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RESUMO
Justifica-se o presente tema, em decorrência das polêmicas a cerca do assunto e a divergência entre
doutrinadores além da falta de jurisprudência congruente relacionada ao assunto levando em consideração
a utilização do art. 26, § único do Código Penal que é utilizado em parte dos casos relacionados aos
psicopatas e devido a isso há de ter uma análise profunda a cerca do artigo e da temática principalmente no
que diz respeito a falta da utilização do artigo como analogia. Também foi analisado na pesquisa científica
quanto a imputabilidade do agente que é fator primordial para a decisão quanto ao seguimento das premissas
do artigo citado ou não. Posteriormente foi abordado a forma de tratamento dos indivíduos portadores de
psicopatia e sua forma de restrição de liberdade e posteriormente o seu ingresso a sociedade em que a
ressocialização deveria ser o foco. Por fim, foi trazido casos emblemáticos ocorridos no Brasil e sua
dualidade quanto ao cumprimento da restrição de liberdade. Devido aos fatos, endossa, o presente trabalho,
que a busca por tratamentos alternativos de pessoas com distúrbio de personalidade é vital para uma
ressocialização e uma volta ao convívio social, a qual não há o emprego atualmente nos hospitais de
custódia.
Palavras-Chave: psicopatia; imputabilidade; ressocialização.
ABSTRACT
The present theme is justified, due to the controversies about the subject and the divergence between
doctrine makers in addition to the lack of congruent jurisprudence related to the subject taking into
consideration the use of art. 26, the only § of the Penal Code that is used in part of the cases related to
psychopaths and due to that there must be a deep analysis about the article and the thematic, mainly with
regard to the lack of use of the article as an analogy. It was also analyzed in scientific research as to the
imputability of the agent, which is a major factor in the decision regarding the follow-up of the premises of
the article cited or not. Subsequently, the form of treatment of individuals with psychopathy and their form
of restriction of freedom were addressed, and later their entry into the society in which resocialization
should be the focus. Finally, emblematic cases that occurred in Brazil and their duality regarding
compliance with the restriction of freedom were brought. Due to the facts, it endorses, the present work,
that the search for alternative treatments of people with personality disorder is vital for a resocialization
and a return to social life, which is not currently used in custody hospitals.
Key words: psychopathy; liability; resocialization.
1. Introdução
No sistema prisional atual o apenado entra e ao invés de ser ressocializado, sai para
as mazelas da sociedade marginalizado, mas, no que se diz respeito aos psicopatas essa
diferença é ainda mais drástica pois começa a dissociação a partir da conceitualização de
que enquadramento o psicopata tem quanti a sua imputabilidade.
Além dos fatores antes citados, também tem que haver uma reflexão sobre o sistema
prisional e a adequação dele para o tratamento e a ressocialização dos indivíduos a
sociedade, visto que este é um dos principais fatores motivacionais da restrição de
liberdade e caso este não ocorra apenas a punição será exercida, levando a sociedade
pessoas revoltadas, marginalizadas e não ressocializadas fazendo com que voltem a
cometer delitos o que é de alto índice entre os psicopatas.
A psicopatia pode ser considerada uma doença mental, uma doença moral ou um
transtorno de personalidade, porém, no final das contas é um problema involuntário do
indivíduo e que não há forma específica de tratamento e nem cura.
Portanto, devemos considerar que esse conceito de doença mental deve ser
analisado em sentido lato, ou seja, deve abranger todas as doenças, sejam elas de origem
patológica ou toxicológica. (NUCCI, 2014). Haja vista deve ser estendida de forma
analógica aos distúrbios.
Existe decisões que declaram o psicopata um ser imputáveis pois estes possuem
discernimento do caráter ilícito do fato e por não ser considerado transtorno ou doença
pelas classificações dos órgãos de saúde mundial. Porém, existem decisões que tornam
os psicopatas semi-imputáveis pois estes possuem o discernimento, porém não consegue
controlar seus atos e por fim também há decisões que classificam os psicopatas como
inimputáveis pois não há controle sobre suas ações mesmo que haja um entendimento
sobre o fato ilícito.
O confinamento nada mais é que uma experiência inútil, além de provocar nos
demais presos comuns efeitos negativos na expectativa de consumação daquelas
finalidades da pena privativa de liberdade. Sendo assim, após o término da pena esses
indivíduos com o transtorno tendem a voltar a delinquir, ocorrências futuras essas
pressentíveis ante os traços da personalidade do psicopata.
Ainda vale ressaltar que os psicopatas que conseguem ser classificados como
inimputáveis e recebem tratamento, este é o mesmo que pessoas com doenças mentais e
transtornos recebem, sendo ineficazes no tratamento dos psicopatas e acaba que estes
voltam a sociedade sem acompanhamento posterior.
O que se tem é uma sensação de insegurança, medo e receio de que estes
indivíduos voltem a sociedade sem um acompanhamento por parte do Estado, devido a
todos estes fatores os psicopatas são reincidentes em seus crimes tornando o ato ilícito e
seu período no sistema prisional um ciclo vicioso, onde o fim vem apenas com o
desfalecimento do indivíduo portador da psicopatia.
A imputabilidade vive uma relação íntima de “amor e ódio” com a psicopatia. Por
se tratar de um transtorno de personalidade e não de uma doença, o psicopata é visto como
um indivíduo que possui discernimento para o julgamento do certo e do errado, pois este
indivíduo tem o conhecimento de que o delito que possa a vir cometer é errado, mesmo
assim o faz para o próprio prazer, trata-se de sua própria vontade e os julgamentos
externos não interferem em suas decisões.
Devido a isso, é de entendimento geral que não é possível obter a plena certeza de
que um indivíduo com transtorno de personalidade possui capacidade psíquica de
consciência para interagir com a sociedade de maneira.
Desta forma, um delito tem que ser avaliado sob o olhar do dolo, da culpa e da
imputabilidade, sendo que esta tem relação direta com a consciência do autor sob o fato
a ser julgado. O art. 26 em seu parágrafo único do Código Penal, trata sobre a semi-
imputabilidade que possuem redução em sua compreensão ou vontade no cometimento
do ato criminoso e por isso devem ser julgadas de forma diferentes dos demais, o que se
enquadra perfeitamente com o caso dos psicopatas, que não perdem o discernimento dos
crimes que cometem e possuem sim o entendimento do fato criminoso, porém possuem
uma diminuição na capacidade volitiva e até intelectual para a compreensão do fato. Neste
caso a culpabilidade e o dolo não são afastados, são apenas diminuídos.
A doença mental deve ser compreendida por doença mental: as psicoses, incluindo
os estados de alienação mental da personalidade do agente e, portanto, deve haver cautela,
por parte da perícia e do magistrado para a constatação da psicopatia de um indivíduo,
por se tratar de um transtorno de personalidade e, portanto, tais situações são consideradas
limítrofes, ou seja, não chegam a ser normais, mas também não caracterizam a
anormalidade a que o artigo 26 do Código Penal brasileiro refere-se.
Todavia, através da Lei de Execução Penal, em seu §1º do artigo 97, o indivíduo
condenado a cumprir o mandado de segurança deve ficar preso por tempo máximo
indeterminado, perdurando pelo tempo necessário até que se comprove através de perícia
médica o fim de sua periculosidade. Neste caso, o indivíduo não tem o direito a saber o
tamanho de sua restrição do direito à liberdade, ficando à mercê da interpretação dos
profissionais de saúde que o acompanham.
“Ninguém se torna psicopata da noite para o dia: eles nascem assim e permanecem
assim durante toda a sua existência”, segundo Ana Beatriz Barbosa (2008). Devido a isso,
considerando suas peculiaridades e a falha do tratamento utilizado contra esse transtorno
antissocial, deve a execução da reprimenda penal pelos psicopatas, com fulcro no próprio
princípio da igualdade e a busca pela dosimetria, ocorrer de forma diferenciada dos
demais sentenciados.
Isso prova nada mais que o psicopata não possui ética e bom senso e que não se
arrepende de seus delitos pois busca prazer neles que é o mais importante para si, não
podendo, portanto, levar em consideração a ressocialização para estes indivíduos já que
os sentimentos importantes para o convívio social estes indivíduos não conseguem sentir.
Este apontamento vale-se para os dias atuais podendo a ciência desenvolver um
tratamento eficaz para a psicopatia que possa unir estes indivíduos ao campo social.
Vale ressaltar que o tratamento dado a um criminoso comum deve ser totalmente
diferente ao oferecido a um psicopata, visto que o detento comum em cárcere possui
capacidade de ser ressocializado e reinserido na sociedade de forma passe a ter uma vida
comum, já o psicopata por possuir tal transtorno não pode ser tratado da mesma forma
visto que a isonomia entre ambos é necessária e este precisa de um acompanhamento
psiquiátrico.
Por fim, a psicopatia tem suas nuances relacionadas a ressocialização que é muito
necessária a sociedade para que esta continue seguindo a diante, mas é de suma
importância observar casos em específicos de psicopatas e seu futuro como seres sociais.
6. Casos Emblemáticos
Francisco da Costa Rocha, conhecido por “Chico Picadinho”, viveu uma infância
e juventude problemáticas, pois houve a falta de afeto por parte de seus parentes e um
envolvimento precoce com drogas e prostituição. Não conseguia manter vínculos
trabalhistas e relacionamentos duradouros, mantendo relacionamentos sexuais com várias
pessoas, traços comuns entre os psicopatas. Já em sua infância, feriu e matou diversos
animais, principalmente gatos, sobre o pretexto de ter curiosidade em saber se realmente
possuíam sete vidas.
É um brasileiro condenado pela morte de duas mulheres, nos anos de 1966 e 1976,
valendo-se do mesmo “modus operandi” na prática dos delitos. Em ambos os delitos teve
relacionamentos sexuais violentos com as suas vítimas, matando-as e esquartejando-as
para esconder os cadáveres, adormecendo no sofá que possuía em sua casa.
Posteriormente, foi condenado a 20 anos e 6 meses e obteve comutação da pena para 14
anos e 4 meses de reclusão. Após cumprir 8 anos de sua pena, obteve liberdade, com a
exclusão do diagnóstico de psicopatia.
Dois anos depois, em 1976, veio a cometer novo delito, tendo sido condenado a
22 anos e 6 meses de reclusão, e diagnosticado como semi-imputável, por ser portador de
personalidade psicopática de grau severo. Teve extinta a sua punibilidade em 07 de junho
de 1998, e em 14 de dezembro do mesmo ano foi decretada a sua interdição civil.
Francisco se encontra encarcerado até os dias hoje, havendo várias críticas com relação a
esse cenário, haja vista a falta de previsão legal para essa prisão por interdição civil.
Estima-se que ele tenha atacado um total de quinze mulheres, conseguindo matar
seis delas. As vítimas eram todas jovens de até 24 anos, e Francisco as abordava
identificando-se como sendo um caça-talentos de uma importante revista. Após
conversar, oferecia um bom cachê e convidava as moças para uma sessão de fotos em um
ambiente ecológico.
7. Considerações Finais
Ante o exposto, foi concluído que a psicopatia não é uma doença, trata-se de um
distúrbio de personalidade e devido a isso não possui cura ou tratamento específico.
Levou-se em consideração também os conceitos de pena e de mandado de segurança,
recursos estes aplicáveis a indivíduos que portam o distúrbio da psicopatia e cometeram
crimes, assim como também foi tratado os conceitos de imputabilidade, inimputabilidade
e semi-imputabilidade.
Quanto a pena ou medida de segurança, constatou-se que nenhum dos dois é eficaz
no que se diz respeito a ressocialização. A pena que leva o psicopata ao cárcere comum
não é munida de qualquer tipo de acompanhamento psicológico e auxílio no que diz
respeito ao distúrbio que sofre. Já em relação ao mandado de segurança, o indivíduo fica
à mercê de tratamentos específicos para doenças mentais e não para distúrbios, além de
não haver qualquer tipo de acompanhamento ao ser reinserido na sociedade sendo
literalmente abandonado pelo Estado e marginalizado pela sociedade, visto que graus
mais severos da psicopatia seus crimes são hediondos e muitas vezes cruéis o que faz com
que não tenham oportunidade de mudança e se vejam excluídos socialmente.
Nos casos citados no trabalho, há uma disparidade entre quem é tratado como
imputável e quem é tratado como semi-imputável, tanto em relação a suas penas quanto
em relação a seu tratamento que mesmo não sendo o mais apropriado ainda sim é melhor
do que nada.
Referências Bibliográficas
COELHO, Alexs Gonçalves; PEREIRA, Thaís Andréia et al. A responsabilidade
penal do psicopata à luz do ordenamento jurídico penal brasileiro. Imputabilidade
x semiimputabilidade. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n.
5151, 8 ago. 2017.