
holandeses e franceses.
No entanto, na segunda metade do séc. XVI, o pau-brasil perdeu importância econômica e
foi substituído pela cultura de cana-de-açúcar, que se tornou o principal produto comercial da
Colônia. Dentre os fatores que contribuíram para o desenvolvimento da economia açucareira no
Nordeste, especialmente em Pernambuco e na Bahia, destacam-se o solo e o clima favoráveis, e a
26

localização estratégica do litoral nordestino, com relação aos portos portugueses, o que barateava
os custos de transporte.
Conforme Santos (2001), a concessão das terras cultiváveis era feita pelo Rei, por meio de
grandes propriedades denominadas de latifúndios, e nelas era exercido o trabalho em regime de
escravidão, pelos negros trazidos da África, no plantio e colheita da cana-de-açúcar. Alguns
escravos resistiam à escravidão para o trabalho agrícola e se rebelavam nos latifúndios, ou
fugiam.
Desta forma, na percepção de que as mudanças no Brasil colônia são provocadas pelas
forças produtivas em última instância e controladas e postas em prática de cima para baixo, o
Estado brasileiro era composto de duas classes dominantes, uma hegemônica e outra subalterna.
Esse processo de dualidade que se deu entre os senhores de escravos, hegemônicos de
1822 a 1888, transformou-se em latifundiários feudais, onde ao mesmo tempo em que eram
vassalos/servos do rei de Portugal, de quem haviam recebido as terras dentro de suas
propriedades, para torná-las produtivas, adotaram o modo de produção escravista.
Ainda conforme Santos (2001), esse período era caracterizado pela concentração de
grandes propriedades de terra nas mãos de poucos proprietários. A agricultura extensiva e o uso
do trabalho escravo caracterizaram a economia da Colônia, até as últimas décadas do século XIX.
O domínio português sobre o território brasileiro se consolidou nas últimas décadas do
século XVI, e o reconhecimento do litoral foi concluído com a ocupação de grande parte das
terras litorâneas, especialmente no Nordeste. Nesse sentido, a produção de açúcar também se
consolida, continuando a produzir, entre os anos de 1570 e 1585, do século XIX, através do
aumento considerável de engenhos na Colônia.
De fato, o sucesso da economia açucareira deu a Portugal as condições financeiras para se
assegurar da posse da Colônia, sendo que o auge desse processo acontece sob o domínio
espanhol. Em 1580, na inexistência de herdeiros portugueses ao trono do reino lusitano, o rei
espanhol Felipe II, neto de dom Manuel I, herda a Coroa Portuguesa. Assim, Portugal e suas
colônias foram governados pela corte de Madri, até 1640.
Segundo Neto (2010), as condições naturais, a existência de latifúndios, o
desenvolvimento da monocultura e o trabalho escravo garantiram a produção açucareira no
período da colonização brasileira, assim como o desenvolvimento da pecuária, estimulado pela
27

utilização dos bois nos engenhos, como animais de tração e de transporte da cana-de-açúcar, além
de constituírem também fonte de abastecimento de carnes e couro.
No entanto, com a expansão das lavouras de cana-de-açúcar ao redor dos engenhos, era
necessário encontrar pastagens cada vez mais distantes para a criação de gado, pois esse era
criado solto e se reproduzia rapidamente. Desta forma, criou-se a necessidade de se buscar outras
áreas para o desenvolvimento daquelas atividades que seriam auxiliares ao funcionamento dos
engenhos: gêneros agrícolas alimentares, carne, lenha, couro, animal de tração e de transporte,
etc. Tal situação provocou uma expansão portuguesa para além do domínio das unidades de
produção de açúcar.
Como nessa época o governo proibia a criação de gado no litoral para não prejudicar o
plantio da cana-de-açúcar, a opção foi a abertura de currais no sertão, próximos aos rios e riachos,
onde as condições do clima e do solo não eram favoráveis ao cultivo da cana-de-açúcar,
possibilitando assim o surgimento dos primeiros núcleos de povoamento no interior do Nordeste.
Ainda conforme Neto (2010), os primeiros locais a partir dos quais os vaqueiros se
deslocaram foram os engenhos localizados em Pernambuco e na Bahia. Eles buscaram seguir o
rumo contrário do sentido do Rio São Francisco, que passou a ser conhecido como “Rio dos
Currais”. Ao longo do vale desse rio foram criados currais e fazendas perto de áreas de pastagens.
Na medida em que a pecuária se desenvolvia, foram sendo fixados polos de povoamento,
principalmente fazendas às margens do Rio São Francisco, onde os vaqueiros trabalhavam em
regime de cooperação com os donos dos rebanhos: a cada quatro crias sobreviventes, uma era do
vaqueiro. E assim, com o tempo, alguns vaqueiros conseguiam formar seu próprio rebanho.
Dessa forma, os vaqueiros e seus rebanhos avançavam em direção ao norte da colônia, ocupando
territórios na Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão, contribuindo com o
processo de expansão do território da Colônia.
Assim, a ocupação do sertão e o desenvolvimento da pecuária se estenderam para além do
Nordeste e do Norte. Seguindo o curso contrário do São Francisco, os vaqueiros chegaram
próximo às áreas de mineração em território mineiro, onde os metais preciosos fizeram com que
os vaqueiros se dirigissem também para o oeste da colônia, chegando a Goiás e a Mato Grosso, e
para a região Sul da colônia, nos pampas, local em que a pecuária mais se desenvolveu.
28

2.3 Breve história da ocupação do litoral piauiense

A primeira notícia relativa ao território piauiense data de 1587, quando Gabriel Soares de
Sousa, no seu “Tratado Descritivo do Brasil”, menciona e situa o rio Grande dos Tapuias (atual
rio Parnaíba), informando que “nele entram navios da costa e têm boas colheitas”.
De fato, atualmente existe uma séria polêmica na historiografia piauiense em relação ao
início da colonização de sua região, pois em alguns estudos realizados por Nunes (1975); Camilo
Filho (1986); Dias (2009); Mott (1985); dentre outros, apontam que diferente de outros territórios
nordestinos, a colonização teria sido feita do interior para o litoral, devido à penetração da
pecuária, desenvolvida longe da costa, onde se cultivava a cana-de-açúcar. Por outro lado, nas
recentes análises feitas por Carvalho (1993) em arquivos portugueses, o povoamento do norte do
Piauí antecedeu ao do sul; esse autor afirma que a civilização piauiense começou pelo litoral,
ainda no século XVI, conforme as demais capitais nordestinas. Essas questões serão melhor
abordadas no terceiro capítulo.
Desta forma, no Piauí, as principais transformações em seu espaço se deram de “dentro
para fora”, ou seja, do interior para a costa, entre dois polos de desenvolvimento econômico na
época: Maranhão e Pernambuco, ao contrário do que ocorreu com os demais estados nordestinos,
adquirindo um contorno geográfico irregular, ou seja, estreito no litoral e largo no interior,
conforme demonstrado na figura 3 abaixo.
De acordo com Nunes (1975), o Piauí surgiu historicamente no Império Colonial, século
XVI, como caminho acidentalmente percorrido por expedições saídas de Pernambuco e da Bahia,
em busca do Maranhão. Neste período, o Piauí não passava de uma referência geográfica situada
no Norte do imenso Império, habitado por indígenas.
No entanto, após a chegada oficial dos portugueses no Brasil, em 1500, quase dois séculos
se passaram e as terras piauienses ainda não tinham sido desbravadas. Até então, essas terras
eram ocupadas por diversas tribos indígenas, entre elas os Gurgueias, Acroás, Tremembés, que
habitavam as margens do rio Punaré (atual rio Parnaíba), vivendo da caça e da pesca.
De acordo com Camilo Filho (1986), as comunicações entre o Maranhão e o Ceará (de
São Luís à Ibiabapa), desde a ocupação francesa eram processadas tanto pelo litoral quanto pelo
interior, percorrendo os viajantes o território que mais tarde seria o Piauí.
29

Em 1535, com a divisão do Brasil em Capitanias Hereditárias por Dom João III, as terras
que hoje constituem o território do Piauí foram doadas ao 1º Provedor-Mor da Fazenda, Antônio
Cardoso de Barros, que nenhuma atenção deu ao seu feudo. Morrendo no naufrágio que também
vitimou o bispo Dom Pedro Fernandes Sardinha, as suas terras ficaram em completo abandono.
No entanto, a colonização tardia do território piauiense se deu em função das lutas
existentes na faixa litorânea nordestina, com os portugueses tentando expulsar os franceses do
Maranhão e os holandeses de Pernambuco. De acordo com Dias (2009), o primeiro registro da
presença de estrangeiros em solo piauiense se deu em 1571, quando Nicolau de Rezende e seus
companheiros de expedição, sobreviventes de um naufrágio ocorrido no delta do Parnaíba, foram
acolhidos pelos índios Tremembés, que habitavam aquela região. Esses náufragos permaneceram
ali e constituíram famílias com as índias nativas por dezesseis anos.
Entretanto, o efetivo povoamento do território piauiense ocorre ao longo do século XVII,
com as primeiras bandeiras chefiadas pelo paulista Domingos Jorge Velho e Domingos Afonso
Mafrense, através das incursões realizadas pelo Nordeste brasileiro e pela criação de numerosas
fazendas de gado, onde a disputa pelo território foi marcada pelo extermínio de várias tribos
indígenas.
Assim, desde o início da colonização do Brasil até as descobertas de ouro nas regiões de
Minas Gerais, em 1700, o Piauí praticamente não existia para a Coroa Portuguesa, e era
conhecido como “alto do sertão do São Francisco”, o “Sertão de Rodelas”, de “Cabrodó”, sendo
na época considerada como “terra de ninguém”. O acesso às terras era feito através de doações de
sesmarias, sob a intermediação de Pernambuco, Pará e Maranhão.
De acordo com Camilo Filho (1986), o início da colonização piauiense foi fruto da
iniciativa privada, ligada à implantação dos primeiros currais e à luta contra os índios. “Da Bahia
partiram bandeiras de extermínio e de apresamento, sendo que o combate aos índios ‘rodelas’
impulsionou o nosso povoamento pelos baianos” (CAMILO FILHO, 1986, p. 25).
Dias (2009) afirma que além dos interesses do bandeirante Domingos Jorge Velho, a
colonização piauiense também se deu em função dos interesses comerciais de Garcia d’Ávila,
que ao chegar de Portugal, em 1549, enviado por D. João III, rei de Portugal, para reconstruir a
cidade de Salvador, acumula riquezas em terras baianas e dispondo de algumas matrizes de gado
vindas de Cabo Verde (seu futuro rebanho), de alguns escravos e índios domesticados, instala sua
fazenda na colina de Tutuapara, no litoral da Bahia.
30

Com o passar dos anos, à medida que o rebanho de gado na fazenda de Garcia d’Ávila
aumentava, iniciava ali um império especializado na criação de gado e comercialização de seus
derivados, ocasionando as invasões do sertão baiano, pelos vaqueiros, à procura de novos pastos
para a instalação de seus currais.
Nesse processo são contratados sertanistas, homens armados e índios flecheiros que,
gradativamente, vão implantando novas fazendas, até chegarem ao Vale do rio São Francisco, e
penetrando em solo piauiense, pelos Vales do Canindé e do Gurgueia, até alcançarem o rio
Parnaíba, tendo à frente Francisco Dias d’Ávila. Nesse período, a vida era dura e sem conforto,
mas o desenvolvimento da pecuária era estimulado e de extrema importância para a estrutura
econômica brasileira, pois eram os rebanhos criados nos currais do sertão que abasteciam a
população litorânea, que se dedicava especialmente à agricultura canavieira, com charque,
chifres, couro e outros produtos.
Por outro lado, o andamento contínuo das incursões era lento, pois dependia do ritmo da
boiada, e na medida em que avançavam sertão adentro nas terras piauienses, as bandeiras iam
parando para descansar e alimentar a boiada em locais selecionados, onde houvesse pastagem
para o gado e proteção contra o ataque dos índios. Nessas paradas, em alguns pontos iam se
formando pequenos núcleos de povoamento, com roçados, plantios e matrizes de boi para futuras
necessidades, até que, exaustos, os sertanistas decidem fundar um arraial, como ponto de apoio
fortificado para garantir o domínio das terras até então conquistadas.
Com a consolidação da estrutura física do arraial são enviadas patrulhas para desbravar
novas terras e trazer informações sobre novas pastagens, rios, fauna, flora dentre outras
características naturais favoráveis à expansão dos currais. De posse dessas informações, a
bandeira partia para a conquista destas novas pradarias, ampliando seus domínios e deixando ao
longo de sua rota de conquista novas fazendas, currais e pequenos núcleos de povoamento que
irão se transformar em futuras vilas e cidades.
Assim, as terras piauienses foram desbravadas pelos vales do Canindé, Piauí e Gurgueia, e
até o século XVII o Piauí era assistido pela freguesia de Nossa Senhora da Conceição de
Cabrodó, diocese pernambucana, e nessa época, o padre português Miguel de Carvalho, tendo
conhecimento, em suas incursões, dessa freguesia, fazenda a fazenda e rio a rio, descreve o
contexto histórico do sertão piauiense no terceiro quartel do século XVII, com 129 fazendas
31

construídas no território piauiense com as suas respectivas Vilas. Esse pode ser considerado o
primeiro estudo de geografia física e humana piauiense.
Entretanto, só após o conhecimento das freguesias piauienses é que o padre Miguel de
Carvalho decide criar, quase no centro geográfico daquelas fazendas distantes, uma freguesia que
pelo poder da fé fomentasse o desenvolvimento dos tão ignotos povos, conforme demonstrado na
figura 3 abaixo.

Figura 3 - Configuração territorial do estado do Piauí do século XVII

Fonte: Enciclopédia Amarante-Piauí (2011).

Em 1697, já havia no Piauí, de acordo com a descrição do padre Miguel de Carvalho ao


Exm. e Revm. Sr. Frei Francisco de Lima, bispo de Pernambuco, conforme Santos, 129 fazendas
de gado e uma população de 441 pessoas, entre brancos, índios, negros e mestiços.
Para Neto (1970-1990), o início do povoamento do Piauí se processou sob uma total
desorganização sociopolítica-administrativa, sendo nesse contexto que foi elevado à capitania de
São José do Piauí, em 1718. A distância, o isolamento e o total abandono fizeram com que o
Piauí se integrasse muito tarde com os demais estados, que já dispunham da infraestrutura. Essa
32

situação privou o Piauí de participar mais efetivamente dos grandes acontecimentos, provocando
um sensível atraso em todo o seu desenvolvimento.
De acordo com Mott (1985), dentre as fazendas que existiam ao longo do Vale do rio
Canindé, está a Aldeia de Cabrodó, que em 1712 é elevada à condição de Vila, recebendo o nome
de Mocha, sendo instalada somente em 1717, ocasião em que o governador do Maranhão envia
muitas famílias para a nova povoação, inclusive um magote de 300 degredados, com a finalidade
de promover seu desenvolvimento.
Ao tomar conhecimento do desbravamento do Piauí, o Reino começa a doar sesmarias de
maneira abusiva e intensa aos baianos e pernambucanos, ficando os desbravadores reduzidos à
condição de posseiros e de arrendatários, resultando em constantes conflitos entre sesmeiros e
posseiros.
Nessa época, não havia controle social e o território era conquistado pela força das armas,
em que muitas vezes os fazendeiros usurpavam as terras, criando um verdadeiro embaraço para o
governante da província, que não tinha condições de acabar com as desavenças entre sesmeiros e
posseiros, pois o isolamento e a falta de recursos materiais e humanos faziam com que esse não
desse tanta importância à causa.
Por outro lado, os colonizadores do Piauí não se interessavam em divulgar as riquezas da
terra, pois se preocupavam, inicialmente, com as criações de gado, transferindo todo o rebanho
existente para as margens do rio São Francisco, transformando-se, dentro de pouco tempo, em
ricos fazendeiros, com o monopólio de toda a criação de gado da região.
As terras piauienses eram, de 1635 a 1714, jurisdição ora da Bahia e ora de Pernambuco,
até que em 1715 passam a ser jurisdição do Maranhão, permanecendo assim até o ano de 1811,
quando se tornaram independentes.
Segundo Kruel e Santos (2008), a autonomia piauiense veio em 1761, através da Carta
Régia datada de 19 de junho, que elevou a Vila do Mocha à condição de cidade; bem como oito
povoados foram alçados à condição de Vila. Porém, em 13 de novembro do mesmo ano, o
governador João Pereira Caldas impunha o nome de São José do Piauí à Capitania e mudava o
nome da capital de Vila do Mocha para Oeiras.
De acordo com Neto (1970-1990), em 1759 o governador João Pereira Caldas executou o
confisco de bens e a expulsão dos jesuítas do Piauí; e em 1762, determinou a realização do
recenseamento da capitania, que apontou uma população pouco superior a 12.700 habitantes.
33

João Pereira Caldas governou o Piauí até 1769 quando, no segundo governo, o de Gonçalo
Lourenço Botelho de Castro, que não se mostrou um bom administrador, o Piauí perdeu
novamente sua autonomia administrativa para o Maranhão, por mais de 27 anos. De acordo com
Costa Filho (1986), a Carta Régia de 10 de outubro de 1811 isenta a Capitania do Piauí da
jurisdição do Maranhão.
Oeiras, a maior cidade e capital do estado do Piauí, tem seu nome em homenagem ao
Conde de Oeiras, Marquês de Pombal, e em 1826, possuía a maior aglomeração urbana da
província. Até 1852, moravam em Oeiras os governantes, que lhe deram realce arquitetônico e
urbano no decorrer do século XIX.
A localização de Oeiras dificultava a comunicação com as demais províncias e
prejudicava a ação do governo e o comércio. No entanto, a transferência foi feita no ano de 1851,
graças ao Conselheiro Dr. José Antônio Saraiva, que assumindo o governo da província, escolheu
pessoalmente o local, com o desejo de erguer a Nova Vila do Poti e, posteriormente, instalar a
capital.
Pouco depois, surgiram as primeiras casas e a igreja de Nossa Senhora do Amparo. No
ano seguinte, a Nova Vila do Poti foi elevada à categoria de cidade, com o nome de Teresina, em
homenagem a D. Teresa Cristina – Imperatriz do Brasil e esposa de D. Pedro II. A instalação
definitiva da capital foi feita no dia 16 de agosto de 1852.
Teresina foi a primeira cidade do Brasil construída em traçado geométrico. Não nasceu de
forma espontânea, sendo planejada, com logradouros em linhas paralelas, simetricamente
dispostas, todas partindo do rio Parnaíba, rumo ao rio Poti. O progresso da cidade logo se fez
sentir e, após a Proclamação da República, Teresina já se constituía um movimentado centro
comercial, além de centralizar toda a vida política do Estado.
34

3 O MUNICÍPIO DE CAJUEIRO DA PRAIA: gênese e aspectos geo-históricos

3.1 O desenvolvimento das cidades de Parnaíba e Luís Correia

Devido às suas características climáticas e geográficas, o território piauiense funcionava


como um corredor de migração de várias tribos indígenas nômades que se deslocavam da Bacia
do Amazonas para o rio São Francisco e para o litoral nordestino, e vice-versa.
Porém, o Piauí foi palco de encontro, de abrigo e de moradia de variadas tribos indígenas.
A região do Delta era dominada pelos Tremembés; na chapada das Mangabeiras e no Alto do rio
Parnaíba viviam os Aroaques, Carapotangas, Aroaguanguiras, Aranheses, Aitatus e Corerás; já no
médio Parnaíba viviam os Abetiras, os Beirtás, Coarás e Nongazes; às margens do rio Gurgueia
viviam os Acoroás, os Rodeleiros, os Beiçudos, os Bocoreimas, os Corsias, os Lanceiros, Jaicós e
Coroatizes; já na Serra da Ibiapaba habitavam os Alongazes, os Anassus e os Tabajaras; e nas
cabeceiras do rio Piauí viviam os Acumês e os Araiés.
Essas tribos indígenas povoaram com grande intensidade o território do Piauí, e nos
primeiros tempos da colonização brasileira ocupavam as terras de forma primitiva, em regime
“comunal de propriedade”4, tirando delas o seu sustento. Quando da chegada dos primeiros
colonizadores, numerosas tribos e nações sediavam, desde o baixo e médio delta do Parnaíba, às
cabeceiras do rio Poti, e nos limites com Pernambuco e Ceará, ocupando praticamente todo o
território piauiense.
O domínio comunal das tribos indígenas incluía todo o seu território de caça, assim como
um sistema de acesso aos recursos naturais e na apropriação deste território baseada em relações
de parentesco com outras tribos indígenas.
Embora esse território não fosse considerado exclusivo pelos membros de algumas tribos
indígenas, seus pastos também eram utilizados por pastores nômades para a criação de gado. No
entanto, esses rebanhos eram constantemente atacados pelas tribos indígenas, e dessa forma,
como os pastos eram de extrema importância para a criação do gado, os pequenos grupos de
pastores passaram a se agrupar para amenizar os constantes ataques dos índios, desenvolvendo,

4
No domínio comunal o indivíduo produtor, perante os objetos e meios de produção, adota a atitude como se fossem
próprios, atitude mediada pela pertença à comunidade. Os indivíduos sentem que dispõem de direitos, não
necessariamente iguais, de acesso aos meios naturais, aos bens produzidos e à sua partilha. Os meios de produção
pertencem em comum a todos os membros da sociedade ou grupos humanos, o mesmo acontecendo com a utilização
dos benefícios da produção.
35

então, o conceito de propriedade coletiva sobre os vales e pradarias do território piauiense,


indispensáveis para a alimentação dos seus rebanhos.
Nesse sentido, a forma tribal de domínio de um território é uma forma parcialmente
comunitária, onde os seus integrantes têm acesso às condições materiais de produção, não sendo
nunca proprietários, mas apenas possuidores.
Por outro lado, o gado era considerado como propriedade individual ou de grupos
restritos, incluídos na unidade tribal. Assim, as tribos indígenas que obtinham êxito em seus
ataques sobre os pequenos grupos de pastores, tornavam-se proprietárias desses animais e
passavam a negociá-los com outras tribos indígenas, assim como alguns grupos de pastores
também realizavam entre si esse mesmo regime.
Os índios Tremembés foram os primeiros habitantes da costa piauiense e, conforme os
relatos de Pompeu Sobrinho (1951), habitavam as praias e os estuários cobertos de mangues dos
rios de toda a costa dos atuais estados do Maranhão, Piauí e Ceará.
De acordo com Studard Filho (1963), os Tremembés eram exímios pescadores e
caçadores nômades que vagavam em pequenos grupos e viviam em pequenas choupanas pouco
elaboradas. Segundo Aragão (1994), os índios Tremembés preferiam a orla marítima, onde havia
abundância de pescados que garantiam a sobrevivência desses grupos, os quais possuíam grande
habilidade para a caça, utilizando-se de alguns instrumentos, como arcos, machados de pedras e
lanças com ponteiras de dente de tubarão. Também utilizavam cães para cooperar durante a caça
e na perseguição a tribos inimigas, destacando-se na luta contra outros povos indígenas, e na
resistência aos brancos portugueses e holandeses, nas guerras travadas no período colonial.
De acordo com Borges (2006), os povos indígenas não viviam isolados entre si e as
inovações trazidas pelos europeus, como os machados de metal, a utilização de animais como o
cavalo, o cachorro, algumas aves e outros animais que não eram encontrados na América, foram
rapidamente disseminadas pelo continente, comprovando que os contatos com os europeus,
imediatamente provocaram alterações nas culturas indígenas5.

5
Florestan Fernandes (2003, p. 92) analisa diferentemente em relação aos Tupis. Considera que enquanto as relações
se manifestavam através de transações de escambo e os “brancos” eram em menor número “[...] e podiam ser
incorporados à vida social aborígene ou se acomodavam às exigências dela, nada afetou a unidade e autonomia do
sistema social tribal”. Contudo, essa análise de cunho funcionalista não considera que as modificações que são
inseridas no seio das culturas indígenas, já nos primeiros contatos, alteraram, sim, o cotidiano dos grupos indígenas.
O próprio Fernandes (p. 93) afirma que para conseguirem os cobiça dos artefatos europeus os indígenas se sujeitaram
“[...] a prestar serviços em condições muito árduas para consegui-los [...]”. Não só isso, quando as trocas passaram a
se efetivar com maior frequência, a própria natureza foi devastada em poucas décadas devido à exploração de
36

Segundo Camilo Filho (1986), velejaram ao longo da futura costa piauiense, ao longo do
século XVI: Vincent Pinzón e Diogo Lepe (1500), Gonçalo Coelho (1501), Diogo Leite (1531),
Luis de Melo (1554) e Nicolau Resende (1570).
No primeiro momento da intrusão europeia foram instaladas capitanias entre as terras
brasileiras que cambiaram entre o Ceará e o Maranhão, pois essas terras apresentavam riqueza
potencial para a fazenda Real. Dessa forma, nesses anos iniciais que atravessaram todo o século
XVI e o início do século XVII, foram nítidas as dificuldades portuguesas de apossamento do
território, já que além dos indígenas que as ocupavam se mostrarem adversos às tentativas de
“povoamento” português, havia também a intensa presença francesa e holandesa a comercializar
com os nativos.
De acordo com Borges (2006), a região que hoje corresponde ao litoral do Piauí,
presenciou transações entre indígenas e flibusteiros6, sendo uma zona de comércio ativo entre
europeus e indígenas, e palco de sangrentas batalhas, nas quais os indígenas não eram apenas
sujeitos passivos. Nunes (1975, p. 43) chama atenção para o comércio “clandestino” de Camocim
a Tutoia, tendo o rio Parnaíba, localizado no estado piauiense, como centro desse comércio, e os
indígenas do litoral como “principais promotores”, “[...] associados a índios do interior”.
Assim, os primeiros produtos explorados e comercializados foram a madeira, o âmbar-
gris7, alguns animais silvestres, como papagaios e macacos, e especiarias, como a pimenta e o
algodão. No entanto, esses produtos eram comercializados pelos indígenas que viviam na Costa
Leste-Oeste, já nos séculos XVI e XVII, e eram importantes fontes de capitalização para os
piratas, que não tinham como enfrentar o monopólio comercial dos portugueses e espanhóis, pelo
menos nos primeiros cinquenta anos do século XVI. Por outro lado, esses produtos também eram
importantes fontes de capitalização para os cofres reais.

madeira. Rivalidades entre tribos foram acirradas, deslocamentos, doenças, ou seja, não se pode dizer que mesmo
quando pequena a presença europeia já não tenha provocado seus estragos entre os indígenas.
6
Não existem certezas quanto à raiz da palavra, mas se pensa que derive do inglês fly boat ou do holandês vlieboot,
em ambas o significado é barco ligeiro. Também se acredita que o termo se origina da palavra freebooter (do inglês)
ou vrij vuiter (do holandês) que significa, em ambas as línguas, “foragido” ou “pirata”. Os Flibusteiros eram os
piratas dos mares da América nos séculos XVII e XVIII. Esses eram considerados como ladrões e aventureiros.
7
Segundo Houaiss (2004), o âmbar-gris é uma “[...] substância sólida de cor cinza, branca, amarela ou negra, odor
almiscarado e consistência de cera, formada no intestino dos cachalotes e usada como fixador de perfumes”. Essa
substância era bastante comum e facilmente encontrada nas praias do litoral setentrional e que, conforme Gandavo
(1980) afirmava na segunda metade do século XVI, enriquecia muitas pessoas com sua coleta.
37

De acordo com Nunes (2007), a política de aldeamentos era comum dentro da lógica de
colonização portuguesa em terras brasileiras. A Igreja Católica era o braço direito da coroa lusa e
o aldeamento tinha como justificativa ideológica a catequização dos nativos em fazendas de
gado, atividades extrativistas e de subsistência (plantio de milho, feijão, dentre outros).
Os escravos nativos (índios) eram muito utilizados nas regiões mais pobres da colônia
brasileira, como no caso da região que seria, mais tarde, o território piauiense. Por outro lado, o
negro, escravo mais caro, era utilizado nos grandes latifúndios de cana-de-açúcar localizados no
litoral brasileiro, e nas Minas de Ouro exploradas a partir no século XVIII.
De acordo com Castro (2006), a maioria das tribos que habitavam as terras piauienses
apresentavam características guerreiras, não aceitando pacificamente o domínio dos europeus. Os
que não migraram para outras regiões, fugindo da exploração promovida pelos colonos
portugueses, promoveram um conflito desigual contra os europeus, e devido às diferenças de
poder bélico, ocorreram grandes massacres da população indígena. No final do século XVIII, não
havia mais luta contra os índios na Capitania. As tribos indomesticáveis foram aniquiladas ou
expulsas do Piauí. As tribos mais fracas foram aldeadas e, finalmente, pacificadas.
Ainda de acordo com Castro (2006):

Existe uma séria polêmica na historiografia piauiense em relação ao início da


colonização desta região. Durante muito tempo, acreditou-se que, diferente de outros
territórios nordestinos, a colonização teria sido feita do interior para o litoral, devido à
penetração da pecuária, desenvolvida longe da costa onde se cultivava a cana-de-açúcar.
Por proibição régia, no começo do século XVIII (1701), “a criação de gado só era
permitida à distância de 10 léguas a partir da costa marítima. A esta altura, as fazendas
criatórias já se achavam adentradas pelo sertão nordestino, até o interior do Piauí e
Maranhão. Eram chapadas distantes do mar, onde se localizaram os primeiros currais,
aproveitando as várzeas dos rios e onde as populações indígenas tinham seu habitat”, de
acordo com Jacob Gorender. E segundo as mais recentes pesquisas realizadas por Pe.
Cláudio Melo nos arquivos portugueses, o povoamento do norte do Piauí antecedeu ao
do sul. Ele acentua que “nossa civilização começou pelo litoral, ainda no século XVI”,
que “Domingos Jorge Velho realmente se antecipou a Mafrense” e que “a implantação
dos primeiros currais teve sua marcha pela Ibiapaba e não pelos vales do Piauí e
Gurguéia”. Com esta revisão historiográfica, Pe. Cláudio coloca mais “lenha na
fogueira” da polêmica sobre a época da penetração, início da colonização e prioridade do
povoamento pelo colonizador. Segundo ele, no final do século XVI, o náufrago Nicolau
de Resende esteve no litoral, mais especificamente no Delta do rio Parnaíba, mantendo
contato com os nativos Tremembés durante 16 anos, o que contradiz a historiografia
tradicional de que as primeiras penetrações do colonizador teriam se dado pelos idos dos
anos de 1660/70 (CASTRO, 2006, p. 2).

Desta forma, para melhor compreensão do processo de ocupação do território piauiense,


em especial do litoral piauiense, pretende-se afirmar que as principais transformações
38

socioespaciais se deram através da implantação dos currais, tanto pelo sul do estado, através das
bandeiras chefiadas por Mafrense pelos Vales do Canindé e do Gurgueia, até alcançar o rio
Parnaíba, bem como pelo litoral, através das bandeiras chefiadas por Domingos Jorge Velho, pela
Ibiapaba.
Portanto, os processos de ocupação do território piauiense se deram tanto de “dentro para
fora” como “de fora para dentro”, e ambos transformaram os primeiros colonizadores do Piauí
em grandes proprietários de fazendas de gado em terras doadas em sesmarias.
Por outro lado, com relação ao processo de pioneirismo colonizador do território
piauiense, com alguns autores atribuindo como grande responsável Domingos Jorge Velho e
outros apontando Domingos Afonso Mafrense, não se pretende discutir aqui essas questões,
entretanto, de fato ambos contribuíram para com o processo de ocupação do território piauiense
e, conforme afirma Castro (2006), “tanto um quanto o outro se apoderaram de grandes extensões
de terras e eram predadores de índios, destacando-se como aventureiros e conquistadores”
(CASTRO, 2006, p. 2).
A partir de então, desde o século XVI diversas expedições se sucederam em território
piauiense, promovendo, assim, informações sobre a Bacia do Parnaíba e a Serra da Ibiapaba. No
entanto, essas expedições eram passageiras e realizadas como caminho de migração entre os
estados do Maranhão para Pernambuco, e vice-versa.
Porém, de acordo com Nunes (2007), por volta de 1600-1700, o território piauiense se
torna objeto de penetração mais intensa por bandeirantes paulistas, predadores de índios e
fazendeiros baianos, e todo este processo de exploração é marcado pela disputa sanguinária pelo
território com os índios.
A região do delta do Rio Parnaíba, no entanto, foi alvo de intensa ação dos jesuítas, e em
1607, registra-se a presença deles na região, quando o padre Luís Filgueiras atravessou o rio
Parnaíba com alguns de seus comandados para se estabelecer no Maranhão, fugindo de novos
ataques indígenas nos contrafortes da Ibiapaba.
Em 1669, século XVII, Leonardo de Sá e seus companheiros desbravaram a região entre o
rio Igaraçu e a Serra da Ibiapaba, e travaram forte combate com os Tremembés, índios nadadores,
terríveis, que dominavam toda a região do Delta, parte do litoral do Maranhão e do Ceará.
Porém, em Ato de 12 de janeiro de 1699, o Conselho Ultramarino determinou a sondagem
do rio e a viabilidade da construção de um porto, e erguimento de uma vila na região do Delta,
39

mas devido à existência de uma Carta Régia datada de 1701, permitindo que o gado somente
pudesse ser criado à distância de 10 léguas do litoral, forçava uma penetração subindo o rio
Parnaíba, criando a necessidade de erguimento de um entreposto para guarda de animais e
mercadorias que seriam usadas na troca.
Assim, conforme Castro (2006), durante o período de colonização dois núcleos deram
origem à cidade de Parnaíba: o Testa Branca e o Porto das Barcas. O Testa Branca era uma
grande fazenda de gado e que mais tarde se tornou um arraial, com poucos habitantes e poucas
possibilidades de desenvolvimento.
Por outro lado, Porto das Barcas passa a se desenvolver, depois de 1761, em função da
necessidade de acondicionamento da carne bovina que seria levada para regiões distantes,
nascendo ali a indústria do charque, que consiste no abate do gado e na secagem, ao vento e ao
sol, da carne, e sua posterior prensagem. Essa charqueada era de propriedade de Domingos Dias
da Silva, português, fundador do Porto das Barcas, e que foi o pioneiro da região, principalmente
nos setores comercial e agrícola.
A ocupação efetiva do território piauiense teve como principal motivo a escravização do
índio, que seria utilizado como mão de obra e como elemento militar. Porém, este fator inicial de
atração foi sendo substituído pelo interesse dos criadores de gado, principalmente da Bahia, pelos
belos pastos naturais e pela abundância de terras encontradas na região piauiense.
Nesse sentido, apesar de os Tremembés firmarem um contato intenso com os europeus na
região do Delta do Parnaíba, eles não permitiram que os portugueses se apossassem do seu
território, até o início do século XVIII, quando foram aldeados8. A partir de então, os índios se
tornaram verdadeiros comerciantes de madeira, âmbar, animais silvestres e, inclusive, de
escravos.
Ainda em meados do século XVIII foi promovida, no Brasil, principalmente pelo
Marquês de Pombal, uma política de reestruturação do Estado Português no governo do rei D.
José I, objetivando tornar a administração colonial mais eficiente. Desta forma, foram criados
alguns órgãos fiscais e instaladas novas Capitanias para controlar o poder real na região Meio
Norte do Brasil, até então dominada pelo autoritarismo dos donos de terras.

8
A região do delta do rio Parnaíba, povoada por Tremembés, foi alvo de uma intensa ação dos jesuítas. Já em 1607,
registra-se a presença de jesuítas na região, quando o padre Luís Filgueiras atravessou o rio Parnaíba com alguns de
seus comandados para se estabelecer no Maranhão, fugindo de novos ataques indígenas nos contrafortes da Ibiapaba,
quando deixou para trás o corpo de seu companheiro de expedição, padre Francisco Pinto, morto com crueldade
pelos Tacajirus, no planalto ibiapabano.
40

De acordo com Castro (2006), expressando esse sentimento, D. José I instaurou, em 1758,
a Capitania de São José do Piauí, que tinha sido criada oficialmente 40 anos atrás (1718). Com a
instauração, ocorreu a nomeação do coronel de cavalaria João Pereira Caldas como primeiro
governador da Capitania, que toma posse em 20 de setembro de 1759.
Desta forma, a instalação de um governo impactou certos interesses e transformou as
relações entre os habitantes do Piauí onde, aos poucos, as Capitanias de São José do Piauí
também transformavam seus espaços, até então compostos por 13 núcleos de fazendeiros, com
seus escravos e agregados indígenas, negros e mestiços que criavam gado.
De acordo com Fonseca et al. (2010), em meados do século XVIII, enquanto Portugal
executava um amplo esforço de reforma de suas instituições, os habitantes da Capitania do Piauí
foram alvo de investidas que tentavam inseri-los na condição de civilizados, cristãos e de súditos
obedientes e lucrativos para a Coroa.
Ainda de acordo com Fonseca et al. (2010), a influência que a Igreja Católica exercia e os
grandes sesmeiros tinham sobre o sertão piauiense, desde finais do século XVII, tornaram-se as
forças que procuravam dominar o território e os modos de vida da população piauiense desta
época. Contudo, em meados dos anos setecentos, a administração colonial baseada no
pensamento racionalista ilustrado, passou a ter uma maior influência nas pretensões que eram
alçadas, e a sociedade piauiense passou a adquirir uma hierarquia cada vez mais rígida, enquanto
grupos étnicos subjugados tomavam aspecto de grupos sociais destinados a fornecer a mão de
obra necessária aos planos do Estado e de seus aliados, feitos entre a nobreza da terra. Desta
forma, ao mesmo tempo, as práticas sociais e os valores culturais dos habitantes da capitania se
ergueram, como um obstáculo a desafiar os poderes que tentavam intervir no sertão.
Assim, como cumprimento às determinações reais portuguesas, João Pereira Caldas eleva
a Vila da Mocha à categoria de cidade para ser a capital do estado piauiense, com o nome de
Oeiras, no dia 13 de novembro de 1761, e no ano de 1762, criou as Vilas de Valença, Marvão,
Campo Maior, Parnaíba, Jerumenha, Parnaguá, Piracuruca, Jaicós, São Gonçalo e Poty.
João Pereira Caldas também promoveu a montagem da máquina administrativa piauiense,
com a criação da Secretaria de Governo, a Provedoria Real da Fazenda, o almoxarifado, e outros
organismos administrativos, como as Forças Regulares, um correio para as correspondências
oficiais e a construção dos primeiros prédios públicos.
41

Ainda no século XVIII, na Europa, assim como em toda a América, o Iluminismo, mais
conhecido como século das luzes9, não representou a supremacia dos ideais libertários e da busca
pela excelência do espírito humano; no entanto, significou uma centralização política e o controle
da atividade intelectual pelo Estado.
Assim, ocorrem, em Portugal, a Reforma da Universidade de Coimbra, em 1772, e a
abertura da Aula do Comércio, implementada em Lisboa, em 1759, que foi o primeiro
estabelecimento de ensino oficial, no mundo, a ensinar a contabilidade de uma forma técnico-
profissional, sob a responsabilidade da Junta do Comércio, criada em 1755, pelo conde de Oeiras
e depois marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo.
De acordo com Fonseca et al. (2010), no Piauí, o racionalismo setecentista aparece nas
ordens para fundação de cidades e vilas, nos estudos da natureza, das potencialidades econômicas
e dos costumes dos habitantes. O uso da razão foi colocado a serviço dos negócios do império. As
fontes sugerem que o racionalismo iluminista chegou às colônias como exercício de poder, pois
os habitantes eram contados, descritos e submetidos a leis, diagnósticos, normas e instruções
detalhadas de como e onde deviam morar, vestir-se e trabalhar em prol do engrandecimento
econômico do império português e da construção do seu ideal de sociedade.
Em Parnaíba, em 1770, o governador Gonçalo Botelho de Castro transfere oficialmente a
sede da vila de Testa Branca para o Porto das Barcas, e dá início à construção da igreja Nossa da
Graça. Por outro lado, o intenso comércio de escravos significava altíssimos investimentos, pois
grandes lotes de escravos eram vendidos para o Maranhão, o Ceará e municípios vizinhos.
Em 22 de Agosto de 1817, graças à iniciativa de Simplício Dias da Silva no governo de
Baltazar Botelho de Vasconcelos, por ato de Dom João VI, foi edificada a Alfândega, que teve
por finalidade estabelecer o controle de escravos que chegavam à vila de Parnaíba, e dos que já
existiam.
Em 14 de agosto de 1844, a Vila São João da Parnaíba é elevada à categoria de cidade,
pela Lei nº 166, promulgada pelo presidente da Província do Piauí, José Ildefonso de Sousa
Ramos.

9
Termos usados para descrever as tendências do pensamento e da literatura na Europa e em toda a América durante
o século XVIII, antecedendo a Revolução Francesa. Foram empregados pelos próprios escritores do período,
convencidos de que emergiam de séculos de obscurantismo e ignorância para uma nova era, iluminada pela razão, a
ciência e o respeito à humanidade. As novas descobertas da ciência, a teoria da gravitação universal de Isaac Newton
e o espírito de relativismo cultural fomentado pela exploração do mundo ainda não conhecido foram também
importantes para a eclosão do Iluminismo.
42

No Piauí, em meados de 1888, toda a formação da sociedade se resumia na camada


dirigente, que são os fazendeiros; e nas camadas subalternas, que eram os escravos, que nem se
tornavam uma força apreciável, pois eram abafados pelo poderio ou domínio da grande
propriedade. Assim, os grandes latifúndios existentes no Piauí esmagavam o papel que poderiam
ter as classes médias. Os sitiantes eram homens que não possuindo a posse da terra, arrendavam
lotes e se tornavam proprietários de gado e escravos. Dessa camada social é que surge, de uma
divisão no seu interior, o agregado, que se liga a uma família, passando a ser dado como membro
dela.
No entanto, as primeiras classes sociais piauienses, conforme demonstrado na figura 4,
formaram-se paralelamente ao desenvolvimento da pecuária e apresentavam como características
principais a baixa densidade demográfica e a fraca mobilidade social, onde os militares eram, em
sua maioria, donos das posses de terra no Piauí. O acesso a terra dava a essa sociedade o status
necessário à formação de uma elite piauiense.

Figura 4 - Configuração Territorial do Estado do Piauí do Século XVIII

Fonte: Enciclopédia Amarante-Piauí (2011).


43

Durante a segunda metade do século XVIII, a Coroa Portuguesa, por influências do


Marquês de Pombal, decide modernizar a administração pública de seu país e ampliar ao máximo
os lucros provenientes da exploração colonial, principalmente em relação à colônia brasileira.
Desta forma, Marquês de Pombal resolve instituir a cobrança anual de 1500 quilos de
ouro para a colônia brasileira. Além disso, cria várias companhias de comércio incumbidas de dar
maior fluxo às transações comerciais entre a colônia e a metrópole, bem como, resolve tirar
algumas atribuições do Conselho Ultramarino e acaba com as capitanias hereditárias que seriam,
a partir de então, administradas diretamente pelo governo português.
No Piauí, a tentativa de implantar as reformas pombalinas foi consoante à geopolítica do
império. Assim, o estabelecimento de fortes e feitorias nas fronteiras do estado, a criação da
Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, a expulsão dos jesuítas e a
transformação de seus aldeamentos em vilas, são ações que se enlaçam com as políticas dirigidas
ao interior da colônia.
De fato, o Piauí, como as demais capitanias, tornou-se alvo da obsessão pelo aumento
populacional e pela produção de gêneros para o comércio, o que implicava no controle sobre os
modos de vida da população.
Após a proclamação da República, em 7 de setembro de 1822, às margens do riacho
Ipiranga, em São Paulo, as vilas de Campo Maior e Parnaíba foram as primeiras do Piauí a se
manifestarem favoráveis à Independência.
Segundo Castro (2006), os parnaibanos aderiram com simpatia e levaram à frente sua
campanha separatista. A 19 de outubro de 1822, Parnaíba proclama sua Independência, sob a
liderança do Dr. João de Deus e Silva, José Pereira Meireles, capitão Bernardo Antônio Saraiva e
tenente Joaquim Timóteo Brito. Posteriormente a isso, a capital do Piauí, Oeiras, proclama sua
independência, no dia 24 de janeiro de 1823.
Desta forma, recorrendo às ideias de Ignácio Rangel (1957), a Abolição da Escravatura e
a Proclamação da República ocorreram respectivamente em 1888 e 1889, nesse período – 1873 a
1896 – o mundo capitalista vivia a fase recessiva do segundo ciclo longo, ou ciclo de Kondratieff,
e durante essa fase as Províncias do norte brasileiro, inclusive da cidade de Parnaíba, mantinham
estreitas ligações com a metrópole portuguesa, estando, realmente, muito mais ligadas,
administrativa e comercialmente, a Portugal.
44

O início do período imperial no Piauí foi marcado por fortes instabilidades políticas que
caracterizavam toda a política do país, sendo promovidas fortes reações contra o governo de D.
Pedro I, que se agravaram depois da elaboração da Constituição outorgada de 1824, marcada pelo
forte autoritarismo e pela ausência do federalismo.
Desta forma, temendo as reações contra o governo, D. Pedro I nomeia interventores para
quase todas as províncias da região Nordeste (Pernambuco, Francisco Paes Barreto; Ceará, Pedro
José da Costa Barros; Paraíba, Felipe Néri Ferreira, e para o Piauí, Simplício Dias da Silva).
Diante dessas medidas, a intervenção nas províncias e a dissolução da constituinte, aliadas
à crise econômica que abalava a região nordestina, as províncias de Pernambuco, Rio Grande do
Norte, Ceará e Paraíba se levantaram e constituíram um movimento separacionista e republicano,
oficializado em 2 de julho de 1824, com um manifesto escrito em Recife, por Pais de Andrade,
denominado Confederação do Equador.
No entanto, a participação do Piauí nesse movimento foi bastante limitada às discussões
teóricas em relação ao sistema republicano de governo, e assim como na luta pela independência
do Brasil, apenas Campo Maior e Parnaíba resistiram ao não juramento da Constituição de 1824.
Por outro lado, as ideias provenientes da Confederação do Equador não levariam o Piauí a uma
crise social e política.
Assim, a repressão promovida por D. Pedro I foi forte e violenta, na qual os revoltosos
eram presos e condenados à morte, e em Parnaíba, assim que essas notícias chegaram, os
revoltosos se desvanecem da resistência ao não juramento da Constituição do Equador e, assim, a
Câmara parnaibana jura fidelidade à Constituição Outorgada.
Em 1831, no período regencial, os setores oligárquicos liberais sobem ao poder, e para
consolidar suas conquistas, interesses e desmobilizar a população, passam a adotar medidas
políticas, econômicas e administrativas de caráter autoritário e coercitivo, como o recrutamento
militar forçado e a Lei dos Prefeitos Municipais.
De fato, esse período regencial foi denunciado pelas províncias do Piauí, do Maranhão, do
Rio Grande do Norte e do Ceará, pelos desmandos administrativos e pelas arbitrariedades dos
atuais governantes, pelo latifúndio, pela opressão, pela fome e pela miséria da maioria de suas
populações, sendo, então, denominada de Balaiada.
Em 1834 é criada a Lei dos Prefeitos, que dava direito aos presidentes das províncias
nomearem os prefeitos para os municípios. Desta forma, o Barão da Parnaíba, valendo-se desse
45

instrumento, nomeia familiares e amigos para administrar as vilas e, dessa forme, assume o
controle sobre os seus domínios. Porém, esses atos do Barão de Parnaíba atingiram diretamente
os fazendeiros, que representavam a oposição ao governo, fornecendo as condições necessárias
para a eclosão da maior convulsão social da história do Piauí.
No entanto, a Balaiada assume características específicas, no Piauí, diferentes daquelas do
movimento no Maranhão, e a grande maioria dos rebeldes é oriunda das camadas mais baixas da
sociedade, representados, principalmente, por negros aquilombados, que não desenvolveram
táticas organizadas de combate, sendo o movimento caracterizado por confrontos isolados, sem
nenhuma liderança geral. Lutam, também, fazendeiros abastados.
A partir de 1860, no segundo reinado da província Piauí pelo Conselheiro Saraiva,
Parnaíba se consolida como principal entreposto comercial do Piauí e como importante centro do
comércio internacional, graças ao espírito empreendedor de suas lideranças empresariais,
estimulado certamente por ter a oportunidade do contato com o resto do mundo.
Porém, já na segunda metade do século XVIII, a configuração da pecuária piauiense
começa a apresentar fortes sinais de enfraquecimento, enquanto em outras regiões do Brasil,
como no Rio Grande do Sul, essa mesma atividade vivia um período de forte desenvolvimento e
aumento nos lucros. Assim, a agricultura passa a aumentar a sua importância dentro da economia
piauiense, principalmente devido à lavoura de algodão.
De acordo com Castro (2006), o crescimento da produção de algodão ocorreu sob o
estímulo de dois fatores externos: primeiro, o desenvolvimento tecnológico da Revolução
Industrial, na Inglaterra, a partir do final do século XVIII, especificamente a invenção do tear
mecânico (1787), que provocou o aumento da demanda da fibra pelas indústrias europeias;
segundo, a Guerra de Secessão, que representou uma violenta guerra civil nos EUA, envolvendo
as regiões sul e norte do país, onde a primeira desejava a separação.
Ainda conforme Castro (2006), a região sul dos Estados Unidos da América era a maior
produtora mundial de algodão e a principal fornecedora para as indústrias inglesas. Como a
Guerra de Secessão foi longa e desgastante, a produção sofreu uma forte desorganização. Com
um processo contínuo de aumento da produção, as indústrias têxteis da Inglaterra procuraram
suprir a demanda do algodão, passando a realizar grandes compras do Brasil, promovendo um
forte e rápido desenvolvimento da produção algodoeira, tanto no Maranhão como no Piauí.
46

A atividade promoveu um destacado crescimento na circulação do capital dentro da


região, porém, os produtores de algodão do Piauí não apresentaram uma visão empreendedora,
pois não procuraram diversificar seus negócios. Investiram grande parte dos seus lucros apenas
na lavoura de algodão, o que foi um erro, pois com o fim da guerra de Secessão, a produção
norte-americana se reorganizou, provocando um declínio do preço do produto piauiense.
Já no período que correspondente à República Velha do Piauí (1889-1930), a notícia da
proclamação chega a Teresina no dia 16 de novembro de 1889. Na 1ª república piauiense, as
características políticas básicas são baseadas no predomínio das oligarquias sustentadas no
Coronelismo, que era constituído por uma coalizão de algumas famílias extensivas ou
parentescos, que exerciam um monopólio sobre a terra, os mercados, o trabalho, e outros
recursos, numa economia de extrema escassez.
Até o final do século XIX e início do século XX, a economia piauiense se caracteriza pela
combinação de duas atividades básicas: a pecuária extensiva e a produção de algodão. No
entanto, no início do século XX, a cultura da maniçoba possibilita saldos financeiros que
ensejaram importantes obras de infraestrutura na capital do Estado. Assim, a nova economia, de
base extrativista, através da cultura da maniçoba, o estado do Piauí fica inserido na economia
mundial, pois esse produto passou a ser exportado para alguns países, que estavam na 1ª Guerra
Mundial.
Na primeira década do século XX, no Piauí, a economia será preenchida pela exportação
da borracha, merecendo destaque a cera de carnaúba (vendida para o exterior) e o extrativismo
vegetal (coco babaçu), com mercado comprador na Europa e nos EUA.
Pelo decreto estadual nº 1.279, de 26 de junho de 1931, o município de Parnaíba adquiriu
o extinto município de Amarração. Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o
município é constituído de 2 distritos: Parnaíba e Amarração.
Pelo decreto-lei estadual nº 6, de 04 de setembro de 1935, o distrito de Amarração passou
a se denominar Luiz Correia. Em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e 31-XII-1937, o
município é constituído de 2 distritos: Parnaíba e Luiz Correia (ex Amarração).
Até 1940, uma economia estagnada e de subsistência marca a economia piauiense, e a
agricultura de gêneros alimentícios representará, então, uma nova fase, atrelada a fatores como o
crescimento populacional e o aumento do consumo.
47

3.2 As origens do município de Cajueiro da Praia e características gerais

Para Macedo (2011), não se encontram registros oficiais que relatem a origem do
município de Cajueiro da Praia, apenas algumas informações colhidas pela professora local, Júlia
Freitas, através de antigos moradores, utilizados como base para se tentar traçar uma cronologia
do município de Cajueiro da Praia. De acordo com essa professora, o núcleo inicial de
povoamento de Cajueiro da praia nasceu há quase 350 anos, nas proximidades da praia, devido às
constantes visitas de dois pescadores brancos, que vinham do Ceará para pescar naquele litoral.
No entanto, receosos da presença da tribo indígena Tremembés, não ancoravam para conhecer de
perto a riqueza natural da terra. Com o passar do tempo, esses pescadores descobriram que não
havia mais a permanência desses índios, e resolveram descer em terra firme para explorar o local,
onde encontraram apenas alguns vestígios, tais como panelas de barro, potes, gamelas feitas de
troncos de árvores, etc.
Desta forma, ainda no século XVIII, esses desbravadores pioneiros, que se chamavam
Profiro Queiroz e José de Barro, ao constatarem ser aquele um bom local para viver, trouxeram
suas famílias do Ceará e, aos poucos, foram enriquecendo suas lavouras com seus roçados, ao
passo em que outras famílias cearenses também foram chegando para povoar aquela área
litorânea. Assim, a região ficou dividida em Cajueiro de Baixo, onde morava José de Barro, e
Cajueiro de Cima, onde se fixou Profiro Queiroz. Essa denominação tem sua origem ligada à
existência de um frondoso cajueiro que havia na beira da praia. Cajueiro da Praia passou, então, a
se chamar aquele vilarejo onde o belíssimo cajueiro regado por todos se tornou o símbolo de uma
região hospitaleira.
De acordo com Macedo (2011), os indivíduos que morriam no povoado de Cajueiro da
Praia eram enterrados às margens da praia, a 3 km do povoado, num local denominado de
Sardinho. Só em 1958, em decorrência da grande seca, o prefeito de Luís Correa, João Soares de
Sousa, criou um plano municipal de emergência e construiu um cemitério, numa estrada
carroçável que dava acesso ao povoado Santana, onde se iniciou um povoamento, nas
proximidades do local que hoje é denominado de Praça da Fé. Em 1974, começou o povoamento
da Avenida Sousinha, pelo morador João Carlota, e no início da década de 80, o vereador de Luís
Correa, Cláudio Fontenele de Araújo Sousa, criou um projeto para a construção de estradas que
ligassem as praias de Cajueiro da Praia às praias de Morro Branco, Barrinha e Barra Grande,
48

ocasionando o aumento do fluxo de pessoas para essas localidades, como turistas de algumas
cidades do estado do Piauí e do Ceará, bem como de empresários que começariam a construir
pousadas e comércios para atender as necessidades desses turistas.
Em 1992, o povoado se destacava com o desenvolvimento da lavoura (mandioca, milho,
feijão, coco-da-baía e castanha do caju), com a pecuária, com a pesca e com a construção de
casas de veraneio por turistas teresinenses, com recursos financeiros próprios, e através da
contratação de mão de obra local dos municípios vizinhos, Parnaíba e Luiz Correa, bem como de
Teresina. Além disso, a criação de pontos comerciais, bem como um grande número de alunos
matriculados nas escolas públicas do local, também contribuíram para o destaque da região.
Assim, devido a esses fatores e por influências do Dr. Gerson Mourão, a comunidade
política do povoado de Cajueiro da Praia cria um plebiscito, no dia 3 de outubro de 1995,
emancipando esse povoado do município de Luiz Correia.
Segundo a Secretaria do Turismo do Piauí – SETUR (2010), o município recém-
emancipado guarda belezas naturais encantadoras, e ainda é pouco explorado. Localizado a 55
quilômetros de Parnaíba, o município é possuidor das mais belas praias selvagens do litoral
piauiense, como a de Morro Branco, entre arrecifes, falésias e dunas, ou a praia de Cajueiro, onde
é encontrado o peixe-boi marinho.
A praia de maior expressão é a de Barra Grande, com um povoado que possui
características naturais singulares, e a tranquilidade de uma vila de pescadores, que se transforma
a cada ano. Dentre as suas características naturais, sua maior atração são os ventos, fenômeno que
favorece as práticas esportivas, como o kitesurf, atrativos que dão visibilidade turística à região.
O município de Cajueiro da Praia está localizado no extremo nordeste do estado do Piauí,
a 402 km da capital, Teresina, e possui 20 povoados. No presente trabalho, entretanto, serão
abordados apenas os povoados que compõem sua orla marítima: Barra Grande, Barrinha, Morro
Branco e Cajueiro.
O município que é limitado ao Norte pelo Oceano Atlântico, ao Sul e a Oeste pelo
município de Luís Correia, fazendo fronteira, a Leste, com o estado do Ceará, foi criado pelo
desmembramento de 281,75 km² do território do município de Luís Correia, por meio do Decreto
nº. 4.810, de 27 de dezembro de 1995 (MACEDO, 2011, p.82).
Cajueiro da Praia, segundo dados do IBGE (2010), possui uma população de 7.163
habitantes, e integra o território da Planície Litorânea, uma das onze regiões em que está dividida
49

a Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba, consideradas, nos limites do estado, como unidades de
planejamento do Estado do Piauí.
O acesso a esse município se dá por Teresina, através da BR-343, ou do aeroporto local
(Azul Linhas Aéreas) até Parnaíba e, a partir dessa cidade, o acesso é realizado através da rodovia
estadual PI-301. O acesso também pode ser feito pela cidade de Luís Correia (BR-243), onde há
uma intensa invasão de dunas e existem muitos buracos, apesar de ser o acesso mais utilizado
pelos turistas.
Atualmente, sua economia está baseada na agropecuária, com a produção da lavoura
temporária de mandioca, de milho e de feijão, e da lavoura permanente de coco-da-baía e
castanha do caju. No efetivo da pecuária, os principais rebanhos são a criação de aves (galinhas,
galos, frangos, frangas e pintos); de suínos, caprinos e bovinos, conforme demonstrado na figura
5.

Figura 5 - A economia do município de Cajueiro da Praia-PI

Fonte: IBGE (2010),em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais de Governo de
Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA (Adaptação do autor).

De acordo com dados da Prefeitura Municipal de Cajueiro da Praia (2008), a cidade


possuía, em 2004, um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 12.501.000,00, para uma população de
6.143 habitantes, e o seu PIB per capita era de R$ 2.035,00, sendo que o valor de referência para
o estado do Piauí é de R$ 2.892,00, e o de Teresina é de R$ 4.857,00.
50

De acordo com dados do IBGE (2012), Cajueiro da Praia possui um Produto Interno
Bruto (PIB) a preços correntes de R$ 32.277 mil reais, para uma população de 7.613 habitantes, e
o seu PIB per capita a preços correntes de R$ 4.408,83 reais, sendo que o valor de referência para
a cidade de Teresina é de R$ 12.306.772, para a cidade de Parnaíba é de 1.131.355, e para a
cidade de Luís Correia é de 145.514.
Na indústria, de acordo com Carvalho (2010), uma importante atividade para a economia
da região é a pesca oceânica, que representa 8,27% do PIB municipal, e é escoada,
principalmente, para os municípios vizinhos, onde existe infraestrutura adequada. Nesse sentido,
boa parte dos moradores dos povoados da orla marítima de Cajueiro da Praia sobrevive da pesca
tradicional.
De acordo com Nascimento e Sassi (2007), 80% dos pescadores de Cajueiro da Praia são
proprietários de suas próprias canoas, o que contribui para a obtenção do lucro com a atividade.
Já os pescadores que não possuem embarcações, pagam aos proprietários dos barcos parte dos
peixes pescados. Conforme Sousa (2010), para complementar a renda familiar, os pescadores
exercem outras atividades econômicas, como o artesanato, serviços ligados ao turismo,
agricultura de subsistência, principalmente durante a Piracema, período de reprodução dos peixes
de água doce (de novembro a março), quando só podem pescar no máximo cinco quilogramas de
pescado por dia. Mas os pescadores artesanais assinalam que é preciso, além da Piracema, ser
instituído o Defeso (período de reprodução de alguns crustáceos).
Parte da população da sede municipal de Cajueiro da Praia trabalha formalmente no setor
Público (Prefeitura Municipal), e um dos setores que movimenta a economia do munício se deve
à infraestrutura crescente, nos últimos anos, de estabelecimentos comerciais e de pousadas na
Praia de Barra Grande, para acolher a demanda turística, assim como outros serviços ligados à
exploração do turismo, entre os quais, serviços de guia turístico, instrutores de esportes aquáticos,
como o kitesurf, dentre outros.
No que se refere aos aspectos ambientais, o município possui um clima subsumido, com
moderado excesso de água no inverno. Segundo a Prefeitura Municipal de Cajueiro da Praia
(2008), o município tem um monitoramento climatológico contínuo, realizado pelo Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET), registrando uma umidade média relativa anual da ordem de
75%. Sua precipitação média anual fica em torno de 1190,2 mm, com um período chuvoso que se
estende de dezembro a julho.
51

De acordo com Cavalcanti (2000), as máximas de velocidade dos ventos ocorrem nos
meses de agosto, setembro e outubro, chegando a valores superiores à 7m/s. Os ventos alísios,
como são denominados, favorecem a prática de esportes aquáticos, como o windsurf e o kitesurf.
Geologicamente, o município, conforme Piauí (1996), está inserido na bacia sedimentar
do Parnaíba, com terrenos de formações recentes, compostos essencialmente de sedimentos
quaternários inconsolidados, submetidos às ações de acumulação eólica, fluvial, fluvial-marinha e
marinha, com a presença, em algumas faixas de praias, de arenitos (rochas de praia), situados
abaixo da linha de alta maré.
Hidrograficamente, Cajueiro da Praia possui quatro rios principais: Timonha e Ubatuba, a
Leste, e os rios Camurupim e Cardoso a Oeste do município. Há também a presença de várias
lagoas, alimentadas por regimes pluvial, fluvial e freático, como a lagoa de Santana, que possui
uma área de aproximadamente 2,16 km², sendo 3,7 km de extensão e 0,6 aproximadamente de
largura; e da Lagoa dos Pernas (área de aproximadamente 0,17 km²), que são alimentadas pelos
regimes pluvial, fluvial e freático.
A vegetação do município é caracterizada pela presença de muitos elementos da caatinga,
como as carnaubeiras, que são encontradas em determinadas localidades de uma maneira densa e,
em outras, de forma dispersa. Essa zona de transição denominada restinga/mangue, também
ocorre nos manguezais, onde existem as espécies mangue vermelho (Rhizophora mangle),
mangue-manso (Lacuncularia racemosa) e mangue-siriba (Avicennia germinans).
Com relação à fauna, Baptista (2004) afirma que em razão de o município de Cajueiro da
Praia estar localizado numa área de plataforma continental, possui grande diversidade marinha e
terrestre, tais como peixes (coró-rocho, carapitanga); répteis (tartaruga verde, jiboias); aves
(garça-azul, quero-quero); e marinhas (peixe-boi).
O município se destaca pelo fato de ser a base do Projeto Peixe Boi Marinho, sob a
responsabilidade do Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA) e do Instituto Chico Mendes da
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), tendo sido o primeiro município brasileiro a receber o
título de Patrimônio Natural do Peixe Boi Marinho, através da Lei Municipal de 2003, que
responsabiliza a Prefeitura do município de Cajueiro da Praia pela proteção aos sirênios e seus
habitats (estuários, rio e mar), além de promover ações como incremento da atividade turística e
firmar novas parcerias para preservar o peixe boi marinho.
52

O Conselho Partidário Municipal do Meio Ambiente, de Cajueiro da Praia, foi criado no


ano de 2005, com caráter consultivo e fiscalizador. Cabe destacar que não houve nenhuma
reunião desse Conselho nos últimos doze meses, e também não existe um fundo municipal de
meio ambiente.
No que se refere aos aspectos sociais, conforme demonstrado na figura 6 abaixo, o
município de Cajueiro da Praia possui um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixo,
apresentando crescimento no período correspondente de 2000 a 2010.

Figura 6 - Evolução populacional do município de Cajueiro da Praia

Fonte: IBGE: Censo Demográfico 1991, Contagem Populacional 1996, Censo Demográfico 2000,
Contagem Populacional 2007 e Censo Demográfico 2010.

Conforme Carvalho (2009), 59,2% das residências de Barra Grande estão ligadas a redes
de abastecimento de água, enquanto que na sede do município de Cajueiro da Praia, o número é
de apenas 5,45%. Esta proporção visível de melhorias na infraestrutura em Barra Grande pode ser
decorrente do incremento do destino turístico deste local nas últimas décadas. Desta forma, é
importante salientar que o acesso à água, através de meios de distribuição, constitui um forte
indicador das condições sanitárias de determinado local.
53

Ainda conforme Carvalho (2009), porém, sem as referências ao piso e às coberturas das
casas, na sede municipal de Cajueiro da Praia, 40,10% das casas possuem paredes construídas por
tijolos/adobe10. Também são encontradas residências construídas de taipas, revestidas e não
revestidas, e de outros materiais ecológicos, como a terra e a palha, encontradas em abundância
na região.
Com relação à destinação do lixo no município de Cajueiro da Praia, das 1.377 famílias
distribuídas na sede municipal, em Barra Grande, em Barrinha e Morro Branco, 587 delas são
beneficiadas pelo sistema de coleta pública, 612 enterram ou queimam o lixo (a combustão do
lixo libera gases tóxicos que poluem o ar, e o enterro do lixo pode poluir o solo e as águas, além
de levar anos ou décadas para se decompor), e 178 famílias despejam o lixo a céu aberto, atraindo
animais e poluindo o ambiente.
De acordo com Macedo (2011), a coleta de lixo em Barra Grande é realizada por três
carroças e um caminhão de carroceria aberta, três vezes por semana. Por outro lado, parte do lixo
é depositada pela população na entrada do povoado, local de uma salina natural, ou em outras
localidades, a céu aberto, exposto à ação de animais, servindo como más vindas aos visitantes.
Como o município de Cajueiro da Praia não possui aterro sanitário, de acordo com
Carvalho, o serviço público de coleta de lixo é ineficiente, as famílias cajueirenses precisam ser
orientadas e educadas para destinar adequadamente o lixo produzido, para não degradar o meio
ambiente e melhorar a imagem do local.
Quanto aos meios de comunicação utilizados para o contato com o público, de acordo
com dados do IBGE (2012), Cajueiro da Praia dispõe de serviços de Correios, Fax, Internet
(página, portal, home-page e e-mail) e telefone convencional. Os sistemas de telefonia (fixa e
móvel) são ofertados para o município de Cajueiro da Praia e funcionam adequadamente, com
várias operadoras atuando na região, com oferta de TV a cabo e internet. A prefeitura possui
computadores em funcionamento, com acesso à internet, e existem programas locais de inclusão
digital.
De acordo com a prefeitura de Cajueiro da Praia (2008), a distribuição de energia é feita a
partir de três redes de alta tensão, sendo duas delas de Barra Grande, onde a partir dessas redes de
alta tensão é realizada a distribuição de baixa tensão para as demais localidades do município. A

10
O adobe é um termo espanhol que deriva do árabe attoob e de Thobe em egípcio, que significa tijolo seco ao sol
(ALEXANDRIA, 2006, p. 31).
54

sede do município dispõe de energia elétrica distribuída pela Companhia Energética do Piauí S/A
– CEPISA, terminais telefônicos atendidos pela TELEMAR Norte Leste S/A, agência de correios
e telégrafos.
Com relação aos aspectos educacionais, de acordo com Carvalho (2010), Cajueiro da
Praia possui apenas uma escola privada, a Creche Tia Adalgisa; e com relação à educação
infantil, a situação do município é precária, havendo poucas unidades escolares e públicas,
conforme demonstra a figura 7.
Segundo o Plano Diretor de Cajueiro da Praia (2008), o município não possui escolas
privadas, e todo o ensino básico é ofertado em escolas públicas municipais e estaduais. De acordo
com dados do IBGE (2012), o município de Cajueiro da praia possui 16 escolas, que ofertam o
Ensino fundamental I e II, 01 escola que oferta o ensino médio, e 14 escolas que oferecem o
ensino pré-escolar.
O sistema de transporte escolar é oferecido pela própria prefeitura, e a estrutura física das
escolas (piso, teto, cantinas, ventiladores, paredes, quadras esportivas, muros, salas de aula etc) se
encontra em bom estado de conservação e manutenção. Existem apenas duas bibliotecas públicas
no município, uma na sede municipal, e outra em Barra Grande, funcionando no prédio da
Associação de Moradores do Balneário de Barra Grande.
55

Figura 7 - Aspectos educacionais do município de Cajueiro da Praia-PI

Figura A: Docentes por nível. Figura B: Número de escolas por nível


Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP, Censo
Educacional 2010.
NOTA: Atribuem-se zeros aos valores dos municípios onde não há ocorrência da variável (Adaptação do autor).

Por outro lado, o sistema de transporte público de Cajueiro é deficiente, pois a prefeitura
não disponibiliza ônibus saindo de Cajueiro da Praia em horários baseados na demanda de seus
moradores. Desta forma, os sistemas de transporte existentes no município são moto-táxi, táxi,
van, transporte coletivo por ônibus interestadual, que atende o deslocamento entre bairros,
distritos e localidades, dentro do município.
Quanto aos aspectos relativos à saúde, segundo dados do IBGE (2013), em Cajueiro da
Praia existe o Conselho Partidário Municipal de Saúde, de caráter consultivo, deliberativo e
normativo, que realiza reuniões periódicas. A Secretaria Municipal de Saúde cajueirense criou,
em 2013, o Plano Municipal de Saúde, através do qual se responsabiliza pelo gerenciamento do
fundo municipal de saúde para a sua população.
Conforme demonstra a figura 8, existem apenas 3 estabelecimentos públicos de saúde no
município de Cajueiro da Praia, e os pacientes, para qualquer atendimento mais especializado,
procuram atendimento nas cidades de Parnaíba ou Teresina.
56

Figura 8 - Estabelecimentos de saúde do município de Cajueiro da Praia

Fonte: IBGE, Assistência Médica Sanitária 2009. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.
NOTA: Atribuem-se zeros aos valores dos municípios onde não há ocorrência da variável ou onde, por
arredondamento, os totais não atingem a unidade de medida (Adaptação do autor).

De acordo com Carvalho (2010), com relação aos aspectos culturais, as principais
atividades no município de Cajueiro da Praia estão associadas à religião e às duas atividades
econômicas tradicionais do local, a pesca (festejos juninos, regata dos pescadores) e a agricultura
de subsistência (farinhadas nos meses de junho e julho em quase todos os povoados da região).
Ainda de acordo com Carvalho, estas manifestações artísticas e culturais que ocorrem no
município de Cajueiro da Praia vêm sofrendo alterações, em decorrência dos modismos da
modernidade, que afetam os costumes tradicionais. Macedo (2012) também destaca que os
eventos locais, como as quadrilhas, a Festa do Milho, o Bumba-Meu-Boi e a Festa do Caju, já
não ocorrem com regularidade, como antes, e alerta para a importância da intervenção pública no
resgate das tradições locais. O carnaval no município está sendo revitalizado pela Prefeitura
Municipal de Cajueiro da Praia, através do evento denominado de Carnacaju.
Carvalho (2010) também destaca que durante o mês de dezembro, quando se comemora o
aniversário do município de Cajueiro da Praia, os integrantes do Projeto Peixe Boi Marinho, com
apoio da prefeitura local e o patrocínio de alguns comerciantes, realizam corridas de ciclistas, de
jegues e de canoas à vela, com o objetivo de integrar a comunidade cajueirense ao trabalho de
proteção do peixe boi marinho realizado naquela região.
57

Segundo o Plano Diretor de Cajueiro da Praia (2008), a religiosidade católica se manifesta


no local, através da Festa do Sagrado Coração de Jesus e do Festejo de Santa Adelaide, uma
procissão marítima que se inicia na cidade de Bitubitá, no estado do Ceará, e chega até o
município de Cajueiro da Praia.
A gastronomia cajueirense é composta tipicamente por pratos à base de frutos do mar e
caju, e o artesanato local apresenta confecções de bolsas e cestos da palha da carnaúba, além de
trabalhos manuais em crochê e com búzios.
A sede do município de Cajueiro da Praia possui apenas três pousadas (Pousada da Lu,
Pousada Pôr do Sol e Pousada Tacavi), totalizando 50 leitos, com estrutura física simples, que
funciona regularmente apenas nos períodos de alta estação, que geralmente ocorre entre os meses
de dezembro e julho.
De fato, o município de Cajueiro da Praia e seus demais povoados são ofuscados pelo
incremento do turismo na praia de Barra Grande, pois os turistas só procuram a sede municipal
para alguma eventualidade como, por exemplo, para buscar atendimento no posto médico de
primeiros socorros, por alguma formalidade junto ao posto da delegacia ou para se hospedar,
diante da ausência de leitos nas pousadas de Barra Grande.
O município possui, porém, um potencial turístico que pode beneficiar todas as famílias
residentes no local, dinamizando, junto com Barra Grande, também, a economia de Barrinha e
Morro Branco, através do aproveitamento de suas potencialidades turísticas.

3.3 Cajueiro da Praia no contexto econômico nacional e internacional

Parnaíba, cidade litorânea do estado do Piauí, era o segundo centro mais importante da
Província e estava localizada junto à Foz do Rio Parnaíba, no mar, onde até 1926, dezenas de
barcos e botes faziam a navegação por esse rio, e trabalhavam em carga e descarga de grandes
embarcações marítimas, caracterizando a importância do comércio que ali se processava. Assim,
Parnaíba se distinguia nos finais do século XVIII, graças ao intenso comércio que por ela operava
(comércio legal e contrabando) e às charqueadas existentes no Porto das Barcas (exportavam
carne salgada, couro, peles, chifres, algodão, fumo, açúcar e arroz).
Segundo Knox (1986), o Piauí era um dos principais produtores de charque, juntamente
com o Ceará e o Rio Grande do Norte, antes de o Rio Grande do Sul monopolizar a indústria, nos
finais do século XIX.
58

Desta forma, o Baixo Parnaíba, faixa territorial do Estado do Piauí, desempenhava um


importante papel no processo de ocupação do território piauiense, em função dos recursos
naturais disponíveis na região e pelas condições favoráveis à navegação, que além do contato
direto com o Oceano Atlântico, tinha a seu favor o extenso leito do rio Parnaíba, que possibilitava
a instalação de espaços estratégicos, como o Porto das Barcas, localizado no Município de
Parnaíba, e servia como base para exportações dos produtos locais para outros estados, e até para
o exterior. Portanto, a vida econômica da cidade e da região era, em grande parte, determinada
por sua localização geográfica e por suas características naturais.
Assim, a cidade de Parnaíba, em seu primeiro ciclo econômico, passou a se destacar pelas
suas funções econômicas e políticas, transformando-se, ao longo dos tempos, em um grande
núcleo de desenvolvimento, com relação aos demais centros subordinados. A economia de
Parnaíba, até então a única cidade litorânea do Piauí, estava assentada em atividades
agroextrativistas, com destaque para a lavoura do arroz, que abastecia o mercado nordestino,
enquanto a economia do sertão piauiense priorizava o segmento gado-algodão-lavoura alimentar,
típica combinação agrária sertaneja, que se caracterizava pelo uso da terra combinando as
atividades latifundiárias e minifundiárias.
Por outro lado, Parnaíba conheceu a grande expansão comercial e industrial, desde a
metade do século XVII até as primeiras décadas do século XVIII, motivada pelo adensamento da
ocupação da área do Delta, fato que resultou na criação da Alfândega, em 1817.
A partir do ano de 1852 do século XVIII, a comercialização do babaçu e da carnaúba se
constitui na principal atividade econômica do norte piauiense, inserindo a região do baixo
Parnaíba e de sua cidade principal, Parnaíba, em um segundo ciclo de expansão econômica.
Nesse sentido, ao mesmo tempo em que a cidade de Parnaíba teve que se adaptar ao
processo de expansão do novo ciclo comercial, por outro lado, tinha que conviver com o processo
de afirmação da capital do estado, Teresina, que precisava se consolidar não apenas como centro
urbano com funções administrativas sobre todo o território estadual, mas como centro regional de
influência econômica sobre o norte do Piauí e, mesmo, sobre áreas contíguas, no Maranhão.
Assim, até a década de 70, a cidade de Parnaíba representava uma importância econômica
similar à capital do Estado, Teresina, e seu peso na economia estadual se destacava pelo comércio
atacadista, chegando a concentrar cerca de 65% das transações de mercadorias do Estado, o que
representava cinco vezes o percentual atingido pela capital.
59

Até o ano de 1762, Parnaíba era chamada de Vila de São João da Parnaíba, e sua sede
ficava situada no povoado de Porto Testa Branca, sendo transferida, em 1770, para o Porto das
Barcas, por oferecer condições mais adequadas para o escoamento dos produtos como a carne de
charque e a carnaúba, que eram comercializados. Porém, sua elevação de Vila a cidade só
ocorreu em agosto de 1844.
De fato, o destaque para Parnaíba, na economia piauiense, deve-se, em grande parte, à sua
função portuária, como ponto de concentração e de escoamento natural da produção do interior e
das zonas piauienses próximas, como Cocal, Piracuruca e Piripiri. Porém, com a implantação da
malha ferroviária e, mais ainda, com a expansão dos eixos rodoviários, a partir da segunda
metade do séc. XX, a hegemonia da navegação fluvial nas ligações entre o interior e o litoral
piauiense vai sendo superada, causando o redirecionamento dos fluxos e das comunicações e uma
ruptura do equilíbrio econômico entre a capital do Estado e a cidade de Parnaíba.
Desta forma, a maior articulação longitudinal e transversal pelos eixos rodoviários
promovidos pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) compromete a
posição de destaque de Parnaíba, esvaziando sua função portuária e deixando-a em uma posição
secundária, em relação aos principais fluxos provenientes da produção agrícola regional. Por
outro lado, o desenvolvimento da rede rodoviária no estado é acompanhado de melhorias
generalizadas na navegação de cabotagem do Nordeste, acarretando, assim, o desvio do tráfego
marítimo para o rodoviário.
Até 1820, a costa leste do litoral piauiense era denominada de Amarração, por servir
como ancoradouro para as embarcações; e embora pertencentes ao estado do Piauí e assistidos
pelos padres da cidade de Granja, no Estado do Ceará, os habitantes de Amarração também
faziam suas transações comerciais e pagavam seus impostos naquela cidade, o que motivou a
Assembleia Provincial do Ceará, em 1865, a elevar o povoado à categoria de Distrito, com
limites fixados em 1870. Em 1874, por deliberação cearense, Amarração foi elevada à categoria
de Vila.
Entretanto, em 1880, o governo do Piauí reivindicou seu território, por determinação do
governo-geral, oferecendo como troca dois importantes municípios piauienses naquela época,
Independência e Príncipe Imperial, hoje denominado de Crateús.
Amarração recebia pequenas embarcações movidas a vapor, dos estados do Maranhão,
Pará, Ceará e Pernambuco, e navios de longo curso, como da Guiana Francesa e da Inglaterra e,
60

assim, desenvolveu-se rapidamente. Em 1888, parte da localidade foi destruída por grandes
marés, agravada pelas dunas, obrigando os habitantes a deixarem suas casas e o próprio lugar.
Em 1931, Amarração perde sua autonomia administrativa e passa a integrar o município
de Parnaíba, na categoria de Distrito; e em 1935, tem seu nome mudado para Luís Correia, em
homenagem ao jornalista e escritor Luís Morais Correia, nascido no município. Em 1938, o
distrito de Luiz Correia readquire sua autonomia administrativa, tendo como sede a cidade de
Luís Correia. Com o passar do tempo, o município de Luís Correia sofreu grandes mudanças em
sua economia. O fracasso do extrativismo e da agricultura de subsistência, aliados ao baixo poder
aquisitivo de grande parte da população, não permitiram que as áreas do Delta e do Vale do
Parnaíba se consolidassem expressivamente, através de atividades comerciais e de serviços,
muito menos como centros urbanos, com equipamentos e funções significativas. Como
consequência, um número significativo de pequenos centros regionais e sub-regionais do baixo
Parnaíba ficam sob a influência dos centros submetropolitanos de Teresina e de São Luís,
integrados à rede urbana de Fortaleza.
Assim, no início da década de 80, na medida em que a população de Luís Correia
aumenta, provocando a expansão da malha urbana, como aconteceu na maioria das cidades
brasileiras, a partir da década de 70, o vereador Cláudio Fontenele de Araújo Sousa cria um
projeto para a construção de estradas que ligassem as praias de Cajueiro da Praia às praias de
Morro Branco, Barrinha e Barra Grande, trazendo, então, evolução para a região e possibilitando
as primeiras visitas turísticas ao litoral cajueirense, especialmente em Barra Grande.
No entanto, em 1992, o povoado de Cajueiro da Praia passa a se destacar dos demais
centros regionais do Médio Parnaíba, através do desenvolvimento da lavoura, da pecuária e da
pesca. Por meio do Decreto-Lei 4.810, de 27 de dezembro de 1995, é desmembrado do município
de Luís Correia e elevado à categoria de município, através de um plebiscito, sendo escolhido
como sede o povoado Cajueiro da Praia.
Apesar de o município de Cajueiro da Praia apresentar um Produto Interno Bruto (PIB)
inferior aos valores apresentados por todo o estado do Piauí, seu PIB foi impactado positivamente
nos últimos anos, conforme demonstra a Tabela 1.
61

Tabela 1 - Produto Interno Bruto do município de Cajueiro da Praia: Produto Interno Bruto a preço de mercado e
Produto Interno Bruto per capita, segundo os municípios

2008 2009 2010 2011


A preço de Per capita A preço de Per capita A preço de Per capita A preço de Per capita
mercado (R$) mercado (R$) mercado (R$) mercado (R$)
corrente corrente corrente corrente
(R$1.000) (R$1.000) (R$1.000) (R$1.000)
21.899 3.083 22.538 3.094 27.519 3.847 31.240 4.313
Fonte: CEPRO: Produto interno bruto municipal do Piauí 2011 (Adaptação do autor).

Nesse contexto, vale ressaltar o papel que o turismo pode exercer no município de
Cajueiro da Praia, pois caso esse seja estimulado, através de políticas públicas sérias, pode
impactar positivamente na economia local e contribuir expressivamente para o aumento do seu
Produto Interno Bruto.

3.4 Atratividades turísticas naturais de cajueiro da praia

Cajueiro da Praia é um dos municípios beneficiados pelo Programa de Regionalização do


Turismo, do Ministério do Turismo, e faz parte da região turística Polo Costa do Delta,
juntamente com as cidades de Luís Correia, Parnaíba e Ilha Grande, que compõem o roteiro do
Piauí Surpreendente, um dos 87 roteiros turísticos divulgados pelo Ministério do Turismo –
MTUR (SETUR, 2010).
O município possui uma faixa litorânea de 13 quilômetros, e apesar de possuir 20
povoados, serão abordados nesta pesquisa apenas os povoados que compõem sua orla marítima,
onde o turismo se consolidou (Barrinha, Morro Branco, Cajueiro e Barra Grande), especialmente
na praia de Barra Grande, a mais extensa das praias, que se destaca das demais pelo expressivo
crescimento do turismo nas últimas décadas.
Barrinha, conforme a figura 9, é uma praia tranquila e considerada um refúgio, por não
dispor de estrutura física adequada para acolher os turistas. O turismo de esportes, porém, começa
a ser explorado na região, com a prática do kitesurf e a realização de eventos esportivos da
modalidade. Barrinha é habitada, em sua maioria, por nativos ou pessoas que venderam seus
terrenos em Barra Grande. A pequena vila de casinhas coloridas e muros floridos, obra de
uma artesã local, é um local perfeito para ser explorado caminhando ou pedalando.
62

Figura 9 - Praia de Barrinha – Cajueiro da Praia-PI

Fonte: Portal Praias do Piauí (2015)11.

A praia de Morro Branco é ocupada por uma pequena colônia de pescadores, conforme a
figura 10, e assim como a praia de Barrinha, também não é regularmente frequentada por turistas,
por não dispor de uma estrutura que promova o turismo na região. Na beira da praia existem
algumas casas de veraneio utilizadas pelos proprietários no período de suas férias.

11
Disponível em: http://www.praiasdopiaui.com.br/. Acesso em: Jan.2015.
63

Figura 10 - Praia de Morro Branco – Cajueiro da Praia-PI

Fonte: Portal Praias do Piauí (2015)12.

A praia de Cajueiro (figura 11) possui esse nome em homenagem a um grande cajueiro
que existe no local. Apesar de ainda ser pouco frequentada por turistas, dispõe de elementos
naturais que favorecem a prática de esportes náuticos, como o kitesurf, a caminhada e o SUP13.

12
Disponível em: http://www.praiasdopiaui.com.br/. Acesso em jan. 2015.
13
Stand Up Paddle Boarding, ou SUP, é um desporto aquático, uma variante do surf, no qual o praticante, em pé
numa prancha, usa um remo para se mover através da água. O Stand Up Paddle Boarding, com raízes Polinésias,
significa em havaiano Ku (de pé) Hoe (remar) He'e (surfar) Nalu (onda).
64

Figura 11 - Praia de Cajueiro – Cajueiro da Praia-PI

Fonte: Portal Praias do Piauí, (2015)14.

A praia de Barra Grande, conforme ilustrada na imagem 12, recebe o maior fluxo de
turistas, frente às demais praias que compõem o município de Cajueiro da Praia, devido ao
aproveitamento de suas características naturais, nos últimos anos, através do desenvolvimento de
atividades ligadas ao ecoturismo, ao esporte e ao lazer.

14
Disponível em: http://www.praiasdopiaui.com.br/. Acesso em: jan. 2015.
65

Figura 12 - Vista aérea da Praia de Barra Grande – Cajueiro da Praia-PI

Fonte: Portal Barra Grande Kite Camp (BGK)15.

Em Barra Grande é possível percorrer a Trilha do Cavalo Marinho, localizada entre os


mangues e outras vegetações típicas do local, que tem duração média de três horas, com duas
paradas: uma para a observação de um cultivo de ostras, com degustação do marisco, e outra na
“Camboa dos Cavalos Marinhos”, para observar os cavalos marinhos da espécie Hippocampus
reidi, conforme demonstrado na figura 13.

15
Disponível em: < http://www.barragrandepiaui.com/>. Acesso em: jan. 2015.
66

Figura 13 - Trilha do Cavalo Marinho – Cajueiro da Praia-PI

Fonte: Macedo (2011).

De acordo com Macedo (2011), os passeios para a Trilha do Cavalo Marinho são
realizados por parte dos pescadores locais da Praia de Barra Grande, que criaram Associações de
Condutores (por meio de pequenas embarcações ou a pé), como a Associação dos Condutores de
Barra Grande (Barratur) e a Nativos – Arte e Turismo, para atender os turistas de maneira mais
sustentável e profissional.
Para Barbosa e Perinotto (2010), além do cavalo marinho, a trilha oferece contato direto
com a fauna e a flora existentes. Desta forma, não seria apenas o cavalo marinho que os deixa
fascinados, mas o conjunto de todo o cenário observado durante o trajeto como: crustáceos,
diversas aves, mariscos, peixes e vegetação nativa, especialmente o mangue vermelho
(Rhizophora mangle) que, unidos, incrementam o passeio.
Da praia de Barra Grande o turista pode percorrer a pé, pela praia, e durante a maré baixa,
uma trilha que leva ao Ponto da Camboa do rio Camurupim16 (local assoreado oriundo do
naufrágio da grande embarcação chamada Itamar). Um local recoberto por vegetação do mangue,
adequado para a procriação de crustáceos e coleta de ostras nativas. No local o turista pode visitar

16
Estreito do Rio Camurupim, por onde a água do mar penetra, na maré alta, e esvazia, durante a maré baixa,
formando várias piscinas naturais propícias para o desenvolvimento de peixes miúdos, crustáceos e o cultivo de
ostras nativas.
67

a produção artificial de ostra, implantada pela CARE Brasil17, Comunidade Europeia, TK


Foundation e Aliança Mandu, com o objetivo de beneficiar filhos de pescadores da região, como
uma renda alternativa. As ostras cultivadas são das espécies Crassostrea rhizophorae e
Crassostrea Barasilin.
A produção dessas espécies de ostras é feita em suportes com base telada, tipo “mesas”18,
por isso, “Cultivo de Mesa”. O passeio finaliza com a degustação de ostras in natura, no ponto
da Camboa. Os serviços desta trilha são conduzidos pelas Associações dos Condutores de Barra
Grande, mediante agendamento prévio em suas sedes, ou por cultivadores locais, com explanação
sobre a ilha e o cultivo de ostra.
Ainda no rio Camurupim, pode-se visitar a Ilha das Garças, uma pequena ilha fluvial,
onde o passeio é realizado em uma canoa típica da região (pequeno porte), com propulsão de
remos, para melhor apreciação da fauna e da flora da região. Assim, o turista pode observar as
espécies de aves características da região, como a Garça-azul (Egretta caerulea), garça-branca
grande (Adea alba) garça-branca pequena (Egretta thula) garça real (Ardea cinérea). Além das
garças, pode-se observar, também, outras aves, como: Siricoia (Aramides cajanea), Socó
(Bulorides striat), Tomatião (Nycticorax nycticorax).
Segundo Neto (2006), Cajueiro da Praia foi o primeiro município brasileiro a receber o
título de Patrimônio Natural do Peixe-Boi Marinho. A lei municipal 51, de 12 de março de 2003,
torna a prefeitura local responsável em proteger o peixe-boi marinho em seu habitat natural
(estuários, rios e mar), além de poder explorar esse título para incrementar a atividade turística e
articular parcerias com entidades para preservar a espécie.
De acordo com Macedo (2011), desde 1994, os trabalhos do Projeto Peixe-Boi marinho
são realizados na paia do Cajueiro, no município de Cajueiro da Praia, e com a criação de uma

17
A CARE Brasil é uma ONG brasileira, com título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
(OSCIP), equipe e conselho brasileiros, que integram a CARE Internacional. Na região do Delta do Parnaíba,
destaca-se o projeto Aliança Mandu, implementado em parceria com a Universidade Federal do Piauí, a Embrapa e o
Instituto Flora Vida, que articula ações no campo da educação, geração de renda, mobilização social e educação
ambiental, em todos os municípios do litoral piauiense. O projeto tem como principal estratégia o fortalecimento do
protagonismo e do empreendedorismo juvenil e, desde seu início, já conseguiu mobilizar mais de 2 mil jovens em
suas ações.
18
Empregado em locais com profundidade de até 3 metros, estas estruturas são semelhantes a uma “mesa”, onde os
pés são enterrados em fileiras, espaçadas entre si a cada 2 a 3 metros. Conjunto de estacas ou postes cravados no leito
da água e ligados entre si por madeira, para manter as lanternas com ostras suspensas no volume d’agua. O material
utilizado para a construção destas estruturas pode ser o bambu, pelo seu baixo custo. Contudo, esse material possui
uma durabilidade de 6 a 8 meses, o que torna necessária a sua periódica substituição. Sobre os pés se faz uma
armação horizontal (gradeado) onde as lanternas de cultivo ficam amarradas. O custo mais elevado deste material é
compensado pela sua durabilidade, além de permitir a realização de trabalhos de manejo em cima desta estrutura.
68

unidade deste Projeto, em parceria com a Fundação Mamíferos Aquáticos, e patrocínio oficial da
Petrobras, unem esforços, entre especialistas e moradores locais, por meio de ações ambientais
em escolas e comunidades da região.
Segundo Carvalho e Araújo (2009), em 12 de setembro de 2008 foi inaugurada a nova
base piauiense do Projeto Peixe-Boi Marinho, conforme demonstrado na figura 14, contando com
um Centro de Convivência, onde são realizadas palestras e expostos filmes educativos; um
Museu, com acervo sobre a biodiversidade marinha, a fauna e a flora da região; uma Eco-oficina,
onde são confeccionados produtos com a imagem do peixe-boi; uma loja de artesanato, uma
Ecoloja; um alojamento para pesquisadores; uma lanchonete; uma sala de pesquisa e um tanque
para reabilitação de animais.

Figura 14 - Projeto Peixe-Boi – Cajueiro da Praia-PI

A: Antiga sede; B: Nova sede; C e D: Palestras educativas.


Fonte: Elaborada pelo autor (2015).

Cabe aqui destacar que o litoral piauiense possui uma considerável população de peixes-
bois marinhos, população que foi o principal argumento para a criação da Área de Proteção
Ambiental (APA) do Delta do Parnaíba, em 28 de agosto de 1996, no município de Cajueiro da
Praia.
69

Desde então, com a criação do Projeto Peixe-Boi em Cajueiro da Praia, são realizadas
várias atividades, dentre elas: o monitoramento dos animais através do ponto fixo instalado em
um observatório na foz do rio Timonha (divisa dos Estados do Piauí e Ceará, local importante de
ocorrência da espécie), conforme demonstrado na figura 15; campanhas de educação ambiental;
organização de eventos sociais e campanhas de sensibilização e conscientização pelas praias
litorâneas do Piauí, informando sobre o peixe-boi e outros mamíferos aquáticos da região,
protegidos pelo Projeto.

Figura 15 - Torre de Observação do Projeto Peixe-Boi marinho em Cajueiro da Praia-PI

Fonte: UOL-Roteiros incríveis (2015)19.

Em Cajueiro da Praia também é possível fazer passeio em canoa a vela pelo riquíssimo
estuário dos rios Timonhas e Ubatuba, através dos pescadores locais, assim como conhecer outras
belezas como a praia Ponta do Saco, um sítio arqueológico catalogado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, no qual o turista toma conhecimento do
passado, através de registros humanos em pedaços de cerâmica. O município resguarda
formações geológicas e fisiográficas, e áreas bem delimitadas, que constituem o habitat de

19
Disponível em: < http://roteirosincriveis.uol.com.br/especiais/praias-especiais/rico-em-biodiversidade-estuario-
entre-o-piaui-e-o-ceara-e-destino-de-turismo-de-contemplacao/>. Acesso: mar. 2015.
70

espécies animais ou vegetais em risco, de valor incalculável, do ponto de vista da ciência e da


conservação.
Existe, também, no município de Cajueiro da Praia, um cajueiro com cerca de 200 anos de
idade, denominado de “Cajueiro Rei”, que se espalha por uma área superior a 6.400 metros,
conforme demonstrado na figura 16. Nascido de uma só castanha, a árvore ainda se encontra em
processo de crescimento, através da clonagem multiplicada de seus galhos, nascendo cópias
idênticas ao tronco principal que lhe deu origem20.

Figura 16 – Cajueiro-Rei, localizado em Cajueiro da Praia-PI

Fonte: Jornal da Parnaíba (2015)21.

O Cajueiro Rei, árvore símbolo do município de Cajueiro da Praia, foi destaque em


matérias na imprensa nacional, por ameaçar o título de o maior cajueiro do mundo, de um

20
Este processo acontece porque originalmente o cajueiro se espalhou em ramificações, por reprodução assexuada,
chamada alporquia de solo, método que os chineses conhecem há séculos. A multiplicação por alporquia de solo
naturalmente acontece quando os galhos tocam o chão, são recobertos pela terra úmida e ganham raízes próprias, em
média, depois de dois anos ou dois invernos seguidos. Quando o galho brota, reforça seu tronco, emite novas
ramificações e recomeça tudo outra vez. Isso proporciona uma soma biológica na captação geral de energia solar,
água e nutrientes minerais distribuídos por toda a planta-mãe, tornando o cajueiro de milhares de galhos e milhões de
folhas uma árvore única, resultado de múltiplas propagações.
21
Disponível em: < http://jornaldaparnaiba.com/rede-globo-mostrou-o-nosso-cajueiro-rei-maior-do-mundo-orgulho-
do-povo-de-cajueiro-da-praia-comemora-prefeita-vania-ribeiro/ >. Acesso em: jun. 2015.
71

cajueiro que possui o mesmo processo de reprodução assexuada, na praia de Pirangi, localizada
na cidade de Parnamirim (RN). Por ser patrimônio natural e turístico de Cajueiro da Praia,
protegido por Lei Municipal, a prefeitura de Cajueiro da Praia, junto com órgãos estaduais e
federais, e instituições de ensino, estão promovendo uma pesquisa para comprovar que o
Cajueiro Rei é, de fato, maior que o Cajueiro de Pirangi. Segundo dados preliminares, a extensão
do cajueiro piauiense é de 8,8 mil metros quadrados, enquanto o de Pirangi possui 8,5 mil metros
quadrados.
Outras possibilidades de exploração de atividades turísticas na Praia de Barra Grande são
a caminhada e a canoagem, através de passeios às Ilhas das Garças, das Cabras e do Camaleão.
Pode-se, também, observar e admirar a pesca tradicional, atividade ligada às origens da
localidade, e a coleta de mariscos, feita pelas marisqueiras, esposas dos pecadores, como
atividade comercial utilizada para incrementar a renda familiar. Tanto na visitação do Projeto
Peixe-boi marinho como nos demais passeios ecológicos realizados em Cajueiro da Praia, os
condutores reforçam a questão da biodiversidade local e da preservação ambiental. Assim, os
moradores locais organizam, disciplinam e orientam os turistas, por meio de passeios turísticos,
reconhecendo o valor da biodiversidade e de sua preservação.
72

4 ORIGENS DA PRAIA DE BARRA GRANDE

4.1 Etapas do desenvolvimento do turismo na praia de Barra Grande

A praia de Barra Grande, de acordo com Macedo (2011), possui 78 hectares de área
urbana, uma faixa de praia com 4 km de extensão, e cerca de 1.500 habitantes. Sua área de
localização abrange a parte setentrional do estado do Piauí, e está situada entre as coordenadas
02º55‟40‟‟S e 41º24‟40‟‟ W, no município de Cajueiro da Praia, constituído o limite leste da
APA do Delta do Parnaíba, correspondente ao estado do Piauí.
Apropriada para o banho de mar e para a prática de esportes aquáticos, destaca-se dos
demais núcleos litorâneos do município de Cajueiro da Praia (praias de Barrinha, Morro Branco e
Cajueiro), por possuir qualidades naturais que propiciaram a exploração do Ecoturismo, do
Turismo de Sol e Praia e do Turismo de Esportes.
Barra Grande fica a 7 km da sede da administração municipal de Cajueiro da Praia, e
próxima ao estuário do rio Camurupim, que se caracteriza pela presença de manguezais que
abrigam várias espécies de crustáceos, peixes, caranguejos, camarões, moluscos, e serve como
área de alimentação para diversas espécies de animais, como o guará-vermelho (Eudocimos
ruber), o peixe-boi marinho (Trichechus manatus), o cavalo-marinho (Hippocampus reidi),
dentre outras espécies.
De acordo com Freitas (2011), a atividade pesqueira foi determinante para a ocupação do
território de Barra Grande, pois o estuário do rio Camurupim, bem como os recifes que ficam
descobertos pela maré baixa, forneciam alimentos na forma de peixes, moluscos, crustáceos e
outros animais, para a sua população, que era constituída, em sua maioria, de remanescentes de
pescadores e marisqueiras, como são chamadas as mulheres dos pescadores, que coletam
mariscos para a subsistência de sua família ou para a comercialização.
Segundo pesquisas diretas realizadas por Macedo (2011), as origens da praia de Barra
Grande foram relatadas pelos moradores mais antigos da praia, como a Dona Teresinha, o Sr.
Francisco, dentre outros, descritas pelo Sr. Marcos Cazuza e pela professora Júlia Freitas,
membros da comunidade que vêm se dedicando a pesquisar o histórico da localidade:

O povoamento da praia de Barra Grande remonta ao ano de 1835, período que coincide
com o início da Guerra dos Farrapos, quando um gaúcho, fugindo da guerra pelas matas,
veio parar no litoral piauiense, mais precisamente no local onde hoje está situada a praia
73

de Barra Grande. Após sua chegada à praia de Barra Grande, o referido gaúcho ali
permaneceu por alguns dias e em uma noite escura, ao avistar um longínquo fogo,
resolveu ir ao seu encontro. Chegando lá encontrou outro gaúcho. Sem outra alternativa
de ocupação, tornaram-se, ambos, pescadores, escolhendo seus melhores locais para a
pesca. O primeiro deles, sobre o qual não se tem registro do nome, dizia ao seu
companheiro que gostava de pescar em uma barra pequena, onde o sol nascia. Já o
segundo, conhecido como “Vicente Pescador” dizia que preferia pescar onde o sol se
põe, numa barra grande (referindo-se a toda a área que hoje é o final da praia de Barra
Grande, emendando com a praia de Macapá). Naquela época, habitavam nessa região os
índios Tremembés. A partir dessas informações, acredita-se ser a origem dos nomes das
praias de Barrinha (barra pequena) e Barra Grande (MACEDO, 2011, p. 96).

De acordo com Silva (2010), após os índios Tremembés, chegaram os cearenses,


implantando o catolicismo; de Belém-PA veio a padroeira, Nossa Senhora da Conceição. As
casas eram de taipa (construídas com barro, madeira e palha de carnaúba), e as pequenas
embarcações e os balaios (carros de madeira) transportavam para as cidades vizinhas (Luís
Correia e Parnaíba) ervas medicinais, palha de carnaúba, animais, e traziam querosene, farinha,
entre outras mercadorias.
A estrada que transportava essas mercadorias entre Barra Grande, Luís Correia e Parnaíba
era de piçarra22, com bancos de areia, o que dificultava o trajeto. Atuavam na comunidade, as
parteiras e os curandeiros, só havendo atendimento médico em caso de extrema urgência, quando
o doente era levado para as cidades vizinhas.
Segundo Macedo (2011), por volta de 1900, na praia de Barra Grande havia apenas
casebres de palha, e em 1901, o major Bena Venuto, oriundo do vizinho estado do Ceará, chegou
naquele vilarejo e construiu sua casa no local onde atualmente fica a quadra da igreja. Por ser
muito católico, o major Bena começou a difundir o catolicismo no vilarejo, em que já habitavam
aproximadamente quarenta pessoas. Nessa época, construíram a primeira capela do local, onde
hoje é a Rua das Flores.
Com o falecimento do major Bena, durante o período correspondente à 1ª Guerra
Mundial, sua família continuou cuidando da igreja, e o vilarejo aumentou seu número de
habitantes. Com o passar dos anos, a família do major decidiu retornar para o estado do Ceará, e
doou todas as suas terras para a Igreja. Desta forma, o desenvolvimento do vilarejo se torna
visível apenas em 1950, nos arredores da quadra da igreja, com destaque para as casas cobertas
com telhas. Nesse mesmo local, também funcionava a área comercial do vilarejo, e com o passar
22
Piçarra é uma rocha alterada. Seus grãos são formados por minúsculos cristais arredondados. Suas características
são muito semelhantes ao saibro. Ocorrências de piçarra, atendendo parâmetros adequados de compactação, podem
constituir importantes jazidas de material usado na preparação de leitos de estradas.
74

dos anos, muitas famílias passaram a habitar naquela localidade, aumentando o número de
habitantes e contribuindo para o crescimento do comércio local. Como esses moradores eram
pescadores, construíam suas casas na beira da praia, tendo ao lado uma pesqueira23.
De acordo com os relatos colhidos por Macedo (2011) com um morador de Barra Grande,
Sr. Cazuza, a igreja construída por major Bena se encontrava muito deteriorada, quando os
comerciantes mais bem-sucedidos da comunidade decidiram construir uma nova capela, a Capela
de Nossa Senhora da Conceição, que se tornou a padroeira do vilarejo. Por volta de 1957, a
comunidade se reuniu novamente e decidiu construir uma igreja maior, que só foi concluída em
1965, com a celebração da primeira missa.
Assim, o desenvolvimento do vilarejo passou a se dá nos arredores da recém-construída
igreja, com várias casas fazendo a formação da rua, sendo que a prática do futebol, pela
comunidade, era realizada em um campo localizado inteiramente na areia. Assim, a cada ano, as
proximidades da igreja ficavam mais povoadas.
Ainda segundo Macedo (2011), na década de 70 do século XX, já havia energia elétrica
no vilarejo, e em 1979, a primeira escola pública municipal de Barra Grande, denominada de
Unidade Escolar José Agrião, foi inaugurada.
Cabe destacar aqui, que a transformação do Brasil em país eminentemente urbano, nos
anos 1970, em plena ditadura militar, no período correspondente ao término do decênio final da
fase “a” (fase ascendente, próspera) do 4º Ciclo Longo ou Ciclo de Kondratiev, passa a facilitar a
incorporação de novos espaços e redimensionamento de outros, através do processo de
metropolização das principais cidades piauienses (Teresina e Parnaíba), bem como de outras
cidades médias, em todo o território nacional.
Por outro lado, conforme Rangel (1985), com a crise do petróleo, em 1973, e o
endividamento externo brasileiro, inicia-se a fase “b” (decrescente) do 4º Ciclo de Kondratiev, e
uma crise na economia mundial. A partir de então, tudo passou a ser diferente na economia
mundial. As coisas se agravaram, a partir do ano de 1979 até 1982, quando as exportações
deixaram de crescer no mundo capitalista central, e no mundo capitalista periférico, as
exportações declinaram ao ritmo de 6,4% a.a., contribuindo com a crise. Houve, também, nesse
período, uma elevação da taxa de juros no mercado mundial.

23
As pesqueiras são locais onde há armações de pesca.
75

De acordo com Rezende (1999), a completa deterioração da situação econômica, no ano


de 1983, considerado como o “ano negro” da economia brasileira, caracteriza-se por apresentar
todos os setores econômicos brasileiros com indicadores negativos, se comparados aos anos
anteriores, onde o produto industrial caiu 5,2%; a produção de bens de consumo não duráveis
caiu 5%; na de bens duráveis, a queda foi de 8%; os salários permaneceram deprimidos; o PIB
declinou 2,8%; e a inflação pulou para 211%, provocando a desativação de diversas indústrias no
Brasil, inclusive nos grandes polos industriais do Piauí, na época, as cidades de Teresina e
Parnaíba.
Segundo Campos (2009), a resposta que mais pode explicar esta desativação das
indústrias brasileiras é a falta de planejamento por parte dessas empresas, pois elas não estavam
preparadas para a crise econômica que assolou o país. O empirismo talvez tenha sido o maior
inimigo dessas empresas, pois os seus proprietários deviam possuir poucas experiências/vivências
com situações de crise.
Porém, a crise brasileira não perdurou. Em 1986, o governo Sarney lança o Programa de
Estabilização da Economia Brasileira, popularmente conhecido como Plano Cruzado, que apesar
de ter fracassado, intensificou as transações comerciais dos diferentes setores de produção.
Assim, houve uma lenta e progressiva retomada do crescimento da economia brasileira em
diversos setores da economia, o que elevou o PIB do país e refletiu na renda e no poder de
compra da sociedade brasileira.
Para Carvalho (2010), apenas no início da década de 1980 ocorreram as primeiras
mudanças no padrão de uso e ocupação no espaço tradicional, mantido pelas pequenas
comunidades de pescadores e agricultores de subsistência na região costeira de Barra Grande,
quando surgiram as primeiras fazendas de criatório de camarão, cujo aproveitamento econômico
até então, era mantido pela atividade salineira24, que teve parte de suas salinas fechadas, devido à
crise econômica brasileira deflagrada no final dos anos setenta e início dos anos oitenta. Assim,
as salinas desativadas deram lugar às fazendas de camarão.

24
A atividade salineira é exercida pelas salinas que constituem ecossistemas artificiais de supra maré, explorados
para a extração de sal marinho. Este sistema é composto por uma série de tanques rasos (20 – 200 cm) e
interconectados, nos quais a água do mar/estuário é captada e transferida de um tanque para outro, por gravidade ou
por bombeamento. Ao longo desse circuito, essa água vai evaporando gradativamente, o que aumenta a saturação de
sais, até se atingir uma salmoura com saturação de 240 Gl-1 de sais, já no estágio final de cristalização do cloreto de
sódio.
76

Conforme Santos (2007), o território é o lugar em que desembocam todas as ações, todas
as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isso é, onde a história do homem
plenamente se realiza, a partir das manifestações da sua existência, pois reconhece a evolução
diferencial das sociedades, em um contexto no qual as determinações externas também exercem
pressão sobre as forças produtivas no plano interno, forçando o avanço das relações capitalistas
de produção e, consequentemente, ocasionando grandes transformações na organização do
espaço e da sociedade.
Assim, Santos (2006) leva em conta a combinação das realidades local e global, como
"um veículo de movimento dialético", que confronta, ao mesmo tempo em que une o global e o
local, criando, paralelamente, ordem e desordem no território, já que "integram e desintegram,
destroem velhos recortes espaciais e criam outros":

As redes são, ao mesmo tempo, globais e locais. São globais porque cobrem todo o
ecúmeno e, na verdade, constituem o principal instrumento de unificação do Planeta.
Mas elas também são locais, já que cada lugar, através de sua estrutura técnica e de sua
estrutura informacional, acolhe uma fração, maior ou menor, das redes globais. No lugar,
elas servem ao trabalho e ao capital (vivo) e determinam a sua natureza (SANTOS,
1999, p. 14).

De acordo com Ormond et al. (2004), a produção mundial de camarões vinha se


expandindo e sustentando um crescimento de oferta global da ordem de 4% ao ano, entre os anos
de 1995 e 2001, com a aquicultura respondendo por mais de 30% da oferta mundial desse
crustáceo: 1,3 milhão de toneladas no total de 4,2 milhões de toneladas registradas em 2001.
Nesse período, estimava-se que até 2005 a carcinicultura iria ultrapassar o patamar de dois
milhões de toneladas.
Nesse sentido, cabe aqui destacar, conforme Silva (2013), o panorama da carcinicultura,
que teve seu auge no período de 1990 a 2000, em Cajueiro da Praia, com oito grandes fazendas
de criação de camarão; porém, atualmente apenas duas dessas fazendas se encontram em
funcionamento. “Muitos proprietários tiveram seus negócios fechados, seja por imposição dos
órgãos ambientais de fiscalização, por não cumprirem as exigências legais25, seja por motivo de
falências financeiras” (SILVA, 2013, p. 128).

25 Em 29 de novembro de 2011, o Ministério Público do Estado do Piauí, através da Procuradoria do Meio


Ambiente, e o Ministério Público da União, propuseram a ação civil pública por danos causados ao meio
ambiente, com pedido de liminar contra a União, o Estado do Piauí e os Carcinicultores, onde: 1. Sejam embargados
imediatamente todos os projetos de carcinicultura em operação, sejam esses fazendas ou laboratórios, até que seja
elaborado o EIA/RIMA dos projetos; 2. Seja determinado, imediatamente, ao Estado do Piauí, que
77

Para Ormond et al. (2004), a viabilidade do cultivo comercial do camarão marinho era
recente no Brasil, datando mais precisamente da segunda metade da década de 1990, devido às
boas condições de aclimatação e adaptação da espécie litopenaeus vannamei (oriunda da costa do
Pacífico) que, nessa época, apresentou excelentes resultados na sua adaptação às condições
tropicais de clima, solo e água do litoral do Nordeste.
Cabe aqui destacar que após mais dois planos fracassados no governo Sarney, o Plano
Bresser e o Plano Verão, o governo de Fernando Collor de Mello assume a Presidência do Brasil,
no início da década de 90, e impõe à população o chamado Plano Brasil Novo ou Plano Collor,
que alvoroçou o mercado econômico brasileiro por um breve espaço de tempo, no qual toda a
sociedade sofreu e a economia foi, mais uma vez, abalada.
Em 1993, o governo de Itamar Franco implementa o Plano Real, para combater a
hiperinflação existente no Brasil. Esse plano origina, em 1994, o Plano de Estabilização
Econômica, que ao entrar em execução, passa a beneficiar os diversos setores da economia
brasileira. De fato, esse plano foi muito bem aceito pela sociedade, pois proporcionou diversos
efeitos positivos em toda a economia brasileira, controlando, inclusive, a inflação.
A partir do ano 2000, a economia brasileira atinge uma estabilidade econômica, com
crescimento do Produto Interno Brasileiro – PIB, criando condições favoráveis ao crescimento de
empresas nos diferentes setores de produção, devido à queda da inflação, à elevação do poder de
compra da moeda nacional, e à oferta considerável de crédito financeiro.
Nesse sentido, no Brasil, entre 1996 e 2002, a área de viveiros se expandiu de 3.200 ha
para 11 milhões, a produção saltou de 2.880 toneladas para mais de 60 mil toneladas, e a
produtividade evoluiu de 900 kg/ha/ano, para 5.458 kg/ha/ano. Em 2003, a área de viveiros
alcançou 14 milhões de ha, a produção foi de 90 mil toneladas e a produtividade atingiu 6.728
kg/ha/ano.
No município de Cajueiro da Praia, especificadamente na praia de Barra Grande, a
exploração da carcinicultura passa a absorver parte da população local de baixa renda, e com
pouca instrução formal, gerando impactos positivos sobre o emprego e a renda municipais, onde
de um lado ocorre uma expansão das diversas formas do emprego e da renda, impactando na

doravante não forneça licença ambiental aos empreendimentos de carcinicultura, sejam esses projetos novos ou com
procedimentos de licenciamento em andamento; 3. O licenciamento passe a ser elaborado tão somente pelo IBAMA;
4. Seja proibido o corte de carnaúba. 5. Seja determinado ao SPU, que suspenda imediatamente as cessões,
transferência de posses e ocupações no litoral piauiense, e que sejam anuladas as cessões, posses e ocupações que
tiverem sido dadas para os projetos de carcinicultura.
78

demanda por bens e serviços ligados à melhoria da qualidade da vida da comunidade (habitação,
serviços de saúde e educação, alimentação, etc.) e, de outro, estimula a ampliação da oferta de
serviços, tanto privados quanto públicos.
Carvalho (2010) afirma que outro fator de mudanças importante no território de Barra
Grande foi o começo da atividade turística, com as pessoas que se aventuravam pelas estradas de
terra para “descobrir” aquelas praias desertas, onde o maior atrativo era a natureza e a vida
simples das comunidades de pescadores.
De acordo com Freitas (2012), o turismo se desenvolve de maneiras diferentes, em
lugares diferentes, onde o processo de transformação de um lugar em destino turístico é diferente
em cada lugar, dependendo dos seus aspectos internos e das forças externas envolvidas:

Na verdade, os atrativos são construídos socialmente, sejam naturais ou “artificiais”. A


diferença reside, entretanto, na orientação do desenvolvimento do turismo e nas
peculiaridades locais, nas diferentes respostas locais a esse processo mais geral de
desenvolvimento do turismo (FREITAS, 2012, p. 58).

Segundo a Organização Mundial do Turismo – OMT (2001), o turismo compreende as


atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e estadas em lugares diferentes do seu
entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com a finalidade de lazer,
negócios, ou outras.
Nesse sentido, Freitas (2012) destaca que com a divulgação de Barra Grande como uma
novidade, chegam mais turistas e aparecem novos concorrentes, investidores, empresários e
trabalhadores, atraídos pelo êxito, razão pela qual a concorrência cresce. Dessa forma, a chegada
destes novos atores, numa localidade onde a pesca artesanal, a coleta de moluscos (especialmente
entre as mulheres), a agricultura de subsistência e algumas fazendas de camarão eram as
principais atividades, muda a dinâmica das relações sociais, ao inserir novas formas de integração
que, entre outras coisas, distribuem o trabalho de forma diferente, com a chegada dos veranistas
naquele território.
Só então, a partir da década de 60 do século XX, com o processo de industrialização, a
melhoria dos sistemas de transporte e, consequentemente, a facilidade de acesso às cidades
litorâneas, o segmento ganha uma função social, deixando de ser elemento de uma demanda
seletiva, que se amplia para o turismo de massa, em virtude da procura cada vez maior dos
espaços praianos para a prática do lazer.
79

Para Moraes (1995), no Brasil, o processo de expansão do Turismo de Sol e Praia se


consolida nos anos 70, devido à construção de segundas residências no litoral do bairro de
Copacabana – Rio de Janeiro, expandindo-se para as regiões litorâneas do Sul e do Sudeste e,
posteriormente, para todo o litoral brasileiro, cabendo destacar, segundo pesquisas de Hábitos de
Consumo do Turismo Brasileiro (2007 e 2009), a região Nordeste.
Na medida em que o Turismo de Sol e Praia se populariza, ao longo das últimas décadas,
a atividade turística vem se modificando e acompanhando a evolução do capitalismo, tornando-
se, cada vez mais, uma mercadoria, e transformando espaços urbanos e regiões pacatas, em polos
de atração de turísticas, oriundos de diferentes lugares.
Entretanto, a ideia de que Barra Grande foi “descoberta” pelos turistas é bastante
recorrente, e está muito presente nas falas dos próprios turistas, dos empresários, da academia e
na publicidade. Menos na fala dos moradores locais:

...os “que chegaram antes” gozam de um certo prestígio em relação aos que chegaram (e
continuam chegando) “depois”... Então é isso. A Barra Grande surgiu assim. O pessoal
vinha velejar, vinha velejar, lugar bacana. Iam ficando aqui. E aí eu comecei a cobrar
(FERREIRA, 2012, p. 72).

Para Castro (1999), nenhum destino é “naturalmente” turístico, ou seja, tudo que se
reconhece como sendo atrativamente turístico, faz parte de construções sociais baseadas num
imaginário criado, mantido e difundido através de narrativas sobre o local como destino turístico.
Desta forma, as origens de Barra Grande estão associadas à chegada destes primeiros
veranistas e, de acordo com Ferreira (2012), estes “desbravadores” começaram a frequentar a
localidade, em busca de uma alternativa para passar as suas férias. Com isso, o fluxo de pessoas e
o número de estabelecimentos turísticos aumentaram sensivelmente, transformando Barra Grande
no que ela é hoje. Antigos “turistas” se tornaram donos de pousadas, junto com estrangeiros e
“pessoas de fora”, que também optaram por levar um estilo de vida “mais alternativo”, e “foram
ficando” em Barra Grande.
De fato, Ferreira (2012) afirma que Barra Grande não surgiu com o turismo. Assim, vale
destacar que nos últimos anos o município de Cajueiro da Praia vem se tornando um ponto de
atração para investimentos nas atividades econômicas da carcinicultura e do turismo,
impulsionados pela pavimentação das rodovias de acesso, assim como pela ampliação do sistema
de energia elétrica, e implantação de infraestrutura urbana:
80

Aqui as características originais, os pescadores eram todos muito tranquilos. Você


chegava, as casinhas deles eram todas casas de taipa, bem primitivas. Eles tinham o
costume de ter sempre a rede na porta da casa, ficavam deitados. Tinha sempre duas
árvores... Aqui, pela manhã você via os pescadores sentados, olhando o mar. Quando
eles chegavam com as canoas de pesca aqui na comunidade tinha gente pra ajudar a
pegar os peixes. Eles pegavam um peixinho chamado pilombeta. Quando eles vinham
com as pilombetas, as pessoas pobres aqui da comunidade, mais pobres, vinham pra
pegar. Porque os pescadores não queriam as pilombetas, eles queriam os peixes grandes
(...) hoje em dia, não tem mais quem queira pescar. Os pescadores são os velhos, as
pessoas já de idade. Os jovens não querem mais pescar, você encontra um ou outro.
Aqui eu só conheço um jovem que pesca, é o único jovem da comunidade (FERREIRA,
2012, p. 77).

Para a Organização Mundial do Turismo (2001), a criação de novas demandas, seja de


viagens de lazer, seja de viagens de negócios, favorecida pelo crescimento progressivo das
relações comerciais entre os diferentes mercados mundiais, movimentou os países
industrializados, ditos desenvolvidos, e também aqueles considerados subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento.
De acordo com Macedo (2011), com a melhoria da infraestrutura viária e com a
implantação da luz em Barra Grande, há pouco mais de uma década, o que já denota o impacto
positivo decorrente do turismo, começou a chegar um fluxo maior de veranistas e turistas,
provocando a ocupação e a urbanização da praia de Barra Grande, com a construção de
empreendimentos hoteleiros de padrão internacional, cuja estrutura arquitetônica foi adequada
para oferecer estrutura aos praticantes do esporte kitesurf, com espaço adequado para a limpeza e
a acomodação dos equipamentos utilizados, criando a Barra Grande dos ricos e a Barra Grande
dos pobres:

A chegada do turismo fez surgir duas distintas localidades: a Barra Grande dos ricos e a
Barra Grande dos pobres. A Barra Grande rica não gera renda para ninguém, só para os
donos das pousadas, gerando apenas subempregos à população local. Falta capacitação e
motivação aos moradores, que não dispõem de verbas para investir, porque fica
impossível competir com os empresários de fora (MACEDO, 2011, p. 139).

Assim, “os motivos pelos quais a população não aproveita as oportunidades que o turismo
pode proporcionar, em geral, são as baixas condições financeiras, baixo nível de escolaridade,
comodismo por parte de alguns, e a falta de visão empreendedora” (MACEDO, 2011, p. 137).
Nesse sentido, as características naturais de Barra Grande e o aspecto bucólico, típico de
uma colônia de pescadores, que, associadas ao aproveitamento dos ventos alísios na região,
principalmente pela prática do kitesurf, favoreceram o desenvolvimento do turismo na localidade,
nas últimas décadas.
81

Ainda de acordo com Macedo (2011), a visitação à praia de Barra Grande remonta ao
início da década de 70 do século XX, quando veranistas, oriundos principalmente de Teresina,
Parnaíba e Ceará, especialmente Jericoacoara e Camocim, vinham passar suas férias. Só a partir
da década de 80 é que começam a aparecer os excursionistas, vindos, em grande parte, das
cidades de Luís Correia e Parnaíba. No entanto, este turismo de massa, trazido pelos ônibus,
ainda continua acontecendo na praia de Barra Grande; porém, os locais (espaços ocupados por
barracas de praia) ocupados pelos excursionistas são diferentes dos locais ocupados pelos turistas
de maior poder aquisitivo:

Há algumas décadas, Barra Grande era frequentada por famílias com crianças
(proprietárias de casas de praia), jovens aventureiros, universitários, amantes da
natureza, podemos dizer que era um turismo endógeno, pois naquela época, a
aproximação dos turistas com as pessoas da comunidade era muito próxima, durante o
dia tinham os passeios no mangue, no riacho da Barrinha, no pôr do sol visto do
cemitério, andar de carroça até o encontro com a praia do Macapá, conhecer os destroços
do navio encalhado, pescaria em alto mar, cata de caranguejo e mariscos, pescaria com
tarrafa no rio, pescaria de camarão. À noite, sempre curtir ao lado de uma fogueira e do
luar, ir aos forrós nos bares nativos, sim, todos esses descritos acima, de uma maneira
informal e com o privilégio da companhia dos nativos, que sem sombra de dúvidas, eram
excelentes guias (PESQUISA DIRETA: MACEDO, 2011, p.100-101).

A primeira pousada de Barra Grande foi inaugurada em 1989, a chamada Pousada


Mualém, que funciona até os dias atuais, e partir dos anos 90,
a praia começa a receber turistas de outras cidades do Piauí, além das já citadas, bem como do
Ceará. Esses turistas vinham, em sua grande maioria, através de excursões organizadas por
grupos de amigos, ou seja, não havia a interferência de nenhuma agência de viagem vendendo
pacotes turísticos para Barra Grande:

Hoje, as pousadas que têm surgido em Barra Grande oferecem apartamentos com ar
condicionado, TV, frigobar e instalações para guardar os equipamentos do kitesurf,
atendendo à demanda internacional. Antes, só tinha o Mualém, que oferecia quartos bem
simples. Depois que nossas pousadas chegaram aqui, a própria Pousada do Mualém
também fez reforma e melhorou seus serviços (MACEDO, 2011, p. 127).

Ainda segundo Macedo (2011), a partir de 2000, um novo atrativo turístico surgiu em
Barra Grande, em virtude da introdução do esporte kitesurf, em 2005, pelo empresário e médico
teresinense Ariosto Ibiapina (figura 17), frequentador da praia durante as férias, como veranista,
que frente ao crescimento desse esporte em Jericoacara-CE, foi motivado a abrir a pousada
Barraca Kite Camp (BGK), conforme demonstrado na figura 18, com instalações adequadas e
suporte para receber os praticantes e simpatizantes desse esporte.
82

Figura 17 - Dr. Ariosto Ibiapina, proprietário da Pousada BGK – Barra Grande – Cajueiro da Praia-PI

Fonte: Acesse 24 horas (2015)26.

Para Macedo (2011), a pousada BGK trouxe visibilidade à Praia de Barra Grande,
atraindo para o local um novo tipo de turista, com maior poder aquisitivo, e na faixa etária entre
17 e 30 anos de idade, que passa a frequentar a praia de Barra Grande. Assim, com o aumento do
fluxo local, o governo do Estado e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Piauí
(SEBRAE), promovem o envolvimento da população local com o turismo:

Até 2003, ninguém tinha a menor noção de que se podia ganhar dinheiro com o turismo.
Foi através de uma experiência de 4 meses, no então criado Departamento de Turismo da
Prefeitura de Cajueiro da Praia, que eu e outra funcionária despertamos para essa
questão. No início, nós ficávamos ali parados, sem saber o que fazer, até que entrou a
figura do SEBRAE, como parceiro, que iniciou uma série de cursos para a região: cursos
sobre condução de grupos, educação ambiental, animação turística, atendimento ao
turista, sustentabilidade, dentre outros. A quantidade de pessoas que se envolveu nesses
treinamentos foi em torno de 25 pessoas. O nosso instrutor incentivou a criação de uma
associação para representar o turismo. A partir de então, criou-se uma associação de
moradores, e o nosso grupo passou a ser visto como diferente do restante da
comunidade, porque nós estávamos com outro pensamento, com outra visão. A gente
entendia sobre a questão da preservação e da conscientização ambiental, e aí nós
queríamos que todo mundo estivesse pensando como a gente, mas recebemos muita
rejeição quando saímos defendendo aquelas ideias que aprendemos (MACEDO, 2011, p.
102-103).

26
Disponível em < http://a24horas.com/kitesurf-clinica-formacao-credenciamento-instrutores-abk-realizada-na-
barra-grande/>. Acesso em: jun. 2015.
83

Figura 18 - Vista aérea da Pousada BGK, em Barra Grande – Cajueiro da Praia-PI

Fonte: Site da BGK27.

Do mesmo modo, começam a ocorrer pequenas transformações na mentalidade de alguns


moradores, principalmente pescadores, que diante de algumas práticas predatórias e de
degradação ambiental, passaram a criar associações e atender os turistas de maneira mais
sustentável e profissional, como foi o caso da Associação dos Condutores de Barra Grande, que
transporta grupos de turistas várias vezes ao dia, para conhecer o paraíso dos cavalos marinhos
nos mangues da praia.
De acordo com Lopes (2012), Barra Grande começou a se transformar em um destino
para turistas do mundo inteiro, em razão da consolidação da prática do kitesurf, facilitada
principalmente pelo aproveitamento dos ventos alísios que ocorrem naquela região litorânea do
país.
Outro fator destacado por Lopes (2012), diz respeito à questão espacial, pois o surgimento
de novos empreendimentos em Barra Grande causou muitos atritos e uma disputa pelo território,
sendo que a comunidade acabou excluída e marginalizada no decorrer desse processo, já que
pouco usufrui dos aspectos positivos que o turismo pode oferecer.

27
Disponível em< http: //www.barragrandekitecamp.com.br/localizacao.html>. Acesso em: mai.2015.
84

Para Macedo (2011), o potencial do esporte como atrativo turístico é relevante para Barra
Grande, e como produto turístico, é capaz de movimentar muitos recursos. Desta forma, a prática
do kitesurf é tão incentivada na praia de Barra Grande, que foram abertas três escolas para o
ensino do esporte. Por outro lado, quatro, das quatorze pousadas de Barra Grande, oferecem
estrutura de apoio à prática do kitesurf28, onde os próprios proprietários também praticam o
esporte.
De certa forma, com a exploração e, consequentemente, a difusão do kitesurf na praia de
Barra Grande, começa a atrair investidores que ali desejam se fixar, construindo moradias ou
abrindo estabelecimentos comerciais, principalmente pousadas, para acolher os turistas:

Tal fato demanda um maior acompanhamento e atenção por parte do poder público, no
sentido de evitar que os mesmos dominem os espaços e a gestão turística local, como
mostra a moradora local, S. M., 61 anos: A gente sabe que o turismo traz coisa boa e
estamos tentando nos adequar a essa nova realidade. Mas traz coisas ruins. Essa parte
ruim é a questão da especulação imobiliária porque principalmente por estrangeiros, na
comunidade, a questão de projetos que não são consultados com a própria comunidade?
Muitos projetos vêm e a comunidade acaba sabendo quando já está formalizado e não
tem aquela parte da construção juntamente com a comunidade? Então, assim,
principalmente a parte dos estrangeiros, eles compram, normalmente acontece isso,
compram um terreno de tamanho x e depois cercam o terreno um pouco maior, e aí já
gera aquele conflito com a comunidade e coisa e tal (MACEDO, 2011).

Ainda segundo Macedo (2011), a prática do kitesurf é tão incentivada na praia, que foram
abertas duas escolas para o ensino do esporte (Kite Escola Paraíso e a BGKite School), conforme
demonstrado na figura 19, sendo que a BGKite School é cadastrada na Associação Brasileira de
Kitesurf – ABK29 (Kite School – BGK), o que sinaliza uma preocupação, já que é necessário

28
O kitesurf é praticado sem fins competitivos e os turistas podem fazer cursos rápidos para praticá-lo. Os bons
ventos do povoado já atraíram vários curiosos e profissionais para a prática do esporte, que buscam, além de
condições ambientais para a prática do mesmo, uma estrutura adequada para vendas de roupas e utensílios, consertos,
reparos e locais para guardar os equipamentos. Esta estrutura de apoio à atividade do kitesurf está presente em quatro
das treze pousadas de Barra Grande, cujos proprietários também são praticantes do esporte, sendo alguns de
nacionalidade estrangeira.
29
A clínica de certificação de Instrutores ABK – Associação Brasileira de Kitesurf consiste em um curso com o
objetivo de trazer para dentro dos padrões ABK de ensino, instrutores do esporte de todo o Brasil. Avalia
conhecimentos referentes ao esporte e outros módulos fundamentais, como meteorologia e regras de navegação, para
a prática e ensino. Já os serviços básicos oferecidos pelas escolas cadastradas na ABK em Barra Grande oferecem
cursos básicos de 10 horas, realizados em 4 dias, com duração de 2h:30/aula e os cursos rápidos de 5 horas-
realizados em 2 dias com duração de 2h:30/aula. Além destes serviços estes cursos oferecem os monitores
qualificados pela ABK e aluguel de equipamentos de kitsurf: colete, capacete, sapatilha, trapézio, prancha e kite.
Nossos equipamentos são todos novos (2013/2014) e de todos os tamanhos. A ABK possui uma cadeira dentro da
CB Vela – confederação brasileira de vela – órgão ligado ao ministério dos esportes, o qual trabalha com os padrões
exigidos pelo governo e Marinha do Brasil.
85

haver a regulamentação do esporte por parte de todos que o ofertam. Por outro lado, a Kite Escola
Paraíso possui filiação com a Organização Internacional de Kiteboarding e ABK.

Figura 19 - Escolas de kitesurf na praia de Barra Grande- Cajueiro da Praia

A: kite Escola Paraíso; B: BGKite School.


Fonte: Elaboração do autor (2015).

Acredita-se que entre os anos de 2010 e 2015 as demais escolas de kitesurf que atuam em
Barra Grande tenham certificado seus instrutores pela ABK. Uma destas certificações ocorreu em
julho de 2015, através de uma Clínica Certificação de Kitesurf ABK, que consistia num curso
com o objetivo de atrair para dentro dos padrões ABK de ensino, instrutores do esporte em todo o
Brasil.
Dessa forma, a ABK está fazendo um trabalho, em âmbito nacional, para trazer para
dentro de seus padrões, profissionais que trabalham com kitesurf. Nesse sentido, a associação
desenvolveu, de acordo com padrões internacionais, uma metodologia que preza, principalmente,
pela segurança e bem-estar do aluno, e de todos os usuários da zona de prática.
Assim, um instrutor que faz a clínica pela ABK recebe a certificação e está apto para
desenvolver seu trabalho, da maneira mais prudente e com mais eficácia. A certificação também
visa valorizar a profissão.
Vale destacar, ainda, que conforme Macedo (2011), para que a prática do kitesurf ocorra
dentro dos padrões estabelecidos pela ABK o município de Cajueiro da Praia deve dispor de uma
estrutura médico-hospitalar satisfatória, além de um corpo de salva-vidas. Em Barra Grande, esta
86

estrutura de apoio é deficiente, e o único posto de saúde existente na localidade só está habilitado
para atender problemas bem pequenos, como cortes e ferimentos leves. Sendo assim, em caso de
qualquer problema mais sério, o turista terá que ser deslocado para Parnaíba, distante cerca de 60
km, porque na unidade de saúde existente em Cajueiro não será solucionado.
De acordo com Costa (2006), até o ano de 2006 a praia de Barra Grande contabilizava um
total de cinco pousadas, e no ano de 2009, o número de pousadas sobe para nove, totalizando 164
leitos. No ano de 2010, já se contam 13 pousadas, somando 242 leitos, sendo duas dessas
pousadas, de proprietários estrangeiros: um italiano e um francês. As demais pousadas são de
empresários teresinenses e paulistanos. Até o momento, não há nenhuma pousada pertencente a
cadeias hoteleiras, tampouco de propriedade de cidadãos nativos.
Apesar de o desenvolvimento do turismo se mostrar evoluindo nestes últimos anos, ainda
não existem dados empíricos levantados entre os anos de 2014/2015 que demonstrem a atual
configuração dos grandes empreendimentos de Barra Grande, construídos nos últimos anos
(hotéis, pousadas, comércios, supermercados, associação de moradores, escolinhas de kitesurf,
bares, restaurantes, dentre outros), bem como o perfil dos turistas que frequentam aquela
localidade.
Segundo Macedo (2011), a praia de Barra Grande é visitada principalmente por turistas
oriundos do estado do Piauí, de estados próximos, como o Ceará, Tocantins e o Distrito Federal;
jovens de todo o Brasil, em busca da prática do kitesurf, além de muitos turistas de outras
nacionalidades, que visitam a localidade, mas que não têm seus países de origem registrados,
sendo que a maioria é francês ou italiano:

... não existem estudos sobre os aspectos mercadológicos da praia de Barra Grande. Os
próprios donos das pousadas, até 2009, não registravam a origem dos seus hóspedes,
portanto, não obedeciam a legislação turística. No segundo semestre de 2010, estes
dados começaram a ser registrados, porém, ainda não foram divulgados pelas pousadas.
Não havia nenhum conhecimento mais aprofundado sobre o perfil da demanda atual que
visita a localidade, e, nem tampouco, sobre a demanda potencial a ser atraída para a
praia (MACEDO, 2011, p.126).

Atualmente, os prestadores de serviços turísticos (meios de hospedagem) em Barra


Grande, de acordo com dados do Cadastur30 (2015), encontram-se em situação de operação: Rota

30
O CADASTUR é o sistema de cadastro de pessoas físicas e jurídicas que atuam na cadeia produtiva do turismo,
executado pelo MTur, em parceria com os Órgãos Oficiais de Turismo das Unidades da Federação. O Sistema recebe
cadastros obrigatórios dos prestadores de serviços turísticos das seguintes atividades: Meios de Hospedagem
(albergue, condo-hotel, flat, hotel urbano, hotel de selva, hotel fazenda, hotel histórico, pousada, resort e cama &
87

dos Ventos, Barraca Grande Kite Camp, Pousada Ventos Nativos, Nathalia Reis Montes Borghi,
Ester Muniz de Deus, Pousada Paraíso da Barra, Sunset Pousada e Camboas Pousada. Não
existem estabelecimentos em situação de cadastramento no CADASTUR.

4.2 Principais programas de ações de turismo, esporte e lazer

Segundo dados do Relatório Executivo (Caracterização e Dimensionamento do Turismo


Doméstico no Brasil – 2010/2011) do MTur, dentre os destinos turísticos “sonhados” pelos
entrevistados, a região Nordeste se apresenta em primeiro lugar, com 54,2% das citações,
contendo, portanto, os destinos mais desejados pelos turistas brasileiros em todas as regiões.
Seguem-se as regiões Sudeste (20,4%) e Sul (14,1%), como as mais “sonhadas”. Analisando-se
por origem de procedência, depois do Nordeste, a segunda região mais desejada é o Sudeste, para
os residentes de todas as demais regiões, particularmente para os do Nordeste (33,6%), Norte
(23,4%) e Sul (19,1%):

Em termos de cidades, os destinos mais desejados pelos brasileiros estão na região


Nordeste do País: Fernando de Noronha e Fortaleza. Ao lado dessas, outras sete cidades
da Região (Salvador, Natal, Recife, Porto Seguro, Ipojuca, Maceió e São Luís) estão
entre as vinte cidades mais desejadas; cinco no Sul (Gramado, Florianópolis, Foz do
Iguaçu, Porto Alegre e Curitiba), três no Sudeste (Rio de Janeiro, São Paulo e Aparecida
do Norte), duas no Centro-Oeste (Bonito e Brasília) e uma no Norte (Manaus). Os
destinos Fernando de Noronha, Natal, Gramado, Florianópolis, Manaus, Maceió, Bonito
e Porto Alegre despertam maior interesse, conforme aumenta a renda. Já Rio de Janeiro,
Salvador, São Paulo, Porto Seguro, Brasília e Aparecida do Norte despertam maior
interesse nas classes mais baixas de renda (MTUR, 2012, p. 71).

Em 1991, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e a Empresa


Brasileira de Turismo (EMBRATUR) conceberam, através do Governo Federal e pelos Governos
Estaduais, o Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste –
PRODETUR/NE.
O PRODETUR/NE I consistia em criar infraestrutura de apoio e serviços num grande
número de praias e localidades litorâneas consideradas de grande apelo aos turistas,

café); Agências de Turismo; Transportadoras Turísticas; Organizadoras de Eventos; Parques Temáticos;


Acampamentos Turísticos; Guias de Turismo, dentre outros. O CADASTUR visa promover o ordenamento, a
formalização e a legalização dos prestadores de serviços turísticos no Brasil, por meio do cadastro de empresas e
profissionais do setor.
88

principalmente estrangeiros, partindo do princípio de que a melhoria da infraestrutura social


beneficiaria automaticamente a atividade turística e a população nativa da região.
Assim, o PRODETUR/NE I, em sua primeira fase deveria ser executado em 5 anos e com
um orçamento em torno de US$ 800 milhões, sendo que 50% desses recursos eram oriundos do
Banco Interamericano de Desenvolvimento, e os outros 50% da contrapartida dos estados. Tais
recursos deveriam ser aplicados basicamente em saneamento, sistema viário, limpeza urbana,
aeroportos, recuperação de patrimônio histórico, proteção e recuperação ambiental e
desenvolvimento institucional.
Conforme relatório da equipe do PRODETUR no Piauí, os recursos do PRODETUR/NE I
foram destinados somente à elaboração do Plano Diretor do Turismo Arqueológico do Piauí;
elaboração do Projeto de Controle Ambiental das dunas na Lagoa do Portinho; a construção da
Rodovia PI-301/302, Entroncamento BR-402 entre Camurupim e Barra Grande; Plano de
Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável Polo Costa do Delta de 2002, e o Plano
Estratégico de Desenvolvimento Turístico do Estado – PET (Relatório PRODETUR/PI).
De acordo com dados do relatório do Banco do Nordeste do Brasil (2010), na I fase do
PRODETUR/NE o Estado do Piauí aplicou apenas 3% em órgãos de turismo e meio ambiente,
com pagamentos de consultorias na elaboração de planos e programas, enquanto que outros
estados (Ceará 23%, Sergipe 8%, Rio Grande do Norte 6%, Pernambuco 7%, Paraíba 6%,
Maranhão 7% e a Bahia 34%) investiram um percentual maior, empregando os recursos em
construção de aeroportos, portos e limpeza urbana.
Em sua segunda fase, o PRODETUR II, tinha como um de seus principais objetivos a
consolidação do PRODETUR/NE I, através de ações que visassem à prática do turismo
sustentável; o aumento das receitas provenientes da atividade turística e a melhoria da capacidade
de gestão dessas receitas, por parte dos Estados e Municípios.
De acordo com dados do Banco do Nordeste (2005), o Piauí conseguiu captar 6% do total
de US$ 400 milhões dos recursos disponíveis do PRODETUR II, e tais recursos foram aplicados:
 Na Pesquisa Diagnóstica e Preparação dos Programas de Qualificação Profissional e
Empresarial para o Polo de Turismo Costa do Delta, elaborado pela Consultoria Empresa
Expansão e Gestão em Educação e Eventos, no ano de 2009;
 Na restauração da rodovia PI-315 - Macapá / BR-402 ao povoado Camurupim, no ano de
2008. Essas estradas foram construídas com acostamento apresentando um recuo com
89

largura variando entre 0,50m a 0,80m, sem pavimento. Com sinalização vertical precária,
quase inexistente, muitas placas foram arrancadas ou cobertas pela vegetação; quanto à
sinalização horizontal, quase inexistente, com pintura apagada em vários pontos, sem
manutenção. Atualmente, encontra-se com muitos buracos e muita areia, em razão do
movimento das dunas;
 Na execução da implementação e pavimentação em paralelepípedos da rodovia vicinal, no
trecho Barra Grande/ Barrinha/ Cajueiro da Praia. Encontra-se em bom estado de
conservação;
 Na contenção das Dunas-Lagoa do Portinho/Parnaíba. Projeto iniciado e não concluído,
atualmente as dunas continuam avançando, diminuindo o corpo d’água da Lagoa do
Portinho;
 Na elaboração do Plano Diretor Participativo de Luís Correia. O Plano foi elaborado pela
empresa Technum Consultoria SS e concluído em 2009;
 Na elaboração do Plano de Gestão Municípios do Polo Costa do Delta – Parnaíba, Luís
Correia, Ilha Grande e Cajueiro da Praia;
 Na elaboração do Projeto de Recuperação e Revitalização do Porto das Barcas – Parnaíba.
Projeto concluído, no entanto, o Porto das Barcas necessita de uma nova revitalização e
recuperação da infraestrutura.
Em 2000, um relatório do Ministério do Meio Ambiente – MMA, aponta que dentre os
entraves ao desenvolvimento do turismo no Piauí, dois deles mereceriam especial atenção: a
dificuldade de acesso rodoviário, devido às más condições das estradas federais, e a ausência de
voos regulares para o aeroporto de Parnaíba.
A partir desses dados, visando atender a essas necessidades e aumentar o fluxo de turistas
no litoral piauiense, o governo do estado do Piauí passa a implementar obras rodoviárias para
atender ao norte e ao litoral do Estado, dando ênfase maior para as rodovias que interligam o
litoral à capital, buscando integrar novos municípios a essa rota.
Nesse sentido, conforme demonstrado na figura 20, pode-se observar como as principais
rodovias estaduais e federais piauienses convergem para as praias situadas em diferentes pontos
do litoral do Piauí, o que explica, em parte, a recente ocupação das praias localizadas no litoral do
estado, até recentemente não podiam ser acessadas por boas estradas pavimentadas.
90

Figura 20 - Mapa Rodoviário do Piauí, Brasil

Fonte: Elaboração do autor (2015).

Segundo Silva (2013), o Piauí é um estado que ainda caminha para o seu desenvolvimento
turístico, buscando, através de programas como o PRODETUR, dotar de infraestrutura as
localidades consideradas pela política estadual de turismo os destinos indutores da atividade,
sempre focando o desenvolvimento do turismo regional e a possibilidade de alternativa
econômica, através de implantação da atividade turística nos municípios.
91

De acordo com Ferreira (2013), no quadro do turismo no país, o Piauí não se configura
como um destino de destaque, e conforme a pesquisa de Hábitos de Consumo do Turismo
Brasileiro, realizada pelo Ministério do Turismo (2009), apenas 0,8% dos turistas havia escolhido
o Piauí como destino turístico, o que demonstra sua fraca representatividade no turismo, frente
aos outros estados da região Nordeste.
Conforme demonstrado na figura 21, o principal emissor de turistas para o Piauí é o
próprio Estado, com 56% do total de turistas; seguido pelos maranhenses, com 17,3%; Distrito
Federal, com 6,1%; Pernambuco, com 5,4%; São Paulo, com 3,6%; Ceará, com 2,6%; Goiás,
com 1,2%; Sergipe, com 1,1%; Rio Grande do Sul, com 1,0%; Bahia, com 0,9%; e outros, com
4,4%.
Ainda de acordo com a figura 21, os piauienses também são os principais geradores de
receita para o Estado do Piauí; seguido pelo Distrito Federal, com 13,5%; o Maranhão, com
10,1%; São Paulo, com 6,6%; Pernambuco, com 3,7%; Paraná, com 2,7%; Rio Grande do Sul,
com 2,3%; Goiás e Ceará, com 2,2 %; Rio Grande do Norte, com 1,2%, e outros, com 6,6%.
92

Figura 21 - Piauí em número de turistas (A) e em número de gastos (B)

Fonte: Ministério do Turismo: caracterização e dimensionamento do turismo doméstico no


Brasil – 2010/2011.

Com a criação do Ministério do Turismo, em 2003, a Secretaria de Turismo do Estado do


Piauí só é criada no ano de 2007. Vale aqui destacar, que antes já existia a Empresa de Turismo do Piauí
S/A (PIEMTUR), criada através de lei nº 3.077, de 28 de junho de 1971, mantida pelo governo
93

até 2010, que era uma sociedade de economia mista. Nestes últimos anos, Barra Grande vem se
tornando uma das principais apostas do Governo do Estado do Piauí para o turismo, como um
local que desperta o interesse para os empreendimentos de empresários brasileiros e estrangeiros.
De fato, no Piauí, o turismo só foi reconhecido e encarado como política pública de
interesse estadual nos últimos anos31. Nesse sentido, a Secretaria Estadual do Turismo aponta
uma nova fase para o turismo, especialmente na região litorânea do estado, onde recentemente as
agências de turismo despertaram para a realização de pacotes turísticos para a praia de Barra
Grande, mas boa parte do turismo local ainda é realizado pelos próprios turistas, o que pela
estrutura mínima da região, ainda é visto de modo positivo, considerando-se os prejuízos
socioambientais que o turismo em massa poderia ocasionar.
A política de turismo do Governo do Estado do Piauí, a princípio, era administrada pela
PIEMTUR; em seguida, pela Secretaria do Planejamento do Estado – SEPLAN; e a partir de
2007, passa a ser de responsabilidade da Secretaria de Turismo, seguindo as diretrizes e
orientações da Política Nacional de Turismo, por meio da adesão a programas como o
PRODETUR/NE e o Programa de Regionalização do Turismo, priorizando o turismo como uma
de suas principais políticas de desenvolvimento.
Cabe destacar aqui, que o Plano Estratégico do Piauí (elaborado para o período de 2001 a
2015) quase não cita a praia de Barra Grande, pois a sua elaboração antecede o período em que a
localidade passa a configurar como destino turístico de destaque, a partir do ano de 2005.
Assim, a presença tímida de Barra Grande no Plano Estratégico do Piauí está incluída no
Portfólio de Negócios Turísticos para orientação e captação de investimentos, como um local
apropriado para a construção de um resort de “médio porte”, com 200 UHs, capaz de gerar uma
economia em torno de si.
Por outro lado, Barra Grande também é citada no diagnóstico do Plano de
Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável – PDITS Costa do Delta (2004), um
documento que diagnostica a situação atual dos municípios que receberam investimentos da
primeira fase do PRODETUR/NE, como um atrativo com grande potencial e fluxo turístico de
31
Na década de 60, mesmo sem leis federais oficializando o turismo, no Piauí foram criadas empresas como:
Empreendimentos Turísticos e Culturais S/A (CONCLAVE), criada pela lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965;
Empresa de Turismo do Piauí S/A (PIEMTUR), criada através da lei nº 3.077, de 28 de junho de 1971;
Empreendimentos Hoteleiros e Turísticos do Delta do Parnaíba (DELPAR), cadastrada na Junta Comercial do Piauí,
através do Protocolo nº 1.540/74, de 22 de outubro de 1974, poucos anos após a criação da Empresa Brasileira de
Turismo – EMBRATUR (SETUR-PI, 2013).
94

média intensidade. Porém, sua representatividade, neste período, era considerada muito baixa, e a
praia era vista como um “elemento bastante comum”.
Cabe destacar que Barra Grande está inserida dentro da APA do Delta do Parnaíba, o que
favorece o desenvolvimento do turismo ecológico em ambientes naturais protegidos, e estimula
sua conservação, por meio da formação de uma consciência ambientalista, através da
interpretação desse ambiente, promovendo o bem-estar das populações locais e para as futuras
gerações.
Nessa perspectiva, Pires (2002) acrescenta:

O conceito de turismo sustentável, portanto, fundamenta-se no próprio princípio


universal de sustentabilidade, que implica a necessidade de conservar os recursos para
que as futuras gerações possam utilizá-los e desfrutá-los com os mesmos direitos das
gerações atuais. Toda e qualquer atividade pode e deve ser sustentável, e essa premissa
contempla tanto o turismo convencional como todos os demais tipos alternativos (2002,
p. 117).

Já Kinker (2002) aponta que para os locais onde se desenvolve uma atividade que
relaciona diretamente o turista e a natureza, o ecoturismo é um segmento relativamente novo do
turismo de natureza. O que o diferencia dos outros é sua abrangência conceitual, a experiência
educacional interpretativa, a valorização das culturas tradicionais locais, a conservação da
natureza e do desenvolvimento sustentável. Assim, o ecoturismo, aliado com a educação
ambiental, tem promovido a interdisciplinaridade, como objeto de aplicabilidade das políticas
públicas nacionais, com alvo de valorização das áreas naturais e da conservação.
De acordo com Pires (1998), no interesse social pelo ecoturismo podem ser identificados
os seguintes setores:

• o trade turístico, ou seja, operadores, agências, promotores, empresas de viagens,


hotelaria, guias, etc.;
• a área governamental e os organismos oficiais ligados ao turismo;
• as organizações não governamentais da área ambiental e de conservação;
• as populações residentes nos destinos potenciais;
• o público turista e suas diferentes motivações de viagem;
• o meio acadêmico debruçado sobre a pesquisa e a reflexão do tema (PIRES, 1998, p.
76).

Para Pires (1998), cada um desses setores tende a conceber sua própria ideia de
ecoturismo, em função de seus interesses mediatos e imediatos, e do ponto de vista particular a
cada um, dando origem a um grande número de definições e de terminologias a elas associados.
95

Nesse sentido, Ferreira (2012) afirma que é possível perceber como a política de
desenvolvimento turístico do estado do Piauí tem sido pensada sob uma ótica desenvolvimentista
que prioriza a instalação de grandes empreendimentos e recorre a conceitos e argumentos
“sustentáveis” e “ecológicos” como uma diretriz política oficializada, que só endossa a forte
influência nas ações do Estado.
De acordo com Pires (2002), essa forma de turismo convencional massificado, de larga
escala e multinacionalizado, organizado com fins unicamente comerciais, em que não se
reconhecem limites de crescimento e os riscos dele decorrentes, em que predomina o
comportamento insensível dos turistas para com os destinos e populações receptoras, em que a
deterioração ambiental e paisagística são comuns, ensejou as primeiras percepções voltadas para
um “turismo diferente”.
Dessa forma, esse “turismo diferente” e de baixo impacto é apresentado como uma
alternativa viável para o turismo sustentável, nos Programas de determinados planejamentos,
transformando os dados das variáveis qualitativas presentes nos estudos da sustentabilidade em
informações quantitativas, que mostrem o “grau” ou o “nível de sustentabilidade” de determinado
planejamento do desenvolvimento ou do turismo sustentável.
Em 2007, a praia de Barra Grande passou a ser incluída no Guia 4 Rodas daquele ano,
como uma excelente opção no roteiro que integra o Delta do Parnaíba. A praia também foi
escolhida para ser um dos produtos turísticos nacionais a serem divulgados internacionalmente
pela EMBRATUR.
Em 2008, a Prefeitura Municipal de Cajueiro da Praia, em convênio firmado com o
Ministério do Turismo, elaborou o Plano Diretor e Participativo do município de Cajueiro da
Praia32. No mesmo ano, representantes da Prefeitura Municipal de Cajueiro da Praia, da
Secretaria de Turismo do Piauí (SETUR) e do SEBRAE, reúnem-se com representantes da
comunidade de Barra Grande (empresários locais, associação de moradores, proprietários de

32
O Plano Diretor é o instrumento que reúne as diretrizes para o desenvolvimento do Município e as estratégias de
ocupação do território municipal, especialmente o urbano, com base na compreensão das funções econômicas, das
características ambientais, sociais e territoriais do município, assim como de sua região de influência. O Plano
Diretor se constitui de um conjunto de leis, dentre elas: Lei do Plano Diretor; Código de Obras; Lei de Perímetro
Urbano; Lei de Parcelamento; Lei de Uso e Ocupação do Solo. São subprodutos do Plano Diretor: a criação de um
sistema de informações georreferenciais para o planejamento: ao mesmo tempo em que se gera e sistematiza as
informações necessárias ao planejamento, pode ser implantado um sistema georreferenciado, com capacitação dos
funcionários da Prefeitura no seu uso e manutenção. Adequação dos procedimentos e da estrutura dos órgãos da
Prefeitura, principalmente os responsáveis pelo planejamento, a análise, o licenciamento e a fiscalização de obras
municipais.
96

pousadas e demais estabelecimentos comerciais), para abordar assuntos pertinentes às melhorias


de Barra Grande, como o abastecimento de água, a coleta de lixo, os animais soltos nas ruas e
estrada, a segurança e a necessidade de criação de um regulamento para a prática do kitesurf, para
iniciar o levantamento das necessidades e propostas que seriam entregues aos poderes municipal
e estadual.
A partir disso, a Praia de Barra Grande foi contemplada com um planejamento exclusivo
para o setor turístico, através de uma parceria entre o SEBRAE-PI e a Secretaria Municipal de
Turismo e Meio Ambiente, que resultou no Plano do Turismo de Barra Grande para o período
2008-2013, cuja visão de futuro estabelecida foi: “ser modelo de turismo sustentável no Estado
do Piauí”, e missão de “levar os turistas a conhecerem os recursos naturais e culturais de Barra
Grande, resultando em um maior desenvolvimento local”.
De acordo com Ferreira (2012), em 2010, a Secretaria de Turismo do estado do Piauí deu
início a alguns projetos de infraestrutura turística no povoado de Barra Grande – a então chamada
Praça do Pescador, na região onde se concentram as pousadas, e um terminal rodoviário na
entrada do povoado.
Alguns grupos de representantes da comunidade de Barra Grande, porém, respaldados
pelo argumento de que a idealização e o planejamento desses projetos foram feitos sem
informação ou consulta das pessoas que moram ou têm empreendimentos no lugar, e que somente
com a chegada dos materiais e início da execução das obras havia tido conhecimento do
processo, solicitaram junto ao Ministério Público o embargo das obras, o que resultou em uma
audiência pública.
Durante a realização dessa audiência pública, Ferreira (2012) pôde observar a existência
de alguns grupos característicos em Barra Grande:
1) As pessoas que fazem parte ou estão ligadas ao Poder Público, com um discurso que
enfatizava a necessidade de desenvolver o turismo na localidade, principalmente a partir da
realização de obras públicas financiadas pelo Ministério do Turismo e por outros recursos
externos;
2) Os proprietários dos grandes estabelecimentos (pousadas, restaurantes, comércios etc),
preocupados com o retorno financeiro de seus investimentos e, portanto, com a intervenção do
Estado, que pode resultar na alteração da forma como o turismo acontece atualmente: turístico
local;
97

3) Os turistas e os proprietários de segunda residência no local, com um discurso ambientalista e


preservacionista, que enfatizam a necessidade de proteger o meio ambiente e de controlar a
entrada e fixação de forasteiros – depois de sua própria entrada e fixação. Esse grupo
(principalmente os proprietários de segunda residência, por ter uma relação mais contínua com
Barra Grande), também teme a intervenção do Estado;
4) Os moradores locais (representantes de associações, da colônia de pescadores e da Igreja),
preocupados principalmente com a melhoria das condições de vida e com as decisões que afetam
a vida cotidiana do povoado.
Ferreira narra a inquietação dos moradores: “eles dizem que não têm voz porque o Estado
só beneficia os grandes investidores, algo que contrasta com o que os próprios investidores dizem
sobre o Estado, mas que reforça o que percebemos a respeito das relações privilegiadas”
(FERREIRA, 2012, p. 91).
Diante da necessidade da adoção de planejamentos turísticos consistentes, Anjos (2004)
propõe um modelo de planejamento e gestão do território turístico, que busca criar processos
integrados e com dinâmicas próprias, cujo foco principal de atuação deve ser a articulação de
planos estratégicos que desencadeiem ações que envolvam questões sociais, econômicas,
naturais, democráticas e sustentáveis do território turístico.
O modelo sugerido por Anjos (2004) é representado por macroprocessos compostos de
cinco etapas: territorialização, leitura do sistema, definição das estratégias de perturbação,
implantação e viabilização, monitoramento e avaliação.
Cabe destacar que os principais objetivos do Plano Estratégico de Barra Grande são:
diminuir a sazonalidade, melhorando os impactos positivos do turismo para a economia local;
aumentar a satisfação do turista que vem à Barra Grande, objetivando, assim, o seu retorno; gerar
mais renda e mais emprego para a população local (PLANO ESTRATÉGICO DO TURISMO DE
BARRA GRANDE, 2007, p. 5).
Segundo Macedo (2011), a visão de futuro apresentada no plano de Barra Grande, “ser
modelo de turismo sustentável no Estado do Piauí”, apresenta-se como uma utopia, quando se
considera a quantidade de impactos negativos e as formas equivocadas como o turismo vem se
desenvolvendo na região, desde que o plano foi criado.
Por outro lado, percebe-se a presença tímida, no Plano Estratégico de Barra Grande, da
filosofia de inclusão da participação popular, como premissa norteadora de todo o processo,
98

demostrando que houve reflexões coletivas nos grupos de trabalho para diagnóstico da realidade e
levantamento das ações a serem propostas no plano, como demonstrado na sua apresentação:

O plano Estratégico do Turismo de Barra Grande é um documento síntese de um


processo participativo (...) seu desenvolvimento decorreu das reflexões propostas ao
grupo de trabalho e dos diversos questionamentos apresentados durante a condução das
reuniões de planejamento (...) (PLANO ESTRATÉGICO DE BARRA GRANDE-PIAUÍ
2008-2013, p. 4).

No processo de territorialização – primeira etapa do processo de construção do


planejamento e gestão do território, proposto por Anjos (2004), a participação da comunidade nos
processos de tomada de decisão é de suma importância, pois parte do pressuposto de que esta não
é uma ação individual, mas uma busca da autoconsciência e a autonomia dos grupos envolvidos,
tendo como característica o desenvolvimento de uma aprendizagem permanente, com a
integração de todos os envolvidos, buscando a autonomia coletiva.
No entanto, nota-se uma incoerência no requisito participação popular, visível no Plano
Estratégico de Barra Grande, quando o documento faz referência aos integrantes desses
processos. De fato, essa “participação popular” foi concebida a partir do Grupo Comunitário Pró-
Turismo, formado por um número restrito de integrantes, composto por empresários locais,
representantes de entidades parceiras, profissionais do turismo e da comunidade local.
Segundo Macedo (2012), a população residente não está tendo benefícios com o turismo
local. Por exemplo, com relação às pousadas, duas são de propriedade de estrangeiros, e as
demais pertencem a grandes empresários teresinenses e paulistanos, sendo que até o momento
não existia nenhuma pousada de propriedade de cidadãos nativos.
De fato, o plano estratégico de Barra Grande foi elaborado de maneira resumida, não
constando nenhuma compreensão do sistema no qual o destino está inserido. Por outro lado, o
documento se limita a descrever a metodologia adotada, definir a visão e missão do plano,
analisar os ambientes internos e externos (pontos fortes e fracos), estabelecer os principais
objetivos a serem alcançados e elaborar um plano de ação para o período de 2 anos (2009-2010).
Dessa forma, o Plano Estratégico de Barra Grande não expressa a preocupação de realizar
um diagnóstico sobre o contexto ambiental do território de Barra Grande, apresentando suas
potencialidades naturais, bem como a integração desse ambiente com a expansão urbana. Por
outro lado, o documento não descreve as formas de deslocamento para se chegar a tal destino, a
estrutura urbana que a vila possui, e suas necessidades. Assim como não apresenta dados
99

socioeconômicos da população, razão pela qual não possui parâmetros suficientes para um
planejamento e gestão eficientes, já que o ato de planejar e gerir exige etapas bem definidas, tais
como o diagnóstico local dos aspectos históricos, geográficos, culturais e socioeconômicos; o
estabelecimento de objetivos, ações e metas a serem atingidos; o tempo para execução; controle,
monitoramento e avaliação das ações.
Nesse sentido, a equipe de elaboração do Plano Estratégico de Barra Grande (2008-2010)
não teve o cuidado de fazer um levantamento de dados consistente acerca da realidade local. Tal
atitude favorece a elaboração de planos muitas vezes de gaveta, por não atenderem às reais
demandas do território, ficando incompletos, pois segundo Anjos (2004), o processo de
compreensão do sistema é a base para o desenvolvimento de estratégias, operacionalização e
avaliação do plano, devendo esse ser construído com informações espaciais, ecológicas,
econômicas e sociais.
Um ponto negativo do plano proposto reside no fato de não apresentar a descrição do
sistema territorial no qual Barra Grande está inserida, impossibilitando o diagnóstico real do
território de Barra Grande, bem como as suas necessidades.
O plano se limita a fazer uma análise externa e interna do ambiente, destacando os pontos
fortes e fracos gerais. Segundo a análise, os principais pontos fortes do ambiente interno são os
atrativos naturais existentes e seu bom estado de conservação, além do potencial para a prática de
esportes a vela, comprovando, assim, um potencial turístico cuja exploração deverá ser alvo de
plano estratégico, para evitar a deterioração do sistema territorial turístico de Barra Grande.
O plano define os objetivos a serem atingidos no período de 2009 a 2013, apresentando
como principais eixos a diminuição da sazonalidade, o aumento dos impactos positivos do
turismo para a economia local, o aumento da satisfação do turista, objetivando seu retorno e o
crescimento da geração de renda e de empregos para a população local. No entanto, o plano se
detém na elaboração de um plano de ação a ser executado entre 2009-2010, já que após esse
período dos dois primeiros anos, seria feita a revisão do documento e a elaboração de um novo
plano de ação, ou seja, um plano que inicialmente seria de cinco anos de vigência, restringiu-se
apenas a dois, ficando o restante para ser elaborado posteriormente. Desse modo, percebe-se que
as estratégias de perturbação seriam impossibilitadas de concretude, pois se o nível gerencial está
comprometido, consequentemente, o nível operacional estará desfalcado.
100

As ações apresentadas no plano priorizam a melhoria dos fluxos naturais,


socioeconômicos, e dos fluxos construídos, com destaque para as ações de elaboração do plano
diretor, capacitação de mão de obra, realização de eventos para divulgação.
Cada ação proposta é de responsabilidade de um líder (Administração Municipal,
Associações, SETUR, SENAC, SEBRAE, Grupo Pró-Turismo, comunidade...) e seus
participantes, tendo data de início e término, bem como sugestões de meios para que a ação seja
executada.
Um dado que chama a atenção é que o plano estabelece percentuais a serem atingidos ao
longo dos períodos, com relação aos objetivos propostos, mas, em seguida, descreve que os dados
são meramente exemplificativos. Desse modo, percebem-se déficits na elaboração do plano em
análise, pois os dados constantes são insuficientes para o estabelecimento de ações eficazes,
impossibilitando o alcance dos resultados almejados.
Para que o planejamento e a gestão do turismo sejam realizados de forma eficiente, faz-se
necessária a mediação do Poder Público em ações conjuntas e colaborativas dos empreendedores
e a sociedade organizada, sendo cada um corresponsável pelo processo.
Dessa forma, o plano em análise não prevê nenhum instrumento a ser adotado para
acompanhar a execução ou não das ações propostas, bem como a correção dos erros no decorrer
do processo. O plano Estratégico de Barra Grande tinha um prazo de vigência que vigorava até
2013, e não foram encontrados, durante a realização desta pesquisa, documentos com dados
oficiais que registrassem as estratégias de ações que foram feitas para corrigir as falhas, durante o
período de 2008-2013, assim como não foi localizado um documento oficial que evidenciasse um
novo direcionamento turístico para Barra Grande, a partir do ano de 2013.
Portanto, o Plano Estratégico de Barra Grande foi elaborado de forma simplificada,
gerando um plano com pouca fundamentação, por falta de sistemas de informações sobre o
território abordado, justificado pela ausência de um plano maior, que contemple um conjunto
completo de instrumentos administrativos. A ausência de instrumentos eficazes de planejamento
da atividade turística pode ser vista como uma das principais causas de sérios problemas de
degradação ambiental e cultural, com impactos negativos sobre as populações locais receptoras
do turismo.
Dentre as ações propostas por este Planejamento se encontram as relacionadas ao esporte
e lazer, tais como a Organização do Campeonato de Canoa e de Vela; a Implantação das
101

Secretarias Municipais de Esporte e Lazer de Barra Grande; a Realização de um Fórum para


debater as questões de zoneamento para a prática do kitesurf; os Calendários de eventos
esportivos, entre os quais a realização das etapas dos Circuitos Nacional e Mundial de kitesurf.
Para Macedo (2011), em Barra Grande não há um ordenamento e definição de papéis
entre os atores envolvidos na atividade turística local. Falta articulação entre os diversos setores
locais, como o comércio, os restaurantes, os hotéis e as agências de viagens. Aos poucos, os
setores componentes da cadeia produtiva do turismo local estão crescendo, porém, de forma
individualizada, o que não favorece um desenvolvimento turístico consolidado e bem
posicionado mercadologicamente.
Com relação ao modelo proposto por Anjos (2004), o Plano Estratégico de Barra Grande
está longe de atender às necessidades básicas de um planejamento sistêmico nos requisitos da
visão processual, integração entre as partes envolvidas e comprometimento na validação do plano
proposto.
Segundo Carvalho (2010), a Praia de Barra Grande apresenta dois mundos diferentes,
apesar de tão próximos territorialmente, por se encontrarem distantes cultural e estruturalmente.
O elemento que separa estes dois mundos é a distância social, cultural e econômica resultante de
políticas públicas que priorizam o lado mais forte da relação: os empresários, em detrimento das
pessoas da comunidade local.
Por meio de dados divulgados pelo Gabinete da Prefeita de Cajueiro da Praia (lei nº 302,
de 30 de dezembro de 201333), que estima a receita e fixa as despesas do município de Cajueiro
da Praia para o exercício de 2014, a receita total é estimada em R$ 17.937.200,00 (dezessete
milhões, novecentos e trinta e sete mil e duzentos reais).
A despesa total, no mesmo valor da receita total, é fixada no Orçamento Fiscal em R$
12.454.200,00 (doze milhões, quatrocentos e cinquenta e quatro mil e duzentos reais) e de R$ 5.
483.000,00 (cinco milhões, quatrocentos e oitenta e três mil reais) no Orçamento da Seguridade
Social.

33
Esta Lei estima, em seu Art. 1º, a receita, e fixa a despesa do município de Cajueiro da Praia para o exercício
financeiro de 2014, compreendendo:
I – O Orçamento Fiscal referente ao Poder Legislativo e ao Poder Executivo do município, seus órgãos, fundos;
II – o Orçamento de Seguridade Social, abrangendo todos os órgãos e os fundos instituídos pelo poder público.
102

Figura 22 - Despesas dos orçamentos do município de Cajueiro da Praia-PI/2014: Fiscal e Seguridade Social

Fonte: Lei nº 302, de 30 de dezembro de 2013, que estima a receita e fixa as despesas do município de
Cajueiro da Praia para o exercício de 2014.

Conforme demonstrado na figura 22, a prefeitura de Cajueiro da Praia destinou apenas R$


231.000,00 (duzentos e trinta e um mil reais) para a Secretaria de Turismo e Meio Ambiente.
Nessa perspectiva, para Macedo (2011), o aspecto da comercialização do turismo é de pouco
interesse da iniciativa pública local, em promover uma maior divulgação do local:

A Secretaria Estadual de Turismo é quem melhor divulga a praia de Barra Grande,


através do material promocional turístico do Piauí e também através da participação em
eventos turísticos, a exemplo da BNTM – Brazil National Tourism Market, da Bolsa
Nacional de Turismo do Mercosul (Santa Catarina), Feira BRAZTOA (São Paulo),
Salão do Turismo (São Paulo), Festival De´lla Creativitá (Itália) e a Feira das Américas -
ABAV (MACEDO, 2011, p. 115).

Ainda segundo Macedo (2011), além do aspecto promocional, a gestão municipal de


Cajueiro da Praia deve dar um direcionamento à causa do turismo, com maior empenho, pois
Barra Grande é precária na questão da infraestrutura local em relação a todos os setores: saúde,
103

transportes, alimentação energia, abastecimento de água, iluminação, telefonia, dentre outros.


Além da falta de um efetivo sistema de informações turísticas com material informativo sobre o
local, anunciando as opções de passeio:
A divulgação do local, apesar de precária, mostra-se adequada para receber o fluxo de
turistas atual, uma vez que promover o local e atrair um turismo massivo, superlotando a
praia, não é uma opção propícia à localidade, que ainda não dispõe de estudo de
capacidade de carga, não conta com uma boa quantidade e qualidade de serviços e, além
disso, não se identifica com o perfil e a vocação da localidade (MACEDO, 2011, p.
118).

A prática desportiva não formal é direito de qualquer cidadão e é dever do Estado ofertá-
la. No entanto, a atual dinâmica do sistema desportivo brasileiro, por carecer de uma ideia e
sentido claros, está imersa em um jogo político entre poder público e privado, onde o fomento do
esporte está cada vez mais envolvido nas dinâmicas social, econômica e política.
De acordo com dados da Prefeitura Municipal de Cajueiro da Praia, em sua relação de
atividades da lei nº 302, de 30 de dezembro de 2013, destinou, no ano de 2014, R$ 564.000,00
para a coordenação da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte; R$ 45.000,00 mil para um
campeonato de futebol; R$ 210.000,00 mil para a Realização de Eventos; e R$ 140.000,00 para a
construção de quadras poliesportivas.
Nesse sentido, Castellani Filho (1999) aponta que os governos municipais dos estados
brasileiros destinam em torno de 0,4% de seus orçamentos para os setores de cultura, esporte e
lazer, o que é pouco, dada a demanda de recursos para contratação de profissionais e formação
continuada desses, e a construção e a manutenção de equipamentos.
Com relação ao lazer e às práticas esportivas, segundo Macedo (2011), a comunidade de
Barra Grande dispõe de uma quadra poliesportiva (Quadra Esportiva José Adrião de Araújo),
pertencente à Escola Municipal José Adrião de Araújo. Porém, o município de Cajueiro da Praia
não conta com um programa de incentivo ao esporte, tanto que a estrutura física para a prática
esportiva é muito restrita.
Segundo Ferreira (2013), no quesito lazer, afirma que o curioso é que a população local
não tem a cultura de utilizar a “praia como lazer”, apesar de comumente as praias serem
consideradas uma opção de entretenimento. Por outro lado, Macedo (2011) afirma que para a
comunidade de Barra Grande, muitas mudanças ocorreram e alteraram seus hábitos. Por exemplo,
se antes o lazer era os turistas frequentarem o local dos nativos, hoje, o lazer dos moradores, com
104

exceção da quadra poliesportiva, é muito associado ao turismo, através da realização de eventos,


como o Barra Jazz Festival, que aconteceu em 2009, 2010 e 2011:

O único lazer desses meninos daqui é a quadra e uma ou outra festa quando acontece
aqui, em geral, na época das férias, quando têm mais turistas. Não tem mais opção. Fica
tudo dependente do turismo praticamente, até porque, nossas festas tradicionais estão
morrendo, o que é uma pena (MACEDO, 2011, p. 120).

Segundo Carvalho (2010), em julho de 2009 foi realizado outro evento musical, o IV
Festival de Reggae Roots da Barra Grande, no mesmo local do anterior, reunindo vários Djs e
bandas locais e regionais, atraindo vários turistas para o povoado, em busca de diversão,
provocando a poluição sonora no local.
Nesse sentido, é fundamental a presença dos turistas, que justifica a contratação de bandas
para realização de festas. Não existem locais para realização de eventos no município e as
apresentações de artistas ou a montagem de equipamentos de som para sua realização são feitas
nas praias ou nas próprias pousadas. As festas que acontecem nas pousadas não contam com a
presença dos moradores, que se sentem excluídos, pelo tipo de música, ou pelos preços cobrados
dos serviços:

Nos últimos dois anos (2008 e 2009), no período do carnaval, a pousada Ventos Nativos
sediou a realização de um evento denominado Barra Grande Jazz Festival, mas onde a
gente praticamente não tinha como entrar. Ficou esquisito acontecer um evento aqui e a
gente não participar. Além disso, os cantores que vieram ninguém nunca tinha ouvido
falar (MACEDO, 2011, p. 121).

De acordo com Carvalho (2010), durante o mês de dezembro, mês de aniversário de


Cajueiro da Praia, são realizados diversos eventos esportivos que já fazem parte da agenda
cultural da cidade, tais como corridas ciclísticas e de jegues, e regata de canoas a vela. Essas
atividades são organizadas por integrantes da base do Projeto Peixe-Boi Marinho, com apoio da
prefeitura local e patrocínio de estabelecimentos comerciais. Esses eventos, além de integrarem a
comunidade do município ao Projeto, incentivam a proteção do mamífero. A iniciativa já teve
resultados positivos, pois não há registro de ataque ou maus-tratos aos animais, por parte dos
moradores locais:

... a promoção de eventos é uma alternativa de lazer e de renda para muitas pessoas. É
uma estratégia para o desenvolvimento local, que afeta praticamente toda a comunidade,
proporcionando mudanças nos campos social, cultural, econômico e ambiental. Os
eventos contribuem para a promoção da cultura local, regional e nacional, e contribuem
105

para revitalizar espaços, dinamizar mercados turísticos, formar novos consumidores e


atrair novos investimentos (CARVALHO, 2010, p. 75).

Para Macedo (2011), a prática do kitesurf destaca Barra Grande para o segmento do
turismo de esportes, o que já foi respaldado pelo Ministério do Turismo, e pela EMBRATUR:
A prática do esporte kitesurf é tão incentivada na praia, que foram abertas três escolas
para o ensino do esporte, sendo apenas uma cadastrada na Associação Brasileira de
Kitesurf – ABK, o que sinaliza uma preocupação, já que é necessário haver a
regulamentação do esporte por parte de todos que o ofertam (MACEDO, 2011, p. 104).

De acordo com Carvalho (2010), o kitesurf também é praticado em outros locais do litoral
piauiense, e tem recebido eventos de caráter nacional e internacional, como o Kite-Xtreme Brasil,
realizado em 2007, evento da 1ª divisão do circuito mundial de Kitesurf, e a única prova
internacional de kitesurf, no Brasil, reconhecida e chancelada pela ABK.
Em 2008, Barra Grande sediou o Circuito Brasileiro de Kitesurf e o 3º Piauí Kitesurf, com
participação de vários atletas de todo o país. Em outubro de 2013, recebeu uma das etapas do
Campeonato Brasileiro de Kitesurf, um evento que fez parte do Festival das Emoções: uma soma
de eventos culturais e esportivos pelo litoral piauiense, onde além das provas de kitesurf
aconteceram as provas de ciclismo, corrida cross country e enduro, nas cidades de Parnaíba e
Luís Correia. Em 2014, sediou uma das etapas do Circuito Mundial de kitesurf, na modalidade
freestyle.
Todas as competições de kitesurf realizadas no litoral piauiense, especialmente em Barra
Grande, são organizadas pela Associação Piauiense de Kitesurf (APQ). Já as etapas do circuito
brasileiro, em Barra Grande, são realizadas entre a Associação Brasileira de Kitesurf e a APK,
com o apoio da Secretaria Municipal de Turismo de Cajueiro da Praia, e do estado do Piauí. A
pousada BGK sedia a maioria desses eventos, e é a pioneira nesse quesito.
De fato, o destaque de Barra Grande pelo segmento do turismo de esportes é hoje
respaldado pelo Ministério do Turismo e pela EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo,
através da prática profissional do kitesurf. Este potencial do esporte como atrativo e produto
turístico movimenta recursos e atrai investidores, que aos poucos vêm adquirindo terras para
fixação de moradia, comprando e abrindo estabelecimentos comerciais, como fizeram em outros
destinos turísticos nordestinos, como Jericoacoara e Canoa Quebrada (CE), na Praia de Pipa
(RN), Porto de Galinhas (PE) e Itacaré (BA).
106

De acordo com o MTur (BRASIL, 2008), o turismo de aventura é uma modalidade


turística que vem crescendo no Brasil, e compreende os movimentos turísticos decorrentes da
prática de atividades de aventura, de caráter recreativo e não competitivo.
Essa atividade pode ser praticada tanto em ambientes naturais como urbanos, e por
pessoas leigas no assunto, sem finalidades competitivas. No entanto, esse segmento se diferencia
do turismo de esportes, por esse ser praticado por esportistas profissionais, com fins
competitivos.
Dessa forma, o MTur (BRASIL, 2008) classificou as modalidades de turismo de aventura
oferecidas no Brasil, conforme três elementos da natureza:
 Terra: arvorismo; ciclismo; espeleoturismo; cavalgadas; atividades fora de estrada com
buggies ou veículos 4x4; bungue jump; cachoeirismo; canionismo; caminhadas e
caminhadas de longo curso; escalada; observação da vida selvagem; montanhismo; rapel;
tirolesa;
 Água: boia-cross; canoagem; flutuação; kitesurf; windsurf; mergulho; rafting;
 Ar: voo livre; balonismo; para-quedismo.
De acordo com Araújo (2014), em sua elaboração sobre a hierarquização dos esportes/
atividades do turismo de aventura nas praias do litoral piauiense, Barra Grande se destaca por
possuir qualidades naturais propícias para o desenvolvimento da Vela (barcos, kitesurf, windsurf)
e de Terra (cavalgada/passeio de carroça, caminhada, mountain bike) numa hierarquia 5, como
capazes de exercer, de forma excepcional, múltiplas atividades de aventura; tem poder para atrair
muitos praticantes de origens regionais/nacionais/internacionais, já se presencia a existência de
praticantes e prestadores de serviços especializados.
Araújo (2014) também destaca a Canoagem/Remo (caiaque, canoas, canoagem havaianas,
Stand up padlle) numa hierarquia 4, como capaz de exercer, de forma ótima, várias atividades de
aventura. Tem poder para atrair muitos praticantes de origens regionais/nacionais/internacionais,
já se presencia a existência de praticantes e/ou prestadores de serviços especializados. E por
último, classifica o Surf (prancha, body board) e o Mergulho (livre/apneia e autônomo) na
hierarquia 1, capaz de exercer uma ou outra atividade de aventura, tem poder para atrair alguns
poucos praticantes regionais, com potencial para nacionais; porém, ainda não internacionais, não
se presencia a existência de praticantes e de prestadores de serviços especializados.
107

Desta forma, Araújo (2014) destaca Barra Grande como a segunda praia do litoral
piauiense com atrativos naturais que potencializam a exploração do turismo de aventura. Em
primeiro lugar está a praia do Coqueiro, e em terceiro a praia de Atalaia.
Para Macedo (2011), outras possibilidades de exploração da atividade turística podem ser
realizadas em Barra Grande, conforme demonstrado na tabela 2 abaixo.

Tabela 2 - Passeios turísticos ofertados em Barra Grande – Cajueiro da Praia-PI

Tipo de passeio Caracterização

Passeio do Cavalo Passeio de canoa34 no estuário do Rio


Marinho Camurupim, podendo ser observado o
cavalo marinho (Hippocampus heide) em
seu habitat natural, além de crustáceos,
moluscos e aves estuarinas.

Passeio pôr do sol Passeio de canoa para contemplar o pôr do


sol no estuário do rio Camurupim, e
observar, com auxílio de lanternas, as aves
estuarinas no igarapé da Ilha das Garças.
Trilha das Camboas Caminhada realizada nas margens do
mangue, durante a maré baixa, para
observação de moluscos bivalves: ostras,
tariobas, mariscos, sururus e crustáceos:
siri, aratus e caranguejos, podendo
observar, também, as aves estuarinas.

Pescarias esportivas  No estuário do rio Camurupim;


 Nos arrecifes da praia de Barra
Grande;
 De canoa, em alto mar.
Fonte: Adaptado pelo autor, de Macedo (2011, p. 109).

Ainda segundo Macedo (2011), os passeios ecológicos são organizados por duas
associações de condutores de pequenas embarcações, a BARRATUR e a NATIVOS – Arte e
Turismo. Após a criação da BARRATUR, que atualmente possui dez condutores, a segunda
associação foi fundada em 2009, contando com um quadro de doze associados, sendo todos da

34
As canoas utilizadas nos passeios da Trilha do Cavalo Marinho são de propriedade da Associação de Condutores
dessas embarcações. Elas são construídas com madeira aproveitada.
108

comunidade local. Todos os condutores são do sexo masculino, com faixa etária entre 18 e 30
anos, com nível escolar fundamental concluído. Nas duas associações de condutores são
comercializados os mesmos passeios e roteiros turísticos, buscando valorizar os atrativos naturais
existentes. Os passeios têm duração média de três horas, onde os visitantes percorrem uma trilha
entre os mangues e outras vegetações típicas do local, com duas paradas: uma para a observação
de um cultivo de ostras, com degustação do marisco, e outra na “Camboa dos Cavalos
Marinhos”, para observar os cavalos marinhos da espécie Hippocampus reidi.
Segundo Trigo (2005), o ecoturismo pode atuar positivamente por meio de geração de
empregos e oportunidades de trabalho para a comunidade local, junto a atividades com
fornecedores de serviços ao ecoturismo. Desta forma, as associações de condutores de Barra
Grande são exemplos de atividades empreendedoras locais para atender as demandas de serviços
e produtos geradas pelo ecoturismo.
Trigo (2005) também destaca que o ecoturismo pode contribuir para a melhoria do nível
de educação das comunidades locais, e favorecer a captação de recursos para poder investir em
capacitações profissionais daqueles que precisam ou desejam se inserir no mercado de trabalho
em torno desta atividade.
De acordo com Macedo (2011), as duas associações dos condutores de Barra Grande
tiveram o apoio do SEBRAE, da SETUR, do SENAI e do Instituto Ambiental Brasil Sustentável
– IABS, no tocante ao planejamento e ordenamento de suas ações, com a oferta de cursos sobre
atendimento, primeiros socorros, turismo em áreas naturais, e sustentabilidade, além de prestar
informações técnicas sobre o Hippocampus reidi, mais conhecido como Cavalo Marinho.
Ainda conforme Macedo (2011), as duas associações de condutores de Barra Grande
desempenham um importante papel em prol do desenvolvimento turístico sustentável local, pois
essdes condutores organizam e disciplinam os passeios, como uma forma de mostrar
detalhadamente o valor daquela biodiversidade, de proteger a fauna dos predadores e, ao mesmo,
tempo, fazer desse pedagógico tour ambiental um meio de gerar renda para os moradores.
Dessa forma, o ecoturismo pode estimular e fomentar o associativismo e o espírito
cooperativo nas comunidades locais de Barra Grande, como forma de organização social e
política, para que estas comunidades conquistem sua autodeterminação no processo de
desenvolvimento ecoturístico.
109

De acordo com Barbosa e Perinotto (2010, p. 7), a Trilha Ecológica do Cavalo Marinho
realizada em Barra Grande, também oferece o contato direto com a fauna e a flora existentes na
localidade, como crustáceos, diversas aves, mariscos, peixes, e a vegetação nativa, especialmente
o mangue vermelho (Rhizophora mangle) que, unidos, incrementam o passeio.
Essas características naturais, associadas ao desenvolvimento do turismo de esporte, do
ecoturismo e do turismo de aventura, promovem a imagem de Barra Grande como um destino
turístico ideal para os praticantes de kitesurf.
Sabe-se que atualmente os meios de comunicação estão cada vez mais presentes no
cotidiano das pessoas, e o uso das tecnologias, como a internet, folders, jornais, revistas, dentre
outros, tem o poder de motivar ou desmotivar a demanda quanto ao processo de escolha do
destino turístico.
Para Costa e Perinoto (2013), o turista inicia sua viagem, muitas vezes com base nas
imagens transmitidas pelos meios de comunicação, e elas têm uma influência considerável na
percepção de um destino turístico. Nesse sentido, a imagem é uma das principais ferramentas de
comercialização de destinos turísticos, pois ao criar a imagem de um local, é importante destacar
as características que venham a tornar aquele produto único, aos olhos do cliente.
De fato, a imagem do destino turístico de Barra Grande, associada à prática do kitesurf,
seja ela fotográfica ou do imaginário do turista, tem conquistado visibilidade, em âmbito nacional
e internacional. A divulgação dessas imagens vem exercendo um papel fundamental no processo
de decisão do turista, pois elas promovem os atrativos que motivam o turista a se deslocar para
aquela região, conforme demonstrado na figura 23.
110

Figura 23 - Praia de Barra Grande, no Piauí, é um dos paraísos do litoral do Nordeste

Fonte: Site da UOL: Roteiros incríveis (Adaptação do autor) 35.

De modo geral, as imagens divulgadas nas diferentes mídias exploram o mar de Barra
Grande, com um misto de canoas e praticantes de kitesurf, como foi veiculado na revista “TAM
Nas Nuvens”, que destaca a Praia de Barra Grande, e seu mar propício para a prática desse
esporte aquático.
Os estabelecimentos de Barra Grande, principalmente hotéis e pousadas, utilizam em suas
estratégias de marketing a divulgação da região como um local tranquilo, com o aspecto bucólico
característico de uma colônia de pescadores, propício principalmente para a prática do kitesurf.

35
Disponível em: <http://roteirosincriveis.uol.com.br/especiais/praias-especiais/praia-de-barra-grande-no-piaui-e-
um-dos-paraisos-do-litoral-do-nordeste/>. Acesso em: jul. 2015.
111

5 CONSCLUSÃO

O Piauí é um estado muito rico e possui características naturais que o difere dos demais
estados do Nordeste. Apesar de as principais transformações em seu espaço terem ocorrido de
“dentro para fora”, ou seja, do interior para a costa, adquirindo um contorno geográfico irregular
em seu território, ou seja, estreito no litoral e largo no interior. Ao contrário do que ocorreu com
os demais estados nordestinos durante o processo de colonização brasileira.
Nessa perspectiva, a presente dissertação objetivou analisar as origens da praia de Barra
Grande, no município de Cajueiro da Praia, e sua evolução ao longo do tempo. Para tanto, foram
discutidas as principais características naturais do litoral nordestino e piauiense, em particular:
identificou e discutiu a dinâmica das principais transformações socioespaciais (gênese e
atratividade turística) que contribuíram para a consolidação do município de Cajueiro da Praia
como um destino turístico reconhecido nacional e internacionalmente; descreveu as diferentes
etapas no desenvolvimento do Turismo da praia de Barra Grande; identificou as principais
políticas públicas de esporte, de lazer e de turismo, que incidiram e modificam o espaço
geográfico e turístico da praia de Barra Grande.
Como resultados desta pesquisa, pode-se verificar que com apenas 66 km de extensão, o
litoral piauiense é extremamente importante para a biodiversidade marinha, por abrigar diversas
espécies ameaçadas de extinção, dentre as quais, o peixe-boi marinho, em seu habitat natural no
município de Cajueiro da Praia; a tartaruga de couro (a maior e mais ameaçada de extinção do
país, cuja reprodução era registrada apenas no litoral do Espírito Santo), que agora pode ser
encontrada nas praias piauienses da Pedra do Sal e de Barra Grande, além de registrada também a
desova da tartaruga de pente, outra espécie que está entre as mais ameaçadas de extinção.
Assim, o valor turístico do litoral piauiense é reforçado pela predominância de espaços
naturais e, em especial, costeiros, com singularidades que chamam a atenção para a destinação
turística, especialmente em razão do fato de a natureza se mostrar praticamente intocada e
inexplorada pela ação humana.
Constatou-se, também, que o litoral piauiense vem se destacando timidamente nas últimas
décadas para o turismo nacional e internacional, devido à melhoria nas infraestruturas de acesso
às suas praias (rodovias estaduais e federais; tráfego aéreo), e à exploração do Turismo de Sol e
Praia, do Turismo de Esportes e, principalmente, do Ecoturismo, em toda a sua extensão
litorânea, apesar desses segmentos ocorrerem de forma desorganizada e somente nos períodos
112

considerados de alta estação, que correspondem às férias escolares. Inclusive no município de


Cajueiro da Praia.
Apesar de não existirem registros oficiais que relatem as origens do município de
Cajueiro da Praia, atualmente a atratividade turística se concentra em sua faixa litorânea de 13
quilômetros, que é composta pelos povoados de Barrinha, Morro Branco, Cajueiro e Barra
Grande, com destaque para essa última, pelo expressivo desenvolvimento do turismo nas últimas
décadas, induzido pela prática do kitesurf.
Dentre os fatores que contribuíram para o desenvolvimento do turismo em Barra Grande,
destacam-se as características naturais do local, que associadas a um aspecto bucólico
característico de uma colônia de pescadores, atraíram turistas de diversas regiões do Brasil e do
mundo, pelas possibilidades que a localidade possui em explorar os segmentos do Ecoturismo e
do turismo de Sol e Praia.
Porém, o fator determinante para o desenvolvimento do turismo na praia de Barra Grande
se deve ao aproveitamento dos ventos alísios para a prática do kitesurf, passando a atrair os
praticantes dessa modalidade, de diferentes regiões do Brasil e do mundo, propiciando, assim, o
desenvolvimento do Turismo de Esportes na localidade.
O grande boom do desenvolvimento do turismo em Barra Grande se deu em 2005, quando
o médico teresinense Ariosto Ibiapina construiu a Pousada Barraca Kite Camp, com instalações
adequadas e de suporte para receber os praticantes e simpatizantes do kitesurf.
Assim, a partir desse investimento local, a pequena Vila de pescadores passou a receber
um novo tipo de turista, com maior poder aquisitivo do que os excursionistas frequentadores
daquela região. Dessa forma, com o aumento deste fluxo local, o governo do Estado e o SEBRAE
passaram a promover o envolvimento da população local com o turismo. No entanto, isso tem
trazido impactos de diversas naturezas, ao modo de vida da população, ao meio ambiente e à
economia local.
Dos povoados que compõem o município de Cajueiro da Praia, apenas Barra Grande
possui um Plano Estratégico do Turismo, que foi um documento síntese de um processo
participativo concebido a partir das contribuições do grupo Comunitário Pró-Turismo, formado
por empresários locais, representantes de diversas entidades parceiras e profissionais do turismo.
Planejar e gerir territórios turísticos exige complexidade e dinamismo, pois envolve uma
amplitude de ambientes naturais e socioeconômicos, que devem ser considerados no momento do
113

processo do planejamento, e que passam por etapas que compreendem análises dos segmentos
atuais e potenciais, assim como uma reflexão sobre a qualidade dos equipamentos turísticos:
infraestrutura básica, acesso, aspectos institucionais e mercadológicos.
No entanto, para que o território turístico de Barra Grande se desenvolva, faz-se
necessária a existência de um processo de planejamento participativo e includente, visando ao
reordenamento e gestão do território. Inclusão de políticas públicas que visem à exploração do
seu destino turístico, alicerçadas na sustentabilidade, priorizando ações humanas e institucionais,
e que envolvam os aspectos físicos e ambientais, capazes de influenciar nas condições de saúde,
qualidade de vida e segurança das pessoas que vivem naquela comunidade.
Pode-se verificar, também, que a população local de Barra Grande não lucra com o
turismo, pois a partir do momento em que foram sendo implantados os novos empreendimentos
na região, como pousadas, restaurantes, escolas de esporte kitesurf, dentre outros, essas pessoas
ocuparam apenas os cargos de garçons, jardineiros, encarregados da limpeza, auxiliares de
cozinha, lavadeiras, etc. Por outro lado, os cargos de chefia quase sempre ficam com pessoas
vindas das cidades vizinhas, em sua maior parte, parentes dos proprietários das pousadas e hotéis
que já existem na região.
Portanto, diante desse cenário, é importante refletir sobre o tipo de turismo ideal e
desejado para Barra Grande, onde se faz necessário:
 Que o Governo do estado do Piauí, por intermédio da SETUR-PI, priorize o turismo no
estado, buscando, através de programas como o PRODETUR, estruturar os destinos indutores
da atividade, focalizando o desenvolvimento do turismo regional e a possibilidade de
alternativa econômica, através da implantação da atividade turística nos municípios;
 Que a Prefeitura de Cajueiro da Praia adote políticas públicas que incentivem o
empreendedorismo local, através das parcerias sólidas e consistentes com órgãos públicos
e privados, como a SETUR, o SEBRAE, pousadas, comércios, bancos, dentre outros;
 Que sejam criadas políticas públicas voltadas para os interesses locais de esporte, lazer e
cultura, onde haja a participação de todos, de maneira justa e igualitária;
 Revitalizar os espaços públicos, já existentes, para a prática de esporte e lazer, bem como
criar novos espaços, como uma quadra poliesportiva coberta e um campo de futebol
dentro das dimensões oficiais;
114

 Ofertar, no currículo escolar das escolas públicas e privadas locais, disciplinas sobre
noções básicas de turismo e de meio ambiente;
 Trabalhar o kitesurf com conteúdo nas aulas de Educação Física Escolar nas escolas
públicas e privadas;
 Criar políticas de financiamento para a estruturação das escolinhas de kitesurf;
 Oferecer serviços especializados de primeiros socorros, para atender a comunidade local,
os turistas e os praticantes de kitesurf;
 Que sejam oferecidos cursos de capacitação com os instrutores de kitesurf;
 Que a Prefeitura de Cajueiro da Praia financie o registro de suas origens em documentos
oficiais, assim como as origens dos povoados que a constituem;
 Revitalizar e estruturar o centro de cultura, para difundir os hábitos, os costumes e a
gastronomia;
 Incrementar a atratividade turística, através da criação de políticas públicas que valorizem
o artesanato local, a pesca tradicional e a agricultura de subsistência;
 Oferecer, continuamente, cursos de capacitação para a comunidade local, em parceria
com instituições públicas e privadas, visando ao atendimento da demanda turística;
 Estabelecer uma gestão democrática, com prioridade para os interesses da comunidade;
 Criar espaços adequados para a destinação do lixo;
 Realizar programas de conscientização, prevenção, de assistência e acompanhamento de
doenças sexualmente transmissíveis;
 Promover a educação ambiental, através de campanhas de sensibilização e
conscientização, em escolas públicas e privadas, hotéis, pousadas, estabelecimentos
comerciais, associação de moradores, associação de condutores de passeios turísticos;
 Criar políticas públicas que incentivem o registro de todas as pousadas no CADASTUR;
 Criar um Planejamento Estratégico para os próximos anos, legitimado pela comunidade
local.
Apesar de o kitesurf ainda não possuir a certificação da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), sua exploração em Barra Grande apontou suas potencialidades, e como
produto turístico, pôde contribuir para o desenvolvimento da região, atendendo as expectativas de
todos os envolvidos no processo.
115

Cabe, no entanto, chamar a atenção para a carência de dados empíricos, bem como de
referências bibliográficas capazes de contribuir para um conhecimento mais amplo acerca da
realidade deste fenômeno turístico que ocorre em Barra Grande, bem como de dados que revelem
a configuração do turismo nos últimos três anos. Tal constatação exigirá, certamente, um grande
esforço, a coleta de dados e informações precisas e atualizadas que permitam dar continuidade ao
trabalho aqui iniciado.
116

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ANEXOS

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