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NEUROCIÊNCIA E O COMPORTAMENTO CRIMINOSO:

IMPLICAÇÕES PARA O DIREITO PENAL

Haroldo Lima dos Santos


Mestrando em Direito da Saúde: dimensões individuais e coletivas
Instituto de Educação Superior Santa Cecília – UNISANTA – Santos/SP
haroldomocls@yahoo.com.br

Marcelito Lopes Fialho


Advogado Autônomo
Docente
Mestrando em Direito da Saúde: dimensões individuais e coletivas
Instituto de Educação Superior Santa Cecília – UNISANTA – Santos/SP
marcelito.fialho@bol.com.br

Karina Pregnolato Reis


Advogada Autônoma e Executivo Público I
Departamento Regional de Saúde de Bauru/SP – DRS VI
Mestranda em Direito da Saúde: dimensões individuais e coletivas
Instituto de Educação Superior Santa Cecília – UNISANTA – Santos/SP
Especializanda em Saúde Pública: política, planejamento e gestão
UNIDERP – Educação à distância. Graduanda em Ciências Sociais
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP – Faculdade de Filosofia e
Ciências – Marília/SP
kpr.adv2010@gmail.com

Márcia Villar Franco


Advogada Autônoma
Mestranda em Direito da Saúde: dimensões individuais e coletivas
Instituto de Educação Superior Santa Cecília – UNISANTA – Santos/SP
mvillarf62@gmail.com

Ricardo Bezerra de Oliveira


Advogado Autônomo
Docente
Mestrando em Direito da Saúde: dimensões individuais e coletivas
Instituto de Educação Superior Santa Cecília – UNISANTA – Santos/SP
ricardo.oliveira@ifma.edu.br

Resumo: Este trabalho visa a contribuir para uma visão mais ampla e profunda
sobre a influência dos novos conhecimentos sobre as neurociências e a capacidade
do sistema neuronal e sua influência nas condutas humanas, assim como sua
capacidade de adaptação e evolução. Nesta pesquisa bibliográfica, procurou-se
conceituar as neurociências e sua relação com a culpabilidade, como enfrentar o
direito penal da saúde e o livre-arbítrio condicionado às mutações cerebrais. Esse
artigo propõe uma reflexão sobre tutela penal da saúde, enquanto relacionada às
descobertas das neurociências, que exige atuação protetiva estatal como direito
social, prevenção específica e prevenção geral.
Palavras-chave: Direito Penal da Saúde, Neurociências e Culpabilidade,
Neurociências e Livre-Arbítrio, Sistema Punitivo.
Área de Conhecimento: Humanas.

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1. Introdução
Uma reflexão é necessária, a partir das novas percepções, à luz das
neurociências, sobre sua influência nas condutas humanas e até que ponto pode-se
falar em decisão e vontade, em casos de lesões, alterações ou funções cerebrais e
doenças mentais.
Sob esse aspecto, a punição específica, cujo objetivo é reeducar e
ressocializar, poderia ficar prejudicada, dependendo do estado físico e psicológico
do agente e até levar em consideração o aspecto irreversível de tais alterações.
No que concerne à prevenção geral, se as neurociências trazem um novo olhar
à punição, devendo ser considerada caso a caso, como aplicar a pena ou, até
mesmo, a adoção de medida de segurança apropriada para cada caso e, por meio
de sua aplicação, resgatar a confiança, a segurança e os valores sociais.
Atualmente, há necessidade que a doutrina atualize a noção de
responsabilidade e culpabilidade, pela ótica das neurociências. O pensamento
moderno fundava-se em mente, conceito e mundo. As neurociências alteram essa
percepção para cérebro, corpo e ambiente, considerando as mutações biológicas,
químicas e psicológicas. Estudos e pesquisas neurocientíficas contemporâneos vêm
demonstrando as possíveis implicações dessas descobertas no direito penal,
principalmente no que tange ao livre arbítrio e à culpabilidade.
A discussão sobre se o indivíduo possuiria, ou não, livre-arbítrio, à luz das
neurociências, não foi trazida ao Direito Penal somente pela evolução da técnica ou
pela imprescindibilidade de tal posição. Surge, porque que se faz necessário forçar
uma revisão do conceito de culpabilidade, colocando a ciência penal em
consonância com as eventuais conclusões das neurociências, sob esse aspecto.

2. Objetivo
O objetivo dessa pesquisa é, essencialmente, o de investigar e firmar
conceitos, no que diz respeito às neurociências, às doenças neurológicas e mentais,
seus aspectos epidemiológicos e impactos econômicos, à tutela penal da saúde, da
liberdade e da culpabilidade e suas implicações com as neurociências.

3. Metodologia
A metodologia utilizada para a pesquisa bibliográfica, com consulta a autores
especializados no tema, dera-se a partir dos métodos histórico-descritivo,
hermenêutico e positivista, para fins de método de abordagem; além do bibliográfico,
para fins de método de coleta; e o emprego da análise do discurso no que tange à
análise qualitativa e de abordagem teórica para o desenvolvimento do presente
artigo.

4. Desenvolvimento
4.1 A evolução histórica da violência
Cesare Lombroso foi um professor universitário e criminologista italiano,
nascido a 6 de novembro de 1835, em Verona, foi um homem polifacético; médico,
psiquiatra, antropólogo e político, sua extensa obra abarca temas médicos

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(“Medicina Legal”), psiquiátricos (“Os avanços da Psiquiatria”), psicológicos (“O
gênio e a loucura”), demográficos (“Geografia Médica”), criminológicos (“L’Uomo
delincuente). Tornou-se mundialmente famoso por seus estudos e teorias no campo
da caracterologia, ou a relação entre características físicas e mentais. Em uma
manhã de 1871, na costa Leste da Itália, Lombroso realizando uma necropsia de
rotina, observou o crânio de um bandido Calabrês chamado Giuseppe Villella.
Naquele momento, teve uma epifania que mudaria, drasticamente, o rumo da
criminologia. Ele detectou uma indentação incomum na base do crânio,
interpretando como a presença de um cerebelo menor. A teoria de Lombroso
questionava duas hipóteses: Havia no cérebro uma base anatômica para o crime e
os criminosos seriam um retrocesso evolutivo das espécies humanas primitivas.

4.2 Conceito de Imputabilidade Penal


Imputabilidade penal é a condição ou qualidade que possui o agente de sofrer
a aplicação de pena. E, por sua vez, só sofrerá pena aquele que tinha ao tempo da
ação ou da omissão capacidade de compreensão e de autodeterminação frente o
fato. Assim, imputabilidade é a capacidade de o agente, no momento da ação ou da
omissão, entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se frente tal fato. Somente
o imputável sofrerá pena.
Para ser imputável o agente deve ter capacidade de: 1- entender o caráter
ilícito do fato (compreensão das coisas) e 2 – determinar-se de acordo com esse
entendimento (capacidade de dirigir sua conduta considerando a compreensão que
anteriormente teve). A lei pressupõe a imputabilidade. Extraordinariamente, o
legislador arrola as hipóteses de exclusão da imputabilidade. Assim, em princípio
todos são imputáveis. De acordo com Fernando Capez, a imputabilidade apresenta
um aspecto intelectivo, consistente na capacidade de entendimento, e outro volitivo,
que a faculdade de controlar e comandar a própria vontade.
A imputabilidade é a condição legal para a imposição da sanção penal àquele
que praticou um fato típico e antijurídico. Ela existirá quando o autor do fato for
capaz, entenda-se mentalmente capaz, de compreender a ilicitude do ato praticado
ou se determinar de acordo com tal compreensão. Faltando ao autor a inteira
capacidade de compreensão da ilicitude de sua conduta, por uma doença mental ou
um desenvolvimento mental incompleto ou retardado, a ele não poderá ser imposta
sanção penal, sendo, então inimputável. Sua doença ou seu desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, contudo, devem ser a causa de sua total falta de
compreensão da ilicitude dos fatos. A simples existência de doença mental, que, por
seus sintomas, não atinge a capacidade de percepção do autor, não serve para o
reconhecimento da inimputabilidade. Esta é a característica determinante da teoria
biopsicológica ou mista, adotada pelo código penal brasileiro.
A hipótese do parágrafo único do artigo 26 do Código Penal, por sua vez, trata
de uma imputabilidade mitigada, diminuída, que advém de uma percepção reduzida
da ilicitude penal, igualmente decorrente de uma perturbação mental ou um
desenvolvimento mental incompleto ou retardado.

4.3 A Psicopatia e a (in) imputabilidade penal

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Indagação que sempre vem à mente daqueles que conhecem, ao menos en
passant, o artigo 26, caput e parágrafo único, do Código Penal Brasileiro, consiste
em saber: pessoas capazes de praticar delitos de anormal gravidade, crueldade e
frieza, não seriam portadoras de doença mental, ou, ao menos, de perturbação
mental que lhes retiraria, total ou parcialmente, a aptidão para compreender o
caráter ilícito de sua conduta, ou de determinar-se de acordo com este
entendimento?
A resposta a esta indagação possui importância concreta no destino que a
legislação penal reserva a estes criminosos. Se considerado portador de doença ou
perturbação mental, com nula ou reduzida capacidade de entendimento ou de
autocontenção, o criminoso está sujeito não a uma pena, no sentido técnico, mas
sim a uma medida de segurança. E isto porque, para os jurisconsultos em Direito
Penal, os criminosos nesta condição não possuem imputabilidade penal, que é
aquele juízo de reprovabilidade social que recai sobre a conduta do criminoso. Eles
são, em verdade, considerados apenas indivíduos perigosos, mas que, por não
terem a consciência ou o autocontrole próprio das pessoas sãs, não detêm a
chamada “culpabilidade penal”. E, sem culpabilidade, não temos pena, e sim medida
de segurança.
Condenados a cumprir medida de segurança, que via de regra impõe sua
internação em instituição de tratamento psiquiátrico, o criminoso não está sujeito a
um prazo para privação de sua liberdade, nos termos do artigo 97 do Código Penal.
Assim, enquanto perdurar o quadro psicopatológico originador da prática criminosa,
perdura a internação. Não existe um tempo de internação previamente definido na
sentença, assim como ocorre com as penas aplicadas aos criminosos reconhecidos
como sãos e, portanto, imputáveis.
Pois bem, estabelecida, em suma, a distinção de regime jurídico-penal para um
e outro caso, percebe-se a importância de se determinar se aquele indivíduo,
perpetrador de um delito cometido de forma assombrosamente cruel, denotando
frieza e insensibilidade sobre humana à vida de outrem, deve ser considerado
imputável ou inimputável sob a ótica do Direito Penal.
Guilherme de Souza Nucci, em sua obra Código Penal Comentado (Ed.
Revista dos Tribunais, 3ª Edição, p.174), traça vários exemplos de doenças mentais
que afastariam o criminoso de uma pena, no sentido técnico, e o sujeitariam ao
regime da medida de segurança. São elas a esquizofrenia, epilepsia, histeria,
neurastenia, paranoia, demência, senilidade, etc.
A questão é: e os portadores de psicopatia, carecedores que são, segundo
especialistas, de um mecanismo interno (presente nos indivíduos sãos) que lhes
permite sentir piedade, remorso, compaixão ou comiseração com a dor alheia -
mormente quando esta dor provém de uma conduta por eles mesmos infligida? São
eles portadores de uma doença ou perturbação mental que lhes retira ou atenua a
capacidade de entendimento ou de autocontrole perante ações criminosas?
Em outros termos, uma pessoa que agride, humilha, vilipendia ou extermina
outra, apresentando tamanha indiferença à sua dor ou à sua vida, deve ser
considerada portadora de uma doença mental para fins penais, ficando sujeita à
medida de segurança ao invés de uma pena, e sendo considerada apenas perigosa,
ao invés de culpável?

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E é importante ter-se em mente que, na visão da literatura psiquiátrica, a
psicopatia que atua como mola propulsora para a prática de crime não se restringe
apenas à esfera dos crimes contra integridade física de outrem, mas também se
desenvolve no campo da criminalidade financeira, ou de ludibrio da fé pública para
fins de um enriquecimento ilícito.
Nesse diapasão de ideias, cotejando-se a literalidade do artigo 26 do Código
Penal, que rege precisamente o tema atinente à inimputabilidade penal, e as
características descortinadas pela literatura psiquiátrica acerca dos criminosos
portadores de psicopatia, é de se concluir pela imputabilidade penal destes
indivíduos, uma vez que o distúrbio de personalidade de que são portadores não
afeta sua aptidão psicológica de entender a desconformidade de sua conduta com a
ordem jurídica e social imperante, sendo eles, assim, não apenas indivíduos
perigosos, mas, notadamente, culpáveis em relação a seus atos delituosos.

4.4 Medida de segurança e pena


Medida de segurança é toda a reação criminal, detentiva ou não detentiva, que
se liga à prática, pelo agente, de um fato ilícito típico, tem como pressuposto e
princípio de medida a sua periculosidade e visa finalidades de defesa social ligadas
à prevenção especial, seja sob a forma de segurança, seja sob a forma de
ressocialização.
A finalidade da medida de segurança seria a adequada reintegração social de
um indivíduo considerado perigoso para a própria sociedade. O Código Penal
Brasileiro de 1940 instituiu e sistematizou a aplicação da medida de segurança. No
seu início, foi adotado o sistema duplo binário (pena e medida de segurança), onde
a medida de segurança poderia ser aplicada em concomitância com a pena.
A finalidade da medida de segurança seria a adequada reintegração social de
um indivíduo considerado perigoso para a própria sociedade. O Código Penal
Brasileiro de 1940 instituiu e sistematizou a aplicação da medida de segurança. No
seu início, foi adotado o sistema duplo binário (pena e medida de segurança), onde
a medida de segurança poderia ser aplicada em concomitância com a pena.
Conforme o Decreto-lei 1.004:

Em 1969, por meio do Decreto-lei 1.004, o anteprojeto criminal inicial


de Nelson Hungria foi convertido em lei penal. O Código de 1969
classificou as medidas de segurança em detentivas e não detentivas,
acrescentando a estas últimas a interdição do exercício da profissão e
a cassação de licença para direção de veículos motorizados (art. 87).

No entanto, o mais importante deste Código foi a adoção do sistema vicariante


com respeito à aplicação da medida de segurança, proibindo-se a cumulação das
sanções detentivas (pena e medida de segurança). Se, na análise do caso concreto,
restasse comprovada a imputabilidade do agente, aplicar-se-ia a pena, como
sanção. Caso o mesmo fosse considerado absolutamente inimputável, seria
aplicada a medida de segurança. Configurado semi-imputável, o juiz optaria entre a
aplicação da pena ou da medida de segurança, de acordo com o caso. Portanto,
enquanto o fundamento para a aplicação da pena é a culpabilidade, a medida de

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segurança encontra embasamento na periculosidade aliada à inimputabilidade (ou
semi-imputabilidade) do indivíduo.
A medida de segurança constitui uma espécie de sanção penal imposta pelo
Estado. Sendo o Brasil um Estado Constitucional Democrático de Direito, devem ser
observadas na aplicação da medida de segurança as mesmas garantias e princípios
constitucionais que fundamentam a aplicação da sanção pena. A medida de
segurança e a pena privativa de liberdade constituem duas formas semelhantes de
controle social e, substancialmente, não apresentam diferenças dignas de nota.
Consubstanciam formas de invasão da liberdade do indivíduo pelo Estado, e, por
isso, todos os princípios fundamentais e constitucionais aplicáveis à pena e regem
também as medidas de segurança.

4.5 O Papel da pena no Estado Democrático de Direito


Aristóteles, Locke e Montesquieu na busca pelos fins do Estado, além da
separação dos três poderes e suas respectivas funções. Far-se-á uma breve
diferenciação entre o Direito Penal substantivo e o Direito Penal adjetivo a fim de
contemplar maiores aspectos do tema proposto. Adentrar-se-á no Direito Penal a
procura de sua finalidade e causa de sua tutela, assim como a função da sanção
penal. Até finalmente penetrar a finalidade em si da pena no Estado democrático de
Direito. Ao Estado foi atribuído papel de seguir e aplicar corretamente as leis
estabelecidas, sem se afastar da vontade comum do povo. Porém, a vida em
sociedade exige um complexo de normas disciplinadoras e ao conjunto dessas
regras se denomina direito positivo, que deve ser obedecido e cumprido por todos os
integrantes do grupo social, prevê as consequências e sanções aos que violarem
seus preceitos.
Para a reunião das normas jurídicas pelas quais o Estado proíbe determinadas
condutas, sob ameaça de sanção penal, posto ainda os princípios gerais e os
desígnios para a aplicação das penas e das medidas de segurança, nomeia-se de
Direito Penal, este, embutidamente dividido em Direito Penal substantivo e Direito
Penal adjetivo.
Teria o Direito Penal função ético- social pela proteção dos valores
fundamentais da vida social concretizando-se na proteção de bens jurídicos, ou seja,
bens vitais da sociedade e do indivíduo, que fazem jus a proteção em razão de sua
função social. A soma desses bens jurídicos constitui a ordem social e baseada na
função ético-social surge a função preventiva como consequência desta.
A fim de tudo que neste trabalho será proposto, verificar-se-á legitimo o
conceito de prevenção geral positiva, desde que compreendido que uma razoável
afirmação do Direito Penal em um Estado social democrático de Direito exige
respeito as limitações que serão verificadas nesta proposta. A pena sob este
sistema estatal, a prevenção geral e especial seria reconhecida.
Para a reunião das normas jurídicas pelas quais o Estado proíbe determinadas
condutas, sob ameaça de sanção penal, estabelecendo ainda os princípios gerais e
os pressupostos para a aplicação das penas e das medidas de segurança, dá-se o
nome de Direito Penal.
É designado pelo sistema de interpretação da legislação penal, ou seja, a
Ciência do Direito Penal, a expressão Direito Penal. Das necessidades humanas

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decorrentes da vida em sociedade surge o Direito, que visa garantir as condições
indispensáveis à convivência dos elementos que compõem o grupo social.
Como o Estado não pode aplicar as sanções penais arbitrariamente, na
legislação penal são definidos esses fatos graves, que passam a ser ilícitos penais
(crimes e contravenções), estabelecendo-se as penas e as medidas de segurança
aplicáveis aos infratores dessas normas. O imputável que comete ato ilícito caberá
uma Pena, já o inimputável que comete um ilícito penal será submetido a uma
medida de segurança, ao chamado semi-imputável poder-se-á aplicar uma pena ou
submetê-lo a uma medida de segurança.

4.6 Neuroimagem funcional e evolução no entendimento do cérebro e


comportamento humano
Nas últimas décadas a medicina tem experimentado notáveis avanços
metodológicos e científicos, evidenciando um importante progresso nos principais
indicadores de saúde. Especialidades como a cirurgia, a cardiologia, a radiologia,
entre outras, tem experimentado revolucionárias transformações em seus métodos
diagnósticos e terapêuticos, incrementando dessa forma a confiabilidade da prática
médica e o bem-estar de nossos pacientes. A psiquiatria também tem sido
favorecida por este desenvolvimento, aumentando sua objetividade, sua estabilidade
diagnóstica e sua eficiência terapêutica. A natureza multidimensional da psiquiatria e
seu principal objeto de estudo a conduta humana, fazem com que seus
procedimentos diagnósticos e terapêuticos sejam especialmente complexos,
heterogêneas, variáveis e, segundo alguns autores, pouco confiáveis.
No âmbito diagnóstico, as ciências naturais estão trazendo valiosos
conhecimentos acerca do funcionamento do cérebro e da conduta normal e anormal,
graças ao desenvolvimento a neuroimagem da medicina molecular, da
psicofarmacologia, da análise de tecido post-mortem e dos estudos genéticos das
principais enfermidades. Entretanto, o diagnóstico psiquiátrico não prescindirá o
conhecimento proveniente da psicopatologia e das ciências sociais porque o
diagnóstico psiquiátrico é essencial, longitudinal e deve se apoiar na literatura.
Exercer a psiquiatria sem considerar a psicopatologia do paciente é como praticar
cirurgia sem conhecer anatomia. Hoje em dia, o impacto de novas tecnologias em
medicina é medido por fatores bem definidos que influenciam a gerência do doente e
de sua doença.
Novas técnicas de neuroimagem têm revolvido antigos conceitos. Pacientes
que pareciam inconscientes surpreendem com seu padrão de ativação cerebral,
revelando que o que se passa em suas mentes vai muito além daquilo que
conseguimos perceber e julgar.
A neuroimagem está, na atualidade, totalmente incorporada ao diagnóstico e
diagnóstico diferencial dos transtornos neuropsiquiátricos. São diversas as técnicas
utilizadas pela neuroradiologia que contribuem para o esclarecimento das possíveis
causas etiopatogênicas dos transtornos mentais. Dessa forma a neuroimagem tem
sido um instrumento importante na busca das alterações cerebrais que possam estar
relacionadas à etiologia das patologias mentais.

4.7 CFM e Bioética

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Uma pessoa normal jamais cometeria uma violência, crime ou teria
comportamento violento. Esses seriam cometidos em pacientes portadores de
alterações antissociais da personalidade (AAP), condição caracterizada por
desonestidade, impulsividade, agressividade e falta de remorso ou culpa. Àqueles
acometidos por tal condição faltaria esse mecanismo inibitório ou de veto,
usualmente associado a uma disfunção dos lobos frontais do cérebro, importante
para o desempenho normal do comportamento social. Assim, sem o funcionamento
do lobo frontal, existiria um prejuízo na capacidade de utilizar as não decisões ou
veto contra as más decisões e escolhas, como ocorreria no caso do cérebro de
criminosos ou assassinos em série, incapazes de inibir seus impulsos violentos em
função de lesões envolvendo a porção orbital ventromedial e inferior de seus lobos
frontais.
O substrato anatômico e neurofisiológico no cérebro desperto que estabelece
anormalidade ou o patológico de nossos atos, escolhas, decisões, resolução de
dilemas éticos, caráter, emoções e consciência moral, os quais dependem de
sistemas e áreas específicas. Para isso, utiliza pesquisas da moderna neuroimagem
e testes neuropsicológicos que mapeiam as áreas cerebrais. Dentre essas, os lobos
frontais, o sistema límbico, o giro cíngulo, a amígdala temporal e o hipocampo, cuja
análise neurofisiológica demonstra que regulam o controle da normalidade psíquica,
o autocontrole e, também, o controle da agressividade, violência, livre-arbítrio,
responsabilidade e doença mental. Conclui que, se lesadas, essas áreas produzirão
respostas anormais ou patológicas nos âmbitos da cognição, julgamento moral e
pensamento ético.
Não se pode deixar de mencionar que em 2006 foi fundada a Neuroethics
Society, presidida pelo professor Steven Hyman, um dos diretores da Universidade
de Harvard. Essa recém instituída sociedade vem publicando seus suplementos no
The American Journal of Bioethics (Ajob) e sua missão, segundo o atual presidente,
é a de promover o desenvolvimento e a aplicação responsável das neurociências e
de seu progresso sem precedentes, alcançados nas últimas décadas nas ciências
básicas do cérebro e da mente. Assim, espera-se contribuir no tratamento das
desordens psiquiátricas e neurológicas, por intermédio da participação de
pesquisadores acadêmicos, cientistas e clínicos interessados nas implicações
sociais, legais, éticas e políticas produzidas pelos avanços das neurociências.

4.8 Neurociência e o Direito Penal da Saúde


Para entender como surge o comportamento violento, o psiquiatra britânico
Adrian Raine² esteve em cadeias de segurança máxima, onde analisou o cérebro de
criminosos perigosos e psicopatas. Professor de psiquiatria e criminologia na
Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, onde realiza estudos em áreas
tão variadas quanto neurociência, genética e saúde pública para dar origem a um
novo ramo da ciência: a neurocriminologia. Adrian Raine autor do livro The Anatomy
of Violence (A Anatomia da Violência, inédito em português), no qual descreve como
funciona o cérebro de um indivíduo violento e como uma série de tratamentos pode
prevenir esse tipo de comportamento. Assuntos delicados, como livre-arbítrio,
maioridade penal, sistema prisional, o cientista acredita que um dia será possível
prever quem tem maiores chances de cometer um crime apenas por meio de
imagens de seu cérebro. Mas adverte que esse cenário exigirá cautela.

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A neurocriminologia pode ajudar a explicar os casos extremos de violência,
pois é uma nova disciplina que está começando a se desenvolver nos Estados
Unidos e que envolve a aplicação de técnicas da neurociência para entender as
causas do crime. Para isso é importante juntar tudo o que foi aprendido nos últimos
anos – na genética, técnicas de imagem cerebral, neuroquímica, psicofisiologia e
neurocognição – para explicar porque algumas pessoas crescem para se tornar
criminosos violentos, não só dos criminosos comuns, mas também o de psicopatas,
criminosos de colarinho branco e homens que batem em suas esposas. Observa se
que o comportamento antissocial, não importa a forma, existe uma base biológica
para todos eles.
As formas diferentes de violência não têm a mesma base cerebral, conforme
evidenciou estudos com psicopatas em que os criminosos não têm empatia nem
remorso. Já sabíamos que eles têm um baixo funcionamento da amígdala (IMAGEM
1), o centro emocional do cérebro. A pesquisa mostrou ainda mais: que nesses
indivíduos a estrutura física dessa área é 18% menor do que no resto da sociedade.
Com o centro emocional reduzido e sem funcionar direito, os psicopatas passam a
não sentir medo. É por isso que eles quebram as regras da sociedade – pois não
têm medo da punição. Quando estudamos homens que batem em suas esposas, no
entanto, descobrimos que suas amígdalas são muito ativas, mas o córtex pré-frontal
não funciona direito. O córtex pré-frontal (IMAGEM 2) é a área que regula as
emoções. Nossa conclusão é que a alta atividade da amígdala resulta em reações
exageradas a estímulos leves, como receber críticas da esposa, o que os deixa mais
agressivos. Esses homens que respondem exageradamente aos estímulos não
possuem os recursos cognitivos para controlar essa emoção. São formas diferentes
de comportamentos antissociais, com tipos diferentes de predisposições biológicas.
Problemas em áreas cerebrais específicas podem levar a comportamentos
diferentes, pois quando temos de tomar uma decisão moral e pensamos em quebrar
a lei (e todos nós já pensamos em fazer algo errado), ficamos ansiosos, com um
pouco de medo. Esse é o freio de emergência que nos impede de quebrar as regras
da sociedade. Mas esse freio não funciona direito nos psicopatas. Eles sabem o que
é certo e errado, mas não têm o sentimento correspondente e é esse sentimento, e
não o conhecimento, que nos faz frear nosso impulso. Isso traz uma questão que me
fascinante. Como os psicopatas têm o motor emocional quebrado, e eles não têm
culpa de possuírem essa disfunção, será correto culpá-los e castigá-los por seu
comportamento? Essa é uma questão que teremos que discutir no futuro. Porém
nem todo o comportamento violento pode ser explicado por disfunções no cérebro,
devido a causas multifatoriais, pois na verdade, encontrar as causas da violência é
muito mais complexo do que isso. Só agora estamos começando a identificar com
segurança quais as áreas cerebrais que, se prejudicadas, aumentam as taxas de
violência. Mas esse é um quebra-cabeça com muitas peças.
A amígdala é uma peça, o córtex pré-frontal é outra peça, e certamente há
outras áreas cerebrais envolvidas. Mas também há outros tipos de peças, não é só a
biologia e fatores sociais também são importantes. Desemprego, pobreza,
preconceito racial, maus tratos paternos e más condições de habitação e educação
têm seu papel nisso e, inclusive, podem afetar o desenvolvimento cerebral.
Acontece que por décadas os pesquisadores têm estudado só essas peças sociais,
mas agora estamos descobrindo as peças biológicas do quebra-cabeça e o próximo
desafio será colocar essas peças juntas.

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Existe uma predisposição genética para a violência e já sabemos é que cerca
de 50% da variação nas taxas de violência podem ser atribuídas a fatores genéticos.
Conforme Galeno Alvarenga, psiquiatra, neurocientista e pesquisador, “os estudos
acerca da personalidade do estuprador têm mostrado aspectos de interesse
relevante para o entendimento de sua conduta sob o ângulo da psiquiatria”.
Segundo o especialista, a maioria, senão a totalidade dos estupradores são, ou
podem ser diagnosticados como portadores de algum transtorno de personalidade
antissocial. Este profissional refere em sua pesquisa que a bioquímica cerebral de
indivíduos analisados demonstra, dentre outros, um déficit no neurotransmissor
serotonina (IMAGEM 4). A diminuição dessa substância no cérebro tem sido
associada a atos impulsivos, impensados, agressivos e suicidas. Este médico está
convencido de que o padrão criminoso incorporado na infância desses indivíduos
não será extinto com punições carcerárias, pois a reclusão não puniria o padrão
aprendido, mas somente o indivíduo que praticou o crime.
Nesse contexto, a partir do aporte trazido por pesquisadores como Alvarenga,
questiona se se os crimes sexuais deveriam ser objeto de políticas criminais
diferenciadas, de modo que, para além da pena de reclusão, pudessem ser
aplicadas ou viabilizadas medidas voltadas à saúde mental do réu como meio eficaz
na busca de melhores resultados. A discussão é extremamente pertinente,
sobretudo no momento em que se discute no Congresso Nacional a perspectiva de
um novo Código Penal. Deixando de lado o preconceito e a revolta, típicos em
relação a este tipo de crime e a quem o pratica, é fundamental que comecemos a
discutir o assunto sob novos ângulos, a fim de que se possa caminhar a soluções
que sejam, mais do que justas, mas especialmente mais humanitárias.

4.9 A pena e o comportamento criminoso patológico


A pena surge a partir do momento em que o homem necessita de
regulamentações com relação as suas atitudes e as relações sociais, caracterizando
assim se a conduta deve ou não, ser punida ou não dentro destas relações. Estudos
abordam exatamente a questão das penas, partindo desde sua origem e conceito,
passando pela sua evolução chegando ao objetivo principal que é confrontar estes
aspectos com a reflexão de que as penas mais rígidas não resolvem, ao contrário
tornam o sistema penal cada vez mais frágil. É necessário que ocorra a
conscientização da sociedade de que é preciso fazer mais do que apenas presídios,
é de fundamental importância parar e refletir sobre formas de tornar realmente
aplicável e efetiva as penas, atingindo-se assim a conduta ilícita do criminoso e
também repercutindo a prevenção de novos delitos.
Michel Foucault (1998, p. 70) em "Vigiar e Punir descreve a nova consideração
da época sobre pena-castigo:

Pode-se compreender o caráter de obviedade que a prisão-castigo muito


cedo assumiu. Desde os primeiros anos do século XIX, ter-se-á ainda
consciência de sua novidade; e, entretanto, ela surgiu tão ligada, e em
profundidade, com o próprio funcionamento da sociedade, que relegou ao
esquecimento todas as outras punições que os reformadores do século XVIII
haviam imaginado.

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Tal afirmativa de Foucault refere-se à segunda metade do século XVIII com o
nascimento do iluminismo. Tratava-se de um movimento intelectual, que defendia o
uso da razão contra o antigo regime e pregava maior liberdade econômica e política.
Os pensadores iluministas tinham como ideal a extensão dos princípios do
conhecimento crítico a todos os campos do mundo humano. Supunham poder
contribuir para o progresso da humanidade e para a superação dos resíduos de
tirania e superstição que atribuíam ao legado da Idade Média. A maior parte dos
iluministas associavam o ideal de conhecimento crítico à tarefa do melhoramento do
Estado e da sociedade.
No período iluminista ocorreu o marco inicial para uma mudança de
mentalidade no que diz respeito à pena criminal. Surgiram na época, figuras que
marcariam a história da humanização das penas, como: Cesare Bonesana, mais
conhecido como Marquês de Beccaria, em sua obra intitulada “Dos Delitos e das
Penas”, publicada em 1764 que combateu veemente a violência e o vexame das
penas, pugnando pela atenuação, além de exigir o princípio da reserva legal e
garantias processuais ao acusado. Segundo Beccaria:

As penas têm por único objetivo fazer com que o culpado não volte a
cometer o crime, e evitar que outros cidadãos cometam o mesmo crime no
futuro. Ou seja, os castigos servem tanto para reparar o culpado quanto para
inibir os inocentes, fazendo com que estes não se tornem criminosos por
medo da pena que cairá sobre eles. No entanto, as penas não devem ser
arbitrárias e nem excessivamente cruéis, pois extrapolariam seu objetivo e
deixariam de cumprir seu propósito inicial.

Para analisar as funções da pena é relevante observar a Política Criminal do


Estado, que no caso do Brasil exclui políticas públicas de emprego, salário, moradia,
escolarização, dentre outras medidas complementares, como programas oficiais
capazes de alterar ou reduzir as condições adversas da população marginalizada,
do mercado de trabalho e dos direitos de cidadania, definíveis como determinações
estruturais do crime e da criminalidade.
O artigo 59 do Código Penal aduz: O juiz, atendendo à culpabilidade, aos
antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às
circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do
crime.
Segundo leciona Rogério Grecco (2010, p. 530):

Se a pena é um mal necessário, devemos, num Estado Social e


Democrático de Direito, buscar aquela que seja suficientemente forte para a
proteção dos bens jurídicos essenciais, mas que, por outro lado, não atinja
de forma brutal a dignidade da pessoa humana.

A pena, portanto, tem como funções reprovar o mal produzido pela conduta
praticada pelo agente bem como prevenir futuras infrações penais.

11
5. Considerações Finais
Esse trabalho se propôs a conceituar as neurociências, investigar as doenças
neurológicas e seu impacto socioeconômico, e sua relação com a culpabilidade, a
liberdade e a tutela penal da saúde. É impossível manter qualquer ciência de forma
isolada, sem a constante interação com as demais áreas do saber. Tal conexão
deve ser feita com respeito aos princípios básicos de cada uma delas, sob pena de
desnaturá-las e afrontar garantias fundamentais conquistadas, em tantos séculos de
civilização, principalmente em matéria penal. Embora a maioria dos doutrinadores da
área jurídico-penal entenda que os avanços da neurociência não comprometem a
estrutura da responsabilidade criminal, não se pode negar que os avanços da
neurociência cognitiva devem interessar ao Direito Penal e influenciar toda a
estrutura da responsabilidade criminal, para que se ressignifiquem. Portanto não
tem sentido fingir que todos os cidadãos maiores de idade e sem retardo mental são
iguais, porque eles não são. Com genes e experiências distintos, as pessoas podem
ser tão diferentes por dentro como são por fora.
À medida que a neurociência se aprimorar, teremos uma capacidade melhor de
compreender as pessoas ao longo de um espectro, em vez de usar categorias
binárias e rudimentares. E isto permitirá criar sentenças e reabilitação para o
indivíduo em vez de manter a fantasia de que todos os cérebros reagem aos
mesmos incentivos e merecem as mesmas punições. É necessário refletir até que
ponto a neurociência, demonstrando as cadeias causais inseridas no cérebro
humano e revelando que tudo se inicia no plano do inconsciente, influencia, ou não,
a liberdade, as ações, a conduta, o comportamento humano.
Não há sentido em pretender que todos os cidadãos maiores de idade e sem
retardo mental aparente são iguais. Com genes e experiências distintos, os
indivíduos podem ser tão diferentes por dentro como são por fora. À medida que a
neurociência se aprimore, será possível ter-se uma capacidade maior de
compreender o indivíduo, em vez de usar categorias binárias e rudimentares. Isto
permitirá a prolatação de sentenças que visem à reabilitação, em vez de manter a
fantasia de que todos os cérebros reagem da mesma maneira aos mesmos
incentivos e merecem as mesmas punições. Ainda deve haver a preocupação com a
prevenção geral, que consiste no impacto para a sociedade que a punição, ou a não
punição do criminoso causa, e que, caso haja, deva resultar na inibição do
comportamento infrator coletivo.
Robert Hare1 é um dos psicólogos mais respeitados do mundo. Para o mesmo
os psicopatas têm plena consciência de seus atos. É certo que determinadas áreas
de seu cérebro apresentam carências, disfunções. No entanto isso não os torna
doentes mentais, mas sim portadores de transtornos de personalidade. A psicopatia
não provoca qualquer alteração na capacidade psíquica do agente.
Diante do que foi explicitado ficou evidenciado que os psicopatas não são
considerados doentes mentais e por esse motivo não são inimputáveis e, por isso,
inúmeras críticas têm sido feitas. Elas decorrem principalmente do fato dos mesmos
cumprirem penas privativas de liberdade e não medidas de segurança. Além disso,

1
Psicólogo Canadense, especialista em psicologia criminal e psicopatia. Publicou, entre outras obras,
"Psychology of Criminal Investigations", "International Handbook on Psychopathic Disorders and the
Law" e "Snakes in Suits".

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as penas são cumpridas nos mesmos estabelecimentos prisionais dos presos
comuns.
Sabe-se que a principal função da pena, principalmente o encarceramento, é a
ressocialização, porém tem-se visto que são altos os índices de reincidência
delituosa dos psicopatas. Isso só comprova a falta de compaixão que eles têm pelos
demais seres humanos e o quanto a prisão não é capaz de ressocializá-los. O
raciocínio estende se as outras psicopatias de forma análoga, sendo que, a maioria,
não têm cura, as penas ou medidas de segurança são ineficazes e, portanto, não
cumprem o seu papel. Devido às alterações Neuroanatômicas e funcionais que
estes indivíduos apresentam, não apresentam o “freio social” tornando ineficaz o
caráter repressivo, didático ou de ressocialização da pena, mesmo apresentando
capacidade psíquica apropriada. Por isso há necessidade de um tratamento médico
especializado e adequado para que, além de uma assistência médica apropriada,
possa afasta lós da sociedade protegendo a, até a sua ressocialização, caso se
cure. Assim a pena cumpre seu papel e a sociedade fica protegida.

IMAGEM 1
AMÍGDALA: SISTEMA LÍMBICO

Corbac40/Shutterstock

IMAGEM 2
CÓRTEX PRÉ-FRONTAL: RESPONSÁVEL PELOS IMPULSOS E
PERSONALIDADE

13
Psicopedagogia.blogspot.com

IMAGEM 3
NEUROIMAGEM FUNCIONAL: ÁREAS COLORIDAS ESTAM ATIVAS

LOPES, 2004.

IMAGEM 4
SINÁPSE: TRANSMISSÃO DOS IMPULSOS NERVOSOS

14
LOPES, 2004.

IMAGEM 5
NEUROTRANSMISSORES: ESTIMULAM, MODULAM E EXCITAM OS
IMPULSOS NERVOSOS

6. Referências
CAMARGO, Edwaldo E. Experiência inicial com PET/CT. Radiol Bras, jan./fev.
2005, vol.38, no.1, p.0-0. ISSN 0100-3984.

15
COSTA, Durval C, OLIVEIRA, José Manuel AP e BRESSAN, Rodrigo A. PET e
SPECT em neurologia e psiquiatria: do básico às aplicações clínicas. Rev. Bras.
Psiquiatr., maio 2001, vol.23 supl.1, p.4-5.
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Nacional, Editora Martin Claret,
2002.
FERRARI, Eduardo Reale. Medidas de segurança e direito penal no estado
democrático de direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Lígia M. Pondé
Vassalto. Petrópolis: Vozes, 1987.
HUNGRIA, Nelson; FRAGOSO, Heleno. Comentários ao Código Penal. Rio de
Janeiro: Forense, 1978.
KIPPER, Délio José. Neuroética: uma reflexão metodológica. Rev. bioét. (Impr.), v.
19, n. 1, 2011.
PONTE, Antônio Carlos da. Inimputabilidade e Processo penal. 1. ed. São Paulo:
Ed Atlas, 2002.
RAINE, A. Biosocial studies of antisocial and violent behavior in children and
adults: a review. J Abnorm Child Psychol. 2002;30:311-26.
RAINE, Adrian. A anatomia da violência as raízes biológicas da criminalidade.
Porto Alegre, Artmed, 2015.
RAINE A, Lencz T, Bihrle S, LaCasse L, Colletti P. Reduced prefrontal gray matter
volume and reduced autonomic activity in antisocial personality disorder. Arch
Gen Psychiatry. 2000; 57:119-27.
SANTOS, M. J. M. (2013). Sob o véu da psicopatia. Dissertação de mestrado.
Departamento de psicologia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

NEUROSCIENCE AND CRIMINAL BEHAVIOR: IMPLICATIONS FOR CRIMINAL


LAW

Abstract
This work aims to contribute to a broader and deeper insight into the influence of new
knowledge on neurosciences and the capacity of the neuronal system and its
influence on human behaviors, as well as their capacity for adaptation and evolution.
In this bibliographical research, we tried to conceptualize the neurosciences and their
relation with the culpability, as to face the criminal law of health and the free-will
conditioned to the cerebral mutations. This article proposes a reflection on the
criminal protection of health, as related to the discoveries of the neurosciences, that
requires state protective action as social right, specific prevention and general
prevention.
Keywords: Health Criminal Law, Neuroscience and Guilt, Neuroscience and Free
Will, Punitive System.

16
Knowledge Area: Humanities.

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