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Avaliação Final
2023
PSICOPATIA
Aspectos gerais
A princípio, o psicopata parece uma pessoa comum, mas após uma observação mais
profunda, pode-se perceber sua dificuldade em se conectar com as outras pessoas ou sentir
empatia por elas. Esse transtorno impacta as relações pessoais do psicopata, trazendo
consequências para todos que convivem com ele. Assim, é importante conhecer mais sobre
suas características, de modo a permitir que as pessoas saibam lidar com os psicopatas.
Estima-se que a psicopatia atinge 1% da população em geral e 25% dos presos do
gênero masculino. No Brasil, estima-se que há 207.517 mil psicopatas. Assim, é um
transtorno mental mais comum do que a sociedade imagina, mas mais esquecido que outros
transtornos raros.
A origem do termo psicopatia é grega e significa “doença mental”. Contudo, os
psicopatas não são tratados desse modo pelos especialistas, tendo em vista que suas ações são
conscientes e, por isso, quando cometem um crime, são presos em cadeias convencionais.
Na medicina, a psicopatia não é considerada uma doença, mas um transtorno
psicológico, cujas características são o desrespeito à moral e aos princípios alheios. Isso
explica o fato de os psicopatas não terem tratamento diferenciado no sistema prisional,
conforme será explicado nesta pesquisa.
Por muito tempo, o termo psicopatia foi substituído por sociopatia, já que aquela era
confundida com psicose. Ademais, sociopatia trazia uma ideia de resultado do meio, enquanto
o termo psicopatia remetia a causas genéticas. Com a introdução do diagnóstico de transtorno
de personalidade antissocial, em 1980, os termos sociopatia e sociopata deixaram de ser
usados por especialistas.
Psicopatia pode ser definida como um conjunto de sintomas psicológicos, que surge,
geralmente, na infância, afetando todas as relações de quem dela sofre. A incidência da
psicopatia é maior em homens, sendo que se estima que 1% dos homens não
institucionalizados maiores de 18 anos são psicopatas nos Estados Unidos, dos quais 16%
estão presos. Muitas vezes, expressa-se na violação criminosa de regras sociais e possui quase
a mesma incidência que a esquizofrenia na sociedade.
O primeiro estudioso do tema da psicopatia foi o psiquiatra francês Philippe Pinel no
começo do século XIX. Ele usou a expressão “mania sem delírio” para se referir às suas 16
características, em sua obra chamada “Tratado Médico-Filosófico sobre a Alienação Mental
ou a Mania”, publicada em 2007.
Após, em 1941, o psiquiatra norte-americano Hervey Milton Cleckley publicou o livro
The mask of sanity, em que aprofundou o tema da psicopatia com pioneirismo. Outro
expoente do tema foi o escocês David Henderson, autor do livro Psychopathic States de 1939.
Nele, o psiquiatra observou que o psicopata pode ser capaz de alcançar objetivos não
egocêntricos, além de, muitas vezes, ser racional. Assim, ele contrariou a Escola Alemã, a
qual expandia o diagnóstico da psicopatia para além da deficiência moral.
A Escola Alemã foi a responsável por introduzir o termo psicopatia na literatura,
contando com vários expoentes, como Kraepelin, Schneider e Kahn. Kraepelin focou na
psicose incipiente, com pessoas que teriam características imorais que levavam à prática de
crimes; Schneider defendeu que a psicopatia não afetaria a cognição, nem a estrutura
orgânica, sendo um transtorno de personalidade; e Kahn se baseou no desajustamento social.
Hoje, a psicopatia é tratada como um Transtorno de Personalidade, não havendo um
código específico no CID-10 para ela. Assim, os médicos tendem a utilizar o código F60.2,
que é o mesmo do transtorno de personalidade dissocial, embora os conceitos não sejam
sinônimos.
Hervey Cleckley, um dos pais do estudo da psicopatia, examinou pacientes psicopatas
que atuavam como empresários, cientistas, médicos e até mesmo psiquiatras. Isso demonstra
que a psicopatia não se resume a crimes e violência. Assim, é importante não confundir
psicopatia com violência, identificando os psicopatas dentre as pessoas violentas e vice-versa,
já que os dois conceitos não são sinônimos e não podem ser tratados como tal nas pesquisas.
A psicopatia sempre fez parte da sociedade humana, mas ainda não se sabe ao certo a
sua causa, assim como as causas da maioria dos distúrbios mentais. Alguns defendem ser
fruto de fatores genéticos ou biológicos, enquanto outros defendem ser produto de um
ambiente social inicial problemático. Para os defensores de causas biológicas, a psicopatia
seria resultado de uma anomalia em regiões específicas do cérebro, prejudicando a atividade
dos neurônios; isso seria decorrência de genética ou de falhas precoces no desenvolvimento.
Robert Hare defende que a psicopatia se origina da combinação de fatores biológicos e
forças sociais. Assim como ele, vários estudiosos acreditam que a psicopatia se origina de
uma predisposição genética que, aliada a um ambiente ruim, desencadeia tal transtorno.
A relação entre as origens biológicas da psicopatia e as influências exercidas pelo
meio é muito próxima, sendo difícil separar as causas do transtorno. Apesar de a criação dos
filhos ser uma influência do ambiente, o fato de os pais possuírem transtornos de
personalidade pode indicar uma herança genética, o que indica origens também biológicas da
psicopatia, estando intimamente interligadas ambas as causas, mas sem conclusões assertivas
acerca da origem.
Psicopatia e Direito
Conclusão
A questão da culpabilidade dos psicopatas é algo complexo. De um lado, tem-se as
disfunções neurais que acometem os psicopatas, além do fato de eles não aprenderem com a
punição. Mas de outro lado, os psicopatas, em geral, não apresentam déficits nos testes
neuropsicológicos. Em alguns casos, eles apresentam boa inteligência, sem comprometimento
da consciência.
Os atos antissociais, tanto psicopatas quanto não psicopatas, são vistos pelo Direito
com o mesmo olhar dos atos de pessoas cujo livre-arbítrio é presumido. Nessa visão, as
pessoas com essa frequência de escolhas antissociais não devem ser absolvidas por tal
comportamento e, ao contrário, devem ser punidas de maneira mais severa que aquelas que
são ocasionalmente ruins.
Nosso Código Penal não se preocupou em tratar dos psicopatas de maneira específica,
nem o Código de Processo Penal Brasileiro o fez. O Decreto n. 24.559/34 dispunha sobre
“(...) a profilaxia mental, a assistência e proteção à pessoa e aos bens dos psicopatas, a
fiscalização dos serviços psiquiátricos (...)”, mas ele foi revogado em 1990. Ademais, tal
diploma não falava sobre a imputabilidade, mas trazia apenas o perigo trazido pelos
psicopatas à sociedade, bem como a possibilidade de internação, ou seja, de aplicar medidas
de segurança.
Além disso, antes de se cogitar um tratamento diferente aos psicopatas no âmbito do
Direito Penal, é preciso que haja unanimidade na psiquiatria quanto às diferenças entre a
psicopatia e o transtorno de personalidade antissocial (ASPD). Assim, é quase impossível que
o Direito se antecipe em relação à própria psiquiatria
Desse modo, no Brasil, os transtornos de personalidade são considerados perturbação
da saúde mental para fins forenses. No Direito Penal, a psicopatia pode resultar em semi
imputabilidade se a capacidade de autodeterminação do indivíduo estiver parcialmente
comprometida. Nesse caso, é facultado ao juiz impor uma pena diminuída ou sujeitá-lo a
tratamento em hospital.
Não obstante, a pena também não é uma solução, visto que os psicopatas não se
arrependem e não têm medo de serem punidos novamente. Isso explica o alto índice de
reincidência entre eles, conforme exposto anteriormente. Assim, o Brasil ainda não encontrou
uma maneira eficaz de lidar com os psicopatas e acabou por tratá-los igual aos demais presos,
colocando-os em cadeias comuns.
Pode-se concluir que, no Brasil, o psicopata não possui nenhum tratamento
diferenciado pelo sistema prisional. Eles são tratados do mesmo modo que os demais presos,
por não se considerar que possuam alguma doença mental. Em alguns casos, se for analisado
que eles possuíam sua capacidade de autodeterminação diminuída à época do crime, os
psicopatas poderão ter sua pena reduzida (semi-imputabilidade). Isso demonstra a necessidade
de mais estudos sobre o tema, de modo a dispender o tratamento necessário aos psicopatas, já
que o mero encarceramento não vem surtindo os efeitos esperados.