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UNICEUPI - Centro Universitário do Piauí

DIEGO SOARES DA SILVA

PSICOPATA E DIREITO PENAL

TERESINA
2019
DIEGO SOARES DA SILVA

PSICOPATA E DIREITO PENAL

TERESINA
2019
PSICOPATA E DIREITO PENAL

DIEGO SOARES DA SILVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência


parcial para obtenção do diploma do Curso de Bacharelado em
Direito do Centro Universitário do Piauí - UNICEUPI

APROVADO pela Banca Examinadora em:

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________
Profª.
Orientadora – Presidente

_________________________________________________________
Prof.
Coorientador

_______________________________________________________
Prof.

_______________________________________________________
Prof.
4

PSICOPATA E DIREITO PENAL

Diego Soares da Silva1


Profº. Orientador: Francisco de Sousa Vieira Filho2
RESUMO
O estudo da mente criminosa sempre foi um importante e polêmico tema discutido no Direito Penal.
Entender as razões sociais e morais além da motivação que levam um indivíduo a delinquir,
analisando sua personalidade e também a perspectiva sociocultural em que está inserido, é de suma
importância para a aplicação da lei penal ao caso concreto. Os psicopatas são incapazes de
compreender com a correção e de mudar seus hábitos. Eles atingem duramente o que querem,
descumprindo as normas sociais sem a menor percepção de remorso ou arrependimento, excluindo
quem entra em seu caminho. No sistema penitenciário brasileiro, não existe um procedimento de
diagnóstico para a psicopatia, especialmente nas situações em que o penitenciado solicita benefícios
ou redução de penas ou mesmo para julgar se está apto a cumprir sua pena em regime semiaberto.
No Brasil, o direito penal estabelece que o condenado passe no máximo, 30 (trinta) anos preso
quando for atestada sua sanidade, porém, nos casos de sanidade reduzida à norma jurídica e a
jurisprudência brasileira com força voltada a Constituição vigente, direciona esses casos a redução da
pena e quando necessários sujeitos à medida de segurança por tempo determinado e a tratamento
médico-psiquiátrico, priorizando o tratamento ambulatorial em relação à internação, como orientação
do CNJ a todos os juízes criminais, isto derivado da Lei 10. 2016/01. O presente artigo trata da
polêmica na doutrina e na jurisprudência, quando o psicopata fica à frente do Código Penal Brasileiro,
o estudo da psicopatia; a culpabilidade; a inimputabilidade e imputabilidade e a semi-imputabilidade à
luz do Código Penal Brasileiro.

Palavras-chave: Criminal law; Penal Code; Psycho; Diagnosis; Personality

Diego Soares da Silva


Teacher Guiding: Francisco Soares Vieira Filho

ABSTRACT
The study of the criminal mind has always been an important and controversial topic discussed in
criminal law. Understanding the social and moral reasons beyond the motivation that lead an individual
to delineate, analyzing their personality and also the sociocultural perspective in which it is inserted, is
of paramount importance for the application of criminal law to the specific case. Psychopaths are
unable to understand correction and change their habits. They hit hard what they want, disregarding
social norms without the slightest sense of remorse or regret, excluding those who get in their way. In
the Brazilian penitentiary system, there is no diagnostic procedure for psychopathy, especially in
situations where the penitentiary requests benefits or reduced penalties or even to judge whether he is
fit to serve his semi-open sentence. In Brazil, criminal law establishes that the convicted person spend
a maximum of 30 (thirty) years in prison when his / her sanity is attested, however, in cases of sanity
reduced to the legal norm and Brazilian jurisprudence with force in force to the current Constitution,
directs these cases. the reduction of the penalty and when necessary subject to a security measure for
a fixed period and medical-psychiatric treatment, prioritizing outpatient treatment over hospitalization,
as guidance of the CNJ to all criminal judges, this derived from Law 10. 2016/01. This article deals
1
Graduando Curso de Bacharelado em Direito da UNICEUPI – Centro Universitário do Piauí.
E-mail: diegosoaress89@gmail.com
2
Professor Me. do UNICEUPI – Centro Universitário do Piauí.
E-mail: iarcovich@hotmail.com
5

with the controversy in doctrine and jurisprudence, when the psychopath is ahead of the Brazilian
Penal Code, the study of psychopathy; the culpability; inimputability and imputability and semi-
imputability in the light of the Brazilian Penal Code.
Keywords: Criminal law; Penal Code; Psycho; Diagnosis; Personality

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objeto de apreciação, o psicopata frente


ao Direito Penal Brasileiro vigente. O tema escolhido é recorrente atualmente, face a
crescente onda de crimes cometidos por agentes portadores desse transtorno de
personalidade. Devido a isso, abordaremos suas peculiaridades essenciais. O
estudo da mente criminosa sempre foi um importante e polêmico tema discutido no
Direito Penal. Entender as razões sociais e morais além da motivação que levam um
indivíduo a delinquir, analisando sua personalidade e também a perspectiva
sociocultural em que está inserido, é de suma importância para a aplicação da lei
penal ao caso concreto.

O Direito Penal brasileiro tem se mostrado ineficaz no tratamento dado ao


delinquente portador de psicopatia, uma vez que os mesmos não são passiveis de
ressocialização, e necessitam de outra medida imposta a eles para que não
acarretem risco para a sociedade. A psicopatia ainda é algo que desafia as ciências
criminais e a própria justiça, tanto que diante desse contexto, até então não existe
disposição específica no ordenamento jurídico a fim de controlar e evitar a prática
dos fatos delituosos que esses indivíduos possam cometer.

Nesse contexto, o objetivo geral desse artigo é sobrepor em debate a figura


do psicopata no Judiciário brasileiro e oferecer novos subsídios a fim de auxiliar
nessa busca pela resposta penal adequada. Sendo assim, a importância do tema se
justifica devido à gravidade da não identificação desses psicopatas inseridos nas
penitenciárias, e quando identificados a dificuldade enfrentada atualmente em
relação aos tratamentos e punições a esses indivíduos considerados intratáveis e
incuráveis. Os psicopatas são incapazes de compreender com a correção e de
mudar seus hábitos. Eles atingem duramente o que querem, descumprindo as
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normas sociais sem a menor percepção de remorso ou arrependimento, excluindo


quem entra em seu caminho.

A respeito da psicopatia, Silva (2014, p. 38) explana:

É importante ressaltar que o termo psicopata pode dar a falsa impressão de


que se trata de indivíduos loucos ou doentes mentais. A palavra psicopata
literalmente significa doença da mente (do grego psyche= mente; e pathos =
doença). No entanto, em termos médico-psiquiátricos, a psicopatia não se
encaixada na visão tradicional das doenças mentais. Esses indivíduos não
são considerados loucos nem apresentam algum tipo de desorientação.
Também não sofrem de delírios ou alucinações (como a esquizofrenia) e
tampouco apresentam intenso sofrimento mental (como a depressão ou o
pânico, por exemplo).

A medida de segurança também poderá ser aplicada para o sujeito


diagnosticado como semi-imputável, ou seja, aquele que, por força de perturbação
da saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento. Nesta hipótese, todavia, a imposição da medida de
segurança será facultativa e terá caráter substitutivo, pois, caso o juiz não se
convença de sua necessidade, poderá simplesmente reduzir a pena de um a dois
terços, conforme dispõe o art. 26, parágrafo único, do Código Penal. A possibilidade
da facultativa aplicação de medida de segurança vem prevista no art. 98 do Código
Penal:

Art. 98. Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e


necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa
de liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento
ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do
artigo anterior e respectivos §§ 1º a 4º.

De acordo com Silva (2014, p. 152-153), no sistema penitenciário brasileiro,


não existe um procedimento de diagnóstico para a psicopatia, especialmente nas
situações em que o penitenciado solicita benefícios ou redução de penas ou mesmo
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para julgar se está apto a cumprir sua pena em regime semiaberto. A autora ainda
afirma que, se existisse esse procedimento e se ele fosse utilizado dentro dos
presídios brasileiros, com toda certeza os psicopatas ficariam presos por muito mais
tempo e as taxas de reincidência de crimes violentos diminuiriam significativamente.

De acordo com Lebre (2012-2013, p. 273) as medidas de segurança


traduzem, em sua essência, a ideia de providência, precaução, cautela,
característica especial de dispensar cuidados a algo ou alguém para evitar um
determinado mal. Relata também que é exatamente nessa perspectiva que elas
acabam consagrando seu escopo primordial em atuar no controle social, afastando o
risco inerente ao indivíduo que é inimputável por doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto e que praticou uma infração penal.

Considerando que, os psicopatas não conseguem aprender com suas falhas


ou com penalidades, em alguns países como os Estados Unidos da América, foram
adotados o sistema conhecido como Escala Hare, criada pelo o psicólogo
canadense Robert Hare e reconhecida mundialmente, usado para medir os graus de
psicopatia, é considerado o instrumento mais fidedigno para identificar se de fato o
indivíduo é ou não um psicopata. No Brasil, o direito penal estabelece que o
condenado passe no máximo, 30 (trinta) anos preso quando for atestada sua
sanidade, porém, nos casos de sanidade reduzida à norma jurídica e a
jurisprudência brasileira com força voltada a Constituição vigente, direciona esses
casos a redução da pena e quando necessários sujeitos à medida de segurança por
tempo determinado e a tratamento médico-psiquiátrico, priorizando o tratamento
ambulatorial em relação à internação, como orientação do CNJ a todos os juízes
criminais, isto derivado da Lei 10. 2016/01.

O presente artigo trata da polêmica na doutrina e na jurisprudência, quando o


psicopata fica à frente do Código Penal Brasileiro, o estudo da psicopatia; a
culpabilidade; a inimputabilidade e imputabilidade e a semi-imputabilidade à luz do
Código Penal Brasileiro. Por fim, encerrando o estudo, chega-se à conclusão de que
supramencionados indivíduos, psicopatas, não sejam eles merecedores com o
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“benefício” da semi-imputabilidade, prevista no artigo 26, § único do Código Penal


Brasileiro.

2. METODOLOGIA DA PESQUISA

A metodologia aferida neste artigo foi realizada em processo investigativo, por


meio de pesquisa bibliográfica em livros, artigos científicos e revistas especializadas
sobre O Idoso e o Abandono nos Asilos. De acordo com Cervo, Bervian e/ Silva
(2007, p.61), a pesquisa bibliográfica “constitui o procedimento básico para os
estudos monográficos, pelos quais se busca o domínio do estado da arte sobre
determinado tema”.

Ainda segundo os autores, este estudo é caracterizado também como


pesquisa exploratória, já que não requer a formulação de hipóteses para serem
testadas, restringindo por definir objetivos e buscar informações sobre determinado
assunto de estudo, sendo assim um passo importante para o projeto de pesquisa.

O método utilizado nesse Artigo foi de pesquisa bibliográfica que tem por
finalidade fundamentar e contextualizar com abordagem de autores conceituados
para maior embasamento do tema tratado. De acordo com Gil (1999), o
pesquisador necessita ampliar o seu conhecimento, ser curioso e criativo e adquirir
leitura para respaldar os conceitos. Dentro desse contexto Pádua (1997), diz que
pesquisa é uma atividade que está relacionada a assuntos que instigam a
inquietação da realidade e que direciona a um novo conhecimento.

Os procedimentos metodológicos foram vivenciados e desenvolvidos com


uma pesquisa bibliográfica de natureza documental para revisão teórica através de
uma leitura de livros, sites, revistas científicas e artigos impressos e eletrônicos que
contribuíram para o suporte da base teórica necessária e para fins de coletar
informações fundamentais para a realização e fundamentação do objeto em estudo
que se pretende pesquisar. Ressaltamos ainda que é de suma importância para
9

qualquer atividade de pesquisa que tenham uma orientação que venha com uma
organização da metodológica que irá nortear o passo a passo da pesquisa.

3. PSICOPATIA: COMO IDENTIFICAR UM COMPORTAMENTO PSICOPATA

A psicopatia está entre os distúrbios mentais mais difíceis de diagnosticar e


detectar. O psicopata pode parecer normal e até mesmo ser encantador. No entanto,
ao psicopata falta consciência e empatia, tornando-o manipulador, volátil e muitas
vezes (mas não é sempre) criminoso. Este distúrbio é objeto de fascínio popular e
angústia clínica: a psicopatia adulta é amplamente impermeável ao tratamento,
embora existam programas para tratar jovens insensíveis e sem emoção na
esperança de impedir que eles se transformem em psicopatas.
Os psicopatas, por outro lado, são incapazes de formar vínculos emocionais ou
sentir empatia real com os outros, embora muitas vezes tenham personalidades
sedutoras ou mesmo charmosas.

Os psicopatas são muito manipuladores e podem facilmente conquistar a


confiança das pessoas. Eles aprendem a imitar as emoções, apesar da
incapacidade de senti-las, e parecerão normais às pessoas desavisadas. Os
psicopatas são muitas vezes bem-educados e mantêm empregos estáveis. Alguns
são tão bons na manipulação e simulação, que eles têm famílias e outros
relacionamentos de longo prazo, sem que aqueles que o rodeiam suspeitem de sua
verdadeira natureza.
Conforme CASOY (2002), isso se explicaria porque os psicopatas fazem
ligações cerebrais mais lentas, precisando constantemente de estímulos para excitar
o cérebro e avivar as emoções. Sofrem alterações comportamentais em função de
anomalias da personalidade ou de incapacidade de adaptação a si mesmos e ao
ambiente que integram.

 O que é Psicopata:

Psicopata é um indivíduo clinicamente perverso, que tem personalidade


psicopática, com distúrbios mentais graves. Um psicopata é uma pessoa que sofre
um distúrbio psíquico, uma psicopatia que afeta a sua forma de interação social,
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muitas vezes se comportando de forma irregular e anti-social. Em sentido mais


amplo, uma psicopatia é uma doença causada por uma anomalia orgânica no
cérebro. Em sentido restrito, é um sinônimo de psicose (doença mental de origem
neurológica ou psicológica). O termo Psicopata apresenta vários sinônimos, como:
Personalidade Psicopática, Transtorno Dissocial, e atualmente alude-se o termo
psicopata com Sociopata.

4. A PSICOPATIA DENTRO DO SISTEMA JURÍDICO – PENAL

O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 2614, prevê, a hipótese clássica de


inimputabilidade, afirmando que “é isento de pena o agente que, por doença mental
ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-

se de acordo com esse entendimento. “É melhor prevenir os crimes do que ter de


puni-los; e todo legislador sábio deve procurar antes impedir o mal do que repará-lo,
pois uma boa legislação não é senão a arte de proporcionar aos homens o maior
bem-estar possível e preservá-los de todos os sofrimentos que se lhes possam
causar, segundo cálculos dos bens e dos males desta vida.” Cesare Beccaria (2011,
p. 115).

Nesta senda, o avanço científico no conhecimento do funcionamento do


cérebro torna-se relevante para o conceito jurídico-penal de culpabilidade e a
inclusão da psicopatia no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações
Mentais (DSM-V) traz à tona a necessidade de um posicionamento do direito em
relação a tal fenômeno. A ausência de uma definição no Direito Penal quanto aos
autores psicopatas é uma problemática que atinge tanto esses próprios indivíduos,
que não possuem um lugar definido dentro do sistema criminal, quanto à sociedade
que sofre com a violência causada por um sistema carcerário que não cumpre a real
função da pena. De acordo com Greco (2010, p. 396), destacamos algumas
considerações relevantes sobre imputabilidade, inimputabilidade e semi-
imputabilidade:
11

Para que o agente possa ser responsabilizado pelo fato típico e ilícito por ele
cometido é preciso que seja imputável. A imputabilidade é a possibilidade de se
atribuir, imputar o fato típico e ilícito ao agente. A imputabilidade é a regra; a
inimputabilidade, a exceção.

Destarte, imputabilidade é um conjunto de características que quando


atribuídas ao agente, admite ou não a culpabilidade do mesmo. Assim:

A imputabilidade é constituída por dois elementos: um intelectual


(capacidade de entender o caráter ilícito do fato), ouro volitivo (capacidade
de determinar-se de acordo com esse entendimento). O primeiro é a
capacidade (genérica) de compreender as proibições ou determinações
jurídicas. Bettiol diz, eu o agente deve poder ‘prever as repercussões que a
própria ação poderá acarretar o mundo social’ deve ter, pois, ‘a percepção
do significado ético-social do próprio agir’. O segundo, a capacidade de
dirigir a conduta de acordo com o entendimento ético-jurídico. Conforme
Bettiol é preciso que o agente tenha condições de avaliar o valor que o
impele à ação e, do outro lado, o valor inibitório da ameaça penal. (Brodut,
1996 apud Greco, 2010, p. 395).

A imputabilidade apresenta um aspecto intelectivo, consistente na capacidade


de entendimento, e outro volitivo, que é a faculdade de controlar e comandar a
própria vontade. Faltando um desses elementos, o agente não será considerado
responsável pelos seus atos. Nosso ordenamento Penal Brasileiro classifica o
psicopata como sendo semi-imputável, alegando que o portador possui uma
perturbação mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado que torna o
indivíduo parcialmente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com tal entendimento, como dispõe o parágrafo único do artigo 26 do
Código Penal.

No Código Penal Brasileiro segundo Nucci (2013), existem duas situações


nas quais um agente pode ser considerado inimputável: Inimputabilidade por doença
mental e Inimputabilidade por maturidade natural. Como assegura os artigos 26, 27
do Código Penal e 228 da Constituição Federal, em que destacamos junto a Nucci
(2013):
12

 Art. 26. - É isento de pena o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
 Art. 27. - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis,
ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.
 Art. 228. - São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos
às normas da legislação especial.

Para a constatação da inimputabilidade penal, é mister observar alguns critérios:

 I – higidez biopsíquica (saúde mental +capacidade de apreciar a criminalidade


de fato);
 II – Maturidade (desenvolvimento físico + mental que permite o ser humano
viver em harmonia social).

Ainda de acordo com Nucci (2013), nosso código penal, no art. 26, parágrafo
único, para um agente ser considerado semi-imputável, o crime deve ter sido
cometido nas seguintes condições:

Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o


agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento
(NUCCI, 2013).

O código Penal Brasileiro em nada disciplinou acerca da psicopatia, tampouco


sobre a existência de tal anomalia, e o que justifica a ausência legislativa sobre este
aspecto é a incerteza da psiquiatria em definir supra personalidade. Entretanto, o
fato de haver omissão legislativa não nos impede de analisar a psicopatia conforme
as regras estabelecidas pelo Código Penal Brasileiro, bem como o entendimento de
alguns doutrinadores.
13

5. SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL BRASILEIRO

Quando uma infração penal é cometida por um agente portador de transtorno


mental observa-se, de um ponto de vista social, “os preconceitos ambivalentes e
contraditórios”. Se este ato infracional for praticado com crueldade e frieza, a
sociedade logo trata de classificar o sujeito ativo (criminoso) como “louco”, e,
automaticamente a sociedade é impelida a exigir normas mais duras, inflexíveis do
nosso sistema de justiça criminal. O direito penal ocupa-se de “proteger os bens
mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da sociedade”
(GRECO, Op. Cit., p.2), e a pena aplicada ao agente infrator tem a finalidade de
reprovar e prevenir a prática de delitos.

A Constituição Federal delineia uma série de princípios e diretrizes relativos


ao processo penal. Entre os princípios constitucionais, destacam-se:

 A presunção da inocência – ou da não-culpabilidade, como preferem alguns juristas;


 O princípio do devido processo legal, contraditório e da ampla defesa;
 O da verdade real ou da busca da verdade;
 Da irretroatividade da lei penal;
 O princípio da publicidade;
 Do juiz natural – “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente” (CF, art. 5o, LIII).

Os órgãos de Justiça criminal no Brasil organizam-se nos níveis federal e


estadual: juízes federais, Tribunais Regionais Federais, Ministério Público Federal e
Defensoria Pública da União, no primeiro caso, e juízes estaduais, Tribunais de
Justiça, Ministérios Públicos e Defensorias Públicas Estaduais. As competências de
cada um destes órgãos são ditadas pela Constituição Federal e pelas legislações
específicas, como as leis estaduais de organização judiciária.

A Justiça federal em cada região está organizada em varas especializadas e não


especializadas, havendo varas federais criminais em algumas comarcas, além dos
Tribunais Regionais Federais e dos Juizados Especiais Federais. Cada tribunal atua
por meio de seu pleno, de seu órgão especial e de seções e/ou turmas
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especializadas, entre as quais algumas se dedicam exclusivamente ou não aos


feitos de matéria penal.

6. SANÇOES PENAIS ADEQUADAS AOS PSICOPATAS

Em nosso ordenamento jurídico, conforme já citado, aos agentes que


cometem infrações penais, são impostas como sanção a privação de liberdade (esta

é a mais comum) ou a medida de segurança. Já ilustramos que a reincidência


criminal desses sujeitos é recorrente, face a outros delinquentes. Conforme explica
Silva (2008, p. 133), “a taxa de reincidência criminal dos psicopatas é cerca de duas
vezes maior que a dos demais criminosos”. Ora, se o psicopata não constitui a pena
a ele imposta como um meio coercitivo e preventivo eficaz, de nada adiantaria lhe
imputar tal sanção.

Jorge Trindade (2012, p. 176-177) em seu manual de Psicologia Jurídica aduz


“não haver evidências de que podem existir tratamentos psiquiátricos com eficiência
real na redução da violência ou criminalidade, contra psicopatas”. Estudos apontam
que os psicopatas desestruturam as próprias instituições de tratamento, burlam as
normas de disciplinas, contribuindo-se para si mesmo proveito de tal
desestruturação. No atual sistema penal brasileiro, conforme já aduzido, aos autores
de infrações penais são impostas, como espécies de sanção criminal, a pena ou a
medida de segurança (sistema unitário).

Entretanto, ante a falta de capacidade de aprendizado dos psicopatas com a


sanção penal, os estudiosos alertam para o problema da reincidência criminal, não
constituindo a pena um meio coercitivo e preventivo eficaz contra psicopatas,
esvaziando a finalidade de prevenção especial da reprimenda quanto a esses
infratores em especial. Conclui-se que aos psicopatas autores de infrações penais
devem ser aplicadas penas e não medidas de segurança, sendo que a segregação
dos psicopatas juntamente com os demais presos se revela contraproducente para a
sociedade e para o próprio sistema prisional, sendo que em alguns países
desenvolvidos os psicopatas são separados em celas específicas (individualizadas)
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em relação aos demais presos (Canadá, Austrália e parte dos Estados Unidos, por
exemplo).

7. CONCLUSÃO

As reflexões ora apresentadas neste artigo procuraram evidenciar a


necessidade de uma resposta penal adequada aos criminosos psicopatas diante da
notória lacuna na legislação, gerando suas consequências sociais. Ainda que reze o
caput do artigo 26 do nosso Código Penal quanto à previsão de não punir o
indivíduo incapaz de compreender os seus atos, não existe ainda a previsão
expressa para a psicopatia, mesmo porque, para alguns, eles não são considerados
como doentes mentais, dessa forma, conseguem compreender perfeitamente as
consequências de seus atos.

A psicopatia sempre desafiou a Justiça, primeiramente no sentido de se


definir o que seja a psicopatia e como identificá-la no infrator, bem como decidir se o
psicopata deveria ser considerado imputável, semi-imputável ou inimputável,
permitindo a aplicação da sanção penal adequada. Contudo, para sua
implementação e efetiva aplicação no país, necessita-se da edição de lei específica
que adote o teste como elemento de identificação desses indivíduos psicopatas,
bem como que exija a realização de uma avaliação interdisciplinar técnica antes do
deferimento de benefícios durante a execução penal desses sentenciados
psicopatas, evitando-se a reinserção social precoce, além da reincidência criminal.

O Direito Penal brasileiro tem se mostrado ineficaz no tratamento dado ao


delinquente portador de psicopatia, uma vez que os mesmos não são passiveis de
ressocialização, e necessitam de outra medida imposta a eles para que não
acarretem em risco para a sociedade, mostrando-se não possuir normas especificas,
existindo a dúvida quanto a culpabilidade e imputabilidade do psicopata, que é
resolvida apenas de acordo com o entendimento de cada magistrado. As reflexões
ora apresentadas neste trabalho procuraram evidenciar a necessidade de uma
resposta penal adequada aos criminosos psicopatas diante da notória lacuna na
legislação, gerando suas consequências sociais.
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Por fim, concluímos que, mesmo que tendamos à compreensão de que ao


psicopata seja necessária a aplicação de uma medida protetiva, com a devida
internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, na prática, não é o que
ocorre, e não podemos negar esta realidade. Pois, a maioria dos magistrados
entendem que esses agentes devem ser privados de sua liberdade, em presídios
normalmente de segurança máxima, em virtude de seu alto grau de periculosidade.

E geralmente, por cometer vários crimes, culminando em penas


demasiadamente longas, os juízos responsáveis pelo cumprimento da execução
condenatória, preferem mantê-los na condição de reclusos por dois motivos: ou por
não apresentarem os agentes melhoras em seus comportamentos psíquicos, ou por
não terem os juízes escopo legal para tomarem uma medida eficaz, que possibilite
ao encarcerado a alternativa de ser inserido novamente em sociedade. Ou, ainda,
que lhe seja oferecido uma posição melhor após o cumprimento integral de sua
pena.

Logo, diante da suspeita do réu ser portador de psicopatia, cabe ao juiz


determinar a realização de avaliações, a fim de se verificar o diagnóstico do infrator,
inclusive o grau da psicopatia, se for o caso. Diante da ausência de norma penal
relacionada à figura do psicopata e da variação, por muitas décadas, de concepções
para a psicopatia, é até compreensível que atualmente os psicopatas sejam tratados
como semi-imputáveis. Entretanto, com tudo que foi exposto sobre o assunto, é de
nosso entendimento que estes indivíduos devam ser considerados como imputáveis.

A partir deste ponto foi revelada a complicação jurídica da psicopatia, e


demonstrado a necessidade da edição de lei específica que visem à situação dos
psicopatas criminosos sem descuidar do princípio fundamental da Dignidade da
Pessoa Humana, e não deixar incidir sobre a sociedade a sensação de insegurança
jurídica quando um indivíduo considerado psicopata retornar ao convívio social.
17

7. REFERÊNCIAS

CASOY, Ilana. Serial Killer: Louco ou Cruel. 2.ed. São Paulo: Mandras, 2002.
LEBRE, Marcelo. Medida de segurança e periculosidade criminal: medo de
quem? Responsabilidades. Revista interdisciplinar do programa de atenção
integral ao paciente judiciário do TJMG –Medida de Segurança: do que se trata?
v. 2. n. 2. set. 2012/fev. 2013.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2013.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal - Parte geral/ Parte especial.
7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
SANTOS. Claudiene Reis dos. A psicopatia e seus reflexos na legislação
penal: imputabilidade versus semi-imputabilidade. Disponível em: www.ambito-
juridico.com.br. Com acesso em 07 de dezembro de 2019
TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. 6.
ed. rev. atual. e ampl. – Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012.
REVISTA MUNDO ESTRANHO. Psicopatas. Editora Abril. Edição 103, setembro de
2010
O Psicopata frente ao Código Penal brasileiro
Valéria Santos de Oliveira
O presente artigo trata-se da polêmica na doutrina e na jurisprudência, quando o
psicopata fica à frente do Código Penal Brasileiro. Artigos 26, 27 do Código
18

Penal e 228 da Constituição Federal // Artigo 26, § único do Código Penal Brasileiro.
Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/60016/o-psicopata-frente-ao-codigo-penal-brasileiro com
acesso em 07 de Dezembro de 1019
A PSICOPATIA E O DIREITO PENAL NA BUSCA DA SANÇÃO PENAL
ADEQUADA - SILVA, Caroline Rodrigues1 (UEMS); SANTOS, Mauro Carvalho
Dos2 (UEMS); VASCONCELOS, Priscila Elise Alves3 (UVA). Disponível em:
https://periodicosonline.uems.br/index.php/RJDSJ/article/view/3071/2381 com
acesso em 07 de Dezembro de 2019
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS ESCOLA SUPERIOR DO
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS
PAILI PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRAL AO LOUCO INFRATOR. Disponível
em:http://www.mpgo.mp.br/portal/arquivos/2013/08/19/15_33_20_501_mioloPAILI_L
ayout.pdf com acesso em 07 de Dezembro de 2019.

Transtorno de personalidade antissocial e Direito Penal


Carlo Velho Mais – Disponível em:
https://canalcienciascriminais.com.br/transtorno-personalidade-antissocial/ com
acesso em 07 de Dezembro de 2019
SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL NO BRASIL: QUADRO INSTITUCIONAL E UM
DIAGNÓSTICO DE SUA ATUAÇÃO
Helder Ferreira** Natália de Oliveira Fontoura** Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1330.pdf com acesso em
07 de Dezembro de 2019

O psicopata e o direito penal brasileiro


Alex Moises de Oliveira
Bacharel em Direito pela Faculdade de Educação Ciências e Artes Dom Bosc –
Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/o-psicopata-e-o-direito-penal-
brasileiro/ com acesso em 07 de Dezembro de 2019

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