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Letras em dia, Português, 10.

° ano Questão de aula – Leitura e Gramática

Nome: N.º: Turma:

Avaliação: O professor:

Leitura e Gramática 4
Lê o texto.

Viajar de TIR
Costumo andar com frequência à boleia de TIR pela Europa fora. É o meio de
transporte de longa distância que melhor se adapta à minha condição: exige muito
tempo e requer pouco dinheiro. Cada vez mais compreendo o velho mote
capitalista «tempo é dinheiro». Ou seja, ter tempo custa dinheiro, esse mesmo
5 dinheiro que ficou por ganhar enquanto dedicávamos o nosso tempo a coisas mais
importantes que ganhar dinheiro. Numa ótica capitalista, sou um milionário: não de
dinheiro, mas de tempo. Um ou outro, eu escolhi o segundo.
O ato de viajar explica bem esta equivalência. Se viajarmos de avião de Lisboa
até Milão demoramos cerca de duas horas e pagamos cerca de duzentos euros,
10 preços atuais de mercado em qualquer agência de viagens com qualquer
companhia de linha. Se, pelo contrário, viajarmos de TIR, demoramos três dias e
pagamos cerca de dois euros, o preço de duas bicas oferecidas ao camionista:
uma na fronteira com a Espanha, ainda do lado de Portugal; e a outra oferecida
em Ventimiglia, a fronteira franco-italiana mas já do lado de Itália. Pelo meio, no
15 que se refere a bicas, é o deserto.
Viajar de TIR permite uma nova perspetiva sobre a relação do ser humano
com a estrada, com a paisagem e com a própria fragilidade da vida, esse sopro
ínfimo que um acidente de automóvel tão facilmente apaga. O rolar pesado e
sereno do paquiderme pela Europa fora transmite também um sentimento de
20 pertença a um território cultural que nenhum discurso ou diretiva eurocrata poderia
jamais transmitir. Uma última emoção da viagem de TIR relaciona-se com a
embriaguez dos espaços abertos que por vezes a literatura e a tradição associam
ao deserto ou às navegações transatlânticas. Pois eu sinto esta vertigem quando
ando à boleia de TIR.
25 Os motoristas portugueses com quem tenho viajado não sentem nada disto.
[…] Viajam com uma única obsessão: regressar o mais rápido possível a casa.
Vivem em pequenas aldeias, as mesmas onde nasceram e onde enterraram os
pais; as mulheres cultivam uma horta no quintal; têm os filhos a estudar ou a
casar. Tentam regressar para o fim de semana seguinte. Se vão buscar carga ao
30 Sul da Europa, conseguem-no; se têm que ir mais longe, já é pouco provável.
Passam então os domingos enfiados na cabine do TIR.
Admitem todos a mesma coisa. Que «esta vida é boa para quem é novo e não
tem família. Um gajo que ande a fazer cargas pela Europa fora sem precisar de
regressar a Portugal ganha montes de dinheiro. Nós não, porque queremos voltar
35 ao fim de semana».
CADILHE, Gonçalo, 2009. 1 km de cada vez. Lisboa: Oficina do Livro (pp. 42-43)

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1. No primeiro parágrafo, o autor


(A) reflete acerca do valor do tempo e do dinheiro, destacando a sua preferência pelo primeiro.
(B) reflete acerca do tempo e do dinheiro, valorizando o segundo.
(C) parte da máxima «tempo é dinheiro» para criticar aqueles que gastam demasiado tempo a
ganhar dinheiro.
(D) conclui que a vida só é possível com tempo e com dinheiro.

2. O segundo parágrafo
(A) funciona como um exemplo concreto das ideias mais abstratas apresentadas no parágrafo
anterior.
(B) apresenta as consequências das ideias apresentadas no parágrafo anterior.
(C) contradiz as ideias apresentadas no primeiro parágrafo.
(D) contradiz a ideia anterior, fundamentando com exemplos.

3. Seleciona todas as opções corretas


Para o autor, as principais vantagens de viajar de TIR são
(A) as vantagens económicas e o contacto com os motoristas.
(B) a atração por espaços abertos.
(C) o sentimento de pertença a um território cultural.
(D) o valor da despesa e uma nova consciência do valor da vida humana.

4. O autor do relato considera que os motoristas portugueses


(A) não são suficientemente ambiciosos.
(B) não têm uma remuneração justa pelo seu sacrifício pessoal.
(C) têm tempo mas não têm dinheiro.
(D) não usufruem do prazer das viagens porque estão focados na distância que os separa da
sua família.

5. Seleciona a única sequência que não inclui uma oração subordinada relativa.
(A) «esse mesmo dinheiro que ficou por ganhar enquanto dedicávamos o nosso tempo a
coisas mais importantes que ganhar dinheiro» (ll. 4-6)
(B) Quem viaja de avião gasta mais dinheiro.
(C) «a embriaguez dos espaços abertos que por vezes a literatura e a tradição associam ao
deserto ou às navegações transatlânticas» (ll. 21-23)
(D) Todos admitem que aquela vida é difícil.

6. Refere o ato de fala concretizado na primeira frase do texto.

7. Refere a função sintática desempenhada pelos seguintes pronomes.


a. «que» (l. 2). b. «que» (l. 18).

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c. «-no» (l. 30).

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Letras em dia, Português, 10.° ano Sugestões de resolução

Leitura e Gramática (tipologia do grupo II de Exame)

Leitura e Gramática 4

1. (A)

2. (A)

3. (B), (C), (D)

4. (D)

5. (D)

6. Ato de fala assertivo.

7. a. Sujeito;
b. Complemento direto;
c. Complemento direto.

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