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São Paulo
2016
LUCIANA MARCHETTI DA SILVA
São Paulo
2016
LUCIANA MARCHETTI DA SILVA
Aprovado em
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Prof. Dr. Hamilton Pozo/Universidade Anhembi Morumbi.
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Prof. Dra. Elizabeth Kyoko Wada /Universidade Anhembi Morumbi
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Prof. Dr. Marco Antonio Pinheiro da Silveira/ Universidade Municipal de São Caetano do Sul
Às comunidades caiçaras,
em especial às do litoral paulista,
ao Prof. Paulo Silas Ozores,
aos meus pais, Maria Cecília e Luiz Carlos,
às minhas irmãs Claudia e Renata
e aos meus sobrinhos, Maria Luiza, Sara e Theo.
AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa tem como objetivo identificar quais fatores interferem na representatividade da
culinária caiçara e na prática da hospitalidade nos restaurantes especializados em peixes e frutos
do mar da Baixada Santista. A culinária regional, por meio da combinação de matérias-primas
e hábitos locais, retrata vivências históricas e heranças culturais. Nesse sentido, sua oferta
propicia a interação entre pessoas e contribui para o desenvolvimento de vínculos sociais,
concretizando o ato da hospitalidade. Os fenômenos da globalização e industrialização
modificaram os hábitos alimentares dos brasileiros e as últimas décadas do século XX foram
marcadas pela padronização dos alimentos e pelo consumo excessivo de produtos
industrializados em detrimento de alimentos regionais com tradição cultural. Em oposição a
este cenário, no século XXI, temas como sustentabilidade, valorização das cozinhas e dos
ingredientes regionais e uso de alimentos orgânicos e sazonais ganharam centralidade na
gastronomia brasileira e inspiraram diversos movimentos que visam à recuperação das
particularidades regionais. Acompanhando essa tendência, os restaurantes buscam oferecer
serviços de hospitalidade aliados à manutenção da cultura regional. Deste contexto, surge a
questão: quais fatores interferem na representatividade da culinária caiçara e na prática da
hospitalidade nos restaurantes especializados em peixes e frutos do mar da Baixada Santista?
A pesquisa caracteriza-se como exploratória e descritiva, de natureza quali-quantitativa. Para a
coleta de dados, além da pesquisa bibliográfica, foram realizadas entrevistas semiestruturadas
com os gestores dos restaurantes, aplicado aos mesmos um questionário fundamentado na
escala Likert e realizado um levantamento dos pratos tradicionais da culinária caiçara presentes
nos cardápios. Entre os dias 28 de março e 4 de maio de 2016, foram entrevistados 44 gestores
de restaurantes especializados em peixes e frutos do mar dos municípios de São Vicente, Santos
e Guarujá. Para a análise de conteúdo das entrevistas, foi utilizado o método proposto por
Bardin (2011). Quanto à metodologia estatística, foram utilizados o Teste do sinal para a
mediana, a Correlação de Person e Spearman e a Estatística Alpha de Cronbach. Nestas análises
foram utilizados os softwares: SPSS V 17, Minitab 16 e Excel Office 2010. Os resultados
demonstraram que o conceito equivocado sobre culinária caiçara e o conhecimento limitado
sobre hospitalidade, por parte dos gestores dos restaurantes, são os principais fatores que
interferem na representatividade da culinária e na prática da hospitalidade. Sobre a culinária
caiçara, a maior parte dos gestores pensa ser a culinária do litoral brasileiro e a relaciona a
qualquer prato preparado com peixes e frutos do mar, citando, inclusive, pratos de outras
nacionalidades, como paella, bacalhau à portuguesa, polvo à espanhola, etc. Com referência
aos ingredientes, citaram somente pescados, não fizeram menção a banana, farinha de
mandioca, palmito, taioba, jabuticaba, e tantos outros que caracterizam a culinária caiçara.
Verificou-se que os pratos caiçaras mais oferecidos são: marisco ao vinagrete, camarão à
paulista, filé de pescada grelhado, lula frita, camarão frito, farofa de farinha de mandioca, pirão
de peixe, farofa de banana, mandioca frita e tainha assada. Sobre as práticas de hospitalidade
adotadas, constatou-se que os gestores se preocupam com o ritual: receber, acomodar e
alimentar. Entretanto, esquecem-se do entretenimento como um elemento de hospitalidade,
assim como da ambientação, da higiene, da infraestrutura e dos aspectos culturais da região.
The goal of this research is to identify which factors have some influence in the Caiçara cuisine
representativeness and in the practice of hospitality in restaurants specialized in fish and
seafood in Baixada Santista, State of São Paulo, Brazil. Using feedstock combination and local
habits, the regional cuisine portrays historical experiences and cultural heritages. In this sense,
its supply provides the interaction among people, contributing to the development of social ties,
thus realizing the act of hospitality. The globalization and industrialization phenomena have
modified the feeding habit of Brazilian population and the last decades of the twentieth century
were marked by the standardization of food and the overconsumption of industrialized products
to the detriment of the regional food with its cultural tradition. In the twenty first century and
in an opposite scenario, subjects such as sustainability, appreciation of the regional cuisine and
its ingredients and the use of organic and seasonal foods gained centrality in Brazilian
gastronomy, inspiring different movements that have as a goal the recovery of the regional
particularities. Following that trend, restaurants seek to offer hospitality services allied to the
maintenance of the regional culture. From that context comes up the issue: which factors
influence the Caiçara cuisine representativeness and the practice of hospitality in restaurants
whose expertize are fish and seafood in Baixada Santista? This research is both exploratory and
descriptive, being qualitative and quantitative at the same level. Besides the bibliographical
research, data was collected using semistructured interviews with the restaurants’ managers;
these managers answered a questionnaire based on Likert scale and a survey was also done
about traditional dishes of Caiçara cuisine enclosed in the menus. Between March 28 and May
4, 2016, 44 restaurants’ managers specialized in fish and seafood answered the mentioned
survey in São Vicente, Santos and Guarujá. It was used the method proposed by Bardin (2011)
for the interview content analysis. Regarding to the statistical methodology, it was used the sign
test for the median, the Spearman and Person correlation and the Cronbach’s alpha statistics.
The following softwares were used: SPSS V 17, Minitab 16 and Excel Office 2010. It was
demonstrated that the mistaken concept about Caiçara cuisine and the limited knowledge about
hospitality, on the part of restaurants’ managers, are the main element that influence in this
cuisine representativeness and in the practice of hospitality. About caiçara cuisine, most
managers think is the cooking of the Brazilian coast and relates to any dish prepared with fish
and seafood, citing, including dishes of other nationalities, such as paella, codfish portuguese,
octopus spanish, etc. With reference to the ingredients, only cited fish, did not mention the
banana, cassava flour, palmetto, taioba, jabuticaba, and many others featuring caiçara cuisine.
It was veryfied that the following Caiçara dishes are the major offer: shellfish to vinaigrette,
Shrimp to Paulista, grilled fish fillet, fried calamari, fried shrimp, toasted manioc flour, fish
mush, banana manioc flour, fried cassava and roasted mullet. Concerning to the hospitality
practices adopted, it was veryfied that the managers was worried about the following ritual:
receive, accommodate and feed the guests. However, they forget the entertainment as part of
the hospitality, as well as the ambiance, hygiene, infrastructure and the cultural aspects of the
region.
INTRODUÇÃO
H1. A demanda por pratos típicos da culinária caiçara é um fator que interfere na
representatividade dessa culinária nos restaurantes;
H2. O conhecimento dos gestores sobre a culinária caiçara é um fator que interfere na
representatividade dessa culinária nos restaurantes;
H3. A prática da hospitalidade nos restaurantes é considerada um fator diferencial
competitivo pelos gestores.
Para a academia, a pesquisa é relevante porque aborda uma culinária pouco explorada
pela literatura, apresentando um inventário de seus principais pratos, uma ferramenta que pode
contribuir para futuras pesquisas em diversas áreas do conhecimento. Além disso, o retrato da
visão de gestores de restaurantes sobre hospitalidade e suas práticas pode servir de parâmetro
para futuros estudos e abordagens sobre hospitalidade.
No que tange à relevância social, a abordagem da culinária caiçara é uma maneira de
divulgá-la aos gestores dos restaurantes e consequentemente aumentar sua oferta, impactando
na produção de alimentos regionais e na sustentabilidade de pequenos produtores caiçaras.
Também oferece informações importantes aos órgãos públicos e Organizações Não
Governamentais (ONGs) que têm como objetivo preservar as comunidades tradicionais.
Para o mercado de alimentos e bebidas, a pesquisa apresenta um diagnóstico dos
cardápios e das práticas de hospitalidade adotadas pelos restaurantes especializados em peixes
e frutos do mar, que pode ser útil aos estabelecimentos que buscam diferenciarem-se
competitivamente pela qualidade de serviços.
Por fim, a pesquisa evidencia o potencial turístico da culinária caiçara para a Baixada
Santista, podendo incentivar sua inclusão em mais cardápios.
Segundo os objetivos estabelecidos, esta pesquisa caracteriza-se como exploratória e
descritiva. Quanto à natureza dos dados, é denominada quali-quantitativa. A coleta de dados foi
realizada entre os dias 28 de março e 4 de maio de 2016 por meio de pesquisa bibliográfica e
de campo e, para tanto, foram utilizados quatro instrumentos: um questionário com perguntas
fechadas para caracterizar e identificar os restaurantes e seus gestores; um roteiro com
perguntas semiestruturadas para as entrevistas realizadas pela pesquisadora junto aos gestores
dos restaurantes; um questionário fundamentado na escala Likert para preenchimento pelos
gestores; e um quadro com pratos caiçaras para a pesquisadora assinalar aqueles presentes no
cardápio de cada restaurante.
19
1.1 Hospitalidade
[...] a hospitalidade pode ser vista como um meio, entre outros, pelo qual
alguém pode escolher exercer diversas virtudes mais gerais: benevolência,
zelo pelo bem-estar público, compaixão, afetividade. Pode-se chamá-la de
virtude operacional: todos devem ser compassivos, benevolentes e afetuosos,
mas nem todos precisam tentar ser hospitaleiros (TELFER, 2004, p. 54).
Na leitura de Brotherton e Wood (2004, p. 192), “há dois enfoques amplos (e não
refinados) para definir ‘hospitalidade’: o primeiro semântico; e o segundo, comprobatório”. O
enfoque semântico centra-se nas definições dos termos dicionarizados e tende ao
indeterminado. Muitas dessas definições refletem sobre a perspectiva da hospitalidade privada
e incluem os elementos virtuosos da hospitalidade, valores como generosidade, abertura,
hospitabilidade e reciprocidade estão presentes nesses verbetes dados pelos dicionários
(O’MAHONY, 2015). O enfoque comprobatório procura localizar e definir a hospitalidade
dentro do “mundo real” da evidência (BROTHERTON; WOOD, 2004). Os autores, analisando
esses enfoques, identificaram características importantes atribuídas a esse tema e destacaram:
22
Moretti, Carrer e Silva (2015, p. 2) também entendem a hospitalidade como uma troca,
um modo de viver com os outros.
24
[...] ela é um signo de civilização, um modo de viver com outros, regido por
regras, ritos e leis. A noção de hospitalidade, portanto, é empregada em
diferentes contextos: desde a hospitalidade familiar, a esfera do Estado (por
exemplo, a legislação sobre estrangeiros), passando pela hospitalidade
comercial, que foge à regra da gratuidade e da reciprocidade, até um novo
modo urbano de Hospitalidade (MORETTI; CARRER; SILVA, 2015, p. 2).
Seguindo estes argumentos, Camargo (2004, p. 52) define a hospitalidade como um “ato
humano exercido em contexto doméstico, público e profissional, de recepcionar, hospedar,
alimentar e entreter pessoas temporariamente deslocadas de seu hábitat natural”. Com a
finalidade de responder quais as práticas sociais se inserem dentro do processo de hospitalidade,
o autor estabeleceu dois eixos:
A Figura 2, ilustra os três domínios e a intersecção entre eles, destacando onde ocorre a
experiência da hospitalidade.
Se a pessoa acolhe por dever, será que está sendo hospitaleira ou está
simplesmente fazendo o que deve? Acredito que ela esteja sendo hospitaleira
desde que aquilo que chamei de espírito de hospitalidade seja generoso [...] se
um hospedeiro comercial atende bem aos seus hóspedes com um interesse
autêntico por sua felicidade, cobrando um preço razoável não extorsivo por
aquilo que oferece, suas atividades poderão ser chamadas de hospitaleiras [...]
Esse tipo de hospedeiro presta um serviço generoso, não mínimo, porque
deseja agradar os hóspedes; os hóspedes pagam, não em hospitalidade, mas
através de uma soma de dinheiro, considerada equivalente a um bom negócio
e base para relações amigáveis entre o hospedeiro e o hóspede. Dizer que não
se pode considerar que um hospedeiro comercial se comporta com
hospitalidade só pelo fato de ele ser pago por seu trabalho é o mesmo que dizer
que não se pode considerar que um médico se comporta com compaixão
porque ele é pago pelo serviço que presta (TELFER, 2004, p. 59).
hospitabilidade, mas é necessário que o prestador de serviços tenha esta característica, assim
como a empresa deve tê-lo em relação ao colaborador (TELFER, 2004).
Lashley (2004) acredita que o treinamento de funcionários e gerentes, baseado nos
valores de hospitalidade, pode minimizar a impressão imposta comercialmente quanto à
hospedagem calculista. “A identificação, o recrutamento, o treinamento e a capacitação dos
indivíduos para serem hospitaleiros será fundamental no estabelecimento de uma base
consistente de clientes fiéis” (LASHLEY, 2004, p. 29).
Com a expressão “gente de carne e osso”, Batista (2008) permite a reflexão de que
embora o domínio comercial invista em tecnologia e treinamento, a prestação de serviços ocorre
entre duas pessoas, “gente lidando com gente”. Reforçando este argumento, Erig e Nascimento
(2015, p. 44) dizem:
Após uma pesquisa exploratória, Wada e Moretti (2014), baseados num levantamento
bibliográfico e análise de 22 dissertações do Programa de Pós-Graduação em Hospitalidade,
notaram que
serviços de qualidade. Neste sentido, a hospitalidade se insere como uma prática fundamental
nos restaurantes.
Létoublon (2011) diz que compartilhar a mesa ou a refeição com alguém é reconhecida como
uma forma de hospitalidade em qualquer tempo e cultura.
Nesta perspectiva, Flandrin e Montanari (1998) destacam o papel social das refeições
como diferenciador entre o ser humano e outros animais e argumentam:
[...] o homem civilizado come não somente (e menos) por fome, para satisfazer
uma necessidade elementar do corpo, mas também (e sobretudo) para
transformar essa ocasião em um momento de sociabilidade, em um ato
carregado de forte conteúdo social e de grande poder de comunicação
(FLANDRIN; MONTANARI, 1998, p. 108).
Corroborando com essa visão, Dias (2002) diz que a mesa é um espaço de comunicação.
Atualmente, este espaço tem se tornado cada vez menor nos domicílios, já que as
mudanças econômicas, sociais e demográficas geraram demandas que obrigaram o comensal a
reorganizar sua rotina e a alimentação fora do lar tem se tornado uma necessidade. A inserção
da mulher no mercado de trabalho, a dificuldade de mobilidade nos centros urbanos e a falta de
tempo para o preparo dos alimentos contribuíram para este panorama (RODRIGUES; SABES,
2006).
Na atualidade, a comensalidade é caracterizada pela escassez de tempo para o preparo
e consumo de alimentos, pela presença de produtos industrializados e importados, pela
transferência das refeições dos lares para os restaurantes, pelo uso de marmitas, pela
publicidade associada aos alimentos e pela crescente individualização dos rituais alimentares
(GARCIA, 2003). Paula (2005, p. XVIII) faz a seguinte interpretação deste momento:
classes sociais a imitarem umas às outras e tem sido a arena onde se rompem
com segurança as divisões de classe e onde ocorrem as diversas trocas
humanas, como negócios, seduções, disputas familiares etc. [...]
Juran (1992) entende que um cliente fica satisfeito com um produto (bens e serviços)
quando este é compatível com suas características. Em contrapartida, a insatisfação advém das
não conformidades percebidas após sua experimentação. É por essa razão que os clientes
reclamam ou não dão continuidade à utilização do produto (JURAN, 1992). Concordando com
este autor, Carpinetti (2012) define qualidade percebida como a relação entre a expectativa e a
percepção por parte do cliente, podendo dizer que a satisfação existe quando a percepção supera
a expectativa e a insatisfação, quando ocorre o inverso. Gianesi e Correa (1994) sustentam esta
definição, dizendo que a qualidade percebida é a avaliação que o cliente faz do serviço, durante
ou após o término do processo, baseada na comparação entre o que ele esperava e o que ele
percebeu do serviço prestado (GIANESI; CORRÊA, 1994).
Aqui, vê-se a importância de conceituar qualidade de serviços mas, para tal, é necessário
definir serviços. De acordo com Troster (1999), os serviços são atividades que não criam
materiais, mas destinam-se direta ou indiretamente a satisfazer necessidades humanas. Zeithaml
e Bitner (2000) completam esta definição dizendo que o serviço é consumido na hora em que é
produzido e oferece valor agregado intangível e dedicado a quem compra. Seguindo o mesmo
raciocínio, Kotler e Armstrong (1998) definem serviços como um ato ou desempenho
essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer a outra e que não resulta na posse de
nenhum bem, podendo sua execução estar (ou não) ligada a um produto físico.
Las Casas (1999) afirma que a prestação de um serviço pode gerar satisfação ou
insatisfação nos clientes, arriscando dizer que o produto final de um serviço é um sentimento,
que varia conforme as expectativas dos clientes e, portanto, o serviço pode ser entendido como
um ato ou desempenho intangível, e embora possa acompanhar (ou não) um bem, o objeto de
transação é sempre uma ação, um processo.
Ao se referir à qualidade de serviços, Parasurama et al (1988) tratam-na como um
conceito altamente relativo, como um julgamento pessoal, formado por cada cliente e, portanto,
difícil de ser mensurado. Conforme Gummesson (1998), é uma resposta subjetiva do
consumidor sobre o desempenho do prestador de serviços.
Antes de comprarem um serviço, os clientes têm uma expectativa, baseada nas suas
necessidades individuais, experiências passadas, recomendações de terceiros e propaganda de
um fornecedor de serviços. Após comprarem e consumirem o serviço, os clientes comparam a
qualidade esperada com aquilo que realmente receberam (LOVELOCK; WRIGHT, 2001).
Na busca de um conceito objetivo, Parasuraman et al. (1988) definiram qualidade de
serviço em cinco dimensões: confiabilidade, presteza, cortesia, empatia e tangibilidade.
39
Explicando esses aspectos, Fonseca (2006) diz que todos são expectativas que o cliente
pretende suprir, alguns são geridos pela equipe do restaurante, mas outros são incontroláveis,
compreendem variáveis diversas, subjetivas, difíceis de serem gerenciadas. Segundo o autor,
40
[...] Solos erodidos, queda dos níveis dos lençóis freáticos para a irrigação,
redução dos recursos pesqueiros, diminuição das áreas de floresta e pastagens
naturais em deterioração representam apenas um punhado dos problemas
ambientais criados por nosso sistema alimentar — problemas que continuarão
a se multiplicar à medida que as temperaturas seguem aumentando. [...] Nossa
42
Restaurantes seguidores “do campo à mesa” promovem seus cardápios nesta ordem:
primeiro coletam — por meio da compra de pequenos produtores — depois criam. A ideia de
uma refeição gourmet foi modificada. Muitos dos melhores chefs do mundo substituíram o uso
de ingredientes como caviar e foie gras por vegetais e grãos específicos da região onde estão
inseridos (BARBER, 2015). “A promessa da cozinha ‘do-campo-à-mesa’ é de que os cardápios
tomarão forma a partir dos limites da agricultura local para homenageá-la (BARBER, 2015, p.
21).”
Outra tendência na gastronomia mundial é a comida caseira, “confortável”, aquela que
remete à infância e traz a sensação de bem-estar, de ser cuidado, por isso foi intitulada de
comfort food. Os restaurantes que servem esse tipo de comida são avessos às receitas elaboradas
e prezam pela simplicidade.
Há bem pouco tempo, no Brasil, predominava nos restaurantes a cozinha fusion, um
estilo culinário que mescla técnicas e ingredientes de diferentes países sem compromisso com
a tradição, mas percebe-se que na última década a cozinha regional vem passando por uma
valorização gastronômica. Pratos tradicionais vêm sendo reproduzidos por chefs e estão
passando por um processo modernizador. Chefs franceses estabelecidos no Brasil, como Claude
Troigros e Laurent Saudeau, foram os precursores dessa valorização de produtos autóctones —
tapioca, maracujá, caju, etc. — adaptando receitas francesas e recuperando as cozinhas
regionais com releituras tropicais (BELUZZO, 2006).
O chef Alex Atala tem sido um dos incentivadores deste movimento, pesquisando e
divulgando ingredientes da cozinha brasileira. Seu trabalho tem reverberado em todos os níveis
da cadeia alimentar, elevando esses ingredientes e aumentando a demanda por eles.
Com o intuito de estimular a população a repensar a relação com os alimentos e lutar
por um sistema alimentar mais justo, equitativo, saudável, sustentável e solidário, no início de
2015 o Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN) lançou
a campanha “Comida é Patrimônio”. Assim, busca valorizar a identidade alimentar, presente
nas ricas regionalidades culinárias do país, bem como nas dimensões sociais, culturais,
econômicas e políticas (FBSSAN, SITE OFICIAL).
Observa-se que o retorno às raízes, à simplicidade e à valorização de ações sustentáveis
são tendências crescentes na gastronomia contemporânea mundial.
44
Já Atala e Dória (2008) entendem que culinária regional é uma das matérias-primas
fundamentais para o chef de cozinha, pois “seu ofício consiste em interferir no prazer de comer,
realçando-o onde existe ou recriando-o onde já não existe mais” (ATALA; DÓRIA, 2008, p.
110). Justificando esse argumento, os autores completam:
Também destacando o papel dos chefs de cozinha, Aglio, Fujita e Andrade Júnior (2015,
p. 59; 60) dizem:
Outro fato preponderante é a valorização da cultura local por parte dos chefs
de cozinha, que contribuem para expor diferentes menus e suas características
com misturas de ingredientes regionais com as técnicas tradicionais de
cozinha dos grandes centros gastronômicos, tornando os pratos ímpares na
apresentação e no paladar, além de gerar a otimização de matérias primas,
muitas vezes com oferta farta na localidade, porém, desvalorizadas ou
subutilizadas na produção de pratos [...].
Segundo Beni (2003), atualmente, a gastronomia é uma das atividades que mais
contribuem para o desenvolvimento do turismo. Em lugares onde não há recursos naturais ou
outros atrativos, é também considerada como fonte de entretenimento para atrair visitantes
(LOOCWOOD; MEDLIK, 2003). Zuin e Zuin (2008, p. 114) concordam com Beni e reforçam:
“[...] Ainda que seja uma simples necessidade, a gastronomia pode possuir uma elevada parcela
no consumo dos turistas, pois este não está preocupado com preços e, sim, com a qualidade e
os sabores típicos do lugar.”
Confirmando estas tendências, chefs de cozinha, especializados na culinária caiçara, têm
atraído turistas e a mídia para seus restaurantes. Dentre eles, destacam-se o chef Eudes Assis,
do restaurante Taioba Gastronomia, em São Sebastião, litoral norte do Estado de São Paulo, e
a chef Ana Bueno, do Restaurante Banana da Terra, em Paraty, litoral sul do Estado do Rio de
Janeiro.
A chef Ana Bueno foi eleita em 2007 pela revista VIP uma das onze chefs que melhor
representam a culinária brasileira e, em 2008, lançou o livro Culinária Caiçara — o sabor entre
a serra e o mar, escrito em parceria com o antropólogo Antônio Carlos Diegues e com fotos de
Vito D’Aléssio.
Desta forma, a inclusão de pratos da culinária caiçara nos restaurantes especializados
em peixes e frutos do mar da Baixada Santista justifica-se como uma tendência gastronômica,
pois proporciona aos turistas contato com a cultura local e aos nascidos e/ou residentes na
região, o resgate de pratos tradicionais esquecidos. Ademais, aumenta a demanda por
ingredientes pouco comercializados (taioba, cambuci, fruta-pão), preserva a cultura caiçara e
fortalece pequenos produtores. Sendo assim, os próximos capítulos são centrados nos
restaurantes e na culinária caiçara.
47
2 OS RESTAURANTES
Este capítulo narra a evolução dos restaurantes desde o século XVII até os dias atuais e
apresenta os dados sobre sua posição no setor de Food Service na última década; define e
descreve os restaurantes especializados em peixes e frutos do mar; destaca a importância dos
cardápios para a identidade desses estabelecimentos. Para embasamento do referencial teórico,
foram utilizados os autores e órgãos oficiais apresentados no Quadro 3, abaixo.
rôtisseurs vendiam carnes de caça e demais carnes assadas ou grelhadas; os caterers (mestres
artesãos da gastronomia) serviam refeições completas em grandes festas, etc. Os regulamentos
eram rígidos e inflexíveis e o mestre de uma atividade não podia praticar outra. Por exemplo,
aquele que preparava guisados não podia vender mostarda. Nenhum comerciante podia
combinar funções com a finalidade de servir refeições e bebidas num mesmo local, o que hoje
seria nomeado como restaurante (SPANG, 2003).
Por volta de 1760 e 1770, um senhor, chamado Boulanger, autorizado a vender em seu
estabelecimento somente “caldos restaurativos” (restaurateur), ousou comercializar um prato
que não era um caldo, mas sim um ragoût (ragu,1 preparado com vários ingredientes ensopados)
e, em frente ao seu estabelecimento, afixou os seguintes dizeres: “Vinde a mim, vós que
trabalhais, e restaurarei vosso estômago” (SPANG, 2003; LEAL, 2008). A corporação dos
traiteurs, fornecedores de alimentos cozidos, resolveu atacá-lo dizendo que não tinha o direito
de vender ensopados e o caso foi parar na justiça (GOMENSORO, 1999). Segundo Spang
(2003), os tribunais decidiram em favor dos caterers, restringindo os restaurateurs a
comercializarem os caldos, entretanto, a autora diz que nenhuma evidência nos arquivos
forenses, policiais ou corporativos substancia a derrota de Sr. Boulanger para os caterers.
Reforçando essa versão, Gomensoro (1999) relata que o parlamento indeferiu e permitiu a
venda do prato.
Em 1786, um decreto autorizou os traiteurs e restauranteurs a servirem comidas aos
clientes em seus estabelecimentos, daí surgiu o hábito da “mesa de hóspedes” (table d’hôte2),
o que significava que as pessoas podiam comprar e comer a comida no mesmo estabelecimento,
sentando-se à mesa do proprietário (GOMENSORO, 1999).
Outro personagem importante na história da origem do restaurante foi Mathurin Roze
Chantoiseu, autodenominado o pai do restaurante. Dedicou-se a vários projetos para reduzir a
dívida interna francesa, mas não obteve sucesso e em 1806 morreu quase sem dinheiro. A
“invenção” do restaurante foi um dos planos de Roze para corrigir a economia, reparar o
comércio e restabelecer a saúde do corpo político. Ele não foi o mais famoso nem o mais bem-
sucedido restauranteur, mas via no comércio a possibilidade de benefício e desenvolvimento
social. Seu restaurante foi inaugurado em 1766 (SPANG, 2003).
1
Na França, o termo ragoût refere-se a um refogado de carne, ligeiramente frita e depois cozida lentamente em
um caldo (GOMENSORO, 1999).
2
Table d'hôte é uma expressão em francês que quer dizer “menu fixo” (SIGNIFICADOS.COM.BR).
49
O La Grande Taverne de Londres, fundado em 1782 pelo chef Antoine Beauvilliers, foi
o primeiro restaurante de luxo de Paris (FREIXA; CHAVES, 2008). Era frequentado pela
aristocracia e oferecia o serviço à la carte com um variado menu de pratos, destacando-se os
assados e as saladas que o chef preparava com perfeição (FREIXA; CHAVES, 2008; LEAL,
2008).
Com a Revolução Francesa, os estatutos que regulamentavam o comércio varejista
foram abolidos e os traiteurs, caterers e restauranteurs passaram a preparar e servir todo tipo
de comida (GOMENSORO, 1999). A Revolução também provocou a morte e fuga de muitos
aristocratas e, em consequência disso, os cozinheiros que os serviam ficaram desempregados e
passaram a oferecer aos plebeus pratos que até então eram servidos à nobreza. Daí surgiu, no
final do século XVIII, o restaurante como é conhecido hoje (BRAGA, 2008).
Conforme Walker (2002, p. 28), “a Revolução Francesa influenciou o desenvolvimento
da culinária, estabelecendo o primeiro restaurante do novo mundo e trazendo a cuisine da
França para a América do Norte”.
No século XIX, com o advento da urbanização, cresceu o número de restaurantes na
França, em outros países da Europa e nos Estados Unidos (WALKER; LUNDBERG, 2003).
Os trabalhadores começaram a almoçar em restaurantes econômicos e este hábito estendeu-se
aos turistas que visitavam as cidades ou nelas faziam compras ou negócios. Foi então que comer
fora do lar passou a caracterizar prestígio (KHATCHIKIAN apud REJOWSKI, 2002). Walker
(2002) acrescenta que nesse século foram criados conceitos como jantar à la carte3 e
restaurantes especializados em massas e sorveterias, consolidando o costume de comer fora de
casa. A partir daí, de acordo com Cândido e Vieira (2002, p. 19), o restaurante pôde ser definido
como “empresa pública, com local próprio para acomodar comensais e onde são elaboradas e
servidas a esses comensais refeições diversas mediante pagamento”.
No Brasil, é difícil precisar o surgimento do restaurante. Segundo Venturi (2011), por
volta de 1600, um português chamado Marcos Lopes abriu um estabelecimento na cidade de
São Paulo denominado de paragem ou pensão. Ainda segundo o autor, a expressão
“restaurante” passou a ser aceita somente no fim do século XIX.
3
À la carte é uma expressão típica do francês que significa “como está no cardápio” ou “como listado no
cardápio”, bastante utilizada no âmbito da gastronomia, principalmente entre os restaurantes. Um restaurante à
la carte é um estabelecimento que trabalha servindo uma variedade maior de pratos e bebidas, todos listados
em um cardápio (menu) com os respectivos preços de cada produto (SIGNIFICADOS.COM.BR).
50
4
Comida preparada e servida rapidamente, geralmente em restaurantes lanchonetes, que oferecem um cardápio
limitado, com itens baratos (GOMENSORO, 1999).
51
5
Sommelier é a pessoa responsável pela escolha, compra, recebimento, guarda e prova do vinho antes que seja
servido ao cliente (ABS – Associação Brasileira de Sommeliers).
6
Rotisseria sf (fr rôtisserie) Casa comercial ou seção nos supermercados, onde se vendem frios, queijos, viandas
e outros alimentos prontos (MICHAELIS).
55
de venda e publicidade, por isso, junto aos nomes dos pratos devem vir os respectivos preços.
Além disso, as preparações devem ser listadas numa sequência lógica visando a facilitar a
escolha do cliente (VASCONCELLOS; CAVALCANTI; BARBOSA, 2002).
Sobre a origem do cardápio, Figueiredo (2011, p. 3), relata o seguinte:
Outra tendência de mercado são os cardápios temáticos que recuperam e criam o cenário
local, possibilitando à clientela o consumo alimentar especializado. Esses cardápios priorizam
o uso de alimentos da estação, frescos e saudáveis, tendo como saldo os preços reduzidos, além
da variabilidade do portfólio (AGLIO; FUJITA; ANDRADE JÚNIOR, 2015).
O encontro de todos esses aspectos faz a diferença, determina um cardápio bem
elaborado e interfere no nível de vendas e aceitação dos restaurantes (AGLIO; FUJITA;
ANDRADE JÚNIOR, 2015).
Além dessas considerações, é importante salientar a importância da engenharia de
cardápios, definida por Fonseca (2006, p. 132) como “um método gerencial para a análise de
informações úteis e importantes em restaurantes que pretendem adequar-se às necessidades do
público e de gerenciamento”. Deve ser utilizada com critério e a partir de informações
confiáveis, geradas por meio de sistemas de tecnologia. Ela possibilita a apuração da situação
operacional de um restaurante através de suas matrizes (FONSECA, 2006).
Dado o exposto, entende-se que o cardápio de um restaurante especializado em peixes
e frutos do mar deve priorizar os pescados como matéria prima principal e oferecer produtos
sazonais e regionais. Além disso, nota-se que este tipo de restaurante está em consonância com
a tendência de especialização do cardápio em determinado tipo de preparação, alimento, região
ou país.
59
No século XIX, esta nomenclatura foi utilizada para definir o homem nativo do litoral,
o que ficava “pra cá da cerca”, em contraponto ao “caipira”, o homem nativo do interior, que
60
ficava “pra lá da cerca”. A cerca simbólica era a Serra do Mar, que divide geograficamente o
povo da praia do povo do planalto (GUERRIERO, 2008).
Sobre a origem do caiçara, Schmidt (1958, apud SOARES, 2006, p. 32 ) diz o seguinte:
[...] os caiçaras são fruto da miscigenação entre índio, português e negro (em
menor quantidade) que durante longo período ficaram relativamente isolados
na Mata Atlântica e no litoral de São Paulo. Ainda que sejam etnicamente
distintos, sua cultura apresenta influência muito grande da cultura indígena
nos instrumentos de trabalho (coivara,7 canoas, fabricação de farinha),
vocabulário diferenciado dos demais habitantes do estado etc.
Diegues (2004) e Fortes Filho (2005) também entendem por caiçaras as comunidades
formadas pela mescla dos indígenas, dos colonizadores portugueses e, em menor grau, dos
escravos africanos.
A historiadora Marina de Mello de Souza, no documentário O Caiçara de Paraty,
concorda com esses autores e descreve o caiçara da seguinte forma:
7
Coivara: Mato seco. Pilha de galhos e troncos que não se queimaram inteiramente na roça e que se junta para ser
novamente queimada (FORTES FILHO, 2005).
61
Léi = olhai!
Bêde! = veja!
Bois nun ide! = você não vai
Binde cá = venha aqui
Maenga! = minha!!! Nossa!!
Quidélhe? = onde está?
Arrelá! arrelá = que pena !
O quá!!! = o quê!!!
Que isso vosso? = expressão de espanto muito usada
Ma que desgraceira más grande!
Nas primeiras décadas do século XX, todos os caiçaras eram católicos e as comunidades
situadas no litoral paulista possuíam suas próprias capelas, erguidas entre 1920 e 1950. Cada
núcleo tinha seu próprio santo padroeiro, embora o preferido fosse o Bom Jesus de Iguape. As
folias e festas dos padroeiros do povo caiçara duravam dias, quando aconteciam procissões
marítimas, cânticos, fogueiras e danças (GUERRIERO, 2008; DIEGUES, 2005).
A estrutura da casa caiçara assemelhava-se à da casa caipira, com paredes de pau a
pique, telhado de sapê de duas águas e chão de terra batida. Quando a estrutura de uma nova
casa ficava pronta, a comunidade se reunia num dia de sol para “barrear” as paredes em sistema
de mutirão. Famílias inteiras participavam da tarefa, as mulheres preparavam um “escardado”
de farinha de mandioca e a ação virava uma festa. Algumas casas tinham fogão a lenha, mas a
maioria cozinhava na “tacuruba”, conjunto de três pedras no chão onde se equilibrava a panela.
As camas eram esteiras grossas de palha de tamoeiro trançada, que ficavam sobre tarimbas
(estrados de bambu) (GUERRIERO, 2008; DIEGUES, 2005).
Os caiçaras basearam suas vidas na pesca artesanal, na agricultura de subsistência, no
extrativismo vegetal e, menos frequentemente, na caça. Por isso, estabeleceram uma relação de
dependência dos ambientes naturais, o que os levou a conquistarem grande conhecimento sobre
esses mesmos ambientes, que foi passado aos mais novos e ainda é preservado em alguns
lugares (SANTOS, 2013). Por não utilizarem a escrita e o conhecimento ser gerado e
transmitido pela oralidade, por meio de um linguajar particular, as comunidades caiçaras podem
ser definidas como “tradicionais” (DIEGUES, 2005).
Sobre esta definição, Diegues (2005, p. 275) esclarece:
A tradição caiçara é entendida como um conjunto de valores, de visão de
mundo e de simbologias, de tecnologias patrimoniais, de relações sociais
marcadas pela reciprocidade, de saberes associados ao tempo da natureza, de
música e danças associadas à periodicidade das atividades de terra e de mar,
de ligações afetivas fortes ao sítio e à praia. Essa tradição, herdada dos
antepassados, é constantemente re-atualizada e transmitida às novas gerações
pela oralidade. É por meio da tradição que são usadas as categorias de tempo
63
Portanto, a tradição não é algo imutável, mas sim um processo histórico, em que
elementos são continuamente reinterpretados pela cultura moderna e incorporados ao modo de
vida (DIEGUES, 2005). Nesse sentido, para ser considerado caiçara, não basta ter nascido no
litoral, é necessário compartilhar saberes e técnicas característicos de sua cultura. “Essa
necessidade aparece na fala do caiçara, quando diz, por exemplo, que uma pessoa não pode
autodenominar-se caiçara, se não sabe preparar o prato típico de sua cultura, o azul marinho”
(DIEGUES, 2005, p. 278).
Até o fim do século IX, os caiçaras produziam grande parte dos bens que consumiam,
como a farinha de mandioca, o café, a cana de açúcar, o arroz e as frutas. Conforme Diegues
(2005, p. 295), “o cultivo mais importante era o da mandioca, com a qual preparavam o alimento
de base, a farinha de mandioca” (DIEGUES, 2005).
O plantio e a colheita eram feitos em mutirões ou ajutórios.8 O proprietário da roça
avisava seus vizinhos sobre o dia do mutirão e, assim, reuniam-se para participar. No final do
trabalho, faziam bailes de fandango9 regados a cachaça. As áreas de cultivo eram preparadas
8
Espécie de mutirão. Ajuda coletiva para a execução de algum trabalho, fruto de solidariedade do povo da zona
rural (FORTES FILHO, 2005).
9
Dança de origem ibérica realizada com bater ou arrastar dos pés, ao som da viola e rabeca. Apresenta variações
como manjericão, a sapo, a chamarrita, a catira, a anci (TEIXEIRA, 1990).
64
pela técnica da coivara, que consistia na queima da mata, plantio e pousio10 (FERREIRA;
JANKOWSKY, 2009).
Na pesca e na caça, procuravam as proteínas animais de que necessitavam. A pesca era
realizada em pequena escala, com equipamentos e embarcações construídos artesanalmente.
Para se deslocarem na água, utilizavam canoas construídas a partir de um único tronco de árvore
(FERREIRA; JANKOWSKY, 2009). Nas comunidades, desde muito cedo, os mestres
canoeiros ensinavam os filhos a visitar a mata, observar o crescimento das árvores e identificar
as melhores madeiras para a construção de barcos e canoas (GUERRIERO, 2008).
Os antigos caiçaras eram profundos conhecedores dos ventos, das ondas e das correntes
e estavam sempre atentos aos sinais enviados pelo comportamento dos peixes, pelas cores das
nuvens no horizonte ou pelo som das águas. À tardinha, as crianças e os adultos passavam a
picar11 na beira da praia — uma pesca de arrasto bem modesta, hoje proibida. Em noites escuras,
os caiçaras saíam em duas canoas a fim de cercar os peixes que localizavam em cardumes na
água. Às vezes, iam à costeira e cercavam as pedras com uma pequena rede e, com uma vara
de bambu, cutucavam as tocas dos peixes ali residentes. Confeccionavam grandes redes de
malhão e as enchiam de pedaços de peixe para pegar cações enormes, assim como
10
Descanso que se dá a uma terra cultivada, interrompendo-lhe a cultura por um ou mais anos.
11
Redes de arrasto.
65
desenvolveram redes de superfície, redes de fundo, espinhéis e as portas para arrastar camarão
(GUERRIERO, 2008).
O hábito da caça foi uma das principais heranças indígenas à cultura caiçara, tanto a
técnica como o modo de preparo. Caçavam paca, tatu, cateto,12 tamanduá, quati, raposa, porco
do mato e, com menor frequência, onça (FERREIRA; JANKOWSKY, 2009).
A coleta de frutas na mata e o plantio no quintal também faziam parte dos hábitos
caiçaras. A banana destaca-se entre as frutas cultivadas, contando com variedades como:
nanica, prata, maçã, pera, ouro, da terra, pão, vinha, missori e flor (FERREIRA;
JANKOWSKY, 2009). Além de garantir parte da alimentação das comunidades, esta fruta
também se tornou importante fonte de renda para muitos caiçaras. Eles viajavam léguas para
levarem as bananas ao porto de Santos e embarcá-las em navios com destino à Europa
(DIEGUES, 2005; GUERRIERO, 2008).
Com diversos tipos de cipós e madeiras extraídos da Mata Atlântica, produziam bancos,
mesas e utensílios domésticos (gamelas,13 cestarias). A venda do excedente da produção
garantia um ganho para comprarem o sal, o querosene, a pólvora, os tecidos e panos de rede
(DIEGUES, 2005).
Esta época de autossuficiência ficou marcada na memória dos caiçaras como um período
de fartura, de riqueza tanto material quanto social e cultural.
[...]A gente plantava e se alimentava do que produzia. Tudo o que era legume
tinha na roça, sem agrotóxico. Tinha moenda de cana: fazia açúcar, melado,
rapadura. Hoje ainda tem pé de goiaba, pitanga, ameixa e abacate. Antes tinha
muita jabuticaba, laranja, lima, limão; era muita fartura. A gente enjoava de
tanto comer pêssego, jambo também. Tinha maracujá roxo, bem docinho. Fora
os frutos do mato que a gente conhecia: vapuã,14 vacupari,15 massaranduba.16
Comia semente de jatobá — a massa dela é muito gostosa. A banana de raposa
tem que cozinhar: é bom para bronquite, remédio de índio. O que não tinha
muito era verdura, mas agora tem couve, alface. Tinha mais era folha de taiá,17
que faz refogada, que nem couve. Naquele tempo, era muita fartura: ostra,
camarão, marisco, peixe. Qualquer tipo de peixe encontrava ali, e a gente só
pescava na época certa. Agosto era época da caça procriar, então não podia
caçar. Já na lavoura, tinha época de plantar o arroz, que crescia bravo. Antes
queimava, hoje dizem que tem que adubar. A gente plantava, pilava, vendia...
12
Cateto ou Tateto. Porco-do-mato (FORTES FILHO, 2005).
13
Utensílio de madeira para uso doméstico, no preparo ou na guarda de alimentos. No fabrico da farinha, a gamela
serve para aparar o caldo da massa que escorre da mesa e se acomoda no seu bojo (FORTES FILHO, 2005).
14
Árvore brasileira (MICHAELIS).
15
Fruto silvestre ácido de cor amarela (FORTES FILHO, 2005).
16
Árvore das províncias litorais do Brasil que se encontra no Rio de Janeiro, na Bahia até no Pará, pertence ao
gênero Mimusops. Seu fruto é semelhante a uma cereja, coberto de uma película grossa (MAST).
17
O mesmo que taioba, tubérculo muito usado na alimentação do caiçara (FORTES FILHO, 2005).
66
O resto, guardava para comer. A gente era meio indígena, então aprende com
o índio a preservar a natureza. (Dona Jandira, caiçara de Cananéia —
Depoimento presente na contracapa do livro Cozinha Caiçara, de Marina
Vianna Ferreira e Mayara Jankowsky, 2009).
Em virtude desse processo e pela contribuição histórica que essas populações têm dado
à conservação da biodiversidade, por meio de seu conhecimento sobre fauna e flora, a partir da
década de 1980, pesquisadores, ambientalistas e órgãos governamentais começaram a apoiá-las
para permanecerem em seus territórios. Foi então que surgiram associações de moradores que
passaram a reivindicar seus direitos nas reuniões governamentais, iniciando um processo de
reafirmação da identidade cultural, sufocada por décadas de discriminação das autoridades e
das elites urbanas interessadas na expropriação das terras dos caiçaras (DIEGUES, 2004).
o método de cocção das carnes (assadas sobre a chama do fogo) (DIEGUES, 2006; FERREIRA;
JANKOWSKY, 2009). Conforme Luderer (2012, p. 43-44), os sambaquis18 indicam que os
índios já se alimentavam de pescados e crustáceos.
Receitas de pescados na brasa, peixes com bananas verdes (azul marinho), peixes e ovas
secas, além de chás feitos com ervas nativas, são heranças indígenas para a culinária caiçara
(PEÇANHA, 2009).
A influência portuguesa aparece no uso de condimentos de origem ibérica, na introdução
da cana de açúcar e da banana (de origem asiática), no hábito de criar animais como aves, porcos
e gado, nas técnicas de conservação das carnes e no uso de produtos como pães, vinhos, óleo e
sal. Também foram herdadas receitas de peixes assados na telha, de sardinhas assadas na brasa
e de cozidos de carnes com legumes (PEÇANHA, 2009).
As heranças africanas são menos precisas, mas sabe-se que o milho, o coentro, o
gengibre, a taioba e as pimentas faziam parte da alimentação dos povos africanos que vieram
18
Termo de origem indígena: Tamba/Samba = concha e Aki = amontoado. Designação dada a antiquíssimos
depósitos situados ora na costa, ora em lagoas e rios do litoral, e formados de amontoados de conchas e restos de
cozinha e de esqueletos enterrados por tribos selvagens que habitaram o litoral americano em épocas pré-históricas.
Também é conhecido como casqueiro, casqueira, ostreira, berbigueira, sarnambi e caieira, este último pelo fato de
serem suas conchas utilizadas criminosamente, quando moídas, para a feitura da cal para as construções (FORTES
FILHO, 2005).
69
para o Brasil e foram incorporados na alimentação dos caiçaras (DIEGUES, 2006; FERREIRA;
JANKOWSKY, 2009). Receitas como galinha ao molho pardo e cuscuz de farinha de milho
são heranças africanas (PEÇANHA, 2009).
Fortes Filho (2005) concorda que a culinária caiçara consiste no uso de peixes e frutos
do mar, quando possível, carne de caça de animais silvestres e dos animais criados em terreiros.
Os peixes são consumidos de acordo com sua safra, dentre os mais utilizados destacam-se o
robalo, a tainha, o linguado, a corvina, a garoupa, a caranha,19 a savelha,20 o cação, o mero e o
parati. Hoje, devido às restrições ambientais, a carne de caça é rara na mesa do caiçara, mas no
passado era frequente e destacavam-se a paca, a capivara, o veado, o tatu, o porco-do-mato, a
raposa, até mesmo o macaco. As aves também eram apreciadas, entre elas, o jacu, o macuco e
a jacutinga (FORTES FILHO, 2005).
Amorim (2014), em entrevistas realizadas com pescadores artesanais, com o objetivo
de coletar receitas de influência caiçara, constatou que muitos pratos são baseados no uso de
peixes salgados e secos acompanhados de mandioca, banana e/ou batata-doce. Os peixes mais
citados pelos pescadores do litoral do Estado de São Paulo foram os de mar e estuário, como:
parati, tainha, corvina, robalo, manjuba, pescada e cação. Também foram lembrados os peixes
de pedra, mais comuns no litoral norte, como garoupa e badejo.
As pesquisas realizadas por Maranhão (2014, p. 33) no litoral norte de São Paulo
incluem outros peixes:
A rotina alimentar do caiçara é simples. No café da manhã, quando falta açúcar, costuma
tomar café adoçado com rapadura ou melado e comer frutas de quintal ou silvestres, como
manga, jaca, pitanga, abiu, papaguela, jambolão, bocupari, maracujá, amora, araçá, abricó,
19
Peixe nobre de alto-mar. Para o caiçara, é um peixe com características afrodisíacas. O pirão feito com caldo da
cabeça da caranha é um tônico, um santo remédio para curar a impotência sexual. Ex.: “Xi, Comadre, Chico não
tem mais remédio, nem pirão feito com o caldo da caranha resolve...” (FORTES FILHO, 2005).
20
Peixe comum no litoral brasileiro, de coloração branco-prateada, atinge em média 30 cm a 50 cm de
comprimento. O peixe é apreciado pelo seu sabor, entretanto, para comê-lo é preciso ter muita paciência, pois ele
possui um número muito grande de espinhas. O caiçara tem um ditado que diz: “Quer moleza? Vá comê savelha”
(FORTES FILHO, 2005).
70
canito, goiaba e jabuticaba, além de muita banana. Pães, biscoitos e farinha de mandioca
complementam essa primeira refeição, que é parecida com o lanche da tarde (MARANHÃO,
2014).
A banana destaca-se nesta culinária. “Os caiçaras dizem que os bananais eram plantados
pelos rios que durante as cheias carregavam as mudas e espalhavam por toda mata”
(D’ALÉSSIO, 2007, p. 29). São diversos os tipos de bananas: nanica, prata, maçã, banana da
terra, ouro e vinagre (D’ALÉSSIO, 2007).
A produção de grãos entre os caiçaras é tímida e pouco significativa comercialmente,
mas em sua dieta o arroz e o feijão estão sempre presentes. O milho também é marcante nas
receitas tradicionais e o café é indispensável no dia a dia, servindo como fonte energética
durante o trabalho de pescadores e agricultores (FERREIRA; JANKOWSKY, 2009).
As refeições principais (almoço e jantar) são baseadas em arroz, feijão, farinha de
mandioca, legumes, folhas refogadas, palmito e uma proteína animal (peixe, frutos do mar, caça
e animais de criação, como gado, frango e peru). A inclusão de salada crua é recente, entretanto,
os caiçaras mais velhos relutam em incorporar o novo hábito (FORTES FILHO, 2005;
FERREIRA; JANKOWSKY, 2009).
Os palmitos são uma iguaria significativa à cultura caiçara, “sempre foram consumidos
em água e sal, quentes ou frios, e também são frequentemente assados diretamente na brasa,
protegidos pela própria casca” (FERREIRA; JANKOWSKY, 2009, p. 28). O palmito juçara se
destacou até o século passado, entretanto, para obtê-lo, a palmeira é cortada, matando a planta.
Ao longo do tempo, a obtenção do palmito por meio do simples extrativismo levou a espécie à
lista de flora brasileira ameaçada de extinção e sua extração foi proibida. Assim, incentivou-se
o cultivo do palmito pupunha, acaí e real (FERREIRA; JANKOWSKY, 2009; LUDERER,
2012).
71
21
Espécie de molusco (FORTES FILHO, 2005).
22
A alfavaca (Ocimum gratissimum) é uma planta medicinal também conhecida como alfavacão, alfavaca-cravo
e manjericão-cheiroso. Inclui os sinônimos botânicos Ocimum guineense e Ocimum viride. A alfavaca é nativa da
África e Ásia tropical, mas pode ser encontrada em todo o Brasil. Pertence à família Lamiaceae (PLANTAS
MEDICINAIS E FITOTERAPIA).
72
As técnicas de salga e defumação foram incorporadas à cultura local, sendo até hoje
recorrentes, mas passaram por modificações devido ao uso de defumador (FERREIRA;
JANKOWSKY, 2009).
Com o tempo, alguns ingredientes foram eliminados da culinária caiçara, como a
formiga tanajura, ou içá, que era assada e se transformava em uma iguaria apreciada pelos mais
antigos (D’ALÉSSIO, 2007).
O caiçara prepara o peixe de várias maneiras. O Quadro 6, na página seguinte, apresenta
alguns pratos, em grande parte descritos pelas mulheres durante o trabalho de campo.
73
Gislana Peçanha no livro Delícias de Paraty. Esta autora agrupou receitas fornecidas por
senhoras de antigas famílias de Paraty. O Quadro 7 destaca alguns pratos reunidos nesta obra.
23
Tipiti é uma espécie de prensa ou espremedor de palha trançada usado para escorrer e secar a mandioca ralada.
O objeto é utilizado por indígenas e ribeirinhos no preparo da farinha de mandioca (manibat) (DICIONÁRIO
INFORMAL).
76
Amorim (2014), para escrever o livro Café com Peixe, entrevistou pescadores artesanais
paulistas, principalmente da Baixada Santista, e alguns fluminenses, a fim de coletar receitas
antigas, feitas pelos caiçaras do século XX, e as atuais, já modificadas pelas novas gerações.
Esta pesquisa resultou no levantamento de 45 pratos listados e apresentados no Quadro 9,
abaixo.
Nome dos Pratos Descrição
Anchova recheada com camarão Anchova assada inteira recheada com camarão.
Biariby urbano Tainha assada na folha da bananeira.
Caldeirada de Guamium Caldeirada de peixe. Guamium é o antigo nome da Rua Japão,
em São Vicente, litoral de São Paulo, tradicional reduto de
pescadores artesanais, de onde vem a receita.
Caldeirada de ubatubana Caldeirada com peixes, camarão, mexilhão e lula.
Carapeba de guerra Peixe carapeba empanado na farinha de mandioca ou fubá e
frito em óleo. Servido com banana.
Filé de pescada com camarão Filé de pescada recheado com camarão, empanado na farinha
de rosca e frito em óleo.
Peixe Azul Marinho Peixe ensopado com banana verde com casca. O preparo deve
ser na panela de ferro.
Peixe com coco ralado Tainha refogada com tomate, cebola, alho e coco ralado.
Peixe com pirão Peixe ensopado com camarões servido com pirão.
Peixe da roça Peixe (garoupa ou tainha) cozido com batata doce.
Peixe do Arraial do Cabo Peixe cozido com a cabeça servido com farinha de mandioca.
Peixe frito Filé de peixe empanado no fubá e frito em óleo.
Paçoca de banana à moda da Bananas verdolengas cozidas e amassadas pelo garfo.
ilha
Peixe no bafo Filé de peixe temperado com alfavaca e cozido no vapor.
Sapreso do Rio do Meio Peixe salgado e seco cozido em água temperada com limão.
24
Espécie de molusco (FORTES FILHO, 2005).
77
25
Cesto de cipó da timbopeva, tecido na técnica dos samburás ou saricos. O tipiti é um balaio de tecidura flexível,
onde se acondiciona a massa verde da mandioca sevada para ser prensada e enxugada na arataca, numa
determinada etapa do seu beneficiamento, para o fabrico da farinha de mandioca (FORTES FILHO, 2005).
26
Mandioca podre (curtida) para fazer um tipo especial de farinha de beiju (FORTES FILHO, 2005).
79
Ainda de acordo com Fortes Filho (2005), além das farinhas, com a mandioca e seus
subprodutos faz-se também:
Com a descrição dos pratos tradicionais, nota-se o “modo” ou “estilo” de vida dos
caiçaras. A culinária é parte das tradições desta comunidade, portanto, está integrada ao seu
patrimônio imaterial e precisa ser preservada.
É a menor das três Regiões Metropolitanas do Estado de São Paulo, com o menor
território, o menor número populacional, porém é considerada, dentre as Regiões
Metropolitanas do Estado de São Paulo, como sendo a menos desigual internamente
(JUNQUEIRA; CLARO; GAUDEOSO, 2010).
A região apresenta cerca de 122 praias distribuídas em 65 km contínuos de extensão
litorânea e faz divisa com os municípios de São Paulo, São Bernardo do Campo, Juquitiba,
Santo André, Mogi das Cruzes e Salesópolis. Ao Sul, faz divisa com o Vale do Ribeira e, a
leste, com o denominado Litoral Norte do Estado de São Paulo e o Vale do Paraíba. O município
de Santos constitui-se como polo da região e está situado a cerca de 80 km da capital do estado
de São Paulo (ZÜNDT, 2006).
Quanto à sua acessibilidade, no modo ferroviário, dá-se por meio da utilização de duas
malhas ferroviárias distintas — a antiga malha da Rede Ferroviária Federal S.A., atualmente
concessionada à empresa MRS Logística S.A., e pelo antigo acesso das Ferrovias Paulista S.A.
(FEPASA), atualmente concessionado à empresa Ferrovia dos Bandeirantes S.A.
(FERROBAN). Os acessos rodoviários são feitos da Região Metropolitana de São Paulo
(RMSP) pela Rodovia Anchieta (SP 150) e Rodovia dos Imigrantes (SP 160); do Rio de Janeiro
pela Rodovia Rio–Santos; e de Curitiba pelas Rodovias BR-116, SP-165 e SP-55 (ZÜNDT,
2006; POZO; CLARO; TACHIZAWA, 2011).
Geográfica e geologicamente, é uma região com baixa qualidade do solo e com muitas
áreas de mangue e de preservação ambiental (PLANO METROPOLITANO DE
DESENVOLVIMENTO INTEGRADO [PMDI], 2002). Apresenta rios de pequeno porte,
como o Cubatão, Moji, Quilombo, Jurubatuba e Itapanhaú, formando meandros à margem, nos
quais estão os manguezais (DIEGUES, 2007). Estes ecossistemas estão permanentemente
expostos ao risco da degradação ambiental, sob pressão do fluxo de transporte de cargas do
Porto de Santos e de seu entorno; da disposição de resíduos e esgotos do Porto e das cidades da
região; dos derramamentos de óleo e outras substâncias tóxicas; do aumento populacional nos
períodos de pico turístico sazonal em alguns de seus municípios; e da grande massa de
trabalhadores da construção civil que se instalou nas encostas e nos manguezais, ou ainda, em
áreas periféricas, dada a inviabilidade de construção de habitação popular na zona costeira
(BORELLI, 2014).
81
Imigrantes (SAI) e parte da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, 4.238.134 veículos desceram
a serra em direção ao litoral entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015.
O crescimento populacional da Baixada Santista deu-se devido ao boom imobiliário
ocasionado pelas atividades turísticas de verão, que demandam serviços, e ao fenômeno da
segunda residência como o mais significativo da ocupação litorânea, favorecido pela
proximidade da Região Metropolitana de São Paulo (ZÜNDT, 2006; MORAES, 2007).
Entre 2012 e 2013, com o anúncio dos programas para a exploração do pré-sal, houve
um crescimento de 72.852 habitantes nesta região, representando um aumento populacional de
4,3%, maior do que o índice nacional, que registra 3,65% (IBGE, 2014).
Em decorrência deste crescimento demográfico, dois movimentos contraditórios podem
ser observados: atualmente, há uma migração de uma parcela da população de alto poder
aquisitivo e social para Santos, atraída pela oportunidade de desfrutar uma boa qualidade de
vida, e por outro lado, há outra parcela, de menor poder aquisitivo, que vem sendo gradualmente
excluída do espaço metropolitano central, tendo como opção migrar para municípios como São
Vicente, Praia Grande, Guarujá e Bertioga, que, forçosamente, passarão por um processo de
transformação urbana para acolher esses migrantes (BORELLI, 2014).
Levantamentos do IBGE (2014) confirmam esses movimentos. O município que mais
cresceu nos últimos anos foi Praia Grande, que recebeu 5.728 novos moradores. Os dados ainda
apontam que o município de Bertioga teve, proporcionalmente, a maior elevação populacional
da região, o que indica que a estância balneária revela fortes atrativos demográficos e menor
custo de vida.
A expansão demográfica da RMBS, aliada à verticalização, à valorização imobiliária e
à falta de espaço físico para a expansão horizontal da área urbana, tem provocado a
intensificação do adensamento urbano no núcleo central da região e, com isso, uma elevação
do valor da terra, tornando-a cada vez menos acessível à população de baixa renda, que se vê
obrigada a ocupar áreas ainda não urbanizadas, situadas além das Rodovias Anchieta-
Imigrantes, Pedro Taques e Padre Manoel da Nóbrega (entre outras), caminhando
progressivamente para municípios vizinhos, principalmente na direção sul (BORELLI, 2014;
CLARO; NOGUEIRA, 2013).
Os municípios que integram a RMBS apresentam dados socioeconômicos diversos. A
Tabela 1 apresenta alguns dados de São Vicente, Santos e Guarujá, onde estão inseridos os
restaurantes desta pesquisa.
84
No que tange aos caiçaras, a Baixada Santista testemunhou, ao longo da sua história, a
ocupação caiçara, que se estabeleceu na região desde os primórdios da colonização.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este capítulo caracteriza a pesquisa quanto aos métodos utilizados para a abordagem do
problema; à natureza dos objetivos; ao método de investigação; aos procedimentos de coleta de
dados. Além disso, explica os métodos utilizados para o tratamento e análise dos resultados.
Segundo Goode e Hatt (1973), as pesquisas atuais devem pautar-se pela união dos dois
métodos, rejeitando a perspectiva oposicionista entre um e outro, visto que, independentemente
da precisão dos resultados obtidos por meio das medições, o que realmente importa é a sua
qualidade.
Sendo o objetivo deste estudo identificar quais fatores interferem na representatividade
da culinária caiçara e na prática da hospitalidade nos restaurantes especializados em peixes e
frutos do mar da Baixada Santista, considera-se a união dos dois métodos favorável, pois
permite o cruzamento das conclusões e oferece maior confiança de que não são resultantes de
um procedimento específico ou de uma situação particular.
Em relação à coleta de dados, optou-se pela pesquisa bibliográfica e pela pesquisa de
campo ou levantamento. Tradicionalmente, a pesquisa bibliográfica é elaborada com base em
material impresso já publicado como livros, revistas, jornais, teses, dissertações e anais de
eventos científicos. Porém, em virtude da disseminação de novos formatos de informação, estas
pesquisas passaram a incluir outros tipos de fontes, como discos, fitas magnéticas, CDs, bem
como material disponibilizado pela Internet (GIL, 2010).
As bases de dados consultadas nesta pesquisa foram SciELO, Google Acadêmico e o
Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Realizou-
se também o resgate de artigos e alguns periódicos científicos disponibilizados em sites de
buscas online, para tanto, foram utilizadas as palavras-chave.
A pesquisa de campo ou levantamento caracteriza-se pela interrogação, de forma clara
e direta, dos indivíduos dos quais se objetiva saber o comportamento (SANTOS, 2012). O item
(3.2) apresenta detalhadamente os quatro instrumentos elaborados para a coleta de dados junto
aos gestores dos restaurantes.
n= Z2 x Px Q x N
e2 x (N-1) + Z2 x P x Q
Onde:
Z = Nível de confiança = 95 %
P = Quantidade de acerto esperado (%) = 50 %
Q = Quantidade de erro esperado (%) = 50 %
N = População Total = 49
e = Nível de Precisão (%) = 5 %
n = Tamanho da amostra = 44
Obs.: P e Q são complementares = 100 % e podem variar de 3% a 10 %, normalmente
se usa 5%.
Nível de
Confiança Valor de Z
99% 2,57
95% 1,96
90% 1,64
80% 1,28
88
A escolha dos restaurantes foi determinada por conveniência da pesquisadora, por isso
a amostra foi caracterizada como não probabilística.
O Quadro 10 apresenta a síntese da caracterização da pesquisa.
A Escala Likert foi criada em 1932 por Rensis Likert com o objetivo de quantificar as
atitudes dos indivíduos baseada em uma ordem de importância numérica qualitativa. Nessa
escala, manifesta-se a concordância ou discordância em relação às variáveis e atitudes
relacionadas ao objeto de estudo (DENCKER, 2001). Os respondentes se posicionam de acordo
com uma medida de concordância atribuída ao item e, de acordo com esta afirmação, infere-se
a medida do construto. A vantagem dessa escala é sua facilidade de manuseio, pois é fácil a um
pesquisado emitir um grau de concordância sobre uma afirmação qualquer, podendo ser aplicada
nas mais diversas pesquisas (COSTA, 2011).
A escala de cinco pontos (discordo totalmente (DT), discordo (D), nem concordo /nem
discordo (NC/ND), concordo (C), concordo totalmente (CT)), adotada nesta pesquisa, apresenta
como vantagens: ponto neutro (decorrente das escalas ímpares); nível de confiabilidade
adequado e ajuste aos respondentes com diferentes níveis de habilidade (DALMORO; VIEIRA,
2013).
As questões e perguntas dos instrumentos utilizados foram elaboradas com o intuito de
responderem às hipóteses norteadoras da pesquisa, conforme mostra o Quadro 11.
27
UNIMONTE: Centro Universitário Monte Serrat, localizado em Santos-SP.
28
UNISANTOS: Universidade Católica de Santos.
91
Esta técnica sugere analisar o que é explícito no texto para obtenção de indicadores
que permitam fazer inferências. Resumidamente, compreende as seguintes fases:
Quanto à metodologia estatística, para responder aos objetivos desta pesquisa foram
utilizados o Teste do sinal para a mediana, a Correlação de Person e Spearman e a Estatística
Alpha de Cronbach.
93
No teste do sinal, calcula-se o número de valores acima e abaixo do valor a ser testado.
No caso da escala Likert, deseja-se saber se o número de observações abaixo do valor de
interesse é maior do que o número de observações iguais ou maiores a este valor (MILONE,
2009).
Seja µ o valor de interesse, então:
Se xi > µ0, ao par é atribuído um sinal +
Se xi < µ0, ele recebe um sinal –
Onde Xi é o valor da resposta para a i-ésima observação.
Se xi = 3, a observação deve ser excluída da análise e, portanto, o tamanho da
amostra n deve ser coerentemente reduzido.
Como o valor mediano da escala Likert é de 3, consideramos que µ0 = 3.
Seja S a quantidade de sinais + na amostra. Sob a hipótese nula, espera-se ter um número
aproximadamente igual de sinais + e -. Equivalentemente, a probabilidade de que uma diferença
seja positiva é ½ e a probabilidade de que seja negativa é também ½ (S ~ binomial (n; 0,5)).
(MILONE, 2009).
O teste do sinal não faz suposição sobre a distribuição da resposta.
A hipótese a ser testada é:
H0: # de observações acima de µ0 é maior do que # de observações abaixo de µ0. Onde
rejeitar H0 significa que já existem mais respostas abaixo de µ0 (MILONE, 2009).
também indica uma relação linear perfeita, mas inversa, ou seja, quando uma das variáveis
aumenta, a outra diminui. Quanto mais próximo estiver de 1 ou -1, mais forte é a associação
linear entre as duas variáveis (FONSECA; MARTINS, 1996).
O coeficiente de correlação de Pearson é normalmente representado pela letra r e a sua
fórmula de cálculo é (FONSECA; MARTINS, 1996):
coeficiente obtido ou ainda utilizar testes de permutação aleatórios para a obtenção de p-valores
aproximados, nos casos em que o número de possíveis permutações é grande. A hipótese a ser
testada é:
H0: rs = 0 (o Coeficiente de Correlação de Spearman é igual a zero)
H1: rs ≠ 0 (o Coeficiente de Correlação de Spearman é diferente de zero)
Rejeitar a hipótese nula (H0) significa que a correlação encontrada é significativamente
diferente de zero ou, em outras palavras, significa que a correlação encontrada é
estatisticamente significativa (MILONE, 2009).
O Alfa de Cronbach, apresentado por Lee J. Cronbach, em 1951, é uma forma de estimar
a confiabilidade de um questionário aplicado em uma pesquisa. Esse coeficiente mede a
correlação entre respostas em um questionário por meio da análise das respostas dadas pelos
respondentes, apresentando uma correlação média entre as perguntas (MILONE, 2009). O
coeficiente α é dado por:
𝐾 ∑ 𝑉𝑖
∝= [1 − ]
𝐾−1 𝑉𝑡
São mais condizentes com a descrição de restaurante tradicional sugerida pelo mesmo
autor como:
Localização Nº %
São Vicente 5 11,4
Santos 22 50
Guarujá 17 38,6
Total 44 100
Fonte: Dados da pesquisa.
De acordo com o Gráfico 1, 65,9% (29) dos restaurantes têm mais de 21 anos de
atividade; 13,6 % (6) de 11 a 15 anos; 9,1% (4) de 6 a 10 anos; 4,5 % (2) de 16 a 20 anos; 4,5%
(2) de 2 a 5 anos; 2,3% (1) menos de 2 anos.
98
Segundo o Gráfico 4, 86,4% (38) dos restaurantes pesquisados adotam o serviço de mesa
à la carte.
6,8%
27,3%
25,0%
13,6%
27,3%
No que diz respeito ao cardápio, a maioria oferece mais de 31 pratos (79,5%: 35).
À vista dos dados apresentados, nota-se que a maioria dos restaurantes está consolidada
no mercado, tem médio porte, adota o cardápio à la carte e oferece um menu variado a preços
médios, se comparados aos demais tipos de restaurantes que adotam o mesmo tipo de serviço.
Os restaurantes com até cinco anos de atividades oferecem menos pratos em seus
cardápios, já os mais antigos apresentam cardápios extensos, com dezenas de preparações à
base de massas, peixes, carnes, saladas, etc., contrariando uma concepção moderna de cardápios
enxutos e especializados, o que facilita a gestão dos restaurantes e reduz o trabalho da equipe,
os controles, o capital imobilizado, o desperdício, o espaço utilizado para estoque e a
101
possibilidade de perda pela deterioração ou pelo vencimento do prazo de validade dos produtos
(MARICATO, 2005).
Sobre os entrevistados (gestores dos restaurantes), conforme mostra o Gráfico 7,
constatou-se que 61,4% (27) é do sexo masculino e 38,6% (17), do sexo feminino.
Em conformidade com o Gráfico 8, 93,2 % (41) dos entrevistados são brasileiros e 6,8%
(3), estrangeiros.
Com relação ao cargo exercido nos restaurantes, o Gráfico 9 revela que 56,8% (25) dos
entrevistados são gerentes; 36,1% (15) proprietários e 9,1% (4) chefs de cozinha.
102
Quanto à faixa etária, o Gráfico 10 demonstra que 29,5% (13) tem mais de 50 anos e
29,5% (13), de 35 a 45 anos.
O Gráfico 11 revela que 47,7% (21) dos entrevistados têm ensino superior e 38,6% (17),
ensino médio.
103
Dentre os 47,7% (21) dos entrevistados que possuem ensino superior, 43,8% (9)
cursaram Gastronomia, 19% (4) Administração, 9,5% (2) Direito, 4,8% (1) Contabilidade,
4,8% (1) Marketing, 4,8% (1) Engenharia, 4,8% (1) Nutrição, 4,8% (1) Pedagogia e 4,8% (1)
Jornalismo. Estes dados sugerem uma tendência tímida dos gestores em profissionalizarem-se
na área de gastronomia.
No que diz respeito ao nível de instrução exigido aos funcionários, a maioria dos
restaurantes (43,2%) exige ensino médio, como está demonstrando a Tabela 3.
Tabela 3: Frequência absoluta e relativa das questões sobre o nível de instrução exigido aos
funcionários dos restaurantes
Variável Categoria Nº %
Ensino Médio 19 43,2
Não há exigência 13 29,5
Nível de instrução Depende do cargo 6 13,6
Ensino Fundamental 6 13,6
Total 44 100
Fonte: Dados da pesquisa
A maior parte (91% - Tabela 5) dos gestores disse que conhece a culinária caiçara. Para
defini-la, as expressões mais utilizadas foram: “É a culinária da região”; “É baseada em peixes
e frutos do mar; “É a culinária do litoral”; “É a culinária voltada para peixes”. Apenas duas
definições destacaram-se por serem mais completas que a maioria: “É uma culinária simples,
saborosa, comida de mãe”; “É uma culinária que remete ao ambiente caiçara”.
Embora não estejam erradas, todas estão incompletas e não se aproximam da definição
de Diegues (2006) e Ferreira; Jankowsky (2009): culinária praticada no espaço litorâneo entre
o sul do Rio de Janeiro e o Paraná (da Baía de Angra dos Reis até Paranaguá), desenvolvida a
partir da miscigenação de hábitos portugueses, indígenas e africanos, tendo como base peixes,
caças, aipim, inhame, batata doce, farinha de mandioca, banana, frutas nativas, taioba, alfavaca,
palmito, etc.
Quando questionados sobre quais pratos da culinária caiçara são vendidos em seus
restaurantes (P1 – APÊNDICE B), excluindo os repetidos, os gestores citaram 64 pratos: 27
realmente caiçaras, segundo AMORIM (2014), FERREIRA; JANKOWSKY (2009), FORTES
FILHO (2005), PEÇANHA (2009) e 37 não pertencentes a esta culinária. Além destes, de forma
genérica, foram citados 14 ingredientes caiçaras, conforme está demonstrado no Gráfico 12, na
página seguinte.
105
40
35 37
30
25 27
20
15
14
10
0
Pratos tradicionais da Ingredientes da culinária Pratos não tradicionais da
culinária caiçara caiçara culinária caiçara
Gráfico 12: Número de pratos da culinária caiçara citados pelos entrevistados como vendidos
nos restaurantes.
Fonte: Dados da pesquisa.
29
Por “tradição inventada” entende-se um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácitas ou abertamente
aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da
106
repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade, em relação ao passado. Aliás, sempre que possível, tenta-se
estabelecer uma continuidade com um passado histórico apropriado. (...) O termo tradição inventada é utilizado em um sentido
amplo, mas nunca indefinido. Inclui tanto as tradições realmente inventadas, construídas e formalmente institucionalizadas,
quanto as que surgiram de maneira mais difícil de localizar num período limitado e determinado de tempo — às vezes coisa de
poucos anos apenas — e se estabelecem com enorme rapidez. (...) As “tradições inventadas” são reações a situações novas que
ou assumem a forma de referências a situações anteriores, ou estabelecem seu próprio passado através da repetição quase que
obrigatória. É o contraste entre as constantes mudanças e inovações do mundo moderno e a tentativa de estruturar de maneira
imutável e invariável ao menos alguns aspectos da vida social que torna a “invenção de tradições” um assunto da história
contemporânea (HOBSBAWN,1984).
107
Também não foram encontrados na literatura registros de que a Casquinha de Siri seja
um prato tradicional caiçara, entretanto, pela maneira como é apresentada (numa concha), pelo
número de restaurantes da Baixada Santista que a oferecem e pela forma que foi incorporada
pelos moradores da região como um prato caiçara, pode-se arriscar dizer que também é uma
tradição inventada. Quanto à Caldeirada, tanto a de peixe como a de camarões são consideradas
um prato caiçara. Os frutos do mar, embora sejam ingredientes, são muito utilizados na culinária
caiçara.
Alguns pratos chamaram atenção por seus nomes remeterem a outros estados ou países,
e mesmo assim serem citados como caiçaras:
Bacalhau à espanhola;
Badejo à napolitana;
Camarão à baiana;
Lagosta à belle meunière;
Lagosta à fiorentina;
Lula à provençal;
Paella;
Polvo à espanhola;
Polvo à provençal;
Salmão à belle meunière;
Salmão à fiorentina;
Diante destes dados, nota-se que a maioria dos entrevistados, embora tenha dito que
conhece a culinária caiçara, quando citou os pratos oferecidos nos restaurantes, revelou um
conhecimento limitado, sendo frequente a associação da culinária somente a pratos à base de
peixes e frutos do mar. Pouquíssimos entrevistados referenciaram outros ingredientes, como
mandioca, farinha de mandioca, inhame, taioba, etc. A associação com pescados é tão enraizada
que alguns citaram pratos de outras nacionalidades sem se darem conta da contradição.
108
Todavia, sendo os pescados a base da culinária caiçara, supõe-se que a demanda seja boa nos
restaurantes pesquisados.
Por meio da maioria das conversas com os gestores, a pesquisadora percebeu que os
cardápios não são reformulados constantemente, conforme a sazonalidade dos alimentos, a
mudança da estação climática e as novas tendências gastronômicas. Também notou que os
gestores não fazem uso de ferramentas gerenciais importantes como fichas técnicas e
engenharia de cardápios, fundamentais para apurar a margem de contribuição e a porcentagem
de vendas de cada prato.
Constatou-se que a maior parte dos restaurantes, principalmente os mais antigos, contam
com uma gestão familiar que adota a filosofia “não se mexe em time que está ganhando”.
Muitos gestores mencionaram atender a clientes há mais de 30, 40 anos e, por receio de “perdê-
los”, não se sentem seguros em mudar o cardápio.
Devido a estes fatores, é difícil avaliar com exatidão a demanda dos pratos, pois não se
pode afirmar com infalibilidade que não há demanda para pratos novos se os gestores nunca se
arriscam em oferecê-los.
5.2.2 Hospitalidade
Nossos garçons trabalham com a gente há muito tempo, têm relação familiar com os clientes,
são amigos dos clientes. Há garçons com 30 anos de casa. O proprietário viu as famílias
crescerem.
É praticada de forma subjetiva, não há regra, mas nosso espírito de bom atendimento acaba
chegando a um certo grau de hospitalidade. Nós não impomos isso nos treinamentos, mas é o
perfil de cada um dos atendentes, cultivamos isso no dia a dia.
O foco do restaurante é fidelizar os clientes, por isso buscamos sempre um serviço de qualidade
e um atendimento excelente para com os nossos clientes. Para os clientes habituè, temos preços
especiais e presenteamos com alguns brindes, como uma cortesia.
O cliente é sempre bem recebido, com cordialidade. Fazemos de tudo para que sintam-se bem
e saiam satisfeitos.
A hospitalidade dos funcionários é a que eles aprendem na vida, nada profissional, então aqui
no restaurante é praticado este tipo de hospitalidade.
Os clientes são tratados pelo nome, os garçons servem um atendimento com respeito e
organização.
A hospitalidade é boa porque temos clientes que frequentam o restaurante há 30, 40 anos.
Nós atendemos as pessoas com muita educação e carinho, tentando deixá-las à vontade, como
se estivessem em casa.
Os clientes são recepcionados na porta e levados até a mesa. Também chegam de helicópteros
e lanchas e são todos levados até a mesa.
Tem a recepcionista que acompanha até a mesa. Quando o restaurante está cheio, os clientes
aguardam encostados na parede, dentro do restaurante.
Os funcionários são orientados a sorrirem sempre, serem gentis e, sempre que possível, nunca
dizer não a qualquer solicitação dos clientes.
Os garçons recebem os clientes, indicam uma mesa, esperam eles se acomodarem, levam o
cardápio, tiram o pedido e ficam sempre atentos.
Aplicamos pesquisa de qualidade. Também já conhecemos quem é “de fora” ou não, então
tratamos os clientes de forma única.
Fica um garçom na porta, encaminha para as mesas, dá informações, sugestões. A maioria dos
funcionários tem bastante tempo de casa, atende da melhor maneira possível, mas alguns
clientes são mal-educados.
Assim que os clientes chegam, são recebidos com uma taça de espumante.
Recebemos o cliente com sorriso no rosto, sendo cordiais e gentis o tempo todo.
Quadro 15: Práticas de hopitalidade adotadas pelos restaurantes, segundo os gestores.
Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados da pesquisa.
Sem dúvida, se o cliente não se sente bem ou à vontade, o retorno não é garantido.
Sim, como nosso restaurante tem mais de 70 anos de tradição, prezamos a hospitalidade, afinal
nossos clientes são clientes de longa data, famílias que conhecem o restaurante por meio de
avós e continuam vindo com seus filhos e os clientes que estão presentes em nosso restaurante
ou pedindo por delivery todos os dias ou todos os finais de semana. Para chegarmos onde
chegamos, a hospitalidade foi fundamental.
Com certeza, sem hospitalidade os clientes não voltam e levam dez com eles.
Sim, porque o cliente gosta de ser bem atendido e faz a propaganda para outras pessoas.
Super-importante, porque devemos agradar nossos clientes oferecendo a eles total atenção.
Para nós, os clientes são importantes para nosso restaurante. Educação, atenção e bons modos
são fundamentais em nosso estabelecimento.
Em momento de crise, é inevitável. Além de tudo, adoro meus clientes, que muitas vezes são
meus amigos.
Essencial, porque se não recebermos bem, o cliente não volta e o cliente santista é muito
exigente. É o carro-chefe, a primeira impressão é a que fica.
Muito importante. Vemos isso na prática. O cliente vem buscando isso. Nosso restaurante é
frequentado por muitos idosos, clientes que foram envelhecendo e frequentando o restaurante
e que buscam por hospitalidade.
O cliente precisa ter um bom tratamento para ter as melhores sensações. Porque o serviço do
restaurante é muito maior que servir comida. Tem de haver todo um tratamento por trás.
Muito importante, uma vez que o cliente não compra somente a comida, e sim a experiência
como um todo.
Sim, ainda mais numa cidade turística, que os clientes querem descansar.
Quadro 16: A importância da hospitalidade para o sucesso dos restaurantes, segundo os gestores.
Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados da pesquisa.
113
Analisando este conteúdo, nota-se que para a maioria dos entrevistados, hospitalidade é
sinônimo de atender bem o cliente, com simpatia, sorriso no rosto e cordialidade, de forma que
se sinta em casa. Todos a consideram essencial para o sucesso dos restaurantes, principalmente
porque garante a fidelização da clientela. No que se refere a sua prática, não fizeram menção a
treinamentos ou implementação de processos voltados à hospitalidade. Também não citaram o
entretenimento, o ambiente, as instalações físicas e a manutenção das tradições culturais como
itens importantes para promover a sensação de hospitalidade.
Por meio da tão citada expressão “deixamos o cliente à vontade, como se estivesse em
sua casa”, percebe-se que a hospitalidade é realizada de forma instintiva na maioria dos casos,
obedecendo apenas ao ritual de receber o cliente na porta, acomodá-lo e atendê-lo com gentileza
e atenção. Alguns gestores deixaram explícito que contam com a hospitalidade inata de seus
colaboradores e muitos revelaram que mantêm um vínculo de amizade com seus clientes
formado a partir da hospitalidade oferecida por eles.
Embora dê a impressão que a hospitalidade adotada pelos restaurantes seja semelhante
à hospitalidade doméstica, por meio das expressões “garante o retorno do cliente”, “porque o
cliente volta”, “faz o cliente retornar e ainda trazer mais seis”, “porque o cliente volta quando
se sente bem tratado”, percebe-se que é fomentada pelo interesse econômico, caracterizando a
hospitalidade no domínio comercial. Entretanto, isto não impossibilita a formação de vínculos
de amizade com os clientes, confirmando a teoria de Telfer (2004), que diz que é possível ser
hospitaleiro mesmo sendo beneficiado monetariamente.
Tem-se, então, que ao relacionarem a prática da hospitalidade somente à recepção,
acomodação e alimentação, a visão dos gestores é limitada e não condizente com a de alguns
pesquisadores que sugerem que o exercício da hospitalidade envolve tanto o espaço geográfico
onde ela se dá — no caso dos restaurantes, as instalações físicas — como o planejamento e a
organização de seus recursos materiais, humanos, naturais e financeiros (WADA, 2003;
CAMARGO, 2004; PAULA, 2002) “Ela implica, também, na preservação dos traços culturais,
na manutenção das tradições” (PAULA, 2002, p. 71).
Tabela 5: Frequência absoluta e relativa das perguntas sobre treinamentos e qualidade versus
hospitalidade.
QUALIDADE DE SERVIÇOS
Capacitação Quant. % Qualidade X Hospitalidade Quant. %
Oferece 29 66 Não há diferença 32 73
Não oferece 15 34,1 Há diferença 10 23
Não sabe 1 2,3
Às vezes 1 2,3
Total 44 100 44 100
Fonte: Dados da pesquisa.
Nos 29 (66%) restaurantes que oferecem treinamentos, segundo o Gráfico 13, o curso
mais oferecido é o de higiene e manipulação de alimentos, seguido pelo de atendimento ao
cliente e dos oferecidos pelo Sindicado de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Baixada
Santista e Vale do Ribeira (SinHoRes).
A alta aderência ao curso de higiene e manipulação provavelmente deve-se à exigência
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) realizada por meio da Resolução RDC
nº 216, de 15 de setembro de 2004, que dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas
para Serviços de Alimentação e determina que o responsável pelas atividades de manipulação
dos alimentos deve ser comprovadamente submetido a curso de capacitação, abordando, no
mínimo, os seguintes temas: contaminantes alimentares; doenças transmitidas por alimentos;
manipulação higiênica dos alimentos; boas práticas. A percepção, já demonstrada nas respostas
sobre hospitalidade, de que o cliente bem atendido retorna e indica novos clientes, talvez
explique o treinamento de atendimento aos clientes. Sobre os cursos oferecidos pelo SinHoRes,
são diversos (confeitaria básica, básico de sushi e sashimi, qualificação em coquetelaria,
qualificação profissional ao garçom, etc.) e seus preços, para associados, variam de R$30,00 a
R$300,00, conforme a duração (SinHoRes, 2016).
115
0 10 20 30 40 50 60 70
Número de Restaurantes %
Também como demonstra a Tabela 5, na página anterior, a maior parte dos entrevistados
(73%) afirmou que não há diferença entre hospitalidade e qualidade de serviços e as
expressões mais utilizadas nas respostas foram: “Trabalham juntas”; “Trabalhamos isso em
conjunto”; “Estão relacionados”; “Os dois tem que estar juntos”; “A qualidade de serviço está
atrelada à hospitalidade”; “Um está ligado ao aoutro”; “É uma coisa só”; “É um conjunto”.
Algumas justificativas destacaram-se por serem mais completas e estão relacionadas no Quadro
17, na página seguinte.
116
Trabalham juntos, o garçom precisa saber servir a mesa, ser simpático, carregar a bandeja,
conversar e escutar o cliente.
A hospitalidade já é uma das qualidades do nosso serviço. Nós tratamos o cliente da melhor
forma possível e sabemos que dessa forma nosso serviço irá se destacar.
Não há diferença, até porque é dever de todos os garçons oferecer total atenção aos clientes,
servindo eles sempre que tiverem alguma dúvida, os garçons sempre estarão ali para ajudá-
los e servi-los.
Ao meu ver, para você ser hospitaleiro tem que haver qualidade, uma coisa está englobada na
outra, afinal, serviço de qualidade é uma forma de hopitalidade. O cliente se sente à vontade e
quer voltar mais vezes.
Os dois estão relacionados. A qualidade de serviço envolve o bom atendimento e a boa comida,
isto é hospitalidade!
Não há diferença. A meta é ter e manter os dois como base para manter o restaurante aberto.
A parceria dos dois é muito importante. Um sorriso e uma cortesia têm total relação com a
atenção que nossos clientes oferecem.
A hospitalidade e a qualidade do serviço andam juntas, mas é mais dificil manter a qualidade.
Um completa o outro.
Quadro 17: Diferença entre hospitalidade e qualidade, segundo os gestores.
Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados da pesquisa.
Dentre aqueles que disseram haver diferença (23%), as respostas mais relevantes estão
no Quadro 18, na página seguinte.
117
Sim, hospitalidade é saber falar com o cliente e qualidade é o atendimento dos garçons.
Sim, qualidade do serviço é o mínimo que se deve ao cliente. Ele paga por isso. A hospitalidade
é algo mais.
Sim, hospitalidade é você receber bem o cliente, desde o momento em que chega ao restaurante.
Qualidade do serviço é o colaborador ser sempre treinado para prestar um serviço com
excelência.
São duas coisas distintas. Hospitalidade é toda a parte do atendimento e qualidade do serviço
é tudo que entregamos para o nosso cliente, como o produto, o ambiente, etc.
Sim, qualidade do serviço é medida no salão e na cozinha, a hospitalidade somente no salão.
Às vezes, há. A qualidade relaciona-se com os serviços, com o produto vendido, que no nosso
caso é a comida. A hospitalidade é o atendimento cordial. Um depende do outro, mas pode ser
avaliado individualmente.
Considerando que o tratamento oferecido ao cliente gera uma imagem positiva ou não
de um restaurante, a hospitalidade se liga diretamente com a qualidade dos serviços prestados
e, portanto, os entrevistados não estão equivocados quando disseram que “caminham juntos”.
Senge (1998) comenta que a sustentabilidade da vantagem competitiva de uma
organização, seja ela qual for, depende diretamente do empenho do fator humano. A
organização, que tem como vantagem competitiva a diferenciação pela gestão da qualidade,
deverá ter um esforço voltado para a superação das dificuldades inerentes ao tratamento do
comportamento do indivíduo que está inserido em seu meio.
30
A mediana é uma medida de posição que divide a amostra ao meio, ou seja, demonstra que 50% dos dados estão
acima do valor da mediana e 50% abaixo. Esta é uma estatística analisada em relação à média, pois quanto mais
próximo seu valor for em relação à média, mais simétrica será a distribuição. Já uma distribuição assimétrica
possui uma grande variabilidade (FONSECA; MARTINS, 1996).
31
A variabilidade é medida pelo desvio padrão. Quanto mais próximo (ou maior) esse valor for em relação à
média, maior será a variabilidade, o que demonstra heterogeneidade dos dados (FONSECA; MARTINS, 1996).
119
Tabela 7: Frequência absoluta e relativa dos pratos tradicionais da culinária caiçara vendidos
nos restaurantes.
Prato nº % Prato nº %
Marisco à vinagrete 34 77,3 Lula no bafo 9 20,5
Camarão à paulista 33 75 Purê de mandioca 9 20,5
Filé de pescada com camarão 33 75 Peixe a escabeche 8 18,2
Lula frita 32 73 Peixe com coco ralado 8 18,2
Camarão frito 31 70,5 Pescada amarela ensopada 8 18,2
Peixe com pirão 31 70,5 Filé com torradas 7 16
Farofa de farinha de mandioca 27 61,4 Afogado 7 16
Pirão de peixe 26 59,1 Cuscuz de peixe 6 13,6
Farofa de banana 24 54,5 Bolinho caiçara 5 11,4
Mandioca frita 20 45,5 Purê de banana 5 11,4
Tainha assada 19 43,2 Sopa de peixe 5 11,4
Lambe-lambe 18 41,1 Arroz com siri 4 9,1
Ostra 18 41,1 Caranguejo ensopado 4 9,1
Arroz com camarão 17 39 Galinhada 4 9,1
Farofa de camarão 16 36,4 Bolo de mandioca 3 7
Caldeirada de bagre 15 34,1 Tainha com banana 3 7
Camarão na moranga 15 34,1 Cação caiçara 2 4,5
Lula ensopada 15 34,1 Camarão casadinho 2 4,5
Marisco ao molho 15 34,1 Casadinho de Manjuba 2 4,5
Arroz com palmito 14 32 Doce de mamão 2 4,5
Moqueca caiçara 14 32 Peixe ensopado com banana 2 4,5
Molho de pimenta de cheiro 11 25 Quibebe 2 4,5
Bobó de camarão 10 23 Tapioca 2 4,5
Ostra gratinada 10 23 Anchova recheada 1 2,3
Tainha na grelha 10 23 Ostra na brasa 1 2,3
Bolinho de arroz 9 20,5 Peixe com batata-doce 1 2,3
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 8: Distribuição dos pratos caiçaras por tempo de atividade dos restaurantes.
T. Atividade Quant. % Média Mediana
Mais de 21 anos 29 65,9 16,3 14
De 16 a 20 anos 2 4,5 42 28
De 11 a 15 anos 6 13,6 10,16 7
De 6 a 10 anos 4 9,1 7,5 6
De 2 a 5 anos 2 4,5 6 6
Menos de 2 anos 1 2,3
44 100
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 9: Distribuição dos pratos caiçaras de acordo com localização dos restaurantes.
Analisando a Tabela 10, na página seguinte, observa-se que as questões mais bem
pontuadas, cuja mediana foi 5 (concordo totalmente), foram:
P4 - A prática da hospitalidade é um diferencial competitivo para o meu restaurante;
P8 - Os clientes percebem e elogiam a hospitalidade oferecida no restaurante;
P13 - A prática da hospitalidade contribui para a fidelização dos clientes.
Tabela 10: Frequência absoluta e relativa de cada resposta nas questões de escala Likert
seguida da mediana de cada questão.
Resposta
Mediana
Variável N %
1 2 3 4 5 Total 1 2 3 4 5 Total
P1 22 14 5 1 1 44 51,2 32,6 11,6 2,3 2,3 100,0 1
P2 10 9 12 8 5 44 22,7 20,5 27,3 18,2 11,4 100,0 3
P3 19 16 3 4 2 44 43,2 36,4 6,8 9,1 4,5 100,0 2
P4 2 3 2 11 26 44 4,5 6,8 4,5 25,0 59,1 100,0 5
P5 1 2 3 21 17 44 2,3 4,5 6,8 47,7 38,6 100,0 4
P6 4 15 18 5 2 44 9,1 34,1 40,9 11,4 4,5 100,0 3
P7 14 13 10 5 2 44 31,8 29,5 22,7 11,4 4,5 100,0 2
P8 0 0 1 17 26 44 0,0 0,0 2,3 38,6 59,1 100,0 5
P9 14 19 5 4 2 44 31,8 43,2 11,4 9,1 4,5 100,0 2
P10 13 11 9 7 4 44 29,5 25,0 20,5 15,9 9,1 100,0 2
P11 0 2 3 20 19 44 0,0 4,5 6,8 45,5 43,2 100,0 4
P12 29 14 0 1 0 44 65,9 31,8 0,0 2,3 0,0 100,0 1
P13 0 0 1 12 31 44 0,0 0,0 2,3 27,3 70,5 100,0 5
P14 13 15 8 5 3 44 29,5 34,1 18,2 11,4 6,8 100,0 2
P15 2 3 11 14 14 44 4,5 6,8 25,0 31,8 31,8 100,0 4
P16 2 8 11 8 15 44 4,5 18,2 25,0 18,2 34,1 100,0 4
P17 2 10 15 12 5 44 4,5 22,7 34,1 27,3 11,4 100,0 3
P18 27 14 1 1 1 44 61,4 31,8 2,3 2,3 2,3 100,0 1
P19 2 1 7 17 17 44 4,5 2,3 15,9 38,6 38,6 100,0 4
P20 9 12 19 3 1 44 20,5 27,3 43,2 6,8 2,3 100,0 3
Fonte: Dados da pesquisa.
Interpretando estes dados, constata-se que a maioria dos gestores concorda totalmente
que a prática da hospitalidade é um diferencial competitivo, percebido pelos clientes, e que
contribui para a sua fidelização. Também considera seus funcionários treinados para realizarem
um atendimento hospitaleiro. Comparando com os resultados qualitativos, observa-se
incoerência somente no que se refere ao treinamento, pois nenhum gestor mencionou propiciar
treinamento específico de hospitalidade, ficando claro que a hospitalidade oferecida é intuitiva
e dependente da natureza humana dos colaboradores.
123
Verifica-se que a maior parte dos entrevistados concorda que gosta da culinária caiçara,
que não tem dificuldade em adquirir seus ingredientes, que detém um bom conhecimento sobre
ela e, por estes motivos, é bem representada em seus restaurantes. Sobre sua demanda, a maioria
concorda que existe e que os visitantes a solicitam mais que os moradores da região. Nota-se
que não sabem responder se a demanda por outros pratos é maior do que por pratos da culinária
caiçara e se sua oferta está vinculada à demanda. As questões com pontuação invertida, que
tiveram mediana ente 1 e 2, confirmam estas constatações.
Traçando um paralelo com as respostas dadas às questões abertas, não foram observadas
contradições, mas confirmam-se alguns equívocos. Os entrevistados têm um conhecimento
limitado sobre a culinária caiçara, aquém do que acham ter. Isto compromete as questões sobre
demanda, porque ao associarem a culinária caiçara a qualquer prato com pescados, não se pode
dizer que a demanda é específica pela culinária caiçara e sim por preparações com peixes e
frutos do mar. Também é equivocada a ideia de que a culinária caiçara é bem representada,
visto que oferecem muitos pratos com pescados, mas nem todos são caiçaras.
Finalmente, quanto à questão sobre qualidade de serviços, verifica-se que os
entrevistados não sabem dizer se a qualidade dos serviços prestados é mais importante que a
prática da hospitalidade, confirmando o que demonstraram nas respostas às questões abertas,
que não têm claro o conceito de hospitalidade e qualidade de serviços.
Após estas análises, as questões da escala Likert foram agrupadas em três variáveis
(demanda, conhecimento e hospitalidade) e para cada uma foi calculada a mediana.
Observa-se na Tabela 11, que para demanda a mediana foi de 2.7, para conhecimento foi de 2.6
e para hospitalidade 4. Aplicando-se o teste do sinal para a mediana, percebe-se que o p-valor
não foi significativo para demanda e conhecimento, indicando que sua mediana é
estatisticamente menor ou igual a 3 e foi significativo para hospitalidade (p-valor <0.0001)
indicando que sua mediana é superior a 3, ou seja, a percepção é de que a hospitalidade é bem
valorizada pelos entrevistados.
Tabela 11: Média, mediana e desvio padrão das variáveis demanda, conhecimento e hospitalidade e
teste para mediana <=3.
Desvio
Variável Média Mediana S p-valor
padrão
Demanda 2.7 2.7 0.4 8.00 1.0000
Conhecimento 2.7 2.6 0.4 4.00 1.0000
Hospitalidade 4.0 4.2 0.5 41.00 <0.0001
Fonte: Dados da pesquisa.
124
Embora as medianas das categorias demanda e conhecimento tenham sido baixas, não
se pode dizer que é um resultado ruim, já que três das cinco questões de conhecimento são
invertidas, isto é, são questões em que pontuações baixas (1- discordo totalmente e 2 -
discordo) representam uma resposta favorável. O mesmo acontece para as questões da
categoria demanda, cinco das dez questões são invertidas. Portanto, confirma-se que a demanda
é considerada boa pelos entrevistados e que conhecem a culinária caiçara.
Para cada variável, foi calculado o alpha de Cronbach, para demanda o valor foi 0,19,
para conhecimento -0,74 e para hospitalidade o valor foi aceitável, 0,61, conforme mostra a
Tabela 12.
Devido à inconsistência identificada nas variáveis demanda e conhecimento, foi
realizado o mesmo teste eliminando algumas questões que apresentaram mediana diferente do
restante das questões de seu grupo. Dessa forma, eliminaram-se as questões 16 e 19 na variável
demanda, 5 e 15 na variável conhecimento e 20 na variável hospitalidade.
Esta alteração fez com que a consistência aumentasse em todos os casos, para demanda
o valor do alpha de Cronbach aumentou para 0,61 e para conhecimento aumentou para 0,53, o
que ainda é ligeiramente abaixo do desejável. Para hospitalidade, o valor do alpha de Cronbach
foi para 0,75.
Garson (2005), Pestana e Gageiro (2003), Nunnally (1978) e Taylor et al (2003)
recomendam que a adequação e a satisfatoriedade do modelo alfa sejam testadas usando-se os
seguintes critérios: índices alfa superiores a 0,80 são considerados desejáveis;
índices superiores a 0,70 são considerados recomendados; índices superiores a 0,60 devem ser
aceitos apenas para uso em pesquisas sociais (desaconselhável o uso clínico). Sendo
assim, qualquer resultado superior a 0,60 pode ser interpretado como uma consistência interna
satisfatória, no enquadramento desta pesquisa. Portanto, somente as questões da variável
conhecimento precisam ser aperfeiçoadas.
Com o mesmo intuito, foi realizada a correlação de Pearson das categorias demanda e
conhecimento com o número de pratos. Nota-se na Tabela 14 que a associação entre demanda
e número de pratos é insignificante, visto que o p-valor foi abaixo de 0,3 e a associação entre
conhecimento e número de pratos foi considerada fraca, já que o p-valor está entre 0,3 e 0,5.
Estes dados demonstram que o número de pratos caiçara vendidos não varia
significativamente conforme as respostas para demanda e conhecimento. Exemplificando, o
fato de um entrevistado dizer que há demanda e que conhece a culinária caiçara não significa
que ofereça mais pratos dessa culinária no seu restaurante. Contudo, diante da constatação
baseada nas demais análises, de que a maioria dos entrevistados tem um conceito equivocado
sobre a culinária caiçara, estas correlações não são conclusivas, mas apenas confirmam que a
maior parte dos gestores acha que conhece a culinária caiçara e que ela é bem representada em
seus restaurantes.
126
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas entrevistas, a maior parte dos gestores disse que não há diferença entre qualidade
de serviços e hospitalidade e, de uma forma geral, que são complementares e que “caminham
juntas”. Já no questionário Likert, concordaram completamente que a hospitalidade é um
diferencial competitivo.
As três hipóteses levantadas no início do estudo foram confirmadas: [H1] A demanda
por pratos típicos da culinária caiçara é um fator que interfere na representatividade dessa
culinária nos restaurantes; [H2] O conhecimento dos gestores sobre culinária caiçara é um fator
que interfere na representatividade dessa culinária nos restaurantes; [H3] A prática da
hospitalidade nos restaurantes é considerada um fator diferencial competitivo pelos gestores.
No que diz respeito aos procedimentos metodológicos adotados, a união dos métodos
qualitativo e quantitativo foi favorável, pois permitiu uma análise completa. As entrevistas
possibilitaram entender a percepção dos gestores sobre culinária caiçara e as práticas de
hospitalidade. Já a aplicação do método quantitativo propiciou o cruzamento dos dados e a
confirmação das hipóteses.
A pesquisadora teve dificuldade de relacionar os restaurantes especializados em peixes
e frutos do mar, pois não há um rigor ou uma norma que estabeleça a tipologia dos restaurantes.
Na literatura, inclusive, há diversas classificações que não chegam a um consenso. As Juntas
Comerciais dos municípios e os Sindicatos não dividem os restaurantes por tipo. Vários
restaurantes apresentam-se como especializados em suas fachadas mas, provavelmente para
atingir um número maior de clientes, oferecem inúmeras preparações à base de carnes, massas,
aves, etc., descaracterizando o conceito inicial.
Talvez os motivos que levem os restaurantes pesquisados a não estarem em consonância
com as tendências atuais da gastronomia e os seus gestores a possuírem um conhecimento
equivocado sobre culinária e uma visão limitada sobre hospitalidade sejam: terem sido
inaugurados há mais de vinte anos, quando não se falava em culinária regional e pratos
internacionais eram muito valorizados; conservarem funcionários antigos, sem a preocupação
de atualizá-los; não exigirem especialização na contratação de colaboradores; contarem com
uma clientela fiel e por isso recearem mudanças nos cardápios; e encontrarem na concorrência
restaurantes similares. Uma análise mais profunda sugere que a extinção de diversas
comunidades caiçaras da Baixada Santista em virtude da especulação mobiliária e a forte
influência das migrações portuguesa e espanhola nos restaurantes da região, também
contribuíram para que a culinária caiçara fosse esquecida.
131
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151
APÊNDICES
Q.5 Ticket médio (valor médio gasto por Q.6 Número de pratos no cardápio:
cliente):
( ) até 10 pratos
( ) até R$ 30,00
( ) de 11 a 20 pratos
( ) R$31,00 a R$60,00
( ) de 21 a 30 pratos
( ) R$61,00 a R$80,00
( ) mais de 31 pratos
( ) R$81,00 a R$100,00
( ) acima de R$101,00
Q. 11 Escolaridade do entrevistado:
( ) ensino fundamental ( ) superior. Qual curso? _____________
( ) ensino médio ( ) pós graduação. Qual curso? __________
152
( ) Ensino Fundamental
( ) Ensino Médio
( ) Ensino Superior
( ) Não há exigência mínima
APÊNDICE B: Roteiro da entrevista semiestruturada.
P3. Os pratos caiçaras são mais solicitados por moradores da região ou por
visitantes?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Ciente: ________________________________
Data: ___/___/___
Agradeço e subscrevo-me
Atenciosamente,
_____________________________
Luciana Marchetti da Silva
RG. 25.181.182-7
IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS RESTAURANTES QUESTIONÁRIO FUNDAMENTADO NA ESCALA LIKERT PRATOS
Informações sobre os Restaurantes Informações sobre os entrevistados Info. Funcionários 1 = DT /2= D / 3= NC/ND / 4= C / 5= CT N.º dePratos Caiçaras
R Local Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 Q11 Q12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Total: 61 Pratos
R1 SV 11 a 15 31 a 50 21 a 50 à la carte 31 a 60 mais de 31 M B Gerente mais de 50 Médio Fundamental 1 2 1 4 4 2 1 4 2 1 4 1 4 1 5 2 2 1 5 2 6
R2 SV mais de 21 31 a 50 21 a 50 misto 61 a 80 mais de 31 M B Gerente mais de 50 S -Contabilidade Ensino Médio 1 4 4 4 4 2 2 4 1 1 5 1 5 1 5 5 3 1 5 1 37
R3 SV mais de 21 mais de 51 21 a 50 à la carte 31 a 60 mais de 31 M B Gerente mais de 50 Médio Médio 2 2 1 4 4 4 1 5 1 1 5 1 4 1 5 5 4 1 5 2 19
R4 SV mais de 21 31 a 50 21 a 50 à la carte 31 a 60 mais de 31 M E Proprietário 35 a 45 S -Marketing Fundamental 1 3 1 5 4 3 1 5 4 3 4 1 5 2 4 3 3 2 3 3 17
R5 SV mais de 21 mais de 51 11 a 20 self service kg até 30 mais de 31 F B Proprietária 45 a 50 S-Nutrição Fundamental 1 5 2 5 5 3 3 5 2 2 5 1 5 2 4 4 2 1 4 3 24
R6 STOS mais de 21 11 a 30 11 a 20 à la carte 81 a 100 de 11 a 20 M B Proprietário mais de 50 S-Gastronomia Médio 4 2 1 4 3 5 5 4 2 3 2 1 4 3 3 3 3 1 5 3 10
R7 STOS mais de 21 31 a 50 21 a 50 à la carte 61 a 80 mais de 31 M B Gerente 46 a 50 Médio Depende do cargo 1 3 2 5 5 3 2 5 2 4 4 1 5 4 4 3 3 1 4 3 12
R8 STOS 6 a 10 11 a 30 1 a 10 à la carte 31 a 60 11 a 20 F B Gerente 35 a 45 Médio Médio 2 4 2 4 4 2 2 4 4 4 3 2 4 2 3 5 3 2 2 4 9
R9 STOS mais de 21 mais de 51 mais de 50 à la carte 61 a 80 mais de 31 M B Proprietário 26 a 34 PG - Gastronomia Médio 2 4 2 3 4 2 3 4 2 4 4 2 4 4 3 4 2 2 4 3 7
R10 STOS 11 a 15 11 a 30 11 a 20 à la carte 81 a 100 mais de 31 F B Proprietário 35 a 45 S- Gastronomia Não há exigência 1 1 1 1 4 2 1 4 1 1 4 1 5 1 5 1 5 1 5 1 13
R11 STOS mais de 21 mais de 51 11 a 20 misto 31 a 60 mais de 31 F B Gerente 35 a 45 S- Jornalismo Fundamental 2 3 2 5 5 3 3 5 3 2 5 2 5 3 4 3 3 2 4 2 14
R12 STOS mais de 21 31 a 50 11 a 20 à la carte 61 a 80 mais de 31 M B Gerente mais de 50 Fundamental Não há exigência 2 2 2 5 4 2 3 5 2 3 5 2 5 2 5 5 4 2 4 1 23
R13 STOS mais de 21 11 a 30 11 a 20 à la carte 31 a 60 mais de 31 F B Gerente menos de 25 S- Gastronomia Depende do cargo 1 2 1 5 5 2 2 5 1 2 5 1 5 2 4 5 4 1 3 2 4
R14 STOS mais de 21 11 a 30 1 a 10 misto acima de 101 de 21 a 30 M B Gerente menos de 25 Médio Médio 5 2 1 1 4 1 1 4 2 2 4 2 4 2 4 4 4 1 4 1 13
R15 STOS mais de 21 31 a 50 11 a 20 à la carte 31 a 60 de 21 a 30 F B Gerente 35 a 45 Médio Não há exigência 1 1 3 5 5 3 1 5 3 3 5 1 5 1 5 3 3 1 5 5 11
R16 STOS 2a5 mais de 51 21 a 50 à la carte 81 a 100 mais de 31 F B Gerente 26 a 34 S- Engenharia Médio ´1 1 1 5 2 3 2 4 2 1 4 1 5 2 4 3 4 1 4 2 4
R17 STOS menos de 2 11 a 30 11 a 20 à la carte acima de 101 21 a 30 F B Gerente 26 a 34 S- Gastronomia Depende do cargo 1 5 4 5 2 4 2 5 1 5 5 2 5 1 3 5 1 4 3 3 2
R18 STOS mais de 21 31 a 50 11 a 20 à la carte acima de 101 mais de 31 M B Gerente 46 a 50 Médio Não há exigência 1 3 1 5 5 3 3 5 1 3 5 1 5 3 5 3 3 1 5 1 12
R19 STOS 11 a 15 31 a 50 21 a 50 à la carte 61 a 80 mais de 31 F B Gerente 35 a 45 Médio Não há exigência 2 2 2 5 5 3 3 5 2 3 4 2 5 3 2 3 2 2 3 3 4
R20 STOS 6 a 10 31 a 50 21 a 50 self service kg 31 a 60 mais de 31 M B Proprietário 35 a 45 S- Direito Não há exigência 1 1 1 5 5 3 2 5 1 1 4 1 5 1 5 3 5 1 5 3 17
R21 STOS 6 a 10 31 a 50 11 a 20 à la carte acima de 101 mais de 31 M B Chef de Coz. 26 a 34 S- Gastronomia Médio 2 3 2 5 4 3 1 5 2 3 4 1 5 2 4 4 3 1 5 3 1
R22 STOS 2a5 mais de 51 11 a 20 à la carte acima de 101 mais de 31 F B Gerente mais de 50 Médio Médio 2 2 2 2 4 3 4 4 2 2 2 2 4 2 4 2 4 2 4 2 8
APÊNDICE F– Tabulação dos dados no Excel
R23 STOS mais de 21 mais de 51 21 a 50 à la carte 61 a 80 mais de 31 M B Proprietário mais de 50 S- Administração Médio 2 4 2 5 3 2 2 4 2 2 4 2 5 1 3 4 3 1 4 3 4
R24 STOS mais de 21 11 a 30 21 a 50 à la carte 61 a 80 mais de 31 M B Gerente 46 a 50 Médio Não há exigência 2 1 1 4 4 3 4 4 1 1 4 2 5 2 5 3 4 1 4 3 34
R25 STOS 11 a 15 11 a 30 11 a 20 à la carte 31 a 60 mais de 31 M E Proprietário mais de 50 S- Gastronomia Fundamental 1 3 1 5 4 3 1 5 3 4 5 1 5 3 3 5 3 1 4 1 25
R26 GUA 16 a 20 11 a 30 1 a 10 self service kg até 30 mais de 31 F B Gerente 46 a 50 Fundamental Depende do cargo 3 3 1 2 4 3 3 5 1 1 5 1 5 2 4 3 2 1 4 2 42
R27 GUA mais de 21 mais de 51 mais de 50 à la carte acima de 101 mais de 31 M B Chef de Coz. menos de 25 Fundamental Fundamental 3 3 4 4 4 2 3 3 4 4 3 1 4 3 2 2 2 2 3 3 10
R28 GUA 11 a 15 31 a 50 21 a 50 à la carte 61 a 80 mais de 31 M B Gerente mais de 50 Médio Médio 3 4 2 5 5 4 2 5 3 2 5 1 5 3 3 2 3 1 4 3 5
R29 GUA mais de 21 11 a 30 11 a 20 à la carte 61 a 80 de 11 a 20 M B Gerente 46 a 50 Médio Médio 1 1 1 5 5 2 2 5 1 1 5 1 5 1 5 5 5 1 5 2 31
R30 GUA 11 a 15 mais de 51 21 a 50 à la carte acima de 101 mais de 31 M B Gerente 46 a 50 S- Direito Médio 1 5 2 5 4 2 4 5 4 2 4 1 5 4 3 5 4 1 4 3 8
R31 GUA mais de 21 mais de 51 21 a 50 à la carte acima de 101 mais de 31 M B Proprietário 35 a 45 S- Administração Depende do cargo 2 4 1 5 5 2 2 5 2 1 4 1 5 2 4 5 4 1 5 3 16
R32 GUA mais de 21 31 a 50 21 a 50 à la carte 81 a 100 mais de 31 F B Gerente 35 a 45 Médio Não há exigência 1 3 2 5 5 3 3 5 2 4 4 1 5 4 4 5 3 1 4 4 7
R33 GUA mais de 21 mais de 51 21 a 50 à la carte 61 a 80 mais de 31 F B Proprietário 35 a 45 S- Gastronomia Depende do cargo 1 1 1 5 1 1 1 4 2 2 5 1 5 1 3 2 4 1 5 2 25
R34 GUA 6 a 10 11 a 30 11 a 20 à la carte acima de 101 21 a 30 M B Chef de Coz. 26 a 34 S-Gastronomia Médio 2 3 3 4 4 3 4 4 2 4 4 2 4 4 3 2 2 2 3 2 3
R35 GUA mais de 21 11 a 30 11 a 20 à la carte 81 a 100 21 a 30 M B Proprietário mais de 50 S- Administração Não há exigência 3 5 5 5 5 1 5 5 5 5 5 1 5 5 1 1 1 5 1 1 10
R36 GUA mais de 21 31 a 50 21 a 50 à la carte 31 a 60 mais de 31 M B Proprietário mais de 50 Fundamental Médio 1 1 1 5 5 1 1 5 1 1 4 1 5 1 5 5 5 1 5 1 25
R37 GUA mais de 21 mais de 51 11 a 20 à la carte acima de 101 mais de 31 M B Proprietário 26 a 34 Médio Não há exigência 1 5 5 5 5 5 1 5 1 5 5 1 5 5 2 2 2 2 5 4 22
R38 GUA mais de 21 11 a 30 1 a 10 à la carte 31 a 60 mais de 31 F B Proprietária 46 a 50 S - Gastronomia Médio 1 2 2 4 4 2 1 5 2 2 4 1 4 2 5 4 4 2 5 3 14
R39 GUA mais de 21 11 a 30 21 a 50 à la carte acima de 101 mais de 31 M B Gerente 35 a 45 Médio Médio 2 3 2 2 4 3 2 4 2 3 4 2 4 2 4 4 2 2 4 2 19
R40 GUA mais de 21 mais de 51 mais de 50 à la carte 61 a 80 mais de 31 M B Gerente 26 a 34 S- Administração Não há exigência 1 3 1 5 5 4 1 5 1 1 5 1 5 1 5 5 4 1 5 1 17
R41 GUA mais de 21 11 a 30 1 a 10 à la carte até 30 até 10 M B Chef de Coz. mais de 50 Fundamental Não há exigência 1 1 1 5 5 2 1 5 1 1 5 1 5 1 5 5 5 1 5 2 19
R42 STOS mais de 21 11 a 30 1 a 10 à la carte acima de 101 mais de 31 F B Gerente 35 a 45 Médio Não há exigência 2 4 2 3 4 2 2 4 2 2 4 2 4 2 4 4 3 2 4 3 9
R43 STOS mais de 21 mais de 51 11 a 20 à la carte 81 a 100 mais de 31 F E Proprietária mais de 50 Médio Médio 1 1 3 4 3 3 4 4 5 5 5 2 5 5 1 5 2 2 1 3 9
R44 GUA 16 a 20 mais de 51 21 a 50 à la carte 61 a 80 mais de 31 F B Gerente 35 a 45 S-Pedagogia Médio 3 4 4 4 4 4 3 4 3 3 3 4 3 3 3 2 3 3 3 3 14