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A RT I G O I N É DI TO

Verticalização simplificada de
molares (VSM): uma aplicação dos
conceitos biomecânicos em casos
com distúrbios de erupção dos
segundos molares
Resumo / A presença de segundos molares desalinhados devido à sua erupção ectó-
pica deve ser considerada e incluída no planejamento do tratamento. Da mesma forma,
durante o tratamento ortodôntico, segundos molares que irrompem fora de sua posição
normal na arcada dentária devem ser incluídos na mecânica ortodôntica. Dificuldades
técnicas, representadas pela presença de tecido gengival que recobre parcialmente a
coroa dentária ou a erupção parcial dos segundos molares, dificultam a utilização de
tubos soldados em bandas ortodônticas ou colados na superfície vestibular desses den-
tes. A verticalização simplificada de molares (VSM) é um procedimento simples e de fácil
implementação, recomendado para a correção de segundos molares que irrompem
ectopicamente. Consiste na aplicação de uma força horizontal para o correto posicio-
namento do segundo molar na arcada dentária, com componente vertical de intrusão
que evita sua extrusão ou mesmo a interferência oclusal, nos casos em que esse dente
se encontra cruzado. Nesse método, a força é gerada por cadeia elástica apoiada em
botão colado na superfície vestibular ou lingual do segundo molar e em braço de ala-
vanca instalado no tubo auxiliar ou no tubo lingual do primeiro molar. A utilização desses
botões colados, que necessitam de menor área de esmalte exposto e não requerem
um posicionamento tão preciso quanto o necessário para um tubo, fornece o ponto de
apoio necessário para a correção da má posição dentária. Palavras-chave / Verticaliza-
ção de molares. Distúrbio de erupção. Biomecânica.

Ary dos Santos-Pinto


Professor Adjunto do Departamento de Clínica Infantil/Ortodontia da Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP.

Como citar este artigo: Santos-Pinto A. Verticalização simplificada de molares (VSM): uma aplicação dos conceitos biomecânicos
O autor declara não ter interesses associativos, comerciais, de
em casos com distúrbios de erupção dos segundos molares. Rev Clín Ortod Dental Press. 2015 jun-jul;14(3):42-54.
propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse
nos produtos e companhias descritos nesse artigo.
Enviado em: 15/02/2015 - Revisado e aceito: 18/06/2015

O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo


Endereço de correspondência: Ary dos Santos Pinto
autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias
Faculdade de Odontologia de Araraquara / UNESP
faciais e intrabucais, e/ou radiografias.
Rua Humaitá 1680, Centro – CEP: 14.801-903 – Araraquara/SP – E-mail: spinto@foar.unesp.br

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Verticalização simplificada de molares (VSM): uma aplicação dos conceitos biomecânicos em casos com distúrbios de erupção dos segundos molares

INTRODUÇÃO obstáculo após o dente ter irrompido. Está relacionada


Segundo estudo de Bondemark e Tsiopa1, os distúrbios de com a anquilose dentária, devido à alteração localizada
erupção do segundo molar são da ordem de 2,3%; entre do ligamento periodontal.
esses, a erupção ectópica é o mais frequente, com pre-
valência de 1,5%, seguido pela retenção primária (0,6%) Com exceção da retenção secundária, em todas as
e pela impacção (0,2%). Somado a isso, a prevalência de outras condições o ligamento periodontal é normal e
agenesia do segundo molar é da ordem de 0,8%. O diag- o dente afetado pode ser movimentado normalmente.
nóstico dos distúrbios de erupção do segundo molar en- Na retenção secundária, áreas de anquilose ou oblite-
volve exame clínico e radiográfico, o qual permite a dife- ração do ligamento periodontal impedem a movimen-
renciação entre as quatro seguintes condições: erupção tação dentária.
ectópica, impacção, retenção primária e secundária2,3.
RELATOS DOS CASOS
A erupção ectópica é um termo utilizado para designar Caso 1. Os segundos molares superiores e inferiores
os distúrbios no padrão normal de erupção dos dentes encontravam-se mal posicionados, ao início do tra-
permanentes. Pode ocorrer devido a uma direção anor- tamento, sendo os superiores posicionados excessi-
mal de erupção e/ou a um posicionamento anormal do vamente para vestibular e os inferiores, ligeiramente
germe dentário, que culmina com uma posição alterada para lingual — resultando em uma relação de mordida
do dente na arcada dentária. cruzada vestibular desses dentes (Fig. 1A, 1B). Para
a correção da posição alterada dos segundos mola-
A impacção é definida como uma falha na erupção de um res, foi instalado um arco lingual fixo, ativado de forma
dente causada por barreira física no caminho da erupção a expandir levemente a largura de segundos molares
(tais como cistos, odontomas e dentes supranumerários) inferiores. Para corrigir a posição excessivamente ves-
ou por causa de padrão anormal de erupção (direção tibular dos segundos molares superiores, foram cimen-
alterada) causado por uma posição indevida do germe tadas nesses dentes bandas com tubos vestibulares
dentário, detectada clinicamente ou radiograficamente. soldados de forma a servir de apoio para elástico de
mordida cruzada — que se estendia desse tubo até um
A retenção primária se constitui em uma alteração no gancho formado pela extensão distal do arco lingual
folículo dentário, que afeta o processo metabólico de soldado nas bandas dos molares inferiores. Utilizou-se
reabsorção e erupção, de forma que ocorre a formação elástico de mordida cruzada ¼” médio, com força de
radicular do dente sem ele irrompa. É definida, também, aproximadamente 75 gramas, em posição mandibular
como uma impacção dentária sem um obstáculo ao pa- habitual de repouso (Fig. 2A, 2B). A posição dos se-
drão de erupção, ou erupção ectópica do germe dentário. gundos molares foi corrigida com movimentos de incli-
nação lingual e extrusão dos superiores, e leve inclina-
A retenção secundária representa a cessação completa ção vestibular dos inferiores, em direção ao seu correto
da erupção dentária sem a presença de qualquer tipo de alinhamento na arcada dentária (Fig. 3A, 3B).

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1A 1B

2A 2B

3A 3B

4A 4B

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Verticalização simplificada de molares (VSM): uma aplicação dos conceitos biomecânicos em casos com distúrbios de erupção dos segundos molares

Caso 2. Segundos molares superiores irromperam colados botões, aos quais foram aplicados elásticos
ectopicamente, assumindo posição e inclinação ex- em cadeia, estendidos até os braços de alavanca,
cessivamente vestibular em fase final do tratamento com o objetivo de gerar as forças horizontais e ver-
ortodôntico. Notou-se que os molares estavam par- ticais necessárias para corrigir seu posicionamento.
cialmente irrompidos e parcialmente cobertos com Os braços de alavanca foram posicionados 2mm para
tecido gengival (Fig. 5A, 5B). cervical da margem gengival dos segundos molares,
de forma a gerar força intrusiva (Fig. 6A, 6B). As po-
Para correção da posição alterada dos segundos sições dos segundos molares foram corrigidas por
molares, foram confeccionados braços de alavanca movimentos de inclinação lingual desses dentes, em
(cantiléver) bilaterais, como uma extensão das presi- direção ao seu correto alinhamento na arcada dentá-
lhas inseridas nos tubos linguais dos primeiros mola- ria, associados à rotação distovestibular dos primei-
res. Na face vestibular dos segundos molares, foram ros molares (Fig. 7A, 7B).

5A 5B

6A 6B

7A 7B

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Caso 3. Segundos molares superiores e inferiores ir- bilaterais feitos com fio 0,019” x 0,025” de aço, inseri-
romperam ectopicamente, estando os superiores incli- dos nos tubos auxiliares dos primeiros molares inferio-
nados e posicionados excessivamente para vestibular, res. Nas faces linguais dos segundos molares inferiores,
e os inferiores inclinados e posicionados excessiva- foram colados botões nos quais foram aplicados elásti-
mente para lingual, numa fase final do tratamento orto- cos em cadeia, estendidos até os braços de alavanca.
dôntico. Notou-se que os molares estavam parcialmen- Para se evitar efeitos colaterais nos primeiros molares
te irrompidos e, em parte, cobertos por tecido gengival inferiores, esse procedimento foi realizado com arco
(Fig. 8A, 8B). Para a correção da posição alterada dos inferior rígido, confeccionado com fio de aço 0,019”
segundos molares superiores, foi confeccionada uma x 0,025” (Fig. 9B). A colagem de tubos na vestibular
barra platina com braço de alavanca bilateral, cons- desses dentes não era possível por causa da relação
truído como uma extensão, para posterior, da presilha de mordida cruzada dos segundos molares, em que as
inserida no tubo lingual dos primeiros molares, de distal cúspides palatinas dos superiores obliteravam comple-
para mesial. Na face vestibular dos segundos molares tamente as faces vestibulares dos inferiores (Fig. 10A,
superiores, foram colados botões nos quais foi aplica- 10B). A posição dos segundos molares foi corrigida
do elástico em cadeia, estendido até os braços de ala- com movimentos de inclinação lingual dos superiores e
vanca. Os braços de alavanca foram posicionado 2mm inclinação vestibular dos inferiores, em direção ao seu
para cervical da margem gengival dos segundos mola- correto alinhamento na arcada dentária (Fig. 11A, 11B).
res, de forma a gerar força intrusiva (Fig. 9A). Já para Notou-se a presença de tecido gengival na face distal
a correção da posição alterada dos segundos molares dos segundos molares, o que dificultaria a utilização de
inferiores, foram confeccionados braços de alavanca bandas nesses dentes (Fig. 12A, 12B).

8A 8B

9A 9B

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10A 10B

11A 11B

12A 12B

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Caso 4. Os segundos molares superiores irromperam cadeia estendidos até os braços de alavanca. Os bra-
ectopicamente, assumindo posição e inclinação excessi- ços de alavanca foram posicionados 2mm para cervical
vamente vestibular, em uma fase avançada do tratamento da margem gengival dos segundos molares, de forma
ortodôntico. Notou-se que os molares estavam parcial- a gerar força intrusiva (Fig. 14A, 14B). As posições dos
mente irrompidos e, em parte, cobertos com tecido gen- segundos molares foram corrigidas com movimentos de
gival (Fig. 13A, 13B). Para correção da posição alterada inclinação lingual desses dentes, em direção ao seu cor-
dos segundos molares, foram confeccionados braços de reto alinhamento na arcada dentária, associados ao mo-
alavanca bilaterais, como extensões das presilhas inse- vimento vestibular dos primeiros molares. O controle da
ridas nos tubos linguais dos primeiros molares. Nas fa- quantidade de movimento vestibular dos primeiros mola-
ces vestibulares dos segundos molares superiores, foram res superiores foi realizado pela utilização de arco superior
colados botões, nos quais foram aplicados elásticos em rígido 0,019” x 0,025” de aço (Fig. 15A, 15B).

13A 13B

14A 14B

15A 15B

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Caso 5. Os segundos molares superiores e inferiores colados botões onde foram amarrados fios de aço
apresentavam-se mal posicionados (erupção ectópica) 0,025” — estendidos até os braços de alavanca e ati-
ao início do tratamento, sendo os superiores inclinados vados de forma a gerar força de aproximadamente 75g.
e posicionados excessivamente para vestibular, e os in- Para evitar efeitos colaterais nos primeiros molares in-
feriores inclinados e posicionados excessivamente para feriores, esse procedimento foi realizado quando o arco
lingual, em relação de mordida cruzada (Fig. 16A, 16B). inferior de aço atingiu a espessura 0,019” x 0,025”. Essa
Para correção da posição alterada dos segundos mo- opção de tratamento foi utilizada devido ao fato de não
lares superiores, foram colados tubos nas suas faces haver espaço disponível para a colagem de qualquer
vestibulares e os fios de alinhamento e nivelamento fo- tipo de acessório na vestibular dos segundos molares,
ram estendidos até esses dentes. Já para a correção que causariam interferência oclusal indesejável e des-
da posição alterada dos segundos molares inferiores, favorável ao tratamento (Fig. 17A, 17B). A posição dos
foram confeccionados braços de alavanca bilaterais segundos molares foi corrigida com movimentos de in-
feitos com fio 0,019” x 0,025” de TMA, inseridos nos clinação lingual dos superiores e inclinação vestibular
tubos auxiliares dos primeiros molares inferiores. Nas dos inferiores, em direção ao seu correto alinhamento
faces linguais dos segundos molares inferiores, foram na arcada dentária (Fig. 18A, 18B).

16A 16B

17A 17B

18A 18B

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DISCUSSÃO espaço na região entre os primeiros e segundos molares


A erupção dos segundos molares permanentes é um inferiores pode favorecer uma inclinação mais mesial do
acontecimento complexo que requer a verticalização padrão de erupção do segundo molar inferior, resultan-
da sua trajetória (mesial e lingualmente inclinada, no do na sua impacção sob a protuberância distal da coroa
caso dos segundos molares inferiores; e distal e bu- do primeiro molar inferior10,11.
calmente inclinada, no caso dos segundos molares
superiores), guiada, principalmente, pela raiz distal A utilização de mecânicas ortodônticas que impe-
dos primeiros molares. O espaço necessário para o çam a mesialização dos primeiros molares na exfo-
segundo molar inferior é obtido pela reabsorção ós- liação dos segundos molares decíduos (arco lingual
sea no bordo anterior do ramo da mandíbula, apo- ou botão palatino de Nance) ou que promovam a
sição óssea na tuberosidade mandibular e pela mi- distalização dos primeiros molares permanentes é o
gração mesial tardia do primeiro molar inferior para fator etiológico mais comumente responsável pelos
o espaço deixado pela esfoliação do segundo molar distúrbios de erupção dos segundos molares perma-
decíduo. Por sua vez, o espaço necessário para o nentes (aparelhos distalizadores intrabucais, apare-
segundo molar superior é obtido pelo deslocamento lhos extrabucais, placa labioativa, uso de elásticos
anterior do complexo nasomaxilar, aposição óssea na de Classe II ou de Classe III, etc.). Mantenedores e/
tuberosidade maxilar e pela migração mesial tardia do ou recuperadores de espaço aplicados em dentição
primeiro molar superior para o espaço deixado pela mista também estão associados a uma alta percen-
esfoliação do segundo molar decíduo4,5. tagem de dificuldades na erupção dos segundos
molares inferiores 12.
Os dentes permanentes emergem normalmente na
cavidade bucal quando, aproximadamente, 2/3 das O momento adequado para tratar os distúrbios de erup-
suas raízes estão desenvolvidos; contudo, tem-se ção dos segundos molares é quando o paciente tem en-
verificado que os segundos molares inferiores irrom- tre onze e catorze anos de idade — início da adolescên-
pem 1,3 anos após 3/4 das suas raízes terem sido cia, quando a formação das raízes do segundo molar
formados6. Segundo Helm e Seidler7, a idade média ainda está incompleta e antes do total desenvolvimento
da emergência normal dos segundos molares inferio- dos terceiros molares10,11.
res é aos 11,9 anos nos homens e aos 11,4 anos nas
mulheres. Em geral, os dentes permanentes irrompem No diagnóstico, a presença de segundos molares de-
mais precocemente no sexo feminino do que no mas- salinhados devido à sua erupção ectópica deve ser
culino. Anderson e Popovich8 e Brin et al.9 demons- considerada e incluída no planejamento do tratamento.
traram que: nas Classes II esqueléticas, os segundos Da mesma forma, durante o tratamento ortodôntico,
molares superiores irrompem mais precocemente do segundos molares que irrompem de forma desalinhada
que os segundos molares inferiores; e de forma opos- devem ser incluídos na mecânica ortodôntica.
ta nas Classes III esqueléticas, isso é, os segundos
molares inferiores irrompem mais precocemente do Dificuldades técnicas representadas pela presença de
que os segundos molares superiores. tecido gengival que recobre parcialmente o segundo
molar, quer seja pela sua posição ectópica ou pela
O apinhamento e a falta de espaço, tanto na região an- sua erupção parcial, comprometem a utilização de
terior quanto na região posterior das arcadas dentárias, bandas ortodônticas, necessárias para soldagem de
são indicados como os principais fatores locais causa- tubos acessórios, ou atrapalham a colagem desses
dores dos distúrbios de erupção dos segundos molares. tubos diretamente na face vestibular do dente. Assim,
Contudo, a relação física entre o primeiro molar e o se- a utilização de botões colados — que precisam de
gundo molar é delicada e requer espaço adequado nas menor área de esmalte exposto e não requerem um
estruturas ósseas. Por isso, tanto a falta quanto o ex- posicionamento tão preciso quanto o necessário para
cesso de espaço parecem ser fatores perturbadores da um tubo — fornece o ponto de apoio requerido para
correta erupção dos segundos molares. O excesso de a correção da má posição dentária.

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Verticalização simplificada de molares (VSM): uma aplicação dos conceitos biomecânicos em casos com distúrbios de erupção dos segundos molares

Entre as formas preconizadas para o tratamento de erupção parcial na arcada. Essa dificuldade técnica
dentes com erupção ectópica por vestibular ou lin- para fixar um tubo retangular na vestibular do segundo
gual, são recomendadas: molar e, muitas vezes, a acentuada má posição do se-
- Elásticos verticais cruzados. gundo molar em relação ao primeiro molar dificultam a
- Alças retangulares. extensão do arco ortodôntico até esse dente, que po-
- Arco contínuo (instalação de bandas com tubos deria ser utilizado para o seu alinhamento e nivelamen-
ou colagem de tubos nos segundos molares e ex- to. O uso do arco estendido até os segundos molares
tensão do arco até esses dentes). pode ser relacionado como uma alternativa para a cor-
- Método de verticalização simplificada de mo- reção de segundos molares ectopicamente irrompidos.
lar (VSM): elástico em cadeia aplicado em braço
de alavanca apoiado em primeiro molar. A alternativa que propusemos nesse artigo é o méto-
do de verticalização simplificada de molares (VSM), que
O uso de elástico vertical cruzado, do molar superior para consiste em aplicar uma força horizontal para o correto
o inferior, traz implicações mecânicas por vezes desfavo- posicionamento do segundo molar na arcada dentária,
ráveis. Muito embora libere força lingual e vestibular favo- com um componente vertical de intrusão, que evita sua
rável, a força vertical nem sempre é desejada, por pro- extrusão ou, até, evita a interferência oclusal, caso o
mover a extrusão dos molares onde o elástico é apoiado. dente se encontre cruzado ou excessivamente irrompi-
Outra característica dessa opção é o fato da força ser do (extruído). Nesse método, a força é gerada por ca-
recíproca, isto é, afetar tanto o molar superior quanto o deia elástica apoiada em um botão colado na superfície
inferior, em direções opostas. No caso de ser necessária vestibular, ou lingual, do segundo molar e em braço de
a movimentação do molar de somente uma das arcadas alavanca instalado no tubo auxiliar ou no tubo lingual do
(apenas superior ou apenas inferior), torna-se necessária primeiro molar (Fig. 19A).
a ancoragem do dente que não pode ser movimentado.
A utilização do elástico vertical cruzado unilateral pode A vantagem da utilização de botão colado na face vesti-
trazer, ainda, uma dificuldade adicional quando a força bular ou lingual do dente ectopicamente irrompido é que
aplicada pelo elástico promove um deslocamento lateral demanda menor área de esmalte exposto e não requer
da mandíbula, diminuindo o vetor horizontal e aumentan- um posicionamento tão preciso quanto o necessário
do o vetor vertical da força (Fig. 2B). para a colagem de tubo retangular (favorecendo a cor-
reção da má posição dentária).
A utilização da alça retangular tem sido recomenda-
da para a correção da má posição individual dos se- Quando inserido no tubo auxiliar do primeiro molar, o
gundos molares, devido à sua versatilidade de ativa- braço de alavanca deve ser construído com fio rígi-
ção, que permite movimentos tridimensionais desses do de aço 0,019” x 0,025” (slot 0,021” x 0,028”) ou
dentes, tais como a correção de torque, inclinações 0,017” x 0,025” (slot 0,018” x 0,030”); quando inserido
mesiais ou distais, extrusões, intrusões e rotações me- no tubo lingual desse dente, pode ser confeccionado
siais ou distais13. Uma desvantagem do uso da alça como uma extensão da presilha feita com fio de aço
retangular é o fato do espaço restrito que pode existir 0,8mm de espessura, ou uma extensão da barra pala-
na região do segundo molar, representado pela mu- tina feita com fio de aço 0,8 ou 0,9mm (Fig. 19B, 19C).
cosa jugal e gengival, que podem sofrer injúrias ou
traumas pela extensão cervical da alça retangular. Por As características da força aplicada no sentido horizontal
fim, para a utilização da alça retangular, é necessária e vertical de intrusão favorecem a correção de segundos
a presença de um tubo retangular vestibular soldado molares inclinados para vestibular ou lingual. A força de
em banda cimentada no molar ou colado na sua face intrusão contorna a dificuldade encontrada em muitos
coronária vestibular. A bandagem ou a colagem dos casos de segundos molares cruzados. Nessa situação
acessórios ortodônticos no segundo molar é, muitas de cruzamento dentário, durante a correção da posição
vezes, impossibilitada pela presença de tecido gengival do molar pode ocorrer interferência oclusal, que dificul-
que recobre parcialmente o dente, ou mesmo pela sua ta ou até impede o movimento desejado. Ainda, uma

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orientação adequada da linha de ação da força favorece gendo todos dentes até primeiros molares, preferen-
o movimento do segundo molar com possibilidade de cialmente um fio de aço de 0,019’’ x 0,025’’ (Fig. 19C,
correção de rotações associadas (Fig. 19A e 21). 20A, 20C e 21). No caso da utilização da barra palatina,
recomenda-se que essa seja confeccionada de forma
Para se evitar os efeitos colaterais da força sobre o pri- que a presilha entre por distal do tubo lingual, permitindo
meiro molar, recomenda-se a utilização da barra palatina que o braço de alavanca seja feito da extensão da extre-
e do arco lingual, ou mesmo de fio contínuo rígido abran- midade da barra palatina (Fig. 19B).

19A

19B 19C

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A verticalização simplificada de molares (VSM) é um Technical difficulties, represented not only by the pres-
procedimento simples e de fácil implementação, reco- ence of gingival tissue that partially covers dental
mendado para a correção de segundos molares ectopi- crown of second molars, but also by their partial erup-
camente irrompidos. Consiste na aplicação de força hori- tion, hamper the use of tubes welded to orthodontic
zontal para o correto posicionamento do segundo molar bands or tubes bonded to the buccal surface of these
na arcada dentária, com componente vertical de intrusão, teeth. Simplified molar uprighting (SMU) is a simple
que evita sua extrusão ou mesmo a interferência oclusal, and easy-to-implement procedure, recommended for
nos casos em que esse dente se encontra cruzado. Nes- correcting second molars that erupted ectopically.
se método, a força é gerada por cadeia elástica apoiada It consists in applying horizontal forces to correct the
em botão colado na superfície vestibular ou lingual do se- position of second molars in the dental arch and of
gundo molar, e em braço de alavanca instalado no tubo vertical forces with an intrusion component to prevent
auxiliar ou no tubo lingual do primeiro molar. extrusion or even occlusal interferences, particularly
in cases with crossbite of this tooth. In this method,
ABSTRACT forces are generated by elastic chains placed in a but-
Simplified molar uprighting (SMU): an applica- ton bonded to the buccal or lingual surface of second
tion of biomechanical concepts in cases of sec- molars and a cantilever installed in the auxiliary tube or
ond molar eruption disturbances. / Presence of lingual tube of first molars. The use of these bonded
misaligned second molars due to ectopic eruption buttons require less area of exposed enamel and does
should be considered and included in treatment plan- not involve precise positioning as it does for a tube,
ning. Similarly, during orthodontic treatment, second thereby providing support necessary to correct ectopic
molars that erupt out of their normal position in the tooth position. / Keywords / Molar uprighting. Eruption
arch should be included in orthodontic mechanics. disturbance. Biomechanics.

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