Letras em dia, Português, 10.

° ano Questão de aula – Leitura e Gramática

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Avaliação: O professor:

Leitura e Gramática 6
Lê o texto.

Diálogos com Sena e Sophia

A correspondência é entre Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner, trocada
essencialmente durante o período do exílio californiano do escritor. São essas cartas, que
formam um diálogo continuado ao longo de anos, que estão na raiz de Correspondências e que
lhe servem de motivo estrutural. Sem dúvida que o filme de Rita Azevedo Gomes é sobre essa
5 correspondência, sobre o relacionamento entre Sena e Sophia, sobre uma relação construída
de forma quase etérea (quer dizer, sem «presença», e num ritmo e num tempo que hoje
parecem anacrónicos, quando as formas de comunicação, mesmo a escrita, têm uma
velocidade absurdamente instantânea). Sobre as personalidades, pessoais e artísticas, de um
e de outro, sobre o tempo em que viveram, sobre os ecos do que era Portugal nesse tempo (e
10 não esquecendo, convém, que havia uma motivação política para o exílio de Sena). Ou ainda,
já que acima se falou de «presença» para a negar, sobre a presença real e efetiva de Sena e
Sophia, sobretudo quando os vemos aparecer, em fragmentos colhidos em imagens de
arquivo.
Ao mesmo tempo, e recusando sempre qualquer «cânone» do filme epistolar (nenhum dos
15 correspondentes é posto na forma de «personagem», a lógica não é a dum diálogo em ping-
-pong, e, se o filme está cheio de mise-en-scène, nunca é o teor das cartas a ser «encenado»),
é um filme que é muito mais do que só isto, que parece cheio de segredos e ligações a outros
universos — mesmo quando esses outros universos são para ser encontrados dentro da obra
de Rita Azevedo Gomes (um dos seus filmes, Frágil como o Mundo, tem mote num poema de
20 Sophia, e quando esse poema aparece em Correspondências, a ligação estabelece-se, com
uma clareza misteriosa). Pode-se dizer que é um «filme-arquivo», que «coleciona», que junta,
que organiza elementos de natureza díspar. Em todo o caso, muito mais do que só o espólio da
correspondência entre os dois escritores. Pessoas, por exemplo, atores, não-atores, cineastas,
técnicos, escritores… o rol de participantes forma um elenco «de luxo» […].
25 Mas, ainda voltando à ideia do «arquivo», vozes, por exemplo: Correspondências é um
filme sobre a leitura talvez ainda mais do que sobre a escrita, e é frequente convocar-nos para
ficarmos apenas a ver e a ouvir pessoas que leem, e isso, as palavras no momento da sua
formulação por aquela pessoa concreta na sua dicção concreta, ser todo o «acontecimento».
Frequentemente, também, isso é da ordem do encantatório, retomando aquela coisa primitiva
30 (ou talvez apenas muito da infância) que é ficarmos suspensos das palavras e das histórias
ditas e contadas por outros. […]
Isto proporciona um universo poético, descontínuo, elíptico, de uma beleza que nos apanha
de uma forma próxima do transe. O fundo lírico de Rita Azevedo Gomes talvez procure
essencialmente essa ideia de beleza e respetiva materialização, já presente nos seus filmes
anteriores. Em Correspondências, não há um plano em que ela não apareça, fulgurante.
OLIVEIRA, Luís Miguel, 2018. «Diálogos com Sena e Sophia».
In Público.https://www.publico.pt/2018/03/08/culturaipsilon/critica/dialogos-com-sena-e-sophia-1805584

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Letras em dia, Português, 10.° ano Questão de aula – Leitura e Gramática

(Consult. em 2020-05-12)

1. Nos parênteses das linhas 6-7, o autor

(A) destaca a importância da comunicação epistolar.
(B) põe em contraste a relação comunicativa de Sophia e Sena relativamente às relações atuais.
(C) explica por que razão considera absurda a correspondência entre escritores.
(D) apresenta a sua opinião relativamente à importância da escrita e da comunicação.

2. O filme Correspondências
(A) estabelece ligações com outra obra da realizadora.
(B) combina vários elementos da mesma natureza.
(C) é claro e muito objetivo.
(D) foi gravado num tempo histórico muito diferente do atual.

3. Assinala as opções corretas.

(A) Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner são representados no filme por não-atores.
(B) O conteúdo das cartas vai sendo representado e encenado, ao longo do filme.
(C) Apesar de ser um filme sobre correspondência, não segue as regras do filme epistolar.
(D) A leitura tem o poder de encantar o ouvinte.

4. Na frase «Em Correspondências, não há um plano em que ela não apareça, fulgurante.», a palavra
sublinhada tem como antecedente
(A) «ideia de beleza e respetiva materialização».
(B) «Rita Azevedo Gomes».
(C) «Sophia de Mello Breyner».
(D) «beleza».

5. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões:

a. «que formam um diálogo continuado ao longo de anos» (linhas 2-3).
b. «que leem» (l. 26).

6. Classifica as orações:
a. «já que acima se falou de ‘presença’ para a negar» (ll. 10-11)
b. «que nos apanha de uma forma próxima do transe» (ll. 31-32)

7. Indica a modalidade e o valor modal presente nas expressões que se seguem.

a. «Sem dúvida que o filme de Rita Azevedo Gomes é sobre essa correspondência» (l. 4).
b. «ou talvez apenas muito da infância» (ll. 28-29).
c. «de uma beleza que nos apanha de uma forma próxima do transe» (ll. 31-32).

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Letras em dia, Português, 10.° ano Sugestões de resolução

Leitura e Gramática
(tipologia do grupo II de Exame)

Leitura e Gramática 6

1. (B)

2. (A)

3. (C), (D)

4. (A)

5. a. Modificador apositivo do nome;

b. Modificador restritivo do nome.

6. a. Subordinada adverbial causal;

b. Subordinada adjetiva relativa restritiva.

7. a. Modalidade epistémica com valor de certeza;

b. Modalidade epistémica com valor de probabilidade;
c. Modalidade apreciativa.

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