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MEDICINA
LEGAL
e Noções de
CRIMINALÍSTICA
6ª edição
2017
Capítulo 10 • PSICOPATOLOGIA FORENSE 323
CAPÍTULO 10
Psicopatologia
forense
1. IMPUTABILIDADE
Imputar significa atribuir algo a alguém.
Para que um indivíduo seja responsabilizado penalmente, tem
de ser imputável à época do fato.
Quando se faz necessário avaliar a imputabilidade, o psiquia-
tra forense vai se basear não apenas na capacidade de imputação
jurídica, mas também na imputação do fato.
Capacidade de imputação jurídica é a capacidade psicológica
de entender o caráter ilícito do fato e de se comportar de acordo
com esse entendimento.
Nesse aspecto, avalia-se a presença de razão e livre arbítrio,
isto é, se o indivíduo raciocina e se tem capacidade de escolher
entre cometer ou não o delito, ou seja, de se autodeterminar.
Essa capacidade pode ser total, parcial ou nula.
Entretanto, no Estado Democrático de Direito vigora o Direito
Penal do Cidadão, isto é, o Direito Penal do fato e da culpabilidade
do seu autor.
Dessa forma, não basta que o indivíduo esteja, por exemplo,
em surto de doença mental à época do fato para ser considerado
inimputável. Deve ser também analisada a imputabilidade do ato.
324 MEDICINA LEGAL E NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA – Neusa Bittar
2. INTERVALO LÚCIDO
É o retorno ao estado de sanidade mental por um período
longo de tempo.
São fundamentais na configuração do intervalo lúcido:
• Ausência de sintomas da doença, inclusive de qualquer mani-
festação do defeito psíquico que se exteriorize nas atitudes do
indivíduo;
• Período longo de tempo sem qualquer manifestação da pato-
logia.
Não basta um período de acalmia da doença, isto é, não basta
que o indivíduo esteja tranquilo e com escassas manifestações.
Tem de haver sanidade mental, constatada por várias avaliações
psiquiátricas.
Os intervalos lúcidos podem ocorrer em certas patologias
como neuroses, toxicomania e alcoolismo moderados, enquadrados
como perturbação da saúde mental, entretanto, jamais ocorrerão
Capítulo 10 • PSICOPATOLOGIA FORENSE 325
3. NORMALIDADE MENTAL
A conceituação de normalidade mental é tarefa bastante
difícil, ainda mais quando se está diante do autor de um delito.
Entretanto, devemos considerar que o crime não é apenas um fato
humano, mas também um fenômeno social.
Assim, os fatores criminógenos, oriundos da própria cons-
tituição do indivíduo ou do meio em que ele vive, podem vencer
fatores crimino-repelentes como a educação, o senso ético e o
sobrenatural, gerando a conduta desviante.
Nesse sentido, normalidade seria a condição de quem é capaz
de realizar um ato com pleno discernimento, mesmo que antisso-
cial, e esse ato lhe pode ser imputado.
Não há um padrão de normalidade psíquica, sendo insufi-
ciente a alegação de ausência de doença mental, uma vez que os
limites são imprecisos.
Essa ausência de limites nítidos entre o normal e o patológico
torna relativo o conceito de normalidade mental, além de que esta
não depende apenas da avaliação médica, mas também de padrões
sociais, culturais e estatísticos.
A normalidade pode ser vista sob quatro perspectivas.
A primeira seria a normalidade como equivalente à saúde men-
tal, estando a conduta dentro dos padrões normais quando não
existisse nenhuma psicopatologia (doença psíquica) manifestada.
A segunda perspectiva concebe a normalidade como a combi-
nação adequada dos diferentes elementos da mente que culmina
com um funcionamento ótimo, próprio de um ser ideal.
A terceira entende a normalidade como meio termo entre dois
extremos de comportamentos desviados, não servindo para análise
individual, apenas coletiva.
Por fim, a quarta perspectiva encara a conduta normal como
o resultado final de sistemas de interações, valorizando o processo
326 MEDICINA LEGAL E NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA – Neusa Bittar
6. DOENÇA MENTAL
Como não existe uma definição para doença mental, deve-se
atentar às manifestações que refletem anomalias do pensamento,
do sentimento e da conduta.
O pensamento racional, lógico e dirigido a um fim está defor-
mado, comprometendo o juízo valorativo das alternativas existen-
tes para a ação.
A consciência plena, conceituada como a capacidade de com-
preender a informação e de utilizá-la de maneira adequada é
substituída pela confusão, daí desorientação temporal, espacial e
pessoal, e ao delírio.
Delírio é a convicção errônea, baseada em conclusões falsas
tiradas da realidade exterior.
Pode surgir alteração da sensopercepção, gerando alucinações
e ilusões.
Alucinações são sensações advindas dos órgãos dos sentidos,
geralmente auditivas ou visuais, sem base na realidade.
Capítulo 10 • PSICOPATOLOGIA FORENSE 329
7.1. Neuroses
São distúrbios da saúde mental relacionados à angústia e à
ansiedade.
Angústia é o medo sem objeto atual e definido (desconhecido).
Ansiedade é a inquietação, a impaciência, o estado de alerta
que acaba definindo o que era indefinido na angústia.
O indivíduo tem noção de que está doente, mas não consegue
reagir.
Uma vez definida a causa, a neurose assume diferentes tipos:
a) Neuroses obsessivo-compulsivas, nas quais as ideias
obsessivas se impõem ao indivíduo, levando-o à ação.
Têm-se como exemplos a cleptomania (mania de furtar
objetos), a loucura da dúvida (medo de se contaminar se
tocar em certos objetos) e o jogo patológico.
b) Neurose histérica, representada por sintomas orgânicos e
mentais que levam à simulação semiconsciente de doença.
c) Neurose fóbica, manifestada por terror paralisante pro-
jetado sobre pessoas, coisas, situações ou atos.
Entre as neuroses fóbicas está a síndrome do pânico, carac-
terizada pelo sentimento de ameaça iminente, acompanhado de
sensações corporais descritas detalhadamente pelo indivíduo e
relacionadas ao local em que ocorreram. O medo mórbido pode
ser de espaços abertos (agorafobia) ou fechados (claustrofobia).
O indivíduo tem sentimento de morte súbita, palpitação, falta
de ar, tontura, nó na garganta, pressão no peito, tremores e des-
maios.
Capítulo 10 • PSICOPATOLOGIA FORENSE 333