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MEDICINA LEGAL

PSICOLOGIA E PSICOPATOLOGIA FORENSE

Por Roberto Lobo


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SUMÁRIO

1 CONCEITOS DE PSICOLOGIA E PSICOPATOLOGIA FORENSE........................................................................3


2 IMPUTABILIDADE.....................................................................................................................................3
2.1 LIMITADORES E MODIFICADORES DA CAPACIDADE CIVIL E DA IMPUTABILIDADE PENAL...................5
2.1.1 MENORIDADE............................................................................................................................6
2.1.2 SEXO.........................................................................................................................................6
2.1.3 EMOÇÃO E PAIXÃO....................................................................................................................6
2.1.4 SONO........................................................................................................................................6
2.1.5 SURDO-MUDO...........................................................................................................................7
2.1.6 AFASIA......................................................................................................................................7
2.1.7 PRODIGALIDADE........................................................................................................................8
2.1.8 SILVÍCOLAS................................................................................................................................8
2.1.9 PSICOLOGIA DAS MULTIDÕES DELINQUENTES...........................................................................8
2.2 MODIFICADORES PSIQUIÁTRICOS.....................................................................................................9
2.2.1 DOENÇA MENTAL......................................................................................................................9
2.2.2 OLIGOFRENIA (RETARDO MENTAL)............................................................................................9
2.2.3 NEUROSES E PERSONALIDADES PSICOPÁTICAS........................................................................10
3 BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................................................13
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ATUALIZADO EM 02/10/2017

PSICOLOGIA E PSICOPATOLOGIA FORENSE

1 CONCEITOS DE PSICOLOGIA E PSICOPATOLOGIA FORENSE

A Psicologia Forense estuda os limites normais, biológicos, mesológicos e legais da capacidade


civil e da imputabilidade penal. Quando analisa os limites e modificadores anormais e as doenças
mentais, oligofrenias e as personalidades psicopáticas, será Psiquiatria Forense.
Psicopatologia forense é o ramo da Medicina Legal que estuda as doenças, as deficiências e os
distúrbios de natureza mental. Logo, preocupa-se com as desordens do psiquismo, relacionando a
personalidade anormal com fins médico legais. É o conjunto ordenado de conhecimentos relativos às
anormalidades da vida psíquica e da conduta, em todos os seus aspectos, inclusive as suas causas,
consequências e os métodos empregados com o propósito correspondente.
O psicopatologista forense pode ser chamado para elucidar desordens mentais relacionadas
com a capacidade civil e com a imputabilidade penal, esclarecendo tecnicamente à autoridade
judiciária, a quem não cabe fazer diagnóstico de ordem médica. Essa é a única perícia que não pode
ser determinada pela autoridade policial (o exame de insanidade). Só o órgão jurisdicional é que pode
determiná-la, de ofício, ou a requerimento do representante do Ministério Público, do defensor, do
curador, do ascendente, do descendente, irmão ou cônjuge do réu.

2 IMPUTABILIDADE

Imputabilidade penal é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade para
lhe ser juridicamente imputada a prática de fato punível (Aníbal Bruno, Direito penal, Rio de Janeiro,
Ed. Nacional, 1956, p. 39). É a capacidade para ser culpável. Imputável é, então, todo indivíduo
mentalmente são e desenvolvido, dotado da capacidade de sentir-se responsável pelo ato praticado.
Inimputabilidade é a incapacidade para apreciar o caráter ilícito do fato OU de determinar-se
de acordo com essa apreciação (Fernando Diaz Palos, Teoría general de la imputabilidad, Barcelona,
Bosch, 1965, p. 173-4).
São causas da inimputabilidade a doença mental, o desenvolvimento mental incompleto, o
desenvolvimento mental retardado (art. 26 do CP) e a embriaguez completa, proveniente de caso
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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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fortuito ou força maior (art. 28, § 1.º, do CP). Também tutelam a inimputabilidade o art. 27 do Código
Penal, bem como o art. 45 da lei de drogas:
Art. 26 (inimputabilidade) - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato OU de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único (redução de pena) - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em
virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
Art. 27 (menores de 18 anos) - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando
sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.
Art. 28(..)
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força
maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso
fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Art. 45 da lei 11.343 (inimputabilidade na lei de drogas) - É isento de pena o agente que, em razão da
dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da
ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à
época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o
juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.
Percebe-se que, para que o indivíduo seja considerado inimputável, além do
comprometimento total da razão e do livre arbítrio, o ato deve ter relação com a doença mental
constatada. Ou seja, o indivíduo tem de ter praticado o ato em função da doença, como manifestação
ou sintoma desta.
CRITÉRIO BIOPSICOLÓGICO: é usado nos art. 26 e 28 do CP e no art. 45 da lei das drogas
(perceba que não é usado no art. 27). Esses artigos são modificadores da imputabilidade.
Exemplos de Aspectos biológicos: Desenvolvimento mental incompleto, desenvolvimento
mental retardado; perturbação da saúde mental, neuroses, psicopatias, epilepsia, etc, embriaguez
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resultante de caso fortuito ou força maior, pelo álcool ou substâncias de efeitos análogos,
dependência de drogas, sob efeito de drogas provenientes de caso fortuito ou força maior.
Exemplos de aspectos Psicológicos: É a alteração da capacidade de compreender o caráter
ilícito do fato ou da capacidade de determinar-se de acordo com esse entendimento (domínio da
própria vontade).
Lembrando-se: no Critério Biopsicológico, é indispensável que se comprove o nexo de
causalidade entre os dois componentes (biológico e psicológico).
CRITÉRIO BIOLÓGICO: é usado no art. 27 do CP. Ou seja, se o sujeito tem menos de 18 anos,
ele é inimputável (aqui não se pergunta como está cabeça do menor de idade; não interessa). A idade
é um limitador da imputabilidade. Tendo menos de 18 anos é inimputável; tendo mais de 18 anos é
imputável (≠ dos artigos vistos acima, onde pode haver uma modificação da imputabilidade);
Não se deve confundir imputabilidade com responsabilidade:
IMPUTABILIDADE RESPONSABILIDADE
Atribuição pericial, através de diagnóstico ou Fato da competência judicial, o qual será
prognóstico de uma conclusão médico-legal. analisado juntamente com outros dados
Deve estar presente no momento da infração. processuais.

2.1 LIMITADORES E MODIFICADORES DA CAPACIDADE CIVIL E DA IMPUTABILIDADE PENAL

Delton Croce elenca os seguintes:

BIOLÓGICOS PSICOPATOLÓGICOS PSIQUIÁTRICOS MESOLÓGICOS

SONO
PATOLÓGICO: DOENÇAS IVILIZAÇÃO
IDADE
SONAMBULISMO MENTAIS (SILVÍCOLAS)
E HIPNOTISMO

EMOÇÃO E SURDIMUTISMO PSICOLOGIA DAS


OLIGOFRENIAS
PAIXÃO MULTIDÕES

PERSONALIDADES
SEXO AFASIA
PSICOPATAS

AGONIA PRODIGIALIDADE NEUROSES

EMBRIAGUEZ

TOXICOMANIAS
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Vamos tratar dos mais importantes:

2.1.1 MENORIDADE

O cérebro não está totalmente desenvolvido. Consequentemente, o psiquismo também não


está. Como vimos, adota-se o critério puramente biológico. Até 18 anos os menores são penalmente
inimputáveis, ficando sujeitos aos preceitos de lei especial (ECA). Os de idade entre 12 e 18 anos
sofrem processo especial e o menor de 12 anos fica excluído do direito repressivo.

2.1.2 SEXO

Quanto ao sexo, homens e mulheres são tratados igualmente na esfera criminal, no tocante à
imputabilidade. Não se admite o sexo, portanto, como modificador da imputabilidade penal. A
excepcionalidade apontada no infanticídio não é beneplácito concedido especificamente à condição da
mãe criminosa ser mulher, mas, sim, por encontrar-se mentalmente perturbada durante o parto ou
logo após.

2.1.3 EMOÇÃO E PAIXÃO

O Código Penal em vigor, em seu art. 28, I, não considera a emoção ou a paixão excludentes
de imputabilidade penal, porém reconhece atenuação da pena ao agente. Também assim dispõe o art.
121, § 1.º, e os arts. 129, § 4.º, e 65, III, c, desde que a ação delituosa resulte da “violenta emoção, logo
em seguida à injusta provocação da vítima”.
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:
I - a emoção ou a paixão;
Quanto à agonia, seu estudo interessa mais para o âmbito civil, portanto, passemos ao
próximo:

2.1.4 SONO

O sono normalmente não é modificador da imputabilidade. Há casos, no entanto, de


indivíduos nervosos e sugestionáveis que, sob influência de sono e sonhos anormais, cometem
inconscientemente atos de várias espécies, até mesmo violentos. O sono anormal poderá ser invocado
como atenuante ou dirimente, quando for possível alegar a favor do agente as circunstâncias previstas
no art. 26 e seu parágrafo do Código Penal.
Sono patológico: sono é um estado fisiológico normal, periódico, caracterizado pela redução
da atividade corporal, relaxamento natural dos órgãos dos sentidos e do tono muscular, postura
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horizontal e, muita vez, semissentada, e suspensão do estado consciente. O sono patológico
compreende o sonambulismo e o hipnotismo.
a) Sonambulismo — Sintoma de perturbação mental, mais comum na infância que na idade
adulta, é um sonho que se executa durante o sono. O sonambulismo é fase inconsciente enquadrada
entre o sono natural e o patológico, verdadeiro estado de dissociação mental similar ao transe
histérico, com obnubilação de alguns sentidos, conservando, no entanto, o indivíduo atividade
locomotora. Assim é que, embora dormindo, levanta-se do lugar onde repousa, e, com os olhos
abertos, guiado pelo sentido da visão, deambula evitando os objetos interpostos em seu caminho.
b) Hipnotismo — É um processo para produzir, por sugestão, um estado de transe que
submete o hipnotizado, até certo ponto, à influência do hipnotizador. Cuida-se de um desdobramento
da personalidade obtido sob influência de sugestões verbais, sons monótonos prolongados
ritmicamente, compressão de zonas histerógenas, fixação de objeto em movimento pendular, fixação
de objeto luminoso (reflexo de Braid), com variados estados de sono. É o sonambulismo provocado.
Como não há consciência, encontra-se ausente um dos elementos do dolo, não podendo
haver responsabilização criminal. Apesar de Delton Croce citar como modificador da imputabilidade,
esta não chegará sequer a ser analisada, posto que não há fato típico, por ausência de consciência da
conduta.

2.1.5 SURDO-MUDO

A ausência de sensações auditivas afeta o contato com o meio exterior e a aquisição de


noções que dependem da linguagem falada, comprometendo o discernimento, principalmente quando
a deficiência for de nascença. No entanto, a surdo-mudez, por si só, não é suficiente para determinar
a inimputabilidade de alguém. Podem ser considerados inimputáveis, semi-imputáveis ou com a plena
capacidade de responder pelo fato.

2.1.6 AFASIA

É a impossibilidade de falar. É a perda total ou completa da fala. Conforme Dejerine, “o


afásico é o indivíduo que, não sendo demente, nem tendo nenhuma alteração do órgão fonador
(portanto, nem áfono, nem disártrico), nem cego, nem surdo, é incapaz de exprimir-se por meio de
palavras ou da escrita, ou incapaz de compreender a palavra falada ou escrita”. A afasia resulta de
parada de desenvolvimento ou de grave lesão congênita ou adquirida, podendo, ainda, ser
dependente de patologias nervosas ou mentais.
Embora as legislações vigentes não façam referência expressa aos afásicos, evidentemente
eles são enquadráveis no art. 26, no âmbito criminal, e nos arts. 3.º, II, 228, 1.767, II, 1.772 e 1.776, do
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Código Civil, sendo a afasia, portanto, estado mórbido modificador da capacitas civilis e da capacitas de
imputatio poenalis. Há, no entanto, casos raros de afásicos, civilmente capazes, que podem exprimir
conscientemente a sua vontade.

2.1.7 PRODIGALIDADE

Sua relevância é no tocante à capacidade civil. Pródigo é que, sem justificativa, esbanja
insensatamente os seus bens e haveres. O CC art. 4 impõe aos pródigos incapacidade relativa a certos
atos ou a maneira de os exercer. Não lhes cerceia, contudo, a capacidade para exercer atos de mera
administração ou de casar e exercitar os demais direitos de esposo e pai.

Art. 4º - São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:(Redação dada pela Lei
nº 13.146, de 2015) (...)

IV - os pródigos.

#ATENÇÃO - Embriaguez e toxicomanias nós estudamos na FUC de Toxicologia forense.

2.1.8 SILVÍCOLAS

São os habitantes das matas brasileiras, cujo passo de aculturação ainda é incipiente. Quando
se tratar de um índio que teve pouco ou nenhum contato com o homem civilizado, há entendimento
de que ele deve ser totalmente inimputável. À medida que for tomando conhecimento das normas da
vida civilizada, sua capacidade de entendimento quanto à ilicitude da conduta irá aumentando. Daí
concluir-se que pode chegar a ser semi-imputável ou totalmente imputável.

* #DOUTRINA: A doutrina hodierna já compreende (Rogério Sanches, por exemplo),NÃO EXISTE A


POSSIBILIDADE DA EXCLUSÃO DA IMPUTABILIDADE PELO FATO DE SER ÍNDIO. O índio, na verdade,
pode não ter culpabilidade por fatores relacionados a sua condição de sílvicola em razão de inexistir
"a potencial consciência da ilicitude" ou da "inexigibilidade de conduta diversa".

O índio só será inimputável se, como uma pessoa qualquer, se enquadrar nas hipóteses legais.

Segundo o parágrafo único do art. 4 do CC: Parágrafo único. A capacidade dos índios será
regulada por legislação especial.

2.1.9 PSICOLOGIA DAS MULTIDÕES DELINQUENTES

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:


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III - ter o agente
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.
Aqueles que forem presos em fragrante serão processados individualmente pelo ilícito, mas a
pena será reduzida.
Quanto aos modificadores psiquiátricos, estudaremos em tópico próprio, pois possuem maior
importância para nossas provas:

2.2 MODIFICADORES PSIQUIÁTRICOS

2.2.1 DOENÇA MENTAL

Não existe uma definição para doença mental, deve-se atentar às manifestações que refletem
anomalias do pensamento, do sentimento e da conduta. O pensamento racional está deformado,
comprometendo o juízo valorativo das alternativas existentes para a ação.
Inimputável é o indivíduo que, pela ausência total de entendimento do caráter ilícito do fato,
realiza uma conduta criminosa que tem relação com seu estado mental, isto é, a conduta é mero
sintoma da doença.
São consideradas doenças mentais as demências, as psicoses, o alcoolismo crônico (já
estudado na aula de toxicologia) e as toxicomanias graves (também já vistas na aula de toxicologia).
 Demência - é o relaxamento de todos os setores do psiquismo, tendo como exemplos:
demência senil, Alzheimer, trauma craniano...
 Psicose – é a ruptura total ou parcial com realidade circundante, alterando a conduta
social do indivíduo. Inclui a psicose maníaco-depressiva (distúrbio bipolar), as psicoses
epilépticas, pré-senil, senil, puerperal, esquizofrênica...
o Psicose maníaco depressiva (distúrbio bipolar): Grave distúrbio primário do
humor. Ocorrem períodos de extrema depressão, intercalados por períodos de
extrema euforia.
o Psicose esquizofrênica: Desordem profunda nos processos psíquicos. Possui
diversas formas, sendo mais comum a paranoide, que leva a uma desagregação
do pensamento, alucinações auditivas, delírios de perseguição.
o Psicose epiléptica: As alterações graves do psiquismo se assemelham às da
esquizofrenia, mas as alucinações são visuais, sendo comuns também as
gustativas e olfativas.
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2.2.2 OLIGOFRENIA (RETARDO MENTAL)

Indica desenvolvimento mental incompleto de natureza congênita ou sobrevindo por causas


patológicas no primeiro período de vida extrauterina, antes do término da evolução das faculdades
psicointelectivas, com acentuado déficit da inteligência.
No desenvolvimento mental retardado há comprometimento do primeiro nível da
imputabilidade, que diz respeito à capacidade de entender o caráter ilícito do fato.
Retardo mental é o funcionamento intelectual geral subnormal, que pode ser evidente no
nascimento, ou surgir durante a infância. As oligofrenias se manisfestam precocemente: dificuldade
de sugar o mamilo materno, gritos e choros impertinentes, lentidão de movimentos, atardamento da
deambulação e da palavra, dificuldade de raciocinar, planejar ou construir.
Apesar de ambos tratarem de capacidade de intelecto, faz-se importante diferenciarmos
oligofrenia e demência:

OLIGOFRENIA DEMÊNCIA
Manifesta-se logo nos primeiros momentos do Manifesta-se após o desenvolvimento mental
desenvolvimento. normal, ocorrendo preferencialmente na idade
adulta, depois de desenvolvidas as faculdades
cognoscitivas.

Antigamente, utilizavam-se alguns termos para classificar o retardamento: idiota (idade


mental inferior a 3 anos), imbecil (idade mental entre 3 a 7 anos), débil (para idade mental acima de 8
anos).
No entanto, hodiernamente, o grau de retardamento é medido pelo CI (Coeficiente de
Inteligência):
 Limítrofe (68 até 85)
 Leve (52 até 67)
 Moderado (36 até 51)
 Grave (20 até 35)
 Profundo (<20)
Dependendo do grau de retardo, são penalmente inimputáveis, por serem, ao tempo da ação
ou da omissão, inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito do fato, ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
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#CAIUEMPROVA – Na prova de escrivão da PC-AL/2012, foi considerada CORRETA a seguinte
afirmativa: No âmbito penal, os adultos portadores de retardo mental leve são considerados semi-
imputáveis, enquanto os portadores de retardo mental moderado e profundo são considerados
inimputáveis.

2.2.3 NEUROSES E PERSONALIDADES PSICOPÁTICAS

Entre a normalidade e a doença mental existe uma fronteira com limites imprecisos onde se
encontram os indivíduos com perturbação da saúde mental. Inclui a neurose e personalidades
psicopáticas (condutopatias, sociopatias, pesicopatias).
I. NEUROSES
São distúrbios da saúde mental relacionados à angústia e à ansiedade. O indivíduo tem noção
de que está doente, mas não consegue reagir.
No tocante à imputabilidade penal, os neuróticos fora de suas crises, devem ser considerados
imputáveis. Por outro lado, durante as crises, se for detectado defeito na inibição de seus atos,
poderão ser considerados semi-imputáveis. Na psiquiatria forense, os casos de maior destaque nas
neuroses são:

Neurose histérica Neurose obsessivo-compulsiva Neurose fóbica


Representada por sintomas As ideias obsessivas se impõem Manifestada por terror
orgânicos e mentais que levam ao indivíduo, levando-o à ação. paralisante projetado sobre
à simulação semiconsciente de Podem apresentar compulsões pessoas, coisas, situações ou
doença. A avaliação da irresistíveis para provocar atos. Como exemplos, temos a
responsabilidade penal na incêndio ou outros delitos. síndrome do pânico
histeria é complexa, podendo Como exemplos, temos a (sentimento de ameaça
variar de completa, atenuada, cleptomania (mania de furtar), iminente), a claustrofobia
até a irresponsabilidade a loucura da dúvida (medo de (medo mórbido de lugares
absoluta. se contaminar ao tocar fechados)...
objetos), cibomania (compulsão
por jogos)...

Importante diferencias a neurose da psicose, que vimos anteriormente. Nas neuroses, as


alterações têm por base as violências dolorosas do passado, enquanto nas psicoses a patologia mental
é fruto da mente.
II. PERSONALIDADES PSICOPÁTICAS
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São as condutopatias, sociopatias, psicopatias. Também são chamadas de inferioridade
psicopática, loucura lúcida, cegos morais, anestesiados de senso moral, semi-loucos, transtorno de
caráter, etc.
Os sociopatas, também conhecidos como fronteiriços:
 São egoístas, insensíveis, impulsivos, incapazes de sentir culpa ou de aprender com a
experiência ou castigo
 Culpam os outros por suas condutas ou buscam racionalizações plausíveis para
justifica-las
 A memória e a percepção estão íntegras. Não apresentam delírios, nem alucinações.
 Não sofrem com as consequências, não se arrependem
 Fazem mal pelo simples fato de fazê-lo
 Dificilmente possuem relacionamentos significativos
 Sempre satisfeitos consigo próprios
 Praticam crimes ferozes, violentos, com frieza, sem remorso
 Ritualizam a cena do crime
 Uma vez presos, têm comportamento exemplar. No entanto, a punição não os
modificam.
Essas pessoas devem ser enquadrados no parágrafo único do art. 26 do CP. Isso porque a
anomalia consubstanciada em personalidade psicopática NÃO SE INCLUI NA CATEGORIA DAS
DOENÇAS MENTAIS, lato sensu, e, sim, numa modalidade de irregularidade psíquica, que se
manifestou ao cometer o delito, DESPIDA DE QUALQUER FORMAÇÃO ALUCINATÓRIA OU DELIRANTE,
capaz de gestar a psicose ou a neurose que torna o indivíduo inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Os seus portadores são responsáveis, mas com menor culpabilidade em função de sua menor
capacidade de discernimento ético-social ou de autoinibição criminal.
Podem ter base esquizofrênica ou epiléptica:
ESQUIZOFRÊNICA EPILÉPTICA
Desconfiados, rancorosos, tendentes ao Explosivos, impulsivos, desrespeitadores de
isolamento, distantes das normas e convenções normas e convenções sociais.
sociais.
Ambos podem apresentar transtornos sexuais, como impotências, frigidez, pedofilia,
sadomasoquismo, exibicionismo, etc.

Vejamos as diferenças entre neuroses e personalidades psicopáticas:


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Neuroses Personalidades Psicopáticas
Com conflito interno Sem conflito interno
Agressividade voltada a si Agressividade voltada à sociedade
Gratifica-se por fantasias Alivia tensões internas por meio de ações
criminosas
Admite seus impulsos e os reconhece como seus Atribui seus impulsos ao mundo exterior
Desenvolve relações emocionais positivas Desenvolve defesas emocionais
Socialmente ajustado Comportamento dissocial
Reage à passividade e dependência com Procura negar a passividade e a dependência
sofrimento, mas admite a situação com atitudes agressivas
Caráter normal Caráter deformado (dissocial)

3 BIBLIOGRAFIA

Esse material é uma fusão das seguintes fontes:


- Med Leg DC. Delton Croce & Delton Croce Júnior Manual de Medicina Legal 8. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
- Medicina Legal e Noções de Criminalística – Neusa Bittar – Editora Juspodivm
- Livro de Genival Veloso França
- Anotações pessoais de aulas.

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