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PSIQUIATRIA FORENSE

Contextualização
Teoria do Crime (Tripartite ou tripartida)

O crime é:

 Fato típico: Um tipo penal, um fato descrito, algo proibido;


para a ação ser crime, precisa se adequar a esse fato típico;
exemplo: matar alguém – nesse caso, implica crime de
homicídio.
 Antijurídico: Precisa ser um fato antijurídico. Exemplo:
matar alguém como reação ao risco de vida (assalto, por
exemplo) não é antijurídico porque estava agindo em
legítima defesa. Aquele fato típico, nessa circunstância, não
é ilícito. É uma excludente.
 Agente culpável: Esse terceiro critério precisa também ser
preenchido. Se qualquer um deles faltar, exclui- -se a
culpabilidade.

1)Imputabilidade (arts. 26 e 27).

2) Consciência da ilicitude (art. 21).


De forma geral, não se atribui culpa a alguém que não conhecia ou não
tinha como conhecer que aquilo era crime.

3)Exigibilidade de conduta diversa (art. 22).


• Coação moral irresistível - Coação, nesse caso, que leva alguém ao
crime.(Mata fulano se não vou matar sua mãe)
• Estrita obediência à ordem, não manifestamente ilegal, de superior
hierárquico. O chefe induz o subordinado a cometer o crime.(Superior
policial manda o subordinado matar alguém dentro da situação, mas na
verdade mandou matar porque ele não gostava)
CONCEITOS
Imputabilidade é a capacidade de se imputar, de se atribuir a
alguém aquela conduta. É preciso diferenciá-la da
responsabilidade:

IMPUTABILIDADE X RESPONSABILIDADE
Atribuição pericial Atribuição judicial
Crédito Débito
Capacidade de entender os fatos, as Terá responsabilidade por um crime
circunstâncias e de direcionar a quando cometer aquele ato.
ação de acordo com esse Para ter responsabilidade, é preciso
entendimento. ter imputabilidade. Se ele, por
motivo de doença mental, não tem
Genérico – Teórico - Abstrato
capacidade de entender, de se
controlar, e comete um crime, ele
não é imputável; portanto, também
não pode torná-lo responsável. A
imputabilidade é um pré-requisito
para a responsabilidade.

Uma analogia possível: a imputabilidade é o crédito que o


indivíduo goza; a responsabilidade é o efetivo débito que ele
contrai. Alguém não poderia contrair um empréstimo, gerando o
débito, se não tivesse crédito para isso – ou seja, o pré-requisito.
CRITÉRIOS DA AVALIAÇÃO DA IMPUTABILIDADE
• Biológico: doença mental/déficit intelectual (ex.: crises
psicóticas?).

O critério biológico, portanto, aborda somente em doença


mental. Isso tem algumas imperfeições. Por exemplo, sabe-se de
alguns quadros psicóticos que têm crises ou surtos e remissões.
O indivíduo pode estar em um momento em crise e no outro
lúcido. O critério biológico, no entanto, só quer saber se ele tem
ou não o quadro. Ele tendo, mas cometeu num momento lúcido?
Nesse caso, de doenças assim, o critério não abrange e não
atinge o objetivo. Em momento de remissão, sem sintomas, ele
comete o crime e aquilo não muda nada na imputabilidade.

• Psicológico: entendimento e autodeterminação (ex.: estados


emocionais)

Este critério já não quer saber se tem doença mental. Ele


também vai para o outro extremo. Nele, começa-se a se discutir
que, por exemplo, o indivíduo estava em um estado emocional
muito abalado, de choro intenso, muita tristeza etc. Isso pode
repercutir na pena de alguma forma, mas comparar esse mesmo
indivíduo com alguém que está em um surto psicótico, delirando,
que tem uma doença mental, percebe-se que já não é a mesma
coisa. Abre-se demais a interpretação.

Importante:

No critério biológico se dá muita responsabilidade para o


perito, no psicológico, a responsabilidade está indo para o
julgador; fica na subjetividade dele entender, por exemplo, o
estado de ira ou tristeza profunda que repercutiu na mente
daquele indivíduo para que ele cometesse aquele crime. A
alternativa que o sistema adotou foi o critério biopsicológico,
no qual precisa-se ter os dois: a doença mental ou deficiência
intelectual e o prejuízo da capacidade de entendimento e
autodeterminação. No critério biopsicológico, precisa se ter um
E outro, não um OU outro.

• Biopsicológico:

Fica implícito, portanto, que há três critérios.

 doença mental/déficit intelectual;


 + entendimento e autodeterminação;
 + nexo causal.

Além de imputabilidade e responsabilidade, há um terceiro


conceito:
Capacidade civil. Há doenças mentais, casos que vão implicar
tanto a imputabilidade quanto a capacidade civil, porém, a
princípio, são duas coisas separadas.

Capacidade civil: aptidão para gerir sua pessoa e seus bens; não
tem relação com a imputabilidade. Na imputabilidade, se discute
a capacidade do indivíduo de responder por seus crimes, esfera
penal; na capacidade civil, esfera civil, ou seja, a regulação do
direito sobre vida particular – se ele tem capacidade de gerir
suas pessoas e seus bens.

Na continuação do conceito de inimputabilidade, é necessário


estudar o artigo 26:
Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento (inimputável).
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços,
se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento (semi-
imputável).

Obs.: doença mental e perturbação mental têm diferença. O


legislador entende a perturbação como um quadro mais brando.
Na prática médica, não há diferença. O DSM não divide em
doenças e perturbações, mas aborda transtornos. Nesta matéria,
os dois serão adotados como sinônimo.

“Ao tempo da ação e da omissão”: a prova pode trazer, por


exemplo, ao tempo do exame pericial; do ponto de vista do
critério biopsicológico, não interessa como o individuo está no
tempo do exame, da sentença ou do cumprimento da sentença,
mas no tempo que foi cometido o crime.

LIMITES E MODIFICADORES DA IMPUTABILIDADE


PENAL
Coisas que de alguma forma vão diminuir a capacidade do
indivíduo de entender e de se auto-determinar, em que
vai se reduzir a imputabilidade. Não vai ser possível
atribuir a ele as ações que ele comete de forma integral.
Pode ser dividido em 3 grupos:

AMBIENTAIS BIOLÓGICOS LEGAIS


(mesológicos)

Silvícolas Idade Reincidência


Penal
Multidões Sexo

Sono

Sonambulismo

Hipnotismo

Emoção e Paixão

Surdo - mudez

Psiquiátricos
(doença mental,
desenvolvimento mental
retardado e toxicomanias)
AMBIENTAIS
(mesológicos)

Silvícolas

Conforme o grau de civilização;


É o indivíduo que está apartado da civilização. Sua
imputabilidade está diminuída. Muito do que se aprende da
capacidade de entender o mundo vem da informação que se
recebe, da herança cultural que o indivíduo recebe. O silvícola,
fora da civilização, não recebeu aquela informação. Não quer
dizer que ele é menos capaz intelectualmente, mas que não
recebeu a instrução necessária. Às vezes, até pode viver em uma
comunidade, mas aquela comunidade pequena tem regras muito
mais simples, não tem as estruturas e instituições que tem na
sociedade. Fala-se que é como se o desenvolvimento mental
dele fosse incompleto, o que é diferente do desenvolvimento
retardado. Poderia até falar a informação para ele, mas ele não
entenderia, porque precisaria de uma exposição maior à cultura

Multidões

(ex.: linchamentos, saques)


Saques a estabelecimentos comerciais por ocasião de crises
sociais, linchamentos... Sob a influência de multidões, a razão é
subjugada pelas paixões irracionais.

O CP aceita a redução da responsabilidade das pessoas que agem


em meio à multidão desvairada, mas não trata do mesmo modo
aquele que instigou a massa. No artigo 65, que trata das
atenuantes genéricas, tem-se que:
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
........................
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se
não o provocou.

BIOLÓGICOS

Idade

O art.27 do Código Penal define os menores de 18 anos como


inimputáveis. Seria uma exceção ao critério biopsicológico
adotado, baseando-se exclusivamente no critério biológico.

Sexo

Aparte especial do CP caracteriza crimes próprios do sexo


feminino. Tem-se o infanticídio e o autoaborto. Isso se justifica
pelos distúrbios peculiares ao sexo feminino relacionados com
ciclos menstruais e climatério.

Sono

Se um motorista de ônibus for obrigado a dobrar seu turno de


serviço para cobrir a falta de um colega, pode causar um
acidente por não ter dormido o suficiente. O mesmo acontece
com motoristas de caminhão que tentam vencer o sono na
estrada para fazer mais viagens, mas podem acabar dormindo e
causar acidentes. Comparando-se os dois casos, podemos dizer
que o motorista do ônibus teria uma atenuante caso provocasse
lesão corporal ou morte, pois teria sido coagido a continuar na
escala de trabalho sob ameaça de perder o emprego. Já o do
caminhão, teria se colocado naquela situação por livre vontade –
sua responsabilidade seria plena.

Sonambulismo

Há duas formas de sonambulismo.


a psicogênica, caracterizada por execução de atos de
complexidade variada, mas que têm relação com vivências do dia
e com objetos do meio circundante. Nela, a consciência não está
abolida, mas sim perturbada, podendo ser despertada por
estímulos fortes. EX: soldado esta sonhando que esta na guerra,
acorda e mata seu colega achando que é um inimigo.

o epilético, há um automatismo das ações e total amnésia sobre


os fatos. Com isso, quaisquer ilícitos cometidos sob esse estado
não são puníveis em função da total inconsciência. EX.: a pessoa
levanta a noite e empurra alguém e mata esse alguém.

Hipnotismo

A personalidade do indivíduo interage com as ordens do


hipnotizador. Assim, obedecem aos comandos, mas os
interrompem assim que as ordens entram em choque com seus
valores. Dessa forma, não há redução da pena de pessoas que
cometem ilícitos quando hipnotizadas.
Emoção e Paixão

Desde que logo após injusta provocação;


O CP estabelece que a emoção ou a paixão não excluem a
imputabilidade. Porém, leia os seguintes artigos.

Perceba que, o art 65, a emoção é violenta, mas apenas


influencia o agente, devendo ser desencadeada por ato injusto
da vítima.

Nos artigos 121 e 129, a perturbação deve ser mais intensa, pois
o agente deve estar sob o domínio da violenta emoção, com a
condição de ser logo em seguida a injusta provocação da vítima.

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:


...................................................
III - ter o agente:
....................................................
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em
cumprimento
de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta
emoção, provocada por ato injusto da vítima;
................................................................

Art. 121 Matar alguém


§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
............................................................................

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


....................................................
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Surdo - mudez

Se os surdo-mudos não forem educados e orientados em


estabelecimentos especializados, não conseguem onter
informações suficientes para entender as regras sociais. Se
cometerem algum ilícito, devem ser avaliados por psiquiatras
forenses, que verificarão o grau de ajustamento social e de
desenvolvimento mental. Conforme o laudo, poderão ser
inimputáveis, semi-imputáveis ou imputáveis.

Mais IMPORTANTES para PROVA


Psiquiátricos
(doença mental, desenvolvimento mental retardado e toxicomanias)

O que será discutido a seguir:

• Normalidade

• Desenvolvimento mental retardado x incompleto

• Doença mental

• Demência

• Psicoses

• Epilepsia

• Transtorno de personalidade antissocial (psicopatia)

• Transtorno borderline e transtorno bipolar

• Transtorno pedofílico
• Transtornos do controle dos impulsos

• Perícia

• Sanidade mental

• Cessação de periculosidade

NORMALIDADE

O que é o normal?? Normalidade não tem padrão.

No dizer de Marañon, “a normalidade, ainda que não o pareça,


não tem padrão, porque jamais é igual a si mesma e, se bem
existe, é impossível de concretá-lo”. Isso não traduz a sua
inexistência, mas a dificuldade de padronizá-la, ou mesmo
conceituá-la.

Sob o ângulo médico-legal, Nerio Rojas definia a então chamada


doença mental como “um transtorno geral e persistente das
funções psíquicas, cujo caráter patológico é ignorado ou mal
compreendido pelo paciente e que impede a adaptação lógica e
ativa às normas do meio ambiente, sem proveito para si nem
para a sociedade”. (FRANÇA, G. V. Medicina Legal. 11ª Ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.).

DESENVOLVIMENTO MENTAL RETARDADO X INCOMPLETO

 Desenvolvimento mental retardado (Oligofrenias)

São aqueles que não conseguirão a maturidade psíquica.


É importante diferenciar:

DESENVOLVIMENTO MENTAL DESENVOLVIMENTO MENTAL


RETARDADO INCOMPLETO

Aqueles que não Aqueles que ainda não


CONSEGUIRÃO a maturidade CONSEGUIRAM a maturidade
psíquica. psíquica, mas ainda vão
conseguir.
É aquele que não tem o
desenvolvimento psíquico e EX.: Crianças e menores de 18
nunca conseguirá ter. anos.

 Sintomas como prejuízos no raciocínio lógico, pensamento


abstrato, juízo crítico; comportamento pueril e riso
imotivado; pouca adaptação e muita dependência;
 Causas congênitas : Alcoolismo materno causa síndrome
alcoólica fetal, intoxicando o feto e afetando o
desenvolvimento embrionário, podendo causar deficiência
intelectual. Zika vírus, uma causa infecciosa, causa
microcefalia nas crianças recém-nascidas.
(Ex.: síndromes cromossômicas hereditárias, alcoolismo
materno, zika vírus)
 Causas perinatais: Causas perinatais ocorrem quando
indivíduos nascem em situações adversas, como, por
exemplo, descolamento prematuro de placenta,
nascimento imaturo causando problemas respiratórios.
Manifesta-se durante a infância.
(Ex.: asfixia perinatal).
Congênito é diferente de hereditário. Sendo o primeiro uma
condição que um sujeito tem ao nascer e a segunda uma
condição herdada dos pais.

 Manifesta-se durante a infância: É pré-requisito que o


déficit intelectual se manifeste durante a infância, sendo a
idade em que é possível diagnosticar dependente do grau
da deficiência. Geralmente, é verificável quando a escola
exige um grau um pouco maior de abstração do
pensamento.

Classificação das gravidades de Oligofrenias:


ANALOGIAS

DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO
MENTAL MENTAL DEMÊNCIA
RETARDADO INCOMPLETO

“POBRE QUE “POBRE QUE UM “RICO QUE FICARÁ


NUNCA FICARÁ DIA VAI FICAR POBRE”
RICO” RICO”

DOENÇAS MENTAIS
DEMÊNCIA
Doença neurodegenerativa que leva ao declínio do nível
de cognição prévio (“rico que ficou pobre”), afetando
várias de suas esferas
Alzheimer (protótipo):
• > 65 anos
• 4 “As”:
• Amnésia
• Afasia
• Agnosia
• Apraxia
• Outras alterações: humor, impulsividade (desinibição
sexual)
São considerados inimputáveis

EPILEPSISA
Até 10% das pessoas terão uma crise convulsiva ao longo
da vida (Ex. hipoglicemia, intoxicação por drogas,
convulsão febril em crianças, etc)
Epilepsia: desordem cerebral crônica caracterizada pela
predisposição a sofrer crises convulsivas, por vezes, mas
nem sempre, precedidas de auras sensitivo-sensoriais,
motoras ou psíquicas; e/ou seguidas de amnésia
• Idiopática ou essencial
• Secundária (ex.: tumor cerebral)
Tipos: ausência (pequeno mal), parciais simples
(jacksoniana) e complexas
Estado crepuscular (“sonambulismo epiléptico”):
alteração exclusivamente psíquica caracterizada por
turvação da consciência, conduta deambulatória e
automática, com tendência a atitudes antissociais
Como regra, a epilepsia não exclui, per se, a
imputabilidade

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