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IMPUTABILIDADE PENAL E CAPACIDADE CIVIL NA MEDICINA LEGAL

A imputabilidade penal e a capacidade civil exigem que a pessoa física


tenha plena saúde mental e funcionamento psicológico. Se este assumir a
capacidade de responder por motivos de personalidade e atividades
comerciais, a primeira condição é que a pessoa pratique o ato com pleno
entendimento. A imputabilidade penal está expressamente prevista em lei
em nosso ordenamento jurídico, especificamente nos artigos 26, 27 e 28
do Código Penal, tratando da apuração da responsabilidade penal e da
responsabilidade civil: o agente não portador de doença mental. ou tenha
pleno desenvolvimento mental, seja plenamente responsável
criminalmente, assim como os maiores de 18 anos. No entanto, especifica
que os crimes cometidos sob a influência da emoção e da paixão; A
intoxicação intencional ou culposa com álcool ou substância similar não
isenta a pessoa de responsabilidade criminal. A exceção é a embriaguez
total decorrente de caso fortuito ou força maior, em que a pessoa não
consegue compreender plenamente a ilicitude da circunstância no
momento do ato ou omissão.

A imputabilidade é um dos elementos da culpabilidade, que se consiste


por: imputabilidade penal; potencial consciência da ilicitude; e exigibilidade
de conduta diversa. É imputável aquele que tem plena capacidade de
entender a natureza dos fatos e de se autodeterminar de acordo com esse
entendimento. Já o inimputável não é só apenas aquele que não
compreende as coisas a sua volta, mas, também é aquele que não
consegue controlar seus impulsos, tomar decisões e se autodeterminar
com base na realidade dos fatos. A imputabilidade será afastada apenas
excepcionalmente.

O código penal prevê a aplicação da a inimputabilidade em três ocasiões:


Doença mental (Art. 26 do CP); Menoridade (Art. 27 do CP); e Embriaguez
fortuita (Art. 28, § 1° do CP). Não se exclui imputabilidade em casos de
emoção ou paixão. Nos casos de doença mental, não se atenta ao tipo de
doença, e sim, verificasse apenas se tal doença tem aptidão ao tempo de
ação ou omissão tornar o cidadão incapaz de entender o caráter de
ilicitude do fato. O direito penal no Brasil, em relação a doenças mentais
não adota o critério biológico puro, e sim, adotasse o critério biopsicológico.
Que faz a ponderação entre o critério biológico que determina a doença
mental ou desenvolvimento incompleto/retardo, e o critério psicológico que
determina se durante a ação/omissão, o agente não consegue entender o
caráter de ilicitude do fato ou não consegue se determinar de acordo com
esse entendimento. São exemplos disso maníacos, psicopatas,
dependentes químicos e etc. O inimputável por doença mental ele não é
condenado, e sim absolvido. Esta decisão é chamada de absolvição
imprópria pela doutrina, pelo fato de o juiz reconhecer a inimputabilidade e
na sentença do ato continuo ele absolver o réu e aplicar-lhe uma medida
de segurança, não pela reprovabilidade da conduta, mas, pela
periculosidade do agente.

A jurisprudência tem defendido que a medida de segurança é uma espécie


de sanção penal, com base nisso tem se entendido que se impõe um limite
máximo para sua aplicação. Paro o Supremo Tribunal Federal a
Constituição Federal veda, em verdade, as sanções penais de caráter
perpétuo.

Ainda sobre doenças mentais, existe também a categoria de pessoa semi-


imputável ou fronteiriço. Que é quando há parcial capacidade de
entendimento ou determinar-se conforme esse entendimento, nestes casos
não há exclusão da pena e sim uma redução de 1/3 a 2/3 da pena.

De acordo com o Art. 96 do CP, as medidas de segurança podem ser


internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em
outro estabelecimento adequado; e sujeição a tratamento laboral.
O menor de idade, por seu desenvolvimento mental incompleto, não tem a
maturidade para controlar a sua conduta, não tem as condições de
autodeterminação em que se vislumbrem, os fatores intelectivos e volitivos
do ser humano.

Nesse contexto, trataremos do critério biológico, isto é, a lei penal criou


uma presunção absoluta de que o menor de 18 anos, em face do
desenvolvimento mental incompleto, não tem condições de compreender o
caráter ilícito do que faz ou capacidade de determinar-se de acordo com
esse entendimento. Neste caso não há culpa e, como consequência,
avaliação da reprovabilidade da conduta do menor. Entretanto o menor
pratica fato típico e ilícito, o que é compreendido como ato infracional de
acordo com o Art. 103 do ECA, e que se aplica uma medida
socioeducativa, pois, o menor não responde por um processo penal, e sim,
por um processo previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

O último caso se trata da embriaguez fortuita. Se entende como


embriaguez uma alteração psicomotora do agente por meio de álcool ou
substâncias de efeitos análogos, que afetam o sistema nervoso central.
Esse distúrbio pode provocar a incapacidade completa de entendimento, e
o não domínio pleno de tal capacidade, a embriaguez incompleta,
conforme art. 28, § 2º, do CP. Entretanto, não é a embriaguez, por si só,
que excluirá a imputabilidade, mas sim a embriaguez involuntária, sendo
que o agente não pode dar causa a embriaguez, sendo essa decorrida de
caso fortuito ou de força maior. O caso fortuito é um fato imprevisível, onde
o agente não quer a produção do resultado nem tem condições de prevê-
lo, a embriaguez é acidental. A exemplo, o agente que, por indicação
médica, toma medicamentos que, devido a reações imprevisíveis na bula,
provocam-lhe a incapacitação (embriaguez letárgica). A embriaguez por
força maior, embora seja previsível, também é inevitável, exigindo ainda o
intermédio de um terceiro, que obriga o agente a ingerir a substancia
alcoólatra ou análoga, ou ainda faz com que o agente a ingira mediante
fraude. A exemplo, o agente que bebendo moderadamente, e não percebe
que terceiro deposita droga em sua bebida, provocando-lhe a
incapacitação.

Sendo o caso de embriaguez completa, ficando o agente inteiramente


incapaz, excluirá a imputabilidade, devendo ser aplicada medida de
segurança, com internação em hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico, ou em estabelecimento adequado, conforme art. 96 e 97 do
Código Penal. No caso de embriaguez incompleta, onde o agente fica
parcialmente incapaz, haverá a hipótese de diminuição da pena, conforme
artigo 28 § 2º do Código Penal. No correto esclarecimento de como a
embriaguez completa e incompleta retiram a responsabilidade penal dos
agentes, e consequentemente sua imputabilidade.

A capacidade civil é a aptidão de qualquer indivíduo para exercer direitos e


obrigações nos termos da lei. Contudo, para exercer direitos e obrigações
não basta a mera capacidade de direito, será necessária a capacidade de
fato ou de exercício.

Simbolicamente podemos afirmar que todo ser humano tem capacidade de


direito. Porém, apenas aqueles que tiverem capacidade de fato ou de
exercício, terão capacidade civil plena.

E aqui, vale trazer as lições de Orlando Gomes, citado por Pablo Stolze e
Rodolfo Pamplona: A capacidade de direito confunde-se, hoje, com a
personalidade, porque toda pessoa é capaz de direitos. Ninguém pode ser
totalmente privado dessa espécie de capacidade”. E mais adiante
complementa: A capacidade de fato condiciona-se à capacidade de direito.
Não se pode exercer um direito sem ser capaz de adquiri-lo. Uma não se
concebe, portanto, sem a outra. Mas a recíproca não é verdadeira. Pode-
se ter capacidade de direito, sem capacidade de fato; adquirir o direito e
não poder exercê-lo por si. A impossibilidade do exercício é, tecnicamente,
incapacidade”

A capacidade civil plena é aquela em que a própria pessoa poderá exercer


seus direitos e obrigações. Por inteligência do art. 5º do Código Civil de
2002, a capacidade civil plena se dará quando a pessoa atingir os 18 anos
ou em alguma das situações de emancipação. A título de esclarecimento, a
emancipação nada mais é do que a antecipação da capacidade civil plena
aos menores de idade. Seja por vontade dos pais, por declaração judicial
ou por hipótese legal, nos moldes do parágrafo único do art. 5º do
CC/2002. Ainda que a pessoa seja deficiente mental ou intelectual, é
importante destacar que a capacidade civil plena não é afastada aos 18
anos de idade. Neste caso, é necessária declaração judicial.

Dito isto, está claro que nem toda pessoa terá aptidão para exercer
pessoalmente os seus direitos e obrigações. Sendo assim a hipótese em
que estaremos diante de algum tipo de incapacidade. Por exemplo, haverá
situações em que o indivíduo não conseguirá manifestar a própria vontade.
Sendo incapaz, em algum grau, de praticar os atos da vida civil de forma
livre com total autonomia e independência. Podemos dizer ainda que em
tais situações estaremos diante da incapacidade civil relativa ou da
incapacidade civil absoluta. Esses impedimentos podem se dar por
diversos motivos, todos previstos em lei. Então de forma didática, nos
moldes da legislação civil atual, podemos afirmar que a temática da
capacidade civil possui três graus: plena; relativa; incapacidade civil
absoluta.

A incapacidade civil relativa é aquela em que a pessoa não poderá exercer


sozinha determinados direitos e obrigações. Sendo assim necessária a
assistência de outra pessoa para a prática de alguns atos.

O art. 4º do Código Civil de 2002 nos traz as hipóteses de incapacidade


civil relativa, que atualmente são apenas as seguintes: Os pródigos; Os
maiores de 16 e menores 18 anos; Os ébrios habituais (alcoólatras) e os
viciados em tóxicos.

Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir


sua vontade. Além disso, é necessário esclarecer que no caso dos
alcoólatras, será necessário constatar efetivamente o estado patológico da
embriaguez como condição de doença crônica. Dessa forma, se pode
justificar a restrição relativa de capacidade. De igual modo, no caso dos
viciados em tóxicos, será preciso avaliar o grau de intoxicação e
dependência. A partir disso, será constatado se haverá alguma
possibilidade de prática de atos cíveis, no caso de internação para
tratamento.

Por fim, vale fazer algumas considerações sobre aqueles que, por causa
transitória ou permanente, não podem exprimir sua vontade.

A medicina legal surgiu para colaborar na solução das questões existentes


entre os membros da sociedade, tornando, desta forma, a vida em grupo
viável e menos conturbada. É a ciência e arte extrajurídica auxiliar
alicerçada em um conjunto de conhecimentos médicos, paramédicos e
biológicos destinados a defender os direitos e os interesses dos homens e
da sociedade.

Auxilia os peritos, aplicadores do direito (Advogados, Promotores,


Defensores e Procuradores) e aos julgadores (Magistrados e Jurados)
quanto à interpretação de determinadas infrações penais existentes na
área Médico Legal. A Medicina Legal é a arte estritamente científica que
estuda os meandros do ser humanos e sua natureza, desde a fecundação
até depois de sua morte. Exige de seus obstinados professadores, além do
conhecimento da Medicina e do Direito, o de outras ciências, para emitirem
pareceres minudentes, claros, concisos e racionais, objetivando criar, na
consciência de quem tem por missão julgar, um quadro o mais preciso da
realidade.
A Medicina Legal serve mais ao Direito, visando defender os interesses
dos homens e da sociedade, do que à Medicina. A designação legal
emprestada a essa ciência indica que ela se serve, no cumprimento de sua
nobre missão, também das ciências jurídicas e sociais, com as quais
guarda, portanto, íntimas relações. É a Medicina e o Direito
complementando-se mutuamente, sem engalfinhamentos.

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