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CANOINHAS
2012
FLAVIA ALBERTINA PACHECO LEDUR
CANOINHAS
2012
Dedico esta dissertação primeiramente à
Deus, aos meus familiares e aos meus
amigos, pois, todos foram essenciais nesta
caminhada, mesmo nas horas mais difíceis,
souberam entender minhas ausências e me
fortaleceram, permitindo-me concluir mais
esta etapa de minha vida.
AGRADECIMENTOS
The theme of this study is the formal heritage education recognizer as part of the
cultural heritage in São Mateus do Sul - PR. Recently one notices a progressive
interest in the preservation of cultural heritage, as a formative element of their
identity. However, the processes of awareness and dissemination of cultural
heritage, should start early. The school is the space to track the development and
training of individuals. In this sense, there is the importance of heritage education
and the critical role of the educator as propellant practices of cultural heritage
preservationists. Public policies aimed at the issue of heritage education, which are
the responsibility of the government, should go beyond aesthetic merit, it has the
function to stimulate and contribute directly to the recognition and appreciation of
cultural heritage, cornerstones in building a society valuing their culture and their
heritage. But often educational activities on the value of cultural heritage represent a
painful exercise. There are challenges motivated by the need to build curricula that
emphasize actions centered on valuing these assets, which sometimes feature
disabled. The knowledge of cultural heritage is an ongoing activity and systematic
educational activities, leading individuals to an active process of knowledge
appropriation and appreciation of their cultural heritage. However, this issue does not
proceed especially in schools surveyed. We investigated the applicability of formal
heritage education in order to promote the process of recognition and appreciation of
cultural heritage in São Mateus do Sul - PR, making the problem of this study. The
objective of the research was to examine the actions taken by the Municipal
Education and Culture to highlight the preservation of Cultural Heritage in São
Mateus do Sul, to identify the methodological processes and materials used in the
classroom to recognize the cultural heritage of the city , examine, along with
educators, the existence of the interrelationship between disciplines and heritage
education; analyze the interaction of government in all three spheres, as the
recognition and appreciation of the cultural heritage of the city. Besides the research
literature, applied research and qualitative field research, developed through
interviews addressed to the schools surveyed educators and leaders of the Municipal
Department of Education and Culture of the municipality. We analyzed the federal
and municipal laws aimed at the enhancement of cultural heritage, and if they are
inserted in the Plan Political Pedagogical schools. With the analysis of the interviews
it was found that the teachers do not give enough importance to heritage education.
The difficulties in this process are summarized in the following shortcomings: lack of
continuing education for teachers and deficiency in knowledge in public policy
education preservationists sheet. It is believed that the results of this research may
subsidizing educators and managers of the municipality in the formulation of public
policies and continuing education focused on cultural heritage of the city.
Figura 18 Pierogui..................................................................... 78
57
3 CONTEXTO DA PESQUISA..............................................................
3.1 ELEMENTOS HISTÓRICOS DE SÃO MATEUS DO SUL................. 57
3.1.1 Origem Histórica de São Mateus do Sul.............................................. 57
3.2 LOCALIZAÇÃO E POPULAÇÃO DE SÃO MATEUS DO SUL........... 58
3.3 ATIVIDADES ECONOMICAS DE SÃO MATEUS DO SUL................. 59
3.3.1 Histórico das Atividades Econômicas de São Mateus do Sul............ 59
3.4 PATRIMONIO CULTURAL DE SÃO MATEUS DO SUL.................... 66
3.5 ESTRUTURA EDUCACIONAL DE SÃO MATEUS DO SUL 80
ACERCA DO PATRIMÔNIO...............................................................
86
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS DADOS.................................
4.1 APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS ENTREVISTAS
REALIZADAS COM OS EDUCADORES ENVOLVIDOS NA 86
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL DE SÃO MATEUS DO SUL.................
4.1.1 Análise da Entrevista com o Secretário de Educação e Cultura......... 87
4.1.2 Análise das Entrevistas Realizadas com os Diretores e 90
Coordenadores das Escolas Pesquisadas......................................
4.1.3 Análise das Entrevistas Realizadas com os Professores Escolas 100
Pesquisadas.................................................................................
112
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................
REFERÊNCIAS.................................................................................. 119
APÊNDICES
patrimônio refere-se aos bens culturais de valor histórico, o que passou a ser uma
construção social. Monastirsky (2009) aponta que o patrimônio cultural inclui não
apenas as manifestações artísticas, mas também os hábitos, os usos e os costumes,
as crenças, as formas de vida cotidiana da sociedade e a sua memória.
Com efeito, a necessidade de sua conservação é um imperativo para a
preservação da história e do desenvolvimento da sociedade. A formação da
memória é uma via para conservar, preservar e promover novos caminhos para a
construção da história. A memória social, no sentido de conservar o patrimônio
cultural, deve ser construída coletivamente, sem o abandono das singularidades ou
da pluralidade cultural dos lugares, pois conforme Monastirsky (2009) a memória
transcende o indivíduo ao apresentar uma ordem instituída, normativa à cultura local
e às singularidades que a compõem.
A preservação do patrimônio cultural tem importância fundamental para o
desenvolvimento e enriquecimento de um povo e de sua cultura. Ao contrário da
visão que se têm sobre o patrimônio, referindo-se somente a objetos de museus
como coisas velhas e estagnadas, o contato com o patrimônio cultural deve ser
dinâmico e transformador, pois esses registros culturais nos propiciam um momento
de reflexão e crítica, que ajuda a nos localizar no grupo cultural a que pertencemos e
a conhecer outras expressões da cultura. Assim, o patrimônio cultural não é estático,
mas justamente o que nos impulsiona à transformação, à criatividade e ao
enriquecimento cultural, por isso a importância de sua preservação.
A valorização do patrimônio cultural, como já dizia o filósofo Sócrates, da
riqueza não vem a cultura, mas da cultura vem a riqueza. Assim, conforme Furtado
(1974), a cultura de um povo expressa a qualidade de seu desenvolvimento. O
desenvolvimento requer invenção e se constitui em ação cultural. Todas as
inovações são elementos culturais. Todo conhecimento e a base da economia
contemporânea é cultural. Cultura e desenvolvimento são definições e processos
necessariamente interligados e necessariamente compartilhados por todos.
A discussão acerca da cultura aliada ao desenvolvimento se mostra de fato
notável, tendo em vista a importância para a participação na construção da
sociedade contemporânea. De acordo Miranda (2009), duas visões são facilmente
identificáveis na forma de se pensar economia e cultura: uma visão humanista da
cultura, que se opõe às regras de mercado obedecendo às normas de produção e
reprodução cultural, e a visão que somente o mercado pode salvar-nos diante de
19
Nesta perspectiva, este estudo trata além da parte introdutória, de mais três
blocos.
O primeiro bloco diz respeito ao referencial teórico no qual se apresenta a
contextualização acerca dos temas: cultura, educação e desenvolvimento,
destacando a importância de existir uma interrelação entre esses aspectos, para o
desenvolvimento da educação patrimonial.
O segundo bloco apresenta a contextualização da pesquisa, com a
apresentação do histórico do município de São Mateus do Sul, e seus aspectos
culturais. Também neste bloco, expõe a análise da estrutura educacional do
município acerca do seu patrimônio cultural; em seguida, terceiro bloco, vem a
apresentação, interpretação e as análises das entrevistas realizadas com os
educadores envolvidos na educação patrimonial do município.
Para analisar a educação patrimonial formal na promoção de reconhecimento
e valorização do patrimônio cultural no Município de São Mateus do Sul, além das
pesquisas bibliografias, foi aplicada a pesquisa qualitativa. Naturalmente é essencial
o desenvolvimento de pesquisas onde se utilizará referencial bibliográfico e
documental, isto é, o embasamento teórico, conforme Richardson (1999, p. 68) "[...]
constitui um conjunto de documentos que permitem identificar os textos utilizados no
todo ou em parte para a elaboração do trabalho. Tem por objetivo orientar o leitor
para um aprofundamento do fenômeno estudado."
A pesquisa de campo foi desenvolvida pela utilização das técnicas de
entrevistas. Segundo Richardson (1999, p. 90) “[...] como tentativa de uma
compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas
pelos entrevistados [...]”.
As entrevistas foram aplicadas aos professores das escolas municipais,
dirigentes da Secretaria Municipal da Educação e Cultura do município de São
Mateus do Sul. Foram pesquisadas 4 escolas municipais e 1 escola privada, todas
localizadas no perímetro urbano do município de São Mateus do Sul (PR). Para
fazer a escolha das escolas mencionadas a seguir, foram seguidos alguns critérios,
tais como: essas escolas atendem grande parte dos estudantes do município e são
consideradas as maiores em espaço físico e as mais antigas.
A pesquisa de campo seguiu as seguintes etapas:
Primeira Etapa: consistia no planejamento da pesquisa e de todos os
procedimentos para preparar a entrada no trabalho de campo, delimitação do objeto,
24
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Definir o que é cultura não é uma tarefa simples. A cultura evoca interesses
multidisciplinares, sendo estudada em áreas como sociologia, antropologia, história,
entre outras. Em cada uma dessas áreas, é trabalhada a partir de distintos enfoques
e usos.
Iniciamos esta discussão teórica reconhecendo que não existe um conceito
definido de cultura para que estudiosos cheguem a um acordo sobre a concepção
da palavra. A partir de então, nosso objetivo não será o de apresentar uma única
definição para o termo cultura. O propósito do trabalho é de apenas realizar uma
discussão e apresentar algumas definições sobre os diversos significados que a
palavra “cultura” pode apresentar.
De acordo com Eagleton (2005), a palavra cultura vem da raiz semântica
colore, que originou o termo em latim cultura, de significados diversos como habitar,
cultivar, proteger, honrar com veneração. Até o século XVI, o termo era geralmente
utilizado para se referir a uma ação e a processos, no sentido de ter “cuidado com
algo”, seja com os animais ou com o crescimento da colheita, e também para
designar o estado de algo que fora cultivado, como uma parcela de terra cultivada.
A partir do final do século XIX, o termo ganha destaque um sentido mais
figurado de cultura e, numa metáfora ao cuidado para o desenvolvimento agrícola, a
palavra passa a designar também o esforço despendido para o desenvolvimento das
faculdades humanas. Em consequência, as obras artísticas e as práticas que
sustentam este desenvolvimento passam a representar a própria cultura.
No pensamento iluminista francês, a cultura caracteriza o estado do espírito
cultivado pela instrução. De acordo com Cuche, (2002, p.21), “[...] a cultura é a
soma dos saberes acumulados e transmitidos pela humanidade, considerada como
totalidade, ao longo de sua história”. No vocabulário francês da época, a palavra
também estava associada às ideias de progresso, de evolução, de educação e de
razão.
Segundo Coelho (2008), a visão da cultura como sendo tudo e o todo é uma
proposta do Iluminismo do século XVIII, para o qual cultura era a soma dos saberes
acumulados e transmitidos. Nessa linha de argumentação, o antropólogo britânico
27
Edward Burnett Tylor (1832- 1917), citado por Coelho (2008), propôs em 1871, em
seu livro Primitive Culture, a primeira definição do conceito etnológico de cultura, ao
dizer que cultura, no sentido etnológico mais amplo do termo, é esse todo complexo
que compreende o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes
e outras capacidades ou atitudes adquiridas pelo homem, enquanto membro da
sociedade. Em outras palavras, portanto, cultura é tudo que deriva da ação humana.
Citando ainda Coelho (2008), a cultura de um lugar não deveria ser vista
como a soma de tudo, mas apenas do específico daquele lugar: não o universal,
mas o particular; “[...] cultura não era o todo de todos, mas o relativo a um grupo,
com a implicação de que cada cultura revestia-se de um atributo a ela relativo.”
(2008, p.22). Cada cultura tem um valor próprio a ser reconhecido, um estilo
específico que se manifesta na língua, nas crenças, nos costumes, na arte e que
veicula um espírito próprio (a identidade), cabendo aos pesquisadores estudarem
essas culturas, e, mais do que verificar em que consiste uma dada cultura,
apreender o elo que une um indivíduo a uma cultura.
Dessa forma, o símbolo das criações humanas quer mostradas sob a forma
tangível, quer expressas em usos, costumes, ideias e ideais, sendo, portanto, a
soma do conhecimento humano; também é um sistema de atitudes, de juízo de
valores, de modos de pensar, sentir e agir. Sob o aspecto heterogêneo, a cultura é,
ao mesmo tempo, material e espiritual. Em outras palavras, é o modo de vida de
uma sociedade.
Por Sodré (1981), a cultura é entendida pelo nível de desenvolvimento
alcançado pela sociedade na instrução, na ciência, na literatura, na arte, na filosofia,
na moral, e as instituições correspondentes. Ainda, para Sodré (1981, p. 104),
cultura é:
[...] um fenômeno social que representa o nível alcançado pela sociedade
em determinada etapa histórica: progresso, técnica, experiência de
produção e de trabalho, instrução, educação, ciência, literatura, arte e
instituições que lhes correspondem. Em um sentido mais restrito,
compreende-se, sob o termo de cultura, o conjunto de formas de vida
espiritual da sociedade, que nascem e se desenvolvem à base do modo de
produção dos bens materiais historicamente determinados.
Portanto, cultura é tudo aquilo que é criado pelo esforço e pela inteligência
humana, sendo um sistema de costumes, de juízo de valores, de modos de pensar,
sentir e agir, sendo caracterizado como o modo de vivência de uma sociedade. É o
resultado das transformações humanas, a soma do conhecimento humano.
28
não mais fornecem “sólidas localizações” para os indivíduos, que os alia a uma
cultura.
A formação de identidades, de acordo com Lima ett all, compõe a cultura de
um determinado grupo de pessoas, porque “[...] baseia-se em elementos discursivos
fornecidos pela história, geografia, biologia, memória coletiva, por instituições,
relações de poder, interesses, relatos e mitos, entre outros aspectos [...]” ( LIMA ett
all, 2008, p. 371).
Na perspectiva da diversidade, a diferença e a identidade tendem a
serem neutralizadas, cristalizadas, essencializadas. São tomadas como
dados ou fatos da vida social diante dos quais se devem tomar posições.
Em geral a posição socialmente aceita e recomendada é de respeito e
tolerância para com a diversidade e a diferença. Mas será que as
questões da identidade e da diferença se esgotam nessa posição liberal?
(SILVA, 2000, p. 73).
Já Cuche (1999), nos chama atenção quando afirma que a noção de cultura é
diferenciada da noção de identidade cultural. A cultura pode existir sem uma
estrutura de identidade. Ou seja, ela depende, em maior parte, de um processo
inconsciente.
Ainda Cuche (1999) afirma que já nascemos em determinada cultura, que
nos é imposta por via natural, e a identidade cultural nos vincula aos nossos anseios
existenciais, onde a prática do conhecimento e da vida determina nossa estrutura
identitária. Dessa forma, então, segundo Cuche (1999), entendemos que a
identidade, antes de mais nada, serve para que nos localizemos como individuo, e
localizemos pessoas ou grupos simbólicos ao nosso padrão. Mas devemos apontar
a afirmativa do autor, onde diz que a identidade cultural é de inclusão e exclusão. Da
mesma forma que ela atrai, ela segrega. Nessa concepção, a perspectiva que se
tem é que a identidade cultural se apresenta como uma modalidade categórica da
distinção entre as práticas culturais, que se baseia, nada mais, que nas diferenças
culturais." Em uma abordagem culturalista “[...] o indivíduo é levado a interiorizar os
modelos culturais que lhe são impostos, até o ponto de se identificar com seu grupo
de origem" ( CUCHE, 1999, p. 179).
Nos primórdios, já se defendia que a identidade etnocultural como sendo
fundamental a vinculação de um determinado grupo é a primeira e a mais importante
de todas as ligações da sociedade. O autor cita que para os objetivistas,
determinado grupo só pode reivindicar sua autenticidade na construção de sua
identidade cultural, se esse for dotado de língua e cultura própria, e fenótipo próprio.
31
herança familiar. De acordo com Moraes (2005), o uso do termo como herança
social aparece na França pós-Revolucionária, quando o Estado decide proteger as
antiguidades nacionais às quais era atribuído significado para a história da nação.
De acordo com Teixeira (2004), o conjunto de bens entendidos como herança do
povo de uma nação foram, então, designados como patrimônio histórico. Importante
observar que em sua acepção original, incluía não apenas os bens imóveis, mas
também os bens móveis, tais como acervos de museus e documentos textuais.
De acordo com Silva, (2010), especialistas vêm continuamente substituindo o
conceito patrimônio histórico pela expressão patrimônio cultural. Essa noção, por
sua vez, é mais ampla, abarcando não só a herança histórica, mas também a
ecológica de uma região.
Assim, em última instância, podemos definir patrimônio cultural como
complexos de monumentos, conjuntos arquitetônicos, sítios históricos e parques
nacionais de determinado país ou região que possui valor histórico e artístico e
compõe um determinado entorno ambiental de valor patrimonial.
A definição atual de patrimônio cultural se originou no documento elaborado
pela Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural,
realizada em 1972, promovida pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Esse documento detalhou patrimônio
cultural como sendo monumentos, ou seja, as obras arquitetônicas, de esculturas ou
de pinturas monumentais, assim como elementos estruturais de caráter arqueológico
que tenham valor universal do ponto de vista da História, da Arte e das Ciências.
Durante essa Convenção, os países membros assinaram um documento se
comprometendo a proteger os locais designados como patrimônio da humanidade.
Apesar de essa obrigação ser financeiramente custosa, de acordo com Silva (2010),
muitos dos países membros não possuem recursos para custear as demandas
dessa Convenção. Das 192 nações participantes da convenção, 174 já ratificaram o
acordo, inclusive o Brasil assina o acordo, pelo do Decreto nº 80.978, de 12 de
dezembro de 1977. O motivo desse interesse político é o econômico, no sentido de
gerar prestígio internacional e incentivando o turismo.
As definições para o patrimônio cultural tendem a se tornar mais abrangentes,
sobretudo a partir da década de 1980. Esta nova perspectiva ganha um aliado de
peso na direção do Instituto do Patrimônio, Histórico, Artístico Nacional (IPHAN):
Aloísio Magalhães, que produz um profundo redimensionamento do debate em
34
No Brasil, onde a máxima de ser um país sem memória, constitui uma ideia
já cristalizada, essas iniciativas devem ser louvadas e apoiadas, [...] a partir
de meados dos anos 70 e por toda a década de 80, assistimos à
emergência dos movimentos sociais populares, protagonizados pela
mobilização de trabalhadores, mulheres, negros, índios, homossexuais etc.,
que até hoje, reivindicam para si o alcance e o exercício dos direitos de
cidadania e a participação política no processo decisório nacional. Esses
movimentos colocam na ordem do dia o interesse pelo resgate de sua
memória, como instrumento de luta e afirmação de sua identidade étnica e
cultural.
Nos últimos anos, a questão cultural vem ganhando destaque no Brasil, isto
porque avistamos cultura em toda a trama social. A cultura humana é tudo que
resulta da ação humana, de suas interferências sobre o mundo; é tudo que torna
visível o pensamento do homem sobre si mesmo e sobre o ambiente que o cerca.
Segundo Miguez (2009, p. 25), “[...] a questão da cultura se encontra na
agenda contemporânea, na academia”. A cultura ultrapassou os limites das ciências
sociais e apresenta-se, crescentemente, como elemento de muitas outras
disciplinas, nas agendas nacionais, aparecem com força à questão das políticas
culturais, nos foros internacionais, e mobilizando ações dos governos. Tornou-se um
recurso para promover a inclusão social, para requalificar centros urbanos, para
estimular o crescimento econômico e para ativar políticas que se ocupam do
desenvolvimento. Ainda Miguez (2009) indaga: “Mas o que quer, e o que pode
significar a relação entre cultura e desenvolvimento?”
Essa relação implica que o desenvolvimento cultural deve ser entendido como
desenvolvimento da dimensão simbólica em geral e das artes em particular, a
ampliação do acesso pleno aos bens e serviços culturais e a sua completa
universalização para todos os brasileiros, junto ao fortalecimento da economia da
cultura, os quais são partes indissociáveis desse processo.
Certamente que as enormes possibilidades econômicas que procedem da
cultura não podem ser esquecidas pelas políticas de desenvolvimento. Mesmo que o
potencial de geração de riquezas e de empregos representado pela cultura não
possa ser compreendido e operacionalizado por políticas dedicadas ao
desenvolvimento sem que se tenha como referência uma visão da cultura, enquanto
43
2.5 EDUCAÇÃO
crítica dos mesmos. Pois, como alerta Freire (2007), ninguém se educa sozinho, os
homens se educam em comunhão.
No âmbito da educação escolar, entende-se que, desde quando a
sociedade é percebida como um grupo organizado, na qual construiu certa
identidade e história, vem conseguindo identificar formas de agir coletivo na busca
de desenvolver em crianças e jovens habilidades e conhecimentos que facilitem a
convivência em grupo. Esses processos de formação social nos mais variados
tempos e espaços constituem uma prática universalmente conhecida como
educação. De acordo com Brandão (2000), assim não se têm problemas em
compreender o caráter da prática social da educação, porém a identidade da
educação como campo de produção de conhecimento sistematizado merece receber
maior atenção, investimento e ser melhor investigada e desenvolvida, como é o caso
da educação patrimonial, onde o patrimônio, em sua materialidade, é explorado
enquanto recurso educativo.
A partir daí, várias atividades foram criadas, com o objetivo de obter materiais
para aperfeiçoar o conhecimento acerca dessa temática. Somente a partir da
promulgação da constituição brasileira de 1988, é que as ações educacionais
voltadas para o uso e a apropriação dos bens culturais integrantes do nosso
patrimônio cultural receberam estímulos. (BASTOS, 2002).
A regulamentação dos sistemas educativos no Brasil é resultante da criação
de uma nova LDB em 1996 e da adoção dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN), a partir de 1997, que atenderam transformações processadas na sociedade
(BITTENCOURT, 1992).
Os PCNs2 para o Ensino Fundamental, elaborados pelo Ministério da
Educação e Cultura (MEC), apresentam uma inovação, ao consentir a necessária
interdisciplinaridade na educação básica, mediante a introdução dos chamados
“temas transversais”, que deverão perpassar as diferentes disciplinas escolares. Um
desses temas transversais, a pluralidade cultural, possibilita à escola o estudo do
patrimônio histórico e a consequente adoção de projetos de educação patrimonial.
cultura, e para tanto, institui que os currículos da educação básica devem ter uma
base diversificada se ajustando às características regionais e locais da sociedade e
da cultura.
A importância do processo educacional acerca do patrimônio cultural é
garantida nesse documento e, de acordo com os PCNs, o ensino fundamental
preconiza o desenvolvimento dos alunos capazes de:
[...] conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais,
materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de
identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País;
conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro […]
posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças
culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras
características individuais e sociais; (BRASIL, 1997, p. 9)
próprios locais onde são encontrados, como peças chave no desenvolvimento dos
currículos e não simplesmente como mera ilustração das aulas.
Por conseguinte, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) vem se empenhando na proteção dos bens patrimoniais do país, redigindo
uma legislação específica, realizando tombamentos e restaurações que garantem a
continuação da maior parte do acervo arquitetônico e urbanístico brasileiro, bem
como do acervo documental, etnográfico, das obras de arte integradas e dos bens
móveis. Em sua luta pela proteção do patrimônio cultural, estendeu sua ação à
proteção dos acidentes geográficos notáveis e das paisagens agenciadas pelo
homem (IPHAN, 1999).
Esta instituição vem promovendo ações educativas, por meio de divulgação
da importância do Patrimônio Histórico-Cultural para todos os cidadãos, assim
propondo a prática de um programa de educação patrimonial. Desta forma,
organizou um Guia Básico de Educação Patrimonial, contendo conceitos, critérios,
objetivos, metodologias, sugestões de atividades e bibliografia que deverão nortear
a elaboração e desenvolvimento de ações que auxiliem e cooperem para a
“educação” dos indivíduos, referente às questões do patrimônio cultural,
colaborando para sua preservação.
57
3. CONTEXTO DA PESQUISA
3.1 ELEMENTOS HISTÓRICOS DE SÃO MATEUS DO SUL
3.1.1 – Origem Histórica de São Mateus do Sul
3 Os textos referentes aos elementos históricos de São Mateus do Sul foram fornecidos pela Biblioteca
Municipal de São Mateus do Sul, em documentos não oficiais.
59
Mallet, Rebouças, São João do Triunfo, Paulo Frontin e com os municípios de Três
Barras e Canoinhas no Estado de Santa Catarina.
Iguaçu. O primeiro vapor fluvial lançado no rio Iguaçu, foi o vapor “Cruzeiro”, em
dezembro de 1882.
Com o surgimento da navegação a vapor no rio Iguaçu, o escoamento da
erva-mate aumentou, gerando progresso em todos os povoados da região que
viviam dessa riqueza. A navegação transformou matas virgens em povoados e
povoados em cidades. O município de São Mateus do Sul deve seu
desenvolvimento, em grande parte, à iniciativa do Cel. Amazonas e sua empresa de
navegação.
São Mateus do Sul se tornou no início do século XX, a capital da erva mate
no Paraná, a produção ervateira e madeireira contribuíram decisivamente para a
navegação fluvial no município.
Os proprietários de barcos a vapores, quase todos industriais ervateiros,
visavam, sobretudo, ao transporte da matéria-prima para as suas indústrias, os
chamados engenhos de erva-mate, que eram mecanizados para o trabalho de
seleção, trituração, dissecação, mistura e enchimento das barricas para o produto
ser exportando para outros estados e países da América do Sul, sobretudo Uruguai,
Argentina e Paraguai.
O auge da navegação do rio Iguaçu ocorreu a partir do ano de 1915, quando
proprietários dos barcos a vapores, na maioria ervateiros da região, uniram-se e
criaram a Companhia “Lloyd Paranaense”, com sede em São Mateus do Sul, esta
empresa seria a união das várias pequenas empresas de navegação no município
que, inicialmente, destinava-se ao escoamento da produção de erva-mate e
madeira. A partir de então, a empresa passou a atender às diversas necessidades
de transporte e passou a transportar também passageiros, assim o transporte no rio
Iguaçu, tornou-se mais eficiente.
O porto de São Mateus era “parada” obrigatória para os vapores que subiam
ou desciam o rio Iguaçu, tornando o porto da cidade, muito ativo em passageiros e
mercadorias. No porto foram construídos estaleiros, dos quais saíram quase todos
os vapores do Iguaçu. Neste porto, eram montados ou remontados os barcos a
vapor, tarefa realizada pelos profissionais locais.
62
5 Formação Irati é o nome de uma formação geológica da Bacia do Paraná, da onde se extrai o xisto
em escala industrial. Ocorre nas regiões Sul, Sudeste do Brasil São Paulo e triângulo mineiro e nos
estados de Goiás e Mato Grosso do Sul, mas e explorável no muncicípio de São Mateus do Sul-PR.
66
São Mateus do Sul é um município com mais de 100 anos de história. Desde
que iniciou a exploração do xisto, e com os poloneses se estabelecendo na região
em 1890, o município se desenvolveu e passou por vários ciclos econômicos, como
da erva-mate, da madeira e extração do xisto. Seus habitantes construíram um
amplo patrimônio histórico e cultural ao longo da história, baseado nas heranças
culturais trazidas pelos imigrantes.
Como afirmam Anderson e Parker (1971, p. 583) “[...] a história do homem
está delineada por suas migrações por este planeta e por seu cruzamento com
populações já estabelecidas em áreas habitáveis [...]”, gerando assim uma
mestiçagem, um cruzamento de culturas. Nesse caso, temos o polonês e o alemão
se integrando na região, juntamente com os caboclos que viviam no local, e a partir
dessa mestiçagem, tem-se a formação da identidade cultural do povo
sãomateuense.
São Mateus do Sul, como todo município, possui a sua história,
características próprias, que ao longo dos anos, seus habitantes desenvolveram,
tornando cada fato uma conquista, edificando o patrimônio cultural material e
imaterial construídos pelos seus habitantes. O município apresenta uma história de
valorização e reconhecimento que, de certo modo, pode ser materializado pelo
conjunto de bens patrimoniais que o município apresenta, podendo ser citados os
seguintes bens patrimoniais:
67
CUIA E ERVA-MATE
IGREJA MATRIZ
PINHEIRO
XISTO
VAPOR PERY
7 Geologicamente, xisto é uma das principais rochas metamórficas de origem sedimentar, sendo
resultantes da decomposição de matérias minerais e orgânicas no fundo de grandes lagos ou mares
interiores.
71
CARROÇA POLONESA
PRAÇA DO CARVALHO
cultural dos poloneses no município. Essa árvore caiu no dia 01 de agosto de 2011.
A comunidade já se mobilizou e com ajuda da Prefeitura, outra muda do Carvalho foi
plantada no mesmo local.
Esta árvore tornou-se importante para a comunidade de São Mateus do Sul
por perpetuar referências históricas do povo polonês residente no município.
PIEROGUI
Figura 18 - Pierogui
Fonte: (LEDUR, 2011).
Trazido pelos poloneses, o pierogui, uma massa de pastel cozida com recheio
de batata cozida e amassada com ricota, muito apreciado com molho de nata com
bacon, tornou-se um dos pratos típicos do município, apreciado pelos habitantes e
visitantes, surgindo, inclusive, a Festa e o Baile do Pierogui, onde se elege a Rainha
do Pierogui, que ocorre sempre no mês de agosto, mês dedicado às homenagens à
imigração polonesa. Este é mais um exemplo da valorização da cultura polonesa
materializada, no patrimônio histórico do município.
79
O município de São Mateus do Sul conta com vinte e quatro escolas públicas
municipais de 1ª a 4ª série, oito escolas públicas estaduais com ensino fundamental
e médio e quatro escolas privadas com educação infantil, fundamental e médio.
As escolas públicas municipais e estaduais estão distribuídas pelo município
na área urbana e rural, enquanto que as escolas privadas estão todas situadas na
área urbana.
Segundo dados do IBGE (2010), foram realizadas no município 6.768
matrículas no ensino fundamental, sendo que 3.088 matrículas foram realizadas nas
escolas públicas estaduais a nível de 5ª a 8ª série do ensino fundamental; 2.994
matrículas foram realizadas nas escolas públicas municipais a nível de 1ª a 4ª série
do ensino fundamental; 686 matrículas foram realizadas nas escolas privadas a nível
de 1ª a 4ª série do ensino fundamental.
Foram pesquisadas quatro escolas municipais e uma escola privada, todas
localizadas no perímetro urbano do município de São Mateus do Sul-PR. Para fazer
a escolha das escolas mencionadas a seguir, foram seguidos alguns critérios, tais
como: essas escolas atendem cerca de 1.668 alunos e são consideradas as maiores
em espaço físico, são as mais tradicionais e antigas, e estão situadas perto dos
principais bens patrimoniais do município. A seguir descreveremos as escolas8 que
fizeram parte da pesquisa:
8 As informações dos históricos das escolas a seguir mencionadas, foram retiradas dos Projetos
Políticos Pedagógicos das mesmas.
81
A Escola foi fundada em 1964, mas somente no ano de 1975, pelo parecer
001 de 1973 recebeu a aprovação do plano de implantação do ensino de 1º grau,
apresentando-se como Escola Vila Prohmann – Ensino de 1º Grau, integrando-se
aos moldes da Lei 5692 de 1971 das Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A
partir do ano de 1975, a Escola passou a funcionar no prédio atual, situado à Rua
Barão do Rio Branco, 1335, no bairro denominado Vila Prohmann. A Escola era
municipalizada até o ano de 1982, quando através da resolução nº 3920 de 1982
passou a pertencer ao âmbito estadual. Porém, através da resolução 1431 de 1991,
a Escola que era mantida pelo governo do Estado, passa a ter como entidade
mantenedora, a Prefeitura Municipal de São Mateus do Sul. A resolução 1626 de
1998 altera a denominação de Escola Municipal Vila Prohmann, para Escola
Municipal Pedro Effco – Educação Infantil e Ensino Fundamental. A partir do ano de
2010, ocorre uma nova alteração no ensino, através das Leis de Diretrizes e Bases
nº 11.274 de 2006, que torna obrigatório a matrícula das crianças a partir de seis
anos de idade no Ensino Fundamental.
A Escola Municipal Pedro Effco – Educação Infantil e Ensino Fundamental
possui, atualmente, cerca de 550 alunos, distribuídos em doze turmas de Ensino
Regular, incluindo classe especial e sala de recursos. Conta com uma diretora, com
uma coordenadora e vinte e seis professores.
O SEMA foi fundado no ano de 1991, tendo como primeiro nome “Escola A
Sementinha”, contando apenas com turmas de Educação Infantil. Em 1993, iniciou
com o Ensino Fundamental I. A partir do ano de 1997, a Escola iniciou as atividades
com Ensino Fundamental II, e no ano de 2003, com o Ensino Médio.
Ao longo desses 20 anos, a Escola mudou seu nome por várias vezes como:
A Sementinha – Ensino Fundamental, Escola A Sementinha Master – Ensino
Fundamental, Escola Maria Augusta. E hoje tem o nome de Sistema de Ensino
Maria Augusta – Ensino Fundamental, Médio e Técnico – SEMA, enquanto que a
Educação Infantil, que atende berçário, maternal, jardim I e Jardim II, continuou com
o nome Escola A Sementinha.
Hoje, A Escola A Sementinha atende 110 alunos, contando com uma
coordenadora pedagógica e vinte e seis professoras; e o SEMA, atende cerca de
320 alunos, contando com uma diretora, uma coordenadora pedagógica, uma
psicopedagoga, trinta e dois professores, sendo assim distribuídos: onze
professores no Ensino Fundamental I, vinte e um professores no Ensino
Fundamental II e Ensino Médio.
As escolas acima pesquisadas têm uma relação com o patrimônio cultural do
município, pois são as mais antigas, estão edificadas perto desses bens
patrimoniais, e sempre estão tentando estabelecer um diálogo pedagógico entre a
escola e a comunidade, voltado para a valorização do patrimônio cultural.
Acredita-se que, por essas características, essas escolas assumem um papel
relevante na sociedade, segundo as análises feitas nos PPP das referidas escolas, à
medida que os saberes trabalhados são parte de um patrimônio cultural valorizado e
julgado indispensável ao cidadão, que deve ser capaz de uma constante (re)criação
de novos significados e subjetividades, onde a escola é vista como uma instituição
de “aculturação” na busca de promover a homogeneidade social e cultural.
Em todas as escolas pesquisadas foram também realizadas uma análise
minuciosa nos seus respectivos PPP, onde constatou-se que o critério utilizado para
a confecção desses PPP, foram os mesmos, ou seja, a estrutura organizacional são
semelhantes, pois todos passaram pelo crivo da Secretaria Municipal de Educação e
Cultura (SEMEC). Portanto, todas as Escolas em seus PPP, quando se referiam à
84
9 PPPa - Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Dr. Paulo Fortes – Educação Infantil e
Ensino Fundamental. São Mateus do Sul–Pr. 2009.
10 PPPb - Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Dr. Pedro Effco – Educação Infantil e
Ensino Fundamental. São Mateus do Sul–Pr. 2009.
85
as regiões brasileiras apresentam diferenças entre si; cada região é marcada por
características culturais próprias, assim como pela convivência interna de grupos
diferenciados. Neste sentido, a escola deve ser local da aprendizagem de que as
regras do espaço público democrático garantem a igualdade, do ponto de vista da
cidadania, e ao mesmo tempo a diversidade, como direito.
86
11 O que leva a deduzir que o assunto patrimônio não está na pauta das ações cotidianas da
SEMEC. no início da entrevista, onde a assistente do secretário de educação que participava da
conversa, se referiu ao patrimônio, as carteiras e cadeiras que o Estado havia entregado para
substituir as “velhas carteiras” das escolas municipais, ainda ele afirmou:“[...] nosso patrimônio é
muito bem preservado, possuímos um programa de computador, onde todos os bens patrimoniais do
município são cadastrados e etiquetados, assim podemos ter o controle de tudo.” Esta assimilação
tem a ver com o contexto material e capitalista atual, em que o que não é visível não pode ser
comercializado, portanto, passa a não ter importância, porque não tem valor para troca. (2011)
90
tenham que “garimpar” materiais referentes à história do município e aos seus bens
patrimoniais, que possam ser utilizados em suas aulas.
Quando foi perguntado aos diretores e coordenadores como a sua escola
interage com as políticas públicas do município, visando o reconhecimento e à
valorização do Patrimônio Cultural em São Mateus do Sul, as respostas foram
confusas, dando a perceber que não há conhecimento por parte dos diretores e
coordenadores, o que venha a ser políticas públicas, pois as respostas vieram todas
sem coerência.
O entrevistado do SEMA respondeu: “[...] como a nossa escola é privada, não
há uma interação com a SEMEC, nós fazemos nossas atividades sem apoio da
prefeitura, mas sempre os convidamos para participar, mas dificilmente aparecem.”
(B5, 2011)
Todas as respostas das escolas municipais foram voltadas para a ideia de
que existem as atividades desenvolvidas junto ao SEMEC, mas de forma tímida, tais
como resgate da cultura polonesa, incentivo à juventude para a conservação do
patrimônio cultural, através de atividades culturais, os usos e costumes dos
poloneses, mas segundo o entrevistado da Escola Odemira Cunha, “[...] mas como
já foi falado, essas atividades são restritas apenas para o mês de setembro. A
escola interage no sentido de transmitir o conhecimento necessário que possa
auxiliar na formação de um cidadão crítico e consciente.” (B4, 2011).
As atividades voltadas para a preservação do patrimônio cultural, por vezes
são de forma tímida, principalmente onde ela deveria ser mais preservada e
difundida: no âmbito escolar. Ações voltadas para esse fim são deixadas de lado, e
ganham somente destaque em períodos considerados comemorativos, como é o
caso de São Mateus do Sul, com a comemoração do seu aniversário.
Portanto, seria através do PPP, que essas questões deveriam ser
mencionadas, onde as escolas teriam a incumbência em propor uma forma de
organizar o trabalho pedagógico, visando à preservação do Patrimônio Cultural do
município. Segundo Libâneo (2004), o PPP é o documento que detalha objetivos,
diretrizes e ações do processo educativo a ser desenvolvido na escola, expressando
a síntese das exigências sociais e legais do sistema de ensino e os propósitos e
expectativas da comunidade escolar.
Na verdade, o PPP é a expressão da cultura da escola com sua (re) criação e
desenvolvimento, pois expressa a cultura da escola, impregnada de crenças,
94
valores, significados, modos de pensar e agir das pessoas que participaram da sua
elaboração.
Assim, o projeto orienta a prática de produzir uma realidade. Para isso, é
preciso primeiro conhecer essa realidade. Em seguida, reflete-se sobre ela, para só
depois planejar as ações para a construção da realidade desejada. É imprescindível
que, nessas ações, estejam contempladas as metodologias mais adequadas para
atender às necessidades sociais e individuais dos educandos.
Outra constatação que apuramos, foi a falta de conhecimento em relação à
interação da SEMEC do município com as políticas públicas do Estado do Paraná e
governo federal para a afirmação das políticas de preservação do patrimônio
cultural. Todos os entrevistados das escolas pesquisadas desconhecem as políticas
públicas para a preservação do patrimônio cultural. Segundo o diretor da Escola
Municipal Dr. Paulo Fortes, “[...] sinceramente, desconhecemos”. (B2, 2011)
Na análise sobre as respostas das entrevistas e nos PPPs nas escolas
pesquisadas em São Mateus do Sul, observou-se que a importância de se valorizar
a cultura local e o seu patrimônio está em destaque, sempre em respaldo nas DCNs
(2010), para os diferentes níveis de ensino, onde a legislação educacional brasileira,
quanto à composição curricular, contempla dois eixos, que seria na Base Nacional
Comum, com a qual se garante uma unidade nacional, para que todos os alunos
possam ter acesso aos conhecimentos mínimos necessários ao exercício da vida
cidadã. A Base Nacional Comum é, portanto, uma dimensão obrigatória dos
currículos nacionais e é definida pela União; e uma Parte Diversificada do currículo,
também obrigatória, que se compõe de conteúdos complementares, identificados na
realidade regional e local, que devem ser escolhidos em cada sistema ou rede de
ensino e em cada escola. Assim, a escola tem autonomia para incluir temas de seu
interesse. Assim, através da construção da proposta pedagógica da escola que a
Base Nacional Comum e a Parte Diversificada se integram.
Apesar de existirem leis que contemplem a importância da educação
patrimonial, ainda é carente o campo da educação para o patrimônio de ações
sistemáticas do Estado, tal como a cobrança pela elaboração e difusão de
metodologias, normas e diretrizes que ajudassem a organizar esse campo promissor
e incipiente. (CASCO, 2006, p. 2)
A Lei 9.394 de 1996, que institui as Diretrizes e Bases da Educação brasileira,
defende como um dos princípios do ensino no país a divulgação da cultura, e para
95
tanto, estabelece que os currículos da educação básica devem ter uma base
diversificada de acordo com as características regionais e locais da sociedade e da
cultura.
Mas na prática, observamos gestores e profissionais da educação
despreparados para tal ato, pois falta de capacitação de professores, a falta de
conhecimentos das leis e das políticas públicas nas três esferas, a falta de materiais
didáticos, a falta de estímulo, e sobrecarregamento nos currículos, fazem com que a
prática da educação patrimonial nas Escolas seja deixada para segundo plano.
No município de São Mateus do Sul, os PPPs das escolas, segundo a
SEMEC, contemplam a educação patrimonial, porém, na prática, como foi acima
citado não é o que se vê, há potencial para se desenvolver essa prática, contudo,
as ações acerca da valorização do patrimônio na prática educacional ainda são
deficientes.
Quando foram perguntados quais são os processos metodológicos e
materiais didáticos utilizados na Escola para valorizar o patrimônio cultural do
município de São Mateus do Sul, todos os entrevistados responderam que se utiliza
de passeios a museu, monumentos, realizam reflexão sobre a importância de
valorizar a cultura local, através das aulas expositivas, conversação, pesquisas,
palestras, visitas ao museu, exposição de trabalhos, confecções de maquetes,
utilização de fotos, estudos dos costumes dos imigrantes poloneses, como a
culinária, teatros, passeios, sempre preocupados com a conscientização da
valorização do patrimônio cultural do município. Esses procedimentos metodológicos
geralmente são desenvolvidos das disciplinas de História, Geografia e Artes.
Quantos aos materiais didáticos utilizados na Escola para valorizar o
patrimônio cultural do município de São Mateus do Sul, os entrevistados
responderam que utilizam recursos audiovisuais, como a interpretação do hino do
município, fontes iconográficas do município, entrevistas que os alunos fazem com
pessoas mais velhas, materiais que os professores coletam na prefeitura municipal e
no museu, como mapas, objetos antigos, apostilas, livros, documentos, e a própria
bandeira do município é utilizada com fonte de estudos, entre outros.
Chamando atenção para a resposta do diretor da Escola Municipal Pedro
Effco: “[...] preservação do pátio e do prédio da escola conscientizando que todos os
alunos e demais funcionários devem cuidar para preservar o patrimônio que também
pertence a eles” (B1, 2011).
96
Avaliando que essa foi uma resposta fora do contexto, a pergunta foi
formulada novamente. Então conseguimos uma resposta de acordo com o que
buscávamos. “[...] utilizamos os materiais didáticos da nossa biblioteca, e materiais
que os professores conseguem com entrevistas ou reportagem que o jornal local faz
na nossa cidade.” (B1, 2011). Pelas análises feitas nas entrevistas, fica evidente que
para desenvolver essa prática de preservação e divulgação do patrimônio local, é
necessário a escola recorrer à comunidade para buscar informações, já que
materiais didáticos são deficientes, e os educadores têm que recorrer a entrevistas,
busca de fotografias, coletas de dados e informações a respeito do assunto. Nota-se
que essas informações recolhidas não são geralmente armazenadas, pois todos os
anos é feita essa “corrida” para buscar materiais. Passeios aos monumentos, visitas
ao museu, foram constantemente citados como um processo metodológico utilizado
pelas escolas para dar suporte às aulas, sendo que essas práticas ocorrem
geralmente no mês de setembro. Não se pode considerar que apenas visitas a
museus, depois conversações em sala de aula, como foi acima citado, sejam
práticas de educação patrimonial, pois não há um processo permanente, sistemático
e contínuo de trabalho educacional, centrado no patrimônio cultural, como fonte
primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo.
Tem como objetivo, a experiência e do contato direto com as evidências e
manifestações da cultura e dos seus bens patrimoniais, em todos os seus
significados, levar o educando a um processo ativo de conhecimento, apropriação e
valorização de sua herança cultural. Utiliza-se como justificativa o conhecimento
crítico e a apropriação consciente, pelas comunidades, do seu patrimônio cultural
que são fatores indispensáveis, no processo de preservação sustentável desses
bens, assim como, no fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania.
A luta pelo reconhecimento e preservação do patrimônio cultural é
permanente em todos os setores da sociedade, sobretudo no âmbito educacional,
luta que é mantida com desafios diários e inesperados. Nas entrevistas obtidas com
os diretores e coordenadores das escolas pesquisadas, obteve como resposta, que
a educação patrimonial não é praticada, pois ela é definida como um processo
permanente e sistemático de trabalho educacional, o que não ocorre nas escolas
pesquisadas.
Horta (1983) afirma que a educação patrimonial é um instrumento de
“alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o
97
12 O nome dos docentes foram preservados, sendo substituídos pela letra P=professor.
102
professores que
têm acima de 20
19% 21% anos de
magistério
professores que
têm entre 10 e 19
anos de
magistério
professores que
têm menos de 9
60%
anos de
magistério
Atuação como
4% professor na
Escola - com 20
anos
Atuação como
47% professor na
49% Escola - entre 10
e 19 anos
Atuação como
professor na
Escola - entre 1 e
9 anos
Pelas análises das tabelas e gráficos acima, percebemos que dos setenta e
oito professores das escolas analisadas, 21% dos professores têm mais de vinte
anos de magistério, 60% dos professores têm entre dez e dezenove anos de
magistério, e 19% dos professores têm menos de nove anos de magistério. Sendo
que professores atuantes na mesma instituição de ensino são: 4% dos professores
têm vinte anos de docência na mesma instituição de ensino, 49% dos professores
têm entre dez e dezenove anos de docência, e 47% dos professores têm menos de
9 anos de docência.
Portanto, podemos concluir que o número elevado de professores com tempo
de magistério considerável alto, ou seja, 81% com mais de dez anos, e atuação na
mesma instituição de ensino, relativamente alto, leva nos a crer que um trabalho
sistemático de educação patrimonial poderia ocorrer, já que a rotatividade de
professores é baixa.
Mas, a partir das entrevistas, essa prática não ocorre, pois os setenta e oito
professores entrevistados nas escolas pesquisadas, cinquenta e dois professores,
ou seja, 66% dos entrevistados, não utilizam o patrimônio cultural municipal como
conteúdo de conhecimento em suas atividades pedagógicas. Evidenciou-se como
causa, fatores como a falta de conhecimento a respeito do assunto e a
desconsideração desta prática como atividade comum, pois a maioria destes
docentes não foram preparados neste sentido quando de sua formação como
educador. “Não me lembro de ter estudado no curso de Pedagogia, educação
patrimonial” (C5, 2011). Contudo, os professores também demonstraram que têm
106
sempre que dá, a gente tem sempre a aula pronta, e precisamos vencer as
propostas ditadas no currículo escolar [...] então fica difícil [...] sair daquilo [...]” (C1,
2011).
O planejamento da aula não pode tornar-se uma barreira, pelo contrário,
deve-se prever, além das contribuições dos alunos, que certamente surgem, tempo
para discutir outros assuntos relacionados com o tema da aula. Esses são os
chamados temas transversais. O espaço de sala de aula é um espaço de produção
de conhecimento. Nele, o professor deve valorizar o aluno para que ele reconheça
no professor como um mediador do conhecimento. Esta valorização inclui,
principalmente, os saberes produzidos ou incorporados pelos alunos. Neste sentido,
questionamos os professores para saber como eles valorizam o conhecimento, e de
que forma envolvem o aluno na sua realidade cultural ao abordar o tema em sala de
aula. Os professores entrevistados apontaram a “falta de tempo” como principal
razão para a não inserção do tema do patrimônio em sala de aula.
Os depoimentos são claros: não há um aproveitamento satisfatório dos
elementos culturais locais na prática educativa, muito menos a prática da educação
patrimonial. É evidente que cada profissional vai desenvolvendo ao longo de sua
carreira uma linha de pensamento que vai caracterizando sua didática, e
respeitamos cada posição, mas entendemos que a utilização das pessoas e das
manifestações e dos bens culturais presentes na comunidade e região contribuem
muito para a significação do ensino, para a valorização do patrimônio cultural e sua
preservação. Quando perguntamos como o professor trabalha os conceitos de
cultura, patrimônio, preservação, interação na sua prática e que conceitos ele
constrói com seus alunos, e novamente obtivemos respostas que não condizem com
o esperado: a falta de tempo e de espaço no currículo, são as respostas
apresentadas pelos docentes.
Aos professores, perguntamos: em sua opinião, como a questão
patrimonial/cultural pode auxiliar na conservação da memória? As respostas variam,
porém, em alguns pontos, os entrevistados foram unânimes em dizer que, essa
questão é muito importante, pois abordando temas locais, reaviva a conscientização
para a valorização do patrimônio cultural, pois se não existirem essas práticas,
esses assuntos podem cair no esquecimento. “[...] abordando temas locais, estamos
promovendo e vivenciando os fatos, relembrando pessoas importantes, para o
111
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DÖEPFER, R.F. O Rio Iguaçu e o Último Apito. Curitiba: Torre de Babel. 2004.
______. Ação Cultural para a Liberdade. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1984.
______. Pedagogia do oprimido. 45. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.
GADOTTI, M. História das idéias pedagógicas. 8. ed. São Paulo: Ática, 1999.
GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas S. A., 2002.
HALL, S. A Identidade cultural na pós-modernidade. 3 ed. Rio de Janeiro: DP &A,
1999. Tradução: Guarcira Lopes Louro, Tomaz Tadeu da Silva.
LE GOFF, J. História e Memória. 4 ed. Trad. Bernardo Leitão et al. Campinas, SP:
Editora da UNICAMP, 1996.
LIBÂNEO, J. C. A aprendizagem escolar e a formação de professores. Revista
Educar, n. 24, p.113-147, Editora UFPR: Curitiba, 2004.
SÃO MATEUS DO SUL, Lei Municipal n.º 158, de 04 de abril de 1990. Lei Orgânica
do Município de São Mateus do Sul - PR.
UNESCO. Perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que
almejam. São Paulo: Moderna, 2004.
125
APÊNDICES
126
Data da entrevista:
Nome:
Cargo:
Formação: ( ) Magistério
( ) Graduação : Matemática
( ) Pós- Graduação Lato Sensu
06. Quais são os materiais didáticos utilizados para valorizar o patrimônio cultural do
município de São Mateus do Sul?
127
Data da entrevista:
Nome:
Cargo:
Formação: ( ) Magistério
( ) Graduação : Matemática
( ) Pós- Graduação Lato Sensu
Tempo de serviço no Magistério:
Tempo de serviço na Escola:
02. Quais são as ações desenvolvidas pela Escola para a preservação da memória
e do Patrimônio Cultural em São Mateus do Sul, tais como:
- investimentos em cursos de capacitação de professores;
- investimentos em materiais didáticos;
- planejamentos de atividades culturais, como conferências, e eventos;
- projetos de valorização do patrimônio cultural;
- divulgação do patrimônio local.
06. Quais são os materiais didáticos utilizados na Escola para valorizar o patrimônio
cultural do município de São Mateus do Sul?
128
Data da entrevista:
Nome:
Cargo:
Formação: ( ) Magistério
( ) Graduação : Matemática
( ) Pós- Graduação Lato Sensu
04. Quais são os processos metodológicos utilizados em sala de aula para valorizar
o patrimônio cultural do município de São Mateus do Sul?
05. Quais são os materiais didáticos utilizados em sala de aula para valorizar o
patrimônio cultural do município de São Mateus do Sul?