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Tratamento da classe II com aparelho autoligados

Roberta Nobre da Costa

1 INTRODUÇÃO

A má oclusão de classe II, também conhecida por distoclusão, é determinada


pela disformidade do posicionamento dos primeiros molares superiores em relação
aos inferiores, ou seja, o molar inferior encontra-se afastado em relação ao molar
superior, essa má oclusão pode ser subdividida em divisão I e divisão II, sendo a
primeira reconhecida clinicamente pela inclinação vestibular dos incisivos centrais
superiores, já a segunda demonstra uma inclinação axial vertical ou palatina dos
mesmos dentes (REIS et al, 2006 apud ROCHA, 2019).

Devido a sua alta prevalência em relação as demais tipologias de más


oclusões, a classe II é uma das principais causas da procura por tratamentos
ortodônticos, porém as dúvidas em relação a que plano de tratamento realizar ainda
são diversas devido à variedade de distúrbios esqueléticos existentes e as
particularidades de cada paciente (PEREIRA, 2014; PRIETO, 2017). Os tipos de
tratamento para a classe II podem variar entre ortopedia facial, cirurgia ortognática e
ortodontia fixa, sendo as duas primeiras utilizadas, geralmente, em casos de
envolvimento esquelético (GONÇALVEZ, 2015).

O aparelho ortodôntico convencional, com o uso de elásticos e fios metálicos,


foi durante muitos anos o único dispositivo utilizado para a movimentação da arcaria
dentaria na ortodontia, sua função era prender o arco dentro do slot assim
realizando a movimentação por atrito, o que não possuía muito controle e direção
das forças aplicadas, além disso, havia a desvantagem da acumulação placa
bacteriana na utilização das ligaduras elásticas (ZUCCHI; JANOVICH, 2014).

Considerando-se os protocolos de tratamento, a má oclusão de Classe II


permite que seja tratada com extrações ou sem extrações de dois ou quatro pré-
molares. Entretanto, é esperada uma maior proporção de sucesso do tratamento
com extrações de dois pré-molares superiores, independente do padrão facial e da
relação maxilomandibular. Já o tratamento sem extrações pode ser realizado
utilizando-se a ancoragem extrabucal, os aparelhos ortopédicos funcionais, os
elásticos de Classe II associados a aparelhos fixos ou, mais recentemente, os
distalizadores intrabucais (FORTINI, 2004 apud DE SOUSA, 2021)

Como alternativa a esse tipo de aparelho, visando diminuir o atrito entre o


bráquete e o fio ortodôntico foi desenvolvido o sistema autoligado, buscando
oferecer um tratamento de maior qualidade e em menor tempo. Esse dispositivo vem
sendo uma das principais alternativas dos ortodontistas atualmente para o
tratamento de seus pacientes, pois o mercado se encarregou de produzir cada vez
mais tipos de bráquetes com maior resistência e inovação (NETO et al, 2014).

Estel et al (2016) destaca que os bráquetes autoligados dispensam o uso de


ligaduras elásticas ou metálicas para que o fio preso no interior da canaleta seja
mantido, pois foram criados da necessidade de um sistema que proporcionasse uma
mecânica de deslizamento e alinhamento mais eficientes, gerando então, menor
atrito e tornando o movimento dentário mais rápido, diminuindo a duração do
tratamento.

Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo elucidar através de uma
revisão de literatura a inserção do aparelho autoligado como uma opção de
tratamento a pacientes classe II, suas vantagens, desvantagens e características
únicas em relação aos aparelhos convencionais.

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 MÁ OCLUSÃO DE CLASSE II

A má oclusão é classificada como uma anormalidade morfológica, onde nem


todos os indivíduos de sua classe ou tipo de má oclusão compartilham da mesma
etiologia. É uma anormalidade frequente entre os pacientes e causa um impacto
importante nas função e estética da oclusão como um todo. Ainda pode se tornar
causadora um grande impacto negativo na autoestima de pacientes de todas as
idades (JANSON, 2009 apud DE SOUSA, 2021).

As más oclusões tiveram sua primeira classificação completa feita por Angle
(1899) onde o autor usou como base o relacionamento entre os primeiros molares
inferiores com os primeiros molares superiores, chegando a conclusão de que as
más oclusões ocorriam em virtude de alterações no sentido anteroposterior das
arcadas superior e inferior.

A má oclusão de classe II foi caracterizada como uma relação distal do


primeiro molar mandibular em relação ao primeiro molar maxilar em mais de meia
cúspide (ANGLE, 1899). Até a atualidade a simplicidade como Angle descreve as
más oclusões faz com que seus métodos ainda sejam utilizados regularmente na
ortodontia (BISHARA, 2006).

Do mesmo modo, Angle (1907) caracterizou a má oclusão de classe II em


dois tipos, baseando-se na inclinação dos incisivos centrais superiores. Pereira
(2014) descreve esses dois tipos e suas subdivisões como:

A Classe II Divisão 1 caracterizada pela vestibularização dos incisivos


maxilares e um aumento do overjet com ou sem um estreitamento do arco
maxilar, e, a Classe II Divisão 2 caracterizada pela excessiva inclinação
lingual dos incisivos centrais superiores, sendo acompanhada geralmente
de uma mordida profunda e um overjet reduzido. Com a Classe II Divisão 1
ou 2, pode haver um relacionamento molar unilateral ou bilateral. Casos de
relação molar de Classe II unilateral são classificados como “subdivisão”
(PEREIRA, 2014, p. 13).

Jansen (2007 apud DE SOUSA, 2021) também se refere a má oclusão de


classe II como disto-oclusão, onde as relações mesiodistais entre os arcos dentários
são consideradas anormais, com todos os dentes inferiores ocluindo distalmente ao
padrão, produzindo desarmonia acentuada na região do incisivo e no perfil facial,
desta forma, na classe II completa a mandíbula encontra-se retrusiva, em posição
mais posterior que o normal, como é possível observar na figura 1.
Figura 1 - Má oclusão Classe II de Angle

Fonte: Angle, 1928

Por conseguinte, a má oclusão classe II Divisão 1, está associada a uma


discrepância dentária anteroposterior pelo défice mandibular, excesso maxilar ou
ambos, caracterizando-se por atresia do arco dentário superior, incisivos superiores
alongados e protruidos, função anormal dos lábios e por alguma forma de obstrução
nasal e respiração bucal (PERILLO et al, 2012).

Nos pacientes pertencentes a essa divisão é comum haver sobremordida


exagerada e overjet acentuado (DE SOUSA, 2021). Para além da preocupação
estética, a protusão dos incisivos superiores e a sobressaliência aumentada,
aumentam o risco de exposição do paciente traumatismos dentários. Visando
diminuir a discrepância sagital são utilizados aparelhos ortodônticos para corrigir a
protusão incisiva (PERILLO et al, 2012).

No caso da má oclusão Classe II Divisão 1 Subdivisão é apresentada uma


relação oclusal normal em um lado dos arcos já do lado oposto há uma oclusão de
Classe II, fazendo com que pacientes com essas características respiram pela boca.
Figura 2 - Classe II Divisão 1

Fonte: Angle, 1928

No que concerne as más oclusões Classe II Divisão 2 são caracterizadas por


uma discreta atresia do arco dentário superior, pelo apinhamento dos incisivos
superiores com sobreposição e inclinação para lingual e pela função nasal e labial
normal (DE SOUSA, 2021). São indicados no tratamento destes casos, aparelhos
ortodônticos com planos de mordida anteriores, aparelhos funcionais ou de tracção
extra-oral que corrijam a sobremordida e a retroinclinação dos incisivos (VENTURA,
2015).

Em suma, a Classe II Divisão 2 acontece quando os incisivos centrais


superiores se encontram lingualizados e os incisivos laterais superiores encontram-
se vestibularizados. Normalmente criam um overbite acentuado, podendo ou não ter
overjet acentuado. Costuma apresentar musculatura peribucal competente e aspecto
facial agradável (REZENDE et al, 2018).

No caso da má oclusão de Classe II Divisão 2 Subdivisão em uma relação


oclusal normal em um lado dos arcos e uma oclusão Classe II do lado oposto (DE
SOUZA, 2021).

Figura 3 - Classe II Divisão 2

Fonte: Angle, 1928


2.1.1 Más oclusões Classe II Dentárias e Esqueléticas

Existem variações nas relações horizontais e verticais, sendo um fator comum


entre elas a relação ântero-posterior dos arcos dentários. Pode haver variação na
relação desde uma retrusão mandibular, uma protrusão maxilar ou até mesmo uma
combinação de fatores, sendo o retrognatismo mandibular considerado como um
dos maiores responsáveis por esta má oclusão (FIGUEIREDO, 2022).

Quando há apenas o envolvimento das bases ósseas maxilares a má


oclusão é considerada esquelética, e é determinada como dentária quando
apresenta puramente alterações dentoalveolares. É possível observar, na maioria
dos casos, que ocorre a combinação de fatores esqueléticos e dentários.
(FIGUEIREDO, 2022 apud ANGLE et.al, 1907).

Mesmo que a maioria das más oclusões Classe II sejam causadas por uma
discrepância ou deformidade esquelética, é possível ter uma relação esquelética
normal associada uma má oclusão dentária Classe II. Nessas situações, ocorreram
a movimentação dos molares superiores mais para a frente do que o normal durante
a evolução dentária, em contrapartida os molares inferiores permaneceram em uma
posição posterior em relação aos superiores. Essas más oclusões podem ser
causadas por: protusão dentaria superior ou mesialização dos primeiros molares
superiores permanentes (DE SOUSA, 2021).

O termo Classe II Esquelética indica esse tipo de má inclusão resulta da


discrepância sagital em tamanho ou posição das bases apicais, nesse caso não há
má posição dos dentes em relação a retrusão dos dentes inferiores, protusão dos
dentes superiores ou ambos. Esse tipo de má oclusão esquelética pode ser
subdividido entre as que apresentam deficiência mandibular ou prognatismo maxilar.

As discrepâncias esqueléticas associadas às más oclusões Classe II foram


denominadas de Classe II Esquelética. Esse termo indica que a má oclusão Classe
II é aquela resultante da discrepância sagital em tamanho ou em posição das bases
apicais, e não da má posição dos dentes em relação das bases apicais (retrusão dos
dentes inferiores ou protrusão dos dentes superiores, ou ambos). As más oclusões
Classe II Esqueléticas podem ser subdivididas entre as que compreendem
deficiência mandibular ou prognatismo maxilar.
3 DISCUSSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FIGUEIREDO, Thais Cristina dos Santos. Tratamento da má oclusão de Classe II


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