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O PERFIL DO PSICOPATA À LUZ DO DIREITO PENAL E A SUA

RESPONSABILIZAÇÃO NA ESFERA CRIMINAL BRASILEIRA.

THE PROFILE OF THE PSYCHOPATH IN THE LIGHT OF CRIMINAL LAW AND


HIS RESPONSIBILITY IN THE BRAZILIAN CRIMINAL SPHERE.

Raiany Santiago Dos Santos 1


Walker Oliveira Gomes 2

RESUMO: O presente trabalho visa analisar o perfil do psicopata sob a ótica do Direito
Penal Brasileiro. Partindo de sua evolução histórica, trazendo seu conceito, suas
características, trazendo casos práticos brasileiros para exemplificação. Em segundo
momento, será analisada a responsabilidade do psicopata na esfera criminal
brasileira, contextualizando a teoria do crime, seus elementos, a culpabilidade, a
imputabilidade e a inimputabilidade do agente. Após é feita uma análise crítica sob a
ineficácia da pena adotada como medida de punição ao psicopata, contextualizando
assim a ressocialização do indivíduo. Foram usados artigos, doutrinas, jurisprudência,
leis e livros que tratam do tema psicologia e vídeos de reportagens na elaboração do
contexto do presente trabalho.

Palavras-chave: Psicopatia. Direito penal. Culpabilidade. Medida de Segurança.


Pena.

I INTRODUÇÃO
Quando surge o assunto psicopata, ele pode aparecer de diversas maneiras,
visto que muitos usam outras denominações, sendo chamados de personalidades
antissociais, personalidades psicóticas, personalidades dissociais, entre outras. À
primeira vista, o psicopata aparenta ser como qualquer indivíduo comum, como
qualquer outra. Isso porque são extremamente inteligentes possuem facilidade para
envolver, mentir e manipular as pessoas ao seu redor, para alcançar assim seus
objetivos, não se importam com os meios para assim realizá-los. Os psicopatas estão
por toda parte, homens e mulheres, independente de credo, raça ou classe social.
Eles possuem trabalhos, eles estudam, constroem carreiras, famílias, aparentemente
possuem uma vida normal como a maioria das pessoas. Por trás de toda esta fachada
acabam por cometer delitos. É importante frisar que nem todos os psicopatas são
necessariamente assassinos, mas neste trabalho iremos abordar o psicopata
assassino. (SILVA, 2010).
Os delitos cometidos por psicopatas geram grandes repercussão nas mídias
devido ao nível de crueldade que é utilizado. No Brasil temos alguns casos de crimes
que apesarar de não terem qualquer afirmação de que as pessoas que os cometeram,
são realmente psicopatas, são citados por autores como sendo psicopatas. Exemplo
disso é: Caso Calabrese, Champinha, Chico Picadinho, Suzane Von Richthofen, o

1
Graduanda em Direito pela Faculdade de Americana – FAM. E-mail: raianysantos@fam.edu.br.

2
Orientador e Docente. Pós-graduado em direito tributário pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas
(PUCCAMP) e em Direito Penal e Processual Penal pela Escola Paulista de Direito (EPD). Professor de Direito
Processual penal na Faculdade de Americana (FAM). Advogado. E-mail: walkergomes@fam.edu.br
2

Maníaco do Parque, o Bandido da Luz Vermelha, Guilherme de Pádua, entre outros.


Esses crimes ganharam uma alta visibilidade da mídia, detendo a atenção da
sociedade e gerando indignação por tamanha crueldade e frieza.
Os psicopatas condenados não passam por avaliações que identifiquem que o
sujeito possui transtorno, sendo deixando de levar em consideração seu transtorno,
sendo enviados para penitenciárias, onde o intuito é tirar o indivíduo da sociedade
para que ele possa assim pagar pela conduta delituosa que fez, e repensar em seus
atos e assim ser ressocializado para que possa voltar à sociedade e não venha a
cometer mais atos delituosos. A ressocialização não é eficaz ao psicopata, já que os
psicopatas não apresentam qualquer remorso pelos crimes praticados.
Então se a penitenciaria não é o local apropriado para o psicopata, qual seria
a sanção certa a ser aplicada pelo sistema a fim de que venha o psicopata a ser
responsabilizado? Existem diferentes posicionamentos quanto à sanção cabível. Uns
defendem a tese de que a penitenciaria é o melhor lugar, a outros que acham que a
medida de segurança é a medida mais adequada. Tais medidas ao longo do trabalho
serão abordadas, e sendo apresentada a mais eficaz para estes indivíduos.
De início o trabalho irá abordar o conceito da psicopatia, trazendo sua evolução
histórica, suas características, evidenciando suas causas e possíveis tratamentos,
trazendo casos práticos para fim exemplificação. Em um segundo momento será
abordado à responsabilização do psicopata na esfera criminal brasileira, considerando
a teoria do crime e a ineficácia das penas que são aplicadas na maioria dos casos.
Finalizado o artigo com a medida adequada a ser aplicada, e a sua eficácia, trazendo
as considerações finais.
Foram utilizados na elaboração deste trabalho, pesquisas em artigos,
doutrinas, livros e vídeos para esclarecer este transtorno, abordando desde o conceito
de psicopatia até seus possíveis tratamentos. No que diz respeito à área penal,
doutrinas, código penal, código de processo penal, legislação penal brasileira e a
Constituição Federal, foram utilizadas para pesquisa, para complementar e
exemplificar casos concretos, que apesar de não terem sido confirmados como
cometidos por psicopatas, possuem grandes características de um.

II PSICOPATIA

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA


A psicopatia é objeto de estudo desde os tempos antigos, precisamente a partir
do século XVIII, onde doenças, distúrbios e transtornos mentais começaram a ser
objeto de estudo (CLARA,2017). Partindo do princípio, onde já se encontravam
pessoas que tinham personalidades anormais, comparadas com a população de
modo geral, levando-se em consideração o comportamento, a conduta ética e moral
do indivíduo. Em decorrência, começaram assim os estudos e pesquisas em
pacientes, observando o fato de que os indivíduos que apresentam tal comportamento
divergente eram em muitos casos agressivos, criminosos e cruéis. Sendo este,
considerado o ponto inicial do estudo clínico da psicopatia.
Philippe Pinel, psiquiatra francês do início do século XIX, foi um dos primeiros
médicos a escrever sobre psicopatas. Ele assim descreveu que o padrão no
comportamento marcado pela falta de remorso e ausência de contenção, o chamando
de mania sem delírio. Com isso surgiu uma discussão em meio aos escritores, sendo
levada a gerações, a discussão se os psicopatas eram loucos ou maus. (HARE, 2013,
p. 41)
3

2.2 CONCEITO.
Para a psicologia forense a psicopatia pode ser definida como alterações na
conduta de pessoas, apresentando traços significativos, como um comportamento
descontrolado, delinquência juvenil, reincidência criminal, total falta de inibição,
remorso, entre outros. Os psicopatas em sua maioria são criminosos, cometem crimes
violentos e apresentam um índice alto em reincidência (AMBIEL, 2006).
Muitos acham que o psicopata é louco, o que está errado. Os profissionais da
saúde determinam que a psicopatia difere de uma doença mental, e por este motivo
o psicopata não pode ser considerado louco, porque o psicopata não tem nenhuma
desorientação, tão pouco comete delitos por alucinações ou delírios. (SANTOS, 2012)
Apesar disto, a psicopatia não pode ser definida como uma doença mental,
visto que o indivíduo apresenta um padrão permanente no seu comportamento. A qual
se manifesta nas áreas cognoscitiva, afetiva, dos impulsos, que aparece de forma
precoce sendo em crianças, adolescentes e adultos. Fazendo assim com que os
indivíduos possam a vir cometer atos contra a sociedade, desrespeitando as normas
sociais, e sendo tão indiferentes quanto ao que se refere a outras pessoas.
Importante salientar que psicopatia e sociopatia são transtornos diferentes. A
psicopatia é definida como sendo um transtorno de Personalidade Antissocial, em
quanto o sociopatas apresentam um Transtorno de Personalidade Dissocial, visto que,
apesar da semelhança, os sociopatas sentem remorso e culpa por seus atos em
algumas determinadas situações, tendo um limite em sua maldade.

2.3 CARACTERISTICAS
Psicopatia é um transtorno conhecido há séculos. Ocorre que os psicopatas
não são seres fáceis de serem identificados na sociedade, geralmente tais indivíduos
combinam charme, manipulação, intimidação e violência. Se não cometem deslizes
se quer são descobertos. São os psicopatas homicidas que acabam por serem
identificados de forma mais rápida. (ARAÚJO, 2012).
A neurociência divide o psicopata funcional do psicopata tradicional. O
funcional possui algumas habilidades que o tradicional não tem. Uma delas é ter um
celebro social mais desenvolvido. Um cérebro social mais desenvolvido seria uma
pessoa que consegue se relacionar muito bem, possui cargos elevados, consegue ter
boas relações com as pessoas e algumas vezes chega a demonstrar vulnerabilidade,
se vitimizar com grande facilidade, consegue interpretar muito bem emoções. Por isso
possuem menor facilidade de serem pegos, muitos vivem a vida inteira sem praticar
nenhum crime, ou que chegue até cometer pequenos delitos, ou até cheguem a matar,
mas por sua inteligência arquiteta muito bem e por este motivo dificilmente é pego.
(NAVES, 2020)
Já o psicopata tradicional, que é muito conhecido como serial Killer é uma
pessoa que sabe que vai ser presa ou morta. Pois sabe que seus geraram os
possíveis resultados para si. Ele não pensa muito para fazer algo. Possuem uma
deficiência no córtex pré-frontal, não tem um celebro social muito bem desenvolvido.
A uma região no cérebro que são as amígdalas cerebrais, que estão nos lobos
temporais que são responsáveis pelo celebro social, que possui a função de fazer com
que sentimos medo, perigo, ameaça, e o psicopata tradicional não conseguem sentir,
eles simplesmente querer e fazem.
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Figura 1

Fonte: https://anacruzoficial.com/2018/04/o-nascimento-de-um-psicopata/
É na infância que começam a surgir características suspeita, porém, só
podemos falar em psicopatia a partir dos 18 (dezoito) anos de idade para a
classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10, pois é quando
as características mais específicas se tornam mais frequentes. (RODRIGUES, 2020)
A ausência de remorso ou sentimento de culpa talvez seja a mais marcante
característica dos psicopatas, de forma que não sentem de nenhuma culpa, sendo
incapazes de se arrepender por seus atos. O psicopata pode matar uma pessoa e
pouco se importar com isso, como se tivesse sido apenas mais um dia normal,
tornando-o um criminoso de acentuada periculosidade, já que não mede a
consequências de seus atos. Os Psicopatas podem aparentar o remorso, porém,
tendem a se contradizerem em palavras e ações (HARE, 2013).
A empatia é a capacidade de se pôr no lugar da outra pessoa, entender os
sentimentos dos outros, e o psicopata não é capaz de ter empatia, e por conta disso
muitas das outras características estão estreitamente relacionadas com a ausência
de empatia, sendo um sujeito que age com frieza, vendo as demais pessoas como
simples objetos (HARE, 2013).
Os Psicopatas possuem características próprias, aparentemente são
indivíduos comuns, mas possuem uma personalidade diferente do resto das pessoas,
possuem total incapacidade de sentir emoções ou sentimentos, são pessoas
egocêntricas, eles agem de forma impulsiva, são agressivos e não sentem nenhuma
culpa ou remorso em razão de suas atitudes. São extremamente inteligentes.
Importante salientar também que o Psicopata não é uma pessoa influenciável,
pois seus delitos não precisam de motivação, eles sabem perfeitamente o que fazem
o que é certo ou errado e mesmo assim não se sentem intimidados, porque são
desprovidos de consciência.
De acordo com Silva,
Os psicopatas em geral são indivíduos frios, calculistas,
inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores e
que visam apenas o próprio benefício. Eles são
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incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se


colocar no lugar do outro. São desprovidos de culpa ou
remorso e, muitas vezes, revelam-se agressivos e
violentos. Em maior ou menor nível de gravidade e com
formas diferentes de manifestarem os seus atos
agressores, os psicopatas são verdadeiros “predadores
sociais”, em cujas veias e artérias corre um sangue
gélido. (2010, p.41)

Muitas vezes considerados como predadores sociais, são ardilosos, estão em


meio a sociedade. São aparentemente pessoas normais, homens ou mulheres, leva
uma vida um tanto normal à primeira vista. São médicos, professores, políticos, mães
e pais, empresários, religiosos, etc. Pessoas que nos levam a imaginar que são do
bem, quando na verdade são “lobos em pele de cordeiro”.
Ocorre que não se pode generalizar, nem todo psicopata é um assassino, pois
a aqueles que cometem outros tipos de delitos, sem sujar suas mãos com sangue.
Cometem a ruína de empresas ou até mesmo de famílias. Permanecendo assim
indiferente para a sociedade até o resto de suas vidas, sendo considerados o
psicopata funcional.
A linguagem do psicopata é algo interessante de se notar. Foram realizados
estudos em razão disto, que assim foram constatados que eles apresentam uma
linguagem desconexa, eles possuem facilidade para mudarem de assunto
constantemente, suas respostas não são compostas de argumentação, pois até nisto
eles são insensíveis. São incapazes de sentir compaixão por outras pessoas, mas se
necessário conseguem fingir muito bem, chegando até a demonstrar amizade,
consideração, carinho. Agindo ardilosamente para conseguir o que quer, manipulando
e atraindo suas vítimas. (SILVA, 2010).

2.4 CAUSAS, TIPOS E NÍVEIS DE PSICOPATIA.


A psicopatia é um dos transtornos mais difíceis de ser diagnosticado e
identificado. Uma pessoa que aparentemente demonstra ser uma pessoa normal, que
é adorada por muitas pessoas, ou que parece ser uma pessoa “boazinha”, pode ser
um psicopata e você nunca saberá, a menos que ela cometa algum deslize.
O sistema límbico é o responsável por gerar emoções, pela aprendizagem e
pela memória. Tal sistema é constituído por estruturas corticais e subcorticais. Já a
amígdala cortical, é uma estrutura que está localizada no interior do lobo temporal, é
ela quem cuida das emoções, sendo caracterizada como a tomada de decisões
pessoais e sociais. (GOLEMAN, 2001)
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Figura 2 - O sistema Límbico

Fonte: http://neuroinformacao.blogspot.com/2012/08/o-sistema-limbico.html

Normalmente, a amígdala desempenha um papel central no condicionamento


do medo e em memórias emocinais inconscientes. Por outro lado individuos com
lesões na amígdala têm dificuldade de serem condicionados por estimulos de medo.
(PERVIN; JOHN, p. 266, 2004).
As emoções estão ligadas a parte racional do ser humano. Isso fica nitido
quando se trata do comportamento do psicopata ao compara-lo com um individuo
normal. Um exemplo é a imagem a seguir, a qual foi comprovada por atráves de
aparelhos de ressonância magnética funcional, os quais observaram alterações no
funcionamento celebral do psicopata. Abaixo temos um exemplo de comparação do
cérebro de uma pessoa normal com de um psicopata.

Figura 3 - Cérebro de uma pessoa normal comparado com o de um psicopata.

Fonte: https://www.institutoconectomus.com.br/estudo-compara-cerebro-de-criancas-psicopatas-e-
bandidos/
Indivíduos considerados normais apresentaram uma intensa atividade na área
da amígdala e do lobo frontal (conforme demonstrado na imagem acima) ao passarem
por uma simulação a fim de estimular a imaginarem estar cometendo delitos, gerando
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certo desconforto, passando a gerar o comportamento adequado. Já com os


indivíduos considerados psicopatas, ao passarem pela mesma situação, os resultados
foram diferentes, as amígdalas deixaram de levar informações para o lobo frontal, que
deixa assim de gerar o comportamento que seria adequado a situação, ocasionando
uma reação que não traz nenhum tipo de afeto.
Por apresentar uma estrutura cerebral diferente de uma pessoa normal, sabe-
se que o que pode causar a psicopatia são as diferenças que possuem, que acabam
por ocasionar tal comportamento. E através da ressonância magnética consegue-se
visualizar as principais diferenças.
A diferentes níveis de psicopatia, sendo o leve, moderado e grave. O nível leve
é composto por os psicopatas que trapaceiam, aplicam golpes e acabam por praticar
pequenos roubos. Estes não matam, sequer sujam suas mãos com sangue. O
moderado é assemelhado ao leve, mas o que diferencia é que o psicopata detém uma
intimidade maior com as vítimas, mas seus delitos ainda estão ligados com o lado
financeiro. Agora o nível grave, o psicopata já “suja suas mãos”. Sua conduta já está
ligada com a integridade física dos outros indivíduos. Comete tais delitos por prazer,
planejam cada detalhe com antecedência. Ver suas vítimas sofrerem provoca uma
grande satisfação, são tomados por tal sentimento, a sensação de êxtase que o
sofrimento do outro proporciona. Por isso não matam de uma vez, vai torturando, até
chegar ao ponto de matá-la. (SILVA, 2010)

III DA RESPONSABILIDADE PENAL DOS PSICOPATAS NO DIREITO PENAL


BRASILEIRO

3.1 TEORIA DO CRIME


Considerada os pilares do direito penal, as teorias são utilizadas para
determinar se um fato é criminoso ou não. A teoria do crime é considerada a de maior
importância no direito penal. Tal teoria determina que crime é composto por um fato
típico, ilícito e culpável. Sendo identificados esses elementos, será considerado um
fato criminoso, e assim caracterizando como crime.
No início deve-se observar o fato típico. O fato típico é considerado a parte
material, onde é identificada a conduta do tipo penal incriminador, e que venha a afetar
ou ameaçar bens penalmente tutelados. É composto por: a) Conduta – podendo ser
culposa ou dolosa, comissiva ou omissiva; b) nexo de causalidade – entre a conduta
e o resultado; c) resultado jurídico/normativo; e d) tipicidade. Ao analisar o fato e ficar
constatado que não possui um desses elementos, já descarta a possibilidade de o fato
ser criminoso. (CAPEZ, 2012)
Na segunda fase é analisado se o fato é ilícito ou não. Nele deve ser observado
se a presença de alguma excludente de ilicitude, sendo: a) estado de necessidade; b)
legitima defesa; c) estrito cumprimento de dever legal; d) exercício regular de direito.
Se alguma ou mais das excludentes se fizerem presentes, afasta-se assim a ilicitude
do fato.
Comprovado a ilicitude do fato, em último momento é analisado a culpabilidade
do fato. Onde são analisados os elementos essenciais para se averiguar a
culpabilidade. São eles: a) exigibilidade de conduta diversa; b) imputabilidade; e c)
potencial consciência sobre a ilicitude do fato.
Quando se observa a conduta exercida pelo psicopata é notável a diferença em
razão do que as normas sociais ou normas jurídicas impõem. O psicopata ao cometer
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o delito sabe exatamente que aquele ato é errado, e isso não o intimida, realiza a
pratica do delito mesmo assim, já que não se sente intimidado.

3.2 DA CULPABILIDADE, IMPUTABILIDADE, INIMPUTABILIDADE E SEMI-


IMPUTABILIDADE.
Quando se trata de culpabilidade é necessário verificar a presença dos
elementos exatos. O agente que pratica a conduta deve ter capacidade para
reconhecer que o ato praticado é ilícito e se poderia diante das circunstancias o agente
ter agido de forma diversa daquela praticada.
Ao se tratar de um psicopata o Direito Penal não tem uma teoria formada. Tal
tema possui divergências, já que para alguns o juiz deve decidir se houve
culpabilidade ou não, outros seguem a linha contra a própria ciência psica. A conduta
do psicopata deve ser analisada de forma minuciosa, cada detalhe é de extrema
importância levando-o a punição devida, pois a psicopatia não é elemento que afaste
a culpabilidade do agente. Já que a psicopatia não pode ser considerada uma doença
mental.
Para o direito analisar conduta do psicopata deve-se considerar o que a
psiquiatria fala, sendo necessária a realização de um exame, onde será determinado
que o agente quando realizou a conduta possuía conexão com a realidade ou não. O
parecer psicológico é solicitado pelo médico perito, quando se faz necessário
esclarecer a personalidade do agente, principalmente em casos de transtorno de
personalidade. (CAIRES, 2003, p.151).
Sendo neste momento que fica caracterizado a imputabilidade,
inimputabilidade ou a semi-imputabilidade. O nosso Código de Processo Penal, trata
no Capitulo VIII, da insanidade mental do acusado. O qual traz em seu rol do art. 149
a determinação de que havendo dúvidas quanto a integridade mental do acusado, o
juiz deve ordenar de oficio ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do
curador, do ascendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame
médico-legal. Podendo o exame segundo o §1º ser ordenado ainda na fase de
inquérito, mediante representação da autoridade policial ao juiz competente. O §2º O
juiz nomeará um curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando suspenso
o processo, se já iniciada a ação penal, salvo quanto às diligencias que possam ser
prejudicadas pelo adiamento. (BRASIL, 1940).
A imputabilidade é a atribuição ao agente à responsabilização por sua conduta
delituosa, onde o agente responsável pelo delito é considerado capaz de entender
mentalmente a ilicitude do ato (NUCCI, 2005). Considerando os elementos que
constituem a imputabilidade, o psicopata se enquadra perfeitamente, visto que os
aspectos do psicopata e a imputabilidade se encaixam perfeitamente. É de extrema
importância que o agente passe por um exame psiquiátrico, a fim de tenha o juiz a
real certeza da culpabilidade do agente. Avaliando o caso concreto e assim
determinando a capacidade de compreender do ato ilícito, diferenciando o psicopata
de outros indivíduos criminosos.
Sendo considerado inimputável o agente, está afastada a culpabilidade, visto
que a inimputabilidade é um dos elementos que exclui a culpabilidade da conduta do
agente, conforme art. 26 do CP. Ocorre que neste quesito o psicopata não se
enquadra, já que para tanto devia o psicopata ser considerado doente mental ou
retardo mental. O art. 26 do CP em seu parágrafo único trata da semi-imputabilidade,
a qual fica entre a imputabilidade e a inimputabilidade, mas diferente da
inimputabilidade a semi-imputabilidade não exclui a culpabilidade do indivíduo infrator.
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A semi-imputabilidade dá o direito ao juiz de diminuir a pena ou até mesmo de


encaminhar o indivíduo a um manicômio judicial, com finalidade de tratamento.
(BRASIL, 1940).
Para o direito o psicopata acaba se enquadrando no perfil de semi-imputavel.
Já que consegue diferenciar o que é errado e o que é certo, mas pouco se importa
com o resultado de seus atos, pois para ele o que importa é sua satisfação ao fim de
tudo.
3.4 DA INEFICÁCIA DA PENA APLICADA AO PSICOPATA
O Código Penal, em seu art. 59 estabelece que as penas devam ser
necessárias e suficientes à reprovação e prevenção do crime. Muitos indivíduos
psicopatas são julgados como criminosos comuns, isso porque o Código Penal
determina que se enquadre na semi-imputabilidade o criminoso comum ou o doente
mental, não havendo uma determinação própria para sua condição.
Se for considerado um criminoso comum o psicopata será encaminhado a
presídios, e sendo considerado doente mental é aplicada medidas de segurança,
conforme o art. 97 do Código Penal.
Ocorre que ao encaminhar um psicopata para o presídio ele não será
ressocializado. Já que o intuito da pena privativa de liberdade é retirar o indivíduo da
sociedade para que ele venha ser punido pelo o que fez e que após possa voltar à
sociedade. O intuito de ressocializar não se aplica ao psicopata, já que ele sabe que
a conduta delituosa é errada, mas irá voltar a pratica-la assim que voltar a sociedade.
Submete-se o indivíduo doente mental a tratamentos com remédios, ele poderá
ter mudanças significativas. Mas com o psicopata essa medida também não é eficaz.
Pouco se importa com a figura do indivíduo, tudo que se espera é que ele seja
condenado. São aplicadas penas de 50, 70 ou até mesmo de 100 anos, quando na
verdade ninguém cumpre mais que 30 anos. Sem contar nas diminuições de penas
ao longo dos anos, por bom comportamento, acaba por cumprir a pena em
semiaberto, etc.
Se um indivíduo considerado psicopata viesse a ser julgado como semi-
imputavel ou inimputável, inicialmente a pena aplicada seria a máxima, sendo de 3
(três) anos. Após cumprido esta pena, para que o mesmo volte a sociedade deveria
passar novamente por exames psiquiátricos, onde seria constatado se o mesmo
corresponde perigo a sociedade. Mas o psicopata nunca para de cometer seus delitos
e por este motivo sua pena seria muito inferior a 40 (quarenta) anos, ficando assim
preso por muito tempo. Fica claro que reduzir a pena de um psicopata não é uma
medida eficaz, já que não importa quanto tempo ele fique preso, ele nunca mudara,
sempre vai ser um psicopata.
Em razão do psicopata não ser considerado um doente mental, é de extrema
importância que ele seja submetido a um exame de PCL-R, afim de que possa ser
evitado qualquer tipo de falhas no sistema. Com um exame mais detalhado os
psicopatas seriam possíveis descobrir o nível de perigo que ele representa para a
sociedade, evitando que fosse posto em sociedade novamente. Ocorre que o PCL-R
fora adaptado, traduzido e validado no Brasil, através da psiquiatra Hilda Morana, que
efetuou a tentativa de realizar o teste em presídios a fim de que fossem identificados
psicopatas, mas, infelizmente a mesma não obteve resultado positivo. Hilda além da
tentativa de aplicar o PCL-R no direito brasileiro, ela também enfrentou diversas
batalhas com o poder Legislativo para que viesse a serem criadas prisões especiais
para indivíduos diagnosticados como psicopatas. Infelizmente o que se obteve
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durante as batalhas enfrentadas foi apenas a criação de um projeto de lei, que não
chegou a ser aprovado. (MORANA, 2015)
A medida de segurança não é pena, mas não deixa de ser uma espécie de
sanção penal, aplicável aos inimputáveis ou semi-imputáveis, que praticam fatos
típicos e ilícitos (injustos) e precisam ser internados ou submetidos a tratamento.
Trata-se, pois, de medida de defesa social, embora se possa ver nesse instrumento
uma medida terapêutica ou pedagógica destinada a quem é doente. (NUCCI, 2014).
Importante salientar que mesmo que as sanções aplicadas sejam de medidas
de segurança ou penas, o indivíduo conforme a justiça brasileira não pode ficar mais
que 40 (quarenta) anos preso, conforme art. 75 do Código Penal.
É notório que a justiça brasileira não possui uma opinião formada de qual é a
sanção definitiva que deve ser aplicada ao psicopata. Assim deve o juiz julgar pelo
livre convencimento, atentando-se para informações técnicas e cientificas, analisando
caso concreto. Sendo que na maioria dos casos é aplicada a pena privativa de
liberdade ou medida de segurança, que deve ser aplicada por um ano e meio, e sendo
necessário a comprovação de laudos para que seja deferido um novo tempo.
Observa-se que o psicopata mesmo não sendo considerado um doente mental, a sua
periculosidade acaba evidenciando o quanto perigoso é, e assim levam a certeza que
irão voltar a matar.

3.5 PROJETOS DE LEIS


Existem projetos de Leis voltados aos psicopatas. Os quais são: projeto de Lei
nº 03/2007, projeto de Lei nº 6858/2010 e o mais recente que é o projeto de Lei nº
3.356/2019.
O projeto de lei nº 03/2007 de autoria do Deputado Federal Carlos Lapa do
PSB/PE, que objetiva criar uma medida de segurança perpétua para psicopatas que
cometem assassinatos em série. Tal projeto estabelece que o psicopata passe por um
diagnóstico, o qual deve ser feito por 3 (três) médicos especializados para tal e oficiais,
para que certifique a psicopatia para que seja aplicada a medida. Para o Deputado, o
psicopata possui um desvio de conduta e não uma doença mental. Segundo o
Deputado:

“O presente projeto, denominado de medida de segurança social


perpétua, visa como o nome indica, proteger a sociedade contra
indivíduos portadores desse desvio de conduta, que tem
cometido os crimes mais bárbaros que escandalizam o mundo,
principalmente porque suas vítimas geralmente são as mais
indefesas, como mulheres e crianças”.

Na proposta elaborada o deputado trouxe diversas teses para que fosse


aprovada a lei, ocorre que em 02 de outubro do mesmo ano em que o projeto foi
criado, ele veio a ser arquivado.
Já o projeto de Lei nº6. 857/2010 o qual foi apresentado em 24 de fevereiro do
mesmo ano foi proposto pelo Deputado Federal Marcelo Itagiba do PSDB/RJ. Este
projeto determina a alteração da Lei de Execuções Penais de nº 7.210/1984, criando
assim uma comissão técnica independente da administração prisional e da execução
da pena do psicopata, sendo necessário exame criminológico ao indivíduo condenado
à pena privativa de liberdade, na sua entrada e na mudança de regime. Com este
11

projeto o psicopata só teria sua pena reduzida se a comissão autorizasse, sendo a


comissão composta por médicos especialistas na área da psicopatia e da psicologia
criminal.
O segundo o Deputado Marcelo se faz necessário mudanças na LEP, sendo
necessário que ela trate da execução da pena do indivíduo psicopata, diferenciando
dos demais indivíduos presos. Tal projeto de lei mesmo sendo de extrema
necessidade e pertinente, está em tramitação na justiça. Esperando a aprovação do
plenário.
E por fim, o projeto de Lei nº 3.356 de 2019 que foi criado por Capitão Alberto
Neto, o qual estabelece medida de segurança de liberdade vigiada aos portadores de
psicopatia quando tal medida for necessária para a manutenção da ordem pública.
Propõe alterações aos artigos 96 e 97 do Código Penal. Tais alterações determinam
que ao punir psicopata pode-se aplicar como medida de segurança a liberdade
vigiada, já que o sistema penal admite apenas duas formas de medida de segurança,
sendo, a internação em hospital judiciário e tratamento ambulatorial.
Com esse projeto o psicopata que sempre será um psicopata, receberia uma
punição, mesmo não ficando sob paredes judiciárias. Com a liberdade vigiada o
psicopata ficaria sua vida inteira sob os olhares da justiça.
Alberto Neto justifica que a punição cabível ao psicopata é esta, em razão da
atual medida de segurança determinar o prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, e
com a liberdade vigiada permite que os psicopatas sejam monitorados, evitando
futuros casos delituosos, já que o psicopata ao estar em sociedade novamente voltará
a cometer novos crimes.

IV CASOS CONCRETOS
Os crimes causam repudio na sociedade. E causam mais ainda quando são
cometidos por psicopatas, pela tamanha crueldade que eles possuem na realização
de suas condutas criminosas, e a falta de remorso e compaixão. Os indivíduos a seguir
não são psicopatas de fato, visto que é necessário um diagnóstico que comprove.
Ocorre que muitos autores classificam tais indivíduos como sendo psicopatas. O
intuito é trazer exemplos de casos em que indivíduos possuem características de um
psicopata.

4.1 CHAMPINHA
Roberto Aparecido Alves Cardoso, ou simplesmente Champinha, assim como
era conhecido entre os amigos e familiares, na época com 16 anos, e seu amigo Paulo
Cesar da Silva Marques, conhecido como Pernambuco, tiveram a ideia de ir até uma
mata caçar. Na mata eles encontraram a adolescente Liana Friedenbach 16 anos e
Felipe Caffé de 19 anos. Champinha e Pernambuco logo deduziram que o jovem casal
iria acampar por ali, já que estavam com mochilas. Os dois indivíduos continuaram a
seguir o caminho até a casa de outro amigo identificado como Antônio Caetano da
Silva. (CARDOSO, 2016, p. 30).
Foi na casa deste então amigo que Champinha e Pernambuco tiveram a ideia
de então assaltar os jovens que viram no meio da mata, pois notaram a aparência do
casal e tinham certeza que eles possuíam dinheiro. Assim que anoiteceram eles foram
à busca dos jovens, os quais estavam acampando em um sitio próximo dali. Que foram
achados rápidos devido os indivíduos conhecerem muito bem aquela região. Ao
abordar o casal, não acharam nenhuma quantia de dinheiro, e por este motivo optaram
por sequestrar o casal. O casal foi levado até a casa de Antônio, onde foram
12

separados em quartos diferentes, tendo Felipe ficado sob a custódia de Pernambuco


e Liana com Champinha. Naquela noite Liana foi violentada diversas vezes por
Champinha.
Eles levaram casal para a casa de Antônio, o qual não se encontrava na
residência. Na casa Felipe e Liana foram separados, sendo Felipe levado para um
quarto por Pernambuco, e Champinha levou a jovem Liana para outro quarto, que ali
a estuprou 6 (seis) vezes, juntamente com Pernambuco durante a noite. Ao
amanhecer Champinha e Pernambuco levaram o casal para a mata. Felipe andava
mais a frente com Pernambuco e logo atrás estava Champinha com Liana. Foi dada
uma ordem para que a jovem parasse e que Felipe continuasse andando sendo morto
por Pernambuco, com um tiro na nuca. Após a morte de Felipe, Pernambuco e
Champinha se separaram indo Pernambuco para São Paulo, a fim de fugir e
Champinha voltou com a jovem para a casa de Antônio, que lá Champinha tornou a
violenta-la. Ocorre que em 03 de novembro, Antônio retorna a sua casa, juntamente
com outro amigo chamado Agnaldo Pires, chegando ao local se deparou com a jovem
Liana, e foi informado por Champinha que se tratava de sua namorada, e a ofereceu
para eles, sendo Liana estuprada por Agnaldo. (JUS BRASIL, 2018)
Como Champinha não havia retornado para casa, seu irmão foi à mata para
procura-lo, pois estranhou a grande movimentação de autoridades policiais por ali.
Quando encontrou Champinha, ele estava com Liana, que a apresentou como sendo
sua namorada, e que levaria a mesma até a rodoviária e após retornaria para a casa.
O que eles não sabiam é que os policias que ali se encontravam, estava à procura de
Liana, visto que seu pai já havia notificado o desaparecimento da filha, em razão de
ter descoberto a mentira que a filha havia contado, quando foi busca-la na suposta
volta de Ilha Bela. Que ao confrontar as amigas da jovem ficou sabendo de tudo. A
família tomada pela angustia e desespero espalharam panfletos, na tentativa de
localizar a jovem. E assim deu-se início as buscas para localizar os jovens, que ao
chegar ao local encontraram a barraca do casal abandonada e rasgada, que logo ao
constatar tais informações, chamou a polícia.
Através de um mateiro que ajudava nas buscas, eles encontram um homem
embriagado que andava pela mata, o qual falava palavras sem sentido, e acabou
sendo levado à delegacia. Ao chegar à delegacia foi verificado que o homem
encontrado era um dos participantes do crime. Que após a polícia esperar passar a
embriaguez, prontamente o interrogou, que acabou por confessar o crime, e
apontando Champinha como o culpado, e informando o local que estaria escondido.
O que eles não sabiam é que a jovem Liana já estava morta. Champinha com a
descoberta de que a polícia estava pelo local procurando a jovem decidiu que seria
melhor se livrar dela, e com medo de ser preso, acabou por matá-la. Desferiu diversas
facas e abandonou seu corpo no meio da mata. As roupas usadas no crime cobertas
de sangue foram enroladas na arma do crime, presas com um arame e após pendurou
no fundo de um poço. Após voltou a casa de sua tia.
Champinha ao ser encontrado pela polícia tentou amenizar sua culpa,
acusando seus comparsas de todas as barbaridades feitas. No entanto, sem saída
acabou confessando o crime. Champinha relatou todos os detalhes ocorridos, seu
relato surpreendeu os policiais pela frieza, em contar minuciosamente os detalhes, e
como cada um se envolveu no ato criminoso. Quando foi questionado o porquê de ter
matado a jovem Liana com tamanha crueldade e violência, Champinha respondeu
friamente “matei porque deu vontade”. O inquérito foi encerrado em 8 (oito) dias, onde
13

todos os acusados foram presos, sendo Champinha mantido em custódia.


(CARDOSO, 2016)
Em setembro de 2006 Champinha foi diagnosticado por psicólogos forenses do
IML de São Paulo com transtorno de personalidade. Nesta mesma época chegava ao
fim a medida socioeducativa prevista pelo ECA, e por este motivo não se tinha mais
motivos para mantê-lo afastado da sociedade. Um novo laudo a respeito de
Champinha foi feito, neste foi diagnosticado que Champinha cometia atos criminosos
e irracionais, a fim de atingir seus objetivos, sem culpa ou qualquer hesitação. Assim
o Ministério Público, pediu que fosse convertida a medida socioeducativa em uma
medida protetiva de tratamento psiquiátrico, sendo o pedido acolhido pelo sistema
judiciário, a qual converteu em interdição civil, cumulada com internação hospitalar
compulsória. Assim foi criado especialmente para Champinha. (JS BRASIL, 2018)
Este estabelecimento trata-se da Unidade Experimental de Saúde a UES,
localizada na zona norte de São Paulo, criada em 2006, abriga adolescentes e jovens
adultos, diagnosticados com distúrbio de personalidade e com alta periculosidade, que
cometerem atos inflacionais graves, conforme Decreto 53.427/2008, onde são
processados em ações judiciais e interditados e internados, conforme Lei
10.216/2001, e é neste estabelecimento que Champinha vive, desde quando
completou 21 anos, atualmente Champinha está com 34 anos. (CARDOSO, 2016).

Figura 4 - Champinha

Fonte:https://www.google.com.br/search?q=champinha&sxsrf=ALeKk023FQOO3EIVMaokfJM6o25XN
6AHjA:1605397248895&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwiliPnlmoPtAhUGGFkFHVHsCI
EQ_AUoAXoECB8QAw&biw=1280&bih=609&dpr=1#imgrc=sZaQtIo_vQkXFM

4.2 SUZANNE VON RICHTHOFEN


Na madrugada do dia 31 de outubro de 2002, Suzane de 19 anos, uma jovem
rica, bonita, universitária, de classe média alta, arquitetou e facilitou a morte de seus
próprios pais. (SILVA, 2010).
O relacionamento de Suzane e Daniel não era aceito pelos pais da jovem, que
decidiram proibir a filha de namorar com o rapaz. Os jovens apaixonados não
aceitaram a decisão dos pais de Suzane. E com isso surgiu a ideia de matá-los, a fim
de que os jovens pudessem ficar juntos e desfrutar da herança de Suzane. (TORRES,
2020)
14

No dia do crime, Daniel e Cristian surpreenderam o casal enquanto dormiam,


sem que tivessem qualquer oportunidade de se defenderem. Os dois criminosos
desferiram diversos golpes no casal usando barras de ferro, vindo a obtido com uma
morte agônica e sofrida. Os objetos do crime formam feitos por Daniel Cravinhos. Em
todo o momento Suzane esteve no escritório, no andar de baixo, relatou que se
manteve com as mãos tampando os ouvidos, a fim de que não escutasse nada.
Após o crime cometido, eles simularam um latrocínio. Pegaram a arma que
Manfred tinha e colocaram em suas mãos, jogaram papeis pela casa, espalharam
objetos a fim de simular que houve um roubo, levando com eles toda a quantia em
dinheiro que tinha na residência. Os três saíram da casa juntos, Cristian ficou próximo
a sua casa, enquanto Suzane e Daniel foram para um motel, a fim de forjar um álibi.
A frieza do trio impressionou os investigadores.
Após uma semana do assassinato, eles confessaram o crime. A sentença
condenatória foi dada no dia. 22 de julgo de 2006, as 02h00min da manhã, onde os
jurados condenaram os réus, e o Juiz Presidente Alberto Anderson Filho sentenciou
e condenou Suzane e Daniel a 39 anos de reclusão e seis meses de detenção. Já
Cristian, foi condenado a 38 anos de reclusão e seis meses de detenção pelo crime.
(TORRES, 2020).
Suzane passou por exames para saber se oferecia risco a convivência em
sociedade, onde foi analisado aspectos de personalidade, e características não
transparecidas nitidamente. Ocorre que Suzane foi reprovada em todas as vezes que
realizou o então exame. Mesmo tendo recebido de seu advogado um manual sobre o
exame, a fim de que ela pudesse estudar e melhor compreender e assim passar no
exame, o que veio a falhar. De acordo com os laudos, apesar de Suzane estar
arrependida do crime, quando é questionada a respeito do motivo de seu
arrependimento, ela sempre pauta as causas pessoais como o quando perdeu boas
oportunidades de vida. Ficou claro que Suzanne não consegue estender sentimentos
para ninguém além dela mesma. É nítido que Suzane possui características
narcisistas e egocêntricas. O comportamento de Suzane leva a crer que existe algo
errado com sua psique, mas não há nenhuma afirmação de fato que a classifique
como uma psicopata ou não. Contudo, sabe-se que Suzane não é louca, é inteligente,
manipuladora e dissimulada, e detém consciência do que é certo ou errado.
(TORRES, 2020).
15

Figura 5 - SUZANNE VON RICHTHOFEN

Fonte:https://www.google.com.br/search?q=suzane+von+richthofen&tbm=isch&ved=2ahUKEwixheDs
moPtAhVaCbkGHSowBTYQ2-
cCegQIABAA&oq=suzan&gs_lcp=CgNpbWcQARgAMgQIIxAnMgUIABCxAzIFCAAQsQMyAggAMgIIA
DICCAAyAggAMgIIADICCAAyAggAOgQIABBDOgcIIxDqAhAnOggIABCxAxCDAToECAAQA1CE-
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qS5OUPquCUsAM&bih=609&biw=1280#imgrc=w0Rq4HenjAJTAM.

V CONCLUSÃO
Ao longo do artigo foi apresentado o perfil do psicopata. Um indivíduo que
possui uma baixa capacidade de empatia e total falta de remorso, são totalmente
seres racionais e o que as pessoas normais veem como um empecilho, morte, tristeza
decepção, para eles é algo indiferente. (GODOY,2019). A psicopatia é considerada
um transtorno de personalidade antissocial, que não há nenhuma comprovação de
cura ou tratamento eficaz, e que para sua comprovação é necessário um diagnóstico
de TPA.
Com base nisso, foi evidenciado que o sistema brasileiro penal não possui
nenhuma norma que se adeque ao perfil do psicopata, trazendo a insegurança ao
Estado em se tratando de responsabilizar o psicopata.
As sanções penais que são aplicadas aos psicopatas são as mesmas que um
indivíduo normal ou considerado inimputável ou semi-imputavel recebe em razão do
alto grau de periculosidade, sendo encaminhado a penitenciária ou aplicando uma
medida de segurança. Ocorre que responsabilizar o psicopata com punições que
possuem a ideia de ressocializar não surte efeito, já que a finalidade de
ressocialização é algo distante de surtir resultado no psicopata que sabe que sua
conduta é algo errado, e sabe que recebeu a punição por sua conduta considerada
ilícita e grave, mas só irá parar de cometer tal delitos enquanto estiver em poder
judiciário, voltando a cometer seus crimes assim que retornar a sociedade.
O Estado acaba por tratar o psicopata como um indivíduo comum muitas das
vezes, deixando de buscar os exames necessários a fim de ter um laudo que
comprove o Transtorno, responsabilizando o psicopata com o regime penitenciário.
Quando ocorre de ser identificado com TPA é que pode ser aplicada a medida de
segurança, isso ocorre em poucos casos, em que o Estado interviu.
Há casos específicos que o Estado agiu para que fosse evitado que um
indivíduo perigoso retornasse à sociedade, como é o caso do Champinha, que na
época em questão dos fatos era menor infrator, e o Estado buscando proteção a
sociedade e a fim de evitar mais atrocidades, realizaram a sua interdição civil, com
fundamento na Lei nº 10.216 de 2001, onde foi enviado a uma Unidade Experimental
16

de Saúde, onde o mesmo reside até os dias atuais. Ocorre que tal decisão vai contra
a nossa Carta Magna, já que a mesma veda a pena perpetua, e por este motivo
optaram por aplicar a interdição civil a fim de burlar tal requisito. E até os dias atuais
profissionais da saúde e juristas estão em divergência quanto a esta decisão, que se
arrasta a muito tempo sem ter uma certeza de que Champinha ficara lá pelo resto de
sua vida ou deve voltar a viver em sociedade.
Infelizmente nem todos os indivíduos com perfil de psicopata teve o mesmo
caminho que Champinha. Um exemplo disso é Suzane, que se encontra sob o regime
penitenciário, mesmo após ter passado por exames que indicam que ela possui
características de um psicopata. Não foi submetida a um exame especifico que
comprove tal transtorno. Ocorre que especialistas afirmam que Suzane jamais deveria
retornar a sociedade, pois apresenta um grau alto de periculosidade, demonstrando
não sentir arrependimento pelo o que fez.
O Estado tem o dever e a necessidade de criar uma norma que busque
efetivamente responsabilizar o psicopata. Na qual o psicopata seja responsabilizado
por seus delitos e que receba a punição combatível com o grau e impedindo que tal
indivíduo volte a conviver em sociedade e assim cause, mas atrocidades. Tendo que
enfrentar a inconstitucionalidade da pena de caráter perpétuo, em razão de que se faz
necessário abrir uma exceção quando se trata de um indivíduo que apresenta um risco
alto a sociedade, mesmo tendo total sanidade mental, mas serem totalmente
narcisistas, isto é, não possuírem nenhuma sanidade moral, cometendo sempre
delitos afim de satisfazer seu bem-estar. A medida de segurança se mostra
aparentemente a sanção mais eficaz, tendo apenas que sofrer alterações quanto ao
tempo de sua duração, já que o psicopata mesmo sendo considerado semi- imputável
é de extremo risco para a sociedade.

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wGIAd4WkgEEMi0xM5gBAKABAaoBC2d3cy13aXotaW1nsAEKwAEB&sclient=img&
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