Você está na página 1de 9

CRITÉRIOS DO BIONATOR EM PACIENTES CLASSE II POR DEFICIÊNCIA

MANDIBULAR
Laís barbosa Nunes de Santana

1 INTRODUÇÃO

A má oclusão classe II, pode ser definida como o posicionamento da


cúspide mésio-vestibular do primeiro molar superior localizada mesialmente em
relação ao sulco mésio-vestibular do primeiro molar inferior, também podendo
ser caracterizada por uma relação ântero-posterior divergente entre a maxila e
a mandíbula, em detrimento dos diferentes padrões esqueléticos encontrados
nesta condição, muitas opções de tratamento estão disponíveis na literatura, de
natureza esquelética, dentária ou a combinação de ambas, sendo o segundo
tipo de má oclusão mais frequente entre as três categorias definidas por Angles
(MALTAGLIATI, 2006; MELO et al, 2006 apud LOPES, 2021).

De acordo com Sella (et al, 2013) a Classe II resulta de uma deficiência
mandibular causada pela mandíbula pequena ou retraída em relação a maxila,
ou, pela maxila aumentada em relação à mandíbula, onde, na maioria das
vezes a deficiência mandibular horizontal é ocasionado pelo crescimento da
mandíbula no sentido vertical que origina um giro mandibular no sentido horário
conduzindo a mandíbula a uma região mais posterior.

Tendo relação direta com o padrão facial, a má oclusão de classe II tem


sido tratada frequentemente com o auxílio da ortopedia funcional e, devido à
sua alta prevalência e às alterações de ordem estética e funcional que
ocasionam, esse tipo de má oclusão vem tendo destaque no meio ortodôntico,
ocasionando uma variação nos tipos de aparelhos utilizados para sua correção,
por exemplo, os de tração extrabucal, dispositivos intrabucais para distalização
de molares e aparelhos ortopédicos funcionais (CASTELO et al 2009).

Castro (2008 apud COSTA, 2019) descreve que para o tratamento da


Classe II por deficiência mandibular esquelética os dispositivos usados são os
aparelhos funcionais que possuem a finalidade de potencializar o crescimento
mandibular, restabelecendo a fisiologia do sistema estomatognático e a função,
ou seja, esses aparelhos redirecionarão o crescimento mandibular
proporcionando a diminuição da discrepância ou até mesmo corrigir essa
discrepância anteroposterior, sendo esse dispositivo indicado para pacientes
que ainda estão em período de crescimento facial ativo.

Um aparelho ortopédico funcional bastante utilizado com o intuito de


interceptação da má oclusão de Classe II por deficiência de mandíbula é o
Bionator de Balters que ao ser utilizado de acordo com suas indicações,
apresenta uma eficiente correção da má oclusão, sendo uma excelente opção
de tratamento (NEVES et al, 2010).

O aparelho Bionator de Balters foi desenvolvido por Wilhelm Balteres na


Alemanha no ano de 1960, como um aparelho funcional derivado do Ativador,
produzido por Andresen-Häupl. Balters considerava que o bom posicionamento
da língua era a peça fundamental para a relação harmoniosa dos arcos
dentários e oclusão normal. Segundo ele, a Classe II, é uma consequência da
má posição da língua, onde a língua se encontra em uma posição retraída,
podendo prejudicar a deglutição e função respiratória (NEVES, 2004 apud
COSTA, 2019).

O aparelho Bionator de Balters promove tanto alterações dentárias como


esqueléticas na correção da má oclusão de Classe II por deficiência
mandibular, normalmente apresentando como características dessa disfunção,
sobremordida acentuada, sobressaliência, curva de Spee acentuada e AFAI
reduzido ou normal (SELLA, 2013).

Além disso, o dispositivo influência diretamente a estética facial do


paciente, melhorando significativamente a qualidade de vida em relação à
integração social, visto que por vezes os indivíduos portadores de maloclusão
podem ser alvos de discriminação, especialmente em idade escolar, sendo
também habilitado a ser empregado em pacientes mesofaciais, braquifaciais e
dolicofaciais, devido ao controle do plano oclusal ser referenciado pelo tipo
facial de cada paciente, consoante do manejo através de desgastes seletivos
no acrílico e guia na erupção dos dentes, favorecendo o crescimento
mandibular (FREITAS et al, 2010 apud PISCHIOTINI, 2018).

Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo exibir uma revisão
sobre o uso e aplicação do aparelho Bionator de Balters, bem como sicutir
sobre indicações e contra-indicações no tratamento de pacientes classe II por
deficiência mandibular afim de maior aprofundamento do tema e contribuição
para a Ortodontia.

2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Definição e tipos do Bionator de Balters

Wilhelm Balters acreditava que o bom posicionamento da língua era


fundamental para boa relação dos arcos dentários e oclusão normal. De acordo
com sua ideologia, a Classe II seria uma consequência da má posição da
língua, onde ela se encontra em uma posição retraída, podendo prejudicar a
deglutição e função respiratória (NEVES, 2004 apud COSTA, 2019).

Balters (1960 apud PISCHIOTINI, 2018) instaurou o aparelho Bionator


proveniente do ativador de Andresen, bem como sua filosofia de tratamento,
baseada no equilíbrio entre a musculatura peribucal e a língua. Balters
propunha a integralização do paciente ao ambiente externo, de uso “dioturno”,
buscando alterar o posicionamento dentário e desenvolvimento dos maxilares.
O autor indagava ainda que o Bionator tinha a capacidade de correção das
disfunções responsáveis pela ocorrência de deformações no aparelho
estomatognático (AE).

Segundo Balters (1960 apud CRUZ, 2021) o aparelho ortopédico


funcional desenvolvido por ele chamado “Bionator’’, teria objetivo de obter o
espaço bucal ideal. Esse tipo de aparelho visa a normalização funcional da
mandíbula em relação a maxila, proporcionando ao AE estímulos normais de
crescimento e desenvolvimento, oferecendo condições para a normalização
através de forças próprias do organismo. Ainda, tem por objetivo corrigir a
posição e a função da língua, lábios, bochechas e a manutenção da respiração
nasal (CRUZ, 2021).

Além desses benefícios, a vantagem do bionator está na interceptação


precoce da relação anteroposterior entre maxila e mandíbula, seu uso é
indicado entre a faixa etária de 8 a 12 anos, possibilitando agir na estética
facial, autoestima do paciente, diminuindo também o risco de trauma nos
incisivos superiores acarretando a retomado do seu curso correto de
crescimento e desenvolvimento craniofacial. O tempo médio de uso do
dispositivo é de 16 a 24 meses (PRADO, 2017).

Existem, três tipos de bionatores destinados a correção das diferentes


anomalias esqueléticas e alterações funcionais. Em resumo, o primeiro tipo é o
Bionator Base (figura 1) utilizado para o tratamento do retrognatismo
mandibular; o Bionator Fechado desempenha a função de correção das
mordidas abertas com ou sem alterações esqueléticas (figura 2); e o terceiro
tipo é chamado de Bionator Invertido (figura 3) e exerce a função de corrigir o
prognatismo mandibular (PISCHIOTINI, 2018).

Figura 1 - Bionator Base

Fonte: (FALTIN, 1998 apud CRUZ, 2021)

Figura 2 - Bionator Fechado

Fonte: (FALTIN, 1998 apud CRUZ, 2021)


Figura 3 - Bionator Invertido

Fonte: (FALTIN, 1998 apud CRUZ, 2021)

De acordo com Faltin Jr e Ortolani-Faltin (1998 apud PISCHIOTINI,


2018) o Bionator Fechado apresenta-se de forma quase idêntica ao Bionator
Base, sendo diferença entre ambos o fato de que o primeiro possui uma
extensão em área de dentes superiores anteriores, que busca proteger contra a
pressão atípica exercida pela musculatura. A resina acrílica confeccionada nas
regiões anteriores superior e inferior não deve atingir a arcada dentária e
gengiva. A supressão da interferência lingual, a normalização postural junto ao
palato e a incitação do selamento labial propiciam para o fechamento da
mordida aberta.

A detenção da mordida construtiva no Bionator de Balters do tipo


Invertido é tomada em posição mais restritiva do sentido ântero-posterior e
vertical, seguindo uma altura ligeiramente maior que o topo a topo, tencionando
a correção da mordida cruzada anterior. Neste tipo de aparelho, entretanto, há
a inversão da alça palatina para modificação da postura da língua, enquanto a
parte labial da alça vestibular não sobre dobras no sentido superior. Ademais
trajeto continua reto em contorno aos dentes anteriores inferiores (FALTIN JR;
ORTOLANI-FALTIN, 1998 apud PISCHIOTINI, 2018).

No que diz respeito a composição do Bionator, este possui: alça


platinada, que deve se localizar entre o palato e a língua, tendo a função de
posicionar a língua; alça vestibular labial, responsável por estimular o
selamento dos lábios; alça vestibular bucinadora, localizada entre as arcadas e
os tecidos moles das bochechas, impedindo que haja interferência; plano de
oclusão, em paralelo ao plano de Camper, afim de guiar a posição dos dentes
permanentes; apoios verticais, responsáveis por posicionar a oclusão funcional,
para evitar que a mandíbula se desvie do plano vertical; e apoios
interproximais, que são reservados para conservar a estabilidade do aparelho e
manter a relação anteroposterior (COSTA, 2019).

Figura 4 - Composição do aparelho Bionator de Balters

Fonte: (COSTA, 2019)

De acordo com Siqueira (2002 apud COSTA, 2019) a instalação do


aparelho acontece através da introdução do Bionator na cavidade oral e
aferição da adaptação dos dentes inferiores e superiores ao acrílico e do arco
vestibular dos dentes anterossuperiores, responsáveis por da retenção ao
aparelho. Sua ativação acontece através de desgastes gradativos com o
objetivo de fazer com que os dentes permanentes erupcionem na direção do
plano oclusal, a depender do tipo de face, o desgaste acontece de forma
diferente. O tempo adequado para que o desgaste comece a ser feito é de três
meses do inicio do uso, para então, iniciar os desgastes em todos os dentes da
região posteroinferior do acrílico.

Relatos clínicos comprovaram que na maioria dos casos a relação


morlar é alterada ½ do nível da sua gravidade original, podendo haver a
necessidade do uso de outro tipo de aparelho. Para um resultado eficaz do
tratamento é completamente necessária a colaboração do paciente (SELLA,
2013).
2.2 Técnicas de desgaste

A técnica de desgaste do aparelho Bionator é descrita por Siqueira e


Mondelli (2002 apud PISCHIOTINI, 2018) que indagam sobre as alterações
que que o modelo original sofreu ao longo dos anos. Foi inserido o
recobrimento acrílico dos incisivos inferiores a fim de limitar o desenvolvimento
vertical, servir de referência à protrusão mandibular e redução na tendência de
avanço dos incisivos inferiores. Segundo os autores, o Bionator deve ser
utilizado em período mínimo de 18 meses. Após sua instalação é recomendado
o desgaste gradativo em acrílico na área dos dentes pósteroinferiores, com o
intuito da correção da Curva de Spee, redução da sobremordida e,
principalmente, reparação da Classe II.
O desgaste do acrílico na região posteroinferior deve iniciar após 3 três
meses da instalação do aparelho na cavidade bucal. O desgaste deverá
abranger todos os dentes posteriores existentes, ou seja, primeiros e segundos
pré-molares e primeiros e segundos molares inferiores, devendo ser realizado
por meio de uma fresa especifica. A resina é desgastada gradativamente,
ressaltando que o alivio lingual é primordial para o sucesso do tratamento
(BALTERS, 1995 apud LACERDA, 2018).

É recomendado que a indicação do aparelho seja feita próximo ao surto


de crescimento. A eficácia e estabilidade durante o tratamento com o Bionator
está diretamente ligada ao emprego do aparelho no início do estirão de
crescimento puberal (Almeida et al., 2002 apud PISCHIOTINI, 2018).

Passados alguns meses de desgaste, a resina será eliminada por inteiro,


para que haja uma correta intercuspidação dos dentes posteriores,
aumentando assim, a estabilidade do tratamento (BALTERS, 1955 apud
LACERDA, 2018).

3 DISCUSSÃO
Serão tratados as indicações e contraindicações do uso do bionator de
balters no tratamento de pacientes classe II por deficiência mandibular
Maltagliati LA, Montes LAP, Bastia FMM, Bommarito S. Avaliação da
prevalência das seis chaves de oclusão de Andrews, em jovens brasileiros com
oclusão normal natural. R Dental Press Ortodon Ortop Facial. 2006.

Castelo KMS, Bramante FS, Pinzan-Vercelino CRM. Características


estruturais da má-oclusão de classe II, divisão 1. OrtodontiaSPO.
2009;42(2):135-40.
Faria, K.K., Silva, Â.M., Peixoto, M.G., & Tiago, C.M. (2014). Tratamento
da má oclusão de classe II esquelética com o uso do aparelho Bionator de
Balters. J Odontol FACIT, 2014;1(1):12-23.

NEVES, Leniana Santos, et al. A Utilização do Aparelho Bionator de


Balters para a Correção da Má-Oclusão de Classe II, 2ª Divisão–Relato de um
Caso Clínico. Jornal Brasileiro de ORTODONTIA & Ortopedia Facial, 2010,
9.53.
PISCHIOTINI, Jéssica de Paula. Emprego do aparelho Bionator no
tratamento da classe II / Jéssica de Paula Pischiotini. – 2018 28 f., il.
Orientador: Profa. Dra. Maíra Ferreira Bóbbo Monografia (especialização) –
Faculdade de Tecnologia de Sete Lagoas, 2018. Disponível em:
https://faculdadefacsete.edu.br/monografia/files/original/fe4e67822f5e2a3c7831
379f0ad77f5f.pdf Acesso em: 10 dez 2022

SELLA, R. C.; URSI, W. J. S. Má oclusão de Classe II com deficiência


mandibular: protocolo de tratamento na dentição mista com o aparelho Bionator
de Balters-- considerações clínicas. Revista Clínica de Ortodontia Dental Press,
v. 12, n. 4, 2013.
Costa, Layla Marques Mota. Tratamento da Classe II por deficiência
mandibular em pacientes em crescimento: estudo comparativo entre o Bionator
de Balters e Occlus-o-Guide. Monografia (especialização) - Faculdade de
Tecnologia de Sete Lagoas, Ortodontia, 2019. CECAP, 2019. Disponível em:
https://faculdadefacsete.edu.br/monografia/items/show/1580 Acesso em: 03
fev, 2023
CRUZ, Natalia Farias. Tratamento de classe II com o aparelho Bionator
de Balters. 30 f. Monografia de conclusão de especialização em Ortodontia
pela Faculdade Sete Lagoas, São Paulo: 2021. Disponível em:
https://faculdadefacsete.edu.br/monografia/files/original/687164d728fe3ed8233
83bb1207bdb8e.pdf Acesso em: 20 fev 2023
PRADO, Gisele de Souza. Tratamento em pacientes com má oclusão
Classe II de Angle com retrusão mandibular. 30f. Trabalho de Conclusão de
Curso em Odontologia – TCC. Universidade São Francisco, Bragança Paulista,
2017. Disponível em:
https://lyceumonline.usf.edu.br/salavirtual/documentos/3166.pdf Acesso em: 21
jan. 2023.
LACERDA, Gerfran da Silva, TRATAMENTO DA CLASSE II, 1º
DIVISÃO COM O USO DO BIONATOR DE BALTERS - REVISÃO DE
LITERATURA. 2018.2. 33f. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação
em Ortodontia) Núcleo de Estudo e Aperfeiçoamento Odontológico – NEAO.
Disponível em:
http://faculdadefacsete.edu.br/monografia/files/original/a1d74f4168597b1d38daf
5dc5e8baed4.pdf Acesso em: 25 fev. 2023

Você também pode gostar