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artigo inédito

Palato: o que saber previamente à instalação


de mini-implantes?
Palate: What to know before mini-implant’s placement?

Matheus Alves JR*


Carolina Baratieri*
Mariana Marquezan*
Lincoln Issamu Nojima**
Maria Christina Thomé Pacheco***
Mônica Tirre de Souza Araújo****

Resumo Abstract

A região do palato é um dos ao comprometimento da téc- The palatal area is one of the descriptions of the palatal area
locais mais favoráveis para a nica e do tratamento. Descri- most favorable sites for the instal- are scarce in the literature, even
instalação de mini-implantes. ções pormenorizadas da região lation of mini-implants. Factors in anatomy books. Seeking to fill
Fatores como fácil acessibilida- palatina são escassas na litera- such as easy accessibility, total this gap, this paper describes in
de, cobertura total de gengiva tura, até mesmo em livros de coverage with keratinized gingiva details the palatal region, high-
queratinizada e boa qualidade anatomia. Buscando preencher and bone quality at specific sites lighting areas of greater or small-
óssea em sítios específicos con- essa lacuna, o presente trabalho help to reduce inflammation risk er bone thickness, mucosal thick-
tribuem para a redução do risco descreve detalhadamente a re- and increase primary stability. ness, position and path of nerves,
de inflamação e aumento da gião palatina, destacando áreas However, the presence of ves- vessels and foramen, highlighting
estabilidade primária. No en- de maior ou menor espessura sels, nerves and foramen on this the most suitable sites for mini-
tanto, a presença de vasos, ner- óssea, espessura de mucosa, po- area, demands special attention implants placement.
vos e forames demanda grande sição e trajeto de nervos, vasos on mini-implants placement.
atenção no momento da insta- e forames, destacando os locais Injuries on these structures can
lação desses dispositivos. Lesões mais indicados para a instala- lead to the impairment of tech-
nestas estruturas podem levar ção desses dispositivos. nique and treatment. Detailed

Palavras-chave: Keywords:
Palato. Procedimentos de ancoragem ortodôntica. Anatomia. Palate. Orthodontic anchorage procedures. Anatomy.

Como citar este artigo: Alves Jr. M, Baratieri C, Marquezan M, Nojima LI, Pacheco MCT, * Doutorando em Ortodontia na Faculdade de Odontologia da Universidade Fede-
Araújo MTS. Palato: o que saber previamente à instalação de mini-implantes? Rev Clín Ortod ral do Rio de Janeiro.
Dental Press. 2012 fev-mar;11(1):108-14. ** Professor Associado do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontolo-
gia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financei- *** Professora Associada do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odonto-
ros que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. logia da Universidade Federal do Espírito Santo.
**** Professor Associado do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontolo-
gia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Alves Jr. M, Baratieri C, Marquezan M, Nojima LI, Pacheco MCT, Araújo MTS

Introdução diâmetro de 3,3mm, comprimento de 4 a 6mm e uma canaleta


na cabeça do implante pela qual passava o fio de uma barra
O aumento de pacientes adultos que procuram por trata- transpalatina própria para reforçar a ancoragem dos dentes
mento ortodôntico, aliado à falta de colaboração em relação posteriores. Entretanto, esse sistema possuía a desvantagem de
ao uso de dispositivos extrabucais e à necessidade de contro- osseointegrar-se, o que requeria 3 meses previamente à aplica-
le da ancoragem pelo ortodontista, fizeram com que os mini- ção da força para sua cicatrização, além de sua difícil remoção8.
-implantes e demais dispositivos temporários de ancoragem O constante aperfeiçoamento do desenho e a redução no ta-
(DTA) ganhassem destaque em meados da década de 90. manho dos mini-implantes permitiram sua instalação também no
Existem no mercado diferentes desenhos e tamanhos palato a partir do ano 2000. Suas principais vantagens em relação
de mini-implantes, sendo que a escolha do dispositivo mais aos outros sistemas descritos anteriormente são o tamanho redu-
adequado é dependente do conhecimento que o ortodon- zido, baixo custo, técnica cirúrgica simples para inserção e remo-
tista tem da anatomia da região. Fatores como a espessura ção, além da ausência de incisão da mucosa5. A maior vantagem,
óssea, espessura gengival e localização de estruturas nobres, no entanto, é a aplicação de força imediata, conferida por meio
tais como vasos e nervos, devem ser considerados durante da estabilidade primária9. O palato é a região de escolha para
a escolha do mini-implante e planejamento de sua inserção. a instalação de mini-implantes quando se deseja realizar movi-
A área do palato é, provavelmente, a mais favorável para mentos anteroposteriores de pré-molares e molares10, intrusão
instalação desses dispositivos, devido à fácil acessibilidade e de dentes maxilares11 ou tracionamento de dentes impactados12.
presença de tecido queratinizado em toda sua extensão1. O ris- Além da ancoragem para o movimento dentário, mais recente-
co de lesão de estruturas anatômicas importantes é pequeno, mente os mini-implantes têm sido utilizados como ancoragem
desde que se conheça a localização dos forames da região (in- para a movimentação esquelética e abertura de sutura13,14,15.
cisivo e palatinos), assim como a trajetória de seus vasos e ner-
vos. As regiões mediana e paramedianas do palato são consti-
tuídas por osso cortical em espessura e densidade adequadas OBJETIVO
para a instalação de mini-implantes e aplicação de forças orto-
pédicas2. Ainda, a instalação de mini-implantes nessas regiões O objetivo do presente trabalho é descrever a região pa-
tem a vantagem de não interferir na movimentação dentária3. latina como área de inserção de mini-implantes para ancora-
gem ortodôntica, evidenciando a localização de estruturas
importantes como forames, vasos e nervos, assim como as
HISTÓRICO espessuras dos tecidos ósseo e mucoso, destacando os lo-
cais mais indicados para a instalação desses dispositivos.
A introdução dos implantes dentários como recursos de
ancoragem esquelética na Ortodontia ocorreu em meados da
década de 804. Mais tarde, na década de 90, dispositivos especí- ASPECTOS ANATÔMICOS E OS MINI-IMPLANTES
ficos de ancoragem foram criados. Entretanto, foi em 1995 que O tecido ósseo do palato
a ancoragem no palato ganhou ênfase, com a introdução dos
onplants, por Block e Hoffman5. O onplant consistia de um dis- A região palatina da maxila é formada pelo palato duro e
co de liga de titânio com 2mm de altura e 10mm de diâmetro, pelo palato mole. O palato duro é formado pelos processos
tratado e revestido por hidroxiapatita. Sua instalação requeria palatinos direito e esquerdo da maxila, unidos por meio da
abertura de retalho e período de cicatrização de 3 meses, para sutura palatina mediana, e pela lâmina horizontal do osso pa-
osseointegração, previamente à aplicação da força ortodônti- latino de cada lado, unido pela sutura palatina transversa16.
ca. A impossibilidade de aplicação imediata da força, devido à Na região anterior da sutura palatina mediana, encontra-se
ausência de estabilidade primária, foi apontada como uma des- o forame incisivo, pelo qual emergem o nervo nasopalatino
vantagem6. Ainda, em função da osseointegração, sua remoção e a artéria palatina maior. Entre os segundos e terceiros mo-
provocava um defeito ósseo. Em 1997, Kanomi7 introduziu os lares, encontra-se o forame palatino maior (Fig. 1), por onde
mini-implantes, uma variação dos parafusos de fixação cirúrgi- emergem vasos e nervos palatinos maiores16 (Fig. 2). Poste-
ca, porém, esses ainda não eram utilizados na região palatina. riormente aos forames palatinos maiores, encontram-se os
Em 1999, Wehrbein et al.8 lançaram o Orthosystem, um sistema forames palatinos menores, por onde emergem os vasos e
de implante que viria a substituir os onplants. Esse era fixado nervos palatinos menores. A localização, tamanho e forma
no centro do palato, posteriormente à papila incisiva, e possuía desses forames podem variar de acordo com a etnia17.

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A espessura óssea da maxila varia de acordo com cada No sentido vertical, de 2 a 8mm acima das cristas margi-
indivíduo e com a região dos dentes avaliados. Esse conheci- nais, a maior quantidade de tecido ósseo se encontra entre o
mento é importante para que haja espessura óssea suficiente segundo pré-molar e o primeiro molar19. Não se recomenda a
para alojar a porção ativa do mini-implante, que possui de 6 a instalação de mini-implantes a partir de 8mm distante da crista
10mm de comprimento e de 1,4 a 2,0mm de diâmetro. marginal, devido à presença dos seios maxilares19 (Fig. 3).
A preocupação com a escolha do correto tamanho do Na área da crista marginal, outra preocupação se refe-
mini-implante, juntamente com a avaliação do local escolhi- re à qualidade do tecido ósseo disponível. As regiões mais
do, se justifica caso o mini-implante seja curto, pois poderá posteriores apresentam osso trabeculado mais poroso e
não conferir a estabilidade desejada para aquela determina- cortical óssea fina (Fig. 4), acarretando a perda de estabili-
da quantidade de força. Na situação inversa, a escolha de dade dos mini-implantes11.
um mini-implante com tamanho maior do que a altura óssea Na sutura palatina mediana e áreas paramedianas, à cerca
disponível poderá ocasionar perfuração do assoalho nasal e, de 6 mm posterior ao forame incisivo, a altura óssea média é su-
consequentemente, comunicação entre as cavidades bucal e perior a 6mm, tanto para homens quanto para mulheres, sendo
nasal1,18. Ambas as situações podem provocar complicações, uma área favorável para a colocação de mini-implantes1. Porém,
incômodo ao paciente e atraso do tratamento. à medida que se caminha para distal, existe a tendência de dimi-
Visando evitar o contato com o canal incisivo, nervo na- nuição dessa altura óssea1. De pré-molares para posterior (cerca
sopalatino e artéria palatina maior, é recomendável evitar a de 12mm distante do forame incisivo) não é indicada a inserção
instalação de mini-implantes na área do forame incisivo e até de mini-implantes, devido à diminuição da altura óssea total nas
3mm posterior a esse. áreas centrais do palato de anterior para posterior1,2,3,20,21,22 (Fig. 5).

A B

Figura 1 Forame palatino maior (círculo bran- Figura 2 Nervo e artéria palatina maiores emergindo do forame palatino maior (tracejado verme-
co) localizado medialmente ao terceiro molar e lho), com trajeto para anterior em direção ao forame incisivo, localizados à cerca de 5 a 15mm
forame incisivo (círculo vermelho). distante do colo cervical dos dentes.

A B

Figura 3 Cortes tomográficos axiais de 2mm (A) e 10mm (B) a partir do colo cervical dos dentes
superiores. A) Boa disponibilidade óssea na região entre segundo pré-molar e primeiro molar
(setas); B) presença do seio maxilar na região correspondente (setas), não sendo adequada para
inserção de mini-implantes.

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No sentido laterolateral do palato, visto em corte coronal, O tecido de recobrimento


o local seguro para a inserção de mini-implantes é a sutura
palatina mediana, devido ao aumento adicional de espessura A mucosa que reveste o palato duro é uma lâmina de muco-
óssea vertical conferido pelo septo nasal ósseo10,23,24. Contudo, periósteo, que é uma mucosa firmemente aderida ao periósteo.
em crianças e adolescentes, a instalação de mini-implantes na O mucoperiósteo do palato apresenta uma rafe mediana, que
sutura deve ser evitada, em razão dessa não estar completa- termina na sua porção anterior em uma saliência lisa e oval deno-
mente ossificada10,20,25. Em tais casos, deve-se dar preferência minada papila incisiva. A papila incisiva recobre o forame incisivo
pela instalação do mini-implante nas áreas paramedianas20, e, junto com ele, o nervo nasopalatino e a artéria palatina maior16.
atentando para a diminuição da espessura óssea total nessa No terço anterior do palato, a mucosa apresenta-se corru-
região à medida que se caminha lateralmente2 (Fig. 6). gada por um verdadeiro sistema de pregas, ou rugas, forte-
Ainda com relação ao tecido ósseo, é recomendável que mente aderidas ao plano ósseo subjacente. Essas pregas são
a espessura de osso cortical seja superior a 1mm, para ga- originárias do tecido conjuntivo denso da submucosa, altamen-
rantir maior estabilidade26. Nas regiões da sutura palatina te fibroso, que reveste o osso, confundindo-se com o periós-
mediana e paramediana, estudos de mapeamento do palato teo; porém, são recobertas apenas pelo epitélio estratificado.
não encontraram áreas com cortical de espessura inferior a Os relevos que o palato apresenta, as rugosidades palatinas,
1mm21,27. Na região palatina entre segundos pré-molares e constituem um conjunto de cristas lineares dispostas de forma
primeiros molares, a cortical óssea será mais espessa quanto semelhante às nervuras de uma folha vegetal, em número variá-
mais próxima da crista marginal, sendo a espessura da cor- vel. Elas se irradiam da papila incisiva e da parte anterior da rafe
tical superior a 1mm na região compreendida entre a crista palatina em direção lateral16. Nessa região a mucosa é espessa,
marginal e um ponto a 10mm dela no sentido vertical23. decrescendo a partir da papila incisiva para posterior (Fig. 7).

A B

Figura 4 Corte vestibulolingual de hemimaxila, na região entre primeiro e segundo pré-molares


(A) e região de primeiro e segundo molares (B). Nota-se o aumento da porosidade e a redução de
espessura da cortical (traços amarelos) na região de molares.

Corte sagital Corte coronal

Figura 5 Corte sagital na linha média esque- Figura 6 Corte coronal passando entre o se-
lética, demonstrando a diminuição da altura gundo pré-molar e o primeiro molar, ilustrando
óssea total nas áreas centrais do palato, de an- a diminuição da altura óssea total a partir da
terior para posterior. sutura palatina mediana para lateral.

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Sempre que possível, o mini-implante deve ser inserido na Partindo-se da crista marginal, observa-se, também, um au-
gengiva inserida, devido ao maior risco de insucesso da inserção mento na espessura de mucoperiósteo.
em mucosa não queratinizada, quando comparada à mucosa Quanto mais distante do tecido ósseo for o ponto de apli-
queratinizada28. Felizmente, toda a área do palato é recoberta cação da força, maior será a chance de produzir momentos
por tecido queratinizado, o que favorece a instalação de mini- de força e consequentes falhas do mini-implante29. Assim,
-implantes, reduzindo as chances de inflamação peri-implantar1. para evitar grandes momentos de força, as regiões de mu-
O comprimento do mini-implante deve levar em conta cosa espessa, como as localizadas a 6mm lateralmente à su-
também a espessura da mucosa. Quanto mais espessa for tura, devem ser evitadas. Regiões de espessura de gengiva
a mucosa, maior deve ser o perfil transmucoso do mini-im- inserida adequada estão localizadas na sutura23,27, até 3mm
plante selecionado29. lateralmente a essa27 e próximas à crista marginal23 (Fig. 8).
Partindo-se da sutura palatina mediana para lateral (até Na região do terço posterior do palato duro, entre a
6mm, lateralmente), a espessura de tecido mole aumenta27. mucosa e o osso tem início uma camada de glândulas

Plano coronal Plano sagital

Plano coronal Plano sagital

Plano coronal Plano sagital

Figura 7 Cortes coronais (imagens à direita) re-


alizados em diferentes cortes sagitais (imagens
à esquerda) demonstrando o decréscimo na
espessura do tecido ósseo (tracejado amarelo)
e do tecido mole (tracejado azul) à medida que
se caminha posteriormente à papila incisiva:
A) 1mm, B) 3mm e C) 5mm. C

Plano Sagital

Figura 8 Corte coronal demonstrando a espes-


sura de tecido mole a partir da sutura palatina
mediana e da crista marginal (tracejado amarelo).

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salivares menores (glândulas palatinas), que se estende As raízes dentárias


ao palato mole. O palato mole diferencia-se do palato
duro através da coloração, que passa de rosa para verme- Devido às suas características e tamanhos diminu-
lho translúcido, e também por meio de sua mobilidade. tos, os mini-implantes são, frequentemente, instalados
O palato mole é composto de tecido fibroso e formado entre as raízes dos dentes, por palatino ou vestibular, o
pelos músculos tensor do véu palatino, levantador do véu que aumenta a probabilidade do contato desses com o
palatino, palatoglosso, palatofaríngeo e músculo da úvu- ligamento periodontal ou com uma raiz durante a instala-
la16. Nessa região não se recomenda a instalação de mini- ção. Contatos com as raízes podem levar à sensibilidade
-implantes, devido à indisponibilidade óssea. dentária, perda do mini-implante31 ou, em alguns casos, a
perfuração e a perda do elemento dentário9. Por esse mo-
tivo, o procedimento de instalação do mini-implante deve
Vascularização e inervação ser realizado apenas sob anestesia mucoperióstea, sendo
que, em caso de contato com o periodonto, a sensibilida-
Dentro da fossa pterigopalatina, a artéria maxilar dá ori- de será relatada pelo paciente e, dessa forma, evitará que
gem à artéria palatina descendente, que desce pelo canal perfurações severas ocorram.
pterigopalatino e emerge no palato pelo forame palatino Levando-se em conta que a espessura aproximada do liga-
maior (Fig. 2) com o nome de artéria palatina maior. A artéria mento periodontal é de 0,25mm, considera-se que um espaço
dirige-se para anterior, num sulco palatino entre as espinhas mínimo de 1mm ao redor do mini-implante deva ser suficiente
palatinas, liberando ramos pelo palato e suprindo mucosa, para manutenção da saúde periodontal e, assim, combinando
glândulas e gengiva palatina, dos dentes até chegar ao canal esse valor com o diâmetro do mini-implante, as zonas seguras
incisivo. Ainda dentro do canal pterigopalatino, pequenas para inserção interradicular podem ser identificadas19.
artérias palatinas menores emergem posteriormente pelos Por palatino, a região próxima às raízes dos dentes com
forames palatinos menores para irrigar o palato mole16. maior disponibilidade óssea é entre o segundo pré-molar
Oriundo da porção maxilar do gânglio trigeminal, o nervo e o primeiro molar19, entre 2 e 8mm acima da crista margi-
palatino desce pelo canal pterigopalatino juntamente com a ar- nal (Fig. 3).
téria palatina maior, emitindo ramos que irão atravessar o forame
palatino maior e dar origem ao nervo palatino maior; e ramos
que vão atravessar os forames palatinos menores e dar origem
aos nervos palatinos menores. O nervo palatino maior emerge
do forame e caminha anteriormente em direção ao forame inci-
sivo, cerca de 5 a 15mm da margem gengival, sendo responsável
pela sensibilidade da mucosa palatina da região de canino até o
limite anterior do palato mole (Fig. 2), que terá sua sensibilidade
recolhida pelos nervos palatinos menores16,18.
A sensibilidade da região anterior ao canino é recolhida
por meio do nervo nasopalatino, que também se origina do
nervo maxilar, percorre o septo nasal em direção inferior e
anterior para atravessar o forame incisivo e caminhar poste-
riormente até a região de canino, quando irá se anastomosar
com o nervo palatino maior16.
O planejamento prévio à colocação dos mini-implantes nes-
sas regiões se faz necessário para evitar injúria ao feixe váscu-
lonervoso. A lesão do feixe nervoso pode provocar parestesia
transitória, necessitando em torno de seis meses para completa
cicatrização. O contato com o nervo por longo período pode le-
var à necessidade de farmacoterapia (corticoides), laserterapia
ou até mesmo microcirurgias30. Devido à importância dessas es-
Figura 9 Desenho esquemático ilustrando em roxo as áreas de maior
truturas na região palatina, a inserção segura de mini-implantes
segurança para inserção de mini-implantes e em laranja as áreas de
deve ser feita lateralmente ao feixe vásculonervoso (Fig. 9). maior risco, por onde passam os feixes vasculonervosos.

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CONCLUSÃO Para assegurar que o sucesso do tratamento seja alcançado,


atenção especial deveria ser dada ao estudo detalhado da
A região palatina é de extrema importância para a anco- área anatômica escolhida e às peculiaridades dessa região.
ragem ortodôntica e sua utilização para colocação de mini- Sabendo que a variação dessa anatomia entre os pacientes é
-implantes tem sido cada vez maior; no entanto falhas na ins- grande, a necessidade de exames radiográficos e tomográfi-
talação desses dispositivos vêm ocorrendo com frequência. cos complementares deve ser considerada.

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