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DIREITO, PSICOLOGIA E NEUROCIÊNCIA

Avaliação Final
2023

PSICOPATIA

João Pedro de Freitas Novato 11201078


Introdução

Desde que o mundo é existe, em todos os níveis da sociedade e em todas as profissões,


muitas pessoas já conheceram um psicopata, seja homem ou mulher. Existem psicopatas de
qualquer raça, gênero e classe econômica. Em maior ou menor graus, há psicopatas ao nosso
redor, que convivem normalmente com as outras pessoas.
Além do impacto na sociedade, a psicopatia possui impacto negativo perante o juiz ou
o júri popular, no momento da sentença penal, aumentando as chances de condenação em
razão somente do transtorno de personalidade que o réu possui. Dizer a eles que o réu ou a ré
é psicopata traz inúmeras consequências, inclusive quanto à percepção do crime. As pessoas
possuem preconceitos quando se trata de transtornos mentais e é praticamente impossível se
desvincular deles na hora de sentenciar o réu.
É importante lembrar que a psicopatia não é sinônimo de criminalidade. Nem todos os
criminosos são psicopatas e nem todos os psicopatas são criminosos. Há psicopatas que se
tornam CEOs de grandes empresas, bem como aqueles que convivem normalmente com as
outras pessoas no dia-a-dia. E é por isso que o tema tem grande relevância, pois os psicopatas
não estão restritos a uma parcela da sociedade, mas, na maioria das vezes, não são tratados da
maneira correta.
Ademais, os psicopatas, devido a sua versatilidade criminal, tendem a ser tratados
como uma população única pelos profissionais. Contudo, cada um possui sua peculiaridade e
sua história própria, com suas necessidades específicas, sendo mais variadas em relação aos
não psicopatas. Assim, ao analisar os psicopatas, é necessário lembrar que existem diferentes
grupos. Portanto, apesar de haver um perfil característico da psicopatia, nem todos os
indivíduos são iguais, sendo imprescindível se ater às necessidades de cada um.
Um tratamento adequado e eficaz aos psicopatas ainda não existe; não há estudos
conclusivos acerca do tema. Contudo, terapias bem-estruturadas, com atividades controladas e
organizadas, regras sociais e responsabilidades, bem como punição para más condutas e
elogios para boas, com contato com o mundo externo, parecem promissoras. A simples
reclusão ou detenção, com a justiça formal, protegem a sociedade do psicopata enquanto ele
estiver preso, mas não influencia suas atitudes futuras. Por isso, são necessárias punições
inteligentes e sanções alternativas, de modo a promover a ressocialização, a qual é uma das
funções da pena, mas que resta esquecida na teoria e pouco aplicada na prática.
Com a evolução dos tempos, hoje em dia, existem também diversas organizações e
associações cujo objetivo é apoiar as pessoas que vivem com um psicopata. Também foram
desenvolvidos diversos sites para dar suporte aos familiares dos psicopatas. Assim, a
sociedade tem obtido certo avanço no tema, mas ainda são necessários mais estudos para
solidificar alguns aspectos da psicopatia.

Aspectos gerais

A princípio, o psicopata parece uma pessoa comum, mas após uma observação mais
profunda, pode-se perceber sua dificuldade em se conectar com as outras pessoas ou sentir
empatia por elas. Esse transtorno impacta as relações pessoais do psicopata, trazendo
consequências para todos que convivem com ele. Assim, é importante conhecer mais sobre
suas características, de modo a permitir que as pessoas saibam lidar com os psicopatas.
Estima-se que a psicopatia atinge 1% da população em geral e 25% dos presos do
gênero masculino. No Brasil, estima-se que há 207.517 mil psicopatas. Assim, é um
transtorno mental mais comum do que a sociedade imagina, mas mais esquecido que outros
transtornos raros.
A origem do termo psicopatia é grega e significa “doença mental”. Contudo, os
psicopatas não são tratados desse modo pelos especialistas, tendo em vista que suas ações são
conscientes e, por isso, quando cometem um crime, são presos em cadeias convencionais.
Na medicina, a psicopatia não é considerada uma doença, mas um transtorno
psicológico, cujas características são o desrespeito à moral e aos princípios alheios. Isso
explica o fato de os psicopatas não terem tratamento diferenciado no sistema prisional,
conforme será explicado nesta pesquisa.
Por muito tempo, o termo psicopatia foi substituído por sociopatia, já que aquela era
confundida com psicose. Ademais, sociopatia trazia uma ideia de resultado do meio, enquanto
o termo psicopatia remetia a causas genéticas. Com a introdução do diagnóstico de transtorno
de personalidade antissocial, em 1980, os termos sociopatia e sociopata deixaram de ser
usados por especialistas.
Psicopatia pode ser definida como um conjunto de sintomas psicológicos, que surge,
geralmente, na infância, afetando todas as relações de quem dela sofre. A incidência da
psicopatia é maior em homens, sendo que se estima que 1% dos homens não
institucionalizados maiores de 18 anos são psicopatas nos Estados Unidos, dos quais 16%
estão presos. Muitas vezes, expressa-se na violação criminosa de regras sociais e possui quase
a mesma incidência que a esquizofrenia na sociedade.
O primeiro estudioso do tema da psicopatia foi o psiquiatra francês Philippe Pinel no
começo do século XIX. Ele usou a expressão “mania sem delírio” para se referir às suas 16
características, em sua obra chamada “Tratado Médico-Filosófico sobre a Alienação Mental
ou a Mania”, publicada em 2007.
Após, em 1941, o psiquiatra norte-americano Hervey Milton Cleckley publicou o livro
The mask of sanity, em que aprofundou o tema da psicopatia com pioneirismo. Outro
expoente do tema foi o escocês David Henderson, autor do livro Psychopathic States de 1939.
Nele, o psiquiatra observou que o psicopata pode ser capaz de alcançar objetivos não
egocêntricos, além de, muitas vezes, ser racional. Assim, ele contrariou a Escola Alemã, a
qual expandia o diagnóstico da psicopatia para além da deficiência moral.
A Escola Alemã foi a responsável por introduzir o termo psicopatia na literatura,
contando com vários expoentes, como Kraepelin, Schneider e Kahn. Kraepelin focou na
psicose incipiente, com pessoas que teriam características imorais que levavam à prática de
crimes; Schneider defendeu que a psicopatia não afetaria a cognição, nem a estrutura
orgânica, sendo um transtorno de personalidade; e Kahn se baseou no desajustamento social.
Hoje, a psicopatia é tratada como um Transtorno de Personalidade, não havendo um
código específico no CID-10 para ela. Assim, os médicos tendem a utilizar o código F60.2,
que é o mesmo do transtorno de personalidade dissocial, embora os conceitos não sejam
sinônimos.
Hervey Cleckley, um dos pais do estudo da psicopatia, examinou pacientes psicopatas
que atuavam como empresários, cientistas, médicos e até mesmo psiquiatras. Isso demonstra
que a psicopatia não se resume a crimes e violência. Assim, é importante não confundir
psicopatia com violência, identificando os psicopatas dentre as pessoas violentas e vice-versa,
já que os dois conceitos não são sinônimos e não podem ser tratados como tal nas pesquisas.
A psicopatia sempre fez parte da sociedade humana, mas ainda não se sabe ao certo a
sua causa, assim como as causas da maioria dos distúrbios mentais. Alguns defendem ser
fruto de fatores genéticos ou biológicos, enquanto outros defendem ser produto de um
ambiente social inicial problemático. Para os defensores de causas biológicas, a psicopatia
seria resultado de uma anomalia em regiões específicas do cérebro, prejudicando a atividade
dos neurônios; isso seria decorrência de genética ou de falhas precoces no desenvolvimento.
Robert Hare defende que a psicopatia se origina da combinação de fatores biológicos e
forças sociais. Assim como ele, vários estudiosos acreditam que a psicopatia se origina de
uma predisposição genética que, aliada a um ambiente ruim, desencadeia tal transtorno.
A relação entre as origens biológicas da psicopatia e as influências exercidas pelo
meio é muito próxima, sendo difícil separar as causas do transtorno. Apesar de a criação dos
filhos ser uma influência do ambiente, o fato de os pais possuírem transtornos de
personalidade pode indicar uma herança genética, o que indica origens também biológicas da
psicopatia, estando intimamente interligadas ambas as causas, mas sem conclusões assertivas
acerca da origem.

Psicopatia e Direito

No Direito Penal, as doenças mentais são classificadas como excludentes de


culpabilidade. No entanto, o conceito de “doença mental” utilizado é bem mais abrangente
que o conceito médico. Isso porque não cabe aos operadores do direito curar a doença do
agente, mas tão somente verificar se, ao tempo da ação ou omissão, ele era capaz de entender
a ilicitude e se autodeterminar de maneira diversa. Dessa forma, todos os distúrbios capazes
de distorcer essas capacidades são genericamente chamados de doença mental. Alguns autores
defendem que seria melhor o uso do termo “alienação mental”.
Se comprovada a inimputabilidade do agente, conforme o artigo 26 do Código Penal,
há a sua absolvição e será aplicada uma medida de segurança, nos termos dos artigos 96 a 99
do Código. Já nos casos de culpabilidade diminuída ou semi-imputabilidade, só será aplicada
medida de segurança se for realmente necessária, sendo que, geralmente, aplica-se a pena
reduzida. É importante ressaltar que só há a aplicação de medida de segurança se a
inimputabilidade for a causa exclusiva da absolvição, já que, se o agente seria absolvido
independentemente de sua condição, por exemplo, não será aplicada nenhuma medida.
Assim, é bastante delicada a situação do psicopata quanto à sua culpabilidade. Isso
porque a psicopatia não é vista como doença mental e, portanto, não acarreta a
inimputabilidade do agente, nem uma semi-imputabilidade. Desse modo, na visão atual do
Direito, o psicopata não merece nenhum tratamento especial, já que não se enquadra nos
conceitos do Código e da doutrina de doença mental, devendo ser encarcerado como os
demais presos, que não possuem nenhum transtorno de personalidade.
Preso, o psicopata, tendo em vista sua capacidade de dissimulação, geralmente
conquista progressão de regime de maneira relativamente fácil, já que consegue manipular as
entrevistas que são realizadas para verificar se é possível a progressão. Assim, a tendência é
que ele consiga ir para um regime mais brando rapidamente, mas as chances de ele reincidir
quando for solto também são muito altas.
A medida de segurança, ao contrário, é uma sanção penal, aplicada aos inimputáveis e
aos semi-imputáveis, de caráter preventivo e curativo, baseada na periculosidade do agente.
Ela é vista como um “tratamento adequado” para eles. A maioria dos doutrinadores defende
ser a medida de segurança uma pena, pois se trata de privação de liberdade, possuindo
conteúdo penoso.
Tendo em vista não ser considerada a psicopatia uma doença mental, a medida de
segurança também não se aplica ao caso. Ademais,questiona-se a eficácia da sua aplicação,
bem como as dificuldades na fixação da medida. Isso porque ainda não há conclusões acerca
da cura e do tratamento da psicopatia. Assim, seria bastante contraditório internar o psicopata
para tratar algo que ainda não é passível de tratamento e, muito menos, de cura. Além disso,
tratar-se-ia de medida perpétua, já que muitos defendem que a medida de segurança deve
perdurar até a cessação da periculosidade, a qual ainda não foi encontrada no caso dos
psicopatas.
As próprias teorias da pena possuem lacunas ao tentar justificá-las e a prática vem
mostrando que a punição não consegue atingir os objetivos esperados. No que tange aos
psicopatas, isso se torna ainda mais difícil, já que ele reage às emoções de maneira diversa e
não aprende com seus atos, já que se enxerga como vítima da sociedade.
Apesar de os tribunais não exigirem um levantamento de quem irá se envolver em
violência futuramente antes de permitir a pena de morte, é recomendado que um dos critérios
na fixação da pena seja esse, se o réu tem chances de não ser mais violento quando sair da
cadeia, sendo um risco para a sociedade. Assim, dizer que o indivíduo é psicopata gera
diversas consequências e pode, inclusive, fazer com que a sua sentença penal seja mais severa
que o necessário, já que a tendência de ser uma pena de morte é maior nos países onde é
permitida.
Em relação aos psicopatas, é questionável falar em reabilitação ou tratamento. Apesar
de haver estudos promissores acerca de tratamentos alternativos para o transtorno, ainda não
há sua aplicação nas cadeias, o que faz com que a pena, na melhor das hipóteses, desempenhe
apenas os papéis de “punição” e segurança da sociedade nos casos em que o indivíduo é
psicopata, sendo que essa punição acaba sendo apenas para que os outros não tenham
sensação de impunidade, já que as emoções do psicopata são diferentes.
O sistema ainda é muito ineficaz em relação aos psicopatas, já que não há nenhum
tratamento especial para eles. Ademais, os psicopatas não se preocupam com os impactos
negativos que eles podem causar aos outros nos aspectos material, mental e social. Assim,
eles acabam obrigando o sistema penitenciário a manter o mais alto nível de segurança, o que
pode interferir nos esforços terapêuticos e no sistema global e isso acaba por aumentar os
custos de seu encarceramento.
A lei não tem a mesma influência sobre os psicopatas e sobre os não psicopatas, já que
os primeiros não possuem remorso, nem o freio social que impede que as pessoas cometam
vários tipos de crimes. Isso traz consequências, também, no que tange à reincidência dos
psicopatas, pois a prisão não tem o mesmo efeito sobre eles.
Além da questão da prisão dos psicopatas, há grande preocupação com a sua liberdade
após o encarceramento, já que eles tendem a não aprender com o confinamento. Eles são,
aproximadamente, cinco vezes mais propensos a reincidir que os não psicopatas, sendo essa
reincidência em crimes violentos, geralmente.
Outra peculiaridade dos psicopatas no sistema prisional, é que eles tentam estabelecer
laços com os funcionários para que consigam obter vantagens. Por isso, a orientação dos
funcionários jovens e inexperientes é tão importante. Ademais, no Brasil, a idade mínima para
o cargo de Agente Penitenciário é de 18 anos e essa imaturidade pode facilitar a manipulação
dos funcionários pelos detentos. Assim, é fundamental que haja treinamento adequado, de
modo a neutralizar as influências dos psicopatas sobre os agentes.
Para o tratamento com os psicopatas, é importante que os funcionários das instituições
sejam bem escolhidos, sensíveis, competentes e multidisciplinares. A seleção deve ser não
somente com foco no aspecto profissional, mas também na personalidade, sendo
desaconselhável que os funcionários sejam ansiosos, apreensivos ou inexperientes. Tendo em
vista que, no Brasil, muitos psicopatas são presos juntos com os demais sentenciados, as
recomendações acerca dos Agentes Penitenciários deveria ser a mesma, com a exigência de
qualificações específicas, incluindo avaliação da personalidade. Contudo, isto ainda está
muito distante da realidade brasileira.
Nas prisões, os psicopatas tendem, ainda, a simular suicídios e cenas dramáticas. O
transtorno não é um fator de risco, nem um fator preventivo ao suicídio real; não há
correspondência entre os traços suicidas e o real risco do suicídio entre eles. Muitos encenam
para serem enviados ao hospital, onde continuam simulando para que os cuidados hospitalares
se prolonguem. Nesses casos, as estratégias de tratamento consistem em manter o preso no
hospital ou enviá-lo de volta ao hospital, caso não haja comportamento suicida. Contudo, isso
funciona somente se não existirem comorbidades severas de depressão ou distúrbio psicótico,
os quais geralmente estão presentes nos psicopatas.

Conclusão
A questão da culpabilidade dos psicopatas é algo complexo. De um lado, tem-se as
disfunções neurais que acometem os psicopatas, além do fato de eles não aprenderem com a
punição. Mas de outro lado, os psicopatas, em geral, não apresentam déficits nos testes
neuropsicológicos. Em alguns casos, eles apresentam boa inteligência, sem comprometimento
da consciência.
Os atos antissociais, tanto psicopatas quanto não psicopatas, são vistos pelo Direito
com o mesmo olhar dos atos de pessoas cujo livre-arbítrio é presumido. Nessa visão, as
pessoas com essa frequência de escolhas antissociais não devem ser absolvidas por tal
comportamento e, ao contrário, devem ser punidas de maneira mais severa que aquelas que
são ocasionalmente ruins.
Nosso Código Penal não se preocupou em tratar dos psicopatas de maneira específica,
nem o Código de Processo Penal Brasileiro o fez. O Decreto n. 24.559/34 dispunha sobre
“(...) a profilaxia mental, a assistência e proteção à pessoa e aos bens dos psicopatas, a
fiscalização dos serviços psiquiátricos (...)”, mas ele foi revogado em 1990. Ademais, tal
diploma não falava sobre a imputabilidade, mas trazia apenas o perigo trazido pelos
psicopatas à sociedade, bem como a possibilidade de internação, ou seja, de aplicar medidas
de segurança.
Além disso, antes de se cogitar um tratamento diferente aos psicopatas no âmbito do
Direito Penal, é preciso que haja unanimidade na psiquiatria quanto às diferenças entre a
psicopatia e o transtorno de personalidade antissocial (ASPD). Assim, é quase impossível que
o Direito se antecipe em relação à própria psiquiatria
Desse modo, no Brasil, os transtornos de personalidade são considerados perturbação
da saúde mental para fins forenses. No Direito Penal, a psicopatia pode resultar em semi
imputabilidade se a capacidade de autodeterminação do indivíduo estiver parcialmente
comprometida. Nesse caso, é facultado ao juiz impor uma pena diminuída ou sujeitá-lo a
tratamento em hospital.
Não obstante, a pena também não é uma solução, visto que os psicopatas não se
arrependem e não têm medo de serem punidos novamente. Isso explica o alto índice de
reincidência entre eles, conforme exposto anteriormente. Assim, o Brasil ainda não encontrou
uma maneira eficaz de lidar com os psicopatas e acabou por tratá-los igual aos demais presos,
colocando-os em cadeias comuns.
Pode-se concluir que, no Brasil, o psicopata não possui nenhum tratamento
diferenciado pelo sistema prisional. Eles são tratados do mesmo modo que os demais presos,
por não se considerar que possuam alguma doença mental. Em alguns casos, se for analisado
que eles possuíam sua capacidade de autodeterminação diminuída à época do crime, os
psicopatas poderão ter sua pena reduzida (semi-imputabilidade). Isso demonstra a necessidade
de mais estudos sobre o tema, de modo a dispender o tratamento necessário aos psicopatas, já
que o mero encarceramento não vem surtindo os efeitos esperados.

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