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A inimputabilidade por doença mental


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Bruna Gabriela Batista dos 21/05/2018 às 16:29


Santos

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4. INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA


MENTAL

Dispõe o art. 26 do Código Penal:

““É isento de pena o agente que, por


doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse
entendimento.””

Conforme já mencionado no critério


biopsicológico, que é o adotado no Código Penal
vigente, o diagnóstico de doença mental em
relação ao agente, não basta para que seja
configurada a inimputabilidade. Exige-se, em
regra, que o indivíduo, em decorrência deste
estado, seja completamente incapaz de entender
a ilicitude do fato e determinar-se de acordo com
esse entendimento.

A doença mental é causa de exclusão da


imputabilidade. A expressão doença mental,
utilizada pelo legislador é relativamente vaga,
tendo em vista que a conceituação de tal
patologia para um leigo será desprovido de
qualquer rigor científico.

Nesse entendimento, o médico Hélio Gomes,


em Medicina Legal, referiu:

““[...] as codificações sempre lutaram com


grandes dificuldades toda vez que tiveram de
fazer referências aos doentes mentais. Não há
na Psiquiatria uniformidade entre os autores a
respeito do sentido exato das expressões que
usa e emprega. Essa falta de uniformidade entre
os técnicos não poderia deixar de se refletir
sobre os leigos, que são, em geral, os
legisladores, a respeito das questões
psiquiátricas.” (GOMES, 1995, p. 799−800).”

De acordo o com a doutrina de Mirabete,


doença mental:

“  “[...] abrange todas as moléstias que


causam alterações mórbidas à saúde mental.
Entre elas, há as chamadas psicoses funcionais:
a esquizofrenia; a psicose maníaco-depressiva;
paranoia etc. É também doenças mentais a
epilepsia; a demência senil; a psicose alcóolica;
a paralisia progressiva; a sífilis cerebral, a
arteriosclerose cerebral; a histeria etc.”
(Mirabete, 2004, p. 211).”

Segundo a Psiquiatria, a psicose pode


originar-se de disfunções cerebrais (origem
orgânica – como, por exemplo: a paralisia
progressiva e tumores cerebrais);
comportamental (funcional – psicose senil, por
exemplo) e tóxica (psicose alcóolica ou por
medicamentos).

Poderá, de acordo com a duração do


transtorno mental, ser crônico ou transitório.

É possível a ocorrência da semi-


imputabilidade. Prevê o artigo 26, parágrafo único
do Código Penal:

““A pena pode ser reduzida de um a dois


terços, se o agente, em virtude de perturbação
de saúde mental ou por desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento”.”

Conforme entendimento de Mirabete a


respeito do artigo citado, o agente era imputável e
responsável por ter alguma consciência da
ilicitude de sua conduta, entretanto, em
decorrência de suas condições pessoais, será
reduzida a pena, em virtude de sua capacidade
diminuída. E acrescenta: “Embora se fale, no caso,
de semi-imputabilidade, semi-responsabilidade
ou responsabilidade diminuída, as expressões são
passíveis de crítica.” (Mirabete, 2004, p. 213).

Segundo observa Delmanto, os requisitos da


responsabilidade diminuída são:

““1. Causas. Perturbação de saúde mental


ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado. 2. Conseqüências. Falta de inteira
capacidade de entender a ilicitude do fato ou
de orientar-se de acordo com esse
entendimento. 3. Tempo. Existência dos dois
requisitos anteriores no momento do crime. ”
(Delmanto, 1991, p. 48).”

Ao citar “perturbação da saúde mental”, o


legislador refere-se a todas as doenças mentais.

““Os psicopatas, por exemplo, são


enfermos mentais, com capacidade parcial de
entender o caráter ilícito do fato. A
personalidade psicopática não se inclui na
categoria das moléstias mentais, mas no elenco
das perturbações da saúde mental pelas
perturbações da conduta, anomalia psíquica
que se manifesta em procedimento violento,
acarretando sua submissão ao art. 26,
parágrafo único. Estão abrangidos também
portadores de neuroses profundas (que têm
fundo problemático por causas psíquicas e
provocam alteração da personalidade),
sádicos, masoquistas, narcisistas, pervertidos
sexuais, além dos que padecem de alguma
fobia [..], as mulheres com distúrbios mórbidos
que por vezes a gravidez provoca etc.”
(Mirabete, 2004, p. 213−214).”

Fernando Capez entende que a semi-


imputabilidade é a perda de parte da capacidade
de entendimento e autodeterminação, em razão
de doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado.

Ademais, em relação ao tratamento penal


dado ao agente portador de doença mental, o
médico legista Genival Veloso de França, em
Medicina Legal, aduz que:

““A pena está totalmente descartada pelo


seu caráter inadequado à recuperação e
ressocialização do semi-imputável portador de
personalidade anormal. A substituição do
sistema do duplo binário – aplicação sucessiva
da pena e da medida de segurança por tempo
indeterminado – pelo regime de internação
para tratamento especializado é o que melhor
se dispõe até agora no sistema penal dito
moderno. Este é um dos aspectos mais cruciais
da Psiquiatria Médico-Legal, não somente no
que toca ao diagnóstico e à atribuição da
responsabilidade, como também quanto às
perspectivas de reabilitação médica e social, já
que a incidência criminal entre esses tipos é por
demais elevada. As medidas punitivas,
corretivas e educadoras, malgrado todo
esforço, mostram-se ineficientes e
contraproducentes, fundamentalmente
levando em consideração a evidente falência
das instituições especializadas. É preciso rever
toda essa metodologia opressiva, injusta e
deformadora. ” (FRANÇA, 1998, p. 359).”

Para Führer, a expressão "perturbação da


saúde mental", mencionada no Código Penal para
tratar do semi-imputável, equivale à doença
mental, muito embora algumas perturbações
mentais não mereçam o nome de doença.

O mencionado autor defende que,


atualmente, a distinção entre doença e
perturbação mental não é inflexível, visto que o
conceito jurídico de doença mental é abrangente
e se estende aos estados próximos, de modo que
toda doença mental perturba a saúde mental, e
toda perturbação da saúde mental deve receber
tratamento de doença, no mundo jurídico.

5. PERÍCIA MÉDICO-LEGAL:
IDENTIFICAÇÃO DA
INIMPUTABILIDADE           

A perícia médico-legal é meio de prova para a


comprovação do estado psíquico do agente. Ao
julgar, o magistrado deve motivar sua decisão,
embora seja livre para julgar de acordo com o seu
convencimento.

Previstos nos artigos 158 ao 184, do Código de


Processo Penal, os exames de corpo de delito e as
perícias médico legais, tem por finalidade a
produção de provas científicas, para a
comprovação de um fato.

Em se tratando de inimputabilidade por


doença mental, a saúde mental do agente deve
ser verificada através de perícia médico-legal,
uma vez que para constatação da doença mental,
é necessário conhecimento específico, que
geralmente, fogem ao juiz.

““Sendo o Direito uma ciência humana, é


preciso, em primeiro lugar, que o profissional do
Direito tenha bom conhecimento do que é o ser
humano em sua totalidade. [...] Para isto, não é
necessário que possua o saber de um
profissional da área biomédica, mas tem que
conhecer as bases daquela unidade.” (Gomes;
1995 p. 26).”

Desta forma, em caso de dúvida sobre a


integridade mental do agente, o juiz deverá de
ofício ou a requerimento do Ministério Público, do
defensor, curador, ascendente, descendente,
irmão ou cônjuge do réu, requerer um exame
médico-legal, ocasião em que suspenderá o
processo até o resultado da perícia, conforme
artigo 149 do Código de Processo Penal:

““Art. 149. Quando houver dúvida sobre a


integridade mental do acusado, o juiz ordenará,
de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, do defensor, do curador, do
ascendente, descendente, irmão ou cônjuge
do acusado, seja este submetido a exame
médico-legal.

§ 1o O exame poderá ser ordenado ainda na


fase do inquérito, mediante representação da
autoridade policial ao juiz competente.

§ 2o O juiz nomeará curador ao acusado,


quando determinar o exame, ficando suspenso
o processo, se já iniciada a ação penal, salvo
quanto às diligências que possam ser
prejudicadas pelo adiamento.””

Todavia, o magistrado poderá acatar ou


rejeitar o laudo atestando a inimputabilidade do
réu, mas deverá decidir fundamentadamente, e
com a  livre valoração das provas, afastando-se
das conclusões do laudo pericial e podendo
formar sua convicção com base em outros
elementos constantes dos autos. Ademais,
poderá pedir a retificação do laudo, caso entenda
que este é genérico, falho ou incompleto. Nesse
sentido, o STJ entende:

““STJ - HABEAS CORPUS HC 215650 BA


2011/0190387−6 (STJ)

Ementa: PROCESSUAL PENAL E PENAL.


HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO
ESPECIAL, ORDINÁRIO OU DE REVISÃO
CRIMINAL. NÃO CABIMENTO. ART. 157, § 2º, INC.
II, DO CP. NULIDADE DA SENTENÇA. LAUDO
PERICIAL. INIMPUTABILIDADE AFASTADA.
CONJUNTO PROBATÓRIO. 1. Ressalvada
pessoal compreensão diversa, uniformizou o
Superior Tribunal de Justiça ser inadequado o
writ em substituição a recursos especial e
ordinário, ou de revisão criminal, admitindo-se,
de ofício, a concessão da ordem ante a
constatação de  ilegalidade flagrante, abuso de
poder ou teratologia. 2. Não é nula a sentença
que, de forma fundamentada, faz prevalecer
valoração das demais provas dos autos para
afastar as conclusões do laudo pericial de
inimputabilidade. 3. A livre valoração das
provas permite ao Juiz afastar-se das
conclusões do laudo pericial, podendo formar
sua convicção com base em outros elementos
constantes dos autos. 4. “Habeas corpus não
conhecido.””

Ocorrendo a homologação do laudo pericial


pelo juiz, este decidirá se o réu é, ou não,
inimputável ou semi-imputável, reconhecendo, ou
não a insanidade mental. Após, nomeará curador,
nos termos do artigo 151 do CPP. O incidente de
insanidade mental se processa em autos
apartados e somente após a apresentação do
laudo, será apenso ao processo principal, com
fundamento no art. 153 do CPP.

Seguindo o rito do procedimento ordinário, ao


sentenciar, o magistrado pode reconhecer a
inimputabilidade do réu e, se assim o fizer,
absolverá o réu, absolvição esta denominada
imprópria, a qual submeterá o réu à medida de
segurança em estabelecimento de custódia ou
ambulatorial.

Já no rito do Júri, cumpre destacar o artigo 415,


§ único do CPP. Aduz que nos casos de
inimputabilidade por doença mental, o acusado,
na fase da pronúncia, não será absolvido
sumariamente, exceto quando esta for alegada
como única tese defensiva. Caso contrário, o juiz
deverá pronunciar o acusado para que o Júri, com
base nas provas, decida a questão. Nesse
entendimento, Antonio Carlos da Ponte diz:

““Justifica a absolvição sumária a existência


de prova cristalina, límpida, segura e
incontroversa da existência de causa
excludente da ilicitude ou dirimente da
culpabilidade. A mínima dúvida extraída do
conjunto probatório a respeito da veracidade
de uma ou outra versão traz a certeza de que a
absolvição liminar não tem lugar no processo,
sendo caso de pronúncia. (Ponte, 2007, p.
110).””

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Bruna Gabriela Batista dos


Santos

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