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Como citar este artigo: Sakima MT. Ancoragem esquelética em ortodontia – Parte I: mi-
niplacas SAO (sistema de apoio ósseo para mecânica ortodôntica). Rev Clín Ortod Dental * Doutor em Ortodontia, FOAr-UNESP. Pós-doutor em Ortodontia, Royal Dental
Press. 2013 jun-jul;12(3):8-20. College, Universidade de Aarhus. Professor Assistente, Departamento de Clínica
Infantil, FOAr-UNESP.
» Os pacientes que aparecem no presente artigo autorizaram previamente a publicação
de suas fotografias faciais e intrabucais.
O autor declara que é sócio cotista da empresa Rahos, fabricante das miniplacas SAO.
osso durante a perfuração; 2) aperto excessivo do parafuso necessidade de colocação de duas miniplacas convencio-
na miniplaca e no osso (por falta de adaptação da miniplaca nais na mesma hemiarcada.
à superfície óssea ou por querer buscar um ”travamento”, As miniplacas SAO foram especialmente desenvolvidas
como se faz nos implantes); e/ou 3) excesso de carga orto- para ser utilizadas em Ortodontia. Têm como característica
dôntica na miniplaca. Na Figura 1, temos as miniplacas indi- principal a possibilidade de se acoplar um acessório a si — o
cadas para cada sítio anatômico. denominado ADV (adaptador duplo vertical), que é amar-
São indicados dois sítios anatômicos em cada maxilar, rado à haste transmucosa por meio de fio de amarrilho de
sendo um na região anterior e outro na posterior. As maio- 0,30mm. O excesso da haste transmucosa, no sentido ver-
res críticas feitas às miniplacas são a possibilidade de in- tical, deve ser cortado para evitar que cargas mastigatórias
fecção devido sua instalação ser realizada em mucosa gen- sejam colocadas sobre as miniplacas. O ADV é o grande
gival livre. Para se evitar tal transtorno, durante a cirurgia diferencial desse sistema, apresentando dois tubos e dois
de instalação, a incisão deve ser realizada em mucosa ce- ganchos onde diversos dispositivos ortodônticos podem ser
ratinizada, ou próxima à junção mucogengival, ou seja, em acoplados, sozinhos ou simultaneamente. Isso possibilita
áreas de pouca ou nenhuma mobilidade. Outro cuidado que apenas dois sítios sejam necessários em cada maxilar,
especial é a realização de duas dobras em 90°, em forma independentemente do tipo de má oclusão a ser tratada.
de baioneta, na área da incisão, de forma a deixar um pla- Não existe a necessidade de precisão cirúrgica na instala-
tô de higienização. O cirurgião deve estar ciente de que a ção, como ocorre nos outros sistemas, pois nessa minipla-
região das perfurações na haste transmucosa não pode ser ca serão acoplados os dispositivos que realizarão a movi-
dobrada, para que o acessório possa ser encaixado com mentação dentária. Dessa forma, não são necessárias tantas
precisão nessa miniplaca instalada. Após a instalação, o miniplacas, pois, por exemplo, forças requeridas na região
paciente deverá higienizar a miniplaca com clorexidina a anterior podem ser apoiadas em miniplacas instaladas tanto
0,12% e escova interdental. na região posterior quanto na anterior.
Nas miniplacas convencionais, geralmente são utiliza- Para maior conforto do paciente, recomenda-se que as
das molas ou elásticos (para apenas um ponto de aplica- miniplacas, com seus respectivos ADVs e acessórios aco-
ção das forças), conectando a si os dentes a serem movi- plados, sejam envoltas com resina acrílica fotopolimerizá-
mentados. Não existem tubos conectados a elas. Dessa vel ou com resina flow.
forma, a precisão na colocação dessas é essencial para Entre as principais vantagens das miniplacas sobre os mi-
que as forças a serem exercidas sejam feitas na direção ni-implantes, estão os menores índices de insucesso, a maior
correta. Isso exige maior habilidade do cirurgião no posi- quantidade de carga suportada, a possibilidade de transla-
cionamento, para que a região do dente a ser movimenta- dar dentes na área em que a miniplaca está instalada, a pos-
do possa receber as forças adequadas. Não é incomum a sibilidade de realizar diferentes mecânicas simultaneamente
e, principalmente, a facilidade de lidar com efeitos colaterais. com o lado esquerdo se apresentando em Classe II de cani-
Essa última vantagem representa uma tranquilidade clínica nos e molares. O objetivo do tratamento foi verticalizar os se-
para o ortodontista. Por esses motivos, os tratamentos or- gundos molares inferiores e mesializar os segundos e tercei-
todônticos realizados com o auxílio dessas miniplacas são, ros molares inferiores, evitando implantes ou próteses nessa
geralmente, mais rápidos. arcada, uma vez que os terceiros molares estavam em oclu-
Os dispositivos ortodônticos que podem ser encaixados são. A correção da Classe II do lado esquerdo foi realizada
no ADV são cantiléveres, alças de correção radicular, alças por meio da mesialização do canino e de dentes posteroin-
em “T” para retração, power-arms, molas de aço ou de ní- feriores, evitando extrações na arcada superior e alterações
quel-titânio, cadeias elásticas e fios de amarrilho. Esses dis- dramáticas no perfil. As Figuras 2 e 3 mostram as fotografias
positivos se caracterizam, em sua maioria, por liberar cargas iniciais e as imagens radiográficas do caso clínico relatado. A
leves e constantes, agindo praticamente o tempo todo, não Figura 4 ilustra o início do tratamento, sendo realizada a ins-
apenas um ou dois dias após a colocação das forças. talação de duas miniplacas na região de sínfise mentoniana,
A seguir, serão apresentados casos clínicos para exem- e os segundos molares sendo corrigidos com o auxílio de
plificar a utilização desse sistema de ancoragem. Traremos alças de correção radicular ativadas em geometria VI. Nesse
situações clínicas diferentes das apresentadas em outro tra- tipo de alça, um fio de TMA de 0,017” x 0,025” é adaptado
balho12, relacionadas ao tratamento da mordida aberta. passivamente entre o tubo do segundo molar e o tubo da
miniplaca (ADV). Após a alça estar passiva, duas dobras de
Caso clínico 1 igual magnitude são incorporadas a essa, sendo uma na me-
O primeiro caso ilustra uma situação clínica bastante co- sial do molar e outra na distal do ADV. Essas dobras devem
mum do dia a dia do ortodontista brasileiro, em que ocor- ter 30° no sentido cervical, e são realizadas assim para evi-
reram perdas de primeiros molares permanentes inferiores, tar que forças extrusivas sejam incorporadas no movimento
Figura 2 Fotografias iniciais do caso clínico 1. Má oclusão Classe II subdivisão esquerda, com perdas dos primeiros molares inferiores e consequen-
te inclinação mesial dos segundos molares.
de verticalização (Fig. 10). Observe que, para que a vertica- ADV fixado à miniplaca. Para facilitar a movimentação mesial,
lização possa ocorrer com sucesso, a intrusão dos molares o fio que passa dentro das canaletas dos molares deve ser
superiores deve ser realizada concomitantemente à movi- redondo (0,018” ou 0,020”, de aço) e um aparelho removível
mentação dos dentes inferiores (Fig. 5). Nesse caso, foram com cobertura oclusal posterior na arcada superior deve ser
utilizados cantiléveres com forças de 50g, apoiados em toda usado (uso noturno, no mínimo). A correção da Classe II na
arcada superior na parte vestibular, e, na palatina, foi utiliza- região anterior foi realizada por meio de cantiléveres apoia-
da uma barra palatina de encaixe em forma de ferradura para dos nas miniplacas, com forças mesiais de 80 a 100g, amar-
o controle de inclinação. Após a verticalização dos molares, rados nos caninos (Fig. 6, 7). Observe que toda a movimen-
esses foram mesializados com o auxílio de molas fechadas tação principal ocorreu na arcada inferior, praticamente pela
(150g, Sentinol – GAC) apoiadas em power-arms feitos com mesialização de todos os dentes, apoiados na miniplaca e
fio de aço de 0,019” x 0,025”, e amarradas no gancho do com a utilização de forças leves e constantes (Fig. 8, 9).
Figura 14 Fotografias e radiografia finais, ilustrando o fechamento dos espaços dos primeiros molares inferiores.
Figura 15 Fotografias iniciais de paciente Classe II divisão 2 com apinhamento na arcada superior.
Caso clínico 4 Por ser redondo, o fio diminui o atrito em relação aos bra-
Nesse último caso (Fig. 19, 20), ilustramos a verticalização quetes, e forças menores podem ser utilizadas de maneira
e mesialização dos dentes 47 e 48, a distalização dos dentes eficaz. Na arcada inferior foi utilizada uma alça de correção
posterossuperiores do lado esquerdo, e mecânica assimétri- radicular no dente 47; a mesialização foi feita utilizando a
ca no sentido de corrigir a linha mediana desviada (Fig. 21). miniplaca instalada na sínfise mentoniana. Após a obtenção
A paciente apresentava assimetria sagital na arcada superior, desse movimento, toda a arcada serviu de ancoragem para
sendo corrigida pela distalização dos dentes posterossuperio- a verticalização do dente 37, que foi realizada por meio de
res do lado esquerdo. Isso foi realizado com o auxílio da anco- outra alça de correção radicular apoiada diretamente no arco,
ragem esquelética da miniplaca SAO, instalada na região de mais precisamente no tubo cruzado presente entre os dentes
pilar zigomático, à qual foram apoiadas cadeias elásticas no 33 e 34 (Fig. 22). Observe a correção da linha média superior
canino e no sliding-jig para a distalização de todos os dentes em relação à face e as movimentações dentárias realizadas
dessa hemiarcada. Tal como no caso clínico 3, fios de 0,018” de forma assimétrica, sendo parte feita na hemiarcada inferior
de aço foram utilizados como guia da movimentação distal. direita e parte na hemiarcada superior esquerda (Fig. 23, 24).
Figura 19 Fotografias iniciais de caso clínico 4, com perda dos dentes 16, 36 e 46. Note a assimetria da arcada superior, com linha média deslocada
para o lado direito.
Figura 23 Fotografias finais. Observe a correção da linha média dentária em relação à facial.
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Endereço para correspondência
2007 [2007 Jul 3). Disponível em: http://revista.inpi.gov.br/INPI_UPLOAD/Revistas/
PATENTES1904.pdf Maurício Tatsuei Sakima
Rua Gonçalves Dias, 1767 – Centro – Araraquara/SP
9. Mendonça AA. Placa temporária de ancoragem (PTA) [dissertação]. Campinas (SP):
CEP: 14.801-290 – E-mail: ortodontiasakima@gmail.com
Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic; 2012.